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Bibliografia: Karma Yoga Swami Vivekananda Vivekananda Professor Mundial Swami Adiswarananda A Essência do Bhagavad Gita Swami Kriyananda PPS elaborado por: Osmir Clemente MST Loja Liberdade Recomendo que adquiram os livros completos, neste trabalho apresento apenas pequeno resumo dos mesmos. Leiam os livros completos, vale a pena cada página lida. www.teosofia-liberdade.org.br [email protected]

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Bibliografia:

Karma Yoga Swami Vivekananda

Vivekananda Professor Mundial Swami Adiswarananda

A Essência do Bhagavad Gita Swami Kriyananda

PPS elaborado por:

Osmir Clemente MST Loja Liberdade

Recomendo que adquiram os livros completos, neste trabalho apresento apenas pequeno resumo dos mesmos. Leiam os livros completos, vale a pena cada página lida.

www.teosofia-liberdade.org.br

[email protected]

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Não acredite em algo simplesmente porque ouviu.

Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito.

Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos.

Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade.

Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração.

Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que

conduz ao bem e beneficio de todos, aceite

Exortação do Buda

Não acredite em algo simplesmente porque ouviu.

Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito.

Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos.

Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade.

Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração.

análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que

conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o.

Siddharta Gautama Buda

Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos.

Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade.

Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração.

análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que

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As quatro grandes escolas do Yoga

Existem três instrumentos para a aquisição de conhecimento: o instinto, a razão e a inspiração. O instinto pertence aos animais, a razão ao homem e a inspiração aos homens de Deus.

O instinto é mais desenvolvido nos animais e é o instrumento de aquisição de conhecimento mais inferior, já que a esfera de atuação dos animais é muito limitada, e dentro deste limite, o instinto é primordial.

A razão já é mais desenvolvida no homem. No homem, o instinto gradualmente desdobra-se à razão. A esfera de atuação do homem é mais abrangente do que do animal. Mas a razão também é insuficiente. Se você quiser ir mais longe, a razão torna-se irracional.

A razão é insuficiente para o nosso desenvolvimento, pois tudo acaba em um círculo. Dizemos que a matéria sofre a ação da força, e que a força sofre a ação da matéria. Isto é uma gangorra. Uma depende da outra e a outra depende da uma. Vemos uma barreira poderosa frente a razão, além da qual ela não pode ir.

Em todos os seres humanos existem as sementes destes três instrumentos do conhecimento. Cada instrumento é um desenvolvimento de outro, e não o contradiz. É a razão que se desenvolve na inspiração, a inspiração não contradiz a razão, mas a completa.

As coisas que a razão não pode conseguir são trazidas à luz pela inspiração, e elas não contradizem a razão. O homem velho não contradiz a criança, mas a complemente.

O grande perigo está em confundir a forma superior com a inferior. Quando o instinto é apresentado como inspiração, aparecem as falsas alegações sobre o dom da profecia.

Um tolo pensa que a confusão acontecendo em seu cérebro é inspiração, e ele quer que os homens o sigam. O primeiro teste da instrução verdadeira é que ela não contradiga a razão.

Nós temos apenas um método de aquisição de conhecimento que é a concentração. Quanto mais você for capaz de concentrar sua mente, melhor será seu entendimento. Quanto mais desenvolvida for a concentração, mais conhecimento será adquirido.

Raja Yoga

Raja Yoga, basicamente é o controle da mente. Raja Yoga é o Yoga psicológico, o modo psicológico para a união com Deus. O sistema Raja Yoga lida quase exclusivamente com a concentração (Dharana).

No estado atual de nossos corpos e mentes estamos muito distraídos, a mente está esbanjando suas energias em uma centena de coisas.

Assim que eu tento acalmar meus pensamentos e concentrar meus pensamentos em um único objeto, milhares de impulsos indesejados entram no cérebro, milhares de pensamentos entram na mente e a perturbam.

Como verificá-los e colocar a mente sob controle é todo o objeto de estudo do Raja Yoga.

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Karma Yoga

Karma Yoga é o conhecimento de Deus através do trabalho. Cada um de nós está ocupado com algum trabalho, mas a maioria de nós esbanja uma grande porção de nossa energia porque nós não conhecemos o segredo do trabalho.

Karma Yoga explica esse segredo e ensina onde e como trabalhar, como empregar com mais proveito a maior parte de nossas energias no trabalho que estiver diante de nós.

A grande objeção que temos contra o trabalho é que ele causa dor. Na verdade, toda angústia e dor vêm da dependência. Achamos que é quase certo que o ser humano que ajudarmos será ingrato, e poderá se voltar contra mim, e o resultado será dor.

Karma Yoga nos ensina a trabalhar em nome do trabalho, sem se importar com o que é ajudado e por quê. O karma yogue trabalha porque é da sua natureza, porque ele sente que é bom para ele, e o trabalho não tem objeto além dele mesmo.

Sua posição nesse mundo é a de um doador, ele nunca se importa em receber nada. Ele sabe que está doando e não pede por nada em retorno.

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Bhakti Yoga

É a Yoga para os homens de natureza emocional, o amante. Ele quer amar a Deus, ele usa e confia em todos os tipos de rituais, flores, incensos.

Todas as seitas que tentaram cultuar Deus sem qualquer forma ou cerimônia subjugaram-se sem misericórdia tudo que é belo e sublime na religião. Nunca deprecie esses rituais e mitologias.

Deixe as pessoas terem toda a mitologia que quiserem, pois você deve considerar que as pessoas de natureza emocional não se importam com as definições abstratas da verdade.

Deus para eles é algo tangível, a única coisa real. Eles o sentem, ouvem, vêem e o amam. Deixe-os ter seu Deus.

O Bhakti Yoga ensina-os como amar quaisquer motivos ocultos, amando Deus e amando o bem porque isso é bom, e não para ir par o céu, ou conseguir filhos ou riquezas.

O Bhakti Yoga ensina que só o amor é a maior recompensa do amor, que Deus é amor. Ele os ensina a pagar todos os tipos de tributo a Deus como o criador, o onipresente, onisciente, governante poderoso, o pai e a mãe.

Onde houver qualquer manifestação do amor, Deus estará.

Jnana Yoga

O Jana yogue, o filósofo, o pensador, quer ir além do visível. Ele é o tipo de homem que não está satisfeito com as pequenas coisas desse mundo. Nem mesmo os ensinamentos de milhares de livros o satisfarão.

Nem mesmo todas as ciências o satisfarão, na melhor das hipóteses, elas apenas explicam esse mundinho para ele. Sua alma quer ir além de tudo, no coração do Ser, ver a Realidade como ela é, percebê-la, vivê-la, tornar-se uno com esse Ser universal. Esse é o filósofo.

Par ele, Deus é a vida de sua vida, a alma de sua alma. Deus é o próprio Self. Nada mais existe a não ser Deus.

Para ele, é inevitável que nesse mundo comamos frutos doces e amargos. Mas logo perceberemos que o ato de comer frutos doces e amargos, é uma quimera, um sonho.

Aprendemos isso aos poucos, por uns tempos paramos de comer e seguimos em direção do Deus desconhecido e surge uma enchente de luz. Depois os sentidos o arrastam para baixo e ele começa de novo a comer as frutas doces e amargas do mundo.

Dessa forma, após inúmeras experiências, ele se aproxima gradualmente de Deus, e na medida em que ele chega mais perto percebe que o seu antigo ser está desaparecendo. Quando ele chega perto o suficiente, vê que ele não é mais do que o próprio Deus.

Todos nós, do verme mais inferior ao ser mais superior, todos são manifestação do mesmo Deus.

Isso é o que o Jnana Yoga ensina. Ele diz ao homem que ele é divino na sua essência. Mostra à humanidade a unidade real do Ser, que cada um de nós é o Senhor Deus manifesto na Terra.

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Concluindo todos os tipos de Yoga nos levam a Deus. A significação da palavra Yoga, é união, a união de nós com Deus.

Se ficarmos somente no estudo, nada ocorrerá em nossas vidas. Temos que colocá-las em prática. Meras teorias sobre os Yogas não farão bem.

Primeiro devemos ouvir sobre eles, depois devemos pensar sobre eles. Nós devemos organizar nossos pensamentos, gravá-los em nossa mente e meditar sobre eles, percebê-los, até que por fim eles se tornam toda a nossa vida.

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Karma Yoga

A Educação da Vontade

Swami Vivekananda

PREFÁCIO

SWAMI VIVEKANANDA

CAPÍTULO 1 - KARMA E SEUS EFEITOS SOBRE O CARÁTER

CAPÍTULO 2 - CADA UM É GRANDE EM SEU PRÓPRIO MEIO

CAPÍTULO 3 - O SEGREDO DO TRABALHO

CAPÍTULO 4 - O QUE É O DEVER

CAPITULO 5 - NÃO É AO MUNDO QUE AJUDAMOS, E SIM A NÓS MESMOS

CAPÍTULO 6 - DESAPEGO E ABNEGAÇÃO COMPLETOS

CAPÍTULO 7 - LIBERDADE

CAPÍTULO 8 - O IDEAL DE KARMA-YOGA

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Karma significa ação, e Yoga, união. Todo ser humano há de ter um ideal na vida, seja de família, pátria, humanidade ou Deus, e por meio de Karma Yoga ele pode unificar-se e integrar-se em seu ideal.

Toda esta obra gira em torno da maneira como pode e deve cada qual cumprir o seu dever nesse sentido e aumentar sua eficiência e utilidade, qualquer que seja a sua vocação e objetivo.

Sob o ponto de vista cristão, Karma Yoga interpreta e desenvolve o incisivo pensamento de São Paulo: "A fé sem obras é morta". Uma das grandes dificuldades de todos é levar sua teoria à prática, sua crença à realização.

Toda ação, para ser positiva, obedece a leis fixas e imutáveis, que, se desatendidas ou omitidas, podem levar-nos ao fracasso e a decepções inevitáveis. Karma Yoga significa ação positiva, correta, aplicada segundo as mais sábias leis da vida.

Estudá-la é aprofundar o conceito da vida. Praticá-la é fortalecer o seu caráter, desenvolver a sua capacidade pessoal, e valorizar o seu Eu.

Prefácio

Desde remotas eras, a vida espiritual ou religiosa tem sido interpretada como incompatível com a vida social ou material. Os “filhos de Deus" não deviam misturar-se com os "filhos do homem", e vice-versa.

Os místicos em geral eram chamados de sonhadores ou lunáticos, abstratos, indiferentes e alheios ao mundo onde nasciam, viviam e comiam. Ao passo que seus acusadores se diziam indivíduos práticos, de pés firmes na terra e integrados nos deveres da vida social ou material.

O erro tanto pode estar com o místico como com o prático, ao exagerar as suas próprias convicções e excluir de sua conduta outras leis igualmente importantes da vida, sem cuja observância não pode haver a harmonia que traz a verdadeira felicidade.

Errado anda o místico considera o mundo uma simples tentação ou ilusão, e o abandona para desaparecer num mosteiro ou floresta e ali mergulhar-se na calma vida contemplativa por meio da automortificação e oração.

Errado também se mostra o prático que toma este mundo como a única dádiva de Deus ou do homem, e os resultados imediatos e utilitários como o mais positivo objetivo da vida.

Ambos encarnam extremadas concepções mentais, que lhes acarretarão sofrimento ou fracasso. A verdade está equidistante entre essas duas concepções, e é da conjugação destas que depende a salvação ou felicidade perdurável do indivíduo.

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Sobre Swami Vivekananda

Swami Vivekananda foi o discípulo dileto do famoso místico hindu, Sri Ramakrishna, é um pensador que se impôs ao mundo por sua cultura, alicerçada numa salutar filosofia prática e por uma alta espiritualidade.

Conferencista notável e autor de várias obras sobre Yoga e temas filosófico sociais, considerada por muitos um verdadeiro roteiro para quem quer que aspire a ser senhor e não escravo de suas ações, e se disponha a discipliná-las para torná-las mais inteligentes e eficientes.

"Ide a Calcutá e tereis um filho", foram as palavras ouvidas em sonho, num templo em Benares, por uma mãe penitente e sem filhos.

Narendrana Dutt (Vivekananda) nasceu em Calcutá, a 12 de janeiro de 1863. Seu pai, que era advogado notável e político influente, deu-lhe a melhor educação possível, de acordo com os princípios modernos.

Desde muito jovem, Vivekananda foi atraído pela religião e a filosofia, devido à sua cultura ocidental, tinha o espírito cheio de dúvidas. Há um Deus? É este mundo todo ilusão ou realidade?

Estas perguntas oprimiam seu cérebro, sem poder alcançar uma resposta satisfatória. A incredulidade e a sede do divino, alternativamente, tomavam posse de seu intelecto.

Foi neste período de sua vida que um amigo o levou a Sri Ramakrishna, que reconheceu de momento o futuro grande homem que ia comover o mundo.

Em tom sarcástico Vivekananda perguntou: "Há um Deus?" "Sim, meu filho", respondeu Ramakrishna, colocando seus dedos sobre o coração do jovem, e, com isto, desapareceu o jovem céptico Narendra e nasceu Vivekananda, o sacerdote e profeta da humanidade.

O tumulto de seu coração se havia acalmado, pois nascera a certeza que lhe permitiu declarar mais tarde, no Congresso das Religiões: Eu vi Deus, conheci a Verdade.

Vivekananda graduou-se aos 19 anos e se destinava a seguir a carreira da advocacia, porém Ramakrishna o dissuadiu disso. Após a morte do seu pai, viveu com seu mestre até o falecimento deste, submetendo-se às severas disciplinas das diferentes Yogas.

Em 1893, como Delegado ao Congresso das Religiões, em Chicago, apareceu ante um público ocidental, empregando, daí por diante, seu tempo a ensinar no Ocidente a verdadeira filosofia oriental.

Como fruto de suas conferências, nasceu o movimento espiritualista que se nota nas Américas do Norte e do Sul.

Vivekananda passou os últimos dias de sua vida num mosteiro de Calcutá e morreu a quatro de julho de 1902.

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Capítulo 1 - Karma e seus efeitos sobre o caráter

A palavra Karma se deriva do sânscrito kri, fazer, toda ação é Karma. Tecnicamente, esta palavra quer dizer: os efeitos das ações. É o efeito provocado por nossas ações anteriores.

Porém em Karma-Yoga só tratamos da palavra Karma como equivalente de ação. A meta da humanidade é o conhecimento, este é o ideal da filosofia oriental.

O propósito do homem não é gozar, e sim conhecer. A felicidade tem seu fim. É um erro supor que o prazer é a meta. O motivo das misérias do mundo está em o homem pensar ingenuamente que o prazer é a finalidade que ele deve buscar.

Depois de algum tempo, ele descobre não ser à felicidade, porém ao conhecimento que se dirige, compreende que tanto o prazer como a dor são seus mestres e que tanto aprende através do bem como do mal. Estas impressões combinadas formam o seu "caráter".

O caráter de um homem não é mais do que um agregado de suas tendências, a desgraça e a felicidade são fatores equivalentes na formação de seu caráter.

Em certas ocasiões a desgraça é melhor mestre do que a felicidade. Na maioria dos casos a desgraça ensina mais do que a felicidade, que a pobreza ensina mais do que a riqueza, e que os reveses despertam o fogo interior mais do que os elogios.

Este conhecimento é inato, nada nos vem do exterior, tudo está no interior. Quando dizemos que um homem "conhece", deveríamos dizer que ele "desconhece", o que um homem "aprende" é em realidade apenas aquilo que ele descobre ao tirar as envolturas de sua alma.

Dizemos que Newton descobriu a gravitação. Estaria ela por acaso oculta em algum lugar à sua espera? Não. Estava em sua própria mente, chegou o momento determinado e ela se descobriu.

A grandiosa biblioteca do universo está oculta em sua própria mente. A queda de uma maçã chamou a atenção de Newton, e então ele estudou a sua própria mente e descobriu algo novo, ao qual denominou “lei de gravitação".

Todo conhecimento mental ou espiritual está na mente. Em muitos casos ele permanece oculto até que sua cobertura vai se retirando pouco a pouco e então dizemos que "estamos aprendendo".

O progresso no conhecimento é o resultado do processo de descobrir. O homem em que se vai levantando este véu é o que mais conhece, naquele em que o véu se mantém caído, é ignorante, e quem conseguiu erguê-lo totalmente, chegou à onisciência.

O conhecimento está na mente como o fogo está na pedra. É a fricção que o faz brotar. Se nos estudássemos com imparcialidade, veríamos que tudo surge do nosso interior, por um impulso provocado por golpes exteriores. O resultado é aquilo que somos.

A reunião de todos estes golpes é o que chamamos Karma, ou ação. Cada impulso mental ou físico dada à alma é Karma, usando a palavra em seu sentido mais amplo, estamos sempre acumulando Karma.

Quando estou falando, é Karma, os que me escutam, é Karma, respiramos Karma, andamos, Karma. Tudo quanto fazemos física ou mentalmente e deixa suas marcas em nós, é Karma. Cada batida do coração é uma ação.

Se quiseres conhecer o caráter de um homem, não se detenha em seus grandes atos. Qualquer néscio pode se converter em herói em certas circunstâncias.

Observe um homem quando executa suas ações comuns e insignificantes, essas são em verdade as que revelam o seu verdadeiro caráter.

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As grandes ocasiões fazem grande o mais vulgar dos homens, porém só é grande aquele cujo caráter é sempre grande, em todos os momentos.

Em seus efeitos sobre o caráter, o Karma é o poder maior que o homem tem que enfrentar. O homem é um centro que atrai para si todos os poderes do universo. Este centro é o homem real, onipotente, onisciente.

Bem e mal, felicidade e miséria, tudo corre para ele e se reúne ao seu redor, e modela a poderosa corrente das tendências que formam o seu próprio caráter.

Todas as ações que vemos no mundo não representam nada mais do que o produto do pensamento, a manifestação da vontade do homem.

Máquinas, instrumentos, cidades, tudo é manifestação da vontade humana, e a vontade resulta do caráter, e o caráter é ação do Karma.

Os homens de vontade poderosa são dotados de uma vontade capaz de arrancar os mundos de suas órbitas, e essa vontade foi adquirida mediante um trabalho persistente efetuado durante séculos. A vontade de um Buda ou de um Jesus não podia ser adquirida em uma só vida.

Como explicar o abismo entre o carpinteiro e seu filho, a quem milhões de seres humanos adoram como um Deus? A resposta escapa à teoria da hereditariedade. De onde veio a gigantesca vontade que Buda e Jesus impuseram ao mundo.

Deve ter estado neles presente durante idades sem conta, crescendo sempre, até que para o bem da sociedade apareceu um Buda, e depois um Jesus.

Tudo isto é produto do Karma, isto é, ação. Ninguém pode obter coisa alguma, a não ser merecendo-a. Esta é uma lei eterna.

Um homem pode lutar toda a sua vida para conseguir riquezas, porém se não merece ser rico, sua vida se torna insuportável. Podemos acumular milhares de objetos para o nosso bem estar físico, porem só o que merecemos é realmente nosso.

Um néscio pode comprar todos os livros do mundo, porém só será capaz de ler aqueles que merecem, e este merecimento é resultado do Karma. Nosso Karma determina o que merecemos e o que somos capazes de assimilar.

Somos responsáveis pelo que somos e podemos nos converter naquilo que desejamos ser. O que somos agora é resultante de nossas ações passadas. Devemos atuar bem no presente, a fim de modelar resultados bons para o futuro que ambicionamos.

Falando sobre Karma-Yoga, o Bhagavad-Gita diz que devemos executar todo trabalho com habilidade, como se fosse uma ciência, sabendo-se como trabalhar, obtêm-se os maiores resultados.

A ação não é nada mais do que a exteriorização do poder da mente que já existia nela. O poder está dentro de cada homem, da mesma forma que o conhecimento. As ações são golpes que o despertam e o fazem surgir.

Não pode haver ação sem um motivo que a determine. Algumas pessoas desejam ser famosas e trabalham para isso. Outras ambicionam dinheiro e lutam por ele. Há as que querem imortalizar seu nome.

São estes os motivos que levam o homem a agir. Há, porém, aqueles que trabalham por amor ao trabalho, sem se preocupar com recompensa alguma. Trabalha simplesmente porque o trabalho lhe faz bem.

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Quando se pretende o renome ou a fama, raras vezes se consegue resultados imediatos, pois geralmente eles são alcançados quando já estamos velhos e fatigados desta vida.

Se um homem trabalha sem motivo egoísta ganha algo de mais elevado. O altruísmo é a maior recompensa, melhor mesmo do que a saúde, porém os homens não têm paciência de praticá-lo.

Amor, verdade e altruísmo são as realidades que devem constituir nosso mais elevado ideal, mesmo que seja apenas pelo poder que estas qualidades lhe conferem.

Um homem que trabalha cinco dias ou só cinco minutos sem nenhum motivo egoísta, sem pensar no futuro, no céu, nem no castigo, chegará a ser um gigante moral. Em nosso íntimo reconhecemos este valor e o bem que produz.

Quando o homem se torna impessoal, possui a maior manifestação de poder.

Toda manifestação de energia impulsionada por um motivo egoísta é uma dilapidação, pois não produzirá poder que volte ao seu agente, porém, se ela for contida, desenvolverá potência.

Este autocontrole produzirá uma vontade enérgica, um Buda ou um Cristo. Os ignorantes não conhecem este segredo, no entanto ambicionam dirigir a humanidade.

Mesmo um tonto pode dirigir o mundo, se ele trabalhar e esperar, basta aguardar alguns anos, reprimir a ideia de governar, e quando tiver alcançado isto, terá conquistado o verdadeiro poder.

A maioria das pessoas não enxerga além de alguns anos. O mundo é um círculo estreito. Não temos paciência de olhar um pouco além, e por isto nos tornamos perversos e imorais.

Nenhuma forma de ação deve ser desprezada. Deixe que o homem que não conhece o que existe de melhor, trabalhe com fins egoístas, em busca do nome e da fama, porém, aproxime-se cada vez mais de motivos mais elevados e procure empreendê-los.

Temos direito ao trabalho, porém não ao seu fruto. Não pense nos frutos. Se desejares ajudar um homem, nunca pense no agradecimento. E nem se inquiete pelo resultado.

Um homem habituado ao tumulto da vida não pode ficar à vontade num lugar tranquilo. O homem ideal é aquele que em meio do maior silêncio e solidão encontra atividade intensa, e em meio da maior atividade sente o silêncio e a tranquilidade do deserto.

Um homem governa-se a si próprio. Enquanto anda pelas ruas de uma grande cidade, sua mente está tranquila como se estivesse em uma caverna aonde não pudesse chegar um único som, e trabalha intensamente todo o tempo. Este é o ideal do Karma-Yoga.

Devemos começar por aceitar os trabalhos tal qual nos chegam, e nos tornar cada dia mais altruístas.

Todos podem esperar que lutando pela senda da vida, chegará um tempo em que sejamos perfeitamente altruístas, e no momento que o conseguirmos, todos nossos poderes se concentrarão e o conhecimento que já é nosso se manifestará.

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Capítulo 2 - Cada um é grande em seu próprio meio

Segundo a filosofia Sankya, a natureza se manifesta mediante três forças chamadas Satwa, Rajas e Tamas (equilíbrio, atividade e inércia). O que caracteriza tamas é a obscuridade ou inércia, rajas é atividade expressa como atração e repulsão, e satwa é o equilíbrio das duas.

Em cada homem existem estas três forças. Algumas vezes predomina tamas, então nos tornamos preguiçosos, inativos, achamo-nos escravizados por certas ideias e nos sentimos pesados.

Outras vezes prevalece a atividade, e outras este repousado equilíbrio de ambas. Porém, nos homens comuns predomina sempre uma destas forças.

A característica de certos homens é a inatividade, a preguiça, em outros, a atividade, o poder, a energia, e em outros encontramos a doçura, a calma e a nobreza, resultantes do equilíbrio entre a ação e a inação.

Tanto nos animais como nas plantas e nos homens encontramos estas manifestações mais ou menos típicas destas diferentes forças.

Karma-Yoga trata especialmente destes três fatores. Ensinando o que são e como empregá-los, auxilia-nos a realizar melhor nossas ações e com maior satisfação.

Todos sabem o que é moralidade, ninguém ignora o que é dever, é fácil comprovar que sua interpretação difere em cada país. O que é moral em um pode não o ser no outro.

Por exemplo: num país os primos podem casar-se e noutros este fato é imoral. Em certos países a poligamia é aceitável, e em outros não, e assim sucessivamente. No entanto, deve haver uma regra universal de moralidade.

O mesmo acontece relativamente ao dever. A ideia de dever varia muito entre as diferentes nações, porém temos intuição de que deve existir alguma ideia universal do dever.

O importante está em saber que há graduações no dever e na moralidade, que o dever de um estado de vida em certas circunstâncias não pode ser o de outro.

Todos os Mestres nos ensinam que a não resistência é o mais elevado dever de moralidade. Sabemos que por isto em prática é muito difícil, os malvados tomariam posse de nossas propriedades e de nossas vidas, e fariam conosco o que desejassem.

No entanto, reconhecemos a verdade contida no ensinamento de "não resistir ao mal". Isto nos parece o mais elevado dos ideais, porém, ensinar esta doutrina equivaleria a condenar grande parte do gênero humano.

Nosso primeiro dever é não nos odiarmos, pois para progredir precisamos primeiro ter fé em nós e em seguida em Deus. Portanto, a única alternativa que nos resta é reconhecer que o dever e a moralidade variam segundo as circunstâncias.

Não devemos crer que o homem que resiste ao mal está praticando o mal, pois, segundo as circunstâncias, pode até ser este o seu dever.

No Bhagavad-Gita, Sri Krishna chama Arjuna de hipócrita e covarde, por se recusar a lutar e resistir. Sendo seus adversários parentes e amigos, disse-lhe Arjuna que a não resistência era o mais elevado ideal do amor.

O ensinamento contido nestas palavras significa que todas as ações possuem dois extremos iguais, o positivo e o negativo.

Um homem não resiste porque é débil e preguiçoso, outro, sabe que pode dar um golpe irresistível se quiser, e não só não o dá, como bendiz seu inimigo.

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O que não resiste por debilidade peca, e não pode receber nenhum benefício da não resistência, enquanto que o outro cometeria um pecado se resistisse.

Buda abandonou seu trono e renunciou à sua posição social, o que foi uma verdadeira renúncia, porém não pode haver renúncia no caso de um mendigo que não tem nada a renunciar.

Devemos ser sempre muito cuidadosos quando falarmos sobre a não resistência e o amor ideal. Primeiramente, é necessário sabermos se temos realmente o poder de resistir ou não.

Se o temos e renunciamos, estamos realizando um grande ato de amor, porém, se não podemos resistir e estamos nos enganando com a ideia de que somos guiados por motivos do mais elevado amor, estamos fazendo exatamente o contrário.

Arjuna se tornou covarde em presença do poderoso exército que tinha contra si, seu amor o fez esquecer seu dever para com sua pátria e seu rei.

Por isto lhe disse Sri Krishna que era um hipócrita: Falas como um sábio, porém tuas ações te denunciam como um covarde, portanto, levanta-te e luta.

Karma-yogue é o homem que compreende que o mais elevado ideal é a não resistência, e que, esta não resistência é a mais alta fonte de poder, quando realmente se possui, e também que a resistência ao mal é um passo no caminho para alcançar o, poder da não resistência.

Enquanto não se tiver alcançado este ideal, o dever do homem é resistir ao mal, deve trabalhar, lutar e resistir com toda a força de que seja capaz. Só então, quando tiver obtido o poder de resistir, será uma virtude a não resistência.

A inatividade deveria ser evitada por todos os meios. Atividade é sinônimo de resistência. Resista a todos os males mentais e físicos, e quando o conseguires, virá a calma.

É muito fácil dizer: "Não odeies ninguém, não resistas ao mal", Porém todos sabem o que isto significa na prática. Quando nos observam, podemos ostentar uma não-resistência, porém em nossos corações se encontra o câncer que nos corrói.

Se ambicionares riquezas e ao mesmo tempo sabes que o mundo considera mal este desejo, talvez não se atire à luta para consegui-lo, mas sua mente ficará dia e noite atrás do dinheiro. Isto é hipocrisia e não serve para nada.

Caia no mundo e depois, quando tiveres sofrido e gozado de tudo o que há nele, a renúncia virá, e com ela a calma. Assim, satisfaça seus desejos, e logo chegará o momento em que reconhecerás quão pouco valem.

Estas ideias de serenidade e renúncia têm sido pregadas há milhares de anos, no entanto muito poucos no mundo alcançaram realmente esse estado.

Cada homem deveria fixar seu próprio ideal e se esforçar em realizá-lo, esta é a maneira mais segura de progredir do que impondo seus ideais aos outros homens.

Cada pessoa deve se esforçar para realizar seu próprio ideal. Não é justo que eu seja julgado por seus métodos, nem os seus pelos outros. A macieira não deve ser julgada como se fosse um carvalho, nem o carvalho como uma macieira.

Unidade na variedade é o plano da criação. Por muito que os homens e mulheres sejam diferentes entre si, há uma unidade fundamental.

Os diferentes caracteres individuais e as diversas classes de homens e mulheres são variações naturais na criação. Por isto não devemos julgar sempre da mesma forma nem abdicar do nosso ideal.

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Nosso dever é ajudar para que cada um viva melhor o seu ideal, esforçando-se ao mesmo tempo para que este ideal se aproxime o mais possível da verdade.

As escrituras hindus estabelecem diferentes regras para as várias classes de homens: para o chefe de família, para o sannyasin (renunciou ao mundo) e para o estudante.

O hindu principia a sua vida como estudante, depois se casa e se converte em chefe de família, na velhice retira-se e finalmente abandona o mundo e se torna sannyasin.

Nenhum desses estados é considerado superior ao outro, a vida do casado é tão nobre como a do celibatário que se dedicou à obra religiosa.

O varredor de rua é tão importante como o rei em seu trono. Tire o rei do seu trono e obrigue-o a realizar o trabalho do varredor, e verás como ele se comporta. Coloque o varredor no trono e verás como governa.

É inútil dizer que o homem que vive fora do mundo é maior do que o que vive nele. É muito mais difícil viver no mundo e adorar a Deus, do que abandoná-lo e viver uma vida pobre e cômoda.

O chefe de família deve ser devoto de Deus: o conhecimento de Deus deve constituir a finalidade de sua vida. No entanto, deve trabalhar constantemente, cumprir seus deveres e abandonar os frutos de suas ações a Deus.

É coisa muito difícil trabalhar e não se preocupar com os resultados, ajudar um homem e não pensar no agradecimento, fazer alguma boa obra renunciando de antemão o proveito econômico e moral que nos pudesse resultar.

Até o mais tímido covarde se torna valente quando o mundo o enaltece.

Um louco pode executar ações heroicas quando a sociedade as aprova e aplaude, porém, um homem ser sempre bom sem contar com a aprovação de seus semelhantes, é em verdade o maior sacrifício que pode fazer.

Sabendo que o pai e a mãe são os representantes visíveis de Deus, o chefe de família deve tratar de agradá-los por todos os meios ao seu alcance. Se o pai e a mãe estão contentes, Deus está satisfeito com o filho.

Do mesmo modo são os seus deveres para com a sua esposa, ninguém deve desprezá-la, deve considerá-la como se fosse sua própria mãe. E ainda quando se encontre em dificuldades, o marido não deve irritar-se com a esposa.

Um filho deve ser criado carinhosamente até os quatro anos, instruído até os dezesseis, aos vinte, empregado, e então ser tratado afetuosamente pelo pai como seu igual.

Depois, o dever do homem é atender seus irmãos e irmãs, os filhos destes se são pobres, os demais parentes, seus amigos e serviçais.

Deve evitar excessiva atração por alimentos, roupas, cuidados com o corpo. O chefe de família deve ser puro de coração e limpo de corpo, sempre ativo e disposto a agir.

Deve resistir aos seus inimigos. Este é o dever do chefe de família. Não deve lamentar-se nem mostrar-se passivo. Se não se comporta como herói perante os inimigos, ele deixa de cumprir o seu dever. Para os amigos e parentes deve ser manso como um cordeiro.

É dever do chefe de família não reverenciar os malvados, porque se os reverencia, estimula-lhes a perversidade. Cometerá grande erro se não considerar os que são dignos de respeito ou as pessoas honradas.

Não deve ser demasiadamente pródigo de sua amizade, deve observar as ações e as atitudes das

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pessoas com as quais deseja ter amizade, e só se tornar amigo delas depois de bem observá-las.

Deve abster-se destas três coisas: falar de si mesmo, proclamar seu nome e seus poderes e referir-se às riquezas e aos segredos que os outros lhe confiaram.

O homem não deve dizer se é pobre ou rico, nem jactar-se de sua fortuna. Não deve consultar opiniões alheias. Se o homem não cumprir estes preceitos, deverá ser considerado imoral.

Colocar-se em evidência não somente é impróprio como o torna inapto para a execução de seus legítimos deveres na vida. Ao mesmo tempo deve esforçar-se para adquirir conhecimentos e fortuna.

O chefe de família que não se esforça por conseguir fortuna é desconsiderado, porque dele dependem centenas de pessoas. Se obtiver fortuna, estas pessoas poderão gozar dela.

Nestes casos não é censurável buscar riqueza, porque é para distribuí-la. O chefe de família é o centro vital de qualquer sociedade.

Deve lutar para adquirir um bom nome, não deve jogar nem frequentar a companhia de malvados, nem mentir nem provocar inquietude a ninguém.

O chefe de família deve dizer a verdade, falar carinhosamente, utilizando-se das expressões que condizem com a cultura daquele que as ouve, não deve falar da vida alheia.

Esta é uma parte da doutrina de Karma Yoga, a atividade e dever do chefe de família.

Se um homem se isola do mundo para adorar a Deus, não deve pensar que aqueles que ali vivem e agem não estão adorando a Deus. Nem os que vivem no mundo devem pensar que os que o abandonaram sejam desprezíveis e vagabundos. Cada um é grande em seu meio.

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Capítulo 3 - O segredo do trabalho

Ajudar os outros aliviando suas necessidades físicas é muito importante, porém o auxílio é tanto maior quanto maior é a necessidade e duradouro o auxílio.

Se as necessidades de um homem podem ser aliviadas durante uma hora, devemos ajudá-lo, se podem ser remediadas por um ano, o auxílio será maior, porém se for eliminado para sempre, este será, sem dúvida, o melhor auxílio que lhes será prestado.

O conhecimento espiritual é o único que pode destruir nossas misérias para sempre, os demais só satisfazem as necessidades por algum tempo.

O conhecimento do espírito é o único que consegue destruir para sempre o desejo, assim, o auxílio espiritual é o mais elevado auxílio que se pode oferecer ao homem.

Quem dá conhecimento espiritual é o maior benfeitor do gênero humano, e por isto vemos que foram sempre os homens de maior poder que têm auxiliado a humanidade em suas necessidades espirituais, porque a espiritualidade é a verdadeira base de nossa vida.

Um homem sadio e espiritualmente forte será forte em qualquer outro aspecto, se assim o desejar, enquanto não houver fortaleza espiritual no homem, nem mesmo suas necessidades físicas poderão ser satisfeitas.

Depois do auxílio espiritual vem o intelectual, a dádiva de conhecimento é muito mais elevada do que a de alimento e roupa. A ignorância é morte, o conhecimento é vida.

Vem em seguida o auxílio físico. Devemos tratar sempre de não cometer o erro de crer que o auxílio físico é o único que se pode dar. Não só é o último como também o menor, pelo motivo de não produzir uma satisfação permanente.

As misérias deste mundo não podem ser resolvidas somente pelo auxílio físico, enquanto a natureza do homem não mudar, as necessidades físicas persistirão, bem como as desventuras, sem que auxílio físico algum possa remediá-las totalmente.

A única solução está em purificar a humanidade. A ignorância é a mãe de todos os males e misérias. Quando o homem for puro e espiritualmente forte e educado, então a miséria findará.

Ainda que convertamos nossas casas em asilos de caridade e povoemos a terra de hospitais, as misérias humanas não terminarão enquanto não se mudar a índole do homem.

Toda obra é por sua própria natureza composta de bem e mal. Não podemos realizar obra alguma que não redunde em benefício de algo ou de alguém, nem pode haver coisa alguma que não provoque mal em algum lugar.

Em cada ação tem que haver necessariamente bem e mal, no entanto nos aconselham que atuemos sem parar. Ambos, o bem e o mal, produzirão seus resultados, seu Karma.

A boa ação nos trará bom efeito, e a má, a sua má consequência, porém, tanto uma como a outra estão ligadas à nossa alma.

A solução obtida no Gita relativamente a esta propriedade da ação, é que, se deixamos de nos ligar à ação que praticamos, ela não produzirá nenhum efeito sobre a nossa alma. Procuremos compreender o significado desta frase: "não ligar-se" à ação.

O sentido do Gita é o seguinte: Agir incessantemente, porém desligado da ação.

Cada trabalho, cada movimento, cada pensamento, deixa uma impressão na substância mental, e mesmo que esta não seja visível na sua superfície, age profundamente, isto é, no subconsciente.

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O que nós sabemos é determinado a cada instante pela soma destas impressões mentais. O que eu sou neste momento é o resultado das impressões de minha vida passada. A isto chamamos caráter. Se prevalecerem as boas, seu caráter será bom, se o contrário será mau.

Se um homem diz freqüentemente más palavras, tem maus pensamentos e executa más ações, sua mente estará cheia de más impressões, estas influirão em seus pensamentos e ações sem que ele seja consciente delas.

Estas más impressões atuam continuamente, e o resultado deve ser mau, esse homem tem que ser mau, e não poderá evitá-lo. O produto dessas impressões desenvolverá nele um forte poder que constituirá o motivo de suas más ações, e estas o obrigarão a praticar o mal.

Da mesma forma, se um homem tem bons pensamentos e pratica boas ações, a soma total dessas impressões será boa, e o levará a praticar boas ações, talvez mesmo inconscientemente.

Quando um homem praticou certo número de boas obras e teve bons pensamentos, experimenta uma tendência irresistível para o bem, e mesmo quando quiser praticar o mal, sua mente, que é a soma total de suas tendências, não lho permitirá.

Controla as suas forças internas e ninguém poderá modificar sua vontade. Por este contínuo reflexo de bons pensamentos, de boas impressões que se movem na superfície da mente, a tendência para o bem se robustece.

Só desta forma o caráter será moldado, só então o homem conhece a verdade, e já não pode fazer mal a ninguém. Podemos deixá-lo em qualquer companhia, não haverá perigo nenhum para ele.

Há um estado superior a este: é o desejo de libertação. Devemos lembrar que a liberdade da alma é a meta de todas as yogas, e cada uma destas conduz ao mesmo resultado.

Por meio das obras, os homens podem chegar ao estado que Buda alcançou em grande parte pela meditação e Cristo pela devoção. Buda foi um Jnani ativo, Cristo um Bhakta, porém ambos alcançaram a mesma meta.

A dificuldade está em que a libertação implica inteira liberdade, liberdade de fazer o bem, tanto como de praticar o mal.

As más tendências têm de ser contrapostas pelas boas até que todo o mal desapareça quase por completo, ou seja, submetido e controlado num recanto da mente.

Desta forma o homem "ligado", "desliga-se". Aja, porém não permitas que a ação ou o pensamento produza uma profunda impressão em sua mente, deixai que as ondas entrem e saiam.

Como pode isto acontecer? Observemos como as impressões de uma ação à qual nos ligamos perduram.

Posso encontrar-me com centenas de pessoas durante o dia, e entre elas com uma apenas a quem amo, quando chega a noite e penso em todas as fisionomias que vi, só uma se apresenta em minha mente, a que amo, as demais desvaneceram.

Minha atração por aquela pessoa causou em minha mente uma impressão mais profunda do que todas as outras. Fisiologicamente as impressões foram todas iguais, porém o efeito na mente não foi o mesmo.

Aquela que amo encontrou associações internas. Talvez já a tivesse gravada em minha mente durante anos, e esta nova visão despertou centenas de recordações adormecidas em minha mente.

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Portanto, aja constantemente, porém não permitas que uma só onda domine sua mente. Trabalhe como se fosse um estrangeiro aqui na terra, trabalhe incessantemente, porém não se ligue à ação, ligar-se é algo terrível.

Este mundo não é nossa casa, é somente um dos muitos estados pelos quais estamos passando. Recordemos aquele grande ditado da filosofia Sankya: "A totalidade da natureza é para a alma, não é a alma para a natureza".

A natureza não existe senão para a educação da alma, não tem outro significado, a alma deve ter conhecimento e libertar-se pelo conhecimento.

Se tivéssemos sempre este pensamento, jamais nos ligaríamos à natureza, saberíamos que a natureza é um livro aberto que devemos ler, e que já não terá valor algum para nós quando tivermos adquirido o conhecimento que ele encerra.

No entanto, nos identificamos com a natureza, pensamos que a alma lhe pertence, que o espírito é para a carne.

Consideramos a natureza como se fossemos nós mesmos e deste modo nos ligamos a ela. E quando nos ligamos a ela, em nossa alma se produz uma profunda impressão, que nos domina e nos leva a agir como escravos.

Devemos agir como "senhores" e não como "escravos". Ninguém pode estar em absoluto repouso. Noventa e nove por cento dos homens trabalham como escravos e o resultado é a miséria, todos trabalham egoisticamente.

Trabalhe por liberdade. Trabalhe por amor. A palavra Amor é muito difícil de ser compreendida. O amor não existe, enquanto não existir liberdade. Não há possibilidade do verdadeiro amor no escravo.

Quando nós trabalhamos para as coisas do mundo, como escravo, não pode haver amor em nós, e o nosso trabalho não é verdadeiro trabalho.

Trabalho egoísta é trabalho de escravo, e eis aqui uma prova: Cada ato de amor acarreta felicidade, não há ato de amor que não traga paz e alegria.

A existência, o conhecimento e o amor estão intimamente relacionados, onde está um também estão os outros dois. São os três aspectos do Absoluto. Existência-Conhecimento-Felicidade (Sat-Cit-Ananda).

O verdadeiro amor nunca pode reagir de maneira a causar dor ao ser amado. Suponha que um homem ame uma mulher. Ele a quer só para si e a zela constantemente.

É escravo dela e quer possuí-la como escrava. Isto não é amor, mas apenas um afeto mórbido. Não pode ser amor, porque provoca dor.

O amor não produz reações dolorosas, o amor só produz felicidade. Quando conseguires amar sua esposa, esposo e filhos, a todo o mundo, ao universo.

De tal modo que não haja reação de dor ou de ciúmes, nem sentimento egoísta algum, então estareis no estado apropriado de desligar-se.

Krishna disse: Se Eu deixasse de agir um só instante, o universo todo desapareceria. Nada tenho a ganhar na ação, sou o Senhor único. Por que atuo então? Porque amo o mundo. Deus está desligado porque ama, um amor assim verdadeiro desfaz nossas ligações.

Onde quer que haja apego pelas coisas mundanas, há atração física entre grupos de partículas de matéria, algo que atraia os corpos cada vez mais próximos e que não se podem juntar bem,

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produz dor.

Onde há amor real não existe atrações físicas. Tais amantes podem estar a mil milhas de distância um do outro e seu amor será sempre o mesmo, não morre, e jamais provocará dor.

Obter este desapego pode ser o trabalho de uma vida, porém, logo que o tivermos alcançado, conquistaremos a liberdade, nos libertaremos das cadeias da natureza e a contemplaremos como é.

A natureza não conseguirá mais nos prender, seremos inteiramente livres e não tomaremos em consideração o resultado das ações. Para que nos preocuparmos com os resultados?

Em tudo que fizeres por uma pessoa, uma cidade ou um Estado, assumi idêntica atitude: não esperes recompensa. Então seu trabalho não produzirá ligações. Estas somente vêm quando esperamos recompensa.

Há duas coisas que guiam a conduta do homem: o poder e a compaixão. O exercício do poder leva invariavelmente ao egoísmo. Os homens e as mulheres aproveitam-se tanto quanto possível do poder, ou das vantagens que dele podem tirar.

A compaixão é a essência do céu. Para ser bons, devemos ser clementes. Pensar em tirar proveito da obra que realizamos, prejudica nosso progresso espiritual, ainda mais, provoca a miséria.

Há outra maneira de levar à prática a misericórdia e a caridade altruísta: é considerar as obras como "adoração" (quando cremos num Deus pessoal).

Deste modo abandonamos o fruto de nossas ações ao Senhor, e adorando assim, não temos o direito de esperar nenhuma gratidão pelas obras que fazemos.

Estás agora em condições de compreender o que é um Karma-yogue: ajudar, ainda que seja à custa de sua vida, dos seus semelhantes, sem esperar o fruto da ação.

Nunca se orgulhe de suas esmolas aos pobres, nem esperes sua gratidão, fique agradecido porque teve ocasião de praticar a caridade. Também verás claramente que ser perfeito chefe de família é muito mais difícil do que ser Sannyasin.

A verdadeira vida de trabalho é tão dura, se não mais, do que a verdadeira vida de renúncia.

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Capítulo 4 - O que é o dever

No estudo de Karma-Yoga é preciso saber o que é o dever. A ideia do dever é diferente em cada nação. Os maometanos afirmam que o que está escrito no Corão é seu dever, os hindus o que está nos Vedas, e os cristãos o que está na Bíblia.

O dever muda segundo os períodos históricos e as nações. É impossível definir claramente o termo "dever", só podemos fazer uma ideia do que ele representa, mediante o conhecimento de seus resultados.

O conceito mais universal do dever é que o homem bom deve agir de acordo com a sua consciência.

Qualquer ação que nos aproxime de Deus, é boa e representa nosso dever, qualquer outra que nos afaste de Deus, é má e não representa nosso dever.

Do ponto de vista subjetivo, vemos que certos atos têm tendência a nos exaltar e enobrecer, enquanto que outros tendem a nos degradar e embrutecer. Mas não é possível estabelecer com certeza o resultado que determinados atos terão nas pessoas.

Há um conceito do dever que foi universalmente aceito, em todas as idades, seitas e países, "Não façais mal a nenhum ser. Não fazer mal a ninguém é virtude, fazer mal a alguém é pecado".

Nosso dever é praticar a ação que nos exalte e enobreça de acordo com as atividades e ideias da sociedade na qual nascemos.

Devemos recordar que os mesmos ideais e atividades não prevalecem em todas as sociedades e países, a ignorância deste preceito é a causa principal dos ódios entre nações.

Devemos sempre nos habituar a observar o dever dos demais segundo o seu ponto de vista e não julgar os costumes do outros povos de acordo com os nossos costumes. Devo acomodar-me ao mundo e não ele a mim.

Quando trabalhamos com entusiasmo, a natureza nos recompensa de toda a forma e logo nos coloca na posição apropriada. Nenhum homem pode ocupar por muito tempo a posição à qual não está adaptado. De nada serve queixar-se e indispor-se com a natureza.

Quem executa uma tarefa inferior, nem por isto é um homem inferior. Ninguém deve ser julgado pela natureza de seus deveres, e sim pela maneira e espírito com que os executa.

Mais tarde constataremos que a ideia de dever sofre mudanças e que a obra maior só se cumpre quando não existe nenhum motivo egoísta.

A teoria do dever é idêntica nas outras yogas, sendo seu objetivo a atenuação do eu inferior para que o Eu superior possa brilhar, para que a alma possa manifestar-se em planos mais elevados.

O dever raras vezes é agradável, só quando o amor o impulsiona consegue-se evitar os atritos. Se assim não fosse, como poderiam os pais cumprir os deveres para com seus filhos? Os esposos para com suas esposas e vice-versa?

A castidade é a primeira virtude do homem e da mulher, e é muito raro o homem que não seja atraído por uma terna e casta esposa.

Uma boa e casta esposa para quem todos os homens são como filhos (exceto seu esposo), se tornará tão, grande no poder de sua pureza que não haverá um só homem que não sinta uma atmosfera de santidade em sua presença.

Cada homem deve olhar todas as mulheres, exceto a sua como olharia sua própria mãe, filha ou irmã.

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A posição da mãe é a mais elevada do mundo, pois é o único posto onde podemos aprender e praticar o altruísmo. O amor a Deus é o único que supera o amor de mãe, todos os demais são inferiores.

Bendito é o homem que pode olhar todas as mulheres como a representação da maternidade de Deus. Benditas as mulheres para as quais os homens representam a paternidade de Deus. Benditos os filhos que consideram seus pais como a Divindade manifestada na terra.

A única maneira de o homem progredir é cumprir os deveres com os mais próximos, e deste modo ir acumulando forças para poder ir mais alto.

Um grande yogue comunicou-me uma vez o segredo da ação: "Que o fim e os meios se associam". Quando fizeres qualquer trabalho, não penses em outra coisa. Leva-o ao fim, como um ato de adoração, e concentre-se nele toda sua vida.

O trabalhador que se liga aos resultados é o que se queixa da natureza do dever que lhes coube pelo destino. Para o trabalhador desligado, todos os deveres são igualmente bons e constituem eficazes instrumentos para assegurar a independência da alma.

É comum superestimarmos nossos méritos. A competição desperta a inveja e mata a vontade. Para os descontentes, os deveres se tornam desagradáveis, nada os satisfaz e sua vida redunda num fracasso.

Continuemos trabalhando, cumprindo o nosso dever, à medida que vamos avançando, e então, com segurança, conseguiremos ver a Luz!

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Capitulo 5 - Não é ao mundo que ajudamos, e sim a nós mesmos

Todas as religiões constam de três partes: filosofia, mitologia e ritual. A filosofia é a essência da religião, a mitologia é as histórias e os relatos de acontecimentos surpreendentes, e o ritual dá a esta filosofia uma forma mais concreta, à fim de que todos a possam interpretar.

É fácil pensar que podemos compreender tudo, porém quando chega o momento de por em prática nosso conhecimento, vemos que é muito difícil entendermos as idéias abstratas. Os símbolos constituem um poderoso auxiliar.

Desde tempos imemoriais, os símbolos foram usados por todas as religiões. Em certo sentido, não pensamos a não ser por meio de símbolos, acaso não são as Palavras símbolos do pensamento? Ainda podemos dizer que o próprio universo é um símbolo que oculta Deus.

Esta simbologia não é mera concepção da mente humana. Certos símbolos são universalmente conhecidos.

Muitos pensam que a cruz nasceu com o Cristianismo, porém é um fato comprovado que antes do Cristianismo existir, antes de Moisés ter nascido ou que Os Vedas fossem conhecidos, antes de se registrar qualquer conhecimento, já existia este símbolo.

A cruz esvástica é o símbolo da divina energia criadora, em perpétua atividade, Representa-a girando vertiginosa e poderosamente da esquerda para a direita, como o denotam Seus braços recurvados para a esquerda.

Não se deve confundida com a cruz gamada (suástica), símbolo das forças negras ou destruidores, seus braços recurvados para a direita (ao contrário dos da esvástica) figuram um movimento inverso ao da evolução ou oposto à Vontade Divina.

Durante certo tempo acreditou-se que fosse criação dos budistas, porém descobriu-se que já era conhecida na Babilônia e no Egito. Estes símbolos não podem ser meros sinais convencionais deve existir alguma associação natural entre eles e a mente humana.

Cada pensamento cria uma forma específica. É tão impossível criar convencionalmente um sistema de símbolos como criar uma linguagem.

Associar-se a um determinado templo, a rituais e outras formas concretas das religiões, despertam na mente de seus devotos as ideias simbolizadas por essas coisas concretas, todos os rituais são simbólicos. O estudo e a prática destas coisas fazem parte de Karma-Yoga.

Em todas as religiões é conhecido o poder da palavra, e até mesmo alguns afirmam que a criação teve origem na palavra. O aspecto externo do pensamento de Deus é a palavra, a criação é resultante da palavra.

Quanto mais velhos somos e mais experiências adquirimos, mais insensíveis nos tornamos, e terminamos por não fazer caso das coisas que nos rodeiam.

Os símbolos sonoros desempenham papel importante no drama da vida humana. Eu lhes falo, porém não os toco, as vibrações do ar causadas por minhas palavras vão aos seus ouvidos, tocam seus nervos e produzem efeitos em sua mente. Não podem impedir isto.

Pode haver algo mais assombroso? Um homem chama outro de néscio, este se põe de pé, cerra os punhos e lhe dá uma bofetada. Vede o poder da palavra. Pensem no poder das palavras.

Noite e dia manipulamos inconscientemente esta força, sem indagar sua essência. Conhecer a natureza desta força e utilizá-la corretamente também é uma parte de Karma-Yoga.

Por que devemos fazer bem ao mundo? Aparentemente para ajudarmos a nós próprios.

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Tratar de ajudar o mundo deveria ser nossa mais elevada aspiração, porém, se pensarmos um pouco, veremos que o mundo não precisa de nosso auxílio. Este mundo não foi criado para que você e eu o ajudássemos.

O mundo é muito bom porque nos oferece a oportunidade de ajudar os demais. A primeira vista este sentimento é muito belo, porém, não é uma blasfêmia dizer que o mundo precisa de nosso auxílio?

Não podemos negar que há muita miséria nele, socorrer o próximo, portanto, é o que de melhor podemos fazer, ainda mesmo que saibamos que a única coisa que nisso fazemos é auxiliarmos a nós mesmos.

Quando eu era criança, tinha uns ratos brancos e uma caixa com rodas feitas de modo que as rodas giravam incessantemente e os ratos ficavam no mesmo lugar. É o que acontece ao mundo com o nosso auxílio.

O único auxílio positivo consiste em nos obrigar a uma ginástica moral. O mundo não é nem bom nem mau, cada homem constrói um mundo para si mesmo. Constituímos uma massa de felicidade e infortúnio, podemos observar isto centenas de vezes.

Geralmente os jovens são otimistas e os velhos pessimistas. O jovem tem a vida ante de si, e o velho se queixa porque envelheceu mais um dia, centenas de desejos que não puderam ser satisfeitos fervem em seus corações.

No entanto, ambos estão em condições idênticas. A vida é boa ou é má, segundo as atitudes mentais com que a observemos, por si mesma, não é nada.

O fogo, por si mesmo, não é bom nem mau. Quando nos dá calor, dizemos: "Que bom fogo". Quando nos queima o dedo, o maldizemos. Segundo o uso que dele façamos, produz em nós uma sensação agradável ou desagradável.

O mundo é perfeito. Por perfeição entendemos aquilo que está admiravelmente adaptado a seus objetivos. Podemos estar seguros de que caminhará completamente bem sem nossa ajuda.

Todavia, precisamos praticar o bem, o desejo de fazer o bem é o que de mais elevado podemos aspirar, desde que aceitemos o princípio de que é um grande privilégio ajudar os outros. Beneficiado não é quem recebe, e sim aquele que dá.

Agradeça àqueles que te deram a oportunidade de ser benevolente e misericordioso, pois só assim chegarás neste mundo a ser puro e perfeito. Todas as boas ações nos levam à pureza e perfeição.

Construir um hospital, abrir estradas, erguer asilos, organizar uma festa de beneficência e reunir dois ou três milhões de dólares. Que representa isto? Um vendaval destrói tudo em cinco minutos.

Que devemos fazer então? Abandonemos esta conversa inútil de querer fazer bem ao mundo, ele não precisa do seu auxílio nem do meu, no entanto, devemos fazer o bem constantemente, porque isto constitui uma bênção para nós.

Esta é a única maneira de chegarmos a ser perfeitos. Nenhum dos mendigos que temos auxiliado nos deve um só centavo, somos nós que lhes devemos o favor de nos ter permitido ajudá-los.

É erro pensar que nós temos o poder de fazer bem ao mundo, ou acreditar que auxiliamos tais ou tais pessoas. É um pensamento falso, isto produz miséria.

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Agradeça a quem permitiu ser ajudado, considerando-o um Deus. Não é um grande privilégio sermos permitido adorar Deus ajudando nossos semelhantes?

Se estivéssemos verdadeiramente desligados, nos livraríamos desta expectativa e poderíamos praticar no mundo muito trabalho útil. Nunca traz infelicidade nem miséria qualquer ação realizada sem se esperar recompensa.

Todos têm que aprender a agir sem se ligar à ação. Não tens necessidade de te atormentar nem de perder o sono por causa do mundo, o mundo seguirá seu caminho sem você.

Devemos recordar que somos devedores do mundo e que este nada nos deve. É um grande privilégio para nós fazer algo pelo mundo.

Ao ajudá-lo, em realidade nos ajudamos a nós mesmos. Há um Deus neste universo. Não é certo que este universo flutue sem destino e tenha necessidade do vosso auxílio ou do meu. Deus está sempre presente nele.

É imortal, eternamente ativo e infinitamente vigilante. Quando todo universo dorme, Ele permanece velando, age incessantemente, as mudanças e manifestações do mundo são obra Sua.

Este mundo continuará sempre sendo uma mistura de bem e de mal. Nosso dever é simpatizar com todos, inclusive os malfeitores.

O mundo é uma grande escola moral, onde devemos exercitar-nos para ser cada dia mais forte espiritualmente.

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Capítulo 6 - Desapego e abnegação completos

Assim como cada ação que de nós emana a nós volta como reação, também nossas ações podem agir sobre outras pessoas e as desta sobre nós.

Podemos reparar que quando as pessoas cometem más ações, tornam-se cada vez mais pervertidas, e que, quando começam a praticar o bem, ficam cada vez mais fortes e aprendem a fazer o bem em qualquer ocasião.

Se colocarmos numa sala diferentes instrumentos musicais afinados no mesmo tom, quando se toca um deles, os outros vibram reproduzindo a mesma nota. Do mesmo modo, todas as mentes que têm a mesma afinidade, serão afetadas pelo mesmo pensamento.

Este poder de uma mente sobre outra variará em proporção à intensidade do pensamento.

Assim como as ondas de luz podem levar milhões de anos antes de alcançar um objeto, também as ondas mentais podem viajar centenas de anos antes de encontrar um objeto com o qual vibrem em uníssono.

Quando um homem comete más ações, induz em sua mente certo estado vibratório. Esta é a razão pela qual um malfeitor se torna cada vez pior. Suas ações se intensificam.

A mesma coisa acontece com as pessoas que praticam ações boas, sua mente capta cada vez mais as boas ondas existentes na atmosfera, e com elas intensifica suas ações boas.

Corremos um perigo duplo ao praticarmos o mal. Primeiro, nos abrimos a todas as más influências que nos rodeiam, e segundo, criamos um mal que afetarão os outros, talvez daqui a cinquenta anos.

Ao fazer o mal, prejudicamos a nós mesmos e aos demais. Ao fazer o bem, beneficiamos a nós mesmos o ao mesmo tempo aos demais. Como todas as outras forças do homem, as do bem e as do mal se acumulam no exterior.

De acordo com a Karma-Yoga, a ação realizada não pode ser destruída enquanto não tiver dado seus frutos, ninguém pode impedir seus resultados. Se eu pratico uma ação má, terei que sofrer por ela, não há nada no universo capaz de evitar ou detê-la.

Do mesmo modo, se faço algo de bom, não existe poder no universo que impeça suas boas consequências. A causa deve ter o seu efeito, nada a pode impedir ou minorar.

Nossas ações, boas ou más, estão intimamente relacionadas umas com as outras. Não podemos traçar uma linha demarcatória e dizer que esta é inteiramente boa e aquela má. Não existe ação que não produza bons e maus frutos ao mesmo tempo.

Tomemos um exemplo. Eu vos falo, alguns pensam que estou fazendo bem e que ao mesmo tempo mato centenas de micróbios na atmosfera, logo faço mal a outros.

Não podemos respirar nem viver sem causar mal aos outros, e cada partícula de alimento que comemos tiramo-la da boca de um terceiro. Nossas próprias vidas destroem micróbios, porém nós temos que crescer à custa de uns e de outros.

Disto se deduz que a perfeição jamais será alcançada pela ação. Mesmo que atuemos durante toda a eternidade, não conseguiremos sair deste intrincado emaranhado, podemos agir sem cessar, não existirá fim para esta inevitável associação de bem e de mal no resultado da ação.

Qual é o fim da ação? Observamos que a maior parte das pessoas crê que chegará uma época em que o mundo será perfeito, que não existirão mais enfermidades, desgraças e maldades.

Esta ideia é muito boa para animar e entusiasmar os ignorantes, porém, se pensarmos um

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momento, veremos que não pode ser assim.

Acaso o bem e o mal não são o verso e o reverso de uma mesma medalha? Como pode existir bem sem mal ou mal sem bem? Que entendemos por perfeição? A vida perfeita cairia numa contradição.

A vida é uma luta contínua entre nós mesmos e o exterior. Continuamente nos encontramos lutando com a natureza externa, e se somos vencidos, nossa vida sucumbe. Por exemplo, lutamos por alimento e ar. Se qualquer destas coisas nos faltarem, morreremos.

A vida não é uma coisa amável que se desliza suavemente, e sim, um esforço contínuo. Esta luta complexa entre o interior e o exterior é o que chamamos vida. É, pois, evidente que quando cessar esta luta terminará também a vida.

O que se entende por felicidade ideal, é a cessação da luta. Mas então a vida terminou, porque a luta só se acaba quando a vida termina. Temos visto que ajudando o mundo, ajudamos a nós mesmos.

O efeito principal de nossa ação em benefício alheio é purificarmos a nós mesmos. Esforçando-nos constantemente em fazer o bem aos outros, conseguimos esquecer de nós mesmos, este esquecimento do eu é a grande lição que nos falta aprender.

O homem pensa que pode achar a felicidade, porém depois de muitos anos de luta descobre que a verdadeira felicidade consiste em matar o egoísmo, e que ninguém, exceto ele, pode fazê-lo feliz.

Cada ato de caridade, cada pensamento de simpatia, cada ação boa reduz nossa vaidade e faz com que nos consideremos insignificantes, portanto, tudo é bom. Aqui achamos que JNANA, BHAKTI e KARMA convergem para o mesmo ponto.

O ideal mais elevado é esquecer o “eu” para não pensar mais do que no "tu". Quer seja o homem consciente ou inconsciente disto, Karma-Yoga o leva até o fim.

Esta é a base de toda a moral, podes torná-la extensiva a todos os homens, animais, ou anjos, porém é a única ideia básica, o único princípio fundamental que nos sustenta todo sistema de moral.

Encontrarás várias espécies de homens neste mundo. Existem os homens divinos, cuja abnegação é completa, esses fazem o bem aos outros, mesmo à custa do sacrifício de suas vidas, infelizmente, eles são muito poucos.

Existem os homens bons, que fazem bem aos outros, mas desde que não se prejudiquem a si mesmos, e outra classe, os que para o bem de si mesmos prejudicam os demais. Um poeta disse que existe uma quarta classe de pessoas que fazem o mal só pelo prazer de fazê-lo.

Existem duas palavras sânscritas: pravritti que significa "atrair", e nivritti, "repelir". Atrair é o que chamamos o "eu" e "meu”, inclui as coisas que enriquecem o "eu" com posição, dinheiro, poder, fama e nome.

Este é o pravritti, a tendência natural de cada ser humano: tomar tudo de todas as partes e amontoá-los, ao redor de um centro, sendo este o próprio eu do homem.

Quando esta tendência começa a declinar, quando se converte em nivritti, "repelir", então começam a moralidade e a religião. Tanto pravritti como nivritti são resultantes da ação, a primeira é má, a segunda é boa.

A perfeição absoluta de Nivritti consiste em estar sempre disposto a sacrificar a mente, o corpo e tudo mais por nosso semelhante. Este é o mais elevado resultado das boas ações.

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Mesmo que o homem não tenha estudado nenhum sistema de filosofia, não creia em Deus, se o simples poder das boas ações o levarem a um estado em que esteja disposto a dar a sua vida pelos seus semelhantes, encontrar-se-á no mesmo ponto do homem religioso ou do filósofo.

Então verás que o filósofo religioso ou o homem de ação estão todos no mesmo ponto, e que este ponto é a abnegação.

O devoto, mantendo seu pensamento sempre fixo em Deus, chega ao mesmo ponto e exclama: "Faça-se a Tua vontade", sem reservar nada para si mesmo. Isto é abnegação.

O filósofo, com seu conhecimento compreende que o eu é uma ilusão e o abandona facilmente, isto é abnegação.

Karma, bhakti e jnana se reúnem num só ponto, e isto foi ensinado pelos pregadores antigos quando afirmavam que Deus não é o mundo. Uma coisa é o mundo e outra é Deus, o que eles entendem por mundo é egoísmo.

Alguém pode viver num trono ou palácio de ouro e ser perfeitamente altruísta, e por isto estará em Deus. Outro pode viver numa cabana, vestir farrapos, e, no entanto, se é egoísta, estará intensamente submerso no mundo.

Dissemos que não podemos fazer o bem sem ao mesmo tempo praticar o mal, nem fazer o mal sem ao mesmo ter que realizar algum bem. Em vista disto, como podemos agir?

Existiram seitas que pregaram o suicídio como único meio de se libertar do mundo, porque, se um homem vive, tem que forçosamente matar pobres animais e plantas, e fazer o mal a algo ou alguém.

Os jainistas aprenderam esta doutrina como o ideal mais elevado. Este ensinamento pode parecer lógico, porém a verdadeira solução se encontra no Bhagavad-Gita. É a filosofia de não se ligar, de não se apegar a nada, mesmo cumprindo-se o dever na vida.

Compreenda que vocês estão completamente separados do mundo, embora vivam nele, e qualquer coisa que fizeres, não a faça por amor a vós mesmo. Os efeitos de toda ação que realizares em seu proveito, terá que cair sobre ti mesmo.

Se for boa, receberás o bom resultado, se for má, o mau. Mas, qualquer ato que não seja praticado em seu exclusivo benefício, seja qual for, não terá efeito sobre vós.

Mesmo que você mate todo o universo e a si próprio, não és nem o matador nem o morto, quando você sabe que não age por si mesmo de nenhuma maneira.

Karma-Yoga ensina: "Não abandones o mundo, viva nele, assimile suas influências de toda forma que puder, porém se for em proveito de teu gozo próprio, não atue de maneira alguma".

Gozar não é a meta. Primeiro mata teu eu e em seguida considera todo mundo como se fossem você mesmo.

Acreditamos que os animais foram criados para satisfação de nosso estômago e que o universo existe só para gozo do homem. Do mesmo modo, um tigre poderia pensar: "O homem foi criado para mim".

Se o mundo foi criado para nós, nós fomos criados para ele. Que o mundo haja sido criado para o nosso prazer é a ideia mais perversa e pode escravizar.

Para agir com retidão, temos que abandonar primeiramente a ideia de apego. Em segundo lugar, não devemos interferir nos acontecimentos, e sim, manter-nos em posição de testemunhas e continuar trabalhando.

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"Considerai seus próprios filhos como o faz a babá", ela se encarrega de seus filhos, acaricia-os e brinca com eles, porém logo sairá da casa sem que se recorde de seus filhos.

Assim deves ser com tudo quanto consideras como seu. És a babá, e se crês em Deus, crê também que todas estas coisas que considera suas, não são realmente suas.

É um erro pensar que alguém dependa de mim ou que possa fazer o bem a outrem. Esta crença é a causa de nosso apego, e do apego surge a dor. Alimentemos a convicção de que nada depende de nós.

Todos são ajudados pela natureza, e mesmo que faltassem milhões de nós, tudo correria da mesma forma. O curso da natureza não será alterado por vocês nem por mim.

Porém, é um grande privilégio para vocês e para mim que se nos permita ajudar os outros, para nos educarmos a nós mesmos.

Esta lição deve ser aprendida a todo instante, e quando a tivermos aprendido, nunca mais seremos infelizes, poderemos ir a qualquer parte e nos misturarmos na sociedade sem perigo.

Podes ter muitos empregados e reinos para governar, contanto que procedas baseando-se no princípio de que o mundo não é para nós nem ele nos necessita.

Tire de sua mente a ideia de que tens de fazer algo pelo mundo, pois ele não precisa de seu auxílio. É uma tolice pensar que nascemos para ajudar o mundo, há nisso muita vaidade e egoísmo cobrindo-se com a máscara da virtude.

Quando compreenderes que o mundo não depende de você nem de ninguém, sua ação já não produzirá uma reação dolorosa. Quando deres algo a um homem e não esperar nada dele, nem mesmo a gratidão, sua ingratidão em nada te afetará.

O Karma é quem regula as ações entre os seres humanos. Ninguém dá nada, os outros nos exigem a propriedade que tinham depositado em nossas mãos.

Por que estar orgulhoso por ter dado algo? Você é apenas o depositário do dinheiro ou dos bens que te foram confiados, e o mundo os exige por seu próprio Karma.

Não há nada de importante no que dais ao mundo. Quando adquirir o sentimento do desapego, nada será bom nem mau para vós.

Só o egoísmo produz a diferença entre o bem e o mal. Com o tempo chegarás a compreender que nada no universo tem poder sobre você, a menos que o permitas.

O homem que exerce controle sobre si mesmo não pode ser escravo de nenhuma coisa externa. Sua mente está liberta, somente um homem assim sabe viver apropriadamente no mundo.

Para os que não controlam suas mentes, o mundo é mau. Este mesmo mundo será bom para nós, desde que sejamos donos de nossas mentes. Então nada poderá nos afetar, acharemos que tudo é harmonioso.

Logo que este eu ilusório tenha desaparecido, o mundo, que a princípio nos parecia mau, se transformará no próprio céu.

Ninguém pode ser realmente educado por outro, cada qual tem que se educar a si próprio. O mestre externo só oferece as sugestões que despertem o mestre interno. Primeiro temos o sentimento, depois o querer e por último a vontade.

Esta aquisição não depende de nenhum dogma ou crença. Não importa que se seja judeu, cristão. Você é altruísta? Esta é a questão. Se for, serás perfeito sem ler um só livro religioso nem entrar numa só igreja ou templo.

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As yogas da ação, sabedoria e devoção são capazes de tornar o homem perfeito, mesmo sem auxílio dos outros, porque todos chegam ao mesmo fim.

Só os néscios dizem que o trabalho e a filosofia são diferentes. Para os sábios, ainda que pareçam diferentes, ambos conduzem à meta da perfeição humana.

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Capítulo 7 - Liberdade

Além do significado de atuar, a palavra Karma quer dizer causação. Qualquer trabalho, ação ou pensamento que produza um efeito, chama-se Karma.

Assim, "lei de Karma" significa "lei de causa e efeito". Onde quer que exista uma causa, produz-se um efeito, isto não pode ser evitado, é uma lei que se cumpre em todo o universo.

De um modo é o resultado de uma ação passada, de outro modo se converte em causa de seu próprio efeito. Lei é a tendência de se repetir uma série de fenômenos.

Toda ideia, ou cada vibração produzida na substância mental chitta (manas), dá nascimento a vibrações semelhantes.

Lei é a expectativa de que um fenômeno particular seja seguido por outro e que a série se repita. É um erro dizer que a gravitação existe na terra ou que há alguma lei que exista objetivamente em alguma parte da natureza.

A lei é o método ou a maneira como nossa mente percebe uma série de fenômenos, tudo está na mente.

A próxima questão a considerar é a definição de uma lei universal. Nosso universo é a porção de existência caracterizada pelo espaço, tempo e causação.

O universo é apenas uma parte da existência infinita, posta num molde particular composto de tempo, espaço e causação. Do que se deduz que a lei é somente possível dentro deste universo condicionado, não podendo existir lei alguma fora dele.

Quando falamos de universo, entendemos somente a porção de existência limitada por nossa mente, o universo dos sentidos, que podemos ver, sentir, tocar, ouvir, pensar e imaginar.

É o único que está sob a lei, além dele a existência não pode estar sujeita à lei, porque a causação não se estende fora do mundo de nossas mentes.

Tudo quanto esteja fora do alcance de nossa mente e sentidos, não se acha submetido à lei de causa e efeito, pois não há associação mental de coisas na região inacessível aos sentidos, nem causação sem associação de ideias.

Somente quando "o ser" ou existência está modelado em nome e forma, é que obedece à lei de causação, diz-se, então, que está sob a lei, porque toda lei tem sua essência na causação.

Portanto, não pode existir o livre arbítrio porque o que conhecemos é a vontade, e tudo o que conhecemos está dentro do nosso universo, e modelado pelas condições de espaço, tempo e causação.

Tudo quanto conhecemos ou podemos conhecer está por força submetido à lei de causação, e por consequência não pode ser livre. Agem nele outros agentes, que por sua vez se transformam em causa.

Porém aquilo que se transformou em vontade, será livre quando romper os moldes em que está encerrada: espaço, tempo e causalidade., saímos dela e voltamos de novo à liberdade.

Este universo vem da liberdade, se sujeita à fatalidade e volta de novo à liberdade.

Quando dizemos que o homem não é mais que o ser infinito se manifestando, queremos dizer que só uma parte muito pequena dele é em realidade o homem, este corpo e esta mente que percebemos são apenas uma parte do todo, apenas um ponto da existência infinita.

O universo é somente uma partícula da infinita existência, e todas nossas leis e limitações,

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nossas alegrias, nossas felicidades e nossas esperanças, estão dentro dele, todo nosso progresso e nossa decadência se acham nos limites de sua pequena jurisdição.

É infantil esperar uma continuação deste universo (criação de nossas mentes) e aguardar o céu que só pode ser uma repetição deste mundo que conhecemos.

É um desejo impossível e infantil adaptar a totalidade da existência infinita a esta existência limitada e condicionada que conhecemos.

Quando um homem afirma que terá sempre a mesma coisa que agora possui, ou quando ele pede uma religião confortável, podes estar seguro de que se degenerou tanto que já não é capaz de pensar em algo mais elevado do que o é atualmente.

Este homem só é o que são suas mesquinhas circunstâncias atuais. Esqueceu sua natureza infinita, e seu pensamento se circunscreve às pequenas alegrias, tristezas e aborrecimentos do momento.

Pensa que esta coisa finita é o infinito, e não quer abandonar tão ridícula ideia. Aferra-se desesperadamente a trishna, a sede de viver, que os budistas chamam tanha.

Podem existir milhões de classes de felicidades, de seres, de leis, de progresso e de causação atuando fora deste pequeno universo que conhecemos.

Para alcançar a liberdade, devemos transcender os limites do nosso universo. O perfeito equilíbrio não pode ser conquistado neste mundo, nem no céu nem em lugar algum onde nossa mente possa pensar, os sentidos perceber e a imaginação conceber.

Nenhum destes lugares pode nos dar a liberdade, porque todos eles estariam dentro de nosso universo e este está limitado pelo tempo, espaço e causação.

Podem existir lugares que sejam mais etéreos do que nossa terra, onde os prazeres sejam mais intensos, porém mesmo esses lugares estarão dentro de nosso universo, portanto, sujeitos à lei.

As rápidas alegrias e sofrimentos findam onde a realidade começa. Enquanto não abandonarmos a sede de viver não teremos nem sequer a esperança de vislumbrar essa infinita liberdade que existe além do limitado.

Não existe mais do que uma só maneira de obter esta liberdade: o desprezo desta pequena vida, deste pequeno universo, desta terra, do céu, do corpo, da mente e de tudo o que está limitado e condicionado.

Se renunciarmos o nosso apego por este pequeno universo dos sentidos e da mente, seremos imediatamente livres. É o único modo de se livrar dos laços e ir além das limitações da lei e da causação.

É sumamente difícil deixarmos de nos apegar a este universo, muito poucos o conseguem. Nossos livros mencionam um dos modos de obtê-lo. Um é chamado neti, neti (isto não, isto não), e o outro se chama iti (isto), o primeiro é negativo e o segundo positivo.

A maneira negativa é a mais difícil e só possível para homens de mentes elevadas e poderosa vontade, desses que se põem de pé e dizem: "Não, não aceito isto", e a mente e o corpo obedecem a sua vontade, e saem vencedores da prova.

A maioria da humanidade escolhe o modo positivo, o caminho do mundo, usando de todas as limitações para romper essas mesmas limitações.

Esta é também uma maneira de renunciar, só que age de maneira lenta e gradual, conhecendo as coisas, gozando delas e obtendo experiência, conhecendo a natureza das coisas até que a mente

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termina por abandoná-las.

O primeiro modo de se desligar é mediante o raciocínio, o segundo, pela experiência. O primeiro é a senda da jnana-yoga e se caracteriza pela negativa de realizar qualquer obra, o segundo é, a Karma-yoqa, aquela que age sem cessar.

Todos devem trabalhar no universo. Só aqueles cujas mentes nunca saem do Ser, para quem o Ser é tudo em todos, não trabalham. Os demais devem trabalhar.

Uma corrente de água que flui por seu impulso próprio cai numa cova e forma um redemoinho, e depois de girar algum tempo volta a seguir seu curso. A vida humana se assemelha a esta corrente.

Penetra no redemoinho, gira neste mundo de espaço, tempo e causação exclamando: "meu pai, meu irmão, meu nome, minha fama, etc.", e por fim sai dali e readquire a liberdade original.

Conhecendo-a ou não, sejamos ou não conscientes dela, todos trabalhamos para sair do sono do mundo. A experiência do homem é para torná-lo capaz de sair deste torvelinho.

Que é Karma-Yoga? É o conhecimento do segredo da ação. Todo universo trabalha. Para que? Para sua elevação, para sua liberdade. Desde o átomo até o mais elevado dos seres, trabalha para alcançar a liberdade de mente, do corpo e do espírito.

Todas as coisas lutam continuamente por obter a liberdade e fugir da escravidão. O sol, a lua, a terra, os planetas, todos trabalham para se libertarem das limitações.

Em vez de sofrermos para chegar a conhecer as coisas como elas são, aprendemos de Karma-Yoga o segredo da ação, o método de trabalhar, a maneira de agir.

Uma soma enorme de energia pode ser gasta em vão, se não soubermos como utilizá-la. Karma-Yoga transforma o trabalho em ciência, e com seu auxílio aprenderemos a utilizar melhor as forças deste mundo.

A ação é inevitável, e assim deve ser, porém devemos atuar com o mais elevado propósito.

Karma-Yoga nos ensina que este mundo possui uma existência efêmera, e que a liberdade não se encontra aqui, porém mais além. Para poder escapar das ligaduras do mundo, devemos viver com cautela.

Existem pessoas excepcionais capazes de se desligarem do mundo, porém o resto da humanidade tem que passar lentamente pelo mundo da ação, Karma yoga ensina o processo e o método de realizá-lo com vantagem.

"Trabalha sem descanso, porém abandona tudo aquilo que te ligue ao teu trabalho". Não se identifiquem com coisa alguma. Conserve sua mente livre. As dores e misérias que contemplas são as condições necessárias deste mundo.

A pobreza, a riqueza e a felicidade são momentâneas, não pertencem de forma alguma à nossa natureza real. Nossa natureza real está muito além do sofrimento e da felicidade, além dos sentidos e além da imaginação.

No entanto, devemos continuar trabalhando sem descanso. "O sofrimento vem do fato de se ligar à ação". No momento em que nos identificamos com a ação, sentimo-nos infelizes, porém, não nos identificando com ela, evitamos a desgraça.

Se um lindo quadro pertencente a qualquer pessoa fosse posto ao fogo, não nos sentiríamos infelizes, porém quando é o nosso próprio quadro que se queima, então nos consideramos infelizes. Por que isto? É porque nos identificamos com o quadro.

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O eu e o meu são a causa de toda dor. Com o desejo de posse surge o egoísmo, e com ele a miséria. Cada ato, cada pensamento egoísta, nos liga a alguma coisa, e imediatamente nos convertemos em seus escravos.

Cada ondulação em chitta (mente) que diz "eu e meu", liga uma cadeia em nós e nos transforma em escravos, e quanto mais dissermos "eu e meu” , mais aumentaremos a escravidão e a aflição.

Portanto, Karma-Yoga nos ensina a desfrutar a beleza de todos os quadros do mundo, porém sem nos identificarmos com nenhum deles. Nunca digas "meu". Quando disserdes esta coisa é minha, o sofrimento surgirá imediatamente.

Não digas "minha casa" nem "meu corpo". Toda a dificuldade está nisto. O corpo não é seu, nem meu, nem de ninguém. Os corpos vêm e se vão impulsionados por leis naturais, porém nós não somos nada mais do que o testemunho.

Assim, Karma-Yoga diz: controle primeiramente o tentáculo do egoísmo, e quando o tiveres conseguido, não permitas que a mente se submirja de novo nas ondas do egoísmo. Então podes enfrentar o mundo e trabalhar tanto quanto puderes. Sem desapego não pode haver yoga.

O não se ligar a coisa alguma é a base de todos as yogas. Um homem que renuncia viver numa casa, usar vestimentas ricas ou comer alimentos delicados, e mora no deserto, pode, não obstante, estar muito ligado.

Sua única posse, seu corpo, pode ser tudo para ele, e enquanto viver estará lutando por amor ao seu próprio corpo. A cadeia que nos escraviza ao "eu e ao meu" está na mente.

Um homem pode ocupar um trono e estar perfeitamente desligado, outro pode vestir farrapos e, no entanto estar ligado. Primeiro precisamos alcançar este estado de desapego e em seguida trabalhar incessantemente.

Abandonemos os frutos da ação ao Senhor, trabalhando sem ligar-se aos resultados. Qualquer coisa que vejam, sintam, façam ou ouçam, é para Ele.

Os frutos pertencem ao Senhor. Permaneçamos desligados e não esqueçamos que nada mais somos do que servos que obedecem ao Senhor, e que os motivos que impulsionam Suas ações nos são desconhecidos.

Tudo o que adorar, tudo o que fizer, o entregue ao Senhor e fique em paz. Estejamos em paz conosco mesmos e cedamos ao Senhor nosso corpo, nossa mente e tudo mais como um sacrifício.

Realize este grande sacrifício dia e noite, o sacrifício do seu pequeno eu. Repitamos dia e noite: "nada para mim não importa se a coisa é boa ou má, ou indiferente, pois tudo sacrifico a Ti".

Renunciemos dia e noite o nosso eu ilusório até que isto se converta num hábito, até que a todo o momento o corpo obedeça a esta ideia de renúncia do eu. Então, mesmo que estejas num campo de batalha, se sentirá livre e em paz.

Karma-Yoga nos ensina que o conceito corrente do dever está em plano inferior, não obstante todos nós devemos cumprir nossos deveres. No entanto, comprovamos que esta concepção do dever é causa frequente de grandes infelicidades.

O dever empurra-nos continuamente para diante. Apodera-se de nós e nos faz miserável. É o veneno da vida humana. Esta ideia de dever abrasa o mais íntimo da alma humana.

Olhai estes pobres escravos do dever. Não lhes sobra tempo nem para fazerem suas orações. O dever os absorve continuamente. Vão trabalhar e ali o dever os domina. Voltam para casa, e ali pensam no trabalho do dia seguinte. O dever pesa sobre eles.

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Vivem como escravos. É assim que compreendem o dever, quando o único dever é estar-se desligado e agir como ser livre, abandonando as obras a Deus.

Todos os nossos deveres Lhe pertencem. Servimos enquanto nos cumpre servir, se fazemos bem ou mal, a quem interessa? Se fizermos o bem, não colhemos o fruto, se fizermos o mal, ficamos livres de cuidados.

Os homens se esforçam por obter aquilo que lhes apetece. Pergunte-lhes por que o fazem, e lhes dirão: "é meu dever". Porém mentem, pois em realidade se trata da absurda avidez pelo ouro e pela ganância.

Mas, depois de tudo isto, que é o dever? É o impulso da carne, de nossas ligações, e quando temos um laço estabelecido, chamamo-lo dever.

O dever pode ser benéfico para os homens inferiores, incapazes de ter outros ideais, porém, aqueles que desejam ser Karma-yogues devem abandonar semelhante conceito do dever. Não há dever para vocês nem para mim.

Tudo o que deres ao mundo, dai-o de coração, mas não como um dever. Nem sequer penses nisso. Não se obrigue. Tudo quanto fizeres a título de obrigação, servirá para te prender. Por que ter deveres? Entregue tudo a Deus.

Nós todos cumprimos a Sua vontade, e nada temos que ver com recompensas nem castigos. Se quiseres recompensa, obterá igualmente castigo, a única maneira de se livrar do castigo é abandonar a ideia de felicidade, porque as duas se encontram indissoluvelmente unidas.

No verso está a felicidade e no reverso a infelicidade. O único modo de transcender a morte é abandonar o amor pela vida. A vida e a morte são a mesma coisa, observada de pontos de vista diferentes.

A ideia de felicidade sem desdita ou da vida sem morte é muito boa para os escolares, porém o homem inteligente compreende que se trata de uma simples oposição de termos e renuncia a ambas.

Não busquem louvores nem recompensas por suas ações. Sempre que praticamos uma boa ação, desejamos que nos agradeçam. No momento em que entregamos algum dinheiro para uma obra de caridade, queremos ver nosso nome inscrito nos jornais.

O resultado deste desejo é a desgraça. Os maiores homens do mundo desapareceram no anonimato. Os Budas e os Cristos que conhecemos são heróis de segunda categoria, comparados com os grandes homens ignorados.

Centenas destes heróis anônimos têm vivido em todos os países trabalhando em silêncio. Em silêncio viveram e em silêncio morreram, e com o decorrer do tempo seus pensamentos se manifestaram como Budas ou Cristos, os únicos que chegam a ser conhecidos por nós.

Os homens de valor não buscam renome nem celebridade. Abandonam suas ideias ao mundo, não peçam nada para si, nem estabelecem escolas ou sistemas que adotem o seu nome. Sua natureza se rebela contra estas coisas.

Os homens superiores são tranquilos, silenciosos e anônimos. São os homens que conhecem realmente os poderes do pensamento.

Esses homens sátvicos estão demasiado próximos do Senhor para estar ativos e se esforçarem por fazer o bem, como dizem, sobre a terra.

Os obreiros ativos, por bons que sejam, têm ainda um fundo de ignorância. Só enquanto ainda permanecem algumas impurezas em nossa natureza, é que podemos trabalhar.

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Os homens superiores não podem trabalhar porque não têm apego. Aqueles cujas almas já penetraram no Ser, cujos desejos estão confinados ao Ser, que já chegaram a uma associação indissolúvel com o Ser, não atuam.

Nunca deveríamos pensar que podemos ajudar nem sequer a menor partícula do universo. Não, não o podemos. Só nos ajudamos a nós mesmos. Tal é a atitude correta que deve assumir aquele que atua.

Se trabalhamos desta maneira, se temos sempre presente que nossa atual oportunidade de trabalhar é um privilégio que nos foi conferido, nunca ficaremos ligados a coisa alguma.

Milhões de indivíduos como eu se julgam importantes no mundo, porém morremos todos, e ao fim de cinco minutos o mundo já se esqueceu de nós.

Deus é a Providência sempre ativa. Todo poder lhe pertence e está dentro de Sua vontade. Por Sua vontade os ventos sopram, o sol brilha, a terra vive e a morte passeia pelo universo. Ele é o Todo e está em tudo. Nós só podemos adorá-LO.

Renuncie os frutos da ação, faça o bem por amor ao bem, e só então chegareis ao perfeito desapego. Assim se romperão as ligaduras do coração e realizaremos a liberdade perfeita. Esta liberdade é, em verdade, a finalidade de Karma-Yoga.

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Capítulo 8 - O ideal de Karma-Yoga

A mais admirável ideia da religião vedanta é a de podermos alcançar o mesmo fim por diferentes caminhos. Esses caminhos estão generalizados em quatro: o da ação, o do amor, o da psicologia e o do conhecimento.

Mas devemos lembrar ao mesmo tempo de que estas divisões não se excluem umas às outras. Cada uma se mistura com as demais, de acordo com o tipo que prevalece, damos o nome a cada divisão.

Finalmente estas quatro sendas convergem para um ponto só. Todas as religiões e métodos de ação e adoração nos conduzem a fim idêntico.

O fim é a liberdade. Tudo quanto percebemos ao nosso redor está lutando por essa liberdade, desde o átomo ao homem, desde a insensível partícula de matéria isenta de vida até a existência mais elevada da terra, a alma humana.

O universo inteiro é o resultado desta luta pela liberdade. Cada partícula trata de seguir sua trajetória própria, porém as demais as mantêm juntas. Nossa terra procura fugir do sol, e a lua da terra. Tudo tende a uma dispersão infinita.

Tudo no universo luta pela liberdade. Quando a linha de ação não é correta, chamamos mal, e quando sua manifestação é correta e elevada, chamamos bem. Mas o impulso é o mesmo, a luta pela liberdade.

Quando um homem pratica uma boa ação auxiliando outros, ele não pode estar confinado ao limitado círculo do "eu e meu". Não há limite para este renunciar do egoísmo. Todos os sistemas de moral pregam o absoluto altruísmo.

Suponha que este absoluto altruísmo fosse alcançado por um homem. Já não seria mais o Sr. Fulano de Tal, pois teria alcançado uma expansão infinita. Sua pequena personalidade anterior teria desaparecido para sempre.

Teria voltado para o infinito, e a conquista desta expressão infinita, é a meta de todas as religiões e de todos os ensinamentos filosóficos e morais. O personalista se assusta ante esta concepção filosófica.

Karma-Yoga é a aquisição, mediante o altruísmo, dessa liberdade que constitui a meta de toda natureza humana.

Cada ação egoísta retarda nossa chegada à meta, e cada ação altruísta a acelera, por isto a única definição que se pode dar da moral é esta: O egoísta é imoral, e o altruísta moral.

O assunto não é tão simples. Uma ação pode ser altruísta em certas circunstâncias, e egoísta em outras. O que em um país é moral, é imoral em outro.

O fim visado pela natureza é a liberdade, e esta se obtém somente pelo altruísmo, cada pensamento, palavra ou ação isenta de egoísmo nos aproxima da meta, e é moral.

Esta definição é aceita por todas as religiões e sistemas de moral. Em certas filosofias, a moral tem sua origem em Deus. Se perguntar por que deve um homem faz isto em vez daquilo, responder-vos-ão que é o mandato de Deus.

Porém, seu código de moral se baseia no mesmo princípio, não pensar no eu. Pessoas de elevado conceito de moral se atemorizam ante a ideia de terem que abandonar ou renunciar suas mesquinhas personalidades.

Karma-Yoga é um sistema de ética e religião destinado a obter a liberdade mediante as boas

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ações. O Karma-yogue não precisa de nenhuma doutrina ou religião. Pode ser ateu, pode não se interessar pela sua alma nem o inquietar nenhuma especulação metafísica.

Possui sua finalidade, seu modo especial de acabar com o egoísmo, e deve alcançá-lo por si mesmo. Sua vida tem de ser uma constante realização, porque deve resolver pela ação, sem auxílio de doutrinas nem teorias.

Surge agora a pergunta: podemos fazer bem ao mundo? No sentido absoluto, não, em sentido relativo, sim. Não se pode fazer nenhum bem permanente ao mundo, se tal fosse possível, o mundo não seria mundo.

Podemos aplacar a fome de uma pessoa durante certo tempo, porém ela voltará a senti-la outra vez. O prazer que podemos oferecer é momentâneo. Ninguém pode curar definitivamente esta febre de prazer e de dor.

Considere a história da raça humana. Não encontramos as mesmas alegrias e infelicidades, os mesmos prazeres e dores, as mesmas diferenças de classe? Não são uns ricos e outros pobres, estes altos e aqueles baixos, alguns sãos e outros enfermos?

O que acontecia com os egípcios, os gregos e os romanos, acontece hoje com os americanos. A história se repete indefinidamente, Porém, podemos observar que ao lado dessas incuráveis diferenças de prazer e dor, sempre houve luta por aliviá-las.

Cada período da história contou com milhares de homens e mulheres que se esforçaram por tornar a existência mais agradável para as futuras gerações. Mas em que proporção conseguiram?

Nossas conversas sobre a idade de ouro não são mais do que encantadores contos para crianças. As nações que sonham com a idade de ouro pensam que para o seu povo lhes virá o melhor.

Não podemos aumentar a felicidade deste mundo, nem tampouco nos é possível aumentar a dor. A soma de prazer e dor será sempre a mesma.

Este fluxo e refluxo de prazer e dor é a própria essência do mundo. O prazer deve ter a dor como contraparte.

Se quiser ter vida, deves morrer constantemente por ela. A vida e a morte são uma e a mesma coisa, são a ascensão e descida da mesma onda, uma olha a "ascensão" e se faz otimista, outro olha a "descida" e se faz pessimista.

Quando uma criança vai à escola e seus pais a cuidam, tudo lhe parece feliz, e como resultado é grande otimista, já o ancião, com suas múltiplas experiências, busca mais o repouso.

Assim também são as velhas nações, que apresentam sinais de decadência e têm menos esperanças do que as novas.

Há um provérbio na Índia que diz "Mil anos de cidade e mil anos de bosque". Esta mudança em bosque, e vice-versa, ocorre em todas as partes, e torna os povos otimistas ou pessimistas, segundo o ponto de vista que adotem.

Essas ideias do século de ouro têm dado um forte impulso à ação. Muitas religiões pregam que Deus virá reger este universo e que então as condições serão iguais para todos.

As pessoas que pregam estas doutrinas são simples fanáticos, e os fanáticos são os homens mais sinceros.

Acreditam estes que sob a religião de um século de ouro, terminaria a escravidão e teriam o suficiente para comer e beber.

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Nos tempos modernos esta aspiração de século de ouro se encerra na fórmula: liberdade, igualdade, fraternidade. Isto também é fanatismo. A verdadeira igualdade jamais existiu nem existirá sobre a terra. Como podemos ser todos iguais?

Esta espécie de igualdade implica a morte total. Qual é a causa do mundo ser como é? O equilíbrio perdido. No estado primitivo, chamado caos, existe perfeito equilíbrio. Como surgiram as forças criadoras do universo? Pela luta, competição e conflito.

Supondo que as partículas da matéria se achassem em equilíbrio, seria possível a criação? A ciência afirma que não.

Agite a água e verás que cada uma de suas partículas voltará à quietude, precipitando-se umas contra as outras, e do mesmo modo os fenômenos que constituem o universo lutam para voltar ao perfeito equilíbrio.

Produz-se uma perturbação, e de novo ocorrem a combinação e a criação. Ao mesmo tempo, as forças que lutam pela igualdade são tão necessárias à criação como as que a destroem.

A igualdade absoluta, o perfeito equilíbrio das forças em luta em todos os planos, não é possível em nosso mundo. Se alcançar esse estado, o mundo será inadequado para qualquer espécie de vida.

Vemos então que o século de ouro e a igualdade são impossíveis, e se quiséssemos levá-los à prática, nos conduziriam à destruição. Que é que constitui a desigualdade entre os homens? Principalmente a diferença de cérebros.

Ninguém, a não ser um desequilibrado, diria hoje que nascemos com a mesma capacidade cerebral. Chegamos ao mundo com faculdades determinadas, impossíveis de alterar.

A absoluta igualdade é morte. Enquanto durar este mundo, existirá a diferenciação, e a idade de ouro da igualdade perfeita chegará só quando chegar a seu termo um ciclo de criação, Antes, essa igualdade não poderá existir.

No entanto, esta ideia de realizar o século de ouro é um estímulo de grande poder. Assim como a desigualdade é necessária para a criação, também o é a luta para limitá-la.

Se não houvesse luta para sermos livres e voltarmos a Deus, não haveria criação. É a diferença entre essas duas forças que determina os motivos para atuar, alguns tendentes às limitações e outros à liberdade.

Este mundo é terrível, se nos descuidarmos, pode nos arrastar. Todos crêem que uma vez cumprido o dever imediato, descansaremos, porém, mesmo antes de havê-lo terminado, outro dever nos espera.

Todos nós somos arrastados por esta poderosa e complexa máquina, que é o mundo. Só há dois modos de evitá-la: um é renunciando todo interesse pela máquina, deixando-a funcionar só, abandonando nossos desejos. Isto é muito fácil de dizer, porém difícil de fazer.

O outro modo consiste em submergirmos no mundo e aprender o segredo do trabalho. Não fujas da engrenagem do mundo, ao contrário, permaneça nele e aprenda o segredo do trabalho. Mediante o trabalho correto, feito em seu interior, pode-se alcançar a libertação.

A ação é, portanto uma parte dos alicerces da natureza, a qual não deixa nunca de agir. Aqueles que crêem em Deus o compreenderão melhor, pois sabem que Deus não necessita de nossa ajuda.

Mesmo que este universo não detenha nunca sua marcha, nossa meta é a liberdade, nosso fim o altruísmo, e, de acordo com Karma-Yoga, o fim há de ser conquistado mediante a ação.

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Todas as ideias de tornar o mundo feliz podem ser boas como motivos poderosos para os fanáticos, porém sabemos que o fanatismo produz tanto o mal como o bem.

O Karma-yogue pergunta a si mesmo por que há de haver outro motivo para agir, além do amor inato pela liberdade. Coloquem-se mais acima dos motivos mundanos. Tens direito à ação mas não aos frutos.

Façamos o bem só porque é bom fazê-lo, aquele que realiza boas ações, ainda que seja só para alcançar o céu, prende-se a si mesmo. Qualquer ação executada com egoísmo, em vez de libertar, forja novas cadeias para nossos pés.

A única solução consiste em renunciar os frutos da ação, não se ligando a ela. O mundo não somos nós, nem nós o mundo. Somos o Ser eternamente em repouso e em paz. Por que temos que nos ligar a alguma coisa?

Cada ação boa que praticamos sem esperar recompensa, em vez de forjar novas cadeias, romperá uma das já existentes.

Cada bom pensamento que enviemos ao mundo, sem desejar recompensa alguma, será computado pelo Karma e romperá um novo elo de nossa cadeia, tornando-nos mais puros.

Buda disse: "Não me preocupo em conhecer suas diversas teorias acerca de Deus”. De que serve discutir sobre as sutis doutrinas da alma? Pratique o bem e ele te conduzirá à verdadeira liberdade.

Buda tinha a mais profunda compaixão pelos animais, sem que jamais se atribuísse mérito algum por isso. Foi o Karma-yogue ideal, agindo em todos os momentos sem motivos pessoais.

Foi o primeiro que se atreveu a dizer: "Creia, porém não porque isto seja costume em seu país, discerni e analisai tudo, e depois disto, se vires que fará bem aos outros e a todos, creia, viva e pratique, e depois faça que outros o vivam".

Age melhor quem não busca dinheiro, nem fama, nem coisa alguma. Quando um homem realizar isto, será um Buda, e surgirá dele tal força de ação que transformará o mundo. Um homem assim representa o mais elevado ideal de Karma-Yoga.

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Alguns comentários feitos

por Yogananda e Swami

Kriyananda ao Bhagavad

Gita

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Yogananda sempre comparava a “vida real” ao cinema. Num filme o mesmo raio luminoso projeta na tela pessoas boas e más, que não passam de luz e sombra, impressionam apenas nossa visão e audição.

O filme do “sonho cósmico” não impressiona somente dois sentidos, mas todos os cinco. Assim como a luz do projetor produz apenas imagens da realidade, a luz de Deus produz unicamente aparências.

O próprio universo é mera projeção de luz e sombra. Tudo vem de Deus. Deus redige o roteiro, dirige a ação, desempenha todos os papéis, compõe e executa a música, e fornece até o público.

O dramaturgo sabe serem necessários à história atores que encarnem personagens boas e más. Em certo sentido, o dramaturgo está em todas elas, mas elas não estão nele, ou seja, elas não o definem.

Se Deus sai bem em seu trabalho é porque o faz impessoalmente, e quase nunca expressa seus sentimentos, gostos, aversões, excessos e preconceitos.

O dramaturgo precisa viver a vida de todos os tipos de personagens, à distância. Deus penetra na consciência do vilão para lhe dar verossimilhança, tornando-as plausíveis e razoáveis.

O gozo de Deus ao escrever esses papéis não é sadismo, Ele sabe que a patifaria do homem só tornará mais agradável a conclusão da história.

Deus sempre chora pela humanidade, por suas loucuras, sofrimentos e perversidade. No entanto, Deus deixa que Seu espetáculo prossiga. Ele o produziu sem nenhum senso de envolvimento pessoal.

O drama da vida do indivíduo tem de se desenrolar lentamente, até sua conclusão inevitável, a reabsorção na bem-aventurança de satchidananda.

Deus está consciente de todos os pensamentos e sentimentos da cada uma de suas criaturas, mas permanece à parte. No B. Gita Krishna serviu a Arjuna como cocheiro, mas impôs a condição de não participar da batalha.

Mas Krishna interveio quando se tornou absolutamente necessário. O mesmo ocorre com todos os devotos. Tudo acaba bem para o devoto. Ele disse, “aquele que me segue nunca se perde”.

Este mundo é uma escola. O motivo que as pessoas vão à escola é para se educar. O objetivo de todo sistema de educação é aprimorar os alunos, não a própria escola, exceto quando houver um intento superior de melhorar a escola.

A pessoa cria um bom karma pelo bem que faz, mas mesmo o bom karma, quando “atado ao poste do ego”, remete a pessoa de volta a Terra inúmeras vezes.

Ninguém pode transformar a Terra em paraíso porque as próprias pessoas são imperfeitas. Em comparação com a imensidão do mundo, o que o homem pode fazer é muito pouco.

Yogananda disse que o yogue habituado a meditar profundamente consegue resgatar as faltas cometidas ao longo de toda uma vida em conseqüência de motivações ilusórias.

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Ele vê Deus como aquele que esteve por trás de cada um de seus atos, até os maléficos. Portanto o yogue não precisa examinar atos isolados, pois se dá conta do movimento da energia ao longo de toda a encarnação.

Deus, na realidade, é quem age mesmo quando faz o papel de vilão. O próprio Satã, ao final das contas não passa de um instrumento de Deus. O vilão é necessário numa peça de teatro para que admiremos o herói.

A vilania, nas muitas encarnações passadas na vida de uma pessoa, também é necessária para induzi-la a compreender que fazer o mal aos outros nunca fez bem a ela própria, e não lhe proporcionou realização verdadeira até ter aprendido a dar ao ego mais paz e harmonia.

O Jivanmukta (liberto em vida), despojando-se para sempre da consciência egóica, precisa evocar as existências passadas onde esteve sob o jugo dessa consciência, e ver-se como mera manifestação individual do próprio Senhor. Este caminho de sabedoria leva à libertação completa.

Atração e repulsa são as formas extremas do prazer e do desprazer. Gostar exageradamente de alguma coisa é erro tão grande quanto desgostar de seu oposto. A realização em Deus depende de neutralizarmos todas as nossas reações, e percebermos o Espírito Único e imutável no cerne de tudo que existe.

O segredo não está em deixar de usufruir alguma coisa, isso só conduz a apatia e ao embotamento da percepção. O segredo está em trazer para o coração todos os gozos, constatar que eles têm sua causa na reação, e depois fazer conscientemente com que esta energia suba pela espinha, passando do coração para o cérebro.

Gostos e aversões não são em si inimigos do homem, são apenas vizinhos importunos. Porém suas formas extremas, atração forte e repulsão violenta, podem lançar a pessoa numa tempestade emocional que acabará por mergulhá-la nas ondas vorazes da ilusão.

Nunca se deixe apaixonar-se por nada nem por ninguém. Nunca se permita odiar seja lá o que for. Procure antes aceitar esse sonho (a vida) tal qual é, ainda que ele se torne um pesadelo. Sua única esperança é ascender a um nível superior de consciência.

Cumprir o próprio dever, mesmo sem sucesso, é melhor que cumprir com êxito o dever alheio. Mais vale morrer tentando realizar o que nos compete do que assumir as obrigações dos outros.

O dever supremo de todo homem consiste em encontrar o Eu único, Deus.

O ego limita em muito a alma, pois insiste em identificar-se com expressões menores de seu potencial infinito. A liberdade ilusória de “agir segundo a própria vontade”, é profundamente degradante, pois identifica o homem com a insignificância de um corpo, enquanto sua verdadeira natureza clama:

“Deixe-me flutuar acima do turbulento conflito entre gostos e aversões, deixa-me subir aos céus infinitos da alegria de meu próprio Ser.”

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O método de oferece a consciência egóica à expansão cósmica, acaba por suscitar a pergunta “Quem sou eu?”. Primeiro a pessoa quer saber quem está comendo, quem anda quando meu corpo se desloca, quem respira, quem pensa, quem reage com pensamentos positivos ou negativos, quem está fazendo estas perguntas.

Rematando tantas indagações, de novo, “Quem sou eu?”

Esta é a abordagem da Jnana Yoga, que todos deveriam adotar em sua sadhana (prática espiritual). Examinar-se enquanto come, anda, respira, conversa, pensa.

Faça um esforço mental para distanciar-se de seu corpo e mente. Torne-se o observador silencioso de seu próprio eu. Aos poucos irá se sentir interiormente desapegado e aceitará seu ser como outra realidade, a alma divina que apenas sonha tudo aquilo que acontece fora dela.

Quando você cometer um erro, é melhor murmurar para si mesmo; “Deus o fez por meu intermédio”. E prossiga: “Deus gosta disso”. Assim, fica mais fácil você se livrar do sentimento de culpa que teria casso pensasse: “fui eu que fiz” ou “como sou fraco”

Yogananda afirmava que o maior dos pecados é considerar-se pecador. Entretanto, se você não quiser responsabilizar Deus diga a si mesmo: Maya perpetrou isso por meu intermédio, nada tenho a ver com o caso. Sou, em minha essência verdadeira impoluto e livre.

Mesmo assim, você deverá se comportar de maneira a não repetir o erro. Toda vez que cometer um deslize em vez de resmungar “falhei”, diga “ainda não venci”.

É trágico que os homens recebam repetidamente mostras de amor divino e as desdenhem em pró da degradação do próprio ego. Tudo isso faz parte do “enredo divino” com suas miríades de sub-enredos e desvios do tema único e verdadeiro.

A diferença essencial entre o ator feliz por participar da peça do samsara e o eremita que não quer fazê-lo é mínima.

O caminho do casamento, do emprego ou da dedicação à família apresenta desvantagens obvias que tornam a evolução espiritual um desafio no mundo exterior.

Uma esposa rabugenta, um marido tirânico, filhos incontroláveis ou parentes intrometidos que se julgam no direito de manipular a vida alheia, podem colocar imensos obstáculos no caminho espiritual.

As pessoas que se casam por necessidade terão de nascer de novo, pois só assim aprenderão a viver unicamente para o amor de Deus. O mais importante é atingir aquele ponto em que só o amor de Deus interessa.

A ânsia por um companheiro ou companheira tem raízes profundas na natureza humana. São necessárias inúmeras reencarnações para a pessoa entender que a “companhia” buscada sempre foi o próprio Deus.

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O Senhor é nosso melhor Amigo, nosso único Amante fiel, nossa Mãe sempre disposta a perdoar, nosso Pai rigoroso, mas eternamente compreensivo.

Deus é “O mais próximo dos próximos”, o Mais Amado dos Amados, está mais perto de nós que nossos próprios pensamentos. Quem alcançou a plena compreensão de que seu único anseio é Deus, já é sábio o bastante para dedicar a vida unicamente a Ele.

É problemático dar esse conselho porque muitas pessoas buscam o caminho da renúncia não por devoção sincera a Deus, mas por querer uma vida livre de responsabilidades.

A Jiva (alma humana), é a consciência individualizada, o infinito limitado a um corpo, e com ele se identifica. Sua existência como alma individual inicia-se com a criação do corpo causal.

O enclausuramento posterior da alma num corpo astral é que a faz manifestar a consciência egóica.

A identificação da alma com este corpo de luz induz o homem a pensar “sou único, diferente dos outros seres luminosos”. A consciência egóica liga-se mais tarde à realidade objetiva quando assume um corpo material.

No mundo material, a percepção que o homem tem da natureza exterior (aparaprakriti) define seu conceito de realidade. No mundo astral essa exteriorização da percepção acontece apenas parcialmente.

Quando no mundo causal, ele sabe que tudo é feito de formas-pensamento. Então a consciência egóica deixa de existir para ele como entidade separada, levando-o a se reconhecer como alma (jiva), manifestação da natureza pura (para-prakriti) A partir daí está sintonizado com a consciência crística.

Abençoada com esse estado superior de realização e com seu eu virtualmente livre de quaisquer limitações, a consciência humana é aquinhoada com um poder quase infinito.

O universo físico, perceptível pelos nossos sentidos, é composto de matéria grosseira. O mundo astral é constituído de energia livre, que pode plasmar céus maravilhosos, bem como infernos horrendos.

A força satânica não é uma realidade diversa e separada da divina. É apenas a energia criadora (aparaprakriti) que se manifesta exteriormente, a qual uma vez posta em movimento, não mais se detém. Sem esse impulso inicial, o universo não poderia ter surgido.

O ímpeto que dá continuidade ao movimento par a fora se torna em qualquer ponto da longa ascensão de volta para Deus, a força do mal. Trata-se de uma força consciente e universal, não de uma simples fraqueza mental.

Não é pessoal, como também não é pessoal a vibração cósmica, mas podemos atrair sobre nossa cabeça o poder maléfico, ou também a assistência divina, se cedermos às influências inferiores ou superiores.

Satã é impessoal. Mas ainda assim procura mergulhar o homem no grau de degradação que a vontade deste possa aceitar. Não há limite para a queda do indivíduo, assim como não há limite para a sua ascensão.

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O impulso para o interior da Paraprakriti (O poderoso som de OM) está sempre ao dispor da alma. Mas se a pessoa teimar em sair à cata de satisfações (bebidas, drogas, sexo em exagero), sucumbirá ao fluxo para fora (exterior) de Aparaprakriti, Satã.

Dizer a tais pessoas que estão agindo sob influência satânica só lhes provocará gargalhadas. A descida tem um atrativo, parece fácil. Os que vão ladeira abaixo não pensam na longa e áspera subida que depois terão de encetar.

No mundo astral existem anjos (devas) e demônios (asuras). Eles procuram, entre os seres humanos, aqueles que são do seu tipo, ou sejam, estão em sintonia.

Os demônios correm para os lugares sob o império de Maya (Aparaprakriti), bares, bolsas de valores onde reina a insensatez, corredores do poder e da corrupção, etc.

Quando o podem, os demônios vão além da mera tarefa de influenciar negativamente suas vítimas, e conseguem penetrar no corpo e na mente do indivíduo para induzi-lo ao crime.

Yogananda diz que os pensamentos têm raízes universais e não individuais. As inspirações não são criadas, precisam ser invocadas. Atos de violência e ódio indicam a predisposição do homem às forças demoníacas, não sendo de modo algum acionados unicamente pelos seres humanos.

Lamentavelmente o que em geral leva o homem a emendar-se é o sofrimento. Deus não quer que o homem padeça.

O inferno não é um local de confinamento permanente. O inferno parece eterno, nada mais, já que o sofredor acha que nada melhorará para ele.

Estar normal espiritualmente é estar livre da ilusão e cônscio de ser filho de Deus. Tudo o mais é anormal.

Poderes espirituais, prestígio social, admiradores, multidões de discípulos, êxito em negócios mundanos, essas e outras coisas, seduzem até mesmo yogues relativamente adiantados, que acabam por ficar aquém da absorção total em Deus.

A tentação oculta vem do apego ao ego, nem sempre pelo orgulho, mas muitas vezes pelo simples pensamento “Eu sou eu”. Um problema é a ideia “Se ao menos eu pudesse transformar o mundo num paraíso perfeito”. Este tipo de apego é sofisticado e sattwico, ou espiritualmente edificante.

Temos o dever de abençoar e auxiliar os semelhantes na medida do possível, para que eles também alcancem a realização plena, mas isto exige um entendimento de que ajuda podemos e devemos dar.

Este mundo é uma escola, e o motivo pelo qual as crianças vão à aula é educar-se, que no sentido espiritual significa tornar-se perfeito.

O objetivo primordial de todo sistema de educação é aprimorar os alunos, e não a própria escola. A pessoa cria um bom karma pelo bem que faz, mas mesmo o bom karma, permanece-se atado ao ego, e isso traz a pessoa de volta à Terra inúmeras vezes.

Ninguém pode transformar a Terra em paraíso porque as próprias pessoas são imperfeitas. Ninguém manda nos desejos dos outro, e não é possível decretar que outros renunciem ao que desejam.

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A maneira mais eficaz de melhorar as coisas de forma objetiva, é trabalhar com um grupo reduzido que anseie por um estilo de vida superior, e depois esperar que esses integrantes inspirem mais algumas pessoas.

Em comparação com a imensidade do mundo, o que o homem consegue fazer é pouco, muito pouco. Mas não podemos desistir.

Uma alma auto-realizada faz muito mais, graças à sua simples presença no mundo, do que os que se julgam “astros”, ansiosos por modificar as coisas.

Purusha e Prakriti são o Espírito e a Natureza, sempre a dançar no eterno folguedo divino, Lila. O Senhor transcendente (Purusha) e Prakriti (a mãe natureza) não são entidades separadas, mas uma única Realidade essencial.

Podemos descrever Prakriti como a tempestade que produz as ondas. Ela é produto do “desejo sem desejos” que o Espírito tem de exteriorizar sua beatitude, de “fruir-se por intermédio de muitos”.

A tempestade produz as três gunas, ou qualidades, que são graus de manifestação. Sattwa é como uma onda baixa, próxima à sua fonte que é o oceano, ela revela com a máxima clareza a verdade do seu Ser.

Rajas é a agitação que começa por manifestar-se numa lufada em vez de uma brisa leve. Quanto mais alta a onda, mais distante da fonte (o oceano), portanto sua altura distorce completamente a verdade.

Tamas resulta de extrema violência sob a forma de tormenta, que agiganta as ondas. As cristas parecem obliterar todo o senso de unidade quando se dissolvem em bolhas inumeráveis, que distanciadas de sua fonte (o oceano) elas não deixam entrever a majestade e a calma profunda do oceano.

Sattwa guna lança apenas um tênue véu sobre a Realidade eterna. Rajo guna seria como um manto, não um tecido vaporoso estendido sobre a Realidade.Tamoguna seria como uma parede de concreto a cercar essa Realidade. ATamoguna mergulha a mente em embotamento, dor e desesperança.

Satã não é uma realidade diversa e separada do Senhor do Universo. Satã não passa de uma exteriorização do poder de Maya, que se afasta do Espírito (Purusha) e se aproxima da criação (Prakriti).

Satã é uma força consciente, uma vontade, uma manifestação extremada da consciência na matéria. Devemos considerá-la como a fonte de toda a desarmonia e discórdia.

Nas esferas astrais elevadas não há contratempos desse tipo. Nos mundos materiais, onde predomina o Sattwa guna, aborrecimentos assim ou não existem ou não chegam a constituir problemas.

Já nos mundos ou galáxias inteiras que são mais tamásicos que o nosso, tais contratempos exacerbam em muito a desgraça geral. A natureza em seu aspecto Mãe Cósmica não é o responsável pelo sofrimento humano.

O que assusta, segundo o ponto de vista relativo do homem, é Prakriti como Aparaprakriti, seu aspecto exteriorizado.

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Não mais podemos nos considerar alvo da benevolente vigilância de um Deus paternal, sempre ocupado com os assuntos humanos, desejosa de ver todos bem sucedidos em suas ambições terrenas.

Deus é impessoal. Deixa sofrer quem O ignora ou se volta contra Ele. Mas para com aqueles que O amam, mostra-se também pessoal por meio do amor que lhe dedicam.

A visão que as pessoas alimentavam no passado transformava a vida numa espécie de partida de futebol entre uma equipe angélica e uma equipe demoníaca.

Dizia-se que Deus era onipotente, onisciente e infinitamente piedoso, mas havia a tal víbora insidiosa, Satã, que teima em atrapalhar todos os bons projetos. Se alguém resolve jogar na equipe de Deus, suas chances de êxito aumentam.

A visão cósmica não favorece em nada o conceito de favoritismo divino. Até ciência se encaminha para uma perspectiva da Realidade que pressupõe uma consciência universal em lugar de uma matéria inerte.

A natureza é absolutamente impessoal em tudo. Sem o mal consciente não haveria o bem consciente. Sem a dualidade não haveria manifestação cósmica alguma. A criação nunca se concretizaria.

O Bhagavad Gita não aponta para a vitória final objetiva, nem do bem nem do mal. Essa vitória é reservada apenas para indivíduos. Quase sempre, nesse mundo dual, as vitórias são passageiras.

Os que buscam individualmente a verdade mergulham, um por um, abaixo da superfície tempestuosa, encontram a paz nas profundezas. A libertação é obtida pelo esforço de cada um, não de grupos, embora os grupos possam oferecer um ambiente de apoio ao aspirante.

O exercício de consciência tem de ser feito pessoalmente, às vezes na solidão. Tudo se passa entre o indivíduo e o Criador.

Aos olhos de Deus não há favoritos, no entanto Suas leis parecem de algum modo favorecer aqueles que O buscam sinceramente. Milagres acontecem.

Quem consegue sondar Deus? Ele é impessoal sem dúvida alguma. No entanto, Ele reside em todos nós, e preocupa-se com cada um de nós pessoalmente quando Lhe entregamos o coração. Ele só requer o nosso amor.

Sentimentalismos não o demovem. A oferenda sincera e completa do próprio eu, sim. Milagres acontecem. Quando apelamos para a mãe do universo, obtemos resposta favorável.

A condição desse relacionamento com Ela é a confiança absoluta, quase infantil, e a ausência de motivos egoístas.