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Cerimônia de entrega do Prêmio Rio de Literatura, na sede da Fundação Cesgranrio, no Rio Comprido, teve a escritora paulistana Beatriz Bracher como vencedora na categoria Ficção, com o romance Anatomia do paraíso. (Por Manoela Ferrari – págs. 10, 11 e 12) Cerimônia de entrega do Prêmio Rio de Literatura, na sede da Fundação Cesgranrio, no Rio Comprido, teve a escritora paulistana Beatriz Bracher como vencedora na categoria Ficção, com o romance Anatomia do paraíso. (Por Manoela Ferrari – págs. 10, 11 e 12)

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Cerimônia de entrega do Prêmio Rio de Literatura, na sede da FundaçãoCesgranrio, no Rio Comprido, teve a escritora paulistana Beatriz Brachercomo vencedora na categoria Ficção, com o romance Anatomia do paraíso.(Por Manoela Ferrari – págs. 10, 11 e 12)

Cerimônia de entrega do Prêmio Rio de Literatura, na sede da FundaçãoCesgranrio, no Rio Comprido, teve a escritora paulistana Beatriz Brachercomo vencedora na categoria Ficção, com o romance Anatomia do paraíso.(Por Manoela Ferrari – págs. 10, 11 e 12)

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Para o escritor argentino Jorge Luis Borges, “visitar uma bibliotecaé uma das formas de o homem contemplar a eternidade”. Isso ficoumuito bem expresso no conto “A biblioteca de Babel”, lançado em 1944.Essa verdade é reiterada todas as vezes que temos o privilégio defrequentar essa ou aquela biblioteca, mesmo que esse hábito corra orisco de cair em desuso. Nos discursos, há sempre uma referência ànecessidade de um número sempre maior de bibliotecas em nossossistemas de ensino. Infelizmente, a realidade é cruel. Sabemos que,hoje, há 15 milhões de estudantes sem o amparo de bibliotecascompetentes. Mesmo tendo sido criada uma lei que exige a suapresença, em número suficiente, isso não tem se transformado numaprática corrente. É comum as escolas reservarem espaços públicos para“depósitos de livros”, o que é uma evidente distorção. Em visitas feitas aestabelecimentos de ensino do interior, muitas vezes encontramoslivros ocupando espaços de banheiros, o que representa umasimbologia perversa.

Temos a fundada esperança de que as nossas autoridadesacordem para essa triste realidade.

O editor.

Leon Tolstoi

Diretor responsável: Arnaldo NiskierEditora-adjunta: Beth AlmeidaColaboradora: Manoela FerrariSecretária executiva: Andréia N. GhelmanRedação: R. Visconde de Pirajá N0 142, sala 1206 – 120 andar — Tel.: (21) 2523-2064Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: [email protected]: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232-5048 – Leonardo Da Vinci - SP (11) 5052-3691Correspondente: António Valdemar (Lisboa).Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda.Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N0 114

O Professor Carlos Alberto Serpa homenageou a Academia Brasileira de Letras, na Casa de CulturaJulieta Serpa, com um bonito jantar, ao qual compareceram dez imortais, entre os quais opresidente Domício Proença Filho, à esquerda na foto.

O Brasil vai participar dos Jogos Olímpicoscom 462 atletas. E mais uma porção decorredores que terão o privilégio de carregara tocha olímpica pelas ruas do Rio deJaneiro. Convidado pelo prefeito EduardoPaes, serei um desses atletas, recordando os

bons tempos em que defendi as cores do América Futebol Club e doClub Municipal. Deste, fui campeão carioca de basquete!

Disse bem o prefeito: “Carregar a chama olímpica é uma dasmaiores honras do planeta. Participar do revezamento da TochaOlímpica no Rio de Janeiro é um sentimento único, um privilégio parapoucos no mundo.”

Devo carregar a tocha olímpica por cerca de 200 metros, naAvenida Presidente Antonio Carlos, no centro da cidade, no dia 3 deagosto, pela manhã. Tenho a confiança do presidente do Bradesco, LuísCarlos Trabuco Cappi, que me enviou mensagem em que revela: “Pravocê não faltará forma física, pernas que o saudoso Américapresenciou, como grande jogador que foi...”

Aproveito essa oportunidade, na verdade inédita, para recordar osquase 30 anos em que pratiquei esportes, sistematicamente. Garotoainda, com pouco mais de 10 anos, morador da Tijuca, fui nadador doAmérica, treinando na pequena piscina de 20 metros, na rua CamposSales. Durante três anos, não conheci inverno ou verão, treinando desegunda a sexta-feira para as competições que se realizavam aosdomingos, nos diversos clubes do Rio, como o Fluminense, oGuanabara, o Vasco da Gama, o Santa Teresa, o Flamengo e outros demenor porte. Resultado: ganhei 56 medalhas, hoje conservadas emgrande estilo. A primeira delas foi histórica: tirei um segundo lugar nadistância de 40 metros. Cheguei em casa e disse a colocação. Fuisaudado por meus irmãos e pais. Lá pelas tantas, o meu irmão Odilonperguntou quantos nadadores haviam disputado a prova em que eutirara o 2º lugar: “Foram dois”, disse eu. Levei uma vaia estrondosa. Nãolevaram em conta que completar a prova já era uma extraordináriaconquista...

Depois fui infanto juvenil do América, treinado pelo seu Freitas.Quando houve uma debandada do juvenil de futebol do América parao Flamengo (nessa leva foi embora também o Zagallo, meu amigo deinfância), subiu o nosso time para o juvenil, onde cheguei a treinarcomo titular da meia esquerda por três vezes. Só que os treinos eram àtarde e eu já trabalhava na ocasião, não podia faltar. Tive que desistir daminha carreira de jogador de futebol.

Passei a treinar no juvenil de basquetebol, à noite, sob a liderançado Rob. Disputei três campeonatos oficiais pelo AFC. Quando fiz 18anos, com a idade estourada, pedi transferência para o Club Municipal,também na Tijuca, por onde disputei o campeonato carioca da segundadivisão. Fomos campeões cariocas, numa final disputadíssima com oGrajaú T.C. Hoje, sou atleta laureado do Club Municipal, o que nãodeixa de ser uma grande honra.

Com esse passado, a que se deve agregar o trabalho profissionalcomo cronista esportivo (Última Hora e Manchete Esportiva) penso quefiz por merecer a honraria de carregar a tocha olímpica.

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O 9 de Julho evoca os acontecimentos que mobilizaram ospaulistas em 1932. Iniciado em 1926, o governo de Washington Luís nãofoi tranquilo: a crise econômica mundial de 1929 gerou altodesemprego. Na política, provocou forte reação ao indicar o governadorJúlio Prestes à sua sucessão, quebrando a política do “café com leite”, naqual paulistas e mineiros revezavam a presidência do país. Seria a vez dogovernador mineiro Antônio Carlos, que, inconformado, lançou acandidatura do governador gaúcho, Getúlio Vargas, com João Pessoa,governador da Paraíba, vice. Em 1930, as eleições deram a vitória aopaulista, Vargas contestou. O assassinato de Pessoa, em julho, originouo movimento militar que depôs Washington Luís.

Vargas já assumiu quebrando promessas: suspendeu aConstituição e dissolveu o Congresso. Esse desrespeito gerouinsatisfação paulista. A sociedade se mobilizou para lutar “pelaautonomia de São Paulo e pela constitucionalização do Brasil”. Emfevereiro de 1932, partidos se uniram lançando a Frente Única. Em 22 de

maio, comícios assumiam tom inflamado, gerando ataques a jornaisfavoráveis a Vargas. Na tentativa de depredação da sede do PartidoPopular, os paulistas foram recebidos a tiros, vitimando Mário Martinsde Almeida, Euclides Bueno Miragaia e Antônio Américo de CamargoAndrade. Os jovens entraram para história, pois as iniciais de seussobrenomes batizaram o movimento do levante paulista: o MMDC, queem 9 de julho, sob o comando do general Isidoro Dias Lopes e docoronel Euclides Figueiredo, chefes do Estado Maior Revolucionário,eclodiram a revolução paulista, para depor Vargas, convocar eleições epromulgar nova Constituição.

Mas as tropas paulistas lutaram sozinhas, pois as promessas deajuda não se cumpriram. Contavam com 7 aviões e 44 canhões, contraos 24 aviões e 250 canhões das forças de Vargas. A rendição foi assinadapela Força Pública em 2 de outubro. Entretanto, os livros de históriaindicam que, apesar da derrota militar, os paulistas saíram vitoriososem 1932, pois o país ganhou uma Constituição em 1934. Foi umexemplo ímpar de união e força, que talvez não mais se reproduza entrenós.

*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente do Conselho de Administração doCIEE, presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional e presidente da

Academia Paulista de História (APH).

Comemora-se, este ano, o bicentenário do nascimento dodiplomata oitocentista Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878),considerado, por Capistrano de Abreu, o maior historiador de suaépoca. Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, foi um dos fundadoresda historiografia brasileira enquanto conhecimento documentalmenteconduzido, recebendo, inclusive, a alcunha de “Heródoto brasileiro”.

Filho de um alemão residente no Brasil com uma portuguesa,Varnhagen nasceu em São Paulo, em 1816. Mudou-se para Portugal aosseis anos de idade e, de lá, das distâncias de além-mar, elaborou um dosmais completos elogios da História Brasileira à colonização portuguesa.

Por volta de 1850, foi publicada sua História Geral do Brasil, com apretensão de ser um olhar abrangente sobre o passado brasileiro desde1500, com posições explícitas e devidamente “documentadas”.

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e a AcademiaBrasileira de Letras, duas instituições às quais era associado, prestaram-lhe homenagens em suas sessões, com foco no seu papel na história ena literatura. A Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), como braçoacadêmico do Itamaraty, em parceria com o Instituto Rio Branco e coma Universidade de Brasília, também marcou a efeméride com arealização de seminário sobre “A diplomacia e o pensamento estratégicona concepção de Varnhagen” e sobre sua participação, durante oImpério, no projeto de transferência da capital.

Integrando as homenagens ao historiador Francisco Adolfo deVarnhagen pelo bicentenário de nascimento, o historiador e escritorAdirson Vasconcelos, da Academia Brasiliense de Letras, lançou otrabalho O Bicentenário de Nascimento de Varnhagen – 1816- 2016. Entreas curiosidades na obra, o presidente Juscelino Kubitschek tratou depassado, presente e futuro de Brasília, citando, várias vezes, ospensamentos de Varnhagen, sobre o papel civilizador da futura capitalfederal.

Segundo o embaixador Sérgio Moreira Lima, presidente daFundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), do Ministério das RelaçõesExteriores do Brasil, Varnhagen teve o mérito de pensar o Brasil de umaperspectiva geopolítica e geoestratégica: “Para ele, a ação diplomáticadeveria se orientar nessa direção como instrumento na realização depropósitos que levariam ao ideal de grandeza nacional. Sua formaçãomilitar e as pesquisas que conduziu a respeito das fronteiras e dosespaços brasileiros, ainda em Portugal, permitiram-lhe um juízoamadurecido e um conhecimento detalhado de questões cruciais nadefesa dos interesses da pátria.”

O presidente do IHGB, professor Arno Wehling, respeitadohistoriador e biógrafo do personagem, explica a contribuição dobrasileiro de Sorocaba ao pensamento da diplomacia brasileira: “Éinegável o alcance e a atualidade do pensamento diplomático deVarnhagen. Sua visão estratégica das bacias hidrográficas e dos limitesterritoriais, relacionada à defesa e, precocemente, à integraçãonacional, repercute no próprio conceito orientador da localização dafutura capital do país no divisor de águas, ou seja, na confluência dosgrandes rios que fluem e aproximam a imensidão do espaço brasileiro.

Igual interesse demonstrava notocante aos povos indígenas, àsquestões da navegação do rioAmazonas e das fronteiras compotências europeias ao norte.Suas concepções e diretrizescontribuíram para a consci-ência geopolítica da impor-tância desses espaços, mastambém para a valorização dodireito internacional, namelhor tradição da diplomaciapátria.”

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Em seu primeiro livro do gênero, Folhas Secas como convém, (Ed. Perse,2016), o autor Roberto Boclin reúne 52 poemas e hai-kais, além de 8 trovase uma crônica que, segundo ele, “servem de reflexão tardia da memória”.Com textos escritos há mais de 30 anos, o renomado professor e educadorantecipa o que aguarda o leitor na contracapa do livro: “ParafraseandoFernando Pessoa, não sou poeta, nunca serei poeta. À parte isso, tenhotodos os sonhos do mundo. E, por tanto ou por nada, escrevo os meusversos. Quem vier a lê-los e sentir o que senti ao escrevê-los certamentegostarão.” Entre os hai-kais, citamos, na página 31: “Mora comigo umasaudade de nós na mocidade”; ou o da página 61: “Em ondas de sal, vejo longe o que fui, umbarco vazio.” A crônica que encerra o livro, Sonhos Cariocas, conquistou o 3o lugar no 9o

Concurso Literário do Servidor Público do Estado do Rio de Janeiro, em 2001. Doutor emEducação com mais de 50 anos de experiência no setor, referência na área da educaçãoprofissional, Roberto Boclin possui graduação em Engenharia pela PUC-RIO e doutorado emEducação, pela UFRJ. Participou de cursos de aperfeiçoamento no Instituto Internacional dePlanificação da Educação, em Paris, e de Avaliação Institucional na Harvard School ofEducation. Há muitos anos participa do Conselho Estadual de Educação, tendo exercido apresidência por quatro mandatos. Durante 19 anos, foi diretor Regional do SENAI-RJ. Éprofessor do Mestrado em Avaliação da Fundação Cesgranrio. Membro integrante da direçãoda Associação Brasileira de Educação e da Academia Brasileira de Educação, além depresidente da Academia Internacional de Educação, foi eleito Personalidade Educacional portrês anos – ABE/ABI/Folha Dirigida.

A definição do amor (Ed. Tordesilhas, 2016), do premiado autor e editorportuguês Jorge Reis-Sá, foi lançado no Brasil pelo selo Tordesilhas, com apresença do escritor lusitano e a leitura dramática de trechos da obra pelospoetas Antonio Cícero, Eucanaã Ferraz e Alice Sant’Anna. Na orelha, oacadêmico Antonio Carlos Secchin afirma que os leitores, ao final doromance, acabarão “sentindo na alma um não sei o quê, que vem nãosabemos como, mas dói, e sabemos por quê: dor oriunda do desencantotransfigurado em beleza pelo talento narrativo de Jorge Reis-Sá”. Nacontracapa da obra, os elogios também são muitos. O consagrado AntónioLobo Antunes afirma: “Jorge Reis-Sá consegue, com este livro, tudo aquilo a que se propôs.” A atrize escritora brasileira Bruna Lombardi escreveu: “Toda viagem de Jorge Reis-Sá é uma espécie deresgate de uma memória e de uma emoção que são de todos nós.” A definição do amornarra umahistória triste e invulgar. Ao longo das 256 páginas da narrativa, uma mulher adoece. Morre semmorrer, fica ligada a uma máquina aguardando que o marido diga para que se desligue. Masdescobre-se que está grávida e que a doença aconteceu exatamente por causa da gravidez. Amulher morrerá depois de incubar quem a matou. E o homem escreve o diário do luto. Oprofessor de filosofia Francisco, casado há alguns anos com a bela Susana, descobriu que a esposafoi vítima de um AVC, e recebe sem compreender o diagnóstico de morte cerebral. Ao lado danotícia, chega-lhe a informação da gestação. Nos meses que seguem, Francisco verá a mulheramada transformar-se na passiva incubadora da filha que lhe tirou a existência, uma vez que oAVC foi causado por essa gravidez indesejada, e passará por um processo de transformação capazde levá-lo à aceitação da perda inevitável. A trama principal, narrada em capítulos divididos pormeses, é intermeada por capítulos mais curtos, chamados de Véspera, cujas vozes narrativas, emprimeira pessoa, correspondem ao eco de pessoas que já se foram, todas elas indiretamenteligadas ao protagonista. Jorge Reis-Sá, nascido em Vila Nova de Famalicão, Portugal, em 9 de abrilde 1977, é escritor e editor. Licenciado em Biologia, é, desde 2013, consultor editorial, colaborandocom diversas instituições e editoras. Como escritor, publicou vários livros de poemas e denarrativa, como os romances Todos os Dias (2006) e Terra (2007). Colabora frequentemente coma imprensa, tendo sido cronista das revistas Sábado e LER. Coorganizou, com Rui Lage, aantologia Poemas Portugueses, uma panorâmica de oito séculos de poesia portuguesa.

No livro Felicidade sem fim (Grupo Editorial Scortecci, 2016), o poeta JoséTavares celebra o amor, a figura feminina, a força da vida e mestres dapalavra, tais como Drummond, Bilac, Tolstói e Victor Hugo. A unidadeatinge a maior parte dos poemas da antologia, dividida em quatro partes:Poemas escolhidos, Poemas motivacionais, Poemas de Amor e Haicais. Deacordo com o crítico literário Daniel Santana de Jesus, autor do prefácio, “opoeta faz de maneira segura o seu trabalho. Numa época em que literaturade vanguarda pode ser qualquer amontoado de frases desconexas em umtexto corrido de prosa, Tavares escreve em versos mais tradicionais. Atingea perfeição artística em seu livro ao colocar os motivos da felicidade e doamor em uma relação dinâmica, em movimento. Se a métrica e a rima não são regulares, masum procedimento pós-Semana de Arte moderna (1922), o vocabulário jamais pretende forçar osignificado de dicionário das palavras”. Segundo o historiador, jornalista e escritor Hermes Nery,autor da orelha, “os poemas de José Tavares são uma demonstração ímpar de sua sensibilidadee grandes esperanças de renovar a força poética do nosso país”. José Tavares é membro da UniãoBrasileira de Escritores de Poetas Americanos (Academy of American Poets), Nova York.pesquisador de poesia desde a adolescência e palestrante motivacional, formado naUniversidade Federal do Paraná.

No livro Sete (Ed. 7 Letras, 2015), do poeta José Inácio Vieira deMelo, a escolha desse emblemático número como título foimotivada por uma sucessão de sincronicidades. Este é o sétimolivro do autor. Dividido em sete capítulos, cada parte tem seteestrofes. E dos sete capítulos, três são todos compostos em versosde sete sílabas. Os versos heptassílabos dialogam com asmodulações dos versos longos, em perfeita cadência harmônica.Com ilustrações da artista plástica pernambucana Hallina Beltrão,o livro está permeado pela simbologia mística milenar, revelandouma alquimia verbal com referências que se mesclam às mitologias do sertão e sualendária atmosfera. Sete é um livro místico e mítico, de ritmo galopante. SegundoSalgado Maranhão, que assina a orelha: “Semelhante a um quadro cubista, a poéticade José Inácio Vieira de Melo comporta as deformações do discurso antilinear, e nãose rende a uma lógica redutora. Aqui, as vozes se aconchegam oriundas de múltiplasorigens, cuja meta principal é a sinfonia do encantamento.” Além da apreciação dopoeta e compositor Salgado Maranhão, a obra conta com o posfácio do escritor edramaturgo Ronaldo Correia de Brito, e tem, na contracapa, a crítica de Thiago deMello, poeta amazonense que afirma ser o autor “uma voz que vem atravessar otempo, cantando no caminho da Poesia brasileira”. Alagoano radicado na Bahia, opoeta, jornalista e produtor cultural José Inácio Vieira de Melo (1968) publicou, entreoutros livros, Códigos do silêncio (Salvador: Letras da Bahia, 2000), Decifração deabismos (Salvador: Aboio Livre Edições, 2002), A terceira romaria (Salvador: AboioLivre Edições, 2005) – Prêmio Capital Nacional de Literatura 2005, de Aracaju, Sergipe,A infância do Centauro (São Paulo: Escrituras Editora, 2007), Roseiral (São Paulo:Escrituras Editora, 2010), Pedra Só (São Paulo: Escrituras Editora, 2012) e a antologia50 poemas escolhidos pelo autor (Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2011).

O texto de Rastros da leitura, trilhas da escrita: o leitor em PedroNava e Graciliano Ramos, de Raquel Beatriz Junqueira Guimarães,foi originalmente apresentado como tese (doutorado) orientadapor Reinaldo Martiniano Marques, na Faculdade de Letras daUniversidade Federal de Minas Gerais. Publicado pela Editora RG,em 2012, o livro procura aliar reflexão teórica e exercício crítico.Trata-se de um comparatismo transdisciplinar, em que diversossaberes conversam entre si. A autora percorre, ao longo de 198páginas, várias teorias sobre o leitor e a leitura, abordando asficções teóricas comparativamente, apontando seus limites epossibilidades, articulando modelos teóricos aos textos literários examinados. Noprefácio, o professor Reinaldo Marques convida o leitor a se aventurar, lendo estesRastros da leitura, trilhas da escrita, para saber “como essa diferença entre Pedro Navae Graciliano Ramos se configura nas memórias de leitura desses escritores, avaliar suapertinência para demarcar distintas tradições de leitor e leitura, de escritor e escrita”. Aautora esmiúça as figurações do leitor e da leitura nas cenas selecionadas, elucidando-as por meio de mediações conceituais bem feitas, conseguindo formalizar,criticamente, semelhanças e diferenças entre os autores, demonstrando como Nava eGraciliano abraçam diferentes concepções de arte literária em nossa modernidade.Raquel Guimarães possui graduação em Letras – Faculdades Integradas de Uberaba(1981), mestrado e doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal deMinas Gerais (1999, 2010, respectivamente), na área de Literatura Brasileira.Atualmente, é professora adjunta da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

A obra João Urso e outros contos incríveis de Accioly (Ed. ImprensaOficial Graciliano Ramos, 2015) reúne os melhores contos deBreno Accioly, numa oportunidade admirável de voltar a circular anarrativa do autor alagoano de Santana do Ipanema, nascido em1921 e falecido em 1966. Segundo o acadêmico Lêdo Ivo, autor doposfácio – Uma voz do outro lado – a linhagem intelectual a quepertencia Breno Accioly era das mais altas e nobres: “Mais de umleitor de seus contos e histórias haverá de se lamentar que aaragem da insânia perturbe com tanta frequência o território (ocondado de Green) em que o seu fervor alucinatório se colava aopormenor mais ínfimo da realidade e ao mais humilde testemunho regional. Para se realizarplenamente, faltou-lhe a arte literária que esplende em Lúcio Cardoso e Adonias Filho,narradores lúcidos do que ocorre nas zonas de sombra trilhadas pelos homens.” Nanarrativa dos 12 contos, frequentemente em terceira pessoa, percebe-se que a interioridadedas personagens está voltada para fora, em conflito com o meio circundante ou com asociedade em geral, inclinada à revolta, à solidão, à tristeza ou à resignação melancólica. Asfábulas narradas giram em torno de questões sombrias, doloridas e até perversas, marcadaspor uma linguagem sem abrandamento nas emoções. Nascido no sertão de Alagoas, no dia22 de março de 1921, Breno Accioly graduou-se em Medicina no Rio de Janeiro, em 1946.Estreou na literatura aos 23 anos, com os contos da obra, que conquistou dois prêmios(Afonso Arinos, da ABL, e Graça Aranha, da Fundação Graça Aranha).

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O ano de 2016 será sempre marcado pelas Olimpíadas do Rio de Janeiro, primeiros jogosdeste tipo realizados na América do Sul. Mas você sabe a origem do termo Olimpíadas? AsOlimpíadas foram disputadas primeiramente no ano de 753 a.C., na Grécia. O surgimento dos jogosfoi um modo de homenagear os deuses, entre eles, Zeus. O nome olimpíadas é porque os jogosaconteceram primeiramente na cidade de Olímpia, na Grécia. Ser vitorioso nos Jogos Olímpicosconsagrava o atleta por toda sua vida, transformando-o quase num herói. Também nessa época, osjogos aconteciam de quatro em quatro anos. Os Jogos Olímpicos, como foram concebidos, duraramaté 393 d.C., quando, neste ano, o Imperador Teodósio acabou com a tradição. Depois de mais de ummilênio, as olimpíadas foram retomadas em 1896, sob a chancela do francês Pierre de Coubertin.

Olimpíadas e olimpíada são a mesma coisa? Não necessariamente!Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: 1. olimpíada s.f., cada um dos

intervalos de quatro anos entre dois jogos olímpicos pelo qual o tempo era contado na Grécia antiga.2; m.q. JOGOS OLÍMPICOS. Já olimpíadas s.f.pl. 3. m.q. JOGOS OLÍMPICOS, simplesmente. Porém,segundo o Dicionário Novo Aurélio da Língua Portuguesa, olimpíadas além de referir-se ao plural deolimpíada, variação do latim olympiade, que, por sua vez, é variante do grego olympiás, sendo suadesignação principal o nome dado aos jogos olímpicos, de 1896 para cá. Ou seja, para essedicionarista, o termo olimpíadas refere-se basicamente aos jogos olímpicos modernos.

“Lívia queria saber se havia algum atleta semi-deus nas olimpíadas da antigüidade.”Se houvesse, escrevendo assim, já teria desistido da competição!Veja: Segundo o Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa, não se usa o hífen

quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ous. Exemplos: seminovo, semicírculo, autopeça, microcomputador etc.

Em tempo: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que eladeve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui. Exemplos: aguentar, sequestro, tranquilo,linguiça. O trema só é admitido nas palavras estrangeiras e suas derivações. Exemplo: Müller.

Frase correta: “Lívia queria saber se havia algum semideus nas olimpíadas da antiguidade.”

“Dona Linda não lhe conhecia e, então, não quis falar com ele na fila para entrar na Arena Olímpica.”Ele não perdeu nada. Não valia a pena “lhe conhecer”. É um erro muito comum a troca do

pronome o (e variações) por lhe/lhes. Devemos ter em mente que o o (e variações) é utilizado comoobjeto direto (complemento de verbo transitivo direto) e lhe/lhes como objeto indireto

(complemento de verbo transitivo indireto). O verbo conhecer é transitivo direto. Período correto:“Dona Linda não o conhecia e, então, não quis falar com ele na fila para entrar na Arena Olímpica.”

“Éramos em cinquenta e cinco para entrar no ônibus e conhecer o Parque Olímpico.”Além do grande número de alunos para um ônibus só, esta frase não está bem construída.

Não devemos usar a preposição em entre o verbo ser e o numeral. Frase correta: “Éramos cinquentacinco para entrar no ônibus e conhecer o Parque Olímpico.”

De um grande jornal sobre as falcatruas econômicas e políticas doBrasil atual:

“Os policiais vão tentar armar uma armadilha para pegar osbandidos.” Não é muita armação? Vamos evitar o pleonasmo! “Os policiaisvão tentar uma armadilha para pegar os bandidos.”

Não ficaria bem melhor se fosse redigido assim?

“À medida em que o calor aumenta, acontecem os temporais e a epidemia de zika poderetornar bem na época das Olimpíadas.”

Assim, não há quem possa resistir ao mosquito assassino. A locução “à medida em que” nãoexiste. Observe: à medida que – à proporção que / na medida em que – porque, tendo em vista.

Portanto, devemos tomar todas as precauções contra o mosquito na medida em que elepode, até, causar a morte. Frase correta: “Na medida em que o calor aumenta, acontecem ostemporais e a epidemia de zika pode retornar bem na época das Olimpíadas.”

“A responsável pelos voluntários dos Jogos Olímpicos gostava de tudo bem explicado: tim-tim por tim-tim.”

Garanto que ninguém conseguia entendê-la. Não existe a expressão “tim-tim por tim-tim”. Alocução correta é tintim por tintim (com todas as particularidades, minuciosamente). Frase correta: “Aresponsável pelos voluntários dos Jogos Olímpicos gostava de tudo bem explicado: tintim por tintim.”

“João acorda cedo para treinar.”Ótimo! Hábito bastante saudável. Preste atenção: O verbo acordar, no

sentido de despertar do sono, não é reflexivo. O verbo acordar-se (reflexivo) temoutros significados: acordar-se = recordar-se, lembrar-se. Exemplo: “Pedro nãose acorda de ter visto o amigo na rua.” acordar-se = estar acordado, estarcombinado. Exemplo: ”Patrão e empregado se acordaram sobre o aumento.”

“A atleta vietnamita teve arripios de frio por causa da baixa temperatura que tomou conta doRio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos.”

Quem tem “arripios” deve sentir mais frio, ainda. Cuidado com esta palavra, pois, escritadessa maneira, ela não existe. Período correto: “A atleta vietnamita teve arrepios de frio por causa dabaixa temperatura que tomou conta do Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos.”.

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Arnaldo Niskier: Hoje, temos o privilégio de ouvir o presidente da AcademiaBrasileira de Letras, professor, escritor Domicio Proença Filho. Você esteverecentemente em Portugal, e de lá chegaram ecos de que você fez um discurso muitobonito sobre a língua portuguesa. Como foi essa passagem?

Domicio Proença Filho: Fui a Lisboa a convite do presidente da Academia dasCiências de Lisboa para formalizar a posse como acadêmico Correspondente, como elesgostam de chamar. Só que ele se permitiu me convidar para fechar um colóquio sobre alíngua portuguesa e, surpreendentemente, o número de participantes superou toda equalquer expectativa. Dr. Artur Anselmo, presidente da Classe de Letras da Academia,presidente da Academia de fato, teve que ajustar horários. Levei um texto sobre a LínguaPortuguesa do Brasil hoje.

Arnaldo Niskier: Por que essa ênfase em língua do Brasil? Não é a mesma desempre?

Domicio Proença Filho: A língua portuguesa hoje é por conta do Colóquio. Alíngua portuguesa do Brasil é a mesma língua, mas é uma norma paritária das outrasnormas que incorporam essa língua, quer dizer, é uma maneira peculiar de se usar alíngua portuguesa. É a língua portuguesa como sistema, mas ela tem uma série decaracterísticas que nos permitem falar de português brasileiro, de língua portuguesa doBrasil sem nenhum problema. Não é a mesma norma. Um exemplozinho fácil. O usocomum aqui, primeiro do vocabulário. No âmbito do vocabulário, há uma série depalavras que Portugal usa, que não usamos. Chamar meia de peúga, no Brasil, é meiocomplicado. Mas não são todas as palavras. O volume de palavras diferentes nãointerfere na estrutura da língua de forma nenhuma.

Arnaldo Niskier: Pelo que me consta, não chega a 3% o número dessas palavrasque são próprias de cada um dos idiomas.

Domicio Proença Filho: Exatamente. E o que ocorre também é que a pronúncia,obviamente, a pronúncia ou sotaque, é peculiar não só em relação ao português doBrasil, mas em relação, inclusive, às várias regiões portuguesas. O lisboeta fala diferentedo alentejano.

Arnaldo Niskier: São questões de fonética, como você, professor de português, diz.Domicio Proença Filho: Exatamente, são questões de fonética. Na área da

sintaxe, as diferenças são muito menores; uma delas, que chama atenção, é o rigor comque um português de Portugal, letrado ou não letrado, usa os pronomes pessoaisoblíquos. Jamais um português dirá me dá um cigarro ou me empresta sua caneta. Elevai dizer empreste-me a sua caneta.

Arnaldo Niskier: Quero abrir um pequeno parêntesis para perguntar a vocêsobre o presidente interino Michel Temer. Ele gosta de usar mesóclise, não é? Isso éusual? Ou é próprio dele? Isso é condenável? Como é que você, como professor deportuguês, vê esse uso excessivo até, do presidente, em relação à mesóclise?

Domicio Proença Filho: É uma pergunta interessante. É o estilo dele, é a maneiradele usar a língua portuguesa. Ele prefere essa fórmula, que não é tão amplamenteutilizada na comunidade brasileira. Ela teve o seu momento, mas é bastante portuguesa.Como professor de português e como observador, verifico que a mesóclise foi perdendoespaço no uso comum da fala, inclusive nas notas, quando não se dizia se pagará aotesouro, mas pagar-se-á o valor de tanto mediante esta nota. Na própria cédula, havia amesóclise consagrada. Não é errado de forma nenhuma. Pelo contrário, é um luxo, é ouso ultraformal, eu diria. Entendo assim: a língua permite vários registros, vários usos.O importante é adequar a fala à situação da fala.

Arnaldo Niskier: E ele tem feito isso com muita competência, a verdade é essa.Quero voltar à sua viagem a Lisboa. O que vocês conversaram lá? Alguns portugueses,de vez em quando, escrevem artigos falando mal do Acordo, achando que é umademonstração que o Brasil quer dar de colonialismo cultural. Você não acha isso umcerto exagero?

Domicio Proença Filho: Um acordo ortográfico tem um aspecto dominantemuito mais político do que linguístico. Na verdade, o Acordo é o entendimento entrepaíses para estabelecer um padrão de ortografia que unifique a representação dessamesma língua. Não é muito problemático, porque isso o espanhol faz com muitanaturalidade. Você diz calle, quer dizer, você escreve em espanhol calle para designar ruae, em Madri, você diz calie, na Argentina você diz caje. Se você fizer isso com caballo,você terá cabao, cabaio, cabajo, então uma série de pronúncias que correspondemàquela mesma grafia. Por aí não é o problema. Onde é que se situa o problema comPortugal? O que Portugal reclama, sobretudo do que pude observar? É que esse Acordode 1990 privilegiou o fonético, não abandonou o critério etimológico, ou seja, a origemda palavra refletida na maneira de escrever. Ele privilegiou mais a maneira de dizer apalavra nos vários lugares e, por um acordo, aí sim, entre as partes; por exemplo, se nós,no Brasil, usamos aspecto mais do que aspeto, então nós mantivemos o c. Mas se, emPortugal, você escreve receção, a nossa recepção, consoante muda não se escreve, e aíhouve uma grita muito grande.

Arnaldo Niskier: Esse é o facto.Domicio Proença Filho: Esse é o facto, e em Portugal faz sentido a diferença de

facto com c e sem c, porque o facto com c em Portugal é o “acontecimento” e o fato semc é o “terno”. Então, essas divergências, que não são tão numerosas nem tão relevantes,preocupam muito um certo vezo tradicionalista de preservar o sentido etimológico. Esseé um lado. Quanto ao lado político a que você se referiu, obviamente está presente nas

relações que se estabelecem entre os oito países. A presença maior ou menor,econômica, para citar um caso, diplomática em relação aos vários países que estãointerligados é claro que são consideradas.

Arnaldo Niskier: Queria que você confirmasse ou não, segundo seuentendimento, uma afirmação do professor Evanildo Bechara, nosso comum amigo,de que o Acordo se fez fundamentalmente com os princípios portugueses, que a basedo Acordo é a língua portuguesa falada em Portugal. E eles estão reclamando. Como éisso?

Domicio Proença Filho: Há um grupo de intelectuais, e inclusive alguns estavamlá no Colóquio, que se põem contra o Acordo, sobretudo em função dessa diminuição dapresença etimológica na elaboração das regras. Isso eu senti muito. Eles acham quedeveria ter permanecido o p de recepção, mesmo não sendo pronunciado, porque nãosó remete à origem da palavra como também é indicativo, e não sei até que ponto, dapronúncia do é, abertura ou fechamento do é. Isso é outro problema que acho difícil devocê caracterizar. Mas o importante de tudo isso é que a reação é de um grupo.

Arnaldo Niskier: Um grupo pequeno?Domicio Proença Filho: Não tão pequeno, porque houve uma mobilização da

parte de determinados intelectuais, jornais, e um dos pontos que ficou muito claro nanossa conversa lá é que é muito complicado você estabelecer um Acordo. A grafia deuma língua que é utilizada, de um lado, por um país com mais de 200 milhões defalantes, 204 milhões de falantes, e a outra, que você tem 10 milhões de falantes, oumesmo os 14 milhões, acho que são 14 milhões, se não erro, da população angolana.Uma coisa muito curiosa, é bom até dizer isso para o nosso público, é que a pronúncia,o modo de usar o português brasileiro é muito próximo do modo de usar o português daÁfrica, o português africano, por uma razão... Até isso nos une. Porquê? Porque este por-tuguês que se fala em África e se fala no Brasil é o português do século XVI, é o portuguêsarcaico, porque o português vasto, o português falado em Portugal, o português que éfalado em Portugal sofreu uma modificação muito acentuada a partir do século XVIII.

Arnaldo Niskier: Professor Domicio Proença, a sua presença no Colóquio deLíngua Portuguesa foi muito importante. Tenho um correspondente, amigo pessoal,que é da Academia das Ciências de Lisboa, António Valdemar, e ele me fez referênciasmuito elogiosas a sua fala. As perguntas que faço são as seguintes: Houve conclusõesno Colóquio? Eles colocaram no final algumas coisas como conclusão?

Domicio Proença Filho: No planejamento sim, na execução não foi possível,porque você sabe que qualquer organização de Colóquio, no Brasil ou em Portugal, sedefine que o orador vai dispor de 20 minutos ou 15 minutos, e poucos seguem essecritério. Então, por conta de Chronos, por culpado tempo, não foi possível fazer o queestava previsto, que era uma síntese com debates no final. Mas isso não significa que ascontribuições não tivessem sido muito boas.

Arnaldo Niskier: O que você ganhou, culturalmente falando?Domicio Proença Filho: Muita coisa. Ouvi os representantes de vários lugares.

Não participei da totalidade dos debates, mas dos debates de que participei, umas dezapresentações, me ensinaram muito sobre a situação da língua exatamente nos paísesafricanos e o próprio Portugal.

Arnaldo Niskier: É uma situação favorável, não é?Domicio Proença Filho: Favorável e, ao mesmo tempo, mostrando as diferenças

que precisavam ser consideradas. A Academia das Ciências de Lisboa, tradicionalíssima,está levando muito a sério a sua relação com a língua portuguesa. Está elaborando o seudicionário da Língua Portuguesa. Está em processo de elaboração bastante adiantado.Está elaborando, pasmem, uma das coisas que era um grande problema do Acordo, queé o Vocabulário Comum dos Termos Técnicos e Científicos, está previsto no Acordo, poisa Academia das Ciências está desenvolvendo um projeto centrado num Dicionário deTermos Técnicos e Científicos com cronograma de realização. Possivelmente, ao longodesses dois anos, estará terminado. Tive oportunidade de ter acesso ao trabalho que édesenvolvido nessa área.

Arnaldo Niskier: É nesse trabalho que o professor Malaca Casteleiro estáenvolvido?

Domicio Proença Filho: Malaca está envolvido no Dicionário da Academia sobreo qual falou com muita propriedade. Ele estava lá, inclusive participou, uma grandefigura e, se não me engano, é o responsável, ou um dos responsáveis pelo Dicionário daLíngua Portuguesa.

Arnaldo Niskier: Ele era muito amigo do Antonio Houaiss, me lembro delesjuntos, falando a mesma língua.

Domicio Proença Filho: Não posso deixar de dizer aqui no seu programa daacolhida e da recepção que me foi proporcionada pelo Antonio Valdemar, nosso amigocomum. Foi realmente muito emocionante a maneira com que ele me recebeu, aspalavras que ele disse lá, e todo esse carinho que ele tem pelo Brasil, pelos brasileiros epela Academia Brasileira de Letras.

Arnaldo Niskier: Domicio, um fato para o qual você tem contribuído muitocom seus anos já na diretoria da Academia, que é esse amor que os portugueses têmpela presença de brasileiros na Academia das Ciências de Lisboa. Depois de você, vaio Merval Pereira também tomar posse, e assim sucessivamente, quer dizer, acho quehá um clima muito bom de entendimento.

Domicio Proença Filho: Isso foi uma das minhas preocupações, já na condiçãode presidente, assumindo esse papel que vocês me vestiram de dialogar com ArturAnselmo, no sentido de uma retomada, de uma aproximação que sempre houve entre asduas Academias. Lembrei que o Acordo Ortográfico de 1931, tranquilamente, foiresultado do entendimento das duas Academias e, durante muitos anos, todo equalquer problema de ortografia era objeto de estudo das duas Academias irmanadas.Isso, com o tempo, foi perdendo substância, mas senti, da parte do presidente ArturAnselmo, esse desejo de restabelecer esse clima.

Arnaldo Niskier: Acho que a sua visita lá significou muito nesse sentido.

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A relação de Lima Barreto (1881-1922) com a língua portuguesa odiferenciou e ainda hoje causa polêmica. A literatura de Lima Barreto teve opropósito consciente de fazer a crítica social e de cultura do Brasil. Eleacreditava na função política do que escrevia, o que não o impedia de fazerarte. Sua concepção estética não era panfletária. Não escrevia para educar asmassas, para agradar um partido ou fazer propaganda. Curiosamente, algumascríticas de época são, ainda, repetidas.

A relação ambígua do escritor carioca com sua cidade natal é o pano defundo do livro Lima Barreto e o Rio de Janeiro em fragmentos (Ed. Autêntica),lançado pela crítica literária Beatriz Resende.

Na obra, a autora analisa as crônicas e os diários íntimos do escritor,restituindo ao autor de Triste fim de Policarpo Quaresma (1911) o que lhe é próprio,ou seja, a enraizada força de insurreição contra os cânones, o literário e tantosoutros que ainda produzem exclusões de toda ordem. Lima Barreto implodiuconvenções e, com elas, as representações do Rio de Janeiro. Escritor atento, soubecomo poucos registrar as principais mudanças sociais, políticas e culturais ocorridasno final do século XIX e início do século XX. Incompreendido no passado, hoje LimaBarreto é reconhecido como um dos maiores romancistas brasileiros.

Nos comentários sobre alguns dos lugares preferidos do escritor, dosubúrbio de Todos os Santos à Rua do Ouvidor e à praia do Leblon, BeatrizResende encontrou também a denúncia vigorosa dos preconceitos esegregações da Belle Époque carioca. Em uma crônica sobre o governo CarlosSampaio, que entre 1920 e 1922 promoveu intervenções como a demolição doMorro do Castelo e a construção da Avenida Beira-Mar, Lima Barreto escreveu:“Vê-se bem que a principal preocupação do atual governador do Rio de Janeiroera dividi-lo em duas cidades: uma será a europeia e a outra, indígena.”

Para a autora, Lima Barreto retoma a tradição da crônica em tom coloquial,

fundada por Machado de Assis. Preterido pela elite literária de seu tempo, ele sesente injustiçado, usando as crônicas para expressar seu olhar sobre os excluídosda sociedade brasileira da época, como os negros, as mulheres e os anarquistas.

Esse olhar dos excluídos ganhou um contorno radical quando LimaBarreto foi internado no Hospício Nacional de Alienados, depois de uma crisede alcoolismo. Reagiu por meio da escrita, com a experiência da internaçãoregistrada em Diário do hospício.

A vida de Afonso Henriques de Lima Barreto sugere uma comparação coma de Machado de Assis (1839-1908), até hoje o decano dos prosadores brasileiros,nascido quase duas gerações antes, mas ainda vivo quando o mais jovempublicou o primeiro romance, Isaías Caminha. Como Machado, era mulatoprovindo das classes subalternas da sociedade carioca, entre o operariado e apequena burguesia. Como Machado, ele se tornaria cronista de sua cidade natal,capital do Brasil até 1960. Como o “Bruxo do Cosme Velho”, teve que convivercom a instabilidade psíquica, tematizando reiteradamente o limite tênue entreloucura e razão. Assim como Machado e a maioria dos escritores brasileiros,iniciou a carreira literária na imprensa, escrevendo, sobretudo, crônicas, gênerocambiante entre jornalismo, memorialismo, ensaio e ficção. Como o pai deMachado, o de Lima Barreto era prelista, tornando-se tipógrafo graças à suacompetência e aos favores do ministro do Império Afonso Celso, mais conhecidocomo Visconde de Ouro Preto. É a ele, seu padrinho, que o futuro escritor deveem parte o prenome duplo, que também remete ao primeiro rei de Portugal.

Apesar de provirem de camadas semelhantes, Machado de Assis e LimaBarreto seguiriam caminhos diferentes. Problemas de saúde sempreacompanharam o escritor, principalmente devido a abusos no consumo debebidas alcoólicas. Em 1914, ele já havia sido recolhido em um hospício, fatoque se repetiu dois anos depois. Quando foi diagnosticada sua incapacidade, em1918, foi aposentado do serviço público. No ano seguinte, mais uma passagempelo hospício o mostrava ainda dependente da bebida. Até que, em 1o denovembro de 1922, aos 41 anos, Lima Barreto morreu de colapso cardíaco, semter realizado o sonho de entrar para a Academia Brasileira de Letras.

Beatriz Resende é ensaísta e pesquisadora de vasto espectro de interesses.Professora titular da Faculdade de Letras da UFRJ, é autora de Apontamentos decrítica cultural (Aeroplano, 2000) e Contemporâneos – Expressões da literaturabrasileira no século XXI (Casa da Palavra, 2008). Organizou, dentre outras, ascoletâneas Cocaína, literatura e outros companheiros de viagem (Casa daPalavra, 2006) e Possibilidades da nova escrita literária no Brasil (Revan, 2014).

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Falar de lembranças que nos tocam mais de perto, onde não hátempo presente, nem futuro, só o passado: de cartas, convites, roteirosde viagens, receitas médicas e retratos, entre eles, o da amiga, Mercês:Dra. Maria das Mercês Pontes Cunha, nome vinculado à designar oHospital da Mulher, no prédio minúscula letra indicando o seu nome nofrontispício. Mercês, nascida na cidade de São José da Lage, Estado deAlagoas, de onde, trás ao longo da vida, lembranças que se tornariamperenes: De seus familiares, das brincadeiras da infância, dos primeirosestudos já projetando voos altos. Com o estímulo dos pais, vem estudarno Recife, com residência na Casa Universitária, muito querida por suascolegas, pelo seu exemplo de simplicidade e de lealdade. Nauniversidade, cursando medicina na UFPE, época que conheceu ocolega Rui Pontes Cunha, seu futuro marido. Ambos excelentes nas suasespecialidades com dedicação, espírito humanitário, sem distinção. Aluta de ambos jamais foi pessoal. Dra. Mercês, profissionalmente, teveuma vida voltada para os estudos científicos. Contribuiu com osprogramas nacionais de combate ao câncer-uterino, sendo mencionada

como um símbolo nessa área. De Mercês, fui amiga e cliente, fomos damesma geração. Ela, de 1929. Eu, de 1926. A vida tem muitas coisasboas, uma delas foi unir as nossas famílias, nossos filhos, adolescentescompanheiros de estudos, festas e jogos. Com mais frequência, RenatoCunha, colega do meu filho Sergio Motta, Flávia Cunha, colega deminha filha Teresa, ambas do Colégio Damas, amigas festeiras, fãs decinema, de praia. Para as festas, Teresa calçava os meus sapatos LouisVuitton, salto quinze, saia de fininho pelo oitão de casa. Pelos sapatosarrebentados tirei as conclusões. Mauro Mota, brincalhão, costumavachamar o jovem Renato de “senador”. Ele, com a mesma graça, atendiapela alcunha.

Anos depois, Renato Pontes Cunha, presidente do Sindaçucar emPernambuco, com o patrocínio da instituição, pelos 90 anos do seuamigo, poeta Mauro Mota, lança em edição comemorativa o livro:POESIAS de Mauro Mota, com a apresentação dele, Renato, e Introduçãodo poeta Everardo Norões. O lançamento do livro, conjuntamente comos 60 anos de eficientes trabalhos do Sindaçucar de Pernambuco, emfesta na Fundação Joaquim Nabuco. O auditório, lotado, festivo, da casado afeto de Mauro Mota, enquanto, por 14 anos, dirigiu o InstitutoJoaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Com o mesmo afeto, o poeta, deonde estiver, louva por extensão o jovem “Senador”: por esse seu gestode amizade e gratidão.

* Marly Mota é membro da Academia de Artes e Letras de Pernambucoe colaboradora do JORNAL DE LETRAS.

A segunda versão da Base Nacional Comum Curricular foientregue ao Conselho Nacional de Educação, no dia 3 de maio, pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, para avaliação final do documento, após aetapa de discussão nos estados.

O documento inicial recebeu 12 milhões de sugestões postadas noportal da Base. Contou com mais de 700 reuniões de discussão com aparticipação de 200 mil professores e 45 mil escolas.

As principais alterações foram feitas na educação infantil, noensino médio, em língua portuguesa e história.

A relação entre a pré-escola e a alfabetização ficou melhorexplicitada, assim como entre a creche e a pré-escola.

O ensino médio passou a ser dividido por unidades curriculares, oque permitirá aos gestores estaduais de educação e aos professoresmaior flexibilidade para a construção dos currículos, atendendo aosinteresses dos alunos. Foi incluída, também, uma maior articulaçãocom o ensino técnico-profissionalizante, a partir das quatro áreastemáticas. Além de mais flexível, por não ser uma estrutura seriada esequenciada, a segunda versão permite maior ligação do currículo comatividades e conteúdos que levam à formação profissional,possibilidade que não existia na primeira versão.

Em língua portuguesa, foi reforçada a influência dos clássicoslusitanos, mantido o destaque para os autores brasileiros. O currículo delíngua portuguesa ganhou reforço na gramática e em literatura.

Com referência à história, área curricular que recebeu maior críticana primeira versão, foi dado maior destaque ao caráter ocidental naformação da sociedade brasileira, além das culturas africana e indígena.

Literariamente, eu diria que somos o fruto de três grandessaudades, na caminhada da civilização. A saudade da pátria distantetrazida pelo branco, a saudade da cafua longínqua, carreada pelo negro,e a saudade da taba, mostrada pelo índio. Nessas três saudades, refletia-se o amor à terra, o amor à independência e o amor à liberdade.

A partir da entrega do documento ao CNE, seminários serãorealizados nas 27 unidades federativas até o final de junho. Essa etapaserá conduzida pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação(CONSED).

É importante relembrar que a construção da Base NacionalComum Curricular é uma das metas do Plano Nacional de Educação, oque não justifica a reação de muitos à sua construção como também àinterpretação de que, a partir de sua aprovação, os professores e asescolas perderão a autonomia.

Nada mais equivocado. A Base Nacional Comum Curricular fixaconteúdos mínimos que os estudantes deverão aprender em cada etapada educação básica.

Esses conteúdos preenchem 60% do currículo. Os sistemas deensino estaduais e municipais, as escolas e os professores poderãodefinir, nos 40% restantes, os conteúdos a oferecer. Desse modo, oobjetivo da BNCC é assegurar os direitos de aprendizagem de todos osestudantes, independentemente do local onde vivem.

Ela não induz à uniformidade e, sim, à unicidade. As escolas e osprofessores continuarão a ter autonomia para decidir como vão ensinare qual deverá ser o tempo destinado a cada um dos componentescurriculares. Continuarão a ter autonomia para ensinar outrosconteúdos, de acordo com a cultura e história locais.

Além disso, a BNCC vai incidir sobre os cursos de formação deprofessores que estão a exigir ampla reformulação, e ainda naelaboração dos livros didáticos.

Caberá aos sistemas de ensino, aos gestores e especialistas dasescolas, e sobretudo aos professores, conhecer e aplicar a orientaçãoque a Base Nacional comum Curricular oferece. Se ela for bem utilizadaserá, sem dúvida, um instrumento eficaz para melhorar a qualidade doensino e da aprendizagem.

Em um país como o Brasil, de dimensão continental, a BNCC terápapel importante para diminuir as desigualdades regionais no que serefere ao grau de conhecimento dos estudantes e terá reflexo positivonas avaliações nacionais e internacionais, no ensino superior e noingresso no mercado de trabalho.

Se bem entendida e corretamente aplicada como indutora docurrículo, o Brasil estará mais perto de conseguir a almejada qualidadeda educação básica, etapa obrigatória por lei para milhões de brasileirosdos 7 aos 14 anos.

Terezinha Saraiva é educadora.

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Foi concorrida a cerimônia de premiação do Prêmio Rio deLiteratura, na sede da Fundação Cesgranrio, no Rio Comprido. Aescritora paulistana Beatriz Bracher venceu a categoria Ficção, com oromance Anatomia do paraíso, e o historiador e crítico de literaturaAntonio Arnoni Prado, também de São Paulo, a categoria Ensaio, comDois letrados e o Brasil nação. Cada um deles recebeu R$ 100 mil.

O romance premiado investiga o desejo, a inocência e os conflitosentre homem e mulher a partir da relação amorosa entre um jovem declasse média estudante de literatura que escreve sua dissertação demestrado sobre o clássico poema épico Paraíso perdido (1667), do inglêsJohn Milton, e sua vizinha em um prédio de Copacabana.

Já o ensaio de Arnoni Prado analisa as trajetórias dos críticos ehistoriadores Manuel de Oliveira Lima (1867-1928) e Sérgio Buarque deHolanda (1902-1982) para apresentar suas concepções diametralmenteopostas de história, cultura e nação.

Parceria entre a Fundação Cesgranrio e a Secretaria de Estado deCultura do Rio de Janeiro, o Prêmio Rio de Literatura foi criado emoutubro de 2015. Trinta e cinco editoras do país inscreveram 410 livrosnas duas categorias (ficção e ensaio) de Melhor Obra Publicada, e 197autores disputaram, com textos inéditos, a modalidade Melhor NovoAutor Fluminense. A vencedora desta modalidade, Izabela Guerra Leal,com o livro A intrusa, recebeu 10 mil reais e uma edição de milexemplares de seu texto. O júri, integrado, entre outros, por AntonioCarlos Secchin e Heloisa Buarque de Hollanda, se surpreendeu com aqualidade das obras inéditas. Por isso, decidiu conceder uma mençãohonrosa nessa categoria, para Clara Ferrer, por Amores monstruosos, queganhou 500 exemplares de sua obra.

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O presidente da Cesgranrio, professor Carlos Alberto Serpa, conduziu a solenidade de premiação,ao lado do ministro da Cultura Marcelo Calero, da secretária de Cultura do Estado do RJ, Eva DorisRosental, dos acadêmicos Arnaldo Nisker e Domício Proença Filho, presidente da ABL, e do reitorda UNIRIO, Luiz Pedro San Gil Jutuca.

O salão do novo espaço da Fundação Cesgranrio, no campus do Rio Comprido, na concorridacerimônia de premiação.

O historiador e crítico literário Antonio Arnoni Prado, autor doensaio premiado.

Os vencedores do Prêmio Rio de Literatura, AntonioArnoni Prado (categoria Ensaio) e Beatriz Bracher(categoria Romance), ladeados por Clara Ferrer(menção honrosa) e Izabela Guerra Leal (MelhorAutor Fluminense).

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Uma das fundadoras da Editora 34, criada em 1992, Beatriz Brachernasceu em São Paulo, em 1961. Formada em Letras, foi uma das editoras darevista de literatura e filosofia 34 Letras, entre 1988 e 1991. Trabalhou naEditora 34 de 1992 a 2000. Em 2002, publicou, pela editora 7 Letras, Azul edura, seu primeiro romance (reeditado pela Editora 34, em 2010), seguido deNão falei (2004), Antônio (2007), os livros de contos Meu amor (2009) eGarimpo (2013), além do romance Anatomia do Paraíso (2015), todos pelaEditora 34. Escreveu, com Sérgio Bianchi, o argumento do filmeCronicamente inviável (2000) e o roteiro do longa-metragem Os inquilinos(2009), prêmio de melhor roteiro no Festival do Rio 2009. Com Karim Aïnouz,escreveu o roteiro de seu filme O abismo prateado (2011). O romanceAntônio obteve, em 2008, o Prêmio Jabuti (3o lugar), o Prêmio PortugalTelecom (2o lugar) e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. Meuamor recebeu o Prêmio Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional,como melhor livro de contos de 2009. Garimpo venceu o Prêmio APCA nacategoria Contos/Crônicas, em 2013 e recebeu menção honrosa no PrêmioCasa de las Américas, de Cuba, em 2015. Antônio foi publicado no Uruguai(Montevidéu, Yaugurú) e na Alemanha (Berlim, Assoziation A), em 2013, e amesma editora alemã publicou Não falei, em 2015 (Die Verdächtigung).

“Comecei a escrever Anatomia do paraíso em 2009; cinco anos depois,em junho de 2014, enviei o romance para a Editora 34 e para amigos.

A história já estava lá:Félix estuda o poema Paraíso perdido, de Milton, sobre o qual

escreve sua tese de mestrado. O poema é descrito e interpretado juntocom as percepções de Félix sobre o que lhe acontece: o sexo com algumasmulheres e um homem, a fome, o sol, o sono, a praia, os ruídos do bairrode Copacabana, seus rochedos e as lembranças da adolescência.

Vanda, a outra protagonista, leva Maria Joana, sua irmã de 12 ou13 anos, para escola, pega o ônibus, chega ao IML, disseca cadáveres,pega outro ônibus, chega à academia, dá aulas até o por do sol, compraalguma coisa no supermercado, prepara o jantar que come com a irmã,conversam, dorme e sonha.

Félix e Vanda têm 22 anos e moram em pequenos apartamentosde um mesmo prédio na rua Francisco Sá.

A história começa com Vanda grávida de mais ou menos 3 mesese termina com ela se despedindo da filhinha recém-nascida e da irmã,para ir prestar o vestibular.

O poema Paraíso perdido é apresentado capítulo a capítulo. No finaldo livro, Félix consegue terminar a primeira versão de sua monografia.

A terceira personagem, Maria Joana, começa o livro criança etermina adolescente. Apaixona-se por Félix e pela literatura; cresce,ganha corpo e contorno. Depois da desilusão amorosa, vem a solidão e,com ela, uma autonomia cheia de potência criadora.

A ação se desenvolve em 2009, envolta por Copacabana.

Então, em uma noite, surge um casal de irmãos na rua. O meninonegocia a irmã com dois homens que a estupram. Félix assiste à cena.

A história estava lá. Mas, como fui descobrindo, na conversa comos amigos que liam o livro, ainda frouxa, sem a tensão que deveria ter.

Desde o início, sabia estar lidando com dois perigos: apomposidade e o proselitismo.

Depois de cinco anos de trabalho, várias vezes interrompido, láestavam eles: a pompa e o proselitismo transformando Vanda emheroína feminista: o poema em uma pregação, as vivência de Félix emilustrações dos “ensinamentos” de Milton e estes “ensinamentos” emmeros desencadeadores das indagações existenciais do estudante.

Cada capítulo de Vanda funcionava como um pequeno conto,sempre com alguma ação, em geral violenta, motivada por sua

intransigência com qualquer tipo de opressão, principalmente aquelascontra mulheres e crianças.

A repetição das ações de Vanda, sem quase nenhum pensamentointerior, deveria citar uma mulher dura e correta. Isto foi sendoconstruído aos poucos, se estabeleceu e estava certo.

Cada capítulo de Félix dependia do anterior e pedia o seguinte. Alinguagem do poema de Milton transbordava para a linguagem com queFélix percebia o mundo.

Os arabescos atormentados do entendimento do estudante sobreo Paraíso perdido deveriam, paradoxalmente, transformá-lo em um serquase autista, insensível ao sofrimento de seus conterrâneos. O queaconteceu e estava certo.

A partir do capítulo em que a criança é estuprada, aos poucos, oestilo da narrativa de Vanda e Félix se inverte. Começamos a ouvir ospensamentos de Vanda e a vida alcança Félix de dentro para fora; ele,então, vive seu próprio tormento sem a humanidade por companheira.

Tudo em ordem.

Mas a verdade é que eu não tinha ideia de que haveria o estupro deuma criança no livro. Depois de escrita a cena, sua força foi crescendo eo resto do romance, do começo ao fim, ficou torto, mostrou-se semverdade. A narrativa de Félix, pomposa, e a de Vanda, militante.

Escrever o abuso da menina de rua foi das coisas mais intensa quejá vivi. Fui todos os personagens: a menina, o menino, os dois homens eFélix. Senti fome, medo, humilhação, ganância, excitação com osofrimento alheio, prazer na crueldade, gozo, culpa e o sufocamento. Évergonhoso reconhecer isso, são sentimentos escabrosos. Compreendersua existência já é uma violência, reconhecê-los verdadeiramente emmim mesma foi terrível. É vergonhoso dizer isso aqui, mas estamosfalando de ficção e de sua especificidade e acredito que faz parte de seruma escritora de ficção viver inclusive o horror.

Depois de passar por este interno, e pensar sobre ele, ficou evidenteminha covardia nos outros capítulos do livro; a história fraquejava.

As sugestões e críticas dos amigos me ajudaram a enxergar asarmadilhas que criara. No ano que se seguiu, reescrevi o livro inteiro.

Voltei atrás. Mesmo que eu não tivesse me dado conta, já haviaconstruído a possibilidade do gozo de Félix com o abuso da criançadesde o início, mas ela estava encoberta pela literatura.

A violência de Vanda com Félix, no Parque Garota de Ipanema,diferente do que eu escrevera, tinha que ser irreversível. Não pelaagressividade de Vanda, mas por uma espécie de autismo que ela,diferente de Félix, voluntariamente cultivada para que fosse possívelamar apenas quem, de seu ponto de vista, merecia ser amado.

A coragem que tivera com a menina de rua me faltara noconfronto com Milton e com o meu tempo, no caso personificado pelomovimento feminista contemporâneo.

Como confrontar-me com a Literatura (com letra maiúscula) ecom o espírito da época sem culpa nem punição?

“Como dizer teu nome sem culpa?”, “Como expor-te sem falta?”,pergunta Milton a Deus.

Faltou-me a impertinência com a qual o poeta inglês se arma parafalar com e de Deus.

“Revejo-te agora com asa maia audaciosa.”Quando entendi meu medo, consegui me aproximar do texto

propriamente dito, de seus personagens, e me dedicar a eles sem pudor.

A militância feminista, como qualquer militância, tem a urgênciade objetivos precisos. Para alcançá-los, as palavras devem ser duras, aambiguidade abolida, a diferença entre o nós e os outros definida comclareza. Omite-se e exagera-se, há o tempo para se falar isso e nãoaquilo. O compromisso não é com a busca da verdade, mas com a buscade justiça. Por isso a profundidade e a dúvida precisam ser evitadas, ouusadas apenas como instrumentos de retórica.

A ficção é outra coisa. Nos perdemos, o rumo é incerto, palavraserradas, o fundo nunca é suficientemente fundo para esconder o gozocom a dor alheia, inclusive de crianças. A exposição luminosa do lodonão é retórica, não prova nada, o sexo do homem e da mulher, da

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adolescente e da menina é confuso, autoritário, medroso, inocente, sempaciência, exuberante. No final de o Paraíso perdido, poemareafirmador da origem mítica de nosso machismo, mulher e homemdão-se as mãos e, com passos incertos e solitários, seguem juntos porum novo caminho.

O respeito por nossas lutas necessárias tornava medíocre a minhahistória.

Milton e seu Paraíso perdido, por que fui escolher esta enormidade?Não sabia direito e até hoje não sei. Mas, conforme escrevia, entendi que,além de querer falar da relação com a literatura, da intensidade que cadaleitura pode nos fazer viver e do prazer de enfrentar o hermético, torná-loseu, existia também o desejo de falar sobre o que o poema fala: deus, paie filho, mulher e homem, sexo, machismo, maldade, beleza e morte.

E acredito que foi por isso que convoquei a voz poderosa e antiga deMilton, acima de todos nós, uma voz que nos acompanha há muito temposem perder força e atualidade, influenciando nossas obras e o mundo emque vivemos. Criei um estudante para se debater com essa imensidão: aliteratura, Milton e seus temas, a diferença das épocas, culturas e idiomas.

Félix precisava tentar fazer uma análise literária de o Paraísoperdido e precisava fracassar. Os temas e as imagens criados por Miltono arrebatavam, sua ânsia por desvendar os mistérios da existência erammaiores do que seu preparo e mesmo interesse acadêmico.

Me dei conta, porém, de que ao não enfrentar o poeta, não haviafracasso, mas desistência antecipada. O que deveria ser luta,transformava-se em medo e preguiça, e Félix, em um personagemsimplificado e mais raso do que eu gostaria que fosse.

Era eu, antes de Félix, quem tinha medo do ridículo. Que armas eutinha para enfrentar Milton? Eu, a escritora?

Entendi que era exatamente esta a minha arma, não ter nenhuma.Não lera quase nada sobre Milton ou o Paraíso perdido, não estudaraquem o estudou. Eu me preparara para, como Félix, estarpermanentemente assombrada e perdida frente à obra inglesa do séculoXVII. Quando comecei a encarar o poema como se eu mesma tivesse amissão de interpretá-lo para escrever um texto acadêmico, quando nãoconseguia seguir em frente porque o pai e a morte eram maiores do queo próprio poema, sinto que acertei mais o caminho, os adjetivospomposos que cercavam a linguagem de Félix, e que tanto irritaram

Cide, meu editor, deixaram de ser pomposidade, para serem confusão(assim espero). A revisão de Cide em relação a este ponto me ajudoumuito a repensar a linguagem exaltada e a mistura entre o narrador, opoeta e o personagem. Entendi melhor o que ajudava a criar o arcaísmonecessário para o mundo enevoado de Félix, o que era apenas literatice.

Neste momento, estava acompanhando a despedida de minha mãeda vida. Junto com meu pai e meus quatro irmãos, relativamente isoladosem uma fazenda, ficamos ao lado dela, um, dois, três meses, cada um namedida de sua possibilidade, diariamente. Conversando com ela, quandodava, outras vezes só ficando ao seu lado, às vezes agradando sua mão,outras lendo em silêncio mensagens no celular ou um livro.

Na mesma época, minha neta Lina, então com dois anos e meio, mudava-se com os pais de São Paulo para o Rio. A partida de Lina misturou-se dentro demim com a despedida de minha mãe e vivi um período de introspecção muitoforte. Neste ambiente, retrabalhava a parte final de Anatomia do paraíso e,literalmente, estava sem palavras para dar conta do trabalho.

Não conseguia continuar a revisão após o ponto do abuso dacriança de rua. A partir daí os textos de outros autores, que havia inseridona trama misturados com o meu, e que estavam funcionando bem atéeste capítulo, deste ponto em diante me pareceram estrangeiros. Retirei-os todos. Cortei, apaguei, joguei fora capítulos inteiros, reescrevi, estavamais compenetrada e sentia a história melhorar, mas não achava luzpara enfrentar a parte final. Reli Ulisses e a A Odisseia. Reli-os pensandono Anatomia e foi impressionante como isso me aproximou dos livros, aleitura e meu prazer com ela fluíam. Mergulhar naqueles mundos,entender a importância do mar nas duas obras, e da morte, das relaçõesfamiliares e dos deuses, Athena e Shakespeare, as misturas de narradorese mudanças do estilo narrativo, ver semelhanças e dissemelhanças, tudoisso surgia de forma evidente e intensa. Com as palavras dos dois autoresentremeadas com as minhas e um contato diário com o que de fatoimporta na vida, eu consegui terminar o livro.

Anatomia do paraíso é dedicado aos meus filhos Matias, Daniel eJúlia. Porque eu os amo, porque ser mãe deles me define, e por causadas muitas conversas que tenho tido com cada um deles sobre assuntosnossos, e muitas vezes sobre assuntos como a morte, a mulher, ohomem, deus, o machismo e a política. O envolvimento e a seriedadedos três têm me ajudado a manter-me neste mundo de forma, sempreque possível, sincera e inteligente.

O Prêmio Rio de Literatura eu gostaria de dedicar à memória deminha mãe e a minha neta Lina.”

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Nasceu Antônio AustregésiloRodrigues Lima no Recife, PE,em 21 de abril de 1876, e faleceuno Rio de Janeiro, RJ, em 23 dedezembro de 1960. Foi médico,professor e ensaísta. Participou,precocemente, do movimentoliterário e artístico da Escola de

Recife. Aos 16 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro paracursar a Faculdade de Medicina. Teve, entre seusmestres, Francisco de Castro, que exerceu grandeinfluência sobre ele. Formou-se em 1899, defendendo atese Estudo clínico do delírio. Foi o início da sua copiosabibliografia sobre doenças mentais. Além de numerosasobras de Medicina e Psicologia, escreveu ensaios queevidenciam as qualidades do escritor, como: Pequenosmales (1917), O mal da vida (1920), Preceitos e conceitos(1921), Educação da alma (1921), Pessimismo risonho(1922), Livro dos sentimentos (1923), Meditações (1923),Perfil da mulher brasileira (1924), As forças curativas doespírito (1926), O meu e o teu, forças psicológicas (1932),Caracteres humanos (1933), Lições da vida (1934);Disciplina espiritual (1934), Ascensão espiritual (1934),Pensar, sentir e atuar (1935) e Estátuas harmoniosas(1940), Afeto e inteligência (1943), Moral biológica (1945)e Da biótica humana (1953). Como livros técnicos emMedicina escreveu: Estudo clínico do delírio (1899),Novas aquisições no domínio da neurologia (1934),L’Analyse mentale dans les psychoneuroses (1936),Patologia mental (1948) e Psicologia e psicoterapia(1951).

Nasceu Aurélio Buarque deHolanda Ferreira em Passo deCamaragibe, AL, em 3 de maio de1910, e faleceu no Rio de Janeiro,RJ, em 28 de fevereiro de 1989. Foiensaísta, filólogo e lexicógrafo.

Quarto ocupante da cadeira 30, da Academia Brasileira deLetras, eleito em 4 de maio de 1961, na sucessão de AntônioAustregésilo e recebido pelo acadêmico Rodrigo OctavioFilho em 18 de dezembro de 1961. Colaborou na imprensacarioca, com contos e artigos. Foi secretário da Revista doBrasil (1939-1947), quando era seu diretor Otávio Tarquíniode Sousa, de 1939 a 1943. Nessa época, evidenciava-se oescritor, nos contos de Dois mundos, livro publicado em1942 e premiado em 1944 pela Academia Brasileira de Letras,e no ensaio Linguagem e estilo de Eça de Queirós, publicadoem 1945. Em 1941, começou Aurélio Buarque a atividadeque o iria absorver a vida inteira e que, de certa forma, iriasuplantar o Aurélio escritor: o Aurélio dicionarista. Foiquando o convidaram a executar, pela primeira vez, umtrabalho lexicográfico, como colaborador do Pequenodicionário da língua portuguesa. Iniciou no SuplementoLiterário do Diário de Notícias a seção “O Conto da Semana”.Manteve na revista Seleções do Reader’s Digest, a seção“Enriqueça o seu vocabulário”, que, em 1958, ele irá reunir epublicar no volume de igual título. A preocupação pelalíngua portuguesa, a paixão pelas palavras levou-o à imensatarefa de elaborar o próprio dicionário, e esse trabalholexicográfico ocupou-o durante muitos anos.

Nasceu João Batista Ribeiro deAndrade Fernandes em Laran-jeiras, SE, em 24 de junho de1860, e faleceu no Rio de Janeiro,RJ, em 13 de abril de 1934. Foijornalista, crítico, filólogo, his-toriador, pintor, tradutor. Segun-do ocupante da cadeira 31, da

Academia Brasileira de Letras, foi eleito em 8 de agosto de1898, na sucessão de Luís Guimarães Júnior, e recebido peloacadêmico José Veríssimo em 30 de novembro de 1898.Professor de curso secundário, escreveu numerosas obrasdidáticas, gramáticas, antologias e compêndios, das quaisse destacam a Seleta clássica (1905) e sua História do Brasil(1900), modelo de concisão, uma das mais lúcidasinterpretações do complexo nacional, sobretudo noperíodo colonial, assinalando a contribuição do índio e donegro na formação brasileira, até então menosprezada.Como filólogo, destacam-se ainda: Dicionário gramatical,Estudos filológicos, Frases feitas e Curiosidades verbais.Merece menção muito especial o estudo A língua nacional,marcando as diferenciações entre o português do Brasil e oportuguês de Portugal. Outro aspecto de sua obra é a feiçãohumanística. Desses ensaios, os mais importantes sãoPáginas de estética, O Fabordão, Notas de um estudante,Colmeia e Cartas devolvidas. Deve-se ainda a João Ribeirovaliosa contribuição para o estudo do folclore, nasconferências que reuniu sob o título O folclore, estudos deliteratura popular. Poeta sem nenhum realce especial,deixou, contudo, uma coletânea admirável de contos,Floresta de exemplos, de 1931.

O J o r na l d e Le t r a s ap r e s en t a ma i s t r ê s au t o r e s c u j a s ob r a s não pode m f a l t a r numa B i b l i o t e ca Bá s i c a B r a s i l e i r a .

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Sou ouvinte do radialistaAdelzon Alves desde que retornei aoRio de Janeiro, em 1977. Sempre fuiviciado em rádio, especialmente nasmadrugadas. Aos 15 anos, descobri oprogramado do Adelzon Alves, aindana Rádio Globo, e, no final dos anos1980, cheguei a entrevistá-lo paraum jornal alternativo dedicado aomovimento negro, quando fomosrecebidos com alegria esimpatia pelo comunicador,jornalista e produtor musical.

Desde sua saída daGlobo, Adelzon está atuandona Rádio Nacional, sempremantendo a mesma digni-dade cultural em todos essesanos. O radialista nãoadmite jabá e, como semprefez, só toca música brasileirade raiz.

Adelzon descobriu muitagente boa da nossa música, deClara Nunes a Djavan; deAlberto Gino a Zeca Pago-dinho. Muita gente que só teveuma primeira oportunidade graçasao olhar apurado do mais antigo juradodo Estandarte de Ouro, dojornal O Globo. Aos 76 anos,nascido em Cornélio Pro-cópio, Paraná, Adelzon pode ficar de fora da Rádio Nacional em breve.Acontece que surgiu a notícia que a direção da EBC, Empresa Brasileirade Comunicação, planeja extinguir o programa Adelzon Alves, o amigoda madrugada, o que seria um crime contra o patrimônio culturalcarioca e à história da radiodifusão nacional!

Nas redes sociais, os fãs se movimentaram e criaram postagenspela permanência do radialista nas madrugadas da Rádio Nacional. Acampanha solicita que todos os ouvintes enviem mensagens ao e-mailda EBC exigindo a continuidade da programação. Se o leitor do JORNAL

DE LETRAS quiser se manifestar, o endereço eletrônico da EBC é:[email protected].

A caricatura que ilustra a nota sobre o “Amigo da Madrugada” é deautoria do desenhista Lery, artista que passou pelas páginas do jornal OGlobo, mas que teve atuação marcante mesmo durante os anos 1970 nojornal O Dia, ainda nos bons tempos da Rua do Riachuelo. Ascaricaturas de Lery circulavam especialmente na coluna do jornalistaJorge Mascarenhas, quando o artista desenhava caricaturas dos famososda televisão.

E as coisas não andam bem para nossos desenhistas. O jornal ODia continua demitindo seus profissionais de diversas áreas, depois dedispensar os serviços dos artistas André Hippertt e Fani Loss, o jornalcarioca demitiu também o caricaturista Nei Lima, deixando as páginasdo tradicional veículo menos divertidas. Quem perde é, além domercado editorial, o leitor. Lamentável que um veículo tão importantenão tenha atualmente nenhum desenhista entre seus profissionais!

Com uma estupenda homenagem ao cantor Cauby Peixoto,falecido em maio passado, o

caricaturista Henrique de AvelarTavares, jovem artista de Volta

Redonda, foi o grandevencedor do 28º Salão deHumor de Volta Redonda. Aconvincente caricatura mos-tra um Cauby à altura doartista. Genial!

Na edição passada, publicamos uma página sobre a exposiçãoElas por Elas, as atletas brasileiras por nossas artistas, evento que foiinaugurado na Sala de Cultura Leila Diniz, de Niterói. Equivocadamente,erramos as datas de abertura e encerramento. O evento foi inauguradono dia 13 de julho, e estará à disposição do público até o próximo dia 11de agosto. Aproveitamos para mostrar um registro da artista Fani Lossao lado da caricatura da atleta paralímpica Ádria Santos.

[email protected]

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A cidade de Lisboa vai ter um Museu Judaico, com estrutura e planeamentoconcebidos pela arquiteta Graça Bachmann. O papel desempenhado pelascomunidades judaicas, em Portugal, no desenvolvimento da vida politica, social ecultural foi assinalável, ainda antes da fundação da própria nacionalidade.

Todo este passado notável encontra-se pormenorizado em obras de investigaçãohistórica de ampla divulgação, como, por exemplo, o Dicionário do Judaísmo Português(editorial Presença), coordenado por Lúcia Liba Mucznik, José Alberto Tavim, EstherMucznik e Elvira de Azevedo Mea. E também o Dicionário de Sefarditas Portugueses(Mercadores e Gente de Trato – editorial Campo da Comunicação), coordenado porAntónio Marques de Almeida, catedrático da Universidade de Lisboa.

Ambos os dicionários, fruto de muitos anos de pesquisa arquivística, a cargo deespecialistas de reconhecido mérito, evidenciam as teias entre famílias e indivíduos e,entre estes, as comunidades, muitas delas na diáspora. Colocam-nos perante ummanancial de saberes, de ofícios, de práticas, de cultos e de rituais muitas vezesgeracionais. Incluem informação inédita e pouco conhecida, procurando a suavalidação científica na novidade que contém e no rigor metodológico do seu tratamento.

Muitos destes aspetos fundamentais que retratam vários séculos de históriasocial e cultural ficarão em destaque no Museu Judaico de Lisboa, a implantar no bairrode Alfama, cujas ruas e largos percorremos com os queridos amigos Arnaldo e RuthNiskier e na companhia de outro querido amigo, Samuel Levy, durante muitos anos,presidente da Comunidade Israelita Portuguesa.

O novo Museu – de acordo com elementos disponibilizados pelo pelouro dacultura da Camara Municipal de Lisboa – será financiado pela Associação de Turismo deLisboa (ATL). Está previsto inaugurar já no próximo ano de 2017.

Fortemente empenhada na diversificação e promoção turística sustentada de

Lisboa, a Associação de Turismo de Lisboa tenciona promover e apoiar múltiplasiniciativas no quadro das suas competências. Também será a entidade gestora do MuseuJudaico de Lisboa.

A minuta de protocolo adianta que caberá à ATL realizar e custear o projeto demusealização e as outras realizações relativas ao funcionamento e expansão. Assim vaisuportar o investimento para a instalação do museu recorrendo, se necessário, ainstrumentos financeiros, nacionais e internacionais. O estudo preliminar deinvestimento especifica ainda que ascenderá aos 2,9 milhões de euros (em projetos,obras, equipamentos, exposição e promoção), valor inferior comparado aos 300 mileuros previstos para criação do espaço.

A notícia da criação deste Museu Judaico em Lisboa quase coincidiu com oPrograma Stopover, iniciativa da TAP, para mobilizar largos milhares de turistas aPortugal. Segundo declarou o presidente executivo da TAP, o engenheiro Fernando Pinto,já foi lançado o incentivo a passageiros de longo curso, em trânsito por Lisboa e Porto,para descobrirem Portugal, podendo ficar, até três dias, numa destas cidades. Com aexpansão da TAP para os Estados Unidos, o Programa Stopover, pretende colocarPortugal, em três anos, no top 10 dos destinos americanos. O Programa Stopover atravésde uma rede de 150 parceiros, proporciona preços exclusivos em hotéis, facilidades emrestaurantes, degustações, ofertas de garrafas de vinho, passeios de tuk-tuk, visitas amuseus, passeios nos rios Douro, Tejo e Sado, entre outras propostas atraentes.

Aguarda-se, portanto, um mercado norte-americano, com nove rotas diretas. ATAP introduziu rotas diretas a partir de Nova Iorque e de Boston, e espera trazer, no prazode três anos, mais de um milhão de clientes norte-americanos, contando, ainda, alargaras redes da Jetblue (EstadosUnidos) e da Azul(Brasil)

O engenheiro Fernando Pinto esclareceu, também, que será possivel trazer mais150 mil turistas a Portugal em 2017 e mais 300 mil em 2018. Tudo se conjuga para apromoção de Portugal, que ficará, assim, colocado no top de destinos europeus nomercado americano.

O futuro museu de Lisboa – juntamente com Tomar, Ponta Delgada, Belmonte,Porto, Guarda, Castelo de Vide, Bragança e outras referências obrigatórias – ficará comomais um testemunho judaico no território português, quer no espaço continental, querno arquipélago dos Açores, em especial nas ilhas de São Miguel, Terceira e Faial. Mereceponderar – como hipótese possível as bases de outro futuro museu, na ilha da Madeira,integrada às rotas do Atlântico, desde o século XV e com presença judaica muitosignificativa. Um pequeno cemitério (ainda estará ao abandono?) revive essa memória.

* António Valdemar é jornalista, membro da Academia das Ciências de Lisboa e daAcademia Brasileira de Letras

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Reinações de Narizinho e O saci –Monteiro Lobato, ilustrações de

Guazzelli (Globinho) – Reediçãodas obras de Lobato com ostextos integrais e novasilustrações. Em Reinações deNarizinho, com apresentação deRuth Rocha, encontramos as

primeiras aventuras no Sítio doPicapau Amarelo reunidas em onze

histórias. Além de contar com aturminha do Sítio, Lobato os une aospersonagens dos clássicos infantis, comoCinderela, Branca de Neve e o Gato Félix.

Em O saci, com apresentação de Ziraldo,que o compara ao seu Pererê, das histórias

em quadrinhos, Lobato apresenta a riqueza dofolclore nacional. Lembra antigas histórias dearrepiar, contadas à volta da fogueira. E quemficou com medo?

Recebi da querida amiga Maria NeilaGeaquinto Recados de tempo – estudos sobre ascrônicas de Rubem Braga – obra comemorativados 60 anos da Universidade Federal do EspíritoSanto. Incansável pesquisadora dos textos do

autor capixaba, Neilateve o livro dedicado a ela (como aconteceu comO menino e o tuim, editado pela Record). Comorganização de Orlando Lopes, Paulo RobertoSodré e Wilberth Salgueiro, doze estudiosos sedebruçam sobre a obra de Braga, analisando osdiferentes temas de suas crônicas, as influências,o amor, a ironia. Uma joia.

O mundo editorial ficou mais triste e perdi umamigo querido, Sérgio Machado, diretorpresidente do Grupo Editorial Record.Colega de escola, sorriso contido, tímido, aluno

brilhante, convivemos no tempo da escola pública de qualidade, na HenriqueDodsworth, no Jardim de Alá, em Ipanema.

Fomos nos encontrar mais adiante da vida, unidos pela afinidade deamor aos livros, quando me convidou para integrar a equipe da Record.Durante 13 anos acompanhei o crescimento da empresa com a chegada denovas editoras e selos e a se firmar cada vez mais como a maior do mercadocom capital integralmente nacional.

Guerreiro que brigou arduamente pela vida, infelizmente derrotado,Sérgio faleceu no dia 19 de julho, aos 68 anos, em decorrência de complicaçõesapós uma cirurgia.

As filhas já integram a equipe Record. Roberta Machado é diretoracomercial do Grupo e Rafaella Machado é editora do selo jovem Galera.

Sônia Machado Jardim, irmã, sócia e companheira de ideais, assume oGrupo e, com certeza, vai continuar, com a mesma garra, o trabalho de Sérgio.

Além do convívio com autores, ilustradores e outros profissionais dolivro, o 18º Salão FNLIJ proporcionou o contato com lançamentos, encontroscom editoras, descobertas de novos e queridos títulos. É indiscutível o prazer defolhear e sentir o cheiro de um livro novo.

Já falei, em números anteriores, de Inês, obra premiada de Roger Mellocom ilustrações de Mariana Massarani (Companhia das Letrinhas), de Enfim,atleta!, de Anna Cláudia Ramos, com ilustrações de Rogério Coelho (Paulinas)e de Conversê, do Luiz Raul Machado, ilustrado pela Marilda Castanha, comlançamentos programados no Salão. Completo agora com outros lançamentos,dentre os muitos que a programação nos proporcionou, e mais algunsselecionados.

Kalinda, a princesa que perdeu os cabelos e outrashistórias africanas – Celso Sisto, texto eilustrações (Escarlate) – Com as cores vibrantes daÁfrica, o autor nos proporciona históriasinteressantes, com valores e situações instigantes,que permitem conhecer um pouco mais sobre osdiferentes povos e culturas que as transmitiamoralmente, através dos tempos. Destaque para apesquisa do autor para o enriquecimento dashistórias.

Sertão –Fábio Mon-teiro, comilustrações

impactantes de Maurício Negro(Paulinas) – O Nordeste brasileiro éretratado através de todas asdificuldades. O sol escaldante, aescassez de água, a pequena roça. O queanima o menino é a amizade com opássaro azul que vai e vem, trazendoesperança de chuva e grande saudadecom a ausência. Menino e pássaro numasó figura, num só amor.

Tombolo do lombo – André Neves,texto e ilustrações (Paulinas) – O folcloreé revisitado pelo autor em umabrincadeira que usa o livro como umdivertimento que pode ser lido de lado,de cabeça para baixo, enquanto ahistória acontece. Mistura deTangolomango com Bumba meu boi, ahistória proporciona boas risadas! Quemserá o próximo a cair? Quem vai sobrar?

Mestre em educação, pedagoga, especialista em Literatura Infantil — e-mail: [email protected]

Sérgio Machado, presidente do Grupo Record.

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Foram duas asgrandes paixões de Sá-bato Magaldi. A primei-ra delas pela esposa, atambém escritora EdlaVan Steen. A segunda,sem dúvida, pelo teatro.Entre seus mitos, tinhauma especial predile-ção pelo dramaturgoNelson Rodrigues, aquem aprendeu aadmirar a partir daestreia de Vestido deNoiva.

Sábato foi críticoteatral, teatrólogo, jor-nalista, professor, en-saísta e historiador. Emtodas essas atividades,fez jus ao que NelsonRodrigues dele dizia:“Era uma doce figura.”Ganhou, em 1990, oPrêmio Machado de Assis, e sua grande obra foi o Panorama do TeatroBrasileiro, da Global Editora, lançado em 2001.

Além de ocupar com brilho a cadeira no 24 da Academia Brasileirade Letras, Sábato Magaldi foi professor titular de História do TeatroBrasileiro da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de SãoPaulo e lecionou durante quatro anos nas universidades francesas deSorbonne e de Provence. Tornou-se professor emérito da USP.

Entrou para a ABL em 25 de julho de 1995, na sucessão de Cyro dosAnjos, e foi recebido pelo poeta Lêdo Ivo. A espada foi-lhe entregue porBarbosa Lima Sobrinho.

Embora nascido em Belo Horizonte, Sábato começou nojornalismo no Rio de Janeiro, trabalhando durante três anos no DiárioCarioca (período de 1950 a 1953). Depois foi para São Paulo, ondeprestou colaboração aos principais jornais paulistanos. Ao longo deuma vida de 89 anos, escreveu 18 livros, entre os quais podemosdestacar: Moderna Dramaturgia Brasileira (Editora Perspectiva), Obrasde Nelson Rodrigues (Global Editora) e Cem anos de teatro em São Paulo(Editora Senac).

Sábato acumulou diversos prêmios nacionais e internacionais.Quando instado a falar sobre Nelson Rodrigues, de quem se tornou umgrande amigo, considerava o seu teatro “muito prazeroso”, sempreelogiando o olhar afetuoso desse reconhecido e competente pensador.

O mundo intelectual e artístico reagiu com muito carinho aopassamento de Sábato Magaldi. A acadêmica Nélida Piñon disse que elerepartiu com o Brasil a grandeza e a essência contidas na arte derepresentar. Para o diretor de teatro Amir Haddad, do Grupo Tá na Rua,“lá vai com ele uma parte da história. Da minha história também, daminha geração, da construção do novo teatro brasileiro”.

Ele não foi apenas o grande especialista em Nelson Rodrigues,mas investigou a obra teatral e antropofágica de Oswald de Andrade,além de ter dedicado atenção especial a Oduvaldo Vianna Filho e PlínioMarcos. Depois, foi a fase dos encenadores, com os trabalhos deAntunes Filho e José Celso Martinez Correa. Como crítico aplaudido,costumava afirmar que não escrevia para o ator nem para o autor:“escrevo para o público”. É esse público que agora sente a sua ausência.Segundo o crítico Jacó Grinsberg, Sábato Magaldi tem um lugarrelevante na bibliografia teatral brasileira.

Foto da Posse de Sábato Magaldi em julho de 1995.

Acadêmicos Hélio Jaguaribe e Sábato Magaldi com a Sra. Maria Lucia Charnaux Jaguaribe e a atrizTonia Carrero, no lançamento de Ira das águas de Edla Van Steen.

Sábato Magaldi e Bete Mendes.

Acadêmicos Ledo Ivo, Sábato Magaldi e Sra.

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Durante dez anos, Lin Changchao, com acolaboração de Li Miaona, elaborou umextraordinário trabalho de pesquisa sobre os ditospopulares e provérbios que fazem parte dovocabulário brasileiro, comparando-os com asmesmas expressões em chinês. Trabalho árduo paraum literato, mas principalmente para um casal deimigrantes, que precisou aprimorar-se no estudo dadifícil língua portuguesa. Prefácio de Sonia Sales:“Para mim, como admiradora e estudiosa da culturachinesa há trinta anos, é uma honra e um privilégiofalar sobre este magnífico estudo que merece todo onosso respeito. Como vieram até nós, brasileiros? Oumelhor, como correram o mundo, pois, na distanteChina, do outro lado da Terra, vemos as mesmas

expressões? Evidentemente chega-se à conclusão de que nossas diferenças sãomais superficiais do que imaginamos. Falamos línguas diferentes, temos costumesdiferentes, mas o pensamento é o mesmo. No momento em que a China e o Brasilse firmam como grandes potências mundiais, dando-se as mãos como naçõesamigas, muitos brasileiros já estudam a língua chinesa, e alguns colégios no Brasiljá têm em seu currículo o estudo do chinês como matéria obrigatória.” O DicionárioComparado de Ditos Populares vem preencher uma lacuna e possibilitar aosestudiosos melhor conhecer as duas civilizações. (BA)

Num verdadeiro trabalho de artesã da sintaxe, aautora Sandra Flanzer tece seus Re/talhos nesteterceiro livro, lançado pela 7 Letras (2015).Costurados com o zelo poético característico desua trajetória – os 70 contos desta obra são tecidosartesanalmente com palavras que compõem jogoslinguísticos de sentidos simbólicos que a autoradomina com maestria. Seu singular estilo encontraconsistência no total domínio da sintaxe,permitindo a simplicidade com que registra aincorporação do eterno ao contingente. Tecelãatenta de uma arte cujo instrumento é a palavra,Sandra Flanzer forma, com elas, o sustento de suasofisticada narrativa, como vemos em Re-virandolixo, Amanheceu ou Escurta. Como afirma oacadêmico Antonio Carlos Secchin, na orelha do

livro: “Imagens desconcertantes, domínio rítmico da frase, intensa exploração dosjogos fônicos, tudo isso compõe o arsenal de linguagem que Sandra põe emmarcha, convocando os leitores para uma aventura cujos detalhes nos conduzema um consistente e saboroso banquete de signos.” Sandra Niskier Flanzer formou-se em Psicologia pela PUC-Rio e clinica desde 1991. Fez mestrado e doutorado emTeoria Psicanalítica na UFRJ. Já publicou dois livros de poesia: A pa-lavra (ContraCapa, 2010) e Por um, segundo (Contra capa, 2012). (MF)

Décimo sexto livro do escritor Ari Lins Pedrosa, Peçasíntimas – asas de borboletas (Ed. Scortecci, 2016) reúneepigramas do autor de Gota urbana, O jardineiro dasnuvens, O veludo da uva e Jangada de papel, dentreoutras obras. Dividido em três partes – Asas deborboletas, Asas do amor e Asas da Natureza – a obra éprefaciada por José Maria Tenório Rocha, da AcademiaAlagoana de Letras, que afirma: “Inúmeras vezeslouvável seja aquele que, vivendo em um país com mil eum problemas econômico-sociais a atacar a todos emtodo o instante, ainda se sente impulsionado a concebera construção de obras literárias prenhes de beleza,motivação e inteligência, que levem todos a admirar e aquerer entrar no bloco dos que não se deixamenfraquecer.” Os temas dos epigramas são dos maisvariados, indo da metalinguística, passando pela

natureza e a política: “Os poetas são anjos pirados que despencaram do céu”,“Exercitar a paciência é passear pela eternidade”, “Lapso de memória, sofrem ospolíticos depois das eleições” ou “Nada cala a alma, como a paz da natureza”. Oautor é membro da Associação Alagoana de Imprensa e Sócio Colaborador daAcademia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes. Com 16 livros publicados, écriador dos “Hainetos (composição poética)”. (MF)

A editora Rocco acaba de lançar Heróis Urbanos.Sete escritores. Sete histórias. Sete heróis urbanos.O primeiro deles nasceu da imaginação de RubemFonseca. Equipado com uma bicicleta de pneusgrossos e armação pesada, ele transformou-se emalguém capaz de colocar para correr ladrõezinhosdispostos a atacar velhinhas desacompanhadas edesavisados pelas calçadas da cidade. Do conto domestre do romance policial brasileiro, surgiu ainspiração para uma coletânea para jovensprotagonizada por pequenos justiceiros, heróis eanti-heróis, nascidos da crueza da cidade grande. Acoleção de histórias vem acompanhada pelasilustrações do artista gráfico Rascal, que leva paraas páginas um pouco da linguagem da arte urbana.Reunindo jovens e veteranos da ficção brasileira,

Heróis urbanos conta com textos de Rubem Fonseca, Raphael Montes, LuisaGeisler, Natércia Pontes, Leticia Wierzchowski, Cecilia Giannetti e Emiliano Urbim.Desconstrói o arquétipo do herói presente na cultura pop, colocando em xeque obom e o mau, o certo e o errado, o heroísmo e a vilania. Um dos mais notáveisficcionistas brasileiros, Rubem Fonseca foi comissário de polícia, professor efuncionário de uma companhia de energia antes de se dedicar exclusivamente aosroteiros de cinema e à literatura. (BA)

Em Retratos do Império – Os Orleans, os Saxe-Coburgo e outras personalidades da época (Ed.Topbooks, 2016), o autor Vasco Mariz reúne perfisde figuras que viveram e atuaram ao tempo doImpério do Brasil, aliando erudição e leveza notexto, de 256 páginas, acrescido de um belíssimocaderno de fotos. Aos 95 anos de idade, autor de 74livros, além de inúmeros prefácios, Vasco Marizentrega aos leitores uma obra que se lê com gosto,tamanha riqueza de detalhes. Na apresentação, oautor esclarece que não se trata de uma obra deexaltação da família imperial, e sim um relatoobjetivo e informativo sobre as atividades dessaspersonalidades. Diplomata com longa experiênciainternacional, historiador da música brasileira,estudioso da vasta obra de Villa-Lobos, íntimo dos

arquivos nacionais e estrangeiros, é um dos personagens mais admirados da nossavida cultural. Em sua carreira como diplomata, antes de ser embaixador,desempenhou o papel de delegado brasileiro junto a vários organismosinternacionais de importância. Desde a publicação, em 1948, do livro Figuras damúsica brasileira contemporânea não cessou de dar importantes contribuições nocampo da musicologia e da história do Brasil. (MF)

A Academia Brasileira de Letras lançou, porintermédio da Coleção Afrânio Peixoto, daComissão de Publicações da ABL, o livroBiobibliografia dos patronos – Tomás AntônioGonzaga e Tobias Barreto, organizado por IsraelSouza Lima. Reunindo documentos, síntesescronológicas, obras editadas e de apoio, além deoutras publicações e da fortuna crítica dos doispatronos, trata-se de uma obra de acuradapesquisa, essencial aos estudiosos da vida e da obrade Tomás Antônio Gonzaga (1744-1807) e TobiasBarreto (1839-1889). A Coleção Afrânio Peixoto foiassim nomeada por decisão unânime da Academia,em 1931, para homenagear seu idealizador edinâmico realizador. Considerada a primeiraColeção das publicações acadêmicas, essa coleção

se formou a partir dos livros que saíram como Biblioteca de Cultura Nacional. Apresente obra é o 19º volume do projeto idealizado por Israel Souza Lima, biógrafodos 40 patronos de Cadeiras do quadro de Membros Efetivos da AcademiaBrasileira de Letras. O escritor e pesquisador Israel Souza Lima foi agraciado pelaAcademia Brasileira de Letras com as medalhas João Ribeiro (1997) e Machado deAssis (2014). Desde 1992, dedica-se ao projeto Biobibliografia dos Patronos daAcademia Brasileira de Letras, em 20 volumes. (MF)

Page 19: #,+')#*0+/ +2+/ *6 )#*0+/ '0#. 01. *$ *0'(....7)'+ '+ "# '0#. 01. Cerimônia de entrega do Prêmio Rio de Literatura, na sede da Fundação Cesgranrio, no Rio Comprido, teve a escritora

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VALORESSE VIVO FOSSE, Josué Montello,que presidiu e realizou umafundamental obra derestauração na ABL, ondeentrou em 1954, completaria100 anos em 21 de agosto de2017. De sua autoria, o clássicoOs tambores de São Luís foiconsiderado pela Unesco comoum dos patrimônios culturais dahumanidade. O romance retratauma dinastia de negros, todoscom nome Damião, ao longo detrês séculos da tradicionalhistória do seu Maranhão.

AINDA SOBRE O maranhenseJosué Montello, vale ressaltar queo acadêmico deu aulas naUniversidade Nacional Mayor deSan Marcos, em Lima, Peru,sendo professor do Prêmio Nobelde Literatura Mario Vargas Llosa.

FOI UM SUCESSO o debatesobre o tema “A gênese e ossegredos da criação literária”,com a acadêmica Nélida Piñon,promovido pelo Sesc BomRetiro, em São Paulo.

CARNAVAL TAMBÉM é cultura: aescola de samba Beija-Flor,campeoníssima nos festejosmomescos cariocas, terá oromance Iracema, de José deAlencar, como tema de seusamba-enredo, na folia de 2017.

GANHADOR DO Prêmio Jabuti2015 de livro infantil, A raiva, deBlandina Franco e José CarlosLello, da Ed. Pequena Zahar,será lançado em Portugal peloPenguin Random House.

A EDITORA RECORD se preparapara lançar, ano que vem, noBrasil, as quatro versõesexistentes no mercado mundialdo Diário de Anne Frank.

CONFORME ESTUDO feito pelo IPCMaps 2016, projetando potencialde consumo para os próximos 12meses, gasta-se, no Espírito Santo,mais do que o dobro com bebidasdo que com livros. No primeiroitem, a conta ficou em 636 milhõese, no outro, 300,45 milhões.

JASON TÉRCIO fechou com aEditora Autêntica contrato parapublicação da biografia deMário de Andrade.

DEVE SER LANÇADO

oficialmente, em março de 2017,durante a Primavera Literária deParis, o Prêmio Jabuticaba,idealizado por Fabíola Braga,destinado a obras infantis.

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COMEÇA A SER rodado emdezembro, pelo diretor cariocaEduardo Nunes, um filmebaseado em dois contos deHilda Hilst – Unicórnio e MataMouros. As cenas serão tomadasem Campinas, onde a escritorae poeta viveu.

TEVE INÍCIO NA Livraria daVila, em São Paulo, o projetoPlaneta de leitores, prevendoencontros e debates de livrosem diversas cidades brasileiras,com presença dos autores.

MAIS VENDIDO no Dia das Mãesdeste ano, o livro Casa das estrelas(Ed. Foz), com definições decrianças sobre assuntospermanentemente em voga, docolombiano Javier Naranjo,ganhou música de AdrianaCalcanhoto e vai virar série de TV.

AOS 84 ANOS, Lygia Bojungamereceu homenagem especialno 18º Salão FNLIJ do Livro paracrianças e jovens, no Rio. Aescritora foi a primeira autorafora do eixo Europa-EUA areceber o Prêmio Hans ChristianAndersen, considerado o maisimportante da literatura mirim.

AUTOR DA BIOGRAFIA do cronistaJosé Carlos Oliveira, por eleconsiderado “o mais influente dopaís em sua época”, feita para aEd. Objetiva com o título deÓrfão da tempestade, o jornalistaJason Tércio planeja outros trêsvolumes de crônicas do capixaba.

REPÓRTER ESPECIAL da Folha deSP, Patrícia Campos Mello estevetrês vezes em um ano na Síria,Turquia e Iraque em coberturaspara o jornal e encontra-se,agora, escrevendo para a Ed. Ciadas letras Lua de Mel em Kobani,sobre a história da guerra contrao Estado Islâmico.

OS SEGREDOS da mentemilionária, sucesso de T. HarryEker, inspirou Danile Granato apromover, no Rio, em setembro,o seminário Millionairemind,passando conhecimento arespeito. Segundo o autorcanadense, o grande erro dequem tenta enriquecercontinua sendo a ganância.

EM 2017, São Paulo ganharánovo centro cultural. Trata-se doJapan House, iniciativa a cargo dogoverno nipônico, com biblioteca eespaço amplo para exposições, naAv. Paulista, a um custo estimadoem 30 milhões de dólares.

ONTEM, HOJE e sempre Zezé é otítulo do livro sobre a carreira deZezé Motta, de autoria de CacauHygino, que prepara, também, oroteiro de um documentáriosobre a vida da atriz.

ORGANIZADO POR FernandoVeloso e Regis Bonelli, compropostas para superar a baixaprodutividade da indústria e dosserviços no país, a FGV colocoulivros sobre o tema na praça.

ENTRARÁ NO AR, em março de2017, o portalwww.brasilianaiconografica.art.br,criado para democratizar o acessoa um rico acervo de pinturas,gravuras e desenhos, retratandopaisagens e costumes brasileiros,pertencentes à BibliotecaNacional, Pinacoteca do Estadode SP, Instituto Itaú Cultural eInstituto Moreira Salles. A ofertainicial irá disponibilizar 3 milobras ao público.

MIRIAM HALFIM, autoraassociada do PEN Clube do Brasil,lançou Eugênia, texto que conta ahistória de Eugênia José deMenezes, filha do governador deMinas Gerais, que teve umromance com Dom João VI,engravidou e foi expulsa da Corte,sendo exilada num convento.

VENCEDOR DE DOIS prêmiosJabutis e quatro da FundaçãoNacional do Livro Infantil e Juvenil,Lampião e Lancelote, de FernandoVilela, estreou no catálogo da Zahar.

BENJAMIN MOSER, escritoramericano responsável pelaintrodução e projeção de ClariceLispector nos EUA, foi agraciadocom o Prêmio Itamaraty deDiplomacia Cultural.

TIRADAS ESPIRITUOSAS depersonalidades públicas

basearam Faíscas verbais: agenialidade na ponta da língua,produzidas pelo jornalistamineiro Márcio Bueno para aEditora Autêntica, já nas livrarias.

COM ORGANIZAÇÃO de Fábio deSouza Andrade, professor de TeoriaLiterária da USP, a Ed. Alfaguarainicia a publicação da obracompleta do poeta Jorge de Lima.

TRÊS ESTRELAS, selo editorial doGrupo Folha de São Paulo,comprou os direitos de publicaçãode O Espírito do Judaísmo, dofilósofo Bernard-Henri Lévy,trazendo uma reflexão sobre serjudeu e o antissemitismo.

O ACADÊMICO Paulo Coelhotrocou de editora. Sua nova obra, Aespiã, vai às livrarias por um selo daCia. das Letras de nome Paralela.

SAIU PELA ED. ALFAGUARA umacoletânea de João Cabral deMelo Neto, organizada pela filhaInez: A LITERATURA COMO TURISMO.

NA 86ª FEIRA do Livro deLisboa havia 300 estandes delivros, dos quais apenas sete comtrabalhos de autores brasileiros.

QUEM APRECIA as músicas deErnesto Nazareth, compositorque encantou o mundialmentefamoso pianista ArthurRubinstein, não pode deixar deler as 128 páginas de O Rio deErnesto Nazareth, lançado pelaEditora Funarte.

PARA FINALIZAR, um trecho dopoema Embarque, da obraAnônima intimidade, de autoriado presidente em exercícioMichel Temer: “Embarquei natua nau/Sem rumo. Eu e tu./ Tuporque não sabias/Para ondequerias ir./ Eu, porque já tomeimuitos rumos/Sem chegar alugar nenhum.”

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