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1. ARTROLOGIA O estudo das articulações ou junturas recebe o nome de artrologia, do grego arthron (juntura, conexão) e logos (estudo). Em termos anatômicos as junturas podem ser definidas como as conexões de quaisquer partes rígidas componentes do esqueleto de um animal, sejam elas estruturas ósseas ou cartilaginosas (nos animais com esqueleto apenas cartilaginoso, os denominados Chondrichthyes). A união entre os ossos e cartilagens não ocorre apenas para colocá-los em contato, mas também para controlar e, principalmente, limitar a mobilidade entre as estruturas articuladas. Outra importante participação das articulações diz respeito à resistência frente às tensões existentes sobre as superfícies articulares, principalmente, nos ossos dos membros dos animais de grande porte. 2.1 CLASSIFICAÇÕES DAS ARTICULAÇÕES Existem articulações formadas por diversos tipos de tecidos, mas conceitualmente definimos três tipos: as fibrosas, as cartilaginosas e as sinoviais.

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Page 1: Web viewfosse uma articulação entre ossos, porém ela é a união entre um dente e um osso, ou seja, o encaixe do dente em um alvéolo dentário mediante tecido

1. ARTROLOGIA

O estudo das articulações ou junturas recebe o nome de artrologia, do grego arthron (juntura, conexão) e logos (estudo). Em termos anatômicos as junturas podem ser definidas como as conexões de quaisquer partes rígidas componentes do esqueleto de um animal, sejam elas estruturas ósseas ou cartilaginosas (nos animais com esqueleto apenas cartilaginoso, os denominados Chondrichthyes). A união entre os ossos e cartilagens não ocorre apenas para colocá-los em contato, mas também para controlar e, principalmente, limitar a mobilidade entre as estruturas articuladas. Outra importante participação das articulações diz respeito à resistência frente às tensões existentes sobre as superfícies articulares, principalmente, nos ossos dos membros dos animais de grande porte.

2.1 CLASSIFICAÇÕES DAS ARTICULAÇÕES

Existem articulações formadas por diversos tipos de tecidos, mas conceitualmente definimos três tipos: as fibrosas, as cartilaginosas e as sinoviais.

As articulações fibrosas são aquelas unidas por tecido conjuntivo fibroso (ou denso). Este tipo de articulação pode ser subdividido em: sindesmose (amplas membranas de tecido conjuntivo, como na articulação entre o rádio e a ulna no cão) e sutura (espaços mínimos, preenchidos por pouco tecido fibroso),existentes somente entre ossos do crânio, e lembrando a costuras.

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As suturas podem ser classificadas de acordo com a forma das margens ósseas que se unem. Assim, encontramos as suturas planas aonde as margens são retilíneas e paralelas entre si (ex.:entre o osso nasal direito e o esquerdo); as suturas serráteis aonde as margens que se aproximam lembram a aparência das margens cortantes de uma serra (ex.:entre o osso parietal e o osso frontal); as suturas escamosas aonde as margens ósseas se sobrepõem, como se fossem as escamas de um peixe (ex.:entre o osso parietal e o osso temporal), e, as suturas folhosas, existentes apenas em suídeos, aonde as lâminas ósseas são delgadas e amplas lembrando as folhas de caderno (ex.:entre o osso frontal e o nasal). A esquindilese é uma sutura aonde um osso se encaixa em uma canaleta formada por outro osso, como a articulação envolvendo a crista do vômer. Enquanto a gonfose seria uma sutura se fosse uma articulação entre ossos, porém ela é a união entre um dente e um osso, ou seja, o encaixe do dente em um alvéolo dentário mediante tecido conjuntivo fibroso.

As articulações cartilaginosas podem ser unidas por cartilagem hialina, nas chamadas sincondroses, ou por uma mistura de tecido conjuntivo fibroso e cartilaginoso formando a fibrocartilagem, como ocorre nas sínfises (ex.:articulação entre o corpo de duas vértebras torácicas, no local onde se interpõe o disco intervertebral, pois este disco apresenta uma parte externa de cartilagem e uma parte central de tecido conjuntivo denso, o núcleo pulposo).

As sincondroses podem ser subdivididas em intra-ósseas e interósseas. As intra-ósseas existem apenas em filhotes e são representadas pela linha de crescimento dos ossos, local que apresenta cartilagem hialina separando partes de um mesmo osso (ex.:entre a epífise proximal do Fêmur e a diáfise do Fêmur). As

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interósseas, como o próprio nome diz são aquelas entre ossos diferentes (ex.:entre o osso Occipital e o osso Esfenoidal).

As articulações sinoviais são aquelas unidas por líquido sinovial, que recebe este nome por ser parecido com a clara do ovo. A classificação destas articulações sinoviais relacionada à forma das superfícies articulares e quanto aos movimentos, serão descritas no estudo das articulações sinoviais.

Termos antigos em desuso, como sinartroses (unidos e sem movimento), anfiartroses (unidos e com pouco movimento), diartroses (unidos e com grande movimentação), sinostose (unidos por tecido ósseo) e sinsarcose (unidos por músculos), ainda podem ser encontrados em livros textos.

2.2. JUNTURAS SINOVIAIS

As junturas sinoviais eram consideradas as articulações verdadeiras e possuem como sua principal característica a presença de uma cavidade articular, delimitada pela cápsula articular, e preenchida por líquido sinovial, ou sinóvia (nome originado de sua aparência com a clara do ovo). Além disto, visualizamos sempre a presença das cartilagens articulares do tipo hialino, que recobrem as superfícies ósseas que participam da articulação, denominadas superfícies articulares. Todo este conjunto trabalha permitindo uma deformação e uma elasticidade para tentar impedir a ocorrência de fraturas ósseas.

A quantidade de ossos participantes de uma articulação pode ser maior do que dois, mas esta é a quantia mais comum. O número

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de cartilagens articulares varia de acordo com o número de ossos e, se considerarmos algumas articulações como um todo (Ex.: Articulações Társicas), veremos que um osso pode ter mais do que uma cartilagem articular.

Então, as estruturas anatômicas que sempre estão presentes nas articulações são: o líquido sinovial, a cavidade articular, a cápsula articular e as cartilagens articulares (recobrindo as superfícies articulares).

A cápsula articular é constituída de dois estratos: o estrato fibroso externo e o estrato sinovial interno. O estrato fibroso, por apresentar um tecido fibroso resistente, serve de proteção para a articulação, além disso, são ricamente inervadas (sensíveis a dor) e pobremente vascularizadas (de difícil regeneração em traumas). O estrato interno, também conhecido como membrana sinovial, é rico em vasos, nervos e células, sendo que, estas células estão dispostas na camada mais íntima e fazem fagocitose de material da sinóvia e fornecem material para ser secretado neste líquido.

O líquido sinovial é secretado pelo estrato sinovial, tem aparência semelhante à clara do ovo e funciona para diminuir o atrito entre as cartilagens articulares, protegendo-as de lesões, e para nutrir a cartilagem articular, que não é vascularizada (existem controvérsias), não é inervada (existem controvérsias) e não é revestida pelo pericôndrio. A sua insensibilidade é um ponto ruim, pois as lesões progridem antes do paciente perceber. Existem depressões em algumas cartilagens articulares, revestidas com tecido conjuntivo, chamadas de fossas sinoviais (fóveas), que podem ter indícios de locais de produção de sinóvia, também (Dyce et al., 1997). Estas fossas sinoviais servem em algumas articulações como pontos de inserção de ligamentos e podem ser confundidas pelos pouco estudiosos como lesões articulares.

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Existem outros componentes que podem completar o conjunto de estruturas anatômicas para auxiliarem na união, como por exemplo, os ligamentos, os coxins adiposos, os meniscos e os discos articulares. Os meniscos e os discos articulares são estruturas fibro-cartilaginosas, que permitem uma melhor adaptação das estruturas articulares para estabilizar as articulações. Os ligamentos são faixas fibrosas que unem os ossos e acabam evitando alguns movimentos, podem ser classificados de acordo com a posição em intra-capsulares, capsulares e extra-capsulares.

2.2.1. CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS

Podemos classificar as articulações segundo a forma das superfícies, porém esta classificação é dependente dos tipos de movimentos permitidos, o que é influenciado por outros fatores além da forma.

Assim, encontramos a articulação plana, onde encontramos duas superfícies opostas retas e paralelas, que permite apenas o movimento de deslizamento; a articulação esferóide com uma esfera encaixada em cavidade correspondente, que permite movimentos variados e amplos, por isso, multiaxial; as elipsóides com uma superfície ovóide encaixada em cavidade correspondente, os gínglimos (uma superfície em cilindro e outra escavada recebendo-a, como uma dobradiça), as condilares (os côndilos arredondados encaixados em áreas côncavas), as trocóideas (como um pino encaixado em um anel) e as selares (duas superfícies invertidas e encaixadas, com áreas convexas e côncavas alternando).

Apesar das articulações sinoviais serem chamadas de articulações verdadeiras, ou móveis (diartrose), gostaria de enfatizar que o papel de uma articulação não é o de criar o movimento, mas

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sim, o de evitar o movimento, organizando os movimentos desejados para cada região do corpo, conforme as necessidades da espécie. Afinal, articular significa unir ou juntar e, para isso, desenvolveram-se todas as estruturas anatômicas das junturas sinoviais. Assim, a estabilidade é o objetivo final, para controlar os movimentos que são realizados pelos músculos (componentes ativos da locomoção) ou pelas forças externas (gravidade).

2.2.2. MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS

Podemos estudar e classificar os movimentos que existem nas diferentes articulações, comparando-os entre as espécies. Então, encontramos os movimentos de deslizamento, os angulares e os rotatórios. Os movimentos angulares ainda podem ser divididos em flexão/extensão e adução/abdução.

Este princípio básico de movimentação levou os estudiosos a estabelecerem uma outra classificação, aonde são considerados os eixos pelos quais uma articulação pode se movimentar (sendo ditas: uniaxiais, biaxiais e multiaxiais). Entretanto, não descreverei mais sobre este assunto por acreditar que para os animais domésticos este tema ainda é limitado.