rio comprido: lugar, memÓria e identidade (monografia)

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS INSTITUTO DE GEOGRAFIA SAULO AGUIAR SIQUEIRA RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE Rio de Janeiro - RJ 2013

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Monografia apresentada ao Instituto de Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel e Licenciatura em Geografia.

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Page 1: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

SAULO AGUIAR SIQUEIRA

RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E

IDENTIDADE

Rio de Janeiro - RJ

2013

Page 2: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

SAULO AGUIAR SIQUEIRA

RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE

Monografia apresentada ao Instituto de

Geografia, da Universidade do Estado

do Rio de Janeiro, como requisito parci-

al para a obtenção do grau de Bacharel e

Licenciatura em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. André Reyes No-

vaes

Coorientadora: Profª. Drª. Rejane Cris-

tina de Araujo Rodrigues

Rio de Janeiro – RJ

2013

Page 3: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

SAULO AGUIAR SIQUEIRA

RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE

Monografia apresentada ao Instituto de Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Ja-

neiro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel e Licenciatura em Geogra-

fia.

Aprovada em _____ / _____ / _____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. Dr. André Reyes Novaes

UERJ – IGEOG – PPGEO/UERJ

_______________________________________________

Profª.Drª. Zeny Rosendahl

UERJ – IGEOG – PPGEO/UERJ

________________________________________________

Profª. Drª. Rejane Cristina de Araujo Rodrigues

UERJ – IGEOG – CAp/UERJ

Page 4: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

FICHA CATALOGRÁFICA

Page 5: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

Dedico este trabalho aos meus pais, meus irmãos e a todos

que contribuíram para o meu crescimento acadêmico. Dedico

aos moradores do Rio Comprido e aos alunos do CAp/UERJ,

que a partir desta pesquisa, saberão um pouco mais sobre a

memória e a identidade do lugar onde estudam.

Page 6: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores que tive ao longo da vida. Obrigado pela paciên-

cia, a compreensão e principalmente pela excelente educação que tive, mesmo em meio a um

sistema tão precário que a educação brasileira passa atualmente. Deixo meu agradecimento

especial à professora Rejane Cristina de Araujo Rodrigues que há dois anos orienta as pesqui-

sas e trabalhos que devo fazer, sendo minha tutora de estágio. Inclusive é também orientadora

desta monografia, no qual, por questões de normas do Instituto de Geografia da Universidade,

não pode apresentar-se como orientadora oficial deste trabalho. Rejane, obrigado por eu ter

ganhado não apenas uma orientadora de monografia ou tutora de estágio, mas sim, fico muito

feliz por ter se tornado minha amiga e levarei esta amizade pelo resto da vida. Obrigado aos

professores e estudantes que deram que a cada dia transformam o Laboratório de Ensino de

Geografia no CAp/UERJ, num amplo espaço de produção de conhecimento.

Agradeço a todos que de alguma forma ajudaram na produção deste trabalho. Aos

moradores antigos e atuais do Rio Comprido que se tornaram a maior fonte de informações

sobre o bairro e em especialmente a ex-moradora Sheila Castello que surgiu como um "anjo

da guarda" e veio nos ajudar quando esta pesquisa estava começando. Obrigado Sheila, pois

sem a tua firme vontade de descobrir o passado deste bairro, certamente esta monografia não

teria esta essência histórica que tanto você me ajudou a encontrar.

Obrigado aos meus pais, Maria do Carmo e Messias Barreto, pois sem este amor

eu não teria forças para existir nesse mundo. Obrigado aos meus irmãos, Julio César, Madson

Vinicius e Marfiza Aguiar, pois sem este apoio eu não teria bases para chegar até aqui. Obri-

gado aos meus eternos amigos, Claudia Sampaio e Lucas Costa, por ao longo da vida terem

sido pessoas tão importantes para mim.

Agradeço especialmente ao Deus todo Poderoso, criador da esfera terrestre que é

o principal e o maior objeto de estudo desta ciência chamada Geografia. Encerro enfatizando

este último agradecimento com a frase de uma dos maiores cientistas da história, Louis Pas-

teur. “Um pouco de ciência no afasta de Deus. Muito, nos aproxima.”

Page 7: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

“Por comprido, comprido. Rio Comprido ficou sendo.”

Pedro Nava, 1972

Page 8: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

SUMÁRIO Pág.

RESUMO .....................................................................................................................................

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................................................

LISTA DE TABELAS .................................................................................................................

LISTA DE ABREVIAÇÕES .......................................................................................................

I - INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13

II - A MEMÓRIA DO LUGAR ............................................................................................... 16

2.2 - Primórdios da Evolução Urbana ...................................................................................... 24

2.3 - A Reformas Urbanísticas ................................................................................................. 31

2.4 - Avenida Paulo de Frontin e o Viaduto Engenheiro Freyssinet ........................................ 37

III - A IDENTIDADE DO LUGAR ......................................................................................... 43

3.1 - Delimitação Atual do Bairro ............................................................................................ 43

3.2 - Dados Atuais .................................................................................................................... 46

3.3 - Elementos Simbólicos do Rio Comprido ......................................................................... 49

3.4 - O Bairro na Visão de Alguns Moradores e Ex-Moradores .............................................. 58

IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 67

Page 9: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

RESUMO

A presente pesquisa tem como objeto de estudo as transformações urbanas ocorridas no bairro

do Rio Comprido, um bairro tradicional da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, registradas

em documentos oficiais e na memória de seus moradores. Pouco privilegiado pelo poder pú-

blico, especialmente nas décadas seguintes às reformas urbanísticas do início do século XX,

mas, ao mesmo tempo lembrando pelos que ali necessitam passar com objetivo de ir e vir das

zonas central, norte e sul da cidade e também pelos que ali trabalham, vivem ou viveram, este

bairro revela-se como um importante lugar da cidade. As suas memórias e as suas diferentes

visões trazem a tona os acontecimentos históricos e geográficos que o transformaram de um

lugar nobre da cidade num ambiente decadente e indicam mudanças relacionadas aos eventos

internacionais que ocorrem e ocorrerão na cidade. A complexidade do objeto estudado levou-

nos a buscar nos conceitos de lugar, memória e identidade os principais referenciais da pes-

quisa que tem como objetivo principal resgatar a memória e a identidade deste lugar singular

da cidade do Rio de Janeiro, a partir da visão da população a respeito do bairro do Rio Com-

prido, objetivando trazer para a geografia, principalmente para o ramo humanístico e históri-

co, uma pesquisa acadêmica pouco desenvolvida até aos dias atuais. Deste modo, o presente

trabalho inicia-se abordando brevemente o conceito de lugar, justificando a escolha deste ter-

mo para o estudo do bairro. Nos capítulos que seguem ao longo do desenvolvimento do texto

são analisadas diferentes definições de outros termos no quais se embasam e em outros con-

ceitos-chave, a memória e a identidade. Estes três termos geográficos aparecem em conjunto

para que o leitor não perca a essência principal do texto, que é explicar o porquê denomina-

mos de “lugar” o bairro pesquisado.

Palavras-chave: Rio Comprido, Lugar, Memória, Identidade, Bairro.

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LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Planta da Cidade do Rio de Janeiro. Capital dos Estados do Brazil, 1769 (pág. 18).

Figura 2. Antiga Chácara de Joaquim Manuel Monteiro, o 1° Conde d'Estrella (pág. 20).

Figura 3. Visão da antiga paisagem das encostas do maciço da Tijuca (pág. 21).

Figura 4. Bonde 47 que ligava a Rua Santa Alexandrina a diversas locais do bairro (pág. 27).

Figuras 5. Fotos do Acervo de Imagens do arquivo geral do município, mostrando as refor-

mas urbanísticas que ocorreram no bairro, mais precisamente entre 1915 a 1920 (pág. 34-36).

Figura 6. Avenida Paulo de Frontin nos primeiros anos após a sua inauguração (pág. 38).

Figura 7. Construção do Elevado Engenheiro Freyssinet (pág. 39).

Figura 8. Foto mostrando a tragédia do desabamento do Elevado em 1971 (pág. 40)

Figura 9. Caminhões passando sob o elevado para mostrar o quão forte estava à nova estrutu-

ra diante da população do Rio Comprido, após a sua segunda inauguração (pág. 41)

Figura 10. Imagem de satélite, grifada pelo autor com linhas brancas, mostrando a real deli-

mitação do bairro segundo o decreto n°. 3158 (pág. 45).

Figura 11. Sede da III Região Administrativa Rio Comprido (pág. 46).

Figura 12. Encosta do Maciço da Tijuca próximo a entrada do Túnel Rebouças, mostrando

uma parte do bairro que não ainda foi urbanizada (pág. 47).

Figura 13. Fotografia exemplificando a paisagem do bairro aonde de diversas áreas é possível

observar as favelas localizadas no alto dos morros (pág. 48)

Figura 14. Frente da Igreja de São Pedro. Para a maioria dos moradores, este é o maior sím-

bolo do bairro (pág. 54).

Figura 15. Frente do Casarão do Bispo (pág. 57).

Figura 16. Imagem disponibilizada por Edith, mostrando como era a sua antiga moradia no

Rio Comprido. Atrás do casarão, observa-se a encosta do maciço (pág. 60)

Figura 17. Antigo sobrado onde morava a professora Zeny (pág. 62).

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Demonstração do número da População Residente na Freguesia do Espírito Santo

entre 1870 a 1920 (pág. 28).

Tabela 2. População Residente segundo a circunscrição censitária do Rio Comprido. 1940 a

1960 (pág. 34).

Tabela 3. População Residente no bairro Rio Comprido. 1980 a 2010 (pág. 42).

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

AGCRJ - (Acervo do) Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

AP - Área de Planejamento

BN - Fundação Biblioteca Nacional

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IHGB - Instituto Histórico e Geográfico do Brasileiro

LEGEO - Laboratório de Ensino de Geografia do CAp/UERJ

RA - Região Administrativa

SMU - Secretaria Municipal de Urbanismo

SMAC - Secretaria Municipal do Mio Ambiente

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I - INTRODUÇÃO

Nesta pesquisa, apresenta-se a evolução geográfica e histórica deste emblemático

e atual lugar, para uns, de passagem ou, para outros, de encontro, de três principais zonas da

cidade do Rio de Janeiro, o bairro do Rio Comprido. Este bairro localiza-se na zona norte da

cidade do Rio de Janeiro e registra em sua paisagem as marcas de um passado em que abrigou

camadas mais importantes da sociedade carioca, e de um período mais recente em que se tor-

nou lugar de residência de grupos de média e baixa renda. As transformações observadas nes-

te lugar singular da cidade são, portanto, o objeto de estudo desta monografia, pois represen-

tam um microcosmo das transformações mais gerais pelas quais a cidade do Rio de Janeiro

passou ao longo da sua história.

Resumidamente, os capítulos que se seguem buscam reunir informações sobre a

história das fazendas e chácaras pertencentes primeiramente aos jesuítas e que deram lugar,

com o passar do tempo, a prédios comerciais e residenciais, como pode ser observado na pai-

sagem atual. Utiliza-se a história como referencial para a espacialização destas transforma-

ções ou evoluções que ocorreram no bairro, tendo sido, por isso, o primeiro capítulo funda-

mentado na geografia-histórica.

Neste sentido, destaca-se como um dos principais objetivos o resgate da história

quase esquecida, encontrada apenas em pequenos fragmentos nos arquivos e bibliotecas da

cidade e nas memórias individuais dos mais antigos moradores. Segue a este objetivo princi-

pal, um objetivo secundário qual seja o da análise de alguns dados atuais sobre as condições

de vida no bairro e a interpretação de diferentes visões de quatro (ex)moradores sobre o bair-

ro, no intuito de se tentar reconhecer as identidades associadas à vida neste lugar.

O lugar, o bairro do Rio Comprido, a memória, a história relembrada por seus mo-

radores e ex-moradores, e a identidade, a aproximação da população que ali vive aos proces-

sos que se desenrolam no cotidiano do bairro, são o fio condutor do trabalho. Estes três con-

ceitos citados no subtítulo desta monografia são muito discutidos e interpretados pelos geó-

grafos humanistas os quais servirão como referencial teórico para o trabalho. Dentre eles, des-

tacam-se Anne Buttimer, Edward Relph, Yi-Fu Tuan e Werther Holzer. As obras dos brasilei-

ros Maurício de Abreu e João Baptista Ferreira de Mello também foram utilizadas no âmbito

dos estudos referentes à evolução urbana da cidade do Rio de Janeiro, espacialização da cultu-

ra, pesquisas sobre os símbolos e os valores de lugares do município carioca. Historiadores e

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escritores também nos servem de referência, dentre eles Gastão Cruls, Noronha Santos, Vi-

valdo Coaracy, Charles Dunlop, José Pizarro e Araújo, Max Fleiuss e Pedro Nava.

Os geógrafos humanistas utilizam-se do pluralismo e de alguns elementos da fe-

nomenologia como base para estudos em que buscam entender as relações diferenciadas entre

o homem e o meio em que vive, seus valores e a sua individualidade. Os estudos sobre as in-

tencionalidades dos seres humanos e as experiências destes com o mundo vivido se desenvol-

veram com o intuito de compreender que a ação humana não está separada do contexto social

ou físico relacionado a certo lugar. Sendo assim, o conceito de lugar aparece como uma chave

que dá abertura a uma série de compreensões sobre os espaços vividos e experimentados pe-

los indivíduos que frequentam certos locais e que com o passar do tempo o transformam num

lugar. “O lugar é um espaço construído como resultado da vida das pessoas, dos grupos que

nele vivem, das formas como trabalham, como produzem, como se alimentam e como usufru-

em do mesmo” (Callai, 2004). Neste sentido, este trabalho pretende usar como referência este

conceito-chave, com o objetivo geral de dar novos rumos aos estudos sobre este importante

bairro da Cidade do Rio de Janeiro.

O conceito de lugar tem se destacado recentemente não somente no ramo da ciên-

cia geográfica, mas também em outras ciências humanas que buscam usá-lo como chave para

compreensão das tensões no mundo contemporâneo. Este termo, tão subjetivo diante das di-

versas interpretações recebidas ao longo da história, se colocou de maneira mais visionada no

âmbito da geografia humanística, que foi um movimento de renovação desta ciência surgida

entre as décadas de 1960/70, onde se misturaram ideais anarquistas, estruturalistas, marxistas,

fenomenológicos, idealistas, existencialistas etc.

As metodologias utilizadas nesta pesquisa foram a observação de campo pelo

bairro, os registros obtidos em conversas com moradores, as pesquisas em arquivos, institutos

históricos e bibliotecas da cidade e, por último, as entrevistas realizadas com (ex)moradores.

Para a obtenção de registros históricos foram feitas inúmeras visitas ao Instituto Histórico e

Geográfico Brasileiro, à Biblioteca Nacional e ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

onde uma exaustiva pesquisa sobre o bairro do Rio Comprido resultou em pequenos fragmen-

tos de informações desconectadas sobre o bairro. Foram realizados ainda quatro trabalhos de

campo no bairro do Rio Comprido ao longo de 2012 e início de 2013 durante os quais foram

feitos registros fotográficos e obtidas as primeiras informações sobre o bairro. As informações

mais gerais obtidas no AGCRJ, IHGRJ, na BN e nos trabalhos de campo foram complemen-

tadas pelas entrevistas realizadas com um morador e três ex-moradores do bairro, além de

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15

outras entrevistas não utilizadas objetivamente como referência para a construção da memória

e da identidade do bairro.

Tomando-se como principal conceito-chave deste trabalho e para ajudar o leitor a

entender o sentido deste termo, contextualizado nos capítulos à frente, encerra-se a introdução

citando Yi-Fu Tuan (1983):

Os lugares são como objetos, possuem núcleos de valor, e só podem ser totalmente

apreendidos através de uma experiência total englobando relações íntimas, próprias

de residentes ou relações externas, próprias de turistas ou visitantes. O lugar torna-se

realidade a partir da nossa familiaridade com o espaço, não necessitando, entretanto,

de ser definido através de uma imagem precisa, paisagem limitada. Lugar se distin-

gue, desse modo, de espaço. Este transforma-se em lugar à medida que o conhece-

mos e o dotamos de valor (apud Ferreira, 2000, p.67)

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II - A MEMÓRIA DO LUGAR

Lugar, memória e identidade, estes três conceitos-chave para esta pesquisa irão in-

tercalar-se de maneira mútua em todos os tópicos deste trabalho, tendo como embasamento

principal, a corrente da geografia que surgiu entre os anos de 1960 e 1970, chamada humanís-

tica.

Nesta primeira parte do trabalho, destaca-se o conceito de memória. Primeiramen-

te, é preciso lembrar que o termo faz referência a uma categoria biológica/psicológica que diz

respeito à capacidade de armazenagem e conservação de informações na mente humana. En-

tretanto, neste sentido a palavra memória, estaria mais bem colocada em diversas ciências

como a antropologia, a sociologia, a filosofia e até mesmo na história. Neste contexto, onde

podemos encontrar referências ao termo no ramo da ciência geográfica? Vide a citação de

Abreu (1998) como o maior exemplo para esta pesquisa: “Para a geografia, a memória é um

elemento essencial da identidade de um lugar” (p.82).

“Eu entrey no Rio de Janeiro que está nesta costa na capitania de Martim Afono, 50

léguas de São Vicente e 50 do Espirito Santo, mando ho debuxo della a V.A., mas

tudo he graça ho que se della pode dizer senão que pimte quem quiser como deseje

hum Rio isso tem este de Janeiro.” (Carta do Primeiro Governador-Geral do Brasil.

História da Colonização Portuguesa no Brasil. In Coaracy, 1965)

Este é um trecho da carta escrita por Tomé de Sousa ao adentrar pela primeira vez

no que seria a futura capital do Império, o Rio de Janeiro. Ele é bastante útil para exemplificar

o conceito de memória individual dado pelo geógrafo Maurício de Abreu (1998). Ao analisar

diversos documentos históricos, como as cartas dos primeiros viajantes que descreveram suas

memórias das vivências e experiências ao dar os primeiros passos na antiga cidade de São

Sebastião, Abreu concluiu que a memória individual pode contribuir e muito na recuperação

da memória dos lugares. O mesmo autor ainda afirma que as “histórias orais” e “memórias

dos velhos” são hoje em dia um elemento de maior importância no resgate parada identidade

de um lugar, tendo isto sido bastante difundido nas pesquisas brasileiras (Bosi, 1987; Costa,

1993; Meihy, 1996 apud Abreu, 1998).

Memória dos lugares ou lugares de memória, conceito criado pelo historiador Pi-

erre Nora (1993), o qual passou a ser utilizado pelos geógrafos relacionando-o como uma rup-

tura entre a história e a memória. Estes não são termos sinônimos e segundo refere-se Nora

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(1993):“a história é a reconstrução sempre problemática e incompleta daquilo que não é mais

(...). A memória é um absoluto e a história não conhece outra coisa que não o relativo” (p. 9).

Em outras palavras, “memória e história constituem metáforas mútuas” (Lowen-

thal, 1985 apud Ferreira; Barros, 2009). A memória, segundo Abreu (1998), é seletiva, parci-

al, e a história busca a objetividade, a verdade. Logo, a história tem um papel mais importante

que a memória para o resgate do passado de um lugar.

O resgate da memória de um lugar, da memória de uma determinada

cidade (ou bairro), só é possível se pudermos trabalhar ao mesmo

tempo em duas frentes de investigação. Temos que aliar a base segura

da análise histórica ao esteio não menos seguro que a geografia pro-

porciona (Abreu, 1998, p. 18).

Diante do contexto, qual seria a melhor forma em trabalhar o resgate da memória

do Rio Comprido. Usando a formalidade da história ou informalidade das memórias individu-

ais daqueles que em seu tempo construíram vivências e experiências no bairro? Nesta pesqui-

sa optou-se por trabalhar usando-se das citações e dos fragmentos de diversos livros de histó-

ria e outros documentos, mas complementando-os com uma série de registros de memórias

individuais.

Neste sentido, busca-se nesta primeira parte da pesquisa, citar e analisar diversos

fragmentos históricos, obtidos em antigas obras guardadas em arquivos municipais e bibliote-

cas, tendo como objetivo o resgate da memória deste lugar.

Em geral, o Rio Comprido aparece raramente nos arquivos, cartas e documentos,

situação que se agrava devido ao incêndio ocorrido em 1790 que destruiu boa parte do acervo

do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Diante de tais problemas, documentos que

registram a memória deste bairro se tornam escassos, já que uma das principais instituições

responsáveis por perpetuar este levantamento geográfico-histórico foi incendiada. Logo, na

medida do possível, os fragmentos citados serão trabalhados objetiva e subjetivamente, bus-

cando-se sempre analisá-los e interpretá-los, incluindo as memórias individuais de antigos

morador, como sugerido pelo escritor Pedro Nava.

Neste primeiro capítulo busca-se levar o leitor a fazer uma viagem ao passado do

Rio Comprido, proporcionando um encontro do leitor com o bairro ainda sem o túnel, sem o

elevado, sem os prédios, sem o comércio, com pouquíssimos elementos observados na paisa-

gem atual.

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2.1 - Resgatando a Memória do Rio Comprido

Dentre os vários campos da ciência geográfica, a geografia histórica tem como ob-

jetivo explicar geografias passadas. A esse respeito Karl Ritter afirma que “a ciência geográ-

fica não pode desprezar o elemento histórico, se pretende ser verdadeiramente um estudo do

território e não uma obra abstrata, uma moldura através da qual se veja o espaço vazio (...)”

(apud Ferreira; Barros, 2009). O recorte espacial selecionado para esta pesquisa é o atual bair-

ro do Rio Comprido, o qual aparece totalmente destituído de qualquer elemento antrópico no

período histórico em que Tomé de Sousa escrevia a carta citada na página 16.

Os fragmentos históricos citados são objetivos e subjetivos ao mesmo tempo, e,

buscando-se reforçar o caráter geográfico desta pesquisa geográfica, far-se-á um esforço de

relacionar os fatos passados ao atual espaço delimitado do bairro.

Figura 1. Planta da Cidade do Rio de Janeiro. "Capital dos Estados do Brazil, 1769". Da au-

toria de Francisco José Roscio, Capitão-mor de Engenheiros.

Fonte: Moraes, 1879

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A Baía de Guanabara foi descoberta pelos portugueses em 1 de janeiro de 1502,

por ocasião da expedição de 1501 à costa do Brasil. Em 1555, colonos franceses estabelece-

ram-se no interior da baía com a pretensão de formar uma colônia e mas, entre 1560 e 1567

seriam expulsos pelos portugueses. Assim no dia 1° de Março de 1565, fundaram a cidade de

São Sebastião do Rio de Janeiro. "O patrimônio territorial da cidade foi instituído em 1565

pelo capitão-mór Estácio de Sá, confirmado e ampliado em 1567 pelo governador Mem de

Sá" (Ferreira, 1934, p. 2).

O primeiro povoado foi estabelecido no alto do Morro do Castelo (arrasado em

1922) uma localização privilegiada que garantia proteção contra invasores estrangeiros que

adentrassem pela baía de Guanabara. Como consequência deste contexto histórico, na região

do entorno do Morro do Castelo seriam observados os primeiros sinais do processo de evolu-

ção urbana da cidade, conforme se pode comprovar pelos elementos indicados no mapa aci-

ma. "A cidade estendia-se então pela Várzea, no perímetro compreendido entre os quatro

morros - de São Januario (Castello), São Bento, Conceição Santo Antônio" (Fleiuss, 1928, p.

67).

A cidade era o núcleo urbano localizado no atual Centro do Rio e os locais mais

afastados deste núcleo recebiam o nome de interior. Em algumas áreas do interior foram insta-

ladas as primeiras fazendas e os primeiros engenhos de açúcar, que abasteciam o núcleo urba-

no com produtos além de outras freguesias. No período colonial, o atual município do Rio de

Janeiro“ era dividido em diversas freguesias ou paróquias, as quais limitavam os territórios de

jurisdição religiosa, em principio. Mais tarde, essas mesmas freguesias passaram a abranger

os territórios de jurisdição administrativa” (Santos, 1965, p.7). Este foi o primeiro modelo,

oriundo do antigo Império Português, de divisão administrativa adotado para dividir os futu-

ros bairros da capital fluminense.

"A primeira denominação oficial do atual Distrito Federal foi o de Freguesia de São

Sebastião, em 1569.” “Em 1644, foi criada a Freguesia de Irajá, que passou a com-

preender todo o Hiterland carioca." "Em 1795, foi criada a Freguesia do Engenho

Velho, desmembrada da Freguesia de Irajá." "Em 1865, foi criada a Freguesia do

Espírito Santo, com territórios desmembrados de São Cristóvão, Santo Antonio e

Engenho Velho." (Aleixo, 1952, p. 9-10)

Segundo o historiador Noronha Santos (1965), a freguesia do Engenho Velho

compreendia o bairro Rio Comprido, dentre outros. Este nome se deve à Fazenda dos Jesuítas

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que fabricava e purgava açúcar. Neste período, os membros da Companhia de Jesus (fundada

em 1534 em Paris) recebiam diversos privilégios das autoridades portuguesas vigentes da

época, dentre os quais, doações de grandes lotes de terra que eram dadas para construírem

suas fazendas, dotadas de engenhos ou luxuosas chácaras. "Essas eram bem chácaras à moda

portuguesa. A casa, vasta e acharrapada de muros fortes e altas vãos. De varanda à frente e

pátio pompeiano interno (...)" (Cruls, 1949, p. 381).

Figura 2. Antiga Chácara de Joaquim Manuel Monteiro, o 1° Conde d'Estrella. Nome dado a

este, pelo Rei de Portugal, D. Luís I.

Fonte: Acervo particular de Pieter Godfred Bertichem

O Rio Comprido tornou-se, então, uma área ocupada por chácaras de pessoas a-

bastadas, entre as quais, muitos eram ingleses. Outros estrangeiros também buscavam residir

nesta área à procura de clima ameno, que ainda havia devido à proximidade das encostas e

florestas do maciço da Tijuca. Fleiuss e Cruls ainda citam outros momentos históricos:

"No começo do século XVII (...) os jesuítas haviam localizado o seu primeiro enge-

nho de assucar no sitio designado por Engenho Velho. Mais tarde, temendo invasões

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da cidade pelos corsários estrangeiros, transferiram-se para o local depois conhecido

por Engenho Novo" (Fleiuss, 1928, p. 68).

"O Engenho Velho abrangia vasto territorio no Andaraí (...). Nesse Engenho, que

sempre se destacou como um grande centro produtor de açucar, logo no século XVI

fôra montada uma escola e, em 1678 viu-se dotado de uma igreja, cujo patrono era

S. Franscisco Xavier. Do templo antigo nada mas restará (...)" (Cruls, 1949, p. 170).

Figura 3. Visão da antiga paisagem das encostas do maciço da Tijuca no período destacado.

Observa-se a Igreja de São Francisco Xavier da antiga fazenda dos Jesuítas.

Fonte: Chamberlain apud Lamego, 1964

A atualmente denominada bacia do Rio Maracanã, a qual compreendem diversos

rios que desaguam nesta área, talvez tenha sido o principal motivo da escolha dos jesuítas para a

instalação de seus engenhos nesta localidade, pois a produção da cana de açúcar, além dos

cacaueiros e das bananeiras,era garantida pelo amplo abastecimento hídrico.

Os engenhos de açúcar dos Jesuítas estavam prosperando, em consequência desta a-

tividade, o período colonial do atual Rio Comprido, estava urbanamente começando

a evoluir, porém, um atrito em entre o nobre Marquês de Pombal e os jesuítas em

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22

1759, ocasionou a expulsão da companhia de Jesus da então colônia portuguesa

(Costa, 1965).

“Expulsa do Brasil a Ordem dos Jesuítas, e confiscado os seus bens, foram arrema-

tados em 3 de janeiro de 1762, pelo português Manuel Luís Vieira, os canaviais da

Fazenda do Engenho Velho (…). Esta vastíssima propriedade dos padres da Compa-

nhia de Jesus; nela se erguia uma boa casa de engenho, muitos pertencem indispen-

sáveis ao fabrico de açúcar existiam, além do gado e escravos empregados na lavou-

ra e na edificação de prédios. A primeira demarcação de terras do Engenho Velho

foi feita pelo edital de 31 de janeiro de 1763, segundo refere Monsenhor Pizarro

(…). Por deliberação do Senado da Câmara, em 1815 foi dividida a freguesia, fixan-

do-se os seguintes limites: Jacarepaguá, Alto da Tijuca; Divino Espirito Santo, pelas

ruas do Bispo, HaddockLôbo e ponte do Rio Comprido; Engenho Novo, pela serra

do Bom Retiro e Rua de S. Francisco Xavier” (Santos, 1965, p. 43-44)

Em consequência da expulsão dos Jesuítas da colônia, a freguesia do Engenho Ve-

lho foi dividida e delimitada conforme a citação. Mesmo diante de toda esta divisão, o atual

Rio Comprido, ainda assim, se manteve compreendido quase que integralmente no espaço da

Freguesia do Engenho Velho. Somente em 1865, esta freguesia foi desmembrada criando-se a

Freguesia do Espírito Santo, que pelas pesquisas do historiador Max Fleiuss (1928), compre-

endia em sua a maior parte o atual Rio Comprido.

"O movimento das freguezias da cidade, durante o reinado de D. Pedro II, continuou

em grão crescente. Em 1854, a freguesia de Santo Antonio foi desmembrada das de

Sant'Anna, Sacramento e São José. Em 1856, desuniu-se da do Engenho Velho e a

de São Christovam. Em 1865, foi constituída a do Espirito Santo, com terrenos das

de São Christovam, Santo Antonio e Engenho Velho.” (Fleiuss, 1928, p. 186)

Por este motivo, esta pesquisa se baseará no passado histórico da Freguesia do

Espirito Santo para resgatar a memória do Rio Comprido.

“A sua população é calculada aproximadamente em 31.500 habitantes, A estatística

da população do Distrito Federal, de Dezembro de 1890, apresenta para esta fregue-

sia 31.244 habitantes (…). O recenseamento de 1879 calcula em 16.000 habitantes

residentes naquele ano no território do Espirito Santo.” (Santos, 1965, p. 46)

Page 23: RIO COMPRIDO: LUGAR, MEMÓRIA E IDENTIDADE (Monografia)

23

Os números apresentados na obra de Noronha Santos, referentes aos dados popu-

lacionais das freguesias da cidade do Rio de Janeiro, têm origem nos primeiros recenseamen-

tos dos habitantes feitos entre o período colonial e imperial, sendo o segundo recenseamento

feito exatamente às vésperas da independência do Brasil (Fleiuss, 1928, p. 163). Estes censos

eram calculados a partir dos limites de cada freguesia. Sendo que o atual Rio Comprido, nesta

época, possuía uma parte pertencente à Freguesia do Engenho Velho e outra à freguesia do

Espirito Santo. Logo, torna-se impossível fazer um estudo exato sobre a evolução urbana do

bairro pelos dados apresentados sobre este período. Portanto, no próximo tópico pretende-se

apresentar a evolução do Rio Comprido analisando os dados referentes apenas à Freguesia do

Espirito Santo, começando pela década de sua fundação, 1870.

“Freguesia era uma designação portuguesa que significava paróquia. Eram territó-

rios submetidos à jurisdição espiritual que também exerciam a administração civil.

O controle das freguesias estava nas mãos dos bispos os quais eram considerados

nobres vinculados à coroa real portuguesa, portanto sua atuação religiosa estava ili-

mitada com frequência aos interesses políticos.” (Fridman, 2008, p. 2)

No período em que a Freguesia do Espírito Santo foi desmembrada da Freguesia

do Engenho Velho em 1865, a independência do Brasil já era um fato consumado, e as paró-

quias não tinham tanto poder após a expulsão dos jesuítas. Logo, a denominação Freguesia do

Espírito Santo foi mais um simbolismo do que de fato a identidade deste lugar por parte dos

moradores que preferiam dizer com o maior orgulho que residiam no bairro Rio Comprido.

Esta ideia pode ser confirmada no trecho destacado da obra Baú de Ossos do escritor Nava

(2005), onde se lê: “esse nome de freguesia não pegou no bairro, porque bairro é coisa mais

íntima e mais definida” (p. 288)

Segundo o Dicionário do Aurélio (2013) a palavra bairro significa “porção de ter-

ritório de uma povoação, mais ou menos separada ou cada uma das partes principais em que

se localiza a população de uma cidade”. Diante das múltiplas definições deste termo segundo

diversos geógrafos, destaca-se a definição de Maria Therezinha Segadas de Soares (1995):

“A noção popular de bairro é muito mais geográfica, mais rica e mais concreta. Ela

se baseia num sentimento coletivo dos habitantes, que têm a consciência de morarem

em tal ou qual bairro. Esse conhecimento global, que cada um tem em residir em de-

terminado bairro, é fruto da coexistência de uma série de elementos, que lhe dão

uma originalidade, uma individualidade, em meio aos outros bairros que os cercam.

(Soares, 1995, p.105-106).

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24

A autora enxerga a ideia de bairro como sendo construída através de uma noção

de origem popular. E desta noção que encontraremos a origem do nome Rio Comprido.

"No inicio se chamou Catumbi que na língua dos índios significava rio assombrado.

Depois foi Rio dos Coqueiros, e mais tarde, batizado pelo Senador Câmara, ganhou

o nome de Iguassú. Mas, no correr do tempo a designação popular Rio Comprido

prevaleceu e foi oficializada em 1875." (Geraldo, 1985)

Segundo o geógrafo Abreu (2010), depois de uma vasta pesquisa sobre a real lo-

calização do chamado rio comprido (nome da corrente fluvial e não do bairro), este autor

transcreve em sua obra, Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700), documentos e

arquivos que comprovam que o rio que corta o bairro era o rio Iguassú, denominado assim

pelos índios que ali habitavam antes mesmo da chegada dos portugueses.

“A palavra yguasu tem origem indígena (guarani) onde: "y" significada água e

"guasu" significa grande. Portanto, iguassú ou iguaçu, em guarani significa "água grande" ou

"rio grande" (Silva, 1966).

Portanto, através dos tempos, o significado do termo iguassú tornou-se popular-

mente conhecido como grande rio, longo rio, comprido rio ou rio comprido.

Retornando à definição de bairro dada por Soares (1995) a qual se baseia numa

ideia coletiva, num sentimento mutuo dos moradores, chamar a freguesia de bairro e dar o

nome de Rio Comprido pode ser considerado como o marco histórico no que tange ao nasci-

mento deste lugar: que "em 1875 foi oficializado pela Câmara Municipal com este nome"

(Geraldo, 1985).

2.2 - Primórdios da Evolução Urbana

Na ciência geográfica, institucionalizada por volta de 1870, a sistematização dos

estudos sobre o espaço urbano só começou a ser realizada a partir de 1920 (Abreu, 1994). No

Brasil esta sistematização é ainda mais tardia, sendo somente consumada quinze anos depois

de terem sido registrados os primeiros estudos referentes ao urbano (Silva, 2003, p. 9).

O espaço urbano e sua formação são temas de estudo que envolvem a constante

reconfiguração do espaço total e de seus diversos recortes. Diferentes correntes da geografia

passaram a se preocupar cada vez mais com este tema ao longo do século XX. Vasconcelos

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25

(1994) faz referência às diferentes contribuições que estes paradigmas da geografia urbana

trouxeram para a compreensão das cidades ou das sociedades urbanas.

“No paradigma clássico: o sítio e a situação; a evolução urbana; as funções urbanas;

os raios de ação das cidades; e a região de influência das cidades. No paradigma teó-

rico-quantitativo: a classificação das cidades; a hierarquia das cidades; a distribuição

das cidades segundo o tamanho; os sistemas de cidades; os padrões locacionais e

espaciais. No paradigma crítico: os circuitos superior e inferior; os elementos do

espaço; a divisão territorial do trabalho; a divisão social do espaço; as formações

sócio-espaciais. (Vasconcelos, 1994, p.74).

Dentre os grandes expoentes dos estudos em geografia urbana no Brasil, destaca-

se, nas últimas décadas o geógrafo Maurício de Almeida Abreu, o qual baseia suas pesquisas,

sobretudo, os estudos sobre a cidade do Rio de Janeiro. Em sua obra intitulada “Evolução

Urbana do Rio de Janeiro” o autor desenvolve um estudo dando uma especial atenção ao

papel desempenhado pelo Estado, sem descuidar dos vários agentes modeladores do espaço,

partindo da premissa de que a cidade do Rio de Janeiro se estruturou segundo um modelo

segregador que separa o núcleo da periferia. Neste sentido, este tópico que referencia a evolu-

ção urbana no Rio Comprido, tem como embasamento teórico o livro citado, porque nada há

de mais completo sobre a evolução do espaço urbano carioca.

Segundo Abreu (1987), foi somente a partir do século XIX que a cidade do Rio de

Janeiro começou a se transformar radicalmente e a apresentar uma estrutura espacial estratifi-

cada em termos de classes sociais. Em seu livro, o autor diz que a vinda da família real impôs

ao Rio de Janeiro uma classe social até então inexistente. Deve-se destacar que os primórdios

deste processo urbano podem ser identificados já na passagem do século XVI para o XVII

quando a produção de açúcar no sul do Brasil se desloca para a capitania do Rio de Janeiro, na

região da baía de Guanabara, onde se falam em dezenas de engenhos em produção, segundo

arquivos históricos. Conforme já visto, um destes engenhos se chamava Engenho Velho, um

dos maiores da capitania na época, correspondendo nos dias atuais, segundo citações de histo-

riadores, autores formais ou informais, ao bairro aqui pesquisado.

Alguns antecedentes históricos devem ser destacados. O século XVIII, junto com

a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil e a perda do intenso poder da Igreja sobre as

atividades comerciais e políticas da colônia, foi também marcado pela intensa prosperidade da

capitania. O Porto do Rio de Janeiro começou a exportar ouro e diamantes, extraídos de Mi-

nas Gerais, de tal forma que a cidade se transformou na sede do Vice-Reino do Brasil e a ca-

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pital da colônia. Em 1808, com a chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro, a

colônia se transformou em Império e a cidade do Rio de Janeiro foi beneficiada com várias

reformas urbanísticas.

O Rio de Janeiro de forma geral teve que se relacionar com duas realidades distin-

tas: a convivência como o escravismo e nova tendência liberal capitalista do século XIX. Mas,

o Rio de Janeiro “teoricamente” não atendia às normas e tendências inovadoras que o período

moderno exigia das grandes cidades pelo mundo. Para se adequar às novas necessidades o Rio

de Janeiro teve que reformular os seus padrões, tanto na arquitetura quanto na representação

social de suas elites. E é em torno dessa questão que é desenvolvido o trabalho de análise de

Mauricio de Abreu (1987). Segundo ele, a parte principal da cidade se desenvolveu submetida

às condições naturais de sua geografia. A área era um tanto pantanosa, o que dificultava o

desenvolvimento imobiliário, a princípio. E, levando em conta toda essa situação, o núcleo

comercial se resumia às áreas do Centro, não havendo sentido para o crescimento urbano para

além desses limites. Somente com a chegada da família imperial é que essa situação tendeu a

mudar, por inúmeras razões.

Após o fim da escravidão a situação muda radicalmente. A massa populacional

aumentou consideravelmente, levando até certo ponto, à degradação e à saturação desses es-

paços que, em alguns casos, não contavam com nenhuma política de saneamento etc. Segundo

Lessa (2000), o Rio Imperial, era sujo e enfermiço, tinha poucas facilidades urbanas, prolife-

ravam as infecções por doenças, inexistia uma rede de esgotos, faltava água. A tal situação

veio se somar a outro problema no Rio de Janeiro: a questão da moradia popular, que se de-

senvolvia na forma de favelas e grandes cortiços pela cidade.

O desenvolvimento do Rio de Janeiro, na questão urbanística, teve como marco

fundamental o ano de 1870, com o início das construções de linhas férreas de bondes que de-

marcaram o território do Rio de Janeiro. Destaca-se um trecho da obra de Dunlop (1956) e

Santos (1934), referindo-se ao acordo entre o comendador Malvino Reis e a Câmara Munici-

pal a partir do qual teve início o funcionamento dos transportes públicos no bairro do Rio

Comprido. Referindo-se a Companhia de São Cristóvão a qual foi a responsável pela distribu-

ição e administração dos primeiros bondes que ali circulavam.

“Em 1886, o comendador Malvino da Silva Reis, requereu à Câmara Municipal da

Côrte, concessão para abertura de um túnel de ligação do bairro de Laranjeiras ao do

Rio Comprido, e o uso e gôzo de uma linha de bondes (puxados a burro) que partin-

do da rua Alice, e passando pelo referido túnel fôsse ter ao fim da linha de carris da

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Estrêla, da antiga companhia de São Cristóvão Obtida a autorização, foi o respecti-

vo contrato assinado em 26 de Outubro com Eduardo Klingelhoefer, Manuel Pereira

Fernandes Bravo e o mencionado comendador Malvino Reis. No mês seguinte, êstes

propuseram a venda da concessão à Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico

(...). Mas estes não se interessaram a vista de diversos motivos. Trataram, então

os concessionários de organizar a Companhia Ferro-carril e Túnel do Rio Comprido

que passou a funcionar sob a direção do comendador Malvino Reis e do Barão de

Santa Leocádia” (Dunlop, 1956, p. 17-18).

"Companhia de São Cristóvão - Organização e Regime Econômico - Rio de Janeiro

Street Railway que dentro de uma década dominava os bairros de mais densa popu-

lação. A empresa norte-americana mudou sua denominação para São Cristovão pelo

decreto n° 5.466 de 12 de Novembro de 1873. A Companhia abrangia as linhas do

Bispo, Estrêla, Santa Alexandrina, Itapagipe, Catumbi e Itapiru. Em todas as linhas

se cobravam passagens por seções, não excedentes de duzentos réis. Em 1873, pas-

sageiros que pegaram a linha Rio Compridos e Ramal do bispo: 724.544 passagei-

ros." (Santos, 1934, p. 57)

Figura 4. Bonde 47 que ligava a Rua Santa Alexandrina a diversas locais do bairro.

Fonte: Fotografia de Ferreira Junior / www.rioquepassou.com.br/

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Segundo a autora Weid, os bondes e os trens urbanos foram essenciais para a ex-

pansão e organização do espaço urbano do Rio de Janeiro. Mais precisamente sobre a Fregue-

sia do Espírito Santo, a historiadora Galvão (1992), destaca em um dos trechos de sua obra

sobre a questão ambiental do Rio de Janeiro ao longo da história, que a urbanização desta

área, que futuramente iria chamar-se bairro Rio Comprido, se iniciou na metade do século

XIX e, confirmando a tese de Elisabeth Von, evoluiu junto com a expansão dos transportes

públicos da época.

"Também na primeira metade do século, urbanizaram-se as chácaras do Catumbi,

uma das quais fora comprada para loteamento ainda em 1812. Daí progrediu a área

urbana em direção de Santa Teresa (ladeira de Paula Matos, 1844) e do Rio Compri-

do. Data dos meados do século a Rua Barão de Petrópolis bem como o primeiro tre-

cho da Rua Haddock Lobo, cuja origem se deve a trabalhos de aterro, entre o arraial

de Mata-Porcos e o Rio Comprido. Por essa época, na Tijuca, no Engenho Velho, no

Andaraí e, mesmo, no Engenho Novo, havia numerosos solares, mas esses arrabal-

des ainda não haviam adquirido função urbana. Contudo, desde 1838, já eram servi-

dos pelos ônibus de tração animal, além de São Cristovão e do Rio Comprido, o En-

genho Velho, a rua Nova Imperador (Mariz Barros) e o Andaraí Pequeno." (p. 50).

Maurício Abreu (1987) apresenta várias tabelas através das quais ilustra o cresci-

mento populacional da cidade do Rio de Janeiro, sob a visão dos números constados pelos

recenseamentos de diferentes épocas. Cabe neste trabalho, analisar primeiramente a evolução

urbana através do crescimento populacional, em um primeiro momento, da Freguesia do Espí-

rito Santo, pois conforme dito no tópico anterior, a maior parte da atual delimitação do Rio

Comprido, estava compreendida nesta Freguesia.

Enfatiza-se a observação de que os recenseamentos feitos nos anos que aparece-

rem na tabela 1 eram realizados por limites das Freguesias e não por bairros como é feito atu-

almente.

Tabela 1. População Residente na Freguesia do Espírito Santo – 1870 a 1920

Ano População Residente

1870¹ 10796

1872² 14130

1890² 31389

1906³ 59117

1920² 77798 Fonte: 1 – Lobo, 1978 apud Abreu, 1987, p. 39. / 2 – Recenseamentos de 1872, 1890, 1920. / 3 – Mortara, 1947

apud Abreu, 1987, p. 57.

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A tabela 1 mostra que em cinquenta anos, entre meados do século XIX e o inicio

do século XX, houve um aumento exorbitante de 720% da população residente na Freguesia

do Espírito Santo. Neste período toda a cidade também sofreu os impactos do acelerado cres-

cimento populacional devido ao fim da escravidão. A este respeito, Abreu (1997) refere-se

que a abolição da escravatura em 1888, contribuiu significativamente para aumentar o proces-

so de migração em direção à cidade do Rio de Janeiro.

A intensa aglomeração de indivíduos que buscavam morar próximo ao Centro da

cidade teve como consequência o aumento do número de habitações coletivas. Conhecidas

como cortiços ou casas de cômodos, eram moradias precárias e superlotadas. Para se ter no-

ção do problema, segundo os dados apresentados por Mauricio Abreu (ano???), em 1870 a

população da Freguesia do Espírito Santo era de quase onze mil residentes, sendo que apro-

ximadamente dois mil, moravam em cortiços (Lobo, 1978, apud Abreu, 1987).

Comparar esta Freguesia ao atual bairro do Rio Comprido é algo bastante incerto,

pois a delimitação desta é desconhecida. Sabe-se apenas que compreendia partes do atual Ca-

tumbi, Estácio, Cidade Nova, uma pequena parte da Tijuca e a maior parte no Rio Comprido.

Mas para fazer qualquer pesquisa sobre qualquer bairro do Rio de Janeiro neste período, pre-

cisa-se usar deste artificio, pois naquela época, lembrando mais uma vez, não havia recense-

amento por divisão de bairros como é atualmente, e sim, era feito seguindo a delimitação das

freguesias.

Segundo o historiador Noronha Santos (1965), a do Espírito Santo possuía doze

escolas municipais de ensino primário e outras de ensino particular, ministrado por conceitua-

dos colégios localizados nas melhores ruas. Havia também o Seminário do Rio Comprido,

dirigido por padres, situado no prédio da antiga Chácara do Bispo (atualmente Casa do Bis-

po). Santos (1965) destaca ainda o comércio e a indústria, representada por duas fábricas, uma

de gelo e outra de cerveja, que ocupava uma vasta área e dispunha de aperfeiçoada maquina-

ria. “Ali se festejava nas igrejas e nas ruas, o dia do Divino Espírito Santo, padroeira da Fre-

guesia, onde saiam das igrejas grupos de moços e velhos, vestidos de calça cor, casaca de chi-

ta, sapatos debruados de fitas e chapéus enfeitados com a bandeira do Divino Espírito Santo”

(Santos, 1965, p. 51).

“A freguesia era abastecida por duas caixas d'água: a do Barro Vermelho, com en-

trada pela Rua do Estácio de Sá, e a da Chácara do Céu, no Morro de São Carlos, re-

cebendo parte do Espírito Santo, ao lado do rio comprido (trecho fluvial e não bair-

ro), para abastecimento, excelente água de Santa Teresa e suas vertentes, até perto

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da Rua Santa Alexandrina. Comunica-se a freguesia com o centro da cidade pelos

bondes da Companhia de São Cristovão, das linhas do Rio Comprido, Estácio de Sá

e Catumbi” (Santos, 1965, p. 48)

Mas por que citar nesta parte a memória do Rio Comprido através das característi-

cas e atividades da Freguesia do Espirito Santo naquela época? A resposta é que para se tentar

explicar o motivo do abrupto aumento populacional no período de cinquenta anos registrado

na tabela 1 é preciso entender o que havia neste lugar.

As escolas, as fábricas, as festividades da igreja, a facilidade de locomoção feita

pelos bondes, tudo isto era propício para chamar a atenção dos moradores de outras localida-

des que passaram a residir no Espírito Santos, assim como habitantes de outras províncias e

até mesmo estrangeiros. E foi desta maneira, a partir de 1870, que a evolução urbana do Rio

Comprido teve seu início.

Este é um espaço urbano, materializado, complexo, na medida em que “constitui-

se [...] no conjunto de usos da terra justapostos entre si” (Corrêa, 1999, p. 7). “Espaço frag-

mentado e articulado, reflexo e condicionante social, conjunto de símbolos e campo de lutas –

é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por a-

gentes que produzem e consomem espaço” (ibid. 1999, p. 11). Esses agentes são chamados de

agentes produtores do espaço, cujas ações de alguns (promotores imobiliários e o Estado) são

as mais elencadas; já os demais agentes, ou seja, os proprietários fundiários, os proprietários

dos meios de produção e os grupos sociais excluídos também produzem a cidade.

O conjunto de terras no ao qual o autor se refere, no sentido desta pesquisa, com-

preende-se como a área a frente das encostas do maciço da Tijuca, cortado por um extenso rio

que deu nome ao bairro. E o uso destas terras foi feita de forma bastante trabalhosa, pois se-

gundo o escritor Pedro Nava (1972) em sua memória individual, relata que o terreno do Rio

Comprido, antes das reformas que o canalizou, era constantemente feito de atoleiros, man-

gues, uma espécie de pantanal e o rio principal se transbordava com as chuvas, alagando tudo.

Além da questão da insalubridade, o espaço ainda era fragmentado num conjunto

de símbolos e campos de lutas, entre o Estado e os cidadãos, entre as diferentes classes soci-

ais, era resultado de ações que desde a pioneira fazenda do Engenho Velho, foram acumula-

das e engendradas por agentes que consumiam o próprio espaço que estava sendo criado. Nes-

te contexto, o Rio Comprido iria passar neste período, pela sua primeira reforma urbanística.

Uma extensão da politica higienista implantada na cidade entre os anos de 1903 a 1906, de-

nominada de Reforma Pereira Passos.

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2.3 - A Reformas Urbanísticas

Francisco Pereira Passos, este é o nome do engenheiro brasileiro, e responsável

pela maior reforma urbanística na cidade do Rio de Janeiro. Prefeito do Distrito Federal, no-

meado pelo presidente Rodrigues Alves, ao lado de Lauro Müller, Francisco Bicalho e Paulo

de Frontin, promoveram uma grande reforma na cidade com o objetivo de transformá-la numa

capital nos moldes franceses.

Conforme foi dito, o crescimento populacional na cidade entre meados do século

XIX e inicio do século XX, devido ao grande número de imigrantes que desembarcavam a-

bundantemente nos portos e nas estações de trem, teve como consequência o aparecimento de

inúmeros cortiços, moradias precárias, barracos tendo sido os morros rapidamente ocupados.

A população pobre e marginalizada era composta essencialmente por africanos ou afro-

brasileiros libertos da escravidão e em menor proporção por europeus de origem portuguesa.

A liberação da mão-de-obra escrava está relacionada a uma crise na agricultura cafeeira no

espaço fluminense e ao deslocamento da população rural para a capital. Além dos negros dis-

putarem entre si qualquer esmola ou emprego da pior espécie para conseguir sobreviver na

cidade, ainda precisaram disputar espaço físico e social com outros grupos oriundos do meio

rural que buscavam melhores condições de vida na cidade (Santana; Soares, 2009, p. 2).

Conforme cita Corrêa (1999), o espaço urbano é um campo de lutas, e na cidade

do Rio de Janeiro, esta guerra foi literalmente travada entre a elite carioca que habitava man-

sões situadas nos bairros elitizados e as massas populares que se amontoavam nos morros e

nas áreas degradadas do Centro da cidade, como alternativa às opções de moradia distantes e

desprovidas de infraestrutura de transportes, dentre outros equipamentos urbanos.

“Os trabalhadores do final do século XIX e início do século XX tinham dificuldades

em arcar com os elevados custos dos transportes coletivos existentes na cidade. Os

aluguéis também eram obstáculo quase intransponível ao mercado imobiliário for-

mal, bastante valorizado devido à forte especulação. Com a necessidade de ficar

próximo ao mercado de trabalho, não restavam alternativas à população, a não ser

ocupar os morros localizados nas proximidades da cidade velha. A procura insistente

por moradias agravava o déficit habitacional no Rio de Janeiro, dessas dificuldades

surge à alternativa popular da autoconstrução” (Santana; Soares, 2009, p. 2)

Diante das circunstâncias, a capital do Brasil, que antes era uma cidade próspera e

estava em ascensão financeira e cultural devido à chegada da Família Real Portuguesa, no

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inicio do século XX, ficou entregue à insalubridade, à pobreza e ao desordenado crescimento

urbano. Algo precisava ser feito imediatamente, e isto foi descrito na mensagem do Presidente

Rodrigues Alves ao Congresso Nacional, em 3 de Maio de 1903:

“As condições gerais de salubridade da capital, além de urgentes melhoramentos

materiais reclamados, dependem de um bom serviço de abastecimento de águas, de

um sistema regular de esgoto, da drenagem do solo, da limpeza pública e do asseio

domiciliar” (Brenna, 1985, p.311-312 apud Azevedo, 2003, p. 42)

Foi a partir desta mensagem que teve início a Reforma Pereira Passos, inspirada

pelas reformas do Barão Haussmann, um francês que reestruturou a cidade de Paris na França

após a revolução burguesa, com o objetivo de modernizá-la e embelezá-la estrategicamente.

“De 1903 a 1906, Francisco Pereira Passos revolucionou a cidade do Rio de Janeiro.

Foi a partir de então que as tentativas de torná-la moderna, isto é, uma cidade inte-

grada ao capital monopolista fez com que marcantes transformações emergissem em

sua paisagem. Atrelado a isso, foi a partir daí, que a diferenciação espacial passa a

ser um projeto e uma prática explícita das políticas públicas de ordenamento territo-

rial, desencadeando o processo de ocupação efetiva dos subúrbios e a criação de no-

vas favelas devido ao deslocamento em massa da população para as encostas dos

morros da área central a partir da demolição dos cortiços” (Santana; Soares, 2009, p.

2).

Neste processo urbano e histórico, o Rio Comprido recebeu importantes reformas

as quais se constituíam como uma tentativa de diminuir o constante transbordamento do rio

que o atravessa. Canalizando-o, retiraram os esgotos a céu aberto que causavam diversas do-

enças à população, demoliram os cortiços e os barracos que ali havia, dentre outras reformas,

resultando na instalação de muitos destes moradores em morros das proximidades.

O deslocamento da população mais pobre, varrida do asfalto, em direção aos mor-

ros teve como consequência o surgimento das primeiras favelas no Rio Comprido, conforme

dito e contabilizado nos anos iniciais do século XX, pela pesquisadora Maria Lais Pereira da

Silva (2005, p. 184):

"Quantos às demais circunscrições, vale ressaltar as de maior densidade, que apre-

sentam proporções muito altas de favelização: Rio Comprido (...). No Rio Comprido

situa-se o morro de São Carlos, com cerca de 486 casebres. As referências ao morro

remontam a quase o início do século (XX). As ruas Laurindo Rabelo, São Carlos, e

Azevedo Lima, que se constituem em acessos ao morro e, no caso da última, de ou-

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33

tra vertente, também concentram-se casebres, sendo que na Laurindo Rabelo, de um

conjunto de 240 prédios, cerca de 150 estão nesta categoria (mais de 50%). Portanto,

sendo mais que provável constituir, já nestes anos um acesso "favelizado"

"Contigua a circunscrição do Rio Comprido, a do Espirito Santo representa "o outro

lado" do morro Santos Rodrigues (mais voltado para o Catumbi), formando nesta

vertente a favela do Querosene, de fato mais povoado do que o próprio São Carlos.

Só nesta favela concentrando-se cerca de 784 casebres, que constituem quase a tota-

lidade dos que estão registrados nesta circunscrição (88,76% considerando as 22 ca-

sas da favela Moreira Pinto)."

Diante do processo de reestruturação urbana, era inevitável a retomada da valori-

zação imobiliária do Rio Comprido, com isto, grande partes das antigas famílias herdeiras

voltaram para suas luxuosas chácaras. A reforma que expulsou os pobres da área plana e dei-

xou as ruas largas, compridas e limpas, fez com que o bairro voltasse a ser procurado pela

elite carioca. Estamos agora numa nova fase, que é a revalorização do espaço, no qual o bairro

passará pelo último período que foi considerado nobre.

Este é o período compreendido entre os anos de 1910 a 1960, quando o então en-

genheiro Paulo de Frontin, que ajudou o prefeito Pereira Passos em suas reformas, tornar-se-

ia, alguns anos depois, o próximo prefeito do Distrito Federal. Em seu governo, a abertura da

Avenida que carrega seu próprio nome, tornou-se uma das maiores obras públicas realizadas

na cidade. Este aspecto será desenvolvido no próximo tópico.

Seguindo o modelo de análise do crescimento populacional com o intuito de aju-

dar a entender como se deu a evolução urbana do bairro, veja em seguida a tabela 2 que mos-

tra o número da população residente nesta localidade, ao longo dos recenseamentos feitos

entre as décadas de 1940 a 1970.

O aumento populacional observado no período de trinta anos foi de 135%. Em

comparação com o aumento de 720% registrado no período de 1870 a 1920, podemos dizer

que estes anos descritos no gráfico foram bem mais estáveis, em termos de crescimento popu-

lacional, do que os anos que precederam a Reforma Pereira Passos.

Veja na página seguinte as ilustrações deste período histórico, através das imagens

obtidas no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Nestas imagens estão registradas as

primeiras reformas urbanas que aconteceram no Rio Comprido e a paisagem do bairro antes

da abertura do Túnel Rebouças e da construção do Elevado Paulo de Frontin.

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Tabela 2. População Residente segundo a circunscrição censitária do Rio Comprido. 1940 a

1970

Ano¹ População Residente

1940² 61957

1950² 70979

1960³ 83896

19704 96781

1 – Não foi encontrado o recenseamento populacional do ano de 1930. / 2 – Censo Demográfico de 1940/1950. /

3 – IBGE, 1966. / 4 – Número aproximado da população residente de acordo com os números das décadas anteri-

ores, pois neste ano, o recenseamento não foi feito seguindo a ordem das circunscrições censitárias dos e sim por

regiões administrativas. Neste caso, o número 96781 corresponde ao número da população residente da III Regi-

ão Administrativa denominada Rio Comprido, registrado pelo Censo Demográfico de 1970.

Figuras 5. Fotos do Acervo de Imagens do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, mos-

trando as reformas urbanas que ocorreram no bairro, mais precisamente entre 1915 a 1920.

Fonte: Acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Obtida em janeiro de 2013.

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Fonte: Acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Obtida em janeiro de 2013.

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Fonte: Acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Obtida em janeiro de 2013.

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2.4 - Avenida Paulo de Frontin e o Viaduto Engenheiro Freyssinet

A visão de bairro degradado iria mudar primeiramente a partir do governo do pre-

feito Pereira Passos, responsável pelas grandes reformas urbanísticas na cidade. Mas nesta

época, a reestruturação do espaço urbano se concentrou na área central da cidade com a aber-

tura da Avenida Central, dentre outras obras. No Rio Comprido, o grande responsável pela

revalorização do bairro foi o engenheiro Paulo de Frontin, que se tornou prefeito da cidade no

ano de 1919, tendo o principal logradouro do bairro recebido seu nome. Mauricio de Abreu o

cita: “A administração de Paulo de Frontin durou apenas seis meses, porém foi de densidade

máxima, já que nunca ninguém fez tanto em tão pouco tempo” (Abreu, 1987, p. 36).

Conforme observado na próxima ilustração (figura 6), o bairro enobreceu devido

ao arruamento das ruas, arborização intensa, limpeza e organização, estamos agora diante do

período histórico no qual o bairro passou pela sua melhor fase. A proximidade à região central

da cidade e o fácil acesso às zonas suburbanas e à zona sul, somando-se ao fato de que nesta

época o bairro era favorecido por linhas de bondes, comércio, boas escolas etc, incluindo a

tranquilidade e o clima ameno da região, devido ao fato de se localizar próximo ao maciço que

se constitui da floresta da Tijuca, fica claro o porquê da super valorização deste bairro neste

período histórico. Mas infelizmente isto durou apenas algumas décadas.

Na década de 1960, a Câmara Municipal junto com o Governo do Estado da Gua-

nabara, estudaram um projeto ambicioso que "desafogaria" o intenso trânsito das ruas e ave-

nidas da área central da cidade.

Mesmo perdendo o posto de capital do Brasil em 21 de Abril de 1960, a cidade do

Rio de Janeiro ainda era a maior atração turística e de imigrantes rurais de diversas partes do

país que buscavam melhores condições de vida. Juntando tudo isto ao fato de que o Brasil dos

anos 1960, chegaria ao maior crescimento econômico de sua história, não era foi surpresa o

aumento no consumo de automóveis nacionais e estrangeiros no país.

Com a expansão da cidade, era inevitável que os residentes das zonas sul e norte

necessitassem chegar à área central, principal concentração econômica, comercial e industrial,

para trabalhar todos os dias. Transportes públicos e automóveis deixavam o trânsito engarra-

fado constantemente, devido às dificuldades em se deslocar de uma zona para a outra. Sem

acesso a caminhos alternativos a não serem aqueles limitados pela geografia natural do muni-

cípio, marcada pela presença de serras e morros, não restava outra opção do governo na épo-

ca, senão a criação de algo que resolvesse a limitação que estas barreiras causavam. A melhor

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opção foi à construção de um túnel, que conectasse as três zonas da cidade. Depois de um

estudo feito por geógrafos, geólogos e engenheiros, chegou-se a conclusão de que perfurar o

maciço da Tijuca até sair no bairro da Lagoa, tiraria o peso do trânsito caótico da região Cen-

tral da cidade.

Figura 6. Estava decidido chamá-la de Avenida Rio Comprido, mas no dia de sua inaugura-

ção, o povo gritando e batendo palmas, pediram para chamá-la de Avenida Paulo de Frontin,

em homenagem ao prefeito que mudou a feição do bairro. Rebatizada no mesmo dia com este

nome. (Augusto, 1946, p. 57)

Fonte: www.rioquepassou.com.br/

O Departamento de Estradas de Rodagem da Guanabara, DER-GB, ficou respon-

sável pelas obras do Túnel Rebouças, iniciadas em abril de 1962. O túnel foi inaugurado em 3

de outubro de 1967 na gestão de Francisco Negrão de Lima, Governador do extinto estado da

Guanabara. Se nome é uma homenagem aos engenheiros e irmãos André Rebouças e Antônio

Rebouças. O projeto definitivo constitui o túnel com 2.800 metros de comprimento, ligando o

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bairro do Rio Comprido ao bairro do Cosme Velho e logo depois outra galeria que dá dar con-

tinuidade até o bairro da Lagoa, na Zona Sul.

Depois de inaugurado, o túnel passou a receber um grande fluxo de carros que

buscavam a mais nova alternativa de ir e vir da Zona Norte a Sul de forma rápida evitando

passar pela região Central. Este foi o projeto do Governo Carlos Lacerda na época, que, no

entanto, ocasionou no constante engarrafamento na Avenida Paulo de Frontin. Logo, entrava

na pauta do governo outra grande obra no bairro, a construção do elevado (figura 7).

Ligado primeiramente ao bairro do Estácio (e conectado à Linha Vermelha desde

1992), o elevado foi construído com base nos principais avanços tecnológicos da época, tendo

sido considerado algo revolucionário até mesmo para os engenheiros mais experientes. A obra

custou em torno de um bilhão e meio de cruzeiros. Seu nome faz homenagem ao engenheiro

francês Eugène Freyssinet, que iniciou o desenvolvimento da tecnologia do concreto proten-

dido, bastante usado na construção do Elevado.

Figura 7. Construção do Elevado.

Fonte: http://oriodeantigamente.blogspot.com.br

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40

Inaugurado, poucos dias depois, o elevado sofreu um dos maiores acidentes da

engenharia nacional na história. Dia 20 de Novembro de 1971, ao meio-dia aproximadamente,

, segundo relatos de antigos moradores, o elevado desmoronou 122 metros de extensão sobre a

Avenida Paulo de Frontin (figura 8). Vinte mil toneladas de concreto caíram de três vãos, ma-

tando 28 pessoas e destruindo 22 veículos (Memória Globo Online). Segundo outros jornais da

época, o responsável por esta tragédia, além do erro matemático dos engenheiros, foi um ca-

minhão carregado com oito toneladas de concreto e pedras que passava por cima do elevado

no momento do desabamento.

Figura 8. A imagem aérea mostra a dimensão da tragédia.

Fonte: CPDoc JB / www.jb.com.br

O acidente obrigou a reconstrução do vão estrutural de todo o viaduto. Aprovei-

tando estas intervenções, o governo do antigo Estado da Guanabara decidiu estendê-lo por

mais dois mil metros, até o Campo de São Cristovão, se configurando na parte mais antiga da

atual Linha Vermelha. Até hoje, nunca foram apontados os responsáveis pelo desabamento.

Quando a reconstrução do elevado foi finalizada, o governo achou prudente fazer

um teste de carga mais rigoroso até mesmo para tranquilizar a população aterrorizada, colo-

cando vários caminhões carregados sob o elevado (figura 9).

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Emilio Ibrahim, um dos responsáveis pela reestruturação do elevado após o des-

moronamento, no dia da segunda inauguração do elevado Freyssinét, em 1974, discursa para

o governador Carlos Chagas e para a população presentes à cerimônia, proferindo as seguintes

palavras:

“Ao entregarmos à cidade do Rio de Janeiro, para pleno uso, o Elevado sobre a A-

venida Paulo de Frontin, inauguramos mais uma obra dentro do espírito do atual go-

verno, qual seja o de que as obras públicas devem ser ajustadas às necessidades so-

ciais. A obra já não nos pertence. É do povo. Que ela cumpra, Senhor Governador,

com absoluta confiança, o objetivo que dela sempre esperamos, integrando-se no sis-

tema viário do Estado, em benefício de nossa população” (Engenheiro Emílio Ibra-

him, um dos responsáveis pela construção do Elevado, no discurso feito em 1974 no

dia de sua inauguração).

Figura 9. Teste definitivo, caminhões passando sobre o elevado para comprovar para a popu-

lação do Rio Comprido e da cidade do Rio de Janeiro o quão forte era a nova estrutura.

Fonte: CPDoc JB / www.jb.com.br

A consequência desta obra foi um rápido processo de desvalorização com efeitos

sobre as transformações urbanas operadas no bairro. As limitações à entrada de luz natural, a

vista para o elevado, o barulho e a poluição levaram muitos moradores a abandonar o bairro.

Os tradicionais moradores mudaram-se e novos moradores se instalaram, mudando comple-

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tamente o perfil da ocupação. Nos anos que se seguiram à instalação do viaduto, os imóveis

passaram por um acelerado processo de desvalorização e registrou-se uma acentuada queda

no índice de qualidade de vida devido à poluição visual, ao aumento da poluição do ar e sono-

ra, resultando, em períodos seguintes, na atração de maiores contingentes de população de

baixa renda.

Marcado pela presença da vertente norte do maciço da Tijuca, o bairro observou,

também, o avanço da expansão urbana em direção às encostas, ocupadas pela população de

baixa renda. A tendência à desvalorização do bairro inaugurada com a construção do túnel e

do elevado seria completada com a expansão das favelas do Turano, do Fogueteiro, do Quero-

sene e o Complexo Paula Ramos. O bairro, amargando ainda o esquecimento e o abandono

por parte das autoridades municipais, passaria a registrar elevados índices de criminalidade.

Segue a tabela 3 na qual é apresentada a evolução da população residente desde os

anos seguintes à construção do elevado, 1980 a 2010.

Tabela 3. População Residente no bairro Rio Comprido. 1980 - 2010¹

Ano População Residente*

1980 39053

1990 41073

2000 34833

2010 43764 Fonte: 1 - IBGE, Censos 1980/1990/2000/2010

Obs: *Deve-se destacar que a tabela 2, descrita anteriormente, fazia referência ao Censo da circunscrição do Rio

Comprido, pois era assim que era feito o somatório populacional das áreas da cidade do Rio de Janeiro, ou seja, a

circunscrição do Rio Comprido abrangia áreas de outros bairros. A tabela 3 apresenta apenas os números da

população residente no bairro propriamente dito, delimitado segundo o decreto de 1981, o qual veremos no pró-

ximo tópico.

Mesmo observando o fato de que entre os anos 1990 e o 2000, houve uma queda

no número de residentes no Rio Comprido, e geral, o aumento da população entre os anos

1980 a 2010, de 112%, foi o menor aumento se comparadas às três tabelas analisadas.

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III - A IDENTIDADE DO LUGAR

O conceito de identidade, podemos dizer em linhas gerais, se refere a um conjunto

de caracteres próprios e exclusivos com os quais se podem diferenciar diversos seres vivos,

objetos inanimados e porque não, diferenciar também lugares. Para a geografia, “há uma rela-

ção direta e explícita entre a construção da memória e a construção da identidade, como de-

monstram os trabalhos de Le Goff (2003), Pollak (1989), Oliven (2006) e Souza (2007). Em

linhas gerais, "a memória é o elemento legitimador da identidade” (Borges; Junior, 2001, p.

5). Neste sentido, esta pesquisa procurou discutir, em primeiro lugar, o conceito de memória,

utilizando este conceito no contexto da evolução histórica e urbana do Rio Comprido e, a par-

tir desta discussão, se debruçar sobre os significados do conceito de identidade.

“(…) Rio Comprido é Rio Comprido. Esse nome, esse caráter, esse cunho (...)”

(Nava, 2005, p. 288). O escritor destaca ocultamente neste trecho a identidade do lugar, dife-

renciando seu nome, ou seja, não há nenhum outro local no município do Rio de Janeiro que

possua esta mesma forma de identificação. O autor também diferencia o caráter do bairro,

pois em sua extensa obra, Baú de Ossos, baseada em sua memória individual, Pedro Nava

consegue deixar o leitor fascinado pelo Rio Comprido.

Sendo a memória um elemento constituinte do sentimento de identidade de um

lugar, este trabalho se estruturou a partir do resgate de memórias individuais, não só dos escri-

tores já citados ao longo do texto, mas também de antigos ou atuais moradores do bairro. A

essência deste lugar será relatada nos próximos tópicos e dando continuidade ao capítulo ante-

rior, veremos a consequência da evolução urbana para os dias atuais.

Como ficou o Rio Comprido hoje em dia? O que aconteceu com aquela antiga fa-

zenda do Engenho Velho em pleno século XXI? Qual é a identidade deste bairro?

3.1 - Delimitação Atual do Bairro

Atualmente cada bairro do Rio de Janeiro é delimitado seguindo o Decreto n.º

3158, de 23 de julho de 1981 que estabelece a denominação, a codificação e a delimitação dos

bairros da cidade. Leia abaixo a transcrição do Decreto, especificamente no que tange ao Rio

Comprido, seguido por uma imagem de satélite correspondente ao bairro delimitado (figura

10).

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“O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso de

suas atribuições legais, tendo em vista a Deliberação n.º 114, de 8 de abril de 1981,

da Comissão do Plano da Cidade - P/COPLAN, aprovada no processo nº.

02/1476/80, DECRETA:

Art. 1.º - A denominação, a codificação e a delimitação dos bairros da Cidade do

Rio de Janeiro ficam estabelecidas por este decreto.

Art. 3.º - A delimitação dos bairros é estabelecida no Anexo II.

Art. 4.º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as dis-

posições em contrário.

Rio de Janeiro, 23 de julho de 1981 – 417º. de Fundação da Cidade

AP.1 - ÁREA DE PLANEJAMENTO 1

III RA – Rio Comprido

007 – Rio Comprido

Do entroncamento da Rua Aristides Lobo com a Rua Hadock Lobo; por esta (exclu-

ída) até a Avenida Paulo de Frontin; por esta (incluído apenas o lado par) até a Rua

João Paulo I; por esta (excluída); Rua do Matoso (incluída); Rua Barão de Itapagipe

(incluída) até a Rua do Bispo e, (excluída) da Rua do Bispo até a Rua Joaquim Pi-

zarro; por esta (excluída), até o seu final, daí, subindo em direção sul ao espigão do

Morro do Turano, passando pelos pontos de cota 151m, 138m e 313m, até o alto do

Sumaré (cota 304m); deste ponto, seguindo pela Estrada do Sumaré (excluída), até a

Estrada Dom Joaquim Mamede; por esta (excluída, excluindo o beco da Lagoinha)

até o entroncamento com a Rua Almirante Alexandrino; daí, subindo e descendo os

espigões do Morro dos Prazeres, passando pelos pontos de cota 221m, 282m e

276m, até atingir o entroncamento da Rua Gomes Lopes (excluída) com a Rua Cân-

dido de Oliveira; por esta e pela Rua Barão de Petrópolis (incluídas, incluindo a Es-

cadaria Cândido de Oliveira) até a Rua Prefeito João Felipe; por esta (excluída); Rua

Eliseu Visconti (excluída) até a Rua General Galvão; por esta (excluída, excluindo a

Travessa General Galvão) até a Rua Itapiru; deste ponto, subindo a vertente em dire-

ção ao Morro dos Santos Rodrigues e passando pelos pontos de cota 151m, 152m e

127m na Linha de Transmissão (Fontes-Frei Caneca); deste ponto em direção à Rua

Major Freitas; por esta (excluída) até a Rua Ambiré Cavalcanti; por esta (incluí-

da) até a Rua Aristides Lobo; por esta (incluída, incluindo a Rua Tenente Vieira

Sampaio) até a Rua Hadock Lobo, ponto de partida” (Rio de Janeiro, 1981)

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Figura 10. Imagem de satélite, grifada pelo autor com linhas brancas, mostrando a real atual

delimitação do bairro segundo o decreto n°. 3158/1981.

Fonte: Instituto Pereira Passos / Satélite CBERS_2b_CCD

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3.2 - Dados Atuais

Nome oficial: Bairro do Rio Comprido – Nomenclatura dada oficialmente desde 1875

(Geraldo, 1985).

Data do Decreto de criação do bairro: 23 de Julho de 1981 – Código do bairro: 007

(Decreto Municipal do Rio de Janeiro, 1981).

Localização: III Região Administrativa (figura 11) / Zona Central /Área de Planeja-

mento I / Município do Rio de Janeiro / Estado do Rio de Janeiro / República Federa-

tiva do Brasil

Figura 11. Sede da III Região Administrativa Rio Comprido, localizada à Rua da Estrela.

Fonte: Fotografia pessoal do autor, obtida em fevereiro de 2013.

Área total: 3,34 Km³ (SMU, 2003)

Áreas: naturais: 25,62% (figura 12) / urbanizadas ou alteradas: 74,83% (SMAC, 2001)

Limites: Alto da Boa Vista, Catumbi, Estácio, Praça da Bandeira, Santa Teresa e Tiju-

ca. (SMU, 2004)

Total da População residente: 43.764 (IBGE, 2010)

Pessoas residentes por sexo: 20.018 homens / 23.746 mulheres (IBEG, 2010)

População residente por cor ou raça: 23.134 brancos / 5.811 negros / 591 amarelos /

14.202 pardos / 52 indígenas / 4 não declarados (IBGE, 2010)

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Figura 12. Encosta do Maciço da Tijuca próximo à entrada do Túnel Rebouças, mostrando

uma parte do bairro na qual o processo de urbanização ainda não promoveu maiores altera-

ções.

Fonte: Fotografia pessoal do autor, obtida em fevereiro de 2013.

População residente por grupos de idade: 3.620 residentes de 0 a 6 anos / 4.691 resi-

dentes de 7 a 14 anos / 3.269 residentes de 15 a 19 anos / 7.637 residentes de 20 a 29

anos / 12.865 residentes de 30 a 49 anos / 5.180 residentes de 50 a 59 anos / 1.818 re-

sidentes de 60 a 64 anos / 3.380 residentes de 65 a 79 anos / 1.304 residentes de 80 ou

mais idade (IBGE, 2010)

Total de domicílios: 15.559 (IBGE, 2010)

Domicílios: 14.369 particulares ocupados / 1.169 particulares não ocupados / 21 cole-

tivos (IBGE, 2010)

Domicílios por tipo: 6.116 casas / 6.933 apartamentos / 190 cômodos / 1.113 casas de

vila ou em condomínios / 14.352 domicílios avaliados (IBGE, 2010)

Quantidade de moradores por domicilio: 14.352 domicílios avaliados / 2.224 com um

morador / 3.748 com dois moradores / 3.678 com três moradores / 2.607 com quatro

moradores / 1.221 com cinco moradores / 515 com seis moradores / 174 com sete mo-

radores / 185 com oito ou mais moradores (IBGE, 2010)

Índice de Desenvolvimento Humano: 0,849 (IBGE, 2000)

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IDH estabelecido pelo calculo dos números a seguir: esperança de vida ao nascer:

70,28 anos / Taxa de alfabetização: 97,00% / Taxa bruta de frequência escolar:

92,60% / Renda per capita média dos residentes: 590,26 R$ / Indice de longevidade:

0,755 / Índice de educação: 0,955 / Índice de renda: 0,838 (IBGE, 2000)

Percentual de alfabetização: 96,8% alfabetizados / 3,2% não alfabetizados / 43.764 re-

sidentes avaliados (IBGE, 2010)

Educação infantil e ensino fundamental: 3.411 alunos matriculados em 4 escolas e 4

creches (IBGE, 2010)

Favelas da III Região Administrativa Rio Comprido (figura 13): Bispo / Matinha

/Azevedo Lima / São Carlos / Parque Rebouças / Paula Ramos / Santa Alexandrina /

Sumaré / Vila Anchieta (áreas ocupadas por favelas cadastradas pelo IPP – DIC,

2010).

Figura 13. A partir de diversas áreas do bairro é possível observar as favelas localizadas no

alto dos morros.

Fonte: Fotografia pessoal do autor, obtida em fevereiro de 2013.

Vejamos a seguir, sobre a fundação de algumas ruas do bairro, a quem a nomen-

clatura de cada uma homenageia e quais os símbolos que estão atualmente ou estiveram loca-

lizados em cada rua, respectivamente.

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3.3 - Elementos Simbólicos do Rio Comprido

Cada lugar possui uma identidade e raramente isto não é reconhecido através de

símbolos presentes em certo local ou em certa área. De acordo com os princípios da geografia

humanística, os lugares são repletos de símbolos. O Geógrafo Mello (2008) em seus estudos

referentes aos símbolos da cidade do Rio de Janeiro, afirma que estes “adquirem profundo

significado, através de laços emocionais tecidos ao longo dos anos”.

Para que se possam identificar os laços que conferem identidade ao Rio Comprido

ou algo que possa ajudar a definir, pelo menos um pouco, este bairro tão complexo histórica e

geograficamente, primeiramente busca-se transcrever o que para muitos moradores é conside-

rado o material mais simbólico do bairro, suas ruas. Estas aparecem com frequência nos rela-

tos que integram a memória individual de Pedro Nava e de alguns moradores entrevistados

durante a pesquisa.

Cada rua deste bairro possui um significado para cada morador ou até mesmo para

quem frequenta as localidades do mesmo. E cada localidade é constituída de casas, prédios,

lojas, escolas, hospitais, praças, monumentos etc tudo quanto for simbolicamente capaz de

trazer à mente do ser humano a imagem de sua memória que identifica e dá nome a certo lu-

gar.

Elementos urbanos somados à memória que cada ser humano possua sobre um de-

terminado local e que os fazem dar uma identidade a este, transformando-o num lugar.

Vejamos abaixo alguns destes elementos os quais podem ser considerados símbo-

los deste lugar, o bairro do Rio Comprido. Algumas vezes faz-se uso de fragmentos históricos

com intuito de não somente de dar identidade, mas também de trazer a memória da composi-

ção do bairro.

Rua Ambiré Cavalcanti - Nominação dada pelo Decreto municipal nº. 3.564, de 04

de Julho de 1931, à antiga rua do Morro” (AGCRJ). Estendida desde a Rua Aristides

Lobo até o alto do Morro Azevedo Lima. (é desconhecida a biografia do homenagea-

do)

Rua Aristides Lobo - Denominação dada pelo Decreto nº.1.165, de 31 de Outubro de

1917, à antiga rua Dr. Aristides Lobo, que começa na rua Haddock Lobo e termina no

Largo do Rio Comprido (AGCRJ). Homenagem a Aristides da Silveira Lobo, paraiba-

no, foi jurista, político e jornalista na segunda metade do século XIX (Castro, 1955).

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Rua Aureliano Portugal - Nominação dada pelo Decreto municipal nº.2.340, de 27

de Março de 1926, ao logradouro que começa na Rua do Bispo. Homenagem a Aureli-

ano Gonçalves de Souza Portugal, paulista, médico renomado que escreveu vários li-

vros sobre medicina. Foi secretário do prefeito Pereira Passos no final do século XIX

(AGCRJ).

Rua Azevedo Lima – Nominação dada pelo Decreto municipal nº.1.704, de 30 de

Março de 1922, à antiga Rua Gomes de Souza (AGCRJ). Homenagem a Jerônimo de

Azevedo Lima, médico tisiologista dedicado à cura da lepra e tuberculose no final do

século XIX (Enciclopédia Barsa, 1967).

Rua Barão de Itapagipe - Antiga Rua do Marechal de Itapagipe, a qual foi unida à

Rua da Bela Vista, no Engenho Velho, que passou a ter esse nome. Nominação oficial

dada pelo Decreto nº.1.165 de 31, de Outubro de 1917, ao logradouro que começa na

Rua Aristides Lobo e termina na Rua Val Paraíso. Homenagem a Francisco Xavier

Calmon da Silva Cabral, tenente General que serviu o Brasil na Guerra do Paraguai, o

Barão de Itapagipe. Faleceu em 1877, português de nascimento, possuía uma chácara

nesta rua no século XIX (AGCRJ).

Rua Barão de Petrópolis – Nominação dada por resolução da Ilma. Câmara Munici-

pal em sessão de 04 de Dezembro de 1884 à antiga Rua da Conciliação. Estendida en-

tre a Rua da Estrela até ao Morro Escondidinho. Homenagem a Manuel de Valadão

Pimentel que se formou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde foi profes-

sor e depois diretor. Foi agraciado Barão, Comendador da Imperial Ordem de Cristo e

oficial da Imperial Ordem da Rosa no século XIX. Foi o único Barão de Petrópolis.

Nasceu em Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro (AGCRJ).

Rua Barão de Sertório – Nominação dada pelo Decreto nº.1.165, de 31 de Outubro

de 1917, ao logradouro que começa na Rua Barão de Itapagipe e termina na Rua Sam-

paio Viana. Antiga Rua Leonina. Homenagem a João Sertório. Foi presidente (gover-

nador) do Rio Grande do Sul no século XIX, antes da proclamação da república (AG-

CRJ).

Rua do Bispo – Começa no Largo do Rio Comprido e termina na Haddock Lobo. Re-

cebeu a denominação de Rua Rio Comprido, em 17 de Dezembro de 1844. A Câmara

Municipal deu-lhe a denominação atual que ainda hoje conserva, por ter sido aberta as

terras do seminário do Rio Comprido e que pertenceram ao Bispo D. Frei Antônio do

Desterro e depois a Mitra, no dia 31 de Outubro de 1917 pelo decreto nº.1.165. Frei

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Antonio do Desterro Malheiros Reimão, nascido em Portugal, foi um prelado benedi-

tino e o sexto bispo católico do Rio de Janeiro (AGCRJ).

Rua Caetano Martins - Denominação dada pelo Decreto nº.1.165, de 31 de Outubro

de 1917, à antiga Rua Dr. Caetano Martins, que começa na Rua Costa Ferraz e termina

na Itapiru (AGCRJ). Homenagem ao Dr. Luis Caetano Martins, médico que ajudava

os moradores menos favorecidos financeiramente e atendia os pobres não cobrando

nada por suas consultas (a biografia deste homenageado não é oriunda de uma referen-

cia bibliográfica oficial e sim de sua parenta que relatou isto este fato durante uma en-

trevista, conforme veremos mais a frente).

Rua Campos da Paz - Denominação antiga Dr. Campos da Paz. (é desconhecido o

Decreto que a denominou). A Rua se estende desde a Rua Aristides Lobo até a Rua

Azevedo Lima (é desconhecida a biografia do homenageado).

Rua Cândido de Oliveira - “Decreto executivo nº.1.453, de 23 de Agosto de 1920,

dá essa denominação à antiga Rua dos Prazeres. Estende-se desde da a Rua Santa Ale-

xandrina subindo até o início do Morro dos Prazeres. Homenagem ao Conselheiro

Cândido Maria de Oliveira, juris consultor, parlamentar, último Ministro da Justiça no

Império” (AGCRJ).

Rua Citiso – Nome dado por causa dos arbustos de flores amarelo-âmbar, que germi-

nam em cachos, usadas em ornamentações. Nos países eslavos são utilizadas em ceri-

mônias matrimoniais. É um símbolo de alegria, beleza e graça. É desconhecido o De-

creto ou Lei que a denominou.

Rua da Estrela – Denominação dada por deliberação da Câmara Municipal, em ses-

são de 05 de Junho de 1866, à travessa de Catumbi. A Câmara deliberou, em 1875,

que a Rua da Estrella começaria na Conciliação, terminando no canto da Praça do Rio

Comprido. Denominação dada pelo Decreto nº.1.165, de 31 de Outubro de 1917, ao

logradouro que começa na Rua Itapiru e Barão de Petrópolis e termina no Largo do

Rio Comprido. Homenagem ao Barão da Estrella, fundador da Caixa de Socorros D.

Pedro V, o negociante português, Joaquim Maia Monteiro, morador em uma chácara

na referida rua (AGCRJ).

Ria Itapirú - Nominação dada pelo decreto nº.1.165 de 31 de Outubro de 1917 ao lo-

gradouro que começa no Largo de Catumbi e termina na Rua da Estrela. O nome Itapi-

ru já tinha sido dado anteriormente pela Câmara em 15 de Abril de 1875 (AGCRJ). É

desconhecido o significado deste nome, sabe-se apenas que tem origem na língua in-

dígena tupi-guarani.

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Rua Japeri – Denominação dada pelo Decreto municipal nº.3.667, de 29 de Outubro

de 1931, ao logradouro que começa na Rua Barão de Itapagipe e termina na Rua Sam-

paio Viana (AGCRJ). De origem indígena, significa uma planta semelhante ao junco,

que flutuava nos pântanos. Os índios a chamavam de Yaperi, que em tupi-guarani sig-

nifica aquilo que flutua (Silva, 1966).

Rua do Matoso - Aberta em 1855 pelo Rev. Cabido do Rio de Janeiro em terrenos da

grande chácara que lhe pertencia e que se estendia desde a atual Rua Haddock Lobo

até a de Mariz e Barros. Teve a sua nominação dada pela Câmara Municipal, em 31 de

Janeiro de 1855, em homenagem ao notável brasileiro conselheiro Euzébio de Queiroz

Coutinho Matoso Câmara, que relevantes serviços prestou à causa da justiça e da so-

berania do município neutro, quando ocupou em 1848 a pasta da justiça. Pelo decreto

nº. 74, de 30 de Janeiro de 1894, foi aprovado o prolongamento da Rua do Matoso até

a Rua de São Cristóvão (AGCRJ).

Rua Paula Frassinetti – Denominação dada pelo Decreto nº.1.165, de 31 de Outubro

de 1917. Homenagem à Paula Frassinetti, religiosa italiana que fundou a Congregação

das Irmãs de Santa Dorotéia em 1834, dedicada ao ensino. Foi beatificada em 1930 e

canonizada em 1984 (AGCRJ).

Rua Paula Ramos - Nominação dada pela Câmara Municipal, em 13 de Março de

1880, à antiga Rua Santo Alexandre. Homenagem a Francisco de Paula Ramos de A-

zevedo que foi um arquiteto paulista. Concluiu a construção da catedral de Campinas,

em São Paulo, primeiro de seus grandes trabalhos (AGCRJ).

Avenida Paulo de Frontin – Nominação dada pelo Decreto municipal nº.2.153, de 11

de Julho de 1925, ao logradouro em prolongamento a Av. Paulo de Frontin e com esta

denominação desde o Largo do Rio Comprido até a Rua Santa Alexandrina (AGCRJ).

André Gustavo Paulo de Frontin foi prefeito do Distrito Federal (Rio de Janeiro).

Rua Salvador de Mendonça – Homenagem a Salvador de Menezes Drummond Fur-

tado de Mendonça que foi um advogado, jornalista, diplomata e escritor, sendo, tam-

bém, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e um dos idealizadores do

Movimento Republicano no país. Nasceu em Itaboraí, Rio de Janeiro. (É desconhecido

o Decreto ou Lei que a denominou).

Rua Sampaio Viana – Denominação dada pelo Decreto nº.1.165, de 31 de Outubro

de 1917, a antiga Rua Conselheiro Sampaio Viana que começa na Rua do Bispo e

termina na Rua Batista Neves. Homenagem a Carlos Américo de Sampaio Viana, bai-

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ano, foi inspetor da alfândega no Rio de Janeiro. Além de agraciado Barão, foi oficial

da Imperial Ordem da Rosa e comendador da Ordem Militar de Cristo (AGCRJ).

Rua Santa Alexandrina - Aberta em 1841. Denominação dada pela Ilma. Câmara

Municipal, em 05 de Novembro de 1973, à antiga Rua da Caixa D'água que começava

no Largo do Bispo e terminava na Chácara de Francisco Muniz de Souza. Em 1979,

começava no Largo do Rio Comprido e terminava na Serra da Lagoinha. Em 1935,

passou a terminar na Estrada da Lagoinha (AGCRJ). Homenagem à Alexandrina Ma-

ria da Costa, beatificada pelo Papa João Paulo II, em 25 de Abril de 2004. Católica re-

conhecida com fama de santidade, morta em 13 de outubro de 1955.

Rua Tenente Vieira Sampaio – Aurélio Vieira Sampaio, sergipano, foi piloto da Ae-

ronáutica. Cumpriu 16 missões de guerra. Em janeiro de 1945, durante a IIª Guerra

Mundial, foi mortalmente atingido pela artilharia antiaérea alemã, quando tinha apenas

22 anos (AGCRJ). É desconhecido o Decreto ou e Lei que a denominou.

Rua Visconde de Jequitinhonha - Nome dado pela Câmara Municipal, em 15 de Ja-

neiro de 1874, à rua aberta pelo Conde Estrela e outros proprietários de terrenos no

Rio Comprido. O nome indicado substituiu o de Concórdia com o qual se abrira a rua

por já existir outra idêntica nominação. Homenagem a Francisco Gomes Brandão, bai-

ano, foi advogado, jurista e político. Por sua participação na política brasileira no sé-

culo XIX, foi agraciado comendador da Imperial Ordem do Cruzeiro.

Praça Del Vecchio – Giorgio Del Vecchio foi um filósofo italiano que defendia a e-

xistência do Direito Natural. É desconhecido o Decreto ou a Lei que a denominou.

Praça Rio Comprido – Antigo Largo do Bispo. Nome dado pela Ilma. Câmara Mu-

nicipal, em 15 de Abril de 1875, à praça no fim da rua da referida denominação. Praça

Condessa Paulo de Frontin, Nominação dada pelo Decreto municipal nº.2.914, de 20

de Outubro de 1928, ao Largo do Rio Comprido. Recebeu o mesmo nome do bairro

(AGCRJ).

Estas são as principais ruas do bairro, indicadas as datas de suas denominações o-

ficiais e as referências do homenageando. Sobre a Estrada do Sumaré, Travessa Calux, Coro-

nel Barros, Maia de Lacerda, Travessa da Paz, Dona Cecília, Costa Ferraz, Augusta de Sá,

Caturama, dentre outras ruas, não foram encontrados dados históricos sobre elas.

Dando continuidade ao levantamento dos símbolos do Rio Comprido, vamos nos

ater aos objetos que estão instalados nas ruas, somando-se ao seu passado histórico e a sua

importância atual.

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Paróquia Nossa Senhora das Dores – Avenida Paulo de Frontin, nº.500. Construída

sob estilo arquitetônico romano clássico, tem na fachada uma porta central grande,

com a imagem de Nossa Senhora das Dores acima. No seu interior a via sacra é repre-

sentada por quadros. O altar-mor tem Jesus crucificado, com Nossa Senhora das Dores

na base. À direita da Igreja ficava o Cine Sete Santos, que exibia em todo final de se-

mana um filme diferente, além de ser palco de algumas peças teatrais, protagonizadas

pelos próprios moradores. Atualmente o cinema serve de salão para eventos e cursos

diversos. Existem, também, várias salas que oferecem uma assistência médica social,

dentre os quais, psicólogos, A.A. e N.A (Fonte: www.nossaparoquiansdores.com.br).

Igreja de São Pedro (figura 14) – Avenida Paulo de Frontin, nº. 566. Uma das mais

lindas igrejas do Rio de Janeiro, tanto pela construção de estilo neorromânica, como

pelo seu interior, de extrema beleza. Por essa sua beleza, muitos casamentos de perso-

nalidades do Rio de Janeiro foram realizados nesta igreja. Antes de ser instalada no

Rio Comprido, a referida igreja se localizada no Centro, tendo sido demolida em 1944

para a abertura da Avenida Presidente Vargas. A localização do novo prédio foi esco-

lhida por estar próxima a Casa do Bispo do Rio de Janeiro (Fonte:

http://oriodeantigamente.blogspot.com.br).

Figura 14. Frente da Igreja de São Pedro. Para a maioria dos moradores, este é o maior sím-

bolo do bairro.

Fonte: Fotografia Pessoal do Autor, obtida em fevereiro de 2013.

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Paróquia São Francisco de Assis – Rua Caetano Martins, nº. 42. Erigida canonica-

mente em 1º de julho de 1967. Diferentemente das duas igrejas anteriores, que fica-

vam situadas bem no centro do Rio Comprido, esta é frequentada pelos moradores

mais distantes. Funcionava em um prédio anexo à Paróquia, o extinto Ginásio Francis-

cano. Nos anos 60, Frei Alexis, além de muito querido pelos fiéis da igreja, era o res-

ponsável pelo Ginásio que tinha como alunos uma grande quantidade de rapazes mo-

radores do bairro. As moças frequentavam o prédio que ficava localizado na Rua da

Estrela. (Fonte: http://ofsriocompridorj.blogspot.com.br)

Escola Municipal Pereira Passos – Praça Condessa de Frontin, nº. 45. Fundada em

19 de Novembro de 1922, proporcionou o ensino primário aos moradores. Atualmente

oferece todo o ensino fundamental. O nome da escola homenageia o prefeito respon-

sável pelas obras urbanísticas no Rio de Janeiro do início do século XX.

Instituto Padre Leonardo Correscia – Rua Barão de Itapagipe, nº. 96. Fundado em

18 de Outubro de 1946, pertence à Congregação das Irmãs Franciscanas Alcantarinas.

A educação ministrada no Carrescia é inspirada nos princípios da liberdade e nos ide-

ais de solidariedade humana e cristã. (Fonte: http://www.iplc.g12.br/).

Fundação Osório – Rua Paula Ramos, nº. 52. Inicialmente criada para atender exclu-

sivamente as filhas órfãs de militares, evoluiu, tendo passado a atender filhas de mili-

tares e, posteriormente, meninas da comunidade. A partir de 1993, atende a meninas e

meninos, filhos de militares e civis em geral. É uma instituição federal de ensino, vin-

culada ao Ministério da Defesa, que atualmente oferece vagas nos Ensinos Fundamen-

tal e Médio. As primeiras ideias sobre a criação da Fundação Osório remontam ao ano

de 1907, quando três oficiais encarregados dos festejos do centenário de nascimento

do Marechal Osório apresentaram, também, a necessidade de se criar um orfanato com

vistas à educação das filhas órfãs de militares de mar e de terra falecidos na Guerra do

Paraguai, à semelhança do que já se fizera em relação aos meninos, para os quais fora

criado o Imperial Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ), em 1889. Em 1921, fi-

nalmente, foi sancionado o Decreto Legislativo autorizando o Poder Executivo a criar

o Orfanato pretendido, o que ocorreu pelo Decreto nº. 14.856, de 01 de junho. A partir

de 1993, a Fundação, que era exclusivamente destinada a meninas, passou a admitir,

também, alunos do sexo masculino (Fonte: http://www.fosorio.ensino.eb.br/).

Hospital Casa de Portugal – Rua do Bispo, nº. 72. Um dos mais conceituados hospi-

tais do Rio de Janeiro, foi fundado em 1928 por um grupo de portugueses radicados no

Brasil. Tem equipes de profissionais das mais variadas especialidades. Possui um Nú-

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cleo Avançado de Cirurgia de Mama e um Centro de Diagnóstico e Tratamento de

Doenças do Sono, entre outras especialidades (Fonte: www.cportugal.com.br/)

Hospital Municipal Salles Neto – Praça Condessa Paulo de Frontin, nº. 52. O Hospi-

tal Municipal Salles Netto teve origem no Departamento de Puericultura, na Tijuca,

em 1949, transferindo-se para São Cristóvão em 1951 com o nome de Centro de Tra-

tamento da Toxicose. Dez anos depois, mantendo o perfil assistencial, recebeu o nome

de Centro de Reidratação Salles Netto. Em 1962 mudou-se para a sede atual no Rio

Comprido, em 1965, transformou-se no Hospital Estadual Salles Netto, tendo sido

municipalizado em 1975. A partir de março de 1991 passou por uma reformulação ra-

dical em sua estrutura física e organizacional. O Hospital foi reaberto em outubro de

1992, com nova proposta de atendimento, resultado de ampla discussão entre seus

funcionários, a comunidade local e a Gerência do Programa da Criança. A otimização

e humanização do espaço possibilitaram a ênfase na Pediatria ambulatorial, diferente

do fluxo anterior baseado no pronto-atendimento. Possibilitaram ainda que fossem cri-

adas condições que estimulassem a presença da família junto à criança internada, con-

cretizando o direito da criança ao alojamento conjunto. O Hospital Municipal Salles

Netto foi testemunha atuante de inúmeras fases e marcas da Pediatria no Rio de Janei-

ro (Fonte: http://www.sms.rio.rj.gov.br)

Hospital Central da Aeronáutica – Rua Barão de Itapagipe, nº. 167. A colônia Ale-

mã do Rio de Janeiro aspirava à construção de um Hospital desde 1883. Em 07 de Ju-

lho de 1897, após sucessivas tentativas de angariar fundos para a construção de um

hospital alemão, foi finalmente reunida e fundada uma associação para construção do

referido hospital (Deutscher Hospital-Verein). Tal associação ficava localizada na Rua

Barão de Itapagipe, nº. 109-129. Em 08 de dezembro de 1932, a colônia alemã reunida

no Brasil lançou a pedra fundamental do Hospital Alemão, fruto do trabalho do cônsul

Otto Matheis. Na época foi considerado o hospital de mais alto padrão técnico do Rio

de Janeiro. No lançamento da Pedra Fundamental estiveram presentes entre outros o

ministro alemão Hubert Knipping, autoridades eclesiásticas, jornalistas brasileiros

dentre os quais Herbert Moses da Associação Brasileira de Imprensa, Dr. João Mari-

nho da Universidade Federal do Rio de Janeiro e outros. Constituída a Associação

Hospitalar “Itapagipe Sociedade Beneficiente” e para evitar possíveis complicações de

ordem política em vista dos acontecimentos que se desenrolavam na Europa, o nome

original de Hospital Alemão foi mudado para Hospital Itapagipe. Atualmente o Hospi-

tal proporciona assistência médica e dentária aos militares da Aeronáutica e seus de-

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pendentes, com tecnologias modernas e equipes de profissionais qualificados (Fonte:

www.hca.aer.mil.br)

Amparo Feminino – Rua da Estrela, nº. 27. Fundado em 22 de Agosto 1912 pelo Pas-

tor Friedrich Hoepffner, da Igreja Evangélica Luterana do Rio de Janeiro, em conjunto

com a Associação de Senhoras Evangélicas, com o objetivo de dar assistência mater-

no-infantil a pessoas carentes da colônia teuto-brasileira. É administrado por uma e-

quipe de profissionais, possuindo os serviços essenciais de um hospital geral (Fonte:

www.hospitaldoamparo.com.br/)

Clube Ginástico e Desportivo de 1909 – Rua Santa Alexandrina, nº. 1129. Junto com

o extinto Helênico Atlético Clube, sempre foi muito frequentado pelos moradores. Sua

ampla área oferece futebol soçaite, piscinas, quadra de esportes, além de outras ativi-

dades, como o tradicional “bolão” (uma espécie de boliche), praticado desde a funda-

ção do clube pelos associados de origem alemã. Muitas famílias do bairro passam o

fim de semana frequentando as dependências do clube, que oferece almoço e churras-

co aos associados.

Clube do Curió – Praça Del Vecchio s/n. Destinado aos criadores de pássaros, é um

dos clubes mais antigos do bairro. Sua localização na Praça Del Vecchio é privilegia-

da, ambiente propício para o exercício dos cantos dos pássaros (Fonte:

http://avozdoalto.spaceblog.com.br)

Figura 15. Frente do Casarão do Bispo

Fonte: Fotografia Pessoal do Autor, obtida em fevereiro de 2013.

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Casa do Bispo (figura 15) – Avenida Paulo de Frontin s/n. Uma das mais belas resi-

dências rurais do Brasil (uma casa de chácara), construída no início do século XVIII

para abrigar o segundo bispo do Rio de Janeiro. Tombada em 1938, desde 1980 per-

tence à Fundação Roberto Marinho, sendo utilizada como espaço de arte.

O último elemento simbólico apresentado nesta lista foi escolhido a Casa do Bis-

po, pois sem dúvida, esta representa a memória do bairro, sendo o único elemento do período

colonial do Brasil ainda existente no bairro e como consequência o mais antigo. Podemos

dizer que simbolicamente a identidade do bairro é representada pela Igreja de São Pedro,

mesmo que para alguns moradores e para a população carioca em geral, o elemento mais mar-

cante do bairro seja o Elevado.

O Elevado Paulo de Frontin é sem dúvida o maior marco da história do bairro, é

como se fosse um “cristo” na história do mesmo, separando o antes e o depois. Da nobreza e

do luxo para a miséria e a escuridão. Vejamos no próximo e último tópico deste trabalho as

diferentes visões e definições da identidade do lugar.

Esta pesquisa buscou transcrever fragmentos históricos, comentando e analisando

espacialmente as consequências históricas para os dias atuais, utilizando-se do ramo da geo-

grafia-histórica e em seguida delimitou e contextualizou os números atuais do bairro, segundo

o último Censo demográfico, procurando identificar os símbolos através das principais ruas e

logradouros como forma de chegar a uma identidade deste lugar. Para finalizar este segundo

capítulo, busca-se analisar as respostas dadas de alguns moradores entrevistas com intuito de

todo esse material e de definir o que é afinal de contas este lugar singular da cidade do Rio de

Janeiro, o Rio Comprido.

3.4 - O Bairro na Visão de Alguns Moradores e Ex-Moradores

Tudo quanto foi falado até aqui será reapresentado neste último tópico. Usando-se

literalmente da memória individual dos entrevistados, vamos tentar delinear algumas caracte-

rísticas que singularizam este lugar e aspectos da identidade de seus morados com o Rio

Comprido. As experiências de vida destes moradores e ex-moradores, somadas ao levanta-

mento geográfico e histórico, nos ajudarão em muito a encontrar os referenciais que irão iden-

tificar este bairro. Edward Relph cita em sua obra que “a identidade refere-se ao espírito, ao

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sentido, ao gênio do lugar. Ela provém das intenções e experiências intersubjetivas, que resul-

tam da familiaridade” (Relph, 1976 apud Holzer, 1998). Estas experiências serão relatadas

daqui para frente e analisadas com o intuito de chegar à identificação do bairro na visão de

cada morador entrevistado.

Edith Camile Werneck de Carvalho Viana, Marcelo Alonso, Inah Castelo de Te-

ves e Zeny Rosendahl. Cada um mantendo o seu ponto de vista os quais ao final, veremos que

se aproximam numa visão das singularidades deste bairro.

Edith Werneck

Ex-moradora do Rio Comprido, atualmente moradora do bairro de Copacabana.

Morava num grande casarão chamado Solar (figura 16) que estava localizado ao final da Rua

Santa Alexandrina. Em sua entrevista, Edith relatou como era a vida no bairro antigamente,

dizendo que as pessoas faziam muito o uso dos bondes que circulavam pelo Rio Comprido e

inclusive era o ponto de encontro dos moradores, tendo sido o local onde conheceu o seu ma-

rido.

Segundo a entrevistada, a Avenida Paulo de Frontin era uma avenida fresca, sim-

pática e acolhedora e o bairro era um lugar muito bom de se viver entre os anos 1900 até

1950. Em meio a lágrimas, Dona Edith relata com detalhes como foi feita a demolição de sua

casa, nos anos de 1960, para a construção do Túnel Rebouças e, mais tarde, do Elevado.

Analisando esta entrevista, podemos concluir que a memória individual desta se-

nhora trouxe à tona diversos símbolos inexistentes atualmente e outros existentes, mas com

caráter oras positivo, oras negativo. A sua própria casa juntamente com outras casas, chacáras

e solares que formavam a antiga paisagem da Avenida Paulo de Frontin, os bondes que circu-

lavam pelo bairro e que eram frequentados por famílias, vizinhos e conhecidos, encaixam-se

perfeitamente no que chamamos de símbolos inexistentes para os dias atuais. A partir do rela-

to de sua memória individual, Edith chama a atenção para o fato de que o bairro do Rio Com-

prido passou por uma profunda desvalorização material, mas também sentimental para seus

moradores. Segundo a entrevistada, a identidade do bairro atualmente é de um lugar desvalo-

rizado.

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Figura 16. Imagem disponibilizada por Edith, mostrando como era a sua antiga moradia no

Rio Comprido. Atrás do casarão, observa-se a encosta do maciço.

Fonte: Fotografia Pessoal de Edith Werneck.

Professor Marcelo Alonso

Este segundo entrevistado encontra-se numa situação inversa ao da Dona Edith,

pois Marcelo é ex-morador de Copacabana e vive a cerca de oito anos no Rio Comprido. Pro-

fessor de geografia e mestre pela Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro, o entre-

vistado relata as experiências vividas pela mudança de bairro. Inicialmente Marcelo demorou

a se acostumar, contudo as facilidades no que se refere ao deslocamento se constituíram como

o maior atrativo além da existência de um setor comercial que faz com que sua residência seja

abastecida facilmente de produtos básicos oriundos de lojas como padarias, roupas, acessórios

etc.

Sobre a questão das mudanças ocorridas no Rio Comprido em oito anos de convi-

vência, ele revela que está contente com a atuação da 16° Unidade de Polícia Pacificadora –

UPP instalada atualmente na principal via de acesso ao Morro dos Prazeres e Escondidinho,

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relatando os antigos e constantes tiroteios e o alto índice de criminalidade no bairro hoje estão

quase inexistentes.

Em vários momentos da entrevista, Marcelo Alonso cita o processo de valorização

imobiliária pelo qual os apartamentos e casas do bairro vêm passando após a instalação das

UPPs. Dizendo que até mesmo seus amigos e conhecidos, moradores dos bairros na Zona Sul,

estão procurando o Rio Comprido para morar com intuito de estarem próximo ao Centro da

cidade e de reduzirem seus custos com moradia.

Analisando esta segunda entrevista, observamos claramente que os símbolos ma-

teriais valorizados por este professor são as UPPs e a oferta de serviços básicos no bairro. A

experiência de vida no bairro se embasa no contentamento de estar morando num local reva-

lorizado, depois de um longo período desde a década de 1970.

Portanto, para este entrevistado, a identidade do bairro remete a um lugar atual-

mente revalorizado.

Inah Castello de Teves

Ex-moradodora da Rua da Estrela, atualmente reside em Ipanema. Bisneta do Dr.

Caetano Martins, o qual foi homenageado dando nome a uma das ruas (esta é a parente que

apareceu citada como fonte de informação sobre a Rua Caetano Martins). Inah Castello de

Teves cita o quão importante foi seu bisavô para os antigos moradores do bairro. Dr. Caetano

era um médico que utilizava de seus conhecimentos para ajudar aos mais pobres, moradores

das favelas, não lhes cobrando pelas consultas. A entrevista revela que o enterro deste homem

foi um grande cortejo pelo bairro, no qual os próprios moradores lhe carregaram no colo seu

caixão até o cemitério do Catumbi, onde está enterrado.

Trazendo a memória de sua infância e juventude, ela lembra que havia poucos

prédios num bairro que era calmo e silencioso, sendo o único prédio existente nesta época,

anterior aos anos de 1950, o Edificio Storil na Rua da Estrella. Cita ainda que era um bairro

de classe média alta, pois era um bairro afastado. Os vizinhos eram muito ligados, frequente-

mente se visitavam para almoçar ou tomar um café.

Sorrindo muito durante a entrevista, Inah relembra sua infância e adolescência no

colégio Santa Dorotéia, mas muda o semblante ao lembrar-se da chegada do Túnel Rebouças

e do Elevado o qual ela diz que, transformou o lugar num bairro de passagem.

A experiência vivida no passado de Dona Inah trouxe à tona o mesmo sentimento

de felicidade em viver no Rio Comprido relatada na entrevista de Dona Edith e os desconten-

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tamentos com as mudanças que ocorreram após as reformas urbanas nas décadas de 1960 e

1970, que como disseram as duas entrevistadas, destruíram o bairro. O colégio, o Edifício

Storil, a tranquilidade e o silêncio do passado deste lugar aparecem como fortes símbolos na

memória individual desta ex-moradora. Concluindo a análise desta entrevista, podemos dizer

que para Inah, a identidade deste lugar atualmente é a de um bairro de passagem.

Professora Zeny Rosendahl

A última entrevistada também é ex-moradora de um sobrado ainda existente na

Rua Itapiru (figura 17), mais precisamente no número 1580 no qual existe, atualmente, um

armazém fechado.

Zeny ao longo de sua entrevista abre um leque de informações sobre o passado

geográfico e histórico do bairro e relata como foram ocorrendo à evolução e as modificações

do mesmo, desde a década de 1950, período de sua infância, até os anos finais de sua moradia

no bairro que foi a década de 1990.

Confirmando a antiga tranquilidade do Rio Comprido, citada por Edith e Inah,

Zeny Rosendahl afirma que na década de 1950 havia pouco movimento pelas ruas do bairro.

Na década de 1960, em sua adolescência, também estudou no Colégio Santa Dorotéia, reve-

lando que nesta época o lugar era bastante arborizado e silencioso.

Figura 17. Antigo sobrado onde morava a professora Zeny Rozendahl

Fonte: Fotografia Pessoal do Autor, obtida em fevereiro de 2013.

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Relata ainda que a Avenida Paulo de Frontin era uma rua sem saída e terminava

no casarão da família Werneck Viana o qual pertencia à família de outra entrevistada, Edith

Werneck.

Trazendo à tona sua memória individual, ela cita que conhecia várias famílias a-

lemãs, inclusive visitando suas casas. Termina a fala dizendo que a identidade do lugar na

década de 1960 era de um bairro alemão.

A desvalorização imobiliária aparece mais uma vez na entrevista de Zeny, pois a

professora diz que a construção do Elevado e do Túnel tiraram o silêncio e a tranquilidade do

bairro. Mas, segundo a entrevistada, estes dois não foram os únicos responsáveis por isto, pois

a instalação da Universidade Estácio de Sá na Rua do Bispo também trouxe prejuízo para os

moradores que segundo a professora, o aumento do setor comercial por causa do grande fluxo

de universitários que passaram a frequentar o bairro, somando-se às empresas que antes esta-

vam localizadas somente na região central, e, passaram a se instalar também no Rio Comprido

interessadas no movimento de pessoas não residentes, contribuindo para que os antigos mora-

dores se deslocassem para outros bairros.

A entrevista encerra-se com a professora dizendo que o bairro passou por uma

“re-funcionalização”, pois anteriormente era um bairro com função residencial e atualmente o

bairro possui uma função comercial e de serviços.

Os símbolos descritos são quase os mesmos das entrevistas anteriores, contudo a

experiência vivida não apareceu como algo negativo pela análise das respostas dadas nesta

entrevistas. Inclusive, a entrevistada não cita o Elevado e o Túnel como algo simbolicamente

negativo, ela até faz um elogio ao governo de Carlos Lacerda por estas obras.

Pela visão desta última entrevista, o bairro pode ser relacionado à identidade de

um lugar “re-funcionalizado”.

Diante de todas as respostas, observamos um ponto em comum, aliás, um símbolo

em comum que é o Elevado Freyssinet. O que seria deste bairro sem a sombra do elevado?

Como estaria o trânsito na região central sem esta alternativa em direção a Zona Sul? Seria o

Rio Comprido ainda hoje considerado um bairro tão bom de viver como antigamente?

Em 24 de fevereiro de 2013, foi publicado no Jornal O GLOBO Rio uma reporta-

gem sobre estudos de arquitetos que listam construções que deveriam ser removidas do cená-

rio carioca. Dentre estas, aparecem o Elevado Freyssinet.

Encerra-se este último tópico citando um trecho da reportagem no o qual transcre-

ve palavras de esperança para os moradores do Rio Comprido, ditas pelo arquiteto, mestre

pela UFRJ, Fagner Marçal.

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“O elevado colaborou para aumentar a sensação de sufocamento pelo pedestre, ge-

rando um corredor expresso de poluição, sujeira, abandono e insegurança. Se não é

possível a demolição, como acontece com a Perimetral, por que não a qualificação

daquele espaço? Temos uma infinidade de métodos alternativos de iluminação indi-

reta para o espaço sob o viaduto. A criação de um espaço verde estimularia a revita-

lização urbana daquele trecho” (Maria Elisa Alves, O GLOBO Rio, 24 de

Fev/2012).

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IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização da presente monografia, que envolveu primeiramente uma análise

dos fragmentos históricos achados nos arquivos e bibliotecas, referentes aos antecedentes a-

contecimentos que contribuíram de certa forma na formação do atual bairro, se embasaram

em explicar como se deu a evolução do Rio Comprido ao longo de sua própria história. Este

trabalho é o primeiro que buscou fazer um levantamento geográfico e histórico deste lugar, e,

por este motivo, muitas vezes as informações sobre o passado do bairro não foram oriundas

de livros e fragmentos formais. Neste sentido, a presente monografia fez o uso das memórias

individuais, tanto de escritores, como de historiadores e até mesmo moradores que sabiam de

alguma informação que fora lhe passado através de gerações.

No segundo capítulo buscou-se tentar interpretar diferentes visões sobre a identi-

dade do bairro e também se fez um esboço de como poderíamos identificá-lo através da análi-

se dos dados numéricos atuais. Este também foi um árduo trabalho, pois nenhuma visão se

equiparava a outra, não havia semelhanças nas respostas das entrevistas, ou seja, a complexi-

dade da memória do lugar tem como consequência a complexidade também da identidade do

mesmo.

Personagens históricos, fatos, eventos e processos identificados no desenvolvi-

mento urbano, bem como as transformações sociais e espaciais provocadas pelos constantes

redirecionamentos do tecido ou da malha urbana, em função da emergente consolidação de

uma instalação forçada de um viaduto que modificou não só a paisagem, mas o rumo histórico

e geográfico deste lugar, transformando-o num ponto de encontro ou em palavras mais poéti-

cas, o coração do Rio de Janeiro, pois como um corpo, as veias são como vias de acesso de

diversos tipos de automóveis, e todas precisam passar por este coração, para que haja a plena

mobilidade de milhões de indivíduos diariamente que circulam pela capital fluminense. Falar

sobre este lugar torna-se, neste sentido, algo essencial não só para a ciência geográfica, mas

também para todas as ciências humanas, principalmente as que buscam estudar esta cidade tão

comentada atualmente, sede de grandes eventos mundiais.

O conceito de lugar, citado dezenas de vezes ao longo deste trabalho, torna-se a

chave fundamental no sentido de entender a essência desta pesquisa. Os geográfos humanistas

definem o lugar, em termos gerais, como um espaço de vivência, um espaço experimentado

por horas, por dias, por anos, por décadas talvez. Não importa a quantidade de tempo e sim,

em como o indivíduo chegou pela primeira vez há certo ambiente desconhecido e o transfor-

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mou num lugar. Para que isto ocorra é preciso que cada ser humano saiba um pouco sobre a

memória e a identidade deste espaço anteriormente desconhecido.

Esta é a essência de todo este trabalho. Explicar o porquê os moradores ou ex-

moradores deste bairro o chamam de lugar, em outro sentido, esta pesquisa buscou trazer à

tona a memória das transformações ocorridas ao longo dos séculos, buscou fazer o leitor pen-

sar sobre as várias identidades do bairro segundo dados ou visões de importantes personagens,

e tudo isto no intuito de trazer até mesmo à mente do leitor que nunca ouviu falar deste bairro,

através desta pesquisa e sabendo das informações passadas, possa chamá-lo de lugar.

Este lugar possui uma memória, este lugar possui uma identidade. Cabe a cada

qual individualmente tentar definí-la. Talvez a melhor definição mesmo da identidade deste

bairro é dizer: este bairro é um lugar. Encerro este trabalho respondendo a pergunta que se fez

ao final da introdução. Afinal de contas, que lugar é este? Este lugar é o Rio Comprido.

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