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Gary Inrig

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NAVEGANDO PELAS TURBULENTAS ÁGUAS DA VIDAPor Gary Inrig

Como está a sua vida agora? É um velejar suave? Raramente perde o

equilíbrio? Se for assim, este livreto provavelmente não parecerá muito significativo para você.

Porém, se puder admitir, como alguns de nós, que em muitas ocasiões, se pergunta para onde sua vida está indo; se terá forças para encarar o dia; ou, como pode dar o próximo passo com confiança, creio que você ficará tão encorajado quanto eu com este excerto do livro True North (Norte verdadeiro), do pastor Gary Inrig.

Algumas vezes precisamos de um amigo, como Inrig para nos dizer no que podemos crer com segurança.

Mart DeHaan

SUMÁRIO

Encontrando o verdadeiro norte(O livro de Jó) ....................... 2

“Não saia de casa sem ela” (A tentação de Jesus) .........19

Título original: Navigating The Storms Of Life ISBN: 978-1-60485-969-0Foto da capa: Getty Images PORTUGUESEAs citações bíblicas são extraídas da Ed. Revista e Atualizada de J. F. de Almeida © 1993 Soc. Bíblica do Brasil. © 2015 Ministérios Pão Diário. Todos os direitos reservados Impresso no Brasil

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ENCONTRANDO O VERDADEIRO NORTE

A única esperança para um marinheiro sobreviver a uma

tempestade e navegar em um oceano é ter um ponto de referência fixo que lhe permita saber onde está e para onde está seguindo. Os primeiros navegadores mantinham o olhar em marcos conhecidos na terra. Quando marinheiros ousaram navegar para além da vista desses marcos, continuaram precisando de um ponto de referência fixo. Então olharam para os céus. Conforme o conhecimento foi aumentando e se aperfeiçoando a navegação orientada pelas estrelas, o principal ponto de referência dos navegadores no hemisfério norte se tornou a Estrela do Norte — também conhecida como Estrela Polar. A tecnologia moderna mudou o sistema. Sextantes e compassos deram lugar à navegação eletrônica e ao

Global Positioning System (GPS). Porém, o princípio permanece o mesmo. Os pontos fixos de referência para o GPS são um sistema de 24 satélites que emitem sinais, os quais um receptor usa para calcular latitude, longitude e até mesmo altitude. Estes satélites estão precisamente posicionados.

A Estrela Polar para orientar a nossa vida é Jesus Cristo. Isso vale tanto para quando estamos em águas relativamente familiares, com pontos de referência antigos — confortavelmente à vista, quanto para águas desconhecidas, sem nada no horizonte. Logo, é o olhar fixo em Cristo que nos manterá no curso. Isso pode soar facilmente como um jargão religioso, mas em meio a uma tempestade, se torna necessidade imperativa. Poucas histórias na Bíblia ilustram isso tão bem quanto as emocionantes narrativas do livro de Jó e da tentação de Cristo no deserto. Embora esses relatos tenham uma profundidade intensa que requer atenção cuidadosa,


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meu objetivo é mais modesto. Vamos dar uma olhada em alguns dos principais pontos dessas histórias que fornecem diversos e importantes princípios de navegação.

AS TORMENTAS DA VIDA PODEM ATINGIR AS PESSOAS MAIS IMPROVÁVEISSeja qual for a verdade sobre Jó, ele não era um homem qualquer, e sua vida não era comum. Ao lermos sua história, devemos reconhecer que ele era exceção, não a regra, pois os eventos de sua vida não são corriqueiros. E, profundo como é, este livro não tenta responder todas as nossas questões relacionadas ao mistério do mal. Porém, suas palavras iniciais nos apresentam uma vida plena e um homem a quem Deus destacou por seu caráter íntegro.

Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal. Nasceram-lhe sete filhos e

três filhas. Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; era também mui numeroso o pessoal ao seu serviço, de maneira que este homem era o maior de todos os do Oriente. Seus filhos iam às casas uns dos outros e faziam banquetes, cada um por sua vez, e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles. Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente (Jó 1:1-5).Há muita coisa que não nos

é dito sobre Jó, por exemplo, quando e onde ele viveu; temos apenas uma vaga ideia do lugar (norte da Arábia Saudita ou sul da Jordânia). Também não há como ter certeza sobre: sua relação (se é que houve


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alguma) com o povo de Israel, quem é o autor do livro e de quando foi escrito. Estas são perguntas que continuam sem respostas. Contudo, a mensagem que o Espírito Santo pretende que aprendamos com a história de Jó não depende de sabermos ou não disso. No entanto, essa mensagem requer que consideremos cuidadosamente a informação que nos é fornecida sobre esse homem descrito nesses primeiros versículos.

Jó foi uma pessoa de caráter impecável, um homem correto, “íntegro e reto”. Essa não é apenas a opinião de um autor humano. Surpreendentemente, era a opinião de Deus, tanto que confrontou a Satanás com o caráter de Jó: “Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal” (1:8). Não há como imaginar afirmação mais elevada! “Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento” (28:28). Jó era um pecador como

qualquer outro ser humano, mas se destacou entre seus contemporâneos devido à integridade de sua vida.

Jó também foi uma pessoa com muitas propriedades. A descrição de sua riqueza não nos impressiona a ponto de imediatamente o incluirmos na lista dos homens mais ricos do mundo, especialmente em uma cultura que parece produzir bilionários da noite para o dia no mercado de ações, e milionários instantâneos em programas de televisão. Porém, Jó, na moeda corrente de sua época, era um homem próspero e bem-sucedido. Naquele tempo a família era considerada uma riqueza, e quem tivesse sete filhos homens era realmente rico. Além disso, tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentos jumentos, uma grande comitiva de servos — tudo isso eram marcas de poder e notoriedade. Jó era um homem que devia ser respeitado, não apenas por ser pessoalmente próspero, mas


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também por exercer grande influência econômica em sua região. Ele não era apenas bem-sucedido; era “…o maior de todos os do Oriente” (1:3).

A terceira coisa que sabemos sobre Jó é que ele era um homem com vida espiritual autêntica e vigorosa, associada a uma profunda preocupação com sua família. Sua riqueza não o transformou em autocomplacente ou autossuficiente. Ele era um homem de oração e constantemente colocava seus filhos perante o Senhor. Seus filhos e filhas gostavam muito de festas. Não nos é dito exatamente o que acontecia nessas celebrações, mas aparentemente isso incomodava Jó o suficiente para que ficasse preocupado com o bem-estar espiritual e moral deles. Por conta disso, ele garantia que todos aqueles banquetes fossem seguidos de algum tipo de ritual de purificação. O texto afirma que ele chamava “…a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o

número de todos eles”, fazendo oração pela vida espiritual e pelo relacionamento deles com Deus, “pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração” (1:5). Os detalhes específicos desses processos nos são obscuros, mas o significado maior deles não. Jó reconhecia que sua riqueza vinha de Deus, e por isso não acreditava que seus filhos tivessem direito a uma boa vida, e fossem indiferentes ao Senhor.

Portanto, comecemos com uma ideia clara do homem que está no centro da ação. Jó era um pilar de integridade moral, um modelo de autenticidade espiritual, e um sucesso reconhecido e respeitado. Em todas as esferas da vida, ele prosperou. Era o tipo de pessoa que o povo admirava e Deus destacava como singular.

Então subitamente, de maneira inesperada, tudo muda. A vida de Jó desmorona e ele não tem como saber o porquê. Na esfera terrena, ele vive um momento em que um desastre


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após o outro dilacera sua vida meticulosamente estruturada. Como leitores, temos a vantagem de ver a vida de Jó sob a perspectiva divina. Porém, quando se trata da nossa própria vida, nos encontramos onde Jó estava — na esfera terrena — incapazes de ver as coisas a partir do alto. Logo, confiar quando e onde não enxergamos ou compreendemos é a essência do viver pela fé.

A primeira rodada começa com a súbita chegada de um relatório trazido por um de seus servos:

Sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam e bebiam vinho na casa do irmão primogênito, que veio um mensageiro a Jó e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles; de repente, deram sobre eles os sabeus, e os levaram, e mataram aos servos a fio de espada; só eu escapei, para trazer-te a nova (1:13-15).Não fica claro se isso

foi um ato de guerra ou um assalto brutal, mas é uma

ação que combina terror com significativas perdas pessoais e financeiras. Provavelmente, Jó lamentou muito mais pela perda de seus servos do que pelos seus bois e jumentos. Mas este era só o início da avalanche de problemas que estavam por vir.

Falava este ainda quando veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu; só eu escapei, para trazer-te a nova (v.16)Jó mal teve tempo de tomar

fôlego, quando recebeu o segundo golpe. Desta vez, é um tipo de desastre natural, talvez um enorme raio tenha causado o fogo que destruiu suas ovelhas e pastores. Mas novamente, Jó não teve tempo para digerir as más notícias:

Falava este ainda quando veio outro e disse: Dividiram-se os caldeus em três bandos, deram sobre os camelos, os levaram e mataram aos servos a fio de espada; só eu escapei, para trazer-te a nova (v.17)Agora, novamente, o

problema é de origem humana.


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Grupos de caldeus atacaram, roubaram os camelos de Jó e mataram seus pastores. Ele deve ter se perguntado se alguma estranha aliança entre grupos tribais havia determinado que ele seria um alvo. Porém, mais uma vez, não teve oportunidade de processar a informação. Outro mensageiro chega com notícias ainda piores. Pela terceira vez, vemos a frase “falava este ainda”. Esses mensageiros estavam quase se atropelando na urgência de trazer as más notícias:

Também este falava ainda quando veio outro e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa do irmão primogênito, eis que se levantou grande vento do lado do deserto e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre eles, e morreram; só eu escapei, para trazer-te a nova (vv.18,19)De todas as notícias que

Jó tinha recebido, nenhuma foi pior do que essa. Uma ventania parecida com um tornado havia tirado

a vida daqueles que eram os mais preciosos para ele. Combinada com as outras mensagens, para Jó isso era como viver um pesadelo. Sua prosperidade, sua segurança, seu estilo de vida, seu padrão social e sua família desapareceram num piscar de olhos. Em minutos, o maior homem do Oriente havia se transformado no homem mais desolado da terra.

Por mais duro que tenha sido para Jó viver um pesadelo acordado, essa era apenas a primeira rodada. A segunda atingiria sua saúde e bem- -estar pessoal:

Então, saiu Satanás da presença do Senhor e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. Jó, sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se. Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre (2:7-9)Os detalhes da sua doença

são obscuros, mas sua situação era extremamente


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dolorosa e o isolava socialmente. Ele foi reduzido a uma existência mendicante, sentado em uma pilha de lixo, cercado por cerâmica quebrada e cinzas. Tinha perdido tudo o que valorizava: família, saúde, propriedade, posição social. Até sua esposa, traumatizada pela tristeza, não se encontrava em condições de lhe dar apoio. Na verdade, ela responsabilizou Deus, e talvez Jó, pelo que acontecera. Nada fazia sentido na vida deste homem naquele momento, embora algo precioso tenha permanecido — sua visão de Deus. Ela havia sido ameaçada, mas não perdida. De fato, como veremos a seguir, é o olhar fixo de Jó em Deus, como sua Estrela do Norte, que o permitiu navegar durante a tempestade.

Poucos seres humanos, se é que existe algum, passaram pelo que Jó passou. Mas podemos nos identificar com o sentimento de estar no meio do mar, numa tempestade ameaçadora, sem nenhum marco conhecido à vista.

Enquanto escrevia essas palavras, precisei fazer uma pausa para visitar uma jovem viúva cujo marido teve um colapso súbito durante um treino, deixando-a com dois filhos pequenos. Seu belo e sonhado futuro chegou a um repentino e doloroso final. Como ela poderia seguir em frente? Essa se torna a principal pergunta quando enfrentamos situações que dificilmente imaginamos, e que não podem ser mudadas.

O livro de Jó propõe-se a nos ajudar a responder essa pergunta, mas não de uma forma teórica. Ainda que o livro nos confronte com o problema do mal, ele não pretende nos dar uma solução filosófica. Ao invés disso, nos desafia, frente às tragédias sem respostas ou inexplicáveis, a fixar nossos olhos em Deus. Os dois primeiros atos da tragédia de Jó se desenrolam na Terra. Agora somos convidados a ver os eventos de sua vida de outra perspectiva, uma que envolve um mistério fundamental da vida humana.


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ESTAR CIENTE DA CAUSA INVISÍVEL POR TRÁS DO “VISÍVEL” DA VIDADeus reivindica cada centímetro do Universo, e essa reivindicação é atacada e desafiada por Satanás. Por trás do “visível” da história humana e de nossa vida, há o conflito sobrenatural entre Deus e o maligno. Não é uma disputa equilibrada, pois de forma alguma Satanás é igual a Deus, ou mesmo Seu rival, embora ele se oponha cruelmente a tudo o que Deus faz. Raramente estamos cientes do quanto essa guerra invisível toca a nossa vida, mas a verdade é que fazemos parte de uma realidade maior do que podemos imaginar. O livro de Jó nos traz algo incomparável, ele nos permite adentrar aos lugares celestiais e compreender o prelúdio celestial aos eventos terrenos. Podemos ver o que Jó nunca viu, e saber o que nunca lhe foi contado. A história se desenrola de forma dramática, e devemos ter o cuidado de perceber os

detalhes conforme a intenção das Escrituras. Entretanto, fica claro que nosso mundo é foco de um conflito permanente entre Deus e Satanás, e nossa vida é parte dessa história maior. Isto também nos chama a reconhecer o mistério da vida, e nos lembra de que muitas das explicações que tentamos dar são profundamente míopes.

Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar- -se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então, perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela. Perguntou ainda o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal. Então, respondeu Satanás ao Senhor: Porventura, Jó debalde teme a Deus? Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas


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mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra. Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na Tua face. Disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a mão. E Satanás saiu da presença do Senhor (1:6-12).Embora os demais livros

Bíblia nos falem pouco sobre o funcionamento do mundo celestial, o livro de Jó nos presenteia com um notável vislumbre dos bastidores. Os seres angelicais vão à presença de Deus, e Satanás com eles — porém não como quem é leal a Deus. Em outro lugar da Escritura encontramos Satanás como “o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus” (Apocalipse 12:10). Essa mesma passagem nos diz que ele será expulso do céu antes dos eventos finais do período da tribulação. Parece que,

até lá, Satanás tem acesso à presença de Deus, onde ele se opõe ao agir do Senhor, atacando e acusando o Seu povo. Por que Deus permite isso, não nos é dito. Entretanto, é nesse contexto que Deus toma a iniciativa e pergunta a Satanás: “Donde vens?” (1:7). O Senhor não está pedindo informações; Ele está chamando Satanás para prestar contas. A resposta é ambígua: “De rodear a terra e passear por ela.” Isso é seguido pelo desafio direto do Senhor, que toma a forma de uma maravilhosa afirmação sobre Jó: “Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal” (1:8).

Não deveríamos passar tão rapidamente por cima disso, pois há um fato profundo sobre a existência humana nessas palavras. O propósito de Deus é magnificar Seu poder e glória em e por meio de Seu povo. De todas os feitos de Sua criação que poderia usar para envergonhar Satanás, o


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Senhor escolheu um homem fiel a Ele. A importância disso para cada seguidor de Cristo não deve ser considerada um exagero, pois levamos o nome e a reputação de nosso Deus, não apenas perante o mundo, mas também perante os principados e potestades (Efésios 3:10). O fim principal do homem é, verdadeiramente, glorificar a Deus e deleitar-se nele para sempre, e quando fazemos isso, Satanás é derrotado e Deus é exaltado.

Se o propósito de Deus é magnificar Sua glória, o de Satanás é difamar o Senhor e desfigurar a Sua glória. Sua contestação atinge o âmago do relacionamento do cristão com Deus. É possível até escutar o risinho de escárnio em suas palavras:

Porventura, Jó debalde teme a Deus? Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra. Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não

blasfema contra ti na Tua face (vv.9-11)As palavras de Satanás

são um tremendo insulto ao Senhor. Efetivamente está dizendo que não vale a pena servir a Deus simplesmente por quem Ele é. E em vez disso, o Senhor precisa comprar a lealdade de Jó e do resto da humanidade. Satanás afirma que o egoísmo é único motivo pelo qual qualquer pessoa escolhe adorar a Deus. E Satanás entende de egoísmo, pois é a base de sua filosofia. Essa é uma das razões pelas quais o Senhor Jesus é um grande mistério para ele. Como Satanás pode compreender Alguém que, “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo”? (Filipenses 2:6,7). Ele não pode! Assim como não pode entender um seguidor de Cristo que ama a Deus por quem Ele é, e não meramente pelo que Ele concede.

A principal questão do livro de Jó não é “Por que o


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justo sofre?”, mas sim “Por que o justo serve a Deus?” Os seres humanos são pecadores e a motivação corrupta das pessoas diz mais sobre nós do que sobre Deus. No entanto, Satanás levanta uma questão com a qual todo cristão deve lidar: Por que eu sigo a Cristo? Algumas pregações que prometem saúde, riqueza e prosperidade aos “filhos do Rei”, apelam aos piores instintos dentro de nós. Amo a Deus por Suas dádivas ou por Ele mesmo? Continuaria amando se Ele me chamasse a andar pelo caminho do sofrimento e sacrifício? Warren Wiersbe resume bem essa fundamental questão:

“A acusação de Satanás toca no cerne da adoração e virtude. Vale a pena amar e obedecer a Deus mesmo que Ele não nos abençoe materialmente, nem nos proteja da dor? Deus pode ganhar o coração do homem por completo, independentemente de Suas dádivas? Em outras palavras, é o próprio caráter de Deus

que está em jogo nessa luta” (Why us? When bad things happen to God’s people, p.41 — Por que nós? Quando coisas ruins acontecem ao povo de Deus).O Senhor poderia ter

rejeitado a insolência de Satanás com toda carga de desprezo que ela merecia: “Não preciso provar nada nem a você nem a ninguém.” Mas Ele não o fez. Em vez disso, permitiu que Jó se tornasse um caso a ser estudado: “Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a mão” (1:12). Jó agora se tornaria a nova frente na guerra invisível, o lugar onde Satanás buscava rebaixar o valor de Deus e de Sua glória.

Não temos como precisar se um episódio como este já aconteceu na vida de outros cristãos. Mas sejam quais forem nossas circunstâncias, a glória de Deus está em jogo pela forma como reagimos às situações que nos atingem. As questões que enfrentamos são, com frequência, muito maiores


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do que nossa própria paz e felicidade.

O segundo ato do drama celestial é uma virtual reprise do primeiro, só que dessa vez o próprio Jó, ao invés de sua família e posses, se torna o objeto do ataque. Quando Deus destaca que Jó “conserva a sua integridade”, Satanás exige acesso direto a ele:

Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar- -se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles apresentar-se perante o Senhor. Então, o Senhor disse a Satanás: Donde vens? Respondeu Satanás ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela. Perguntou o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal. Ele conserva a sua integridade, embora me incitasses contra ele, para o consumir sem causa. Então, Satanás respondeu ao Senhor: Pele por pele, e

tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. Estende, porém, a mão, toca-lhe nos ossos e na carne e verás se não blasfema contra ti na Tua face. Disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está em teu poder; mas poupa-lhe a vida (2:1-6).Essa permissão

desencadeia a ofensiva de Satanás contra a saúde de Jó. Ele é reduzido a um pária devastado pela dor, coçando suas feridas com cacos de cerâmica, buscando, em vão, alívio para sua aflição.

Nesse ponto, a investida de catástrofes termina, mas não é o fim da história. Afinal, chegamos apenas ao segundo capítulo de um livro que contém 42. Como disse Winston Churchill sobre a primeira vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial: “Este não é o fim. Não é sequer o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo.” Satanás sai de cena. Seu papel foi apenas uma introdução à parte central do livro, que relata o encontro de Jó com Deus num nível


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mais intenso e profundo do que qualquer situação que ele já tivesse conhecido.

Apesar destes eventos dramáticos serem considerados um prefácio, eles têm uma mensagem duradoura. As experiências de Jó nos lembram de que nossas tempestades e sofrimentos são parte de uma batalha maior. De maneiras que não poderemos ver enquanto vivermos na esfera terrena, elas são parte de uma luta espiritual mais ampla. Não nos foi prometida a liberação dos desafios da vida, e a forma como reagimos à tempestade tem uma influência direta sobre se alcançamos ou não o objetivo de glorificar ao Senhor.

Precisamos também reconhecer que o sofrimento recai no âmbito da soberania de Deus. Pode ser um enorme mistério a maneira do Deus soberano e Todo-Poderoso estar relacionado aos sofrimentos e males de um mundo decadente. Ainda assim, como veremos, Jó não cometeu o erro de achar que, se ele não podia

entender, o Senhor não deveria ter nada a ver com aquilo. Jó não sacrificou a verdade da suprema soberania de Deus no altar de sua frágil compreensão. Nem nós devemos. Satanás faz o que faz, mas não fora dos limites do controle do Senhor. Mesmo o maligno não é livre para atuar com autonomia. Ele apenas pôde tocar Jó porque o Senhor o permitiu (2:5,6). Nosso Deus permanece soberano mesmo nas ocorrências inexplicáveis da vida.

A história de Jó também nos lembra de que existe o sofrimento não merecido. Talvez nossa sociedade, com sua débil percepção de pecado e culpa, precisa ouvir a mensagem oposta: Há um Deus que deve punir e que punirá o pecado. De certo, algum sofrimento é devido ao castigo do Senhor ou às consequências do pecado em nossa vida. No entanto, nem todo sofrimento é o resultado de pecado individual. Esse é um conceito que os amigos de Jó — na parte central do


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livro — não conseguiram compreender. Sua teologia é clara como o gelo, e duas vezes mais fria: A pessoa colhe o que plantou. Eles tinham certeza de que Jó devia ter cometido algum pecado terrível para passar por consequências tão terríveis, e eram incansáveis em suas acusações. Porém, estavam errados.

Deus deixa evidente que o sofrimento de Jó ocorreu não por ele ser pecador, mas porque ele era justo. Há um mistério aqui, e essa é exatamente a questão. Não conhecemos todos os fatos e precisamos ser humildes antes de declarar que conhecemos a mente de Deus. O porquê de seu sofrimento permanecia um mistério para Jó, assim como as nossas aflições normalmente são para nós. Não sei porque meu cólon subitamente se rompeu, ou porque minha retina descolou, prejudicando minha visão permanentemente. Eu não sei porque minha esposa desenvolveu câncer ou, mais misteriosamente ainda, porque ela sobreviveu enquanto outros

amigos, maravilhosamente dedicados, morreram da mesma doença. Porém, tenho certeza de duas coisas. Primeira: o sofrimento nem sempre é uma consequência de um pecado individual, mas é sempre o resultado de viver em um mundo decadente. Nenhum de nós está isento dos efeitos dessa decadência. Segunda: o sofrimento pode não ser merecido, mas nunca é sem propósito. Jó expressou isso de forma maravilhosa: “Mas Ele sabe o meu caminho; se Ele me provasse, sairia eu como o ouro” (23:10). O Senhor usa até o sofrimento imerecido para nos refinar e para produzir em nós uma crescente semelhança com Jesus, para a glória de Deus e para o bem dos outros.

O sofrimento nos apresenta um mistério. Quando Jó externa seus sentimentos e pensamentos, fica evidente que ele pensava que Deus estava, por alguma razão inexplicável, irado com ele (Jó 3–31). Estava errado. Na verdade, Deus sentia-se orgulhoso dele. Ao


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longo de seu discurso, Jó e os amigos viram a situação como um problema que precisava ser resolvido. Apenas ao final, Jó percebeu que é um mistério que precisa ser entregue ao Deus Onisciente e Todo-poderoso.

Algo que me ajuda imensamente é perceber que minha preocupação principal em momentos como esses não deve ser Como posso sair dessa?, mas O que eu posso tirar disso? Essa não é uma postura de resignação passiva. Jó lutou bravamente para entender e bombardeou os céus com suas perguntas. Deus aprovou sua busca desesperada por respostas, assim como Ele censurou a ortodoxia rígida dos amigos de Jó: “…não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (42:7). Mas ao final, Jó acaba em silêncio perante o mistério dos propósitos soberanos de Deus.

E qual a resposta desse homem aos sofrimentos que se abateram sobre ele? Jó mantém o curso, mesmo em meio às tempestades catastróficas. O

motivo é claro: ele tem uma Estrela do Norte e traça sua rota a partir de um ponto de referência que é fixo e seguro.

PRECISAMOS DE UMA VISÃO CLARA DO DEUS TRIÚNO PARA TRAÇARMOS NOSSA ROTAJó buscou recurso imediato no controle soberano e gracioso de Deus. Ele não chegou despreparado a essas crises. Ele conhecia Deus. Você pode aprofundar seu conhecimento do Senhor numa crise, no entanto, esse seria um momento delicado para lançar os alicerces nesse relacionamento. Jó estava fundamentado numa vida de adoração e caminhada com o Senhor. Quando seu pesadelo chegou ao fim e ele se viu despido de tudo o que valorizava, proferiu palavras profundamente comoventes:

Então, Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu


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voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor! Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma (1:20-22).É impossível não ficar

emocionado com a reação de Jó. Ele não se esforçou para sufocar suas emoções. Ainda assim, em meio a lágrimas, manteve seu foco no Senhor. Sua reação de adoração não é um ritual vazio, mas a resposta confiante de um homem que aprendeu a andar com seu Deus. Jó sentiu a tempestade em toda sua intensidade, mas escolheu manter seu olhar na Estrela, não na tempestade, para enxergar o Deus vivo, além do horizonte. Ele estava profundamente ciente da graça divina (“o Senhor o deu”) e de Sua soberania (“o Senhor o tomou”), e escolheu louvar a Deus, mesmo em meio à sua dor. Essas não são palavras banais; não são os jargões religiosos que se esperava que ele dissesse. Essa é a determinação mais profunda de seu ser.

A segunda bateria de testes termina de um modo muito semelhante. Dessa vez, o foco de Jó é revelado no confronto com sua esposa:

Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre. Mas ele lhe respondeu: Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios (2:9,10).À primeira vista, pode

parecer um tipo de resignação fatalista. Não é o caso. Como revelam os capítulos de 3 a 31, Jó tinha uma confiança intensa em Deus. Mas ele rapidamente entrara no crisol do sofrimento, e esses capítulos descrevem a profundidade de sua luta para manter sua confiança na bondade do Senhor, assim como em Seu controle.

Se o recurso imediato de Jó foi sua confiança no controle de Deus, a resolução definitiva foi confiar no caráter do Senhor. No poderoso final do


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livro, Jó encontrou o Deus vivo (Jó 38–42). Ele não recebeu explicações sobre o que aconteceu ou o motivo.

Mas, ao invés disso, ele se encontrou com Deus e foi dominado por Sua sabedoria, Seu poder, Sua graça e cuidado. A resposta final de Jó não foi filosófica ou teológica, mas pessoal. Ele se vê humilhado e arrependido diante do Deus da glória e da graça: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42:5,6). Na presença do Senhor, a visão que Jó tinha de Deus e de si mesmo, mudou. Há muita coisa que não aconteceu: Deus não explicou seu sofrimento; não respondeu às suas perguntas; não defendeu Suas ações; nem desvendou o mistério do mal. Contudo, o Senhor revelou a si mesmo e pediu a confiança de Jó. Ele estava mais preocupado em aumentar a confiança de Jó do que em satisfazer sua curiosidade.

Sempre podemos confiar em Deus, mesmo quando não

entendemos o que Ele está fazendo. Ele é imutável em Seu caráter, o único ponto fixo num mundo mutável.

Deus tem o direito de fazer o que faz: Ele é soberano. Deus tem uma razão para o que faz: Ele é bom e sábio. Deus tem um propósito em tudo o que faz: Ele é justo e gracioso.

A história de Jó nos conduz a uma poderosa verdade. Precisamos encher nossa mente com pensamentos a respeito de Deus que são dignos dele. Todas as ideias indignas nos tiram perigosamente do curso. No âmago de sua provação, Jó proferiu palavras de fé e esperança:

Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro de mim (19:25-27).Que exemplo poderoso

para nós. Pois a verdade é que


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sabemos muito mais sobre Deus do que Jó sabia. Nossa visão sobre Ele é muito mais convincente. Nossa Estrela do Norte é o Deus triúno revelado no Senhor Jesus Cristo. Sabemos que a Palavra se tornou carne. Temos as palavras e obras de Jesus, e vemos em Sua Pessoa a verdade encarnada sobre Deus. Colocamo-nos diante da cruz e nos maravilhamos com a profundidade de Seu amor, e ao nos colocarmos diante do túmulo vazio reconhecemos o Seu poder. Temos Seu Espírito vivendo em nós para manifestar Sua presença e possuímos Sua Palavra da verdade, na qual podemos escutar a Sua voz. Ele é o ponto fixo, a Estrela do Norte — constante e indispensável — ou, usando Sua própria descrição: “…a brilhante Estrela da manhã” (Apocalipse 22:16) que nos capacita a viver bem. Se Ele não for o ponto de referência fixo pelo qual determinamos nossa posição e direção constantemente, estamos fadados a nos perder.

“NÃO SAIA DE CASA SEM ELA”

Viver no mundo contemporâneo é como tentar navegar

em um oceano desconhecido, que muda velozmente e é imprevisível. Temos navegado além do limite de nossos mapas. A primeira necessidade é ter um ponto de referência fixo e imutável. Essa Estrela do Norte, ou Polar, é o nosso Deus triúno, conhecido por meio de Jesus Cristo. Entretanto, a navegação requer muito mais do que um ponto de referência fixo. Sei como encontrar a Estrela Polar no céu noturno, mas não tenho a menor ideia de como descobrir minha localização a partir dela. Mesmo que tivesse, precisaria da ferramenta apropriada para me permitir trazê-la ao meu horizonte. Um cristão sabe que a Bíblia, a Palavra escrita de Deus, é o instrumento de navegação, dado pelo Senhor, que nos capacita


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a alcançar nosso destino pretendido por Deus, que é a semelhança com Jesus, para a glória de Deus e o bem dos outros. Porém, preciso saber mais do que simplesmente que a Bíblia é meu sextante espiritual. Necessito aprender como usá-la adequadamente. O grande modelo de atitude apropriada e uso das Escrituras é encontrado no Senhor Jesus. Sendo assim, o exemplo de Cristo deve moldar meu uso e atitude em relação à Palavra de Deus.

Um dos temas constantes nos evangelhos é o papel central das Escrituras na vida de Jesus. A Palavra de Deus era base de Seu ensino, orientou Suas escolhas e predisse Seus sofrimentos. Ele conduziu Sua vida pelas Escrituras, e não há exemplo mais claro a respeito disso do que o encontro que teve com Satanás no início de Seu ministério público. Lucas nos dá o relato:

Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão

e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome. Disse-lhe, então, o diabo: Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem. E, elevando-o, mostrou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo. Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele darás culto. Então, o levou a Jerusalém, e o colocou sobre o pináculo do templo, e disse: Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos Seus anjos ordenará a Teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas


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mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Respondeu- -lhe Jesus: Dito está: Não tentarás o Senhor, teu Deus. Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno (4:1-13).O maior privilégio da

vida é se tornar um seguidor de Cristo, uma pessoa que vive pela fé em Jesus como Senhor e Salvador. O grande propósito na vida é tornar-se como Cristo, ter uma vida plenamente desenvolvida, totalmente humana, imitando o Mestre. Contudo, há muitas formas pelas quais não podemos nos tornar como o Senhor Jesus, pois Ele é o Deus-Homem, e a tentação de Cristo revela Sua natureza única de Filho do Altíssimo. Ao mesmo tempo, a tentação só foi possível porque o Senhor Jesus assumiu uma autêntica natureza humana, e na Sua vitória sobre a tentação empregou o mesmo recurso que nós, Seus seguidores, possuímos — a Palavra de Deus.

A TENTAÇÃO DO SENHOR JESUS REVELA SUA PESSOA QUE É ÚNICANão houve testemunha humana desse notável confronto registrado nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. O Senhor Jesus deve ter contado essa história a Seus discípulos para capacitá-los a ver Sua singularidade com mais clareza. O impressionante é que esse não foi um ataque surpresa de Satanás. Lucas nos diz que o Espírito conduziu Jesus ao deserto. Mateus é ainda mais específico: “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mateus 4:1). Esse encontro não foi uma emboscada preparada por Satanás a um Jesus desavisado, mas sim uma demonstração planejada pelo Deus vivo. A intenção de Satanás com seu ataque era destruir e desqualificar o Senhor Jesus. Se sucumbisse, Cristo não poderia se tornar nosso Salvador. Assim,


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Satanás colocou Jesus sob pressão implacável, astuta e calculada. O propósito de Deus era completamente diferente. A firmeza de Jesus, sob os ataques mais intensos de Satanás, o justificou e o legitimou. Sua verdadeira natureza como o homem perfeito, comprovada no teste, o qualificou para ser o Substituto de Seu povo e o Sumo Sacerdote que se identifica e se compadece com aqueles que são tentados. No caso do Senhor, a tentação não o levou à queda, mas expôs Seu extraordinário caráter.

As condições de tentação que Cristo suportou são significativas. O lugar é o deserto, onde o povo de Deus tinha falhado tão intensamente séculos antes, quando o Senhor os libertou do Egito. Adão, em contrapartida, caiu em tentação num ambiente perfeito. Jesus demonstraria que Ele é tudo o que Adão e Israel deveriam ter sido, mas falharam em ser. O processo era um teste de 40 dias que o Senhor passaria sem

comida. Aparentemente, diversas tentações ocorreram durante esse período, mas os evangelhos nos mostram apenas as três finais, que chegam num momento em que Jesus está fisicamente mais fraco e esgotado. Socialmente, Ele está isolado, absolutamente sem qualquer assistência terrena.

A primeira investida de Satanás foi lançada diretamente à óbvia condição física do Senhor. “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão” (Lucas 4:3). Satanás inicia com a lisura sutil de um hábil sedutor. Ele não começa atacando ou duvidando da afirmação de Jesus ser o Filho de Deus. Na verdade, ele a aceita pelo bem de seu argumento: “Se és o Filho de Deus (e assumirei que és).” A essência do ataque está na proposta “manda que esta pedra se transforme em pão”. Basicamente, essa é uma sedução para que um homem faminto acabe com a sua fome. O corpo do Senhor Jesus


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não era diferente do nosso em termos de necessidades físicas. O que poderia ser mais poderoso do que um convite para comer após 40 dias de jejum? Com um gesto simples, Ele não apenas acabaria com Sua fome, como também demonstraria Seu poder ao inimigo.

Porém, esse tipo de tentação age num nível ainda mais profundo, o que demonstra a sutileza do tentador. Como Deus, o Filho, Jesus havia exercido Seus atributos divinos por toda a eternidade em perfeita concordância com o Pai. Agora, como estava vivendo como homem-Deus, Ele tinha se submetido à vontade de Seu Pai. A persuasão de Satanás era para que Jesus vivesse para Seu próprio benefício, usando Seus poderes de forma autônoma de acordo com os próprios interesses e vontades.

Não é errado satisfazer uma necessidade física como a fome, nem realizar um milagre, transformando pedra em pão. Mas o apelo de Satanás

era para que Jesus tomasse um atalho, que tirasse Seu Pai da equação e colocasse Suas próprias necessidades acima de todo o restante. Essa é uma das manobras preferidas de Satanás. “Suas necessidades, seus desejos são a prioridade. Satisfaça- -os! Sirva a si mesmo.” Sexo, comida, casamento, dinheiro, prazer, propriedades — essas coisas são boas em si só, porém devem ser usufruídas plenamente dentro das fronteiras da vontade de Deus, limites que foram definidos para o nosso bem- -estar. Contudo, quando essas coisas se tornam a prioridade, quando nos entregamos aos nossos desejos de forma autônoma, estamos caindo na armadilha do maligno. Essa é a antiga artimanha que ele usou com Eva: “como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”. A questão não era apenas que Eva teria conhecimento intelectual do bem e do mal, mas que ela poderia definir o bem e o mal, determinar para si mesma


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o que era certo ou errado. Esta é a essência do pecado: Nós usurpamos o lugar do soberano Deus.

A resposta de Jesus é breve, mas direta: “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mateus 4:4). Ele está dizendo enfaticamente: “Eu como sob a orientação de Meu Pai, não pela insistência do meu estômago.” Lucas dá uma versão mais curta da citação do que Mateus, mas a mensagem é a mesma: Deus, o Senhor é a minha prioridade, não a comida (ou meu corpo, suas necessidade e desejos). Jesus poderia ter afirmado Sua autoridade, mas Ele baseou Sua resposta nas Escrituras (Deuteronômio 8:3). Ele não estava apenas respondendo a Satanás; mas declarando o princípio fundamental pelo qual Ele orientava Sua vida: Obedecer a Deus é a prioridade suprema da vida.

A segunda investida de Satanás sobre Jesus começa com uma mudança física de

localização. Satanás transporta Jesus a um lugar alto, de onde lhe mostra “…num momento, todos os reinos do mundo” (Lucas 4:5). Como não existe nenhum local físico que permita isso, obviamente deve ter sido algum tipo de visão. A declaração de Satanás é de tirar o fôlego por sua audácia: “Dar- -te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser” (v.6). A declaração é ilusória, como uma criança que segura o brinquedo da outra. “Eu o possuo. É meu.” O Deus soberano não concedeu autoridade ao inimigo sobre qualquer parte de Sua criação. Em João 14:30, quando o Senhor Jesus descreve Satanás como “o príncipe do mundo”, Ele não está sugerindo que o demônio tenha qualquer autoridade legitimada. O “mundo” naquele contexto é o maligno sistema mundano em rebelião contra Deus e composto por aqueles que se rebelam contra o Senhor. Foi o que Satanás ofereceu: “Pegue. É Seu. Não vou lutar com o


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Filho de Deus por ele. Tudo o que precisa é se prostrar e me adorar.”

A oferta deve ter sido sedutora. Os reinos do mundo pertencem, por direito, a Jesus. Se tivesse aceitado a oferta de Satanás, Ele poderia reclamar Sua propriedade e evitar a cruz. Sucesso sem sofrimento. Que ideia! Ele poderia ter optado pelo caminho fácil e contornado a cruz. Se tivermos alguma ideia de quão custosa foi a crucificação para Cristo, poderemos entender porque Satanás achou que essa proposta poderia ser tão atrativa. Os cristãos de hoje conhecem a mesma tentação só que em outro formato: Evitar o sofrimento e aproveitar o mundo. Bastar servir a outro rei.

A resposta de Jesus é clara e direta. Ele poderia ter debatido sobre a pretensão de Satanás, mas não o fez. Ele poderia ter atacado a audácia do Diabo, mas não o fez. Ele poderia ter zombado da credibilidade de Satanás, mas também não

o fez. Ao invés disso, cita a Palavra de Deus, novamente no livro de Deuteronômio: “Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele darás culto” (Lucas 4:8; veja Deuteronômio 6:16), estabelecendo um segundo princípio inegociável pelo qual Ele orienta Sua vida: A adoração a Deus é a prioridade suprema da vida. Quaisquer reivindicações opostas devem ser rejeitadas. Apenas o Deus eterno é digno da nossa reverência.

A terceira investida, como Lucas registra, envolve outra mudança de local — dessa vez para o templo em Jerusalém. Provavelmente Lucas colocou esse encontro como o ápice porque espelha a sequência de eventos em seu evangelho. Na verdade, Lucas 9:51 descreve Jesus saindo resolutamente para Jerusalém, onde Ele confronta o ataque final de Satanás, nos acontecimentos que o levaram à cruz (Lucas 19). Isto, então, se torna um tipo de prévia daquele encontro


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final, travado no “pináculo do templo”. Esse provavelmente era um lugar, nos muros da região do templo, que se erguia a mais de 120 metros sobre o Vale de Cedrom. A sugestão do demônio é clara: “Se és o Filho de Deus,” ele disse, “atira-te daqui abaixo” (v.9), não fica claro se isto era para ser um ato público, visto por muitos, ou privado, testemunhado apenas por Satanás.

Dessa vez, Satanás dá uma incrementada — ao tentar amparar sua tentação — citando a Bíblia. Se Jesus usava as Escrituras, ele também usaria! “Porque está escrito: Aos Seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra” (vv.10,11; veja Salmo 91:11,12). Satanás cita as Escrituras com precisão, mas diabolicamente. Ele tira o texto do contexto pretendido e o usa para tentar afastar Jesus de Seu Pai, não para aproximá-los.

É extremamente importante que nos lembremos disso: Há uma forma de usar a Palavra de Deus que a altera na voz de Satanás. Não é suficiente apenas usar a Bíblia. Devemos usá-la por honra e respeito ao que ela verdadeiramente é: a Palavra escrita de Deus.

A tentação de Satanás aqui foi sutil: “Você alega que acredita na Bíblia. Eis a promessa. Dê o passo na fé; se arrisque. Deus vai salvá- -lo.” Vivemos numa era que acumula experiências, até as espirituais. Algumas vezes ideias são apresentadas como se tudo fosse a nosso respeito: nosso sucesso, nossa prosperidade ou felicidade. Dizem-nos: “Fale e exija”. Versículos bíblicos são arrancados do contexto para justificar um estilo de vida autocomplacente. Deus se torna nosso servo, atendendo aos nossos caprichos. E podemos “requerer” isso com a Bíblia!

A resposta de Cristo, novamente, foi direta:


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“Dito está: Não tentarás o Senhor, teu Deus” (v.12). E, mais uma vez, Ele vai a Deuteronômio 6:16. Testar o Senhor não é confiar nele. A Escritura por si só não é suprema; Deus é. Por favor, não compreenda mal. A Bíblia é a Palavra de autoridade inspirada por Deus, mas ela deve ser usada sob Sua autoridade, consistentemente com Seu caráter e propósito.

Assim, o terceiro princípio de navegação é consistente com os dois anteriores: A confiança em Deus é a prioridade suprema da vida. Os três se juntam indissoluvelmente: obedecer a Deus, adorá-lo e confiar nele.

O Senhor Jesus é único, e Sua resistência vitoriosa sobre a tentação de Satanás demonstra Sua singularidade e supremacia. Mas esse relato da tentação também aponta para os princípios permanentes de navegação que orientaram Sua vida e devem também guiar a nossa.

O EXEMPLO DE JESUS REVELA NOSSO RECURSO INDISPENSÁVEL: A PALAVRA DE DEUSO relato da vitória de Cristo sobre a tentação de Satanás é rico em lições para todos os cristãos. Mas há três ensinos de significado especial quando se trata de navegar a vida num mundo volúvel e imprevisível.

Primeiro: navegar a vida requer uma profunda confiança na Palavra de Deus. Obviamente Jesus tinha uma autoridade que nenhum ser humano possui. No Sermão da Montanha, Ele declarou: “Ouvistes que foi dito […] Eu, porém, vos digo…”. A autoridade dele não é a de um rabino instruído, a voz da tradição ou uma posição oficial. Ele fala como o Filho de Deus, possuindo poder e autoridade singulares sobre Satanás e sobre cada ser criado. Mas Ele não fez defesa de Seu caso, ou mesmo declarou a verdade em Seu próprio nome. Ao invés disso, Ele continuou a responder


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com as Escrituras. “Está escrito”, declarava, repetindo a Palavra de Deus com simplicidade e objetividade. Nada poderia ser mais claro do que o fato de que, para Jesus, as Escrituras eram a última corte de apelação. O que as Escrituras dizem, Deus diz. Assim como de forma significativa, Satanás não faz qualquer esforço para contestar a Bíblia. Ele pode fazer mau uso dela, mas nunca contesta quando Jesus fala com a autoridade das Escrituras.

Poucas coisas são mais importantes para o seguidor de Cristo considerar do que a atitude de Jesus Cristo com relação à Palavra de Deus, e Seu profundo respeito pela autoridade dela. Em cada ponto importante de Seu ministério, a Palavra de Deus esteve presente. Ele definiu Seu ministério citando as palavras de Isaías 61 como Seu manifesto pessoal (Lucas 4:16-21). Desenvolveu Seu sermão mais famoso em torno de um esclarecimento

sobre o verdadeiro significado das Escrituras (Mateus 5–7). Condenou os líderes judeus, não por valorizarem devidamente a Palavra de Deus, mas por ignorarem sua clara mensagem (João 5:39,40,46) ou por terem-na coberto com camadas de tradição que oculta seu verdadeiro significado (Mateus 15:1-9). Ele declarou que a Bíblia tem autoridade duradoura; uma autoridade que chega até sua menor parte:

Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos


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digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus (Mateus 5:17-20).De fato “a Escritura não

pode falhar” (João 10:35). Jesus enxergava os acontecimentos de Sua vida como o cumprimento das Escrituras (Marcos 14:49). Mesmo na cruz, Sua mente estava cheia da Palavra de Deus (João 19:28). E após a ressurreição, uma de Suas prioridades foi abrir as Escrituras para Seus seguidores e explicar “…o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lucas 24:27,32). Jesus viveu a Palavra de Deus, amou-a e foi leal a essa Palavra. As Escrituras eram o manual de Sua vida, Sua proteção na guerra, Sua autoridade no ensino público e Sua diretiva para Seu ministério concedido por Deus. Ele obedecia a seus mandamentos com Seus atos e honrava seu significado com Seus ensinamentos.

As implicações são óbvias e essenciais. Se nosso Senhor e Salvador moldou Sua

vida pelas Escrituras, como poderíamos imaginar que precisamos dela menos do que Ele? Se o chamamos de Senhor e Mestre, como podemos ter uma visão mais rasa da Palavra de Deus do que Ele? Se somos Seus seguidores, como podemos depender menos dela do que Ele dependeu? Não somos páreo para as ciladas e tentações de Satanás, mas a Palavra de Deus mantém o seu poder como a espada do Espírito, capaz de colocar nosso inimigo na defensiva.

Uma das primeiras lições que um piloto aprende é: “Dependa de seus instrumentos.” Os seguidores de Cristo precisam aprender a mesma lição com o Senhor Jesus. Nossos instintos, intuições e desejos nos falam mais alto. É tentador fazer a própria vontade e se deixar levar pelo o improviso moral. Mas um estilo de vida assim não é apenas insensato; é desleal com nosso Senhor. Um seguidor de Cristo imita seu Mestre, vivendo pela sólida confiança nas Escrituras


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como a Palavra escrita de Deus. Ele vê a Bíblia como um instrumento de navegação indispensável para fazer as escolhas diárias da vida.

Um princípio intimamente relacionado para seguir: Navegar a vida demanda um conhecimento prático da Palavra de Deus. Jesus não apenas valorizava as Escrituras, como também as conhecia e usava. As passagens que Ele citou do livro de Deuteronômio demonstram Sua profunda familiaridade com o texto sagrado. Seu respeito pela Palavra também foi demonstrado por Sua recusa em permitir que Satanás fizesse mau uso da Bíblia. As Escrituras têm um significado pretendido por seu Autor divino; portanto, o texto precisa ser usado adequadamente, permitindo que Deus fale, e não manipulado conforme nossas verdades no lugar das verdades do Senhor. Deste modo, Ele orou por nós como Seu povo: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17).

A grande necessidade para os seguidores de Cristo é

conhecer a Palavra de Deus e manuseá-la com propriedade. É impossível ser profundamente influenciado pelo que não se conhece. Você é capaz de traçar seu caminho através do enredo básico da Bíblia? Conhece grandes passagens bíblicas que descrevem mais claramente as verdades centrais do cristianismo a respeito da natureza e caráter de Deus, o caminho da salvação, os princípios morais e éticos fundamentais que moldam o comportamento cristão e a base da oração? Você conhece as verdades da revelação de Deus sobre Sua mente e coração?

Precisamos manusear a Palavra de Deus com o respeito que ela merece. Como Paulo exorta a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15). Um navegador que tenta manipular seus instrumentos para que estes lhe deem a leitura que deseja, em vez da leitura que reflita a realidade, é um tolo. Tornou-se


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moda ler a Bíblia com apenas uma pergunta em mente: O que isso significa para mim? Essa pergunta é inoportuna. A primeira questão sempre deve ser: “O que esta passagem significa? O que o autor está dizendo realmente, sob a inspiração do Espírito Santo?”. Então, e apenas então, quando estou certo de que sinceramente compreendi o significado do texto, eu devo perguntar: Então, o que isso significa para mim? O significado das Escrituras deve sempre determinar sua relevância para minha vida. De outra forma, transfiro a autoridade para mim, e apenas uso a Bíblia para validar minhas opiniões. Cristãos sábios se esforçam para desenvolver uma boa habilidade de interpretação bíblica, assim como um hábil navegador aprende a usar cuidadosamente seus instrumentos. Pois, numa análise final, vidas dependem disso.

O terceiro princípio, então, segue naturalmente: Navegação na vida demanda um estilo de vida obediente à

Palavra de Deus. O objetivo de confiar na Bíblia como Palavra do Senhor, e o conhecimento dela, está em conformidade com as suas verdades. Não faz nenhum sentido ter instrumentos de navegação e leituras precisas se você não os segue. Jesus declarou o princípio de Sua vida nessas concisas palavras:• A minha comida consiste

em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra (João 4:34).

• Eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou (João 6:38).

• Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer (João 17:4).Em cada momento, a vida

de Jesus foi moldada e dirigida pela vontade de Seu Pai. Ele a conduziu sob orientação de Seu Pai.

A Bíblia é o sextante do cristão. Ela pega o ponto fixo do Deus triúno, a Estrela do Norte, e o coloca no horizonte


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para nos localizar no tempo e no espaço. Às vezes, sob forma de ordem direta, porém, com mais frequência em princípios gerais, ela me diz o que significa viver como um seguidor de Cristo. Ela me revela onde estou, frequentemente com uma precisão dolorosa, me convencendo do pecado. Ela aponta para onde preciso ir, me mostrando que tipo de casamento que preciso aspirar, o caráter que devo buscar, os comportamentos que devo evitar, os hábitos que preciso desenvolver. Ela coloca diante de mim meu destino final, o que faz a jornada toda valer a pena, e me inspira a continuar seguindo em frente.

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Timóteo 3:16,17).Mas não é suficiente

apenas possuí-la; precisamos

nos orientar por ela. A Bíblia efetua seu trabalho designado por Deus somente quando se torna o instrumento ativo de navegação em nossa vida. Apenas um tolo iria calcular cuidadosamente suas posições para, em seguida, jogá-las ao mar e fazer o que quisesse, ao acaso. É por isso que o irmão de Jesus, Tiago, nos alerta: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tiago 1:22).

“Não saia sem ela”. Para cristãos que pretendem navegar com sucesso num mundo caótico, a expressão ganha um novo significado. O instrumento indispensável para se navegar pelas turbulentas águas da vida é a Palavra de Deus — a Bíblia.

dEste livreto foi extraído do livro True North (Norte verdadeiro), de Gary Inrig. O autor é formado pelo Seminário Teológico de Dallas, EUA, e atualmente pastoreia a igreja Trinity Evangelical em Redlands, na Califórnia.


wm580 isbn 978-1-60485-969- 0 -...

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