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estudo da Literatura brasileiras

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Estudos daEstudos daEstudos daEstudos daEstudos daLiteratura BrasileiraLiteratura BrasileiraLiteratura BrasileiraLiteratura BrasileiraLiteratura Brasileira

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Estudos daLiteraturaBrasileira

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Gerente de Suporte Tecnológico ♦

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

AS ORIGENS DA NOSSA LITERATURA

ERA COLONIAL

O QuinhentismoO Barroco

O Arcadismo

O Pré-Romantismo

Atividade Complementar

ERA NACIONAL

O Romantismo

O Realismo

O Parnasianismo

O Simbolismo

Atividade Complementar

A DIVERSIDADE DA LITERATURA BRASILEIRA

MODERNISTAS E MODERNOS

As Vanguardas EuropéiasO Pré-modernismo

O Modernismo

O Concretismo

Atividade Complementar

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 07○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 12

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 24

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 26

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 28○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 31

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Estudos daLiteraturaBrasileira

SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

A Poesia-Práxis e o Poema-Processo

A Poesia Social e o Tropicalismo

A Poesia Marginal dos anos 70

Outras Vertentes da Literatura Brasileira

Atividade Complementar

Atividade Orientada

Glossário

Referências Bibliográficas

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 42

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Apresentação da Disciplina

Prezado(a) aluno(a).

A Literatura Brasileira é sua velha conhecida, pois durantetoda a vida escolar somos convidados a estudá-la, a refletir sobreela, seus principais escritores e movimentos literários.

Toda a organização da Literatura Brasileira implica numaescolha de seu organizador e, em geral, são essas escolhas quenortearam e formaram um cânone em nossos Estudos LiteráriosTupiniquins. Conceitos discutíveis e complexos como “origem”, “averdadeira literatura brasileira”, “brasilidade”, “dependência cultural”,entre outros, estão sempre pairando sobre essas organizações quesão, na verdade, histórias da nossa literatura.

Você vai perceber como é fascinante estudar nossosmovimentos estéticos e como é produtivo estabelecer relações entreeles. Não se esqueça de que a literatura brasileira é vasta e, portanto,difícil de ser abarcada num único livro.

No Bloco 01, estudaremos as origens de nossa literatura,dividindo-a em “Era Colonial” e “Era Nacional”. No Bloco 02, veremostoda a complexidade de nossa literatura, tanto no período quechamamos de “modernos e modernistas”, quanto naquele quedenominamos “tendências contemporâneas”.

Essas divisões têm um cunho didático e funcionam como umasíntese de todas as nossas histórias. É impossível abarcarmos todoo conhecimento acerca de tudo o que chamamos de literaturabrasileira, porém, esperamos que essa síntese funcione como umpequeno passaporte para a sua grande viagem literária.

Seja bem-vindo (a)!

Professora Állex Leilla

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Estudos daLiteraturaBrasileira

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AS ORIGENS DA NOSSA LITERATURA

ERA COLONIAL

O Quinhentismo

A literatura brasileira, como todas as outrasliteraturas, tem um marco inicial, ou seja, uma data ouperíodo eleito para representar a sua origem. A origemda nossa literatura está num período a que acostumamos

chamar de Quinhetismo ou Literatura de Informação.

MAS, O QUE VEM A SER ISSO?MAS, O QUE VEM A SER ISSO?MAS, O QUE VEM A SER ISSO?MAS, O QUE VEM A SER ISSO?MAS, O QUE VEM A SER ISSO?

Antes de mais nada, precisamos entender queQuinhentismo é um nome ligado a um referencialcronológico – o séc. XVI – e não estético. Essetermo pode ser usado como sinônimo deClassicismo. Implica dizer que as obras produzidasneste primeiro século prendem-se à literaturaportuguesa que estava sendo produzida naquela

época e, por isso, o que se produziu no Brasil integrou o conjunto da chamada literatura deviagens ultramarinas, uma vez que surgiu como prolongamento e adaptação das tradiçõespoéticas e dramáticas do fim da idade média portuguesa.

É, portanto, muito mais uma literatura sobre o Brasil ou produzida no Brasil do queuma literatura essencialmente brasileira.

VVVVVOCÊ DEVE ESTOCÊ DEVE ESTOCÊ DEVE ESTOCÊ DEVE ESTOCÊ DEVE ESTAR SE PERAR SE PERAR SE PERAR SE PERAR SE PERGUNTGUNTGUNTGUNTGUNTANDO O QUE VEM A SERANDO O QUE VEM A SERANDO O QUE VEM A SERANDO O QUE VEM A SERANDO O QUE VEM A SERUMA LITERAUMA LITERAUMA LITERAUMA LITERAUMA LITERATURA ESSENCIALMENTE BRASILEIRA, CERTURA ESSENCIALMENTE BRASILEIRA, CERTURA ESSENCIALMENTE BRASILEIRA, CERTURA ESSENCIALMENTE BRASILEIRA, CERTURA ESSENCIALMENTE BRASILEIRA, CERTTTTTO?O?O?O?O?

Nos Estudos Literários contemporâneos não se trabalha mais com a noção de“essência”, de algo intrínseco que diferenciaria uma literatura da outra. Em vez desta noçãodatada de nacionalidade, trabalha-se, hoje em dia, com a noção de “elementos culturais” ou“lugar da cultura”, ou seja, trata-se de mapear todas aquelas particularidades que compõemum modo de vida brasileiro. Dentro dele, estão nossos valores e nossas formas desobrevivência no mundo ocidental: como dialogamos com a Europa e com as culturasindígenas e africanas que formaram o nosso caldeirão cultural. Essas marcas culturais podemser percebidas na produção artística e literária de uma nação e ajudam na percepção deuma identidade ou de identidades brasileiras.

Assim, podemos dizer que a produção do período quinhentista não possui essasmarcas porque veio, principalmente, dos esforços iniciais de conquista e colonização dasnovas terras. Dessa forma, o que chamamos de literatura quinhentista são manifestaçõesem prosa, em sua maioria tratados, cartas e diários, cuja principal finalidade era descrever

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Estudos daLiteraturaBrasileira

a paisagem e a vida brasileiras, atuando como fonte de informação aoseuropeus. Além disso, o teatro conheceu algum desenvolvimento sob a formade autos versificados, ou seja, peças teatrais compostas pelos jesuítas emseu trabalho de catequização do índio. Também houve manifestaçõespoéticas, principalmente de caráter religioso ou ligadas ao esforçocatequético.

A literatura dessa época é, muitas vezes, chamada de informativa,porque estava presa a finalidades práticas relacionadas com a expansão ultramarinaportuguesa e com a posse e colonização do Brasil. Ela é uma literatura essencialmentedescritiva, de cunho propagandístico, no sentido de propagar uma ideologia portuguesa-cristã.

MASMASMASMASMAS, COMO FICA A QUESTÃO DO V, COMO FICA A QUESTÃO DO V, COMO FICA A QUESTÃO DO V, COMO FICA A QUESTÃO DO V, COMO FICA A QUESTÃO DO VALALALALALOR ESTÉTICOOR ESTÉTICOOR ESTÉTICOOR ESTÉTICOOR ESTÉTICODESSA LITERADESSA LITERADESSA LITERADESSA LITERADESSA LITERATURA?TURA?TURA?TURA?TURA?

Devemos sempre lembrar que o valor literário do Quinhentismo é reduzido,derivando principalmente de certo encanto que a simplicidade expressiva consegue, àsvezes, transmitir ou de imagens curiosas resultantes do esforço para descrever aoseuropeus elementos da realidade americana até então completamente desconhecidospara a Europa. Sua importância maior, para os Estudos Literários, reside no fato de essaprodução ter se tornado fonte temática e até mesmo formal para momentos literáriosposteriores, preocupados com as raízes da nossa nacionalidade, como ocorreu noRomantismo e no Modernismo.

FONTE TEMÁTICA? RAÍZES? O QUE ISTO QUER DIZER?FONTE TEMÁTICA? RAÍZES? O QUE ISTO QUER DIZER?FONTE TEMÁTICA? RAÍZES? O QUE ISTO QUER DIZER?FONTE TEMÁTICA? RAÍZES? O QUE ISTO QUER DIZER?FONTE TEMÁTICA? RAÍZES? O QUE ISTO QUER DIZER?

Implica dizer que o período inicial de nossa literatura, também chamado períodoinformativo, é uma fonte de consulta rica, documental, para onde, constantemente, osnossos autores e estudiosos da cultura brasileira se voltam, buscando explicação paramitos, cenas, imagens e outras recorrências de nossa literatura.

Principais obras da literaturainformativa do século XVI

Os textos informativos formam um painel de vida dos anos iniciais do Brasil-Colônia, relatando-nos os primeiros contatos entre europeus e a realidade da nova terra.A opulência da flora e da fauna impressionou vivamente o colonizador, enquanto o modode vida dos indígenas foi motivo de muita curiosidade, bem como de incompreensão,pois os colonizadores nunca abandonaram suas concepções de que possuíam uma culturasuperior à dos aborígines. Assim, a terra nova e o índio não demoraram a sentir a violênciado sistema colonial, dentro do qual os textos mencionados cumpriam, acima de tudo,uma finalidade prática.

Eis as principais obras dessa vertente:

• A carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500;• O diário de navegação de Pero Lopes de Sousa, escrito entre os anos 1530

e 1532, durante a expedição de Martim Afonso de Sousa;

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• A História da Província de Santa Cruz e O Tratado da terra do Brasil, de Perode Magalhães Gandavo (ou Gângavo), publicados, respectivamente, em 1576 e 1826;

• O Tratado descritivo do Brasil em 1587 ou Notícia do Brasil, de Gabriel Soaresde Sousa, publicado em 1851.

No século XVII, surgem os Diálogos das Grandezas do Brasil (1618), atribuídos aAmbrósio Fernandes Brandão, e a História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador.Outro nome que se destaca nessa época é o José de Anchieta, com os seus autos, como ode Na Festa de São Lourenço, representado, pela primeira vez, em Niterói (RJ), em 1583.

Resumindo: a Literatura de Informação ou Quinhentismo é o conjunto de cartase impressões de viagens produzido pelos portugueses acerca do Brasil. São textosessencialmente descritivos. Apesar de não podermos falar num estilo estético nesteperíodo, essas cartas são importantes pelo seu valor histórico: são os primeirostestemunhos da nossa origem, do nosso país.

Filmes importantes para entender esta época:

1. O Nome da Rosa, de Jean-Jacques Annaud (1986);

2. 1492 - A Conquista do Paraíso, de Ridley Scott (1992);

3. A Missão, de Roland Joffé (1986).

O Barroco

VOCÊ COM CERTEZA JÁ LEU OU OUVIUFALAR SOBRE O MOVIMENTO ESTÉTICO

CHAMADO BARROCO.O termo Barroco denomina genericamente todas as

manifestações artísticas dos anos 1600 e início dos anos1700. Além da literatura, esse termo estende-se à música,pintura, escultura e arquitetura da época. Portanto, oBarroco não é apenas um movimento literário, mas ummodo estético, cultural e ideológico de fazer arte.

Mesmo os estudos literários considerando o Barrocoo primeiro estilo de época da literatura brasileira e Gregório de Matos o primeiro poetaefetivamente brasileiro, com sentimento nativista manifesto, na realidade, nesse período aindanão se pode isolar o Brasil de Portugal, ou seja, não se pode falar de uma escrita realmentebrasileira. Como afirma o historiador Alfredo Bosi:

No Brasil houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório deMatos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos eformas do barroquismo ibérico e itálico. [BOSI, 1998:182].

Além disso, os dois principais autores – Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos –tiveram suas vidas divididas entre Portugal e Brasil. O primeiro, porque nasceu em Portugale veio para cá a serviço da Coroa catequizar os índios; o segundo, porque estudou emLisboa e viveu no Brasil esperando, sempre, retornar à capital portuguesa.

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Estudos daLiteraturaBrasileira MASMASMASMASMAS, V, V, V, V, VOCÊ DEVE ESTOCÊ DEVE ESTOCÊ DEVE ESTOCÊ DEVE ESTOCÊ DEVE ESTAR SE PERAR SE PERAR SE PERAR SE PERAR SE PERGUNTGUNTGUNTGUNTGUNTADO DEADO DEADO DEADO DEADO DE

ONDE VEM O TERMO BONDE VEM O TERMO BONDE VEM O TERMO BONDE VEM O TERMO BONDE VEM O TERMO BARROCOARROCOARROCOARROCOARROCO, CER, CER, CER, CER, CERTTTTTO?O?O?O?O?

A origem da palavra barroco é controvertida. Alguns etimologistas afirmam que elaestá ligada a um processo mnemônico (relativo à memória) que designava um silogismoaristotélico com conclusão falsa. Segundo outros, designaria um tipo de pérola de formairregular ou mesmo um terreno desigual, assimétrico. Qualquer que seja a hipótese aceita,é possível perceber que há relações com a estética barroca: jogo de idéias, rebuscamento,assimetria. Até hoje, quando nos perdemos diante de uma leitura ou da fala de alguém,costumamos dizer que “entramos num terreno barroco”, ou seja, complexo, onde é possívelse perder facilmente. Isso ocorre, justamente, devido à natureza dessa estética: apresenta,lado a lado, idéias opostas, conflituosas, em que a própria voz poética se reconhece dentrode um abismo.

O Barroco também é chamado de Seiscentismo por ser a estética dominante dosanos 1600 (século XVII).

No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em 1601 com a publicação do poemaépico Prosopopéia, de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o modelo da poesiacamoniana (do poeta português Luiz Vaz de Camões) em nossa literatura.

O Barroco estende-se por todo o século XVII e início do século XVIII. O final do Barrocobrasileiro só se concretizou em 1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina e com apublicação do livro Obras, de Cláudio Manuel da Costa. No entanto, já a partir de 1724, coma fundação da Academia Brasílica dos Esquecidos, o movimento academicista ganhavacorpo, assinalando a decadência dos valores defendidos pelo Barroco e a ascensão domovimento árcade.

Características do Barroco

O estilo barroco nasceu da crise de valores renascentistas ocasionada pelas lutasreligiosas e pela crise econômica vivida em conseqüência da falência do comércio europeucom o Oriente. O homem do Seiscentismo vivia um estado de tensão e desequilíbrio, doqual tentou evadir-se pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras,como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria.

Repare na figura abaixo:

Veja que todo o rebuscamento que aflora na arte barrocaé refluxo do dilema, do conflito entre o terreno e o celestial, ohomem e Deus (antropocentrismo e teocentrismo), o pecado e operdão, a religiosidade medieval e o paganismo renascentista,o material e o espiritual, que tanto atormenta o homem do séculoXVII. A arte assume, assim, uma tendência sensualista,caracterizada pela busca do detalhe num exageradorebuscamento formal.

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Podemos notar dois estilos no barroco literário: o Cultismo e o Conceptismo.

Cultismo: é caracterizado pela imagem rebuscada, culta, extravagante; pelavalorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do poeta espanholLuís de Gôngora; daí o estilo ser também conhecido por Gongorismo.

Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocíniológico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. Um dos principais cultores doConceptismo foi o espanhol Quevedo, do qual deriva o termo Quevedismo.

Principais representantes no Brasil

Padre Antônio Vieira

Vieira nasceu em Lisboa em 1608. Com sete anos veio para a Bahia; em 1632entrou para a Companhia de Jesus. Após a Restauração (1640), movimento pelo qual Portugalliberta-se do domínio espanhol, retornou à terra natal, saudando o rei D. João IV, de quemse tornaria confessor. Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã, pordefender o capitalismo judaico e os cristãos-novos; os pequenos comerciantes, por defenderum monopólio comercial; os administradores e colonos, por defender os índios. Essasposições, principalmente a defesa dos cristãos-novos, custaram a Vieira uma condenaçãopela Inquisição: ficou preso de 1665 a 1667. Faleceu em 1697, no Colégio da Bahia.

• Gregório de Matos Guerra

Nascido na Bahia, provavelmente a 20 de dezembrode 1633, Gregório de Matos firmou-se como o primeiro poetabrasileiro. Após os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas,foi para Coimbra (Portugal), onde se graduou em Direito.Formado, viveu alguns anos em Lisboa, exercendo a profissão;por suas sátiras foi obrigado a retornar à Bahia. Em sua terranatal, foi convidado a trabalhar com os jesuítas no cargo detesoureiro-mor da Companhia de Jesus. Mas novamente suassátiras o fizeram abandonar os padres e, mais tarde, foidegredado para Angola. Já bastante doente, retornou ao Brasil,mas sob duas condições: estava proibido de pisar em terrasbaianas e de apresentar suas sátiras.

Leitura recomendada:Os sermões, Padre Antônio Vieira;Sonetos II, III, IV, V e VI, de Gregório de Matos.

Resumindo: a essência do movimento barroco é o seu conflito entre céu eterra, o que dá à sua produção uma forte impressão de densidade, devido ao abismoentre o desejo do corpo de gozar a vida e o medo de condenação (sofrimento) daalma. Esse abismo gera uma angústia, constantemente revelada pelos autoresbarrocos.

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Estudos daLiteraturaBrasileira

O Arcadismo

O Arcadismo, Setecentismo (1700) ouNeoclassicismo é o período que caracteriza,principalmente, a segunda metade do século XVIII,tingindo as artes de uma nova tonalidade burguesa.

VOCÊ SE LEMBRA QUE ESSA ÉVOCÊ SE LEMBRA QUE ESSA ÉVOCÊ SE LEMBRA QUE ESSA ÉVOCÊ SE LEMBRA QUE ESSA ÉVOCÊ SE LEMBRA QUE ESSA ÉCONSIDERADCONSIDERADCONSIDERADCONSIDERADCONSIDERADA A ESCOLA A ESCOLA A ESCOLA A ESCOLA A ESCOLA DA DA DA DA DAAAAA

SIMPLICIDSIMPLICIDSIMPLICIDSIMPLICIDSIMPLICIDADE, DEVIDO AADE, DEVIDO AADE, DEVIDO AADE, DEVIDO AADE, DEVIDO AO CULO CULO CULO CULO CULTTTTTOOOOOÀ VIDÀ VIDÀ VIDÀ VIDÀ VIDA NO CAMPO?A NO CAMPO?A NO CAMPO?A NO CAMPO?A NO CAMPO?

Vivia-se o Século das Luzes, o Iluminismoburguês que prepara o caminho para a RevoluçãoFrancesa. Veremos como isso ocorreu.

É importante entender que o Arcadismo temespírito nitidamente reformista, pretendendoreformular o ensino, os hábitos, as atitudes sociais,uma vez que é a manifestação artística de um novotempo, de uma nova ideologia e da emancipaçãopolítica da burguesia.

Essa nova classe social, a burguesia, é responsável pelo desenvolvimento docomércio e da indústria e já assistia a algumas vitórias do seu modo de vida sobre osdemais na Inglaterra e Estados Unidos. Na França, a partir de 1750, os filósofos atacamo poder real e clerical e denunciam a corrupção dos costumes com grande violência.

No Brasil, considera-se como data inicial do Arcadismo o ano de 1768, em queocorrem dois fatos marcantes: a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, e apublicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa.

Aprendemos com a História Mundial que o surgimento da burguesia implica numnovo sistema econômico, político e social. Todavia, é na literatura que mais podemosperceber a ideologia e as marcas culturais burguesas.

O Arcadismo inaugura de forma clara e bastante interessante esse diálogo daclasse burguesa com a arte.

A Escola Setecentista desenvolve-se até 1808, com a chegada da Família Realao Rio de Janeiro, a qual, com suas medidas político-administrativas, permite aintrodução do pensamento pré-romântico no Brasil. Na verdade, o culto à simplicidadeárcade já traz em si um valor romântico porque trabalha, embora de modo tímido, coma idéia de junção entre poesia e poeta. Mas, antes de falarmos em Romantismo, vejamosas características do arcadismo.

Características do Arcadismo

Os modelos seguidos pelos árcades são os clássicos greco-latinos e osrenascentistas; a mitologia pagã é retomada como elemento estético. Daí a escola serconhecida também como Neoclassicismo.

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MAS, O QUE SIGNIFICA ESSA PREFERÊNCIA?MAS, O QUE SIGNIFICA ESSA PREFERÊNCIA?MAS, O QUE SIGNIFICA ESSA PREFERÊNCIA?MAS, O QUE SIGNIFICA ESSA PREFERÊNCIA?MAS, O QUE SIGNIFICA ESSA PREFERÊNCIA?

Significa que, inspirados na frase de Horácio (poeta latino clássico) Fugere urbem(“fugir da cidade”) e levados pela teoria de Rosseau (filósofo e poeta francês iluminista)acerca do “bom selvagem”, os árcades voltaram-se para a natureza em busca de umavida simples, bucólica, pastoril. É a procura do locus amoenus (lugar ameno), de um refúgioameno em oposição aos centros urbanos monárquicos, ou seja, a luta do burguês cultocontra a aristocracia se manifesta na busca da natureza.

Cumpre salientar que esse objetivo configurava apenas um estado de espírito, umaposição política e ideológica, uma vez que todos os árcades viviam nos centros urbanos e,burgueses que eram, lá estavam seus interesses econômicos, isto é, todos os poetasárcades eram comerciantes ou homens de negócio. Isso justifica falar-se em fingimentopoético no Arcadismo, fato que transparece no uso dos pseudônimos pastoris. Eles nãoviviam os valores que pregavam nas poesias, entretanto, tais valores simbolizaram a lutade classes que estava sendo travada no mundo inteiro (aristocracia e clero X burguesia).

As características do Arcadismo em Portugal e no Brasil seguem a linha européia:a volta dos padrões clássicos da Antiguidade e do Renascimento; a simplicidade; a poesiabucólica, pastoril; o fingimento poético e o uso de pseudônimos. Quanto ao aspecto formal,temos o soneto, os versos decassílabos, a rima optativa e a tradição da poesia épica.

Os principais autores deste período foram Cláudio Manuel da Costa, Tomás AntônioGonzaga, Basílio da Gama e Frei de Santa Rita Durão.

Leitura recomendada:Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga;Cantatas, de Cláudio Manuel da Costa.

Repare na figura abaixo como a paisagem fica limpa dos exageros barrocos e comoos elementos campestres surgem com naturalidade.

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Estudos daLiteraturaBrasileira

O Pré-Romantismo

VOCÊ SE LEMBRA DE TERVOCÊ SE LEMBRA DE TERVOCÊ SE LEMBRA DE TERVOCÊ SE LEMBRA DE TERVOCÊ SE LEMBRA DE TERESTUDESTUDESTUDESTUDESTUDADO PRÉ-ADO PRÉ-ADO PRÉ-ADO PRÉ-ADO PRÉ-

ROMANTISMO? NÃO? POISROMANTISMO? NÃO? POISROMANTISMO? NÃO? POISROMANTISMO? NÃO? POISROMANTISMO? NÃO? POISNÃO SE PREOCUPE, ELENÃO SE PREOCUPE, ELENÃO SE PREOCUPE, ELENÃO SE PREOCUPE, ELENÃO SE PREOCUPE, ELE

RARAMENTE É ESTUDRARAMENTE É ESTUDRARAMENTE É ESTUDRARAMENTE É ESTUDRARAMENTE É ESTUDADOADOADOADOADONAS ESCOLAS!NAS ESCOLAS!NAS ESCOLAS!NAS ESCOLAS!NAS ESCOLAS!

Devemos entender que há muitasfases dentro das fases que a História Oficialchama de colonial. E, dentro delas, a

importância da Literatura se destaca, pois é através da pena de Caminha, por exemplo,que os portugueses tomam conhecimento oficial dos índios e dos primeiros contatos travadosentre colonizador e colonizado. E é através dela, também, que pudemos delimitar uma origempara as nossas letras.

As imagens na produção literária são formadas, registradas e viajam além-mar, dandoconta de todo um passado mítico, ao qual só podemos chegar através da palavra.

Não aparecem nas crônicas dos nossos primeiros escritores as constantes brigasentre holandeses, franceses e ingleses pelo território brasileiro.Não aparecem de formaclara os piratas que saqueavam e contrabandeavam o pau-brasil. Não aparece o pavor quea Coroa possuía de perder o Brasil para outros colonizadores europeus. E nem mesmo ademora de quase 30 anos por que passou a Coroa até se decidir a iniciar um processo realde colonização, comandado, em 1530, por Martin Afonso de Souza.

Entretanto, aparecem desde muito cedo a nomeação de elementos locais e adescrição de costumes que se tornaram, séculos depois, brasileiros.

No entendimento da formação da Literatura Brasileira, as relações culturais, políticas,lingüísticas e econômicas entre Brasil e Portugal devem ser não apenas de interesse doestudioso, mas, também, consistirem em um link para ampliar as noções de colônia e nação.

Assim, existe, embora que breve, uma fase a que chamamos de Pré-Romantismo,que tem como destaque o escritor Gonçalves de Magalhães, com o texto Ensaio sobre aHistória da Literatura no Brasil, uma espécie de manifesto romântico brasileiro, publicadoem Paris, na Niterói, Revista Brasiliense (1836).

Gonçalves de Magalhães (1811-1882) se preocupava, já neste período, com a relaçãoentre país colonizado e nação. Segundo ele:

Cada povo tem sua literatura, como cada homem tem o seu caráter, cada árvore oseu fruto. Mas esta verdade, que para os primitivos povos é incontestável e absoluta, todaviaalguma modificação experimenta entre aqueles, cuja civilização apenas é um reflexo dacivilização de outro povo.

Podemos perceber como a relação é tensa e como ao escritor cabia não só a reflexãosobre o problema, bem como a busca de uma leitura que viabilizasse a idéia de “nação”.

Ser dependente de Portugal é mais do que um capítulo na nossa história, é umamarca de origem, constitui um motivo de busca incessante de corte, de identidade eindependência.

Mesmo as viagens ou “moradas” dos nossos escritores em Portugal não eram feitasde forma automática, sem trocas, sem interferências e somente para profissionalização.

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VVVVVAMOS ENTENDER JUNTAMOS ENTENDER JUNTAMOS ENTENDER JUNTAMOS ENTENDER JUNTAMOS ENTENDER JUNTOS ESTE PROCESSO?OS ESTE PROCESSO?OS ESTE PROCESSO?OS ESTE PROCESSO?OS ESTE PROCESSO?

Essas viagens constantes para fora do Brasil justificam a imagem de paraísoressaltada nos poetas da fase colonial e, mais tarde, enfatizada na fase Romântica ouNacionalista. E é também a partir de tais viagens que poetas como Gonçalves de Magalhães,introdutor do Romantismo no Brasil, autor de Suspiros Poéticos e Saudades, começam ase preocupar com o registro, a documentação da nossa literatura. Preocupaçãosintomaticamente romântica: busca de origem e de identidade.

Desta forma, a noção de pátria começa a realmente se desenvolver à distância, noexílio, em confronto com o europeu e sua tradição.

Portugal era não apenas a influência, mas a ligação com o resto da Europa, espécie depassaporte, para onde os nossos escritores, mesmo depois da independência do país,iam com freqüência buscar as novas teorias poéticas e intelectuais a serem introduzidas noBrasil.

É assim, no exílio, longe do Brasil, que nossos autores retomam e reforçam a velhaidéia portuguesa do Brasil como paraíso tropical.

Transformar esse paraíso em um campo de produção de poesia e arte era o quetodos eles almejavam.

CONFRONTO? COMO ASSIM?CONFRONTO? COMO ASSIM?CONFRONTO? COMO ASSIM?CONFRONTO? COMO ASSIM?CONFRONTO? COMO ASSIM?

Os nossos poetas se sentiam sem “chão”, sem espelho, sem origem, ao conhecer aEuropa e toda a sua tradição cultural e literária. Então começaram a tentar escreverpanoramas históricos com a finalidade de apresentar um esboço rápido do passado literáriobrasileiro.

Por isso que o Romantismo, em seguida, irá eleger o índio como nosso heróicoancestral, uma vez que a Europa tinha a Idade Média para pesquisar e inserir em suaidentidade, enquanto nós não tínhamos nenhum registro de nada que foi feito ou produzidono Brasil antes da chegada dos portugueses.

Vale lembrar que a essa altura os nossos escritores viajavam muito para a França ede lá traziam idéias e costumes, além do gosto pela Literatura Francesa.

Nesse processo de autodescoberta do país e suas origens, aparecem traços delusofobia (aversão pela cultura portuguesa) que marcam o fim do período colonial e iníciodo nacional. Entretanto, essa aversão ao nosso colonizador implicava numa substituição domodelo português pelo francês, só abandonado muito tempo depois, no Modernismo.

Resumindo: busca de origem e amor à pátria se confundem no Pré-Romantismo, período que não é ressaltado pela nossa Historiografia Oficial, masexistiu como uma fase de transição entre o fim do Arcadismo e o Romantismopropriamente dito. Gonçalves de Magalhães inicia a linha de historiadores literáriosbrasileiros, que buscam uma identidade para o nosso país e incorporam a produçãocolonial à literatura brasileira.

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Estudos daLiteraturaBrasileira

Resumindo: O Quinhentismo ou Literatura deInformação, o Barroco ou Seiscentismo e oArcadismo ou Neoclassicismo são os primeirosmovimentos estéticos da nossa literatura brasileira.As diferenças entre eles estão demarcadas naspáginas anteriores, porém, jamais devemos nosesquecer de que esses três períodos, juntos, integrama Era Colonial de nossa literatura, porque mostramcomo o Brasil era dependente, político eculturalmente, da Metrópole, isto é, de Portugal. O Pré-Romantismo é uma transição que mostra asprimeiras tentativas feitas em prol de uma literaturaclaramente brasileira.

Sites interessantes:http://www.biblio.com.br/Templates/basiliodagama/BasiliodaGama.htmhttp://www.cidadeshistoricas.art.br/index.htmhttp://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/durao.html

Agora que já estudamos o Quinhentismo, pesquise sobre a Carta de Pero Vaz deCaminha, em: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/carta.html

Leia-a e responda:

11111..... De que forma o índio, sua linguagem e costumes são vistos por Pero Vaz deCaminha?

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

2.2.2.2.2. Pesquise sobre Bento Teixeira, poeta barroco. Leia o seu poema Prosopopéiaem: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/prosopopeia.html

Analise e responda se esse poema se enquadra nas características barrocas queacabamos de estudar. Justifique sua resposta.

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3.3.3.3.3. Leia um poema de Gregório de Matos e um de Tomás Antônio Gonzaga.Atente para as principais diferenças entre eles e elabore em cinco linhas o que mais sedestaca nessas duas vertentes da nossa literatura.

2.2.2.2.2. Tente descobrir porque, apesar de ser considerado o marco do Barroco noBrasil, Bento Teixeira não é considerado tão importante por muitos historiadores daliteratura. Pesquise e responda.

ERA NACIONAL

O Romantismo

Romantismo. Essa palavra é velha conhecidanossa. Freqüentemente, no nosso dia-a-dia usamosmuito a palavra romantismo para falarmos de alguémou de alguma atitude cuja carga ilusória oudesconexão com a realidade seja latente.

DE ONDE VEM ESSE HÁBITODE ONDE VEM ESSE HÁBITODE ONDE VEM ESSE HÁBITODE ONDE VEM ESSE HÁBITODE ONDE VEM ESSE HÁBITONOSSO?NOSSO?NOSSO?NOSSO?NOSSO?

Bem, existe a palavra no seu uso cotidiano,que já foi até banalizada, conforme exemplo acima,

e existe o termo que designa um estilo de época, o período Romântico, que está associadoà Revolução Francesa, à plena ascensão da burguesia e ao liberalismo econômico.

Após a Revolução Francesa, nota-se um acentuado progresso político, social eeconômico da burguesia, que, aos poucos, vai assumindo o lugar de classe dominante,lugar anteriormente ocupado pela aristocracia de sangue ou aristocracia real: aqueles queeram filhos, descendentes diretos ou indiretos de reis e rainhas e que nada precisavamfazer para serem reconhecidos no mundo, herdavam a fortuna e título por causa do sangue.

Com a ascensão da burguesia, aconteceram muitas alterações em pouco tempo:uma quantidade enorme de inventos acelerou o ritmo de vida, a população da Europa

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duplicou-se no século XIX, os novos ideais sociais e políticos multiplicaram-se em desconcertante confusão.

A doutrina filosófica em que se apóiam os princípios burgueses é oliberalismo, que valoriza a iniciativa individual e a capacidade criadora decada um. Não podemos esquecer, portanto, que o Arcadismo, anterior a esseperíodo, foi importante porque semeou a ideologia burguesa no mundo.

E COMO ISSO OCORREU NO NOSSO PE COMO ISSO OCORREU NO NOSSO PE COMO ISSO OCORREU NO NOSSO PE COMO ISSO OCORREU NO NOSSO PE COMO ISSO OCORREU NO NOSSO PAÍS?AÍS?AÍS?AÍS?AÍS?Temos diversas formas de entender o Romantismo e sua importância no Brasil.

Primeiro, comecemos pela história. A independência política do Brasil aconteceu em 1822;o início oficial do nosso Romantismo é situado pelos estudiosos em 1836.

Dessa forma, o Romantismo corresponde ao movimento que procuroupromover a independência cultural do país, perseguindo a criação de uma arte e deuma literatura marcadamente nacionais, que pudessem constituir nossa forma deexpressão mais autêntica.

Nesse momento pregava-se a valorização do elemento local e das feições particularesde cada povo como material de elaboração artística; há, portanto, uma forte correspondênciaentre as propostas românticas e o momento social e político vivido pelo país na primeirametade do século XIX.

A produção literária do Romantismo foi muito grande. A poesia costuma ser divididaem três “gerações”, cada uma delas devidamente caracterizada. A prosa de ficção surgiu edesenvolveu-se nesse período, chegando a produzir trabalhos de mérito. Também o teatroconsolidou-se nessa época.

Para melhor entender a produtividade romântica, todas as histórias da literaturabrasileira dividem esse período em três fases ou gerações.

As gerações românticas

Primeira Geração – geração nacionalista ouindianista.

É marcada pela exaltação da natureza, volta aopassado histórico, medievalismo, criação do heróinacional na figura do índio, de onde surgiu a denominaçãode geração indianista.

O sentimentalismo e a religiosidade são outrascaracterísticas presentes. Entre os principais autores podemos destacar Gonçalves Dias,Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto-Alegre.

Segunda Geração – geração do mal do século.Fortemente influenciada pela poesia de Lord Byron e Musset, é também chamada

de geração byroniana, essa é a geração ultra-romântica da nossa literatura.

MASMASMASMASMAS, QU, QU, QU, QU, QUAL A SUAL A SUAL A SUAL A SUAL A SUA DIFERENÇA EM RELA DIFERENÇA EM RELA DIFERENÇA EM RELA DIFERENÇA EM RELA DIFERENÇA EM RELAÇÃO À ANTERIOR?AÇÃO À ANTERIOR?AÇÃO À ANTERIOR?AÇÃO À ANTERIOR?AÇÃO À ANTERIOR?A diferença é muito grande. Devemos entender que a segunda geração estava

impregnada de egocentrismo, negativismo boêmio, pessimismo, dúvida, desilusãoadolescente e tédio constante, elementos característicos do ultra-romantismo, o chamado

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verdadeiro mal-do-século – nome dado à tuberculose, doença que abateu a maioria dospoetas dessa segunda fase, que morreu muito jovem.

Todavia, a principal diferença desta geração em relação à outra é que o seu temapreferido é a fuga da realidade, que se manifesta na idealização da infância, nas mulheresvirgens sonhadas e na exaltação da morte, distanciando-se da necessidade dos primeirosromânticos de estabelecer uma origem e um herói para o Brasil.

Os principais poetas dessa geração foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu,Junqueira Freire e Fagundes Varela.

Álvares de Azevedo Casimiro de Abreu

Terceira Geração - geração condoreiraCaracterizada pela poesia social e libertária, essa geração reflete as lutas internas

da segunda metade do reinado de D. Pedro II. Sofreu intensamente a influência do poetafrancês Victor Hugo e de sua poesia político-social, daí ser conhecida como geraçãohugoana. Ela rompe com a geração do mal do século, principalmente por trazer umapreocupação com o social e com ideais de liberdade.

POR QUE É CHAMADA DE GERAÇÃO CONDOREIRA?

O termo condoreirismo é conseqüência do símbolo de liberdade adotado pelos jovensromânticos: o condor, águia que habita o alto das cordilheiras dos Andes. Seu principalrepresentante foi Castro Alves, mas tivemos também Tobias Barreto e Sousandrade nestafase.

Há, portanto, nesta terceira geração, um retorno às preocupações sociais e nacionais,que foi interrompida na segunda geração.

Leia mais sobre essa terceira fase romântica em:http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/poesia/index.cfm?fuseaction=detalhe&cd_verbete=5370

Resumindo: as três fases da poesia romântica no Brasil se diferenciampela preocupação com as origens e identidade nacionais (primeira geração), pelopessimismo e fuga da realidade (segunda geração) e pelo teor político e social(terceira geração).

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A prosa do Romantismo

O estiloO movimento romântico foi

responsável pelo surgimento do romanceno Brasil. Até então, os textos escritos em prosa estavammuito distantes desse tipo de narrativa.Cronologicamente, o primeiro romance brasileiro foi OFilho do Pescador (1843), de Teixeira e Sousa. Essaobra, no entanto, tem apenas valor histórico, pois nãotraz uma elaboração literária propriamente dita. O primeiro lugar na prosa romântica cabeao romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. A partir dessa obra, muitosromances foram publicados, atendendo a um número cada vez maior de leitores

O romance romântico apresenta no Brasil quatro tendências: o romance urbano, oindianista, o regionalista e o histórico.

Romance urbano

Esse gênero de romance, também conhecido como romance de costumes, procuraretratar e criticar os costumes da sociedade carioca do século XIX. O criador desse gênerono Brasil foi Joaquim Manuel de Macedo. Destaca-se, também, José de Alencar nosromances Senhora, Cinco minutos, A viuvinha, Lucíola, Diva, A pata da gazela, Senhor d’ouro.

Romance indianista

O romântico brasileiro volta-se para a época do descobrimento, valorizando oindígena, uma vez que não tivemos Idade Média e no mundo inteiro a literatura procuraestabelecer uma origem para os povos. Essa busca das nossas raízes conduz aonacionalismo, uma das principais características românticas.

MAS, O QUE VEM A SER O NACIONALISMO?MAS, O QUE VEM A SER O NACIONALISMO?MAS, O QUE VEM A SER O NACIONALISMO?MAS, O QUE VEM A SER O NACIONALISMO?MAS, O QUE VEM A SER O NACIONALISMO?

Em linhas gerais, podemos dizer quenacionalismo é a tendência a valorizar os aspectosculturais, históricos, políticos e estéticos de uma nação,aquela a que pertencemos.

Devemos diferenciar nacionalismo deufanismo, pois o primeiro é uma valorização do queé nacional, enquanto o segundo é uma mistura dehipervalorização do nacional com um forterepúdio a qualquer valor estrangeiro. Para sermosnacionalistas, entretanto, não precisamos ser ufanistas,pois o ufanismo concebe que os nossos valores são superiores aos de outros países,enquanto o nacionalismo apenas destaca a importância de se valorizar o que é nosso, semdesmerecer o que é estrangeiro.

Nosso grande representante na prosa indianista é José de Alencar, com os romancesO guarani, Iracema e Ubirajara.

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Romance regionalista

Para alguns escritores, o verdadeiro Brasil era o sertão, que ainda conservava intactostraços de nossa cultura e de nossa natureza. Esses escritores criaram o romance regionalista,que é, de certa forma, o outro lado do nacionalismo literário explorado pelo indianista.Procuraram fixar traços peculiares de determinadas regiões do país.

O primeiro desses regionalistas foi Bernardo Guimarães, que retratou o interior deMinas Gerais e de Goiás em suas obras: A Escrava Isaura e O seminarista. Depois temosVisconde de Taunay, que ficou conhecido por sua obra Inocência, em que procurou registraralgumas peculiaridades do falar sertanejo, além de Franklin Távora, autor de O Cabeleira,que é considerado o criador da literatura do Nordeste.

Romance histórico

Preocupados em enfatizar o nacionalismo em suas obras, alguns de nossos escritoresromânticos dedicaram-se à reconstituição de fatos da história brasileira. Entre os autoresque se dedicaram a esse gênero, destaca-se José de Alencar, com as obras As Minas dePrata e Guerra dos Mascates.

Você percebeu que o período romântico é muito extenso e produtivo, issoporque a literatura brasileira, finalmente, encontra sua chamada “identidade”. Não sepode esquecer que esse momento guarda a chave de várias respostas para questõessobre onde começa o Brasil no nosso imaginário e a idéia de nação que nos foipassada através de hinos e da escola.

Leia mais sobre a prosa romântica em:http://www.graudez.com.br/literatura/romantismoprosa.htmlhttp://www.profabeatriz.hpg.ig.com.br/literatura/romantismo.htm

O Realismo

Realismo é a denominação genérica de umareação artística aos ideais românticos. O realismocaracterizou a segunda metade do século XIX.

POR QUE HOUVE ESSA REAÇÃO?POR QUE HOUVE ESSA REAÇÃO?POR QUE HOUVE ESSA REAÇÃO?POR QUE HOUVE ESSA REAÇÃO?POR QUE HOUVE ESSA REAÇÃO?

Devido às profundas transformações vividas pelasociedade européia, que exigiam uma nova posturadiante da realidade. Basicamente, não havia maisespaço para as exageradas idealizações românticas. Portanto, o Realismo tem de seranalisado a partir de um novo ponto de referência que surgiu no horizonte da época: aEuropa vivia a primeira fase da Revolução Industrial, ao mesmo tempo em que conhecia odesenvolvimento do pensamento científico e das doutrinas filosóficas e sociais.

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O QUE VEM A SER ESSE PENSAMENTOO QUE VEM A SER ESSE PENSAMENTOO QUE VEM A SER ESSE PENSAMENTOO QUE VEM A SER ESSE PENSAMENTOO QUE VEM A SER ESSE PENSAMENTOCIENTÍFICO?CIENTÍFICO?CIENTÍFICO?CIENTÍFICO?CIENTÍFICO?

Durante a segunda metade do século XIX, difundem-se o pensamentodialético de Hegel (tese, antítese e síntese), o positivismo de Augusto Comte,o socialismo científico de Marx e Engels, e o evolucionismo de Darwin. No

Brasil, o Realismo confunde-se com o fim da escravidão, com a proclamação da Repúblicae com o início da economia cafeeira e do trabalho assalariado do imigrante europeu.

Características do Realismo

As características do Realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico emque se insere esse movimento literário, refletindo, dessa forma, a postura do positivismo,do socialismo e do evolucionismo, com todas as suas variantes.

Assim é que o objetivismo aparece como negação ao subjetivismo romântico e nosmostra o homem voltado para aquilo que está diante e foradele, o não-eu; ou seja, o personalismo cede terreno aouniversalismo. O materialismo leva à negação dosentimentalismo e da metafísica. O nacionalismo e a voltaao passado histórico são deixados de lado; o Realismosó se preocupa com o presente, com o contemporâneo,isto é, o que estava acontecendo naquele momento.

Vejamos as principais características do Realismo.

Outra característica forte do Realismo é a crítica aomodo de vida romântico, o que gera, muitas vezes, umaanarquização dos valores burgueses, como ocorre emMadame Bovary, romance do autor francês GustaveFlaubert, em que uma personagem feminina (Ema), leitora de romances românticos, adoecepor não conseguir vivenciar a paixão que é descrita nos livros. Nessa mesma linha de críticaà busca exagerada de viver o grande amor e encontrar o par perfeito, idealizados pelosromânticos, vem O Primo Basílio, do escritor português Eça de Queirós.

Romance realista

Cultivado no Brasil por Machado de Assis, é uma narrativa voltada para a análisepsicológica e que critica a sociedade a partir do comportamento de determinadospersonagens. É interessante constatar que os cinco romances da fase realista de Machadoapresentam nomes próprios em seus títulos – Brás Cubas; Quincas Borba; Dom Casmurro;Esaú e Jacó; Memorial de Aires, revelando inequívoca preocupação com o indivíduo.

O romance machadiano analisa a sociedade através de personagens capitalistas,ou seja, pertencentes à classe dominante: Brás Cubas não produz, vive do capital, o mesmoacontecendo com Bentinho (personagem de Dom Casmurro). Já Quincas Borba era loucoe mendigo até receber uma herança. O único dos personagens centrais de Machado quetrabalhava era Rubião (professor), mas recebe a herança de Quincas Borba, muda-se parao Rio e não trabalha mais, vivendo do capital.

Assim, o romance realista é documental, retrato de uma época em que os valoresburgueses já estavam sendo questionados e substituídos por outros. Entretanto, não

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romances, sendo, muitas vezes, considerado o menos realista de todos os escritoresbrasileiros da época, isto porque o retrato que faz de suas personagens ultrapassa acaricatura e a mera descrição, para aprofundar a análise psicológica e social.

Romance naturalista

Foi cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo e por Júlio Ribeiro. Muitos historiadoresda literatura brasileira colocam Raul Pompéia como romancista naturalista, entretanto, oseu caso é muito particular, pois seu romance O Ateneu ora apresenta característicasnaturalistas, ora realistas, ora impressionistas. Sendo, assim, classificado como romancenaturalista por uma questão de época – por ter sido publicado naquele período.

podemos nos esquecer de que Machado de Assis imprime uma marca própria a seus

Qual a difQual a difQual a difQual a difQual a diferererererença do rença do rença do rença do rença do romance naomance naomance naomance naomance naturturturturturalista paralista paralista paralista paralista para o ra o ra o ra o ra o realista?ealista?ealista?ealista?ealista?

A primeira diferença é o universo dos personagens, a narrativa realista, emboracritique o modo de vida burguês romântico, traz quase sempre personagens de classe socialalta ou caminhando para ficarem ricos, enquanto a narrativa naturalista é marcada pelavigorosa análise social a partir de grupos humanos marginalizados, em que se destaca ocoletivo e não o indivíduo.

Interessa notar que também os títulos dos romances naturalistas apresentam a mesmapreocupação: O Mulato, O cortiço, Casa de pensão, O Ateneu. Ou seja, diferem-se dostítulos individuais do Realismo de Machado, por exemplo.

Sobre o romance O cortiço, de Aluísio de Azevedo, há, inclusive, uma tese bem popularde que o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, nemPombinha, mas, sim, o próprio cortiço.

Por outro lado, o naturalismo apresenta romances experimentais: a influência deDarwin se faz sentir na máxima naturalista, que enfatiza a natureza animal do homem; isto é,antes de usar a razão, o homem deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo serreprimido em suas manifestações naturais – como o sexo – pela moral da classe dominante.

A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto naturalista; emconseqüência, esses romances, erroneamente tachados por alguns de pornográficos, sãomais ousados, apresentando descrições minuciosas de atos sexuais e tocando, inclusive,em temas então proibidos, como a homossexualidade, tanto masculina, como em O Ateneu,quanto feminina, em O cortiço.

Resumindo: o realismo foi uma reação aos exageros românticos que trouxede volta a objetividade ao texto.Para entender o Realismo nada melhor do que ler osseus romances, porque a linguagem que eles trazem falam por si só e trazem toda ainfluência do cientificismo, de forma direta, na construção que o narrador faz de seuspersonagens. Não deixe de ler: Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia e, principalmente,Machado de Assis.

Pesquise mais em:http://www.suapesquisa.com/realismo/

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O Parnasianismo

O Parnasianismo é uma manifestaçãopoética da época do Realismo, emboraideologicamente não mantenha todos os pontos

de contato com os romancistas realistas e naturalistas. É aestética da “arte pela arte”, ou da “arte sobre a arte”, comseus poetas à margem das grandes transformações do finaldo século XIX e início do XX e cultuando, sobretudo, a forma,em detrimento do conteúdo.

A nova estética se manifesta a partir do final da décadade 1870, prolongando-se até a Semana de Arte Moderna (emalguns casos chegou a ultrapassar o ano de 1922). Suainfluência é basicamente francesa, a partir da própriadenominação, que não passava de uma alusão às antologias publicadas na França apartir de 1866 com o título Parnasse Contemporain.

A poesia parnasiana, numa postura anti-romântica, baseava-se no binômioobjetividade temática/culto da forma. A objetividade temática surge com a negação aosentimento romântico, numa tentativa de atingir a impassibilidade e a impessoalidade.Opunha ao subjetivismo decadente o universalismo – daí resultar uma poesia carregadade descrições objetivas e impessoais. Retorna-se à Antiguidade Clássica e ao seuracionalismo e formas perfeitas. Surge a poesia de meditação, filosófica, mas artificial.

Entretanto, o traço mais característico da poética parnasiana é o culto da forma: aforma fixa representada pelos sonetos; a métrica dos versos alexandrinos (12 sílabaspoéticas) e decassílabos perfeitos; a rima rica, rara e perfeita. Tudo isso contrapondo-seaos versos livres e brancos dos românticos. Em suma, é o endeusamento da forma.

Dos poetas parnasianos brasileiros destacam-se três, conhecidos como a tríadeparnasiana: Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto Oliveira.

Por ser tão radical em relação ao culto da forma fixa, o parnasianismo foi duramentecriticado pelo movimento estético modernista, que veio depois.

Leia mais sobre o Parnasianismo em:http://educaterra.terra.com.br/literatura/parnasianismo/parnasianismo_6.htm

O SimbolismoO Simbolismo, na literatura brasileira, foi contemporâneo do Parnasianismo, mas

isso só ocorre no Brasil, pois, no mundo inteiro, o Simbolismo já trazia um rompimento como formalismo parnasiano, preparando o terreno para a explosão do modernismo.

Essa característica histórica da literatura brasileira fez com que, momentos depois,já no Modernismo, o grande combate se desse entre parnasianos e modernistas, uma vezque a estética parnasiana ainda vigorava, como se o Simbolismo não tivesse existido erompido com a estética parnasiana.

Os primeiros sinais do Simbolismo no Brasil podem ser percebidos já no trabalhode Teófilo Dias, cujas Fanfarras (publicadas em 1882) são consideradas, como sabemos,a primeira obra parnasiana da nossa literatura, entretanto, já trazia elementos simbolistas.

Em 1889 são publicadas as Canções da Decadência, Medeiros e Albuquerque(1867– 1934); no ano seguinte surgem os Versos, de Venceslau de Queirós (1865 – 1921),

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livros considerados precursores do Simbolismo. A característica comum a esses três poetasé a forte influência de Charles Baudelaire, poeta francês, cuja obra serviu de modelo aparnasianos e simbolistas.

Você percebe, portanto, que há uma mistura entre um movimento e outro, correto?Pois você está certíssimo! É somente a partir de 1891 que o movimento simbolista começaa se definir com clareza: surge um grupo de poetas em torno do jornal carioca Folha Popular,que passa a publicar artigos e textos de figuras como Emiliano Perneta e Cruz e Sousa. Em1893, a publicação de Missal e de Broqueis, de Cruz e Sousa, consolida a implantação domovimento simbolista na literatura brasileira.

Combatidos pelos parnasianos, que desfrutavam grande prestígio na época, ossimbolistas não encontraram boa receptividade e acabaram desenvolvendo um trabalhoquase marginal, agrupados ao redor de algumas revistas de vida normalmente efêmera.Além do grupo carioca inicial e de outros do Rio de Janeiro, o movimento conheceuseguidores em São Paulo, em Minas Gerais, na Bahia, no Paraná e no Rio Grande do Sul.

Seus principais poetas foram Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e PedroKilkerry. A prosa do período não alcançou resultados muito satisfatórios, não sendomencionada em nenhuma história da literatura brasileira.

Características do Simbolismo

O simbolismo começa por repudiar o Realismo e suas manifestações. De fato, anova estética rejeita o cientificismo, o materialismo, o racionalismo, valorizando, emcontrapartida, as manifestações metafísicas e espirituais, o que equivale a dizer que elacorresponde à negação do Naturalismo e do Parnasianismo.

A realidade objetiva não interessa mais; o homem volta-se para uma realidadesubjetiva, retomando um aspecto abandonado desde o Romantismo. O eu passa a ser ouniverso, mas não era mais o eu do Romantismo: os simbolistas vão em busca da essênciado ser humano, daquilo que ele tem de mais profundo e universal – a alma. Daí a sublimação,tão procurada pelos simbolistas: a oposição entre matéria e espírito, a purificação, pormeio da qual o espírito atinge as regiões etéreas, o espaço infinito.

Em última análise, trata-se de uma oposição entre corpo e alma em que a alma só seliberta quando se rompem as correntes que a aprisionam ao corpo, ou seja, com a morte.

Em conseqüência desse subjetivismo, dessa valorização do inconsciente e dosubconsciente, dos estados d’alma, da busca do vago, do diáfano, do sonho e da loucura,o Simbolismo desenvolve uma linguagem carregada de símbolos (o trópos, isto é, o “desvio”,a mudança de significado de uma palavra ou expressão), em clara oposição a umalinguagem mais seca e impessoal, parnasiana.

No Simbolismo, tudo é sugestão, sugerir, eis o sonho.Era a lei do poeta simbolistafrancês Stéphane Mallarmé (1842-1898). As palavras transcendem o significado, ao mesmotempo que apelam para a totalidade da nossa percepção, ou seja, para todos os sentidos.Daí a linguagem simbólica e o uso constante de sinestesias (exploração de sensações viaos cinco sentidos humanos) e de aliterações (repetição da primeira consoante de umapalavra nas palavras seguintes).

A musicalidade é uma das características mais destacadas da estética simbolista.

Vejamos as principais características desse movimento

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Resumindo: encerrando o nosso primeiro bloco, no qual estudamos duaseras importantíssimas para a nossa literatura – a era colonial e a era nacional –podemos perceber as diferenças entre elas: na época colonial, a escrita que seproduzia no Brasil estava muito ligada ao modelo europeu e não problematizavaas questões de nacionalidade, identidade, liberdade e dependência cultural, que,mais tarde, foram o centro das idéias românticas. Os autores Gonçalves Dias,Castro Alves e José de Alencar são significativos para se entender as noções debrasilidade e interferência no meio social que ocuparam, neste período, a atençãodos nossos escritores.

Reflita e discuta com seus colegas sobre esses dois períodos, comparandoas contribuições que eles trouxeram para a nossa literatura.

Leia sobre dois dos principais autores simbolistas em:http://educaterra.terra.com.br/literatura/simbolismo/indice.htm

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

11111..... Releia o conteúdo 01 do Tema 01 e reflita quais são os pontos de conflito entreos colonizadores e os aborígines descritos por Caminha. Resuma-os em cinco linhas.

2.2.2.2.2.Pesquise mais e elabore uma lista com os autores e obras que não poderiamfaltar num curso de introdução à literatura brasileira, do período de informação ao simbolismo.Justifique suas escolhas, lembrando-se de que você está fazendo-as baseado numaideologia, numa visão de mundo que inclui algumas obras e exclui outras. Esteja sempreconsciente dessas relações, pois você é mais do que um mero reprodutor de períodos oumovimentos literários.Você é um profissional de Letras e suas escolhas interferirão naimagem que seus alunos terão de nossa literatura.

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3.3.3.3.3. Escolha um autor romântico e um realista. Estabeleça um quadro de diferençase possíveis aproximações entre eles.

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Estudos daLiteraturaBrasileira

A DIVERSIDADE DALITERATURA BRASILEIRA

MODERNISTAS E MODERNOS

As Vanguardas EuropéiasUma das primeiras questões que devemos estudar para entender o Modernismo

são as Vanguardas Européias ou Ismos Europeus (“ismo” é, no caso, o sufixo que vocêse acostumou a ver nos nomes das escolas literárias), que foram movimentos literários eestéticos radicais, cujos principais objetivos eram promover a ruptura com a tradição e aabertura a novas possibilidades artísticas, como as oferecidas pela vida urbana moderna epela exploração do irracionalismo e do inconsciente.

As principais vanguardas ou “ismos” foram o Futurismo, o Cubismo, oExpressionismo, o Dadaísmo e o Surrealismo.

O ambiente de crise do final do século XIX e do começo do século XX e a posterioreclosão da Primeira Grande Guerra foram decisivos para as atitudes de negação da culturaeuropéia tradicional e de busca de novos valores morais e estéticos adotados pelosseguidores dessas vanguardas.

FuturismoSurgiu com o italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-

1944), considerado o criador do Futurismo. Ele publicou em 20 defevereiro de 1909, no jornal parisiense Le Figaro, o ManifestoFuturista, no qual propôs a exaltação da vida moderna, o culto damáquina e da velocidade, a destruição do passado e dos meiostradicionais de expressão literária (particularmente da sintaxe) comonovas formas de fazer arte e literatura.

Apesar da literatura brasileira não ter grandes nomes queproduziram dentro da estética futurista, esse movimento é importantepara se entender o modernismo inicial de ruptura do poeta Mário de Andrade, por exemplo,um dos nossos primeiros modernistas.

Cubismo

O Cubismo na pintura surgiu por volta de 1907, na França, como trabalho do espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e do francêsGeorges Brasque (1882-1963).

Nesse ano, Picasso pintou a tela Les demoiselles d’Avignon,considerado o seu primeiro trabalho cubista.

MasMasMasMasMas, o que v, o que v, o que v, o que v, o que vem a ser o cubismo?em a ser o cubismo?em a ser o cubismo?em a ser o cubismo?em a ser o cubismo?

Os pintores cubistas são aqueles que optaram por nãorepresentar realisticamente a realidade (as imagens como nossos

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olhos geralmente vêem), mas sim por apresentá-la de uma forma fracionada, por meio deplanos superpostos e simultâneos (cubos).

A representação da realidade ocorre por meio de figuras geométricas: decompõem-se as formas em diferentes planos e ângulos retos que, interceptando-se, tenta sugerir oobjeto retratado em todos os seus aspectos, como se estivesse sendo contemplado dediferentes pontos de vista a um só tempo.

Representam-se, assim, as diversas relações que os objetos estabelecem com arealidade – as telas não sintetizam aquilo que se pode ver, mas sim o que se pode perceberpela análise do observador, que deve ser capaz de “desconstruir” a realidade a fim deexplicitar as relações que a constituem.

Picasso inspirou-se no trabalho de alguns precursores, como o francês Paul Cézanne(1839-1906), e na arte primitiva da África, da Oceania e da península ibérica para fundar ocubismo.

O Cubismo na literatura

Na literatura, o Cubismo se caracteriza pela subjetivização e desintegração darealidade (“remover continuamente a aparência que reveste a natureza”), que é reconstruídacom a utilização de recursos como o instantaneísmo, a simultaneidade, o ilogismo. Humor eantiintelectualismo, expressos em linguagem com a predominância de nomes e muitas vezescaótica, também fazem parte da literatura cubista. Busca-se, assim, mostrar que a realidadeé uma estrutura de relações que devem ser recortadas e reorganizadas em planossuperpostos e simultâneos. A arte, dessa forma, liberta-se da necessidade de representara realidade e se transforma numa construção independente. A literatura brasileira não contacom revelações neste movimento vanguardista.

Expressionismo

Com certeza você já ouviu falar muito dessemovimento estético. O Expressionismo surgiu como ummovimento mais ou menos estruturado a partir dapublicação da revista alemã Der Sturm (A Tempestade) em1910. A principal característica do Expressionismo é adeformação expressiva da realidade, que passa a serinterpretada subjetivamente. Na pintura, o Expressionismoapresenta como tendências a acentuada deformação formale os violentos contrastes cromáticos, que permitem aexpressão intensa do mundo interior do artista.

O Expressionismo na literatura

Kasimir Edschimd (1890-1960), romancista eensaísta alemão, assim define o modo expressionista deproduzir literatura:

Assim, o universo total do artista expressionista torna-se visão. Ele não vê, maspercebe. Ele não descreve, acumula vivências. Ele não reproduz, ele estrutura. Ele nãocolhe, ele procura. Agora não existe mais a cadeia dos fatos: fábricas, casas, doença,prostitutas, gritaria e fome. Agora existe a visão disso. Os fatos têm significado somenteaté o ponto em que a mão do artista o atravessa para agarrar o que encontra além deles.[EDSCHIMD, In: TELLES, 1977: 170).

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Não é difícil perceber que para os expressionistas o que mais contavaera a personalidade do artista, que deveria imprimir no seu trabalho as marcasclaras da sua individualidade. Linguagem intensamente metafórica, sintaxeconfusa, vocabulário escolhido com base na força sugestiva e expressiva daspalavras são típicos elementos da literatura expressionista – que procura,dessa forma, permitir a expressão da vida interior do artista.

O Expressionismo, com sua valorização exacerbada do eu interior esua deformação muitas vezes grotesca do mundo retratado, contesta e denuncia o mundoburguês e capitalista do início do século XX, mergulhado em profunda crise de valoresmorais. Deve-se destacar que a palavra expressionismo é utilizada também para denominartrabalhos e artistas que, apesar de historicamente não pertencerem ao movimento,apresentam pontos de contato com as idéias dessa corrente. É o que acontece, por exemplo,com o maior expoente da literatura brasileira desse campo, o poeta paraibano Augusto dosAnjos, muitas vezes classificado como parnasiano, mas que tem fortes tendênciasexpressionistas.

Dadaísmo

Em 1916, em Zurique, Suíça, um grupo de intelectuais, dentreos quais se destaca a figura do romeno Tristan Tzara (1896-1963),lança o movimento Dada ou Dadaísmo. O Dadaísmo foi o maisradical dos movimentos das Vanguardas Européias: acontinuação da guerra provocava um profundo sentimento niilista(pessimismo extremo, negação de sentido para a existênciahumana e negação de Deus).

O Dadaísmo se caracteriza pela improvisação, peladesordem, pela constante dúvida, pelo repúdio ao dogmatismo.

É um movimento essencialmente dessacralizador, ou seja,critica radicalmente os valores constituídos – inclusive os artísticos – e faz a exaltaçãoanárquica da liberdade individual.

Os dadaístas levaram às últimas conseqüências o irracionalismo, pregando adestruição das formas e valores artísticos e o fim de noções como unidade e coerência.Pesquisaram o mundo pré-lógico por meio de livres associações de palavras e metáforase abriram caminho para a exploração do inconsciente, o que seria desenvolvido pelossurrealistas.

Surrealismo

O Surrealismo surgiu na França por voltade 1920. Em 1924, André Breton (1896-1970)publicou o Manifesto Surrealista, no qual seexpõem sistematicamente os princípios teóricosdessa corrente artística.

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É assim que Breton define o movimento:

SURREALISMO (...) Encicl. Filos. O surrealismo assenta na crença da realidadesuperior de certas formas de associação, negligenciadas até aqui, no sonho todo-poderoso,no jogo desinteressado do pensamento. Tende a arruinar definitivamente todos osmecanismos psíquicos e a substituir-se a eles na solução dos principais problemas davida. [BRETON, In: TELLES, 1977: 181).

Os surrealistas opunham ao niilismo dadaísta o conhecimento pleno e profundo dohomem pela investigação e pesquisa de conteúdos ainda não explorados (“formas deassociação, negligenciadas até aqui”) pela arte e pela cultura: o inconsciente, o sonho, omaravilhoso, a loucura, os estados alucinatórios – numa valorização acentuada de tudo oque era antilógico e irracional. Na literatura, o surrealismo demorou a ser totalmente praticado,e tem em Gabriel Garcia Marquez (escritor latino-americano, Venezuela) seu maior expoenteno mundo.

Esta estética pretende libertar totalmente o ser humano da tirania da razão, da morale da religião e reencontrar o homem em estado de pureza, ainda não deformada pelasociedade. O surrealismo não se restringiu a um período específico, sendo percebidodécadas depois em textos de autores brasileiros contemporâneos, como Hilda Hilst, emFluxo-poema, e Caio Fernando Abreu, como O ovo apunhalado (1975), entre outros.

O Pré-modernismo

Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma"escola literária", e até apresentar individualidades muitofortes, com estilos, às vezes, antagônicos, (como é o caso,por exemplo, de Euclides da Cunha e de Lima Barreto),podemos perceber alguns pontos comuns às principaisobras pré-modernistas, que são assim chamadas nãoapenas por terem sido publicadas num período queantecedeu ao Modernismo no Brasil, mas, também, porquepossuem traços em comum com o que veio, mais tarde, aser chamado de Modernismo, como temas nacionais,configurações culturais da cultura negra (até então apenasvista de forma caricatural pelo Naturalismo) e do imigranteeuropeu e, principalmente, uma descoberta do país maisampla e aprofundada.

Um dos primeiros autores a ser considerado dentrodo panorama pré-modernista é Augusto dos Anjos. Apesarde alguns conservadorismos, existe um caráter inovador emalgumas de suas obras, que representa uma ruptura com opassado, com o academismo. A linguagem de Augusto dosAnjos, ponteada de palavras "não-poéticas", como cuspe,vômito, escarro, vermes, era uma afronta à poesiaparnasiana ainda em vigor naquela época.

Já Lima Barreto ironiza tanto os escritores "importantes", que utilizavam umalinguagem pomposa, quanto os leitores que se deixavam impressionar: "Quanto maisincompreensível é ela (a linguagem), mais admirado é o escritor que a escreve, por todosque não lhe entenderam o escrito", alfineta ele em Os bruzundangas.

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Características do Pré-Modernismo

A denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil literário herdadodo Romantismo e do Parnasianismo; o Brasil não-oficial do sertão nordestino,dos caboclos interioranos, dos subúrbios, é o grande tema do Pré-Modernismo.

O regionalismo, montando um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste, comEuclides da Cunha; o vale do Paraíba e o interior paulista, com Monteiro Lobato; o EspíritoSanto, com Graça Aranha; o subúrbio carioca, com Lima Barreto.

Os tipos humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionáriospúblicos, os mulatos.

Uma ligação com fatos políticos, econômicos ou sociais contemporâneos, diminuindoa distância entre a realidade e a ficção. São exemplos: Triste fim de Policarpo Quaresma,de Lima Barreto (retrata o governo de Floriano e a Revolta da Armada), Os sertões, deEuclides da Cunha (um relato da Guerra de Canudos), Cidades Mortas, de Monteiro Lobato(mostra a passagem do café pelo vale do Paraíba paulista), e Canaã, de Graça Aranha (umdocumento sobre a imigração alemã no Espírito Santo).

Assim, essa "descoberta do Brasil" é a principal herança desses autores para omovimento modernista, iniciado em 1922.

E qual é, entãoE qual é, entãoE qual é, entãoE qual é, entãoE qual é, então, a dif, a dif, a dif, a dif, a diferererererença entrença entrença entrença entrença entre o Pré-Modernismo e oe o Pré-Modernismo e oe o Pré-Modernismo e oe o Pré-Modernismo e oe o Pré-Modernismo e oModernismo prModernismo prModernismo prModernismo prModernismo propriamente dito?opriamente dito?opriamente dito?opriamente dito?opriamente dito?

Vejamos: o pré-modernismo é uma fase de transição, as características acimaregistradas são perceptíveis nos romances publicados na época, porém, elas convivemcom outros traços conservadores e, por isso, não devemos nos esquecer de que aindahavia nessa produção:

a) A permanência de características realistas/naturalistas, na prosa, e apermanência de uma poesia de caráter ainda parnasiano ou simbolista;

b) o conflito entre o lado renovador, presente no interesse com que os novosescritores analisaram a realidade brasileira de sua época, e certa pinceladanaturalista;

c) a incorporação das tensões sociais do período e a persistência decaracterísticas realistas;

d) o gosto pelo retrato ou painel de época (lembrando a obsessão realista/naturalista) e o uso de uma linguagem mais simples, que se aproxima docoloquial.

Na maior parte da obras pré-modernistas é imediata a relação entre o assunto e arealidade contemporânea ao escritor:

Em Triste fim de Policarpo Quaresma, romance mais importante de LimaBarreto, o escritor denunciou a burocracia no processo político brasileiro, opreconceito de cor e de classe e incorporou fatos ocorridos durante o governodo Marechal Floriano.

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Em Os Sertões, Euclides da Cunha fez a narrativa quase documental da Guerrade Canudos.Em Canaã, Graça Aranha analisa minuciosamente os problemas da fixaçãodos imigrantes em terras brasileiras.Em Urupês e Cidades Mortas, Monteiro Lobato destaca a decadênciaeconômica dos vilarejos e da população cabocla do Vale do Paraíba durantea crise do café.

Na poesia, como já destacamos acima, o único poeta importante a romper com obem-comportado vocabulário parnasiano foi Augusto dos Anjos.

Resumindo: os movimentos de vanguarda européia e o pré-modernismoconsistem em importantes antecedentes para se compreender a ruptura que omodernismo propõe dentro do cenário da literatura brasileira, tanto em linguagem,quanto na ideologia e temas. Leia mais sobre o Pré-Modernismo em: http://www.graudez.com.br/literatura/premodernismo.html

Assista ao filme:Policarpo Quaresma, de Paulo Thiago (1994).

O Modernismo

No Brasil, o Modernismo tem o seu iníciocom a realização da Semana de Arte Moderna noTeatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de1922. Idealizada por um grupo de artistas, asemana pretendia colocar a cultura brasileira a pardas correntes de vanguarda do pensamentoeuropeu, ao mesmo tempo em que pregava atomada de consciência da realidade brasileira.

O estilo modernista

Costuma-se dividir o Modernismo literário em três fases:1º fase: de 1922 a 19302ª fase: de 1930 a 19453ª fase: de 1945 até 1960

A primeira fase caracteriza-se, sobretudo, pela necessidade de romper velhasfórmulas, chocar o público e divulgar as novas idéias, embora não houvesse teoria unificadaentre os modernistas. É conhecida como “fase heróica”.

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Poesia

A poesia vai ser o principal veículo de expressão desse primeiromomento e apresenta como características principais:

Obedecendo ao princípio fundamental do Modernismo – liberdade de criação –, oescritor não se apega mais a modelos ou regras. Respeita somente a sua inspiração.

Mulher mais longa (4 sílabas)que os passos alucinados (7 sílabas)das torres de São Bento! (6 sílabas)Mulher feita de asfalto e de lamas de várzea, (12 sílabas)Toda insulto nos olhos, (6 sílabas)Toda convite nessa boca louca de rubores! (14 sílabas)

(Mário de Andrade)

a) Utilização do verso livre

b) Livre associação de idéias

Na poesia desta primeira fase é comum a utilização de imagens em que ocorrem alivre associação de idéias e uma aparente falta de lógica. Repare no exemplo:

Gingam os bondes como fogo de artifício,sapateando nos trilhos,cuspindo um orifício na treva cor de cal.

(Mário de Andrade)

c) Irreverência

Atitude combativa e irreverente em relação a valores que, segundo os modernistas,eram falsos.

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,o burguês-burguês!A digestão bem feita de São Paulo!O homem-curva! O homem-nádegas!O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

(Mário de Andrade)

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d) Valorização do cotidiano

Ao contrário dos parnasianos, para quem deveria ser feita uma seleção de temas“poéticos”, o modernista considera que tudo pode ser transformado em poesia. Porisso, valoriza o cotidiano, o fato comum.

Há poesiaNa dorNa florNo beija-florNo elevador

(Oswald de Andrade)e) Incorporação do presente

O texto modernista incorpora o presente, o progresso, a máquina, o novo ritmo davida moderna:

passa galhardo um filho de imigrante,loiramente domando um automóvel.

(Mário de Andrade)f) Humor e a revisão da história oficial do Brasil

O humor é uma novidade, pois a poesia, considerada como nobre, não o incorporaraaté então. O poema-piada caracteriza-se pela condensação, pela irreverência e pelapolêmica que procura provocar. Veja um bom exemplo abaixo:

Senhor feudal

Se Pedro SegundoVier aquiCom históriaEu boto ele na cadeia

(Oswald de Andrade)g) Aproximação com a prosa

Essa aproximação entre poesia e prosa torna menos rígida a divisão de gêneros:

Poema tirado de uma notícia de jornalJoão Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia [num barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de NovembroBebeuCantouDançouDepois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(Manuel Bandeira)

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h) Linguagem coloquial

A utilização de uma língua mais próxima da fala brasileira pode serobservada em todos os textos lidos.

i) Nacionalismo:

Brasil...Mastigado na gostosura quente do amendoim...Falado numa língua curumimDe palavras incertas num remeleixo melado melancólico...

(Mário de Andrade)

Clarice Lispector Mario de Andrade Carlos Drummond

Fernando Sabino Guimarães Rosa Vinicius de MoraesA prosa do primeiro momento, embora não tenha o mesmo destaque da poesia,apresenta também algumas inovações. As principais são:

a) Utilização de períodos curtos:

O Nino apareceu na porta. Teve um arrepio. Levantou a gola do paletó.(Mário deAndrade)

b) Apoio na fala coloquial:

– Xi, Pepino! Você é ainda muito criança. Tu é ingênuo.(Mário de Andrade)

c) Aproximação com a poesia:

O vento batia a madrugada como um marido. Mas ela perscrutava o escuro teimoso.Uma longe claridade borrou a esquerda na evidência lenta de uma linha longa.(Mário de Andrade)

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Os principais autores do Modernismo da primeira fase são: Manuel Bandeira, Máriode Andrade, Oswald de Andrade e Alcântara Machado

2ª fase (Poesia)

Os autores surgidos nesta segunda fase recusam o poema piada e voltam-se a temase técnicas mais elaborados e que exigiam maior profundidade de pensamento. Mais madurae muito mais comprometida com o difícil momento social pelo qual o país atravessava, apoesia da segunda fase amplia temas da fase anterior, além de inaugurar novaspreocupações, que se revelam na tendência religiosa, na social e na metafísica. Por outrolado, preocupações abandonadas pelos modernistas da primeira fase são retomadas. É ocaso do espiritualismo da poesia de Cecília Meireles.

Considera-se como marco inicial dessa segunda fase poética o livro Alguma poesia,de Carlos Drummond de Andrade (1930), que viria a se tornar o nosso mais importantepoeta de todos os tempos. Merecem destaque ainda, entre os poetas surgidos na SegundaFase, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Mário Quintana.

2ª fase (prosa)

Atingido um maior equilíbrio de linguagem, surgem inúmeros romances voltados paraa pesquisa da realidade brasileira. A preocupação nacionalista e, sobretudo, a necessidadede conclamar à participação social são agora os fatores decisivos. A experimentação delinguagem, que permitia grandes ousadias e que foi o traço marcante da prosa da primeirafase, cede lugar a uma linguagem de caráter mais documental, adequada à necessidadede registrar a realidade do momento. Em resumo: as experimentações formais ficam emsegundo plano diante da necessidade de uma literatura social.

Os principais autores da prosa modernista de segunda fase são: Graciliano Ramos,José Lins do Rêgo, Jorge Amado e Érico Veríssimo.

3ª fase

Antes de mais nada, é necessário informar que alguns historiadores de nossa literaturapreferem chamar essa terceira fase (1945 – atualidade) de Pós-Modernismo, reservando onome Modernismo apenas para as duas primeiras fases. É difícil sintetizar essa terceirafase (ou Pós-Modernismo), pois alguns escritores que surgiram no período ainda hoje estãoem atividade, não tendo, portanto, uma obra concluída. Além disso, não temos distanciamentohistórico necessário para tal análise.

O que a caracteriza é a ampliação de experimentações da linguagem (como ClariceLispector e Guimarães Rosa), o desenvolvimento pelo gênero do romance, incorporaçãode novos temas, fluxo interior, inovação da sintaxe, supremacia do meio urbano etc.

Os principais autores da terceira fase modernista são Clarice Lispector, GuimarãesRosa e João Cabral de Melo Neto.

Resumindo: a época modernista é um período inquietante, que temdiferentes recortes dos nossos historiadores, alguns, inclusive, considerandoque existe o pós-modernismo, que começaria em 1945 e viria até os nossosdias. Ao contrário do Brasil idílico que os românticos idealizaram, o Brasilbuscado pelos modernistas era mais real e diverso, tanto cultural quantolingüisticamente.

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Filmes importantes:Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1936);Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos (1984);Vinícius de Moraes, de Miguel Faria Jr. (2005).

O Concretismo

O avanço da tecnologia, somado à aceitação cada vez maisampla da linguagem dos meios de comunicação de massa, levou àbusca de novas formas de expressão que fossem condizentes comuma sociedade em que tudo acontecia de maneira rápida, objetiva eera instantaneamente consumido para ceder lugar ao novo. OConcretismo é a primeira manifestação dessa realidade.

MAS, O QUE VEM A SER CONCRETISMO?MAS, O QUE VEM A SER CONCRETISMO?MAS, O QUE VEM A SER CONCRETISMO?MAS, O QUE VEM A SER CONCRETISMO?MAS, O QUE VEM A SER CONCRETISMO?O movimento concretista despontou em 1952, com o lançamento da revista

Noigrandes (palavra de origem provençal que significa “antídoto do tédio”). Mas o lançamentooficial do movimento deu-se em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizadaem São Paulo. Em 1957 repetiu-se a mesma exposição no Rio de Janeiro, com maiorrepercussão.

Os principais nomes do grupo concretista são Décio Pignatari, Augusto de Campose Haroldo Campos – iniciadores do movimento. Destacam-se, ainda, Pedro Xisto, WlademirDias Pino e Ferreira Gullar. Este último abandonou o grupo em 1957.

Basicamente, podemos definir o concretismo como um movimento que pretendeuma linguagem que ponha em xeque os hábitos do leitor de poesia, já que propõe opredomínio da comunicação visual sobre a verbal. Abandonando o discurso tradicional, oconcretismo privilegia os recursos gráficos das palavras, o “desenho” do poema e não oseu conteúdo.Características principais: abolição do verso e aproveitamento do espaço.

Os brancos da folha e a própria disposição das palavras no papel adquiriram umsignificado. Observe a reprodução, abaixo, de uma página com um poema concretista:

V V V V V V V V V VV V V V V V V V V EV V V V V V V V E LV V V V V V V E L OV V V V V V E L O CV V V V V E L O C IV V V V E L O C I DV V V E L O C I D AV V E L O C I D A DV E L O C I D A D E

(Ronaldo Azevedo)

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Outras características importantes:Exploração do significante da palavra, ou seja, do seu conteúdo sonoro e do seu

conteúdo visual. Observe:

on o v e l o o v o

o v o e l o

(Augusto de Campos)

Rejeição do lirismo e rejeição do tema: o poema passa a ser considerado comoum objeto em si, como se fosse um quadro, não mais um veículo para uma idéia ousentimento. Por isso, o poema concretista é chamado de “poema objeto”.

Observe:H O R A HO OR RA AH O R A H

(Ronaldo Azevedo)

Possibilidades de leituras múltiplas: o poema concretista conduz o leitor àexploração de mais de uma possibilidade de leitura. Muitos poemas, além da leitura horizontal(?), oferecem possibilidades de desentranhar significados numa vertical ( ? ) e até numadiagonal (? ).

Observe:

beba coca colababe colabeba cocababe cola cacocacocola c l o a c a

(Décio Pignatari)

Resumindo: embora tenha alcançado bastante prestígio dentro e fora dopaís, o Concretismo não conseguiu atingir o grande público. A permanência doConcretismo, no entanto, pode ser verificada não só pela sua influência na obra depoetas atuais, como Arnaldo Antunes (músico e poeta, ex-Titãs), como pela inserção,feita pelos próprios concretistas, de poemas em veículos de nosso tempo: ainformática e o laser já andam a serviço das experiências concretistas.

Assista: Nome, vídeo de 45 minutos de Arnaldo Antunes, laçado em 1989.

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AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

1. Para entender melhor o período que acabamos de estudar, além deler os autores sugeridos, pesquise a diferença entre modernismo e modernidade. Dica:lembre-se que um tem o “ismo”, portando, indica movimento, e o segundo tem “dade”, o quegeralmente indica uma época em nossa cultura. O primeiro está relacionado com qual épocahistórica? E o segundo? Esclareça em cinco linhas.

3. Clarice Lispector e Guimarães Rosa são considerados os maiores romancistasbrasileiros de 1945 até os nossos dias. Clarice é considerada a criadora do “fluxo deconsciência” na nossa literatura, e Guimarães é o pai da “inventividade lingüística”. Pesquisena internet quais os novos autores, de 1960 até os nossos dias, que são claramenteinfluenciados por esses dois romancistas.

2. Leia os poemas de Oswald de Andrade que reescrevem a História do Brasil. Qualé o ponto de vista escolhido pelo autor para interpretar as relações entre índios e portugueses?

Sites importantes para entender este período:http://www.brasilcultura.com.br/conteudo.php?id=212&menu=86&sub=221http://www.vidaslusofonas.pt/clarice_lispector.htmhttp://www.releituras.com/guimarosa_bio.asphttp://www.releituras.com/joaocabral_bio.asp

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TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

A poesia-práxis e o poema/processo

A tendência práxis resultou da proposta de um grupo dissidente dos concretistas. Olíder do movimento foi o poeta Mário Chamie, autor da obra Lavra-lavra, de 1962. A poesia-práxis leva em conta a “palavra-energia”, valorizando a palavra mais no seu contextoextralingüístico, mantendo, portanto, uma ligação forte com a realidade social.

O estudioso Antonio Callado chama a atenção para o fato de essas novidades teremlevado às últimas conseqüências algumas propostas do Modernismo dos anos 20, como afragmentação, as intenções antilíricas e uma tendência a uma desarticulação do poema.Destaca, ainda, o crítico o fato de essas novas tendências estarem em flagrante oposiçãoao sentimentalismo.

Agiotagem

umdoistrês

o juro:o prazoo pôr/o cento/ o mês/ o ágio

porcentágio.

dezcemmil

o lucro:o dízimoo ágio/ a moral/ a monta em péssimo

empréstimo.

muitonadatudo

a quebra:a sobraa monta/ o pé/ o cento/ a quota

haja notaagiota

(Mário Chamie)

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Já o poema-processo veio como uma radicalização da propostaconcretista. O poema/processo relega a palavra a segundo plano, utilizandoquase exclusivamente signos visuais. Basicamente, procura explorar aspossibilidades poéticas contidas em signos não-verbais. Trata-se de umamensagem feita mais para ser vista do que para ser lida. O manifesto dogrupo, de autoria de Wlademir Dias Pino, foi publicado em 1967.

Abaixo um exemplo de poema-processo de Jayro Lima, intitulado Poema processopara Tommy:

A poesia social e o Tropicalismo

O nome é vago, pois houve poesia de caráter social em vários momentos de nossaliteratura. Neste caso, foi a designação escolhida para a proposta de um grupo de poetasque reagiram à poesia de uma época (sobretudo a concretista), que consideravamexcessivamente apegada ao formalismo e, sobretudo, extremamente alienada. Trata-se,pois, de uma poesia de expressão política.

Buscando maior compreensão com o leitor, a poesia social propõe o retorno aoverso, o emprego de uma linguagem mais simples e a escolha de temas relacionados coma realidade social do país. Além de Ferreira Gullar, que, dissidente do grupo concretista,havia proposto o neoconcretismo, destacam-se Affonso Romano de Sant’Anna, Afonso Ávila,Thiago de Mello.

Dois e dois: quatro

Como dois e dois são quatrosei que a vida vale a penaembora o pão seja caroe a liberdade pequena

como teus olhos são clarose a tua pele, morena

como azul é o oceanoe a lagoa, serena

como um tempo de alegriapor trás do terror me acena

e a noite carrega o diano seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatrosei que a vida vale a pena

mesmo que o pão seja caroe a liberdade pequena

(Ferreira Gullar)

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O Tropicalismo teve início no terreno da músicapopular, principalmente nos anos de 1967 e 1968, e acabouinfluenciando nossa cultura de um modo geral. Retomandobasicamente os princípios da Antropofagia da primeira fase,os tropicalistas marcaram sua posição pela ironia, o humor.O anarquismo e a paródia. A crítica à esquerdaintelectualizada, a sedução dos meios de comunicação demassas, o retrato da realidade urbana e industrial, tudo issomontado como uma colagem de fragmentos do dia-a-dia:eis os ingredientes de Alegria, alegria, música que funcionoucomo ponto de partida e síntese do Tropicalismo.

Na fase pós-tropicalista, o incremento da repressão policial e as desilusões com aproposta socialista levaram à radicalização de alguns procedimentos.

Segundo Heloísa Buarque de Holanda:A loucura passa a ser vista como uma perspectiva capaz de romper com a lógica

racionalizante da direita e da esquerda. E a experiência da loucura não é apenas umaatitude ‘literária’ como foi por tanto tempo da nossa história da literatura. Nessemomento, a partir da radicalização do uso de tóxicos e da exacerbação dasexperiências sensoriais e emocionais, vimos um sem-número de casos deinternamento, desintegrações e até suicídios, bem pouco literários. [HOLANDA, 1992:62]

O autor considerado realmente tropicalista na literatura brasileira é José AgripinoSilva, autor de Panamérica e Nações Unidas.

A poesia marginal dos anos 70

Um estudioso do movimento explica a origem do nome:Os livros são, muitas vezes, rodados em mimeógrafos – o que deu margem

a que se falasse em uma geração do mimeógrafo – às vezes em offset ouprocessos semelhantes, as tiragens são pequenas, os trabalhos têmfreqüentemente um acabamento material bastante rústico [...] A venda se dá,geralmente, de mão em mão, sendo realizada muitas vezes pelo próprio autorou por amigos deste e percorrendo um circuito mais ou menos fixo de bares e/ourestaurantes, portas de cinema e teatro, ou mesmo universidades. (Carlos A.Messeder, In: HOLANDA, 1992: 124)

Em resumo: os poetas dessa geração recusavam os métodos tradicionais deprodução e distribuição de sua obra. Alguns poetas que surgiram com o grupo “marginal”hoje tem sua obra produzida e distribuída por grandes editoras. É o caso de Chacal, Cacaso,Paulo Leminsky e Ana Cristina Cesar, essa última considerada pela crítica atemporal e comprodução superior aos seus contemporâneos.

A linguagem e a temática da poesia marginal são muito diversificadas. Observam-se não só influências do Concretismo e do poema/processo, como a retomada de algumascaracterísticas do nosso modernismo da primeira fase. Nota-se, ainda. o desprezo pelochamado “bom gosto” da classe dominante. Em todos os casos predomina o coloquialismoe a fusão de poesia e prosa. A ironia é outra constante nessa poesia produzida sob fortepressão política.

Ora poesia de expressão subjetiva, pessoal, ora poesia de denúncia, a obra dos“marginais” de 70 obteve maior aceitação do que a poesia dos grupos anteriores.

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Reflexo condicionadopense rápidoProduto interno Brutooubrutal produto interno?

(Antonio Carlos Brito)

Quem teve a mão decepadalevante o dedo

(Nicolas Behr)

Pega LadrãoAlguém tirou:um predaçodo meuPão

(Kátia Bento)

Comunistaalem de politicavoce nao se interessa por bale

(Tavinho Paes)

Outras vertentes da literatura brasileira

A literatura brasileira se amplia e se diversifica muito a partir de 1960. Muitos elementosda cultura popular, como música (popular, jazz, samba e rock), Quadrinhos, cinema, charge,pichações etc. se incorporam a nova maneira de escrever dos nossos autores.

Abaixo, tentaremos um panorama dessas vertentes.

a) Nova prosa regionalista, a prosa política e o romance reportagem

Ora mantendo-se na linha do nosso regionalismo da segunda fase, ora incorporandoinovações desencadeadas pela obra de Guimarães Rosa, destacam-se inúmeros escritoresque pesquisam o espaço e o homem rural brasileiros, sendo chamados de novosregionalistas. Entre eles destacam-se: Mário Palmério (O chapadão do bugre, Vila dosConfins); Bernardo Ellis (O tronco); Ariano Suassuna (O romance da pedra do reino); JairVitória; entre muitos outros.

A violência social e política a que o país esteve submetido, sobretudo após 1964,desencadeou, também, uma farta literatura de caráter político, a chamada prosa-política,em que temas e enredos servem de veículo de análise, denúncia e protesto. Nessa tendência,é possível distinguir essas duas modalidades narrativas, diferentes, sobretudo, pela técnicaempregada.

Valendo-se de uma mistura de linguagem ficcional com linguagem jornalística, criandoenredos baseados em fatos reais ou ficcionais, surgem obras (romances e contos) quetratam de torturas, prisões arbitrárias, perseguições. Também conhecidas como literatura-verdade ou romance-reportagem, empregando um estilo direto, seco, objetivo, essas obrasparecem revelar que os escritores assumiam uma nova tarefa: tomar para si o papel deinformar, antes exclusivo da linguagem jornalística, agora submetida à censura severa dóperíodo. Destacam-se Ignácio de Loyola Brandão (Zero); Antonio Callado (Quarup, Reflexosdo baile); Roberto Drummond (Sangue de coca-cola); José Louzeiro (Lúcio Flávio, opassageiro da agonia); Marcio Souza (Galvez, o imperador do Acre, Mad Maria); entremuitos outros.

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b) O realismo fantástico, prosa intimista e prosa urbana

A partir de situações irreais, absurdas, insólitas, alguns escritores também analisame denunciam a situação do país e do homem de sua época. A obra desses escritores traçaum mapa metafórico da nossa realidade daquele momento e, por isso, é chamado deRealismo Fantástico. O antecessor e pioneiro dessa tendência foi o contista Murilo Rubião(o ex-mágico, o pirotécnico Zacarias), que estreara no final da década de 40, mas que sóteve a sua obra devidamente reconhecida quase 30 anos depois. Na época de sua estréia,era uma voz isolada, perdida no meio de uma produção de caráter nitidamente realista.

Essa linha vai ser retomada na década de 60 por José J. Veiga (Sombras de reisbarbudos, A hora dos ruminantes). Destacam-se ainda: Moacir Scliar (A balada do FalsoMessias, Carnaval dos animais) e Campos de Carvalho (A chuva imóvel, A vaca do narizsutil, O púcaro búlgaro), cuja obra ainda não obteve da crítica a atenção que merece. Alémdesses, o veterano Érico Veríssimo surpreendeu, em 1971, com a fábula política Incidenteem Antares, cuja segunda fase se estrutura com base numa situação fantástica.

Na mesma linha de sondagem psicológica inaugurada na segunda fase modernistae consolidada pela obra de Clarice Lispector, a prosa intimista é um tipo de narrativa queapresenta personagens mergulhadas em seu mundo interior. Destacam-se Osman Lins(Nove, novena; Avalovara), Autran Dourado (Ópera dos mortos), Lygia Fagundes Telles (emparte de sua obra), Lya Luft, Nélida Piñon (Tebas do meu coração), Hilda Hilst (Qadós).

Já a prosa urbana mistura ao intimismo o cenário das metrópoles, mostra a relaçãodo homem com um espaço resultante da urbanização acelerada e desumana. Miséria social,marginalização, angústia, solidão e violência são os ingredientes que se entrelaçam nesseespaço e que servem de ponto de partida para autores como Luís Vilela, Ivan Ângelo, ZulmiraRibeiro Tavares, Ricardo Ramos, mas principalmente Dalton Trevisan (que estreara nadécada de 50 e acrescenta o humor e a síntese como ingredientes fundamentais de suaprosa) e Rubem Fonseca – que explora radicalmente a violência generalizada na sociedade,não sendo em momento nenhum intimista.

c) A prosa híbrida

Mistura a urbanidade com a memória ou autobiografia, esse último um gênero atéentão raro em nossa literatura (Graciliano Ramos, com Memórias do cárcere, é o melhorexemplo), mas que emergiu com força na década de 70. Destacam-se Pedro Nava (Baú deOssos) e Érico Veríssimo (Solo de clarineta I e II). Quanto aos gêneros em que seconcretizaram essas tendências, merece destaque o fato de o conto e a crônica terempredominado sobre o romance.

A crítica considera que a melhor ficção brasileira da atualidade está representadapelo conto. E esse vem num híbrido entre intimista e urbano, autobiográfico e jornalístico,como um liquidificador.

Além de escritores já consagrados pelo público e pela crítica, mencionados acima,surgiram outros, de técnica e temática revolucionárias, como João Antônio, Caio FernandoAbreu, Domingos Pelegrini Jr., Samuel Rawett e muitos outros.

Como é praticamente impossível dar conta de toda a literatura brasileira que éproduzida a partir de 1960 até hoje, costumamos chamá-la apenas de literaturacontemporânea.

A maioria dos autores está viva ou morreu há pouquíssimo tempo. Um exemplosignificativo dessa produção é a ficção do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu que trazem sua escrita todas as angústias e alegrias do homem pós-moderno e as experiências dacontracultura (revolução cultural que ocorreu em 1960, no mundo; e, em 70, no Brasil, contraos modos de vida burgueses e os padrões de comportamento e de arte estabelecidos).

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Resumindo: a literatura contemporânea é bastante vasta, masela se diferencia da moderna por não trazer a noção de ruptura e a buscapela originalidade, tão importante para os modernos. O fragmento e adiluição dos valores humanos pelo dia-a-dia caótico das cidades grandessão o que mais se destacam nos escritores brasileiros contemporâneos,que deixaram de se preocupar com a nacionalidade de forma direta epassaram a se preocuparem com a sobrevivência nos centros urbanos.

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

1.1.1.1.1. Faça uma lista enumerando 10 características ou elementos importantes daliteratura contemporânea.

2. 2. 2. 2. 2. Compare o conto de Clarice Lispector “O ovo e a galinha”, do livro Laços deFamília, com o conto “O ovo apunhalado” de Caio Fernando Abreu, do livro O ovo apunhalado.Resuma os pontos em comum que esses dois escritores intimistas possuíam.

3.3.3.3.3. Pesquise na internet sites de escritores contemporâneos. Faça uma lista dosprincipais gêneros (poesia, romance, conto, novela, crônica) que mais aparecem na rede.Ou seja, quais os gêneros mais utilizados por nossos autores vivos?

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Você percebeu o quanto é vasta e complexa a nossa Literatura? Isso aconteceporque nossas letras são muito desenvolvidas e ricas, com possibilidade de leituras ereleituras, novas eleições e novos questionamentos de nomes e obras.

Não se esqueça de que é sempre necessário fazer algumas opções ao incluirum nome e não outro em nossos estudos. Os nossos historiadores fazem isso o tempotodo e, assim, elegeram, junto com a escola brasileira, um cânone, ou grupo de obras eautores que servem de modelos para a nossa formação de leitores.

Tenha esse material como um estímulo para uma grande viagem à terra do semfim que é a literatura nacional. Mas não se satisfaça com as eleições consagradas.Investigue. Busque mais!

Os autores contemporâneos quase todos estão disponíveis na internet. Indicamosalguns sites e obras importantes para consulta e para novas viagens no final dasreferências.

AtividadeAtividadeAtividadeAtividadeAtividade

OrientadaOrientadaOrientadaOrientadaOrientadaCaro aluno,

A atividade a seguir é de caráter obrigatório e tem por objetivo avaliar o seuaprendizado durante o curso. Para isso, você poderá utilizar todos os recursosdisponibilizados neste período e complementar com pesquisas em livros, revistas e sites. Aatividade deverá ser realizada em ambiente de tutoria e em equipe de até 5 componentes.

A proposta é criar um jornal literário-cultural, cujo tema central seja AS MARCASPORTUGUESAS NAS CIDADES BRASILEIRAS. Para ajudá-lo nesse sentido,selecionamos o texto abaixo:

“EM TUDO PARECIDO, EM NADA SEMELHANTE” :EXPRESSÕES DO PATRIMÓNIO CULTURAL PORTUGUÊS NO

BRASIL

Maria de Fátima Fonseca(Escola Superior de Tecnologia do Mar/Instituto Politécnico de Leiria)

Tomando partido das idéias do sociólogo Gilberto Freyre, podemos dizer que achegada de Cabral ao Brasil marca o início de uma cultura inteiramente nova na História. Opovo brasileiro foi formado do contacto entre povos de três continentes diferentes: Europa,África e América. Todavia, se levarmos ainda em conta as sucessivas levas migratóriaspara o Brasil, entre o final do XIX e o início do século XX, deveremos acrescentar a Ásia,para fazer referência aos milhares de japoneses que aí chegaram neste período.

1 José Pessoa.

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Diversos são os trabalhos acadêmicos que abordam o contributo de cada umdos povos que formaram a moderna sociedade brasileira e inúmeros são os temasainda por estudar.

Durante séculos, Portugal foi deixando as suas marcas no Brasil. Tal processoteve início com a chegada da esquadra de Cabral em 1500, não cessando mesmoapós a Independência, em 1822. Da segunda metade do século XIX, até à primeirametade do século XX, milhares foram portugueses saídos principalmente do Minho ede Trás-os-Montes em busca de melhores condições de vida em terras brasileiras,deixando também aí suas marcas.

O património cultural português no Brasil engloba a língua, a arquitectura, as BelasArtes, o artesanato, as festas religiosas e profanas, o folclore, a literatura e a gastronomia.

Actualmente, Portugal é o maior emissor europeu de turistas para o Brasil.Apesar disto, poucos são os portugueses que têm conhecimento da real dimensãodo património luso em terras brasileiras. Em busca de destinos de sol e praia,muitas vezes passam ao largo de cidades Património da Humanidade, construídasno período em que o Brasil era uma colónia portuguesa.

A presente tertúlia teve por finalidade apresentar um pouco mais do legadocultural português no Brasil. E como o assunto é muito vasto, optámos por nos centrarmais no património arquitectónico e artístico das cidades coloniais, em especial asque tiveram os seus centros históricos (ou monumentos neles presentes) decretadospela UNESCO como Património da Humanidade: Ouro–Preto, Olinda, Salvador, SãoLuís, Porto Seguro, Diamantina, Congonhas do Campo, Tiradentes e Paraty.

As políticas administrativas portuguesas, a geografia local e o tipo de riquezaproduzida na época da fundação de cada um destes núcleos urbanos ditaram assuas características arquitectónicas bem como a função (espacial, política,económica, cultural e/ou simbólica) da cidade para as sociedades de então.

A colonização efectiva do Brasil tem início em 1530, no reinado de D. JoãoIII. O objectivo da coroa era ocupar a terra descoberta em 1500, cada vez maiscobiçada por franceses e holandeses. Em 1536, é fundada São Salvador da Bahia,primeira capital do Brasil. Situada bem a meio do Brasil, a escolha do local atendeua uma estratégia político-militar, traçada para melhor defender e administrar ascapitanias do Norte e do Sul do país.

Porto Seguro, no litoral sul do Estado da Bahia, destaca-se tanto pelo seuvalor histórico-arquitectónico, como pelo valor simbólico: a Baia Cabrália, no litoraldesta pequena cidade, foi o local de chegada dos portugueses no Brasil.

O centro histórico de Salvador, situado em terreno de alto relevo (a fim defacilitar a vigilância da costa) é formado por prédios construídos entre os séculosXVI e XVIII. O Convento de São Francisco, a Igreja do Bonfim, o Convento do Carmo(recentemente restaurado para ser a primeira “Pousada de Portugal” fora do país),o casario colonial e o Forte da Barra são de visita obrigatória.

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O surgimento de São Luís do Maranhão e Olinda, localizadas no Nordeste,estão ligadas ao ciclo económico da cana-de-açúcar no Brasil, servindo quase quede entrepostos comerciais entre a Metrópole e as vilas situadas mais no interior,onde se dava a produção daquele produto tão cobiçado na Europa.

A descoberta de jazidas de ouro, diamantes e pedras semi-preciosas naregião centro do Brasil possibilitou o surgimento de cidades de dimensões maiores:entre finais do século XVII e durante todo o século XVIII, formaram-se as cidades deOuro-Preto, Congonhas do Campo, Goiás, Diamantina e Tiradentes.

Arquitectos vindos do Norte de Portugal construíam prédios públicos, casase igrejas. Nestas últimas o barroco e rococó “tropicalizados” deram origem a umestilo artístico chamado pelos estudiosos da arte de “barroco mineiro”. O ourofomentou um estilo de vida mais urbano, onde as cidades contavam até mesmocom teatros.

Paraty, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, servia como entrepostocomercial entre as cidades mineiras e a metrópole.

As igrejas, os centros históricos com configuração medieval, os fortes, osazulejos… Tudo nos remete à introspecção. Quem foram estes homens queatravessaram o Atlântico e que, no ensejo de reconstruir o estilo de vida do velhomundo com o que a nova terra dava, fundiram materiais e culturas, dando origem aalgo inteiramente novo?

Conhecer as cidades coloniais brasileiras é conhecer um pouco maissobre a história do Brasil. Todavia, é sobretudo conhecer Portugal sob outraperspectiva, localizada do outro lado do Atlântico.

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Se necessário, busquem informações em jornais, revistas e livros, além do textodisponibilizado. Escrevam a reportagem, considerando as características do gênero e, sepossível, ilustrem-na com fotografias, gravuras ou figuras. Dêem-lhe um título que atraia a atençãodo leitor e, ao mesmo tempo, anuncie o assunto. Coloquem um subtítulo, se julgarem necessário.A linguagem deve ser impessoal, objetiva, direta, de acordo com o padrão culto da língua.

Após a leitura do texto você pôde observar que temos váriasdireções interessantes para seguir. Nesta primeira etapa, o grupo vaiescolher e elaborar uma reportagem de um dos sub-temas que elencamos,com o intuito de diversificar a atividade:

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 11111

Literatura

Música

Culinária

Arquitetura

Pintura

Costumes

Folclore

Danças

Vocabulário

Religião

PRODUZINDO UMA REPORTAGEM

Leve em conta as características de uma resenha crítica:

Normalmente, apresenta título, lead e, em seguida, desenvolve demodo mais aprofunda¬ dos fatos que interessam ao público a que sedestina o jornal ou a revista;Costuma estabelecer conexões entre o fato central e fatos paralelos,por meio de citações.

Trechos de entrevistas, boxes informativos, dados estatísticos,fotografias;

Pode ter um caráter opinativo, questionando as causas e os efeitosdos fatos, interpretando-os, orientando os leitores;

Apresenta versões e opiniões diferentes sobre um mesmo fato;

Predomínio da função referencial da linguagem;

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Para complementar o jornal literário-cultural é necessário criar agora algumas produçõesde caráter mais pessoal como a crônica e a resenha crítica, conforme orientação a seguir.

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 22222

Utilizando o mesmo tema da reportagem desenvolvida, elabore uma crônica, abordandoum fato ou uma situação. Procure ir além do circunstancial, narrando com sensibilidade ou, sequiser, com humor. Terminando o texto, dê a ele um título sugestivo. Lembre-se que a linguagem,geralmente, está de acordo com o padrão culto e informal da língua.

Escolha um texto literário dentre os que forem postados no SAE para fazer umaresenha crítica, tomando o cuidado de registrar: autor do texto e a escola literária a qualpertence. Vale ressaltar que os textos mostram a relação do sujeito com a cidade. Sugere-se que o texto possua entre 20 a 30 linhas.

PRODUZINDO UMA CRÔNICA

Leve em conta as características de uma crônica:

Texto publicado geralmente em jornais e revistas;

Relata de forma artística e pessoal fatos colhidos no noticiáriojornalístico e no cotidiano;

Consiste em um texto curto e leve;

Tem por objetivo divertir e/ou refletir criticamente sobre a vida e oscomportamentos humanos;

Pode apresentar os elementos básicos da narrativa: fatos,personagens, tempo e lugar;

O tempo e o espaço são normalmente limitados;

Pode apresentar narrador-observador ou narrador-personagem; às vezes,emprega a 2ºpessoa.

PRODUZINDO UMA RESENHA CRÍTICA

Texto de natureza argumentativa, que tem por objetivo informar o leitorsobre um objeto cultural e avaliar seus pontos positivos e negativos;

Estrutura livre; normalmente se faz um resumo do texto, apresentandoum breve histórico de seu(s) autor(es) seguido de uma avaliação,na qual aponta os aspectos mais importantes, estabelecendorelações com outros textos e contexto histórico, comentando a suaimportância e defendendo um ponto de vista.

Linguagem clara, objetiva e dinâmica, que procura prender aatenção do leitor até o fim;

Leve em conta as características de uma resenha crítica:

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Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 33333Agora é chegado o momento de reunir todas as produções criadas nas

etapas anteriores e montar o jornal literário-cultural. Para compor a parte visualdo jornal, você poderá selecionar fotografias/figuras de fontes diversas. Se houver

entre vocês poetas e/ou contistas que queiram integrar o jornal com alguma composição, cujotema seja a cidade, seus textos serão bem vindos, para enriquecer o jornal.

Com base nas informações colhidas, na pesquisa e no próprio conhecimento arespeito do tema elabore um editorial apresentando aos leitores os assuntos que serãoabordados. Sugere-se que o editorial possua entre 20 a 30 linhas, que seja empregado opadrão culto e formal da língua portuguesa, como é próprio desse gênero literário. Vocêpode ter estranhado que o editorial sendo o primeiro texto seja elaborado na terceira fase.Tal inversão justifica-se pelo fato de que o caráter do editorial é de apresentação crítica das

Expressa a opinião do jornal sobre um assunto quase sempre polêmico;

Tem intenção de persuadir os leitores, esclarecer ou alterar seuspontos de vista, alertar a sociedade e, às vezes, até mobilizá-la;

É uma tese ou ponto de vista fundamentado por comparações,exemplificações, depoimentos, pesquisas e dados estatísticos,citações, retrospectiva histórica, etc.;

Possui uma estrutura convencionalmente organizada em três partes:introdução, desenvolvimento e conclusão;

Deve ter linguagem clara, objetiva e impessoal;

PRODUZINDO UM EDITORIAL

Leve em conta as características de um editorial:

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Glossário

CÂNONE – o cânone literário é geralmente compreendido como aquelas obras eescritores de maior prestígio, possuidores de excelência literária, quer pela linguagem, estiloou influência. Atualmente o conceito de cânone tem sofrido uma flexibilização, permitindoque cada indivíduo tenha o seu em particular. Sendo assim, o cânone passa a ser definidocomo o conjunto das obras ou escritores pelo qual se tem apreço.

COR LOCAL – a expressão refere-se às características físicas da paisagembrasileira, com sua variedade de aspectos, para valorizar o país. A descrição da paisagemé idealizada.

ENTRE-LUGAR – expressão cunhada por Silviano Santiago para dar conta dasituação fronteiriça do escritor Latino-americano, que nasce de um constante diálogo entrea cultura européia e as culturas africanas e indígenas.

FLUXO DE CONSCIÊNCIA – recurso narrativo que consiste em elaborar a narraçãoa partir de um ritmo interior da personagem, rompendo com a referencialidade da narrativatradicional que sempre esteve ligada a fatos e acontecimentos. O fluxo de consciência é umsistema narrativo que apresenta os acontecimentos misturados com a voz da personageme, por vezes, até do narrador, explodindo as fronteiras do que é realidade material e o queé percepção da personagem ou seus sonhos ou seus delírios.

INDIANISMO - foi a forma mais representativa do nosso nacionalismo literário.Correspondeu à busca de um legítimo antepassado nacional que fosse diferente do europeu.A figura do índio foi idealizada com o objetivo de equiparar esse nosso antepassado aoeuropeu. Por isso, o índio que aparece como personagem na literatura romântica é semprebom, nobre, corajoso, belo. Com essas características, passou a ser um dos símbolos denossa independência espiritual, social, política e literária.

LITERATURA NACIONAL – a idéia de uma literatura nacional ou brasileira ganhaforça com o Romantismo, conforme notamos nas diversas historiografias que estudamos.Em suma, podemos denominar uma literatura sendo nacional aquela que retrata osproblemas e questões pertinentes à pátria.

REGIONALISMO – em algumas obras, o verdadeiro Brasil é representado pelosertão, espaço que conservava ainda intactos e naturais alguns traços peculiares de nossacultura como a língua e os costumes - e de nossa paisagem. Essas obras, que você vaiestudar em outra unidade deste livro, constituem o romance regionalista.

VALOR LITERÁRIO – conjunto de características estéticas, sociais, políticas deuma obra.

TRADIÇÃO LITERÁRIA – continuidade de temas, formas, posicionamentos adotadospor escritores através de sua obra.

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Estudos daLiteraturaBrasileira

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1998.

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PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de Época na Literatura. 15. ed. São Paulo:Ática, 2001.

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FTC - EaDFaculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância

Democratizando a Educação.www.ead.ftc.br