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0 INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA IBRATI SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA MARIA DE FÁTIMA ALMEIDA E SOUSA TERMINALIDADE E BIOÉTICA EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATISOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATIMESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA

MARIA DE FÁTIMA ALMEIDA E SOUSA

TERMINALIDADE E BIOÉTICA EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

Teresina - PI

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MARIA DE FÁTIMA ALMEIDA E SOUSA

TERMINALIDADE E BIOÉTICA EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.

Orientador: Prof. M.e Edilson Gomes de Oliveira

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Teresina - PI2015

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MARIA DE FÁTIMA ALMEIDA E SOUSA

TERMINALIDADE E BIOÉTICA EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.

Aprovada em 29 de Agosto de 2015.

BANCA EXAMINADORA

Prof. M.e Edilson Gomes de OliveiraInstituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Presidente (Orientador)

Prof. Dr. Rodrigo TadineInstituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Examinador

Prof. Dr. Marttem Costa de SantanaMembro Externo - Universidade Federal do Piauí – UFPI

Examinador

Prof.ª M.a Vicença Maria Azevedo de Carvalho Gomes

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Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATIExaminadora

Dedico este trabalho aos meus pais, que me

ensinaram os principios da fé em Deus, do

amor ao próximo e da busca pela sabedoria

que vem do alto. Me impulsionaram a ir em

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frente, sem desanimar com os tropeços nem

desistir com as quedas.Me ensinaram mais:

retroceder quando o caminho estava errado.

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AGRADECIMENTOS

A busca da qualificação profissional é louvável e merece destaque o trabalho da

Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva (SOBRATI), que vem desenvolvendo a formação

de Intensivistas em todo o território brasileiro, buscando colocar no mercado, profissionais

éticos, comprometidos com a vida, buscando a Humanização das UTI’s. A todos que fazem a

SOBRATI meu muito obrigado, em especial ao Dr, Douglas por ter se permitido dividir

conosco um pouco do seu grande saber.

Aos professores Edilson e Vicença, que me ajudaram na concretização desta jornada,

aprendi muito com vocês, embora nossos diálogos tenham sido tão curtos.

Aos meus filhos, para quem sempre quero ser melhor, como mãe, avó, enfermeira,

professora e mestra, sem vocês tudo seria tão sem graça e frio.

Aos colegas do curso, alguns que só conheci agora e aos que já eram meus amigos,

vocês fizeram dos meus finais de semana muito mais alegria e lazer do que cansaço e esforço.

Como não poderia deixar de ser, o agradecimento maior é para o meu Deus, que

permitiu mais esta vitória, que nunca me deixa só, que é o meu farol e que não permite que eu

tema a minha finitude, pois para onde irei e com quem estarei, me faz tranquila e mais que

vencedora.

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Tudo tem seu tempo, o momento

oportuno para todo propósito debaixo do

sol. Tempo de nascer, tempo de morrer.

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(Eclesiastes 3, 1 e 2).

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RESUMO

Ao longo dos séculos, a visão sobre a morte vem se transformando, influenciada por

diversos fatores como a cultura de uma sociedade, a religião, valores éticos e morais de

seus indivíduos. Antes, o morrer era recluso ao lar, encarado com naturalidade pelo

doente e por sua família. Ao longo do tempo institucionalizou-se o morrer, tornando a

morte algo ameaçador à função médica, deixando de ser considerada como o desfecho

natural da vida para tornar-se algo incômodo que precisa ser escondido. A partir das

questões norteadoras, Qual o significado da Terminalidade em Unidade de Terapia

Intensiva perante a Bioética? Quais os resultados apontados pela produção científica

existente? Traçou-se o seguinte objetivo: Analisar a produção científica dos últimos 05

anos acerca da Terminalidade em Unidade de Terapia Intensiva perante a Bioética, com

vistas a estabelecer um panorama atual acerca da temática em discussão. Trata-se de

uma Pesquisa Descritiva, com abordagem Qualitativa do tipo Revisão Integrativa de

Literatura. Foram selecionados 10 artigos por obedecerem aos critérios de inclusão.

Identificaram-se duas unidades temáticas: Significado da terminalidade da vida na UTI

para os profissionais, pacientes e familiares e Decisões éticas e legais frente a

terminalidade da vida: eutanásia, ortotanásia e distanásia. Conclui-se que os artigos

examinados tiveram seu foco principal sobre os dilemas bioéticos: eutanásia, distanásia

e ortotanásia e que ainda se observa lacunas no que se refere ao relacionamento

profissional de saúde e sujeito em fase terminal, indicando a necessidade de mais

estudos na temática, a fim de permitir que os profissionais de saúde estejam preparados

para cuidar da vida, com humanismo, competência técnico científico e respeito aos

princípios da bioética.

Palavras-chave: Terminalidade, Bioética. Unidades de Terapia Intensiva.

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ABSTRACT

Over the centuries, the vision of death is becoming influenced by several factors such as

the culture of a society, religion and the ethical and moral values of its people. Before,

the die was secluded home, naturally seen by the patient and his family. Over time it

was institutionalized dying, becoming something threatening death to the medical

function, no longer regarded as the natural outcome of life to become something

nuisance that needs to be hidden. From the guiding questions, What does the

Terminality in Intensive Care Unit before Bioethics? What are the results presented by

the existing scientific literature? Drew up the following objective: To analyze the

scientific production of the last 05 years about Terminality in Intensive Care Unit before

Bioethics, in order to establish a current overview about the theme under discussion.

Descriptive research with qualitative approach to the type Integrative Review of

Literature. We selected 10 articles for obeying the inclusion criteria. They identified two

thematic units: Meaning of terminally life in the ICU for professionals, patients and

families and ethical and legal decisions facing terminal illness of life: euthanasia,

orthothanasia and futility. We conclude that the examined articles had its main focus on

bioethical dilemmas: euthanasia, futility and orthothanasia and still observed gaps with

regard to health care professional relationship and subject terminally ill, indicating the

need for more studies on the subject in order to allow health professionals to be better

prepared to take care of life, with humanism, scientific technical competence and

respect for the principles of bioethics

Keywords: Terminality. Bioethics. Intensive Care Units.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 09

2 REVISÃO DE LITERATURA............................................................ 11

3 METODOLOGIA................................................................................. 14

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.............................. 16

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 22

REFERÊNCIAS.................................................................................... 24

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1 INTRODUÇÃO

A morte é a única certeza absoluta no domínio da vida; sempre existiu e sempre

existirá. Entretanto, saber-se mortal, e enfrentar a finitude da vida como algo concreto

gera medo, inquietação e frustração.

Ao longo dos séculos, a visão sobre a morte vem se transformando influenciada

por diversos fatores como a cultura de uma sociedade, a religião, valores éticos e morais

de seus indivíduos. Antes, o morrer era recluso ao lar, encarado com naturalidade pelo

doente e por sua família. Ao longo do tempo institucionalizou-se o morrer, tornando a

morte algo distante. Se no início do século XX o tempo para o advento da morte, após a

constatação de doença grave, era de cinco dias, os progressos alcançados no decorrer

daquele século possibilitaram que hoje esse intervalo seja dez vezes maior

(VASCONCELOS; IMAMURA; VILAR, 2011).

No desempenho do seu papel de salvar vidas, os profissionais de saúde

vivenciam no contexto específico da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), possibilidades

de sucesso ou fracasso, pautando suas ações em complexas decisões potencializadas

pelas características desse ambiente. Além da presença de suporte a órgãos vitais e

possibilidades de manutenção da vida, os Intensivistas convivem mais diretamente com

os pacientes graves e seus familiares, sendo, também, frequentemente questionados por

esses, sobre a evolução da doença, perspectivas de tratamento e expectativas de vida dos

pacientes. Essas situações podem criar circunstâncias angustiantes relacionadas com a

proximidade da finitude humana e a impossibilidade de dominá-la (ALMEIDA, 2013).

Neste contexto é que a partir de 1970, o oncologista Van Resselaer Potter, usou

o termo Bioética, visando integrar diferentes aspectos das ciências humanas e biológicas

através da ética. A bioética é a forma de integrar as ciências e as humanidades para se

atingir uma nova sabedoria através do conhecimento biológico articulado com os

valores humanos (COHEN; GOBBETTI, 2005).

A Bioética propõe como princípios básicos a Justiça, a Autonomia, a

Beneficência e a Não maleficência, e estes princípios se tornaram a base da ética

profissional na área da saúde. O princípio da autonomia implica tratar as pessoas

respeitando suas decisões. Nas situações em que a autonomia do indivíduo esteja

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reduzida, toma-se como referência o princípio da beneficência, o qual é expresso através

de duas regras que podem ser formuladas como expressões complementares de uma

ação benéfica, prevenir danos e maximizar os benefícios minimizando os danos. O

Princípio da não maleficência tem como base a obrigação de não causar danos O quarto

princípio denominado princípio da justiça, pode ser entendido como senso de justiça na

distribuição ou naquilo que é merecido (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

A variabilidade da duração da morte é estabelecida pelos progressos da

biomedicina. Dentro de certos limites, pode-se abreviá-la ou estendê-la, dependendo da

decisão do médico e dos equipamentos disponíveis. A Bioética busca responder

questões como: até quando é ético prolongar ou abreviar uma vida? Tornou-se então,

necessário aprofundar o entendimento sobre o processo de morrer e a morte em si.

Surge então, a definição das formas de processo: eutanásia, distanásia e ortotanásia.

Objetivando um respaldo Jurídico, em 2006 o CFM lançou a Resolução CFM

1.805, que permite ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que

prolonguem a vida do doente em fase terminal, e do alívio das dores usuais desse

momento, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal. Buscou o

resgate da humanização no processo de morrer, em especial nas UTI’s, assegurando a

assistência integral, o conforto físico, psíquico, social e espiritual e os cuidados

paliativos apropriados (KOVACS, 2014).

Diante do exposto, chegou-se aos seguintes questionamentos: Qual o significado

da Terminalidade em Unidade de Terapia Intensiva perante a Bioética? Quais os

resultados apontados pela produção científica existente?

Para responder a esses questionamentos traçaram-se os seguintes objetivos:

Analisar a produção científica dos últimos 05 anos acerca da Terminalidade em Unidade

de Terapia Intensiva perante a Bioética, com vistas a estabelecer um panorama atual

acerca da temática em discussão e, identificar os principais resultados apontados a partir

de análise da produção cientifica dos últimos 05 anos.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Nessa seção, aprofundamos sobre a temática em questão, procurando buscar

informações sobre qual o significado da Terminalidade em Unidade de Terapia

Intensiva perante a Bioética. Dessa forma, procuramos, embasados na literatura,

responder: Quais os resultados apontados pela produções científicas existentes.

Apesar dos esforços dispendidos pelos profissionais de saúde, na realidade,

alguns pacientes morrerão apesar dos melhores esforços. E, embora não seja possível

alterar esse fato, é possível ter um efeito significativo e duradouro sobre a maneira pela

qual o sujeito vive até o momento da morte, a maneira pela qual a morte acontece e as

memórias que ficam da morte para a família. A educação, a prática clínica e a pesquisa

sobre o cuidado em fase terminal estão evoluindo, e a necessidade de preparar

profissionais da saúde para o cuidado ao sujeito em fase terminal surge como uma

prioridade.

O paciente, nesse contexto, é constantemente monitorizado. Não é mais um ser

humano autônomo, as máquinas fazem parte dele. Sem elas, em alguns momentos, ele

não seria capaz de viver. O objetivo é colocar o paciente com alto risco de vida e/ou

iminência de morte em um ambiente em que suas funções vitais são continuamente

monitoradas, e onde a intervenção salvadora possa ser feita rapidamente, de forma

concentrada e intensa, em um único lugar. Esse progresso da medicina intensiva se deve

ao avanço da tecnologia biomédica (ALMEIDA, 2013).

Dessa forma, o desenvolvimento técnico na área da saúde cria ambiente

desumano, deixando a dignidade em segundo plano. Houve desapropriação da morte na

era moderna, afastando pessoas do seu processo de morrer, numa flagrante perda de

autonomia e consciência. Prolongar a vida, não considerando os limites de tratamentos,

pode levar ao temor e ao sofrimento, suportado na unidade de terapia intensiva (UTI) na

companhia de máquinas e sem a presença da família e amigos (KOVÁCS, 2014).

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Buscando a reumanização da morte, a Bioética, nascia na década de 70 com a

perspectiva de uma nova disciplina que propiciasse uma forte interação entre o ser

humano e o meio ambiente. Destacou-se que essa nova disciplina era a “ciência da

sobrevivência humana”, sendo a Bioética uma verdadeira ponte entre a ciência biológica

e a Ética. Pensava que o futuro da espécie humana deveria ser em uma civilização

decente e sustentável. Participava do sentimento de decepção gerado pelo fracasso

vigente em combinar as conquistas das ciências com a proteção dos seres humanos e seu

ambiente (MARQUES; ANJOS; POTTER, 2011).

Alguns temas pertinentes sobre bioética em Terapia Intensiva são: a Eutanásia,

a Distanásia e a Ortotanásia. A Eutanásia, legalmente, é interpretada como crime,

legislado pelo artigo 121 do Código Penal como homicídio. A busca por esses meios

está intimamente relacionada ao medo da dor, da solidão, do abandono pelas famílias e

pela rejeição à frieza e impessoalidade que permeiam a assistência de muitos de nossos

semelhantes quando próximos à morte. Diante disso, entendemos a necessidade de

indicação do cuidado paliativo, certo, seguro, em uma sociedade que não poderá

fracassar ao ponto de deixar que seus integrantes peçam pelo direito de morrer porque

não são cuidados (BIONDO; SILVA; SECCO, 2009).

A Distanásia parece ser bastante comum na Terapia Intensiva, visto que a

gravidade dos casos dos pacientes faz com que a equipe adote uma postura terapêutica

“sintomática”, o que, muitas vezes, mantém o paciente “clinicamente estável” diante do

suporte de monitorização intensiva, enquanto, na verdade, o processo de morte já foi

instalado. Em alguns casos, nota-se que, após vários dias/semanas, um paciente

terminal, por exemplo, passa a ter indicação de não reanimação, pois a equipe percebe

que sua terapêutica tornou-se fútil. (CLEMENTE; SANTOS, 2007).

Segundo Biondo, Silva, Secco (2009), Ortotanásia é a arte de morrer bem,

humana e corretamente, sem ser vitimado pela mistanásia, por um lado, ou pela

distanásia, por outro, e sem abreviar a vida, ou seja, recorrer à eutanásia. Tem como

grande desafio o resgate da dignidade do ser humano em seu processo final, em que há

um compromisso com a promoção do bem-estar da pessoa em fase terminal.

Corroborando com a promoção do bem-estar da pessoa em processo de morrer, os

alicerces de sustentação das ações profissionais estão ancorados nos quatro princípios

bioéticos do modelo principialista: a autonomia, a justiça, a beneficência e a não

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maleficência, devendo ser norte para as práticas, reflexões e atitudes profissionais

(GARCIA, 2011).

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agosto de 2012, que consiste nas Diretivas Antecipadas de Vontade (DAV). Tratam dos

limites terapêuticos para doentes em fase terminal, as regras, que já estão em

vigor estabelecem critérios para o uso de tratamentos considerados invasivos ou

dolorosos em casos nos quais não há possibilidade de recuperação. Na prática, o paciente vai

poder registrar no próprio prontuário os procedimentos médicos aos quais quer ser

submetido no fim da vida. Dessa forma, esse documento dá suporte legal e ético para o

cumprimento da orientação, haja vista a inexistência de regulamentação sobre diretivas

antecipadas de vontade do paciente no contexto da ética médica brasileira. O testamento

vital, como também é conhecido é facultativo e poderá ser feito em qualquer momento da

vida, inclusive por pessoas sem problemas de saúde, podendo ser modificado ou revogado a

qualquer instante (BRASIL, 2012).

É importante salientar que no nosso ordenamento jurídico a eutanásia é proibida,

no entanto a ortotanásia poderá ser entendida como permitida, conforme entendimento

judicial no julgamento da Ação Civil Pública nº 2.007.34.00.014809-3 (BRASIL, 2010).

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3. METODOLOGIA

3.1 Caracterização do tipo de pesquisa

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, do tipo revisão

de literatura obtida através de bases de dados da BVS. Minayo (1994, p. 21-22) afirma

que:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo de relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

A pesquisa descritiva “[...] têm como objetivo primordial a descrição das

características de determinadas população ou fenômenos ou o estabelecimento de

relações entre variáveis‖” (GIL, 2007, p. 42). Procuramos reconhecer a terminalidade e

bioética em unidades de terapia intensiva.

3.2 Campo empírico da pesquisa

Realizamos a seleção dos artigos nos meses de março a julho de 2015, usamos o

acesso on-line às três bases de dados: Literatura Latino-Americana em Ciências de

Saúde (LILACS), National Library of Medicine and National Institutes of Health

(MEDLINE) via PubMed e Scientific Eletronic Library (SCIELO).

Realizou-se o cruzamento dos seguintes descritores controlados, presentes nos

Descritores em Ciências da Saúde/Medical (DeCS): “Terminalidade. Bioética. Unidades

de Terapia Intensiva”.

3.3 Instrumento de produção de dados

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Para coleta dos dados dos artigos selecionados, utilizamos Questionário como

instrumento de pesquisa para coletar as informações dos textos científicos. Segundo

Creswell (2010), a utilização de questionário é útil quando os participantes não podem

ser diretamente observados.

3.4 Produção de dados da pesquisa

Selecionamos quarenta e duas (42) publicações que atendessem à questão de

pesquisa, resultando em dez (10) artigos que atendiam aos critérios estabelecidos, sendo

excluídos os demais. Tendo como critérios de inclusão: textos brasileiros, redigidos em

português e na íntegra, que demonstrassem a temática em questão; publicados e

indexados nas bases de dados entre os anos de 2010 a 2015 de acesso online e gratuito.

Optamos como critérios de exclusão: relatos de casos informais, capítulos de

livros, dissertações, teses, reportagens, notícias, editoriais, textos não científicos, e

artigos científicos sem disponibilidade na íntegra on-line e os que constavam em mais

de uma base de dados.

3.5 Análise de dados da pesquisa

Para a análise dos dados utilizamos o método de análise de conteúdo observando

as recomendações de Bardin (1979, p. 31):

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdos de mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam interferir conhecimentos relativos às condições de produção/percepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

Desta forma, a análise de conteúdo se processou com reflexões sobre as

narrativas dos profissionais de saúde, obedecendo à totalidade das mesmas, sobre as

vivências e particularidades desenvolvidas em sua prática em relação à terminalidade e

bioética em unidades de terapia intensiva.

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4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Ao final da pesquisa, foram selecionados 10 artigos por manterem melhor

relação com o objetivo proposto, além de obedecerem aos critérios de inclusão: língua

portuguesa; está disponibilizado o texto completo; artigo recente, isto é, com 5 anos de

publicação e que mantenha relação direta com o tema. Os artigos selecionados estão

descritos no quadro seguinte (Quadro1).

Quadro 1 – Artigos indexados na Biblioteca Virtual em Saúde sobre Terminalidade,

Bioética e Unidade de Terapia Intensiva.

AUTOR/ANO

REVISTA INDEXADA/

LOCAL

TÍTULO DO ARTIGO

CONSIDERAÇÕES/TEMÁTICA

BATISTA, Katia Torres (2010)

Repositório Institucional da UnB-Brasília,

DF

Decisões éticas na terminalidade da

vida/Conhecimentos e condutas de

médicos intensivistas de

Goiás e do Distrito Federal

Constatou-se desconhecimento médico sobre temas como ortotanásia.

Insegurança dos profissionais, citando falta de capacitação e de consenso da

equipe para a tomada de decisão frente à morte.

SANTANA, Júlio César Batista et al.

(2010)

Revista Bioéthikos -

Centro Universitário São Camilo – São Paulo, SP

Ortotanásia: significado de morrer com dignidade na percepção de

enfermeiros do curso de

especialização em UTI

Importância da presença dos familiares na fase final da vida; Suporte religioso

como fonte de dignidade no processo de morrer. Reflexões sobre autonomia do

paciente terminal; Humanização e cuidados paliativos ao paciente terminal.

JUNGES, José Roque et. Al.

(2010)

Rev. Esc. Enferm. USP, São Paulo, SP

Reflexões legais e éticas sobre o

final da vida: uma discussão sobre a

ortotanásia

Debatidas as leis, ética e o critério da dignidade quanto a prática da

ortotanásia. Reflete-se sobre a morte, os dilemas éticos e as ações dos

profissionais no contexto de doentes terminais.

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DUTRA, Bianca Santana et al.

(2011)

Revista de Pesquisa: Cuidado é

Fundamental Online. Rio de

Janeiro, RJ

Distanásia: Reflexões Éticas Sobre Os Limites

De Esforços Terapêuticos Nas

Unidades de Terapia Intensiva

Discussões éticas e legal acerca do prolongamento da vida (sofrimento), nas

UTI’s. Reflexões sobre Distanásia no contexto dos profissionais de saúde, do

paciente e da família.

VASCONCELOS, Thiago José

Querino; IMAMURA,

Natália Ramos; VILAR, Heloísa

Cesar Esteves Cerqueira (2011)

Revista Bioética, CFM, São Paulo, SP

Impacto da Resolução CFM

1.805/06 sobre os médicos que lidam com a

morte

Questionamentos acerca dos aspectos éticos do prolongamento da vida, e a criação da Resolução CFM 1.805/06. Apreender as opiniões médicas sobre

eutanásia, distanásia e ortotanásia, considerando o disposto na citada. Resolução, além de investigar os

impactos desse documento sobre seu cotidiano profissional.

ALMEIDA, Luana (2013)

Revista HUPE, Rio de Janeiro,

RJ

Terminalidade humana na UTI.

Reflexões sobre a formação

profissional e ética diante da

finitude

Ausência de abordagens sobre o processo de morte e morrer na formação profissional de diferentes profissionais

atuantes em Terapia Intensiva, gera uma discussão interdisciplinar sobre

sentimentos de perda, sofrimento, dor e fracasso relacionados à morte em UTI. Delimitar o tratamento e definir ações correspondem a difíceis decisões, nem

sempre concordantes e uniformes.

MAGALHÃES, Clarissa Bentes

Araújo et al. (2013)

Conexão ciência:

UNIFOR-MG

Temas Atuais sobre Bioética em Terapia Intensiva:

Uma Revisão Narrativa

Integrativa

Temas como Distanásia, decisões de não tratar e cuidados paliativos, embora

muito discutidos atualmente na saúde ainda são geradores de situações

dilemáticas e/ ou de conflito junto aos intensivistas.

SOUSA, Thieli Lemos; BARILLI,

Sofia Louise

Texto e Contexto –

Enfermagem, Florianópolis,

SC

Perspectiva de familiares sobre o

processo de morrer em Unidade de Durante o processo de morrer,

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Santin; AZEREDO, Nára Selaimem Gaertner (2014) Terapia Intensiva

evidencia-se sentimentos de angústia, insegurança, revolta, culpa e saudade

vivenciados pelos familiares. Demonstram a importância de estar junto da pessoa amada e o desejo de

estabelecer vínculo entre equipe-paciente-família.

KOVACS, Maria Júlia (2014)

Revista Bioética – São Paulo, SP.

A caminho da Morte com

dignidade no século XXI

Definições, esclarecimentos e questões bioéticas envolvendo eutanásia, distanásia e ortotanásia além de

diretrizes antecipadas da vontade, como possibilidade de resgate da autonomia

do paciente. Reflexões sobre os caminhos da morte no século XXI,

enfatizando a importância dos cuidados paliativos.

SILVA, José Antônio Cordero et

al. (2014)

Revista Bioética, Belém

– PA.

Distanásia e ortotanásia:

práticas médicas sob a visão de um hospital particular

Analisar a percepção de familiares de pacientes internados acerca da

ortotanásia e distanásia, avaliando a alternativa mais aceita. O estudo indica a

necessidade de trazer o tema para discussão da sociedade, sensibilizando-a

a entender implicações individuais e coletivas do prolongamento da vida em

situação de sofrimento.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador com base nos dados e resultados da pesquisa,

2015.

Os artigos foram publicados em dez revistas distintas, sendo quatro da cidade de

São Paulo, um de Brasília, dois do Rio de Janeiro, um de Florianópolis, um de Belém e

um do Estado de Minas Gerais. As produções científicas foram publicadas nos anos

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compreendidos entre 2010 a 2014. Após a leitura dos artigos selecionados, foram

identificadas duas unidades temáticas:

1 - Significado da terminalidade da vida na UTI para os profissionais, pacientes e familiares.

2 - Decisões éticas e legais frente à terminalidade da vida: eutanásia, ortotanásia e distanásia.

1 - Significado da Terminalidade da vida na UTI para os profissionais, pacientes e

familiares:

De acordo com Batista (2010), os profissionais de saúde convivem no contexto

da UTI com a presença de suporte biotecnológico a órgãos vitais, ou seja, entre

possibilidades de manutenção da vida e enfrentamento da morte gerando tensões

emocionais. Por outro lado, a equipe interdisciplinar formada basicamente pelo médico,

enfermeiro e fisioterapeuta além do nutricionista e que, espera-se, seja ampliada com os

familiares e pacientes, necessitam manter um diálogo.

Almeida (2013), afirma que na maioria das vezes, o médico é levado a decidir

isolada e unilateralmente, não compartilhando opiniões devido à falta de comunicação

entre os profissionais. Percebe-se, também, que a decisão de se interromper ou

prolongar determinado tratamento nem sempre é consensual e sustentada pelos

diferentes intensivistas da mesma instituição.

Souza, Barilli e Azeredo (2014), fazem menção à importância que a

comunicação equipe/família desempenha na terminalidade em UTI, ao tempo em que a

comunicação assume o papel de instrumento do cuidado no processo de morrer, tendo

em vista que comunicar más notícias é uma das tarefas mais difíceis do profissional de

saúde, uma vez que a sua formação foi especificamente dirigida para salvar vidas e não

a lidar com situações de perdas de saúde, vitalidade, esperança e morte.

Almeida (2013), justifica a conduta dos profissionais de saúde frente à morte,

pela falha observada no seu processo de formação. A terminalidade humana não é tema

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de ação pedagógica para que se desenvolvam comportamentos adequados em relação à

situação da morte de um paciente. Observa-se, no processo de formação nos diferentes

profissionais atuantes em terapia intensiva, a ausência de qualquer abordagem nas

diferentes disciplinas que discutam aspectos cognitivos e afetivos relacionados ao

processo da morte e do morrer.

Os autores acima citados observam a importância do cuidado espiritual ao

paciente terminal. Acrescentam que estudos mostram que 95% dos americanos crêem

em alguma força superior e que 93% gostariam que seus médicos abordassem essas

questões se ficassem gravemente enfermos. Pacientes internados (77%) desejam que

seus valores espirituais sejam considerados pelos seus médicos e 48% gostariam,

inclusive, que seus médicos rezassem com eles. Contraditoriamente, a maioria dos

pacientes disseram que jamais os profissionais de saúde abordaram o tema.

2 - Decisões éticas e legais frente à terminalidade da vida: Eutanásia, Distanásia e

Ortotanásia:

A tecnologia médica está presente nos diagnósticos e tratamentos, permitindo

progressos significativos na cura de doenças e na extensão da vida. Entretanto, é preciso

se considerar possíveis prejuízos do prolongamento da vida de pessoas enfermas. Nesse

contexto, a bioética combina o caminho do conhecimento técnico-científico das ciências

da saúde e o conhecimento filosófico, onde há diálogos possíveis entre clínica e ética

(KOVACS, 2014).

Parte importante dos cuidados no final da vida é facilitar o exercício da

autonomia e decisões de pessoas enfermas. Eutanásia era, no sentido original, a boa

morte, está legalizada em três países europeus: Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Tendo

em conta o elevado e incomparável valor que a vida do ser humano tem, a maioria das

legislações compreende a eutanásia como crime, uma vez equiparar em seu conjunto

normativo tal prática aos delitos de homicídio ou auxílio ao suicídio.

Vasconcelos, Imamura e Vilar (2011), ao avaliarem a Resolução CFM 1.805/06

que normatiza a conduta médica frente às questões da terminalidade humana, chama

atenção para os termos, Eutanásia, como o auxilio ativo do médico à morte e Distanásia

como termo contrário, significa morte lenta, com muito sofrimento. Seria o caso em que

o médico faz uso de todos e quaisquer recursos disponíveis para prolongar a vida de um

paciente terminal. Esse processo é também chamado de obstinação terapêutica. Por

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outro lado o termo Ortotanásia, morte no momento correto, objetiva encarar a morte no

momento adequado, sem prolongamentos ou abreviações

Silva et al. (2014), em pesquisa com familiares de pacientes terminais onde

foram entrevistados sobre as questões: distanásia e ortotanásia observaram o

desconhecimento sobre os referidos termos, o que levou os entrevistados a optarem pela

distanásia como melhor opção para seu familiar. Os autores consideram que um

mecanismo proposto para reduzir a distanásia é a manifestação da vontade antecipada.

Nesta, o paciente previamente informa se deseja ou não, quando não for possível a cura,

que sejam empregados métodos de prolongamento artificial da vida.

De acordo com Dutra et al. (2011), a distanásia é uma realidade que está

presente dentro das Unidades de Terapia Intensiva e é de suma importância a

assimilação de seu conceito teórico-prático, a fim de se formular um plano de

atendimento adequado ao doente sem perspectiva de vida e de seus familiares. Afirma

também que os avanços da medicina moderna não foram acompanhados com o

discernimento Ético na tomada das decisões nas UTI’s. Neste contexto, o poder de

manter uma pessoa “morta-viva” está nas mãos dos profissionais de saúde, esquecem

muitas vezes de que a morte é um processo natural e que o prolongar o sofrimento

desses doentes é algo que agride a dignidade da pessoa, de seus familiares e da equipe.

Santana et. al. (2011), complementam que os cuidados paliativos, ao contrário

do que se pensa, não representam uma omissão de tratamentos e cuidados, mas têm sua

filosofia baseada na prestação de cuidados que avaliam o indivíduo dentro das

dimensões que o compõem, bem como nos cuidados que podem ser atribuídos a esse

paciente de modo a lhe oferecer o conforto e o alívio necessário, procurando atenuar ou

minimizar os efeitos decorrentes de uma situação fisiológica desfavorável, originada por

um quadro patológico que não responde mais a intervenções terapêuticas curativas.

As considerações sobre a bioética na terminalidade da vida são corroboradas por

Junges et al. (2010), que diz na temática em questão, o processo de morte do sujeito

configura-se como espécie de morte ao seu tempo correto (ortotanásia), sem tratamentos

desproporcionais (distanásia) e sem a ocorrência interventiva da abreviação do processo

de morrer (eutanásia). É imprescindível ao profissional de saúde superar as dificuldades

inerentes à relação médico-paciente baseada na tentação tecnológica, visualizando o

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paciente como um todo e, assim, estabelecendo um compromisso com a vida plena

enquanto bem maior digno de respeito.

Magalhães et al. (2013), conclui que a aceitação da morte de pacientes em

terapia intensiva pelos médicos, envolve condutas de aceitação como: não reanimar

pacientes considerados “irrecuperáveis”, ajuste do respirador para controle menos

rigoroso e diminuição de drogas psicoativas. Essa aceitação decorre, muitas vezes, de

um acordo informal existente entre o grupo médico da unidade, que possibilita tais

condutas, mesmo não correspondendo oficialmente às diretrizes formalizadas pela

instituição. Muitas vezes, essas práticas são decididas sem a participação dos demais

membros de assistência ao paciente e dos familiares. Essa prática médica de aceitação

da morte se por um lado demonstrar que, apesar dos avanços tecnológicos, os médicos

estão mais cientes de que, em muitos casos, a morte, como processo natural, é

inevitável, por outro merece atenção o fato desta decisão se processar a revelia do

paciente/família e geralmente sem a participação dos demais membros da equipe de

intensivistas atuantes naquele momento de morte do paciente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os artigos examinados neste estudo tiveram seu foco principal sobre os dilemas

bioéticos: eutanásia, distanásia e ortotanásia. Muitas são as discussões, uma vez que o

processo de cuidar envolve situações entre vida e morte, conforto e sofrimento, dentre

outros. Alguns trabalhos discutem a falta de conhecimento aliado à insegurança de

alguns profissionais intensivistas no trato com situações de terminalidade em UTI,

levando a tomadas de decisões muitas vezes unilaterais, esquecendo a importância do

trabalho em equipe e negligenciando a autonomia do paciente e/ou familiar. Como

justificativa para tal comportamento, alguns autores reconhecem a necessidade de

implementação da temática morte nos currículos dos diversos cursos da saúde.

A Bioética, como campo de reflexão, promove um melhor direcionamento para

situações que geram os dilemas nas UTI’s, podendo ser uma ferramenta eficaz na busca

da decisão mais prudente frente aos conflitos éticos em detrimento da terminalidade,

além de buscar resgatar a humanização da morte.

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O Código de Ética Médica de 2010 veta a eutanásia como perspectiva para a

morte com dignidade. Propõe a ortotanásia em situações clínicas irreversíveis

vinculadas à qualidade dos cuidados paliativos oferecidos, ressaltando a importância da

relação médico-paciente. O Código também se manifesta contra a distanásia,

recomendando nos casos de doença incurável e terminal, sejam oferecidos todos os

cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas

inúteis ou obstinadas.

Ante o exposto, espera-se que este estudo possa contribuir para fortalecer as

leituras críticas a respeito da temática. Verifica-se que, no tocante à humanização do

atendimento aos sujeitos em terminalidade de vida, frente aos familiares e profissionais

de saúde envolvidos e que muitas iniciativas têm sido realizadas e discutidas, no

entanto, ainda observam-se lacunas no que se refere ao relacionamento profissional de

saúde e sujeito em fase terminal, indicando a necessidade de mais estudos na temática, a

fim de permitir que os profissionais de saúde estejam mais bem preparados para cuidar

da vida, com humanismo, competência técnico científica e respeito aos princípios da

bioética nas Unidades de Terapia Intensiva.

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