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SOB OS OLHOS DA INOCÊNCIA. SINOPSE: O professor Elias sempre teve a vida que todo homem comum sonha. Família, bem sucedido profissionalmente e respeito. De repente, sua aluna mais talentosa da classe passa acusá-lo de pedofilia, colocando seu caráter em dúvida. A partir desse momento, o homem de família ver sua vida transformar em um inferno. Direção da escola o demite do emprego, a mulher separa-se dele. A cidade onde mora passa a persegui-lo e acusá-lo de pedofilia. Sem conseguir provar a própria inocência, Elias vai morar na periferia, passa a catar papelão para sobreviver. Mas diante de toda essa turbulência ele se torna religioso e acredita ser essa é sua única esperança para provar a inocência.

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SOB OS OLHOS DA INOCÊNCIA.

SINOPSE: O professor Elias sempre teve a vida que todo homem comum sonha. Família, bem sucedido profissionalmente e respeito. De repente, sua aluna mais talentosa da classe passa acusá-lo de pedofilia, colocando seu caráter em dúvida. A partir desse momento, o homem de família ver sua vida transformar em um inferno. Direção da escola o demite do emprego, a mulher separa-se dele. A cidade onde mora passa a persegui-lo e acusá-lo de pedofilia.Sem conseguir provar a própria inocência, Elias vai morar na periferia, passa a catar papelão para sobreviver. Mas diante de toda essa turbulência ele se torna religioso e acredita ser essa é sua única esperança para provar a inocência.

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SOB OS OLHOS DA INOCÊNCIA.

Personagens principais__________________________________ELIAS__________________________________REBECA.

Personagens secundários.

__________________________________MONALISA__________________________________RUTE__________________________________AQUILES__________________________________NÚBIA__________________________________MATILDE__________________________________IVAN__________________________________ROSA__________________________________GOMES__________________________________NORA__________________________________MAGÓLIA

Outros personagens Secundários__________________________________BRUTAMONTE__________________________________POLICIAL I__________________________________POLICIAL II__________________________________DELEGADO__________________________________DONO DA PENSÃO__________________________________PASTOR__________________________________PROFESSOR__________________________________REPÓRTER__________________________________CÂMERA MAN________________________________MOTORISTA/MASCARADO/PACIENTE.__________________________________ALUNO NEGRO__________________________________ALUNO PARDO

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SOB OS OLHOS DA INOCÊNCIA.

1. LETREIRO PRINCIPALINT. CARRO------DIA.Visão das ruas do centro da cidade pelo ponto de vista de um menina loira de 05 anos. Ela está sentada no banco de trás do carro novo. O carro faz a curva a direita e ganha uma rua estreita e vazia. Uma belíssima mulher loira de 35 anos dirige o carro. Ela houve uma musica orquestrada no rádio do veículo, que tocara durante toda a sequência. O fim do letreiro principal se dá quando ela chega à frente em um casarão enorme, de portão automático, onde ela para o carro. A música é cortada junto com o fim da sequência.

2. CASARÃO.EXT. INT--------DIA.O portão automático abre e a mulher entra com o carro na garagem. Ela para o carro e salta com algumas sacolas plásticas em uma das mãos. A menina salta junto com ela e corre ao encontro do cachorro da família. O cachorro é dócil e aceita as caricias da menina. A mulher chama-se Rebeca. Ela entra na casa totalmente mobiliada e coloca as sacolas em um dos sofás. O telefone toca e ela atende ao telefone sem pressa.Rebeca fica em primeiro plano, enquanto a porta entreaberta fica ao fundo.

REBECA – Alô!

CORTE PARA:

3. DIRETORIA DO COLÉGIOINT.--------DIA.Uma mulher branca de faixa etária de 50 anos fala ao telefone enquanto olha alunos jogando vôlei numa quadra improvisada no gramado do colégio. Em sua sala há uma estante com uma enormidade de livros, uma fotografia de família sobre a mesa e uma placa com a inscrição: DIRETORA. Logo abaixo dessa inscrição se encontrava o nome dela: NÚBIA.

NÚBIA. (No telefone)–... Sim, Rebeca. Infelizmente é uma situação de urgência e preciso que você venha ao colégio, porque preciso falar com você. É um caso muito sério.

REBECA (Em off)- Tá, já estou indo.

NÚBIA – Te aguardo ansiosamente.

Núbia desliga o telefone. Parece bastante apreensiva. Vira-se para uma garota ao seu lado direito, sentada numa cadeira com o rosto banhado de lágrimas.

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Não vimos à garota antes. Ela tem por volta de 14 anos. É uma garota linda. Seus olhos estão fixos num papel que ela mantém seguro junto ao colo.

NÚBIA- Já comuniquei a esposa dele. Aguarde um momento, porque ela já está vindo.

CORTE PARA:

4. CORREDOR DE ESCOLA/SALA DE AULA.INT. DIA.Ouve-se o barulho do sinal da escola que toca. Alguns alunos estão transitando pelo corredor da escola. Alguns passam pelo professor Elias que se dirige a sala de aula com alguns livros na mão. Ele tem boa aparência, parece não se importar para aquele tumulto de alunos. Dirige-se a sala do oitavo do ensino fundamental. Pode ouvir o barulho dos alunos em algazarras e brincadeiras na sala. Ao abrir a porta, Elias contempla a bagunça. Alguns, sem noção, estão sobre as carteiras jogando aviõezinhos por toda a parte. Elias fica parado observando a bagunça. Ao perceberem a presença do professor, começam a parar com a bagunça e cada um vai procurando seu lugar, desconfiado. Elias fecha a porta e caminha em direção a sua carteira, enquanto observa um poema sobre o racismo escrito na lousa.

ELIAS –... Têm medo, mas não têm vergonha. Espero que todos já copiaram a lição da lousa.

Num plano detalhado vemos o poema:

EU, NEGRO

Conclave do semeador de discórdia.Não há glória... E a LIBERDADE um esgoto vivo.Ao dia...Hipócritas e demagogosÀ noite...Céticos e antagônicos.

O odor da mentira exala...E a democracia chora à subversão da moral.Mal, da República, pública,Sem chão para o zelo do patrimônio público.Há estúpidos abrindo os braços para fazer o País.

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Ouça o som que saí da mesa dos direitos Humanos em Brasília.É o louvor do preconceito racial às claras, as margens plácidas.Eu, NEGRO, heróico, brando, recatando, as palavras...Arma fraca, precisa tornar-se fatos de fato,Para diluir o olfato, o tato, da porca miséria,Chamada DEMOCRACIA DO BRASIL.

Precisam-se quebrar as algemas, Para libertar a mente, sã, insana, Desse pulso, que pulsa a pulsação do repúdio, Ás mãos que jogam pedra no público,E aplaudem a constituição federal de forma arcaica, magistral?

Sem moral...

Não é bom conceder sabedoria aos idiotas...Remotas águas de valor intelectual, cuja sabedoria é castrada...A estrada da LIBERDADE é história com via de mão dupla,República ou anarquia,Escolhei, hoje, a quem sirvais...

Voltamos para o Elias. Ele está sentado observando a lista de chamada, enquanto os alunos silenciosamente fazem a lição na lousa.

Elias (Se levanta) – Creio que todos estão aqui...

Um aluno negro, na última carteira da sala ergue a mão:

ELIAS - Sim!

ALUNO NEGRO – A Monalisa não está. Foi para a diretoria e não voltou até agora. Me parece que estava chorando.

ELIAS – Coisas da Monalisa, vamos voltar a aula... Muito bem, creio que todos vocês sabem a temática desse poema, o que o autor queria expressar através desses versos.

O aluno pardo que ficava ao lado do aluno negro satirizou:

ALUNO PARDO – O Negueba deve saber, afinal ele é um marrom...

Alguns alunos riem da situação, enquanto Elias se mantivera parado, sério.

ELIAS – Senhor engraçadinho, vou levar isso na mesma temática que você levou. Porque se eu for levar a sério, poderia considerar isso como um preconceito anunciado.

ALUNO PARDO – Mas a gente não pode mais nem brincar! Tudo agora é racismo.

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ELIAS – Eu não disse a palavra racismo, isso foi proferido de sua boca. Eu disse que não levaria a sério, porque se assim fizesse, poderia considerar como um preconceito anunciado...

A inspetora de aluno, uma senhora negra, abre a porta chamando pelo Elias.

MATILDE - Professor! A diretora quer vê-lo.

ELIAS – Já estou indo, Matilde.

Ela sai e fecha a porta. Elias dirige-se aos alunos.

ELIAS – Quero a interpretação desse texto e isso valerá nota.

TODOS (Juntos) –Hááááááááááááááá!

ELIAS – Quem sabe assim vocês mantêm a mente de vocês ocupadas com alguma coisa conveniente... Já volto.

Elias sai. O corte é feito com fechar da porta.

5. CORREDOR DA ESCOLA.INT. DIA.O vasto corredor vazio possuía algumas artes de alunos espalhadas pelas paredes. Somente a Matilde estava ali, olhando uma pintura na parede, feito pela Monalisa, em que havia um barco em uma tempestade e um casal de idosos dormindo em meio à tempestade. Elias para ao seu lado e pede:

ELIAS – Matilde, você vigia a sala de aula para mim, até eu voltar?

MATILDE- Já havia observado essa imagem antes, professor?

ELIAS – Centena de vezes.

MATILDE – É uma artista muito talentosa, só não sei como alguém teria coragem de atentar alguma mal contra ela.

ELIAS – Do que você está falando, Matilde? Não estou entendendo!

MATILDE – Vá a diretoria. Saberá exatamente o que está acontecendo.

Matilde saí em direção a sala de aula. Elias fica parado olhando para a pintura na parede. A sequência termina com um close na pintura.

6. DIRETORIAINT – DIA.A porta da sala abre e Elias entra por ela. Ele fica perplexo, ao ver Rebeca ali chorando, de frente para a janela de vidro. A sua direita estava Monalisa

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sentada, no mesmo estado visto na sequência 3. A diretora estava parada frente à estante cheia de livros com um papel na mão.

ELIAS (Perplexo) – Olá! A Matilde me disse algo no corredor, mas ainda não estou entendendo nada. O que está acontecendo?

NÚBIA (Depois de um silêncio, começa ler o poema escrito no papel que estava em suas mãos) – Beija-me com os lábios de sua boca. Porque mais lindo que o por do sol em dia de primavera, mais doce que o mel da abelha, é os seus lábios...

ELIAS (Interrompe) – O que isso me diz respeito? A Monalisa colocou isso sobre minha mesa antes do intervalo, disse a ela que ela é uma garota muito bonita e inteligente, mas que sou um homem casado e com idade praticamente para ser o pai dela.

Monalisa se levanta furiosa, aos gritos:

MONALISA – Mentira! Mentira! Seu babaca mentiroso! Você me integrou isso dizendo que eu sou sua fantasia e que sou seu sonho de consumo.

NÚBIA – Eu sei que você está muito transtornada com o caso, Monalisa. Mais tente se controlar.

MONALISA - Se eu tivesse um pai e se ele soubesse disso, ele iria acabar com a sua vida de pedófilo.

NÚBIA – Monalisa, você me garantiu que isso ficaria entre nós, sob a condição que eu chamaria a senhora Rebeca, para que ela ficasse ciente do caso.

ELIAS – Mas isso é um absurdo extraordinário. Sempre fui fiel a minha esposa e sempre respeitei meus alunos, agora sou acusado de pedofilia?

REBECA (Vira-se com os olhos nadando em lágrimas) - Elias, eu gostaria de acreditar em você, mas sempre andei com o pé atrás em relação a você. Alguma coisa sempre me dizia que você nunca foi um homem totalmente fiel e agora tenho plena certeza disso.

ELIAS – Mas até você, querida!

REBECA (Se aproxima e dá um tapa no rosto) – Não me chame mais de querida, porque de agora em diante o nosso casamento acabou.

ELIAS – Isso só deve ser uma brincadeira de mau gosto. Onde está o seu amor para acreditar em mim?

REBECA – Eu tenho uma filha de cinco anos, não posso conviver com um homem que é acusado de pedofilia e que garantias eu terei que ele não abusará de minha própria filha?

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Ela retira a aliança e joga no chão. O movimento do tirar a aliança até cair no chão se dá em câmara lenta.Ela saí da sala logo em seguida.

MONALISA – Está contente agora, professor Elias?

ELIAS-Seu monstro! Você está acabando com a minha vida, está destruindo meu casamento e minha família.

NÚBIA – Lamento, professor Elias, mas você fez isso. Você está demitido dessa escola e não se aproxime mais dessa aluna, porque se fizer isso, eu mesma vou denunciá-lo no Conselho Tutelar.

MONALISA – Agradeça, pedófilo, por não cair na cadeia. Porque se caísse lá, ia virar boneca.

Elias fixa os olhos em Monalisa. Os olhos se encontram num ato de desafio. Ele saí logo em seguida. Núbia parece suspirar aliviada.

7. RUA MOVIMENTADAEXT. DIA.Uma música tocada a violão invade a sequência enquanto vemos Elias caminhar entre pessoas desconhecida na rua movimentada. Ele usa óculos escuros. Avista um ônibus aproximar-se, dá sinal para o ônibus. O ônibus pára. A porta se abre. Elias entra, a porta do ônibus fecha e dá a partida. O ônibus parte e vemos o enorme cartaz na parte traseira do ônibus anunciando o livro GRANDE CLONFLITO. Ficamos com essa imagem até o ônibus distanciar-se.

8. INTERIOR DE ÔNIBUSINT. DIA.Elias passa pela catraca do ônibus e vai sentar no único lugar vazio dentro do ônibus. Era um assento ao lado de uma mulher, idosa, com aspecto de evangélica. É a Nora. Elias parece ignorá-la, escondido atrás de seu óculo escuro. A música da sequência anterior corta-se, quando Nora fecha o livro que lia e vemos na capa a mesma imagem que fora visto no cartaz da traseira do ônibus.

NORA – Filho, posso lhe dá esse livro de presente?

ELIAS – Eu não sei se vou tempo de ler.

NORA – O tempo quem faz somos nós mesmos.

ELIAS (Depois de um silêncio) - Do que esse livro fala?

NORA – Do conflito dos séculos. Da luta entre o bem e o mal e lógico, sobre a supremacia do bem sobre o mal.

ELIAS – Ah, sim. Acho que vou mesmo precisar de algo assim.

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Ela lhe entrega o livro e se levanta para dá sinal ao ônibus que diminui a velocidade e pára. Elias gentilmente sede a passagem para Nora que ganha o corredor.NORA – Saiba que Jesus te ama. Lendo esse livro você vai descobrir o enorme amor dele por você.

ELIAS – Muito obrigado. Acho que precisava ouvir palavras de esperança como essas.

Ela desce do ônibus pela porta traseira. O ônibus dá a partida e segue em frente.

9. RUA/ CASARÃOEXT. DIAO ônibus para e a porta traseira abre. Elias salta com o livro na mão. O ônibus vai embora e ele caminha em passos lentos em direção a rua tranqüila de sua casa. De longe ver uma viatura policial parada em frente a sua casa. Parece assustado, mas procura manter a tranqüilidade. Aproxima-se e ver suas coisas jogadas dentro de malas do lado de fora de casa.

ELIAS – O que é isso? O que está acontecendo aqui?

Um dos policiais militar, dirige-se a ele:

POLICIAL I – Se eu fosse o senhor, pegaria as coisas antes que o pior aconteça.

ELIAS –Mas qual é mesmo o meu crime? Por que eu fui despejado assim de minha própria casa e sou tratado como se fosse um criminoso?

POLICIAL I- Se estivesse sendo tratado como criminoso este diálogo nem estava existindo entre nós. O senhor já estaria algemado e conduzido para uma delegacia de policia.

ELIAS (Oferece os dois punhos para o policial) – Então me prenda, policial. Só me resta isso para acabar de vez com aminha vida.

POLICIAL II (Rispidamente aproxima-se empunhando de sua arma e falando face a face com ele) – Não nos obriguem a tomar medidas rigorosas. Estamos aqui para manter a ordem.

ELIAS – Que ordem?! Roubaram a minha paz, a minha felicidade, a minha família e você vez falando em ordem?

POLICIAL II – Foi você quem pediu.

Imediatamente dá uma chave de braço nele com força agressiva e o põe sob seu domínio com as duas mãos para trás. Ele pega as algemas e o algema.

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10. DELEGACIA DE POLICIA. RUA. EXT. DIA

Uma viatura policial saí de frente da delegacia de policia e ganha a rua principal, passando por um carro velho, estacionado do outro lado da rua. O cenário fica como que um freezer. Uma viatura entre alguns carros parados em frente a delegacia. Em meio a esse cenário, vemos Elias sair da delegacia usando o mesmo óculo escuro. Atravessa a rua e vai ao carro velho do outro lado da rua. Alguém está nele. Assim que Elias entrou no veículo, a pessoa dá a partida no carro e saí.

11. CARRO VELHO/RUAINT. EXT- DIAO homem que conduzia o carro velho era o Ivan. Usa barba grande, cabelos despenteados e seu aspecto de um jovem envelhecido. Dá-se a impressão de 40 anos, mas ele tem menos de 30. No interior do carro, há uma desorganização total. Elias ao lado, está em silêncio. Eles chegam num semáforo, o sinal está fechado. Ivan para o veículo, a espera do sinal abrir.

IVAN – Que droga, Elias! Não bastasse a suspeita de pedofilia, você ainda tinha que desacatar os policiais!

ELIAS – E o que você acha disso tudo? Que realmente fiz tudo isso?

IVAN – Pelo que eu te conheço, claro que não! Mas as coisas andam tão mudadas ultimamente que eu já não sei de mais nada.

ELIAS - De fato, a loucura dos sábios não está no entendimento, mas na mansidão.

O sinal abre. Ivan arranca e segue adiante.

IVAN – Que droga é essa, Elias! Do que você está falando?

ELIAS – Até meu melhor amigo, está me caçoando. O que mais devo esperar?

IVAN – Corta essa, meu chapa! Não vai bancar o coitadinho, né! Só quero que você canta a pedra, abre o jogo.

ELIAS – Pare esse carro, Ivan!

IVAN (Parece fingir não entender) - O que é! O que você está falando?

ELIAS – Pare o carro, por favor!

Ele freia o carro imediatamente. Elias retira o sinto de segurança abre a porta e sai do carro.

ELIAS – Muito obrigado, Ivan. Depois eu pago seu dinheiro da fiança.

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Ivan desliga o carro e salta logo em seguida. Dirige-se a ele falando em voz alta.

IVAN – O que você pensa que está fazendo, Elias?! Sou a única pessoa no mundo que está de seu lado nesse momento. Briguei com a minha mulher para poder te ajudar, porque sempre acreditei que você fosse uma pessoa do bem, é dessa forma que você me agradece?

Alguns carros que seguiam naquela direção começaram a parar atrás do carro de Ivan, parado no meio da rua. Ele parece ignorar isso.

ELIAS - Cara, eu agradeço por tudo, mas não estou legal! Será que você me entende?

IVAN (Aumenta o timbre de voz) – Não, eu não te entendo.

Os veículos começam a buzinarem. Elias observa a situação e diz:

ELIAS – Vai nessa, cara! Você está atrapalhando o trânsito. Eu vou ficar legal.

Ivan parece custar a acreditar. Depois entra o carro, acelera e saí em alta velocidade. Elias saí do meio da rua e os carros vêem logo em seguida, passando por ele.

12. PARQUE DE DIVERSÃO.EXT. AO ENTARDECERUm carrossel gira sem parar. Rute a filha de Rebeca está nele. Sobre essa imagem ouve-se o tocar de um telefone. Rebeca atende ao celular e fica em primeiro plano. O carrossel girando com as crianças fica em segundo plano.

REBECA (No celular) – Elias, se você ligar outra vez em meu celular, vou ser obrigado a trocar o número dele.

ELIAS (Em off) – É assim que você trata alguém que dividiu o travesseiro com você durante sete anos?

REBECA (No celular) –Acho que foi a maior burrada de minha vida. Nunca imaginava que você com sua cara de cordeirinho, poderia ser esse lobo voraz que você mostrou ser.

CORTE PARA:

13. QUATRO DE UMA PENSÃO QUALQUERINT. DIAVemos Elias sentado em uma cama simples de uma pensão sem luxo. A frente há uma televisão ligada em noticiário e Elias parece ignorá-la. O livro o Grande Conflito está sobre a cama.

ELIAS (Melancólico, no celular) – E a casa que construímos juntos e a filha que temos, isso para você não significa nada?

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REBECA – (Em off) –Essas sãos as únicas coisas boas que vou levar dessa relação.Ela desliga o telefone. Elias tenta comunicação sem sucesso.

ELIAS – Rebeca, Alô! Alô, Rebeca! Alô!

Elias pega o celular e disca novamente, num plano detalhado. Parece não obter sucesso. Irrita-se e malha o celular na parede. O celular quebra. Ele fica andando de um lado para o outro. Para ao olhar o livro O Grande Conflito, fechado sobre a cama.

14. CARRO DE REBECA/RUAINT. EXT- AO ENTANDERCERUma musica suave invade a sequência. Ela dá ritmo à visão de Rebeca, parada no semáforo esperando o sinal abrir. A câmara são seus olhos, sob a lente dos óculos escuros contemplando o lindo por do sol. O ângulo vai se abrindo e temos visão do interior do carro e de toda a rua. Um homem com as semelhanças físicas de Elias usando roupa esporte passa rapidamente pela faixa de pedestre. Rute o acompanha com a visão.

RUTE – Mamãe, aquele homem é o papai?

REBECA – Seu pai é uma pessoa perigosa, não fique preocupada com gente assim.

RUTE- Mas a professora me disse que pessoas estranhas são perigosas. Meu pai não é um estranho.

REBECA – As vezes as pessoas mais perigosas, estão mais próximas da gente do que a gente imagina.

O sinal abre e ela parte. O carro distancia da câmara e ficamos com a imagem do por do sol, enquanto a música vai aumentando o volume e ganhando força na sequência. O sol se pondo indica a passagem de tempo.

15. SHOPPING-CENTER INT. NOITEA música segue, sem corte. Enquanto vemos pessoas descendo e subindo a escada rolante do Shopping. Ficamos com as pessoas que sobem a escada rolante. Elas nos levam até a praça de alimentação e lá encontramos Elias, sentado, realizando uma leitura. Os restos de Suco e lanche indicam que ele finalizou a refeição. A câmara aproxima-se suavemente do livro e num plano detalhado, conseguimos enxergar o que ele está lendo: O Grande Conflito Pág. 297. Capitulo 32-Como Derrotar a Satanás.

Com o intuito de sustentar doutrinas errôneas, alguns apanham passagens das Escrituras separadas do contexto, citando talvez a metade de um versículo como prova de seu ponto de vista, quando a parte restante mostraria ser

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exatamente contrário o sentido. Com astúcia da serpente, entrincheiram-se por trás de declarações desconexas, construídas para satisfazer os desejos carnais. A música finalizou exatamente quando Negueba juntou-se ao Elias, lhe interrompendo a leitura.

ALUNO NEGRO/NEGUEBA (Em off) – Olá, professor!

Elias, meio desconcertado, fecha o livro e para com a leitura. Só então ele avista o Negueba parado a sua frente.

ELIAS – Olá, menino! Estava aqui fazendo uma leitura, para distrair um pouco a cabeça. Quando você puder, leia este livro... (Mostra o livro a ele) - O Grande Conflito, um ótimo livro.

ALUNO NEGRO/NEGUEBA – Professor, o senhor está bem?

ELIAS – Não como deveria, mas vou ficar bem... Por que me pergunta?

ALUNO NEGRO/ NEGUEBA – Acho que estão cometendo uma grande injustiça contra o senhor. O senhor sempre foi um defensor da causa dos negros, por isso sempre te admirei. Mas agora a Monalisa saiu detonando o senhor nas redes sociais, lhe chamando de professor pedófilo, sem vergonha.

ELIAS – É por isso que não acesso as redes sociais. O único correio eletrônico que possuo é meu e-mail.

ALUNO NEGRO/ NEGUEBA- Acho que o senhor deveria processar aquela falsa.

Elias se levanta, dá um tapa nas costas dele, com um risinho sem graça:

ELIAS – Quem não deve, não teme. Obrigado pela consideração, só que mais cedo ou mais tarde a verdade vai vir á tona.

Negueba permanece parado junto a mesa, enquanto que Elias caminha em direção a escada rolante e desce, sob o olhar de piedade do garoto.

16. ESTAÇÃO DE METRÔINT. NOITE.Sonho.Elias é o único passageiro parado na estação de metrô. Há um silêncio total. Ele está de pé, vestido da mesma maneira como estivera na sequência anterior. De repente, ouve-se o som do metrô nos trilhos que se aproxima da estação. O trem chega e vai diminuindo a velocidade, parando. O vagão que parou onde ele estava abre a porta. Lá na porta estava Rute parada. Ele leva um choque ao vê-la.

RUTE – Olá, papai!

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ELIAS (Enche os olhos de lágrimas) – Olá, filhinha! Que bom vê-la, meu amor!

RUTE – Papai, sabia que a mamãe me disse que o senhor é muito perigoso, mas eu disse a ela que o senhor não é perigoso, somente as pessoas estranhas são perigosas, não é mesmo, papai?

ELIAS – Filha, não acredite no que as pessoas falam, inclusive sua mãe. Estão inventando um monte de calunias contra seu pai... Você acredita nisso?

RUTE – Sim, papai.

ELIAS – Que ótimo, minha filha!

A porta do vagão se fecha rapidamente e o trem começa a andar. No desespero, Elias parte tentando abrir a porta sem sucesso. O trem acelera e ele saí correndo atrás, gritando:

ELIAS – Filha! Filha! Eu te amo!

RUTE – Eu também, te amo! Papai! O trem parte. Elias fica na estação inconsolado.

17. QUARTO DE PENSÃOINT. AO AMANHECER.O quarto da pensão é o mesmo visto na sequência 13.Elias acorda de uma vez do sonho, como quem acordasse de um longo pesadelo. Permanece sentado na cama sob a coberta por pouco tempo enquanto se recompõe. Levanta-se, vestido com a mesma roupa vista nas sequências anteriores e vai para o banheiro.

18. BANHEIRO DE PENSÃOINT. AO AMANHECER.A sequência praticamente é iniciada quando o vidro do espelho do armarinho do banheiro é fechado e vemos o Elias vestido social, usando gravata. Ele ajeita a gravata, usa um perfume. O plano abre e vemo-lo arrumar uma pequena pasta com alguns papeis dentro. De dentro dela, ele retira um currículo pessoal. Olha o currículo, guarda-o em seguida. Pega a pasta e saí do banheiro. O cortar da cena se dá com o fechar da porta do banheiro.

19. CALÇADA DE ESCOLINHA/ RECEPÇÃO DA MESMAEXT. DIA

Enquanto avança rumo a recepção da escolinha onde Rute estuda, Elias observa as crianças brincando no parquinho da escolinha. Antes de ganhar acesso a entrada, cruza com algumas pessoas que se afastam dele ao reconhecê-lo. Adiante um casal realizando caminhada. A mulher comenta em voz alta:

MULHER – Esse aí não é o tal professor pedófilo? Por que alguém ainda não o denunciou?

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HOMEM - Sei lá! Acho que as autoridades são coniventes com esse tipo de gente. É um absurdo uma coisa dessas.

Elias para, como quem não tivesse acreditando sobre os comentários maldosos que ouvira. Controla-se e recompõe, antes de avançar á recepção da escolinha. Lá, havia uma secretaria com uniforme, simpática e sorridente. Ela o cumprimenta assim que ele se aproxima.

SECRETARIA DA ESCOLINHA – Olá, senhor! Bom dia! Em que posso ajudá-lo?

ELIAS (Sorridente) – Olá, bom dia! Gostaria de saber se posso deixar o meu currículo me candidatando a uma vaga de professor?

SECRETARIA DA ESCOLINHA – É só deixar, senhor. Que eu vou encaminhar ao RH, qualquer coisa eles entram em contato com o senhor.

Elias retira o currículo da pasta que carregava e a entrega. Ele parece sem jeito, como quem estivesse nervoso. Ela mantém a postura e analisa o currículo dele com um breve olhar.

SECRETARIA DA ESCOLINHA – Muito bem, senhor Elias. Como disse, vou está encaminhando para o RH e depois eles entram em contato com o senhor, case precise.

ELIAS – Ok! Muito obrigado... Gostaria de fazer mais uma pergunta...

Ela apenas afirma positivamente com a cabeça.

ELIAS – Será que posso falar um minutinho com a minha filhinha?

SECRETARIA DA ESCOLINHA – Quem é a sua filha, senhor?

ELIAS – Rute da Hora. Sou o pai dela, Elias da Hora.

SECRETARIA DA ESCOLINHA – Só um momento, senhor. Vou falar com a direção da escola e já volto.

A secretaria saí. Elias se distrai olhando em a sua volta, onde tudo parecia tranqüilo. De repente a secretaria volta e anuncia;

SECRETARIA DA ESCOLINHA – Desculpe, senhor! Mas temos um comunicado por escrito da mãe da criança, que o senhor não poderá vê-la.

ELIAS (Exaltando) – Como assim! Durante praticamente um ano trago a minha filha e sempre a peguei quando quisesse e agora você vem me dizendo que eu não poderei ver a minha filha, nem um minuto sequer?

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SECRETARIA DA ESCOLINHA – Desculpe, senhor! Mas ordens são ordens e eu não posso fazer nada.

ELIAS – Então aquela historia de que o RH estará avaliando o meu currículo e entrará em contato case preciso, é tudo conversinha fiada?

SECRETARIA DA ESCOLINHA - Senhor, eu não sou responsável pelo RH da escola. Mas se o senhor quiser, posso chamar a direção.

ELIAS – Não precisa, já entendi tudo. E por favor, devolve meu currículo, porque sei que ele vai parar no lixo.

Um pouco desajustada, ela saí da sala e volta logo em seguida com o currículo. Aparentando certo medo, entrega o currículo a ele. Elias guarda o currículo agradecendo ironicamente e saí. A secretaria permanece parada, olhando o distanciar dele um pouco aliviada.

20. RUA DO CENTRO DA CIDADEEXT. DIA.

Um carro aproxima-se de Elias lentamente que caminha por uma rua tranqüila do centro da cidade. O vidro do carro desce e lá dentro, vemos Rebeca na direção.

REBECA – Tentei falar com você, mas parece que a porcaria de seu celular não funciona.

ELIAS – Não mesmo. E não faço questão de ter outro tão cedo.

REBECA – Quero que saiba que já comuniquei meu advogado... Gostaria de saber de um endereço fixo onde pode ser enviado o comunicado da justiça sobre o dia que iremos ao Fórum para assinatura do divorcio.

ELIAS – Envie ao endereço do Ivan... E será muito interessante mesmo o desfecho judicial dessa história. Agora fui proibido até mesmo de ver a minha filha.

REBECA – Meu advogado fez esse pedido oficialmente a justiça. Afinal, você não é uma pessoa de boa índole.

Ela fecha o vidro do carro e acelera. Elias continua caminhando e não obstante passa em frente a uma igreja que possua em sua frente os seguintes dizeres: IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA.Dias de culto:Sábado; 09:00 ás 12:00 da manhã.Domingo: 19:45 às 21:00 Quarta: 19:45 às 21:00.

Ele pára. Fica olhando o letreiro da igreja.

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21. IGREJA.INT. NOITE.Violonista e orquestra tocam de forma deslumbrante o hino “Ó vem Emanuel!, hino de número 140 do hinário adventista”. O primeiro tenor canta no mesmo deslumbre para uma igreja lotada.

CORTE PARA:22. IGREJA.

EXT. INT. NOITE.O taxi para em frente à igreja. Elias salta com certa pressa. Lá dentro, a música está chegando ao final. Ouve-se a voz do pastor que assume o microfone.

PASTOR (Em off) – Louvado seja o Senhor nosso Deus pela belíssima mensagem musical...

Elias caminha em direção a igreja. Ainda é possível ouvir o Pr. dizer palavras de saudação e confraternização à igreja. Ao chegar à recepção, encontra-se com a Nora. Ela se emociona.

NORA (O abraça fortemente) – Meu filho! Que alegria vê-lo aqui. Saiba que orei muito por você.

ELIAS – Obrigado. Estou realmente precisando muito.

NORA- Entre, sente-se. Sinta-se em casa.

Elias ocupou um lugar entre os últimos bancos da igreja, sendo o único banco vazio. Lá no púlpito o pastor abre a bíblia e convida a igreja para a leitura.

PASTOR – Abramos as nossas Bíblias em Isaias cinqüenta e três, versículos seis e sete... Todos encontraram?

IGREJA (Juntos) - Amém!

PASTOR - Todos nos andávamos desgarrados como ovelha; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós. Ele foi oprimido...

A câmara recua e sai pela porta da igreja. Distancia-se lentamente.

PASTOR (Em off) – E humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.

Acontece um FADE OUT.

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23. PENSÃO.EXT. DIA.FADE IN. Luzes de sirene girando. Abre-se o plano e vemos a viatura policial estacionada em frente a pensão. Um taxi se aproxima e pára. Elias desceu do taxi. Assim que ele desceu, os policiais saltaram da viatura e caminharam em direção a ele. Eram os mesmos policiais vistos antes na sequência 4. O taxista fica parado dentro do veículo, observando o desenrolar da cena.

POLICIAL I – Senhor Elias da Hora?

ELIAS – Sou eu.

POLICIAL I – O senhor poderia nos acompanhar até a delegacia?

ELIAS – Qual intimação?

POLICIAL I – Senhor, preferimos não constrangê-lo em público. Nos acompanhe, por favor.

ELIAS – Sim, vou dirigir ao taxi, se o senhor permitir.

POLICIAL I –Fique a vontade.

Ele volta para o táxi e O veículo parte. A viatura segue logo atrás.

24. VIATURA POLICIAL.INT. NOITE.A viatura dirigida pelo policial 1 segue a toda velocidade. É possível enxergar o brilho do giro flex. Segue o táxi, que está á frente. Eles passam por diversos pontos da cidade, até chegarem á delegacia.O corte da sequência se dá com o freio da viatura.

25. DELEGACIA.EXT. INT. NOITE.Os policiais saltam da viatura e acompanham Elias que caminha timidamente para a delegacia. O escrivão se encontrava escrevendo alguma coisa judicial sobre o balcão.

POLICIAL II – Me acompanhe, por favor.

Ele entra em um corredor e Elias o segue. Caminha direto à sala do delegado, que traja terno e gravata. O policial aponta para a cadeira, frente a mesa do delegado. Timidamente Elias senta e espera pelo delegado que custa a dirigir a palavra.

DELEGADO (Finalmente estende a mão e o cumprimenta) – Olá professor, Elias. O senhor está bem?

ELIAS – Não tanto quanto deveria, mas estou sobrevivendo.

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DELEGADO – Sabe o real motivo pelo qual foi convocado a comparecer na delegacia?

ELIAS – Para falar a verdade, estou ansioso para saber, senhor.

DELEGADO (Depois um tempo, se levanta e só então vemos a arma em sua cintura)- Há um movimento junto às redes sociais que me preocupa, professor. Sei de sua índole, como de sua reputação, ultimamente totalmente abalada devido os boatos que circulam nas redes sociais que o senhor é um pedófilo...

ELIAS – Ainda bem que não navego nas redes sociais.

DELEGADO - Pois deveria, professor. Porque esse movimento está ganhando cada vez mais adeptos e temo por sua segurança.

ELIAS – Só Deus e eu sabemos de minha inocência. O Senhor é justo, Ele vai mostrar a verdade e desmascarar os maus caracteres.

DELEGADO (Começa a circular em volta do Elias) – Mas o mundo é injusto, professor. Quantos inocentes não foram mortos sem poder comprovar a inocência! Por isso te aconselho a sair da cidade.

ELIAS (Se levanta) - Agradeço pela sua preocupação, doutor. Mas não vou sair dessa cidade. Sou inocente. Não vou deixar que acabem com a minha reputação sem o direito de comprovar a minha inocência.

DELEGADO (Pára a sua frente) – Mas você não teme por sua segurança? Sabem-se lá quem poderá está por trás desse movimento. Bandidos perigosos podem se aproveitar da situação. Eu não posso disponibilizar homens vinte e quatro horas em nome de sua segurança.

ELIAS – Se eles matarem meu corpo, jamais vai destruir a minha alma... De qualquer forma, agradeço pela preocupação. Se me der licença, preciso ir descansar. Hoje o dia foi bastante intenso.

Ele saí. O delegado fica parado, incrédulo.

Outro FADE OUT.

26. QUARTO DE PENSÃO. PENSÃOINT. EXT.AO AMANHECER.

A luz do dia vai invadindo o quarto. Ela trás consigo alguns gritos. Eles vão se tornando mais forte. Parecem gritos de uma multidão enfurecida. Os gritos acordam Elias. Ele veste roupa de descanso. Os gritos parecem que desconexo:

PESSOAS (Em off) – Justiça... Cadeia ao pedófilo... Vamos linchar ele... Fim dos pedófilos nas escolas...

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Elias veste uma calça sobre a bermuda e uma camisa. Vai até a janela e vê a multidão parada em frente a pensão com diversos cartazes. Eles trazem em seus anúncios os mesmo tipos de informações que a multidão gritava. De repente, alguém começa bater fortemente na porta. Ele apruma a vista na porta e esquece a multidão.

DONO DA PENSÃO (Em off)- Abre essa porta! É urgente!

Elias obedece. Abre a porta e o encontra esbaforido, eufórico:

DONO DA PENSÃO – Aí tem uma multidão querendo te linchar.

ELIAS – Obrigado pela informação, mas eu já vi.

DONO DA PENSÃO – Sugiro que saia daqui imediatamente.

ELIAS – O senhor pode chamar a polícia pra mim?

DONO DA PENSÃO-Nada de policia, as coisas só vão piorar. Saía pela porta dos fundos, eu seguro a multidão.

Imediatamente Elias começa a recolher seus pertences. Couberam em única mala de viagem. O dono da pensão parte para a janela, a fim de ver o ato da massa.

ELIAS (Enfia a mão na carteira e joga o dinheiro dele sobre a cama) – Obrigado. Que o Senhor o abençoe.

Elias saí imediatamente. O dono da pensão voltou a fixar a multidão enfurecida. Sai do quarto as pressas. A câmara saí pela janela, aproximando-se da multidão. Ela faz um passeio subjetivo entre os mascarados. Lá está Monalisa. Ao aproximar da câmara, ela tira a mascara como quem estivesse sufocada. Close nela.

27. PENSÃO/ RUA.EXT. AO AMANHACER. O dono da pensão chega. Quer acalmar a multidão enfurecida. Sua voz de ordem, parece sufocada pelos gritos; Justiça...Cadeia ao pedófilo...Vamos linchar ele... Fim dos pedófilos nas escolas. Os gritos procedem até que Monalisa se aproxima dele. Com um sinal, ela ordena o silêncio. Todos obedecem.

MONALISA – Cadê o professor? Nós sabemos que ele está aí...

DONO DA PENSÃO – Olha gente, isso não é um parque de diversões. Isso daqui é um estabelecimento comercial particular.

MONALISA – Nós sabemos que ele está hospedado aqui.

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DONO DA PENSÃO – Na verdade, tenho vários clientes aqui. Sem nomes, não sei do que você está falando.

Ouve-se freada de veículo que freia violentamente. É um Furgão de um Canal de Televisão. O Câmara-Man desce com uma repórter. Ele começa a filmagem, enquanto que ela inicia imediatamente a reportagem.

REPÓRTER (Com o microfone) – Estamos em frente a uma pensão onde um grupo de manifestante exaltado faz um grande protesto. Segundo informações, o manifesto foi marcado pelas redes sociais... E a implicação do grupo se refere a um professor acusado de pedofilia que estaria hospedado nessa pensão... Vamos aproximar do grupo e saber o principal motivo do protesto...

Sem disfarçar a ansiedade, a repórter se aproxima do grupo, acompanhada do Câmara-Man. Ninguém percebe a passagem tranquila do Elias. Ele usa óculos escuros, passa por trás do Furgão e atravessa a Rua para entrar num ônibus público que passava ali naquele exato momento. A passagem do Elias por trás do Furgão até entrar no ônibus deu-se acompanhada de uma trilha densa, do tipo visto em filmes do Oriente Médio.

28. CASA DE IVAN.EXT. INT. DIAA câmara passa pelo Ivan pitando a frente da casa e entra pela janela no ritmo que findara a sequência anterior.

REPÓRTER (Em off na TV) – O grupo de manifestante exige da justiças medidas mais duras contra a pedofilia no País. Segundo o líder do grupo, a justiça não pode fazer vistas grossas para caso semelhante com que aconteceu com a Monalisa...

Lá dentro encontra Rosa, assistindo notícias. Ela tem por volta de trintas anos, mas aparenta muito mais. Tem uma menina no colo e no chão um menino entre dois e três anos brincando no tapete. As imagens geradas na TV são do grupo de manifestantes em frente à pensão com os cartazes e dizeres vistos antes na sequência anterior.

REPÓRTER (TV) – Apesar de todo o manifesto, a justiça alega que não foi feito nenhuma denúncia contra o acusado e, portanto, a justiça não poderá tomar nenhuma medida contra o acusado. Mas o grupo disse que continuará com os manifestos pelas redes sociais e que cobrará medidas mais rígidas em casos semelhantes.

Na TV, a repórter entrevista um manifestante mascarado que carrega um cartaz com os dizeres: PROTEJA NOSSAS CRIANÇAS CONTRA A PEDOFILIA.

MANIFESTANTE (TV) –Estamos usando nossas armas para sensibilizar a população e a justiça de que a pedofilia é um crime e que assim, qualquer um que pratique esse crime tem que responder criminalmente...

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REPÓRTER (Corta a entrevista e o foco é totalmente nela em um close) – Obrigado pela participação... Eu, Lucy, direto do foco para o Canal de Notícias...

Rosa aciona o controle remoto e desliga a TV. Lá fora, em frente à casa, um ônibus pára. A parada do ônibus despertou Rosa, que se levantou com a criança no colo. Incrédula, ela vê o Elias saltar do ônibus e caminhar em direção sua casa. Rapidamente ela saí de casa, chamando pelo Ivan:

ROSA – Ivan, adivinha quem está aí! O sem vergonha tem coragem de vir aqui.

Ivan não responde nada. Olha com naturalidade a aproximação do Elias.

ELIAS (Aproxima e cumprimenta) –Olá, Elias! Olá, Rosa! Bom dia!

ROSA – Você é muito cara de pau aparecendo por aqui.

ELIAS (Retira o óculos escuros) – Por quê? Fiz alguma coisa contra vocês?

ROSA – Dá nojo ver você agindo assim, como se nada tivesse acontecendo. A cidade inteira só comenta isso, não se falam em mais nada.

IVAN ( Desce da escada e dirige-se à Rosa) –Rosa, se acalme, mulher! Deixe que eu fale com ele.

Furiosa, Rosa cospe no chão e entra. Ivan se aproxima dele, calmamente.

IVAN – E aí cara, como está?

ELIAS – Você sabe que não estou bem. Esta tal de redes sociais pode ser uma arma letal nas mãos de algozes da verdade... Nesse momento não tenho para onde ir, vim aqui lhe pedir um tempo para pagar seu dinheiro, assim como um lugar para ficar... Mas pela recepção calorosa de sua mulher, eu não sou bem vindo por aqui.

ROSA (Saí jogando um envelope de correspondência em seus pés) – Não é bem vindo mesmo. E se tiver vergonha na cara, nunca mais volte a esse lugar.

Elias mantém a postura e pega o envelope com paciência. Observa o remetente e percebe se tratar do pedido de divórcio.

IVAN – Sinto muito, Elias, mas não posso ajudá-lo. E quanto ao dinheiro, me pague quanto puder.

Ele entra e fecha a porta. Elias consegue controlar-se. Saí andando com o envelope nas mãos. Uma música triste surge lentamente.

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29. CASA DO IVAN.INT. DIAA música não pára. Ivan olha a saída do Elias pela janela. Rosa se junta a ele com a criança no colo.

IVAN – Ele parece bastante sereno, para uma pessoa que está sendo acusado de pedofilia. E se ele estiver falando a verdade?

ROSA – Não vai ficar cheio de compaixão por um criminoso, só porque prestou alguns serviços para ele e acha que ele é seu amigo. Você tem duas crianças Ivan, esqueceu? Assim como aconteceu com a filha dos outros, podem acontecer com os seus também.

Lá fora, um ônibus pára e abre a porta dianteira. Elias entra. A porta fecha e o ônibus vai embora com o Elias. Ivan vira-se para a mulher, cheio de carinho.

IVAN – Por que acreditaríamos mais em estranhos do que numa pessoa que conhecemos há anos?

ROSA – Você acha que conhece ele, mas na verdade, ninguém conhece coração de ninguém. Essa é uma terra misteriosa, que somente Deus conhece e com certeza ele não revelou para você que o Elias é inocente, revelou?

Ivan se cala. Ela dá um beijinho nele e saí. Ele fica parado, com cara de paisagem. A sequência finaliza com um close nele. É o fim da música.

30. ÔNIBUS/RUAINT. EXT.Elias é o único passageiro parado no corredor do ônibus, apesar de existir alguns bancos vazios. Ouve-se somente o barulho do motor. Os passageiros estão em silêncio. Todos parecem querer evitar comentar alguma coisa sobre o Elias, apesar de olhá-lo com fúria e repúdio. Quando o ônibus par em um cruzamento para dar a preferência, um passageiro brutamonte, que sentava na parte alta do veículo se levanta de uma vez, caminha até o Elias e o gruda pelo pescoço e o pressiona contra a janela do ônibus, enquanto o ônibus segue seu percurso normal.

BRUTAMONTE – Olha aqui, seu pedófilo miserável! Sei que todo mundo quer lhe falar alguma coisa, mais tem medo. Então eu vou falar... Você vai descer desse ônibus agora e desaparecer dessa cidade.

ELIAS (Meio sem voz) – Eu... Eu não, não sou nenhum pedófilo... Portanto, não vou descer desse ônibus e nem desaparecer da cidade.

BRUTAMONTE – Vai sim! Motorista, pare esse ônibus! Tem um pedófilo que vai descer agora.

O motorista freia imediatamente. Abre a porta traseira do ônibus. O brutamonte saí empurrando Elias e o joga no corredor.

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ELIAS (Se levanta, limpando o sangue que escorre do nariz) – Eu paguei minha passagem, tenho direito de ficar aqui como qualquer outro paciente.

BRUTAMONTE – Acontece que você não é como um de nós. (Enfia a mão no bolso e joga o dinheiro da passagem nele) - Agora pego seu dinheiro e suma daqui.

ELIAS – Você não tem o direito de agir assim comigo. Posso processá-lo por calunia e difamação.

BRUTAMONTE – Então agora você vai me processar.

Furiosamente avança contra ele. Segura pela camisa e lança para fora do ônibus. Ele cai. A porta do ônibus se fecha e parte. Elias está totalmente machucado. Tenta se levantar do meio da Rua. Mal se levanta e avista um veículo se aproximar em alta velocidade. O veículo freia violentamente e pára. Lá dentro, ele vê Rebeca na companhia do Advogado Aquiles. Rute está no banco de trás Ele está no volante. A porta traseira do veículo abre e Rute salta do veículo chamando por ele.

RUTE – Papai! Papai! Papai!

Rebeca desce imediatamente tentando impedir o abraço da criança com seu pai.

REBECA (Neurótica) – Minha filha!

Ela não consegue impedir o encontro amoroso da filha com o pai. O momento é emocionante. As lágrimas saltam dos olhos de Elias imediatamente. O abraço acontece fortemente. As manchas de sangue de Elias sujam o rostinho de Rute.

ELIAS – Minha filha! Que saudade de você, meu amor.

Rebeca chega separando os dois aos gritos.

REBECA – Seu pedófilo! Deixe minha filha! Deixe minha filha!

Rebeca consegue tirar Rute dos braços do Elias.

RUTE – Pare, mamãe! Você está me machucando! Está machucando o papai.

REBECA – Esse homem não é seu pai, minha filha! Ele é um animal.

RUTE (Inocentemente) – Papai, por que o senhor tá todo machucado? Foi amamãe?

Rebeca se abaixa limpando o sangue do rosto dela.

REBECA – Esse homem é mal, filha! Esquece ele, por que ele não é seu pai.

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RUTE – Nossa, mamãe! A senhora está falando coisas ruins contra o papai. Ele não é estranho, ele é meu pai.

Só agora Aquiles desceu do carro. Ele puxa a Rebeca, que mantém Rute nos braços como sinal de posse.

AQUILES – Vamos, deixe esse homem em paz.

RUTE (Saí carregada pela mãe, jogando beijos para o Elias) Tchau, papai! Eu te amo!

ELIAS – Eu também te amo, filhinha!

REBECA – Nos deixem em paz! Nunca mais nos procure, você entendeu?

Rute entra no carro com eles, chorando. Rebeca a mantém em seu colo e Aquiles parte com o carro, desviando de Elias. Ele manteve parado na rua. As lágrimas começam a cair. A câmara vai recuando. A imagem dele parado no meio da rua fica como de um freezer.

31. RUA DA CIDADE/ IGREJA.EXT. DIA.

Grande plano aberto. Tomado do alto. Surgem os caracteres: DOIS ANOS DEPOIS...A câmara desce. Na rua encontra um catador de papelão empurrando um carrinho cheio de papelão. O homem está barbudo. Ao aproximar-se, percebe ser o Elias. Ele assovia um louvor. Parece feliz com a situação. Transita na beira da calçada. Os carros passam velozmente ao seu lado. Aproxima-se de uma igreja. Está bastante movimentada. Não conhecemos a igreja, mas ali acontece um casamento. Elias diminui os passos com a movimentação. Pára. Espera um carro que se aproxima. O carro passa por ele e para em frente à igreja. Dele salta uma menina de sete anos carregando alguma coisa nas mãos. É a Rute, vestida de daminha. Ela está linda. Ela entra na igreja com o par de alianças. Elias fica olhando a cena. De repente, uma mulher vestida de noiva desce. Começa o show de luzes e flashes das câmaras. É a Rebeca. Ela também está linda. Rebeca parece sentir que está sendo observada pelo catador de papelão. Olha para ele. Não o conhece. Segue para a igreja. Uma musica nupcial cresce dentro da igreja. É o casamento de Rebeca com Aquiles. Elias segue adiante empurrando o carrinho cheio de papelão.

32. RUA. CASEBRE DO ELIAS.EXT. INT. DIAFinalmente Elias chegou em casa. É um casebre na periferia. Há um portão fechado na entrada. Ele abre. O quintal está repleto de papelão. Entra com o carrinho lotado de papelão e fecha o portão. Um cachorrinho vira lata saí ao seu encontro. Ele acaricia o cachorro. Em seguida, abre a porta e entra. A casa possuía uns dois cômodos. O primeiro que serve de sala e cozinha está bem organizado. Ele entra no segundo, o quarto, tem o mesmo aspecto. Pega um

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celular antigo sobre a cama. Ouve-se o discar dos números. Espera pelo atendimento. O atendimento acontece.

ELIAS (No celular) – Alô!... Irmão Gomes! Sou eu, Elias. Quando quiser vir buscar a mercadoria, creio que a carga já está completa... Hoje, à noite! Excelente. Estarei esperando... Fique na paz... Até mais.

Ele desliga o telefone. Coloca de volta sobre a cama e saí.

33. FESTA DE CASAMENTOINT. AO ENTARDECERNum plano detalhado, a câmera faz um passeio pelo interior da festa de casamento de Aquiles e Rebeca. Uma música agradável retrata o clímax. Pessoas bem arrumadas e felizes, num ambiente maravilhoso. O passeio da câmara finaliza quando encontra Aquiles e Rebeca atrás de um enorme bolo. Ambos estão sendo observados pela Rute. Eles se beijam sob os flashes das câmaras que acedem e apagam. O corte acontece quando Rute decide tirar uma foto do casal. O flash da máquina acede e apaga.

34. RUA/ CASEBRE DE ELIASEXT. NOITE.O enorme portão se abre e vemos um caminhão antigo, de ré entrando no quintal de Elias. O próprio Elias saí de trás do portão e dá as coordenadas para o caminheiro que olha pelo retrovisor. Ao chegar ao lugar apropriado, Elias pede:

ELIAS – Está bem, irmão!

O caminhão pára. Gomes e Nora descem do caminhão, enquanto que Elias abre a traseira do veículo. Os dois velhotes se juntam a eles. São pessoas felizes.

GOMES e NORA (Juntos) - Olá, meu irmão! Boa noite!

Elias abre um riso contente e os cumprimentam com aperto de mão e cordial –Boa noite- Inicia o trabalho, jogando os papelões sobre o caminhão.

GOMES – Irmão, o que irá fazer nesse final de semana?

ELIAS – Ao sábado pela manhã ir á igreja, a tarde, fazer algumas visitas e no domingo voltar ao trabalho.

GOMES – Gostaria que viesse passar conosco nesse final de semana. Embora sejamos vegetarianos, aos domingos costumo pescar. Aquilo que costumo pescar, vendo para uma casa de rações e o dinheiro é para comprar alimento a fim ajudar pessoas carentes.

ELIAS (Interrompe a atividade) – Verdade, irmão!

NORA – Lógico! Para nós será uma honra tê-lo esse final de semana conosco.

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ELIAS (Sorridente) – Legal! Para mim será muito gratificante.

O corte acontece quando Elias joga um fardo de papelão sobre o caminhão. A sensação que se dá, é que o fardo tenha sido jogado sobre a câmera.

35. ESTRADA DESERTA/ ENCRUZILHADA.EXT. NOITE.Sonho.O forte clarão da lua cheia projeta sobre a noite. O lugar é deserto. Ouve-se apenas o barulho dos pássaros noturnos. Essa imagem permanece por alguns segundos. De repente, vemos um homem correndo aproximando. Ele parece um atleta em exercício, embora estivesse calça esporte. É Elias. Seguimos sua jornada. Ele chega numa encruzilhada. A sua frente, está a cidade. A sua esquerda, uma enorme estrada larga. A sua direita uma estrada estreita. De repente, do nada, uma luz de um farol de um veículo, vindo da cidade se aproxima e Elias fica parado na encruzilhada, ofuscado pela luz. O veículo aproxima-se de uma vez. Elias se assusta e caí. O carro vira para esquerda, no caminho largo. É uma camionete que carrega em sua traseira um monte de jovens mascarados, bebendo e divertindo. Eles gritam para Elias, como quem o estivesse convidando. O veículo para logo adiante. Dá marcha ré a toda velocidade. Elias escolhe o caminho estreito e saí correndo. O carro chega à encruzilhada e pára. Ao chegar à encruzilhada, o motorista dá a volta no carro e saí a toda velocidade atrás do Elias. Eles o alcançam, quase sem fôlego de cansaço. O motorista diminui a velocidade do veículo e segue na velocidade do Elias.

O MOTORISTA (Mascarado) - E aí, coroa! Pra onde vai?

ELIAS – Há algum lugar onde possa viver em paz.

O MOTORISTA – Corta, essa! Vamos nos divertir. O mundo é bebida, sexo, droga e Frank na veia.

ELIAS – Só que não sou desse mundo.

O MOTORISTA (Debochando) – Por quê? Você é um fantasma?

ELIAS – Não. Sou cidadão do reino dos céus. Estou indo habitar onde habita a glória de Deus.

O MOTORISTA – Deixa disso, coroa! Por causa de sua vida certinha, é que aquela menina acabou com sua reputação.

ELIAS – Como sabe disso?

O MOTORISTA – Por que nós estávamos lá na frente da pensão com ela para te linchar.

Eles caem na gargalhada. Acelera o veículo e saí em alta velocidade. O veículo é freado. Faz a volta e passa por ele em alta velocidade. Seus ocupantes estão

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em diversão total. Elias fica parado, olha adiante e começa avistar uma glória, projeta de um lugar iluminado. Aguça sua curiosidade. Ele volta a correr e acelera os passos. Aproxima-se e contempla com os próprios olhos a beleza do lugar. É a nova Jerusalém. Ele entra e o lugar é belo. Adiante, ele contempla um juiz rodeado de anjos, batendo carimbo sobre uma enormidade de papeis a sua mesa. Elias está estático, anestesiado, como quem não tivesse acreditando no que via. Um dos anjos deixou a mesa e aproxima-se saudando, enquanto descia a escadaria.

ANJO-Paz seja convosco!

Elias está perplexo. Não consegue dizer uma só palavra. O Anjo se junta a ele.

ANJO – O que lhe trás nessa sala de audiência?

ELIAS (Depois de um tempo) –... Sala de audiência?...Por que vim parar aqui?

ANJO – Creio que deve está perguntando o porquê de tantas coisas que aconteceram contigo, o porquê de tanta injustiça e parece que o céu estava alheio ao seu caso... Porém, saiba que é mui amado de Deus.

ELIAS (Se recuperando) - E por que permitiu que eu sofresse tamanha calunia e difamação? Ou seja, perdi meu lá, a moral, muitas pessoas não me suportam e os valores se inverteram de tal maneira, que não há nada que possa fazer para recuperar a minha moral.

ANJO – É doloroso para nós contemplar esse tipo de injustiça. Mas O Senhor dos Exércitos, Aquele que vive pelos séculos dos séculos, assim permitiu para que você reconhecesse que existe um Deus disposto a salvá-lo. Caso contrário, jamais teria entregado sua vida ao Salvador do mundo.

É possível ver algumas lágrimas escorrerem do rosto de Elias. Ele está emocionado. O olhar de compaixão de Cristo, junto à mesa, dirige-se a ele. Elias cai de joelhos, em sinal de adoração a Jesus a Cristo.

36. QUARTO DA CASA SIMPLES DO ELIAS.INT. EXT AO AMANHACER.Uma musica forte tocada a violino invade a cena.Elias está ajoelhado ao pé de sua cama em oração. A música cobre sua fala, não conseguimos ouvir seu diálogo na oração.A câmera passa suavemente por ele e saí pela janela do quarto, entre aberta. Ela recua e fica a imagem da casa do Elias, sem os papelões, com o carinho vazio.

37. ESCOLA.EXT. INT. AO AMANHECER.Segue-se a música, sem cortes. Grande plano aberto, tomado de um ponto aéreo. A câmera chega ao exterior da escola, onde vários alunos estão chegando.A Câmera entra junto com esses alunos, num plano sequência, sem cortes.

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Chega ao corredor, onde outros alunos transitam por ele. Avança. Até encontrar uma porta aberta. A câmera invade a sala de aula. São os ex-alunos de Elias, dois anos mais velhos. O professor escreve na loja, para uma sala dispersa. De repente, vemos Monalisa vomitar e sair correndo, chamando atenção de todos, inclusive do professor, que para com a escrita.Acompanhamos Monalisa em sua angústia. Ela corre para o banheiro feminino. Consegue chegar a uma privada e se esforça para vomitar. O plano sequência termina com um close em Matilde, quando ela entra e para na porta do banheiro, olhando para a Monalisa atônica. É o fim da música.

38. SALA DA DIRETORIA.INT. AO AMANHACER Monalisa olha um ponto fixo. Está sentada á frente da diretora, que escreve alguma coisa. Matilde está parada, de pé, logo na entrada da porta.

NÚBIA (Depois de um silêncio) – Até agora você não me disse uma única palavra.

MONALISA – O que quer que eu diga?

NÚBIA – Comece pela verdade.

MONALISA – Mais o que é a verdade? Talvez o que seja verdade pra mim, não é verdade para você.

NÚBIA – A verdade é única, porque nela não tem variações, por isso ela é a verdade. Então ela é impar, não é elemento isolado, formado pela ideologia de um homem, uma mulher ou uma adolescente.

MONALISA – O que quer que fale! Que estou enjoada porque estou grávida?

NÚBIA – Se esse for o caso, sinta-se á vontade.

MONALISA – Sim, acho que estou grávida.

Levanta-se e saí correndo. Abre a porta com força e abandona a sala.

MATILDE – Que coisa! É criança fazendo criança.

NÚBIA – Chame a mãe dessa menina... Não podemos acobertar um fato tão sério como esse.

O olhar sério de Núbia indicava preocupação.

39. RUA/ CASARÃO.EXT. DIACarro passa em alta velocidade e passa pelo barbudo Elias que empurram seu carrinho de catar papelão. Há alguns papelões dentro carrinho, mas ainda vazio. Ele deixa a rua principal e vira a rua de sua antiga casa.

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Caminha tranquilamente. Chega em frente ao casarão que um dia lhe pertenceu. A fachada foi mudada de cor. Há uma placa no muro da casa com os dizeres: DR. ÁQUILES BRAIL. ADVOGADO.O olhar de Elias o leva há lembranças.

40. PISTA DE CICLISMO EM VOLTA DE CAMPO DE FUTEBOL.EXT. DIA.Flash-black.Ouvem-se risadas de pessoas felizes.É Elias com o aspecto de novo, sem a barba. Andando de bicicleta, com a Rute em um banquinho, tentando acompanhar a Rebeca em outra bicicleta á frente.Todos estão felizes. Elias alcança Rebeca, próxima da linha de chegada e ultrapassa. Ele vence e comemora com uma das mãos. Rute ergue as duas mãos comemorando junto com o pai. O momento é inexplicável.

ELIAS – Hú!Hú!Hú! Nós vencemos!

RUTE – Nós vencemos a mamãe.

REBECA (Exausta) – Não... Não vale.

Todos descem das bicicletas e Rute saí correndo ao encontro da mãe.

ELIAS – Como não vale? Eu estava com peso, isso lhe daria uma grande vantagem, você não acha?

REBECA (Caminhando com Rute nos braços em direção ao Elias) – Está bem. Está bem. Devo admitir... Vocês venceram.

RUTE – (Nos braços da mãe) –É! Nós vencemos.

ELIAS – É isso aí, minha filhinha! Nós somos os vencedores.

Rebeca se junta ao Elias. Pára a sua frente, com o rosto colocado ao seu e diz bem baixinho:

REBECA – Meus parabéns! Você é o vencedor.

Eles se beijam. FADE IN.

41. RUA/CASA RÃO.EXT. DIA.Mão que toca a campainha.Abre-se o ângulo e vemos Elias parado junto à campainha, com o seu carrinho de papelão logo atrás. O Atendimento não acontece e ele toca a campainha novamente. Ouve-se o barulho de chave abrindo o portãozinho. Rebeca saí. Ela está grávida. Usa óculos para as vistas.

REBECA – Olá, posso ajudá-lo?

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Elias fita bem Rebeca. Depois de um silêncio, ele volta normalmente.

ELIAS-Desculpe senhora! Estava passando por aqui e como estou com sede, achei que pudesse me arrumar um pouquinho de água.

REBECA – Aguarde um momento... E com licença, que vou fechar o portão para o cachorro não sair.

A câmera faz um giro de trezentos e sessenta graus em volta de Elias. O termo do giro da câmera trás Rebeca, parada a frente dele com uma garrafa de água e um copo descartável.

REBECA (Olhando ele com desdém) – Pode ficar com a garrafa e copo de água, acho que não vou mais precisar dela.

ELIAS – Ah, sim! Muito obrigado pela sua gentileza... A senhora está grávida?

REBECA – O que isso lhe importa?

ELIAS – É que eu conheço muito bem esse lugar...

Só então ela o reconhece. Parece levar um choque.

REBECA (Em transe) - Elias!

ELIAS – Demorou a me reconhecer.

REBECA – Finalmente você se encontrou. Veja a vida patética que leva. Um moribundo, que caiu desgraça. É, Elias! O que planta aqui, colhe aqui. Ainda bem que a minha filha nem fala mais no pai, porque agora ela encontrou um pai de verdade. Um homem de caráter e não um maldito pedófilo.

ELIAS – O julgamento dos perversos não me aflige mais. Encontrei a saída eficaz para minha vida. Seu nome é Jesus Cristo, Rebeca. Se você um dia encontrou esse Deus amoroso e misericordioso, vai aprender o que empatia e não fazer julgamento difamatório das pessoas.

REBECA – Depois que apronta e cai na miséria, finge um arrependimento e se esconde atrás da religião. O mundo se tornou mesmo um esgoto vivo. Com demagogos e céticos ao dia e hipócritas e antagônicos à noite.

Ela entra e bate o portão. Elias respira fundo e volta para seu carrinho de catar papelão. Ele se afasta da câmera, numa sensação de uma câmera objetiva.

42. CASARÃOEXT. DIARebeca está encostada no portão chorando. Ela perece inconsolável. Desce com a costa no portão até chegar. Ela senta com a cabeça entre as pernas. O cachorro aproxima-se dócil e com ternura. Ela abre um riso e aceita o carinho

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do cão. Enxuga as lágrimas. Recompõe-se e se levanta. Pega o cachorro nos braços e entre com ele.

43. SALA DE DIRETORA.INT. DIA

O primeiríssimo plano mostra o rosto de uma mulher perplexa. Ela não chora, não sorrir. Está atônica. A cena acontece até ela se levantar. Abre-se o plano. Vemos a mulher na sala da diretoria com a Núbia. É a mãe da Monalisa. Uma senhora deficiente que usa bengala. Os cabelos são de alguém que saíra de um estado de quimioterapia. Ela se chama Magnólia.

NÚBIA – Desculpe ter que dividir essa notícia com a senhora, mas como mãe, acho que tem todo o direito de saber o que passa com a sua filha.

MAGNÓLIA – Eu não a culpo por nada... Estive em um momento difícil de minha vida, não pude dá atenção para ela nos momentos que ela mais precisava, talvez seja a consequência dessa ausência materna, já que ela não tem o pai desde a infância.

NÚBIA – Mas acho que ela deveria te apoiar na sua dificuldade, não apunhalar pelas costas com uma gravidez precoce.

MAGÓLIA – Você é mãe, não é?

NÚBIA – Sim, tenho três maravilhosos filhos. Um se tornou engenheiro, o outro médico e a outra professora...

MANÓLIA (A interrompe) – Então quem tem casa de vidro, que não atire pedras... Com licença que vou ajudar a minha filha.

Saí andando com dificuldade, retira-se da sala. Núbia fica com ar de paisagem, como quem não acreditasse.

44. ESCOLA/RUA.EXT. DIA

Apoiando em sua bengala, Magnólia caminha entre os alunos que correm e se divertem. Ela parece ignorar a irreverência dos adolescentes. Passa por eles e ganha a rua. Caminha em direção ao leste, na horizontal. Não há pressa. No caminho, cruza com Elias puxando o carrinho cheio de papelão. Ele a cumprimenta:

ELIAS – Bom dia, senhora!

Ela não responde, segue andando. Ele continua empurrando a carroça, olhando para trás. Pára como quem quisesse dizer alguma coisa para ela, mas segue adiante, passa por alguns de ex- alunos, agora dois anos mais velhos. Os olhos de Elias é a câmera subjetiva, que capta Núbia saindo da escola e caminhando para o carro no estacionamento da escola.

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Ele segue olhando para ela, até sair da extensão da escola.

45. CASA ANTIGA EXT. INT. DIA.Finalmente Magnólia chegou ao quintal de sua casa antiga. A fachada exterior está deteriorando. Uma área à frente, modelo antigo. Mas há um pequeno jardim na entrada. Ela caminha sem pressa apoiando em sua bengala. Chega à área da casa e entra. Lá dentro vemos uma casa organizada.Um som alto que saí do quarto de Monalisa a leva até o quarto. O quarto típico de uma adolescente desorganizada, apesar de vários quadros com pinturas espalhados pelas paredes. Monalisa nem percebe a chegada da mãe. Está vidrada no computador. O desligar do som a leva a vira-se de uma vez assustada.

MONALISA (Depois que ver a mãe) – Que susto. Sabia que é falta de educação entrar no quarto dos outros sem bater?

MAGNÓLIA – Eu sou sua mãe, portanto, tenho o direito de entrar aqui quando bem eu quiser.

MONALISA (Irônica) – Desculpe, me esqueci deste detalhe.

MAGNÓLIA – Quero ver aonde a sua ironia vai te levar.

MONALISA – Tá legal. Eu sei por que veio aqui, o que é um fato raro. Porque a linguaruda da diretora me caguetou.

MAGNÓLIA – Que linguajar é esse? Aonde aprendeu a falar com as pessoas assim desse jeito?

MONALISA –Escuta, mãe! Se vai me dá um sermão, esse é o momento. Porque não vou ficar o dia inteiro nessa lenga- lenga. Vou dá um rolê para esfriar a cabeça.

MAGNÓLIA – Tome cuidado, minha filha!...

MAGNÓLIA/MONALISA (Repete as palavras junto com a mãe) – A vida é muito curta para brincar com ela...

MONALISA -... Eu já sei desse papo. É por isso que vou dá um rolê para esfriar a cabeça.

Ela saí e bate a porta com força. Magnólia permanece parada, apoiando em sua bengala. Atrás dela, está o computador ligado, trazendo imagens de mulheres grávidas.

46. CASARÃO.INT. DIA.Há uma fartura sobre a mesa.

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Aquiles, Rebeca e Rute compõem a mesa. Só ela e o Aquiles almoçam. Rebeca olha o prato com a comida sem nenhum interesse. Eles olham para ela respeitando sua decisão. Depois de um tempo, Aquiles quebra o silêncio:

AQUILES – Está acontecendo alguma coisa, querida?

REBECA – Desculpe, mas estou sem fome.

Rebeca se levanta e retira da mesa. Ambos ficam calados, continuam o almoço. De repente, Rute continua;

RUTE (Dois anos mais velha) – Vai lá! Vai ver o que ela tem.

Aquiles se levanta e caminha para o quarto. A porta esta fechada, ele bate na porta e entra. Rebeca está deitada, chorando. Ele fecha a posta silenciosamente e vai até a cama, onde senta ao seu lado fazendo caricias leves em seu rosto.

AQUILES – Há alguma coisa de errado, querida?

REBECA – Não, coisa minha. Não há nada de errado.

AQUILES (Depois de um tempo) –... Posso saber o que lhe aflige?

REBECA – Alguma vez já sentiu que cometeu alguma injustiça?

CORTE PARA:

47. CASARÃO.INT. DIA.Rebeca está atenta, atrás da porta, escutando a conversa entre Aquiles e Rebeca.

AQUILES (Em off) – Sim, a gente comete injustiças quase todos os dias, principalmente na profissão que exerço.... Por quê?

REBECA (Em off) – Sei lá!... Hoje, depois de dois anos, vi o Elias. Ele apareceu aqui e eu não o reconheci a principio. Estava barbudo, catando papelão...

CORTE PARA:

48. QUARTO DO CASARÃO.INT. DIA.Rebeca está sentada sobre a cama. Aquiles em pé a sua frente, com os braços cruzados.

REBECA – Depois que o reconheci, insultei-o da maneira mais sarcástica possível, mas depois fui refleti o que fiz e vi que não deveria tratá-lo daquela maneira.

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AQUILES (Nervoso, começa andar de um lado para o outro) – Não acredito que depois que aconteceu, você ainda tem compaixão daquele pedófilo! Deveria ter chamado a polícia, isso sim.

REBECA (Se levanta) – Ele disse que agora se tornou um homem religioso, para perdoar os seus algozes... E se nós somos algozes daquele homem?

Aquiles abre um risinho forçado. Abraça-a e diz:

AQUILES – Querida, querida! Se aquele safado fosse mesmo inocente, acha que sua inocência já não teria vindo à tona? Você não concorda?

REBECA (Abre um riso entre as lágrimas) – Você está certo.

AQUILES (Limpando suas lágrimas) – Lógico, que sim! Agora concentre nessa criança linda que você está esperando. É o nosso filho, nossa alegria...

Ele a beija na fronte.

CORTE PARA:

49. CASARÃO.INT. DIA.Rute é quem chora atrás da porta. Ela limpa as lágrimas e saí.

50. RUA/RESTAURANTE.EXT. DIA.Elias se aproxima de um restaurante com a fachada de vidro. O letreiro na fachada do imóvel continha os dizeres: RESTAURANTE DO IVAN. Há um belo estacionamento. Elias olha o letreiro e decide ir ao estacionamento sob o olhar do segurança, parado, na porta do estabelecimento. Ele é o mesmo brutamonte visto na sequência 30. Assim que Elias parou o carrinho de papelão no estacionamento, ele saí da porta onde estava e se dirige a ele. Elias o reconheceu, assim que o viu:

CORTE PARA:51. ÔNIBUS. RUA.

Flash-black. Lembranças do Elias:O passageiro brutamonte, que estava sentado na parte alta do veículo se levanta de uma vez, caminha até o Elias, o gruda pelo pescoço e o pressiona contra a janela do ônibus, enquanto o ônibus segue seu percurso normal.A cena aqui é filmada em preto-branco.

BRUTAMONTE – Olha aqui, seu pedófilo miserável! Sei que todo mundo quer lhe falar alguma coisa, mais tem medo. Então eu vou falar... Você vai descer desse ônibus agora e desaparecer dessa cidade.

ELIAS (Meio sem voz) – Eu... eu não, não sou nenhum pedófilo... Portanto, não vou descer desse ônibus e nem desaparecer da cidade.

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BRUTAMONTE – Vai sim! Motorista, pare esse ônibus! Tem um pedófilo que vai descer agora.

O motorista freia imediatamente. Abre a porta traseira do ônibus. O brutamonte saí empurrando Elias e o joga no corredor.

ELIAS (Se levanta, limpando o sangue que escorre do nariz) – Eu paguei minha passagem, tenho direito de ficar aqui como qualquer outro paciente.

BRUTAMONTE – Acontece que você não é como um de nós. (Enfia a mão no bolso e joga o dinheiro da passagem nele) - Agora pego seu dinheiro e suma daqui.

ELIAS – Você não tem o direito de agir assim comigo. Posso processá-lo por calunia e difamação.

BRUTAMONTE – Então agora você vai me processar.

Furiosamente avança contra ele. Segura pela camisa e lança para fora do ônibus. Ele cai. A porta do ônibus se fecha e parte. Elias está totalmente machucado. Tenta se levantar do meio da Rua. Mal se levanta e avista um veículo se aproximar em alta velocidade. O veículo freia violentamente e pára.

CORTE PARA:

52. RESTAURANTEEXT. DIA.O brutamonte está com os braços cruzados, frente a frente com o Elias impedindo sua passagem.

BRUTAMONTE - Desculpe, mas não pode deixar esse tipo de coisa aí parado. É estacionamento para veículo.

ELIAS - Eu sei! Só vou comprar uma água e um salgado.

BRUTAMONTE – Nós não vendemos salgados. Só há alimentação e o tipo de alimentação que vende nesse lugar, provavelmente você não está em condições de comprar. Portanto, pegue sua sucata velha e zarpa daqui.

ELIAS – Está certo... Humilhe as pessoas enquanto pode. Mas saiba que um dia você enfrentará o juízo do Todo Poderoso, aí quero está assistindo de camarote o desfecho de sua arrogância.

Elias tocou no pronto fraco dele. O brutamonte se desfaz. Parece emocionado. Olha para o Elias com compaixão. Elias voltou para seu carrinho a fim de sair do local. Ele vai até Elias e o segura em seu ombro.

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BRUTAMONTE – Senhor, pode ir lá. Mas seja breve. Eu só estou cumprindo o meu dever, só isso.

ELIAS – Não. Eu já entendi a sua mensagem. Não vou trazer opróbrio as pessoas. De qualquer forma, muito obrigado... Saiba que Jesus te ama, ele quer te salvar.

BRUTAMONTE – O senhor é algum tipo de pastor?

ELIAS – Não. Sou um novo homem, não mais aquele passageiro que você impediu de circular dentro do ônibus acusando de pedofilia.

Ele leva um choque. Fica como cara de paisagem. Elias continua:

ELIAS – Mas o tempo já cicatrizou as minhas feridas. Além do mais, a loucura dos sábios não está no entendimento, mas na mansidão.

Elias pega o carrinho de catar papelão e saí, sob olhar triste do brutamonte. Ele estava calado e assim permaneceu.

53. CASA ANTIGA.INT. NOITE.A televisão antiga transmitia o programa Está Escrito. A imagem é chuveirada. No sofá velho, Magnólia aparentemente está dormindo com a bengala ao seu lado. Ao lado há uma raque com um computador desligado.De repente a porta abre devagarzinho. É a Monalisa que chega andando sutilmente. Fecha a porta e continua na mesma tônica. Mal passa pela Monalisa e ela a chama:

MAGNÓLIA – Monalisa! Onde estava?

Monalisa pára. Só então Magnólia abre os olhos, para contemplar a rebeldia da filha. Ela está nervosa.

MONALISA (Em voz alta) – O que é! Por que não desencana? Por que vive pegando no meu pé?

MAGNOLÍA (Aponta a bengala para ela) – Se eu pegasse realmente em seu pé, aposto que não estaria grávida precocemente.

MONALISA – Ver se não me amole, eu já estou de saco cheio disso tudo.

MAGNÓLIA (Calma) – Filha! Não estou aqui para te condenar, estou aqui para te ajudar. Sei que errou, mas aconteceu, agora não tem como voltar atrás.

Monalisa diminui. Volta um pouco mais calma.

MONALISA – Verdade, mãe?

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MAGNÓLIA – Claro! Estou em debito com você. Nos últimos anos, só trabalhei e corri atrás de médicos para estabelecer a minha saúde. Agora acho que hora de pensar um pouco em você, te ajudar nesse momento difícil.

Ela abre um riso e abraça a mãe. Está emocionada, embora estivesse sorrindo.

MAGNÓLIA -... Eu posso ao menos saber quem é o pai?

MONALISA (Depois de um tempo) – Acho que não tem pai.

MAGNÓLIA – Como assim?

CORTE PARA:

54. DISCOTECA.INT. NOITE.Lembranças de Monalisa.Há luzes artificiais girando. Os jovens dançam. Parecem sem limites. Alguns bebem. Monalisa está entre eles, bebendo e dançando com alguns jovens, aparentemente mais velhos.

MONALISA (Em off) –Estávamos todos divertindo, como de costume. De repente, me senti mal e caí.

Monalisa cai desmaiada.

CORTE PARA;

55. CASA DESCONHECIDA.INT. AO AMANHECER.A luz do dia invade o quarto, quando alguém abre a cortina de uma vez. Abre-se o plano e um dos jovens com quem ela dançava na sequência anterior abriu a cortina. Ela acorda assustada, enrolada no lençol.

MONALISA (Em off)- Depois que caí, não vi mais nada. Só sei que acordei no outro dia, na casa de um dos rapazes, com quem estava na discoteca.

Outros rapazes, uns três, entram de uma vez no quarto. Ela está envergonhada. Encolhe-se sobre a cama. O engraçadinho do grupo ironiza:

ENGRAÇADINHO – O que há gatinha! Por que está com medo da gente? Não há nada em você que a gente não viu antes.

Eles caem na gargalhada, debochando dela. CORTE PARA:

56. CASA ANTIGA.EXT. NOITE.

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Monalisa está sentada frente a frente com Magnólia. A televisão antiga está desligada, as costas da Monalisa.

MAGNÓLIA – Então foi isso que aconteceu?

MONALISA – Sim. De ontem para cá comecei senti náuseas, enjôo e tonturas, por isso deduzi que estivesse grávida.

MAGNÓLIA – Mas você nem tem certeza que realmente está grávida, certo?

MONALISA – É apenas suposição.

MAGNÓLIA- Não se preocupe. Vamos fazer alguns exames de sangue, só para ter certeza.

Monalisa abre um risinho feliz. Para terminar a cena, fecha-se um close em primeiríssimo plano em seu rosto.

57. PESCARIA NO LAGO. EXT. DIA.Plano aberto. Há um barco parado no meio do lado e lá existem dois homens pescando. É o Elias e velho Gomes. Eles estão nas extremidades do barco. Um senta na proa e o outro na poupa da embarcação. A câmera vai aproximando lentamente deles, tomada de um contra-plano.

GOMES – O sermão de ontem foi poderoso. Gostei muito da explicação que o Pastor deu sobre a conduta do cristão. Nesse tempo de falso moralismo, de falso amor, de falsa compaixão, mostrar a ética e a moral que move o cristianismo foi bastante pertinente.

ELIAS - É!... Esse moralismo e esse falso amor me fez perder a minha liberdade. Como se pegasse tudo que havia construído e jogasse no lixo... Mas como a bíblia diz: “Tudo coopera para o bem daqueles que ama a Cristo”... Sabia que tive um sonho estava diante de um tribunal de Deus e um Anjo me disse que foi necessário acontecer a tragédia pessoal, para poder me encontrar com Cristo?

GOMES – Os caminhos de meu Deus, muitas vezes são difíceis de entender... Elias, não gostaria de pregar um dia desses para nós?

ELIAS (Sorrindo) - Acho que seria uma fraude como pregador.

GOMES – Nós pregamos melhor, aquilo que vivemos. As experiências pessoas fortalecem a fé das pessoas e encorajam outros a terem experiências com Deus.

ELIAS – E o que iria pregar? Que era um professor, que possuía uma família, mas que uma aluna me acusou de pedofilia, por isso fui praticamente linchado, onde foi preciso ir morar na periferia, que fui viver de catar papelão na rua, porque ninguém na cidade quis me dá emprego devido a acusação de pedofilia

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e por fim, encontrei com Cristo e ele me deu paz interior e por isso não caí numa depressão profunda?

GOMES – Seria um sermão interessantíssimo. Creio que iria comover a fé de muitas almas naquele templo.

Elias não responde nada. Mas seu olhar conota seriedade e preocupação.

58. CASARÃO.EXT. DIA.Mãos que fecha o porta mala do carro e no abrir do plano vemos o Aquiles e Rebeca preparados para saírem de viagem.

AQUILES – Já estamos prontos. Agora é só pegarmos estrada e realizamos um ótimo passeio de final de semana.

REBECA – Mas falta alguém e vou chamá-la.

Rebeca está doce. Beija o Aquiles antes de voltar para dentro de casa. Lá, encontra Rute sentada no sofá de casa, com o fone de um celular nos ouvidos, enquanto assiste televisão. O cachorro ao seu lado corre ao encontro de Rebeca. Ela o acolhe em seus braços e desliga o televisor.

Rute continua com seu fone de ouvidos. Não responde nada. O silêncio dela parece irritar Rebeca. Ela põe o cachorro ao chão e se aproxima de Rute tirando o fone de ouvidos.

REBECA – Você não me escutou, mocinha?

RUTE (Irritada) – Eu não vou nessa viagem!

REBECA – E por que não?

RUTE – Porque essa é sua viagem e de seu marido. Eu gostaria de visitar meu pai, estou morrendo de saudades dele, sabia?

REBECA – Não vai começar!

RUTE- Ah, sim! Eu escutei tudo, sabia? Você mentiu o tempo todo para mim, dizendo que meu pai era um homem mau. Mas inventou aquilo só para ficar com esse cara. Nunca amou meu pai, não é?

Rebeca se descontrola. Dá um tapa no rosto da menina. Ela chora.

REBECA – Você me respeita, sou sua mãe.

RUTE (Gritando) – Eu não vou nessa viagem!

Aquiles aparece na porta. Rute corre para o quarto, chorando. Rebeca fica pasma e cai no choro também. Aquiles vai até ela e a consola.

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AQUILES – Tá tudo bem, meu amor! Deixe que eu vou falar com ela.

REBECA (Se recupera) – Deixe, isso só vai piorar as coisas.

Rebeca vai para o quarto da Rute. Ele está com a porta fechada. Ela tenta abrir, Rute está chorando, escorada na porta, impedindo a passagem.

RUTE – Vá sua viagem com seu maridinho. Eu não quero ir.

REBECA- Minha filha, por favor! Me deixe conversar com você.

RUTE – Só por que eu sou criança, ninguém me respeita!

REBECA – Lógico que eu te respeito. É por isso que estou lhe pedindo, por favor.

Rute sede e abre a porta. Rebeca se agacha e a abraça. Parece arrependida.

REBECA – Me perdoe, filha! Mamãe errou com você, mas me outra chance, ta bom?

Rebeca olha no olho de Rute pedindo o perdão. Ela está resistente. A insistência de Rebeca derruba sua resistência.

RUTE – Está bem, eu vou na viagem.

Rebeca a abraça. Aquiles chega na hora. E fica olhando da porta a reconciliação entre mãe filha. A cena é nobre.

59. ESTRADA.EXT. DIA.Grande plano aberto. Em uma estrada deserta, vemos o carro de Aquiles seguir em alta velocidade. A câmera desce até o carro.

60. CARRO/ESTADA.INT. DIAAquiles dirige o carro. Usa óculos escuros. Rebeca ao lado, conversa sobre assuntos de família, com riso aberto. Rute continua com o fone de ouvidos sem interesse. Rebeca viagem sem o cinto de segurança.Aquiles se distrai com a conversa de Rebeca. De repente surge um animal na pista. É um veado. O animal fica imóvel na pista.

RUTE - Ao vê-lo, grita: - Olha o bicho!

Aquiles freia violentamente. A distraída Rebeca bate com a cabeça e o óculo de vista quebra em seu rosto. O sangue escorre imediatamente. Ela desmaia. O carro para há centímetros do animal.

CORTE PARA:

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61. CASA DE CHACÁRA INT. EXT. DIA.Um rádio ligado na raque da sala toca a música “Olha para a cruz, do quarto Arautos do Rei”. Num plano detalhado, vemos o interior da casa. Há vários livros da série Espírito de Profecias, entre eles o Grande Conflito. A câmera segue adiante, até chegar à cozinha, onde há um banquete. Enquanto Elias, Gomes e Nora estão de pé, finalizando a oração pelo alimento. Eles estão de olhos fechados.

ELIAS-... São essas bênçãos que nós agradecemos, em nome de Jesus, amém!

Todos abrem os olhos e sentam. Começam a falar sobre o alimento.A câmera saí pela porta da cozinha e continua o passeio pela área com algumas redes. A música no rádio finaliza. Ouvimos a notícia no rádio:

RÁDIO (Em off) -... E agora as notícias... Um sério acidente aconteceu hoje na rodovia que liga a cidade de Paraíso ao litoral do estado... O condutor do veículo, o Advogado Aquiles Brasil, deu uma freada brusca depois que, segundo ele, apareceu um animal na pista e essa freada levou a sua esposa, grávida de oito meses a chocar-se com cabeça contra o veículo e foi internada em estado grave. Aquiles e a Rute, uma menina de sete anos que estavam no veículo na hora acidente, passa bem... Mais notícias há qualquer momento...

A câmera distancia-se. Fica um grande plano aberto. Tomado do alto.

62. HOSPITAL.EXT. DIA.SLOW MOTION, acompanhada de uma trilha triste.A ambulância chega ao hospital com o giro - flat acesso. Pára.A porta traseira abre. Um médico e uma enfermeira saltam. Eles puxam a maca rapidamente. É Rebeca que está nela, respirando por oxigênio. Imediatamente os profissionais da saúde empurram a maca para o hospital. A porta automática fecha assim que eles entram.

63. HOSPITAL.INT. EXT. DIA.Recepção do hospital. Aquiles em primeiro plano ao celular tentando realizar ligação. Rute em segundo plano, chora, sentada em um sofá. Aquiles não consegue a ligação e desliga o celular. Guarda na cintura. Aproxima-se de Rute.

AQUILES – Eu não consigo contato com ninguém da família.

RUTE (Em voz alta) – Família! Você destruiu a minha família e vem falar em família! Dá um tempo, cara!

Ela saí. Aquiles saí atrás chamando por ela:

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AQUILES – Rute, Rute, Rute...Ela acelera os passos e saí correndo entre as pessoas que transitam pelo hospital. Acontece um zoom - out. Aquiles fica parado. Rute para ao chegar à porta de vidro automática. Esbarra em Monalisa que entrava no hospital juntamente com a mãe. Rute caí.

MONALISA (Ajuda-a a levantar-se) – Você está bem?

Rute encara bem a Monalisa. Fica furiosa.

RUTE – Você! Você é a sem vergonha que acusou meu pai de pedofilia.

Magnólia parece tomar um choque. Monalisa abre um riso sem graça.

MONALISA – Eu! Nem sei do que você está falando, menina. Quem é seu pai?

Aquiles chega ao exato momento, agarra Rute e a toma em seus braços.

AQUILES – Desculpe, pelo transtorno. Está acontecendo uma serie de coisa que tem deixado ela um pouco transtornada, mas isso vai passar.

RUTE (Esperneando nos braços de Aquiles e apontando para Monalisa) – Você é mentirosa, você é mentirosa... Mentirosa.

Ela segue repetindo as mesmas palavras. Monalisa e Magnólia ficaram imóveis, sem abrirem a boca para falar uma única viagem.

64. RECEPÇÃO DO HOSPITAL.INT. DIA.Aquiles está sentado no sofá, sem importar para a TV ligada. Rute está desmaiada em seu colo. De repente, o médico que vimos na sequência 62 entra. Aquiles se levanta tomando Rute em seus braços.

AQUILES (Apreensivo) – E aí doutor?

MÉDICO (Tranquilo) - Como está a menina?

AQUILES – A enfermeira deu um calmante para ela dormir, estava bastante agitada... Mas diga, como está minha esposa?

MÉDICO – Ela está bem... Mas infelizmente não foi possível salvar a criança. Desculpe, pai. O forte impacto provocou um aborto espontâneo e sua esposa perdeu a criança.

O médico saí. Aquiles caí em desespero e começa a chorar. Ele se ajoelha com a Rute aos braços chorando.

AQUILES – Não! Não! Não! Por quê? Por quê?

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Acontece uma DOLLY BACK. Tomado de um ângulo superior. A cena é vista do alto.

65. SALA MÉDICA.INT. DIA.Imagem embaçada. São os óculos do médico. Ele tira os óculos e o limpa. Vemos o médico. É um senhor negro. Monalisa e Magnólia estão sentadas a sua frente.

MÉDICO II – Muitas vezes ficamos procurando o porquê de certas coisas e só tempo para dá a resposta. Talvez você, mãe, estivesse perguntando o porquê a sua filha tivesse uma gravidez precoce, mas a resposta está contida aqui nesses exames realizados... Vamos abri-lo e saber a verdade.

O médico abre o envelope a sua frente. O momento é cercado de mistério e silêncio. Magnólia olha para Monalisa, mas não diz nada. O médico volta a falar depois de um tempo:

MÉDICO – Se você não queria ser mãe, meus parabéns! O resultado do exame deu negativo.

Magnólia se emociona e chora. Monalisa a abraça e a consola.

MONALISA – Está tudo bem, mãe! Está tudo bem.

O médico fica olhando a cena, sem muito entusiasmo.

66. IGREJA.IN. NOITE.Há poucas pessoas assistindo Gomes pregar. Entre elas se encontram Elias e Nora.GOMES (Anda de um lado para o outro com a bíblia na mão) – Às vezes ficamos perguntando o porquê de certas coisas sob a ótica humana, mas não paramos para pensar que nem uma folha caí de um árvore sem que Deus não permita. Portanto, deveríamos perguntar para que em vez de por que... Por exemplo: Para que serve a vida que Deus me deu. Para que os propósitos divinos... Entende?

A câmera fecha em Elias, atento no banco, assistindo o Sermão.O relógio na parede da igreja indica a passagem de tempo. As pessoas estão em uma fila indiana despedindo do pregador. Nora e Elias estão na filha. Chega à vez de Nora. Ela o cumprimenta.

GOMES (A beija no rosto) – Minha amada esposa, que o Senhor lhe abençoe.

NORA – Amém.

Ela segue em frente. Elias o cumprimenta.

ELIAS - Belo sermão...

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GOMES – Que o Senhor seja louvado... Prepare-se, porque no próximo sábado é você quem prega.

ELIAS – Eu já disse, serei uma fraude como pregador.

GOMES – Deixa o Senhor Deus lhe usar. As maravilhas que Ele faz em nossas vidas precisam ser divididas com o faminto da boa palavra e da verdade. Assim como com o carente de testemunho.

Ambos continuam de mãos apertadas. CORTE PARA:

67. QUARTO DE HOSPITAL.INT. NOITE. Pálpebras mechem e a imagem embaçada, mostra duas pessoas que pareciam está fora de foco.

RUTE (Em off) – Mãe!

Os olhos de Rebeca se movem novamente e abrem para ver Aquiles e Rute parados a sua frente. Rebeca está deitada em uma cama hospitalar. Há um suporte de soro ao seu lado. Ela sofreu um aborto. Em rosto estão as marcas do acidente.

AQUILES (Sorrindo, beija a Rebeca na face) – Olá, querida!

REBECA – Olá!

RUTE – Olá, mãezinha!

Rute a abraça. Está feliz. Segue abraçada. Aquiles respeita o momento. Finalmente o abraço termina. Ele senta sobre a cama para falar com Rebeca. Há um enquadramento de câmera apenas em ambos.

AQUILES – Preciso lhe falar algo, querida! É algo muito importante...

A voz de Aquiles embarga de emoção. Ele mal consegue expressar, seu rosto é tomado por algumas lágrimas.

AQUILES -... Quero lhe perdi perdão, querida!... Mas, mas, mas...

RUTE (Em off) –Fala logo! Ver se desembucha!

AQUILES -... Você sofreu um aborto. Por minha causa, você não está grávida.

Rebeca está paciente. Trata de acariciar-lhe o rosto. Lhe limpa as lágrimas.

REBECA-... Tudo bem... Não se culpe por um acidente que aconteceu... Pra tudo há um propósito nesse mundo. E há tempo para tudo... Se o Todo

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Poderoso achou por bem nos privar desse direito, quem somos nós para questionar!... Vamos sacudir a poeira e recomeçar a nossa vida.

Eles se beijam.Rebeca assiste a tudo, enfezada.

68. ÔNIBUS.INT. DIA.Há pouquíssimos passageiros dentro do ônibus. Entre eles estão Magnólia e Monalisa. Elas estão sentadas em um dos bancos dos fundos abraçadas.

MAGNÓLIA (Depois de um tempo) – Há uma coisa que me importuna quase o dia inteiro...

MONALISA (Interrompe) - Já sei! É sobre aquilo que aquela menina retardada falou no hospital, certo?

MAGNÓLIA-... De onde a conhece?

MONALISA – De lugar nenhum.

MAGNÓLIA-E por que ela disse aquilo ao seu respeito?

MONALISA – Crianças!

MAGNÓLIA – Crianças não mentem.

MONALISA-Se a senhora não sabem, crianças são perversas. Elas podem inventar um álibi para incriminar alguém facilmente e quem duvidaria delas?

O ônibus chega a um semáforo. O sinal está fechado. O motorista para o ônibus a espera do sinal abrir.

69. QUARTO DA CASA SIMPLES DE ELIAS.INT. AO AMANHECER.Elias olha pela janela do quarto a chuva cair. Lá fora, os papelões dentro do quintal molham. O carrinho de catar papelão está vazio.

70. QUARTO DO HOSPITAL.INT. AO AMANHECER.A câmera entra pela janela do quarto e encontra Rebeca olhando a chuva cair da janela. Ela ainda usa roupa de internação.Avista lá fora, um homem debaixo de um guarda chuva chegando a pé. É o Elias, mas ela não o reconhece. De repente, ágüem bate na porta. Rebeca desvia a atenção para visualizá-lo.

REBECA – Entre.

É a enfermeira vista na sequência 62. Ela trás uma bandeja na mão com a alimentação de Rebeca.

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ENFERMEIRA – Bom dia!

REBECA (Sem entusiasmo) – Bom dia!

ENFEMEIRA – Como está se sentindo?

REBECA – Com vontade de ir para casa, reconstruir a minha vida.

ENFERMEIRA – Sei o quanto é difícil, devido às circunstâncias. Mas você precisa ter um pouco de paciência. O médico logo virá avaliá-la... Ok!

REBECA – Engano seu achar que sabe o que eu sinto, porque verdadeiramente você e eu sabemos que você não sabe. (Ela aumenta o timbre de voz) – Você não sabe o que é fazer plano para receber uma criança e de repente, uma fatalidade tira uma vida preciosa antes mesmo dela vir ao mundo... O que sabe sobre isso?

ENFERMEIRA – Todos os dias trabalho com essas fatalidades e às vezes, me culpo por pela minha impotência, por não fazer nada. Se um mundo está sofrendo com a falta de empatia, não me culpe por isso, porque não faço parto dessa estatística.

Rebeca enfurece, entre as lágrimas. Mete a mão na bandeja de comida e joga no chão. Aquiles e Rebeca entram na sala no exato momento. Eles ficam em transe.

RUTE – Nossa, mamãe! O que está acontecendo?

Rebeca vira as costas para ela, chorando. Aquiles se aproxima e a abraça pelas costas.

AQUILES – Querida, tente se acalmar.

ENFERMEIRA – Com licença, vou chamar o médico.

RUTE (Aproxima-se desconfiada) – O que foi, mamãe?

REBECA (Vira-se para ela com o riso entre as lágrimas) – Não é nada, filhinha. Não é nada. Vai ficar tudo bem, já passou.

Carinhosamente Rute aproxima de sua mãe e a abraça.

71. CORREDOR DE HOSPITAL/ELEVADOR.INT. DIA.A enfermeira está em frente ao elevador esperando por ele. De repente ele chega ao primeiro andar e pára. Lá dentro está Elias. Ela entra. A porta do elevador fecha. O elevador sobe.Elias está de preto com uma mochila nas costas. Eles estão um lado do outro em silêncio.

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ELIAS (Quebra o silêncio) - Sabia que eu admiro muito a profissão de enfermagem?

ENFEMEIRA (Desinteressada) – É mesmo! Que bom!

ELIAS – É... Sempre tive esse sonho para a minha filha, mas acho que um sonho que não sei se vou conseguir realizar. A mãe dela me largou sobre um pretexto, acho que ela estava interessada em outro homem. Depois disso nunca mais vi minha filha.

ENFERMEIRA – Que belo exemplo!

ELIAS – A mãe dela casou com um advogado e não sei que maracutaía eles fizeram, que estou proibido de ver minha filha... Se não tivesse encontrado Jesus na minha vida, acho que teria entrado numa depressão ou cometido uma loucura. Mas Jesus transformou o meu viver...

O elevador pára. A porta se abre. A enfermeira saí as pressas.

ELIAS (Acena com a mão para ela) - Tchau!

Ela desaparece. A porta do elevador fecha. Sobe. Elias passa a assoviar um louvor. Para no décimo andar. A porta se abre e Elias salta. A porta do elevador fecha novamente. O corte acontece.

72. CORREDOR/ LEITO DE HOSPITAL.INT. DIA.Elias passa frente aos leitos hospitalares. Existem todos os tipos de doentes. Alguns em fase terminal da vida. Ao passar pelo quarto 77, um paciente ergue a mão chamando por ele. Elias pára. O paciente insiste. Elias entra no quarto. Aproxima-se. Surpresa. É o manifestante visto na TV, na sequência 28 sendo entrevistado pela repórter, mascarado, carregando um cartaz com os dizeres:

PROTEJA NOSSAS CRIANÇAS CONTRA A PEDOFILIA.Elias não o conhece. Aproxima-se. Ele faz sinal para o Elias aproximar-se mais. Elias chega bem perto dele. Imediatamente ele o gruda pelo pescoço e mantém a cabeça de Elias segura.

MANIFESTANTE/PACIENTE – Maldito pedófilo! Pensa que me esqueci de você!

Elias trava um luta para se livrar do homem.

ELIAS - Me larga. Me larga.

A enfermeira passa com uma bandeja na mão com algumas injeções e seringas numa bandeja. Ao ver a cena, apossa-se de uma das injeções e corre aplicando no manifestante/paciente que sente e acaba soltando o Elias. Elias está sufocando. Respira com muita dificuldade.

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ENFEMEIRA (Para o Elias) – Moço, o que você está fazendo aqui? O manifestante/paciente está sonolento. Sorrir. Quase sem fala, expressa:

MANIFESTANTE/PACIENTE – Sabia que esse homem... Ele é um pedófilo...

Ele apaga. A enfermeira fica assustada. Fecha a blusa até o pescoço.

ELIAS – Enfermeira, posso explicar tudo. Tudo não passa de calúnia e difamação. Na verdade, aproveitei essa manhã chuvosa para vir ao hospital trazer uma palavra de paz e conforto para os enfermos.

ENFERMEIRA – Então saia daqui imediatamente antes que eu chame os guardas.

ELIAS – Por favor! É tudo mentira.

ENFERMEIRA – Saia daqui imediatamente.

Elias caminha em sua direção e ela corre para o canto da sala. Ele saí do quarto. Imediatamente ela pega o celular. Num plano bem detalhado vemos ela discar 190. Espera pelo atendimento.

ENFERMEIRA (No Telefone celular) - Alô! É da polícia militar?... Gostaria de fazer uma denúncia.

CORTE PARA:

73. RUA DO CENTRO DA CIDADE.EXT. DIA.A chuva fina cai. Elias caminha debaixo de seu guarda chuva. Diversos carros passam por ele. Um ônibus passa dentro de uma possa de água e dá um banho nele. Elias fica como quem não acreditasse, mas permanece em silêncio se limpando. Não demora muito e uma viatura de polícia passa por ele. Imediatamente a sirene é acionada. A viatura pára. Os policiais vistos anteriormente descem com armas em punhos e apontam para Elias.

POLICIAL I – Põe as mãos para o alto onde possamos ver.

Elias deixa cair o guarda chuva e ergue as duas mãos para o alto. O vento carrega o guarda chuva e joga debaixo dos carros que passavam pela rua para ser destruído.

Os policiais reconhecem Elias. Abaixam as armas e aproximam-se dele.

POLICIAL I – Olá, senhor Elias! Bom dia!

ELIAS – Bom dia, policial! O que houve desta vez?

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POLICIAL I - Desculpe incomodá-lo, é que recebemos uma denuncia de um pedófilo,alguém com as suas descrições.

ELIAS – Ah, já sei quem foi! A enfermeira do hospital. Só...

POLICIAL (Interrompe) - Já sabemos da história... Mas podemos ver o que o senhor carrega nessa mochila?

ELIAS - Sim, claro!

Elias entrega a mochila para o policial II. Ele a abre. Encontra uma bíblia. Livros, Eventos Finais, Grande Conflito e vários panfletos. Eles sorrirem. O policial devolve a mochila para o Elias.

POLICIAL II –Desculpe, Senhor. Só estamos fazendo o nosso trabalho.

POLICIAL I – Tenha um bom dia! E cuidado! Não se exponha tanto. As pessoas vão sempre querer lhe crucificar pelo seu passado duvidoso.

ELIAS-Obrigado pelo aviso. Mas ainda creio na justiça divina e creio que em breve Jesus voltará. Quando ele voltar a justiça será feita... Tenham um bom dia.

Ele continua andando. Os policiais voltam para a viatura. O policial dá a partida e eles vão embora. Passam pelo Elias que segue debaixo da chuva. Lá na rua o guarda chuva está decepado.

74. SALA DE AULA/CORREDOR DE ESCOLA.INT. DIA. Grande plano aberto. A sala em geral está praticamente cheia. Os alunos silenciosamente fazem a lição na lousa. É aula de sociologia. O professor está sentado, usa óculos. Ele é branco. Boa aparência. Tem por volta de 30 anos. Usa óculos. Podemos ver o que está escrito na lousa:

METROPOLITANOS Quisera poder contemplar um azul mar! O aço do concreto alude e faz viver sem avistar ao menos as estrelas no céu. Se o cântico do Rouxinol chegasse a nós, seriamos mais de carne e osso, não teríamos tanta pólvora na ponta do pensamento e nem tanta indiferença no seio do coração. Inveja-nos a sinfonia de pardais presente entre tantos serviços da zona rural, no corte da cana-de-açúcar, na doçura da inocência da canção de ninar. Cantarola o Bem Te Vi nos quintais de chão batido, onde se costumam plantar bananal, erva-cidreira, laranjais e onde o menino brinca de pique esconde. Quem se esconde da cidade grande é a conversa amiga no final do dia, dos vizinhos que se saúdam e se conhecem, como o metropolitano conhece as luzes artificiais da cidade, acesas a fim de esconder a escuridão do pensamento desconhecido, do indivíduo que se esconde atrás do muro da casa ao lado.

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Se pudéssemos voar para o lado íntimo da liberdade e conhecer a verdade que há por trás de cada alma que transita no meio de tanta gente e vive solitária entre a multidão! É chão podre essa terra que nos abriga, oca e possuída pela ação do homem moderno que aspira entre os vulcões chegar à lua, mas não é capaz de compadecer-se de um idoso a perigo diante dos velozes automóveis que escondem os rostos dos seres humanos. Solto as palavras e juntas com a esperança, tomara não atrasar tanto entre o grito de misericórdia que se confunde com o barulho infernal do trânsito, a fazer mal ao transeunte pensante, buscando inspiração com o intuito de fazer arte, nos espelhados arranha-céus! Nossa Babilônia. Nossa Sodoma e Gomorra. E se nos dessem um Éden sem serpente? Acharíamos que esse paraíso seria a metrópole, donde as galerias das artes, as praças que compõem a solidão e o deserto de um mundo abstrato, seriam a árvore da vida. Como pudera! Com tanta violência, a esconder atrás da identidade, sem nenhuma identidade, é inflexibilidade falar em paraíso sem poder viver à solta, com correntes e algemas prendendo o pensamento de possuir um livre arbítrio; mesmo que seja no verso da poesia, na simples melodia cantada pelo pássaro da metrópole, que voa sozinho sobre o céu de tantas estrelas e sem ninguém para contemplar.

O relógio está quase a indicar: 12h00minhs. Ao ponteiro indicar meio dia, o sinal da escola dispara. Os alunos imediatamente passam a movimentar-se num recolher de material escolar e guardar em suas mochilas.

PROFESOR (Se levanta) – Não se esqueçam de trazer esse material para mim na próxima aula. Quero uma interpretação de texto... Isso vai valer nota. Avise aos que faltaram que quero essa interpretação. No demais, até a próxima aula.

Sem atentar tanto as palavras do professor, os alunos começam a saírem. Há uma confusão. O relógio na parede indica a passagem de tempo. O professor é o único na sala de aula. Ele recolhe seu material e saí. O corredor estava numa intensa movimentação de alunos. Ele encontra-se com Matilde. Ela está quase entrando em parafuso diante da baderna dos alunos. O professor pára próximo dela.

MATILDE- Estou quase ficando louca com esses meninos! Nunca vi uma geração tão sem educação como essa. Aonde esse mundo vai parar?

PROFESSOR – Temos que agradecer porque até então não foi registrado nenhum caso de agressão, violência e trafico de drogas. Há lugares muito pior do que essa inquietude jovial, o que é normal para a idade deles.

MATILDE – Se for olhar por essa visão, você está certo.

PROFESSOR -... Eu estou sentindo falta daquela menina Monalisa, há dias que não a vejo nas aulas. Sabe se está acontecendo alguma coisa com ela?

MATILDE – Sabe que é verdade! Puxa! Para falar a verdade, eu não sei.

PROFESSOR – Acho que vou passar na casa dela, para saber o que está acontecendo.

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MATILDE – Mas tome muito cuidado.

PROFESSOR (Surpreso) – Por quê?

MATILDE – Ela tem uma mente muito fértil... Há dois anos, ela surgiu com uma história que um professor a assediou. Ninguém sabe ao certo. Mas na época o professor houve bastante perseguido. Perdeu o emprego, a esposa dele o largou e ele desapareceu. Nunca mais ouvi notícias dele.

O professor se mostra bastante preocupado. Ajeita os óculos. A sequência termina com um close no professor preocupado.

75. RESTAURANTE DO IVAN.EXT. INT. DIA.

A chuva cai fina. Carros que trafegam pela rua. Passam pelo Elias. Ficamos com ele que está chegando ao restaurante do Ivan. Logo na entrada está o segurança Brutamonte. Usa um crachá com foto e o nome: Sansão. Elias se sente intimidado. Ele abre um riso e o cumprimenta:

BRUTAMONTE-Paz do Senhor, irmão!

ELIAS (Incrédulo) – Que a paz do Senhor esteja convosco.

BRUTAMONTE – Agora somos irmãos. Eu aceitei a Jesus.

ELIAS – Isso é fantástico. Não há limites para o amor de Deus.

BRUTAMONTE – Fique à vontade, irmão. Escolha um lugar e sinta-se em casa.

ELIAS – Obrigado.

Elias entra no restaurante. Há poucos clientes ocupando as mesas do restaurante. Lá no caixa, Ivan e sua mulher fazem contabilidade. A vaidosa Rosa fica estagnada ao ver Elias ocupar uma das mesas. Ela cutuca o marido atentando para a presença do Elias.

ROSA – Olha, só quem está aí.

IVAN (Ao avistar o Elias) - Deixe que eu fale com ele.

Um dos garçons avança para atender Elias. Ivan dá sinal para que ele não o atenda. Ivan caminha e vai à mesa em que Elias está. Chega e para a sua frente sem muito entusiasmo.

IVAN – Olá, Elias! Quanto tempo, hein!

ELIAS – Olá, Ivan! Se importa que eu sente aqui?

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Ivan sente a sua frente e abre um riso sem graça.

IVAN – De modo algum. Não importaria se um estranho sentasse aqui, imagina um velho conhecido!

ELIAS-Que bom... Parece que você andou prosperando nos negócios. Parabéns!

IVAN – Obrigado. Foi uma herança familiar que a Rosa recebeu. Com ele nós investimos nesse lugar e os negócios prosperaram... E você? O que tem feito da vida? Desapareceu, nunca mais deu notícias.

ELIAS – Depois de tanta calúnia e difamação, era necessário refazer a minha vida. Foi aí que encontrei ao Senhor e hoje sou um Adventista do Sétimo dia.

IVAN – Pera lá... Não me diga que uma pessoa tão inteligente quanto você, se tornou membro de uma seita sabatista?

ELIAS (Sorrindo) – Vejo que continua o velho ignorante de antes... Não há nada de errado em amar a Deus e guardar os seus mandamentos. Afinal, esse é o dever de todo o homem.

IVAN (Se levanta) – Gostaria de ficar aqui conversando contigo a respeito de sua loucura religiosa, mas sou um homem de negócios e meus negócios não atentam para religião. Meu tempo é dinheiro, minha filosofia de vida é a liberdade e felicidade... Não é mais tempo de sofrer por causa de um dogma religioso, Elias! O que importa mesmo é ser feliz.

ELIAS – Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.

IVAN – Escolha um prato e sinta se bem, Elias. Não precisa pagar nada. É uma oferta da casa.

Ivan se retira com um risinho sarcástico entre os dentes. Ele assinala para o garçom ir atender Elias. O mesmo obedece. Ele se junta à Rosa.

ROSA – E aí, pediu para o pedófilo se retirar daqui, por que esse é um ambiente de família?

IVAN – Ele é só um coitado. Ficou louco de vez que se tornou um sabatista.

ROSA – Isso é um disfarce. É para enganar os tontos. Eu vou lá agora mesmo pedir para ele não voltar aqui nunca mais.

IVAN – Rosa, ver lá o que você vai fazer.

ROSA – Você é o homem deste lugar e não tem coragem de fazer o seu papel, pode deixar que eu faço por você.

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Rosa saí pisando firme sobre seu salto alto. Aproxima-se da mesa em que Elias estava. O garçom que o atendia caminha em sua direção fazendo as devidas anotações. Ela toma o pedido do garçom.

ROSA – Me dê isso.

Chega à mesa que o Elias estava e bate o papel do pedido sobre a mesa. Sob o olhar atento de todos que estavam no restaurante.

ELIAS – Olá, Rosa! Como vai?

ROSA (Furiosa) – Escuta aqui, seu pedófilo! Você pode usar seu álibi religioso para enganar tontos feito o Ivan, mas a mim você não engana. Portanto, vou lhe pedir que se retire desse lugar e não volte aqui nunca mais, porque aqui é um ambiente familiar.

Elias se levanta tranquilamente. Pega a sua mochila molhada e coloca em suas costas.

ELIAS – Como quiser, minha senhora. Desculpe pelo transtorno, não vou mais incomodá-la.

Ele se curva perante ela, em uma típica saudação japonesa. Saí. Sob o olhar furioso de Rosa. Ela não se contenta, caminha até o segurança e ordena:

ROSA (Fala bem ao pé do ouvido dele) – Não deixe mais aquele homem pisar nesse lugar. Você me entendeu?

BRUTAMONTE – Desculpe, senhora! Mas não vejo o porquê barrar um cliente sem que ele tenha feito alguma coisa. Isso é um preconceito criminoso.

ROSA (Continua a falar ao pé do ouvido) – Você não é pago para discutir leis comigo. Você é pago para fazer segurança e cumprir ordens. E essas são as minhas ordens, você me entendeu? Será que fui bem clara?

BRUTAMONTE-Desculpe, senhora! Sou seu funcionário, não o seu escravo.

ROSA (Idem) – Então você está despedido.

BRUTAMONTE – Para mim será um prazer, estou cheio de suas nojeiras e seu orgulho idiota.

Ele retira o crachá, joga no chão e saí andando. Ela permanece na mesma posição. Olha para o crachá e pisa sobre ele.

76. CASA ANTIGA.EXT. DIA. A chuva passou. O dia está nublado.Magnólia poda as plantas do jardim com uma tesoura. Como sempre está apoiada em sua bengala. Isso explica suas limitações para o serviço.

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Seus cabelos estão crescendo. Usa um enorme chapéu de palha. Um Fusca chega e estaciona em frente a sua casa. Ela desvia a atenção da plantas e olha o carro com atenção. A porta se abre o professor salta do veículo. Ele caminha em direção de Magnólia. Aproxima-se e cumprimenta:

PROFESSOR (Aperta a mão de Magnólia) - Muito prazer! Eu sou o professor Sérgio. Vim aqui saber o porquê a Monalisa tem faltado tanto da escola.

MAGNÓLIA – É simples. Pergunte a ela mesmo, embora já sei a resposta... Ela é vitima de perseguição. Primeiro um professor tentou assediá-la. Embora ela nunca me contasse essa história, mas não escondeu das redes sociais e acabei sabendo por boca de outros.

PROFESSOR – Sinto muito.

MAGNÓLIA – Não precisa sentir nada. O pior já passou. Passei por várias sessões de quimioterapias e hoje faço apenas exames preventivos... A Magnólia está lá. Entre. Fale com ela pessoalmente.

PROFESSOR – Mas ela ainda é uma adolescente. Preciso saber da senhora, que a mãe.

MAGNÓLIA - Mas ela é uma menina madura, sabe expressar o que pensa. Pode entrar, fique à vontade.

Um pouco tímido o professor entra. Magnólia permanece com a tesoura nas mãos.

77. CASA ANTIGA.INT. DIA.O professor fecha a porta. A casa está silenciosa. Ele passa a chamar: - Olá! Olá! Olá! – Não obtém resposta. Segue andando e chamando. Adiante, atrás da estante da TV, encontra Monalisa em frente um computador que ficava sobre um raque. Ela houve música no Wi-fi. Está com fone de ouvido. O professor para assim que a ver.

PROFESSOR – Monalisa!

Ela não responde. Ele se aproxima e entra sua frente, impedindo sua visão. Imediatamente Monalisa tira o fone de ouvido, se levanta um pouco irritada:

MONALISA – Deveria chamar antes de aparecer.

PROFESSOR (Sorrindo) - Quem fosse que disse que você me ouvia.

MONALISA – Desculpe... Em que posso ajudá-lo.

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PROFESSOR – Por que não foi mais a escola?

MONALISA – Porque não quero. Não suporto mais aquela escola.

PROFESSOR – Já pediu transferências.

MONALISA – Já, mas todas as escolas estão sem vagas no momento. Enquanto a vaga não aparece, não vou mais a escola.

PROFESSOR – Sua mãe poderá ir ao Conselho Titular por isso.

MONALISA (Altera a voz) – Então chame a porcaria do conselho tutelar.

PROFESSOR (Depois de um tempo) – Não vim aqui para isso... Vim aqui para ajudá-la.

MONALISA – Perdeu seu tempo. Agora rapa fora, antes que eu ferre sua vida, como fiz com o outro professor.

PROFESSOR – Como é que é?

MONALISA – Falei para escutar, não para decorar. Agora suma de minha casa, porque não estou a fim de ouvir suas liçõezinhas de moral.

Professor fita ela e vira-se, para sair. Surpresa! Magnólia estava parada na porta, apoiada em sua bengala. Ele parece assustar-se. Controla-se e caminha em direção a porta. Magnólia fica à porta.

PROFESSOR – Conhece bem a sua filha?

MAGNÓLIA – Confesso que estive ausente da vida de minha filha por um tempo, mas agora estamos convivendo muito bem, obrigado. Por que a pergunta?

PROFESSOR – Pergunte a ela o que ela fez com o professor pedófilo. Talvez a história aqui seja outra... Com licença, porque não tenho tempo a perder.

Ela saí da porta. Ele vai embora. Magnólia tenta engolir o choro. Tira o chapéu da cabeça e caminha com dificuldade apoiada na bengala. Aproxima-se da filha. Ela está vidrada no computador com o fone no ouvido. Magnólia mete a mão no fio e tira o computador da tomada. Está furiosa.

MONALISA – O que está fazendo! Está ficando louca?

MAGNÓLIA – Estou tentada a não acreditar que aquele professozinho conseguiu descobrir em tão pouco tempo, o que não sabia há mais de dois anos.

MONALISA (Saindo) – Ver se me erra. E não me segue que eu não sou novela.

Magnólia desce o tapa no rosto dela e a joga no chão.

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MAGNÓLIA – Me respeite, porque ainda sou a sua mãe.

Magnólia se levanta, entre o choro e o grito:

MONALISA – Sua doente mental! Eu não te suporto. Vou te denunciar no conselho tutelar.

MAGNÓLIA – Vá, Monalisa! Vá! Vou ficar aqui esperando por isso.

MONALISA – Eu não te suporto.

Ela saí as pressas. Magnólia permanece parada e depois caí no choro.

78. FUSCA DO PROFESSOR.INT. DIA.Professor dirige enquanto fala ao celular. Ouve-se o toque de celular que chama.

PROFESSOR – Vai. Atende a esse telefone.

CORTE PARA:

79. SALA DA DIRETORIA.INT. DIA.Núbia entra as pressas na diretoria para atender ao telefone que não para de tocar.

NÚBIA – Alô! CORTE PARA:

80. FUSCA DE PROFESSOR.INT. DIA.O professor está parado diante do sinal fechado. Ele continua ao celular.

PROFESSOR – Ufa! Até que enfim. Pensei que não fosse me atender.

NÚBIA (Em off, telefone) – Estava ocupada... O que há?

O sinal abre. Ele arranca com o carro. Não desgruda do telefone.

PROFESSOR - Tenho uma notícia surpreendente para lhe contar.

CORTE PARA:

81. SALA DA DIRETORIA,INT. DIA.Núbia está sentada sobre sua mesa, enquanto mantém o telefone em uma das mãos.

NÚBIA (No telefone) – Que notícia é essa?

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PROFESSOR (Em off) – Eu acho que aquele tal professor que foi acusado na escola por pedofilia, foi vítima de uma armação.

NÚBIA (Eufórica) – Como é que é?

CORTE PARA:

82. FUSCA DE PROFESSOR.INT. DIA.Brilho de luzes de sirene de carro de policia reflete no retrovisor do carro do professor. Ele nem nota. Continua dirigindo, enquanto fala ao telefone.

PROFESSOR (Ao telefone) – Isso mesmo. A menina é mais perversa do que vocês imaginam. Ela armou para aquele professor.

CORTE PARA:83. SALA DA DIREROTIA.

INT. DIA.Em câmera lenta, vemos o telefone cair da mão da perplexa núbia e espatifar no chão.

84. FUSCA DE PROFESSOR.INT. DIA.O brilho da sirene da viatura policial aumenta no retrovisor do fusca. O professor continua dirigir preso ao celular.

PROFESSOR (No celular) – Alô! Alô! Alô!Xi... Acho que ela não ficou muito feliz com a notícia. Ele guarda o celular. Só agora ver o brilho da luz da sirene da polícia.

PROFESSOR (Aflito) – Droga!

Continua a dirigir normalmente. A sirene é acionada o ouve o barulho dela. Ele diminui a velocidade e para o veículo.

CORTE PARA:

85. SALA DA DIRETORIA. INT. DIA.Núbia está em choque. Sentada ao chão, com a cabeça entre as pernas ao lado do telefone espatifado. Alguém bate a porta. É Matilde. Ao vê-la desconsolada, corre e agacha a sua frente.

MATILDE – Dona Núbia! A senhora está bem?

NÚBIA (Depois de um tempo) – Como poderia! Acho que nós cometemos a maior injustiça da história dessa escola.

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MATILDE – Que injustiça?

A câmera lentamente vai fechando um close em seu rosto.

NÚBIA – Acusamos falsamente um inocente de pedofilia, sem mesmo conceder chances para que ele pudesse se defender.

Close em Matilde. Sua expressão facial é de desespero.

MATILDE – Meu Deus!

A sequência termina com um close em Matilde.

86. RUA.EXT. DIA.Caminhão guincho saí carregando o fusca do professor. A saída do automóvel nos permite visualizar o Policial II entregando o papel da multa ao professor, enquanto o Policial I está encostado junto à viatura preenchendo a ocorrência.

POLICIAL II - Aqui está. Dirigir com imprudência também é crime.

PROFESSOR – Eu já disse por que falava ao celular enquanto dirigia. Se tratava de algo de algo muito importante. Não poderia deixar para depois.

POLICIAL II – Mas até agora não nos disse que algo importante é esse.

PROFESSOR – Também já disse que é algo sigiloso.POLICIAL II (Com um risinho de deboche) – Tá bom! Eu também acredito em Papel Noel... Tenha um bom dia, professor! Quem deveria dá o exemplo é imprudente tanto quanto os imprudentes.

Ele vira as costas e saí andando. Caminha em direção a viatura.

PROFESSOR (Sério) - É sobre uma falsa acusação de pedofilia que uma aluna fez a um colega professor.

Ambos os policiais param. O policial II vira-se para ele e volta, sob o olhar atento do Policial I.

POLICIAL II – Como é que é?

PROFESSOR -... Sei que isso é muito sigiloso, mas há dois anos, quando ainda nem trabalhava de professor, um colega foi acusado de pedofilia e parece que por causa disso foi hostilizado e massacrado psicologicamente, chegando a sofrer violência física...

POLICIAL I (interrompe com uma prancheta nas mãos e o interrompe) – E como chama o professor?

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PROFESSOR – Não sei ao certo, eu não o conheci.

POLICIAL I (Se junta a eles) – Por ventura é Elias?

PROFESSOR – Acho que esse mesmo.

O policial II toma o papel com a multa das mãos dele e rasga.

POLICIAL II – E por que não chamou o Conselho Tutelar?

PROFESSOR – Porque ainda não temos nada concreto. É preciso mais informações para serem tomadas as devidas medidas e creio que poderei contar com o apoio policial, certo?

Os policiais saem andando, sem conceder nenhuma resposta. Ao chegarem à viatura, o Policial I entra assumindo o volante. O outro abre a porta e avisa:

POLICIAL II - Você tem 12 horas para tirar aquele carro do pátio policial. A partir disso, ficará sob os encargos das diárias.

Ele entra na viatura. O outro policial aciona a sirene e parte com a viatura em alta velocidade. O professor permaneceu parado, olhando a saída repentina da viatura aliviado.

87. NOVO VEÍCULO DE AQUILES. INT. DIA.

Aquiles dirige calado. Rebeca ao lado não diz nada. Rute no banco de trás joga no tablet. Rebeca quebra o silêncio.

REBECA (Irritada) – Aquiles, você realmente viu nosso bebê?

Rute para com o jogo e observa. Aquiles respondeu depois de um silêncio proposital.

AQUILES – Mas é claro, minha querida! Eu mesmo assinei o atestado de óbito de meu filho.

RUTE – Era um menino?

REBECA (Interrompe) – Será que ao menos posso ir ao cemitério ver o tumulo de meu filho?

AQUILES – Você não quer descansar primeiro, querida? Descansa, depois a gente vai lá.

REBECA – Eu quero ver o tumulo de meu filho agora!

AQUILES (Paciente) - Claro, como queira.

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Ele diminui a velocidade do veículo e dá a seta para a esquerda. Do outro lado da calçada é possível ver a Monalisa correndo desesperada.Ele vira o carro sem pressa para voltar e se choca contra Monalisa que entra na frente do carro propositalmente. Aquiles para o carro derrotado.

AQUILES – Ah, não! De novo não.

RUTE – Você é azarado mesmo, hein!

É possível ver a Monalisa caída. O carro está atravessado no meio da rua deserta.

REBECA – O que está esperando, Vamos embora. Essa louca entrou na frente do carro, que nos importa isso! Eu quero ver o tumulo de meu filho.

AQUILES – Não podemos fazer isso, é contra a lei. Posso perder meu registro junto a ordem doa advogados.

Ele abre a porta e desce. Caminha para socorrer Monalisa. Rebeca passa para o volante.

RUTE – Mãe, o que está fazendo?

REBECA – Preciso ver o tumulo de meu filho.

RUTE – Não esqueça que ainda estou viva.

Rebeca liga o carro chamando a atenção de Aquiles.

CORTE PARA:88. RUA. CARRO NOVO DE AQUILES

EXT. INT. DIA.Aquiles está parado ao lado do corpo de Monalisa no chão. Sua expressão facial é de total preocupação.

AQUILES – Querida, por favor! Não faça nenhuma besteira.

O carro dá macha ré. Ela passa a buzinar para ele. Imediatamente ele pega a Monalisa nos braços e vai com ela para o carro. Rute abre a porta imediatamente e ele a coloca no banco traseiro. Em seguida corre para assumir o volante do veículo. Rebeca volta para o banco ao lado.

AQUILES – (Fecha aporta do carro) – O que está acontecendo contigo, querida?

REBECA – Desculpe, mas não posso deixar que nada impeça de ir a aquele cemitério.

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AQUILES – Fique calma, ta bom! Nós vamos deixar essa garota no pronto socorro e em seguida vamos ao cemitério, tudo bem?

Rebeca não responde nada. Olha pelo retrovisor. Só agora ela conhece Monalisa, que segue desmaiada. Rute ao lado joga em seu Tablet sem dá a mínima importância.

REBECA (Vira-se para trás) – Essa não é garota que o safado do pai da Rute assediou sexualmente?

RUTE – Não fale assim de meu pai. Respeite ele, porque ele é um homem bom.

REBECA – Só se for dormindo.

Finalmente Monalisa acorda. Tosse. Está atordoada.

MONALISA – Onde estou?

REBECA – A bela adormecida acordou! Que bom! Assim ela não vai atrapalhar nossos planos.

AQUILES (Vira-se para Monalisa) – Você se jogou na frente de meu carro. Qual é o seu problema, garota?

MONALISA – Ver se não me amola.

Ela abre a porta e saí correndo. Rute apenas tem o trabalho de fechar e continuar jogando. Aquiles e Rebeca ficam parados olhando Monalisa correr desesperadamente pelo meio da rua.

AQUILES – É melhor a gente chamar a polícia. Essa garota ainda vai fazer uma besteira.

REBECA – Do que adianta! Essas benditas leis servem apenas para beneficiar a impunidade dos menores.

Neste momento Rute comemora a vitória alcançada no Tablet com o famoso “punho cerrado erguido para cima”.

AQUILES – Ainda sim temos que valer pela prevenção. Com diz o ditado: “Prevenir é melhor que remediar”.

CORTE PARA:

89. SALA DO DELEGADO.INT. DIA.

Num plano fechado vemos o telefone sobre a mesa tocar. Mãos que pega o telefone imediatamente para atender.

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Abre-se o plano e estamos na sala do delegado. O delegado é o mesmo visto na sequência 22. Ele atende ao telefone.

DELEGADO -... Olá, querida!... Sim, o papai vai mais cedo para casa... Está bem. Eu também te amo... Tchau!

Ele coloca o telefone no gancho.A sua frente estão parados os dois policiais.

POLICIAL I – Mandou nos chamar, senhor!

DELEGADO – Sim... Vêem se encontre o tal professor que foi acusado de pedofilia. Preciso de um depoimento dele.

POLICIAL I- Sim, senhor... Se o senhor nos dê licença.

Ele faz gesto para que saiam. Ambos saem.O delegado mantém-se sentado. Abre um risinho.

90. DELEGACIA.INT. EXT. DIA.Os policiais caminham pelo corretor e chegam à recepção. Lá, há algumas pessoas sentadas. O Escrivão, um jovem entre 25 e 30 anos que estava atrás do computador, aborda ambos,

ESCRIVÃO – Há uma ocorrência que precisa ser averiguado. Segundo denúncias, uma menor transita pelo meio das ruas entrando na frente dos veículos, como quem quisesse suicidar-se.

POLICIAL II – Já estamos indo. Obrigado.

Eles saem e vão para a viatura, sem pressa. Entram no veículo e policial I assume o volante. Liga a sirene, dá partida no carro e saí em alta velocidade com sirene ligada.

91. CEMITÉRIO.EXT. DIAEm plano aberto vemos Aquiles segurando Rute em seus braços. Respeitam a dor de Rebeca, que está ajoelhada a frente do pequeninho túmulo da criança abortada. Ela chora compulsivamente.Depois de um tempo, ele decide colocar Rute no chão e se agacha a seu lado abraçando-a. Rebeca aceita o acarinho e o abraça forte. Ele faz cafuné em seus cabelos. O ângulo fecha no abraço de ambos. Rebeca chora alto. Rute se ajoelha e abraça-a. Ela sorrir para a filha e aceita o abraço da criança. Os três estão abraçados.

RUTE – Não chore, mamãe. O bebê está bem. Está lá no céu, não é verdade Aquiles?

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AQUILES – Ah, sim! Ele era um anjinho, não tinha nenhuma maldade. Não poderia ser diferente.

RUTE – Viu, mamãe.

Eles permanecem abraçados, compartilhando aquele momento de dor.A câmera recua e vai distanciando-se deles.Acontece um DOLLY BACK.

92. BEIRA DE RIO/PONTE.EXT. DIADOLLY IN. Câmera que se aproxima de Elias sentado em um banco a beira de um rio lendo a bíblia. Num plano detalhado vemos a leitura de Eclesiastes 9:5 e 6.Segue-se o corpo do texto;“Porque os mortos sabem que hão de morrer; mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento”.Elias interrompe a leitura ao perceber que há uma adolescente na ponte, tentando o suicídio. Rapidamente ele deixa a bíblia aberta e sai rapidamente. Ficamos com a bíblia aberta sobre o banco, fechando-se close nela.

93. PONTE.EXT. DIA.Os carros passam em alta velocidade e ninguém parece perceber Monalisa a beira da ponte na tentativa de suicídio. Ela chora bastante. Parece travar uma batalha dentro de si, entre o sim e o não.Logo Elias se aproxima. Ele a reconhece, mas não faz causo. Está cauteloso e a cumprimenta:

ELIAS- Olá, bom dia!

MONALISA (Chorando) – Não se aproxime se não eu pulo.

ELIAS (Pára) – Está bem, eu não vou me aproximar. Tá legal?

Ela não responde. Continua chorando em sua indecisão. Parece não reconhecê-lo. Elias começa tirar os sapatos. Alguns curiosos param a distância para ver a cena.

MONALISA – O que você está fazendo?

ELIAS – Estou vendo que você está realmente a fim de pular dessa ponte, acho que vou ter que pular junto.

Ele se aproxima dela, cautelosamente.

MONALISA – Por que você faria isso? Nem me conhece?

ELIAS – Você é quem pensa. Sei de você muito mais que você imagina.

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Monalisa desvia a atenção para olhá-lo. Ele está bem próximo. Parece incrédula, ao reconhecê-lo.

MONALISA – Professor Elias!

Ela bambeia. Escorrega. Desce. Elias intervém. Deita na ponte para pegá-la por um dos brancos.

ELIAS – Pronto! Te peguei. Segure firme.

MONALISA – Por quê? Por que está fazendo isso? Eu acabei com a sua vida?

ELIAS – Eu sei. Mas não estou a fim de retribuir na mesma moeda. Você estava sem domínio de si, manipulada pela própria perversidade. Mas isso é o natural do ser humano sem Cristo. E como recebi de Deus uma segunda chance, Ele está disposto a fazer o mesmo por você.

MONALISA (Vai soltando a mão dele sutilmente) – Eu não presto! Me deixe morrer.

ELIAS – Por favor, garota. Não faça um absurdo desse. Jesus te ama, você é a coisa mais linda pra Deus.

Uma viatura policial para no local. Os policiais I e II saltam rapidamente do carro e correm para ajudar Elias no resgate. A porta de trás se abre e Magnólia desce perplexa, apoiada em sua bengala. Os policiais avançam e ajudam ao Elias.

POLICIAL I/POICIAL II (Juntos) – Pronto!

POLICIAL II - Agora ela não escapa mais.

Os três puxam Monalisa. Elias permanece deitado, respira aliviado. Ela senta e cai no choro, com a cabeça entre as pernas. Os policiais permanecem parados ao seu lado.

POLICIAL I – O que pensa que está fazendo, garota?

Apoiada em sua bengala, Magnólia aproxima-se e pára a frente dela, incrédula. Olha em silêncio por um tempo.

MAGNÓLIA (Depois de um silêncio) - Minha filha, minha filha! O que pensa que está fazendo com sua vida, minha filha? Você é jovem, cheia de vida e decide acabar com seu futuro de maneira tão covarde?

Ela continua chorando, com a cabeça entre as pernas.

POLICIAL I – Vamos todos descer até a delegacia.

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Ele é o primeiro a romper para a viatura. Elias se levanta, vai até Monalisa e estende a mão.

ELIAS – Vamos. A brincadeira de mau gosto acabou.

Ela não atende. Magnólia se agacha com dificuldade e fica frente a frente com Monalisa.

MAGNÓLIA- Filha, vamos pra casa. Você tem uma mãe falha, limitada, mas uma mulher que te ama como um gigante. E meu amor começa em meu coração, dá a volta no universo inteiro para te envolver amada dentro do meu coração. Nada que você faça, vai me fazer te amar menos do que eu te amo.

Só agora Monalisa ergue a cabeça. Está manchada pelas lágrimas. Num gesto súbito abraça a mãe, sob olhares atentos dos policiais dentro da viatura e Elias que se segura para não cair no choro.

94. VIATURA.INT. POLICIAL.A música Deus, do “CD JOVEM ADVENTISTA 2014” invade a sequência.As ruas do centro da cidade vistas pelo ponto de vista de Elias.Dentro da viatura os dois policiais à frente, enquanto os três estavam sentados atrás. Do lado direito está Elias, sério. Ao meio Monalisa, que está o tempo inteiro abraçado com a mãe.Passam por diversos lugares. Chegam a viatura. O corte da música e da sequência acontece quando o Policial freia violentamente a viatura.

95. DELEGACIA.EXT. DIA.As portas da viatura abrem e todos saltam. Os policias foram os primeiros. Elias em seguida e a limitada Magnólia. Monalisa ajudou-a todo o tempo.O delegado que saia da delegacia caminha até eles, acompanhado de um investigador de policia. Ambos usam óculos escuros. O delegado de terno e gravata, o investigador com uma camisa do Brasil.

POLICIAL I (Para o delegado) – Senhor, encontramos o homem que o senhor queria interrogar.

DELEGADO (Referindo a Magnólia e Monalisa) – E quem são essas duas?

POLICIAL II (Aproxima-se dele e fala baixo próximo ao ouvido) – Essa é a menor que o acusou de pedofilia e a sua mãe. O sujeito estava tentando salvá-la de um suicídio. Dá para acreditar nisso?

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Delegado vai até o Elias e lhe estende a mãos para cumprimentá-lo:

DELEGADO – Meu amigo, você está de parabéns!

Elias estende a mão e o cumprimenta. Ficamos com o cumprimento entre ambos.

ELIAS – Muito obrigado, senhor.

DELEGADO (Pára os policiais) – Procure um apoio psicológico para essa mãe e sua filha. Acho que elas vão precisar para saber enfrentar seus dramas. E leve esse homem para casa, ele precisa descansar. Afinal, ele é um herói e heróis não nascem todos os dias.

Ele e o investigador silencioso caminham para outra viatura. Entram. O investigador dá a partida no veículo e sai, sob o ponto de vista do Elias.

96. BANHEIRO DO CASEBRE DE ELIASINT. NOITE. FUSÃO. Elias em frente ao espelho faz a barba. O processo parece um pouco lento. As lagrimas caem. Ele termina de barbear. Lava o rosto e enxuga em uma toalha. Parece ser outra pessoa. Saí. Fecha a porta do banheiro.

97. IGREJA.EXT. INT. DIA.Grande plano aberto. Igreja lotada. Lá dentro vemos o Brutamonte, sentado entre as pessoas, em um dos últimos bancos da igreja. Gomes que está com o microfone, enquanto Elias está de terno e gravata ao centro, atrás do púlpito e Nora ao lado dele.

GOMES - Combater na escuridão é no mínimo inusitado. É travar uma batalha com a consciência e saber que nem todas as pessoas são verdadeiras, mas devemos tratá-las como se fosses as mais honestas e confiáveis do mundo. Mas quando uma alma mostra para seus inimigos, amigos, família, vizinhos, bairro, cidade, País, o mundo, o universo, que ele aceitou a Cristo, a verdade passa a ser a tônica dominante de seu caráter. Mesmo que as pessoas duvidem, que seja perseguido, caluniado, difamado, ainda sim continuará uma pessoa com as mesmas virtudes...

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Em plano fechado, vemos a expressão de tristeza no rosto e olhar do brutamonte.

GOMES (Em off) – Nessa manhã, vamos conhecer a verdadeira história de um homem que sofreu perseguição. Foi caluniado, difamado...

Num plano detalhado, a câmera capta os rostos atentos olhando para Gomes.

GOMES (Em off) – Um homem de virtude, cujo testemunho vai ficar para história. Nesse momento deixo a palavra com o nosso irmão Elias.

Abre-se o plano. Todos se levantam e passam a aplaudir Elias. Elias se levanta. Está emocionado. Espera o fim dos aplausos. Os aplausos chegam ao fim. As pessoas se sentam. Mas ao fundo, o brutamonte permanece de pé.

ELIAS – Irmãos, feliz sábado!

TODOS (Juntos, excerto o brutamonte) - Feliz sábado!

ELIAS – O que é a vida? Essa era a pergunta que eu fazia todos os dias, quando vi o abismo da maldade humana me separar de tudo aquilo que havia construído honestamente. O casamento, a família, o trabalho. Uma separação busca e cruel, que as forças das trevas exerceram para dilacerar o meu apogeu. Assim, perdi o meu emprego, a mulher que amava separar de mim, sem dá oportunidade para eu pudesse me defender. Mais que isso, castrar todos os meus planos de viver a vida ao lado da única filha, passando a imagem que era um homem mau, criminoso, pedófilo.

CORTE PARA:

98. IGREJA.EXT. DIA.Em primeiríssimo plano a repórter que vimos na sequência 27 com um microfone nas mãos realizando reportagem.

REPÓRTER- Estamos aqui em frente à igreja, onde um professor acusado de pedofilia...

Abre-se o plano e vemos a repórter em frente à igreja Adventista. O Câmera-Man faz a filmagem e o Furgão atrás dele, com as portas abertas, levando as imagens até uma TV ligada.

REPÓRTER –... Encontrou o verdadeiro sentido da vida. Diante das perplexidades, de uma massa enfurecida que o tempo todo o acusa de pedófilo, não excitava em agredi-lo...

A sequência finaliza com a aproximação da câmera do televisor ligado no furgão e a repórter volta a primeiríssimo plano.

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REPÓRTER (Na TV) – E aquilo que parecia certo, onde todos os seus algozes, com a convicção da verdade...

CORTE PARA:

99. CASARÃO/SALA.INT. DIA.

Sentada ao sofá, Rute brinca com seu cãozinho, enquanto o enorme televisor ligado, na sala, exibe a reportagem.

REPÓRTER ( Na TV) – ... Perseguiam esse homem de modo implacável. Ninguém queria ouvi-lo, dá-lhe uma chance para se defender. Provar que era Inocente... CORTE PARA:

100. CASARÃO/QUARTO.INT. DIA.Rebeca está debaixo do lençol, deitada, assistindo TV.

REPÓRTER (Na TV) – Foi assim...

Aquiles entra no quarto com uma bandeja “com o café-da-manhã” para Rebeca na cama. Sua atenção volta para a reportagem e ele para com a bandeja na mão.

REPÓRTER (Na TV) – Que o professor Elias viveu durante os dois últimos anos e seis meses de sua vida. Só agora, depois de uma obra do destino, finalmente descobriu-se que o professor Elias era inocente.

Perplexo, Aquiles deixa a bandeja cair ao chão. A câmera faz um giro de trezentos e sessentas graus dentro do quarto e capta sutilmente o momento de tensão que a reportagem causou. Ao voltar ao Elias, encontra a Rute parada na porta do quarto com um ursinho de pelúcia nas mãos.

REPÓRTER (Durante o giro de trezentos e sessenta graus, em off na TV) -E que ele nunca, jamais, aliciou qualquer aluna na escola e que tudo não passou de uma armação de um menor, cuja imaginação fértil foi capaz de colocar uma cidade inteira contra um inocente... E agora? Quem curará as feridas?...

Ao ver a Rute parada na entrada do quarto, Imediatamente Rebeca se levanta desligando a TV. Elas e Aquiles não encontram palavras. Estão perplexos.

RUTE – Então realmente meu pai sempre foi um homem inocente não é mesmo, seus mentirosos?

Ela joga o urso contra a mãe. O urso viaja no ar em câmera lenta. A imagem é linda. Há uma trilha orquestrada dando ritmo a viagem do urso de pelúcia no ar. O urso passa ao lado do rosto de Rebeca e acerta a parede ao fundo. A trilha é cortada.

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Rute saí correndo e bate a porta com força. Rebeca ainda está em transe. Não consegue dizer uma única palavra.

101. IGREJA.INT. DIA.A igreja lotada está atenta para as palavras de Elias. Seu rosto está envolto de lágrimas.A repórter e o Câmara-Man estão sentados em um dos últimos bancos assistindo a pregação. Brutamonte continua em pé o tempo inteiro.

ELIAS (Com a bíblia em uma mão e o microfone na outra) – Creio que tudo que aconteceu em minha vida, as mentiras, as acusações, as perdas, tudo contribuíram para o meu próprio bem, acreditem... Se não foram essas coisas, creio que jamais iria entregar a minha vida a Jesus como meu salvador pessoal. E hoje, posso realmente entender a essência do texto de São Mateus capitulo 5 e versos 44,45 e 46 que dizem: “...Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos de vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre os jutos e injustos. Por que se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?”.

Elias é interrompido pela entrada repentina de Núbia e Matilde na igreja. Matilde fica com aquela cara de incrédula parada na entrada da igreja. Matilde, aos prantos, caminha em sua direção.

MATILDE – Elias!A atenção de todos volta-se para ela. Ela segue adiante. Aos prantos. Ajoelha-se aos pés do Elias.

NÚBIA – Elias, você me perdoa?

ELIAS – Se levante, mulher! Por que eu não sou santo.

Ele a toma pela mão e a ergue. Núbia não para de chorar.

ELIAS (Sorrindo) – Eu já a perdoei.

Ela o abraça. Todos se levantam, comovidos. Aplaudem. Só a repórter e Câmera-Man permanecem sentados.O brutamonte caminha em sua direção e pára a frente dele.

BRUTAMONTE – Eu também te fiz muito mal, meu irmão. E durante o culto inteiro senti vontade de vir à frente te pedir perdão, mas não tive coragem... Me perdoe pelo mal que lhe fiz.

ELIAS – (Depois de um tempo) – Claro, meu amigo! Se Jesus já te perdoou por tudo aquilo que fizera no passado, assim como perdoou a mim também, quem sou eu para te negar o perdão!

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Núbia está ao lado de Elias limpando as lágrimas. Brutamonte abraça Elias. Há uma comoção geral na igreja.No púlpito, Gomes e Nora olham atônicos.Sentados, a repórter e o Seu Câmera-Man olham tudo com espanto e admiração. Maior admiração e espanto estão estampados no rosto de Matilde, parada na entrada da porta da igreja.

102. CASARÃO.INT. DIA.Com o ursinho de pelúcia na mão, Rebeca bate na porta do quarto de Rute que está fechado. A insistência parece em vão. Não há resposta. Ela quebra o silêncio das palavras;

REBECA – Minha filhinha, será que poderia falar com você um momento?

RUTE (Em off, no quarto) – Me deixe em paz. Não quero falar com ninguém.

REBECA – Mas acontece que a mamãe quer se desculpar com você tudo bem?

Há um silêncio. Ela não responde nada. Rebeca entra no quarto. O quarto da menina é lindo. Rute está debaixo da coberta, com o rosto descoberto, aos prantos.

REBECA – Posso aproximar?

RUTE – Por que, mamãe? Por que a senhora destruiu a felicidade dessa família? CORTE PARA:

103. CASARÃO/CORREDOR DO QUARTO.INT. DIA.Aquiles está escorado atrás da porta ouvindo o diálogo entre Rebeca e Rute.

REBECA (Em off, no quarto) -... Filha! Não condena a mamãe desse jeito. Eu já tenho as minhas angústias de adulto para carregar e você me martiriza como se eu fosse a algoz da história!... Seu pai e eu já tínhamos tomados uma decisão que... Se um dia um traísse o outro, a decisão a ser tomada seria a separação.

CORTE PARA: 104. CASARÃO/QUARTO DE RUTE.

INT. DIA.Rebeca está sentada ao lado da Rute acariciando seu rosto e seus cabelos.Rute mantém-se deitada, abraçada ao seu ursinho de pelúcia.

RUTE – Mas o papai não te traiu.

REBECA – Só agora eu sei disto. Na época, pensava como todo mundo pensava que ele era um pedófilo, que ele assediou uma garota de menor. Jamais perdoaria um absurdo deste. Por isso eu me separei dele, sem ao menos dá chance para ele se defender.

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RUTE – E agora? A senhora vai voltar a morar junto com o papai?

CORTE PARA:

105. CASARÃO/ CORREDOR.INT. DIA.

A cena aqui é a mesma vista na sequência 103. Aquiles escorado na porta ouvindo a conversa de Rebeca e Rute.

REBECA (Em off, no quarto) – Se pudesse refazer o meu erro, poderia pensar nisso. Mas agora não posso. Já sou casada com alguém que me ama, tanto quanto o amo também.

Aquiles saí caminhando. Parece aliviado.

106. CASARÃO/ QUARTO DE RUTE. INT. DIA.A sequência aqui é a mesma vista na sequência 104. Rebeca, sentado na cama ao lado de Rute, fazendo cafuné em seus cabelos. Rute deitada, aperta o ursinho de pelúcia junto ao peito.

RUTE – E por que você não larga dele e volta morar com o papai, como era antigamente?

REBECA (Sorrir, com o rosto envolto de emoção) -... Filha, não é tão fácil assim. O Aquiles e eu somos casados e um casamento não desfaz assim sem motivos.

RUTE – Mas a senhora não amava o papai?

REBECA – Sim, mas isso já é outra história que você não vai entender agora. Quando crescer, provavelmente você vai entender.

RUTE – Então eu posso ver o papai? Estou morrendo de saudades dele.

REBECA – Como! Nós não sabemos onde seu pai mora e nem sequer onde ele esteja nesse momento.

RUTE – Ele está na igreja. Eu vi ele pela televisão.

CORTE PARA:

107. IGREJA.INT. EXT. DIA. Elias parado na saída da igreja com a bíblia na mão esquerda. Despede-se das pessoas. “Que Deus abençoe”... “Que Deus abençoe”. Diz ele aos ouvintes, na despedida. Só restaram a repórter e Matilde.

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ELIAS (Aperta a mão da repórter) – Que Deus abençoe.

REPÓRTER – O que vi aqui foi algo extraordinariamente fantástico. Por isso gostaria de saber se posso gravar uma entrevista contigo, para que as pessoas saibam sobre sua história, sua superação e quais conselhos você dariam para pessoas que supostamente possam está passando pelo mesmo problema.

ELIAS – Eu gostaria muito de poder ajudá-la, mas prefiro manter a minha história em sigilo. Deus já me recompensou dando as suas bênçãos e permitindo que vivesse o suficiente para provar a minha inocência, isso já é fantástico. Não preciso provar nada para ninguém sobre meu caráter.

REPÓRTER – Poxa vida! Talvez sua história pudesse servir de ponto de estudo sobre a perversidade humana...

Matilde, logo atrás, a interrompe imediatamente em voz alta:

MATILDE – Ver se orienta, bonitinha! Ele não está a fim. Já passou por muitos traumas, será que poderia respeitar a privacidade dele?

Elias sorrir. Ela, fica um tanto sem graça. Volta com uma voz de frustrada.

REPÓRTER – Se mudar de idéia, me procure.

ELIAS – Claro, pode deixar.

Ela sai andando para se juntar ao Câmera - Man que a espera junto ao furgão da emissora. Eles saem logo em seguida.Matilde está sorridente. Um pouco hilária.

MATILDE – Que mulher chata, dá azia até em sorrizal.

ELIAS – Típico da imprensa sensacionalista.

MATILDE – Meu caramada, parabéns!

Eles se abraçam fortemente.

ELIAS – Obrigado. Deus seja louvado.

O abraço se desfaz.

MATILDE – Suas férias acabaram. Te aguardamos na segunda-feira na escola.

ELIAS – Se o Pai Celeste assim permitir, vai ser um prazer voltar assumir a minha classe novamente.

Eles se abraçam novamente e despendem com um simples tchau. Matilde vai embora andando.Gomes que estava esperando por ele ao lado direito se junta a ele.

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GOMES- Meu irmão, que o Senhor possa honrá-lo com os testemunhos. Há um bom tempo não via algo tão especial assim na casa do Pai...

É interrompido por barulho de uma buzina. Lá na rua, em frente à igreja há um carro parado. Ao lado dele, estão a Rebeca e Rute com o seu ursinho na mão. Os olhos de Elias brilham. O sorriso flui alegre. Fica parado, olhando para Rute, como quem não acreditasse.

ELIAS – Filha!

RUTE – Papai.

Eles saem um ao encontro do outro. Ao encontrarem, o abraço acontece. A felicidade é mutua. Depois de um tempo, Elias coloca Rute no chão e se agacha para falar com ela.

ELIAS – Filha, quanta saudade.

RUTE – Eu também estava morrendo de saudades. As pessoas más falaram muitas maldades contra o senhor. Eu fiquei muito triste. Também fiquei muito triste quando vi a mamãe dizendo coisas más contra o senhor.

REBECA (Aproxima-se) – Olá, Elias.

ELIAS (Volta-se para ela, sério) – Olá!RUTE – Mamãe, quero ficar com meu pai neste final de semana.

ELIAS – Não sei se será uma boa idéia.

REBECA – Tudo bem, acho que deve isso a ela.

ELIAS – Se não se importar de ficar num casebre na periferia... É só por uns tempos, logo vou me recuperar.

REBECA – Claro, eu entendo.

Gomes fechara a igreja e se junta a eles.

GOMES – Irmão, vamos. Se não o almoço esfria.

ELIAS – Podem ir, eu vou andando com a minha princesa.

GOMES – Tem certeza? É um pouco distante daqui lá.

ELIAS – Sim, preciso matar a saudade que sentia em relação a minha filha.

GOMES – Está bem, mas não se atrase, hein!

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Elias acena positivamente com o dedão, como quem estivesse concordando com ele. Ele caminha em direção a velha camionete onde Nora o esperava. Gomes entra na camionete, dá partida e saí.Elias, filha e ex-mulher permaneceram parados.

REBECA – Se cuide, garota. Se precisar de alguma coisa, ligue para a mamãe.

RUTE – Eu vou ficar legal, mamãe. Eu estou com meu pai.

REBECA- Então, tá.

ELIAS – Tchau, até mais.

REBECA – Até mais.

Elias saí andando de mãos dadas com a Rute. Eles conversam coisas sobre os estudos de Rute. Rebeca fica parada de costa, como quem não quisesse olhar a saída deles. De repente, caí no choro.Aquiles abre a porta do carro e se junta a ela abraçando-a. Não há dialogo. Ela chora compulsivamente nos braços de Aquiles. A câmera distancia-se deles. A imagem fica como que um freezer.

108. CHACARÁ DO ELIAS/ CASA EXT. INT. DIA.Elias carrega Rute no pescoço, enquanto caminha a beira do lago. Os dois ainda conversam sobre assuntos de família.

RUTE -... Papai, sabia que a mamãe teve um nenê?

ELIAS – Ah, é! E como chama?

RUTE – Ele morreu. A mamãe sofreu um acidente e perdeu a criança... Acho que ela ficou meio pirada depois disso. Ela não admite e/isso, mas o médico passou remédio controlado pra ela tomar.

ELIAS – Nossa! Isso tudo é muito trágico.

RUTE – Ah, sim! Mas não se preocupe, nesse momento ele está lá no céu.

ELIAS (Sorrindo) – Quem disse isso! Ninguém vai ao céu quando morre. A bíblia diz que fomos feito do pó da terra e ao pó da terra voltaremos após a morte. Somente os justos em Cristo um dia irão para o céu, para viver eternamente com o Salvador. Mas essas pessoas são aqueles que fazem a vontade de Deus.

CORTE PARA:

109. CASARÃO/QUARTO DE REBECA.INT. DIA.

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Rebeca em primeiro plano toma um comprimido. Ao fundo, parado as suas costas, está o Aquiles. O dialogo entre eles flui nessa tônica.

AQUILES – Querida, sei que está passando por um momento muito difícil por tudo que aconteceu, mas ainda acho que você não precisa ficar dependendo dessa medicação controlada... Um psicólogo ajudaria bastante, você não acha?

REBECA (Séria) – Por que você acha que eu precisaria de um psicólogo? Por acaso pareço alguém que aspecto de algum distúrbio mental?

AQUILES – Eu não disse isso. Apenas sugeri o profissional, por causa de tudo que você está sofrendo. Um trauma de uma perda irreparável, a história que envolveu em torno de seu ex. Tudo isso mexeu com sua cabeça, admita. Você está carregando uma carga emocional muito grande.

REBECA – E você está com ciúmes dele?

AQUILES – Não, claro que não. Só gostaria de ajudá-la para que não carregue essa carga sozinha.

REBECA – Então, por favor1 Não mencione mais essa história, principalmente a do psicólogo. Eu estou em plenos sentidos, na minha total lucidez. Portanto, não preciso de psicólogo e nem tão pouco ser lembrada do meu relacionamento passado, porque quem vive de passado é museu.

Aquiles não diz nada. A sequência termina da mesma maneira que iniciou. Sem nenhum movimento dos personagens. Ela em primeiro plano e ele ao fundo, parado.

110. CASA DE CHACARA.INT. DIA.O banquete está estendido sobre a mesa. Ao lado dela estavam todos sentados. O Gomes, a Nora, o Elias e a Rute.

GOMES (Quebra o silêncio) – Quem hora pela alimentação? A linda garotinha?

RUTE – Desculpe, mas não sei.

ELIAS – Deixa que eu oro.

Todos fecham os olhos. Elias volta para a oração.

ELIAS – Senhor, abençoe esse alimento. Que nenhum mal posso nos fazer e também possa abençoar esse lar, cujo pão nunca há de faltar. Abençoe a todos nós a fazer tua vontade sempre. Que possa ser providenciado o alimento para o faminto e o necessitado. Assim oramos, em nome de teu filho... Amém!

GOMES E NORA (Juntos) – Amém!

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NORA (Depois de um tempo) -... Amém!

Eles começam a fazer os pratos. Rute fica com o prato na mão olhando a refeição.

ELIAS – O que há filhinha! Você está a fim de almoçar?

RUTE – Vocês não servem carne?

NORA – Não, meu anjo. Nós optamos pelo natural que é o mais saudável, que nos fazem ter uma melhor percepção sobre a vontade de Deus.

RUTE – Nossa! Ninguém nunca tinha me ensinado essas coisas antes.

GOMES – Mas agora você vai ter a oportunidade de aprender bastante. Seu pai aprendeu sobre esse estilo de vida cristã e depois do sermão de hoje, não há mais dúvidas sobre pontos que nos diferencia de outras ideologias.

ELIAS – Primeiro temos que agradecer Deus pelo privilégio e dizer que sempre seremos ridicularizados por nossas crenças, mas elas são todas, cristo-centro e fundamentadas na bíblia. Assim, quem poderá contestar essas verdades?!

Rute permanece parada com um cara de paisagem, como quem não estivesse entendendo nada.

111. CASARÃO/BANHEIRO.INT. NOITE.Aquiles está em frente de um espelho dentro do banheiro arrumando o colarinho da camisa, quando de repente, ouve-se as batidas fortes na porta do banheiro.

REBECA (Em off) – Querido, abre a porta.

Aquiles abre a porta para Rebeca entrar. Ela está bem trajada. Um tanto eufórica.

REBECA – Querido, estive pensando e nós não vamos sair a sós. Vamos buscar a minha filha, porque não estou a fim de deixá-la com um homem que mal a viu crescer.

AQUILES – Mas ele é o pai. E ele não a viu crescer em função de toda aquelas acusações. Mas por lei, ele tem direito. Para falar a verdade, ele abriu mão de vê-la quando quisesse por escolha. Se ele recorresse na justiça, a justiça não iria lhe negar esse direito, porque oficialmente não existia nada que impedisse dele exercer esse direito de pai.

REBECA (Furiosa) – O que você está fazendo comigo, Aquiles? Querendo me destruir psicologicamente? Você não me ama, é isso?

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Aquiles tenta abraçá-la. Ela resiste. Ele a domina e abraça. Está frente a frente com ela, face colada com a dela. AQUILES – Querida, acorde! Não há nada que condene aquele homem. Qualquer coisa que você dizer de agora em diante, ele poderá usar contra você. Se você não se controlar, ele poderá entrar com o pedido da guarda da menina e se o juiz analisar que você está sem condições psicológicas de criar sua filha, não tenha dúvida que qualquer juiz poderá fazer isso. Quanto mais agora que seu ex-marido passou por todo esse processo de acusação e se mostrou forte psicologicamente. Eu não quero destruir seu psicológico, só que você acorde. Sei que está passando por uma carga psicológica muito forte, mas você tem que ser forte, tem que superar as perdas, está certo?

REBECA (Sorrindo) - Sim, eu acho que sim.

AQUILES – Ótimo!... E respondendo sua pergunta, eu te amo.

Aquiles a beija na testa. E dois ficam ali com os rostos colados.

112. CASA SIMPLES DE ELIAS.EXT. NOITE.

Ônibus segue viagem e vemos o Elias e a Rute parados em frente do simples casebre de Elias.

ELIAS (Suspira fundo) – Bem, chegamos. É aqui que eu me escondo.RUTE – Puxa, papai! Que legal.

ELIAS – Foi o máximo que consegui, depois de ficar todo esse tempo desempregado.

Eles saem andando. Elias atenta para abrir o portão.

RUTE – Mas agora o senhor vai voltar para escola, não é mesmo papaizinho?

Elias abre o portão e eles entram. Ele fecha o portão.

ELIAS – Ah, sim, minha filha! Vai ser difícil no começo, mas acho que vou me adaptar.

Rute observa bem a paisagem a seu redor. Os papelões, o carrinho de catar papelão e toda aquela paisagem nada convencional.

ELIAS – O que há, filha!

RUTE – Nada, papai. Não é nada. Vamos descansar, porque estou cansada.

ELIAS – Claro. Não é nada comparado com o que você está acostumada, mas como disse, foi o melhor que consegui depois de dois anos desempregado e catando papelão para sobreviver.

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RUTE (Carinhosamente Rute abraça o pai pelas pernas) – Deixe de besteira, papaizinho. O melhor eu já tenho, que é o seu amor.

Elias emociona. Parece segurar-se para não chorar. Toma-a em seus braços. Rute carinhosamente o abraça. Sai andando com ela nos braços. Ele abre a porta e entra. Liga a luz e fecha a porta.DOLLY BACK.

113. RUA/RESTAURANTE DO IVAN.EXT. INT. DIA.O ônibus abre a porta e o Brutamonte salta com um jornal nas mãos. O jornal trás a foto de Elias pregando no púlpito da igreja com a seguinte manchete:PROFESSOR ACUSADO DE PEDOFILIA FOI VITÍMA DE UMA CHANTAGEM EMOCIONAL, DIZ DIRETORA DE ESCOLA.O ônibus fecha a porta e segue viagem. Brutamonte camisa até o restaurante. Aporta está aberta. O restaurante está vazio. Lá dentro vemos Rosa caminhando pelo corredor. Brutamonte assovia chamando sua atenção. Ele joga o jornal que saí rolando pelo chão e vai parar nos pés de Rosa. Brutamonte vai embora. Rosa olha para o jornal e vê a manchete. Agacha e o pega para ler. Ela atenta para a matéria do Elias.

ROSA (Em off, realizando leitura mentalmente) – A diretora do Colégio Santa Verdade, Núbia dos Santos, disse em entrevista exclusiva para o Jornal da Cidade, que o professor Elias da Hora, foi vítima de uma chantagem emocional de uma adolescente (cujo nome protegido por lei não pode ser divulgado). A diretora veio oficialmente pedir perdão ao professor, que na época foi acusado de pedofilia pela menor. Segundo a diretora, a aluna a procurou acusando o professor de assédio sexual. Diante da situação, a direção da escola tomou as medidas cabíveis por lei, demitindo o professor, mas mantendo em sigilo o caso, para proteger a integridade física do professor. No entanto, a própria menor fez questão de tornar o caso público através das redes sociais. E que só agora, diante de fatos apurados por outro professor do Colégio Santos Verdade, descobriu-se que durante esse tempo, o professor foi vitima de falsas acusações.

Rosa está incrédula. Cai de joelhos com o jornal nas mãos.

ROSA – Meu Senhor!... Crucificamos um inocente.

Ivan entra no restaurante nesse momento. E para em silêncio na entrada, ao vê-la caída de joelhos com o jornal nas mãos.

114. RUA.EXT. DIA.

Brutamonte está parado no cruzamento esperando o sinal para pedestre abrir. O celular toca. Ele atende.

BRUTAMONTE – Pronto!

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CORTE PARA:

115. RESTAURANTE DO IVANINT. DIA.Ivan sentado junto à fachada de vidro do restaurante. O jornal está sobre a mesa á sua frente. Rosa sentada em frente, ouve o diálogo.

IVAN – Olá, meu amigo! Como vai?

BRUTAMONTE (Em off) – Estou bem. Quem está falando?

IVAN - É o Ivan.

CORTE PARA:

116. RUA.EXT. DIA.Brutamonte caminha tranquilamente pela rua quase deserta, enquanto fala ao telefone.

BRUTAMONTE – Pois não, patrão! O que deseja?

CORTE PARA:

117. RESTAURANTE DO IVAN.INT. DIA.A cena é a mesma vista na sequência 115. Ivan falando ao celular com o jornal sobre a mesa e Rosa sentada a sua frente.

IVAN (No celular) – Meu amigo, nós cometemos um equívoco e queremos nos retratar. Gostaríamos de contratá-lo novamente, mas não como segurança, mas sim como gerente de nosso restaurante.

BRUTAMONTE (Em off, celular) – A proposta é muito tentadora, mas a minha resposta é não.

IVAN (No celular, se levanta) – Como não! Estamos dando uma promoção para você e você recusa uma proposta tentadora dessa?

CORTE PARA:118. RUA.

EXT. DIA.A cena é a mesma vista na sequência 115. Brutamonte falando em um celular em uma rua tranqüila, quase deserta.

BRUTAMONTE (No celular) – O que eu tinha de receber de vocês, eu já recebi. Uma demissão injusta, por defender um inocente... E como aquele inocente agora é meu amigo, vou fazer o trabalho que ele me recomendou que

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eu fizesse: Pregar as boas novas de salvação a todas as criaturas, porque em algum lugar deve haver mais inocentes sofrendo injustiças e eles precisam se confortar no amor de Cristo.

Ele desliga. O corte acontece quando ele guarda o celular.

119. RESTAURANTE DO IVAN.INT. DIA.

A cena é a mesma que finalizou a sequência 117. Ivan de pé, falando ao celular, enquanto a silenciosa Rosa está sentada com o jornal a sua frente.

IVAN (No celular) – Alô! Alô! Alô! (Ele pára. Desliga o celular e guarda.) – Acho que ele não está a fim de trabalhar mais conosco.

Ele senta. Rosa continua parada, como que fosse uma estatua imóvel olhando o jornal sobre a sua mesa. Finaliza a sequência com um close na foto do Elias no jornal.

120. ESCOLA.EXT. DIA.Fusão. Close em foto de Elias no jornal. O dobrar do jornal, vemo-lo sentado na calçada ao lado de Rute com o jornal na mão. Eles estão contemplando a chegada dos alunos à escola, do outro lado da rua. O casal que vimos na sequência 19 acusando-o de pedofilia passa realizando caminhada o cumprimenta.

HOMEM – Bom dia, professor!

ELIAS – Bom dia!

MULHER – Bom dia!

ELIAS – Bom dia!

Eles passam sob o olhar atento de Rute.

RUTE – Quem são eles?

ELIAS – Uns coitados e idiotas que me acusaram de pedofilia quando todo mundo assim fazia, sem ao menos me conhecer.

RUTE – E agora eles vêm e te cumprimenta como se nada tivesse acontecido!

ELIAS – Eu tenho compaixão dessa gente fabricada, que está no mundo para ver os outros passarem. Que nunca investiga os fatos. Pegam tudo mastigado e tiram suas próprias conclusões.

RUTE – O que, pai? Do que o senhor está falando?

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ELIAS – Desculpe, filha! Um dia você vai entender o que o pai está falando.

O carro de Aquiles para e ele buzina. Lá dentro não é possível ver ninguém. Os vidros são totalmente escuros.

RUTE (Se levanta) – Os meus sonhos acabaram, agora tenho que ir.

ELIAS – Não se preocupe, a gente vai se encontrar todo final de semana.

Rute o abraça. Dá um beijo nele e despede-se:

RUTE - Tchau, pai! ELIAS – Tchau Filha.

Ela dá outro beijo no pai e entra no carro pela porta traseira. Fecha a porta fecha com força. A porta da frente se abre e Rebeca salta. Elias se levanta. Ela se aproxima e cumprimenta:

REBECA – Olá! Bom dia!

ELIAS – Olá!

REBECA – E aí, como foi o final de semana, se divertiram bastante?ELIAS – Acho que sim. As crianças são inocentes, não têm maldade. Até em um simples casebre, elas conseguem ser felizes.

REBECA (Depois de um silêncio) – Claro... Bem, queria me desculpar por tudo que fiz a você. Acho que fui injusta com você... Me perdoe.

Elias estende a mão para cumprimentá-la, mas ela não o cumprimenta. Ele recolhe a mão sem graça.

ELIAS – Sem magoas.

Rebeca aproxima-se e dá um forte abraço nele.

REBECA – Sem magoas.

ELIAS – Seu marido não está lá no carro? Ele pode ficar com ciúmes.

REBECA – Não se preocupe, ele é evoluído. Foi ele quem me pediu para que viesse lhe dá um abraço e pedir perdão por feito diverso acusações contra você.

ELIAS – Como disse, sem magoas. A única coisa que peço é que me deixe criar a minha filha como uma cidadã do reino celestial.

REBECA – Acho que devo isso a você. Portanto, tem minha palavra.

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Finalmente o abraço se desfaz. Ela saí andando em direção ao carro.

REBECA – Se cuide.

ELIAS – Você também.

Ela entra no carro e fecha a porta. Rute abre o vidro da porta traseira com um largo sorriso, fazendo sinal de positivo para ele. O carro parte com ela acenando para Elias pelo vidro e ele responde com o mesmo sinal até ela ganhar distância.Quando ele deu o primeiro passo para sair, ouve o barulho de uma buzina e para com aproximação de uma moto. O motoqueiro desconhecido pára e desce. Tira o capacete. É o Ivan.

IVAN – Olá, meu amigo!

ELIAS – Olá!

Ivan aproxima-se empolgado. Elias sem nenhuma empolgação.

IVAN- Cara, você é o cara! Se eu tiver a oportunidade de escrever um livro um dia, certamente esse livro será sobre o professor, o herói.

ELIAS – Minha vida sempre fora um livro aberto, nunca teve nenhuma página secreta, embora muita gente quisesse transformá-lo em um conto de terror.IVAN (Sem graça) – Tá legal, ta legal. Eu sei que pisei na bola, que não acreditei em você quando mais você precisava...

Ivan não aguenta, começa a chorar.

ELIAS – Não vamos transformar isso em um dramalhão masculino. Mesmo porque a minha acusação era de pedofilia e não de marica.

IVAN – (Chorando) – Cara, isso não tem graça. Eu fui um Judas, eu te traí quando você mais precisava de mim...

ELIAS (Interrompe) – Eu sei!

IVAN – Então! Como vai ficar nossa amizade?

ELIAS – Se você parar de ser mandado pela mulher, talvez ela volte a ser como antes.

IVAN (Sorrir) – Puxa, Elias! Você é um cara sensacional. É sério! Se fosse outro, certamente iria querer acabar com a minha vida, mas você não. Você está aí, fazendo piadinhas a respeito.

O sinal da escola aciona. Elias fica sério.

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ELIAS – Se hoje você vê essas qualidades em mim, glorifique a Jesus Cristo, porque Ele é a razão de minha existência. Foi Ele o amigo fiel quando eu mais precisava de um amigo. E Ele me ensinou que, quem mais me faria crescer na vida não seria os amigos e sim meus inimigos. Seriam meus inimigos que me fariam alcançar a visão de águia, para enxergar a vida acima das tempestades e poder perdoar aqueles que me ofenderam, porque se assim não fizer, eu seria um hipócrita ao orar a oração do Pai Nosso... Se você me dê licença, preciso voltar para aula. Há uma classe sequiosa para me encontrar.

Elias saí andando. Ivan permaneceu parado. Elias atravessa a rua e grita:

ELIAS – Mande um abraço para sua mulher. Diga a ela que Jesus a ama e quer salvá-la. O mesmo digo para você, meu amigo!

Elias ganha o território da escola e Ivan fica parado, olhando. Elias entra na escola, sob o olhar de Ivan.

121. ESCOLA.INT. DIA.Elias entra na escola. Uma enormidade de professores e profissionais espera por ele na recepção. Começam os aplausos. Eles vão abrindo espaço. Entre eles está o professor que vimos anteriormente nas sequências 76 em diante. Elias passa por eles e encontra a Núbia no final da fila.

NÚBIA (Sorrindo) – Seja bem vindo, professor! Quero que saiba que está atrasado no primeiro dia de aula e que atrasos nesta escola só são tolerados com uma boa justificativa.

ELIAS – Então tenho mais que boas justificativas. Alguns seres humanos com peso de consciência me pararam pelo caminho para retratarem de seus atos.

NÚBIA – Ótimo! Agora pode ir à sala, porque seus alunos o esperam ansiosamente.

Elias saí andando e os professores saem junto com eles. Ganham o corredor da sala de aula. Junto a exposição de artes que ficava no corredor, um quadro em si lhe chamou atenção. É um quadro que retrava uma águia com o rosto dele voando em meio a uma imensa tempestade. Ele pára, enquanto as demais pessoas seguem para suas devidas classes. Matilde chega e para ao seu lado.

MATILDE – Nem todo mundo é águia.

ELIAS – Quem é o artista?

MATILDE – Eu diria que seria uma artista.

ELIAS – Quem?

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MONALISA (Em off) – Acho que essa é apenas uma pequena demonstração o quanto amo o meu professor, mas por força da minha loucura paixão, quase que acabei com a vida dele.

Elias vira e vê Monalisa parada a frente, à certa distância, com seu uniforme de estudante e livros entre os braços.

MATILDE - Ela é a artista. Veio aqui para saber se ainda aceita como aluna. E saiba que a direção da escola deu liberdade para tomar qualquer decisão. ELIAS – Se me amando ela fez o que fez, imagina quando começar a me odiar!

MONALISA – Eu estou passando em uma psicóloga, para aprender a me controlar, controlar as minhas emoções.

ELIAS – Sendo assim, acho que não vejo nenhum perigo.

MONALISA – Posso ao menos lhe dá um abraço como sinal de perdão?

ELIAS – Se tenho que perdoar até 70X7, o que seria perdoar a terceira vez em um único dia!

Ela aproxima cautelosamente e o abraça. Algumas lágrimas começam a correr de seus olhos. Matilde interrompe o abraço.MATILDE – Vamos para sala de aula! Se ficarem muito tempo abraçados, alguém pode denunciá-lo novamente por pedofilia.

Ele caminha para a sala de aula. Monalisa o acompanha limpando as lágrimas. Ao abrir a porta, uma surpresa. Um coral, formado pelos alunos de sua sala o espera na frente da sala. Mal ele entrou e eles começaram a cantar a música America “Happy Day”. O coral está entusiasmado. Elias fica parado na entrada da sala com Monalisa ao seu lado ouvindo a música. Logo, o Aluno Negro sola uma estrofe da música e todos voltam em seguida no refrão, “Happy Day, Happy Day”.A câmera vai recuando e saindo pela porta ao som da música americana. Sai pelo corredor e pára no quadro exposto na parede. Fecha-se um close na foto da águia com a cabeça de Elias voando sobre uma imensa tempestade.FADE OUT.Sobre um letreiro. Com ele uma música. O letreiro sobe até surgir a palavra:

FIM!

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