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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período: Agosto/2014 a Agosto/2015
( ) PARCIAL
(x) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho): PROGRAMA DE PESQUISA EM BIODIVERSIDADE (PPBIO). PROTOCOLO 10: HERPETOFAUNA.
Nome do Orientador: Maria Cristina dos Santos Costa
Titulação do Orientador: Doutor
Faculdade: Ciências Biológicas
Instituto/Núcleo: Instituto de Ciências Biológicas (ICB)
Laboratório: Ecologia e Zoologia de Vertebrados
Título do Plano de Trabalho: Diversidade de anuros em fragmentos florestais em área urbana Amazônica
Nome do Bolsista: Sílvia Regina Carneiro de Pinho
Tipo de bolsa: ( ) PIBIC/ CNPq
( ) PIBIC/CNPq – AF
( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador
(x ) PIBIC/UFPA
( ) PIBIC/UFPA – AF
( ) PIBIC/ INTERIOR
( )PIBIC/PARD
( ) PIBIC/PADRC
( ) PIBIC/FAPESPA
( ) PIBIC/ PIAD
( ) PIBIC/PIBIT
Resumo do Relatório Anterior
Estudos sobre diversidade de espécies em fragmentos florestais vem aumentando
nos últimos anos e se tornando importante para o conhecimento a cerca das espécies que
podem ser encontradas. A riqueza destas espécies depende do tamanho dos fragmentos.
Os anfíbios anuros são um ótimo grupo para ser trabalhado em áreas fragmentadas, por
sua diversidade. As transformações ocorrentes (químicas ou físicas) nestas áreas tem os
afetado de forma negativa podendo levar até a extinção local de algumas espécies mais
sensíveis as mudanças. Com isso, o objetivo deste estudo é o de registrar a anurofauna
presente em fragmentos da região metropolitana de Belém, Pará. Para coleta dos
espécimes foram utilizados dois métodos: Em áreas de até 20 hectares foi realizado a
busca ativa por esgotamento de área; e áreas acima de 20 hectares foram instaladas
parcelas de 30x70m. Três áreas foram avaliadas: I) Bosque Rodrigues Alves, II) Parque
Ecológico de Gunma e III) Parque Estadual do Utinga. As coletas ocorreram nos
períodos da tarde e noite. Registrou-se um total de 633 espécimes de anuros nessas três
áreas, distribuídos em 19 espécies e três Famílias. A maior representatividade de
espécies foi encontrada na Família Hylidae (doze espécies), seguida de Leptodactylidae
(cinco espécies) e Bufonidae (duas espécies). Os três fragmentos juntos representam
cerca de 40% das espécies esperadas para a região metropolitana de Belém. Os
fragmentos maiores apresentaram maior diversidade de espécies, porém, a maioria dos
anuros possui grande plasticidade ambiental, diferiram em relação a riqueza, não houve
diferença quanto a abundância e modos reprodutivos dos anuros encontrados, porém
treze espécies tem o modo reprodutivo ligado a água, sendo importante que medidas de
conservação sejam aplicadas para estas áreas para que continuem comportando essas
espécies.
Palavras chave: Diversidade, Anuros, Fragmentos.
Introdução
A Floresta Amazônica apresenta uma grande extensão de área composta por
múltiplos ambientes, e forte complexidade, abrigando uma fauna única e diversa (Silva
et al., 2005; Druk, 2011). Estimativas apontam que na região Amazônica são
encontradas mais de 2,5 milhões de espécies de animais (Albagli, 2001) e esse numero
pode aumentar conforme os estudos se intensifiquem. Entre os vertebrados, destacamos
os anfíbios anuros, foco deste estudo, que na Amazônia brasileira representam
aproximadamente 221 espécies, 73% do total da área, e cerca de 22% do total dos 988
conhecidos para o Brasil (Ávila et al., 2007; SBH, 2014).
A biodiversidade tem sido ameaçada com transformações antrópicas, que afetam
de forma negativa a diversas formas de vida, como os anfíbios. Esses organismos são
sensíveis às mudanças de habitats por serem dependentes de ambientes específicos em
alguma fase do desenvolvimento (Bertoluci & Rodrigues, 2002; Hamer & Parris, 2011).
Entre as pressões antrópicas mais negativas, estão fragmentações florestais por
ocorrência das reduções, e transformações dos habitats (Mickalski & Peres, 2005),
principalmente pela ocupação urbana descontrolada (McKinney, 2008; Dearborn &
Kark, 2009) e também por plantações de monoculturas. A destruição de habitat é
apontada como uma das possíveis causas do declínio de espécies de anuros (Beebe &
Griffiths, 2005), uma vez que são animais que apresentam alta especificidade fisiológica
e são dependentes de ambientes úmidos (Simon et al., 2011). Com a alteração do
habitat, espécies mais generalistas quanto ao uso de hábitat aparecem e são favorecidas,
havendo o declínio de espécies mais especialistas (Vallan et al., 2004; Silvano et al.,
2006). As alterações nos ambientes aquáticos, que causam mudanças físico-químicas e
na estrutura da vegetação próxima a corpos de água, afetam diretamente os anfíbios que
utilizam a água como sítio reprodutivo (Silvano et al., 2006; Verdade et al., 2010).
Anuros possuem modos reprodutivos muito diversificados, e isso se deve ao
aumento da competição entre as espécies e a diversificação nas histórias de vida (Lima
et al., 2006). Suas estratégias reprodutivas são mais diversas quando comparadas aos
outros vertebrados (Pough, 2009; Vitt & Caldewll, 2009). Somente na Amazônia, são
registrados 22 modos reprodutivos dos 39 conhecidos no mundo (Höld, 1990; Haddad
& Prado, 2005). Áreas florestadas amazônicas apresentam maior número de anuros com
modos reprodutivos especialistas, e são menos dependentes de ambientes aquáticos em
alguma fase do desenvolvimento (Hodl, 1990; Bitar et al. 2012). As fragmentações dos
hábitats podem afetar especialmente espécies de anuros que se reproduzem em
ambientes florestados, diminuindo a diversidade de espécies com modos reprodutivos
dependentes do meio aquático.
Justificativa
Os fragmentos florestais têm funcionado como barreiras a dispersão das
espécies. Nestes ambientes a diversidade de animais encontrados depende do tamanho
do fragmento ou conectividade com áreas florestadas. Neste sentido, estudos
envolvendo o entendimento da forma como as espécies estão distribuídas dentro destas
áreas, são importantes informações para subsidiar ações de proteção dos organismos
afetados. O nordeste do Pará, onde está localizada a região Metropolitana de Belém é
considerada a parte da Amazônia mais comprometida pelo desmatamento, e possui
muitas áreas de fragmentos florestais. Muitos desses fragmentos estão localizados em
áreas de endemismo, onde se encontram várias espécies em risco de extinção do Pará.
Além disto, anfíbios são ótimos bioindicadores de qualidade ambiental, já que
apresentam forte especificidade ambiental e modo de vida dependente de água e
microhábitats específicos para reprodução.
Objetivo Geral
Analisar o quanto da fauna de anfíbios anuros pode ser encontrada em dois
fragmentos urbanos da região metropolitana de Belém, Pará.
Objetivos Específicos
Descrever a composição de anfíbios em dois fragmentos urbanos de floresta de
terra firme;
Analisar o quanto de espécies encontradas na área de endemismo Belém podem
ser encontradas nos fragmentos urbanos;
Analisar a similaridade da anurofauna entre os fragmentos florestais estudados;
Analisar a representatividade de espécies de anuros em dois fragmentos
florestais na região metropolitana de Belém;
Descrever modos reprodutivos que são encontrados nas comunidades estudadas
e analisar se diferem quanto à riqueza no ambiente urbano.
Observação: Outros fragmentos que entrariam neste estudo (Bosque Rodrigues Alves e
Parque dos Igarapés), não puderam ser utilizados neste trabalho, por não possuírem
tamanho suficiente para uma possível comparação entre eles e os fragmentos maiores.
Os dados obtidos nos fragmentos menores serão utilizados em estudos futuros sobre
paisagem urbana.
Material e Métodos
Áreas de Estudo: O estudo foi realizado em quatro fragmentos florestais, localizados
na região metropolitana de Belém, Estado do Pará. As áreas são constituídas
principalmente por Floresta ombrófila densa, vegetação caracterizada por espécies de
fanerófitas, com muitas lianas e epífitas (Almeida et al.,2013).
A) Parque Ecológico de Gunma: localizada no município de Santa Bárbara do Pará,
nordeste do Estado do Pará, a 50 km de Belém (1º13’00.86” S e 48º17’41.18” O), à
altura do km 18 da rodovia PA-391. A área possui 400 ha, com vegetação composta a
maior parte por florestas de terra firme, seguida de floresta secundária latifoliada, e
florestas de igapó e várzea (Coordenação de Botânica, 2003);
B) Parque Estadual do Utinga: Encontra-se no nordeste do Estado do Pará (01°23’13” a
01°26’02” S, 48°23’50” a 48°26’47” O). Está inserida na “Área de Proteção Ambiental
dos Mananciais de Abastecimento de Água de Belém”, e compreende 1340 ha, ao longo
de sua extensão, é formada por uma floresta predominante de floresta de terra firme, e
também apresentando florestas de várzeas, matas secundárias, capoeirões e capoeiras
(Baía-Júnior, 2004).
Segundo o sistema de Köppen a região de Belém apresenta um clima
classificado como Equatorial úmido (SECTAM, 1994), com uma estação chuvosa que
inicia em dezembro e vai até junho e uma estação menos chuvosa (seca) com início em
julho finalizando em novembro. A variação anual de precipitação na Região
Metropolitana de Belém varia entre 2500-2658 mm³ (Albuquerqueet al., 2010). A
temperatura média anual do ar para a região de Belém é de aproximadamente 26ºC, e a
umidade relativa média anual do ar é em torno de 85% (Oliveira et al., 2000).
Figura 1: Mapa mostrando as áreas de fragmentos florestais de área urbana, localizados
na região metropolitana de Belém (Parque Estadual do Utinga e Parque Ecológico do
Gunma), todas localizadas dentro da área de endemismo Belém. Mapa: Rodrigues &
Santos-Costa, (2014).
Coleta dos Dados
As coletas dos anuros nos fragmentos de floresta urbana foram realizadas através
do método de parcelas, que consistiu no estabelecimento total de 16 parcelas de 30x70
m (2100m²), com distância mínima de 400 m entre elas, algumas beirando os corpos
d’água (n= 8) e em áreas de terra-firme (n= 8). Foi realizada busca ativa visual e
auditiva (reconhecimento de vocalização) para registro das espécies dentro de cada
parcela, vistoriando os microhábitats disponíveis, como serrapilheira, superfície de
folhas, troncos, ocos de árvores e corpos d’água. Cada parcela foi vistoriada uma vez
durante a estação chuvosa, tanto no período diurno (15h ás 18h) quanto noturno (19h ás
22h), feito por dois a cinco coletores previamente treinados.
Para cada espécime encontrado pela equipe preencheu-se uma ficha de campo
com os seguintes dados: Número de campo, espécie, peso e local. Alguns indivíduos
foram coletados pela difícil identificação, e agora compõe a coleção de referência das
espécies registradas nas áreas estudadas. Os animais capturados foram guardados em
sacolas plásticas, levados ao laboratório e mortos, através de superdosagem de
anestésico injetável na região lateral do indivíduo, que, em seguida foram fixados em
solução formalina a 10% e após 48 horas foram preservados em álcool 70%. Todos se
encontram depositados na Coleção temporária de Herpetologia da Universidade Federal
do Pará e a identificação dos espécimes realizou-se com a ajuda de especialistas da
Universidade Federal do Pará.
Foram registrados os modos reprodutivos das espécies encontradas nas áreas
Parque Ecológico do Gunma (PEG) e Parque Ambiental do Utinga (PEU). Os modos
reprodutivos foram registrados seguindo os trabalhos de Haddad & Prado, (2005) no
qual são enumerados 39 modos reprodutivos e exemplificando as espécies que utilizam
de cada modo. Também foi utilizado Hödl, (1990), voltado exclusivamente para os
modos reprodutivos de anuros amazônicos.
Análise dos dados
Foi utilizado como referencia para a análise de representatividade o estudo
Galatti et al., (2007), onde foi calculado a quantidade de espécies de anuros encontrados
nos fragmentos florestais do Parque Ecológico do Gunma e Parque Estadual do Utinga e
dividimos pelo total conhecido para a área da região metropolitana.
As análises abaixo descritas foram realizadas com os dados das áreas maiores
que 20 hectares (PEG, PEU), por permitir a utilização de métodos quantificáveis através
das parcelas de amostragens. Para estimar-se a riqueza de espécies, usou-se o estimador
Jackknife de primeira ordem. Para comparar a anurofauna entre as duas áreas
amostradas, foi utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney, tendo como base a
riqueza observada e a abundância total de anuros. A utilização deste teste se deu porque
os dados encontrados não apresentaram distribuição normal mesmo após a
logaritimização (Zar, 2010). Os fragmentos se apresentaram como variáveis categóricas
e as variáveis numéricas a quantidade de indivíduos por parcela.
Curvas de rarefação foram feitas para a comparação entre os gráficos do Parque
Ecológico de Gunma e Parque Estadual do Utinga, levando em consideração tanto
riqueza quanto abundância, verificando se há sobreposição nos intervalos de confiança.
As análises estatísticas foram realizadas através dos programas Estimates e Statistica.
Para analisar a similaridade entre as duas áreas Parque Ecológico do Gunma e
Parque Estadual do Utinga, realizou-se uma transformação logarítmica (LogX+1) assim
eliminando os zeros dos dados e rodar as análises. Realizou-se uma ordenação através
do Escalonamento Multidimensional Não Métrico (NMDS) e os dados obtidos foram
utilizados para realizar a Análise de Similaridade one-way (ANOSIM) com nível de
significância 0,05, para analisar se houve variação na composição de espécies entre os
fragmentos. Para testar a significância estatística do ANOSIM, foi usado um Teste de
Monte Carlo com 5000 aleatorizações.
Resultados
Um total de 348 espécimes de anuros foram registrados nas duas áreas urbanas,
distribuídos em 18 espécies e três famílias. A Família mais rica em espécie foi Hylidae
(n=12), seguida de Leptodactylidae (n=5) e Bufonidae (n=2) (Tabela 1).
No Parque Ecológico de Gunma foram registrados um total de 193 espécimes de
anuros, das onze espécies encontradas, Adenomera andreae foi a mais abundante
(n=46), seguida de Physalaemus ephippifer (n=44) e Dendropsophus nanus (n=35).
Phyllomedusa vaillantii foi a espécie com menor frequência com um único indivíduo
encontrado (Tabela 1).
No Parque Estadual do Utinga o total foi de 155 espécimes, distribuídos em
quatorzeespécies. A espécie mais abundante foi Adenomera andreae (n= 96), seguida
de Dendropsophus minutus (n=11) e Hypsiboas multifasciatus (n=11). Cinco espécies
apresentaram um único indivíduo: Hypsiboas geographicus, H. raniceps, Phyllomedusa
hypochondrialis, Dendropsophus microcephalus e Leptodactylus fuscus (Tabela 1).
O levantamento das referencias bibliográficas registram 67 espécies de anuros
na área de endemismo Belém (Galatti et al., 2007; Silva, 2010; Correa et al., 2015). O
presente trabalho registrou as seguintes porcentagens de espécies em relação ao
registrado pelos autores supracitados: 16,41% no Parque Ecológico do Gunma e 20,89%
no Parque Estadual do Utinga, as duas áreas juntas representaram 26,86% do total de
espécies da área de endemismo Belém.
Com o método de coleta em parcelas, observamos que o estimador Jackknife
tendeu a estabilidade no Parque Ecológico do Gunma, enquanto que no Parque Estadual
do Utinga a curva do estimador não estabilizou. A composição de espécies nos
fragmentos mostrou-se similar, porém a riqueza diferiu (Figura 1).
Segundo o ANOSIM, os fragmentos (PEG e PEU) com resultados (R: -0,048, P:
0,573) não apresentaram diferença considerável quanto a composição das espécies
encontradas (Figura 2). Também não houve diferenças entre a abundancia (U= 29.500;
P= 0.792), riqueza de espécies de anuros (U= 30.500; P= 0.874) e de seus modos
reprodutivos (U: 26.000; P= 0,528) entre as duas áreas.
Nos fragmentos do Parque Estadual do Utinga e Parque Ecológico do Gunma
foram encontrados um total de 18 espécies e cinco modos reprodutivo (Tabela 2).
Observou-se que a maioria das espécies encontradas compartilham do modo reprodutivo
1 (61,11%), no qual os ovos são depositados na água; seguidos dos modos reprodutivos
(30) ninhos de espuma (terrestre) com 16,66% das ocorrências; o modo reprodutivo 24,
onde os ovos são depositados em árvores é utilizado por duas espécies (11,11%); os
modos reprodutivos (11) ninhos de espuma (aquático) e o modo 32 com ninhos de
espuma (terrestre) foram cada um utilizado por uma única espécie (5,55%). De todos, o
modo reprodutivo 11 ocorreu somente no Gunma, sendo utilizado pela espécie
Physalaemus ephippifer(Tabela 2).
Tabela 1: Espécies encontradas em dois fragmentos florestais urbanos na região
metropolitana de Belém, Pará. Legenda: Parque Ecológico de Gunma (Gunma) e Parque
Estadual do Utinga (Utinga).
Táxon Local
Família Espécies Gunma UtingaBufonidae Rhinella gr. margaritifera 20 2Hylidae Hypsiboas geographicus 1
Hypsiboas raniceps 1Scinax nebulosus 9Dendropsophus leucophyllatus 6Phyllomedusa vaillantii 1Phyllomedusa hypochondrialis 18 1Dendropsophus microcephalus 1Scinax gr. ruber 2Dendropsophus nanus 35Hypsiboas cinerascens 4Hypsiboas multifasciatus 7 11Dendropsophus minutus 12 11
Leptodactylidae Adenomera andreae 46 96
Leptodactylus fuscus 5 1Leptodactylus pentadactylus 3 7Leptodactylus petersii 4Physalaemus ephippifer 44Total 193 155
Figura 1: Estimativa da quantidade de espécies entre as áreas Parque Ecológico do
Gunma (barras pretas) e Parque Estadual do Utinga (barras cinza),utilizando o
estimador Jackknife.
Figura 2: Ordenação NMDS com nível de stress 0,01, os círculos preenchidos
correspondem as parcelas do PEG: Parque Ecológico de Gunma e os triângulos vazios
correspondem as parcelas do PEU: Parque Estadual do Utinga.
Tabela 2: Diversidade de modos reprodutivos das espécies encontradas nos fragmentos
(PEU: Parque Estadual do Utinga) e (PEG: Parque Ecológico do Gunma). Modos
reprodutivos classificados de acordo com Haddad & Prado (2005).
Espécies Modos reprodutivos
Tipos de substrato Utinga Gunma
Rhinella gr. margaritifera 1 Depositados em água X X
Phyllomedusa hypochondrialis 24 Ovos arbóreos X X
Hypsiboas multifasciatus 1 Depositados em água X X
Dendropsophus minutus 1 Depositados em água X X
Phyllomedusa vaillantii 24 Ovos arbóreos X
Scinax gr. ruber 1 Depositados em água X
Dendropsophus nanus 1 Depositados em água X
Hypsiboas geographicus 1 Depositados em água X
Hypsiboas raniceps 1 Depositados em água X
Scinax nebulosus 1 Depositados em água X
Dendropsophus leucophyllatus 1 Depositados em água X
Dendropsophus microcephalus 1 Depositados em água X
Hypsiboas cineraceans 1 Depositados em água X
Leptodactylus petersii 30 Ninho de espuma (terrestre)
X
Physalaemus ephippifer 11 Ninho de espuma (aquático)
X
Adenomera andreae 32 Ninho de espuma (terrestre)
X X
Leptodactylus fuscus 30 Ninho de espuma (terrestre)
X X
Leptodactylus pentadactylus 30 Ninho de espuma (aquático)
X X
Discussão
No presente trabalho registramos uma baixa diversidade de espécies em relação
ao que se conhece para região metropolitana de Belém (Galatti et al., 2007). Se
compararmos os nossos resultados dos dois fragmentos estudados, observamos uma
diminuição de espécies (n=14) em relação ao trabalho de Correia (2007) que registrou
28 espécies somente no Parque Estadual do Utinga. Duas hipoteses devem ser levadas
em consideração nesses resultados, uma é a diferença de métodos e esforço amostral e
outra hipótese está relacionado com a intensa pressão antrópica dentro das nossas áreas
de estudos, que nos últimos anos tem se intensificado por conta de obras e invasões.
Das três famílias de anuros amostradas, Hylidae foi a mais representativa entre
os dois fragmentos urbanos (12 espécies, 63% do total), tal padrão é observado em
outros locais na região Amazônica, e entre outros biomas brasileiros. Por exemplo, em
uma área de Cerrado nove espécies foram amostradas no trabalho de Morais et al.,
(2012), o mesmo mostrou-se no estudo de Prado et al., (2009) para uma área de Mata
Atlântica. Na Amazônia sabe-se que essa é a família mais diversa de anuros, com
aproximadamente 88 espécies conhecidas para a região (Avila-Pires et al., 2007),
portanto, já era esperado a prevalência desta família neste estudo. A grande diversidade
apresentada por essa família pode ser o resultado das inúmeras adaptações apresentadas
pelo grupo, que permite a ocupação de diferentes tipos de hábitat, como ambientes
arbóreos, terrestres, semi-aquáticos e fossoriais (Lima et al., 2006).
Embora a família Hylidae tenha apresentado mais espécies, foram às espécies
Adenomera andreae e Physalaemus ephippifer (Leptodactylidae) as mais abundantes
nos fragmentos. A espécie Adenomera andreae apresentou 40,68% do total de
espécimes encontrados e apesar de ser uma espécies que depende do ambiente florestal,
aparentemente apresenta atributos que permite algum grau de modificação e hábitat
(Haddad & Prado, 2005; Conte & Rossa-Feres, 2006; Silva et al., 2011). Physalaemus
ephippifer é uma espécies generalista no uso de hábitat e dieta, podendo ser encontrada
em ambientes de áreas abertas tanto preservadas quanto alteradas, e parece se beneficiar
de ambientes altamente modificados pela ação humana (Lima et al., 2006; Rodrigues &
Santos-Costa, 2014).
Entre as espécies menos abundantes deste estudo está o Dendropsophus
microcephalus, Hypsiboas raniceps, H. geographicus encontradas no Parque Estadual
do Utinga e a espécie Phyllomedusa vaillantii no Parque Ecológico Gunma. P.
vaillantii foi registrada apenas através de sua vocalização, sendo considerada de baixa
abundancia, possuindo o habito noturno e arborícola (Lima et al., 2006).
No que se refere aos modos reprodutivos, não houve diferença entre os dois
fragmentos (Gunma e Utinga), o modo reprodutivo de numero 1 (ovos depositados na
água) é o mais utilizado entre as espécies encontradas nessas áreas, isso demonstra a
forte ligação e importância dos corpos d’água para estas espécies (Bertoluci &
Rodrigues, 2002; Rodrigues, 2006).
As espécies Adenomera andreae e Physalaemus ephippifer sendo as mais
abundantes e generalistas, apresentam modos reprodutivos diferentes, os quais tem a ver
com sua história natural. A espécie de Adenomera andreae apresentou o modo
reprodutivo 32 (ninho de espuma terrestre) é uma espécie ligada à ambientes de áreas
fechadas na floresta, já o Physalaemus ephippifer que possui o modo reprodutivo 11
(ninho de espuma aquático) é uma espécie de ambiente aberto em que sua reprodução
esta ligada a poças temporárias (Bertoluci & Rodrigues, 2002). Neste estudo foi
registrada somente no Parque Ecológico do Gunma por haverem locais abertos na área
com inúmeras poças durante a época de chuvosa.
As espécies que apresentaram um único indivíduo como: Dendropsophus
microcephalus, Hypsiboas raniceps, H. geographicus apresentam o modo reprodutivo 1
(ovos são depositados na água), que foi o modo reprodutivo mais comum entre as
espécies encontradas nos dois fragmentos estudados. Phyllomedusa vaillantii
apresentou modo reprodutivo 24 (ovos depositados em árvores), esta espécie é
arborícola e vive próxima a poças (Lima et al., 2006). Assim observamos o quanto o
ambiente aquático e florestado são importantes direta ou indiretamente para as espécies
observadas, sendo a manutenção dessas áreas necessária para a conservação das
espécies encontradas.
Conclusão
Os fragmentos urbanos aqui trabalhados demonstram abrigar uma diversidade
considerável de espécies. As espécies que se encontram nestas áreas apresentam em
geral uma grande plasticidade ambiental, já que muitas são generalistas quanto ao uso
de hábitat e possuem modos reprodutivos fortemente ligados a água. Em relação a
estudos realizados no passado, é possível perceber a diminuição da diversidade de
anuros, em função da forte pressão antrópica que sofrem as áreas de estudo. A
diferença na diversidade de anuros nos dois fragmentos, provavelmente se dê em função
da diferença de tamanho e variedade de hábitats encontradas nas áreas. Apesar do
crescimento desordenado ao redor dos fragmentos estudados, essas áreas ainda abrigam
uma considerável fauna de anuros amazônicos, que precisam ser preservados
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Dificuldades:
Não foi possível o acréscimo de novos fragmentos neste projeto como foi
proposto anteriormente, sendo retirados dos objetivos. As áreas retiradas não
apresentaram tamanhos que permitissem analisar de forma comparativa os dados, já que
não permitiu a realização de analises estatística que respondesse as questões propostas
no trabalho.
Parecer do orientador:
A aluna apresenta inciativa e responsabilidade com seu projeto. Participou de todas as
fases propostas neste projeto com dedicação e compromisso. Além disto, a aluna
participa de todas as atividades no laboratório de Ecologia e Zoologia dos Vertebrados,
é pontual e assídua. Em setembro de 2015 irá apresentar os resultados do presente
trabalho no VII Congresso Brasileiro de Herpetologia, que ocorrerá em Gramado/RS,
no período de 7 a 11 de setembro de 2015. Conceito: EXCELENTE.
DATA : 10/ 08 / 2015
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Maria Cristina dos Santos Costa
Professora Associada I/ICB