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Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy” UNIGRANRIO Simone Regina de Oliveira Ribeiro O gênero digital fórum: a interatividade e a construção de sentido na educação Duque de Caxias 2014

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Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”

UNIGRANRIO

Simone Regina de Oliveira Ribeiro

O gênero digital fórum:

a interatividade e a construção de sentido na educação

Duque de Caxias

2014

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Simone Regina de Oliveira Ribeiro

O gênero digital fórum:

a interatividade e a construção de sentido na educação

Dissertação apresentada à Universidade do Grande

Rio “Prof. José de Souza Herdy”, como parte dos

requisitos parciais para obtenção do grau de mestre

em Letras e Ciências Humanas.

Área de concentração:

Educação, Linguagem e Cultura

Orientador: Prof. Dr. Márcio Luiz Corrêa Vilaça

Duque de Caxias

2014

CATALOGAÇÃO NA FONTE/BIBLIOTECA - UNIGRANRIO

R484g Ribeiro, Simone Regina de Oliveira.

O gênero digital fórum: a interatividade e a construção de sentido na educação / Simone Regina de Oliveira Ribeiro. - 2014.

214 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado em Letras e Ciências Humanas) –

Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”, Escola de

Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades, 2014.

“Orientador: Profº. Márcio Luiz Corrêa Vilaça”.

Bibliografia: f. 145-152.

1. Letras. 2. Ensino à distância. 3. Identidade de gênero na educação.

4. Ensino auxiliado por computador. I. Vilaça, Márcio Luiz Corrêa.

II. Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”. III. Título.

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À minha avó Inaiá Guimarães (in memoriam).

Aquela que sem ter conhecimento da leitura e

da escrita ensinou-me a ler o mundo e a

escrever uma história feliz.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida, pelo cuidado, sustento e conforto nos momentos de angústias.

Aos meus pais, irmãos e familiares que me ensinaram a viver, amar e ser feliz.

Ao meu esposo pelo companheirismo ao longo desta trajetória. Pela compreensão diante dos

longos momentos que permaneci isolada, em meio aos livros, folhas espalhadas ou diante do

computador.

À minha mãe Sonia, avó Zeni e ao Pedro por apoiarem este sonho desde o começo até o final.

Ao meu pai Elias e à Laura que mesmo distantes intercedem a Deus por mim.

Ao professor Márcio Vilaça pelas horas de conversas e sugestões presenciais, pelos longos

períodos no telefone ou pelos muitos e-mails. Por me fazer acreditar que seria possível. Pela

orientação sempre presente e incansável neste trabalho acadêmico.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas,

professores da UERJ e do CEDERJ pelas contribuições imprescindíveis.

À professora Rosana de Oliveira pela confiança e incentivo à pesquisa nas disciplinas

pedagógicas das licenciaturas UERJ.

À professora Therezinha Carlomagno por acreditar sempre no meu trabalho e confiar na

investigação realizada na disciplina Prática de Ensino II Lic/UERJ.

À professora Marly Abreu pela motivação constante mesmo antes de entrar para o mestrado.

Aos companheiros coordenadores e tutores do CEDERJ pelas ricas trocas de conhecimentos e

experiências ao longo destes dez anos.

À professora Daniele Fortuna e ao professor Cláudio Franco pelas importantes contribuições

na banca de qualificação e defesa desse trabalho e à professora Kátia Tavares pelas

colaborações na banca de defesa.

Aos amigos Sandra, Marcílio, Mônica e Daniele pelo apoio que sempre me dispensam.

À Shirlei pela dedicada revisão.

A todos os amigos que não foram citados, mas sempre lembrados.

Muito obrigada!

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“O vocabulário “texto”, etimologicamente, contém a

antiga técnica feminina de tecer. E talvez o fato desse

tricô de verbos e nomes, através do qual tentamos reter

o sentido, ser designado por um termo quase têxtil não

seja uma coincidência. A humanidade, a espécie

falante, é também raça que se veste. A roupa

pacientemente tecida nos contém, nos delimita, forma

uma interface colorida entre o calor de nossas peles e

a rigidez do mundo. Os coletivos também cosem,

através da linguagem e de todos os sistemas simbólicos

que dispõem, uma tela de sentidos destinada a reuni-

los e talvez a protegê-los dos estilhaços dispersos,

insensatos, do futuro; uma capa de palavras de abrigá-

los da contingência radical que perfura a camada

protetora dos sentidos e mistura-se, à sua revelia.”

(Pierre Lévy)

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RESUMO

O objetivo desta pesquisa é analisar a relação entre a modalidade de educação a distância e as

potencialidades do gênero digital fórum, usadas para a promoção da interatividade e a

construção de sentido. O estudo de natureza qualitativa tem como lócus a disciplina Prática

de Ensino II das licenciaturas UERJ/consórcio CEDERJ. A pesquisa é qualitativa de natureza

etnográfica virtual. Trata-se de uma pesquisa que busca subsídios nas discussões de Kenski

(2012), Braga D. (2013), Lévy (1993), Saraiva (1996), Belloni (2009), Castilho (2011) para

ancorar as discussões em torno dos conceitos de tecnologia, linguagem e Educação a

Distância (EaD). Recorremos a Costa (2009), Mattar (2011), Vilaça (2011), Braga D. (2013),

para entender os gêneros digitais e as características das linguagens do gênero fórum em

Xavier e Santos C. (2005), Costa (2009), Mattar (2012). Para melhor compreender as questões

de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) recorremos, entre outros, a Castilho (2011) e

Mattar (2011). E para sustentar a discussão acerca de interatividade nas relações

comunicativas on-line são abordados os fundamentos de interatividade segundo Silva M.

(2012), além de Lemos (1999), Primo (2000), Moore (2008), Belloni (2009), que

contribuíram para ampliarmos o conceito de interação e interatividade. A análise dos dados

contou com dois instrumentos, um questionário on-line de participação voluntária no AVA e

análises das interações dos alunos em fóruns de discussões. A análise foi apresenta em três

etapas: primeiro a análise de perfil dos estudantes para investigar a frequência em que dizem

utilizar os gêneros digitais fora do CEDERJ (Internet aberta) e dentro do AVA CEDERJ,

especialmente o fórum de discussão on-line; a segunda etapa se investigou as visões,

perspectivas e vozes dos alunos sobre o fórum on-line, para compreendermos como os

estudantes acreditam ser possível a interatividade, a construção de sentido no fórum e

particularmente nos fóruns de PEII Lic/UERJ, além da visão dos participantes da eficácia de

alguns gêneros digitais presentes no AVA; na terceira e última etapa foi realizada a análise de

uso dos fóruns. A partir da análise da última etapa foi possível identificar, a título de estudo,

10 (dez) categorias de uso pelos estudantes durante os fóruns investigados. Por fim,

apresentamos algumas considerações acerca das características de uso que podem colaborar

para um fórum mais ou menos forte em interatividade e construção de sentido.

PALAVRAS-CHAVE: Educação a Distância, Gênero Digital Fórum, Interatividade.

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ABSTRACT

The objective of this research is to analyze the relationship between distance education and

the potential uses of the digital genre fórum, applied to promote interactivity and the

construction of meaning. The study is qualitative in nature and has as it locus Prática de

Ensino II course of undergraduate UERJ / consortium CEDERJ. The research is qualitative in

a virtual ethnographic approach. This is a research that is theoretically supported in

discussions by Kenski (2012), Braga D. (2013), Levy (1993), Scott (1996), Belloni (2009),

Castillo (2011) to anchor the discussions around the concepts of technology, language and

Distance Learning (DE). We use Costa (2009), Mattar (2011) Vilaca (2011), Braga D. (2013),

to understand the digital genres and the linguistic features of forum in Xavier Santos and C.

(2005), Costa (2009), Mattar (2012). To better understand the issues of virtual learning

environments (VLE), we appealed to Castilho (2011) and Mattar (2011), among others. And

to sustain the discussion of interactivity in online communicative relationships, we are

addressed the fundamentals of interactivity according to Silva M. (2012) in addition to Lemos

(1999), Primo (2000), Moore (2008), Belloni (2009), which contributed to broaden the

concept of interaction and interactivity. Data analysis included two instruments: an online

survey of voluntary participation in LMS and analysis of the interactions of students in

discussion forums. The analysis was presented in three steps: first a profile analysis of

students to investigate how often they report the use of digital genres outside CEDERJ (open

Internet) and within CEDERJ’s VLE, especially the online forum for discussion; secondly,

we investigated the views, perspectives and voices of students on the online forum, to

understand how students believe to be able to build interactivity, meaning construction in

forum and particularly in the PEII Lic / UERJ forums, beyond the participants’ view on the

effectiveness of some digital genres present in the VLE; the third and final step of the analysis

carried out by analyzing the use of the forums. From the analysis of the last stage, it was

possible to identify ten (10) categories of use by students in the investigated forums. Finally,

we present some considerations about the usage characteristics that may contribute to a

stronger or weaker forum for the sake of interactivity and construction of meaning.

KEYWORDS: Distance Learning, Digital Genre Forum, Interactivity.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 2.1 – Polos CEDERJ............................................................................................

Imagem 5.1 – Pesquisa On-line.........................................................................................

Imagem 5.2 – Pesquisa On-line e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 6.1 – Formação acadêmica...................................................................................

Gráfico 6.2 – Alunos que faziam uso da internet antes do CEDERJ.................................

Gráfico 6.3 – Gêneros Digitais usados pelos alunos fora do CEDERJ............................

Gráfico 6.4 – Uso do e-mail fora do CEDERJ..................................................................

Gráfico 6.5 – Uso das redes sociais...................................................................................

Gráfico 6.6 – Uso do fórum fora do CEDERJ...................................................................

Gráfico 6.7 – Uso do blog fora do CEDERJ......................................................................

Gráfico 6.8 – Uso do chat fora do CEDERJ......................................................................

Gráfico 6.9 – Gêneros Digitais que usam no Moodle CEDERJ........................................

Gráfico 6.10 – Autoavaliação dos alunos – Os Gêneros Digitais no Moodle CEDERJ....

Gráfico 6.11 – Autoavaliação dos alunos – Os Gêneros Digitais na Prática de Ensino II

Lic/UERJ...................................................................................................

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LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Evolução da Educação a Distância Segundo Moore e Kearsley

(2008)...............................................................................................................

Quadro 2.2 – Evolução da Educação a Distância segundo Campos..................................

Quadro 2.3 – Evolução da Educação a Distância segundo Pimentel.................................

Quadro 4.1 – Interação reativa e mútua segundo Primo (2000)........................................

Quadro 4.2 – Interação e interatividade: teóricos e conceitos...........................................

Quadro 6.1 – Principais categorias de uso do fórum on-line.............................................

Quadro 6.2 – Características de uso do fórum on-line, interatividade e construção de

Sentido.........................................................................................................

Quadro 6.3 – Relação entre as características de uso e o nível de incidência no fórum....

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LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 – Etapas da Pesquisa........................................................................................

Tabela 5.2 – Etapas e Instrumentos da Coleta de Dados...................................................

Tabela 5.3 – Etapas de análise de dados............................................................................

Tabela 6.1 – Resumo comparativo das participações nos fóruns 2 e 3.............................

Tabela 6.2 – Resumo das participações no fórum hora do café........................................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância

ART – Artigo

AVA – Ambiente virtual de aprendizagem

CEDERJ - Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CMC – Comunicação mediada por computador

EaD – Educação a Distância

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LIC - Licenciatura

LMS - Learning management systems

MEC – Ministério da Educação

MOODLE - Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment

TIC - Tecnologia e Informação e Comunicação

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TICS - Tecnologias de Informação de Comunicação

TV – Televisão

UAB - Universidade Aberta do Brasil

UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense

UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFF – Universidade Federal Fluminense

UNIGRANRIO – Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy

UNIRIO – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Web – World Wide Web

WWW – World Wide Web

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SUMÁRIO

1 Introdução ....................................................................................................................

2 Tecnologia, Linguagem e Educação a Distância .......................................................

2.1 Tecnologia, Linguagem e Comunicação..................................................................

2.1.1 Tecnologia e Educação a Distância: uma relação intrínseca..........................

2.1.2 Evolução da Educação a Distância.................................................................

2.2 Aspectos Legais da Educação a Distância ...............................................................

2.2.1 O cenário da Educação a Distância após a LDB 9394/96..............................

2.2.2 A Educação a Distância no texto da LDB 9394/96 e sua regulamentação ....

2.3 Políticas Públicas, tecnologia e Educação on-line ...................................................

2.3.1 Aspectos de Educação a Distância e Educação on-line .................................

2.3.2 A Universidade Aberta do Brasil (UAB) ......................................................

2.3.3 O Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro – CEDERJ.

3 Tecnologia e Gêneros Textuais ..................................................................................

3.1 Gêneros Textuais .....................................................................................................

3.1.1 Gêneros como forma de vida e de ação .........................................................

3.1.2 Gêneros: oral e escrito ...................................................................................

3.1.3 Gêneros digitais .............................................................................................

3.2 O gênero fórum na cibercultura ...............................................................................

3.3 O gênero digital fórum na Educação on-line............................................................

4 Ambiente Virtual de Aprendizagem e Interatividade...............................................

4.1 Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) ...........................................................

4.2 A plataforma Moodle ...............................................................................................

4.3 Interatividade ........................................................................................................ ...

4.3.1 Interação e interatividade..................................................................................

4.3.2 Contribuição de André Lemos..........................................................................

4.3.3 Contribuições de Alex Primo............................................................................

4.3.4 Contribuições de Michael Moore.....................................................................

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4.3.5 Contribuições de Maria Luiza Belloni..............................................................

4.3.6 Contribuições de Marco Silva...........................................................................

4.3.7 Delimitando conceitos – convergências e divergências entre interação e

Interatividade....................................................................................................

4.4 EaD para além da transmissão de informação .........................................................

5 Metodologia da Pesquisa .............................................................................................

5.1 Objetivos geral e objetivos específicos da pesquisa.................................................

5.2 Pressupostos .............................................................................................................

5.3 Motivações .............................................................................................................. .

5.4 Da etnografia à netnografia ou etnografia virtual ....................................................

5.5 Procedimentos da pesquisa ......................................................................................

5.6 Etapas da pesquisa ...................................................................................................

5.7 A Disciplina Prática de Ensino II Licenciaturas/UERJ – Descrição do contexto....

5.8 Instrumentos da pesquisa .........................................................................................

6 Análise dos Dados ........................................................................................................

6.1 Quem é o aluno?.......................................................................................................

6.1.1 Análise de perfil ...............................................................................................

6.1.2 A frequência de uso dos gêneros digitais na internet e no AVA......................

6.2 Visões, perspectivas e vozes dos alunos sobre o fórum on-line...............................

6.2.1 Relação de interatividade no fórum on-line......................................................

6.2.2 Construção de aprendizagem no fórum on-line................................................

6.2.3 Interatividade e construção de aprendizagem no fórum on-line de Prática de

Ensino II Lic/UERJ...........................................................................................

6.2.4 Motivação para participar dos fóruns de Prática de Ensino II..........................

6.2.5 Sugestões para a coordenação e os tutores.......................................................

6.3 Análise de uso do fórum on-line na disciplina Prática de Ensino II.........................

6.3.1 Característica e objetivos dos fóruns analisados...............................................

6.3.1.1 Fórum 2 – tema aprendizagem significativa .........................................

6.3.1.2 Fórum 3 – tema currículo e exclusão ....................................................

6.3.1.3 Fórum “Hora do café” – temas diversos...............................................

6.3.1.4 Principais características dos Fóruns no AVA de PEII/CEDERJ.........

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6.3.2 Perspectivas de uso do gênero digital fórum: uma proposta de estudo............

6.3.3 A construção de sentido e a interatividade nos pressupostos de Marco Silva

(2012)..................................................................................................................

7 Considerações Finais ...................................................................................................

Referências bibliográficas ..............................................................................................

Anexo – Questionário on-line .........................................................................................

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I Introdução

Os avanços tecnológicos que surgem a partir do século XX e mais precisamente do

século XXI transformam e reorganizam as práticas sociais. O mundo globalizado e conectado

possibilita que novas formas de relacionamentos ocorram através de modernas tecnologias de

comunicação, em especial, pela Internet. Tais avanços refletem mudanças individuais, sociais

e culturais.

As inovações das tecnologias de comunicação e informação (TICs), aplicadas à

educação, modificam também essas práticas. Nesse contexto, a educação a distancia (EaD)

ganha destaque pelas transformações que marcam a modalidade nas diferentes gerações de

EaD identificadas ao longo dos anos, principalmente após o uso do computador e da Internet.

A EaD passa de uma prática educacional marcada essencialmente pelo material impresso à

uma modalidade que utiliza, som, imagem e, atualmente, ambientes virtuais de aprendizagem

(AVAs) construídos nas plataformas digitais.

As tecnologias utilizadas nas plataformas digitais modificam a relação do estudante

com o tempo e o espaço, com o conteúdo, com o professor e com outros estudantes,

principalmente a partir da Web 2.0, que permite a inserção e o compartilhamento de

informações e conteúdos também pelos estudantes, entre outras ações no ciberespaço.

As plataformas digitais como o Moodle, por exemplo, possibilitam acesso a diferentes

gêneros digitais nos AVAs. Embora não tenham sido criados com fins pedagógicos, os

gêneros digitais são utilizados para favorecer a comunicação e construção de conhecimento

no espaço educacional. Frente a isso, destacamos a necessidade de maior clareza das

potencialidades de interatividade e construção do conhecimento do gênero digital fórum, por

ser um gênero digital bastante utilizado na EaD on-line.

Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar a relação entre a modalidade de educação

a distância e as potencialidades do gênero digital fórum, usadas para a promoção da

interatividade e a construção de sentido.

Além do objetivo geral apresentado, o trabalho se propõe a investigar os seguintes

objetivos específicos: (1) discutir os aspectos históricos, epistemológicos e didáticos que

embasam a educação a distância, a educação on-line e a comunicação no contexto da

pesquisa; (2) caracterizar o gênero digital fórum, suas linguagens e como é empregado na

educação on-line; e (3) analisar o potencial de interatividade e de construção do conhecimento

no fórum da disciplina Prática de Ensino II das licenciaturas UERJ.

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A proposta do trabalho ajusta-se à natureza interdisciplinar do mestrado - Programa de

Mestrado Interdisciplinar em Letras e Ciências Humanas - e se propõe a colaborar, sem

esgotar as possibilidades da temática, para estudos nas áreas de Educação, Linguística e

Linguística Aplicada, Antropologia, Comunicação e Tecnologia Educacional. Dentre os

autores que embasaram e contribuíram para alicerçar os questionamentos da pesquisa

destacamos Alves (2003), Azevedo (2005), Belloni (2009), Braga D. (2013), Buzato (2010),

Castells (2010), Castilho (2011), Geertz (1989), Hall (2006), Kenski (2012), Koch (2011a),

Lévy (1993), Marcuschi (2010a, 2010b), Mattar (2012), Moran (2003), Neto F. (2003),

Rabelo (2007), Ribeiro O. (2011), Saraiva (1996), Silva M. (2012), Soares (2002a, 2002b,

2008), Tfouni (2010), Vilaça (2010, 2011), Xavier e Santos C. (2005), entre outros.

A partir de uma revisão de literatura desenvolvidas no/sobre ciberespaço, percebemos

que as mudanças tecnológicas, comunicativas, sociais, culturais e educacionais têm se tornado

alvo de investigação. Pesquisadores voltam a atenção para o tema em busca de compreender a

cultura digital (COSTA, 2009) e seus desdobramentos na sociedade, frente a isso, são

elaboradas pesquisas nas mais diferentes áreas do conhecimento.

Importa destacar que o conceito de cultura digital que empregamos neste trabalho diz

respeito às mudanças peculiares da pós-modernidade. Recorremos a Hall (2006), que entende

como pós-modernidade um processo de mudanças culturais, históricas, políticas, econômicas,

sociais, que modificam as estruturas centradas, características das sociedades modernas, em

vigor até o século XX, para um processo caracterizado por culturas e identidades

descentradas, deslocadas ou fragmentadas. Para o estudioso, tais mudanças estão diretamente

relacionadas ao processo da globalização, principalmente porque dela decorreram

transformações no tempo e no espaço; uma vez que, a partir desse processo tornaram-se

possíveis interconexões globais de diferentes áreas, fato que tem contribuído para o

surgimento de uma nova organização social e de pluralização dos centros de poder.

Transformações que foram, em parte, potencializadas a partir do surgimento da Internet/Web.

Esse conceito dialoga com a definição de Costa (2009, p. 139) para cultura digital,

quando a define como “avanços tecnológicos do processo de informatização por que passou a

humanidade a partir da década de 1970”, transformando as relações homem/máquina e

homem/homem.

Embora seja grande o interesse dos pesquisadores para os eventos da cibercultura e

suas consequências na dinâmica da sociedade, parece haver maior interesse de alguns gêneros

digitais frente a outros. A esse respeito, diante do levantamento realizado para este estudo,

pode-se identificar, em geral, que as pesquisas no/sobre o ciberespaço têm privilegiado o

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blog, gênero este que é constantemente encontrado no âmbito educacional e fora dele, por

exemplo. Por outro lado, chat, Wiki e fórum, aparecem em menor quantidade, de acordo com

o levantamento realizado também em bancos de dados, tais como as Bibliotecas Digitais de

Teses e Dissertações da UFF1 e USP

2. No entanto, no portal digital de teses e dissertações da

UFRJ3, encontramos um resultado que difere dos citados. Nele a quantidade de trabalhos

sobre chat é mais significativa e se sobrepõe aos trabalhos sobre gêneros como blog ou fórum,

por exemplo.

A motivação para este estudo surgiu da observação e da vivência em práticas de

tutoria a distância, nas quais permaneciam nebulosos os processos de construção do

conhecimento coletivo e da interatividade, através do gênero textual digital fórum. Assim, o

trabalho será desenvolvido tomando como referência o gênero digital fórum, como prática de

educação on-line, analisando, sobretudo, os aspectos de interatividade e construção de

conhecimento nesse espaço virtual.

A pesquisa foi realizada com os estudantes da disciplina Prática de Ensino II (PE II)

das licenciaturas do consórcio CEDERJ, uma disciplina pedagógica obrigatória sob a

responsabilidade da UERJ. Para tanto, a autorização para a pesquisa foi primeiramente

emitida pela direção da Faculdade de Educação da UERJ, instituição responsável pelas

disciplinas pedagógicas das licenciaturas. A seguir, o projeto da pesquisa foi submetido à

aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da UNIGRANRIO, que aprovou o

desenvolvimento por garantirmos, entre outros aspectos, o sigilo da identidade dos

participantes, através do anonimato nas mensagens publicadas, bem como, outros cuidados

éticos pertinentes. Por fim, a pesquisa contou com a ciência dos participantes na própria

plataforma de ensino, ou seja, no AVA.

Por considerar essa modalidade de educação como um processo de construção coletiva

e cultural, em que são priorizadas a aprendizagem e a construção do conhecimento através da

interatividade possível com os gêneros digitais, faz-se necessária uma investigação acerca da

interatividade e da construção do conhecimento, através do fórum, para melhor compreender

sua potencialidade na educação on-line, de modo que responda ao questionamento inicial da

pesquisa: Como o gênero digital fórum, proposto na formação inicial em EaD, pode contribuir

com a construção de conhecimento e a interatividade entre os participantes? Assim, os

objetivos específicos citados estão relacionados às seguintes perguntas: qual o perfil de acesso

1 UFF - http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/ - acesso em 06/03/2014

2 USP - http://www.teses.usp.br/ – acesso em 06/03/2014 3 UFRJ - http://fenix2.ufrj.br:8991/F?func=find-b-0&local_base=tdufrj acesso em 06/03/2014

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dos alunos aos gêneros do AVA CEDERJ e em outros gêneros textuais da Internet? Quais as

visões, perspectivas e vozes recorrentes dos estudantes sobre a interatividade de construção de

sentido no fórum on-line? Nas perspectivas de uso do fórum on-line pelos discentes, em que

medida os tipos de mensagens postadas nesse gênero digital no AVA pesquisado podem

contribuir para a potencialização da interatividade e da construção de sentido entre os

participantes? Em relação ao uso do fórum on-line, de que forma os tipos de mensagens

postadas pelos estudantes viabilizam um maior ou menor grau de interatividade e construção

de conhecimento? Em que medida as mensagens publicadas pelos estudantes no fórum on-line

da disciplina Práticas de Ensino II (PEII) podem aproximar-se dos binômios de interatividade

propostos por Marco Silva (2012)? Tais perguntas são discutidas, a partir dos dados

analisados.

Vilaça (2011) defende ainda alguns espaços não formais de educação na Internet,

como espaços potenciais para promover aprendizagem on-line como, por exemplo, o

YouTube,4 que trata-se de uma marca do Google utilizada para compartilhamento de vídeos

diversos ou de alguns blogs educacionais. Em um sentido mais amplo, Costa (2009) define

por on-line “a condição de estar conectado a uma rede de computadores ou outros

dispositivos” (2009, p.153), nesse caso, basta que os usuários estejam conectados à Internet

ou via Internet para que estejam desempenhando uma atividade on-line. Dito isto, a expressão

EaD on-line e educação on-line serão empregadas neste trabalho com o mesmo sentido: de

espaço virtual de educação em que os usuários estão conectados via Internet.

Esta pesquisa qualitativa, de natureza etnográfica virtual, tem como lócus a disciplina

Prática de Ensino II das licenciaturas UERJ, do Consórcio CEDERJ5. Os dados foram gerados

no ambiente virtual de aprendizagem desenvolvido na plataforma Moodle desse Consórcio.

Os participantes da pesquisa foram os discentes da disciplina PE II, cuja autorização para

coleta de dados foi primeiramente emitida pela direção da faculdade de educação da UERJ,

instituição responsável pela disciplina citada e, posteriormente, pela ciência dos participantes

no AVA da própria plataforma de ensino. São analisadas as interações dos alunos no(s)

fórum(ns) de discussão e os questionários on-line enviados voluntariamente pelos estudantes.

Cabe ainda ressaltar que, no ambiente de educação on-line, o professor não é mais o

centro do processo de ensino-aprendizagem, ou não deve ser. Ao contrário, o professor deve

embasar sua prática portando-se como um guia, orientador, mediador, facilitador do processo

4 You Tube - https://www.youtube.com 5 O Consórcio CEDERJ - Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro, está submetido a

Fundação CECIERJ - A Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de

Janeiro.

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de aprendizagem. Embora muitas discussões e críticas ainda surjam em torno do papel dos

profissionais que atuam na modalidade a distância (MATTAR, 2012), neste trabalho será

utilizado o termo professor-tutor para fazer referência ao professor mediador das interações

no AVA.

Este trabalho encontra-se organizado em sete capítulos, a começar com a introdução

até as considerações finais; sendo abordados os aspectos descritos a seguir.

No capítulo 2, intitulado Tecnologia, Linguagem e Educação a Distância, são

discutidos os aspectos históricos, epistemológicos e didáticos da EaD antes da Internet e da

educação on-line. Também discute aspectos da tecnologia, comunicação e linguagem

atreladas ao contexto da educação on-line; além de traçar considerações acerca das mudanças

didáticas da EaD, frente aos avanços tecnológicos. Contribuem para as discussões relativas às

características tecnológicas Kenski (2012), Braga D. (2013), Silva M. (2012), Lévy (1993) e

para as questões inerentes à EaD, Saraiva (1996), Belloni (2009), Neto F. (2003), Campos

(2007), Vilaça (2010), Castilho (2011).

O capítulo 3 apresenta a discussão em torno dos gêneros textuais. Antes de

avançarmos, é importante esclarecer que a expressão gênero textual pode envolver todo o

processo comunicativo desde o oral, passando pelo escrito e também o digital. Além dos

gêneros como forma de vida e de ação, de acordo com os pressupostos de Bazerman (2009).

Ainda neste capítulo, serão apresentadas para fins didáticos algumas etapas que marcam o

desenvolvimento dos gêneros ao longo da história social e cultural da humanidade, com base

nos estudos de Marcuschi (2010b), a começar pelo gênero oral, passando pelos escritos,

alcançando os impressos até os digitais, apoiados na tecnologia digital. Destaca-se neste

contexto a característica híbrida dos gêneros digitais e a necessidade de novos letramentos

para funcionalidade das práticas de leitura e escrita nos gêneros digitais na cibercultura.

Sustentado esta discussão, recorremos também a Koch (2011a), Soares (2002b), Buzato

(2010), Neto J. e Campos (2010), Costa (2009), Mattar (2011), Vilaça (2011), Silva M.

(2012), Braga D. (2013). Este capítulo trata ainda, de forma pontual, do gênero digital fórum,

com destaques para sua aplicação, características e possibilidades para fins pedagógicos;

então, recorremos a Marcuschi (2010b), Xavier e Santos C. (2005), Costa (2009), Mattar

(2011), entre outros, para embasar as discussões.

No capítulo 4, abordamos os conceitos de ambiente virtual de aprendizagem e

interatividade. Nele, entre outras discussões, podemos encontrar características do AVA e da

plataforma Moodle, além de reflexões acerca do espaço virtual de aprendizagem como

potencial para o desenvolvimento de interatividade na educação on-line; embora não haja

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consenso entre os autores para definição de interação e interatividade. Cabe ressaltar desde já

que o conceito de interatividade utilizado nesta pesquisa terá como base os pressupostos de

Marco Silva (2012). Mas, para embasar a discussão acerca dos conceitos de interação e

interatividade, recorreremos aos estudos de André Lemos (1999), Alex Primo (2000), Michael

Moore (2008), Maria Luiza Belloni (2009) e Marco Silva (2012), e, após os conceitos

discutidos apresentamos algumas convergências e divergências entre interação e

interatividade, para os autores supracitados. Por fim, esse capítulo apresenta algumas

considerações para que o espaço de aprendizagem on-line não seja subutilizado nas práticas

educativas. Para tanto, recorremos a Silva M. (2012), Castilho (2011), Mattar (2012), Braga

D. (2013), Rabelo (2007).

O capítulo 5 apresenta a metodologia da pesquisa nos seus aspectos metodológicos e

éticos. Neste espaço, são apresentados os objetivos, os pressupostos, as motivações, os

procedimentos e etapas da pesquisa. Também contextualiza a pesquisa, o espaço virtual em

que foi desenvolvida e a forma com que os dados foram gerados no ambiente virtual de

aprendizagem da disciplina Prática de Ensino II Lic/UERJ. Por se tratar de uma pesquisa

qualitativa de natureza etnográfica virtual, dedicou-se uma seção para discutir os conceitos

que amparam essa metodologia, considerando que pesquisas realizadas na cibercultura

apresentam características distintas daquelas realizadas no âmbito presencial. Aqui foram

considerados os estudos de Hine (2000), Rocha e Montardo (2005), Amaral (2010), Amaral e

Natal (2008), Gutierrez (2009), Montardo e Passerino (2006), entre outros.

Apresentamos no capítulo 6 a análise dos dados. Para análise utilizamos dois

instrumentos: um questionário on-line de participação voluntária no AVA e análises das

interações dos alunos em fóruns de discussões. Apresentamos a análise em três etapas. A

primeira investiga o perfil dos estudantes a partir de perguntas fechadas do questionário on-

line. Sem pretensão de investir em dados quantitativos, ressaltamos que tais informações são

importantes para identificarmos a frequência que dizem utilizar os gêneros digitais fora do

CEDERJ (Internet aberta) e dentro do AVA CEDERJ, especialmente no fórum de discussão

on-line. Construímos a segunda etapa da análise a partir das perguntas abertas do questionário

on-line. Nela investigamos as visões, perspectivas e vozes dos alunos sobre o fórum on-line,

com intenção de compreender como os estudantes acreditam ocorrer interatividade e

construção de sentido no fórum e, particularmente, nos fóruns de PEII Lic/UERJ, além da

visão dos participantes acerca da eficácia de alguns gêneros digitais presentes no AVA. Na

terceira e última etapa realizamos a análise de uso dos fóruns a partir dos fluxos de

mensagens. A partir dos dados gerados nessa etapa identificamos 10 (dez) categorias de uso

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dos fóruns pelos estudantes são elas: fuga ou desvio, resposta, comentário, ampliação,

esclarecimento, novo questionamento, indicação bibliográfica, citação bibliográfica,

discussão bibliográfica e inclusão de hiperlink. Após a identificação das categorias de uso

realizamos um quadro comparativo quanto à formação de sentido e de interatividade de

acordo com os binômios elencados por Marco Silva (2012) sobre a interatividade. Após

apresentadas as 10 (dez) categorias de uso apoiados nos pressupostos de interatividade de

Silva (2012), traçamos algumas considerações daquelas que podem colaborar para um fórum

mais ou menos forte em interatividade e construção de sentido.

Finalizando, no capítulo 7 apresentamos algumas considerações não com o propósito

de concluir ou reduzir as discussões aqui desenvolvidas, mas com a pretensão de contribuir

para práticas de interatividade e avaliação do gênero digital fórum na educação a distância on-

line. Por isso, não objetivamos esgotar as possibilidades que o tema propõe. Ao contrário,

pretendemos abrir a discussão para futuras pesquisas no gênero digital fórum, no contexto

pedagógico.

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2 Tecnologia, Linguagem e Educação a Distância

Este capítulo tem como objetivo discutir aspectos históricos, epistemológicos e

didáticos que sustentam a educação a distância, a educação on-line e a comunicação no

contexto da educação on-line.

Para tanto, na seção 2.1, apresentaremos uma discussão acerca da tecnologia

relacionada à comunicação e às linguagens, percorrendo alguns conceitos de tecnologia

enquanto ferramenta e técnica, conceitos que serão retomados mais profundamente quando

discutirmos os aspectos de interatividade na EaD, na seção 4.3.

Na subseção 2.1.1, discutiremos a relação intrínseca da tecnologia com a educação a

distância ao longo dos anos. Em seguida, na subseção 2.1.2, serão apresentadas três

compreensões de evolução da EaD, a partir de diferentes gerações da EaD, de acordo com

Pimentel (1999), Campos (2007) e Moore e Kearsley (2008).

Os aspectos históricos da EaD são apresentados não com objetivo de traçar uma linha

do tempo, mas de contextualizar e discutir mudanças didáticas e epistemológicas da EaD, a

partir dos avanços tecnológicos usados nesta modalidade de ensino, considerando que a

Internet e o uso dos dispositivos digitais mudaram muito nos últimos anos, inclusive quando

aplicados à EaD.

Na seção 2.2 recorremos aos aspectos legais que amparam da educação a distância.

Para tanto, enfatizaremos na subseção 2.2.1 a publicação da LDB 9394/96 e sua influência no

cenário da EaD. Na mesma linha teórica e legal, na subseção 2.2.2, discutiremos a

regulamentação da LDB de 1996 pelo Decreto 2.494 de 1998, e as principais revogações a

partir de então.

As políticas públicas relacionadas à modalidade de educação a distância serão

discutidas na seção 2.3, assim como a relação entre a tecnologia e a educação on-line. Na

subseção 2.3.1, discutiremos então os aspectos de educação a distância e de educação on-line.

Na subseção 2.3.2, o foco será a implantação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e na

2.3.3, abordaremos o Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ).

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2.1 Tecnologia, linguagem e comunicação

O final do século XX e início do XXI foram e estão sendo marcados por avanços

tecnológicos surpreendentes. Tais avanços emergem da necessidade de uma sociedade

globalizada e conectada que se organiza mundialmente sobre novas bases. Portanto, segundo

Kenski (2012), uma sociedade com novas necessidades tecnológicas frente às mudanças

individuais, sociais e culturais. Entendemos que cada época possui suas características

tecnológicas, e, na contemporaneidade, compreendemos serem estes avanços, pelo menos em

parte, responsáveis por alterar as relações de comunicação, sociais, culturais, econômicas,

educacionais entre outros aspectos.

Vivemos na contemporaneidade um momento de rapidez na comunicação que altera a

relação tempo e espaço, uma vez que é possível acessar pessoas, empresas, realizar transações

financeiras e bancárias, comprar e vender de qualquer lugar ou hora; procedimentos possíveis

pela expansão de dispositivos móveis que através do acesso à rede – Internet- reconfigura a

ordem mundial (HALL, 2006).

Visto que os tempos atuais são marcados pelas tecnologias midiáticas e pela

interatividade, chamada por alguns de “sociedade da informação” (BRAGA D., 2013),

“sociedade em rede” (CASTELLS, 2010), ressaltamos que a tecnologia não é tão recente

quanto poderíamos pensar. Kenski (2012) corrobora essa questão afirmando que tudo que

usamos na nossa vida diária é tecnologia. Para a autora, a evolução social do homem

influenciou e influenciará o desenvolvimento de tecnologias, por conseguinte, a relação dele

com a tecnologia será diferente a cada época, a nível individual e social, uma vez que, com o

tempo algumas tecnologias são naturalizadas e não são mais vistas como tecnologias, ou

apenas perdem um status de inovação. Para a pesquisadora,

A evolução tecnológica não se restringe apenas aos novos usos de

determinados equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos. A ampliação e a banalização do uso de determinada tecnologia impõem-se à

cultura existente e transformam não apenas o comportamento individual,

mas o de todo o grupo social. (KENSKI, 2012, p. 21).

Poderíamos dizer que a tecnologia altera a relação do homem com o outro, do homem

com a ferramenta e do homem consigo mesmo. Marco Silva (2012) discute aspectos inerentes

à relação do homem com a máquina, principalmente no aspecto da interatividade na

cibercultura.

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Nas palavras de Kenski (2012, p.18), tecnologia é todo “o conjunto de conhecimentos e

princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um

equipamento em um determinado tipo de atividade”. Neste sentido, o uso de conhecimento

para a criação de ferramentas nas sociedades primitivas marca uma tecnologia para um

determinado fim como uso da pedra, do bronze, por exemplo. Tempos depois poderíamos

citar o lápis, o livro, entre outros. Nos tempos atuais smartphone, tablet. Assim, entendemos

que as ferramentas tecnológicas estão em todos os espaços de nossas vidas.

Para consolidar esse entendimento, é necessário ressaltar que para Kenski (2012, p.

19), “a tecnologia é um conjunto de tudo isso: as ferramentas e as técnicas”. Cabe esclarecer

que as ferramentas correspondem a toda e qualquer criação de produtos em diferentes

momentos históricos e as técnicas correspondem às ações que realizamos para utilizar as

ferramentas; seria o sentido que damos aos usos das ferramentas.

Estudiosos como Lévy (1993), Ribeiro O. (2011), Kenski (2012) e Silva M. (2012)

advertem que a técnica não deve ser apenas reduzida à simples ação de usar a ferramenta

(utilidade), mas ampliam esse conceito, considerando em que medida a ação do homem sobre

a máquina ou ferramenta (funcionalidade) pode alterar as relações de interatividade e sócio-

culturais. Os aspectos de interatividade serão retomados mais à frente, na seção 4.3.

Ao contrário do que possa parecer, a tecnologia não está limitada à criação de

ferramentas ou equipamentos. Lévy (1993) considera ainda as tecnologias da inteligência que

alteram a relação do homem com a máquina, principalmente a partir dos avanços da

informática. Quando relacionamos tecnologia e comunicação, podemos engendrar pelos

aspectos da tecnologia da linguagem, que também não é um produto ou equipamento físico,

mas uma tecnologia que usamos diariamente em nossas relações comunicativas.

Denise Braga (2013) atribui a construção das culturas e as complexidades das relações

sociais à capacidade do homem “de criar ferramentas e linguagens” (2013, p. 25). Para ela, os

avanços decorrentes das tecnologias, sejam elas de ferramentas ou de linguagens, permitiram

o surgimento de culturas e de reorganizações sociais, sendo a linguagem responsável também

por moldar a própria mente humana. Por esses motivos, torna-se importante discutirmos

aspectos inerentes à evolução da linguagem.

Ao percorrermos a história da evolução da linguagem, encontramos em Lévy (1993) e

Kenski (2012), diferentes aspectos a começar pela linguagem oral, passando pela linguagem

escrita, até chegarmos à linguagem digital.

A linguagem oral é a mais antiga tecnologia de comunicação encontrada na história da

humanidade (LÉVY, 1993). Ela permitiu estabelecer relações de comunicação uns com os

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outros, diferenciando os homens dos animais. Muitas histórias foram transmitidas de geração

a geração através de relatos orais, que, apoiados na memória, tornava viva a história de um

povo (LÉVY, 1993; KENSKI, 2012).

Braga D. (2013) diz que antes da linguagem oral ter sido construída enquanto

promovedora de comunicação social, os indivíduos usavam antigos sons, expressões faciais e

corporais como gestos para estabelecer uma troca comunicativa uns com os outros, mas esses

recursos eram muitas vezes imprecisos. A necessidade de clareza na comunicação

impulsionou a construção de signos linguísticos padronizados por uma sociedade, dando

origem à linguagem oral. Portanto, quando os sons e expressões corporais passaram a fazer

sentido em determinados contextos sociais e “fora do contexto imediato onde estavam o

falante e o ouvinte” (BRAGA D., 2013, p. 26), quando alcançaram a condição de transmitir

sentimentos e pensamentos; então deram origem à comunicação mais precisa entre os

indivíduos do grupo social. No entanto, esse tipo de tecnologia exigia a presença física face a

face para que a comunicação pudesse ser estabelecida dentro do grupo social.

Das mudanças sociais e culturais oriundas a partir da agricultura, surgiram as aldeias,

as vilas e a necessidade de consolidar o que só era transmitido oralmente, com apoio da

memória. Concordamos com Ribeiro S. e Vilaça (2013) que as primeiras marcas com intuito

de registrar uma informação ou conhecimento, ou ainda um fato ocorrido, não transmitiam

informações precisas e seguras através dos pictogramas nas rochas e cavernas. Concordamos

ainda com eles que, a partir dessas marcas, a humanidade construiu uma tecnologia mais

avançada com representações simbólicas de ideias, que se convencionaram na escrita

ideográfica e mais adiante, na escrita alfabética.

Da escrita ideográfica surgiram alguns alfabetos, como o alfabeto organizado pelos

gregos (CÓCCO, HAILER, 1996), de onde surgiu a escrita alfabética. Essa tecnologia da

linguagem tornou possível o registro escrito de palavras sem nenhuma relação com os seus

representantes tridimensionais, mas, sobretudo, permitiu estabelecer uma correspondência

grafema-fonema. Esse sistema de escrita, chamado também de fonológico, mantém-se assim

até os dias atuais em algumas culturas e depende diretamente de correspondência com os

elementos sonoros da língua. Dessa forma, o apoio na memória não é mais necessário para

transmissão de conhecimentos e informações, mas surge uma nova necessidade para dominar

a tecnologia da linguagem escrita: compreender a comunicação registrada graficamente.

Ratificando o que discutimos até aqui, recorremos mais uma vez a Kenski (2012, p.

37) por afirmar que “a escrita, interiorizada como comportamento humano, interage com o

pensamento, libertando-a da obrigatoriedade de memorização permanente”.

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A escrita permitiu que pensamentos, emoções e informações fossem transmitidos com

precisão entre os indivíduos distantes fisicamente, desde que dominassem a linguagem escrita,

alterando, portanto, as normas sociais, culturais e de letramento da humanidade; além de

inserir no contexto educacional uma nova possibilidade de educação na modalidade a

distância.

Antes de continuarmos a discussão acerca da linguagem digital, convidamos a uma

breve reflexão acerca do sentido da comunicação. Dando continuidade a esse pensamento,

recorremos ao questionamento de Lévy:

Seria a transmissão de informações a primeira função da comunicação?

Decerto que sim, mas em um nível mais fundamental o ato de comunicação define a situação que vai dar sentido às mensagens trocadas. A circulação de

informações é, muitas vezes, apenas um pretexto para a confirmação

recíproca do estado de uma relação. (LÉVY, 1993, p.21).

De acordo com Lévy (1993), de forma mais superficial poderíamos dizer que a

comunicação pode ser estabelecida para transmitir informações. Nesse caso, pode exigir

maior ou menor grau de compreensão da mensagem ou servir apenas para estabelecer uma

relação de cortesia sem informações tão significativas, como um comentário sobre a condição

do tempo naquele dia, por exemplo.

No entanto, de acordo com o autor, a comunicação abarca mais que as palavras, frases

direcionadas a outro(s). Para que o processo de comunicação dê sentido às mensagens

trocadas é preciso considerar o contexto, que para ele mais que ser um elemento útil para

compreensão das mensagens é “o próprio alvo dos atos de comunicação” (LÉVY, 1993, p.

21). O contexto por sua vez não é rígido, visto que ele estará em constantes transformações e

ajustes durante o processo da comunicação nas mensagens trocadas entre os sujeitos da

comunicação.

É no sentido de ampliar a função da comunicação para além da transmissão de

informações que propomos pensar as tecnologias da linguagem digital. Não estamos com isso

negando que a oralidade e a escrita já não tenham iniciado, em certa medida, este processo,

como exemplo uma conversa não esperada entre duas pessoas, apenas para passar o tempo, ou

uma carta escrita apenas para manter uma relação a distância. O que estamos propondo aqui é

uma reflexão para o alcance da linguagem digital principalmente após o surgimento da rede

de computadores, mais precisamente após a Web 2.0, na qual o usuário passa a ser o produtor

do conteúdo, alterando dessa forma o contexto comunicativo digital (GABRIEL, 2013,

MATTAR, 2012). O usuário da Web 2.0 deixa de estar centrado apenas na recepção de

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conteúdos (aquele que recebe uma mensagem transmitida), para assumir a condição também

de emissor (aquele que produz); situação que favorece condições interativas capazes de

ampliar o contexto comunicativo digital.

É importante esclarecer que, a partir da Web 2.0, não só alcançamos rapidez no acesso

a documentos na Internet como foi possível interação entre usuários em tempo real,

relacionando de forma híbrida diferentes tecnologias de linguagem e comunicação como sons,

imagens, textos escritos. Esse fato trouxe também novas possibilidades para os cursos a

distância como veremos no capítulo 4.

Portanto, encontramos relacionadas à tecnologia da linguagem digital diferentes

ferramentas com finalidades e funções também distintas que alteraram e alteram a relação

individual e social da humanidade, a exemplo das redes sociais e dos dispositivos móveis que

emergem no dia a dia da sociedade.

2.1.1 Tecnologia e Educação a Distância: uma relação intrínseca

De acordo com o portal oficial do Ministério da Educação (MEC), educação a

distância é definida da seguinte forma:

Educação a distância é a modalidade educacional na qual alunos e

professores estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se

necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação.

Essa modalidade é regulamentada por uma legislação específica e pode ser implantada na educação básica (educação de jovens e adultos, educação

profissional técnica de nível médio) e na modalidade superior. (BRASIL,

MEC6).

De modo geral, é consenso entre pesquisadores que a distância física é a característica

ímpar da EaD. Nesse sentido, a flexibilidade temporal e espacial é peculiar a essa modalidade,

ainda que outras características tenham alterado as formas na oferta da EaD, principalmente, a

partir dos avanços tecnológicos usados nessa modalidade de ensino, em especial, com o

advento da Internet aplicados à EaD.

É uma modalidade que precisa de infraestrutura, planejamento, gestão, metodologia,

recursos didáticos e interativos, além de formas de avaliação e comunicação específicos. De

6 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12823:o-que-e-educacao-a-

distancia&catid=355&Itemid=230 – acesso em 03/11/2013

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acordo com a legislação atual, é necessária a utilização das tecnologias de informação e

comunicação (TICs), que são recursos tecnológicos utilizados como forma de comunicação e

informação, entre os usuários.

A educação a distância é uma modalidade de ensino que não é tão recente quanto

parece (SARAIVA, 1996, OLIVEIRA M. E., 2002, VILAÇA, 2010). O uso do material

impresso foi um recurso quase que exclusivo na EaD, por longo tempo. No entanto, estudos

apontam que esta exclusividade tem dividido espaço com recursos tecnológicos que emergem,

principalmente, com as tecnologias de comunicação e informação atuais, com uso, em

especial, do computador e da Internet.

Segundo Campos (2007) e Pimentel (1999 apud CAMPOS, 2007), diferentes gerações

de EaD podem ser encontradas, graças à evolução dos recursos tecnológicos usados para fim

de comunicação entre formadores e estudantes. No entanto, não há entre os estudiosos, um

consenso em relação a tais gerações de EaD.

Entretanto, há consenso na comunidade acadêmica de que com a EaD mediada pelo

computador e pela Internet, diversas barreiras são superadas e novas formas de

relacionamentos e interatividade entre os usuários surgem, pois permitem maior flexibilidade

espacial, temporal e geográfica.

Para Vilaça (2010), essa modalidade de ensino é bastante antiga, de modo que, para

ele, torna-se difícil definir uma data precisa da sua criação. Enquanto que Oliveira M. E.

(2002) pondera que já na antiguidade havia a prática do envio de mensagens escritas de

mestres para seus discípulos; prática que para a autora já pode ser considerada um modelo de

EaD, porque tais mensagens tinham como objetivos promover a aprendizagem daqueles que,

eventualmente, estivessem fisicamente distantes. Saraiva (1996) também afirma que a

comunicação com fim educativo tem início na antiguidade, através das mensagens escritas por

discípulos fisicamente distantes com objetivos de aprendizagem; conforme acredita a autora,

“(...) as cartas comunicando informações sobre o quotidiano pessoal e coletivo juntam-se às que

transmitiam informações científicas e àquelas que, intencional e deliberadamente, destinavam-se à

instrução.” (SARAIVA, 1996, p.18).

Para Oliveira M. E. (2002) e Saraiva (1996), a prática de escrita com objetivo de

transmitir instruções, orientações, informações científicas davam-se através de cartas enviadas

inicialmente na Grécia e, posteriormente por Roma; torna-se bastante utilizada pelo

cristianismo e adquire maior desenvolvimento com o Humanismo e o Iluminismo.

Em seus estudos, Vilaça (2010) aponta que seriam as primeiras experiências de EaD,

as cartas escritas por Platão e Paulo, com intuito de instruir estando fisicamente distante.

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Vilaça (2010) aponta que para alguns teóricos o surgimento da EaD está

frequentemente ligado aos avanços tecnológicos, a começar pela invenção da imprensa, mais

precisamente, através dos jornais; chegando a considerá-lo um dos primeiros instrumentos

usados com fins de transmitir instruções ou ensinos a distância.

Nesse sentido, cabe recorrer a Saraiva (1996) que remete em seu artigo à pesquisa

realizada pelo professor Francisco José Silveira Lobo Neto que, por sua vez, sinaliza em seus

estudos o primeiro marco da educação a distância em 20 de março de 1728, na Gazeta de

Boston, por Cauleb Phillips, então professor de taquigrafia, através do seguinte anúncio:

“Toda pessoa da região, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa várias lições

semanalmente e ser perfeitamente instruída, como as pessoas que vivem em Boston.” (NETO7

apud SARAIVA, 1996, p. 18).

Portanto, foi a partir da invenção da prensa em 1447 por Gutenberg e, com ela, a

possibilidade de reprodução em larga escala dos materiais impressos, que houve a crescente

demanda de circulação de informações, principalmente, quando desta invenção surgiu o

primeiro jornal impresso, em 1702 (RIO DE JANEIRO, 2011). Essa descoberta tecnológica

torna-se, então, um marco para os avanços da educação a distância a um nível coletivo e,

deliberadamente, com o propósito de romper com distâncias geográficas e temporais,

conforme podemos perceber com a intenção do anúncio do professor Cauleb Phillips

publicado em 1728, que propiciou que as pessoas que não residissem em Boston obtivessem o

acesso aos mesmos conhecimentos, independente da distância.

Muito embora a invenção da imprensa tenha sido um marco na história da EaD,

ressaltamos que, segundo autoras como Oliveira M. E.(2002) e Saraiva (1996), a partir do

século XX, houve um impulso na consolidação e expansão da EaD no mundo, decorrente da

modernização dos serviços dos correios, da maior rapidez dos meios de transporte e,

sobretudo, pelos avanços alcançados no campo da tecnologia da informação e comunicação.

Avanços que ampliaram as possibilidades do uso estritamente da escrita para outros recursos

que vieram somar-se ao escrito. Segundo Saraiva:

Sobretudo a partir das décadas de 60 e 70, a teleducação, embora mantendo

os materiais escritos como base, passa a incorporar, articulada e

integradamente, o áudio e o videocassete, as transmissões de rádio e televisão, o videotexto, o videodisco, o computador e mais recentemente, a

tecnologia de multimeios, que combina textos, sons, imagens, mecanismos

de geração de caminhos alternativos de aprendizagem (hipertextos, diferentes linguagens), instrumentos de uma fixação de aprendizagem com

7 NETO sem indicação bibliográfica na obra de Saraiva (1996, p.18).

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feedback imediato, programas tutoriais informatizados etc. (SARAIVA,

1996, p.19).

Campos (2007) salienta que as pesquisas e o desenvolvimento dos recursos

computacionais ocorrem paralelamente aos avanços tecnológicos na EaD. Ela aponta que, a

partir da década de 60 e 70, programas de autoinstrução mediados por computadores,

modificaram a relação e interação do homem com a máquina. Fato esse que, logo após tal

período, aproximadamente na década de 80, realizam-se pesquisas e financiamentos intensos

do uso de computadores na oferta de educação.

Nas últimas décadas essa modalidade tem se multiplicado tanto em países

desenvolvidos como em países em desenvolvimento. A exemplo, o Brasil, na América Latina,

sobre novas bases teóricas, políticas, tecnológicas, filosóficas e pedagógicas. (OLIVEIRA M.

E., 2002).

2.1.2 Evolução da Educação a Distância

Passamos pela fase da EaD prioritariamente por correspondência, seguida pelas

inovações radiofônicas e pela TV. Pontuamos ainda o uso da informática até o uso da

Internet, como principal meio de comunicação e formação nessa modalidade.

Atualmente a EaD tem se consolidado como um modelo de educação em que a maior

parte da mediação dá-se através de comunicações virtuais ou tecnológicas, reduzindo tempo e

espaço.

Não há exigências de tempo (hora) e espaço (local/espaço físico) comum aos usuários

quando tratamos de atividades assíncronas, aquelas que não dependem da presença simultânea

dos participantes, como participação em fórum, por exemplo, ou para acesso a conteúdos.

Basta que o acesso à Internet seja garantido para se conectarem a qualquer hora e lugar no

ambiente virtual de aprendizagem do curso e, a partir daí, ter acesso ao conteúdo e aos outros

participantes, por dispositivos móveis, como notebook, tablet, etc. No caso de atividades

síncronas como chat, por exemplo, torna-se necessário o acesso simultâneo no horário

estabelecido independente do local em que estejam. Assim, a EaD cumpre com maior rapidez,

como nunca antes, sua característica principal: a de superar distâncias físicas.

Saraiva (1996), deixa claro seu posicionamento acerca da história da EaD, onde

admitiu a existência da educação a distância desde a antiguidade e sua evolução até o final do

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século XX. Pontuou, naquela ocasião, a EaD como uma modalidade do futuro, deixando

evidente a potencialidade que a EaD ainda alcançaria no âmbito educacional atrelada aos

avanços tecnológicos. Ela vislumbrava um futuro ainda incerto quanto aos avanços

tecnológicos, mas estava certa de que esses avanços alterariam diretamente a relação entre os

sujeitos envolvidos na relação ensino-aprendizagem a distância, seus meios, suportes e

recursos tecnológicos de interatividade e construção de sentido.

No final do século XX e mais precisamente a partir do século XXI, é possível perceber

mudanças nas marcas históricas sobre os conceitos de EaD construídos até então. A partir

desse momento novas descobertas tecnológicas e novas discussões pedagógicas colocaram em

xeque o processo de educação a distância como simples processo de transmissão de

conhecimento e informação. Deu-se início a um novo panorama de educação pautado nos

aspectos de interatividade, construção colaborativa do conhecimento, troca intensa entre os

sujeitos do processo; mudanças estas que estão diretamente ligadas aos avanços tecnológicos

e da Internet. (SILVA, 2012).

À medida que os conhecimentos tecnológicos avançam, percebemos mudanças

significativas nos modelos de educação na modalidade a distância. Porém, como já apontado,

não há um consenso na classificação das diferentes gerações da EaD, de tal forma, que

encontramos diversos posicionamentos entre os autores quanto à classificação de tais

gerações.

Em seus estudos Moore e Kearsley (2008) identificam cinco gerações ao longo do

contexto histórico da EaD. Suas contribuições estão organizadas no quadro a seguir:

Quadro 2.1 – Evolução da Educação a Distância Segundo Moore e Kearsley (2008)

Gerações Características

1ª Geração Instrução por correspondência, quando o meio de comunicação era o

texto escrito.

2ª Geração Transmissão por meio do rádio e da televisão.

3ª Geração Não foi muito caracterizada pela tecnologia de comunicação, mas pelo

surgimento das Universidades Abertas.

4ª Geração Teleconferência. Áudio e videoconferências transmitidas por telefone,

satélite, cabos e redes de computadores.

5ª Geração Com base nas tecnologias da Internet/World Wide Web.

(Adaptado de MOORE e KEARSLEY, 2008, p.25 e 26)

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Ainda que admitamos que não haja consenso nas classificações das gerações de EaD,

concordamos com Vilaça de que “o ensino por correspondência é tradicionalmente

classificado como EaD de primeira geração.” (VILAÇA, 2010, p. 6).

Campos (2007) também discute cinco gerações que bem exemplificam os diferentes

modelos de EaD ao longo dos anos.

Quadro 2.2 – Evolução da Educação a Distância Segundo Campos (2007)

Gerações Características

1ª Geração Por correspondência, com predomínio do material impresso.

2ª Geração Começa a apresentar recursos multimídia como fita de áudio, vídeo,

algumas práticas com computadores e vídeo interativo, recursos que

configuravam um grande avanço para o momento.

3ª Geração Traz como marca a existência de tele aprendizado com áudio-

conferências, videoconferências e TV/ rádio.

4ª Geração Começa com o uso da multimídia interativa on-line, com um modelo

de aprendizagem mais flexível, com acesso à Web e uso de recursos

do computador.

5ª Geração São aprimorados os recursos da Web, com maior flexibilidade e

inteligência, com recursos como a multimídia interativa on-line,

acesso aos recursos da Web, comunicação mediada pelo computador

permitindo respostas imediatas e criação de portais de educação das

instituições.

(Adaptado de CAMPOS, 2007, p.3)

Se por um lado, os estudos de Moore e Kearsley (2008) e Campos (2007) aproximam-

se quanto à quantidade de gerações, de outro, a partir de uma leitura atenta, mostram que tais

estudos convergem ao classificarem a primeira geração (correspondência) e a quinta geração

(Internet/Web). E distanciam-se em relação à classificação as demais gerações.

Com um modelo de classificação diferente do usado por Campos (2007) e Moore e

Kearsley (2008), que apresentam a evolução da EaD em cinco gerações, com características

próprias, encontramos Pimentel (1999 apud CAMPOS, 2007), que realiza uma classificação

com base em três gerações. Com relação ao uso específico das tecnologias na educação,

Pimentel classifica a evolução da EaD da seguinte forma:

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Quadro 2.3 – A Evolução da Educação a Distância Segundo Pimentel

Geração Textual Geração Analógica Geração Digital

Livro

Apostila

Revista

Artigo (em anais)

Carta (correio tradicional)

Imagem (foto, desenho,

etc.)

Jogos

Televisão

Vídeo

Rádio

Telefone

Fax

Áudio (fita K-7 etc.)

Hipertexto

Multimídia

CD-Rom

Software Educacional

Editor (texto, imagem, etc.)

Realidade Virtual

Simulador

Correio-eletrônico (e-mail)

Lista de discussão

Chat (bate-papo)

Videoconferência

Jogos (PIMENTEL, 1999 Apud CAMPOS, 2007, p. 13)

Pimentel classifica a evolução das gerações da EaD com base na tecnologia

predominante em três aspectos: a textual, a analógica e a digital. A geração textual proposta

por Pimentel é caracterizada pela EaD por correspondência e corrobora os estudos de Campos

(2007) e Moore e Kearsley (2008).

Por outro lado, caso fôssemos classificar o modelo de EaD atual que traz como

característica o uso do computador e da Internet, que permite o acesso cada vez mais veloz à

Web para a busca de documentos textuais, gráficos, imagens, som, vídeo, sendo o modelo que

permite a interação e a interatividade síncrona e assíncrona, o hipertexto, a imersão dos

gêneros textuais digitais; teríamos como resultado que, para Campos (2007) e Moore e

Kearsley (2008), estaríamos na quinta geração, enquanto para Pimentel (1999 apud Campos,

2007), na terceira geração.

Convém ressaltar que Moore e Kearsley (2008) diferenciam-se ainda mais de outros

estudiosos por considerarem como terceira geração o surgimento das Universidades Abertas,

tomando como referência experiências norte-americanas entre o final de 1960 e início de

1970; experiência que surge no Brasil anos mais tarde.

Embora possamos afirmar que os pesquisadores supracitados tenham se aproximado

quanto às características e aos gêneros textuais digitais, convém salientar que divergiram

quanto às características apresentadas pelas distintas gerações. Por exemplo, o uso do Chat,

que para Pimentel (1999) corresponde à terceira geração, para Campos (2007) e Moore e

Kearsley (2008) corresponde à quinta geração. Todavia, independente da classificação

realizada, é preciso ressaltar que essa convergência se deve aos pressupostos concatenados

aos avanços da Web 2.0.

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Segundo Gabriel, as mudanças tecnológicas que ocorrem ao longo dos anos na Web

não são, por si só, responsáveis pelos termos Web 1.0, 2.0. Para a estudiosa esses termos

“estão mais relacionados às mudanças no comportamento dos usuários da web do que às

tecnologias que proporcionam essas mudanças.” (2013, p. 22).

Até o final do século XX, a Web 1.0 predominava. Por ser estática não permitia ações

além de navegar e consumir as informações disponíveis na Internet.

No começo do século XXI surge um movimento que vem a ser chamado de Web 2.0.

Ela permite que o usuário passe a ser produtor de conteúdos. É a Web da participação e, para

Gabriel (2013, p.22), “funciona como uma plataforma participativa de serviços”, porque nela

não apenas é possível consumir conteúdos, mas, e, principalmente produzir conteúdos com

base em diferentes tipos de interações como blogs, redes sociais (Twitter, Facebook, etc.),

vídeo e fotos (You Tube).

A partir da Web 2.0, foi possível ter maior interatividade construída on-line como em

blogs, You Tube, marcados pela autonomia de criar e disponibilizar conteúdos em rede.

Percebemos que menos de uma década depois novas possibilidades surgem como o Facebook

e o Twitter, que apontam para outras características de comunicação e autoria entre os

usuários.

Tal mudança no relacionamento e na cultura digital pode proporcionar novas formas

de relacionamentos também nas relações entre os usuários, nas redes educativas presenciais e

a distância.

2.2 Aspectos Legais da Educação a Distância

Conquanto vislumbremos mudanças e avanços na EaD, ela continua a ser, de certa

forma, considerada por muitos uma modalidade de ensino de menor valor, destinada àqueles

que não puderam concluir os estudos dentro dos espaços presenciais regulares ou não

puderam pagar por outras formações.

A própria legislação que amparava a modalidade a distância até a publicação da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 (LDB ou LDBEN) não era precisa quanto a

seu reconhecimento, pois, segundo Neto F. (2003), esses cursos eram tidos como

experimentais. Situação que não gerava confiança e credibilidade dos cursos oferecidos pelas

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instituições nessa modalidade, muito menos pela sociedade em geral. Para Castilho (2011)

eram, geralmente, destinados a cursos profissionalizantes de baixo valor na sociedade.

Os recursos metodológicos e didáticos priorizavam o ensino individualizado com

apoio de material impresso ou outros recursos tecnológicos, como televisão, rádio, além de

cursos por correspondência. Eram considerados cursos a distância aqueles que utilizavam

esses meios tecnológicos para fins de educação e que alcançassem um grande número de

alunos.

Ao discutirmos o texto da LDB 9394/96 e sua regulamentação, nos propomos a

destacar as mudanças nos aspectos de reconhecimento da EaD enquanto modalidade de

ensino, com características próprias, identificando nos textos legais os conceitos pedagógicos,

tecnológicos e de interatividade peculiares à nova visão da EaD. Nesse cenário importa

destacar as mudanças na legislação atreladas também às mudanças nas possibilidades e usos

dos recursos tecnológicos digitais da atualidade, principalmente, considerando a Internet,

aplicados à EaD.

2.2.1 O cenário da Educação a Distância após a LDB 9394/968

Com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no dia 20 de

dezembro de 1996 - LDB 9394/96 - a educação a distância começa a se estruturar enquanto

uma estratégia regular de ensino. Assim, passa a assumir o respaldo legal de modalidade de

educação, em vigor até os dias atuais.

Antes da Lei 9394/96 os programas de educação a distância eram classificados como

“experimentais”, com seu funcionamento permitido com precariedade (NETO F., 2003). A

Lei 5.692/71 (BRASIL, 1971), em vigor até 1996, delegava aos Conselhos Federal e Estadual

de Educação a responsabilidade da emissão de pareceres para os programas de educação a

distância. O Art. 25 inciso 2º da Lei 5.692/71 entendia por educação a distância os cursos

ministrados com utilização de rádio, televisão, correspondência ou outros meios de

comunicação, desde que permitissem alcançar um grande número de alunos.

Cabe ressaltar que, quando a LDB 9394/96 foi publicada, avanços significativos foram

observados nos aspectos legais referentes a EaD, principalmente se comparadas à legislação

8 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm

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anterior. A atual LDB discorre acerca da educação a distância no Art. 80, mas desde que

entrou em vigor em 1996, já deixava evidente a necessidade de regulamentações futuras. O

texto legal dessa Lei previa: “Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a

veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e

de educação continuada.” (BRASIL, 1996).

Portanto, a EaD passa da condição de programas “experimentais” conforme pondera

Neto F. (2003), para se tornar uma modalidade de educação podendo ser aplicada em todos os

níveis e modalidades de ensino, principalmente após a regulamentação da EaD dois anos

depois, através do Decreto 2.494/98 (BRASIL, 1998) que atribui ao MEC o credenciamento

dos cursos de graduação e a formação tecnológica a distância, entre outros aspectos.

Nesse quadro de otimismo diante das transformações e conquistas da EaD, parece

oportuna a posição de Belloni (2009) quando pontua que, naquele momento pós publicação da

LDB 9394/96, as mudanças na economia e nas diferentes organizações de gestão, trabalho,

mercado e cultura, cada vez mais mediadas pelas tecnologias a nível mundial; tornam-se

inevitáveis às transformações nos sistemas educacionais. Segundo a autora, o desafio da

educação é atender às novas demandas da sociedade, reorganizar os meios tecnológicos, a

forma de acesso ao currículo, as metodologias e os materiais utilizados. Em um aspecto mais

político, a autora adverte que:

Neste quadro de mudanças na sociedade e no campo da educação já não se

pode considerar a educação a distância (EaD) apenas com um meio de superar problemas emergenciais (como parece ser o caso da LDB brasileira),

ou de consertar alguns fracassos dos sistemas educacionais em dado

momento de sua história (como foi o caso de muitas experiências em países

grandes e pobres, inclusive o Brasil, nos anos 70). (BELLONI, 2009, p. 03-04).

Esse fragmento aproxima-se das reflexões de Neto F. (2003) diante das experiências

de EaD vivenciadas no Brasil até a publicação e regulamentação da LDB, no final da década

de 1990, além de projetar uma possibilidade real de mudança dessa modalidade de ensino. A

estudiosa continua afirmando que:

(...) a EaD tende doravante a se tornar cada vez mais um elemento regular

dos sistemas educativos, necessário não apenas pra atender a demandas e/ou

a grupos específicos, mas assumindo funções de crescente importância, especialmente no ensino pós-secundário, ou seja, na educação da população

adulta, o que inclui o ensino superior regular e toda a grande e variada

demanda de formação contínua gerada pela obsolescência acelerada da

tecnologia e do conhecimento (1999 , p.4).

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Belloni, ao admitir o crescente e acelerado uso das tecnologias de comunicação e

informação para troca de conhecimentos entre pessoas fisicamente distantes, parece ter

almejado índices elevados de cursos superiores de ensino na modalidade a distância, o que de

fato ocorreu (e ocorre) nos anos seguintes.

Dados do censo 2010 divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), através do

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelam que

desde o ano de 2000, quando o Censo de Educação Superior iniciou a coleta de informações

sobre os cursos a distância, tem se observado um considerável e constante crescimento dessa

modalidade, uma tendência que atinge 14,6% do total de matrículas no ensino superior

(BRASIL, 2011).

Ainda segundo o Censo da Educação Superior (BRASIL, 2011), os cursos presenciais

atingiram em 2010 os totais de 3.958.544 matrículas de bacharelado, 928.748 de licenciatura e

545.844 matrículas de grau tecnológico. Quando destacamos o cenário nacional da educação a

distância no ensino superior os dados somaram em 2010 os totais de 426.241 matrículas de

licenciatura, 268.173 de bacharelado e 235.765 matrículas em cursos tecnológicos.

Além dos índices indicarem um avanço na oferta dos cursos de EaD na graduação é

possível verificar o representativo aumento das matrículas nos cursos de licenciaturas tanto

em instituições públicas quanto nas instituições privadas. Se por um lado as matrículas em

cursos de licenciaturas somavam 17,0% na modalidade presencial, por outro estas somavam

45,8% nos cursos a distância.

Belloni (2009) afirmava, anos antes, que a EaD entraria cada vez mais no cenário

educacional como um elemento regular dos sistemas de educação e que a modalidade

contemplaria um público adulto, em formações de nível mais elevado de ensino, como a

graduação. Segundo o Censo da Educação Superior (BRASIL, 2011), os alunos dos cursos a

distância possuem idade mais avançada, em média 33 anos, dado que confirma a projeção de

Belloni.

Conforme dados do Censo EaD BR (2012), os 3.971 cursos autorizados pelo MEC

estão constituídos de 75% das matrículas no ensino superior, 17,5% na pós-graduação –

incluindo mestrados, MBA e outros lato-sensu. O restante 7,5% compreende cursos de ensino

fundamental, médio e técnico.

Os recursos tecnológicos utilizados na EaD favorecem esse comportamento,

principalmente, quando tratamos de ingresso no ensino superior. É preciso ressaltar que a

opção pela modalidade a distância na educação superior permite o acesso àqueles que não

tiveram a oportunidade de ingressar em idade própria nesse nível de ensino, ou ainda, que a

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maior flexibilidade de horário seja uma alternativa aos que se encontram no mercado de

trabalho e precisam de um curso de nível superior.

A partir dos dados censitários dos últimos anos relacionados à consolidação da EaD na

educação superior, acreditamos que este avanço foi intensificado pela ampliação da oferta nas

instituições privadas e pela abertura de editais pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), que

permitiu, primeiramente em 2005, às instituições Federais o credenciamento para oferta de

cursos. Logo depois, em 2006, as Estaduais e Municipais ofertaram cursos Superiores na

modalidade a distância (ALMEIDA, 2012). Ressaltamos que o objetivo principal da UAB é a

expansão da formação superior pública, garantindo a democratização e o acesso a esse nível

de ensino, de forma mais ampla e descentralizada dos grandes centros.

A EaD on-line ganha mais um espaço que legitima sua aplicabilidade, quando em

2001 é publicada a Portaria do MEC 2.253 (BRASIL, 2001), que garante às instituições de

ensino superior presencial ofertarem até 20% de suas disciplinas regulares na modalidade a

distância.

2.2.2 A Educação a Distância no texto da LDB 9394/96 e sua regulamentação

Conforme discutido na seção anterior, a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional - LDB 9394/96 – associada aos avanços tecnológicos de comunicação e

informação mediados pela Internet fez surgir um novo conceito de educação a distância, que

começou a se estruturar enquanto uma estratégia regular de ensino.

Cabe destacar que o texto original do § 4º do Art. 80 da LDB 9394/96 sofreu alteração

recente pela Lei 12.603/12 (BRASIL, 1012). A nova redação demonstra claramente uma

preocupação com a adaptação da Lei diante dos avanços tecnológicos de comunicação e

informação, fato que leva o legislador a acrescentar ao texto existente a expressão “outros

meios de comunicação”, como forma de ampliar as noções de rádio e televisão e considerar

outras formas de comunicação como a Internet, por exemplo. Assim passa a ser lido o texto

atual: I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e

imagens e em outros meios de comunicação que sejam explorados mediante autorização, concessão ou

permissão do poder público; (Art. 80, § 4º).

É preciso reconhecer que os constantes avanços tecnológicos refletem diretamente nas

relações de comunicação e informação da sociedade globalizada e que seus reflexos alcançam

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também as relações comunicativas na educação a distância. Precisamos considerar também

que a legislação brasileira relativa a EaD tem procurado se adequar ao processo de

modernização e aos avanços das tecnologias de informação e comunicação, a fim de

acompanhar uma mudança de paradigma mundial diante dessa modalidade de ensino, pois

busca desprender do conceito de EaD, a ideia de uma alternativa experimental de menor

qualidade e relevância ou apenas uma solução para aqueles jovens e adultos que não

conseguiam frequentar a escola regular (supletivos) na idade própria; para se tornar uma

estratégia regular de ensino, com profundo aspecto de ampliação democrática de acesso à

educação de qualidade.

O Decreto 2.494/98 que regulamentou a LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996) foi revogado

seis anos mais tarde pelo Decreto 5.622 publicado em 19 de dezembro de 2005 (BRASIL,

2005), quando ficou estabelecida uma nova leitura na regulamentação do Art. 80 da Lei

9.394/96 referente à política de qualidade nos variados aspectos ligados a EaD, no

credenciamento institucional, na supervisão, no acompanhamento e avaliação dos cursos,

adequados aos padrões de qualidade enunciados pelo Ministro da Educação.

Em comparação com o Decreto 2.294/98, alguns pontos merecem destaque, mesmo

que de forma breve, por serem considerados avanços nos aspectos formais e legais da EaD

presentes no Decreto 5.622/05 (BRASIL, 2005). Analisando a conceituação dessa modalidade

em ambos Decretos percebemos imediatamente a diferença das concepções que davam

suporte aos momentos históricos, econômicos, tecnológicos, sociais e culturais, em menos de

uma década.

Na definição no Decreto 5.622/05, a EaD é conceituada de forma explícita como

modalidade educacional; conceituação que é omitida no Decreto de 98 por mais que a própria

LDB9394/96 já a classificasse enquanto modalidade de ensino. O Decreto de 98 admite que a

EaD possa levar à autoaprendizagem sem defini-la claramente, permitindo ao leitor a ideia de

“aprender sozinho” em virtude das características de muitos cursos que existiam até aquela

data - ensino por correspondência, tele-educação. O texto prossegue acrescentando a

possibilidade da existência da mediação por recursos sistematizados e vinculados pelos

diversos meios de comunicação, mas não deixa clara a forma de mediação e interação,

principalmente, entre alunos e professores.

Em contrapartida, o Decreto 5.622 de 2005 (BRASIL, 2005) amplia os aspectos de

mediação didático-pedagógica, a qual deve ser pautada nos processos de ensino e

aprendizagem com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, ou seja,

deixa clara a necessidade da mediação através das TICs entre estudantes e professores,

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considerando ainda o desenvolvimento de atividades educativas em lugares ou tempos

diversos. Em outras palavras, admite-se a distância, mas não o isolamento dos alunos. O texto

legal está impregnado de entusiasmo decorrente da informatização e da conexão, com a

esperança da expansão destes recursos tecnológicos para democratizar cada vez mais o acesso

à educação de qualidade.

O Decreto 5.622/05 amplia também outros aspectos como o conceito ligado ao

processo de avaliação por considerar que o estudante poderá participar de instrumentos

avaliativos a distância, ou atividades programadas, ainda que, a avaliação presencial

prepondere sobre quaisquer outros instrumentos aplicados; permite o regime de colaboração e

cooperação entre os sistemas de ensino, Conselhos Estaduais e Conselho Nacional de

Educação e diferentes esferas administrativas, para padronização de normas e procedimentos

para o credenciamento e renovação de reconhecimento de cursos de instituições, a autorização

e a previsão do acesso às pessoas com necessidades educacionais especiais nos cursos a

distância, uma vez que a educação especial foi omitida na legislação anterior. Também prevê

delegar competência às autoridades dos sistemas de ensino para promover atos de

credenciamento de instituições para oferta de cursos a distância no nível básico na modalidade

de educação especial (Art. 11 II). Há no mesmo Decreto orientações para a elaboração de

projetos pedagógicos de cursos e programas a distância, dentre outros aspectos, a preocupação

em estabelecer recursos de inclusão de estudantes com deficiência, como lê-se no Art. 13 II:

“prever atendimento apropriado a estudantes portadores de necessidades especiais”.

Ressaltamos que o Decreto 5.622 publicado em 20 de dezembro encontra-se em

vigência desde 2005. No entanto, em 12 de dezembro de 2007, os Arts. 10, 12, 14, 15 e 25

foram alterados pelo Decreto 6.303. O Decreto 6.303/079 faz referência ao polo presencial

como unidade descentralizada de desenvolvimento das atividades pedagógicas. Nele há

alterações nos critérios para o credenciamento dos polos presenciais como a avaliação in loco,

normas para ampliação, entre outros critérios.

A partir desse documento o polo assume uma relevância central em um curso a

distância. Mais uma vez a legislação admite que o curso na modalidade a distância necessita

de um polo de apoio ao estudante, pois este espaço além de ser uma referência física para o

corpo discente permite eventuais encontros entre os alunos de um curso que é desenvolvido a

9 Ressaltamos ainda que o Decreto 6.303/07 (BRASIL, 2007) também alterou o Decreto 5.773/06 (BRASIL,

2006a) que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação

superior e cursos superiores de graduação e sequenciais do sistema federal de ensino, conforme sua ementa.

Alterando os Arts. 5º, 10, 17, 19, 25, 34, 35, 36, 59, 60, 61 e 58, entretanto, é importante reconhecer que houve

alteração, mas estas mudanças não discutiremos neste trabalho.

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distância, mas não sozinho. A existência do espaço físico, no texto da lei, destina-se à

realização de atividades presenciais obrigatórias como aulas de laboratório, avaliações,

eventuais encontros e tutorias presenciais e passa a ser um critério de exigência e de avaliação

atenta no ato do credenciamento ou na possível expansão de cursos ou programas.

2.3 Políticas Públicas, tecnologia e educação on-line

Ao considerar o contexto brasileiro, podemos entender as mudanças na EaD e o amplo

investimento de políticas públicas nessa modalidade, pelo menos por alguns aspectos.

O primeiro refere-se ao aspecto legal, conforme já apresentado, a LDB em vigor – Lei

Nº 9394/96 legitimou a modalidade de ensino a distância, ora desprestigiada e pouco

confiável pelas fragilidades que a modalidade apresentava até então, como ensino

individualizado, por correspondência e, principalmente, devido às críticas aos aspectos e

instrumentos avaliativos.

O segundo aspecto que impulsionou tais medidas políticas está relacionado aos

avanços das TICs, que trouxeram mudanças não apenas na vida social e cultural, como

também no contexto educacional. A Revolução Digital, sem precedentes na história da

humanidade, gerou impactos diferentes de qualquer evolução tecnológica do passado, “com

uma modificação acentuada da velocidade da informação e desenvolvimento tecnológico,

acelerando o ritmo vertiginoso o ambiente em que vivemos.” (GABRIEL, 2013, p. 03).

A essa condição, vinculamos as tecnologias de comunicação apoiadas na Internet,

principalmente no período de expansão mundial da Web 2.0 (em seção 2.1.2), que mudou a

relação de linguagem, espaço e tempo entre os homens, pois fez real a possibilidade de

interatividade a distância através das interfaces da Internet.

A partir das ferramentas de comunicação síncronas (chat, videoconferência, etc.) e

assíncronas (fórum, Wiki, por exemplo), disponíveis nos ambientes virtuais de aprendizagem e

de outros recursos nas plataformas da Internet, os participantes podem trocar e construir

novos conhecimentos estando em tempos e lugares diferentes, sendo possível estabelecer uma

relação interativa estando fisicamente distantes.

A interação entre os participantes é uma característica da Web 2.0. Essa Web permitiu

não apenas a expansão da banda larga por volta do ano 2000, como fez surgir a necessidade

inicialmente de “estar” conectado e agora a de “ser” conectado. Gabriel (2013) pondera que

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“ser” conectado significa que parte de você está na rede – “você vive em simbiose com ela”

(2013, p.15) e não somente “estar” conectado eventualmente à rede da Internet. O acesso à

rede e a velocidade dela de processar dados potencializou o uso de diferentes tipos de

linguagens nas plataformas da Internet que, em geral, permitem o uso de texto escrito, vídeo,

música, gráficos interativos, tabelas, entre outros, que podem ser construídos, compartilhados,

comentados, distribuídos pelos usuários na rede mundial com acesso livre, a qualquer pessoa

ou entre os próprios usuários de forma mais restrita, como num Wiki privado ou no caso das

redes sociais, por exemplo.

Outro aspecto seria a possibilidade de expandir o ensino superior, com menor

investimento financeiro, àqueles que não poderiam frequentar uma instituição ou curso

presencial, uma vez que criar novos campus universitários traria custos mais altos que a

abertura de polos presenciais.

Diante desse cenário favorável, importantes iniciativas começaram a surgir com o

intuito de expandir ações de políticas públicas no campo educacional em todo território

brasileiro. Com a finalidade inicial de formar professores para educação básica em nível de

graduação, foram criadas, por exemplo, instituições como o Centro de Educação a Distância

do Estado do Rio de Janeiro - CEDERJ (2002) no Rio de Janeiro e a Universidade Aberta do

Brasil - UAB (2005) de abrangência nacional. Assim, aqueles que antes não poderiam cursar

uma instituição pública passam a ter acesso a elas independente da localidade geográfica. Em

contrapartida, contribuiria para sanar uma parcela da carência de professores neste nível de

ensino.

Para tanto, fez-se necessária a implementação de políticas públicas que não apenas

garantissem o acesso daqueles excluídos, mas que propusesse uma formação sólida a

distância. Apoiada pelos meios midiáticos da tecnologia digital cresce a educação on-line,

com o pressuposto de mesmo distante não deixar o estudante sentir-se sozinho. Para tanto,

torna-se necessário um novo olhar para o planejamento, a implementação e a gestão de tais

cursos, necessidade de reorganizar a utilização das tecnologias de comunicação, em especial,

as tecnologias digitais, dos gêneros digitais de comunicação síncronas e assíncronas, da

organização do currículo, das metodologias de ensino e aprendizagem e de interatividade

nesse processo.

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45

2.3.1 Aspectos de Educação a Distância e Educação on-line

O avanço que a EaD tem alcançado nas últimas décadas está ligado à popularização e

democratização do acesso às TICs (BELLONI, 2009, SILVA M., 2003, 2012, NETO F.,

2003, BRAGA D., 2013). No entanto, a maneira com que a tecnologia é utilizada por parte

dos sujeitos envolvidos, pode fazer com que o processo educacional se torne mais ou menos

interativo, de maior ou menor qualidade.

Em geral, a educação a distância é caracterizada por transmitir de um-para-um ou um-

para-muitos os mesmos conteúdos de forma unilateral, através dos materiais impressos, dos

programas de rádios e TV ou de recursos tecnológicos aplicados aos computadores. Com a

aplicação da Internet e seus recursos midiáticos, é possível identificarmos um novo modelo de

EaD a que chamamos educação a distância on-line ou educação on-line ou via Internet.

Segundo Azevedo (2005), é possível identificarmos uma EaD antes e outra depois da Internet.

Via Internet temos as três possibilidades de comunicação reunidas numa só

mídia: um-para-muitos, um-para-um e, sobretudo, muitos-para-muitos. É

esta possibilidade de interação ampla que confere à EaD via Internet um

outro status e vem levando a sociedade a olhar para ela de uma maneira diferente daquela com que olha outras formas de EaD. (AZEVEDO, 2005, p.

13)

Na EaD on-line, o que se deseja é que haja uma construção coletiva de conhecimentos

e não a transmissão massiva de informações via Internet. Para tanto, é imprescindível entre

outros aspectos que haja interatividade e o diálogo entre os usuários, professores e alunos,

conforme apontam Blikstin e Zuffo “não basta introduzir tecnologias – é fundamental pensar

em como elas são disponibilizadas, como seu uso pode efetivamente desafiar as estruturas

existentes em vez de reforçá-las.” (2003, p.25).

A educação on-line, tal como outros modelos de EaD, deve ser considerada como uma

modalidade de ensino onde há uma distância física, mas isso não significa dizer que não haja

interação entre os participantes aluno-professor, professor-aluno(s) e aluno(s)-aluno(s). Ao

contrário, na educação on-line é necessário que haja um enorme estímulo às interações

pessoais, para que este todo coadune para um processo ensino-aprendizagem que de fato

alcance o objetivo de construir novos conhecimentos e não apenas transmitir informações

com poucas conexões ou conexões efêmeras. Nesse sentido, o uso das modernas ferramentas

tecnológicas são extremamente estimulantes por proporcionarem momentos de trocas e

construção colaborativa.

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Proporcionar educação on-line não é o mesmo que oferecer educação

presencial ou a distância via suportes tradicionais. Isso exige metodologia

própria que pode, inclusive, inspirar mudanças profundas no modelo da transmissão que prevalece na sala de aula presencial “info-pobre”. Falo em

educar com base em diálogo, troca, participação, intervenção, autoria,

colaboração. É certo que essa metodologia não é prerrogativa do computador

conectado, mas é nele que encontra possibilidades de potencialização. (SILVA M., 2003, p. 12).

Assim, não é pelo simples acesso às tecnologias, em especial aquelas relacionadas à

Internet, que garantiremos um bom ensino com qualidade (SILVA M., 2003, 2012, NETO F.,

2003, AZEVEDO, 2005). As inovações e avanços das tecnologias emergentes nas últimas

décadas trouxeram inquietações acerca do modelo da prática pedagógica usada na formação

inicial ou continuada na educação on-line, inquietações relacionadas ao conteúdo, à

metodologia, a forma de disponibilizar o conteúdo, à maneira de provocar a interatividade, à

avaliação.

Estudos apontam que a modalidade de educação a distância com uso do computador e

da internet tem se tornado cada vez mais propagada por ser uma forma rápida e barata de

formar e qualificar os estudantes a custos muito baixos (OLIVEIRA M. E., 2002, CAMPOS,

2007, SILVA M., 2012). Em contrapartida, Azevedo (2005) não comunga da mesma visão,

diferenciando-se nesse aspecto, pois afirma que a oferta de cursos de EaD on-line de

qualidade “não é nem tão barato e nem tão lucrativo quanto muitos imaginam” (2005, p. 17),

porque diferente da EaD tradicional, que investe na reprodução e distribuição em larga escala

de materiais didáticos há, na EaD on-line, a necessidade de investimento nos recursos

didáticos, nos programas, nas mídias que oferecem suporte aos cursos, além da tutoria on-line

que sustenta a relação de interatividade e formação colaborativa dos alunos ao longo do curso.

Para esclarecer essa reflexão sobre educação a distância e educação on-line,

recuperamos o posicionamento da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED,

2012) que corrobora a questão quando considera que os cursos a distância, de modo geral, são

aqueles que mais de 70% do conteúdo são desenvolvidos através de atividades a distância via

material impresso, áudio, audiovisual, ou outras tecnologias computacionais, podendo ser

desenvolvido em atividades síncronas ou assíncronas. Há ainda uma especificação àqueles

cursos desenvolvidos com mais de 70% com base no material impresso, estes são chamados

de cursos a distância com entrega postal. Por fim, os cursos on-line são aqueles que

apresentam pelo menos 80% dos conteúdos desenvolvidos pela Internet.

Nesse quadro, parece oportuna a posição de Moran (2003, p. 39), quando define

educação on-line “como o conjunto de ações de ensino-aprendizagem desenvolvidas por meio

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de meios telemáticos, como a Internet, a videoconferência e a teleconferência”. Moran

confirma o conceito da ABED no sentido da educação on-line ser mais restrita que a educação

a distância. Pois um curso on-line é um curso a distância, mas nem todo curso a distância é

um curso on-line, a exemplo do curso a distância por correspondência que é um curso a

distância, mas não on-line.

Porém, é importante destacar que, enquanto Moran (2003) considera que a educação

on-line abrange desde cursos sem nenhum contato físico – cursos virtuais - a cursos

semipresenciais, ou ainda cursos presenciais com oferta de atividades fora da sala de aula. A

ABED não comunga deste conceito, pois só classificaria os cursos semipresenciais como

educação on-line desde que pelo menos 80% do conteúdo fosse desenvolvido a distância pela

Internet, situação que não se aplica aos cursos presenciais, que podem oferecer disciplinas on-

line, mas não são considerados modelos de educação on-line.

Assim, entendemos que a afirmação de Moran quanto aos cursos on-line permearem

tanto os cursos virtuais, passando pelos semipresenciais, chegando aos presenciais; ultrapassa

a dicotomia de classificação entre educação a distância ou educação on-line. Sua

preocupação, nesse momento, parece estar centrada nas experiências de ensino-aprendizagem

on-line desenvolvidas através da Internet que podem permear cursos de diferentes tipos e,

mesmo que não seja considerado um modelo de educação on-line, são excelentes

oportunidades de aprendizagem em aulas on-line ou experiências on-line. Portanto, o curso

pode não ser classificado como um curso de educação on-line para os conceitos da ABED,

mas oferecer disciplinas através da Internet, disciplinas on-line.

Conforme já discutido, com a Internet no processo educacional barreiras espaciais,

temporais, e geográficas foram superadas e novos modelos de relacionamentos entre os

usuários surgiram. Fato que possibilitou a expansão dos cursos oferecidos na modalidade a

distância e semipresencial, levando às mudanças significativas nas relações pedagógicas, em

especial nas relações que se dão nos espaços virtuais de comunicação e aprendizagem.

2.3.2 A Universidade Aberta do Brasil (UAB)

A proposta das universidades abertas é levar a qualquer pessoa a aquisição de

conhecimentos, habilidades e atitudes exigidos pelo mundo globalizado. A qualificação

profissional e o acesso ao ensino superior já deixou de ser privilégio de poucos e tornou-se

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necessidade para o ingresso no mercado de trabalho em muitos setores. Essa proposta é

considerada como uma ação com princípio de igualdade, pois grande parcela da população

passa a ter oportunidade de inclusão.

Tal modelo de educação superior já é considerado uma tendência global (OLIVEIRA

M. E., 2002) e seu avanço deve muito aos recursos tecnológicos das TICs que tem fornecido

suporte para diversas práticas de EaD na atualidade. Com as Políticas Públicas de expansão ao

acesso superior através da criação das universidades abertas, os países que as implementam

passam a oferecer formação universitária a um maior número de pessoas a custo bem menor,

desafogando as instituições públicas presenciais à medida que forma um grande percentual de

estudantes, aumentando as possibilidades de acesso a melhores postos de trabalho, aos bens

culturais e sociais.

O Projeto Universidade Aberta do Brasil (UAB) foi lançado pelo Ministério da

Educação (MEC) em 2005 e instituído pelo Decreto 5.800 de 08 de junho de 2006 (BRASIL,

2006b), para atender a crescente demanda da educação superior no Brasil com prioridade para

formação de professores para a educação básica. Tornou-se a Política Pública que possibilitou

o aperfeiçoamento de tecnologias de informação e comunicação, materiais didáticos e redução

de tempo, recursos e distâncias geográficas fortalecendo cada vez mais a EaD (COSTA,

2007). A partir de então as instituições de ensino superior têm ampliado a oferta de cursos

dessa modalidade.

2.3.3 O Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro - CEDERJ

A experiência do Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro

(CEDERJ) é um exemplo de EaD na formação inicial de professores que foi criado em 2002

pela Lei Complementar 103/02 (RIO DE JANEIRO, 2002) com o objetivo de levar educação

superior gratuita a todo Estado do Rio de Janeiro, o Consórcio CEDERJ é formado

atualmente por sete universidades públicas: CEFET, UENF, UERJ, UFF, UFRJ, UFRRJ

(Rural) e UNIRIO.

Esse consórcio possibilita a inclusão daqueles que antes não teriam acesso a uma

formação superior, devido à distância geográfica, falta de tempo, condições econômicas,

sociais e culturais. O CEDERJ possui polos regionais organizados em diversos municípios

distribuídos de norte a sul do Estado, democratizando o acesso aos alunos que antes não

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podiam sonhar com a formação em nível superior muito menos em uma instituição pública.

Imagem 2.1 – Polos CEDERJ

Fonte: http://www.cederj.edu.br/cederj - acesso em 07/08/2013

Os cursos oferecidos pelo CEDERJ são ministrados a distância com uso do

computador e da Internet. Os estudantes organizam seus estudos através do material didático

de apoio ao estudante (impresso e/ou on-line) e do ambiente virtual de apoio à aprendizagem.

No espaço virtual as ferramentas estão disponíveis no site para livre acesso dos alunos,

independente da hora, local, distância e interesse pessoal. Além desses recursos todos os

estudantes estão vinculados a um polo de apoio presencial que atende os alunos com as

tutorias presenciais, em algumas práticas de laboratório e nas avaliações presenciais.

Cumprindo com os aspectos legais da legislação em vigor da educação a distância10

.

Além do material didático impresso, das avaliações, de pesquisas e do material

complementar disponibilizados no AVA, a tutoria (presencial ou a distância) é considerada

um dos eixos que sustenta a dinâmica dos cursos. Portanto, mais do que apenas transmitir

uma informação, comunicado ou lançar um conteúdo, é preciso transformar os encontros

presenciais ou os espaços de aprendizagem virtuais em espaço de interatividade e construção

de conhecimento coletivo de forma dialógica.

O professor-tutor, presencial ou a distância, precisa empenhar-se para mediar um

10

Embora o termo Educação a Distância seja utilizado na Lei Complementar nº 103 de 2002, que criou o

CEDERJ, salientamos que esse modelo educacional pode ser considerado uma prática de educação

semipresencial, pois exige que a maior parte das avaliações aconteça de forma presencial, incluindo algumas

práticas obrigatórias de laboratório. No entanto, não é objetivo desse trabalho investir nesse debate. Desse modo,

faremos referência aos cursos do Consórcio CEDERJ como graduações na modalidade de educação a distância.

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processo de conhecimento individual que seja socializado e reconstruído com os demais

usuários e apresentar atividades que contribuam para a reflexão, a colaboração, a

interatividade, investindo no processo de aprendizagem autônomo do aluno. Indo ao encontro

à proposta de aprendizagem construtivista em EaD. Bairral (2007, p. 43) diz que,

as tarefas constituem apenas uma peça da atividade formativa. No processo interativo, são relevantes as contribuições de cada espaço comunicativo e

suas especificidades. Não se trata de valorizar um instrumento em

detrimento do outro, pois é na utilização diferenciada dos mesmos que o processo comunicativo se enriquece e, consequentemente, o formador tem

mais elementos sobre o aprendizado.

Para esse autor, e para outros como Neto F. (2003) e Silva M. (2012), não será apenas

na disponibilização das atividades comunicativas on-line a garantia do estabelecimento de um

rico processo interativo. É na qualidade da comunicação e das trocas nos variados espaços de

interatividade que se confirmará, ou não, o desenvolvimento do conhecimento entre os

sujeitos envolvidos através da prática pedagógica dialógica na EaD.

Reconhecemos que muito já se tem pesquisado nessa área mas, para que possamos

construir uma educação a distância de qualidade, ainda há muito a esclarecer. É preciso

aprofundar as reflexões e os questionamentos acerca das práticas educacionais usadas no

espaço da EaD que fazem uso dos recursos tecnológicos. Em especial no sentido atribuído à

relação ensino-aprendizagem ao longo do processo educacional entender: se há espaço e

como se estabelece na prática virtual a relação de interatividade e de diálogo entre os

estudantes e formadores durante o curso ou programa; como os alunos da EaD-CEDERJ

costumam organizar seus ritmos de estudo - quanto tempo destinado ao estudo do material

impresso, à tutoria presencial, à tutoria a distância, à pesquisa na Internet e atividades no

AVA. Quanto mais profundamente conhecermos os alunos, melhor será a qualidade da

interação pedagógica, e consequentemente, melhor poderá ser o resultado e a construção de

conhecimento nas formações.

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3 Tecnologia e Gêneros Textuais

Este capítulo tem como objetivo discutir, principalmente, o conceito de gêneros

digitais que emergem nas práticas comunicativas de leitura e escrita ancoradas na

cibercultura.

Na seção 3.1. discutiremos os gêneros digitais com o intuito de estabelecer certa

relação dos gêneros com o processo comunicativo, atrelados aos avanços das TICs (incluindo

neste conceito as tecnologias não materiais). Partimos do pressuposto que todo processo

comunicativo pode ser considerado um gênero textual, seja ele oral, escrito ou digital. No

entanto, para fins didáticos recorremos aos estudos de Marcuschi (2010b) que marca alguns

eventos do processo histórico e cultural como a construção da linguagem oral, a invenção da

escrita, da prensa e das tecnologias digitais para estabelecer relações com o surgimento dos

gêneros textuais: oral, escrito e digital.

Dessa forma, o capítulo traça reflexões, inicialmente, dos gêneros como forma de vida

e de ação de acordo com os pressupostos de Bazerman (2009) na subseção 3.1.1; dos gêneros

oral e escrito (em 3.1.2) de acordo com Marcuschi (2010b) e Koch (2011a); mas, sobretudo,

discute e caracteriza o gênero digital (em 3.1.3) para Braga D. (2013) entre outros, com

destaque para a hibridização de gêneros na comunicação on-line. Frente a isso, destaca a

necessidade de novos letramentos (SOARES, 2002b, BUZATO, 2010) para efetivar as

práticas sociais de leitura e escrita nesse contexto.

Na seção 3.2 discutiremos o gênero fórum na cibercultura de maneira ampla e

democrática de utilização em diferentes espaços do ciberespaço, e na seção 3.3, serão

discutidos aspectos inerentes à funcionalidade, uso e aplicação do gênero digital fórum na

educação on-line.

3.1 Gêneros textuais

Historicamente o uso do material impresso usado como recurso quase que exclusivo

na educação a distância, por longo tempo, tem dividido espaço com recursos tecnológicos que

emergem. Conforme discutido em 2.1.2, estudos (MOORE, KEARSLEY, 2008, CAMPOS,

2007, PIMENTEL, 1999) classificam diferentes gerações de EaD, que são caracterizadas pela

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evolução direta dos recursos tecnológicos usados para fim de comunicação entre formadores e

estudantes na modalidade a distância.

Com a EaD mediada pelo computador e pela Internet, diversas barreiras são superadas

e novos formatos de relacionamentos entre os usuários surgem. Além de permitir maior

flexibilidade espacial e temporal, a EaD on-line, em geral, permite ainda o acesso a gêneros

digitais variados de comunicação.

Com os gêneros digitais, também chamados de e-gêneros (SILVA I., 2011), as

distâncias deixam de ser impedimento para a comunicação entre os usuários na cibercultura,

abrangendo nesse cenário o espaço educacional apoiado na Internet.

Num sentido amplo, podemos entender que, se por um lado esses gêneros podem

aproximar aqueles que eventualmente estiverem distantes fisicamente, por outro, pode ocorrer

situação em que o acesso à Internet seja tão intenso que, mesmo com a proximidade física, os

usuários prefiram estabelecer a comunicação virtual.

Tal preferência pode ocorrer pela necessidade de compartilhamento com mais de uma

pessoa (aquela que encontra-se próxima e outras), seja pelo prazer de usar os atraentes

aplicativos, as redes sociais e dispositivos móveis que apresentam gêneros digitais variados,

em detrimento da conversa face a face, a exemplo daqueles que optam por estabelecer uma

comunicação exclusivamente virtual, através da Internet, mesmo estando no mesmo espaço

físico.

Reconhecemos que os gêneros digitais possibilitam a aproximação atemporal dos

usuários com localizações distintas ou podem distanciar aqueles usuários próximos

fisicamente, que estabelecem uma comunicação exclusiva via Internet. Destacaremos atenção

para o primeiro aspecto, pois este tem impulsionado a EaD on-line que considera a distância

física, mas entende que esta não é impedimento para uma aprendizagem com base na

interatividade entre os usuários. Ao contrário, os gêneros digitais presentes no ambiente

virtual de aprendizagem como chat, fórum, wiki, entre outros, são extremamente estimulantes

para trocas interativas entre os participantes.

Para Ivanda Silva (2011), o AVA pode ser entendido como um hipergênero capaz de

favorecer a comunicação dialógica nas mais diversas formas (escrita, imagem, som, vídeo)

entre os usuários da plataforma de ensino. Tal plataforma é composta de gêneros digitais que,

embora não tenham sido criados especificamente para fins pedagógicos, sevem plenamente a

este fim, pois os gêneros digitais permitem a interação síncrona ou assíncrona, além de

possuírem características próprias quanto ao objetivo de comunicação de um para um, um

para muitos (MARCUSCHI, 2010a) ou muitos para muitos (SILVA M., 2012).

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Antes de aprofundarmos a discussão inerente ao gênero digital fórum, são

apresentadas algumas considerações sobre os gêneros oral, textual e digital e suas relações nas

práticas sociais de comunicação.

3.1.1 Gêneros como forma de vida e de ação

Antes de iniciarmos os estudos acerca dos gêneros textuais, julgamos importante

destacar, ainda que brevemente, os conceitos de Bazerman sobre gêneros a partir da obra

“Gêneros textuais, tipificação e interação”. Para Bazerman (2009), gêneros não são somente

formas textuais, mas também formas de vida e de ação. O autor compreende o conceito de

gêneros como “fenômenos de reconhecimento psicossocial” (2009, p. 31), construídos e

organizados dentro da dinâmica da sociedade. Seus estudos se propõem a enfatizar

instrumentos conceituais e analíticos acerca da incidência do texto na sociedade, sejam textos

escritos ou não.

Compreender os gêneros para além de textos escritos é, para o estudioso, um

mecanismo que visa reconhecer a existência de gêneros de forma mais profunda do que

meramente caracterizá-los a uma relação tipificada de elementos para determinar o que seria

um gênero ou outro; situação que poderia tornar simplória a definição e, principalmente, a

classificaria como atemporal, como se o gênero fosse entendido e praticado de igual modo por

todos, em qualquer tempo e espaço. Isso não significa que o autor negue a existência de

formas e funções dos gêneros, mas enfatizamos que ele não limita a compreensão de gêneros

a tais características.

Para aprofundar essa reflexão, o estudioso continua afirmando que os gêneros

“emergem nos processos sociais em que pessoas tentam compreender umas às outras

suficientemente bem para coordenar atividades e compartilhar significados com vistas a seus

propósitos práticos” (BAZERMAN, 2009, p. 31). Pensar em gênero como formas de vida e

como ação requer, ou pelo menos é o que todos acreditam que deveria acontecer, que a

produção comunicativa emitida pudesse ter suas expectativas plenamente alcançadas pela

pessoa que recebe a mensagem nas relações sociais, sem prejuízo de compreensão entre a

intenção do emissor e a mensagem entendida pelo ouvinte.

Em geral, não é isso que sempre ocorre, porque não é possível afirmar que as pessoas

entendem os gêneros da mesma forma, a partir dos mesmos níveis de conhecimentos textual e

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social, que podem ser diferentes. A essa situação estão diretamente ligados os aspectos

psicossociais e históricos dos sujeitos e as relações que estabelecem com os gêneros.

No entanto, em se tratando de atos da fala, nem sempre o que é literalmente dito (ato

locucionário), ou o que é pretendido pelo enunciador (ato proposicional), alcançará seu efeito

real na compreensão do receptor da mensagem (ato ilocunionário), situação que leva,

algumas vezes, a ocorrência de interpretação equivocada da informação por parte do ouvinte,

não sendo aquela a real intenção do emissor da mensagem (BAZERMAN, 2009).

Além dos aspectos de atos da fala incorporados nos enunciados, Barzeman (2009)

destaca a necessidade de considerar os aspectos social e histórico para que os gêneros

assumam os propósitos comunicativos. Nesse sentido, a sociedade necessita de acesso e

alinhamento dos gêneros para que possam dar sentido a eles nas ações da vida prática. É

preciso que os gêneros sejam compreendidos para então serem praticados pelos membros da

sociedade.

Para isso, é necessário que haja uma vivência dos gêneros nas ações dos sujeitos

envolvidos na comunicação, para garantir histórica e socialmente a compreensão e o sentido

das formas dos gêneros e suas respectivas funções, porque diferentes textos exigem distintas

formas de interação e são os conhecimentos psicossociais, elementos importantes por garantir

as consequências da compreensão dos sentidos práticos dos gêneros (formas e fins), para

reorganizar o pensamento para novas interações (ação prática), dando continuidade à

comunicação.

Segundo Bezerman (2009, p.27), “o modo como as pessoas recebem os atos e

determinam as consequências deste ato para futuras interações é chamado de efeito

perlocucionário”.

Os gêneros como formas de ação, são formados por enunciados com início e fim, em

determinado tempo e espaço histórico, que são, por sua vez, reconstruídos à medida que

novos enunciados são estabelecidos em outros tempos e espaços. Portanto, não podem ser

simplesmente tipificados ou considerados atemporais.

Considerar o contexto histórico e psicossocial para compreender os gêneros, leva-nos

a concordar com Bazerman (2009, p. 42), de que “a compreensão do gênero muda quando um

campo e o contexto histórico mudam”. A partir da relação gênero-contexto-ação da

comunicação, entendemos o gênero como produto dinâmico e não estático na sociedade.

Podemos então admitir que, ao longo dos anos, pode haver tanto evolução de gêneros, que

podem ser renomeados em tempos e contextos diferentes, ou mesmo o surgimento de outros,

sem precedentes, desde que atendam à necessidade comunicativa prática na dinâmica da

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sociedade. Tal posicionamento também é considerado nos estudos de Marcuschi (2010b) e

Koch (2011a).

No intuito de incorporar os gêneros que mudam ou que surgem às novas formas de

vida e nas ações das pessoas, ocorre a necessidade do que chamamos na contemporaneidade

de letramentos (SOARES, 2002b, BUZATO, 2010, NETO J. e CAMPOS, 2010).

3.1.2 Gêneros: oral e escrito

Marcuschi (2010b, p.31) pondera que “os gêneros (...), são artefatos culturais

construídos historicamente pelo ser humano” com fins de comunicação através de diferentes

suportes de linguagem. Podemos dizer que as linguagens e os propósitos comunicativos são

construídos a partir de exigências específicas de comunicação na sociedade. Assim, diante da

necessidade de comunicação adequada ao contexto, recursos tecnológicos serão acionados ou

construídos novos gêneros para atender a esses propósitos.

Os gêneros estão diretamente ligados à dinâmica de vida nas sociedades. É através

deles que organizamos situações comunicativas estando próximos ou distantes fisicamente.

Precisam ser entendidos enquanto uma prática sócio-histórica (MARCUSCHI, 2010b, KOCH,

2011a). Koch (2011a) afirma ainda que a escolha do gênero parte do objetivo a que se propõe,

dos papéis sociais e lugar dos sujeitos envolvidos na comunicação.

Atrelado à perspectiva sócio-histórica, Marcuschi (2010b) discorre acerca de três fases

de gêneros ao longo da história da humanidade. Nesse contexto cabe ressaltar, novamente,

que estamos considerando gênero textual todo e qualquer enunciado (oral, escrito ou digital)

enquanto ação sociodiscursiva, independente do suporte. O autor alerta que:

(...) seria bom ter em mente a questão da relação oralidade e escrita no contexto dos gêneros textuais, pois, como sabemos, os gêneros distribuem-se

pelas duas modalidades num contínuo, desde os mais informais aos mais

formais e em todos os contextos e situações da vida cotidiana.

(MARCUSCHI, 2010b, p.35)

Não nos propomos aqui esgotar as complexas discussões em torno da ideia de gêneros

orais e escritos, mas estabelecemos esta separação para melhor compreendermos o surgimento

dos gêneros textuais à medida que ocorrem os avanços tecnológicos na história da

humanidade. O interesse encontra-se na possível correspondência entre alguns fatores que

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marcam a evolução do processo de linguagem e comunicação, e o surgimento dos gêneros

textuais. Para tanto, elencaremos abaixo as fases de gêneros apresentadas por Marcuschi

(2010b, p.20) a fins didáticos para melhor compreensão de como esses gêneros surgiram e

apoiaram os processos comunicativos, sociais e tecnológicos ao longo da história.

Para esse autor, o surgimento do gênero é marcado pela construção da linguagem oral.

No entanto, atribui a essa linguagem oral um conjunto limitado de gêneros. A invenção da

escrita marca a segunda fase apontada pelo autor. Essa por sua vez, permitiu que os gêneros

se multiplicassem, mas com algumas limitações, pois não atendia a sociedade em larga escala.

A invenção da prensa marca a terceira fase. Com a cultura impressa ocorre a ampliação dos

gêneros reproduzidos em quantidade. Além destas fases, o autor deixa aberta a possibilidade

de uma “quarta fase”, que seria caracterizada pela cultura eletrônica responsável pelo

surgimento de novos gêneros orais e escritos, que demandam novas formas de comunicação.

Convém dizer que à medida que o gênero entra na dinâmica diária da sociedade,

enquanto nova tecnologia de comunicação, leva consigo a exigência de novos

comportamentos dos sujeitos sociais e históricos, com a aquisição de novas tecnologias de

linguagem e de pensamento. O que estamos ponderando é o fato de os gêneros que emergem

na sociedade exigirem mudanças na instância particular, dos sujeitos, para garantir a atuação

desses nas práticas diárias. A essa nova forma de comunicação e uso de práticas sociais

discursivas por meio de gêneros em diferentes contextos chamaríamos de letramento

(SOARES, 2002a, 2008, TFOUNI, 2010) ou letramentos (SOARES, 2002b, BUZATO, 2010,

NETO J. e CAMPOS, 2010).

De acordo com Koch e Elias (2011b), a compreensão dos gêneros textuais está

diretamente ligada à construção de sentido dado ao que lemos ou falamos. Cartas, e-mail,

tirinha, poesia, anúncio, bilhete, cartaz, receita, são alguns exemplos de gêneros textuais que

estabelecemos contato cotidianamente. Para as autoras, ao longo de um único dia

estabelecemos contato com uma infinidade de textos, com as mais variadas características e

objetivos. Mas, para que esses gêneros tenham sentido nas práticas sociais, é preciso a

construção de sentido dado a eles.

Ampliando esta discussão, sinalizamos duas possibilidades que garantem, pelo menos

em parte, a compreensão dos gêneros textuais (escritos): uma estaria ligada ao domínio da

tecnologia da escrita enquanto linguagem grafada, codificada e decodificada pela leitura, que

é construída e transmitida culturalmente. Para tanto, é preciso que o sujeito seja minimamente

alfabetizado, saiba ler e escrever (SOARES, 2002a, 2008). No entanto, ser alfabetizado não

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garante que o sentido do gênero textual, sua função e uso em contextos sociais práticos sejam

alcançados, para esta finalidade é preciso ser letrado (SOARES, 2002a, 2008).

A segunda possibilidade refere-se ao fato do sujeito adquirir um certo nível de

letramento, que garanta a compreensão de textos e sua aplicabilidade nos contextos sociais

práticos, mesmo sem a condição de alfabetizado. Ou seja, é aquele que é capaz de reconhecer

e empregar o uso de gêneros textuais adequadamente dentro de seus objetivos e propósitos

comunicativos, mas não domina o recurso tecnológico da leitura e da escrita. A exemplo, as

pessoas que sabem identificar o gênero textual receita em seu portador específico, sabem

como e o porquê recorrer a este gênero textual na vida prática social, mas são incapazes de

decodificá-lo sozinhos. Salientamos novamente que, quando estas condições não são

alcançadas como um todo (ser alfabetizado e ser letrado) limitam a compreensão plena desses

gêneros e sua efetiva aplicação nas práticas sociais autônomas pelo sujeito; o ideal é que o

sujeito domine ambos aspectos.

Koch e Elias (2011b) indicam que a diversidade de gêneros textuais é tão grande que

os estudiosos que demonstraram o intuito de fazer o levantamento e a classificação deles

desistiram, particularmente, por dois motivos possíveis: primeiro, pela imensa lista a ser

considerada e, segundo, pela característica dinâmica dos gêneros nas práticas

sociocomunicacionais, que podem dar origem a novos gêneros. Por exemplo, os gêneros

digitais, que surgiram como novos modelos de gêneros.

Koch e Elias (2011b) defendem a ideia de que os indivíduos desenvolvem a

competência metagenérica. Essa competência garante a compreensão e a produção do sentido

dos gêneros nas comunicações orais e escritas estabelecidas nas relações sociais. Dessa forma,

“a competência metagenérica orienta a produção de nossas práticas comunicativas, por outro

lado, é essa mesma competência que orienta nossa compreensão sobre os gêneros textuais

efetivamente produzidos”. (KOCH e ELIAS, 2011b, p. 103).

Assim, sem a competência metagenérica a comunicação e o sentido do discurso não

seriam apenas prejudicados, mas estariam diretamente fadados ao fracasso; tornando-se quase

que impossíveis.

Marcuschi (2010b) e Koch e Elias (2011b) concordam que, embora os gêneros sejam

construídos e identificados com formas relativamente estáveis, marcados pelos usos na

dimensão social e por mais que os gêneros sejam produzidos de uma determinada forma; não

é possível afirmar que seja a única, pois esses podem sofrer variações dependendo não só da

forma, mas do conteúdo e do estilo.

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A esse respeito, Koch e Elias (2011b) salientam que, dependendo do propósito

comunicativo, pode ocorrer a intergenericidade intergêneros, fenômeno caracterizado quando

um gênero assume a forma de outro. Em outras palavras, o texto pode, por exemplo,

apresentar a forma de um gênero, mas demandar a função social de outro, como em anúncios,

tirinhas, charges, entre outros.

3.1.3 Gêneros digitais

O desenvolvimento da Internet permitiu ampliar as possibilidades do computador ora

limitado ao acesso a documentos e dados que já configuravam os primeiros gêneros digitais

como as planilhas eletrônicas, os programas de edição de textos, dentre outros. A partir da

Internet os computadores não apenas seriam usados para armazenar, processar e editar

informações, mas, e, especialmente para comunicação entre usuários de forma síncrona ou

assíncrona.

Os avanços tecnológicos, mais precisamente aqueles que permitem trocas

comunicativas entre os usuários da Internet, demandariam também o surgimento e o

desenvolvimento de novos gêneros digitais que, a princípio, estabeleceriam certo grau de

correspondência com gêneros já existentes, e mais à frente, com a criação de novos gêneros

que emergem sem correspondência fora da espera digital.

Segundo Marcuschi (2010a), os gêneros textuais digitais são identificados a partir dos

anos 70 do século XX e desenvolvidos à medida que ocorriam os avanços da mídia eletrônica,

fato que fez surgir o tipo de comunicação chamada de Comunicação Mediada por

Computador (CMC). Para ele, certamente muitas das limitações ligadas à comunicação pelo

computador e Internet desde a década de 70 já foram superadas até os dias atuais, pois tais

limitações referiam-se mais aos tipos de programas de computadores e menos aos usos ou da

linguagem empregadas. Com os avanços dos programas e dos computadores e com a Web 2.0,

as mensagens tornaram-se infinitamente mais rápidas, com a possibilidade de envio de

grandes anexos, entre outras características. Deste modo,

podemos dizer que os gêneros textuais são frutos de complexas relações

entre um meio, um uso e a linguagem. No presente caso, o meio eletrônico oferece peculiaridades específicas para usos sociais, culturais e

comunicativos que não se oferecem nas relações interpessoais face a face. E

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a linguagem concorre aqui com ênfase deslocadas em relação ao que

conhecemos em outro contexto de uso. (MARCUSCHI, 2010a, p.23, grifo

do autor).

Numa tendência ainda inicial, Marcuschi (2010a) ponderava, no início do século XXI,

que os gêneros textuais digitais emergentes no contexto da tecnologia digital estabeleciam

correspondência direta com os gêneros textuais prévios como, por exemplo, o e-mail e a

carta, o blog e o diário, o chat que é um bate-papo virtual e o bate-papo presencial entre os

indivíduos. Ou seja, os gêneros classificados pelo autor naquele momento como emergentes

estariam impregnados de correspondentes anteriores quanto à proximidade de formas e

funcionalidades. Atualmente, essa visão não corresponde plenamente às demandas de gêneros

digitais que surgem no contexto da cibercultura como o Twitter que é um gênero sem

correspondente fora da esfera digital, com formas e funcionalidade próprias.

Além de permitir a criação de novos gêneros – os digitais, é interessante ressaltar que

o computador tornou possível agregar num mesmo suporte o acesso a diferentes gêneros

orais, escritos, imagéticos. Um pouco mais tarde alguns gêneros digitais convergiram todas

essas possibilidades em um único suporte de forma híbrida. Frente a isso, é possível o acesso

a textos, músicas, vídeos, configurando também o hipertexto. Koch (2011a) afirma que todo

texto consiste num hipertexto, pelo menos na concepção adotada pela Linguística Textual.

Com as possibilidades de comunicação da Internet, em especial a partir da Web 2.0, os

usuários passaram a fazer uso de gêneros digitais em várias dimensões da vida em sociedade.

A aquisição da tecnologia digital, da Internet e de sua linguagem, reorganizou as sociedades e

as relações das pessoas entre si; fato que permitiu a criação de comunidades virtuais, espaço

de trocas de mensagens e informações com gêneros híbridos. Neste sentido, parece oportuna a

posição de Denise Braga, quando afirma que,

a agilidade da comunicação a distância em tempo real ou quase real via

internet quebra as barreiras de espaço e tempo, o que torna possível o

surgimento de um novo tido de comunidade (as comunidades virtuais) e formas novas e cada vez mais híbridas de construções e expressões

culturais(a cultura global). Neste contexto complexo de interações surgem

gêneros que são específicos dos meios digitais. (BRAGA D., 2013, p.45).

Novas tecnologias de comunicação demandaram novas formas de organizar o

pensamento, de utilizar e adequar as linguagens na sociedade, conforme temos sinalizado.

Por mais que não tenha se aprofundado em pesquisa neste sentido, Marcuschi (2010a)

colabora com a discussão do conceito dos gêneros digitais quando traz à reflexão os aspectos

de formas e funcionalidades dos gêneros emergentes inseridos no contexto tecnológico e

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digital, mais precisamente em ambientes virtuais. Para o autor, que discutia esta questão no

início dos anos 2000, tais gêneros ainda estavam em processo de consolidação e já traziam

polêmicas quanto aos impactos não só na linguagem, mas nas relações sociais em geral. Ele

atribuiu a isso à versatilidade característica dos ambientes virtuais, com recursos textuais

diversificados que competiam com outros recursos anteriormente bastante usados como o

papel e o som. De fato, esses questionamentos ganharam destaque no meio acadêmico

desencadeando muitas pesquisas e artigos no e sobre o ciberespaço; publicações que

investigam e procuram respostas para as relações entre a tecnologia, a linguagem, a

comunicação e as relações sociais como no Facebook (SANTOS R. e COUTO JÚNIOR,

2013) e Twitter (MERCADO e SILVA 2013), e através de diferentes gêneros digitais como

blog (MONTARDO e PASSERINO, 2006; GUTIÉRREZ, 2004), Fórum (JUNQUEIRA e

LIMA, 2012), Wiki (PAIVA F., 2012), e-mail (PAIVA V., 2010), Chat (ARAÚJO J.C.R, e

BIASI-RODRIGUES, 2005, ARAÚJO J.C.R., 2010), entre muitos outros.

É comum ouvirmos atualmente expressões como chat, e-mail, blog, Facebook,

Twitter, que passaram a fazer parte do dia a dia dos indivíduos, tanto de crianças como de

adultos. Concordamos que o avanço das TICs gerou uma mudança significativa na relação

comunicativa e nas relações sociais entre os homens,

Pode-se dizer que parte do sucesso da nova tecnologia deve-se ao fato de reunir em um só meio várias formas de expressão, tais como texto, som e

imagem, o que lhe dá maleabilidade para a incorporação simultânea de

múltiplas semioses, interferindo na natureza dos recursos linguísticos

utilizados. A par disso, a rapidez da veiculação e sua flexibilidade linguística aceleram a penetração entre as demais práticas sociais. (MARCUSCHI,

2010a, p. 16).

Pinheiro e Lobo-Sousa (2010, p.129) dizem que “a linguagem verbal, especialmente

escrita, na cultura digital não constitui o principal recurso para construirmos sentido”, Fontes

(2007) atribui aos avanços da computação gráfica a capacidade de usarmos recursos não

verbais para expressar sentimentos, emoções e informações como os emoticons, embora para

Marcuschi (2010a), por mais que admita-se uma infinita quantidade de postagens de imagens

e sons, a escrita ainda é essencial na comunicação, no ambiente virtual on-line.

Os gêneros digitais trouxeram mudanças profundas relacionadas à organização da

linguagem nas relações sociais através dos recursos textuais da Internet, mas, em sua maioria,

as comunicações estão centralizadas no uso da escrita no contexto digital.

Com profunda proximidade aos gêneros já existentes, em alguns casos, os gêneros

digitais também exigem do leitor e do escritor a competência metagenérica, pois de acordo

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com Oliveira T. (2011, p. 4104), “a competência metagenérica destaca-se no processo de

compreensão e produção dos gêneros textuais, uma vez que o produtor do texto conta com o

conhecimento prévio dos seus leitores a respeito do gênero em questão”.

Assim, no ambiente virtual é necessário que o usuário compreenda as diferenças

quanto às formas e funcionalidades dos gêneros digitais para garantir o propósito

comunicativo eficaz nas relações sociais virtuais. Portanto, o domínio dos gêneros,

compreendidos como práticas sociais, contribui para a produção de sentidos.

Conforme acredita Denise Braga (2013), as grandes mudanças tecnológicas fizeram

com que as linguagens desenvolvidas ora para os recursos analógicos, migrassem para o meio

digital. Diante desse fato, a pesquisadora diz que os gêneros digitais surgem com novas

práticas de comunicação que, consequentemente levou (leva) à necessidade de novos

letramentos (BRAGA D., 2013).

Entendemos por letramento digital (SOARES, 2002b, BUZATO, 2010) não apenas o

uso das ferramentas digitais, mas, sobretudo a função que atribuímos aos gêneros digitais nas

práticas sociais e interativas na cibercultura. Ainda que seja importante considerar a esfera de

interação entre os homens e as máquinas (uso), mais importante é reconhecer as mudanças nas

práticas sociais de leitura e de escrita dos gêneros digitais (função). Buzato resume “ser

letrado” no contexto digital da seguinte forma:

Ser letrado (adquirir um certo letramento) é participar de um conjunto de

práticas sociais nas quais significados e sentidos de certos conteúdos codificados culturalmente (tradicionalmente, não exclusivamente, textos

escritos) são gerados, disputados, negociados e transformados. (2010, p. 53).

Para o pesquisador, os letramentos são diversos e se aplicam nas diferentes situações

de atividades interativas e interpretativas nos recursos tecnológicos variados. Ele amplia a

discussão afirmando que “os novos letramentos/letramentos digitais são particularmente

importantes para pensarmos em apropriação tecnológica visando a transformações sociais”

(BUZATO, 2010, p. 53). Acrescenta que as apropriações culturais das tecnologias digitais

evidenciam conflitos socioculturais que sempre existiram, mas que, se aproveitadas por ações

políticas educacionais e de inclusão social podem possibilitar transformações socioculturais.

Neto J. e Campos (2010) também identificam novas práticas comunicativas na

complexidade das tecnologias da informação e comunicação, as quais referem-se por “mundo

da informação”, que demandam novos letramentos. Os autores destacam a necessidade de

novos letramentos no âmbito educacional porque para eles as novas práticas comunicativas

demandam “dos professores a apropriação e desenvolvimento de novas habilidades que,

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progressivamente, têm-se traduzido no desenvolvimento de suas competências pessoais e

profissionais” (NETO J., CAMPOS, 2010, p. 103).

Soares (2002b) preocupou-se em investigar o letramento nas práticas de leitura e

escrita na cibercultura. Para ela poderia haver uma diferença entre o letramento na cultura do

papel e na cultura digital. Seus estudos indicaram ser o letramento digital, que refere-se ao

“estado ou condição” daqueles que adquirem a tecnologia digital e fazem uso delas nas

práticas de leitura e escrita na cibercultura, diferente do letramento da cultura do papel, ou

daqueles que adquirem o “estado ou condição” de letrados por fazerem uso de práticas de

leitura e escrita fora da esfera digital. Portanto, quando se refere à cultura do papel, ela usa

letramento (no singular), quando discute esse conceito nas práticas da cibercultura, propõe “o

uso do plural letramentos para enfatizar a ideia de que diferentes tecnologias de escrita geram

diferentes estados ou condições naqueles que fazem uso das tecnologias...” (SOARES, 2002b,

p. 156). Assim, as diferentes práticas sociais de escrita no espaço digital levam também a

distintos letramentos.

As constantes inovações do computador e da Internet geram mudanças nas relações

sociais, culturais, comunicativas e educacionais. Segundo Vilaça (2011), com o advento das

TICs e com a expansão da Internet surgiram muitas práticas educacionais on-line formais e

informais em todo o mundo, nos diferentes níveis educacionais. Para Vilaça (2010), o acesso

à experiência de aprendizagem sem vínculo institucional formal, através de vídeos do

YouTube por exemplo, já pode ser considerado como experiência educacional, desde que haja

aprendizagem. Sobretudo, a EaD formal com vínculo institucional assume nesse cenário um

espaço nunca antes atribuído a ela, pois com tais recursos e possibilidades a EaD torna-se um

modelo de educação que rompe espaço geográfico, temporal, econômico e social.

Para alguns pesquisadores (OLIVEIRA M. E., 2002, CAMPOS, 2007) a expansão dos

cursos e programas oferecidos na modalidade a distância tem ocorrido, sobretudo, pela oferta

de cursos a distância com uso do computador e da Internet, que trouxeram consigo um novo

modelo de comunicação e de linguagem para a educação. Surge o modelo de educação on-

line, apoiado pelo ambiente virtual de aprendizagem, com características próprias e presença

de gêneros digitais com fim específico de promover o processo de ensino e aprendizagem a

distância. Sobre o AVA faremos reflexões mais adiante.

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3.2 O Gênero fórum na cibercultura

Corroborando a posição de Marcuschi (2010a), de que há relação de alguns gêneros

digitais com correspondente direto com os gêneros textuais prévios, Xavier e Santos C.

(2005) acreditam que o fórum virtual foi inspirado no fórum presencial, aquele organizado

por um grupo ou uma sociedade de pessoas, a fim de discutirem assuntos de interesse comum

a nível civil ou institucional, principalmente, nas organizações democráticas, que priorizam a

corresponsabilidade dos participantes na elaboração das decisões. Para esses autores, o fórum

eletrônico foi inspirado nessa prática, mas ancorado nos recursos tecnológicos que ampliaram

seu alcance. Se antes (fórum presencial) o grupo era formado por pessoas fisicamente

presentes, com a utilização da world wide web11

(WWW), essa limitação não existe mais,

podendo qualquer pessoa acessar e participar da discussão, em geral, de temas populares na

atualidade. A restrição se apresenta quando o acesso ao portal da discussão for restrito a um

grupo, permitido apenas com autorização ou solicitação de senha, caso comum dos ambientes

virtuais de aprendizagem.

O Minidicionário do discurso eletrônico-digital de Costa (2009) define fórum como

“reunião, congresso, conferência que envolve debate de temas problemáticos e polêmicos,

específicos de comunidade civil e institucional” (COSTA, 2009, p. 63). Essa definição indica

que fórum se aplica a encontros presenciais para discussão coletiva com fins de encontrarem

uma ideia ou solução comum para o problema em debate. Tal definição aproxima-se do

conceito de gênero textual oral, desenvolvido a partir do encontro de pessoas para discutirem

um tema.

Encontramos no Minidicionário supracitado a definição de fórum de discussão. Nele o

autor apresenta a mesma definição que fórum, mas amplia o conceito, pois “trata-se também,

na internet, de um ambiente, isto é, um domínio de produção e processamento de textos onde

emergem novos gêneros, como a lista ou grupo de discussão”. (COSTA, 2009, p. 64).

Seguindo essa mesma linha, ainda identificamos nessa mesma obra a definição de

fórum eletrônico ou virtual, que é considerado como “reedição do fórum, a partir do

surgimento de novas invenções tecnológicas, o fórum eletrônico ou virtual ou e- fórum pode

11

Ambiente web (world wide web) – conhecido como WWW ou Web, este ambiente é a própria rede, uma

combinação de bibliotecas, quiosques, guias, jornais, shoppings, enciclopédias, catálogos, agendas, currículos

pessoais, etc. Trata-se de um ambiente de busca de todos os tipos, descentralizado, interativo e passível de

expansão ilimitada. (MARCUSCHI, 2010, p. 31-32)

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64

assemelhar-se ao fórum tradicional, mas realmente é um novo gênero...” (COSTA, 2009, p.

64).

Tais considerações de Costa (2009) estão concatenadas com os pressupostos de

Marcuschi (2010a) e Xavier e Santos C. (2005), da correspondência prévia do fórum

tradicional, entre pessoas fisicamente reunidas, e o fórum eletrônico ou virtual desenvolvido

através dos recursos da Internet na cibercultura. Apesar da existência de um correspondente

prévio do fórum digital – o fórum presencial, é importante destacar que o fórum eletrônico

trata-se de um novo gênero, um gênero digital com características próprias.

Rozenfeld, Gabrielli e Soto (2010, p. 262) definem o fórum de discussão digital como

uma “ferramenta para páginas de Internet que tem como objetivo principal promover debates

abordando uma mesma questão, permitindo a ocorrência de discussões e interações por meio

da troca de mensagens”. Costa (2009) ressalta que o fórum eletrônico pode alcançar um

grande número de pessoas. Por ser democrático, permite o acesso de qualquer usuário

interessado na discussão de forma irrestrita. Uma característica que atrai os usuários é a

possibilidade de escolher os tópicos da discussão que desejam participar. Para o autor, a

liberdade de expressão de conteúdos que se deseja em um debate aberto “interlocutivo livre” é

a principal característica desse gênero digital. Embora se assemelhe ao fórum presencial, o

fórum digital tem estilo próprio considerando o suporte virtual e as novas práticas sociais da

cibercultura. Xavier e Santos C. (2005) confirmam que é possível a participação de qualquer

pessoa, assim como sua produção e publicação, impossibilitando a ação de cortes ou edições

por outras pessoas.

Ao analisarem fóruns eletrônicos abertos na rede ou os “grandes fóruns”, Xavier e

Santos C. (2005) identificaram que grande parte dos participantes distancia-se do tema central

da discussão, e que apenas alguns se detêm no foco da questão proposta inicialmente, situação

também evidenciada por Costa (2009). Apesar de essa situação ser recorrente, ressaltaram que

mesmo “fugindo do tema central” o fórum preservou sua função “inicial de jogar com

argumentos, refinar raciocínios, fazer ecoar e desenvolver ideias, reafirmar ou modificar

posições e, sobretudo, aprofundar conhecimentos que permitam decisões mais conscientes.”

(2005, p. 34). Além disso, esse espaço virtual permite a expressão de um fazer político, social

e histórico, visto que é um espaço aberto e democrático.

Xavier e Santos C. (2005) acreditam que o anonimato e a falta de censura do fórum

aberto na rede possam contribuir para o uso da linguagem escrita num nível estritamente

informal na comunicação virtual. Nesse sentido, Costa (2009) diz que em análises de

linguagem no fórum digital são identificadas práticas discursivas híbridas oral-escrita, em que

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são encontrados recursos verbais e paraverbais. Costa (2009) afirma que é um gênero escrito

com profundas marcas do discurso oral, além da existência de abreviaturas, ícones,

alongamento de letras, letras maiúsculas e script para expressar emoções, entre outras

características.

Nessa mesma direção, Xavier e Santos C. (2005) ressaltam que o gênero digital fórum,

embora seja marcado pela escrita, traz impregnado em seu discurso marcas dos gêneros orais.

Tais marcas são identificadas pela digitação apressada e pouca ou nenhuma preocupação em

revisar o texto, o uso de expressões coloquiais, períodos curtos, frases truncadas, pouca

densidade informacional, além da presença de marcadores conversacionais, característicos do

discurso oral e não escrito. Por ser assíncrono, o fórum aberto torna possível, segundo os

autores, identificar a falta de preocupação por parte dos internautas de elaborar uma resposta

para postá-la mais tarde, depois de uma reflexão. São temas que levam a uma resposta

imediata, com argumentação superficial.

3.3 O gênero digital fórum na Educação on-line

Diferente dos grandes fóruns abertos na rede que atraem pessoas com interesses

comuns sem limitações e anônimas, no fórum de discussão proposto com objetivo

pedagógico, desenvolvido no ambiente virtual de aprendizagem, não há anonimato. Nesse

espaço todos os sujeitos envolvidos são identificados e o acesso é restrito aos diretamente

envolvidos na comunidade em questão, por exemplo.

O fórum de discussão, semelhante a outros gêneros digitais, não foi criado com fins

pedagógicos. No entanto, esse gênero tem se propagado como um dos mais utilizados nas

mediações dos cursos a distância e on-line (MATTAR, 2012). Para Paiva V. e Rodrigues-

Júnior (2007), este gênero digital é frequentemente voltado para utilização acadêmica. Frente

a isso também pode ser construída o que chamaram de comunidade virtual, devido ao nível de

confiança estabelecido entre os membros que se inter-relacionam motivados pelos interesses

comuns, pela credibilidade. Para esses autores, “os fóruns on-line de discussão formam uma

modalidade de gênero digital que se caracteriza por possuir objetivos comunicativos diversos

estabelecidos por membros que constituem uma comunidade discursiva virtual”. (2007, p.

147).

Seu destaque justifica-se por ser um gênero que permite a comunicação de um grande

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número de pessoas através de um debate assíncrono. Podemos dizer que o fórum adequou-se à

dinâmica pedagógica da EaD on-line pois leva em consideração a diversidade dos alunos com

suas características pessoais e profissionais, porque ele escolhe o tempo e o lugar para acesso,

decide se sua produção será publicada; enfim, todas as ações de comunicação ficam a critério

de cada participante, de acordo com suas características individuais.

Mattar (2012) pondera que os fóruns podem ser moderados ou livres. No caso de

serem moderados, as postagens dos usuários – alunos, são lidas pelo professor ou mediador

antes de serem publicadas. Sendo livres, não há necessidade de mediação para publicação das

mensagens; são postadas automaticamente pelos usuários.

Por ser assíncrono, os participantes estabelecem a comunicação a distância sem

estarem no ambiente no mesmo dia e horário, simultaneamente. Neste sentido, o fórum

permite uma discussão aberta que pode ser de longa duração em relação a outros gêneros

como o chat, além de favorecer reflexões mais aprofundadas, diferente do que ocorre no

fórum aberto da rede em geral.

Distanciando-se do fórum aberto da web há, em geral, no fórum com objetivo

educacional uma maior preocupação, por parte dos sujeitos envolvidos. Ocorre de igual modo

no fórum aberto a hibridização – oralidade e escrita, todavia, no fórum digital com proposta

pedagógica, há forte presença de traços acadêmicos nas postagens. Segundo Paiva V. e

Rodrigues-Júnior (2007), este fato deve-se ao interesse em temas de estudo e pesquisa.

Acrescentam ainda que “o que se vê, na verdade, nos fóruns on-line são estruturas retóricas e

linguísticas híbridas de gênero “artigo acadêmico”, “ensaio”, “e-mail” e “chat” (2007, p. 150).

Em especial, por citarem parte de textos acadêmicos, pelas aberturas e fechamento de turnos,

por apresentar nomes, destinatários das mensagens, entre outros. Apresentam como diferença

entre a conversa e o fórum on-line, primeiramente a oportunidade da participação de muitos, e

mesmo sendo muitos, não há impedimento para que todos interajam, pois todos tem o direito

de intervir na leitura e na escrita.

A centralidade na escrita também é destacada por Rozenfeld, Gabrielli e Soto (2010).

Entretanto, afirmam que a linguagem escrita no fórum constitui um novo gênero digital pelo

caráter híbrido, marcado por uma escrita menos formal que as usadas em textos escritos.

A preocupação com a escrita pode ser observada em algumas atitudes dos

participantes, que refletem medo de se expor e causa, em alguns, a insegurança de participar,

de trocar mensagens com o grupo, de ampliar a discussão ou emitir uma opinião. Por outro

lado, há participantes que interagem constantemente, colaboram, provocam a reflexão do

grupo. Acredita-se que estes inquietam também aqueles que permanecem acompanhando a

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discussão em silêncio. Há ainda aqueles que entram no espaço de discussão, publicam uma

consideração e não retornam para efetivamente participar da discussão no coletivo; são na

maioria das vezes aqueles que optam por esta modalidade de ensino por terem pouco tempo e

limitam-se a cumprir apenas as tarefas estabelecidas no cronograma, principalmente quando

esta é pontuada.

Apesar de não terem focado a questão da escrita em particular, Moore (2008) e Mattar

(2012) destacam o papel do instrutor ou tutor como um fator que contribui para maior ou

menor participação dos estudantes nas comunicações transmitidas. Os autores destacam como

ponto positivo instrutor ou tutor que tem empatia para identificar e entender as personalidades

dos participantes, através das comunicações a distância.

Junqueira e Lima (2012) destacam que, na perspectiva do uso pedagógico, o fórum

assemelha-se a uma sala de aula, porque reúne alunos e professor para discussão sobre um

tema. Os autores dizem ainda que o fórum pode ser proposto com diferentes objetivos, como a

discussão de um artigo, um texto, ou outro material de leitura indicado pelos docentes para

debate pelo grupo, ou pode ser um fórum temático, neste caso, um momento de troca de ideia

antes de uma avaliação, por exemplo. Nesta mesma direção, Mattar (2012) confirma que o

fórum pode ser aberto pelo moderador professor com pressuposto da leitura de um texto para

discussão coletiva ou a partir de um tema livre para debate em grupo. Paiva V. e Rodrigues-

Júnior (2007) acrescentam que o próprio gênero digital fórum on-line, quando proposto a

partir de uma leitura prévia, “pressupõe conhecimento prévio do assunto tratado e

consequentemente uma participação ativa que contribua com a produção do conhecimento

veiculada pelo fórum” (2007, p. 153). Sobretudo, quando estas participações dialogam com

outras postagens, comentando, acrescentando, discordando, sinalizando divergências ou

convergências.

Uma das características mais importante do fórum centra-se na possibilidade de

construção da comunicação e interação todos-todos (SILVA M., 2012). Em geral, o fórum de

discussão com objetivo pedagógico é aberto por uma pessoa autorizada a editar a página do

AVA, podendo ser o professor coordenador ou professor-tutor que dinamiza o ambiente de

ensino virtual e, a partir desse momento, a construção pertence ao grupo ou à comunidade dos

sujeitos envolvidos no processo. Para Junqueira e Lima (2012),

a utilização do fórum de discussão no AVA possibilita a troca de

informações, a construção de reflexões pautadas no estabelecimento de vínculos interativos entre os alunos, alunos e professor, professor e alunos.

(2012, p. 92)

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Portanto, o fórum é alimentado com as interações dos participantes. É possível a troca

de mensagens entre os próprios alunos, entre os alunos e o dinamizador, entre este e o grupo

como um todo. São sujeitos que se relacionam em um espaço virtual (SANTOS E., 2003,

CASTELLS, 2010) estando geograficamente distantes. Junqueira e Lima (2012) apresentam

três aspectos importantes quando tratamos do fórum para fins pedagógicos. Em primeiro lugar

o foco não deve centrar-se na ferramenta em si, no fórum, mas na aprendizagem, essa atitude

permite que o foco dos alunos e da interatividade se prenda no processo, na aprendizagem. O

segundo, refere-se ao papel do professor-tutor enquanto um mediador ativo das falas dos

alunos, “deve responder às dúvidas, motivar a troca de ideias, indicar conexões e desconexões

entre as postagens, oferecer síntese das postagens, sempre em linha com os objetivos de

aprendizagem propostos” (JUNQUEIRA, LIMA, 2012, p. 93). Em terceiro, que o professor-

tutor possa conscientizar os participantes que a participação no fórum deve priorizar a

colaboração para que as discussões possam ampliar o debate do tema discutido.

Mattar (2012) adverte que é essencial a qualificação dos professores na área específica

para que a mediação no fórum seja bem encaminhada, para evitar alguns extremos que

dificultam a participação e desenvolvimento dos estudantes pelo menos em dois aspectos, por

um lado deve-se evitar controlar a discussão limitando a liberdade dos participantes, e, por

outro, evitar ficar ausente das discussões, deixando a cargo dos próprios estudantes o

desenvolvimento da atividade.

A criação coletiva, quando verdadeiramente oportunizada pela tecnologia ancorada no

gênero fórum, permite que os conhecimentos possam ser construídos e não apenas

transmitidos aos alunos, tornando-os sujeitos ativos no processo de aprendizagem.

Em geral, o fórum é aberto por um período fixo de tempo. Pode ser programado para

que os alunos possam editar ou excluir suas postagens ou para que não possam alterar

mensagens enviadas. Segundo Mattar (2012, p. 120) “é possível permitir ou restringir

mensagens anônimas”, além de muitos permitirem o anexo de arquivos.

Quanto os tipos de fórum no Moodle (versão 2.5.3 do CEDERJ), o fórum pode ser

aberto com diferentes formatos que atendem a objetivos adequados à dinâmica de

comunicação desejada pelo mediador, podendo também ser mais ou menos interativo no

sentido todos-todos. As plataformas de ensino são desenvolvidas por programas também

distintos, ao discutir o caso do Moodle Mattar (2012, p. 102-123) diz que a plataforma oferece

quatro opções de fóruns a citar: Cada usuário inicia apenas um novo tópico; Fórum P e R

(perguntas e respostas); Fórum geral e Uma única discussão simples. No entanto, a

plataforma Moodle do CEDERJ além dos quatro já citados acima apresenta mais uma opção,

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o Fórum padrão exibido em um formato blog. Desta forma, descreveremos a seguir os cinco

tipos de fóruns que podem ser abertos:

Cada usuário inicia um novo tópico, nesse caso, um tópico é aberto com uma

provocação inicial para debate pelo mediador, mas cada participante pode abrir um

novo tópico apenas, no entanto, pode responder aos tópicos abertos pelos outros

participantes quantas vezes julgarem necessárias; Para Mattar (2012) este formato

permite que os estudantes abram cada um seu tópico, e possam ainda, dependendo da

proposta da atividade, serem moderadores destes tópicos.

Fórum P e R (perguntas e respostas), o participante só pode visualizar as postagens

dos demais depois de publicar seu próprio post. Depois da primeira publicação é

possível ler e responder às mensagens de todos que já tenham participado, esse formato

permite estabelecer uma comunicação original e criativa, “é um formato muito rico,

que incentiva a reflexão crítica e a revisão da mensagem inicial pelo aluno”

(MATTAR, 2012, p. 122);

Fórum geral, semelhante ao primeiro, é aberto um tópico de discussão pelo mediador,

mas os alunos podem respondê-lo ou abrir outros tópicos; quantos desejarem. Mattar

(2012) afirma que este é o formato mais usado;

Fórum padrão exibido em um formato blog, organizado em formato de blog em que

a sequência de postagens é organizada de forma decrescente, ou seja, a última

mensagem aparece primeiro;

Uma única discussão simples, nesse formato é aberta uma discussão e os participantes

são necessariamente levados a respondê-la sem opção de abertura de outros tópicos.

Percebemos que esse formato é o que permite maior interatividade entre os

participantes porque não precisam abrir uma sequência infinita de tópicos para

publicarem acerca de outros posts. Em um único tópico – aberto pelo mediador e não

há possibilidade de novos tópicos, as discussões são construídas e abertas a todos os

participantes; indicado para discussões breves ou com o foco em um tema preciso. É

estruturado para facilitar a troca entre os participantes, o aprofundamento de conceitos,

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e a construção de conhecimento no coletivo. Caso o participante não tenha interesse em

trocar e construir coletivamente, publica sua participação que irá para o final da

discussão, sem relacionar com outras falas.

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4 Ambiente Virtual de Aprendizagem e Interatividade

Este capítulo se propõe a discutir aspectos relevantes do Ambiente Virtual de

Aprendizagem, os recursos que disponibiliza e as imbricações do AVA (seção 4.1). Faz uma

breve reflexão do avanço da EaD on-line, a partir de plataformas de ensino cada vez mais

sofisticadas, como o Moodle, que permite a disponibilização de diferentes gêneros digitais

além da interação com outros espaços na Internet.

Na seção 4.2, discutiremos aspectos da plataforma Moodle, de sua contribuição para a

EaD, principalmente, por ser um pacote de software aberto e gratuito, fato que permite a

qualquer pessoa participar de seu desenvolvimento; além de ter por base o sócio-

construtivismo que valoriza as trocas entre os participantes. Com essas características

Dougiamas (1998) cria um espaço virtual com forte potencial para a interação e para a

interatividade.

O conceito central da seção 4.3 será a interatividade. Para tanto, na subseção 4.3.1

apresentaremos algumas reflexões acerca dos conceitos de interação e interatividade, que

serão aprofundados com base bibliográfica nas subseções seguintes. Assim, recorreremos na

subseção 4.3.2 aos estudos de Lemos (1999), em 4.3.3 Primo (2000), em 4.3.4 Moore (2008),

em 4.3.5 Belloni (2009), em 4.3.6 Silva M. (2012), e na subseção 4.3.7 apresentaremos

algumas convergências e divergências entre interação e interatividade para os autores

supracitados.

A partir da proposta educacional ancorada no AVA e na plataforma Moodle, com as

potencialidades desses recursos para promover a interatividade, faz-se necessário repensar a

metodologia, a concepção de educação e as práticas educativas no espaço virtual. Para tanto,

entendemos que não basta apenas discutir a relação do estudante com a máquina, no sentido

de uso da tecnologia, mas, sobretudo, refletir a função que os recursos e gêneros digitais

ocupam nas práticas educacionais dos estudantes. Tais discussões serão abordadas na seção

4.4 onde discutiremos a EaD enquanto uma prática educacional para além da simples

transmissão de informações.

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4.1 Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)

Os Ambientes virtuais de aprendizagem são softwares que auxiliam na criação de

cursos através da Internet. São ferramentas que integram vários recursos e gêneros textuais

digitais ou também chamados de e-gêneros, criados para dar suporte aos cursos a distância ou

semipresencial, além das disciplinas oferecidas pelos cursos presenciais em até 20% da carga

horária do curso, conforme a Portaria nº 2.253/2001, revogada pela Portaria 4.059/2004

(BRASIL, 2004). Neles os gestores, professores coordenadores ou professores-tutores

gerenciam os conteúdos e administram o curso, permitindo ainda acompanhar o progresso dos

alunos.

Estes ambientes virtuais de aprendizagem recebem outras denominações como LMS –

Learning management systems, que em português significa sistema de gerenciamento de

aprendizado (CASTILHO, 2011) ou sistema de gerenciamento de aprendizagem (MATTAR,

2012), entre outros significados que podem ocorrer, todavia Ambiente Virtual de

Aprendizagem é a denominação mais comum no Brasil.

Segundo Mattar (2012), quanto ao tipo de AVA, há três características de AVAs nas

instituições. As próprias instituições podem desenvolver seus AVAs, como o caso a

Webaula12

e o Portal Educação13

que inseriu características da Web 2.0 no seu AVA próprio;

podem fazer uso de AVAs comerciais que no Brasil corresponde aproximadamente 16% das

instituições. Destas, 8% seriam públicas e 19% privadas, segundo dados estatísticos

apresentados por Mattar (2012, p.75); ou ainda, podem optar por usar AVAs gratuitos de

código aberto. Essa tem sido a tendência nacional e mundial. No Brasil, cerca de 37% das

instituições estão inseridas nessa condição (MATTAR, 2012).

Denise Braga (2013) associa a criação da Web 2.0 ao desenvolvimento e avanço dos

AVAs. Para ela, “um grande investimento financeiro e intelectual” (2013, p. 78) na

construção de plataformas de ensino tornou possível levar a sala de aula presencial para o

espaço virtual. Toda essa mudança na EaD ocorreu a partir da Web 2.0. A autora apresenta

ainda dois aspectos que, segundo ela, impulsionaram a criação de ambientes educacionais: “a

oferta de cursos a distância e o uso da mediação tecnológica para diminuir o número de

encontros presenciais” (2013, p. 78). Apesar de já existirem cursos a distância, foi a

possibilidade de aplicar os recursos das TICs, próprias da Web 2.0, no processo educativo que

12 Disponível em: http://www.webaula.com.br/index.php/pt/ - acesso em 09/11/2013 13 Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/ - acesso em 09/11/2013

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impulsionou a expansão desta modalidade, pelo menos este é um dos fatores. Nessa direção, é

então desenvolvida a EaD on-line, tanto para cursos a distância ou semipresencial, quanto

para disciplinas a distância em cursos presenciais.

Para Veloso (2012), o AVA é uma abstração da sala de aula presencial. Assim, diz que

“o ambiente virtual é formado por um conjunto de ferramentas e recursos tecnológicos que

utilizam o ciberespaço para veicular conteúdo e permitir a interação entre os atores do

processo educativo” (2012, p. 82). Para ela, o espaço de educação virtual é uma reorganização

da sala de aula presencial, agora com novos moldes, pois nele é possível disponibilizar

material de estudo e promover a interação entre os participantes. Este posicionamento nos

permite entender que as atividades, propostas e desenvolvidas no AVA, podem ser

semelhantes às presenciais no sentido de acesso ao material das aulas, e, principalmente, pela

interação entre os participantes; característica limitada aos modelos de EaD prévios à EaD on-

line.

De acordo com Pinheiro e Lobo-Sousa (2010), os AVAS são criados para permitir o

acesso ao ensino/aprendizagem de pessoas com dificuldade de frequentar o ensino regular nos

espaços presenciais de educação. De fato, a construção de AVAs, atrelados às instituições de

ensino de credibilidade, permitiu àqueles que, eventualmente, não pudessem frequentar cursos

presenciais passassem a considerar a possibilidade de um curso a distância apoiado no espaço

virtual - AVA, pois este espaço apresenta flexibilidade temporal e espacial.

Os Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância (BRASIL, 2007),

compõem um documento que não possui caráter de lei, mas indica nortes para uma educação

de qualidade. A legislação brasileira tem avançado no sentido de ampliar o conceito de

educação desenvolvida pelas instituições oficiais e um dos pilares pontuados pela qualidade é

a interatividade nos AVA.

O uso das tecnologias aplicadas à educação a distância deve ser baseado numa

filosofia que permita um processo de ensino e aprendizagem com base na interatividade,

capaz de favorecer a construção do conhecimento em parceria com os demais. Segundo

Marco Silva (2012), a interatividade ganha destaque com a superabundância de informações

no ciberespaço, que para a autora é transformado em uma imensa rede de conexões que

amplia a inteligência coletiva. Para tanto, é necessário um certo nível de letramento digital

para que o usuário possa usar o AVA e desenvolver as atividades propostas nos diferentes

espaços e gêneros digitais (PINHEIRO e LOBO-SOUSA, 2010).

O modelo de educação a distância proposto pelos Referenciais de Qualidade para a

Educação Superior a Distância (BRASIL, 2007) deve ser considerado como uma modalidade

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de ensino em que admite a distância física, mas isso não significa que não haja interação entre

os participantes. Ao contrário, a prática pedagógica a distância precisa zelar pelo princípio da

interatividade como processo fundamental na comunicação em qualquer meio tecnológico

seja ele telefone, fax ou quaisquer recursos ou gêneros textuais a serem disponibilizados no

AVA como correio eletrônico (e-mail), videoconferências, chat, fórum de discussão, entre

outros.

No entanto, não está na quantidade de gêneros disponíveis no AVA a garantia de

haver um processo interativo, mas na maneira com que a tecnologia é utilizada por parte dos

sujeitos envolvidos (alunos, professores-tutores, coordenadores, entre outros) que fará com

que o processo educacional se torne mais ou menos interativo.

De acordo com Campos (2007), diferentes ambientes virtuais tem sido construídos em

todo o mundo para oferecer suporte de aprendizagem, principalmente, para os cursos a

distância com bases nas relações mediadas pela tecnologia digital on-line. Alguns oferecem

recursos textuais, recursos de som, de imagem e vídeo, além das interações diversas entre os

participantes, através dos gêneros síncronos e assíncronos. Assim, os sistemas que são criados

com objetivo pedagógico tomam rumos diversos, pois muitos desses sistemas acabam se

restringindo à instituição que os desenvolve, enquanto outros são comercializados. Como

exemplo o autor cita o sistema Moodle que vem ganhando espaço por ser um sofware livre e

gratuito. Dessa forma as plataformas de EaD podem ser definidas como:

Uma coleção de ferramentas para criação de material educacional,

gerenciamento da participação do aluno, testes e avaliações, enfim tudo que

é necessário em um ambiente de ensino/aprendizagem, incluindo as funcionalidades necessárias para a comunicação entre os participantes do

processo. (CAMPOS, 2007, p. 18)

Os gêneros textuais digitais ou e-gêneros (SILVA I., 2011), ainda que não tenham sido

planejados para fins educacionais, são elementos extremamente estimulantes e tornaram-se

fundamentais nos ambientes virtuais de aprendizagem nas plataformas de ensino on-line. Para

Silva M. (2012), o AVA assume a condição de hipergênero, por promover o diálogo entre os

variados gêneros digitais na EaD on-line.

Embora não tenha discutido o conceito de hipergênero, Marcuschi (2010a) aproxima-

se de Silva M. (2012) ao apresentar uma lista com alguns gêneros usados nas relações sociais

fora do contexto educacional e dentro dele, como exemplo o e-mail, bate-papo (em aberto ou

agendado), entrevista, vídeo-conferência interativa, lista de discussão, dentre tantos outros

que poderiam compor essa listagem no AVA. Neste sentido a característica atribuída aos

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gêneros textuais de intertextualidade intergêneros por Koch e Elias (2011b) apropria-se

perfeitamente ao contexto do AVA, pois há no mesmo suporte textos escritos, imagens, sons,

hiperlinks, entre outros.

Marcuschi (2010a) também aborda duas relações predominantes nas interações que se

desenvolvem na plataforma de ensino on-line: a) nela é possível encontrar gêneros síncronos,

ou seja, com interação em tempo real como a videoconferência, chat, e uso da rede em geral e

assíncronos, como no caso de interações em tempos distintos, como blog e e-mail; b) os

gêneros apresentam ainda outra vertente de interação, pois há possibilidade de interação

bilateral, de um para um, como no e-mail e a interação multilateral, de um para muitos,

encontrada no blog, na videoconferência, no chat.

Marco Silva (2012) concorda, não diretamente, com Marcuschi (2010a) quanto à

possibilidade da comunicação síncrona e assíncrona dos gêneros digitais no AVA, mas amplia

a concepção de Marcuschi (2010a) no segundo aspecto destacado, acerca da comunicação

realizada no AVA, que para ela, pode ocorrer de três maneiras distintas: a) de um para um,

quando o processo de informação limita-se ao envio ou recebimento de mensagem, como

ocorre por exemplo no envio de aviso pessoal de professor para aluno ou aluno para

professor; b) de um para muitos, quando há inserção de mensagem de um sujeito para o

grupo, como no fórum de discussão ou chat, neste caso também haverá a presença de um

mediador para orientar a discussão e estabelecer as regras; e, c) de muitos para muitos,

quando os componentes da discussão colaboram entre si para participar e criar suas

produções, como exemplo o Wiki.

É importante esclarecer que a listagem apresentada por Marcuschi (2010a) não teve a

pretensão de esgotar as possibilidades de gêneros existentes (conforme ressaltado pelo próprio

autor), antes foi apenas uma amostra dentre os muitos gêneros possíveis. Também é preciso

considerar o acelerado desenvolvimento tecnológico, que altera os limites e possibilidades da

comunicação no AVA e fora dele constantemente.

Sendo assim, à medida que novos recursos digitais são criados, novos gêneros surgem

e podem passar a fazer parte do AVA. Portanto, o último aspecto discutido por Silva M.

(2012), relativo à comunicação muitos para muitos, pode não ter sido considerado por

Marcurshi (2010) por não haver tão popularmente a existência de gêneros característ icos para

tal naquele momento, ou seja, o autor pode ter deixado de considerar alguns gêneros porque

seriam mais recentes ou menos discutidos na ocasião em que seu trabalho foi produzido e

posteriormente publicado, como o próprio Wiki.

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Reafirmamos então que à medida que ocorrem os avanços nas TICs novos gêneros

digitais surgem e, consequentemente, novos recursos são implementados nas plataformas de

ensino a distância que ampliam ainda mais as possibilidades de comunicação e interatividade

nos espaços virtuais de aprendizagem.

Salientamos que o Ambiente Virtual de Aprendizagem tem se mostrado um tema

aberto ao debate, pois não há consenso entre os autores quanto à denominação desse espaço

de aprendizagem.

4.2 A plataforma Moodle

Encontramos na literatura uma certa imprecisão no que se refere à denominação do

Moodle enquanto plataforma ou enquanto um AVA. Se por um lado é consenso entre os

estudiosos (BRAGA D., 2013, FRANCO, 2009, 2010, RABELO, 2007, MATTAR, 2012) que

o Moodle traz grandes vantagens quando utilizado na EaD on-line, por outro há

posicionamentos distintos entre eles quanto à classificação do Moodle (ora como plataforma

ora como AVA).

Dessa forma, para aqueles que consideram o Moodle uma plataforma como Braga D.

(2013), Franco (2009, 2010), Haguenauer, Mussi e Filho (2009), Bechara e Haguenauer

(2010), ele é considerado um Sistema de Gerenciamento de Cursos (SGC), Learning

Management Systems (LMSs) ou Sistema de Gerenciamento de Aprendizagem (SGA). Por

outro lado, para Mattar (2012) o Moodle é considerado simplesmente AVA (em português),

mas considera as denominações alternativas como LMSs ou SGA. Além do Moodle Mattar

considera o Teleduc e o Sakai como outros exemplos de AVA. Para ele Twitter, blogs, Wiki,

Facebook seriam considerados exemplos de plataformas da Web 2.0, e todos esses recursos

são alguns exemplos de ambientes colaborativos e podem ser aplicados para EaD.

Braga D. (2013) afirma que, se comparada a outras plataformas, o Moodle tende a ser

preferido pelos professores que dinamizam cursos on-line devido a grande oferta de

ferramentas digitais, inclusive ferramentas tecnológicas de escrita colaborativa como o Wiki,

além de permitir interação com outros espaços virtuais da Internet como o Youtube, sem a

necessidade de sair do AVA.

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Diante do debate em torno do Moodle enquanto AVA ou plataforma, Franco (2009)

salienta que o mais correto é utilizar plataforma Moodle à AVA. O autor apresenta diferenças

entre ambos da seguinte forma:

Por plataforma entende-se,

A chamada plataforma de ensino a distância, plataforma de e-learning, SGC ou LMS é um software que oferece um conjunto de ferramentas com as

quais o professor e/ou designer poderá criar um curso completamente on-

line ou um componente on-line complementar a um curso presencial. O mercado oferece hoje diversas plataformas, incluindo algumas gratuitas,

como Teleduc e Moodle (acrônimo para Modular Object-Oriented Dynamic

Learning Environment) –. (FRANCO, 2009, p. 48).

Para Franco, o AVA,

é construído a partir da seleção de recursos, dentre aqueles oferecidos por

uma determinada plataforma, e da definição de como tais recursos serão

utilizados, de como o conteúdo e as atividades serão disponibilizados e

desenvolvidos. (FRANCO, 2009, p. 48).

Haguenauer, Mussi e Filho (2009) corroboram o posicionamento de Franco de que

plataformas são softwares especializados no gerenciamento de atividades de ensino e

aprendizagem. Acrescentam ainda que, em geral, as plataformas são constituídas “de banco de

dados, ferramentas de gestão (de atividades acadêmicas ou didáticas), ferramentas de

publicação de conteúdos e ferramentas de comunicação” (2009, p. 08) Diante disso,

poderíamos dizer que a plataforma seria a base tecnológica, com recursos e interfaces para

acolher um AVA. As plataformas, em geral, incluem ferramentas para administração,

disponibilização de conteúdos, formas de comunicação síncrona ou assíncrona, entre outras.

Por outro lado, somente após ser elaborado por professor e/ou designer em uma

plataforma que o AVA pode ser então disponibilizado aos usuários. A partir daí é possível

utilizar as ferramentas de acesso a conteúdos e de interação entre os participantes. Cabe

ressaltar que o AVA somente favorecerá a interatividade (SILVA M., 2012) quando, de fato,

viabilizar aprendizagem coletiva, em parceria; caso contrário será somente um ambiente

virtual de download de conteúdos, não favorecendo a interatividade. No caso de AVAs

elaborados na plataforma Moodle, o ambiente favorece a aprendizagem e a interatividade

porque essa plataforma “combina recursos e atividades promotoras de aprendizagem”

(BECHARA e HAGUENAUER, 2010, p.03), principalmente aquelas desenvolvidas nas

comunicações síncronas e assíncronas.

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78

Podemos dizer, que as trocas entre os participantes compõem uma das faces da gênese

do Moodle. Dougiamas (1998), ao propor uma teoria de comunicação de base sócio-

construtivista, abre a discussão para além do conhecimento conhecido pelo aluno,

isoladamente. Baseado no modelo social de aprendizagem ele defende o pressuposto que a

aprendizagem individual pode ser desenvolvida mais se em contexto socialmente mediado;

que as aprendizagens tendem a ser “mais” quando distribuídas entre indivíduos, entre as

pessoas que participam de um aprendizado coletivo; e que a relação entre os indivíduos deve

pairar numa “relação espiral recíproca”.

Com base no construtivismo social, o ensino precisa ser significativo para os alunos e

as negociações e trocas são fundamentais para a construção de novos conhecimentos, em

parceria. No caso da EaD on-line é preciso que haja espaços para comunicações entre

professores e alunos e entre alunos. Para tanto, é preciso valorizar os conhecimentos prévios

para que conhecimentos negociados e construídos em parceria façam sentido.

O Moodle14

(Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) foi criado em

2001 como parte da tese de doutorado do australiano Martin Dougiamas, da Universidade de

Curtin. Pode ser usado em cursos a distância completamente on-line, em cursos

semipresenciais e também em cursos presenciais com algumas atividades complementares on-

line.

Com a base filosófica sócio-construtivista, o Moodle busca a integração entre

professor e alunos, inclusive na educação on-line. Ou seja, a filosofia educacional do Moodle

baseia-se no pressuposto que a aprendizagem realizar-se-á melhor quando as pessoas se

engajarem em um processo social de construção de conhecimento, em parceria uns com os

outros e com o meio (FRANCO, 2010). Em outras palavras, ancora a capacidade do

desenvolvimento da inteligência às ações mútuas entre os indivíduos e o meio social.

Franco (2010) ressalta que a palavra Moodle tem dois significados, um conforme já

citado, é Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment que em português

significa Ambiente de Aprendizagem Dinâmico Modular Orientado e Objeto, ou outro, em

inglês, “é um verbo que descreve o processo de passar por algo com tranquilidade, uma

agradável atividade manual que, frequentemente leva à introspecção e criatividade”

(FRANCO, 2010, p. 29). Portanto, um significado refere-se à forma com que o programa foi

desenvolvido, o outro à maneira de utilização pelos usuários nos cursos.

14 www.moodle.org

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79

O Moodle apresenta algumas características vantajosas para sua utilização como

ambiente educacional se comparado a outros modelos de plataforma de ensino a distância

(RABELO, 2007, FRANCO, 2010) pelo menos por três motivos:

Em primeiro lugar, é um pacote de software com código aberto, que qualquer pessoa

pode participar de seu desenvolvimento; condição que permite a qualquer pessoa com

um treinamento adequado alterar as instruções do programa de acordo com suas

necessidades.

Em segundo, é modular, o que permite que as funcionalidades dos gêneros textuais

sejam adicionadas em blocos organizados em tópicos ou no formato semanal. Por

exemplo, em um primeiro bloco podemos adicionar um fórum de discussão, no

seguindo um chat, e assim por diante.

Em terceiro lugar, além das vantagens acima citadas ele é gratuito o que o tem tornado

bastante popular, inclusive sendo usado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB)

(RABELO, 2007, MATTAR, 2012).

A esse respeito Mattar (2012) corrobora as considerações de Rabelo (2007), e

acrescenta que o Moodle tem sido uma escolha bastante atraente no Brasil e,

internacionalmente, reafirma que foi adotado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB).

Segundo Rabelo (2007), por ser um software livre, o Moodle pode ser utilizado sem

restrições e permite a customização de seus recursos e de sua interface, pois o código é

aberto. Além dessas vantagens, ele ainda elenca outras possibilidades do Moodle: permite a

identificação e a troca de informações entre os usuários; há um acesso facilitado aos

documentos de publicação e revisão através do editor de texto e de compilação de relatórios,

permitindo acompanhar as participações individuais de cada participante do grupo; facilidade

no gerenciamento de tarefas e notas, pois é possível atribuir um conceito para cada atividade,

que ao final é contabilizado pelo próprio sistema do Moodle; permite o gerenciamento dos

cursos e turmas dos professores e alunos vinculados a cada um deles; é possível o controle de

acesso de usuários e suas funções; acesso fácil aos conteúdos mais utilizados da Internet do

AVA de forma síncrona ou assíncrona; permite o armazenamento e a exposição de conteúdos

em forma de texto, hipertexto, vídeo, som, imagem, entre outros.

Comparados a outras plataformas de ensino, o Moodle destaca-se como uma

plataforma que facilita o acesso e a usabilidade dos principais gêneros textuais digitais usados

na Internet com propósito pedagógico pelos usuários sejam estudantes, professores ou

gerenciadores dos cursos ou disciplinas.

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80

A possibilidade da comunicação por meio dos gêneros digitais é plenamente atendida

nesta plataforma, pode-se investir na troca de informações tanto na comunicação assíncrona,

como o fórum de discussão e o e-mail, como na síncrona, através do chat e de mensagens

instantâneas.

Ressalta-se também a plasticidade dessa plataforma em relação ao(s) emissor(es) e

destinatário(s) das mensagens postadas. É possível o envio e recebimento de mensagens de

um para um, por exemplo, o correio eletrônico ou e-mail individual; de um para muitos,

quando ocorre o envio de mensagem de um sujeito para o grupo, em geral a emissão parte do

mediador que é o professor formador para o grupo de estudantes ou demais usuários do

sistema, como no fórum de discussão ou chat; e, de muitos para muitos, caso do Wiki para

criação de texto coletivo, em que os usuários estabelecem uma relação colaborativa entre si

para participar e criar suas produções.

No Brasil, são várias instituições que usam a plataforma Moodle para mediações no

processo de educação como o CEDERJ15

no Rio de Janeiro, que desenvolve cursos de

graduação e extensão on-line. Além do uso do Moodle enquanto plataforma, há no país um

grande projeto de pesquisa envolvendo o Moodle, o LingNet16

– Letras 2.0 que é

desenvolvido na UFRJ. Esse projeto além de oferecer AVAs de disciplinas e cursos de

extensão na modalidade on-line na Faculdade de Letras desenvolve nesse espaço pesquisas

acadêmicas na área de educação a distância e formação docente nessa modalidade.

4.3 Interatividade

O termo interatividade tem recebido diferentes significados ao longo dos anos, fato

que tem gerado mais confusão que clareza para uma definição do termo (CASSOL e PRIMO,

1999, PRIMO, 2000, SILVA M., 1998).

Primo (2000, p.2) afirma que o tema tem despertado grande interesse da comunidade

científica no Brasil e em outros países, mas afirma também que muitas dúvidas ainda pairam,

e muitas delas surgem da “rapidez que a revolução informática tem avançado e pela grande

profusão de conceitos e teorias desencontradas, das mais diversas áreas do saber, que tem,

15

Disponível em: http://www.cederj.edu.br/cederj - acesso em 07/08/2013 16 Disponível em: http://www.lingnet.pro.br/moodle/ - Letras 2.0 – acesso em 06/11/2013

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81

muitas vezes, mais confundido que contribuído”.

Marco Silva (1998, p.1) pondera que a partir dos anos 80 surgiu a “indústria da

interatividade”, “uma condição revolucionária, inovadora da informática, da televisão, do

cinema, do teatro, dos brinquedos eletrônicos, do sistema bancário on-line, da publicidade,

etc.”. Condição, atribuída pelo autor, ao uso do adjetivo “interativo” a qualquer coisa que

permita ao usuário algum nível de participação ou troca de ações. Silva M. (1998, 2012)

prossegue afirmando que nos anos 90 ocorreu uma banalização do termo interatividade, que

foi transformado em marketing da indústria comercial, usado como argumento de venda de

mídias, de notícias, de espetáculos, de tecnologias e assim por diante. “Quase tudo” passou a

ser considerado interativo.

Críticas são veementes quanto à questão de classificar como interativo qualquer coisa

que simplesmente permita algum nível de participação do usuário (SILVA M., 1998, 2012,

PRIMO, 2000). São chamados interativos os cinemas em que as cadeiras balançam enquanto

o filme é transmitido, mas na realidade o usuário não está interagindo com nada, apenas

balançando na cadeira enquanto assiste ao filme. Também são chamados interativos os

programas de televisão que permitem a participação dos telespectadores com respostas

simples como escolher sim ou não, ou entre y ou z. Mas seria apenas isso interatividade?

Buscar subsídios teóricos é fundamental para que o conceito de interatividade seja

empregado dentro de parâmetros claros e com menor banalização. Ao discutir ou defender um

posicionamento acerca de interatividade é imprescindível que tal posicionamento se

estabeleça sempre de acordo com o referencial teórico determinado, simplesmente porque não

há consenso na comunidade acadêmica quanto à aceitação e entendimento do tema, inclusive

na educação e mais ainda na educação a distância.

4.3.1 Interação e Interatividade

O dilema conceitual é acentuado quando tratamos de interação e de interatividade,

porque para alguns autores os termos são sinônimos; para outros, em se tratando de

comunicação mediada por computadores, não caberia interatividade, mas interação; enquanto

outros defendem que a interatividade seria um conceito mais aberto que interação, sendo essa

uma revolução na comunicação (MATTAR, 2012).

Para Silva M. (1998), o termo interação é mais antigo que o conceito de

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82

interatividade. Segundo ele, o termo interatividade é relativamente recente e pode ter surgido

entre o final da década de 1970 e a década de 1980, atrelado ao contexto da expansão das

tecnologias de comunicação.

É no sentido de melhor nortear as discussões acerca de interação e interatividade, sem

o intuito de esgotarmos o tema, que nos propomos abordar alguns conceitos e definições de

diferentes autores diante do que consideram interação e interatividade.

4.3.2 Contribuição de André Lemos

O pesquisador brasileiro André Lemos (1999, p.1) corrobora o tema em questão,

compreendendo interatividade como “uma nova forma de interação técnica, de cunho

“eletrônico-digital”, diferente da interação “analógica” que caracterizou os media

tradicionais”. Apesar de admitir que experimentamos, diariamente, formas de interação

técnica e social, Lemos não se aprofunda nos aspectos referentes à interação social; limita-se a

discutir interatividade (digital).

Para o autor, a interatividade estaria delimitada a uma ação dialógica entre o homem e

a técnica. Admite que a técnica sempre permeou as relações sociais, pois novas ferramentas,

novos objetos ou novas máquinas exigem novas técnicas para sua utilização na vida em

sociedade. Assim, entende que interatividade não é criação das tecnologias digitais,

propriamente dita, mas “de processos baseados em manipulações de informações binárias”

(LEMOS, 1999, p. 01).

Para exemplificar sua análise de interação técnico-social, Lemos recorre ao trânsito,

que classificou como um sistema interativo, auto-organizante e participativo. No trânsito o

motorista estaria participando de um processo duplamente interativo: com a máquina que

chamou de “analógico-eletro-mecânica” e de interação social com os carros (motoristas).

Com esse exemplo, apresenta a interatividade como técnica e social ao mesmo tempo.

Em relação à interatividade nas tecnologias de comunicação, exemplifica o telefone

como uma tecnologia que permite interação basicamente social com limitada interação

técnica. Quanto à televisão apresenta uma evolução tecnológica que acompanha mudanças

nos tipos de interação, mas afirma que a televisão permite uma interação técnica com pouca

interação social. A evolução apresentada por Lemos (1999) acerca da interatividade em

relação à televisão deu-se da seguinte forma:

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nível 0, onde a TV era em preto e branco com um ou dois canais, e a interação

limitava-se a ligar e desligar o aparelho e ajustar alguns aspectos como brilho,

contraste e volume, ou escolher entre os dois canais disponíveis;

nível 1, a TV era em cores com mais canais disponíveis e o controle remoto surge

possibilitando o usuário “zappear” entre as emissoras. Para Lemos, o “zapping” pode

ser considerado o antecessor da navegação na rede WWW;

nível 2, quando outros equipamentos são usados junto à TV, e ela passa a ser utilizada

para outros fins, como assistir um filme no vídeo, jogos eletrônicos, entre outras

possibilidades; além de permitir ao usuário decidir gravar programas para assistir em

tempos diferentes daqueles emitidos pelas emissoras;

nível 3, surgem as primeiras experiências de interatividade digital, pois os usuários

podem interferir no conteúdo das emissoras a partir de telefone, fax ou e-mail;

nível 4, encontra-se a chamada televisão interativa caracterizada por permitir a

participação, via telemática, dos usuários escolhendo os ângulos das câmeras em

tempo real.

Nota-se que até o nível 2, na evolução apresentada por Lemos (1999), as interações

são basicamente com a máquina. No nível 3 a interatividade limita-se à escolha de duas ou

três opções e a escolha é realizada por telefone. Somente no nível 4, com a televisão

interativa, que a interatividade seria de fato não apenas analógica (com a máquina), mas,

sobretudo, digital (conteúdo) e social.

Lemos salienta que a evolução das tecnologias digitais deu-se além da interatividade

técnica e da interação social, ou seja, pode-se dizer que as novas tecnologias digitais de

comunicação proporcionam uma nova qualidade de interatividade que ele denomina interação

técnica de tipo “eletrônico-digital” (LEMOS, 1999, p. 02). A principal contribuição das novas

mídias digitais, nas formas de distribuição das informações, está no fato de que as mídias

tradicionais (imprensa escrita, rádio, televisão) focam o modelo um-todos, opondo-se às

mídias digitais com o modelo todos-todos, com características de conteúdo descentralizado e

universal.

Portanto, para Lemos a interatividade pode ser classificada em três níveis não

excludentes: técnico “analítico-mecânico”, técnico “eletrônico-digital” e social (ou, nas

palavras do autor, simplesmente interação). A interatividade digital permearia uma relação do

tipo tecno-social porque, “possibilita ao usuário interagir, não mais apenas com o objeto (a

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84

máquina ou ferramenta), mas com a informação, isto é, com o conteúdo.” (LEMOS, 1999, p.

03).

Na década de 90, Lemos previa que a interatividade digital levaria à superação de

barreiras físicas entre homens e máquinas, alteraria a interação que estava focada nos objetos

no sentido físico, para uma interação entre usuários e as informações. Altera-se, portanto, a

qualidade de interação entre os usuários, porque, se no primeiro momento (objetos

analógicos), a interação não espera outra reação que não seja a forma passiva, com os objetos

eletrônico-digitais a interação torna-se ativa, pois proporciona o diálogo entre os usuários.

O que é preocupante nesse posicionamento refere-se ao fato do autor delegar às

máquinas (computadores e programas) a capacidade de estabelecer uma comunicação

chamada por ele de “inteligente” entre máquinas e objetos sem a intermediação humana

através do princípio da simulação. O desempenho dos equipamentos que proporcionam a

comunicação inteligente baseia-se na capacidade de programas de emitir significados

comparáveis à articulação de diálogos através de interfaces. Tal posicionamento será

questionado por outros autores como Primo e Cassol (1999) e Silva M. (2012) por limitar-se a

reproduzir um repertório pré-programado de possíveis respostas dentro de um padrão fixado

previamente. Não caracterizando diálogo de fato.

4.3.3 Contribuição de Alex Primo

Primo (2000), por sua vez, apresenta uma proposta de estudo de interatividade em

ambientes informáticos. Como sugere o autor, esse estudo é uma proposta e não uma teoria

fechada e acabada, por isso pode gerar pontos polêmicos, mas sua intenção é colaborar com o

tema das novas tecnologias.

A proposta de Primo diverge dos pressupostos apresentados até aqui por Lemos, de

investigar a interatividade enquanto uma relação do homem e a máquina, ou do homem com a

técnica. Primo amplia a discussão e propõe uma forma mais ampla de interação que surge de

maneira mútua e negociada. Portanto, pretende apresentar um estudo que tira o foco da

máquina (ferramenta ou recurso tecnológico ou digital) e passa a considerar como

fundamental o agente humano, embora isso não signifique depositar toda importância na ação

humana, posicionamento que, segundo o autor, tornaria a abordagem teórica em contínuo

desequilíbrio. Para tanto, valoriza a interação “o que acontece entre os interagentes. Trata-se

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85

de estudar a qualidade da relação que emerge da ação entre eles” (PRIMO e CASSOL, 1999,

p. 77 - grifo do autor).

Entendem que a relação vai se definindo durante o processo pelos participantes, não

sendo aceita a valorização do emissor ou do receptor de forma fragmentada, mas propõem

investigar as mediações, as ações entre eles. Outro aspecto que importa para a investigação é

o contexto e como ele interfere na interação. Isso não significa focar as reações que o

computador pode viabilizar em um ambiente mediado, mas destacar as relações entre as

pessoas mediadas pelo computador.

Nesse sentido, Primo (2000) encaminha a discussão acerca do tema, em busca de

subsídios para uma interatividade não-linear, não-previsível em que o conteúdo surja durante

o processo da mediação, diferenciando-se de práticas mecanicistas lineares. Com base nesses

pressupostos, classifica dois grupos de interação: mútua e reativa. Os dois grupos são

discutidos em sete dimensões não excludentes, porque outras podem ser agregadas, como

segue (PRIMO, 2000, p. 87), grifo do autor:

a) sistema: um conjunto de objetos ou entidades que se inter-relacionam

entre si formando um todo;

b) processo: acontecimentos que apresentam mudanças no tempo;

c) operação: a produção de um trabalho ou a relação entre a ação e a

transformação;

d) fluxo: curso ou sequência da relação;

e) thoughput: os que se passa entre a decodificação e a codificação, inputs

e outputs (para usar termos comuns no jargão tecnicista);

f) relação: encontro, a conexão, as trocas entre elementos ou sub-sistemas;

g) interfaces: superfície de contato, agenciamentos de articulação, interpretação e tradução.

O quadro a seguir (4.1) apresenta um paralelo entre interação mútua e reativa quanto

às dimensões já elencadas.

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86

Quadro 4.1: Interação reativa e mútua segundo Primo (2000)

Dimensões Interação reativa Interação mútua

Sistema Fechado, lineares, unidirecional,

não reage ao contexto.

Aberto, forma um todo global, o

contexto influencia trocas com o

sistema.

Processo Estímulo-resposta Negociação

Operação Ação e reação (um polo age e o

outro reage).

Ações interdependentes por

cooperação (cada agente ativo e

criativo altera o outro e o seu

próprio).

Fluxo Linear e pré-determinado

(eventos isolados)

Dinâmico em desenvolvimento

Throughput Processos de decodificação e

codificação, que se ligam por

programação (reflexo do

automatismo)

Mensagens recebidas são

decodificadas e interpretadas,

podendo gerar novas decodificações

(complexidade cognitiva dos

interagentes).

Relação Rigidamente causal (sucessão

temporal de dois processos –

ação e reação), objetivismo.

Construção negociada,

constantemente construída pelos

participantes; relativismo.

Interface Apresenta uma interface

potencial (cada estímulo é

programado com antecedência

para que certas respostas sejam

apresentadas).

Os sistemas interativos se

interfaceiam virtualmente (mesmo

que haja roteiro rígido pré-

determinado, nada pode garantir que

os mesmos estímulos desencadearão

as mesmas respostas).

(Baseado em Primo 2000, p. 7-10)

Embora haja uma classificação didaticamente clara, organizada e objetiva, que para

haver interatividade mútua é preciso a virtualização e a problematização, por outro lado, a

interface reativa espera que o usuário apenas clique nas programações e codificações pré-

determinadas. Primo (2000) admite que possa haver a multi-interação, que ocorre quando

mais de um canal é usado para estabelecer interações simultâneas, como exemplo, durante um

chat, onde o usuário coloca em jogo tanto a interação mútua como a reativa, pois ao mesmo

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tempo em que conversa, interage com outra pessoa, com o contexto, também interage com a

interface do software e com hardware do computador; portanto, estabelece uma multi-

interação.

Diante do exposto, podemos entender que não consiste no interesse principal de

Primo investigar a relação de interação do homem com a máquina; embora essa interação

ocorra. Sua atenção está centrada na relação de interações entre os homens, que se desenvolve

através de computadores. Esse pesquisador prefere o termo interação à interatividade para as

comunicações mediadas por computadores.

4.3.4 Contribuição de Michael Moore

Moore (2008) aborda o conceito de interação ao discutir aspectos inerentes à educação

a distância, mais especificamente, aos diferentes papéis do professor que atua com um grande

público, sem desconsiderar o aluno individual e as relações que o aluno estabelece (ou deveria

estabelecer) durante um curso a distância. Segundo ele, para que o ensino a distância seja

eficaz é fundamental que o conceito de interação, por meio de comunicações transmitidas

com base na tecnologia, seja compreendido profundamente. Assim, identifica em seus estudos

três tipos de interação: interação do aluno com o conteúdo, interação com o instrutor e

interação com outros alunos.

O primeiro tipo de interação é aquela que ocorre entre o aluno e o conteúdo. Entende

que é papel do instrutor (como o autor sugere para professor-tutor ou tutor) facilitar o acesso

dos alunos ao conteúdo. Coloca então sob o instrutor a responsabilidade, não simplória, do

cumprimento da tarefa de disponibilizar o conteúdo, mas, e, principalmente, observar e

planejar essa ação, pois ela fará toda diferença e poderá ser um elemento de definição da

educação. O autor ressalta que “cada aluno precisa elaborar seu próprio conhecimento por

meio de um processo de inserção pessoal das informações em estruturas cognitivas

previamente existentes” (MOORE, 2008, p. 152). Portanto, ao disponibilizar conteúdos, o

professor precisa elaborar diferentes estratégias que viabilizem a construção de

conhecimentos individualmente pelo aluno, através da interação com o conteúdo.

Ao discutir a interação aluno/conteúdo, Mattar (2012) destaca potencialidades que

cursos de educação com uso da Internet alcançaram com avanços das tecnologias de

comunicação e informação. A partir da Internet (mais precisamente a partir da Web 2.0) é

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88

possível desenvolver conteúdos e objetos de aprendizagem de diferentes linguagens como

som, texto, vídeo até de realidade virtual.

Partindo dos princípios que o aluno constrói seu conhecimento com a interação com o

conteúdo e de que os estilos de aprendizagens são diversificados entre os estudantes,

encontramos na perspectiva de educação com base na Internet recursos que potencializam a

interação aluno conteúdo, porque o estudante pode interagir com o conteúdo grifando,

selecionando, navegando, explorando, de acordo com seu interesse pessoal e estilo cognitivo

de aprendizagem, mas, sobretudo, Mattar (2012) destaca que com os recursos da Internet o

aluno passa a não somente ter acesso a conteúdos. Com a web é possível interagir a ponto de

“customizar o conteúdo com o qual deseja interagir” (MATTAR, 2012, p. 41),

transformando-o em conhecimento pessoal (MOORE, 2008).

O segundo tipo de interação proposto por Moore é a interação aluno/instrutor. O autor

ressalta que esse tipo de interação é essencial para os alunos e altamente desejável por muitos

professores porque é nessa relação que “os instrutores auxiliam os alunos a interagir com o

conteúdo” (MOORE, 2008, p. 152). Segundo ele, os instrutores estimulam o interesse pela

matéria e motivam os alunos a aprender, auxiliam os alunos a colocarem em prática o

conteúdo em aplicações reais no intuito de manipular a informação apresentada, além de

acompanhar todo processo de aprendizagem para futuras avaliações. Também é na interação

aluno/instrutor que ocorre apoio, conselho, incentivo a cada aluno de acordo com o nível

educacional.

Se na sala de aula presencial a troca entre alunos e professores pode ser bastante

elevada para que o conteúdo seja compreendido pela classe, qual seria sua dimensão nos

cursos a distância on-line? Não pretendemos investigar esse aspecto aqui, mas é possível

perceber que nos cursos a distância on-line com apoio das plataformas de ensino pode haver

maior interação aluno/instrutor que em modelos anteriores de educação a distância com uso

apenas do encontro presencial ou do telefone, por exemplo. No ambiente virtual de

aprendizagem a interação aluno/professor pode ocorrer a qualquer momento e de qualquer

lugar, ainda que a mensagem de retorno não seja imediata. Sob esse aspecto podemos

sinalizar que nas interações síncronas, em geral, o professor dará um feedback para a

interação imediatamente, já em interações assíncronas é importante que o feedback não

demore a ocorrer para não desestimular ou não satisfazer o interesse do aluno.

Concordamos com Moore (2008) que a necessidade pessoal da interação

aluno/instrutor será diferenciada porque a relação de cada aluno com o conteúdo será

diferente. Sendo o instrutor o auxiliador entre alunos e conteúdos (MOORE, 2008) em quem

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pesa a responsabilidade de atender à demanda das interações dos alunos individualmente, pois

para alguns será necessária maior explicação do conteúdo ainda não compreendido, para

outros, necessárias elaborações diferentes do conteúdo, e ainda outros, simplificações,

analogias ou indicações de leituras complementares. Para Moore, “o instrutor é especialmente

valioso para responder à aplicação dos novos conhecimentos dos alunos”. (2008, p. 153).

O terceiro e último tipo de interação de Moore (2008) é a interação aluno/aluno.

Certamente esse tipo de interação é recente nos cursos a distância porque trata da interação de

um aluno com o outro aluno ou outros alunos; situação quase inviável na EaD por

correspondência, por exemplo. O autor apresenta dois tipos de interação aluno/aluno:

internamente nos grupos e entre os grupos, na EaD por videoconferência, e no ambiente on-

line através de grupos virtuais, que não se reúnem face a face, mas configuram um grupo.

Para ele a interação entre os alunos é extremamente estimulante e motivadora. As

discussões que surgem dos alunos ajudam a refletir sobre o conteúdo estudado. Acrescentaria

ainda que nessas discussões podem testar o que compreenderam ou não compreenderam,

ampliar a discussão com novos olhares, colaborar com o aprendizado de outros participantes

do grupo, além de outros benefícios, mas o principal, é a capacidade de tirar do isolamento e

inserir o estudante em um contexto de educação coletivo, mesmo a distância.

Mattar (2012) pondera que “a interação aluno/aluno, que pode ocorrer síncrona e

assincronamente, caracteriza o que se denomina aprendizado colaborativo e cooperativo”

(2012, p. 41). Para ele, enquanto aguardam o feedback dos companheiros de curso sentem-se

motivados e atentos, diminuindo a sensação de isolamento. Para Mattar a interação entre os

alunos traz outros benefícios como o senso crítico e a capacidade de trabalhar em equipe.

Moore (2008), ao fazer referência aos estudos de Roblyer e Wiencke, destaca que nos

cursos de EaD pode haver níveis de interatividade, que é caracterizado por uma hierarquia da

interação de reduzida para elevada. Cada nível corresponderá a fatores sociais, de instrução,

tecnológicos, tanto dos alunos como do instrutor.

Finalizando as considerações de Moore, por esse momento, é relevante sinalizar o

alerta de atenção entre a apresentação de conteúdos e as interações em cursos on-line. Embora

o AVA, em geral, permita a inserção do conteúdo através de diferentes linguagens, não

podemos reduzir as potencialidades da Internet à condição de transmissor de conteúdos.

Apresentar informações é importante, mas não é uma ação que se basta. Moore adverte para a

necessidade de atividades que coloquem em prática o conteúdo apresentado (estudado). Para

ele não há melhor forma de interagir como o conteúdo que não seja com discussões sobre o

conteúdo na interação aluno/professor e aluno/aluno. Portanto, é preciso que haja um

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equilíbrio entre a apresentação do conteúdo e as atividades propostas que viabilizam as

interações mais profundas.

4.3.5 Contribuição de Maria Luiza Belloni

Para Belloni (2009) as novas tecnologias de comunicação trazem como característica

principal a interatividade. Ela compreende interatividade como a relação técnica do usuário

com a máquina. Seria a capacidade do usuário de aplicar técnicas para utilizar o computador,

seus hadwares e softwares.

A autora preocupa-se em estabelecer uma classificação clara do que entende por

interação e interatividade para evitar má compreensão do termo e confusão na sua utilização.

Ela afirma que ambos constituem conceitos distintos e muitas vezes pouco esclarecidos.

Assim, define o conceito sociológico da interação como “a ação recíproca entre dois

ou mais atores onde ocorre subjetividade” (2009, p.58), ou seja, a interação dá-se pelo

encontro de dois ou mais participantes direta ou indiretamente. Conforme já adiantamos,

define interatividade como um termo que ainda é usado de diferentes formas e por isso pode

levar a dois conceitos distintos, um deles está ligado à potencialidade técnica possível em

alguns meios, por exemplo, o hipertexto; o outro refere-se à ação do usuário sobre a máquina

e da retroação que a máquina exerce sobre o usuário.

Ao discutir a relação de interação e interatividade em cursos a distância, a autora

destaca a importância da interação pessoal entre professores e alunos, diferenciando esta

interação do uso de programas informáticos pelos alunos mesmo quando esses estão imersos

em possibilidades interativas. A diferença destacada por Belloni está centrada em dois fatores,

na primeira relação, interação entre professores e alunos, há intersubjetividade e o retorno é

imediato que pode aproximar os participantes devido ao caráter socioafetivo das mensagens;

na segunda, não contemplaria a intersubjetividade porque estaria mais ligada à busca de

informações.

Embora aponte para a diferença entre as duas ações, a estudiosa ressalta que seria

incorreto afirmar que na primeira houve construção de conhecimento e que na segunda, não.

Ela parte do pressuposto que ambas as situações podem desencadear processos de

aprendizagem e por isso podem e devem ser complementares na EaD. Mesmo considerando

que um receptor nunca é totalmente passivo, adverte que a simples ação de responder sim ou

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não para perguntas preestabelecidas é algo ainda distante da verdadeira interação (que

envolve a intersubjetividade).

Belloni destaca nas tecnologias de comunicação e informação (ou, como sugere, novas

tecnologias de comunicação e informação) a possibilidade de interações inéditas na EaD,

tanto na interação mediatizada entre professor e alunos e entre alunos e alunos, como nas

situações de interatividade com materiais variados. Para ela,

As técnicas de interação mediatizada criadas pelas redes telemáticas (e-mail,

listas e grupos de discussão, webs, sites, etc.) apresentam grandes vantagens pois permitem combinar a flexibilidade da interação humana (com

relação à fixidez dos programas informáticos, por mais interativos que

sejam) com a independência no tempo e no espaço, sem por isso perder

velocidade” (BELLONI, 2009, p. 59) - grifo do autor.

Frente o avanço dos recursos de comunicação, mais precisamente do computador e da

Internet, que permitem maior flexibilidade da interação humana a distância a qualquer tempo

e espaço, a autora destaca que o uso desses recursos ainda são utilizados mais no sentido de

“apresentação da matéria de aprendizagem” (2009, p.59), prática que ratifica a relação

unidirecional do professor para o aluno, através de disponibilização de material de estudo,

acesso a bibliotecas e outros bancos de dados, atitudes que demandam acesso a equipamentos

adequados para todos os participantes.

Ela destaca que o problema maior está na forma de utilização, mais especificamente,

no como usar as modernas tecnologias de comunicação e informação na EaD, de tal forma

que a interações pessoais sejam de fato encorajadas. Concordamos com Bellone que não são

as potencialidades técnicas das diferentes ferramentas digitais que podem garantir a eficácia

dos cursos, mas os usos que fazemos delas, as concepções e estratégias aplicadas nas relações

entre todos os participantes. Esse aspecto (como usar) das discussões de Belloni também são,

em certa medida, encontrados nas considerações de Marco Silva, embora os autores assumam

posicionamentos distintos quanto a conceituação de interação e interatividade.

4.3.6 Contribuição de Marco Silva

Com o intuito de depurar a origem do termo interatividade, Silva M. (2012) menciona

que na década de 1970 a expressão “comunicação interativa” se encontrava no meio

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acadêmico. Sua aplicação era direcionada para expressar bidirecionalidade entre emissores e

receptores, com base na conversação livre e criativa entre dois polos comunicacionais. No

entanto, o termo ganhou espaço também com a expansão das tecnologias de comunicação que

na prática são consideradas unidirecionais como o jornal, o rádio e a televisão; veículos

comunicacionais onde prevalece a atuação dos produtores sobre os consumidores.

Apresenta três principais críticas de estudiosos ao termo interatividade: a primeira está

relacionada à ideia do termo “da moda” quando é utilizado como modismo oportunista sem

uma real clareza do que vem a ser interatividade para significar coisas velhas; a segunda

estaria ligada à ideologia de mercado, ao marketing, a formação de opinião pública, a que o

autor pondera que seria o “poderio tecnoindustrial baseado na informática” (SILVA M., 2012,

p. 11); e a terceira, refere-se a aparente inocência das tecnologias amigáveis que na verdade

oportunizam a rivalidade técnica, uma vez que favorecem a ilusão à interatividade homem-

computador, enquanto seria uma regressão do homem a condição da máquina.

Silva M. não tem intenção de, puramente, negar as premissas dos críticos, antes,

ressalta que não estão de todo equivocados, mas acrescenta que ainda se tem muito a dizes

sobre interatividade. Das críticas acirradas de autores Silva M. que ressalta, por exemplo, a

necessidade de superar a relação unidirecional para uma relação de troca, e a veemente

mudança necessária dos meios de comunicação comercializados como interativos, quando na

realidade não passam de reativos, limitando a ação do usuário.

Espera-se, como acredita o autor, que a o conceito de interatividade como uma nova

modalidade comunicacional, que surgiu no final do século XX, acompanhe a significativa

modificação que corresponde à transição da modalidade de comunicação massiva para a

interativa. Enquanto a comunicação massiva, vinculada pelos meios de comunicação de massa

como rádio, televisão, cinema, imprensa, consolidaram-se ao longo dos anos como um

paradigma de transmissão em que o emissor encontra-se separado do receptor, sob a “lógica

da distribuição da informação”, a comunicação interativa surgiria a partir da “lógica da

comunicação”, da necessidade do modo dialógico como base para “todos os níveis de

produção e da socialização dos signos” (2012, p.12). Assim, Silva M. adverte que a

interatividade não pode ser reduzida ao modismo, ao marketing ou a dominação técnica.

Convém dizer que para o estudioso a interatividade é um fenômeno da “sociedade da

informação” e manifesta-se em três esferas: a tecnológica, a mercadológica e a social. Desta

forma seria simplório não considerar a complexidade e os múltiplos aspectos que levam a

uma nova modalidade comunicacional. Reduzir interatividade a um único aspecto seria

limitá-la a um único ponto de vista.

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Nesse sentido, há uma nova reconfiguração tecnológica no âmbito das tecnologias

informáticas de comunicação, há também uma nova dimensão mercadológica que procura

maior diálogo entre produtor-produto-cliente, mas, ressalta o estudioso que essas dimensões

estão imbricadas às transformações na esfera social, que mudaram a condição de receptor

passivo diante dos produtos acabados,

mas uma crescente autonomia de busca onde cada indivíduo faz por si

mesmo, num ambiente polifônico, polissêmico que vem à tona quando ocorre o enfraquecimento dos grandes referentes que determinavam

significações, ou verdades acabadas para o consumo passivo das massas

(igreja, política, família, ideologia, educação escolar, mídia de massa, etc.). (SILVA M., 2012, p. 12-13).

A interatividade para Silva M. não limita-se aos avanços técnicos da informática, ela

estaria ligada a um processo que está se configurando nas relações de comunicação entre seres

humanos em todos os aspectos da vida em sociedade. Novas relações do usuário com os

textos e com o conhecimento surgem com os avanços das tecnologias interativas. Portanto, a

mudança estrutural de paradigma da modalidade “comunicacional massiva” que toma o

emissor separado do receptor, pela lógica da transmissão, para a modalidade “comunicacional

interativa” que transforma a atuação do emissor, da mensagem e do receptor, que agora pode

consultar, explorar e manipular a mensagem. Ao emissor cabe a tarefa de não criar uma rota

única, mas uma rede de informações e conhecimentos que caberá ao receptor decidir como

trilhar, ou seja, a sociedade estaria transitando da lógica da distribuição para a lógica da

comunicação.

Ele destaca que as mudanças nas estruturas conversacionais emergem não do

computador em si, mas e, sobretudo, dos investimentos em novas tecnologias de comunicação

que evoluem e passam a disponibilizar o que o autor classificou como um mais

comunicacional; recursos que tornaram as tecnologias conversacionais e interativas. O mais

comunicacional possibilita alterações profundas na atuação do receptor que pode

ver, ouvir, ler, gravar, voltar atrás, ir adiante, enviar, receber e modificar

conteúdos e mensagens entendidos como espaços de intervenção e de

negociação inacabados. Cada um experimentando não mais a disjunção da

emissão/recepção, mas a coautoria. (2012, p. 17).

É preciso reconhecer que o desenvolvimento tecnológico, dos antigos computadores

que exigiam grandes e complexos comandos para um modelo de computador mais

comunicacional, colaborou para que as informações pudessem ser transformadas no

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hipertexto, possibilitando a conexão de um texto com muitos outros. O hipertexto é marca da

transição entre a comunicação massiva para a comunicação interativa.

Tomando como ponto de partida o pressuposto de que a interatividade (considerando

as dimensões tecnológica, mercadológica e social) estaria configurando as relações de

comunicação entre seres humanos em todos os aspectos da vida em sociedade, torna-se

oportuno destacar as mudanças necessárias na educação escolar e as colaborações de Silva M.

para as transformações nas práticas educacionais.

Para tanto, Silva M. dirige suas considerações a educadores com o intuito de fazer

articulação entre comunicação interativa e educação. Seu foco é centrado na sala de aula

(presencial ou a distância), na revitalização da prática pedagógica e na autoria do professor.

Discute a postura clássica de separar emissão da recepção nas salas de aula e propõe que a

prática de transmissão do conhecimento seja repensada, pois pouco tem sido feito para

modificar a tendência de falar e ditar do professor. Embora as relações de comunicação na

sociedade tenham se alterado profundamente, o mesmo não se observa nas escolas que

continuam preservando as mesmas práticas comunicacionais. Para tanto, apresenta três

fundamentos para que o mais comunicacional seja viabilizado nas salas de aula:

O primeiro sugere a disponibilização de múltiplas aberturas (abrir “janelas”) à participação intervenção dos alunos nas ações cotidianas concernentes ao

ensino e à aprendizagem. O segundo sugere a disponibilização de múltiplas

aberturas à bidirecionalidade nas relações horizontais, significando o rompimento com o espaço de transmissão unidirecional autoritária (onde que

sabe transmite e que não sabe se submete) e viabilização da coautoria, da

comunicação conjunta da emissão e da recepção. O terceiro sugere a disponibilização da multiplicidade de redes de conexões no tratamento dos

conteúdos curriculares, significando não linearidade, roteiros de exploração

originais, combinações livres e criação de Narrativas possíveis. (SILVA M.,

2012, p. 29).

Toda discussão remete para proposta de reinventar a sala de aula, rompendo com as

práticas de ditar e falar, para a prática da coautoria, das múltiplas conexões permitindo que o

aluno seja também autor deixando de ser um expectador passivo.

Para Marco Silva (2012) a prática pedagógica a distância, comprometida com a

perspectiva sócio-histórica, precisa atentar para as exigências da interatividade. Entender que

a comunicação interativa estabelece uma relação horizontal entre professor/aluno, e que

também na educação a distância, é preciso aprender a educar mediado pelos recursos da

tecnologia comunicacional e não simplesmente transmitir informações.

Os espaços tecnológicos comunicacionais virtuais permitem disponibilizar múltiplas

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disposições para intervenção e interlocução dos participantes. A comunicação precisa ser

garantida na medida em que todos possam participar. No entanto, é preciso que haja espaço

para participação e que ela permita a bidirecionalidade e a intervenção nas mensagens com

base em multiplicidade de conexões.

De acordo com o autor, o termo disponibilizar numa sala de aula interativa contempla

três aspectos: oferecer múltiplas informações de diferentes formas (texto, vídeo, som), de

modo que haja uma troca interativa entre os sujeitos envolvidos e que estas ações resultem em

conhecimento. Oferecer ocasião onde “os fios da teia” sejam vistos como múltiplos percursos

para conexão e expressões dos alunos. Ao manipular as informações, o professor articula

diversos campos do conhecimento, tornando-os interdisciplinar. Além de reconhecer que

nesta rede os conhecimentos estão em constantes reconstruções, a partir das inter-relações dos

sujeitos; e, estimular constantemente os alunos para que contribuam com novas informações e

conceitos já construídos, tornando-os coautores, sujeitos ativos do processo de aprendizagem.

Para ele a interatividade tornou-se peça fundamental nos cursos de EaD, pois garante a

comunicação necessária entre emissor e receptor e que ambos possam modificar e adaptar a

comunicação estabelecida, para que possam gerenciar o processo de aprendizagem. A

interatividade proposta por Silva M. (2012) deve ser garantida nos cursos, para tanto sinaliza

a necessidade de renovação na relação entre professor e alunos.

Para tratar dos fundamentos da interatividade o autor destaca três binômios, mas sem

estandardizar seus conteúdos porque não são independentes, são aspectos distintos que se

combinam: Participação-intervenção, Bidirecionalidade-hibridação e Permutabilidade-

potencialidade.

Para o primeiro aspecto - Participação-intervenção, Silva M. recorre à obra de quatro

estudiosos que auxiliaram na construção dos fundamentos desse binômio que foi construído

com base em quatro perspectivas distintas: a perspectiva tecnológica, a política, a sensorial e a

comunicacional. Para ancorar os fundamentos da perspectiva tecnológica recorreu a J. Sinova;

para a perspectiva política encontrou em A. Machado colaboração; para a perspectiva

sensorial contou com o auxilio do estudo de B. Laurel; e para discutir a perspectiva

comunicacional ancorou a discussão com base em M. Marchand.

Perspectiva tecnológica

A perspectiva tecnológica com base em J. Sinova, enfatiza as potencialidades

interativas contidas nas novas tecnologias comunicacionais, especialmente aquelas que

permitem a participação-intervenção dos “receptores” e dos participantes do processo da

comunicação coletiva. Nesse sentido são identificadas críticas ao modelo de tecnologia

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comunicacional que controla todo processo; tecnologias que centram nos gestores a seleção

das mensagens e das informações. Acredita que com as novas tecnologias comunicacionais

possa haver maior equilíbrio e intervenção do receptor no processo de comunicação. Assim,

encontra nas novas tecnologias comunicacionais um potencial para a participação, para a

bidirecionalidade e para o hipertexto. No entanto, adverte que por si só essas tecnologias não

produzem participação-intervenção, “o que ela faz é veincular a autoria do sujeito

mobilizado”. (SILVA M., 2012, p. 126)

Perspectiva política

A perspectiva política enfoca o caráter dialógico da comunicação. Coloca em

evidência a relação entre emissor e receptor enquanto produtor e consumidor. Nesse sentido o

caráter reativo (ligado a opções de escolhas e não propriamente a participação-intervenção),

também é criticado porque escolher uma ou outra opção não seria interferir na mensagem e

ainda seria uma forma de recepção. Dessa forma, nas tecnologias comunicacionais reativas o

indivíduo apenas reage, não participa e não interfere, de fato, expondo seu ponto de vista ou

suas preferências.

Perspectiva sensorial

Os estímulos sensoriais das tecnologias comunicacionais podem potencializar a

participação-intervenção e a interatividade. Estímulos sensoriais como visuais, auditivos,

verbais e fenômenos não verbais usados semioticamente podem desencadear ações e

linguagens diversas, e a cada sessão interativa diferentes estímulos podem ser acionados. A

relação homem-computador apresenta um elevado índice de sensorialidade. Contudo, adverte

para o uso desordenado do apelo pelo sensorial que pode ficar limitado a ações sensório-

motoras desviando da participação política.

Perspectiva comunicacional

Em se tratando de um contexto comunicacional de interatividade é preciso repensar os

papéis de emissor e receptor, uma vez que, para garantir a interatividade será necessário que

os conteúdos possam ser manipuláveis e não apenas emitidos. Para que haja interatividade o

emissor não envia uma mensagem fechada, mas uma rede de possibilidades. Outra premissa é

a de que a mensagem somente alcançará significado pleno quando houver intervenção do

receptor. Portanto, rompe-se com o esquema emissor-mensagem-receptor, porque o emissor

muda de papel (constrói redes e não emite uma mensagem), a mensagem muda de natureza

(de rígida para flexível, modificável) e o receptor muda de status (organiza e intervém na

mensagem quando desejar). Não há espaço para transmissão unilateral, caso contrário não

haverá interatividade. Para tanto, “é preciso que o suporte informacional disponha de

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flexibilidade e disponibilize disposições para a intervenção do usuário” (SILVA M., 2012, p.

134).

Da contribuição desses quatro pilares Silva M. constrói o fundamento do primeiro

binômio participação-intervenção. Nele a participação do aluno é ativa na construção do

conhecimento. A participação não é apenas responder “sim” ou “não”, ou escolher uma opção

dada, significa interferir na mensagem e entender que os outros atores do processo, como

professor-tutor e demais alunos, também estão em constante construção do conhecimento.

O segundo aspecto, Bidirecionalidade-hibridação compreende que a comunicação é

fruto de uma produção conjunta da emissão e da recepção, a mensagem percorrerá um

caminho por ambos os atores. Nesse caso a comunicação e a aprendizagem correspondem a

uma produção conjunta do professor e dos alunos.

Esse binômio critica a teoria comunicacional funcionalista configurada pela

cristalização da disjunção emissão e recepção. O início a tal crítica é marcada entre as

décadas de 60 e 70, momento que surgiu uma nova concepção de comunicação com a

premissa na qual “só existe comunicação a partir do momento em que não há mais emissor,

nem receptor e a partir do momento em que todo emissor é potencialmente um receptor e todo

receptor é potencialmente um emissor” (SILVA M., 2012, p. 137).

Antes mesmo de se falar em interatividade com as novas tecnologias de comunicação,

já existia nos fundamentos da comunicação a perspectiva de junção de emissão e recepção

como bidirecionalidade opondo-se à perspectiva funcionalista com a lógica unívoca,

característica do sistema de comunicação de massa. Marco Silva recorre a Enzenberger que

questiona a expressão “meio de expressão de massa”. Por serem esses meios unidirecionais

não poderiam ser considerados meios de comunicação, mas meios de emissão, reforçando a

ideia da comunicação como troca, como conversação entre emissor e receptor.

Dentro do aspecto da bidirecionalidade o autor destaca a possibilidade da coautoria,

que pressupõe a participação ativa dos atores de forma autônoma, não prevista

antecipadamente, rompendo com a fronteira entre emissor e receptor, entre autor e leitor da

obra, ou ainda entre produtor e consumidor.

Silva M. encontra maior riqueza semântica para reversibilidade entre os polos

mencionados no campo das artes plásticas, das artes cênicas e da literatura. Para tanto recorre

a “antiarte” do parangolé de Hélio Oiticica para exemplificar e estabelecer relação com as

características da arte digital e com práticas educativas presenciais ou on-line.

Oiticica rompe com a concepção de arte contemplativa, para uma concepção que

entrega a obra para que o público a complete com sua intervenção. Os parangolés eram capas,

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estandartes e tendas. Para que a obra ganhasse vida era preciso que os expectadores entrassem

em cena (usassem a capa, tomassem o estandarte ou entrassem na tenda). Somente deixando

de ser mero observador, com a participação, com a coautoria; surgia a obra de arte.

O conceito de hibridização traz em si a ideia da fusão. O espaço híbrido configura-se

na presença de múltiplas vozes, múltiplos textos, imagens, sons, movimento, que juntos

compõem um todo. O conceito de Hibridização complementa o de bidirecionalidade

configurando o binômio bidirecionalidade-hibridização.

Assim, a sala de aula interativa precisa abrir espaço para a coautoria. O autor sugere

que o professor crie um espaço de aprendizagem no clima dos parangolés, que é constituído

pela ação dos expectadores, nesse caso, dos alunos. Os professores então passam a propor o

conhecimento e não simplesmente o transmite. Propor o conhecimento aos estudantes é

entender que os alunos podem construir seus próprios mapas de conhecimento, de

explorações, de experimentações e, principalmente, considerar “os conteúdos como ponto de

partida e não como ponto de chegada no processo de construção do conhecimento” (SILVA

M., 2012, p. 229).

O terceiro e último aspecto, a Permutabilidade-potencialidade está diretamente ligado

ao aprimoramento técnico do computador e as profundas mudanças na forma de produzir,

organizar e consumir informações (SILVA M., 2012). Os avanços tecnológicos da

informática permitem a exploração de informações de forma não linear, com maior liberdade

de navegação e maior rapidez na localização delas.

Conforme sugere o autor, “a interatividade, particularmente no seu fundamento

permutabilidade-potencialidade, encontra sua máxima expressão na informática avançada”

(SILVA M., 2012, p. 159). A partir desses avanços o sistema ampliou sua capacidade de

armazenamento de dados e potencializa a liberdade para combiná-las, configurando a

permutabilidade; no mesmo sentido, a potencialidade é ampliada para a produção de

caminhos para narrativas possíveis. Ou seja, é da associação entre a capacidade de

armazenamento de dados e de combinações entre eles (permutabilidade) e da abertura para

produção de narrativas diversas (potencialidade) que surge o binômio permutabilidade-

potencialidade.

Diante de tais avanços tecnológicos o usuário vê-se imerso em uma infinita

possibilidade de criação, tornando-se autor de suas ações (autoria para Silva), gerando novos

eventos a partir de suas ações.

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Silva M. destaca o hipertexto como fundamento essencialmente interativo do

computador e a hipermídia permitida pela tecnologia do hipertexto; expressões de

interatividade na permutabilidade-potencialidade.

A partir da metade da década de 1970 o computador deixa de ser uma máquina binária

e rígida para se tornar mais amigável e conversacional, e é também quando começa a integrar

a tecnologia do hipertexto (SILVA M., 2012, LEVY, 1993). Para Silva M. é nesse contexto

que surge o termo interatividade para dar conta de uma nova dimensão conversacional da

informática até então ocupada pelo conceito de interação, como sugere o autor “conceito

genérico de interação” (2012, p. 164). Por outro lado, ao recorrer a A. Machado encontra um

posicionamento que difere, em parte, dessa afirmativa porque para A. Machado não foi a

informática que abriu as discussões sobre a interatividade, mas esta contribuiu para ampliar a

discussão acrescentando o “aporte técnico” (hipertexto de uma informática amigável e

comunicacional) ao tema. Nas palavras de Silva, vemos “a introdução de um “aporte técnico”

como o diferencial que o computador traz para o conceito de interatividade” (SILVA M.,

2012, p. 164).

A tecnologia amigável e conversacional da informática e o hipertexto permitem que

usuário possa intervir, construir, comentar, organizar os dados através de ícones acionados

pelo mouse, sem que sejam necessárias combinações de códigos para os comandos. O

hipertexto altera também a forma de disponibilização das informações, não mais como um

sistema arborescente que supõe “uma estrutura de organização dos dados em informática que

vai do geral ao particular, de modo que a informação vai se ramificando em detalhes como os

galhos de uma árvore” (SILVA M., 2012, p. 167-168); mas enquanto um rizoma, em que há

multiplicidade de conhecimentos interligados possibilitando conexões que podem ser

realizadas de qualquer ponto, criando uma rede de conexões.

A partir do conceito do hipertexto surge a hipermídia. Silva M. (2012) faz referência a

Kapelian que discute a existência da multimídia “linear”, com elementos prontos à disposição

do usuário que pode combiná-los, mas que para o autor continua na perspectiva de recepção

das informações, e a multimídia definida como composição de sistemas abertos que permitem

ao usuário criar seu próprio conteúdo.

Ao discutir o conceito de hipermídia, Silva M. parte das considerações de Kapelian,

mas amplia essa perspectiva. O autor considera que a hipermídia conta com as opções de

escolha da multimídia “linear”. Ele encontra na hipermídia a capacidade não só de combinar

dados, mas de ampliar a ação do usuário, conferindo-lhe maior autonomia para alterar e criar

novas rotas, se assim desejar. Para ele, “na hipermídia o usuário conta com elementos

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hiperlinkados num sistema rizomático com múltiplas entradas e saídas, no qual pode mover-

se com muita liberdade” (SILVA M., 2012, p. 180).

Portanto, o binômio permutabilidade-potencialidade quando aplicado ao contexto

educacional compreende que o aluno é capaz de conduzir a aprendizagem na medida em que

estabelece o que será feito com o conteúdo ao qual foi apresentado, valendo-se também da

capacidade tecnológica da informática de armazenar dados e combiná-los (permutabilidade) e

daí ser capaz de produzir suas próprias narrativas (potencialidade). Para tanto, o professor

deveria disponibilizar o que Marco Silva chama de “múltiplas redes articulatórias”, sabendo

que não se propõe uma mensagem fechada, ao contrário, propõe-se uma diversidade de

informações de modo que o aluno faça as associações e significações coerentes. Cabe

ressaltar que o aluno que já dispõe de uma formação crítica poderá conduzir de forma mais

apropriada a sua aprendizagem.

Conclui-se que a interatividade ganha destaque por permitir que o conhecimento seja

produzido através das trocas entre os usuários. Para Silva, a interatividade na EaD é um

importante componente por promover mudança necessária de uma educação estática e

imutável para uma educação processada pela troca, pela criação, co-criação, onde os alunos

possam atuar como coautores, corresponsáveis no processo da aprendizagem. Para o autor, a

sala virtual pode possibilitar o encontro com a consciência coletiva, pois todos estão no

mesmo patamar, ora aprendendo ora ensinando.

4.3.7 Delimitando conceitos – convergências e divergências entre interação e

interatividade

É consenso entre os autores que as tecnologias de comunicação e informação

modificaram as relações e as formas de interação entre os usuários de maneira ampla na

sociedade e essa modificação reflete também nas relações no campo educacional, seja ele

presencial ou a distância. Por outro lado, conforme apresentado nas considerações de autores

diversos nos tópicos anteriores, não há consenso no meio acadêmico quanto à definição dos

termos: interação e interatividade (principalmente interatividade). Mesmo assim, é possível

traçar alguns aspectos de convergências e divergências entre eles, conforme veremos a seguir.

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101

Quadro 4.2 – Interação e interatividade: teóricos e conceitos

AUTOR(A) INTERAÇÃO INTERATIVIDADE

André Lemos

(1999)

caracterizada pelos media

analógicos

relação homem/técnica

cunho eletrônico-digital

social

Alex Primo

(2000)

relação homem/homem

interação reativa e mútua

multi-interação

Processo (não característica do

meio)

Michael Moore

(2008)

Aluno/conteúdo

Aluno/ instrutor (professor)

Aluno/aluno

Maria Luiza

Belloni

(2009)

Homem/homem

Intersubjetividade

Potência técnica

Agir sobre a máquina

Marco Silva

(2012)

simples troca de ações

Homem/máquina

Homem/homem

“mais conversacional” na

Combinação dos binômios:

Participação-intervenção,

Bidirecionalidade-hibridação

Permutabilidade-potencialidade

Lemos (1999), admite que a interação faz referência aos media analógicos; porém, não

faz desse o foco de sua discussão. Ele se preocupou em discutir a questão da interatividade

enquanto uma relação do homem com a técnica, de cunho “eletrônico-digital”, interatividade

digital. Por considerar que a técnica sempre permeou as relações sociais, através de novas

ferramentas, novos objetos ou novas máquinas, que por consequência exigem novas técnicas

para sua utilização na vida em sociedade, entende que interatividade não é criação das

tecnologias digitais, propriamente dita, por isso faz referência aos media analógicos e à

tecnologia digital.

O conceito de interatividade elaborado por Lemos aproxima-se do conceito de Belloni

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102

(2009), que a define enquanto uma potência técnica para a ação do homem sobre a máquina,

principalmente nos aspectos discutidos por Lemos até o nível 2 de interatividade nas

tecnologias de comunicação (em 4.3.2).

Em relação ao nível 3, dos estudos de Lemos, a interatividade se limita à escolha de

dois ou três opções (relação homem/máquina). Essa condição de escolha pré-programada foi

também discutida por Primo (2000), embora esse autor prefira utilizar o termo interação à

interatividade e, diferente de Lemos, porque prioriza a relação do homem com o homem e

não com a máquina. É possível trazer à luz a contribuição de Primo, pois foca sua

investigação no elemento humano e nas ações entre os integrantes, das relações que emergem

da ação entre eles. Dito isso, cabe dizer que Primo considera um tipo de interação reativa (em

4.3.3) aquela em que o usuário reage ao contexto com estímulos a respostas prontas,

programadas (sim ou não).

Somente no nível 4 (segundo Lemos), com a televisão interativa, que a interatividade

assumiria outro patamar não limitado à técnica, seria antes, o começo de um processo que

associa a técnica à condição social, por permitir alterar e interferir no conteúdo. Seria tal

posicionamento um pensar inicial para a classificação de Primo como interação mútua,

quando discute as comunicações mediadas por computadores? O que podemos perceber é que

no final da década de 1990, Lemos previa que a interatividade digital (conforme sua

definição) levaria à superação de barreiras físicas entre homens e máquinas, transformaria a

interação que estava focada nos objetos (no sentido físico), para uma interação entre usuários

e as informações. Ele já previa alteração na qualidade de interação entre os usuários, da forma

passiva para a ativa, pois previa que as tecnologias de comunicação proporcionariam o

diálogo entre os usuários.

Conforme já sinalizamos (seção 4.3.2), o problema é que o autor delegou às máquinas

(computadores e programas) a capacidade de estabelecer uma comunicação chamada por ele

de “inteligente”, tal comunicação ocorreria entre máquinas e objetos sem a intermediação

humana, através de um repertório programado de possíveis respostas fixadas pelo

programador, limitando (ou não viabilizando) a ação de comunicação e diálogo de fato, entre

os usuários. Posicionamento esse questionado por Primo e Silva M., justamente, por não

caracterizar a participação e o diálogo aberto, não linear entre os usuários.

Para Primo essa ação seria classificada como interação reativa porque caberia ao

usuário apenas clicar em uma das opções programadas a priori. Para Silva M. a ação de

apenas escolher não leva ao “mais comunicacional” que está para mais interações, para uma

hiper-interação, para bidirecionalidade, para hibridização, participação e intervenção, para

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emissão e recepção; portanto, para ele não poderia ser considerada interatividade em sua

plenitude.

Primo ao discutir as relações entre pessoas mediadas por computador destaca dois

tipos de interação: a reativa e a mútua. Os pressupostos que utiliza para caracterizar a

interação mútua convergem com o conceito de interatividade de Silva. Poderíamos dizer que

os conceitos de Primo para interação mútua seriam próximos dos que Silva M. caracteriza

para interatividade.

Ressaltamos que para Marco Silva a interatividade se desenvolve com base em três

binômios que se combinam: Participação-intervenção, Bidirecionalidade-hibridação e

Permutabilidade-potencialidade, elementos não investigados por Primo nessa disposição e

classificação. Para definir interação mútua Primo parte do pressuposto de um espaço de

virtualização que possa ser problematizado, para tanto precisa ser aberto, não-linear, com

programas e interfaces adequadas para combinações e caminhos novos; convergindo com

Silva M. para o conceito de interatividade.

Sem o intuito de esgotar o assunto podemos destacar outras aproximações entre

ambos, por exemplo, o processo de negociação e as ações de criação, cooperação entre os

interagentes (conforme sugere Primo), as interfaces com os sistemas interativos que se

interfaceiam virtualmente que possibilitam interferir no conteúdo, criar novas respostas que

estão para além daquelas esperadas previamente.

Embora tenhamos começado a traçar uma linha de aproximação entre Primo e Marco

Silva, reconhecemos que alguns aspectos merecem maior discussão para sinalizar possíveis

distanciamentos entre eles, mas esses aspectos não serão contemplados aqui. Nosso objetivo

não é extrapolar as convergências e divergências entre os fundamentos teóricos de diferentes

autores, mas demonstrar a dimensão não consensual de compreensões entre os conceitos

interação e interatividade, onde em alguns momentos utilizam termos diferentes para

representar a mesma coisa e, em outros, o termo semelhante pode conceituar coisas diferentes.

Encontramos em Moore três tipos de interação relacionados à EaD. Suas

considerações aproximam-se de Belloni em diversos aspectos. O primeiro tipo é a interação

aluno/conteúdo, relação que Moore destaca como fundamental para a EaD, assim como outros

estudiosos, até porque historicamente o conteúdo escrito sempre foi marca da modalidade a

distância. O problema se encontra em como os conteúdos serão disponibilizados? Tal

inquietação foi explicitada por Belloni, mas pode ser percebida também em Silva M. e Primo,

que além de questionar “como”, acrescentam “em que formato”? Em quais linguagens?

Permitem modificação? Só permitem a ação de copiar? É possível intervir no conteúdo?

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Nesse sentido Silva M. afirma que para viabilizar interatividade (para Moore interação) é

preciso que os conteúdos estejam no contexto da potencialidade-permutabilidade dos

hipertextos e das hipermídias e que possam ser reconstruídos em coautoria a

bidirecionalidade.

A segunda, não menos importante, é a interação aluno/ professor (que Moore sugere

aluno/instrutor). Para ele a presença do instrutor pode motivar e estimular os alunos a colocar

em prática o que estão aprendendo. Primo, Silva M., Belloni usando cada qual terminologias

próprias afirmam que é preciso espaço aberto para trocas significativas entre os participantes.

No contexto tecnológico digital encontramos nas interfaces síncronas e assíncronas recursos

para investir na interação aluno/instrutor tanto a nível individual quanto de maneira coletiva.

A relação entre professores e alunos, ou seja, entre dois ou mais participantes, é classificada

por Belloni de interação porque nela ocorre subjetividade.

No mesmo sentido, Belloni concorda que há interação (subjetividade), no terceiro tipo

de interação apresentado por Moore: a relação entre alunos e alunos. Vemos que essa face da

EaD não foi apenas potencializada, mas surgiu modificando a relação de tempo e espaço com

os avanços da tecnologia da comunicação no formato digital e já se tornou um diferencial para

EaD on-line, principalmente, porque nas primeiras experiências de educação a distância não

havia espaço para troca entre alunos. Tais avanços quando disponibilizados adequadamente

por designer e professores podem facilitar o aprendizado colaborativo/cooperativo, a

coautoria, diminuir a sensação de isolamento dos alunos, permitir formar e demonstrar o

senso crítico a partir das trocas uns com os outros e também do trabalho em equipe.

Por fim, depois de delimitar alguns conceitos com base em diferentes fontes teóricas

(não as únicas), ressaltamos que utilizaremos nessa dissertação o conceito de interatividade de

Silva M. (2012). A opção por seus pressupostos teóricos deram-se por concordamos com ele

de que a interatividade está presente na comunicação mediada por computadores, na educação

a distância e em outras áreas do conhecimento, e que, em relação a ela, é preciso considerar,

em certa medida, a relação homem-máquina, mas impreterivelmente a relação homem-

homem mediada pelas interfaces do computador, principalmente percebendo no participante

uma ação ativa de construção do conhecimento, de participação, de intervenção, de

movimento bidirecional, de fusão; utilizando as potencialidades e permutabilidades possíveis

na tecnologia de comunicação digital. Os binômios que remetem à interatividade apresentados

por Silva M. (2012) serão investigados nas participações dos estudantes nos fóruns de

discussão, na seção 6.3.

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4.4 EaD para além da simples transmissão de informações

Ao pensarmos em EaD precisamos, primeiramente, entendê-la como uma modalidade

de ensino com características próprias que não podem estar desvinculadas da visão de mundo

e de sociedade. A EaD deve ser entendida como fruto de um processo sócio histórico17

de

mão dupla com os avanços tecnológicos: se por um lado podemos afirmar que a EaD

acompanha e se adéqua às tecnologias de comunicação e informação, apesar de muitas delas

não tenham sido criadas para fins pedagógicos, por outro, é preciso aceitar que ela é, em certa

medida, acompanhada pelas TICs aplicadas no âmbito educacional, por incentivar o

surgimento de recursos específicos para uso na educação, como por exemplo a ferramenta

“atividades” do Moodle, que abre espaço de troca de arquivos e mensagens particulares entre

professor-tutor e aluno. Tal tecnologia também permite que o professor-tutor comente, faça o

feedback da tarefa enviada, além de espaço para a avaliação (nota). Em outras palavras, a EaD

lança mão das tecnologias emergentes para o uso na educação como foi com a prensa, o rádio,

a televisão, o computador e, atualmente, a Internet (ver gerações de EaD seção 2.1.2). Evolui

porque novos softwares e ferramentas são desenvolvidos de modo a adequar-se aos objetivos

e necessidades da educação on-line, em especial nas plataformas de ensino a distância.

É característica inerente da EaD oferecer cursos sem a presença física a uma

quantidade grande de alunos. Entretanto, por mais que a EaD atenda uma grande quantidade

de estudantes ela deve sempre ter o aluno como centro do processo. Para tanto, faz-se

necessário que a concepção de educação e currículo tenha o foco nesse ator enquanto produtor

do seu próprio conhecimento, com possibilidades de interagir e construir em colaboração

(viabilizados nos recursos tecnológicos), fazer uso dos gêneros digitais para fins educacionais,

ou seja, ser um agente da interatividade durante o processo como membro ativo do processo

da aprendizagem (professor-tutor e estudantes).

É consenso entre estudiosos (PRIMO, 2000, BELLONI, 2009, SILVA M., 2012,

KENSKI, 2012) que a utilização do modelo tradicional, em que o professor transmite o

conhecimento e os alunos recebem como seres passivos, já não faz sentido, em todos os

espaços de educação, inclusive na educação a distância. A modalidade a distância pode,

particularmente, ter nas tecnologias digitais suas possibilidades ampliadas com oportunidades

para mudanças na prática docente e de comunicação, entre os participantes. Mas, antes de

17 Processos históricos de organizações sociais, políticas, educacionais, econômicas, etc. que colaboram para

compreendermos o homem enquanto um sujeito histórico na sociedade.

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tudo, é preciso compreender que o contexto sócio histórico atual espera mais da educação que

geradora de meros repetidores. Portanto, repensar a concepção de educação, de currículo, de

prática docente e de comunicação a distância é imprescindível.

Silva M. (2012) sinaliza a necessidade de mudança de paradigma diante do que

considera uma “crise na educação”. Ele não vislumbra solução para o problema que atinge as

salas de aula porque o cenário vai além, porque “o desbastamento da instituição (a coisa

estável), em todas as suas versões - o Estado, a família, a escola e a universidade, o partido...”

(SILVA M., 2012, p. 189). Nesse cenário, o autor propõe a prática docente baseada na

interatividade como um movimento na contramão ao modelo da transmissão que é marcante

na escola. Para ele essa pode ser uma perspectiva de modificação na comunicação na sala de

aula, mesmo sabendo que não resolverá a crise em questão, mas admite que essa possa vir a

ser parte de um processo de reação ou reinvenção maior à começar pela educação.

Encontramos também em Gabriel (2013) críticas ao modelo que ainda prevalece nas

escolas - o tradicional, considerado por ela um modelo organizado para atender às

necessidades de outra sociedade, em outro tempo social e histórico, mais precisamente, nos

moldes apropriados para um período da Revolução Industrial. Para a autora a sociedade atual

apresenta outras necessidades. Crianças, jovens e adultos estão imersos numa sociedade que

os expõe a todo e qualquer tipo de estímulo, o que torna as aulas tradicionais mais

desinteressantes. Nas palavras de Gabriel as necessidades e interesses atuais são outros,

Temos que reconhecer que a maior parte do aprendizado acontece em grupos

e que a colaboração é o caminho do crescimento, pois, se separarmos as

pessoas e as julgarmos separadamente, formaremos uma disjunção entre elas e o seu ambiente natural de aprendizado... (2013, p. 101)

Embora não tenha discutido profundamente a interatividade ou mesmo o processo de

educação a distância, Gabriel confirma que o aprendizado em colaboração é mais significativo

que o isolado, considerações pertinentes também no cenário da EaD. Com relação ao docente

ela destaca que no cenário atual o professor deve “deixar de ser um informador para ser um

formador; caso contrário, o uso da tecnologia terá apenas aparência de modernidade”

(GABRIEL, 2013, p. 109).

A interatividade, conforme pondera Marco Silva (2012), propõe um processo de

aquisição do conhecimento que se estabelece de forma horizontal entre professores e

estudantes, de modo que possam construir todo o processo juntos, como coautores. Conforme

acredita Santos (2003) quando afirma que

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em educação online, se a ambiência comunicacional não rompe com a lógica

unidirecional própria da mídia de massa e dos sistemas tradicionais de

ensino, pouca ou nenhuma mudança qualitativa acontecerá em termos de educação e, obviamente, de comunicação. Não basta apenas mexer com a

forma e com o conteúdo dos materiais ou estratégias de ensino. É necessário

modificar o processo de comunicação dos sujeitos envolvidos e articular os

saberes multirreferenciais da equipe envolvida desde o projeto de desenho instrucional até a vivencia e dinâmica do curso. (SANTOS E., 2003, p. 217)

Reconhecemos que o avanço da EaD muito se atribui à democratização do acesso às

TICs; Belloni (2009) ressalta que ainda há muito o que se fazer para que professores e alunos

tenham acesso pleno a equipamentos de comunicação. No entanto, não é na questão

econômica e social que envolve a aquisição de computadores com acesso a Internet, envolve

também a ampliação e interiorização do acesso às redes a localidades mais distantes dos

centros urbanos que nos propomos centrar a discussão. Nos propomos para o momento, não

simplesmente destacar a relevância de questionar a maneira como a tecnologia é utilizada (ou

subutilizada) pelos participantes da EaD on-line, sejam eles alunos, professores-tutores,

coordenadores, mas e principalmente, como ela pode ser utilizada para viabilizar a construção

de conhecimento pelo aluno.

A forma como os participantes fazem uso das TICs, mais precisamente no AVA

indicará o modelo da prática pedagógica desenvolvida ao longo do processo. Assim, é através

da consciência da dinamização com qualidade ou da subutilização dos recursos e gêneros

digitais disponíveis nas plataformas de ensino da EaD, que poderemos investir para um

processo educacional que viabilize mais ou menos interatividade.

Belloni (2009) ressalta que os usos dos meios tecnológicos na EaD tem se preocupado

mais com o apresentar conteúdo (ou “matéria de aprendizagem” conforme sugere a autora),

que encorajar as interações no espaço digital. Situação que reforça as práticas unidirecionais,

que partem do professor para o aluno. Diante do posicionamento da autora e das discussões já

realizadas até aqui, é correto afirmar que não é automático o vínculo entre EaD e

interatividade. São as escolhas, os posicionamentos políticos e educacionais dos profissionais

ligados diretamente à implementação do programa, curso ou disciplina que direcionaram para

uma EaD mais ou menos interativa.

A EaD on-line não pode ficar limitada à transpor antigas práticas para o ambiente

tecnológico digital; essa substituição empobreceria as ricas oportunidades que se abrem para

os participantes da EaD on-line, tanto para os alunos que podem construir seu próprio

conhecimento em parceria, em colaboração, quanto para os profissionais que são convidados

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a reconstruir os significados e os sentidos que embasam suas experiências e as atividades e

dinâmicas propostas na EaD on-line.

Os AVAs, em geral, permitem que sejam disponibilizados espaços com diferentes

linguagens como textos, sons, imagens, vídeos, conversas síncronas (chat) e assíncronas

(fórum, e-mail), espaços para construções coletivas (wiki), hipertexto, entre outros. Mas

apenas a permissão da tecnologia ainda não garante uma prática pedagógica interativa. Para

Silva M. (2012), para que haja interatividade é preciso abrir espaço para que estudantes

participem e possam intervir no conteúdo. É preciso que sejam abertos espaços para

bidirecionalidade e fusão, e que sejam exploradas as potencialidades e permutabilidade do

ambiente digital.

No contexto da EaD on-line o professor pode cumprir a grade curricular propondo

materiais de estudos que não se fecham em si mesmos, porque, na perspectiva da

interatividade, pode (e deve) também permitir a abertura de múltiplas “janelas” a fim de

incentivar a participação e a modificação por parte dos alunos que transformam o material

recebido à medida que copiam, recortam, ampliam, combinam com outros e, inclusive, podem

sugerir e postar novos arquivos que dialogam com o conteúdo estudado (vídeo, link, texto,

artigo, etc.).

Outra característica da interatividade é a abertura ao diálogo. Não no sentido de troca

com base em respostas por sim ou não, ou escolha diante de propostas previamente

estabelecidas. Aqui a bidirecionalidade (SILVA M., 2012) está para o sentido da coautoria, da

colaboração, da não segmentação de emissor e receptor. Os espaços de trocas facilitam a

compreensão dos temas à medida que propõem discussões significativas e que os alunos se

envolvam nelas inteiramente, colaborando, confrontando, questionando, acrescentando,

identificando limitações, sugerindo novos olhares, fazendo hibridizações, enfim, é dessa troca

bidirecional, horizontal, democrática, não-linear e plural que novos conhecimentos são

construídos. Gêneros digitais colaboram com essa prática como as discussões propostas nos

fóruns, nos chats, além de outros espaços possíveis no AVA. Fiorentini (2003) corrobora

dizendo que:

Podemos, portanto, afirmar como favoráveis à aprendizagem relevante e

significativa um maior envolvimento do aprendiz num contexto

motivacional intrínseco positivo, que se amplia consideravelmente com sua maior responsabilidade e respeito de como e o que aprender sobre um tema

proposto; assegurar um elevado nível de atividade significativa, que

incremente sua reflexão e ajude a construir significados; promover a interação com outros, pois o diálogo exige discussões e argumentos que

fomentam a compreensão do tema tratado no texto, além de estudar a partir

de uma base de conhecimento bem estruturada. (FIORENTINI, 2003, p.34).

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Portanto, no processo de EaD que pretende investir na interatividade e na construção

do conhecimento pelo aluno, o professor é convidado a mudar a tradicional postura de falar e

ditar, lançar conteúdos, para uma condição de ser facilitador ao longo de todo o processo de

ensino-aprendizagem. Assim, é necessário repensar como disponibilizar os conteúdos no

AVA e incentivar a participação dos alunos para o objetivo maior, que é a construção do

conhecimento. Nesse sentido são oportunas as contribuições de Silva M. (2012).

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5 Metodologia da Pesquisa

Este capítulo discute os aspectos metodológicos e éticos que ampararam e nortearam a

pesquisa, tanto nos pressupostos teóricos metodológicos, quanto na coleta de dados e na

análise deles.

Por se tratar de uma pesquisa de base etnográfica virtual, recorremos a Hine (2000)

para ancorarmos a discussão em torno da etnografia virtual, principalmente, por ter sido a

autora responsável pela popularização do termo. Também trazemos ao debate na seção 5.4 a

colaboração de outros autores em relação aos pressupostos da etnografia, netnografia,

etnografia on-line.

5.1 Objetivo geral e objetivos específicos da pesquisa

Esta pesquisa tem por objetivo geral analisar a relação entre a modalidade de educação

a distância e as potencialidades do gênero digital fórum, usadas para a promoção da

interatividade e a construção de sentido. Para tanto, se propõe a investigar os seguintes

objetivos específicos:

1) discutir os aspectos históricos, epistemológicos e didáticos que embasam a

educação a distância, a educação on-line e a comunicação no contexto da pesquisa;

2) caracterizar o gênero digital fórum, suas linguagens e como é empregado na

educação on-line;

3) analisar a interatividade e a construção do conhecimento no fórum da disciplina

Prática de Ensino II das licenciaturas UERJ.

Esses objetivos estão relacionados às seguintes perguntas:

1) Qual o perfil de acesso dos alunos aos gêneros do AVA CEDERJ e em outros gêneros

textuais da Internet?

2) Quais as visões, perspectivas e vozes recorrentes dos estudantes sobre a

interatividade de construção de sentido no fórum on-line?

3) Nas perspectivas de uso do fórum on-line pelos discentes, em que medida os tipos de

mensagens postadas nesse gênero digital no AVA pesquisado podem contribuir para a

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potencialização da interatividade e da construção de sentido entre os participantes?

4) Em relação ao uso do fórum on-line, de que forma os tipos de mensagens postadas

pelos estudantes viabilizam para um maior ou menor grau de interatividade e

construção de conhecimento?

5) Em que medida as mensagens publicadas pelos estudantes no fórum on-line de PE II

podem aproximar-se dos binômios de interatividade propostos por Marco Silva

(2012)?

5.2 Pressupostos

Partimos do princípio de que o pressuposto é importante no trabalho de pesquisa, por

permitir reflexões para os objetivos e um diálogo entre estes e o levantamento bibliográfico

como algo não comprovado, mas que poderá ser ou não confirmado durante o

desenvolvimento da investigação. Assim, este trabalho se baseia nos seguintes pressupostos:

Há evidências na literatura (PAIVA V., RODRIGUES-JÚNIOR, 2007, MATTAR,

2012, por exemplo) de que o gênero digital fórum em EaD on-line pode proporcionar

a construção de conhecimento.

O fórum de discussão proposto no espaço de aprendizagem virtual pode ser

classificado como um gênero digital na cibercultura e em particular na EaD.

O fórum de discussão proposto no espaço de aprendizagem virtual da Disciplina

Prática de Ensino II Licenciaturas/UERJ pode ser considerado um espaço de

interatividade entre os participantes.

Em geral, os estudantes acessam mais os gêneros disponíveis na Internet e menos os

gêneros digitais do AVA, particularmente.

5.3 Motivações

A partir da experiência pessoal da pesquisadora, enquanto professora-tutora a distância

em ambientes virtuais de aprendizagem, surgiu a necessidade de compreender a relação

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comunicativa do formato de EaD oferecida pelo Consórcio CEDERJ, e as possibilidades que

o gênero digital fórum dispõe na modalidade a distância através do AVA no Moodle e da

Internet, enquanto promovedor da possível potencialidade de interatividade e construção de

conhecimento.

Nesse cenário, buscamos esclarecer se e como o gênero digital fórum, aplicado ao

contexto educacional a distância, potencializa a interatividade e a construção de conhecimento

de forma coletiva.

5.4 Da etnografia à netnografia ou etnografia virtual

Esta pesquisa, de base etnográfica virtual, foi realizada na plataforma de aprendizagem

do Consórcio CEDERJ. Partindo do princípio de que a pesquisa em questão foi desenvolvida

em espaço virtual de aprendizagem, é importante ressaltar que a investigação participativa

ancorou-se nas bases tecnológicas, comunicacionais e culturais da cibercultura. Nesse sentido,

apresenta possibilidades e desafios diferentes quando relacionada à pesquisa etnográfica. Se

para esta a presença do pesquisador no local físico é de fundamental relevância para

compreensão dos fenômenos através da observação ou da observação participativa, nas

pesquisas virtuais, torna-se necessário que as investigações e os estudos sejam reordenados.

Para tanto, é preciso que o próprio pesquisador se coloque diante de um novo modo de fazer o

olhar científico, pois está presente, sem “estar fisicamente”, configurando os espaços

chamados de “não-lugar” por Marc Augé (1994). Embora Augé tenha destacado o “não-

lugar” nos seus estudos no campo da antropologia e não no ciberespaço, este conceito se

apropria às diferentes relações de espaço e tempo nas relações virtuais.

Se por um lado, a pesquisa etnográfica é caracterizada por lugar e tempo

historicamente marcados, por outro, o que caracteriza as pesquisas na cibercultura é a não

necessidade de lugar e tempo historicamente demarcados, uma vez que o “lugar” da pesquisa

é virtual admitindo o entrecruzar de tempos diferenciados. A característica definida pelo “não-

lugar” por Augé (1994), dialoga, de certa forma, com o conceito de espaço de fluxos de

Castell (2010), fruto da relação entre a tecnologia, a sociedade e o espaço. Nessa perspectiva,

na sociedade globalizada o “não-lugar” seria fruto da mobilidade dos indivíduos, dos objetos

e das ideias também num espaço virtual, ou seja, seria o interagir sem estar fisicamente

presente. A pesquisa em questão está intimamente ligada à “cibercultura. Assim, pela

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desterritorialização que remete justamente ao não pertencimento físico e presencial do lugar”

(ROCHA e MONTARDO, 2005, p.06).

Hine (2000) que popularizou o termo etnografia virtual, afirma que é preciso redefinir

conceitos de como a etnografia pode ser aplicada nas relações sociais complexas da Internet,

um lugar que não é físico, mas é culturalmente significativo. Portanto, repensar a etnografia

no espaço virtual é reconsiderar a presença do pesquisador, e, nas palavras de Fragoso (2012,

p. 170), “sua adaptação, flexibilidade e limitações frente aos sistemas informatizados e à

exploração das conexões on-line nas quais a cultura também é constituída”. Para a autora, a

etnografia virtual é desenvolvida no espaço online, mas acredita que não está desvinculada do

offline porque o pesquisador percorre intermitentemente ambos os espaços.

Para Hine (2000) a pesquisa etnográfica na rede, ou seja, a etnografia virtual deve

considerar as complexas relações da Internet enquanto um rico espaço que demanda novas

experimentações, que desencadeiam, consequentemente, diferentes respostas às situações que

surgem no ciberespaço. Em entrevista à Revista da Associação Nacional dos Programas de

Pós-Graduação em Comunicação – E-compós, ela destaca dois aspectos presentes na

etnografia que o pesquisador não pode deixar de considerar na etnografia virtual, um é a

necessidade de dedicação de tempo para familiarização, é olhar o entorno para “explorar o

fenômeno sob todos os ângulos, tentando entender o que é, para que existe e como é

vivenciado” (BRAGA A., 2012, p. 04), o segundo aspecto é a reflexividade. Para Hine “os

fenômenos digitais são muito complexos... Não podemos esperar ter uma vivência de um

fenômeno assim apenas “estando presente ali”, porque não sabemos automaticamente onde é

“ali” (BRAGA A., 2012, p.04).

Diante disso, a etnografia virtual adequa-se perfeitamente ao propósito desta pesquisa

no ambiente virtual de aprendizagem por dois fatores fundamentais. Em primeiro lugar, pela

experiência da pesquisadora no campo em questão e, em segundo, mas não menos importante,

por considerar esse espaço potencialmente favorável para compreendermos os usos e as

relações sociais e culturais entre os participantes via Internet. Entendemos que os gêneros

digitais do AVA demandam investigações com vista à melhor compreensão dos usos desses

espaços pelos participantes e pelo próprio pesquisador.

Reconhecemos que as interações via Internet ocorrem através das tecnologias de

comunicação, mas concordamos com Hine (2000), que a investigação etnográfica não deve

centrar-se nos recursos tecnológicos simplesmente, mas, e, sobretudo, é preciso investigar a

interatividade dentro dessas relações e o uso que fazem dos gêneros digitais, para não

corrermos o risco de considerar a tecnologia por si mesma o fator condicionante para as

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114

mudanças. Entendemos que o estudo etnográfico pode colaborar para ampliar a compreensão

de como a tecnologia é vivenciada pelos participantes também no espaço de educação on-line.

Para Hine (2000) a pesquisa etnográfica virtual deve ser compreendida em seu caráter

qualitativo. Pondera também que as pesquisas na Internet podem percorrer dois aspectos,

como cultura ou enquanto artefato cultural. Enquanto cultura enfoca o contexto cultural dos

fenômenos nas comunidades virtuais; enquanto artefato cultural, a ênfase está na inserção da

tecnologia na vida das pessoas. Nesse sentido, entende que em diferentes contextos existem

diferentes significados culturais.

Diante disso, para adequar a metodologia mais indicada para pesquisa científica nos

espaços virtuais, recorremos à metodologia de pesquisa de base etnográfica virtual nos

pressupostos de Hine (2000) ou também chamada de netnografia. Na literatura científica são

encontrados diferentes termos quanto à pesquisa em espaços virtuais: de redes sociais, on-line

ou de cibercultura. A partir da década de 1990, diante das novas exigências para pesquisa no

ciberespeaço, nasceram da etnografia distintas metodologias. Pesquisas (AMARAL, 2010;

AMARAL, NATAL e VIANA, 2008; GUTIERREZ, 2009; MONTARDO e PASSERINO,

2006) indicam que Kozinets cunhou o termo netnografia e atribuem a Hine, posteriormente, a

responsabilidade da popularização do termo etnografia virtual no campo de pesquisas

qualitativas. Além destes, Rocha e Montardo (2005) apresentam ainda a existência do termo

etnografia on-line, atribuído aos autores Rutter & Smith.

Rocha e Montardo (2005) afirmam que o termo etnografia virtual é mais usado por

pesquisadores da área de comunicação, e netnografia, por pesquisas na área de marketing

digital. Para Amaral, Natal e Viana (2008), o termo netnografia é mais empregado para

pesquisas na área de marketing e da administração, enquanto o termo etnografia virtual seria

mais aplicado nas pesquisas da área da antropologia e das ciências sociais. Para este trabalho

utilizaremos ambos como sinônimos.

Montardo e Passerino (2006) analisam a pertinência da metodologia qualitativa em

pesquisas desenvolvidas em espaços de socialização como os blogs. Para tanto utilizam a

netnografia e se propõem a discutir as articulações e distanciamentos entre a etnografia e a

netnografia. Amaral, Natal e Viana (2008) também discordam daqueles que acreditam ser a

netnografia ou a etnografia virtual apenas uma transposição da etnografia para ambientes

midiáticos. Ressaltam que “as dinâmicas comunicacionais tanto entre os objetos observados

como na relação pesquisador-objeto podem diferir, principalmente com relação à noção de

tempo-espaço” (2006, p.34).

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115

Dessa forma, concordamos que a etnografia sempre esteve relacionada com o estar

literalmente em algum lugar e que a netnografia ou a etnografia virtual modificam a relação

de presença física por uma relação de tempo e lugar mediados pelas ferramentas virtuais,

pelas plataformas, pelos diferentes ambientes do ciberespaço.

Quanto à natureza etnográfica, recorremos aos estudos de Araújo J. C. e Soares, pois

para eles

a pesquisa etnográfica é caracterizada pela imersão do pesquisador no

ambiente analisado, através do engajamento prolongado com o grupo, observação participante ativa e construção dos dados diretamente dos

membros da comunidade (2009, p. 06).

A principal colaboração da pesquisa etnográfica, nesse sentido, é permitir o contato

direto ou a “imersão” no campo do pesquisador. Geertz (1989) e Alves (2003) corroboram

que a descrição densa possível pela configuração dessa pesquisa não impede que os

momentos interpretativos no meio pesquisado, antes, ampliam a compreensão das relações

entre os sujeitos e suas ações.

A netnografia ou a etnografia virtual, desenvolvidas em comunidades e espaços

virtuais da cibercultura, aproximam-se, de certo modo, da pesquisa etnográfica quando o foco

é direcionado para a imersão do pesquisador durante a pesquisa. Tanto na etnografia quanto

na netnografia ou etnografia virtual as comunidades localizadas em espaço fisicamente

concreto e tempo determinado (espaço físico real) ou em espaço e tempo não determinados

(espaço virtual) são caracterizados pela imersão do pesquisador durante a pesquisa, seja ela

apenas por observação ou por observação participante.

Araújo J. C. e Soares (2009) ponderam acerca do tempo de pesquisa na etnografia, que

em geral, é prolongado com um profundo engajamento do pesquisador com o grupo

pesquisado. Por outro lado temos em Amaral, Natal e Viana (2008), a reflexão de que em

pesquisas netnográficas o tempo de pesquisa é menor, com menos custo e tende a ser menos

subjetiva, além de menos invasiva.

As autoras destacam vantagens da netnografia sobre a etnografia, afirmando ainda a

possibilidade do “olhar do pesquisador sobre comportamentos naturais de uma comunidade

durante seu funcionamento, fora de um espaço fabricado para pesquisa, sem que este interfira

diretamente no processo como participante fisicamente presente.” (2006, p.36). Por outro

lado, destacam também desvantagens que estão relacionadas aos “termos de gestual e de

contato presencial off-line que podem revelar nuances obnubiladas pelo texto escrito,

emoticons, etc.” (AMARAL, NATAL e VIANA 2008, p. 36)

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116

Conforme já discutimos, netnografia ou etnografia virtual são inspiradas e não

transpostas da etnografia, por esta compreender um método criado com foco no estudo e

descrição dos povos, área de grande interesse de antropólogos porque busca compreender a

relação do homem com o seu contexto sociocultural (OLIVEIRA M. M., 2007). Neste

sentido, cabe recorrer a Gutiérrez (2009) que amplia esse conceito de investigação no

ciberespaço, pois adverte que,

o ciberespaço e sua arquitetura de fluxos de informação, em principio não

parece se adequar aos métodos vindos da arqueologia e da antropologia. Porém, do ponto de vista da cultura que emerge da rede, que, embora

indissociável da cultura humana em que se insere, tem características bem

específicas, é possível pensar numa arqueologia e numa antropologia da

rede. (GUTIÉRREZ, 2009, p. 07)

Além de considerar o ciberespaço como contexto sociocultural (GUTIÉRREZ, 2009),

é oportuno também destacá-lo enquanto um espaço de educação seja ela intencional ou não.

Frente a isso, mais que considerar os resultados das pesquisas é fundamental a atenção ao

desenvolvimento dela, aos aspectos dos participantes durante todo o processo. Para Maria

Marly de Oliveira, na etnografia há “efetiva participação do pesquisador no processo em

termos de observação e interação com os atores sociais, cuja ênfase deve ser o processo

educacional e não simplesmente o resultado final da pesquisa.” (OLIVEIRA M. M., 2007, p.

73-74). Esse aspecto de investigação do processo não pode ser desconsiderado nas pesquisas

etnográficas virtuais que encontrarão os traçados culturais nas interações nos fóruns, blogs,

chats, nas plataformas virtuais.

Embora o resultado seja importante para direcionar novas perspectivas no campo

educacional, a preocupação permanece centrada em compreender o processo

qualitativamente. Tal como ocorre na pesquisa etnográfica, podemos afirmar que a pesquisa

etnográfica virtual ou netnográfica também exige a participação do pesquisador durante o

processo de observação e interação com os sujeitos da pesquisa.

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117

5.5 Procedimentos da Pesquisa

A pesquisa qualitativa de natureza etnográfica virtual é a mais indicada para o estudo.

Ressaltamos que a pesquisa teve como ênfase a abordagem qualitativa, pois acreditamos que

essa é a mais indicada quando tratamos de Ciências Humanas e Educação, nela,

a verdade não se comprova numérica ou estatisticamente, mas convence na

forma da experimentação empírica, a partir de análise feita de forma detalhada, abrangente, consistente e coerente, assim como na argumentação

lógica das ideias, pois os fatos em Ciências Sociais são significados sociais,

e sua interpretação não pode ficar reduzida a quantificações frias e

descontextualizadas da realidade. (MICHEL, 2005, p.33)

Em alguns momentos, no entanto, serão utilizados dados quantitativos no decorrer do

processo, pois de acordo com Minayo (1999, p.22): “O conjunto de dados qualitativos e

quantitativos, porém, não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois na realidade

abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”, conforme já

sinalizamos na introdução deste trabalho. É importante esclarecer que tanto a análise

qualitativa quanto os dados quantitativos desta pesquisa buscam fornecer subsídios para a

compreensão e interpretação do fenômeno em questão.

Para viabilizar esta pesquisa optamos pelo tipo de pesquisa etnográfica virtual - que

será mais aprofundada na última seção deste capítulo. Importa aqui ressaltar que diferente de

pesquisas etnográficas virtuais que tomam como objetos de estudos interfaces das e nas redes

sociais como Facebook (SANTOS R. e COUTO JÚNIOR, 2013), Twitter (MERCADO e

SILVA 2013), entre outras interfaces no ciberespaço como o blog (MONTARDO e

PASSERINO, 2006; GUTIÉRREZ, 2004), destacamos particularidades quando se trata de

pesquisa em ambiente virtual de aprendizagem. É preciso ressaltar que, independente da

natureza e dos objetivos da interface, pode-se afirmar que os participantes aceitam o “contrato

virtual” (ROCHA e MONTARDO, 2005) pertinente a cada grupo das diferentes interfaces -

no ciberespaço.

Em sua maioria, as comunicações no ciberespaço estão ancoradas em características

definidas “por palavras ou textos, os quais propõem ao usuário, de forma prescritiva,

informativa, proibitiva, o seu próprio “manual de utilização”. Para tanto, vale-se de uma

variedade de códigos, ou, até mesmo, da língua natural” (ROCHA e MONTARDO, 2005,

p.7-8). Frente a isso, poderíamos dizer que há um “contrato virtual” que deixa transparecer os

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118

códigos de uso, de troca de mensagens, do que é permitido ou não. Em geral, esse

comportamento se aplica sem que seja necessária a explicitação desses códigos previamente.

O “contrato virtual” seria o código de ética que é vivenciado e retroalimentado pelos

participantes nas comunicações no ciberespaço, sejam nas redes sociais ou no ambiente

virtual de aprendizagem, embora possamos destacar convergências e divergências no uso

destas interfaces.

As redes sociais são caracterizadas por ações dos participantes com intuito de

compartilhar pensamentos, fatos da vida real do autor, ou para compartilhar notícias, dicas,

comentários, através de post com textos, palavras, imagens, sons. Em geral, as comunidades

se formam por afinidade, interesse comum, curiosidade. A inserção é voluntaria e precisa de

aceite do autor. É comum encontrar marcas nas comunidades agregadas nas redes sociais que

são “derivadas de grupos sociais já constituídos no offline e que, nesse momento, migram e/ou

transitam entre esses espaços, ou mesmo de formações sociais compostas apenas por relações

on-line” (AMARAL, 2010, p.04).

O ambiente virtual de aprendizagem, por sua vez, é restrito aos participantes inscritos

nas disciplinas ou cursos específicos e o acesso é realizado a partir de senha pessoal. Os

grupos de participantes são formados sem levar em conta a afinidade ou o contato prévio

offline. As discussões podem ser direcionadas com fins pedagógicos, administrativos e

acadêmicos. Em geral, as propostas de discussões coletivas são abertas pelo administrador da

disciplina através de fórum ou chat, ainda que haja espaço para abertura de conversas entre os

participantes, mas estes espaços são subutilizados. Cabe ressaltar que há incidência maior de

participantes nas discussões em fóruns quando ele vale nota (é pontuado), o que deixa claro o

motivo desencadeador da participação. Mas, até que ponto há construção de conhecimento

nessas relações comunicativas? Como é o “contrato virtual” para as comunicações no fórum?

Nesse sentido, torna-se fundamental para esta pesquisa, investigar o gênero digital

fórum, os aspectos de interatividade que mais se destacam nas relações on-line, segundo Silva

M. (2012), a fim de compreendermos a potencialidade da interatividade para a construção de

conhecimento no fórum de discussão.

5.6 Etapas da pesquisa

Como primeira etapa da pesquisa, foi construído o levantamento do referencial teórico

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119

que dialoga com os objetivos desta pesquisa. A revisão da literatura permitiu aprofundar as

questões aqui levantadas em bases bibliográficas e documentais, ajudou também a refinar os

objetivos, e, a partir dessas ações, foi possível a elaboração dos capítulos teóricos.

Na segunda etapa da pesquisa buscamos aprofundar os conceitos teóricos da

etnografia virtual. Considerando que o lócus da pesquisa deu-se no espaço virtual de

aprendizagem, foi imprescindível ampliar o olhar enquanto pesquisadora participante de uma

relação viabilizada pela tecnologia, e pelos aspectos comunicacionais e culturais da

cibercultura.

A investigação teórica e metodológica nessa etapa permitiu identificar possibilidades e

desafios em relação à pesquisa etnográfica, que é realizada com a presença física do

pesquisador no campo investigado (GEERTZ, 1989; e ALVES, 2003). No caso específico da

etnografia virtual, é necessário um reordenamento do fazer e do olhar científico do

pesquisador, uma vez que ele está presente, participa, troca informações em um espaço que

não existe fisicamente, porque é virtual, como discutiremos com mais propriedade na última

seção deste capítulo. Recorremos a Amaral (2010), Amaral, Natal e Viana (2008), Gutierrez

(2009), Montardo e Passerino (2006), Rocha e Montardo (2005) que contribuíram com essa

discussão e para a preparação da pesquisadora.

Na terceira etapa da pesquisa, aprofundamos os conceitos metodológicos da etnografia

virtual e elaboramos instrumentos para coleta de dados no ambiente virtual de aprendizagem.

A coleta de dados foi realizada com base em dois instrumentos, o questionário on-line e as

interações nos fóruns de discussão (esses instrumentos serão mais detalhados nesta seção).

Na quarta e última etapa da pesquisa, contemplamos a análise dos dados gerados e as

discussões dos resultados. Nessa fase, procuramos destacar as características do fórum digital

e suas possibilidades de construção de sentido na EaD, a partir da interatividade entre os

participantes, tomando como base os recursos e potencialidades da cibercultura.

A tabela a seguir demonstra as etapas da pesquisa de forma clara, com o(s)

procedimento(s) metodológico(s) e o(s) objetivo(s) a ser(em) alcançado(s) a cada capítulo.

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120

Tabela 5.1- Etapas da Pesquisa

E

t

a

p

a

s

Objetivos

Procedimento

Tipo de

Pesquisa

Capítulo

1

Discutir os aspectos históricos,

epistemológicos e didáticos que

sustentam a educação a

distância, a educação on-line e a

comunicação neste contexto.

Elaboração do

Referencial

Teórico

Pesquisa

Bibliográfica e

documental

Capítulos 2

Caracterizar o gênero digital

fórum, suas linguagens e como

é empregado na educação on-

line.

Elaboração do

Referencial

Teórico

Pesquisa

Bibliográfica

Capítulo 3

Discutir a interatividade e a

construção do conhecimento no

Ambiente Virtual de

Aprendizagem.

Elaboração do

Referencial

Teórico

Pesquisa

Bibliográfica

Capítulo 4

2

Aprofundar os conceitos

teóricos metodológicos da

etnografia virtual.

Definição de

procedimentos

diante da

etnografia

virtual.

Pesquisa

bibliográfica

Capítulo 5

3

Construção de instrumentos e

coleta de dados no ambiente

virtual de aprendizagem.

Coleta de

dados nos

fóruns e

questionário

Pesquisa

etnográfica

virtual

Capítulo 5

4

Analisar o potencial de

interatividade e de construção

do conhecimento no fórum da

disciplina Prática de Ensino II

das licenciaturas UERJ.

Elaboração de

instrumento

para análise

dos dados e

discussão dos

resultados

frente o

referencial

teórico.

Pesquisa

etnográfica

virtual e

bibliográfica.

Capítulo 6

Quanto à geração de dados, usamos os seguintes instrumentos e procedimentos:

análise das interações em dois fóruns de discussão abertos pela tutoria no primeiro semestre

de 2013 e questionário on-line com perguntas fechadas e abertas, além do espaço hora do

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121

Café18

, um fórum com tópicos abertos pelos próprios participantes para trocas entre si.

Conforme quadro abaixo:

Tabela 5.2 – Etapas e Instrumentos da Coleta de Dados

Instrumento de

coleta de dados

Procedimento

Objetivo do instrumento

Fórum 2 Cópia de arquivos de fórum aberto

pela equipe de PEII Lic/UERJ para

livre participação dos estudantes.

Analisar a interatividade e a

construção de conhecimento no

fórum aberto pela tutoria não pontuado.

Fórum 3 Cópia de arquivos de fórum aberto

pela equipe de PEII Lic/UERJ para

livre participação dos estudantes.

Analisar a interatividade e a

construção de conhecimento no

fórum aberto pela tutoria e pontuado.

Espaço hora do

café

Cópia de arquivos de fórum aberto

pelos estudantes de PEII Lic/UERJ

para compartilhar informações, documentos, links, entre outros.

Analisar a interatividade e a

construção de conhecimento no

fórum com tópicos abertos pelos participantes sem intervenção da

tutoria.

Outras interfaces

do AVA

Cópia de arquivo de eventuais

interfaces no AVA

Exemplificar através da função print

screen, se necessário.

Questionário on-

line (Em Anexo)

Documento disponível para download

no AVA para posterior upload e envio

voluntário pelo estudante.

Analisar a interatividade e a

construção de conhecimento no

fórum da disciplina Prática de Ensino

II das licenciaturas UERJ:

Qual a frequência de acesso

aos gêneros do AVA e outros

gêneros digitais da Internet,

de acordo com os participantes.

Quais as visões, perspectivas

e vozes dos alunos sobre o

fórum on-line (acerca da interatividade e construção

de sentido).

Embora o período acadêmico tenha começado em 26 de janeiro de 2013, não foi

possível a coleta de dados referentes ao primeiro fórum proposto aos estudantes, pelo fato do

mesmo ter se desenvolvido no período de 04 a 11 de fevereiro de 2013, período anterior à

aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNIGRANRIO - ocorrida

em 07 de março de 2013. Portanto, coletamos os dados a partir da data de aprovação do

projeto de pesquisa pelo CEP da UNIGRANRIO e se estenderam até o término do período

acadêmico em 15 de junho de 2013. Ressaltamos ainda que as identidades dos participantes

18 O espaço hora do café é destinado para troca entre os estudantes, que abrem tópicos de discussões no fórum

para compartilhar informações, textos, eventos, links, entre outros documentos. Neste espaço não há limites para

abertura de novo tópico nem limite para postagens.

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122

são preservadas nas discussões dos dados. Na tabela 5.3, apresentamos as etapas de análise

dos dados.

Tabela 5.3 - Etapas de análise de dados

Instrumento Participantes Análises

realizadas

Objetivo Procedimento

1

Questionário

on-line (Anexo)

Parte 1 –

Roteiro de questionário

de perfil

22

questionários respondidos

22 Identificar qual a

frequência de acesso aos gêneros

do AVA e outros

gêneros digitais da Internet de acordo

com os

participantes.

Realizamos o levantamento

quantitativo dos dados, organizando-os em tabelas

para posterior confecção de

gráficos com recursos do software Microsoft Office

Excel 2007.

2

Questionário on-line

(Anexo)

Parte 2 – questões

abertas

22 questionários

respondidos

22 Analisar quais as visões, perspectivas

e vozes dos alunos

sobre o fórum on-line (acerca da

interatividade e

construção de sentido no fórum

on-line no AVA).

Análise qualitativa dos dados que oportunizou a construção

de categorias distintas para

cada questão. Construímos as categorias à medida que as

respostas eram analisadas e

relacionadas entre si por aproximação ou

distanciamento19

.

3 Fórum 3 62 alunos 148 –

(105 de alunos e 43

da tutoria)

Identificar as

perspectivas de uso do gênero digital

fórum.

Analisamos todas as

mensagens aninhadas de acordo com o fluxo das

publicações, sinalizando em

cada uma a(s) intencionalidade(s)

comunicativa(s), ou seja, o(s)

tipo(s) de uso(s): a quem

direcionam a mensagem? O que postam? Como? Dão

sequência à discussão? Abrem

novas discussões? Etc. A partir da análise do fluxo das

mensagens destacamos 10

principais categorias de uso do

fórum on-line.

4 Fórum 2 18 alunos 42 –

sendo 24 de

alunos e 18 da tutoria.

Identificar as

perspectivas de uso

do gênero digital fórum.

Análise de todas as mensagens

semelhantes ao realizado no

fórum 3. Posteriormente as mesmas foram classificadas e

discutidas com base nas 10

categorias de uso já

construídas.

5 Espaço hora

do café

15 alunos 39

sendo 32 de

alunos e 07 da tutoria.

Identificar as

perspectivas de uso

do gênero digital fórum.

6 Outras

interfaces do

AVA

___ ____ Exemplificar, se

necessário,

interfaces do AVA.

Através da função print screen

copiar páginas de exibição de

interfaces do AVA.

19

Ressaltamos mais uma vez que algumas perguntas e respostas não foram discutidas neste trabalho porque não

estabeleciam relação direta ao objetivo apresentado.

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123

A partir da análise dos dados, identificamos o perfil dos alunos que participaram do

questionário on-line em relação à frequência de acesso aos gêneros digitais da Internet e do

AVA CEDERJ, construímos as categorias de perspectivas dos alunos em relação a

interatividade e construção de conhecimento e às categorias de uso dos estudantes nos fóruns.

Após construídas as categorias, discutimos os dados tomando como base os binômios de

interatividade de Silva (2012), para que, dessa forma, pudéssemos analisar o potencial de

interatividade e de construção de conhecimento nos fóruns de discussões de PEII.

5.7 A Disciplina Prática de Ensino II Licenciaturas/UERJ – Descrição do contexto

O Consórcio CEDERJ é formado pelas universidades públicas do Estado do Rio de

Janeiro, sendo a UERJ responsável por oferecer disciplinas pedagógicas obrigatórias20

e

disciplinas eletivas21

para 13 Polos regionais22

. A pesquisa foi desenvolvida especificamente

em uma das disciplinas obrigatórias oferecidas para os cursos de licenciaturas pelo Consórcio:

Prática de Ensino II.

Foi escolhida esta disciplina pela experiência da pesquisadora no campo em questão –

enquanto professora-tutora- e pelo livre acesso ao AVA e suas interfaces. A disciplina Prática

de Ensino II abrange todas as licenciaturas ofertadas pela UERJ – Ciências Biológicas,

Matemática, Física, Química, Turismo e História, totalizando 13 polos regionais no primeiro

semestre acadêmico de 2013, com o total de 465 alunos inscritos na disciplina no referido

período.

No entanto, nem todos os 465 inscritos participaram das atividades propostas, fossem

elas obrigatórias ou opcionais, valendo nota ou não pontuadas. Conforme destacamos na

tabela 5.3, do total de alunos identificamos a participação de 18 estudantes no fórum 2 (que

não foi pontuado), 62 no fórum 3 (pontuado – com até 1,0 ponto) e 15 no fórum hora do café.

Portanto, a pesquisa tem como lócus a disciplina Prática de Ensino II das licenciaturas

UERJ. Os dados foram gerados e coletados no AVA Moodle do Consórcio CEDERJ. A coleta

dos dados foi realizada basicamente por meio de download dos questionários e cópia de

20 São disciplinas pedagógicas obrigatórias oferecidas pela UERJ: Fundamentos da Educação I, II, III e IV;

Prática de Ensino I, II e III; Estágio Supervisionado I, II, III e IV. 21 Compreendem as disciplinas optativas: Educação Especial; Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos; e

Políticas Públicas em Educação. 22 Angra dos Reis, Duque de Caxias, Magé, Miguel Pereira, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis,

Piraí, Resende, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Volta Redonda.

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124

arquivos dos fóruns e outras comunicações nas interfaces da plataforma de ensino (ver tabela

5.2).

O modelo de EaD proposto pelo CEDERJ oferece atendimento através da tutoria

presencial com encontros semanais de frequência não obrigatória nos Polos regionais.

Algumas disciplinas específicas incluem a prática obrigatória em laboratório e todas são

contempladas com atendimento on-line ou telefônico pela mediação do professor-tutor a

distância.

Os sujeitos da pesquisa foram os discentes da disciplina PEII das Licenciaturas

CEDERJ, disciplina pedagógica oferecida pela UERJ. Primeiramente, a autorização para a

pesquisa foi emitida pela direção da Faculdade de Educação da UERJ, responsável pelo curso;

após, a pesquisa foi submetida à aprovação do CEP da UNIGRANRIO, que aprovou o

desenvolvimento da mesma e, posteriormente, a pesquisa contou com a ciência dos

participantes na própria plataforma de ensino, portanto, no ambiente virtual de aprendizagem.

5.8 Instrumentos da pesquisa

Na primeira etapa da coleta de dados foram realizadas cópias de arquivos dos fóruns 2,

3 e hora do café, para posterior análise das participações dos estudantes nesses espaços de

discussões.

No segundo momento, foi realizado o download dos questionários on-line postados de

forma voluntária pelos estudantes. Os dados foram analisados e discutidos com os

pressupostos teóricos já apresentados na seção Etapas da Pesquisa.

Como primeira etapa da coleta de dados, acompanhamos através de pesquisa

participativa as postagens nos fóruns de discussão, considerando-o como um gênero digital

com características peculiares. Durante o primeiro semestre de 2013 foram propostos três

fóruns na disciplina Prática de Ensino II, o primeiro e o terceiro foram pontuados (valeram

nota) e o segundo não pontuado (não valeu nota). Destes serão consideradas observações de

interatividade nos dois últimos fóruns23

, com destaque para as intervenções dos participantes

nesse espaço didático de ensino-aprendizagem enquanto uma prática pedagógica desse gênero

on-line, sem desconsiderar as observações da pesquisadora tutora durante a investigação.

23 Porque o primeiro foi realizado antes da aprovação da pesquisa pelo CEP da UNIGRANRIO conforme já

sinalizado.

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125

Cabe ainda ressaltar que os estudantes têm um espaço para abertura de quantos tópicos

desejarem para conversas de livre interesse. Esse espaço chamado hora do café é utilizado

com características bem próximas das redes sociais, pois nele os participantes abrem o fórum,

postam informações, curiosidades, compartilham links e vídeos. Eventualmente, esses dados

também serão analisados, assim como outras interfaces do AVA.

Convém esclarece que a disciplina PEII contou no primeiro semestre de 2013 com

quatro tutores a distância. No entanto, a responsabilidade de acompanhar o desenvolvimento e

a avaliação dos fóruns foi da pesquisadora deste trabalho.

A observação da tutora-pesquisadora foi ativa, dessa forma as intervenções realizadas

ao longo das discussões nos fóruns ocorreram com o objetivo de provocar novas reflexões nos

participantes acerca dos temas em debate – atitude própria do mediador em fórum ao longo do

processo (PAIVA V, RODRIUES-JÚNIOR, 2007).

Antes da abertura dos fóruns sinalizamos algumas atitudes esperadas dos participantes

durante as discussões, o que poderíamos chamar de “contrato virtual”, como a preocupação

em não apenas responder à questão inicial do fórum, mas que cada estudante pudesse

acrescentar, comentar, discutir com os demais participantes e pudesse ampliar e aprofundar o

tema em debate utilizando os recursos digitais do gênero digital fórum.

Para a coleta de dados optou-se, em segundo lugar, por um questionário on-line

(anexo), disponibilizado na plataforma de ensino. Esse instrumento foi disponibilizado em 16

de março de 2013 e seus dados coletados no final do período acadêmico (junho de 2013). No

AVA o questionário on-line foi intitulado de “Pesquisa on-line”, de forma ampla, para livre

acesso dos estudantes que desejassem participar. Postamos avisos e convites na plataforma de

ensino para que dúvidas fossem dissipadas. O documento permaneceu disponível para

download, para posterior upload pelo estudante na própria plataforma e de forma voluntária.

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Imagem 5.1 – Pesquisa On-line

Tão logo o download do questionário era realizado pelo estudante, este se deparava

com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que remete ao aspecto ético

da pesquisa etnográfica virtual para obter consentimento sobre o que vai ser pesquisado e

publicado, ainda que seja mantido o anonimato e confidências dos participantes. A seguir

ao TCLE, o estudante participante encontrava o questionário de perfil e o questionário

específico.

O questionário de perfil foi disponibilizado a fim de receber informações dos alunos

que nos permitisse compreender o perfil daqueles que procuram e cursam a graduação a

distância do CEDERJ e, principalmente, identificar com qual frequência acessam ou não

os gêneros textuais digitais fora do CEDERJ e na plataforma Moodle do CEDERJ, entre

outros aspectos.

Dessa forma, cabe destacar mais uma vez, que o termo “pesquisa on-line” foi utilizado

em detrimento de questionário on-line nos avisos e convites do ambiente Moodle, não por

desconhecimento das características empíricas desse instrumento, mas pelo caráter maior

da pesquisa, que de forma ampla coletou dados via questionário e via fóruns, além de

outras eventuais comunicações.

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127

Imagem 5.2 – Pesquisa On-line e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Dessa forma, optamos pelo questionário no lugar da entrevista para o segundo

momento da pesquisa, por diversos fatores. Para aprofundar esta reflexão, quanto ao tipo de

modalidade de pesquisa e como se deu a escolha pelo questionário e não pela entrevista,

recorremos a Michel (2005) que ao discutir características da entrevista clássica (face a face)

afirma ser a entrevista caracterizada pelo “encontro entre duas pessoas, a fim de que uma

delas obtenha informações a respeito de determinado assunto” (p. 42).

Podemos acreditar que a cibercultura permite a aproximação entre pessoas a partir das

interfaces virtuais oportunizadas por uma nova organização cultural, comunicacional e social,

que Castells (2010) chamou de espaço de fluxos. Indo nessa direção podemos então acreditar

que as tecnologias digitais oportunizam o encontro de duas pessoas no espaço virtual, em

tempos distintos. O objetivo é alcançado, apenas não estão fisicamente presentes. Mesmo

diante dessa possibilidade, para evitar conflitos conceituais, optamos pelo termo questionário

on-line.

Concordamos com Montardo e Passerino (2006) que uma vantagem do questionário

na pesquisa netnográfica é que já “vem transcrita”, e não exige um esforço de memória do

pesquisador. Por outro lado, perde informações não verbais, nos gestos e expressões,

características dos encontros presenciais face a face.

Michel (2005, p. 42), ao discutir acerca da entrevista presencial, continua afirmando

que, “a entrevista é considerada um instrumento de excelência da investigação social, pois

estabelece uma conversação face a face, de maneira metódica, proporcionando ao

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entrevistado, verbalmente, a informação necessária”.

Situação que também poderia ser desenvolvida com o recurso da Internet através de

uma conversa síncrona por vídeo conferência, por exemplo. Porém, exigiria um tempo

determinado, organizado pela disponibilidade dos alunos ou do pesquisador; portanto, seria

mais difícil de ser realizada a distância através dos recursos tecnológicos, em virtude dos

contratempos de horários e interesse.

Optamos pelo questionário por ser “uma série ordenada de perguntas, que devem ser

respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador” (MICHEL, 2005, p. 46). Embora

Michel (2005) afirme que esse instrumento seja mais indicado para coleta de dados

quantitativos informativos, a autora admite que em alguns casos possa haver inserção de

questões abertas. Assim, entendemos que a entrevista por escrito é um questionário que pode

ter perguntas fechadas ou abertas, portanto, nessa pesquisa, inserimos além de questões

quantitativas, também questões com enfoques qualitativos, no intuito de traçar respostas que

coadunem ambos os aspectos dos dados fornecidos pelos alunos participantes da pesquisa.

Cabe aqui ressaltar que o questionário foi dividido em dois momentos, o primeiro por

questões fechadas e o segundo com questões abertas, o qual permite ao participante usar sua

linguagem de forma livre, sem limitações.

Dos pontos favoráveis que motivaram a aplicação do questionário sinalizamos o

alcance de grande número de pessoas, a facilidade de enviar a resposta na própria plataforma

Moodle, a organização pessoal quanto ao tempo e ao local para respondê-lo e a garantia de

anonimato no formulário24

. Por outro lado, ao optarmos pelo questionário assumimos também

outra característica peculiar desse instrumento, que diz respeito à pequena percentagem de

retorno e algumas perguntas vindas sem respostas.

24 Importa esclarecer que por mais que seja possível a identificação do(s) remetente(s) dos questionários pela

plataforma Moodle, o anonimato do formulário foi garantido.

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6 Análise dos dados

A análise dos dados pretende responder o objetivo geral da pesquisa: analisar a

relação entre a modalidade de educação a distância e as potencialidades do gênero digital

fórum, usadas para a promoção da interatividade e a construção de sentido. Para tanto, parte

a investigação do objetivo específico: analisar a interatividade e a construção do

conhecimento no fórum da disciplina Prática de Ensino II das licenciaturas UERJ.

A análise será organizada em três momentos: no primeiro discutiremos o perfil dos

alunos e a frequência que usam os gêneros digitais na Internet e no AVA; no segundo

organizaremos a discussão em torno das visões, perspectivas e vozes dos alunos sobre o

fórum on-line. A partir dessas vozes identificaremos como é possível a interatividade e a

construção de sentido no gênero digital pela compreensão dos participantes; e, no terceiro

apresentaremos a análise de uso do fórum on-line pelos estudantes na disciplina Prática de

Ensino II Lic/UERJ. Na última etapa serão apresentadas dez perspectivas de uso do fórum

identificadas nas postagens dos alunos durante as discussões.

Portanto, buscamos na análise subsídios na fundamentação teórica para ancorar as

discussões com os dados pesquisados, sem a pretensão de esgotar as possibilidades de

análises possíveis. Não temos intuito de aprofundar a discussão nos aspectos quantitativos,

mas isso não impede de lançarmos mão também dessa dimensão para ampliar alguns

conceitos discutidos.

Na pesquisa contamos com dois diferentes instrumentos (Cf. subseção 5.8) para que os

dados fossem gerados: o questionário on-line e os fóruns, disponibilizados na plataforma

Moodle do CEDERJ.

Coletamos os dados do fórum 2, do fórum 3 e do espaço hora do café, através de cópia

de arquivos dos respectivos fóruns no AVA da disciplina Prática de Ensino II Lic/UERJ. Por

se tratar de uma pesquisa de base etnográfica virtual os fóruns 2 e 3 (com tópicos abertos pela

tutoria) contaram com a participação mais intensa da pesquisadora, que foi menos presente no

fórum hora do café (com tópicos abertos pelos participantes).

Os dados do questionário on-line foram gerados por upload de arquivos no próprio

AVA, pelos participantes voluntários e, posteriormente, coletados através de download pela

pesquisadora através da ferramenta “atividades” do Moodle. O questionário on-line contou

com parte de perguntas fechadas e parte com questões abertas (discursivas).

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Embora o período acadêmico tenha iniciado no dia 26 de janeiro de 2013, por questões

éticas, somente disponibilizamos os instrumentos selecionados para gerar os dados da

pesquisa no AVA a partir da data de aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética e

Pesquisa da UNIGRANRIO (CEP). Frente a isso, os acessos aos dados on-line ocorreram

entre o dia 07 de março de 2013 até o término do período acadêmico em 15 de junho de 2013.

De posse dos dados do questionário on-line estabelecemos uma investigação acerca do

perfil dos estudantes, tomando como base a amostra participante. Com informações dos

questionários direcionamos a análise para o âmbito central da pesquisa, em torno do objetivo

maior que é investigar possíveis relações do gênero digital fórum e a existência de

interatividade na EaD no entender, na visão, na compreensão dos alunos. Portanto, a

discussão dos dados do questionário será abordada em dois momentos:

1) Levantamento do perfil – perguntas fechadas (subseção 6.1).

2) Características de interatividade e construção de conhecimento no fórum on-line pela

visão, perspectivas e vozes dos alunos sobre o fórum on-line – perguntas

abertas/discursivas (subseção 6,2).

Para melhor articular as discussões em torno do(s) uso(s) do fórum pelos alunos

analisamos as trocas entre os discentes ao longo dos fóruns 2 e 3 além do espaço hora do

café. Ressaltamos, novamente, a participação da pesquisadora nos espaços virtuais

investigados com os alunos (etnografia virtual), estabelecendo intervenções, esclarecendo

conceitos, direcionando o foco da conversa. Mas, cabe ressaltar ainda, que não será na ação

do professor-tutor o objetivo da análise nesta dissertação.

Na busca de melhor compreender as características de uso dos participantes fóruns on-

line da Disciplina PEII Lic/UERJ, foram elaboradas 10 (dez) categorias de estudo nesta

dissertação (ver subseção 6,3). Assim, a partir das dez perspectivas de uso identificadas,

estabelecemos um paralelo com o conceito de interatividade de Silva M. (2012), com o

intuito de discutirmos as características de uso que colaboram para maior interatividade e

construção de sentido no fórum on-line.

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6.1 Quem é o aluno?

Para traçar um levantamento do perfil dos alunos inscritos na disciplina (no primeiro

semestre de 2013), elaboramos no questionário on-line algumas perguntas que podem nos

ajudar a entender um pouco mais quem é o aluno? No entanto, conforme já sinalizado, não

tínhamos a pretensão de analisar uma quantidade muito extensa, por não se tratar de uma

pesquisa quantitativa.

Por outro lado, como em geral ocorre em cursos a distância, nenhuma atividade é

realizada por todos os alunos, mesmo quando pontuadas. Então já era esperado que o retorno

desse instrumento de pesquisa não contemplasse um elevado número de participantes,

sobretudo, por se tratar de um questionário on-line de entrega não obrigatória, aspectos que

resultaram no retorno de 22 questionários respondidos e postados pelos participantes no

AVA, dentre os 465 inscritos no total.

Cabe ressaltar que do total de 22 participantes, alguns poucos não preencheram

completamente todos os campos do questionário, ocasionando a perda de algumas

informações. A ausência dessas informações ocorreu em apenas dois questionários e não

necessariamente com omissão dos mesmos campos; fato que não trouxe perda significativa ou

comprometimento ao perfil da amostra, conforme discutidos a seguir.

6.1.1 Análise de perfil

Dos 13 (treze) polos regionais sob a responsabilidade da disciplina UERJ (Angra dos

Reis, Duque de Caxias, Magé, Miguel Pereira, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Paracambi,

Petrópolis, Piraí, Resende, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Volta Redonda) na ocasião da

pesquisa, o retorno dos questionários contou com a representatividade de alunos de 05 (cinco)

polos distintos, a citar: Duque de Caxias, Petrópolis, Volta Redonda, São Gonçalo, Nova

Iguaçu.

Em se tratando dos seis cursos de licenciaturas 05 (cinco) deles foram representados

na pesquisa, 09 (nove) alunos de Ciências Biológicas, 06 (seis) alunos de Matemática, 04

(quatro) alunos de História e 02 (dois) alunos de Turismo. A licenciatura em Química que não

foi representada.

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Quando tratamos de aspectos direcionados à formação, os dados revelaram uma

quantidade de 07 (sete) participantes que cursam as licenciaturas do CEDERJ como segunda

graduação, por outro lado 15 relataram cursar uma das licenciaturas do CEDERJ como

primeira graduação. Esse percentual de alunos que fazem a segunda graduação no AVA

demonstra uma diferença considerável em relação ao quantitativo de alunos nos cursos

presenciais.

Gráfico 6.1 – Formação acadêmica

Dados como esses nos revelam que a EaD on-line, com suas potencialidades

tecnológicas de comunicação, muda o cenário da EaD no Brasil, conforme discutimos no

capítulo 2.

A perspectiva da EaD antes da LDB 9394/96 e, em especial, antes do uso do

computador e da Internet, estava limitada a oferta de cursos para aqueles que não tinham

concluído na idade própria, limitados a cursos experimentais. A potencialidade da EaD on-

line muda as relações de tempo e espaço, amplia as linguagens utilizadas, modifica as formas

de interação e interatividade, oportuniza novas maneiras de construção de sentido e passa a

ser ofertada também na graduação; inclusive com investimentos de políticas públicas para sua

expansão. Sobretudo, os documentos oficiais que legislam o tema em debate demonstram

importantes avanços no que se espera de um modelo de EaD comprometido com a qualidade

nas perspectivas pedagógica, tecnológica e de interatividade para a “nova” visão de EaD

(seção 2.2).

O importante destaque refere-se principalmente à mudança de modelos de EaD em

vigor antes e depois da publicação da LDB 9394/96. Se antes a EaD poderia ser considerada

como cursos “experimentais” (NETO F., 2003), após essa lei passa a ser concebida com

outros fins podendo, inclusive, ser oferecida na graduação, entre outros espaços. Em outras

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palavras, a partir da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 a EaD passa a ser considerada uma

modalidade de educação.

Diante disso, entendemos que, se antes o aluno da modalidade a distância era, em

geral, aquele que não havia terminado seus estudos mais elementares na idade própria, hoje a

tendência tem se mostrado diferente porque tanto a abertura de novos cursos tem expandido,

quanto a procura de cursos de graduação tem crescido a cada ano também na modalidade a

distância (subseção 2.2.1). A procura de formação superior na EaD contempla alunos em

busca da primeira graduação e tem se mostrado uma opção também aos que investem na

segunda graduação, que são cada vez mais representados na modalidade, como verificamos

nos dados já citados.

Conforme dados gerados observamos que a procura por cursos de graduação na EaD

on-line abarca diferentes segmentos da sociedade independente da faixa etária, do sexo, do

local de residência, da disponibilidade de tempo ou profissão.

6.1.2 A frequência de uso dos gêneros digitais na Internet e no AVA

Para identificar possíveis respostas para a primeira pergunta da pesquisa: “Qual o

perfil de acesso dos alunos aos gêneros do AVA CEDERJ e em outros gêneros textuais da

Internet?” inserimos no questionário perguntas direcionadas a esse fim. Dessa forma, nossa

discussão tomará como base as respostas dos participantes.

Esclarecemos que em conformidade com os aspectos éticos previstos na literatura

sobre pesquisas e ratificados no TCLE, as identidades dos participantes serão resguardadas,

para tanto faremos uso da expressão A1 para aluno 01, A2 para aluno 02, A3 para aluno 03,

assim sucessivamente, para qualquer referência aos participantes. Como segue.

Ao serem questionados se já faziam uso da Internet antes do CEDERJ, os dados

revelaram que grande parte desses participantes já realizava atividades on-line na Internet

antes de iniciar a licenciatura a distância (21 participantes). No entanto, um participante

(doravante A15), afirmou que nunca havia usado a Web e seus recursos antes de iniciar o

curso do CEDERJ. Dos participantes que afirmaram já usarem a Internet antes do CEDERJ,

quinze disseram que acessavam diariamente a Web, sendo que quatro deles acessavam entre

duas ou três vezes por semana. Um afirmou usar uma vez por semana e um não respondeu de

maneira clara e objetiva, sendo desconsiderada sua contribuição para a pergunta.

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Todos declaram possuir computador com acesso à rede na residência. Sabemos que ter

acesso ao computador e à rede na residência ainda não é a realidade de todos os alunos de

EaD. Por mais que haja um movimento, ainda tímido, de democratização do acesso às TICs, é

preciso reconhecer que há muito a se fazer para que todos tenham acesso amplo com

aquisição de equipamentos adequados e expansão da rede, inclusive para localidades mais

distantes dos grandes centros urbanos, conforme discute Belloni (2009).

No caso específico de A15 (licenciatura em matemática), que declarou não fazer uso

da Web antes do curso on-line, podemos inferir que a motivação para uso dos recursos

tecnológicos da Web pode ter partido das necessidades de acompanhar o próprio curso de

licenciatura, da necessidade de se adaptar à dinâmica de um curso a distância com ferramentas

on-line no AVA.

Embora não seja possível avaliar o letramento digital já alcançado por esse

participante (seção 3.1.2), é possível observar que ele dissesse fazer uso das ferramentas do

AVA com certa “desenvoltura”, aplicando os gêneros a seus contextos e funções. A princípio

esse estudante utiliza as informações gerais e do quadro de avisos do AVA, onde tomou

ciência do questionário. A seguir, acessou o link indicado, fez o download e upload do

arquivo e acompanha as aulas organizadas semanalmente no Moodle. Mas, não foi registrada

sua participação nos fóruns da disciplina em questão.

Partindo do princípio de que foi ele próprio quem enviou o questionário destacamos

algumas ações que demandam certo domínio das funções técnicas e sociais nas quais usamos

os gêneros; portanto, certo nível de letramento digital, como consultar avisos e e-mail da

plataforma para tomar ciência da pesquisa e do questionário, acessar o link do questionário na

página principal da disciplina ou dirigir-se à ferramenta atividades para abrir o questionário,

fazer o download, responder e fazer o upload com o questionário preenchido. Todas essas

ações para entregar dados de pesquisa de participação voluntária. Pelas ações descritas e por

outras informações relatadas no questionário, é possível afirmar que o AVA é usado por A15

atualmente, entre uma vez por semana no fórum e na sala de tutoria e entre duas a três vezes

por semana, aproximadamente, no mural de avisos e no e-mail. Em se tratando do uso da

Internet fora do CEDERJ, A15 afirma que acessa de duas a três vezes por semana a Web.

Seus acessos pairam quase que absolutamente no uso do e-mail, do chat e das redes sociais.

Ao discutir o conceito de letramento digital Soares (2002b) e Buzato (2010) ressaltam

que esse letramento está diretamente ligado à capacidade não só de uso tecnológico, mas,

sobretudo às funções sociais e interativas na cibercultura. Percebemos no relato de A15 que

atualmente ele faz uso social da leitura, da escrita, das diferentes linguagens e gêneros do

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espaço digital e das redes sociais. Não importa aqui afirmar se foi ou não a partir do CEDERJ

que A15 começa seu envolvimento no letramento digital, embora possamos inferir de forma

afirmativa que o acesso ao curso colaborou em grande parte para tal condição.

Observando o gráfico abaixo podemos visualizar a distribuição dos dados discutidos.

Gráfico 6.2 – Alunos que faziam uso da Internet antes do CEDERJ

No gráfico é possível perceber que 71% dos participantes já faziam uso da Internet

antes do CEDERJ, 19 % acessavam de duas a três vezes por semana, 01 acessava uma vez por

semana e outro não acessava (uma participação foi descartada por falta de clareza). Pode-se

perceber que, à princípio, não haveria grandes dificuldades para os alunos do CEDERJ com

os usos e funções sociais dos gêneros digitais do AVA, porque a maior parte dos participantes

já utilizaram e continuaram utilizando boa parte dos gêneros digitais fora do contexto

educacional, cada qual à sua medida. No entanto, afirmar que o uso dos gêneros digitais fora

do CECERJ determina o grau de interatividade no AVA pode ser perigoso, porque os alunos

podem optar por usar a Internet e não interagirem no AVA, ou em usar alguns gêneros na

Internet e não usá-los no AVA, ou ainda usar os gêneros digitais no AVA e não na Internet.

Para investigar o aspecto de uso dos gêneros digitais dentro e fora do CEDERJ, o

questionário contou também com algumas questões específicas que permitissem traçar um

possível perfil (da amostra), em relação à frequência que os usuários informam utilizar

diferentes gêneros digitais fora do CEDERJ e a frequência que os gêneros são utilizados no

AVA.

Ressaltamos que em alguns momentos o universo total dos dados informados pode não

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completar os 22 participantes; isso se deve à ausência de informação de algum dado no

questionário (respostas em branco). Mesmo diante de situações assim, podemos verificar

aspectos importantes que podem nos ajudar a discutir a seguinte pergunta da pesquisa: Qual o

perfil de acesso dos alunos aos gêneros do AVA CEDERJ e em outros gêneros textuais da

Internet?

Convém citar que os gêneros escolhidos para a pesquisa de acesso fora do CEDERJ

foram: blog, e-mail, fórum e chat. Inserimos também na relação as redes sociais que, embora

não seja um gênero digital por não possuir características bem definidas ou marcantes, é

bastante acessado pelos usuários da Web.

Ainda numa tendência inicial Marcuschi (2010a) estabelecia uma certa

correspondência entre os gêneros textuais e os gêneros digitais, caso que pode ser claramente

percebido entre o e-mail e a carta, entre o chat e as conversas presenciais, entre o fórum

presencial - face a face - e o fórum virtual, entre o blog e o diário. Dos gêneros que

elencamos, é possível estabelecer certa correspondência, mas com o avanço tecnológico e de

comunicação e com os recursos da Web 2.0, atualmente não seria possível estabelecer uma

correspondência plena para todos os gêneros digitais com o Twitter, por exemplo (subseção

3.1.2). Embora não sejam vistos como gêneros digitais, as redes sociais são muito apreciadas

pelos usuários. Nelas os usuários tornam-se produtores e saem da condição de apenas

consumidores.

Autores (MARCUSCHI, 2010a, BRAGA D., 2013, por exemplo) relatam que

mudanças tecnológicas de comunicação demandam mudanças nas relações sociais, na

linguagem, na interatividade, no uso tecnológico dos usuários. A possibilidade de criação por

parte do usuário a partir da Web 2.0 mudou a maneira de relacionamento social a distância,

porque o usuário passa a não limitar-se a receber informações e conteúdos. Agora ele é capaz

de modificar, inserir, compartilhar, entre muitas outras possibilidades. Com os gêneros

digitais, os usuários podem utilizar linguagens diversas como texto escrito, imagem, música,

vídeo, de forma híbrida e com a possibilidade do hipertexto.

Para compreendermos qual a frequência que os gêneros digitais e as redes sociais são

usados fora do CEDERJ observe o gráfico abaixo:

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Gráfico 6.3 – Gêneros Digitais usados pelos alunos fora do CEDERJ

Tomemos por referência os extremos: o uso diário e a ausência de uso. Fora do

contexto educacional as redes sociais e o gênero e-mail são usados diariamente pela maior

parte dos participantes.

Gráfico 6.4 – Uso do e-mail fora do Gráfico 6.5 – Uso das redes sociais CEDERJ

Ainda considerando os acessos diários percebemos que o blog não é mencionado e o

acesso ao fórum é bastante reduzido, limitando-se a apenas um participante.

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Gráfico 6.6 – Uso do fórum fora do Gráfico 6.7 – Uso do blog fora do CEDERJ CEDERJ

Em contrapartida, quando o assunto foca a opção pelo “não uso” alguns relataram

nunca usarem o blog, o fórum, o chat e até o e-mail. Entraram na relação dos não são

acessados na Internet aberta.

Gráfico 6.8 – Uso do chat fora do CEDERJ

Em relação ao fórum especificamente, notamos que o gênero não é um atrativo para

acesso diário. Os usuários que mais acessam o fórum na Internet aberta o fazem entre duas ou

três vezes por semana, ou uma vez por semana, ou ainda em menor quantidade uma vez por

mês, além daqueles que nunca usam. A baixa popularidade ou o pequeno índice de acesso por

semana do fórum fora do contexto educacional, pode ser entendido pelo objetivo que motiva a

participação dos usuários que difere dos espaços especializados na EaD. Para aprofundar essa

reflexão sobre o baixo uso do fórum na Internet aberta, recuperamos um fragmento de Xavier

e Santos C. (2005):

Geralmente são temas de grande apelo popular na atualidade escolhidos

estrategicamente pelos portais de acesso à internet que, visando atrair os

internautas às suas páginas de serviço, instigam a disputa, levam os participantes à polarização de opiniões, excitando inevitavelmente os ânimos

dos que lêem e deixam suas opiniões postadas. (2005, p. 31 – grifo do autor)

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Observamos que a presença do internauta no fórum aberto é, em geral, com base em

conexões efêmeras, pouco duradouras. Segundo os autores a principal motivação de post do

usuário no fórum com essas características é manifestar uma opinião diante de um tema

polêmico. No entanto, a proposta do fórum implica na manutenção do diálogo, que nem

sempre ocorre nesses espaços. A tendência de participação nos fóruns abertos tende a ser

passageira limitando muitas vezes à inserção de opiniões; torna-se um espaço onde a pessoa

comenta e nem sempre volta a usar.

É sabido que os gêneros digitais não surgiram diretamente para atender a fins

educacionais. São tomados pela educação para fins pedagógicos. Com o avanço da tecnologia

e a partir dos novos formatos da EaD, plataformas surgiram e ambientes virtuais passaram a

aprimorar cada vez mais os usos dos gêneros digitais no espaço educacional, nas mais

variadas formas de linguagens e interatividade.

Para compreender como tem sido a frequência de acesso aos gêneros digitais na

perspectiva educacional, elencamos cinco gêneros do AVA/ CEDERJ usados nessa disciplina:

sala de tutoria, chat, fórum, e-mail, mural de avisos. Para melhor compreesão da finalidade

desses gêneros descrevemos resumidamente abaixo suas características principais:

Sala de tutoria - A sala de tutoria é utilizada pelos alunos para postarem dúvidas que

posteriormente são respondidas pelo professores-tutores ou pelo coordenador da

disciplina; é uma ferramenta assíncrona. Em geral, usada para dúvidas conceituais,

administrativas e pedagógicas. Qualquer usuário pode visualizar a dúvida e a resposta.

Chat - utilizados com a mesma dinâmica da Internet aberta, no entanto, com objetivo

educacional. O chat é síncrono e aplicado para discussões coletivas, desde que para

pequenos grupos de participantes.

fórum - também usado de maneira semelhante aos fóruns da Internet. No entanto, com

objetivos de discussão coletiva com fins educacionais. É assíncrono, pode ser aberto

pelo moderador ou pelos próprios participantes (depende do objetivo), permite a

inserção de diferentes linguagens, embora o texto escrito ainda prevaleça (ver

subseção 3,3)

e-mail - O e-mail é assíncrono. Diferente dos gêneros citados, é privado. Serve à

comunicação mais pessoal entre professores-tutores e alunos, e vice versa, ou com a

coordenação, etc.

Mural de avisos - O mural de avisos virtual tem a mesma funcionalidade do mural de

avisos na escola regular.

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Dito isso, é necessário observar a seguir como se dá a incidência do uso dos gêneros

digitais que os participantes declararam usar na plataforma Moodle/ CEDERJ:

Gráfico 6.9 – Gêneros Digitais que usam no Moodle CEDERJ

É possível notar que o chat é, sem dúvidas, o gênero menos usado no AVA. Um dos

fatores que pode colaborar para tal posicionamento dos alunos pode estar ligado ao fato desse

gênero ser síncrono, exigindo dia e hora exata para participação. Outro fator, associado ao

primeiro, pode estar ligado ao baixo interesse dos coordenadores em disponibilizar atividades

nesse gênero pela complexidade de uso.

Tal qual ocorre na Internet aberta, o e-mail do AVA consiste no gênero mais usado

por grande parte dos participantes, diariamente, seguido pelo mural de avisos e pelo fórum

(todos assíncronos).

Em relação ao fórum nos colocamos diante de um dado interessante porque na Internet

aberta o uso diário do fórum é quase insignificante. Já, quando tratamos do fórum no AVA a

frequência diária dos participantes é mais elevada. Conforme já comentamos acima, se na

Internet aberta há pouca motivação para manter o diálogo, no fórum pedagógico a presença

tende a ser diferente porque a discussão de conteúdos de forma coletiva, a troca de

experiências entre os pares e com o professor-tutor podem colaborar para o acesso mais

frequente no fórum educacional. Por outro lado, todos os participantes declararam acessar o

fórum mesmo que não diariamente.

A sala de tutoria não é usada diariamente, mas essa tendência já era esperada porque o

referido gênero tem uma característica peculiar: tende a ser acessado pelo estudante quando

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ele posta uma dúvida e aguarda a resposta, o feedback. Fora desse contexto são poucos os

estudantes que visitam a sala de tutoria para ler as dúvidas dos companheiros. Embora haja

aquele que não usa esse gênero digital, vemos que a incidência maior está em acessar uma vez

por mês, quando ele tem a dúvida.

Com base na mesma lista de gêneros digitais do AVA, o questionário direcionou ainda

o olhar para a eficácia desses gêneros durante o curso CEDERJ. Na opinião dos alunos:

Gráfico 6.10 – Autoavaliação dos alunos – os Gêneros Digitais no Moodle CEDERJ

Na perspectiva da eficácia dos gêneros no AVA percebemos que o uso da Internet

(corresponde ao uso do Moodle) e o mural de avisos (um recurso de informação no AVA)

assumem os índices mais elevados de eficácia, oscilando entre muito bom e bom para a maior

parte dos participantes.

O mural de avisos é considerado bom em eficácia, embora alguns afirmem que ele é

muito bom ou de média eficácia. No geral, esse gênero atinge os fins a que se destina, uma

comunicação unidirecional entre os mediadores e os alunos. Não há espaço para troca nesse

gênero, mas é importante para a dinâmica das atividades dos alunos ao longo do curso.

O e-mail foi, em geral, considerado de média eficácia. Fato curioso nos dados

analisados é que o e-mail foi indicado como o gênero mais acessado diariamente pelos

participantes, mas quando o foco é a eficácia, o e-mail não recebe boa avaliação, ou seja,

embora acessado todos os dias pela maioria dos participantes, o gênero e-mail não

corresponde à altura às expectativas dos alunos. Estaria esse fato ligado à demora no feedback

ou na qualidade das respostas? Esse dado não será aprofundado nessa pesquisa, mas pode ser

um problema para investigações futuras. Mas encontramos em Moore (2008) uma possível

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alternativa para mudar esse quadro. Para ele é fundamental que o professor-tutor atenda às

necessidades pessoais apresentadas pelos alunos individualmente. E o gênero e-mail atende

perfeitamente a esse fim. Por ser privado possibilita a comunicação particular e dessa forma

não expõe o aluno frente os demais integrantes do curso.

O fórum também foi, em geral, classificado como um gênero de média eficácia no

AVA. Apesar de afirmarem usar o fórum pelo menos uma vez por mês, tal atitude não

garantiu uma avaliação elevada.

Mattar (2012) aponta que o fórum educacional é um dos gêneros mais utilizados na

EaD on-line e permite a troca entre um grande número de participantes, além de possibilitar

tempo para reflexões antes da postagem. Permite não apenas a inserção de resposta à pergunta

inicial, sobretudo é um espaço para comentários entre os participantes, de sugestão de link, ou

mesmo a construção de hipertexto. Talvez a subutilização dos fóruns por alguns estudantes

que apenas usam o gênero para postar uma resposta e não voltam para acompanhar a

discussão seja um fator que contribua para a média eficácia dele.

O chat não apresentou bons índices de eficácia permanecendo entre médio, fraco e

muito fraco. Justificável diante do pouco acesso a esse gênero pelos alunos durante o curso;

tudo indica que isso ocorra por se tratar de um gênero síncrono.

A sala de tutoria foi avaliada com uma grande oscilação de opiniões. Alguns

participantes a consideraram como muito boa e boa eficácia. No outro extremo, o gênero foi

classificado como de fraca eficácia. No entanto, a média ou a fraca eficácia sobrepuseram-se

às demais. Nesse sentido, cabe recorrer a Moore (2008) que ao discutir a relação entre o

professor-tutor e o aluno afirma ser necessário um retorno rápido e de qualidade. Ele

corrobora para o entendimento de que para manter o estímulo, a satisfação e o interesse dos

alunos é preciso que o feedback ocorra sem deixar o aluno perder o interesse pela resposta

(seção 4.3.3).

Talvez a baixa eficácia da sala de tutoria na opinião dos alunos esteja relacionada ao

tempo demasiado que aguardam para receber respostas às questões. Uma alternativa para

incentivar o uso da sala de tutoria pode estar na rapidez do feedbak e na exatidão das

respostas. Alguns alunos relataram que nem sempre recebem respostas ou que quando

recebem elas não esclarecem muito, conforme declara o participante aluno 16 (A 16):

A 16 – (...) Os tutores à distância deveriam responder com mais rapidez aos

questionamentos, pois, nós, alunos, dependemos das respostas para seguirmos em frente ou voltarmos ao item anterior para seu melhor entendimento e procurar mais clareza nas

respostas. (grifo nosso)

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Nesse fragmento, fica evidente a necessidade de rapidez no feedback, caso contrário a

resposta perde o sentido, além de atrapalhar o desempenho dos alunos. O mesmo participante

continua relatando que,

A 16 - Me lembro do meu primeiro período, em matemática básica, enviei uma pergunta

sobre uma questão da prova à tutora à distância e a resposta que obtive 2 dias depois, foi

o gabarito recortado e colado na resposta. Ora, para ter o gabarito eu não precisava dela, iria na plataforma e eu mesmo copiava. (grifo nosso).

Observamos que os alunos recorrem à sala de tutoria para expor uma dúvida que o

material didático não é capaz de satisfazer, portanto ele precisa ampliar a discussão sobre o

conteúdo para construir seu conhecimento. Mas práticas de redirecionar como resposta o que

o aluno já tem nas mãos não ajuda. Atitudes assim podem desmotivar o uso do gênero digital

e prejudicar a aprendizagem do aluno, até mesmo baixar o interesse pelo curso.

Até aqui percorremos as contribuições dos participantes quanto o uso de gêneros

digitais no curso CEDERJ. Nesse caso, considerou-se suas experiências em todas as

disciplinas específicas, pedagógicas e eletivas. Para melhor entender como é a relação dos

alunos, especificamente, na sala da disciplina Prática de Ensino II (campo de estudo dessa

dissertação), repetimos as questões com foco nessa disciplina, ou seja, como o participante

avaliou a eficácia dos mesmos gêneros digitais para o seu desempenho na disciplina Prática

de Ensino II.

Gráfico 6.11 – Autoavaliação dos alunos – os Gêneros Digitais na Prática de

Ensino II Lic/UERJ

Ao estabelecermos uma comparação entre a autoavaliação dos alunos nos gêneros

digitais no Moodle CEDERJ e os gêneros digitais na disciplina Prática de Ensino II,

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observamos que o Moodle e o AVA, ou o uso da Internet, na disciplina PEII foi considerado

de modo predominantemente muito bom ou bom por todos os participantes. O mural de

avisos foi tido como um gênero de boa eficácia. Semelhante ao que ocorre nos outros espaços

do curso conforme discussão já realizada. Quanto o e-mail da PEII, também predomina a

média eficácia frente os demais, concordando com o panorama geral do curso. O fórum

também foi considerado como um gênero de média eficácia, mais por menos alunos quando

comparado a outros fóruns do Moodle. No entanto, os índices de opiniões que permeiam entre

muito bom e bom são bem próximos entre os dois gráficos pesquisados. O chat oscilou de

média a muito fraca eficácia quando aplicado na disciplina PEII e entre média, fraca e muito

fraca nos outros espaços do Moodle. A sala de tutoria foi classificada como gênero de média

eficácia em PEII e dividiu opiniões nos outros espaços, oscilando entre média e fraca, e ainda

algumas opiniões que a consideraram boa.

Diante de um paralelo entre os quadros acima, percebemos que o panorama de eficácia

dos cursos foi relativamente o mesmo, com poucas mudanças, quando comparados à

disciplina de PEII de maneira isolada. Partindo do princípio que estamos investigando uma

disciplina pedagógica no universo de diferentes cursos, os dados não são ruins, mas podem

melhorar e para isso dependerá da intervenção mais pontual dos professores-tutores, da

coordenação, conforme discutiremos na seção 6.2.

6.2 Visões, perspectivas e vozes dos alunos sobre o fórum on-line

Esta seção tem por objetivo compreender as características de interatividade e

construção de sentido do fórum on-line sob outra perspectiva: pela visão dos alunos. Dessa

forma, a partir das questões abertas do questionário on-line discute as visões, perspectivas e

vozes dos alunos sobre o fórum on-line.

Selecionamos discutir aqui respostas dadas às perguntas diretamente relacionadas ao

objetivo apresentado. Em outras palavras, foram consideradas aquelas inerentes aos assuntos

fórum, interatividade e construção de aprendizagem. Cabe dizer que em nenhum momento os

conceitos foram explicados para os alunos para não interferir em suas respostas. As

subseções que seguem serão organizadas de acordo com as perguntas do questionário seguida

das divergentes vozes, perspectivas e visões dos alunos que desencadearam categorias, as

quais serão discutidas a seguir.

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6.2.1 Relação de interatividade no fórum on-line

Conforme discutimos na seção 4.3, não há consenso entre os estudiosos para o

conceito de interatividade, de modo bem próximo, também não percebemos convergência

desse conceito no fórum on-line nas falas dos participantes.

A diversidade de percepções nas vozes dos participantes a partir do questionamento:

“como você entende a relação de interatividade no fórum on-line?” Permitiu a identificação

de três categorias principais, assim divididas nessa subseção para melhor entendermos como

os alunos compreendem a relação de interatividade, a citar: interatividade no fórum on-line

como aquisição de informações, ou ligada à troca de informações e ainda enquanto

construção de conhecimentos em grupo. A seguir trataremos pontualmente de cada uma

dessas perspectivas com exemplos dessas falas.

A categoria aquisição de informações contou com o menor número de estudantes, mas

é importante destacar sua presença do imaginário de alguns participantes porque está ligada a

uma perspectiva unidirecional do conhecimento e a subutilização do gênero fórum on-line.

Para os que acreditam nessa premissa adquirir informações bastaria para a

interatividade. Conforme o relato do aluno 13:

A 13 - A interatividade é satisfatória, já aprendi muita coisa lendo as postagens e

conhecendo melhor as pessoas. (grifo meu)

De acordo com Belloni (2009), tal posicionamento estaria sim, ligado à interatividade

porque, para ela, a interatividade pode ser compreendida como a relação técnica do usuário

com a máquina. Portanto, nessa perspectiva, a categoria permite a relação entre o homem e a

máquina. O participante acessou os recursos da máquina (computador e Internet) para

encontrar no fórum informações. Demonstra capacidade do usuário de utilizar o computador,

seus hadwares, softwares e o gênero fórum, em certa medida.

Para Alex Primo (2000), a visão discutida nessa subseção estaria ligada ao conceito de

interação reativa (subseção 4.3.2). Visto dessa maneira, por mais que o gênero fórum on-line

possa permitir a participação de participantes sem restrição, a utilização de alguns permanece

limitada à ação do outro, sem uma reação ativa do participante, o que nas palavras de Primo

se aproximaria da relação em que um polo age e o outro reage. Dessa forma, não absorve a

dimensão de construção ampla entre os participantes.

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Se traçarmos um paralelo entre a categoria aqui classificada como aquisição de

informações, com os pressupostos de Silva M. (2012) para interatividade, ela também não

poderia ser considerada um conceito potencializador de interatividade, porque sob essa

perspectiva não há bidirecionalidade (subseção 4.3.5), uma vez que o participante apenas

assimila o que está previamente postado no fórum.

A segunda categoria que surgiu para o questionamento acima compreende o conceito

de interatividade como troca de informações. Tal categoria sobressaiu sobre as demais nas

visões dos participantes. Sob esse ponto de vista a interatividade é entendida como um

processo para compartilhar experiências, apresentar conhecimento, demonstrar o que domina

acerca do tema discutido. Conforme as falas abaixo:

A4 - No fórum uma questão é colocada e cabe a cada participante expressar sua opinião

ou conhecimento sobre o fato. Ele funciona como uma forma de difundir ideias e faz com que cada participante assimile algo sobre o que esta sendo discutido. (grifo meu)

A 14 - Entendo de forma positiva, pois há uma troca de informação entre as pessoas.

Nessa perspectiva o participante não fica limitado a ler as postagens, uma vez que ele

insere respostas com comentário de experiência pessoal ou compartilha o que já domina do

tema, em geral, como resposta à provocação inicial do fórum. Nesse caso, o participante não

ficou limitado a ler as postagens, pois houve compartilhamento de experiências e

informações; mas não podemos afirmar que houve construção coletiva do conhecimento.

Para Silva M. (2012, p.124-136), essa categoria estaria próxima do binômio

participação-intervenção, porque o aluno participa, mas sua intervenção ainda está

direcionada à ação do mediador. Por isso, apenas postar informação ainda não garantiria o

conceito pleno de interatividade, principalmente porque é preciso que haja uma comunicação

interativa horizontal entre professor-tutor e participantes, e entre os próprios alunos.

Ao partirmos do pressuposto que inserir uma resposta à questão inicial do mediador do

fórum basta para interatividade no fórum on-line, perdemos de certo modo a premissa

fundamental do fórum que é permitir a troca entre todos os participantes, de forma coletiva,

tal qual ocorre nos fóruns presenciais. Assim, continuaremos revestindo as antigas práticas em

que o professor pergunta e o aluno responde, com uma nova roupagem tecnológica e digital.

Por outro lado, destacamos um grupo de participantes que centram suas falas na

perspectiva de que a interatividade no fórum é mais que adquirir informações, e também mais

que troca de informações simplesmente; é um espaço para construção de conhecimentos em

grupo.

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Embora pareça sutil a diferença entre a segunda perspectiva e a terceira, observamos

que na prática essa compreensão por parte dos participantes modifica a qualidade das

interações levando a níveis consideráveis de interatividade no coletivo.

A 10 - É muito boa porque podemos discutir e analisar os pontos de vista de outros

universitários, além de fazer com que tenhamos interesse em ler o assunto discutido no

fórum.

A visão do aluno A 10 evidencia a ampliação do conceito de postar uma mensagem,

para a ação de discutir e analisar as contribuições de outros participantes, além de direcionar o

interesse para novas leituras acerca do assunto. Moore (2008) classificaria essa parceria entre

os participantes como nível de interação aluno/aluno, que remete a outro nível de interação

entre o aluno e o conteúdo (subseção 4.3.3).

Na perspectiva de A10, a interatividade não está condicionada à ação do moderador do

fórum (professor-tutor), antes toma como foco as trocas horizontais entre os demais

participantes, sem tornar a discussão frívola porque remete a outras leituras para aprofundar a

discussão, mesmo com consciência de que o moderador estará acompanhando com as

intervenções necessárias. Outra fala nessa categoria é do participante A 17:

A 17 - A interatividade permite a presença de uma dinâmica comunicativa que permite

que cada participante tenha oportunidade de se expor, numa característica de diálogo e

sequências de conversas, não gerando problemas para que cada um dos participante

tenha que esperar sua vez de intervir. A relação de interatividade no fórum permite que

todos tenham a mesma oportunidade de participar de forma ativa quando cada um apresenta suas informações e conhecimentos a respeito de determinado assunto; de

forma reativa quando um responde as mensagens de outros e de forma interativa,

quando se refere a intervenções prévias, não só a informações anteriores, mas também a outras informações, muitas vezes de maneira integrada ou resumida, abrindo assim o

diálogo à novas intervenções.

Primeiramente A 17 enfoca a característica assíncrona do fórum on-line como um fator

que possibilita a interatividade, em que todos têm as mesmas oportunidades para intervir na

discussão através do diálogo a qualquer momento. O conceito de diálogo está diretamente

pertinente à concepção de Silva M. (2012, p.136-159) para a bidirecionalidade, que consiste

na comunicação entre emissores e receptores. Nesse caso o fórum é um espaço democrático

para que todos os participantes possam oscilar entre os dois polos ora enquanto emissores, ora

enquanto receptores, com base na conversação livre e criativa entre professor-tutor e alunos e

entre os próprios alunos.

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Outro aspecto a se destacar na visão de A17 aproxima-se de Primo (2000, p. 86-91)

quando discute o conceito de interação reativa, por ser essa uma ação em resposta ao

estímulo de outro(s), enquanto a interatividade está para respostas à intervenções prévias, ou

seja, podemos inferir que para haver interatividade é preciso voltar ao problema, refletir sobre

ele, fazer novas considerações, novas postagens para o grupo.

Ainda para Silva M. (2012, p.28-29), a postura retratada limita a compreensão do

“mais conversacional”, pois entende a suposta interatividade como uma via de mão única, em

que não há espaço para construção no coletivo.

Além da compreensão dos estudantes acerca da relação de interatividade no fórum on-

line também buscamos identificar a relação de construção de aprendizagem, de conhecimento

nesse gênero digital no AVA, conforme veremos a seguir.

6.2.2 Construção de aprendizagem no fórum on-line

Em busca de maior esclarecimento de como é possível construção de aprendizagem no

fórum on-line na visão dos alunos, perguntamos de que forma é possível uma relação de

aprendizagem no fórum on-line? A partir das visões dos participantes percebemos a evidência

de pelo menos duas dimensões, uma com foco na colaboração entre os participantes como

forma de construção de conhecimento, e outra que vê o fórum como um espaço de/para busca

de conhecimento que levaria a novas aprendizagens. Delas gerou a divisão de duas principais

visões dos alunos para a construção da aprendizagem no fórum: diálogo e participação ativa,

e espaço de pesquisa.

Quando o tema é construção de aprendizagem, o diálogo é citado novamente. Na

perspectiva dos participantes, ele surge como base para a construção do conhecimento no

fórum on-line. Podemos observar que na fala de A2 (abaixo) o diálogo está associado à troca

de experiências, que não se restringe a postar apenas suas próprias experiências, aqui a troca

tem a intenção de provocar o diálogo, tem o intuito de despertar o outro para novas

intervenções. Ele permite uma base para trocas significativas entre os participantes, e delas

podem então surgir novos conhecimentos ou aprofundar aqueles já previamente em

construção.

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A2 – O diálogo e a troca de experiência, ao meu ver, são mecanismo imprescindíveis no

processo de aprendizagem, pois o acompanhamento mútuo permitem a reflexão sobre

novos conceitos.

Dessa forma, a construção de aprendizagem pode ocorrer da troca significativa entre

os participantes, porque leva a novas reflexões, novos posicionamentos, e até à mudança de

conceitos. Para Belloni (2009), esse movimento do gênero fórum pode ser considerado

interação, porque nele ocorre subjetividade, que nasce das ações recíprocas entre os

participantes. Os alunos A8 e A17 relatam que,

A 8 - É necessária a participação ativa de todos os envolvidos, desde os

professores/tutores aos alunos mais “tímidos”. (...) o contato e troca de opiniões e

experiências podem ser muito mais significativas. A 17 - O fórum on-line é um espaço que nos permite um maior tempo para resposta ou

intervenção, possibilitando mais reflexão, além de possibilitar a construção social do

conhecimento, pois gera a colaboração num grupo (...) sendo assim um meio para a socialização e geração do conhecimento sem depender de um espaço e tempo

coordenado, dando possibilidade melhor de um diálogo e, por conseguinte, a construção

de uma compreensão mais global do assunto a ser discutido.

Outra característica de aprendizagem sinalizada pelos participantes, inerente a esse

gênero digital, é a abertura para espaço de pesquisa. Encontramos aqueles que veem o fórum

como um espaço nato para pesquisa em si mesma, conforme A3 relata:

A3 – Através das pesquisas do fórum.

Por outro lado, e para nós mais significativo, o conceito de espaço de pesquisa do

gênero fórum ultrapassa os limites do fórum em si, remetendo à necessidade de leituras fora

desse contexto. Nesse sentido, observamos ecos de duas diferentes vozes, que serão apontadas

a seguir, em relação ao fórum on-line como espaço de pesquisa, conforme ponderam A6 e

A19:

A 6 - Através de pesquisas para responder aos fóruns e pelas respostas dos colegas

podemos ter mais clareza das nossas dúvidas. (grifo meu) A 19 - Com a interação, podemos debater sobre determinados assuntos, pesquisar, tirar

nossas dúvidas e aprender. (grifo meu)

Para alguns participantes a necessidade de busca por outras leituras sobre o tema pode

partir da preocupação em responder à pergunta do fórum, passando ou não pela leitura do que

os outros já responderam (A 6), ou pode ser com a intenção de ampliar o debate (A 19).

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Nesse sentido, a pesquisa pode levar a práticas de buscar novos conhecimentos em

textos com diferentes linguagens, que por sua vez, tendem a ser compartilhados no fórum,

como ampliação da discussão, como sugestão de leituras, ou como hipertexto (com indicação

de hiperlink). Ou seja, seria um movimento que nasce no fórum, vai além dele, volta ao

fórum, por vezes, com outras linguagens.

Tal característica faz do gênero fórum on-line um espaço em constante

desenvolvimento, que não pode ser previsto. O constante vir a ser é que torna cada fórum

único, porque a cada post a discussão pode seguir para uma direção não prevista previamente,

em outras palavras, o mesmo tema, tópico ou assunto pode ser discutido por grupos diferentes

que acarretará em uma discussão também diferenciada, por tratarmos de sujeitos subjetivos,

autores de sua própria história. Primo (2000, p. 86-91) classificaria essa característica por

interação mútua (termo do autor), porque mesmo que a pergunta do fórum seja a mesma,

outras intervenções são consideradas e não há garantia que os mesmos estímulos garantirão as

mesmas respostas, e espera-se que, de fato, novas respostas com outras linguagens surjam.

As categorias diálogo e a participação ativa e espaços de pesquisa, embora tenham

sido tratadas de forma separadas não são excludentes. Antes, tendem a se entrelaçar nas vozes

dos participantes que acreditam haver espaço para construção de aprendizagem no fórum.

Retomando os conceitos de Moore (2008), a participação ativa, o diálogo e as

pesquisas abarcariam os três tipos de interação discutidos pelo estudioso na EaD, porque

envolve as relações: a) aluno/aluno (diálogo), b) aluno/conteúdo (pesquisa) e c)

aluno/instrutor(diálogo), que preferimos chamar de professor-tutor, juntos no processo de

participação ativa nas discussões, promovendo relações dialógicas entre os participantes.

Se por um lado encontramos posicionamentos favoráveis à construção da

aprendizagem no fórum por grande parte dos participantes, por outro, encontramos também

posicionamento contrário a essa construção no gênero digital discutido. Segundo os

participantes que comungam da perspectiva contrária, há evidência de subutilização do fórum,

principalmente pela falta de problematização do conteúdo em dois aspectos, como segue:

A 20 – (...) Os fóruns do jeito que estão, não são ferramentas muito úteis para a

construção de aprendizagem, pois, o que a gente vê no fórum são, geralmente, repetições

do que se leu nos cadernos didáticos.(...)

Para o participante A 20, a falta de espaço para a problematização do conteúdo parte

do mediador que abre o fórum com uma questão fechada, e é realimentada pelos alunos que

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não aprofundam o tema. A falta de posicionamento crítico pode também ser observada na voz

de A 13, como segue:

A 13 - A construção de aprendizagem é boa no fórum, mas acho que os assuntos

deveriam ser, mas polemizados entre seus integrantes e os mediadores. Alguns assuntos

eu não concordo, mas simplesmente acompanho os demais sem levantar polêmica.

O participante A13 começa aceitando a possibilidade de construção de aprendizagem

no fórum, mas em sua fala fica evidente a crítica ao discurso dentro do mesmo padrão, com

tendência às mesmas respostas, sem ampliar o assunto; fato que acaba levando-o a concordar

com os demais participantes, para não causar mal estar no grupo. Seria aquela velha postura

dos alunos em responder o que o professor deseja ouvir, mesmo que não concorde com o

posicionamento?

Dito isso, inferimos que as críticas realizadas estão na contramão do que se espera de

um espaço para debate aberto à coletividade. A subutilização do fórum pode levar a posturas

tais quais as relatadas, com propostas de discussões similares àquelas do livro didático;

inclusive com tendências a aguardar respostas e comentários semelhantes aos comentados nos

livros de estudo.

O fórum será interessante ao aluno e à aprendizagem à medida que permitir o

posicionamento crítico entre os participantes, quando der direito à voz daqueles que

participam, para assim investir rumo à construção do conhecimento em coautoria. Silva M.

(2012, p. 142-145) afirma que a interatividade está para o “mais comunicacional”, que abre

espaço de negociação inacabado entre os pares, onde é possível a participação, mas acima de

tudo, a intervenção no conteúdo, a bidirecionalidade nas relações. Enquanto houver a postura

autoritária do professor-tutor sobre os demais participantes, não haverá bidirecionalidade.

6.2.3 Interatividade e construção da aprendizagem no fórum on-line de Prática de Ensino

II Lic/UERJ

Na subseção anterior buscamos nas vozes dos participantes suas perspectivas se há ou

não a construção da aprendizagem no gênero digital fórum, num aspecto amplo de aplicação

nas diferentes disciplinas do CEDERJ. Nossa intenção para a subseção que se inicia é

identificar pelas visões dos participantes se há ou não construção de aprendizagem nos fóruns

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da disciplina Prática de Ensino II Lic/UERJ. O recorte se dá por ser o fórum da disciplina de

PEII o lócus da pesquisa nessa dissertação.

Ressaltamos que a disciplina Prática de Ensino II utiliza três fóruns ao longo de cada

semestre. Dois deles pontuados (o primeiro e o último) e um não pontuado (o segundo).

Diante do questionamento: você acredita que possa haver interatividade e construção

da aprendizagem no fórum on-line de Prática de Ensino II Lic/UERJ? Os participantes

posicionaram-se em sua maior parte de forma positiva. Exceto um participante que não

acredita haver interatividade e construção de aprendizagem no fórum de PEII.

Dentre os participantes que defendem a perspectiva de que há interatividade e

construção de aprendizagem no fórum de PEII, ressaltamos três principais tendências que são

organizadas da seguinte maneira: a primeira se refere a interatividade entre os participantes,

o professor-tutor e a abertura para novos conhecimentos, como lemos na fala a seguir:

A 17 - Sim, (..), a interatividade no fórum de Prática nos permite construir conhecimento com a colaboração não só de nossos colegas de Polo, como também com a interação dos

outros polos e, principalmente se houver o feedback do tutor, apontando nossos acertos e

acrescentando dados e sugestões para novas buscas de informação sobre o assunto tratado no fórum.

Encontramos convergência na voz de A 17 com aspectos já discutidos nessa análise,

da necessidade de colaboração, de diálogo, de feedback para incentivar a busca de novos

conhecimentos durante as discussões no fórum on-line. Para Moore (2008) cada aluno deve

ser entendido pelo mediador de forma única, porque cada qual estabelecerá sua própria

relação com o conteúdo. No fórum os participantes podem discutir os conteúdos, estabelecer

relações de parceria com os demais e com o mediador numa relação horizontal, mesmo que

haja, em alguns momentos, necessidade do mediador redirecionar a discussão através do

feedback.

A disciplina é obrigatória nas licenciaturas, que em geral, são cursadas por alunos que

não tem experiência docente. Ela se propõe a discutir o currículo nas diferentes tendências de

práticas pedagógicas, legais e políticas da educação. É por natureza uma disciplina bastante

teórica e o fórum serve também para aproximar as disciplinas específicas do universo escolar.

No entanto, nem todos concordam que haja aproximação entre os participantes e a realidade

educacional durante as discussões no fórum de PEII. Podemos verificar nas contradições entre

A 10 e A 22:

A 10 - ... a disciplina precisa desse intercâmbio, desse espaço de discussão, para

aproximar o universitário do ambiente escolar. Muitos dos alunos não tem prática em

sala de aula e portanto não dominam esse ambiente abordado pela material, o fórum

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proporciona a esses alunos, aprender com as experiências dos outros que tem essa

experiência e compartilha ela no fórum.

A 22 - Muito pouco pois os assuntos teóricos tratados acabam ficando preso a isto, sem praticabilidade. As teorias devem torna-se praticáveis e as discussões devem enfatizar o

que poderá ser feito na prática docente, ou seja, na realidade do dia-a-dia em sala de

aula.

Conforme dito acima, o participante A 22 foi exceção entre os alunos, para ele não há

interatividade e construção de conhecimento nos fóruns da disciplina. Para ele, a discussão

paira no campo conceitual e isso ajuda pouco ou quase nada ao procedimental da sala de aula.

Recorremos a Moore (2008) que delega ao mediador a tarefa nada fácil de atender à

demanda das interações dos alunos individualmente, pois são indivíduos diferentes e únicos.

Mesmo na diversidade do fórum, será preciso perceber que se para alguns é necessário maior

explicação do conteúdo ainda não compreendido, para outros, serão necessárias elaborações

diferentes do conteúdo, até mesmo diferentes formas de aplicação.

A segunda tendência é mais restrita e compreende o fórum como um espaço para tirar

dúvidas. Nessa perspectiva o fórum é útil para sanar possíveis dúvidas do conteúdo com os

demais participantes e como professor-tutor. Conforme cita A 3:

A3 – Sim muito, pois através do fórum que selecionamos muitas dúvidas.

O participante não deixa claro como poderia “selecionar” e até sanar suas dúvidas, se

através de diálogo, se pesquisando, se lendo apenas a discussão sem interferir no texto, se

sugerindo outras leituras e linguagens, etc.

A terceira e última perspectiva acerca da interatividade e construção de aprendizagem

em PEII faz referência àqueles que não colaboram inserindo contribuições no fórum, mas

“participam” da leitura do mesmo. Como observamos na voz de A 20:

A 20 - Sim, pois qualquer leitura promove um aprendizado, se eu não acreditasse nisso

não estaria aqui. Mesmo aqueles que não participam (existem muitos motivos para tal),

contudo entram no fórum e leem estão aprendendo algo, selecionando o que serve e o que não serve para sua prática didática cotidiana.

Embora a atitude de realizar leitura possa permitir a construção de novos

conhecimentos e aprendizagens, para Primo (2000) essa postura não poderia se considerada

como interação de qualidade e para Silva M. (2012) essa postura estaria longe de configurar

interatividade (seção 4.3.5).

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6.2.4 Motivação para participar dos fóruns de Prática de Ensino II

Devido ao fato da disciplina Prática de Ensino II ofertar três fóruns, dois pontuados e

um não pontuado, com frequência relativamente boa, buscamos entender o que motiva o

estudante e o impulsiona a participar dos fóruns de PEII. Diante da pergunta em geral, o que

motiva (ou não motiva) para participar (ou não) dos fóruns propostos na disciplina Prática

de Ensino II? Como já era de se esperar, a relação entre ser pontuado ou não foi mencionada

pelos participantes.

Duas categorias foram sinalizadas para justificar a motivação para participarem dos

fóruns: a possibilidade de interação e a pontuação (avaliação/nota).

Entre os que se sentem motivados para participar destacamos algumas falas, tais

como:

A 9 - Me motivo pelo fato de querer aprender. E ver determinado assunto de vários ângulos, através de meus colegas. (grifo meu)

A 13 - Interagir com outras pessoas sempre foi o meu forte, gosto de saber de outras

opiniões e também fazer as minhas colocações. Mesmo quando não domino o tema eu busco esse conhecimento para que eu possa me posicionar no fórum. (grifo meu)

A 17 - O que me motiva é justamente a interatividade possibilitada pelo fórum, de não estando no mesmo espaço e tempo, poder trocar opiniões e conhecimentos e assim, a

partir da visão dos outros e do feedback recebido, poder avaliar meu próprio processo

de aprendizado. (grifo meu)

A 19 - Eu, particularmente, adoro interagir com os colegas, já que não temos esse

contato diário. As respostas diversificadas me incentivam a pesquisar e acompanhar o

fórum para tirar minhas dúvidas e aprender. (grifo meu)

Dos relatos podemos confirmar que a EaD não é um espaço de isolamento. Muitos

participantes sinalizaram a necessidade de contato, de troca, ainda que a distância com outros

participantes, a busca pela colaboração, pelo diálogo torna-se motivação para participarem das

discussões dos fóruns on-line. Sobretudo, poder ouvir e também poder falar, receber e

também se permitir contribuir, por vezes, buscar em pesquisas novas descobertas numa

relação de parceria e coautoria do conhecimento.

A segunda categoria apresenta como motivação a pontuação vinculada à nota,

mediante a participação no fórum. Embora o fórum pontuado não ultrapasse 01 (um) ponto,

alguns participantes informaram que participam dos fóruns com vistas à pontuação em

primeiro lugar.

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A3 - Quando e pontuado vou ser sincera tem um peso maior para participar,e também

forma de adquirir conhecimentos

A 15 - Para ser sincero, as notas. Pode valer 0,1 que eu tendo tempo (pois, tenho que

trabalhar e tenho uma esposa, uma filha de 12 e um filho de 07 anos) faço. O aluno na

maioria das vezes se importa são com a nota e não ve o quanto é importante participar

dos fóruns, "isso, também, vale para mim".

Mesmo sendo a “nota” o fator desencadeador de motivação, esses participantes

reconhecem o valor pedagógico e acadêmico do fórum.

Por outro lado, os participantes sinalizaram aspectos que não motivam, como a grande

quantidade de disciplinas cursadas concomitantemente, que leva a relativa “falta de tempo”,

além da necessidade de acessar especificamente as páginas e fóruns de cada disciplina no

Moodle, situação que demanda interesse pró-ativo do estudante em participar:

A 11 - O que não motiva é o seguinte: Eu acesso na plataforma, tenho 5 ou 6 matérias para acessar, matérias estas que não bastam ler, tem que exercitar, fica difícil acessar

fóruns, até porque os fóruns não aparecem em primeiro plano na plataforma, fica meio

escondido, e já dizia o ditado "Quem não é visto não é lembrado"

Além das limitações tecnológicas de acesso à rede que ainda não são plenamente

satisfatórias, conforme ressalta Belloni (2009).

A 20 - O Primeiro o que não motiva: a internet as vezes é lenta (apesar do pacote de

muito mais megas e que nunca chegou ao ideal) e cai desestimulando o uso prolongado; as pessoas não estão lá para trocar na hora que eu estou(o que ocorre é que a gente

escreve, sai da plataforma, desliga o computador, faz outras coisas e somente teremos

resposta ao que escrevemos horas ou dias

Observamos na visão do participante A 20 certa confusão na característica de gêneros

quando faz referência ao fórum on-line ou impaciência para aguardar a continuidade da

discussão pelo grupo. O fórum é assíncrono, não se faz necessária presença dos participantes

no mesmo dia e horário, fato de demanda espera para continuar a discussão. No caso de

conversas síncronas, temos o chat.

6.2.5 Sugestões para a coordenação e os tutores

No intuito de aprimorar a relação entre os estudantes e a coordenação, os tutores

presenciais e a distância, abrimos um espaço para que os participantes sugerissem o que pode

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ser melhorado na dinâmica pedagógica da disciplina, a partir do questionamento o que a

coordenação e os tutores (presenciais e a distância) poderiam fazer para ajudar ainda mais

no seu desempenho no curso? Além de sugestões de provas com menos conteúdos, inserção

de mais atividades pontuadas além do fórum, percebemos um entrelaçar de diferentes vozes

em torno de três aspectos, que sugerem a produção de vídeo aulas, clareza na comunicação

e do feedback.

De fato, não há aulas de vídeo disponíveis para os participantes de PEII. Considerando

as características cognitivas de aprendizagem, elas parecem ser fundamentais para alguns

alunos.

A 4 - Eu acho que eles já ajudam muito, mas eu acho que seria bom ter mais aulas em ví-

deo como conteúdo auxiliar.(grifo meu)

A 11 - A coordenação, muito já se faz, mas os vídeos aulas seriam excelentes;(grifo meu)

A 15 –(...) é termos aulas gravadas com explicação das matérias pelos nossos

professores, não acabando com a tutoria presencial porque ela é muito importante para

tirarmos dúvidas, mas tendo assim mais uma fonte de pesquisa e aprendizado...

Outro aspecto importante na EaD on-line é a clareza na comunicação e níveis de

letramentos digitais (SOARES, 2002b, BUZATO, 2010) para viabilizar as comunicações a

distância. No entanto, ao observarmos com atenção a fala do participante A 8 (abaixo),

percebemos que elogia o Moodle, mas embora sinalize algumas limitações quanto à falta de

clareza, objetividade nas comunicações on-line. Como segue,

A 8 – Infelizmente, apesar de haver uma boa plataforma que interligue os alunos ao

curso, tanto um quanto o outro precisam fazer-se entender melhor. Basta um olhar pelas

salas de tutorias para entender que nem o aluno consegue transcrever sua dúvida e

forma clara, nem os responsáveis pelas respostas conseguem conduzir o aluno para uma

solução compreensível. Muitas vezes tais portais de comunicação se tornam inúteis,

quando poderiam ser um grande aliado.

Em primeiro lugar, é necessário certo nível de letramento digital para utilizar os

gêneros digitais no AVA. O letramento não está limitado a saber o que é, mas, e, sobretudo

saber aplicar suas funções aos contextos de uso nas trocas coletivas. Em segundo, de acordo

com A8, ocorre dificuldade do participante em expressar sua dúvida de forma clara, fato que

pode fazer com que o professor-tutor, por sua vez, não compreenda o cerne do

questionamento, que o leva a responder de maneira equivocada, não servindo ou esclarecendo

em nada o estudante, que permanecerá com as dúvidas.

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Nem todas as dificuldades na comunicação estão relacionadas ao letramento digital

como pode ser observado na fala a seguir:

A 19 - Ainda acho a plataforma um pouco difícil de navegar, as vezes não aparece nada

no mural e tenho q ficar navegando por cada uma das 9 disciplinas vendo se há fórins, atividades etc...para realizar. E os emails chegam trazendo informações sobre disciplinas

nem participo(...).

A dificuldade, nesse caso, está em encontrar todas as informações de maneira mais

prática, sem a necessidade de abrir as salas das nove disciplinas para encontrar uma

informação importante. A questão centra-se na necessidade de melhor organização das

informações no AVA para o estudante.

O último aspecto é o feedback. Convém ressaltar mais uma vez na fala de A 17,

A 17 – (...) Uma outra sugestão é que haja mas rapidez nas respostas dos tutores nas

salas de tutorias da plataforma.

Já comentamos o quanto é importante a rapidez no retorno para o estudante. E

novamente ele aparece no campo de sugestões dos participantes. Nesse quadro, parece

oportuna a posição de Mattar (2012), quando afirma a importância do fórum na modalidade a

distância e sinaliza a necessidade de professores preparados para dinamizar tal atividade on-

line. Nas palavras do autor lemos que:

Pela importância dos fóruns em EaD, é essencial que os professores sejam

adequadamente formados no seu uso, para que evitem, de um lado , dominar

completamente as discussões (tolhendo assim a liberdade de expressão de

seus alunos), e, do outro lado, não fiquem totalmente ausentes (dando a impressão de abandono aos alunos). (MATTAR, 2012, p. 121)

Embora não tenha tratado do fórum em si Kenski (2012) também defende a

necessidade de atualização permanente para o bom exercício da docência.

Com preocupação para a formação em serviço ou fora dele que algumas instituições

estão oferecendo cursos de capacitação em EaD, tanto em âmbito de especialização como, por

exemplo, o Curso de Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância25

oferecido pelo Laboratório de Novas Tecnologias e Ensino (LANTE) da UFF. Outro exemplo

é o Curso de Formação em EaD com Ênfase na tutoria CEDERJ26

oferecido pelo próprio

CEDERJ aos seus tutores, entre outros.

25 http://pigead.lanteuff.org/login/index.php 26 http://cursotutoria.cecierj.edu.br/ava/

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6.3 Análise de uso do fórum on-line na disciplina Prática de Ensino II

Na subseção anterior (6.2) investigamos as características de interatividade e

construção de sentido do fórum on-line, sob a perspectiva dos participantes, como já

sinalizado: vozes, perspectivas e visões dos alunos. Assim, encaminhamos as discussões com

base nas respostas do questionário on-line, para sinalizar as principais características

presentes nas visões, perspectivas e vozes dos alunos sobre o gênero digital.

Na subseção que se inicia (6.3) visamos responder o terceiro objetivo específico da

pesquisa: analisar o potencial de interatividade e de construção de conhecimento no fórum

da disciplina Prática de Ensino II das licenciaturas UERJ. Para tanto, enfatizaremos a

análise do uso do fórum on-line pelos alunos de PEII.

Para tanto, na subseção 6.3.1 apresentamos e discutimos os objetivos e características

dos fóruns 2 e 3, além do fórum hora do café, abertos na disciplina de PEII do CEDERJ,

analisados nessa dissertação.

Na subseção 6.3.2 estabelecemos um diálogo reflexivo entre as principais

características do gênero digital fórum pedagógico, estudadas e divulgadas pela literatura

acerca do tema, com as perspectivas de uso dos fóruns identificadas nas contribuições dos

participantes ao longo das discussões.

Identificamos dez categorias de uso do gênero digital fórum, as quais serão discutidas

e exemplificadas separadamente na subseção 6.3.2. Ressaltamos que essas categorias foram

identificadas nessa dissertação, com referência aos tipos de participações dos estudantes nos

dois fóruns pedagógicos analisados (fóruns 2 e 3), para melhor compreendermos o potencial

de interatividade e construção do conhecimento nas publicações dos estudantes ao longo dos

debates.

A partir das dez perspectivas de uso do fórum já apresentadas, realizamos na subseção

6.3.3 um diálogo entre essas categorias com a possibilidade de construção de sentido e de

interatividade nos pressupostos de Silva M. (2012), tomando como ponto de partida as

características de uso das mensagens publicadas no contexto dos fóruns.

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6.3.1 Características e objetivos dos fóruns analisados

Ressaltamos mais uma vez, que embora o fórum 1 tenha alcançado um total de 182

postagens, com a participação de 114 alunos, com representantes de todos os 13 Polos, não

consideramos os dados gerados no AVA da primeira atividade on-line do semestre 2013/01,

pois a atividade foi realizada entre 04 e 11 de fevereiro de 2013, período anterior à aprovação

da pesquisa pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Unigranrio, em 07 de março do mesmo ano.

Fato que justifica a ausência do primeiro fórum e esclarece porque consideramos então a

partir do fórum 2 e também o fórum 3, além do fórum hora do café.

Consideramos então a análise das contribuições dos participantes em três fóruns

distintos e julgamos necessário destacar suas principais características:

6.3.1.1 Fórum 2 – tema aprendizagem significativa

Chamaremos de Fórum 2 àquele aberto pela tutoria a distância sobre como promover a

aprendizagem significativa (tema: aprendizagem significativa), conforme previsto no

cronograma da disciplina. Convém ressaltar que essa atividade não foi pontuada (não valeu

nota), mas contou com a participação do professor-tutor durante sua realização com

intervenções para provocar novos questionamentos, realizando o feedback, valorizando as

participações. Nele participaram 18 alunos, com o total de 42 publicações (tabela 6.1), com

representantes de nove polos dos treze.

O tipo selecionado foi de uma única discussão simples, um dos tipos de fórum

possíveis do Moodle versão 2.5 do CEDERJ (seção 3.3). Esse tipo de fórum tem como

característica a abertura de um único questionamento para ser respondido até a data de

encerramento da atividade. Nele não há limite mínimo nem máximo de postagens por

participantes, além de permitir a postagem de arquivos com linguagens diversas, links,

imagens, vídeos, etc. A questão inicial proposta pela coordenação da disciplina no fórum 2

foi: Como romper com a forma mecânica de aprendizagem sem sentido para a vida e para os

alunos?

A opção por esse modelo deu-se pela necessidade de viabilizar um espaço de

discussão que integrasse todos os participantes que, ao abrir o único tópico, seria convidado a

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ler e acompanhar as postagens já publicadas. A partir de então, publicaria a sua contribuição.

No entanto, percebemos que nem todos dão continuidade às discussões nos turnos já

iniciados, não pelo desejo de iniciar um novo turno com um novo questionamento, mas

porque não acompanham a discussão e preferem responder à pergunta inicial, ocasionando

quebra de turno e, por vezes, tornando a participação “solta” no desenvolvimento da

discussão.

Outro fator que contribuiu para a escolha desse tipo de fórum foi a facilidade em

visualizar as participações encadeadas, sem a necessidade de abertura de diferentes tópicos.

Através da função “mostrar respostas aninhadas27

” da versão Moodle já citada, é possível

acompanhar as postagens no seu contexto, independente se for a mais antiga ou a mais

recente, respeitando a sequência da conversa nos turnos ou das postagens, sempre em um

único tópico, porque nesse modelo de fórum não há possibilidade de abertura de outros

tópicos.

6.3.1.2 – Fórum 3 – tema currículo e exclusão

O fórum 3, também previsto no cronograma da disciplina, foi aberto de forma semelhante

ao anterior (fórum 2). No entanto, com participação avaliada em até 1,0 (um) ponto para

participações significativas. O ponto central da discussão foi a relação entre o currículo e a

exclusão na sociedade e na escola (tema: currículo e exclusão). O questionamento inicial

proposto pela coordenação da disciplina no fórum 3 foi: “Quais as relações existentes entre o

currículo escolar e a produção da exclusão na sociedade e na escola?” Entenda-se aqui por

participação significativa aquela que não se limite a responder somente o questionamento

inicial do fórum, ou que simplesmente “concorde” ou “discorde” de algum posicionamento já

27 As participações no fórum do Moodle CEDERJ admitem quatro diferentes formas de exibição. Tais funções

são denominadas: mostrar respostas começando pela mais antiga, mostrar respostas começando pela mais

recente, listar respostas e mostrar respostas aninhadas. Ao selecionar a opção mostrar respostas começando pela mais antiga o Moodle organizará uma lista começando pelas postagens mais antigas para as mais recente no

fórum, de forma semelhante ocorre quando selecionamos a opção mostrar respostas começando pela mais

recente, só que nesse caso ocorre o inverso, a lista começará pelas respostas mais recentes. Na função listar

respostas apenas os tópicos identificando os participantes são apresentados. Para ler o teor das mensagens é

preciso clicar no link do enunciado, nesse caso o Moodle não leva em conta a cronologia para exibir a listagem

(se a mensagem é mais antiga ou mais recente), mas o contexto da conversa que foi inserida, garantindo as falas

nos turnos correspondentes. No caso da função mostrar respostas aninhadas ocorre exibição de uma lista

completa (tópicos e mensagens estendidas) com os turnos de conversas dentro do contexto de postagem (dentro

dos turnos de conversa).

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publicado antes, mas aquela que investe na troca entre os participantes, que amplia a

discussão, que colabora com a construção coletiva. Em outras palavras, a participação

significativa é aquela que investe na interatividade defendida por Silva M. (2012) durante a

discussão no fórum. Essa atividade foi acompanhada pelo professor-tutor com intervenções ao

longo do desenvolvimento e contou com 148 publicações, com a presença de 62 alunos, nele

apenas o polo de São Pedro da Aldeia não foi representado.

Tabela 6.1 - Resumo comparativo das participações nos fóruns 2 e 3

Participações nos fóruns 2 e 3

Fórum 2 (não pontuado) Fórum 3 (pontuado)

Duração 8 dias 11 dias

Tema principal Aprendizagem mecânica Currículo escolar e

exclusão na sociedade e

na escola

Participantes 18 62

Publicações de alunos 24 105

Publicações da tutoria 18 43

Total de publicações 42 148

Polos representados

Angra dos Reis,

Duque de Caxias,

Miguel Pereira,

Nova Iguaçu,

Paracambi,

Petrópolis,

Piraí,

Saquarema,

Volta Redonda.

Angra dos Reis,

Duque de Caxias,

Magé,

Miguel Pereira,

Nova Iguaçu,

Nova Friburgo,

Paracambi,

Petrópolis,

Piraí,

Resende,

Saquarema,

Volta Redonda.

(Adaptado a partir das participações nos fóruns 2 e 3)

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6.3.1.3 Fórum hora do café – temas diversos

Também chamado simplesmente de hora do café. Esse fórum é aberto no início do

semestre pelo programador e só é fechado no final da disciplina. Diferente dos citados acima

é do tipo cada usuário inicia um novo tópico com temas de seu interesse (seção 3.3). Esse

espaço é destinado a trocas entre os estudantes sem limite de abertura de tópicos ou

postagens. Ao abrir o novo tópico, é possível inserir comentários, provocações, links, vídeos,

música, imagens, etc. ou acessar tópicos já abertos por outros participantes para novas

intervenções. Nele não há presença do professor-tutor orientando as discussões, embora possa

haver sua participação com comentários nos tópicos já abertos, como um participante

qualquer.

Também não há restrição quanto ao tipo de assunto, entretanto, nos tópicos abertos

pelos alunos observamos duas tendências principais que chamaremos aqui uma de vertente

pedagógica e outra de educacional, a título de diferenciação, além da administrativa.

A tendência pedagógica diz respeito às discussões próximas às já iniciadas nos fóruns

2 e 3. A tendência educacional refere-se a assuntos relacionados com a dinâmica da disciplina

em âmbito de formação. Não são abertas para debates de conteúdos, conceitos, mas podem

entrelaçar esses aspectos com objetivo de sanar dúvidas ou trocar informações entre si sobre o

desenvolvimento de atividades diversas, comentários sobre aulas, de material didático. A

administrativa surge com objetivo de compartilhar evento que pode ser de interesse de todos.

Tabela 6.2 - Resumo das participações no fórum hora do café

Tópicos abertos Assunto Comentários Objetivo

01 Pink Floid o vídeo 2 Pedagógico

02 Currículo escolar e a exclusão social 3 Pedagógico

03 Atividade final 1 Educacional

04 Trabalho currículo 1 Pedagógico

05 Currículo 1 Pedagógico

06 AD II 1 Educacional

07 Relação professor aluno 1 Pedagógico

08 Mural do curso 3 Educacional

09 Aulas 5, 6 e 7 5 Pedagógico

10 Clipe Pink Floyd – pág. 42 material didático 6 Pedagógico

11 Livros currículo 1 Educacional

12 Matéria no Estadão 1 Pedagógico

13 Site do evento Seminário 0 Administrativo

(A partir das participações no fórum hora do café)

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Por ser assíncrono o fórum permitiu a participação de um grande número de alunos em

dias e horários diversificados, sempre atendendo às necessidades e disponibilidades de cada

um. Alguns para leitura da discussão já estabelecida, para eventuais pesquisas e

aprofundamento sobre o tema e futuras postagens, outros para post em resposta à provocação

inicial sem preocupação com a discussão já iniciada nos turnos; outros ainda usam o fórum

para tirar dúvidas e não publicam contribuição conforme relatado na subseção anterior (6.2),

além de outros caminhos de ações possíveis.

Os fóruns analisados apresentaram características peculiares às retratadas por autores

como Mattar (2012), Paiva V. e Rodrigues-Júnior (2007), Rozenfeld, Gabrielli e Soto (2010),

quanto ao não anonimato, a presença marcante do aspecto acadêmico, entre outras

características do gênero digital fórum na educação (discutidas na subseção 3.3).

Retomaremos brevemente algumas características discutidas na referida subseção, pois se

mostraram presentes nos fóruns de discussão analisados.

O fórum com objetivo pedagógico apresenta algumas características marcantes que o

diferencia de fóruns abertos da Internet. Uma delas, ou a principal delas para nós é o não-

anonimato, uma vez que no AVA do CEDERJ todos são identificados pelo nome e

sobrenome, curso, polo, sem possibilidade de codinome. A identificação torna-se interessante

por permitir a aproximação entre os participantes que passam a se dirigir uns aos outros pelo

nome, situação recorrente nos fóruns. Eles retomavam as falas e as contribuições uns dos

outros citando-os pelo nome, transmitindo uma relação de confiança e respeito entre as trocas.

Paiva V. e Rodrigues-Júnior (2007) entendem essa relação como um tipo de comunidade

virtual, pois é motivada por interesses comuns dos membros que se inter-relacionam.

A centralidade na escrita discutida por Marcuschi (2010a), Paiva V. e Rodrigues-

Júnior (2007), Rozenfeld, Gabrielli e Soto (2010) foi também marcante nos fóruns 2 e 3

(abertos pela tutoria). O texto acadêmico predominou sobre qualquer outro (uma escrita com

cuidados acadêmicos, sem uso de abreviações comuns em outros espaços da Internet). Isso

demonstra que há preocupação em preservar o estilo acadêmico quando se trata de discussão

de conteúdos, no espaço pedagógico virtual. Mesmo com essa característica predominante, foi

possível identificar a hibridização entre recursos da oralidade e da escrita (COSTA, 2009).

Podemos inferir que a ideia de atividade acadêmica, de formação, permanece ligada

diretamente ao texto escrito, que se sobrepõe a outras formas de linguagens no uso dos alunos,

mesmo quando utilizam as possibilidades de múltiplas linguagens das TICs na EaD on-line.

Assim, ainda que o gênero digital em questão – o fórum - possibilite a inserção de diferentes

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linguagens como imagem e som, os alunos ficaram presos a citações e discussões

bibliográficas de textos escritos nos fóruns 2 e 3.

Da possibilidade de múltiplas leituras na superfície do computador e da Internet surge

o hipertexto. Xavier (2010) entende por hipertexto “uma forma híbrida, dinâmica e flexível

de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e condiciona à sua

superfície formas outras de textualidade” (2010, p. 208).

Entre outros aspectos do hipertexto, destacamos de Xavier (2010) o conceito de

pluritextualidade, que aproxima-se do que classificamos como potencialidade de uso das

múltiplas linguagens no fórum. Para Xavier, a pluritextualidade deve-se pela capacidade de

“fusão de diversos recursos das várias linguagens em uma só tela do computador acessíveis e

utilizáveis simultaneamente em um mesmo ato de leitura...” (2010, p. 214). É a possibilidade

de usar palavras escritas, sons, vídeos, ícones animados, imagens, tabelas tridimensionais,

além de outras semioses possíveis.

Assim, ainda que o gênero digital em questão – o fórum - possibilite a inserção de

diferentes linguagens, a pluritextualidade já comentada, como imagem e som, os alunos

ficaram presos às citações e discussões bibliográficas de textos escritos nos fóruns 2 e 3.

Tais características de escrita foram predominantes nos fóruns 2 e 3 (aqueles abertos

pela tutoria). Neles não houve post de vídeo, imagem ou som, ou mesmo emoticons por parte

dos participantes. A inserção de vídeo e emoticons foram utilizadas somente pelo professor-

tutor.

No espaço hora do café observamos certa modificação em relação à predominância da

escrita. As ações de uso dos participantes nesse fórum também assumem outras perspectivas,

uma vez que podem abrir novos tópicos ou escolher um tópico já aberto para participar da

discussão de forma aberta e democrática.

Por se tratar de tópicos de discussões abertos pelos próprios participantes, eles não

precisaram seguir um tema pré-definido. Por não contar com a intervenção do professor-tutor

(necessariamente), surge uma aparente desvinculação com o caráter pedagógico formal.

Entretanto, mesmo sem objetivo pedagógico explicito para os alunos, os assuntos discutidos,

em grande parte, estavam vinculados aos já iniciados nos fóruns com objetivo pedagógico.

Dos treze (13) tópicos abertos pelos participantes, oito (8) se propuseram a aprofundar

questões de conteúdo (objetivo pedagógico), utilizando diferentes linguagens

(pluritextualidade) como indicação de vídeo, de link, de reportagem, fato que permitiu

surgirem novas discussões contextualizadas com os conteúdos então discutidos nos fóruns

abertos pela tutoria. Os demais tópicos foram relacionados a assuntos educacionais da

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165

disciplina como dúvida quanto o livro didático, às aulas, e às avaliações de cunho

administrativo.

Percebemos ainda que a discussão não se finda quando o fórum aberto pela tutoria é

encerrado. Na verdade, os alunos na EaD tem no fórum uma oportunidade de trocar com

aqueles distantes e construir de forma coletiva, em colaboração.

Tal como ocorre nas salas presenciais onde um assunto, quando interessante,

intrigante, desafiador, continua a ser discutido fora da sala, também na EaD é possível

continuar uma conversa fora do “espaço formal” de aprendizagem (fórum aberto como

atividade acadêmica), mas ainda dentro do AVA. Nesse caso, é preciso encontrar outros

espaços para que as conversas continuem fora do contexto formal, dessa forma o espaço

utilizado pelos alunos foi a hora do café. Observamos, por exemplo, um tópico aberto com a

mesma discussão do fórum 3 após seu encerramento, fato que demonstrou a necessidade de

continuar a discutir o assunto mesmo com o fórum pontuado já encerrado. Aqui fica evidente

que a motivação em discutir o assunto não se deu pela pontuação, mas pela temática em si.

Em um dos tópicos discutiram abertamente a dinâmica da disciplina, comentando os

pontos positivos que, segundo eles, foram surpreendentes, por se tratar de uma disciplina

pedagógica, pelo material didático em si, por ser rico em sugestões complementares, pela

inclusão de hiperlink de vídeos no You Tube nas aulas no AVA, pelos textos sugeridos e

anexados nas aulas on-line, mas também comentam pontos que poderiam ser melhorados

como o prazo dos fóruns e atuação da tutoria, por exemplo.

Ao estabelecer um paralelo entre o uso dos fóruns 2 e 3 e do fórum hora do café,

concordamos com Marcuschi (2010a) e Ribeiro S. (2012) de que o imaginário de formalidade

de atividades acadêmicas pode inibir a participação dos alunos quanto o uso de diferentes

linguagens, que optam pela centralidade na escrita, conforme já sinalizado. Sobretudo quando

comparamos as participações de alguns desses mesmos alunos no espaço hora do café, onde

há uma relativa “informalidade”, em que se permitem usar linguagens menos acadêmicas com

maior abertura para a pluritextualidade no fórum, com vista a discutir o mesmo conteúdo,

além de vídeos, comentários de reportagem, entre outras práticas bastante comuns em outros

espaços sociais da Internet.

Mesmo não sendo objetivo de análise desta dissertação a presença e intervenções do

professor-tutor ao longo do fórum, sinalizamos que ele pode colaborar para que novos

questionamentos sejam apontados e discutidos, ou ainda, fazer feedback, redirecionar a

discussão quando houver mudança de foco (MOORE, 2008, MATTAR, 2012). Sua presença

é muito importante na perspectiva de encaminhar a discussão dentro do assunto esperado até o

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fechamento do fórum. À medida que os participantes são convidados a refletir, tendem a

assumir decisões mais conscientes e com maior aprofundamento; portanto, são necessárias

novas intervenções para retroalimentar com novos questionamentos à discussão, favorecendo

o despertar do interesse e da motivação dos alunos em participar e retornar ao fórum. Mas,

conforme dito anteriormente, esse não é o foco da presente análise.

Convém dizer que as propostas iniciais na abertura dos tópicos pela tutoria, ainda que

sucintas, foram elaboradas pela coordenação da disciplina para provocar reflexão e

contribuição dos participantes, não abrindo brechas para respostas como “sim” ou “não”. Se

por um lado foi possível identificar certa preocupação dos participantes em não se limitarem a

responder “concordo” ou “discordo”, por outro identificamos postagens que não

demonstraram, aparentemente, preocupação em dar continuidade ao turno da discussão, ou

limitaram-se a responder o questionamento inicial, conforme veremos a seguir.

6.3.1.4 Principais características dos Fóruns no AVA de PEII/CEDERJ

O segundo objetivo desta dissertação foi trabalhado com aprofundamento

bibliográfico no capítulo 03 e tomou como foco de discussão: caracterizar o gênero digital

fórum, suas linguagens e como é empregado na educação on-line.

Dos autores pesquisados e de suas vozes entrelaçadas, foi possível classificar o fórum

on-line como um gênero emergente nas relações mediadas pelo AVA e pela Internet.

De modo geral, ele rompe com a exigência da presença física de pessoas para debate

de determinado assunto, pois parte do pressuposto de que não é necessário o encontro face a

face de pessoas em torno de uma discussão coletiva para que os participantes possam

colaborar, trocar, opinar, concordar, discordar, interferir, entre outras possibilidades uns com

os outros, desde que ancorados nos recursos tecnológicos e comunicativos da Internet.

Embora não tenha sido criado com objetivos pedagógicos, o fórum on-line é um

gênero utilizado com grande frequência na EaD, fato que se reflete em publicações que

tratam do seu uso nessa modalidade educacional. O principal aspecto que pode diferenciar os

fóruns educacionais dos fóruns abertos na Internet é o fato de não haver anonimato, quando

realizado no AVA (seção 3.3).

Não é nosso objetivo definir de forma detalhada o gênero digital fórum on-line em

diferentes situações, mas salientar algumas características identificadas nos fóruns analisados

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nesta pesquisa. Durante a análise dos dados destacamos algumas características que

corroboram a literatura já discutida (seção 3.3).

Ao tratarmos de gênero, torna-se oportuno recuperar o posicionamento de Bazerman

(2009) de que a compreensão de gêneros não pode simplesmente estar limitada à busca de

características tipificadas para definir e diferenciar um gênero de outro, ação considerada

simplória para o autor. Tal posicionamento poderia levar ao erro de desconsiderar os aspectos

histórico e temporal das ações comunicativas.

O conceito de gênero como forma de vida e ação não foi discutido por Bazerman

tomando como referência especificamente os gêneros digitais, mas pode ser contemplado

também nesse contexto, a exemplo do fórum on-line, que não apresenta uma configuração

mais rígida ou completa como outros gêneros, como o e-mail, uma carta ou outro gênero

textual que apresenta. Numa carta, por exemplo, o conteúdo da mensagem apresenta-se com

maior completude e, em geral, linearmente. Em outras palavras, uma carta pode ser escrita de

forma linear considerando todas as informações pertinentes. No fórum, por outro lado, o

desenvolvimento depende das contribuições e respostas dos participantes. Nele não há

linearidade porque o fórum só termina quando os usuários pararem de postar mensagens.

Uma característica do fórum on-line é a possibilidade de construção coletiva marcada

pela inserção de mensagem que será resignificada, reconstruída à medida que outras

mensagens são postadas em outros tempos e espaços, pelos mesmos ou por outros

participantes. Assim, ao dizermos que o gênero fórum não tem uma configuração muito

rígida, estamos considerando uma constante construção de cada fórum, com mensagens de

crítica, de comentários, de esclarecimento, de concordância, mensagens que podem se

complementar, ou não dialogarem entre si ao longo do processo. Essa configuração, em boa

parte flexível e construída parcialmente pelos participantes em cada nova mensagem, torna

cada fórum único, marcado pelas contribuições coletivas em tempos e espaços variados.

Nessa direção, destacamos que embora os fóruns 2 e 3 tenham sido abertos do tipo

uma única discussão simples (opção que impede a abertura de outros tópicos pelos alunos),

foi possível perceber ao longo das discussões a construção de turnos com distintos objetivos

discursivos dentro do único tópico aberto.

Outra característica marcante, conforme brevemente já apontado, foi a predominância

da linguagem escrita (MARCUSCHI, 2010a) e acadêmica sobre outras formas de linguagens

principalmente nos fóruns 2 e 3. No entanto, também pudemos observar a ocorrência de

hibridizações de recursos da oralidade e da escrita (COSTA, 2009). No fórum hora do café,

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observamos que diferentes linguagens foram utilizadas além da escrita, caracterizando o que

Xavier (2010) chama de pluritextualidade (ver subseção 6.3.1.3).

Portanto, diante das discussões expostas na seção 3.3 e também nesta seção, podemos

sinalizar as principais características do fórum on-line no AVA de PEII do CEDERJ:

Não há anonimato;

Usado com objetivo pedagógico (podendo valer nota ou não);

Grande quantidade de participantes;

Comunicação todos X todos;

Predominância da linguagem escrita;

Possibilidade da pluritextualidade (combinação de múltiplas linguagens);

Não tem configuração muito rígida;

Permite a troca constante de papéis leitor/escritor, emissor/receptor;

Possibilita a interatividade;

Permite a troca de conhecimentos de forma coletiva.

Apresentamos as principais características do fórum identificadas no AVA de PEII não

como únicas possíveis, mas por terem sido as mais marcantes dentro do gênero digital

investigado durante a pesquisa realizada.

6.3.2 Perspectivas de uso do gênero digital fórum: uma proposta de estudo

Diante dos diferentes usos proporcionados pelo fórum entre os participantes

destacamos algumas perspectivas que diferenciam, de certa forma, a qualidade das

participações que ora apresentam maior aprofundamento e reflexões, além de estabelecer

relação com as contribuições dos demais, e ora com comentários mais superficiais ou sem a

preocupação de dar continuidade à discussão já estabelecida, limitando-se a responder a

provocação inicial. Frente a isso, apresentaremos a seguir dez principais categorias

identificadas no uso dos participantes dos fóruns 2 e 3.

Nomearemos e discutiremos cada uma delas com vistas à investigação das

características de uso em relação à interatividade e à construção de sentido no gênero digital

fórum on-line.

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Conforme já apresentado na tabela 5.3 (Etapas de análise de dados), construímos as 10

categorias durante a análise das mensagens postadas pelos estudantes no fórum 3.

Ressaltamos ainda que consideramos as características de uso dentro dos turnos e as

mensagens em seus contextos na discussão. Utilizamos as mesmas categorias identificadas no

fórum 3 para a análise do fórum 2 e do fórum Hora do café. As categorias de uso identificadas

nas mensagens publicadas pelos estudantes nos fóruns 2 e 3 e suas funções foram:

Quadro 6.1 - Principais categorias de uso do fórum on-line

Categorias de uso

identificadas nas

análises dos fóruns 2 e 3

Função

01 Fuga ou desvio Foge ou desvia a discussão do tópico principal

02 Resposta Responde somente à provocação inicial de abertura do fórum

03 Comentário Comenta o post de algum participante sem ampliar a

discussão.

04 Ampliação Amplia a discussão com algum aspecto do assunto que ainda

não havia sido discutido

05 Esclarecimento Retorna ao fórum para esclarecer algum comentário anterior.

Em geral, ocorre após intervenção do professor-tutor ou de

post de outro participante (nova postagem para

esclarecimento).

06 Novo questionamento Lança para o grupo um questionamento de desafio real que

está para além de conceitos e práticas previstas na literatura.

07 Indicação bibliografia Realiza indicação bibliográfica

08 Citação bibliografia Cita fragmentos bibliográficos no corpo do seu texto

09 Discussão bibliografia Discute conceitos bibliográficos procurando se apropriar

deles com suas próprias palavras

10 Inclusão de hiperlink Disponibiliza hiperlink para outros textos na Internet

(A partir da análise dos fóruns 2 e 3)

Cabe ressaltar que copiamos as mensagens literalmente dos respectivos fóruns, não

houve transcrição do original ou problemas na passagem para a dissertação. O texto está fiel

ao postado pelo estudante. Dessa forma, os fragmentos podem apresentar erros de português e

grafia, principalmente equívocos na acentuação. Em algumas mensagens haverá redução ou

corte para exemplificar a categoria tratada especificamente. Nesse caso haverá indicação com

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o “grifo meu”. Retiramos os nomes dos participantes para garantir o sigilo ético pertinente a

esta pesquisa.

Também é importante dizer que algumas participações contemplaram apenas uma das

dez perspectivas investigadas em uma postagem, outras podem, numa mesma mensagem,

abordar mais de uma categoria. Abaixo discutiremos pontualmente cada uma das tendências e

a frequência que foram identificadas nos fóruns 2 e 3.

01 - Fuga ou desvio

A perspectiva primeira do fórum on-line pedagógico é permitir a discussão de um

tema ou texto de forma coletiva, em tempos e espaços distintos (MOORE, 2008, MATTAR,

2012). É um espaço em que se reúnem professores-tutores e alunos com objetivo comum de

aprendizagem coletiva. Para tanto, é necessário que o fórum seja alimentado com as

contribuições dos participantes em torno de um objeto de estudo.

No entanto, nem sempre o participante segue essa premissa e insere uma postagem que

não dialoga com o tema em questão ou insere seu post no turno de maneira inadequada,

acarretando: uma fuga; um desvio do tópico proposto ou no turno de discussão, ou ainda; por

não ter acompanhado a debate inicial; por não ter entendido a proposta da discussão; como

uma tentativa de desviar o foco da conversa, entre outros motivos possíveis.

Tomamos como exemplo a postagem publicada como provocação (palavras do aluno)

por um participante. Mesmo sabendo que ela não coadunava com a discussão até então

desenvolvida no turno, ele insere a mensagem provocando um desvio no turno, uma fuga do

tema central.

Como verificamos na participação a seguir:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por *********

Boa Noite amigos "Cederjianos",

Vou causar uma provocaçao. Voces já perceberam que a maioria dos cursos do CEDERJ sao

de Licenciatura, o caçulinha é o curso de Geografia, que: também é de Licenciatura!!! Nao que eu esteja reclamando, pois até gosto do curso de Historia. Mas será que estamos sendo usados

para ampliar o numero de professores? Profissao com uma certa demanda, e os governos, com

destaque para o federal querendo fazer sua propaganda no avanço da educaçao no país. Será que somos peças de um processo de interesses camuflados? Se notarmos, o curso a distancia

favorece as pessoas que precisam trabalhar, e simultaneamente trabalhar e nao tem tempo,

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entao provavelmente a maioria nao é de uma classe abastada. Será que nos deram aquilo que

talvez os possuidores de poder do Estado nao queiram que seus filhos sejam: professores?

Será que podemos nos encaixar no tema do fórum: " RELAÇOES EXISTENTES ENTRE O

CURRICULO ESCOLAR E A PRODUÇAO DA EXCLUSAO NA SOCIEDADE E NA ESCOLA".

Se esses questionamentos tem fundamento nao sei. Mas descobriremos. Ah, descobriremos!

Opinioes sao bem vindas.

Outro exemplo, esse mais comum, podemos observar abaixo:

Re: FÓRUM Nº 2 (não pontuado) Como romper com a forma mecânica de aprendizagem sem

sentido para a vida e para o aluno? Por: *********

Olá *********.

Após alguns anos fora da sala de aula, estou retornado ao meu ritmo de estudo novamente,

confesso que com muitas dificuldades, (aprendizagem, trabalho e família), mas com sede de

conhecimento. Receber um elogio seu e um estimulo extra, para as longas noites de estudos, obrigado pela ajuda.

A fuga ou desvio do tópico inicial, nesse caso, apresenta diferença em relação ao

apresentado no exemplo anterior. Se antes havia no participante o intuito de provocar outra

discussão, mesmo que saísse do foco principal, no presente caso a inserção foi de inserir um

comentário pessoal em agradecimento, fato que fugiu da discussão do tema central que se

desenvolvia no turno.

Essa categoria foi identificada duas vezes no fórum 2 e 6 vezes no fórum 3; fato

bastante significativo porque houve uma baixa frequência de fuga ou desvio durante a

discussão do tema central.

02 - Resposta

Assim como ocorre no fórum presencial, o fórum de discussão on-line, não deve ser

um espaço para uma sequência de perguntas e respostas isoladas, desvinculadas de ligação ou

descontextualizadas, entre professor e aluno. A proposta é abrir para o diálogo entre os pares

que em colaboração, pela inter-relação, podem ampliar, discordar, concordar, entrelaçar

questões.

É esperado que inicialmente ocorra resposta diretamente ao questionamento inicial, no

entanto, com o desenvolvimento da discussão essa atitude deve ser evitada ou até desaparecer,

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pois novos turnos de discussões surgem, novos questionamentos e novas intervenções são

inseridas dando continuidade ao assunto.

Por isso é desejável que os participantes leiam e dialoguem com as mensagens já

publicadas. Caso contrário, a mensagem poderá até ser inserida dentro do tema, mas fora de

contexto na estrutura do fórum (solta no turno), deixando evidente que o participante não

acompanhou as discussões e limitou-se a responder a provocação inicial. Sem desconsiderar

também alguns aspectos ligados ao letramento digital no uso do gênero digital fórum, porque

para inserir uma mensagem em resposta ao tópico inicial basta clicar em responder no post de

abertura; caso o participante queira comentar outro post, que esteja no meio de um turno de

discussão, será preciso buscar a fala em questão e clicar em responder no post do outro aluno

ou do professor-tutor, evitando que a mensagem seja publicada fora do contexto desejado.

Foi possível observar a incidência de 9 respostas isoladas no fórum 2 e 26 no fórum 3.

Foi a característica de maior frequência ao longo do fórum 2. Há de se destacar que a

frequência dessa perspectiva no fórum 3 foi elevada no último dia de postagem, quando o

fórum estava às vésperas de ser fechado. Tomemos como exemplo o post a seguir, que após a

centésima publicação no fórum 3, depois de vários turnos abertos e do desenrolar da discussão

por diferentes vertentes, o participante, publica o seguinte post:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por ********* Entendo que a Escola pode provocar a exclusão devido a uma variedade de fatores e um deles é

o currículo. Um currículo rígido e sem possibilidade de diálogos entre os envolvidos na

comunidade escolar, centrado, muitas vezes nos resultados estatísticos acaba levando a desigualdades sociais e culturais e esta prática precisa ser revista. Nós como alunos de

graduação, devemos pensar em uma reformulação desse currículo e novas práticas

educacionais.

Observamos que o participante não acompanhou a discussão do fórum, pois suas

considerações são generalizadoras e sem aprofundamento, mesmo depois das discussões

iniciais do fórum já terem aprofundado alguns aspectos sinalizados na sua mensagem.

Certamente sua preocupação estava em postar uma mensagem em resposta ao questionamento

inicial do fórum desconsiderando as demais contribuições, porque era o último dia para

participar do fórum pontuado.

Atitudes semelhantes a essa identificamos no último dia do fórum 2 e, em maior

quantidade, no último dia do fórum 3 (pontuado), quando podemos verificar uma sequência

de participações que não dialogam entre si, porque tentam responder ao questionamento de

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abertura do fórum. Posturas assim deixam de lado a premissa do fórum que é o diálogo e a

troca coletiva entre os participantes.

03 - Comentário

Diferente daqueles que limitam-se à responder a questão inicial, há também os que até

leem algumas postagens, mas não ampliam a discussão. Inserem então uma mensagem apenas

comentando a publicação de outro membro.

O comentário não é em si um problema grave, mas a participação não pode limitar-se

a ele. Após o comentário, é desejável que o aluno retorne com novas considerações,

aprofundando o assunto, mas nem sempre ocorre assim. Conforme o exemplo abaixo:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por ********** Concordo com você. Algumas escolas supervalorizam algumas práticas e codutas e até normas

pré estabelicidas por elas . O que muita das vezes causa o preconceito, discriminação. E como

vimos essa não é a idéia do currículo. Mas sim, de uma educação com qualidade para todos, onde o respeito e os direitos e deveres devem ser cumpridos e respeitados. É preciso saber

respeitar a individualidade de cada um, mas também pensar no coletivo.

O participante insere sua contribuição no turno adequado e comenta a mensagem de

outro, mas não amplia a discussão estabelecida pelos demais porque, em geral, apenas

concorda com um comentário já realizado por outro participante. Por isso, o comentário

isolado tende a não provocar profundas reflexões para a construção de sentidos mais

complexos.

Outra característica do comentário é o uso dos nomes dos participantes para indicar

com quem se fala, a quem se refere, com quem concorda.

Re: FÓRUM Nº 2 (não pontuado) Como romper com a forma mecânica de aprendizagem sem

sentido para a vida e para o aluno? por **********

Olá pessoal,

Concordo plenamante com todos vocês(*********, ******* e ********) Temos que motivar

os alunos, fazendo com que eles construam e reconstruam o conhecimento, e implantar uma visão crítica para que eles possam vislumbrar um ponto de vista inovador e principalmente

confirmar a aplicabilidade do conhecimento no seu dia a dia.

Conforme lembrado por ********, atualmente somos bombardeados por informações que devem ser "filtradas". Alertar aos alunos que não há nenhuma prática (ensino, informação,

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filme propagando ou jornal) que seja de fato neutra.

O primeiro passo para nós professores rompermos com a formação mecânica da aprendizagem

é revermos nossas práticas em sala de aula.

Abraços *********

Interessante notar que nessa mensagem a participante faz uma primeira referência

geral usando “todos vocês”, a seguir destaca nominalmente com quem de fato concorda.

Depois ressalta pontualmente os aspectos que merecem destaques e faz o comentário, mas não

aprofunda a discussão.

O comentário foi identificado 5 vezes durante o fórum 2 e 42 vezes no fórum 3. Foi a

perspectiva com maior frequência no fórum 3, dados que demonstram o interesse dos

participantes em estabelecer uma certa ligação entre as postagens, a preocupação em manter o

diálogo, de criar vínculo dirigindo-se uns aos outros pelo nome, mesmo que algumas vezes

sem ampliar o tema em questão.

04 - Ampliação

Após aberto, o fórum passa a ser construído a cada participação. À medida que novas

contribuições são postadas, novos comentários surgem. Em geral, espera-se que novos

comentários tragam à luz novas perspectivas que ampliem a discussão. Então, muito mais que

uma resposta isolada, ou um simples comentário, a mensagem pode vir a ampliar o debate

proporcionando abertura para novas entrelinhas da discussão. Como exemplificado abaixo:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por *********

Há uma questão a ser debatida que trata do respeito aos educandos em sua individualidade. Sei

que é difícil para a maioria das pessoas, a idéia de que nós, os humanos, somos seres únicos,

portanto é na diversidade do meio social e especialmente no ambiente escolar que o enriquecimento das trocas, dos intercâmbios, sociais e culturais, interagem no sentido de incluir

e não excluir.

O participante entra no turno de discussão e sugere uma perspectiva que ainda não

havia sido mencionada pelo grupo, seu objetivo foi de ampliar a discussão com um novo

aspecto.

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Re: FÓRUM Nº 2 (não pontuado) Como romper com a forma mecânica de aprendizagem sem

sentido para a vida e para o aluno? Por *********

Pois é ********, mas precisamos estar conscientes de que quando falamos em motivação para o aprender não estamos falando simplesmente em motivar os estudantes com tarefas

interessantes, mas sim de criar um ambiente que lhes permita motivarem-se a si mesmo. Por

isso, nós, futuros educadores, precisamos centrar nosso interesse no entorno ou na situação de aprendizagem, que provoque uma mudança direta sobre os componentes pessoais dos

estudantes. Para isso devemos selecionar atividades ou situações de aprendizagem que

ofereçam aos alunos desafios razoáveis diante das novidades, ajudando-os na tomada de decisões, fomentando sua responsabilidade e independência, além de ajudá-los a desenvolver

suas habilidades de autocontrole. Algumas decisões podem ajudar nós professores a influenciar

na motivação dos alunos para aprender, tais como: a natureza da tarefa pedida aos alunos, a

autonomia que se permite a estes na realização das tarefas, a maneira como reconhecemos as conquistas deles, o trabalho em grupo, os procedimentos de avaliação e a programação do

tempo na aula. Porém, esses aspectos devem levar em conta os problemas e situações da vida

real que os alunos enfrentam fora da sala de aula, para que estes possam reconhecer o valor e a utilidade de seu aprendizado.

Diante do exposto, é possível perceber a preocupação em ampliar as considerações

postadas previamente no turno. Identificamos 6 ampliações no fórum 2 e 14 no fórum 3. Tal

característica é importante porque, mais que comentar, essa publicação amplia com novas

considerações acerca do assunto discutido.

05 - Esclarecimento

No fórum pedagógico on-line, os participantes têm liberdade para postar mensagens

livremente, de forma aberta e democrática, às vezes, sem muita intervenção. Mas devem estar

constantemente acompanhados pelo professor-tutor que realizará as intervenções quando

necessário. Tal postura do professor-tutor colabora para a compreensão de que os

participantes não estão sozinhos.

Mesmo diante do aparente distanciamento para evitar, por vezes, postar muitos

comentários, o mediador deve estar atento para corrigir possíveis desvios ou compreensões

inadequadas dos conteúdos ou temas discutidos. Quando ocorre a intervenção do professor-

tutor, espera-se que o participante retorne com novos esclarecimentos. Mas nem sempre o

retorno do participante ocorre. A seguir, um exemplo de retorno do participante com

esclarecimento após intervenção da tutoria.

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Re: FÓRUM Nº 2 (não pontuado) Como romper com a forma mecânica de aprendizagem sem

sentido para a vida e para o aluno? Por ********

Olá tutora , quiz dizer , o que aprender e como aprender,conhecimento que cada pessoa entende ao seu modo, tempo , forma , estrutura seu raciocínio. Temos a chance de reconhecer processos

cognitivos.Como nós do CEDERJ , que temos que ir em busca da compreensão , forma

caminho do aprendizado,exercer a influência sobre a motivação .você acaba de me motivar para estudar ,não sabia o que é metacognição , você ajudou , porque tive que pesquisar para saber

do que está falando.

Como organizar nossos estudos ,decidir estratégias, reconhecer as nossas dificuldades , ir em busca do saber ! Parabéns vc é uma formadora de estudantes pensantes.

O post começa direcionado à tutora, com um posicionamento que procura esclarecer

algo já discutido previamente, então retorna e começa com um “quis dizer”, ou seja, tenta

esclarecer uma afirmativa que não ficou clara no comentário anterior. No entanto, pode

acontecer que mesmo com o esclarecimento, a mensagem ainda não tenha contemplado

claramente a questão, nesse caso, e, se necessário, novas intervenções podem ser realizadas.

Vemos no exemplo acima o quanto é importante para o aluno perceber que suas falas

(escritas) estão sendo ouvidas (lidas) com atenção. O feedback, ainda durante a discussão no

fórum, possibilita que os conceitos sejam sinalizados e reformulados durante e não deixados

para o final da atividade. Os novos esclarecimentos demonstram esforços, às vezes avanços na

compreensão, favorecendo a construção de sentido do conteúdo estudado.

O esclarecimento apresentou baixa frequência nos fóruns analisados, contemplando 2

mensagens no fórum 2 e apenas 3 no fórum 3. Parece haver certa inibição dos participantes

em retornar para dizer novamente o que já havia sido dito de modo a esclarecer alguns pontos

pouco claros, mesmo que assumam novos posicionamentos ao longo das discussões on-line.

06 – Novo questionamento

Cada fórum na disciplina PEII é desenvolvido por um período em torno de oito ou dez

dias, aproximadamente, outros podem durar mais ou menos tempo. Diante do período aberto

para discussão, nada mais natural que a discussão caminhar, avançar por novos

questionamentos que podem ser direcionados pelo professor-tutor ou por outros participantes

da discussão.

Quanto mais os novos questionamentos partirem dos alunos, melhor tende a ser a

qualidade das discussões estabelecidas e, consequentemente, a construção de conhecimento

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pelo grupo, porque identificar novos questionamentos demanda reflexão, investigação,

identificação de problemas e, principalmente, busca de meios para saná-los ou minimizá-los.

A seguir observamos um exemplo:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por **********

O tema do fórum nos faz refletir sobre a escola que queremos. A LDB estabelece no Art 3º que: o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o

acesso e permanencia na escola;

Mas garantir o acesso do indivídua à escola, não é o mesmo que garantir a permanencia. Ao estudarmos a história da educação no Brasil, percebemos que a deficiência educacional e a

exclusão, vem de muitos anos desde a colonização, gerando graves consequencias.

Ações do governo vem sido implantada para tentar amenizar os problemas. Mas enquanto não se reorganizar o sistema educacional, de maneira a favorecer a todos e não só a uma classe

, o ensino continuará precário e a exclusão e a defasagem escolar sempre existirão.

A palavra inclusão está em alta, mas será que as escolas e educadores estão preparados para

isso? Como incluir um indivíduo que já sofre com a exclusão social numa escola onde os conteúdos são para ir de encontro aos interesse da classe dominante favorecendo ainda mais a

classe favorecida e excluindo ainda mais os menos favorecidos.

As participações serão mais interessantes e motivadoras à medida que novos olhares

desafiadores surgirem agregados à discussão em andamento. A diferença entre a característica

de ampliação da perspectiva de novos questionamentos é bem sutil, e pode ser despercebida

diante de um olhar desatento.

A ampliação traz à luz um comentário novo na discussão, propõe um aspecto ainda

não abordado pelos participantes até aquele ponto do debate, mas que pode tranquilamente ser

defendido pelos integrantes com base em pressupostos teóricos ou mesmo com base em

experiências práticas de outros participantes.

O novo questionamento lança para reflexão do grupo um desafio a ser alçado, um

desafio que não encontrará respostas prontas nos livros ou teorias, por isso demanda grande

esforço coletivo para construção de possíveis alternativas elaboradas em coautoria pelos

participantes. Para isso, é necessário debruçar sobre o problema com posicionamento criativo

e crítico. O novo questionamento pode inclusive não chegar a encontrar uma resposta, um

consenso, mas ao ser discutido profundamente pelo grupo colabora com novas reflexões que

podem ser o início de futuras alternativas reais ou pelo menos amplia o conhecimento

educacional, político, social e cultural dos participantes.

A frequência do novo questionamento foi reduzida no fórum 2 com apenas 2

mensagens, no fórum 3 percebemos o interesse nos participantes em aprofundar as questões

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com 14 posts nessa perspectiva, fato que colabora para um fórum mais questionador e

provocador de criatividade e criticidade.

07 - Indicação bibliográfica

Na seção 6.2 que discute a visão dos alunos sobre o fórum, foi possível verificar que a

construção de aprendizagem nesse gênero digital foi atribuída por eles, entre outros aspectos,

à função de pesquisa proporcionada pelo fórum, tanto dentro desse gênero digital quanto fora.

As três próximas perspectivas estão diretamente relacionadas aos aspectos

bibliográficos e a última remete a criação de hiperlink a partir de indicação do participante.

Por se tratar de fóruns pedagógicos, recorrer a suporte teórico, indicar, comentar e citar

bibliografia é bastante comum para embasar as falas e posicionamentos durante a discussão.

O fórum 3, em particular, apresentou um número maior de participantes que optaram por

esses recursos. Não houve indicação e citação bibliográfica no fórum 2. Por outro lado, no

fórum 3 identificamos 3 mensagens de cada uma das categorias discutidas aqui. No entanto, o

fórum 3 apresentou a frequência de 17 postagens com discussão bibliográfica.

Poderíamos ter inserido as três ações em uma única perspectiva, mas entendemos que

durante a discussão no fórum elas demandam condições distintas para aquele que publica a

mensagem e também para os que a leem. Portanto, trataremos separadamente cada uma,

embora não sejam excludentes.

A indicação bibliográfica é importante e pode desencadear interesse nos outros

participantes em buscar as fontes sugeridas quando se fizer necessário. No entanto, quando

não são citadas ou comentadas dentro de um contexto significativo tendem a ficar para uma

leitura futura, sempre como segunda opção, que em geral não se efetiva, como na indicação

na publicação a seguir, onde o participante expõe sua consideração e indica, mesmo que

indiretamente, o Módulo I da disciplina de Fundamentos da Educação 3:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por **********

Olá ***** você tem razão.

Existe vários tipos de exclusão um dele e a escola pois ela e um grande fator de exclusão social,por causa da forma como funciona o sistema de ensino para a maioria da população. Os

mais pobres,os indígenas e os negros são os que são mais atingidos pela forma da exclusão nas

escolas e na sociedade. Não podemos esquecer dos portadores de necessidades especiais,neste

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ponto o currículo deve ser atualizados para poder atender nas escolas, não só os portadores de

necessidades especiais,mas incluir todos os alunos,sem descriminação e exceção. Pois na

realidade todos nos temos um pouco de “necessidade especial” afinal não somos perfeitos.

Modulo 1 fundamentos da educação 3

O gênero fórum permite a inserção de arquivos, links que nem sempre são utilizados

pelos participantes quando se trata de fórum pedagógico, pelo menos quando não são

solicitados explicitamente.

No entanto, pode ocorrer também de o estudante indicar uma bibliografia e incluir um

hiperlink para acesso à bibliografia. Neste caso, portanto, encontraremos duas categorias

combinadas numa mesma mensagem: a indicação bibliográfica e a inclusão de hiperlink

(neste caso, para a própria indicação bibliográfica), conforme será exemplificado na categoria

10.

08 - Citação bibliográfica

A citação bibliográfica é um recurso utilizado para ancorar nos textos orais ou escritos,

posicionamentos teóricos e conceituais com base em autores, pesquisadores e/ou estudiosos

de determinado assunto discutido. Ao usar a citação procuramos dar credibilidade ao que

estão afirmando ou negando. Quando bem aplicada pode aprofundar o conhecimento daquele

que realiza a pesquisa, a fim de inserir uma citação na própria mensagem, quanto daquele que

faz a leitura da publicação, pois passa a ler a escrita com o entrelaçar de outras vozes.

No entanto, nem sempre a citação é aprofundada, pode em algumas vezes permanecer

solta no texto e em outras pode ter sido selecionada com a intenção de dar credibilidade ao

que foi ou será dito, mas na verdade, não estabelece relação conceitual com a discussão.

Mesmo com essas fragilidades, a citação, quando inserida no fórum, pode servir para

despertar interesses, críticas e levar a novas pesquisas. Pode apresentar para o grupo falas,

comentários, pressupostos teóricos de autores menos conhecidos e/ou fazer ecoar a voz

daqueles amplamente utilizados pelos participantes. Selecionamos dois exemplos de citação

bibliográfica, conforme segue:

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Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por ********

Olá tutora *******, Concordo com à nossa companheira **********, acima, quando se refere ao modo técnico e

metódico, arraigado da nossa Educação, que não da chance a história de vida do aluno. E

guando se refere as diferença de Escolas Particulares e Públicas.

[...] Gostaria de encerrar com uma frase, em relação ao exposto acima.

“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa

no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”

Paulo Freire.

(Grifo nosso)

Há uma informação fundamental que é apresentada no segundo exemplo (a seguir),

mas omitida no primeiro que é a indicação da fonte pesquisada. Mesmo que a indicação não

esteja completa no exemplo a seguir, porque falta o título da obra, houve a intenção do

participante de tornar possível ao leitor buscar o documento na íntegra, o texto original, como

segue:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) “Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a produção da exclusão na sociedade e na escola/” por **********

O currículo escolar, sendo histórica e socialmente construído, não é neutro, pois é elaborado

tendo em vista perpetuar as relações de poder. Os espaços escolares também não são neutros e devem ser considerados como fazendo parte do currículo escolar, uma vez que também educam.

[...] De acordo com Veiga-Neto (2002, p. 170),

[...] o currículo é um artefato que foi engendrado tanto ‘a serviço’ da

ordem e da representação quanto ‘a serviço’ das novas lógicas espaciais e temporais que se estabeleceram nos limiares da Modernidade.

(Grifo nosso)

Em ambos os casos, os participantes utilizam a citação para fechar seus textos. Não há

preocupação em estabelecer comentário entre a mensagem citada e os pressupostos dos

autores. Ao deixar que a citação fale por si mesma pode tornar a mensagem vaga ou ampla

demais, provocando até interpretações equivocadas.

Mesmo assim, em se tratando de discussão no fórum on-line, postar citação demonstra

interesse do participante em pesquisar informações que dialoguem com o tema em debate que,

de certa forma, pode ter colaborado para ampliar seu próprio conhecimento acerca do assunto

discutido e dos demais. Como já comentamos, não houve indicação bibliográfica no fórum 2 e

ocorreram 3 no fórum 3.

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09 - Discussão bibliográfica

A discussão bibliográfica surge de maneira diferente do uso do indicar ou citar a

bibliografia. Discutir envolve um aprofundamento nos pressupostos conceituais, filosóficos,

políticos, educacionais e culturais do teórico que se propôs investigar. Então, para que a

discussão bibliográfica surja é preciso primeiramente um mergulhar nos aspectos inerentes

aos estudos do autor em questão. Para isso é preciso estudo, reflexão, introspecção. Somente a

partir desses momentos é possível falar, comentar com profundidade conceitos definidos por

determinados estudiosos. Seria o ato de falar com suas próprias palavras, discutir o que é

defendido por outro; nesse caso, o autor e sua teoria. Conforme exemplo a seguir:

Re: FÓRUM Nº 2 (não pontuado) Como romper com a forma mecânica de aprendizagem sem

sentido para a vida e para o aluno? Por **********

Aprendizagem Mecânica, segundo Ausubel, ocorre quando novas informações são

aprendidas praticamente sem interagir com conceitos relevantes existentes na estrutura

cognitiva.

É um desafio promover uma educação de qualidade e significativa. Apredizagem

mecânica é memorizar e decorar. Aprendizagem significativa é dominar o conhecimento

para aplicá-lo em situações que forem apresentadas no dia a dia, como cidadão ativo e

participativo.

Para rompermos essa barreira mecânica na educação, devemos fazer um planejamento,

objetivando aulas mais didáticas e ativas, com participação dos alunos e suas vivências fora

de aula, levando-os relacionarem a aula com o meio em que vivem e auxiliando-os a

desenvolver um senso crítico.

(Grifo do autor)

A discussão bibliográfica, quando realizada com perspicácia pelos estudantes pode levar a

novas descobertas, sanar algumas dúvidas e servir de fonte de pesquisa também para os

demais alunos, conforme afirmaram na subseção 6.2., que discute a visão, a perspectiva e as

vozes dos alunos sobre o fórum. Outro exemplo de discussão bibliográfica:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por *********

Li a pouco tempo sobre dois autores (maravilhosos) Inês Oliveira Barbosa e Roberto Macedo

que falam de currículo.

Na maioria de seus textos eles falam desse currículo que conhecemos (um bom exemplo é o currículo mínimo) e o currículo que criamos no dia a dia. Macedo chama de atos de currículo e

Barbosa de currículo praticado. São ações que estão para além do currículo engessado e que são

criadas pelos professores, pelos alunos, pelos pais etc.

[...] (Grifo nosso)

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A discussão nem sempre apresenta a fonte pesquisada, mas apresenta explicitamente o

nome do teórico e seus principais pressupostos, algumas vezes articula o pensamento de mais

de um teórico como no exemplo anterior.

Essa perspectiva de participação foi identificada 2 vezes no fórum 2 e 17 no fórum 3,

mensagens que colaboram para aprofundar o tema discutido articulando uma relação com

documentos legais e teóricos vigentes.

Na subseção 6.2, os alunos destacaram que o fórum colabora para a construção de

aprendizagem e sinalizaram, para tanto, alguns aspectos, dentre eles o fórum como um espaço

de pesquisa. Enquanto fonte de pesquisa pontuaram duas vertentes possíveis: que ela pode

ocorrer dentro do próprio fórum, nesse caso incluímos as indicações, citações e discussões

bibliográficas, e fora do fórum, na qual poderíamos incluir as pesquisas realizadas de forma

autônoma pelos participantes fora do fórum, em livros, artigos, sites, portais virtuais, etc., e/ou

aquelas motivadas a partir das indicações, como citações ou discussões de outro aluno no

fórum.

10 – Inclusão de Hiperlink

O gênero digital fórum do Moodle oportuniza a inserção não apenas de arquivos

privados, mas de hiperlinks de sites, portais de diferentes espaços virtuais da Internet. Se o

fórum por si só, pode apresentar uma proposta de coautoria entre os participantes, com o

hiperlink a relação de colaboração e compartilhamento é potencializada, porque permite uma

nova relação dentro da sala virtual no AVA, uma vez que abre espaço para múltiplas

conexões fazendo do aluno autor e não mais um elemento passivo na relação com a

aprendizagem. Conforme observamos nos exemplos que se seguem:

A postagem a seguir apresenta estreita relação com a categoria 7 (indicação

bibliográfica). No entanto, além de indicar a bibliografia ela demonstra como pode ser

importante recorrer aos diferentes recursos tecnológicos disponíveis na comunicação a

distância para compartilhar conteúdo.

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por **********

estratégias e práticas em aulas inclusivas.pdf OI ********** Falar de escola inclusiva significa, como vimos em nossas aulas, abordar uma

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temática pelo prisma caledoscópio, com várias caras e planos, para uma aprendizagem e um

rendimento de qualidade e exigente com as capacidades de cada estudante. Ou seja, a atenção a

diversidade deve reger o ensino com o objetivo de proporcionar a todos os alunos uma

educação adequada as suas características e necessidades. Para cumprir com esse papel, os docentes devem contar com conhecimentos de diferentes

disciplinas acadêmicas que lhes permitam compreender, assumir, planejar, justificar e refletir

sobre suas próprias práticas e formas de agir, para alcançar o objetivo de tirar o máximo possível de cada um de seus alunos, em aulas onde todos os alunos possam aprender juntos, tais

como situações de aprendizagem cooperativa, o desenvolvimento de uma linguagem de prática

comum entre o professor e os alunos, assim como a criação de condições como o intercâmbio de experiências práticas através da observação e do diálogo.

SUGESTÃO DE ESTUDO: SUGIRO O TEXTO EM ANEXO QUE CONTÉM ALGUMAS

ESTRATÉGIAS E PRÁTICAS DE AULAS INCLUSIVAS.

A participante faz a indicação e anexa um arquivo do texto em PDF na própria

mensagem. Além disso, usa caixa alta para destacar a importância de lerem o material

disponível. Certamente essa atitude pode facilitar o acesso dos demais ao texto sugerido,

evitando que precisem fazer pesquisas para encontrá-lo ou que percam o interesse pela leitura,

porque ter acesso ao texto no momento da discussão pode ser um fator que motive a leitura do

material de estudo.

Outro exemplo de inclusão de hiperlink pode ser observado no exemplo a seguir:

Re: FÓRUM Nº 3 (pontuado) "Quais as relações existentes entre o currículo escolar e a

produção da exclusão na sociedade e na escola/" por ********** Ao observar que o tema Educação é uma prioridade nas lideranças brasileiras sejam elas do

Legislativo, do Executivo e das empresas ligadas à educação, uma das principais discussões é

como a modificação do currículo pode colaborar com o processo de transformação do ensino tradicional para o ideal.

[...]É preciso que o currículo seja integrado com trabalhos, estudos dirigidos, projetos,

matérias transversais, projetos de vida, iniciativas fora da escola, ambiente formativo e a

mudança no papel do professor.

Em relação a notícia que mencionei na última postagem, do Estadão, dentre os 144 países que

foram avaliados, o Brasil aparece no 116.º lugar em educação, atrás, por exemplo, de Chade, Suazilândia e Azerbaijão. Em ciências, Venezuela, Lesoto, Uruguai e Tanzânia estão melhores

posicionados no ranking que o Brasil, que ocupa a 132.ª posição. O resultado é uma estagnação

no avanço da tecnologia no Brasil, apesar dos investimentos públicos em infraestrutura e de um certo dinamismo do setor privado nacional. Na América Latina, países como Chile, Panamá,

Uruguai e Costa Rica estão melhores preparados para enfrentar o mundo digital que o Brasil.

(leiam a matéria inteira: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,qualidade-do-ensino-

freia-adaptacao-do-brasil-ao-mundo-digital,1019423,0.htm)

[...] Acho que é quase tudo, enfim há muito ainda o que se debater!

(Grifo nosso)

A partir do hiperlink discutido no exemplo anterior, o conhecimento deixa de ser

organizado como um sistema arborescente e aproxima-se daquele entendido enquanto um

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rizoma, porque parte do fórum para outros espaços da Internet; portanto, fora do AVA. No

pressuposto do rizoma, os conhecimentos estão interligados numa rede e podem ser acessados

de pontos diferentes (LEVY, 1993, KENSKY, 2012, SILVA M., 2012).

No caso do fórum no AVA o pressuposto do rizoma ainda não é possível plenamente,

mas, em parte sim, pois permite o movimento de ida para outros espaços a partir do hiperlink

postado na mensagem, mas ainda não há possibilidade de migrar de outros espaços para o

fórum sem permissão para acesso (senha), pois se trata de um espaço restrito de

aprendizagem.

A frequência dessa categoria por iniciativa dos estudantes ainda não é elevada no

fórum pedagógico. Percebemos que quando não é solicitado que o aluno faça a inclusão de

hiperlink ele tende a não fazê-lo. No fórum 3 identificamos 4 mensagens para essa perspectiva

e não houve inclusão de hiperlink no fórum 2.

6.3.3 A construção de sentido e a interatividade nos pressupostos de Marco Silva (2012)

As características de uso no fórum on-line pedagógico, discutidas e exemplificadas na

subseção anterior (6.3.3), serão recuperadas aqui não somente com a finalidade de auxiliar nas

inferências, contextualizações ou categorização das postagens, mas, e, sobretudo, para

viabilizar a discussão da relação entre as perspectivas de postagens com a construção de

sentido e de interatividade no gênero digital fórum.

Entendemos que, a partir da análise de uso de cada mensagem postada, há

possibilidade de identificarmos a qualidade dela no contexto de discussão do fórum (no fluxo

de mensagens), considerando aspectos relacionados à construção em coautoria, inter-relação

com os demais e com as pluritextualidade (XAVIER, 2010). Dessa forma, torna-se possível

também verificar se as postagens podem colaborar ora mais ora menos, para a construção de

sentido e para a interatividade entre os participantes.

De acordo com os pressupostos teóricos de Silva M. (2012), discutidos na subseção

4.3.5., os fundamentos da interatividade estão ancorados em três binômios que se combinam,

apresentando aspectos distintos, mas não excludentes. São eles: Participação-intervenção,

Bidirecionalidade-hibridação e Permutabilidade-potencialidade. Recuperamos, brevemente,

cada um desses conceitos a seguir.

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Silva M. (2012) compreende por Participação-intervenção a ação ativa do aluno na

construção do conhecimento. Frente a isso, sua atuação não pode limitar-se a responder “sim”

ou “não”, ou mesmo escolher uma opção dada, porque espera-se que possa interferir na

mensagem e entender que o conhecimento está em constante processo de construção,

envolvendo os outros atores, como professor-tutor, demais alunos.

Sobre esse aspecto, Participação-intervenção, o gênero digital fórum on-line traz em

si uma proposta de debate aberto e amplo. Portanto, sua proposta inicial deve ser elaborada

com propósito de abrir para a discussão coletiva. Assim, não atende aos objetivos desse

gênero digital propor um tópico que aceite como resposta “sim” ou “não”, ou mesmo,

“concordo” ou “discordo”.

No entanto, apenas inserir uma mensagem descontextualizada ou sem articular a

discussão com os demais participantes não configuraria a intervenção. Ou seja, por mais que

o aluno insira uma participação (porque fez um post), não contemplaria, nesse caso, o aspecto

da intervenção porque sua mensagem ficou “solta”, desarticulada da discussão e dos

conhecimentos de outros participantes. Podemos dizer que esse participante demonstrou não

compreender que o conhecimento é construído durante o processo coletivo por todos,

comprometendo assim, a concepção de interatividade e de construção de sentido.

O binômio Bidirecionalidade-hibridação está centrado na possibilidade da coautoria.

Rompe a fronteira entre autor e leitor, emissor e receptor. A participação ativa entre os

participantes deve ser uma via de mão dupla que envia e recebe mensagens, de forma

autônoma e democrática. As colaborações são então hibridizadas, tornando-se uma só, porque

traz em si a ideia da fusão.

Esse binômio é plenamente atendido no gênero digital fórum. Sua proposta é

favorecer um espaço de discussão a distância em que todos possam elaborar novos

conhecimentos sem a divisão entre autor e leitor. Em termos gerais, todos são emissores e

receptores, alternando o papel ao longo do fórum. Com exceção daqueles que relatam apenas

usar o fórum como espaço de aquisição de informações, e preferem acessar para realizar

leitura (receptor) sem colaborar com mensagem na discussão (subseção 6.2.1).

A coautoria se faz presente porque o conhecimento construído nos turnos, a partir do

diálogo constante, demonstra que o sentido da discussão tem sido alcançado pelos

participantes envolvidos e que juntos constroem um todo, produto híbrido das muitas vozes e

linguagens.

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A Permutabilidade-potencialidade está ligada aos avanços da tecnologia digital que

ampliou a capacidade de armazenamento de dados e potencializou a liberdade de

combinações possíveis, inclusive para novas e distintas narrativas.

O Moodle torna possível armazenar e compartilhar arquivos, dados, links, com uso de

diferentes linguagens. Portanto, o AVA usado pelo CEDERJ é plenamente capaz de viabilizar

combinações distintas. No gênero fórum, portanto, é possível inserir links diversos, anexar

arquivos, colar imagens, entre outras possibilidades.

O gênero digital fórum on-line permite a permutabilidade entre linguagens e

associação entre a capacidade de armazenamento de dados e de combinações entre eles. De

igual modo, encontramos no fórum a capacidade de abertura para produção de novas

narrativas configurando a potencialidade própria do gênero.

No entanto, para que de fato a permutabilidade e a potencialidade sejam colocadas em

prática, dependerá do uso que se fará das ferramentas digitais e, sobretudo, da permissão em

ousar novos caminhos de construção de conhecimento e de leituras do mundo. Em algumas

vezes, exigirá mudança de paradigmas ainda cristalizados na educação, conforme veremos a

seguir. Por isso, não seria prematuro afirmar que esse binômio, atualmente, depende mais da

ação dos participantes inserindo os links e/ou arquivos diversos do que da tecnologia de

comunicação adequada para tal, até porque, muitas delas já estão disponíveis.

Observamos durante a análise, que nos fóruns pedagógicos abertos pela tutoria, os

alunos optaram pelo discurso acadêmico escrito, com poucas exceções para os que inseriram

links. As diversas possibilidades da Permutabilidade-potencialidade praticamente não foram

utilizadas. No entanto, no fórum hora do café, espaço menos formal (na visão dos alunos)

observamos um movimento diferente. Nele os participantes compartilharam vídeos,

reportagens, com liberdade para discussão. Situação que evidencia um paradigma ainda

existente na educação que precisa ser superado, em que há separação entre espaço formal de

educação centrado na escrita e espaço informal de educação com abertura para outras

linguagens. Fato que ainda limita o desenvolvimento da interatividade em sua potencialidade.

Diante do exposto, segue quadro 6.4 com as dez categorias identificadas nessa

dissertação e seus desdobramentos quanto à construção de sentido e de interatividade de

acordo com os binômios elencados por Marco Silva (2012).

Cabe ressaltar que construímos as categorias a partir da análise dos fluxos das

mensagens no fórum 3, conforme já sinalizado (tabela 5.3). Portanto, para as reflexões

realizadas no quadro a seguir, tomamos como ponto de partida as categorias e suas funções

identificadas nesta pesquisa e estabelecemos relações entre elas e o conceito de interatividade,

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segundo os binômios de Silva M., além de discutirmos no contexto teórico a construção de

sentido ou conhecimento, em cada categoria.

Quadro 6.2 - Características de uso do fórum on-line, interatividade e construção de sentido Categoria de uso Função Interatividade

(Binômios de Silva, 2012)

Construção de

sentido

Fuga ou desvio Foge ou desvia a

discussão do tópico

principal

Baixo nível de interatividade –

apenas faz o post

Não há dentro do

tópico discutido

Resposta Responde somente a

provocação inicial de

abertura do fórum

Baixo nível de interatividade

limitada à Participação

Desconsidera a atuação dos demais participantes e foca no professor-

tutor

Pode até ocorrer à

nível baixo e

restrito – individual

Comentário Comenta o post de

algum participante

Baixo nível de interatividade –

limitada à Participação

Estabelece contato com o outro,

mas não interfere na mensagem (em

termos de conceito)

Nível baixo e

restrito – não

colabora com novos

apontamentos

Ampliação Amplia a discussão

com algum aspecto do

assunto que ainda não

havia sido discutido

Participação-intervenção

Bidirecionalidade-hibridização

Pode ocorrer

construção de

sentido em

coautoria.

Esclarecimento Retorna ao fórum para

esclarecer algum

comentário anterior. Em geral, ocorre após

intervenção do

professor-tutor ou de

post de outro

participante.

Participação-intervenção

Bidirecionalidade –hibridização

Possibilidade de

construção de

sentido num aspecto reflexivo

individual na

coletividade.

Novo

questionamento

Lança para o grupo um

questionamento de

desafio real que está

para além de conceitos

e práticas previstas na

literatura.

Participação-intervenção

Bidirecionalidade-hibridização

Possibilidade de

construção de

sentido num

aspecto mais amplo

e questionador.

Indicação

bibliográfica

Realiza indicação

bibliográfica

Participação intervenção

Bidirecionalidade-hibridização Permutabilidade-potencialidade

(quando anexa documentos)

Intencionalidade na

ação para construção de

sentido em

coautoria

Citação

bibliográfica

Cita fragmentos

bibliográficos no corpo

do seu texto

Participação-intervenção

Bidirecionalidade-hibridização

Intencionalidade na

ação para

construção de

sentido em

coautoria

Discussão

bibliográfica

Discute conceitos

bibliográficos

procurando se

apropriar deles com

suas próprias palavras

Participação-intervenção

Bidirecionalidade-hibridização

Intencionalidade na

ação para

construção de

sentido em

coautoria

Inclusão de

hiperlink

Disponibiliza hiperlink

para outros textos na Internet

Participação intervenção

Bidirecionalidade-hibridização Permutabilidade-potencialidade

Intencionalidade na

ação para construção de

sentido em

coautoria

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188

Ao observar com mais atenção percebemos que algumas perspectivas de postagens

favorecem para um fórum com mais interatividade que, consequentemente, pode favorecer a

construção de sentido pelos estudantes, outras colaboram para que tenha menor interatividade,

situação que pode levar, a problemas ou limitações na construção de sentido por eles.

Destacamos que as três primeiras características identificadas nesta dissertação como

perspectiva de uso do fórum (fuga ou desvio, resposta, comentário), apresentam baixo nível

de interatividade e podem comprometer a construção de sentido. Ressaltamos que mesmo não

interferindo na discussão, do tema em debate, estamos considerando ações de inserção de

mensagens no fórum como de baixo nível de interatividade, porque direta ou indiretamente a

postagem permanecerá no texto do fórum, dialogando ou não com ele.

A categoria fuga ou desvio surge pela inserção de um comentário que foge ao tema

principal. Não promove uma ação mais intencional ligada à interatividade com os demais, a

não ser a atitude de postar o comentário, a participação seria limitada à ação de entrar no

fórum e realizar um post. Mas não é esse tipo de participação que se espera no fórum, atitude

que, em geral não favorece a construção de sentido porque não dialoga com o tema em

debate. Por isso, é considerada como uma categoria de baixo nível de interatividade (ver

quadro 6.5 abaixo).

Outra ação que promove baixo nível de interatividade está relacionada ao ato de

responder somente a provocação inicial de abertura do fórum, desconsiderando as discussões

já estabelecidas pelos participantes nos turnos em andamento. Essa atuação limita a

interatividade porque não permite a troca horizontal, o diálogo aberto; no máximo está para

participação sem intervenção, porque desconsidera a colaboração do outro no processo de

aprendizagem, limitando a construção de sentido que pode ocorrer a nível individual e

restrito.

Outro aspecto que difere do anterior, mas também pode limitar a interatividade é o

comentário, porque ocorre quando há intenção de comentar algum post de outro participante,

sem preocupação em intervir na mensagem. Dessa forma, também não colabora para novos

conhecimentos.

Categorias que apresentam diferenças entre si podem colaborar para que haja maior

interatividade nas mensagens. Ao ampliar o debate, pontuando um aspecto que ainda não

havia sido abordado na discussão, o estudante está participando ativamente de um processo de

construção em coautoria, que respeita e aceita a participação de todos enquanto produtores de

conhecimento, levando à compreensão de novos sentidos. Do mesmo modo que há construção

de sentido quando o estudante insere um novo questionamento, ele abre o debate para

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construção constante de alternativas possíveis, desafiadoras e não previstas, que são refletidas

por estudantes e pelo professor-tutor, com base no diálogo sem hierarquização. Nessas

perspectivas dois dos aspectos abordados por Silva M. são contemplados: a participação-

intervenção e a bidirecionalidade-hibridicação.

Outra perspectiva que remete à reflexão e à interatividade ocorre quando há um

esclarecimento. Ao retornar para esclarecer uma fala que não tenha ficado clara ou

equivocada em post anterior, o participante demonstra que está construindo novos saberes à

medida que o fórum se desenvolve em colaboração com as falas dos demais e com a

intervenção da tutoria. O diálogo e a coautoria novamente se fazem presentes. Assim,

novamente percebemos que ocorre a participação-intervenção e a bidirecionalidade-

hibridicação.

Ao indicar bibliografia o participante pode apresentar na discussão além da

participação-intervenção e a bidirecionalidade-hibridicação, a ação de anexar na própria

mensagem um arquivo. Nesse caso, utiliza também o binômio permutabilidade-

potencialidade, porque utiliza o recurso de armazenamento e compartilhamento de dados do

fórum. Assim, amplia a condição de interatividade na sua mensagem, já que acrescenta

informações (conteúdos) que podem se tornar conhecimento por si mesmo e pelos demais.

A citação e a discussão bibliográfica são categorias de uso do fórum que podem ser

discutidas juntas, pois apresentam semelhanças nos aspectos de interatividade, mas são

aplicadas com objetivos diferentes nas mensagens. Em ambas pode ocorrer a Participação-

intervenção e a Bidirecionalidade-hibridização. Enquanto na primeira o estudante usa

fragmentos de textos reconhecidos, em geral, para dar credibilidade ao seu próprio texto, na

segunda ele usa suas próprias palavras para discutir conceitos de outros autores. Nos dois

casos há abertura para o debate, pois participam e interferem no texto uns dos outros, utilizam

vozes de autores que levam para o fórum; além de demonstrar intencionalidade na abertura ao

diálogo com vistas à construção de sentido em coautoria. Certamente, há fortes indícios de

construção de sentido nessas práticas.

O último aspecto de uso abordado foi a inclusão de hiperlink. Essa categoria pode

atender plenamente todos os binômios de interatividade defendidos por Silva M. (2012),

porque além de participar e intervir no debate, estar aberto para trocas horizontais,

bidirecionais, há o uso de recursos da Internet através de hiperlink, a partir da própria

mensagem no fórum. Portanto, contempla plenamente os aspectos de interatividade:

participação-intervenção e a bidirecionalidade-hibridicação e permutabilidade-

potencialidade.

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190

Por fim, poderíamos afirmar que, em tese, quanto maior a incidência de categorias

como fuga ou desvio, responde e comenta, mais fraco poderá vir a ser o fórum, tanto em

âmbito de interatividade quanto de construção de sentido.

Tomando como pressuposto o conceito de interatividade de Silva M. (2012),

articulado às categorias identificadas neste trabalho, consideramos um fórum forte aquele que

apresenta maior potencial de interatividade, de acordo com os binômios já discutidos. Por

outro lado, um fórum fraco seria aquele que apresenta baixo nível de interatividade, de acordo

com o mesmo conceito.

Dessa forma, há menor interatividade no fórum em que as mensagens estejam

limitadas à participação. Ou seja, uma ação de simplesmente postar resposta, sem considerar

aspectos de contribuição com o outro ou de intervenção nas conversas em desenvolvimento.

Por outro lado, um fórum considerado de maior interatividade seria aquele que de fato haja

articulado à participação, também intervenção no debate que considere aspectos de

bidirecionalidade, de hibridização, e também de permutabilidade e potencialidade.

Apresentamos no quadro 6.3 uma correspondência teórica para as categorias de estudo

apresentadas nesta pesquisa e a sua contribuição para um fórum fraco ou um fórum forte.

Quadro 6.3 – Relação entre as características de uso e o nível de incidência no fórum

Características de uso

do fórum on-line

Níveis de incidência no fórum on-line

Fuga ou desvio Colabora para um fórum fraco

Resposta Colabora para um fórum fraco

Comentário Colabora para um fórum fraco

Ampliação Colabora para um fórum mais forte

Esclarecimento Colabora para um fórum mais forte

Novo questionamento Colabora para um fórum mais forte

Indicação bibliográfica Colabora para um fórum mais forte

Citação bibliográfica Colabora para um fórum mais forte

Discussão bibliográfica Colabora para um fórum mais forte

Inclusão de hiperlink Colabora para um fórum mais forte

Em contrapartida, quanto maior a incidência de participações como amplia,

esclarecimento, novo questionamento, indica bibliografia, cita bibliografia, discute

bibliografia e insere hiperlink, maior poderá ser a qualidade das discussões no fórum, porque

ele estará mais propenso à participação-intervenção, à bidirecionalidade-hibridização e até à

permutabilidade-potencialidade.

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7 Considerações Finais

Esta última etapa da dissertação apresenta as considerações relacionadas ao referencial

teórico, à metodologia e à análise dos dados da pesquisa.

O objetivo geral deste estudo foi analisar a relação entre a modalidade de educação a

distância e as potencialidades do gênero digital fórum, usadas para a promoção da

interatividade e a construção de sentido.

Os objetivos específicos já apresentados na introdução e no capítulo de metodologia

da pesquisa foram: 1) discutir os aspectos históricos, epistemológicos e didáticos que

embasam a educação a distância, a educação on-line e a comunicação no contexto da

pesquisa; 2) caracterizar o gênero digital fórum, suas linguagens e como é empregado na

educação on-line; 3) analisar a interatividade e a construção do conhecimento no fórum da

disciplina Prática de Ensino II das licenciaturas UERJ.

O capítulo 2 foi desenvolvido com base em pesquisa bibliográfica, que permitiu

discutir as mudanças na EaD, em especial, as relações entre a tecnologia e as diferentes

formas de linguagens e comunicação utilizadas na modalidade de educação a distância. A

partir do aporte teórico percorremos as gerações de EaD no cenário brasileiro até os

pressupostos contemporâneos do uso do computador e da Internet na educação, configurando

a EaD on-line, ou educação a distância via Internet, ou ainda práticas a distância em cursos

presenciais. Sobretudo, enfatizamos que as potencialidades da Web 2.0 muito têm colaborado

para novas práticas interativas e de autoria porque uma premissa dessa web deve-se ao intuito

de tornar o usuário autor e não apenas receptor. Tal tecnologia muda o papel do participante

de agente passivo para uma condição de agente ativo-participativo no processo de

aprendizagem, uma vez que ele pode acrescentar, baixar, postar, cortar, entre tantas outras

possibilidades.

Importa dizer que ao discutirmos os gêneros textuais, foi possível identificar certas

características de uso social ligadas diretamente ao contexto cultural, histórico e tecnológico.

Partindo do princípio que a tecnologia está presente nas diferentes maneiras de produzir

linguagem, podemos afirmar que o homem se apropria e constrói diferentes tecnologias de

comunicação para adequar-se à sociedade e apropriar-se dos objetivos comunicativos; foi

assim com o gênero como forma de ação e vida, com o gênero oral, após, com o gênero

escrito e também com o gênero digital. No entanto, com as potencialidades das tecnologias

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192

digitais podemos encontrar no mesmo suporte (o computador com acesso à Internet) textos

escritos, textos falados, sons, vídeos, imagens, gráficos, tabelas, apresentações, entre outras.

Queremos dizer que, ao longo da história da humanidade, diferentes gêneros textuais

surgiram, fruto da relação com a cultura, com as tecnologias, e principalmente, para atender à

necessidade de comunicação entre os homens, e não com intuito de substituir os anteriores;

antes, para complementar, ampliar, colaborar para que a mensagem alcançasse seu objetivo,

fosse compreendida pelo outro.

Também no capítulo 2 discutimos alguns marcos legais que embasam a EaD na

atualidade. A partir da análise dos documentos oficiais sobre a EaD entendemos que,

historicamente ela passa da condição de cursos “experimentais”, oferecidos para jovens e

adultos que não concluíram a escolarização na idade adequada, à condição de modalidade

educacional, mudança que possibilitou o acesso à EaD, inclusive na graduação.

Sinalizamos alguns avanços na legislação brasileira no sentido de ampliar o conceito

de educação a distância desenvolvida no país no tocante ao credenciamento, autorização,

orientações mais objetivas e viabilidade de meios para fiscalização. No entanto, é preciso uma

fiscalização e supervisão mais eficaz no aspecto de qualidade dos cursos credenciados tanto

nas instituições públicas quando nas privadas na modalidade a distância.

Ressaltamos nesse capítulo algumas políticas públicas relacionadas à expansão da EaD

no Brasil. Em especial, a criação da Universidade Aberta do Brasil, a nível nacional, e o

CEDERJ, no Estado do Rio de Janeiro. É oportuno sinalizar que as medidas foram criadas

para permitir acesso àqueles que não teriam como cursar uma universidade pública,

garantindo a expansão de oferta de vagas para regiões distantes dos grandes centros urbanos

das grandes capitais.

Por um lado, parte do problema foi relativamente resolvido porque muitos estudantes

estão aproveitando a oportunidade dos cursos. No entanto, é preciso questionar

constantemente o tipo de educação a distância que precisamos. Para tanto, é necessário

primeiramente, entendê-la como uma modalidade de ensino com características próprias que

não podem estar desvinculadas da visão de mundo, da tecnologia e da sociedade.

Democratizar o acesso ao ensino é relevante, mas não menos importante é a

implantação de cursos com práticas pedagógicas de qualidade, com vistas à interatividade e à

construção de sentido mesmo a distância. É preciso buscar respostas que atendam às questões

de como os estudantes interagem através dos gêneros digitais do AVA, nas relações

professor-aluno, aluno-aluno, aluno-conteúdo.

Ao dialogar com os pressupostos teóricos no capítulo 3, foi possível identificar como

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os gêneros digitais podem potencializar as práticas na EaD on-line. As inovações e avanços

das tecnologias de comunicação e informação presentes hoje na sociedade nos trazem

inquietações acerca do modelo das práticas pedagógicas usadas na formação dos estudantes

principalmente, na modalidade a distância. Com os avanços decorrentes das TIC’s, as

possibilidades da educação a distância são ampliadas, sobretudo aquela mediada pelo

computador e pela Interne, também chamada de EaD on-line (VILAÇA, 2011).

Nessa direção, estão as plataformas de ensino (discutidas no capítulo 4), que tornam-se

cada vez mais atraentes por facilitar o uso dos gêneros digitais, popularmente utilizados na

Internet, no próprio AVA. Com destaque especial para a plataforma Moodle, que permite fácil

acesso e usabilidade dos gêneros digitais com características síncrona e assíncrona, além de

favorecer a comunicação ora entre dois usuários (um para um) ora entre muitos deles (um

para muitos ou muitos para muitos); além de suportar anexos de arquivos, compartilhamentos

de dados, práticas de pluritextualidade (XAVIER, 2010) nos gêneros digitais.

As potencialidades dos gêneros digitais podem colaborar para alteração da base

didádico-pedagógica da EaD, pois as distâncias geográficas, temporais e espaciais são

superadas pela possibilidade de uma comunicação virtual que colabora para o processos de

ensino e aprendizagem colaborativo, baseado na interatividade (SILVA M., 2012).

Dentre os gêneros digitais do Moodle, disponíveis no AVA CEDERJ, selecionamos o

fórum como objeto de estudo desta dissertação. A partir da discussão bibliográfica ainda no

capítulo 3, foi possível perceber que esse gênero tem sido utilizado nas práticas pedagógicas

na EaD on-line ou mesmo na educação presencial com práticas on-line. Tal procura pode estar

associada à sua natureza assíncrona, por permitir alcançar um grande número de participantes

em torno de um debate, por sua condição democrática e relativamente aberta de postagem,

não apenas de mensagens escritas, mas vídeos, indicação de links, e muito mais; embora a

escrita ainda seja mais utilizada que outros recursos (MARCUSCHI, 2010a).

No capítulo 4, coadunamos com os aportes teóricos e identificamos que o AVA que

investe na interatividade não pode ser entendido apenas pela superficialidade de estar

sustentado por uma plataforma composta por gêneros digitais variados, sem um real propósito

pedagógico. Sobretudo, que esse propósito pedagógico tenha como premissa a construção de

sentido atrelada à interatividade pelos participantes. É preciso que a construção do

conhecimento seja fruto de um esforço coletivo, uma construção em parceria, pois esse foi o

propósito de criação do próprio Moodle (DOUGIAMAS, 1998).

A partir dos teóricos discutidos no capítulo 4, foi possível também investigar com

bastante clareza os conceitos de interação e interatividade. A partir dessa discussão,

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justificamos a opção de basear as análises nos pressupostos de interatividade de Silva M.

(2012). Para ele, a interatividade pode ser entendida sob três aspectos discutidos nesta

dissertação, que são: Participação-intervenção, Bidirecionalidade-hibridização e

Permutabilidade-potencialidade. Buscamos, portanto, esses binômios para investigar nos

dados de que maneira ocorre a interatividade e a construção de sentido no fórum da disciplina

Prática de Ensino II das Licenciaturas UERJ/CEDERJ.

A metodologia da pesquisa foi apresentada no capítulo 5. Nele também discutimos a

etnografia virtual com base nos conceitos de Hine (2000), entre outras contribuições. Para a

autora a etnografia virtual é a metodologia mais indicada para pesquisas na Internet, mas

encontramos outras terminologias indicadas para pesquisa no espaço virtual na bibliografia

pesquisada.

Após estes capítulos com aprofundamento teórico para sustentar os questionamentos,

investimos na análise dos dados gerados pelos estudantes inscritos na disciplina supracitada.

A análise contou com dados do questionário on-line enviados voluntariamente pelos

estudantes e pelas participações dos alunos nos fóruns.

Com propósito de responder ao objetivo geral da pesquisa: analisar a relação entre a

modalidade de educação a distância e as potencialidades do gênero digital fórum, usadas

para a promoção da interatividade e a construção de sentido. A análise buscou responder ao

seguinte objetivo específico: analisar o potencial de interatividade e a construção do

conhecimento no fórum da disciplina Prática de Ensino II das licenciaturas UERJ.

Para tanto, a análise foi organizada em três momentos: o primeiro para discutir o perfil

dos alunos e a frequência que afirmam usar os gêneros digitais na Internet e no AVA, o

segundo organiza uma discussão em torno das visões, perspectivas e vozes dos alunos sobre o

fórum on-line e, principalmente, como eles veem a possibilidade de interatividade e

construção de sentido no gênero digital. O terceiro apresenta a análise de uso de fóruns on-

line na disciplina Prática de Ensino II Lic/UERJ.

De modo geral, o perfil apresentado pelos alunos demonstra que são usuários de

gêneros digitais da Internet. Por mais que o uso e o tipo dos gêneros oscilem entre os

participantes para maior ou para menor frequência de acesso, podemos inferir que possuem

certo nível de letramento digital para o uso de gêneros digitais em práticas sociais na/da

Internet (SOARES, 2002b, BUZATO, 2010).

Sabemos que qualquer generalização pode ser perigosa e esclarecemos que não temos

essa intenção. Por isso, convém ressaltar, mais uma vez, que não era objetivo desta

dissertação realizar um levantamento quantitativo com o questionário disponibilizado no

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AVA, mas apresentar algumas considerações acerca do perfil dos estudantes que participaram

voluntariamente. Por se tratar de uma pesquisa on-line, já era esperado que a maior parte dos

participantes utilizasse a Internet, mas cabia saber: Com qual frequência? Que gêneros

preferem? Quais são os menos acessados? Em outras palavras, a preocupação não estava

centrada em quantos alunos usam a Internet, mas como utilizam os gêneros da Internet e

também dentro do contexto da EaD – no AVA.

Um dado considerado interessante na análise do perfil foi a quantidade de alunos

cursando o CEDERJ como segunda graduação. Fato que difere quando comparada à

formação em cursos presenciais. Isso demonstra que a EaD tem se tornado uma opção não

somente para aqueles que não estudaram na idade própria, mas para aqueles que desejam

voltar a estudar depois de já ter uma profissão, além daqueles que investem na primeira

graduação.

Pode-se atribuir essa procura pela EaD on-line a vários fatores: ao avanço dos recursos

tecnológicos de comunicação e informação; aos gêneros cada vez mais interativos e acessíveis

da Web 2.0; ao investimento de políticas públicas para a expansão de oferta de cursos nessa

modalidade, articulando investimentos em infraestrutura; plataformas virtuais mais potentes e

acessíveis, entre outros. Podemos sinalizar ainda a preocupação em investir nas relações de

interatividade possíveis através dos gêneros digitais, que transformam a EaD em um curso a

distância que não precisa ser entendido como estar sozinho, aprender sozinho todo o tempo;

pois há possibilidade para trocas de conhecimento com outros estudantes e professor-tutor,

mesmo com o distanciamento físico.

Foi possível identificar posturas distintas em relação ao mesmo gênero digital quando

sinalizamos seu contexto de uso. Ao tomar como exemplo o gênero digital fórum, os

participantes relataram que o uso dele na Internet aberta é baixo, situação que não se

apresenta com a mesma frequência quando esse gênero é utilizado no AVA. Por outro lado,

destacamos o chat, ainda que apresente frequências relativamente baixas de acesso na

Internet, quando comparamos ao uso no AVA do CEDERJ o índice de participantes que

afirmaram nunca utilizar, é o mais elevado.

No caso particular do fórum, pudemos verificar com a literatura discutida que, quando

utilizado no espaço pedagógico, esse gênero tem demonstrado boa receptividade pelos

participantes. Sua utilização na educação tem sido frequente porque pode colaborar com a

troca de conhecimentos e proporcionar práticas pedagógicas de interatividade mesmo com a

distância, tornando-se interessante para a formação, inclusive na modalidade a distância. Por

outro lado, nos espaços abertos da Internet a frequência não se dá do mesmo modo. O gênero

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fórum tem como propósito estabelecer uma discussão em torno de um tema, provocar

questionamentos e trocas uns com os outros com de maneira assíncrona. Por isso, tende a não

ser apreciado em espaços abertos da Internet, quando muito os participantes acessam, deixam

uma contribuição e não retornam para dar prosseguimento à discussão. No fórum pedagógico,

pode ocorrer da postagem inicial e do retorno serem mais frequentes.

Quanto à autoavaliação dos alunos acerca dos gêneros digitais no Moodle do

CEDERJ, foi possível verificar que os estudantes ainda consideraram como bom/boa

justamente aqueles que estão dentro da perspectiva um-todos. O uso da Internet e o mural de

avisos, espaços importantes sim, por permitir acesso às informações diversas, mas não

permitem troca entre os usuários.

Este fato deixa transparecer o uso do Moodle CEDERJ pelos estudantes como

ferramenta de acesso à informação e conteúdos no AVA, em sua grande maioria, e não

enquanto uma plataforma que potencializa a interatividade e a construção de conhecimento

interpessoal, com trocas coletivas.

O e-mail foi qualificado como de média/médio eficácia, nesse caso já se considera

uma relação mais pessoal de um para um. Dentro dessa perspectiva de uso um para um, o e-

mail é mais interessante que a sala de tutoria para os participantes. Os gêneros que permitem

uma comunicação que envolve todos-todos na relação oferecida na pesquisa são o chat e o

fórum. Nesse caso, o fórum foi qualificado pelos participantes como de médio/média eficácia,

enquanto o chat dividiu opiniões entre média, muito fraca e fraca eficácia.

Com a segunda parte da análise dos dados, foi possível identificar as visões,

perspectivas e vozes dos alunos sobre o fórum on-line28

. Das diferentes visões dos

participantes para os conteúdos questionados, pudemos organizar suas vozes em categorias

ora já apresentadas e discutidas. Destacaremos a seguir as perspectivas mais significativas nas

vozes dos estudantes sobre como veem, compreendem a funcionalidade e uso do fórum on-

line e as entrelaçaremos com as categorias identificadas nessa dissertação durante a análise

dos fóruns.

Na perspectiva dos alunos, o fórum oportuniza a interatividade, mas o conceito de

interatividade para eles pode ser entendido de diferentes maneiras. Para alguns, é possível a

interatividade porque esse gênero digital é uma via de aquisição de informação, ou porque

permite a troca de informações, ou ainda viabiliza a troca de conhecimentos.

28 Lembramos que as questões foram realizadas sem discussão prévia acerca do conceito de interatividade ou

construção de sentido ou conhecimentos

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Ao compararmos essas perspectivas dos estudantes acerca da interatividade com os

dados observados no uso do fórum, poderíamos dizer que a interatividade, enquanto aquisição

de informação estaria ao uso daquele que apenas lê as respostas, mas não comenta. A troca de

informação seria uma troca, de certa forma, superficial, sem preocupação com o

aprofundamento conceitual, por isso considerada na categoria de comentário, e a troca de

conhecimento em grupo estaria para uma prática de uso pelo diálogo, por uma discussão mais

horizontal entre todos os envolvidos na discussão professor-tutor e participantes, seria a

bidirecionalidade segundo Silva M. (2012).

Quanto à construção de aprendizagem no fórum on-line, os alunos apresentaram duas

perspectivas, uma direcionada ao diálogo, à participação ativa dos estudantes. O diálogo pode

provocar novas reflexões, pode levar à ampliação do tema e ainda pode colaborar para a

criação de novos questionamentos. Tais perspectivas estariam de fato colaborando para

práticas de construção de sentido e indo ao encontro da perspectiva de Silva M. para

interatividade. Porque através do diálogo horizontal é possível uma discussão com reflexão,

com idas e voltas ao fórum para continuar o debate.

Outro posicionamento dos alunos em relação à construção de aprendizagem no gênero

fórum é o fato dele ser visto como um espaço potencializador de pesquisas, que podem

ocorrer no próprio fórum através das contribuições postadas e também fora dele. No entanto,

há também aquele que não comunga desse posicionamento e afirme faltar posicionamento

crítico dos participantes nas discussões. No entanto, sem pretensão de desvalorizar as

contribuições dos posts publicados que podem sim apresentar riqueza e aprofundamento

conceitual que servirá como fonte de pesquisa para outros, queremos destacar algumas

características da pesquisa fora do fórum.

Foi chamada de pesquisa fora do fórum àquela que demanda uma saída do post regular

na estrutura do fórum on-line para buscar se aprofundar, conhecer outros textos que não estão

expostos no corpo do fórum. Ou seja, a pesquisa fora do fórum seria aquela que favorece a

ampliação da discussão pelo ato de compartilhar citação bibliográfica, que teria como

objetivo lançar um convite para leitura de obras e autores trazidos ao texto do fórum pelos

fragmentos dos estudantes em suas postagens, para dar credibilidade ao discurso do próprio

aluno; ou também, através de indicação bibliográfica, quando um participante sugere a leitura

de uma obra anexada por ele ou indicada no post e/ou ainda, pela inclusão de hiperlink. Nesse

caso ao simples toque o participante no link será direcionado para uma página da Internet, em

geral, fora do AVA.

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Quando dirigimos os questionamentos diretamente à interatividade e construção de

sentido no fórum de PEII, verificamos que, na visão dos participantes, os fóruns propostos

pela disciplina são sim um espaço de interatividade porque neles há trocas entre professor-

tutor e alunos que podem demandar a abertura de novos conhecimentos, mesmo que haja uma

crítica quanto à falta de aplicabilidade dos temas discutidos na prática da sala de aula. Nesse

caso, parece haver certa confusão dos alunos que cursam a disciplina Prática de Ensino II no

sentido de esperarem “dicas” ou “receitas” prontas de como fazer o dia a dia da sala de aula

passo a passo; mas não é objetivo da disciplina apresentar “receitas” prontas para futuros

educadores. A disciplina tem como eixo observar a problemática curricular como campo de

pesquisa e investigação, portanto, a discussão central é o Currículo.

Segundo as vozes dos estudantes, o fórum também é usado como um espaço para tirar

dúvidas. Não se aprofundaram de modo a esclarecer como tirariam as dúvidas, mas podemos

dizer que a dúvida pode ser sanada através das postagens deles próprios ou das publicações de

outros participantes que trocam entre si mensagens nos turnos para aprofundar o tema, muitas

vezes sem a interferência do professor-tutor. Curiosamente notamos que em geral não há

publicação de dúvidas explícitas, como por exemplo, perguntas estruturadas como uma

dúvida direcionada a alguém. Fato que indica o cuidado para não expor explicitamente as

dúvidas na esperança que sejam sanadas ao longo das contribuições publicadas.

Quanto à motivação para participar, os estudantes afirmaram acreditar no fórum como

um espaço com possibilidades de interação, de estudo, que possa ajudar a ampliar o tema

discutido. Alguns sinalizaram que a motivação deve-se pela pontuação da atividade (por valer

nota). Entretanto, estes não descartaram os aspectos de interatividade e construção de sentido

que o fórum favorece. Por outro lado, o que não motiva a participação dos estudantes são

fatores ligados a questões administrativas, de acessibilidade da plataforma e de rede, como os

exemplos expostos por eles, a quantidade de disciplinas cursadas no mesmo período, as

dificuldades de acesso às salas das disciplinas no Moodle ou a lentidão da rede banda larga.

Relatos assim sugerem que o fórum on-line na EaD é um gênero que, em geral, motiva

a participação dos alunos. No entanto, para melhorar o desempenho deles nos cursos,

sugeriram a inserção de vídeo aulas no AVA, mais clareza na comunicação (tanto de alunos

quanto de professores-tutores) e mais clareza no feedback. Visões que deixam evidentes a

contribuição do fórum na EaD on-line.

Mesmo sem a discussão prévia dos conceitos questionados, os alunos apresentaram

algumas visões, vozes e perspectivas que identificamos na análise dos usos dos fóruns, que

trataremos a seguir.

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Portanto, a contribuição dos aspectos de interatividade propostos por Marco Silva

(2012), como base nos binômios participação-intervenção e a bidirecionalidade-hibridização

e permutabilidade-potencialidade foram, em maior ou menor intensidade, discutidos neste

trabalho a partir das categorias identificadas. Mas não era nosso objetivo apenas verificar se

há interatividade no fórum on-line, mas analisar a relação entre a modalidade de educação a

distância on-line e as potencialidades do gênero digital fórum, usadas nessa modalidade,

enquanto promovedoras de interatividade e construção de sentido.

Dessa forma, sem querer reduzir a questão, entendemos que o presente estudo

contribui para reflexão e propostas que seguem.

Entendemos a EaD on-line como uma modalidade que ao fazer uso dos gêneros

digitais como o fórum, pode colaborar para promoção de interatividade e construção de

conhecimento, desde que invista em trocas coletivas e significativas entre os participantes.

Portanto, não é pelo simples acesso à tecnologia e aos gêneros digitais que garantiremos a

interatividade nos pressupostos de Silva M. (2012). O uso que os participantes (estudantes,

professor-tutor, coordenadores) fazem dos gêneros fará toda diferença para um espaço de

maior ou menor interatividade.

Salientamos que o fórum por si só não garante níveis elevados de interatividade e

construção de sentido pelos participantes. Concordamos com os pressupostos de Silva M.

(2012) de que não basta postar uma mensagem respondendo apenas o questionamento inicial,

ou comentar o post de outro participante; é preciso aprofundar na discussão para que novos

conhecimentos sejam colocados em xeque, assim novos sentidos poderão surgir.

Também destacamos que o fórum não alcançará seu pressuposto de discussão em

grupo se não houver trocas bidirecionais entre os participantes. Voltamos a afirmar que não se

configurará uma discussão coletiva a inserção de várias respostas isoladas a um

questionamento de abertura do fórum, por isso também é importante que a provocação seja

bem elaborada para não limitar as contribuições.

Mesmo com o avanço tecnológico, ainda percebemos poucas postagens de link,

imagem, vídeo, som, entre outros, no fórum pedagógico. Entendemos que haverá de surgir

esforços pedagógicos e motivacionais dos coordenadores e professores-tutores para estimular

a maior e melhor utilização dos recursos tecnológicos da Web 2.0 de compartilhar, postar,

inserir conteúdos nos fóruns, nas diferentes linguagens.

Ao ampliarmos o uso de diferentes linguagens no fórum on-line, estaremos investindo

no binômio chamado permutabilidade-potencialidade (SILVA, M., 2012). Entretanto, será

preciso investir na formação e capacitação de docentes para uso das potencialidades

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tecnológicas tanto na EaD, quanto nos cursos presenciais; por outro lado é preciso esforços

para romper com a ideia dos estudantes de que a linguagem escrita é a mais indicada para uso

no fórum pedagógico.

Entendemos que um fórum pode ser mais ou menos interativo quando apresenta

algumas características específicas de uso pelos alunos. Convém citar novamente que a

ocorrência em demasia de categorias como fuga ou desvio, resposta e comentário tende a

representar um fórum de menor potencial de interatividade; portanto, estaria colaborando para

um fórum mais fraco. Em contrapartida, se houver maior ocorrência de ampliação,

esclarecimento, novo questionamento, indicação bibliográfica, citação bibliográfica,

discussão bibliográfica e inclusão de hiperlink, a tendência é que o fórum seja mais forte

(forte em interatividade e em construção de sentido).

As 10 (dez) categorias de estudos apresentadas nesta dissertação podem colaborar para

melhor avaliação das participações nos fóruns pedagógicos. Precisamos entender também que

não está na quantidade de posts a garantia de interatividade e construção de sentido pelos

estudantes, porque a qualidade das interações nos fluxos de mensagens está além da

quantidade.

Assim, acreditamos que as categorias aqui tratadas podem colaborar para o processo

avaliativo do potencial de interatividade e construção de sentido nos fóruns. No entanto, essas

categorias apresentam possibilidades para novas pesquisas, em diferentes contextos

pedagógicos on-line, com o olhar investigativo de outros pesquisadores. Novas pesquisas que

recorram a tais categorias, a fim de ampliar a recorrência delas nas mensagens publicadas

pelos estudantes e sua aplicabilidade nos processos avaliativos. Além de sinalizarmos a

necessidade de pesquisas futuras que investiguem a ação do professor-tutor, do design

instrucional na construção do AVA, e a aplicabilidade de novos gêneros digitais com objetivo

pedagógico, na perspectiva da interatividade e construção de sentido discutida neste trabalho.

Enquanto professora-tutora, este trabalho colaborou para que novos questionamentos

surgissem na minha própria prática em EaD. Inquietações que levaram (e levam) para o

nascer de uma relação cíclica de ação-reflexão-ação mais intensa. Um (re)pensar constante

que alterou minha atuação nos fóruns desde a elaboração da proposta lançada para discussão,

passando pelas orientações prévias aos estudantes, pelas mediações das mensagens até o

momento da avaliação.

A partir desta pesquisa, comecei a incentivar o uso de diferentes linguagens com mais

intensidade nos fóruns. Com o olhar mais sensível, comecei a investir em participações mais

conscientes e intencionais da minha própria ação e perceber, na mesma medida, as ações dos

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estudantes no desenvolvimento das discussões coletivas, abrindo espaço para pesquisa,

reflexão e produção do conhecimento em coautoria, favorecendo maior interatividade.

Por fim, a EaD deve ter o aluno como centro do processo. Para tanto, necessitamos

que as concepções de educação e de práticas on-line tenham o foco nesse ator enquanto

produtor do seu próprio conhecimento, com possibilidades de interagir e construir em

colaboração e o fórum é um gênero digital que possui características que atendem

potencialmente a esse fim.

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______. Sala de aula interativa. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Quatet. 2003.

______. ______. 6ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica,

2002a.

______. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Revista Educação &

Sociedade, Campinas, vol. 23, nº. 81, p. 143-160, set. 2002b. Disponível em:

<www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 15 mar. 2013.

______. Alfabetização e letramento. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2008.

TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 9º ed. São Paulo: Cortez, 2010.

VELOSO, Karla. Ambiente virtual de aprendizagem. In: RIBEIRO, Ana Elisa, NOVAES,

Ana Elisa Costa. Letramento digital em 15 cliques. Belo Horizonte: RHJ, 2012. p. 80-87.

VILAÇA, Márcio Luiz Corrêa. Educação a Distância e Tecnologia: conceitos, termos e um

pouco de história. Revista Magistro, Unigranrio, Vol. 01, nº 02, 2010. Disponível em:

<http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/magistro/article/view/1197>. Acesso em: 10

mai. 2012.

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211

______. Tecnologia e educação: introdução à competência tecnológica para o ensino online.

e-escrita Revista do curso de Letras da UNIABEU, Nilópolis, v.2, n. 5, Mai.-Ago.2011.

Disponível em:

<http://www.saladeauladigital.com/salavirtual/mod/resource/view.php?id=98>. Acesso em:

10 mai. 2012.

XAVIER, Antonio Carlos, SANTOS, Carmi Ferraz. E-fórum na Internet: um gênero digital.

In: ARAÚJO, Júlio César, BIASI-RODRIGUES, Bernadete (Orgs). Interação na Internet:

novas formas de usar a linguagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p.30-38.

______. Leitura, texto e hipertexto. In: MARCUSCHI, Luiz Antonio, XAVIER, Antonio

Carlos (Orgs). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. 3ª Ed.

São Paulo: Cortez, 2010. P. 207-220.

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212

ANEXO

Pesquisa on-line

PARTE 1 - ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO DE PERFIL

Idade: ________ Sexo: M( ) F( )

Cidade/Estado______________________

1) Curso de Licenciatura em:

( ) Ciências Biológicas ( ) Matemática ( ) História

( ) Física ( ) Química ( ) Turismo

2) Esta é sua primeira formação acadêmica? Sim( ) Não( )

3) Em caso negativo, qual é sua formação anterior? ______________________

4) Quanto tempo tem de formado? ________ ano(s)

5) Você possui computador com acesso a Internet na sua residência?

Sim( ) Não( )

6) Já fazia uso da Internet antes de iniciar o curso de Licenciatura do CEDERJ?

Sim( ) Não( )

7) Com relação à frequência que você usa a Internet responda as seguintes perguntas:

7.1) Você usava a Internet antes do CEDERJ aproximadamente:

Todos os dias 2 ou 3 vezes

por semana

1 vez por

semana

1 vez por mês Não usava

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

7.2) Quanto aos seguintes gêneros textuais, é possível afirmar que você faz uso deles

FORA do CEDERJ:

Diariamente

2 ou 3

vezes por

semana

Aproximadamente

1 vez por semana

Aproximadamente

1 vez por mês

Não usa

(nunca)

BLOG ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

E-MAIL ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

FÓRUM ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

CHAT ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

REDES

SOCIAIS

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

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7.3) Quanto aos gêneros textuais que você usa na plataforma Moodle/ CEDERJ a

frequência é:

Diariamente 2 ou 3

vezes por

semana

Aproximadamente

1 vez por semana

Aproximadamente

1 vez por mês

Não usa

(nunca)

MURAL DE

AVISO

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

E-MAIL ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

FÓRUM

(quando

aberto)

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

CHAT

(quando

aberto)

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

SALA DE

TUTORIA

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

8) De acordo com sua experiência no curso do CEDERJ, como você avaliaria a

eficácia dos seguintes elementos para o desempenho deste curso?

Muito

bom/boa

Bom/boa Médio/média Fraco/fraca Muito

fraco/fraca

USO DA

INTERNET

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

MURAL

DE AVISO

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

E-MAIL ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

FÓRUM ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

CHAT ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

SALA DE

TUTORIA

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

9) Ainda de acordo com sua experiência no curso do CEDERJ, como você avaliaria a

eficácia dos seguintes elementos para o seu desempenho na disciplina Prática de Ensino

II Lic/UERJ?

Muito

bom/boa

Bom/boa Médio/média Fraco/fraca Muito

fraco/fraca

USO DA

INTERNET

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

MURAL

DE AVISO

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

E-MAIL ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

FÓRUM ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

CHAT ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

SALA DE

TUTORIA

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

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PARTE 2

Questão 1) Como você entende a relação de interatividade no fórum on-line?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 2) De que forma é possível uma relação de construção de aprendizagem no fórum on-

line?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 3) Você acredita que possa haver interatividade e construção da aprendizagem no

fórum on-line de Prática de Ensino II Lic/UERJ? Justifique.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 4) Qual a relevância das disciplinas pedagógicas para sua formação? Justifique.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 5) E a importância da disciplina Prática de Ensino II para sua Licenciatura?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 6) Em geral, o que lhe motiva (ou não) para participar (ou não) dos fóruns propostos

na disciplina Prática de Ensino II?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 7) Você acredita que o curso a distância permite um resultado semelhante quando

comparado ao curso presencial? Justifique.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 8) O que a coordenação e os tutores (presenciais e a distância) poderiam fazer para

ajudar ainda mais o seu desempenho no curso?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 9) Comentários, sugestões e críticas à disciplina de Prática de Ensino II.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________