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XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF
DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL
REGINA VERA VILLAS BOAS
JOÃO COSTA RIBEIRO NETO
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D597Direito civil constitucional [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI
Coordenadores: João Costa Ribeiro Neto; Regina Vera Villas Boas – Florianópolis: CONPEDI, 2017.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-422-8Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas
CDU: 34
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Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito
Florianópolis – Santa Catarina – Brasilwww.conpedi.org.br
Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Civil. 3. Constituição. 4.Dano Moral.XXVI Encontro Nacional do CONPEDI (26. : 2017 : Brasília, DF).
XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF
DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL
Apresentação
A presente obra exibe os trabalhos selecionados e efetivamente apresentados no dia 20 de
julho de 2017, no período compreendido entre as 14:00 e 18:00, nas dependências do Centro
Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília (DF), em parceria com a Universidade de
Brasília, por meio do Curso de Pós-Graduação em Direito da UnB – Mestrado e Doutorado,
que recepcionou o XXVI Congresso Nacional do CONPEDI, e debateu o tema
“Desigualdades e Desenvolvimento: o papel do direito nas políticas públicas”.
Os nove trabalhos que compõem o presente livro digital foram inicialmente selecionados e
efetivamente apresentados no XXVI Congresso Nacional do CONPEDI.
As apresentações dos textos selecionados respeitaram um limite de tempo, previamente
estabelecido, que girou em torno de dez a quinze minutos para cada exposição, abrindo-se
dois intensos e frutíferos debates, que aconteceram após a quarta e a nona exposições,
debates estes conduzidos pelos Coordenadores do GT “Direito Civil Constitucional”,
Professores Doutores Regina Vera Villas Bôas (PUC/SP e UNISAL/Lorena) e João Costa
Ribeiro Neto (UnB).
Participaram do GT pesquisadores de diferentes regiões do Brasil, o que proporcionou ao
Grupo uma rica heterogeneidade de opiniões, notadamente, nos debates sobre a
responsabilidade civil, o dano moral, a função social das cláusulas gerais e da boa-fé
objetiva, além da análise sobre a liberdade de expressão versus direitos da personalidade.
Tudo isso, refletido à luz da temática principal do GT Direito Civil Constitucional I, que
enfoca a contemporaneidade do Direito Civil, no contexto sistemático Constitucional.
As problemáticas jurídicas existentes em torno do tema “Desigualdades e Desenvolvimento:
o papel do direito nas políticas públicas”, que foram trazidas à baila pelos artigos expostos,
propiciaram discussões relevantes, introduzidas no GT de maneira bastante clara,
interessante, atual e efusiva, propiciando debates de excelente qualidade, entre os quais se
destacam o enfretamento das questões civis-constitucionais contemporâneas sobre a função
exercida pelo instituto da responsabilidade civil e a efetividade das indenizações por dano
moral.
A seguir, relaciona-se os títulos dos trabalhos expostos, os nomes dos respectivos autores, os
nomes dos expositores e os breves resumos dos temas abordados:
Título 1 - A constitucionalização do direito civil e as consequências nos defeitos do negócio
jurídico, erro ou ignorância, diante da aplicação da boa-fé objetiva
Autores: Alinson Ribeiro Rodrigues e Jonas Guedes de Lima
Expositor: Jonas Guedes de Lima
Breve resumo: O trabalho analisa os efeitos da constitucionalização do direito civil nos
negócios jurídicos, apresenta os deveres impostos à parte pela boa-fé objetiva, quando da
celebração do negócio jurídico. Questiona o cabimento da responsabilidade civil por abuso
do direito do agente, relacionado aos atos que são praticados violando deveres de conduta,
decorrentes da boa-fé objetiva, diante da ocorrência de vício da vontade – erro ou ignorância
- nos negócios jurídicos. Destaca os efeitos da violação à boa-fé objetiva diante do erro, este
entendido como causa de anulabilidade dos negócios jurídicos, diante da violação do
princípio da confiança.
Título 2 - A eficácia social da posse
Autores: Marcos Claro da Silva, Bruna Migliaccio Setti
Expositor: Marcos Claro da Silva
Breve resumo: O artigo discorre sobre as teorias que ensejam a estruturação e explicação dos
conceitos jurídicos da posse, seus fundamentos e sua natureza jurídica. Realiza análise
investigativa detalhada sobre as teorias possessórias, comparando-as a partir de seleta
doutrina. Indaga a respeito da função social da posse, objetivando desencadear raciocínio que
enfrente a questão civil-constitucional sobre a sua legitimidade e sua eficácia social.
Título 3 - A função das cláusulas gerais no ordenamento jurídico brasileiro e a busca pela
igualdade e pelo desenvolvimento nos julgamentos
Autoras: Gabriela Eulalio de Lima e Sinara Lacerda Andrade
Expositoras: Gabriela Eulalio de Lima e Sinara Lacerda Andrade
Breve resumo: O artigo discorre sobre a eficácia da aplicabilidade das cláusulas gerais,
compreendidas como normas jurídicas orientadoras do sistema jurídico, oriundas do seu
movimento de flexibilização, as quais inseridas no ordenamento brasileiro, se inter-
relacionam com a Carta Magna e com os demais microssistemas, amparando a preocupação
plural das relações de base. Revela que em um sistema aberto, o operador do direito tem
maiores condições de garantir operabilidade à equidade e ao desenvolvimento dos
julgamentos de conflitos contemporâneos.
Título 4 - Análise econômica do direito civil: implicações para o desenvolvimento humano e
redução das desigualdades
Autoras: Edilene Lôbo e Suzana Oliveira Marques Brêtas
Expositora: Edilene Lôbo
Breve resumo: O artigo aprecia algumas implicações do desenvolvimento humano e da
redução das desigualdades, a partir de análise econômica do direito civil. Recorda algumas
tendências do direito de propriedade, as quais devem ser investigadas em conformidade com
o texto constitucional e com a realidade social, afirmando que em situações de conflitos
sociais, relacionados à matéria, oriundas da ausência de concretização de necessárias
políticas públicas, o Poder Judiciário deve corrigir as distorções e desigualdades que lhes
forem submetidas. No contexto da referida análise, perquire a respeito do acesso à moradia,
examinando questões importantes sobre o mínimo existencial, direito social que assegura a
dignidade da pessoa humana, em face do paradigma democrático contemporâneo, o que é
feito a partir de análise doutrinária, legislativa e jurisprudencial.
Título 5 - As cláusulas gerais e o aprimoramento da interpretação sistemática no direito civil
brasileiro
Autores: Daniel Silva Fampa e Pastora do Socorro Teixeira Leal
Expositora: Edilene Lôbo
Breve resumo: Utilizando-se da hermenêutica normativa, a investigação se refere à
constitucionalização do direito e suas implicações sociais, na seara dos institutos e categorias
que compõem o Código Civil. No contexto, reflete sobre o papel desenvolvido pelas
cláusulas gerais, aproximando-as do pensamento de Claus-Wilhelm Canaris a respeito dos
sistemas, desenvolvido em obra de sua autoria, intitulado “Pensamento Sistemático e
Conceito de Sistema na Ciência do Direito”. Explora as cláusulas gerais como técnica
legislativa apta à contribuição do fortalecimento da interpretação sistemática das normas
jurídicas investigadas, objetivando à concretização de princípios e valores constitucionais,
além da unidade sistemática.
Título 6 - Do dano moral ao extrapatrimonial: a necessidade de identificação dos direitos e
interesses lesados
Autoras: Ana Cláudia Corrêa Zuin Mattos do Amaral e Maiara Santana Zerbini
Expositora: Maiara Santana Zerbini
Breve resumo: O texto aprecia a figura jurídica do dano moral, considerada como subespécie
de dano extrapatrimonial, objetivando apontar questões relevantes sobre o bem e/ou interesse
juridicamente relevante a ser tutelado, no contexto dos estudos. Recorda que as análises
doutrinária, legislativa e jurisprudencial são muito importantes para demonstrar a evolução
do quadro jurídico relativo ao dano moral e respectivas indenizações, revelando a atual
insuficiência dos apelos unicamente sentimentais relacionados à personalidade humana,
permeando os conceitos de dano moral. Arrola o dano moral como uma espécie de dano
extrapatrimonial relacionada à ofensa da esfera ética do indivíduo, explorando a distinção
estabelecida entre os âmbitos extrapatrimonial e moral, a partir de reflexões sobre a
finalidade ressarcitória do instituto da responsabilidade civil, enquanto dever ético-jurídico.
Título 7 - Liberdade de expressão versus direitos da personalidade: breve análise do
posicionamento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal na ADIN nº 4.815
Autoras: Rafaela Barbosa de Brito e Juliana Cidrão Castelo Sales
Expositoras: Rafaela Barbosa de Brito e Juliana Cidrão Castelo Sales
Breve resumo: O artigo aprecia a matéria da colisão entre direitos fundamentais, relevante no
atual contexto civil-constitucional, lembrando que, cotidianamente, são levados à apreciação
do Supremo Tribunal Federal, inúmeros casos concretos em que a colisão entre direitos
fundamentais vem revelada. Exemplifica a matéria esquadrinhada com a Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº. 4.815, a qual esmiúça a constitucionalidade dos artigos 20 e 21 do
vigente Código Civil. Referida ADIN, julgada em 2015, confronta a liberdade de expressão
com o direito de personalidade de biografados, reservando à primeira, no caso apreciado,
tratamento preferencial. O contexto traz à baila, entre outras, discussões importantes sobre os
direitos civis e constitucionais relacionados à liberdade de expressão, aos direitos de
personalidade de biografados e aos limites entre os referidos direitos e o princípio da
proporcionalidade como critério adequado à resolução de referidos conflitos.
8 - Mutação jurisprudencial e responsabilidade civil das locadoras de veículos: a superação
da súmula 492 do Supremo Tribunal Federal
Autoras: Claudiane Aquino Roesel e Maria Flávia de Freitas Ferreira
Expositora: Maria Flávia de Freitas Ferreira
Breve resumo: A investigação se refere aos precedentes que resultam a elaboração da Súmula
492 do Supremo Tribunal Federal, objetivando demonstrar a existência de incompatibilidade
entre referida Súmula 492 e a atual ordem sócio-jurídica. Excogita o instituto da
responsabilidade civil, trazendo à baila reflexões sobre a utilização da responsabilidade civil
como base da construção teórica da Súmula 492 do Supremo Tribunal Federal. Nesse
sentido, coloca a problemática social contemporânea da escolha jurídica da espécie de
responsabilidade civil como base teórica de referida Súmula: responsabilidade civil subjetiva
ou objetiva? As discussões em torno dos pressupostos do instituto da responsabilidade civil,
notadamente sobre a culpa, o nexo causal e o dano conduzem o operador do direito a refletir
sobre a sua capacidade de “reelaboração de uma experiência”. Conclui pela inadequação da
aplicação acrítica da Súmula 492 do STF, editada em um contexto histórico distinto do atual.
9 - O princípio da boa-fé em uma interpretação alternativa
Autor: Filipe Augusto Sales Lima Bezerra
Expositora: Filipe Augusto Sales Lima Bezerra
Breve resumo: O artigo realiza reflexões sobre o princípio da boa-fé, trazendo discussões
sobre valores nas hipóteses de confronto entre o princípio jurídico e o caso concreto. Aprecia
referido contexto sob uma perspectiva alternativa, que examina os seus fundamentos
históricos e éticos, de maneira a propiciar um novo contexto interpretativo jurídico à
compreensão dos negócios jurídicos firmados. Vasculha os instrumentos de abertura do
sistema jurídico, refletindo sobre os eventuais prejuízos que o excesso desta abertura pode
causar à aplicação do princípio da boa-fé. Traz à baila discussões sobre a visão distributiva
do direito e a aplicação do princípio da boa-fé.
Brasília, 26 de julho de 2017.
Profa. Dra. Regina Vera Villas Bôas
Professora do Programa de Estudos Pós-Graduados da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo e do Programa de Mestrado em Concretização dos Direitos Sociais, Difusos e
Coletivos do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL-Lorena)
Prof. Dr. João Costa Ribeiro Neto
Professor do Programa de Estudos Pós-Graduados da Universidade de Brasília
1 Mestranda em Direito pelo Centro Universitário 7 de Setembro; Pesquisadora bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).
2 Mestranda em Direito pelo Centro Universitário 7 de Setembro; Especialista em Direito do Estado pela Universidade Anhanguera; Graduada em Direito pela Faculdade 7 de Setembro.
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LIBERDADE DE EXPRESSÃO VERSUS DIREITOS DA PERSONALIDADE: BREVE ANÁLISE DO POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL NA ADINº 4.815
FREEDOM OF EXPRESSION VERSUS PERSONALITY RIGHTS: A BRIEF ANALYSIS OF THE JURISPRUDENTIAL POSITIONING OF THE SUPREME
FEDERAL COURT IN ADINº 4.815
Rafaela Barbosa de Brito 1Juliana Cidrão Castelo Sales 2
Resumo
Diariamente são levados à apreciação do Supremo Tribunal Federal casos nos quais ocorrem
colisão entre direitos fundamentais. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 4.815, que
apreciou a constitucionalidade dos artigos 20 e 21 do Código Civil, julgada em 2015, a
Liberdade de Expressão recebeu tratamento preferencial quando confrontado com os direitos
da personalidade dos biografados. Serão objeto da discussão os direitos da personalidade do
biografado, os limites da liberdade de expressão e o princípio da proporcionalidade como
critério adequado para a resolução de tais conflitos.
Palavras-chave: Biografias, Direitos fundamentais, Direitos da personalidade, Liberdade de expressão, Colisão
Abstract/Resumen/Résumé
They are taken daily to the Supreme Court approach cases about collision between
fundamental rights. In the Direct Action of Unconstitutionality nº. 4,815, that appreciate the
constitutionality of Articles 20 and 21 of the Civil Code, judged in 2015, a Freedom of
Expression treatment preferential treatment when confronted with the rights of the
personality of the biographies. It will be discussed the personality rights of the biographer,
the limits of freedom of expression and the principle of proportionality as an appropriate
criterion for resolving such conflicts.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Biographies, Fundamental rights, Personality rights, Freedom of expression, Collision
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1 APROXIMAÇÕES SOBRE O TEMA
As relações humanas na sociedade contemporânea muitas vezes são marcadas pela
tensão entre direitos que se contrapõem. A exigência prévia de autorização por parte dos
biografados é um exemplo disso. Nesse caso, é inegável a colisão entre a liberdade de expressão
e os direitos da personalidade, mais especificamente à intimidade, imagem, privacidade e honra.
Para solucionar impasses como o apresentado, o Judiciário vinha se manifestando caso a caso
de modo a realizar a ponderação de direitos denominados fundamentais.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal – STF julgou Ação Direta de
Inconstitucionalidade de nº 4.815, proposta pela Associação Nacional dos Editores de Livros –
ANEL, na qual se arguiu fundamentalmente que os arts. 20 e 21 do Código Civil seriam
contrários à Constituição, de modo que possíveis violações aos direitos da personalidade
deveriam ser solucionados a posteriori por meio de indenização. Ao final, a ação foi julgada
procedente para dar interpretação conforme a Constituição aos artigos já mencionados do
Código Civil.
Com esse julgamento, o STF conferiu primazia à liberdade de expressão em
detrimento ao direito a intimidade. Nesse sentido, pergunta-se, teria o biografado, pelo simples
fato de ser uma pessoa pública, uma diminuição ou relativização dos seus direitos da
personalidade?
Analisar a referida decisão, então, se afigura relevante tendo em vista que o STF
expressamente se manifestou no sentido de reconhecer uma prioridade prima facie à liberdade
de expressão, impossibilitando qualquer mecanismo de defesa prévia em favor do biografado.
O objeto da ação está claramente identificado e restringe-se à interpretação dos arts.
20 e 21 do Código Civil relativas às divulgações de escritos, a transmissão da palavra, à
produção, publicação, exposição ou utilização da imagem de pessoa biografada, previsões
relacionadas aos mencionados direitos da personalidade.
Ademais, não se pode deixar de mencionar que a liberdade de expressão contida no
art. 5º, IV e IX e a liberdade de informação, no art. 5º, inciso XIV, ambos da Constituição
Federal, bem como a proteção do direito à intimidade se enquadram entre os direitos e garantias
fundamentais.
No mesmo sentido, e para corroborar os artigos já mencionados, prevê o art. 220 da
Constituição Federal que “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição”.
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A Constituição Federal prevê ainda no art. 5º, V e X, a proteção do cidadão contra
possíveis violações à sua intimidade, vida priva e à honra, estando o agente violador sujeito a
pagar dano moral e/ou material.
A Carta Magna não alberga direitos absolutos, pelo contrário, eles devem se
harmonizar a fim de garantir à sociedade um bem estar social, é o que se extrai dos termos finais
do art. 220 da Constituição Federal, qual seja, “observado o disposto nesta Constituição”. O
caráter preferencial conferido à liberdade de expressão no julgado em comento lhe atribui peso
tal que o cidadão biografado encontra-se totalmente vulnerável a ação dos biógrafos.
Importante destacar que o art. 21 do Código Civil cuja constitucionalidade foi
questionada, fazia menção expressa: “A vida privada da pessoa natural é inviolável”. Desse
modo, infere-se que o tema em discussão é não somente uma colisão de direitos fundamentais,
mas, envolve também e principalmente o tratamento que deve ser conferido aos direitos ditos
de personalidade.
O caso em apreço tem a peculiaridade de tratar de direitos que visam a proteção da
pessoa e estão previstos, não só no ordenamento civil, mas, também no âmbito dos direitos
fundamentais. Vale lembrar, como será posteriormente mencionado com maior profundidade,
que existe uma “tendência, face ao reconhecimento constitucional da dignidade da pessoa
humana no quadro das relações sociais, para os direitos de personalidade serem também
tutelados, no plano constitucional como direitos fundamentais”. (CAPELO DE SOUZA, 2011,
p. 585)
Não obstante a decisão em apreço envolver diversos direitos de personalidade, como
por exemplo, imagem, honra, nome e privacidade, escolheu-se, dentre os direitos da
personalidade do biografado, o direito a intimidade para ser melhor estudado à luz do Acórdão
da Adin nº. 4815.
Desse modo, serão abordados aspectos relevantes do direito à intimidade, desde o seu
aspecto geral ao específico referente à intimidade do biografado, considerando a decisão do
STF e em cotejo com a Liberdade de Expressão, também garantida pelo ordenamento, bem
como a importância dos preceitos do principio da proporcionalidade para uma análise detida
dos casos de colisão de direitos fundamentais.
2 INTIMIDADE COMO DIREITO DA PERSONALIDADE DO BIOGRAFADO
A Carta Magna de 1988 foi a mais enfática dentre as Constituições brasileiras a tratar
dos direitos fundamentais, e, ressalta-se, que em posição de destaque, já que estão logo após o
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preâmbulo. Os artigos 1º ao 4º são equivalentes a uma espécie de normas mais abstratas que
exercem uma função de preparação e de standards imperativos para o conteúdo principal, que
são os Direitos Fundamentais, elencados, em grande parte, mas não somente, no art. 5º do texto
constitucional.
Dessa forma, vê-se que o legislador Constituinte buscou de forma clara dar aos
princípios fundamentais a condição de normas embasadoras e informativas de toda a ordem
constitucional, inclusive das normas definidoras e garantidoras dos direitos fundamentais que
compõem a essência da Constituição, em aspecto formal e material. (SARLET, 2009)
Com a Constituição Federal de 1988, a dignidade da pessoa humana, reconhecida pelo
Estado, passou a ser efetivamente positivada no ordenamento jurídico brasileiro, apesar da
existência da corrente histórica e filosófica inicial reconhecer a sua íntima relação com o
jusnaturalismo; e o fez elevando-a ao status de princípio fundamental, e não apenas como
direito fundamental.
Sarlet destaca, ainda, que a dignidade da pessoa humana não é, nela só, um direito,
mas que outros direitos fundamentais dela decorrem, ainda que sejam direitos fundamentais
autônomos, não especificados (SARLET, 2009, p. 77). Isso posto, concorda-se com Moraes ao
apresentar um conceito de dignidade da pessoa humana:
A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, construindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. O direito à vida privada, à intimidade, à honra, à imagem, dentre outros, aparece como consequência imediata da consagração da dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil. [...] O princípio fundamental consagrado pela Constituição Federal da dignidade da pessoa humana apresenta-se em dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. (MORAES, 2006, p. 48-49)
O mesmo autor ainda leciona que a dignidade da pessoa humana, como dever imposto
aos outros cidadãos, decorre da exigência do homem respeitar a dignidade alheia tal qual os
outros devem respeitar a sua (MORAES, 2005, p. 129).
Em relação à dignidade da pessoa humana, a admissão e observância dos direitos
fundamentais é de inquestionável importância, sob pena de se estar negando a própria condição
de dignidade ao homem, vez que o exercício daqueles direitos proporciona esta condição.
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Além dos direitos fundamentais reconhecidos no Título II da Lei Fundamental, tais
direitos também estão assegurados em outras partes, bem como podem ser recebidos os
positivados nos tratados de direito internacional, conforme o procedimento determinado pela
Constituição. O que importa salientar é que para eles também é aplicável a ideia essencial do
princípio da dignidade da pessoa humana.
De acordo com Cabral, existem consequências jurídicas da dignidade da pessoa
humana que envolvem diretamente os direitos da personalidade: a ausência de possibilidade de
tratamento indigno do ser humano, visto que todos tem a mesma dignidade; e a imposição de
uma conjuntura que possibilite o livre desenvolvimento da personalidade, com a vedação da
submissão de seres humanos a humilhações, ofensa à sua honra e integridade, etc. (CABRAL,
2012)
Pode-se, então, afirmar que direitos da personalidade são verdadeiros direitos
fundamentais privados, devendo ser totalmente respeitados por representarem o conteúdo
mínimo para a existência humana, impondo os limites para a atuação dos demais particulares e
do Estado, cabendo a este somente reconhece-los e sancioná-los, positivando-os.
Beltrão salienta, a título de conceituação, que: “com os direitos da personalidade, quer-
se fazer referencia a um conjunto de bens que são tão próprios do indivíduo, que chegam a se
confundir com ele mesmo e constituem as manifestações da personalidade do próprio sujeito”.
(BELTRÃO, 2005, p. 23)
Possuem os referidos direitos uma série de características: são intransmissíveis,
irrenunciáveis, absolutos, não-limitados, imprescritíveis, impenhoráveis, não sujeitos a
desapropriação e vitalícios.
Dentre os direitos da personalidade do biografado, pode-se falar principalmente da sua
intimidade, além, e sob um viés complementar, da sua imagem e outros, que são cotejados
frente à liberdade de expressão da mídia.
O direito a intimidade não tem denominação uniforme na doutrina, dentre as quais
pode-se citar “right of privacy” ou “right to be alone” (no direito anglo-norte-americano);
“droit à la vie privée” (francês); “diritto alla riservatezza” (italiano); “derecho a la esfera
secreta”(espanhol); “direito de estar só”; “direito à privacidade” e “direito ao resguardo”.
(BITTAR, 2015, p.172)
A preservação da intimidade, assim como a privacidade, tem como fundamento maior
proteger a pessoa contra possíveis ataques de terceiros, “permitindo com isso o livre
desenvolvimento da individualidade física e espiritual do ser humano. São os direitos de
personalidade”. (MARMELTEIN, 2013, p. 115)
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A proteção da intimidade e da vida privada está prevista em diversos instrumentos
normativos, dentre os quais cita-se a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948,
em seu art. 12, pelo qual “Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua
família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser
humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.". O dispositivo
mencionado não se refere apenas as pessoas anônimas, ao contrário, protegendo, todas as
pessoas.
O Pacto Internacional de Direitos Civis, no art. 17, dispôs sobre a impossibilidade de
ingerências arbitrárias ou ilegais na esfera privada da pessoa ou de sua família, além de conferir
proteção contra ofensas ilegais à sua honra e reputação, e por fim garante que toda pessoa terá
direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas.
O direito português, no artigo 70 da Lei Civil, ainda previu especial proteção ao
indivíduo quando dispôs sobre a reserva de alguns direitos, dos quais citamos, intimidade,
imagem e privacidade. Essa proteção resulta da necessidade de se atribuir a cada indivíduo,
dotado de dignidade e responsabilidade, autonomia para manter uma esfera privada de sua vida.
(CABRAL, 2012, p. 113)
No contexto brasileiro, a decisão proferida pelo STF na Adin nº. 4.815 declarou ser
inexigível o consentimento de pessoa biografada ou de seus familiares quando se tratar de
pessoas falecidas relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais conferindo
interpretação conforme a Constituição Federal os arts. 20 e 21 do Código Civil, tudo em
consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de expressão.
Alegou a ANEL, autora da ação, que “as figuras públicas, ao adquirirem posição de
visibilidade social, têm inseridas as suas vidas pessoais e o controle de seus dados pessoais no
curso da historiografia social, expondo-se ao relato histórico e a biografias literárias,
dramatúrgicas e audiovisuais”. Asseverou que a exigência de autorização prévia do biografado
configuraria censura privada à liberdade de expressão e causaria efeito devastador ao mercado
editorial e audiovisual, pois importaria em negociações com preços absurdos para a obtenção
da licença. E por fim sustentou que as biografias são instrumento de construção da memória
coletiva.
Ao que se infere do trecho acima transcrito, no momento em que a pessoa se torna
pública ela teria os seus direitos da personalidade flexibilizados de maneira que as pessoas
comuns não poderiam ter, por exemplo, a sua privacidade devassada por um paparazzo, ou
outras afrontas, sendo que o próprio ordenamento não os diferencia.
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Importante registrar a delimitação acerca do que seja celebridades e políticos. Nesse
sentido escreveu Rodrigues Júnior:
Haveria uma celebridade em sentido amplo, (a) os políticos e (b) as celebridades em sentido estrito, cujos exemplos mais evidentes seriam jogadores de futebol; artistas; músicos; escritores famosos; participantes de reality shows; pessoas com presença recorrente em programas de televisão, como cientistas políticos, analistas econômicos e outros “consultores” ad hoc dos meios de comunicação; indivíduos que ganharam instantâneo conhecimento público por atos excepcionais ou por efeito de “exposições virais” na internet.(RODRIGUES JÚNIOR , 2013, p. 113-114)
De fato, defende-se que a intimidade da pessoa dita pública pode ser flexibilizada “já
que pessoas famosas sofrem naturalmente maior exposição na mídia.” (MARMELSTEIN,
2013, p. 117). Todavia, aniquilar por completo o direito à intimidade da pessoa em virtude de
ser ela “pessoa cuja trajetória pessoal, profissional, artística, esportiva ou política, haja tomado
dimensão pública, gozam de uma esfera de privacidade e intimidade naturalmente mais
estreita”. (Acórdão, p. 6)
Vasconcelos, ao tratar sobre as figuras públicas, afirma que mesmo as pessoas
detentoras de maior notoriedade têm o mesmo direito à privacidade que todas as pessoas, e
ainda vai além, asseverando que admitir um “estatuto pessoal degradado seria inconstitucional
e colidiria com o princípio da igualdade”. (VASCONCELOS, 2014, p. 82). Assim, o que se
defende é que mesmo estando a pessoa inserida num contexto de publicidade deve ser
preservada uma esfera da sua privacidade, intimidade e vida privada.
Todos os ministros votaram pela procedência da ADIN nº. 4815, todavia, registre-se
que a Advocacia Geral da União e a Presidência da República manifestaram-se contrários: a
Advocacia Geral da União prudentemente manifestou-se pela improcedência do pedido,
asseverando que “a liberdade de expressão, na vertente da liberdade de comunicação, e o direito
à informação encontram limite no direito à privacidade” e completa “a existência digna do ser
humano pressupõe a prerrogativa de reservar para si uma esfera intangível pelos seus
semelhantes” (Acórdão, p. 11); já a Presidência da República argumentou que a ponderação
entre liberdade de informação e de expressão versus direitos da personalidade deve-se
considerar dois aspectos, quais sejam, a veracidade do fato narrado e a existência de interesse
público sobre o mesmo.
O grau de proteção da intimidade em dada situação poderá variar de acordo com
elementos objetivos casuísticos, importando destacar–se que a proteção da intimidade, da vida
privada não encontra definição com base em fórmulas abstratas apriorísticas ou em pretensa
primazia ou hierarquia de alguns indivíduos sobre outros. (CABRAL, 2013, p. 116)
163
O que se percebe com a leitura do parecer da AGU e da Presidência da República é
uma clara tentativa de harmonizar os direitos envolvidos ao invés de simplesmente fulminar
um em prol de outro. Desse modo, razoáveis são os argumentos daqueles que se manifestaram
pela improcedência da ação haja vista o caráter não absoluto dos direitos envolvidos.
Sobre a matéria, Bittar leciona que a “pessoa dotada de notoriedade e desde que no
exercício de sua atividade, mesmo assim com certos limites, podendo ocorrer revelação de fatos
de interesse público independentemente de sua anuência” (BITTAR, 2015, p. 174). Ou seja, as
pessoas ditas públicas tem sim um espaço de reserva que interessa apenas a si mesmas, de modo
que para preservar esse espaço faz-se necessário impor limites àqueles que pretendem escrever
sobre a vida e trajetória de pessoas notórias.
Ainda que as pessoas públicas tenham permitido expor de maneira mais ampla, todas
as elas gozam de uma esfera reservada da sua vida privada que envolve preservar uma parcela
de bens como a intimidade pessoal, sentimental, sexual, imagem, memória dentre outros sobre
os quais paira o manto da inviolabilidade haja vista se referir somente à pessoa em si mesma.
Nesse sentido escreveu Capelo de Sousa:
A dignidade da natureza de cada homem, enquanto sujeito pensante dotado de liberdade e capaz de responsabilidade, outorga-lhe autonomia não apenas física mas também moral, particularmente na condução da sua vida, na auto atribuição de fins a si mesmo, na eleição, criação e assunção da sua escala de valores, na prática de seus actos, na reavaliação dos mesmos e na recondução do seu comportamento. Ora, tal autonomia, face a complexidade da vida social, pressupõe nomeadamente que cada homem possua uma esfera privada onde possa recolher-se (right to be alone), pensar-se a si mesmo, avaliar, avaliar a sua conduta, e temperar suas forças e superar as suas fraquezas, esfera essa que os demais sob pena de ilicitude não devem violar, intrometendo-se nela e instrumentalizando ou divulgando os elementos que a compõem. (CAPELO DE SOUSA, 2011)
Conferir ao biógrafo total liberdade para registrar a vida do biografado sob o ângulo e
enfoque que lhe aprouver é decisão que deve ser tomada com cautela, tendo em vista o potencial
prejuízo que uma informação inverídica ou mal colocada pode causar, tanto para o biografado
quanto para a sua família. Os ministros justificaram que não haveria prejuízo para a pessoa
biografada que se sentisse prejudicada, afinal os excessos poderiam ser coibidos a posteriori,
todavia, acredita-se que essa medida não é suficientemente eficaz para proteger os direitos da
personalidade.
Vive-se na sociedade da informação, tudo que se escreve vai para Internet e para o
mundo em milésimos de segundos. De modo que por vezes a indenização ou o direito de
resposta não serão suficientes para compensar o abuso causado ao biografado.
164
3 A FUNDAMENTAÇÃO DO STF E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A interpretação conferida pelo STF no julgamento da Adin nº. 4.815 ao que parece foi
a de que o simples fato de requerer a autorização do biografado configuraria uma espécie de
censura, e não proteção da personalidade da pessoa. Todavia, “não há que se falar em censura
prévia, como pretendem alguns autores, pois o Poder Judiciário, no exercício de suas
atribuições legais e, ainda, na observância da Lei, estará concretizando o exercício das
liberdades públicas garantindo os direitos fundamentais”. (GUERRA, 2004, p. 121)
Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 4815, a relatora ministra Cármem Lúcia
consignou:
Essa interpretação, pretensamente protetiva do direito à intangibilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da imagem da pessoa, não pode ser adotada relativamente à produção de obra biográfica, pela circunstância de não se conter exceção expressa a esse gênero no dispositivo legal. Isso porque a liberdade de pensamento, de sua expressão, de produção artística, cultural, científica estaria comprometida e a censura particular seria forma de impor o silêncio à história da comunidade e, em algumas ocasiões, à história de fatos que ultrapassam fronteiras e gerações. (Acórdão, p. 132)
Por vezes percebe-se que o conteúdo posto nas obras biográficas excede em muito o
caráter de registro histórico. Em regra, os temas abordados estão relacionados com matéria de
cunho pessoal que não retrata interesse social algum, mas para o biografado traz prejuízos não
só financeiros, mas também psicológicos.
Assim, garantir uma liberdade de expressão incondicionada em toda e qualquer
circunstância pode oferecer instabilidade ao ordenamento jurídico que tem como um de seus
fundamentos conferir segurança jurídica às pessoas.
Sobre o assunto, Tepedino proferiu parecer na ADIN nº. 4815 e defendeu “ainda que
prejudicial à personalidade do biografado, trata-se de dano que não pode ser considerado
injusto, por tutelar as liberdades de expressão, de pensamento e de informação, asseguradas
pelo Texto Constitucional”, ou seja, corroborou o entendimento dos ministros no sentido de
que no caso de biografias deve-se privilegiar as liberdades, ainda que outros direitos sejam
sacrificados.
O próprio legislador a fim de garantir o equilíbrio do ordenamento jurídico previu
limites à liberdade de expressão e de informação:
De fato não é permitido a censura dos meios de comunicação, entretanto a própria Lei Maior enuncia expressamente alguns limites do direito à informação, dos quais destacamos o direito à imagem (§1º do art. 220). No que se refere à censura,
165
partilhamos da mesma ideia de Luis Grandinetti e Pedro Caldas, no sentido de que há possibilidade de bloquear um impresso ou um programa sem, contudo, caracterizar-se uma censura prévia. (GUERRA, 2004, p.134)
A ministra Carmem Lúcia, menciona o caso decidido pela Corte por ocasião da
divulgação dos salários de servidores públicos. Comparação que não se afigura razoável
primeiramente, porque se trata de servidores públicos remunerados pelos cofres públicos, outro
aspecto diferente e extremamente relevante a ser destacado é que a divulgação do salário
independe do juízo de valor de quem divulga diferentemente da biografia, em que o escritor
normalmente busca explorar fatos polêmicos e possivelmente até desconhecidos pelo público,
além de divulgar os fatos conforme o seu entendimento, imprimindo sua subjetividade, e
enfatizando a informação que gere a maior curiosidade possível.
O Ministro Luís Roberto Barroso em seu voto na ADIN nº. 4815, asseverou que
conferir preferência à liberdade de expressão encontra fundamento em três pilares. O primeiro,
devido ao histórico acidentado da liberdade de expressão no Brasil; a segunda razão alegada é
de que sem a liberdade de expressão, não existe a plenitude de outros direitos, como liberdade
associação, liberdade de reunião e desenvolvimento da personalidade; a terceira razão é que a
liberdade de expressão é essencial para o conhecimento da história, para o avanço social e para
a conservação da memória.
Essa preferência prima facie, recorda o Ministro já ter sido atribuída pela Corte
Brasileira quando decidiu a ADPF 130 em que se discutia a constitucionalidade da Lei de
Imprensa e ainda, na ADPF 187 em que restou consignado que a liberdade de expressão merece
proteção qualificada e quando em confronto com outros princípios constitucionais deve ter
dimensão de peso prima facie maior.
A primazia prima facie atribuída à liberdade de expressão deve ser enfrentada com
cautela, haja vista tratar-se de direitos de idêntica hierarquia, bem como pelo fato de que as
liberdades só são concretizadas em consonância com os demais direitos fundamentais.
O tema é relevante e ao mesmo controverso, cabendo assim a seguinte reflexão “Se as
biografias não podem ter sua publicação absurdamente proibida – em regressão ditatorial -,
tampouco se pode aceitar que qualquer um de nós esteja livre para escrever o que desejar sobre
a vida de outrem. Nem lá nem cá. A necessidade do equilíbrio é obvia” (FARIAS;
ROSENVALD; NETTO, 2014, p. 772)
Sobre esse conflito de direitos, deve ser considerado que “numa dada situação de facto
conflitual, podem concorrer diversas proposições normativas referentes ao mesmo direito de
personalidade subjectivado conflitual, importando então inventariar todo o conjunto de
166
interesses ou fins jurídicos das proposições normativas concorrentes.” (CAPELO DE SOUZA,
2011, p. 537)
Por fim, a Relatora arrematou que a restrição prévia à liberdade de expressão configura
censura que é repressão e opressão e restringe a informação limitando o conhecimento e o livre
expressar, pensar e sentir. Defende ainda que a liberdade desinformada é algema mental
transparente, porém tão limitadora quanto os grilhões materiais.
Com todo respeito ao posicionamento proferido pela ministra relatora Carmem Lúcia,
mas no contexto social atualmente vivenciado pelo Brasil não é possível concordar.
Conferir uma liberdade de expressão absoluta em meio à sociedade da informação não
é a melhor maneira de coibir censura. A colisão de direitos que se opõem sempre existirá, mas
ao jurista cabe a função de fazê-los coexistirem sem anulá-los. No caso concreto, da maneira
que foi decidido o biografado primeiro precisa ser prejudicado por uma notícia distorcida ou
falaciosa para só depois ser reparado, mas impreterivelmente ele será lesado para
posteriormente ser apurado a sua culpa.
3 APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE COMO PARÂMETRO PARA A SOLUÇÃO DE CONFLITOS ENVOLVENDO OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Merece especial destaque a possibilidade de o princípio da dignidade da pessoa
humana ocupar lugar de limite ao exercício dos demais direitos fundamentais, a fim de se conter
qualquer eventual abuso em relação a eles. Isso parte do pressuposto de que nenhum direito
pode ser absoluto.
Entretanto, deve-se sempre levar em conta que, em princípio, nenhuma violação a
direito fundamental deve ser desproporcional (ferindo ao princípio da proporcionalidade), bem
como não pode atingir o núcleo essencial de proteção do direito em questão.
Diante da possibilidade de se estabelecerem restrições à própria dignidade da pessoa
humana, é essencial saber até que ponto essa, princípio e direito fundamental, pode ser
efetivamente relativizada, além da discussão sobre quais direitos fundamentais poderiam ou
não ser relativizados.
Apresentam-se, nesse ponto, duas possibilidades: a de haver conflito entre dignidade
de pessoas humanas distintas, sendo que ambas são portadoras de dignidade, tratadas de forma
isonômica, havendo o dever de a sociedade como um todo respeitar essa dignidade; e a chance
de a dignidade ceder a valores sociais mais relevantes.
167
Sarlet afirma que nos casos de violação contra a pessoa, seja pela carência social,
econômica, cultural ou falta das condições mínimas de sobrevivência, a dignidade está sendo,
sem sombra de dúvidas, relativizada. O autor ainda cita como exemplo a pena restritiva de
liberdade como um caso no qual há relativização da dignidade, sendo que a altíssima restrição
da liberdade significaria a diminuição de uma parcela dessa dignidade. (SARLET, 2009)
Assim, por todo o exposto na presente pesquisa, é inquestionável que a observância
dos direitos da personalidade corresponde à modos de se resguardar a dignidade da pessoa
humana, tendo que ser respeitado e assegurado pelo Estado, bem como pelos particulares.
Merece especial destaque, portanto, a possibilidade de a dignidade da pessoa humana
ocupar lugar de limite ao exercício dos demais direitos fundamentais, a fim de se conter
qualquer eventual abuso em relação a eles. Isso parte do pressuposto de que nenhum direito
pode ser absoluto. Dessa forma, apresenta-se nesta pesquisa a aplicação do mencionado
princípio como o mais adequado para a resolução dos conflitos entre biógrafo e biogradado.
Entretanto, deve-se sempre levar em consideração que, em princípio, nenhuma
violação a direito fundamental deve ser desproporcional (ferindo ao princípio da
proporcionalidade), bem como não pode atingir o núcleo essencial de proteção do direito em
questão.
A proporcionalidade muitas vezes é utilizada como sinônimo de razoabilidade, mas,
em direito, elas significam coisas distintas. A proporcionalidade é uma regra de interpretação e
aplicação do direito, utilizada quando há um ato do Estado que promova o exercício de um
direito fundamental, mas que em contrapartida colida em algum ponto com outro(s) direito(s)
fundamental(is). Para analisar se a não observância a um direito fundamental em detrimento de
outro é legitima é que se procede à análise da proporcionalidade por meio de suas três sub-
regras: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.
Silva defende que o princípio da proporcionalidade deveria, com base na classificação
de princípios e regras de Alexy, ser chamado de regra da proporcionalidade, uma vez que a
proporcionalidade não consiste num mandado de otimização dos direitos fundamentais, mas
apenas um meio de se proceder a sua garantia. Resumindo, um princípio obriga a realização de
algo da melhor e maior forma possível de modo que se chegue no ponto almejado, o meio pelo
qual o caminho é traçado é que corresponde a norma. O doutrinador afirma também que o
princípio da razoabilidade corresponde à adequação (sub-regra da regra da proporcionalidade).
(SILVA, 2002)
A interpretação conforme a regra da proporcionalidade deve ser realizada procedendo
à análise de sua subdivisão, não de forma aleatória, mas sim observando a subsidiariedade
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existente entre elas. Desse modo é que, para a operação da verdadeira proporcionalidade, deve
primeiro ser aplicada a adequação (correspondendo à razoabilidade), depois, se for o caso, à
necessidade, e, logo após, se necessária também, a necessidade em sentido estrito. Se o conflito
de direitos fundamentais for resolvido logo no primeiro ou no segundo critério avaliado, não se
aplica o restante.
Quanto ao número de subdivisões da regra da proporcionalidade, há divergências: a
doutrina majoritária reconhece os três aqui apresentados; uma outra reconhece apenas a
adequação e a necessidade; já uma terceira adiciona aos três defendidos pela corrente mais
adotada a análise dos fins que a medida questionada busca alcançar.
Adequado é o meio razoável, ou seja, aquele que tem condições de alcançar a
finalidade desejada, que é plenamente capaz de a promover; sendo inadequado o meio que em
nada colaborar para o trabalho em favor da realização do objetivo almejado. É necessário
quando, em comparação com outro(s), demonstra ser o efetivamente mais apto a alcançar o fim
pretendido, não lesando, ou lesando menos, se for o caso, outros direitos fundamentais. Por fim,
a proporcionalidade em sentido estrito corresponde ao equilíbrio entre a intensidade da restrição
a um direito fundamental e a importância básica do direito com que ele colide (é como se a
medida restritiva tivesse que ter um determinado peso superior para justificar de forma
convincente a restrição ao outro direito fundamental). Dessa forma, a otimização de um direito
fundamental dependerá do sopesamento entre os princípios que colidem. (SILVA, 2002)
Convém destacar também que a Corte Constitucional brasileira não tem aplicado o
conceito de proporcionalidade de forma correta, o que se deve também ao fato de que a doutrina
também não o fez. Daí é que o Supremo Tribunal Federal tem equiparado a proporcionalidade
à razoabilidade, definindo muitas vezes como proporcional o que não extrapola os limites do
razoável. (MARTINS, 2002) A aplicação de tal modo como é vista na jurisprudência atual dá
a entender que a proporcionalidade já é um instituto muito antigo no ordenamento brasileiro,
pacífico em seu entendimento e não necessita de maiores cuidados durante a sua aplicação.
Utilizando-se, portanto, dos critérios da necessidade, adequação e proporcionalidade
em sentido estrito, deverão ser verificados os casos concretos pelo aplicador da norma jurídica,
valendo-se este de um juízo de ponderação “[...] sobre as formas de exercício dos direitos em
disputa, as alternativas de solução possíveis, elegendo-se, por critérios de preferência ou
prevalência, o direito ou valor que deva prevalecer ou, ainda, harmonizando-se seu exercício”
(CABRAL, 2012, p. 133-134).
A ponderação é uma técnica de decisão empregada para solucionar conflitos
normativos que envolvam valores ou opções políticas, em relação aos quais técnicas
169
tradicionais de hermenêutica não se mostram suficientes. É justamente o que ocorre com a
colisão de normas constitucionais, pois, nesse caso, não se pode adotar nem o critério
hierárquico, nem o cronológico, nem a especialidade para resolver uma antinomia entre os
valores. (MARMELSTEIN, 2013, p. 378)
Há, ainda, a necessidade de averiguação, na supramencionada atividade, no caso da
análise de colisões entre os direitos da personalidade mais profundamente abordados nesta
pesquisa, das chamadas circunstâncias relevantes ao exercício dos direitos da personalidade,
como a utilidade pública e social da informação ou a mera satisfação da curiosidade. Deve-se
colocar em relevância também a dependência contextual de cada caso. (CABRAL, 2012)
Dessa forma, considerando a observância dos parâmetros expostos, é que o aplicador
do ordenamento jurídico deve julgar as situações a ele apresentadas envolvendo a colisão de
direitos da personalidade quando a ofensa em contraponto à liberdade de expressão, valendo-
se dos ensinamentos inclusive para eventual mensuração de reparações cíveis.
5 CONCLUSÃO
O tema em debate é sensível e bastante polêmico, o Supremo Tribunal Federal se
debruçar sobre a matéria já é um avanço, todavia, algumas ponderações devem ser realizadas
acerca da palavra final proferida pelo STF.
A concordância absoluta por parte dos ministros em conferir primazia prima facie à
liberdade de expressão em detrimento dos direitos de personalidade do biografado ao que
parece pode representar carta branca para escrever o que quiser sobre quem quiser da forma
que quiser sem a observância mínima de resguardar o direito à intimidade, privacidade e
imagem, além de outros.
A solução para possíveis abusos então será, de acordo com o julgamento, sempre a
posteriori, afinal de contas qualquer restrição será entendida como censura prévia foi o que
entendeu o STF, todavia uma reflexão deve ser feita, mas os direitos envolvidos quando
transportados para o âmbito constitucional não são de mesma hierarquia e desse modo não
deveriam ser ponderados?
Todavia, prudentemente o Ministro Gilmar Mendes chamou à reflexão e destacou o
seguinte aspecto, caso o biografado entenda que seus direitos foram violados publicação de
obra não autorizadas, a reparação poderá ser efetivada de outras formas além da indenização,
tais como a publicação de ressalva ou nova edição com correção, ele pode por força do princípio
da inafastabilidade da jurisdição, contido no art. 5º, XXXV, CF “A lei não excluirá da
170
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, se proteger de possíveis violações,
é o que se vislumbra como solução razoável para casos futuros, evitando assim conceder carta
branca para o lançamento de conteúdos sem qualquer critério e unicamente com o fim de auferir
lucro por meio de informações, muitas vezes distorcidas ou até inverídicas.
Acrescente-se ao artigo da CF/88 já mencionado o art. 12 que dispõe: “Pode exigir que
cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo
de outras sanções previstas em lei”.
Desse modo, entende-se que mesmo após a decisão proferida na Adin nº. 4815, é
possível que o juiz no caso concreto interprete os dispositivos legais de modo a garantir a
proteção dos direitos da personalidade.
Por fim pode-se perceber pelo estudo do Acórdão em comento que impera uma
verdadeira confusão metodológica acerca dos direitos do biografado que o STF termina por
resolver o caso aplicando os direitos fundamentais na relação entre particulares, enquanto que
a melhor solução seria a aplicação séria e responsável do princípio da proporcionalidade.
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