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1 Gramática organizada e elaborada pelo prof.: Wagner Ap. Silva (*) MONTES CLAROS, dia 01 de janeiro de 2016. ( * ) graduado em Letras- Português pela Universidade Estadual de Montes Claros Unimontes. Pós-Graduando em Leitura e Produção de Texto na PUC-MG. Atualmente é acadêmico do 8º período do Curso de Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros Unimontes .

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Gramática organizada e elaborada pelo prof.: Wagner Ap. Silva (*)

MONTES CLAROS, dia 01 de janeiro de 2016.

( * ) graduado em Letras- Português pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Pós-Graduando

em Leitura e Produção de Texto na PUC-MG. Atualmente é acadêmico do 8º período do Curso de Geografia pela

Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes .

2

Gramática organizada e elaborada pelo professor Wagner Ap. Silva (*)

CONTEÚDOS BÁSICOS DE GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA CONCURSOS,

VESTIBULARES E O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO

MONTES CLAROS, dia 01 de janeiro de 2016.

( * ) graduado em Letras- Português pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Pós-Graduando em

Leitura e Produção de Texto na PUC-MG. Atualmente é acadêmico do 8º período do Curso de Geografia pela

Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes .

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Foto da capa: Wagner lecionando Gramática no curso preparatório para o ENEM

Título da obra: A Gramática de Wagner

Diretoria Autoral: Wagner Aparecido Silva

Gerência Editorial: Wagner Aparecido Silva

Responsabilidade Editorial: Wagner Aparecido Silva

Assistência Editorial: Equipe da Editora do Clube dos Autores

Revisão da obra: Professora Maria Reis Veloso de Lima (in memorian)

Impressão e Acabamento: Gráfica da Editora do Clube dos Autores

Dados de Catalogação na Publicação ( CIP)

SILVA, Wagner Aparecido.

Gramática de Wagner. – Montes Claros MG: 2016. 1ª impressão da 1ª edição de 2016.

Obra para estudantes de Língua Portuguesa e Leitura e Produção de Texto.

1. Linguagem e Língua Portuguesa. Conteúdo: Reflexões sobre a língua, linguagem

e Gramática; Regras Gramaticais; Doutrinas linguísticas; coloquialismo.

ISBN :

CDD:

Todos os direitos reservados ao autor e escritor da obra. A Lei dos direitos Autorais. A Lei

nº.: 9.610/1998 –Dos Direitos Autorais – Dispõe sobre os direitos do autor e do registro. O

direito autoral é propriedade do autor sobre sua obra, e o autor é a pessoa física criadora da

obra literária, artística ou científica. Proibida a reprodução sem a autorização do autor.

4

DEDICATÓRIAS

Esta obra e em homenagem apenas a minhas professoras de Língua Portuguesa, desde a infância até à

Graduação:

- Dedicado à minha primeira “professorinha” que me ensinou o ba- ba. Onde andarás, Erenilza, meu primeiro amor.

Onde andarás?

- Dedicada à professora Iracema, na primeira série, que já está lá, no lugar de bem-aventurança, junto dos santos que

aguardam a ressurreição do último dia.

- Dedicada à professora Dilva Rosa da Silva na segunda série; à professora Lucy Lopes na terceira série; à

professora Anésia Coelho na quarta série; à professora Iris Elaine na quinta série; à professora Claudete na sexta

série; à professora Nely na sétima série; `a professora Imaculada na oitava série com quem aprendi orações

coordenadas e subordinadas.

- Dedicada à professora Maria Reis Veloso de Lima (Reizinha), do 1º ano do Ensino Médio, com quem aprendi

fonética, semântica e morfologia. Foi minha mãe. Esposa de valor, filha amada, irmã dedicada e mãe sublime. Hei de

lamentar sua partida para junto de Jesus todos os dias que eu viver aqui neste mundo. Mas ela está viva e esta

gramática é a herança que ela deixou para mim.

- Dedicada a Elma Nobre, do 2º ano, com quem aprendi as dez classes de palavras e dedicada à professora Luizana

no 3º ano do Ensino Médio com quem aprendi Sintaxe.

- Dedicada aos seguintes professores do curso de Letras da Unimontes: Ana Cristina Peixoto, com quem aprendi

leitura e produção de texto; José Vicente Lopes da Costa com quem aprendi Literatura Portuguesa; Francisco

Rodrigues Jr. com quem aprendi Latim; Dora Ney Conceição Matos com quem aprendi o Barroco, Arcadismo e o

Romantismo; Ros’elles Magalhães Felício com quem aprendi Fonética/ Fonologia e Morfossintaxe e que muito me

ajudou durante minha vida em Januária MG; Ana Neta com quem aprendi Linguística Aplicada; Liliane Pereira

Barbosa com quem aprendi Sintaxe Período Composto; Osmar Oliva com quem aprendi o Realismo, Simbolismo,

Parnasianismo e o Modernismo; Kelly com quem aprendi Semântica; Rita de Cássia com quem aprendi Análise do

Discurso; Sandra Ramos com quem aprendi Estilística; a professora pedagoga Islei Rabelo com quem aprendi as

leis de diretrizes e bases da educação e a professora Alba Valéria Niza Silva com quem aprendi a elaborar um plano

de aula, um plano de ensino, ministrar uma aula expositiva, uma aula de campo e desenvolver metas e propostas para

uma aula eficaz. Dedicada ao professor Benedito Said com quem aprendi a Literatura e a Arte Contemporânea.

5

“A língua de Eulália não é errada: é diferente. É o português de uma classe social diferente da nossa, só isso.”

( Marcos Bagno. A Língua de Eulália)

6

SUMÁRIO

1. Prefácio..........................................................................................................................................................página 07

2. Modelo de plano de ensino para quem utilizar esta gramática................................................................página 08

3. Capitulo 1: Introdução à gramática, à língua e às variantes linguísticas................................................página 10

Os países lusófonos; Os cinco mitos relacionados ao ensino da Língua Portuguesa e da gramática; O signo linguístico; A língua, as linguagens: verbal, não verbal, denotativa e conotativa; A norma culta e a variante

coloquial ; Os dialetos, neologismos, estrangeirismos e a linguagem chula; Exercícios de Aprofundamento.

4. Capítulo 2: Os procedimentos de leitura....................................................................................................página 19

Os mecanismos para uma leitura cognitiva; O que é leitura? ; O leitor pragmático e o leitor cognitivo; O que é

texto?; O texto narrativo, descritivo e dissertativo; Atividade.

5. Capítulo 3: Fonética/Fonologia....................................................................................................................página 35

Fonemas e Letras; Vogais e consoantes ; Encontros vocálicos: ditongo, tritongo e hiato; Transcrição fonética; dígrafos; dífonos ; codas e monotongações; Ortoépia e Prosódia; Regras de Acentuação Gráfica; Atividade .

6. Capítulo 4: Semântica..................................................................................................................................página 48 Sinonímia; Antonímia; Homonímia; Paronímia e Polissemia; Atividade.

7. Capítulo 5:Morfologia I................................................................................................................................página 52 Elementos mórficos; Afixos; Radicais; Processos de formação de palavras: derivação, composição e hibridismo;

Radicais gregos e latinos; Prefixos gregos e latinos. Atividade.

8. Capítulo 6: Morfologia II: Introdução às dez classes de palavras......................................................... página 60

Conceitos: palavras; Vocábulos; Categorias variáveis (substantivos, adjetivos, verbos, pronomes, numerais, artigos)

e categorias invariáveis ( advérbio, conjunção, preposição e interjeição); Substantivos: dificuldades na flexão.

9. Capítulo 7: Verbo......................................................................................................................................... página 66

O que é verbo?; Os verbos de ligação e o predicativo; Os tipos de sujeito; Os tipos de predicados; As vozes dos verbos: ativa, passiva e reflexiva; As formas nominais: gerúndio, particípio e infinitivo; A Regência verbal; A

concordância verbal; O emprego dos modos e dos tempos verbais. Verbos irregulares, defectivos e impessoais;

Atividade.

10. Capítulo 8: Adjetivo......................................................................................................................................página 82 A flexão do adjetivo; Os adjetivos pátrios; As locuções adjetivas; O plural dos adjetivos compostos; O grau dos

adjetivos; Concordância nominal.

11. Capítulo 9: Pronome.....................................................................................................................................página 92

As pessoas pronominais; Pronomes pessoais do caso reto; Pronomes pessoais oblíquos átonos; Próclise, mesóclise

e ênclise; O emprego do pronome reto eu e do pronome oblíquo tônico mim; Pronomes demonstrativos; Indefinidos; Interrogativos; Pronomes de tratamento; Emprego do pronome relativo.

12. Capítulo 10: Advérbio................................................................................................................................. página 99

13. Capítulo 11: Sintaxe................................................................................................................................... página 103

Conceitos preliminares: sintaxe, frase, oração e período; Introdução aos elementos de coesão; Coordenação/ Parataxe; Subordinação/ Hipotaxe; Orações coordenadas assindéticas; Orações coordenadas sindéticas; Orações

subordinadas substantivas; Orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas adverbiais .

14. Capítulo 12: Estilística............................................................................................................................... página 111

Conceitos preliminares: a denotação e a conotação; As figuras de Linguagem; Figuras de estilo e Figuras de

construção.

15. Capítulo 13: A Crase ..................................................................................................................................página117

16. Capítulo 13: Recursos de Pontuação ........................................................................................................página 122

17. Capítulo 14: Apêndice..... ....................................................................................................................... página 133

- Emprego do hífen

- As funções da partícula “se”

18. Sobre o escritor desta Gramática...............................................................................................................página138

7

Prefácio

A maioria das pessoas com quem convivi, com quem interagi e inferi em minha vida

acadêmica no curso de Letras Português na Universidade Estadual de Montes Claros sempre me

diziam: “Wagner, escrever uma Gramática é a coisa mais simples do mundo! Basta ser

graduado em Letras! Cada falante, escritor, linguista e até o povo que só possui o domínio da

linguagem coloquial pode fazer uma Gramática!”. Mas depois que terminei este trabalho, gente,

eu confesso para vocês que não foi uma tarefa muito fácil não.

Esta gramática não é a melhor gramática do mundo e nem a mais perfeita. Quem dera fosse!

Ela decorre de um sonho que tive de eu mesmo, após terminar o curso de Letras Português

escrever minha própria gramática, porque cansei de ter 98 gramáticas na minha estante e cada

uma prescrever, descrever e normatizar as regras a sua maneira. Eu decidi recolher o que há de

excelente em todas as 98 gramáticas da minha estante e colocar aqui nesta gramática.

Minha gramática é diferente porque aqui eu não prego a soberania da norma culta da língua.

Não. Na minha gramática existe a comparação entre a norma culta e a coloquial. Decidi colocar

na minha gramática um capítulo inteiro dedicado à reflexão sobre os mecanismos que

precisamos adotar para alcançarmos uma leitura mais cognitiva e menos pragmática e neste

capítulo dissequei a estrutura dos textos narrativo, descritivo e dissertativo.

Na verdade a gramática que você tem em mãos não é de autoria minha. Eu apenas recolhi as

informações mais relevantes que foram frutos de debates no curso de Letras Português acerca da

língua, da linguagem e das variantes e ajuntando-os, coloquei aqui. Recolhi as regras prescritas,

descritas e normatizadas pelos gramáticos de renome e ajuntando-as, coloquei aqui. Esta

gramática é como um mosaico de informações que foram ajuntadas, organizadas e formou uma

única obra. Foram necessários três anos e meio para concluir este trabalho.

A ideia de escrever esta gramática nasceu de uma necessidade: dos meus alunos dos cursos

preparatórios para o processo seletivo da Unimontes, para os concursos e o Exame Nacional do

Ensino Médio. Eles sempre me cobraram: “Wagner, faça uma gramática com as matérias que

você leciona para nós”. Eles sempre copiam a matéria que exponho no quadro, digitam,

imprimem, encadernam e guardam para a vida. Sempre dizem que ajuntando todo o conteúdo

que trabalho dá uma gramática inteira. Foi daí que nasceu a ideia de fazer esta minha gramática.

Espero que esta obra possa ser proveitosa no sentido de auxiliar na continuação do eterno

aprender acerca de nossa tão complexa gramática com sua multidão de regras. Que possa ser

uma ferramenta que auxilie também o professor no planejamento das suas aulas de leitura e

produção de texto e de gramática. Os estudantes de Ensino Fundamental e Médio e os

“concurseiros” gostarão muito desta minha gramática porque eu usei uma linguagem muito

próxima da oralidade e do dia a dia de cada um deles. Não escolhi enfadá-los com as regras

excessivas e polêmicas que nem os gramáticos já chegaram a um consenso. Antes, coloquei aqui

apenas as regras que considerei básicas para resolver uma questão de um concurso e de um

processo seletivo e expus aqui os mecanismos propostos pelos autores citados nas referências

bibliográficas sobre como interpretar e produzir os mais variados tipos de texto.

Esta gramática não caiu pronta do céu e nem está pronta. Está aberta a sugestões e críticas e

também a ser completada e complementada se os falantes e escritores assim o desejarem.

Boa leitura e bons estudos!

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MODELO DE PLANO DE ENSINO PARA QUEM FOR USAR ESTA GRAMÁTICA

PLANO DE ENSINO Data Semestre/ Bimestre

INSTITUIÇÃO DE ENSINO CIDADE

PROFESSOR SÉRIE

DISCIPLINA Hora / Aula

Língua Portuguesa: Gramática, Leitura e

Produção de Texto.

TURNO:

EMENTA: Análise, exposição, debates e aplicação na escrita e na oralidade das regras contidas nas Gramáticas: Descritivas, Prescritiva, Normativas, Didáticas e Históricas da Língua Portuguesa, leitura e produção de textos.

1. A História da Gramática, da Língua, da Linguagem e das Variantes e Procedimentos de

Leitura e Produção de Texto;

2. As regras de acentuação gráfica e tônica, divisão de sílabas, ortoépia e prosódia;

3. Semântica: palavras sinônimas, antônimas, homônimas, parônimas e polissêmicas;

4. Morfologia I: radicais, prefixos, sufixos, desinências e formação de palavras;

5. Morfologia II: O emprego e flexão das Dez Classes de Palavras: substantivo, adjetivo,

artigo, pronome, verbo, numeral, advérbio, preposição, conjunção, interjeição.

6. Sintaxe: as relações sujeito, verbo, objeto. Predicados, adjuntos. As orações e os

períodos simples e períodos compostos.

7. Estilística: as figuras de linguagem, figuras de estilo e figuras de construção.

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OBJETIVO GERAL

Analisar as regras contidas nas Gramáticas: descritiva, prescritiva, normativa, didática e

histórica da Língua Portuguesa, a fim de aplicá-las na escrita e na oralidade;

Conhecer os mecanismos para desenvolver a interação e a inferência no ato de ler e produzir

textos narrativos, dissertativos e descritivos, bem como o texto literário.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Expor a descrição, as normas e as prescrições de diferentes gramáticos e linguistas;

- Conhecer as principais regras gramaticais de acentuação, do emprego das 10 classes de

palavras, da estrutura das frases, orações e períodos, da semântica e das principais figuras de

linguagens;

- Comparar as diferentes concepções dos gramáticos acerca do emprego e aplicação das regras

da língua;

- Tentar, através das novas abordagens e experiências sociolinguísticas, conduzir uma discussão

para diminuir o preconceito linguístico.

METODOLOGIA

- Grupo de Verbalização e de Observação ( G.V.G.O); Manuseio da gramática e do dicionário;

Leitura responsiva e silenciosa para marcação dos pontos mais importantes argumentados pelos

autores. Análise, aplicação e correção de atividades.

ESTRUTURA(S) DE APOIO/ RECURSOS DIDÁTICOS

Gramática; Quadro e giz; Livros de autores que abordam a análise, leitura e produção de

textos.

AVALIAÇÃO

Aspecto a ser avaliado Instrumento de avaliação

Capacidade de ler criticamente uma

gramática; Aptidão para aplicar as regras

dela na escrita e na oralidade. Capacidade

para ler, interpretar textos narrativos,

descritivos e dissertativos.

Aplicação de Prova ao fim de cada capítulo

estudado.

Atividade oral e exercícios aplicados mediante

a observação do conteúdo exposto pelos

gramáticos;

Análise comparativa das regras gramaticais

com as diferentes situações linguísticas na

escrita e na oralidade;

Atividades elaboradas intra e extraclasse.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OBS.: As referências se encontram no final de cada capítulo.

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CAPÍTULO 01: INTRODUÇÃO À GRAMÁTICA,

À LÍNGUA E ÀS VARIANTES LINGUÍSTICAS

“ Mas vê se fala, por favor, a minha língua, que já tem até uma íngua...” ( P.O. Box)

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CAPÍTULO 01: INTRODUÇÃO À GRAMÁTICA, À LÍNGUA E ÀS

VARIANTES LINGUÍSTICAS

Certamente, vocês já devem ter alguma vez, ou muitas vezes, ouvido a famosa frase:

“eu não sei nada de Português”. Esta frase precisa ser contextualizada, porque a

palavra “português” possui dois sentidos: ela pode ser um adjetivo pátrio que se refere

a quem nasce em Portugal e também um substantivo que se refere ao idioma que é

falado em Portugal, que é falado aqui no Brasil e nos países: Angola, Moçambique,

Guiné -Bissau, no Timor Leste, na ilha de Cabo Verde, ilha da Madeira e na ilha de

Açores, conforme podemos visualizar no mapa abaixo:

( Fig.: 01. Países Lusófonos. Adapt.: site: brasilescola.uol.com.br/acesso em 22/08/15)

Certo é que, quando algumas pessoas dizem que “não sabem nada de Português”,

elas na verdade querem dizer que não conhecem nada, ou quase nada, a respeito da

gramática da língua portuguesa e não da língua em si. Porque o idioma é a língua

portuguesa e como língua, todo falante sabe expressá-la das mais variadas maneiras,

porque desde criança, o que predomina é que a pessoa que nasce em países que falam o

idioma lusitano, aprende a se comunicar usando este idioma.

Foi para evitar esses infelizes mal entendidos que separei aqui, inspirado nos livros

“A Língua de Eulália” e “ Dramática da Língua Portuguesa ” do professor Marcos

Bagno, alguns mitos relacionados à língua portuguesa e que vale a pena conferir e levar

em consideração no ensino /aprendizagem da língua e da gramática. Vejam bem:

MITO 1:. A língua portuguesa é o mesmo que a Gramática.

Não procede tal afirmação, porque a gramática é apenas um livro de regras a que as

pessoas que falam determinado idioma recorrem para falar e escrever de acordo com a

linguagem culta (que é a linguagem criada pelos filósofos, pelos escritores, pelos

eruditos, pelos cientistas, pelos poetas e pelos hermeneutas). A linguagem culta é usada

em ambientes e situações formais. Então, a língua (o idioma) não é o mesmo que

Gramática. Uma coisa depende da outra, mas isso não quer dizer que elas sejam a

mesma coisa.

Vejam os conteúdos que se encontram em todas as boas gramáticas:

1. A História da Gramática, da Língua, da linguagem e das Variantes;

2. As Regras de Acentuação, divisão de sílabas e Ortografia;

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3. Semântica: palavras sinônimas, antônimas, homônimas, parônimas e

polissêmicas;

4. Morfologia I: radicais, prefixos, sufixos, desinências e formação de

palavras;

5. As 10 Classes de Palavras: substantivo, adjetivo, artigo, pronome, verbo,

numeral, advérbio, preposição, conjunção, interjeição.

6. Sintaxe: as relações sujeito, verbo, objeto. Predicados, adjuntos. As orações

e os períodos simples e períodos compostos.

7. Estilística.

Existem muitas gramáticas no mundo, mas para serem eficazes elas devem trazer em

si todos estes conteúdos acima. Seria proveitoso ter muitos exemplares delas em casa,

porque há autores que aprofundam, conceituam e propõem formas diversas de aplicação

das regras linguísticas, enquanto outros que simplesmente descrevem e prescrevem os

conteúdos acima. É difícil indicar que gramática é melhor que outra porque todas têm

pontos positivos e negativos. Existem gramáticas de diferentes formas e com objetivos

diversos, mas todas se enquadram nas seguintes modalidades: descritivas, prescritivas

e normativas.

MITO 2: A língua (idioma) e a fala são tudo a mesma coisa.

Não são. Os linguistas (estudiosos das línguas) e o linguista de maior renome, o

suíço Ferdinand Saussure (1857-1913) deu a entender que a fala é simplesmente o ato

de emitir sons, sejam estes sons inteligíveis ou não inteligíveis. E a língua decorre de

um contrato social feito entre pessoas de um grupo, de um povo ou de uma comunidade,

para usarem entre si os mesmos signos linguísticos. Por aí, é possível entender que a

língua e a fala não são a mesma coisa porque a fala é individual (cada um emite os sons

que quiserem), mas a língua é coletiva, ou seja, ela só acontece quando duas ou mais

pessoas fazem uso entre si dos mesmos signos.

Segundo os linguistas, a fala surgiu primeiro que a língua e é evidente que também

surgiu primeiro que a escrita, porque a tese que muitos historiadores defendem é que a

escrita teria surgido por volta do ano 4.000 a. C.(apesar de que não descartam uma data

anterior, visto que as pinturas nas paredes das cavernas também são consideradas

escritas). A escrita é tão importante quanto a fala, porque é mais duradoura e expressa

às vezes a intenção de quem escreveu o texto. Por isso, quando se vai ler um texto,

existem duas interpretações: interpretar de forma metalinguística (interpretar o texto

com o próprio texto e a palavra com a própria palavra) ou interpretar de forma

subjetiva (interpretar de forma pessoal). Esta última interpretação é considerada por

muitos hermeneutas como a mais eficaz no processo de fazer com que o leitor obtenha

variedades de interpretações proporcionadas pela intenção de quem produziu o texto

13

É comum entre os hermeneutas a seguinte pergunta: por que não se pode interpretar

de forma aleatória os textos ? Resposta: Por causa da intenção de quem o produziu.

MITO 3: A pessoa que não sabe a Gramática é uma pessoa inculta.

Será?! Existem muitas pessoas que sabem cozinhar, sabem lavar, sabem dirigir,

sabem trocar lâmpada, fazer cálculos físicos, matemáticos, químicos, sabem trocar pneu

de carro, engraxar sapato... Enfim. E muitas vezes, tais pessoas não sabem nada ou

quase nada das regras da Gramática. A gente não pode ser radical e dizer que tais

pessoas sejam incultas (onde fica o saber que elas possuem?!).

MITO 4: As pessoas que usam a linguagem coloquial falam errado

Os linguistas dizem que a língua não é homogênea! Então, não existe uma única

variante ( que são as múltiplos empregos em que a língua se desdobra) dentro dela.

Existem dezenas de variantes e a pessoa pode usar aquela que melhor lhe convier,

dependendo do ambiente e da situação em que o discurso estiver inserido.

Por exemplo, a linguagem da gramática e do dicionário é uma variante que é

conhecida como linguagem culta. A linguagem popular, aquela que as pessoas usam no

dia a dia e nos ambientes informais e familiares é a linguagem coloquial. Se pararmos

para analisar, a linguagem coloquial é até mais rica de que a linguagem da gramática,

porque a Gramática não muda e, se mudar, só muda em estruturas mínimas como

acentuação e ortografia.

Veja a quantidade de variantes que são oriundas do coloquialismo e da oralidade: o

dialeto (alteração de um som ou de toda uma estrutura morfológica principalmente por

influências e heranças comunitárias e regionais), as gírias (expressões fugazes que

certos grupos usam entre si e que acabam às vezes sendo incorporadas pela comunidade

em geral); os neologismos (palavras novas que surgem sempre por razões econômicas,

culturais, sociais e que as pessoas acabam fazendo uso e elas então passam a fazer parte

da língua); os estrangeirismos ( palavras de outro idioma que às vezes, por não haver

uma palavra correspondente em língua materna, acabam também entrando para a língua

materna de determinado lugar) e a linguagem chula (que é a linguagem pornográfica e

a linguagem classificada por muitos como sendo de baixo calão que é conhecida,

popularmente, como palavrão).

Você viu como a linguagem coloquial e as variantes oriundas do seio da oralidade

são complexas? Só que a norma culta da língua prescreve que não é aconselhável usá-

las nas seguintes circunstâncias: em lugares formais, quando for escrever um texto de

natureza informativa, quando for redigir um documento, quando for falar em público,

quando for produzir um texto de natureza dissertativa em uma prova de concurso ou de

vestibular e muito menos quando tiver que escrever para pessoas que são fanáticas com

a norma culta. Em textos de caráter subjetivo a Gramática dá ao escritor e ao falante a

possibilidade de optar por dar predominância a uma variante em detrimento de outra ou

a usar várias.

Conclusão: Segundo os linguistas, não existe linguagem certa e nem linguagem

errada. Afirmar que uma pessoa que usa a linguagem coloquial fala errado só porque tal

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pessoa não faz uso da língua culta constitui e prepara o caminho para a existência do

preconceito linguístico. Existem lugares e situações inadequadas para usar determinada

variante, mas não existe língua certa e nem língua errada.

MITO 5: A língua inglesa é superior a todas as outras

Este pensamento é uma meia verdade. E meias verdades nem sempre são mentiras

completas. Vamos ver o que tem de verdadeiro nisso. Bom, a língua inglesa realmente é

superior a todos os supostos 6.911 idiomas que existem no mundo, mas é superior em

questão de poder político, econômico e informacional. Enfim, em termos de poder

aquisitivo, a língua inglesa é superior às demais. Mas a língua, como língua em si, é

igual a todas as outras.

1.1 – O Signo Lingüístico, o que é?

O signo linguístico é todo sistema gráfico, sonoro e iconográfico que em uma época,

que não sabemos, as comunidades atribuíram um significado e um significante. Lembra-

se de que segundo os historiadores, na Pré-História ( c.de 40.000 a.C. até 4.000 a.C.),

as pessoas apenas faziam uso da fala, isto é, apenas emitiam sons? Então. O signo

linguístico originou-se no momento em que as pessoas deram um significado e um

significante a certos sons e foi feito um acordo entre o grupo, para que se fizesse uso

comum daquelas palavras entre si, a fim de acontecer a comunicação.

Veja o esquema do signo lingüístico:

Signo Lingüístico = significado = sentido, imagem, idéia = ex.:

Significante = sons, letras = ex.: flor

Por causa do signo é que os idiomas apareceram porque cada povo possui seus

signos e os utilizam, a fim de se comunicarem entre si. Interessante também é que no

caso dos idiomas, o significado é o mesmo em todos os lugares, mas tanto o significado

quanto o significante podem variar, de acordo com o contexto.

Surge então uma pergunta: tudo que existe é signo? Os linguistas dizem que só é

signo aquilo que possui significado e significante, ou seja, aquilo que já foi

padronizado pela sociedade e que já está nos dicionários da língua. Mas existe algo

importante a ser lembrado: uma coisa pode ser signo para uma pessoa e não ser signo

para outra pessoa. Aí, entra a questão do léxico (que é o vocabulário) porque a pessoa

pode dizer: “este signo eu conheço e faz parte de meu vocabulário” e outra pode dizer:

“este signo eu não conheço”.

1.2 – As linguagens que existem

Elas são muitas. Por exemplo, nós já falamos sobre a linguagem culta e a linguagem

coloquial. Agora vamos falar sobre as outras. Veja:

15

a) Linguagem verbal: é aquela em que se usa a fala e a escrita, a fim de

expressar o pensamento.

b) Linguagem não verbal: é aquela em que não se usa nem a fala e nem a

escrita. Ela faz uso de imagens, códigos, cores e gestos a fim de expressar

um pensamento.

c) Linguagem conotativa: é aquela que usa as palavras em sentido figurativo,

ou seja, não faz uso literal das palavras. Geralmente, em textos de caráter

particular as pessoas gostam muito de usar este tipo de linguagem porque é

uma linguagem que faz uso de metáforas.

d) Linguagem denotativa: é aquela que usa as palavras em sentido literal

mesmo, ou seja, no sentido real, exatamente como está no dicionário.

ATIVIDADE DIAGNÓSTICA [entregar em folha à parte na próxima aula]

1) Segundo os linguistas, o que é:

a) fala:

b) língua:

c) linguagem:

d) variante:

2) Existe língua certa e língua errada? Explique.

3) Tudo que existe é signo linguístico? Explique.

4) O que é a Gramática? Por que existem tantas gramáticas no mundo?

5) O que é preconceito linguístico?

6) Quais são os países lusófonos?

7) Toda língua que existe hoje, veio de outra língua anterior. Por exemplo, a

língua inglesa veio do anglo-saxão, língua falada pelas tribos bárbaras do

norte da Europa no século XIII d.C. E a nossa língua portuguesa, veio de

qual língua? Explique.

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8) Quais são as matérias que estão na Gramática? Com qual delas você está

mais familiarizado? Por quê?

9) Leia os textos abaixo:

TEXTO 01

Última flor do Lácio, inculta e bela

És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo -te assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela,

Que tens o tom e o silvo da procela

E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

(Olavo Bilac)

TEXTO 02

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas

Nunca me esquecerei que

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

(Carlos Drummond de Andrade)

a) Existem 2 formas de interpretar textos. Quais são elas?

b) O texto 1 não diz, mas pela intenção de quem o escreveu, quem seria a

Última Flor do Lácio?

17

a) O texto 1 afirma que a Última Flor do Lácio é inculta e bela, que ela é

esplendor e sepultura e que é rude e dolorosa. Explique, com base na

nossa aula de hoje, por que o texto tem razão ao dizer estas coisas.

b) O texto 2 fala sobre uma pedra. É pedra no sentido conotativo ou no

sentido denotativo?

c) Segundo a pessoa que produziu o texto 2, o que era a pedra?

d) Como alguns gramáticos de Língua Portuguesa interpretaram o que

seria a pedra? É correta tal interpretação?

e) Por que não podemos interpretar textos de forma aleatória?

f) Se compararmos os dois textos, poderíamos dizer que eles falam do

mesmo tema? Os autores têm o mesmo ponto de vista acerca do assunto,

por quê?

10) Analise as pinturas abaixo I , II e III a fim de responder:

I)

( Fig. 2: Guernica. Adapt.: Adapt.: site: brasilescola.uol.com.br/acesso em 22/08/15)

II)

(Fig.3.: Abaporu. Adapt.: site: brasilescola.uol.com.br/acesso em 22/08/15)

18

III)

(Fig.04: O Grito. site: brasilescola.uol.com.br/acesso em 22/08/15)

Responda:

a) Quem são os autores (as) das pinturas acima retratadas? Quando foram

pintadas e qual era a intenção deles na época com estas exposições?

b) Relembrando a teoria do signo linguístico, responda: essas pinturas são

signos linguísticos para você? Por quê? Referências Bibliográficas e autores citados neste capítulo

CINTRA, Lindley; Celso Cunha. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Nova Fronteira; Rio de Janeiro,

1985. Pág.1-23.

PLATÃO & FIORIN. Para Entender o Texto. 17ª ed. Saraiva; São Paulo, 2008.

BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália. 15ª ed. Contexto. São Paulo, 2008.

BAGNO, Marcos. Dramática da Língua Portuguesa. Edições Loyola; 2001; São Paulo.

SAUSSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. São Paulo, Editora Cultrix, p. 15-25; 79-84;

19

CAPÍTULO 02: PROCEDIMENTOS DE LEITURA

“ Alice, não escreva aquela carta de amor” ( Kid Abelha)

20

CAPÍTULO 02 PROCEDIMENTOS DE LEITURA

Antes de ler é preciso desenvolver competências de leitura

Ninguém em sã consciência, nesta vida, se perde por vontade própria, porque toda

pessoa de mentalidade ativa e crítica procura chegar a um determinado objetivo. No

mundo da leitura é assim também. A pessoa que se dedica a ler deve, antes de tudo,

conhecer os mecanismos sobre como desenvolver as competências de leitura, porque a

leitura é a chave para abrir todas as portas do conhecimento.

O que é leitura?

Em seu livro, Oficina de Leitura e também na sua obra Texto e Leitor, a autora

Ângela Klaiman dá a entender que a leitura é o ato de decodificar sinais gráficos,

imagens, cores, sons, códigos e transformá-los em expressões de pensamento no ato da

comunicação.

Os tipos de leitura e os tipos de leitores

Se no conceito de leitura aparecem vários elementos que funcionam como objeto de

comunicação, então não existe apenas um tipo de leitura e nem tampouco existe apenas

um tipo de leitor. Segundo Ângela Klaiman, existem dois tipos de leitura e basicamente

dois tipos de leitores. Veja:

Leitura Pragmática - Leitor Pragmático Leitura Cognitiva- Leitor Funcional

1. A pessoa sabe ler, sabe escrever, mas não sabe

interpretar aquilo que lê; 1. Sabe ler, sabe escrever e sabe interpretar;

2. A pessoa sabe ler, mas não conhece as regras da

Gramática; 2. Sabe ler e conhece as regras da gramática;

3. A pessoa sabe ler, mas não possui o letramento

(conhecimento sobre quem escreveu o texto, quando

escreveu, como escreveu, para quem e por que escreveu);

3. Sabe ler e possui o letramento;

4. A pessoa sabe ler, mas não tem conhecimento de

mundo, ou seja, não conhece NADA sobre política,

economia, religião, cultura, arte e filosofias do mundo

em que vive;

4. Sabe ler e possui o conhecimento de mundo;

5. A pessoa sabe ler, mas tem que ler com o dicionário

aberto a seu lado porque desconhece o sentido da

maioria das palavras;

5. Sabe ler e não necessita de dicionário o tempo todo;

6. A pessoa sabe ler, mas pouco tempo depois que lê,

esquece tudo o que leu, ou seja, não possui memória de

leitura.

6. Sabe ler e possui memória de leitura.

Os mecanismos para alcançar competência na leitura

São citados por muitos professores de Leitura e Produção de Texto alguns

mecanismos para que as pessoas possam desenvolver a leitura cognitiva e que devem

ser buscados por quem deseja alcançar tal tipo de leitura:

a) Buscar o interesse por gostar de ler e de escrever: ninguém nasce com o

interesse por ler e escrever. Isso se adquire ao longo da vida. Por exemplo,

todos os bons escritores dizem que quando eles eram crianças os pais já

21

compravam os livros junto com a feira: livrinhos de literatura infanto-

juvenil, livros de História, Geografia, de Gramática, de Ciências, de

Filosofia, de Matemática, jornais, revistas, internet e depois livros de leitura

mais madura e profunda. Ninguém que não visite uma biblioteca ao menos

duas vezes por semana e faça uma carteirinha para levar livros para casa,

nunca poderá criar interesse por gostar de ler e de escrever.

b) Ler a capa do livro, a contra capa e o prefácio antes de ler o livro: toda

pessoa que quer compreender a fundo o conteúdo de um livro deve ter o

cuidado de ler a capa do livro, o prefácio, a contra- capa para que assim

possa saber não só o assunto que vai ler, mas também saber se a pessoa que

escreveu a obra estava ou não habilitada para escrevê-lo.

c) Ler três vezes o texto: por que isso? A primeira vez é aquela leitura

somente com a finalidade de conhecer o texto, o autor e o objetivo da escrita

daquele texto. A segunda vez é aquela leitura feita com a finalidade de

anotar a ideia central de cada parágrafo do texto e a terceira vez é aquela

leitura que se faz para tirar conclusões. É óbvio que existem duas maneiras

de tirar conclusões: a interpretação metalinguística (quando a pessoa

interpreta o texto exatamente do jeito que está escrito) e a interpretação

subjetiva (quando a pessoa mesma interpreta o texto do jeito que ela

entende).

d) Examinar se o livro é original ou se o autor copiou, citou ou se sofreu

influência de outro: isso é de suma importância porque além de ajudar o

leitor a examinar o diálogo de um livro com outro livro, ajuda a fazer

interação entre mundos e visões diferentes de autores dentro de um mesmo

livro.

O que é texto?

Maria das Graças Costa Val em suas obra Redação e Textualidade e os escritores

Platão Saviolli e José Luiz Fiorin em seu famoso livro Para Entender o Texto é que

adicionam luz para falantes e escritores entenderem que um texto é todo enunciado,

falado ou escrito (no caso, o texto verbal), e também todo enunciado não verbal (cores,

códigos, imagens) de maior ou de menor extensão, mas no qual deve haver interação

entre quem escreveu o texto e quem lê. Quando não há interação, então se pode dizer

que não é texto e sim um amontoado de palavras. É importante também que, ao ler o

texto, as pessoas examinem o contexto, que é a situação em que o texto está inserido. Se

um texto for lido fora do devido contexto, o sentido acaba ficando comprometido.

Os tipos de texto

Os tipos de texto são muitos: poemas, poesias, crônicas, notícia, documentário,

conto, romance, novela entre outros, mas na essência, os textos se enquadram nestes três

tipos básicos de textos: narração, descrição e dissertação.

22

O texto narrativo

A narração é o tipo de texto mais conhecido e mais lido no mundo todo. O texto

narrativo possui uma característica que os demais textos não possuem: a ação das

personagens. A narração possui também estes aspectos importantes:

a) Tempo: é quando a história acontece. Quando o texto fornece a data de

quando o fato acontece, então se diz que o tempo da narração é cronológico.

Porém, quando não se fornece a data, então diz- se que o tempo da obra é

psicológico.

b) Ambiente: é onde a história acontece. Quando o texto diz o espaço em que

aconteceu, então se diz que o ambiente é físico, mas quando não diz o lugar

e o leitor é que o imagina, então se diz que o espaço é psicológico.

c) Enredo: é o problema que surge na narrativa e funciona como fio condutor.

Tal problema pode ou não ser resolvido ao fim da narrativa, depende muito

de quem escreve e de quem conta.

d) Narrador: é a pessoa que conta a história. Cuidado para não confundir o

narrador com o escritor (quem escreve) e com o autor (pessoa que criou a

história), apesar de que existem livros que o narrador, o escritor e o autor

sejam a mesma pessoa. Existem dois tipos de narradores: o narrador que

conta a história e participa dela, que é conhecido como narrador-

personagem (primeira pessoa) e também existe o narrador-observador

que é aquele que conta a história, mas não participa dela (narrador em

terceira pessoa).

e) Personagens: são os seres que atuam na história. Sem eles, a história nem

existiria porque eles são o foco. Existem três tipos de personagens nas

histórias: as personagens protagonistas (os principais e mocinhos da

história), os antagonistas (os vilões da história) e as personagens

coadjuvantes (as personagens secundárias que aparecem na história e que, às

vezes, acabam roubando a cena das demais personagens).

f) O discurso: é o ato de uma pessoa tomar a palavra. Nas narrações, quando o

narrador permite que as personagens falem, então acontece o discurso

direto (que sempre é marcado pelas aspas e principalmente pelo travessão).

Quando o narrador não permite que as personagens falem, mas ele mesmo

fala por elas, então dizemos que o discurso é indireto.

g) A linguagem: o leitor deve sempre investigar qual é a linguagem que

aparece no texto: a linguagem culta, que é aquela que está escrita e prescrita

na Gramática. A linguagem coloquial que é aquela que é própria dos

ambientes familiares, informais como: as gírias, os neologismos, os dialetos

e a linguagem chula. Deve ter também atenção para verificar se o texto usa a

linguagem conotativa (aquela que usa o sentido figurado e metafórico das

palavras) ou se usa as palavras em sentido denotativo (aquele sentido real,

literal tal como estão no dicionário e na Gramática).

23

h) A competência: é o momento da narração em que algum personagem

adquire a capacidade de resolver o problema ou o problema desencadeado

no início da narrativa.

i) Performance ou epiphaneia (epifania) : é o momento em que ocorre a

transformação no caráter ou no aspecto físico das personagens.

j) Polifonia ( variedade de vozes) ou intertextualidade: é o dialogismo entre

o texto e outros textos. Isso pode se dar de diversas formas: na forma de

citação (quando acontece uma referencia direta à obra do outro autor), na

forma de paráfrase, na forma de paródia ou simplesmente na forma de

analogia.

k) O Estilo literário a que pertence: é importante identificar em que estilo

literário a narração se enquadra: Barroco: estilo do séc. XVI que valorizava

a religiosidade, os contrários, o excesso no uso da língua culta e o

maniqueísmo; Arcadismo: estilo do século XVII que valorizava a arte e a

estética Grega da Antiguidade, valorizava o amor ao campo e a natureza e a

fuga ao espaço urbano e colocava o ser humano no centro das atenções (ao

contrário do Barroco que priorizava o teocentrismo); Romantismo: estilo

que perdurou do século XVIII até primeira metade do século XIX que

valorizava o amor, a subjetividade, o lirismo excessivo e a idealização do

homem e da mulher amada a ponto de cultuar a morte em nome do

sentimento; Realismo- Naturalismo: estilo da segunda metade do século

XIX que influenciado pelas ideias socialistas de Karl Marx e Engels e pelas

teorias evolucionistas de Charles Darwin, abordava a análise do homem

enquanto ser social e coletivo e enquanto ser biológico e produto do meio

em que vive; Simbolismo: estilo literário da década de 1890 que teve em

Cruz e Souza seu nome de destaque, valorizava o espiritual, o metafísico, o

transcendente e utilizava linguagem culta e dicionarizante; Parnasianismo:

estilo de fins do século XIX que teve nas obras de Olavo Bilac, Raimundo

Correa e Alberto de Oliveira seu maior destaque. O foco era a perfeição

estética e formal, o uso da linguagem culta e o culto e adoração à perfeição

da escrita e da oralidade. E, por fim, o Modernismo: estilo literário que teve

03 fases: 1ª (1922-1930) que se caracterizou pelo rompimento com o

passado literário e por uma demolição e revolução na escrita e na arte. A

segunda fase (1930-1945) se caracterizou por uma poesia mais voltada para

o social e nos romances prevaleceu os romances neorrealistas de denúncia e

analíticos que tematizavam problemas sociais como a seca no Nordeste. A

terceira fase (1945-1960) já foi mais voltada para uma literatura mais

intimista, psicologizante e introspectiva. Prevalece nesta época a reflexão

sobre o porquê do ser e do estar no mundo e a influência das obras de Franz

Kafka e de Paul Sartre.

24

O texto descritivo

Este texto e o texto narrativo se parecem bastante, mas há uma diferença drástica:

na descrição não existe ação, existe apenas caracterização. Por isso nos textos

descritivos a presença de adjetivos é bem marcante porque os adjetivos caracterizam

seres. Existem dois tipos de descrição:

a) a descrição objetiva: ocorre quando o narrador descreve o ser com

características reais, isto é, tal como ele é. Geralmente aparece naqueles

textos que narram fatos reais.

b) a descrição subjetiva: ocorre quando o narrador descreve o ser com

características fictícias e subjetivas. Em casos assim ocorre o que se chama

de idealização do personagem.

O texto dissertativo

O texto dissertativo é aquele em que o escritor precisa: apresentar, desenvolver,

argumentar e concluir ideias acerca de um determinado tema. Este é um dos mais

comuns nas colunas que dão espaço aos textos de opinião: nos jornais, revistas e

nos demais meios de comunicação que desejam conduzir certo tema a debate ou à

reflexão. Por assim ser, este tipo de texto é o mais requisitado para ser produzido em

provas de concursos, processos seletivos, Exame Nacional do Ensino Médio e

também, é óbvio, como pré-requisito para ingresso aos cursos de Pós-Graduações

em cujo término deve-se concretizar a defesa do que tanto argumentou.

Não é o tipo de texto mais querido pela maioria dos estudantes e leitores, porque

não é como o texto narrativo que aguça a imaginação e a fantasia de quem lê. Porém

já é comum a opinião entre diversos autores que, quem consegue produzir uma

excelente dissertação, evidencia que é bom leitor e que possui coerência de ideias e

credibilidade para ensinar e debater sobre aquele assunto sobre o qual escreveu.

Obviamente, escrever uma dissertação não é tarefa muito fácil, porque para isso a

pessoa deve ter sobre a sua mesa de estudo: Revistas, livros e outras fontes, porque

a dissertação é de quem escreve, mas as ideias não são exatamente de quem escreve,

porque como elas são ideias universais, então só podem mesmo tomar corpo a partir

de outras fontes de leitura e pesquisa. Quando os livros de papel e o livro virtual não

puderem estar sobre a mesa, então a bagagem cognitiva é quem vai determinar se o

texto produzido é excelente ou não.

As partes importantes de uma dissertação

a) O tema: é o assunto de que se vai falar. Nos concursos, vestibulares e no

Exame Nacional do Ensino Médio, a escolha do tema não é da pessoa que

vai escrever e sim dos professores orientadores. Geralmente, o tema pode

ser uma simples frase e também pode ser um míni-texto para que o escritor

do texto pegue a ideia e dê andamento a ela.

25

b) O tópico frasal: é também conhecido por muitos como introdução. Como o

tópico frasal é o primeiro momento do texto, então a pessoa que escreve

deve ter um cuidado de neste tópico, apresentar o assunto de que vai falar no

texto inteiro. Apresentar a quem vai ler: o que é o tema, o que está

envolvido e o que pretende ao falar daquele assunto.

c) O conhecimento de mundo: é fundamental, depois que apresentar o tema a

quem vai ler. É importante porque no primeiro momento o tema foi

apresentado e agora é a oportunidade de mostrar como o tema que você vai

escrever está acontecendo no contexto de mundo. Cada tema se enquadra

em um contexto seja ele político, econômico, social, cultural, religioso,

educacional, filosófico...

d) A argumentação: é o momento mais esperado do texto, porque como já

aprendemos, o texto não é exatamente de quem escreve e sim de ideias de

outras fontes. Mas a argumentação é da pessoa que escreve e por isso é o

momento mais esperado pela pessoa que vai corrigir. Na argumentação, a

pessoa que escreve tem por obrigação conduzir uma reflexão sobre o tema:

os prós e os contra, os lados positivos e negativos acerca do tema e o que e a

quem o tema influencia. É bom, aqui, colocar os desafios que impedem a

solução do problema que o texto focaliza e comentá-los.

e) Conclusão: é o momento de encerrar o texto. Aqui, a pessoa que escreve

deve ter a atenção de apontar uma possível solução para o problema

tematizado no texto (se houver um problema). Na conclusão também, deve

haver as considerações finais acerca do tema: que caminhos se devem seguir

para que as metas e os objetivos propostos no texto sejam alcançados.

O QUE NÃO É ACONSELHÁVEL INSERIR NO TEXTO DISSERTATIVO

a) Evite o uso da primeira pessoa do singular (eu): a primeira pessoa deve

ser evitada porque o texto não é pessoal e sim texto universal (opinião de

autores e escritores já aceita por vasta maioria). Portanto, tudo que provém

da primeira pessoa (eu acho, eu penso...) deve desaparecer do texto. Dê

prioridade à terceira pessoa, porque com ela a pessoa que escreve se isenta

ao máximo e não se envolve.

b) Nunca use gerúndio: os gerúndios são bons e não são agramáticos, porque

se fossem nem estariam na gramática. Porém a gramática é clara em dizer

que gerúndios não podem tomar parte em dissertações. Então, não usem

gerúndio.

c) Evite fazer perguntas e nem use etc.: lembrem-se de que a dissertação é

exatamente para buscar respostas e não para fazer perguntas e nem encher a

folha de reticências.

d) Nunca repita palavras: porque acaba gerando redundância. Tanto quanto

puder, coloque palavras sinônimas para evitar as repetições.

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e) Não deixe palavras rimarem: a rima das palavras pode fazer acontecer o

eco que deixa o texto bem deselegante.

Ex.: Na atualidade, a humanidade tem mostrado pouca solidariedade.

f) Não deixe que as palavras tenham duplo sentido (ambiguidade): a

ambiguidade acontece quando as pessoas invertem a ordem dos enunciados.

A ordem é S + V + O (Sujeito + verbo +objeto). Por isso quando escrever

dissertações examine se a ordem do enunciado está ou não harmônica.

g) Não cometa erro de acentuação, erro na escrita e nem na concordância

dos verbos: pede-se atenção toda especial para com o verbo HAVER no

sentido de existir (as pessoas sempre trocam tal verbo pelo verbo TER, o

que é abominável para a Gramática).

h) Cuidado com o pleonasmo vicioso: são as repetições desnecessárias e

descabidas que acabam gerando redundância.

Ex.: Atualmente, nos dias de hoje a violência está incontrolável.

i) Cuidado com a pontuação: vírgula é pausa breve e ponto final é pausa

longa. Encerrou um enunciado? Então coloque a pausa longa e inicie um

novo parágrafo ou comece outro enunciado com inicial maiúscula.

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AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM

A linguagem é o uso que os falantes fazem de um determinado idioma, isto é, a forma

de expressar e materializar o pensamento. Então, não é o mesmo que a língua, porque a

língua, conforme o linguista Saussure deu a entender, é o uso coletivo e social do signo

linguístico que os grupos, comunidades e povos fazem entre si.( SAUSSURE,

Ferdinand. Curso de Linguística Aplicada. 15ª ed. Loyola. SP. 2007, traduzido por

Mattoso Câmara Jr.)

Sendo que a linguagem é a expressão do pensamento, então, segundo o linguista russo

Roman Jacobson (1896-1982) ela passa a ter funções, isto é, finalidades diferentes de os

falantes fazerem uso dela no cotidiano. As funções são muitas, mas segundo Jacobson,

predominam na maioria dos tipos de texto seis funções específicas. Veja a tabela

abaixo:

Função da Linguagem Em que elemento da língua ela está

centralizada?

Exemplos

1.Função Emotiva Centralizada na primeira pessoa (eu, nós),

ou seja, o emissor ou locutor.

Acontece em textos que a primeira pessoa fala de

si (ex.: textos intimistas, introspectivos como diários e poesias)

2.Função Conativa Centralizada na segunda pessoa (tu, você,

vós, vocês), isto é, no receptor ou

interlocutor.

Acontece em textos que se tenta persuadir o

interlocutor (ex.: os textos- propaganda)

3.Função Referencial Centralizada na terceira pessoa (ele, ela,

eles, elas), isto é, no contexto (a situação em

que o texto está inserido)

Acontece em textos que têm por fim informar

(ex.:reportagem, crônica, textos didáticos,

documentário, bulas médicas, textos dissertativos...)

4.Função Metalinguística Centralizada no código, ou seja na própria

linguagem.

Acontece em textos que a linguagem fala de si

mesma, isto é, palavra falando de palavra (ex.: dicionário, enciclopédia, texto em que palavra

conceitua palavra)

5.Função Poética Centralizada na mensagem Acontece em textos que a intenção é fazer uso da palavra para gerar musicalidade, atribuir

significados diversos às palavras e usá-las de forma

lúdica.

6.Função Fática Centralizada no canal e se preocupa com o teste do canal de comunicação.

Acontece sempre que se quer testar o canal para ver se tem alguém ouvindo.

( Tabela 01: Funções da Linguagem. Adapt.: obra, JACOBSON, Roman. Trad. Editora Ática, 1990)

EXERCÍCIOS

Elabore um pequeno texto de 15 linhas e teça nele uma opinião coerente, concisa,

reflexiva e conclusiva sobre a tirinha abaixo:

(Adapt.: site: www.questãocerta.com/acesso em 22/12/2015)

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1) Explique o enunciado dos linguistas “a linguagem é a expressão física do

pensamento.”

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

2) Segundo Platão e Fiorin, por que um texto não pode ser interpretado de forma

aleatória?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

3) Comente o pensamento de Platão e Fiorin: “um texto sem coesão é texto, mas

um texto sem coerência não o é”.

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

4) Leia o texto abaixo a fim de responder às questões 4 e 5:

Terror islâmico deixa ao menos 12 mortos em Paris

Atentado aconteceu na sede da revista de humor 'Charlie Hebdo', que atraiu a

fúria de extremistas no passado ao publicar charges de Maomé em 2011.

Terroristas muçulmanos assassinaram pelo menos doze pessoas nesta quarta-feira em

Paris, em um ataque a tiros no escritório da revista semanal satírica Charlie Hebdo. A

revista é alvo da ira de fundamentalistas desde que publicou, em 2011, uma charge do

profeta Maomé, mas nunca cedeu diante das ameaças nem alterou sua linha editorial.

Mesmo depois de ser alvo de uma bomba incendiária, publicou outra charge de Maomé,

em 2012. Nesta quarta-feira pela manhã, satirizava em sua conta no Twitter Abu Bakr

al-Baghdadi, o fanático que lidera o grupo Estado Islâmico (EI). O atentado em Paris

começou pouco depois da divulgação do tuíte, e deixou dez jornalistas e dois policiais

mortos, além de cinco feridos em estado grave. O presidente François Hollande foi até o

local do ataque e convocou uma reunião de crise no palácio presidencial para as 11h de

Brasília. As autoridades também anunciaram que a região parisiense foi colocada em

estado de alerta máximo. "Os autores do atentado serão processados. A França está

diante de um choque. É um ataque terrorista, é sem dúvida", disse Hollande.

Vincent Justin, um jornalista que trabalha em um edifício próximo à sede do Charlie

Hebdo, afirmou que duas pessoas entraram na redação do semanário e começaram a

atirar. Segundo Justin, os autores do ataque gritavam a frase “vamos vingar o

profeta”. Outras testemunhas disseram ao canal de notícias francês iTele terem visto o

incidente a partir de um prédio próximo, no coração da capital francesa. “Cerca de meia

hora atrás dois homens com capuz preto entraram no prédio com fuzis Kalashnikovs”,

disse Benoit Bringer à emissora. "Poucos minutos depois, nós ouvimos vários tiros",

disse, acrescentando que os homens depois foram vistos fugindo do prédio. A chargista

Corinne Rey, que assina como Coco, presenciou o atentado e afirmou ao site francês

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L'Humanité que os terroristas "falavam francês perfeitamente" e "reivindicaram ser da

Al-Qaeda". Porém, as autoridades não confirmaram a autoria do atentado.

Rocco Contento, porta-voz da polícia, disse que os terroristas entraram em um carro

que os esperava para fugir. O carro foi conduzido até Port de Pantin, no nordeste de

Paris, onde foi abandonado. Os terroristas então roubaram o carro de um motorista e

desapareceram. A polícia francesa montou uma grande operação para localizá-los.

Contento também disse que o escritório da Charlie Hebdo, que já contava com proteção

especial, teve a vigilância aumentada há algumas semanas porque novas ameaças

vinham sendo feitas. As medidas não foram capazes de impedir o massacre. O jornalista

Antonio Fischetti, que trabalha na revista, mas não estava na redação no momento do

atentado, disse ao jornal Libération: “Sabíamos que a ameaça era real, mas não era uma

paranoia. Ameaças contra o Charlie Hebdo eram recorrentes, habituais. A vigilância foi

relaxada”.

O cartunista Charb, que desenhou uma charge de Maomé em 2012, é um dos mortos,

segundo o jornal Libération. A Al-Qaeda o havia apontado como um alvo

permanente. Os cartunistas Cabu, Wolinski et Tignous também estão entre os mortos.

Todos eram amplamente conhecidos na França.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, reagiu condenando o ataque

terrorista e expressou solidariedade com a França na luta contra o terrorismo. "Os

assassinatos em Paris são revoltantes. Estamos ao lado do povo francês na luta contra o

terrorismo e na defesa da liberdade de imprensa", declarou Cameron em sua conta no

Twitter.

Revista Veja. 13/01/2015.

5) À luz da leitura deste texto e das ideias nele contidas, é CORRETO afirmar

que:

a) Predomina nele a função conativa da linguagem.

b) O texto é narrativo e se caracteriza pelo predomínio da linguagem

conotativa.

c) Ao narrar a notícia, o autor revela explicitamente sua aversão ao

extremismo islâmico que inibe os meios de comunicação.

d) O texto tem como objetivo principal informar e explicar as razões do

ataque terrorista ocorrido em Paris, na sede do semanário Charlie

Hebdo.

30

6) A partir de uma análise da charge abaixo, é INCORRETO afirmar que :

( Adapt.:site G-1. com.br/ acesso em 13/01/2014)

A) Reforça as ideias do autor do texto, porque assim como ele, o cartunista condena

abertamente todo e qualquer atentado à liberdade de expressão.

B) Demonstra o radicalismo dos extremistas islâmicos ao evidenciar que eles não

reconhecem a existência de um relativismo ideológico.

C) Evidencia nas gravuras, através dos objetos nas mãos dos atacantes e dos

atacados, que tanto um quanto o outro possui suas armas.

D) Tenta retratar com a linguagem verbal e não-verbal o repúdio dos cartunistas

brasileiros ao atentado terrorista à sede do Charlie Hebdo em Paris.

6) Leia o texto abaixo para responder às questões 8 e 9:

Os quatro alunos

Autor desconhecido

Essa é uma história que se passa em qualquer canto do Brasil, em qualquer escola,

qualquer aluno, comigo, com você. Eram quatro rapazes que estudavam numa escola

em uma mesma classe: Arrependido, Falso, Mínimo e Quero Tentar . Arrependido era

um aluno desanimado com os estudos, não fazia nada na sala de aula e muito menos os

deveres de casa. Não pensava no seu futuro, vivia achando que estava perdendo tempo

em sala de aula e por isso arrependia-se de não ficar nas ruas com

seus colegas. Por não gostar de estudar vivia tirando notas baixas.

Falso era um cara mentiroso e pouco preguiçoso com os estudos ou copiava de

alguém ou falsificava o que fazia. Na realidade mesmo, não fazia nada e era tão falso

quanto a sua própria nota ( apesar de ser razoável), pois tudo que precisava era colar ou

confiar no amigo na hora da avaliação. Raramente isso falhava.

Mínimo um rapaz que não pensava em ir muito longe, para este o que importava era

uma nota que o aprovasse, portanto estudava pouco, mas não "colava" nas avaliações e

não passava disso: 60% era o bastante e se contentava com esse mínimo. Sempre tinha

um pensamento "tenho boas notas porque não perdi nenhuma"

Quero-tentar gostava do que fazia. Quando lhe apresentavam algo novo, um

problema que ele não soubesse, ele dizia "vou tentar resolvê-lo" e sempre conseguia

mesmo, porém não estudava para tirar boas notas e sim ficar sabendo. Este era aluno

todos os dias e sua persistência o ajudava vencer. Assim, Quero-Tentar era o primeiro

31

da classe. Em termos de aprendizagem Mínimo era o penúltimo. Falso era o último, pois

só tinha nota e não sabia de nada. Arrependido abandonou a escola.

Hoje, eles são adultos e cada um tem o seu destino: Arrependido mora numa grande

favela chamada Tarde - demais. Falso queria ser político, mas foi condenado por um

juiz chamado Verdade. E Mínimo, com seu conhecimento mínimo, é soldado mínimo

das Forças armadas, ganha um salário mínimo e tem um comandante muito exigente

chamado: MÁXIMO que sempre lhe cobra 100%. Quero Tentar se saiu melhor e hoje é

presidente de um país chamado "república democrática dos sucessos.”

7) A figura de linguagem que predomina neste texto é:

A) Metáfora B) Catacrese C) Prosopopeia D) Metonímia

8) Sobre este texto é CORRETO afirmar que:

A) Trata-se de uma narrativa curta e constitui o que os escritores chamam de parábola.

B) Trata-se de um texto descritivo, já que é desprovida da ação das personagens e do

discurso direto.

C) Trata-se de um texto narrativo que pode ser classificado como apólogo, já que em

textos assim substantivos abstratos atuam como personagens.

D) A substantivação dos adjetivos e dos verbos que atuam como personagens reforçam

a lição moral que o narrador pretende, através desta fábula, implantar no leitor.

9) Todos os provérbios populares abaixo se relacionam diretamente com as ideias do

autor do texto “ Os Quatro Alunos”, EXCETO:

A) Nem tudo o que reluz é ouro.

B) Deus ajuda a quem cedo madruga.

C) A quem muito foi dado, muito mais será cobrado.

D) Mentira tem pernas curtas.

10) Leia abaixo a seguinte notícia de jornal para responder às questões 11 e 12:

529 mil alunos ficaram com nota zero na redação do Enem 2014, diz MEC. Índice

representa 8,5% dos candidatos participantes. Nota de cada um dos 6,1 milhões de

estudantes saiu nesta terça.

Entre os alunos participantes, 529.374 obtiveram nota zero na redação da prova (8,5%

dos candidatos). Deste número, foram anuladas 248.471 redações. O MEC informou

ainda que 250 candidatos tiveram nota mil na redação – a máxima possível. Além disso,

pouco mais de 35 mil alunos obtiveram notas entre 901 e 999.

As notas de cada um dos 6.193.565 participantes do Enem foram divulgadas na noite

desta terça, segundo o ministério. Ainda segundo o MEC, a média das notas em redação

teve uma queda de 9,7% em relação ao Enem de 2013 entre os alunos que estão

concluindo o ensino médio. Em matemática, a queda foi de 7,3% em relação ao exame

32

anterior. Sobre a queda nas médias das notas de matemática e redação em relação ao

ano passado, o ministro da Educação, Cid Gomes, afirmou que não considera que seja

algo " tão significativo. A minha opinião é de que houve uma queda em matemática e

redação. Uma queda superior à margem, não diria uma queda significativa, mas uma

queda que deve estimular a comunidade acadêmica a analisar as razões para isso. Um

ano no Ensino Médio brasileiro não há variações tão significativas" afirmou o ministro.

Segundo Cid Gomes, o tema da redação deste ano (publicidade infantil) não foi tão

debatido pela mídia e pela sociedade brasileira quanto o tema de 2013 (lei seca)."Eu

arriscaria uma tese: o tema de 2013 foi a lei seca. Essa questão foi muito debatida,

muito discutida. O tema agora, publicidade infantil, não é um tema que houve um

processo de discussão tão grande", analisou. Questionado sobre se considera o tema

deste ano mais difícil, Gomes respondeu: "Eu não diria difícil, é relativo."

Fonte: Jornal Bom dia Brasil. 14/01/15.

11) Segundo o texto, o fracasso dos candidatos que zeraram a prova do ENEM deve-se

aos seguintes motivos, EXCETO:

A) Falta de conhecimento prévio acerca do tema da redação por parte dos candidatos

B) Ineficiência da mídia em divulgar e fornecer subsídios para a conscientização acerca

do tema.

C) Queda do bom desempenho na prova de Matemática em relação ao exame de 2013.

D) Incapacidade dos alunos concluintes do Ensino Médio de produzir um texto

dissertativo e de resolver questões de Matemática.

12) A notícia acima possui a seguinte relação com o texto dos “ Quatro Alunos”,

EXCETO:

A) Assim como o texto, a notícia explicita que para vencer na vida escolar é necessário

esforço.

B) Assim como o texto, a notícia denuncia a falsidade de quem cola e atua nos

vazamentos de questões dos exames escolares.

C) Diferente do texto, a notícia usa a linguagem denotativa para repassar a informação

ao leitor.

D) Assim como o texto, a notícia evidencia que o bom e o mau desempenho do aluno

não se limitam somente à sala de aula.

33

Coerência Textual

Em seu livro, Para Entender o Texto, os autores Platão e Fiorin dizem que coerência

é, antes de todos os demais conceitos existentes, o sentido do texto. Eles dizem que a

coerência é essencial para que um texto seja compreendido, já que texto sem coerência

não é texto e sim amontoado de palavras. Estes autores também colocaram alguns

fatores relevantes que ajudam o leitor a desenvolver a coerência do texto. Vejam um

exemplo de um texto que apresenta incoerência.

Ex.: A água estava muito molhada.

A coerência é também resultante da adequação do que se diz ao contexto extra

verbal, ou seja, àquilo a que o texto faz referência, que precisa ser conhecido pelo

receptor.

Ao ler uma frase como: "No verão passado, quando estivemos na capital do Ceará

Fortaleza, não pudemos aproveitar a praia, pois o frio era tanto que chegou a nevar",

percebemos que ela é incoerente em decorrência da incompatibilidade entre um

conhecimento prévio que temos da realidade com o que se relata. Sabemos que,

considerando uma realidade "normal", em Fortaleza não neva (ainda mais no verão!).

Veja alguns elementos principais que ajudam na construção da coerência:

a) Clareza: refere-se ao fato de a pessoa que escreve o texto evitar a todo custo a

obscuridade na construção do pensamento. Segundo Platão e Fiorin, o

obscurantismo pode ser causado pelos seguintes problemas: má forma de

expressar, ambiguidade e o uso de vocabulário rebuscado.

Ex.: “Como anda o projeto espacial?” “Ah, temos uma grave disjunção no

sistema de propulsão primária do foguete trifásico”.

b) Concisão: é outro fator que ajuda na coerência porque é o falar muito em poucas

palavras. Quando um texto não é conciso, costuma-se dizer que a pessoa que o

produziu encheu linguiça, isto é, falou muito, mas não se expressou como

deveria.

c) Construção eficaz de um enunciado: a maioria dos enunciados de sentido

completo sempre são formados a partir da seguinte estrutura canônica: (S + V +

O), isto é: sujeito + verbo +objeto. Então, isso quer dizer que no momento de

construir um enunciado, o leitor e o produtor do texto devem ter o cuidado de

desenvolver um pensamento de sentido completo. Por exemplo, seria incoerente

alguém elaborar um enunciado que careça de informações precisas. Quanto

maiores as informações, maior a possibilidade de o leitor entender.

Ex.: Os leitores foram...

Ex.: Os leitores foram mal...

Ex.: Os leitores foram mal na prova...

Ex.: Os leitores foram mal na prova porque...

Ex.: Os leitores foram mal na prova, porque não estudaram? Não!

Estudaram, mas não souberam interpretar o que leram.

34

d) Detectar implícitos do texto: é difícil para aquele (a) que escreve um

enunciado, colocar ali toda a informação a qual ele (a) deseja que o leitor

compreenda. Apesar de que o bom seria se quem escrevesse os enunciados,

colocasse ali pelo menos o necessário para que o leitor entenda. Como na prática

isso não acontece com frequência, então cabe a quem ler o texto, sair

“pescando” os implícitos ( ideias que não aparecem abertamente) no texto.

Ex.: No programa do Chaves, ocorreu um episódio em que a menina

Chiquinha chega para o seu amigo Chaves e lhe mostra um iô iô. O Chaves lhe

pergunta então: “Quem te emprestou este iô iô?” Ela responde: “Foi o Nhonho,

mas ele não sabe”.

Obviamente a plateia acha graça não daquilo que ela falou, mas sim daquilo

que ela não falou e que ficou nas entrelinhas. Aí, cabe ao leitor analisar e, ao

desenvolver os mecanismos cognitivos de leitura, ele chegará à conclusão de que

se ela pediu o iô-iô emprestado e o personagem Nhonho não sabe, então é

porque o brinquedo foi surrupiado.

Não é somente no texto piada que o leitor deve buscar desenvolver este

mecanismo de leitura, mas em todos os textos que requeiram do leitor as

informações devidas para ajudar na compreensão. Um texto muito conhecido na

literatura brasileira diz assim:

“ Última Flor do Lácio inculta e bela

És a um tempo esplendor e sepultura

Ouro nativo que da ganga impura

Por entre os cascalhos vela..” (Olavo Bilac).

Bom, ao procurar detectar os implícitos deste texto, o leitor de mentalidade

crítica questionará: quem é esta última flor do Lácio? Por que ela é inculta e

bela? Por que ela é esplendor e sepultura?.. Fica aqui uma colocação

importante: Existem duas interpretações para textos: a interpretação

metalinguística (ir somente por aquilo que o texto diz, ou seja, a palavra pela

palavra) e interpretação subjetiva (interpretar o texto de forma individual, sem

levar em conta a intenção de quem produziu). Quando se detecta os implícitos

do texto, as duas formas de interpretar devem ser levadas em consideração.

Obras e Autores Citados direta e indiretamente neste capítulo

FIORIN & PLATÃO. Para Entender o Texto. 2ª ed. Ática. São Paulo. 1991.

JR, Mattoso Câmara. Linguística Aplicada ao Ensino de Português. 15 ed. Loyola. SP.

2007.

KLAIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: teoria e prática. Ed. Unicamp; Campinas SP;

1999.

35

KLAIMAN, Ângela. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. 15ª edição. Pontes; São

Paulo; 2013.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luís Carlos. Coerência Textual. Contexto; São

Paulo; 2009.

VAL, Maria das Graças Costa. Redação e Textualidade. 3ª edição. Saraiva; São Paulo,

2006.

36

Capítulo 03: FONÉTICA / FONOLOGIA

“Ao som da Sua voz o universo se desfaz” ( DVD –Adoradores 2013)

37

Capítulo 03 FONÉTICA / FONOLOGIA

Fonética é a parte da Gramática que estuda como é percebida fisicamente a menor

unidade sonora da língua: o fonema. A Fonologia está diretamente ligada a ela porque

estuda como a menor unidade sonora se processa no âmbito da fala e da escrita. Este

estudo é muito antigo, porque a História Geral atesta que os fenícios teriam criado um

alfabeto de vinte e duas letras por volta do século X antes de Cristo. E nos hieróglifos

egípcios, datados de 3.550 a.C. há uma forte evidência de uma preocupação com a

pronúncia e escrita de letras e fonemas, principalmente no que tange à escrita e

pronúncia de textos sagrados. Para nós ocidentais, o estudo tomou força com as

pesquisas do ponto de vista estruturalista funcional e social, retomado em 1955, pelo

linguista francês André Martinet (1908-1999), quando escreveu o melhor tratado de

Fonética/Fonologia que se conhece até hoje, no qual tratou dos traços pertinentes e do

emprego das unidades distintivas dos traços fônicos.

Conceitos importantes:

Fonema: é a menor unidade sonora da fala que é responsável no momento da

articulação e combinação por formar as sílabas, os vocábulos e a teia da frase na

comunicação oral.

Letra: é o sinal gráfico que representa os sons. Por isso quando emitimos sons usamos

os fonemas e quando escrevemos, usamos as letras.

O aparelho fonador

Os encontros vocálicos e os encontros consanantais

Vogais são os sons do alfabeto que soam livremente quando saem do nosso aparelho

fonador (veja a gravura abaixo). As vogais são: a, e, i, o, u. As consoantes são

aqueles sons que não saem livremente do nosso aparelho fonador. As consoantes

são: b, c, d, f, g, h, j, l, m, n, p, q, r, s, t, v, x, z. As mudanças na gramática incluíram

mais estas consoantes de língua estrangeira: k, w, y.

Vejam quais são os encontros vocálicos:

a) Ditongo: é o encontro de uma vogal (a, e, i, o ,u) e uma semivogal (i, u), ou

vice-versa, na mesma sílaba. Como a vogal sempre soa mais forte e a semivogal

38

soa mais fraco, porque vale a metade do som de uma vogal, então podem ficar

juntas na sílaba e nunca devem se separar.

Atenção às fórmulas: vogal + semivogal = ditongo decrescente Ex.: boi, mãe.

Semivogal + vogal = ditongo crescente. Ex.: á-gua, lí-rio, ré-gua.

OBS.: Algumas vezes, o som da vogal acaba saindo pelo nariz e por isso a

gramática chama tal ditongo de ditongo nasal.

Ex.: ma-mãe, a- mam [amãu].

b) Hiato: é o encontro de duas vogais quando se pronuncia a palavra que as possui.

Como duas vogais sempre soam forte, então, quando separar sílaba, que

ninguém deixe duas vogais juntas.

Então: vogal + vogal = hiato. Ex.: sa – í – da / sa – a – ra / mi – a – do.

c) Tritongo: é o encontro de semivogal, vogal e semivogal. No caso, como duas

soam fraco e uma soa forte, então as três podem ficar juntas na mesma sílaba.

Então: semivogal + vogal + semivogal = tritongo.

Quando o som da vogal for nasalizado, acompanhada das duas semivogais, então

se dá a este fenômeno o nome de tritongo nasal.

Ex.: aguam (do verbo aguar).

Obs.: Já é lei na gramática que nunca podemos deixar nenhuma sílaba sem pelo

menos uma vogal. Nossa língua não é como o hebraico que só possuía consoantes.

Obs.: Letras iguais nunca podem ser deixadas juntas na mesma sílaba. É regra .

Os encontros consanatais: decorrem do encontro de duas consoantes. Quando ambas

ficam juntas na sílaba como é o caso do encontro que acontece na palavra “prato” [pr],

dá-se o nome de encontro consanantal inseparável. No caso da palavra “corrupção”,

veja que no momento da divisão silábica, fica assim: cor-rup-ção. Percebam que as

consoantes “p” e “ç” separam-se, logo se dá a este fenômeno o nome de encontro

consanantal separável.

Obs.: Cuidado para não confundir encontro consanantal com dígrafo e muito menos

com ditongo e tritongo nasal. Dígrafos são duas letras que equivalem a uma só

unidade sonora e nos ditongos e tritongos nasais o fonema é representado na escrita

como consoante, mas na pronúncia o som é vocálico. Quando se faz a transcrição

fonética, este equívoco logo é desfeito.

Ex.: a palavra “anta” [ ãta]. Vejam que não acontece o encontro entre a consoante

“n” e a consoante “t”, simplesmente porque o fonema “n” não é pronunciado. O par

“an” é um dígrafo.

39

A Transcrição Fonética: é muito importante porque consiste em um método de

transcrever os sons de uma língua de forma que represente, por escrito, a maneira que o

som foi padronizado para pronunciar. Tal transcrição deve ser feita sempre entre

colchetes.

Ex.: A palavra “táxi” é escrita assim: táxi, mas a transcrição fonética é [ táksi], logo esta

palavra possui quatro ( 4 ) letras e cinco ( 5 ) fonemas.

Somente com a transcrição fonética é possível saber quantas letras e quantos fonemas

uma palavra possui.

As codas sílábicas: a sílaba como unidade fonológica é essencial como objeto de

estudo para o entendimento da fonologia das línguas. Assim, teríamos a seguinte

estrutura: sílaba, ataque, rima e coda. Entenda: O núcleo é o coração da sílaba e não

pode nunca ficar vazio e quem o preenche são as vogais. Na posição de coda, apenas as

consoantes /r, l, n, s/ e as semivogais podem aparecer. A coda é a consoante ou

consoantes em posição pós-nuclear dentro de uma sílaba, ou seja, após a vogal nuclear.

À coda, conjuntamente com o núcleo, se denomina rima. O português é uma língua

relativamente famosa por autorizar coda silábica para apenas 3 de seus fonemas, /ʁ ~ ɾ/

(érre), /ʃ ~ s/ (ésse) e ks (xis). Por exemplo, quando absorve palavras de origem

estrangeira, como McDonald's que se torna [ˌmɛkiˈdõnɐwdʒis] no lugar do

original: [ˌmækˈdɔnəɫdz].

Monotongação: acontece devido ao apagamento da semivogal nos ditongos

decrescentes e crescentes. É muito comum na língua coloquial.

Ex.: Na palavra “roupa” o falante retira a semivogal “u” e a pronúncia fica: “rôpa”.

Os Dígrafos

Como o próprio nome diz, dígrafos são duas letras que valem por um único fonema

(menor unidade sonora que existe). Para saber se uma palavra possui dígrafo ou não é só

a pessoa fazer a transcrição fonética (escrever a palavra do jeito que ela é pronunciada).

Estes dígrafos: nh, lh, ch, gu, qu nunca podem separar em sílabas.

Ex.: ga- nho/ fa- lha-mos/ a -cha- mos / guer- ra / quei- jo ...

Mas os dígrafos rr, ss, sc, sç, xc sempre devem separar em sílabas.

Ex.: car-ro / pás- sa -ros/ nas-cer / cres-ço / ex –ce – ção.

Obs.: Os dígrafos vocálicos são : an, en, in, on, un . E também: am, em, im, om, um.

Vejam que quando aparecerem nas palavras, estes pares valem por um único fonema.

Ex.: tanto [ tãto], tambor [ tãbor], tonto [tõto].

40

Obs.: quando apenas uma letra é escrita representando dois sons, dá-se a isso o nome de

dífono. Mas o dífono só existe no alfabeto fonético.

Ex.: A palavra “táxi”. Nela, a letra “x” representa dois sons: “ks” [ táksi]

ORTOÉPIA E PROSÓDIA

Segundo os linguistas, a gramática da Língua Portuguesa prescreve a acentuação

gráfica de palavras e estipulas as regras. As demais línguas acentuam as palavras, mas

não só por questão de regras e sim porque quando a estrutura morfológica das palavras

se consolidou, elas já possuíam acento e assim permaneceram. É incomum ver as

línguas estrangeiras que trazem acentos gráficos em palavras de seus léxicos todos os

dias mudando os acentos delas como se tem visto nas regras da gramática aqui no

Brasil.

Na nossa gramática, a mudança mais difícil de acontecer é nas partes que se referem:

às dez classes de palavras, `a estrutura: sujeito + verbo + objeto (S +V + O) e aos

demais conteúdos que envolvem estruturas morfológicas. Mas acentuação e grafia são

as partes que mais sofreram mudanças. Da década de 1970 para cá, sempre a gente tem

ouvido falar em mudanças na acentuação das palavras e na grafia.

Recentemente, foram aprovadas algumas mudanças que ocorrerão outra vez na

acentuação e na grafia de algumas palavras o que entrará em vigor a partir de 01 de

janeiro de 2016. Mas os professores já devem ensinar a seus alunos, não só as mudanças

que a gramática sofreu na questão de acentos e escrita de certas palavras, mas também

como aplicar tais mudanças na vida escolar e também na escrita no cotidiano.

2. Os dois tipos de acento.

Embora muitos professores e até certos livros de autores renomados digam que existem

muitos acentos, a maioria das gramáticas dizem que existem apenas dois tipos de

acentos: o acento tônico que é a sílaba forte (tônica) que todas as palavras possuem e

também existe o acento gráfico que é o acento de som aberto (acento agudo) e o acento

de som fechado que é o acento circunflexo (^). Nem todas as palavras possuem o acento

gráfico.

Embora alguns digam que a crase é um acento e a gente ouve muito alguns dizerem:

“este a é craseado!”, segundo a maioria das gramáticas, a crase não é um acento e sim

um fenômeno. O fenômeno ou fusão do artigo a com a preposição a. Então, a + a = à.

O til (~) também não é acento agudo e nem circunflexo, a cedilha (ç) também não é e

nem tampouco o trema (¨), o apóstrofo e o hífen (-). Eles são notações léxicas ou sinais

e acentos gráficos que se juntam às letras para dar valor fonético especial, mas não

desempenham funções de acentos tônicos abertos e fechados.

41

3. A sílaba tônica

Como todas as palavras possuem a sílaba mais forte, então todas têm a sílaba tônica.

Pela sílaba tônica, as palavras poderão ser:

a) Monossílabos: palavras que possuem apenas uma sílaba. Quando esta sílaba é

autônoma, diz-se então que é monossílabo tônico, mas quando não é autônoma,

diz-se que é monossílabo átono.

Ex.: me, te, se, lhe, nos, nós, sol, lá, cá, pé, mas, traz, já, e, é, só...

b) Oxítona: palavras que possuem mais de uma sílaba, porém a mais forte das

sílabas é sempre a última do grupo.

Ex.: co-ra-ção; u-ru-bu; ca-fé; a-guen-tar; ma-ra-cu-já; Já-ca-re-pa-guá.

c) Paroxítonas: palavras que possuem mais de uma sílaba, porém, a mais forte é a

penúltima do grupo.

Ex.: a-çú-car; es-co-la; a-lu-no; es-co-la-ri-da-de; u´-til; ver- da- de...

d) Proparoxítonas: palavras que possuem mais de uma sílaba, mas dentre estas

sílabas, a mais forte é a antepenúltima sílaba do grupo. TODAS ELAS SÃO

ACENTUADAS COM ACENTO ABERTO OU COM ACENTO FECHADO.

Ex.: pa-ra-le-le-pí-pe-do; lâm- pa- da; o- xí-to-na; pa-ro- xí- to- na;

pro-pa-ro-xí-to-na....

Ortoépia, segundo Celso Cunha, é a parte da Gramática que se ocupa com a

pronúncia das palavras exatamente do jeito que está prescrito pela Norma Culta.

Ex.: Pronunciar a palavra “absoluto” em vez de “abissoluto”.

Prosódia, segundo Cunha, é a parte da Gramática que se ocupa com pronúncia

da sílaba mais forte (tônica) que as palavras possuem exatamente do jeito que está

prescrito pela Norma Culta.

Ex.: Pronunciar a palavra “ cateter” em vez de “ catéter”.

ACENTO GRÁFICO

Como já foi anunciado pela televisão, rádio, internet e principalmente nas escolas

através do Manual da Nova Ortografia, a partir de 2016 começou a vigorar o Novo

Acordo Ortográfico que trouxe mudanças em algumas regras de acentuação gráfica, no

emprego do hífen e na exclusão de alguns sinais gráficos como o trema, por exemplo.

Vejam quando se deve acentuar palavras com acento aberto e quando acentuar com

acento fechado:

42

REGRA 01: OS MONOSSÍLABOS: acentue-os somente se eles terminarem com as

letras: a(s), e(s), o(s) e se forem tônicos.

Exemplos: pá, pás, pé, pés, pó, pós ....

REGRA 02:AS OXÍTONAS: acentue-as somente quando terminarem com as letras:

a(s), e(s), o(s).

Exemplos: ma-ra-cu-já; ma-ra-cu-jás; ja-ca-ré; já-ca-rés; ji-ló; ji-lós...

OBS.: Embora existam poucos casos, mas acentue também as oxítonas terminadas com

as letras em e ens:

Exemplos: a-mém, a-méns, ar-ma-zém, ar-ma-zéns....

REGRA 03: AS PAROXÍTONAS: acentue-as somente quando terminarem com as

letras: r, x, i, n, l, is.

Exemplos: a-çú-car, tó-rax, tá-xi, hí-fen, di-fí-cil, tá-xis.....

OBS.: Embora poucas, acentue as paroxítonas terminadas com as letras: ã, ãs, ão, ãos,

um, uns, us, ps, on, ons..

Ex.: ór-fã; ór-fãs; ór-fão ; ór-fãos; ál-bum; ál-buns; bô-nus; bí-ceps; e-lé-tron; e-lé-

trons.

OBS.: Acentue também as paroxítonas terminadas em ditongo crescente:

Exemplos: á-gua, Ja-nu-á-ria, crâ-nio, lí-rio....

OBS.: Na nova edição do dicionário Aurélio e nas Gramáticas recentes parece que

ainda não houve um consenso geral se deixam algumas palavras paroxítonas

terminadas em ditongo crescente como paroxítonas ou se deixam como

proparoxítonas. Mas a Gramática as considera como paroxítonas terminadas em

ditongo crescente, com exceção da palavra “história” que ainda gera controvérsias.

REGRA 04: O caso dos ditongos abertos éi, ói, éu. Acentue estes ditongos nas

palavras oxítonas.

Exemplo: cha-péu, he-rói, a-néis, rói, dói...

OBS.: Se na palavra houver o dígrafo nh, NÃO ACENTUE. E não acentue também se a

palavra for paroxítona.

Ex.: cha-peu-zi-nho; joi-a; col-mei-a; as-sem-blei-a;

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

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REGRA 05: O caso da letra i e da letra u. Acentue estas letras somente quando: vierem

sozinhas na sílaba, vierem seguidas de s na sílaba e quando formam hiato.

Exemplo: sa-í-da; sa-ú-de; sa- ís- tes; ba-ú; ba-ús...

OBS.: Se houver nh na palavra, não acentue as letras i e u:

Exemplo: ra-i-nha; ba-i-nha..

OBS.: Se a palavra for paroxítona, desconsidere esta regra, ainda que venham sozinhas

na sílaba:

Ex.: Bo-cai-u-va; bai-u-ca

REGRA 06: O caso do hiato ô-o e do hiato ê-e: Acentue até o ano de 2015, a primeira

vogal do hiato ô-o e do hiato ê-e.

Exemplo: vô-o; per-dô-o; ma-gô-o; a-ben-çô-o...

OBS.: O hiato ê-e acontecerá somente com os verbos DAR, LER, CRER e VER na

terceira pessoa do plural no tempo presente do indicativo.

Exemplos: que ele dê – que eles dê-em,

Ele lê: eles lê-em;

Ele crê: eles crê-em;

Ele vê: eles vê-em.

OBS.: Deve-se ter cuidado com o verbo vir e com o verbo ter, porque eles levam

acento na terceira pessoa do plural, mas não ocorre neles o hiato ê-e, portanto eles e

seus derivados (intervir, advir, conter, deter, reter, abster) permanecem com acento

gráfico, até hoje, na terceira pessoa singular e plural no presente do indicativo:

Ex.: ele vem: eles vêm

ele tem: eles têm

Regra 07: O caso do Acento Diferencial

Até 2015, deveremos acentuar com o acento diferencial. É o acento que é usado para

diferenciar palavras parecidas na escrita e na pronúncia.

Exemplos: pôr ( verbo)

por (contração da preposição per + o artigo definido “o” )

pôde ( verbo “poder” no passado) / pode ( verbo “poder” no presente)

44

ATIVIDADE

01) Classifique as palavras de acordo com a sílaba tônica e enumere corretamente e,

quando precisar de acento gráfico, coloque o acento:

( 1 ) monossílabo ( 4 ) proparoxítona

( 1 ) oxítona

( 1 ) paroxítona

( ) mercancia ( ) ruim ( ) pneu ( ) levedo

( ) gratuito ( ) cateter ( ) item ( ) pleiade

( ) rubrica ( ) recorde ( ) itens ( ) avaro

( ) refem ( ) condor ( ) historia ( ) areodromo

( ) recem ( ) filantropo ( ) faze- lo ( ) glossolalia

( ) nobel ( ) quiromancia ( ) ibero ( ) rio

( ) ciclope ( ) ariete ( ) agape ( ) ia

( ) melancia ( ) fortuito ( ) Oceania ( ) maquinaria

( ) veio ( ) balaio ( ) ananas ( ) claustrofobia

( ) constitucionalissimamente ( ) mais ( ) iguais

02) Sobre a palavra itatiaia, é INCORRETO afirmar que:

A) É uma palavra paroxítona que também possui ditongo, hiato e glaide.

B) É uma palavra paroxítona que possui ditongo apenas e uma glaide.

C) É uma palavra paroxítona que possui ditongo decrescente.

D) É uma palavra composta por cinco sílabas, sendo que a tônica é a penúltima.

03) Justifique o acento das seguintes palavras:

a) sanduíche

b) designá-lo

c) Piauí

d) Jacarandá

e) experiência

f) fórum

g) nêutron

h) polígono

i) aprendê-lo

j) caracóis

k) Janaúba

l) tórax

04) O que mudou nas regras de acentuação a partir de 01 de janeiro de 2016?

45

05) No ano de 2009, os jornais divulgaram o crime que espantou o Brasil: o assassinato

da menina Isabela Nardone, que segundo as evidências teria sido assassinada pela

madrasta Ana Carolina e posteriormente atirada pela janela pelo seu pai, o estudante

de Direito, Alexandre Nardoni. Segundo os vizinhos que moravam no mesmo

apartamento onde moravam os Nardoni , a menina Isabela teria dito ao pai : “Pára,

pai!”. Mas segundo os Nardoni, a menina teria gritado: “Pára! Pai!”

( Adapt.: www.veja.com.br/acesso in 06/01/15)

a) Explique a diferença semântica entre as duas frases que Isabela teria

falado.

b) Em sua opinião, qual das duas frases teria sido a que Isabela falou. Por

quê?

c) Qual a regra de acentuação que se aplicava às palavras acima?

d) Nas novas regras de acentuação o que ficou estabelecido acerca da regra

de acentuação que se aplica ao caso desta reportagem?

TREINO ORTOGRÁFICO

1) O que é ortografia?

2) O que é caligrafia?

03) Dúvida: a letra x ou a letra ch ?

a) Após os ditongos, quem devemos usar: x ou ch? ..............................

b) Cite a exceção: ....................................

c) Após o prefixo en que letra devemos usar ? x ou ch ? ..........................

Cite as palavras que são exceções:

............................................................................................................................................

46

............................................................................................................................................

04) Complete agora com a letra x ou com a letra ch:

a) en...aqueca g) ma...i...e m) me...ido s) co....i....o

b) en...ame h) capri.....o n) ...ingar t) lin.....amento

c) en...ente i) bo...e....a o) encai...otar u) li...ar

d) pi...aim j) fle....a p) pe...in....a v) co....ilo

e) pi...ar k) apetre....o q) ....afariz x) engra...ate

f) amei...a l) recau...utar r) fa…ina z) en....iqueirar

05) Segundo a Gramática, qual é a regra geral para o uso da letra s e o uso da letra z ?

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

06) Resolva de acordo com o exemplo abaixo, mas seguindo a regra da gramática

para cada caso:

Ex.: aviso – avisar

a) improviso i) útil

b) catálise j)fértil

c) análise k)catequese

d) paralisia l) valor

e) pesquisa

f) civil

g) ameno

h) ágil

07) Escreva de acordo com o exemplo, mas siga a regra gramatical para cada caso:

Ex.: viúvo – viuvez

a) lúcido h) China

b) altivo i) Pequim

c) pequeno j) Milão

d) surdo k) Portugal

e) campo l) nu

f) monte m) sensato

g) burgo

08) Escreva de acordo com o exemplo, mas siga a regra gramatical para cada caso:

Ex.: permitir – permissão

a) conceder a) repelir

b) ceder b) impelir

c) interceder c) converter

d) suceder d) reverter

e) agredir e) inverter

f) regredir f) contraverter

g) transgredir g) verter

h) progredir h) ater

i) reprimir i) deter

j) suprimir j) abster

k) oprimir k) conter

l) comprimir l) reter

47

m) imprimir m) obcecar

n) permitir n) isentar

o) discutir o) correto

p) demitir p) exceto

q) admitir q) imergir

r) emitir r) aspergir

s) suspender s) contorcer

t) ascender t) distorção

u) compreender u) aquisir

v) repreender

w) apreender

x) expelir

y) compelir

09) Complete com as letras x , s, ss, xc, sc, c, ç , corretamente:

a) e....pontâneo k) pa...oca u) e...tor....ão

b) e...poente l) rica...o v) re...en...eamento

c) e....e....ivo m) pirra....a x) se....enta

d) de...ência n) sumi....o z) preten...ioso

e) ob....eno o) deten....ão y) pre....indir

f) mi....igenação p) re...i...ão w) vi....eras

g) e....eção q) a...e....or

h) la....ívia r) mi...to

i) e...ten...ão s) e...tin...ão

j) a...e.....o t) ob...e....ão

10) Complete com a letra j ou com a letra g:

a) exi...ir k) fuli...em

b) exi...o l) me....era

c) exi...imos m) pa...em

d) estran...eiro n) a....iota

e) can...ica o) lison...ear

f) lambu...em p) gor....eta

g) ma...estade q) ferru....em

h) vare...ista

i) sar....eta

j) o....eriza

11) Complete com a letra s ou com a letra z:

a) lapi...inho

b) ca...inha

c) pire...inho

d) mai...ena

e) profeti....a (feminino de profeta)

f) poeti...a

g) barone...a

h) consule…a

i) desli...ar (escorregar)

j) desli...ar (deixar de ser liso)

48

k) lou...a

12) Escreva de acordo com o modelo, mas aplicando a regra gramatical a cada caso.

Ex.: efetuar – efetue

a) atrair

b) corroer

c) influir

d) abençoar

e) perdoar

f) continuar

g) contribuir

h) possuir

13) Complete com eio ou então com io:

a) bloquear – eu bloq.... k) angariar – eu angar....

b) cambiar – eu camb... l) bombear – eu bomb.....

c) grampear – eu gramp... m) pentear – eu pent......

d) balancear – eu balanc.... n) afiar – eu af............

e) ampliar – eu ampl..... o) frear – eu fr...........

f) ansiar – eu ans..... p) intermediar – eu intermed.....

g) remediar – eu remed.....

h) incendiar – eu incend.....

i) odiar – eu od.........

14) As palavras abaixo segundo a gramática, podem ser escritas de duas maneiras.

Escreva diante delas a outra maneira que a gramática e o dicionário permitem:

a) quatorze o) dependurar

b) abdome p) estralar

c) aluguer q) flauta

d) amídala r) flecha

e) arrebentar s) geringonça

f) assoalho t) infarto

g) assobiar u) loiro

h) assoprar v) maquiagem

i) bêbado x) marimbondo

j) biscoito z) nenê

k) coisa y) tesoura

l) chipanzé w) voleibol

m) cociente

n) cumular

15) Segundo a gramática, que tipo de palavras que devem ser escritas com inicial

maiúscula?

49

CAPÍTULO 04: SEMÂNTICA: sinonímia, antonímia,

homonímia, paronímia e polissemia

“Sinônimo de amor é amar” ( Xitãozinho e Xororó)

50

CAPÍTULO 04

SEMÂNTICA: sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia e polissemia

É a parte da Gramática que estuda o significado das palavras. Apesar de ter

aparecido nas nossas gramáticas normativas didáticas de forma mais intensa a partir

da década de 1960, este estudo não é novo, porque significado de palavras é algo

importantíssimo em Hermenêutica, desde a Grécia Antiga. O estudo é antigo, mas a

partir dos estudos do pai da linguística, Ferdinand Saussure (1857-1913) que deu

início a um aprofundamento estruturalista da língua, outros linguistas seguiram

estudando o sentido destas estruturas e ampliando o léxico.

No Brasil, os estudos de semântica acabaram repercutindo no grandioso trabalho

de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989) e em 1972, ele escreveu o

famoso Dicionário da Língua Portuguesa. E outros bons dicionários têm sido

elaborados desde então.

Segundo o estudioso da semântica, o dinamarquês Louis Hjemslev (1957), o

estudo da significação das palavras deve se prender à estrutura delas dentro do plano

de conteúdo e do plano da expressão, mas o norte-americano Leonard Bloomfiel

(1935) já defendia que o estudo da semântica é hermético e está além da estrutura,

pois quanto mais o sujeito conhece o significado das palavras, mais ampliado será o

léxico, isto é, o vocabulário de tal pessoa.

Segundo Hjemslev e Bloomfield, semanticamente, as palavras poderão ser:

a) Sinônimas: são aquelas palavras que embora escritas de forma diferente,

possuem os mesmos significados.

Ex.: claro / límpido / vítreo / cristalino/ transparente.

b) Antônimas : são aquelas palavras que possuem escrita diferente, mas

significados opostos.

Ex.: claro / escuro.

c) Homônimas: são aquelas palavras que possuem a mesma pronúncia, porém

significação diferente.

Ex.: assento / acento.

d) Parônimas: são aquelas palavras que possuem pronúncia parecida com a de

outra palavra, porém o significado é diferente.

Ex.: cumprimento / comprimento.

e) Polissêmicas: são aquelas palavras que possuem a pronúncia e a escrita igual,

porém, a depender da forma que estão inseridas no contexto, elas possuem

significados diferentes.

Ex.: A manga da roupa está rasgada.

Ex.: A manga da árvore de seu quintal é manga – rosa.

51

Ex.: Hoje, haverá eleições municipais na cidade de Manga.

Ex.: Ele lembrou que na manga não havia mais nenhuma cabeça de gado.

OBS.: Em sua Gramática, Celso Cunha fala algo importantíssimo sobre as palavras.

Veja o que ele disse:

As palavras homônimas, quando sempre serão homófonas, isto é, terão o mesmo

som.

Exemplo: conserto / concerto.

As palavras polissêmicas são homógrafas, isto é, possuem a mesma escrita, porém

sentidos diferentes.

Exemplo: linha ( de trem) / linha ( de costura) .

As palavras parônimas são chamadas de heterofônicas porque elas possuem sons

parecidos, mas diferentes.

Exemplo: despensa / dispensa.

ATIVIDADE

01) Analise os pares de palavras abaixo e classifique de acordo com a relação

semântica:

a) entrave / obstáculo a) emigração / imigração

b) abrir /obstruir b) eminente / iminente

c) ostracismo / progressão c) emergir / imergir

d) agregar / diminuir d) emenda / ementa

e) resoluto / decidido e) há / a

f) moral / ética f) assento / acento

g) nortear / desencontrar g) aferir / auferir

h) rebuscado / acessível

i) cela / sela h) afear / afiar

j) despensa / dispensa i) a pouco / há pouco

k) bucho / buxo j) aprender / apreender

l) insipiente / incipiente k) arroxar / arrochar

m) flagrante / fragrante l) aura / áurea

n) infligir / infringir

o) inflação / infração

p) cassar / caçar

q) sessão/ cessão/ seção

r) a fim / afim

s) por que / porque/ por quê / porquê

t) mal / mau

u) onde / aonde

v) acerca de / há cerca de

w) absolver/ absorver

x) foi-se / foice

y) endemia/ epidemia

52

Autores e obras citados direta e indiretamente nos capítulos 03 e 04

CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português

Contemporâneo. Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. Pág. 25-76.

ILLARI, Rodolfo. Introdução à Semântica. Ed. Contexto: São Paulo; 2001.

53

CAPÍTULO 05: MORFOLOGIA: afixos, radicais,

morfemas e processos de formação de palavras.

“ Porque amar e perdoar vêm da mesma essência e raiz. Vêm das fontes eternas de

Deus” ( Ludmila Ferber)

54

CAPÍTULO 05:

MORFOLOGIA: afixos, radicais, morfemas e processos de formação de palavras

MORFOLOGIA: é a parte da Gramática que estuda a estrutura, os elementos mórficos

que compõem e formam as palavras e os vocábulos. A morfologia estuda também de

forma acurada e profunda as 10 classes de palavras.

Este estudo é bem antigo, pois desde a Grécia Antiga (por volta do século V a. C.) os

filósofos gregos se interessavam pelo estudo da forma e raiz das palavras por causa da

importância e da busca intensa deles pelo logos (filosoficamente falando, é o próprio

conhecimento e a própria verdade), mas, etimologicamente falando, logos é a palavra

em si mesma enquanto palavra destituída ou não de sentido. Na modernidade, a

morfologia recebeu um estudo mais aprofundado e riquíssimo no início da segunda

metade do século XX, na pessoa do linguista suíço, Ferdinand Saussure (1857-1913).

Ele ampliou os conceitos e as bases que hoje conhecemos sobre esta disciplina.

É preciso saber o que é palavra e o que é vocábulo

Em seu livro Manual de Morfologia Portuguesa, a autora Maria Nazareth de

Larocca, comentando a posição de Ferdinand Saussure sobre sintagma (assim foi que

Saussure chamou o radical e a palavra) e paradigma (assim foi que Saussure chamou

os afixos, os alomorfes e os vocábulos), dá a entender que palavra é toda estrutura

provida de sentido e que isoladamente é possível ser compreendida pelo falante. E

vocábulo é toda estrutura desprovida de sentido e que, isoladamente, não pode ser

compreendida pelo falante.

Os elementos mórficos

São aqueles que se unem à raiz da palavra e acabam dando origem à palavra em si.

Veja quem são eles e por que são tão importantes:

a) Radical: é também conhecido como sintagma e raiz, porque é a partir dele é que a

gente pode dar origem a uma palavra. Às vezes, ele aparece em forma de sintagma

(a raiz precisando de elementos para ser melhor entendida) e às vezes pode aparecer

em forma de palavra mesmo.

Ex.: A raiz : estud pode dar origem a várias palavras de uma mesma família.

Ex.: A raiz : menin pode dar origem a várias palavras de uma mesma família.

Ex.: A raiz: feliz pode dar origem a uma nova palavra quando acrescentamos a ela a

terminação –mente: feliz + mente = felizmente.

OBS.: Como podemos ver, no último exemplo o radical é uma palavra mesmo e não

um sintagma como nos dois exemplos acima.

PEQUENO EXERCÍCIO

1) Você poderia identificar o radical das palavras abaixo?

a) bananeira e) instituição f) precisamos

b) laranja f) palhaçada g) amanheceu

c) escolaridade g) pichação h) amadureceu

55

d) montesclarense h) aluno i) desempregado

b) As desinências: são os elementos que se ajuntam ao radical para formarem palavras

novas. As desinências de gênero, por exemplo, ajudam a formar o sexo do ser

envolvido na palavra (masculino e feminino); as desinências de número ajudam o

falante a entender se a palavra está no singular ou se está no plural.

Ex.: a palavra laranja - radical: laranj + a = laranja ( a letra a é desinência de número)

Ex.: a palavra laranjas – radical: laranj + a + s = laranjas ( a letra s é desin. de número)

Ex.: a palavra menino – radical: menin + o = menino( a letra o é desinência de gênero)

OBS.: É preciso também ter atenção às desinências verbais (só acontecem em verbos).

São chamadas desinências modo - temporais porque são responsáveis por indicar ao

falante e ao leitor o modo (indicativo, subjuntivo, imperativo) e o tempo (presente,

pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais- que- perfeito, futuro do pretérito,

futuro do presente) do verbo.

Exemplo: o verbo “estudaremos” – raiz: estud + a + re + mos ( o vocábulo re indica o

modo indicativo e o tempo futuro do presente).

c) A Vogal temática: é aquela que aparece para ligar o radical às desinências. Ela,

quando aparecer em verbos, será sempre: a, e, i , por causa das três conjugações

verbais de nossa língua: ar, er, ir.

Exemplo: a palavra laranja – raiz: laranj + a ( a letra a é vogal temática)

Exemplo: a palavra laranjas – a raiz: laranj + a + s ( a letra a é vogal temática)

OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Na nossa língua as palavras: ou são primitivas, ou são derivadas ou são compostas.

Existem inúmeras palavras que provêm das línguas estrangeiras e acabam se

incorporando a nossa língua materna e existem outras que existem em forma de siglas e

que fazemos uso delas, a fim de não ter que falar todo o conteúdo da sigla.

Palavras derivadas: são aquelas que passaram a existir a partir de um radical anterior

a ela, com o qual se ajunta e forma uma palavra nova. Veja os tipos de derivação:

a) Derivação por prefixação: acontece quando o prefixo (elemento mórfico que vem

antes do radical) junta-se à raiz e forma um nova palavra.

Exemplo: o prefixo in + o radical feliz = infeliz.

b) Derivação por sufixação: acontece quando o sufixo (elemento mórfico que vem

após o radical) junta-se à raiz e forma uma nova palavra.

Ex.: o sufixo mente + o radical feliz = felizmente.

56

c) Derivação por prefixação e sufixação: acontece quando o sufixo e o prefixo

juntam-se ao mesmo tempo ao radical e formam uma nova palavra. Em casos

assim, o radical deve sempre aparecer em forma de palavra e não de sintagma.

Ex.: o prefixo in + o radical feliz + o sufixo mente = infelizmente.

d) Derivação parassintética: acontece quando o sufixo e o prefixo juntam-se ao

radical, ao mesmo tempo e formam uma palavra nova. Em casos assim, o radical

sempre aparece em forma de sintagma e não de palavra.

Ex.: o prefixo a + o radical podr + o sufixo ecer = apodrecer.

e) Derivação imprópria: tem este nome porque é imprópria mesmo. Nela, uma

palavra ( adjetivo, verbo, pronome, advérbio, artigo, preposição, interjeição,

conjunção, numeral) deixa de pertencer àquela classe e passa a ser substantivo.

Ex.: O verbo intervir é o verbo esquecido pelos professores e alunos.

Ex.: O cinza é a cor que lembra solidão.

f) Derivação por regressão ou regressiva: tem este nome porque nela a palavra pode

perder uma estrutura (um sufixo, um prefixo, desinência) e aí aparecerá uma

palavra nova.

Ex.: a palavra caçador = o radical caç + a vogal temática a + o sufixo dor.

Se retirarmos o sufixo dor, então teremos a palavra caça.

III - Palavras formadas pelo processo de composição

Compostas, são aquelas palavras que são formadas por dois ou mais radicais, os

quais se unem e formam novas palavras. Segundo Maria Nazareth de Larocca, o

processo de composição de palavras demonstra que nossa língua é de léxico pobre,

porque mesmo palavras que a Gramática intitula novas, são na verdade resultantes de

outros radicais.

a) Composição por justaposição: ocorre quando dois ou mais radicais se unem

para formar palavras novas, mas na junção nenhum deles sofre alteração na

nova estrutura.

Ex.: Maria-vai-com-as-outras

b) Composição por aglutinação: ocorre quando dois ou mais radicais se unem

para formar palavras novas e na junção pode ocorrer perda na estrutura.

Ex.: planalto (plano + alto = planalto).

57

OUTROS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Além da derivação e da composição podemos apontar também como processos de

formação de palavras: o hibridismo, a onomatopeia e a abreviação.

a) Por hibridismo: ocorre quando um elemento mórfico de origem estrangeira une-

se a outro de língua materna ou de qualquer uma outra língua e formam uma

nova palavra.

Ex.: monocultura; alcoômetro; automóvel.

b) Por onomatopeia: acontece quando dois ou mais elementos mórficos se unem

e formam uma palavra nova a qual tem por finalidade reproduzir os sons

emitidos pelos seres vivos e pelos seres inanimados.

Ex.: bem-te-vi; tique-taque

c) Por redução: são palavras que se apresentam na forma reduzida com o fim de

sintetizar e evitar a pronúncia da palavra em sua forma plena.

Ex.: auto – em vez de automóvel

Ex.: cine – em vez de cinema

Ex.: extra – em vez extraordinário

OBS.: Os gramáticos pedem para que as pessoas tenham uma atenção toda especial para

com aquelas palavras que não são 100% da nossa língua. Por isso se deve ter atenção

com palavras de radicais gregos, de prefixos gregos, de prefixos e sufixos de língua

latina e de radicais latinos. Estas últimas são muitas porque como todos já sabem, a

nossa língua é proveniente da língua latina.

Confira os principais prefixos e radicais da língua latina e da língua grega.

Prefixos Latinos

Prefixos Significados Exemplos

a-, ab-, abs afastamento abstenção, abdicar

ambi- ambiguidade, duplicidade ambivalente, ambíguo

ante- anterioridade anteontem, antepassado

aquém- do lado de cá Aquém-mar

bene-, bem- excelência, bem beneficente, benfeitor

bis-, bi- Repetição; dois bicampeão, bisavô

cis- posição, aquém de cisandino, cisalpino

dis- separação, negação dissidência, disforme

e- ,em- ,en- introdução, superposição engarrafar, empilhar

extra- posição exterior, excesso extraconjugal, extravagância

intra- posição interior intrapulmonar, intravenoso

i-, im-, in- negação, mudança ilegal, imberbe, incinerar

justa- posição ao lado justalinear, justaposição

per- movimento através de perpassar, pernoite

pos- ação posterior, em seguida pós-datar, póstumo

pre- anterioridade, superioridade pré-natal, predomínio

pro- antes, em frente, intensidade projetar, progresso, prolongar

pro- além de, mais para frente prosseguir

re- repetição, para trás recomeço, regredir

retro- movimento mais para trás retrospectivo

semi- metade, quase semicírculo

trans- posição além de transamazônica

tri três tricolor

vis , vice substituição visconte , vice-reitor

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Radicais Latinos

Radicais Significados Exemplos

aristo- melhor aristocracia

arqueo- antigo arqueologia, arqueólogo

antos- flor antologia, crisântemo, perianto

atmo- ar atmosfera

auto- mesmo, próprio autoajuda, autômato

baro- peso, pressão barômetro, barítono

biblio- livro bibliófilo, biblioteca

bio- vida biologia

caco- mau cacofonia, cacoete

cali- belo caligrafia, calígrafo

carpo- fruto pericarpo

céfalo- cabeça cefalópodos, cefaléia, acéfalo

cito- célula citoplasma, citologia

copro- fezes coprologia, coprofagia

cosmo- mundo microcosmo, cosmonauta

crono- tempo cronômetro, diacrônico

dico- em duas partes dicotomia, dicogamia

eno- vinho enologia, enólogo

entero- intestino enterite, disenteria

etno- povo étnico, etnia, etnografia

filo-, filia- amigo, amizade filósofo, filantropia

fono- som, voz fonética, disfonia

gastro- estômago gastrite, gastronomia

hemo- sangue hemorragia, hemodiálise

hidro- água hidravião, hidratação

higro- úmido higrófito, higrômetro

hipo- cavalo hipódromo, hipopótamo

-ambulo que anda noctâmbulo, sonâmbulo

-cida que mata fratricida, inseticida

-cola que habita arborícola, silvícola

-cultura que cultiva triticultura, vinicultura

-evo idade longeva, longevidade

-fero que contém ou produz mamífero, aurífero

-fico que faz ou produz benéfico, maléfico

-forme que tem a forma cordiforme, uniforme

-fugo que foge cermífugo, centrífugo

-grado grau, passo centígrado

-luquo que fala ventríloquo

-paro que produz ovíparo

-pede pé velocípede, bípede

-sono que soa uníssono

-vago que vaga noctívago

-voro que come carnívoro, herbívoro, onívoro

Radicais Gregos

Radicais

Significados Exemplos

acro alto acrópole

aero ar aeródromo

agogo que conduz pedagogo

biblio livro bibliófilo

bio vida biografia

cardio coração cardiologia

deca dez decâmetro

delo visível psicodélico

enea nove eneassílabo

entero intestino entérico

fito planta fitóide

fisis natureza fisiológico

gero velho geriatria

gimno nu gimnofobia

hialo vidro hialino

hiero sagrado hieróglifo

latria adoração idolatria

59

leuco branco leucócito

melano negro melanina

mero parte isômero

nefro rim nefrite

neo novo neolatino

onico unha onicofagia

oniro sonho onírico

penta cinco pentágono

pepsis digestão dispepsia

quilo mil quilômetro

quiro mão quiromante

rino nariz rinite

rizo raiz rizotônico

scopia ato de ver datiloscopia

selene lua selenita

tafo túmulo epitáfio

xeno estrangeiro xenófobo

xero seco xerográfico

xilo madeira xilogravura

zime fermento enzima

zoo animal zoológico

Prefixos gregos

Prefixos Significados Exemplos

acro- alto acrobata

aero- ar aerodinâmica

agro- campo agrônomo, agricultura

antropo- homem antropofagia, filantropo

homo- igual homogêneo, homógrafo

idio- próprio idioma, idioblasto

macro-, megalo-

grande, longo macronúcleo, megalópole

metra- mãe, útero endométrio, metrópole

meso- meio mesóclise, mesoderme

micro- pequeno micróbio, microscópio

mono- um monarquia, monossílabo

necro- morto necrópole, necrofilia, necrópsia

nefro- rim nefrite, nefrologia

odonto- dente odontalgia, periodontista, odontologia

oftalmo- olho oftalmologia, oftalmoscópio

onto- ser, indivíduo ontologia

orto- correto ortópteros, ortodoxo, ortodontia

pneumo- pulmão pneumonia, dispnéia

ATIVIDADE

01) Faça a análise mórfica e classifique o processo de formação de palavras:

a) felizmente i) almejar

b) infelizmente j) desmoralizar

c) felicidade k) imoralidade

d) infelicidade l) festança

e) desmotivação m) rever

f) motivação o) paternidade

g) montesclarense p) inatividade

h) deslealdade r) sustentabilidade

60

02) Classifique as palavras abaixo segundo o processo de composição:

a) planalto

b) fidalgo

c) vinagre

d) pé - de-moleque

e) girassol

f) pernilongo

g) embora

h) outrora

i) televisão

j) arco-íris

k) pernalta

l) entreaberto

m) aguardente

Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo

CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo. 3 ed. Nova Fronteira. Rio de

Janeiro; 1985. Pág.75-114.

LAROCA, Maria Nazareth de. Manual de Morfologia do Português. 3ª ed. Pontes. SP. 2003.

LOPES, Edward. Fundamentos da Linguística Contemporânea. 8ªed. Cultrix. SP. 1999.

61

CAPÍTULO 06: INTRODUÇÃO ÀS DEZ CLASSES

DE PALAVRAS

“Palavras apenas, palavras pequenas, palavras” ( Cássia Éller)

62

CAPÍTULO 06: INTRODUÇÃO ÀS DEZ CLASSES DE PALAVRAS

Na minha Gramática eu decidi não sobrecarregar os meus leitores com as muitas

regras (tanto as necessárias como aquelas regras que geram controvérsias entre os

gramáticos) referentes às dez classes de palavras. Tencionei aqui me demorar apenas

nas classes mais cobradas nos concursos, vestibulares e no Exame Nacional do Ensino

Médio e que representam as maiores dificuldades que são as seguintes classes: verbo,

adjetivo, pronome e advérbio. As demais, como são menos complexas, vou colocar

apenas os casos que mais geram dúvidas. Começarei com a classe que mais requer

atenção e sem a qual os principais enunciados não teriam sentido: o verbo.

Mas antes, eu gostaria de tecer algumas considerações importantes sobre as dez classes

de palavras. Veja bem o que é importante que você tenha em mente sobre elas:

Classe Possui gênero? Aceita o plural? Possui grau? A função

substantivo masc /feminino sim aumentativo/diminutivo dar nome aos seres

adjetivo masc /feminino sim comparat./ superlativo caracterizar

pronome masc/ feminino sim não substituir os nomes

verbo não possui sim não indicar ação/estado

numeral masc/feminino sim não quantificar

artigo* masc/ feminino sim não definir e indefinir

preposição* não não não ligar palavras

conjunção* não não não ligar orações

advérbio não não comparativo/superlativo modificar verbos

interjeição* não não não expressar emoções

(* ) Estas classes são vistas por bons escritores como vocábulos, já que isoladamente são desprovidas de sentido.

O SUBSTANTIVO – Algumas dificuldades

Substantivo é a palavra que dá nome aos seres. Desde as séries iniciais do Ensino

Fundamental o substantivo é apresentado ao aluno e os professores de Língua

Portuguesa têm a árdua tarefa de animá-los na identificação dos substantivos ( próprios,

comuns, sobrecomuns, epicenos, concretos, abstratos, primitivos, derivados, compostos

e coletivos) na flexão deles em masculino e feminino, em singular e plural bem como

no grau aumentativo e diminutivo. Gostaria de me deter aqui apenas nas dificuldades

que meus alunos mais encontraram na flexão dos substantivos.

Plural dos substantivos

Há alguns questionamentos relacionados com as regras que se aplicam a eles. Por

exemplo, há dificuldades no emprego do plural dos nomes. Veja algumas orientações

que a Gramática Tradicional dá para estes casos:

a) Substantivos terminados em vogal ou em ditongo formam o plural pelo

acréscimo da letra s:

Ex.: livro – livros; degrau – degraus; troféu – troféus.

63

b) Substantivos terminados pelo ditongo “ –ão” formam o plural de três

maneiras : - ões, -ães e –ãos.

Ex.: eleição – eleições; casarão – casarões; alemão – alemães; cidadão-

cidadãos;

Obs.: Alguns substantivos terminados em –ão podem apresentar mais de uma

forma para o plural.

Ex.: ancião – anciões, anciãos ou anciães

Ex.: aldeão – aldeões, aldeãos ou aldeães.

c) Quando os substantivos terminam com as letras r e z, forma-se o plural

acrescentando –es:

Ex.: açúcar – açucares; talher – talheres; xadrez – xadrezes; cruz – cruzes.

d) Substantivos terminados com a letra s, se não forem oxítonos, não vão para o

plural.

Ex.: o pires – os pires; o lápis- os lápis; o ônibus – os ônibus

Obs.: Mas se forem oxítonos, formam o plural acrescentando as letras es

Ex.: país – países; ananás – ananases; japonês – japoneses.

e) Substantivos terminados com a letra x não vão para o plural.

Ex.: o tóráx – os tórax; o ônix – os ônix

f) Substantivos terminados com as letras: al, el, ol, ul formam o plural

acrescentando-se a letra s.

Ex.: animal – animais; papel- papéis; farol – faróis; paul- pauis.

Obs.: Substantivos terminados em il, se forem oxítonos, formam o plural

trocando a letra l pela letra s.

Ex.: funil – funis; barril- barris.

Obs.: Mas se forem paroxítonos, então para formar o plural devemos fazer a

troca das letras il pelas letras eis.

Ex.: fóssil – fósseis; projétil – projéteis; réptil – répteis.

64

- Plural dos nomes compostos

Formamos o plural dos substantivos de acordo com as seguintes normas:

a) Substantivo + substantivo: ambos vão para o plural.

Ex.: cirurgião-dentista/ cirurgiões dentistas

b) Substantivo + adjetivo: ambos vão para o plural

Ex.: cachorro-quente/ cachorros quentes

c) Adjetivo + substantivo: ambos vão para o plural

Ex.: curto-circuito /curtos-circuitos

d) Numeral + substantivo: ambos vão para o plural

Ex.: segunda-feira/ segundas-feiras

e) Quando a palavra for composta, mas sem hífen: irá para o plural apenas o

último elemento.

Ex.: pontapé/ pontapés; girassol/ girassóis.

f) Verbo + substantivo: apenas o último vai para o plural.

Ex.: guarda-roupa/ guarda-roupas

g) Substantivo + preposição + substantivo: apenas o primeiro vai para o plural.

Ex.: pé- de- moleque / pés de moleque.

h) Advérbio + substantivo: apenas o último elemento vai para o plural.

Ex.: sempre-viva/ sempre-vivas

i) Elementos invariáveis + substantivo: apenas o último elemento vai para o

plural.

Ex.: autoescola / autoescolas; alto-falante/ alto-falantes; abaixo-assinado/

abaixo-assinados.

j) Quando o segundo elemento é que determina o primeiro: apenas o primeiro

elemento vai para o plural.

Ex.: pombo-correio / pombos-correio; caneta-tinteiro/ canetas-tinteiro; fruta-

pão/frutas-pães.

Obs.: Bons gramáticos levam ambos para o plural.

65

k) Em palavras repetidas: apenas o último elemento vai para o plural.

Ex.: tico-tico/ tico-ticos.

l) Casos especiais: merecem toda a atenção estas palavras compostas que

permanecem invariáveis.

Ex.: arco-íris/ os arco-íris; o louva-deus/ os louva-deus; o bem-te-vi/ os bem-te-

vis; o joão-ninguém/os joões-ninguém; o fora-da-lei/ os fora-da-lei; o mico-leão-

dourado/ os mico-leão-dourado.

Plural dos nomes com mudança de timbre

Certos substantivos formam o plural com mudança de timbre na vogal tônica (som

fechado ( ô ) e às vezes com o som aberto ( ó ) no chamado plural de metafonia.

Ex.: corpo ( ô ) – corpos ( ó )

Ex.: esforço ( ô ) – esforços ( ó )

Obs.: Como o plural das palavras acima, a vogal tônica ficará aberta ( ó ) nas

seguintes palavras : ovos, fogos, fornos, fossos, impostos, olhos, poços, portos, postos,

rogos e tijolos.

Obs.: Têm a vogal tônica fechada ( ô ): adornos, almoços, bolsos, esposos, estojos,

globos, gostos, polvos, soros, molho (caldo de carne) e outros.

SUBSTANTIVOS CUJOS GÊNEROS GERAM DÚVIDA

Há um tipo de substantivo denominativo de pessoas e animais que só possuem um

gênero e outros possuem os dois gêneros e por isso são chamados de comuns de dois.

a) Substantivo epiceno: designam certos animais e têm um só gênero, quer se

refiram ao macho ou à fêmea.

Ex.: cupim macho / cupim fêmea

b) Sobrecomuns: designam a pessoa e têm um só gênero, quer se refiram a homem

ou a mulher.

Ex.: criança ( menino / menina); testemunha ( homem/ mulher).

c) Comum de dois gêneros: sob uma só forma designam os indivíduos de ambos os

sexos pelo artigo que os precede.

Ex.: o colega / a colega; o cliente / a cliente.

66

d) Substantivos de gênero incerto: são aqueles que os escritores utilizam ora como

masculino e ora como femininos. Vou deixar aqui aqueles que as gramáticas já

padronizaram como sendo a pronúncia e escrita preferível:

Ex.: a acne; a aluvião; a cólera; a personagem; a íbis; a laringe; a xérox; o ágape;

o diabetes; o preá; o sabiá; o sósia; o tapa; o eclipse; o dó ( pena); o champanha;

o maracujá; o clã, o hosana; o herpes; o espécime; o suéter; o guaraná; a

dinamite; a áspide; a derme; a hélice; a cataplasma; a mascote; a pane; a gênese;

a entorse; a libido; a cal; a faringe; o grama ( peso); o diagrama; o aneurisma; o

estratagema; o eczema; o magma; o anátema; o estigma; o hematoma; o

glaucoma.

Autor e obra citado direta e indiretamente neste capítulo

CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo.

3ª ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro; 1985. Pág.75-114.

67

CAPÍTULO 07: O VERBO

“Ao conjugar o verbo ser e ao repartir o verbo ter” ( Padre Zezinho)

68

CAPÍTULO 07 : O VERBO

É toda palavra que indica ação. Sobretudo ação. Dos muitos verbos que existem, a

maioria deles indica ação.

Exemplo: A gota d’água cai, tomba, despedaça e morre.

Alguns verbos não indicam ação, indicam estado e mudança de estado. São chamados

de verbos de ligação porque sua função é ligar o sujeito com o predicativo (que é a

palavra e também expressão que aparece depois do verbo de ligação e caracteriza o

sujeito). Os verbos de ligação são apenas dois: ser e estar.

Exemplos: Água da Copasa é saúde.

A água da Copasa está purificada.

OBS.: Apesar de a Gramática considerar os verbos ser e estar como sendo verbos de

ligação, ela diz que todo e qualquer outro verbo que tiver o mesmo sentido de ser e

estar também são verbos de ligação.

Exemplos: As crianças viraram o barco e ele afundou na piscina.

As crianças viraram umas feras quando as coloquei de castigo.

Note que no primeiro caso, o verbo virar indica uma ação e, portanto, é verbo de ação.

No segundo caso é verbo de ligação porque indica estado e mudança de estado e tem

o mesmo sentido do verbo ser.

Alguns verbos indicam ações praticadas pela natureza. São os verbos de fenômeno da

natureza. Ex.: Chove, venta, troveja e relampeja.

Razões fundamentais por que os verbos existem

a) Para apontar o sujeito e o objeto das orações, pois a estrutura canônica da

maioria das orações é composta por estes três elementos: sujeito, verbo e objeto

(S +V+O). Para encontrar o sujeito, é necessário questionar ao verbo;

b) Para distinguir frase e oração. Frase é todo enunciado que não precisa de verbo

para ser entendido, mas oração precisa de verbo porque cada verbo é uma

oração.

OS SUJEITOS E OS PREDICADOS

SUJEITO: é o ser de quem o verbo diz alguma coisa. Na oração ele e o objeto são

essenciais. Vejam os cinco tipos:

a) Sujeito Simples: é aquele que o verbo aponta apenas um elemento ( na essência

e não na quantidade) praticando a ação e também passando pelo estado e

mudança de estado, quando for verbo de ligação.

Ex.: O concurso está mais perto que longe.

69

Ex.: Os vestibulares deterioram neurônios.

b) Sujeito Composto: é aquele que aponta mais de um elemento que pratica a

ação e que também pode passar pelo estado e mudança de estado expresso pelos verbos

de ligação. Ex.: Os concursos, os vestibulares e o ENEM deterioram os neurônios.

c) Sujeito Oculto: é aquele que se esconde atrás do verbo, mas existe e pode ser

encontrado se perguntar ao verbo.

Exemplo: Vim, vi e venci.

c) Sujeito Indeterminado: é aquele que a pessoa que escreve a oração não quer

identificar, mas existe e quando se pergunta por ele ao verbo, o verbo responde:

alguém.

Ex.: Precisa-se de encanadores.

Ex.: Atropelaram uma pessoa na Rua da Felicidade.

c) Sujeito Inexistente: é aquele que não existe porque o verbo não pode apontar. É

o caso dos verbos de fenômeno da natureza e do verbo haver ( no sentido de

existir) e dos verbos chega de e basta de.

Exemplos: Há pessoas na fila do PSIU.

Chove pouco no Norte de Minas.

Chega de trabalho por hoje.

Basta de corrupção.

OBS.: Já é de lei na Gramática: estas palavras podem ser sujeito: substantivo, adjetivo,

verbo, numeral, pronome e artigo, mas estas palavras não podem ser sujeito:

advérbio, conjunção, preposição e interjeição.

O PREDICADO: é o restante da oração, quando se tira fora o sujeito. Existem três

tipos de predicados:

a) PV- Predicado Verbal: é toda oração que só possui verbo de ação.

Ex.: Os livros não só instruem, mas também divertem.

b) PN- Predicado Nominal: é toda oração que só possui verbo de ligação.

Ex.: As árvores são o pulmão do mundo.

c) PVN- Predicado Verbo-Nominal: é toda oração que possui verbo de ação e

verbo de ligação ao mesmo tempo.

Ex.: Os alunos fizeram a prova, mas estavam ansiosos pelo resultado.

OBS.: Deve-se ter cuidado com o predicado verbo-nominal porque, às vezes,

nele o verbo de ligação costuma a não aparecer explicitamente. Em casos assim,

ache o predicativo do sujeito e aí facilmente se identificará o verbo de ligação

que estiver escondido.

70

Ex.: O soldado voltou da guerra ferido.

AS FORMAS NOMINAIS DO VERBO: particípio, gerúndio e infinitivo

O PARTICÍPIO: o particípio não é verbo, é uma forma que o verbo assume. No caso,

a forma de adjetivo ( palavra que caracteriza o substantivo)

Ex.: A aula estava terminada.

Para muitos, a palavra terminada é um verbo e, às vezes, alguns gramáticos admitem

isso, por exemplo, há gramáticas que por razões lógicas classificam o particípio como

sendo verbo principal, mas ele é na realidade um adjetivo “fantasiado” de verbo.

Ex.: O livro tinha sumido da prateleira.

Formar o particípio é simples: basta acrescentar à raiz do verbo as seguintes

terminações: ado e ido. Verbos terminados em ar ficam com a terminação ado em

seus particípios e verbos terminados em er e ir ficam com a terminação ido em seus

particípios.

Ex.: o verbo estudar- a raiz: estud + ado = estudado

Ex.: o verbo aprender- a raiz: aprend + ido = aprendido

Ex.: o verbo existir- a raiz: exist + ido = existido

Alguns gramáticos aconselham a formar o particípio também com a ajuda do verbo

auxiliar tinha. Ex.: do verbo estudar = tinha estudado.

OBS.: Mas nem todos os verbos aceitam a terminação ado e ido em seus particípios.

Ex.: o verbo escrever = tinha escrito.

Veja em sua gramática a lista dos demais verbos que não aceitam ado e ido.

OBS.: Quando um verbo assume a forma de advérbio, ele deixa de ser verbo e se

transforma em gerúndio. Então se acrescenta à raiz do verbo a terminação ndo.

Ex.: o gerúndio do verbo estudar = estudando.

Quando um verbo assume a forma de substantivo, ele deixa de ser verbo e se

transforma em infinitivo. No infinitivo, acrescentamos à raiz do verbo as terminações:

ar, er , ir as quais formam as três conjugações verbais da Língua Portuguesa.

Ex.: cantar, vender, partir.

AS VOZES DOS VERBOS: os verbos possuem vozes para indicar para nós que

lemos se o sujeito: pratica a ação, se sofre a ação ou se pratica a ação ao mesmo tempo

que a sofre. Veja:

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a) a voz ativa: nela o sujeito faz a ação. Nesta voz, a estrutura S+V+O aparece na

ordem perfeita. Ex.: A Bíblia ensina os dez mandamentos.

b) a voz passiva: nela o sujeito sofre a ação. Ocorre na verdade uma inversão:

quem era sujeito na voz ativa, vira objeto - agente (porque continua agindo) na

voz passiva e quem era objeto na ativa, vira sujeito na passiva. Por toda esta

análise, chama-se a esta voz, voz passiva analítica.

Ex.: Os dez mandamentos são ensinados pela Bíblia.

A voz analítica é formada assim: sujeito + verbo de ligação + particípio do verbo

de ação lá da voz ativa + agente da passiva.

OBS.: Existe a voz passiva sintética, isto é, resumida. Ela é formada assim:

verbo + partícula se + sujeito.

Ex.: Alugam-se apartamentos.

OBS.: Que ninguém nunca esqueça isso: quando vier o verbo + partícula se,

então a próxima palavra ou expressão, seja do tamanho que for, será o sujeito.

Mas quando vier verbo + partícula se + preposição, então a próxima palavra

que vier à frente não será sujeito, será objeto. Veja a diferença drástica:

Ex.: Precisa-se de encanadores.

Ex.: Sabe-se que nem tudo são flores.

c) a voz reflexiva: é aquela em que o sujeito faz e sofre a ação ao mesmo tempo.

Ex.: A aluna perdeu-se em meio à leitura.

REGÊNCIA VERBAL

Regência é o nome que a Gramática dá ao ato de a gente questionar se um verbo precisa

ou não de complemento (em algumas gramáticas é chamado de objeto). A estrutura canônica

das orações é sempre a mesma: S + V + O. Para sabermos o sujeito, devemos perguntar ao

verbo: “quem?” e para sabermos o objeto, devemos perguntar ao verbo: “o quê?” Por isso

devemos ter em casa sempre o dicionário e também o dicionário de Regência (nele está a

regência de todos os verbos). Os bons dicionários atuais já trazem a regência dos verbos diante

deles com as siglas: v.t.d.(verbo transitivo direto), v.t.i.(verbo transitivo indireto) e v.i. ( verbo

intransitivo). Lembre-se: o regente é o verbo e o regido é o objeto.

1.2- Por que é importante saber.

Sempre que alguém vai escrever um texto, se tal pessoa não souber quando se deve, ou quando

não se deve colocar preposição diante de um verbo, então a Gramática diz que o texto possui

problemas na regência.

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1.4- Como os verbos são quanto à regência

a) Verbo intransitivo (v. intr.): é todo aquele que verbo que não precisa de complemento,

isto é, não levanta a pergunta: “o quê?” porque em si, ele já é completo.

Ex.: A plantinha morreu.

OBS.: A pergunta pelo objeto é sempre a mesma: “o quê?”. Perguntas do tipo: “

COMO?, ONDE? / QUANDO? e POR QUÊ? não são perguntas por objetos e sim por

advérbios. E a Gramática deixa bem claro que advérbio não pode ser sujeito e nem

objeto.

b) Verbo Transitivo direto (v.t.d.): é todo aquele verbo que precisa de objeto e sempre

levanta a pergunta: “o quê?”. Como o contato entre ele e o objeto é direto, por isso a

Gramática chama de verbo transitivo direto.

Ex.: Os alunos fizeram as provas.

c) Verbo Transitivo Indireto (v.t.i.): é todo aquele verbo que precisa de objeto e sempre

levanta a pergunta: “o quê?”, porém o contato entre ele e o objeto não é direto, porque

entre eles aparece uma preposição obrigatória.

Ex.: Os alunos não gostaram de duas questões da prova.

OBS.: As preposições essenciais são: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em,

entre, para, por, perante, sem, sob, sobre, trás.

d) Verbos transitivos diretos e indiretos ou bitransitivos: são aqueles que pedem ao mesmo

tempo objeto direto e objeto indireto.

Ex.: O aluno deu um livro para seu colega.

Ex.: Prefiro uma filha analfabeta a uma filha doida.

Obs.: Complemento Nominal não é o mesmo que objeto indireto porque no caso do objeto

indireto, quem pede o complemento é um verbo transitivo indireto. O complemento nominal,

ao contrário, é um nome ( substantivo, adjetivo, advérbio) que reclama o complemento e para

se ligar a ele necessita da preposição obrigatória.

Ex.: Tenho confiança em você.

Ex.: O fumo é prejudicial à saúde.

Obs.: Tampouco se deve confundir o adjunto adnominal com o complemento nominal, porque

como o próprio nome já indica, o adjunto adnominal é a palavra que fica próxima ao nome

(substantivo) ou que se refere diretamente a ele para que ele não seja confundido com qualquer

outro nome.

Ex.: Dolly guaraná o sabor brasileiro. ( propaganda Dolly Guaraná)

Veja nos exemplos acima que as palavras Dolly, o artigo definido “o” e o adjetivo “brasileiro”

se referem diretamente aos substantivos guaraná e sabor.

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Os alunos geralmente reclamam que a confusão entre adjunto adnominal e complemento

nominal geralmente acontece por culpa das preposições que podem aparecer tanto em um

quanto em outro. Quando houver uma preposição, aí vocês devem simplesmente ver se têm

sentido ativo ( o sujeito faz a ação) ou sentido passivo ( sujeito sofre a ação)

Ex.: A resposta do aluno foi satisfatória. [ o aluno deu a resposta. Sujeito ativo = a palavra

“aluno” é adjunto adnominal]

Ex.: A resposta ao aluno foi satisfatória. [ o aluno recebeu a resposta. Sujeito passivo = a

palavra “aluno” é complemento nominal]

Entendam: O complemento nominal representa o alvo da ação expressa por um nome que

reclama complemento regido de preposição obrigatória.

Ex.: a eleição do presidente, aviso de perigo, declaração de guerra, empréstimo de

dinheiro, plantio de árvores, descoberta de petróleo, amor ao próximo.

Já o adjunto adnominal é formado por uma locução adjetiva e representa o agente da ação, a

origem, a pertença e a característica de algo ou de alguém.

Ex.: o discurso do presidente, aviso de amigo, empréstimo do banco, presente de rei, farinha

de trigo...

OBS.: Preposição os escritores colocam onde querem

Por isso mesmo é que quando a gente for procurar a regência de um verbo, devemos:

perguntar ao verbo se ele pede preposição ou não, consultar o dicionário de regência e a

Gramática para ver se realmente aquele verbo pede ou não a preposição e, em último caso,

tentar tirar a preposição e ver se a oração sem ela teria sentido ou não.

Veja, por exemplo, as orações abaixo:

Ex.: Os romanos adoravam a Júpiter.

Ex.: Judas traiu a Cristo.

Nestes dois casos, a Gramática diz que o verbo trair é V.T.D., portanto não precisam de

preposição obrigatória. A preposição foi posta somente por realce. A este tipo de objeto direto

dá-se o nome de objeto direto preposicionado.

1.6 - Alguns verbos que possuem dupla regência e com os quais se deve ter atenção:

a) Assistir

Toda vez que ele aparecer significando ver, presenciar, ele será VTI:

Ex.: Ela assiste a toda a programação.

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Toda vez que significar: dar assistência, então ele será VTD.

Ex.: O enfermeiro assiste o doente.

b) Aspirar: toda vez que aparecer significando cheirar, ele será VTD:

Ex.: Nós aspiramos o ar puro das colinas.

Toda vez que aparecer com significado de almejar ou desejar, então será VTI:

Ex.: O povo aspira a um mundo de paz.

Atenção: Outros verbos muito conhecidos no nosso dia a dia e que admitem dupla regência são

os seguintes: esquecer / lembrar / pagar/ perdoar / querer e outros.

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO

1) O que é verbo? Quantos verbos existem na Gramática e no Dicionário da Língua

Portuguesa?

2) Explique as duas razões principais por que os verbos existem.

3) Qual é a estrutura canônica das orações?

4) Circule os verbos que aparecem nos enunciados abaixo e diga se indicam ação,

estado e mudança de estado ou se indicam fenômeno da natureza:

a) A lua ia grande e bela. ( Eça de Queiroz)

b) As plantas purificam o ar.

c) O alto ipê cobre-se de flores amarelas.

d) Devagar se vai ao longe.

e) A mulher trovejava reclamações

f) Tu e outros velhacos de tua laia lhe estorroaram na cara lixo e terra.

g) Quem mais nada é quem mais se afoga.

h) Choviam pétalas de rosas.

i) Às vezes passam-se anos sem que ninguém passe por aqui.

j) Nas férias, permaneço no escritório.

k) Nas férias, permaneço doente.

5) Circule os verbos e enumere corretamente de acordo com os tipos de sujeitos

entre parênteses:

( S.S) Sujeito Simples ( S.O) Sujeito Oculto

( S.C) Sujeito Composto ( S.Inx) Sujeito Inexistente

( S.I ) Sujeito Indeterminado

( ) Era uma vez quarenta burros.

( ) Ao bom entendedor meia palavra basta.

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( ) Basta de tanta roubalheira na Petrobrás.

( ) Cada um puxa brasa para sua sardinha.

( ) Toda pessoa que mente, rouba.

( ) Não te faça de valentão com o vinho, porque ele arruinou a muita gente.

( ) Houve guerra no Céu.

( ) O livro de papel e o computador se complementam.

( ) Quem é você?

( ) Que é isso, companheiro?

( ) Quebraram a vidraça.

( ) Alguém quebrou a vidraça.

( ) Hoje são oito de janeiro de 2015

( ) Achar-se-ão novas técnicas

( ) É proibido fumar neste recinto.

06) Substitua o verbo ter [ cujo único sentido na Gramática é possuir] pelo verbo correto

haver [ no sentido de existir] conforme a Norma Culta:

a) Lá em casa têm dezoito pés de acerola.

b) Tiveram ótimos alunos neste colégio.

c) Devem ter políticos honestos.

d) Tem anos que eu não vejo aquele povo.

e) Bati à porta do banheiro, mas alguém respondeu de dentro: “ Tem gente!”

f) Não tem nada a ver – disse o garoto.

g) Chegou à padaria e questionou ao padeiro: “ Tem pão?”

h) “ Meu bem, não tem ninguém que me faz conhecer o mundo e fantasias. Você e

eu e ninguém mais vive o amor que é pura magia” ( João Neto e Frederico)

07) Analise os enunciados abaixo grife os verbos e classifique os predicados de acordo

com a Gramática conforme aparecem entre parênteses:

( PV) Predicado Verbal ( PN) Predicado Nominal ( PVN) Predicado Verbo-

nominal

( ) As árvores purificam o ar.

( ) Os livros não só ensinam, mas também divertem.

( ) Você deita, mas o sono se levanta.

( ) Você está na sombra do olhar.

( ) Inesquecível é você.

( ) Os alunos fizeram a prova aflitos.

( ) Quem fala o que quer, escuta o que não quer.

( ) Nas aulas de direção ela ficou nervosa.

( ) Nas aulas de direção ela ficou sentada dentro do carro parado.

( ) Chove pouco em Montes Claros.

( ) Não era eu, não era eu.

( ) Eu acho Carla bonita.

( ) O garoto despediu-se do pai inconformado.

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08) Passe para a voz passiva analítica, quando for possível:

a) Digitam-se trabalhos escolares. ..........................................................................

b) Constrói-se muito em Brasília. ............................................................................

c) Enganar-me-ão. .......................................................................................................

d) Precisa-se de datilógrafos. ...................................................................................

e) Antecipam-se as datas .........................................................................................

f) Fala-se muito em paz ...........................................................................................

09) Dê o particípio correto, de acordo com a Gramática:

Exemplo - de pedir: pedido

a) de fazer k) de ver

b) de trazer l) de ter

c) de escrever m) de querer

d) de ler n) de vir

e) de dizer o) de caber

f) de ganhar p) de estacionar

g) de gastar r) de pôr

h) de pagar s) de pegar

i) de morrer

j) de haver

10) Faça a conjugação dos verbo abaixo nos seguintes modos e tempos:

Verbo ser no presente do indicativo Verbo ser no pretérito + q. perfeito

Eu Eu

Tu Tu

Ele Ele

Nós Nós

Vós Vós

Eles Eles

Verbo ser no pretérito perfeito Verbo ser futuro do pretérito

Eu Eu

Tu Tu

Ele Ele

Nós Nós

Vós Vós

Eles Eles

Verbo ser no pretérito imperfeito Verbo ser futuro do presente

Eu Eu

Tu Tu

Ele Ele

Nós Nós

Vós Vós

Eles Eles

Verbo intervir no pres. do subj. Verbo intervir pret. imperf. Subj.

Que eu Se eu

Que tu Se tu

Que ele Se ele

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Que nós Se nós

Que vós Se vós

Que eles Se eles

Verbo intervir no fut. pres. subjuntivo Verbo ver no fut. pres. subjuntivo

Eu Eu

Tu Tu

Ele Ele

Nós Nós

Vós Vós

Eles Eles

Verbo vir no fut. presente do subjuntivo

Eu

Tu

Ele

Nós

Vós

Eles

11) Circule o regente (verbo) e dê a função sintática do regido (objeto):

a) Os romanos adoravam a Júpiter.

b) A Guerra do Golfo foi como assistir a um filme.

c) Esquecemos tudo

d) Esquecemo-nos de tudo.

e) Lembrei sua formatura.

f) Lembrei-me de sua formatura

g) Sempre cumpro com meu dever

h) Jamais aquele povo beberá de meu vinho.

i) Alfredinho aspirou a gasolina.

j) Alfredinho aspirou à gasolina

k) O motorista exemplar nunca desobedece à legislação.

l) Precisa-se de duas empregadas domésticas com experiência.

m) Alugam-se apartamentos.

12) Enumere as funções da partícula que de acordo com as regras gramaticais:

( 8 ) sujeito ( 3 ) predicativo ( 2 ) adjunto adverbial

( 7 ) objeto direto ( 1 ) adjunto adnominal ( 6 ) agente da passiva

( 5 ) objeto indireto ( 4 ) complemento nominal

( ) Quero ver do alto que sempre foge de mim.

( ) Já não se lembra de mais da picardia que me fez.

( ) Eu aguardava com uma ansiedade medonha esta enchente de que tanto me falava.

( ) Não conheço quem fui eu no que sou hoje.

( ) Há clientes que a própria presença já desprestigia o ambiente.

( ) Não me dediquei ao estudo com a força de que era capaz.

( ) Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa em que eu morava.

( ) Sua adorável pupila a quem amo e por que sou correspondido.

78

A CONCORDÂNCIA VERBAL

Como professor de gramática da língua portuguesa eu não vou aqui de forma alguma

sobrecarregar os meus leitores com aquele excesso de regras infindas sobre

concordância verbal as quais os gramáticos não chegaram a um consenso. Vou optar por

manter aqui as regras principais e as situações que os falantes e escritores mais

encontram dificuldade no tocante a esta parte da gramática.

Regra Geral: o verbo concorda em número e pessoa com o sujeito a que se refere,

venha ele claro ou subentendido.

Ex.: A paisagem ficou espiritualizada.

Ex.: Tinha adquirido uma alma e uma nova poesia.

Ex.: Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada.

Ex.: Vieste de um país que não conheço.

Quando vem com mais de um sujeito: em casos assim a concordância deverá ser no

plural com ambos os sujeitos.

Ex.: O trator e o caminhão saíram da estrada.

Quando vem com mais de um sujeito e o verbo vem antes: em casos assim a

concordância deve ser feita no plural ou então concordar no singular com o sujeito mais

próximo.

Ex.: Saíram da estrada o trator e o caminhão.

Ex.: Saiu da estrada o trator e o caminhão.

Quando os sujeitos são vários pronomes pessoais do caso reto diferentes: em casos

assim, o verbo concorda com o pronome reto mais baixo da sequência.

Ex.: Eu, tu e ele saímos.

Ex.: Tu e ele saístes.

Concordância dos verbos impessoais

A Gramática chama de verbo impessoal aquele verbo que não possui sujeito com quem

concordar. É o caso dos seguintes verbos:

a) O verbo haver ( no sentido de existir): este verbo não possui sujeito com quem

concordar, portanto deve permanecer no singular.

Ex.: Há doze pés de acerola no quintal de casa.

Ex.: Houve bons motivos para as reprovações.

Ex.: Havia centenas de desempregados na fila do benefício.

Ex.: Haverá pessoas descontentes sempre.

Obs.: Mesmo se houver um verbo auxiliar, ainda assim a concordância deve ser

no singular.

79

Ex.: Deve haver políticos honestos.

Ex.: Devia haver pessoas descontentes.

b) O verbo fazer ( no sentido de tempo decorrido): este verbo não possui sujeito

com quem concordar em casos assim e por isso deve ficar no singular mesmo:

Ex.: Faz meses que aquele povo não dá sinal de vida.

Ex.: Fazia duas semanas que o pai dela falecera.

Obs.: Mesmo com verbo auxiliar, ainda assim não irá para o plural:

Ex.: Devia fazer duas semanas que o pai dela falecera.

Ex.: Deve fazer meses que aquele povo não dá sinal de vida.

c) Os verbos que indicam fenômeno da natureza, os verbos “chega de” e “basta

de” não possuem sujeito com quem concordar e, portanto, o verbo deve ficar no

singular:

Ex.: Choveu vários dias em Montes Claros no último janeiro.

Ex.: Chega das corrupções na Petrobrás e nas empreiteiras.

Ex.: Basta de tantas mortes de inocentes em operações na Rocinha.

A Concordância de verbos que possuem a partícula apassivadora se

Em casos assim deve se examinar se a estrutura é formada assim: verbo + partícula

se + sujeito. Se for, o verbo concorda com o sujeito.

Ex.: Alugam-se apartamentos.

Ex.: Vendeu-se um cão da raça poodle.

Obs.: Mas se a estrutura é formada assim: verbo + partícula se + preposição +

objeto indireto, logo não existe sujeito com quem concordar e por isso o verbo deverá

ficar no singular mesmo, porque não se tratará de partícula apassivadora e sim de índice

de indeterminação do sujeito.

Ex.: Precisa-se de digitadores de trabalhos acadêmicos.

Ex.: Tratava-se de assuntos sérios.

A concordância do verbo ser

Este verbo possui uma concordância particularíssima já que concorda ora com o sujeito,

ora com o predicativo. Vai depender do contexto. Veja bem:

a) Quando o sujeito é o pronome interrogativo quem e que: em casos assim a

concordância deve ser feita com o predicativo.

Ex.: Que são células?

Ex.: Quem foram os responsáveis.

80

b) Quando indica tempo, data, hora ou distância concorda com o primeiro numeral

que aparecer depois dele:

Ex.: É uma hora e trinta minutos.

Ex.: São duas horas e um minuto.

Ex.: É meio dia e meia.

Ex.: Hoje são 12 de março.

Ex.: Daqui lá são 400 quilômetros.

c) Quando o sujeito do verbo for um pronome indefinido e quando o predicativo

for um pronome pessoal do caso reto, a concordância deve ser feita com o

predicativo:

Ex.: Tudo são flores.

Ex.: Isso são lembranças de um triste passado.

Ex.: Os responsáveis somos nós.

Ex.: O professor sou eu.

NOTA EXPLICATIVA: as regras exaustivas de concordância verbal quando o

sujeito é um numeral que indica porcentagem ( Ex.: 1% se absteve de votar); quando

aparecem os sujeitos “A maior parte de”, “Grande parte de”, “ A maioria dos”;

Quando aparecem sujeitos unidos pela conjunção ou e o elemento de coesão nem;

Quando aparecem sujeitos unidos pela preposição com. Decidi não inseri-los aqui na

minha Gramática, porque os gramáticos não chegaram a um consenso se nestes casos o

verbo concorda no singular ou no plural. Não achei necessário lançar sobre meus alunos

regras que causam estranheza e que ainda são frutos de discordâncias entre os

gramáticos. Deixo a critério de cada um

Exercício de Aprofundamento

01) Efetue a concordância de acordo com a gramática nos seguintes enunciados que

estão na linguagem coloquial:

a) Deviam haver casos sem solução.

b) Naquela época haviam muitos poemas.

c) Tratavam-se de questões fundamentais.

d) Minas Gerais são um belo estado.

e) Dá-se aulas gratuitamente.

f) Vossa Senhoria, senhor ministro, sereis recebido com grande entusiasmo pela

população.

g) Naquele dia faltou cinco alunos.

h) Basta quatro pessoas para fazer o trabalho.

i) Ainda resta quarenta tijolos.

j) Fazem anos que não estudo mais.

81

O emprego dos modos e dos tempos verbais

Ao contrário do que se imagina não são bichos de sete cabeças. Para efetuar a

conjugação dos verbos nos modos, nos tempos e com as devidas pessoas deve-se

pegar uma folha de papel e um lápis e proceder, levando em conta as seguintes

normas, prescrições e descrições da Gramática:

a) O modo indicativo: é aquele que a ação do verbo ou o estado e mudança de

estado indicado por ele evidencia que o fato é certo e se concretizou. O

indicativo é o modo verbal que mais possui tempos e por isso requer uma maior

atenção. Seus tempos são: o presente, o pretérito perfeito, o pretérito imperfeito,

o pretérito mais que perfeito, o futuro do pretérito e o futuro do presente.

Confira a tabela:

Presente (agora) Pretérito

perfeito(ação

passada e consumada)

ste;

Pretérito

imperfeito (ação

passada e não-consumada)

Pretérito +que

perfeito (ação

que antes que acontecesse,

acontecera)

Futuro do

Pretérito (ação

que deveria ter ocorrido)

Futuro do

presente (ação

que deverá ocorrer)

eu

tu

ele

nós

vós

eles

b) O modo subjuntivo: é aquele que a ação do verbo ou o estado e mudança de

estado indicado por ele evidencia que o fato é incerto e hipotético. O modo

subjuntivo só possui três tempos: o presente, o pretérito imperfeito e o futuro.

Mas para conjugar verbos neste modo é preciso o auxílio das partículas no ato

da conjugação. Veja a tabela:

Presente Pretérito imperfeito Futuro

partícula part. part.

que eu se eu quando

que tu se tu quando

que ele se ele quando

que nós se nós quando

que vós se vós quando

que eles se eles quando

c) O modo imperativo: é aquele que a ação do verbo ou o estado e mudança de

estado indicado por ele evidencia uma ordem, comando, um pedido, uma

solicitação ou uma tentativa de persuasão. Na hora de conjugar apresenta a

forma afirmativa e a forma negativa. Como o imperativo é dirigido à pessoa com

quem se fala( 2ª pessoa : tu e vós), para conjugá-lo, basta fazer a conjugação

normal no presente do indicativo e retirar a letra s da segunda pessoa do singular

e do plural e assim teremos o imperativo. O restante das conjugações deve vir do

presente do subjuntivo. Veja a tabela abaixo:

82

Presente do indicativo Imperativo Subjuntivo

Eu compro compre eu que eu compre

Tu compras compra tu que tu compres

Ele compra compre ele que ele compre

Nós compramos compremos nós que nós compremos

Vós comprais comprai vós que vós compreis

Eles compram comprem eles que eles comprem

Observação: existem verbos que não conjugam com certas pessoas, por

exemplo, com a primeira pessoa do singular no presente do indicativo (eu),

como os seguintes verbos: abolir, colorir, exaurir, reaver, delinquir,

computar, explodir, carpir, demolir, latir, miar, cacarejar e alguns outros

listados pelos gramáticos. Tais verbos são chamados de verbos defectivos.

Atenção: todos os verbos terminados em ear, ao ser conjugados na primeira

pessoa do singular do presente do indicativo deverão receber a terminação eio. E

todos os verbos terminados em iar, ao ser conjugados na primeira pessoa do

singular do presente do indicativo deverão receber a terminação io.

Ex.: bloquear – eu bloqueio

Ex.: ampliar – eu amplio

Exceções: são os verbos mediar, remediar, ansiar e odiar. Ou seja, mesmo

terminados em iar, eles devem receber a terminação eio, no momento de

conjugá-los na 1ª pessoa do singular no presente do indicativo.

Obs.: Todos os verbos que no ato da conjugação conservam o mesmo radical

são chamados de verbos regulares ( por exemplo, o verbo estudar. Nele, a raiz

estud aparece em todas as conjugações). Quando no ato da conjugação o verbo

sofre alteração no radical, então a Gramática dá a eles o nome de verbos

irregulares ( por exemplo, o verbo pedir. Nele, o radical desaparece e fica

assim: eu peço, tu pedes, ele pede, nós pedimos, vós pedis, eles pedem).

Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo

CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo.

Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. Pp. 425-471.

Kury, Adriano da Gama. Novas Lições de Análise Sintática. Editora Ática; Rio de Janeiro:

2000.

83

CAPÍTULO 07: OS ADJETIVOS

“ Meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro e meu tataravô

baiano” ( Chico Buarque)

84

CAPÍTULO 07: OS ADJETIVOS

Adjetivo: é toda palavra que flexiona em gênero, número e grau e que serve para

caracterizar os seres, atribuindo-lhes qualidade, defeito, estado e modo de ser.

Ex.: O alto ipê cobre-se de flores amarelas.

No enunciado acima veja que os substantivos ipê e o substantivo flores estão sendo

caracterizados pelo adjetivo alto e o adjetivo amarelas. É importante ter em mente que

os adjetivos na Gramática têm a função de determinantes e os substantivos têm a

função de determinados.

Adjetivos pátrios: são adjetivos que se referem a cidades, estados, países, regiões ou

continentes, indicando a nacionalidade ou a origem do ser. Eu não vou listar todos aqui,

mas o farei principalmente com os estados e capitais do Brasil. Leiam:

Adjetivos pátrios dos estados brasileiros

Acre – acreano

Alagoas – alagoano ou alagoense

Amapá – amapaense

Amazonas – amazonense

Bahia – baiano ou baiense

Ceará – cearense

Distrito Federal – brasiliense

Espírito Santo – espírito-santense ou capixaba

Goiás – goiano

Maranhão – maranhense ou maranhão

Mato Grosso – mato-grossense

Mato Grosso do Sul – mato-grossense-do-sul ou sul-mato-grossense

Minas Gerais – mineiro ou geralista

Pará – paraense

Paraíba – paraibano

Paraná – paranaense, paranista ou tingui

Pernambuco – pernambucano

Piauí – piauiense

Rio de Janeiro – fluminense

Rio Grande do Norte – rio-grandense-do-norte, norte-rio-grandense ou potiguar

Rio Grande do Sul – rio-grandense-do-sul, sul-rio-grandense ou gaúcho

Rondônia – rondoniense ou rondoniano

Roraima – roraimense

Santa Catarina – catarinense

São Paulo – paulista ou bandeirante

Sergipe – sergipano ou sergipense

Tocantins – tocantinense

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Adjetivos pátrios das capitais brasileiras

Aracaju (Sergipe) – aracajuano ou aracajuense

Belém (Pará) – belenense

Belo Horizonte (Minas Gerais) – belo-horizontino

Boa Vista (Roraima) – boa-vistense

Brasília (Distrito Federal) – brasiliense ou candango

Campo Grande (Mato Grosso do Sul) – campo-grandense

Cuiabá (Mato Grosso) – cuiabano

Curitiba (Paraná) – curitibano

Florianópolis (Santa Catarina) – florianopolitano

Fortaleza (Ceará) – fortalezense

Goiânia (Goiás) – goianiense

João Pessoa (Paraíba) – pessoense

Macapá (Amapá) – macapaense

Maceió (Alagoas) – maceioense

Manaus (Amazonas) – manauense

Natal (Rio Grande do Norte) – natalense ou papa-jerimum

Palmas (Tocantins) – palmense

Porto Alegre (Rio Grande do Sul) – porto-alegrense

Porto Velho (Rondônia) – porto-velhense

Recife (Pernambuco) – recifense

Rio Branco (Acre) – rio-branquense

Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) – carioca

Salvador (Bahia) – soteropolitano ou salvadorense

São Luís (Maranhão) – são-luisense ou ludovicense

São Paulo (São Paulo) – paulistano

Teresina (Piauí) – teresinense

Vitória (Espírito Santo) – vitoriense

O Gênero dos adjetivos

Eles podem flexionar em masculino e feminino e admitem as seguintes formas:

a) Uniforme: quando apresenta uma única forma para ambos os gêneros:

Ex.: aluno inteligente / aluna inteligente

b) Biforme: quando apresenta a forma masculina e feminina

Ex.: aluno simpático / aluna simpática

86

CONCORDÂNCIA DOS ADJETIVOS – Concordância Nominal

Regra Geral: O adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo a que se

refere.

Ex.: Os arreios e as bagagens estavam espalhados no chão.

a) Quando aparecer depois de dois ou mais substantivos de gêneros diferentes:

em casos assim o adjetivo concorda no masculino plural.

Ex.: As árvores do meu quintal estavam permeadas de caquis e mangas

maduros.

Obs.: Alguns bons gramáticos aconselham a concordância com o mais próximo.

b) Quando aparecer antes de dois ou mais substantivos: em casos assim, ele

concordará com o substantivo mais próximo.

Ex.: Tiveste má ideia e pensamento.

Ex.: Tiveste mau pensamento e ideia.

c) Quando se refere a um pronome de tratamento: o adjetivo concordará com o

gênero da pessoa representada no pronome.

Ex.: Vossa Majestade está preocupado. ( o rei).

Ex.: Vossa Majestade está preocupada. ( a rainha)

d) Os adjetivos meio, bastante, caro e barato concordam em gênero e número

com o substantivo a que se referem.

Ex.: Era meio dia e meia.

Ex.: Tomou meia garrafa de vinho depois de tomar meio litro de leite.

Ex.: Bastantes pessoas foram recepcionar os alunos.

Ex.: As mercadorias eram caras

Obs.: se as palavras meio, bastante, caro e barato forem advérbios, é óbvio

que devem permanecer invariáveis e não podem sofrer flexão.

Ex.: Luciana anda meio preocupada com a prova.

Ex.: Eles falaram bastante durante a reunião.

Ex.: Eram alunas bastante estudiosas.

Ex.: As mercadorias custam caro.

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e) Os adjetivos: ANEXO, INCLUSO, MESMO, PRÓPRIO e OBRIGADO: eles

devem concordar em gênero e número com o substantivo a que se referem:

Ex.: Segue anexo o ofício assinado pela superintendente.

Ex.: Segue anexa a carta respondida por mim.

Ex.: Seguem anexos os selos da última remessa.

OBS.: Evite a expressão “em anexo” usada na linguagem coloquial, porque a

aceitar seria transformar um adjetivo em um adjunto adverbial de modo. O que é

inaceitável na Gramática.

f) Os adjetivos INCLUSO, MESMO, PRÓPRIO e OBRIGADO: concordam em

gênero e número com o substantivo a que se referem.

Ex.: Vai incluso o material que você me solicitou.

Ex.: Vai inclusa a remessa assinada por você.

Ex.: Ele mesmo restaurou-me a Deus.

Ex.: Ela mesma esteve aqui e me disse: obrigada.

Obs.: o adjetivo obrigado deve concordar com o gênero da pessoa que toma a

palavra e faz o agradecimento. E as respostas que a gramática aprova para este

agradecimento são: “sempre às ordens”, “a seu dispor” ou “disponha-se”. E

nunca: “de/ por nada” e embora seja um pouco elegante, mas se deve evitar:

“eu é que agradeço”.

Obs.: a palavra “só” é um adjetivo quando o significado dela for “sozinho” e

em casos assim deverá concordar em gênero e número com o substantivo a que

se refere.

Ex.: Estes dois livros, por si sós, bastariam para me tornar alguém mais culto.

Mas quando tem o significado de “apenas”, aí sim será considerado advérbio e

como tal não pode flexionar:

Ex.: Elas só andam de carro.

Obs.: o adjetivo possível, quando aparece precedido das expressões “o

mais”, “os mais, “as mais”, concorda não com o substantivo a que se refere

mas sim com o artigo que precede o advérbio “mais”.

Ex.: Os pratos do restaurante eram os mais requintados possíveis.

Ex.: As laranjas eram o mais doce possível.

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g) As Expressões adjetivas: é bom, é proibido, é necessário

Estas expressões devem permanecer invariáveis como podemos verificar nos

seguintes exemplos:

Ex.: Aspirina é bom para combater dores e febre.

Ex.: É proibido entrada de estranhos neste recinto.

Ex.: Paciência é necessário e não faz mal a ninguém.

Obs.: Porém se vierem precedidas de um determinante ( artigo definido ou

indefinido e pronomes indefinidos), com certeza a concordância do adjetivo será

com o artigo e não com o substantivo a que se refere.

Ex.: A aspirina é boa para combater dores e febre.

Ex.: É proibida a entrada de animais neste recinto.

Ex.: A paciência é necessária e não faz mal a ninguém.

AS LOCUÇÕES ADJETIVAS

São expressões que equivalem a um adjetivo. Muitas vezes a locução não possui

um adjetivo que lhe corresponda, mas a maioria possui. Veja as principais

locuções adjetivas que a gramática tradicional conservou para nós:

de abdômen - abdominal

de abelha - apícola

de aluno - discente

de anjo - angelical

de ano - anual

de astro - sideral

de audição - ótico

de bispo - episcopal

de boca - bucal ou oral

de boi - bovino

de cabeça - cefálico

de cabelo - capilar

de cabra - caprino

de campo - campestre ou rural

de cão - canino

de cavalo - cavalar, equino, equídio ou hípico

de chumbo - plúmbeo

de chuva - pluvial

de cidade - urbano ou citadino

de circo - circense

de criança - pueril ou infantil

de decoração - decorativo

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de dedo - digital

de diamante - diamantino ou adamantino

de elefante - elefantino

de enxofre - sulfúrico

de esmeralda - esmeraldino

de estômago - estomacal ou gástrico

de estrela - estelar

de éter - etéreo

de fábrica - fabril

de face - facial

de faraó - faraônico

de farinha - farináceo

de fera - ferino

de ferro - férreo

de fígado - figadal ou hepático

de fogo - ígneo

de frente - frontal

de gado - pecuário

de galinha - galináceo

de garganta - gutural

de gato - felino

de gelo - glacial

de governo - governamental

de guerra - bélico

de homem - viril ou humano

de idade - etário

de ilha - insular

de intestino - celíaco ou entérico

de inverno - hibernal ou invernal

de irmão - fraterno

de junho - junino

de lado - lateral

de lago - lacustre

de lágrima - lacrimal

de laringe - laríngeo

de leão - leonino

de leite - lácteo ou láctico

de lobo - lupino

de lua - lunar

de mãe - materno

de macaco - simiesco, símio

de manhã - matinal

de mar - marítimo

de marfim - ebúrneo

de memória - mnemônico

de mestre - magistral

de monge - monacal

90

de monstro - monstruoso

de morte - mortal

de nariz - nasal

de neve - níveo

de noite - noturno

de nuca - occipital

de orelha - auricular

de osso - ósseo

de ouro - áureo

de outono - outonal

de ovelha - ovino

de pai - paterno

de paixão - passional

de pâncreas - pancreático

de páscoa - pascal

de peixe - písceo

de pele - cutâneo ou epitelial

de pombo - columbino

de porco - suíno

de prata - argênteo ou argírico

de professor - docente

de pulmão - pulmonar

dos quadris - ciático

de rei - real

de rim - renal

de rio - fluvial

de sangue - sanguíneo

de serpente - ofídico

de sol - solar

de sonho - onírico

de tarde - vespertino

de tecido - têxtil

de terra - telúrico, terrestre ou terreno

de tórax - torácico

de velho - senil

de vento - eólico

de verão - estival

de víbora - viperino

de vidro - vítreo ou hialino

de virgem - virginal

de visão - óptico ou ótico

de voz – vocal

91

PLURAL DOS ADJETIVOS

A regra geral é que eles devem concordar em gênero e número com o substantivo a que

se referem, mas há casos que merecem uma redobrada atenção. Por exemplo:

Adjetivos compostos: em casos assim, deve-se proceder da seguinte maneira:

- substantivo + adjetivo + adjetivo: só se leva o último para o plural.

Ex.: lente côncavo-convexa – lentes côncavo-convexas.

- substantivo + adjetivo + substantivo: só se leva o primeiro para o plural

Ex.: camisa verde- abacate – camisas verde-abacate

Obs.: as expressões azul-marinho, azul-celeste e todas as demais em que fica

subentendida a expressão “da cor de” não vão nunca para o plural, mesmo sabendo que

a sequência é substantivo + adjetivo + adjetivo.

Ex.: terno azul marinho – ternos azul –marinho.

Já nas expressões: surda-muda e surdo-mudo, nelas ambos os elementos vão para o

plural.

Ex.: menina surda-muda – meninas surdas-mudas.

- substantivo + advérbio + adjetivo: em situações assim só irão para o plural o

primeiro e o último:

Ex.: menino mal-educado – meninos mal- educados

Obs.: Devem permanecer inalteradas as locuções adjetivas: ultravioleta, sem-par, sem-

sal e sem-vergonha.

O GRAU DOS ADJETIVOS

Os adjetivos possuem grau porque é a única forma de eles mostrarem a intensidade dos

seres que eles caracterizam. Só possuem dois graus: o comparativo e o superlativo.

Comparativo: pode comparar um adjetivo a outro nas formas de: de igualdade,

superioridade e inferioridade.

Ex.: Sou tão alto quanto você. ( igualdade)

Ex.: Sou mais alto que você. ( superioridade)

Ex.: Sou menos alto que você. ( inferioridade)

Os adjetivos: bom, mau, grande, pequeno apresentam também o comparativo de

superioridade quando nós os colocamos na forma analítica ( quando aparecem

92

precedidos dos advérbios mais e menos e comparam duas características do mesmo

substantivo).

Ex.: Aquele menino é mais bom do que inteligente.

Ex.: Aquela sala é mais grande do que confortável.

E os comparativos de superioridade dos adjetivos: bom, mau, grande e pequeno

aparecem geralmente na forma sintética como a Gramática os assimilou do latim:

Ex.: do adjetivo bom – o adjetivo comparativo melhor

Ex.: do adjetivo mau - o adjetivo comparativo pior

Ex.: do adjetivo grande – o adjetivo comparativo maior

Ex.: do adjetivo pequeno – o adjetivo comparativo menor

SUPERLATIVO: indica as características do substantivo em um grau muito elevado

ou em grau máximo. Diz-se que o grau é absoluto quando a característica expressa pelo

adjetivo não é apresentada em relação a outros seres.

Ex.: Este corredor é muito veloz.

Ex.: Este corredor é velocíssimo.

Obs.: Quando a característica expressa pelo adjetivo é apresentada em relação com

outros seres, aí o grau superlativo será relativo.

Ex.: João é o mais alto de todos.

Ex.: Este monte é o menor de todos.

OBS.: o superlativo dos adjetivos pode ser formado por um advérbio auxiliar +

adjetivo. Em casos assim dá-se o nome de superlativo analítico.

Ex.: O exercício é muito difícil.

OBS.: Mas quando a raiz da palavra que forma o adjetivo recebe os sufixos: ílimo,

íssimo e érrimo, diz a Gramática que se trata do superlativo absoluto.

Ex.: O exercício é dificílimo.

Ex.: O país é lindíssimo.

Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo

CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português

Contemporâneo. Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. pp.238-267.

KURY, Adriano da Gama – Pequena Gramática, 5ª ed., Rio de Janeiro. Agir, 1960.

93

CAPÍTULO 07: PRONOME

“ Dê-me um cigarro – diz a gramática” (Oswald de Andrade)

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CAPÍTULO 07: PRONOME

Como o próprio nome já diz, é a palavra que empregamos em favor ou em lugar do

nome (nome na Gramática é sempre um substantivo e uma palavra/ enunciado com

valor de substantivo). São os pronomes que determinam as pessoas do discurso. O

discurso, segundo FOUCAULT, em suas obras sobre Análise do Discurso, “discurso é o

ato de tomar a palavra”. Segundo ele, as pessoas do discurso são as seguintes: eu; tu;

ele; nós; vós e eles. De todas as pessoas do discurso apenas duas não seriam exatamente

pessoas que tomam a palavra: ele e eles.

Veja quais são as pessoas do discurso e as pessoas pronominais:

Pessoas do discurso Pronomes pessoais retos oblíquos átonos oblíquos tônicos

1ª pessoa do singular (que fala) eu me mim, comigo

2ª pessoa do singular (que ouve) tu te ti, contigo

3ª pessoa do singular (falam dela) ele se, lhe, o, a, lo, la,no,na si, consigo

1ª pessoa do plural (que fala) nós nos conosco

2ª pessoa do plural (que houve) vós vos convosco

3ª pessoa do plural (falam dela) eles se, lhes, os, as, los, las,

nos, nas

consigo

Obs.: A palavra “você” e a palavra “vocês” não são pronomes pessoais e sim

pronomes de tratamento que a gente usa aqui no Brasil. Apesar de nos dirigirmos a

tais pronomes como 2ª pessoa (com quem se fala), as conjugações verbais referentes a

eles devem ser feitas na terceira pessoa.

Regra Geral sobre os pronomes pessoais

Nunca comece nenhum enunciado utilizando pronomes oblíquos átonos.

Ex.: Me dá, danoninho. Danoninho dá. ( propaganda da Danone)

Lugar de pronome átono é após os verbos. A colocação dos átonos após os verbos é

chamada na Gramática de ênclise. A tendência na linguagem coloquial é sempre colocar

o átono antes do verbo, mas a Gramática condena esta colocação, salvo nos casos que

veremos a seguir.

Regra 02: Nunca use pronome pessoal reto como objeto de verbo algum.

Ex.: Leva eu

Ex.: Leva ele

Ex.: Inscreve eu

Obs.: Os únicos verbos que admitem os pronomes pessoais retos como objetos são os

verbos assistir, aspirar, aludir, referir, esquecer-se e lembrar-se

Ex.: Assisto à programação – assisto a ela.

Ex.: Aludo ao livro de Clarice – aludo a ele.

Ex.: Refiro-me à tragédia de ontem – refiro-me a ela.

Ex.: Esqueço-me de nossa vida. – Esqueço-me dela

95

Regra 03: Só use pronome átono antes dos verbos ( a Gramática chama a isso de

próclise) quando vierem precedidos de elementos de coesão ( conjunção, advérbio,

pronome relativo, interjeição, pronome demonstrativo, pronome interrogativo, pronome

indefinido e preposição)

Ex.: Ele disse que não traria, mas me trouxe.

Ex.: Nada me fará desistir.

Ex.: A casa que lhe deram é na zona rural.

Ex.: Oxalá me acontecesse um milagre desses!

Ex.: Isso me cheira confusão.

Ex.: Quem me garante isso?

Ex.: Em se tratando de Gramática, o melhor é ler.

Obs.: Em enunciados que indicam pedidos feitos a uma divindade, a um santo ou a

qualquer outro ser, também deverá colocar o pronome átono antes do verbo.

Ex.: Deus me livre!

Regra 04: A Gramática não aconselha a colocar pronome átono antes de verbos

conjugados no futuro do presente e nem antes de verbos conjugados no futuro do

pretérito, mas na linguagem coloquial a gente faz isso com frequência. Porém a

Gramática prescreve que se deve colocar o átono entre o radical do verbo e as

desinências. A isso a Gramática chama mesóclise.

Ex.: Me enganarão – enganar- me- ão

Ex.: Se casariam – casar-se-iam

Ex.: Te amarão – amar-se-ão

Regra 05: Eu ou mim?

O pronome pessoal do caso reto eu é empregado como sujeito e não como objeto,

como a gente costuma fazer uso dele na linguagem coloquial. Diante dos verbos,

sobretudo os terminados em ar, er, e ir ele deve ser empregado. Vejam um enunciado

da linguagem coloquial e o enunciado que a Gramática sustenta:

Ex.: Deu o livro para mim guardar. ( coloquialismo)

Ex.: Deu o livro para eu guardar. ( Gramática)

Obs.: o pronome mim é objeto e não sujeito. A presença de uma preposição (a, ante,

após, até, com, contra, de , desde, em, entre, para, por, perante, sem, sob, sobre,

trás) anteposta a ele é sinal de que o lugar é dele e não do pronome pessoal do caso reto

eu.

Ex.: Longe de mim tal coisa.

Ex.: Eles apresentaram os trabalhos e mandaram as cópias para mim.

Ex.: A mulher em mim precisa de um homem que é você. ( Roberta Miranda)

Ex.: Chegaram até mim com dez pedras na mão.

96

Os escritores nem sempre colocam o enunciado na ordem canônica: sujeito + verbo +

objeto e por isso nós leitores não devemos imaginar que antes de um verbo terminado

em ar, er e ir foi dada prioridade ao pronome mim e sim que o enunciado não está na

ordem canônica.

Ex.: Para mim, estudar não é tarefa tão simples como você pensa.

Regra 06: Contigo ou Consigo?

O pronome contigo é empregado quando o falante dirige-se ou refere-se à segunda

pessoa do singular ( tu).

Ex.: Leva, tu, contigo o nome de Jesus o Salvador.

Obs.: No Brasil, são poucas as regiões onde o pronome tu é utilizado. E onde é

utilizado pelos falantes, infelizmente eles fazem a conjugação não com a 2ª pessoa do

singular, mas sim na terceira pessoa do singular. Por isso é raro no Brasil se dirigir à

segunda pessoa do singular com o pronome contigo. É comum usarem o pronome

contigo para se dirigir ao pronome de tratamento “você”. Mas a Gramática não aceita.

Já o pronome consigo deve ser usado quando o falante dirige-se ou refere-se à

terceira pessoa do singular ( ele) ou à terceira do plural (eles):

Ex.: Eles levam consigo o nome de Jesus.

Ex.: Ele leva consigo o nome de Jesus.

REGRA 07: Os pronomes demonstrativos

São aqueles que apontam a localização do substantivo: próxima de quem toma a

palavra, longe de quem ouve, próxima de quem ouve e distante tanto do que toma a

palavra, quanto do que ouve.

Vejam quais são os pronomes demonstrativos:

- Próximos da pessoa que toma a palavra: este, esta, estes, estas, isto; deste; desta,

destes, destas, disto; neste, nesta, nestes, nestas, nisto.

Ex.: Este apontador aqui é o que comprei ontem.

Ex.: Esta cadeira perto da minha mesa se encontra em reparos.

Ex.: Deste acontecimento que estou lendo aqui é difícil esquecer.

Ex.: Nenhum destes livros aqui foi publicado ainda.

Ex.: O assunto a ser debatido agora na reunião é este: dengue

Ex.: Apenas te peço isto agora: estude

- Próximos da pessoa que ouve: esse, essa, esses, essas, isso; desse, dessa, desses,

dessas, disso; nesse, nessa, nesses, nessas, nisso.

97

Ex.: Esse apontador aí perto de você é o que comprei ontem.

Ex.: Essa cadeira aí perto da sua mesa se encontra em reparos.

Ex.: Desse acontecimento aí que você está lendo é difícil esquecer.

Ex.: Nenhum desses livros aí foram publicados ainda.

Ex.: Isso aí você já falou agora pouco.

- Distantes tanto de quem fala como de quem ouve: aquele, aquela, aqueles, aquelas,

aquilo; daquele, daquela, daqueles, daquelas, daquilo; naquele, naquela, naqueles,

naquelas, naquilo.

Ex.: Aquele avião lá dá sinais de que vai cair.

Ex.: Aquilo que aconteceu ontem, você entendeu?

Ex.: Estou falando daquele homem que escreveu Ilíada e Odisseia.

Ex.: Naquela data, 22 de outubro de 1844, aconteceu o desapontamento.

REGRA 08: Os pronomes relativos

Eles são pronomes que representam os substantivos já mencionados nos enunciados e

desempenham a função de elementos de coesão (ligação), já que evitam que se repita o

substantivo a que substituem. São de muito valor coesivo dentro da Gramática e da

produção de texto, perdendo apenas para as conjunções. Vejam quais são eles:

- Os pronomes relativos masculinos: o qual, os quais, cujo, cujos, quanto, quantos.

Ex.: Armando comprou o carro o qual lhe convinha.

Ex.: Os vizinhos libertaram os cães os quais a louca prendeu.

Ex.: Esse aí é um dos escritores cujo livro li.

Ex.: Todos os pequis quantos queria, arrancou do pé.

- Os pronomes relativos femininos: a qual, as quais, cuja, cujas, quanta, quantas.

Ex.: Armando comprou a casa a qual lhe convinha.

Ex.: Os vizinhos libertaram as aves as quais a louca prendera.

Ex.: Essa aí é uma das escritoras cuja literatura é do Barroco.

Ex.: Leve tantas jabuticabas de quantas precisar.

- Os pronomes relativos invariáveis: quem, que , onde

Ex.: Das árvores caíam folhas, que o vento levava.

Ex.: Os planetas são súditos cujo rei é o sol.

Ex.: O médico de quem eu falo é meu conterrâneo.

OBS.: sempre que for empregar um pronome relativo é necessário que se tenha toda a

atenção à regência do verbo que aparece no enunciado onde aparece o substantivo já

mencionado no enunciado anterior. Se for um verbo transitivo direto, não há

necessidade da preposição obrigatória para anteceder ao pronome.

Ex.: Comprei um livro. O livro é novo. = Comprei um livro que é novo.

98

Veja que o verbo do 2º enunciado é um verbo de ligação (ser) e não precisou colocar a

preposição obrigatória antes dele, já que verbo de ligação não exige isso.

Ex.: É um escritor. Gosto muito do escritor. = É um escritor de que / do qual gosto

muito.

Veja que no exemplo acima, o verbo gostar é um VTI e, portanto, a preposição “de” a

qual ele exige foi obrigatoriamente posta antes do pronome relativo.

Regra 09: Os pronomes de tratamento

São os pronomes que empregamos na forma de trato para com as mais variadas pessoas.

Dependendo da pessoa a quem nos dirigimos, do cargo que ocupa, título que possui,

idade que tem, o tratamento será cerimonioso.

Eis os principais pronomes de tratamento, seguidos de suas abreviaturas, que de modo

geral devem ser evitadas:

Você (v.).: tratamento familiar, informal a qualquer pessoa física comum.

Senhor (a) ( Sr./ Sra).: no tratamento respeitoso a homens e mulheres, independente da

idade.

Senhorita ( Srta).: a moças solteiras.

Vossa Senhoria ( V. Sa).: para pessoas que possuem graduação.

Vossa Excelência ( V. Exa): para altas autoridades como presidente da república,

senadores, deputados, prefeitos, vereadores, governadores, ministros, embaixadores,

generais, marechal, secretários de estado.

Vossa Reverendíssima ( V. Revma).: para bispos e arcebispos.

Vossa Eminência ( V. Ema): para cardeais.

Vossa Santidade ( V. S.).: papas

Vossa Majestade ( V.M.): reis e rainhas.

Vossa Alteza ( V.A.): para príncipes, príncipes e duques.

99

Regra 10: os pronomes possessivos

Referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes posses. Cada um deles adequa-se a

uma pessoa específica do discurso:

- 1ª pessoa singular: meu, minha, meus, minhas.

- 2ª pessoa singular: teu, tua, teus, tuas.

- 3ª pessoa singular: seu, sua, seus, suas.

- 1ª pessoa plural: nosso, nossa, nossos, nossas.

- 2ª pessoa plural: vosso, vossa, vossos, vossas.

- 3ª pessoa plural: seu, sua, seus, suas.

Obs.: Na língua coloquial é comum na terceira pessoa em vez de usar os pronomes:

seu, sua, seus, suas os falantes empregarem as construções: “dele, dela, deles, delas”. A

Gramática não se pronuncia contra estas construções, para evitar ambiguidade.

Ex.: A namorada de Carlos saiu no seu carro. ( carro de quem?)

Ex.: A namorada de Carlos saiu no carro dela.

Ex.: A namorada de Carlos saiu no carro dele.

Regra 11: os pronomes indefinidos

São aqueles que não determinam quem é o substantivo a que substituem e por isso os

designa de forma vaga, imprecisa e indeterminada.

São os seguintes: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, ninguém, outrem,

quem, tudo, cada, certo, certa, certos, certas, algum, alguma, alguns, algumas,

nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, outro, outra, outros, outras, qualquer,

quaisquer, qual, que, quanto, quanta, quantos, quantas, tal, tais, tanto, tanta,

tantos, tantas, vários, várias, um, uma, uns, umas.

Obs.: os pronomes interrogativos aparecem em perguntas e se referem de modo

impreciso a 3ª pessoa do discurso.

Ex.: Que é isso, companheiro?

Ex.: Quem foi?

Ex.: Qual será o motivo?

Ex.: Quantas pessoas moram aqui?

Autores citados de forma direta e indireta neste capítulo

CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo.

Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. pp. 268-357.

FOCAULT, Michael. A Ordem do Discurso. Edição 24ª; Editora Loyola. Ano 2015.

100

CAPÍTULO 08: O advérbio

“ Eu ando meio com medo que um dia ainda ache a tristeza normal” ( Joana)

101

CAPÍTULO 08 O Advérbio

É uma palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo e a outro advérbio.

Ex.: O navio chegou ontem. [ veja que neste caso o advérbio de tempo modifica

o verbo]

Ex.: A moça é muito linda. [ veja que neste caso o advérbio de intensidade

modifica o adjetivo linda]

Ex.: Mas nunca é tarde não. [ veja que neste caso o advérbio de negação “não”

modifica o advérbio de tempo “nunca”]

Obs.: lembre-se de que os advérbios nunca flexionam em masculino e feminino e nem

vão para o plural.

Ex.: Eu ando meio com medo que um dia ainda ache a tristeza normal. (

Joana)

Ex.: As roseiras do meu jardim têm menos rosas do que as do seu.

Ex.: Os guardas permaneciam alerta.

Classificação dos advérbios:

- Afirmação: sim, certamente, deveras, incontestavelmente, realmente, efetivamente.

- Dúvida: talvez, quiçá, acaso, porventura, certamente, provavelmente, decerto.

- Intensidade: mui, muito, pouco, assaz, bastante, mais, menos, tão, demasiado, meio,

todo, completamente, profundamente, demasiadamente, excessivamente, demais, nada,

ligeiramente, levemente, quão, quanto, quase, apenas, como.

- Lugar: abaixo, acima, acolá, cá, lá, aqui, ali, aí, além, aquém, algures, alhures,

nenhures, atrás, fora, afora, dentro, perto, longe, adiante, onde, avante, através, defronte,

aonde, donde, detrás.

- Modo: bem, mal, assim, depressa, devagar, como, adrede, debalde, alerta, melhor,

pior, aliás, calmamente, livremente, propositadamente, selvagemente e todos os demais

de modo terminados em mente.

- Negação: não, tampouco.

- Tempo: agora, hoje, amanhã, depois, ontem, anteontem, já, sempre, amiúde, nunca,

jamais, ainda, logo, antes, cedo, tarde, ora, afinal, outrora, então, breve, aqui, nisto, aí

(nesse momento), entrementes, brevemente, imediatamente, raramente, finalmente,

comumente, presentemente, diariamente, simultaneamente, etc.

102

As locuções adverbiais

São expressões que têm valor de advérbio. São muito conhecidas porque geralmente

começam com uma preposição. Vejam as locuções adverbiais mais conhecidas:

Ex.: às claras, às cegas, às apalpadelas, à toa, às pressas, a pé, a pique, a fundo, a

jusante, a montante, às escondidas, à noite, às vezes, ao acaso, de repente, de

propósito, de viva voz, de súbito, de quando em quando, em breve, em vão, em cima,

por fora, por trás, para trás, sem dúvida, com certeza, passo a passo, lado a lado, vez

por outra, de fome, de medo, de alto a baixo.

Obs.: a Gramática classifica as locuções da mesma forma que classifica os advérbios,

ou seja, passam a ideia de tempo, modo, lugar, entre outros.

O Grau dos Advérbios

À semelhança dos adjetivos, os advérbios também aparecem no grau comparativo e o

grau superlativo.

- Grau comparativo

a) Comparativo de igualdade: Ex.: Voou tão longe e tão rapidamente

como foguete.

b) Comparativo de superioridade analítico: o advérbio aparece precedido

do advérbio “mais” ou do advérbio “menos”.

Ex.: Voou mais longe e mais rapidamente que foguete.

c) Comparativo de superioridade sintético: sintetiza-se apenas em no

emprego dos advérbios “melhor” e “pior”

Ex.: Voou melhor que um foguete.

d) Comparativo de inferioridade:

Ex.: Voou menos longe e menos rapidamente que o foguete.

- Grau Superlativo

a) Superlativo absoluto analítico: coloca o advérbio em um grau

maior que qualquer outro e vem precedido de outro advérbio, no

caso, o advérbio “muito”

Ex.: Voou muito longe e muito rapidamente.

b)Superlativo absoluto sintético: sintetiza o grau do advérbio

acrescentando simplesmente ao radical os sufixos: mente, íssimo.

103

Ex.: Voou longíssimo e rapidissimamente.

Obs.: Na linguagem coloquial para indicar o limite máximo da

possibilidade do advérbio, os falantes costumam dizer:

Ex.: Venha o mais cedo que puder.

Ex.: Voe o mais rápido possível.

Ex.: Venha o mais depressa possível.

Autor citado de forma direta e indireta neste capítulo

CUNHA, Celso; Lindley Cintra. Novíssima Gramática do Português

Contemporâneo. Editora Nova Fronteira; 2ª edição. Rio de Janeiro; 1985. Pág.: 529.

104

CAPÍTULO 09: SINTAXE – Período Composto

“ Pode um ano passar e até nevar, pode chover, relampejar, que a sapatilha trinta e

sete eu vou lembrar.” ( Eztakazero)

105

CAPÍTULO 09: SINTAXE – Período Composto

Sintaxe é o estudo dos enunciados de sentido completo e incompleto, mas é um

estudo específico da disposição dos termos essenciais da oração ( sujeito + predicado),

da disposição dos termos integrantes da oração ( verbo + objeto) e a disposição dos

termos acessórios ( aposto, vocativo, adjunto adnominal, adjunto adverbial) no

contexto dos enunciados. É em sintaxe também que se estuda a relação entre as orações,

ou seja, se há relação de independência (coordenação /parataxe) ou se há relação de

dependência ( subordinação/ hipotaxe).

Este estudo e muito antigo, pois remota à Grécia Antiga no século V a.C., quando,

segundo os historiadores, o filósofo Aristóteles já analisava as relações entre sujeito e

predicado, época em que ele desenvolvia o silogismo. O estudo prosseguiu na Idade

Média com a análise de enunciados extraídos de textos sagrados principalmente por

Santo Agostinho e S. Tomás de Aquino e, por fim, adquiriu o corpo e as formas que

conhecemos hoje, depois que o linguista Saussure (1857-1913) desenvolveu o estudo

das estruturas morfológicas e depois que o linguista norte-americano, Noam Chomsky,

aprofundou no estudo da estrutura superficial e a estrutura profunda dos enunciados.

Para nós hoje é de suma importância a compreensão com que a sintaxe define os tipos

de enunciado:

a) Frase: é todo enunciado de sentido completo e que independe de verbo para ser

compreendido.

Ex.: Meus parabéns agora e feliz aniversário, amor!

b) Oração: é todo enunciado que depende da presença do verbo para ser entendido, já

que cada verbo é uma oração.

Ex.: O gato não nos afaga, afaga-se em nós ( Machado de Assis)

c) Período: é o próprio enunciado composto de uma ou de várias orações. Quando

possui apenas um verbo, chama-se período simples e quando possui mais de um

verbo, chama-se período composto.

Ex.: Não tive filhos.

Ex.: Não tive filhos, logo não deixei a ninguém o legado de nossa miséria

( Machado de Assis)

COORDENAÇÃO OU PARATAXE

Um enunciado é composto por coordenação/ parataxe quando duas ou mais orações se

agrupam, mas não há dependência entre elas. A esta relação de independência dá-se o

nome de coordenação.

Ex.: Vim, vi , venci.

106

Antes de analisar um enunciado, é sempre bom tomar as seguintes providências: 1º )

sublinhar os verbos que houver na oração; 2º ) separar as orações com uma barra; 3º)

circular o elemento de coesão (se houver); 4º) classificar cada uma com a devida

nomeclatura.

Orações Coordenadas Assindéticas: são aquelas que são independentes e que não

possuem elemento de coesão explícito para ligá-las umas às outras.

1ª 2ª 3a 4ª

Ex.: A gota d’água cai/, tomba/, despedaça/, morre.

Obs.: A professora Ingedore Villaça Koch em seu livro Coesão Textual dá a entender

que o elemento de coesão ( em grego.: syndeto = síndeto) permite a ligação entre os

enunciados. Tal ligação faz com que haja uma unidade no texto que se concretiza a

partir do momento em que quem escreve, consegue tecer a junção de enunciados e

assim construir uma unidade de na expressão do pensamento. Para ela existe a coesão

explícita (quando aparece o elemento de coesão) e a coesão implícita ( quando não

aparece o elemento de coesão).

AS ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS

São chamadas de coordenadas, porque os enunciados que as formam são

independentes, isto é, isoladamente é possível a compreensão. E são chamadas de

sindéticas porque são ligadas umas às outras pelos síndetos ( elementos de coesão).

Vejam quais são as orações coordenadas sindéticas:

a) Oração Coordenada Sindética Aditiva: são aquelas cujos elementos de coesão

passam a ideia de adição. Seus elementos de coesão são: e, não só... mas

também, não... e nem.

Ex.: Raspe aqui no topo da página e ganhe um prêmio.

Ex.: Não só raspou no topo da página, mas também ganhou o prêmio.

Ex.: Não raspou o topo da página e nem ganhou o prêmio.

Obs.: quando o elemento de coesão for separado por reticências (...), é porque um

deve ficar na oração principal e o outro na oração coordenada. A toda oração que um

elemento de coesão aparece na oração principal e o outro elemento na outra oração,

Adriano da Gama Kury chamou de oração correlata ( há uma correlação).

b) Oração Coordenada Sindética Adversativa: são aquelas cujos elementos de

coesão passam a ideia de oposição e adversidade entre uma oração e a outra.

Seus elementos de coesão são: mas, porém, contudo, entretanto, no entanto,

todavia.

Ex.: A espada vence, mas não convence.

c) Oração Coordenada Sindética Explicativa: são aquelas cujos elementos de

coesão procuram explicar um ato presente na oração anterior. Seus elementos

são: porque, pois (antes do verbo).

107

Ex.: Roda, meu carro, porque vamos rodando.

Ex.: Devolvi a mercadoria, pois entregaram fora do prazo.

d) Oração Coordenada Sindética Alternativa: são aquelas cujos elementos de

coesão dão ideia de alternância, isto é, dá ao leitor e ao falante a liberdade de

optar por uma coisa ou outra, ou excluir a uma opção em detrimento de outra.

Seus elementos de coesão: ou... ou; ora.. ora; quer...quer; seja...seja.

Ex.: Ou o povo e muito forte, ou já se acostumou com a corrupção.

Ex.: Ora chova, ora faça sol, irei à praia.

Ex.: Quer fosse dia quer fosse noite, ele viajava.

Obs.: As orações alternativas são correlatas porque os elementos de coesão

aparecem na principal e na coordenada. E dão uma ideia de continuidade.

e) Oração Coordenada Sindética Conclusiva: são aquelas em que a oração

coordenada conclui a ideia deduzida na oração anterior. Seus elementos de

coesão são: portanto, assim sendo, em suma, logo, pois ( após o verbo), por

isso.

Ex.: O aluno estudou muito, portanto conseguiu lembrar o conteúdo.

Ex.: Reconheci a feiura, era, pois, um lobisomem.

Ex.: Fiz a carteirinha no centro cultural, logo pude pegar livros.

AS ORAÇÕES SUBORDINADAS

São aquelas que um enunciado possui uma relação de dependência em relação ao

outro. Por isso, em casos assim, se isolarmos uma oração da outra, pode comprometer o

sentido do enunciado. Diferentemente das orações coordenadas, as orações

subordinadas nem sempre têm o elemento de coesão e elas são muitas ( substantivas,

adjetiva e adverbiais). Vejam:

Orações subordinadas substantivas

São chamadas de substantivas, porque uma oração inteira desempenha papel de

sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo e de aposto. E

estas palavras todas têm valor de substantivo.

a) Objetivas diretas: funcionam como objeto direto de uma oração que depende

de outra que começa com VTD:

Ex.: Não sei / se vou.

b) Objetivas Indiretas: funcionam como objeto indireto de uma oração que

depende de outra que começa com VTI:

Ex.: Convença-se / de que a vida é dura.

108

c) Completivas Nominais: funcionam como complemento nominal de uma oração

que depende de outra que começa com um nome ( substantivo, adjetivo,

advérbio) que peça complemento à outra oração ligado com preposição

obrigatória.

Ex.: Tenho aptidão / para o trabalho que você anunciou no jornal.

Ex.: Sou favorável / a que o prendam.

Ex.: Era tarde/ para consertar os desmandos.

d) Subjetivas: funcionam como sujeito de uma oração que depende de outra que

comece com verbo de ligação + predicativo ou que comece com o pronome

quem. Quando isso acontecer a oração que depende, toda ela funciona como

sujeito.

Ex.: Quem avisa/ amigo é.

Ex.: É urgente/ que você colabore.

Ex.: Importa/ que cada um faça sua parte.

Ex.: Sabe-se/ que nem tudo são flores.

e) Predicativas: funcionam como predicativo de uma oração que depende de outra

que comece com um sujeito + verbo de ligação. Aí, a oração dependente toda

funciona como predicativo.

Ex.: Minha alegria é / estar perto de Deus.

f) Apositivas: funcionam como aposto de uma oração que depende de outra

intercalada por dois pontos:

Ex.: Apenas te peço isto: estude.

As orações subordinadas adjetivas

Funcionam como adjunto adnominal de uma oração que depende de outra e uma

caracteriza a outra, ligada por um pronome relativo ( que, o qual, a qual, as quais, os

quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quem ( no sentido de aquele que).

Ex.: A pessoa que mente rouba.

Ex.: O sol, que é o astro rei da nossa galáxia, brilha no céu.

Obs.: quando as orações vêm intercaladas por vírgulas, chama-se oração

subordinada adjetiva explicativa. Quando não vêm separadas por vírgulas, chama-se

oração subordinada adjetiva restritiva.

109

As orações subordinadas adverbiais

São aquelas que uma oração depende de outra, uma funciona como adjunto adverbial

da outra e, diferente das demais orações subordinadas, estas vêm ligadas a elementos de

coesão. Vejam quais são elas:

a) Subordinada adverbial temporal: uma oração passa a ideia de adjunto adverbial

de tempo subordinada a outra. Os elementos de coesão que aparecem nelas são:

ao, assim que, desde que, logo que, quando, enquanto, mal.

Ex.: Ao amanhecer, compareça à audiência.

Ex.: Assim que a diligência partiu, começou o tiroteio.

Ex.: Desde que você saiu, as coisas mudaram.

Ex.: Enquanto ela estiver na presidência, a economia não apresentará melhoras.

b) Subordinada adverbial causal: uma oração possui um fato e a outra oração

apresenta a causa. Os elementos de coesão que aparecem nelas são: porquanto,

porque, visto que, já que, como ( já que), tamanho é.

Ex.: O tambor soa, porque é oco.

Ex.: Como não me atendessem, desisti.

Ex.: Já que ele estava armado, não reagi.

Nota explicativa: Os gramáticos ainda não chegaram a um consenso sobre como distinguir porque causal e porque

explicativo. Na Gramática de Evanildo Bechara, ele chegou à conclusão que dizer: “ Não fui à aula porque estava

doente” tanto pode indicar causa, como explicação. Por isso na sua Gramática, ele simplesmente optou por não incluir

porque explicativo. Lá vocês encontrarão apenas porque causal.

Já Celso Cunha, estabeleceu uma forma de distinção entre porque causal e explicativo que ajudam, mas não me ajudou

em todos os casos. Ele deu a entender que se substituirmos o elemento de coesão porque, colocando em seu lugar dois

pontos (:), que assim é possível chegar à seguinte conclusão: se trocar o elemento de coesão pelos dois pontos e não

comprometer o sentido das orações, então pode considerar que o porquê é explicativo e não causal, mas se ficar

comprometido o sentido, então o porquê é causal.

Ex.: Deve ter chovido à noite porque o chão amanheceu molhado.

Ex.: Deve ter chovido à noite: o chão amanheceu molhado.

Othon Garcia em seu livro “ Comunicação em Prosa Moderna” foi o que me ofereceu uma ajuda maior neste sentido.

Lá ele disse que todo ato tem uma explicação, mas todo o fato tem uma causa. Assim, se na oração principal houver

um ato, o porquê com certeza será explicativo. Mas se na oração principal houver um fato, a oração dependente será

adverbial causal.

Ex.: Roda, meu carro, / porque vamos rodando. [ ato de rodar = explicação] Ex.: A terra é virgem / porque a minhoca é mole. [fato de ser virgem = causa]

Já o gramático Adriano da Gama Kury, em seu livro Novas Lições de Análise Sintática, além de listar as análises que já

expus acima, propôs o seguinte: tentar começar a oração subordinada adverbial causal com a preposição por. Se o sentido ficar

comprometido, então podemos dizer que o porquê é explicativo. Caso o sentido não fique comprometido, pode-se dizer que o porquê é causal.

Ex.: Roda, meu carro, porque vamos rodando. = por irmos rodando, roda meu carro. [ o sentido soa

estranho] = or. coord. sind. explicativa.

Ex.: A terra é virgem porque a minhoca é mole. = por a minhoca ser mole, a terra é virgem [ o sentido

não soa estranho e nem fica comprometido] = or. subord. adv. causal.

Aqui na minha Gramática eu decidi não sobrecarregar os meus alunos com um assunto tão complexo e tão embaraçoso,

que gera controvérsias entre gramáticos de renome. Por isso não vou me demorar nesta querela morfossintática. Paro por aqui.

110

c) Oração subordinada adverbial concessiva: são aquelas que concedem um fato,

mesmo com o obstáculo da oração principal. Às vezes, a concessão não acontece

porque a oposição da oração principal impede. Seus elementos de coesão:

embora, conquanto, se bem que, ainda que, mesmo que.

Ex.: Ainda que fosse bom jogador, não ganharia a partida.

Ex.: Conquanto haja maus, não se deve descrer dos bons.

Ex.: Viajaria ao exterior, mesmo que os pais não permitissem.

d) Oração subordinada adverbial consecutiva: na oração principal aparece a

causa e na oração dependente aparece a consequência. Seus elementos de

coesão: tão... que, tanto...que, tal...que, de sorte que.

Ex.: O vento foi tão forte, que por pouco leva a saia da comadre.

Ex.: O repeteco na contagem de voto foi tanto, que isso ocasionou fraudes.

Ex.: Ontem estive doente, de sorte que não saí de casa.

e) Oração subordinada adverbial comparativa: são aquelas que estabelecem uma

comparação do fato descrito na oração principal e na oração dependente. Seus

elementos de coesão são: como, assim como, tal como, tal qual, tão quanto,

pior do que, melhor do que, que nem, mais do que, menos do que como se...

Ex.: Aprendeu a subir pelas paredes como Tarzan sobe pelos cipós.

Ex.: O esquilo é tão ágil quanto o é o macaco.

Ex.: Sua morada era mais um buraco escuro do que uma casa humilde.

f) Oração subordinada adverbial conformativa: uma oração expressa

conformidade com o fato apresentado pela outra. Seus elementos de coesão são:

conforme, segundo, consoante, como, assim como.

Ex.: Agiu conforme as orientações que o professor lhe repassou.

Ex.: O texto foi lido como está no manuscrito original.

g) Oração subordinada adverbial condicional: uma oração expressa uma ideia que

só se concretiza mediante a condição expressa na outra. Seus elementos de

coesão são: se, a menos que, só...se, apenas, contanto que, salvo se, sem que,

não fosse, houvesse, exceto se.

Ex.: Se convidada, irei à festa.

Ex.: A menos que coma a minha carne e beba meu sangue, não tereis vida em

vós.

Ex.: Poderão chegar lá hoje, exceto se acontecer algo de mais sério.

Ex.: Houvesse estudado muito, seria um bom médico.

h) Oração subordinada adverbial proporcional: uma oração expressa que a ideia

evidenciada na oração anterior acontece à proporção que a outra acontece. Seus

elementos de coesão são: à medida que, ao passo que, à proporção que,

quanto mais, quanto menos.

Ex.: Quanto mais eu rezo, mais assombrações me aparecem.

111

Ex.: À medida que se vive, mais se aprende.

Ex.: Quanto menor for a altura, menor é o tombo.

i) Oração subordinada adverbial final: uma oração apresenta a finalidade e o

objetivo da proposta apresentada na oração principal. Seus elementos de coesão

são: a fim de, para que, com vistas a.

Ex.: Cada ovo era enrolado em palha, a fim de não se quebrar.

Ex.: Aproximei-me deles para que me ouvissem melhor.

Autores citados direta e indiretamente neste capítulo

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa, São Paulo, Editora Nacional, 1962.

CUNHA, Celso. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro; 1985.

Pp.:116-145.

GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna, Rio de Janeiro, FGV, 1967.

KOCH, Ingedore Villaça. Coesão Textual. Ed. Contexto, São Paulo, 2003.

Kury, Adriano da Gama Kury. Novas Lições de Análise Sintática. 1ª edição, Rio de Janeiro, Fundo de

Cultura,1961. Pág.:125.

112

CAPÍTULO 10: ESTILÍSTICA

“Pega o livro, toma-o e o coma. Em tua boca será doce como o mel, mas no estômago

será amargo” ( Apocalipse 10,9)

113

CAPÍTULO 10: ESTILÍSTICA

É a parte da Gramática que se ocupa com o estudo das figuras de linguagem que se

desdobram nas seguintes ramificações: figuras de palavras, figuras de construção e

figuras de pensamento. Este estudo é muito antigo, mas só depois de muito exame,

algumas figuras foram sendo inseridas na gramática, porque muitas figuras nasceram

no seio da oralidade e vieram da liberdade que os falantes têm de criar, recriar, usar de

forma lúdica, usar a musicalidade e de dar sentidos às palavras para além do sentido que

a gramática tradicional e o dicionário lhes dão. Devido à riqueza das figuras de

linguagem e à dificuldade de restringir a linguagem conotativa, devido ao trabalho

excessivo de classificar cada figura, a aplicação delas, o uso e a criação de novas figuras

é que a Estilística torna-se uma disciplina complexa. Talvez a estilística seja a parte

mais liberal e libertária que existe na gramática tradicional, porque as figuras provêm da

sabedoria popular, da oralidade, das licenças poéticas da vida, do lúdico, do subjetivo,

do intimismo e da introspectividade dos falantes, dos escritores que às vezes, sem

querer, presentearam a língua com esta riqueza.

Figuras de palavras

Nascem a partir do momento em que nós fazemos uso de uma palavra ou de um

enunciado e o retiramos do sentido denotativo ( literal, não-ficcional, gramatical,

dicionarizante) e a transportamos para o sentido conotativo ( figurativo, ficcional,

literário e subjetivo). No processo, há um desvio de significação da palavra e dá lugar a

uma forma de comparação ou características comuns entre os seres comparados. As

figuras que nasceram num contexto assim a gramática chama de metáforas.

Ex.: O pavão é um arco-íris de plumas.

As figuras que existem dentro do domínio da metáfora são: a própria metáfora, a

comparação, a metonímia, perífrase e a sinestesia.

a) Metáfora: consiste no desvio do sentido de uma palavra do sentido denotativo

para o sentido conotativo.

Ex.: Adélia se via enclausurada numa cadeia de dúvidas.

Ex.: Catrina, coração de pedra, é uma personagem do desenho “Os Cãezinhos do

canil”.

b) Comparação: possui a mesma dimensão que a metáfora, porém o diferencial

são as partículas comparativas que aparecem nela: como, assim como, tal qual,

tal como.

Ex.: Adélia se via como que enclausurada numa cadeia de dúvidas.

c) Metonímia: é a figura metafórica que usa uma palavra em lugar de outra, nos

seguintes aspectos:

- o efeito em lugar da causa: Ex.: Os aviões semeavam a morte.

- o autor pela obra: Ex.: Nas horas de folga ela lia Camões.

114

- o continente pelo conteúdo: Ex.: Tomou uma taça de vinho.

- o sinal pela coisa simbolizada por ele: Ex.: Todos aderiram à mensagem da

cruz.

- o lugar em vez dos seus habitantes: Ex.: A América reagiu e combateu.

- a parte pelo todo: Ex.: Ele não tinha teto onde se abrigasse.

- a marca em vez do produto: Ex.: Reuniram no bar e beberam uma Skol.

d) Perífrase: É uma expressão que designa os seres por meio de algum atributo ou

título pelo qual já são conhecidos.

Ex.: Das entranhas da terra jorra o ouro negro.

Ex.: O poeta dos escravos morreu jovem.

Ex.: As Olimpíadas tornarão mais violenta a Cidade Maravilhosa.

e) Sinestesia: é a transferência de percepções e sensações da esfera de um sentido

para a de outro e acaba resultando em quem fala, ouve ou lê o aguçar das

impressões sensoriais ( audição, paladar, visão, tato).

Ex.: Sua voz doce e aveludada era uma carícia em meus ouvidos.

Ex.: A música da morte, a nebulosa, estranha música sombria, que passa pela

minha alma e, fria, gela e passa a tremer maravilhosa.

FIGURAS DE CONSTRUÇÃO

São aquelas que lançam mão de frases, orações e períodos e fogem da estrutura

canônica ( S+ V+ O) e começam a explorar os enunciados de forma subjetiva,

expressiva e elegante. Por causa disto alguns as chamam de figuras de sintaxe. As

figuras de construção são as seguintes:

a) Elipse: consiste na omissão de um termo que facilmente podemos identificar ao

questionar o contexto.

Ex.: As mãos eram pequenas e os dedos delicados.

Ex.: As quaresmas abriam a flor depois do carnaval, os ipês em junho.

Ex.: Perguntei-lhe quando voltava, mas ele disse que não sabia.

b) Pleonasmo: é o emprego de palavras redundantes, com o fim de reforçar ou enfatizar

a expressão.

Ex.: Os impostos, é necessário pagá-los.

Ex.: A mim resta-me a lembrança do que passou.

Ex.: Secá-las bem secas no jirau.

115

Obs.: Não confunda o pleonasmo acima com o pleonasmo vicioso ( redundância)

que é um vício de linguagem. Por isso são condenáveis pela Gramática os

pleonasmos viciosos como: descer para baixo, subir para cima, ilha fluvial,

monocultura exclusiva, vereador municipal, emulsão de óleo, hemorragia de

sangue, produzir bons frutos, escrever sua autobiografia, adega de bebidas etc.

c) Polissíndeto: é a repetição intencional de elementos de coesão (de preferência

conjunções coordenativas). É eficaz para sugerir movimentos contínuos ou séries

de ações que se sucedem rapidamente.

Ex.: E sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob os

túneis e sob os túneis e sob as labaredas e sob o sarcasmo (...) às vezes um botão.

Às vezes um rato. ( Carlos Drumond)

d) Zeugma: é uma espécie de elipse , consistindo porém na omissão de um termo já

expresso anteriormente.

Ex.: “ O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, o

meu tataravô baiano” ( Chico Buarque)

Ex.: Foi o pão que diminuiu ou a salsicha que cresceu?

e) Inversão ou hipérbato: como o próprio nome indica, trata-se de uma inversão na

estrutura canônica da oração ( S +V + O) ou nos termos de uma frase. Os escritores

do Barroco na Espanha do século XVI como Luiz de Gôngora, Quevedo e o poeta

do Barroco brasileiro Gregório de Matos Guerra faziam usavam tais figuras de

forma tão intensa, que para ler os poemas deles é necessário colocar os termos na

ordem devida para assim os compreender.

Ex.: Ouviram do Ipiranga às margens plácidas de um povo heroico o brado

retumbante. ( Hino nacional brasileiro)

Ex.: Cachorro, desisti de criar.

f) Anacoluto: é a quebra ou a interrupção do fio da frase ou da oração. Inicia-se o

enunciado que depois é quebrada a sequência normal para introduzir uma palavra

ou uma expressão que não tem nexo com o enunciado escrito anteriormente.

Ex.: Pobre, quando come frango, um dos dois está doente.

Ex.: Eu, não me importa a ruína do mundo.

Ex.: Januária, não conheço cidade mais sossegada que esta.

g) Silepse: é uma figura que força o verbo a concordar não com o sujeito, mas sim com

a ideia que ele representa.

Ex.: Vossa Majestade será informado acerca de tudo. ( silepse de gênero)

116

Ex.: Como vai o pessoal? Estão bem? ( silepse de numero)

Ex.: Perdoem-me, mas não me parece sensato que os brasileiros persistamos em

eleger o populismo. ( silepse de pessoa)

h) Repetição: consiste em reiterar (repetir) palavras ou orações para enfatizar a

afirmação ou sugerir insistência, progressão.

Ex.: O surdo pede que repitam, que repitam, que repitam a última.

Ex.: Café com pão, café com pão, café com pão, manteiga não. ( Manuel Bandeira)

i) Onomatopeia: consiste no aproveitamento de palavras cuja pronúncia imita o som

ou a voz natural dos seres. Os escritores gostam de usá-la como recurso fonêmico

Ex.: E no sítio a gente ouvia o cri- cri dos grilos e o coaxar dos sapos.

j) Aliteração: consiste na repetição intensa de sons consanantais.

Ex.: Vozes veladas, veludosas vozes. Das vórtices vorazes, vozes veladas que

vagam nos ventos: vivas, vãs, vulcanizadas ( Cruz e Souza)

Obs.: a repetição intensa de sons vocálicos é chamada de assonância.

FIGURAS DE PENSAMENTO

São aquelas que fazem uso da palavra com vistas a intervir fortemente nas emoções,

sentimentos e para lidar com as palavras de forma lúdica e subjetiva. As principais

figuras de pensamento são as seguintes:

a) Antítese: consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentido oposto.

Ex.: “Última Flor do Lácio, inculta e bela. És a um tempo, esplendor e

sepultura” ( Olavo Bilac)

b) Paradoxo: também conhecida como oxímoro, esta figura consiste em usar

intencionalmente um contra senso.

Ex.: Amor é fogo que arde sem se ver e é ferida que dói e não se sente (

Camões)

Ex.: Feliz culpa de Adão que nos valeu tão grande Redentor ( S. Agostinho)

c) Eufemismo: consiste em suavizar a expressão de uma ideia triste, molesta ou

desagradável, substituindo o termo contundente por palavras amenas e que

sejam adequadas para não gerar um constrangimento.

Ex.: Fulano foi desta para a melhor.

Ex.: Na cidade há escolas para crianças especiais.

117

d) Gradação: É uma sequência de ideias dispostas em sentido progressivo ou

regressivo.

Ex.: O primeiro milhão possuído excita, acirra, assanha a gula do milionário.

Ex.: Um ser limitado, uma ínfima criatura, um grão de pó perdido no cosmo é o

ser humano.

e) Hipérbole: é uma afirmação exagerada e uma deformação da verdade que visa

a um efeito expressivo.

Ex.: Chorou rios de lágrimas.

Ex.: Tenho mil razões para que não saia à rua para brincar.

f) Ironia: é a figura pela qual expressamos o contrário do que pensamos, quase

sempre com intenção de fazer chacota.

Ex.: Fizeste um excelente serviço, jogando o lixo na minha porta e limpando a

sua.

Ex.: A senhora Anastácia era mestra em judiar de criança.

g) Prosopopeia / personificação: é a figura pela qual fazemos os seres

inanimados, substantivos abstratos e seres irracionais adquirirem características

de seres humanos.

Ex.: Os sinos chamam para o amor.

Ex.: A saudade matou meu coração.

Ex.: O botão levado na enxurrada me olhou com um olhar triste!

h) Catacrese: é uma figura que consiste em retirar uma estrutura de um ser vivo e

atribui-la a um ser inanimado por não ter outra palavra para empregar ao se

referir a tal.

Ex.: A perna da mesa quebrou-se.

Ex.: Um dente de alho basta, para temperar o feijão.

Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa: estilística. 46ª edição, Editora

Nacional, 1999. Pág.: 614.

MARTINS, Nice Santana. Introdução à Estilística: a expressividade na língua portuguesa. Edusp; 4ª edição, 2008,

São Paulo.

LEMOS, José. Fundamentos da Estilística. 1ª edição. Livraria Arte e Ciência, Fortaleza, 198.

118

CAPÍTULO 11: O EMPREGO DA CRASE

“ Se vai a e volta da, crase há. Se está em e volta de, crase para quê?” ( Macete

popularmente usado nos cursos preparatórios)

119

CAPÍTULO 11 : O EMPREGO DA CRASE

A crase não é exatamente um acento gráfico como o são o acento agudo e o acento

circunflexo. Ela resulta de uma fusão da preposição “a” + o artigo definido feminino

“a”. Então: a + a = à. A palavras crase, em grego, é “krásis” e traduzido é : “fusão,

mistura”.

Ex.: Graças a Deus cheguei a a primavera. (antes de a Gramática normatizar o

fenômeno)

Ex.: Graças a Deus cheguei à primavera. ( hoje, depois que a Gramática padronizou)

Vejam nos exemplos acima que o fenômeno da crase decorre de uma fusão entre a

preposição “a” e o artigo definido feminino que precede a palavra primavera “a” é que

ocasionaram o fenômeno da crase. Por ser um fenômeno, os gramáticos condenam a

expressão: “este a é craseado”. Outros gramáticos, por questão de tornar menos

complexo e polêmico o assunto preferiram sim usar a expressão: “o acento indicador da

crase”. Eu aconselho que vocês digam: “o fenômeno / fusão crase”.

Regra Geral: Haverá crase sempre que um verbo transitivo indireto ou um nome

(substantivo, adjetivo, advérbio) pedir um complemento regido da preposição

obrigatória “a” e o objeto indireto / complemento nominal for uma palavra feminina

precedida do artigo definido “a”.

Ex.: Iremos a a festa v.t.i prep. art obj. ind. fem.

Ex.: Iremos à festa.

Ex.: Era insensível a a dor. nome prep. art compl. nom. feminino

Ex.: Era insensível à dor.

QUANDO NÃO VAI OCORRER O FENÔMENO DA CRASE

a) Antes de palavras masculinas.

Ex.: Não assisto a filmes de guerra.

Ex.: Isto cheira a vinho.

Ex.: Escreveu um bilhetinho a lápis.

Ex.: Bicho se caça a pau e pedra.

Obs.: se antes da palavra ficar subentendida a expressão “ à moda de”, então

acontecerá o fenômeno da crase:

Ex.: Fez um gol à William. ( subentende-se a expressão “à moda de”)

Ex.: Calçava sapatos à Luís XV.

120

b) Antes de pronomes

Ex.: Recorri a minha mãe.

Ex.: Dedico a obra a todas as mulheres de Januária.

Ex.: Refiro-me a você.

Ex.: Assistiram a vossa desobediência.

Ex.: Não me referi a Vossa Excelência.

Obs.: Mas em se tratando de pronomes de tratamentos femininos como:

“senhora e senhorita” em se tratando de pronomes relativos e de pronomes

demonstrativos, aí sim haverá o fenômeno da crase.

Ex.: Peço à senhora que tenha paciência.

Ex.: É um favor que peço à senhorita.

Ex.: Não temos as acusações às quais responderei em julgamento.

Ex.: Refiro-me àquela mulher.

c) Antes de nomes próprios femininos que não admitem o artigo

Ex.: Rezamos a Nossa Senhora todos os dias.

Ex.: Dedicaram templos a Minerva e a Júpiter.

Ex.: O guerreiro branco falou a Iracema.

Ex.: Fiz uma promessa a Santa Terezinha.

Obs.: Mas quando nome próprio admitir o artigo feminino, deve acontecer a

fusão.

Ex.: A jovem tinha devoção à Virgem Maria.

Ex.: Entreguei a carta à Júlia.

d) Antes de nomes de cidades, estados, capitais e demais lugares que não aceitem a

regência verbal “ estou na” e “volto da” e sim as regências “estou em” e

“volto de”

Ex.: Vou a Montes Claros. [ Estou em Montes Claros / Volto de Montes Claros]

Ex.: Viajamos a Ouro Preto. [ Estou em Ouro Preto/ Volto de Ouro Preto]

Obs.: Mas se o nome da cidade, do estado, capital e demais lugares aceitarem

a regência verbal “estou na” e “volto da”, então acontecerá o fenômeno da crase.

Ex.: Vou à Bahia. [ Estou na Bahia / Volto da Bahia]

Ex.: Chegamos à América. [ Estou na América / Volto da América]

Ex.: Bem-vindos à Alemanha. [ Estou na Alemanha]

Atenção: se o nome de lugar aparecer acompanhado de adjetivo ou de locução

que o caracterize, mesmo que a regência verbal dele seja “estou em” e “volto de”,

ainda assim acontecerá a crase.

121

Ex.: Chegamos à Montes Claros do arroz com pequi.

Ex.: Bem-vindos à Januária do sol quente.

Ex.: Referiu-se à Roma dos césares.

e) Antes da palavra no sentido de domicílio e lar

Ex.: Voltamos a casa tristes.

Ex.: Chegavam a casa quase sempre de tardezinha.

Obs.: Se a palavra casa vier acompanhada de adjetivo ou locução que

caracterize, então acontecerá a crase. E também se a palavra casa não significar

“lar” e “domicílio”

Ex.: O filho pródigo voltou à casa paterna.

Ex.: Fiz uma visita à velha casa de meus avós.

Ex.: Fui à Casa da Moeda.

Ex.: O presidente Obama regressou à Casa Branca.

f) Antes de palavras repetidas

Ex.: Tomou o remédio gota a gota.

Ex.: Estavam frente a frente.

Ex.: Dia a dia a empresa foi crescendo.

g) Antes da palavra “terra”, quando esta significar: “ solo e terra firme”

Ex.: Vendo o tubarão, o nadador voltou logo a terra.

Ex.: Os marinheiros tinham descido a terra para rever os parentes.

Obs.: quando a palavra se referir ao planeta e à pátria, então ocorrerá o

fenômeno da crase.

Ex.: Os astronautas voltaram à Terra.

Ex.: Gulliver chegou primeiramente à terra dos liliputianos.

h) Antes de numerais cardinais

Ex.: O presidente inicia a visita a oito países africanos.

Ex.: Assisti a duas sessões que reprisavam estes filmes.

Ex.: A fazenda ficava a três léguas da cidade.

Ex.: Daqui a quatro semanas muita coisa terá mudado.

Obs.: Se o numeral indicar horas ou se for numeral ordinal feminino, então

acontecerá o fenômeno da crase.

Ex.: Chegamos às oito horas da noite.

Ex.: Refiro-me à terceira aluna da fila.

122

i) Antes de verbos

Ex.: Estamos dispostos a trabalhar pela paz no mundo.

Ex.: Puseram-se a discutir em voz alta.

j) Antes de adjuntos adverbiais que indicam meio e instrumentos

Nestes casos os gramáticos não chegaram a um consenso, mas Celso Cunha,

Bechara, Paschoalle Cipro Neto e Cegalla prescrevem que é opcional. Por isso, segundo

eles, as locuções adverbiais de meio/ instrumento: “à chave/ a chave; à mão / a mão; a

bala/ à bala; à óleo/ a óleo” devem ser grafadas com o sinal indicador do fenômeno ou

não.

Obs.: Mas nas locuções adverbiais de lugar (à esquerda, à mesa, à direita), nas

locuções adverbiais de modo ( à força, à milanesa, à solta, à vontade, às escondidas, às

pressas, às apalpadelas, à distância, à toa, às claras...), nas locuções adverbiais de

tempo ( às vezes, à tarde, à noite) e nas locuções conjuntivas proporcionais ( à

medida que, à proporção que), acontecerá sim o fenômeno da crase.

Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa, São Paulo, Editora Nacional, 1962.

CUNHA, Celso. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro,1985.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa: crase. 46ª edição, Editora

Nacional, 1999. Pág.: 275-280.

INFANTE, Ulisses; Cipro Neto. Gramática da Língua Portuguesa: crase. 3ª edição; Scipione, São Paulo, 2008.

123

CAPÍTULO 12: OS RECURSOS DE PONTUAÇÃO

“Ele disse o quê? ‘Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso’. Ou disse: ‘Em

verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso’.” ( ? ) – S. Agostinho.

124

CAPÍTULO 12: OS RECURSOS DE PONTUAÇÃO

A pontuação é outra parte da Gramática que não há indícios concretos de que existia

na Antiguidade. Apesar de alguns terem escrito uma data, não se sabe precisar com

exatidão quando foi que teve início o processo de grafar o discurso com sinais de

pontuação indicadores de pausa breve ( , ), pausa longa ( . ), indagação ( ? ), expressão

emotiva ( ! ); e a possibilidade de sinalizar que o discurso foi interrompido ou que há

mais no discurso que poderia ser citado (...). Os textos sagrados, desde a Antiguidade e,

sobretudo da Idade Média até nossos dias, sempre foram objeto de estudo por parte dos

filósofos gregos, dos monges copistas da igreja romana, dos rabinos judeus tradutores

do texto hebraico e grego do Antigo Testamento bíblico, dos muçulmanos que estudam

os textos do Alcorão e os hindus que estudaram os textos dos Vedas. No caso de textos

sagrados é muito importante na hora da tradução que a hermenêutica seja ao máximo

fiel ao texto original, porque textos sagrados envolvem a cultura, a identidade e a

herança de um povo e isso requer cuidado, porque às vezes, a interpretação não fica

restrita apenas a cultura daquele determinado povo, mas acaba influenciando a toda

humanidade. Para auxiliar a hermenêutica é que a pontuação mostrou-se relevante. A

partir de então, tornou-se essencial na construção do discurso presente em todo e

qualquer enunciado.

Os objetivos dos sinais de pontuação são os seguintes:

a) Assinalar as pausas e as inflexões da voz ( a entoação) na leitura;

b) Separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas;

c) Esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.

Lembrete: não há entre os escritores ainda um consenso quanto ao emprego dos sinais

de pontuação. Por isso não posso aqui traçar regras rigorosas sobre este assunto. Vou

colocar aqui apenas aquilo que já é uso geral na escrita e que a Gramática já vem

sancionando há muitos anos.

O uso da vírgula

Regra Geral: nunca use entre sujeito e verbo e nunca use entre verbo e objeto. Não use

entre o sujeito e o verbo de ligação e nem entre o verbo de ligação e o predicativo. Não

use entre o nome e o complemento nominal.

Obs.: use para separar orações coordenadas.

Ex.: Vim, vi, venci.

Ex.: Vim, vi e venci.

Ex.: Felizes os que não viram, mas creram.

Ex.: O aluno estudou pouco, logo foi reprovado.

Ex.: Ou você estuda, ou não te quero aqui.

125

Obs.: Use para separar o vocativo ( ser evocado através do chamamento).

Ex.: Velho mundo, vasto mundo, se me chamasse Raimundo seria uma rima e não uma

solução.

Obs.: Use para separar o aposto ( termo acessório que tem a função de explicar,

caracterizar um ser para que não seja confundido com nenhum outro).

Ex.: Castro Alves, o poeta dos escravos, morreu jovem.

Obs.: Use para intercalar orações (fazer uma ressalva e depois dar sequência ao que

dizia anteriormente)

Ex.: A história, diz Cícero, é a mestra da vida.

Obs.: Use em expressões tradicionais que servem para retificar um pensamento como as

expressões: “isto é”, “ou seja”, “a saber”, “por exemplo”, “ou melhor”, “ou antes”.

Obs.: Use para separar orações subordinadas adverbiais.

Ex.: Enquanto estudava, sofria.

Ex.: Cada ovo era enrolado em palha, a fim de não quebrar.

Ex.: Já que ninguém me emprega, decidi recorrer à mendicância.

Ex.: Se você tomar o ônibus no horário certo, você chegará a tempo.

Ex.: À medida que o vento avançava, mais rápido o fogo queimava.

Ex.: Como a corça anseia por águas, assim tenho sede.

Atenção: as orações subordinadas adverbiais consecutivas a maioria dos gramáticos

não aconselham separar com vírgulas.

Ex.: O vento foi tão forte que por pouco leva a saia da comadre.

Obs.: Use a vírgula para separar os provérbios populares, datas e endereços que

desejamos realçar.

Ex.: Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.

Ex.: Montes Claros, 22 de abril de 2015.

Ex.: Avenida Neco Delfino, 303.

Obs.: Nunca troque um elemento de coesão coordenativo ou um elemento de coesão

subordinativo por uma vírgula, a fim de não comprometer a coerência do enunciado.

Elemento de coesão tem poder conectivo, mas a vírgula não desempenha esta função.

126

O ponto e vírgula

O ponto e vírgula é um sinal gráfico indicador de uma pausa de maior intensidade

que a vírgula. É aconselhável usar nas seguintes situações:

- para separar enunciados mais extensos:

Ex.: “ Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu a haste ao desconhecido,

guardando consigo a ponta farpada” ( José de Alencar).

- para separar os regulamentos de um decreto, os incisos de um artigo da lei, de

uma sentença, de uma petição, para separar expressões e palavras expostas em

sequência enumerativa.

Ex.: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel

dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático

de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Os dois pontos

- Empregam-se este sinal de pontuação principalmente para anunciar que

alguém vai tomar a palavra.

Ex.: Nunca questionava a vida, nem as coisas, mas um dia em frente ao espelho

disse a si mesma: “quem sou eu?” ( Clarice Lispector. A Hora da Estrela)

- Empregam-se antes de uma citação:

Ex.: O pessoal do extremo norte tem um slogan: “Amazônia também é Brasil”.

- Empregam-se antes de apostos, principalmente os enumerativos:

Ex.: Tudo ameaça as plantações: vento, enchentes, geadas, insetos daninhos,

pisoteio de gado e coisas semelhantes.

- Empregam-se para indicar um esclarecimento em resumo do que se disse e

empregam-se em orações coordenadas explicativas:

127

Ex.: O padre era assim mesmo: amigo dos pobres.

Ex.: Em resumo: saí de casa com dez reais no bolso.

Ex.: A casa não caiu por milagre de Deus: foi construída num mutirão.

Ex.: Não participou da apresentação: estava doente.

Ponto Final

O ponto final representa a pausa máxima da voz. A melodia da frase indica que o tom é

descendente. Emprega-se, principalmente:

- Para fechar o período de frases afirmativas, negativas, declarativas e

imperativas.

Ex.: Mestre Vitorino morava no mar.

Ex.: Não se enrugue, coro velho, porque te quero para tambor.

Ex.: O coronel Murta não ata e nem desata.

- Usa-se o ponto final nas abreviaturas:

Ex.: Sr. ( senhor); a.C. (antes de Cristo), pág. (página); P.S. (post scritum).

Ponto de Interrogação ( ? )

O ponto de interrogação é usado ao final de qualquer interrogação direta, ainda que a

pergunta não exija resposta. A entoação ocorre de forma ascendente.

Ex.: Onde você comprou este computador?

Obs.: não se usa ponto interrogativo nas perguntas indiretas.

Exemplo: Perguntei quem era aquela criança.

Note que:

1) O ponto de interrogação pode aparecer ao final de uma pergunta

intercalada, entre parênteses.

Exemplo: Trabalhar em equipe (quem o contesta?) é a melhor forma

para atingir os resultados esperados.

2) O ponto de interrogação pode realizar combinação com o ponto

admirativo.

Exemplo: Eu?! Que ideia!

128

Ponto de Exclamação ( ! )

O ponto de exclamação é utilizado após as interjeições, frases exclamativas e

imperativas. Pode exprimir surpresa, espanto, susto, indignação, piedade, ordem,

súplica, etc. Possui entoação descendente.

Ex.: Como as mulheres são lindas!

Pare, por favor!

Ah! Que pena que ele não veio...

Obs.: o ponto de exclamação substitui o uso da vírgula de um vocativo enfático.

Exemplo: Ana! Venha até aqui!

Reticências (...)

As reticências marcam uma suspensão da sequência do enunciado, devido a

elementos de natureza emocional. Empregam-se:

- Para indicar continuidade de uma ação ou fato.

Ex.: O tempo passa...

- Para indicar suspensão ou interrupção do pensamento.

Ex.: Vim até aqui achando que...

- Para representar, na escrita, hesitações comuns na língua falada.

Ex.: Não quero sobremesa... porque...porque não estou com vontade.

- Para realçar uma palavra ou expressão.

Ex.: Não há motivo para tanto... mistério.

- Para realizar citações incompletas.

Ex.: O professor pediu que considerássemos esta passagem do hino brasileiro:

" Deitado eternamente em berço esplêndido..."

- Para deixar o sentido da frase em aberto, permitindo uma interpretação pessoal

do leitor.

129

Ex.: " Estou certo, disse ele, piscando o olho, que dentro de um ano a vocação

eclesiástica do nosso Bentinho se manifesta clara e decisiva. Há de dar um padre de

mão-cheia. Também, se não vier em um ano..." (Machado de Assis)

Saiba que

As reticências e o ponto de exclamação, sinais gráficos

subjetivos de grande poder de sugestão e ricos em matizes

melódicos, são ótimos auxiliares da linguagem afetiva e

poética. Seu uso, porém, é antes arbitrário, pois depende do

estado emotivo do escritor.

Parênteses ( )

Os parênteses têm a função de intercalar no texto qualquer indicação que, embora não

pertença propriamente ao discurso, possa esclarecer o assunto. Empregam-se:

- Para separar qualquer indicação de ordem explicativa, comentário ou reflexão.

Ex.: Zeugma é uma figura de linguagem que consiste na omissão de um termo

(geralmente um verbo) que já apareceu anteriormente na frase.

- Para incluir dados informativos sobre bibliografia (autor, ano de publicação,

página entre outros)

Ex.: " O homem nasceu livre, e em toda parte se encontra sob ferros" (Jean- Jacques

Rousseau, Do Contrato Social e outros escritos. São Paulo, Cultrix, 1968.)

- Para isolar orações intercaladas com verbos declarativos, em substituição à

vírgula e aos travessões.

Ex.: Afirma-se (não se prova) que é muito comum o recebimento de propina para que

os carros apreendidos sejam liberados sem o recolhimento das multas.

- Para delimitar o período de vida de uma pessoa.

Ex.: Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987).

- Para indicar possibilidades alternativas de leitura.

Ex.: Prezado(a) usuário(a).

130

- Para indicar marcações cênicas numa peça de teatro.

Ex.: Abelardo I : - Que fim levou o americano?

João: - Decerto caiu no copo de uísque!

Abelardo I : -Vou salvá-lo. Até já!

(sai pela direita)

(Oswald de Andrade)

Obs.: Num texto, havendo necessidade de utilizar alíneas, estas podem ser ordenadas

alfabeticamente por letras minúsculas, seguidas de parênteses (Note que neste caso as

alíneas, exceto a última, terminam com ponto e vírgula).

Ex.: No Brasil existem mulheres: a) morenas; b) loiras; c) ruivas.

Os Parênteses e a Pontuação

Veja estas observações:

1) As frases contidas dentro dos parênteses não costumam ser muito longas, mas devem

manter pontuação própria, além da pontuação normal do texto.

2) O sinal de pontuação pode ficar interno aos parênteses ou externo, conforme o caso.

Fica interno quando há uma frase completa contida nos parênteses.

Ex.: É importante ter atenção ao uso dos parênteses. (Eles exigem um cuidado

especial!)

Ex.: Vamos confiar (Por que não?) que cumpriremos a meta.

Se o enunciado contido entre parênteses não for uma frase completa, o sinal de

pontuação ficará externo.

Ex.: O rali começou em Lisboa (Portugal) e terminou em Dacar (Senegal).

2) Antes do parêntese não se utilizam sinais de pontuação, exceto o ponto. Quando

qualquer sinal de pontuação coincidir com o parêntese de abertura, deve-se optar

por colocá-lo após o parêntese de fecho.

131

Travessão ( – )

O travessão é um traço maior que o hífen e costuma ser empregado:

- No discurso direto, para indicar a fala da personagem ou a mudança de

interlocutor nos diálogos.

Ex.: – O que é isso, mãe?

– É o seu presente de aniversário, minha filha.

- Para separar expressões ou frases explicativas, intercaladas.

Ex.: "E logo me apresentou à mulher, – uma estimável senhora – e à

filha." (Machado de Assis)

- Para destacar algum elemento no interior da frase, servindo muitas vezes para

realçar o aposto.

Ex.: "Junto do leito meus poetas dormem – O Dante, a Bíblia,

Shakespeare e Byron – Na mesa confundidos." (Álvares de Azevedo)

- Para substituir o uso de parênteses, vírgulas e dois-pontos, em alguns casos.

Ex.: "Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente selvagem,

a arte é a superioridade humana – acima dos preceitos que se combatem,

acima das religiões que passam, acima da ciência que se corrige;

embriaga como a orgia e como o êxtase." (Raul Pompeia)

Aspas ( " " )

As aspas têm como função destacar uma parte do texto. São empregadas:

- Antes e depois de citações ou transcrições textuais.

Ex.: Como disse Machado de Assis: "A melhor definição do amor não vale um beijo

de moça namorada."

- Para representar nomes de livros ou legendas.

Ex.: Camões escreveu "Os Lusíadas" no século XVI.

Obs.: para realçar títulos de livros, revistas, jornais, filmes, etc. também podemos grifar

as palavras, conforme o exemplo:

Ex.: Ontem assisti ao filme Central do Brasil.

132

- Para assinalar estrangeirismos, neologismos, gírias, expressões populares, ironia.

Ex.: O "lobby" para que se mantenha a autorização de importação de

pneus usados no Brasil está cada vez mais descarado. (Veja)

Ex.: Com a chegada da polícia, os três suspeitos "se mandaram"

rapidamente.

Ex.: Que "maravilha": Felipe tirou zero na prova!

- Para realçar uma palavra ou expressão.

Ex.: Mariana reagiu impulsivamente e lhe deu um "não".

Quem foi o "inteligente" que fez isso?

Obs.: em trechos que já estiverem entre aspas, se necessário usá-las novamente,

empregam-se aspas simples.

Ex.: "Tinha-me lembrado da definição que José Dias dera deles, 'olhos de

cigana oblíqua e dissimulada'. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e

queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar." (Machado de

Assis).

Colchetes [ ]

Os colchetes têm a mesma finalidade que os parênteses; todavia, seu uso se restringe

aos escritos de cunho didático, filológico, científico. Pode ser empregado:

- Em definições do dicionário, para fazer referência à etimologia da palavra.

Ex.: amor- (ô). [Do lat. amore.] 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o

bem de outrem, ou de alguma coisa: amor ao próximo; amor ao patrimônio artístico de

sua terra. (Novo Dicionário Aurélio)

- Para intercalar palavras ou símbolos não pertencentes ao texto.

Ex.: Em Aruba se fala o espanhol, o inglês, o holandês e o papiamento. Aqui estão

algumas palavras de papiamento que você, com certeza, vai usar:

1- Bo ta bon? [Você está bem?]

2- Dios no ta di Brazil. [Deus não é brasileiro.]

- Para inserir comentários e observações em textos já publicados.

Ex.: Machado de Assis escreveu muitas cartas a Sílvio Dinarte. [pseudônimo de

Visconde de Taunay, autor de "Inocência"]

133

- Para indicar omissões de partes na transcrição de um texto.

Ex.: "É homem de sessenta anos feitos [...] corpo antes cheio que magro, ameno e

risonho" (Machado de Assis)

Asterisco ( * )

O asterisco, sinal gráfico em forma de estrela, costuma ser empregado:

- Nas remissões a notas ou explicações contidas em pé de páginas ou ao final de

capítulos.

Ex.: “Ao analisarmos as palavras sorveteria, sapataria, confeitaria, leiteria e muitas

outras que contêm o morfema preso* -aria e seu alomorfe -eria, chegamos à conclusão

de que este afixo está ligado a estabelecimento comercial. Em alguns contextos pode

indicar atividades, como em: bruxaria, gritaria, patifaria, etc.”

* É o morfema que não possui significação autônoma e sempre aparece ligado a outras

palavras.

- Nas substituições de nomes próprios não mencionados.

Ex.:O Dr.* conversou durante toda a palestra.

O jornal*** não quis participar da campanha.

Parágrafo ( § )

O símbolo para parágrafo, representado por §, equivale a dois “esses” (S)

entrelaçados, iniciais das palavras latinas "Signum sectionis" que significam sinal de

secção, de corte. Num ditado, quando queremos dizer que o período seguinte deve

começar em outra linha, falamos parágrafo ou alínea. A palavra alínea (vem do latim a

+ lines) e significa distanciado da linha, isto é, fora da margem em que começam as

linhas do texto.

O uso de parágrafos é muito comum nos códigos de leis.

Ex.: § 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obedecidas na efetivação

do disposto no § 4º.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Autores e obras citados direta e indiretamente neste capítulo

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa: crase. 46ª edição, Editora

Nacional, 1999. Pág.: 428.

LUFT, Celso Pedro. A Vírgula. Editora Ática, São Paulo, 1996.

TUCCI, William. A Rebelião da Pontuação. 1ª edição. Saraiva, São Paulo, 2014

134

APÊNDICE

Tencionei aqui tecer umas considerações acerca de algumas regrinhas gramaticais que

às vezes representam desafios e geram dúvidas nos estudantes de língua portuguesa.

Gostaria, à luz da Gramática de me demorar em algumas delas, a fim de lhes prestar

algum auxílio.

O EMPREGO DO HÍFEN

O emprego do hífen é matéria extremamente complexa e mal disciplinada pelo

Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa ( VOLP), sobretudo no que diz respeito

ao uso deste sinal em palavras formadas por prefixação , nas quais mais palpáveis são as

falhas e incoerências. Para quem escreve, o emprego do hífen é um autêntico quebra-

cabeça.

Coloco abaixo, primeiramente quando se deve usar o hífen como está prescrito nas

principais regras agora, ou seja, depois que entrou em vigor em 01 de janeiro de 2016 o

Novo Acordo Ortográfico o qual apresenta novas regras, não só na acentuação gráfica,

mas também no emprego do hífen.

Regras essenciais sobre quando usar o hífen

a) A letra “h” é uma letra sem som. Portanto, após prefixos o hífen deve aparecer

para separá-la da outra palavra.

Ex.: pré-história; anti-higiênico; sub-hepático; super-homem.

b) Em letras iguais separam-se, mas em letras diferentes, juntam-se.

Ex.: anti-inflamatório; neoliberalismo; supraauricular; extraoficial; arqui-

inimigo; semicírculo; sub-bibliotecário; superintendente.

c) Quanto às letras "r" e a letra "s", se o prefixo terminar em vogal, a consoante

deverá ser dobrada e o hífen desaparece.

Ex.: suprarrenal (supra +renal); ultrassonografia (ultra+ sonografia), minissaia,

antisséptico, contrarregra.

d) Entretanto, se o prefixo terminar em consoante, o hífen deve separar as palavras.

Ex.: Sub-reino; ab-rogar.

e) Quando a letra r e a letra s se encontrarem, permanece a regra geral: letras iguais

são separadas pelo hífen.

Ex.: super-requintado; super-realista; inter-resistente.

135

CONTINUAMOS A USAR O HÍFEN

Depois dos prefixos “ex-, sota-, soto-, vice- e vizo-”

Ex.: ex-diretor, ex-hospedeira, sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente , vizo-rei

Depois de “pós-, pré- e pró-”

Ex.: pós-tônico, pré-escolar, pré-natal, pró-labore, pró-africano, pró-europeu, pós-

graduação

Depois de "pan-", "circum-", quando seguidos de vogais.

Ex.: pan-americano, circum-escola

ATENÇÃO!

Não se usa o hífen após os prefixos “co-, re-, pre”( quando estes não são acentuados)

Ex.: coordenar, reedição, preestabelecer, coordenação, refazer, preexistir

reescrever, prever, coobrigar, relembrar, cooperação, reelaborar.

O ideal para memorizar essas regras, lembre-se, é conhecer e usar pelo menos uma

palavra de cada prefixo. Quando bater a dúvida numa palavra, compare-a com a palavra

que você já sabe e escreva-a duas vezes: numa você usa o hífen, na outra não. Qual a

certa? Confie na sua memória! Uma delas vai te parecer mais familiar.

Resumindo: Letras iguais são separadas com hífen, mas letras diferentes, juntam-se

com o hífen. A letra “h” não tem personalidade, logo é separada com o hífen. As letras

“r” e o “s”, quando estão perto das vogais, são dobradas. Mas não se juntam com

consoantes.

O HÍFEN NÃO DEVE MAIS SER UTILIZADO

O hífen não é mais utilizado nos seguintes casos:

a) Em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal e

seguidos de palavras iniciadas pelas letras r ou s, sendo que estas devem ser

dobradas.

Exemplos: antessala, antessacristia, antirrábico, antirracismo, antirreligioso,

antirrugas, antissemita, antissocial, arquirromântico, arquirrivalidade,

autorregulamentação, autorretrato, biorritmo, biossatélite, biossistema,

contrarregra, contrassenso, contrassenha, cosseno, eletrossiderurgia,

extrarregimento, extrarregular, extrassístole, extrasseco, infrassom, infrarrenal,

megarreserva, megassena, megassistema, microrradiografia, minirreforma,

microssistema, minissaia, multissecular, neorrealismo, neossimbolista,

psicossocial, ultrarresistente, ultrarromântico, ultrassonografia, ultrassom,

semirreta, suprarrenal, suprassensível, etc.

136

b) Em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal e

seguidos de palavras iniciadas por vogal diferente.

Ex.: aeroespacial, agroindustrial, anteontem, antiaéreo, antieducativo,

autoafirmação, autoajuda, autoaprendizagem, autoescola, autoestima,

autoestrada, autoinstrução, coautor, coedição, coeducação, contraexemplo,

contraindicação, contraordem, extraescolar, extraoficial, infraestrutura,

intraocular, intrauterino, neoexpressionista, neoimperialista, plurianual,

semiaberto, semiautomático, semiárido, semianalfabeto, semiembriagado,

semiesférico, semiopaco, semiobscuridade, supraocular, ultraelevado, etc.

c) Quando o prefixo termina em vogal, e o segundo elemento começa por

consoante diferente de r ou s.

Exemplos: anteprojeto, antipedagógico, antivírus, autopeça, autoproteção,

coprodução, geopolítica, microcomputador, pseudoprofessor, semicírculo,

semideus, seminovo, ultramoderno, etc.

d) Em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais,

adverbiais, prepositivas ou conjuncionais).

Ex.: cão de guarda, fim de semana, fim de mês, fim de ano, fim de século, café

com leite, pão de mel, sala de jantar, cartão de visita, cor de vinho...

e) Com exceção dos compostos que designam espécies botânicas e zoológicas, não

se emprega o hífen nos compostos por justaposição com termo de ligação.

Exemplos: calcanhar de Aquiles, dor de cotovelo, pé de moleque, folha de

flandres, tomara que caia, quarto e sala...

Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-

de-meia, ao-deus-dará, à queima-roupa...

f) Nas ligações da preposição "de" às formas monossilábicas do presente do

indicativo do verbo haver.

Exemplos: hei de, hás de, hão de...

g) As locuções tão só, tão somente e à toa não recebem mais hífen.

137

AS FUNÇÕES DA PARTÍCULA “SE”

A partícula “se” foi muito mencionada aqui nesta gramática. São duas letrinhas, mas o

seu valor morfossintático deve ser examinado e exposto, já que nos concursos e

processos seletivos elas, volta e meia, para não dizer sempre, são cobradas. Vejam as

principais funções que a partícula “se” desempenha:

a) Partícula apassivadora: acontece sempre que a oração apresenta: verbo + a

partícula se + substantivo ou expressão com valor substantivo. Em casos

assim geralmente é possível fazer a transmutação do enunciado para a voz

passiva analítica.

Ex.: Digitam-se trabalhos escolares.

Vejam que na oração acima temos o verbo + a partícula se + o substantivo. E

que quando fazemos a transposição para a voz passiva analítica a oração fica

assim:

Ex.: Trabalhos escolares são digitados.

b) Índice de Indeterminação do sujeito: acontece sempre que a oração apresenta:

verbo transitivo indireto + partícula se + objeto indireto. Quando isso

acontece, é impossível fazer a transmutação para a voz passiva analítica.

Ex.: Trata-se de um mandado de segurança.

Obs.: Algumas vezes é um verbo intransitivo e às vezes até um verbo de

ligação que aparece antes da partícula se, mas mesmo assim, não será possível

a transposição para a voz passiva.

Ex.: É- se muito feliz quando se reside em casa própria.

Ex.: Na África Subsaariana morre-se de fome.

c) Pronome reflexivo: acontece sempre que o verbo indicar que o sujeito faz e sofre

uma ação. Em casos assim é sempre possível atribuir à ação expressa pelo verbo

as expressões: a si mesmo, a ti mesmo, a ele mesmo, a nós mesmos, a vós

mesmos e a eles mesmos.

Ex.: Ele vestiu-se rapidamente.

Ex.: Os pais contemplam-se nos filhos.

Ex.: Ele arroga-se ao direito de julgar a fé alheia.

Obs.: Quando o verbo indicar uma ação mútua ( de um ser para com outro), diz-

se que a partícula se representa um pronome recíproco.

Ex.: Os repórteres entreolharam-se em silêncio.

138

Ex.: Os dois pretendentes insultaram-se.

Obs.: Há verbos que não são pronominais, mas as pessoas teimam em usá-los

como se o fossem. Por exemplo, na linguagem coloquial já é de praxe a gente

ouvir o verbo “simpatizar” como pronominal, ou seja, assim: “simpatizar-se”.

Nunca foi! E em contrapartida, quando o verbo é pronominal, aí o coloquialismo

não o emprega como sendo. Estes verbos são pronominais: queixar-se,

arrepender-se, alegrar-se, afastar-se, suicidar-se, converter-se, indignar-se,

zangar-se, abster-se e outros. Há verbos que são acidentalmente pronominais,

ou seja, dependendo do contexto podem aparecer como pronominais ou não

como os verbos: lembrar-se, esquecer-se, matar-se, deitar-se, sentar-se,

levantar-se, enganar-se e outros.

Autor citado direta e indiretamente neste apêndice

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46ª

edição, Editora Nacional, 1999.

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Sobre o escritor e organizador desta Gramática

Wagner Aparecido Silva ou Wagner A.S. Chaves nasceu em 01 de junho de 1984. Viveu a

infância nos municípios de Porteirinha e Bocaiúva. Aos 9 anos de idade foi viver com os

padres diocesanos para que pudesse avançar seus estudos porque, para uma criança de sua

idade, ele possuía uma inteligência avançada: já sabia ler, já escrevia textos pequenos e já

conhecia a Torá judaica e sabia muito sobre a igreja romana. Mudou-se depois para

Bocaiúva, BH, Januária e hoje mora em Montes Claros. Viajou para Portugal até à Cova da

Iria, em Fátima, onde ocorre a devoção a Nossa Senhora de Fátima e também para a

Flórida, na viagem de intercâmbio da escola de inglês e participou da peregrinação à

Jerusalém no projeto Obra de Maria, da Comunidade Canção Nova. Dos 9 até os 21 anos

de idade, Wagner morou com os padres e depois fez o curso de Teologia. Em 2007,

Wagner, depois de participar dos encontros vocacionais e do Caminho Católico

Neocatecumenal, desistiu da sua vocação de ser padre devido à discordâncias teológicas e

foi fazer o curso de Letras, na Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, o qual

terminou em 2010. Hoje, Wagner faz Pós-Graduação em Literatura, cursa Geografia na

Unimontes e trabalha na Secretaria Estadual do Meio Ambiente e leciona Gramática e

Geografia em cursos preparatórios para Vestibulares e para o ENEM.