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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI Mestrado em Terapia Intensiva Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva - SOBRATI JOSÉ ISRAEL SÁNCHEZ ROBLES BALANÇO NITROGENADO EM PACIENTES CRÍTICOS BRASILIA

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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI

Mestrado em Terapia Intensiva

Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva - SOBRATI

JOSÉ ISRAEL SÁNCHEZ ROBLES

BALANÇO NITROGENADO EM PACIENTES CRÍTICOS

BRASILIA

2017

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Aos meus professores, amigos e familiares..

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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI

Mestrado em Terapia Intensiva

Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva - SOBRATI

Tese apresentada ao curso de Mestrado do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva – IBRATI

como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva –

SOBRATI.

____________________________________________

PROF:

Orientador – Dra. Claudia Conforto

____________________________________________

2° Examinador

____________________________________________

3° Examinador

____________________________________________

4° Examinador

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RESUMO

Contexto: As proteínas desempenham funções fundamentais em todos os processos

biológicos, caracterizando fator limitante na determinação da sobrevida. O balanço

nitrogenado (BN) é uma das formas de avaliar se o suporte nutricional está sendo suficiente

para prevenir o catabolismo proteico ou promover o anabolismo, sendo sua avaliação em

pacientes críticos muito pertinente. Objetivo: Avaliar o balanço nitrogenado em pacientes

críticos de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), corroborando sua relevância no

acompanhamento nutricional e evolução clínica desses pacientes. Métodos: A população-

alvo do presente estudo consistiu de pacientes críticos internados na UTI do Instituto de

Angiologia de Goiânia, avaliados entre maio e setembro de 2014. O BN foi realizado

semanalmente, exame de rotina do referido serviço de saúde. Foram calculadas as

frequências absolutas e relativas do BN total, por sexo, idade, desfecho (alta hospitalar,

permanência em internação ou óbito) e total de proteínas da dieta. As diferenças entre

proporções foram verificadas pelo teste exato de Fisher. Analisou-se correlação entre total

de proteínas da dieta e BN em cada avaliação dos pacientes. Foi considerado

estatisticamente significativo valor de p < 0,05. Resultados: Foram avaliados 22 pacientes,

maioria do sexo feminino (72,7%) e idade média de 75,5 ± 13,3 anos, internados

principalmente por pneumonia e em ventilação mecânica. Na avaliação inicial, 77,27%

apresentaram BN negativo (média -1,99 ± 5,34 desvio-padrão), com maior frequência

naqueles com mais de 80 anos de idade (43,75%), embora não estatisticamente significante.

A maioria dos pacientes foi avaliado mais de uma vez, dependendo da permanência na UTI.

Das oito avaliações de correlação, apenas na terceira verificou-se correlação positiva entre

BN e total de proteínas da dieta (r= 0,7279 e p=0,0170). Conclusão: Verificou-se alta

frequência de BN negativo na população analisada e a elevação na quantidade totais de

proteínas da dieta pode influenciar positivamente o BN, embora mais estudos sejam

necessários.

Palavras-chave: balanço nitrogenado, paciente crítico, proteína dietética, unidades de

terapia intensiva.

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ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

ASPEN: American Society for Parenteral and Enteral Nutrition

BCAA: aminoácidos de cadeia ramificada

BN: balanço nitrogenado

DNA: ácido desoxirribonucleico

IAG: Instituto de Angiologia de Goiânia

IMC: Índice de Massa Corporal

SNE: sonda nasoenteral

TNE: terapia nutricional enteral

UTI: unidade de terapia intensiva

VM: ventilação mecânica

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 1

1.1 Revisão de literatura ........................................................................ 1

2. OBJETIVOS .......................................................................................... 5

3. CASUÍSTICA E MÉTODO ..................................................................... 6

4. RESULTADOS ...................................................................................... 7

5. DISCUSSÃO ......................................................................................... 10

6. CONCLUSÕES ..................................................................................... 13

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 14

RESUMO ................................................................................................ 16

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1. INTRODUÇÃO

Doenças graves ou injúrias desencadeiam grandes perdas de nitrogênio,

predominantemente resultantes da resposta catabólica, como também de ingestão e

absorção prejudicada de nutrientes, ou ainda perdas via trato gastrintestinal, feridas

abertas, queimaduras, entre outros. É uma resposta do organismo ao estresse, visando a

sobrevivência do indivíduo, que através da degradação de proteínas fornece substrato

necessário para suprir a alta demanda por nutrientes da resposta de fase aguda, defesa

imunológica e recuperação tecidual (Stroud, 2007).

O balanço nitrogenado é uma medida dinâmica de avaliação do estado nutricional

em proteínas, representando a diferença diária entre a quantidade de nitrogênio consumida

e a quantidade de nitrogênio excretada. Na condição de balanço nitrogenado negativo,

como ocorre em doenças graves ou injúrias, mais nitrogênio é excretado do que ingerido

(Rogero, Ribeiro, Tirapegui, 2009).

Assim, faz-se de grande relevância a realização do balanço nitrogenado em

pacientes críticos para avaliar a eficiência da terapia nutricional em minimizar perdas

proteicas e promover anabolismo, objeto de estudo do presente trabalho.

1.1 Revisão bibliográfica

Ao passo que a constituição dos organismos vegetais é primariamente formada por

carboidratos, a estrutura corporal do organismo humano é constituída por proteínas.

Diferentemente dos carboidratos e lipídios, as proteínas são as únicas que possuem

nitrogênio (Gallagher, 2013).

As proteínas desempenham funções fundamentais em todos os processos

biológicos. Por definição, são polímeros constituídos por unidades monoméricas

denominadas alfa-aminoácidos, unidas por ligações peptídicas. Possuem papéis fisiológicos

importantes na conservação da distribuição da água entre o compartimento intersticial e o

sistema vascular do organismo, além de participarem na homeostase, coagulação sanguínea

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e nutrição dos diversos tecidos (Alves, Waitzberg, 2009). A sequência de aminoácidos de

uma proteína é determinada pelo DNA presente no núcleo celular, e define a conformação

final e a função das proteínas, que podem ser estruturais, enzimas, hormônios, de

transporte ou mesmo imunoproteínas (Gallagher, 2013).

Constantemente sintetizadas a partir de aminoácidos e degradadas novamente no

organismo, as proteínas sofrem processo de reciclagem contínua, também denominado

turnover proteico (Figura 1). O pool de aminoácidos orgânico estásempre em equilíbrio com

a proteína encontrada nos tecidos. O turnover proteico fundamenta-se na contínua síntese e

degradação de proteínas necessárias para a manutenção do pool metabólico e suprir a

demanda de aminoácidos para a síntese de novas proteínas celulares (Alves, Waitzberg,

2009).

Figura 1. Troca entre os pools de proteína corporal e de aminoácidos livres. Fonte: Rogero,

Ribeiro, Tirapegui (2009).

Como não há estocagem de proteínas, aminoácidos não utilizados na síntese

proteica possuem outros destinos metabólicos. Dessa forma, a quantidade de proteínas no

corpo de um adulto saudável é constante, de forma que a taxa de síntese proteica é sempre

igual à de degradação (Lemon, 2000). Em adultos saudáveis em manutenção ponderal o

equilíbrio nitrogenado significa que o aporte de nitrogênio consumido derivado da proteína

dietética é equivalente ao nitrogênio perdido na urina, fezes e outras vias (Alvez, Waitzberg,

2009).

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No entanto, em estados catabólicos como o estresse agudo (cirurgia, trauma,

queimadura e sepse), o catabolismo proteico é aumentado e a resposta para a alimentação

é prejudicada. Pacientes críticos podem perder até 20% da proteína corporal, sendo a maior

parte proveniente do músculo esquelético. Adicionalmente, a imobilidade dos pacientes

gravemente enfermos ocasiona atrofia do músculo esquelético, contribuindo para um

balanço nitrogenado negativo (Rogero, Ribeiro, Tirapegui, 2009).

Após ser acometido por injúrias como choque, traumas, queimaduras, sepse,

pancreatite e outros, o paciente desenvolve uma resposta inflamatória sistêmica

supostamente beneficial, com resolução após a recuperação do seu estado de saúde.

Contudo, se a resposta inflamatória sistêmica é exagerada ou possui longa duração,

podem surgir distúrbios severos no metabolismo das proteínas. O hipermetabolismo e

catabolismo podem ocasionar desnutrição proteica aguda, prejudicando a função imune e

disfunção subclínica de vários órgãos, incluindo insuficiência renal aguda (Trujillo et al,

2001).

A resposta metabólica ao estresse (doenças, ferimentos e septicemia grave) abrange

duas fases: a de choque e a de fluxo. A fase de choque, que acontece primariamente após a

lesão física, é caracterizada por hipovolemia, choque e hipóxia tissular. Ocorrem diminuição

do débito cardíaco, queda de consumo de oxigênio e da temperatura corporal. O aumento

do glucagon leva à diminuição dos níveis de insulina, provavelmente devido ao aumento da

produção hepática de glicose. Já a fase de fluxo é caracterizada pelo aumento do débito

cardíaco, maior consumo de oxigênio, aumento da temperatura corporal, maior dispêndio

de energia e catabolismo total das proteínas corporais (Winkler, Malone, 2013).

Após a injúria ou septicemia, a produção de energia depende cada vez mais das

proteínas. Os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA – Branch Caind Amino Acids) –

leucina, isoleucina e valina – dos músculos esqueléticos são oxidados para prover energia

muscular e esqueletos de carbono são dispostos para o ciclo glicose-alanina e para a síntese

de glutamina muscular. A mobilização de proteínas de fase aguda resulta em rápida perda

de massa muscular e em balanço nitrogenado negativo, que perdura até que haja resolução

da resposta anti-inflamatória (Winkler, Malone, 2013).

A proteína é fator limitante na determinação da sobrevida. Consequentemente, a

maioria das avaliações nutricionais são baseadas nas funções derivadas da proteína. Dentre

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estas funções está o balanço nitrogenado, que propicia uma medida dinâmica e não estática

do balanço proteico energético (Sampaio, Mannarino, 2007).

O balanço nitrogenado é resultante da diferença entre a quantidade de nitrogênio

ingerido e o valor excretado por urina (desde que a função renal esteja preservada) e fezes.

O nitrogênio também pode ser perdido por meio de descamação epitelial, secreções nasais,

cortes de cabelo, fluidos menstruais e seminal (Alves, Waitzberg, 2009). O balanço

nitrogenado não determina o estado nutricional em si, mas se o suporte nutricional está

sendo suficiente para prevenir o catabolismo ou promover o anabolismo (Beretta, Rocchetti,

Braga, 2010). Além disso, excreção urinária de nitrogênio aumentada está fortemente

associada à severidade da doença (Chioléro, Revelly, Tappy, 1997; Romijn, 2000).

No estado alimentado, o nitrogênio excretado é proveniente principalmente do

turnover normal ou do excesso de proteína ingerida. Em determinadas situações, o

organismo está ou em balanço nitrogenado positivo ou negativo. No balanço nitrogenado

negativo, mais nitrogênio é excretado do que ingerido, fato observado durante o jejum, em

determinadas doenças e em estado catabólicos (Rogero, Ribeiro, Tirapegui, 2009), como

visto anteriormente.

Os principais objetivos do suporte nutricional ao paciente crítico devem ser: 1) salvar

a vida do paciente; 2) preservar e melhorar as funções celulares; e 3) acelerar sua

recuperação. Ênfase deve ser dada à manutenção da massa muscular, a fim de oportunizar

mobilidade precoce e prevenir complicações de longo prazo. A terapia nutricional e o

manejo metabólico podem modificar as cascatas de reações imunes que são fundamentais

para a melhora do quadro clínico do paciente (Powell-Tuck, 2007).

Assim, a avaliação das necessidades proteicas do indivíduo é importante para a

determinação da quantidade correta de nitrogênio a ser ofertada. As necessidades variam

conforme a idade, o sexo, a condição fisiológica (crescimento, gravidez, lactação) e

metabólica do indivíduo (Oliveira, Marchini, 2008). Outro fator que determina a necessidade

proteica é a ingestão de lipídios e carboidratos. Esses nutrientes precisam ser ofertados em

quantidades suficientes, do contrário, parte da proteína dietética será redirecionada para a

produção de energia, tornando-se indisponível portanto para a síntese e reparação tecidual

(Rogero, Ribeiro, Tirapegui, 2009).

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2. OBJETIVO

O objetivo deste estudo consiste em avaliar o balanço nitrogenado em pacientes

críticos e ressaltar sua importância no acompanhamento nutricional e evolução clínica

desses pacientes.

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3. CASUÍSTICA E MÉTODO

O presente estudo foi realizado com amostra de conveniência, cuja população alvo

foram pacientes críticos internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de

Angiologia de Goiânia (IAG). A coleta de dados ocorreu no período entre maio e setembro de

2014.

Coletou-se dados de gramas de proteínas ingeridas por dia, ureia urinária de 24h e

volume urinário de 24h para cálculo do nitrogênio ingerido e nitrogênio excretado. A partir

desses dados obteve-se o balanço nitrogenado (BN), que é realizado rotineiramente no

referido serviço de saúde, classificado em negativo quando < 0 e positivo quando > 0. O

cálculo do BN foi realizado conforme descrito abaixo (Coomes, 2002):

Onde:

*NI (g) = Proteínas ingeridas / 6,25

**NE (g) = [ureia urinária de 24h (g) x Volume urinário de 24h (L)] x 0,47 + 4g

Para exame de ureia de 24h coletou-se urina de 24h, analisada por método

enzimático colorimétrico no equipamento Selectra Flexor XL®. As análises foram realizadas

no laboratório de análises clínicas Hemolabor.

Obteve-se ainda dados sobre idade, sexo e desfecho do paciente ao final da coleta

de dados (alta hospitalar, permanência em internação e óbito).

O banco de dados foi estruturado no Excel 2013. As análises estatísticas foram

realizadas no software estatístico STATA 12.0. Calculou-se frequência absoluta e relativa de

balanços nitrogenados positivos e negativos: total, por sexo, por faixa etária, por desfecho e

total de proteínas da dieta. As diferenças entre as frequências relativas foram analisadas

Balanço nitrogenado (BN) = Nitrogênio ingerido (NI)* – Nitrogênio excretado (NE)**

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pelo teste exato de Fischer. Utilizou-se o coeficiente de correlação de Pearson para

determinar associação entre o total de proteínas da dieta e o balanço nitrogenado.

Considerou-se valor de p estatisticamente significativo quando < 0,05.

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4. RESULTADOS

Foram avaliados 22 pacientes durante os meses de maio a setembro de 2014, sendo

16 do sexo feminino (72,7%) e 6 do sexo masculino (27,3%). A idade dos pacientes variou

entre 52 e 96 anos, com média de 75,5 ± 13,3 anos. A maioria dos pacientes possuía mais de

60 anos (80,9%), caracterizando população idosa.

A principal causa de internação dos pacientes foi pneumonia e todos os pacientes

estavam em ventilação mecânica (VM) durante a permanência na UTI. Em relação ao

suporte nutricional, todos os pacientes estavam em terapia nutricional enteral (TNE)

contínua, sistema fechado, via sonda nasoenteral (SNE). Na avaliação inicial, 63,6% dos

pacientes receberam até 90g de proteínas totais/dia. Em geral, nos pacientes com maior

tempo de internação e consequentemente maior número de avaliações, observou-se

aumento progressivo no total de proteínas da dieta quando o BN foi negativo, embora

houve variações.

Tabela 1. Balanço nitrogenado de pacientes críticos internados na Unidade de Terapia Intensiva do Instituto de Angiologia de Goiânia. Goiânia, 2014 (n=22).

VariáveisBalanço nitrogenado

Valor p1Positivon (%)

Negativon (%)

Total 5 (22,73) 17 (77,27) -

Sexo 0,585 Feminino 3 (60,00) 13 (76,47) Masculino 2 (40,00) 4 (23,53)

Idade 0,292 50-60 anos 0 (0,00) 4 (25,00) 61-70 anos 2 (40,00) 2 (12,50) 71-80 anos 2 (40,00) 3 (18,75) 81 anos ou mais 1 (20,00) 7 (43,75)

Desfecho 0,031 Alta hospitalar 0 (0,00) 3 (17,65) Permanência em internação 1 (20,00) 11 (64,71) Óbito 4 (80,00) 3 (17,65)

Total de proteínas 1,000 Até 90 g/dia 3 (60,00) 11 (64,71) Mais que 90g/dia 2 (40,00) 6 (35,29)

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1 Teste exato de Fischer. Significância estatística p < 0,05.

-10

-50

510

BN

ava

liaçã

o 1

40 60 80 100Proteínas totais avaliação 1

r= 0,2876 e p=0,1944

-15

-10

-50

5B

N a

valia

ção

2

20 40 60 80 100Proteínas totais avaliação 2

r= 0,4155 e p= 0,1235

-10

-50

510

BN

ava

liaçã

o 3

40 60 80 100 120Proteínas totais avaliação 3

r= 0,7279 e p= 0,0170

-50

5B

N a

valia

ção

4

40 60 80 100 120Proteínas totais avaliação 4

r= 0,5714 e p= 0,2362

-10

-50

5B

N a

valia

ção

5

85 90 95 100 105Proteínas totais avaliação 5

r= -0,1169 e p= 0,8255

02

46

BN

ava

liaçã

o 6

80 85 90 95 100Proteínas totais avaliação 6

r= 0,7417 e p= 0,2583

-2-1

01

2B

N a

valia

ção

7

20 40 60 80 100Proteínas totais avaliação 7

r= 0,3900 e p= 0,7449

-.50

.51

BN

ava

liaçã

o 8

60 70 80 90 100Proteínas totais avaliação 8

r= 1,0000 e p= 0,000

Figura 1. Correlação entre balanço nitrogenado (BN) e proteínas totais da dieta.

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A Tabela 1 apresenta os dados de frequência absoluta e relativa do balanço

nitrogenado total, por sexo, por faixa etária e por desfecho (alta hospitalar, permanência em

internação e óbito) e quantidade total de proteínas da dieta na primeira avaliação. Observa-

se que a maioria dos pacientes internados apresentou BN negativo na avaliação inicial

(77,27%), variando entre -11,99 e 7,99, com média de -1,99 ± 5,34. Embora não

estatisticamente significativa, observou-se maior proporção de BN negativo nos indivíduos

com mais de 80 anos na avaliação inicial. Interessante destacar que entre os pacientes que

obtiveram BN positivo na avaliação inicial, quatro pacientes foram a óbito (p= 0,031). Não foi

observada associação entre total de proteínas da dieta e BN no momento inicial (p=1,000).

O intervalo médio entre as avaliações foi 8,1 ± 2,0 dias. O total de avaliações

dependeu do tempo de internação na UTI. Assim, sete pacientes tiveram apenas uma

avaliação (31,8%), cinco pacientes duas avaliações (22,7%), três tiveram quatro avaliações

(18,2%), dois pacientes tiveram cinco avaliações (9,1%), e os quatro restantes tiveram 6, 7,

10 e 11 avaliações de balanço nitrogenado, respectivamente.

Na análise de correlação entre BN e proteínas totais da dieta, observou-se respostas

muito variáveis (Figura 1). Na terceira avaliação dos pacientes observou-se correlação

positiva estatisticamente significante entre o total de proteínas da dieta e o balanço

nitrogenado (r= 0,7279; p= 0,0170). Isso significa que quanto maior a quantidade de

proteína da dieta no momento dessa avaliação, maior o balanço nitrogenado. Observou-se

BN positivo com oferta de aproximadamente 90g ou mais de proteína/dia. No entanto, essa

mesma associação não pode ser inferida nas demais avaliações, onde não foi detectada

nenhuma correlação.

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5. DISCUSSÃO

O suporte nutricional em pacientes críticos possui grande relevância. Devido à uma

série de alterações metabólicas em resposta ao estresse, a oferta de nutrientes deve ser

equilibrada e cuidadosamente planejada, a fim de evitar o catabolismo, promover

anabolismo e oportunizar a recuperação do estado de saúde dessa população.

Medidas objetivas que visem avaliar se a terapia nutricional é suficiente para

alcançar esses objetivos são essenciais na prática clínica a fim de acompanhar a evolução do

paciente na internação, principalmente no contexto de UTIs. Nesse sentido, o balanço

nitrogenado é uma das ferramentas fundamentais para avaliação do estado nutricional em

proteínas, verificando o estado dinâmico do nitrogênio no doente.

O presente estudo detectou alta frequência de balanço nitrogenado negativo, que é

quando o nitrogênio excretado supera a quantidade ingerida e aproveitada pelo organismo,

em pacientes idosos internados por pneumonia em uma UTI de Goiânia, todos em VM.

Resultado semelhante foi encontrado por Kan et al (2003), em avaliação de pacientes

adultos mecanicamente ventilados de uma UTI em Taiwan, que detectou em média BN de -

6,7 ± 6,0 nos pacientes subalimentados (ingestão alimentar atual <90% do total da

necessidade energética), -2,8 ± 4,5 naqueles com alimentação adequada (ingestão atual

entre ± 10% da necessidade energética) e -1,9 ± 5,1 naqueles superalimentados (ingestão

acima de 110% da necessidade energética) em sua avaliação inicial. Nos grupos

subalimentado e superalimentado o BN permaneceu negativo após sete dias de

acompanhamento, sendo pior no grupo subalimentado, indicando que a ingestão energética

insuficiente ou mais do que suficiente pode influenciar negativamente o BN. Já no grupo

com alimentação adequada houve melhora do BN, passando de negativo a positivo em sete

dias. Além do BN, neste grupo ainda foi observada melhora do estado nutricional.

Japur et al (2010) avaliaram o gasto energético e o balanço nitrogenado em

pacientes adultos em VM de uma UTI, buscando verificar se a ingestão energética e proteica

são capazes de reverter o BN negativo. Em uma amostra de 17 pacientes

hemodinamicamente estáveis a maioria apresentou BN negativo (-8,2 ± 4,8). O gasto

energético não foi estatisticamente diferente naqueles com BN negativo ou positivo, sendo

observada ainda alta taxa de inadequação na ingestão energética (53,0%). Os autores

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concluíram que um equilíbrio entre o gasto energético e ingestão energética pode ser capaz

de promover melhora no balanço nitrogenado, sendo recomendada a avaliação do gasto

energético por meios mais precisos como a calorimetria indireta a fim de ajustar o aporte

energético realmente necessário.

Em uma das avaliações dos pacientes no presente estudo foi encontrada correlação

positiva entre o total de proteínas da dieta e o balanço nitrogenado, o que possivelmente

indicaria que um maior consumo de proteínas poderia refletir em melhora no balanço

nitrogenado. No entanto, existem controvérsias na literatura. Dois estudos que avaliaram a

ingestão de nitrogênio e balanço nitrogenado em pacientes críticos constataram que a

ingestão de nitrogênio em forma de proteínas não foi capaz de compensar a excreção

excessiva de nitrogênio (Dickerson et al 2005; Japur et al, 2010), mesmo em altas

quantidades (Young et al, 1987). Já o estudo de Dickerson et al (2012) com pacientes adultos

jovens com lesões traumáticas, que receberam até 3,0 g de proteína/kg de peso, foi

observada melhora do balanço nitrogenado com o aumento da ingestão de proteínas. A

melhora no BN alcançou um platô com uma ingestão de proteínas entre 1,7 g/kg e 2,2 g/kg.

Com o avançar da idade, sabe-se que ocorre um declínio progressivo na quantidade

total de proteínas do organismo, um reflexo da diminuição da massa livre de gordura,

atribuída principalmente à perda de músculo esquelético (Nair, 2005). Em adultos saudáveis,

jovens e idosos, testou-se o efeito de dieta normoproteica e hiperproteica durante 10 dias

sobre o metabolismo de proteínas no músculo esquelético e na função mitocondrial

muscular (Walrand et al, 2008). Houve aumento do balanço nitrogenado diário tanto nos

jovens quanto nos idosos, porém sem efeito benéfico sobre a síntese proteica e função

mitocondrial. Porém, observou-se efeito adverso potencial da dieta hiperproteica sobre a

função renal nos idosos, contraindicando sua utilização nesta população, principalmente se

já possuem consumo adequado de proteínas (Walrand et al, 2008).

A recomendação de proteínas do último consenso da ASPEN (American Society for

Parenteral and Enteral Nutrition) é 1,2-2,0 g/kg de peso atual por dia para pacientes críticos

com IMC (Índice de Massa Corporal) <30 kg/m2, podendo ser ainda maior para aqueles

pacientes com queimaduras ou com multi-traumas. Recomenda ainda que a adequação do

fornecimento de proteínas deve ser avaliado regularmente (McLave et al, 2009). No entanto,

em revisão sobre o tema Stroud (2007) concluiu que há fortes evidências de que melhor

sobrevida ocorrem naqueles pacientes críticos que recebem pequenas quantidades de

energia e nitrogênio, iniciadas o mais cedo possível via enteral ou mesmo parenteral. Mais

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pesquisas são necessárias a fim de elucidar o benefício clínico da administração de maior

aporte de nitrogênio, e não somente em relação à retenção desse nutriente.

O balanço nitrogenado possui algumas limitações. Em algumas situações como má

absorção, diarreia, enteropatia perdedora de proteínas e hemorragia digestiva, a perda de

nitrogênio pode estar mais acentuada, comprometendo a qualidade da medida. Pacientes

com doença renal e com perdas anormais através da pele em queimaduras, ou do trato

gastrintestinal em fístulas, também podem alterar a confiabilidade do BN. Muitas vezes é

necessário dosar o nitrogênio no material excretado, como no caso das fístulas,

principalmente quando possuem alto débito. Não obstante, o BN ainda é o melhor método

quantitativo e dinâmico de avaliar a terapêutica nutricional, auxiliando no ajuste da terapia

nutricional em excesso ou insuficiente, com base nas proteínas. Para favorecer a

confiabilidade da medida, deve-se ter muito cuidado na coleta da urina de 24h, que deve ser

precisa. Isso é possível em pacientes hospitalizados em terapia intensiva, como no presente

estudo. Aliado ao BN, para avaliação e diagnóstico nutricional mais preciso do paciente

medidas clínicas, dietéticas, antropométricas, bioquímicas e imunológicas devem ser

utilizadas.

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6. CONCLUSÕES

Observou-se alta frequência de balanço nitrogenado negativo em pacientes idosos

críticos em ventilação mecânica, além de correlação positiva entre balanço nitrogenado e

quantidade de proteínas totais da dieta em uma das avaliações.

Percebe-se a necessidade de mais estudos que avaliem a quantidade de proteínas a

ser administrada a pacientes idosos críticos, que naturalmente apresentam diminuição da

massa magra com o avançar da idade e maior propensão à efeitos adversos na função renal.

Recomenda-se a realização do BN na rotina e acompanhamento nutricional de

pacientes críticos, uma vez que constitui ferramenta importante de avaliação da terapia

nutricional e prognóstico clínico.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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