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WANDREIA ALVES CARVALHO AS IMPLICAÇÕES RECÍPROCAS ENTRE AGRICULTURA FAMILIAR, RESERVA LEGAL E ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. CUIABÁ 2015

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WANDREIA ALVES CARVALHO

AS IMPLICAÇÕES RECÍPROCAS ENTRE AGRICULTURA

FAMILIAR, RESERVA LEGAL E ÁREA DE

PRESERVAÇÃO PERMANENTE.

CUIABÁ

2015

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WANDREIA ALVES CARVALHO

AS IMPLICAÇÕES RECÍPROCAS ENTRE AGRICULTURA

FAMILIAR, RESERVA LEGAL E ÁREA DE

PRESERVAÇÃO PERMANENTE.

Trabalho apresentada ao Curso

Especialização de Direito Agroambiental e

Sustentabilidade do Programa de Pós-Graduação

“lato- senso” da Universidade Federal do Estado de

Mato Grosso, Professor Orientador Marcos Prado de

Albuquerque.

Cuiabá-MT

2015

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Dedico Àquele que é Digno de toda Honra e

toda a Glória, pois, tudo que tenho, tudo que

sou e tudo que há de vir na minha vida vêm

D´quele que promove e me mantem firme na

fé, vivo para Ele e por Ele, porque D’ele são

todas as coisas, obrigada Deus, obrigada meu

Pai, obrigada meu Senhor.

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INDICE

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 01

1. BREVE HISTÓRICO DA AGRICULTURA NA PRÉ-HISTÓRIA.................. 03

1.1 A agricultura nasce no período neolítico ou idade da pedra polida................. 03

1.2 As civilizações da Mesopotâmia e suas técnicas de agricultura....................... 04

1.3 A agricultura no Antigo Egito............................................................................ 05

1.4 A agricultura no Império dos Incas................................................................... 05

1.5 Agricultura na idade media............................................................................... 06

1.6 A agricultura na Idade Moderna....................................................................... 07

1.7 A História da Agricultura no Brasil.................................................................. 07

2. AGRICULTURA FAMILIAR EM SEUS ASPECTOS POLÍTICO E SOCIAL 09

2.1 A propriedade familiar....................................................................................... 10

2.2 Pequena Propriedade......................................................................................... 12

2.3 A diferença ente propriedade familiar e pequena propriedade...................... 13

2.4 Função Social da Propriedade........................................................................... 14

2.5 Agricultura familiar e o novo Código Florestal............................................... 15

2.6 Políticas Públicas que beneficiam a agricultura familiar................................ 17

2.6.1 Cadastro Ambiental Rural – Car........................................................................ 17

2.6.2 Programa de Aquisição de Alimentos – PAA.................................................... 18

2.6.3 Licenciamento Ambiental Simplificado............................................................. 19

2.6.4 Programa de Garantia de Preços Agricultura Familiar.................................... 19

2.6.5 Rede Brasil Rural................................................................................................ 20

2.6.6 Resolução 3.545/29 – 29-02-2008........................................................................ 21

2.6.7 Benefícios Previdenciários para Agricultura Familiar .................................... 22

3 ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE................................................ 23

3.1 Reserva Florestal Legal...................................................................................... 25

3.2 Reserva Legal e Pequena Propriedade.............................................................. 26

3.3 Supressão em área de Preservação Permanente e Reserva Legal................... 28

3.4 O Manejo Florestal Sustentável em Reserva Legal.......................................... 30

3.5 E Possível Agricultura Familiar em Área de RL e APPS?.......................................... 32

3.5.1 Manejo Florestal Sustentável Sem Propósito Comercial ................................ 33

3.5.2 Manejo Florestal Sustentável Com Propósito Comercial ............................... 34

3.6. Abordagem na pratica sobre o Manejo da Agricultura Familiar em RL APPS 35

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Conclusão........................................................................................................................ 38

Referências bibliográficas.............................................................................................. 40

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1

INTRODUÇÃO

A Reserva Legal tem como função prover o uso sustentável dos recursos naturais na

propriedade ou posse rural, conservar e reabilitar os processos ecológicos, a biodiversidade e

servir de abrigo e proteção da fauna e flora nativa. E ainda, visa a manter uma parcela de cada

propriedade rural como reserva florestal, para propiciar uma reserva de diversidade florestal e

possibilitar a regeneração de espécies, conservando, assim, parte dos recursos naturais

existentes, conforme prevê a Lei nº 12.651/2012, Código Brasileiro Florestal - CBF em seu

artigo 12 e 17.

No que se refere à Área de Preservação Permanente – APP, a lei 12.51/ 2012, em seu

artigo 3º, inciso II, define como sendo uma área protegida, coberta ou não por vegetação

nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade

geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e

assegurar o bem-estar das populações humanas.

Embora, haja conhecimento de que muitas ocupações nas áreas de RL e Apps, foram

realizadas de forma clandestina, surge então, um conflito social e ambiental no ordenamento

jurídico brasileiro, pois de um lado estão ameaçados os direitos fundamentais que protegem o

meio ambiente ecologicamente equilibrado, do outro esbarra com os direitos e garantias

fundamentais, princípios fundamentais, como a dignidade humana, além do princípio da

segurança jurídica.

Desta forma, torna-se incontestável tal situação, transformando num palco de

homéricas discursões acerca do tema. O cerne da questão deve estar pautado no bom senso,

devendo buscar um equilíbrio entre o homem e a natureza, a produção e a conservação e

preservação, presando pelo desenvolvimento ecologicamente sustentável.

Assim nasce o tema As implicações entre Agricultura Familiar, Reserva Legal e Área

de Preservação Permanente, com o intuito de abordar a situação dos pequenos proprietários

no âmbito da agricultura familiar em áreas de preservação e conservação. Visa responder se é

possível a exploração de atividades nessas áreas por agricultores familiares.

A presente pesquisa propiciará em esclarecer acerca das mudanças da legislação

florestal, a qual trouxe benefícios para a agricultura familiar através de novas regras criada

para a proteção dos pequenos produtores rurais e de pequenas propriedades no regime de

agricultura familiar, como por exemplo, a exploração da vegetação nativa de forma

sustentável, a coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistências e para produção

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de mudas, como sementes, castanhas e frutos, a possibilidade do manejo agroflorestal

sustentável, a implantação de Políticas Públicas que viabilizam a efetividade do amparo legal

trazido pela reforma do Código Florestal Brasileiro, como por exemplo, o Licenciamento

ambiental simplificado, Programa de Aquisição Rural, Rede Brasil Rural, a inscrição no

Cadastro Ambiental Rural - CAR, entre outros benefícios.

A pesquisa foi dividida em três capítulos. O primeiro capítulo faz uma abordagem

histórica do surgimento da agricultura familiar, sua evolução e os meios utilizados em sua

expansão.

O segundo capítulo abarca de forma suscita sobre a agricultura familiar em seus

aspectos político e social, define Propriedade Familiar e Pequena Propriedade e suas

diferenças, e ainda discorre sobre a função social da propriedade e por último esclarece sobre

as novas regras da Lei 12.651/2012, que beneficia a agricultura familiar através de políticas

públicas.

E o terceiro e último capítulo vem conceituando e definindo o que é Área de

Preservação Permanente e área de Reserva Legal e suas nuances numa pequena propriedade,

trata da supressão e do manejo florestal sustentável, esclarecendo sob a possibilidade e como

devem ser exploradas essas áreas de conservação por agricultores familiares.

Metodologicamente, este trabalho adotou a pesquisa bibliográfica e pesquisa de

campo, sendo aquela maior parte do trabalho, que se escora em autores de grande influência

na doutrina jusagrarista e jus ambientalista, além de revistas físicas e eletrônicas, cartilhas e

documentos disponibilizados na internet.

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3

1 BREVE HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA AGRICULTURA

FAMILIAR

1.1 A agricultura nasce no período neolítico ou idade da pedra polida

Aproximadamente 10.000 mil anos antes de Cristo, os povos viviam em cavernas,

basicamente alimentavam-se da caça, pesca e coleta de frutos, portanto, viviam a procura de

alimentos e não tinham moradias fixas, esses povos eram chamados de nômades que viveram

no período denominado paleolítico também conhecido como a idade da pedra lascada.

Em decorrência da mudança climática iniciava novos tempos conhecido como

período neolítico, o marco de uma grande evolução da raça humana, aliada à

descoberta da agricultura familiar de forma rudimentar, a qual reflete de forma sutil

até hoje na agricultura familiar contemporânea.1

O documentário publicado no dia 11 de agosto de 2013, nominado como “A História

de Todos Nós”, vem tecendo uma abordagem sobre a evolução da civilização humana,

trazendo relatos sobre berço da Agricultura de origem familiar com o seu valor e importância,

a qual se tornou possível o desenvolvimento e crescimento populacional, o que segue:

Relatos de estudos científicos apontam que a primeira ideia de agricultura surge da

observação atenta de uma mulher cujo seu nome se perde na história, enquanto os

homens saiam para caçar as mulheres ficavam nos acampamentos cuidando dos

filhos e realizando outras tarefas como a coleta de grãos selvagens.

Então a partir de sua observação de que aqueles grãos descartados na coleta nasciam

novos grãos, foi realizado o primeiro intento de separar uma área de terra, plantar,

irrigar, tirar os insetos das plantas e colhe-los. Com essa descoberta surge à

agricultura, nasce daí a primeira fazendeira do mundo. Surge então, o berço da

agricultura familiar conhecida e utilizada até os dias atuais.

A evolução do homem desde os primórdios está sempre ligada intrinsicamente com

a necessidade da sobrevivência e perpetuação da espécie. Verificando que o

surgimento da agricultura poderia alimentar um número maior de pessoas do que a

caça, a pesca e a coleta de frutos e sementes passou então a formar grupos maiores.

Nessa mesma época os homens tiveram também como seus aliados os animais, os

quais também foram domesticados por eles.

Assim com um clima que se estabilizava, a descoberta da agricultura e a

domesticação dos animais, os povos nômades deixaram de viajar em busca de

alimentos e passaram a fixar-se em regiões formando as primeiras vilas e cidades

aprendendo a ter um planejamento anual e também a armazenar seus grãos. Com

essa mudança cultural esses povos deixaram de ser nômades para se tornarem

sedentários.2

Quando a descoberta do berço da agricultura foi revelada, a história da humanidade

obteve um salto, onde os relatos de domesticação de animais selvagens formam os primeiros

1 http://www.suapesquisa.com/prehistoria extraída em 08 agosto 2015. 2Seuhistory.com, documentário a história de todos nós, 8 agosto. 2013.Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=vCUHiI9xRF4&list=PLN4k4qrIgJwRYHngaYoCXWbG3qT52fFi9&index

=1. Acesso em: 5 jul.2015

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aglomerados. E aliados ao clima favorável que os proporcionaram “fartura de alimentos”.

Surgindo a necessidade de armazenamento que por sua vez, através desse novo hábito vai

desencadear mais adiante pelos povos Sumérios o comércio primitivo. Onde no mesmo

documentário cita:

O armazenamento de alimentos proporcionou o alargamento da produção dos grãos,

passando a desenvolver técnicas de agriculturas, bem como, os primeiros animais

como bois, cabras, carneiros e porcos, na fazenda foram domados para o uso

domésticos. Essas descobertas foram a chave para o crescimento da população e,

todas essas técnicas impulsionaram a uma nova frente de trabalho.

A agricultura teve seu início na região conhecida como crescente fértil e logo se

expandiu em direções diferentes, indo a oeste para a Europa, a leste para a Ásia e ao

Sul para a África, formando vários berços neolíticos. Experiências estas, de forma

plural no mundo ocorreram em meios ecológico diferentes e sobretudo em meios

culturais diferentes. Assim aqueles que possuíam o conhecimento do manejo

estavam em vantagem daqueles que não a detinha.3

Após demostrada a origem da agricultura familiar observa-se que a evolução da

humanidade e seu crescimento está intrinsicamente ligado com a agricultura, a qual somente

foi possível após mudanças climáticas que propiciou um cenário equilibrado, para o seu

desenvolvimento. Com esse esboço, fica notório o liame entre Natureza – Homem –

Agricultura - Desenvolvimento. Comprovando o quanto o homem precisa aliar-se a natureza,

para que ela possa contribuir direta e indispensavelmente para a produção de alimentos e

consequentemente com a perpetuação da espécie humana.

1.2. As civilizações da Mesopotâmia e suas técnicas de agricultura.

O registro sobre a Mesopotâmia discorre claramente como foi na prática a relação

Natureza – Homem – Agricultura – Desenvolvimento, quando ocorre o surgimento daqueles

povos que se formaram a beira de rios, então a partir desse momento foi desenvolvido o

cultivo da agricultura. Um marco histórico da evolução do homem, trazendo um novo modelo

cultural, possibilitando-os de se estabelecerem num determinado local sem mais necessitar o

seu deslocamento em busca de alimentos. Pode-se notar que essa mudança de hábitos ocorrerá

em regiões distintas com povos diferentes denotando o papel primordial e necessário em que a

natureza contribui para a sobrevivência do homem, sempre atrelado com a agricultura. Assim

esboça em algumas linhas a história da agricultura:

A história da agricultura na mesopotâmia inicia-se aproximadamente 9.000 anos ac

deu-se pelo encontro do rio Tigre e o rio Eufrates, com a temperatura mais amena,

onde as águas frescas desciam das montanhas. Esse lugar foi dado o nome de

3 Seuhistory.com, documentário a história de todos nós, 8 agost. 2013.Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=vCUHiI9xRF4&list=PLN4k4qrIgJwRYHngaYoCXWbG3qT52fFi9&index

=1. Acesso em: 5 jul.2015

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5

Mesopotâmia que em Grego significa terra entre dois rios, atualmente esses rios

correm pela Síria, Turquia e Iraque e desemboca no Golf Pérsico. Os povos

nômades que chegaram à Mesopotâmia por volta do ano 6000 ac. aprenderam a

plantar as sementes e a colher os alimentos. A forma de vida na Mesopotâmia

começou a espalhar e atrair povos de várias regiões do planeta para povoar essa

terra.4

Então se observa que a agricultura influenciou no surgimento de povoados. Iniciando

cidades, as mais conhecidas hoje são Turquia, Síria, Iraque e Golf Pérsio.

1.3 A agricultura no antigo Egito

Essa civilização também teve seu papel fundamental no desenvolvimento da evolução

da agricultura, onde eles desenvolveram técnicas de agricultura, inovando em sua época um

sistema de irrigação, mostrando a capacidade que o homem tem de se adaptar ao meio e

utilizar recursos advindos da natureza.

Eles também criaram sistemas de irrigação e além do cultivo desenvolvido as

margens do rio Nilo eles também criaram hortas e jardins cultivados em canteiros

suspensos separados por valas, as quais eles enchiam de aguas para irrigar essas

plantações. Esse sistema foi criado para ser utilizado pela classe nobre na época da

seca do Nilo4.

Aqui podemos perceber outro marco histórico importante da humanidade, ligado

diretamente às novas técnicas utilizadas para aprimoramento da agricultura, pois os povos que

possuíam o conhecimento do manejo estavam em vantagem sobre os demais.

1.4 A agricultura no Império dos Incas

A civilização Inca também contribuiu para a evolução da agricultura, viviam numa

região de encostas rochosas desértica nas Cordilheiras dos Andes, situada na América do Sul.

Sua agricultura foi desenvolvida por um sistema de irrigação em terraços chamados de

antenes ou “andenajes” e arquedutos.

O rio Nilo surgiu no deserto do Saara ao norte da África há milhares de anos quando

começou abundantes chuvas conhecidas como chuvas de verão após a era glacial.

Gradualmente foi crescendo a populações que se formaram às suas margens, dentre

elas a mais conhecida foi a civilização egípcia. No entanto, viver as margens do Nilo

tinha seus altos e baixos, pois na cheia inundava as cidades que após baixar as águas

tornavam-se ideal para o plantio, pois o solo tornava-se muito fértil. Eles passaram a

4 Seuhistory.com, documentário a história de todos nós, 8 agost. 2013.Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=vCUHiI9xRF4&list=PLN4k4qrIgJwRYHngaYoCXWbG3qT52fFi9&index

=1. Acesso em: 5 jul.2015

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utilizar a cheia do rio Nilo ao seu benefício de forma muito inteligente, onde criaram

um mecanismo de irrigação que crescia cada vez mais a sua plantação5.

1.5 A Agricultura na Idade Média

A Idade Média corresponde ao período entre os anos de 476 (século v) dc. a 1.453

(século XV) , formada pelos povos bárbaros, os quais eram todos aqueles que viviam fora da

fronteira romana e que não falavam o latim, o período foi dividido em alta-idade média, idade

média central e baixa idade média. Teve seu início na Europa com as invasões bárbaras sobre

o Império Romano do Ocidente.

Esse período na história, a Idade Média retomou a prática do escambo para a troca da

mercadoria. A sociedade medieval teve sua economia baseada na agricultura de subsistência

onde o cultivo era realizado de forma primitiva em relação à produção da agricultura

moderna.

Conforme relata no documentário, também disponibilizado no Youtube, pesquisado e

elaborado por Roberto C. R. Dias e narrado por Lawren Shum e Malu Fernandes relata que:

A Idade Média caracteriza-se pela economia da agricultura, a comercialização dos

produtos era realizada mais frequentemente por meio do escambo, embora houvesse

moeda. Os vassalos produziam frutas e verduras, apesar dos vassalos trabalharem

arduamente a produção era baixa, pois as técnicas agrícolas eram rudimentares, o

arado puxado por bois era muito utilizado na agricultura.6

Era uma sociedade Ruralista, tinha a terra como sinônimo de poderio de domínio

feudal. A base da sociedade era a formada pelos nobres e clero e, os camponeses que embora,

livres eram servos. Eles trabalhavam na terra por um salário e viviam na linha da pobreza.

A idade Média desde há muito tempo esteve associada a “atraso”, a uma época de

“trevas” no conhecimento, de pouca liberdade e da restrição na circulação de ideias.

Na Idade Média a economia esteve praticamente centrada na agricultura, isso ocorria

porque os feudos produziam grande parte dos produtos que necessitavam de

consumir e a circulação de pessoas era restrita numa Europa povoada por

fortificações isoladas umas das outras. A Idade Média foi também responsável por

importantes avanços, sobretudo no que diz respeito à produção agrícola: inventaram-

se o moinho, a charrua (um arado mais eficiente) e técnicas de adubamento e rodízio

de terras.7

5 Série da Tv escola, Grandes Civilizações – Antigo Egito, 17 de abril de 2014, <Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=XwzBbsK2H-Q>. Acesso em 8 de julho de 2015. 6 A Historia da Humanidade

www.youtube.com/watch?v=q0ME7RLaUSs&list=PLdiViOsqOsgT2S75LfLJ4jOSVFlHIH4ls acessado em 25

de julho 2015. 7 Mecanização Agrícola http://mecanizacao2011.blogspot.com.br/2011/05/o-periodo-de-mil-anos-entre-queda-

de.html acessado em 25 de julho de 2015.

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Mesmo diante de tanta pobreza a agricultura teve um papel fundamental, onde os

povoados usavam suas fontes para sobreviver. Aquele que detinha um vasto plantio era

caracterizado um senhorio com grande nome.

1.6 A agricultura na Idade Moderna

Com o final da guerra entre a Inglaterra e a França, nasce a Revolução Francesa que

corresponde o período de 1453 a 1789. O fim do feudalismo nasce o capitalismo salarial.

Com o desenvolvimento fazia necessário o aumento de produção para a expansão criando-se

um verdadeiro aumento mercantil mundial.

A partir do século XV começa a expansão comercial e marítima e com a invenção da

bússola facilita esse processo. Financiada pela burguesia promovida pelo Estado a

expansão comercial e marítima teve duas causas: busca de novos mercados

consumidores para os manufaturados europeus e fornecedores de produtos agrícolas

além do ouro e prata para maior fortalecimento do Estado. Mas podemos dizer que a

maior causa foi a tomada de Constantinopla pelos Turcos e o fechamento do mar

mediterrâneo.

As especiarias provenientes das índias era as mais lucrativas da época e as quem

monopolizassem se tornariam os país mais ricos do mundo.8

Encerrando esse período com o fim da baixa idade média o comércio faz surgir uma

nova classe social conhecida como burguesia, formada pelos burgos antigos comerciantes.

Houve uma aliança de um lado o dinheiro dos burgueses de outro a autoridade dos reis,

nascendo as monarquias nacionais.

1.7 A História da Agricultura no Brasil

E por fim trataremos da história da agricultura no Brasil Colônia, entre o período que

corresponde a idade média. Nesse período como já citado a expansão comercial marítima

buscavam monopolizar as especiarias como a pimenta, noz-moscada e a canela das índias,

bem como navegavam em busca de ouros, com a finalidade de monopolização do comércio

para formar grandes potencias e apropriar-se de novas terras.

Portugal foi o pioneiro onde a coroa portuguesa inicia as expedições marítimas de

forma avançada pela época, onde inventaram as caravelas e que por sua vez numa

grande expedição foi descoberta a terra hoje conhecida como Brasil. A princípios os

Portugueses ao chegar nas novas terras seu intuito era apenas de rota de parada até

seu caminho às índias. Contudo, surge o interesse de exploração da nova terra.9

8 Documentário sobre a idade Média, extraído do www.youtube.com/watch?N6K3c_8wsXE acessado em 25

julho 2015. 9 A historia do Brasil por Bóris Fausto, www.youtube.com/watch?v=pSyE82yRaKU, acesso em 12 de julho

2015.

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8

Passamos agora retratar um pouco da história do Brasil Colônia através do material

disponível na internet, O Almanaque no Campo, o qual faz uma abordagem cronológica dos

acontecimentos do Brasil colonial:

A história da agricultura no Brasil inicia-se com a sua colonização em 1504 pela

coroa Portuguesa a qual empregou o sistema de capitanias hereditárias que fora

extinto em 1759 em detrimento da reforma modernizante pelo Marquês de Pombal.

Com o advento da Lei de terras de 1850, inicia-se a escrituração e o domínio

capitalista da propriedade rural no Brasil.

As primeiras mudas de cana -de- açúcar plantada no litoral paulista, porém, foi no

nordeste na cidade de Pernambuco que estabeleceu a economia açucareira. A

borracha extraída das seringueiras na região da Amazonas e no Acre gerou um breve

surto de riqueza. Em 1880 assumiu a exportação ficando em terceiro lugar na

posição da balança comercial, atrás apenas do café e do cacau. Com o fim da

escravidão a migração de italianos na economia cafeeira inicia-se um regime de

trabalho o qual os colonos recebiam o pagamento de acordo com sua produção na

colheita, era o colonato do café e com a crise econômica de 1929 muitos colonos

tornaram agricultores.

Nos primórdios da agricultura brasileira, homens livres, pequenos produtores rurais,

viviam nos arredores das plantations de cana. Eram conhecidos como roceiros,

caipiras, caiçaras, caboclos, mandioqueiros, brocoiós. Sua forma de morar, viver ou

morrer consolidou a cultura rural do país.10

E assim concluindo, nesse capítulo que no decorrer ao longo da história da

humanidade os homens estavam sempre se reunindo pelos mesmos motivos, a princípio em

busca pela sobrevivência, que tinha como base a agricultura familiar.

E a partir de então, o homem obtém grandes descobertas no ramo da agricultura, que

por sua vez, pode-se dizer o início da civilização, formando-se os primeiro aglomerados, vilas

e cidades, superando seus limites, proporcionando-os cada vez mais o aperfeiçoamento do

manejo com a terra através de novas técnicas, acarretando uma produção de alimentos maior

que o consumo dando origem ao comércio através do escambo de mercadorias, trocando

alimentos por utensílios manuais, o qual foi o responsável pelo surgimento do comércio,

levando esse a expansão comercial.

Desta forma, pode se dizer que a descoberta da agricultura foi o marco na história da

civilização, iniciada desde a mudança de hábitos dos povos no paleolítico para o neolítico, até

as civilizações mais remotas que contribuíram de forma crescente nas diversas descobertas de

manejo da agricultura que de certa forma influenciam até os dias atuais. Ressaltando ainda

que o berço da agricultura foi desenvolvido e explorado a princípio no seio familiar, onde

técnicas foram sendo repassadas de geração a geração. E, por conseguinte, não se deve olvidar

10 Almanaque do Campo. A História da agricultura no Brasil.:

http://www.almanaquedocampo.com.br/verbete/exibir/50>.Acesso em: 12 jul de 2015.

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9

que somente foi possível o aprimoramento da agricultura e consequentemente sua evolução

tecnológica e industrial, em virtude dos recursos naturais que a terra proporciona.

2. AGRICULTURA FAMILIAR EM SEUS ASPECTOS POLÍTICO E

SOCIAL

Imperioso discorrer sobre os aspectos políticos e sociais que implica o tema desse

trabalho, já que no capítulo anterior aborda a história do surgimento da agricultura, ou seja, o

nascimento de um relacionamento entre o homem, a terra e a produção de alimentos para que

então passamos compreender as peculiaridades e divergências que traz o assunto na

atualidade.

A agricultura iniciou em pequenos grupos com sua base familiar e ao longo do tempo

foi expandindo e mudando o foco. No contexto atual houve uma inversão de valores, hoje o

olhar está voltado para a produção de alta escala com a finalidade de exportação visando o

capitalismo e a expansão do agronegócio, sem observar os cuidados necessários com o meio

ambiente, gerando um desiquilíbrio ambiental em face da produção desenfreada, responsável

por grande parte do desmatamento das florestas e cerrados brasileiro.

Contudo, diante de tais ocorrências o Poder Público passou adotar Políticas Públicas

voltadas para o setor da agricultura familiar, buscando dentro de uma nova realidade retomar

o modelo original, no que se refere ao relacionamento harmônico entre o homem, o meio

ambiente e a produção de alimentos, ou seja, desenvolvimento sustentável.

Nesse momento será abordado a Agricultura Familiar em seu aspecto social e político,

tema tratado no Workshop em Brasília em 1997, com o intuito de reivindicar seus direitos e

garantias constitucionais:

Em decorrência da falência dos modelos da agricultura baseada nas grandes

extensões das terras provocou nas últimas duas décadas, crise nas instituições

envolvidas com a agricultura, dentre aquelas voltadas para Assistência Técnica e

Extensão Rural - ATER, provocando também inquietação junto aos agricultores

familiares que têm se organizado para reivindicar seus legítimos direitos, apenas

formalmente assegurados pela Constituição.11

Em razão das mudanças no campo brasileiro tem colocado novos desafios à

agricultura familiar, de maneira a impulsionar formas de crescimento da taxa de produtividade

de suas culturas, criações, e ainda diversificar e agregar valores às atividades econômicas

desenvolvidas. Assim, veja a seguir o que foi tratado no Workshop:

11 Workshop Nacional “Uma Nova Assistência Técnica e Extensão Rural Centrada na Agricultura Familiar”

1997: Brasília, DF, p.6

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10

Esta crise do setor, por outro lado, serviu para aumentar nas entidades estaduais de

extensão rural a consciência sobre a importância estratégica da agricultura familiar,

sob o ponto de vista político, econômico, social e ecológico. Importância somente

agora reconhecida no Brasil, onde 4,3 milhões de estabelecimentos rurais (75 % do

total dos estabelecimentos rurais) são de agricultores familiares, os quais

representam 24,5 milhões de pessoas ou 17% da população brasileira.

Também se pode dizer que houve uma confluência de objetivos comuns entre a

classe dos agricultores familiares com as entidades públicas, que se voltou a

repensar sua missão perante a sociedade.

A opção pela agricultura familiar, no entanto, se justifica pela sua capacidade de

geração de emprego (da família e outros) e renda a baixo custo de investimento. A

sua capacidade de retenção da população fora dos grandes centros urbanos é fator

fundamental na construção de alternativas de desenvolvimento. Sua capacidade de

produzir alimentos a menor custo e, potencialmente, com menores danos ambientais,

impulsiona o crescimento de todo o entorno socioeconômico local.

As lutas históricas dos agricultores familiares apoiados por diversos movimentos

sociais têm provocado alterações na agenda governamental criando programas

específicos para o setor, impulsionando ações de reforma agrária e canalizando

recursos federais para a Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER.

Impulsionando a novos avanços de um moderno serviço que ganhou dimensão

nacional, estabelecendo fóruns de discussão autônomos e ampliados, envolvendo

entidades de âmbito nacional e outras internacionalmente conhecidas Food And

Agricultural Organisation - FAO, todos juntos num consenso passaram a

desempenhar um projeto comum para criação de uma nova Assistência Técnica e

Extensão Rural centrada na agricultura familiar.

O processo de construção de uma proposta da ATER exclusiva para a agricultura

familiar iniciou-se com a realização do Seminário Nacional, em Brasília, (4 a 8 de

agosto de 1997), envolvendo as 27 unidades federais e envolvendo entre

trabalhadores da extensão, agricultores familiares, sindicalistas, universidades,

ONG’S e demais interessados no tema e que culminou com o Workshop nacional

em Brasília, no período de 24 a 28 de novembro de 1997.12

O objetivo principal do Workshop foi definir as referências básicas para uma proposta

de política de extensão rural voltada para o desenvolvimento rural sustentável e centrada na

expansão e fortalecimento da agricultura familiar.

2.1 A Propriedade Familiar

A propriedade familiar trata-se de um imóvel rural o qual não detenha mais de quatro

módulos fiscais, que deverá ser explorado direta e pessoalmente pelo agricultor e

predominantemente utilizar a mão de obra de seus membros familiares com a finalidade de

subsistência dos mesmos, ressalvado alguns tipos de colheitas que poderá contar com ajuda de

terceiros, conforme preceitua a Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964 - Estatuto da Terra

em seu artigo 4º, inciso II, senão vejamos:

Propriedade familiar, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo

agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a

12 Workshop Nacional “Uma Nova Assistência Técnica e Extensão Rural Centrada na Agricultura Familiar”

1997: Brasilia, DF, p.8

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11

subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada

região e tipo de exploração, e eventual trabalho com a ajuda de terceiros.13

O doutrinador Benedito Ferreira Marques, conceitua propriedade familiar como sendo:

(...) Um instituto jurídico tipicamente agrário, de uma importância extraordinária no

processo de democratização da terra, atendendo um dos princípios basilares do

direito agrário, que é o de viabilizar o acesso ao imóvel rural ao maior número

possível de pessoas, notadamente num país como o Brasil, onde há milhões de

trabalhadores rurais em luta constante para obtenção de um pedaço de chão no qual

possam desenvolver as únicas atividades para as quais têm habilitação.14

E ainda traz os requisitos consubstanciados em uma visão social, visando uma melhor

distribuição de terras com finalidade de produção por grupo familiar. Ainda sob a ótica do

autor Benedito Ferreira Marques, vejamos:

Assim, para exigir uma área compatível com a força de trabalho de uma família, que

garanta aos seus membros a subsistência e o progresso social e econômico, o espaço

fundiário pode atingir o maior número de famílias. Essa é a razão por que os planos

de reforma agrária ou de colonização que já fizeram no Brasil tem adotado como

dimensão ideal o da propriedade familiar. A democratização do acesso à terra,

portanto, consiste na melhor distribuição de terras a quem dela precisa para

produzir.15

O entendimento do autor Paulo Torminn Borges sobre o módulo fiscal com base na

legislação agrária brasileira:

Módulo rural é a quantidade mínima de terra admitida no imóvel rural, para que ele

não caia no vício do minifúndio. Considera-se a unidade básica de terra no sentido

horizontal. Sendo o equivalente à área da propriedade familiar, variável de região

para região e conforme o tipo de exploração da gleba.16

Ainda sobre esse instituto os doutrinadores Benedito Ferreira Marques e Carla Regina

Silva Marques, vem classificando o módulo rural em face da exploração desenvolvida no

imóvel rural, o qual pode ser nas seguintes categorias:

- Exploração hortigranjeira;

- Lavoura permanente;

- Lavoura temporária;

- Exploração pecuária de médio ou grande porte, visto que a exploração pecuária de

pequeno porte é qualificada como hortigranjeira, e a

Exploração Florestal, de onde se extrai a madeira, frutos ou cortiça.17

Essas são as categorias de exploração que o agricultor e sua família podem utilizar em

sua propriedade como forma de extrair o seu próprio sustento.

13 Estatuto da terra, art. 4º, II; Dec. N. 55.891, de 31-3-1965, arts. 6º, I e 11 a 23 14 MARQUES, Benedito Ferreira, Direito agrário. 9. Ed. Ver. E ampl. – São Paulo: Atltas, 2011, p.56 15 MARQUES, Benedito Ferreira, Direito agrário. 9. Ed. Ver. E ampl. – São Paulo: Atltas, 2011, p. 57 16 BORGES, Paulo Torminn, Instituto Básicos do Direito Agrário, ed. Saraiva, 11º ed revista, São Paulo, 1998,

p. 133 17 MARQUES, Benedito Ferreira, Direito agrário. 9. Ed. Ver. E ampl. – São Paulo: Atltas, 2011, p. 49

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12

2.2 Pequena Propriedade

Para efeitos de reforma agrária a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 185,

aborda sobre o instituto da desapropriação por interesse social no que tange a pequena

propriedade e média propriedade, senão vejamos:

Artigo 185 da CF-1988 – São Insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma

agrária: a pequena e média propriedade rural assim definida em lei, desde que seu

proprietário não possua outra.18

Porém sua definição foi remetida para a lei ordinária nº 8.629, de 25 de fevereiro de

1993, a qual em seu artigo 4º, inciso II, alínea “a” vem tratando somente da exigência do

tamanho da área, conforme transcrito abaixo:

Artigo 4º, inciso II, alínea “a” - “pequena propriedade” - o imóvel rural de área

compreendida entre 1 (um) a 4 (quatro) módulos fiscais.19

Sobre o veto presidencial o autor Benedito Ferreira Marques descreve o seguinte:

O Presidente da República vetou os demais componentes da definição legal,

aprovada no Congresso Nacional, que eram as alíneas alínea “b” explorado de forma

direta e pessoalmente pelo agricultor e sua família, sendo admitida ajuda eventual de

terceiros, nas épocas de pico de demanda de mão de obra; e alínea “c” que garanta a

absorção de toda a mão de obra ativa do conjunto familiar, assegurado, ainda, a sua

subsistência e o progresso social e econômico. O argumento lançado no veto

presidencial foi o de que, se mantida a redação original, seriam afastadas as pessoas

jurídicas. E, com referência ao veto da alínea b, a justificativa foi a de que a

definição, além de ser dirigida à pessoa física, exigia que a propriedade fosse

produtiva para ser pequena e que houvesse progresso econômico e social, pouco

importando qual o número de pessoas que compusessem o conjunto familiar.

Argumentou também que, pelo texto, embora a propriedade medisse de um a quatro

módulos fiscais, não seria considerada pequena, se fosse insuficiente para garantir o

progresso social e econômico de uma família numerosa. 20

Pode-se dizer que a diferença entre Pequena Propriedade e Propriedade Familiar, está

na definição de que aquela conforme seu fundamento no art. 5º inc. XXVI da Carta Magna

não será insuscetível de desapropriação, desde que o proprietário não possua outro imóvel

rural, e ainda o tamanho permanece o mesmo, ou seja, de um a quatro módulos fiscais, porém,

não exigiu o componente familiar, ademais foi justificado pelo fato de que se mantivesse a

redação original seria afastado o enquadramento das pessoas jurídicas.

18 Constituição Federal , art. 185 19 Lei Ordinária 8.629/93, art. 4, inciso II, alínea “a” 20 MARQUES, Benedito Ferreira, 2011, 9 edição, pg. 58, ed. Atlas – Colaboração de Carla Regina Silva

Marques

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13

2.3 A Diferença entre Propriedade Familiar e Pequena Propriedade

Com a definição de Pequena Propriedade ditada na Lei nº 8.629/ 1993, indaga-se se é

possível esse instituto substituir o de Propriedade Familiar, retirando esse do contexto

classificatório de imóvel rural, ou as duas figuras jurídicas coexistentes como entidades

autônomas?

Segundo o autor Benedito Ferreira Marques discorre em sua obra de que esses

institutos não se confundem como já dito anteriormente, em face da definição legal:

É sustentável o entendimento de que a Propriedade Familiar não se confunde com a

Pequena Propriedade, em face da definição que a lei deu a esta, com a retirada, por

veto, do caráter familiar que se continha no texto originalmente aprovado. 21

Ainda sob a ótica do autor supracitado, são várias as razões que justificam esse

entendimento:

Primeiro, porque a utilização do módulo fiscal para estabelecer o limite da área

confirma a subsistência da propriedade familiar, na medida em que esta, por

expressa disposição legal (art. 4º, alínea d, do Decreto nº 84.685/80), se inclui como

fator componente do módulo fiscal. Em segundo lugar, porque o art. 19, inc. V, da

Lei nº 8.629/93, faz expressa referência à “Propriedade Familiar”, quando estabelece

a ordem de preferência dos beneficiários da reforma agrária. Em terceiro lugar,

porque os vetos do Presidente da República às alíneas que se referiam à família ou

conjunto familiar, na definição de Pequena Propriedade, a pretexto de contemplar

pessoas jurídicas, revela a subsistência da Propriedade Familiar, porque é o único

instituto que exige, na sua configuração, que seja o imóvel rural explorado direta e

pessoalmente pela família ou conjunto familiar, absorvendo-lhes toda a força de

trabalho, na busca do progresso social e econômico. 22

De outra parte, a definição de pequena propriedade não ficou harmonizada com o

inciso XXVI do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CF/88,

assim expresso:

XXVII – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada

pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de

sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu

desenvolvimento.23

E ainda traz o doutrinador:

Também não guarda sintonia com a impenhorabilidade prevista no inc x do art. 649

do código de processo civil, nem com a lei nº 8.009/1990, que dispôs sobre o bem

familiar. Do mesmo modo, não se confunde com pequenas glebas, definidas no art.

2º da Lei nº 9.393/96, que dispõe sobre o imposto sobre a propriedade territorial

rural (ITR). A mais coerente interpretação que se pode dar ao texto constitucional

21 MARQUES, Benedito Ferreira, Direito agrário. 9. Ed. Ver. E ampl. – São Paulo: Atltas, 2011, p. 59 22 MARQUES, Benedito Ferreira, Direito agrário. 9. Ed. Ver. E ampl. – São Paulo: Atltas, 2011, p. 59. 23 Constituição Federal art. 5 , inciso XXVI

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14

exposto é a de que a impenhorabilidade, ali preconizada, somente alcança a pequena

propriedade de pessoa física, não beneficiando aquela que for explorada por pessoa

jurídica, a luz os motivos utilizados pelo Presidente da República para fazer os vetos

já comentados.24

Portanto, não há dúvidas quanto às distinções entre essas figuras jurídicas, pois se

tratam de entidades autônomas, cada qual com suas peculiaridades definidas em lei, onde a

pequena propriedade por contemplar além da pessoa física a figura da pessoa jurídica, a qual

não alcança o benefício de impenhorabilidade que a lei confere somente ao imóvel rural de

propriedade familiar, que também por exigência legal sua exploração deve ser de forma direta

e pessoal.

2.4 Função Social Propriedade

A função social da Propriedade Rural é um conceito que abrange não somente o

ordenamento jurídico, mas também, ultrapassa as fronteiras na órbita social, haja vista que a

terra é indispensável ao desenvolvimento da economia agrícola.

Segundo a visão da doutrina tradicional trazida pelo autor Geraldo Ferreira Lanfredi,

em sua obra Política Ambiental: busca de efetividade de seus instrumentos, o qual faz menção

do entendimento do filósofo positivista Augusto Comte, que foi o primeiro a utilizar-se da

expressão “função social” em 1.851, a qual foi tão somente divulgada por Léon Duguit em

seu livro publicado em 1912 mencionou “que a propriedade é apenas uma função social,

tornando-se o dono um mero detentor de um bem, que deve ser usado no interesse público”.25

Ainda segundo o posicionamento do doutrinador Geraldo Ferreira Lanfredi, pode-se

dizer que a função social define o conteúdo de direito de propriedade, ela não é apenas uma

limitação do uso da propriedade, mas sim, um elemento essencial que compõem a sua

definição de propriedade. E no caso de a propriedade não cumprir a função social, não poderá

ser objeto de proteção jurídica, pois, não encontra amparo legal no ordenamento jurídico

brasileiro.

Nesse sentido o autor também trata sobre os aspectos de ordem econômica social e

ecológica da função social, conceituando da seguinte forma:

24 MARQUES, Benedito Ferreira, Direito agrário. 9. Ed. Ver. E ampl. – São Paulo: Atltas, 2011, p. 60. 25 LANFREDI, Geraldo Ferreira. Política ambiental: busca de efetividade de seus instrumentos. 2 ed. rev. atual.

e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,2002. Pag. 91

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15

A função social da propriedade abrange não tão somete o requisito de ordem

econômica, mas também de ordem social e ecológica. Em seu aspecto econômico,

em última análise, significa o uso sustentável da terra agrícola, a prática do manejo

agrícola, que prescreve o solo como patrimônio nacional desta e das futuras

gerações, no requisito ecológico, entende-se de forma taxativa, no sentido de que a

proteção ambiental e os recursos ambientais constituem um objetivo indeclinável da

política agrícola, revelando-se aí o aspecto ecológico da função social da

propriedade imobiliária. No âmbito social, implica em ordenar a exploração agrícola

no sentido do bem-estar e qualidade de vida aos proprietários e de seus

trabalhadores.26

Conforme preceitua o artigo 186, incisos I a IV, da Constituição Federal da República:

‘A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,

segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

Aproveitamento racional e adequado;

Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio

ambiente; Observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

Exploração que favoreça o bem estar dos proprietários e dos trabalhadores”27

Destarte, pode-se dizer que o cumprimento da função social da propriedade efetiva

quando atende necessariamente esses requisitos de forma simultânea.

Segundo o entendimento do doutrinador Antônio Moura Borges:

A função social é a obrigação imposta pela lei ao proprietário rural de explorar

racional, adequada e tecnicamente o seu imóvel, tornando-o produtivo de bens e

riquezas necessários ao consumo de modo a proporcionar o bem-estar próprio e de

sua família, bem como, de seus empregados e da sociedade, respeitando as leis

ambientais, as leis que regulam as relações de trabalho, inclusive a legislação

agrária.28

Finalizando, a expressão função social delineada pela Lei Maior reproduzida no

Estatuto da Terra em seu artigo 2º, que a todos é assegurada a oportunidade de acesso à terra,

todavia, condicionada à função social.

2.5 Agricultura Familiar e o Código Florestal.

A lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012, Código Florestal Brasileiro - CBF em seu

artigo 3º, inciso v, define como pequena propriedade ou posse familiar aquela, como já

mencionada, que explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e sua família,

bem como, o empreendedor familiar rural, assentamentos e projetos de reforma agrária, que

atendam ao disposto no artigo 3º da lei 11.326 de 24 de julho de 2006.

26 LANFREDI, Geraldo Ferreira. Política ambiental: busca de efetividade de seus instrumentos. São Paulo:

Revista dos Tribunais,2002. pag.92 27 Constituição Federal da Republica, Art. 186 28 LANFREDI, Geraldo Ferreira. Política ambiental: busca de efetividade de seus instrumentos. São Paulo:

Revista dos Tribunais,2002. p.92

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16

A agricultura familiar foi beneficiada pelas mudanças da legislação florestal através de

novas regras criada para a proteção dos pequenos produtores rurais e de pequenas

propriedades no regime de agricultura familiar, trazendo um tratamento diferenciado com

alguns privilégios, conforme preceitua o Código Florestal Brasileiro, alterando as leis nºs

6.938 de 31 de agosto de 1981 e a lei 9.393 de 19 de dezembro de 1996 e a medida provisória

nº 2.166-67 de 24 de agosto, tratando, por exemplo, sobre a exploração da vegetação nativa de

forma sustentável, a possibilidade de manejo agroflorestal sustentável, em áreas de Reserva

Legal - RL e Área de Preservação Permanente - Apps, que trataremos em outros capítulos, e

ainda benefícios como construção de moradias em propriedades que possui até 4 módulos

fiscais - MF, consideradas atividades de baixo impacto ambiental em área de preservação

permanente e reserva legal.

Destarte, para efeitos da Lei nº 11.326/2006, supracitada define o agricultor familiar e

o empreendedor familiar como sendo aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo,

simultaneamente os requisitos, legais, onde esses beneficiados não detenha a qualquer título,

área maior de quatro módulos fiscais, devendo utilizar predominantemente mão de obra da

própria família nas atividades econômicas de seu estabelecimento ou empreendimento e que a

renda familiar também seja predominante originada de atividades econômicas vinculadas ao

próprio estabelecimento ou empreendimento e ainda que o percentual mínimo da renda

familiar seja originado das atividades econômicas, o qual será definido pelo Poder Executivo

e por fim dirija o estabelecimento ou empreendimento com sua família.

Cabe ressaltar que as alterações trazidas pelo CFB trouxeram grandes polêmicas e

divergência no ordenamento jurídico brasileiro quanto ao princípio da vedação do retrocesso

em matéria ambiental:

A Declaração de Estocolmo estabeleceu estreita relação entre o gozo dos direitos

humanos e a proteção do ambiente, consolidando-se no plano internacional a

identificação de uma dimensão ecológica no princípio da dignidade da pessoa, em

que todo ser humano tem direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Por esta razão, é crescente a Revista Direito Ambiental e sociedade, v. 5, n. 2, 2015

(p. 283-307) 285 preocupação com as queimadas, o desmatamento, a perda da

biodiversidade e a poluição dos recursos hídricos, uma vez que estão diretamente

associados ao direito à vida e à saúde humana. Nessa mesma linha, a Constituição da

República Federativa do Brasil consagrou, constitucionalmente, o direito ao meio

ambiente, ecologicamente equilibrado e função socioambiental da propriedade,

sendo o Direito de Propriedade afetado pela legislação ambiental, a exemplo das

Áreas de Preservação Permanente e Áreas de Reserva Legal, que são modalidades

de limitação administrativa impostas de forma unilateral, geral e gratuita à

propriedade ou à posse rural. Ocorre que, atualmente, vivencia-se um momento que,

supostamente, justificaria medidas menos restritivas do ponto de vista ambiental, o

que justificou a promulgação da legislação de proteção à vegetação nativa, Lei

12.651/12, conhecida como Novo Código Florestal, que vem suscitando muitas

discussões quanto aos retrocessos ambientais trazidos em seu bojo. Um dos

principais dispositivos questionados é o seu art. 15 (Lei 12.651/ 12), que ampliou a

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possibilidade de cômputo das Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas Áreas

de Reserva Legal (ARLs) quando comparado ao que era previsto na revogada Lei

4.771/65. Essa alteração legislativa poderá provocar uma sensível redução das áreas

de vegetação nativa, o que representa uma ameaça à proteção da biodiversidade e

dos recursos naturais.29

Contudo, o princípio da vedação do retrocesso, embora não esteja explicitamente

consagrado na Constituição e em leis infraconstitucionais, transformou-se em princípio geral

do direito.

2.6 Políticas Públicas que Beneficiam a Agricultura Familiar

O Governo Federal adota inúmeras Políticas Públicas voltadas para pequenos

empreendimentos produtivos que beneficiam os Agricultores Familiares e Pequenos

Produtores, visando atender suas necessidades de ordem econômica e social.

A Lei nº 11.326/2006 também estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional

da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, definindo em seu artigo 3º e

incisos os requisitos para enquadrar nessa categoria, conforme citado anteriormente.

Dentre vários programas existentes que beneficiam a agricultura familiar, podemos

destacar alguns, quais sejam: a inscrição do Cadastro Ambiental Rural – CAR; o

Licenciamento Ambiental Simplificado; Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, o

Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar-PGPAF, além do benefício que o

trabalhador rural assegurado na categoria especial possui através da contribuição à Seguridade

Social baseada na comercialização de sua produção.30

2.6.1 CADASTRO AMBIENTAL RURAL – CAR

Preconiza o artigo 29, da lei 12.651/2012, que foi criado o Cadastro Ambiental Rural –

CAR no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente – SINIMA,

registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a

finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades rurais, compondo base de

dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao

desmatamento.

29Artigo: O cômputo das áreas de preservação permanente no percentual de reserva legal do Novo Código

Florestal e o princípio da proibição de retrocesso ambiental. Victor Hugo Laurindo e Dacicleide Sousa Cunha

Gatinho: Revista Direito Ambiental e sociedade, v. 5, n. 2. 2015 (p. 283-307). Disponível na internet em

20.04.2016. 30 http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/ceazinepdf/politicas_publicas_baixa.pdf

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E ainda o artigo 59 em seu parágrafo 2ºda Lei 12.651/202, preceitua que a inscrição do

imóvel rural no CAR é condição obrigatória para adesão ao Programa de Regularização

Ambiental - PRA, devendo esta adesão ser requerida pelo interessado no prazo 1 (um) ano,

contado a partir da implantação a que se refere o caput, prorrogável por única vez, por igual

período, por ato do Chefe do Executivo.

Em se tratando de procedimento o art. 53, da lei referida acima no que se refere ao

registro do CAR na Reserva Legal, nos imóveis a que se refere o inciso V do art. 3o, o

proprietário ou possuidor apresentará os dados identificando a área proposta de Reserva

Legal, cabendo aos órgãos competentes integrantes do Sisnama, ou instituição por ele

habilitada, realizar a captação das respectivas coordenadas geográficas. Salientando que em

seu parágrafo único, assegura a gratuidade do registro da Reserva Legal nos imóveis a que se

refere o inciso V do art. 3o, ou seja, pequena propriedade ou posse rural familiar, devendo o

poder público prestar apoio técnico e jurídico.

Nesse mesmo sentido ainda a Lei 12.651/2012 vem tratando em seu artigo 55:

“Art. 55. A inscrição no CAR dos imóveis a que se refere o inciso V do art.

3o observará procedimento simplificado no qual será obrigatória apenas a

apresentação dos documentos mencionados nos incisos I e II do § 1o do art. 29 e de

croqui indicando o perímetro do imóvel, as Áreas de Preservação Permanente e os

remanescentes que formam a Reserva Legal.” 31

O Cadastro Ambiental Rural tem como finalidade integrar as informações ambientais

das propriedades rurais, com o intuito de controlar monitorar e ainda realizar planejamento

ambiental e econômico e combater ao desmatamento.

Também sobre o Cadastro Ambiental Rural, não se pode olvidar que já existia em

Mato Grosso desde o MT Legal, agora é obrigatório para todos imóveis rurais do país após a

aprovação do Código Florestal em 2012, sendo o principal instrumento de controle,

monitoramento, planejamento ambiental e econômico e de combate ao desmatamento.

2.6.2 PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS – PAA

O Programa de Aquisição de Alimentos – PAA é uma ação da fome zero, do Governo

Federal, criado para garantir o atendimento à população em situação de insegurança alimentar

e ainda promover a inclusão social no campo fortalecendo a agricultura familiar, criado em

2003 e atualizado pela Lei nº 12.512 de 14 de outubro de 2011, artigo 16 caput e parágrafo 4º,

31 Lei 12.651/2012, Art. 55

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os órgãos públicos federais, estaduais e municipais podem adquirir os alimentos diretamente

dos produtores ou indiretamente através de cooperativas e demais organizações formais.

A compra é realizada mediante o processo de dispensa de licitação, não devendo

ultrapassar 30% do valor dos mercados locais.32

2.6.3 LICENCIAMENTO AMBIENTAL SIMPLIFICADO

O Licenciamento ambiental simplificado está regulamentado por uma Resolução do

CONAMA Nº 279/27/06/2001, o qual foi criado para beneficiar licenciamentos de impacto

ambiental de pequeno Porte, conforme preceituado sua definição no artigo 2º, inciso I,

transcrito abaixo:

Art. 2º Para os fins desta Resolução são adotadas as seguintes definições: I -

Relatório Ambiental Simplificado RAS: os estudos relativos aos aspectos ambientais

relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou

empreendimento, apresentado como subsídio para a concessão da licença prévia

requerida que conterá, dentre outras, as informações relativas ao diagnóstico

ambiental da região de inserção do empreendimento, sua caracterização, a

identificação dos impactos ambientais e das medidas de controle, de mitigação e de

compensação.33

Nesse instituto podem-se verificar tanto aspectos positivos quanto negativos. Em se tratando

dos aspectos positivos nota-se uma redução da clandestinidade dos empreendimentos já

instalados, além de apresentar uma mobilidade e agilidade na substituição do EIA/RIMA, por

estudos ambientais menos complexos, por outro lado, um dos pontos negativos infere-se

justamente, no fato de seu procedimento apresentar limitações em virtude de realizar estudos

ambientais menos complexos, no entanto, para o caso em tela é dispensado esse procedimento

mais complexo, tendo em vista que para configurar como agricultura familiar, a propriedade

não ultrapasse uma área de 4 módulos fiscais. 34

2.6.4 Programa de Garantia Preços Agricultura Familiar

O Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar - PGPAF tem como

objetivo garantir às famílias agricultoras que acessam o Pronaf Custeio ou o Pronaf

Investimento, em caso de baixa de preços no mercado, um desconto no pagamento do

32 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato 2011-2014/2011/Lei/L12512.htm 33 Resolução do CONAMA n 279-27/06/2001 Art. 2º, Inciso I. 34 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 14 ed. São Paulo: Atlas, 2012.p 232

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financiamento, correspondente à diferença entre o preço de mercado e o preço de garantia do

produto, estimulando a diversificação da produção agropecuária e articulando as diversas

políticas de crédito e de comercialização agrícola.35

A lei 12.651/2012, em seu artigo 41, parágrafo 7º, ampara programas de apoio e

incentivo à conservação do meio ambiente à agricultura família, preceituando que “O

pagamento ou incentivo a serviços ambientais a que se refere o inciso I deste artigo serão

prioritariamente destinados aos agricultores familiares como definidos no inciso V do art. 3º

desta Lei.”

O PGPAF funciona todas as vezes que o preço médio mensal de mercado se apresentar

abaixo do preço de garantia da safra, onde será calculado um bônus em percentual equivalente

a essa diferença de preços. Este bônus será aplicado pelo banco no saldo devedor dos

financiamentos de custeio do Pronaf efetivados para os produtos do PGPAF, garantindo que

os agricultores familiares tenham assegurado o custo de produção para o pagamento do

financiamento.36

Enquadram-se como beneficiários desse programa os agricultores familiares que

acessarem o crédito de custeio do Pronaf, a partir da safra 2008/2009, que a produção esteja

contemplada na lista de cultura coberta. O limite fixado para o bônus do PGPAF para cada

agricultor familiar é de até R$ 3.500,00, no período de 1° de janeiro a 31 de dezembro de

2009.37

2.6.5 REDE BRASIL RURAL

Dentre diversos programas de Políticas Públicas, foi criado pelo Ministério de

Desenvolvimento Agrário o Programa Rede Brasil Rural que surgiu em razão da consolidação

da importância da Agricultura Familiar para a segurança alimentar dos brasileiros, e tem

como finalidade organizar a cadeia de produtos da agricultura familiar, desde o processo de

produção até o mercado consumidor.

A Rede Brasil Rural tem uma funcionalidade bem simples, onde o agricultor rural

vende seus produtos diretamente pela internet para o consumidor e para a merenda escolar e,

35 http://www.mda.gov.br/sitemda/secretaria/saf-pgpaf/sobre-o-programa#sthash.P7sHaIHb.dpuf. Acessado em

10-11-2015 36 http://www.mda.gov.br/sitemda/secretaria/saf-pgpaf/sobre-o-programa#sthash.P7sHaIHb.dpuf). Acessado em

10-11-2015 37 (http://www.mda.gov.br/sitemda/secretaria/saf-pgpaf/sobre-o-programa#sthash.P7sHaIHb.dpuf). Acessado em

10-11-2015

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também compra insumos e itens para beneficiar sua produção e ainda de contratar transporte

de carga. 38

O Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA por meio da internet, objetiva

aproximar os agricultores familiares dos fornecedores de insumos, da logística de transportes

e dos consumidores públicos e privados, criando um mecanismo para ajudar na redução do

preço dos produtos para o consumidor final, bem como, no aumento da renda dos agricultores

por meio de ganhos de eficiência em cada etapa da cadeia produtiva, preservando a identidade

da agricultura familiar. Entre as iniciativas do MDA já citadas podemos destacar também

Assistência Técnica e Extensão Rural, Fomento à Estrutura e Consolidação de Redes Sócias

produtivas da Agricultura Familiar no âmbito dos Territórios Rurais e Disponibilização de

Insumos para a agricultura familiar, entre outras. Cartilha do Desenvolvimento Agrário, Rede

Brasil Rural, Soluções para alimentar o Brasil que cresce – www.mda.br – acessado em 01-

10-2015.

2.6.6 RESOLUÇÃO 3.545/ 29 -02- 2008.

A resolução 3.545 de 29 de fevereiro de 2008, do Banco Central do Brasil, alterou o

Manual de Crédito Rural - MCR 2-1 para estabelecer exigência de documentação

comprobatória de regularidade ambiental e outras condicionantes, para fins de financiamento

agropecuário no Bioma Amazônia, conforme preceitua em seu artigo 16 onde os agricultores

familiares enquadrados no Grupo "B" do Pronaf ficam dispensados das exigências previstas

no MCR 2-1-14 e MCR 2-1-12-"a" e "b", transcrito a seguir:

MCR 2-1-14 - Quando se tratar de beneficiários enquadrados no Programa Nacional

de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) ou de produtores rurais que

disponham, a qualquer título, de área não superior a 4 (quatro) módulos fiscais, a

documentação referida nos incisos II/IV da alínea "a" do item 12 pode ser

substituída por declaração individual do interessado, atestando a existência ou a

recomposição ou regeneração de área de preservação permanente e de reserva legal,

conforme previsto no Código Florestal, e a inexistência de embargos vigentes de

uso econômico de áreas desmatadas ilegalmente no imóvel. (Res 3.545 art 1º II; Res

3.599 art 1º) MCR 2-1-12 - Obrigatoriamente a partir de 1º/7/2008, a concessão de

crédito rural ao amparo de recursos de qualquer fonte para atividades agropecuárias

nos municípios que integram o Bioma Amazônia, ressalvado o contido nos itens 14

a 16, ficará condicionada à: (Res 3.545 art 1º II)39

38 http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/ceazinepdf/politicas_publicas_baixa.pdf - pag 35

39 Resolução 3.545/2008

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E ainda no MCR 2-1 em seu artigo 16 trata de benefícios trazidos pelo Pronaf aos

agricultores familiares e ainda aqueles habitantes e usuários em situação regular em Unidades

de Conservação de Uso Sustentável, conforme abaixo descrito:

MCR 2-1-16 - Ficam dispensados das exigências previstas nas alíneas "a" e "b" do

item 12 e no item 14 os seguintes beneficiários do Pronaf: (Res 3.545 art 1º II; Res

3.599 art 1º; Res 3.618 art 1º) a) os agricultores familiares enquadrados no Grupo

"B"; (Res 3.599 art 1º) e) habitantes ou usuários em situação regular de Unidades de

Conservação de Uso Sustentável (Reservas de Desenvolvimento Sustentável,

Reservas Extrativistas e Florestas Nacionais), conforme declaração do órgão

competente; (Res 3.599 art 1º)40

2.6.7 BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO PARA O AGRICULTOR

FAMILIAR.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 195 trata da

seguridade social a qual é financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta, mediante

recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, e ainda das contribuições sociais. Em relação ao tema tratado nesse trabalho,

determina no parágrafo 8º do referido artigo que o produtor, o parceiro, o meeiro e o

arrendatário rural, o pescador artesanal e seus respectivos cônjuges que exercerem suas

atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirá para a

seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização

da produção.

A Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991, dispõe sobre os planos de benefícios da

Previdência Social trazendo em se artigo 11º a definição dos assegurados obrigatórios o

contribuinte individual, onde o inciso v, menciona a pessoa física, como sendo proprietária ou

não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou

temporário, em área superior a 4 módulos fiscais ou quando em área igual ou inferior a 4

módulos fiscais, nesse caso, a lei está se referindo ao regime de agricultura familiar.

Em conformidade com o inciso VII, artigo 11 da mesma lei supracitada estabelece

como segurado especial à pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano

ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que

com o auxílio eventual de terceiros, na condição de produtor, seja proprietário, usufrutuário,

possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatários rurais que explore

atividade agropecuária em área de até 4 módulos fiscais. Ressalta-se que o cônjuge ou

40 Resolução 3.545/2008

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companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado do

assegurado de que tratam as alíneas “a” e “b”, desse inciso, que comprovar que trabalham em

grupo familiar.

Para a Lei nº 8213/1991, entende-se como regime de economia familiar em seu Art.

11, parágrafo primeiro:

A atividade em que o trabalhador dos membros da família é indispensável a própria

subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido

em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregos

permanentes.41

Verifica-se desta forma, que o trabalhador rural assegurado na categoria especial de

que trata a lei 8.213/1991 em seu artigo 11, possui um tratamento diferenciado pela CR/88 no

artigo 195, § 8º anteriormente citado, que determina uma regra diferenciada no custeio, a qual

seja a contribuição à seguridade Social ser baseada na comercialização de sua produção.

Após definições abordadas nesse capítulo sobre a agricultura familiar e os privilégios

em que a lei lhes confere, passaremos a tratar no próximo capítulo sobre a possibilidade dos

agricultores familiares cultivarem e explorarem em áreas de Reserva Legal e Áreas de

Preservação Permanente, discorrendo as benesses em que a lei conferiu a esses institutos.

3. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

Sob a égide da Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965, a exploração consolidada em

área de App é uma questão delicada de resolução diante dos casos concretos. O que fazer

diante dos fatos? Permanecer com a manutenção ou não de explorações já consolidadas

nessas áreas de forma irregular? O que fazer, especialmente, nos casos em que houve boa-fé e

necessidade.

Apesar de essas ocupações clandestinas atentarem contra os direitos fundamentais que

ampara o meio ambiente ecologicamente equilibrado, mesmo sendo nítidas a conivência e

tolerância social e a aceitação tácita do Poder Público que nada fez a respeito, porém, não há

como negar que outros direitos fundamentais foram e podem ser atingidos, como o da

moradia, além do Princípio da Segurança Jurídica.

Segundo a opinião do autor Frederico Augusto, sobre a polêmica em voga, que:

41 Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991, artigo 11

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Obviamente deve-se velar pela não ocorrência de novas intervenções ilícitas em

APP, mas o que se deve fazer com as já existentes há anos ou mesmo décadas?

Trata-se de controvérsia que deve ser resolvida casuisticamente, com muito bom

senso.42

Diante de um assunto polêmico e controvertido, opiniões como do autor, bem como de

estudiosos, ambientalista, juristas, da sociedade e legisladores, ou seja, uma questão de ordem

pública que abarca além de uma nação, pois se trata dos efeitos ocasionados pelos impactos

ambientais que interferem além das fronteias. Após anos de estudos, debates e discursões

entrou em vigor em 25 de maio de 2012 com nova redação do Código Florestal Brasileiro, o

qual traz um tratamento diferenciado para a agricultura familiar em áreas de Apps e RL.

Discorrendo sobre o tema o Código Florestal de 2012, em seu artigo 3º, inciso II, vem

definindo a área de Preservação Permanente - APP:

Como uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função

ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a

biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o

bem-estar das populações humanas.

As áreas de APPs são reservadas tanto em zonas rurais quanto urbanas, porém nesse

trabalho, será abordado apenas no que se refere às APPS na zona rural.

Conforme o artigo 4º do Código Florestal de 2012, com redação dada pela lei nº

12.727/2012, pode-se considerar como Apps as seguintes áreas:

as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,

excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura

mínima de:

30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de

largura;

50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50

(cinquenta) metros de largura;

100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a

200 (duzentos) metros de largura;

200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos)

a 600 (seiscentos) metros de largura;

500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior

a 600 (seiscentos) metros;

as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura

mínima de:

100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20

(vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta)

metros;

30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de

barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na

licença ambiental do empreendimento;

as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que

seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros

42 AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:Métódo, 2011. Direito

ambiental esquematizado. 147/148, 2º ed.

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as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a

100% (cem por cento) na linha de maior declive;

as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

os manguezais, em toda a sua extensão;

as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em

faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100

(cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a

partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima

da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano

horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos

relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;

as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer

que seja a vegetação;

em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima

de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e

encharcado.43

Cabe ressaltar que as APPs podem ser consideradas no percentual necessário para

formar em RL numa propriedade, desde que observado os critérios. Primeiramente, este

benefício não pode ser usado para novas derrubadas de vegetação nativa, segundo critério a

área de APP reservada para a formação da RL deve estar preservada ou em processo de

recuperação e por último o produtor deve ter solicitado a inscrição do imóvel no Cadastro

Ambiental Rural - CAR.

3.1 RESERVA FLORESTAL LEGAL

A Reserva Florestal Legal é um elemento importante da propriedade florestal, que é

constituído por uma área, cujo percentual da propriedade total definido em lei, variando

conforme as peculiares condições ecológicas, em cada uma das regiões geopolíticas do país e

que não pode ser utilizada economicamente de forma tradicional, isto é, destinar-se à

produção de madeira ou de comodity que dependa da derrubada das árvores em pé. A nova

redação do artigo 16 da Constituição Federal admite a prática do manejo florestal para a

Reserva Legal.

Área destinada a RFL depende da região geográfica do País e do bioma nos quais

esteja inserida a propriedade florestal em questão. Ela não se confunde com Área de

Preservação Permanente que possuem outra destinação legal e ecológica

A reserva Florestal Legal deverá ser averbada no Registro de Imóveis para

conhecimento de terceiros; a sua não averbação, no entanto, não exonera o proprietário da

43 Lei 12.651-25-05-2012- Código Brasileiro Florestal

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obrigação de respeita-la, pois ela não se constitui pela averbação, que é um simples registro

que declara a existência da Reserva Legal e que não a constitui, de forma alguma.

Atualmente, a matéria está regida pela Medida Provisória nº 1.965, em sua alínea III

do § 2º, que passou a estabelecer o seguinte conceito normativo:

“Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,

excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos

naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da

biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativa”.44

A reserva legal caracteriza-se por ser necessária ao uso sustentável dos recursos

naturais, os quais podem ser descritos da seguinte maneira:

a) Aquele que assegura a reprodução continuada dos atributos ecológicos da área

explorada, tanto em seus aspectos de flora como de fauna. É sustentável o uso que não

subtraia das gerações futuras o desfrute da flora e da fauna, em níveis compatíveis com a

utilização presente;

b) Recursos naturais são elementos da flora e da fauna utilizáveis

economicamente como fatores essenciais para o ciclo produtivo de riquezas e sem os quais a

atividade econômica não pode ser desenvolvida.

3.2 RESERVA LEGAL E PEQUENA PROPRIEDADE

Em se tratando de reserva legal nas pequenas propriedades rurais foi necessário que

houvesse uma mudança na redação da Legislação, a qual permitiu o cumprimento da

obrigação da manutenção ou compensação dessas áreas.

O conceito de Reserva Legal, segundo o doutrinador Paulo Bessa Antunes, é de que o

artigo 16 em seu parágrafo 3º da Constituição Federal foi intensamente descaracterizado pela

redação que lhe foi dada pela Medida Provisória nº 1.956/2000:

(...) A norma legal admitiu que, para o cumprimento da obrigação da manutenção ou

compensação da área de reserva legal da pequena propriedade ou posse, poderão ser

computados os plantios de árvores frutíferas ornamentais ou industriais, compostas

por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou consorciadas com espécies

nativas.45

A medida adotada pela norma, na opinião do autor Paulo Bessa Antunes é a seguinte:

(...) somente poderia ter sido admitida após a elaboração de um censo agrícola que

fosse capaz de definir a quantidade de pequenas propriedades rurais, em cada uma

44 Medida Provisória nº 1965, em sua alínea III do § 2º 45 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 14 ed. São Paulo:Atlas, 2012.p 633

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das regiões do país, sob pena de que a Reserva Legal, em áreas nas quais predomina

a pequena propriedade rural, não se transforme em letra morta. É extremamente de

qualquer dúvida que a incorporação de espécies exóticas e ornamentais ou

industriais na Reserva Legal é negação conceitual da própria razão de ser da Reserva

Legal. 46

Conforme conceitua o Código Florestal Brasileiro de 1965, sua definição legal está

descrita no artigo 1º, parágrafo 2º, inciso III que:

Reserva Legal é uma área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,

excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos

naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da

biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativa.47

Ainda sob o entendimento do autor Paulo de Bessa Antunes, pode se dizer que:

A finalidade institucional parte do intuito da manutenção no interior da área agrícola

de parcela prístina capaz de assegurar a reprodução das condições ecológicas

originárias que foram suprimidas para ceder vez à atividade agrícola ou de

silvicultura. Ressalto ainda que o legislador não prever outra função à Reserva

Legal, bem como, não determinou que ela fosse observada em outro tipo de

atividade que não a rural ou agrícola, ou seja, não é a simples existência de uma

floresta que dá origem à imposição da obrigação “propter rem” de manutenção da

RLF, até mesmo porque não há que se falar em reserva florestal, se a área é toda

florestada, a reserva somente se justifica quando parcela significativa do imóvel não

é florestada ou será desflorestada para a atividade rural, portanto, a conclusão lógica

se impõe por si própria.48

Em se tratando de conceituar uma propriedade rural para se falar em reserva legal ou

reserva florestal, o autor relata a necessidade de observar que a propriedade rural não é um

conceito arbitrário ou aleatório a ser utilizado pelo administrador público quando da

identificação de área na qual é exigível a Reserva Legal. Para que a exigência seja feita com

base legal, se faz necessário que o conceito normativo de propriedade agrícola seja

preenchido inteiramente.

O conceito normativo de propriedade rural, por força do veto presidencial aos artigos

43 e 44 da Lei nº 8.171 de 17 de janeiro de 1991, deve ser buscado no Estatuto da Terra,

instituído pela Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964, que em seu artigo 4º, I, define imóvel

rural como “prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se

destina à exploração extrativista agrícola, pecuária ou agroindustrial”. Cabe ressaltar que a

mera localização de um imóvel em área rural não o transforma em rural automaticamente, a

natureza jurídica de imóvel rural exige que ele tenha como destinação a exploração extrativa

agrícola, pecuária ou agroindustrial.

46 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 14 ed. São Paulo:Atlas, 2012.p 633. 47 Código Florestal Brasileiro de 1965, sua definição legal está descrita no artigo 1º, parágrafo 2º, inciso III 48 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 14 ed. São Paulo:Atlas, 2012.p 635.

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O regime jurídico de proteção à reserva legal preceitua em seu artigo 17, da Lei nº

12.651/2012, o seguinte:

“art. 17. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa

pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa

físico ou jurídico, de direito público ou privado”.49

Após conceituar Reserva Legal, deve-se apontar quem se enquadra na condição de

agricultor família. Preleciona o artigo 3º, inciso V, do Código Florestal Brasileiro:

A pequena propriedade ou posse rural familiar explorada mediante o trabalho

pessoal do agricultor familiar e o empregador familiar rural, inclusive os

assentamentos de reforma agrária e que atenda ao disposto no artigo 3o da Lei

no 11.326, de 24 de julho de 2006. Na área máxima do imóvel rural de agricultura

familiar até 4MF. Ressaltando que o módulo fiscal depende de cada um dos

municípios brasileiros, variando de 5ha até 110ha.50

Com base no Código Florestal de 2012, em seu artigo 3º inciso III, conceitua a

Reserva Legal como área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada

nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos

recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos

ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de

fauna silvestre e da flora nativa.

3.3 Supressão em Área de Preservação Permanente e Reserva Legal

A supressão de vegetação consiste no ato de retirar uma porção de vegetação de uma

determinada área urbana ou rural, com o intuito de utilizar a área anteriormente ocupada pela

vegetação para fins alternativos. Ademais nos casos de vegetação nativa, por exemplo, Mata

Atlântica, manguezais, entre outras, sua utilização não poderá ser realizada de forma

indiscriminada, necessitando de uma autorização, independentemente, de sua fase de

desenvolvimento.

O artigo 3º do Código Florestal Brasileiro em seu parágrafo 1º reza que:

A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida

com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à

execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse

social.51

O autor elucida que o problema se coloca na medida em que o inciso III do § 1º do

artigo 225 da Lei Fundamental, cujo teor é o seguinte:

49 Lei nº 12.651/2012 50 Lei nº 12.651/2012 51 Código Florestal Brasileiro

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29

Art. 225 [... ] § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder

Público: [ ... ] III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e

seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidos somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.52

No antigo Código Florestal observa que no § 1º, artigo 3º da Lei nº 4.771/65 admitia

que o Poder Executivo Federal autorizasse a supressão total ou parcial de florestas de

preservação permanente desde que isso fosse necessário para a execução e obras, plano,

atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social. Ora, os termos da norma

constitucional são bastante claros.

Há uma dupla condição para que se promovam alterações ou supressões de espaços

territoriais especialmente protegidos que são:

a) Existência de prévia lei autorizativa;

b) Vedação de qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos

que justifiquem sua proteção.

A lei autorizativa para uma eventual alteração ou supressão das florestas de

preservação, estabelecidas pelo artigo 3º, é o próprio Código Florestal. E, portanto,

não há necessidade de uma Lei específica que autorize a supressão de uma floresta

de preservação permanente por ato do Poder Executivo. Ocorre que a segunda

condição constitucional pra que se possa alterar ou suprimir um espaço territorial

especialmente protegido é que tal alteração ou supressão não implique qualquer

utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifique sua proteção. 53

Tal dispositivo só pode ser compreendido em harmonia com a exigência constitucional

de estudos prévios de impacto ambiental para obras ou atividades potencialmente causadoras

de significativa degradação do meio ambiente. E, portanto, necessário que nas hipóteses em

que as modificações a serem efetuadas estejam compreendidas na Resolução nº 1/86 do

CONAMA, seja realizado o Estudo de Impacto Ambiental antes da autorização do Poder

Executivo, ou, no mínimo, de uma Avaliação de Impacto Ambiental – AIA.

Nas hipóteses contrárias, deverá haver uma declaração expressa do Poder Executivo

de que, no caso, não há exigibilidade do EIA. A ação do Executivo nos presentes

casos é plenamente vinculada. Diferente é a situação das áreas de preservação

permanente estabelecidas pelo artigo 2º da Constituição Federal, que somente

poderão ser alteradas por Lei formal, em razão da hierarquia legislativa.54

Em se tratando de Agricultura Familiar, o código florestal, em seu artigo 52,

estabelece que a intervenção e a supressão de vegetação em áreas de preservação permanente

e de reserva legal para as atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental, previstas no

52 Código Florestal Brasileiro 53 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental, 14 ed. São Paulo:Atlas, 2012.p.621 54 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental, 14 ed. São Paulo:Atlas, 2012.p.621

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inciso X do art. 3o, excetuadas as alíneas b e g, quando desenvolvidas nos imóveis a que se

refere ao inciso V do art. 3o , “pequena propriedade ou posse rural familiar” dependerão de

simples declaração ao órgão ambiental competente, desde que esteja o imóvel devidamente

inscrito no CAR, conforme citado no capítulo anterior.

E ainda o artigo 54 da lei 12.651/2012, regulamenta o cumprimento da manutenção da

área de Reserva Legal nas pequenas propriedades ou de posse rural familiar, senão vejamos:

Art. 54. Para cumprimento da manutenção da área de reserva legal nos imóveis a

que se refere o inciso V do art. 3o, poderão ser computados os plantios de árvores

frutíferas, ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas

em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas da região em sistemas

agroflorestais.55

Cabendo ressaltar o parágrafo único do artigo supracitado, o qual vem regulamentando

que o poder público estadual é responsável em prestar apoio técnico para a recomposição da

vegetação.

3.4 O Manejo Florestal Sustentável em Reserva Legal

O Manejo florestal sustentável -MFS é um sistema que combina produção com a

preservação e conservação de muitos produtos madeireiros, medicinais, serviços ambientais e

funções ecológicas da floresta, sem perder de vista as complexas interações e

interdependências com outros usos do solo e parâmetros sócio- econômico. Portanto, nesse

caso, admite-se a exploração econômica em área de reserva legal, a qual deverá ser

previamente aprovada pelo órgão ambiental competente do SISNAMA, para tal feito,

conforme preceitua o artigo 20 do CFB, é necessário adotar práticas de exploração seletivas

nas modalidades de manejo sustentável sem propósito comercial para consumo na

propriedade e manejo sustentável para exploração florestal com propósito comercial.

Senão vejamos:

Art. 20. No manejo sustentável da vegetação florestal da Reserva Legal, serão

adotadas práticas de exploração seletiva nas modalidades de manejo sustentável sem

propósito comercial para consumo na propriedade e manejo sustentável para

exploração florestal com propósito comercial.56

Ressaltando ainda, que além da autorização do referido órgão deverá atender diretrizes

e orientações, como, não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da

55Lei 12.651/2012 56http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/reserva-legal_o-que-deve-ser-feito-nas-areas-rurais-consolidadas-em-

areas-de-reserva-legal.html. Extraído em 15/11/2015.

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vegetação nativa da área e, ainda assegura a manutenção da diversidade das espécies e por

último conduz o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a

regeneração de espécies nativas.

O ordenamento jurídico brasileiro vem regulamentando a possibilidade de manejo

sustentável em área de reserva legal em seu artigo 17, § 1º da lei 12.561/2012, transcrito

abaixo:

“§ 1o Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo

sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama, de acordo

com as modalidades previstas no art. 20.”57

Ainda o referido artigo em seu parágrafo segundo vem tratando sobre manejo de Reserva

Legal no que se refere a pequena propriedade ou posse rural, senão vejamos:

“ art. 17, § 2o CFB Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade

ou posse rural familiar, os órgãos integrantes do Sisnama deverão estabelecer

procedimentos simplificados de elaboração, análise e aprovação de tais planos de

manejo.”58

Trata também o Código Florestal Brasileiro em seu artigo 3º, inciso VIII, o seguinte:

“Manejo sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção de

benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de

sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou

alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de múltiplos

produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e serviços”59

Em decorrência da nova legislação florestal, aprovada em 2012, foram definidos

novos requisitos legais que vieram facilitar a regularização ambiental das propriedades rurais

através do Cadastro Ambiental Rural - CAR e do Programa de Regularização Ambiental

Rural PRA, entre outros instrumentos criados pela legislação.

Assim, é importante que os proprietários rurais procurem adotar o CAR e aderir a uma

das opções de adequação ambiental para poderem se beneficiar das opções das anistias

concedidas pela nova lei. Esses benefícios são extensos e importantes, especialmente para a

agricultura familiar, e envolvem a possibilidade de consolidação de áreas desmatadas até

julho de 2008, a regularização da reserva legal, a possibilidade de recuperação de áreas

degradadas usando frutíferas e sistemas agroflorestais (SAF), a possibilidade de emissão de

Cotas de Reserva Ambiental CRA em sua área de vegetação remanescente, entre outras.

57 Código Florestal Brasileiro 58 Código Florestal Brasileiro 59 Código Florestal Brasileiro

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No que se refere à supressão de novas áreas de vegetação nativa, o artigo 4º, inciso III,

§ 5º, da Lei 12.651/2012, diz o seguinte:

“É admitido, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, de que trata o

inciso V do art. 3° desta Lei, o plantio de culturas temporárias e sazonais de vazante

de ciclo curto, na faixa de terra que fica exposta, no período de vazante dos rios ou

lagos, desde que não implique a supressão de novas áreas de vegetação nativa, seja

conservada a qualidade da água e do solo e seja protegida a fauna silvestre”.60

Nesse sentido, os municípios têm um papel importante de apoio, principalmente para

que os pequenos proprietários façam a adesão ao CAR e possam aproveitar esses benefícios.

3.5 E POSSÍVEL AGRICULTURA FAMILIAR EM ÁREA DE RL E

APPS?

Uma questão que durante décadas vem sendo arrastada com discursões acirradas sobre

a manutenção ou não da exploração consolida irregulares, situadas em áreas protegidas por

Lei, como já indagada nesse capítulo.

Por certo, trata-se de uma questão de ordem social, que mesmo contrapondo as leis de

proteção ambiental, como encontrar “um meio termo” entre a utilização dessas áreas, sem

ferir os princípios, como da moradia e o princípio da segurança jurídica e a necessidade de

preservação da biodiversidade e conservação dos recursos naturais.

Em detrimento da complexidade e atenção que dispensa o tema o legislador trouxe um

tratamento diferenciado para a agricultura familiar, no novo Código Florestal Brasileiro.

Trazendo uma série de privilégios ao agricultor Familiar, o qual foi contemplado com

algumas exigências simplificadas e alguns benefícios ampliados.

Nesse sentido, em se tratando da supressão de vegetação em Áreas de Preservação

Permanente e Reserva Legal, já abordado anteriormente, a Lei traz benefícios àquelas

atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental, onde dependeram apenas de declaração

do órgão ambiental. Sendo beneficiadas também nas construções de moradias em propriedade

até 4MF (módulo fiscal) consideradas atividades de baixo impacto ambiental em áreas de

APPs ou RL.

O Governo Federal através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento –

MAPA, lançou uma cartilha de cunho informativo, onde vem esclarecendo uma série de

benefícios e procedimentos no que se refere a agricultura familiar nessas áreas de conservação

e preservação elencados abaixo:

60 Código Florestal Brasileiro

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Para o registro da Reserva Legal no cadastro Ambiental Rural, (CAR), já

mencionado no capítulo anterior, o produtor familiar apenas apresentará os dados,

identificando a área proposta de RL. Cabendo ao órgão do Sisnama realizar a

captação das respetivas coordenadas geográficas.

Além desses benefícios os agricultores familiares também foram contemplados no

cumprimento da manutenção da área de RL, podendo ser computados os plantios de

árvores frutíferas, ornamentais, industriais ou exóticas, cultivadas em sistema

intercalado ou em consórcio com espécies nativas da região, em sistemas

agroflorestais. Sendo desobrigados da reposição florestal se a matéria-prima florestal

for utilizada para consumo próprio.

Em relação aos imóveis de agricultura familiar até 4MF o manejo florestal

madeireiro sustentável da Reserva Legal com propósito comercial dependerá de

autorização simplificada do órgão ambiental competente, da qual deve constar, os

dados do agricultor, os dados do imóvel rural, incluindo cópia da matrícula do

imóvel no Registro Geral do Cartório de Registros de Imóveis ou comprovante de

posse, bem como, o esboço de desenho do imóvel com indicação da área a ser objeto

do manejo seletivo e a estimativa do volume de produtos florestais a serem obtidos

com o manejo seletivo indicando sua destinação e cronograma de execução prevista.

E mediante deliberação dos Conselhos Estaduais do Meio Ambiente, pode ser

autorizada aos agricultores familiar a consolidação de atividades de agricultura,

silvicultura e pastagem nas modalidades de Áreas de Preservação Permanente em

suas encostas com declividade superior a 45º, nos manguezais, topos de montanhas

ou de morros com altura superior a 100m, nas áreas em altitudes superiores a

1.800m, nos imóveis dedicados à agricultura familiar até 4MF que possuam Reserva

Legal em percentuais inferiores aos determinados pela nova lei para efeitos de

Reserva Legal.61

Conforme já mencionado, o artigo 20 do Código Florestal vem dizendo que o manejo

sustentável da vegetação florestal na reserva legal será adotada práticas de exploração seletiva

nas modalidades de manejo sustentável sem propósito comercial para consumo na

propriedade e manejo sustentável para exploração florestal com propósito comercial.

Também trata em seu art. 21, que é livre a coleta de produtos florestais não

madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes, devendo-se observar os períodos de

coleta e volumes fixados em regulamentos específicos, quando houver, a época de maturação

dos frutos e sementes e as técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos

e da espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos,

bambus e raízes.

3.5.1 Manejo Florestal Sustentável sem Propósito Comercial

Com o tratamento de modalidade seletiva a Lei 12.651/2012, em seu art. 23 trata o

manejo sustentável como exploração eventual não obtendo nenhum proposito comercial, onde

a exploração é para sustentação e consumo no próprio imóvel, havendo assim uma

independência de autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser declarados

61 CARTILHA. Novo Código Florestal na Fazenda Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

– MAPA – Governo Federal

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previamente ao órgão ambiental a motivação da exploração e o volume explorado limitado à

exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos.

O artigo 56 do Código Florestal Brasileiro em seu § 3o entende que o manejo eventual,

sem propósito comercial, o suprimento, para uso no próprio imóvel, de lenha ou madeira

serrada destinada a benfeitorias e uso energético nas propriedades e posses rurais, em

quantidade não superior ao estipulado no § 1o deste artigo.

Cabe ressaltar que as pequenas propriedades ou posse rural familiar que se refere o

inciso V do art. 3o do CF, ou seja, aquelas que exploradas mediante o trabalho pessoal do

agricultor familiar ou empreendedor rural, estes estão desobrigados da reposição florestal se a

matéria-prima florestal for utilizada para consumo próprio, conforme preceitua o § 5º do 56

do Código Florestal Brasileiro.

3.5.2 Manejo Florestal Sustentável com Propósito Comercial

O artigo 22 do Código Brasileiro Florestal estabelece que o manejo florestal

sustentável da vegetação em área de Reserva Legal com propósito comercial depende de

autorização do órgão competente e deverá atender diretriz e orientações de não

descaracterizar a cobertura vegetal e ainda não prejudicar a conservação da vegetação nativa

da área, de assegurar a manutenção da diversidade das espécies e ainda conduzir o manejo de

espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas.

Em relação ao manejo florestal madeireiro sustentável direcionado aos pequenos

proprietários e agricultores familiar a que se refere ao inciso V do artigo 3º, nas áreas de

reserva legal com o propósito comercial direto e indireto, depende de autorização simplificada

do órgão ambiental competente.

Conforme preceitua os incisos do artigo 57 da Lei nº 12.651/2012, regula que o

agricultor familiar ou empreendedor familiar que desejarem essa autorização simplificada

deverá apresentar o órgão competente os seguintes documentos:

I- Dados do proprietário ou possuidor rural;

II- Dados da propriedade ou posse rural, incluindo cópia da matrícula do imóvel

no Registro Geral do Cartório de Registro de Imóveis ou comprovante de

posse;

III- Croqui da área do imóvel com indicação da área a ser objeto do manejo

seletivo, estimativa do volume de produtos e subprodutos florestais a serem

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obtidos com o manejo seletivo, indicação da sua destinação e cronograma de

execução previsto.

3.6 Abordagem na Prática sobre o Manejo da Agricultura Familiar em RL

e APPS

Segundo relato técnico na área de Agronomia por profissional da Empresa

Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural - EMPAER na cidade de Várzea

Grande-MT, informou que ainda é possível agricultura familiar em área de reserva legal e

APPS, tendo em vista, o atraso do recadastramento do CAR realizado no Estado de Mato

Grosso pelo órgão da Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA, e que até o presente

momento foi realizado aproximadamente 40% a 50% do total das áreas a serem recadastrada.

As pequenas propriedades que utilizam áreas de RL e APPS terão que recompor as áreas

degradadas no momento em que for realizado recadastramento pelo CAR. A EMPAER não

possui dados oficiais das áreas de APPS e RL que foram desmatadas no Estado, pois o órgão

responsável pelo controle de recadastramento é a SEMA.

Existe um trabalho de reflorestamento em área de APPS na cidade de Lucas do Rio

Verde-MT região médio norte do Estado, em propriedades antigas e também em

assentamentos que agora estão recuperando as áreas degradadas. Em todo o Estado de Mato

Grosso no decorrer de décadas vem sofrendo prejuízos ambientais pela negligência e jogo de

interesse por parte do Poder Público, bem como, pelo descaso do próprio homem (grandes e

pequenos proprietários de terra), os quais utilizam os recursos naturais sem a preocupação de

reposição ou sua utilização de formas sustentável, muitos por falta de conhecimento e ou

recursos financeiros e ainda existem aqueles que simplesmente por apenas visar lucros, pois é

sabido que Mato Grosso é um dos maiores exportadores de grãos no Brasil.

Em contrapartida uma região muito afetada pelo desmatamento, está situada na área

que compreende Cuiabá a Santo Antônio do Leverger, onde o auge de desmatamento ocorreu

há quatro décadas com o plantio de cana de açúcar. E somente na última década vêm

realizando, embora, de forma precária seu reflorestamento. Além dessa região afetada, outro

caso alarmante e vergonhoso, é saber que em meio caos do desiquilíbrio ecológico, o próprio

Poder Público, na esfera municipal está desmatando sem as devidas observações legais

trazidas pelo Código Florestal, no intuito de urbanização.

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Dentre outras áreas no município de Cuiabá afetadas pelo desmatamento pode

descrever a região do Carrapicho, Ponte Sérgio Mota, Beira Rio e a região onde está situado o

Hotel Sesi Pantanal entre outras áreas afetadas como regiões altas desmatadas para pastagem

sem a preocupação de preservar nascentes, entre outras inobservâncias atrozes que o homem

vem causando ao meio ambiente. Ressaltando que todo o Estado de Mato Grosso, de leste a

oeste e norte a sul, existem desmatamento desordenado.

Contudo, ao meio desse lamentável caos ecológico, ocasionado por um intenso jogo de

interesse político, ainda existem políticas públicas que buscam desenvolver projetos como

forma de amenizar os estragos ocasionados à natureza, buscando viabilizar, na medida do

possível, um convívio harmônico entre homem e natureza.

Dentre tantos projetos existentes, foi realizado um convênio entre a EMPAER e o

Ministério Público Estadual, onde o MP repassa verbas advindas do IBAMA para a realização

de pequenos projetos de reflorestamento. Nesse projeto a EMPAER fica responsável em

fornecem mudas de plantas para reflorestamento de Parques.

Outro trabalho desenvolvido pela EMPAER está relacionado na orientação dos

proprietários de área rural de como proceder a reparos nas áreas desmatadas em suas

propriedades. Além disso, os próprios profissionais, em certos casos, executam esse trabalho

de recuperação.

No entanto, são pequenas obras de recuperação tendo em vista que os recursos

financeiros e a mão de obra qualificada ser insuficientes em meio a tanta devassidão de áreas

afetadas.

Em razão da inobservância pela busca de um modelo de sustentabilidade, ou seja,

utilizações dos recursos naturais de forma equilibrada estão ocorrendo impactos à natureza

como assoreamento nos rios, deslizamento em encostas, desaparecimento ou mudança de

nascentes, diminuição das chuvas, infertilidade do solo, extinção de espécies da fauna e da

flora, etc.

Existe por parte da EMPAER estudo de manejo do impacto ambiental, de forma

precária, por falta de recursos financeiros, de instrumentos e aparelhos técnicos para o

desenvolvimento do trabalho e mão de obra especializada, existem promessas diz o técnico, e

que houve uma abrupta redução de servidores, onde um quadro de 2000 (dois mil) servidores

passou para 400 (quatrocentos) profissionais que atuam na área, entre agrimensores,

agrônomos, zootecnistas, nutricionistas e veterinários, entre outros.

Em razão das dificuldades encontradas o trabalho é feito em determinadas regiões,

sendo realizado um estudo através de uma análise. Desta forma, são escolhidas as áreas mais

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afetadas pelo critério das quais oferecem um maior risco de desiquilíbrio ambiental, por

exemplo, escolhem uma comunidade desmatada e realiza o manejo numa área de 5 a 10

hectares.

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CONCLUSÃO

Diante do tema explanado conclui-se que há possibilidade de utilização do solo para

fins de comercialização e sustento próprio em áreas preservação e conservação ambiental, em

áreas de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente em pequena escala realizada por

grupo familiar e pequenos produtores rurais.

O ser humano desde os primórdios busca meios para sua subsistência que além da caça

da pesca e extração de frutos selvagens como citado no primeiro capitulo, deixou o

nomadismo para o sedentarismo em decorrência da descoberta da agricultura primitiva. Que

por sua vez, com surgimento de novas técnicas, na agricultura iniciada em pequenos grupos

familiares, a produção passou a ser maior que o consumo. Diante do acúmulo de

armazenamento de grãos surgiu, então, a necessidade de sua comercialização entre outros

grupos e povos.

E com a evolução da humanidade houve muitos progressos tecnológicos, passando a

agricultura familiar a ser produzida em grandes escalas, contudo, juntamente com o progresso

da agricultura também surgiram grandes problemas, pois o homem com a ambição de grandes

feitos, ou seja, produção em grandes escalas almejando sempre a lucratividade com a

exportação dos grãos passou a devastar florestas inteiras a contento de seus feitos.

Ocasionando grandes alterações na estrutura harmônica e natural do meio ambiente,

acarretando extinções da fauna e da flora, mudanças climáticas, enchentes, deslizamentos de

morros, destruição de nascentes, vindo a devastar grande parte das florestas e cerrados

brasileiros, enfim, um verdadeiro caos em nome do desenvolvimento e do progresso.

Diante do contexto histórico e a realidade contemporânea à sociedade se divide em

grupos que se divergem em seus ideais, de um lado encontram-se aqueles que são a favor do

progresso, sem preocupar-se com o desiquilíbrio ecológico ocasionado pelo desmatamento

desenfreado em nome do desenvolvimento (agronegócio), do outro lado estão os

ambientalistas extremistas, que são totalmente contra o progresso, e ainda existe a corrente

daqueles que buscam um equilíbrio, ou seja, produzir sem destruir o meio ambiente.

Conforme mencionado no segundo capítulo sobre o Workshop realizado para discutir sobre a

falência dos modelos da agricultura baseada nas grandes extensões de terras e a inquietação

dos agricultores familiares para reivindicar seus legítimos direitos, com intuito buscar diante

dessa situação pelo menos amenizar os conflitos, buscando um equilíbrio.

Um dos meios utilizado para tal feito são as Políticas Públicas, implantadas pelo

Poder Públicos, bem como outros recursos como associações e cooperativas.

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Com o aumento da população no Brasil, atrelado aos desenvolvimentos tecnológicos,

conforme se nota no decorrer da história desde a sua colonização até o Brasil contemporâneo

impossível optarmos por um dos lados extremista, nada mais viável do que a busca pelo

equilíbrio e convivência harmônica entre o homem e a natureza, através do desenvolvimento

sustentável, preocupação essa em que o legislador trouxe na mudança do Código Florestal

Brasileiro e demais legislações citadas nesse trabalho.

Partindo dessa premissa, e com base no princípio da história do descobrimento da

agricultura através de pequenos grupos familiares, pode-se dizer que não existe um grupo

melhor para utilizar, produzir, cultivar a terra de forma equilibrada respeitando espaços de

preservação como nas áreas de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanentes do que os

pequenos produtores rurais e agricultores familiares.

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