volume6, n° 2

96
ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico

Upload: phambao

Post on 09-Jan-2017

245 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: volume6, n° 2

ABENOAssociação Brasileira de Ensino Odontológico

Page 2: volume6, n° 2

Copyright © Associação Brasileira de Ensino Odontológico, 2005Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorização da ABENO.

Catalogação-na-publicaçãoServiço de Documentação OdontológicaFaculdade de Odontologia da Universidade de São PauloRevista da ABENO/Associação Brasileira de Ensino Odontológico – vol. 1, n. 1, (2001).– São Paulo : ABENO, 2001-SemestralISSN# 1679-5954A partir de 2005, vol. 5, n. 1 a publicação passa a ser semestral.1. Odontologia – Periódicos I. Associação Brasileira de Ensino Superior (São Paulo)II. ABENOCDD 617.6BLACK D05

Presidente Antonio Cesar Perri de CarvalhoUniversidade Católica de Brasília - Curso de OdontologiaNova Sede QS 07 Lote 01 - CEP 72030-170Águas Claras - Brasília - DFTel.: (61) 3356-9611E-mail: [email protected]

Editor CientíficoJosé Luiz Lage-Marques

Produção editorialRicardo Borges Costa

ImC - Image maker ComunicaçõesRua Alice Macuco Alves, 148, cj. 2 - CEP 05453-010São Paulo - SPTel.: (11) 3021-0163Fax: (11) 3023-3165

Apoio para esta edição:Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic

Associação Brasileira deEnsino OdontológicoAssociação Brasileira deABENO

Page 3: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):99

A Revista da ABENO é umapublicação oficial da

Associação Brasileira de Ensino OdontológicoPresidente de Honra: Edrízio Barbosa Pinto (PE)

Presidente:Antonio Cesar Perri de Carvalho (DF)

Vice-presidente:Eduardo Gomes Seabra (RN)

Editor Científico:José Luiz Lage-Marques (FO-USP)([email protected])

Editores Adjuntos:Cléo Nunes de Souza (UFSC)Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG)Nelson Rubens Mendes Loretto (UPE)Vera Lúcia Silva Resende (UFMG)

Conselho Editorial:Álvaro Della Bona (UPFundo)Antonio Carlos Bombana (FO-USP)Carlos de Paula Eduardo (FO-USP)Carlos Eduardo Francischone (FOB-USP)Carlos Estrela (FO-UFG)Célia Marisa Rizzatti Barbosa (UNICAMP)Cinthia Pereira M. Tabchoury (UNICAMP)Cláudio Luiz Sendyk (FO-USP)Denise Tostes Oliveira (FOB-USP)Eduardo Batista Franco (FOB-USP)Esther Goldenberg Birman (FO-USP)Eduardo Dias de Andrade (FOP-UNICAMP)Eduardo Saba Chujfi (UNICASTELO)Elaine Bauer Veeck (PUC-RS)Élito Araújo (UFSC)Euloir Passanezi (FOB-USP)Fernando Ricardo Xavier da Silveira (FO-USP)Francisco José de Souza Filho (FOP-UNICAMP)Izabel Cristina Froner (FORP-USP)Jaime Aparecido Cury (FOP-UNICAMP)Jesus Djalma Pécora (FORP-USP)João Humberto Antoniazzi (FO-USP)Jorge Abrão (FO-USP)José Eduardo de Oliveira Lima (FOB-USP)José Ranali (FOP-UNICAMP)Liliane Soares Yurgel (PUC-RS)Luiz Carlos Pardini (FORP-USP)Luiz Clovis Cardoso Vieira (UFSC)Manuel Damião de Sousa Neto (UNAERP)Márcia Martins Marques (FO-USP)Marcio Fernando de Moraes Grisi (FORP-USP)Marco Antonio Bottino (FOSJC-UNESP)Marco Antonio Campagnoni (FOAR)Maria Aparecida de A. M. Machado (FOB-USP)Maria Celeste Morita (UEL)Maria da Graça Kfouri Lopes (UNICENP)Maria José de Carvalho Rocha (UFSC)Maria Regina Sposto (FOA-UNESP)Neusa de Lima Moro (UFPar)Nilza Pereira da Costa (PUC-RS)Roberto Brandão Garcia (FOB-USP)Roberto Miranda Esberard (FOAR-UNESP)Rodney Garcia Rocha (FO-USP)Rosemary Sadami Arai ShinkaiSimone Tetu Moysés (UFPar)Sylvio Monteiro Júnior (UFSC)Vania Ditzel Westphallen (PUC-PR)

IndexaçãoA Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico está indexada nas seguintes bases de dados: BBO - Bibliografia Brasileira de Odontologia;LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde.

99

Editorial

Cinqüentenário da ABENO

A ABENO completa, durante a sua 41ª Reunião, o seu cinqüentenário de fundação. Há uma longa trajetória

de contribuição ao ensino de odontologia no país, desde propostas iniciais de integração do ensino, projetos inova-dores, intercâmbio entre IES, parcerias com a CAPES e Fundação Kellogg, criação da Clínica Integrada e proposta de Currículo Mínimo até as recentes atuações pós-LDB de 1996. Aí se destacam os trabalhos sobre projeto pedagógico, as atuações nas propostas do Exame Nacional de Cursos, da avaliação das condições de ensino, e das Diretrizes Cur-riculares Nacionais. Estas, culminam com as recentes cin-qüenta Oficinas de Trabalho sobre Implementação das DCNs.

A ABENO – mais preocupada com políticas de Estado do que de Governos –, sem envolvimento político-partidário e sem caracterizar ação corporativa, mas com o claro obje-tivo de trabalhar pelo apoio a ações que visam a melhoria do ensino de odontologia, tem sido parceira ou convidada para eventos ligados a vários Ministérios e ao Conselho Na-cional de Educação.

Simultaneamente, os trabalhos acadêmicos e as pesqui-sas sobre o ensino de odontologia têm surgido com freqüên-cia em várias Instituições de Ensino e contribuem muito para as reflexões e para a melhoria do ensino da Odonto-logia.

A Revista da ABENO, iniciada em 2001 e já transformada em semestral, com linha editorial voltada ao ensino de odontologia, é a demonstração concreta da crescente pro-dução intelectual sobre o tema. Outro fato significativo, ao ensejo das comemorações dos 50 anos da ABENO, é o lan-çamento de dois livros sobre ensino de odontologia, um institucional e outro que conta com a contribuição de um elenco de autores vinculados à Revista da ABENO.

Antonio Cesar Perri de CarvalhoPresidente da ABENO

Page 4: volume6, n° 2

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

DIRETORIA (2002 a 2006)

Presidente de HonraEdrízio Barbosa Pinto (PE)

PresidenteAntonio Cesar Perri de Carvalho (DF)

Vice-PresidenteEduardo Gomes Seabra (RN)

Secretária GeralAna Cristina Barreto Bezerra (DF)

1a SecretáriaMaria Celeste Morita (PR)

Tesoureiro GeralSérgio de Freitas Pedrosa (DF)

1a TesoureiraLílian Marly de Paula (DF)

Conselho FiscalJosé Galba de Meneses Gomes (CE)Geza Nemeth (DF)José Aparecido Jam de Melo (SP)Nelson José Fernandes Graça (RJ)Reinaldo Brito e Dias (SP)

Assessores do PresidenteAlfredo Júlio Fernandes Neto (UFU-MG)Bruno Frederico Muniz (Fundação Odontológica

Presidente Castello Branco-PE)Carlos Alberto Conrado (UEM-PR)José Dilson Vasconcelos de Menezes (UECE-CE)Orlando Airton de Toledo (UnB-DF)Roberto Schimer Wilhelm (UNESA-RJ)

Comissão de EnsinoLéo Kriger (UTP e PUC-PR)Cresus Vinícius Depes de Gouveia (UFF-RJ)Elaine Bauer Veeck (PUC-RS)Ellen Marise de Oliveira Oleto (UFMG-MG)Gersinei Carlos de Freitas (UFG-GO)Miguel Carlos Madeira (UMESP-SP)Omar Zina (UNIVAG-MT)

Comissão de EspecializaçãoSigmar de Mello Rode (UNIB-SP)Célio Percinoto (FOA-UNESP-SP)Hilda Maria Montes R. de Souza (UERJ-RJ)José Thadeu Pinheiro (UFPE-PE)Kátia Regina Hostilho Cervantes Dias (UFRJ-RJ)Luís Fernando Pegoraro (FOB-USP-SP)

Comissão de Pós-GraduaçãoIsabela Almeida Pordeus (UFMG-MG)Adair Luiz Stefanello Busato (ULBRA-RS)José Carlos Pereira (FOB-USP-SP)Lino João da Costa (UFPB-PB)Nilza Pereira da Costa (PUC-RS)

Comissão de ComunicaçãoJosé Luiz Lage-Marques (USP-SP) - Editor da Revista da ABENOVera Lúcia Silva Resende (UFMG-MG) - Responsável pela

home page da ABENOCléo Nunes de Souza (UFSC-SC)Daniel Rey de Carvalho (UCB-DF)Luísa Isabel Taveira Rocha (UFG-GO)Nelson Rubens Mendes Loretto (UFPE-PE)

Page 5: volume6, n° 2

Associação Brasileira deEnsino Odontológico

SumáRIOv. 6, n. 2, julho/dezembro - 2006EDITORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

ARTIGOSA importância do professor como agente multiplicador de Saúde Bucal

Vanessa Franchin, Roberta Tarkany Basting, Amali de Angelis Mussi, Flávia Martão Flório. . . . . . . . . . . . . 102

O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem: visão do aluno e do professor

Luiz Roberto Augusto Noro, Danielle Frota de Albuquerque, Maria Elisa Machado Ferreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Clínica integrada da uNIVILLE: “a visão do todo”Luiz Carlos Machado Miguel, Kesly M. Andrade Ribeiro, Giuseppe Valduga Cruz, Arno Locks . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

Avaliação do desempenho do docente com a participação do corpo discente no ensino superior

Regina Maria Tolesano Loureiro, Nemre Adas Saliba, Suzely Adas Saliba Moimaz, Rosana Ono . . . . . . . . . . . . . . . 119

Percepção dos pós-graduandos do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais sobre os aspectos éticos da odontologia

Arsenio Sales Peres, Sílvia Helena de Carvalho Sales Peres, José Roberto de Magalhães Bastos, Fernando Toledo de Oliveira, Sérgio Donha Yarid . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

Avaliação de serviços odontológicos: a visão dos pacientesElisabete Rabaldo Bottan, Rosiane Aparecida de Liz Sperb, Paulo Schlich Telles, Mário Uriarte Neto . . . . . . . . . . . . . . . 128

Odontologia e Letras: avaliação de um estágio supervisionado interdisciplinar internacional da uFPB

Andreza Cristina de Lima Targino Massoni, Fábio Correia Sampaio, Félix Augusto Rodrigues, Evert van Amerongen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

Avaliação de parâmetros editoriais de algumas publicações brasileiras em Odontologia

Paulo Franco Taitson, Roberval de Almeida Cruz . . . . . . . . . . 140

Representação social de acadêmicos de odontologia sobre a área de Odontologia Social

Suzely Adas Saliba Moimaz, Cezar Augusto Casotti, Nemre Adas Saliba, Cléa Adas Saliba Garbin . . . . . . . . . . . . . 145

ANAIS DA 41a REuNIãO ANuAL - 2006

Comissão Organizadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

Programação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

Trabalhos selecionados para apresentação

Seminários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152

Pôsteres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156

APêNDICE

Normas para apresentação de originais . . . . . . . . . . . . . 192

Page 6: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):102-8102

DESCRITORESOdontologia preventiva. Educação em saúde. Cá-

rie dentária.

A prática odontológica resulta de uma complexa articulação de fatores externos e internos ao pro-

cesso de trabalho. Dentre esses fatores, destacam-se o conhecimento científico disponível em cada mo-mento, as tecnologias, os instrumentos e materiais utilizados, além dos recursos humanos19.

À semelhança de qualquer trabalho humano, o odontológico surgiu e se desenvolveu para satisfazer as necessidades das comunidades. Ao longo dos séculos, o processo de trabalho foi se tornando gradativamen-te mais complexo, até atingir o estágio caracterizado pela acentuada divisão técnica, “dentistocêntrica” e curativo-mutiladora, cujos resultados não se correla-cionaram positivamente com os indicadores epidemio-lógicos, representados pela dramaticidade das condi-ções de saúde bucal de grupos de indivíduos22.

A insatisfação popular e profissional com o caos a que o sistema de saúde chegou no Brasil levou à pro-posição de transformações, através da compreensão de que saúde e doença não são estados ou condições

RESumOO presente trabalho teve como objetivo avaliar a

adequação da formação de profissionais da área da educação, cuja colocação profissional poderia possi-bilitar a propagação de conhecimentos e hábitos ade-quados para a promoção de saúde bucal de crianças sob sua tutela. Um questionário composto por ques-tões abertas e fechadas foi respondido por 339 alunos matriculados no Curso Normal Superior do Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras. Verificou-se que 98,2% relataram possuir informações a respei-to dos fatores responsáveis pela doença cárie, dentre os quais, 66% consideram-se satisfatoriamente infor-mados nesse sentido. A ausência de higienização (93,5%) e o consumo exagerado de açúcares (49%) foram os fatores mais citados referentes à etiologia da doença cárie e a fonte de informação mais citada foi o cirurgião-dentista (50%), seguido da escola (27,1%), da família (20,9%), da mídia (15,6%), da participação em palestras (16%) e do cotidiano (12,4%). Concluiu-se que a atuação do professor como agente de saúde bucal necessita da capacitação por parte de profissionais da área e de apoio de ins-tâncias superiores.

A importância do professor como agente multiplicador de Saúde Bucal

A utilização de recursos humanos não-odontológicos como uma estratégia para a promoção de saúde bucal pode representar uma alternativa à ineficiência do atendimento odontológico clássico.

Vanessa Franchin*, Roberta Tarkany Basting**, Amali de Angelis Mussi***, Flávia Martão Flório****

* Secretária Municipal de Saúde do Município de Corumbataí - SP.

** Coordenadora do Curso de Mestrado, área de concentração Dentística, da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic.

*** Coordenadora do Instituto Superior de Educação do Centro Universitário Hermínio Ometto (Uniararas).

**** Professora da Disciplina de Odontologia Comunitária do Curso de Graduação da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic. E-mail: [email protected].

Page 7: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):102-8 103

A importância do professor como agente multiplicador de Saúde Bucal • Franchin V, Basting RT, Mussi AA, Flório FM

estáveis, mas sim conceitos vitais, sujeitos a diversas gradações e constantes mudanças3. A saúde, em seu conceito ampliado10, tem como fatores determinan-tes e condicionantes os meios físico, socioeconômico e cultural, os fatores biológicos e, inclusive, a oportu-nidade de acesso aos diferentes níveis de serviços.

Segundo Carneiro8 (1998), a ação de cuidar da saúde em âmbito social só será efetivada se as outras dimensões da sociedade, como a economia, a habita-ção, o trabalho, a educação, enfim, as políticas sociais, se voltarem para a questão da saúde. Nesse complexo contexto, o processo educativo é fundamental para a conscientização dos cidadãos no sentido de reivindi-carem condições de saúde como um direito adquiri-do, que deve ser fiscalizado pela sociedade em prol de melhores condições de vida das populações.

Considerando-se a saúde bucal como parte inte-grante e indissociável da saúde geral, a infância é o período que pode ser considerado o mais importante para o futuro da saúde bucal do indivíduo. Na infân-cia, as noções e os hábitos de cuidados com a saúde devem começar a se formar2, permitindo assim que as ações educativas implementadas mais tarde baseiem-se no reforço de rotinas já estabelecidas6. Para tanto, torna-se importante, para a efetividade do esforço educativo, uma abordagem integrada e multiprofis-sional que inclua os meios de comunicação social, os profissionais de saúde em geral12,15,16 e o pessoal não-odontológico, incluindo-se aí professores, especial-mente os do ensino infantil e fundamental11,23,26.

Este estudo teve como objetivo discutir e analisar a participação de pessoal não-odontológico na prática de promoção de saúde bucal, considerando-se espe-cialmente a potencialidade dos professores do ensino infantil e fundamental como agentes multiplicadores em saúde.

mATERIAIS E mÉTODOSEste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisas da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Rio Claro).

Para avaliar os conhecimentos, as atitudes e práti-cas relacionadas à promoção de saúde bucal de pro-fessores em formação universitária para o ensino in-fantil e fundamental, iniciados ou não no mercado de trabalho, o presente estudo utilizou como popu-lação-alvo alunos devidamente matriculados no Cur-so Normal Superior do Centro Universitário Hermí-nio Ometto de Araras no ano de 2004. Ressalta-se que o curso em questão também pode ser cursado, sob supervisão de um tutor treinado pela instituição, em

localidades fora da sede da Uniararas, sendo reconhe-cido como Curso Normal Superior Fora de Sede. A lista total de municípios, o nome e o e-mail para con-tato dos tutores dos cursos foram fornecidos pela co-ordenadora do curso.

Em fevereiro de 2004, o curso abrangia 104 mu-nicípios do Estado de São Paulo, com 39 alunos ma-triculados no curso da sede e 7.175 alunos matricula-dos no curso fora da sede, somando o total de 7.214 alunos (Tabela 1).

A seleção da amostra do estudo foi realizada atra-vés de sorteio dos municípios, caracterizando a alea-toriedade do experimento. Sortearam-se 25% dos municípios com curso fora de sede, que representa-ram o total de 26 municípios (Américo Brasiliense, Araraquara, Arealva, Bariri, Bebedouro, Boa Esperan-ça do Sul, Brotas, Cafêndia, Catanduva, Dois Córre-gos, Duartina, Fernandópolis, Franca, Gália, Garça, Ibaté, Itapuí, Matão, Palmares Paulista, Pompéia, Ri-beirão Preto, Rincão, Santa Adélia, Santa Bárbara do Oeste, Santa Rosa do Viterbo, Sertãozinho). Os alu-nos da sede foram incluídos na amostra sem a reali-zação de sorteio por apresentarem, a maior parte da amostra (51,3%), uma característica peculiar relacio-nada à realização da graduação como única atividade profissional, enquanto para os alunos fora de sede esse valor cai para 7,7%.

Numa primeira etapa do estudo, foi realizado um pré-teste do questionário a ser utilizado com 10 pessoas não-participantes do estudo, com o objetivo de aprimo-rar o questionário, de modo que este permitisse, com maior exatidão, avaliar a opinião dos alunos em relação

Pólo Municípios Alunos

Araraquara 25 1.235

Araras 22 1.482

Grande São Paulo I* 6 790

Grande São Paulo II* 6 807

Sorocaba 22 1.471

Taubaté 21 1.065

São Paulo capital 1 325

Uniararas 1 39

Total 104 7.214

Tabela 1 - Pólos, municípios e total de alunos matriculadosno Curso Normal Superior do Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras (Uniararas) (http://www.uniararas.br/princ/processocee.htm).

* Cajamar, Embu Guaçu, Itapevi, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba.** Caieiras, Diadema, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Santo André.

Page 8: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):102-8

A importância do professor como agente multiplicador de Saúde Bucal • Franchin V, Basting RT, Mussi AA, Flório FM

104

aos procedimentos em saúde bucal17. O instrumento final de investigação foi um questionário contendo 09 questões abertas e fechadas sobre o nível de informa-ção, bem como as atitudes e práticas dos graduandos em relação aos procedimentos de saúde bucal.

Enviou-se um e-mail para o tutor responsável pelas turmas, que continha a explicação dos objetivos, a so-licitação da colaboração com o estudo e o questiona-mento sobre a preferência pelo recebimento dos ques-tionários por correio ou via e-mail. Quando a opção para o recebimento dos questionários foi o correio, também foi enviado um envelope vazio, com o ende-reço para o qual o questionário deveria ser remetido.

Aos voluntários dentro da sede (Uniararas), pre-viamente ao início do trabalho, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a realiza-ção de pesquisas em humanos, tendo sido o indivíduo considerado voluntário do estudo apenas após a de-volução da via assinada do termo da pesquisa. Os alu-nos do curso fora de sede foram considerados volun-tários diante da devolução do questionário preen chido por correio ou Internet.

Com a preocupação de não haver perdas de res-postas/questionários, houve novo envio, tanto por correio quanto por e-mail, após 4 semanas do primei-ro envio. Após a tabulação, realizou-se a análise ex-ploratória dos dados em planilha eletrônica Excel.

RESuLTADOS E DISCuSSãOA promoção de saúde bucal pode e deve se realizar

para além dos limites do consultório odontológico. Isso possibilita que os preceitos da filosofia de promo-ção de saúde sejam realmente aplicados. Essa concei-tuação implicou mudanças no sujeito do trabalho odontológico – o cirurgião-dentista trabalhando iso-ladamente vem cedendo lugar à equipe de saúde bu-cal, que deve por sua vez estar inserida em uma equi-pe multidisciplinar para que a integralidade da saúde do ser humano seja respeitada.

A saúde escolar é um conjunto de atividades de-senvolvidas por uma equipe multiprofissional, que visa promover e recuperar a saúde do ser humano em idade escolar. A saúde na escola é parte maleável e moldável na formação de um ser, que, a partir de sua vivência prática, vai formando conceitos, recebendo cultura, incorporando modos individuais e intransfe-ríveis no dever, sentir e agir9.

Este estudo teve como objetivo investigar o nível de conhecimentos odontológicos de graduandos na área da educação, além de verificar a adequação de sua formação como um instrumento multiplicador

para a manutenção da saúde bucal. Para tanto, contou com a colaboração efetiva de 339 alunos matriculados no curso normal superior (34,9 ± 9,43 anos de idade), os quais preencheram os questionários e os retorna-ram à pesquisadora. A taxa de devolução dos questio-nários foi igual a 24,6%, valor muito próximo ao re-torno esperado para experimentos envolvendo a mesma metodologia17.

Quando questionados a respeito dos fatores rela-cionados à iniciação da doença cárie, a grande maio-ria dos voluntários (98,2%; n = 333) relatou possuir informações a respeito; no entanto, a auto-avaliação referente à qualidade dessas informações foi conside-rada satisfatória para 65,5% dos indivíduos e relativa-mente satisfatória para 30,7% dos indivíduos (Gráfico 1). A falta de qualidade ou ausência de higienização e o consumo exagerado de açúcares foram os fatores mais lembrados (Gráfico 2), o que está de acordo com dados da literatura a respeito dos fatores determinan-tes da doença cárie14.

O papel do atendimento odontológico tradicional no padrão de saúde bucal de uma população pôde ser questionado por Nadanovsky, Sheiham18 (1995), por meio da verificação de que os aspectos socioeconômi-cos têm um papel relevante na redução observada na prevalência de cárie dentária. O estudo realizado com base em dados de 18 países industrializados demons-trou que os serviços odontológicos, medidos pela pro-porção dentista/população, explicaram 3% da redução observada na prevalência média de cárie das crianças de 12 anos, durante os anos 1970 e meados dos 1980, enquanto os fatores sociais explicaram 65% da redução observada. Os autores observaram também que a dis-ponibilidade de serviços odontológicos não foi impor-tante para explicar as diferenças nas variações observa-das aos 12 anos nos países estudados. Para Baldani et al.5 (2004), países com relações dentista/população e sistemas de atenção diferentes apresentaram variação de valores de prevalência de cárie muito similares até a

65,5% (222)30,7% (104)

1,5% (5) 2,3% (8)

SatisfatórioRelativamente satisfatórioInsatisfatórioNão respondeu

Gráfico 1 - Auto-avaliação do nível de conhecimento para atuar como um agente multiplicador de saúde.

Page 9: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):102-8 105

A importância do professor como agente multiplicador de Saúde Bucal • Franchin V, Basting RT, Mussi AA, Flório FM

metade da década de 1980, quando a condição social passou a ser muito enfatizada como importante deter-minante da situação de saúde bucal. No Brasil, essa relação pôde ser recentemente confirmada com a di-vulgação dos resultados referentes ao último levanta-mento epidemiológico realizado – SBBrasil7, que de-monstrou que mesmo o país sendo rico no número de cirurgiões-dentistas19, a estratégia de saúde bucal ofere-cida à população permitiu que, em média, o país tenha cumprido apenas uma das cinco metas preconizadas pela OMS para o controle da doença cárie dentária.

Nessa linha de raciocínio, quando perguntados sobre o tipo de profissional/indivíduo responsável pela transmissão de informações a respeito dos fato-

res de iniciação e desenvolvimento da cárie dentária, questão fundamental para a adequação da estratégia preventiva, dos 338 entrevistados, 50,4% responde-ram que o responsável seria o cirurgião-dentista, se-guido de informações obtidas na escola (27,1%) e através da família (20,9%) (Gráfico 3).

A utilização de recursos humanos não-odontoló-gicos como uma estratégia para a promoção de saúde bucal pode representar uma alternativa à ineficiência do atendimento odontológico clássico para a manu-tenção da saúde bucal de que todos dispomos quando nascemos. Considerando-se a possibilidade do tempo de contato e convivência com os escolares, os profes-sores apresentam maior convívio quando compara-

Fon

te d

e In

form

ação

Cirurgião-dentista

Escola

Família

Mídia

Palestras

Cotidiano

Não detalhou

Graduação

Cursos

Campanhas

Capacitação

Cartilhas

Centro de Saúde

Livros

Pasta de dentes

Não respondeu

27,1% (92)

20,9% (71)

15,6% (53)

12,4% (42)

8% (27)

4,1% (14)

2,1% (7)

2,1% (7)

1,5% (5)

0,3% (1)

0,3% (1)

0,3% (1)

0,3% (1)

0,3% (1)

10,6% (36)

Percentual e número de respostas

50,4% (171)Gráfico 3 - Fonte de informação a respeito dos fatores determinantes da cárie dentária.

Ausência de higienização

Consumo exagerado de açúcar

Falta de uso do fio dental

Multifatoriedade

Assistência odontológica deficiente

Microbiota cariogênica

Uso de medicamentos

Componente social

Falta de informação

Falta de cálcio

Falta de flúor

Outros

Falta de prevenção

Cuidados inadequadosF

ator

es d

eter

min

ante

s da

cár

ie d

entá

ria

49,0% (166)

24,8% (84)

22,1% (75)

16,5% (56)

5,6% (19)

3,5% (12)

2,7% (9)

2,7% (9)

2,4% (8)

1,8% (6)

1,5% (5)

0,9% (3)

0,9% (3)

Percentual e número de respostas

93,5% (317)

Gráfico 2 - Percentual de aparecimento nas respostas dos fatores conhecidos que causam a cárie dentária.

Page 10: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):102-8

A importância do professor como agente multiplicador de Saúde Bucal • Franchin V, Basting RT, Mussi AA, Flório FM

106

dos a qualquer profissional de saúde, sendo conside-rados importantes não apenas na observação da saúde e detecção precoce de problemas, mas também na orientação e nas providências em relação a fatos observados que podem vir a melhorar as condições de aprendizagem9 e de qualidade de vida.

São expressivos os relatos a respeito da necessida-de da participação dos professores na saúde dos esco-lares. Eles podem atuar como educadores em saúde bucal transmitindo conhecimentos, desenvolvendo hábitos, bem como promovendo ou reforçando ações educativas11,21,24,25. Glasrud, Frazier13 (1988) reconhe-cem que um professor bem formado tem um grande potencial para contribuir positivamente no processo de desenvolvimento e manutenção efetiva de progra-mas de saúde bucal nas escolas.

Segundo Ferraz11 (2002), o papel do educador em saúde bucal numa escola será o de criar condições para o envolvimento tanto da comunidade escolar quanto das associações de pais em ações que contribuam para um melhor conhecimento acerca do próprio corpo e dos determinantes sociais do processo saúde-doença, fazendo com que as pessoas participem ativamente da produção de saúde e superem, portanto, a postura de meros consumidores passivos de ações curativas. Refor-ça-se assim a necessidade de pensar o espaço escolar como parte integrante da atenção à saúde, através da interferência na realidade do indivíduo enquanto cida-dão, envolvendo tanto aqueles que se encontram den-tro da escola quanto aqueles que estão fora dela11,23.

Vale ressaltar que as ações de promoção da saúde bucal objetivam reduzir as diferenças no estado de saúde da população e assegurar oportunidades e re-cursos igualitários para capacitar todas as pessoas a realizarem completamente seu potencial de saúde.

A Tabela 2 aponta as dificuldades encontradas para que o professor possa atuar como agente multi-plicador de saúde. Dentre as dificuldades apontadas pelo professor, a falta de capacitação e de tempo para mais uma atividade foram lembradas. Também se ci-tou a falta de apoio da família das crianças, a falta de material didático específico para a educação em Saú-de Bucal, além da falta de recursos humanos odonto-lógicos na escola para uma eventual capacitação.

No processo de desenvolvimento da criança, a presença dos pais, responsáveis e professores é fun-damental, devido à influência que exercem sobre ela, conscientizando-a e motivando-a para a adoção de hábitos saudáveis de higiene bucal27. De acordo com Andia4 (2002), a família é o condicionador quase que absoluto nos primeiros estágios do amadurecimento

infantil, justamente aqueles em que a criança está exposta a toda sorte de influências e sugestões. A de-cisiva contribuição hereditária “vem do ambiente fa-miliar e não dos genes”, que apenas determinam as possibilidades. O estudo de Adair et al.1 (2004) tam-bém suporta a hipótese de que atitudes dos pais têm um impacto bastante significativo no estabelecimento de hábitos saudáveis de saúde bucal.

Professores e pais necessitam de treinamento para a detecção de possíveis alterações bucais em crianças que estão sob sua responsabilidade. Esses mostram participação ativa em variadas atividades e expressam interesse em melhorar sua qualidade como educado-res, integrando os novos conceitos ao seu cotidiano e sugerindo a necessidade de uma equipe de saúde para manter a continuidade em seu processo de for-mação11. De acordo com Rocha, Pereira25 (1994), os professores que entendem o momento da prática da escovação como aprendizagem são os que conseguem que seus alunos a assumam como tal, o que mostra quão importante é o relacionamento e o quanto a visão do aluno está vinculada ao significado que o professor assume com relação à atividade.

No presente estudo, a responsabilidade pelos cui-dados relacionados pela manutenção da saúde bucal da criança (Gráfico 4) foi relacionada pela grande maioria das respostas ao cirurgião-dentista (77,9%), ao professor (77,0%) e à equipe formada por diversas ca-tegorias profissionais (70,2%), o que pode ser conside-rado bastante relevante, visto que o professor conside-ra realmente importante o seu papel como um membro da equipe de saúde bucal. Ferraz11 (2002) verificou que, embora os professores se mostrem capacitados para a Educação em Saúde, por essa ser uma tarefa relativa-mente simples, função dependente da boa vontade e

Dificuldades relatadas Respostas %

Já tem muitas responsabilidades, esta seria mais uma

31 9,1

Falta de tempo 100 29,5

Falta de capacitação/informação 151 44,5

Desinteresse dos alunos 45 13,3

Desinteresse dos profissionais da educação

27 8,0

Sem dificuldades 290 85,5

Outra 43 12,7

Não respondeu 11 3,2

Tabela 2 - Dificuldades relatadas pelos voluntários para a atuação do professor como agente multiplicador de saúde bucal.

Page 11: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):102-8 107

A importância do professor como agente multiplicador de Saúde Bucal • Franchin V, Basting RT, Mussi AA, Flório FM

responsabilidade, existe a ausência de integração entre escola, família, equipes de saúde e ação política. Essa integração viabilizaria ou mesmo facilitaria um desem-penho mais satisfatório dos professores.

Pelicioni, Torres20 (1999) verificaram a importân-cia da escola promotora de saúde, comunidade huma-na que se preocupa com a saúde de todas as pessoas que se relacionam com a comunidade escolar. A esco-la saudável tem o propósito de contribuir para o de-senvolvimento das potencialidades físicas, psíquicas, cognitivas e sociais dos escolares da educação básica, a partir de ações pedagógicas, de prevenção e promo-ção da saúde e de conservação do meio dirigidas à comunidade. Uma das características dessa escola é fazer com que o professorado seja um capacitador e, para isso, necessita manejar uma ampla variedade de estratégias de ensino e situações de aprendizagem, coordenar recursos, facilitar discussões e promover aprendizagem de todas as experiências possíveis.

A escola e a Odontologia apresentam em sua pro-blemática e em seus anseios uma mesma realidade social. Uma ação integradora entre educação e Odon-tologia, introduzindo-se efetivamente o conteúdo Saú-de Bucal no currículo do ensino infantil e fundamen-tal através de programas, tem ampla justificativa: formar crianças com perfil diferenciado em educação odon-tológica, capazes de realizar sua própria promoção de saúde bucal. Tornar todas as escolas escolas promoto-ras de saúde é uma meta a ser alcançada, já que dispo-sição é o que não falta para a categoria profissional em questão. Desde que embasado em evidências e bem capacitado, o professor poderá ser bem utilizado como um agente multiplicador de saúde bucal.

CONCLuSãOCom base nos resultados obtidos na presente pes-

quisa, fundamentados na metodologia de trabalho ado-tada, e após análise e discussão, foi possível concluir que

a maioria dos voluntários relatou possuir informações a respeito dos fatores responsáveis pela doença cárie, citando, dentre os principais fatores, a falta de higieni-zação bucal associada ou não a outros fatores. A fonte de informação dos fatores de iniciação e desenvolvi-mento da doença cárie dentária foi o cirurgião-dentista. Os voluntários consideraram importante a atuação do professor como um agente multiplicador de informa-ção e hábitos relacionados à manutenção de saúde bu-cal. A efetiva atuação do professor como agente de saúde bucal necessita da capacitação por profissionais da área e de apoio de instâncias superiores.

ABSTRACTThe importance of the teacher as an oral health multiplying agent

This study aimed to assess the adequacy of the train-ing of education professionals, whose professional po-sition could enable the dissemination of knowledge and habits suitable for promoting oral health among the children under their tutelage. A questionnaire composed of open and closed questions was filled out by 339 students enrolled in the Higher Normal School, Hermínio Ometto University Center, Araras, SP, Brazil. It was found that 98.2% reported having information with respect to factors responsible for caries disease, among whom, 66% considered themselves to be satis-factorily informed about it. The lack of hygiene (93.5%) and exaggerated sugar consumption (49%) were the factors most cited with reference to the etiology of car-ies disease, and the most cited source of information was the dentist (50%), followed by the school (27.1%), the family (20.9%), the media (15.6%), participation in lectures (16%) and daily life (12.4%). It was con-cluded that the teacher’s activity as an oral health agent requires training on the part of education professionals and the support of higher administrative levels.

Percentual e número de respostas

Cirurgião-dentista

Professor

Equipe multiprofissional

Agente comunitário

Médico

Enfermeiro

Não respondeu

Família

Indivíduo 0,3% (1)

1,5% (5)

36,3% (123)

16,5% (56)

11,2% (38)

1,8% (6)

77% (261)

70,2% (238)

77,9% (264)

Gráfico 4 - Distribuição percentual das respostas relativas à responsabilidade da prevenção da cárie dentária.

Page 12: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):102-8

A importância do professor como agente multiplicador de Saúde Bucal • Franchin V, Basting RT, Mussi AA, Flório FM

108

DESCRIPTORSPreventive dentistry. Health education. Dental

caries. §

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Adair PM, Pine CM, Burnside G, Nicoll AD, Gillett A, Anwar S et al.

Familial and cultural perceptions and beliefs of oral hygiene and

dietary practices among ethnically and socio-economically diverse

groups. Community Dent Health 2004;21(1 Suppl):102-11.

2. Alaluusua S, Malmivirta R. Early plaque accumulation – a sign

for caries risk in young children. Community Dent Oral Epi-

demiol 1994;22(5 Pt 1):273-6.

3. Albuquerque CMS, Oliveira CPF. Saúde e Doença: Significa-

ções e Perspectivas em Mudança. Millenium - Revista do ISPV

2002;25(1) [acesso 12 mai 2004]. Disponível em: http://www.

ipv.pt/millenium/Millenium25/25_27.htm.

4. Andia LJ. Estudo exploratório do conhecimento dos pais e/ou

responsáveis, em saúde bucal, de escolares do ensino funda-

mental [Monografia de Especialização]. Piracicaba: Faculdade

de Odontologia de Piracicaba; 2002.

5. Baldani MH, Vasconcelos AGG, Antunes JLF. Associação do

índice CPO-D com indicadores socioeconômicos e de provisão

de serviços odontológicos no Estado do Paraná, Brasil. Cad

Saúde Pública 2004;20(1):143-52.

6. Blinkhorn AS. Dental preventive advice for pregnant and

nursing mothers – sociological implications. Int Dent J

1981;31(1):14-22.

7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.

Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de

Saúde Bucal Projeto SB Brasil 2003 – Condições de Saúde Bu-

cal da População Brasileira 2002-2003, Resultados Principais.

Brasília (DF); 2004. 52 p. [acesso 31 out 2004]. Disponível em:

http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/publicacoes.php.

8. Carneiro SMM. Saúde e Educação – Um Direito do Cidadão.

Jornal A Página da Educação 1998; ano 7(64):18 [acesso 23

mai 2004]. Disponível em: http://www.apagina.pt/arquivo/Arti-

go.asp?ID= 256.

9. Conceição JAN. Conceito de saúde escolar. In: Conceição JAN

(Coord.). Saúde escolar: a criança, a vida, e a escola. São Pau-

lo: Sarvier; 1994. p. 8-15.

10. Conferência Nacional de Saúde. Relatório final da 8a Confe-

rência Nacional de Saúde. In: Conferência Nacional de Saúde,

8. Anais. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da

Saúde; 1987. p. 381-9.

11. Ferraz GC. Percepção e opiniões de professores da rede Oficial

de ensino fundamental: um estudo exploratório [Monografia

de Especialização]. Piracicaba: Faculdade de Odontologia de

Piracicaba da UNICAMP; 2002.

12. Freire MCM, Macedo RA, Silva WH. Conhecimentos, atitudes

e práticas dos médicos pediatras em relação à saúde bucal.

Pesqui Odontol Bras 2000;14(1):39-45.

13. Glasrud PH, Frazier PJ. Future elementary schoolteachers’

knowledge and opinions about oral health and community

programs. J Public Health Dent 1988;48(2):74-80.

14. Harris R, Nicoll AD, Adair PM, Pine CM. Risk factors for den-

tal caries in young children: a systematic review of the literature.

Community Dent 2004;21(1 Suppl):71-85.

15. Johnsen D, Nowjack-Raymer R. Baby bottle tooth decay: issues,

assessment, and an opportunity for the nutritionists. J Am Diet

Assoc 1989;89:1112-6.

16. Lane BJ, Sellen V. Bottle caries: a nursing responsibility. Can

J Public Health 1986;77(2):128-30.

17. Marconi M de A, Lakatos EM. 5ª ed. Técnicas de pesquisa:

planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas

de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. São

Paulo: Atlas; 2002. p. 282.

18. Nadanovsky P, Sheiham A. Relative contribution of dental serv-

ices to the changes in caries levels of 12-year-old children in 18

industrialized countries in the 1970s and early 1980s. Com-

munity Dent Oral Epidemiol 1995;23(6):331-9.

19. Narvai PC. Recursos humanos para a promoção da saúde bucal.

In: Kriger L, Fernandes Neto AJ, Bezerra ACB, Fuks AB, Shei-

ham A, Rösing CK et al. Aboprev. Promoção de saúde bucal.

São Paulo: Artes Médicas; 1997. p. 448-63.

20. Pelicioni MC, Torres AL. Escola promotora de saúde. Série mo-

nográfica do Departamento de Prática de Saúde Pública, Eixo

Promoção da Saúde 1999;12. 14 p. [acesso 31 out 2004]. Dispo-

nível em: http://www.bvs-sp.fsp.usp.br/tecom/docs/1999/pel001.pdf .

21. Peixoto SS, Bastos JRM. É possível sorrir: programa preventivo

e educativo. Ribeirão Preto: Vilimpress; 1998. 74 p.

22. Queluz DP. Recursos humanos na área odontológica – Cola-

borando com a saúde bucal da população. In: Pereira AC.

Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e promoven-

do saúde. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 140-59.

23. Ramos SB, Pereira IMTB. A saúde do escolar no novo modelo

de atenção à saúde: uma visão educativa. Rev Bras Saúde Esc

1990;1(2):9-11.

24 Rocha PH, Frazier PJ. O professor da pré-escola e seu conhe-

cimento sobre aspectos de saúde [Dissertação de Mestrado].

São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de

São Paulo 1986. p. 117.

25. Rocha DG, Pereira IMTB. Educação em saúde bucal: uma

experiência com escolares. Rev Bras Saúde Escolar

1994;3(1/4):126-9.

26. Saliba NA, Saliba O. A educação em Saúde oral e a professora

primária. Estomatol Cult 1970;1(4):83-104.

27. Valença AMG, Santos MEO, Amaral MAT, Graça TCA, Bastos

VAS. Promoção de Saúde bucal em pacientes da disciplina de

Odontologia Preventiva da Faculdade de Odontologia de UFF.

Rev Bras Saúde Escolar 1994;3(1-4):222-6.

Aceito para publicação em 08/2005

Page 13: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):109-14 109

na categoria “motivação” (65,4%), relacionando o aprendizado do aluno a quanto este está estimulado para aprender. O aspecto cognitivo, apesar de ser entendido como importante por ambos, não foi considerado o mais importante para o desenvolvi-mento do processo ensino-aprendizagem. Ao con-siderar a motivação como o item mais importante para identificar um bom aluno, o professor transfe-re a responsabilidade do aprendizado exclusiva-mente para o aluno. Tendo em vista o grande valor que o aluno imprime à relação interpessoal, é fun-damental que tal questão esteja presente na forma-ção do professor.

DESCRITORESEducação em saúde. Ensino. Aprendizagem. Edu-

cação superior. Docentes de odontologia.

O ensino vem se constituindo, na universidade contemporânea, como uma prática desvincula-

da dos interesses maiores da sociedade, impondo que seu lugar e suas funções na prática acadêmica sejam redefinidos e redesenhados. Precisa-se repensar e

RESumOPara que o ensino se constitua em prática vincu-

lada aos interesses maiores da sociedade, é necessá-ria uma redefinição dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação que rompa com os principais problemas já diagnosticados, como a fragmentação curricular, as estratégias de ensino que estimulam a passividade discente e a pouca integração ensino-serviços-comunidade. O professor e o aluno repre-sentam papel fundamental nesse sentido, visto se-rem responsáveis diretos por essas mudanças. O presente trabalho procurou conhecer e comparar a visão de professores e alunos do Curso de Odon-tologia da UNIFOR sobre o papel do professor no aprendizado do aluno. Para tanto, foram entrevis-tados alunos do 9º semestre e professores de todas as áreas de conhecimento. As respostas foram cate-gorizadas de modo a poder expressar a visão mais comum entre os dois grupos. Para a maioria dos alunos, os melhores professores são aqueles enqua-drados nas categorias “relacional” (50,0%) e “cog-nitivo” (37,1%). Já para a maioria dos professores, os melhores alunos são aqueles que se enquadram

O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem: visão do aluno e do professor

A educação moderna deve promover a construção do conhecimento pelo aluno, a partir de um professor que entenda seu papel de agente da transformação social.

Luiz Roberto Augusto Noro*, Danielle Frota de Albuquerque**, Maria Elisa Machado Ferreira***

* Aluno de Pós-Graduação (Doutorado em Ciências da Saúde) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Coordenador do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza. E-mail: [email protected].

** Aluna de Pós-Graduação (Mestrado) da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – Bauru.

*** Especialista em Saúde da Família pelas Faculdades Integradas de Patos. Cirurgiã-Dentista do Programa Saúde da Família de João Pessoa – PB.

Page 14: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):109-14

O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem: visão do aluno e do professor • Noro LRA, Albuquerque DF, Ferreira MEM

110

reinventar as formas com que se lida com ensino e aprendizagem na universidade, para se manter e aperfeiçoar uma prática docente de qualidade9.

A proposta de ensino deverá possibilitar que o aluno adquira competências nas dimensões do saber (domínio teórico-conceitual das bases da medicina), do saber fazer (habilidades básicas para o exercício da prática profissional), do saber ser (desenvolvimen-to de atitudes necessárias para o relacionamento hu-mano e ético da prática) e do saber conviver, com os avanços tecnológicos e com as mudanças do mundo do trabalho8.

Ainda prevalece em muitos cursos a idéia de que a universidade deve se preocupar somente em formar um profissional tecnicamente competente, fato ver-dadeiro, mas não o único do processo de formação universitária. Os aspectos educacionais de educação humanista não devem ser objetos apenas do 1º e 2º graus, pois devem perdurar no ensino superior como um todo2.

A escola perdeu o papel de transmissão e distri-buição do conhecimento, pois os meios de comuni-cação estão ao alcance da maioria da população e apresentam, de um modo muito atrativo, informação abundante e variada6.

A universidade dos nossos tempos vê-se atingida diretamente pela atual revolução tecnológica nos seus principais núcleos de definição e existência: pro-dução e socialização do conhecimento e formação dos profissionais. O novo direcionamento do proces-so ensino-aprendizagem no ensino superior, com ênfase na aprendizagem, requer de seus participan-tes, professor e aluno, algumas redefinições para as aulas, como ambiente de aprendizado2.

A redefinição do projeto pedagógico da gradua-ção implica propostas que rompam com os principais problemas já diagnosticados, como a fragmentação curricular e o predomínio de estratégias de ensino que estimulam a passividade discente e a pouca inte-gração ensino-serviços-comunidade. Assim, o curso de graduação deve utilizar metodologias que privile-giem a participação ativa do aluno na construção do conhecimento e promovam a integração das dimen-sões biológicas, psicológicas, sociais e ambientais do processo saúde-doença8.

Para implementar essa estratégia, tanto as insti-tuições como os professores devem ter em mente o fato de o ensino médico ser uma modalidade de ensino de adultos, isto é, aluno e professor vêm para a sala de aula com uma bagagem própria; cada um traz consigo valores, interesses, necessidades e difi-

culdades5. Nessa realidade, o professor deve atuar como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem e não como única fonte de conheci-mento. O ensino deve ser, o mais possível, baseado na prática profissional, com o aluno exposto a situ-ações e problemas reais da prática profissional em diferentes cenários de aprendizagem. Somente as pessoas que não têm uma atitude de constante aber-tura é que não aprendem ou não ensinam em todas as situações10.

O professor tem, nesse contexto, papel funda-mental, pois, além de transmitir informações, estará influenciando a formação do futuro profissional da saúde por meio de sua experiência e de suas atitudes, que perpassam na convivência entre eles durante as atividades de ensino-aprendizagem.

Como lidamos com alunos que são sempre indi-víduos muito diferentes uns dos outros e sujeitos a mudança, que tiveram cada qual diferentes experi-ências de vida, diferentes conhecimentos adquiri-dos e têm diferentes expectativas sobre o quê e como aprender, é obvio que nem todos aprendem da mesma maneira ou com a mesma prontidão ou o mesmo significado em cada material e situação de ensino. No entanto, é possível apropriar-se do esta-do atual do conhecimento sobre aprendizagem e traçar um plano de investigação sobre os próprios alunos, os conhecimentos e as habilidades conside-rados importantes e adequados a seu nível de estu-do, bem como sobre as estratégias e os recursos de ensino9.

Para a maioria dos professores que atuam nas ins-tituições de ensino superior, os diferentes cursos efe-tivados na universidade não funcionaram como pre-paração para a docência, com exceção dos professores oriundos da área de Educação ou com licenciaturas, que tiveram oportunidades de discutir elementos te-óricos e práticos relativos à questão do ensino e da aprendizagem, porém para outra faixa de idade de alunos1.

Analisando-se o exposto, e frente às transforma-ções que vêm sendo propostas para a melhoria do ensino universitário, busca-se avaliar como os alunos percebem o papel do professor no processo ensino-aprendizagem e qual a visão dos docentes sobre a sua contribuição nesse processo.

mETODOLOGIAO modelo de estudo utilizado para desenvolvi-

mento do presente trabalho caracteriza-se como observacional transversal, considerando-se que não

Page 15: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):109-14 111

O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem: visão do aluno e do professor • Noro LRA, Albuquerque DF, Ferreira MEM

há a intenção de se estabelecer relação entre as va-riáveis analisadas, mas sim uma descrição dessas variáveis, colhidas em um determinado momento no tempo.

Foram incluídos no presente estudo alunos do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza que se encontravam matriculados no 9º semestre le-tivo no ano de 2003, tendo em vista o fato de esses já terem vivenciado as várias fases de aprendizado do curso – atividades teóricas, laboratoriais e clínicas –, o que lhes permitiu uma visão sobre o curso como um todo, assim como professores de todas as áreas do conhecimento.

Os questionários foram aplicados pelas pesquisa-doras previamente capacitadas e calibradas para de-senvolvimento das entrevistas.

Participou da pesquisa um total de 70 alunos, o que correspondia a toda a turma do 9º semestre, e 26 professores, identificados como os que atuaram nas disciplinas clínicas ao longo do curso. Com isso, ga-rantiu-se a representatividade das informações cole-tadas.

Aos alunos foram aplicados questionários com-postos por duas perguntas que tinham como objetivo verificar as principais características dos melhores professores do Curso de Odontologia da UNIFOR, assim como as principais características dos piores professores. Em relação aos professores foram aplica-dos questionários também compostos por duas per-guntas que, por sua vez, visavam identificar as princi-pais características dos melhores alunos do Curso de Odontologia da UNIFOR, da mesma forma que as principais características dos piores alunos.

O acesso aos alunos foi facilitado uma vez que as pesquisadoras eram alunas do mesmo semestre dos alunos entrevistados, não havendo necessidade de locomoção ou marcação de horários especiais para realização das entrevistas uma vez que estas foram desenvolvidas na própria Universidade. Quanto aos professores, as pesquisadoras tiveram contato direto com eles ao longo do curso, o que proporcionou fa-cilidade na condução da pesquisa.

As variáveis relativas às respostas dos alunos foram categorizadas em quatro grupos: relacional, cogniti-vo, administrativo e vocacional. A categoria “relacio-nal” teve como referência palavras identificadas com a forma de relacionamento interpessoal, tais como atencioso, paciente, amigo, acessível, compreensivo, “sabe criticar”. Já a categoria “cognitivo” foi identifi-cada com palavras ligadas ao domínio do conteúdo técnico-científico como “saber transmitir” e conheci-

mento. As questões relacionadas ao cumprimento do horário e pontualidade compuseram a categoria “ad-ministrativo” e a frase “gostar do que faz” identificou a categoria “vocacional”.

As variáveis relativas às respostas dos professo-res, por sua vez, também foram categorizadas em quatro grupos: relacional, cognitivo, iniciativa e motivação. A categoria “relacional”, diferentemen-te da mesma categoria das respostas dos alunos, teve como referência palavras identificadas com a forma de abordagem do aluno ao professor como respei-to e “saber questionar”. A categoria “cognitivo” foi identificada por palavras como inteligente, estudio-so e habilidoso. Palavras como interesse, autonomia e “gostar do que faz” originaram a categoria “moti-vação” enquanto iniciativa foi a palavra citada pelos professores que se configurou como uma categoria em si.

A digitação dos dados coletados foi realizada atra-vés de entrada dupla utilizando-se o programa de análise estatística Epi-Info4.

O presente trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Fortaleza, procurando-se garantir meios ideais de permitir má-xima segurança aos participantes da pesquisa, sempre se respeitando os princípios do anonimato e da pri-vacidade. Todos os participantes da pesquisa preen-cheram o Termo de Consentimento Livre e Esclare-cido, tendo sido evidenciados a consciência da finalidade da pesquisa assim como o seu desenvolvi-mento.

RESuLTADOSA análise dos dados permitiu observar questões

extremamente importantes quanto às diferentes po-sições de professores e alunos a respeito do processo ensino-aprendizagem. Isso é preponderante princi-palmente considerando-se serem os professores os principais atores na formação de futuros profissionais e da construção de uma nova sociedade.

Os dados relativos às principais características dos melhores alunos do Curso de Odontologia na visão do professor estão elencados no Gráfico 1.

Conforme pode ser observado, a principal carac-terística dos melhores alunos do Curso de Odonto-logia da UNIFOR está ligada à motivação (65,4%), ou seja, o interesse intrínseco que o aluno tem em aprender. As demais categorias ficaram bem abaixo da questão relacionada à motivação, sendo a segun-da mais importante a cognitiva (19,2%), vindo em seguida a relacional (11,5%) e por fim, a iniciativa

Page 16: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):109-14

O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem: visão do aluno e do professor • Noro LRA, Albuquerque DF, Ferreira MEM

112

(3,9%). O Gráfico 2 serve como elemento fundamental

para observação das características dos piores alunos do Curso de Odontologia na visão do professor.

A visão do professor guarda grande coerência com a análise relativa aos aspectos dos alunos. Des-sa forma, assim como os melhores têm como gran-de diferencial a motivação, o elemento que mais falta aos piores alunos é a mesma motivação (69,3%). Em relação às outras categorias, continua a mesma participação relativa no aspecto cognitivo (15,4%) e ocorre uma inversão em relação às outras duas categorias: iniciativa (11,5%) e relacional (3,8%).

Vale ressaltar que o desempenho da maioria dos alunos do curso é bastante satisfatório, uma vez que há uma baixa taxa de reprovações e os resultados dos Exames Nacionais desenvolvidos pelo Ministério da Educação sempre apontaram para um bom desem-penho dos alunos do Curso de Odontologia da UNI-FOR.

Quando analisamos as impressões dos alunos em relação aos professores, podem-se observar caracte-rísticas bastante marcantes, conforme demonstra o

Gráfico 3.O Gráfico 3 deixa bastante clara a presença de

duas características extremamente presentes na maio-ria dos bons professores: ligadas ao relacional (50,0%) e ao cognitivo (37,1%). Já as categorias administrati-vo (7,2%) e vocacional (5,7%) foram bastante pon-tuais, não sendo identificadas como as categorias mais importantes na definição pelo aluno de um bom pro-fessor.

A seguir, o Gráfico 4 apresenta as principais ca-racterísticas dos piores professores do Curso de Odontologia da UNIFOR.

Pode-se observar que, de forma praticamente ab-soluta, a principal característica identificada como prejudicial pelo aluno no desenvolvimento de sua aprendizagem é a relacional (81,4%), enquanto as outras categorias tiveram um desempenho bastante parecido: administrativo (7,2%), cognitivo (5,7%) e vocacional (5,7%).

É importante ressaltar que a grande maioria dos professores do Curso de Odontologia da UNIFOR apresentou um desempenho bastante satisfatório nos processos de avaliação institucional realizados nos anos de 2003 e 2004.

69,3%15,4%

11,5%3,8%

Motivação

Cognitivo

Relacional

Iniciativa

Gráfico 2 - Distribuição das principais características dos piores alunos por categoria, segundo professores (Curso de Odontologia da UNIFOR, 2003).

50%37,1%

7,2% 5,7%

Relacional

Cognitivo

Administrativo

Vocacional

Gráfico 3 - Distribuição das principais características dos melhores professores por categoria, segundo alunos (Curso de Odontologia da UNIFOR, 2003).

81,4%7,2%

5,7% 5,7%

Relacional

Cognitivo

Vocacional

Administrativo

Gráfico 4 - Distribuição das principais características dos piores professores por categoria, segundo alunos (Curso de Odontologia da UNIFOR, 2003).

65,4%19,2%

11,5%3,9%

Motivação

RelacionalCognitivo

Iniciativa

Gráfico 1 - Distribuição das principais características dos melhores alunos por categoria, segundo professores (Curso de Odontologia da UNIFOR, 2003).

Page 17: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):109-14 113

O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem: visão do aluno e do professor • Noro LRA, Albuquerque DF, Ferreira MEM

DISCuSSãOUm dos maiores desafios da moderna educação é

promover um processo que permita uma construção do conhecimento por parte do aluno, a partir de um professor que entenda seu papel enquanto agente da transformação social. A partir do constante estímulo ao aluno para desenvolver todo seu potencial, o pro-fessor passa a investir não mais em um “seguidor”, mas em um sujeito que possa junto com ele criar no-vas possibilidades de aprendizado, procurando uma maior inserção na realidade.

Para isso, necessário e urgente se faz construir um ambiente favorável a essa perfeita interação, de forma a permitir que alunos e professores tenham o entendimento da educação enquanto forma de intervenção no mundo e reconheçam que a educa-ção é ideológica7. Isso permitirá um movimento de ruptura efetiva com o descompromisso relativo aos interesses que não sejam os da busca de soluções adequadas aos problemas da maioria da popula-ção.

Abordando-se as características de um bom pro-fessor na visão do aluno e de um bom aluno na visão dos professores, pôde ser feito um paralelo entre a visão do docente e a do aluno, com o objetivo de propiciar subsídios para que o professor possa sele-cionar estratégias que favoreçam uma melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem.

Um dos principais aspectos relacionados ao en-sino diz respeito ao domínio cognitivo. Assim, mui-to tempo é utilizado pelo professor no preparo de aulas, na confecção de material didático, no estudo individual e na performance postural para ministrar aulas, ou seja, transmitir o seu conhecimento ao alu-no. O aluno, por sua vez, deve receber essas infor-mações por meio da atenção à aula e do estudo das anotações (ou dos livros) para adquirir novos sabe-res. No presente estudo, apesar da importância do domínio do conteúdo pelos professores ser identifi-cado pelo aluno como algo necessário, não foi a característica considerada mais importante para o seu aprendizado. O que se pôde observar foi que, para o aluno, a postura do professor é o fator mais importante para o aprendizado, ou seja, a confiança do aluno em ter no professor um amigo que possa junto com ele construir seu conhecimento é mais significativa que a mera competência do professor em ministrar aulas.

Em relação à visão do professor, a categoria “cog-nitivo” também não foi a mais importante. Superou-a, em muito, a categoria “motivação”. Observou-se

nas palavras ditas pelos professores que a motivação fundamental é aquela previamente elaborada pelo aluno, ou seja, aquela relacionada ao seu interesse, à sua vontade de aprender, à motivação intrínseca. Com essa postura o professor transfere quase que exclusivamente ao aluno sua responsabilidade pelo aprendizado. Com o que se pretende atualmente, o papel desempenhado pelo professor é preponde-rante para o desenvolvimento do aluno, ou seja, é necessário que o professor trabalhe através de seus recursos metodológicos, com a motivação extrínse-ca, criando situações que o aluno possa também se desenvolver a partir do seu processo de formação. Vale ressaltar que para o professor a categoria “re-lacional”, tão presente na visão do aluno, foi pouco considerada enquanto elemento importante para o aprendizado do aluno.

Num momento em que existe uma forte tendên-cia à rediscussão da proposta pedagógica, prevendo-se o uso de metodologias ativas de aprendizagem, é preponderante que o professor repense seu papel enquanto facilitador da aprendizagem do aluno. Nesse campo, fato que merece destaque é a forma-ção do professor realizada pelos programas de pós-graduação stricto sensu. Uma das principais finalida-des do mestrado deve ser a formação docente. Para tal, a visão desses cursos deveria estar voltada a pre-parar um professor que capacitasse alunos a atuar como clínicos gerais, com sólida formação ética e humanística, preparados para proporcionar a trans-formação da sociedade3. É imperativo, portanto, um novo direcionamento da pós-graduação stricto sensu na área de Odontologia, que permita uma aproxi-mação do professor ao papel que ele deve desem-penhar em sua ação docente. Com isso, espera-se o desenvolvimento de pesquisas com maior aplicabi-lidade no aprendizado do aluno, estimulando-os a buscar melhores soluções para os problemas de saú-de bucal da maioria da população brasileira.

ABSTRACTDevelopment of the teaching and learning process: the point of view of the student and of the professor

In order for teaching to constitute a practice linked to the greater interests of the society, a new definition is required for the pedagogic projects of undergraduation courses that might tackle the main problems already diagnosed such as curriculum fragmentation, teaching strategies that stimulate student passivity, and poor integration between

Page 18: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):109-14

O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem: visão do aluno e do professor • Noro LRA, Albuquerque DF, Ferreira MEM

114

teaching, service rendering and the community. The teacher and the student play a fundamental role in this direction as they are directly responsible for these changes. The aim of the present work was to assess and compare the points of view of teachers and students from the Dentistry Course, University of Fortaleza, (UNIFOR), CE, Brazil, on the teacher’s role in the student’s learning process. For this assess-ment, students from the 9th semester and teachers of all knowledge areas were interviewed. The an-swers were classified so as to express the most com-mon visions among the two groups. For most of the students, the best teachers were those who fell under the categories “relational” (50.0%) and “cognitive” (37.1%). For the teachers, the best students were those who fell under the category “motivation” (65.4%), relating the learning of the student to how much he is stimulated to learn. The cognitive aspect, in spite of being understood as important by both groups, was not considered the most important for the development of the teaching-learning process. When considering the motivation as the most impor-tant item to identify a good student, the teacher transfers the responsibility of the learning exclu-sively to the student. Having in mind the great value attributed by the student to the relationship, it is fundamental that this subject be present in the teacher’s training.

DESCRIPTORSHealth education. Teaching. Learning. Educa-

tion, higher. Faculty, dental. §

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Anastasiou LGC. A docência como profissão no ensino supe-

rior e os saberes pedagógicos e científicos. Rev Psicopedagogia

2003;20(61):7-16.

2. Costa AMDD. Contribuição do perfil do aluno de Graduação

em Odontologia para redefinição dos recursos usados pelo

professor no processo ensino-aprendizagem. Rev Faculdade

Odontol Lins 2002;14(1):30-4.

3. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Ensino Superior.

Resolução CNE/CES 03, de 19 de fevereiro de 2002. Institui

Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em

Odontologia. Diário Oficial da União n. 42, Brasília, 04 mar

2002, seção 1, p. 10-1.

4. Dean AG. Epi Info, version 6.1: a word processing database

and statistic program for epidemiology on microcomputers.

Atlanta: Center of Disease Control and Prevention; 1994.

5. Ferreira MLSM. Avaliação no processo ensino aprendizagem:

uma experiência vivenciada. R Bras Educ Med 2003;27(1):12-

9.

6. Freire AF. Ensino superior com tecnologia da informação.

Leopoldianum 2003;28(78):101-18.

7. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à práti-

ca educativa. 31ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2005.

8. Iochida LC, Batista NA. O ensino da clínica médica: situação

atual, perspectiva e desafios. Rev Bras Clin Terap 2002;28(4):142-

5.

9. Luce MB. Prática acadêmica: metodologias e tecnologias de

ensino em questão. Educ Bras 2001;23(47):103-8.

10. Takahashi RT, Frias MAE. Avaliação do processo ensino-apren-

dizagem: seu significado para o aluno de ensino médio de

enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2002;36(2):156-63.

Aceito para publicação em 08/2005

Submeta seu artigo para a Revista da ABENO através de nosso site!

www.abeno.org.br/revista/trabalho

ABENOABENOAssociação Brasileira de Ensino Odontológico

R E V I S T A D A

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

volume 6número 2julho/dezembro2006

ISSN

1679

-595

4

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

R E V I S T A D A

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

volume 6número 2julho/dezembro2006

ISSN

1679

-595

4

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

R E V I S T A D A

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

volume 6número 2julho/dezembro2006

ISSN

1679

-595

4

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

R E V I S T A D A

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

volume 6número 2julho/dezembro2006

ISSN

1679

-595

4

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

R E V I S T A D A

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

volume 6número 2

julho/dezembro

2006

ISSN

1679

-595

4

ABENO

ABENOAssociação Brasileira de Ensino Odontológico

R E V I S T A D A

ABENO

ABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

volume 6número 2

julho/dezembro

2006 ISSN

1679

-5954

Page 19: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):115-8 115

DESCRITORESEducação em Odontologia/tendências. Estágio

clínico. Competência clínica. Saúde holística.

A fragmentação do ensino Odontológico nas Univer-sidades Brasileiras tem promovido uma visão dis-

torcida da realidade social. Nas palavras de Morin3 (2004): “o retalhamento das disciplinas torna impossível apreender o que é tecido junto, isto é, complexo, se-gundo o sentido original do termo”. O projeto político-pedagógico adotado pela Universidade da Região de Joinville em seu curso de Odontologia procura resgatar essa realidade no aprendizado. As clínicas integradas são adotadas já a partir do terceiro ano, em um curso de graduação que possui cinco anos de duração.

As disciplinas são orientadas e construídas de ma-neira que o ciclo básico laboratorial seja proposto já

RESumOA prática pedagógica das clínicas integradas do

curso de odontologia da Universidade da Região de Joinville/SC tem demonstrado uma visão ampliada no conceito de promoção de saúde. Unindo teoria e prática das disciplinas em uma única atividade clínica, promove um aprendizado mais humanista, com pos-sibilidades de crescimento para alunos e professores. A triagem realizada pelos próprios alunos, embasados em uma lista crescente de complexidades, exercita o diagnóstico e o planejamento das demandas para o atendimento. O processo de avaliação procura prio-rizar a visão qualitativa enquanto abandona o concei-to de “produção mínima” na produção de tarefas como meta final e referencia o ser humano e sua in-tegralidade.

Clínica integrada da uNIVILLE: “a visão do todo”

As clínicas integradas odontológicas contribuem para uma formação mais humanista do aluno, pois possibilitam que o início do aprendizado se faça de uma maneira transdisciplinar, ampliando os conceitos da integralidade no cuidar do paciente.

Luiz Carlos Machado Miguel*, Kesly M. Andrade Ribeiro**, Giuseppe Valduga Cruz***, Arno Locks****

* Professor Coordenador de Clínica Integrada de Baixa Complexidade do Curso de Odontologia da Universidade da Região de Joinville, Campus Universitário. Doutorando em Odontologia em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected].

** Professora Coordenadora da Triagem do Curso de Odontologia da Universidade da Região de Joinville, Campus Universitário. E-mail: [email protected].

*** Coordenador do Curso de Odontologia da Universidade da Região de Joinville, Campus Universitário. E-mail: [email protected].

**** Professor Doutor do Curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Estomatologia, Campus Universitário. E-mail: [email protected].

Page 20: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):115-8

Clínica integrada da UNIVILLE: “a visão do todo” • Miguel LCM, Ribeiro KMA, Cruz GV, Locks A

116

com uma visão do todo, da transdisciplinaridade. O início da fase prática, no atendimento a pacientes, é feito de uma maneira conjunta na qual as clínicas são divididas em etapas de complexidade. O aluno inicia essa fase prática em pacientes já com uma visão do todo, em escala crescente de complexidade de diag-nóstico, planejamento e tratamento. Portanto, na fase de aprendizado clínico, o tratamento dos pacientes é feito de uma forma integral, pois todas as clínicas são integradas e propostas em graus de complexidade.

As atividades clínicas são divididas em Baixa, Mé-dia e Alta complexidade de acordo com as necessida-des de tratamento dos pacientes e a habilidade do aluno. O grau de complexidade dos procedimentos foi alocado pelas disciplinas envolvidas nas clínicas integradas em uma programação pedagógica de modo a favorecer um diagnóstico de complexidades crescentes elaborado pelos alunos.

A orientação realizada pelos professores traz um “feedback” no qual o ensino se torna uma aprendiza-gem, uma vez que o professor é a figura do orientador em todos os seus aspectos. Deve dominar as noções básicas em todas as disciplinas pertinentes à sua clí-nica, fazendo com que o processo de atualização se torne constante e as transformações pedagógicas nas clínicas evoluam como um todo.

A conclusão que se tira desse processo de ensino-aprendizagem é que os alunos evoluem tendo uma visão mais abrangente do ser humano. Planejam melhor e mais eticamente a reabilitação dos seus pacientes e, acima de tudo, colocam-se dentro do processo saúde/doença com a capacidade real de inverter o quadro epidemioló-gico em que se encontra a saúde bucal no Brasil.

AS CLÍNICAS INTEGRADASAs Clínicas Integradas Odontológicas, como in-

trodução da prática pedagógica, contribuem para uma formação mais humanista do aluno. Possibilitam que o início do aprendizado se faça de uma maneira transdisciplinar, ampliando os conceitos da integra-lidade no cuidar do paciente5. Traz também como efeitos benéficos o aprimoramento, a integração e discussão por parte dos professores, uma vez que con-vivem vários pensamentos em um mesmo local de trabalho pedagógico. Busca-se um novo perfil de for-mação do aluno, adequado a transformar a realidade brasileira. No entanto, nas palavras de Cristino1 (2005): “convivemos numa realidade paradoxal e numa conseqüente crise paradigmática na qual so-mos especialistas tendo que formar generalistas”.

O curso de Odontologia da Universidade da Re-

gião de Joinville-SC, apesar de ser recente, vinha sen-do pensado desde 1983. Um currículo ousado para a época, com disciplinas integradas tanto verticalmen-te como horizontalmente na grade curricular, fez com que o projeto não fosse entendido por muitos dos que eram responsáveis pela sua viabilização. As discussões em relação ao projeto foram retomadas a partir de 1995, tentando-se adequá-lo a uma nova realidade estabelecida, já voltada para a integralidade das ações pedagógicas.

O processo de implantação do curso, em 1998, veio no momento em que o pensamento político-pedagógico dos cursos de Odontologia no Brasil co-meçava a se voltar para a realidade socioeconômica do país. Essas mudanças estavam embasadas princi-palmente em dois fortes argumentos:1) A saturação de um modelo odontológico que

nunca foi resolutivo nas soluções dos problemas brasileiros.

2) A criação descontrolada e inconseqüente de no-vos cursos baseada na política neoliberal adotada pelo governo no final da década de 90 e início da década de 20004.A formulação das Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do curso de graduação em odontologia, implan-tadas a partir de 2001, e as orientações da ABENO na condução, implantação e adequação de novos e anti-gos cursos possibilitaram, ao nosso ver, uma proposta de curso inovadora para a época.

Não se trata de um experimentalismo inconse-qüente, mas de ações político-pedagógicas embasa-das na realidade brasileira, com conhecimento prin-cipalmente da realidade regional, que adequam o ensino de uma forma responsável, voltando-o para a resolução dos problemas regionais e nacionais.

Nos estudos que precederam a montagem da grade curricular, reuniram-se as várias correntes de pensa-mentos que integraram e associaram a teoria e a prá-tica de seus conhecimentos. Procurou-se quebrar bar-reiras nos conteúdos das disciplinas, integrando-as e ampliando a visão geral e humanista. O grande e pri-meiro paradigma a ser quebrado nesse momento pelos futuros professores era o que chamamos de a “teoria das especialidades”, em que em um processo de “re-torno às capitanias hereditárias” transformava as disci-plinas em “feudos”, com donos e senhores. Talvez esse seja o grande desafio para as escolas já estabelecidas. Para uma escola iniciante, como a nossa, esse também foi um processo traumático, com perdas e ganhos sig-nificativos. Profissionais e futuros professores se inte-graram em um processo de criação e foi preciso se li-bertar do antigo e construir uma nova proposta.

Page 21: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):115-8 117

Clínica integrada da UNIVILLE: “a visão do todo” • Miguel LCM, Ribeiro KMA, Cruz GV, Locks A

O auxílio da Universidade da Região de Joinville, com cursos de capacitação integradora, que quebraram barreiras e principalmente aproximaram as pessoas, foi determinante neste processo. A Odontologia, até bem pouco tempo atrás, formava profissionais para o traba-lho solitário. O mercado de trabalho permitia isso, o que ocasionou uma prática totalmente dissociada da reali-dade de nosso país. A proposta das “Diretrizes Curricu-lares para os cursos de Odontologia”2 (2002) propõe o seguinte perfil para os egressos dos cursos de Odonto-logia: “profissional generalista, com sólida formação técnico-científica, humanista e ética, orientada para a promoção de saúde, com ênfase na prevenção das do-enças bucais prevalentes e consciente da necessidade de educação continuada”. A integração começou na for-mação da grade curricular para chegar às salas de aula. Procurou-se uma proposta de visão ampliada transdis-ciplinar de ensino, em que as partes que formam a to-talidade são interdependentes.

A visão transdisciplinar nas clínicas integradas já se inicia muito antes de o aluno efetivamente aplicar seus conhecimentos. Essas noções são passadas já nas disci-plinas básicas, na construção do saber. A ligação entre o início e o fim deve ser uma linha contínua, não neces-sariamente reta, mas deve manter um padrão coerente e uniforme de conhecimentos. O aluno que chega à clínica integrada deve ter contemplado uma visão não somente biológica, mas ética, humanista e social do ser humano, na qual ele vai desenvolver e apreender seus conhecimentos. É preciso que o aluno, quando for apli-car o adesivo de “última geração”, não somente entenda o processo técnico de aplicação desse material, mas com-preenda a biologia envolvida no procedimento, em níveis histológico e bioquímico, com suas reações, e, principalmente, entenda o aspecto transdisciplinar do seu ato, não somente biológico mas social.

TRIAGEmDentro do processo de criação da grade curricular

do curso de odontologia da UNIVILLE, a triagem pos-sui uma posição fundamental. Deve ao mesmo tempo regular e encaminhar as demandas para as clínicas afins e possibilitar ao aluno o aprendizado do diagnós-tico e planejamento do tratamento. A triagem é reali-zada por dois alunos, uma vez por semana, supervisio-nada por uma professora orientadora. As disciplinas envolvidas no diagnóstico estabeleceram uma grade de níveis de complexidades que deve ser seguida para o efetivo encaminhamento dos pacientes. Essas com-plexidades foram estabelecidas em função da evolução do aprendizado, e o paciente é encaminhado para uma

das clínicas de acordo com sua mais alta complexidade. Exercita-se aqui o diagnóstico e o planejamento da demanda por parte dos alunos. Os pacientes são tria-dos pelos níveis de complexidade estabelecidos em baixa, média e alta complexidade.

Os pacientes de baixa complexidade são encami-nhados para as clínicas do terceiro ano, os de média complexidade são encaminhados para as clínicas do quarto ano e os de alta complexidade encaminhados para as clínicas do quinto ano.

DESENVOLVImENTO CLÍNICOOs pacientes são encaminhados para as diversas clí-

nicas e recepcionados pelos alunos responsáveis. Todo o agendamento é controlado pelo aluno com supervisão do seu orientador e baseado no diagnóstico e planeja-mento realizado pelo aluno. O diagnóstico e o planeja-mento são centrados na promoção da saúde, que pro-cura dar uma visão integral do paciente, sendo conduzidos visando à integração das ações e do apren-dizado e objetivando o bem-estar do paciente, biologi-camente e socialmente. A formação dos professores foi uma das primeiras barreiras a ser quebrada. As concei-tuações disciplinares, especialistas ao extremo, não se encaixavam na nova concepção de ensino. Precisávamos de um novo perfil generalista de professor, que transi-tasse por várias disciplinas sem perder a visão humanis-ta da profissão4 e que tivesse a humildade e, principal-mente, vontade de aprender junto com seus alunos. Várias barreiras interpostas no caminho foram vencidas, não sem algumas baixas no corpo docente, porém, a cada passo, mais se confirmava o novo modelo de clíni-ca integrada em andamento e se acreditava nele.

As disciplinas de Clínicas Integradas evoluem con-forme os níveis de complexidade estabelecidos pelas disciplinas envolvidas no aprendizado. Quanto mais alta a complexidade, maior é o nível de conhecimento e a interação transdisciplinar por parte dos professores envolvidos. Procura-se estabelecer para cada aluno um professor com perfil diferente de formação nos dife-rentes dias de clínicas. Desse modo, cada aluno, depen-dendo da carga horária da disciplina, possui dois ou três professores diferentes. O que no início parecia ser um problema didático, com várias visões sobre um mes-mo assunto, que poderiam confundir o aluno, mostrou-se uma vantagem. Possibilita, desde que bem conduzi-do, o aprendizado com uma visão mais ampliada. Várias vezes os papéis se inverteram, com o professor apren-dendo com o aluno. Aqui novamente o espírito da hu-mildade, sem abdicar do conhecimento inerente à profissão, necessita estar presente – reconhecer os sa-

Page 22: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):115-8

Clínica integrada da UNIVILLE: “a visão do todo” • Miguel LCM, Ribeiro KMA, Cruz GV, Locks A

118

beres e as limitações do seu conhecimento, estando sempre pronto para recebê-lo e transmiti-lo. Cada alu-no, em sua clínica, somente se reporta ao seu orienta-dor, que é responsável pela condução e pelo ensino de um grupo de no máximo 4 duplas ou 8 alunos, depen-dendo do número de alunos no período. Nos casos de dúvida no diagnóstico ou procedimento clínico, so-mente o orientador pode chamar outro professor para esclarecer dúvidas. Esse processo gerou uma série de problemas no início pelo despreparo de alguns profes-sores em aceitarem estar sendo “ensinados” junto com seus alunos. No entanto, o tempo e a maior integração docente mostrou que esse processo fortalece o profes-sor e se configura em um grande estímulo na aprendi-zagem e reciclagem dos conhecimentos.

AVALIAÇÕES O primeiro grande passo foi abolir a avaliação do

aluno de graduação por produção na clínica integra-da. A avaliação, como processo de ensino/aprendiza-gem, começa nesse ponto a tomar caminhos qualita-tivos. Não se procuravam mais duas restaurações de amálgama ou uma endodontia para fechar o relatório mensal para fins avaliativos que possui caráter repro-vatório. Lidamos com seres humanos, e o perfil hu-manista do curso necessitava ser implementado. É priorizado o diagnóstico e o planejamento dentro da promoção da saúde e visão integral do ser humano.

Provas teóricas envolvendo os conteúdos programá-ticos procuram contextualizar os conhecimentos. Se-minários dirigidos trazem para uma realidade prática os diversos diagnósticos e planos de tratamento possí-veis para o mesmo paciente. Todas as realidades e pos-sibilidades de diagnóstico procuram ser contempladas. As reuniões bimestrais de professores orientadores, ou conselhos de classe, corrigem os rumos e fornecem várias visões de um mesmo aluno. Reuniões bimestrais entre alunos e orientadores são realizadas com intuito de troca de experiências, discussão sobre os vários pla-nos de tratamento possíveis e o proposto, levantamen-to das dificuldades encontradas e avaliação por parte do aluno sobre a evolução de seu aprendizado.

CONCLuSÕESA prática pedagógica adotada pelo curso de Odon-

tologia da Universidade da Região de Joinville tem re-velado principalmente seu caráter de humanização da educação. Procura contextualizar a prática odontológi-ca com uma visão de integralidade, não somente de ações, mas também do ser humano5. O caráter transdis-ciplinar das ações nas clínicas integradas, onde o pro-

fessor muitas vezes se coloca como aluno, incentiva o avanço educacional. Com uma avaliação qualitativa, na qual o diagnóstico e o planejamento das ações voltadas para a promoção da saúde exercem um importante papel na formação dos alunos, estamos preparando um profissional voltado para a realidade brasileira e habili-tado para atuar em equipes multidisciplinares no pla-nejamento das ações de saúde. Ressaltamos que muitos avanços já ocorreram desde o início dessa nova moda-lidade de ensino, porém a prática tem demonstrado que mais avanços são necessários para romper o paradigma flexneriano de educação em saúde. Somente com a troca de experiências alcançaremos estágios mais avan-çados na efetiva promoção da saúde da população.

ABSTRACTIntegrated clinics at UNIVILLE: “a holistic view”

The teaching practice developed in the integrated clinics at the University of Joinville (UNIVILLE), SC, Brazil, has demonstrated a broader vision towards the concept of health promotion. By joining practice to the theory of the different disciplines in a single clin-ical activity, it promotes a more humanist learning approach, allowing the personal development of stu-dents and teachers. The selection of patients, carried out by the students themselves, based on a list of in-creasing complexities, exercises diagnosis and the planning of care needs. The evaluation process em-phasizes a qualitative approach, while abbandoning the concept of “minimal production” in the produc-tion of tasks as an ultimate goal, establishing the hu-man being and its completeness as a reference.

DESCRIPTORSEducation, dental/trends. Clinical clerkship.

Clinical competence. Holistic health. §

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Cristino PS. Clínicas integradas antecipadas: limites e possibi-

lidades. Revista da ABENO 2005;5(1):12-8.

2. Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação

em Odontologia. Revista da ABENO 2002;2(1):31-4.

3. Morin E. A cabeça bem feita. Repensar a reforma, reformar o

pensamento. 10ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2004.

4. Moysés SJ. Políticas de Saúde e formação de recursos humanos

em Odontologia. Revista da ABENO 2004;4(1):30-7.

5. Moysés ST, Moysés SJ, Kryger L, Schmitt EJ. Humanizando a

educação em Odontologia. Revista da ABENO 2003;3(1):58-

64.

Aceito para publicação em 09/2005

Page 23: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):119-22 119

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em vigor (Lei 9.394/96) estabelece a ava-

liação como instrumento de decisão e de ações, visan-do a melhoria da qualidade da Educação Nacional e, em particular, do Ensino Superior. Essa lei está am-parada nos princípios da Constituição Cidadã de l968 (artigos 206 e 209) e determina que todo o ensino deve ser ministrado com base no princípio da garan-tia de padrão de qualidade, entre outros princípios1.

O Artigo 9º da LDB, quando se refere ao ensino superior, diz que cabe à União:

“Inciso VII – assegurar o processo nacional de avaliação das

Instituições de Ensino Superior, com a cooperação dos sis-

temas que tiverem responsabilidade sobre o nível de ensino;

Inciso IX – avaliar os cursos das Instituições de Ensino Su-

perior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino”2.

Segundo Consolaro5 (2002), a tendência em de-senvolver uma atividade avaliativa parte do contexto individual para o coletivo. O docente é a unidade

RESumOEm todos os setores da educação há necessidade

de avaliações. Os acadêmicos são constantemente ava-liados e aferidos pelo corpo docente; porém, os pro-fessores nem sempre são submetidos ao mesmo pro-cesso. O objetivo deste trabalho é analisar fatores importantes do processo de avaliação no ensino su-perior. Os saberes pedagógicos, em si, não modificam a ação de educar, não geram novas práticas. As avalia-ções devem basear-se nas competências, habilidades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos, tendo como referência as diretrizes curriculares, e sempre considerar: Para quê? O quê? Como? Quem? Cabe destacar a importância sistemática de um instrumen-to de avaliação, assim como a relevância da coleta de opinião dos acadêmicos, uma vez que estes são os sujeitos ativos do processo ensino-aprendizagem.

DESCRITORESEducação superior. Docentes de odontologia/

normas. Avaliação institucional.

Avaliação do desempenho do docente com a participação do corpo discente no ensino superior

Reflexões que visam a transformação do ambiente de aprendizagem em um espaço dinâmico, participativo, que leve à uma prática pedagógica libertadora.

Regina Maria Tolesano Loureiro*, Nemre Adas Saliba**, Suzely Adas Saliba Moimaz***, Rosana Ono****

* Professora Doutora Titular da Área de Odontologia Social e Preventiva da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected].

** Professora Titular do Departamento de Odontologia Infantil e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista.

*** Professora Adjunta do Departamento de Odontologia Infantil e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista.

**** Professora Adjunta da Área de Odontologia Social e Preventiva da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia.

Page 24: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):119-22

Avaliação do desempenho do docente com a participação do corpo discente no ensino superior • Loureiro RMT, Saliba NA, Moimaz SAS, Ono R

120

básica da produção científica, nada mais natural do que iniciar o processo avaliativo com a verificação da produção individual; porém, a pontuação dos indiví-duos por si só não consegue gerar parâmetros de re-ferência, válidos para mensurar o desempenho da coletividade.

No planejamento didático, a avaliação constitui sua última etapa, ou seja, uma visão atual de avaliar o que se ensinou.

Este trabalho tem o propósito de fazer algumas reflexões sobre a avaliação do professor pelo aluno nas Instituições de Ensino Superior, numa tentativa de ressaltar a importância e necessidade da avaliação, para que ocorra a transformação do ambiente de aprendizagem em um espaço dinâmico, participativo, que leve a uma prática pedagógica libertadora.

PARA QuE AVALIAR?Conforme relataram Nicodemo et al.7 (2001), a

avaliação é um processo contínuo de pesquisas que visa identificar os conhecimentos, as habilidades e atitudes dos alunos, tendo em vista mudanças espera-das no comportamento, propostas nos objetivos. Ela gera condições de decidir sobre alternativas no pla-nejamento e na execução do trabalho do professor, e da instituição como um todo. Quando se questiona “o para que avaliar”, e o que aprenderam os alunos, têm-se respostas puras e simples.

Segundo Strehl, Santos9 (2002), com o atual desen-volvimento tecnológico, o acesso a dados e bibliotecas encontra-se irrestrito e deve-se ensinar onde está a in-formação, como resgatá-la, como manipulá-la e utilizá-la adequadamente na área de conhecimento. Através de avaliações de desempenhos individuais de institui-ções, comparam-se áreas de conhecimentos distintas, o que gera medidores incapazes de serem objetivos ao progresso das instituições. Embora a base de dados continue sendo a pontuação dos docentes, vários indi-cadores criativos foram estabelecidos para que se con-siga pelo menos inferir o desempenho da instituição.

Na avaliação, é imprescindível observar se os alu-nos aprenderam e adquiriram habilidades que irão auxiliá-los no seu cotidiano, educando-os para o mun-do. Se, por exemplo, uma prova dissertativa for apli-cada sem qualquer comunicação, o professor certa-mente estará querendo avaliar a capacidade de memorização de seus alunos. O professor não tem costume de realizar avaliações com ênfase na prática diária. O discente deverá aprender onde buscar o conhecimento, as alternativas; deve ser induzido ao raciocínio e à busca do aprendizado quando necessá-

rio. Ao computador foi reservada a missão de arma-zenar informações, ao cérebro, devemos dar funções mais nobres, como amor, lazer, raciocínio, reflexão, dedução, criatividade e solidariedade5.

O QuE AVALIAR?Uma avaliação tem como objetivo básico um pro-

cesso contínuo durante todo o desenrolar da discipli-na ou do curso, permitindo diagnosticar e controlar o processo ensino-aprendizagem, redirecionando-o quando necessário, e detectar necessidades de mu-danças, devendo propiciar ao docente uma verdadei-ra retro-alimentação10.

Para tanto, deve-se considerar5,6:• Avaliação não é sinônimo de julgamento: está vol-

tada para o desempenho e não para a pessoa do aluno. Um julgamento inadequado e incorreto está em expressões como: alunos julgados “sérios” têm garantia antecipada de aprovação, ou alunos julgados “malandros”, que “não querem nada com nada”, devem se esforçar para passar porque serão colocadas dificuldades em seu caminho.

• Coerência com os objetivos: principalmente com os propostos pelo planejamento didático (proces-so pedagógico apresentado); deve haver coerên-cia entre o proposto e o exigido.

• Explicitação de critérios: não mudar regras no meio do caminho, cumprir com o textualizado no roteiro e o explicitado no início da disciplina. Os critérios e objetivos da avaliação de cada item ou atividade deverão ficar bem claros; o docente tira dúvidas sempre, se possível, com antecedência.

• Evitar pegadas: o discente não é nosso concor-rente ou adversário, as perguntas devem induzi-lo a pensar e levar ao raciocínio, testando seus conhecimentos.

• Evitar o uso de palavras desconhecidas, não expli-cadas ou não utilizadas durante as aulas.

• Distribuição no interesse: adequar os questiona-mentos com o conteúdo programático sem exigir coisas absurdas, obscuras ou não valorizadas nas aulas.

• Testes: o raciocínio tende a ser direto e o discen-te não desenvolve o senso de comunicação e or-ganização.

• Questões dissertativas: avaliam, além do conheci-mento, a forma de expressão, a habilidade de es-crever e o senso de organização do aluno. Com questões formuladas com clareza, o discente de-monstra sua habilidade mental comentando, di-ferenciando e sintetizando conceitos e argumen-

Page 25: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):119-22 121

Avaliação do desempenho do docente com a participação do corpo discente no ensino superior • Loureiro RMT, Saliba NA, Moimaz SAS, Ono R

tando sobre estes, o que exige raciocínio e aplicação prática de conhecimento.

• Momento da avaliação: a avaliação representa um processo contínuo e apresenta-se sob variados mo-delos, podendo ser diária, por unidade de ensino, mensal ou bimestral. A modalidade depende mui-to das regras da instituição, da carga horária, da distribuição do tempo da carga horária, do con-teúdo programático e da complexidade deste.

COmO AVALIAR?E o lado inverso? E a avaliação dos professores

pelos alunos? Como é vista? Como se realiza?Para Perri de Carvalho8 (2001), essa prática tem-se

popularizado, porém não é um procedimento unifor-me na maioria das instituições de ensino superior. No entanto, em muitos casos, essa atividade parte do do-cente, individualmente, ou da disciplina, quando há comprometimento em ter essa retro-alimentação para futuros acertos.

No processo de avaliação, Consolaro5 (2002) enfa-tiza que alguns cuidados deverão ser tomados, princi-palmente com o momento da avaliação, pois, às vezes, ela até é realizada, porém pouco explorada e esqueci-da. Na literatura específica sobre o assunto, alguns autores destacam que após o término do curso pode não ser o momento mais adequado; a tensão das provas finais pode influenciar fortemente nessa avaliação do professor e da sua disciplina. O início do próximo ano letivo seria o momento ideal, ou o primeiro momento, e o final do curso de graduação, um segundo momen-to muito interessante, pois a visão do conjunto avalia melhor o desempenho do docente. Erros comuns acontecem também quando os discentes são levados a avaliar docentes que não ministraram as disciplinas.

Nesse sentido, o planejamento ou plano de ensino pode ser considerado um verdadeiro contato de con-vivência entre instituição, docentes e discentes. Ao docente resta aplicar suas habilidades didáticas, hu-manitárias, pessoais e sociais no relacionamento com discentes visando atingir o sucesso4.

De acordo com Carvalho, Cormack3 (2002), por maior que seja – ou mais primária – a elaboração de uma avaliação do docente pelo discente, independen-temente do momento em que esta seja feita, ela induz reflexões e melhorias no desempenho do docente para as próximas turmas, bem como o crescimento de sua instituição.

Avaliação e planejamento são dois processos in-terligados na busca da qualidade dos “produtos” e de aperfeiçoamento dos processos. Não há como abrir

mão da avaliação, seja ela qual for, pois sendo parte significativa das ações, permite intervenções correti-vas, não punitivas, sem interrupções. Sendo assim, a avaliação discente surge como oportunidade de des-vendar os pontos fortes e fracos do professor e/ou da disciplina avaliada para, com segurança, serem feitas intervenções e mudanças onde se fizer necessário.

QuEm DEVE AVALIAR?Para Xavier11 (2003), a avaliação contribui para a

valorização dos recursos humanos na medida em que participa da capacitação/instrumentação dos docentes e da melhoria de desempenho na prática pedagógica.

Segundo Juliatto6 (1987), deve-se dar bastante im-portância ao fator humano ao se implantar qualquer processo de avaliação. Muitas iniciativas são mal suce-didas, não por razões técnicas, mas por fatores huma-nos e políticos. As pessoas envolvidas poderão ver a avaliação como uma ameaça. Ela sempre traz promes-sas e ameaças e ambas são essenciais para o seu êxito. Se ninguém se sentir ameaçado, a avaliação certamen-te não é suficientemente penetrante. Se não acenar para nenhuma perspectiva de mudança para melhor, é um gasto inútil.

Para Ceccon4 (2000), algumas condições são bási-cas para assegurar o êxito do processo de avaliação:

• a preparação do ambiente para a implantação do programa;

• a promoção do envolvimento e da participação dos discentes;

• a garantia de credibilidade pela elaboração de um projeto de qualidade e pela condução aberta do processo;

• a existência de uma liderança sensível e firme na condução do processo.Dessa forma, Carvalho, Cormack3 (2002) afir-

mam que os educadores precisam incentivar uma discussão sobre a construção e implementação de programas de avaliação (discente-docente e docen-te-discente) capazes de contribuir com a melhoria da qualidade de ensino, considerando a comunida-de acadêmica, constituída por atores sociais igual-mente importantes na discussão desse projeto de avaliação.

A sociedade carece de uma cultura de avaliação, e muitos programas presentes na comunidade acadê-mica ainda persistem na definição de procedimentos profissionais como os de gestão das unidades de en-sino, subestimando-se o caráter essencial do progra-ma, que é o de enfatizar a discussão como função essencial da avaliação.

Page 26: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):119-22

Avaliação do desempenho do docente com a participação do corpo discente no ensino superior • Loureiro RMT, Saliba NA, Moimaz SAS, Ono R

122

Segundo Arcieri1 (2000), a avaliação dos profes-sores assenta-se tanto sobre o objetivo referente a melhorar o desempenho do corpo docente – “função formativa” – como sobre o objetivo de ajudar a tomar decisões eqüitativas e eficientes com referência ao corpo docente – “função somativa”.

A avaliação docente, de acordo com Arcieri1 (2000), centra-se em discutir alguns aspectos que me-recem destaque:

• A importância do aluno no processo, mesmo que os objetivos da avaliação sejam, ainda, o centro da discussão, em função formativa.

• Considerar que o processo de avaliação deve con-tar com múltiplas fontes de informação.

• Considerar que a instalação de uma cultura de avaliação depende de um clima organizacional participativo.

CONCLuSãOA maior aspiração do ensino atualmente é a for-

mação de profissionais competentes, não só no âm-bito científico, mas também com uma postura ética. A avaliação do professor pelo aluno permite conhe-cer, sob a óptica destes, os atributos do bom professor. Sabe-se que barreiras no relacionamento entre pro-fessores e alunos não podem ser percebidas em estu-dos sobre o assunto mas nas respostas das avaliações realizadas em disciplinas isoladas.

Planejar e avaliar o ensino são tarefas árduas, por-que implicam tomada de decisão, disposição para transformar, compromisso com o aprendizado do aluno. Portanto, o educador deve estar preparado, e sua formação deve ser voltada para a compreensão do processo ensino-aprendizagem.

Este tema deve merecer reflexões e maiores estudos, pois existe uma diferença entre o “desejar” e o “querer”. O desejo mede obstáculos, a vontade vence-os.

ABSTRACT Evaluation of the higher education professor’s performance with the participation of students

In all education areas there is the need for evalu-ation. Students are constantly evaluated and checked by faculty whereas professors are not always submitted to the same process. The aim of this work was to an-alyse important factors in the evaluation process in

higher education. The pedagogical knowledge itself does not modify the act of educating, and does not bring about new practices. The evaluation process must be based on competence, skills, and on the de-veloped curricular contents having as reference the curricular guidelines. While evaluating, we must al-ways consider the questions: What? What for? How? Who? The systematic importance of an evaluation instrument should be pointed out, as well as the rel-evance of collecting the students’ opinion, since they are active subjects in the teaching-learning process.

DESCRIPTORSEducation, higher. Faculty, dental/standards. In-

stitutional evaluation.§

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Arcieri RM. Perfil profissional do professor cirurgião-dentista

da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da UNESP – 1998

[Tese de Doutorado]. Araçatuba: Faculdade de Odontologia

de Araçatuba da UNESP; 2000.

2. Brasil. Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece

as diretrizes e bases da educação nacional.

3. Carvalho Z, Cormack E. Auto-avaliação institucional discente

da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio

de Janeiro – UFRJ. In: XXXVII Reunião Anual da ABENO:

2002; Teresópolis. Anais. Revista da ABENO 2002;2(1):16.

4. Ceccon MF. A Odontologia em Prova. Rev Assoc Paul Cir Dent

2000;34(5):353-63.

5. Consolaro A. O “Ser” Professor: arte e ciência no ensinar e

aprender. 3ª ed. Maringá: Dental Press; 2002.

6. Juliatto CI. Avaliação das Instituições Universitárias. Dois Pon-

tos 1987. Ed. Especial, n. 38.

7. Nicodemo D, Balducci I, Naressi SCM, Molina VLI. Avaliação

do Ensino Odontológico: um estudo exploratório sobre as opi-

niões do alunado. Odontologia e Sociedade 2001;3(1/2):21-6.

8. Perri de Carvalho AC. Ensino da Odontologia em tempos da

L.D.B. Canoas: ULBRA; 200l.

9. Strehl L, Santos CA. Indicadores de qualidade da atividade

científica. Ciência Hoje 2002;31:34-9.

10. Unopar. Avaliação Institucional [acesso 24 fev 2003]. Disponí-

vel em: http://www2.unopar.br.

11. Xavier C. Pós-Graduação: pensamento e ação integrados para

a consolidação do SUS. Radis 2003;7:10-5.

Aceito para publicação em 09/2005

Page 27: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):123-7 123

gos do CEO e que se faz necessária uma melhor orien-tação profissional para a correta compreensão do Código de Ética Odontológica.

DESCRITORESÉtica odontológica. Ética. Odontologia legal.

Da circunstância de se facilitar a conduta humana dentro das atividades profissionais e evitar certos

abusos, buscou-se relacionar vários códigos de ética, que norteiam e disciplinam a maneira correta de agir em cada profissão3. Foi com esse espírito de zelar e promover o bom conceito da profissão odontológica que os membros dos Conselhos Federal e Regional elaboraram o Código de Ética Odontológica (CEO) em 1976, que estabelece os princípios fundamentais que direcionam a conduta do cirurgião-dentista no exercí-cio da profissão4. Ao longo do tempo, o CEO passou por algumas modificações e hoje se encontra em sua quarta edição, que entrou em vigor a partir de 20 de

RESumOBuscando facilitar e orientar a conduta humana

dentro das atividades profissionais, em particular, o exercício da Odontologia, foi elaborado, em 1976, pelo Conselho Federal de Odontologia, o Código de Ética Odontológica (CEO), com a finalidade de edu-car e instruir o profissional, não sendo um instrumen-to punitivo para o cirurgião-dentista. Entretanto, sua compreensão não é simplória, o que se procurou de-monstrar neste trabalho. Analisou-se a percepção dos cirurgiões-dentistas, alunos de cursos de especializa-ção do Hospital de Reabilitação de Anomalias Cra-niofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP), sobre os aspectos éticos da odontologia, por meio de questionário com questões estruturadas e dividido em duas partes: a primeira relativa à identi-ficação da amostra e a segunda parte relativa a ques-tões inerentes ao conteúdo de artigos do Código de Ética Odontológica. Os resultados permitem concluir que existem dúvidas na interpretação de alguns arti-

Percepção dos pós-graduandos do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais sobre os aspectos éticos da odontologia

O aumento no número de denúncias contra cirurgiões-dentistas pode ser explicado pelo desconhecimento do Código de Ética Odontológico e pelas dúvidas na interpretação de seus artigos.

Arsenio Sales Peres*, Sílvia Helena de Carvalho Sales Peres*, José Roberto de Magalhães Bastos**, Fernando Toledo de Oliveira***, Sérgio Donha Yarid***

* Professores Doutores do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected], [email protected].

** Professor Titular do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Odontologia em Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected].

*** Mestrandos em Odontologia em Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo. E-mails: [email protected], [email protected].

Page 28: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):123-7

Percepção dos pós-graduandos do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais sobre os aspectos éticos da odontologia • Peres AS, Peres SHCS, Bastos JRM, Oliveira FT, Yarid SD

124

maio de 2003, aprovado pela Resolução CFO-421.Torna-se importante salientar que, por princípio,

o Código de Ética Odontológica deve ser rotulado como um instrumento orientador, longe de vislum-brar um objetivo punitivo ao colega6, bem como per-seguir a consecução do bem comum dos pacientes, dos profissionais e da sociedade na qual ambos se in-serem8. Contudo, seu estudo não é simplório, pois torna-se necessário levar em conta uma série de fatores subjetivos, e, muitas vezes, um profissional fica em dú-vida se uma atitude fere ou não o Código de Ética.

Infelizmente, tem-se observado um substancial aumento no número de denúncias que chegam aos Conselhos Regionais de Odontologia, referentes a infrações éticas cometidas por cirurgiões-dentistas. Estes, na grande maioria das vezes, agem de forma irregular por desconhecer os artigos do Código de Ética, ou não saber interpretá-los de forma correta.

Outrossim, após essas considerações, observou-se a necessidade de uma verificação do nível de conhe-cimento dos cirurgiões-dentistas profissionalmente ativos a respeito de alguns dos principais artigos con-tidos no Código de Ética Odontológica, identifican-do-se assim os pontos de maior dificuldade de inter-pretação e as principais dúvidas apresentadas por esses profissionais.

mATERIAL E mÉTODOSFoi solicitada a autorização dos coordenadores

dos cursos de especialização do Hospital de Reabili-tação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP), para aplicação de um ques-tionário. Após essa aquiescência foi elaborada uma carta convite para que os alunos regularmente matri-culados pudessem participar da pesquisa. Anterior-mente à inclusão do indivíduo na pesquisa, foram explicados os riscos e benefícios de sua participação. A amostra inicial foi composta de 84 pós-graduandos do HRAC, sendo que concordaram em participar da pesquisa somente 59 indivíduos (70,24%). Estes cur-savam as seguintes áreas: Dentística, Endodontia, Im-plantodontia, Odontopediatria, Ortodontia, Perio-dontia, Prótese Dentária, Radiologia Odontológica e Imaginologia, e Saúde Coletiva.

Foi elaborado um questionário com questões estru-turadas, que estava dividido em duas partes: a primeira relativa à identificação do entrevistado/amostra sem, contudo, solicitar o nome deste. A segunda parte esta-ria voltada para questões inerentes ao conteúdo de artigos do Código de Ética Odontológica.

Após a compilação dos dados colhidos nos questio-

nários devidamente preenchidos e devolvidos, reali-zou-se a análise dos mesmos, com o intuito de verificar e quantificar o conhecimento dos cirurgiões-dentistas (amostra) referente ao Código de Ética Odontológica. Para tanto, foi realizada análise estatística descritiva, utilizando freqüências absolutas e relativas, por meio de gráficos e tabelas.

RESuLTADOS E DISCuSSãOForam entregues 84 questionários, corresponden-

do a 100% dos alunos matriculados. Desses, foram de-volvidos 69 (82,14%) questionários, sendo que destes, 10 (14,49%) foram entregues em branco e 59 (85,51%) foram entregues respondidos, obtendo-se assim uma amostra significativa da população estudada.

Com as quatro primeiras questões, foi possível delinear a amostra, sendo esta composta preponde-rantemente de profissionais com pouco tempo de formação (90% com até cinco anos de formado), na sua maioria jovens entre 20 e 30 anos de idade (93,22%) e oriundos de universidades públicas ou privadas (47,46% e 52,54%, respectivamente), con-centradas principalmente na região Sudeste do país (77,97%) (Gráfico 1).

Quando avaliado o grau de entendimento do Có-digo de Ética Odontológica sobre quais as informa-ções que devem constar em anúncios, placas e impres-sos, 59 alunos (100%) assinalaram corretamente “o nome do profissional”, mas apenas 42 alunos (71,19%) marcaram a opção “a profissão”, e um aluno deixou de assinalar “o número de inscrição no CRO”. Essas três opções deverão obrigatoriamente constar em anúncios, placas e impressos, segundo o Código de Ética Odontológica1, em seu Art. 33.

Paralelamente a isso, Saliba et al.7 (1996) observa-ram a ocorrência elevada de infrações pelos profissio-nais no tocante à publicidade. Encontraram, em sua pesquisa referente a placas de consultórios odontoló-gicos no município de Marília/SP, uma alta porcen-tagem (43,3%) de placas nas quais não constava o número do CRO do responsável, infringindo assim os dispositivos legais da publicidade odontológica.

As outras opções assinaladas pelos participantes, como “a especialidade” (89,83%), “o telefone” (66,10%) e “o horário de atendimento” (16,94%), podem constar normalmente em anúncios, placas e impressos, entretanto, não são obrigatórios segundo o Código de Ética Odontológica. Isso pode demons-trar uma deficiência na interpretação do que é obri-gatório ou facultativo. Já as opções “as técnicas de tratamento”, “os preços” e “as formas de pagamento”,

Page 29: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):123-7 125

Percepção dos pós-graduandos do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais sobre os aspectos éticos da odontologia • Peres AS, Peres SHCS, Bastos JRM, Oliveira FT, Yarid SD

não assinaladas por nenhum participante, e que cons-tituem infração ética, deixam evidente o melhor nível de percepção dos profissionais no tocante ao que é proibido.

Outra questão propôs três situações como motivo para o cirurgião-dentista renunciar ao atendimento do paciente, devendo ser observado o Código de Ética Odontológica. De todos os alunos, 16 (27,12%) assina-laram somente a opção “quando houver dificuldade de bom relacionamento entre as partes”; já 24 alunos (40,68%) entenderam que a única alternativa correta era “quando prejudique o bom desempenho profissio-nal” e nenhum aluno optou exclusivamente por “quan-do sabedor que o paciente é portador de doença in-fectocontagiosa”.

Todavia, 17 participantes (28,81%) optaram por mais de uma alternativa, sendo que, desses, 13 (20,03%) assinalaram as opções “quando houver dificuldade de bom relacionamento entre as partes” e “quando pre-judique o bom desempenho profissional”. Outros três alunos (5,08%) marcaram as opções “quando houver dificuldade de bom relacionamento entre as partes” e “quando sabedor que o paciente é portador de doença infectocontagiosa”, e somente um participante (1,69%) assinalou as três opções. Além desses, 2 alunos (3,39%) não assinalaram nenhuma opção.

Com esses resultados verificou-se que não existe uma compreensão adequada do Art. 3º, Inciso V1, que trata dos direitos fundamentais dos profissionais

inscritos, que diz: “direito de renunciar ao atendimen-to do paciente, durante o tratamento, quando da constatação de fatos que, a critério do profissional, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional. Nestes casos tem o profissional o dever de comunicar previamen-te ao paciente ou seu responsável legal, assegurando-se da continuidade do tratamento e fornecendo todas as informações necessárias ao cirurgião-dentista que lhe suceder”.

Segundo Mantecca2 (1998), se após toda a dedica-ção e tentativas de harmonização do desempenho não existir mais um bom ambiente de trabalho no consul-tório, então deve o cirurgião-dentista encaminhar seu paciente para outro profissional através de uma carta de apresentação. E, ainda no consultório odontológi-co, confeccionar o documento de Cessação de Servi-ço, em que o cirurgião-dentista e o paciente assinam consentido com o encerramento do tratamento.

Sales Peres et al.6 (2004) chamam a atenção para o fato de que cabe ao profissional, além do disposto acima, conciliar o honorário profissional, ou seja, o custo para o paciente não deverá sofrer alterações, salvo se houver mudanças no plano de tratamento e na anuência do paciente. Caso contrário, poder-se-á instalar um processo ético, desde que haja denúncia fundamentada por parte do paciente. Para tanto cita-se o Art. 7º, Inciso VI, que diz que constitui infração ética: “abandonar paciente, salvo por motivo justifi-

Gráfico 1 - Representação gráfica do número de respostas da primeira parte do questionário (identificação da amostra), segundo o tempo de formação (I), a faixa etária (II), o tipo de instituição freqüentada (III) e a localização da universida-de (IV) dos pós-graduandos do HRAC-USP.

28 (47,46%)31 (52,54%)

PúblicaPrivada

Universidade

4 (6,78%)2 (3,39%)

46 (77,97%)

3 (5,08%)4 (6,78%)

Sudeste

Norte

Nordeste

Sul

Centro-oeste

Região do País

7 (11,86%)

46 (77,97%)

4 (6,78%)

2 (3,39%)

até 1 ano

de 5 a 10 anos

de 1 a 5 anos

10 anos ou mais

Tempo de formação55 (93,22%)

3 (5,08%) 1 (1,69%)

20 a 30 anos30 a 40 anos

40 anos ou mais

Faixa etária

III

III

IV

Page 30: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):123-7

Percepção dos pós-graduandos do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais sobre os aspectos éticos da odontologia • Peres AS, Peres SHCS, Bastos JRM, Oliveira FT, Yarid SD

126

cável, circunstância em que serão conciliados os ho-norários e indicado substituto”1.

Outra circunstância bastante atual que coloca em pauta as questões de abandono e recusa de atendi-mento diz respeito a pacientes contaminados pelo vírus da AIDS. Embora não haja, nas normas éticas da odontologia brasileira, referência explícita à ques-tão HIV/AIDS, a discriminação tem se manifestado na recusa do atendimento sem que seja dada justifi-cativa ao paciente5.

Para Sousa Lima9 (1996), já foram estabelecidos procedimentos éticos a respeito do atendimento dos portadores do vírus, em que nenhum profissional (médico ou dentista) poderá recusar o atendimento ao portador do vírus HIV. Da mesma forma o atendi-mento será feito em qualquer fase da patologia, desde que haja atendimento também a normas de biossegu-rança preconizadas pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde. Entretanto, o mes-mo autor conclui que talvez os casos devam ser exa-minados individualmente, existindo a possibilidade de justificativa para o não-atendimento do portador do vírus HIV. Segundo Samico et al.8 (1994), o cirur-gião-dentista deve instruir e conscientizar o paciente quanto aos riscos e benefícios do tratamento, encami-nhando-o a um serviço especializado, público ou pri-vado. Poderia também, dependendo do caso, atendê-lo em sua residência ou em horário especial no próprio consultório, adequado aos cuidados de biosseguran-ça, evitando o constrangimento de sua clientela.

Sales Peres et al.6 (2004) discordam dessas afirma-ções quando lembram que, no capítulo que trata das infrações éticas na relação paciente-profissional, é abordado o fato da discriminação, ou seja, dar trata-mento diferenciado, separar o indivíduo do grupo de atendimento de rotina, por quaisquer pretextos.

Outro quesito investigado foi com relação ao ci-rurgião-dentista inscrito no conselho, proprietário ou responsável técnico de clínica, se esse responderia eticamente por erro de colega que atue sob sua res-ponsabilidade. Dos participantes, 50 alunos (84,74%) responderam que “sim” e 9 alunos (15,25%) respon-deram que “não”.

Em muitos casos, por desconhecer as implicações jurídicas que possa enfrentar, o profissional surpreen-de-se ao ser processado por erro de colega sob sua res-ponsabilidade. Um exemplo muito comum acontece em clínicas particulares e consultórios odontológicos, onde o proprietário, cirurgião-dentista, convida ou cede a clínica ou o consultório para que outro colega realize algum tratamento, na maioria das vezes especia-

lizado, como cirurgias, implante etc. Entretanto, esse profissional proprietário desconhece que responderá eticamente, caso o colega cometa alguma infração.

O Código de Ética Odontológica deixa claro quan-do relata em seu Art. 22: “Os profissionais inscritos, quando proprietários, ou o responsável técnico, res-ponderão solidariamente com o infrator pelas infra-ções éticas cometidas”1.

Na questão referente ao Art. 7º, Incisos III, IV, VIII e IX, do Código de Ética Odontológica1, os par-ticipantes deveriam assinalar uma das quatro opções quanto à constituição de infração ética. A opção “diagnosticar, dar prognóstico e terapêutica sem exa-geros” não foi assinalada, mas 3 alunos (5,08%) as-sinalaram a opção “esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, custos e as alternativas do trata-mento”; e outros 6 alunos (10,17%) assinalaram “prestar atendimento de urgência ou emergência a menores sem autorização dos representantes legais ou responsáveis”.

Torna-se evidente, nesses casos, uma falha na in-terpretação correta do que diz o Código de Ética, principalmente na terceira opção, assinalada por 12 dos 59 alunos (20,34%). O atendimento de urgência e emergência constitui exceção no Inciso VIII do Art. 7º, que diz: “iniciar tratamento de menores sem a autorização de seus responsáveis ou representantes legais, exceto em casos de urgência e emergência”1. Os casos de urgência são danos ao paciente que não envolvem o risco de morte, tais como dor de dente, problemas de ordem estética, entre outros. Já a emer-gência refere-se a casos em que há risco de morte, pouco freqüente na prática odontológica.

Contudo, 44 alunos, ou seja, a maior parte dos pesquisados, (74,58%) assinalaram a opção mais ób-via: “desrespeitar ou permitir que seja desrespeitado o paciente”. Entretanto, 6 participantes (10,17%) marcaram mais de uma alternativa, acarretando a anulação de suas respostas a essa questão.

No tocante à última questão, referente a quais profissionais se aplica o Código de Ética Odontológi-ca, houve uma confusão muito grande por parte dos participantes (Tabela 1).

Segundo as disposições preliminares, Artigo 1º em seu parágrafo único, do Código de Ética Odonto-lógica, “As normas éticas deste Código devem ser se-guidas pelos cirurgiões-dentistas, pelos profissionais de outras categorias auxiliares reconhecidas pelo CFO, independentemente da função ou do cargo que ocupem, bem como pelas pessoas jurídicas”1. Sales Peres et al.6 (2004) ressaltam a generalização do todo,

Page 31: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):123-7 127

Percepção dos pós-graduandos do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais sobre os aspectos éticos da odontologia • Peres AS, Peres SHCS, Bastos JRM, Oliveira FT, Yarid SD

haja vista que não se pode atribuir responsabilidades igualitárias ao contemplar funções díspares.

CONCLuSÕESApós a análise dos resultados deste estudo, pode-

se concluir que:• Existem dúvidas na interpretação de alguns dos prin-

cipais artigos do Código de Ética Odontológica.• Faz-se necessária a maior divulgação possível do

Código de Ética Odontológica, com o empenho máximo dos Conselhos Federal e Regional de Odontologia, além dos docentes da área e das en-tidades de classe, buscando, preventivamente, educar e instruir para evitar condenar e punir.

ABSTRACTAnalysis of the perception of graduate students at the Hospital for the Rehabilitation of Craniofacial Anomalies (HRCA-USP) about the ethical aspects of dentistry

Aiming at streamlining and guiding human con-duct in professional activities, particularly in the den-tal profession, an Ethical Code of Dentistry (ECD) was elaborated in 1976 by the Federal Council of Dentistry with the purpose of educating and instruct-ing professionals. It was not meant as a punitive in-strument. Its understanding, however, is not easy, and an attempt was made to demonstrate this fact in the present work. The perceptions of dentists attend-ing specialization courses at the Hospital for the Re-habilitation of Craniofacial Anomalies (HRCA-USP) about the ethical aspects of dentistry were assessed

through the application of a questionnaire with struc-tured questions, divided into two parts: the first part covered identification of the sample, and the second part covered questions inherent to the content of the articles of the Ethical Code of Dentistry. The results permited to conclude that there are doubts about the interpretation of some articles of the ECD and that a better professional orientation is needed for the correct understanding of the Ethical Code of Dentistry.

DESCRIPTORSEthics, dental. Ethics. Forensic dentistry. §

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Brasil. Conselho Federal de Odontologia. Código de ética

odontológica. [acesso 02 jun 2005] Disponível em: http://

www.cfo.org.br.

2. Mantecca MAM. Como eticamente interromper um tratamen-

to odontológico. JAO: J Assessor Odontol 1998;11:17-8.

3. Muylaert PO. Como devemos entender a ética. In: Muylaert PO.

Ética profissional. Niterói: Gráfica Ferraz Editora Ltda.; 1977. p. 7-

13.

4. Ramos DLP. Alguns comentários sobre ética profissional odon-

tológica. In: Silva M. Compêndio de Odontologia Legal. São

Paulo: Medsi; 1997. p. 51-8.

5. Ramos DLP, Maruyama NT. Aspectos éticos do atendimento

odontológico de pacientes HIV positivos. In: Silva M. Compên-

dio de Odontologia Legal. São Paulo: Medsi; 1997. p. 59-72.

6. Sales Peres A, Sales Peres SHC, Silva RHA, Ramires I. O novo

código de ética odontológico e atuação clínica do cirurgião-

dentista: uma reflexão crítica das alterações promovidas. Rev

Fac Odontol Araçatuba 2004;5(2):9-13.

7. Saliba CA, Daruge E, Moimaz SAS, Ayres JPS. Aspectos éticos

e legais da comunicação odontológica – Placas odontológicas.

Rev Faculdade Odontol Lins 1996;9(2):19-21.

8. Samico AHR, Menezes JDV, Silva M. Aspectos éticos e legais

do exercício da odontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Conselho

Federal de Odontologia; 1994.

9. Sousa Lima J. Ética e exercício profissional do cirurgião-den-

tista. Saúde, Ética & Justiça 1996;1(1):27-34.

Aceito para publicação em 10/2005

Opções de resposta No de respostas %

Somente cirurgião-dentista 10 16,95

CD, THD, ACD e TDP 16 27,12

CD, TPD, THD, APD e ACD 16 27,12

CD, THD e ACD 17 28,81

Tabela 1 - Respostas da questão referente a quais profis-sionais se aplica o Código de Ética Odontológico.

CD = cirurgião-dentista; THD = técnico em higiene dental; ACD = auxi-liar de consultório dentário; TDP = técnico em prótese dentária; APD = auxiliar de prótese dentária.

Page 32: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):128-33128

buindo para a melhoria dos serviços e da satisfação dos pacientes.

DESCRITORESSatisfação do paciente. Aceitação pelo paciente

de cuidados de saúde. Recursos humanos em odon-tologia.

O curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), desde 1993, em decorrên-

cia de sua estrutura curricular, oferece gratuitamente serviços odontológicos de diferentes complexidades para a população da área de abrangência da UNIVA-LI. O atendimento é realizado por acadêmicos sob a supervisão direta de professores cirurgiões-dentistas.

Institucionalmente, o processo de ensino-apren-dizagem (tanto das disciplinas clínicas como das de-mais), anualmente, é avaliado por seus pares (profes-sores e acadêmicos). No entanto, o terceiro elemento vital do processo de aprendizagem, o paciente, não integra essa avaliação.

O envolvimento da clientela dos serviços de saúde em ações que ultrapassem a sua mera utilização pas-siva é fundamental para a definição dos padrões de

RESumOAtravés de um estudo exploratório, com aborda-

gem descritiva, investigou-se a opinião de pacientes, em atendimento nas clínicas odontológicas do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), sobre a qualidade dos serviços prestados. Foi constituída uma amostra acidental, no período de maio a novembro de 2004. O grupo investigado foi formado por 41 mulheres (80,4%) e 10 homens (19,6%) com idades que variaram de 20 a 73 anos, com uma maior concentração na faixa de 31 a 50 anos (45,1%). O instrumento para coleta de dados constou de uma entrevista semi-estruturada que enfocava as-pectos estruturais, aspectos referentes aos professores e acadêmicos, e satisfação do paciente em relação ao processo de atendimento. As entrevistas foram regis-tradas e as falas agrupadas segundo categorias. Os pacientes enfocaram, prioritariamente, o bom rela-cionamento com os acadêmicos e professores e a qua-lidade dos tratamentos realizados. Alguns pontos fracos do processo foram identificados, fornecendo informações preciosas para a melhoria do trabalho desenvolvido nas clínicas, conseqüentemente contri-

Avaliação de serviços odontológicos: a visão dos pacientes†

A participação dos pacientes na avaliação dos serviços, ultrapassando-se sua mera utilização passiva, fornece informações essenciais para a definição dos padrões de qualidade dos atendimentos prestados.

Elisabete Rabaldo Bottan*, Rosiane Aparecida de Liz Sperb**, Paulo SchlichTelles**, Mário Uriarte Neto***

* Professora do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. E-mail: [email protected].

** Acadêmicos do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí.

*** Coordenador do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí.

†Trabalho premiado na 40ª Reunião Anual da ABENO.

Page 33: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):128-33 129

Avaliação de serviços odontológicos: a visão dos pacientes • Bottan ER, Sperb RAL, Telles PS, Uriarte Neto M

qualidade do atendimento prestado. A participação desse segmento contribui com a melhoria da quali-dade dos serviços prestados, pois a perspectiva do usuário fornece informações essenciais. A avaliação compartilhada é um instrumento dinâmico de trans-formação, uma vez que se constitui em um processo capaz de abrigar as vozes dos diferentes atores sociais envolvidos1,17,18,20,22.

No entender de Leão, Dias11 (2001), um dos am-bientes mais propícios para se avaliar a satisfação de uma comunidade com um curso de Odontologia é a clínica, por ser o retrato do trabalho de uma equipe (professores, alunos, funcionários) no exercício da prática odontológica, em todos os níveis de atenção. A avaliação do paciente reflete, portanto, a eficácia social da Instituição.

Pautados no entendimento de que a participação do cliente no processo de avaliação se constitui num valioso “feedback” e frente ao momento de intensas reflexões pelo qual o curso vem passando em função da mudança da matriz curricular para se adequar às novas Diretrizes Curriculares, propusemos a realiza-ção deste estudo exploratório com o objetivo de co-nhecer a satisfação que a clientela em atendimento nas diferentes clínicas do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí tem a respeito dos serviços recebidos.

mATERIAIS E mÉTODOSO desenho da pesquisa corresponde a um estudo

exploratório-descritivo. Uma amostra acidental foi constituída de forma aleatória entre os pacientes agendados para tratamento nas clínicas do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, no período de maio a novembro de 2004. Como crité-rios de inclusão foram definidos: ter tido, pelo me-nos, três atendimentos; ter idade mínima de 18 anos; aceitar, por livre e espontânea vontade, participar da pesquisa.

Foram entrevistados 51 pacientes, sendo que 41 eram do sexo feminino e 10 do sexo masculino. O maior número de mulheres do que de homens deve-se ao fato de que a maioria dos pacientes das clínicas do curso de Odontologia da UNIVALI são do sexo feminino. A definição do número de sujeitos foi em-basada no critério de esgotamento da informação, isto é, quando as falas se tornaram repetitivas, a cole-ta de dados foi suspensa.

A faixa etária dos entrevistados variou de 20 a 73, sendo que a maioria (45,1%) se classificou entre 31 e 50 anos de idade.

O instrumento para coleta dos dados foi uma en-trevista semi-estruturada abordando os seguintes as-pectos relativos ao processo de atendimento:

• o relacionamento entre professores, alunos e pacientes;

• a satisfação com o tratamento; • as queixas; • as sugestões dos pacientes.

Esses itens constituíram as categorias de análise.Foi feita uma pergunta inicialmente: “O que você

acha do atendimento nas clínicas de Odontologia?” A partir daí, dependendo da resposta emitida, esti-mulava-se o paciente a comentar sobre os aspectos referentes ao atendimento que recebia na clínica. Os depoimentos foram anotados pelo pesquisador, si-multaneamente à comunicação verbal. Complemen-tações de observações do pesquisador foram registra-das logo após o término de cada entrevista.

A organização das falas foi efetuada com base nas categorias pré-estabelecidas e agrupadas por critério de similitude de conteúdo. A análise das falas dos sujeitos entrevistados foi efetuada de forma conjunta pelos pesquisadores e foi sustentada na literatura revisada.

As categorias de análise foram estruturadas com base em Frenkiel7 (2003), que agrupou os indicadores de avaliação de serviços em: confiabilidade, presteza, segurança, empatia e tangibilidade. Definiram-se, en-tão, como categorias para análise:

• a confiabilidade, que é entendida como a presta-ção do serviço de modo confiável e com preci-são;

• a presteza, que é a disposição de atender e ajudar o consumidor com rapidez;

• a empatia, que é identificada pela atenção e pelo carinho dispensados ao paciente.Procurou-se, com base nessas definições, identifi-

car nas falas dos sujeitos expressões que representas-sem esses indicadores.

RESuLTADOSQuando se procedeu a uma análise globalizada,

isto é, sem considerar o tipo de clínica, verificou-se que as manifestações positivas foram superiores (va-lor médio de 41%) às manifestações negativas (valor médio de 17,66%).

As manifestações positivas mais enfatizadas foram “Bom relacionamento entre alunos e pacientes” (ca-tegoria empatia) e “Bom atendimento” (categoria confiabilidade). A manifestação negativa predomi-nante foi em relação ao “Tempo de espera” (catego-

Page 34: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):128-33

Avaliação de serviços odontológicos: a visão dos pacientes • Bottan ER, Sperb RAL, Telles PS, Uriarte Neto M

130

ria presteza) para ser chamado para iniciar o trata-mento, para aguardar na sala de espera e para finalizar o tratamento.

DISCuSSãOA avaliação da qualidade de um produto, confor-

me Serapioni19 (1999), é constituída por dois elemen-tos: o objetivo e o subjetivo. O elemento objetivo está relacionado com os componentes físicos do produto e o componente subjetivo à satisfação do usuário, do ponto de vista de sua percepção e de suas expectativas. No entanto, quando o produto em avaliação é a pres-tação de um serviço, a qualidade se resume à satisfação do cliente em uma dada situação.

Pesquisas4,5,7,9,10,11,12,19 mostram que a utilização do indicador satisfação do paciente, por diferentes ins-tituições e profissionais, está assumindo, cada vez mais, significativa importância para o processo de avaliação da qualidade do tratamento odontológico. Essas pesquisas também apontam que, na maioria das vezes, o paciente não tem conhecimento técnico e, portanto, não sabe como avaliar se um tratamento foi executado de maneira correta. Assim, a qualidade percebida pelo paciente tem muito mais a ver com a maneira como ele é tratado e com as pistas de quali-dade que ele vai encontrar no consultório e no pro-fissional do que com a parte técnica.

Frenkiel7 (2003) agrupou esses indicadores em: confiabilidade, presteza, segurança, empatia e tangi-bilidade. A confiabilidade é entendida como a pres-tação do serviço de modo confiável e com precisão. A presteza é a disposição de atender e ajudar o con-sumidor com rapidez. A segurança é avaliada pelo conhecimento e cortesia demonstrados pela equipe. A empatia é identificada pela atenção e pelo carinho dispensados ao paciente. E, a tangibilidade refere-se à aparência das instalações físicas, funcionários, uni-formes, equipamentos e ambiente. Para este estudo, foram considerados três destes indicadores, os quais passam a ser discutidos a seguir.

Qualidade percebida mediante o indicador empatia

Em nossa pesquisa constatamos, de modo signi-ficativo, através das falas e expressões não-verbais, a valoração da qualidade do atendimento imbricada com a empatia estabelecida entre acadêmico e pa-ciente. Os estudos conduzidos por Ramos et al.16 (1999), Ramos14,15 (2001, 1997) com pacientes das clínicas do curso de Odontologia da Universidade Federal de Diamantina (MG) também apontaram

que a qualidade técnica do serviço foi perfeitamen-te confundida com o grau de satisfação do paciente ao ser tratado com afetividade. Muito embora exis-tam variações culturais e étnicas entre grupos estu-dados, como destacaram Garcia, Contreras8 (2002), as interações pessoais têm prioridade no estabeleci-mento da satisfação do usuário com os serviços pres-tados.

O modo cordial e a boa vontade de acadêmicos e professores evidenciados pelos sujeitos entrevista-dos vão ao encontro dos resultados do trabalho de Bottan et al.3 (2004) sobre a percepção de indivídu-os adultos quanto ao dentista ideal. Dentre as carac-terísticas de um dentista ideal, indicadas naquela investigação, estão: ser calmo; saber ouvir os pacien-tes; saber respeitar os pacientes; ser simpático. Por-tanto, como argumentou Serapioni19 (1999), a base para obtenção da qualidade está na seriedade e no respeito para com a comunidade atendida. Algumas falas dos usuários das clínicas odontológicas da UNI-VALI que traduzem esse relacionamento harmonio-so foram destacadas:

“Acho a clínica ótima. O atendimento é muito bom. . . Os

aluno são muito educados.” (Paciente do sexo feminino,

32 anos.)

“O atendimento. . . gostei, adorei, sou sempre bem aten-

dida. Os meninos [referindo-se aos acadêmicos] são super-

legais.” (Paciente do sexo feminino, 34 anos.)

“Aqui é melhor que particular, principalmente os alunos.”

(Paciente do sexo masculino, não identificou idade.)

“É a segunda vez que faço tratamento aqui. O atendimen-

to aqui é muito bom. Todos aqui me tratam muito bem,

estão sempre sorrindo, gosto muito. . . por isso voltei aqui.”

(Paciente do sexo feminino, 63 anos.)

“Achei qui seria um boneco de teste. . . mi surprendi com

tudo qui encontrei aqui.” (Paciente do sexo feminino, 30

anos.)

“O atendimento é bom. . . Assim como a gente precisa

deles [referia-se aos alunos] eles precisa de nós.” (Pacien-

te do sexo feminino, 24 anos.)

Os dois últimos depoimentos selecionados emer-gem um importante aspecto do processo de ensino-aprendizagem em áreas clínicas, as quais envolvem o paciente. Lidar com o paciente implica outras ha-

Page 35: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):128-33 131

Avaliação de serviços odontológicos: a visão dos pacientes • Bottan ER, Sperb RAL, Telles PS, Uriarte Neto M

bilidades além daquelas de quando ocorre o treina-mento com os manequins. O exercício de uma rela-ção profissional-paciente na dimensão sujeito-sujeito deve ser objeto de constantes debates, em todas as disciplinas no transcorrer do curso de graduação.

As atividades clínicas integram o processo de en-sino-aprendizagem e têm por objetivo oportunizar ao aluno, em situação real de trabalho, a consolida-ção de conhecimentos teórico-práticos. Elas são, portanto, a espinha dorsal do processo de formação do aluno, como destacaram Bacci et al.2 (2002). Por outro lado, segundo Junqueira10 (2002), as atividades clínicas ofertadas por cursos de graduação e de pós-graduação se constituem na única alternativa de acesso a serviços odontológicos para grande parcela da população.

O relacionamento paciente-dentista tem sido en-focado por diversos pesquisadores, quando susten-tam que a profissão de cirurgião-dentista vai além da habilidade técnica para realizar procedimentos clíni-cos e que é preciso saber lidar com as pessoas. Logo, uma relação tecnocrática, isto é, que envolve uma interação do tipo sujeito-objeto, semelhante àquela que ocorre entre o aluno e o manequim, não contri-bui para a formação de comportamentos que favore-çam a manutenção da saúde bucal5,6,14,21. Nesse senti-do, os depoimentos dos usuários das clínicas odontológicas da UNIVALI indicam que acadêmicos e professores estão preocupados com o relaciona-mento interpessoal e procuram efetivar uma prática profissional sustentada nos princípios da interação sujeito-sujeito.

Qualidade percebida mediante o indicador confiabilidade

A confiabilidade foi expressa em falas, como:

“Prefiro vim aqui do que no posto de saúde, mesmo mo-

rando em Camboriú.” (Paciente do sexo feminino, 38

anos.)

“No postinho usam material ruim. . . a culpa não é do

dentista, é do material.” (Paciente do sexo feminino, idade

não identificada.)

“O atendimento daqui é ótimo. . . até recomendei prá

minha irmã.” (Paciente do sexo masculino, 35 anos.)

“Tenho medo de tudo, sempre tive. . . mas aqui eles per-

guntam bastante se a gente tá sentindo dor. . . muito bom.”

(Paciente do sexo feminino, 33 anos.)

“Estou muito satisfeita. Lá [referindo-se ao seu município

de origem] não tem o atendimento que tem aqui. Aqui

eles fazem de tudo. Lá só arrancam dente.” (Paciente do

sexo feminino, 34 anos.)

Geralmente, conforme Leão, Dias11 (2001), o pa-ciente baseia seu julgamento em critérios difusos como: rapidez, organização, amabilidade e resoluti-vidade do problema que o aflige. Em relação à reso-lutividade do problema, Bottan et al.3 (2004) identi-ficaram que a população a expressa mediante manifestações como: ser competente na execução do tratamento; estar atualizado; fazer tratamento sem dor.

A fala dos pacientes entrevistados revela o bom atendimento através da confiança na competência dos alunos. Competência expressa pelo cuidado para que o paciente se sinta confortável em relação aos procedimentos dolorosos e pela solução dos proble-mas de saúde bucal que não foram resolvidos nas unidades de saúde dos municípios de origem desses pacientes.

Qualidade percebida mediante o indicador presteza

Muito embora os pacientes classifiquem o aten-dimento recebido nas clínicas odontológicas da UNIVALI como bom, elevado número teceu consi-derações de desagrado no que tange à rapidez no atendimento, como se pode ler nas falas abaixo transcritas:

“Eu acho que o serviço é bom. . . só que a genti espera

muito ser chamado e aí o problema aumenta pela demo-

ra.” (Paciente do sexo feminino, 49 anos.)

“Faz dois anos e meio que me trato aqui. Gosto do atendi-

mento. O atendimento é nota dez . . . mas levei um ano

esperando prá se chamada.” (Paciente do sexo feminino,

22 anos.)

“Eu venho no atendimento daqui da UNIVALI faz dez

anos e tenho tido bom resultado só que. . . uma vez por

semana é pouco. . . [referia-se ao fato de que a clínica

de prótese só é ofertada uma vez por semana] leva seis

mês prá fazê uma prótese.” (Paciente do sexo masculino,

73 anos.)

“Demora muito pra chamá. . . mas não tamo pagando, né,

nega! Espero o tempo que for, espero um dia sentada se

precisá.” (Paciente do sexo feminino, 44 anos.)

Page 36: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):128-33

Avaliação de serviços odontológicos: a visão dos pacientes • Bottan ER, Sperb RAL, Telles PS, Uriarte Neto M

132

“Fui bem atendida. . . só que demora pra sê chamado. . .

Afinal não to pagando, né?” (Paciente do sexo feminino,

40 anos.)

A reclamação quanto à demora para triagem e para conclusão do tratamento não pode ser conside-rada como um fato isolado das clínicas do curso de Odontologia da UNIVALI, pois, em avaliações reali-zadas em outras instituições, também se encontrou essa situação. Os trabalhos de Butters, Willis4 (2000), de Rocha, Bercht17 (2000) e de Leão, Dias11 (2001) apontaram duração/número de consultas como fa-tor responsável pelo abandono do tratamento.

Na investigação conduzida por Araújo1 (2003) com usuários da clínica integrada da Universidade Federal do Pará, os entrevistados sugerem, para me-lhoria do atendimento, a revisão do processo de agen-damento e a ampliação do número de atendimentos, as quais estão diretamente relacionadas com o fator tempo. A duração do tratamento também foi muito criticada pelos pacientes das clínicas do curso de Odontologia da Universidade Federal de Minas Ge-rais, conforme relatado por Minas13 (2002).

Em nossa pesquisa, o fato de os entrevistados não estarem pagando (e não poderem pagar) e de não haver um atendimento especializado nas Unidades de Saúde foi a justificativa mais indicada para a acei-tação passiva da espera para o atendimento. Ramos14 (2001) reportou-se ao modo como a população de baixa renda encara a gratuidade do atendimento odontológico prestado por clínicas de instituições de ensino. Para esse pesquisador, a tendência das popu-lações carentes é perceber a gratuidade como uma dádiva, muito mais do que um direito do cidadão e um dever do Estado.

O comportamento de passividade, de subordina-ção, do ponto de vista ético, conforme Vázquez et al.23 (2003 ), é uma penalização injusta às populações mais pobres, que permite ao Estado repassar suas obrigações e responsabilidades a outros segmentos da sociedade. Esse repasse de obrigações pode ser percebido em nossa pesquisa, quando, no depoi-mento de alguns dos usuários, identificou-se que o encaminhamento para a clínica da UNIVALI foi efe-tuado pelas Unidades de Saúde de diferentes muni-cípios.

CONCLuSÕESTendo por base as análises dos depoimentos dos

usuários das clínicas do curso de Odontologia da UNI-VALI, afirma-se que a grande maioria dos pacientes, de um modo geral, está satisfeita com o atendimento recebido.

Também, a partir das falas dos sujeitos desta pes-quisa, sugerem-se à Coordenação do Curso as seguin-tes ações com vistas a reduzir o tempo de espera, tido como o fator negativo pelos entrevistados:

• revisão do sistema de triagem dos pacientes;• preenchimento do prontuário, quando da consul-

ta inicial, antes de o paciente acessar a clínica;• oferta de clínicas em período de férias, como for-

ma de ampliar o número de atendimentos.

AGRADECImENTOSAo Programa de Bolsas de Iniciação Científica do

Artigo 170 do Governo do Estado de Santa Catarina e à Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Exten-são e Cultura da UNIVALI.

ABSTRACTEvaluation of dental services: the patients’ view

Through a descriptive approach, this study ex-plored the patients’ opinions on the quality of the dental services provided by the undergraduation dentistry clinics, Vale do Itajaí University (UNIVA-LI). An accidental sample was used, covering the period between May and November, 2004. Fifty one patients were interviewed, with the following char-acteristics: 41 women (80.4%) and 10 men (19.6%), ages varying between 20 and 73 years, with a higher concentration between 31 and 50 years of age (45.1%). The semi-structured questionnaire fo-cused on the structural aspects of the institution, aspects related to teachers and students, and patient satisfaction regarding the dental care given to them. The interviews were registered and grouped accord-ing to categories. The patients mainly reported on the good relationship with students and teachers, as well as the overall quality of the services. Some weaknesses of the process were identified, providing rich information for the improvement of the clinics operation and, consequently, better services and greater patient satisfaction.

DESCRIPTORSPatient satisfaction. Patient acceptance of health

care. Dental staff. §

Page 37: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):128-33 133

Avaliação de serviços odontológicos: a visão dos pacientes • Bottan ER, Sperb RAL, Telles PS, Uriarte Neto M

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Araújo IC. Avaliação da satisfação dos pacientes atendidos na

clínica integrada do curso de odontologia da Universidade

Federal do Pará [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Facul-

dade de Odontologia da USP; 2003.

2. Bacci AVF, Cardoso CL, Pasian SR. Locus de controle em estu-

dantes de odontologia: uma contribuição para o estudo de

aspectos da personalidade. Rev Assoc Paul Cir Dent 2002;

56(1):36-41.

3. Bottan ER, Santos SC, Furlani MA. Imagem do cirurgião-den-

tista: a percepção de indivíduos adultos. In: Salão de Iniciação

Científica; 2004. Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: UFRGS;

2004.

4. Butters JN, Willis DO. A comparison of patient satisfaction

among current and former dental school patients. J Dent Educ

2000;64(6):409-15.

5. Caproni R. Você foi bem atendido?! Meu Deus! Onde? Em

algum país do Primeiro Mundo? 26 mai 2003 [acesso 22 abr

2004]. Disponível em: http://www.odontologia.com.br/artigos.

asp?id=30&idesp=8&ler=s.

6. Douglass C. A psicologia no tratamento do paciente odonto-

lógico. The Oral Care Report/Prev News 2004;12(3):5 [acesso

18 jun 2004]. Disponível em: http://www.colgateprofissional.com.

br.

7. Frenkiel AK. Percepção de qualidade. 28 abr 2003 [acesso 28

mai 2004]. Disponível em: http://www.odontologia.com.br/arti-

gos.asp?id=373&idesp=8&ler=s.

8. Garcia PPNS, Contreras EFR. Estratégias adotadas por cirurgi-

ões-dentistas para a manutenção do paciente no consultório

odontológico. Rev Paul Odontol 2002;24(1):27-30.

9. Juhas R. Utilização de indicadores para avaliação da estrutura,

dos processos internos e dos resultados em assistência à saúde

bucal [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de

Odontologia da USP; 2002.

10. Junqueira CR. Avaliação da percepção dos pacientes de uma

instituição de ensino superior de odontologia sobre o trata-

mento oferecido: considerações sobre os aspectos éticos envol-

vidos no atendimento [Dissertação de Mestrado]. São Paulo:

Faculdade de Odontologia da USP; 2002.

11. Leão ATT, Dias K. Avaliação dos serviços de saúde prestados

por faculdades de odontologia: a visão do usuário. Rev Bras

Odontol Saúde Coletiva 2001;2(1):40-6.

12. Maciel-Lima SM. Acolhimento solidário ou atropelamento?

A qualidade na relação profissional de saúde e paciente face

à tecnologia informacional. Cad Saúde Pública 2004;20(2):502-

11.

13. Minas RP. O paciente no contexto do ensino [Dissertação de

Mestrado]. Faculdade de Odontologia da UFMG; 2002.

14. Ramos FB. Como o paciente se sente ao ser atendido por um

aluno de odontologia? Rev CROMG 2001;7(1):10-5.

15. Ramos FB. Eficácia do atendimento oferecido aos pacientes

da clínica integrada da Faculdade Federal de Odontologia de

Diamantina. Rev CROMG 1997;3(2):56-63.

16. Ramos FB, Fonseca LLV, Lucas SD. The meaning of a dental

clinic for its patient: the experience of Faculdade Federal de

Odontologia de Diamantina. Rev CROMG 1999;5(2):87-94.

17. Rocha CR, Bercht SB. Estudo do abandono do tratamento

odontológico em serviço público de Porto Alegre: o Centro de

Saúde Murialdo. Rev Fac Odontol Univ Fed Rio Grande do Sul

2000;42(2):25-31.

18. Russo FLP. Gestão em odontologia. São Paulo: Lovise; 2003.

19. Serapioni M. Avaliação de qualidade em saúde: a contribuição

da sociologia da saúde para superação da polarização entre

visão dos usuários e a perspectiva dos profissionais da saúde.

Saúde em Debate 1999;23:81-92.

20. Souza HM. Saúde, engenho e arte. Rev Bras Saúde Fam

2000;53(3):7-16.

21. Teixeira R. Entendendo a relação paciente profissional. Rev

Assoc Paul Cir Dent 2000;54(4):267-78.

22. Trad LAB, Bastos ACS, Santana EM, Nunes MO. Estudo etno-

gráfico da satisfação do usuário do Programa de Saúde da

Família (PSF) na Bahia. Cienc Saúde Coletiva 2002;7(3):581-

9.

23. Vázquez ML, Silva MRF, Campos ES, Arruda IKG, Diniz AS,

Veras IL, et al. Participação social nos serviços de saúde: con-

cepções dos usuários e líderes comunitários em dois municí-

pios do Nordeste do Brasil. Cad Saúde Pública 2003;19(2):579-

91.

Aceito para publicação em 10/2005

Page 38: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):134-9134

intérpretes. Participaram desse estágio 24 estudantes, entre graduandos e pós-graduandos das duas áreas, sendo 17 brasileiros e 7 estrangeiros. Como forma de avaliação do estágio, aplicou-se um questionário a todos os participantes. Observou-se que o desenvol-vimento do Projeto favoreceu a integração entre en-sino, pesquisa e extensão, sob uma ótica interdiscipli-nar (Odontologia e Letras), além de oferecer recursos para uma formação profissional capaz de despertar um perfil humanitário e social nos futuros gradua-dos.

DESCRITORESEnsino. Educação em Odontologia/métodos.

Pesquisa. Currículo/tendências.

As Diretrizes Curriculares Nacionais constituem orientações para a elaboração dos currículos que

devem ser necessariamente adotadas por todas as ins-tituições de ensino superior, estimulando a superação

RESumOA proposta de reestruturação curricular dos cur-

sos de graduação em Odontologia é um item relevan-te das Diretrizes Curriculares Nacionais, pois oferece base para a formação profissional contextualizada com a realidade social. Destaca-se, como estratégia, a instituição de práticas pedagógicas que relacionem o ensino, a pesquisa e a extensão. O presente estudo teve por objetivo avaliar a experiência de um estágio supervisionado interdisciplinar dos cursos de Odon-tologia e Letras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que buscou contextualizar o aprendizado dos acadêmicos à problemática social da região. Uti-lizou-se como campo de estágio um projeto de pes-quisa sobre restaurações atraumáticas (ART) junto a escolares da cidade de João Pessoa, PB, o qual foi desenvolvido em 12 meses, quando os alunos de Odontologia estrangeiros e brasileiros atuaram como cirurgiões-dentistas e auxiliares odontológicos, res-pectivamente, e os alunos de Letras atuaram como

Odontologia e Letras: avaliação de um estágio supervisionado interdisciplinar internacional da uFPB

O estágio supervisionado, um instrumento de integração do aluno com a realidade social e econômica de sua região, possibilita que o estudante trabalhe com autonomia e favorece a prática dos conhecimentos adquiridos na Universidade.

Andreza Cristina de Lima Targino Massoni*, Fábio Correia Sampaio**, Félix Augusto Rodrigues***, Evert van Amerongen****

* Mestre em Odontologia Preventiva e Infantil pela Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected].

** Doutor em Cariologia pela Universidade de Oslo, Noruega. Coordenador do Mestrado em Odontologia Preventiva e Infantil da Universidade Federal da Paraíba.

*** Doutor em Língua Inglesa e Lingüística Aplicada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Membro da Assessoria Internacional da Universidade Federal da Paraíba.

**** Doutor em Odontologia pela Academisch Centrum Tandheelkunde Amsterdam.

Page 39: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):134-9 135

Odontologia e Letras: avaliação de um estágio supervisionado interdisciplinar internacional da UFPB • Massoni ACLT, Sampaio FC, Rodrigues FA, van Amerongen E

das antigas concepções das estruturas curriculares e buscando preparar o futuro graduado para enfrentar os desafios das rápidas transformações da sociedade, do mercado de trabalho e das condições de exercício profissional2. Entre os principais itens das Diretrizes Curriculares, inclui-se o Projeto Político-Pedagógico, que busca o engajamento dos segmentos docente, discente e administrativo e, principalmente, a forma-ção do aluno em termos científico-cultural, profissio-nal e de cidadania3.

Conforme afirmou Carvalho3 (2004), as Diretrizes Curriculares Nacionais vêm promovendo mudanças paradigmáticas na formação dos profissionais da Odontologia, as quais devem contribuir para o surgi-mento de um cirurgião-dentista capaz de criticar a realidade social, colaborando, de alguma forma, para a melhoria da situação encontrada. Já as instituições formadoras devem estar abertas às demandas sociais, priorizando a atenção à promoção da saúde.

Desta forma, é proposta das Diretrizes Curricula-res Nacionais a formação do seguinte profissional:

“Generalista, humanista, crítico e reflexivo, para atuar em

todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor téc-

nico e científico. Capacitado ao exercício de atividades

referentes à saúde bucal da população, pautado em prin-

cípios éticos, legais e na compreensão da realidade social,

cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação

para a transformação da realidade em benefício da socie-

dade”2.

Paim, Almeida Filho8 (1998) e Cristino4 (2005) afirmaram ser necessária a reestruturação do currícu-lo odontológico contemplando ações transformado-ras, para a formação de profissionais que se voltem às necessidades requeridas pelo quadro epidemiológico de sua região.

Em relação ao processo ensino-aprendizagem, as Diretrizes Curriculares Nacionais propõem que esse deve contemplar a integração de matérias, sugerindo que o conhecimento básico deve aproximar-se da uti-lização clínica; acrescentando, ainda, a necessidade de se desenvolverem estágios supervisionados de for-ma articulada e com complexidade crescente ao lon-go do processo de formação. Estes devem representar 20% da carga horária plena dos cursos2.

Na Odontologia o estágio supervisionado foi con-ceituado pela Associação Brasileira de Ensino Odon-tológico1 (ABENO), em 2003, como um instrumento de integração do aluno com a realidade social e eco-nômica de sua região, permitindo que este preste

atendimento à comunidade intra e extramuros e atue de forma multidisciplinar em serviços assistenciais públicos e privados. Portanto, o estágio possibilita que o estudante trabalhe com autonomia, além de favo-recer a prática dos conhecimentos adquiridos na Uni-versidade.

No que concerne à pesquisa, as Diretrizes Curri-culares Nacionais sugerem que, dentro dos cursos de graduação, ela deve contemplar a compreensão e a atuação de alunos em processos investigativos, tam-bém direcionados a aspectos sociais, além de manter uma relação constante com os projetos desenvolvidos nos cursos de pós-graduação2.

Há quatro anos a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) está em processo de implantação de um novo Projeto Político-Pedagógico com a proposta de está-gios supervisionados em cada etapa do curso, resga-tando a inter-relação Ensino-Pesquisa-Extensão. En-tre as atividades, conta-se com Projetos de Extensão desenvolvidos pelos docentes, como é o caso do Pro-jeto de Pesquisa Internacional relacionado com Res-taurações Atraumáticas (ART) no tratamento de le-sões de cárie em escolares da cidade de João Pessoa (Paraíba), que envolve estudantes dos cursos de Odontologia e de Letras.

O objetivo deste estudo foi avaliar a experiência do estágio supervisionado interdisciplinar dos cursos de Odontologia e Letras da UFPB.

mETODOLOGIAUtilizou-se, como campo de estágio, um projeto

de pesquisa desenvolvido junto a escolares da cidade de João Pessoa – Paraíba, nos quais se realizou o Tra-tamento Restaurador Atraumático (ART) para o tra-tamento de lesões de cárie. O projeto foi desenvolvido em 12 meses, durante os quais os alunos de Odonto-logia, estrangeiros e brasileiros, atuaram como cirur-giões-dentistas e auxiliares odontológicos, respectiva-mente. Simultaneamente, os alunos de Letras atuaram como intérpretes. Os graduandos do curso de Odon-tologia eram alunos dos componentes curriculares de Saúde Coletiva, Cariologia Clínica e Clínica. Os alu-nos do curso de Letras originalmente atuavam nos componentes de Língua Inglesa V e VI.

Participaram desse estágio 24 estudantes, entre graduandos e pós-graduandos das duas áreas, sendo 17 brasileiros e 7 estrangeiros (Holanda e Alemanha) (Tabela 1). Alunos brasileiros da graduação de Odon-tologia do componente curricular de Clínica atuaram no Projeto como auxiliares odontológicos, já os de outros componentes curriculares (Odontologia em

Page 40: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):134-9

Odontologia e Letras: avaliação de um estágio supervisionado interdisciplinar internacional da UFPB • Massoni ACLT, Sampaio FC, Rodrigues FA, van Amerongen E

136

Saúde Coletiva e Cariologia Clínica) realizaram pro-cedimentos coletivos como: ATF (Aplicação Tópica de Flúor), escovação supervisionada e atividades edu-cativas.

Como forma de avaliação dessa experiência aca-dêmica, aplicou-se um questionário bilíngüe a todos os participantes. As perguntas eram abertas e tinham como objetivo identificar os pontos positivos e difi-culdades durante a atuação no Projeto. Para a avalia-ção das respostas procedeu-se à análise de conteúdo daquelas questões de dimensão subjetiva12.

RESuLTADOS E DISCuSSãOA análise das respostas dadas pelos participantes

do Projeto (Tabela 2) nos permitiu perceber a impor-tância desse tipo de experiência durante a formação profissional dos estudantes da área de saúde.

Como as perguntas eram abertas, o número de respostas não é equivalente ao número de participan-tes e, por esse motivo, as respostas não podem ser interpretadas como excludentes. Por outro lado, não foi objetivo deste trabalho comparar respostas entre pós-graduandos e graduandos ou entre alunos de Odontologia e Letras.

Quando se questionou a respeito dos benefícios trazidos pelo projeto aos acadêmicos (Questão 1/Ta-bela 2), evidenciou-se o aprendizado técnico nas ati-vidades extramuros, visto que a maioria dos partici-pantes (28%) citou o aprendizado da técnica do ART como maior benefício. É válido ressaltar a importân-cia dessa técnica para a Saúde Pública e para o apren-dizado da Odontologia. O ART consiste na remoção do tecido cariado através de instrumentos manuais e segue os princípios de intervenção mínima com sim-plificação dos procedimentos. Por esse motivo pode ser bem empregado em locais onde ainda não há infra-estrutura adequada para o tratamento conven-cional, sendo particularmente importante para zonas rurais do Nordeste. Além disso, a técnica do ART apresenta benefícios preventivos, pois utiliza material restaurador adesivo capaz de liberar flúor – ionôme-

ro de vidro5.Resgatando-se a questão do ensino em sintonia

com os problemas regionais, a possibilidade de “co-nhecimento da realidade social da região” foi um ponto levantado por 24% dos participantes. Esse fato está em sintonia com o que relata Morita, Kri-ger6 (2004), que sugerem a existência de cenários de ensino diversificados, agregando-se ao processo, além dos equipamentos de saúde, os equipamentos comunitários. Os autores ainda ressaltam a necessi-dade de interação entre os acadêmicos e a popula-ção, pois resulta na formação de profissionais aptos a trabalhar com os verdadeiros problemas da comu-nidade.

Quanto à questão sobre os benefícios sociais do Projeto, os principais aspectos citados estão relacio-nados com os princípios da técnica do ART e com a necessidade de se instituir uma Odontologia mais engajada socialmente, incluindo-se a educação em saúde bucal (Questão 2/Tabela 2). A “realização de procedimentos restauradores e preventivos” foi cita-da por 33,3% dos participantes e “assistência às crian-ças com menos recursos” e “educação em saúde bu-cal” totalizaram a metade das respostas válidas, com 25% para cada item. Conforme afirmam Pelissari et al.9 (2005), uma prática educativa humanizada na área da Saúde coloca o homem como centro do pro-cesso de construção da cidadania, é integrada à rea-lidade social e epidemiológica, às políticas sociais e de saúde, e, ainda, resolutiva. De acordo com Pinto11 (2000), a educação é um importante componente do processo de Promoção da Saúde, principalmente se associada a métodos que permitam resolver os pro-blemas já instalados, como é o caso do ART. Portanto, os resultados sugerem que o projeto possui um papel social para a comunidade.

“Benefício social” e “aprendizado da técnica do ART” foram mais uma vez citados, por 50% e 25% dos alunos, respectivamente, quando se questionou sobre os pontos positivos do Projeto (Questão 3/Tabela 2). Moysés et al.7 (2003) ressaltam a importância não só

Tabela 1 - Nacionalidade e formação dos alunos participantes do Projeto.

Nacionalidade Alunos Titulação Odontologia Letras

Brasil 17 10 graduandos 7 pós-graduandos

8 graduandos 4 pós-graduandos

2 graduandos 3 pós-graduandos

Holanda 6 6 graduandos 0 pós-graduandos

6 graduandos 0 pós-graduandos

-

Alemanha 1 1 graduando 0 pós-graduandos

1 graduando 0 pós-graduandos

-

Page 41: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):134-9 137

Odontologia e Letras: avaliação de um estágio supervisionado interdisciplinar internacional da UFPB • Massoni ACLT, Sampaio FC, Rodrigues FA, van Amerongen E

de incorporar a pesquisa educativa na formação do professor de Odontologia mas também de que esta seja trabalhada para o benefício social. As dificulda-des dessa prática estão evidenciadas pelos relatos de Péret, Lima10 (2005), que analisaram os critérios de avaliação da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior) para a área de Odontologia e observaram a existência de barreiras para a formação do professor comprometido com as questões sociais. Todavia, verificou-se, dentro dos cri-térios de avaliação, a possibilidade de transpor esses obstáculos mediante a incorporação da pesquisa edu-cativa, por meio da articulação entre ensino e pesqui-sa. Nesse sentido, projetos de pesquisa com atividades extramuros podem minimizar tais dificuldades iden-tificadas por Péret, Lima10 (2005).

Associada a estas respostas ainda foi ressaltada, na terceira questão da Tabela 2, a possibilidade de aper-feiçoamento da língua inglesa (18,7%), incluindo-se o aprendizado de termos técnicos por parte dos alunos de Letras que podem atuar como intérpretes após con-clusão do curso. Nos últimos tempos tem se observado

uma tendência para a internacionalização, expressa nos critérios de avaliação da CAPES, que tem valoriza-do o intercâmbio de projetos de pesquisa associados a centros no exterior, além da publicação de artigos em periódicos internacionais10. Apesar de os autores refle-tirem a respeito da direção dada ao conhecimento científico e tecnológico gerado pelas pesquisas, o que pode afastar o enfoque regional, é importante consi-derarmos que esse tipo de experiência possibilita a troca de experiências, o aprendizado de novas técnicas para os envolvidos e o conhecimento de outras cultu-ras. Sendo necessária, pois, a administração de forma coerente dos projetos, para que, ao invés de direcioná-los para um enfoque distante da realidade de nosso país, esses sejam capazes de somar aprendizado e co-nhecimento à realidade social e gerar melhorias na qualidade de vida do grupo assistido.

Quanto aos pontos negativos do projeto (Ques-tão 4/Tabela 2), as principais dificuldades citadas pelos participantes estão relacionadas ao transporte (45,4%) e ao agendamento junto às escolas (24,2%). O que vem confirmar as considerações de Morita,

Questão Respostas Quantidade* %

1. Benefícios para os acadêmicos em participar do Projeto

Aprendizado da técnica do ART 7 28,0

Conhecimento da realidade social da cidade 6 24,0

Aperfeiçoamento da língua inglesa 4 16,0

Experiência extramuro da Universidade 3 12,0

Relacionamento com pessoas de outras culturas 3 12,0

Outros 2 8,0

2. Benefícios que o Projeto leva às crianças e às escolas

Realização de procedimentos restauradores e preventivos 8 33,3

Assistência às crianças com menos recursos 6 25,0

Educação em saúde bucal 6 25,0

Outros 4 16,7

3. Pontos positivos do Projeto Benefício social 16 50,0

Aprendizado da técnica do ART 8 25,0

Aperfeiçoamento da língua inglesa 6 18,7

Outros 2 6,2

4. Pontos negativos do Projeto Dificuldade de transporte 15 45,4

Agendamento confuso nas escolas 8 24,2

Ambiente quente para trabalhar 6 18,3

Outros 4 12,1

5. Palavras que expressam o Projeto Solidariedade 8 33,3

Aprendizado 8 33,3

Interação 5 20,8

Outras (experiência, prática) 3 12,6

Tabela 2 - Respostas dadas pelos participantes.

*O número de respostas não é equivalente ao número de participantes.

Page 42: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):134-9

Odontologia e Letras: avaliação de um estágio supervisionado interdisciplinar internacional da UFPB • Massoni ACLT, Sampaio FC, Rodrigues FA, van Amerongen E

138

Kriger6 (2004), quando afirmaram que as atividades extramuros ainda estão na dependência da ação vo-luntária dos professores engajados, bem como da adesão ideológica dos acadêmicos, ficando muitas vezes as instituições e o serviço público desvinculados do desenvolvimento dos projetos e conferindo-lhes pouca sustentabilidade. Apesar das dificuldades men-cionadas acima, sem a nova estrutura curricular da UFPB, com os componentes curriculares dos estágios supervisionados, não seria possível implementar o projeto ART Brasil/Holanda.

A Questão 5, presente na Tabela 2, vem ratificar as respostas apresentadas anteriormente. Assim, quando foram solicitadas palavras que expressassem o projeto, “solidariedade” (33,3%) e “aprendizado” (33,3%) foram as mais citadas pelos acadêmicos, o que reflete a possibilidade de se utilizar a extensão universitária para a formação de um profissional mais humanitário e voltado para atividades que resultem em benefícios sociais.

Em termos quantitativos, durante 12 meses de ati-vidades, o projeto visitou 27 escolas, completando satisfatoriamente 270 ARTs. Realizou ainda escova-ção supervisionada, ATF e atividades educativas em aproximadamente 2.500 escolares.

CONCLuSãODe acordo com a análise das respostas dos partici-

pantes do Projeto, nossa experiência até o presente momento está sendo considerada positiva, principal-mente no que concerne ao retorno que obtivemos dos acadêmicos e das crianças assistidas. Evidenciaram-se dificuldades operacionais como transporte dos acadê-micos e agendamento para atividades das escolas.

Vale ressaltar que o projeto ART Brasil/Holanda é um espaço que cria oportunidades para discutir as situações vividas pelos alunos fora do campus da Uni-versidade e para a interação e integração entre gra-duandos (brasileiros e estrangeiros), alunos da pós-graduação, docentes e a população.

Dessa forma, concluímos que o Projeto ART Bra-sil/Holanda pode ser utilizado como campo de está-gio para alunos dos Cursos de Odontologia e Letras da UFPB e de outras instituições internacionais, atin-gindo plenamente os objetivos de ação em Ensino, Pesquisa e Extensão.

ABSTRACTDentistry and the Arts (Letters): evaluation of an international interdisciplinary supervised internship at UFPB

The proposal of curricular restructuring of the Dentistry undergraduate courses is a relevant item of the National Curricular Guidelines as it offers the basis for professional training connected to the social reality. The implementation of pedagogic practices that can relate teaching, research and extramural ac-tivities stands out as an important strategy. The pres-ent study aimed to evaluate the experience of a su-pervised interdisciplinary internship of the courses of Dentistry and the Arts (Letters) at the Federal Uni-versity of Paraíba (UFPB), PB, Brazil, that explored an academic learning linked to the social problems of the region. An internship research project on Atraumatic Restorative Treatment (ART) was con-ducted in schools of João Pessoa city, PB, during twelve months. Foreign and Brazilian dental students acted respectively as dentists and dental assistants, and the Letters students acted as interpreters. A total of 24 graduate and undergraduate students from both courses participated in this project, 17 Brazilian and 7 foreign. A questionnaire was applied to all partici-pants to evaluate the internship. We observed that the development of the Project favored the integration between teaching, research and extramural activities, with an interdisciplinary perspective (Dentistry and Letters). In addition, it offered resources for a profes-sional training capable of inspiring a humanitarian and social profile of the future graduates.

DESCRIPTORSTeaching. Education, dental/methods. Research.

Curriculum/trends. §

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Associação Brasileira de Ensino Odontológico – ABENO. Es-

tágios supervisionados. Reunião Paralela da ABENO 2003

[acesso 20 out 2005]. Disponível em: http://www.abeno.org.br.

2. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educa-

ção. Câmara de Educação Superior. Diretrizes Curriculares

Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia. Diário

Oficial da União, Brasília, 4 mar 2002, seção 1, p. 10.

3. Carvalho ACP. Planejamento do curso de graduação de Odon-

tologia. Revista da ABENO 2004;4(1):7-13.

4. Cristino PS. Clínicas Integradas antecipadas: limites e possibi-

lidades. Revista da ABENO 2005;5(1):12-8.

5. Frencken JE, Holmgren CJ. How effective is ART in the man-

agement of dental caries? Community Dent Oral Epidemiol

1999;27(6):423-30.

6. Morita MC, Kriger L. Mudanças nos cursos de Odontologia e

a interação com o SUS. Revista da ABENO 2004;4(1):17-21.

7. Moysés ST, Moysés SJ, Kriger L, Schmitt EJ. Humanizando a

Page 43: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):134-9 139

Odontologia e Letras: avaliação de um estágio supervisionado interdisciplinar internacional da UFPB • Massoni ACLT, Sampaio FC, Rodrigues FA, van Amerongen E

educação em Odontologia. Revista da ABENO 2003;3(1):58-

64.

8. Paim JS, Almeida Filho N. Saúde coletiva: uma “nova saúde

pública” ou campo aberto a novos paradigmas? Rev Saúde

Pública 1998;32(4):299-316.

9. Pelissari LD, Basting RT, Flório FM. Vivência da realidade: o

rumo da saúde para a Odontologia. Revista da ABENO

2005;5(1):32-9.

10. Péret ACA, Lima MLR. A pesquisa nos critérios de avaliação

da CAPES e a formação do professor de Odontologia numa

dimensão crítica. Revista da ABENO 2005;5(1):46-51.

11. Pinto VG. Programação em saúde bucal. In: Pinto VG. Saúde

Bucal Coletiva. 4ª ed. São Paulo: Santos; 2000. p. 99-134.

12. Vala J. A análise do Conteúdo. In: Silva A, Pinto JM. Metodo-

logia das Ciências Socias. Porto Alegre: Afrontamento; 1986.

p. 101-28.

Aceito para publicação em 10/2005

A Revista da ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico – tem como missão primordial:

contribuir para a obtenção de indicadores de qualidade do ensino odontológico respeitando os desejos de formação discente e capacitação docente;

assegurar o contínuo progresso da formação profissional;

produzir benefíciosdiretamente voltados para a coletividade;

produzir junto aos especialistas a reflexão e análise crítica dos assuntos da área em nível local, regional, nacional e internacional.

ABENOABENOAssociação Brasileir

a de Ensino Odontológico

R E V I S T A D A

ABENOABENO

Associação Brasileira de Ensino Odontológico

volume 6

número 2

julho/dezembro

2006

ISSN

1679

-595

4

A Revista da ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico – tem como missão primordial:

Page 44: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):140-4140

de 4.000 revistas médicas são publicadas. Entretanto, somente 10 a 15% do material comprovou valor cien-tífico, demonstrando-se que a maioria dos artigos publicados em revistas médicas especializadas era de qualidade precária1,12,13.

Diversos estudos avaliaram artigos científicos pu-blicados em periódicos internacionais, tendo sido detectados significantes problemas estatísticos e me-todológicos, em grande parte deles2,7,9.

Na Odontologia, a proporção de pesquisas com credibilidade não deve diferir muito, embora sejam bastante restritas as análises realizadas. Existe grande número de publicações disponíveis sem que se tenha conhecimento de qualquer avaliação técnico-cientí-fica realizada com isenção15.

Essa questão tornou-se importante ultimamente, a partir de duas vertentes principais. A primeira diz respeito à publicação de trabalhos, originários de cen-tros de pesquisa e pós-graduação, em revistas qualifi-cadas, como exigência para seu reconhecimento pe-las agências de fomento. A outra, à necessidade de aumento da produtividade, que repercute intensa-mente sobre o desenvolvimento da ciência, como parte integrante do processo de aprofundamento e atualização do conhecimento para os próprios pes-quisadores, os estudantes dos mais variados níveis e a grande maioria dos profissionais clínicos.

Dessa maneira, face ao grande número de publi-cações, é fundamental fortalecer as fontes de infor-mação disponíveis, para poderem cumprir a conten-

RESumOO estudo objetivou conhecer o perfil de algumas

publicações brasileiras da área de Odontologia. Fo-ram selecionados, aleatoriamente, fascículos de revis-tas publicadas no período de janeiro de 1995 a de-zembro de 2004. Foram analisados 255 números, com o total de 1.071 artigos publicados, considerando-se os seguintes aspectos: data de publicação, instituição que gerou a publicação, número de autores, partici-pação de acadêmicos ou bolsistas de iniciação cientí-fica, especialidade odontológica do artigo, financia-mento, categoria da publicação, envolvimento de seres humanos e aspectos éticos. Os resultados mos-traram que a maioria das publicações está relacionada à área geográfica de influência da cidade-sede da re-vista. A maioria dos artigos era original, a maior parte constituída por estudos epidemiológicos retrospecti-vos. De maneira geral, observou-se que as normas editoriais nem sempre foram totalmente seguidas.

DESCRITORESArtigo de revista. Educação em Odontologia. En-

sino. Metodologia. Publicações.

A publicação de artigos científicos em periódicos indexados é uma das formas mais significativas

para o processo da educação em saúde8. A literatura da área de saúde é vasta e tem se expandido rapida-mente. Existem mais de 10 milhões de artigos médicos em bibliotecas de todo o mundo. Mensalmente, cerca

Avaliação de parâmetros editoriais de algumas publicações brasileiras em Odontologia

Para superar os desafios da criação e editoração de uma revista de qualidade, espera-se que o crescente número de trabalhos submetidos permita melhorar a seleção destes e a qualidade das publicações.

Paulo Franco Taitson*, Roberval de Almeida Cruz**

* Professor Adjunto Doutor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: [email protected].

** Professor Adjunto Livre-Docente da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail: [email protected].

Page 45: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):140-4 141

Avaliação de parâmetros editoriais de algumas publicações brasileiras em Odontologia • Taitson PF, Cruz RA

to sua missão de consolidar o ensino e a pesquisa, além de divulgar os novos conceitos, técnicas e mate-riais para sua aplicação clínica.

Por isso, com base em alguns parâmetros, este estudo pretende obter o perfil de artigos publicados na área odontológica, contribuindo para o melhor conhecimento a respeito das informações passadas aos dentistas e estudantes, que têm acesso a essa im-portante fonte de consulta.

mETODOLOGIAForam considerados 255 números das revistas

Odonto Ciência, Revista Brasileira de Odontologia, Revista do Conselho Regional de Odontologia de Mi-nas Gerais, Revista Gaúcha de Odontologia, Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo e Re-vista Paulista de Odontologia. Esses periódicos foram selecionados sem qualquer razão específica, tendo sido editados durante o período de janeiro de 1995 a dezembro de 2004. Foram analisados 1.071 artigos, sem se incluírem aqueles publicados em suplementos das revistas.

As variáveis estudadas foram: data da publicação, número de autores por publicação, especialidade odontológica, participação de acadêmicos ou bolsis-tas de iniciação científica como co-autores, categoria da publicação segundo a classificação adotada pela revista, classificação dos artigos originais, citação de aspectos éticos e envolvimento de seres humanos, e padronização dos artigos segundo as normas de pu-blicação adotadas pela própria revista.

Os resultados obtidos foram inicialmente arma-zenados em um banco de dados, sendo depois sub-metidos às análises descritivas quantitativa e quali-tativa.

RESuLTADOSAs universidades públicas federais foram respon-

sáveis por 69% de todas as autorias das publicações analisadas. As universidades privadas responderam

por cerca de 27% e outras instituições por 4%. Hou-ve reduzido número de publicações oriundas de ins-tituições estrangeiras (Gráfico 1).

Quanto ao número de autores por artigo, 204 (19,1%) tinham somente um autor, 411 (38,4%) eram de dois ou três autores e o restante, 456 (42,5%), de quatro ou mais autores (Gráfico 2). De todos os artigos publicados, apenas 162 (15,1%) contaram com a participação de acadêmicos ou bolsistas de ini-ciação científica como co-autores.

Dentre as especialidades odontológicas, os temas mais abordados estavam relacionados com a Odonto-pediatria (29%), Prótese (16%), Radiologia (10%), Estomatologia (10%), Periodontia (8%), Cirurgia (7%), Ortodontia (7%) e Endodontia (3%). Outras áreas contribuíram com 10%. Os dados estão ilustra-dos no Gráfico 3.

Dos artigos publicados, apenas 139 (12,9%) regis-traram a existência de apoio ou financiamento con-cedido por alguma instituição oficial de fomento, sendo 74% concedidos pelo CNPq e 12%, por agên-cias de fomento estaduais. O restante (87,1%) não obteve financiamento ou deixou de mencionar a fon-te de apoio financeiro (Gráfico 4).

Conforme observado no Gráfico 5, cada artigo foi classificado segundo as normas das próprias re-vistas nas categorias: 49,4% - artigos originais; 22,9% - relatos de casos; 13,7% - atualização ou re-visão; 7,4% - atualização terapêutica e 6,6% - educa-ção odontológica. Os artigos da categoria “originais” foram classificados quanto ao tipo de estudo e mos-traram a seguinte distribuição: 41,2% - estudo epi-demiológico retrospectivo; 9,9% - epidemiológico prospectivo; 9,7% - ensaio clínico; 6,8% - caso-con-trole; 4,2% - experimental de laboratório e 28,2% - outros tipos de estudos (Gráfico 6). O envolvimento de seres humanos ocorreu em 63,8% dos trabalhos publicados. No entanto, apenas 2,4% ressaltaram os aspectos éticos envolvidos nos estudos.

Gráfico 2 - Número de autores por artigo.

42,5%

38,4%

19,1%

Quatro ou mais autoresDois ou três autoresUm autor

Gráfico 1 - Publicações por tipo de instituição.

69%27%

4%

Universidades públicas nacionaisUniversidades privadas nacionaisOutras instituições

Page 46: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):140-4

Avaliação de parâmetros editoriais de algumas publicações brasileiras em Odontologia • Taitson PF, Cruz RA

142

DISCuSSãOA escassez de estudos com abordagem semelhan-

te à realizada neste trabalho tem sido detectada na literatura odontológica brasileira. Praticamente ine-xistem artigos publicados sobre o assunto.

De acordo com os parâmetros adotados, foi cons-tatado o predomínio de estudos realizados em insti-tuições públicas. Esse fato pode ser explicado, tendo em vista serem essas as instituições que tradicional-mente recebem maior aporte de recursos oriundos das agências de fomento. Além disso, elas agregam maior número de pesquisadores, possuindo maior tradição na realização de pesquisas. As instituições privadas têm aumentado significativamente sua pro-dutividade, mas a atividade ainda pode ser considera-da como reduzida. No Brasil, as universidades são fontes geradoras de pesquisa, especialmente quando vinculadas aos programas de pós-graduação stricto sen-su. Institutos de pesquisa e pesquisas industriais res-pondem por outra parcela da produção científica4,19.

Verificou-se que a maior parte dos artigos analisa-dos era de quatro ou mais autores, demonstrando-se a preferência pela maior participação de colaborado-

res. Por outro lado, causou preocupação a reduzida participação de acadêmicos ou bolsistas de iniciação científica como co-autores. De certa maneira, esse achado pode ter demonstrado o pouco aproveita-mento dos resultados decorrentes do desenvolvimen-to de projetos apoiados por programas do tipo PRO-BIC (Programa de Bolsas de Iniciação Científica), o que seria lamentável.

A menor freqüência de determinadas especialida-des odontológicas nas publicações pode estar relacio-nada ao tipo de revista pesquisada e seu padrão edi-torial. Trabalhos da área de Ortodontia, por exemplo, são preferencialmente publicados nas revistas especí-ficas da especialidade.

Foi reduzida a citação formal de recebimento de apoio ou financiamento para a pesquisa, bem como para a confecção do próprio artigo. As principais agên-cias federais são CAPES (Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior) ligada ao Minis-tério da Educação (MEC), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e FI-NEP (Financiadora de Estudos e Projetos), do Minis-tério da Ciência e Tecnologia (MCT). Algumas funda-

Gráfico 3 - Freqüência das publicações por especialidade.

29%

16%10%

10%

10%

8%

7%7% 3%

A

BCD

EF

G H I

Odontopediatria

Radiologia

Outras áreas

Cirurgia

Endodontia

Prótese

Estomatologia

Periodontia

Ortodontia

A -

B -

C -

D -

E -

F -

G -

H -

I -

Gráfico 4 - Citação de apoio ou financiamento.

87,1%

12,9%

Ausência de apoio; apoio não mencionado; sem financiamentoCitação de apoio ou financiamento

Gráfico 5 - Categoria do artigo.

49,4%

22,9%

13,7%7,4% 6,6%

Atualização ou revisão

Artigo original

Relato de caso

Atualização terapêutica

Educação odontológica

Gráfico 6 - Tipo de estudo (categoria “artigo original”).

41,2%

28,2%

9,9%

9,7%6,8% 4,2%

Epidemiológico retrospectivo

Experimento de laboratórioCaso-controle

Outros tipos de estudos

Ensaio clínicoEpidemiológico prospectivo

Page 47: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):140-4 143

Avaliação de parâmetros editoriais de algumas publicações brasileiras em Odontologia • Taitson PF, Cruz RA

ções estaduais de fomento à pesquisa, como a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), a FAPERGS (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul), têm desempenhado papel importante na propul-são das atividades de pesquisa subvencionada, com resultados significativos em vários ramos da ciência. No entanto, acredita-se que o sistema oficial brasileiro de fomento só atenda a 25% dos doutores do país5. Ora, isso é um dado preocupante, que merece ser mais pro-fundamente estudado. Na grande maioria das institui-ções, públicas e privadas, não existem recursos finan-ceiros, alocados em orçamento, para o financiamento das atividades de pesquisa. O pouco que se consegue limita em muito a qualidade pretendida, tornando-se absolutamente indispensável a captação de recursos provenientes de fontes externas à Universidade.

Os artigos da categoria “originais” foram maioria nas publicações, seguidos pelos “relatos de casos”. Na maioria das vezes, as pesquisas utilizaram método quantitativo. Esse é derivado da filosofia positivista, centrada na objetividade da ciência3. A busca de ex-plicações objetivas para os fenômenos tem enfatizado os dados numéricos, que constituem a base do méto-do quantitativo14. Por outro lado, o método qualitati-vo é baseado na filosofia naturalista e tem sido larga-mente usado nas ciências sociais. Sua aplicação na área de saúde é restrita, embora tenha crescido o in-teresse por sua utilização nas pesquisas de saúde co-letiva18. Em Odontologia, existem poucos estudos utilizando este método20. Sabe-se que os principais métodos quantitativos utilizados na investigação de questões na área de saúde têm sido o estudo de casos, a investigação experimental em laboratório e a pes-quisa populacional ou epidemiológica17.

O envolvimento de seres humanos ocorreu em 63,8% dos trabalhos publicados. No entanto, apenas 2,4% ressaltaram os aspectos éticos envolvidos nos estudos. Experimentos envolvendo seres humanos exigem que os objetivos sejam inovadores ou, no mí-nimo, justificáveis, e que a metodologia adotada seja adequada e bem conduzida. Pesquisas com amostras insuficientes e heterogêneas, cujas seleções não fo-ram aleatórias, não podem ser extrapoladas para a população, nem ser consideradas éticas10. As diretri-zes éticas internacionais para pesquisas biomédicas envolvendo seres humanos foram redigidas em 1982 e revisadas em 1993, pelo Conselho para Organiza-ções Internacionais de Ciências Médicas (CIOMS), em colaboração com a Organização Mundial da Saú-

de (OMS). O propósito das diretrizes é indicar a apli-cabilidade dos princípios éticos fundamentais para pesquisas envolvendo seres humanos realizadas em países em desenvolvimento. Estabelecem, entre ou-tras coisas, a necessidade do encaminhamento do projeto de pesquisa para ser apreciado e julgado pela comissão especificamente constituída16.

Na atual abordagem, foi observado o predomínio de estudos epidemiológicos do tipo retrospectivo. Isso pode ser explicado pelo fato de esse ser o tipo de estudo menos trabalhoso e menos dispendioso, re-querendo menos tempo para sua realização. No en-tanto, deve ser ressaltado que ele é mais sujeito a vícios e tendências, não apresentando a mesma credibilida-de de estudos prospectivos. Exatamente por haver questões controversas, provavelmente a maioria de-las, é que surgem as conclusões divergentes e os con-flitos. Por isso, tem-se questionado a dificuldade em se determinar o que é verdade em ciência, pelo fato de os estudos serem muitas vezes conflitantes e as conclusões, mudadas freqüentemente11. E como não há respostas definitivas para as questões e hipóteses levantadas, o leitor tem que formar seu próprio juízo. Assim, somente o fará aquele que estiver mais bem preparado para analisar criticamente as informações recebidas, porque nem tudo que se fala ou se escreve é verdade absoluta e sem viés.

Em diversas situações, têm-se usado os estudos observacionais para orientar possíveis experiências que confirmam ou não os dados anteriores. Publica-ções recentes têm analisado diversos estudos observa-cionais e, quando estes foram comparados a estudos randomizados, concluiu-se que os estudos observacio-nais apresentam resultados similares aos dos estudos randomizados6.

Também foi demonstrado que as normas de pu-blicação exigidas pelas revistas nem sempre foram seguidas a termo pelos autores. Provavelmente, isso se deve à sua não-observação, embora contidas e de-talhadas em página específica de cada fascículo. Nes-se contexto, passa-se a questionar o papel exercido pelos Conselhos Editoriais. Estão eles sendo efetiva-mente utilizados para a pré-avaliação dos artigos sub-metidos? Os desafios e problemas envolvidos na cria-ção e editoração de uma revista de nível e qualidade dos padrões nacionais e internacionais têm de ser superados. Muitas vezes, se as normas de publicação não são observadas, o que comentar sobre o conteúdo dos artigos? Progressivamente, a maior demanda de trabalhos submetidos tem de possibilitar a melhor seleção destes e a qualidade das publicações.

Page 48: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):140-4

Avaliação de parâmetros editoriais de algumas publicações brasileiras em Odontologia • Taitson PF, Cruz RA

144

CONCLuSãOConforme foi discutido, o trabalho em questão

procura alertar o leitor, principalmente os estudantes dos diversos segmentos da graduação e pós-graduação, distantes muitas vezes da validade das informações, para o fato de que as verdades podem ser passageiras e precisam ser sempre questionadas. Aqueles que me-nosprezam publicações bem conduzidas, que se ba-seiam apenas em sua experiência pessoal, têm a visão restrita e merecem desconfiança. A experiência pesso-al é sim de suma importância, mas para bem compre-ender o que se tem publicado, para, inclusive, transfe-rir para o paciente, que tem o direito de ser informado sobre o estado atual do conhecimento disponível.

ABSTRACTEditorial parameters evaluation of some Brazilian publications in Dentistry

This study aimed at assessing the profile of some Brazilian publications in the field of Dentistry. Jour-nal issues published from January 1995 to December 2004 were randomly selected. A total of 255 issues with 1,071 papers were analyzed, considering the following aspects: publication date, institution which originated the publication, number of authors, par-ticipation of undergraduate students or Scientific Initiation scholarship holders, dental specialty of the article, financial support, category of the publication, involvement of human beings and ethical aspects. According to the results, most publications were re-lated to the geographical area of influence of the city where the journal is published. Most articles were original, consisting mainly of retrospective epidemio-logical studies. It was also observed that the editorial requirements of the journals were generally not com-pletely complied with.

DESCRIPTORSJournal article. Dental education. Teaching.

Methodology. Publications. §

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Altman DG. The scandal of poor medical research. BMJ

1994;308:283-4.

2. Badgley RF. An assessment of research methods reported in

103 scientific articles from two Canadian medical journals. Can

Med Assoc J 1961;85:246-50.

3. Blinkhorn AS, Leathar DS, Kay EJ. An assessment of the value

of quantitative and qualitative data collection techniques.

Community Dent Health 1989;6(2):147-51.

4. Brunette DM. Critical thinking. Chicago: Quintessence Pub-

lishing; 1996.

5. Cardoso GP. Aspectos atuais da pós-graduação médica no Bra-

sil. J Bras Med 2001;81:32-9.

6. Concato J, Shah N, Horowitz RI. Randomized, controlled trials,

observational studies, and the hierarchy of research designs.

N Engl J Med 2000;342(25):1887-92.

7. Cooper GS, Zangwill L. An analysis of the quality of research

reports. J Gen Intern Med 1989;4(3):232-6.

8. Feldman W. How to read the medical journal article. In: De

Angelis C. An Introduction to clinical research. New York:

Oxford University Press; 1990. p. 113-39.

9. Fletcher RH, Fletcher SW. Clinical research in general medical

journals: a 30-year perspective. N Engl J Med 1979;301(4):180-

3.

10. Frankel MS. Ethics in research: current issues for dental re-

searchers and their professional society. J Dent Res 1994;

73(11):1759-65.

11. Greene WL, Concato J, Feinstein AR. Claims of equivalence in

medical research: are they supported by the evidence? Ann

Intern Med 2000;132(9):715-22.

12. Greenhalgh T. “Is my practice evidence-based?” BMJ 1996;

313:957-8.

13. Greenhalgh T, Taylor R. Papers that go beyond numbers

(qualitative research). BMJ 1997;315:740-3.

14. Hastings GB. Qualitative research in health education. Int J

Health Educ 1990;28:118-27.

15. Leite HR, Araujo EA, Ferguson DJ. Análise crítica de artigos

científicos. Rev Bras Ortod Dento-Facial 2001;4:35-41.

16. Organização Mundial da Saúde. Diretrizes éticas internacio-

nais para pesquisas biomédicas envolvendo seres humanos.

Bioética 1995;3(2):95-136.

17. Pereira MG. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan; 1995.

18. Svensson PG. Qualitative methodology in public health re-

search. Eur J Public Health 1995;5:71-94.

19. Valladares Neto J, Dominguez MHMS, Capelozza Filho L. Pes-

quisa em Ortodontia: Bases para a produção e a análise crítica.

R Dental Press Ortodon Ortop Facial 2000;5:89-105.

20. Watt RG. Dietary behavior change in adolescence [PhD Dis-

sertation]. London: Department of Dental Public Health. The

London Hospital Medical College; 1995.

Aceito para publicação em 12/2005

Page 49: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):145-9 145

Posteriormente, foram identificados as palavras-cha-ves e os trechos pré-codificados para cada uma das categorias. Foram pós-categorizados 05 temas: des-conhecimento da área, integração do profissional com a sociedade, atuação meramente preventiva, odontologia voltada para a população carente e po-líticas públicas. Concluiu-se que os acadêmicos des-conhecem o objetivo da área e ainda possuem uma visão restrita da Odontologia Social como sendo vol-tada para ações de cunho assistencial em populações carentes, com ênfase na prevenção das doenças. Es-ses dados demonstram a necessidade de uma ade-quação do currículo da instituição para atender as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Odontologia.

DESCRITORESEducação em odontologia. Odontologia preven-

tiva. Saúde pública.

A prática odontológica brasileira, mesmo com to-dos os avanços científicos e tecnológicos das úl-

RESumOA concepção tradicional do currículo odontoló-

gico, dividido em disciplinas, não foi capaz de apro-ximar o profissional formado da realidade do siste-ma nacional de saúde. No início da formação, os acadêmicos dos cursos de Odontologia são capazes de construir uma imagem da área de estudo de al-gumas disciplinas; porém, quanto à Odontologia Social, há desconhecimento da área de atuação. Foi objetivo do presente trabalho conhecer a percepção previamente formada sobre a Odontologia Social, de alunos do 3º ano do Curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Univer-sidade Estadual Paulista (FOA-UNESP), que ainda não haviam cursado a referida disciplina. A cada ano, no primeiro dia de aula da disciplina, todos os alunos respondiam à pergunta aberta: “Odontologia Social é...”. Ao final de 3 (três) anos, foram apurados 195 questionários. Inicialmente, fez-se uma leitura na íntegra de todas as respostas de uma forma rápida; em seguida, novas leituras foram realizadas de forma criteriosa, considerando-se as partes significativas.

Representação social de acadêmicos de odontologia sobre a área de Odontologia Social

No início da formação, os acadêmicos dos cursos de Odontologia são capazes de construir uma imagem da área de estudo de algumas disciplinas; porém, quanto à Odontologia Social, há desconhecimento da área de atuação.

Suzely Adas Saliba Moimaz*, Cezar Augusto Casotti**, Nemre Adas Saliba***, Cléa Adas Saliba Garbin****

* Professora Adjunta da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista. E-mail: [email protected].

** Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista.

*** Professora Titular da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista.

**** Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista.

Page 50: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):145-9

Representação social de acadêmicos de odontologia sobre a área de Odontologia Social • Moimaz SAS, Casotti CA, Saliba NA, Garbin CAS

146

timas décadas, não foi capaz de superar as desigual-dades históricas de acesso aos serviços odontológicos. A estimativa atual é de que, no país, um contigente de 30.000.000 de habitantes nunca passou por uma consulta odontológica e somente 30% da população tem acesso anual a serviços odontológicos4-8.

No Brasil, o marco conceitual da formação odon-tológica tem sua prática pautada no modelo flexne-riano, e os profissionais formados sob a influência desse modelo apresentam as seguintes características: mecanicismo, biologicismo, individualismo, especia-lismo, especialização, tecnicismo do ato operatório e ênfase na odontologia curativa11.

Mesmo conhecedoras dessa realidade, uma par-cela significativa de instituições públicas e privadas de ensino odontológico mantêm seu currículo pau-tado nesse modelo, que gerou uma prática de alto custo, baixa cobertura, com pouco impacto epide-miológico e desigualdades no acesso8.

No setor privado, uma pequena parcela dos pro-fissionais formados sob a influência desse modelo alcançam seus objetivos, uma vez que ofertam serviços em quantidade e qualidade almejadas a uma pequena parcela da população, economicamente capaz de cus-tear seu tratamento. Já no setor público e em grande parte do privado, os resultados não são semelhantes, pois a prestação de serviços não tem conseguido res-ponder com eficiência às reais necessidades dos indi-víduos5, que continuam sem ou com acesso irregular aos consultórios8.

A Constituição Brasileira prevê que o perfil dos profissionais do setor saúde deve estar de acordo com o sistema de saúde vigente no país2. Embora, atualmente, o setor público constitua um mercado de trabalho promissor para os cirurgiões-dentistas, principalmente com a inserção da saúde bucal na estratégia de Saúde da Família, as instituições de ensino não conseguem disponibilizar em número suficiente profissionais dotados de visão humanísti-ca e preparados para prestar cuidados contínuos e resolutivos à comunidade7.

Embora tenham ocorrido movimentos significati-vos para uma reflexão crítica sobre os modelos tradicio-nais de formação profissional em várias áreas do setor saúde, principalmente na Medicina e Enfermagem, em relação à Odontologia, há um atraso histórico, exigin-do-se daqui para a frente um esforço redobrado para que possamos integrar a saúde bucal dentro do novo contexto de ação interdisciplinar e multiprofissional7. Para isso, profundas mudanças sociopolíticas, concei-tuais, pedagógicas e práticas tornam-se necessárias8.

No intuito de promover essas mudanças no mo-delo hegemônico de formação dos cirurgiões-dentis-tas, o Conselho Nacional de Educação estabeleceu no ano de 2001 as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos Cursos de Odontologia.

As DCN induzem mudanças paradigmáticas na formação do cirurgião-dentista como profissional de saúde, uma vez que propõem a esses profissionais um perfil generalista, humanista, crítico e reflexivo, ca-pacitado para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da re-alidade social, cultural e econômica na qual está in-serido, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade3.

A partir de uma análise crítica das DCN, fica evi-dente o papel a ser desempenhado pelas disciplinas de cunho social como: Saúde Coletiva, Odontologia Social ou Odontologia Preventiva e Social na forma-ção desses novos profissionais, sem contudo se perde-rem as dimensões do enfoque curativo das doenças.

Foi objetivo deste estudo conhecer entre os alunos da FOA-UNESP qual é a percepção, previamente for-mada, da disciplina de Odontologia Social.

mETODOLOGIARealizou-se um levantamento de informações jun-

to ao departamento Técnico-Administrativo da Facul-dade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista (FOA-UNESP), por meio do qual verificaram-se alguns dados sobre o curso.

O Curso de Odontologia da FOA-UNESP tem uma duração de 4 anos, com regime anual, é estruturado em disciplinas básicas e clínicas e as turmas são for-madas por 80 alunos.

Na instituição, o currículo acadêmico ainda não passou por reformulação que o adequasse às novas DCN, sendo as disciplinas ministradas com os conte-údos fragmentados por áreas de conhecimento. O currículo apresenta dois ciclos bem definidos: o bási-co e o profissionalizante. As disciplinas da Saúde Co-letiva são ministradas a partir do 3º ano do curso, quando se inicia o ciclo profissionalizante.

Durante os anos de 2002, 2003 e 2004, realizou-se este estudo qualitativo com os acadêmicos do 3º ano do turno integral. No primeiro dia de aula da disci-plina de Odontologia Social, previamente ao início da apresentação da ementa da área, foi entregue aos alunos regularmente matriculados um formulário com uma pergunta aberta, para que eles dissertassem, em poucas palavras, sobre o seguinte tema “O que é

Page 51: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):145-9 147

Representação social de acadêmicos de odontologia sobre a área de Odontologia Social • Moimaz SAS, Casotti CA, Saliba NA, Garbin CAS

Esse fato pode estar relacionado à pouca impor-tância atribuída às disciplinas não relacionadas com a clínica, uma vez que, a partir do próprio nome – Odontologia Social –, seria possível estabelecer uma representação, por mais simples que fosse, da área/disciplina, evidenciando-se que, na acepção desses alunos, o mais importante é a formação técnica vol-tada para a ação “curadora”, característica do modelo flexneriano11.

Parece estar bem sedimentado no imaginário dos acadêmicos que compete à Odontologia Social fazer a “integração do profissional com a sociedade”, se-gundo pode ser observado nos discursos:

“... Acredito que seja uma disciplina que objetiva levar o

cirurgião-dentista a trabalhar, ter contato, interagir com a

comunidade...”

“... parte do curso que nos ensina a lidar com as pessoas

de forma mais adequada.”

“... visa a nos ensinar como lidar com as pessoas, com a

comunidade em geral...”

“... preparar o profissional para se integrar na sociedade/

comunidade...”

“... é algo voltado para sociedade cujo objetivo seja preparar

os futuros profissionais para um convívio na sociedade e

também preparar para a relação profissional-paciente...”

Esses discursos evidenciam a necessidade de desen-volvimento de competências quanto às dimensões ética, política, econômica, cultural e social e não só o domínio dos aspectos biológicos e clínicos envolvidos na prática profissional8. Essas novas competências deveriam ser disponibilizadas não só por meio do oferecimento de disciplinas de cunho social, mas também pela inserção destas no conteúdo programático das demais discipli-nas12. Na presente pesquisa, percebe-se que a dimensão cuidadora individual, ou quem sabe até mais restrita – odontocêntrica –, foi a que predominou. O sujeito que recebe o atendimento é entendido como um instrumen-to para que ele reproduza o conhecimento adquirido.

Essa percepção poderia ser minimizada com a im-plementação de clínicas integradas, com complexida-de crescente, envolvendo os alunos desde os primeiros anos da graduação numa visão integral do paciente7. Pois os alunos não se deram conta de que a profissão não existe para satisfazer a si mesma, mas para cobrir as necessidades da população9.

Um número expressivo de acadêmicos atribuem

Odontologia Social?”. Os questionários respondidos eram recolhidos e analisados. Após 03 anos, período que durou a pesquisa, 195 acadêmicos haviam respon-dido a questão.

Inicialmente, fez-se uma leitura na íntegra de to-das as respostas de uma forma rápida; em seguida, novas leituras foram realizadas de uma forma mais pausada, relendo-se as partes consideradas significa-tivas quando necessário. Posteriormente, foram iden-tificadas palavras-chaves através da técnica da análise temática, que consiste em descobrir os elementos mais significativos do discurso para em seguida agru-pá-los em unidades de significado6.

A técnica de análise temática consiste em desco-brir os núcleos de sentido que compõem a comuni-cação e cuja presença ou freqüência de aparição po-dem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido1. Com essa técnica, pode-se caminhar, tam-bém, na direção da descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo-se além das aparên-cias do que está sendo analisado6.

Foram pós-categorizados 05 temas e para cada um deles foram escolhidas as falas mais significativas, que, em seguida, foram transcritas de forma narrativa.

RESuLTADOS E DISCuSSãOA partir da análise do discurso dos 195 alunos, os

temas foram pós-categorizados conforme o apresen-tado no Quadro 1.

Na fase de formação em que os acadêmicos se encontravam, eles já conseguiam estabelecer relações entre a área/disciplina e o seu objetivo, principal-mente para as clínicas como: pediatria, endodontia e prótese. Todavia, um pequeno número de estudantes mostrou “desconhecimento da área”, conforme trans-crito abaixo:

“Não faço idéia do que seja...”

“Nem imagino do que se trataria...”

Categorias

1 Desconhecimento da área

2 Integração do profissional com a sociedade

3 Atuação meramente preventiva

4 Odontologia voltada para a população carente

5 Saúde Bucal Coletiva (Políticas Públicas)

Quadro 1 - Categorias identificadas nos discursos dos acadêmicos da Faculdade de Odontologia de Araçatuba/SP, 2004.

Page 52: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):145-9

Representação social de acadêmicos de odontologia sobre a área de Odontologia Social • Moimaz SAS, Casotti CA, Saliba NA, Garbin CAS

148

à área uma “atuação meramente preventiva”, confor-me se pode observar nas falas selecionadas abaixo transcritas:

“... estudo de métodos profiláticos ou preventivos que pos-

sam ser empregados em um determinado município de

modo que a odontologia, de forma em geral, se torne uma

odontologia preventiva e não curativa...”

“... visa educar a população quanto à higiene oral para a

prevenção da cárie.”

“... deve tratar da prevenção de doenças e disfunções que

acometem o aparelho estomatognático...”

“... é uma área da odontologia responsável pela prevenção,

comunicação e informação para a população.”

“... promove campanhas para promoção de saúde bucal

dando dicas sobre escovação, uso de fio dental, flúor, atra-

vés de panfletos, questionários, palestras e outros meios

informativos.”

Realmente, os aspectos preventivos e sociais nos cur-sos de graduação devem ser a base prioritária para a adequação a uma realidade epidemiológica, social e econômica da população13. Entretanto, na visão dos aca-dêmicos, a responsabilidade pela transmissão dos co-nhecimentos relacionados aos cuidados preventivos das doenças, em nível individual e coletivo, seria da discipli-na Odontologia Social, enquanto às demais disciplinas caberia o ensino da prática curativa individualizada. Os acadêmicos deveriam entender a promoção de saúde no seu sentido integral, que inclui até mesmo a redução dos danos. Até o momento de sua formação considera-do neste estudo, a doença é compreendida em nível individual e com soluções clínicas particularizadas para cada doente, como se a resolução dos problemas em nível individual fosse contribuir para a melhoria do qua-dro epidemiológico na população. A comunidade é deixada de lado e isso faz com que os problemas não sejam resolvidos e sim seus sinais clínicos.

Esse fato corrobora a necessidade de mudar a es-trutura curricular vigente, eliminando-se os ciclos clínico e básico organizados em disciplinas fragmen-tadas e completamente separadas7.

Um fato que chamou bastante atenção durante a análise dos discursos foi a freqüência com que surgi-ram termos como: “parte”, “ramo”, “porção”, “área”, o que reforça no nosso entendimento a visão redu-cionista que os acadêmicos têm da área.

Vários acadêmicos acreditam que é de responsa-

bilidade da área praticar uma “odontologia voltada para a população carente” conforme foi identificado nos discursos:

“... parte da odontologia destinada a atender a população

mais carente. Visa ter uma aproximação da parte da socie-

dade menos favorecida...”

“... parte da odontologia preocupada com ou responsável

pela comunidade e principalmente pela classe social que

não tem acesso a esse tipo de tratamento...”

“... saúde bucal dos indivíduos, oferecendo propostas e

soluções para o tratamento desses pacientes através de

campanhas informativas e tratamento gratuito...”

“... de indivíduos que não tenham condições de ter uma

saúde bucal adequada...”

“... atua em saúde pública, com associação com prefeituras,

sem montar consultórios particulares e atuando em comu-

nidade carentes...”

Por esses discursos, subentende-se a existência de duas Odontologias: uma privada, responsável por cui-dados curativos em uma pequena parcela da popula-ção que tem recursos financeiros suficientes para comprar o seu acesso ao serviço, e uma pública, res-ponsável pelo atendimento de milhões de brasileiros, que não encontram neste serviço resposta a seus pro-blemas de saúde bucal. O serviço público é visto como uma forma menos eficaz de colocar em prática os conhecimentos adquiridos.

Ainda existe a visão de campanhas, ou atendi-mento a grupos populacionais distintos (escolares, gestantes, entre outros), fato esse que evidencia que ainda não foram incorporados pelos acadêmicos os preceitos do SUS. A prevenção é proposta para esses grupos como uma forma de reduzir custos e não de promover saúde.

Observa-se ainda que, na concepção dos alunos, compete à área a responsabilidade pelo planejamen-to e pela implementação de “políticas públicas” capa-zes de propiciar melhores condições de saúde à co-munidade, conforme observa-se em seus discursos:

“... disciplina que visa desenvolver e aplicar planos e pro-

jetos de saúde bucal atendendo a comunidade como um

todo...”

“... com a finalidade de fazer um programa que beneficie

a população de um modo geral, através de campanhas...”

Page 53: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):145-9 149

Representação social de acadêmicos de odontologia sobre a área de Odontologia Social • Moimaz SAS, Casotti CA, Saliba NA, Garbin CAS

“Visa buscar através de campanhas e projetos sociais obter

resultados positivos no sentido de se manter a saúde bucal

da sociedade de um modo geral...”

“... parte da odontologia em que o interesse principal é a

saúde coletiva da população em geral...”

Na percepção dos acadêmicos, são objetivos da área o estudo, o planejamento e a implementação de políticas públicas de saúde bucal que venham atender as necessidades da população.

As DCN para o Curso de Odontologia sinalizam uma mudança paradigmática na formação profissio-nal. O mercado necessita de cirurgiões-dentistas crí-ticos, capazes de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, de levar em conta a realidade social da área onde forem atuar3 e capazes de interagir com os modelos de atenção e as modalidades assistenciais que estão sendo rapidamente incorporadas à realida-de do mercado de trabalho10.

CONCLuSÕESA análise dos resultados nos permite concluir que:

• Os alunos desconhecem o objetivo da Odontolo-gia Social e ainda possuem uma visão imprecisa e reduzida da área.

• Tanto o desconhecimento quanto a redução do assunto apontam para a necessidade de adequa-ção curricular para atender as DCN e, conseqüen-temente, formar profissionais para o sistema de saúde vigente no país.

ABSTRACTSocial representation of dental students about the field of social dentistry

The traditional conception of the dental curricu-lum, divided into disciplines, had not been capable of bringing the graduated professional closer to the real-ity of the National Health System. In the beginning of their undergraduation course, dental students have preconceived ideas about some disciplines, but know very little about the Social Dentistry discipline and its purposes. This study aimed to investigate the previ-ously formed perception of 3rd year dental students attending the School of Dentistry of Araçatuba, Pau-lista State University (FOA-UNESP) about Social Den-tistry. The students had not yet taken the course on social dentisty. Each year, on the discipline’s first day of class, all students answered to the question: “Social Dentistry is....”. After three years, 195 questionnaires were collected. First, all answers were quickly read

through. Then, a new, detailed approach to the an-swers was made by highlighting the significant features of the answers. Afterwards, key words and pre-codified periods were identified for each of the set categories. Five topics were post-categorized: lack of knowledge about the discipline, integration between the profes-sional and society, a merely preventive conduct, dental care for destitute people, and public policies. We con-cluded that the dental students ignored the purpose of the subject and that they mostly viewed Social Den-tistry as the dental assistance given by social wokers to destitute people, with emphasis on disease prevention. These data demonstrate the need of curricular adjust-ments to comply with the National Curriculum Direc-tives for undergraduate dental courses.

DESCRIPTORSEducation, dental. Preventive Dentistry. Public

Health.§

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 1. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1994.

2. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de

outubro de 1988. Brasília: Senado Federal; 1988.

3. Brasil. Resolução CNE/CES nº 3, de 19 de fevereiro de 2002.

Diário Oficial da União, Brasília, 4 mar 2002, seção 1, p. 10.

4. Brasil. Ministério da Saúde – Secretaria de Atenção à Saúde.

Departamento de Atenção Básica. Projeto SB Brasil 2003: Con-

dições de Saúde Bucal na população brasileira: 2002/2003:

Resultados Principais. Brasília: Ministério da Saúde; 2005.

5. Medeiros UV. Experiências inovadoras no ensino de Odonto-

logia. Rev Odontol Mod 1997;24(1):9-12.

6. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa

em saúde. São Paulo: Hucitec-Abrasco; 1996.

7. Morita MC, Kriger L. Mudanças nos cursos de Odontologia e

a interação com o SUS. Revista da ABENO 2004;4(1):17-21.

8. Moyses SJ. Políticas de saúde e formação de recursos humanos

em Odontologia. Revista da ABENO 2004;4(1):30-7.

9. Neto HP, Bijella VT, Moraes N. Análise de algumas caracterís-

ticas dos profissionais formados pela Faculdade de Odontolo-

gia de Pernambuco. Rev Bras Odontol 1983;40(4):15-8.

10. Noronha AB, Sophia D, Machado K. Formação profissional em

saúde. Radis: Comunicação em saúde 2002;3:11-17.

11. Pereira AC. Odontologia em Saúde Coletiva: planejando ações

e promovendo saúde. Porto Alegre: Artmed; 2003.

12. Perri de Carvalho AC. Planejamento do curso de graduação

de Odontologia. Revista da ABENO 2004;4(1):7-13.

13. Viegas AR. Prevenção e filosofia do currículo. Bol Ass Bras Ens

Odont 1978;9:39-44.

Aceito para publicação em 12/2005

Page 54: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):150150

Anais da 41a Reunião Anual da Associação Brasileira de Ensino Odontológico

Tema central: “Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais: da teoria à realidade”

Natal - RN - 2 a 5 de agosto de 2006

COmISSãO ORGANIzADORA

Coordenador

Ângelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira (RN)

Comissão para Seleção de Trabalhos (Seminários e Pôsteres)

Coordenador

José Luiz Lage-Marques (SP)

membros

Vera Lúcia Silva Resende (MG)

Maria Ercília de Araújo (SP)

Nilce Emy Tomita (SP)

Comissão para Julgamento da Apresentação dos Pôsteres

Coordenador

Sigmar de Mello Rode (SP)

membros

Ellen Marise de Oliveira Oleto (MG)

José Thadeu Pinheiro (PE)

Kátia Regina Hostillo Cervantes Dias (RJ)

Luísa Isabel Taveira Rocha (GO)

Comemorações do Cinqüentenário da ABENO

Responsáveis

José Dilson Vasconcelos de Menezes (CE)

Nelson Ruben Mendes Loretto (PE)

Page 55: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):151 151

41a Reunião Anual da Associação Brasileira de Ensino Odontológico

Tema central: “Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais: da teoria à realidade”

Natal - RN - 2 a 5 de agosto de 2006

Dia 2

• Recepção, credenciamento. - Curso Pré-Reunião de Odontopediatria (inscri-

ções à parte).Apresentadores: Ana Cristina Barreto Bezerra (DF) e Orlando Ayrton de Toledo (DF).

• 15h00 - 19h00: Reunião dos Facilitadores das Ofi-cinas de Trabalho sobre DCNs para avaliação do Projeto.

Dia 3

• 9h00 - 12h00: Mesa “Avaliação das Condições de Ensino e Implementação das Diretrizes Curricula-res Nacionais”:Coordenação: Eduardo Gomes Seabra (RN);Secretaria: José Galba de Menezes Gomes (CE);Apresentadores:

- Impacto das DCNs nos processos de mudanças curriculares. Ensino interdisciplinar e antecipa-ção clínica – Antonio César Perri de Carvalho (DF);

- Pró-Saúde e DCNs – Ana Estela Haddad (DE-GES/M.S.);

- Posicionamento do MEC – Dilvo Ristoff (INEP/MEC).

• 14h00 - 18h00: Seminário “Ensinando e Apren-dendo”. Apresentação dos temas selecionados.Coordenação: Cresus Vinícius Depes de Gouveia (RJ);Secretaria: Gersinei Carlos de Freitas (GO).

• Durante todo o dia: Exposição de pôsteres sele-cionados.

• 20h00: Sessão de abertura e comemoração do cin-qüentenário da ABENO. Lançamento de livro dos 50 anos da ABENO.

Dia 4

• 9h00 - 12h00: Mesa “Nós Críticos e Estratégias Exitosas da Implementação das DCNs”.Coordenação: José Ranali (SP);Secretaria: Lino João da Costa (PB);Apresentadores:

- Experiência em IES pública – Rui Opperman (RS);

- Experiência em IES privada – Ana Isabel Fonseca Scavuzzi (BA);

- Experiência das Oficinas de Trabalho sobre as DCNs – Léo Kriger e Maria Celeste Morita (PR).

• 14h00 - 17h00: Trabalho de grupo sobre as mesas redondas.Coordenação: Alfredo Júlio Fernandes Neto (MG);Secretaria: Hilda Maria M. R. de Souza (RJ) e Lílian Marly de Paula (DF).

• 17h00: Reuniões das Comissões da ABENO: Ensi-no, Especialização, Pós-Graduação, Comunicação, Conselho Fiscal.

• Durante todo o dia: Exposição de pôsteres sele-cionados.

• 21h00: Jantar de confraternização e comemora-ção do cinqüentenário da ABENO.

Dia 5

• 8h30 - 9h30: Reunião Plenária – Apresentação dos Relatórios dos Grupos de Trabalho. Direção: Isabela Almeida Pordeus (MG).

• 9h30 - 12h00: Oficina de Trabalho sobre Avalia-ção Clínica.Coordenação: Omar Zina (MT);Secretaria: Daniel Rey de Carvalho (DF); Apresentador: João Humberto Antoniazzi (SP).

• 10h00: Assembléia Geral Ordinária da ABENO; Encerramento da 41ª Reunião.

• Tarde: Passeios.

Page 56: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91152

SEmINáRIO “ENSINANDO E APRENDENDO”

Trabalhos selecionados para apresentação na 41a Reunião Anual da ABENO, 2006

Tema central: “Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais: da teoria à realidade”

Natal - RN - 2 a 5 de agosto de 2006

1. A Integralidade na Atenção em Saúde Bucal no município de Santa Cruz do Sul/RSMarques, B. B., Bender, C. F. R.*, Gonçalves, E. M. G.

A boa condição de saúde bucal depende, entre mui-tos fatores, do comportamento do indivíduo em

relação ao seu autocuidado. A saúde da boca, além dos benefícios biológicos e fisiológicos indiscutíveis, pode ser valorizada também por seus aspectos subje-tivos, como por exemplo, a auto-estima, que melhora as relações interpessoais e facilita a inserção dos indi-víduos nos meios sociais, como escola e trabalho. A Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Relações Comunitárias e do Curso de Odontologia numa parceria com a Pre-feitura Municipal de Santa Cruz do Sul/RS (Secretaria Municipal de Saúde e Divisão de Saúde Bucal), busca a melhoria das condições de saúde bucal da popula-ção. O Projeto Escolares conta com a participação de acadêmicos do primeiro ao décimo semestre do Cur-so de Odontologia e com um cirurgião-dentista da rede municipal de saúde, com disponibilidade de vin-te horas semanais para desenvolver as atividades (edu-cação em saúde, evidenciação do biofilme, higiene bucal supervisionada, fluorterapia e levantamento epi-demiológico da cárie dentária, fluorose e maloclu-são). O Projeto é destinado a bebês e a crianças ma-triculadas em escolas de ensino infantil (creches) e a alunos que freqüentam até a quarta série de escolas urbanas e rurais da rede pública municipal e estadual. Sob supervisão de um docente do curso de Odonto-logia, e com a participação de diretores, professores, funcionários, monitores e pais ou responsáveis das escolas, houve a normatização e a incrementação do

programa preventivo precursor, realizado com apoio acadêmico voluntário desde o ano de 2001. As ações e serviços realizados são componentes fundamentais na educação para a saúde da comunidade pré-escolar e escolar, contribuindo para a reorganização do pro-grama municipal de promoção à saúde bucal. Este trabalho proporciona estágio extra-curricular, para que os acadêmicos possam, dentro do núcleo flexível, desenvolver atividades que contribuam, a curto e mé-dio prazo, para a construção da integralidade de aten-ção à saúde bucal da população jovem e, a longo pra-zo, da população adulta loco-regional. Esse projeto, além de apresentar o desafio de levar informações sobre cuidados bucais e detectar agravos que necessi-tam de tratamento, pretende atuar efetivamente com atividades e abordagens integradas, continuadas e comprometidas com as necessidades primordiais des-se grupo. Entende-se que melhores condições de saúde refletem em uma vida com mais qualidade, além de estimular os acadêmicos para a formação de uma postura ética compatível com o cotidiano profissional, rompendo com a dicotomia entre te-oria e prática, compreendendo a saúde como um direito do cidadão e também proporcionando ao acadêmico um novo cenário de prática e próximo à realidade.

2. Integração ensino-serviço: O Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) da Faculdade de Odontologia de Caruaru (FOC)Martelli, P. J. L.*, Silva Filho, J. M.

Atento às diretrizes curriculares nacionais para os cursos de odontologia que indicam uma maior

Page 57: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 153

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

integração entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e o ensino de odontologia, visando a formação de ci-rurgiões-dentistas que compreendam a complexida-de de tal sistema. Atento à carência regional no que concerne ao referenciamento para a média comple-xidade. Apareceu no processo de discussão da nossa nova dinâmica curricular, que aconteceu durante o ano de 2005, envolvendo a comunidade acadêmica, a necessidade de uma maior aproximação ao SUS. Para tanto pactuamos no Conselho Municipal de Saú-de, na Bipartite Regional e Estadual a forma de nos inserirmos na rede assistencial do SUS. Com a porta-ria 2.129 do Gabinete Ministerial de 4 de novembro de 2005, retroativa a setembro, viemos a ser contem-plados com a habilitação para um CEO tipo II, estra-tégia esta da Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente) para a média complexidade odontológi-ca. Desde então não cobramos pelos procedimentos realizados em nossa Instituição de Ensino Superior (IES), de caráter privado-sem fins lucrativos, aos nos-sos pacientes e, sob a gestão da Secretaria Municipal de Saúde de Caruaru (SMS), passamos a ser referên-cia para a média complexidade de 32 municípios da 4a Gerência Regional de Saúde (GERES). Oferece-mos as 5 especialidades obrigatórias do CEO (Cirur-gia Oral Menor, Endodontia, Periodontia, Pacientes Especiais e Projeto Asa Branca de Combate ao Câncer Bucal) e também ortodontia, dentística especializada, próteses resinosas e atendimento complexo à primei-ra infância. Para tanto contamos com uma clínica específica (Asa Branca) com 12 equipos, funcionan-do 12 horas por dia de 2a a 6a feira somente para a demanda organizada da região. Também disponibi-lizamos nossos outros 38 equipos aonde acontecem as diversas clínicas da graduação para o atendimento gratuito à população, produção esta que lançamos como sendo integrante do CEO.Avaliando hoje as mudanças provocadas por tal pioneiris-mo, verificamos uma evolução administrativa com a criação de programa para capturar os procedimentos, uma maior aproximação com a população, um embricamento com o SUS municipal e regional que não existia, uma adesão do alunato à proposta incorporando na prática princípios ba-silares do SUS, uma casuística clínica mais definida e com-plexa para os alunos do estágio obrigatório. Dificuldades ainda existem e existirão como a compreensão do que é média complexidade para alguns municípios ou o caráter precípuo da IES que é o ensino, mas que com a perenização do pro-grama estão sendo superadas.

3. Síndrome de Burnout nos docentes da Faculdade de Odontologia da uERJSouza, H. M. M. R.*, Santos, L. E., Costa, F. A. F.

Atualmente os problemas de saúde relacionados ao trabalho incorporam novas síndromes como

o Burnout. Este é um tipo especial de estresse ocupa-cional que se caracteriza por um profundo sentimen-to de frustração e exaustão em relação ao trabalho desempenhado, sentimento que aos poucos pode es-tender-se a todas as áreas da vida de uma pessoa. Ele se instala muitas vezes a partir de expectativas elevadas e não realizadas. É uma reação à tensão emocional crônica gerada pelo contato direto e excessivo com outros seres humanos. Cuidar e educar exigem tensão emocional constante, dedicação e grandes responsa-bilidades para o docente cirurgião-dentista, podendo ser visto este profissional, com acúmulo de papéis, como um potencial campo de ação para os fatores nocivos do trabalho. Esta pesquisa teve como objetivo principal determinar o grau de Burnout nos docen-tes, cirurgiões-dentistas, da Faculdade de Odontolo-gia da UERJ. Para determinar o grau de Burnout foi aplicado um instrumento conhecido como “Inventá-rio de Burnout de Maslach”. Este inventário apresen-ta 22 itens, sendo 9 referentes à dimensão Exaustão Emocional, 5 à Despersonalização e 8 ao Envolvimen-to Pessoal no Trabalho. Estas questões são indicadas em escala de freqüência de sete pontos que vai de zero (nunca) e um (algumas vezes no ano ou menos) até cinco (algumas vezes na semana) e seis (diaria-mente). Essa dimensões foram agrupadas caracteri-zando 3 níveis gerais de Burnout: baixo, médio e alto. Foram selecionados 46 docentes de um total de 86 alocados na Faculdade. Entre estes, 65,2% do sexo masculino e 34,8% do feminino; com médias de ida-de de 47 anos, de 16 anos de docência e 24 anos de profissão. Dos entrevistados, 97,8% exercem, tam-bém, atividade fora da faculdade, podendo ser em clínica e/ou docência e apenas 2,2% trabalham ex-clusivamente como docentes da FOUERJ. A análise geral das respostas mostra que 72,7% dos docentes apresenta baixo nível de Exaustão Emocional, 21,7%, nível médio e 4,9%, nível alto. Nesta dimensão, ob-servamos três itens sem resposta, correspondendo a 0,7%. Para a dimensão Despersonalização, 95,7% en-contra-se com nível baixo, 3,0%, nível médio e 0,9%, nível alto. Apenas um item não foi respondido, repre-sentando 0,4%. Em Envolvimento Pessoal no Traba-lho, 65,7% dos docentes apresentam nível baixo,

Page 58: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

154

25%, nível médio e 9,0%, nível alto, sendo um item não respondido, correspondendo a 0,3%. Com base nos resultados obtidos podemos concluir que os docentes da FOUERJ apresentam um nível baixo de Bur-nout, porém, existe a necessidade de discussão coletiva para melhor conhecer o processo de trabalho destes profis-sionais com o objetivo de adotar ações preventivas princi-palmente no que diz respeito ao envolvimento pessoal no trabalho.

4. Pró-saúde: resultados da 1ª oficina dos cursos de odontologia e medicina da universidade Estadual de montes Claros - unimontesBrito-Júnior, M.*, Costa, S. M., Pires, C. P. B., Melo, J.

A Universidade Estadual de Montes Claros, Uni-montes, através dos cursos de odontologia e me-

dicina, participa do Pró-Saúde, programa dos Minis-térios da Saúde e Educação, que busca a reorientação da formação de profissionais da saúde. O objetivo deste trabalho é relatar os resultados da 1ª Oficina Pró-Saúde da Unimontes. Os participantes foram di-vididos em grupos que receberam questões nortea-doras bem como material didático de apoio às discus-sões, incluindo artigos científicos e outras publicações. As questões foram: 1) Como a integração do ensino-serviço poderá contribuir para a formação do aluno voltada para a atenção à saúde? 2) Em um currículo integrado como poderá ocorrer a inserção das áreas especializadas? 3) Na visão do grupo como construir a integração ensino-serviço? Cada grupo elegeu um coordenador e um relator e as sugestões foram apre-sentadas em plenária no final do evento. Sumaria-mente, os cinco pontos comuns mais relevantes que foram respondidos pelos grupos para cada questão serão abordados. Questão 1: oportunizar ao aluno o conhecimento do serviço público e do mercado de trabalho; permitir visão mais madura dos determinan-tes do processo saúde-doença; ajustar a formação acadêmica às expectativas da atenção básica, ou seja, além de competência técnica um compromisso com a sociedade; propiciar ao aluno a reflexão sobre a prática ou aprendizagem pela prática-reflexiva; dar ao aluno a oportunidade de trabalhar em equipe, levando-o a este aprendizado e formação de profis-sionais mais sensíveis, de acordo com a necessidade de saúde da população. Questão 2: o conhecimento especializado deve ser construído junto à necessidade da prática; sistema de referência e contra-referência

com a criação de centros especializados para acolher aqueles usuários que não tiveram suas necessidades resolvidas na atenção básica; a questão da referência e contra-referência passa a ser um instrumento de educação continuada iniciando sua construção desde a graduação; o especialista professor deve capacitar os acadêmicos para aumentar a resolubilidade dos serviços e verificação de quais setores do conhecimen-to fragmentado são realmente necessários para serem ministrados na graduação. Questão 3: integração des-de o início da graduação de maneira inter, multi e transdisciplinar; a universidade participar com a edu-cação permanente do serviço capacitando os profis-sionais que receberão os acadêmicos; investimento da academia nos serviços para: construção de espaços adequados, manutenção de insumos e valorização dos profissionais já existentes; capacitar os professores para utilização de metodologias problematizadoras e fazer pactuações entre o serviço e a academia, incluin-do a elaboração de currículo.Tais resultados representam um esforço coletivo, porém não esgotam as discussões sobre o assunto. Pretende-se, junta-mente com outras propostas relacionadas ao tema, constituir mais um subsídio aos trabalhos de novas oficinas do Pró-Saúde no âmbito da Unimontes.

5. Relação entre Extensão universitária e Graduação: há contribuições para formação crítica de recursos humanos para o SuS?Araujo, M. E.*, Barros, R. S., Previdelli, M., Zilbovicius, C.

A universidade pública brasileira se alicerça for-malmente no tripé Ensino-Pesquisa-Extensão.

Através dos avanços tecnológicos da Pesquisa Cientí-fica atualizam-se saberes, conteúdos de programas e protocolos acadêmicos tendo por finalidade respon-der às demandas sociais. Pelo Ensino de graduação e pós-graduação, a universidade cumpre sua missão institucional de formar profissionais para o mundo de trabalho possibilitando, também, uma parcela da formação cultural dos indivíduos de uma sociedade. Por sua vez, a Extensão viabiliza a aproximação do conhecimento transmitido e produzido no interior das universidades com a realidade vivida na socieda-de. Podendo estabelecer uma relação entre necessi-dades sociais e condições de vida com produção cien-tífica e formação de profissionais, a fim de compreender e transformar as relações sociais a que homens e mulheres estão submetidos. O Centro Aca-

Page 59: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 155

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

dêmico XXV de Janeiro da Faculdade de Odontolo-gia da Universidade de São Paulo (FOUSP) realiza projetos sociais como atividade extensionista. Neste trabalho, analisaram-se três destes projetos: Petrolina, Cananéia e Jardim Gaivota realizados no período de 1994 a 2004. O objetivo foi avaliar a relação universi-dade-sociedade, e se experiências extramuros que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) como es-paço de ensino-aprendizagem podem contribuir para formação crítica de profissionais. Vinte e dois estu-dantes de odontologia responderam a um questioná-rio. O requisito para preenchimento do material foi participação em pelo menos uma das atividades ana-lisadas. Para possibilitar um estudo profundo e escla-recedor, estudantes de odontologia que participaram do Projeto Vivências e Estágios na Realidade do SUS (VER SUS/Brasil) também responderam ao questio-nário. A técnica de análise de conteúdo possibilitou organizar e agregar, do material coletado, idéias cen-trais e correspondentes expressões-chave permitindo uma leitura profunda dos discursos. Relacionando motivações, expectativas, percepções sobre a realida-de social e o discurso permitindo a compreensão de pensamentos, representações, crenças e valores des-tes estudantes sobre os temas: extensão universitária, organização da sociedade, SUS e formação profissio-nal. A análise dos questionários respondidos por par-ticipantes dos projetos da FOUSP demonstrou que atividades norteadas pelo paradigma técnico-assisten-cialista, biologicista e procedimento-centrada ten-dem a reproduzir uma formação profissional preven-tivista, tecnocentrada e acrítica quanto à organização social e do SUS, sendo pouco preparados para enfren-tar e transformar desigualdades sociais e de acesso aos serviços de saúde.Os questionários respondidos por participantes do Projeto VER SUS/Brasil permitiu verificar que experiências extra-muros que integram o SUS como espaço de ensino-aprendi-zagem proporcionam formação crítica, ética e política pre-parando futuros profissionais para atuarem ativamente na transformação social.

6. A bioética como diferencial na formação em odontologia: Análise da importância da disciplina para uma prática odontológica mais consciente e críticaPrado, M. M.*, Garrafa, V.

O presente trabalho, sob o título “A bioética como diferencial na formação em odontologia: Análi-

se da importância da disciplina para uma prática odontológica mais consciente e crítica”, tem o obje-tivo de analisar se o ensino da Bioética, como disci-plina de reflexão, diferente de outros ensinamentos voltados para o desenvolvimento de capacidades pre-ferencialmente cognitivas e psicomotoras, representa um diferencial positivo na formação do estudante de Odontologia, contribuindo ou não para uma prática mais consciente e crítica, por meio de reforço ao do-mínio afetivo/atitudinal do aluno. Envolve análise de depoimentos de estudantes do Curso de Graduação em Odontologia e de cirurgiões-dentistas em exercí-cio profissional clínico, em diferentes grupos, refe-rentes àqueles que tiveram formação em Bioética e aos que não tiveram essa formação, com relação à sua concepção sobre temas importantes para a prática profissional, em atenção à realidade brasileira, bem como sobre seu conhecimento e seu posicionamento a respeito de questões de interesse bioético. A Bioética, como ética prática ou aplicada, de caráter mul-ti e interdisciplinar, é referencial importante, que deve ser trabalhado paralelamente à orientação deontológica, no sentido de conscientizar o futuro profissional para a impor-tância de uma prática em que o cuidado técnico esteja sem-pre associado ao cuidado ético na assistência em saúde.

7. Serviço de Saúde Bucal Coletiva: uma estratégia para integração ensino-serviço-comunidadeFuscella, M. A. P.*, Oliveira, M. F. J., Moura, L. M., Fernandes, L. M. A. G.

O trabalho relata a experiência de integração en-sino-serviço-comunidade, desenvolvida pelo

Curso de Odontologia da Universidade Potiguar/RN, através de um projeto extensão intitulado “Serviço de Saúde Bucal Coletiva”, em parceria com as Disciplinas “Saúde Bucal Coletiva I e II”. O projeto tem como objetivo proporcionar aos estudantes a interação com a comunidade e os serviços de saúde, identificando problemas de saúde e atuando de maneira conjunta na busca de solução para os agravos apresentados. Com esse objetivo, estão sendo desenvolvidas ações coletivas de educação e prevenção em saúde bucal, sob a ótica da promoção da saúde e da busca inces-sante pela qualidade de vida da população. Observa-se que a experiência vem proporcionando o desen-volvimento de ações inter-institucionais, através de relações público-privadas, junto aos serviços de saúde e de educação, bem como junto à ONG/entidades não-governamentais.

Page 60: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

156

O projeto tornou-se uma referência em saúde bucal no Es-tado, sendo convidado permanentemente a participar e apoiar ações desenvolvidas por Secretarias de Saúde, equipes

de PSF, escolas públicas e privadas, o que vem contribuindo para uma formação mais crítica, reflexiva e humanística do cirurgião-dentista.

PôSTERES

1. Atividades pedagógicas com portadores de necessidades especiais: a experiência do Centro universitário Newton PaivaAbreu, M. H. N. G.*, Cury, R. L. S. M., Marques, L. S., Cruz, S. C. C.

Um dos grandes problemas na atenção à saúde bucal de pessoas com necessidades especiais é a

formação inadequada do estudante de graduação nesta área. Com o propósito de avançar nesta questão, o curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte - MG, incorporou essa temática na sua dinâmica curricular. Assim, o propó-sito do presente trabalho é apresentar as atividades pedagógicas desenvolvidas no conteúdo sobre pesso-as com necessidades especiais no curso de Odontolo-gia do Centro Universitário Newton Paiva. O conteú-do de Ciências Odontológicas Articuladas VII é ofertado aos estudantes do oitavo período, desde o primeiro semestre de 2005. As atividades curriculares são desenvolvidas através de aulas teóricas dialogadas, práticas de atendimento a pacientes e grupos de dis-cussão. As aulas teóricas são ministradas por docentes do curso de odontologia, fisioterapia e psicologia. As aulas práticas envolvem atendimento a crianças, ado-lescentes e/ou adultos encaminhados pela clínica de neurologia do curso de Fisioterapia do Centro Uni-versitário Newton Paiva, bem como pela Escola Mu-nicipal de Ensino Especial Frei Leopoldo. Os pacien-tes recebem atendimento odontológico em atenção básica. Toda a prática clínica envolve a presença de docentes da área odontológica e fisioterápica, e mo-nitores do curso de fisioterapia. Além disso, os estu-dantes do curso de Odontologia observam o atendi-mento da clínica de neurologia do curso de fisioterapia. Atividades coletivas de educação em saú-de são desenvolvidas junto aos cuidadores/responsá-veis dos usuários dessas clínicas. Finalmente, no se-gundo semestre de 2005, um Trabalho de Conclusão de Curso de Fisioterapia foi apresentado, abordando a interdisciplinaridade entre a Fisioterapia e Odon-tologia na atenção à saúde bucal de pessoas com ne-cessidades especiais.

As práticas pedagógicas envolvendo pessoas portadoras de necessidades especiais no curso de Odontologia do Centro Universitário, que envolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão, contribuem para a melhoria da formação do cirurgião-dentista nesta área. Além disso, essas práticas podem melhorar a atenção à saúde bucal neste grupo popu-lacional.

2. A Relação entre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Odontologia e o atual modelo econômicoPinheiro, L. M. G.*, Silveira, R. J. T.

Temos vivido, nas últimas décadas, profundas mu-danças na economia, na política e na sociedade.

Com o advento da “globalização” econômica surgi-ram novas formas de relação entre o Estado e a socie-dade civil e outras maneiras de organização do traba-lho com o objetivo de reestruturar o sistema produtivo. Novos modos de vida, comportamentos, atitudes e valores foram sendo concebidos e veicula-dos. O intenso desenvolvimento tecnológico passou a demandar um novo tipo de homem, capaz de ajus-tar-se aos métodos de produção decorrentes dessas transformações. Neste contexto, confiou-se à Escola, e mais especificamente à Universidade, a função de formar este novo tipo de homem urbano, que deve apresentar como características principais: maior competência técnica para lidar com as novas relações sociais e laborais; um novo conceito de capacidade dirigente que inclui a habilidade de “humanizar” es-sas novas relações de trabalho que se estabelecem; e uma constante capacidade de adaptação tanto às mu-danças tecnológicas, quanto às mudanças no próprio processo de produção e no mundo do trabalho. O objetivo deste trabalho é analisar as relações entre as transformações que ocorreram no mundo do traba-lho, especialmente nas duas últimas décadas, e a im-plantação das Diretrizes Curriculares para o curso de Odontologia que modificaram a concepção de for-mação profissional do cirurgião-dentista. Para isso procuraremos estabelecer as possíveis articulações entre as competências e habilidades requeridas pelas Diretrizes Curriculares (tais como: flexibilidade, to-

Page 61: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 157

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

mada de decisões, capacidade de gerenciamento e gestão, domínio de tecnologias, capacidade de comu-nicação e educação permanente) e as mudanças em relação ao conteúdo, aos métodos de ensino e à con-cepção pedagógica por elas preconizadas, relacionan-do-as às características do atual modelo econômico. Através desta análise, buscaremos compreender as perspectivas e possibilidades que se abrem para o exercício da docência e para o ensino da Odontolo-gia, neste início de século.

3. Curso de Odontologia da uNISC - Desafios e Perspectivas a partir do Projeto de Reorientação da Formação Profissional em Saúde - PRÓ-SAÚDEMarques, B. B.*, Reis, M. S., Moraes, R. B., Grazziotin, G. B.

O Curso de Odontologia da Universidade de San-ta Cruz do Sul - UNISC, que teve seu primeiro

ingresso de alunos no ano de 1998, foi reestruturado em 2002 embasando-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos Cursos de Graduação em Odontologia, apresentadas no Parecer N.º 1300/01, de novembro de 2001, e consolidadas pela Resolução do CESu/CNE N.º 3, de fevereiro de 2002. Entretan-to, apesar desta reestruturação, há necessidade de formular ações que contribuam para que o aluno construa um quadro teórico-prático global mais sig-nificativo, ou seja, semelhante à realidade nacional a qual vai enfrentar após concluir a graduação. Desta forma, participar da seleção do Projeto de Reorien-tação da Formação Profissional em Saúde – PRÓ-SAÚDE, em dezembro de 2005, e ter sido selecionado está sendo o início de uma nova etapa na história do Curso de Odontologia da UNISC, pois, além das DCNs priorizarem uma formação generalista, huma-nista, crítica e reflexiva, os princípios que norteiam a UNISC estão voltados para atender aos anseios da comunidade regional, através do comprometimento com políticas públicas. Através do PRÓ-SAÚDE, os Ministérios da Saúde e da Educação pretendem favo-recer a adequação curricular às DCNs, com a possibi-lidade de ampliar os locais de atuação docente e dis-cente, integrando o Curso de Odontologia da UNISC ao serviço público de saúde do município, diminuin-do o distanciamento entre a academia e a prestação de serviços de saúde, e propiciando o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), com ações de aten-ção básica nos Programas de Saúde da Família (PSFs). Para isso, propõem-se trabalhar de forma integrada

com os profissionais da rede e representantes das en-tidades onde serão desenvolvidas as atividades, abor-dando os determinantes de saúde e doença, destacan-do os aspectos relativos à normalidade em nível individual e coletivo (ampliação do conceito de saú-de); visando sensibilizar para a importância das mu-danças em relação à atenção básica e integral à saúde voltada à rede SUS; trabalhando a educação perma-nente como ferramenta para a transformação das práticas em saúde, visando humanizá-las e orientá-las para as necessidades de saúde das pessoas. Ao mesmo tempo, será ampliada a estrutura física de uma insti-tuição de saúde do município para possibilitar a in-clusão de Equipes de Saúde Bucal em dois PSFs, pro-porcionando atendimento clínico-odontológico a uma comunidade com necessidades sociais concretas e com difícil acesso à assistência odontológica.Acredita-se que a mudança e a sustentabilidade deste pro-jeto são viáveis, uma vez que os gestores da instituição (UNISC) e os gestores municipais de saúde e planejamento estão envolvidos neste processo de inovação. Desta forma será possível proporcionar a socialização tanto de conheci-mentos quanto de conflitos e conquistas na melhoria das condições de saúde no território onde atuam profissionais da rede de serviços, corpo docente e discente.

4. Humanização da relação assistencial na formação do profissional de Odontologia Crivello-Junior, O.*, Martins, M. C. F. N., Araujo, M. E., Hager, R. R. C.

O Cirurgião-Dentista estabelece além dos procedi-mentos técnicos específicos relações interpesso-

ais com a pessoa que atende. Desta forma, para que a qualidade interacional seja adequada é necessário estudo de vários temas teóricos para o adequado de-senvolvimento das atitudes. Em Odontologia, da mes-ma forma que em outras áreas da saúde, o tratamen-to pode atingir melhores resultados quando o profissional conhece os motivos do comportamento do cliente. Muitas vezes o tratamento instituído pode ser mais rapidamente atingido quando o paciente se sente compreendido e respeitado pelo profissional. A formação humanística do profissional da Odonto-logia deve ser iniciada precocemente no currículo odontológico; na FOUSP o aluno em seu primeiro ano já recebe informações de Bioética com discussões dinâmicas de casos concretos buscando a participa-ção dos alunos e de Ciências Sociais em Saúde, fun-damental para a formação humanística, desenvolven-

Page 62: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

158

do a organização das práticas em saúde e o processo saúde-doença como processo social. Mas também é fundamental, para que o aluno desenvolva sua capa-cidade de “cuidador”, que ele seja, também, cuidado; a criação de serviço de apoio psicopedagógico ao es-tudante pela instituição de ensino odontológico é fundamental para que haja ambiente propício para a discussão dos problemas relacionados às suas ativi-dades assistenciais e ao respeito às dificuldades dos alunos e para desenvolver um modelo profissional que integre habilidades técnicas e interpessoais.Os conteúdos de formação humanística devem ser desenvol-vidos fortemente no curso odontológico pelo fato de ser invi-ável a melhoria do atendimento e da assistência sem levar em conta as relações interpessoais envolvidas na formação e no exercício profissional.

5. Resultados preliminares da aplicação do Teste do Progresso na FOuSPCrivello-Junior, O.*, Araujo, M. E., Maltagliati, L. A.

A capacidade de coletar informações e organizá-las adequadamente é uma habilidade que o aluno

de Odontologia deve desenvolver desde os primeiros anos do curso. As avaliações longitudinais, ou de for-mação, são formas de avaliação do cognitivo e são assim chamadas pelo fato de se repetirem ao longo do tempo. Dentre as formas de avaliação longitudinal, temos o Teste do Progresso. Idealizado pelo Prof. W. Wijnen da Faculdade de Medicina da Universidade de Maastricht, na Holanda, ele é aplicado na Facul-dade de Odontologia da Universidade de São Paulo desde 2004 (Revista da ABENO, 2005). O modelo de avaliação é uma prova em forma de teste, com 80 questões com cinco alternativas sem a opção nenhu-ma das anteriores. As questões foram elaboradas por professores das disciplinas e o conteúdo solicitado era de temas essenciais para a formação do Cirurgião-Dentista. A prova anual foi aplicada aos alunos do primeiro ano em 2004 e, em 2005, para os alunos do primeiro e segundo ano do curso integral. A divisão das questões se baseou nas cargas horárias das disci-plinas dentro do currículo. Assim, 40% da prova foi constituída de questões de disciplinas básicas, incluin-do-se aí metodologia científica, patologia, materiais dentários e ciências sociais. Tivemos 12% de questões de disciplinas pré-clínicas e 48% de questões de dis-ciplinas clínicas aí incluídas as de cunho social com aplicação na clínica (deontologia, odontologia legal e orientação profissional). Os resultados preliminares mostraram que os alunos do segundo ano apresenta-

ram um rendimento melhor que os do primeiro ano e que foram também superiores aos resultados do teste realizado por estes próprios alunos em 2004. Houve aumento de ganho cognitivo com evidente retenção do conhecimento à medida que o aluno evoluiu de um ano para o outro no curso. Presume-se que estes resultados continuem nos próximos exa-mes.O Teste do Progresso é uma importante ferramenta para avaliações longitudinais. Ele pode servir de parâmetro tan-to para maiores como menores alterações curriculares do curso de Odontologia.

6. Estratégias de Ensino e Avaliação - Experiência da Disciplina de Odontopediatria da uNIVALI - SCAraújo, S. M.*, Farias, M. M. A. G., Silveira, E. G., Schmitt, B. H. E.

Esse trabalho descreve uma prática pedagógica onde professores e alunos da disciplina de odon-

topediatria construíram uma estratégia de ensino e aprendizagem, onde situações clínicas são apresenta-das e discutidas no momento das aulas e posterior-mente aplicadas nas avaliações. A avaliação deve en-volver uma ação que promova a melhoria do processo de ensino e aprendizagem. Buscou-se, por-tanto, uma alternativa de avaliação que despertasse nos alunos o interesse e a necessidade de fazer pes-quisa bibliográfica e não somente limitar-se às anota-ções feitas em sala de aula. A estratégia de avaliação utilizada consistiu na aplicação de provas com proje-ções de situações clínicas, onde os dados anamnéticos relevantes foram fornecidos pelos professores e os dados clínicos deveriam ser reconhecidos pelos alu-nos nas imagens projetadas. Com os dados apresen-tados e o conhecimento adquirido em seus estudos, os alunos deveriam responder às questões formuladas em provas escritas. Ao longo da utilização deste tipo de avaliação, por sugestão dos alunos que participa-ram deste processo, surgiu a necessidade de introdu-ção de uma nova estratégia de ensino. Neste sentido, como complemento das aulas expositivas, foram rea-lizadas aulas apenas com projeções de situações clíni-cas de assuntos já abordados, onde o conhecimento prévio deveria ser considerado e tomado como ponto de partida, permitindo a participação do aluno como sujeito do processo de ensino e aprendizagem, sua parceria com os professores e colegas na aula, numa atitude de participação ativa na busca pelo desenvol-vimento da habilidade de integrar teoria e prática que

Page 63: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 159

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

lhe permita encontrar solução para uma situação pro-posta. Após a utilização das estratégias, foi aplicado um questionário para as duas turmas que participa-ram do processo, com o objetivo de conhecer a opi-nião dos alunos a respeito da estratégia utilizada. De modo geral, os alunos responderam que a projeção e discussão das situações clínicas entre alunos e pro-fessores ajudaram na assimilação dos conteúdos e que a avaliação com projeções clínicas contribui de forma significativa na resolução da prova.Neste contexto, foi observado pelos professores: resistência dos alunos à mudança em um primeiro momento e, num segundo momento, aprovação e aceitação de novas estraté-gias; aumento do interesse e da participação dos alunos nas aulas de projeção e discussão de situações clínicas; maior interesse em clínica pela elaboração do diagnóstico.

7. Oficinas de ampliação da resolutividade da atenção básica em saúde bucal: Experiência da unioesteNaufel, F. S.*, Berti, M., Baltazar, M. M. M.

O presente trabalho refere-se às Oficinas de Capa-citação para profissionais cirurgiões-dentistas,

pessoal técnico e auxiliar prioritariamente das Equi-pes de Saúde Bucal da Estratégia Saúde da Família, bem como gestores municipais de odontologia. Apre-senta como finalidade principal subsidiar estes pro-fissionais aos conhecimentos relevantes quanto à re-solutividade da atenção básica de saúde bucal, a fim de tornar a atenção básica capaz de resolver até 85% dos problemas de saúde bucal neste nível de atenção e de submeter à atenção especializada dos CEOs ape-nas 15% da demanda; estabelecendo assim um siste-ma de referência e contra-referência estruturado e respeitando o princípio da integralidade das ações. Após a publicação dos dados das Condições de Saúde Bucal da População Brasileira 2002-2003, ficou clara a necessidade de se ampliar o acesso aos cuidados de saúde bucal para além das faixas etárias de 0 a 14 anos como acontece na maioria dos municípios brasileiros. Diante disso, o Ministério da Saúde colocou como parte integrante da Política Nacional de Saúde Bucal a oferta de ações de Educação Permanente em Saúde aos profissionais inseridos no SUS. Assim, a UNIOES-TE submeteu para apreciação do Pólo Ampliado de Educação Permanente em Saúde do Oeste do Paraná a oferta de Oficinas que possibilitassem a ampliação da resolutividade em saúde bucal na Atenção Básica para os profissionais da macrorregião Oeste do Para-ná. As Oficinas foram ofertadas para 280 profissionais

desta região, em 7 turmas diferentes, sendo que cada turma tinha os seguintes conteúdos, cargas horárias e público-alvo: Oficina I – A Odontologia no Sistema Único de Saúde – 40 horas/aulas – com participação de CD, ACD, THD e Gestores municipais; Oficina II – Atenção Básica Resolutiva – 28 horas/aulas – Para os CDs participantes da oficina I; Oficina III – Atua-lização aos ACD e THD – 12 horas/aulas – para ACD e THD participantes da oficina I; Oficina IV – Huma-nização e Acolhimento – 4 horas/aulas – Para CD, THD, ACD e gestores municipais. Teve financiamen-to do Ministério da Saúde e UNESCO, apoio da UNIOESTE, FUNDEP e Pólo Ampliado de Educação Permanente em Saúde – PAEPS Oeste.Este trabalho possibilitou subsidiar os profissionais da rede com conhecimentos relevantes quanto à resolutividade da atenção básica de saúde bucal, a fim de tornar a atenção básica capaz de resolver até 85% dos problemas de saúde bucal neste nível de atenção e de submeter à atenção espe-cializada dos CEOs apenas 15% da demanda; estabelecen-do assim um sistema de referência e contra-referência estru-turado e respeitando o princípio da integralidade das ações.

8. A metadisciplinaridade e integração programática como eixos de reforma curricular de Curso de Odontologia - estudo de casoZilbovicius, C.*, Naclério-Homem, M. G., Deboni, M. C. Z., Araujo, M. E.

A análise curricular do Curso de Odontologia foi realizada pelo mecanismo de escuta de docentes

e alunos onde foram detectados problemas estrutu-rais que comprometiam a experiência de ensino-aprendizagem. Entre estes nós críticos, foi observado que conteúdos de disciplinas clínicas eram ministra-dos antes de um embasamento prévio de disciplinas básicas o que acarretava numa mecanização do aluno com pouca visão crítica dos procedimentos e nenhu-ma vinculação com a perspectiva de saúde/doença, uma vez que os alunos não reconheciam parâmetros de normalidade para chegar ao conceito-diagnóstico de doença. A verificação destes problemas coincidia com o término do terceiro semestre e início do 4º se-mestre onde se iniciam as atividades pré-clínicas e clínicas em um curso de 4 anos. O projeto de refor-mulação curricular teve como eixos norteadores a metadisciplinaridade, segundo o modelo de Bibeau discutido por Almeida Filho (1997), onde um grupo de disciplinas interage sob o comando não hierárqui-

Page 64: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

160

co mas conceitual de uma disciplina, que neste caso seria a clínica odontológica. Na construção do conte-údo programático das disciplinas, introduziram-se, durante todo o curso, módulos chamados “ciclos in-tegradores” que buscam identificar temas-chave, re-forçando a noção de interdisciplinaridade e permi-tindo a estruturação de conteúdos programáticos de disciplinas básicas às experiências clínicas vivenciadas pelos alunos naquele momento. Desde o início do curso, este modelo de metadisciplinaridade é acom-panhado pela perspectiva do processo saúde/doença do indivíduo com uma visão de integralidade, mas com uma seqüência pedagógica que se inicia no nor-mal (conduzindo ao aprendizado do que signifique saúde e as características da normalidade) para se direcionar ao patológico (no aprendizado da doença e as características do que se apresente doente) e par-tindo de um conceito geral do corpo para somente depois elaborar a conceituação mais específica da saúde bucal. As disciplinas clínicas que eram minis-tradas numa disciplina denominada “propedêutica”, porém sem perspectiva integradora de conteúdo, fo-ram reagrupadas, em nova seqüência que também permite um diálogo maior entre seus conteúdos, ca-racterizando mais uma vez a perspectiva de integrali-dade e interdisciplinaridade da grade curricular, elementos necessários para a adequação da formação do profissional da odontologia para uma realidade sanitária brasileira de grande complexidade socioe-conômica e epidemiológica.Conclui-se que este modelo metadisciplinar permite um diá-logo maior entre as disciplinas básicas e as de cunho clínico sem, contudo, perder seu foco de especificidade, permitindo ao aluno uma compreensão melhor do processo saúde/do-ença e da atenção em saúde bucal de forma integrada.

9. Projeto Asa Branca: modelo de integração entre pesquisa, ensino e extensãoMartelli, P. J. L.*, Silva, U. H., Carvalho, C. C. T., Carvalho, T. B. T.

O Câncer bucal tem sido preocupação ultimamen-te na Odontologia, afinal os Cirurgiões-Dentis-

tas são os verdadeiros responsáveis pela prevenção desta terrível doença. Em vista disto assume grande importância, pois, apesar de ser um tumor de fácil diagnóstico em estágio avançado, com lesões precur-soras bem definidas, o Cirurgião-Dentista ainda en-contra dificuldades em fazer o diagnóstico dessas le-sões. Mesmo tendo a prevenção papel significativo, o

câncer bucal continua com altos índices de morbida-de e mortalidade, sendo sem dúvida um problema nacional de saúde pública, reconhecido pelo Minis-tério da Saúde. Motivo este que levou à criação do Projeto Asa Branca, que objetiva prevenir e tratar o Câncer bucal através de aperfeiçoamento profissional e campanhas de extensão, realizando a integração entre PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO. Este Pro-jeto de Pesquisa e Extensão foi aprovado pelo Minis-tério da Saúde, e no dia 11 de fevereiro de 2005 ins-talou-se oficialmente o 1º Centro Especializado de Prevenção e Combate ao Câncer Bucal do Nordeste, onde esteve presente o Sr. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Será apresentado a sistemática do projeto, bem como enfatizada a importância científica para realização de pesquisas com os dados obtidos em cada campanha com emprego no ensino. As Campanhas de Prevenção e Diagnóstico do Câncer Bucal são re-alizadas nas cidades do interior de Pernambuco, dian-te de solicitação das Prefeituras Municipais as quais se responsabilizam pelo apoio para concretização des-tas. São formadas Equipes com dois coordenadores (alunos do 9º/10º período ou da pós-graduação) e quatro alunos da graduação, que, com a colaboração de um Agente de Saúde conhecedor da comunidade, realizam visitas de casa em casa, examinando a popu-lação e distribuindo folhetos de orientação do auto-exame. Observou-se que, com uma maior vivência clínica, os alunos que iniciavam ainda no primeiro período com o passar do tempo tornavam-se mais aptos a diagnosticar e tratar patologia do que os que não tiveram a oportunidade de participar. Foram re-alizadas 22 campanhas, onde 35.543 pacientes foram atendidos, dos quais 6.821 casos apresentaram lesões cancerizáveis e/ou malignas, constituindo 19,19% do total. Todos os pacientes com lesões receberam tra-tamento clínico e/ou cirúrgico na FOC, sendo feita uma análise de 943 biópsias, 9,2% tiveram diagnósti-cos histopatológicos de neoplasias malignas. Após a implantação do Projeto Asa Branca na FOC, o ín-dice de atendimento a pacientes aumentou consideravelmen-te, tendo sido de extrema importância para região contem-plada com o Projeto, melhorando o aprendizado do alunado. O Projeto promove um maior treinamento profissional dos alunos da área de odontologia para elaboração de um diag-nóstico clínico mais fidedigno, bem como contribui para realização de Pesquisas através dos dados coletados em cam-po. Possibilita a Extensão pela busca do paciente da sua comunidade para atendimento na Faculdade.

Page 65: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 161

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

10. Educação em saúde bucal. “Projeto usina do Saber”Migliato, K. L.*, Mendes, E. R., Mistro, F. Z., Souza, L. Z.

A doença periodontal e a cárie dentária são consi-deradas as duas doenças de maior importância

em saúde pública e atingem ainda grande parte da população brasileira. A placa bacteriana tem uma im-portante função no desenvolvimento e progressão, tanto da cárie dentária quanto da doença periodon-tal. Desta forma, a efetiva remoção mecânica da placa bacteriana é muito importante no controle e manu-tenção da saúde bucal. O objetivo deste trabalho foi avaliar 06 meses de um programa educativo, direcio-nado a crianças participantes do Projeto Usina do Saber, desenvolvido em parceria com a UNIARARAS e Usina São João. Participaram do estudo 90 crianças, de 07 a 17 anos de idade, ambos os sexos, residentes na cidade de Araras/SP e regularmente matriculados na E.E.P.G. “José Ometto”. Os voluntários participa-ram em palestras educativas a cada três meses relacio-nando temas como: A Boca e Suas Funções, Relação da Dieta com a Cárie Dentária e a Importância de técnica de escovação, uso do fio dental e do flúor na promoção de saúde bucal. Os alunos também rece-beram escovação supervisionada e aplicação tópica de flúor de acordo com o risco de cárie apresentado. Inicialmente, os voluntários foram avaliados através da verificação do índice de placa (Loe, 1967), índice gengival (Loe & Silness, 1963), índice ceo-d e CPO-D (OMS, 1999). Estas avaliações foram repetidas trimes-tralmente em todos os participantes. O teste de Frie-dman foi usado para analisar os resultados no início e após 3 meses de programa. Os resultados mostraram que a média do CPO-D foi de 2,88 e a média do ceo-d foi de 1,67. Quando foi avaliado cada componente do índice separadamente, pode-se observar que a mé-dia do componente obturado (1,71) foi a maior para a dentição permanente e a média do componente cariado foi a maior para a dentição decídua (0,84). Avaliação do índice de placa inicial mostrou uma me-diana de 1,83 e final de 1,89, não apresentando dife-rença estatisticamente significativa entre eles. O índi-ce gengival inicial mostrou uma mediana de 1,45 e final de 1,29, não apresentando diferença estatistica-mente significativa entre eles.Pode-se concluir que a população avaliada ainda necessita de grande atenção, uma vez que o componente cariado na dentição decídua apresentou-se elevado. Observou-se tam-bém que o tempo de programa desenvolvido não foi suficien-

te para promover melhorias nas condições de saúde bucal da população avaliada, sendo necessário estender o progra-ma por um maior período para obter resultados satisfató-rios.

11. A formação continuada (pedagógica) com prática em serviço numa instituição superior privada: um estudo na Faculdade de Odontologia de CaruaruOliveira, R. C.

A formação de professores ao longo do tempo vem sofrendo alterações e adequações de acordo com

o momento histórico experimentado em cada época. A formação continuada pedagógica (em serviço) vem sendo uma preocupação das IES nos último anos por-que o aumento exagerado da oferta de cursos trouxe no seu bojo o aumento expressivo de docentes. A preparação para o magistério superior (art. 66 da LDB) se dá prioritariamente no mestrado e doutora-do, que necessariamente não tratam de formação pedagógica e quando o faz normalmente se limita a apenas uma disciplina com carga horária de 60 horas. Como as Instituições estão promovendo a formação pedagógica dos seus docentes? A nossa pesquisa, dis-sertação de Mestrado em Educação, em fase de con-clusão, junto à UFPE, com o aporte teórico da peda-gogia crítica, trata do modelo de formação continuada da Faculdade de Odontologia de Carua-ru, como essa formação é percebida pelos professores e pelas professoras? Como ela contempla o exercício da reflexividade? E como são articulados e comparti-lhados os diversos saberes docentes? Na metodologia usamos questionários, entrevistas semi-estruturadas e observação dos encontros pedagógicos onde ocorre a Formação Continuada. Para Behrens (2003), a maior parte do contingente de professores universi-tários não tem formação pedagógica. Vasconcelos (2000) acrescenta que o profissional deverá ter for-mação política e formação pedagógica voltada e cons-truída no seu fazer pedagógico cotidiano. É conside-rável a produção nacional e internacional sobre o assunto. Batista, Batista (2002) dizem que a formação pedagógica do docente da área da saúde tem uma especificidade que a distingue das outras, por incluir a intermediação com outro sujeito (o paciente). Car-valho, Simões (2002), analisando artigos publicados, em periódicos, sobre formação continuada, de 1990 a 1997, e Brzezinski, Garrido (2002), dissertações, no período de 1992 a 1998, concluem que os trabalhos tendem a rejeitar a formação continuada como sinô-

Page 66: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

162

nimo de palestras, cursos e seminários e os cursos de pequena duração, treinamento advindo de pacotes, seminários e encontros descontextualizados do coti-diano escolar. Assim, a formação continuada é um processo, é uma prática social contextualizada. O tra-balho de campo vem confirmando os dados existentes na literatura e apontam também para importância do compartilhamento dos diversos saberes entre os pa-res, da importância da reflexividade e da dificuldade da aprendizagem e percepção dos conteúdos peda-gógicos ministrados face ao desconhecimento de pe-dagogia e didática. Os docentes relatam que a frag-mentação dos encontros contribui para a dificuldade em implementação dos conteúdos pedagógicos tra-balhados. Os resultados até agora indicam que os nossos docentes não tem formação pedagógica e os encontros pedagógicos semes-trais são insuficientes e é necessário que os assuntos dessas formações sejam significativos para eles.

12. Apoio didático-pedagógico aos discentes das disciplinas básicas fora de sala de aula: relato de uma experiência na Faculdade de Odontologia de CaruaruOliveira, R. C.

O sistema educacional brasileiro experimentou no último quartel do século XX e no início do

século XXI uma hipertrofia das I.E.S. privadas. Em 2001 tínhamos mais de 2.000.000 de alunos nas esco-las particulares. Faculdades e mais Faculdades Priva-das estão sendo criadas a cada dia. Em Caruaru, de 1959/60 (ano da criação das Faculdades Mantidas pela ASCES e pela ADES) até final do século, existiam apenas 06 cursos superiores. Do final dos anos noven-ta a 2006 já temos mais de vinte cursos superiores. Outros estão sendo planejados pelas três entidades mantenedoras de nossa cidade. Zalbaza (2004), ao tratar do processo de massificação do ensino superior, diz que ele já não é mais privilégio social, tornando-se mais abrangente no sentido horizontal – jovens de diferentes classes sociais e de diferentes localizações geográficas – e, também, no sentido vertical – indiví-duos de diferentes faixas etárias começam ou conti-nuam seus estudos. Estes alunos – a grande maioria com 17 anos e até menos –, recém-saídos do Ensino Médio, necessitam uma melhor orientação acerca de técnicas de estudo, de pesquisa e de leitura. A ênfase dos cursinhos e dos colégios do Ensino Médio é na aprovação no vestibular. O aluno é treinado para ter um raciocínio rápido para respostas a testes de múl-

tipla escolha. Ao ingressar no curso de Odontologia é surpreendido com a quantidade de assunto em cada aula, tendo que recorrer a 2 ou mais livros, revistas e/ou artigos da Internet para estudar o assunto lecio-nado em cada encontro. Diante desta realidade, criou-se um serviço de atendimento aos alunos dos períodos iniciais (1º a 4º) para atendimento fora de sala de aula. Os Objetivos Gerais são: Compreender a importância do estudo fora de sala de aula para o processo de ensino-aprendizagem; Sensibilizar-se para a importância da leitura e do estudo para o cres-cimento pessoal. Os Objetivos Específicos são: Exer-citar-se na técnica da leitura e do estudo sendo capaz de extrair as idéias principais de cada texto e estudo e produzir sinopses e resumos críticos; Pesquisar pa-lavras desconhecidas em diversas fontes, com uso in-clusive da INTERNET; Elaborar horário de estudo para um perfeito aproveitamento do tempo livre. O aporte teórico é o da pedagogia crítica procurando situar o estudo dentro de uma temporalidade e criti-cidade que permitam não só a reprodução dos conhe-cimentos, mas também que este conteúdo seja recons-truído a partir dos conhecimentos prévios de cada aluno. Para isso, os caminhos percorridos são os se-guintes: Técnicas científicas de leituras; Estudo Diri-gido; Pesquisa bibliográfica; Pesquisa na INTERNET; Elaboração de Resumos e discussão e debate em pe-quenos grupos sobre o assunto.Com suporte didático-metodológico aos alunos ingressantes na Faculdade, está se conseguindo melhores condições de aprendizagem.

13. Ergonomia na prática odontológica: a experiência do Centro universitário Newton PaivaAbreu, M. H. N. G.*, Velloso, F. S. B.

A equipe de saúde bucal está sujeita à sobrecarga física em decorrência das exigências posturais

inerentes ao trabalho que executam. A ergonomia contribui para a prevenção de distúrbios musculoes-queléticos entre estes profissionais. Com a intenção de criar uma mentalidade preventiva entre os estu-dantes de odontologia do Centro Universitário Newton Paiva/Belo Horizonte - MG, estabeleceu-se uma parceria entre os cursos de odontologia e fisio-terapia da instituição. O objetivo do presente trabalho é apresentar as atividades pedagógicas desenvolvidas no curso de odontologia a respeito do conteúdo er-gonomia na prática odontológica. Além de conteúdo teórico-prático em ergonomia desenvolvido pelos

Page 67: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 163

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

professores do curso de odontologia, os discentes do projeto de extensão “Ergonomia” e os que cursam a disciplina curricular Prática Supervisionada VI do curso de Fisioterapia vêm desenvolvendo atividades entre os estudantes de odontologia desde o 1º semes-tre de 2005. São realizadas discussões a respeito de práticas posturais e adequações do ambiente e da organização do trabalho em saúde bucal que visam o bem-estar do profissional a partir do momento que o estudante ingressa na clínica odontológica, no 4º pe-ríodo. Concomitantemente, os extensionistas e dis-centes da fisioterapia acompanham os atendimentos odontológicos, com o intuito de identificar situações de possível sobrecarga e elaborar propostas de me-lhorias ergonômicas. Desse acompanhamento, sur-gem as análises cinesiológicas que permitem direcio-nar os exercícios terapêuticos. Em seis momentos durante o semestre, os exercícios são ensinados aos estudantes de odontologia pelos estudantes de fisio-terapia. As práticas pedagógicas envolvendo o conteúdo ergonomia no trabalho em saúde bucal contribuem para incutir, no estudante de odontologia, a mentalidade preventiva quan-to à sua saúde profissional e para melhorar a formação do fisioterapeuta na área de ergonomia.

14. Considerações sobre avaliação continuada da FOuSP (2001-2005)Hager, R. R. C.*, Crivello-Junior, O., Araujo, M. E.

A FOUSP vem efetuando semestralmente avalia-ções institucionais realizadas pela própria Uni-

dade desde 2001. Estas avaliações, denominadas ava-liações continuadas, têm como objetivos avaliar para melhorar, aperfeiçoar e nunca punir. Entendendo que a injunção é forte e têm sido ouvidas vozes de todos os lados envolvidos, dos dirigentes e financia-dores, passando pelos participantes dos processos avaliatórios (sejam eles avaliandos ou avaliados) que, freqüentemente, duvidam da utilidade de seus resul-tados, a avaliação tem passado por momentos favorá-veis pelo fiel cumprimento de seus objetivos. Avaliar é criar hierarquia de excelências, é privilegiar um modo de estar no mundo, definir um modelo. Assim sendo, estabelecemos analisar questões que, avaliadas em seu conjunto, poderiam dar uma real imagem da disciplina. Organização, métodos de ensino, postura ética do professor, entre outros itens foram pergun-tados ao final da disciplina sendo solicitado aos alunos uma nota de 0 a dez. Mostramos aqui o resultado de 8 disciplinas escolhidas aleatoriamente sendo 6 delas

disciplinas clínicas e 2 básicas; três apresentavam me-todologias não tradicionais de ensino. Os resultados mostraram que as disciplinas dão a devida importân-cia ao resultado apresentado por um processo de avaliação. Isso fica demonstrado pela evolução posi-tiva nos itens mal-avaliados em um primeiro momen-to e que cuja evolução nos seguintes foi positiva. Na seqüência histórica, ficam evidentes os cuidados das disciplinas com seus cursos. Da mesma forma, os alu-nos também mostraram que aceitam participar deste processo. Ao surgir dificuldades em alguma discipli-na, estas são prontamente apontadas pela avaliação dos alunos. A avaliação é parte integrante do processo educacional e, sendo efetuada com cuidado e seriedade, conta com a efetiva participação docente e discente e influencia positivamente nas disciplinas e no curso.

15. Projeto Sala de Espera Saudável: o ensino através da escutaNoro, L. R. A.*, Aquino, J. J., Gomes, R. M. M. A.

Estudar em uma universidade para aprender a tratar pessoas, infelizmente, não é uma tarefa

considerada muito importante, uma vez que, na maio-ria das vezes, a prática clínica e o desenvolvimento de procedimentos técnicos são considerados os grandes elementos a comporem o perfil de um profissional de saúde. Atualmente, a humanização do atendimen-to clínico é um dos aspectos mais importantes a ser incorporado aos projetos pedagógicos dos cursos de Odontologia visando à busca de elementos ligados ao comportamento humanista e ético do futuro cirur-gião-dentista. Visando incorporar tais princípios, o presente projeto vem sendo desenvolvido através de atividades de educação em saúde na sala de espera da clínica do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza, beneficiando o paciente com um tratamen-to mais humanizado à porta de entrada do atendi-mento, valorizando a escuta das demandas do usuário e tendo como grande objetivo possibilitar a diminui-ção da ansiedade relacionada à ida ao dentista. Para isto, foram organizados textos, apresentações, carta-zes, dramatizações além de, em especial, conversas, dúvidas e queixas, aprofundando o vínculo e a afeti-vidade entre aluno e paciente. Participação, aqui, significou as pessoas assumirem o que por direito lhes pertence e não somente tomar parte em uma ação “educativa” decidida e conduzida pelos atores tradi-cionais neste tipo de atividade.Foi utilizada uma linguagem adequada para orientar e

Page 68: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

164

descontrair os pacientes e acompanhantes, o que permitiu a diminuição da ansiedade, o enriquecimento do tempo de espera com aplicação de temas de interesse da comunidade, além de contribuir com a capacitação dos alunos atendendo a demanda dos usuários e aprendendo a superar a timidez, a insegurança e, de forma singular, permitindo o conheci-mento de outros problemas além daqueles relacionados ex-clusivamente à saúde bucal. É fundamental que iniciativas que apontam para a interação de forma efetiva com os pa-cientes, em especial preliminarmente ao tratamento odonto-lógico propriamente dito, sejam realizadas nos serviços de saúde bucal.

16. Docência na universidade: elementos para discutir a relação professor-alunoJustino, L. C. M.*, Moser, D. C., Farhat, E. M., Uriarte Neto, M.

A Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI ofe-rece, desde julho de 2001, o programa de forma-

ção continuada para docentes do Ensino Superior, objetivando discutir e repensar os processos de ensi-nar e aprender, com temáticas atuais inerentes à for-mação educacional, refletindo os aspectos filosóficos e teóricos da Instituição. O presente trabalho é parte de uma pesquisa desenvolvida no programa de for-mação continuada, cuja intenção foi a de investigar quais as características significativas de um professor marcante, identificadas a partir do olhar de acadêmi-cos e professores. Para tanto, foi aplicado um ques-tionário aos oito Cursos do Centro de Ciências da Saúde, sendo: 34 do curso de Educação Física, 128 Enfermagem, 05 Farmácia, 29 Fisioterapia, 60 Fono-audiologia, 33 Medicina, 29 Odontologia, 35 Psicolo-gia, totalizando 353 participantes, no período de 01 a 27 de junho de 2005. A questão elaborada foi: “Você já teve um professor marcante? Em sua opinião, o que o tornava um professor marcante?” A questão aplica-da trabalhou com três categorias pré-definidas, pes-soal em relação a si mesmo, pessoal em relação aos alunos, profissionais e pessoais, classificação que sub-sidiou a discussão na relação professor-aluno. O estu-do está fundamentado nas contribuições de Castanho e Vigotski e nos princípios necessários para ser um professor marcante.Os dados foram trabalhados utilizando a metodologia qua-litativa de base empírica e revelaram diferentes conjuntos de categorias, destacando que os aspectos didáticos, as caracte-rísticas e condutas pessoais interferem nos conhecimentos necessários e esperados no professor marcante. A pesquisa também sinalizou pontos importantes a serem considerados

na relação professor-aluno, bem como situações e posturas que se destacam de forma negativa no professor marcante. A pes-quisa aponta para uma nova postura pedagógica que com-preenda os problemas da aprendizagem e o ensino centrado no aprender, entendendo que vivemos um momento de ressig-nificação do processo de ensinar e aprender.

17. O aprender na universidade: o aluno elaborando conceitosJustino, L. C. M.*, Gonçalves, L., Bresolin, J. R., Terçariol, D.

A recente preocupação da universidade quanto ao que ocorre nos ambientes de sala de aula, prin-

cipalmente na relação professor-aluno-conhecimen-to, tem desencadeado pesquisas e discussões sobre questões como o repensar das práticas pedagógicas, as diferentes estratégias necessárias para o atual pro-cesso de ensinar e aprender e em especial como o jovem e o adulto desenvolvem a aprendizagem, que mecanismos desencadeiam para efetivar a compreen-são do aprender. Buscando elementos para discutir e elucidar essas questões complexas e conflituosas a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI oferece aos docentes do Ensino Superior, desde julho de 2001, o programa de Formação Continuada, objeti-vando discutir e repensar os processos de ensinar e aprender, com temáticas atuais inerentes a formação educacional. O presente resumo é parte de uma pes-quisa desenvolvida no programa de formação conti-nuada, cuja intenção foi a de investigar o aprender na universidade identificado a partir do olhar dos acadêmicos. Para tanto foi aplicado um questionário aos alunos dos Cursos do Centro de Ciências da Saú-de, sendo: 54 no curso de Educação Física, 101 En-fermagem, 76 Farmácia, 48 Fisioterapia, 25 Fonoau-diologia, 108 Medicina, 194 Odontologia, 75 Psicologia, totalizando 681 participantes, no período de novembro de 2005 a fevereiro de 2006. O Curso de Odontologia teve a amostra mais representativa do grupo, considerando o número total de 319 alunos matriculados no curso, evidenciando um percentual de 28,5%. A questão elaborada foi: Para aprender as pessoas se valem das mais diferentes estratégias: uns mobilizam a audição, para outras é mais importante a visão, ao passo que outros precisam fazer alguma coisa para aprender. E quanto a você? Pense no modo como se processa o aprendizado com você e procure descrevê-lo. A questão aplicada trabalhou com seis categorias predefinidas, fazer/praticar, ler associado ao escrever, ouvir, visualizar, pesquisar e várias ativi-

Page 69: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 165

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

dades combinadas, emergidas através das respostas dos alunos. O estudo está fundamentado nas contri-buições de Vigotski e na forma como os sujeitos são capazes de elaborar conceitos, lidar com problemas e se defrontar com dilemas da vida prática. Os dados foram analisados utilizando a metodologia qua-litativa de base empírica e revelaram diferentes formas de elaborar a aprendizagem, destacando que as categorias fa-zer/praticar e as várias atividades combinadas facilitam e tornam a aprendizagem significativa para os alunos pes-quisados. A pesquisa aponta para o repensar de estratégias que garantam uma prática pedagógica mais efetiva, a par-tir de uma postura docente que considere as diferentes formas de aprendizagem, entendendo que vivemos um momento de reavaliação dos processos de ensinar e aprender, na qual não podemos mais trabalhar com a deformada concepção de que: “O professor ensinou, se o aluno não aprendeu...”.

18. Aprendizado baseado em resolução de problemas e estilos de aprendizagemCardoso, S. V.*, Panzeri H., Lima, A. I. A. O., Razaboni, A. M.

Esta pesquisa de campo realizada em 2005, em uma universidade particular do Oeste Paulista,

no curso de Odontologia, objetivou o levantamento dos estilos de aprendizagem de todos os alunos dos referidos períodos sob a luz da teoria de David Kolb. Foi usado como instrumento de Pesquisa o Inventário de Kolb aplicado aos sujeitos do 1º e 2º Períodos do Curso, totalizando 143 alunos. O resultado ofereceu aos pesquisadores e professores subsídios para a apli-cação correta das técnicas pedagógicas correspon-dentes aos estilos identificados, propiciando uma melhoria do ensino e da aprendizagem do aluno. Ofereceu a possibilidade dos alunos se conscientiza-rem de suas preferências relacionadas aos seus Estilos de Aprendizagem e propiciar aos docentes do Curso de Odontologia uma reflexão sobre a temática de Estilos de Aprendizagem discentes. Objetivou-se, tam-bém, buscar caminhos e possíveis respostas às dificul-dades próprias da inserção de um novo projeto peda-gógico de modo a permitir aos professores e alunos, conjuntamente, operacionalizarem as metas do Cur-so e estabelecerem trajetórias que possibilitem supe-rar dificuldades inerentes ao processo ensino-apren-dizagem.Não temos a intenção de superestimar a questão dos Estilos de Aprendizagem sobre o processo ensino-aprendizagem, em detrimento de outros aspectos igualmente importantes. Acre-ditamos, porém, que a educação deva se preocupar não so-

mente com a aquisição do conhecimento, mas também com o modo de pensar e de aprender dos estudantes. Como men-cionado anteriormente neste trabalho, consideramos impor-tante reafirmar que, conforme as concepções educativas a que nos referimos, o conceito de Estilo de Aprendizagem deve incidir nas diferenças qualitativas das formas de aprendi-zado, não importando-nos as diferenças quantitativas de aprendizagem. Foi nesta perspectiva que a nossa pesquisa transcorreu ao identificarmos os estilos de aprendizagem discentes. Por outro lado, não podemos ignorar a complexi-dade do processo ensino-aprendizagem e tentar demonstrar apenas uma simples relação de causa e efeito entre o Estilo de Aprendizagem dos alunos e o Estilo de Ensino do Profes-sor.

19. Sistematização das ações clínicas de saúde bucal na Secretaria de Saúde de Sobral - CearáNoro, L. R. A.*, Oliveira, A. G. R. C., Mendes Júnior, F. I. R.

As ações clínicas individuais são as principais ati-vidades desenvolvidas durante a maior parte do

tempo pelos cirurgiões-dentistas formados na grande maioria dos cursos de Odontologia do Brasil. Apesar disto, grande parte dos serviços públicos de saúde apresenta dificuldades na implantação de estratégias de saúde bucal que proporcionem uma assistência odontológica universal e de qualidade. O presente projeto foi desenvolvido com cirurgiões-dentistas par-ticipantes da Residência em Saúde da Família reali-zada pela Escola de Saúde Pública Visconde de Sa-bóya, orientada pela proposta de educação permanente, visando formular uma proposta para desenvolvimento destas ações nas Unidades de Saúde do município de Sobral – Ceará. A proposta foi iden-tificar o modelo de assistência odontológica pratica-do pelas equipes de saúde bucal nestes espaços e, a partir de uma análise crítica sobre a forma como o tratamento odontológico estava sendo desenvolvido, definir uma sistematização dos procedimentos que deveriam constituir as linhas gerais visando um au-mento da cobertura em saúde bucal. A discussão en-tre os participantes foi orientada através da formula-ção de um roteiro apontando as principais dificul dades vivenciadas pelas equipes de saúde bucal e as possíveis soluções, visando aprofundamento teórico sobre as principais possibilidades de solução do pro-blema observado. Este roteiro procurou estabelecer a atividade a ser realizada, a forma como a mesma deveria ser executada e a definição dos recursos hu-

Page 70: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

166

manos que deveriam ser os responsáveis por esta re-alização. A proposta final constituiu-se de três grandes eixos: huma-nização do atendimento, resolutividade dos casos e organi-zação da demanda. Em relação a humanização do atendi-mento as principais estratégias estariam relacionadas ao agendamento por horário, ao acolhimento e a participação da família na consulta. Já a resolutividade dos casos deve-ria ser alcançada através da adequação do meio bucal, atendimento odontológico por hemi-arcada e organização do sistema de referência e contra-referência. Quanto a orga-nização da demanda, optou-se por priorizar o atendimento de crianças, gestantes e idosos, através da equipe de saúde da família. É fundamental a participação de toda a equipe de saúde para definir as ações a serem realizadas, permitin-do efetivo vínculo com a população assim como valorizar o seu papel de formulador de projetos e não simples executo-res.

20. Parceria CEO/LRPD – Faculdade de Odontologia de Caruaru. Integração entre ensino e prestação de serviços às comunidades do agreste pernambucano no combate ao câncer de bocaSilva Filho, J. M.*, Rodrigues, R. A., Martelli, P. J. L., Souza, R. S. V.

Contabilizando mais de 35.000 atendimentos des-de sua criação, o projeto de extensão Asa Bran-

ca, pertencente à Faculdade de Odontologia de Ca-ruaru permanece como importante agente na luta contra o avanço do câncer de boca em todo o interior do estado de Pernambuco. Ao lado do câncer de boca, a ausência de dentes é um dos mais graves problemas da saúde bucal. Hoje 75% dos idosos são desdentados e entre os adultos com idade de 30 a 44 anos esse índice é de 30% estimando-se que 8 milhões de pes-soas precisam de prótese dentária no Brasil (SB Bra-sil). Com intuito de conter o avanço do edentulismo no país, o governo federal criou os Centros de Espe-cialidades Odontológicas, que são unidades de saúde participantes do Cadastro nacional de Estabelecimen-tos de Saúde – CNES destinadas a prestar serviço odontológico especializado por áreas de atuação fun-cionando por meio de parceria entre estados, muni-cípios e o governo federal (Ministério da Saúde). Além da implantação de CEOs, há também a implan-tação de Laboratórios Regionais de Prótese Dentá-ria – LRPD – que são unidades próprias do município ou unidades terceirizadas credenciadas para confec-ção de próteses totais ou próteses parciais removíveis.

De acordo com a portaria 87 de 16/01/2006 (DOU – seção 1 página 58), em fevereiro de 2006, a cidade de Caruaru – PE despontou mais uma vez no cenário nacional através da parceria ASCES/Secretaria Mu-nicipal de Saúde com a implantação de um CEO/LRPD, que proporciona à comunidade do agreste pernambucano atendimento especializado, acompa-nhado por professores especialistas garantindo pró-teses confeccionadas dentro dos parâmetros ideais necessários para o restabelecimento das funções e estéticas perdidas. Esta parceria garante ao aluno de graduação aprofundamento no conhecimento perti-nente à confecção de próteses totais, recebendo orientação dos professores da disciplina de prótese total. Para a comunidade, a parceria representa su-cesso no tratamento e remissão de possíveis lesões decorrentes de tratamentos anteriores inadequados, além de agilidade na confecção da peça protética, visto que a quantidade de alunos inscritos no progra-ma agiliza a entrega da prótese. A parceria AS-CES - CEO/LRPD (Secretaria Municipal de Saúde) representa um marco no ensino odontológico de gra-duação, pois proporciona ensino de qualidade aliado à prestação de serviços à comunidade do agreste de Pernambuco.Diante do exposto, pode-se concluir que a parceria entre a Faculdade de Odontologia de Caruaru e a Secretaria Mu-nicipal de Saúde, através da implantação do CEO/LRPD, muito contribuirá para a redução dos índices de câncer de boca, além de proporcionar o desenvolvimento técnico-cien-tífico dos alunos da entidade.

21. utilização de vídeos como auxiliar no processo ensino-aprendizagem da disciplina de anatomia dental e escultura Pinheiro, P. M. M.*, Pinheiro, P. P. S.

A disciplina de Anatomia Dental pode ser conside-rada como um dos alicerces para todas as disci-

plinas clínicas do curso de Odontologia. A maneira como é inserida na estrutura curricular é variável: em conjunto com Anatomia Geral nas disciplinas anuais; ou separadamente, em disciplinas semestrais, poden-do incluir a escultura dental. A escultura dental é um método auxiliar no estudo das características anatô-micas, com a grande vantagem de desenvolver e au-mentar a destreza manual dos acadêmicos no início do curso, preparando-os para a aquisição de habili-dades cada vez mais complexas no decorrer do Curso. Este trabalho tem o objetivo de mostrar uma meto-

Page 71: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 167

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

dologia de ensino utilizada na disciplina de Anatomia Dental e Escultura do Curso de Odontologia da FAHESA – ITPAC, que utiliza a projeção em vídeo da seqüência da escultura de dentes permanentes em cera odontológica. Devido ao número de alunos por professor nas atividades de laboratório e ao tamanho natural das esculturas, a visualização dos detalhes ana-tômicos e etapas da escultura torna-se difícil. Portan-to, a projeção em vídeo potencializa o processo ensi-no-aprendizagem, superando os esquemas na lousa ou em papel porque acrescenta movimento à seqüên-cia de escultura, além de facilitar a reapresentação da aula.Com base na experiência didática com o uso desta metodo-logia de ensino alternativa, concluiu-se que a utilização de vídeos demonstrativos das fases da escultura de dentes per-manentes em cera odontológica durante as aulas teóricas e práticas aumenta a qualidade do trabalho prático bem como a memorização dos detalhes anatômicos característicos de cada elemento dental.

22. Instrumento de avaliação do desempenho psicomotor em atividades laboratoriais de prótese fixaCruz, J. F. W.*, Coelho Junior, G. S., Cruz, R. C. W.

O ensino das práticas laboratoriais nos cursos de Odontologia baseia-se na percepção de concei-

tos teóricos apreendidos, direcionando uma ação motora associada a controle de movimentos específi-cos, visando o desempenho de técnicas pré-formula-das. Dentro dos três domínios da avaliação, a análise psicomotora, por referir-se a aspectos práticos das habilidades individuais e capacidade de desenvolvi-mento na área específica de aprendizagem, requer instrumentos que capacitem o professor à observação e avaliação. A psicomotricidade reflete um estado da vontade, que corresponde à execução de movimentos voluntários ou involuntários. Os atos voluntários es-tão relacionados dependendo da inteligência e do afeto. O ato volitivo envolve quatro etapas, a intenção ou propósito, a deliberação, onde ponderamos os motivos e as razões intelectuais, a decisão (começo da ação), e a execução. Psicomotricidade, portanto, é um termo aplicado para a concepção de movimento organizado e integrado, em função de experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua indi-vidualidade, linguagem e socialização. Avaliar a habi-lidade psicomotora do aluno aferindo nota ao prepa-ro cavitário demanda do orientador consciência crítica e capacidade de reprodutibilidade da análise;

e a forma de mostrar ao avaliado possíveis falhas sus-cita dúvidas, gera conflitos, e muitas vezes não conse-gue alcançar o objetivo. Dessa forma foi proposta uma ficha de avaliação da atividade psicomotora, onde dez itens dos preparos cavitários são listados: lisura de corte, inclinações das paredes, anatomia/caracterís-ticas, profundidade do desgaste, término/adaptação, ângulos, conicidade, limite do preparo, caixas/sul-cos/canaletas e bisel. Os itens foram discutidos com os professores da disciplina de Prótese Fixa I da Fa-culdade de Odontologia da UFBA, sendo elaborados critérios a serem seguidos por todos para avaliar os trabalhos, com pontuação de 0,1 a 1,0. Este instru-mento vem sendo aplicado na disciplina desde o se-mestre letivo 2000.1 até o atual. Foi criada a “Recu-peração de Competência”, momento pedagógico, onde alunos que não alcançaram o desenvolvimento psicomotor necessário para obterem aprovação têm oportunidade de realizar novamente as atividades. Vale salientar que o aluno não está sendo penalizado, pois poderá alcançar a nota máxima da avaliação. Propomos esta atividade por acreditar que cada aluno tem o seu momento de aprendizado e que esta situação deve ser valorizada. No semestre letivo posterior ao da disciplina, os alunos foram convidados a responder questionário sobre a validade desta ficha.

23. Novas práticas pedagógicas no ensino da CariologiaAzevedo, T. D. P. L.*, Bezerra, A. C. B.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacio-nais (DCN) para o curso de Odontologia, os

conteúdos curriculares essenciais devem estar relacio-nados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrando à realidade epidemiológica e profissional. Dentre as capacidades específicas que devem resultar da formação estão aquelas necessárias para identificar as afecções buco-maxilofaciais prevalentes, desenvolver o raciocínio lógico e a análise crítica dos alunos na conduta clíni-ca (Resolução CNE-CES 3-2002- DCN). Desta forma, a inclusão da disciplina de Cariologia na área de Pro-pedêutica Clínica permite a análise e compreensão dos fatores etiológicos envolvidos na doença cárie, assim como dos meios de prevenção, corroborando com as DCNs. No ajuste curricular realizado pela UCB, esta disciplina foi incluída no 3º período. Para sua implementação, buscou-se a diversificação de re-cursos e cenários para a obtenção de uma aprendiza-gem cooperativa com participação ativa dos alunos.

Page 72: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

168

Este trabalho objetivou relatar a experiência da cons-trução de conhecimentos de forma cooperativa na disciplina de Cariologia da UCB-DF, por meio de prá-ticas pedagógicas participativas conforme preconi-zam as DCNs. A metodologia abrangeu estudo de casos, estudo em grupos, estudo dirigido e atividades clínicas com confecção de relatórios. A abordagem destas estratégias centradas no aluno, com utilização da problematização da realidade permitiu a união de 3 fatores: construção conceitual, experiência de cam-po e reflexão dos dados por meio dos relatórios con-feccionados. Além disso foi possível a integração en-tre os conhecimentos de anatomia, histologia, bioquímica e microbiologia valorizando a ênfase mul-tidisciplinar e a integração com a área básica. A metodologia proposta apresentou boa aceitação, grande motivação, principalmente pelas atividades em clínica. Pode-se considerar uma experiência válida frente às novas mudanças na educação do ensino superior.

24. Avaliação do conhecimento de acadêmicos de odontologia sobre doação e guarda de órgãos dentáriosSales-Peres, S. H. C.*, Garcia, M. D., Marsicano, J. A., Sales-Peres, A.

O conhecimento é o principal fator de inovação disponível ao ser humano. Não é constituído de

verdades estáticas, mas de um processo dinâmico que acompanha a vida humana. Embora este conheci-mento não seja produzido necessariamente na uni-versidade, é dela que se originam trabalhos produzin-do ciência e tecnologia. A incorporação e a inter-relação entre métodos didáticos e pedagógicos, áreas práticas e vivências devem incluir a valorização de preceitos morais, éticos e legais. Neste estudo, pro-curou-se identificar o conhecimento dos acadêmicos de graduação de Odontologia, de uma instituição pública, sobre os métodos adotados para doação e guarda de órgãos dentários. Foram pesquisados 113 sujeitos, sendo utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário, contendo perguntas fe-chadas sobre informações dos cuidados quanto ao uso, guarda e doação de órgãos dentários. Os resul-tados mostraram que o ensino de odontologia requer o uso de órgãos dentários em atividades laboratoriais e de pesquisa, sendo que a grande maioria dos entre-vistados afirmou já ter utilizado órgão dentário na faculdade. A aquisição de órgãos dentários é uma prática adotada pelos acadêmicos, haja vista doação por parte de outros acadêmicos e de profissionais.

Referente à guarda, foi relatada doação para o pró-prio paciente, graduandos e pós-graduandos e des-carte em lixo especial. Em relação ao acondiciona-mento de órgãos dentários parece não haver uma concordância entre as respostas apresentadas, por parte dos sujeitos da pesquisa. Há a necessidade de uniformização de critérios tanto para guarda como para doação de órgãos dentários, caracteri-zando como processo capaz de contribuir para a reorgani-zação das concepções dentro dos princípios bioéticos.

25. Curso de formação de técnico em higiene dentária ETESPPE/ASCES: uma parceria público-privadaSilva Filho, J. M.*, Galindo, R. M., Leal, D. P., Carneiro, S. M.

Tem havido grande redução nos níveis de cárie dentária no Brasil, conforme levantamento epi-

demiológico (1996) do Ministério da Saúde. Tal fato deve-se principalmente à fluoretação da água de abas-tecimento e descentralização do sistema de saúde, onde estados e municípios intensificaram ações pre-ventivas. Uma nova mudança epidemiológica das do-enças bucais só ocorrerá com a inclusão do trabalho em equipe onde dentista, atendente de consultório dentário (ACD) e técnico em higiene dental (THD) devem objetivar a promoção e manutenção da saúde da população. O Programa de Saúde da Família bus-ca a vigilância à saúde com ações individuais e coleti-vas voltadas à prevenção e tratamento das doenças. Tais ações levaram a uma demanda na oferta de pos-tos de trabalho ao ACD e ao THD. Para o exercício profissional de ACD ou THD é preciso habilitação e inscrição no Conselho de Odontologia, isto vem ge-rando carência de mão-de-obra qualificada. Diante desta carência a Escola de Saúde Pública de Pernam-buco (ETESPPE), em parceria com a Faculdade de Odontologia de Caruaru (FOC), vem ofertando o curso de habilitação em ACD e THD desde agos-to/2005. Para tal utiliza-se o currículo integrado vol-tado às responsabilidades, competências e habilida-des do ACD e do THD, incluindo a área básica em saúde, fundamentos de assistência odontológica e assistência específica. O método adotado no curso é o da problematização, que tem o aluno como trans-formador do ambiente e de sua prática de trabalho. Todos os docentes fizeram capacitação pedagógica com carga horária de 80 horas, a fim de utilizarem melhor o currículo integrado e entendimento do pro-cesso ensino/aprendizagem. A avaliação é contínua,

Page 73: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 169

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

baseando-se nas funções diagnóstica e formativa de cada aluno. Nesta parceria entre a ETESPPE e a FOC foram mobilizadas também as prefeituras envolvidas no projeto, onde cada parte tem um papel específico. A ETESPPE oferece corpo docente e aporte financei-ro; a FOC disponibiliza todas as instalações; às prefei-turas cabe o transporte, todo o material e instrumen-tal necessários às aulas práticas e os locais onde o estágio supervisionado dos alunos ocorrerá. São trin-ta alunos, vindos de nove municípios: Caruaru, Ta-quaritinga do Norte, Vitória de Santo Antão, São Caetano, Bonito, Cortês, Limoeiro, Nazaré da Mata e Panelas. O curso é dividido em três módulos: aten-dente de consultório dentário (módulo I), desenvol-vimento de ações intrabucais (módulo II) e educação em saúde (módulo III). Ao final do módulo I, os alu-nos saem capacitados como ACD. Em cada módulo os alunos têm momentos de concentração, onde se reúnem em um espaço físico e momentos de disper-são em seu ambiente de trabalho, onde realizam ati-vidades programadas e supervisionadas.É possível uma parceria envolvendo serviço público e insti-tuições de ensino superior privadas objetivando a melhoria da qualidade de atendimento à saúde da população.

26. Banco de Dentes Humanos da Faculdade de Odontologia de CaruaruSilva Filho, J. M.*, Carneiro, S. M., Galindo, R. M.

O Banco de Dentes Humanos (BDH) consiste em uma instituição sem fins lucrativos, vinculada a

uma Faculdade de Odontologia, visando oficializar a doação e o emprego desses órgãos humanos em pes-quisas, fins didáticos e procedimentos reabilitadores, evitando desta forma a comercialização dos mesmos. Como órgão do corpo humano, o dente está subme-tido à Lei de Transplantes Brasileira (Lei 9.434 de 04 de fevereiro de 1997), que prevê uma pena de 3 (três) a 8 (oito) anos de reclusão, além de multa para quem remover post-mortem órgãos, tecidos ou partes do cor-po humano de pessoas não identificadas. Para tanto se faz necessário garantir um tratamento respeitoso ao órgão doado através da obtenção do consentimen-to livre e esclarecido do doador, de seus familiares e do receptor do órgão. Serão consideradas neste tra-balho três situações em que a doação de dentes hu-manos ocorreria: doação de dentes decíduos esfolia-dos, de dentes decíduos ou permanentes extraídos e a doação de dentes decíduos ou permanentes de ca-dáveres. Além do combate à comercialização, a cria-ção de um banco de dentes objetiva minimizar a trans-

missão de doenças provenientes de dentes conta minados, evitando infecções cruzadas no manuseio destes materiais através da correta descontaminação e armazenamento destes órgãos. A finalidade deste trabalho é a criação de um banco de dentes humanos na Faculdade de Odontologia de Caruaru a fim de subsidiar o fornecimento desses órgãos a seus alunos, professores e pesquisadores dentro dos padrões éti-cos e bioéticos. As fontes de arrecadação serão as mais variadas, dentre estas: Clínicas Particulares, Postos de Saúde, Clínicas da Faculdade de Odontologia de Ca-ruaru/SCES, Hospitais Públicos, graduandos, pesqui-sadores e a população em geral. Será dada prioridade à legalidade da origem dos dentes, para tanto a Co-ordenação Geral do BDH da FOC/SCES instruirá as citadas fontes de origem sobre a necessidade da soli-citação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde os pacientes antes da(s) exodontia(s) deverão ser informados sobre o destino deste órgão e a sua finalidade, sendo anteriormente questionados se aceitam fazer a doação dos mesmos. Uma outra fonte de arrecadação seria aquela prove-niente de cirurgiões-dentistas que possuem dentes de coleções particulares. Nestes casos, será utilizado o Termo de Doação de Dentes Humanos para Cirurgi-ões-Dentistas, onde o profissional doará dentes que estiverem estocados em seus consultórios, responsa-bilizando-se pela sua origem. Existe ainda uma tercei-ra fonte de arrecadação de dentes humanos, a qual seria representada pela população em geral que pos-sui dentes em casa, e que teria a intenção de doá-los. Para este fim, seria empregado o Termo de Doação de Dentes Humanos.A criação de um banco de dentes humanos em uma insti-tuição de ensino, além de fornecer material de uma forma ética para pesquisas, tem a vantagem de eliminar o comércio de elementos dentários existente atualmente.

27. A construção pedagógica do docente de odontologia em formação Azevedo, A. M. O.*, Masetto, M. T.

O presente trabalho é parte integrante de uma pesquisa de doutorado em andamento, que tem

como objetivo avaliar a formação dos professores de Odontologia nos Cursos de Mestrado e verificar de que maneira esses cursos estão preocupados com a formação pedagógica e também se apresentam ino-vações curriculares nesse campo. Estão os Cursos de Mestrado em Odontologia atendendo as normas da LDB que preconiza tanto uma formação para a pes-

Page 74: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

170

quisa como uma formação pedagógica? A metodolo-gia adotada consistiu de levantamento dos Cursos de Mestrado em Odontologia que apresentam qualifica-ção da CAPES igual ou superior a cinco (CAPES, 2003). Segundo esse critério, foram identificados 22 Cursos de Mestrado em Odontologia. A análise pre-liminar revelou que os currículos avaliados adotam apenas a inclusão de uma disciplina na área pedagó-gica, privilegiam uma concepção positivista de Odon-tologia, uma formação tradicional e especialista do docente, voltada quase que exclusivamente para a formação do professor pesquisador. Isso nos coloca a necessidade de (re)significação da prática pedagó-gica para nortear a formação do docente de ensino superior. Foram realizados entrevistas semi-estrutura-das e questionários com os coordenadores de alguns Cursos de Mestrado em Odontologia. A partir da re-flexão desses docentes, do embasamento teórico so-bre currículo e do estudo de outros modelos curricu-lares que apresentam inovação, pretendo apresentar uma proposta curricular de Mestrado que capacite o docente de Odontologia frente à exigência da forma-ção em relação aos termos legais, para exercer a do-cência de acordo com as normas das diretrizes curri-culares da graduação e as exigências do mundo contemporâneo.Concluimos até presente momento, que os currículos de Mes-trado em Odontologia avaliados não privilegiam a forma-ção pedagógica, e sim a formação do docente pesquisador, incluem geralmente uma disciplina didático-pedagógica desconectada com as demais e não apresentam inovações curriculares nesse campo.

28. Pró-saúde: estratégias de operacionalização da 1ª oficina dos cursos de odontologia e medicina da universidade Estadual de montes Claros - unimontesBrito-Júnior, M.*, Costa, S. M., Silva, J. M., Martelli-Júnior, H.

Tradicionalmente os projetos políticos pedagógi-cos dos cursos da área de saúde têm privilegiado

a formação do aluno centrada no biologismo e na concepção tecnicista. Sob este enfoque, que omite a visão integrada de saúde, o futuro profissional distan-cia das reais demandas da população. O advento do Programa Nacional de Reorientação da Formação de Profissionais da Saúde – Pró-Saúde, iniciativa dos Mi-nistérios da Saúde e Educação, trouxe nova perspec-tiva para transformação do cenário atual, ao propor

um redirecionamento no processo ensino-aprendiza-gem nos cursos de enfermagem, medicina e odonto-logia. Neste contexto, a Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes, por meio dos cursos de odontologia e medicina, participantes do Pró-Saúde, busca intensificar a discussão das principais metas do programa. O objetivo deste trabalho é relatar as estra-tégias de operacionalização da 1ª Oficina Pró-Saúde-Unimontes, ocorrida no dia 25/04/06 que contou com a presença de cerca de 260 participantes, repre-sentantes de diferentes segmentos de atuação na área da saúde (discentes, docentes, funcionários técnico-administrativos, alunos do programa de residência para cirurgiões-dentistas e enfermeiros, cirurgiões-dentistas e médicos da rede municipal de saúde). A construção da oficina ocorreu seguindo diferentes etapas: 1) reunião de grupo - professores e alunos - para discussão da proposta e meios de operacionali-zação da mesma; 2) elaboração de “folder” informa-tivo para ser distribuído para acadêmicos, docentes e funcionários dos cursos de odontologia e medicina bem como para profissionais da rede SUS; 3) reuniões com professores, acadêmicos e funcionários da IES para sensibilização da proposta do Pró-saúde; 4) con-vite a um consultor do Ministério da Saúde para ex-planação da temática; 5) elaboração de questões a serem trabalhadas na oficina pelos grupos abordando a integração do ensino-serviço e inserção das áreas especializadas em currículo integrado; 6) seleção de textos de apoio para os grupos como referencial teó-rico acerca da integração ensino-serviço, Pró-Saúde e mudanças de paradigmas na saúde; 7) organização e realização dos trabalhos dos grupos utilizando o cri-tério de incluir em cada um deles diferentes atores sociais envolvidos no processo; 8) apresentação e dis-cussão em plenária dos resultados de cada grupo; 9) elaboração, na oficina, da primeira versão do relatório final e 10) revisão e consolidação do relatório final.Estas estratégias de operacionalização propiciaram partici-pação dos atores ligados a IES e do serviço municipal de saúde, possibilitando construção coletiva de propostas com vistas a repensar e redirecionar o ensino da odontologia e medicina na Unimontes.

29. Atuação preventiva em ortodontia: uma experiência em nível de extensãoValença, A. M. G.*, Portela, G. S., Pires, L. B.

Atividades de extensão se constituem em um es-paço estratégico para a formação dos graduan-

dos de odontologia, contribuindo para que estes re-

Page 75: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 171

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

cursos humanos possuam sensibilidade social, mediante a aproximação com a realidade da popula-ção. Em adição, por ser a prevenção em Odontologia o método mais eficaz no controle de afecções bucais e promoção de saúde, evitar que maloclusões se ins-talem, atuando em alguns dos seus principais fatores etiológicos, torna-se uma medida capaz de contribuir para a melhoria da saúde bucal da população a ser beneficiada. Neste sentido, as creches/escolas passam a ser um espaço privilegiado para tal atuação pois, na grande maioria delas, a criança ali permanece em tempo integral, estando na faixa etária ideal para se atuar preventivamente. Constata-se que, em nosso país, o acesso da população ao tratamento ortodôn-tico é restrito a poucos serviços de assistência pública, os quais se caracterizam por apresentarem baixa co-bertura e pouca resolutividade. Portanto, prevenir que maloclusões se instalem se constitui numa medi-da capaz de contribuir para a melhoria da saúde bucal nas fases de dentadura decídua e mista. O presente trabalho objetivou descrever um projeto que atua prevenindo a ocorrência de maloclusões em escolares da Escola Municipal David Trindade (João Pessoa/PB), proporcionando que graduandos em Odontolo-gia da UFPB desenvolvam ações voltadas para tal atu-ação, a partir do diagnóstico da realidade encontrada. Para tanto, ao longo dos três anos de execução do projeto, tem sido realizado o levantamento anual das necessidades das crianças de 5 a 12 anos, analisando-se a prevalência de maloclusões entre os escolares, identificando aqueles com necessidade de manuten-ção de espaço e portadores de hábitos de sucção. São desenvolvidas atividades educativas com os escolares que, na dependência da faixa etária, são executadas com auxílio de fantoches, álbum seriado, diapositi-vos, dentre outros recursos audiovisuais nas quais são abordadas, dentre outros aspectos, as causas de ma-loclusão. Nos casos em que é diagnosticada perda precoce de elementos decíduos se realiza o planeja-mento, por meio de radiografias e modelos de estudo. Da mesma forma, quando há indicação de extração de elementos dentários decíduos, caracterizando si-tuação de perda precoce de elementos decíduos, são instalados aparelhos mantenedores de espaço, haven-do a avaliação periódica dos pacientes que utilizam estes dispositivos. Na perspectiva de embasar as ativi-dades desenvolvidas pelas extensionistas, são realiza-das discussões semanais de textos científicos.Constatou-se que as medidas implementadas foram eficazes, tendo sido concluído o tratamento de 25% dos escolares que necessitam de manutenção de espaço, sendo satisfatória a

receptividade do projeto por parte das crianças, seus respon-sáveis e docentes, bem como a capacitação dos extensionistas na realização de manobras ortodônticas preventivas, as quais podem ser executadas em nível de atenção básica.

30. Novos recursos nas aulas laboratoriais de OdontologiaMiguel, L. C. M.*, Schubert, E. W., Schein, M. T., Madeira, L.

O aprendizado clássico em odontologia está fun-damentado na transmissão do conhecimento

teórico em salas de aula, seguido por atividades prá-ticas realizadas em manequins/laboratórios, onde são executados os procedimentos descritos teorica-mente, precedendo o atendimento clínico-curativo de pacientes pelo acadêmico. A fim de que o objetivo simulador seja alcançado o mais plenamente possível, a utilização – em laboratório – de meios que melhor caracterizem a situação real é fundamental. Neste sentido os dentes artificiais utilizados além de possu-írem tamanhos e características semelhantes ao real, devem reproduzir ao máximo a consistência dental. A utilização de máscaras de borracha que simulem lábios e bochechas capacita o acadêmico ao correto posicionamento e dimensionamento do isolamento absoluto; a instalação deste conjunto em uma cabeça e corpo de manequim permite o desenvolvimento de uma postura mais ergonômica, reduzindo erros pos-turais dos futuros profissionais. A disponibilização das canetas de alta e baixa rotação além da seringa trípli-ce, tais quais as do equipo, acelera o desenvolvimento posterior das atividades clínicas uma vez que já existe a percepção espacial e funcional destes instrumentos. Em outro sentido, outra dificuldade na execução das atividades laboratoriais é demonstrar aos acadêmicos por meio de esquemas bidimensionais uma tarefa a ser realizada tridimensionalmente, e que deverá ser realizada com brocas sobre dentes. Para tanto, com o recurso de câmeras filmadoras digitais, pode-se re-alizar passo a passo as etapas da atividade sugerida, com o acompanhamento em tempo real pelos alunos, acompanhado pela orientação verbal do professor orientador que destaca os pontos relevantes do pro-cedimento. Permite-se assim o esclarecimento de eventuais dúvidas antes e durante a execução da eta-pa demonstrada, não só a um aluno, mas a todos os presentes – alunos e professores – reduzindo tanto a repetição individualizada da orientação como as di-ferenciadas orientações dos professores. Executada a etapa proposta dá-se seqüência ao procedimento pro-

Page 76: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

172

posto, mantendo-se todo o grupo em atividades se-melhantes. A disciplina de Dentística introduziu na UNIVILLE aulas contextualizadas associado ao recur-so da câmera filmadora digital, favorecendo o apren-dizado acadêmico nos procedimentos pré-clínicos.Esta nova abordagem no ensino prático mostra-se eficaz, reduzindo o tempo de execução das atividades, facilitando o processo de ensino-aprendizagem, traduzindo-se em um melhor aproveitamento e rendimento do acadêmico, além de melhorar substancialmente os resultados qualitativos dos procedimentos executados.

31. material didático-pedagógico em saúde bucal para cursos de Agentes Comunitários de Saúde (ACS): uma visão multiprofissionalGoya, S.*, Sant’Anna, R. M. F., Peres, S. H. C. S., Bastos, J. R. M.

A educação em saúde é uma das ações mais impor-tantes na prática odontológica, podendo contri-

buir para a preservação/promoção da saúde do pa-ciente na medida em que trabalha na construção coletiva dos novos conceitos e tecnologias. As ESF (Equipes de Saúde da Família) se reúnem para trocar informações, discussão de casos e soluções para pro-blemas de sua área de abrangência. Objetivou-se com esse trabalho elaborar material didático para o ACS, capacitar a equipe para os cuidados em saúde bucal, bem como estimular o autocuidado nos profissionais de saúde. O Agente Comunitário de Saúde (ACS) tem como competência servir de ligação entre a comuni-dade e os profissionais de saúde através da promoção e proteção da saúde e da educação através do auto-cuidado. Acredita-se que os agentes por serem pesso-as da comunidade, não só se assemelham nas carac-terísticas e anseios deste povo, como também preenchem lacunas, justamente por conhecerem as necessidades desta população. Com esse enfoque pro-cedeu-se a elaboração de material didático-pedagógi-co (manual do ACS, protocolo para visitas domicilia-res e palestras) e de oficinas para discutir dúvidas sobre os assuntos propostos: Atenção Básica de saúde bucal (rotinas de atendimento, fluxograma na UBS - Unidade Básica de Saúde, CEO – Centro de Especia-lidades Odontológicas), doença bucais (o que é; como detectar, o que observar na família, como evi-tar) e métodos preventivos em odontologia. Durante a elaboração ocorreram várias modificações segundo a intervenção dos profissionais presentes a cada nova discussão. A colaboração dos Agentes Comunitários

de Saúde enriqueceu de forma a transcrever de ma-neira simples e de fácil entendimento para leigos e por profissionais de outras áreas da saúde, bem como motivou a introdução de capítulos sobre dieta, ama-mentação e cuidados com pacientes especiais, acama-dos e cuidadores; também com cuidados com o meio ambiente, reciclagem do lixo (domiciliar e contami-nado), dengue, tuberculose, tabagismo e abordagem com adolescentes sobre contracepção e gravidez na adolescência. Assuntos que não são relativos a odon-tologia mas sim a saúde coletiva. Concluiu-se que as maiores dificuldades encontradas foram a simplificação do saber, os diferentes conceitos sobre saúde e as crenças pessoais que cada pessoa traz de sua própria formação. A colaboração de toda a equipe faz com que a produção de conhecimento torne-se mais acessível e simpli-ficada e que a formação em saúde bucal do profissional ACS gere um novo conhecimento para a prática da Saúde da Família. A disseminação de conceitos sobre a saúde bucal permite uma melhora na saúde integral na comunidade.

32. Experiência da estruturação de estágio supervisionado focado na atenção à saúde das gestantes da universidade Católica de Brasília-DFAzevedo, T. D. P. L.*, Franco, E. J., Pedrosa, S. F.

A formação dos futuros cirurgiões-dentistas deve ser pautada na prioridade de atenção a saúde

universal e de qualidade, com ênfase na promoção de saúde e prevenção de doenças. Além disso, as Di-retrizes Curriculares Nacionais para o curso de Odon-tologia apontam para a relação que os conteúdos curriculares devem ter com a totalidade do processo saúde-doença de todos os indivíduos da comunidade. Dentro deste contexto, é internacionalmente aceito que a promoção de saúde gera a aquisição de hábitos saudáveis. A gravidez é a fase ideal para o estabeleci-mento desses hábitos, pois a gestante mostra-se psico-logicamente receptiva em mudar padrões que prova-velmente terão influências no desenvolvimento da saúde do bebê. O início da promoção da saúde com a gestante favorece a aquisição de hábitos saudáveis para o par gestante-bebê, e, com a continuidade des-te ciclo, o resultado é a geração de saúde para a famí-lia inteira. A proposta deste trabalho foi relatar a experiência da estruturação de um programa de es-tágio curricular supervisionado voltado a esse grupo populacional, bem como apresentar os protocolos utilizados. O estágio originou-se de um projeto de extensão intitulado “pré-natal odontológico” e foi

Page 77: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 173

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

estruturado em três fases: construção conceitual, no qual os alunos entraram em contato com a contextu-alização e embasamento teórico, incluindo debates, discussões sobre protocolos de atendimento e aulas interdisciplinares; experiência de campo desenvolvi-da por meio da ação prática dos protocolos elabora-dos e; reflexão, fase em que os resultados da vivência prática foram discutidos, incluindo troca de experi-ências e avaliação das atividades. O desenvolvimento desse programa de estágio desencadeou, durante o ajuste curricular proposto pelo Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília – DF, a inclusão da disciplina obrigatória de estágio supervisionado de clínica de atendimento a pacientes portadores de necessidades especiais. Os benefícios gerados à comu-nidade cumprem a responsabilidade social como o atendimento integral e gratuito, restabelecendo saú-de para o grupo envolvido. A metodologia proposta possibilitou aos alunos e docentes uma oferta da atenção básica de melhor qualidade, por meio de procedimentos baseados em evidências científicas. Além disso, a vivência experimental permitiu conhecer a realida-de cotidiana que o futuro profissional da saúde vai lidar, consolidando habilidades e competências importantes na construção de sua identidade.

33. Brasil Sorridente: centro de especialidades odontológicas (CEO tipo III) e laboratório regional de prótese dentária (LRPD) na uNIVILLE/SC: proposta de operacionalização com parceria interinstitucionalSalles, D. F. O.*, Lopes, M. G. M., Oliveira, T. M. N., Fischer, T. K.

A necessidade de se utilizar a capacidade instalada dos Cursos de Odontologia em Universidades

comunitárias vinculadas a ACAFE, mais especifica-mente na Universidade da Região de Joinville-Univille, em projetos de extensão comunitária para atender demandas em odontologia especializada, caracteriza-se fundamentalmente em se promover parcerias inte-rinstitucionais, visando efetividade nas ações e serviços odontológicos a serem prestados aos usuários do SUS na sua microrregião de abrangência. Tal proposta vai ao encontro dos objetivos do programa Brasil Sorri-dente e da atual Política Nacional de Saúde Bucal fun-damentada nas Portarias Ministeriais da Saúde nº 74/GM/04, nº 1572/GM/04, nº 283/GM/05, nº 399/GM/06, nº 699/GM/06, nº 599/GM/06, nº 600/GM/06, e em conformidade com a Lei nº 11.107/05,

que dispõe sobre consórcios públicos. Joinville, muni-cípio em Gestão Plena, pólo de referência da região Nordeste de Santa Catarina viabilizou uma proposta de co-gestão e financiamento a fim de se operaciona-lizar a implantação de um Centro de Especialidades Odontológicas–CEO tipo III, e de um Laboratório Re-gional de Prótese Dentária, ambos no espaço físico e com apoio administrativo da UNIVILLE. O presente trabalho objetiva apresentar o detalhamento de tal proposta a fim de que a mesma possa servir de marco referencial a outras Universidades, para implantação futura de seus CEOs e LRPDs. As dificuldades e facili-dades inerentes ao seu processo de operacionalização serão apresentadas, não só no que diz respeito a rela-ção tripartite convenial, mas também, nas relações com a União e o Estado. Trata-se da formulação de um convênio entre duas instituições públicas e uma comu-nitária, com a colaboração da Secretaria Municipal da Saúde de Joinville, CIS/AMUNESC e da Univille, além da efetiva participação em investimento e custeio re-passados pelo Ministério da Saúde e Secretaria de Es-tado da Saúde. A operacionalização do CEO tipo III e LRPD da Univille apresenta características diferencia-das na prestação de seus serviços odontológicos consi-derando-se que haverá a oferta de procedimentos de outras especialidades odontológicas. Visualiza-se atra-vés do Curso de Odontologia a inserção dos alunos do 5º ano em estágios curriculares de clínica intramuro, e de sua participação no acompanhamento dos servi-ços odontológicos realizados no CEO tipo III. Conclui-se que tal proposta possibilitará a viabilização do CEO tipo III e LRPD na Univille, contribuindo para o alcance da meta nacional de expansão preconizada pelo Ministério da Saúde, evitando a inviabilização financeira por parte, tão somente, da instituição provedora (Univille) e ampliando o atendimento aos usuários da microrregião de Joinville com uma população estimada em 800.000 ha-bitantes, otimizando o uso dos recursos públicos, buscando a qualidade nos serviços prestados, possibilitando o moni-toramento de indicadores de atenção básica e objetivando-se a mudança do perfil epidemiológico de saúde bucal da po-pulação da região adstrita.

34. Atividades pedagógicas da clínica odontológica infantil: a experiência do Centro universitário Newton PaivaFernandes, M. L. M. F.*, Cruz, S. C. C., Salles, V.

Com o objetivo de se alcançar a visão integral do paciente em uma perspectiva humanista o pro-

jeto pedagógico do Centro Universitário Newton Pai-

Page 78: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

174

va adota o sistema de articulação dos conteúdos de odontopediatria e ortodontia preventiva e intercep-tativa. Desta maneira o aluno tem uma formação in-tegrada para diagnóstico e prevenção das alterações da cavidade bucal da criança e do crescimento e de-senvolvimento crânio-facial que ocorre na infância. A dinâmica curricular se integra em dois ciclos. O primeiro corresponde ao diagnóstico e plano de tra-tamento em odontopediatria e ortodontia com o ma-nejo da criança e adaptação comportamental inte-grando o conhecimento do desenvolvimento e características fisiológicas das dentições decídua, mis-ta e permanente. Trabalha-se também com as medi-das preventivas e restauradoras das distintas dentições além do conhecimento da etiologia das más oclusões. Na segunda etapa trabalha-se com a interceptação de fatores que podem levar à instalação do desequilíbrio funcional e/ou estético dos dentes e da relação inte-rarcos. Assim discutem-se traumatismos dentários, tratamentos endodônticos e tratamento das anoma-lias dentárias com recursos estéticos e protéticos para a dentição decídua além do diagnóstico e intercepta-ção de mordidas cruzadas, mordidas abertas e a in-terpretação apurada dos exames que compõem a documentação ortodôntica. Todas as atividades re-querem dos alunos ações de ensino, pesquisa e exten-são tais como trabalhos de orientação coletiva, edu-cação e promoção de saúde em campanhas realizadas em parceria com outras áreas de conhecimento como o curso de psicologia e o núcleo de humanização do trânsito. Acredita-se formar assim um profissional éti-co e integrado à sociedade além da capacitação téc-nica indispensável à arte da odontologia.Completados os dois ciclos de estudos clínicos e ortodônticos para o atendimento odontológico às crianças o aluno en-contra-se preparado para as etapas seguintes de sedimenta-ção dos conhecimentos adquiridos. Nas clínicas integradas de atenção ao paciente especial são capazes de adequar o condicionamento de crianças e executar procedimentos cura-tivos. Na clínica de ciências odontológicas articuladas VIII exercem sua capacidade diagnóstica através da triagem e encaminhamento dos próximos pacientes infantis. Na prá-tica de atenção em saúde pública durante os internatos rurais e estágios metropolitanos concluem sua formação profissional capacitando-se também ao exercício odontológi-co para a infância.

35. utilização do Projeto Homem Virtual associado a um tutor eletrônico na graduação em OdontologiaSoares, S.*, Sequeira, E., Chiquito, F., Sgavioli, C. A. P. P.

O projeto Homem Virtual, da Disciplina de Tele-medicina, da FMUSP, baseado no conceito de

objetos de aprendizagem, produz imagens com mo-vimentos de alta qualidade didática e efeitos visuais. A Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, em parceria com o Curso de Odontologia da Univer-sidade do Sagrado Coração (USC) de Bauru, desen-volveu títulos na área de Odontologia. A Articulação Temporomandibular (ATM) é um deles e tem sido utilizado no ensino de graduação. Associa-se ao CD da ATM do Homem Virtual a aula baseada no Cyber-tutor sobre Anatomia e Fisiologia da mesma. Esta aula é acessada pelo aluno de qualquer local por compu-tador com acesso à Internet. O Cybertutor é uma ferramenta interativa que permite o aprendizado de conceitos teóricos, em um modelo construtivista, o qual estimula o desenvolvimento da cognição, a ca-pacidade de expressão e síntese. Objetivou-se fazer avaliação qualitativa do aprendizado com imagens em 3D associada ao Cybertutor. O CD do Homem Virtu-al e o Cybertutor foram aplicados a 62 alunos. O CD contém a anatomia da ATM e os movimentos de late-ralidade, protrusão e abertura e fechamento. Os es-tudantes responderam a sete perguntas sobre este método de aprendizagem. Os resultados obtidos fo-ram: (1) O método foi avaliado como muito bom por 58,06% dos alunos, e como bom por 38,71%. Apenas dois alunos (3,23%) avaliaram como um método ra-zoável, e nenhum aluno avaliou como péssimo. (2) Quando perguntado aos alunos se este método pode-ria ser usado para todas as disciplinas de Odontologia, 93% responderam que sim. (3) Sobre associação ao Cybertutor, 48,39% dos alunos responderam que pre-ferem a aula tradicional quando comparada com o Cybertutor e, (4) do total de alunos, 83,87% disseram que esse método pode ser usado previamente à aula expositiva (ou aula tradicional). (5) Sobre o uso des-te método de ensino/aprendizagem, 96,77% dos alu-nos responderam que ele auxilia a aula tradicional mas não substitui a mesma. (6) Ao avaliarem a neces-sidade da presença do professor com o uso do Cyber-tutor, 50% dos alunos disseram ser mais produtivo com a presença, e 46,77% deles disseram não neces-sitar da presença do professor mas sim de suas respos-tas “on-line” e, somente um (1,61%) respondeu que

Page 79: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 175

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

não necessita do professor. (7) e 64,52% responde-ram que este era o primeiro contato com essa nova tecnologia de ensino. A possibilidade da visualização em 3D, estabelecendo cor-relações anatômicas, utilizando recursos de transparências, subtração (exclusão) e inclusão da dinâmica funcional, transforma o Homem Virtual numa nova ferramenta que transmite grande quantidade de informações num curto espaço de tempo, aumentando a possibilidade de geração de conhecimento. O desenvolvimento de modernos modelos para a educaçção interativa é bem aceito pelos alunos e demonstra novas possibilidades para o ensino de Odontolo-gia.

36. Avaliação do impacto da qualidade de vida na saúde bucal de pessoas da fila de espera para atendimento na Clínica Odontológica da universidade Estadual de montes Claros - unimontes Maia, G. C. T. P.*, Bonfim, M. L. C., Coelho, M. Q., Nadanovisck, P.

Atualmente pode-se definir saúde como “a expe-riência subjetiva de um indivíduo acerca de seu

bem-estar funcional, social e psicológico”. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a qualidade de vida relacio-nada à saúde bucal nas pessoas da fila de espera para tratamento na Clínica Odontológica da UNIMON-TES. A coleta dos dados foi realizada em 538 pacien-tes, utilizando o questionário OHIP-14 (“Oral Health Impact Profile”). A análise estatística foi realizada no programa SPSS. A maioria (67,6%) da população en-trevistada foi do sexo feminino, sendo que, 40,5% tinha somente 1º grau incompleto. A idade média foi de 31 anos (Desvio Padrão 11, mediana 30, moda 30). Para a análise do OHIP-14 foram consideradas as res-postas sempre ou repetidamente, por serem as res-postas que causam maior impacto dos problemas bucais relacionados à qualidade de vida do paciente. Em relação aos preditores da condição bucal, obser-vou-se que: 12,5% têm problemas para falar; 7,8% relacionam piora do paladar; 25,9% relacionam do-res na boca ou dentes; 33,1% relatam estarem enver-gonhados; 16,9% relatam estar irritados com outras pessoas; 18,3% relatam dificuldades na realização de suas atividades diárias; 21,1% relatam ter alimentação prejudicada; 9,1% afirmam ter que parar as refeições; 14,3% afirmam ter dificuldade para relaxar; 28,3% relatam estar incomodados ao comer; 48,1% dizem estar preocupados com condição bucal; 23% relatam sempre estar estressados; 20,9% afirmam sentir que

a vida em geral ficou pior e 10,1% responderam estar totalmente incapacitados de fazer suas atividades di-árias.Conclui-se que as pessoas que procuram tratamento odon-tológico na Unimontes têm níveis variados de impacto da saúde bucal na qualidade de vida. A informação sobre o nível desse impacto, através do OHIP-14, pode ser um au-xiliar na definição de prioridades de atendimento de forma mais justa e efetiva.

37. Perspectivas do mercado de trabalho e a visão sobre o SuS do futuro egresso de OdontologiaSales-Peres, S. H. C.*, Marsicano, J. A., Garcia, M. D., Sales-Peres, A.

As diretrizes curriculares nacionais (DCN) desta-cam que a formação do cirurgião-dentista deve

contemplar o sistema de saúde vigente no país, a aten-ção integral da saúde no sistema regionalizado e hie-rarquizado de referência e contra-referência e o tra-balho em equipe. Esta pesquisa objetivou analisar a percepção de acadêmicos de último ano de Odonto-logia, em relação ao mercado de trabalho e ao conhe-cimento sobre o SUS. Participaram da investigação 47 alunos, sendo que o instrumento de coleta de da-dos foi um questionário, contendo perguntas relacio-nando o SUS e as possibilidades de atuação no mer-cado de trabalho. Os resultados demonstraram que a maioria dos acadêmicos (57%) pretende ao final do curso de Odontologia entrar para o serviço público, embora considerem o conhecimento adquirido sobre o SUS regular ou insatisfatório. Este resultado desta-ca a mudança no perfil do futuro egresso de Odon-tologia, que na atualidade evidencia a necessidade do vínculo com o serviço público, quer seja em UBS, PSF, CEO ou em ambiente hospitalar. Em relação à utili-zação do conhecimento sobre as diferentes especiali-dades no SUS, mais de 70% afirmaram não saber aplicar os conhecimentos segmentados nas diferentes disciplinas e relacionar com a integralidade da aten-ção à saúde bucal. A implementação das DCN vem corroborar com a necessi-dade de mercado do profissional da odontologia, que solici-ta um profissional com uma visão generalista e humanista, baseada na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde bucal. O processo de ensino e apredizagem, ao utilizar diferentes cenários de aprendizagem, pode contribuir para a adequação do futuro egresso ao mercado de traba-lho.

Page 80: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

176

38. Fichas clínicas: análise do preenchimento realizado pelos alunos da disciplina CIAP IV do Curso de Odontologia da uFmGTravassos, D. V.*, Pedroso, M. A. G., Conceição, E. M. A., Ferreira, E. F.

A importância da história clínica na identificação de problemas de saúde é bem evidente na práti-

ca odontológica. O objetivo deste estudo foi identifi-car os principais problemas relacionados com o pre-enchimento da ficha clínica realizado pelos alunos do 7º período da disciplina CIAP IV (Clínica Integra-da de Atenção Primária) da Faculdade de Odontolo-gia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no segundo semestre de 2005. Um questionário, já estabelecido pela disciplina, foi aplicado como rotei-ro de avaliação e análise do preenchimento da Ficha Clínica. A análise foi realizada individualmente se-gundo os critérios estabelecidos pela disciplina. Os problemas no preenchimento que mereciam atenção e correções foram entregues por escrito a cada aluno e uma cópia foi utilizada na amostra. Os resultados mostraram que dos 57 prontuários clínicos examina-dos 39 (68,42%) não apresentavam o odontograma corretamente preenchido. Outro resultado relevante foi em relação ao atendimento e à identificação, onde o não-preenchimento do planejamento integral por escrito e a não-identificação do paciente em todas as fichas foram encontrados em 36 fichas (63,16%) e em 30 (52,63%), respectivamente. Problemas relacio-nados quanto ao correto preenchimento do Índice de Placa Visível (IPV) e cálculo de porcentagem do IPV foram registrados em 23 (40,35%); os problemas quanto ao preenchimento do Índice Comunitário de Necessidades de Tratamento Periodontal (CPITN) foram encontrados em 18 (31,58%) dos prontuários examinados.De acordo com a metodologia utilizada pode-se concluir que o preenchimento da ficha clínica realizado pelos alunos do 7º período da disciplina CIAP IV da Faculdade de Odon-tologia da UFMG apresentou problemas com características diversas e não atingiu os objetivos pedagógicos. Considera-se que, em um prontuário odontológico, o conteúdo deve ser respondido de forma simples e concisa, podendo ser utiliza-do em questões legais, considerando os fatores de risco de determinado as doenças infecciosas e relatando a história médica e odontológica do paciente.

39. A Configuração do Campo da Avaliação e seus DeterminantesCardoso, S. V.*, Lima, A. I. A. O., Scheide, T. J. F., Razaboni, A. M.

A avaliação possui sentido pedagógico, pois inte-gra o contexto do ensino-aprendizagem, em que

o aluno é encarado como sujeito do processo da edu-cação que tem em conta modificar o seu comporta-mento diante da realidade de seu meio, em especial, e de fazê-lo enxergar mais e melhor aquilo que pre-tende perceber. A avaliação consiste em um juízo de valor sobre dados relevantes para uma tomada de decisão. Estes dados relevantes são aqueles que efeti-vamente são importantes na orientação educacional do estudante. Detectamos nesta pesquisa qualitativa com 40 professores do Ensino Superior da rede pú-blica que, seja qual for a sua formação acadêmica e o nível escolar em que atua, o professor é detentor de concepção própria de avaliação que vem construindo ao longo de sua docência. Além disso detectamos que a melhor concepção e método avaliativo são, por cer-to, aqueles que oportunizam dados importantes a serem utilizados na orientação do estudante em sua trajetória educativa e que o professor não necessita se afligir pelo fato de não estar empregando à risca concepções e métodos avaliativos de renomados teó-ricos de avaliação; se a sua concepção e método de avaliação correspondem à finalidade educativa, é o que mais importa. Objetivamos tratar aqui de uma visão redimensionada em torno da concepção de ava-liação, sob o enfoque de avaliação-ensino. E o redi-mensionamento deste enfoque justamente localizou-se no contexto de unidade e simultaneidade de atuação e de intervenção, considerando-se que, tanto a avaliação como o ensino são vislumbrados como processos, não cabendo, portanto, serem encarados como agentes com dualidade, mas com complemen-taridade de ação, sem quebrar a caracterização indi-vidual de cada um. O presente trabalho veio confir-mar a convicção que estamos experienciando há muito tempo em sala de aula de que a avaliação é concebida como processo, é ensino por excelência. Assim sendo, o ensino e a avaliação como processos mantêm simultaneidade e concomitância de ação, de intervenção e de efeito, pois ensinando, avalia-se e avaliando, ensina-se, ao mesmo tempo, sem prejuízo das peculiaridades inerentes a cada um. Por isso mes-mo, reafirmando, o processo de avaliação ocorre no ensino como que por osmose, constituindo igualmen-te ensino por excelência.

Page 81: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 177

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

Como conclusões podemos acentuar a formulação de dife-rentes instrumentos, bem como a utilização de dados quan-titativos para a identificação do nível de qualidade do en-sino e da aprendizagem dos alunos, que continuam a ser bem aceitos como agentes e elementos auxiliares do ensino-aprendizagem, inseridos no ambiente de verificação e não no da avaliação.

40. Importância da Política de Extensão universitária para o desenvolvimento das atividades de Estágio Curricular SupervisionadoWerner, C. W. A.*, Marchese, M. P., Azevedo, M. T. O., Madeira, M. C.

O grande paradigma da Universidade é produzir conhecimentos e efetivamente torná-los acessí-

veis aos mais variados segmentos da sociedade, en-frentando o desafio de tornar indissociável a teoria da prática e fazendo a pesquisa e a extensão articula-rem-se com o ensino, em um processo dialético que exige constantes retomadas a partir da reflexão da ação. A extensão possibilita a articulação do saber existente na sociedade com o saber sistematizado na academia favorecendo a construção de parcerias com segmentos da sociedade, que, por fatores políticos, econômicos e éticos, não podem ser ignorados pela Universidade. Uma das estratégias utilizadas pela uni-versidade para concretização da integração universi-dade-sociedade e o desenvolvimento de atividades de serviços de grande alcance social é a efetiva imple-mentação das atividades de Estágio Curricular Super-visionado. Esta atividade acadêmica constante da es-trutura curricular do curso, desenvolvida segundo os parâmetros das demandas institucionais, legais e pe-dagógicas, serve como instrumento de integração do aluno com a realidade socioeconômica e cultural da região a partir do referencial da atividade profissional que ele irá exercer. Esta apresentação visa ilustrar atividades de Estágio Supervisionado Curricular de-senvolvidas no Curso de Odontologia, Faculdade de Odontologia de Lins, no contexto da Política de Ex-tensão da Universidade Metodista de Piracicaba. De-poimentos de professores e imagens dos trabalhos desenvolvidos são apresentados, valorizando o diálo-go entre o Currículo do Curso de Odontologia e a Política Acadêmica da Universidade e integrando conceitos que ainda parecem pouco sistematizados e sedimentados pela academia. Concluímos que os Estágios Curriculares Supervisionados são grandemente enriquecidos quando baseados numa Polí-

tica Acadêmica que valoriza a extensão. O modelo extensio-nista é de fundamental importância para a valorização do estágio pela comunidade, pelos acadêmicos e docentes. Este modelo se mostra como uma alternativa pedagógica e huma-nística mais enriquecida quando comparada aos Estágios oferecidos num modelo eminentemente assistencialista.

41. O cuidado domiciliar em odontologia: articulações entre educação, formação e trabalho Rendeiro, M. M. P.*, Bastos, L. F., Herdy, A. L.

O projeto político de transformação das práticas em saúde, baseado no modelo de atenção do

Sistema Único de Saúde e pressupostos da promoção à saúde, tem conduzido à necessidade de reorganiza-ção dos serviços de saúde e das instituições formado-ras de recursos humanos, para avançar na construção de saberes e práticas necessárias à identificação de riscos e resolução de problemas, que garanta a quali-dade de vida e autonomia dos sujeitos. Para a supera-ção do modelo de atenção centrado na doença e construção de um modelo baseado na promoção da saúde, diversas estratégias têm sido utilizadas, espe-cialmente as articulações ensino-serviço, que consti-tuem-se em espaço de co-responsabilização entre os atores envolvidos na produção do cuidado. Nesse mo-vimento, a UNIGRANRIO estabeleceu parceria com a Prefeitura Municipal de Duque de Caxias, para a construção coletiva do processo de trabalho de uma área do Programa Saúde da Família (PSF), assumindo o cuidado domiciliar e possibilitando a integralização do processo ensino-aprendizagem no contexto da realidade. O trabalho desenvolve-se semanalmente, por meio das visitas domiciliares, com a participação de duas professoras, dez alunos, uma agente comuni-tária de saúde e uma atendente de consultório den-tário. As atividades envolvem cadastramento das fa-mílias, identificação dos riscos e agravos, educação em saúde, levantamento epidemiológico, medidas preventivas individuais e coletivas, tratamento restau-rador atraumático e encaminhamento para Unidade Básica de Saúde da Família. Os alunos desenvolvem projetos de pesquisa com aplicabilidade no processo de trabalho da Unidade Básica do PSF. Esta experiência tem permitido, além do fortalecimento da articulação ensino-trabalho, a construção de um modelo de prática que privilegia a promoção da saúde, a humanização da atenção, o diálogo entre profissionais dos serviços e da academia, possibilitando nos acadêmicos o desenvolvimen-to de habilidades necessárias para o cuidado em saúde.

Page 82: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

178

42. Educação continuada na odontologia: a iniciativa de atualização promovida pela uFSCCosta, F. O. C.*, Fadel, M. A. V., Pietrobon, L., Regis-Filho, G. I.

A alta competitividade da força de trabalho atual exige que os profissionais estejam cada vez mais

aptos para a criação, resolução e tomada de decisões frente às dificuldades e aos obstáculos enfrentados no dia-a-dia. Para tanto, torna-se imprescindível o desen-volvimento de programas de educação continuada, os quais visam a melhoria da qualidade da assistência, promovendo oportunidade de ensino, mediante o desenvolvimento da capacidade profissional. No con-texto da odontologia atual, os programas de educação continuada têm por objetivo estabelecer condições e oferecer oportunidades para a contínua formação profissional, com abordagem dos temas atuais, agu-çando o pensamento crítico da comunidade odonto-lógica. Uma das formas de se realizar esse tipo de atividade é o fornecimento de Cursos Modulares de Atualização em Odontologia destinados para os Ci-rurgiões-dentistas. Desta forma, o Departamento de Estomatologia da Universidade Federal de Santa Ca-tarina (UFSC) oferece o Curso Modular de Atualiza-ção em Odontologia, totalmente gratuito e ministra-do por professores pertencentes ao quadro docente da UFSC, desenvolvido em 13 módulos mensais com duração de 6 horas cada um. O profissional interes-sado possui a liberdade de se matricular em um ou mais módulos, sendo que aquele que freqüentar to-dos os módulos ao final do curso recebe um certifica-do de Atualização em Odontologia num total de 80 horas. O conteúdo modular contempla a temática de diversas áreas e especialidades da odontologia, que tratam de tecnologias emergentes e alternativas dis-poníveis na atualidade. O principal objetivo dessa iniciativa é promover a educação continuada dos cirurgiões-dentistas, bem como, aproximar a comunidade odontológica da universidade.

43. A inserção da Odontologia no ensino do Hospital universitário da uSPAraujo, M. E.*, Pereira, P. R. B., Crivello Junior, O.

O processo de formação não ocorre somente nos espaços intramurais escolares, acontece em múl-

tiplos espaços, assim como são múltiplas as aprendi-zagens que ocorrem em cada um desses espaços. O que define o sentido da formação profissional é, pre-

dominantemente, a relação que se estabelece nos espaços nos quais se materializa a educação. Para dis-cutir as possíveis relações entre espaço e aprendiza-gem, o estudo tomou para análise atividades de ensi-no junto ao hospital universitário (HU-USP) realizadas por diferentes escolas da área de saúde da Universi-dade, buscando compreender como estas experiên-cias podem contribuir para o desenvolvimento de aprendizagens plurais, extrapolando o limite das pu-ramente instrumentais/técnico/científicas, hegemo-nicamente demandadas pelos currículos de formação de profissionais de saúde. Com o objetivo de observar em que medida a “saída” da universidade do seu es-paço físico/acadêmico para outros espaços pode con-tribuir para a transformação das formas tradicionais de currículo, pudemos verificar que são múltiplas as possibilidades de inserção do aluno da Odontologia: diferentes formas de estágios curriculares, disciplinas oferecidas pelo próprio hospital e seminários de in-tegração. É um excelente cenário para se ministrar semiologia médica, propedêutica, noções de suporte básico de vida e princípios de odontologia hospitalar. Em momentos interdisciplinares, o HU pode ser uma instituição essencial para a complementação do ensi-no e melhorar a formação geral do estudante de Odontologia. Dentro do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, a Faculdade de Odonto-logia da USP só perde, em números de alunos que lá praticam suas atividades de graduação, para os cursos de Medicina e Enfermagem, tendo então uma expres-siva participação nas atividades de ensino daquela instituição hospitalar.A força e o valor estratégico de espaços diferenciados de aprendizagem que, ao serem vivenciados, ativam o potencial transformador dos sujeitos implicados, são vertentes ofereci-das pelo Hospital Universitário (HU) da USP, como uma ótima oportunidade para os alunos de Odontologia desen-volverem habilidades e competências que não seriam possí-veis dentro dos muros da faculdade. Apesar de boa partici-pação da Odontologia em suas atividades de ensino, esta deve ser mais incentivada.

44. A Biossegurança como um novo paradigma no ensino odontológico brasileiroÁvila, L. F. C.*, Schroeder, M. D. S., Cyrino, L. C. R., Cordeiro, M. C. B.

Com o advento da moderna tecnologia florescen-do na área odontológica, tornou-se necessário

para o conhecimento dos profissionais da saúde saber

Page 83: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 179

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

como trabalhar dentro dos princípios e normas da biossegurança, a qual vem sendo definida como um “conjunto de ações voltadas para prevenção, minimi-zando ou eliminando os riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tec-nológico e prestação de serviços, os quais podem comprometer a saúde do homem, dos animais, o meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvi-dos”. Ainda estabelece os padrões aceitáveis de segu-rança no manejo de técnicas e produtos biológicos. Estes conceitos de riscos mudaram as atividades labo-ratoriais, físicas e radioativas e ergonômicas, as quais se integraram aos riscos ambientais, ao desenvolvi-mento sustentado e à preservação da biodiversidade. A biossegurança como ciência multidisciplinar intro-duzida nos currículos odontológicos na última déca-da visou prevenir e minimizar os riscos, dando a todos os membros da área da saúde uma bateria de barrei-ras de proteção na prevenção de doenças ocupacio-nais. Para que seja estabelecido o cumprimento das normas universais de biossegurança nos estabeleci-mentos da área da saúde (públicos ou privados) é necessário que todas as pessoas que trabalham ou freqüentam serviços odontológicos estejam cientes e prevenidas da grande variedade de microorganismos a que estão expostas provenientes da saliva ou de san-gue dos pacientes, os quais podem ser causadores de doenças infectocontagiosas como herpes, gripe, tu-berculose, hepatite e Aids. Hoje, se faz presente nas instituições públicas ou privadas uma equipe de bios-segurança ligada à vigilância sanitária que fiscaliza as atividades desenvolvidas nas clínicas quanto ao cum-primento das normas universais de biossegurança para permitir um funcionamento seguro tendo como responsabilidade de cada um o dever de todos com relação à saúde dos pacientes. Atualmente, na maioria das faculdades de odontologias brasileiras são exigi-das, para a matrícula dos alunos do primeiro ano de graduação, as vacinas contra hepatite B, tétano e ru-béola. Isto veio comprovar que o controle da infecção na odontologia passou a ser encarado como vital para segurança do profissional e da população.O conhecimento e o cumprimento das normais universais de biossegurança nos traz total consciência para desenvolver os trabalhos do dia-a-dia sem riscos ou complicações para nossa saúde estabelecendo o mais alto respeito absoluto pelos nossos pacientes. Este novo paradigma da biossegurança na odontologia anunciou ao mundo globalizado que não se poderia fazer mais odontologia sem o conhecimento, cum-primento e gerenciamento das normais universais de bios-segurança.

45. A Formação do Dentista no Contexto do Século XXI: a pesquisa como princípio pedagógicoCardoso, S. V.*, Moretti, L. H. T., Panzeri, H., Lima, A. I. A. O.

Esta pesquisa realizada em 2004 tratou do momen-to em que estamos vivendo uma transição para-

digmática. Objetivamos verificar como o profissional do século XXI deve ser preparado para enfrentar es-tas novas mudanças em um curso de odontologia de uma Universidade do Estado de São Paulo no Oeste Paulista. Os sujeitos da pesquisa qualitativa e quanti-tativa foram 60 professores escolhidos aleatoriamente num universo de 100 professores, que foram subme-tidos a entrevistas semi-estruturadas. Os teóricos es-colhidos para fundamentar a presente investigaçao foram: Edgar Morin, Paulo Freire, Pedro Demo e Do-nald Schön.Como conclusões da presente pesquisa pontuamos: O aluno deve saber fazer e refazer soluções; o processo educativo vi-venciado em nossas universidades muitas vezes tem se sus-tentado numa prática docente tradicional, concebendo o aluno como receptor de conteúdos prontos e acabados; esta prática dificulta o autêntico pensar, priorizando a reprodu-ção em detrimento das idéias; o processo educativo ultrapas-sa os limites de reprodução, fundamenta-se na criatividade e estimula a ação-reflexão, formando assim como apresenta Schön, o profissional reflexivo. Nesta concepção de educação o estudante sente-se desafiado a explorar e aprofundar seu conhecimento, a questionar e a reconstruir o conhecimento já difundido. A pesquisa como princípio pedagógico, pro-posta por Demo, é uma das formas para que se concretize tal pressuposto. Este trabalho pretende analisar as diretrizes que podem ser assumidas como referenciais para a formação de um profissional de Odontologia do Século XXI ,identifi-car exigências que se colocam para um profissional desta área e analisar a pesquisa como princípio pedagógico na formação dos futuros odontólogos.

46. um olhar para além dos muros da universidade: estágios extramuros – aprendizado interdisciplinarSalles, D. F. O.*, Vizzotto, D., Schramm, C., Kricheldorf, F.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (2002) apon-tam para a necessidade de adequar os Cursos de

Graduação, formando profissionais com perfil para atuar em serviços públicos - Sistema Único de Saúde (SUS). Este é o grande desafio que enfrentam univer-

Page 84: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

180

sidades, corpo docente, corpo discente e sociedade como um todo: transformar a prática vigente, indivi-dual, curativista e fragmentada, no Modelo de Aten-ção Integral, de promoção de saúde, cujo enfoque é a abordagem coletiva e interdisciplinar. Vale ressaltar aqui, a Estratégia de Saúde da Família, que visa des-pertar o acadêmico para uma prática social compro-metida em melhorar a qualidade de vida da popula-ção, onde a Universidade está inserida. Neste contexto, o Projeto Político Pedagógico - Curso de Odontologia da UNIVILLE visa o perfil do “profissio-nal generalista com sólida formação técnica-científi-ca, humanística e ética, orientada para a promoção da saúde com ênfase na prevenção de doenças bucais prevalentes”. Nos primeiros quatro anos do curso, as disciplinas procuram, em suas várias atividades peda-gógicas, contextualizar o ensino, de uma maneira com que o aluno apreenda a integralidade de suas ações de promoção de saúde. No 5º ano, com o intui-to de fundamentar o conhecimento do processo saú-de-doença e de conhecer o atendimento interdisci-plinar da odontologia em situações cotidianas, a Disciplina de Estágios Extramuros proporciona ao acadêmico a vivência além dos muros da Academia. O estágio é desenvolvido em parceria com o Setor Público/Privado, o que permite uma experiência ím-par na formação do perfil do futuro profissional. Atu-almente, está estruturado nos seguintes Módulos: Estratégia Saúde da Família, Unidade de Atenção Bá-sica, Atenção ao Portador de Fissura Lábio-Palatal (Centrinho), Ancianato Bethesda – Atenção ao Idoso Institucionalizado, Comunidades Isoladas (Vila da Glória - SC) e Traumatologia Hospitalar. A periodici-dade dos estágios é semanal, durante 05 semanas e em grupos de 04 a 06 alunos. A metodologia de rodí-zio permite a experiência em todos os Módulos, sem-pre acompanhada por professor orientador do qua-dro docente do curso. Os estágios propiciam ao aluno a prática efetiva da promoção de saúde em várias áre-as da Odontologia. Ele atua em conjunto com outros profissionais da saúde, tendo uma visão de atenção integral e interdisciplinar ao paciente, onde a univer-sidade, como promotora de conhecimentos, propicia ao aluno a experiência de “aprender a apreender”, tornando-o agente transformador.

47. Projetos de Extensão - Faculdade de Odontologia - uPFLinden, M. S. S.*, Mendes, G. L., Carlini Junior, B., Silva, S. O.

A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a

pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a comunida-de. A Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo, baseada nesta concepção transforma-dora, criou o NOC (Núcleo de Odontologia Comu-nitária) que se propõe a apoiar os projetos comuni-tários da escola especialmente aqueles cujo caráter filantrópico manifesta-se com absoluta objetividade. Para a consecução dos objetivos propostos a Faculda-de de Odontologia a exemplo do que faz a Universi-dade de Passo Fundo, apóia-se nos princípios da democratização, do conhecimento, auto-sustentabili-dade, articulação com o ensino e a pesquisa, processo pedagógico participativo, interdisciplinariedade e relevância social dos seus projetos, buscando indica-tivos dos impactos e/ou mudanças produzidas pelas ações. Um grupo de professores e acadêmicos, com o intuito de desenvolver atividades comunitárias e sociais, fomentam parcerias com outras instituições que já atuam na área, motivando os acadêmicos e professores para o trabalho voluntário, preventivo e social, ampliando desta forma a participação das dis-ciplinas do curso, criando futuros espaços para está-gios curriculares e extra-curriculares para os estudan-tes de graduação. Todo este trabalho constitui-se também em rico material de divulgação e esclareci-mento à população em geral, sobre o tema saúde oral.Conclui-se que as atividades filantrópicas desenvolvidas vêm produzindo resultados significativos, cujas caracterís-ticas têm sido, fundamentalmente, proporcionar, a boa parte da população, atendimento educativo com cunho pre-ventivo e restaurador, melhorando-se assim suas condições de saúde geral.

48. mudanças na formação do cirurgião-dentista: revelando o significado expresso pelos sujeitos do processoUriarte Neto, M.*, Bottan, E. R.

A partir da instituição das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), em substituição aos Currícu-

los Mínimos, as disciplinas obrigatórias deixam de existir e surgem as diretrizes curriculares que indicam os norteadores de conteúdos, habilidades e compe-tências que visam à formação de um profissional vol-tado ao sistema nacional de saúde. A proposta das DCNs vai de encontro ao paradigma hegemômico e, ainda, vigente no ensino odontológico, que se carac-

Page 85: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 181

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

teriza por: valorização da especialidade, uso excessivo da tecnologia, atendimento individualizado e voltado às práticas curativas. A superação deste paradigma, segundo as diretrizes, requer o direcionamento das práticas com base na compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, éticos do proces-so saúde-doença, nos níveis individual e coletivo. O trabalho em equipe multiprofissional, a integração do sistema de ensino com o de assistência à saúde, com ênfase no SUS e a responsabilidade pela popu-lação, também, são aspectos ressaltados. A intenção sobre a formação do novo profissional da odontolo-gia, evidenciada pelas DCNs, está amplamente divul-gada nos cursos, no entanto, ficam questionamentos: Como mudar? De que forma as DCNs têm sido incor-poradas no fazer pedagógico? Será que todos conhe-cem e entendem a importância das DCNs? A compre-ensão sobre a intencionalidade das DCNs tem se dado de modo único ou há distintas interpretações? Os professores percebem que as DCN implicam numa mudança do fazer pedagógico e da prática odontoló-gica? Acreditamos que estas, e outras questões, tam-bém são formuladas por colegas de outras instituições de ensino e de serviços e entendemos que o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) seja mais uma estratégia de apoio para a formulação de respostas a estas indaga-ções. A meta deste Programa é instrumentalizar os futuros profissionais para que trabalhem em sintonia com as necessidades sociais, considerando a proposta de hierarquização das ações de saúde. No entanto, não se pode cair nas garras da ingenuidade, acredi-tando que a mudança aconteça automaticamente desde o momento que uma estratégia é adotada. A mudança depende do processo de tomada de cons-cientização de todos os envolvidos e da sinergia entre agência formadora e sistema municipal de saúde. É neste sentido que se direciona esta investigação. Con-siderando-se que o curso de Odontologia da UNIVA-LI integra o grupo de escolas apoiadas pelo Pró-Saú-de, definiu-se identificar, junto ao professores e acadêmicos, qual é o significado da proposta de mu-danças na prática odontológica apontadas pelas polí-ticas públicas em relação ao sistema de saúde e sistema formador. A pesquisa está na fase da coleta de dados e pretende-se que seus resultados forneçam indicadores para o desenvolvimen-to das ações definidas no planejamento das estratégias para as mudanças segundo os três eixos do Pró-Saúde.

49. Atualização didático-pedagógica e técnica para professores do Curso de Odontologia - uNISCReis, M. S.*, Marques, B. B., Gonçalves, E. M. G., Sebastiany, G. D.

Considerando que o corpo docente do Curso de Odontologia da UNISC, de uma forma genera-

lizada, foi formado pelos padrões tradicionais de en-sino, ou seja, visão fragmentada através das disciplinas e especialidades, é difícil propor mudanças didático-pedagógicas que se adeqüem às Diretrizes Curricula-res Nacionais (DCNs), sem antes oferecer oportuni-dades de capacitações. Dessa forma a Coordenação do Curso de Odontologia da UNISC juntamente com a Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) propôs ao corpo docente uma atualização dos conhecimentos didático-pedagógicos e técnicos do referido curso, bem como a troca de experiências sobre ensinar/aprender/avaliar nas situações de estágios. Inicial-mente foi elaborado um programa de atividades para atender dois referenciais na construção do conheci-mento que é a ação pedagógica e a abordagem técni-ca das principais áreas da odontologia. Nesse sentido foi proposto o desenvolvimento de cinco encontros denominados de etapas. Cada encontro foi planejado com duração de três horas sendo uma hora destinada ao tema da área pedagógica e duas destinadas à área técnica da odontologia. Os temas abordados da área pedagógica foram: Construção do Conhecimento, Interdisciplinaridade, Métodos e Técnicas de Ensino e Avaliação. Na área técnica odontológica os temas abordados foram: Dentística, Endodontia, Cirurgia, Prótese e Periodontia. Os encontros proporcionaram um espaço de troca de experiências e socialização dos conflitos e conquistas assim como reflexões que con-tribuem para a busca constante da integralidade no ensino da odontologia, além de possibilitar a partici-pação dos docentes no Programa de Formação Peda-gógica Continuada da Instituição.O curso de atualização didático-pedagógica e técnica para os professores do Curso de Odontologia – UNISC, veio con-tribuir para o processo de reorientação profissional proposto para a área da saúde, pois mostrou-se como uma atividade importante para possibilitar que seus participantes estives-sem em melhores condições para atuarem nos estágios super-visionados, ou pelo menos mais preparados para prestarem um atendimento integral, contínuo e resolutivo à comuni-dade.

Page 86: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

182

50. modalidade Semi-presencial: uma estratégia de ensino-aprendizagem inovadora num curso de OdontologiaFuscella, M. A. P.*, Moura, L. M., Oliveira, M. F. J., Fernandes, T. G.

As Diretrizes Curriculares Nacionais orientam as competências e habilidades gerais que devem ser

desenvolvidas na formação de profissionais da área da saúde; entre elas, o desenvolvimento das compe-tências relacionadas à educação permanente em saú-de, envolvendo o aprender a aprender; a comunica-ção sob as suas diversas formas, verbais e não verbais e a formação de lideranças para o trabalho em equipe. Diante disso, a Universidade Potiguar implantou dis-ciplinas com carga horária para atividades semi-pre-senciais, como estratégia inovadora de ensino-apren-dizagem, na perspectiva de desenvolver, nos estudantes, as referidas competências. Nessas discipli-nas os alunos estão tendo a possibilidade de conhecer melhor os problemas de saúde da população, de dis-cutirem e compreenderem o conceito ampliado de saúde, a promoção da saúde e a integralidade do cui-dado em saúde. A metodologia da disciplina vem estimulando os estudantes à realização de pesquisas, à educação a distância, prepa-rando-os a aprender continuamente, além de possibilitar a experiência do trabalho em equipes.

51. Interdisciplinaridade no atendimento a Pacientes com Necessidades Especiais - FO - uNIARARASUemura, S. T.*, Alkmin, Y. T., Souza, P. C., Silva, S. P.

Considerando as particularidades que envolvem a abordagem de pacientes com necessidades es-

peciais, a Faculdade de Odontologia-UNIARARAS juntamente com a Faculdade de Fisioterapia-UNIA-RARAS desenvolvem dentro da Disciplina de Odon-tologia para Pacientes com Necessidades Especiais um atendimento interdisciplinar com o intuito de possibilitar a esses pacientes tratamento odontológi-co e autonomia para a realização de cuidados bucais. Inicialmente, alunos da Fisioterapia, mais familiariza-dos ao atendimento de pacientes com necessidades especiais, participam de “Dinâmicas de Grupo” com os alunos do 7º e 8º períodos de Odontologia para que esses compreendam e vivenciem as particularida-des que cercam o atendimento odontológico a pa-cientes com necessidades especiais: dificuldades de

comunicação, higienização bucal, locomoção, posi-cionamento na cadeira odontológica, compreensão e de contenção de movimentos involuntários. O tra-tamento odontológico dependendo das condições gerais e bucais do paciente pode ser realizado em ambiente ambulatorial ou hospitalar. Na clínica, os pacientes são dessensibilizados para o tratamento por meio de técnicas de manejo comportamental. O po-sicionamento para tratamento e a contenção física, quando necessária, são realizados sob orientação da Fisioterapia que, através desse trabalho conjunto, de-tecta as dificuldades motoras do paciente e juntamen-te com a Odontologia realiza adaptações em escovas dentais, de forma a proporcionar independência na realização da higiene bucal. Em ambiente hospitalar os alunos têm a possibilidade de receber o treinamen-to para o tratamento odontológico sob anestesia geral e também estabelecerem a interação com a equipe médica. A disciplina proporciona ao aluno de Odontologia o treina-mento e formação para o atendimento ambulatorial e hos-pitalar de pacientes com necessidades especiais além da possibilidade do aprendizado do trabalho interdisciplinar aos alunos dos dois cursos envolvidos.

52. Saúde Bucal para Portadores de Necessidades Especiais: uma experiência interdisciplinar na formação em Odontologia Moura, L. M.*, Fuscella, M. A. P., Solano, M. C. P., Maia, N. G.

No Brasil, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, 10% da população é constituída por

pacientes especiais. O atendimento odontológico para portadores de necessidades especiais sempre consistiu em dificuldades devido ao despreparo dos cirurgiões-dentistas. Conhecendo-se a insuficiência da assistência odontológica oferecida aos pacientes especiais do RN, e as conseqüências advindas devido ao modelo cirúrgico-restaurador adotado pela maio-ria dos profissionais, dentro de uma lógica que não promove saúde, e sensibilizados com essa realidade, um grupo multidisciplinar de professores do curso de Odontologia da Universidade Potiguar criou, no ano de 2001, um projeto de extensão denominado Serviço de Atenção Odontológica para Portadores de Necessidades Especiais, do qual participam alunos a partir do 7º período. Este projeto tem como principal objetivo preparar alunos quanto a compreensão e fundamentação dos conhecimentos técnico-científi-

Page 87: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 183

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

cos direcionados a assistência odontológica dos pa-cientes especiais, formando-os profissionais mais competentes, capacitados e aptos para promoverem a saúde bucal destes pacientes. O projeto atende pa-cientes dos cursos de Fonoaudiologia, Terapia Ocu-pacional, Fisioterapia e Psicologia da Universidade, bem como advindos da demanda espontânea. O es-tudante além de adquirir conhecimentos teóricos, também realiza atividades educativas, preventivas e tratamento curativo em nível ambulatorial, num tra-balho multidisciplinar, buscando a integração pa-ciente-família-profissional para o cuidado integral à saúde. Há, ainda, integração junto a alunos e profes-sores de outros cursos para estudos dos casos e troca de experiências, realização de pesquisas e apresenta-ção de trabalhos em congressos. Observa-se que o projeto vem contribuindo para uma forma-ção mais humanística do cirurgião-dentista, tornando-se uma referência no Estado, tanto pela procura de pacientes, quanto pelo encaminhamento de profissionais dos serviços de saúde, além de oportunizar ao estudante vivenciar um trabalho em equipe interdisciplinar durante o seu processo de formação.

53. Saúde Bucal para Gestantes e Bebês: a experiência do estágio extramuros de um curso de Odontologia Moura, L. M.*, Fuscella, M. A. P., Oliveira, M. F. J., Fernandes T. G.

A Odontologia, mudando o seu paradigma, ado-tou a filosofia preventiva e educativa, objetivan-

do alcançar a manutenção da saúde bucal. Assim, programas de educação em saúde bucal têm concen-trado esforços na inclusão de atitudes preventivas, favorecendo a difusão de comportamentos saudáveis no ambiente familiar. Neste contexto, faz-se necessá-rio o atendimento multidisciplinar às gestantes, onde o cirurgião-dentista atua em conjunto com o obstetra fornecendo informações à futura mamãe, redefinin-do os padrões de atendimento em um controle pre-ventivo amplo, tendo em vista a promoção de saúde do binômio mãe/filho. Devido à escassez de uma atenção odontológica às mulheres gestantes, princi-palmente em bairros mais carentes, bem como aos seus bebês após o parto, na condição de mantê-los livre de problemas bucais e ainda devido ao pouco preparo dos dentistas para essa prática, a Universida-de Potiguar, em parceria com uma ONG - Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição, implan-tou um Programa chamado “Pré-natal Odontológico

e Atenção Odontológica para Bebês”, no qual profes-sores e alunos do curso de Odontologia da disciplina Estágio Extramuros realizam atendimento odontoló-gico às grávidas do bairro de Mãe Luíza/Natal/RN, estendendo esse atendimento aos bebês que estas grávidas pariram, até completarem 03 anos de ida-de. Este trabalho vem capacitando os alunos para atuarem junto às gestantes, preparando-os para participar de equipes multiprofissionais que realizam atendimentos às mulheres grávidas e aos seus bebês, bem como os insere no contexto educativo-preventivo, estimulando-os a adotarem o para-digma odontológico da promoção da saúde.

54. Processo de construção do novo currículo da Faculdade de Odontologia da uFGLeles, C. R.*, Nunes, M. F., Queiroz, M. G., Marcelo, V. C.

Mudanças nos cursos de graduação no Brasil fo-ram determinadas pela Lei 9.394/96 (LDB),

que estipulou como competência do curso a elabora-ção do seu projeto pedagógico com a participação do corpo docente. Nos cursos de Odontologia esta de-terminação foi especificada nas Diretrizes Curricula-res Nacionais para os Cursos de Graduação em Odon-tologia (DCN) de 2002. Neste ano, a Universidade Federal de Goiás (UFG) aprovou Regimento Geral dos Cursos de Graduação (RGCG). Atendendo às determinações da LDB modificou modelo curricular de seus cursos, tendo como princípios gerais indisso-ciabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, ar-ticulação entre teoria e prática, atuar na realidade regional, maior autonomia e flexibilidade, mudança de regime anual para semestral e novo sistema de controle acadêmico. Ainda em 2002 iniciaram as pri-meiras discussões para reestruturação curricular na Faculdade de Odontologia da UFG (FO/UFG), pro-cesso que se fortificou a partir de 2004 com a amplia-ção da Comissão de Reforma Curricular, da qual participaram docentes, alunos e técnico-administra-tivo. O objetivo desse trabalho é apresentar a estrutu-ra curricular do curso de Odontologia da UFG, res-saltando pontos mais relevantes, dificuldades encontradas e perspectivas futuras. Finalizado em 2005, procurou atender o RGCG, as DCN e as deter-minações do Ministério da Saúde para os cursos da área da saúde. A proposta curricular teve como prin-cípios gerais: integralidade da atenção, interdiscipli-naridade, integração de conteúdos, aproximação da

Page 88: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

184

teoria e prática e do ciclo básico e clínico. A imple-mentação dessa estrutura se iniciou no primeiro se-mestre do ano de 2006 paralelamente à continuação do antigo currículo. Dentre os obstáculos para a ela-boração dessa proposta curricular observa-se a neces-sidade de uma reforma que contemple a superação do velho visando a construção do novo, buscando quebrar paradigmas estabelecidos, implementar for-mação docente que viabiliza a adoção de práticas inovadoras, superando a visão mecanicista, tecnicista e centrada nos aspectos biológicos, o apego à organi-zação compartimentalizada, fragmentada e discipli-nar e o desconhecimento do SUS por parte dos en-volvidos no processo. Outro obstáculo a ser superado é o pouco envolvimento de parcela considerável dos docentes e a dificuldade em administrar e aceitar si-tuações de mudança. Dentre os avanços alcançados destaca-se a disponibilidade de disciplinas afins tra-balharem de forma integrada, fortalecimento das ações de saúde coletiva distribuindo sua atuação de forma mais homogênea durante o curso, criação de disciplinas que integram o ciclo básico e clínico.Neste contexto as perspectivas da implantação são otimistas, tendo em vista a inclusão do curso no Pró-Saúde, as con-quistas alcançadas com a implantação deste primeiro semes-tre e a nomeação da Comissão de Ensino pela direção desta unidade, ações que se articulam visando mudanças no per-fil do egresso de Odontologia e qualificação do corpo docen-te.

55. O Professor na percepção do Acadêmico do Curso de OdontologiaSaliba, N. A.*, Moimaz, S. A. S., Saliba, O., Bino, L. S.

O Sistema de Ensino Superior tem passado por inúmeras mudanças, sendo um grande desafio

adequar o conceito educacional previamente estru-turado ao posicionamento atual. Essa nova direção do processo de ensino-aprendizagem requer redefi-nições de metodologias estabelecidas e um ambiente de aprendizagem novo, onde o professor assume im-portante papel, possibilitando uma formação profis-sional mais concreta e contextualizada com os reais problemas brasileiros, formando um profissional ci-dadão. O curso de Odontologia da FOA-UNESP pas-sa atualmente por um processo de reestruturação visando atender às Diretrizes Curriculares Nacionais. A Comissão Permanente de Avaliação da UNESP re-alizou um processo de avaliação institucional abran-gendo as dimensões de ensino, pesquisa, extensão e

administração. O objetivo deste estudo é apresentar os dados desta avaliação referentes à Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP com relação ao perfil docente na percepção dos acadêmicos regular-mente matriculados na instituição (n = 367). O ins-trumento utilizado foi um questionário, no qual o aluno expressava suas opiniões de acordo com o grau de concordância, em três categorias: Concorda (C), Indeciso (I) e Discorda (D). Este possibilitou captar informações pertinentes ao processo ensino-aprendi-zagem, enfatizando questões relacionadas ao papel do docente. Para criação de um banco de dados e análise estatística utilizou-se o Epi Info 3.2. Os resul-tados mostraram que 75,2% dos discentes concordam que os professores são bons exemplos, 7,9% discor-dam. A maioria dos graduandos entrevistados, 86,6%, concordou que os professores são reconhecidos, 7,6% mostraram-se indecisos e 5,8% discordaram. Com relação às críticas recebidas pelos professores, 65,1% concordam que elas são construtivas, 16,3% ficaram indecisos e 18% não concordam. No que diz respeito ao preparo do professor para dar aulas, 73,3% concordam que os mesmos estão bem prepa-rados, 10,4% ficaram indecisos e 9,2% não concorda-ram. Dentre os entrevistados, 39,8% afirmam que o ensino está muito centrado no professor, 28,9% fica-ram indecisos e 23,4% não concordam. Na afirmação de que os alunos possuem participação ativa, 51,2% concordam, porém 31,1% discordam e 17,7% fica-ram indecisos. Boa parte dos alunos, 35,1% concor-dam que os professores fornecem “feedback” aos es-tudantes, mas 29,4% discordam, enquanto 23,2 não têm certeza.Conclui-se que o acadêmico de odontologia avalia de forma satisfatória seu corpo docente, no entanto, ressalta-se que há necessidade de adequações, especialmente com relação à mudança do modelo de ensino centrado no professor para um modelo centrado no aluno, além da necessidade de maior “feedback” para os alunos.

56. O Processo Ensino-Aprendizagem: uma percepção do Graduando de OdontologiaSaliba, N. A.*, Garbin, C. A. S., Saliba, O., Bino, L. S.

O aprendizado é um processo contínuo que se inicia ao nascimento e que induz o ser humano

a adquirir novas condutas de pensamento e compor-tamento. Na universidade não é diferente constituin-do-se parte essencial dessa constante aprendizagem,

Page 89: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 185

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

norteando o ser humano em sua formação profissio-nal. O curso de Odontologia da FOA-UNESP realiza-do em 4 anos constitui-se por disciplinas com regime anual, e passa atualmente por um processo de rees-truturação para atender às Diretrizes Curriculares Nacionais. Nesse contexto, a avaliação do ensino as-sume papel importante, pois fornece informações fundamentais para o processo de readequação do ensino. O objetivo deste estudo é apresentar os dados da avaliação realizada na Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP com relação ao processo ensi-no-aprendizagem, na percepção dos acadêmicos de odontologia (n = 367). O instrumento utilizado foi um questionário no qual o aluno expressava suas opi-niões de acordo com o grau de concordância, em três categorias: Concorda (C), Indeciso (I) e Discorda (D), contendo as seguintes variáveis: informações pertinentes ao objetivo do curso, ensino, aprendiza-gem e ao ambiente educacional. Para criação de um banco de dados e análise estatística utilizou-se o Epi Info 3.2. Os resultados mostraram que 75,25% dos alunos concordam que os objetivos a serem atingidos no curso são bem esclarecidos, 9,5% discordam e 14,4% não têm certeza. Dentre os entrevistados, 67,5% concordam que estão sendo bem preparados para a profissão, enquanto que 12% não concordam e 19,9% ficaram indecisos. Grande parte dos alunos, 60%, relatam que o trabalho desenvolvido no ano passado foi um bom preparo para a aprendizagem deste ano, 15,5% não concordaram e 22,9% ficaram indecisos. A maioria, 70,8%, concorda que o ensino os ajuda a desenvolver a autoconfiança, 17,7% fica-ram indecisos e 10,9% não concordam. Boa parte dos alunos, 63,5%, concorda que o ensino os encoraja a ser aprendiz, no entanto, 29,5% ficaram indecisos ou discordam. No que tange ao tempo de ensino, 50,1% concordam que ele é bem utilizado, porém 49,5% discordam ou não têm certeza. Em relação ao ambien-te educacional, 55,6% concorda que motiva o apren-dizado, 17,7% ficou indeciso e 19,6% discordam; 68,2% afirmaram que a atmosfera durante as aulas é boa, 18% discordam e 13,4% não têm certeza.Conclui-se que o processo ensino-aprendizagem está satisfa-toriamente classificado, segundo os acadêmicos, no entanto, ressalta-se a necessidade de melhorar o aproveitamento do tempo de ensino, proporcionando um ambiente educacional mais motivador e adequado, o que contribuirá de forma significativa para o melhor aproveitamento do aprendizado, desenvolvendo ainda mais a autoconfiança do discente, preparando-o adequadamente para o mercado de traba-lho.

57. “Workshops” didático-pedagógicos específicos I – avaliação de aprendizagem do curso de Odontologia das Faculdades unificadas da Fundação Educacional de BarretosStuder, C. E.*, Scuoteguazza, J. A. C., Tanimoto, M. E. K., Lia, R. C. C.

A partir da publicação das DCNs, a equipe peda-gógica do curso propôs uma série de encontros

com o corpo docente – em forma de “workshops” – para o treinamento comum de habilidades e compe-tências específicas. Consideramos a avaliação a partir de três procedimentos: diagnóstica, formativa e soma-tiva. Esta oficina tem como foco diferentes níveis de elaboração de uma avaliação somativa. Os objetivos foram: trabalhar com os docentes as habilidades e competências para a elaboração de Provas Somativas. Considerando os conteúdos dos “Quatro Pilares da Educação” do Relatório Dellors, o encontro teve o treinamento de dois objetivos maiores: I - Aprender a conhecer: Conteúdos (conteúdos); II - Aprender a fazer pedagógico (procedimentos). Procedimentos: I - aula (aprender a conhecer novas abordagens: atra-vés da projeção de textos visuais de obras de arte que retratam situações sociais, apresentar o desenvolvi-mento histórico-odontológico da Saúde Bucal, das origens européias, para as distintas realidades brasi-leiras: indígena, rural e urbana; II - aprender a fazer pedagógico: a partir dos textos (com tabelas e gráfi-cos) sobre o conteúdo visualizado pela projeção das imagens, em duplas, os docentes elaboram conforme as instruções, questões em três níveis de profundida-de, especificando em cada questão as habilidades específicas a serem treinadas pelos alunos, como: lei-tura de textos (curtos e longos), análise de conteúdos, interpretação de conteúdos e dados, estabelecer re-lações entre dados, textos e conceitos com níveis di-ferentes de complexidade, conforme os níveis de abordagem nas aulas.Conclui-se que, para os docentes, pelo fato destas oficinas terem sido obrigatórias para todos os docentes (foram reali-zados 6 “workshops”), houve a possibilidade de uma vivên-cia interdisciplinar em termos de trocas de conteúdos entre os docentes de diferentes áreas, como também no treinamen-to de habilidades e competências específicas, tais como são propostas pelas DCNs dos Curso de Odontologia que nor-malmente não saem do papel. Para a formação discente, à medida em que os alunos são treinados em suas habilidades específicas em cada uma das atividades, conforme as carac-terísticas destas, estaremos alcançando o Perfil de Egresso

Page 90: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

186

proposto em nosso Projeto Político-Pedagógico: um cirurgião-dentista generalista, com formação humanista e científica adequada para o atendimento das demandas de Saúde Bu-cal brasileira.

58. “Workshops” didático-pedagógicos específicos – II de reestruturação curricular do curso de odontologia das Faculdades unificadas da Fundação Educacional de BarretosStuder, C. E.*, Scuoteguazza, J. A. C., Tanimoto, M. E. K., Souza, P. H. R., Santos, F. S.

Modalidade: elaboração coletiva dos objetivos gerais das disciplinas do 1º ano. A partir da pu-

blicação das DCN, propôs-se uma série de encontros com o corpo docente – em forma de “workshops” – para o treinamento comum de habilidades e compe-tências específicas, tais como a confecção de Planos de Ensino integrados e compartilhados por todos. Os objetivos foram: trabalhar as habilidades e competên-cias para a elaboração conjunta de Planos de Ensino a partir dos “Quatro pilares da educação” (Delors). Seqüência da oficina realizada: 1ª parte: apresentação dos parâmetros do novo currículo – 1) norte comum a todos na implantação do novo currículo; 2) locali-zação de cada conteúdo/disciplina em quatro eixos (previamente trabalhados em oficina docente ante-rior); 3) concepção de Plano de Ensino. Os objetivos gerais foram: relação entre cada conteúdo/disciplina específicos com os objetivos do Projeto Pedagógico do curso. Os objetivos específicos foram: a) conteúdos cognitivos (aprender a conhecer); b) conteúdos psi-comotores (aprender a fazer); c) conteúdos atitudi-nais ou comportamentais (aprender a conviver e ser profissional. Na 2ª parte houve a elaboração em co-mum – com os responsáveis de cada disciplina – do objetivo geral de cada disciplina. Exemplo: proposta de objetivo geral da Disciplina de Bioquímica – a dis-ciplina de bioquímica contribui com os conhecimen-tos sobre o funcionamento do organismo humano por meio de reações metabólicas das biomoléculas, inter-relacionando as condições normais com as pa-tológicas, possibilitando uma visão sistêmica da odon-tologia. Para grandes temas, fez-se a especificação de cada tema. Conclui-se que houve possibilidade de uma efetiva vivência interdisciplinar em termos de trocas de conteúdos entre os docentes de diferentes áreas, treinamento de habilidades e competências específicas por parte dos próprios docentes, início da implantação do novo currículo e confiança dos

docentes quanto à introdução das novas Diretrizes Curri-culares.

59. Jogos de aprendizagem no ensino da Bioquímica OralGanzerla, E.*, Leite, M. F., Skelton-Macedo, M. C., Nogueira, F. N.

Poucos estudos foram relatados utilizando jogos no ensino superior. Já no ensino médio e funda-

mental os jogos têm sido empregados desde o come-ço do século passado visando motivar a aprendizagem e gerar habilidades cognitivas nos alunos. O objetivo do trabalho foi desenvolver uma gincana de jogos que foram aplicados em cinco alunos matriculados na disciplina optativa de Bioquímica Oral da FOUSP, como ferramenta de estudo, como também fazendo parte do processo de avaliação da aprendizagem al-cançada. Outra meta foi motivacional no sentido de criar interesse dos demais estudantes em cumprir o currículo optativo oferecido pela Disciplina. Primei-ramente foi feito um levantamento de alguns jogos sugeridos pelos alunos e quatro foram selecionados para a atividade: palavras cruzadas, forca, “stop” e bingo. Os jogos foram criados com a finalidade de recordar os pontos principais ministrados em sala de aula e acrescentar informações complementares. An-tes do início da atividade foi proposta uma dinâmica com bexigas para promover descontração entre os alunos e relembrar os passos mais importantes da via de secreção de saliva. As palavras cruzadas abordaram o tema saliva, sob o qual foi feito um questionário e as respostas preenchiam as cruzadas; para a forca fo-ram escolhidas palavras de todo o conteúdo da disci-plina e conforme o aluno acertava a letra presente na palavra, tinha acesso a dicas sobre ela; no “stop” os alunos escolheram temas de algumas aulas (película adquirida, dentifrício, metabolismo de cálcio, glân-dula salivar e polpa) e uma letra era escolhida aleato-riamente para que cada um achasse uma palavra de cada tema começando por esta letra até o primeiro aluno preencher todas as lacunas e pontos foram atri-buídos a cada lacuna preenchida corretamente; por fim foi elaborado um questionário de cinqüenta per-guntas e as respostas foram aleatoriamente agrupadas em 10, formando as cartelas do bingo. As atividades foram simples, de fácil conteúdo e foi permitida a consulta em cadernos e livros. Notou-se que em algu-mas ocasiões existiu uma dificuldade do aluno rela-cionado à dinâmica do jogo e não ao conteúdo abor-dado, sendo que a afinidade que o aluno tem pelo

Page 91: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 187

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

jogo demonstrou ser pertinente. Os alunos participa-ram voluntariamente dos jogos e relataram na avalia-ção do curso que a aula cumpriu a proposta de recor-dar a matéria, facilitou o estudo em casa e possibilitou o esclarecimento de dúvidas.Concluiu-se que uma dinâmica conhecida facilita o proces-so de estudo e avaliação na aplicação dos jogos de aprendi-zagem, além dos jogos cumprirem o diferencial motivacio-nal.

60. matriz curricular da Faculdade de Odontologia da universidade de Passo FundoPretto, A. A.*, Linden, M. S. S., Carlini-Junior, B., Silva, S. O.

O objetivo deste trabalho é apresentar a matriz curricular da Faculdade de Odontologia da Uni-

versidade de Passo Fundo, além de particularidades do funcionamento das clínicas integradas. A presen-te proposta é uma releitura das linhas mestras peda-gógicas propostas pela ABENO a partir da vigência das DCN. As etapas para a elaboração do projeto pe-dagógico iniciaram pelo diagnóstico do perfil do egresso, definição de metas e objetivos que respeitem as diretrizes gerais e atendam às necessidades regio-nais, planejamento de ações que permitam atingir estas metas e finalmente, organizar o projeto pedagó-gico do curso e seu elenco de disciplinas para atingir estes objetivos. A matriz curricular proposta foi orga-nizada em blocos do conhecimento: bloco fundamen-tal (áreas social, anátomo-fisiológica, biológica, me-todológica); bloco teórico-laboratorial (disciplinas profissionalizantes); bloco integrado (clínicas inte-gradas, estágios supervisionados) e bloco especial (disciplinas optativas, comprovação de competência e atividades complementares), estrategicamente dis-tribuídos em dez semestres, com 312 (4.680 h/a) créditos obrigatórios e 41 (615 h/a) para flexibiliza-ção curricular, o que totaliza 353 (5.295 h/a). A co-missão de reforma curricular e a congregação foram contrárias à redução do número de semestres, julgan-do ser este um dos fatores relacionados à qualidade do curso. Projetos institucionalizados de extensão e pesquisa complementam as atividades oferecidas pelo curso, envolvendo atualmente 230 dos 400 alu-nos matriculados na graduação (200 alunos em pro-jetos de extensão e 30 alunos em projetos de iniciação científica). A integração das disciplinas foi parcial, sendo as áreas profissionalizantes transformadas em clínicas integradas em nível de complexidade cres-

cente, incluindo créditos teóricos para desenvolvi-mento de seminários, discussão de casos e planeja-mentos, com a presença de todo o grupo de professores. Nestas, professores das disciplinas bási-cas podem participar integrando as diferentes áreas. A prática interdisciplinar tem efeito quando a teoria também está integrada, o que se concretiza com a inserção de créditos teóricos na disciplina de clínica integrada. A matriz curricular do curso de Odontologia da Universi-dade de Passo Fundo é fundamentada nas diretrizes da ABENO e na LDB, porém, dentro das particularidades regionais, necessidades da comunidade, perfil do egresso e particularidades do próprio curso, resultou em uma matriz única e com identidade. A formação do profissional gene-ralista, com todas as suas atribuições, depende de um bom funcionamento das clínicas integradas, sendo esta discipli-na o alicerce do curso de odontologia.

61. Academia e serviço buscando modelos e efetividade no processo ensino-aprendizagem e práticasReis, J. M.*, Rendeiro, M. M. P., Oliveira, L.

Atenção básica: suporte filosófico para estrutura-ção do modelo de práticas e formação profissio-

nal. A proposta do modelo de atenção integral como base de organização do cuidado, proposto pelo SUS, busca a superação de uma prática que tradicional-mente trazia lógicas diferenciadas de organização do trabalho em saúde. A primeira, tendo na clínica o paradigma do conhecimento e organização das prá-ticas essencialmente voltadas para atenção à doença no indivíduo e a segunda, o enfrentamento de forma programada, baseia-se na epidemiologia como instru-mento de conhecimento da realidade de saúde e agrega ao saber possibilitado pela clínica uma dimen-são social e cultural indispensável à intervenção no coletivo. O conceito de integralidade busca a supera-ção desta dicotomia, reconhecendo as duas aborda-gens como complementares que poderão conduzir o desenvolvimento de um modelo que permita a pro-gramação com base populacional, permitindo um equilíbrio entre indivíduo e coletivo, mas partindo do coletivo até chegar ao nível individual. A análise mostra que os modelos não estão certos ou errados, mas adequados ou não, ao contexto e tendências de determinado momento histórico que exerce reco-nhecida influência no mercado. O perfil de compe-tência profissional para o trabalho em saúde coletiva tem evidenciado a necessidade de formulação de co-

Page 92: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

188

nhecimentos para desenvolver a capacidade de aten-der as demandas sociais à partir do reconhecimento que 85% dos problemas de saúde da população têm capacidade de resolução ao nível da atenção básica. Esse referencial tem sido adotado como principio orientador das práticas e construção do conhecimen-to do profissional em Serviço. Essa realidade tem des-pertado dirigentes e profissionais do Serviço para a necessidade de sua estruturação como Unidade de Ensino compartilhado a missão de formar profissio-nais com a visão de sucesso de sua prática pelo com-partilhamento de valores em benefício da socieda-de.Têm sido desenvolvidas experiências de programação de estágio da Equipe Odontológica com elaboração do plane-jamento do processo de trabalho partindo da proposta de identificação de problemas na comunidade a partir da per-cepção dos indivíduos e proposta de atenção básica.

62. Tópicos de gerontologia para curso de graduação em odontologia – um olhar diferenciado acerca do compromisso social do cirurgião-dentista com o envelhecimento saudávelRios, A. C. F. C.*, Zini, B., Almeida, I. C., Carvalho, E. M.

A “inclusão social” dos idosos tem provocado am-pla discussão, em decorrência do aumento cres-

cente de adultos com idade avançada. Porém, ainda observam-se mitos que estigmatizam os idosos como grupo de pessoas “negligentes com a saúde bucal que por tal motivo portam ou tem necessidade de algum tipo de prótese e que o serviço odontológico não tem muito a oferecer além dos recursos protéticos”. Asso-ciada a estes mitos se verifica a quase inexistência de odontólogos preparados para atender a esta clientela, tornando o atendimento aos indivíduos de idade avançada um desafio para a maioria dos clínicos. As-sim, os idosos constituem segmento populacional que requer investimento na produção de conhecimento acerca da atenção à saúde bucal numa perspectiva de melhoria na qualidade de vida. Cuidados preventivos, bem como curativos, são necessários e, para isso, é preciso formar recurso humano para atuar em clínica odontológica geriátrica, o que significa, além da apli-cação de técnicas odontológicas, o desenvolvimento de habilidades inerentes a qualquer profissional que deseja trabalhar com idosos. Com base nesta situação, este trabalho objetivou apresentar uma proposta di-dático-pedagógica para inserção de temas da Geron-

tologia no curso de graduação de Odontologia, en-volvendo conteúdo, método de ensino e avaliação da aprendizagem. Para este fim, embasou-se na análise de programas de pós-graduação lato sensu em Geron-tologia e nas Diretrizes Curriculares para Cursos de Odontologia, pressupondo que a Gerontologia dis-põe de recursos científicos que podem auxiliar a for-mação de odontólogos mais adequados/aptos a aten-der aos idosos num âmbito mais holístico. A análise documental e revista de literatura orientaram para uma abordagem que priorize a interdisciplinaridade, através da problematização dos fundamentos da Ge-riatria, Sociologia, Psicologia, Antropologia e Fisiolo-gia do Envelhecimento aplicados a Odontologia, propiciando o desenvolvimento de autoconfiança no graduando. Assim, o atendimento ao idoso nos cursos de graduação em Odontologia deve pautar-se na aten-ção integral, abrangendo os diversos saberes das ci-ências odontológicas, num nível de complexidade crescente. A figura do tutor clínico faz-se necessária assegurando discussão das condutas clínicas e estra-tégias de atendimento mais adequadas ao perfil biop-sicossocial daquele idoso a ser atendido, reservando para o final do curso atividade em clínica de atenção aos idosos com necessidades especiais. Partindo da premissa que as habilidades técnicas odontoló-gicas para atendimento ao idoso, pouco ou nada diferem daquelas para adultos mais jovens, considerou-se que a inserção dos conteúdos de Gerontologia aplicados à Odon-tologia através do princípio pedagógico de problematização, acompanhada por processo de avaliação formativa, portan-to continuada, pode auxiliar ao graduando em odontologia desenvolver habilidades importantes àqueles profissionais que pretendem dedicar-se ao atendimento de indivíduos lon-gevos.

63. Estágio em Clínica Integrada em complexidade crescente – Assegurando uma formação generalista ao graduando de Odontologia da uNImERios, A. C. F. C.*, Guimarães, A., Miranda, C., Maia, V.

O Serviço de Clínicas Odontológicas da União Me-tropolitana de Ensino (UNIME), constituído de

seis clínicas interligadas, se estrutura dentro de uma proposta de congruência serviço de saúde-ensino, ao dar suporte às disciplinas do Núcleo de Ciências Odontológicas do Curso de Odontologia, se consti-tuindo em campo de estágio em Clínica Integrada. Embasado na proposta de integralidade da atenção

Page 93: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 189

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

a saúde e resolutividade, num nível de complexidade crescente em termo de aplicação das técnicas odon-tológicas e perfil psicossocial de grupos populacionais hierarquizados com base nos ciclos da vida e na con-sideração de condições especiais estabelecidas por desordens sistêmicas e/ou emocionais, o estágio em clínica integrada ocorre do sexto ao décimo semestre do Curso de Odontologia da UNIME, totalizando carga horária de 1.008 horas. Com o propósito de garantir a operacionalização do serviço atendendo aos pressupostos filosóficos da integralidade e resolu-tividade, ao mesmo tempo que oportuniza um am-biente favorável ao aprendizado efetivo para gradu-andos em odontologia e condizente com as necessidades odontológicas da população loco-regio-nal, estruturou-se uma proposta pedagógica para o estágio alicerçada no seguinte tripé: 1 – aluno (prin-cipal autor no processo de aprendizagem); 2 – tutor clínico (agente facilitador do processo de aquisição de habilidades e competências técnico-ético-sociais); 3 – paciente (agente propulsor de aprendizado para o graduando e usuário de um serviço de saúde pau-tado na promoção de saúde, em que a educação para saúde deve permear todas as ações do serviço). Reco-nhecendo a importância de abrir espaço para discus-são e aprimoramento das técnicas andragógicas apli-cadas ao ensino da odontologia, este trabalho teve o propósito de apresentar a proposta de ensino do es-tágio em clínica integrada do Curso de Odontologia da UNIME.Autoavaliado por professores e alunos como uma proposta de ensino inovadora, o Estágio em Clínica Integrada do Curso de Odontologia da UNIME utiliza a problematização da clínica odontológica (PCO) como estratégia de ensino, a apresentação sistemática de plano de tratamento como re-curso organizador das prioridades de estudo, e a construção de o “portfólio” pelo estudante como recurso de autoavalia-ção da aprendizagem para o aluno e “feedback” para o professor da evolução do aluno no curso e da aquisição de habilidades previstas nas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Odontologia no propósito de assegurar a formação generalista ao graduando em Odontologia da UNIME.

64. Odontologia em ambientes hospitalares: um modelo de ensino e aprendizadoTacla, M.*, Souza, P. H. C., Kriger, L., Westphalen, V. P. D.

O objetivo deste trabalho é apresentar um modelo de ensino e aprendizado da Odontologia, tendo

como ambiente de atuação a realidade hospitalar. O modelo é baseado na experiência de dois anos do Curso de Graduação em Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) junto ao Hospital Universitário Cajuru (HUC), a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (HSM) e ao Projeto Co-munitário da Instituição, que prevê a inserção social dos alunos durante a sua formação. A atividade obje-tiva levar a atenção odontológica ao paciente inter-nado, ampliar e aprimorar a visão dos alunos envol-vidos como profissionais da área de saúde e criar um novo campo de ensino, aprendizado e pesquisa para a Odontologia. Nos Hospitais, os pacientes dos Servi-ços de Geriatria, Clínica Médica, Neurologia e Pedia-tria, são atendidos em seu próprio leito. Para tanto, os alunos de graduação que já cursaram o Programa de Aprendizagem de Propedêutica, são supervisiona-dos pelos alunos do Mestrado em Estomatologia da PUCPR. Inicialmente os prontuários médicos dos pa-cientes são lidos, procurando-se relacionar as infor-mações quanto à doença de base, os exames comple-mentares, a prescrição médica e os procedimentos realizados, com aspectos odontológicos. Em seguida, os alunos se dirigem ao leito dos pacientes onde, após sua apresentação, realizam uma anamnese direciona-da sobre a queixa bucal, ou na sua ausência, sobre a história odontológica pregressa. A seguir, os alunos em dupla procedem ao exame físico, primeiramente extrabucal e em seguida intrabucal, com ênfase para os tecidos moles, sendo que um deles ilumina o cam-po com uma lanterna portátil. Finalizado o exame clínico, os alunos orientam os pacientes sobre a hi-giene bucal e das próteses e quanto a qualquer con-dição ou doença bucal detectada durante o exame. Após, os alunos evoluem os pacientes no prontuário médico de forma ordenada e resumida. Doenças e condições como a candidose peseudomembranosa e atrófica, próteses totais mal adaptadas, cárie e doença periodontal, xerostomia, hiperplasia gengival, granu-loma piogênico, queilites angulares, lesões traumáti-cas, língua despapilada e saburrosa, são freqüente-mente constatadas. Os procedimentos odontológicos realizados são clínicos, como a orientação da higiene bucal, das próteses, bem como a sua substituição, pres-crição de antifúngicos bucais e sistêmicos, de soluções bucais antibacterianas, de saliva artificial e o próprio umedecimento da mucosa bucal com gaze e soro fi-siológico. Os pacientes também são encaminhados para a realização de procedimentos que exijam con-dições técnicas apropriadas na Clínica de Odontolo-gia da PUCPR. A atividade também possibilita o exer-

Page 94: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

190

cício docente dos mestrandos com os alunos da graduação, visando a sua integração.Conclui-se que a proposta deste modelo de ensino e aprendi-zado oportuniza os alunos de graduação e pós-graduação em Odontologia a uma maior integração, aprimorando o seu conhecimento e formação profissional.

65. A experiência da implementação do Estágio Supervisionado I na uNISCReis, M. S.*, Marques, B. B., Gonçalves, E. M. G., Piazza, C. L. S.

O Curso de Odontologia da UNISC, em 2002, im-plementou a alteração curricular proposta pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Assim, o Estágio Supervisionado I, ocorrido no primeiro se-mestre de 2005, caracterizou-se por ser a primeira experiência multidisciplinar, envolvendo ações de complexidade crescente nas áreas de Periodontia, Dentística, Endodontia e Cirurgia. Neste, o aluno foi estimulado a buscar maior resolutividade e agilidade no tratamento proposto, procurando realizar um atendimento mais integral ao seu paciente. Além da atividade clínica foram incluídas também saídas a campo para observação. Os locais definidos foram: Sindicato do Fumo e da Alimentação; Sindicato dos Metalúrgicos; Sindicato dos Comerciários; Sindicato dos Trabalhadores Rurais; Uniodonto (Ambulató-rio); Clínica Dentária Sorriso e Saúde; SINDILOJAS e SESI. Todos situados no município de Santa Cruz do Sul, RS. O aluno comparecia nos locais previamen-te agendados, através do rodízio e em datas pré-defi-nidas, levando consigo uma carta de apresentação do curso de Odontologia da UNISC, não permanecendo no mesmo local por mais de uma vez. Recebia orien-tação para observar (com discrição), aspectos como: se o CD atendia e estabelecia uma relação com o seu paciente (acolhimento); as instalações do consultó-rio, referente a mobiliário, aparelhos disponíveis; biossegurança; a ergonomia do profissional e do am-biente de trabalho; a realização de diferentes proce-dimentos (endodontia, dentística, periodontia, cirur-gia, outros); as necessidades sentidas pelos pacientes, relacionando com os procedimentos realizados; pro-cedência dos pacientes; como eles tinham acesso ao local (observar nível socioeconômico e cultural); por-que os pacientes procuravam o atendimento (dor, problema estético, revisão/acompanhamento, pre-venção etc.); o tempo destinado para o atendimento de cada paciente; gratuidade do atendimento ou exis-tência de algum tipo de complementação para deter-

minados procedimentos; forma de agendamento das consultas; necessidade de espera para algum tipo de tratamento (endodôntico, cirúrgico ou outros); tem-po de espera; existência de parceria por parte da ins-tituição para proporcionar o atendimento produzin-do ao final um relatório de saídas a campo. Durante a realização do estágio foram organizados seminários para que as discussões e avaliações ocorressem à luz da observação dos alunos, professores, cirurgiões-dentistas e responsáveis das instituições participantes (presidentes, coordenadores ou gerentes).Sabe-se que a implementação de estágios supervisionados é uma necessidade real para seguir as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Porém, a experiência de implementação do Estágio Supervisionado I na UNISC mostrou que enfren-tar as dificuldades apresentadas e projetar alterações e novas metas farão parte de uma construção conjunta para o pro-cesso de reorientação profissional que se tem buscado.

66. Construindo a experiência profissional e incentivando as discussões em grupoGuimarães, R. P.*, Souza, F. B., Maior, J. S., Silva, C. H. V.

O presente trabalho visa relatar a experiência da Disciplina de Dentística 2 com a atividade de

apresentação dos casos clínicos executados durante o período letivo, destacando seu papel como impor-tante instrumento de aprendizado e aprimoramento profissional. A discilplina de Dentística 2 do curso de Odontologia da UFPE propõe-se a desenvolver no discente a capacidade para realizar diagnóstico, pla-nejamento e execução de procedimentos clínicos restauradores. Representa, na prática, o primeiro contato do aluno com o paciente em atividades clíni-cas, do mesmo modo que figura o alicerce para o início da vida profissional. Neste sentido, a equipe docente da disciplina conduz as atividades de modo a propiciar um ambiente clínico que além de cons-truir a fundamentação teórica e técnica, estimule iniciativas bem como incentive os graduandos a bus-carem aperfeiçoamento contínuo. Partindo desta premissa, a aquisição de uma câmera fotográfica di-gital permitiu a execução de um projeto de ensino que rendeu valiosos resultados. Todos os alunos pos-suem a oportunidade de documentar os casos clínicos realizados, mediante assinatura prévia de um termo de livre consentimento pelo paciente, além de parti-cipar, no final do semestre letivo, de uma proveitosa

Page 95: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):152-91 191

Trabalhos selecionados para apresentação • 41ª Reunião Anual da Abeno, 2006

e construtiva discussão sobre as condutas clínicas ado-tadas com os colegas, monitores e professores.A documentação clínica obtida a partir da documentação e apresentação dos casos clínicos realizados pelos alunos, depois de buscar a auto-avaliação e a troca de experiências, constitui material bastante útil para posterior publicação científica como também apresentação em congressos, jorna-das ou seminários, estimulando, portanto, a autonomia e o senso crítico do discente.

67. Estratégia para implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais em Odontologia: as oficinas de cooperação técnica OPAS/ministério da Saúde/ABENOMorita, M. C.*, Kriger, L., Perri de Carvalho, A. C., Haddad, A. E.

A formação em Odontologia sempre esteve pauta-da principalmente no exercício privado da pro-

fissão. As Diretrizes Curriculares Nacionais indicaram a necessidade de adequar a formação em Odontolo-gia para as necessidades do Sistema de Saúde. Embo-ra aprovadas desde 2002, as DCN ainda não estão adequadamente compreendidas por grande parte dos dirigentes, coordenadores, professores e alunos dos cursos de Odontologia do Brasil. Inúmeros são os aspectos apontados como dificultadores da implan-tação das DCN na Odontologia. Contudo, o principal fator parece ser o desconhecimento de sua importân-cia como um imperativo legal e a dificuldade de com-preensão de sua dinâmica. A ABENO elaborou uma Oficina para implementação das DCN, com uma di-nâmica adequada para ser desenvolvida com a dire-ção e os corpos docente e discente dos cursos de Odontologia em seu próprio local de trabalho. Os objetivos foram: contribuir para mudanças na educa-ção dos profissionais de Odontologia, propiciando as

condições para que sejam mais capacitados a enfren-tar os problemas prevalentes de saúde, apoiando a implantação das DCN nos cursos de graduação de Odontologia; estabelecer, de forma sistemática e auto-sustentável, protocolos de cooperação entre a ABENO, o Ministério da Saúde, o Ministério da Edu-cação, os gestores municipais e estaduais do SUS e os cursos de Odontologia, públicos e privados, existen-tes no país; deslocar o eixo central do ensino da idéia exclusiva da enfermidade, incorporando noção inte-gralizadora do processo saúde/doença e da promo-ção da saúde, com ênfase na atenção básica; propiciar a ampliação dos cenários de ensino-aprendizagem e da duração da prática educacional na rede de serviços básicos de saúde; favorecer a adoção de metodologias pedagógicas ativas e centradas nos estudantes, visan-do prepará-los para a auto-educação permanente num mundo de constante renovação da ciência. Foi realizada uma capacitação de 38 facilitadores de ofi-cinas para a calibração de conceitos e definição de estratégias de abordagem, que foram selecionados segundo sua localização regional (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) e perfil de atuação. A formação de facilitadores de diferentes regiões brasi-leiras permitiu o avanço mais rápido da proposta e o estabelecimento de lideranças regionais. As Oficinas foram realizadas em todas as regiões brasileiras e se constituíram em espaço privilegiado para informar, analisar e discutir com dirigentes, coordenadores, docentes e discentes dos cursos de Odontologia a sistemática de im-plantação das DCN. Espera-se que a execução do projeto de cooperação técnica desenvolvido pela ABENO resulte em uma intervenção no processo formativo, para que os progra-mas de graduação em Odontologia possam deslocar o eixo da formação centrada na assistência individual, restrita a clínica privada, para um processo de formação mais con-textualizado, que leve em conta as dimensões sociais, econô-micas e culturais da população do Brasil.

Page 96: volume6, n° 2

Revista da ABENO • 6(2):192192

Normas para apresentaçãode originais

onde certos aspectos e revisões já tenham sido apresentados. Lembre-se que trabalhos e resumos de teses devem sofrer modificações de forma a se apresentarem adequadamente para a publicação na Revista, seguindo-se rigorosamente as normas aqui publicadas.

b) Material e métodos: a descrição dos métodos usados deve ser suficientemente clara para possibilitar a perfeita compreensão e repetição do trabalho, não sendo extensa. Técnicas já publicadas, a menos que tenham sido modificadas, devem ser apenas citadas (obrigatoriamente).

c) Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo possível de discussão ou interpretação pessoal, acompanhados de tabelas e/ou material ilustrativo adequado, quando necessário. Dados estatísticos devem ser submetidos a análises apropriadas.

d) Discussão: deve ser restrita ao significado dos dados obtidos, resultados alcançados, relação do conhecimento já existente, sendo evitadas hipóteses não fundamentadas nos resultados.

e) Conclusões: devem estar baseadas no próprio texto.

f) Agradecimentos (quando houver).

6. Abstract: Resumo do texto em inglês. Sua redação deve ser paralela à do resumo em português.

7. Descriptors: Versão dos descritores para o inglês. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5).

8. Referências bibliográficas: Devem ser ordenadas alfabeticamente, numeradas e normatizadas de acordo com o Estilo Vancouver, conforme orientações publicadas no site da “National Library of Medicine” (http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). Para as citações no corpo do texto deve-se utilizar o sistema numérico, no qual são indicados no texto somente os números-índices na forma sobrescrita. A citação de nomes de autores só é permitida quando estritamente necessária e deve ser acompanhada de número-índice e ano de publicação entre parênteses. Todas as citações devem ser acompanhadas de sua referência bibliográfica completa e todas as referências devem estar citadas no corpo do texto. As abreviaturas dos títulos dos periódicos deverão estar de acordo com o “List of Journals Indexed in Index Medicus” (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=journals). A exatidão das referências bibliográficas é de responsabilidade dos autores.

V. Endereço - E-mail, telefone e fax de todos os autores. Obs.: Qualquer alteração de endereço, telefone ou e-mail deve ser imediatamente comunicada à Revista. §

I. Originais - Os originais deverão ser redigidos em português ou inglês e digitados na fonte Arial tamanho 12, em página tamanho A4, com espaço 1,5 e margem de 3 cm de cada um dos lados, perfazendo o total de no máximo 17 páginas, incluindo quadros, tabelas e ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc.) ou no máximo 25.000 caracteres contando os espaços.II. Ilustrações - As ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc.) deverão ser limitadas ao mínimo indispensável, apresentadas em páginas separadas e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. As respectivas legendas deverão ser concisas e localizadas abaixo e precedidas da numeração correspondente. Nas tabelas e quadros a legenda deverá ser colocada na parte superior. As fotografias deverão ser fornecidas em mídia digital, em formato tif ou jpg, tamanho 10 x 15 cm, em no mínimo 300 dpi. Não serão aceitas fotografias em Word ou Power Point. Deverão ser indicados os locais no texto para inserção das ilustrações e de suas citações.III. Encaminhamento de originais - Solicita-se o encaminhamento dos originais de acordo com as especificações descritas no item I para o endereço eletrônico www.abeno.org.br. A submissão “on-line” é simples e segura pelo padrão informatizado disponível no site, no ícone “Revista Online”. Somente opte pelo encaminhamento pelo correio diante da necessidade de publicação de ilustrações em formato tif/jpg e alta resolução (veja especificações no item II). Endereço: REVISTA DA ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico - Universidade Católica de Brasília - Curso de Odontologia - Nova Sede QS 07 Lote 01 - Bairro Águas Claras - CEP: 72030-170 – Brasília - DF.

IV. A estrutura do original1. Cabeçalho: Quando os artigos forem em português,

colocar título e subtítulo em português e inglês; quando os artigos forem em inglês, colocar título e subtítulo em inglês e português. O título deve ser breve e indicativo da exata finalidade do trabalho e o subtítulo deve contemplar um aspecto importante do trabalho.

2. Autores: Indicação de apenas um título universitário e/ou uma vinculação à instituição de ensino ou pesquisa que indique a sua autoridade em relação ao assunto.

3. Resumo: Representa a condensação do conteúdo, expondo metodologia, resultados e conclusões, não excedendo 250 palavras e em um único parágrafo.

4. Descritores: Palavras ou expressões que identifiquem o conteúdo do artigo. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5).

5. Texto: Deverá seguir, dentro do possível, a seguinte estrutura:

a) Introdução: deve apresentar com clareza o objetivo do trabalho e sua relação com os outros trabalhos na mesma linha ou área. Extensas revisões de literatura devem ser evitadas e quando possível substituídas por referências aos trabalhos bibliográficos mais recentes,