02 - como estudar a biblia sozinho.pdf

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  • Como Estudar a Bblia Sozinho 2013

    Igreja Presbiteriana Metropolitana de Guarulhos Rev. Larcio Rios Guimares

    Julho

    A arte e a prtica de meditar nas Escrituras desempenham um papel

    importante no uso devocional da Bblia. A meditao apresentada

    nas Escrituras como um ato de adorao que envolve a comunho

    com Deus. (KAISER E SILVA, Introduo Hermenutica Bblica, 2009,

    p. 162)

    O MTODO DEVOCIONAL

    Alm da importncia do estudo e da interpretao bblicos, hoje verificaremos o que e qual a

    importncia do mtodo devocional de estudo da Bblia, bem como daremos sugestes de como voc

    poder faz-lo.

    Isso importante cada vez mais, porque as pessoas acreditam que sua meditao espiritual crist pode

    ser resumida em uma leitura de um semanrio que cita apenas um pequeno versculo. No se pode

    perder o hbito edificante de meditar devocionalmente na Escritura.

    O QUE O ESTUDO DEVOCIONAL DA BBLIA

    Este mtodo de estudo bblico tem suas razes no forte desejo de se encontrar nos textos das Escrituras

    aplicaes slidas para a vida diria. Tal estudo no motivado pela mera curiosidade acadmica ou

    histrica, pelo contrrio, procura um compromisso de mudanas na vida, nas aes, valores, enfim, uma

    vida moldada pela prpria Escritura. a busca pela orientao do Esprito Santo perguntando o tempo

    todo: e agora, o que eu devo fazer?.

    Os termos devoo, ou mtodo devocional esto ligados pelo verbo devotar, que tem como definio o

    ato de dedicao que envolve o dar-se por completo, tendo o foco da ateno centrado no outro que

    o prprio Deus a fim de que Ele exera o domnio sobre a vida do leitor que medita. a leitura para

    quem quer ter progressos em seu crescimento espiritual e deseja dar frutos.

    O texto de Josu 1.8 pode ser de grande relevncia para entendermos o objetivo da meditao na

    escritura:

    1) Ele deve ser regular (dia e noite)

    2) Ele deve ser reflexivo (medita nele)

    3) Ele deve ser aplicvel vida (tenha cuidado de fazer tudo quanto nele est escrito)

    4) Ele deve ser constante (no cesses)

    As Escrituras no tm a pretenso de ser um objeto de estudo apenas dos clrigos ou profissionais, pelo

    contrrio elas so dirigidas ao povo, a todos aqueles que a buscam com prazer.

  • Como Estudar a Bblia Sozinho 2013

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    Julho

    Sabemos que nem todas as coisas na Bblia so claras. Contudo, ela suficientemente clara no que diz

    respeito aos assuntos da nossa salvao e crescimento em Cristo. Sim, existem aspectos que so difceis

    nossa compreenso, mas que, mesmo assim, devem tentar ser estudados e entendidos mas, com

    certeza, tratam-se de uma nfima minoria.

    A prpria Confisso de F de Westminster (smbolo de f da nossa denomino) quando trata sobre as

    Escrituras, diz no pargrafo 7:

    Na Escritura no so todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvao, em um ou outro passo da Escritura so to claramente expostas e explicadas, que no s os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinrios, podem alcanar uma suficiente compreenso delas.

    Sem sombra de dvida, grande parte dos problemas do entendimento do texto Sagrado a fim de que

    seja aplicado devocionalmente vida particular, est na questo da iluminao do Esprito Santo. Em

    1Co 2.14, Paulo trata muito bem deste aspecto, a fim de nos alertar sobre o dever de meditarmos

    cuidadosamente sobre o que est sendo dito no texto, colocando-nos em uma posio na qual o

    ministrio do Esprito Santo aja de maneira eficaz em nosso corao.

    O Salmo 77 um exemplo de meditao que leva o crente transformao e conhecimento

    experimental de Deus. Os versculos 1-9 expressam a tristeza e desnimo de algum que passa por um

    momento de incertezas em sua vida. Os versculos 10-20 mostram qual foi sua reao e como ele

    acabou conseguindo a resoluo das dificuldades aproximando de Deus e da sua Palavra. A meditao

    um exerccio da pessoa como um todo. No algo semelhante ao que feito nas religies orientais

    ningum precisa expirar para esvaziar-se e ento chegar a alguma unio com a divindade todo nosso

    ser chamado meditao em quem Deus , suas promessas, carter e grandiosos feitos na histria a

    fim de que aprendamos dele (leia os textos de Salmo 19.14; 49.3; Provrbios 15.28; Isaas 33.18).

    COMO ESTUDAR A BBLIA DEVOCIONALMENTE

    Antes de qualquer coisa, importante afirmar que o estudo devocional da Escritura no nos d a

    liberdade para interpret-la ao nosso bel prazer. O texto deve falar aquilo que realmente ele quer dizer,

    antes que o apliquemos nossa realidade diria. E, mesmo depois de tomar todas as precaues no

    estudo, esteja aberto, a quando rel-lo no futuro, possibilidade de que voc possa ter errado em sua

    interpretao e corrija-a.

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    Julho

    SUGESTES PARA ESTUDO DEVOCIONAL

    No existe um mtodo pronto para a meditao na Escritura Sagrada. Voc pode comear por este que

    est sendo sugerido em nossa aula. No futuro, voc poder mud-lo, diminu-lo, aument-lo de acordo

    com seu tempo e amadurecimento. No entanto, no incio, voc dever ter um mtodo especfico a fim

    de segui-lo e conseguir atingir o objetivo de aplicar a Escritura sua vida. Todavia, extremamente

    necessrio que voc siga as seguintes orientaes:

    1. Ler Diariamente (J 23.12)

    Assim como precisamos nos alimentar diariamente para sustentar nosso fsico, precisamos ainda mais

    do alimento espiritual regular em nossa vida. Lembre-se que o mtodo sugerido de apenas 15

    minutos. A maioria de ns ter maior vantagem se fizer isso pela manh. Contudo, no h maiores

    problemas em faz-lo em outro horrio, desde que voc no deixe de realiz-lo. Defina um horrio

    especfico e siga-o sistematicamente, mesmo que voc tenha que se trancar em algum lugar.

    2. Marcar a Durao do Tempo

    A proposta a menor possvel: apenas 15 minutos. Contudo, se durante o dia voc teve alguma

    dificuldade que o impediu de faz-lo, faa, mesmo que o tempo seja menor do que este. difcil, porm,

    pensar que uma pessoa no possua ao menos 15 minutos por dia para fazer sua devocional (gastamos

    mais que isso no telefone, em um programa de televiso, dentro do nibus, etc,). A maioria dos que

    comeam a ler a Bblia devocionalmente, com o tempo, sem nem perceber, passam a gastar de maneira

    prazerosa mais do que os 15 minutos recomendados. Enfim, marque o tempo, e tente obedec-lo

    dentro das suas limitaes dirias.

    3. Marcar um Lugar Definido

    Quando escolhemos um lugar definido para fazermos a leitura, isso ajuda na concentrao e

    persistncia. Procure um lugar tranquilo e que no possua nada que possa distra-lo.

    4. Ler Com Material para Anotao

    Com um lpis ou caneta na mo voc poder tomar nota, a qualquer momento, de algo que foi

    relevante para voc no texto bblico. Voc ficar em orao e pedir a orientao de Deus a fim de

    entender o que Ele deseja ensinar para aquele momento especfico. Alm disso, anotando voc ter

    facilidade em memorizar, ao menos, o local de uma passagem bblica importante.

    5. Ler em Orao

    Procure, o tempo todo, estar em atitude de orao a fim de que o Esprito Santo guie voc ao

    entendimento e aplicao da Palavra em sua vida. No force o texto a dizer o que no est dizendo.

    Procure ler todo o contexto especfico (um ou mais captulos) a fim de que voc entenda corretamente

    o que o texto est ensinando.

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    6. Escreva um Dirio da Vida Espiritual

    Forme o hbito de retirar o mximo da leitura devocional que voc faz. No preciso sequer comprar

    um caderno novo. Use aquilo que estiver a sua mo: uma agenda do ano, uma agenda de anos

    anteriores, um caderno que no mais usado, o verso de uma velha apostila, no importa. Separe uma

    pgina ou duas para cada dia, anotando o dia da semana, o ms e o ano no alto da pgina. Com o tempo

    voc at ir olhar poca anteriores nas quais voc fez sua meditao e verificar como Deus guiou sua

    vida no momento e da maneira certa.

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    O QUE DEVE CONSTAR NO DIRIO ESPIRITUAL?

    Veremos, a seguir, quais os itens que podem constar em um dirio de seu estudo devocional (que pode

    ser chamado de Dirio Espiritual). Lembre-se que esta uma sugesto. Voc pode segui-la ou no, mas

    este ser um bom ponto de partida a fim de que voc possa se desenvolver no conhecimento, e mais

    importante, na prtica da Palavra de Deus.

    Logo em seguida faremos um exerccio prtico devocional a fim de que voc continue-o em casa, todos

    os dias.

    1. A Mensagem de Deus para Hoje

    Qual a mensagem de Deus para voc neste dia? Tudo isso depender da passagem estudada e da

    necessidade daquele momento.

    2. Uma Promessa de Deus

    A Bblia est cheia de promessas feitas por Deus. Nem sempre as encontraremos em todas as passagens,

    mas elas so tantas que, frequentemente, poderemos encontr-las. Se existirem mais do que uma,

    escolha aquela que voc considera mais importante para a ocasio. Veja se a promessa para voc, se

    condicional, se um alerta para os mpios, etc.

    3. Uma Ordem a Ser Obedecida

    As ordens de Deus so para ser obedecidas e a observncia delas prolongaro a nossa vida.

    4. Um Princpio Eterno

    Uma das razes pelas quais a Bblia o maior manual sobre o comportamento humano porque ela

    contm milhares de ensinos que valem para toda a vida, independentemente das pocas (exemplo:

    humilhai-vos sobre a poderosa mo de Deus para que em tempo oportuno ele vos exalte, no vos

    ponhais em jugo desigual com os incrdulos).

    5. A Aplicao

    Depois de tudo isso, escolha um dos itens acima ou at mais de um e procure aplic-lo em sua vida.

    Suponhamos que o texto que voc achou mais relevante ou que est chamando ateno para algo que

    voc precisa mudar, seja sobre submisso aos pais. Anote-o e tambm registre aes que possam lev-

    lo a obedecer de maneira completa o que a Bblia diz a voc.

    Que tal fazermos um exerccio prtico em IJo captulo primeiro? Tente se prender aos 15 minutos

    sugeridos.

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    DIRIO DO CRESCIMENTO ESPIRITUAL (MODELO)

    DATA: TEXTO BIBLICO:

    Mensagem de Deus para Hoje:

    Uma promessa divina:

    Uma ordem:

    Um princpio eterno:

    Como posso aplicar isso em minha vida:

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    INTRODUO INTERPRETAO (HERMENUTICA)

    Quando falamos de interpretao de um texto, estamos nos referindo ao uso de ferramentas especficas

    para se tentar chegar o mais prximo possvel do significado dele. Essas ferramentas so fornecidas pela

    cincia de interpretao chamada Hermenutica. No caso da interpretao Bblica, damos um nome

    mais especfico a ela: Hermenutica Sagrada. A Hermenutica no a interpretao em si (a quem

    damos o nome de exegese), mas d os meios para que esta ocorra. A ttulo de ilustrao, a

    hermenutica est para exegese, assim como o serrote e o formo esto para o marceneiro que faz a

    porta de madeira.

    Na aula de hoje veremos alguns aspectos introdutrios da interpretao do texto Bblico

    1. Um Breve Tratado sobre as Escrituras

    A Bblia Sagrada no um nico livro (no sentido abrangente do termo, apesar de o ser quando temos a

    idia de que Deus o autor principal). Ela formada por um agrupamento de vrios livros, escritos

    durante vrias pocas, por autores e contextos diferentes. Composta por 66 livros 39 no Antigo

    Testamento e 27 no Novo Testamento ela a revelao de Deus para o homem.

    Quando falamos de revelao, devemos lembrar que Deus teve que se revelar a fim de que o homem

    pudesse conhec-lo. Isso se agravou ainda mais depois da queda, que obscurece o entendimento e

    mantm o homem na incredulidade. Essa revelao feita por Deus se deu de trs maneiras

    A. Pela criao (Salmo 19.1): Deus d amplas indicaes de sua existncia e de seu poder atravs da

    obra que Ele criou. Infelizmente, o pecado impede que o homem possa reconhec-lo ali, produzindo

    pecado e idolatria em seu corao

    B. Atravs de Cristo (Hebreus 1.1-3): Jesus o pice da revelao de Deus. Nele a glria de Deus estava

    presente e viva. Quem v a Ele v o Pai. Quem quiser conhecer a Deus deve conhecer a Cristo. Todavia,

    ns no presenciamos seu ministrio, morte e ressurreio. No fomos um dos seus discpulos. Logo,

    algo mais necessrio para que possamos conhec-lo e conhecer a Deus, o Pai.

    C. Atravs da Bblia (2Tm 3.16): Na Bblia temos a mais completa informao de Deus para o homem a

    respeito de si mesmo e do prprio Deus. Com o seu auxlio e iluminao, Ele promete ajudar-nos a

    entender sua Palavra. a ela que temos que recorrer e aprender a fim de entendermos quem Deus e o

    que Ele requer de ns.

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    Julho

    O que torna a Bblia to especial a ponto de a chamarmos de Palavra de Deus? Sua Estrutura: Apesar de

    ter sido escrita por vrios homens diferentes durante um longo perodo de tempo, ela revela uma nica

    mente formadora. Toda ela reunida com seus 66 livros revelam um todo harmnico (Ex 3.14; Js 1.1; 1Sm

    3.11; 2Sm 23.2; Jr 16.1) que apontam para um nico autor.

    A ordem que temos no obedece a cronologia, mas uma ordem lgica de diviso. Portanto, vejamos

    como podemos agrupar os livros da Bblia.

    1) O Antigo Testamento

    a. Pentateuco (ou livros da lei): Tambm chamados de Tor pelos judeus (tor significa lei). Temos

    neste conjunto os livros de Gnesis, xodo, Levtico, Nmeros e Deuteronmio. Moiss aceito como o

    autor de quase todo o Pentateuco (com exceo do trecho que narra sua morte e ocultao do corpo

    pelo prprio Deus).

    b. Histricos: Narram a posse da terra prometida at o retorno do cativeiro Babilnico. Compem este

    grupo os livros de Josu, Juzes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crnicas, Esdras, Neemias e Ester.

    c. Poticos ou de Sabedoria: Contm, em geral, reflexes do autores sobre a vida e orientaes a partir

    de situaes pelas quais passaram. Nesse grupo esto os livros de J, Salmos, Provrbios, Eclesiastes e

    Cantares.

    d. Profetas Maiores: J para adiantar, estes livros no receberam este nome por ser melhores do que os

    outros profetas, mas pela quantidade que escreveram. Profetizaram sobre o futuro do povo de Deus e a

    restaurao que Ele concederia depois. Formam este conjunto os livros de Isaas, Jeremias,

    Lamentaes, Ezequiel e Daniel

    e. Profetas Menores: Como j observamos, receberam este nome porque escreveram obras mais curtas.

    Fazem parte dos profetas menores os livros de Osias, Joel, Ams, Obadias, Jonas, Miquias, Naum,

    Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

    2) O Novo Testamento

    Entre o Antigo e o Novo Testamento transcorreram 400 anos sem que houvesse qualquer profeta e

    qualquer revelao da parte de Deus (os livros de Macabeus foram escritos neste perodo, relatam um

    pouco da histria de Israel nesta poca, mas no so livros inspirados por Deus).

    Esta parte da Bblia pode ser agrupada da seguinte forma:

    a. Os Evangelhos: So narrativas do ministrio de Cristo. Neste grupo comum chamarmos os trs

    primeiros de sinticos (que quer dizer semelhantes).

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    b. Histrico: O livro de Atos narra a histria da Igreja e de seu avano pelo poder do Esprito Santo

    c. Epstolas Paulinas: Foram treze as cartas escritas com absoluta certeza por Paulo: Romanos, 1 e 2

    Corntios, Glatas, Efsios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timteo, Tito e Filemon.

    Alguns subdividem este grupo em um segundo chamado de cartas pastorais de Paulo, pois nelas ele d

    conceitos ou faz pedido de um pastor aos seus destinatrios (so includas neste grupo 1 e 2 Timteo,

    Tito e Filemon).

    d. Cartas Gerais: So chamadas assim porque no se sabe ao certo para qual igreja foi remetida e

    serviram para atender problemas especficos. Aqui temos Hebreus, Tiago 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 Joo, e

    Judas.

    e. Proftico ou Apocalptico: Por ter se tornado to especial e falar sobre eventos do porvir e final dos

    tempos, o livro de Apocalipse ganhou uma nomenclatura prpria e, talvez, seja o livro de mais difcil

    interpretao da Bblia.

    2. Introduo Interpretao Bblica

    Iniciaremos a partir deste momento uma breve introduo interpretao Bblica. O intuito do leitor ,

    apesar da distncia de tempo, cultura e religiosidade que nos separam dos autores bblicos, chegar o

    mais prximo possvel do significado do texto. Na verdade, tentaremos, ao ler a Bblia, ter a resposta

    seguinte pergunta: O que significa isto? Ou o que este texto quer dizer?

    Alguns dos itens que apresentaremos a seguir podero aparecer novamente, mas de maneira mais

    profunda. No momento queremos ajud-lo a ter, j em mos, recursos bsicos para interpretao do

    texto bblico:

    REGRAS GERAIS

    a. Tente Interpretar Literalmente o Texto Sempre que Possvel

    Uma interpretao literal deve sempre ser precedida de uma leitura figurada ou espiritualizada. Por

    vezes, o prprio contexto mostrar o significado da figura usada e a ele que o interprete deve se

    apegar.

    Exemplos: Gn 4.1-7; Ne 7.1-4; Is 1.1-20; Dn 2; Ag 1.6; Lc 17.37; 2 Co 2.15; 2 Co 12.7-10; Ef 4.25-31.

    b. Mantenha-se Dentro do Contexto

    Todo texto foi escrito em um contexto especfico. No caso da Bblia, podemos nos ater seguinte regra:

    o versculo est dentro de um captulo, este captulo est rodeado pelos que o sucedem e antecedem,

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    este, por sua vez, esto dentro de um mesmo livro e, finalmente, este livro est dentro de toda Bblia.

    Se no tivermos isso em mente a interpretao poder ser errada

    Exemplos: Is 41.6; Sl 14.1 e 53.1; Mt 18.20; Jo 14.12; At 19.12

    c. Fique Atento a Expresses Idiomticas

    Toda lngua tem expresses idiomticas. Na lngua portuguesa falada no Brasil temos algumas como:

    cara de pau; santo do pau-oco; ele um galinha; entre outras. Neste caso, bons comentrios podem

    auxiliar e observar onde elas aparecem.

    Exemplo: Mateus 24.28.

    d. Fique Atento ao Uso da Linguagem Figurada

    o recurso usado quando o autor quer ensinar algo que seja marcante. Alguns tipos so comuns e

    usados costumeiramente por ns:

    Analogia: a comparao entre dois elementos em que um explica o outro. Exemplo: 1Co 1.18

    Hiprbole: uma comparao exagerada para ensinar um conceito. Exemplo Mt 7.3

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    INTRODUO INTERPRETAO (HERMENUTICA) PARTE II

    I) Considere o Significado das Palavras

    A Bblia foi escrita em linguagem humana e deve, portanto, antes de tudo, ser interpretada

    gramaticalmente. No estudo do texto escolhido o interprete pode iniciar pelo estudo do significado das

    palavras. Consideremos 3 coisas importantes neste estudo:

    1) Significao Isolada das Palavras: Verifique o significado da palavra na poca em que o autor

    escreveu o texto Bblico.

    2) Significao das Palavras no Seu Contexto: Verifique o significado das palavras em seu contexto so

    elas utilizadas em seu sentido geral ou particular; no sentido literal ou figurado. No se pode impor

    ao estudo da palavra os nossos pensamentos pr-concebidos, mas tentar o mximo possvel deixar

    que o prprio texto fale por si mesmo. (1Co 15.39; Lc 24.39; At 2.26; Ef 2.15; Jo 1.13; Rm 10.18; Rm

    7.25; Gl 5.16; Jo 6.53). igualmente importante verificar o significado que o prprio autor d em seu

    prprio livro ou no contexto prximo que estamos lendo (Gn 24.2 quando se refere ao seu mais

    antigo servo da casa; II Tm 3.16 quando usa o termo perfeito e perfeitamente habilitado; Hb 5.14 a

    expresso o alimento slido para adultos se explica pela expresso para aqueles que...)

    3) Significao Figurada das Palavras:

    Metfora: uma figura de linguagem em que um objeto assemelhado a outro, afirmando ser o

    outro, ou falando de si como se fosse outro (Mt 5.13; Sl 18.2; Lc 13.32). uma figura principalmente

    quando se refere a Deus onde temos o antropopatismo (atribuir emoes humanas a Deus) e o

    antropomorfismo (atribuir caractersticas humanas a Deus) para estes dois tipos de metfora,

    verificar: Gn 6.6; Dt 13.7; Ef 4.30; Ex 15.16; Sl 34.16; Tg 5.4.

    Metonmia e Sindoque uma figura em que se substitui a parte pelo todo; o atributo pelo sujeito,

    smbolo e coisa simbolizada; espcie pelo gnero, ou, em qualquer destas situaes o inverso

    usado. O fato que deve haver alguma identificao entre o que expresso e o que quer se

    significar (Dn 12.2; Lc 16.29)

    Smile: uma comparao feita entre dois elementos a fim de enfatizar o ensino (Sl 2.9; Mt 10.16; Is

    1.8)

    Ironia e Sarcasmo: uma censura ou ridculo sob a capa de louvor ou elogio (J 12.2; IRe 22.15; 1Co

    4.6; 1Sm 26.15; IRe 18.27; 1Co 4.8

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    Hiprbole: consiste no uso de um exagero retrico ( Gn 22.17; Dt 1.28).

    4) Significao das Palavras na Sentena: Verifique a posio das palavras dentro da sintaxe sujeito,

    verbo e predicado. Quando h mudana de posio de um desses porque h um forte desejo de

    nfase no texto

    II) Considere a Inteno do Autor

    Os autores bblicos tinham um propsito definido quando compuseram as diferentes partes dos seus

    diferentes escritos. Familiarizar-se com o objetivo do autor ajudar sobre o uso de determinadas

    palavras e expresses (Pv 1.2 e 4; Lc 1.1-4; Jo 20.31; 2Pe 5.12). Nem sempre isso ser fcil, pois em

    alguns livros este propsito nem sempre est claro e o intrprete ter que ler o livro inteiro a fim de

    tentar descobrir qual o intuito do autor.

    Primeiramente o intrprete deve tentar saber quem o autor do livro bblico. Alguns livros da Bblia

    mencionam seu autor, outros no. De qualquer forma, sabendo-se quem ele foi, poder saber do seu

    carter, temperamento, modo de pensar, vocabulrio e expresses comuns. Veja, por exemplo, a

    histria de Paulo em Atos 7.58; 8.1-4; 9.1,2,22, 26; 26.9; 13.46-48.

    Mesmo sabendo quem o autor, preciso saber quem que est falando no texto. Logo, as palavras do

    autor podero ser diferentes da palavra da pessoa apresentada pela passagem (Os 9.9,10; Zc 12.8-10;

    14.1-3; Ml 3.13-16).

    necessrio sempre que possvel entender quem era o pblico original a quem o livro foi escrito. Afinal,

    circunstncias especiais e necessidades particulares foram levadas em conta. Em Corinto, por exemplo,

    havia divises na igreja (1Co 3.20-23).

    Finalmente, cada autor tem um estilo que lhe peculiar e isso pode trazer algum significado especfico

    na interpretao do texto. Veja por exemplo a forma introdutria que tanto Moiss quanto Lucas usam

    respectivamente em Genesis e Atos. Outro bom exemplo nos dado por Bruggen:

    Em Gnesis 12 se conta que Abrao foi cumulado de presentes quando Sarai ficou na corte do Fara. O autor no faz julgamentos explcitos, mas ser que essa notcia no funciona como uma forte desaprovao indireta (Abrao permanece quieto e aproveita)? (J. Van Bruggen, Para Ler a Bblia, p. 103)

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    INTRODUO INTERPRETAO (HERMENUTICA) PARTE III

    III) Considere o Contexto

    J falamos sobre a importncia do Contexto para a interpretao bblica. Na aula de hoje vamos nos

    deter um pouco mais neste tpico a fim de refor-lo para voc. Os principais recursos histricos para

    interpretao da Escritura esto contidos nela mesma. Portanto, prefira a Bblia antes de qualquer outro

    recurso externo. Afinal, a Escritura Sagrada como j vimos possui absoluta unidade em seu

    pensamento e, desta forma, tanto AT quanto NT formam partes essenciais da revelao especial de

    Deus. Ambos contm a mesma doutrina da redeno, pregam o mesmo Cristo e impem ao homem os

    mesmos deveres morais e religiosos. Ao mesmo tempo, os dois compem uma revelao progressiva

    que nos faz afirmar que o NT est implcito no AT e o AT est explcito no NT. Isso far com que o

    estudante crente, antes de qualquer coisa, pergunte: o que diz a Bblia? Um exemplo sobre isso o que

    vemos em 2Cr 30.1 sobre a Pscoa. Onde encontrar algo que fale sobre esta festa? Basta olhar textos

    como Ex 12.1-21; Lv 23.4-14; Nm 28.16 ss.; Dt 16.1-8. Veja outro exemplo: o caso de Sanso que deveria

    ser um nazireu (Jz 13.5). O que significava este voto? Nmeros 6 d a resposta necessria. No NT

    encontramos a seita dos saduceus. As caractersticas deste grupo judaizante podem ser vistas, ainda que

    em parte, em textos como Mt 22.23; Mc 12.18; Lc 20.27; At 23.8. No NT h freqente meno sobre os

    Samaritanos. Trechos do AT como 2Re 17.24-41; Ed 4 e Ne 4 ajudam a esclarecer quem so eles. Busque

    apoios histricos externamente somente quando o apoio interno no for mais possvel, mas, mesmo

    assim, faa-o com cuidado lembrando que somente a Escritura infalvel e inerrante.

    Alm do aspecto histrico, importante notar a relao doutrinria e teolgica entre AT e NT. Vejamos

    algumas delas:

    1) A doutrina da redeno: Esta foi sempre a mesma tanto no AT quanto no NT. Ritos, cerimnias e

    sacrifcios eram tipos que apontavam para a redeno exclusiva em Cristo. O sangue derramado nos

    sacrifcios apontava para o sangue de Cristo, as constantes lavagens indicavam a influncia purificadora

    do Esprito Santo. A prpria Cana terrena apontava para o repouso da Cana celestial (Lv 20.25,26;

    26.41; Sl 26.6; 51.7; Is 1.16)

    2) O Povo de Deus: os verdadeiros israelitas em ambos os testamentos no so os descendentes

    naturais de Abrao, mas somente os que partilham da mesma f que ele possua(Gn 12.13; IRe 8.41 ss;

    Rm 4.12; Gl 3.7-8).

    3) Lei e Graa: H um constante vcio em querer se apontar para o Velho Testamento como o livro da lei

    enquanto o Novo Testamento o livro da graa. Infelizmente, muitos afirmam isso erroneamente, mas

    cometem, ao mesmo tempo, incoerncia quando pretendem destacar algo que no bblico, mas

    humano. Claro que o AT enfatiza a lei, enquanto o NT enfatiza a graa. Todavia, j no AT a lei era

    obedecida por aquele que a tinha escrita em seu corao, ou seja, por algum que tinha sido

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    transformado interiormente pelo prprio Deus. J no AT os salvos precisavam de um Mediador e do

    mesmo Esprito Santo, recebendo por eles a aliana da graa (Sl 6.4; 13.5; 37.31; 40.8 e 11; Is 60.10).

    4) Verifique as Passagens Paralelas Verbais: Muitas vezes a mesma palavra, frase, clusula ou expresso

    aparece em duas ou mais passagens com uma ligao semelhante, com referncia a assuntos que so

    prximos. importante que o intrprete comprove esta relao, pois somente a presena de palavras

    ou expresses semelhantes no indica ligao suficiente entre as passagens. Um exemplo claro deste

    tipo de paralelismo o texto de 1Re 19.9,11 que fala de Elias no monte Horebe. Temos aqui o mesmo

    lugar onde Moiss recebeu a lei da parte de Deus (Ex 33.19 e 22). Assim como Moiss recebeu uma

    viso dos atributos do Deus vivo que o animaram, Elias precisa de tal nimo para continuar o seu

    ministrio.

    5) Verifique as Passagens Paralelas Tpicas: H passagens na Escritura que tratam dos mesmos fatos,

    assuntos, sentimentos ou doutrinas, mesmo que elas no possuam as mesmas palavras, clusulas ou

    expresses. o que acontece com textos dos livros de Samuel, Reis e Crnicas. Outros exemplos so os

    textos do Salmo 14 e 53; Salmo 18 e 2Sm 22; Salmo 96 e 1Cr 16; Jd e 2Pe 2; Salmo 34 e 1Sm 21; Salmo

    57 e 1Sm 24. Ao estudar, por exemplo, os Salmos indicados juntamente com suas passagens paralelas

    podero ser encontrados elementos da experincia e da teologia de Davi que se perderiam olhando

    somente para o Salmo (Veja tambm Lc 14.26 e Mt 10.37).

    6) Verifique as Passagens-Chave: importante que conheamos passagens que ensinam conceitos-

    chave na Bblia. o caso de textos como Gn 1-2 (criao); Is 40 (o carter de Deus); Is 53 (a natureza da

    expiao); 1Co 15 (a ressurreio); 2Co 5.1-10 (a natureza do estado intermedirio); Fp 2.1-11 (a

    natureza da encarnao); Ex 20 (os 10 mandamentos); Mt 5.-12 (bem-aventuranas); Mt 6.9 (Orao do

    Pai Nosso).Textos como esse podem servir de guia para que o intrprete no abuse da sua

    interpretao.

    7) Tome Cuidado para no criar doutrinas ou interpretaes foradas: Algo muito comum entre ns

    querer forar o texto dizer algo alm do que ele realmente diz. No se pode apelar conscincia dos

    crentes para que faam ou deixem de fazer alm daquilo que o texto bblico diz. Igualmente, no se

    pode criar uma doutrina a partir de um nico texto, principalmente quando este texto obscuro

    comparado com outros textos da Bblia (1Co 15.29; Rm 6.4)

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    INTRODUO INTERPRETAO (HERMENUTICA) PARTE IV

    IV) Considere o Contexto Literrio

    Ver o j citado contexto ao qual o intrprete deve se deter: captulos, livro e toda a Bblia.

    V) Interpretao dos Evangelhos

    1. Os Evangelhos so Histricos em Seus Relatos

    Algo importante a se definir na interpretao dos evangelhos a realidade histrica de seus relatos.

    Afinal, se os relatos da vida, morte e ressurreio de Jesus no so verdadeiros, o cristo se encontrar

    perdido quanto sua f, que uma f histrica.

    Tudo indica que os escritores dos evangelhos esperavam que suas declaraes fossem consideradas

    histricas ( o caso do j citado evangelho de Lucas e seu outro livro conhecido como os Atos dos

    Apstolos).

    Uma grande dificuldade hoje para que estes livros sejam aceitos em sua historicidade que eles so

    diferentes daquilo que considerado como histrico em nossos dias. Logo, preciso entender que estes

    livros tm suas caractersticas adicionais. Diferentemente da historiografia moderna que se preocupa

    com a exatido cronolgica, a seleo equilibrada do material e s citaes textuais, os autores bblicos

    selecionaram acontecimentos na vida de Jesus de acordo com o seu propsito em escrever a partir da

    sua viso como pregadores. Nem sempre a ordem sequencial foi obedecida, mas a perspectiva de

    imprimir sobre os leitores certas verdades especficas. Afinal, a vida e a mensagem de Jesus so to ricas

    que precisamos de mais do que uma nica perspectiva a ser apresentada.

    2. A Interpretao das Parbolas

    Dentro dos evangelhos o mtodo mais distintivo no ensino de Jesus foi o uso das parbolas. Esta forma

    de instruo tratava diretamente das realidades dirias. Desta forma o pblico em geral poderia seguir a

    histria facilmente. Alm disso, facilmente se poderia desarmar os oponentes evitando que ficassem

    ofendidos por causa do verdadeiro teor da mensagem.

    No se pode perder de vista a ideia bblica de que Jesus usou este tipo de linguagem a fim de fazer com

    que os opositores fossem acusados por no aceitarem seus ensinos de salvao e inaugurao do reino

    (Mc 4.11-12, citando Is 6.9-10). Alm disso, cumpria-se a profecia (Mt 13.35 com Sl 78.2).

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    INTRODUO INTERPRETAO (HERMENUTICA) PARTE V

    VI) Interpretao das Narrativas

    A narrativa o gnero mais comum encontrado na Bblia, chegando a mais de um tero de toda

    Escritura Sagrada.

    A narrativa em seu sentido amplo relata acontecimentos especficos no tempo e no espao com

    participantes cujas histrias so registradas com um comeo, meio e fim.

    Recursos Literrios na Narrativa

    1. Considere a Cena da Narrativa

    a caracterstica mais importante da narrativa. A ao da histria dividida em uma sequencia de

    cenas, cada uma apresentando o que aconteceu em um determinado tempo e lugar. O autor usa cenas

    para concentrar a ateno em um conjunto de aes ou palavras que ele quer que examinemos.

    Cada cena normalmente composta por dois personagens. Mesmo que tenha um grupo este funciona

    como um personagem especfico. Frequentemente, Deus um dos personagens da cena: Deus e Ado

    em Gn 3; Deus e Caim em Gn 4; Deus e No em Gn 6 e Deus e Abrao em Gn 12.

    O intrprete deve identificar cada uma dessas cenas, da mesma forma como um texto pode ser dividido

    em pargrafos. Tente encontrar as aes, descries da cena, palavras procurando identificar a direo

    que o autor que dar ao texto.

    2. Considere o Ponto de Vista

    As cenas tm um padro bsico, incluindo uma srie de relaes com um comeo, meio e fim. o que

    denominamos de trama da narrativa. A trama no pode impedir que vejamos o ponto de vista do autor

    da narrativa, ou seja, qual a verdade que ele quer transmitir no texto. Veja o exemplo de 1Re 17.1-24.

    3. Considere o Dilogo

    O tema da passagem, no qual o ponto de vista expresso, geralmente transportado juntamente com

    seu movimento pelo dilogo. Observe o lugar em que o dilogo introduzido (isso poder revelar o

    carter do locutor); e, tambm, onde o narrador escolheu introduzir o dilogo em vez da narrao.

    Note que o uma narrao pode ser feita de maneira direta (com os protagonistas falando entre si) ou

    indireta (o narrador fala no lugar dos personagens). Normalmente, o narrador prefere esta ltima forma

    para iniciar a narrao, a fim de acelerar a fluncia da narrativa ou evitar excessiva repetio.

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    4. Considere o Desenvolvimento do Enredo

    O enredo a sistematizao dos fatos que constituem a histria contada pelo narrador. Estes fatos

    esto ligados um ao outro por determinadas causas e dentro de um tempo determinado.

    Uma as maneiras de entender o enredo atravs do esquema chamado quinrio (5 em latim) que leva a

    cinco etapas de que se compem o enredo:

    A. Situao Inicial

    B. N

    C. Ao Transformadora

    D. Desenlace

    E. Situao Final

    A narrativa da cura da sogra de Pedro pode ser um bom exemplo para isso (Mt 8.14-15):

    Situao Inicial 8.14a

    N (complicao) 8.14b

    Ao Transformadora 8.15a

    Desenlace (anuncia qual a resoluo do problema) 8.15b

    Situao Final (expe o novo estado e ao aps o desenlace) 8.15b

    5. Considere os Personagens

    Os personagens so a face visvel do enredo e, no caso da narrativa bblica, podem fortalecer,

    contrapor-se ou ser indiferentes quanto ao ensino central que o autor deseja transmitir.

    Ao ler a narrativa tente localizar o nmero de personagens; o grau de presena de cada um deles (quem

    tem um papel principal, um papel secundrio e at mesmo so apenas meros figurantes); e os traos

    que caracterizam estes personagens.

    Exerccio prtico

    1)Na interpretao das Parbolas

    Leia Lc 10.30-37

    Responda:

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    a) Qual o ensino principal desta parbola?

    b) Por que Jesus proferiu esta parbola? Voc pode encontrar o motivo principal dela ter sido ensinada

    na poca?

    c) Qual a reprovao para a qual Jesus chama ateno?

    d) Qual o dever prtico para qual somos chamados a partir do ensino desta parbola?

    2) Na Interpretao da Narrativa

    Leia 2Re 5.1-27

    Responda:

    a) Quem so os personagens da narrativa?

    b) possvel caracteriz-los a partir da narrativa? Se voc acha que sim, descreva, a partir desta

    passagem a caracterstica de cada um deles.

    c) Voc consegue identificar a cena desta narrativa (qual poca e em que lugar geogrfico)? Se for

    possvel indique-a.

    d) Use o esquema quinrio (situao inicial, problema, ao transformadora, desenlace e situao final a

    fim de descrever esta histria)

    d) H algo importante no dilogo entre os personagens? Indique esses pontos.

    e)Qual o principal ensino que o autor quer transmitir no texto (o ponto de vista do autor)?

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    INTRODUO INTERPRETAO (HERMENUTICA) PARTE VI

    VII) Interpretao das Epstolas

    O primeiro passo importante no estudo das epstolas entender que elas devem ser estudadas

    integralmente e nunca um trecho de cada vez. Afinal, quando recebemos a carta de algum conhecido

    nunca procuramos l-la aos pedaos. Ningum que receba uma carta romntica de sua noiva ir ler a

    primeira parte em um dia, a ltima do dia seguinte e a terceira parte no ltimo dia. Ler

    fragmentadamente acabar trazendo confuso. Algo que parea obscuro em um pargrafo pode ser

    esclarecido pelo que veio antes ou pelo que vir depois. O contexto to importante aqui quanto o

    em outros livros da Bblia.

    Em segundo lugar o intrprete deve estudar as epstolas historicamente, ou seja, considerando quem

    escreveu, em que poca escreveu, e porque escreveu. Claro que a falta de todas ou parte destas

    informaes no impediro que o livro seja entendido. Tome o exemplo de Paulo que escrevia suas

    cartas pensando em um problema especfico pelo qual a igreja destinatria estava passando. Este um

    erro que cometemos comumente porque, por exemplo, as cartas de Paulo apresentam assuntos

    perenes. Mas, considere o texto de 1Co 7.1. Olhando superficialmente algum pode afirmar que a Bblia

    diz que o casamento uma coisa a ser evitada. Todavia, uma afirmao como essa esta em desacordo

    ao que a Bblia diz de maneira geral (veja Ef 5.22-33; 1Tm 3.2; 4.3). Ao que parece, entre as muitas

    questes que dividiam os crentes da igreja de Corinto, estava a que tratava do casamento e do sexo.

    Alguns cristos tinham uma viso muito liberal (6.15-16) e, por causa desta opinio um rapaz que se

    deitava com sua madrasta no era confrontado em seu pecado (5.1-2). Outro grupo, por sua vez, foi a

    outro extremo. Criam que atm mesmo no casamento o sexo deveria ser alguma coisa a se evitar. No

    se casar poderia ser uma opo. E, em apoio sua posio apelaram prpria situao de Paulo. Ele

    tinha, portanto, uma grande dificuldade diante de si. Por isso, ainda que no fosse a melhor opo,

    Paulo preferiu fortalecer este grupo usando o que possivelmente era um lema dos seus integrantes,

    desenvolvendo em seguida as correes necessrias aos abusos. O estudioso da Escritura encontrar no

    livro de Atos algumas informaes sobre a histria dos lugares pelos quais Paulo passou. Quando isto

    no for possvel usar mo de recursos externos e tambm poder ver na prpria epstola informaes

    que podero ajud-lo a entender o contexto histrico.

    Exerccio Prtico: Leia Filpenses 4.10-19. Compare com os seguintes textos da epstola 2.6-11; 1.5;

    2.25; 4.6-7; 3.1; 4.4 e tambm 2Co 8.1-5. Tende entender o motivo pelo qual Paulo ensina este texto

    para a poca e como devemos aplicar para ns hoje.

    Em terceiro lugar, as epstolas devem ser lidas como documentos literrios. Cada carta possui uma

    estrutura prpria que, por normalmente serem longas, ajudaro a compreend-la melhor. Veja o

    exemplo da carta de Paulo aos Glatas:

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    Saudao 1. 1-5

    Bno 6.18

    Introduo 1.6-10

    Concluso 6.11-18

    Corpo

    I)1.11-2.21 Paulo defende sua autoridade

    II) 3.1-4.31 Argumentao doutrinria

    III) 5.1-6.10 Exortaes Prticas

    Atentar, portanto, para os pontos onde ocorrem mudanas de tpicos nos ajudaro a interpretar

    melhor o texto.

    Exerccio Prtico: Compare a introduo de Paulo em Glatas 1.6-10 com outras introdues nas cartas

    aos Romanos 1. 8-10 e 1 Corntios 1. 4-9. H algum motivo para estas diferenas existentes entre a

    primeira e as demais?

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    INTRODUO INTERPRETAO (HERMENUTICA) PARTE VII

    VIII) Interpretao da Poesia

    A poesia um gnero to extenso na Bblia que, se fosse unido em um nico bloco, facilmente

    excederamos o Novo Testamento.

    A poesia mais conhecida na Bblia pode ser encontrada no livro dos Salmos, depois em Provrbios e

    outros livros de Sabedoria. Tambm no Novo Testamento encontramos diversos textos de poesia, como

    em At 17.28; Fp 2.5-11; Lc 1.46-55; e Ap 5.9-10.

    bom citar que, o campo da poesia na Bblia ainda carcado de incertezas, o que nos deve levar a uma

    atitude hipottica na interpretao deste gnero.

    De qualquer forma, a seguir trataremos de alguns pontos importantes na interpretao dos livros

    poticos:

    Paralelismo

    a correspondncia de um verso ou linha com outro, no qual h uma proposio emitida e uma

    segunda associada a ela, extrada a partir dela, equivalente ou contrastante.

    Paralelismo Sinnimo: a segunda linha, de forma potica, repete com outras palavras o que foi afirmado

    na primeira linha (Pv 1.20; Lc 1.46b-47a).

    Paralelismo Antittico: a segunda linha da poesia contrasta ou nega o sentido da primeira linha (Pv 10.1;

    Pv 27.6)

    Conciso

    Enquanto a prosa organizada em pargrafos, a poesia dividida em estrofes. Uma das maneiras de se

    marcar o fim da estrofe a presena de um refro (Sl 39; 42, 43; 44; 62; 114 e outros).

    Recursos Retricos

    No somente a poesia, mas toda a Escritura Sagrada repleta de imagens e figuras de linguagem (j

    tratamos deste assunto anteriormente). Todavia, trs deles aparecem de maneira especial na poesia:

    Quiasmo: Um recurso literrio que tem este nome a partir da letra (letra grega que se pronuncia

    qui). Tal nomenclatura aponta para o cruzamento ou inverso dos elementos relacionados (Mt 7.6;

    13.15)

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    Paralelismo Climtico: a repetio de duas ou trs palavras em duas ou mais linhas, com a inteno de

    nfase (Sl 92.9 e 93.3).

    Simbolismo Emblemtico: Um enunciado se junta a uma figura de linguagem que d nfase (Pv 11.22;

    25.5).

    A Natureza dos Salmos

    1. Elemento Individual: Os Salmos e a poesia na Bblia refletem experincias pessoais do autor e, ao

    mesmo tempo, o carter de todos os homens (Sl 6, 18)

    2. Circunstncias Histricas: Quando houver uma circunstncia histrica ligada ao Salmo, ela deve ser

    estudada (Sl 3 e Sl 32).

    3. O Carter do Autor: Devido grande carga emocional que est presente nos Salmos, o intrprete

    deve estudar o carter e o momento da composio

    4. A Qualificao do Salmo: Existem vrias qualificaes, entre elas: (1) Messinicos que apontavam

    de uma maneira mais especfica para o Messias que viria (2; 22; 45); (2) Imprecatrios - que falam

    da justia final de Deus sobre o pecado, o grande inimigo e sobre o mpio (7 e 35).