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Marinella Castro

O Ministério Público Esta-dual (MPE) está fechando o cerco à festa dos seguros de pequeno valor, muitas vezes adicionados à fatura do cartão de crédito sem o pedido do consumidor. Em Minas Gerais, o MP está movendo ações contra 15 administradoras de cartões de crédi-to e bancos que oferecem a proteção perda e roubo do cartão. A ideia é proibir nacionalmente a comerciali-zação deste seguro, já que o risco é transferido ao consumidor, mas na prática a proteção deve ser garanti-da pela instituição financeira.

Das 15 ações que tramitam na Justiça, uma já foi julgada atingin-do, em âmbito nacional, a adminis-tradora de cartões Unicard Banco Múltiplo S.A. Decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) proíbe a administradora de cobrar, impor ou oferecer ao consumidor o serviço seguro perda e roubo com acidentes pessoais Unicard, que ga-rante cobertura para casos em que o usuário perde o cartão ou tem o mesmo roubado. A administradora está proibida também de receber va-lores pelo seguro, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. “Este é um ex-celente precedente para que outras ações tenham também parecer favo-rável”, aponta Marcelo Barbosa, co-ordenador do Procon Assembleia.

A venda de seguros de baixo valor, como a proteção por perda e roubo, vêm se popularizando no país, principalmente com a inclusão de produtos nos cartões de grandes redes do varejo. A estimativa do se-tor de seguros é de que o mercado, que exibe produtos a partir de R$ 2 por mês, movimente no Brasil R$ 1 bilhão. No ano passado, somente

nas redes varejistas, foram movi-mentados cerca de R$ 300 milhões.

Muitas vezes o consumidor aceita o produto, mas não entende muito bem o seu funcionamento e, como os valores são pequenos, acaba pagando as prestações men-sais no bolo de outras dívidas. Na ação, o Ministério Público aponta abusividade na venda das apólices para proteção em casos de perda e roubo, já que entende que as ins-tituições estão tentando transferir uma responsabilidade. O MP requer que em âmbito nacional os seguros contratados sejam declarados nulos e que os valores a serem ressarci-dos sejam devolvidos em dobro aos consumidores. HAJA PACIÊNCIA

Depois de dois dias ao telefo-ne, tentando cancelar um seguro de perda e roubo do cartão, a salga-deira Janaina Araújo ainda não tem certeza se conseguiu se ver livre da prestação de R$ 11,90, que vem pa-gando há três meses. Segundo ela, o seguro foi vendido junto com o pro-duto “conta paga”, um tipo de pro-teção que quita débitos do consumi-dor em caso de perda do emprego. “O banco disse que como a gente paga a primeira prestação, significa que automaticamente aceitamos o seguro, mas eu não queria o produ-to. Paguei sem ver”, afirma.

Janaina espera a fatura deste mês para conferir se o produto foi cancelado. Ela conta que deixou de se interessar pelo seguro porque o produto se tornou uma despesa a mais. Além disso, sua sogra, que tinha a mesma proteção, não con-seguiu receber os valores previstos quando ficou desempregada. “Foi tanta burocracia, tanto documento para mostrar, que ela desistiu de ten-

tar receber. Deixou para lá.” Janaina tem três cartões de crédito e já havia cancelado a proteção perda e roubo em um cartão do varejo. “Não é le-gal. Quando consegui cancelar um deles já tinha pago três prestações.”

Em sua decisão o TJ-MG ressal-ta que o consumidor é convencido a pagar por um risco que de fato não é dele. O promotor da área de finan-ças do Procon Estadual (Ministério Público), responsável pelas ações, Renato Franco, explica que argu-mento do MP está de acordo com o Código de Defesa do Consumidor e que em alguns casos a venda é ainda casada. “Quem deve suportar o ris-co é a administradora do cartão.”

O cartão Unicard ainda está em vigor, sendo atualmente adminis-trado pelo Itaú/Unibanco. A insti-tuição financeira informa que está cumprindo à risca a decisão judi-cial. “Estamos aguardando por uma reunião com o Ministério Público para adequar medidas e condições específicas, buscar uma solução (em conjunto)”, diz Karina Ortmann, ge-rente do Departamento Jurídico de Tutela Coletiva do Itaú/Unibanco. Ela ressalta também que a decisão da Justiça, em relação à ação movi-da pelo MP, tem caráter provisório e aguarda ainda pela sentença.SEM BUROCRACIA?

O administrador de empresas Antônio Augusto Moura sabe que a instituição financeira deve ser res-ponsável pela segurança do cartão, mas mesmo assim paga mensal-mente R$ 3,70 pelo seguro perda e roubo. Com isso, ele espera que, em caso de perda do cartão, consi-ga um atendimento rápido. “Sei que algumas taxas como a deste seguro e taxas de utilização do cartão não deveriam ser cobradas. Mas como

ESTADO DE MINAS - P. 12 - 04.07.2011 Consumidor

Seguros na mira do Ministério PúblicoComercialização de apólices de pequeno valor, normalmente oferecidas junto com faturas de cartões de crédito e outros serviços, deve ser proibida. Já há ações contra 15 administradoras

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o valor é baixo, decidi pagar.” Segundo o con-sumidor o objetivo é um só: “Acredito que com o pagamento desse seguro, se um dia perder o car-tão, o atendimento será mais ágil, sem tanta bu-rocracia.”

A reportagem pro-curou a Superintendên-cia de Seguros Privados (Susep), mas até o fecha-mento da edição, não ob-teve retorno. O Sindicato das seguradoras de MG, GO, MT e DF (Sindseg) preferiu não se pronun-ciar sobre o tema.

Prática é vista como

venda casada Apesar de ser ofe-

recido com baixos valo-res, que podem variar a partir de R$ 2, os segu-ros relacionado a perda e roubo do cartão têm sido recusado por con-sumidores. Para tornar o produto mais atrativo, muitas administradoras de cartão de crédito estão oferecendo o seguro aco-plado a outros serviços, o que eleva os valores das prestações e é conside-rado, em muitos casos, venda casada, proibida pelo Código de Defesa do Consumidor.

Segundo a Associa-ção Nacional dos Consu-midores de Crédito (An-dec), mesmo a venda do seguro para cobrir perda e roubo, que é acrescen-

tada à fatura sem estar anexada a outros produ-tos, é considerada uma prática abusiva. “A ven-da do seguro perda e rou-bo junto com o cartão de crédito, nada mais é que uma venda casada. A ins-tituição financeira é que tem a responsabilidade de prevenir fraudes”, aponta Lillian Salgado, advogada da Andec. “A iniciativa do Ministério Público é excelente e a decisão do Tribunal de Justiça é brilhante”, de-fende a advogada, refe-rindo-se à proibição da venda do proteção contra perda e roubo, válida em âmbito nacional.

A auxiliar financeira Rosângela Marçal perce-beu em seu boleto uma cobrança de R$ 12 refe-rente ao seguro perda e roubo, mas não teve dú-vidas: “Já recebi em uma fatura, mas suspendi a cobrança. Essa seguran-ça é uma obrigação do banco”, comenta. Já a professora Tatiana Souza conta que recebeu o en-cargo sem ter solicitado e não gostou. “Tive muita dificuldade para conse-guir cancelar o serviço.”

Segundo a Andec, as cobranças podem ser denunciadas à Justiça. “Trazem uma excessi-va onerosidade ao con-sumidor, uma vez que a instituição financeira tem o dever de prestar o ser-viço com segurança.” A associação ressalta que

a obrigação dos estabe-lecimentos conveniados, de conferir, adequada-mente, a assinatura e os documentos do titular do cartão, é também trans-ferida à instituição finan-ceira, organizadora do sistema. (MC)

Palavra de especialista

/ Marcelo Barbosa - oordenador do procon

Assembleia

Sempre abusivo

Sempre entendemos que a cobrança pelo se-guro de perda e roubo do cartão é abusiva, porque esse é um serviço des-necessário para o con-sumidor. O risco é uma responsabilidade da ad-ministradora do cartão. A iniciativa do Ministério Público de mover ações contra um conjunto de entidades é excelente. Por enquanto a Justiça proibiu a venda do pro-duto em caráter provisó-rio, mas se a sentença for favorável e for entendido que a cobrança é abusiva, os consumidores terão direito à devolução em dobro referente aos va-lores pagos nos últimos cinco anos. A decisão também abre precedente para questionar outras tarifas consideradas abu-sivas pelas entidades de defesa do consumidor, como algumas taxas co-bradas no financiamento de veículos.

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A Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consu-midor da Câmara Municipal de Belo Horizonte apresentou ontem denúncia contra a TIM ao Ministério Público de Mi-nas Gerais e ao Departamento de Proteção e Defesa do Con-sumidor (DPDC), do Ministério da Justiça. No documento, a comissão acusa a operadora de incapacidade de continuar vendendo seus serviços de telefonia móvel.

Junto à denúncia, é pedida a suspensão das vendas de novos “sim cards” (ou chips). A presidente da comissão, a vereadora Maria Lúcia Scarpelli (PCB), diz ter certeza de que a operadora tem mais clientes do que sua rede suporta.

Com base nas reclamações enviadas à comissão, Maria Lúcia acredita que os clientes da TIM passam até 20% do dia (cinco horas e 20 minutos) sem sinal. Além disso, ela diz ter indícios de que a TIM promove “revezamento de dispo-nibilidade do sinal” entre grupos de usuários.

Também a pedido da comissão, está agendada audiência pública no dia 16 de agosto, a partir das 9h30, para discutir

o problema. O Procon Estadual confirma a existência de inquéritos

em andamento contra a TIM, referentes ao sinal 3G e men-sagens de texto. Na Anatel, a operadora liderou o ranking de reclamações com 0,38 a cada mil linhas, durante o mês de abril (última apuração disponível).

A TIM divulgou nota ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, em que diz não ter sido notificada oficialmente da denúncia da comissão, e “por isso não comenta o assun-to”.

Na nota, a empresa afirmou estar investindo R$ 2,9 bi-lhões neste ano, dos quais 85% estariam direcionados à in-fraestrutura. A TIM também informa que, nos próximos três anos, dobrará sua rede de fibra ótica no país.

“Estão sendo instaladas 1.800 novas BTS (elemento de rede responsável por ampliação e melhoria da cobertura) e substituídas 8 .300 BTS, o equivalente a 75% da planta 2G atual, por outras com tecnologia mais moderna”, diz a nota.

O TEMPO – P. 10 - 02.07.2011Denúncia.Após problemas, vereadora acredita que operadora tenha mais clientes do que pode atender

Câmara pede que vendas da TIM sejam suspensas

Maurício Lara - Enviado especial Catuji (MG) –As irmãs Arliene Ferreira Fernandes, de 11,

estudante da 4ª série, e Aléxia Ferreira Fernandes, de 14, da 7ª série, levantam às 5h30 na comunidade de Geru e, acompanhadas do primo Marden Fernandes Ferreira, de 14, também na 4ª série, atravessam uma pinguela de madeira sobre um córrego antes de subirem uma ladeira de um quilômetro até alcançarem a estrada estreita e esburacada por onde circula a Kombi 1996, dirigida por Niro Ferreira Amorim, de 26.

Dois quilômetros depois, saltam e caminham mais 500 metros até o ponto do ônibus, porque há uma subida e descida íngremes e uma ponte sobre o Rio Todos os Santos, que a Kombi tem difi-culdades para transpor. Lá, embarcam no ônibus vermelho 1987, sem cintos de segurança e em que faltam três janelas, dirigido por José Domingos Viana dos Santos, de 43, que lida com transporte escolar desde 1990. Domingos, que mora em Gramado, a 25 qui-lômetros de distância, garante que as janelas já foram compradas pela prefeitura, mas há dificuldade de mão de obra para a troca.

A lotação habitual no turno da manhã é de 43 meninos, mas pode aumentar por causa dos caronas. José Domingos retorna à comunidade depois da aula e faz novamente a rota à tarde, levando os alunos do curso noturno. Ele e os outros motoristas, além do curso específico para transportar estudantes, desenvolveram estra-tégias próprias. Um exemplo é o hábito de parar no meio da estra-da, para impedir que outros veículos passem pelo ônibus e atrope-lem os meninos, que não costumam olhar antes de atravessar.

Arliene, que sonha em fazer curso superior de botânica, por-que adora plantas, leva para a escola seu telefone celular, que não pega onde ela mora. A menina diz que o cotidiano do transporte “às vezes, é bom, quando o ônibus não está muito cheio; às vezes, é ruim, quanto faz muito frio de manhã”. Aléxia quer ser jornalista

e reclama dos dias em que acordam tarde e têm de subir às pressas a ladeira, correndo o risco de estarem próximas mas não serem vistas pelo motorista da Kombi, por causa do mato. Nesse caso, têm que continuar correndo para tentar alcançar o ônibus no ponto e não perder aula.DIAS MAIS DUROS

Também é combinado que, nas segundas de manhã, a Kombi não vem. Aí, é preciso levantar mais cedo e caminhar até a estra-da. Na cidade, as duas vencem mais um quilômetro até a escola e repetem o trajeto depois da aula. Esperam a chegada do ônibus misturadas aos estudantes e embarcam de volta, repetindo a rotina. Na viagem de retorno, têm a companhia do professor Edgar Gui-lherme Doerl, de 48. Há sete anos ele dá aulas à tarde na escola municipal de Gramado e faz o trajeto de ida e volta no ônibus da prefeitura. Ele observa que já foi pior e que os tempos mudaram: “Aqui melhorou muito, agora está encascalhado”.

Enquanto os meninos estão na escola, os ônibus aguardam na garagem da prefeitura. Lá tem mecânico, para mantê-los em condições de rodar, porque uma manutenção melhor, só nas férias. Nas quartas-feiras, os ônibus são varridos por dentro e, nas sextas, são lavados. Significa que, no resto da semana, circulam imundos. No caso da Kombi de Niro, que fica na comunidade, ele mesmo é quem cuida. Quando chove, Niro costuma precisar da ajuda dos passageiros para empurrar o veículo na subida.

A Kombi de Niro tem pintura com a faixa amarela e a expres-são “escolar”, como manda a norma, mas carrega, na traseira, um adesivo inconveniente para um veículo que transporta crianças. Junto à estampa de uma mulher, está escrito: “Mulher é igual CD. Por causa de uma parte boa, a gente fica com tudo”. Ninguém re-para nessa e em outras inconveniências do sistema. Ao contrário, as famílias agradecem pelo transporte de que os filhos dispõem.

ESTADO DE MINAS – 25, 28 E 29 - 03.07.2011PERIGO A CAMINHO DA ESCOLA

Corrida de obstáculosEm Catuji, jovens caminham, pegam Kombi e ônibus até chegar ao colégio. Ao fazer paradas,

motoristas ficam no meio da estrada para evitar que outros veículos atropelem alunos

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“No meu tempo, a gente ia a pé”, informa o trabalhador rural Ar-lete Fernandes Pereira, de 40, pai de Arliene e Aléxia, quando as meninas chegam cansadas ao lar, depois das 12h30.

CAPA

Perigo a caminho da escolaÔnibus velhos, superlotados e sem cinto de

segurança, como o que se envolveu em acidente com trem em Entre Rios de Minas, põem alunos em risco em cidades do interior do estado

Catuji, Chapada do Norte, Caraí e Minas Novas – As aulas marcadas para as 7h na Escola Estadual Dr. Ciro Maciel, em Ca-tuji, cidade de 6.700 habitantes, no Vale do Mucuri, a 513 quilô-metros de Belo Horizonte, não tinham começado às 7h20 na terça-feira porque boa parte dos alunos da zona rural não tinha chegado. Os atrasos são habituais, por causa da precariedade do sistema de transporte escolar, formado por ônibus e kombis, a maioria velha e mal conservada, como é comum nos municípios que dependem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

A reportagem do Estado de Minas percorreu cidades do inte-rior do estado e constatou que o excesso de lotação, falta de cinto de segurança e carona, irregularidades que contribuíram para a gravidade do acidente envolvendo um trem e um ônibus escolar que, uma semana antes, deixou três mortos e 30 feridos em Entre Rios de Minas, no Campo das Vertentes, são muito mais regra do que exceção. Fatores que, agravados pela má qualidade das es-tradas de terra, expõem os estudantes a toda sorte de riscos pelo caminho, até que estejam protegidos pelos muros da escola. “Não tem carro reserva, os ônibus vêm lotados, viaja menino em pé”, queixa-se o vice-diretor Guilherme Jardim Botelho.

A prefeitura de Catuji, como muitas outras dos vales do Mu-curi e do Jequitinhonha , não consegue comprar veículos novos, à exceção dos adquiridos por meio do programa Caminho da Escola, do governo federal. O habitual é assim: ônibus urbanos retirados do sistema de cidades maiores por estourarem o tempo de vida útil são comprados por prefeituras ou transportadores que prestam serviços a elas. “Não conseguimos nem pagar consertos”, reclama o secretário de Transportes de Catuji, João Batista Arrais. “Ônibus é caro demais. Com o dinheiro de um novo, dá para comprar três usados”, diz Rogério Gomes, contador da prefeitura, que avisa: “A nossa realidade é a mesma de muitas cidades”.

Um sistema complexoMaurício Lara - Enviado especial A estrutura é sempre precária, mas a logística é sofisticada.

Em Catuji, são nove linhas de ônibus e 16 de Kombis para cobrir a malha e atender todas as crianças. O fluxo e os horários têm de ser sincronizados, para funcionar. Em Caraí, cidade de 22.300 habitantes, no Vale do Jequitinhonha, a 546 quilômetros de Belo Horizonte, como a extensão territorial e a população são maio-res, a complexidade aumenta. São mais de 130 rotas cobertas por 10 veículos da prefeitura e 53 terceirizados, entre ônibus, vans e Kombis. O desafio é atender as 33 escolas municipais e estaduais, levando em consideração que 70% da população vivem na zona rural.

“Tem rota de mais de 40 quilômetros”, informa o assessor da prefeitura Afonso de Oliveira Brito. Ele diz que “a frota não é ruim” e que “na medida do possível” é mantida em boas condi-ções. São muitos os problemas de logística. O assessor da prefei-tura explica que há comunidades – que eles chamam “córregos”,

pela tradição de o casario e as estradas ficarem ao longo dos cursos d’água – em que há 40 alunos de manhã e 15 à noite, o que deter-mina a mudança do veículo a ser utilizado em cada turno.

Mais do que montar a logística, as prefeituras penam para financiar os custos do sistema. A prefeitura de Caraí informa que recebe transferências dos governos estadual e federal da ordem de R$ 70 mil a R$ 80 mil por mês, mas gasta R$ 170 mil com paga-mento dos contratados e com o custeio da frota própria. Em Catuji, a prefeitura recebeu R$ 378 mil para 2011, mas gasta R$ 40 mil por mês só com o pagamento dos terceirizados.

Transferências Os recursos para o custeio saem do Fundo Na-cional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), por intermédio do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar, que faz as transferências para estados e municípios, num total de R$ 644 milhões para atender 4,9 milhões de alunos em 2011. No caso de Minas Gerais, por convênio, as prefeituras se encarregam do trans-porte de alunos das escolas municipais e estaduais. O governo de Minas, em 2011, está transferindo R$ 130,3 milhões a 847 municí-pios para atendimento a 290 mil alunos da rede estadual.

Em Minas Novas, município com 1.812 quilômetros quadra-dos e 30.700 habitantes, são 17 veículos próprios e 40 terceiriza-dos, entre ônibus, vans e Kombis, para atender 137 comunidades. A mais distante delas, Cruzinha, fica a 70 quilômetros da sede. Lá, também, as contas não batem. O secretário de Finanças, Sidney Dias da Costa, informa que em 2011 os gastos, até junho, chega-ram a R$ 1,03 milhão, enquanto os repasses previstos até o final do ano são de R$ 900 mil. “Pesa muito no orçamento. Poderíamos usar o recurso nas próprias escolas, por exemplo”, observa o se-cretário. Na vizinha Chapada do Norte, que tem 15.100 habitantes e uma topografia acidentada, com estradas péssimas, a equação é ainda mais complicada. No ano passado, os repasses chegaram a R$ 388 mil e as despesas atingiram R$ 867 mil. MEMóRIA

Charrete escolar no Norte de MGRenato Lopes EM - 1/11/05 Oferecer transporte escolar de boa qualidade é desafio antigo

em regiões carentes de Minas. Em 2005, reportagem do Estado de Minas mostrou que a prefeitura de Chapada Gaúcha, município com 10,3 mil habitantes no Norte de Minas, a 578 quilômetros de Belo Horizonte, recorria a uma espécie de charrete escolar para levar alunos da zona rural para o colégio. O trajeto dos estudantes incluía ainda atravessar o leito do Rio Pardo, então sem ponte. O prefeito da cidade, José Raimundo Ribeiro, justificou que ado-tou a charrete tendo em vista a dificuldade da circulação de carro na localidade, por causa das más condições das estradas vicinais (tomadas por bancos de areia) e a própria distância da sede do município (80 quilômetros), além da falta de dinheiro da prefeitura para bancar o serviço. A iniciativa também foi aprovada pela Ins-petoria da Superintendência Regional de Ensino de Januária. Na sexta-feira, a diretora de Administração Escolar da Prefeitura de Chapada Gaúcha, Gumercinda Gonçalves de Oliveira, disse que o serviço de charrete escolar foi ampliado. Atualmente, a prefeitura conta com cinco veículos de tração animal que garantem a ida e o retorno da escola de 48 alunos da região de Barro Vermelho.

“Não pisa no pé dos outros”Maurício Lara - Enviado especial Chapada do Norte – “Carol, vai no colo da Amanda”, “Arreda

para lá”, “Já falei que tem de tirar a mochila antes de entrar”, “Não pisa no pé dos outros”. As frases fazem parte da rotina do moto-rista Valdemar Siqueira da Silva, o Vardo, de 35 anos, na hora de

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colocar 15 meninos do turno da manhã dentro da cabine dupla da picape 1989 com que ele transporta alunos da Escola Estadual Professora Maria Gomes da Silva, na zona rural de Chapada do Norte, às margens do Rio Capivari. “Temos que fazer milagre para caber”, admite Vardo.

O destino é a comunidade de Sampaio, a 8 quilômetros, na beira do Rio Araçuaí, mas a medida da distância não dá a dimen-são da dificuldade, porque a estrada é muito ruim. Vardo tem que levar 12 alunos, mas dá carona a mais três para evitar que eles – incluindo o pequeno Felipe, de 6 anos –, caminhem por qua-se um quilômetro em meio a uma poeira insuportável no tempo da seca e a lama no tempo de chuva. A picape chega vazia ao destino final, onde três alunos do turno da tarde aguardam para embarcar. Outros vão subindo pelo caminho de volta.

A picape de Vardo ainda mantém a estrutura metálica insta-lada para o transporte de passageiros, mas já sem os banquinhos onde os passageiros se sentavam. Ele garante que, atualmente, não deixa os meninos embarcarem na carroceria, mas, reserva-damente, membros da comunidade admitem que, muitas vezes, meninos maiores vão lá em cima. De qualquer forma, é difícil caber 15 crianças mais o motorista na cabine desenvolvida para seis passageiros.

O uso de picapes é institucionalizado em Chapada do Nor-te, com a justificativa de que outros veículos, simplesmente, não resistem às más condições das estradas montanhosas. “Cheguei a colocar um micro-ônibus com 21 lugares. Ele era até novo, de 2002, mas não aguentou. Tive que voltar com a picape”, conta Vardo, afirmando que a experiência malsucedida deixou de saldo um prejuízo de R$ 8 mil.

Na frota de 25 veículos terceirizados – com mais seis pró-prios – há sete picapes como a de Vardo, que deveriam transpor-tar até oito estudantes. “Quando é caso de ter 12 alunos, seria para colocar Kombi. A prefeitura licita e não aparecem interessa-dos. Aí vem a dor de cabeça, porque carregar na carroceria não pode”, explica o secretário de Educação, Odair José de Mace-do. Para ele, a realidade do município deixa a prefeitura em um “beco sem saída”.

O secretário diz que o Ministério Público tem feito esforço para atender a situação e usa o exemplo de uma viúva com quatro filhos para ilustrar a dificuldade. Os meninos teriam que andar 4.500 metros até a escola, ou 9 quilômetros ida e volta, por es-trada precária. Ele licitou a rota e não apareceu interessado. Ele mesmo sugeriu à mulher que se mudasse para perto da escola. Ela conseguiu um cômodo emprestado e, agora, a assistência so-cial da prefeitura busca uma solução definitiva para que a turma continue estudante.

A aritmética é difícil. A precariedade das estradas não com-bina com o valor que a prefeitura consegue pagar aos transpor-tadores. Uma van que roda 20 quilômetros por dia recebe, por mês, R$ 1.120. “Tem hora que fico até com dó desses transporta-dores”, revela o secretário. “A gente paga para trabalhar. Onde eu rodo, ninguém quis. É um buraco que faz até medo”, diz Sineval Vieira da Costa, que leva alunos da comunidade de Porto Serva-no para a escola de Bartieiro a bordo de uma outra picape.

Vardo recebe R$ 4.400 por mês para rodar 93,6 quilômetros por dia nos percursos necessários para atender aos três turnos da escola. Nas contas da prefeitura, o custo per capita dos alunos que ele transporta na picape “é absurdo”. O problema, explica o secretário de Educação, é a combinação do número de alunos com a condição das estradas. Ele diz que, se pudesse colocar um

ônibus ou van, o custo seria o mesmo. “A gente sabe que é nossa obrigação atender, falta é condição”, diz Odair Macedo.

Promessa de ônibus novos Maurício Lara - Enviado especial Manoel Luiz, motorista de ônibus escolar em Caraí, admite

ser impossível manter veículo %u201Cperfeito%u201DO projeto Caminho da Escola, do Ministério da Educação,

tem como um dos principais objetivos possibilitar a melhoria da frota de veículos pelo país afora. Desde 2007, o programa atendeu 3.282 municípios, que adquiriram 12.091 ônibus com fi-nanciamento facilitado e juros subsidiados pelo BNDES ou per-mitindo aos municípios a participação em pregões eletrônicos. Os ônibus do projeto têm estrutura reforçada, para-choques mais altos, portas mais largas e espaço interno para cadeiras de rodas, bancos para três estudantes e corredores mais estreitos para evi-tar passageiros em pé.

A prefeitura de Catuji já adquiriu dois, levando a diretora da Escola Municipal Porfírio Ferreira, na comunidade de Santa Bár-bara, atendida por um deles, a festejar: “O ônibus é bonitinho. Tem até lugar para cadeirante”. O motorista José Neris Chaves encontrou uma forma própria para definir a resistência dos novos ônibus: “É igual a um jegue, não quebra”. A prefeitura de Caraí tem quatro desses veículos; a de Minas Novas comprou seis e a de Chapada do Norte aguarda a chegada de dois, um menor que custou R$ 135 mil e outro maior que saiu por R$ 245 mil. “Tínhamos de ter mais incentivo do governo”, observa o secre-tário de Educação, Odair Macedo. Sem incentivo, as prefeituras não têm possibilidade de renovar a frota ou de adquirir veículos adequados. Os ônibus urbanos velhos que elas compram não são preparados para circular em estradas tão ruins. “As pontas de para-choque vão embora. Não tem como manter o carro perfei-to”, diz Manoel Vieira Luiz, de 56, motorista de um ônibus 1992 que presta serviços à prefeitura de Caraí.

O uso do cinto é outro capítulo complicado na novela do transporte escolar. Os ônibus velhos nem têm o equipamento e, quando têm, os estudantes não usam. “A gente obriga a usar o cinto, mas eles falam que não vão colocar. Quando usam, é para esticar no corredor à noite e fazer os colegas caírem”, revela o motorista José Neris Chaves, de Catuji.

O governo de Minas prepara diagnóstico do transporte es-colar do estado, por meio do qual quer otimizar o repasse de recursos.

Como ficou? Acidente com tremCriança ainda internadaApenas uma vítima do acidente entre uma composição da

MRS Logística e um ônibus escolar da Prefeitura Municipal de Entre Rios de Minas, no Campo das Vertentes, em 22 de junho, continua internada no Hospital de Pronto Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, que matou três pessoas e deixou 30 feridos.A estudante Janaína das Dores Silva Resende, de 11 anos, que sofreu traumatismo craniano e fraturas generalizadas, está está-vel, mas seu estado de saúde ainda é considerado grave. A Po-lícia Civil e o Ministério Público de Entre Rios de Minas estão apurando as causas do acidente, mas o inquérito só deve estar concluído em 30 dias. A MRS Logística abriu sindicância interna para investigar o choque entre a composição, formada por sete locomotivas, e o coletivo, que transportava 50 pessoas, mas ain-da não divulgou informações sobre as investigações.

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ALMG

Comissão quer esclarecer convênioA Comissão de Educação, Ciência e

Tecnologia da Assembleia de Minas rea-liza audiência pública hoje para debater convênio de cooperação celebrado entre Cetec, Senai-DR/MG, Fiemg, Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e governo do Estado. Atualmen-te, segundo o bloco Minas Sem Censura, o Cetec tem 150 servidores efetivos e 250 terceirizados, o que gera desequilíbrio salarial entre as categorias. O Ministério Público já teria exigido a realização de concurso público, mas a instituição ainda não cumpriu.

O TEMPO - P. 2 - 04.07.2011A PARTE

HOJE EM DIA - P. 24 - MINAS - 02.07.2011

Fazenda centenária ganha proteção

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ESTADO DE MINAS - P. 20 - 04.07.2011

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Duas rodas dentro da lei

Medida é bem recebida

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Alessandra Mello O Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG) determi-

nou ontem a suspensão da concorrência realizada pela Prefeitura de Ouro Preto (Região Central de Minas) para coleta de lixo e var-rição de ruas. O conselheiro Eduardo Carone Costa recomendou ao município que suspenda o processo e não assine o contrato com a empresa vencedora, a Ecosystem Serviços Urbanos, acusada pela polícia do Paraná de fraudar a coleta de lixo na cidade de São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba).

O resultado da concorrência foi publicado em 16 de junho no Minas Gerais e o contrato foi assinado no dia 29. Pelos serviços, a vencedora Ecosystem Serviços Urbanos LTDA, empresa para-naense cuja maioria dos sócios são argentinos, vai receber pelo menos R$ 3,9 milhões por ano.

Comunicada da decisão do TCE-MG, a Prefeitura de Ouro Preto enviou ofício informando à corte que o contrato já tinha sido

assinado e, portanto, não teria como atender a determinação do tribunal. Informou ainda que, na segunda-feira, vai encaminhar à corte toda a documentação referente ao processo licitatório. A re-portagem tentou falar com o TCE-MG, mas o expediente adminis-trativo já tinha sido encerrado e a assessoria não tinha informações sobre o caso. No ofício enviado ao TCE-MG, o prefeito afirma que não teria como reverter a decisão ou “inviabilizar o serviço de uti-lidade pública de coleta diária do lixo urbano de Ouro Preto”.

Em 2009, a Ecosystem foi indiciada pela polícia do Paraná por estelionato. Segundo investigações do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) do Paraná, comandado, na época, pelo delegado Francisco Caricati, a Ecosystem transportava resíduos de empresas privadas como se fosse lixo doméstico de São José dos Pinhais e recebia a mais por isso, já que o contrato firmado com a prefeitura previa o pagamento por tonelada recolhida.

ESTADO DE MINAS – P. 5 - 02.07.2011FRAUDE

Tribunal suspende contratoPrefeitura de Ouro Preto contesta decisão que considerou irregular a concorrência do lixo

ESTADO DE MINAS – P. 3 CULTURA – 02.07.2011MáRIO FONTANA

Salário Deve ser apresentado na As-

sembleia Legislativa, por iniciati-va espontânea de alguns deputados, projeto para aumentar o salário do governador de Minas, atualmente em R$ 10.500 mensais, bem menor que o vencimentos dos conselheiros do Tribunal de Contas, desembargado-res, procuradores de Justiça, juízes,

promotores, funcionários graduados de autarquias, de empresas de capital misto, deputados e sabe-se lá de quem mais. Entra em consideração o fato de que, com os descontos de praxe, o salário fica reduzido a pouco mais de R$ 7 mil. Acredita-se que, apesar das grandes vantagens que o cargo ofe-rece, o salário não estaria à altura da importância da função. Pelo sim, pelo não, vantagens à parte, a proposição parece plausível.

Vocês o que é que acham?

Flávia Ayer

A Justiça suspendeu o sorteio, que ocor-reria de amanhã a sexta-feira, para definir nova disposição das barracas dos expositores da Feira da Avenida Afonso Pena, em Belo Hori-zonte. O desembargador Peixoto Henriques, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), concedeu liminar a favor dos feirantes que contestam o procedimento. Com isso, o magis-trado interrompeu os planos da prefeitura de adotar, a partir de agosto, o novo leiaute de um dos principais pontos turísticos da capital. Esta é a segunda vez que a Justiça impede a implan-tação do novo formato da feira. A prefeitura não decidiu se vai recorrer da decisão.

Um dos argumentos de Henriques é a po-sição da Comissão Paritária, formada por seis representantes da prefeitura e seis artesãos, que definiu pelo remanejamento das barracas, em vez do sorteio. O desembargador suspendeu o

procedimento até que a ação transite em jul-gado (quando não cabe mais recurso). O novo leiaute agrupa as barracas, atualmente dispos-tas em filas, em grupos de quatro, com uma esquina para cada artesão. A proposta agrada os expositores, mas esbarra em uma questão. Enquanto a prefeitura insiste num sorteio para definir a posição de cada feirante, eles defen-dem o remanejamento, com a permanência nos pontos.

“Conseguimos mais uma vitória. A ideia da mudança de lugar na feira nos deixa muito apreensivos. Muitos feirantes estavam deses-perados por perder seu ponto. Há expositores vizinhos que dividem a máquina do cartão e os clientes já sabem onde estamos. Se ocorresse esse sorteio os clientes iriam passar um mês inteiro procurando pelo expositor. A feira é um labirinto”, afirma um dos diretores da Associa-ção dos Expositores da Feira da Afonso Pena, Gilberto de Assis.

LICITAÇÃO Enquanto o sorteio não ocorre, o prefei-

to Marcio Lacerda protagoniza outra polêmica envolvendo o local e analisa novo edital para licitar expositores, sem data definida para ser lançado. A Asseap não concorda com a licitação e conseguiu liminar para suspender o primeiro edital, divulgado em janeiro. Na avaliação da associação, o processo deveria ocorrer apenas em vagas pontuais, no caso de falecimento ou saída de feirantes. Para afastar definitivamente o risco da licitação, os feirantes tentam o tom-bamento da atração turística.

ESTADO DE MINAS – P. 27 - 03.07.2011FEIRA DA AFONSO PENA

Expositores ficam no mesmo lugar

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Thobias Almeida A Subsecretaria de Administração Prisional (Sua-

pi), que administra as 126 unidades prisionais do es-tado, não sabe ao certo quantos presos poderão sair da cadeia com a entrada em vigor, hoje, da Lei 12.403, que limita o poder da Justiça de decretar a prisão preventi-va e manter atrás das grades autores de delitos leves, cuja pena máxima é de quatro anos, mas boa parte das 20.315 pessoas que estão em regime de prisão provisó-ria poderá ser beneficiada pela medida. É que a maioria desses presos está reclusa devido ao regime de prisão preventiva e agora terá sua situação examinada pelo Judiciário. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por sua vez, informou que cada um dos casos terá de ser analisado separadamente por um juiz.

Hoje, a população carcerária em Minas é de 40.465 pessoas, e de acordo com o coordenador da Defensoria Pública Especializada em Urgências Criminais, Miguel Arcanjo, o órgão ainda não fez um levantamento sobre os processos provisórios. O trabalho passará a ser exe-cutado hoje e terá início nos centros de remanejamento do sistema prisional (Ceresp) Gameleira, Centro-Sul e São Cristóvão.

A libertação dos presos é apenas uma das facetas polêmicas da nova legislação, que tolhe o poder da decretação da prisão preventiva mesmo em caso de flagrante. Para alguns juristas, o abrandamento da lei reforçará na sociedade a sensação de impunidade, en-quanto outros destacam que a nova norma respeita a Constituição e alivia a situação do sistema prisional, sempre às voltas com problemas de superlotação.

“Se considerarmos que o mais enérgico mecanismo do direito penal é a prisão, quando há um recuo nesse preceito há também um enfraquecimento da repressão estatal, fazendo com que a sociedade fique mais despro-tegida”, avalia o promotor de Justiça Criminal Rodrigo Iennaco de Moraes. Ele acrescenta que a legislação vai contra os desejos da população, que espera punições mais rigorosas diante do aumento da violência.

A juíza da 1ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, Maria Isabel Fleck, ressaltando que cabe ao magistrado aplicar a lei e não questioná-la, afirma que o fim da prisão preventiva retirou da Justiça um instrumento de muita utilidade. A magistrada relata que, em muitos ca-sos, conseguia manter preso um criminoso sabidamente perigoso caso ele fosse pego com um revólver, mesmo sem condenações anteriores. “Com a nova lei, ele será solto. Isso aumenta o risco na medida em que a maioria

dessas pessoas é de jovens envolvidos com a criminali-dade, dispostos a tudo. Eles podem se sentir incentiva-dos por essa sensação de impunidade”, atesta Fleck.SEM FLAGRANTE

A força do flagrante também cai por terra com a Lei 12.430. Antes, o autor pego no ato do crime permanecia preso automaticamente, desde que a prisão fosse ava-liada como legal por um juiz. Ele só seria solto depois que um pedido de liberdade provisória fosse impetrado no Judiciário. Maria Isabel Fleck explica que o meca-nismo instituído hoje obriga o magistrado a determinar em 24 horas se será concedida a soltura, mediante fian-ça ou não, ou decretada a prisão preventiva, que estará vedada para crimes de menor potencial ofensivo.

O promotor Rodrigo Iennaco também tem uma avaliação contrária às mudanças introduzidas pela Lei 12.430 no Código de Processo Penal e pontua que, com a perda de vigor do flagrante, aliada à redução da lista de crimes passíveis de prisão preventiva, “haverá maior número de pessoas acusadas da praticar crimes circu-lando nas ruas”.

O alívio que a medida trará ao sistema prisional é apontado pelo desembargador da 5ª Câmara Crimi-nal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Alexandre Vítor de Carvalho, como uma das principais vantagens oferecidas pela norma, além do respeito ao princípio constitucional da presunção de inocência. O desembargador avalia que a relação de crimes en-quadrados na legislação é restrita e não crê que haverá crescimento da impunidade.

O presidente da Comissão de Assuntos Penitenciá-rios da seção mineira da Ordem dos Advogados do Bra-sil (OAB), Adílson Rocha, concorda com a avaliação e diz que Lei 12.403 regulará o uso da prisão preventi-va, que será aplicada somente em casos excepcionais. “Muitas pessoas ficam presas por anos sem que haja sentença condenatória. A lei visa corrigir essa falha”, conclui.

A prisão preventiva, que só pode ser decretada para garantir a ordem pública, econômica e a não interfe-rência da instrução criminal, dentre outras exigências, poderá ser substituída por nove medidas cautelares. Dentre os substitutivos estão a proibição de acesso a determinados locais, o contato com pessoas específi-cas, recolhimento noturno e monitoramento eletrônico. Tanto a juíza Maria Isabel Fleck quanto o promotor Rodrigo Iennaco questionam a capacidade de o Estado fiscalizar a aplicação das cautelares.

Justiça

À espera da liberdadeMudança no Código de Processo Penal que entra hoje em vigor pode beneficiar milhares de

presos em Minas Gerais. Medida é polêmica e provoca discussões no meio jurídico

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Exemplos de crimes que não estão sujeitos à prisão preventiva

Thobias Almeida Furto SimplesReceptação Contrabando ou descaminho Formação de quadrilha ou

bando Homicídio culposoPorte de arma de uso permiti-

doViolação de sepulturaSequestro e cárcere privadoViolação de domicílioAssédio sexualAborto provocado pela ges-

tante ou com consentimentoLesão corporalSonegação fiscalPeculato culposoCurandeirismoExercício ilegal de medicina,

arte dentária ou farmacêuticaCrimes de trânsito

Medidas cautelaresComparecimento periódico

em juízoProibição de acesso ou frequ-

ência a determinados lugaresProibição de manter contato

com pessoa determinadaProibição de ausentar-se da

comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução

Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de fol-ga

Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira

Internação provisória do acu-sado nas hipóteses de crimes prati-cados com violência ou grave ame-aça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável

FiançaMonitoração eletrônica

Prisão preventiva será decretada

Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a quatro anos

Se o autor tiver sido condena-do por outro crime doloso, em sen-tença transitada em julgado

Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mu-lher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiên-cia

Será admitida quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando essa não for-necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liber-dade após a identificação

Ponto críticoVocê concorda com a Lei

12.403?Leonardo Avelar GuimarãesProfessor de Processo Penal

da PUC-Minas e Mestrando em Processo (PUC-Minas)

SIMSou favorável às mudanças,

as quais já eram necessárias desde a promulgação da Constituição de 1988. A Lei 12.403/11, no geral, busca conformar os dispositivos do Código de Processo Penal ati-nentes à prisão provisória e outras medidas cautelares, aos princípios constitucionais, sobretudo o prin-cípio da presunção da inocência. A legislação ressalta que as prisões cautelares (provisórias) só devem ser decretadas quando estritamente necessárias, mediante ordem judi-cial fundamentada, e quando ou-tras medidas cautelares não forem suficientes para a tutela do proces-so ou da sua efetividade. Pesquisa recente do Conselho Nacional de Política Penitenciária concluiu que cerca de 50% dos presos no Bra-sil são ainda presos provisórios, que não tiveram contra si sentença penal transitada em julgado. EsSe problema crônico no país será al-terado com a entrada em vigor da nova lei. Outra situação corrigida

é a da prisão em flagrante, que não seria mais uma espécie de prisão cautelar. Com a nova lei, no caso de prisão em flagrante, para que o conduzido permaneça preso duran-te o processo penal, será necessário que o juiz decrete a sua prisão pre-ventiva.

José Barcelos de SouzaProfessor titular aposentado

da Faculdade de Direito da UFMG; professor do curso de pós-gradua-ção das Faculdades Milton Cam-pos

NãoAcho que a medida já chega

ultrapassada, é tímida e apresenta distorções, principalmente no que se refere aos crimes de trânsito. Poderiam fazer algo diferente. A prisão preventiva talvez coubesse a certos crimes culposos, que po-dem ser mais graves que um crime doloso. Um exemplo é um pai de família que mata por honra. Ele pode ser preso. Por outro lado, te-mos uma pessoa inconsequente que pega um carro e trafega em alta ve-locidade, provocando um acidente com vítimas. Cabe a acusação de crime culposo e assim ele pode não ser preso. Nesse e em outros casos, a prisão preventiva é necessária para segurar o infrator e para pre-venir e inibir o crime. O projeto do vigente Código de Trânsito Brasi-leiro previa a possibilidade da de-cretação da preventiva, mas o dis-positivo foi vetado justamente para não se opor às regras vigentes.Ou-tro ponto que me parece negativo é a disposição da nova lei sobre a comunicação da prisão em flagran-te, que também há de ser imediata, como dispõe a Constituição, e não, como estabelece a nova lei, dentro de 24 horas. Como está no texto le-gal, o relaxamento da prisão ou a concessão de liberdade provisória poderia ficar retardada por até um dia, o que é inconstitucional.

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Violência

Acesso facilitado a armas abre caminho para os crimes banaisO TEMPO - P. 23 E 24 - 03.07.2011

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O TEMPO - P. 31 - 02.07.2011Venda de habeas corpus. Suspeitos revelaram que quadrilha chegou a negociar oito alvarás de soltura

Menos de 24 horas na prisão

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ESTADO DE MINAS - P. 07 - 02.07.2011

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CONT.... ESTADO DE MINAS - P. 07 - 02.07.2011

Sem esperança de uma resposta

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O GLOBO - P. 4 - 02.07.2011

Valquiria Lopes e Andréa Silva Bandidos que agem na Zona Sul de Belo Horizonte têm

dia, hora e endereços preferenciais para cometer crimes. Do-cumento obtido pelo Estado de Minas com a distribuição das ocorrências policiais registradas em sete bairros da região mostra que a violência está concentrada em ruas e avenidas de grande movimentação, sobretudo entre terça-feira e quin-ta-feira, das 18h às 21h, horário que coincide, por exemplo, com funcionamento de academias, colégios e faculdades. No mapa da criminalidade dos últimos dois meses na região aten-dida pela 127ª Cia, ligada ao 22º Batalhão de Polícia Militar (BPM), a Avenida Nossa Senhora do Carmo, que cruza os bairros Carmo e Sion, ocupa o topo da lista, com 10 ocorrên-cias registradas entre 1º de maio e 29 de junho. No mesmo período, a Rua Grão Mogol, com nove registros, ficou em segundo, seguida pela Avenida Bandeirantes, que corta os bairros Serra, Anchieta e Mangabeiras, com oito ocorrências policiais.

A geografia do crime ainda inclui a Avenida Afonso Pena, no trecho entre a Avenida do Contorno e a Praça do Papa, com sete casos, empatada no ranking com a Rua Professor Estevão Pinto, na Serra. O bairro, onde está a 127ª Cia., ainda tem as ruas do Ouro e Pirapetinga na lista, com cinco e qua-tro registros, respectivamente. O levantamento se refere aos bairros Carmo, Serra, Anchieta, Cruzeiro, Sion, Comiteco, Mangabeiras e oito vilas do Aglomerado do Cafezal e inclui todo tipo de crimes, desde que registrados oficialmente. Mas, em destaque, estão os roubos praticados contra pedestres, ar-

rombamentos e roubos de veículos, roubos em residências e pequenos furtos. Embora o mapa inclua dados dos últimos dois meses, uma fonte da Polícia Militar afirmou ao EM que o documento é representantivo do que vem ocorrendo.

Quem mora ou passa pelas vias confirma o que mostram os boletins de ocorrência. A médica Anna Paola de Castro Felício, de 34 anos, sofreu ontem mesmo com a violência na região. Pela manhã, dois bandidos arrombaram o carro dela na Rua Joaquim Lustosa, no Bairro Anchieta, a apenas um quarteirão da Avenida Bandeirantes, uma das campeãs de ocorrências. A dupla quebrou o vidro do carro de Anna, levou uma pasta de couro com documentos, um celular e o som do automóvel, que estava estacionado na rua. O prejuízo, ela calcula, foi de pelo menos R$ 1 mil. “Não costumo deixar o carro fora da garagem, mas realmente foi um esquecimento que me custou caro”, contou. “A sensação de insegurança por aqui é muito grande.”

O marido dela, o advogado Adriano Felício, de 36, con-tou que no dia 5 de junho a mãe dele foi assaltada por um ho-mem que passava de moto na rua onde ele e a mulher moram. “Levaram a bolsa dela e, por sorte, não havia nada de valor. Ao contar a história para outros moradores, ela soube que no mesmo dia três pessoas foram vítimas da saidinha de banco na porta do Banco do Brasil, a cinco quarteirões daqui”, afir-mou Felício.

Comércio Depois de ter o centro automotivo, na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Bairro São Pedro, arrombado há três semanas, o empresário Eduardo Starling, de 27 anos,

ESTADO DE MINAS – P. 21 02.07.2011 O perigo mora aqui

Mapa de ocorrências obtido pelo EM mostra que algumas das principais vias da Zona Sul são alvos preferenciais de bandidos. Nossa Senhora do Carmo, Grão Mogol e Bandeirantes lideram lista

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também calcula os prejuízos. “Foram cerca de R$ 3 mil em peças e equipamentos. Se somadas as outras quatro vezes em que entraram na loja para assaltar nos últimos seis anos, já são quase R$ 10 mil”, lamenta. Segundo ele, muitos comer-ciantes da vizinhança engrossam a lista de vítimas da crimi-nalidade ao longo da avenida, que inclui passageiros à espera de ônibus. “Bandidos assaltam nos pontos de ônibus e as mu-lheres são sempre as principais vítimas. No sinal de trânsito, motoristas são abordados com frequência por criminosos”, diz Eduardo.

Funcionários de uma empresa de engenharia de trânsito na Rua Pirapetinga, no Bairro Serra, afirmam que a rotina de roubos de mochilas com notebooks, de celulares e arrom-bamentos e roubos de carros assusta. A gerente de recursos humanos Patrícia de Fátima Alves conta que, só na primei-ra quinzena de junho, cinco trabalhadores foram assaltados na porta do prédio. “Os crimes ocorrem depois das 18h e da mesma forma: surgem dois homens em uma moto, ambos de capacete; o garupeiro desce armado e comete o assalto. Uma das vítimas foi uma estagiária, que não voltou mais”, contou Patrícia.

Promessa de açõesSubcomandante da 127ª Companhia do 22º Batalhão

da Polícia Militar, o capitão Helbert Luiz Cândido do Nas-cimento diz que ações de segurança estão em andamento na região. “A área terá o programa da Rede de Vizinhos Protegi-

dos ampliado e já estamos com trabalhos para estreitar o re-lacionamento com a comunidade, que é nossa parceira. Tam-bém vamos montar blitzes educativas com orientações sobre cuidados pessoas, com bens materiais e com a residência”, afirmou. Ainda segundo ele, as vias que concentram o maior número de ocorrências já receberam policiamento ostensivo e outras ações direcionadas de segurança, com uso do sistema de inteligência da PM.

O povo fala / Você presenciou crimes na Zona Sul?“Na Rua Pirapetinga os assaltos e arrombamentos de veí-

culos são frequentes, assim como no entorno da Praça Milton Campos, também no bairro, e nas imediações da Faculdade Fumec, no Cruzeiro”, Jorge Rabelo, de 58 anos, dentista, mo-rador do Bairro Serra

“Há um mês vim comprar um lanche aqui e presenciei um roubo. Dois rapazes entraram na lanchonete sem alarde e anunciaram o assalto à moça do caixa. Disseram depois que eles levaram

cerca de R$ 900”, Paulo Henrique Miranda, de 25, geren-te de vendas de uma loja de games na Avenida Bandeirantes

“Vários menores passam e fazem ameaças a pessoas na Nossa Senhora do Carmo. No Sion, onde trabalho, já fui abordada por um rapaz que pediu minha bolsa. Saí correndo e, por sorte, não fui assaltada”, Zélia Franca de Souza Came-lo, de 51, diarista

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Dois projetos de lei em tramitação atualmente na Câmara dos Deputados e no Senado pretendem tornar a Lei Seca mais rígida e levar para cadeia até mesmo os motoristas que se recusarem a passar pelo teste do bafômetro.

As propostas são do deputado Hugo Leal (PSC-RJ), autor da Lei Seca, e do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Ambas pro-põem que vídeos, fotografias, depoimentos de testemunhas, ava-liações clínicas e perícias técnicas possam ser consideradas provas judiciais, possibilitando a detenção e a condenação dos infratores.

Se aprovados, os projetos mudarão o artigo 306 da lei. De acordo com o texto atual da legislação, a punição criminal só pode ser aplicada ao infrator quando constatada a concentração de pelo menos 0,1 mg de álcool por litro de ar expelido no teste do bafô-metro (ou 0,2 g de álcool por litro de sangue).

Assim, quem se recusa a fazer o exame acaba, quase sempre, sendo punido apenas administrativamente, com multa ou suspen-são do direito de dirigir.

Só entre janeiro e junho deste ano, 1.136 pessoas foram autu-adas por suspeita de embriaguez ao volante em Belo Horizonte, de

acordo com o Serviço de Controle do Condutor (SCC) do Departa-mento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG).

A Polícia Civil não divulgou o número de motoristas que se recusaram a fazer o teste do bafômetro nem a quantidade de pri-sões.

Aprovação. Coordenadora de infrações do SCC, a delegada-geral Inês Borges Junqueira diz que aprova a mudança na legisla-ção. “Se for aprovada, a alteração será positiva, porque a recusa dos motoristas infratores em submeter-se a os testes não impedirá a aplicação da lei, principalmente na esfera criminal, que exige a constatação da embriaguez”, argumenta.

Conhecido por pedir a condenação por homicídio para mo-toristas embriagados envolvidos em acidentes fatais, o promotor Francisco Santiago também é favorável ao teor dos projetos.

“Defendo toda alteração que conscientize os condutores so-bre a responsabilidade que assumem ao dirigir alcoolizados. O Ju-diciário deve, porém, exigir uma análise cuidadosa nos casos em que vídeos e fotos forem usados como provas, exigindo a compro-vação da origem do material”, ressalta.

O TEMPO – P. 32 - 02.07.2011Lei Seca .Parlamentares querem aumentar rigidez contra quem recusa o teste do bafômetro

Imagens e depoimentos podem virar provas contra motoristasNa capital, 1.136 motoristas foram autuados entre janeiro e junho

Justiça 1

Candidata tem contas rejeitadas

O TRE-MG reprovou por unanimidade as contas de campanha da candidata ao gover-no de Minas pelo PSTU, em 2010, Vanessa Portugal. De acordo com o tribunal, foram encontradas graves e insanáveis irregularida-des, baseadas no recebimento de recursos de campanha, produto da atividade econômica dos doadores, como estabelece a lei eleitoral. Para a relatora, juíza Luciana Nepomuceno, as principais irregularidades são a ausência de assinatura dos doadores em dois recibos elei-torais e a emissão de recibos incompletos.

Justiça 2

Recurso de Hilário é negadoO TRE-MG também decidiu negar recur-

so do ex-prefeito de Timóteo Geraldo Hilário Torres (PDT), que pedia à Justiça que fosse ouvida uma nova testemunha envolvida no processo de sua cassação pela Justiça Eleito-ral. O juiz eleitoral do município e o Minis-tério Público Eleitoral já tinham negado o pedido de Hilário. Timóteo está sendo admi-nistrada pelo segundo colocado na eleição de 2008, Sérgio Mendes (PSB), devido à cassa-ção de Geraldo Hilário, por abuso de poder econômico e político.

O TEMPO - P. 2 - 03.07.2011A PARTE

Revertido

Prefeito não está mais inelegível

O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) reverteu a inelegibilidade do prefeito de Januária, Maurílio Arruda, e do vice-prefeito, Afonso dos Santos, ambos do PTC. Por decisão da Justiça local, os direitos políticos deles tinham sido suspensos por oito anos por “uso indevido de meios de comunicação e efetivação de propaganda irregu-lar em desequilíbrio do pleito” de 2008. A Justiça de Januária reconhecera que a “Folha de Januária”, jornal que se estava desativado havia vários anos, foi reativado para dar suporte à campanha eleitoral de ambos. Entretanto, o TRE-MG entendeu que os fatos não tinham potencial lesivo.

STJ

Processos aumentam 49% Balanço do Superior Tribunal de Justiça (STJ)

mostra que, no primeiro semestre de 2011, o tribunal recebeu 143.411 processos, 49% a mais do que no mesmo período de 2010. O número surpreendeu a Corte, que esperava redução no volume de proces-sos em razão dos recursos retidos por força do “rito dos recursos repetitivos”. Os prazos para recursos no STJ ficaram suspensos na última sexta-feira e voltam a correr no dia 1º de agosto.

O TEMPO - P. 2 - 04.07.2011A PARTE

Réplica do

prefeitoAngelo Oswal-

do contesta nota da coluna que questio-nou o açodamen-to da Prefeitura de Ouro Preto numa licitação que tem sido questionada in-clusive na Justiça. O prefeito afirma ter pedido orientação do Ministério Pú-blico desde o início da licitação para “salvaguardar a pre-feitura da sanha dos interesses que todos sabem ocorrer nes-sas circunstâncias”. E atribuiu as críticas a empresas “interes-sadas em negócios com o poder público e desejosas de êxito a qualquer preço”.

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Jarbas Soares Júnior - Presidente da Associação Brasileira do Ministério

Público de Meio Ambiente (Abrampa)

Na semana passada, despediu-se de nós um inesquecível amigo de muita gente. No adeus ao desembargador José Nepomuce-no Silva, a quantidade de coroas de flores que ornavam o seu caminho para a morada eterna demonstraram o quanto era querido o ilustre magistrado nascido em Taquaraçu de Minas, na Região Central de Minas Gerais. Como muitos que lá estavam para a última homenagem, conheci o José Nepomuceno há muitos anos e, desde então, a amizade construída nunca se desfez.

Ao contrário, estive com ele daí em diante, em inúmeras ocasiões importantes de sua vida, familiar e profissional. Todos aque-les que conheceram o José Nepomuceno têm uma história interessante para contar sobre esse convívio. Nepomuceno não era daque-las pessoas que simplesmente passam nas nossas vidas. Nunca ouvi alguém dizer que não se lembrava do José Nepomuceno que conheceu um dia.

Na vida pessoal, foi um vencedor. Meni-no pobre, veio para a capital, onde se casou com Lúcia Diniz Nepomuceno. Construiu uma família vitoriosa, e seus dois filhos, ain-da jovens, tornaram-se figuras destacadas tanto nas respectivas esferas sociais quanto profissionais. Ao longo da carreira, atingiu todos os seus imagináveis objetivos.

Advogado inicialmente, ingressou na gloriosa magistratura mineira por concurso público. Como juiz de direito, deixou tam-bém marcas por onde passou. Não foi um juiz comum. Nas comunidades onde aten-deu, até hoje, é lembrado com carinho. Foi daqueles magistrados que ficam na memó-ria coletiva das comarcas. Na capital, teve passagem dignificante no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), onde se especializou em direito eleitoral. Mas foi no Tribunal de Justiça do Estado (TJMG) que realizou o seu sonho mais remoto. Foi um desembargador com paixão pelo que fazia. Despediu-se da magistratura aos 70 anos, por imposição

constitucional, com uma saudade imensa e o desejo de continuar na atividade judican-te, desejo então realizado, na pessoa da juíza eleitoral Luciana Nepomuceno, sua filha.

Na vida social, viveu nos rios do Brasil fazendo o que mais gostava: pescar. Mas foi o glorioso Clube Atlético Mineiro a razão maior da sua vida. Fazia o que fosse neces-sário pelo Galo e teve o privilégio de ver o seu filho, Daniel Nepomuceno, na vice-presi-dência, ao lado de Alexandre Kalil, como um dia sonhou para si próprio. Ser político, na expressão ampla do termo, José Nepomuce-no via no seu garoto a realização dos desejos que não pôde concretizar. Como magistrado, deixa um leque de exemplos a serem segui-dos. Lembro-me de um que muito me toca: o do magistrado preocupado com a questão ambiental. Nepomuceno, juiz da velha guar-da, teve que rever conceitos para, do alto da sua magistratura, engajar-se na luta pela pro-teção ambiental. Um dia me disse que, como magistrado, iria decidir sempre a favor do meio ambiente. Era eu o procurador-geral de Justiça de Minas Gerais quando ele me ligou para dizer isto: em qualquer situação votaria em benefício da proteção ambiental. Ele e outros respeitáveis desembargadores de Minas Gerais mudaram a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado, hoje o tri-bunal estadual que tem as melhores decisões em favor do meio ambiente do país.

Esse juiz, o Nepomuceno, já lutando contra o câncer que o levou, foi homenage-ado, recentemente, pelos membros do Mi-nistério Público ambiental do país em um recente congresso. Aplaudido de pé por mais de 500 pessoas, chorou. Em sua fala, já com voz fraca, chamou os promotores de Justiça com atuação na área ambiental de “meninos do dedo verde”, numa alusão à obra de Mau-rice Druon. Mas era ele o verdadeiro “me-nino do dedo verde”. Na realidade, o “juiz do dedo verde”, que deixou também uma mensagem aos seus colegas magistrados: “O juiz deve sempre decidir a favor do meio ambiente, não importando a causa”. Obriga-do, José Nepomuceno. As futuras gerações agradecem os seus esforços e exemplo.

ESTADO DE MINAS – P. 9 – 02.07.2011

O juiz do dedo verde

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Quando nada por racionalidade, senão por justiça com a segundo estado mais populoso do país, é mais do que urgente a correção de uma distorção que há décadas rebaixa a qualidade da prestação de serviço indispensável por parte do Judiciário federal ao contribuinte mineiro.

Tão pesadamente tributado como qualquer dos brasileiros, o cidadão de Minas tem razão quando reclama retorno mais equilibrado de sua contribuição à construção da riqueza nacio-nal e, particularmente, das receitas federais. Não bastasse o des-caso com a maior malha rodoviária da União e com a contínua preterição de melhorias que dependem do Orçamento federal, como o metrô de Belo Horizonte e a atualização do aeroporto de Confins (para citar apenas os incômodos mais conhecidos), Minas tem reivindicação tão justa quanto menosprezada no âm-bito da estrutura do Poder Judiciário da União.

Vítima de um equívoco inexplicavelmente mantido a des-peito de todas as evidências que o condenam, Minas divide com 12 estados e o Distrito Federal os atulhados escaninhos do Tri-bunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), com sede em Bra-sília. Essa é corte que recebe em segunda instância processos que envolvam os interesses da União e dos órgãos federais nas áreas de meio ambiente, previdência social, saúde, educação e patrimônio público e enfrentamento ao crime organizado. Ao

conceber a criação dos tribunais federais regionais, ninguém le-vou em conta o porte, o movimento e o dinamismo de Minas, atributos que necessariamente pesam na geração de causas em proporção obviamente maior do que as da maioria das unida-des federativas. Tanto é assim que, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de 2009, dos 303 mil recursos que tramitavam no TRF1, nada menos do que 119,5 mil, ou seja, 39,4%, eram procedentes de Minas.

Isso ajuda a explicar a baixa eficiência daquela corte, ape-sar dos mais exaustivos esforços de seus magistrados.

Estudo realizado pela Associação dos Juízes Federais de Minas Gerais, com base em dados do CNJ, mostra que é do TRF1 a segunda mais alta taxa de congestionamento de proces-sos do país: 87,2%.

É menos congestionado apenas do que o Tribunal de Jus-tiça do Ceará. Perde de longe para o desempenho da Justiça do Trabalho, com 28,2%. A Justiça Estadual tem congestionamen-to de 50,5%. Toda a Justiça Federal tem 67,1%, mesma taxa dos cinco TRFs somados. Não há como justificar o adiamento da criação do Tribunal Regional Federal com sede em Belo Hori-zonte, como preconizado na Proposta de Emenda à Constitui-ção (PEC) 544, a não ser pela má vontade e pela injustiça com Minas.

Adriano Ventura - Vereador em Belo Horizonte, profes-sor da PUC Minas, jornalista

Qual é o gasto mensal dos vereadores da Câmara Mu-nicipal de Belo Horizonte com serviço postal, material de escritório, lanche, combustível, serviço gráfico e viagens? Receitas e despesas detalhadas, frequência dos parlamentares às reuniões do plenário e comissões, quantidade de reuniões realizadas em cada mês e relatórios de audiências são infor-mações acessíveis a todos os cidadãos pelo Portal da Trans-parência. Há alguns anos, ter acesso a essas informações era um processo burocrático e complicado. Como não havia le-gislação prevendo a obrigatoriedade da divulgação das finan-ças da casa nem uma plataforma que possibilitasse o acesso atemporal e de forma desterritorializada, as contas da Câmara eram enigmáticas. A evolução tecnológica mudou as formas de interação entre as pessoas, favorecendo a participação po-pular, o controle social e a transparência pública.

A verba indenizatória, recurso destinado aos gastos de gabinete dos vereadores, foi implementada em julho de 1997. Nessa época, para ter acesso às informações era necessário que o cidadão encaminhasse formalmente um pedido ao pre-sidente da Casa. Inaugurado em 4 de novembro de 2009, o Portal da Transparência trouxe clareza no que se refere às contas. Antes de o portal ser criado, o cidadão belo-horizonti-no só tinha acesso a planilhas simplificadas na página da Câ-mara na internet e às publicações mensais no Diário Oficial do Município (DOM). Porém, os gastos não eram detalhados, nem separados por categorias e gabinetes. Cabia ao parla-mentar apresentar ou não em sua página pessoal a execução

orçamentária de seu mandato. A auditoria interna, Tribunal de Contas e a própria Co-

missão de Orçamento e Finanças Públicas exercem a fiscali-zação das contas do Legislativo, porém, o acompanhamen-to dos gastos pelo cidadão ganhou fôlego com a criação do portal. Os mecanismos de interação do poder público com o cidadão foram aprimorados e a participação da sociedade é imprescindível para garantir o bom uso dos recursos públicos gerados pelo pagamento de tributos. O controle social é um instrumento de fortalecimento da democracia, uma vez que os anseios dos cidadãos são representados no exercício do poder colocando a vontade coletiva como fator de avaliação para a criação e metas a serem alcançadas no que concerne às políticas públicas.

As redes sociais também têm contribuído para a integra-ção da administração pública com a sociedade. Por meio do twitter, facebook, orkut e outros sites de relacionamento, o cidadão pode acompanhar o dia a dia de seus representantes. Saber por onde andam e quais bandeiras defendem. Na era da internet, toda iniciativa para dar visibilidade e transparência às ações políticas é bem-vinda.

De acordo com o dicionário Houaiss, transparência é “qualidade ou condição do que é transparente; do que não é ambíguo; clareza, limpidez”. A transparência pública dignifi-ca a política e reafirma a crença em um Legislativo atuante e lúcido, no qual a população não só se sinta representada, mas verdadeiramente contemplada por um parlamento que traba-lha com, para e pelo cidadão.

Injustiça com Minas Criação de um tribunal federal em BH é questão de racionalidade

ESTADO DE MINAS – P. 8 02.07.2011

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Evolução da transparência Redes sociais também têm contribuído para a integração da gestão pública

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Afora a explícita afronta à moralidade que permeia o esque-ma de venda de habeas corpus, descoberto pela Polícia Federal (PF), em Divinópolis, esse escândalo faz ressurgir uma salutar dis-cussão, já comumente em voga no meio jurídico.

Atualmente, um quinto dos quadros dos tribunais de Justiça dos Estados é composto por membros do Ministério Público (MP) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O chamado “quinto” é mais do que louvável, já que os desembargadores oriundos de órgãos de indubitável credibilidade, como o MP ou a OAB, têm a missão de atuar como fiscalizadores do Judiciário.

O desembargador do Tribunal de Justiça de Minas, acusado pela PF de envolvimento no esquema de Divinópolis, pertencia ao corpo do MP e ascendeu ao TJMG por meio do “quinto”. Obvia-mente, imprudente ilação seria relacionar a prática de atos ilícitos à formação individual de um agente público. Esse não é - e nunca foi - motivo de polêmica no Judiciário. O que se discute é a neces-sidade de a legislação vigente ainda prever a obrigatoriedade do

“quinto” nas Cortes estaduais brasileiras. Para alguns juristas, os tribunais não deveriam ser compeli-

dos a formar suas composições com base no “quinto”, já que, em 2004, foi criado o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) - exatamen-te para atuar como fiscalizador. Por outro lado, há especialistas na área que atribuem ao “quinto” a plenitude da democracia, afinal, além da formação ilibada, o indicado é nomeado indiretamente pela população, por meio de seus representados - já que a lista de postulantes ao cargo nos tribunais é submetida ao chefe do Poder Executivo.

O fato ocorrido em Divinópo-lis não exime a responsabili-dade do TJMG enquanto órgão fiscalizador. E, nesse quesito, me-didas moralizadoras já vêm sendo tomadas pelo tribunal. O ama-durecimento da sociedade, em sua essência, é o que faz com que temas como o “quinto” motivem debates e reflexões. (Anderson Alves)

Judiciário

O quinto ainda é necessário, mesmo após a criação do CNJ?O TEMPO – P. 2 - 03.07.2011 - A PARTE

Apesar dos avanços administrativos obtidos nos últi-mos anos, o Poder Judiciário continua carecendo de infor-mações elementares sobre seu próprio funcionamento. Não sabe, por exemplo, quantos mandados de prisão estão pen-dentes de cumprimento em todo o País ou quantos presos estão detidos ilegalmente, por já terem cumprido a pena a que foram condenados. A estimativa é de que há mais de 300 mil mandados de prisão não cumpridos, mas as autoridades advertem que este número não é exato, pois incluiria man-dados emitidos contra pessoas que já morreram e mandados que a Justiça criminal suspendeu, sem disso dar ciência à Polícia Civil.

Para tentar resolver esse problema, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai discutir, na próxima semana, a criação de um banco nacional de dados sobre mandados de prisão. Nesse banco haverá informações sobre quem foi condenado a penas alternativas, quem está sendo monitorado eletroni-camente e quem pode trabalhar durante o dia, mas é obriga-do a dormir na prisão.

O sistema será alimentado pelos juízes das varas de exe-cução penal e as autoridades policiais terão acesso às infor-mações. Apenas não se decidiu ainda se as fotos das pessoas procuradas pela polícia - mas ainda não julgadas pela Justiça criminal - farão parte do banco de dados.

“Na hora em que expedir o mandado de prisão, o juiz terá 24 horas para enviar a informação ao sistema. Se revo-gar o mandado, ele também terá de informar, assim como terá de comunicar se o mandado foi ou não cumprido”, diz Walter Nunes, relator da proposta de criação do banco de dados formulada pelo CNJ. “O sistema tem tudo para dar certo, propiciando mais dinamismo ao trabalho de juízes e agentes policiais, racionalizando as atividades judiciárias, aumentando a eficiência das decisões judiciais e evitando a impunidade”, afirma o ministro Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A criação de um banco nacional de dados sobre man-

dados de prisão está prevista pela Lei n.º 12.403, que foi sancionada em maio pela presidente Dilma Rousseff, depois de longa tramitação no Congresso. Ela alterou o anacrônico Código de Processo Penal, editado na década de 1940 pela ditadura varguista, aumentando as prerrogativas da Polícia Civil, estabelecendo novos critérios para fixação de fiança e concessão de liberdade provisória, criando novas alterna-tivas para a prisão preventiva e dando aos juízes criminais competência para proibir que pessoas com histórico de bri-gas frequentem bares, boates e estádios de futebol.

As autoridades policiais e judiciais apoiam a proposta de criação de um banco nacional de dados sobre mandados de prisão, mas divergem num ponto. Para muitos delegados e juízes, o sistema deveria ficar sob responsabilidade do Po-der Executivo e não do CNJ, que é um órgão administrativo, encarregado de promover o controle externo do Poder Ju-diciário. Para o presidente da Associação Brasileira de Ma-gistrados, desembargador Nelson Calandra, o Ministério da Justiça deveria gerir o banco de dados, uma vez que cabe à Polícia Judiciária cumprir os mandados de prisão expedidos pelos juízes de execução penal.

O ponto mais importante, contudo, não é esse. Quan-do começar a funcionar, o banco nacional de dados sobre mandados de prisão propiciará uma troca de informações em tempo real entre todas as Secretarias da Segurança Pública.

E o aumento da eficiência de sua atuação, no cumpri-mento dos mandados, poderá resultar no aumento da popu-lação carcerária, agravando o problema da superlotação das prisões. Elas têm sido chamadas de “masmorras medievais” pelo presidente do STF, Cezar Peluso, e as condições de-gradantes de vida dos presos, por causa do déficit de vagas nas cadeias e penitenciárias, têm custado ao Brasil repetidas denuncias à Comissão e à Corte Interamericana de Direitos Humanos.

A iniciativa do CNJ é importante, mas urge modificar a triste realidade do sistema prisional.

O ESTADO DE SP - P. A3 - 02.07.2011O banco de mandados de prisão

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