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DESAFIOS DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E SUAS IMPLICAÇÕES LEGAIS, ÉTICAS E PSICOSSOCIAIS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA1
Márcia Luiz Gomes Pena2
Aline Dos Anjos Vilela3
RESUMOA questão de doação de órgãos e transplantes transformou-se de experimento em opção capaz de devolver a vida a pacientes terminais. Porém este assunto está permeado por diversos conflitos e processos o que resulta em elevada desproporção entre a alta demanda por transplantes de órgãos e baixo índice de transplantes efetivados. Esta pesquisa objetivou Analisar, por meio da revisão teórica, os problemas levantados pelos pesquisadores do processo de doação de órgãos, através de uma revisão integrativa da literatura realizada nas bases de dados Lilacs e Scielo, com artigos publicados de 2007 a 2017 na língua portuguesa, utilizando- se os unitermos pelo DeCS/Bireme: “Transplante e doação de Órgãos” e palavras chaves Doação de órgãos, UTI, Emergência. Aspectos éticos, legais e psicossociais. Para discussão foram selecionados 08 artigos de maior destaque, e agrupados em categorias temáticas. A análise do tema permitiu detectar os aspectos éticos, legais e psicossociais, envolvendo crenças, saberes e elevadas cargas emocionais e algumas dificuldades durante as etapas de doação e transplantes. A educação continuada no que tange ás famílias, profissionais e acadêmicos e população pode atuar como parte solucionadora ou atenuadora desses processos.
Palavras-chave: Doação de órgãos. UTI. Emergência. Aspectos éticos, legais e psicossociais.
ABSTRACTThe question of organ donation and transplantation has changed from experiment to option capable of returning the life to terminal patients. However, this issue is permeated by several conflicts and processes, which results in a high disproportion between the high demand for organ transplants and a low rate of effective transplants. This research aimed to analyze, through the theoretical review, the problems raised by the researchers of the process of organ donation, through an integrative review of the literature in Lilacs and Scielo databases, with articles published from 2007 to 2016 in the Portuguese language, using the Uniterms by DeCS / Bireme: "Transplantation and donation of Organs" and key words Donation of organs, ICU, Emergency. Ethical, legal and psychosocial aspects. For the discussion, we selected 08 most outstanding articles, and grouped them into thematic categories. The analysis of the topic allowed to detect the ethical, legal and psychosocial aspects, involving beliefs, knowledge and high emotional loads and some difficulties during the stages of donation and transplants. Continuing education regarding families, professionals and academics and population can act as a solver or mitigating part of these processes..
1 Tese apresentada ao Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva (IBRATI), como requisito obrigatório para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva. Porto Velho -2018.2 Enfermeira, mestranda em Terapia Intensiva - IBRATI3 Enfermeira, Mestre em Terapia Itensiva – IBRATI, Especialista em Processos Educacionais em Saúde – Instituto Sírio Libanês, Docente da Faculdade Interamericana de Porto Velho
Keywords: Organ donation. ICU. Emergency. Ethical, legal and psychosocial aspects.
INTRODUÇÃOA segunda metade do século XX foi marcada pelo desenvolvimento de
tecnologias como os avanços na aparelhagem que propiciam a preservação da vida: o
respirador artificial, a hemodiálise e outras. Acrescentam-se os tratamentos que
prolongam a vida, em doenças degenerativas como câncer, enfermidades autoimunes e
neurológicas.
O conceito de morte, que, até então, era fundamentado na prática clínica pela
constatação da parada irreversível das funções cardiorrespiratórias, passou a ser,
também, da esfera da neurologia, com a necessidade do reconhecimento da cessação das
funções cerebrais, fundamentada pelo conceito de morte encefálica (ME) (FREIRE, ET
AL, 2012).
Historicamente, a primeira concepção de ME foi desenvolvida em 1959, por um
grupo de neurologistas franceses. No Brasil em 1997, a Resolução nº 1.480/97 do
Conselho Federal de Medicina (CFM), define a ME como “a parada total e irreversível
das funções encefálicas, de causa conhecida e constatada de modo indiscutível”,
constituindo morte para efeitos clínico, legal e/ou social (FREIRE, et al 2012). É Dessa
forma que a evolução do conceito de ME viabilizou a doação de órgãos, uma vez que,
diagnosticada mediante critérios legais e pré-definidos, segue-se a manutenção das
funções vitais para efetivar os transplantes.
O primeiro transplante com doador não vivo no Brasil ocorreu em 1964, e foi de
rins. Desde então houve aprimoramento desse tratamento nos cuidados intensivos,
drogas imunossupressoras, adaptação de técnicas cirúrgicas e uso de soluções mais
desenvolvidas para melhor preservação . O Brasil é considerado o segundo país em
número de transplantes realizados a cada ano, sendo mais de 90% efetuados pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) . Os doadores vivos podem doar medula óssea, um dos
rins, parte do fígado e parte do pulmão. Já de não vivos em morte encefálica possibilita-
se a doação de coração, pulmões, rins, córneas, fígado, pâncreas, ossos, tendões, veias e
intestino (COSTA ET AL 2016).
Adicionalmente, segundo Mattia et al (2010) o Decreto n°. 2.268/1997
regulamentou a Lei n°. 9.434 e criou o Sistema Nacional de Transplantes, responsável
pela infraestrutura da notificação de casos de Morte Encefálica, captação e distribuição
de órgãos e tecidos, que é denominada fila-única. Já o Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN), na Resolução n°. 292/2004, resolveu que ao Enfermeiro
incumbe planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar os procedimentos de
Enfermagem prestados ao doador de órgãos e tecidos. Uma das ações é notificar as
Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), a existência de
potencial doador ( ARAÚJO; MASSAROLO 2017).
A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) esclarece que a
doação de órgãos deve dar-se gratuitamente. O paciente deve conter registro no serviço
hospitalar e não apresentar hipotermia (temperatura abaixo de 35º), entre outros critérios
clínicos e a causa do óbito deve ser conhecida e não causada por neoplasias. O
responsável pelo corpo é o parente de até 2º grau, que deverá decidir pela doação ou
não dos órgãos do falecido (córneas); ou em morte encefálica onde ocorre ausência de
perfusão sanguínea cerebral ou ausência de atividade elétrica cerebral ou ausência de
atividade metabólica cerebral (doação multi-órgãos – órgãos sólidos). A rigor, o
diagnóstico de morte encefálica deve ser constatado e registrado por dois médicos não
participantes das equipes de remoção e transplante e regulamentada pelo CFM.
O transplante obedece a uma listagem nacional, onde o paciente é cadastrado
pelo respectivo médico que o acompanha clinicamente e aguarda por uma doação
compatível com sua etiologia ou condição clínica. A captação dos órgãos é feita em
estabelecimentos cadastrados e por equipe treinada. O registro dessas equipes e do
estabelecimento onde os procedimentos médico-cirúrgicos ocorrem possuem prazos
rigorosamente executados.
Em suma, quando existe a identificação de um potencial doador em unidade de
terapia intensiva ou pronto socorro, há a obrigatoriedade de notificação compulsória à
Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CNCDO),
descentralizados em Organização de Procura de Órgãos (OPOs). Assim, o médico ou
enfermeiro de uma unidade de terapia intensiva tem o compromisso ético de notificar
um potencial doador a CNCDO de seu estado (ABTO 2017).
O transplante de órgãos é, em muitos casos, a única alternativa terapêutica em
pacientes portadores de insuficiência funcional terminal de diferentes órgãos essenciais.
Observa-se, no Brasil e em outros países, uma preocupante desproporção entre a
demanda de órgãos para transplante e o número de transplantes efetivados. No entanto,
a fila de transplantes tem aumentado, e um número cada vez menor de potenciais
doadores tem sido notificado às centrais de transplantes o que torna as doações e o
aproveitamento de órgãos e tecidos, aquém das necessidades das grandes filas de espera.
Dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT, 2018) informam que exitem
32685 pacientes ativos na lista de espera, no primeiro trimestre de 2018. Entretanto
houve apenas 2613 notificações de potenciais doadores, 841 doadores efetivos e 736
doadores cujos órgãos foram transplantados neste mesmo período.
É Inegável a existência de um elevado nível de complexidade nas atribuições
administrativas e assistenciais que permeiam os atores envolvidos nesse desafio que é o
processo de doação de órgãos. Provável que outros determinantes coexistam,
dificultando a concretização dessas etapas: captação, doação e transplantes de órgãos.
Assim sendo, dado o exposto e relevância do tema, optou se por um estudo a fim
de identificar fatores que podem auxiliar e/ou interferir na efetividade desse processo.
1 OBJETIVOS1.1 GERAL
Analisar, por meio da revisão teórica, os problemas levantados pelos
pesquisadores do processo de doação de órgãos.
1.2 ESPECÍFICOSCompreender a doação de órgãos;
Ampliar o conhecimento sobre transplante no Brasil.
2 METODOLOGIA
Para Silveira (2005) a revisão integrativa, emerge como uma metodologia que
proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados
de estudos significativos na prática. Cabe ressaltar que nesta modalidade de estudo não
se faz necessário a submissão de avaliação por comitê de ética com seres humanos –
CEP.O levantamento de dados ocorreu a partir de artigos científicos obtidos na
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) (http://bvsms.saude.gov.br) e da Biblioteca
Regional de Medicina (Bireme), que utilizam os seguintes bancos de dados: MEDLINE
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed); Scielo (http://www.scielo.br); Lilacs (http://l
ilacs.bvsalud.org) e Pubmed (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed).
A amostra foi composta pelas publicações em bases de dados indexadas na
Literatura Latino-Americana e do Caribe (Lilacs) e Scielo, com artigos publicados de
2007 a 2017 na língua portuguesa, utilizando- se os unitermos pelo DeCS/Bireme:
“Transplante e doação de Órgãos”.
Para levantamento e análise bibliográfica foram seguidos os passos de busca,
seleção em mídia móvel e análise dos textos.
2.1.1 Período de Coleta de Dados
Realizou-se o estudo, a partir da revisão de literatura referente a publicações que
abordam o tema doação de órgãos durante o período de 1 de julho de 2017 a 29 de
dezembro de 2017.
2.1.2 Palavras- Chave
Doação de órgãos. UTI. Emergência. Aspectos éticos, legais e psicossociais.
2.1.3 Organização com os Textos
Os textos foram organizados segundo os objetivos da pesquisa. Após a aplicação
dos referidos filtros, a busca gerou 104 artigos dos quais após análise dos títulos e
resumos, 11 artigos foram selecionados para este estudo, que após leitura de refino
foram selecionados 09 artigos para discussão.
2.1.4 Critérios de inclusão
Foram selecionados estudos publicados nos últimos 10 anos, que abordavam o
tema específico, que estavam escritos em português ou inglês, que envolviam apenas
seres humanos e que estavam com texto completo disponível. Não houve restrição
quanto aos desenhos metodológicos utilizados em suas elaborações.
2.1.5 Critérios de exclusão
Foram excluídos da seleção: artigos não relacionados ao objeto do estudo,
artigos replicados, ou que apresentaram abordagem ao tema ou objetivos semelhantes,
artigos cujo texto completo não se encontrava disponível nas bases de dados acima
citadas, estudos realizados em outros idiomas e executados em animais.
2.1.6 Tratamento dos dados
Destacam se 09 artigos, os quais versam sobre as ações de enfermagem para a
sensibilização de famílias no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante;
acerca dos cuidados durante a manutenção de órgãos e tecidos para doação, com o
intuito de reduzir o déficit de conhecimento sobre o assunto; abordagem sobre a doação
de órgãos e tecidos em todas as esferas da sociedade, familiar, escolar e profissional. Os
autores ressaltam sobre os cuidados prestados ao potencial doador, desempenhando suas
funções de modo seguro e humanizado; promoção do conforto e apoio emocional à
família, quanto à doação com um ato de humanidade. A síntese dos resultados encontra-
se no Quadro 1. Quadro 1. Principais Artigos Usados na Revisão Bibliográfica
AUTOR/ANO TÍTULO REVISTA DESFECHO1 Regina Szylit Bousso – 2008 o processo de decisão
familiar na doação de Texto Contexto Enferm,
Cada círculo compõe-se de categorias que
órgãos do filho: uma teoria substantiva
Florianópolis, 2008 Jan-Mar; 17(1): 45-54
descrevem o esforço da família no sentido de minimizar a sua dor e aliviar o seu sofrimento.
2 Ana L. De MattiaMª Helena BarbosaAdelaide De M. RochaMichelle B. RodriguesJoão P. A. de F. FilhoMithla G. de Oliveira – 2008
Análise das dificuldades no processo de doação de órgãos: uma revisão integrativa da literatura
Revista - Centro Universitário São Camilo - 2010;4(1):66-74
É necessário que sejam tomadas medidas de educação contínua entre esses profissionais, iniciando, durante o período acadêmico, conscientizando da importância dos profissionais no processo de doação.
3 Mara Nogueira de AraújoMaria Cristina Komatsu Braga Massarollo – 2014
Conflitos éticos vivenciados por enfermeirosno processo de doação de órgãos
Acta Paul Enferm. 2014; 27(3):215-20.
Conflitos éticos vivenciados por enfermeiros no processo de doação de órgãos: a dificuldade em aceitar a morte encefálica como morte do indivíduo, a não aceitação em desconectar o ventilador do paciente em morte encefálica e não doador de órgãos.
4 Louise Menezes Silva – 2015 Tráfico de órgãos: sob a ótica dos direitos humanos
Universidade Tiradentes – Unit/ Curso De Graduação Em Direito
Direitos e garantias fundamentais expressos na Constituição- o princípio da dignidade da pessoa humana além do enfoque ao tráfico ser ou não um combate através de políticas de Estado e as suas principais vítimas.
5 Iolanda Isoppo – 2016
Diretivas antecipadas de vontade na política de doação de órgãos: um estudo a partir da autonomia da vontade e dos princípios da bioética
Universidade Do Extremo Sul Catarinense – UnescCurso de Direito
O dispositivo da Lei ultrapassa um direito fundamental do doador, que é a sua autonomia de escolher o que fazer com o próprio corpo, assim, acaba por ferir o princípio da dignidade humana.
6 Glauco Adrieno Westphal – 2016
Diretrizes para avaliação e validação do potencialdoador de órgãos em morte encefálica
Revista Brasileira de Terapia Intensiva. 2016; 28(3):220-255
A recomendação inespecífica considera que os benefícios e desvantagens estão equilibrados, devendo ser avaliada caso a caso. Recomendações fortes deverão ser interpretadas como “recomendamos” e recomendações fracas, como “sugerimos”.
7 Juliana Lopes de Macedo – 2016
As regras do jogo da morte encefálica
Rev. Antropol. São Paulo, Online, 59(2): 32-58 [agosto/2016]
A morte encefálica só faz sentido na sociedade moderna e ocidental, na qual a ciência tem uma posição central na definição de “verdades”.
8 Jorge Barreneche Dos Santos Neto- 2016
Aspectos éticos e legais dos transplantes de órgãos e tecidos no Brasil - revisão sistemática
Universidade Federal da Bahia
O processo de doação de órgãos está permeado por questões da moral humana, embora tenha evoluído técnica e cientificamente, estudo e o comportamento bioético deve ser uma prática continuada.
9 Roberson Geovani Casarim-2017
Aspectos psicossociais dos transplantes de órgãos
Universidade federal de Mato Grosso do Sul
O processo de doação de órgãos é imbuído de elementos psicossociais determinados por múltiplos fatores.
Fonte: Vilela e Pena, 2018
Os quais posteriormente foram agrupados em categorias temáticas, para melhor
discussão dos resultados, as quais foram determinadas por semelhanças, sendo
polarizadas em aspectos éticos e legais e aspectos psicossociais.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
CATEGORIA 1 - ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS
Como fundamentos que abrangem os aspectos éticos e legais, utilizamos as
pesquisas de Santos Neto (2016) Aspectos Éticos e Legais dos Transplantes de Órgãos
e Tecidos no Brasil - revisão sistemática; Silva (2015) Tráfico de Órgãos: sob a Ótica
Dos Direitos Humanos; Macedo (2016); As regras do jogo da morte encefálica;
Westphal (2016); Isoppo (2016) Diretrizes para avaliação e validação do potencial
doador de órgãos em morte encefálica.
A questão dos transplantes de órgãos e tecidos traz situações sobre éticas
relacionadas, mas o importante é que a doação de órgãos e tecidos post mortem,
encontra-se na definição do que é morte, ou melhor, da determinação do fim da vida por
parte do médico e da equipe de saúde envolvida.
Jorge Barreneche dos Santos Neto, na Monografia “Aspectos éticos e legais dos
transplantes de órgãos e tecidos no Brasil - revisão sistemática”, (2016) aponta que “no
processo de doação inter vivos, embora, não tenha as mesmas implicações éticos-
jurídicas post mortem, existem questões morais relevantes que suscitam reflexões por
parte da equipe de saúde e de toda a sociedade”. O autor aduz que o processo de doação
de órgãos tem questões que envolvem a moral humana.
Ainda no estudo acima, o autor identificou que no momento da entrevista familiar para
autorização de doação, a família, por ainda não ter vivenciado o luto, pode agir de forma
negativa para com a equipe. Nesse sentido, o profissional se depara com um expressivo dilema
- terá que decidir entre respeitar a dor da perda dos familiares ou solicitar a doação dos
órgãos, tendo em vista que o pedido para doação durante esse momento de luto pode ser
interpretado como um ultraje.
Santos Neto (2016) informa que Lima AAF (2012), realizou uma análise com
base em uma revisão da literatura, a respeito dos conflitos éticos envolvidos nos
transplantes de órgãos e tecidos na visão do profissional de saúde. Evidencia que o
processo de doação é permeado por conflitos éticos e morais que afligem a família do
doador, do receptor e os profissionais da saúde. Aponta a bioética como um mecanismo
de estabelecer uma relação mais humanizada e horizontalizada entre esses grupos.
Jorge Barreneche dos Santos Neto (2016), Noleto et al (2011), estudaram
analisaram e descreveram 60 questionários divididos em três grupos: pacientes em lista
de espera para transplantes, pacientes transplantados renais e familiares dos
doadores, com a finalidade de analisar a confidencialidade nos transplantes renais
com doadores cadáveres. Rosa et al, chama atenção para a necessidade de retomada
da autonomia pessoal, uma vez que, enquanto pacientes, esta fica relegada de modo
paternalista, muitas vezes, às decisões médicas.
Jorge dos Santos Neto (2016) Lima et al (1997), realizaram uma análise crítica
acerca da legislação vigente quanto aos transplantes de órgãos, tecidos e partes do corpo
humano e discutir alguns artigos do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e
do Código de Ética Médica, analisando as implicações legais para estes profissionais.
Os autores afirmam que “a condição de transplante de órgãos é dicotômica em relação à
legislação vigente”.
Apontam, ainda, uma necessidade de conscientização a respeito dos transplantes,
doação, riscos e vantagens.
Pigatti et al (2012), analisaram os padrões éticos e jurídicos de trabalhos envolvendo casos clínicos e pesquisas que utilizaram enxertos de órgãos ou tecidos musculoesqueléticos e cutâneos publicados em revistas nacionais e internacionais, incluindo ainda dissertações e teses de universidades brasileiras. Pigatti et al, salientam que muitas vezes os princípios bioéticos e as normas jurídicas não são adotados quando da aquisição, utilização, descarte de tecidos musculoesqueléticos e tecidos cutâneos utilizados em estudos científicos, demonstrando a necessidade de se evidenciar normas éticas e legais para os profissionais que utilizarão esse tipo de material (SANTOS NETO, 2016).
Em face disso, Jorge Barreneche dos Santos Neto (2016) assinala que Meneses
et al (2010), realizaram uma análise retrospectiva dos termos de morte encefálica
(TME) e das notificações do potencial doador (NPD) do hospital de base do Distrito
Federal. Além desta análise retrospectiva, Meneses et al realizou, neste mesmo hospital,
a aplicação de um questionário, composto por sete perguntas a respeito da morte
encefálica, a 30 médicos neurologistas ou intensivistas. A pesquisa aponta que os
médicos e a instituição seguem, no preenchimento desses documentos, o previsto nas
leis 9.434/97 10.211/01 e na resolução 1.480/97 do CFM, entretanto afirma haver
dificuldade na prática das conquistas legais, em especial no que diz respeito à segurança
no diagnóstico da morte encefálica.
Quanto à legislação, Arcanjo, RA et al (2013), analisaram com base em uma
revisão da literatura, a respeito da legislação vigente com pertinência aos obstáculos
encontrados pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para
Transplantes. Arcanjo, RA et al afirma que devem ser tomadas medidas de educação
contínua entre os profissionais que atuam nessa comissão, bem como conhecer o
perfil cultural da população que atende e levar à sociedade informações
pertinentes ao processo de doação, visando suscitar entre as famílias essa discussão e,
quem sabe assim, reduzir as filas de espera por um transplante no Brasil.
Jorge Barreneche dos Santos Neto (2016) afirma que Rodrigues, AM et al
(2003), realizaram um estudo transversal, através de um questionário com 13
questões, aplicado a 100 médicos intensivistas de todas as regiões brasileiras em
atividade profissional por no mínimo um ano e com título de especialista na área de
Medicina Intensiva.
Passarinho et al (2003), aplicou um questionário composto por seis perguntas a respeito da lei que rege a doação de órgãos para transplantes, particularizando a doação de rim por doador vivo não parente, a cinco grupos distintos (promotores públicos, magistrados, população geral, pacientes da lista de espera para transplante renal e profissionais da equipe de transplantes renais do Hospital de Base de Brasília) no distrito federal do Brasil.
Passarinho et al assinalam que a exigência de autorização judicial, para
transplante Inter vivos não parentes, não é instrumento suficientemente eficaz para
evitar a possibilidade de comércio de órgãos no Brasil (SANTOS NETO, 2016).
Santos Neto (2016) apud Rodrigues, AM et al reforça a necessidade de uma
melhoria no conhecimento divulgado nas escolas médicas sobre os transplantes e de
uma maior atenção dos profissionais das unidades de terapia intensiva a este tema por
serem estes o principal elo entre doadores em potencial e a realização do transplante.
O CFM, objetivando reduzir as inseguranças no diagnóstico , e percebendo a
ME como forma mais atual de entendimento da morte do ser humano, resolveu
aprimorar as resoluções, de 1997, realizando nos últimos seis anos amplas discussões no
âmbito das sociedades médicas.
Essas discussões conduziram a elaboração da Resolução Nº 2.173/2017 o qual
define melhor os critérios do diagnóstico de morte encefálica observando quatro pontos
mais relevantes. 1) a determinação do diagnóstico de ME que deveria ser realizada
somente em potenciais doadores de órgãos passa a ser obrigatória em todos os pacientes
que apresentem coma não perceptivo e apnéia persistente. 2) a execução e a
interpretação dos procedimentos de ME tais como temperatura corporal mínima,
segurança do teste de apneia, hipernatremia, uso de drogas depressoras do sistema
nervoso central, ganham melhor definição nesta resolução. 3) diminuição do intervalo
mínimo de tempo para a determinação da ME mantendo-se a segurança e acurácia do
procedimento. 4) estabelecimento de melhores critérios para capacitação dos médicos
responsáveis pela realização dos testes clínicos e exames complementares ( BRASIL,
2017).
3.1 MORTE ENCEFÁLICA
Partindo-se da premissa que a morte cerebral torna o paciente um potencial
doador de órgãos, a atuação da equipe é imprescindível. São necessários conhecimentos
acerca da detecção precoce da ME, das possíveis complicações bem como a promoção
de medidas preventivas visando à integridade hemodinâmica necessária para tornar o
potencial doador em doador efetivo e garantir a qualidade dos órgãos para o transplante.
A pesquisa de Schein, AE et al (2008), apontou com um questionário traduzido e
modificado de prévio estudo, aplicado através de entrevista pessoal com intensivistas
em 15 unidades de terapia intensiva (UTI), em oito hospitais da cidade de Porto Alegre,
Brasil. Foram aplicados 248 questionários, mas dois foram excluídos por estarem
incompletos. Oitenta e três por cento (204/246) dos entrevistados definiram
corretamente o conceito de morte encefálica. As prevalências encontradas neste estudo
são preocupantes, porém esse déficit no conhecimento dos intensivistas, em face do
obrigatório protocolo que deve ser seguido, não resulta no diagnóstico falso-
positivo. Entretanto, há a possibilidade de não se fazer o diagnóstico em pacientes que
preenchem os critérios de morte encefálica, o que causa a indisponibilidade de órgãos
para captação.
Para Iolanda Isoppo (2016), A doação de órgão e tecidos e o procedimento de transplantes afeta a toda sociedade, tal fato torna a presente pesquisa de relevância social. Têm-se a possibilidade de ser doador, tanto em vida quanto post mortem, ou então, a necessidade de passar por uma cirurgia de transplante, assim, a conscientização e desmistificação do ato fazem-se necessária entre a população.
Macedo (2016) na pesquisa “As Regras do Jogo da Morte Encefálica” discute:
Desta maneira, além de envolver as dificuldades inerentes à morte inesperada e de pessoas jovens, a morte encefálica não é um evento de fácil compreensão pelas pessoas, por fugir à ordem “natural” (ou pelo menos mais “tradicional”) que prevê que enquanto o coração estiver batendo ainda há vida. Tanto a morte prematura como a morte causada por motivos que não são claros, como a encefálica, são fonte de desordem social e, como nos lembra Mary Douglas (1991), a desordem é fonte de insegurança e perigo, por isso é quase inevitável o desconforto diante deste diagnóstico.
Para a autora, o mesmo não ocorre entre os intensivistas, a maioria, não percebe
morte encefálica como morte natural. Eles apresentaram um leque maior de opções para
definir morte. Assim, enquanto para dois intensivistas a morte é o equivalente à morte
encefálica, para outros, ela pode ser definida como a cessação de toda e qualquer
atividade biológica (o que não se aplicaria à morte encefálica), a parada cardíaca
(considerada como a morte natural) e a perda da autonomia vontade e da personalidade.
A questão da autonomia do indivíduo foi bastante importante para definir vida e morte:
Juliana Lopes de Macedo (2016) cita a ideia do médico assim: “Se eu tivesse
uma sequela muito grave – não morte cerebral, mas um estado vegetativo persistente,
muito significativo – eu me consideraria morto, e gostaria que os meus familiares me
considerassem assim” (Matheus, médico chefe de UTI).
No tocante à família, Regina Szylit Bousso (2008) salienta: O conjunto da experiência evidencia os fatores que podem estimular ou inibir a família a consentir com a doação de órgãos. Ela deparasse com o objeto social doação de órgãos, que é definido como dar vida a outras pessoas. Para a família considerar esta possibilidade, implica, necessariamente, que ela reconheça que o quadro é irreversível e que a criança está morta. Diante desta condição, a decisão de autorizar a doação é direcionada, também, por um aspecto moral, que determina a ação de salvar a vida de outras pessoas e tem como objetivo minimizar a dor e aliviar o sofrimento, durante o processo de luto. É esta definição que ajuda a família a agir, autorizando a doação. Esta estratégia da família é o que a auxilia a dar significado à vida e à morte da criança.
A autora assinala que as histórias familiares revelam crenças da família sobre a
morte, a doença, o corpo e, também, sobre a doação de órgãos, que podem diferir entre
os membros da família, como também entre a família e a equipe de saúde.
CATEGORIA 2 - ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Os pesquisadores que fundamentaram as discussões sobre os aspectos
psicossociais da doação de órgãos foram Casarim (2017) Aspectos psicossociais do
transplante de órgãos; Araújo et al (2014) Conflitos éticos vivenciados por enfermeiros
no processo de doação de órgãos; Mattia et al (2008) Análise das dificuldades no
processo de doação de órgãos: uma revisão integrativa da literatura; Bousso (2008) o
processo de decisão familiar na doação de órgãos do filho: uma teoria substantiva.
Os grandes avanços tecnológicos aplicados na assistência à saúde vêm
transformando as formas do homem viver, desenvolver-se e morrer. O advento dos
transplantes de órgãos e tecidos, a partir de doadores cadáveres, criou para as
sociedades humanas questões que extrapolam a complexidade da evolução científica,
quanto à técnica e à utilização das drogas que controlam a rejeição dos tecidos e órgãos
implantados. Esta nova realidade, trazida pela ciência, provocou grandes transformações
e dilemas para a sociedade. Tais questões constituem temas de polêmica para
profissionais da área da saúde, filósofos, juristas, cientistas sociais e abrangem o
universo da atividade humana.
Do ponto de vista existencial, transformaram-se as formas de morrer e a
definição de morte. Deslocou-se o espaço onde os homens morriam e o momento em
que a vida cessava. Com a interferência da evolução da medicina, o homem morre
apenas quando a tecnologia e as máquinas não conseguem mais mantê-lo com vida.
Academicamente, orientando e definindo os modos de proceder e intervir da medicina,
os avanços científicos trouxeram novas definições sobre a morte: se até a década de
1960 definia-se a morte como a parada do coração e dos movimentos respiratórios
espontâneos, a partir daí define-se a morte como morte cerebral, e, mais recentemente, a
morte encefálica; que é diferente e mais específica ainda em relação à morte cerebral.
Para tanto, Casarim, 2017, faz alusão a psicologia como sendo uma ciência que
por estudar o comportamento humano, e suas características, podem contribuir nessas
discussões. Tendo em vista que o processo de doação e transplantes é imbuído por
elementos psicossociais e que consta de muitas etapas, tal como a motivação, e que logo
vem à tomada de decisões que por sua vez é determinada por múltiplos fatores, que são
determinados pelas características da pessoa que toma tal decisão. Isto implica em
considerar seu nível de educação, religiosidade, relações sociais, esperanças, medos,
relação com o próprio corpo.
O autor supracitado aponta para as incertezas da família tanto em relação à
vontade do doador, em saber se ele queria que isso realmente fosse feito, quanto em
questão da morte de fato, suspeitando que o parente ainda pudesse estar vivo. Reforça
ainda que a doação de órgãos esteja intrinsecamente relacionada com sete temas, todos
psicossociais: 1) compreensão de morte, aceitando a finitude da vida; 2) encontrar
sentido na doação, cumprindo um dever moral, assim como um ato de altruísmo; 3)
medo e desconfiança em relação ao processo; 4) conflito na tomada de decisões,
sobretudo quando nem todos da família concordam; 5) vulnerabilidade, se sentir
oprimido; 6) respeito ao desejo do doador e 7) o modo como o processo transcorreu.
Acompanhando a evolução dos conceitos sobre a morte clínica, as legislações e
os códigos de Deontologia Médica buscam atualizar as normas legais que regem a
finitude do homem como pessoa e como sujeito de direitos (Ramos Filho, 1999).
4.1 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA E EMERGÊNCIAA equipe intensivista desempenha papel de grande relevância na manutenção das
funções vitais do potencial doador. Todo embasamento a respeito dos aspectos da morte
encefálica, conhecimento científico e ético, sabendo se que a viabilidade dos órgãos ou
tecidos a serem doados depende diretamente de sua adequada conservação.
Além disso, é nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) que mais se encontram
pacientes com lesões neurológicas agudas graves, como no caso de traumas, que
evoluem para ME, caracterizando o paciente como potencial doador. Quando há
identificação de um potencial doador em UTI ou Pronto-Socorro (PS), é obrigação
prevista em lei de notificação compulsória à CNCDO, descentralizadas em OPOs
(ROSA, 2005).
As OPOs devem fazer contato com o hospital onde o doador se encontra
internado para obter informações, como: idade, condições hemodinâmicas, causa da
morte e horário do diagnóstico de ME. A notificação de um potencial doador é realizada
via ligação telefônica à CNCDO pelos profissionais do PS ou da UTI; então, a central
repassa a informação a OPOs referência do hospital que notificou o potencial doador.
Esse procedimento deverá ser realizado pelo médico intensivista, socorrista,
neurologista ou pelo médico responsável. A família é avisada sobre o diagnóstico de
ME pelo médico responsável pelo paciente no hospital notificador, bem como da
obrigatoriedade da notificação de ME à CNCDO, que encaminhará um profissional de
saúde para realizar a entrevista sobre doação de órgãos e tecidos. Após concordância
dos familiares, o termo de autorização e de orientação é entregue à família.
Segundo Clausell, a progressiva melhora na sobrevida dos transplantados de
órgãos tem levado um número cada vez maior para o tratamento de uma doença
terminal. O número de pacientes inscritos nas listas de espera cresceu desde o início dos
anos 70, fazendo com que aproximadamente um terço dos pacientes morram enquanto
aguardavam um órgão. O inadequado número de órgãos não é atribuído somente à falta
de doadores, mas também à dificuldade de transformar potenciais doadores cadáveres
em doadores reais.
Glauco Adrieno Westphal (2016), autor da pesquisa “Diretrizes para avaliação e
validação do potencial doador de órgãos em morte encefálica”, ao tratar da morte
encefálica, enfatiza:
Há, neste sentido, grande mobilização das autoridades médicas brasileiras para que as discrepâncias entre demanda e oferta de órgãos sejam minimizadas. Verifica-se que muitos dos problemas de oferta estão associados a falhas nos processos de reconhecimento da morte encefálica, de entrevista familiar, da manutenção clínica do doador falecido e de contraindicações mal atribuídas. Embora pareçam óbvias as medidas a serem tomadas, não se observa, em grande parte das unidades de terapia intensiva (UTI) brasileiras, a devida valorização do problema, fato evidenciado pela ausência quase absoluta da sistematização do atendimento ao potencial doador de múltiplos órgãos. Trata-se de algo que suplanta a esfera técnica, uma questão humanitária e de cidadania de todos os atores envolvidos na manutenção do potencial doador falecido, dentre os quais o intensivista, que deve exercer papel de liderança.
Segundo Clausell, os fatores que limitam a doação de órgãos incluem a falta de
identificação e notificação de um potencial doador; cuidados inadequados com o
doador; necessidades de exames subsidiário confirmatório de morte encefálica;
inadequada entrevista dos familiares; familiares não autorizam a doação em 30,0% a
40,0% das vezes; dificuldades no contato com as equipes de transplantes; dificuldades
na retirada dos órgãos; distribuição dos órgãos doados.
O número de transplantes realizados no Brasil também resulta do número de
equipes efetivamente capacitadas na captação de órgãos. Assim, a organização de uma
equipe de captação treinada e disponível 24 horas por dia durante todos os dias da
semana tem contribuído para o crescimento de doadores de órgãos e tecidos.
A escassez de órgãos é, muitas vezes, atribuída à desinformação da população
quanto aos problemas do Sistema Único de Saúde (SUS) no processo de captação de
órgãos. O principal incentivo na efetivação de transplante de órgãos é diminuir a
negativa familiar.
Araújo et ai (2014) evidenciam
Conflitos dos enfermeiros durante o processo de doação, que estão relacionadas com a falta de conhecimento da equipe médica, principalmente na realização do protocolo de morte encefálica, e com a falta de comprometimento dos profissionais, levando ao descaso e a uma assistência não adequada ao paciente em morte encefálica.
Assim, nas diretivas antecipadas dão ao paciente a oportunidade de terem seus
desejos atendidos, de não serem submetidos a tratamentos dolorosos, às vezes são
impostos a indivíduos em fase terminal, que causam extrema dor quando já não há mais
expectativa de recuperação. O que o paciente espera é uma fase com a máxima
tranquilidade possível, longe de dores além das já oriundas da doença que o acomete.
A carência de evidências mais robustas sobre o tema ressalta a importância de orientações formais (ainda que meramente consensuais em muitos aspectos) para que se proporcione o mínimo de homogeneidade na condução de protocolos de avaliação e validação do potencial doador em morte encefálica. Diante da fragilidade das evidências, é importante salientar a possibilidade de divergências em relação a orientações emanadas do Conselho Federal de Medicina (CFM). Nesses casos, deve ser seguido o que foi estabelecido pelo CFM.
Dessa forma, ao discutir os cuidados que deseja ser submetido, o paciente
poderia combinar com a família, expondo suas vontades e evitando conflitos entre eles e
os profissionais de saúde.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A doação de órgão pode ser vista como um ato solidário, que proporciona ao
Receptor, que não encontra outra forma de tratamento, a única esperança de vida ou a
oportunidade de um recomeço.
O sistema único de saúde é visto como tendo o maior programa de transplantes
do mundo. Por isso é urgente que os serviços realizados pela esfera pública, primem
pela qualidade, a fim de evitar as precariedades do Estado – um fator que pode dar
garantia para quem doa e para quem precisa de transplante de órgãos.
A análise dos artigos permitiu observar que a doação de órgãos é um fenômeno
de elevada carga emocional, envolvendo crenças, fatores psicossociais, e uma
necessidade no cenário da saúde dos brasileiros. Os aspectos identificados no processo
de doação de órgãos referem-se ao conhecimento sobre os critérios do processo de
doação de órgãos, o tempo de espera na fila e a não notificação, a aderência da
legislação e a humanização nas relações, destacando-se a falta de conhecimento dos
profissionais Médicos e Enfermeiros e acadêmicos de medicina e enfermagem.
Dentre os resultados obtidos, nota-se que as campanhas de doação de órgãos
emergiram como a única forma de atuação do governo frente à questão. Isso implica
questionar, por exemplo, a formulação de políticas públicas relacionadas à saúde tanto
de prevenção quanto de remediação.
Importantes medidas de educação contínua precisam ser tomadas para que a
saúde pública seja prioridade no tempo de formação acadêmica até o posto de trabalho.
Certamente, uma população esclarecida sobre processos e circunstâncias
envolvidas nos transplantes, sobre a importância da doação, apoiando iniciativas de
divulgação na instituição em que trabalham e em campanhas de mídia para incentivar a
todos a salvar vidas, refletirá positivamente e diretamente sobre ás filas de espera por
órgãos.
Há também que se conscientizar a sociedade da relevância dos profissionais no
processo de doação, a fim de contribuir para a diminuição do tempo e no sofrimento
para aqueles que aguardam um órgão, por um longo período nos hospitais que podem
oferecer e realizar transplante no Brasil.
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