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Conflitos Socioambientais na Ilha de Caratateua, Pará, Amazônia: Uma Análise Preliminar.
Lucicléia Pereira da Silva1
1-Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais- CIAMB/UFG; Profa. Msc. Universidade do Estado do Pará - DCNA/UEPA, SEDUC-PA.
Carlos Henke Oliveira2
2-Prof. Dr. Dept. Ecologia, Lab.de Ecologia Aplicada da Universidade de Brasília- ECOA/UnB.Carlos Hiroo Saito3
.
3-Prof. Dr. Dept. Ecologia, Lab.de Ecologia Aplicada da Universidade de Brasília- ECOA/UnB; Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de
Goiás- CIAMB/UFG.
Resumo: Conflitos socioambientais relacionados ao uso da terra no Brasil e na região Amazônica vêm ganhando espaço no cenário mundial e envolve disputas entre atores de diferentes segmentos sociais. Giram em torno da exploração de recursos naturais, especialmente os de bem difusos como florestais, hídricos e minerais. Objetivamos neste estudo identificar a ocorrência de conflitos socioambientais a partir das relações de vizinhança entre diferentes tipologias de biótopos cartografados na Ilha de Caratateua, Belém-PA. Partindo do processamento da imagem de satélite RapidEye combinada com pesquisa de campo, realizou-se mapeamento do uso da terra, com subsequente estratificação para oito tipologias de biótopos, sendo processado um Buffer para delimitação de Área de Preservação Permanente (APP), segundo disposto no novo Código Florestal. A análise espacial possibilitou a identificação de conflitos socioambientais nos diferentes biótopos mapeados. Dentre os conflitos destacamos a ocupação urbana em área de APP na faixa de praia, margens e cabeceiras de igarapés e a extração irregular de minérios com afloramento de lençol freático. Ressaltamos a importância destes resultados para o planejamento e desenvolvimento de políticas públicas que minimizem os impactos e conflitos ocorrentes dentro dos diferentes biótopos, assim como para a gestão destes por meio de ações de Educação Ambiental.
GT2: Políticas e governança agroambiental: usos da terra e conflitos no meio rural IntroduçãoNa sociedade contemporânea, a importância de pesquisas sobre conflitos relacionados à
exploração de recursos naturais e uso da terra vem crescendo, pois esses se tornaram cada vez
mais frequentes, em decorrência da possibilidade de esgotamento dos recursos, assim como, pela
gama de complexos problemas ambientais gerados, reflexo das ações atrópicas que vem
alterando o equilibrio ambiental (THEODORO, 2005).
Segundo Little (2001) conflitos socioambientais são definidos como um campo de disputas entre
grupos sociais, decorrentes dos diferentes tipos de relação que eles mantêm com seu meio
natural. Para Reboratti (2012) são conflitos focados na incompatibilidade da utilização dos
recursos naturais e seus impactos sobre o meio ambiente. De acordo com Acselrad (2004) estes
conflitos ocorrem quando o exercício da prática de alguns grupos geram impactos indesejáveis,
ameaçando a continuidade de outros grupos sobre as formas de apropriação social do meio. A
disputa pelo acesso aos recursos naturais interconectados por interações ecossistêmicas é o fator
desencadeador de conflitos ambientais (ACSELRAD, 2004).
No Brasil o quadro de conflitos socioambientais é extenso e problemático, abragendo todo
território. Oliveira e Wehrmann (2005) analisaram os conflitos pelo uso da água na bacia do 1
Ribeirão Pipiripau, núcleo rural Santos Dumont, Distrito Federal, desencadeado pelo uso intensivo
na irrigação, provocando a redução do volume de água no período de estiagem, afetando
especialmente os produtores do núcleo rural.
Na Amazônia Oriental, no Estado do Pará, Shanley et al, (2011) descreve um conflito envolvendo
grandes madeireiros e pequenos produtores em quatro cidades (Monte Alegre, Rio Capim, Ponta
de Pedras e Boa Vista). Este conflito socioambiental gira em torno da exploração da madeira e
produtos florestais não-madeireiros (NTFPs) em áreas de floresta nativa e pequenos produtores
rurais. Os produtos florestais não-madeireiros são usados como meio de subsistência por
pequenos produtores, servindo como fonte de renda ou complementar. Com a exploração
intensiva dos recursos florestais (madeira), ocorreu a geração do conflito, uma vez que houve a
diminuição do acesso às espécies, e consequente redução dos NTFPs, afetando a qualidade de
vida desse grupo social.
Segundo Brody et al (2004) existe uma grande quantidade de pesquisas sobre o processo de
gestão de conflitos de recursos ambientais e naturais, assim como técnicas para resolver as
disputas mais difíceis, no entanto, esses eventos raramente são considerados a partir de uma
perspectiva espacial. Nessa pesquisa, objetivou-se identificar geograficamente a ocorrência de
conflitos socioambientais a partir das relações de vizinhança entre diferentes tipologias de
biótopos cartografados na Ilha de Caratateua, Belém-PA, Amazônia.
Material e métodos
Área de estudoCaratateua ou Outeiro (como é conhecida popularmente), é a segunda maior ilha da região insular
do município de Belém, capital do Estado do Pará. Possui extensão territorial de 3172.40 ha e
está geograficamente localizada no nordeste do município entre as coordenadas 1º12’ e 1º17’S e
48º25’ e 48º29’ W, distando 18,8 km do centro da capital paraense (Figura 1).
2
Fig. 1- Localização da ilha de Caratateua-Belém, Estado do Pará, Brasil. Fonte: Santos, Moraes, Campos (2012).
A Ilha é formada por planície amazônica e o planalto rebaixado da Amazônia (MEDEIROS, 1971).
De acordo com Barbosa et al. (2012) a primeira unidade de relevo apresenta planícies aluviais
(várzeas, igapós); praias às margens da baía de Guajará; e planícies de maré recobertas pelo
mangue. A segunda unidade era recoberta pela floresta ombrófila densa de terras baixas, estando
atualmente em estado avançado de degradação. A vegetação existente atualmente constitui-se
em floresta antropizada e capoeira (em vários estágios), com ocorrência de diversas espécies
botânicas.
Quanto à topografia está possui variação de níveis sendo o mais alto, conforme Medeiros (1971),
de aproximadamente 12m em relação ao nível do mar e o mais baixo o de praia. De acordo
Pimentel, Oliveira e Rodrigues (2012) os níveis topográficos mais altos alcançam 15m. Estes
níveis são cismos de falésias descritos como altos barrancos que se encontram em contato direto
com a área de praia, apresentando litogia areno-argilosa, com percentual de argila baixo,
tornando-as propícias a desbarrancamentos de blocos (MEDEIROS,1971).
A hidrografia da ilha apresenta pequenos rios que desembocam na baía de Santo Antônio e no
furo do Maguari, sendo exemplo destes os igarapés queiral, água boa e santa cruz. O clima da
região é tropical úmido sem período de seca ou estiagem, com chuvas abundantes durante o ano
inteiro e elevados níveis de pluviosidade com média anual de 3.000 mm de chuva.
A partir da década de 80 Caratateua constituiu-se frente de expansão urbana de Belém, passando
por intenso processo de ocupação desordenada, caracterizada pela migração em especial da
população de baixa renda, marginalizada e excluída da capital do estado (SILVA, 1995). Pode-se
considerar que este processo de ocupação foi determinante para o atual e severo quadro de
degradação ambiental da ilha, pois de acordo com Ferreira, Guimarães e Corrêa (2012) a
3
multiplicidade de uso da terra foi intensificada a partir dessa década sem planejamento
socioespacial.
Em 1994 foi criado o Plano Diretor Urbano das ilhas de Caratateua e Mosqueiro, sob a Lei nº
7.648/94. Este foi instituído pela Prefeitura Municipal de Belém em decorrência especialmente do
potencial turístico das ilhas de Caratateua e Mosqueiro, sendo estabelecidas no Plano Diretor
Urbano de Belém áreas de preservação permanente, áreas com interesse ecológico, e áreas
passíveis de serem declaradas como de preservação permanente por ato do Poder Executivo
Municipal (BELÉM, 1994).
Com a atualização do em 2008 do Plano Diretor de Belém, sob Lei 8.655 foi proposto um novo
ordenamento territorial para a Ilha de Caratateua, sendo agora constituída por duas Macrozonas a
de Ambiente Urbano (MZAU) correspondente às áreas urbanizadas do território e de Ambiente
Natural (MZAN), correspondendo às áreas não urbanizadas com grande área de vegetação em
diferentes estágios de conservação.
De acordo com dados da SUDAM estimava-se uma população residente em Caratateua de
30.990 habitantes (PEDRO; NEVES, 2010).O padrão de ocupação atual da ilha é
predominantemente urbano, formada pelos bairros oficiais Água Boa, Brasília, Itaiteua e São João
do Outeiro, apresentando também uma população com características rurais e urbanas
constituídas pelas comunidades Fama, Fidélis e Tucumaera.
A caracterização socioeconômica da ilha foi realizada recentemente apontando que no setor
urbano são desenvolvidas atividades provenientes do setor terciário (comércio, serviços e
turismo), havendo o predomínio de emprego informal, com uma parcela pequena de empregos
formais provenientes do funcionalismo público vinculado a escolas, subprefeitura, delegacia e
unidades de saúdes (FERREIRA et al, 2012).
Na área rural a economia é proveniente em pequena escala de atividades do setor terciário, sendo
as principais fontes a agricultura familiar com plantações e pecuária em pequenos sítios e
produção de carvão vegetal (FERREIRA et al. 2012), sendo realizada também a pesca artesanal
promovida especialmente por ribeirinhos que residem em ocupações subnormais às margens de
rios.
Geoprocessamento Realizou-se mapeamento de uso da terra, partindo do processamento da imagem de satélite
RapidEye (zona 22, linha 385, coluna 26, capturada em 04/08/2011 às 14:31:41, escala espacial
1:5000) usando as 5 bandas espectrais originais. Durante todo o processamento, composições
coloridas falsa cor (RGB 5-4-3) e cor verdadeira (RGB 3-2-1) foram utilizadas para
acompanhamento baseado em fotointerpretação.
O SIG utilizado foi Idrisi-Taiga, para obtenção da carta de uso da terra, por meio de uma
classificação híbrida (supervisionada e não supervisionada). A parte não supervisionada consistiu
na obtenção de 12 clusters que foram reagrupados em categorias de sombra, nuvem, água,
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vegetação (3 tipos), solo exposto e urbano, as quais foram adaptadas como áreas de treinamento
para a obtenção das assinaturas espectrais utilizadas na classificação supervisionada, pelo
método da máxima verossimilhança. Posteriormente, foi realizada uma reclassificação manual
(digitalização em tela, baseada em fotointerpretação, documentação auxiliar, incluindo trabalho de
campo), visando converter as áreas de sombra e nuvem às classes de uso da terra finais.
Realizou-se o cálculo de área no SIG Quantum Gis 2.0 Dufour, considerando somente a área da
ilha de Caratateua.
Uma listagem preliminar de biótopos foi elaborada com base em pesquisa de campo realizada em
maio de 2013. Nesta pesquisa, pontos amostrais que fossem representativos de diferentes
biótopos foram definidos a partir da visualização em imagem de satélite. As coordenadas
geográficas desses pontos foram registradas e armazenadas em GPS Garmin modelo Etrex Vista
HCx, com datum calibrado para WGS84, para orientar a visita de campo (verdade terrestre). O
deslocamento para coleta de pontos se deu por via terrestre e por via hidroviária.
Na sequência foi confeccionada carta de biótopos, partindo-se do uso da terra e carta base do
zoneamento especial do município de Belém (BELÉM, 2008), sendo feito recorte e mosaico da
ilha de Caratateua. Nesta etapa, digitalizou-se em tela os biótopos, adotando como parâmetro a
delimitação da malha urbana, arruamento e hidrografia realizando fotointerpretação das
composições coloridas e imagem do Google Earth. Foi feita a estratificação do uso a terra por
biótopos, sendo criadas oito tipologias considerando-se o padrão visual, condições de uso, e
aspectos funcionais semelhantes. Essas tipologias de biótopos foram subdivididas em vinte e três
subtipos, descritos no quadro 1, a seguir.
BIÓTOPOS SUBTIPOS COD DESCRIÇÃO
URBANO ESTRUTURADO
Baixo adensamento
1.1 Formado por residências unifamiliares, malha urbana definida, ou setores comerciais de periferia, presença de espaços livres de construção e vegetação característica de quintais.
Alto adensamento 1.2 Formado por residências unifamiliares ou setores comerciais de periferia, com pouca ou nenhuma área livre, sem ou pouca presença de vegetação característica de quintal.
Loteamento em implantação
1.3 Empreendimento habitacional de alto padrão em fase de implantação.
Área verde publica urbana
1.4 Pequena área de vegetação uniforme localizada em perímetro urbano.
Área livre 1.5 Área livre de construção, caracterizada como praça, campo de futebol em perímetro urbanizado.
Balneários urbanos 1.6 Faixa de praia em perímetro urbanizado
Indústria ou depósito de
pequeno porte
1.7 Formado por pequenas indústrias ou depósito de matérias caracterizado por construção tipo galpão com ou sem área livre de construção.
URBANO NÃO –ESTRUTURADO
Baixo adensamento
2.1 Formado por residências unifamiliares, sem malha urbana definida, presença de espaços livres de construção e vegetação, características de áreas florestais nas proximidades.
Alto adensamento 2.2 Formado por residências unifamiliares, sem malha urbana definida com pouco ou sem espaços livres de construção e vegetação característica de áreas florestais nas proximidades.
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ÁREAS RURAIS
Pequenas propriedades
3.1 Moradia de pequenos agricultores residentes da ilha onde é desenvolvida agricultura familiar.
Lotes, chácaras e sítios.
3.2 Áreas destinadas para o lazer de famílias residentes na capital
Balneários rurais 3.3 Faixa de praia às margens de extensa área de vegetação nativa
BIÓTOPOS FLORESTAIS
Formações vegetacionais
nativas
4.1 Vegetação em diferentes estágios de conservação, com exceção de capoeira baixa.
Capoeira 4.2 Área com vegetação rasteira situada em áreas urbanas, borda de falésias ou nas proximidades de áreas degradadas por extração mineral.
BIÓTOPOS DE ÁREAS DEGRADADAS
Extração mineral classe II
5.1 Área de solo exposto, sem vegetação rasteira, degradada por extração mineral.
Área de corte 5.2 Solo exposto caracterizado situado em meio a grande área de vegetação, fora da área urbana.
BIÓTOPOS ÚMIDOS
Igarapé 6.1 Cursos d’agua ou rio largo ou estreito no interior de matas servindo para drenagem da região, usado como passagem de pequenas embarcações.
Açude 6.2 Lago artificial oriundo de afloramento de lençol freático.
ÁREA MILITARAeronáutica 7.1 Área das Forças armadas Brasileira.
Policia Militar 7.2 Centro de formação da Polícia Militar (desativado)
ÁREA DE SERVIÇO E TRÂNSITO
Porto 8.1 Área destinada à movimentação de cargas para exportação/importação.
Aeródromo 8.2 Pista de pouso/decolagem de aeronaves de pequeno porte
Cais 8.3 Pequeno porto destinado ao deslocamento de pessoas.
Quadro 1- Descrição das tipologias de biótopos identificados na ilha de Caratateua.
Considerando-se o caráter costeiro da ilha, apresentando faixas influenciadas pela oscilação de
marés (SILVA et al, 2012), bem como suas características hidrográficas foram aplicadas as
normas para delimitação de Área de Preservação Permanente (APP), segundo disposto no novo
Código Florestal, Lei 12.651/2012, sendo processado um Buffer com as delimitações para os
cursos d’água (Tabela 1) obtendo-se carta de APP da ilha.
Tabela 1: Delimitação de faixas marginais para os cursos d’água da Ilha de Caratateua. Fonte: Código Florestal Brasileiro, 2012.
CURSOS D’ÁGUA DELIMITAÇÃO DE FAIXAS MARGINAIS
> 10: maior que (dez) metros de largura 30 m
10>50: entre (dez) e cinquenta metros de largura 50 m
> 600; maior que (seiscentos) metros de largura. 500 m
Partindo da base de dados construídos (usos da terra, biótopos e APP) foram realizados
cruzamentos, obtendo-se o percentual de área de biótopos dentro/fora de Área de Preservação
Permanente.
Resultados e discussão
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Foram identificadas quatro classes de usos da terra para a Ilha de Caratateua. A área total da ilha
é de 3.172,40 ha, distribuída em vegetação (2.325,76 ha; 73.31%); área urbana (625,94 ha,
19.73%); solo exposto (211,98 ha, 6.68%); água (8,7 ha, 0.28%).
Fig. 2- Uso da terra na ilha de Caratateua, Belém, Pará, Brasil.
O cruzamento do uso da terra por biótopos e APP correlacionou o percentual de APP fora e
dentro de cada subtipo de biótopo (Tabela 2), possibilitando inferir sobre o estado de preservação
ou degradação e identificação dos conflitos socioambientais.
Tabela 2: Área de subtipo de biótopos fora/dentro de APP, expressa em hectares (ha) e porcentagem (%)
da área total da ilha.
COD SUBTIPO DE BIÓTOPO
Área subtipo de biótopo
Sub TotalFora APP
Sub TotalDentro APP
Ha % Ha % Ha %1.1 Urbano de baixo adensamento
estruturado 432.35 13.63 280.02 8.83 152.33 4.801.2 Urbano de alto adensamento
estruturado 345.09 10.88 244.01 7.69 101.08 3.191.3 Loteamento em implantação 154.81 4.88 136.05 4.29 18.76 0.591.4 Área verde pública urbana 33.00 1.04 24.55 0.77 8.45 0.271.5 Área livre 18.45 0.58 12.18 0.38 6.27 0.201.6 Balneários urbanos 7.73 0.24 0.00 0.00 7.73 0.241.7 Indústria ou depósito de pequeno
porte 10.00 0.32 3.22 0.10 6.78 0.211 Subtotal biótopo urbano
estruturado 1001.43 31.57 700.03 22.06% 301.40 9.51%2.1 Urbano de baixo adensamento não
estruturado 106.81 3.37 103.68 3.27 3.13 0.102.2 Urbano de alto adensamento não 16.90 0.53 14.65 0.46 2.25 0.07
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estruturado2 Subtotal biótopo urbano não-
estruturado 123.71 3.9 118.33 3.73 5.38 0.173.1 Pequenas Propriedades rurais 25.84 0.81 23.26 0.73 2.59 0.083.2 Lotes, chácaras e pequenos sítios. 40.86 1.29 34.26 1.08 6.50 0.203.3 Balneários rurais 0.47 0.01 0.00 0.00 0.47 0.013 Subtotal biótopo rurais 67.17 2.11 57.52 1.81 9.56 0.294.1 Vegetação nativa em diferentes
estágios 1612.97 50.84 845.87 26.67 767.1 24.184.2 Capoeira 103.59 3.27 94.8 2.99 8.79 0.284 Subtotal biótopo florestais 1716.56 54.11 940.67 29.66 775.89 24.465.1 Área degradada / Extração mineral
classe II 44.28 1.40 38.11 1.20 6.18 0.195.2 Área de corte 3.67 0.12 0.00 0.00 3.67 0.125 Subtotal biótopo áreas
degradadas 47.95 1.52 38.11 1.20 9.85 0.316.1 Igarapé 71.17 2.24 0.00 0.07 69.06 2.186.2 Açude 11.27 0.36 2.11 0.00 11.27 0.366 Subtotal biótopo úmido 82.44 2.6 2.11 0.07 80.33 2.547.1 Área militar / Aeronáutica 51.19 1.61 51.19 1.61 0.00 0.007.2 Área militar / Polícia Militar 8.77 0.28 3.54 0.11 5.22 0.177 Subtotal biótopo área militar 59.96 1.89 54.73 1.72 5.22 0.178.1 Área portuária 56.56 1.74 20.01 0.63 36.55 1.118.2 Aeródromo 16.13 0.51 13.85 0.44 2.27 0.078.3 Cais 0.46 0.01 0.00 0.00 0.46 0.018 Subtotal biótopo serviços e
transportes 73.15 2.26 33.86 1.07 39.28 1.19TOTAL GERAL 3172.40 100 1945.36 61.32 1226.91 38.68
A maior parte da vegetação da ilha é representada pelo subtipo de biótopo 4.1, com percentual de
50,84% de área total, sendo constituído por 24,18% de APP. Este subtipo concentra-se
especialmente na porção nordeste (NE) e nas bordas da ilha, preservando grande parte dos
igarapés, mantendo qualidade dos balneários rurais.
O percentual da área deste subtipo de biótopo sem APP corresponde a 26,67% e encontra-se
distribuído pela ilha, com destaque para a Floresta do Redentor no SE, com 55,62 ha,
estabelecida no PDU como Zona Especial de Interesse Ambiental (ZEIA).
Além de expressiva cobertura vegetal, este setor é caracterizado por ecossistema de várzea e
terra firme, no qual estão localizadas as comunidades rurais Fama e Tucumaeira e ribeirinhos que
sobrevivem do extrativismo e pesca artesanal.
Os conflitos socioambientais na região analisada estão relacionados à expansão urbana
desordenada na área conhecida como comunidade Fama, a qual vem retirando cobertura vegetal
para instalação de moradias nas proximidades do igarapé, sem a implantação de um sistema de
saneamento urbano.
Da porção central ao sudeste, há uma área em destaque que passou por dois usos sucessivos
(agropecuária e extração mineral) e atualmente tornou-se uma nova frente de expansão urbana
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ordenada, na qual está sendo construído o condomínio Alphaville. Esta área foi classificada como
subtipo de biótopo 1.3, correspondendo a 4,8% da área total da ilha, sendo 0,59% de APP. Parte
da área de APP do respectivo subtipo está sendo modificada com a construção do clube e marina
do residencial.
Destaca-se nesse setor um açude na área pertencente ao loteamento em implantação, subtipo
6.2, com 0,36% de área total de APP, mantendo em seu interior uma área de vegetação com 98,2
ha. Segundo Santos e Pimentel (2010), este açude é artificial, oriundo do afloramento do lençol
freático na área degradada por extração mineral, caracterizando-se nesta análise como fruto de
um conflito socioambiental ainda existente na ilha. Na região em análise tem-se configurado outro
conflito socioambiental, decorrente da ocupação da área de APP do biótopo 2.1 (margens do
igarapé), assim como lotes, chácaras e pequenos sítios com área de APP, ocupando a cabeceira
do referido igarapé. Neste setor, percebe-se um processo inicial de fragmentação florestal.
No Sudoeste da ilha destacam-se os subtipos 2.2 com 0,53% de área total, caracterizando
expansão urbana desordenada avançando para área de APP e o porto de outeiro (8.1) com área
total 1,78%, sendo 1,11% dessa área formada por APP. Retirando o percentual equivalente a área
construída e área livre, existe 0,36% de vegetação nativa na área portuária, devendo representar
reserva legal. Possui uma área de 0,28% da polícia militar, antigo centro de formação,
subutilizada, apresentando construções abandonadas dentro da parte equivalente a APP (0,16%).
De acordo com Castro et al. (2012), existe falta de investimentos e políticas direcionadas para o
desenvolvimento socioeconômico da ilha de Caratateua, por meio dos serviços portuários,
atenuando o quadro de insatisfação da comunidade local coma geração de conflitos de interesse.
Do oeste ao noroeste destacam-se os subtipos 1.1 com área total na ilha de 13, 63%, tendo 4.8%
de área de APP; 1.2 com área total de 10,88%, tendo 3,19% de área de APP e 1.6 com área total
de 0,24% correspondente a APP. Nessa porção da ilha se concentra o setor urbanizado, com
ocorrência espaçada de vegetação em diferentes estágios de conservação, pequenos balneários
urbanos e áreas livres, estando localizados os bairros oficiais São João do Outeiro, Água Boa,
Brasília e Itaiteua, definidos no setor censitário.
Embora a soma das áreas dos subtipos de biótopo urbano estruturado de baixo e alto adensamento
correspondente a APP seja aproximadamente a metade do percentual fora (16,50%), esse valor
torna-se um indicativo para o necessário reordenamento do biótopo, considerando-se que o mesmo
apresenta área de instabilidade geológica, intensificada pela retirada da vegetação nativa das áreas
de falésias, que é agravada pela influência da oscilação da maré. Somado a este quadro têm-se a
pressão do turismo, especialmente em época de veraneio. Esses são fatores propulsores dos
conflitos socioambientais ocorrentes nas áreas destes biótopos.
Neste setor, existe outro conflito em torno de dois grandes igarapés, com nascentes dentro da área
de APP dos biótopos 1.1 e 5.1, onde foram extraídos minerais e ocorreu a intervenção ao longo do
curso do igarapé com a construção de piscinas naturais em trechos para uso de lazer, assim como
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despejo de lixo nas proximidades e lançamento de esgoto na nascente do mesmo, como verificado
em pesquisa de campo.
A falta de qualidade de equipamentos públicos nessa região também vem gerando inúmeros
conflitos socioambientais. Quem mora e frequenta a ilha sofre com a precariedade do sistema de
coleta de lixo, esgotamento sanitário, pavimentação de vias públicas, estruturas irregulares de
moradia e feiras a céu aberto.
ConclusõesA combinação da análise espacial com os dados da pesquisa de campo sobre a área de estudo
possibilitou identificação de diferentes conflitos socioambientais ocorrentes nos biótopos mapeados.
Dentre os conflitos, destacam-se como principais os relacionados à ocupação urbana em área de
APP, especialmente na pequena área da faixa de praia que sofre pressão relacionada aos diversos
usos como espaço de lazer, turismo e fonte receptora de esgoto urbano sem tratamento, assim
como as franjas de falésias no front da ilha, áreas consideradas instáveis, propícias à erosão e
desbarrancamentos.
Outros conflitos identificados e espacializados, recorrentes e preocupantes, giram em torno da
ocupação urbana às margens e cabeceiras de igarapés, intensificada pela extração de minérios
usados na construção civil e consequente retirada da cobertura vegetal. Em duas regiões
mineradas já foram constatados afloramento de lençol freático. Embora duas áreas de vegetação
na região central e sudeste da ilha tenham sido definidas como zonas especiais de interesse
ambiental, chama-se a atenção para a área de vegetação fora de APP, especialmente na porção
sudeste, a qual demonstra uma tendência à fragmentação em manchas menores, caso medidas
preventivas não sejam tomadas, como a possibilidade de criação de unidades de conservação.
Considera-se este estudo como sendo preliminar e descritivo. Porém, ressaltamos a importância
dos resultados para o planejamento e desenvolvimento de novas pesquisas que possam desvelar o
grau de degradação em cada biótopo, a magnitude dos conflitos socioambientais, os atores
envolvidos e especialmente fundamentar propostas para a gestão dos conflitos por meio de ações
de Educação Ambiental.
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BEDÊ, L.C, et al. Mapeamento de Biótopos no Brasil: base para um planejamento ambiental
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