“waterguard” - humanitarianresponse.info · apos tratamento a amostra apresentou- se limpida e...
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Produto de desinfecção e floculação para tratamento de água
“WaterGuard”
Piloto de distribuição
Médicos sem Fronteiras Em colaboração com:
MISAU- DNSP DNA/ DAS DPS –Tete
DPOPH- Tete INGC
LNHAA OMS PSI
UNICEF
2017
Lista de Abreviaturas
DNAAS Direção Nacional de Água de Abastecimento e Saneamento
DPOPH Direção Nacional de Obras Públicas e Habitação
DPS Departamento Provincial de Saúde
IEC Informação Educacional e Comunicação
MISAU Ministério da Saúde
MSF Médicos Sem Fronteira
OMS Organização Mundial de Saúde
PS Promotores de Saúde
PSI Population Services Internacional
WASH Water Sanitation and Hygien
WG Water Guard
Índice Lista de Abreviaturas .............................................................................................................................. 2
Introdução .............................................................................................................................................. 4
Cronologia............................................................................................................................................... 6
Cronologia de Atividades do Grupo Técnico ....................................................................................... 6
Metodologia – Piloto em Tete ............................................................................................................. 10
1- Seleção do Local ........................................................................................................................ 10
2- População Beneficiária .............................................................................................................. 11
3- Promotores de Saúde ............................................................................................................... 12
4- Cronograma .............................................................................................................................. 13
Fase 1 - Sensibilização ................................................................................................................... 13
Fase 1 – Boas práticas e recomendações: .................................................................................... 15
Fase 1 - Lições aprendidas: ........................................................................................................... 16
Fase 2 – Distribuição ..................................................................................................................... 16
Fase 2 – Boas práticas e recomendações...................................................................................... 18
Fase 3 – Sensibilização e Monitoria após distribuição .................................................................. 19
Fase 3 – Boas práticas e recomendações...................................................................................... 20
Fase 3 - Lições Aprendidas ............................................................................................................ 20
Fase 4 – Pesquisa de avaliação ..................................................................................................... 20
Resultado do piloto. ............................................................................................................................. 21
1- Aceptabilidade do WG e viabilidade do kit. .............................................................................. 21
2- Prática: Uso correto do kit de tratamento.................................................................................... 22
Famílias com mais visitas de monitoria ........................................................................................ 25
3- O custo ...................................................................................................................................... 26
4 - Impact of the product on health: ................................................................................................. 27
Recomendações ................................................................................................................................... 29
Conclusões ............................................................................................................................................ 30
Próximos passos ................................................................................................................................... 31
Referências ........................................................................................................................................... 32
Lista de Gráficos e Figuras………………………………………………………………………………………………………………33
Introdução
Devido as alterações climáticas, estiagens de água estão se tornando cada vez mais
frequentes ao sul da áfrica. O aquecimento das águas do oceano pacífico, fenômeno conhecido
como “el nino” contribuem ainda mais para agravação do problema. Segundo dados da
UNICEF, países como Malawi, Suazilândia, Africa do Sul e Moçambique estão entre os países
mais afectados por esse fenômenoi.
Em 2016, Moçambique enfrentou um período excepcional de estiagem, as piores
observadas nos últimos 30 anos. Cerca de 1,5 milhões de pessoas enfrentaram insegurança
alimentar durante esse período. Como consequência, a população se viu obrigada a caminhar
kilômetros ou cavar profundos poços artesanais para accessar fontes de águaii.
Apesar de disponíveis, muitas destas fontes utilizáveis não atendem os requisitos
mínimos para consumo e podem trazer graves consequências a saúde da população.
Doenças diarréicas, incluindo o cólera, são a segunda maior causa de moratlidade em
Moçambique. Em 2004, visando reduzir o índice destas doenças, a PSI em colaboração com o
Ministério da Saúde (MISAU) lançou um produto novo de purificação de água conhecido como
“CERTEZA”. Desde então,a disponibilidade e aceptabilidade deste producto têm aumentado no
país, principalmente nos períodos emergenciais provocados pela seca.iii
É certo que a utilização do CERTEZA colaborou muito para a redução da contaminação
por doenças diarréicas causadas pela falta saneamento e higienização. Entretanto, por se tratar de
um produto feito somente a base the cloro muitas limitações em sua eficácia puderam ser
observadas.
Apesar do cloro ser altamente eficiente para inativar bactérias e vírus. Outros patógenos
como protozoários e ovos de helmintos são menos afetados por este agente. Sua eficiência na
inativação de micróbios pode ser afetada por diversos fatores, incluindo o pH, o tempo de
contato e as reações deste agente com a água. Além disso, micróbios podem ser protegidos do
cloro se estiverem em contato com ou dentro de partículas (turbidade) presentes na a água. Por
esse motivo, a água a ser clorada deve ser clara. Seu índice de turbidade deve ser, no mínimo,
inferior a 5 unidades e, idealmente, inferior a 1 unidade de turbidadeiv.
Muitas tecnologias para o tratamento de água caseiro são utilizadas em diferentes partes
do mundo. As tecnologias que melhoram a qualidade microbial da água e reduz o número de
doenças causadas por eles inclui uma variedade de métodos químicos e físicos.
Os métodos mais conhecidos incluem: a fervura ou aquecimento (combustível e solar) da
água, a filtragem, a exposição a radiação solar ultra-violeta, a desinfecção com lâmpadas ultra
violeta e a combinação de um sistema de floculação/desinfecçãov.
O método de coagulação-floculação, filtração e cloro para desinfecção é muito praticado
pelas comunidades de países em desenvolvimento, especialmente para fontes de água de
consumo humano. Em combinação, estes processos têm mostrado reduzir drasticamente os
contaminantes microbiais da água utilizada para bebervi.
A coagulação ou precipitação química e a floculação com vários sais de alumínio, ferro e
outros químicos orgânicos e inorgânicos são processos usados para a remoção de partículas
coloidais (turbidade) e micróbios. O processo consiste na remoção das partículas, precipitando-
as e acumulando-as dentro de partículas maiores “flocos” que podem ser removidos por
gravidade ou filtraçãovii.
Vários estudos sugerem que métodos de coagulação-floculação ou precipitação química
podem ser aplicados a nível domiciliar para melhorar a qualidade da água e reduzir a transmissão
de doencasviii
Sachets de desinfecção e floculação são altamente efetivos em situações emergenciais e
mais de 40 milhões de sachets tem sido usados pela UNICEF, AmeriCares Samaritan’s Purse,
PSI e outras organizações. A distribuição gratuita destes sachets são muitas vezes necessárias
para responder a situações emergenciaisix.
Em 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou os resultados das avaliações
de diferentes produtos e tecnologias disponíveis para o tratamento de água a nível domiciliar.
Entre os productos mais simples e eficazes estava o producto P&G purifier of water, também
conhecido como PURE and WATER GUARD, dependendo do país que o utilizax.
WATER GUARD (WG) é um producto em pó utilizado para floculação e desinfecção
de águas turvas. O produto contém sulfato de ferro e de hipoclorito de cálcio. A molécula de
Sulfato de ferro presente em sua composição possui a capacidade de se ligar a particulas
orgânicas/inorgânicas presentes na água formando flocos, que por serem mais densos se
assentam ao fundo dos recipientes. Uma vez que toda a turbidade da agua é separada o cloro,
também presente na composição do produto, está livre para agir=desinfectarxi.
Neste contexto, para que ‘WATER GUARD’ possa ser utilizado em Moçambique em
situações emergenciais, a organização Médicos sem Fronteiras (MSF) em parceria com o
MISAU, com a direção nacional de água de abastecimento e saneamento (DNAAS), com a
direção provincial de Tete (DPS Tete) e outros parceiros protagonizaram um teste piloto de
distribuição do produto para avaliar o imapcto na redução de casos de doenças diarréicas durante
períodos emergenciais e a aceptabilidade do produto pela a populacao.
Cronologia
Em 2015, durante um forte período de seca acompanhado por uma epidemia de cólera
em Mocuba na província da Zambézia, MSF requisitou ao MISAU (Anexo 1) a utilização do
WATER GUARD. O objectivo deste pedido era garantir o tratamento das água retirada da única
fonte disponível naquele período, as águas turvas do rio Licungo em Mocuba. Assim a epidemia
de cóléra poderia ser reduzida e evitada.
MISAU mostrou-se interessado na solicitação do MSF porém recomendou que pelo
facto do WATER GUARD ser um producto de tratamento de água, o mesmo deveria ser
validado pelo Departamento Nacional de águas (DNA).
No encontro entre MSF e DNA (anexo 2) foi determinado a criação de um grupo de
especialistas1 no assunto. O objectivo deste grupo era avaliar a possibilidade de validação do
producto bem como de um kit de tratamento de água adaptado a realidade moçambicana, além
de discutir lições aprendidas com a introdução de outros productos e os possíveis desafios que
poderiam ocorrer.
Cronologia de Atividades do Grupo Técnico
Tabela 1 – Apresentação do producto ao Grupo técnico
24/11/2015 – MSF apresenta o producto e kit de tratamento ao Grupo técnico (anexo 3)
Grupo técnico questionou:
1. Custos: Quem pagará pela operação 2. Promoção em Saúde: Capacidade de aceitação da população à um novo producto 3. Outro método de filtração: Risco de recontaminação com o primeiro método proposto2. 4. Quantidade de água tratada por pessoa por dia3
Gupo técnico requisitou:
1. O producto deve ter aprovação/recomendação da OMS 2. Deve ser constituída uma equipe para acompanhar todas as etapas do processo para
aprovação 3. Deve-se aguardar as análises do producto que estão a ser feitas no laboratório Nacional
de higiene de alimentos e águas de Moçambique (LNHAA) 4. Deve ser realizado um estudo de inoquidade e eficácia do producto 5. Deve-se encontrar a melhor forma de garantir que o processo de filtração ocorra com
uso de materiais higienicamente seguros
1 Grupo técnico formado por representantes das organizações: OMS / OXFAM/DNA-DAS / MSF e MISAU-
DAS/ MISAU- DNSP/ UNICEF 2 O primeiro método de filtragem proposto pelo MSF está relacionado com o método utilizado e aprovado pela P&G em outros países. Este método consistia em filtrar a água tratada com o tecido típico de Moçambique, a “capulana”. O grupo técnico levantou a possibilidade da capulana contaminar a água quando reutilizada e requisitou ao MSF que pensasse em uma alternative.. 3 MSF propôs 10 Litros por pessoa por dia para uma família de 6 pessoas. DNA pediu para que ajustassem para 15 Litros de água por pessoa por dia, como as recomendações da OMS
Tabela 2 - Resultados das requisições solicitadas pelo grupo técnico
Ponto 1 - O producto deve ter aprovação/recomendação da OMS Resultado: 01/12/2015 (Anexo 4)- Comunicação Daisy TROVOADA (OMS – Mozambique):
1. As misturas floculação/ desinfecção produzidos comercialmente são muito eficazes na
redução de agentes patogenos (mesmo em aguas turvas) têm demonstrado beneficios para a
saude. 2. Desventagens incluem os custos relativos mais elevados por litro de agua tratada. 3. O
uso ou processo de tratamento é mais complicado do que as outras medidas acima descrita. 4.
Educação e marketing da comunidade são essenciais para conseguir a adopção sustentada.
Ponto 2 - Deve ser constituída uma equipe para acompanhar todas as etapas do processo para aprovação.
Resultado: A equipe constituída para acompanhar todo o processo de distribuição foi formada
pelos mesmos membros que constituíram o grupo técnico.
Ponto 3 - Deve-se aguardar as análises do producto que estão a ser feitas no laboratório Nacional de higiene de alimentos e águas de Moçambique Ponto 4 - Deve ser realizado um estudo de inoquidade e eficácia do producto
MSF e funcionários do LNHAA trataram a água do rio Licungo com Water Guard e enviaram
amostras para LNHAA e Talbot laboratórios na África do Sul, de modo que todas as análises
necessárias e recomendadas pela OMS pudessem ser realizadas.
Resultado Talbot Laboratórios (18/01/2016 – Anexo 5): “Os parâmetros testados nas amostras
testadas, estão de acordo com os requisitos da SANS 241:2015 para água potável.”
Resultado LNHAA (04/12/2015 – Anexo 6): Antes do tratamento a agua apresentava- se turva e
apos tratamento a amostra apresentou- se limpida e com cloro livre.
Segundo os resultados analiticos o produto P&G demostrou o poder de desinfeção e floculação,
pois elimina os coliformes fecais (<1 ufc/100ml) e torna a agua limpida.
02/12/2015 até 04/02/2016 (Anexo 7,8 e 9) – Validação dos resultados acima – Todos resultados validados pelo grupo técnico
Ponto 5 - Deve-se encontrar a melhor forma de garantir que o processo de filtração ocorra com uso de materiais higienicamente seguros.
27/01/2016 – Resultado: MSF apresenta novo método de filtragem realizado com uma torneira
5 cm acima do fundo do balde e explicações (passo a passo) traduzidas para o portugues (Anexo
10).
Tabela 3 -27/01/2016- Grupo Técnico requisitou
Após apresentação do kit de tratamento, o grupo técnico requisitou:
1- O balde de tratamento de água fosse substituído por um balde transparente. 2- O bidon usado para o armazenamento de água deveria ser o bidon utilizados pela
população habitualmente. 3- O kit deveria então ser validado pelo LNHAA após testagem da água utilizada durante
todo o processo de tratamento com o kit.
Ponto 3 - O kit deveria então ser validado pelo LNHAA após testagem da água utilizada
durante todo o processo de tratamento com o kit.
Data – Resultado (Anexo 11) – LNHAA – Testagem de eficiencia do Kit para filtragem de
água: Apos este tratamento verificou-se qu os sedimentos depositaram- se abaixo do nivel da
torneira (cinco centimetro), fez- se a filtragem e a água apresentou uma turvação <5NTU.
Tabela 4 - Aprovação do piloto para implementacao do Sistema de tratamento caseiro de
água na cidade de Tete
10/02/2016 (Anexo 11)- Testagem de eficienca do kit para a filtracao da agua
29/03/2016 (Anexo 12) - Aprovacao DNAAS: pedido de assinatura conjunto com MISAU
29/03/2016 -O director Nacional da DNAAS, Nilton Trindade, considerou aceitavel o uso do kit do
produto desinfectante /floculante, pelo grupo de técnico para uso em Moçambique em situações de
emergência.
DNAAS propõe ao MISAU que aprove o kit de uma forma provisoria, para avaliarem melhor os
resultados da sua aplicação prática em situação de emergência.
08/03/2017 Anexo 13_ aprovação do kit de tratamento de água pelo MISAU:
Official request
08/03/2017 -Anexo 14: Pedido da MSF para implementação do piloto na cidade de Tete.
17/03/2017- Anexo 15: Carta de aprovação do piloto de distribução do Water guard
Março 2017: Encontro entre MSF/DNA/MISAU/UNICEF para determinar os diferentes
indicadores para validação.
Resultado:
1. Aceitação do producto e do kit pela população.
2. Pratica: População usou o kit correctamente?
3. Custo
4. Impacto do producto na saúde
Outros pedidos de utilização de um produto de floculação/desinfecção para o
tratamento de água caseiro ocorreram em diversas ocasiões durante o processo de validação do
piloto do WATER GUARD (Tabela 5):
Tabela 5 - Ocasiões em que um producto de floculação e desinfecção foi requisitado para
Moçambique
Data Emergência Onde Requisitado por: Comentários
Fev/Mar
2015
Cólera Mutarara -
Tete
MSF Principalmente para a região das
minas de de ouro, pois não haviam
estradas de acesso para enviar
camiões de água.
Nov/2015 Cólera Mocuba -
Zambezia
MSF População com acesso à água turva
do rio. Impossível enviar camiões de
água devido a grande população.
2015/2017 Cólera Tete - Tete UNICEF
2015 Cólera Zambézia UNICEF
2017 Cólera Nampula MSF/UNICEF
2017 Enchente Inhambane UNICEF Tratamento de água necessário até a
rede comum voltar a funcionar.
Metodologia – Piloto em Tete
1- Seleção do Local
O piloto de distribuição do Water Guard começou na primeira quinzena de Abril de
2017 durante uma epidemia de cólera na província de Tete.
MSF, DPS e DPOPH concordaram que o principal critério adotado para a seleção do
local do piloto deveria ser a falta de acesso da população à água potável, um local onde a
população estivesse consumindo água de baixa qualidade ou sem nenhum tratamento prévio.
Entre os locais identificados estava o bairro Degue, no município de Tete
(especificadamente a unidade de Chiringa) que foi selecionado por possuir muitas características
favoráveis ao piloto:
- Não possuía fornecimento público de água tratada. - Residentes tinham o hábito de buscarem água de um rio vizinho, o rio Mufa. - O leito do rio Mufa era frequentemente utilizado como lavatório pois as pessoas não
possuíam casa de banho em seus lares.
- A população era limitada e concentrada em uma área relativamente pequena e de fácil
acesso.
- Os líderes comunitários se mostraram interessados logo no primeiro contacto.
- A água coletada do rio Mufa estava bastante turva (74 NTU). Este resultado nos mostrou
que para o tratamento desta fonte de água somente cloro não seria suficiente. Seria
necessário uma solução de floculação/disinfecção.
- Avaliação do especialista MSF em água e saneamento: Aprovação do local de avaliação
para o piloto water guard (Anexo 16). Posterior aprovação do DPOPH.
A população total do bairro Degue é de 14513 pessoas incluindo a área de Chiringa
(Figua 1) que consiste em apenas 9 quarteirões com uma população de 2254 habitantes em 462
casas4. Apenas 6 quarteirões (nr 4, 5, 6, 7, 8 e 9) participaram do piloto pois não possuíam
fornecimento público de água tratada e portanto toda a população era obrigada a buscar água na
fonte mais próxima, o rio Mufa.
4 Dados partilhados pelos lideres comunitários
Figura 1 – Mapa de Degue – Estrela laranhja indica a unidade de Chiringa.
Figura 2 – Rio Mufa
2- População Beneficiária
Para acessar a população um primeiro encontro entre MSF e a secretaria do bairro Degue
foi agendado com o objective de apresentar o projecto e avaliar a disposição dos líderes
comunitários em dar suporte na realização das actividades. O encontro foi um sucesso, e os
líderes comunitários se comprometeram em compartlhar listas com o número de casas e pessoas
nos quarteirões escolhidos para o piloto.
Todas as casas presentes nos quarteirões dos bairros 4, 5, 6, 7, 8 e 9 de Chiringa
participaram do piloto. Segundo os líderes comunitários 350 casas com 335 famílias foram
oficialmente recrutadas. No total 1566 pessoas foram atingidas.
A decisão de incluir toda a população dos quarteirões selecionados foi crucial para evitar
conflictos entre a população relacionados com o critério de inclusão vs. exclusão do piloto.
Durante o recrutamento 100% das famílias declararam retirar águas do rio Mufa para
consumo, directamente através do rio (86%) ou indirectamente: cavando poços durante a estação
da seca (14%).
Das famílias recrutadas, 97% declararam não tartar água antes de se engajarem
neste projecto piloto.
Tabela 6 - Resumo das famílias no registro inicial (n=335)
Onde as famílias buscam água N %
Directo do rio Mufa 288 86%
Poço cavado no leito do rio Mufa 47 14%
A água é tratada normalmente? N %
Sim, com o producto ‘Certeza’ 5 3%
Sim, fervendo 1
Sim, método não especificado 3
Não 326 97%
3- Promotores de Saúde
MSF recrutou 33 promotores de saúde (PS) e os dividiu em 3 times compostos por 10
PS + um supervisor. Cada time era responsável pela implementação do piloto em 2 quarteirões.
O processo de seleção foi um grande desafio pois parceiros como MSF, DPS, Red Cross
e UNICEF estavam envolvidos nas actividades comunitárias dos PS em Tete para responder a
epidemia do cólera e assim todos os recursos humanos especializados ja estavam trabalhando
em outras actividades.
A colaboração entre estes parceiros foi essencial para que MSF coseguisse recrutar os
33 PS, incluindo funcionários com formação e experiência em saúde e trablaho comunitário (ex:
Técnico de medicina
Todos os promotores de áude e supervisores receberam um dia de treino em:
- Cólera (epidemiologia, via de transmissão, definição de casos e princípios de tratamento). - Boas práticas de higiene - Uso do material IEC - Uso e vantagens do product Water Guard - Demonstração prática do produto Water Guard - Formulários de monitoria e avaliação.
O treino ocorreu no escritório do MSF com participação de médicos, gerente de água e
saneamento (WASH) bem como do gerente de atividades psicosociais da organização MSF.
4- Cronograma
Fase 1 - Sensibilização
Figura 3 – Diagrama de sensibilização
a) Sensibilização dos líderes comunitários
O primeiro encontro com o objectivo de apresentar o produto Water Guard e sensitizar
a comunidade foi organizado no dia 26 de Abril em Degue. Membros do comitê de saúde,
líderes comunitários de todos os quarteirões e unidades escolhidos para o piloto participaram do
encontro. No total 40 pessoas estiveram presents nesta sensibilização.
O encontro foi ministrado pelo gerente de água e saneamento do MSF com colaboração
dos dupervisores de PS e com a participação da DPS de Tete e DPOPH.
A discussão foi conduzida em linguagem local e os principais pontos discutidos foram:
- Apresentação do projecto e explicação - Produto Water Guard
- Demonstração prática do processo de purificação de água com o Water Guard.
- Promoção de colaboração e compartilhamento da informação com a comunidade para os
próximos passos.
A participação neste treinamento foi um sucesso, os líderes tomaram a responsabilidade
de informar a população sobre o próximo encontro de sensibilização na comunidade.
Figura 4 – Encontro de sensibilização dos líderes comunitários
b) Sensibilização na comunidade
Encontro com a população e demonstração
Durante 2 dias (27 e 28 de Abril), 6 encontros foram organizados em 3 quarteirões
selecionados na comunidade com o objetivo de facilitar a participação da comunidade.
A idéia principal era a de envolver o maior número de beneficiários possível para a
apresentação do projecto e do producto Water guard, demonstrando na prática como se faz o
tratamento da água.
A demonstração prática foi conduzida pelo PS do MSF nos 3 locais selecionados5. Todo
o encontro foi realizado na língua local6. No total, 800 pessoas estiveram presentes e
participaram das demonstrações práticas.
Os principais pontos apresentados no encontro foram:
- Introdução do projecto e explicação
- O produto Water Guard
- Demonstração prática do tratamento de água com Water Guard
- Promoção da colaboração e compartilhamento da informação com a comunidade
O apoio dos líderes comunitários foi essencial para garantir a presença de grande parte da
população, assim todos os passos do projecto e tratamento puderam ser explicados
propriamente e dúvidas por parte da população puderam ser clarificadas.
5 Os locais para o encontro foram selecionados de acordo com o espaço disponível e o fácil acesso do maior
número de beneficiários. 6 O encontro foi ministrado em diferentes línguas locais de acordo com o local selecionado (i.e Nhungue e
Chona)
Figura 5- Encontro na comunidade
c) Sensibilização porta a porta
A sensibilização porta a porta foi conduzida nos mesmos dias por todo o time de PS. O
objectivo era alcançar toda a população beneficiária que não pode comparecer aos encontros e
oferecer uma sensitização e informação mais personalizada.
Todas as famílias beneficiárias foram visitadas com o objetivo de:
- A diponibilidade e presença da família. - Introduzir o projecto
- A diponibilidade da família em participar do projecto
- Conduzir uma curta entrevista antes do processo de recrutamento
- Informar e convidar as familia a participarem do encontro público.
- Informar e explicar sobre o processo de distribuição
- Entregar o voucher7 para receber o kit de distribuição
Um formulário (Anexo 17) de rastreio das famílias foi preenchido pelos PS. Informações
como: nome, número de membros da família, disposição para participar do projeto, hábitos em
relação ao tratamento de água, episódios de diarréia na família no ultimo mês e então assinava-se
o voucher.
Figura 6 - WG voucher
d) Promoção na comunidade
A promoção sobre o projeto, demonstração e processo de distribuição foi reinforçado na
comunidade pelos PS. Megafones e motorizadas foram utilizadas para atingir áreas distantes.
Fase 1 – Boas práticas e recomendações: - Seleção da área (identificar área com o maior impacto).
7 Voucher: pedaço de papel com os dados da família que comprovava que a mesma havia sido recrutada para
partcipar do projecto piloto. Quando a família entregava o voucher recebia o kit de tratamento.
- Breve envolvimento dos líderes comunitários para a forte aceitação e participação da população.
- Avaliação dos beneficiários: inclusão de toda a população de áreas específicas para evitar
conflitos (e/ou acordar fortes critérios)
- Treinamento do time de promotores da saúde.
- Actividades de PS nas comunidades prévias a distribuição e implementação
- Mobilização comunitária
- Pré entrevista para se certificar da disponibilidade de participação
Fase 1 - Lições aprendidas:
- Avaliação dos beneficiários: Checagem dos potenciais beneficiários através de listas (estensões familiares e famílias polígamas).
- Incluir mais Degue habitants no time de PS para facilitar a mobilização comunitária.
Fase 2 – Distribuição
A distribuição dos kits de WG nos 6 quarteirões selecionados da unidade de Chiringa em
Degue foi realizada no dia 2 de Maio entre 7:30 e 11:00 h. Um total de 333 kits foram
distribuídos neste dia.
Foram necessárias 2 semanas para preparação dos kits que incluíam os seguintes passos:
- Recrutamento de trabalhadores diários - Compra local de 350 baldes transparentes (20L) e a mesma quantidade de torneiras
plásticas. - Instalação de torneiras plásticas nos baldes. - Compra de 350 bidons (20L) em Maputo - Impressão de 350 adesivos para os bidons, 350 para os baldes e 27.000 para os sachets8
de WG.
8 Sachets = saquetas
Tabela 7- Composição do Kit WG
Cada Kit contém:
Um Bidon amarelo (20 L) com adesivo
Anexo 18: Colheita de água
1 balde de plástico (20L) com torneira de
plástico e com adesivo de instruções sobre o
tratamento
Anexo 19: Sachet de tratamento (WG)
1 panfleto laminado com instruções (escritas e
fotos) sobre o uso do WG
Anexo 20: panfleto laminado
O WG ainda não é produzido em
Moçambique, por isso não existe intruções em
Português. A técnica descrita no sachet é
diferente da sugerida pelo grupo técnico. Foi
anexado ao sachet um pequeno adesivo (como
no anexo 19) para evitar congusões.
Anexo 21: sachets com adesivo
Como já mencionados na fase 1: Sensibilização, o processo de distribuição foi bem
preparado e explicado para todas as unidades, líderes de quarteirões e diretamente a população
da comunidade durante os dias prévios a distribuição. Esta estrégia foi essencial para certificar
que a distribuição ocorreria de uma maneira organizada e eficiente.
Tokens foram distribuídos pelo time de PS diretamente a cada representate de família
alguns dias antes da distribuição do WG. Cada representante de família assinou uma lista
correspodente de famílias por quarteirões para oficializar sua recepção.
Diferentes locais de distribuição foram previamente identificados em conjunto com os
respectivos líderes de quarteirões para repartir o total de 335 representantes de famílias inscritas
para receber os kits em 3 grupos (de acordo com a localização geográfica). O critério de seleção
dos 3 locais foram:
1) Espaço suficiente para estacionar o camião e organizar uma pequena área de distribuição na traseira do camião;
2) Espaço suficiente para organizar uma fila de pessoas `a esperar pelos kits. 3) Espaço suficiente para montar uma pequena tenda para as actividades dos PS incluindo
sensibilização e demonstração dos kits de WG; 4) O local deveria ser o mais próximo possível da estrada principal para facilitar todo o
trabalho logístico. Instruções prévias sobre como organizar as mulheres com seus tokens antes da chegada
dos camiões foram dadas aos líderes comunitários. O objective destas instruções era evitar
confusões. É importante ressaltar que a colaboração e ajuda dos líderes comunitários foi de
extrema importância para a boa fluidez e organização do processo de distribuição.
A equipa de distribuição foi composta por 1 gerente de logística + 3 trabalhadores
diarios + 1 PS para cada um dos 3 locais.
Na chegada do camião os 3 trabalhadores diários organizaram barras de ferro e fitas
temporárias para delimitar a área de trabalho na traseira do camião. Um pequeno corridor com 6
x 1.5 m também foi organizado para que as mulheres em linha fossem chamadas uma por uma
para a entrega de seus respectivos tokens e checagem de suas credenciais (nome, quarteirão, etc).
Um sinal de “kit recebido” na lista correspondente do quarteirão/família era marcado enquanto
o gerente de logística entregava o kit ao receptor (normalmente a mulher).
O mesmo time foi responsável pela distribuição nos 3 locais. Um total de 333 kits foram
distribuídos em 1 dia, outros 2 kits foram distribuídos nos dias seguintes, totalizando 335 kits
distribuídos.
Figura – Fila e área de trabalho para distribuição dos Kits
Fase 2 – Boas práticas e recomendações
- Requisitar todos os itens que serão necessários para a preparação dos kits de WG previamente e somente depois de conhecer exatamente o número de kits a ser distribuídos.
- Considerar que 10 toneladas de camião aberto podem carregar no máximo 350 kits empilhados em 5 camadas, porém para sua estabilidade durante o movimento do camião eles precisam estar muito bem amarrados. Se possível um camião fechado é recomendado.
- Separar a população estimada para a distribuição em pequenos grupos para evitar situações de superlotações que são mais difíeis de gerir.
- Sempre enfatizar com os líderes comunitários a importância de ter pessoas em fila nos locais de distribuição nos horários acordados previamente.
- Certificar-se que os líderes comunitários e os times de PS estarão sempre presentes nos locais durante a distribuição para ajudar a controlar o fluxo de pessoas na fila e evitar confusões.
- A assinatura na recepção é uma estratégia que consome muito tempo e nem sempre possível em distribuições massivas. Neste caso é recomendado um processo simplificado.
- Ter equipas trabalhando ao mesmo tempo em locais diferentes. - É essencial ter critérios de inclusão e exclusão para evitar confusões e reclamaões.
Fase 3 – Sensibilização e Monitoria após distribuição
A fase de monitoria começou um dia após a distribuição, com o objetivo de apoiar a
comunidade e monitorar o uso do WG nos domícilios. Visitas as famílias recrutadas foram
realizadas ao menos 1 vez por semana para assistência à dúvidas e/ou dificuldades.
Os PS foram divididos em 3 equipas de 10 PS + 1 supervisor. Cada equipa era responsável
por 2 quarteirões. Formulários de monitoria (Anexo 22) foram usados durante as visitas.
Os principais fatores monitorados durante as visitas foram:
- Correção do uso do WG, avaliação do processo de purificação junto com a família para correcões de erros.
- Fornecer recomendações para um melhor uso do WG.
- Checar o estoque disponível de WG para melhor avaliar as necessidades de consumo de
água diário.
- Reforçar as mensagens dos PS: recomendações gerais sobre medidas de higiene pessoal e
ambiental, prevenção de cólera, etc.
Cada visita teve duração de 10 a 30 minutos dependendo da possibilidade das famílias de
tratar a água durante a visita.
As equipas foram muito bem recebidas, apesar de alguns problemas como a ausência das
famílias em seus lares. Isto se deve ao facto da maioria das famílias em Degue trabalhar longe de
suas casas, portanto muitas vezes há necessidade de dormirem em seus trabalhos. Após
discussões com os líderes comunitários, foi decidido intensificar as visitas durante os finais de
semana, quando a maior parte da população volta à seus lares e portanto estão disponíveis para
receber visitas,
A estratégia de trabalho de quarta a domingo foi manter até o fim do projeto o que resultou
numa cobertura de monitoria satisfatória.
Promotores de saúde foram capazes de realizer 1508 visitas. Cada família recebeu 5 visitas,
incluindo visitas de monitoria e avaliação final.
Representantes da DPS e DPOPH estiveram presentes nos encontros semanais e nas visitas
de monitoria.
No dia 17 de Maio, como sugerido pelo MISAU, um encontro adicional com o comitê de água e saúde foi realizado na comunidade, com a participaçao de 25 membros, o supervisor dos
promotores de saúde do MSF e representantes da DPOPH com o objetivo de compartilhar a informação sobre o uso do WG.
Fase 3 – Boas práticas e recomendações
- Visitas de monitoria regular e avaliação do uso do produto. - Seguimento das famílias com maior dificuldades (ex: pessoas de idades avançadas)
- Flexibilidade/ Modelo adaptável: horas adaptadas/ dias
Fase 3 - Lições Aprendidas
- Antes da implementação/distribuição é importante avaliar os hábitos e cultura locais para
uma melhor intervenção.
- Perguntar e marcar no formulário de recrutamento a melhor hora/dia para visitas.
- Considerar diferentes modelos para adaptar as intervenções com o objetivo de garantir a
máxima cobertura: flexibilidade de dias, horas e/ou diferente modelos de visita (ex:marcar visitas
com horários que melhor atendem a família)
Fase 4 – Pesquisa de avaliação
A pesquisa de avaliação incluía 18 questões relacionadas a aceptabilidade, viabilidade,
impacto na saúde e custo do produto (Anexo 23).
A equipa de PS começou as entrevistas no dia 26 de Maio. Ao todo 335 famílias foram
recrutadas no piloto, porém somente 279 (84%) participaram da pesquisa de avaliação. Todas as
famílias (100%) tiveram o processo de tratamento de água com WG observado por um PS.
Devido ao curto período da avaliação final, somente 56 (16%) das famílias recrutadas
puderam ser visitadas. As análises da avaliação final forneceram resultados consistentes e
confiáveis.
Resultado do piloto.
Dados do questionário final foram encodados no software “Epidata” para posterior análises.
Os resultados finais podem ser observados abaixo:
1- Aceptabilidade do WG e viabilidade do kit.
Tabela 8. Viabilidade do WG – Compreensão do Kit
SIM NÃO
Sem informação
Fácil de compreender – demonstração do WG? 93% (n=260) 6,5% (n=18) 0,5% (n=1)
Não compreensível 61%
Muito rápido 44%
Muitos passos 28%
Fácil de compreender - WG papel de instruções? 97,5% (n=272) 2% (n=6) 0,5% (n=1)
Texto não compreensível 66%
Não sabe ler 25%
Fácil de compreender – Instruções no Bidon 98,8% (n=276) 0,7% (n=2) 0,5% (n=1)
Fonte: formulário de avaliação final, Epidata.
Quase todas as famílias (93%) acharam fácil de compreender a demonstração do uso do
WG. Porém, as que não acharam a demonstração suficientemente compreensível disseram que o
principal problema foi a rapidez com que a mesma foi realizada e a quantidade de passos
incluídos na demontração (Tabela 1 acima).
Praticamente todas as famílias (97.5%) entrevistadas acharam fácil de compreender as
instruções do folheto do WG e o adesivo de instruções colado no bidon do Kit de tratamento
(98.8%).
Tabela 9. Aceptabilidade e vantagens do WG
WG é fácil de usar? Números %
Sim 270 97%
Não, porque? 5 2,5%
Consome muito tempo 80%
Outros 20%
Você gostou do WG?
Sim 267 96%
Não 3 1%
Sem informação 9 3%
Qual o sabor da água tratada com WG?
Bom 275 98,5%
Outro (não especificado) 3 1%
Sem informação 1 0,5%
Aparência da água tratada com WG
Clara 277 99%
Não clara 1 0,5%
Informação não disponível 1 0,5%
Vantagens do WG
% de famílias afirmando ser uma vantagem
É mais eficiente em água suja 276 99%
O sabor é bom 267 96%
Decantação da sujeira 279 100%
Água se torna limpa 279 100%
Mantém a água limpa por um tempo mais longo
279 100%
Fonte: Formulário de avaliação final, Epidata.
Como descrito na tabela 8, 97% das famílias disseram que foi fácil usar WG e 96% das
famílias deram uma declaração positive sobre o produto.
98.5% das famílias disseram que o sabor da água tratada com WG era bom e 99%
disseram que a aparência era clara.
Todas as famílias declararam que WG tem vantagens em muitos aspectos, ex: na
decantação da sujeira e no fato da água se tornar mais clara e permanencer clara por um tempo
mais longo.
Aproximadamente 99% das famílias disseram que a vantagem do WG é que o produto
funciona melhor em água suja e 96% disseram que a água tratada com o WG tem o sabor melhor
que a água tratada com “Certeza” (esta comparação foi mencionada frequentemente).
2- Prática: Uso correto do kit de tratamento
Tabela 10. Famílias visitadas, avaliação da performance e erros verificados durante a visita.
Famílias atingidas
Número de famílias que tiveram a
purificação com WG supervisionada
Número de
erros verificados
Número de famílias
cometendo erros
Média de erros por
família
% de famílias que cometeram erros
1st visit 335 252 (75%) 48 24 2.0 9.5%
2nd visit 321 208 (65%) 22 15 1.5 7.2%
3nd visit 279 163 (58%) 17 16 1.1 9.8%
4th visit 194 112 (58%) 7 6 1.2 5.4%
Avaliação final
279 276 (99%) 0 0 - -
Fonte: Fichas de monitoria, formulário de avaliação final, Epidata.
A primeira visita foi realizada em 335 famílias. Destas, 252 (75%) realizaram a purificação
supervisionada com WG. No entanto, 24 famílias (9.5%) cometeram pelo menos 1 erro durante
a preparação. O total de erros cometidos pelas 24 famílias foi igual a 48, significando que em
média as famílias fizeram 2 erros em um ou mais dos 8 passos de preparação na primeira visita
(Tabela 9 acima e gráfico 1 abaixo).
A proporção de famílias que cometeram erros diminuiu conforme o número de visitas de
monitoria aumentou. Os 9.5% das famílias que cometeram erros na primeira visita decresceu
para 5.4% durante a quarta visita. Na avaliação final, 279 famílias foram visitadas. Destas, 276
(99%) foram supervisionadas durante a purificação de água com WG e nenhuma delas
cometeram erros durante o processo de tratamento.
Gráfico 1. Número total de erros realizados, proporção de erros realizados em todas as visitas
Fonte: Fichas de monitoria, Epidata.
Tabela 11. Erros por família nas visitas de monitoria
Erros N(%) of families
Erros na primeira visita 79 (90.8%)
Erros na segunda visita 7 (8.1%)
Erros na terceira visita 1 (1.1%)
Fonte: Ficha de monitoria, Epidata.
Como visto na tabela 9, o número de visitas diminuiu ao longo das semanas. Isto se deve
a diferente fatores, como:
-As famílias que realizaram bem o processo de purificação não precisaram de visitas tão
frequentes. Por exemplo, 30% das famílias que tiveram 2 visitas com supervisões no processo de
purificação e não cometeram erros (n=171) não receberam outras visitas até a avaliação final.
Acima, na tabela 10, pode-se observar que o maior número de erros foi realizado na
primeira visita. Estes erros não foram repetidos durante a visitas seguintes.
O gráfico acima mostra como é importante itensificar o número de visitas de monitoria
às famílias que tiveram maior dificuldades (9.5%) com o objetivo de melhorar a eficácia do
produto através da garantia do seu uso apropriado.
252
208
163
112
24 15 16
6
9.5%
7.2%
9.8%
5.4%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
0
50
100
150
200
250
300
1st vist 2nd visit 3nd visit 4th visit
Erros cometidos na purificação de água com WG
supervisedpurification ofwater done
families making amistake
% families with amistake
Tabela 12. Erros no preparo do tratamento de água com WG, todas as visitas
Erros realizados no preparo de água com WG Total de erros
realizados
% Em quantas preparações este erro aconteceu
Erros relacionados com o tempo
Passo 2. Misturar a água durante 5 min 14 1,7%
Passo 3. Esperar 5 min 15 1,9%
Passo 6. Esperar 20 min antes de consumir a água 13 1,6%
Outros erros comuns
Passo 4. Descartar a primeira amostra 28 3,5%
Passo 8. O bidon está limpo e é utilizado só para água tratada 24 3%
Erros menos comuns
Passo 7. Despejar a água suja do balde 7 0,9%
Passo 5. Encher o bidon 3 0,3%
Passo 1. Duas saquetas (sachets) por 20 L de água 1 0,1%
Source: monitoring sheets, Epidata.
O erro mais comum cometido pelas famílias está relacionado com o tempo, no passo 2
(14 erros), no passo 3 (15 erros) e no passo 6 (13 erros). De acordo com os relatos dos PS estes
erros provavelmente acontecem devido ao fato de muitas famílias não possuírem
cronômetros/relógios para checagem do tempo. Vinte e oito erros puderam ser observados no
passo 4 e 24 no passo 8 (tabela 11 acima).
Erros no tratamento foram mais persistentes no passo 8 (gráfico 2 abaixo). De acordo
com os PS, estes erros se devem ao fato de os beneficiários năo possuírem vários baldes para as
inúmeras atividades do dia a dia. Assim, os baldes de tratamento de água são muitas vezes
utilizados para outras finalidades.
Gráfico 2. Erros específicos ao longo das visitas
* Erros no passo 1 e 5 foram excluídos do gráfico devido suas ocorrências terem acontecido somente na
primeira. Fonte: Ficha de monitoria, Epidata.
0
2
4
6
8
10
12
14
visit1 visit2 visit3 visit4 visit5 visit6 visit7
Nú
me
ro d
e e
rro
s re
aliz
ado
s
Erros ao longo das visitas*
step2
step3
step4
step6
step7
step8
Famílias com mais visitas de monitoria
O plano inicial da intervenção piloto era monitorar o tratamento de água com WG 4
vezes durante o período de intervenção e realizar uma avaliação final na quinta visita. Com o
objetivo de certificar que todas as famílias compreenderam o processo de purificação, PS
visitaram algumas famílias 5 vezes ou mais. Os resultados das visitas adicionais foram:
- 58 famílias tiveram 5 visitas de monitoria, 35 delas (60%) tiveram o processo de purificação supervisionado.
- Vinte e sete famílias tiveram 6 visitas. Destas, 14 (52%) famílias tiveram o processo de purificação supervisionado.
- Nove famílias tiveram 7 visitas realizadas e destas 7 (78%) tiveram o processo de purificação supervisionados.
- Quatro famílias tiveram 8 visitas de monitoria realizadas e apenas 1 delas teve o processo de purificação supervisionados.
- Duas famílias tiveram 9 visitas realizadas e nenhuma delas tiveram o processo de purificação supervisionado.
- Visitas adicionais foram realizadas em alguns casos onde os adultos estiveram ausentes em visitas anteriores. Entre todas as visitas adicionais, um total de 11 erros foram cometidos por 10 famílias.
Muitos erros foram realizados no passo 8 (5 erros), no passo 4 (4 erros) e no passo 7 (2 erros).
Tabela 13. Percepção da quantidade de WG durante o piloto
Fonte: Formulário de avaliação final, Epidata.
A maioria das famílias (54.5%) disseram que a quantidade de WG foi suficiente (Tabela
12). Em média, elas armazenaram 48.5 litros e buscaram água 2.8 (1-8) vezes no dia. O consumo
mais alto registado por família foi de 200 litros/dia enquanto o mais baixo foi de 20 litros de
água por dia.
Todas as famílias tinham sachets de WG que sobraram após a intervenção. No ultimo dia
da intervenção piloto, em média as famílias tiveram 111 sachets de sobra (mínimo 8, máximo
220).
Tabela 14. Razões pela qual menos WG foi usado
Razões pela qual WG não foi usado %
Famílias usaram menos água no dia 88%
Razões específicas:
Família com tamnho menor 16%
Economia para os próximos meses 6%
Não levam água para o campo (machamba) 8%
Esqueceu de preparer a água 2% Fonte: formulário de avaliação final, Epidata.
Quantidade suficiente: N %
Sim, foi suficiente 152 54,5%
Sim, sobrou 126 45%
Não,faltou 0
Sem informação 1
Total 279 100%
A razão pela qual sachets de WG sobraram após a intervenção está resumida na tabela 13
acima. Grande parte da famílias entrevistadas (88%) disseram que elas usaram menos que 4
baldes de água por dia. Entre elas, 16% disseram que o número actual de membros da família
eram menores (nem todos os membros da família estavam presentes durante a intervenção).
Outra razão comum pela qual menos WG não foi usado foi devido as famílias que ou
esqueceram (2%) ou não carregaram água tratada para as machambas (8%) durante o dia.
Algumas famílias (6%) disseram que elas economizaram o produto para os próximos meses e
estações chuvosas.
3- O custo
Tabela 15. Disposição para comprar WG
Você compraria WG por 5 meticais? %
SIM 75%
NÃO, porquê? 25%
Muito caro 95%
MSF deveria continuar a fornecer 2%
Você compraria o kit por 1500 meticais?
SIM 25%
NÃO 75%
Muito caro 100%
Fonte: Formulário de avaliação final, Epidata.
A maior parte das famílias (75%) disseram que eles estariam dispostos a comprar WG
por 5 meticais, mas somente 25% disseram que comprariam todo o kit de tratamento por 1500
meticais. Nos dois casos, a razão para não comprar o WG ou Kit de tratamento foi devido ao
alto custo por família (tabela 14 acima).
Deve ser ressaltado que a questão complete na avaliação final foi: “Você compraria um
sachet de WG por 5 meticais? (um sachet=10 litros de água tratada)’, mas sem cálculo explícito
de custo médio por mês incluído na pergunta (média de 145 sachets/month = 725 meticais/mês)
os beneficiários poderiam responder a mesma de uma maneira diferente. Provavelmente o
número de respostas negativas aumentariam.
Tabela 16 – Descrição de produtos e seus preços no kit de tratamento
Total do Kit para uma familia de 6 pessoas, para tratar 15 litros de água por pessoas por
dia durante um mês é equivalente a 1517 meticais.
4 - Impact of the product on health:
O impacto do produto na saúde é um indicador muito difícil de medir. Isto implicaria
que dados de base (pesquisa), uma cohort prospectiva de monitoria e uma pesquisa pós
implementação tivessem sido realizadas para que houvesse o rigor científico. Outras variáveis
como: higiene pessoal, higiene ambiental, hábito de lavagem das mãos, condições de saúde pré-
existente (i.e quadro de alta prevalência de HIV), e outras fontes de contágio também
precisariam ser consideradas para a medição do impacto.
Durante a distribuição do WG, foi declarada o término da epidemia de cólera pelas
autoridades Moçambicanas, portanto foi complicado medir o impacto durante a epidemia de
cólera, mas como descrito em muitas literaturas, o fornecimento de água potável às famílias é
uma das medidas chaves na luta contra o cólera.
Description Quantidade
total
Total + IVA
(MT)
Preco Unitario do
kit (MT) por uma
familia de 6 pessoas
1 Bidon 20 Litros
transparente (annexo
24)
350 109,746 268
2 Torneira (annexo 25) 350 35,000 100
3 Baldes amarelo 20 Litros
com tampas (Annexo 26
e 27)
350 56,575 160
4 Autocollantes vinil 21 x
14 cm (para o baldes
transparente)
Annexo 28
350 8,750 25
5 Autocollantes vinil A4
(baldes amarelo 20
litros)
annexo 28
350 15,750 45
6 Panfleto laminado
Annexo 29:Panfleto
laminado
350 19,250
55
7 Waterguard:
annexo 30 e annexo 31
100,000 6000 USD
= 360 445
MT
0.06 USD
= 3,6 MT
240 sachets=864 MT
A tabela seguinte mostra o que se conseguiu medir quanto ao imapcto do produto na
saúde.
Tabela 17. Casos de diarréia no último mês de acordo com a avaliação final.
Casos de diarréia no ultimo mês (no recrutamento)
Casos de diarréia no ultimo mês (avaliação final)
% %
Não 59% 90,7%
Sim 41% 5,4%
Age group(n) Número de famílias que reportaram os casos
Número de famílias que reportaram os casos
<5 51 5
>=5 62 2
Both 23 1
Idade não especificada 0 7
Sem informação 0 3,9% Fonte: formulário de reccrutamento e formulário de avaliação final, Epidata.
Graph 3. Número de famílias que reportaram casos de diarréia no ultimo mês (recrutamento e avaliação
final).
Fonte: Formulário de recrutamento e de avaliação final, Epidata.
No momento do recrutamento 41% das famílias tinham tido pelo menos um caso de
diarréia em suas famílias no ultimo mês comparado a 5.4% durante a avaliação final (a diferença
é estatisticamente significante com p-value = 0.0000). Tabela 15 e gráfico 3.
O número de casos diminuiu significantemente em ambos grupos de idade, de 51 casos
para 5 em crianças abaixo dos 5 anos e dos 62 casos para 2 em crianças com 5 ou mais anos.
Na avaliação final, foram reportados uma média de 2.25 episódios de diarréia em um dia
(min 1, max 6 episódios) e em média esta diarréia durou por 1.7 dias (min 1, max 2 dias).
Com todas as limitações mencionadas acima, pode-se dizer que os dados se mostraram
promissores na diminuição do número de casos de diarréia após a introdução do WG.
41%
5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
at ENROLLMENT at FINAL EVALUATION
Casos de diarréia na família no último mês
Yes
Recomendações
- Monitoria regular com o objetivo de melhor fornecer assistência aos beneficiários,
melhorando a eficácia do produto garantindo assim o seu uso adequadamente.
- Famílias com mais dificuldades durante a primeira fase das visitas devem ser monitoradas
de perto e mais frequentemente.
- Distribuição de um número menor de sachets é aconselhável já que muita sobra foi
observada. Por outro lado, como observado na tabela 13, algumas famílias
economizaram sachets para as próximas situações emergenciais; portanto deve-se
considerar a possibilidade de que diminuir o número de sachets distribuídos pode causar
um aumento no número de famílias que economizariam o produto.
- Considerar a utilização do kit original utilizado e aprovado pela P&G em outros países.
- Erros frequentes relacionados com os tempos de tratamento foram observados (5 e 20
minutos durante o processo de purificação) as seguintes opções podem ser consideradas:
a. Encontrar explicaç~oes alternativas para os tempos (ex: misturar até todo o
produto estar dissolvido e esperar até toda a turbidade se concentrar no fundo do
balde).
b. Incluir um cronômetro/relógio simples no kit.
Conclusões
De uma maneira geral, pode-se dizer que a implementação do piloto do WG foi muito
positive, com boa aceitação e compreensão da comunidade.
A colaboração com diferentes atores envlvidos foi muito positiva, o que facilitou o
processo durante todas as suas fases.
A monitoria regular e as atividades realizadas pelos PS garantiram o uso adequado do
produto (WG). O resultado final foi altamente satisfatório com 100% das famílias avaliadas
capazes de tratarem propriamente a água coletada antes do consumo.
Próximos passos
- Validação do produto e do kit de tratamento pelo MISAU e DNAAS.
- Requisitar PSI para produzir WG com instruções em português.
- Comunicação através do Wash cluster sobre a existência do kit validado em ordem de
preparer o mesmo para a próxima ocasião emergencial.
Referências i Dw.com (world news ii www.unicef.org.mz
iii http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/ciencia-e-ambiente/14434-lancado-certeza-em-
comprimido.html
iv WHO_principles and practices of drinking water chlorination.pdf
v Sources: WHO: http://www.who.int/water_sanitation_health/dwq/wsh0207/en/index1.html
vi Sources: WHO: http://www.who.int/water_sanitation_health/dwq/wsh0207/en/index1.html
vii
Sources: WHO: http://www.who.int/water_sanitation_health/dwq/wsh0207/en/index1.html
viii
Sources: WHO: http://www.who.int/water_sanitation_health/dwq/wsh0207/en/index1.html
ix Sources: WHO_Scaling up Household water treatment among Low Income Populations, p57
x www.who.int (results of round 1 of the WHO International Scheme to Evaluate Household War=ter
Treatment Technologies
xi www.cdc.gov/safewater.chlorination.html
Lista de Gráficos e Figuras
Gráfico 1 Número total de erros realizados, proporção de
erros realizados em todas as visitas Página 23
Gráfico 2 Erros ao longo das visitas Página 24
Gráfico 3
Número de famílias que reportaram casos de
diarréia no último mês (recrutamento e
ava;iação final)
Página 28
Figura 1 Mapa Degue Página 11
Figura 2 Rio Mufa Página 11
Figura 3 Diagrama de sensibilização Página 13
Figura 4 Encontro de sensibilização dos líderes
comunitários Página 14
Figura 5 Encontro na comunidade Página 15
Figura 6 WG voucher Página 15
Figura 7 Fila e área de trabalho para distribuição dos kits Página 18