como estudar a biblia

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RECONHECIMENTO MEC DOC. 356 DE 31/01/2006 PUBLICADO EM 01/02/2006 NO DESPACHO 196/2006 SESU GEHARD F. HASEL UMA PERSPECTIVA ADVENTISTA PARA O ESTUDO DA BIBLIA: ARTIGO Cachoeira 2006

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Page 1: Como estudar a biblia

RECONHECIMENTO MEC DOC. 356 DE 31/01/2006 PUBLICADO EM 01/02/2006 NO DESPACHO 196/2006 SESU

GEHARD F. HASEL

UMA PERSPECTIVA ADVENTISTA PARA O ESTUDO DA BIBLIA:

ARTIGO

Cachoeira 2006

Page 2: Como estudar a biblia

GEHARD F. HASEL

UMA PERSPECTIVA ADVENTISTA PARA O ESTUDO DA BÍBLIA:

ARTIGO

Trabalho revisado, editorado e formatado no segundo semestre de 2006. Arquivo nº 06009

Cachoeira 2006

Page 3: Como estudar a biblia

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................3

2 FUNDAMENTOS DA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA..............................4

2.1 A Bíblia Como Palavra Inspirada de Deus ............................................4

2.2 Deus Como Autor da Bíblia ....................................................................4

2.3 A Indivisível União do Divino e do Humano na Escritura ....................5

2.4 A Autoridade da Bíblia Como Autoridade de Deus ..............................6

2.5 O Velho e Novo Testamento Como Uma Unidade ................................6

2.6 O Cânon Bíblico em Ambos os Testamentos .......................................7

2.7 A Bíblia É Sua Própria Intérprete ...........................................................8

2.8 As Verdades Normativas da Bíblia ........................................................8

2.9 Pré-Interpretações Humanas Determinadas Pela Bíblia ......................9

2.10 A Permanente Iluminação do Espírito Santo ......................................10

3 PRINCIPIOS E MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA ................12

3.1 O Texto Original e os Estudos Textuais..............................................12

3.2 A Tradução da Bíblia nas Línguas Modernas .....................................13

3.3 A Determinação da Autoria, Data, Lugar e Unidade dos Livros Bíblicos 14

3.4 O Texto Bíblico e a Questão do Contexto ...........................................14

3.5 O Texto Bíblico em Palavras, Orações e Unidades ............................18

3.6 Os Livros Bíblicos e Suas Mensagens ................................................20

3.7 A Teologia da Bíblia em Sua Inteireza .................................................20

4 CONCLUSÃO .........................................................................................23

Page 4: Como estudar a biblia

3

1 INTRODUÇÃO

Nesta seção procuraremos esboçar os pontos essenciais de uma

"perspectiva adventista" no estudo da Bíblia. A palavra "adventista" pode soar de

modo paroquial ou sectário, mas não pretende de modo algum portar este sentido.

Por "adventista" queremos dizer neste caso um modo de abordar o assunto que tem

sua raiz na Bíblia, e que e típico da grande herança protestante a qual pertenciam os

grandes reformadores do século dezesseis. Esta abordagem esta fundamentada na

Bíblia como Palavra inspirada de Deus, enquanto que ao mesmo tempo se dirige as

perguntas da mente moderna na situação da época presente.

Não será possível, naturalmente, uma abarcante apresentação dos

princípios sólidos e bem fundamentados da interpretação bíblica. Explicá-los

envolveria a produção de um alentado volume para o que não seria este nem o

tempo e nem o lugar. Por isto mesmo procuraremos prover conceitos básicos e

fundamentais sob dois títulos principais: (l) fundamentos de interpretação bíblica e

(2) princípios e processos de interpretação da Bíblia.

Page 5: Como estudar a biblia

4

2 FUNDAMENTOS DA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

Esta primeira seção trata dos fundamentos de interpretação da

Escritura que são tão básicos aos princípios e processos envolvidos nos verdadeiros

métodos de interpretação que temos de dedicar uma parte especialmente a ela.

Vamos dividi-la em vários pontos principais relacionados com a Escritura, sua

natureza, autoridade, auto-coerência, unidade, canonicidade, e assim por diante.

2.1 A BÍBLIA COMO PALAVRA INSPIRADA DE DEUS

Toda interpretação apropriada da Bíblia deve estar baseada no

princípio de que toda Escritura e dada por inspiração de Deus mediante o Espírito

Santo. Uma vez que toda a Escritura e inspirada pelo Espírito Santo, a Escritura

toda, desde o Gênesis até o Apocalipse, é a Palavra de Deus, sem nenhuma

diferença qualitativa na inspiração. Esta aceitação da Bíblia como a Palavra de Deus

exclui graus ou níveis de inspiração. Excluí também aqueles conceitos de que

somente aquilo que pertence à fé e à redenção é de inspiração divina, e exclui ainda

a pretensão de que escritos não canônicos de tradição judaica, cristã ou de qualquer

outra espécie de tradição, sejam considerados como portando a mesma "função

inspirada" da Bíblia ou que sejam uma adição a esta.

2.2 DEUS COMO AUTOR DA BÍBLIA

A singularidade da Bíblia e devida a sua origem divina e inspirada.

Esta origem divina e inspirada e atestada nas afirmações de que "nunca jamais

qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens falaram da parte

de Deus movidos pelo Espírito Santo" (II S.Pedro 1:21), e que "toda a Escritura é

Page 6: Como estudar a biblia

5

inspirada por Deus" (II Timóteo 3:16). A Escritura provém de Deus que, deste modo

é o Autor da Bíblia, muito embora seja escrita em linguagem humana. Segue-se

assim que a Bíblia não é o produto de tradição ou gênio humano, que não deve ser

manuseada ou estudada como se fosse um livro comum, e que não deve ser

interpretada no nível de linguagem humana somente.

A Bíblia apresenta uma união do divino com o humano (G.C.9, ed.

1971),o último na forma de escritores inspirados que comunicaram em linguagem

humana a verdade divina de modo objetivo, autorizado e confiável. Qualquer

abordagem a Bíblia em termos de interpretação que procure investigá-la e interpretá-

la somente a nível humano estará sendo infiel à indispensável união do divino e do

humano.

2.3 A INDIVISÍVEL UNIÃO DO DIVINO E DO HUMANO NA ESCRITURA

A Bíblia "apresenta uma união do divino com o humano" (5T 747;

GC 9, ed. 1971) como se manifesta também em Jesus Cristo que em Si combinou a

divindade e a humanidade por ser "Filho de Deus e Filho do homem. Como a união

do divino e do humano na pessoa de Jesus Cristo é inseparável e indivisível, assim

também a Bíblia é inseparável e indivisivelmente a união do divino e do humano, o

que a torna a Palavra de Deus na linguagem dos seres humanos. Abordagens

interpretativas, ou métodos e técnicas interpretativos que procurem tratar com a

Bíblia apenas a nível humano, são infiéis a inseparável e indivisível união do divino e

do humano. Toda e qualquer interpretação da Escritura tem de estar em harmonia

com a união divino-humana da Palavra de Deus.

Page 7: Como estudar a biblia

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2.4 A AUTORIDADE DA BÍBLIA COMO AUTORIDADE DE DEUS

A autoridade de Deus, de Jesus Cristo e do Espírito Santo, é a fonte

da autoridade da Bíblia. A autoridade da Bíblia é assim normativa para a fé e a vida,

para doutrina e proclamação, e para pensamento e investigação. A autoridade

bíblica não se fundamenta na igreja, nem tampouco em qualquer agente ou esforço

humano. Portanto o significado e interpretação da Bíblia não dependem de decretos

ou concílios de seres humanos ou de sua opinião científica ou interpretativa, quer

combinadas quer simples. A divina autoridade é inerente à Bíblia e da orientação

criativa à vida e a todos os ramos do pensamento humano.

2.5 O VELHO E NOVO TESTAMENTO COMO UMA UNIDADE

A unidade dos dois Testamentos da. Bíblia é uma realidade da

Escritura que tem suas raízes na inspiração da Bíblia. A Bíblia é por inteiro a Palavra

de Deus. Há uma unidade tanto dentro de cada Testamento como entre eles ambos.

Conquanto haja uma variedade de linguagem, de estilo, de formas literárias, e de

ênfase entre os vários autores inspirados individualmente, entre os vários relatos do

mesmo acontecimento ou do mesmo tópico e entre a variedade de assuntos

expostos por eles, há, não obstante, uma unidade interior todo-abarcante sem

uniformidade artificial. A unidade dentro de toda variedade aponta para a harmonia

da verdade que nega que o Velho Testamento seja a lei e o Novo Testamento o

evangelho, ou que dentro dos livros bíblicos, ou entre ele, haja ensinos ou teologias

conflitantes ou contraditórios, ou ainda, que os escritores inspirados mais recentes

fizeram uso, aplicação ou interpretação errôneo das Escrituras mais antigas quando

delas fizeram citações ou alusões.

Page 8: Como estudar a biblia

7

2.6 O CÂNON BÍBLICO EM AMBOS OS TESTAMENTOS

A Bíblia consiste em 66 livros que formam o Velho e o Novo

Testamento. O Novo Testamento usa a expressão "os escritos" (S.Mateus 26:54; S.

Marcos 14:49, S. Lucas 24:27; S. João 5:39, etc.) ou "a Escritura" (S. João 2:22;

10:35; 20:9; I S. Pedro 2:6; II S. Pedro 1:20) para todo o cânon do Velho

Testamento. Declarações de Jesus tais como "esta escrito" (S. Mateus 4:4, 6, 10;

11:10; 21:13; 26:31; etc.) c "a Escritura não pode falhar" (S. João 10:35) indicam que

Ele exemplificou e apoiou a fiel submissão ao Velho Testamento como um cânon

inspirado. Os livros do Novo Testamento não se tornaram canônicos por autorização

da igreja ou porque foram incluídos em lista canônica, mas esses 27 Livros do Novo

Testamento foram incluídos no cânon da igreja porque eram divinamente inspirados,

tinham autoridade apostólica, e foram como tal reconhecidos mediante a guia do

Espírito Santo. O cânon da Bíblia é, portanto, não o produto da igreja, mas do

Espírito Santo. O cânon da Bíblia não depende de um repetido testemunho de

autenticidade, mas e inerentemente uma revelação divina escriturística e autoritativa.

A forma canônica da Bíblia é a Palavra de Deus e, não quaisquer supostas fontes,

formas ou tradições pré-canônicas. O significado da Bíblia é encontrado em sua

forma canônica e não em vários estágios reconstruídos de uma suposta Historia

literária pré-canônica. Uma vez que a Bíblia não faz distinção quanto a níveis

canônicos e sendo que todos os livros bíblicos são de igual origem divina, escrito por

meio de inspirados instrumentos humanos, não existem formas superiores ou

inferiores de 'Escritura canônica. Os livros ou escritos bíblicos, sejam eles de maior

ou de menor antiguidade, não são nem mais nem menos autorizados, ou

genuínos,ou autênticos uns do que os outros. Não há distinção qualitativa ou níveis

de autoridade no cânon.

Page 9: Como estudar a biblia

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2.7 A BÍBLIA É SUA PRÓPRIA INTÉRPRETE

O famoso e, até o presente, honrado princípio da Reforma de que

"as Escrituras como (sua) própria Interprete" (GC 521, ed. 1971) ou "a Bíblia explica-

se por si mesma (Ed. 189) tem pleno apoio bíblico (S. Luca.s 24:27; l Coríntios 2.13;

II S. Pedro 1:20). Significa isto que "a Escritura interpreta a Escritura" (Ev 581), que

uma parte da Escritura interpreta a outra, tornando-se chave para outros textos

menos claros. Esse procedimento envolve uma harmonia de conceitos sobre o

mesmo assunto em todas as partes da Bíblia para mútua interpretação. Este

processo de auto-interpretação da Bíblia tem por base a unidade da Bíblia. Se

devidamente executado, o processo de Escritura interpretando Escritura não

permitirá um indiscriminado agrupamento de passagens, mas relacionará uns com

os outros os textos que tratam do mesmo assunto, tendo em vista o seu significado e

contribuição para o assunto.

A auto-interpretacão da Bíblia não nega ou descarta as variedades

de aspectos ou ênfase nos vários tópicos ou eventos, mas relaciona-os entre si,

dentro da estrutura da Escritura inspirada. A auto-interpretação da Bíblia e uma

salvaguarda contra a sobreposição dos pontos de vista de alguém a Escritura. Ele

nega também que uma passagem da Escritura contradiz, aplica mal ou interpreta

mal, outra. A interpretação da Bíblia a si mesma elucida e desdobra outras

passagens sem reinterpretá-las de tal maneira que um significado estranho seja

posto no intento original.

2.8 AS VERDADES NORMATIVAS DA BÍBLIA

A Bíblia é a revelação autorizada de divinas verdades. A autoridade

Page 10: Como estudar a biblia

9

das verdades incorporadas na Bíblia não esta restrita tão somente a assuntos de

salvação, mas qualquer verdade que a Bíblia revela é objetiva, autorizada e

absoluta. Isto implica que dados do mundo da natureza corretamente interpretados

não serão inconsistentes com verdades bíblicas derivadas da Escritura somente.

Implica também que Gênesis 1-11 é um real registro de eventos dos começos, e

não meramente teológico ou mítico. Hipóteses científicas sobre origens da Terra,

origem e história da humanidade e semelhantes não devem ser visualizadas como

verdades que subvertem as verdades bíblicas ou as alterem de modo a pô-las em

harmonia com as conclusões ou opiniões de hipóteses científicas. Dados extra

bíblicos de variados campos de investigações, incluindo arqueologia,

geologia,antropologia, e assim por diante, se corretamente interpretados, podem ter

grande valor para elucidação do que a Bíblia ensina, bem como promover correção

onde a interpretação pode não ser clara em virtude de limitada informação bíblica.

Mas dados extra-bíblicos e as variadas teorias ou hipóteses que o pensamento

humano sobre eles constroem, jamais devem ser empregados para subverter ou

derribar a verdade da Bíblia em qualquer área, inclusive as origens da criação, o fato

de terem sido Adão e Eva os primeiros seres humanos criados, a queda literal da

humanidade no pecado, o dilúvio, a história e todas as outras realidades pertencem

a fé e a vida, e a História e a natureza.

2.9 PRÉ-INTERPRETAÇÕES HUMANAS DETERMINADAS PELA BÍBLIA

Nenhum interpretador pode despojar-se tão completamente de seu

passado a ponto de ser capaz de examinar a Bíblia com absoluta neutralidade.

Sustenta certo truísmo ser impossível à absoluta e total objetividade, O chamado

principio da "cabeça vazia" segundo o qual o investigador se despe de toda noção e

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opinião preconcebidas, abordando o objeto a ser estudado em completa

neutralidade, não pode ser funcional. Embora a determinação de ser o mais objetivo

possível permaneça básico para todo esforço genuíno da escolasticidade, parece

que de algum modo inevitável existe sempre uma pré-concepção que o interpretador

trás para sua investigação. Embora sejamos levados a reconhecer isto, temos de

afirmar que a pré-concepção do interpretador tem de derivar da própria Bíblia e

permanecer sob o controle da mesma. Ele tem de estar constantemente franqueado

a modificações e ampliações com base na Escritura. É alheia à Bíblia qualquer pré-

interpretação que esteja vinculada a conceitos como, por exemplo, o naturalismo

com seu universo fechado de uma urdidura de causa e efeito imanentes, ou à

evolução com seus axiomas evolutivos, ou ainda ao cientismo, o humanismo, ou o

relativismo. A Palavra de Deus não pode ser forçada a ajustar-se a tais conceitos

estranhos a suas pré-interpretações e pressuposições.

2.10 A PERMANENTE ILUMINAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo, por cujo intermédio a Escritura foi inspirada, é

necessário como permanente iluminação para o interpretador da Escritura. O

Espírito Santo cria no interpretador, por meio da Escritura, uma adequada pré-

interpretação e a perspectiva essencial para a interpretação da Palavra de Deus. A

absoluta singularidade da Bíblia, como Palavra de Deus, é o veículo pelo qual o

Espírito Santo age hoje, a fim de produzir fé em seus ensinos e mensagem. O

Espírito Santo jamais ensinara qualquer coisa que seja contrária ao ensino e

mensagem da Bíblia, pois ela mesma é inspirada pelo Espírito Santo. Os seres

humanos são incapazes de reconhecer os ensinos da Bíblia e deles apropriarem-se

sem a obra do Espírito Santo em suas vidas. O Espírito Santo opera na Bíblia e por

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meio dela, criando fé. Transformando vidas, levando o conhecimento a todas as

esferas de pensamento e experiência, insuflando o reconhecimento da autoridade

formal e objetiva da Palavra de Deus, guiando a plenitude de todas as verdades

espirituais. A permanente iluminação do Espírito Santo é essencial para a genuína

interpretação da Escritura.

As resumidas afirmações dadas acima não pretendem exaurir o

assunto, mas são apenas representativas em sua esfera de exposição. Elas servem

como fundamentos que delineiam de maneira geral os princípios chaves. Podemos

agora ir avante a fim de expor a suma dos princípios e métodos básicos.

Page 13: Como estudar a biblia

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3 PRINCIPIOS E MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Os princípios e métodos de interpretação bíblica que damos abaixo,

em resumo, procuram (l) determinar o que pretendiam dizer os escritores inspirados

para seu tempo e lugar, (2) expor a plena significação, direta ou indiretamente, das

palavras e mensagens dos escritores inspirados, além mesmo do que o próprio autor

inspirado possa ter compreendido (I S.Pedro 1:10, 11; comp. com Daniel 8:26. 27;

Zacarias 4:13) e (3) comunicá-lo adequadamente ao homem moderno nos vários

contextos culturais em que ele se encontre.

3.1 O TEXTO ORIGINAL E OS ESTUDOS TEXTUAIS

Os documentos originais da BÍblia não foram preservados; contudo

podem ser encontrados mais de 5.500 manuscritos ou fragmentos do Novo

Testamento (o que é incomum para qualquer documento antigo), e existem também

numerosos manuscritos e fragmentos de manuscritos do Velho Testamento. Embora

esteja evidente que houve um cuidado incomum no processo de cópia do material,

há evidências de erros de escribas, a maioria involuntariamente, é certo, mas alguns

intencionais.

Estudos textuais (normalmente também chamados "crítica textual")

são imperativos para a reconstituição do texto original. Conquanto não haja qualquer

método "estritamente prescrito de crítica textual do Velho Testamento" (B. Waltke),

deposita-se grande confiança no texto massorético, datado no mais antigo

pergaminho do ano 1008 A.D. A reconstrução do texto é sempre hipotética, mesmo

quando empreendida com o maior cuidado. Antigas traduções têm sido

consideradas como auxiliadoras nesta tarefa, mas mesmo as várias revisões do

Page 14: Como estudar a biblia

13

texto grego do Velho Testamento (a Septuaginta) revelam que há necessidade de

ser considerado livro por livro, evitando conclusões gerais.

Na área do estudo textual do Novo Testamento o estudioso também

aplicara princípios gerais construídos em critérios externos e internos. Uma vez que

ainda não há qualquer método de consenso universal, o cuidado continua a ser

muito importante.

A grosso modo, pode-se dizer que as variantes textuais não influem

em qualquer doutrina bíblica de nenhum modo substancial. Muitas variantes textuais

nem mesmo aparecem na tradução.

3.2 A TRADUÇÃO DA BÍBLIA NAS LÍNGUAS MODERNAS

Entre as técnicas apropriadas para tradução, há, o que se chama

tradução formal, isto é, palavra por palavra, e a tradução dinâmica, isto é, significado

por significado. Temos que ter o cuidado de que no processo de tradução as

demandas da comunicação cultural cruzada não distorça ou falsifique o significado

bíblico do texto bíblico. Mesmo em tradução, a Bíblia continua sendo a Palavra de

Deus e comunica conhecimento sobre realidade, fé e salvação, que ultrapassa

qualquer fronteira temporal ou cultural. O significado da Bíblia, não esta tão atado a

estrutura bíblica, ou ao contexto cultural antigo, que seu significado não seja

compreendido em outros contextos culturais. A Bíblia no texto das línguas originais e

em tradução adequadas é para todas as pessoas, independentemente de tempo e

espaço.

Page 15: Como estudar a biblia

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3.3 A DETERMINAÇÃO DA AUTORIA, DATA, LUGAR E UNIDADE DOS LIVROS BÍBLICOS

Os vários livros da Bíblia foram escritos por homens inspirados num

período de cerca de 1.500 anos. Muitos livros bíblicos ou partes deles (ex. Salmos,

Provérbios) trazem explícita informação sobre a autoria em subtítulos, versos de

abertura ou outros tipos de informação. Esses critérios bíblicos diretos e internos são

normativos em relação à autoria, data, lugar e unidade do escrito. É inadmissível

declarar como não autênticos os escritos bíblicos ou partes deles que diretamente

declaram derivar de um determinado escritor. Assim a negação de autoria paulina,

petrina ou joanina na leitura que indica essas autorias é inaceitável com base em

explícita declaração interna. Onde há anonimidade ou falta de informação dentro de

um dado documento bíblico ou grupo de escritos, o restante da Escritura terá

prioridade na identificação da autoria, data, lugar e unidade do respectivo escrito ou

grupo de escritos sobre qualquer antiga ou moderna tradição ou opinião de

estudiosos.

Conquanto a determinação de autoria, data, lugar e unidade de cada

livro da Bíblia seja muito valiosa por diferentes razões, isto não deve de modo algum

obscurecer o fato de que Deus é o Autor da Bíblia.

O profeta humano, munido de sua experiência e formação foi

apenas o instrumento inspirado para apresentar a verdade revelada e objetiva num

modo confiável e acurado de maneira que "as declarações do homem são a Palavra

de Deus" (l ME 21).

3.4 O TEXTO BÍBLICO E A QUESTÃO DO CONTEXTO

Em interpretação o significado do contexto é de grande importância.

Page 16: Como estudar a biblia

15

(l) Contexto da palavra. O contexto da palavra na oração pode ser

chamado contexto léxico. Há um significado recíproco entre cada palavra numa

oração e sua relação sintática. O significado da palavra pode ser encontrado com o

auxilio de léxicos, e o relacionamento sintático pode ser tornado mais claro com o

auxílio de gramáticas. Cada oração é o contexto mais próximo da palavra. As

palavras encontram o seu significado na oração e em seu relacionamento uma com

a outra dentro da oração e então na unidade ou parágrafo a que a oração pertence.

O inter-relacionamento da palavra com a oração, etc, não permite

que um "significado original" se introduza, a menos que o contexto mesmo apóie tal

"significado original". Cada palavra pode ser comparada com palavras idênticas ou

relacionadas na mesma língua dentro da Bíblia (hebraico, aramaico, grego) ou fora

da Bíblia em línguas cognatas. Esses estudos lingüísticos e etmológicos são

altamente instrutivos e têm provido abundantes novos conhecimentos. Onde não há

substituto para isto, o perigo de se ler a terminologia bíblica através das lentes de

usos extra-bíblicos ou de línguas cognatas deve ser evitado. O contexto mais amplo

dentro do livro e da Bíblia como um todo precisam permanecer como normativos.

(2) Contexto da idéia. Passando dos termos em suas orações as

idéias, conceitos, motivos e pensamentos que expressam, temos de investigar o

contexto da idéia no dado livro ou documento em estudo dentro do contexto mais

amplo da Escritura. Como parte do estudo do contexto da idéia da Escritura, como

expresso nas várias partes da Bíblia, em seu relacionamento com o tópico em

estudo, há também lugar para o estudo da idéia em contextos fora da Bíblia nas

culturas do mundo antigo, O estudioso descobrirá muitas vezes vários pontos de

contato, mudanças, adaptações, oposição, ou singularidade. A idéia de "concerto",

Page 17: Como estudar a biblia

16

por exemplo, podia ecoar de diferentes modos na mente das pessoas antigas,

dependendo da cultura e o ambiente da pessoa. Houve tempo em que muita coisa

do Velho Testamento era explicado por alguns eruditos com base na cultura

babilônica, ou em outros casos por meio da cultura egípcia, ugarítica, helenítica, etc.

Embora muitas culturas tenham vários pontos de contato próximos ou menos

próximos, não é absolutamente verídico, que a verdade e a fé bíblicas sejam apenas

um reflexo ou reinterpretação de seus ambientes. A Bíblia é a revelação única e

pessoal de Deus que transcende todo pensamento humano. O contexto bíblico é

determinativo para o contexto do "pensamento" do que o escritor bíblico escreveu.

(3) Contexto literário. Os escritores bíblicos empregaram uma

grande variedade de convenções literárias tais como prosa e poesia, com seus

idiomatísmos, símiles, metáforas, personificações, quiasmas e coisas semelhantes.

O contexto literário relaciona-se também com segmentos literários maiores tais como

um poema, um canto fúnebre ou lamentação, uma carta, um dito, um evangelho, etc.

Esses diferentes tipos de composição e estilos literários, isto é, uma vasta variedade

de formas literárias, são evidentes na Escritura e foram usados sob a guia do

Espírito Santo pelos escritores inspirados para comunicar verbalmente as verdades

divinas. Um estudo dessas convenções literárias, se conduzido adequadamente, é

um valioso instrumento de exegese. O uso de adequadas formas literárias não nega

a realidade do que é narrado ou a historicidade dos acontecimentos. Assim é que

fatos e verdades narrados por meio de poemas, por exemplo, não significa que

sejam menos verdadeiros ou menos confiáveis do que quando narrados em prosa.

O escudo dessa variedade de formas Literárias e assim o seu

contexto literário não firma o uso do método da crítica das formas empregada no

estudo do Velho Testamento ou no do Novo. O desenvolvimento e uso corrente da

Page 18: Como estudar a biblia

17

crítica das formas, esboçado acima reconstitui os contextos sócio-culturais de

materiais bíblicos e interpreta-os na base dessa reconstituição. Na crítica das formas

do Velho e do Novo Testamento, pressuposições próximas do método como (1) a

prioridade da poesia sobre a prosa, (2) a afirmação de que quanto mais antigo o

material mais breve será ele, (3) a tendência evolutiva de que as coisas se

desenvolveram das formas mais simples para as mais complexas, e (4) a demanda

de consistência dentro de uma unidade literária, forçam o texto bíblico para dentro

de uma cama procrústea ou de um molde alheio. Uma saudável metodologia no

estudo da forma literária recusará empregar tais pressuposições metodológicas e as

conclusões deles resultantes.

(4) Contexto bíblico. Temos afirmado que a Bíblia é um caso singular

em que é manifestada a união do divino com o humano. A Bíblia como Palavra de

Deus não pode ser interpretada como se fosse um livro qualquer. O contexto mais

apropriado para a compreensão e interpretação de qualquer parte da Escritura é a

Escritura como um todo. O velho Testamento é deste modo a chave para o Novo

Testamento, assim como o Novo Testamento desvenda os mistérios do Velho

Testamento. Isto não significa que só o Novo Testamento deve ser compreendido à

luz do Velho Testamento mas que o Velho Testamento não pode ser compreendido

à luz do Novo.

Alguns exegetas só desejariam mover-se do Velho Testamento para

o Novo num sentido de revelação progressiva em que o Novo Testamento tenha

valor superior ao Velho.

Outros gostariam de interpretar o Velho Testamento apenas por

meio do Novo Testamento ou de um uso seleto do Novo Testamento no sentido de

um "cânon dentro do cânon". A verdade do assunto é que o Velho e o Novo

Page 19: Como estudar a biblia

18

Testamento projetam luz um sobre o outro (PJ 128). O Velho Testamento e o

evangelho consubstanciado e o Novo Testamento o evangelho desdobrado (PJ

128). Um é tão essencial quanto o outro (2 ME 104). Revelação progressiva no

sentido de a revelação mais recente ser superior em valor ou autoridade não é

bíblica, mas a revelação bíblica de Deus é progressiva no sentido de que há um

constante desdobramento da verdade pelos autores inspirados mais recentes.

(5) Contexto moderno. Básico ao assunto de contexto é o

reconhecimento de que o significado original do texto da Escritura determina seu

significado. O significado original não deve ser alegorizado ou interpretado em

virtude da pressuposição de que o contexto do leitor ou ouvinte moderno é tão

diferente do contexto dos escritores inspirados do passado e seus ouvintes que não

há suficiente continuidade e homogeneidade para garantir uma aplicação direta do

ensino da Bíblia para a fé e a vida de hoje. A Bíblia é mais do que uma fonte de

idéias cristãs, ou do que um mero livro de texto de modelos de comportamentos num

antigo meio sócio-cultural, que nada provê além de diretrizes gerais que exigem

drástica reinterpretação e tradução para nosso contexto sócio-cultural que se supõe

ser totalmente diferente. Os elementos de continuidade entre o mundo da Bíblia e

nosso mundo são muito mais significativos do que quaisquer mudanças. O quadro

que a Bíblia apresenta da humanidade e sua situação não é diferente do dos seres

humanos no mundo moderno. O diagnóstico dos problemas, e suas soluções,

permanece válido e altamente relevante hoje.

3.5 O TEXTO BÍBLICO EM PALAVRAS, ORAÇÕES E UNIDADES

Há uma relação recíproca entre palavras, suas formas gramaticais e

as relações numa oração (sintaxe). As relações entre palavras e oração são de

Page 20: Como estudar a biblia

19

fundamental importância para o interpretador. Na língua hebraica as relações são

diferentes das que ocorrem na língua grega, e ambas diferem das línguas modernas.

Um estudo adequado de palavras e orações exige um estudo minucioso das línguas

bíblicas.

As línguas antigas do Oriente Próximo (línguas semíticas tanto do

noroeste como do leste) têm contribuído e espera-se que continuem a contribuir

grandemente para melhor compreensão das palavras bíblicas. As palavras bíblicas,

entretanto, expressam o "novo conteúdo" da revelação divina e assim não se pode

esperar que comuniquem meros padrões de pensamento do mundo antigo. O

contexto bíblico e a verdade bíblica permanecem normativos para o uso de palavras

em suas orações e unidades.

Entende-se que uma unidade contenha uma série de orações e trate

de uma dada idéia ou de um aspecto de uma idéia maior. A compreensão de uma

unidade tem um efeito espiralante no sentido da compreensão das orações de que é

composta, bem como do todo maior ao qual ela pertence.

A classificação de unidades é melhor conseguida através de critérios

internos. O texto bíblico na forma canônica em que é apresentado é normativo. As

convenções literárias usadas pelos escritores bíblicos no contexto das Escrituras

formam a. base para classificação de unidades literárias em prosa histórica,

narrativa, sonho, visão, provérbio, carta, evangelho, parábola, hino,lei, oração

sermão e assim por diante.

A interpretação de unidades envolve um estudo e apreciação de (1)

antecedentes bíblicos e extra bíblicos históricos, culturais e religiosos, (2) a

organização e data da unidade dentro do livro bíblico, se identificável, (3) a forma

literária e contexto, (4) as palavras e orações e (5) os motivos teológicos e a

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mensagem total com o contexto da Escritura como um todo.

3.6 OS LIVROS BÍBLICOS E SUAS MENSAGENS

Os livros bíblicos são compostos de unidades com seus

componentes menores de orações e palavras. A compreensão de livros inteiros da

Bíblia depende da interpretação das unidades de que são constituídos. O livro de

Isaías pode ser compreendido em sua unidade como é determinado pelos critérios

bíblicos, e suas várias unidades (capítulos ou partes deles) tem sido investigadas. O

significado cumulativo de todas as suas partes forma a mensagem total do livro de

Isaías. O evangelho de Mateus, do mesmo modo, será estudado em sua inteireza

na busca de sua mensagem.

O que determina o significado e as mensagens dos livros bíblicos

não é a suposta pré-história reconstituída, oral ou escrita, do texto canônico e seu

pressuposto processo de desenvolvimento a seu normativo estágio ou estágios

canônicos como e de interesse chave no método crítico-histórico, mas antes a

mensagem normativa em sua forma canônica que chega a nós no texto bíblico. A

compreensão de livros bíblicos e suas mensagens deriva de sua forma, bíblica e

canônica dentro do contexto bíblico mais amplo.

3.7 A TEOLOGIA DA BÍBLIA EM SUA INTEIREZA

O alvo final de toda interpretação bíblica não é apenas penetrar no

significado de suas palavras, orações, unidades e livros. A meta final é descobrir as

verdades totais e as mensagens de toda a Escritura. O intento não é apenas

compreender o que os autores inspirados individualmente compreenderam eles

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mesmos, porque foi revelado aos profetas que "não para si mesmos, mas para vós

outros, ministravam as coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que,

pelo Espírito Santo enviado do Céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que

anjos anelam perscrutar" I. S. Pedro 1:11, 12, mas também a divina intenção do

pleno conteúdo das palavras, Pedro indica que os profetas do passado "ansiaram

por compreender o pleno significado de suas mensagens (PR 731). "Os profetas não

compreendiam plenamente a significação das revelações a eles confiados" (GC 343,

ed. 1971). O "pleno significado" da revelação que desvenda as mais antigas

palavras dos profetas em revelação dada por Deus por intermédio do Espírito Santo

num tempo posterior. A inspiração é um guia seguro para o pleno sentido de

qualquer parte da Escritura. O pleno sentido, por exemplo, manifesta-se numa

palavra profética mais antiga que se declara mais tarde ser cumprida de modo

particular, como Isaías 7: 14 em S. Mateus 1:22. 23 ou Salmo 2:7 em Hebreus 1:5

(comp. com Atos 13:33; Romanos 8:29), ou Oséias 11:1 em S. Mateus 2:15, etc. Há

continuidade e homogeneidade entre a predição messiânica de Isaías 7:14 e seu

cumprimento. Embora o significado de 'almah seja mais restrito na tradução

"virgem", ela não é mal aplicada, mal interpretada, nem reflete um significado

errôneo. Oséias 11:1, "do Egito chamei o Meu Filho," foi aplicado por Oséias a

nação como um todo, enquanto que em S. Mateus 2:3,5 o cumprimento tipológico é

afirmado com toda a nação personalizada na pessoa de Jesus Cristo.

Nenhum novo significado é aplicado à profecia mais antiga, mas

através da inspiração o "pleno sentido" ou significado maior é desdobrado sem

qualquer errônea aplicação ou reinterpretação onde um significado estranho é

superimposto sobre o significado original. O genuíno e normativo "pleno sentido" da

Escritura como objetivado por Deus é seguramente desvelado através da divina

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inspiração mediante uma revelação posterior. Este procedimento salvaguarda a

Escritura de interpretação subjetiva e particular, e assegura a plena interpretação da

Escritura baseada no princípio da analogia da fé.

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4 CONCLUSÃO

A teologia da Bíblia é formada de mensagens ou temas em cada

livro bíblico ou grupo de escritos que derivam do mesmo escritor bíblico. Deste modo

cada livro ou grupo de escritos faz sua própria especial contribuição e assim revela

as riquezas, variedades, e diversidades. Permite-se assim que cada pensamento da

Escritura emirja e seja ouvido. Sobre o princípio estas teologias de "livro por livro e

grupo por grupo", provêem a oportunidade de reconhecer a variedade bem como a

unidade do auto desvendamento divino revelando a vontade de Deus sempre a

desenrolar-se e o ampliamento dos vários temas e tópicos. Uma vez que os vários

temas e tópicos da Escritura tenham emergido em seu contexto individual dentro dos

respectivos livros ou grupos de escritos, cada tema ou tópico deve então ser

estudado em sua totalidade na Escritura em ordem cronológica, de modo que as

várias facetas em sua plenitude, variedade e unidade, possam ser vistas. Em última

análise a Bíblia tem apenas um evangelho e apenas uma mensagem. Diferentes

escritores inspirados variarão em suas expressões conforme as respectivas

circunstâncias e propósitos, mas há acordo sobre os pontos básicos das verdades

escriturísticas em sua plena riqueza. Há apenas "um só Senhor, uma só fé..."

Efésios 4:5.

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