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ZIED RASSLAN ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA DISTRIBUIÇÃO DO TECIDO ADIPOSO ABDOMINAL NA FUNÇÃO PULMONAR DE MULHERES OBESAS ASSINTOMÁTICAS Tese apresentada ao Curso de Pós- Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Medicina São Paulo 2011

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ZIED RASSLAN

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA DISTRIBUIÇÃO DO TECIDO ADIPOSO ABDOMINAL NA FUNÇÃO PULMONAR

DE MULHERES OBESAS ASSINTOMÁTICAS

Tese apresentada ao Curso de Pós- Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Medicina

São Paulo 2011

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ZIED RASSLAN

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA DISTRIBUIÇÃO DO TECIDO ADIPOSO ABDOMINAL NA FUNÇÃO PULMONAR

DE MULHERES OBESAS ASSINTOMÁTICAS

Tese apresentada ao Curso de Pós- Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Medicina

Área de Concentração: Cirurgia Geral

Orientador: Prof. Dr. Roberto Stirbulov

São Paulo 2011

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Rasslan, Zied Estudo da influência da distribuição do tecido adiposo abdominal na função pulmonar de mulheres obesas assintomáticas/ Zied Rasslan. São Paulo, 2011.

Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Medicina.

Área de Concentração: Cirurgia Geral Orientador: Roberto Stirbulov

1. Testes de função respiratória 2. Espirometria 3. Obesidade 4. Adiposidade 5. Vísceral 6. Tecido adiposo/ultrassonografia 7. Antropometria

BC-FCMSCSP/35-11

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AGRADECIMENTOS

Á Deus, o Grande Arquiteto do Universo, responsável por nossa existência.

Aos meus pais,

Rasslan Salim Rasslan e Ançaf Banna Rasslan, in memoriam,

pela vida, exemplos e dedicação.

Aos meus irmãos e irmãs,

Salim, Fauzer, Umaia, Sumaia e Amira,

pelo amor, carinho e afeto.

Agradecimentos

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Roberto Stirbulov, Chefe da Disciplina de

Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e

responsável pela implantação desta linha de pesquisa em nossa instituição, pelo

estímulo e dedicação exemplar. Minha gratidão pela paciência, orientação e

sugestões, sem as quais não seria possível a realização deste trabalho.

Ao Professor Doutor Roberto Saad Junior, Chefe da Cirurgia do Tórax da

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, mestre na essência integral do termo,

pelo profissionalismo, amizade e apoio constante ao longo de minha formação

acadêmica e profissional.

Ao Professor Doutor Carlos Alberto da Conceição Lima, Diretor do

Departamento de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que exerce

a função com sabedoria, dinamismo e humildade. É motivo de orgulho fazer parte da

geração de médicos, mestres e doutores que recebem suas orientações, incentivo e

apoio diário. Sinto-me privilegiado por sua amizade e exemplo de vida.

Agradecimentos

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À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que por

vocação acolhe, trata e ameniza o sofrimento daqueles que a procuram e que me

proporciona a honra de fazer parte de seu Corpo Clínico.

Ao Dr. Kalil Rocha Abdalla, Digníssimo Provedor da Irmandade da Santa

Casa de Misericórdia de São Paulo e demais membros da Provedoria, pela

competência administrativa e capacidade de agregar pessoas com propósito de

servir.

Ao Dr. Antonio Carlos Forte, Digníssimo Superintendente da Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo, pelo exemplo de administrador competente e realizador.

Ao Professor Doutor Raimundo Raffaelli Filho, Digníssimo Diretor Clínico

da Santa Casa, pelo companheirismo e exemplo de dedicação a instituição.

À Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, Mantenedora da Faculdade de

Ciências Médicas, seu Digníssimo Presidente, Engenheiro José Cândido de Freitas

Junior e demais dirigentes, pela possibilidade e apoio na realização desta pós-

graduação.

À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e ao Curso

de Pós-Graduação em Cirurgia, reconhecimento e gratidão pela oportunidade de

frequentar suas fileiras.

Ao Professor Doutor Valdir Golin, Diretor da Faculdade de Ciências

Médicas da Santa Casa de São Paulo, pelos anos de ensino e trabalho dedicados à

instituição.

Ao Professor Doutor José Eduardo Lutaif Dolci, Diretor do Curso de

Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, pelo

exemplo de postura e atuação ativa na instituição.

Aos Professores Doutores Antonio José Gonçalves, Diretor atual, e Luiz Arnaldo Szutan, ex-Diretor do Departamento de Cirurgia da Santa Casa, pelo

estímulo e apoio.

Agradecimentos

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Ao Dr. Sérgio Tércio Curia, pela amizade e apoio irrestrito na realização dos

exames ultrassonográficos.

Aos Professores Doutores Marjo Deninson Cardenuto Perez, Moacyr Fucs e funcionários da Uroclínica, pela colaboração na realização dos exames.

À Sra. Verônica Ramos dos Santos e equipe de Funcionários do

Laboratório de Provas de Função Pulmonar da Santa Casa de Misericórdia de São

Paulo: Maria Eunice Y. M. Yoshida, Daniel A. Sales, Fabiana Bars, Denise O. de

Matos, Angelita A. Dutra e Sueli C. B. Ferreira, pelo auxílio na realização dos

exames espirométricos.

Aos Professores Doutores Nilza Maria Scalissi, Carlos Alberto Malheiros, José Eduardo Afonso Junior e Carlos Alberto da Conceição Lima, pela

participação e orientação na Banca Examinadora do Exame de Qualificação.

Ao Professor Euro de Barros Couto Junior, pela orientação e auxílio na

elaboração da análise estatística.

Ás Sras. Sônia Regina Fernandes Arevalo, Sadia Hussein Mustafá e ao

Sr. Daniel Gomes, pelo auxilio na revisão bibliográfica, diagramação, formatação e

orientações neste trabalho.

Aos Professores do Departamento de Medicina da Santa Casa de São

Paulo, Yvoty Alves dos Santos Sens, Eliane Figueiredo Taddeo, Fernando Spagnuolo, José Flávio Castellucio, Luís Cláudio Rodrigues Marrochi, Luiz Ricardo Dalbelles e demais colegas, pelo apoio e compreensão.

Ao Hospital Israelita Albert Einstein e à Equipe Multidisciplinar da

Unidade de Primeiro Atendimento, pelo convívio saudável e gratificante dos últimos

anos.

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico),

pela concessão de bolsa de apoio.

Às voluntárias que participaram deste trabalho, pela paciência e disposição

em colaborar neste estudo. Agradecimentos

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ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

AAT -Adiposidade abdominal total (subcutânea+visceral) ASC -Adiposidade abdominal subcutânea ATS -American Thoracic Society AV -Adiposidade abdominal visceral CC -Circunferência da cintura CI -Capacidade inspiratória cm -Centímetros CP -Circunferência do pescoço CPT -Capacidade pulmonar total CQ -Circunferência do quadril CT -Circunferência do tórax CV -Capacidade vital CVF -Capacidade vital forçada CVL -Capacidade vital lenta DEXA -Densitometria por dupla emissão de raio-x DSA -Diâmetro sagital do abdômen FEF25-75% -Fluxo expiratório forçado entre 25% e 75 % da CVF ICQ -Índice cintura quadril IMC -Índice de massa corporal Kg -Quilogramas l -Litros m -Metro m² -Metro quadrado OMS -Organização Mundial de Saúde %CI -Porcentagem dos valores preditos da CI %CVF -Porcentagem dos valores preditos da CVF %FEF25-75% -Porcentagem dos valores preditos do FEF25-75% %VEF1 -Porcentagem dos valores preditos do VEF1 %VRE -Porcentagem dos valores preditos do VRE s -Segundos SAOS -Síndrome da apnéia obstrutiva do sono VEF1 -Volume expiratório forçado no primeiro segundo VEF1/CFV -Relação entre VEF1 e CVF VRE -Volume de reserva expiratório VVM -Ventilação voluntária máxima

Abreviaturas e Símbolos

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

2. OBJETIVOS ................................................................................................... 7

3. CASUISTICA E MÉTODO .............................................................................. 9

3.1. Casuística ............................................................................................... 10

3.2. Método ................................................................................................... 11

3.2.1. Medidas do peso e estatura ............................................................. 11

3.2.2. Critérios utilizados para classificação de sobrepeso e obesidade ... 12

3.2.3. Medidas dos indicadores antropométricos de obesidade (circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril) ....................... 12

3.2.4. Medidas da adiposidade abdominal subcutânea, visceral e total (Fig. 1) .............................................................................................. 13

3.2.5. Avaliação da função pulmonar .......................................................... 14

3.2.6. Parâmetros espirométricos avaliados ............................................... 15

3.3. Análise estatística .................................................................................... 21

4. RESULTADOS ............................................................................................... 22

4.1. Dados gerais: idade, estatura e peso (Tab. 1) ......................................... 23

4.2. Indicadores antropométricos de obesidade (Tab. 1) ................................ 23

4.2.1. Circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril ....................... 23

4.2.2. Índice de massa corporal e cintura quadril ....................................... 24

4.2.3. Diâmetro sagital do abdômen .......................................................... 24

4.3. Medidas da adiposidade abdominal total, subcutânea e visceral por ultrassom (Tab. 1) .................................................................................. 24

4.4. Valores espirométricos (Tab. 2) ............................................................... 25

4.5. Comparação dos grupos par a par para os valores preditos da capacidade inspiratória e volume de reserva expiratório (Tab. 3) ............ 27

4.6. Correlação entre os valores da adiposidade abdominal (total, subcutânea e visceral) e os valores espirométricos (Tab. 4) ................... 27

4.7. Correlação entre os valores das circunferências (pescoço, tórax, cintura e quadril) e os valores espirométricos (Tab. 5) ............................. 29

4.8. Correlação entre IMC, ICQ e DAS e os valores espirométricos (Tab.6).. 30

4.9. Gráficos de correlação ............................................................................. 31

5. DISCUSSÃO ................................................................................................... 35

5.1. Influência da medida da circunferência do pescoço na função pulmonar .................................................................................................

40

Sumário

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5.2. Influência da medida da circunferência do tórax na função pulmonar ... 41

5.3. Influência da medida da circunferência da cintura na função pulmonar. 42

5.4. Influência do índice de massa corporal na função pulmonar ................. 44

5.5. Influência do índice cintura quadril na função pulmonar ........................ 47

5.6. Influência do diâmetro sagital do abdômen na função pulmonar ........... 49

5.7. Influência da adiposidade abdominal subcutânea na função pulmonar.. 51

5.8. Influência da adiposidade visceral na função pulmonar ......................... 52

5.9. Implicações clínicas ................................................................................ 58

5.10. Limitações ............................................................................................ 63

6. CONCLUSÕES ............................................................................................... 64

7. ANEXOS ......................................................................................................... 66

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 78

FONTES CONSULTADAS ............................................................................. 86

RESUMO ....................................................................................................... 88

ABSTRACT .................................................................................................... 90

Sumário

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1. INTRODUÇÃO

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2

A obesidade é doença crônica multifatorial definida como estado nutricional

anormal, com balanço energético positivo, no qual ocorre acúmulo de gordura no

organismo (McClean et al, 2008). Esta afecção tem assumido proporções

epidêmicas em vários países no mundo, incluindo o Brasil, e é citada entre as 10

principais causas de risco para outras doenças, invalidez e morte. No mundo

existem pelo menos 300 milhões de obesos e um bilhão de pessoas com sobrepeso

(Pérusse, 2002; Lameu, 2005). A OMS estima que mais de dois bilhões de pessoas

terão excesso de peso e 700 milhões serão obesos em 2015 (World Health

Organization, 2006). No Brasil, aproximadamente 40% dos homens e mulheres

apresentavam sobrepeso e 9% dos homens e 13% das mulheres apresentavam

obesidade em 2003 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2003).

O gasto anual em saúde pública nos EUA é 36% maior em indivíduos obesos,

comparados com indivíduos com índice de massa corporal (IMC) normal (McClean

et al, 2008).

Vários fatores estão envolvidos na etiologia da obesidade e sobrepeso:

ambientais, genéticos, culturais, emocionais, socioeconômicos e estilo de vida.

Existem também evidências sobre a provável presença de mecanismos de

regulação do peso corporal que são influenciados por padrões dietéticos

inadequados e reduzida atividade física (Oliveira et al, 2004).

Existem três componentes primários no sistema neuroendócrino envolvidos

na obesidade: 1) sistema aferente, que envolve a leptina e outros sinais de

saciedade e apetite de curto prazo; 2) unidade de processamento do sistema

nervoso central; 3) sistema eferente, um complexo de apetite, saciedade e efetores

autonômicos termogênicos que levam ao estoque energético. O balanço energético

pode ser alterado por aumento do consumo calórico, pela diminuição do gasto

energético ou por ambos (Swinburn et al, 1998).

A obesidade pode ser classificada de acordo com a distribuição de gordura,

em androide, ginoide ou mista, e é o melhor indicador para riscos vinculados a esta

doença, embora essas formas clínicas sejam os extremos da classificação, pois

existem formas intermediárias e outras dificilmente definidas, especialmente nos

grandes obesos.

Introdução

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3

Na obesidade androide, também chamada abdominal, “em maça”, central ou

superior, o tecido adiposo predomina na região do abdômen, tronco, cintura

escapular e pescoço e pode localizar-se na região profunda, chamada gordura

visceral ou na região subcutânea. Esta distribuição é mais observada no sexo

masculino do que feminino e em algumas mulheres no período pós-menopausa,

sendo que ambas as localizações se associam com distúrbios metabólicos. Na

obesidade ginoide, periférica, femoroglútea, subcutânea ou “em pêra”, o tecido

adiposo predomina na metade inferior do corpo: quadril, glúteo e coxa superior,

sendo mais frequente, mas não exclusiva do sexo feminino e apresenta menor

repercussão metabólica e maiores consequências mecânicas. É a obesidade

predominante em mulheres antes da menopausa, embora também possa ser

observada em mulheres após a menopausa e ocasionalmente em homens. Na

obesidade mista ocorre aumento difuso do tecido adiposo, sem localização

particular. A distribuição androide apresenta maior correlação com complicações

cardiovasculares e metabólicas que a ginoide, que está mais associada a

complicações vasculares periféricas, problemas ortopédicos e estéticos (Guedes,

Guedes, 2003).

O tecido adiposo abdominal é composto pelas gorduras subcutânea e intra-

abdominal. A gordura intra-abdominal se divide em visceral (principalmente

mesentérica e omento) e retroperitoneal (superfície ventral dos rins e ao longo dos

intestinos). O tecido adiposo visceral é geneticamente diferente do subcutâneo na

produção de moléculas bioativas e tal distribuição de gordura sofre influência de

vários hormônios (Wajchenberg, 2000).

A obesidade pode ser diagnosticada por métodos que permitem estimar com

precisão a quantidade total e distribuição de gordura corpórea. Entre estes métodos

destacam-se a bioimpedância, tomografia computadorizada e a ressonância

magnética, que são mais adequados para avaliação da adiposidade visceral, mas

não são usados de rotina devido a limitações técnicas, exposição à radiação e

elevado custo. A ultrassonografia tem sido utilizada para mensuração da

adiposidade abdominal pelo fácil manuseio, baixo custo, não envolver exposição à

radiação e ter alta correlação com a tomografia (Armellini et al, 1990). Além disto, a

ultrassonografia pode ser método mais adequado que a circunferência da cintura e o

Introdução

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4

diâmetro sagital do abdômen para avaliar a espessura visceral, sendo que valores

maiores que sete centímetros representam risco cardiovascular para ambos os

sexos (Leite et al, 2000).

Em estudos epidemiológicos, entretanto, tem sido recomendada a utilização

de índices antropométricos, como índice de massa corporal (IMC), índice cintura

quadril (ICQ) ou circunferência da cintura (CC) considerando-se a simplicidade e os

custos dos diversos métodos.

O grau de prejuízos à saúde decorrentes da obesidade tem sido determinado

por três fatores principais: quantidade de gordura corporal total, distribuição de

gordura corporal e presença de outros fatores de risco (Del Parigi, 2010).

O comprometimento clínico secundário a obesidade depende de sua

magnitude, e está associado a sintomas respiratórios, como a dispnéia e a doenças

como a asma (Murugan, Sharma, 2008). No entanto, a influência da obesidade nas

doenças respiratórias é complexa e depende de consequências físicas, mecânicas,

inflamatórias e metabólicas (Zammit et al, 2010).

A obesidade, principalmente nos casos de distribuição abdominal e troncular,

está associada a outras condições mórbidas como dislipidemias, doenças

cardiovasculares e pulmonares, hipertensão arterial, diabete melito e colecistopatia,

apresentando efeitos diretos e indiretos sobre a morbidade e mortalidade nas mais

diversas populações. Estudos clínicos e epidemiológicos demonstraram que o

aumento de peso é menos relevante do que a distribuição do tecido adiposo corporal

na determinação das alterações metabólicas (Micciolo et al, 1991; Manson et al,

1995).

Alterações na função pulmonar são mais comuns na obesidade central, em

que o acúmulo de tecido adiposo localiza-se na região da cintura. Questiona-se se

este efeito é simplesmente mecânico ou se existem também alterações no

metabolismo celular e na utilização de substratos gerados pela obesidade central

(Collins et al, 1995; Sue, 1997). O padrão de distribuição regional de gordura tem

importante papel na predisposição dos indivíduos obesos a complicações

respiratórias. A função pulmonar em obesos é afetada essencialmente pela

Introdução

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5

quantidade e distribuição centrípeta do excesso de gordura com seu potencial para

interferir na mecânica torácica. Esta interferência produz disfunções respiratórias

que são reversíveis com a redução da massa corporal (Jubber, 2004).

Na obesidade, mesmo sem doença pulmonar associada, podem ocorrer

alterações nos mecanismos respiratórios, diminuição da força muscular e das trocas

gasosas, infiltração gordurosa no diafragma e pleura dificultando o desempenho

muscular e expansão torácica. Podem ocorrer também, diminuição da resistência

cardiorespiratória, aumento do volume sanguíneo pulmonar, efeito de

alçaponamento de ar e limitações nos testes de função pulmonar e capacidade de

realizar exercícios que pioram com o aumento do IMC (Ray et al, 1983; Koenig,

2001; Jones, Nzekwu, 2006).

Rasslan et al (2004) estudaram a função pulmonar em mulheres obesas e

não obesas e observaram que mulheres obesas apresentavam maior freqüência de

dispnéia, avaliada por duas escalas distintas e menores valores preditos do VEF1 e

VRE. Não se observaram diferenças em relação aos valores preditos da CVF e

VEF1/CVF em obesas e não obesas.

As alterações da função pulmonar mais comuns na obesidade são de dois

tipos: a) proporcional ao grau de obesidade (redução do VRE); b) alterações apenas

na obesidade grau III (redução da CV e CPT). Podem ocorrer também outras

alterações como diminuição da capacidade residual funcional (CRF), capacidade

vital forçada (CVF), FEF25-75%, FEF/CVF e VVM. Achados como redução da CRF e

VRE e aumento da relação CV/CRF representam fechamento de unidades

pulmonares periféricas (Luce, 1980; Domingos-Benicio et al, 2004). Entretanto, a

magnitude da redução da função pulmonar não é sempre proporcional ao grau de

obesidade e notam-se diferenças entre homens e mulheres devido a diferenças na

distribuição adiposa nos dois sexos. Estes aspectos justificam o interesse crescente

nos estudos da influência da distribuição adiposa na função pulmonar em homens e

mulheres com obesidade (Ray et al,1983; Harik-Khan et al, 2001; Bottai et al, 2002;

Ochs-Balcom et al, 2006).

No entanto, a maioria das mulheres obesas apresenta dados espirométricos

dentro dos intervalos de confiança para os valores preditos. Assim, valores anormais

Introdução

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6

para um teste de função pulmonar deve também considerar outra anormalidade e

podem não ser necessariamente atribuídos à obesidade, exceto nos casos de

obesidade acentuada (IMC> 40 Kg/m²).

Embora vários estudos tenham avaliado a influência da obesidade nos testes

de função pulmonar, poucos avaliaram os efeitos da distribuição de gordura corporal

nos testes de função pulmonar em mulheres com sobrepeso e obesidade moderada

(Bray, 1985; Lazarus et al, 1997; Sue, 1997; Harik-Khan et al, 2001; Jones, Nzekwu,

2006; Chen et al, 2007). Muitos destes trabalhos utilizaram somente medidas

antropométricas, aspectos que motivaram a realização deste estudo com a utilização

da ultrassonografia.

São descritas complicações respiratórias associadas ao grau avançado de

obesidade, incluindo asma e síndrome da apneia obstrutiva do sono (Bussetto,

Sergi, 2005), mas existem incertezas sobre a associação entre disfunção pulmonar e

os graus mais leves de obesidade. Vários estudos em populações diferentes

sugerem esta associação, no entanto somente alguns incluíram medidas de

adiposidade central e o local onde estas foram obtidas. Estes resultados mostram

tendência á piora da função pulmonar com a adiposidade central, mesmo em

mulheres não obesas (Chen et al, 1993; Cannoy et al, 2004; Ochs-Balcom et al,

2006).

Avaliar a correlação entre obesidade e frequência dos distúrbios ventilatórios

em mulheres assintomáticas é aspecto importante, com implicações e ramificações

na prevenção e tratamento de doenças respiratórias. Os estudos realizados ainda

apresentam controvérsias acerca da repercussão da obesidade e distribuição

regional de gordura corporal sobre a função pulmonar e não são suficientes para

identificar um parâmetro de avaliação da obesidade em predizer estas repercussões.

O objetivo deste trabalho é avaliar os efeitos da distribuição adiposa global e

localizada na função pulmonar de mulheres obesas assintomáticas. Trabalhos

realizados com esta finalidade são descritos na literatura, no entanto, poucos

usaram métodos de avaliação distintos e os compararam entre si com objetivo de

estabelecer quais medidas apresentam maior poder de predizer efeitos da

obesidade na função pulmonar.

Introdução

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7

2. OBJETIVOS

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8

Em mulheres obesas, objetiva-se:

1. Avaliar os efeitos da adiposidade abdominal total na função pulmonar;

2. Comparar os efeitos da adiposidade abdominal subcutânea e visceral

sobre a função pulmonar;

3. Identificar qual variável espirométrica sofre maior influência dos

indicadores antropométricos e ultrassonográficos de obesidade.

Objetivos

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9

3. CASUÍSTICA E MÉTODO

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10

3.1. Casuística

Estudo prospectivo, observacional e controlado, realizado no período de 10

de janeiro de 2009 á 30 de outubro de 2010, no qual foram estudadas 80 mulheres

voluntárias, pertencentes ao quadro de funcionários da Santa Casa de São Paulo,

divididas em três grupos:

- 25 Mulheres com peso ideal: IMC entre 19 a 24,9 Kg/m²: grupo controle;

- 28 Mulheres com sobrepeso: IMC entre 25 e 29,9 Kg/m²;

- 27 Mulheres obesas: IMC entre 30 e 37,3 Kg/m².

A participação das mulheres ocorreu após ciência das mesmas quanto aos

objetivos do estudo e com o consentimento prévio de todas as integrantes, de

acordo com as normas éticas vigentes (Anexo 1). Os protocolos foram submetidos à

análise e posterior aprovação pela Comissão de Ética em Pesquisa da Santa Casa

de São Paulo (Anexo 2). Estes protocolos incluíam (Anexo 3):

• Entrevista para obtenção dos dados pessoais:

- Nome, idade, endereço, RG Santa Casa e data da entrevista.

- Apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

- Questionário epidemiológico geral e respiratório

• Aferição dos indicadores antropométricos de obesidade:

- Peso, estatura e circunferências (pescoço, tórax, cintura e quadril)

- Diâmetro sagital do abdômen

• Cálculo do índice de massa corporal e índice cintura quadril

• Realização de testes de função pulmonar (espirometrias)

• Medidas do tecido adiposo abdominal total, subcutâneo e visceral pela

ultrassonografia.

Considerando os objetivos do estudo, os seguintes critérios de inclusão e

exclusão foram adotados:

Casuística e Método

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11

Critérios de inclusão

Mulheres com sobrepeso e obesidade, na pré-menopausa, assintomáticas,

não fumantes, com idade entre 22 a 46 anos, sedentárias, sem antecedentes

mórbidos conhecidos (doença cardíaca, asma, DPOC) e ausência de sintomas

respiratórios recentes.

Critérios de exclusão

História prévia de tabagismo, sinusopatias, doenças pulmonares e cardíacas,

uso de medicamentos com ação constritora ou dilatadora dos brônquios, cirurgias

nos últimos 06 meses e doenças sistêmicas.

Grupo controle

Mulheres não obesas, com IMC entre 19 e 24,8 Kg/m², na pré-menopausa,

assintomáticas, com idade entre 20 e 46 anos, não fumantes, sedentárias e sem

antecedentes mórbidos conhecidos.

Critérios de sedentarismo

Foram consideradas mulheres sedentárias aquelas que não realizavam ao

menos 30 minutos de atividades físicas, como por exemplo, caminhadas, três vezes

por semana.

3.2. Método

3.2.1. Medidas do peso e estatura

Os pesos foram aferidos após a retirada de roupas pesadas e dos calçados,

sendo utilizada uma balança calibrada, número de série 3134, Marca Filizola, com

carga máxima de 150 Kg, com divisão de 100 gramas. As estaturas foram medidas

utilizando-se antropômetro acoplado à balança; as mulheres eram orientadas a

permanecerem sem sapatos, com os calcanhares juntos, panturilhas, nádegas e

dorso em contato com o antropômetro. A cabeça era alinhada com o meato auditivo Casuística e Método

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12

externo e a região occipital em contato com o antropômetro.

3.2.2. Critérios utilizados para a classificação de sobrepeso e obesidade

Utilizou-se o índice de massa corporal (IMC) (World Health Organization,

1999; Lameu, 2005):

• Baixo peso: IMC<18,5 Kg/m²;

• Peso ideal: IMC entre 18,5-24,9 kg/m²;

• Sobrepeso: IMC entre 25-29,9 Kg/m²;

• Obesidade:

Grau I: IMC entre 30-34,9 Kg/m²;

Grau II: IMC entre 35-39,9 Kg/m²;

Grau III: IMC≥40 Kg/m²

3.2.3. Medidas dos indicadores antropométricos de obesidade

(circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril)

Foi utilizada a técnica antropométrica para medir as circunferências e

diâmetros. Cada variável foi mensurada pelo menos duas vezes para minimização

dos erros.

As medidas das circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril foram

obtidas pelo mesmo observador, no final da expiração, utilizando-se fita métrica

flexível e inextensível, seguindo padronizações estabelecidas (Katz et al, 1990;

Zamboni et al, 1998; Petroski, 2003; Alberti et al, 2006).

A circunferência do pescoço foi medida na borda superior da membrana

cricotiróidea.

A medida da circunferência torácica ou perímetro torácico foi obtida na região

superior do tórax, na altura da linha axilar, no período expiratório.

A medida da circunferência da cintura foi feita estando as mulheres em pé,

após retirada da camisa e cinto, utilizando-se fita métrica flexível e inextensível

Casuística e Método

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diretamente sobre a pele na região mais estreita entre o tórax e o quadril ou em caso

de não haver ponto mais estreito, no ponto médio entre a última costela e a crista

ilíaca anterior, sendo a leitura feita no momento da expiração.

A circunferência do quadril foi obtida na parte mais saliente entre a cintura e a

coxa.

Para mensuração do diâmetro sagital do abdômen foi utilizada uma régua de

madeira, medindo-se do dorso até o ponto mais saliente na região anterior do

abdômen, entre o processo xifóide e o umbigo, no período expiratório da respiração,

em decúbito dorsal.

Cálculo do índice de massa corporal e índice cintura quadril

O índice de massa corporal foi calculado dividindo-se o peso corporal em kg,

pela altura em metros elevada ao quadrado, sendo expresso em kg/m².

O índice cintura quadril foi obtido pela equação cintura em cm/quadril em cm.

3.2.4. Medidas da adiposidade abdominal subcutânea, visceral e total (Fig. 1)

Foi utilizada a ultrassonografia para obtenção das medidas de adiposidade

abdominal subcutânea, visceral e total. Os exames foram realizados na CECLIU-

Uroclínica de São Paulo, pelo mesmo médico radiologista, com aparelho Image point

HP- com transdutor linear 7,5 mega-hertz, em jejum, decúbito dorsal e em expiração

natural. O transdutor foi colocado, sem pressão, no sentido longitudinal, na pele da

parede abdominal, na linha média da região meso-gástrica supra-umbilical. As

adiposidades foram determinadas diretamente de imagens congeladas na tela

(Tornaghi et al, 1994; Leite et al, 2000).

A adiposidade subcutânea foi obtida em cm, considerando-se a distância da

pele até a porção anterior do músculo reto abdominal.

A adiposidade visceral foi obtida em cm, considerando-se a distância entre a

parede posterior do músculo reto abdominal e a parede posterior da aorta na região

Casuística e Método

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da sua bifurcação, na linha xifo-umbilical.

A adiposidade abdominal total, em cm, foi obtida somando-se a adiposidade

subcutânea e visceral.

Curia, ST- Uroclínica/CECLIU 2011.

Figura 1- Imagem de ultrassonografia demonstrando as medidas das adiposidades: subcutânea (x) e visceral (+).

3.2.5. Avaliação da função pulmonar

Para avaliação da função pulmonar foi utilizada a espirometria. Os exames

foram realizados no Laboratório de Provas de Função Pulmonar da Santa Casa de

São Paulo e foram interpretados pelo mesmo pneumologista. Utilizou-se

Espiromêtro KoKo, fabricado em 1998, pela PDS Instrumentation Inc. Louisville, CO,

USA, dotado de pneumotacógrafo, número de série 92528, acoplado a computador.

Foram realizadas espirometrias forçadas e não forçadas, com determinação

das curvas volume-tempo e fluxo-volume. As mulheres eram orientadas a repousar

cinco a dez minutos antes do teste. Os procedimentos realizados eram descritos

cuidadosamente, com ênfase na necessidade tanto de evitar vazamentos em torno

Casuística e Método

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da peça bucal, como de inspiração máxima seguida de expiração máxima e

sustentada até que o observador ordenasse a interrupção; o técnico demonstrava o

procedimento usando um tubete. O ambiente de realização dos exames era calmo e

privado, sendo a temperatura e umidade constantes. Os testes eram realizados com

as mulheres sentadas, utilizando o clipe nasal, no período entre 08:00 h e 12:00

horas para evitar as influências circadianas.

A espirometria não forçada teve como objetivo a obtenção dos volumes e

capacidades pulmonares, adotando os valores preditos por Crapo et al, 1982. A

curva volume-tempo determinada pela espirometria forçada foi realizada de acordo

com os critérios preconizados, sendo escolhida a melhor de três curvas aceitáveis

(Fig. 2). A partir desta curva foram extraídos os valores da capacidade vital forçada

(CVF) e volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), tendo como valores

preditos os de Knudson et al, 1983. A curva fluxo-volume também foi submetida aos

critérios de aceitabilidade, tendo como valores preditos os valores recomendados

pela ATS.

3.2.6. Parâmetros espirométricos avaliados

Porcentagem dos valores preditos da capacidade vital forçada (%CVF) (Fig. 2):

A CVF foi medida solicitando-se ao indivíduo que depois de inspirar até a

capacidade pulmonar total expirasse tão rápida e intensamente quanto possível num

espirômetro de volume ou de fluxo. A CVF selecionada foi o maior valor obtido nas

curvas. Representa o volume expirado após uma inspiração máxima, numa

expiração máxima e maximamente forçada (isto é, com volume e velocidade

máximos).

Em pessoas sem obstrução ao fluxo aéreo, não há grande diferença entre a

CVF e a capacidade vital lenta (CVL). Nos pacientes com obstrução expiratória, no

entanto, costuma haver diferença sensível, sendo a CVF menor. A diferença entre

as duas medidas é bem caracterizada pelo fato de não se poder usar as mesmas

equações de regressão para calcular o teórico previsto para as duas; cada uma tem

suas próprias equações. A CVL e a CVF são medidas por espirógrafos ou

pneumotacógrafos com integração dos fluxos.

Casuística e Método

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Porcentagem dos valores preditos do volume expiratório forçado no primeiro

segundo (%VEF1)

Representa o volume expirado durante o primeiro segundo de uma expiração

máxima. O valor do VEF1 foi comparado ao de um teórico calculado por equação de

regressão. Há grande discussão sobre o que representa o nível de normalidade,

provavelmente o 95° percentil é o melhor critério. Na prática, porém, utiliza-se o

valor de 80% do teórico como o plano de clivagem entre o normal e o alterado. A

redução do VEF1 ou de qualquer outra medida de fluxo expiratório máximo, pode ser

causada por obstrução ao fluxo aéreo (canalicular ou outra) ou por perda

volumétrica. Embora haja equações de regressão para definir o teórico esperado

dessa relação em cada indivíduo, há consenso em que os valores normais situam-se

acima de 75%, e uma obstrução definida se exprime por relação inferior a 70%.

Relação entre VEF1 e CVF (VEF1 /CFV)

Este índice permite corrigir o valor do VEF1 em função das variações da CVF.

Seus valores variam com a faixa etária: crianças e adultos jovens>80%; acima dos

45 anos>75%; idosos>70%. Enquanto sua redução favorece a presença de

componente obstrutivo, seu aumento favorece o componente restritivo. É

considerado parâmetro para avaliação de obstrução das vias aéreas.

Volumes pulmonares (Fig. 3 e 4)

Os volumes pulmonares podem ser classificados como estáticos (absolutos) e

dinâmicos. Os volumes estáticos são os resultantes da complementação de

manobras respiratórias, consistindo em compartimentos pulmonares. Os volumes

dinâmicos são os decorrentes de manobras respiratórias forçadas, expressam

variáveis e parâmetros de fluxo aéreo e são medidos através de espirometria.

Os volumes estáticos são constituídos por quatro volumes (compartimentos

indivisíveis) e quatro capacidades (compartimentos compreendendo dois ou mais

volumes), a saber:

Casuística e Método

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Volume corrente (VC):

Volume de ar inspirado e expirado espontaneamente em cada ciclo

respiratório. Embora seja uma subdivisão da CPT, é um volume dinâmico, variando

com o nível da atividade física. Corresponde a cerca de 10 % da CPT

Volume de reserva expiratório (VRE) (Fig. 3)

• Porcentagem dos valores preditos do volume de reserva expiratório (%VRE):

Volume máximo que pode ser expirado voluntariamente a partir do final de

uma expiração espontânea, isto é, expiração além do nível de repouso expiratório.

Corresponde a 15-20% da capacidade pulmonar total.

Volume de reserva inspiratório (VRI):

Volume máximo que pode ser inspirado voluntariamente ao final de uma

inspiração espontânea, isto é, inspiração além do nível inspiratório corrente.

Corresponde a 45-50% da capacidade pulmonar total.

Volume residual (VR):

Volume que permanece no pulmão após uma expiração espontânea máxima.

Corresponde a 20 – 35 % da capacidade pulmonar total.

Capacidade vital (CV):

Volume medido na boca entre as posições de inspiração plena e expiração

completa. Representa o maior volume de ar mobilizado. Compreende três volumes

primários: VC, VRI e VRE. Corresponde a 65 - 80% da CPT. Conforme a

mensuração for inspiratória ou expiratória, lenta ou forçada, podemos ter:

capacidade vital inspirada, capacidade vital inspiratória forçada, capacidade vital

lenta, capacidade vital forçada e capacidade vital combinada.

Casuística e Método

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Capacidade de reserva funcional (CRF):

Volume contido nos pulmões ao final de uma expiração espontânea.

Compreende o VR e o VRE e corresponde a 40-50% da CPT.

Capacidade inspiratória (CI): (VC + VRI)

• Porcentagem dos valores preditos da CI (%CI):

É o volume máximo inspirado voluntariamente a partir do final de uma

expiração espontânea (do nível expiratório de repouso). Compreende o volume

corrente e o volume de reserva inspiratório. Corresponde a 50-55% da capacidade

pulmonar total e a 60-70% da capacidade vital lenta.

Capacidade pulmonar total (CPT):

Volume contido nos pulmões após uma inspiração plena. Compreende todos

os volumes pulmonares e é obtido pela soma CRF + CI.

Os volumes pulmonares que podem ser medidos por espirometria: VC, VRE,

VRI, CI e CV são volumes de determinação direta. O VR não pode ser medido pela

espirometria, necessitando de técnica de diluição de gases, pletismografia ou

avaliação radiográfica. Assim, as capacidades que incorporam o VR- CRF e CPT,

também não podem ser medidos direta e isoladamente pela espirometria.

Casuística e Método

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Volume expiratório forçado no primeiro segundo

Capacidade vital forçada

Figura 2- Curva volume – tempo.

Figura 3– Capacidades pulmonares.

Casuística e Método

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Volume Corrente

Figura 4- Representação ilustrativa dos volumes pulmonares.

Casuística e Método

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3.3. Análise estatística

Utilizou-se o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science),

na versão 17.0 para a interpretação dos resultados.

Considerando-se a distribuição normal dos dados, o estudo estatístico

paramétrico aplicado foi:

• Análise de correlação de Spearman com a finalidade de avaliar as relações

entre IMC, adiposidade abdominal total, subcutânea e visceral e os

parâmetros espirométricos estudados (%CVF, %VEF1, VEF1/CVF, %CI e

%VRE).

• Teste de Kruskal-Wallis com o intuito de verificar possíveis diferenças entre

os três grupos de IMC, quando comparados concomitantemente, para as

variáveis de interesse.

• Para as variáveis em que uma diferença estatisticamente significante foi

encontrada, aplicou-se o Teste de Mann-Whitney, com o intuito de

comparação dos grupos par a par.

As variáveis foram expressas por suas médias e respectivos desvios-padrão,

sendo considerado como significativo p menor de 5%.

Casuística e Método

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4. RESULTADOS

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4.1. Dados gerais: idade, estatura e peso (Tab. 1)

A média de idade das mulheres não obesas foi 31,2±7,11 anos, das mulheres

com sobrepeso 31,9±6,85 anos e mulheres obesas 32,9±7,25 anos.

A estatura média nas mulheres não obesas foi 1,62±0,09 cm, nas mulheres

com sobrepeso 1,63±0,06 cm, e nas mulheres obesas 1,59±0,08 cm.

Não houve diferença estatisticamente significante quando foram comparadas

as médias de idade e estatura nos três grupos de mulheres (p=0,73 e p=0,19,

respectivamente).

A média de peso das mulheres não obesas foi 59,15±7,01 Kg, das mulheres

com sobrepeso 73,7±6,12 Kg e das mulheres obesas 84,5±10,6 Kg. A análise

estatística demonstrou diferença significante entre as médias de peso nos três

grupos avaliados (p<0,001).

4.2. Indicadores antropométricos de obesidade (Tab. 1)

4.2.1. Circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril

A média das medidas das circunferências do pescoço nas mulheres não

obesas foi 31,7±1,49 cm, 34,2±1,68 cm nas mulheres com sobrepeso e 36,0±2,43

cm nas mulheres obesas.

A média das medidas das circunferências torácicas foi 83,9±4,43 cm nas

mulheres não obesas, 93,1±3,35 cm nas mulheres com sobrepeso e 99,6±5,12 cm

nas mulheres obesas.

A média das medidas das circunferências das cinturas foi 79,2±5,88 cm nas

mulheres não obesas, 92,6±5,01cm nas mulheres com sobrepeso e 102,1±6,45 cm

nas mulheres obesas. Resultados

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A média das medidas das circunferências dos quadris foi 94,1±5,04 cm nas

mulheres não obesas, 104,9±4,99 cm nas mulheres com sobrepeso e 112,0±8,59

cm nas mulheres obesas.

A análise estatística demonstrou significância quando foram comparadas as

médias dos valores das circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril entre os

três grupos (p<0,001).

4.2.2. Índices de massa corporal e cintura quadril

A média dos valores do índice de massa corporal nas mulheres não obesas

foi 22,4±1,57 cm, nas mulheres com sobrepeso 27,8±1,25 cm, e nas mulheres

obesas 33,3±2,18 cm. A média dos valores do índice cintura quadril nas mulheres

não obesas foi 0,84±0,05, nas mulheres com sobrepeso 0,88±0,05, e nas mulheres

obesas 0,91± 0,06.

A análise estatística demonstrou diferença estatisticamente significante

quando foram comparadas as médias dos valores dos índices de massa corporal e

cintura quadril nos três grupos (p<0,001).

4.2.3. Diâmetro sagital do abdômen

A média das medidas do diâmetro sagital do abdômen foi 18,4±1,35 cm nas

mulheres não obesas, 21,9±1,38 cm nas mulheres com sobrepeso e 24,5±2,09 cm

nas mulheres obesas. A análise estatística demonstrou diferença estatisticamente

significante quando foram comparadas as médias destas medidas nos três grupos

(p<0,001).

4.3. Medidas da adiposidade abdominal total, subcutânea e visceral por

ultrassom (Tab. 1)

A média das medidas da adiposidade abdominal total nas mulheres não

obesas foi 4,89±0,68 cm, nas mulheres com sobrepeso, 6,56±1,18 cm e nas

mulheres com obesidade, 8,17±1,54 cm. Resultados

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A média das medidas da adiposidade subcutânea nas mulheres não obesas

foi 1,71±0,38 cm, nas mulheres com sobrepeso, 2,52±0,61 cm e nas mulheres com

obesidade, 3,13±0,65 cm.

A média das medidas da adiposidade visceral nas mulheres não obesas foi

3,17±0,53 cm, nas mulheres com sobrepeso, 4,04±1,03 cm e nas mulheres com

obesidade, 5,04±1,47 cm.

A análise estatística revelou diferença significativa quando as médias da

adiposidade abdominal total, subcutânea e visceral foram comparadas entre os três

grupos (p<0,001).

Tabela 1- Dados antropométricos e ultrassonográficos obtidos nos três grupos de mulheres avaliadas.

Variável (n)

Não obesas (25)

Sobrepeso (28)

Obesas (27)

Média±DP Média±DP Média±DPp

Idade 31,2±7,11 31,9±6,85 32,9±7,25 NS

Estatura 1,62±0,09 1,63±0,06 1,59±0,08 NS

Peso 59,1±7,01 73,7±6,12 84,5±10,6 <0,001* IMC 22,4±1,57 27,8±1,25 33,3±2,18 <0,001* CP 31,7±1,49 34,2±1,68 36±2,43 <0,001* CT 83,9±4,43 93,1±3,35 99,6±5,12 <0,001* CC 79,2±5,88 92,6±5,01 102,1±6,45 <0,001* CQ 94,1±504 104,9±4,99 112±8,59 <0,001* ICQ 0,84±0,05 0,88±0,05 0,91±0,06 <0,001* DSA 18,4±1,35 21,9±1,38 24,5±2,09 <0,001* ASC 1,71±0,38 2,52±0,61 3,13±0,65 <0,001* AV 3,17±0,53 4,04±1,03 5,04±1,47 <0,001* AAT 4,89±0,68 6,56±1,18 8,17±1,54 <0,001*

Legenda: n- número de indivíduos; p significativo p < 0,05*; Idade- anos; Estatura- cm; Peso - kg ; ASC- Adiposidade subcutânea (cm); AV- Adiposidade visceral (cm); IMC- índice de massa corporal (kg/m²); DP- Desvio padrão; CP, CT, CC e CQ - Circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril em cm; DSA- Diâmetro sagital do abdômen (cm); AAT – Adiposidade abdominal total (cm); ICQ- índice cintura quadril; NS- não significativo. (Dados extraídos da Tabela 13 - Anexo 10).

Resultados

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4.4. Valores espirométricos (Tab. 2)

A média dos valores de % CVF nas mulheres não obesas foi 102,5±11,6, nas

mulheres com sobrepeso, 104,2±12,2 e nas mulheres obesas 100,6±10.

A média dos valores de %VEF1 nas mulheres não obesas foi 99,4±9,46, nas

mulheres com sobrepeso, 101,5±12,1 e nas mulheres obesas 99±8,71.

A média dos valores da relação VEF1/CVF nas mulheres não obesas foi

0,84±0,04, nas mulheres com sobrepeso, 0,83±0,04 e nas mulheres obesas

0,85±0,05.

A análise estatística não revelou significância quando os valores das medidas

de %CVF, %VEF1 e VEF1/CVF foram comparadas nos três grupos.

A média dos valores de %CI nas mulheres não obesas foi 113,6±16,2, nas

mulheres com sobrepeso, 125,9±18 e nas mulheres obesas 123,3±12,8.

A média da porcentagem dos valores preditos do volume de reserva

expiratório nas mulheres não obesas foi 94,4±30, nas mulheres com sobrepeso,

79,6±25,8 e nas mulheres obesas 64±25,7.

A análise estatística demonstrou diferença significante quando foram

comparados os valores da %CI e %VRE entre os três grupos.

Tabela 2- Valores espirométricos.

Não obesas (n=25)

Sobrepeso (n=28)

Obesas (n=27)Variável

Média±DP Média±DP Média±DPp

%CVF 102,5±11,6 104,2±12,2 100,6±10 NS

%VEF1 99,4±9,46 101,5±12,1 99±8,71 NS

VEF1/CVF 0,84±0,04 0,83±0,04 0,85±0,05 NS

%CI 113±16,2 125,9±18 123±12,8 0,02*

%VRE 94,4±30 79,6±25,8 64±25,7 0,001*

Fonte: Laboratório de Função Pulmonar da Santa Casa de São Paulo. Legenda: CVF- Capacidade vital forçada; p significativo < 0,.05*; % – valores preditos ; VEF1 – Volume expiratório forçado no primeiro segundo; VEF1/CVF – relação entre VEF1 e CVF; DP- Desvio padrão; n= 80 mulheres; CI- Capacidade inspiratória; VRE – Volume de reserva expiratória; NS- Não significativo;

Resultados

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4.5. Comparação dos grupos par a par para os valores preditos da capacidade inspiratória e volume de reserva expiratório (Tab. 3)

Quando comparados os valores preditos da capacidade inspiratória entre o

grupo de mulheres não obesas e mulheres com sobrepeso e obesas observaram-se

resultados significantes (p=0,01e p=0,02, respectivamente). Não foram encontrados

valores significantes quando comparados os valores preditos da capacidade

inspiratória entre o grupo de mulheres com sobrepeso e obesas (p=0,62).

A comparação entre os valores preditos do volume de reserva expiratório

entre os três grupos (mulheres não obesas e com sobrepeso), (mulheres não obesas

e obesas), (mulheres com sobrepeso e obesas) demonstrou resultados

estatisticamente significantes (p=0,04, p=0,001 e p=004, respectivamente).

Tabela 3- Comparação dos grupos par a par para os valores preditos da capacidade

inspiratória e volume de reserva expiratório.

Pares de Grupos Variável Não obesas

x Sobrepeso

Não obesas x

Obesas

Sobrepeso x

Obesas %CI 0,01* 0,02* NS %VRE 0,04* 0,001* 0,04*

Teste de Mann-Whitney NS- não significativo; % porcentagem dos valores preditos; CI– capacidade inspiratória (correlação positiva); p significativo < 0,05* ; VRE- volume de reserva expiratória (correlação negativa). 4.6. Correlação entre os valores da adiposidade abdominal (total, subcutânea e

visceral) e os valores espirométricos (Tab. 4)

Os valores preditos da CVF e VEF1 apresentaram correlação negativa e

significativa com os valores das medidas da adiposidade subcutânea (r– 0,26 e

p=0,019) e (r– 0,24 e p=0,026) respectivamente.

Os valores preditos da CVF e VEF1 apresentaram correlação negativa e não Resultados

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significativa com os valores das medidas da adiposidade visceral (r- 0,20 e p=0,06) e

(r- 0,17 e p=0,11).

Os valores preditos da CVF e %VEF1 apresentaram correlação negativa e

significativa com os valores da adiposidade abdominal total (r- 0,27, p=0,015),

(r- 0,24, p=0,031).

Os valores da relação VEF1/CVF e %CI apresentaram correlação positiva e

não significativa com os valores das adiposidades subcutânea (r=0,15, p=0,18),

(r=0,21, p=0,058); visceral (r=0,01, p=0,86), (r=0,09, p=0,42) e total (r=0,09, p=0,38),

(r=0,19, p=0,11).

Os valores preditos do VRE apresentaram correlação negativa e significativa

com a adiposidade subcutânea (r - 0,56, p<0,001), visceral (r- 0,36, p<0,001) e total

(r– 0,54, p<0,001).

Os valores da %CI se correlacionaram de forma positiva e não significativa

com os valores da adiposidade subcutânea, visceral e total.

Tabela 4- Correlação entre os valores da adiposidade abdominal total, subcutânea, visceral e valores espirométricos nos três grupos avaliados.

Adiposidade subcutânea

Adiposidade visceral

Adiposidade abdominal totalVariável

r p r p r p

%CVF -0,261 0,019* -0,205 0,06 -0,270 0,015*

%VEF1 -0,249 0,026* -0,177 NS -0,242 0,031*

VEF1/CVF 0,151 NS 0,019 NS 0,098 NS

%CI 0,213 NS 0,091 NS 0,180 NS

%VRE -0,564 < 0,001* -0,365 0,001* -0,540 < 0,001*

Legenda: n=80 mulheres (IMC ideal = 25, Sobrepeso = 28, Obesas = 27); VEF1 –Volume expiratório forçado no primeiro segundo; r – coeficiente de correlação; CVF – Capacidade vital forçada; CI- Capacidade inspiratória; p significativo < 0,05*; VRE – Volume de reserva expiratório; % - Porcentagem dos valores preditos; NS- não significativo; Adiposidade abdominal total = adiposidade subcutânea + visceral. (Dados extraídos das Tabelas 11 e 12, respectivamente, Anexos 8 e 9).

Resultados

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29

4.7. Correlação entre os valores das circunferências (pescoço, tórax, cintura e quadril) e os valores espirométricos (Tab. 5)

As circunferências do pescoço, tórax e cintura correlacionaram-se de forma

negativa e não significativa com os valores preditos da CVF e VEF1 e de forma

positiva e não significativa com relação VEF1/CVF.

A circunferência do quadril correlacionou-se de forma negativa e não

significativa com os valores de %CVF e de forma positiva e não significativa com os

valores de %VEF1 e VEF1/CVF.

As circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril apresentaram

correlação positiva e significativa com os valores de %CI.

As circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril se correlacionaram de

forma negativa e significativa com os valores preditos do VRE (p< 0,001).

Tabela 5- Correlação entre os valores das circunferências e os valores espirométricos nos três grupos de mulheres avaliadas.

CP CT CC CQ Variável r p r p r p r p

%CVF -0,16 NS -0,13 NS -0,09 NS -0,07 NS

%VEF1 -0,10 NS -0,09 NS -0,03 NS 0,001 NS

VEF1/CVF 0,03 NS 0,02 NS 0,06 NS 0,07 NS

%CI 0,26 0,01* 0,28 0,01* 0,28 0,01* 0,29 0,008*

%VRE -0,47 < 0,001* -0,46 < 0,001* -0,40 < 0,001* -0,36 < 0,001*

Legenda: %- Valores preditos; CVF- Capacidade vital forçada; VEF1– Volume expiratório forçado no primeiro segundo; VEF1/CVF– relação entre VEF1 e CVF; CI- Capacidade inspiratória; VRE– Volume de reserva expiratória; p significativo <0,05*; CP, CT, CC e CQ – Circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril; NS– Não Significativo; r– coeficiente de correlação. n=80 mulheres (Dados extraídos da Tabela 9 - Anexo 6).

Resultados

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30

4.8. Correlação entre IMC, ICQ, DSA e os valores espirométricos (Tab. 6)

O IMC correlacionou-se de forma negativa e não significativa com os valores

de %CVF e %VEF1 e de forma positiva e não significativa com os valores de

VEF1/CVF.

O IMC correlacionou-se de forma positiva e significativa com os valores da

%CI e de forma negativa e significativa com os valores de %VRE.

O índice cintura quadril correlacionou-se de forma negativa e não significativa

com os valores de %CVF, %VEF1, VEF1/CVF e %VRE e de forma positiva e não

significativa com os valores de %CI.

O diâmetro sagital do abdômen correlacionou-se de forma negativa e não

significativa com os valores de %VEF1 e de forma positiva e não significativa com os

valores de VEF1/CVF e %CI.

O diâmetro sagital do abdômen correlacionou-se de forma negativa e

significativa com os valores de %CVF e %VRE.

Tabela 6- Correlação entre os valores espirométricos e IMC, ICQ e DSA.

IMC ICQ DSA Variável r p r p r p

%CVF -0,05 NS -0,01 NS -0,22 0,04*

%VEF1 - 0,04 NS -0,02 NS -0,16 NS

VEF1/CVF 0,04 NS - 0,03 NS 0,15 NS

%CI 0,29 0,009* 0,09 NS 0,18 NS

%VRE - 0,45 < 0,001* -0,18 NS -0,46 < 0,001*

Legenda: CVF-Capacidade vital forçada; VEF1 – Volume expiratório forçado no primeiro segundo; VEF1/CVF – relação entre VEF1 e CVF; CI- Capacidade inspiratória; VRE – Volume de reserva expiratória; p significativo < 0,05*; % - Valores preditos; DSA - Diâmetro sagital do abdômen; ICQ- índice cintura quadril; IMC – índice de massa corporal; NS – Não significativo; r – coeficiente de correlação. (Dados extraídos da Tabela 10- Anexo 7).

Resultados

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4.9. Gráficos de correlação

r– 0,27 p = 0,015 n=80 mulheres

Gráfico 1- Correlação entre a adiposidade abdominal total e a porcentagem dos valores preditos da capacidade vital forçada (%CVF).

r- 0,24 p = 0,0 1 3 n=80 mulheres

Gráfico 2- Correlação entre a adiposidade abdominal total e os valores preditos do volume expiratório forçado no primeiro segundo (%VEF1).

Resultados

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r - 0,54 p < 0,001 n= 80 mulheres

Gráfico 3- Correlação entre a adiposidade abdominal total e a porcentagem dos valores preditos do volume de reserva expiratório (%VRE).

r– 0,26 p = 0,019 n=80 mulheres

Gráfico 4- Correlação entre a adiposidade abdominal subcutânea e a porcentagem dos valores preditos da capacidade vital forçada (%CVF).

Resultados

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33

r - 0,24 p = 0,026 n=80 mulheres

Gráfico 5- Correlação entre a adiposidade abdominal subcutânea e a % dos valores preditos do volume expiratório forçado no primeiro segundo (%VEF1).

r – 0,56 p<0,001 n=80 mulheres

Gráfico 6- Correlação entre a adiposidade abdominal subcutânea e a porcentagem dos valores preditos do volume de reserva expiratório (%VRE).

Resultados

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r- 0,36 p < 0,001 n=80 mulheres

Gráfico 7- Correlação entre a adiposidade abdominal visceral e a porcentagem dos valores preditos do volume de reserva expiratório (%VRE).

Resultados

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5. DISCUSSÃO

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36

Neste estudo foram utilizados indicadores antropométricos convencionais e

também medidas não usuais para avaliação da obesidade, como circunferências do

pescoço, tórax, diâmetro sagital do abdômen, adiposidade abdominal total,

subcutânea e visceral obtidas por ultrassom. Os indicadores antropométricos

convencionais foram utilizados por apresentarem vantagens como: simplicidade,

ausência de riscos, relativa facilidade na execução, menores restrições culturais,

baixo custo operacional, condições de estudos de campo e levantamento de grande

número de indivíduos.

O ultrassom possibilita a detecção de gordura abdominal e demonstra o local

da distribuição subcutânea ou visceral, aspectos revestidos de importância, pois se

atribui ao tecido adiposo visceral a produção de citocinas pró-inflamatórias que

podem exercer efeitos deletérios na função pulmonar. Observa-se assim, que outros

fatores podem estar envolvidos na gênese das alterações pulmonares em mulheres

obesas, além dos aspectos mecânicos atribuídos a deposição adiposa no tórax,

transição tórax e abdômen, diafragma e topografia subcutânea e visceral do

abdômen.

A espirometria é um método utilizado para a avaliação da função pulmonar e

consiste na medição do ar inalado e exalado pelos pulmões, da velocidade com que

isto acontece e da sua variabilidade por fatores físicos e químicos. Pode ser

realizada durante respiração lenta ou durante manobras expiratórias forçadas. Este

teste auxilia na prevenção, diagnóstico e quantificação dos distúrbios ventilatórios e

deve ser parte integrante da avaliação de pacientes com sintomas respiratórios ou

doença respiratória conhecida. A espirometria exige equipamentos exatos e

emprego de técnicas padronizadas aplicadas por pessoal especialmente treinado.

Os valores obtidos devem ser comparados a valores previstos adequados para a

população avaliada e sua interpretação deve ser feita à luz dos dados clínicos e

epidemiológicos. A escolha e análise dos valores de referência dependem de vários

fatores: sexo, altura, peso, idade e raça. Para a população brasileira, a raça não

influência de forma significativa.

O presente estudo segue linha de pesquisa iniciada em 2003, na qual foram

avaliadas as alterações na função pulmonar de homens e mulheres com obesidade.

Discussão

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37

Neste estudo observou-se: redução do VRE e aumento da CI; o IMC e CC

apresentaram correlação negativa com o VRE em homens, mas não em mulheres;

mulheres com obesidade apresentaram o sintoma dispnéia de forma mais

acentuada em relação á mulheres não obesas (Rasslan et al, 2004). No estudo de

2004 não foram observadas correlações significativas entre CC e IMC e os valores

do VRE nas 24 mulheres obesas avaliadas. No presente estudo (2011) constatou-se

esta correlação significativa, provavelmente devido à inclusão de mulheres com

sobrepeso e casuística maior (n=80).

A deposição adiposa abdominal pode exercer importante papel neste

sentindo, mas também é importante saber qual destas deposições exerce maior

efeito sobre a função pulmonar; no presente trabalho, todas as mulheres estavam no

período pré-menopausa, e nestas é mais frequente a deposição tipo ginoide

(periférica) e não central (abdominal), mesmo assim os resultados obtidos sinalizam

maior efeito da gordura subcutânea do que a gordura visceral (Tab. 4). A topografia

de deposição adiposa subcutânea e total apresentou correlação negativa e

significativa com os valores preditos de CVF, VEF1 e VRE, representando a menor

capacidade de manter volume expirado após inspiração máxima (Gráficos 1 a 6).

Indivíduos com sobrepeso e obesidade moderada podem apresentar

comprometimento da função respiratória, e estas alterações detectadas nos testes

de função pulmonar, principalmente nos volumes pulmonares, devem ser avaliadas

de forma isolada e criteriosa (Ceylan et al, 2009). Vários parâmetros de função

pulmonar são afetados em relação à distribuição de gordura corporal em mulheres.

As alterações observadas nos testes de função pulmonar não podem ser

explicadas somente pela adiposidade abdominal, mas também devido à deposição

subcutânea de gordura na parede do tórax (Ceylan et al, 2009). Os resultados do

presente estudo são concordantes com estes achados, pois demonstraram que não

só as circunferências do tórax e cintura, mas os outros marcadores de deposição

adiposa avaliados, como as circunferências do pescoço e quadril também

apresentaram correlação negativa e significativa com o %VRE (Tab. 5). Este é o

primeiro trabalho que estuda estas correlações levando em consideração as quatro

circunferências.

Discussão

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38

Vários estudos observaram relação inversa entre função respiratória e vários

índices de obesidade e distribuição de gordura como, peso, IMC, circunferência da

cintura, porcentagem de gordura, pregas cutâneas, relação entre a circunferência da

cintura e a área da superfície corporal ou estatura (Ray et al, 1983; Thomas et al,

1989; Chen et al, 1993; Collins et al, 1995; Lazarus et al, 1998; Santana et al, 2001;

Cannoy et al, 2004; Jubber, 2004). No entanto, ainda existem controvérsias sobre a

influência da obesidade no aparelho respiratório (Koenig, 2001; Kaw et al, 2008).

A hipoventilação alveolar crônica observada em alguns pacientes obesos

(IMC>30 kg/m²) sem qualquer outra doença respiratória que justifique o distúrbio de

trocas gasosas caracteriza a Síndrome obesidade - hipoventilação alveolar, sendo

considerado o principal prejuízo causado à função respiratória pela obesidade. A

importância desta condição anormal tem aumentado pelas seguintes razões:

aumento da prevalência da obesidade, distúrbios do sono, risco que acrescenta às

condições de doença e má qualidade de vida. No entanto, esta síndrome ocorre em

baixa porcentagem de obesos, a grande maioria, mesmo com IMC > 40 kg/m², não

apresenta esta afecção (Weitzenblum et al, 2002).

A adiposidade abdominal é um fator de risco cardiovascular que está

associado à resistência insulínica, alteração do metabolismo da glicose, hipertensão

arterial e dislipidemia, condições associadas à síndrome metabólica. Esta resistência

é reconhecida como condição inflamatória onde ocorre a produção de citocinas

como adiponectina, leptina, fator de necrose tumoral alfa e interleucina 6, que são

associadas a adiposidade abdominal visceral (Wellen, Hotamisligil, 2003).

Estudos demonstraram maiores níveis de leptina em mulheres do que em

homens com o mesmo IMC. Deste modo, a concentração de leptina pode ser fator

mediador para a diferença sexual na associação entre distribuição adiposa e a

função respiratória. A inflamação sistêmica também exerce importante papel na

associação entre a redução da função pulmonar e mortalidade cardiovascular, assim

como em todas as causas de mortalidade. Estes estímulos inflamatórios estão

associados ao hipodesenvolvimento pulmonar, atopia, hiperresponsividade

brônquica e risco aumentado de asma (Ray et al, 1993; Collins et al, 1995; De

Lorenzo et al, 2001; Sin et al, 2002). Estas alterações fisiopatológicas determinam

diminuição da capacidade residual funcional (CRF), volume de reserva expiratório Discussão

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39

(VRE) e capacidade pulmonar total (CPT). No entanto, o mecanismo exato desta

associação é ainda desconhecido (Collins et al, 1995; Hakala et al, 2000; De

Lorenzo et al, 2001).

No presente estudo não observamos alterações significativas nos valores

preditos da CVF, VEF1, VEF1/CVF e FEF 25-75% quando comparados os três grupos

de mulheres avaliadas, dados concordantes com os achados de autores como Kelly

et al (1988) e Domingos-Benicio et al (2004), que também não encontraram

alterações em obesos classificados apenas pelo IMC (Tab. 8 – Anexo 5). Por outro

lado, Ladosky et al (2001) constataram redução da CVF, VEF1, VRE e VVM

inversamente proporcional ao aumento do IMC.

Apesar de indivíduos obesos apresentarem volumes pulmonares dentro da

normalidade, alguns estudos relatam melhora destes volumes após a perda de peso

(Crapo et al, 1986; Thomas et al, 1989).

Avaliando dados da literatura, acreditamos ser este o primeiro trabalho a

correlacionar as espessuras da gordura abdominal, na região subcutânea e visceral,

medidas por ultrassom e os valores espirométricos. Além disto, também foram

avaliadas as correlações entre 04 circunferências (CP, CT, CC e CQ) e os valores

espirométricos em mulheres com obesidade.

O efeito da obesidade sobre os valores espirométricos é influenciado pela

idade, grau de obesidade e tipo de distribuição de gordura, sendo que o peso pode

influenciar os valores da capacidade vital forçada (CVF) por efeitos opostos, por

aumento da musculatura, com elevação da CVF, e por efeito da obesidade, com

redução da função pulmonar. Na obesidade grau III ocorrem efeitos evidentes na

função ventilatória, sendo que a perda de peso é acompanhada de elevação da

CVF, no entanto, existem controvérsias sobre o efeito da obesidade sobre os valores

espirométricos nos casos de obesidade grau I e II (Koenig, 2001).

No presente trabalho não observamos diferenças na idade e estatura das

mulheres avaliadas, aspectos que influenciam a função pulmonar, assim, é

importante que a amostra de indivíduos estudados não apresente diferenças

significativas nestes parâmetros. Utilizamos o IMC para classificar as mulheres em

Discussão

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40

três grupos por este ser amplamente empregado nos estudos epidemiológicos.

Todas as variáveis de avaliação de obesidade utilizadas (indicadores

antropométricos e medidas obtidas por ultrassom) foram significativamente

diferentes nos três grupos de mulheres (IMC ideal, sobrepeso e obesas) (Tab. 1).

Nossos resultados demonstraram associação negativa entre a adiposidade

abdominal (total, subcutânea e visceral) e a função pulmonar de mulheres obesas

assintomáticas oriundas de uma amostra da população geral (Tab. 4).

5.1. Influência da medida da circunferência do pescoço na função pulmonar

Existe correlação positiva entre idade, obesidade e circunferência do

pescoço, ou seja, com o avançar da idade aumentam o peso e tamanho da

circunferência do pescoço, que são fatores de risco para distúrbios do sono.

Acredita-se que o tônus do músculo genioglosso seja maior nas mulheres, sugerindo

mecanismo de defesa para manutenção da permeabilidade das vias aéreas

superiores. Quando há aumento da circunferência do pescoço (CP) por acúmulo de

gordura, as mulheres mantêm o diâmetro transverso das vias aéreas superiores

maior que nos homens (Martin et al, 1997). A atividade dilatadora dos músculos das

vias aéreas superiores também pode ser influenciada por efeito hormonal, mulheres

em pré-menopausa têm grande atividade da musculatura do genioglosso quando

comparadas a mulheres em pós-menopausa e homens da mesma idade. Acredita-

se que a progesterona exerce papel protetor da apneia antes da menopausa. O

maior nível deste hormônio ocorre na fase lútea do ciclo menstrual, período em que

ocorre aumento no comando ventilatório, evidenciando uma das funções da

progesterona (Bixter et al, 2001).

O aumento da circunferência do pescoço provavelmente reflete maior

deposição de gordura e tecido mole. Ip et al (2000) estimaram o limite da CP em 40

cm, a partir do qual aumenta o risco, principalmente para apneia do sono. No

presente estudo as mulheres obesas apresentaram valores de circunferência do

pescoço, em média 36±2,43 cm, ou seja, de baixo risco para distúrbios respiratórios,

mas mesmo estes valores apresentaram correlação negativa e significativa com os

Discussão

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41

valores preditos do VRE e aumento significativo da %CI, representando mecanismo

compensatório (Tab. 5). É provável que o aumento nos valores da CP represente

obesidade e também maiores valores na CT. Embora nossos resultados

demonstrem que a elevação nos valores de CP esteja associada à redução dos

valores preditos do VRE, estes não permitem concluir o verdadeiro papel desta

circunferência em relação à função pulmonar.

Apesar da correlação entre a CP e %CVF e %VEF1 ser negativa, esta não foi

significativa, ou seja, este acúmulo adiposo no pescoço não exerce efeito

compressivo nas vias aéreas e parede torácica o suficiente para modificar estes

parâmetros. Este comportamento da CP em relação a estas variáveis espirométricas

foi semelhante aos outros indicadores antropométricos de obesidade (Tab. 5).

5.2. Influência da medida da circunferência do tórax na função pulmonar

A complacência da parede torácica é determinada pelo equilíbrio de forças

elásticas dos pulmões, parede torácica e diafragma (Luce, 1980). O mecanismo de

qualquer efeito mecânico da obesidade na função respiratória é difícil de ser

identificado e pode ser mediado pela deposição de tecido adiposo em torno do tórax,

restringindo a expansão torácica ou pela adiposidade abdominal impedindo a

incursão diafragmática.

A falta de habilidade do aparelho respiratório em eliminar gás carbônico nas

mulheres obesas também guarda relação com a adiposidade no abdômen, atuando

adversamente contra o trabalho respiratório desenvolvido pelo diafragma e outros

músculos da respiração (Ochs-Balcom et al, 2006; Babb et al, 2008; McLean et al,

2008).

A deposição de gordura na parede anterior do abdômen e na região visceral

pode impedir a movimentação diafragmática e diminuir a expansão nas bases dos

pulmões na inspiração (Wannamethee et al, 2005; Malhotra, Hillman, 2008). Estas

alterações contribuem para o aumento da prevalência de problemas respiratórios em

mulheres obesas, particularmente nos esforços físicos e na posição supina como

Discussão

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42

durante o sono e após anestesia. No entanto, a obesidade tem efeito direto pequeno

no calibre das vias aéreas, nossos resultados reforçam estes achados, pois a

deposição de gordura no tórax, mensurada indiretamente através da medição da sua

circunferência, apresentou correlação negativa e significativa com os valores

preditos do VRE e também correlação positiva e significativa com os valores preditos

da CI, o que representa aumento do esforço respiratório (Tab. 5). Nossos resultados

não demonstraram correlação significativa entre a CT e os valores preditos da CVF e

VEF1, assim como não permitem afirmar que a deposição de gordura no tórax

determina maior resistência das vias aéreas ou processo obstrutivo, pois não houve

correlação significativa entre a CT e a relação VEF1/CVF.

Dois estudos recentes demonstraram que alterações nos volumes

pulmonares podem ocorrer em estágios iniciais da obesidade e não estão limitados

aos casos de obesidade avançada (Jones, Nzekwu, 2006; Babb et al, 2008).

Reduções na capacidade residual funcional e volume de reserva expiratório devido à

redução do volume pulmonar basal podem ocorrer mesmo na condição de

sobrepeso. Os resultados do presente estudo também demonstraram que mulheres

com sobrepeso apresentam VRE e %VRE significativamente menores do que

mulheres com IMC normal (Tab. 14 – Anexo 11).

5.3. Influência da medida da circunferência da cintura na função pulmonar

A medida da circunferência da cintura (CC) é o índice mais representativo da

obesidade visceral, sendo o método mais comumente usado para avaliar a

adiposidade visceral, havendo sugestões de pontos de corte associados à maior

risco cardiovascular. Valores maiores que 102 cm nos homens e 88 cm em mulheres

caracterizam a obesidade visceral e risco muito aumentado para as morbidades

associadas à obesidade (Lean et al, 1995). Todas as propostas de critérios

diagnósticos para a síndrome metabólica levam em consideração medidas

antropométricas do abdômen, no entanto, existem controvérsias sobre o local em

que deve ser realizada esta medida (Klein et al, 2007).

Discussão

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43

Chen et al (2007) estudaram 936 mulheres, com idade de 18 á 79 anos e

observaram que a circunferência da cintura apresentou correlação negativa com as

variáveis dos testes de função pulmonar (CVF e VEF1) em todas as categorias de

IMC, sem alteração na relação VEF1/CVF.

Steele et al (2008) observaram que aumentos de 1,0 cm na CC estavam

associados à diminuição de 4,0 ml no VEF1, mas em mulheres não foi observada

relação inversa significante entre CC e CVF. Nossos resultados são concordantes

com estes achados, pois também não observamos correlação significativa entre a

CC e as variáveis %CVF e %VEF1 quando avaliamos os três grupos de mulheres

(Tab. 5).

No presente estudo observou-se que as seguintes variáveis: circunferências

do pescoço, tórax, cintura, quadril e IMC apresentaram correlação positiva com a

capacidade inspiratória e negativa com o volume de reserva expiratória

demonstrando a limitação da movimentação diafragmática e o componente muscular

compensatório observado com o aumento do peso e a deposição adiposa (Tab.5 e

6).

No presente estudo também correlacionamos os valores preditos da CI e VRE

entre os pares de grupos (não obesas x sobrepeso; não obesas x obesas e

sobrepeso x obesas). A variável %CI apresentou correlação positiva e significativa

nos pares de grupos (não obesas x sobrepeso e não obesas x obesas). Para a

variável %VRE a significância foi observada nos três pares de correlação (Tab. 3).

Estes achados demonstram a redução do %VRE e aumento da %CI com o aumento

do IMC, mesmo quando os grupos são estratificados e correlacionados par a par.

Estes resultados reforçam que a queda do VRE é a alteração mais comum na

obesidade e o aumento da %CI sugere mecanismo muscular compensatório.

Klein et al (2007) observaram que a circunferência da cintura apresentava

correlação com ambos tecidos adiposos subcutâneo e visceral, e era melhor

preditora do que o IMC para representar tecido adiposo visceral (considerado

deletério). Nossos dados demonstraram que tanto a circunferência da cintura como

o índice de massa corporal apresentaram correlação positiva com as três medidas

de gordura abdominal (ASC, AV e AAT) (Tab. 15 – Anexo 12).

Discussão

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44

Quando utilizamos a CC como indicador de deposição localizada de gordura e

o IMC como indicador geral de obesidade, estes índices não apresentaram

correlação com os valores preditos de CVF e VEF1. Por outro lado, como o

ultrassom apresenta maior potencial na identificação e quantificação da gordura

abdominal, demonstrou-se que os componentes (ASC e AAT) da gordura abdominal

apresentavam correlação negativa e significativa com os valores preditos da CVF,

VEF1 e VRE. Provavelmente a deposição de gordura subcutânea determina maior

limitação muscular na localização abdominal e transição tóraco–abdominal do que o

papel da deposição visceral (ação diafragmática). Com exceção do ICQ, todos os

indicadores de adiposidade avaliados (CP, CT, CC, CQ, IMC, DSA, ASC, AV e AAT)

apresentaram correlação negativa com os valores preditos de VRE, confirmando

achados anteriores que relatam esta alteração como a mais frequente em mulheres

obesas. A distribuição adiposa feminina predominante na região fêmuro-glútea pode

explicar a ausência de correlação entre o ICQ e %VRE.

Como a obesidade abdominal tem sido relacionada a alto risco de mortalidade

devido a causas respiratórias, independente do IMC, este aspecto gera

preocupações sobre o possível impacto do aumento da CC sobre os resultados

adversos ao organismo, devendo ser considerado quanto a atribuições dos recursos

destinados à saúde. Estudos prospectivos são necessários para determinar a

relação temporal e as vias fisiopatológicas entre disfunção pulmonar e a síndrome

metabólica, incluindo a adiposidade abdominal em particular (Pischon et al, 2008).

5.4. Influência do índice de massa corporal na função pulmonar

Apesar do IMC ser o indicador de obesidade mais usado nos estudos

populacionais, o impacto do seu aumento na função respiratória é variável (Luce,

1980; Ray et al, 1983; Harik-Khan et al, 2001; Santana et al, 2001). O local de

acúmulo de gordura é crucial na determinação dos efeitos da obesidade na

mecânica do sistema respiratório, aspecto que pode limitar o uso do IMC,

isoladamente (Wannamethee et al, 2005; Leone et al, 2009).

O IMC é amplamente utilizado na prática clínica como indicador de obesidade

Discussão

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45

por apresentar acurácia razoável na determinação tanto da presença, quanto do

grau de obesidade e mostrar relação direta com o risco de desenvolvimento das

doenças relacionadas à obesidade. Embora o peso e IMC sejam utilizados como

indicadores de adiposidade sistêmica e preditores de função pulmonar em estudos

epidemiológicos, podem apresentar limitações. O IMC apresenta três limitações

importantes: a) valores maiores de IMC em indivíduos não obesos podem ser

decorrentes da maior quantidade de massa muscular, que pesa mais do que gordura

(por exemplo, em atletas) ou em estados edematosos; b) este índice é calculado

utilizando o peso corpóreo e estatura, que se correlacionam com o tamanho do

corpo, sendo assim, quanto maior a dimensão corporal, maiores são as variações

nos testes de função pulmonar; c) este indicador não leva em consideração a

localização da distribuição de gordura corporal (Chen et al, 2007).

As relações epidemiológicas entre o IMC e enfermidades, contudo, podem

variar em diferentes subpopulações. Pode existir dificuldade na definição de qual

quantidade de gordura excedente poderá causar doença. Pessoas podem

apresentar problemas de saúde com IMC relativamente abaixo de 25 Kg/m²,

enquanto algumas pessoas permanecem sadias com IMC maiores que 30 Kg/m².

Apesar do peso e IMC serem aceitos como determinantes da função

pulmonar observa-se que a adiposidade abdominal pode influenciar a função

pulmonar através de mecanismos diferentes (Ochs-Balcom et al, 2006).

No presente trabalho utilizamos o IMC como indicador sistêmico de obesidade

e observamos correlação significativa entre este índice e as variáveis espirométricas

%CI e %VRE, mas não com %CVF, %VEF1 e VEF1/CVF, achados que reforçam as

limitações do uso do IMC como preditor de disfunção pulmonar em mulheres com

obesidade (Tab. 6).

Rasslan et al (2004) observaram fraca associação entre obesidade e função

pulmonar em mulheres, utilizando o IMC como marcador de adiposidade corporal,

enquanto Maiolo et al (2003) observaram diminuição da função pulmonar nos

extremos da distribuição do IMC (magros ou obesos).

Discussão

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46

Autores como Steele et al (2008) observaram relação inversa significante

entre IMC e CVF, além disto, que aumentos de 1,0 kg/m² no IMC causavam

diminuição de 88 ml na CVF em mulheres com média de idade de 40±6,0 anos. No

presente estudo não observamos esta correlação, provavelmente devido ás

diferenças na faixa etária das mulheres estudadas, em nosso estudo a média de

idade era menor, ou seja, 32,9±7,25 anos.

É importante ressaltar que o IMC não diferencia o padrão de distribuição

adiposa, não distinguindo adequadamente a massa magra da massa gorda,

sugerindo que estes fatores podem ter efeitos distintos na função pulmonar (Cotes et

al, 2001). A massa gorda é relacionada à função pulmonar de forma negativa,

enquanto a massa magra é relacionada de forma positiva (Mohamed et al, 2002).

Resultados semelhantes também foram observados em nosso trabalho, em

mulheres magras, as correlações entre o IMC e as variáveis %CVF, %VEF1 e

%VRE foram positivas, enquanto em mulheres com sobrepeso e obesidade estas

correlações foram negativas. O IMC correlacionou-se de forma positiva com os

valores preditos da %CI nos três grupos de mulheres, no entanto esta correlação

não foi significativa (Tab. 16 – Anexo 13).

O IMC é uma medida global da composição corporal que inclui massa gorda e

magra, se a redução dos volumes pulmonares na obesidade é devida a efeito

mecânico direto nos volumes pulmonares, espera-se então que a distribuição de

gordura corporal possa modificar a relação entre IMC e os volumes pulmonares.

Provavelmente a gordura abdominal e torácica exerce efeitos diretos na limitação da

movimentação descendente do diafragma e nas propriedades da parede torácica,

mas é pouco provável que a gordura dos quadris e coxas exerça qualquer efeito

mecânico direto nos pulmões.

No presente trabalho observamos diminuição exponencial dos valores

preditos do VRE com o aumento do IMC (Tab. 6). Outros autores também relataram

estes achados mesmo em indivíduos com IMC menor que 30 Kg/m² (Jones, Nzekwu,

2006).

Não observamos diferenças significativas nos valores de %CVF e %VEF1

com o aumento do IMC nos três grupos de mulheres avaliadas (IMC normal,

Discussão

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47

sobrepeso e obesas) (Tab. 2), no entanto as medidas localizadas de gordura

subcutânea e abdominal total apresentaram correlação negativa e significativa com

estas duas variáveis (Tab. 4, Gráficos 1 a 5).

5.5. Influência do índice cintura quadril na função pulmonar

O ICQ é o índice de distribuição de gordura corporal mais conhecido e

utilizado, valores superiores a 0,85 em mulheres definem distribuição central de

gordura e estatisticamente se correlacionam com maior quantidade de gordura

visceral ou portal, medidas por métodos de imagem como tomografia ou ressonância

magnética (World Health Organization, 1999). No entanto, é parcialmente

independente da adiposidade total, uma vez que indivíduos magros e obesos podem

apresentar o mesmo valor de ICQ, dificultando sua interpretação, além disto, este

indicador mostrou-se menos eficaz que a circunferência da cintura em predizer a

quantidade de gordura abdominal. As populações diferem entre si de acordo com o

nível de risco apresentado para dada circunferência de cintura. Assim, é impossível

a determinação de pontos de corte para esta variável que sejam globalmente

aplicáveis (Alberti et al, 2006).

Métodos alternativos de quantificação adiposa, como o ICQ, que reflete

adiposidade central e pregas cutâneas subescapulares, que refletem a adiposidade

torácica, têm sido utilizados para explorar os efeitos da distribuição de gordura

corporal na função pulmonar de mulheres e também tem demonstrado resultados

divergentes (Collins et al, 1995).

O ICQ e as pregas cutâneas são associados negativamente com os valores

espirométricos em alguns estudos e aparentemente são maiores nos homens (Ochs-

Balcom et al, 2006). No entanto, a correlação entre estas medidas de adiposidade

regional e a função pulmonar tem limitações. As medidas regionais das pregas

cutâneas somente substituem medidas da distribuição de gordura torácica, fornecem

valores estimados da composição de gordura corporal e são operadores

dependentes.

Discussão

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48

Alguns estudos utilizaram o ICQ como preditor de disfunção pulmonar em

mulheres obesas e demonstraram que aumentos do ICQ estão associados à maior

resistência da parede do tórax, redução da complacência e dos volumes

pulmonares, desta forma este índice apresenta comportamento inversamente

proporcional aos volumes pulmonares (Collins et al, 1995; Lazarus et al, 1998;

Canoy et al, 2004; Chen et al, 2007). Outros consideraram a CC por esta medida

representar melhor o tecido adiposo visceral (Lemieux et al, 1996).

Embora estes dois indicadores (ICQ e CC) sejam amplamente usados na

prática para estimar a adiposidade abdominal, não observamos correlação

significativa entre estes dois parâmetros e os valores preditos da CVF e VEF1. Além

disto, é importante ressaltar que o ICQ foi o único indicador antropométrico de

obesidade que não apresentou correlação significativa com a redução dos valores

preditos do VRE (Tab. 7, Anexo 4). Por outro lado, quando empregamos o ultrassom

com finalidade de obter medidas mais precisas para detectar a distribuição de

gordura abdominal observamos correlação negativa e significativa entre a deposição

adiposa total e subcutânea e as variáveis espirométricas (%CVF, %VEF1 e VRE)

(Tab. 4).

Aumento do ICQ caracteriza a distribuição de gordura na região abdominal e

torácica, nossos resultados reforçam estes achados, pois também constatamos que

o ICQ apresentou correlação positiva e significativa com vários indicadores de

obesidade estudados (CP, CT, CC, IMC e DSA). Além disto, observamos que tanto

ICQ e CC apresentaram correlação positiva com indicadores ultrassonográficos mais

precisos de detecção adiposa abdominal total, subcutânea e visceral (dados do

autor). Mesmo assim não foi observada correlação entre ICQ e os valores

espirométricos, reforçando suas limitações (Tab. 6). Achados semelhantes também

foram descritos por autores como Lazarus et al (1997), Domingos-Benicio et al

(2004) e Steele et al (2008). Isto ocorre porque nas mulheres obesas há redução do

VRE ao mesmo tempo em que ocorre aumento compensatório da CI para

manutenção do trabalho respiratório.

O ICQ afeta negativamente os parâmetros respiratórios em homens, mas não

é capaz de demonstrar qualquer efeito em mulheres, pois o padrão de distribuição

adiposa difere nos dois sexos. Como homens tendem a acumular mais gordura Discussão

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visceral o ICQ é provavelmente mais fortemente dependente do respectivo deposito

de gordura intra-abdominal, e quando em excesso, compromete a função

diafragmática. A função respiratória tende a ser afetada, na mesma extensão, pela

gordura da região abdominal visceral e também pelo depósito subcutâneo torácico,

ou seja, ambas afetando o trabalho do diafragma e dos músculos do arcabouço

torácico (Harik-Khan et al, 2001).

Nas mulheres, o ICQ expressa primariamente à relação da adiposidade

subcutânea abdome/quadril, aspecto de distribuição de gordura que produz pouco

ou nenhum efeito na atuação diafragmática (Koziel et al, 2007).

Harik-Khan et al (2001) observaram que nas mulheres é primariamente a

gordura subcutânea da região superior do tórax que afeta a função respiratória

(observado em ambos CVF e VEF1), enquanto a adiposidade subcutânea no

abdômen e visceral tem pequena ou nenhuma participação. Diferente destes

autores, nossos resultados demonstraram que não só a gordura subcutânea torácica

(medida através da CT), mas também a gordura subcutânea e abdominal total

(medida por ultrassom) apresentaram relação negativa com a função pulmonar

(redução dos valores preditos da CVF e VEF1), com significância para a adiposidade

subcutânea e total. Em relação aos valores preditos do VRE, as quatro medidas (CT,

AAT, ASC e AV) apresentaram correlação negativa e significativa. Enquanto Koziel

et al (2007) e Harik-Khan et al (2001) utilizaram medidas de pregas cutâneas e ICQ,

no presente trabalho foi utilizado o ultrassom, exame que apresenta maior

capacidade de detecção da gordura abdominal.

5.6. Influência do diâmetro sagital do abdômen na função pulmonar

Alguns autores propõem o diâmetro sagital do abdômen ou altura abdominal,

como melhor indicador de gordura visceral por representar o depósito de gordura

metabolicamente ativa. Este diâmetro verificado na posição supina apresenta

vantagens, pois, nessa posição, o tecido adiposo visceral tende a elevar a parede

abdominal na direção sagital e o tecido adiposo abdominal subcutâneo anterior ou

lateral comprime o abdômen ou tende a descer para os lados devido à gravidade. Discussão

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Assim, espera-se que o DSA reflita, principalmente, o tecido adiposo visceral.

Ressalta-se também, as vantagens técnicas das medidas da circunferência da

cintura e diâmetro sagital do abdômen, como rapidez na execução e não utilização

de fórmulas (Van Der Kooy et al, 1993).

O DSA conta com a desvantagem de necessitar régua adequada para a

mensuração e mesa de superfície firme, ao contrario da CC, que requer apenas fita

métrica. Para o DSA não existem pontos de corte estabelecidos para sua

classificação, provavelmente por ser menos conhecido, mas com grande potencial

para ser utilizado (Vasques et al, 2008).

O DSA é utilizado como indicador de adiposidade visceral, e em nosso

trabalho também observamos que os valores deste diâmetro apresentaram forte

correlação positiva com os valores de AAT, AS e AV, marcadores mais precisos de

deposição adiposa (r=0,84 p<0,001; r=0,76 p<0,001; r=0,65 p<0,001,

respectivamente, dados do autor). O DSA apresentou correlação negativa e

significativa com os valores de %CVF e %VRE (Tab. 6). Em contrapartida, a

adiposidade abdominal total e subcutânea detectada pelo ultrassom apresentou

correlação negativa e significativa com %CVF, %VEF1 e %VRE (Tab. 4). Embora o

DSA represente adiposidade visceral, não observamos a mesma correlação

negativa entre a AV e os valores de %CVF. Nas mulheres, especificamente,

observa-se a distribuição adiposa prevalente na região subcutânea fêmuro-glútea e

não visceral, no entanto este diâmetro apresentou comportamento semelhante ao

componente subcutâneo quando correlacionado aos valores espirométricos.

Assim como outros indicadores antropométricos, o diâmetro sagital do

abdômen apresentou correlação negativa com os valores preditos do VRE,

reforçando dados prévios da literatura que afirmam que a redução do VRE é a

principal alteração espirométrica observada em mulheres obesas (Zerah et al, 1993).

Ochs-Balcom et al (2006) analisaram o papel dos marcadores de adiposidade

geral e abdominal na função pulmonar, incluindo o DSA, em estudo composto por

amostra aleatória de indivíduos da população geral, de modo que foram capazes de

investigar também esta associação em não obesos. Os resultados destes autores

confirmaram a relação negativa entre a adiposidade abdominal e a função pulmonar.

Discussão

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51

Estes resultados são particularmente notáveis no DSA, considerado marcador

altamente especifico de adiposidade visceral, que explicou a grande variação da

função pulmonar entre todos os marcadores de adiposidade (isto é, peso, IMC, ICQ,

CC). O DSA e a CC explicaram a grande proporção de variação no VEF1 e CVF em

relação aos outros marcadores de adiposidade. No presente estudo observamos

que os quarto indicadores antropométricos de obesidade (IMC, ICQ, CC e DSA)

apresentaram correlação negativa com os valores preditos de CVF e VEF1, no

entanto o DSA foi o único que apresentou correlação significativa com uma variável

espirométrica (%CVF) (Tab. 5 e 6).

Como o tecido adiposo visceral influencia a concentração circulante de

citocinas, que podem causar inflamação sistêmica e afetar negativamente a função

pulmonar, o DSA pode então causar impacto negativo na função pulmonar via

resistência insulínica. A mensuração simultânea dos marcadores inflamatórios e da

resistência a insulina pode permitir a determinação da existência de mecanismo

inflamatório ou de natureza mecânica.

5.7. Influência da adiposidade abdominal subcutânea na função pulmonar

A adiposidade abdominal e da região superior do corpo podem determinar

menor volume de ar expirado em manobra rápida e tão completa quanto possível

(CVF), mas os valores podem ainda permanecer dentro da faixa de normalidade.

Embora não tenham sido observadas diferenças significantes entre os valores

espirométricos (%CVF, %VEF1 e VEF1/CVF) nos três grupos de mulheres

avaliadas, notamos que o aumento da gordura subcutânea e abdominal total

determinou queda significativa nos valores preditos da CVF, VEF1 e VRE (Tab. 4).

Isto demonstra que a utilização isolada de indicadores antropométricos como o IMC

pode não ser suficiente para predizer disfunção pulmonar em mulheres obesas.

No presente trabalho observamos que a adiposidade subcutânea apresentou

maior impacto nos valores espirométricos (%CVF e %VEF1) do que a gordura

visceral. A correlação entre a gordura subcutânea e estas variáveis espirométricas

foi negativa e significativa, aspecto que pode ser explicado pela limitação do

Discussão

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52

desempenho muscular devido à adiposidade. Os dois locais de distribuição adiposa

(subcutânea e visceral) apresentaram correlação negativa e significativa com os

valores preditos do VRE (Tab. 4). Observa-se então, que em mulheres obesas, não

só os valores antropométricos amplamente utilizados apresentam correlação

negativa com o VRE, mas também a deposição de gordura subcutânea e visceral

(Gráficos 6 e 7).

Observamos, em concordância com outros autores, que a adiposidade

abdominal, principalmente na região subcutânea pode determinar alterações na

função pulmonar (Wannamethee et al, 2005). Estes achados foram observados em

mulheres, nas quais predomina a distribuição adiposa periférica, associada a menos

complicações clínicas e menor comprometimento da função pulmonar (McLean et al,

2008).

5.8. Influência da adiposidade visceral na função pulmonar

Autores como Leone et al (2009) observaram relação positiva entre disfunção

pulmonar e síndrome metabólica em mulheres, devido principalmente a obesidade

abdominal, independentemente dos outros fatores de risco cardiovascular, inclusive

o IMC. A síndrome metabólica e em especial a obesidade abdominal está associada

a padrão ventilatório restritivo, sendo evidente a relação negativa entre a CVF e os

valores da circunferência da cintura, como marcador de obesidade abdominal. No

presente trabalho também observamos esta relação negativa entre a CC e os

valores da %CVF, no entanto esta correlação não foi significativa (Tab. 5).

É importante ressaltar que a circunferência da cintura não diferencia a

adiposidade subcutânea ou visceral. Apesar do maior impacto mecânico, metabólico

e hormonal na função pulmonar ser atribuído à deposição visceral, nossos

resultados mostraram maior repercussão em relação à adiposidade subcutânea e

total (Tab. 4).

A adiposidade visceral pode estar associada a comprometimento respiratório

significante decorrente do aumento da pressão intra-abdominal secundária ao

Discussão

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53

acúmulo de gordura peritoneal (efeito mecânico) com consequente redução dos

valores de VRE e CVF. Estes valores espirométricos estão reduzidos em indivíduos

com obesidade visceral em relação a indivíduos com obesidade subcutânea, apesar

de IMC comparáveis (Collins et al, 1995). No entanto estes autores utilizaram

indicadores antropométricos para avaliar a localização da deposição adiposa.

O acúmulo visceral de gordura pode exercer papel importante no

comprometimento respiratório restritivo em homens, mas em mulheres este

comprometimento provavelmente é menor, e somente é evidente quando são

empregados métodos mais seguros de detecção da gordura visceral (Sugerman,

2001).

Mulheres que apresentam obesidade á longo prazo podem não apresentar

reduções importantes nos valores espirométricos devido ao desenvolvimento de

mecanismos adaptativos contra a sobrecarga imposta pelo tecido adiposo (Vaughan

et al, 1981; Domingos-Benicio et al, 2004). Este aspecto também foi observado no

presente estudo, sendo evidente o aumento da capacidade inspiratória com o

aumento de todos os indicadores de obesidade (com significância para o IMC e as

quatro circunferências), demonstrando este mecanismo compensatório (Tab. 4, 5 e

6).

Todas as variáveis antropométricas avaliadas (com exceção da circunferência

do quadril) apresentaram correlação negativa com a porcentagem dos valores

preditos da capacidade vital forçada e volume expiratório forçado no primeiro

segundo, com significância nas seguintes variáveis (DSA, ASC e AAT). Em relação

aos valores preditos do VRE estas correlações foram negativas e significativas para

todas as variáveis, com exceção do ICQ. Estes resultados sugerem que a deposição

adiposa localizada ou sistêmica pode exercer redução na função pulmonar, no

entanto, não são suficientes para predizer com exatidão o grau de disfunção

respiratória em mulheres obesas.

O efeito da obesidade na função pulmonar mais consistente é a redução da

capacidade residual funcional (CRF), que representa o volume contido nos pulmões

ao final de uma expiração espontânea, obtida através da somatória do volume

residual e volume de reserva expiratório (Jones, Nzekwu, 2006). Este efeito reflete a

Discussão

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mudança no equilíbrio entre a pressão inspiratória e expiratória nos pulmões devido

à sobrecarga imposta pelo tecido adiposo em torno dos arcos costais, abdômen e

cavidade visceral.

Na obesidade, a redução da capacidade residual funcional pode tornar-se tão

marcante que se aproxima do volume residual. No entanto, os efeitos da obesidade

nos extremos dos volumes pulmonares, como a capacidade pulmonar total (CPT) e

VR são modestos. Estudos reportam a associação entre aumento de peso corpóreo

e diminuição da CPT, no entanto, as alterações são pequenas e a CPT permanece

dentro dos limites da normalidade, mesmo na obesidade grau III. O VR também é

usualmente preservado. Na presença de pequena diminuição da CPT e VR

preservado, a redução da CRF é manifestada pelo aumento da CI e decréscimo

importante do VRE (Ray et al, 1983; Collins et al, 1995).

A causa da redução da CPT provavelmente é decorrente do efeito mecânico

do tecido adiposo, uma vez que se observa aumento da CPT com a perda de peso

nos graus mais avançados de obesidade (Thomas et al, 1989). A redução do

movimento descendente do diafragma, devido ao aumento do conteúdo abdominal é

suficiente para diminuir a CPT, pela limitação do espaço para a insuflação pulmonar.

A deposição de gordura nos espaços sub-pleurais pode reduzir o volume pulmonar

pela redução da cavidade torácica, embora não haja evidências diretas desta

associação (Sargent et al, 1984).

Existem evidências demonstrando que a força muscular respiratória e a

pressão inspiratória e expiratória máxima são semelhantes em indivíduos obesos e

magros. Estes achados sugerem que o comprometimento da parede torácica não é

provavelmente a maior determinante da CPT (Yap et al, 1995).

Tanto a adiposidade abdominal (medida pela CC, ICQ e DSA) e a

adiposidade torácica ou parte superior do corpo (medidas pelas pregas cutâneas na

região subescapular e bíceps) são associadas á redução nos volumes pulmonares

(Collins et al, 1995; Lazarus et al, 1997; Canoy et al, 2004; Ochs-Balcom et al, 2006;

Chen et al, 2007). Os achados do presente trabalho também confirmam estes

resultados, pois observamos correlação negativa significativa entre os valores

preditos do VRE e os valores de CP, CT, CC e DSA (Tab. 5 e 6).

Discussão

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55

A densitometria por dupla emissão de raio-x ou DEXA (Dual Energy X-ray

Absorptiometry) é um método de avaliação que utiliza um densitômetro para

quantificar gordura e massa magra em diferentes regiões do corpo. Este exame

apresenta baixos níveis de radiação e é capaz de quantificar gordura e massa

magra de forma mais precisa que a estimativa de gordura corporal baseada nas

medidas de pregas cutâneas. Além disto, acrescenta a possibilidade de quantificar e

distinguir com precisão a massa magra, gordura abdominal e torácica permitindo a

correlação destes dados com a função respiratória.

De Lorenzo et al (2001) e Sutherland et al (2008) confirmaram com a DEXA

as alterações na função pulmonar detectadas pelos indicadores antropométricos e

atribuíram à distribuição de gordura no tórax e abdome forte influência na função

respiratória, além disto, sugerem que a massa magra do tórax também pode estar

relacionada com a função respiratória.

Sutherland et al (2008) realizaram estudo com objetivo de avaliar se a

distribuição de gordura ou massa magra, medidas pela densitometria, era mais

efetiva em determinar disfunção respiratória que as medidas convencionais de

avaliação de gordura corporal em adultos saudáveis e observaram que os volumes

pulmonares são discretamente associados ao IMC. Por outro lado, todos indicadores

de obesidade obtidos por densitometria (gordura corporal total, gordura regional:

torácica, cintura, quadril e abdome) e variáveis como pregas cutâneas que refletem

a adiposidade da região superior do corpo apresentaram alta correlação negativa

com a CVF e VRE em ambos os sexos.

No estudo de Sutherland et al (2008) não foram observadas diferenças no

grau de associação entre os marcadores de deposição de gordura abdominal (CC,

ICQ, adiposidade da cintura e gordura abdominal) ou torácica (medida da

circunferência e gordura torácica). A maioria dos parâmetros de função respiratória

foi associada com as medidas convencionais de gordura corporal e as obtidas por

densitometria. Estas correlações apresentaram magnitude similar em todas as

variáveis e nem a massa adiposa localizada regionalmente no tórax e no abdômen

demonstrou relativamente grandes efeitos na função respiratória, o que pode indicar

efeito comparável da adiposidade na função respiratória independente da variável

usada para representar a distribuição de gordura corporal. Resultados semelhantes Discussão

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56

também foram observados em cada uma das subdivisões de distribuição adiposa

torácica (superior e inferior). A associação entre adiposidade e função respiratória foi

consistente em grande quantidade de variáveis de gordura corporal e, independente

das variáveis utilizadas para quantificar a gordura corporal, efeitos similares foram

demonstrados. Estes dados obtidos por densitometria sugerem que a correlação

entre os indicadores antropométricos simples, como a CC e a função pulmonar

também é confiável.

Os achados de Sutherland et al (2008) demonstrando os efeitos equivalentes

da adiposidade torácica e abdominal na função respiratória sugerem que a gordura

abdominal compromete a incursão diafragmática durante a inspiração ao mesmo

tempo que a deposição torácica de gordura altera a movimentação torácica (Collins

et al, 1995). Estes fatores poderiam atuar como uma ação continua ao invés de

apresentarem efeitos independentes (Salome et al, 2010). Em nosso trabalho

também observamos comportamentos semelhantes entre as CT e CC e os valores

preditos de CVF e VEF1.

No presente estudo observamos diferenças no grau de associação entre os

marcadores de deposição torácica + pescoço (CT e CP) e gordura abdominal (CC e

DSA) em relação aos valores espirométricos. Observamos que a CP e CT (medidas

indiretas de deposição adiposa na região superior do corpo) não apresentaram

correlação significativa com os valores preditos de CVF e VEF1. Em relação a CC e

DSA (medidas indiretas de deposição adiposa abdominal) observamos que o DSA

apresentou correlação negativa e significativa com os valores preditos de CVF e

VRE. Estes achados são reforçados pelas medidas mais precisas de adiposidade

abdominal pelo ultrassom (AAT e ASC) que também apresentaram correlação

negativa e significativa com os valores preditos de CVF, VEF1 e VRE (Tab. 4).

Os resultados do presente estudo são discordantes, parcialmente, em relação

aos dados de Sutherland et al (2008), estes autores utilizaram diferente meio de

detecção adiposa (densitometria), casuística menor (55 mulheres, inclusive com IMC

maior que 40 Kg/m²).

No estudo de Sutherland et al (2008) também foi observado que: a) várias

correlações entre os indicadores de adiposidade e a função respiratória são mais

Discussão

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57

fortes em mulheres, como a CPT; b) os efeitos da adiposidade na relação VEF1/CVF

demonstram significado em homens, mas não em mulheres; c) o acréscimo da

gordura corporal nos modelos de regressão tem grande efeito global em mulheres

comparado a homens; d) medidas de adiposidade poderiam ser incluídas nas

equações de predição para cada sexo, principalmente para volumes pulmonares.

Zerah et al (1993) observaram que a CVF e o VEF1 tendem a diminuir com o

aumento do IMC, no entanto o efeito é pequeno e ambos VEF1 e CVF estão dentro

dos níveis normais em adultos obesos saudáveis. Os resultados observados no

presente trabalho vão ao encontro dos achados de Zerah et al (1993), e também não

demonstraram diferenças significativas entre estas variáveis nos três grupos de

mulheres classificados pelo IMC.

A relação VEF1/CVF encontra-se usualmente preservada mesmo na

obesidade avançada, indicando que o VEF1 e CVF são afetados na mesma

proporção. Enquanto sua redução favorece a presença de componente obstrutivo,

seu aumento favorece o componente restritivo, na presença de redução da CVF. Em

concordância com os achados de Lazarus et al (1997), Sutherland et al (2008),

Steele et al (2008), no presente estudo também observamos que os efeitos da

adiposidade (medida por 10 indicadores) não apresentaram correlação significativa

com VEF1/CVF (Tab. 4, 5 e 6). Estes achados sugerem que o maior efeito da

obesidade nos volumes pulmonares não é o efeito direto na obstrução das vias

aéreas. No entanto, em indivíduos com obesidade grau III, a CRF pode estar tão

reduzida que se aproxima do VR, aspecto que aumenta o risco de obstrução das

vias aéreas e anormalidades na ventilação, em decorrência do colapso de unidades

pulmonares.

O maior risco cardiovascular na obesidade visceral é observado quando

ocorre detecção ultrassonográfica de tecido gorduroso visceral superior a 6,9 cm

(Ribeiro Filho et al, 2003). No presente trabalho detectamos medidas de adiposidade

visceral de 5,04±1,47 cm em mulheres obesas e observamos que mesmo valores

menores de deposição adiposa também podem causar redução dos valores preditos

do VRE (Tab. 4).

Discussão

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58

5.9. Implicações clínicas

Os efeitos da adiposidade podem explicar adicionais de variabilidade de

29,5% na capacidade residual funcional, 10% na capacidade pulmonar total e 6-8 %

na capacidade vital forçada. Estudos demonstraram que a CRF foi a variável de

função respiratória que apresentou correlação mais próxima com as medidas de

gordura medidas por absorciometria e que a gordura corporal total explica tanto a

variabilidade da CRF como a altura e idade. Estes resultados não foram

significativamente diferentes quando a CC foi usada como medida da adiposidade.

Estes achados sugerem que existem efeitos significantes da adiposidade na função

pulmonar e demonstram que esta relação é forte com qualquer medida de

adiposidade usada.Em termos clínicos, os efeitos do aumento da gordura corporal

total de 1 Kg em mulheres, causaram redução de 0,028 litros na CRF.

Provavelmente esta redução causa maior impacto em mulheres devido ao volume

pulmonar inicial menor (Sutherland et al, 2008).

Ceylan et al (2009) observaram alterações na função pulmonar mesmo em

indivíduos com sobrepeso e obesidade grau I; as medidas antropométricas para

quantificar a adiposidade subcutânea na parede do tórax foram efetivas na detecção

da diminuição da função pulmonar; em mulheres, o ICQ e o IMC foram uteis em

predizer os volumes pulmonares. No presente estudo observamos que só o IMC

apresentou correlação com %VRE, em relação á CVF e VEF1 não foi observada

correlação significativa. As diferenças nos achados dos dois trabalhos podem ser

explicadas, pois, os dados de Ceylan et al (2009) foram obtidos em amostra menor,

31 mulheres com faixa etária maior (40±13 anos).

O excesso de peso na parede anterior do tórax devido à obesidade diminui a

complacência torácica e a resistência da musculatura respiratória com aumento do

esforço respiratório e resistência das vias aéreas (Pelosi et al, 1998; McLean et al,

2008; Ochs Balcom et al, 2006; Babb et al, 2008). Nossos resultados demonstraram

que não só os indicadores antropométricos de deposição adiposa cervical, torácica e

abdominal obtidos por medidas utilizando fita métrica e régua graduada (CP, CT,

CC, DSA, IMC e ICQ), mas também as medidas de adiposidade obtidas por

ultrassom (ASC, AV e AAT) apresentaram correlação negativa com os valores Discussão

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59

preditos de CVF, VEF1 e VRE, com significância entre os valores preditos da CVF e

DSA, ASC e AAT. Os valores preditos do VEF1 apresentaram significância para a

correlação entre ASC e AAT (Tab. 4). Estes resultados sugerem que a gordura

subcutânea exerce maior efeito do que a gordura visceral na função pulmonar de

mulheres obesas, provavelmente devido ao comprometimento muscular secundário

a deposição adiposa no abdômen e na transição tóraco-abdominal.

A queda nos valores preditos do VRE em mulheres com obesidade significa

diminuição do volume máximo de ar que pode ser expirado voluntariamente a partir

do final da expiração, além do nível de repouso expiratório e corresponde a 15-20%

da capacidade pulmonar total.

Mulheres obesas submetidas a cirurgias abdominais altas e vídeo

laparoscopias apresentam maior risco de elevação do diafragma e colapso das

regiões dorsais do pulmão devido ao peso imposto pela adiposidade abdominal,

resultando em atelectasias ou colapsos pulmonares (Eichenberger et al, 2002).

Estes colapsos pulmonares, caracterizados clinicamente por redução da

complacência pulmonar e comprometimento da oxigenação arterial, ocorrem em

50% a 90% dos pacientes adultos submetidos à anestesia geral, tanto em ventilação

espontânea quanto em ventilação mecânica (Lundquist et al, 1995). Desta forma,

recomenda-se que sejam reforçadas as medidas fisioterápicas preventivas usuais,

suporte ventilatório não invasivo e adequação da pressão expiratória final positiva

(PEEP) com a finalidade de evitar estas complicações pulmonares em mulheres

obesas.

Ochs-Balcom et al (2006) observaram que a adiposidade abdominal é um

determinante importante do comprometimento pulmonar, com maior impacto do que

os marcadores gerais de adiposidade, como peso e IMC. Estes autores sugerem

que deve ser considerada a inclusão de marcadores de adiposidade abdominal

quando se investiga os determinantes da função pulmonar.

Ribeiro et al (2007) observaram alterações espirométricas mesmo em

indivíduos sem sintomas respiratórios, em particular as do tipo obstrutivo,

associadas ao estado nutricional e distribuição adiposa corporal. Na distribuição

androide identificou-se elevada frequência de distúrbios ventilatórios quando

Discussão

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60

comparado ao subgrupo ginóide. O IMC e a circunferência abdominal foram os

indicadores antropométricos que melhor se correlacionaram com as medidas

espirométricas. Em nosso estudo não detectamos disfunções obstrutivas e

correlações significativas entre o IMC e CC e as variáveis espirométricas (%CVF,

%VEF1 e VEF1/CVF), provavelmente por nossa amostra não incluir mulheres com

obesidade grau III, no entanto, estas duas medidas apresentaram correlações

significativas com %CI e %VRE.

Sedentarismo foi um dos critérios de seleção do presente trabalho. Litonjua et

al (1999) observaram que a redução da expansão pulmonar estava associada à

atividade física reduzida, um dos fatores de risco para hiperresponsividade

brônquica. Estudos que analisaram a associação entre obesidade e função

pulmonar não consideraram os efeitos dos níveis de atividade física e exercícios

aeróbicos, aspectos que podem influenciar os resultados e, mesmo quando estes

aspectos foram considerados as avaliações eram subjetivas (Wannamethee et al

2005; Lin et al, 2006; Chen et al, 2007; Koziel et al, 2007). No entanto, outros

autores avaliaram estes dois fatores de forma objetiva e confirmaram que esta

associação existe independente da atividade física (Steele et al, 2008). No presente

trabalho estudamos mulheres sedentárias, ou seja, não realizavam pelo menos

caminhadas, durante 30 minutos, três vezes por semana.

Litonjua et al (1999); Hakala et al (2000) sugerem que a obesidade é fator de

risco para doenças de pequenas vias aéreas e pode ser responsável pela

intolerância aos esforços apresentada por alguns indivíduos saudáveis com

sobrepeso e obesidade. No entanto os dados referentes à obesidade, sintomas e

incidência de asma são escassos e conflitantes (Hakala et al, 2000; Domingos-

Benicio et al, 2004). A baixa aderência às atividades físicas observada em mulheres

obesas é questionada e existem dúvidas se isto realmente representa intolerância

ao esforço. A relação exata entre a magnitude da mudança nos volumes pulmonares

e a dispnéia é desconhecida, necessitando de estudos para elucidar esta questão.

Como mulheres obesas podem apresentar alterações funcionais pulmonares,

mesmo na ausência de queixas respiratórias, a mensuração da função pulmonar

pode constituir o parâmetro mais acurado para identificação de obstrução brônquica

neste subgrupo, principalmente nos níveis mais avançados de obesidade. Discussão

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61

Como implicação clinica, observa-se que o aumento de peso determina

sobrecarga nos músculos respiratórios e pode justificar as complicações

respiratórias como a dispnéia induzida por exercícios em mulheres obesas. A

posição do diafragma mantém-se em posição superior o que determina menor VRE

e CRF (Ochs-Balcom et al, 2006). A maior deposição de gordura abdominal

subcutânea e visceral observada pelo ultrassom em mulheres com sobrepeso e

obesidade reforçam estes dados.

Na prática clinica, a queda dos valores preditos do VRE e consequentemente

da CRF pode significar maior colapso de unidades pulmonares, esforço respiratório,

risco de infecção e dificuldades na extubação de mulheres obesas submetidas a

procedimentos anestésicos e cirúrgicos.

As alterações respiratórias em mulheres obesas podem justificar a

necessidade de avaliações periódicas da função pulmonar com o objetivo de

monitorar as condições mecânicas do aparelho respiratório, auxiliando na orientação

de medidas preventivas, principalmente em mulheres obesas no período pré-

operatório ou submetidas a algum tipo de atividade física, sendo recomendável a

realização de testes complementares pré e pós-treinamento físico.

A aplicabilidade prática deste trabalho consiste na demonstração que, mesmo

em mulheres, nas quais é mais comum a distribuição adiposa tipo ginoide, a

deposição adiposa na região subcutânea do abdômen pode determinar maiores

alterações espirométricas do que a deposição visceral. As avaliações clínicas em

mulheres obesas podem, eventualmente, incluir as aferições das medidas

antropométricas, ultrassonográficas e espirométricas, mesmo na ausência de

sintomas respiratórios.

O exame periódico de saúde em mulheres obesas faz parte da rotina do

médico clínico e nestas mulheres é evidente o aumento da prevalência da dispnéia,

isto significa dificuldade para respirar que pode ocorrer em pessoas com ou sem

consciência deste estado, sendo sua intensidade diretamente proporcional ao índice

de massa corpórea. Vários mecanismos relacionados aos distúrbios próprios da

obesidade podem explicar este sintoma, como fatores etiopatogênicos mecânicos,

bioquímicos e imunológicos (Stirbulov, 2007).

Discussão

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62

Complicações respiratórias associadas á obesidade avançada são descritas

na literatura, incluindo asma e SAOS, mas existem incertezas sobre a associação

entre graus menores de obesidade e disfunção pulmonar (Buseto, Sergi, 2005).

Vários estudos sugerem esta associação (Li et al, 2003; Lin et al, 2006;

Wannamethee et al, 2005; Ochs-Balcom et al, 2006;). No entanto, somente alguns

destes estudos incluíram medidas da adiposidade central e os locais onde estas

foram obtidas (Canoy et al, 2004; Ochs-Balcom et al, 2006; Chen et al, 2007).

Portanto, a distribuição de gordura corporal pode ser determinante importante da

função pulmonar e isto pode justificar a associação mais proeminente entre a

adiposidade central com a função pulmonar em homens comparado a mulheres.

(Harik-Khan et al, 2001; Koziel et al, 2007).

A possível diferença desta forte associação entre homens e mulheres é

suportada por resultados mostrando que a magnitude da diminuição da função

pulmonar associada a ganho de peso tende a ser mais pronunciada em homens

(Bottai et al, 2002).

Doenças respiratórias crônicas estão associadas a aumento da mortalidade,

mas, mesmo alterações leves na função pulmonar, não aparentes clinicamente, em

mulheres assintomáticas, podem predizer mortalidade por distúrbios respiratórios e

outras causas na população geral (Ebi-Kryston, 1988; Tockman, Comstock, 1989;

Mannino et al, 2003; Zaas et al, 2004).

São necessários novos estudos para a elucidação e melhor compreensão dos

mecanismos responsáveis pela incapacidade do aparelho respiratório de adaptar-se

a condição de sobrecarga mecânica imposta pela deposição de gordura no tórax e

abdome.

Avaliar a origem e a associação entre obesidade e a frequência de distúrbios

ventilatórios em mulheres assintomáticas são aspectos importantes, com

implicações e ramificações na prevenção e tratamento de doenças respiratórias.

Ainda existem controvérsias acerca da repercussão da obesidade sobre a função

pulmonar e na identificação de um parâmetro de avaliação da obesidade em

predizer estas repercussões.

Discussão

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5.10. Limitações

Uma das limitações deste trabalho é a amostra reduzida de mulheres. O

ultrassom, embora não oneroso, pode apresentar dificuldades de interpretação, pois

depende do operador, equipamento e condições do indivíduo avaliado. As

compressões abdominais durante o exame e lordoses acentuadas da coluna

vertebral podem eventualmente, modificar a espessura do espaço entre a parede

posterior do músculo reto abdominal e a aorta. Além disto, a interposição de gases

intestinais também pode prejudicar a obtenção de imagens adequadas. No entanto,

os trabalhos indicam bom coeficiente de variação intra e inter-observador e boa

correlação com a tomografia (Liu et al, 2006).

A espirometria avalia volumes pulmonares mobilizáveis, não conseguindo

definir por completo todos os volumes e capacidades envolvidas na ventilação (VR,

CRF e CPT). A pletismografia corporal é um método que pode auxiliar na obtenção

destas medidas em laboratório. Durante este exame o paciente permanece em uma

cabine especialmente equipada para medir pressão, fluxo e/ou variações de volume.

As medições mais comuns obtidas por este método são: volume de gás

intratorácico, capacidade residual funcional (CRF), resistência e condutância das

vias aéreas, capacidade de difusão pulmonar (DLCO), complacência pulmonar e

pressões de oclusão. Apesar de ser exame sensível e reprodutível, é complexo,

oneroso e disponível em poucos centros.

A natureza transversal do presente estudo não fornece informações sobre

uma sequência temporal, estudos longitudinais são necessários para investigar

como a adiposidade abdominal e as mudanças desta podem influenciar a função

pulmonar.

Discussão

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6. CONCLUSÕES

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Em mulheres obesas:

1. A adiposidade abdominal total interfere na função pulmonar;

2. A adiposidade abdominal subcutânea exerce maior interferência na função

pulmonar do que a adiposidade visceral;

3. O valor predito do volume de reserva expiratório é a variável que sofre

maior influência dos indicadores antropométricos e ultrassonográficos de

obesidade.

Conclusões

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7. ANEXOS

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ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está participando de uma pesquisa científica designada: “Estudo da influência da distribuição do tecido adiposo abdominal na função pulmonar de mulheres obesas assintomáticas”, Projeto protocolado na Comissão de Ética em Pesquisa da Santa Casa de São Paulo sob número 338/06. Esta pesquisa tem como objetivo avaliar o impacto que a deposição de gordura abdominal determina na função pulmonar. As mulheres que participarão desta pesquisa serão submetidas a um questionário (que consta de dados como idade, altura, peso). Também serão realizadas mensurações dos valores antropométricos: circunferência do pescoço, tórax, cintura, quadril, IMC, ICQ e DSA. Para estas mensurações serão utilizadas fitas métricas, balança calibrada e régua milimetrada. Os exames realizados servem para avaliar a função pulmonar (espirometria) e ultrassonografia abdominal para avaliar a espessura da gordura subcutânea e visceral. Estes exames não são invasivos, não determinam exposição à radiação ionizante, desconforto físico ou riscos para a sua saúde. Os eventuais benefícios que você poderá obter participando desta pesquisa residem na detecção de fatores de risco ligados a obesidade e orientações específicas formuladas caso sejam detectadas alterações durante a pesquisa. Você como sujeito da pesquisa pode ter acesso, a qualquer tempo às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios relacionados à pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas, liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do estudo, sem que isto traga prejuízo à continuidade da assistência, salvaguarda da confidencialidade, sigilo e privacidade, disponibilidade de assistência por eventuais danos à saúde, decorrentes da pesquisa. O coordenador desta pesquisa é o Dr. Zied Rasslan, CRM 58942, médico do Departamento de Medicina e Professor Instrutor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e seu endereço é R. Dr. Cesário Motta Jr. 112, telefone 2176-7300. Este médico estará à disposição para contato em caso de intercorrências clínicas e reações adversas. Declaro que fui convenientemente esclarecido pelo pesquisador e que entendi o que foi explicado, de modo que consinto em participar da pesquisa.

Data: ____/____/_____

______________________ __________________________

Sujeito da pesquisa Pesquisador Dr. Zied Rasslan

Anexos

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ANEXO 2 – APROVAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 338/06

Anexos

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ANEXO 3 - PROTOCOLO

Exclusão: Tabagismo, prática de atividades físicas, doenças clínicas,

broncoespasmo, uso de medicamentos, outras comorbidades. Nome: ___________________________________________ Idade: _________ Endereço completo: ___________________________________________________ GRUPOS: Peso ideal (IMC 1) Sobrepeso (IMC 2) Obesas (IMC 3) Tabagismo: Sim Não Inclusão (não tabagistas) Sedentarismo: Sim Não

(ativos executam > de 30 minutos de caminhada/dia, pelo menos 03 X por semana) Altura: _____m Peso: ______Kg IMC: _____Kg/m² ICQ: ______cm • Circunferências: Cervical: ____cm Torácica: ____cm Cintura: ____cm Quadril: ____ cm Circunferência da cintura (CC): ______ cm

(menor diâmetro entre a última costela e a crista ilíaca com o individuo deitado) Diâmetro Sagital do Abdômen (DSA): __________ cm

(Aferido em decúbito dorsal, usando uma régua de madeira, que mede do dorso do indivíduo em contato com a superfície ao ponto mais elevado do abdômen)

• Medidas da adiposidade subcutânea, visceral e total pelo ultrassom: Adiposidades: Subcutânea: ___ cm Visceral:_____ cm Total: _______cm • Espirometrias:

Anexos

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ANEXO 4

Tabela 7- Correlação entre os indicadores antropométricos, ultrassonográficos e os valores espirométricos (n = 80 mulheres).

VARIÁVEL ESTATÍSTICA %CVF %VEF1 VEF1/CVF %CI %VRE Cervical Coeficiente de Correlação (r) -0,167 -0,109 0,037 0,265 -0,479 Significância (p) 0,140 0,337 0,748 0,017 0,000 Torácica Coeficiente de Correlação (r) -0,131 -0,097 0,025 0,284 -0,463 Significância (p) 0,246 0,392 0,827 0,011 0,000 Cintura Coeficiente de Correlação (r) -0,097 -0,036 0,068 0,262 -0,404 Significância (p) 0,393 0,748 0,550 0,019 0,000 Quadril Coeficiente de Correlação (r) -0,079 0,001 0,073 0,296 -0,367 Significância (p) 0,487 0,996 0,517 0,008 0,001 DSA Coeficiente de Correlação (r) -0,228 -0,161 0,150 0,180 -0,464 Significância (p) 0,042 0,153 0,183 0,111 0,000 IMC Coeficiente de Correlação (r) -0,057 -0,047 0,041 0,291 -0,456 Significância (p) 0,617 0,680 0,719 0,009 0,000 ICQ Coeficiente de Correlação (r) -0,018 -0,029 -0,037 0,090 -0,188 Significância (p) 0,876 0,797 0,746 0,426 0,095 Adip. subc. Coeficiente de Correlação (r) -0,261 -0,249 0,151 0,213 -0,564 Significância (p) 0,019 0,026 0,182 0,058 0,000 Adip. visc. Coeficiente de Correlação (r) -0,205 -0,177 0,019 0,091 -0,365 Significância (p) 0,068 0,116 0,865 0,424 0,001 Ad.Ab.tot. Coeficiente de Correlação (r) -0,270 -0,242 0,098 0,180 -0,540 Significância (p) 0,015 0,031 0,388 0,110 0,000 Legenda: %CVF – valores preditos da CVF; %VEF1 – Valores preditos do VEF1; VEF1/CVF – relação entre VEF1 e CVF ; %CI- valores preditos da capacidade Inspiratória; %VRE – valores preditos do volume de reserva expiratória; ICQ- índice cintura quadril; DSA – Diâmetro sagital do abdômen; IMC- índice de massa corporal

Anexos

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ANEXO 5

Tabela 8- Valores espirométricos (todas variáveis espirométricas).

Variável Não obesas Sobrepeso Obesas (n) (25) (28) (27)

Média±DP Média±DP Média±DP p

CVF 3,77±0,64 3,83±0,52 3,52±0,56 NS %CVF 102,5±11,6 104,2±12,2 100,6±10 NS VEF1 3,15±0,52 3,18±0,41 2,99±0,47 NS %VEF1 99,4±9,46 101,5±12,1 99±8,71 NS VEF1/CVF 0,84±0,04 0,83±0,04 0,85±0,05 NS FEF25-75% 3,38±0,69 3,4±0,64 3,57±0,88 NS %FEF25-75% 89,9±14,2 93,7±19,3 98,6±22,2 NS CI 2,59±0,49 2,88±0,45 2,71±0,38 NS %CI 113±16,2 125,9±18 123±12,8 0,02* VRE 1,21±0,4 0,99±0,33 0,79±0,38 0,001* %VRE 94,4±30 79,6±25,8 64±25,7 0,001*

Legenda: CVF- Capacidade vital forçada em litros; % – valores preditos; VEF1 – Volume expiratório forçado no primeiro segundo; VEF1/CVF – relação entre VEF1 e CVF; FEF 25-75% - Fluxo expiratório forçado entre 25-75% da CVF; DP- Desvio padrão; CI- Capacidade Inspiratória; VRE – Volume de Reserva Expiratória. NS – não significativo p significativo < 0,05 *

ANEXO 6

Tabela 9- Correlação entre os valores das circunferências e os valores espirométricos.

CP CT CC CQ Variável

rS (p) rS (p) rS (p) rS (p)

CVF 0,03 NS - 0,01 NS - 0,01 NS 0,19 NS

%CVF - 0,16 NS -0,13 NS - 0,09 NS -0,07 NS

VEF1 0,03 NS -0,01 NS - 0,01 NS 0,22 NS

%VEF1 - 0,10 NS -0,09 NS -0,03 NS 0,001 NS

VEF1/CVF 0,03 NS 0,02 NS 0,06 NS 0,07 NS

FEF25-75% 0,12 NS 0,09 NS 0,14 NS 0,25 (0,02*)

%FEF25-75% 0,10 NS 0,08 NS 0,18 NS 0,17 NS

CI 0,30 (0,005*) 0,26 (0,01*) 0,23 (0,03*) 0,38 (0,001*)

%CI 0,26 (0,01*) 0,28 (0,01*) 0,28 (0,01*) 0,29 (0,008*)

VRE - 0,37 (0,001*) -0,37 (0,001*) -0,36 (0,001*) -0,23 (0,03*)

%VRE - 0,47 (<0,001*) -0,46 (<0,001*) -0,40 (<0,001*) -0,36 (0,001*)

Legenda: CVF-Capacidade vital forçada; VEF1– Volume Expiratório forçado no primeiro segundo; VEF1/CVF– relação entre VEF1 e CVF; FEF25-75%- Fluxo expiratório forçado entre 25-75% ; CI- Capacidade Inspiratória; VRE– Volume de reserva expiratória; p significativo < 0,05. %- Valores preditos; CP, CT, CC e CQ – Circunferências do pescoço, tórax, cintura e quadril; rS- Coeficiente de correlação.

Anexos

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ANEXO 7

Tabela 10- Correlação entre os valores espirométricos e IMC, ICQ e DSA.

IMC ICQ DSA Variável

rS (p) rS (p) rS (p) CVF - 0,14 NS -0,26 (0,01)* -0,13 NS

%CVF -0,05 NS -0,01 NS -0,22 (0,04)*

VEF1 - 0,15 NS -0,31 (0,005)* -0,11 NS

%VEF1 - 0,04 NS -0,02 NS -0,16 NS

VEF1/CVF 0,04 NS - 0,03 NS 0,15 NS

FEF25-75% 0,03 NS -0,11 NS 0,08 NS

%FEF25-75% 0,09 NS 0,10 NS 0,11 NS

CI 0,16 NS -0,06 NS 0,13 NS

%CI 0,29 (0,009)* 0,09 NS 0,18 NS

VRE - 0,48 (<0,001)* -0,31 (0,005)* -0,40 (<0,001)*

%VRE - 0,45 (<0,001)* -0,18 NS -0,46 (<0,001)*

Legenda: CVF- Capacidade vital forçada; VEF1– Volume expiratório forçado no primeiro segundo; VEF1/CVF– relação entre VEF1 e CVF; FEF 25-75% - Fluxo expiratório forçado entre 25-75%; CI- Capacidade inspiratória; VRE– Volume de reserva expiratória; p significativo < 0,05; %- Valores preditos; DSA- Diâmetro sagital do abdômen (cm); ICQ- índice cintura quadril; IMC– índice de massa corporal .

ANEXO 8

Tabela 11- Correlação entre os valores da adiposidade total, subcutânea e visceral e os valores espirométricos nos três grupos avaliados.

Variável Adiposidade subcutânea

Adiposidade visceral

Adiposidade abdominal total

r p r p r p CVF -0,24 0,02 -0,23 0,04 -0,29 0,008 %CVF -0,26 0,01 -0,20 NS -0,27 0,015 VEF1 -0,23 0,03 -0,21 NS -0,27 0,013 %VEF1 -0,24 0,02 -0,17 NS -0,24 0,031 VEF1/CVF 0,15 NS 0,01 NS 0,09 NS FEF25-75% 0,007 NS -0,01 NS -0,01 NS %FEF25-75% 0,001 NS 0,07 NS 0,05 NS CI 0,07 NS 0,02 NS 0,05 NS %CI 0,21 0,058 0,09 NS 0,18 NS VRE -0,52 < 0,001 -0,41 < 0,001 -0,55 < 0,001 %VRE -0,56 < 0,001 -0,36 0,001 -0,54 < 0,001

Laboratório de Função Pulmonar da Santa Casa de São Paulo Legenda: n = 80 voluntárias (IMC ideal = 25, Sobrepeso = 28, Obesas = 27); VEF1– Volume expiratório forçado no primeiro segundo; %– Valores preditos; r– coeficiente de correlação; CVF- Capacidade vital forçada em litros; FEF 25-75%- Fluxo expiratório forçado entre 25-75% ; CI- Capacidade inspiratória; VRE– Volume de reserva expiratória; p significativo < 0,05

Anexos

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73

ANEXO 9

Tabela 12- Correlação entre a adiposidade abdominal total e as outras variáveis.

Variável Estatística Adiposidade abd. total Coeficiente de Correlação (r) 0,154 Idade

Significância (p) 0,174 Coeficiente de Correlação (r) 0,689 Peso

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) -0,159 Altura

Significância (p) 0,160 Coeficiente de Correlação (r) 0,731 Cervical

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) 0,813 Torácica

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) 0,794 Cintura

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) 0,684 Quadril

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) 0,841 DSA

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) 0,831 IMC

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) 0,440 ICQ

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) 0,779 Adipos. subc

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) 0,875 Adipos. visc

Significância (p) < 0,001 Coeficiente de Correlação (r) -0,270 %CVF

Significância (p) 0,015 Coeficiente de Correlação (r) -0,242 % VEF1

Significância (p) 0,031 Coeficiente de Correlação (r) 0,098 VEF1/CVF

Significância (p) 0,388 Coeficiente de Correlação (r) 0,180 %CI

Significância (p) 0,110 Coeficiente de Correlação (r) -0,540 %VRE

Significância (p) < 0,001 Análise de Correlação de Spearman. Adiposidade abdominal total = adiposidade subcutânea + adiposidade visceral

Anexos

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74

ANEXO 10

Tabela 13- Descrição e comparação entre os três grupos de IMC.

Variável Grupo N Média Desvio-padrão Mínimo Máximo Percentil 25 Mediana Percentil 75 Sig. (p)1 25 31,24 7,11 20,00 46,00 25,00 31,00 36,50 2 28 31,96 6,85 22,00 45,00 26,00 31,50 38,00 3 27 32,93 7,25 23,00 46,00 27,00 30,00 40,00

0,737 Idade

Total 80 32,06 7,01 20,00 46,00 26,00 31,00 38,00 1 25 59,15 7,01 46,00 72,00 54,90 59,00 64,00 2 28 73,79 6,12 58,00 87,00 70,00 73,00 78,00 3 27 84,56 10,69 64,00 105,00 78,00 84,00 92,00

< 0,001Peso

Total 80 72,85 13,11 46,00 105,00 64,00 72,00 79,00 1 25 1,62 0,09 1,46 1,76 1,54 1,62 1,71 2 28 1,63 0,06 1,50 1,74 1,58 1,62 1,69 3 27 1,59 0,08 1,46 1,75 1,52 1,58 1,64

0,192 Altura

Total 80 1,61 0,08 1,46 1,76 1,56 1,61 1,68 1 25 31,76 1,49 29,00 34,00 31,00 32,00 33,00 2 28 34,23 1,68 31,00 38,00 33,00 34,00 35,38 3 27 36,00 2,43 33,00 41,00 34,00 36,00 38,00

< 0,001Cervical

Total 80 34,06 2,56 29,00 41,00 32,63 34,00 35,88 1 25 83,96 4,43 73,00 91,00 79,50 85,00 86,50 2 28 93,11 3,35 85,00 99,00 90,50 93,00 94,75 3 27 99,63 5,12 88,00 109,00 96,00 100,00 104,00

< 0,001Torácica

Total 80 92,45 7,68 73,00 109,00 86,25 93,00 98,00 1 25 79,28 5,88 69,00 89,00 75,50 78,00 84,00 2 28 92,64 5,01 83,00 104,00 89,00 92,50 96,00 3 27 102,11 6,45 87,00 115,00 97,00 103,00 107,00

< 0,001Cintura

Total 80 91,66 10,91 69,00 115,00 84,00 92,50 100,00 1 25 94,12 5,04 84,00 104,00 91,00 94,00 96,50 2 28 104,96 4,99 94,00 116,00 101,50 105,00 108,00 3 27 112,07 8,59 98,00 129,00 104,00 112,00 119,00

< 0,001Quadril

Total 80 103,98 9,70 84,00 129,00 96,25 103,00 110,00 1 25 18,46 1,35 17,00 23,00 17,50 18,00 19,00 2 28 21,95 1,38 19,00 24,00 21,00 22,00 23,00 3 27 24,59 2,09 20,00 29,00 23,00 25,00 26,00

< 0,001DSA

Total 80 21,75 2,98 17,00 29,00 19,00 22,00 24,00 1 25 22,48 1,57 19,00 24,80 21,00 22,50 23,80 2 28 27,83 1,25 25,70 29,90 26,83 27,85 28,88 3 27 33,38 2,18 30,00 37,30 31,32 33,30 35,10

< 0,001IMC

Total 80 28,03 4,73 19,00 37,30 23,90 28,05 31,38 1 25 0,84 0,05 0,71 0,92 0,81 0,83 0,88 2 28 0,88 0,05 0,79 0,97 0,84 0,87 0,91 3 27 0,91 0,06 0,81 1,00 0,85 0,93 0,96

< 0,001ICQ

Total 80 0,88 0,06 0,71 1,00 0,83 0,87 0,92

Anexos

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75

Continuação: Variável Grupo N Média Desvio-padrão Mínimo Máximo Percentil 25 Mediana Percentil 75 Sig. (p)

1 25 1,71 0,38 1,12 2,66 1,41 1,76 1,96 2 28 2,52 0,61 1,47 4,67 2,08 2,53 2,76 3 27 3,13 0,65 1,43 4,37 2,73 3,20 3,56

< 0,001Adiposidade subcutânea

Total 80 2,47 0,80 1,12 4,67 1,86 2,51 3,09 1 25 3,17 0,53 2,40 4,25 2,70 3,11 3,58 2 28 4,04 1,03 1,98 5,81 3,24 4,01 4,90 3 27 5,04 1,47 2,86 8,10 3,70 4,88 6,10

< 0,001Adiposidade Visceral

Total 80 4,11 1,32 1,98 8,10 3,08 3,81 4,90 1 25 102,52 11,63 84,00 132,00 91,50 103,00 111,50 2 28 104,21 12,22 85,00 130,00 94,50 104,00 112,75 3 27 100,67 10,05 83,00 119,00 92,00 101,00 107,00

0,565 %CVF

Total 80 102,49 11,29 83,00 132,00 93,25 102,00 111,00 1 25 99,48 9,46 85,00 120,00 91,00 101,00 106,00 2 28 101,54 12,12 85,00 130,00 89,00 101,50 110,00 3 27 99,07 8,71 80,00 115,00 94,00 99,00 105,00

0,764 %VEF1

Total 80 100,06 10,18 80,00 130,00 92,00 100,50 107,00 1 25 0,84 0,04 0,77 0,94 0,81 0,83 0,86 2 28 0,83 0,04 0,77 0,95 0,80 0,84 0,86 3 27 0,85 0,05 0,76 0,97 0,81 0,85 0,88

0,419 VEF1/CVF

Total 80 0,84 0,04 0,76 0,97 0,81 0,84 0,86 1 25 113,68 16,24 86,00 151,00 101,00 111,00 128,00 2 28 125,96 18,00 96,00 161,00 112,00 126,50 138,75 3 27 123,30 12,81 100,00 146,00 113,00 125,00 133,00

0,021 %CI

Total 80 121,23 16,50 86,00 161,00 108,25 121,00 133,00 1 25 94,40 30,07 33,00 166,00 78,00 90,00 113,50 2 28 79,68 25,85 41,00 138,00 55,75 78,50 96,00 3 27 64,07 25,78 12,00 123,00 53,00 66,00 76,00

0,001 %VRE

Total 80 79,01 29,55 12,00 166,00 59,25 78,00 96,00 Grupo 1: IMC normal; Grupo 2: Sobrepeso; Grupo 3: Obesas Teste de Kruskal-Wallis aplicado com o intuito de verificar possíveis diferenças entre os três grupos de IMC, quando comparados concomitantemente, para as variáveis de interesse.

Anexos

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76

ANEXO 11

Tabela 14- Comparação dos grupos par a par para as variáveis em que uma diferença estatisticamente significante foi encontrada.

Pares de Grupos Variável 1 x 2 1 x 3 2 x 3

Peso < 0,001 < 0,001 < 0,001 Cervical < 0,001 < 0,001 0,007 Torácica < 0,001 < 0,001 < 0,001 Cintura < 0,001 < 0,001 < 0,001 Quadril < 0,001 < 0,001 0,002 DSA < 0,001 < 0,001 < 0,001 IMC < 0,001 < 0,001 < 0,001 ICQ 0,007 < 0,001 0,064 Adipos subc < 0,001 < 0,001 < 0,001 Adipos visc 0,001 < 0,001 0,015 %CI 0,013 0,020 0,625 VRE 0,040 < 0,001 0,022 %VRE 0,047 0,001 0,042

Grupo 1: IMC normal; Grupo 2: Sobrepeso; Grupo 3: Obesas - Teste de Mann-Whitney

Legenda: (IMC normal = 25, Sobrepeso = 28, Obesas = 27); %– Valores preditos; r– coeficiente de correlação; CI- Capacidade inspiratória; VRE– Volume de reserva expiratória; p significativo < 0,05; DSA - Diametro sagital do abdômen IMC- Índice de massa corporal ICQ- Índice cintura quadril

ANEXO 12

Tabela 15- Correlação entre os valores da circunferência da cintura, índice de massa corporal e os valores das adiposidades medidas por ultrassom.

Adiposidade subcutânea

Adiposidade visceral

Adiposidade abdominal totalVariável

r p r p r p

CC 0,73 <0,001* 0,60 <0,001* 0,79 <0,001*

IMC 0,74 < 0,001* 0,64 <0,001* 0,83 < 0,001*

Legenda: n=80 mulheres; r- coeficiente de correlação; p significativo < 0,05; CC- circunferência da cintura; IMC– índice de massa corporal; Adiposidade abdominal total = adiposidade subcutânea + visceral n= 80 mulheres

Anexos

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77

ANEXO 13 Tabela 16- Correlação entre os valores do índice de massa corporal e os valores

espirométricos nos três grupos avaliados.

Mulheres com peso ideal (n=25)

Mulheres com sobrepeso (n=28)

Mulheres Obesas (n=27)Variável

r p r p r p

%CVF 0,35 NS -0,07 NS -0,17 NS

%VEF1 0,08 NS -0,15 NS -0,15 NS

%VRE 0,11 NS -0,45 0,01* -0,31 NS

%CI 0,17 NS 0,26 NS 0,16 NS

Legenda: n=80 mulheres (IMC ideal = 25, Sobrepeso = 28, Obesas = 27); VEF1– Volume expiratório forçado no primeiro segundo; r– coeficiente de correlação; CVF– Capacidade vital forçada; CI- Capacidade Inspiratória; p significativo < 0,05; VRE– Volume de reserva expiratório; %- Porcentagem dos valores preditos; NS- não significativo.

Anexos

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências Bibliográficas

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Referências Bibliográficas

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Fontes Consultadas

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RESUMO

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Rasslan Z. Estudo da influência da distribuição do tecido adiposo abdominal na função pulmonar de mulheres obesas assintomáticas. Tese (Doutorado); 2011.

Mulheres obesas podem apresentar alterações nos mecanismos respiratórios, mesmo sem doenças pulmonares associadas, no entanto, a influência da obesidade nas doenças respiratórias é complexa e depende de consequências físicas, mecânicas, inflamatórias e metabólicas. Alterações na função pulmonar e complicações respiratórias são mais comuns na obesidade abdominal. Objetivos, em mulheres obesas: avaliar os efeitos da adiposidade abdominal total na função pulmonar; comparar os efeitos da adiposidade subcutânea e visceral sobre a função pulmonar e identificar qual variável espirométrica sofre maior influência dos indicadores antropométricos e ultrassonográficos de obesidade. Estudo prospectivo no qual foram avaliadas 80 mulheres voluntárias (25 com peso ideal: 28 com sobrepeso e 27 com obesidade), assintomáticas, com idade entre 22-46 anos, na fase pré-menopausa, não tabagistas, sedentárias e sem doenças pulmonares prévias. Estas responderam a questionário epidemiológico geral e respiratório e foram submetidas á aferição de peso, estatura, circunferências (pescoço, tórax, cintura e quadril), diâmetro sagital do abdômen, IMC e ICQ. As adiposidades, subcutânea, visceral e abdominal total foram medidas pela ultrassonografia. Foram avaliados os parâmetros espirométricos: %CVF, %VEF1, VEF1/CVF, %CI e %VRE. Para a classificação da obesidade foi usado o IMC. Foi utilizado o pacote estatístico SPSS versão 17.0 e aplicados: análise de correlação de Spearman, testes de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney. Na comparação dos três grupos de mulheres observou-se: os indicadores antropométricos/ultrassonográficos de obesidade e %CI apresentaram aumento significativo (p<0,001 e p=0,02, respectivamente); redução de %VRE (p=0,001); Não houve diferenças entre os valores de %CVF, %VEF1 e VEF1/CVF. As adiposidades, subcutânea e total se correlacionaram de forma negativa com os valores de %CVF e %VEF1. As adiposidades subcutânea, visceral e total se correlacionaram de forma negativa com os valores de %VRE. Os valores das circunferências do pescoço, tórax, cintura, quadril e IMC se correlacionaram de forma positiva com os valores da % CI e negativa com os valores %VRE. O ICQ não apresentou correlação com as variáveis espirométricas. O DSA apresentou correlação negativa com %CVF e %VRE. Conclui-se que, em mulheres obesas: a adiposidade abdominal total interfere na função pulmonar; a adiposidade abdominal subcutânea exerce maior interferência na função pulmonar do que a adiposidade visceral; o valor predito do VRE é a variável que sofre maior influência dos indicadores antropométricos e ultrassonográficos de obesidade.

Palavras-chave: 1. Testes de função respiratória; 2. Espirometria; 3. Obesidade; 4. Adiposidade; 5. Visceral; 6. Tecido adiposo/ultrassonografia; 7. Antropometria.

Resumo

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ABSTRACT

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Rasslan Z. Study of the influence of abdominal adipose tissue distribution in lung function in asymptomatic obese women. Thesis, 2011.

Obese women can present respiratory mechanism alterations, even when devoid of associated pulmonary diseases. Nevertheless, the influence obesity exerts on respiratory diseases is complex and depends on physical, mechanical, inflammatory and metabolic consequences. Alterations in pulmonary function and respiratory complications are more common in abdominal obesity. Objectives, in obese women: to assess the effects of total abdominal adiposity on pulmonary function, to compare the effects of subcutaneous and visceral adiposity on pulmonary function and to identify which spirometric variable undergoes the greatest influence of anthropometric indicators and ultrasound for obesity. This is a prospective study which evaluated 80 women (ideal weight: 25, overweight: 28 and obese: 27), asymptomatic, aged 22-46 years, in premenopause phase, non-smokers, sedentary and devoid of previous pulmonary disease. These women responded to a general epidemiological and respiratory questionnaire and were measured for weight, stature, circumferences (neck, thorax, waist and hips), abdominal sagital diameter, BMI and WHI. The subcutaneous and visceral adiposities were measured by ultrasound. Spirometric parameters were evaluated: %FVC, %FEV1, FEV1/FVC, %IC e %ERV. Obesity was classified according to BMI. The 17.0 version of the SPSS statistical package was utilized and the following were applied: Spearman analysis correction and the Kruskal-Wallis and Mann-Whitney tests. Upon comparison of the three groups of women, the following were observed: anthropometric/ultrasound obesity indicators and %IC presented a significant increase (p<0.001 and p=0.02, respectively); %ERV reduction (p=0.001). There were no differences among the %FVC, %FEV1 e FEV1/FVC values. The subcutaneous and total adiposities correlated negatively with the %FVC and %FEV1 values. The subcutaneous, visceral and total adiposities correlated negatively with the %ERV values. The neck, thorax, waist and hip circumferences and the BMIs correlated positively with the % IC values and negatively with the %ERV values. The WHI did not correlate with the spirometric values. The SAD correlated negatively with the %FVC and %EVR. The conclusion is that in obese women: total abdominal adiposity interferes with the pulmonary function, subcutaneous abdominal adiposity exerts greater influence on pulmonary function than visceral adiposity; the predicted ERV value is the variable that undergoes the greatest influence by anthropometric and ultrasound obesity indicators.

Keywords: Obesity; Lung function; Visceral fat; Subcutaneous fat.

Abstract