o corredor ecológico nº 5

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O corredor Ecológico Conservação da biodiversidade é foco de ações com comunidade rural de Viamão Projeto em parceria com o Incra incentiva moradores do Filhos de Sepé a preservar Refúgio Atuando em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Curicaca está desenvolvendo o Projeto de Conservação da Biodiversidade no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão. A Unidade de Conservação é Reserva Legal do maior assentamento do estado, o Filhos de Sepé. Ações estratégicas de integração com a comunidade estão ocorrendo desde 2010. Ao mesmo tempo, é realizado um trabalho conjunto com gestores e instituições de pesquisa para facilitar o controle e preservação da área, responsável por garantir diversos benefícios ecológicos. Leia na página 3 Trabalhos incluem atividades de Educação Ambiental Dentro do projeto, as ações de sensibiliza- ção com os moradores do Assentamento Filhos de Sepé se dá pelo contato com as crianças, em sua maioria assentados. Alunos da Esco- la Nossa Senhora de Fátima estão ampliando seus laços com a natureza e aprendendo no- vos modos de lidar com ela. Os encontros in- cluem uma variedade de dinâmicas que unem conhecimento teórico e atividades lúdicas. Veja mais nas páginas centrais Curicaca trabalha pela criação de Conselho Consultivo no Refúgio, visando a efetivação da Unidade Cervo do pantanal é avistado no Banhado dos Pachecos Espécie que corre risco de extinção no estado, o cervo do pantanal foi fotografado no Refúgio Banhado dos Pache- cos em 2010. A ocorrência do animal é confirmada por mo- radores da região. Os relatos também partem das crianças que participam dos encontros de educação ambiental na Es- cola Nossa Senhora de Fátima. Trata-se de uma motivação para os pesquisadores e para o Instituto Curicaca, que está desenvolvendo um programa para a conservação do animal, cuja sobrevivência depende da implantação do Refúgio. Página 4 Atuante nos Conselhos de sete Unidades de Conservação, o Instituto Curicaca está articulando a criação do Conselho Consultivo do Refúgio Banhado dos Pachecos, em Viamão. Isto é essencial para garantir a efetividade da unidade criada em 2002, mas ainda em fase inicial de implantação. Além de possibilitar a participação dos setores diretamente envolvidos, o conselho é um apoio fundamental ao trabalho do gestor. Um exemplo claro des- sas possibilidades é o Con- selho do Parque Estadual de Itapeva, que está solicitando a participação da Secretaria Estadual do Meio Ambien- te (Sema) em sua próxima reunião. A demanda ocorre porque pressões políticas e econômicas estão se sobre- pondo aos interesses coleti- vos e difusos daquele Parque. Páginas 9 e 11 Informativo Semestral do Projeto de Conservação da Biodiversidade no Assentamento Filhos de Sepé e das ações do Instituto Curicaca e seus parceiros Setembro de 2011 - Número 005 - Ano 5

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Lançado em setembro de 2007, "O Corredor Ecológico" é o jornal publicado pelo Instituto Curicaca, com distribuição gratuita dirigida nos municípios de Torres, Arroio do Sal, Dom Pedro de Alcântara, Mampituba, Morrinhos do Sul, Três Cachoeiras, Porto Alegre e Região Metropolitana. Nas suas páginas, encontram-se reportagens sobre Unidades de Conservação e desenvolvimento sustentável, sobre a atuação do Curicaca e de outras instituições em políticas públicas voltadas ao meio ambiente e sobre Educação Ambiental, as Trocas de Saberes e a Ação Cultural de Criação "Saberes e Fazeres da Mata Atlântica", entre outros.

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Page 1: O Corredor Ecológico nº 5

O corredor Ecológico

Conservação da biodiversidade é foco de ações com comunidade rural de Viamão Projeto em parceria com o Incra incentiva moradores do Filhos de Sepé a preservar Refúgio

Atuando em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Curicaca está desenvolvendo o Projeto de Conservação da Biodiversidade no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão. A Unidade de Conservação é Reserva Legal do maior assentamento do estado, o Filhos de Sepé. Ações estratégicas de integração com a comunidade estão ocorrendo desde 2010. Ao mesmo tempo, é realizado um trabalho conjunto com gestores e instituições de pesquisa para facilitar o controle e preservação da área, responsável por garantir diversos benefícios ecológicos. Leia na página 3

Trabalhos incluem atividades de Educação Ambiental

Dentro do projeto, as ações de sensibiliza-ção com os moradores do Assentamento Filhos de Sepé se dá pelo contato com as crianças, em sua maioria assentados. Alunos da Esco-la Nossa Senhora de Fátima estão ampliando seus laços com a natureza e aprendendo no-vos modos de lidar com ela. Os encontros in-cluem uma variedade de dinâmicas que unem conhecimento teórico e atividades lúdicas. Veja mais nas páginas centrais

Curicaca trabalha pela criação de Conselho Consultivo no Refúgio, visando a efetivação da Unidade

Cervo do pantanal é avistado no Banhado dos Pachecos

Espécie que corre risco de extinção no estado, o cervo do pantanal foi fotografado no Refúgio Banhado dos Pache-cos em 2010. A ocorrência do animal é confirmada por mo-radores da região. Os relatos também partem das crianças que participam dos encontros de educação ambiental na Es-

cola Nossa Senhora de Fátima. Trata-se de uma motivação para os pesquisadores e para o Instituto Curicaca, que está desenvolvendo um programa para a conservação do animal, cuja sobrevivência depende da implantação do Refúgio.

Página 4

Atuante nos Conselhos de sete Unidades de Conservação, o Instituto Curicaca está articulando a criação do Conselho Consultivo do Refúgio Banhado dos Pachecos, em Viamão. Isto é essencial para garantir a efetividade da unidade criada em 2002,

mas ainda em fase inicial de implantação. Além de possibilitar a participação dos setores diretamente envolvidos, o conselho é um apoio fundamental ao trabalho do gestor. Um exemplo claro des-sas possibilidades é o Con-selho do Parque Estadual de

Itapeva, que está solicitando a participação da Secretaria Estadual do Meio Ambien-te (Sema) em sua próxima reunião. A demanda ocorre porque pressões políticas e econômicas estão se sobre-pondo aos interesses coleti-vos e difusos daquele Parque.

Páginas 9 e 11

Informativo Semestral do Projeto de Conservação da Biodiversidade no Assentamento Filhos de Sepé e das ações do Instituto Curicaca e seus parceiros

Setembro de 2011 - Número 005 - Ano 5

Page 2: O Corredor Ecológico nº 5

2 - o corredor ecológico 05 - setembro de 2011

A Prefeitura Municipal de Dom Pedro de Al-cântara, por meio do Departamento de Meio Am-biente, realizou nos dias 16 e 17 de junho a sua 2ª Jornada Ambiental. Na sede da Sociedade Esportiva Aymoré localizada na cidade, no dia 16, o Instituto Curicaca palestrou sobre as atividades da organiza-ção desenvolvidas no município desde 2003. “O público ficou particularmente interessado so-bre o projeto na Lagoa do Morro do Forno”, enfati-za o coordenador técnico da instituição, Alexandre Krob. De 2009 a 2010, o Centro de Ecologia da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Instituto Curicaca desenvolveram um projeto na região da lagoa do Morro do Forno e do Jacaré, para implementação dos Microcorredores Ecológi-cos de Itapeva. Dom Pedro de Alcântara é cruzado por diversos desses corredores. “A população quer

entender mais o que significam esses sistemas que, além da preservação da biodiversidade, podem ge-rar renda para a cidade”, acrescenta Krob. Também foi possível falar ao público sobre as ati-vidades de educação ambiental desenvolvidas pelo Curicaca. Entre os anos de 2006 e 2009, o Instituto trabalhou nas duas escolas municipais da área rural de Dom Pedro de Alcântra. Além deste, a programa abrangeu outros quatro municípios: Torres, Arroio do Sal, Morrinhos do Sul e Mampituba, e foi desen-volvido em 20 estabelecimentos de ensino funda-mental. As atividades tiveram que ser suspensas de-vido à falta de recursos financeiros. Os professores de ensino médio presentes na palestra ficaram interessados em formar uma par-ceria com a ONG para trabalhar estratégias conjun-tas de preservação na Lagoa do Morro do Forno. E, também apontaram uma grande demanda na área de educação ambiental para o nível médio. Durante a palestra, estiveram presentes agricultores, profes-sores, estudantes, gestores públicos e pessoas da comunidade em geral.

Para as empresas privadas de cunho jornalístico, as medidas de um bom trabalho são a audiência, a quantidade de leitores, a abrangência e os resultados da comercialização do produto principal e seus subprodudos. Por isso, as informações e posturas dependem da aceitação pela opinião pública já existente e não formadoras de opinião pública como se costuma “marketear”. As notícias ambientais e sociais veiculadas nesses meios são escassas e seletivas. Elas pre-cisam ter apelo de mídia e não conflitar com posições e processos que são de interesse das empresas jornalísticas, de seus anunciantes e dos acertos políticos que estão por trás dos bastidores. De vez em quando, isso fica mais visível nas lutas por uma imprensa livre, pela profissão de jornalista ou contra a censura. Estamos repletos de situações nas quais os grandes grupos de comunicação hegemônicos no mercado compraram ou ajudaram a falir os

pequenos veículos alternativos. É só alguns jornais de bairro começarem a ter destaque pra surgir na grande mídia os encartes mensais de bairro. E nisso o leitor também tem a sua responsabilidade. Quem veio trazer mudanças foi a inter-net, que permite uma grande difusão de in-formações críticas através da autonomia da criação de blogs, sítios e redes sociais. Mes-mo assim, isso ocorre com as suas limitações, pela dificuldade de acesso por boa parte da população, o excesso de informações e a po-luição e a falta de segurança naquilo que se lê. De tudo isso, temos que destacar a importância da pluralidade dos meios de comunicação, com suas escalas de abrangência e públicos, da mesma forma como defendemos a riqueza biológica e a riqueza cultural. Por isso, estamos tão felizes em retomar as edições de “O Corredor Ecológico”, um pequeno jornal com conteúdo ambiental, social, cultural e econômico que permite acesso à população local daquilo que não interessa à grande mídia, vocês sabem o porquê! Mantê-lo é difícil, mas vale muito a pena.

editorial

notas

expedienteEditor: Alexandre Krob / Jornalista Responsável: Joyce Copstein Mtb 15053Reportagem: Leila Garcia e Sarah Motter / Revisão de texto: Joyce CopsteinProjeto gráfico (atualização): Lídice C. Wainberg / Diagramação: Leila Garcia e Joyce Copstein / Ilustrações: Patrícia Bohrer / Fotos: acervo do Instituto Curicaca, arquivo pessoal José Maurício Barbanti e Glayson BenckeTiragem: 3.000 exemplares / Circulação dirigida: Viamão, Gravataí e Porto Alegre.O Corredor Ecológico tem distribuição gratuita.

Instituto CuricacaCoordenador geral: Jan Mähler Jr.Coordenador técnico: Alexandre KrobCoordenadora de Educação Ambiental e Cultura: Patrícia Bohrer

Sede Administrativa: R. Dona Eugênia, 1065/303 - CEP 90630-150Porto Alegre - RS / Fone: (51) 33320489 • http://[email protected]

APOIO FINANCEIRO

Por Alexandre KrobCoordenador Técnico do Curicaca

Instituto Curicaca lança livro sobre microcorredores ecológicos

O Instituto Curicaca lançou, na última edição da Feira do Livro de Porto Alegre, em 2010, a publicação “Microcorredores Ecológicos de Itapeva”. O livro conta a história recente dos microcorredores que ligam áreas de grande relevância ecológica na porção superior do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. É direcionado a técnicos, professores e líderes comunitários que atuam na região. Nele, é possível conhecer o método de definição dos espaços para a implantação dos microcorredores, além das estratégias utilizadas para a sua concretização e ações de conservação. A edição encontra-se disponível, na íntegra, para download no site da Curicaca: www.curicaca.org.br.

Projeto sobre corredores ecológicos é apresentado em Dom Pedro de Alcantra

Esta edição do jornal O Corredor Ecológico tem apoio do Projeto de Conservação da Biodiversidade no Assentamento

Filhos de Sepé - Viamão/RS

Ministério do Desenvolvimento Agrário

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o corredor ecológico - 3

Curicaca e Incra formam parceria para a conservação da biodiversidade em Viamão

Um projeto de conservação da biodiversidade no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão, está integrando o Instituto Curicaca e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra. A área é Reserva Legal do Assentamento Filhos de Sepé, o maior do estado, local que possui algumas particularidades. Primeiro, ele foi criado dentro de uma Área de Proteção Ambiental, a APA do Banhado Grande. Segundo, teve parte de sua área destinada à criação do Refúgio, em 2003.

É, portanto, um dos únicos assen-tamentos vinculados a uma Unidade de Conservação, uma realidade esti-mulante para o Instituto Curicaca, que há quase quinze anos realiza progra-mas com foco na conservação de am-bientes, atuando junto às comunidades que vivem nas proximidades das áreas de proteção. “É uma experiência di-ferente e positiva, porque o MST tem mostrado preocupação ambiental, e a proximidade com a unidade de con-

servação é uma chance de exercitar isso”, expõe Alexandre Krob, coorde-nador técnico do Instituto Curicaca. As atividades, que começaram no início de 2010, estão voltadas à sen-sibilização das famílias para o apoio à implantação e manutenção da Unida-de de Conservação, o planejamento de corredores ecológicos e a dimi-nuição da poluição hídrica. O projeto segue vários eixos de ação, entre eles a motivação para a elaboração do pla-no de manejo e a análise da qualidade ambiental da água subterrânea (que pode estar contaminada por lixo) e a aproximação das famílias assentadas com o Refúgio. Desde 2007, a emis-são de licenças ambientais para assen-tamentos só ocorre quando existem programas de educação ambiental para a área. Além disto, em 2008, foi implementado o Programa de Mane-jo de Recursos Naturais em Projetos de Assentamento, que destina verbas federais à recuperação e conservação ambiental. Para o engenheiro agrônomo Mar-celo Almeida Bastos, do Incra, “o me-lhor formato para ações ambientais em assentamentos é o convênio com entidades, em função das questões pe-dagógicas relacionadas aos movimen-tos sociais”. Ele se demonstra otimista em relação à parceria com o Curicaca: “A colaboração de organizações com experiência sócioambiental permite que o Incra faça o acompanhamento técnico, sem intervir diretamente no processo. Uma intervenção direta pode causar problemas de receptivi-dade por parte dos assentados”. Isso, segundo ele, se deve ao fato de o Incra

ter um duplo papel: o de promover o desenvolvimento agrícola simultanea-mente à preservação ambiental. O Assentamento Filhos de Sepé ocupa uma área de 9.406 hectares no distrito de Águas Claras, em Viamão, junto à bacia hidrográfica do rio Gra-vataí. Desde 1998, 376 famílias vindas de 115 municípios gaúchos estão no local. As ações ocorrem através da educação ambiental com os alunos da Escola Nossa Senhora de Fátima, visando provocar reflexões sobre bio-diversidade em toda a comunidade. Através de experimentações práticas e atividades lúdicas, os alunos conhe-cem temas como agricultura ecoló-gica, riqueza biológica e unidades de conservação da natureza. “Infelizmen-te, entraves burocráticos paralisaram o convênio com o Curicaca no ano passado. Mas, mesmo com as limita-ções, o pessoal do Curicaca conseguiu iniciar o trabalho, e os resultados obti-dos até agora foram os melhores pos-síveis”, comemora Bastos. A dedicação da equipe de educa-ção ambiental tem refletido em res-postas positivas dos estudantes, pro-fessores e famílias. “Os alunos fazem festa quando a turma da educação ambiental chega, e os pais costumam ligar para perguntar se vai haver ativi-dades com o Curicaca”, comenta Dir-ceu Sides do Nascimento, morador do assentamento e Diretor da escola há cinco anos. Ele conta ainda que tem observado mudanças no comporta-mento das crianças, que “vêm de-monstrando maior interesse e preo-cupação com o meio ambiente”. Além disso, Dirceu acredita que os resulta-dos já estão aparecendo no assenta-mento: “Filhos Sepé faz parte de uma área de preservação, e por isso este trabalho é importante. Já há vários projetos, dentro do assemntamento, que buscam produzir sem usar agro-tóxicos. Estamos caminhando rumo à agroecologia”, comenta. Desde 2004, os assentados seguem normas que li-mitam o uso de agrotóxicos no plantio e definem regras para o uso da água. Além da educação ambiental, estão ocorrendo reuniões entre os técnicos do Curicaca e os gestores das Unida-des de Conservação para a implanta-ção do Refúgio, o que permitirá maior controle e proteção da área. Também

já foram iniciadas as primeiras avalia-ções do depósito clandestino de lixo, no setor “A” do assentamento. A par-tir daí, será implantado um sistema de monitoramento da água subterrânea e elaborado um projeto de remediação da poluição causada pelo lixo no local. São ações urgentes, que envolvem to-dos os setores da sociedade. “Essas iniciativas e cuidados devem aconte-cer em qualquer lugar onde as pesso-as vivem, mas especialmente nas pro-ximidades de áreas protegidas, onde precisam ser incentivadas com muito empenho”, acrescenta Krob.

“Mesmo com as limitações, o pessoal

do Curicaca conseguiu iniciar o trabalho, e

os resultados obtidos até agora foram os melhores possíveis”

Marcelo Bastos (Incra)

Reserva Legal

Para ajudar na conservação da biodiversidade, utilizando--a de modo sustentável, quem vive ou produz na área rural deve manter um percentual de sua propriedade ou posse com vegetação natural. É a Reserva Legal (RL). Definida pelo Código Florestal, deve ocupar 20% da propriedade nos campos nativos e flores-tas do RS, sem ser sobre a Área de Preservação Perma-nente (APP), já que tem fun-ções diferentes. Porém, na pe-quena propriedade, quando a soma das APPs e da RL ul-trapassa 25%, a Reserva pode ficar dentro da APP, mas o uso sustentável fica proibido. O Departamento de Flo-restas e Áreas Protegidas é responsável pela aprovação da RL. Sua averbação é feita à margem da escritura, gratui-tamente. Mas existem custos técnicos ligados à medição da área e à documentação. Há es-forços para que o poder públi-co apoie os pequenos agricul-tores na demarcação e para que a RL possa ser utilizada no pagamento por serviços ambientais aos seus proprie-tários, como captura de car-bono, proteção e geração de água. Seria justo que os mora-dores urbanos judassem nesse processo, o que demanda um ajuste nas políticas públicas.

Técnicos de instituições públicas e pesquisadores visitam Refúgio dos Pachecos, em Viamão

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Cervo do pantanal resiste no Rio Grande do Sul Exuberante, carismático, tímido e um pouco arisco. Assim é o cervo do pantanal, o Blastocerus dichotomus, maior cervídeo da América Latina. In-felizmente, é também uma vítima da degradação ambiental e da caça, ame-açada de extinção - no estado gaúcho, apenas alguns indivíduos sobrevivem. Se, por um lado, a inexistência de pes-quisas sobre o animal, no nosso esta-do, dificulta sua proteção, por outro, registros recentes e a mobilização em torno do cervo e de seus ambientes trazem novas perspectivas para estes animais, adotados pelos ambientalistas como bandeira de conservação. O cervo do pantanal é natural de áreas de banhado e vive em meio à alta vegetação nas bordas das flores-tas, campos úmidos e áreas inundá-veis. Originalmente, os cervos se dis-tribuíam ao longo dos grandes rios da América do Sul e seus afluentes. Hoje, já extintos no Uruguai, correm o mes-mo risco na Argentina, Peru, Paraguai e em alguns estados do Brasil, como Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul (RS). É apenas no Pan-tanal que as populações apresentam o número ideal de indivíduos para a ma-nutenção da espécie. Ele também está nas listas de animais vulneráveis do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da União Internacional para Conservação da Natureza dos Recur-sos Naturais (IUCN). Também conhecido como “veado--galheiro”, é um mamífero de médio porte: com cerca de 1,20m, chega a pesar 150Kg. O pelo é castanho aver-melhado, já as patas e o focinho são pretos. Os cervos se alimentam de gramíneas e vegetação rasteira, e, soltos na natureza, vivem cerca de 15 anos. Os machos têm galhadas exu-

berantes e ramificadas, consideradas troféus por caçadores ilegais. A caça foi justamente um dos fato-res que contribuíram para diminuição da população de cervos do pantanal no RS, seja para o consumo da carne ou para a obtenção do couro e do chi-fre. De acordo com o biólogo e dou-torando em Ecologia Jan Mähler Jr., o declínio da espécie se deve a um con-junto de causas: “Não é possível apon-tar um fator como mais importante, mas teve relação com a transformação do ambiente natural em extensas la-vouras ou campos para pecuária, além da caça criminosa”. Aliado a esses eventos está o ainda pequeno esforço científico em relação a esta espécie no RS. “Apesar de haver grande interesse sobre o cervo, e da sua única área de ocorrência conhecida ser próxima a Porto Alegre, os esforços destinados a estudar os cervos foram pontuais e isolados”, diz Mähler. Registros fotográficos, vestígios de pegadas e fezes, marcas de dormitó-rios e relatos da comunidade mostram que os cervos ainda estão presentes

nos banhados formadores do rio Gra-vataí, único local onde ocorrem no RS. Em 2010, duas fêmeas em um macho foram flagrados por armadilhas foto-gráficas. Em outro momento, um gru-po em excursão pelo Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão, viu um cervo. O responsável pelo registro, a única fotografia dire-ta do animal nos últimos 30 anos, foi Glayson Bencke, ornitólogo da Funda-ção Zoobotânica do RS. “Estávamos observando um grupo de aves quando uma fêmea adulta de cervo se aproxi-mou lentamente. Ela só nos percebeu quando já estava na nossa frente, a uns vinte metros de distância. Nos enca-rou, deu meia-volta e correu. Foi um momento de rara excitação, para lem-brar pelo resto da vida”, conta. Hoje, sabe-se que a população da espécie é extremamente pequena e a área onde está sendo observada em Viamão é bastante restrita. “Infelizmente não se pode precisar quantos indivíduos ainda resistem. As estimativas não são confiáveis”, declara Mähler. Bencke complementa: “Todos os cervos que

restam no RS estão hoje confinados a uma área relativamente pequena e cercada por zonas urbanizadas ou agrícolas, com forte presença huma-na”. Um dos mais sérios problemas é a degradação dos banhados. “Esse ecossistema tem sido historicamente descaracterizado no RS, principalmente por atividades que poluem a água e alteram suas características”, destaca Simone Ximenes, bióloga do Instituto Curicaca. Não há como conservar o cervo sem preservar os locais onde ele ocorre, definidos por lei como áreas de preservação permanente. Os esforços trazem ainda outros benefícios, pois o cervo é uma espécie “guarda-chuva”: uma vez que ele precisa de áreas grandes para manter populações viáveis, nesses espaços acabam sendo conservadas inúmeras outros espécies de animais e plantas. Mais ainda, os banhados que constituem seu hábitat prestam serviços ambientais, como a regulação hídrica, a purificação da água, o acúmulo de carbono e a manutenção da biodiversidade. Além da degradação do ambiente e da caça, há outras ameaças, como o isolamento da população e doenças. Apesar de preocupante, a situação é desafiadora. “É intrigante que há 30 anos tenham sido estimados menos de dez indivíduos, e mesmo uma popu-lação tão pequena e isolada tenha se mantido até hoje”, diz Simone. Isto é visto como oportunidade de entender a espécie e investir na região. “A pre-sença de populações protegidas é um dote natural, que pode ser utilizado no desenvolvimento turístico da re-gião, na captação de recursos para os municípios e na melhoria de vida das comunidades do entorno. Basta saber tirar vantagem”, finaliza Bencke.

Programa une esforços para a conservação do cervo Para que o cervo não seja só mais um animal na lista de extinção, o Instituto Curicaca articulou uma parceria com órgãos públicos e de pesquisa para a manutenção do Programa de Conservação do Cervo do Pantanal no RS, o Procervo. Quantos animais ainda existem? Podem sobreviver nas atuais condições? São as respostas que os pesquisadores irão trazer à tona, para, então, realizar atividades concretas de proteção. Iniciado em 2010, quando o Refúgio de Vida Sil-vestre Banhado dos Pachecos se tornou prioridade para o Curicaca, o Procervo realizou oficinas e en-contros técnicos, em 2011. As ações ocorrem nas

áreas úmidas da bacia do Rio Gravataí, englobando de forma indireta a APA do Banhado Grande e lo-cais onde se registrou a ocorrência do cervo. Estão envolvidos no programa atores como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), a Fundação Zoobotânica, o Departamento de Florestas e Áre-as Protegidas do Estado, o Instituto de Chico Men-des de Conservação da Biodiversidade e o Centro de Ecologia da UFRGS. O programa objetiva garantir estratégias múlti-plas e permanentes para preservação do cervo e tem por base quatro eixos de ação: proteção da biodiversidade, desenvolvimento sustentável, edu-

cação ambiental e políticas públicas com o forta-lecimento institucional. Proteger a biodiversidade significa pesquisar e cuidar do ambiente. É preciso fortalecer a responsabilidade ambiental e social das comunidades próximas, incluindo o apoio a eco-nomias familiares sustentáveis, como agricultura ecológica e ecoturismo. A sensibilização vem da educação ambiental com professores e alunos das escolas das redondezas. “A articulação de parcerias permite a capacitação dos gestores ambientais e o fortalecimento dos Conselhos e dá respaldo legal às ações do Programa”, conclui Alexandre Krob, coordenador geral da iniciativa.

Fêmea de cervo do pantanal fotografada, por Glayson Bencke, no Refúgio dos Pachecos

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entrevista

Por que você é uma referência no estudo de cervídeos no país? Minha história com cervídeos começou no mestrado, em 1989, quando iniciei o trabalho com gené-tica. Segui essa linha no doutorado e identifiquei espécies novas, o que teve grande repercussão. Entrei em projetos grandes, como o acompa-nhamento do cervo do pantanal em Porto Primavera (SP), avaliando o impacto da hidrelétrica na popula-ção de cervos da região. Na ocasião, estudei a parte sanitária e genética e criei uma população de cervos em cativeiro para proteção. Isso levou a outros projetos na busca por es-pécies ameaçadas e desenvolvimen-to de metodologias para descrever a região geográfica de ocorrência desses animais. Hoje, coordeno o Núcleo de Pesquisa com Cervídeos, oferece subsídios científicos para a conservação e atua, praticamente, em todo o Brasil.

Como está a situação do cervo na América Latina? A única população que tem al-guma segurança, que é grande, se encontra no Pantanal, com cerca de vinte a trinta mil indivíduos. To-das as outras correm sérios riscos de extinção. No Brasil, a população de Guaporé (RO) sofre pela invasão dos búfalos; a do rio Araguaia está em declínio devido à caça; a que ocorre ao sul do rio Paraná está quase extinta por causa das hidrelé-tricas; e, finalmente, há a do RS, que é pequena e muito interessante, por estar isolada há muitos anos.

Estima-se apenas uma dúzia de cervos no RS. O que significa isso? Cada população tem sua histó-ria evolutiva e estrutura genética, e essa identidade deve ser mantida. A manutenção da população do RS é fundamental. Aí existem combi-nações genéticas, talhadas por mi-lhões de anos de evolução, que são extremamente importantes. É uma população isolada, praticamente na região metropolitana de Porto Ale-gre, onde há altos impactos, mas os

Já se vão mais de vinte anos desde que, por acaso, José Maurício Barbanti Duarte começou a trabalhar com cervos. Hoje, o veterinário, mestre e doutor coordena os principais

grupos de estudos sobre cervídeos no Brasil. Ele descobriu espécies, desenvolveu metodologias e criou, em 1998, o Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos

(NUPECCE) na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Jaboticabal, onde é professor. Agora, também está colaborando com a pesquisa sobre o cervo no RS

animais ainda estão lá. Não dá para achar que, já que temos cervo no Pan-tanal, dá para perder as outras popu-lações na América do Sul e tudo bem. Não adianta depois querer tirá-los do Pantanal e levar para o Araguaia, para o RS e para a bacia do Paraná; estes isolados geográficos devem ser con-servados isoladamente.

Quais as principais as ameaças ao cervo no RS? A curto prazo, são duas. Uma é a caça ilegal, pois o cervo é um animal que fornece bastante carne. A outra é sanitária, devido ao contato com ani-mais domésticos, ovinos, bovinos e caprinos, que compartilham doenças. Em São Paulo, a extinção praticamen-te ocorreu por causa da aftosa.

O espaço do Refúgio é suficiente para a manutenção da espécie? Num espaço pequeno, não é pos-sível expandir a população, e, com o passar do tempo, a população redu-zida vai perdendo a diversidade ge-nética. Para o cervo do pantanal, a densidade não pode ser maior que um animal em meio a cada cem hec-tares, porque ele é territoria-lista e agressivo ao defender seu território. Se só temos o Refúgio dos Pachecos e o cervo não pode sair dali, porque o resto é plantação, tere-mos problemas a longo prazo.

As plantações de arroz podem ser uma ameaça? Isso deve ser objeto de pesquisa, porque as plantações de arroz poderiam ser até um ambiente propício para o cervo, apesar de não ser perfeito. Os cervos não comem arroz, mas podem se alimentar de pequenas plantas que nasçam no meio dele. Mas o maior problema é o fluxo de pessoas, que espantam os animais e facilitam sua caça.

Qual a importância de retomar as pesquisas sobre o cervo no RS? A realização da pesquisa no RS é

muito urgente. Até hoje, a conservação do cervo foi um processo passivo: o ambiente esteve ali e ele permaneceu. Como permaneceu, como ele está lá, se passa por problemas ou não e se vai permanecer ali para sempre, não se sabe. A pesquisa pode mostrar como atuar melhorando as condições para que o cervo resista. Se fizermos pequenas alterações de manejo da área, podemos ter o animal presente ali para sempre.

Em que pode ajudar a conserva-ção dos banhados? Essa é uma espécie que ocupa o banhado e sua margem, e está aí até hoje por conta da conservação deste ambiente. Todos os estudos ecológi-cos demonstram que é seu ambien-te preferencial. Se mantivermos os banhados, teremos cervos do panta-nal; se não conseguirmos conservar essas áreas, não vamos mais tê-lo. Como os pesquisadores conhecem o comportamento do cervo? O cervo está em locais de difícil acesso e é extremamente difícil de

observar. Utilizamos metodologias avan-çadas, como arma-dilhas fotográficas e DNA fecal. Mas a base das pesquisas, hoje, é a rádiotele-metria, uma coleira

com GPS que mapeia todo o lugar onde o animal está. Temos uma ideia do que ele está fazendo, onde ele descansa, onde se alimenta. Isso tam-bém ajuda a controlar a caça, porque sabemos quando as pessoas matam o animal. Inclusive tivemos um caçador preso na região em que foi feita a rein-trodução do cervo, em São Paulo.

Como a comunidade pode auxiliar na proteção do cervo? Quem mais conhece a área e os animais são os moradores locais, e muitas vezes essas pessoas é que vão fiscalizar sua caça, feita em mui-tos lugares por pessoas de fora. Se os moradores estiverem engajados, vão querer ajudar na conservação e na pesquisa, fornecendo informações

sobre o animal. Se não estiverem em-penhados, é difícil conseguir êxito na conservação da espécie.

Quais as chances do cervo no RS? O RS tem muitos problemas para serem resolvidos. Essa população de cervos já é conhecida há bastante tem-po, mas vem se mantendo sozinha, e apenas o básico, que é a preservação de uma área do banhado dos Pache-cos, foi feito. Temos que começar um programa de maior inserção o mais cedo possível. Essa tentativa de agre-gar pesquisadores no RS e fazer um programa de conservação pode trazer resultados fantásticos até em curto prazo. Muitas vezes, subestimamos a capacidade de uma população se rees-truturar, mas pela minha experiência, sei que, se forem dadas as condições mínimas para esses animais, a resposta deles será ótima.

Tens uma mensagem de estímulo à conservação do cervo do panta-nal no RS? O cervo do pantanal provavelmen-te ocupava grande parte do Brasil. Hoje, temos provas de que resiste numa área diminuta do território. Pre-cisamos repensar todo o processo de colonização que fizemos nos estados, pois o legado que deixaremos para os nossos descendentes é de que conse-guimos acabar com quase tudo. É o momento de vermos as coisas erradas e que ainda há tempo para salvarmos muito da biodiversidade.

Como a sobrevivência desses ani-mais pode nos inspirar? Eles são valentes, resistiram a tudo de negativo que se pode imaginar. Levam-nos a perguntar como isso foi possível. Estão pedindo que façamos algo para melhorar sua condição.

“Se os moradores estiverem engajados

vão querer ajudar na conservação”

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edUCAÇÃO AMBIENTAL

Alunos, professores e funcionários da Escola Nossa Senhora de Fátima, no distrito de Águas Claras, em Viamão, participam das atividades de educação ambiental promovidas pelo Instituto Curicaca como parte do Projeto de Conservação da Biodiversidade, em parceria com o Incra. São mais de 250 alunos, divididos em 11 turmas, entre o jardim e o nono ano que, desde o início de 2010, estão descobrindo novas formas de ver e lidar com a natureza. Os temas estão sendo trabalhados em três módulos diferentes, que ocorreram ao longo do ano passado e vão até o final desse ano. Nos módulos ocorrem diversos encontros entre os alunos e a equipe do Curicaca, que vai abordando assuntos como a horta ecológica, a biodiversidade de ambientes úmidos, as Unidades de Conservação e os corredores ecológicos, de acordo com as necessidades e expectativas de cada turma. Cada encontro representa um complemento dos conceitos vistos anteriormente e um acréscimo de conhecimento. Painéis interativos, jogos, passeios e reflexão fazem parte da pedagogia utilizada pela equipe de educação ambiental para incentivar a preservação. Confira algumas das atividades desenvolvidas:

- Horta Ecológica Educativa: O modelo dos ecossistemas naturais ganha a forma de uma mandala. Diversas espécies de hortaliças companheiras, como alface, rabanete e cenoura, são plantadas e cultivadas pelos alunos em um mesmo canteiro. Ao mesmo tempo que acompanham o crescimento dos vegetais que serão servidos no lanche da escola, os alunos estudam as partes e estruturas das plantas e os organismos presentes neste ambiente, além das interações ecológicas na horta. As modifi-cações são registradas no Diário da Horta, uma maneira de in-centivar os alunos a manifestarem suas experiências. Nos turnos inversos, alguns alunos voluntários compõem o Clube da Horta,

- Ação Educativa: Antes de iniciar as atividades de cada mó-dulo, o Curicaca reúne os professores a fim de desenvolver práticas pedagógicas, sugerir atividades e colher impressões sobre os resultados alcançados. É um processo continuado de qualificação e de construção colaborativa do processo.

- Visita ao Refúgio de Vida Selvagem Banhado dos Pa-checos: Os alunos mais novos, do jardim ao quinto ano, vi-sitaram o Refúgio no segundo semestre de 2010. O local fica próximo ao Assentamento Filhos de Sepé, onde mora a maioria dos estudantes. Entender o porquê da existên-cia da área é o primeiro passo para preservá-la, e os alunos puderam descobrir sua importância através da diversão.

- Visita à UFRGS, Exposição e Sessão de Cinema: Estudantes do sexto ao nono ano participaram de dinâmicas culturais, no primeiro e no segundo semestres de 2010. Visitaram o Museu da UFRGS, em Porto Alegre, durante a exposição “Desenvolvi-mento Sustentável, por quê? A Biodiversidade. A Energia”. Tam-bém foram ao Santander Cultural, em Porto Alegre, assistir ao filme “Antes que o mundo acabe”. O ator principal e a assisten-te de montagem do filme foram até a escola para um bate-papo com os alunos. As experiências resultaram em reflexões e pro-duções criativas sobre as temáticas abordadas, que procuram despertar nos alunos o senso crítico. Como continuidade das atividades, este ano, os adolescentes estão participando de uma Oficina de Fotografia, que visa estimular a sensibilidade, a expe-rimentação e a observação. No próximo semestre, as fotogra-fias feitas pelos alunos serão expostas aos pais e à comunidade.

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Depois dos resultados positivos do Minicurso de Educação Ambiental, re-alizado com os professores da Escola Nossa Senhora de Fátima, o Instituto Curicaca apresentou seu trabalho de formação de educadores ambien-tais a diretores de outras escolas ru-rais de Viamão. A atividade ocorreu em maio deste ano, a convite da Se-cretaria de Educação do município. O Curicaca já realizou o proje-to em outras localidades do esta-do, mas em Viamão a experiência é novidade. O encontro permitiu detectar que existe uma demanda por cursos de aperfeiçoamento em educação ambiental, e os dirigentes se mostraram interessados em ado-tar a metodologia em suas escolas. Experiência de pedagogia também para futuros professores O Minicurso de Educação Ambien-tal foi ministrado na segunda metade do ano passado aos professores da

Nossa Escola de Fátima, dentro do Projeto de Conservação da Biodiver-sidade, em parceria com o Incra. Fo-ram sete encontros, de quatro horas cada, que proporcionaram a troca de conhecimentos, o desenvolvimento pessoal e coletivo e a formação de redes entre os professores, além de

fundamentação teórica e prática para a educação ambiental em sala de aula. Entre os mediadores estavam alunos matriculados na disciplina de Práticas de Ensino da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Para a coordenadora da disciplina, Russel da

Rosa, a experiência permitiu que eles adquirissem novas percepções sobre planejamento pedagógico. Ela ressalta que esta é uma vivência diferenciada para os graduandos, ao se tratar de um trabalho interinstitucional, que envolve interesses e valores da Uni-versidade, do Instituto e da escola. Os futuros professores aprendem a lidar tanto com questões burocráti-cas quanto com dinâmicas educativas, numa mescla de negociação, diálogo e planejamento conjunto. Em suma, um desafio com resultados mais criativos. Outro fator destacado por Russel é a temática ambiental. Isso porque a parceria entre a Faced e o Curicaca levou os estagiários ao convívio com profissionais experientes no assunto, que geralmente fica em segundo plano. Na avaliação da professora, “a Educação Ambiental sempre tangencia os demais conteúdos e, neste caso, se tornou o tema central, vinculado ao resgate de saberes culturais”.

Minicurso de Educação Ambiental é apresentado a diretores de escolas rurais

Professores participam de dinâmicas durante o minicurso de Educação Ambiental, em Viamão

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8 - o corredor ecológico 05 - setembro de 2011

espaço JOVEM

Amabile Lopes Barbosa, aluna do nono ano da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima, em Via-mão, é uma menina nos seus 14 anos, de expressão simpática e delicada. Destaca-se não apenas por suas notas altas em português e matemática, mas princi-palmente pela seriedade que demonstra ao se expres-sar. Fala sem medo e com uma espontaneidade que espanta. Desde o ano passado, ela vem vivenciando as atividades de educação ambiental desenvolvidas pelo Instituto Curicaca em sua escola. Participou do plantio e colheita das hortaliças, foi a Porto Alegre e conheceu a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS, durante a exposição “Desenvol-vimento Sustentável, por quê? A Biodiversidade. A Energia”. Também esteve no Santander Cultural, onde assistiu ao filme “Antes que o mundo acabe” e, atualmente, participa da Oficina de Fotografia reali-zada com as turmas a partir do sexto ano na escola.

A adolescente conta que as novas experiências têm influenciado seu modo ser e agir. “A gente aprende de um jeito diferente do normal. O conhecimen-to da equipe do Curicaca é diferente do nosso, e isso sempre muda o nosso jeito de ver as coisas”. Amabile, que vive na zona rural, agora se dá conta de que atribuía algumas atitudes como responsabi-lidade apenas dos moradores da cidade, tais como a separação do lixo. “É uma daquelas coisas que a gente sempre fala, mas nunca faz. Antes, eu pensava que era uma coisa só da cidade, mas agora consi-

go estender o meu conhecimento para as minhas ações”. E não é só isso: ao receber as novas infor-mações, a estudante aprendeu a perceber as parti-cularidades do local onde vive, a interagir e a des-cobrir mais sobre ele. “A gente costuma ver muita planta. Com as atividades de educação ambiental, a gente começa a se preocupar mais com a nature-za, dando mais atenção, outro significado, porque às vezes a gente vê tanto que nem se importa”. Onde ela vive não é difícil ver muitas árvores e ter uma horta no quintal. Mas uma horta em for-ma de espiral e cultivada na escola, essa foi novi-dade! Amabile e seus colegas aprenderam que existem plantas companheiras e que é possível usar verduras e legumes em pratos bem diferen-tes, como sanduíches coloridos e sopas, e assim, fugir da saladinha tradicional. “Eu entendi a utilida-de da horta, provei receitas novas e percebi que é fácil de cuidar. Precisa de um pouco de atenção e esforço, mas vale a pena”, confirma Amabile. Ainda jovem para pensar em que profissão irá se-guir, ela se sentiu estimulada pelo passeio à UFRGS. “Antes, os alunos não ligavam para faculdade, mas a visita despertou um interesse, uma vontade de es-tudar, de ter uma profissão”, confessa. Entre entu-siasmada e indecisa, ela acha que vai seguir a área da psicologia ou da nutrição. Também fez outras descobertas quando conheceu o ator do filme “An-tes que o mundo acabe”, Pedro Tergolina, que foi levado à escola pelo Curicaca para conversar com os alunos sobre a profissão. “Antes, eu nem parava pra ver se o ator que estava em “tal” filme era gaú-cho, e agora penso mais na minha cultura”, salienta. Ela pensa que tudo que se vive é aprendizado, e que o conhecimento se constrói aos poucos, mas exige dedicação. “Cada dia é para aprender mais, e tudo tem seu tempo. Tem hora de brincar e hora de estudar”, afirma Amabile. É neste momento que ga-nham destaque as vivências com o Curicaca, quando ela aprende brincando e passa do pensamento à ação.

Não muito longe, ela tem outro exemplo des-se modo de aprender, trocando experiências e di-vidindo conhecimentos. A garota fala com orgulho de quem herdou o dom de se comunicar e como expande os aprendizados para a sua vida. “Con-verso muito com meu pai, ele me estimula a falar. Conto para o pai sobre o que o pessoal do Curicaca fala do Refúgio dos Pachecos, que ele conhece, aí a gente troca muita idéia, ele me ensina e aprende um pouco e comigo acontece o mesmo”. A aluna pensa que as crianças precisam só de um “empur-rãozinho” para entender e respeitar o meio am-biente e que isso não é difícil. Além disso, o envol-vimento dos professores e dos pais também ajuda. Agora, participando da Oficina de Fotografia, tem desenvolvido ainda mais sua percepção: passou a prestar mais atenção nos detalhes, na realida-de que a cerca e na sua cultura. Amabile diz que o Curicaca está no caminho certo, pois tenta en-tender o que os alunos precisam para aprender. “As atividades que o Curicaca faz são sempre interes-santes e legais. A gente aprende sempre”, finaliza.

“As atividades que o Curicaca faz são

sempre interessantes e legais. A gente aprende sempre”

Amabile Barbosa (nono ano)

Conversamos com alguns alunos do oitavo e nono anos da Escola nossa Senhora de Fátima, que têm participado das atividades de Educação Ambiental. As declarações

positivas surpreendem e motivam.

“Os encontros ajudam a aperfeiçoar nosso conhecimento sobre o que nos cerca”

Cleiton Souza (oitavo ano)

Clube da Horta em atividade A idéia do Clube da Horta surgiu no final de 2010 e foi implementada no início deste ano, para alunos da 6ª a 9ª séries da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima. Ele foi formado pelos adolescentes que têm interesse em cuidar da horta fora dos encontros de educação ambiental. Cerca de dez estudantes participam permanente-mente do clube, que está aberto aos colegas. Eles cuidam das plantas, tra-balham com a terra e monitoram as atividades dos alunos mais novos.

Integração, voluntariado e engaja-mento são os princípios que orientam o grupo. Os integrantes estão se or-ganizando em turnos inversos aos das aulas para cuidar da horta e se reúnem para definir suas próximas atividades. Através do clube, eles também participam de vivências diferenciadas. No semestre passado, por exemplo, visitaram a Escola Estadual Técnica de Agricultura (EETA), onde tiveram contato com a educação profissionali-zante voltada ao meio rural.

“É legal, porque a gente faz coisas diferentes, é uma aula diferente”

Eliane Bueno e Carine Bertin (nono ano)

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Com um longo histórico de atuação em Unidades de Conservação (UCs), o Instituto Curicaca voltou-se recentemente para mais duas destas Unidades na região metropolitana de Porto Alegre, por meio de uma parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Com 133 mil hectares, a Área de Proteção Ambiental (APA) do Banhado Grande ocupa os municípios de Glorinha, Gravataí, Santo Antônio da Patrulha e Viamão. Já o Refúgio da Vida Silvestre Banhado dos Pachecos fica dentro da APA e se restringe a Viamão, numa área de 2.543 hectares. Embora dotados de característi-cas semelhantes e responsáveis pelo gerenciamento de serviços ecológi-cos, como a qualidade da água e do ar, os dois espaços têm objetivos di-ferenciados. O da APA é promover a preservação do conjunto de banhados formadores do rio Gravataí, em harmonia com o desenvolvimento socioeconômico da região. Por sua vez, o Refúgio tem como finalidade a proteção integral da biodiversidade e dos ecossistemas associados aos ba-nhados, além da conservação das nascentes que dão origem ao rio, de acordo com o biólogo André Osó-rio Rosa, coordenador do Refúgio. É no Refúgio que têm ocorrido os trabalhos mais intensos, até o momento. Isso significa participar do processo de implantação da Unidade, da formação do Conselho Consultivo, da realização do plano de manejo, do planejamento de corredores ecológicos e da aproximação com as comunidades locais. Rosa reconhece a existência dessas pendências: “São carências que resultam em dificuldades para alcançar os objetivos da Unidade, principalmente pela falta de recursos”. Ainda de acordo com o biólogo, a falta de zoneamento da área prejudica seu regramento ambiental, ou seja, a definição de como cada espaço pode ser utilizado. Como o Refúgio está cercado por ocupações humanas como fazendas particulares, o Assentamento Filhos de Sepé, condomínios e pequenas vi-las, algumas situações são problemáti-

cas. Entre elas, a entrada descontrola-da de animais domésticos, que afetam a fauna silvestre; a demanda pela água, já que o recurso utilizado nas planta-ções de arroz é o mesmo disponível para regular as áreas úmidas do Re-fúgio; e a impossibilidade de trânsito das espécies em áreas ocupadas pela população, pois ainda não existem corredores ecológicos. Algumas es-pécies em extinção, como o cervo do pantanal, dependem exclusivamente da existência dessas áreas. Rosa co-memora a recente confirmação da ocorrência da espécie no local: “Feliz-mente existem cervos na área. Alguns indivíduos ainda vêm lutando pela so-brevivência, tanto nas áreas de banha-dos do Refúgio, como em outras áreas alagadas da APA do Banhado Grande”. Unidades de Conservação de pro-teção integral, como o Refúgio de Vida Silvestre, também têm como fi-

nalidade a realiza-ção de pesquisas científicas, edu-cação ambiental e visitação públi-ca. No que toca à educação ambien-tal, o Curicaca já levou turmas da Escola Nossa Se-nhora de Fátima para conhecer o local. Mesmo re-conhecendo que a

interação dos moradores das proxi-midades com o Refúgio ajudaria na conservação da área, o biólogo lem-bra que estas atividades têm de ser planejadas e controladas para não prejudicar o ambiente: “Geralmente as pessoas dão mais valor àquilo que conhecem, mas é preciso estar cien-te de quais são os principais objetivos dessa categoria de UC, que é a prote-ção dos ambientes naturais e respecti-vas comunidades da fauna e da flora”. Por isso, o acesso ao Refúgio é restrito a pessoas envolvidas em atividades de pesquisa, educação ou didática, atra-vés de visitas agendadas. Rosa adianta que, em breve, um projeto de edu-cação ambiental na área ira propor-cionar à população o contato com a natureza, com palestras e trilhas guia-das. Por fim, destaca que mesmo com todas as carências, a ação integrada com os gestores da APA e a atenção resultante do desenvolvimento de projetos no local têm aumentando a expectativa de efetivação da Unidade.

Curicaca está atuando em Unidades de Conservação

Localização da APA do Banhado Grande e do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos

Classificações

As Unidades de Conservação, instituídas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), são definidas como “espaços terri-toriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, com o objetivo de conservação defini-do”. Elas podem estar sob responsabilidade federal, estadual ou municipal. Existem dois grupos para classificação dessas áreas: as Uni-dades de Conservação de Uso Sustentável, da qual faz par-te a Área de Proteção Ambiental (APA), e as Unidades de Pro-teção Integral, que engloba o Refúgio da Vida Silvestre. As duas têm formas de utilização e objetivos diferentes. As de Uso Sustentável podem ser criadas em terras públicas ou par-ticulares e se destinam a promover o uso sustentável dos recursos na-turais existentes, ou seja, aliar o desenvolvimento socioeconômico da região com a proteção dos ecossistemas. Já as de Proteção Integral são instauradas apenas em terras públicas, com exceção do Refúgio e do Monumento Natural, em que a presença humana deve ser limitada. Sua finalidade é a conservação da biodiversidade, sendo permitido o seu uso indireto, através da pesquisa, educação ambiental e ecoturismo.

A ação integrada com os gestores da APA e a atenção resultante do desenvolvimento de projetos no local,

têm aumentando a expectativa de

efetivação da Unidade

Banhados do Refúgio dos Pachecos observados na margem do açude de irrigação

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Ciclo de debates estimula sustentabilidade Procurando despertar o interesse da sociedade civil para a necessidade de discutir os modelos de vida ado-tados atualmente, uma nova iniciativa do Instituto Curicaca vem reunindo especialistas e representantes públi-cos em debates abertos à participação popular. Os temas abordados dizem respeito às mudanças sociais em am-bientes naturais e urbanos. É o “Ciclo Desenvolvimento Sustentável: articu-lação de saberes e práticas”, um es-paço para compartilhar experiências complementares e propor estratégias de ação que possam contribuir para a melhoria das interações entre pessoas e meio ambiente e, também, da quali-dade de vida.

O Ciclo ocorre desde 2010, em parceria com o Museu e o Centro de Ecologia da UFRGS. De lá até aqui, foram quatro encontros. Neles, assuntos emergentes nas comunidades locais e nas populações regionais e global ganharam destaque na voz de especialistas, gestores públicos, lideranças sociais e na resposta do público. No primeiro debate, realizado no Museu da UFRGS, foi abordado o uso sustentável da biodiversidade. O segundo encontro ocorreu na Feira do Livro de 2010, e trouxe o tema territórios sustentáveis.

A terceira reunião foi no Memorial do Rio Grande do Sul e tratou do manejo de fauna silvestre fora das unidades de conservação. De volta ao Museu da UFRGS, a sustentabilidade nos bairros foi a temática do quarto encontro. Seguindo este modelo, o ciclo quer demonstrar, a partir da troca de expe-riências, que a sustentabilidade pode ser questionada em diversos campos, como a ética, a economia, a educação e a cultura, não se tratando apenas de um desafio da área ambiental. Por isso, os encontros se alternam em te-mas diversos, tratados muitas vezes por especialistas, mas que afetam toda a sociedade e deveriam ter seu envol-vimento e crítica. Outro desafio é fortalecer e conso-lidar uma compreensão mais concreta de sustentabilidade a partir de exem-plos práticos, sem o direcionamento mercadológico comum ao termo. Se-gundo Alexandre Krob, coordenador do Ciclo e facilitador dos encontros, “não se pode desistir de um concei-to que ajudamos a construir só por-que ele está sendo mal utilizado. De-vemos complexá-lo e valorizá-lo. As premissas de sustentabilidade do ser ecologicamente equilibrado, econo-micamente viável, socialmente justo e culturalmente diverso se aplicam tan-to a um pequeno ambiente quanto ao planeta inteiro”. Ao questionar modelos que não se-guem essas definições, ou são injustos a qualquer forma de vida, o Instituto Curicaca e seus parceiros, especialis-tas, órgãos públicos e sociedade civil se empenham para consolidar uma mudança de visão e de atitudes. “Essa mudança deve ter por base o respeito às necessidades individuais e coletivas nos diversos setores da sociedade”, fi-naliza Krob.

O terceiro ciclo, no Memorial do RS, discutiu a sustentabilidade para fauna silvestre ameaçada

A sustentabilidade pode ser

questionada em diversos campos,

como a ética, a economia, a

educação e a cultura

Integração de conhecimentos e experiências norteiam não apenas os encontros do “Ciclo Desenvolvimen-to Sustentável: articulação de saberes e práticas”, mas sua própria concepção. Seguindo a dinâmi-ca de utilizar espaços comunitários para o compartilhamento de vivências, o Curicaca promove as “Trocas de Saberes”, braço do Programa Ação Cultural de Criação de Saberes e Fa-zeres da Mata Atlântica, iniciado em 2005, em municípios do Litoral Norte. Esta interação cultural vem sen-do realizada dentro dos projetos do Curicaca, em espaços como escolas, salões e praças, onde os saberes locais

e populares dividem espaço com o conhecimento científíco. Este diálogo permite alcançar um novo patamar do saber, criando condições simultâneas

de conscientização e valorização dos re-cursos simbólicos e culturais. Para Patrí-cia Bohrer, coorde-nadora de Educação Ambiental e Cultura do Curicaca, o Ciclo representa uma volta à academia e a aber-

tura deste ambiente ao conhecimento popular: “É uma oportunidade para a universidade ouvir a voz da comu-nidade, pois abrir esse espaço para o diálogo significa atender plenamente os objetivos de difusão do conheci-mento e popularização da ciência”.

O quarto encontro retornou ao Museu da UFRGS e abordou a sustentabilidades nos bairros

Ciclo é parte da Trocas de Saberes

O diálogo entre o conhecimento

popular e o científico permite alcançar um novo patamar do saber

Curicaca na Semana do Meio Ambiente O Instituto Curicaca esteve presente na VII Semana do Meio Ambiente do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), promovida pelo Centro Acadêmico da Biologia. A bióloga e edu-cadora ambiental do Curicaca, Julia Witt, representou a organização no dia 15 de junho, com a palestra “Ação Cultural de Criação Saberes e Fazeres da Mata Atlântica: a experiência de educação ambiental do Instituto Curicaca”. Cerca de 40 pessoas conheceram a metodologia desenvolvida pelo Curica-ca. A organização do evento mostrou-se positivamente impactada e fala em articular atividades de educação ambiental para a graduação em Ciências Biológicas. O evento, realizado no CIDEC-Sul, Campus Carreiros da FURG, incluiu palestras, mesas redondas e mostras sobre temas ligados à biologia.

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Eficácia das Unidades de Conservação é garantida pela criação de Conselhos A existência de Conselhos Ges-tores nas Unidades de Conservação (UCs) é obrigatoriedade legal e repre-senta a participação efetiva dos dife-rentes setores interessados na área. Embora tenham que, por vezes, solu-cionar situações conflitantes, os Con-selhos têm como ferramenta princi-pal o diálogo, que auxilia na tomada de decisões. Atualmente, o Instituto Curicaca participa de sete Conselhos de UCs e está batalhando para que o Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos tenha o seu. Isso por-que ter um Conselho significa cobrar dos órgãos públicos uma atuação mais consistente e direta, como está ocor-rendo no Parque Estadual de Itapeva, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Reunido em junho, no município de Torres, o Conselho Consultivo do Parque de Itapeva elaborou um do-cumento, posteriormente entregue à Secretaria Estadual do Meio Ambien-te (Sema), solicitando a presença da Secretária no próximo encontro do Conselho. Coordenador técnico do Curicaca, que representou o Instituto na reunião, Alexandre Krob explica que o Parque está sendo alvo de pres-sões políticas e privadas contrárias aos seus interesses coletivos e difusos. Por isso, seu Conselho Consultivo decidiu solicitar a imediata interven-

ção da autoridade máxima respon-sável pela Unidade de Conservação. Já vem de uma longa caminhada o trabalho de setores afetados e en-volvidos com o Parque, através do Conselho, pela implementação da UC, no sentido de construir uma base de consenso para a melhoria de sua gestão. Os membros do Conselho consideram de extrema importância a ação direta da Sema na realidade cotidiana do Parque. Krob acrescenta que o novo governo se comprome-teu em intensificar a implantação das UCs do Rio Grande do Sul e inclusi-ve definiu o Parque de Itapeva como um dos Parques da Copa 2014. “Pa-

rece que alguns setores locais não estão querendo incluir o turismo em Torres entre as atividades a serem oferecidas aos turistas estrangeiros, mas o estado do Rio Grande do Sul deverá reagir a altura”, afirma Krob. Krob ressalta que o exemplo pode servir de inspiração para Via-mão. Lá, há grande expectativa por parte da comunidade local, prefeitu-ra e organizações sociais de que em breve seja criado o Conselho Con-sultivo do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos. Os benefí-cios para a implantação da unidade serão imensos, como está aconte-cendo no Parque Estaual de Itapeva.

Educação ambiental não é mais uma questão de sobrevivência dos meios naturais, mas de transformação da sociedade buscando princípios cul-turais, valores morais e embasamento científico que direcionem o homem para uma convivência harmoniosa com as demais espécies que habitam o planeta. Com certeza, o educador tem um papel fundamental na educa-ção ambiental como agente transfor-

mador da sociedade; basta que cada um assuma o seu papel com consci-ência e responsabilidade. A palavra do educador na sala de aula tem um poder imenso; embora demore dias, meses e, em alguns ca-sos, até anos para obter o resultado desejado. Cabe ao educador sensi-bilizar o aluno a buscar dentro de si valores que somados a sua aprendiza-gem fortaleçam sua formação como cidadãos críticos, capazes de analisar e lutar para modificar princípios que estão levando o planeta à destruição. Depois da família, a escola e o edu-cador são os pilares da formação da sociedade e um dos grandes desafios é a formação da consciência ambien-tal através de ensinamentos práticos,

pedagóg icos , mas principal-mente baseado em exemplos reais dos pro-fissionais da educação. Es-tes precisam, acima de tudo, ter consciência do problema onde estão inseridos, querer e acre-ditar que são capazes de mudar esta realidade buscando soluções junto à sociedade, às políticas públicas, etc. É importante estarmos também cientes que todas as pequenas atitudes individuais são tão importantes quanto os grandes projetos socioambientais.

A Relação do Educador com a Educação Ambiental

Por Fátima Raquel Lopes

Pedagoga, atua como bibliotecária na Escola Nossa Senhora de Fátima, em Viamão

ponto de vista

notas

Palestra na UFRGS

Na Noite de Estudos da Conser-vação e Reabilitação da Fauna, pro-movido pela Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul (UFRGS), o Curicaca teve oportunidade de divulgar os esforços que têm sido articulados em prol da preservação do cervo do pantanal, através do Procervo. A participação do Instituto aconteceu no dia 30 de junho, no VI módulo da atividade so-bre cervídeos. O Programa foi apre-sentado pelo coordenador técnico do Curicaca, Alexandre Krob, e pela bióloga do Instituto Simone Ximene, que está trabalhando diretamente no programa.

Oficinas do Procervo

Pesquisadores e membros de ins-tituições públicas participaram da primeira oficina técnica do Procervo, em abril. Foram realizadas atividades de troca de experiências e apresen-tações de trabalhos já desenvolvidos, com foco na preservação de espécies e ecossistemas. A análise dos prós e contras das metodologias apresenta-das serviu para o planejamento das práticas que serão adotadas para a conservação do cervo do pantanal e seu habitat, no Rio Grande do Sul. Estiveram presentes membros do Ins-tituto Curicaca, articulador do encon-tro, e institutos de pesquisa ambiental, de universidades e de órgão públicos.

Com a criação de Conselhos, gestores passam a ter um aliado para a efetividade das UCs

De volta aos trabalhos Depois das férias escolares, alunos da Escola Nossa Senhora de Fátima reco-meçaram os trabalhos junto à equipe de Educação Ambiental do Curicaca. No início de agosto, foi finalizado o segundo módulo do projeto, que co-meçou em 2010. Alunos do jardim ao 9° ano vistaram as nascentes do rio Gravataí, proximas ao Filhos de Sepé. As saídas estavam previstas para julho, mas o frio intenso impediu sua reali-zação. Dando sequência às atividades, o terceiro e último módulo abordará as “Unidades de Conservação e corredores ecológicos”. Serão feitas ações educativas mensais com os professores da escola. Até o fim do ano, duas oficinas serão realizadas com os pais dos alunos.

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Agenda

Viamão também pode ser beneficiada pelo Plano de Conservação dos Butiazais Um trabalho desenvolvido pelo Instituto Curica-ca no litoral norte gaúcho poderá ser aplicado tam-bém em Viamão, na região metropolitana. O Pla-no de Conservação dos Butiazais foi apresentado a órgãos estaduais e pesquisadores na primeira quin-zena de julho, durante reunião do Comitê Estadual da Biosfera da Mata Atlântica (CERBMA), em Porto

Alegre. O documento prevê 73 ações para a con-servação do ecossistema, ameaçado de extinção, e a valorização da cultura associada. Agora, ele será enviado a gestores públicos que atuam com butia-zais e ficará disponível no site do Curicaca. Essas mesmas estratégias podem se mostrar úteis para Viamão, que possui butiazeiros, tanto no Refúgio de Vida Sivestre Banhado dos Pachecos como nas propriedades rurais do entorno. Alexan-dre Krob, coordenador técnico do Instituto, avalia que é necessário realizar pesquisas sobre as espé-cies que existem ali e, então, será possível aplicar esforços semelhantes aos que estão sendo investi-dos no litoral norte. O Plano de Conservação dos Butiazais, que vem sendo elaborado desde 2003, foi detalhado aos re-presentantes do Departamento Estadual de Flores-tas e Áreas Protegidas, da Emater e da Secretaria Estadual de Cultura e aos pesquisadores da UFRGS e da PUCRS presentes na reunião do CERBMA. O

diagnóstico mostrou uma diminui-ção de 78% dos remanescentes de butiazal no litoral norte gaúcho, entre os anos de 1974 e 2008, restando apenas 53 deles. “Os butiazais são erradamente consi-derados uma capoeira. Ninguém conhece seus remanescentes”, alerta Krob. A espécie em ques-tão é o Butia catarinenses, restrita para a região, que hoje enfrenta ameaças como a fumicultura e a expansão urbana. Para minimizá--las, um dos itens do Plano sugere uma moratória ao corte do Butiá na região durante oito anos. A situação também é de preju-ízo ao patrimônio cultural agrega-do a esse ecossistema. O artesa-nato com as folhas de butiá serve à complementação de renda de 27 famílias na região. Contudo, “a prática cultural vai sendo substituí-da pela questão da sobrevivência”, como aponta a coordenadora de Educação e Cultura da Curicaca, Patrícia Bohrer. Devido à falta de normas de manejo, as famílias vi-vem em um contexto de ilegalidade, o que prejudica a transmissão de saberes entre gera-ções. Para solucionar isto, está prevista a elabora-ção e publicação de uma normativa para o manejo sustentável e a comercialização do artesanato com folhas. O Curicaca pretende, ainda, avaliar junto ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-nal a potencialidade de registro do artesanato com palha de butiá como patrimônio cultural imaterial. Entre as metas do Plano está a inclusão dos Bu-

tiazais como zona núcleo ou de amortecimento da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Além disso, o Curicaca e seus parceiros vão solicitar ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e à Sema a inclusão do butiazeiro na lista de espécies ameaçadas de extin-ção da flora brasileira e do RS, como “criticamente em perigo”. Também se pretende que o MMA abra um edital para a cadeia produtiva do butiazeiro, atendendo ao Plano Nacional para Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade.

Estratégias traçadas para os butiazais do litoral

norte também podem ser úteis para a conservação

da biodiversidade em Viamão

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www.curicaca.org.br Lá você fica sabendo em primeira mão o que acontece no Instituto, participa das nossas enquetes e pode conhecer mais sobre a realidade da mata atlântica no Rio Grande do Sul.

Plano de Conservação pode beneficiar butiazeiros na região metropolitana

Setembro* Reunião do Conselho da REBIO Mata Paludosa* Reunião do Conselho dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral* Reunião do Conselho do Parque Estadual de ItapevaOutubro * Curicaca na Feira de Ciências da UFRGS * Curicaca no Festival Brasileiro de Aves MigratóriasNovembro * Curicaca na Feira do Livro* Ciclo de Desenvolvimento de Desenvolvimento Sustentável: Articulação de Saberes e Práticas * Reunião do Conselho do Parque Estadual de Itapeva* Exposição de fotografias no Refúgio Banhado dos Pachecos