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COORDENAÇÃO Rogéria de Ipanema 2018 V O L U M E 3

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  • COORDENAORogria de Ipanema

    2018

    V O L U M E 3

  • ANAIS

    COORDENAORogria de Ipanema

    VOLUME 3

    Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 3 464, 2018.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    Reitor Roberto Leher Vice-Reitora

    Denise Lopez Nascimento Pr-Reitor de Graduao

    Eduardo Serra Pr-Reitora de Ps-Graduao e Pesquisa

    Leila Rodrigues Pr-Reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanas

    Roberto Gambine Pr-Reitor de Pessoal

    Agnaldo Fernandes Pr-Reitor de Extenso

    Maria Mello de Malta Pr-Reitor de Gesto e Governana

    Andr Esteves da Silva Pr-Reitor de Polticas Estudantis

    Luiz Felipe Cavalcanti

    COMIT CINTFICO DO SEMINRIO UFRJ FAZ 100 ANOS 2017

    Pr-Reitora de Extenso Maria Mello de Malta

    Decano do CCMN Joo Graciano Mendona Filho

    Decana do CCS Maria Fernanda Quintela

    Decana do CFCH Lilia Pougy

    Vice-decana do CLA Cristina Tranjan

    Coordenador do FCC Carlos Vainer

    Ouvidora Geral Cristina Riche

    Superintendente Acadmica/CFCH Ludmila Fontenele

    Diviso de Integrao Acadmica/ PR2Renata Gaspar

    Coordenadora Geral do UFRJ FAZ 100 ANOS - Reitoria/ PR5Rogria de Ipanema

  • ANAIS

    COORDENAORogria de Ipanema

    RIO DE JANEIRO

    EDITORA UFRJ

    2018

    VOLUME 3

  • Seminrio UFRJ faz 100 anos (2017: Rio de Janeiro, RJ) S471a

    [Anais] ISeminrio UFRJ faz 100 anos: Histria, desenvolvimento e de-mocracia, 4 a 6 de setembro de 2017 / coordenao [de] Rogria de Ipanema Rio de Janeiro : Ed. UFRJ, 2018.

    3v. : p. il.

    ISBN: 978-85-7108-432-2

    1. Universidade Federal do Rio de Janeiro Congressos. I. Ipanema, Rogria de, coord. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. II. Ttulo.

    CDD : 378.0098153

    Ficha catalogrfica elaborada pelo Centro Referncial do Sistema de Biblioteca e Informao (SiBI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

    Os textos e imagens apresentados nesta publicao so de inteira responsabilidade de seus autores, incluindo as ques-tes de direitos de uso de imagens de terceiros.

    Os artigos dos Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia esto disponveis em http://ufrj.br/ufrjfaz100anos

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROAv. Pedro Calmon, 550 - Prdio da Reitoria, 2 andar - Cidade Universitria 21941-901 Rio de Janeiro RJwww.ufrj.br

  • SUMRIOVOLUME 3

  • 9

    SUMRIO Volume 3

    SEMINRIO UFRJ FAZ 100 ANOS: HISTRIA, DESENVOLVIMENTO E DEMO-CRACIA 17

    Rogria de Ipanema

    EIXO 7 PESQUISA, SABERES E FAZERES NA UNIVERSIDADE

    A CRIAO DA REVISTA DESVIO E A ABERTURA DE NOVAS OPORTUNIDADES ACADMICAS 23Daniele Machado, Gabriela Lcio de Sousa, Joo Paulo Ovdio e Thiago Fernandes

    FINANCIAR PERIDICOS ABERTOS OU BASES ABERTAS DE PERIDICOS PAGOS? HISTRIA E EXPANSO DOS PERIDICOS CIENTFICOS 30Luis Paulo Vieira Braga

    BIBLIOTECA DO MUSEU NACIONAL: RELATO DE EXPERINCIA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS FUTURAS NA SEO DE DESENVOLVIMENTO DE COLEES 34Leandra Pereira de Oliveira, Leonardo Soares de Santana e Soraia Santana Capello

    REPRESENTAES TRIDIMENSIONAIS COMO DOCUMENTOS DA MEMRIA 45Romulo Augusto Pinto Guina

    DESENVOLVENDO O INDEX PARA A INCLUSO EM UMA ESCOLA DE GOVERNO 53Regina Maria de Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima e Luciana Teixeira Fernandes

    CORPO, PINTURA E CONEXES: ENTRE TRS POTICAS 63Martha Werneck Vasconcellos e Lcius da Silva

    AS LITERATURAS AFRICANAS DE LNGUA PORTUGUESA NA UFRJ: PESQUISAS, SABERES, FAZERES 76Carmen Lucia Tind Ribeiro Secco e Vanessa Ribeiro Teixeira

    REDES DE RELACIONAMENTO ENTRE PROGRAMAS DA UFRJ COMO SUBSDIO PARA A POLTICA DE PS-GRADUAO 88Kleber Neves

    UBUNTU: SABERES E FAZERES DOS TRABALHADORES DO MUSEU NACIONAL/UFRJ. 100Moana Campos Soto

    9

  • 10

    O PROCESSO DE TRADUO PARA LIBRAS POR MEIO DE VDEOS 110Rodrigo Pereira Leal de Souza e Dafny Saldanha Hespanhol Vital

    CRIAR A VIDA DO FUNDO 120Maria Alejandra Espinosa Moreno

    CHLORELLA SP. : EXTRAO DE CAROTENOIDES E COMPOSTOS BIOATIVOS 130Souza, R.T., Mota, M.F.S., Bon, E.P.S. e Freitas, S.P.

    O PROGRAMA DE ESTUDOS MEDIEVAIS DA UFRJ: UMA EXPERINCIA DE INTEGRAO ENTRE ENSINO, PESQUISA E EXTENSO 138Andria Cristina Lopes Frazo da Silva, Leila Rodrigues da Silva e Paulo Duarte Silva

    UNIO DA PRTICA DOCENTE E PESQUISA EM EDUCAO: EXPERINCIA DO ENSINO DE VIRTUDES NA EDUCAO INFANTIL 148Daniela Honorio de Sousa, Karine de Andrade e Maria Judith Sucupira da Costa Lins

    METODOLOGIA ALFABETIZAO CORPORAL: A CONSTRUO DE PRTICAS NO EXCLUDENTES PARA OS TRABALHOS DE POTENCIALIZAO DA CAPACIDADE DE APRENDIZAGEM DAS PESSOAS COM DEFICINCIA INTELECTUAL 154Adson Ferreira Rocha, Cida Donato, Felipe Macedo, Cristina Ramos,Mrcia Macedo do Nascimento e Keli Cristina de Matos

    O ESPORTE EDUCACIONAL NA UFRJ 166Luciana M. N. Peil, Luiz Felipe Cavalcanti, Sidney Botelho Pestana, Denilson Vasconcelos,Regina Balbi, Bruno Mattos e Leandro Fernandes

    OS QUE FAZEM E OS QUE PENSAM A DANA: ESTUDO DA TENSO ENTRE TEORIA E PRTICA EM QUATRO CURSOS DE GRADUAO EM DANA NO BRASIL 173Luciane Moreau Coccaro

    COMPARTILHANDO SABERES E PRTICAS NO CUIDADO EM DOMCILIO: RELATO DE EXPERINCIA DO PADI-HUCFF 184Maria Luiza de Oliveira Teixeira, Helena Maria Rodrigues Marins, Snia de Souza Ribeiro eDeborah Calda de Castro

    EIXO 8 POLTICA, AUTONOMIA, DEMOCRACIA E DESAFIOS

    A CONTRIBUIO DO CONTADOR NA PRESTAO DE CONTAS ELEITORAIS EM PORTO REAL: UM PANORAMA NORMATIVO 197Agnes Natasha Maciel de Sampaio

    POLTICAS INTERSETORIAIS DE PREVENO VIOLNCIA URBANA JUNTO S POPULAES EM SITUAO DE RUA 212Miriam Krenzinger e Juliana Salvador

  • 11

    REFLEXES SOBRE INCLUSO NA UFRJ: UM OLHAR SOBRE AS POLTICAS NO MBITO DA FACULDADE DE EDUCAO 222Raquel Batalha de Oliveira e Carolina Barreiros de Lima

    O TELECURSO COMO ESTRATGIA DE SUBSTITUIO TECNOLGICA E ALIENAO DO TRABALHO DOCENTE NO PROGRAMA DE CORREO DE FLUXO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 230Camila Medeiros Mendes

    EIXO 9 SADE, SADE PBLICA E HOSPITAIS

    ME CANGURU: A IMPORTNCIA DA INSERO DE UM MTODO DE ATENO HUMANIZADA AOS RECM-NASCIDOS PR-TERMOS E/OU DE BAIXO PESO NAS MATERNIDADES 243Gabriela Fernandes Moraes Fonseca e Lucineide Moraes

    PADRES DE REFERNCIA DO PESO AO NASCER DA MATERNIDADE ESCOLA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 253Fabio Gutierrez da Matta

    O IMPACTO DO USO DA ASPIRINA NA PREVALNCIA DA PR-ECLMPSIA E EM SUAS REPERCUSSES PERINATAIS 264Maria Isabel Martins Peixoto Cardoso, Karina Bilda de Castro Rezende,Ana Alice Marques Ferraz de Andrade Jardim, Andr Luiz Magdalena Dourado,Fbio Gutierrez da Matta, Juliana Lapoente Marques Fonseca eRita Bernadete Ribeiro Gurios Bornia

    PREDIO E DIAGNSTICO DO CRESCIMENTO INTRAUTERINO RESTRITO 277Ana Alice Marques Ferraz de Andrade Jardim, Rita Gurios Bornia,Karina Bilda de Castro Rezende, Juliana Lapoente Marques,Fbio Gutierrez da Matta, Andr Luiz, Magdalena Dourado, Maria Isabel Martins ePeixoto Cardoso

    A AVALIAO DO DUCTO VENOSO NO PRIMEIRO TRIMESTRE NA PREDIO DO DESFECHO DA GESTAO 288Juliana Lapoente Marques Fonseca

    A PREVALNCIA DO CONSUMO DE LCOOL EM GESTANTES: UMA PROPOSTA DE EDUCAO EM SADE 299Gabriela Fernandes Moraes Fonseca

    EDUCAO E SADE NA DOENA DE PARKINSON: CUIDANDO DOS PACIENTES, FAMILIARES E CUIDADORES: DADOS PRELIMINARES 311Renan Vicente da Silva, Bruna Fernandes Zappelli de Oliveira, Lucas Rodrigues de Moraes eVera Lcia Santos de Britto

  • 12

    O PAPEL DOS HOSPITAIS UNIVERSITRIOS: A MATERNIDADE DA UFRJ 322Ism Catureba Santos, Joffre Amim Junior, Antonio Jose Ledo Alves da Cunha,Roberto Andrade Medronho, Ana Paula Vieira dos Santos Esteves e Diana Maul Carvalho

    UMA AVALIAO DA LOGSTICA DA REDE DE SUPRIMENTOS APLICADOS A SADE: ESTUDO DE CASO DO HOSPITAL UNIVERSITRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO 332Karina Lyra Fontes e Marcos Pereira Estellita Lins

    A FARMCIA UNIVERSITRIA DISCUTINDO O TEMA FARMCIAS MAGISTRAIS: INOVAES E SEUS DESAFIOS NOS SEUS 30 ANOS DE EXISTNCIA 345Danieli Silva Feij de Sousa, Nira Villas Boas Vidal de Oliveira, Zaida Maria Faria de Freitas,Fortune Homsani, Aline Guerra Mansour Fraga, Ana Lcia Vazquez Villa,Mariana Sato de Souza de Bustamante Monteiro, Eduardo Ricci Junior, Rita de Cssia A. Barros eElisabete Pereira dos Santos

    A CONTRIBUIO DA UFRJ PARA A SADE POR MEIO DO DATASUS, NO RIO DE JANEIRO 354Ilan Chamovitz

    PROJETO: HATHA YOGA NO TRABALHO: SADE E BEM ESTAR 364Ana Maria de Jesus Esteves

    ESTRATGIA PARA PREVENO DE LESES RELACIONADAS AO USO DO BISTURI ELTRICO: UM RELATO DE EXPERINCIA 369Mariana Magalhes Chagas, Isadora de Freitas Lyrio Arajo, Ana Paula Dias Soares eCamila Mendona de Moraes

    CARACTERIZAO DO ATRASO NO TRATAMENTO DE MULHERES COM NEOPLASIA MALIGNA DE MAMA DIAGNOSTICADAS EM UM HOSPITAL ESCOLA DO RIO DE JANEIRO, BRASIL 377Nathalia Rangel Lira da Silva, Anna Mayse Feitosa da Silva, Cristiane Machado do Vale de Andrade, Henrique de Castro Rodrigues,Jackeline Christiane Pinto Lobato Vasconcelos e Gerusa Belo Gibson dos Santos

    VIOLNCIA SEXUAL E SADE: ANLISE DA IMPLEMENTAO DOS SERVIOS DE ATENDIMENTO DE CRIANAS E ADOLESCENTES VTIMAS DE ABUSO SEXUAL EM UNIDADES DE SADE DO MUNICPIO DO RIO DE JANEIRO. 388Taiane Damasceno da Hora

    A UFRJ RECEBE, AVALIA E CUIDA DOS MENINOS DE TODO O BRASIL 397Prof. Dr. Fernando Eduardo Zikan

  • 13

    EIXO 10 TRABALHO, CORPO SOCIAL, ESTRUTURA E GESTO

    TERCEIRIZAO DO TRABALHO E AS INSTITUIES DE ENSINO SUPERIOR: A UFRJ EM PAUTA 409Sara Izabeliza Moreira Lima

    GESTO DE PROCESSOS: MODELO DE FISCALIZAO DE CONTRATO NA PRESTAO DE SERVIO EM UMA MATERNIDADE PBLICA 421Rosangela Pinheiro Pinto, Ana Paula Vieira dos Santos Esteves eJoffre Amin Junior

    TRABALHO DOCENTE, CARREIRA DOENTE: OS PROFESSORES DA UFRJ 431Alzira Mitz Bernardes Guarany

    CONSTRUINDO A AVALIAO INSTITUCIONAL DO EVENTO CONHECENDO A UFRJ 2017 442Michelle Moreira da Silva e Pricila Vieira Magalhes

    NDICE DE AUTORES VOLUME 3 457

    CRDITOS 463

  • SEMINRIO UFRJ FAZ 100 ANOS: HISTRIA, DESENVOLVIMENTO E DEMOCRACIA

  • 17Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 17 19, 2018.

    SEMINRIO UFRJ FAZ 100 ANOS: HISTRIA, DESENVOLVIMENTO E DEMOCRACIA

    Rogria de IpanemaCoordenadora do UFRJ FAZ 100 ANOS Reitoria

    Assessora Especial da Pr-Reitora de Extenso PR5

    O Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia foi realizado nos dias 4, 5 e 6 de setembro de 2017, nas dependncias do Instituto de Geocincias, do Instituto Trcio Paccitti de Aplicaes e Pesquisas Computacionais e do Centro de Cincias Matemticas e da Natureza, na Cidade Universitria.

    O Seminrio consistiu na atividade de comemorao dos 97 anos da instituio, como parte do projeto do seu centenrio, iniciado com o lanamento da marca com a Minerva no Conselho Superior Universitrio (08/09/2016), e que se concluir na efemride de 7 de setem-bro de 2020. No edital para inscrio de resumos, o evento apresentava seus objetivos, alargar as possibilidades das apresentaes e debates do que se realiza na e com a UFRJ, pluralizando e interdisciplinando os interesses, os conhecimentos e os destinos pblicos e democrticos da Educao.

    Assim, a programao contou com mais de 350 apresentaes em 73 sesses temticas, de forma que compreendessem comunicaes de estudantes, tcnicas(os) e docentes em cada uma das sesses e debates. Com isto, pode-se representar a procura muito clara do Seminrio, na articulao de um encontro horizontal com os trs segmentos, a partir de uma participao voluntria da comunidade UFRJ, em um mesmo espao e sob uma mesma pauta.

    Estes ndices e nmeros revelam a recepo do seu corpo social com a programao da Reitoria para a semana de aniversrio da UFRJ em 2017. Proposta amplamente validada desde o incio da construo de sua pauta, quando abertas a todas as pessoas, s sugestes de temas e de assuntos a serem apresentados e discutidos no Seminrio. Uma vez recebidos, a Comisso Organizadora composta, tambm, pelos trs segmentos, consolidou em 10 grandes Eixos, as mais de 200 contribuies recebidas.

    necessrio registrar a programao geral do Seminrio, aberto pelo Reitor Roberto Leher, com a conferncia, UFRJ: desafios da histria. E mais, uma mesa temtica, refletindo o tema geral do Seminrio, com as presenas de Cassia Curan Turci (Vice-Decana, CCMN), Maria Fernanda

  • 18 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 17 19, 2018.

    Quintella (CCS), Marcelo Corra e Castro (representando a Decana Lilia Pougy, CFCH), Flora de Paoli (CLA), Fernando Ribeiro (CT) e Carlos Vainer (FCC). E a outra, Mesa: Universidade, autono-mia, democracia e desafios, com a professora Diana Maul (FM/UFRJ), Marcelo Badar (Histria/UFF) e como moderador, Claudio Ribeiro (FAU/UFRJ).

    igualmente importante registrar que, para se construir um maior dialogismo e interao com as entidades e movimentos sociais, a comisso organizadora trouxe o contato de conhe-cimento e reconhecimento de outros sujeitos e organizaes populares, para que, com a UFRJ, formassem os Dilogos Sociedade e Universidade.

    O primeiro Dilogo foi com os Movimentos da Baixada Fluminense: Associao Feira da Roa, Centro Cultural Donana, Coletivo de Mulheres Madalenas da Baixada, ComCausa-Direitos Humanos da Baixada Fluminense, Cooperativa Coopaterra, CPT Baixada Fluminense, Coletivo Preto Dandaras da Baixada, Instituto Enraizados, MST Baixada e SEPENI-Nova Iguau. O segun-do Dilogo fez-se com moradores, movimentos e espaos culturais autnomos de territrios geogrfica e historicamente extensionistas com a universidade, a Mar, Manguinhos e a Vila Residencial - UFRJ. Com eles, compartilhamos com a associao de Moradores AMAVILA, Cia Jovem Ballet Manguinhos, que fez uma apresentao ao pblico, Centro de Artes da Mar e Galpo Bela Mar.

    Nesta presente escrita de 395 assinaturas apresenta-se uma grande gama de abordagens e reflexes sobre a formao e produo universitria em suas mltiplas reas e campos, consubs-tanciando, assim, uma fonte de referncia do ensino, da pesquisa e da extenso da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ.

    A publicao composta por 146 artigos em 03 volumes, totalizando 1.716 pginas, e est distribuda da seguinte forma:

    Volume 1

    Eixo 1 Acesso, Permanncia e Movimento Estudantil

    Eixo 2 Diversidade, Gnero, Etnia e Justia Social

    Eixo 3 Educao, Ensino e Formaes

    Volume 2

    Eixo 4 Extenso, Integrao Acadmica e Sociedade

    Eixo 5 Histria, Memria e Desenvolvimento Institucional

    Eixo 6 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Tecnologias

  • 19Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 17 19, 2018.

    Volume 3

    Eixo 7 Pesquisa, Saberes e Fazeres na Universidade

    Eixo 8 Poltica, Autonomia, Democracia e Desafios

    Eixo 9 Sade, Sade Pblica e Hospitais Universitrios

    Eixo 10 Trabalho, Corpo Social, Estrutura e Gesto

    Os artigos podem ser consultados por volume, tanto pelos ttulos no Sumrio como pelo ndice de autores ao final dos textos. A publicao completa dos 03 volumes est disponibiliza-da na pgina ufrj.br/ufrjfaz100anos.

    Os Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS esto sendo lanados no dia 5 de setembro de 2018, nas comemoraes dos 98 anos da UFRJ, no Auditrio Rodolpho Paulo Rocco, na Ci-dade Universitria e no Auditrio Pedro Calmon, no Campus da Praia Vermelha. Neste ano, a Universidade Pblica torna-se o eixo central da conferncia do Reitor e das mesas de debates, em momento de grandes ataques ao exerccio da educao crtica e sem mordaa, condio oramentria para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extenso, em valores insus-tentveis e congelados por 20 anos, e com isto, inviabilizando o projeto e a funo social das universidades pblicas brasileiras, estruturas essenciais e extremamente necessrias ao pas.

    Saudaes universitrias!

  • EIXO 7

    PESQUISA,SABERES EFAZERES NAUNIVERSIDADE

  • 23Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 23 29, 2018.

    A CRIAO DA REVISTA DESVIO E A ABERTURA DE NOVAS OPORTUNIDADES ACADMICAS

    Daniele MachadoMestranda em Estudos Contemporneos das Artes / Instituto de Arte e Comunicao /

    Universidade Federal Fluminense; Editora-chefe da Revista Desvio e Coordenadora de Pesquisa e Pblico do Centro Municipal de Arte Hlio Oiticica

    Gabriela Lcio de SousaGraduanda em Conservao e Restaurao pela UFRJ; Bolsista de pesquisa da Fundao Casa de Rui Barbosa

    Joo Paulo OvdioGraduado em Histria da Arte pela UFRJ

    Thiago FernandesMestrando em Histria e Crtica de Arte pelo PPGAV/UFRJ

    Introduo

    O exerccio da pesquisa de cada estudante, seja de graduao ou de ps-graduao mui-to solitrio. Mesmo que todos tivessem bolsas de apoio e orientadores presentes, ainda assim um trabalho que depende da subjetividade de cada um, de suas trajetrias, de seus interesses, dos encontros e das conexes que estabelece a medida que a vida acontece. Mas o que est acima se trata de uma hiptese ideal. Poucos na graduao participam da experincia de inicia-o cientfica e no fim, a maioria chega no trabalho de concluso sem ter ideia de como faz-lo. Seja sobre a escolha do seu objeto, seja sobre como investig-lo, o que acaba tornando esse processo mais trabalhoso do que poderia ser. Assim, so poucos os alunos que decidem investir seu esforo para entrar nos programas de ps-graduao, e de fato, a maioria s compreender a metodologia cientfica no mestrado.

    Os alunos precisam ser estimulados a pesquisar na graduao, atravs de iniciao cient-fica, projetos de extenso ou grupo de estudos, com ou sem financiamento, compreendendo a pesquisa como um exerccio do pensamento crtico, o qual deve se estender para alm da universidade. A graduao deveria ser o perodo a fornecer instrumentais a insero na vida acadmica, no entanto, carecem oportunidades para que tal atividade ocorra, sendo possvel ver esse reflexo no despreparo dos alunos para submeter propostas em editais ou realizar provas de concursos. Tal situao diz respeito aos cursos tericos e prticos.

    No se tratando aqui de uma disputa entre a graduao e a ps-graduao, a questo a importncia de ambas para que a universidade acontea. Apesar dos investimentos discentes

    23

  • 24 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 23 29, 2018.

    e docentes, e dos investimentos financeiros serem, geralmente, voltados para os programas de ps-graduao, no h como esta e nem como a universidade existir sem as graduaes. Nesse debate, a pesquisa das graduaes fica em segundo plano. Identificada esta situao, somada a pouca visibilidade dos trabalhos acadmicos das graduaes, que motivou a criao da Desvio. A revista se pretende no apenas uma plataforma de divulgao, mas tambm de fomentar o encontro das pesquisas e a realizao destas.

    A partir dessas duas questes que movem a Desvio de forma geral, este artigo o modo como este peridico vem sendo desenvolvido. Desde sua concepo, dificuldades para que se realizasse, o trabalho em cada nmero, os planos futuros e a atuao da revista alm do virtual. Um dos objetivos deste texto , alm de tornar transparente o como a Desvio foi e pensada/realizada, acessibilizar a ideia de uma revista de graduao. Para tanto os receios e questes dos autores envolvidos esto includos, e tambm o contexto poltico que envolve o cotidiano das universidades em especial, da UFRJ. Ao longo deste trabalho as duas edies j realizadas so apresentadas, sendo sempre apontados como as diretrizes da revista se mantm vivas em seus desenvolvimentos, e como a qualidade de envolvimento com os pblicos foi aumentando. Por fim, esto os planejamentos dos prximos nmeros e os novos sonhos.

    Desvio a esquerda: a sua criao

    Em 2014, alunos do curso de histria da arte foram responsveis pelo evento Prdio Fan-tasma, onde foi realizada uma interveno no terreno baldio pertencente Escola, contando com discurso/depoimentos de alunos e professores, corte de fita inaugural, placa de fundao e vernissage. No ano seguinte, durante o perodo da greve, os alunos da EBA criaram o Ocupa--Ao, uma plataforma onde foram realizadas aes artsticas e falas livres referentes situao da educao em nosso pas. Tais iniciativas, antecessorras a criao da revista Desvio, permitem pensarmos a existncia de uma atmosfera poltica, um desejo do corpo estudantil em lutar por melhorias.

    A Revista Desvio uma proposta indita na Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): uma revista acadmica virtual que publique artigos, resenhas, crticas, colunas, entrevistas, relatos de experincias, cadernos especiais sobre eventos especficos e outras produes textuais dos discentes da graduao da EBA e de outras universidades que possuam interesse em assuntos relacionados arte, cultura e patrimnio, com edies sem te-mtica especfica. Apesar de no haver tema especfico, alm da publicao de trabalhos inscri-tos, a revista propositiva ao produzir contedo prprio e incentivar a escrita acerca de assuntos e temticas que interessem. A revista acaba de finalizar a sua segunda edio, foi idealizada em 2015 e comeou a ser editada em 2016, semestralmente, por alunos das graduaes da Escola de Belas Artes.

  • 25Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 23 29, 2018.

    Inicialmente a ideia se tratava de um peridico do curso de graduao em Histria da Arte, que a aluna Raquel Machado disps no grupo do curso no facebook. Muitos se interes-saram, mas medida que o tempo passou e mais reunies foram necessrias para que a revista acontecesse, e assim, o grupo permaneceu com quatro estudantes. Foi nesse momento em que foram desenvolvidos o ttulo do peridico e o seu logotipo, ambos se complementando: um desvio, de uma revista em construo, em obras permanentes, cuja seta vermelha aponta para esquerda. Necessrio diante de uma onda radical de direita sobre a universidade e o pas, onde no ano seguinte a primeira presidente mulher seria retirada atravs de um golpe. Necessrio tambm na universidade onde, no mesmo ano, um estudante negro, nortista e gay viria a ser assassinado brutalmente. Necessrio tambm diante de um cenrio de crise econmica, onde a primeira rea a ser descartada e sofrer cortes parciais ou totais, a rea da cultura, que teve seu ministrio extinto por algumas semanas aps o golpe jurdico-parlamentar-civil. Felizmente nesse ano, apesar de um dos componentes da equipe precisar deixar a revista aps a publicao da primeira edio, tivemos o acrscimo de mais duas integrantes, sendo uma delas do curso de Conservao e Restaurao. Com a greve dos alunos, professores e tcnicos da universidade, a produo da primeira edio foi suspensa, e, quando foi retomada, a equipe, com sua formao atual, estava completa. Assim, a Desvio ampliava para se tornar uma revista da EBA e no apenas do curso de Histria da Arte, e tambm propunha a sua prpria edio como um espao de experincia para os estudantes, que podem colaborar na organizao de apenas uma edio, apesar da equipe fixa da revista.

    Alm de suprir a demanda de receber o contedo de graduandos, a Desvio tambm um espao de produo de reflexo, debate e memria da Escola de Belas Artes. Essa era uma outra lacuna que era identificada na universidade. Faltava um objeto que ao mesmo tempo informasse e servisse posteriormente como documento integrante da memria da universidade e da escola, especialmente em relao ao envolvimento discente nestas. O formato da revista foi construdo a partir de pesquisas da equipe sobre revistas j existentes, mas tambm a partir das possibilidades de textos que queria-se apresentar: da forma mais livre e acessvel, desde que respeitando as normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT). Portanto, a Desvio pretende ser submetida a avaliao da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) quando for publicada a quarta edio da revista em maro de 2018 para que os pesquisadores que tenham interesse possam ser devidamente qualificados, porm, os que no tem interesse em artigos acadmicos, mas em outros formatos, tambm se est aberto a receber.

    Dessa forma, a terceira edio da revista ser construda, especialmente, pela produo textual do primeiro encontro de estudantes de graduaes em artes do estado do Rio de Ja-neiro,1 evento ainda em construo, cuja temtica ser A pureza um mito. O encontro, que

    1 O evento j possui um nome provisrio: I PEGA P ___ Encontro de Estudantes de Graduaes em Artes do Estado do

  • 26 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 23 29, 2018.

    objetiva reunir as pesquisas dos estudantes do estado do Rio de Janeiro, ter em seu perodo de inscrio disponveis, um acompanhamento para os trabalhos que forem ser inscritos. Quem desejar poder comparecer na data e horrio combinados para compartilhar o que pretende inscrever e ouvir crticas e sugestes. Isso porque acreditamos que a pesquisa e a sua publicao no deve estar apenas no repertrio da prtica discente de ps-graduao, mas tambm da graduao desde seu incio. O processo de acompanhamento ser uma forma de colaborar na emancipao de quem no est seguro do trabalho a ser inscrito no encontro. Portanto a Desvio no trata apenas de uma simples publicao dos envios de estudantes de graduao, mas tam-bm apoia essa produo e a divulgao e o debate presencial dessas pesquisas.

    Primeira edio

    Na primeira edio da revista, lanada em novembro de 2016 no I Encontro O Ensino de Artes na Formao Universitria. Com esse lanamento foi possvel adquirir o registro de ISSN para peridico virtual, proporcionando um acrscimo ao estudante que envia contedo para a revista: agora ele pode registrar esse contedo em seu currculo e com isso acrescentar alguns pontos em sua trajetria acadmica. Reuniu-se crticas, entrevistas, cadernos especiais e uma co-lunista convidada. Os cadernos especiais completavam a realizao de dois eventos simblicos na histria da escola. Um foi dedicado ao Afroresistncias: Esttica Negra e Novas Narrativas. O evento foi organizado por estudantes da Escola de Belas Artes de 11 a 13 de maio de 2016. Congregou estudantes, artistas, afro empreendedores, educadores, mestres e portadores dos di-versos saberes da cultura negra, promovendo debates, apresentaes de trabalhos acadmicos, oficinas, economia criativa e uma mostra coletiva de arte. No caderno foram publicados a apre-sentao do evento por Angelica Arcasi e os artigos Mulher negra: corpo, memria e protagonis-mo no audiovisual de Simone Ricco, PIXAO a cultura Xarpi na cidade do Rio de Janeiro de Samuel Lima e A face negra do poder constituinte originrio brasileiro: a atuao interseccional das Mulheres Negras do Estado do Rio de Janeiro na construo das demandas na constituinte de 1988 de Ellen Mendona Silva dos Santos. Conforme o texto de apresentao do evento:

    O que propomos surge como nova demanda no contexto da recente entrada de estu-dantes negros e indgenas, perifricos e pobres na universidade, uma instituio historicamen-te excludente, que agora se converte em espao de disputa e resistncia diria. Por isso, vale questionar: qual o lugar do conhecimento no eurocntrico na trajetria de 200 anos da Escola de Belas Artes? Qual ser o impacto deste novo protagonismo na produo historiogrfica e esttica acadmica?

    O outro caderno especial trouxe transcries das falas realizadas na Descomemorao dos 44 anos do assassinato de Ana Maria Nacinovic no dia 14 de junho de 2016, organizado pelo

    Rio de Janeiro. O nome foi escolhido em uma reunio com discentes da maioria das universidades pblicas do estado do Rio de Janeiro que possuem graduaes em artes. O nome deixa a letra P livre para a imaginao, criando oportunidades de pensamento, englobando palavras como Primeiro, Projeto, Produo, entre outras.

  • 27Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 23 29, 2018.

    Coletivo de Mulheres Ana Maria Nacinovic. Ana era estudante da Escola e foi covardemente assassinada durante a ditadura militar. Foram publicadas a apresentao do evento por Gabriela Lcio, e as falas Heranas da ditadura: a atual conjuntura poltica e os principais desafios para resgatar essa histria de Ana Bursztyn Miranda, Anna Bella Geiger e Niomar Moniz Sodr: as artes visuais brasileiras e a ditadura militar de Daniele Machado e 44 anos depois, o trabalho na Comisso da Verdade de Nadine Borges.

    A primeira edio tambm contou com um marco da arte contempornea no estado do Rio de Janeiro: em 2016 foram completados 20 anos do Centro Municipal de Arte Hlio Oiticica (CMAHO) na cidade do Rio de Janeiro e do Museu de Arte Contempornea (MAC) da cidade de Niteri. Assim, foram realizadas entrevistas pela equipe da Desvio com a ento diretora e curadora do CMAHO Izabela Pucu e com o diretor geral e curador do MAC Luiz Guilherme Vergara. Foram abordados no apenas as trajetrias de 20 anos desses espaos, mas tambm a consolidao da arte contempornea nessas cidades e seus entrelaamentos, as suas participa-es nessas trajetrias e as gestes que ambos realizavam.

    A edio contou ainda com a colunista convidada Rogria de Ipanema, professora da EBA e atual assessora especial da Pr-reitoria de extenso da UFRJ, cujo texto foi permeado por ques-tes sobre a construo da universidade e como ser EBA aps o recente incndio que afetou o prdio que abrigava a reitoria, pr-reitorias, a Escola de Belas Artes e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. A primeira Desvio contou ainda com as crticas de arte Vnia Mignone na Galeria Mercedes Viegas de Joo Paulo Ovdio e Modernidades Fotogrficas no Instituto Moreira Salles RJ de Priscila Medeiros de Oliveira e os artigos acadmicos Relaes formais e sociolgicas entre a arte ocidental da Idade Mdia e a pr-colombiana de Thiago Spindola Motta Fernandes e Arte popular brasileira: a influncia do material do processo criativo de Liliane Alfonso Pereira de Car-valho.

    Segunda edio

    Na segunda edio, recm-publicada em junho de 2017, a revista cumpriu o objetivo de ser uma opo para os estudantes de graduao, mas tambm de ps-graduao. Foram sub-metidas 45 propostas de contedo para a revista, com temticas diversas, alm do caderno especial da equipe sobre o incndio de outubro de 2016.

    Em outubro de 2016 a Escola de Belas Artes sofreu um incndio que deixou milhares de estudantes sem salas de aula, um trgico marco de uma era da instituio que se iniciou em 1975, com sua transferncia do Museu Nacional de Belas Artes para o Fundo. Apesar de ocupar um espao que originalmente pertence Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a EBA, que h dcadas aguarda a construo de sua prpria sede, sente a dor da perda de um lugar que a abrigou e por onde deixou suas marcas ao longo de 41 anos. O caderno Incndios trouxe a entrevista realizada pela equipe da Desvio com ngela Ancora da Luz, ex-aluna, professora e di-

  • 28 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 23 29, 2018.

    retora da Escola de Belas Artes, que testemunhou da transferncia da instituio para o Fundo. ngela relata em seu depoimento como era a vida dos estudantes na antiga sede no Museu Nacional de Belas Artes, alm de detalhes sobre a transferncia da Escola, tentativas fracassadas de se conseguir uma nova sede e suas realizaes como diretora. Tambm h o artigo Anlise e acompanhamento conservativo do Ncleo Interdisciplinar de Estudo da Imagem e do Objeto (NIO) de Gabriela Lcio, Patricia Riggo e Maria Cristina Volpi, em uma reflexo sobre tticas de conservao nos acervos da escola diante das possibilidades ps-incndio. O segundo artigo Espao de experincia, Horizonte de expectativa e o estado da arte visual no ensino mdio do RJ de Maza de Frana conecta o ensino da licenciatura de arte na universidade e a prtica na sala de aula. No ensaio A EBA PEGOU FOGO! A EBA RESISTE! A EBA RE-EXISTE! Daniele Machado investiga encontros imagticos e de dispositivos nas trajetrias de edifcios e projetos da Escola de Belas Artes e do Centro da cidade do Rio de Janeiro.

    A edio continua com duas crticas e um ensaio. Em Exposio Balancete do Coletivo Fil de Peixe no Centro Municipal de Arte Hlio Oiticica Thiago Fernandes aborda a retrospectiva de dez anos de trajetria coletivo carioca. E em Meu mundo teu: elos afetivos e simblicos de se estar junto Pedro Ambrosoli analisa a mostra individual do artista Alexandre Sequeira. O ensaio de Barbara Andrade, Pixo e arte: linguagem, ao e novas inseres, retoma o assunto pichao j abordado em edio anterior por Samuel Lima, a partir de outras perspectivas.

    Por fim, temos os artigos, que nesta edio so muitos. Trs que abordam recortes na arte contempornea brasileira. A gente produz obras que no so nossas: aspectos da autenticidade na arte contempornea de Camila Medina, Lygia Clark e o No-Objeto: interatividade e forma artstica de Amanda Inocencio e Imagens da morte na arte contempornea brasileira de Tadeu Ribeiro. Dois com discusses em torno da imagem. Reprodutibilidade e fantasmagoria: a rein-veno do simulacro em Morel de Adagilso Pereira, tica, esttica e poltica: a fotografia de Nhem Ein e o lugar da memria de Vitor Brito. A sesso se encerra com A educao grega: o ideal que se perdeu da humanidade de Clarice Saisse, Debora Poncio e Cintia Gameiro, ArRUAa: estudos iniciais sobre o corpo funkeiro carioca de Mayara Assis e Jos Medeiros, o poeta da luz de Gabriele Nascimento.

    Consideraes finais

    Se fosse necessrio descrever a revista Desvio em poucas palavras, certamente diramos: a materializao de um sonho. A revista torna concretas as ambies de toda uma comunidade acadmica, estimulando produo de pesquisas e a realizao de encontros, diferenciando-se das demais iniciativas na UFRJ devido seu carter independente, reforando o interesse dos gra-duandos em garantir espaos de discusso. A Desvio traz tona questes atuais, atentando-se para aos principais episdios da arte contempornea, expondo diferentes perspectivas sobre o

  • 29Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 23 29, 2018.

    assunto. O fato de sermos autnomos nos confere a possibilidade de experimentar, descobrir a cada edio erros e acerto, por meio de tentativas nos aperfeioarmos.

    Propomo-nos, indiretamente, a construir maior integrao entre os cursos da Escola de Belas Artes, pensando articulaes entre teorias e prticas. Como pode uma instituio no promover aes onde alunos de diferentes cursos imbriquem-se? Colaboraes reais, sendo possvel exercitar a curadoria, a crtica de arte, e at mesmo se descobrir artista. Ainda estamos engatinhando, porm possumos o frescor necessrio para lutar por tudo que acreditamos: a integrao entre saberes e fazeres.

    A Desvio segue em obras, em construo permanente. Entre os planos futuros est a quali-ficao da CAPES, uma maior colaborao nas reinvindicaes discentes da EBA, a realizao de mais eventos para promover o encontro e debate de pesquisas de graduao e ps-graduao, e uma profissionalizao maior dos seus modos de produo e comunicao. Tambm h o interesse em adicionar uma seo de traduo, buscando apresentar escritos de autores negros, mulheres, LGBTQs, perifricos, enfim, uma ateno para pespectivas de pesquisadores fora do circuito eurocentrico.

    Seguimos desviando. Sempre esquerda!

    Referncia bibliogrfica

    DESVIO - Uma revista em construo. Disponvel em: Acesso em: 21 set. 2017.

  • 30 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 30 33, 2018.

    FINANCIAR PERIDICOS ABERTOS OU BASES ABERTAS DE PERIDICOS PAGOS? HISTRIA E EXPANSO DOS PERIDICOS CIENTFICOS

    Luis Paulo Vieira BragaProfessor colaborador no Departamento de Geologia - UFRJ

    Histria e Expanso dos Peridicos Cientficos

    O mundo da cincia vasto e globalizado. Alis, mesmo antes desse termo ser utiliza-do, a atividade cientfica sempre se caracterizou por sua internacionalizao. Guerras religiosas, polticas e econmicas no impediram os cientistas de diferentes naes de se comunicarem. Trezentos e cinquenta anos depois da criao do Philosophical Transactions of the Royal Society milhares de peridicos cientficos impressos ou virtuais circulam pelo planeta, supostamente atestando uma atividade febril de inovao, questionamento e transformao (L. Vieira 2015). Lanado em 1665, tinha como objetivo a difuso do conhecimento, a responsabilidade era de uma sociedade cientfica e o custeio do estado, representado pelo soberano. Somente a partir da II Guerra Mundial as editoras comerciais assumiram a responsabilidade pela produo, im-presso e distribuio da maioria dos peridicos cientficos. A mensurao da produo cien-tfica tambm se estabelece nessa poca com base nas Leis de Lotka (1926), Bradford (1934) e Zipf (1949). A cienciometria assume funes estratgicas na avaliao de instituies, cursos e pesquisadores. Por outro lado, o alto custo de impresso e distribuio leva concentrao de editoras e constitui barreira para instituies com menos recursos financeiros, assim como o dispndio com a necessria infraestrutura de bibliotecas e pessoal tcnico. As presses se tornam ento insuportveis, novas geraes de pesquisadores carecem de condies mnimas para se manter atualizados em instituies de pases menos desenvolvidos. O crescimento da populao de cientistas provoca colapso no sistema de publicaes, um artigo podia levar anos at finalmente ser publicado, caso tivesse sido aceito.

    A revoluo da informtica, novas modalidades de peridicos

    A revoluo da informtica veio trazer novas e imensas perspectivas para o mundo aca-dmico. Inicialmente, a popularizao dos microcomputadores, assim como de programas para edio de textos cientficos provocou uma onda de publicaes digitais que, entretanto, era distribuda em meios fsicos tais como disquetes, fitas, cartuchos. Com a introduo da internet

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    e sua ramificao por todo o mundo, a distribuio tambm passou a ser feita digitalmente. O nmero de peridicos cresceu exponencialmente tanto da parte das editoras tradicionais que dominam o mercado editorial Springer, Elsevier, Wolters Kluwer, Wiley Blackwell e Taylor-Francis, dentre as principais, assim como da parte de novas editoras on-line ligadas ou no a instituies de pesquisa. So essas ltimas que trouxeram muitos problemas no quesito qualidade, como veremos na prxima seo. Antes, porm, necessrio registrar que a questo do custo e acesso apenas teve uma relativa melhoria, insuficiente para atender a demanda reprimida por dcadas. Tomaram corpo movimentos radicais de pirataria de peridicos que ainda subsistem, mas com consequncias dramticas para muitos de seus idealizadores. Outra vertente, mais consistente, a dos peridicos de acesso aberto (open-access) que ao invs de cobrar dos leitores, cobra dos autores. H aproximadamente 10.000 peridicos nessa categoria, cadastrados no Diretrio de Peridicos de Acesso Aberto (DOAJ). Outra categoria a de peridicos hbridos, as editoras tradicionais, preocupadas com o avano da modalidade acesso aberto, tambm lanaram peri-dicos de acesso aberto e os chamados hbridos que incluem artigos fechados e abertos.

    A proliferao de peridicos, se por um lado, abriu novas oportunidades de publicao, por outro, dificultou o acompanhamento de tantas fontes de conhecimento. As bases de peri-dicos vieram suprir essa deficincia. No Brasil h pelo menos duas grandes bases de peridicos, embora elas estejam tambm se multiplicando (UFRN 2017). A base de peridicos da CAPES rene mais de 10.000 peridicos fechados e constitui o investimento mais importante no campo de acesso ao conhecimento para as instituies brasileiras. A outra base relevante a base SCIE-LO focada em peridicos de acesso aberto.

    O desafio da qualidade

    Nesse artigo alertamos sobre as consequncias que a banalizao dos peridicos cientfi-cos em escala mundial representa para a comunidade de pesquisadores e para os pases que as sustentam. Editoras e peridicos de qualidade duvidosa vm servindo de veculo para trabalhos ou pseudotrabalhos, que custam muito dinheiro s fontes de financiamento pesquisa. Prticas tais como: utilizao de nomes parecidos com os de peridicos consagrados, aceitao expressa de artigos sem reviso criteriosa, composio irregular de corpos editoriais, dentre outras.Assim, para muitos professores brasileiros, a oportunidade de publicar com mais facilidade em peridi-cos supostamente de mbito internacional recebeu enorme adeso, ignorando-se a qualidade das publicaes e despendendo-se grandes somas de dinheiro para editoras de qualidade du-vidosa.

    A aura de pureza, inovao e democratizao do movimento de acesso aberto (open ac-cess) foi gradualmente sendo contaminada por prticas comerciais desonestas com consequen-te queda de qualidade. O epicentro desse tsunami a China, aonde a necessidade de publicar de milhares de novos professores em centenas de novas universidades motivou empresrios

  • 32 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 30 33, 2018.

    a criarem editoras desvinculadas de instituies de ensino ou sociedades cientficas (L. Vieira 2014b). SciencePG, David Publishing, Science Publications e Scientific Research, dentre outras, se notabilizaram por prticas inaceitveis at ento no meio acadmico. Essa corrupo acadmica no se restringiu China, escndalos ocorreram nos EUA, Europa Ocidental (M. Ansede 2017). No nosso caso, apesar da aparncia, a utilizao de peridicos abertos no economiza recursos pblicos, porque as taxas de publicao so pagas com recursos oramentrios e extra ora-mentrios das instituies pblicas de ensino e pesquisa.

    Embora sujeito a controvrsias, o Fator de Impacto (FI) tem sido uma das mais importan-tes referncias quando se trata de avaliar a qualidade de um peridico. Ele calculado a partir de uma base de peridicos - Web of Science (WoS) pelo Journal Citation Reports (JCR) que calcula o FI com base nas citaes de artigos do peridico. Os cinco melhores peridicos brasileiros segundo o ndice de impacto so:

    Posio Nome Abreviao no JCR Citaes Totais FIFI sem auto citao

    FI por cinco anos

    1Memrias do Instituto Oswaldo Cruz

    MEM I OSWALDO CRUZ 6.172 2,605 2,498 2,101

    2Journal of Materials Resear-ch and Technology-JMR&T

    J MATER RES TECHNOL 477 2,359 2,282 -

    3Diabetology & Metabolic Syndrome

    DIABETOL METAB SYNDR 1.286 2,347 2,287 2,571

    4 Jornal de Pediatria J PEDIAT-BRAZIL 1.643 2,081 1,826 1,830

    5REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA

    VER BRAS PSIQUIATR 1.565 2,049 1,961 2,439

    No entanto, no Brasil a base de referncia para peridicos outra QUALIS, que indica a classificao do peridico. Os seus critrios causam muita polmica (L. Vieira 2014a) e foram de-tectados muitos peridicos de qualidade duvidosa com boa classificao. Se, por um lado, a res-ponsabilidade pelos empreendimentos editoriais inadequados a de seus donos e diretores. Por outro, a autoridade governamental deve zelar pela qualidade dos servios que so oferecidos ao pblico. No caso, trata-se da gesto do QUALIS, uma base de referncia que vem contemplando muitas publicaes que no honram a integridade cientfica. Na opinio de alguns pesquisado-res, o QUALIS desnecessrio e at mesmo prejudicial. Se desejarmos a internacionalizao da Cincia praticada no pas, a primeira coisa que devemos fazer abster-nos de criar uma classifi-cao de peridicos prpria e usar a classificao que todo mundo usa.

    Embora o acesso aberto apresente como vantagem o fato de qualquer cidado acessar qualquer publicao, em minha opinio, a soluo da Base de Peridicos da CAPES melhor, pois viabiliza o acesso do corpo social das instituies conveniadas a publicaes especializadas de reconhecida notoriedade. Bibliotecas on-line abertas para a populao com obras de inte-resse geral seriam muito mais teis do que disponibilizar peridicos especializadssimos para leigos. A qualidade deve ser o principal critrio da insero dos peridicos na base, ater-se aos

  • 33Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 30 33, 2018.

    princpios fundadores reviso por pares, afiliao a uma sociedade cientfica, financiamento preponderantemente pblico na aquisio por instituies de ensino e pesquisa. uma iluso acreditar que o sistema aberto possa substituir por completo o sistema fechado, isso s pos-svel custa da qualidade do produto final, destruindo um esforo de sculos para erigir um sistema de divulgao e qualificao do conhecimento.

    Referncias bibliogrficas

    El mayor escndalo de la ciencia espaola se vuelve mundial, M Ansede, El Pais. [Acesso em 20 de setembro de 2017]. Disponvel em https://elpais.com/elpais/2017/09/19/ciencia/ 1505846722_410554.html? id_externo_rsoc=TW_CC

    O Fio da Navalha-Reflexes sobre a Carreira Docente, L. Vieira, Psychiatry on Line Brasil, Janeiro de 2015 - Vol.20 - N 1

    Qualis sob suspeita, L. Vieira, Psychiatry on Line Brasil, Agosto de 2014a Vol.19 - N 8

    Submundo acadmico, L. Vieira, Psychiatry on Line Brasil, Setembro de 2014b Vol. 19 N 9

    UFRN Catlogo de Livros Digitais. [Acesso em 14 de outubro de 2017]. Disponvel em http://www.edufrn.org/pages/livros-digitais.php

  • 34 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 34 44, 2018.

    BIBLIOTECA DO MUSEU NACIONAL: RELATO DE EXPERINCIA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS FUTURAS NA SEO DE DESENVOLVIMENTO DE COLEES

    Leandra Pereira de OliveiraMuseu Nacional/UFRJ; Mestre em Biblioteconomia; Tcnica Administrativa

    Leonardo Soares de SantanaMuseu Nacional/UFRJ; Bacharel em Biblioteconomia; Tcnico Administrativo

    Soraia Santana CapelloMuseu Nacional/UFRJ:Mestre em Biblioteconomia; Tcnica Administrativa

    Introduo

    O Museu Nacional, vinculado Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1946 e parte integrante da estrutura acadmica desta, considerado a mais antiga instituio cientfica do pas e um dos maiores museus sobre Histria Natural e Antropolgica da Amrica Latina.

    A Biblioteca do Museu Nacional (BMN) especializada em Cincias Naturais e Antropo-lgicas, seu acervo composto por CDs, DVDs, E-books, folhetos, livros, materiais iconogrficos e cartogrficos, obras raras, peridicos, teses e dissertaes, e integra o Sistema de Bibliotecas e Informao (SIBI), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem como misso Assegurar o acesso informao para produo de conhecimento nas reas de Cincias Naturais e Antropo-lgicas, apoiando as atividades de ensino, pesquisa e extenso do Museu Nacional e assumindo a responsabilidade de preservao e conservao de patrimnio cientfico e cultural sob sua custdia, bem como a viso de Ser uma biblioteca de referncia, especializada em Cincias Naturais e Antropolgicas, no mbito nacional e internacional e como valores: a tica e integri-dade; o respeito, agilidade e cordialidade; a parceria e cooperao institucional; a valorizao das habilidades individuais; o trabalho em equipe e com transparncia; e a qualidade e excelncia.

    A criao da biblioteca foi oficializada no decreto de 11 de julho de 1863, assinado pelo ministro do imprio Manoel de Arajo Lima, Marqus de Olinda. Originalmente seu acervo se iniciou pela doao de colees especiais e doaes de pesquisadores e diretores do Museu Nacional, alm do intercmbio da revista Arquivos do Museu Nacional, mantido at hoje com outras instituies brasileiras e estrangeiras.

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    A aquisio de materiais pode ser feita por compra, permuta ou doao. Na Biblioteca do Museu Nacional a forma de aquisio mais utilizada a permuta, tambm chamada de inter-cmbio. Permuta a troca de publicaes entre entidades, na forma de intercmbio. Algumas vantagens desta forma de aquisio so a economia da verba e a possiblidade de conseguir adquirir materiais que no estejam disponveis para compra; nesses casos, um programa de in-tercmbio de publicaes bastante til (ANDRADE; VERGUEIRO, 1996, p. 57).

    Andrade e Vergueiro (1996) definem programa de permuta como um acordo preesta-belecido entre duas instituies, com o compromisso mtuo de fornecimento de publicaes das prprias entidades, de obras duplicadas ou retiradas do acervo ou de obras recebidas em doao, mas sem interesse para incorporao ao acervo. Ainda de acordo com os autores

    Como os programas de intercmbio representam, em essncia, um acordo de cooperao visando a benefcios recprocos em termos de obteno de mate-riais, alm do fator cultural outras razes vo tambm determinar o estabele-cimento da permuta. Entre elas, podem ser apontadas: obteno de material de difcil localizao: muitas vezes os materiais selecionados para aquisio no so encontrados no comrcio (ou no so encontrados facilmente e os forne-cedores, por comodismo, recusam-se a procurar por eles com mais empenho). Isso comum acontecer com publicaes acadmicas que so distribudas sem fins comerciais. Da mesma forma, a produo de pases do Terceiro Mundo tambm costuma envolver relaes comerciais complicadas, fazendo com que muitas vezes a opo por um programa de permuta, onde no existe transfe-rncia de divisas, aparea como a soluo mais apropriada. As j mencionadas publicaes da literatura cinzenta so as principais candidatas permuta, de-vido a suas caractersticas nem sempre comerciais. Muitas publicaes oficiais tambm podem ser obtidas por esse meio; substituio de ttulos comprados por ttulos permutados: esta opo costuma ocorrer principalmente em relao a publicaes de interesse cientfico, liberando recursos para aquisio de outros ttulos. No Brasil, nem sempre essa prtica possvel, devido inconstncia de nossas publicaes que, por no apresentarem uma periodicidade regular ou por no terem suficiente garantia de continuidade, no constituem materiais adequados para permuta. A quantidade de peridicos que lanam dois ou trs nmeros para logo morrerem muitas vezes toma invivel um intercmbio com maior assiduidade; complementao de falhas na coleo: este tem sido um dos fatores mais considerados para o estabelecimento de programas de per-muta. Para atingir esse objetivo, listas do material que existe em duplicata ou disponvel para permuta so elaboradas pelas bibliotecas e encaminhadas s instituies conveniadas. Quem recebe e examina essas listas costuma muitas vezes descobrir ali nmeros antigos de peridicos que esto faltando em sua co-leo, obras esgotadas que no foram anteriormente adquiridas ou duplicaes

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    indispensveis ao acervo.1

    Relato de experincia

    A atividade de permuta da Biblioteca do Museu Nacional iniciou-se em 1876, exatamente no ano em que o primeiro peridico cientfico dedicado exclusivamente s Cincias Naturais, Arquivos do Museu Nacional, foi publicado. Inclusive, h relatos de que a criao dessa pu-blicao peridica foi estrategicamente intencional para se iniciar a atividade de permuta na Biblioteca do Museu Nacional, resultando-se assim no pleno desenvolvimento da coleo com produtos intercambiados de qualidade.

    Enviava-se grande nmero de exemplares do peridico Arquivos do Museu Nacional para instituies da mesma rea do conhecimento, museus e bibliotecas que, em parceria, envia-vam em troca muitos peridicos que auxiliaram no enriquecimento do acervo da Biblioteca do Museu Nacional. Em 1878, Ladislau Neto, diretor do Museu Nacional na poca, organizou um servio grfico anexo ao museu com o intuito de facilitar e minimizar os custos da impresso da publicao, visando atingir em grande escala geogrfica a divulgao desse peridico e a capta-o de instituies cientficas para a realizao de permuta.

    As publicaes do Museu Nacional constituem matria-prima para a realizao de acordos de permuta com instituies cientficas nacionais e estrangeiras, que contribuem sobremaneira para o desenvolvimento do acervo da Biblioteca com custos bastante reduzidos. Alm dos Ar-quivos do Museu Nacional, a biblioteca envia como permuta mais 8 principais publicaes para 457 instituies So elas: Publicaes Avulsas, Boletins (Srie Antropologia, Botnica, Geologia e Zoologia), Srie Livros, Documentos de Trabalho e Relatrios do Museu Nacional. O quadro 1 a seguir mostra o quantitativo de instituies que recebem as publicaes do Museu Nacional.

    N. total de Instituies Arq. Pub. Avulsas Antr. Bot. Geol. Zool. Srie livros Doc.Trab.

    Rel.

    Brasil 137 115 83 58 84 51 86 52 44 55frica 12 12 10 6 7 7 10 10 6 6Amricas 115 115 91 55 78 58 92 48 34 39sia 28 28 19 3 16 6 21 7 2 3Europa 155 148 122 61 99 70 115 43 34 42Oceania 10 10 9 4 6 5 9 10 2 5TOTA 457 428 334 187 290 197 333 170 122 150

    Quadro 1 - Instituies que recebem publicaes do Museu nacional. Fonte: Relatrio interno do Setor de Permuta, 2017.

    A Biblioteca do Museu Nacional, ao longo dos anos, tem mantido grandes parcerias com institutos, museus e universidades renomados no Brasil e instituies no exterior como, por

    1 ANDRADE; VERGUEIRO, 1996, p. 68.

  • 37Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 34 44, 2018.

    exemplo, as bibliotecas de botnica da Harvard University e do Smithsonian Institution, nos Es-tados Unidos, e com o Senckenberg Research Institute and Natural History Museum, na Alema-nha. No total, so 457 instituies parceiras em 45 pases, incluindo o Brasil. Recebe 554(APN-DICE 1) ttulos como permuta, conforme quadro a seguir.

    No de INSTITUIES que mantm Permuta com o Museu Nacional

    No de TTULOS que o Museu Nacional recebe como Permuta

    No de PASES que mantm Permuta com o Museu Nacional

    Brasil (20 estados) 137 122 1frica 12 13 1Amricas 115 153 13sia 28 38 6Europa 155 214 22Oceania 10 14 2TOTAL 457 554 45

    Quadro 2 Quantidade de ttulos na permuta. Fonte: Relatrio interno do Setor de Permuta, 2017

    A Seo de Desenvolvimento de Colees da BMN, antigo Setor de Permuta, entende que:

    O processo de desenvolvimento de colees tem suas origens na Antigidade, atravs da seleo de obras destinadas a formar colees em bibliotecas. A grande retomada da rea teve seu marco a partir da segunda metade do sculo XX, em decorrncia do pice da exploso bibliogrfica, quando, pela primeira vez, questionado o modo de se formarem colees com base na acumulao, em detrimento da seleo orientada para a qualidade, relevncia, e acesso informao. Novas metodologias, tcnicas e procedimentos foram incorporados para fomen-tar esse novo enfoque, caracterizando o modelo de biblioteca baseado no acesso. Na busca de solues estratgicas para atender a essa clientela, bem como para resolver conflitos decorrentes das novas relaes que a Internet desencadeou em todas as esferas do fazer humano, o novo modelo de biblioteca centrado no acesso foi acompanhado de gradual mudana de atitude por parte dos bibliotecrios em relao s colees. Com o advento da Internet, a introduo do do-cumento eletrnico acelerou esse processo e estimulou a aplicao de polticas voltadas para a qualidade e pertinncia das reas. Portanto, em sentido mais prtico, as tcnicas e metodologias da rea de desenvolvimento de colees tm apresentado solues para administrar conflitos entre demandas e necessidades, bem como restries de recursos em nvel local.2

    Nesta perspectiva, a Seo de Desenvolvimento de Colees passou recentemente a ter ajuda de um programa de automao que auxilia as atividades relacionadas aquisio. O La-dislau, nome atribudo em homenagem ao ex-diretor do Museu, uma aplicao web que foi desenvolvida pelos bibliotecrios da seo em parceria com o Setor de Informtica da Institui-o para gerenciar as atividades de permuta e doaes da Biblioteca. utilizada para controlar

    2 WEITZEL, 2002, p. 66.

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    o envio e o recebimento de publicaes seriadas pelas instituies parceiras. Alm do sistema manter o cadastro atualizado de editoras nacionais e estrangeiras que participam do sistema de intercmbio da Biblioteca do Museu Nacional, ele permite que o operador insira a data mais recente de chegada do documento, mantendo um cadastro ativo de instituies, otimizando o envio das publicaes produzidas pelo Museu Nacional s outras instituies. O sistema per-mite gerar relatrios que informam a relao de editoras parceiras e as revistas recebidas pela Biblioteca do Museu Nacional, separadas pela localizao geogrfica desses editores. O sistema possibilitou, tambm, um melhor monitoramento de entrada e sada de publicaes, agilizando o processo de recuperao da informao. O Ladislau pode ser acessado remotamente de qual-quer lugar com acesso internet, por um navegador, dispensando sua instalao.

    Ao longo dos anos, manter o acordo de permuta com as instituies tem sido uma tarefa rdua. O principal problema enfrentado no envio das publicaes, sobretudo as internacionais. O Museu Nacional tem operado com verbas reduzidas destinadas aos servios de postagem pelos Correios. Isso acaba acarretando na demora no envio de publicaes da Entidade para as outras instituies. A Biblioteca procura entrar em contato com elas por e-mail, reduzindo a chance de perder as parcerias.

    A Biblioteca do Museu Nacional, visando cumprir o compromisso da Instituio em pre-servar o valioso patrimnio cientfico e cultural sob sua guarda, e afim de possibilitar acesso rpido s suas publicaes, tem a inteno de digitalizar sua produo interna e dissemin-la s instituies parceiras no acordo de intercmbio. A digitalizao das publicaes do Museu teve incio entre os anos 2004 e 2010, com a revista Arquivos do Museu Nacional, atravs do projeto Implantao do laboratrio de digitalizao, edio e disponibilizao em meio eletrnico de In-Flios e Obras Raras do Museu Nacional/UFRJ, financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos, com apoio da Fundao Jos Bonifcio. As publicaes esto disponveis na pgina de obras raras da Biblioteca do Museu Nacional. As informaes sobre as obras so apresentadas na forma de metadados utilizando o padroDublin Core. A ideia da Biblioteca continuar com essa proposta e disponibilizar o acesso online a os outros documentos, chancelados pelo Museu Nacional, aos usurios internos e externos.

    Consideraes finais

    Apesar das adversidades enfrentadas para a manuteno das atividades de permuta da Biblioteca do Museu Nacional, como a falta de verba para os Correios e os problemas com os meios de comunicao, a Seo de Desenvolvimento de Colees da Biblioteca do Museu Na-cional continua buscando novas formas de trabalho para superar estes desafios, como exemplo a automao das atividades atravs da aplicao web Ladislau.

    Destacam-se como perspectivas futuras a necessidade de um novo levantamento, a fim de atualizar os dados fazendo link com os j disponveis no sistema da biblioteca, bem como

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    dar continuidade ao projeto de digitalizao das publicaes do Museu Nacional e assim fazer permuta com os documentos digitais, gerando economia de recursos, como gastos com papel e com os Correios, e garantindo agilidade no intercmbio de publicaes.

    Referncias bibliogrficas

    AGOSTINHO, M. A revista Arquivos e a Biblioteca do museu Nacional: espaes de circulao e conservao das cincias naturais no Brasil Imperial. Acervo, Rio de Janeiro, v. 26, n. 1, jan./jun., p. 81-92, 2013. Disponvel em: . Acesso em: 11 jul. 2017.

    ANDRADE, D.; VERGUEIRO, W. Permuta. In: ___. Aquisio de materiais de informao. Bras-lia, DF: Briquet de Lemos, 1996. p. 55-77.

    CUNHA, D. F. F. A Biblioteca do Museu Nacional do Rio de Janeiro: 1863-1963. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1966. Srie Livros III.

    RANGEL, M. Os peridicos cientficos e os museus de histria natural no Brasil do sculo XIX. In: ENANCIB, 10, 2009, Anais... Joo Pessoa: ANCIB, 2009. Disponvel em: . Acesso em: 11 jul. 2017.

    MUSEU NACIONAL (Brasil). Relatrio interno de atividades do Setor de Permuta da Biblioteca do Museu Nacional, 2016. Rio de Janeiro, 2017.

    WEITZEL, Simone R. O desenvolvimento de colees e a organizao do conhecimento: suas origens e desafios. Perspect. cienc. inf., Belo Horizonte, v. 7, n. 1, p. 61 - 67, jan./jun. 2002.

    Apndice 1 Lista de ttulos da permuta

    Lista de permuta estrangeiraABC TaxaAbhandlungen Berichte des Naturkundemus. VorgeschichteAbhandlungen Berichte des Staatlichen Ethnographischen Sammlun-gen SachsenAbhandlungen des Naturwissenschaftlichen Vereins in Hamburg Abhandlungen Senckenberg Gesellschaft fur NaturforschungAbhandlungen de Zoologisch-Botanischen Gesellschaft OsterreichActa agronmicaActa Biologica CracoviensiaActa Botnica MexicanaActa Botnica VenezuelicaActa Cientifica PotosinaActa Entomologica ChilenaActa Geologica LilloanaActa ornithologicaActa PalaeobotnicaActa Universitatis Caroline BiologicaActa Zoolgica BulgaricaActa Zoologica Cracoviensia: Ser.AActa Zoologica Cracoviensia: Ser.BActa Zoologica LilloanaActualidades BiolgicasAdansoniaAfrican InvertebratesAfrican Natural History

    Agronomia ColombianaAlisoAllertoniaAnalele Steintifice ale Univ. Alex. Sect. I. Biologie animaliaAnales Arqueologia y EtnologiaAnales Jardin Botnico de MadriAnales Museo Nacional de Historia Natural de MontevideoAnales Museo de Hisoria Natural de ValparasoAnartiaAnimal Biodiversity and ConservationAnnalen Naturhistorisches Museum Wien: Ser.A. Mineralogie Petro-graphie...Annalen Naturhistorisches Museum Wien: Ser.B Botanique und ZoologiqueAnnales Botanici FenniciAnnales Historico Naturales Musei Nationalis HungariciAnnales ZoologiciAnnales Zoologici FenniciAnnali BotnicaAnnali Museo Civico di Storia Naturale Giacomo DoriaAnnals Carnegie MuseumAnnals Eastern Cape MuseumAnnals Missouri Botanical GardenAnnals of the Ditsong National Museum of Natural HistoryAnnual Report Institute Geoscience. Univ.Tsukuba

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    Annual Report Museum New Zealand Te Papa TongarewaAnthropological Papers. University MichiganAnthropology TodayAntropologia PortuguesaAquilaAracnologiaAranzadianaArchaeology InternationalArchiv der Freunde Naturgeschichte MecklenburgArchiv MolluskenkundeArchives des SciencesArchivio GeobotanicoArkansas Archeological Survey. Research SeriesArquivos Museu BocageArthopod Systematic PhylogenyAtti Accademia Roveretana degli AgiatiAtti Museo Civico Storia Naturale di TriesteAtti Societ Italiana Scienze Naturali Mus. Civ. Stor. Naturale di MilanoAustralian ZoologistAustrobaileyaBeautifortiaBeitrage zur EntomologieBelgian Journal of ZoologyBericht Naturforschenden Gesellschaft AugsburgBerichte Staatliches Museum Naturkunde in StuttgartBiogeographyBiological NotesBiological reviewsBiologiske SkrifterBiosystematics Ecology SeriesBishop Museum Bulletin in BotanyBishop Museum Bulletin in EntomologyBishop Museum Bulletin in ZoologyBishop Museum Occasional PapersBlumeaBocconeaBoissieraBoletim da Sociedade BroterianaBoletin Academia Ciencias Fis. Mat. Naturales de VenezuelaBoletin Asociacin Espanola EntomologiaBoletin Asociacin Herpetologia EspanolaBoletin Instituto Espanol OceanografiaBoletin Instituto Oceanografico de VenezuelaBoletin MNHNBoletin Real Academia de CrdobaBoletin Real Sociedad Espanola Hist. Natural: ActasBoletin Real Sociedad Espanola Hist. Natural: BiologiaBoletin Real Sociedad Espanola Hist. Natural: GeologiaBoletin Sociedad Biologia ConcepcionBollet Societat Historia Natural de les BalearsBolletino Accademia Gioenia ... CataniaBolletino Laboratory Entomologia Agraria Filipo Silvestri Bolletino Musei Istitute Biologici. Universita GenovaBolletino Museo Civico Storia Naturale di Verona: Botnica, ZoologiaBolletino Museo Civico Storia Naturale di Verona: Geologia, Paleon-tologiaBolletino Museo Civico Storia Naturale de VeneziaBolletino Museo Regionale Scienze Naturale - TorinoBolletino Societ Entomolgica ItalianaBonn Zoological BulletinBonner Zoologische MonographieBonplandiaBotnica Macaronsica

    BrevioraBritish Bulletin Publications on Latin AmericaBulgarian Folklore (Bulgarsku Folklor)Bulletin Auckland Institute MuseumBulletin Biogeographical Society of JapanBulletin Carnegie Museum of Natural HistoryBulletin Classe Sciences Academie Royale BelgiqueBulletin Fisheries SciencesBulletin Florida Museum Natural History. Biological SciencesBulletin Gunma Museum Natural HistoryBulletin Illinois Natural History SurveyBulletin Institut OceanographiqueBulletin Institut Royal Sciences Naturelles de Belgique: Entomologie & BiologieBulletin Institut Royal Sciences Naturalles de Belgique: Sciences de la TerreBulletin Mizunami Fossil MuseumBulletin Museum Comparative ZoologyBulletin National Museum Science. Ser.D AnthropologyBulletin National Tropical Botanical GardenBulletin Osaka Museum Natural HistoryBulletin Societ Histoire Naturele de ToulouseBulletin Societ Linnenne de BordeauxBulletin Societ Linnenne de Lyon Bulletin Societ Neuchateloise Sciences NaturellesBulletin Societe Vaudoise Sciences. NaturellesBulletin University Museum. University of TokyoButllet Institucio Catalana Historia NaturalCaldasiaCalifornia AgricultureCandolleaCaribbean Journal of ScienceCarinthia 2. KarntenCarinthia 2. SonderheftCeylon Journal of Science. Biological SciencesCimbebasia. Journal of the National Museum of NambiaCimbebasia. MemoirCdice. Boletn Cientfico y Cultural del Museo UniversitarioCollectanea BotanicaCollectie Science Humaines Comunicaciones Anthropologicas del Museo de Historia Natural de MonteideoComunicaciones Botnicas del Museo de Historia Natural de Monte-videoComunicaciones Museo Provincial de Ciencias Naturales Florentino AmeghinoComunicaciones Paleontolgicas del Museo de Historia Natural de MontevideoComunicaciones Sociedad Malacologica del UruguayComunicaciones Zoologicas del Museo de Historia Natural de MontevideoComunicaes GeolgicasContribuciones del MACNContributions Biological Laboratory. Kyoto UniversityContributions Biology and GeoloyContributions Museum of Paleontology of the University of MichiganContributions Sciences Natural History Museum of Los Angeles CountryContributions United States National HerbariumDecheniana Beihefte Naturhistorischen vereins Rheilande WestfalensDecheniana Verhandlungen Naturhistorischen vereins Rheilande WestfalensDeinsea

  • 41Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 34 44, 2018.

    DorianaDurban Museum NovitatesEcologia em BolviaEcological MonographsEl HorneroEntomologische Mitteilungen aus dem Zoologischen Museum HamburgEntomotaxonomiaEntomotropicaEsakiaEstudios Museo Ciencias Naturales de AlavaEthology Ecology EvolutionEtnologiska StudierFieldiana: AnthropologyFieldiana: BotanyFieldiana: GeoloyFieldiana: ZoologyFlora ColmbiaFlora MediterrneaFlorida AnthropologistFolia EntomolgicaFolia Facultatis Scientiarum Naturalium Univ. Masary. Brun. Serie BiolgicaFolia QuatenriaFolia ZoologicaFreshwater reviewsGardens BulletinGardenwiseGeodiversitasGeologia Hungarica. Series PalaeontologiaGeographica HelvticaGeologia ColombianaGeologie MediterranenneGeorgia Journal SciencesGlasgow NaturalistGulf and Caribeean Research Harvard Papers BotanyHispanic American Historical ReviewsHolarctic LepidopteraHombre y desiertoHorneroIbugana. Boletin del Instituto de BotanicaIchthyological BulletinINIDEP. Documentos cientficosInsecta MatsumuranaIrish Naturalist JournalJahrbuch Akadademie Wissenschaften GottingenJahrbuch Deutsche Akademie Naturforscher LeopoldinaJahrbuch Geologischen BundesanstaltJahrbuch Staatlichen Ethnographischen Sammlungen SachsenJournal Agriculture and environment for International DevelopmentJournal Botanical Research Institute of TexasJournal Entomological and Acarological ResearchJournal Geological Society of ChinaJournal Marine Biological AssociationJournal National Museum Natural History SeriesJournal National Taiwan MuseumJournal Natural History Museum and Institute - ChibaJournal North Carolina Academy of ScienceJournal Proceedings Royal Sociey of New South WalesJournal Royal Astronomical Society of CanadaJournal Systematic PalaeontologyJournal Tokyo University of Fisheries

    Kagoshima Daigaku Nagakabu Gakujutsu HokobeKatalog Fauny PolskiKatalog Wissenschaftlichen Sammlungen des Naturhistorischen Museums in WienKirtlandiaKobieKoenigianaKurtzianaLilloaLithostratigraphical SeriesLiving MuseumLvcentvmLYNXMatematisk Fysiske MeddelelserMaterial reports. University Museum. University of TokyoMauritianaMemoire Societ Vaudoise Sciences NaturellesMemoires Academie Sciences Arts Belles. DijonMemoires Commission des Antiquites du Departemnt de la Cte DOrMemoires Institut OcenaographiqueMemoirs Connecticut Academy of Arts and SciencesMemoirs Faculty of the Agriculture Kagoshima UniversityMemoirs Faculty os Science Kochi University. Ser. D - BiologyMemoirs Graduate School of Fisheries Sciences. Hokkaido UniversityMemoirs Museum Anthropology. University of MichiganMemoirs Museum VictoriaMemoirs Queensland MuseumMemoirs Queensland Museum Cultural Heritage SeriesMemria Fundacin La Salle de Ciencias NaturalesMemria NotciasMemrias Real Academia Cincias y Artes de BarcelonaMemrias Real Sociedad Espanola de Historia NaturalMemrias Sociedade BroterianaMemorie Museo Civico di Storia Naturale di Verona. 2.ser.Monografie NaturalisticheMemorie Museo Civico di Storia Naturale di Verona. 2.ser. Sez. Sci. dellUomoMemorie Museo Civico di Storia Naturale di Verona. 2.ser. Sez. Scienze della VitaMemorie Societ Entomolgica ItalianaMemorie Societa Italiana di Scienze Naturali e del Museo Civ. Stor. Nat. De MilanoMesge. Bulletin du useum dHistoire Naturelle de MarseilleMichigan Academician Papers of the Michigan Academy of Sci. Arts and LettersMichigan BotanistMiscelanea Academia Nacional Ciencias (Crdoba)Miscellanea Fundacin Miguel LilloMiscellanea PaleontologicaMiscellaneous Publications Museum ZoologyMiscellaneous Report Toyohashi Museum of Natural HistoryMissouri Botanical Garden BulletinMitteilungen Hamburgischen Zoologischen Museum und InstitutMitteilungen Munchner Entomologischen Gesellschaft.Mitteilungen Museum fur Naturkunde in Berlin: Deutsche Entomologis-che ZeitschriftMitteilungen Museum fur Naturkunde in Berlin: Zoosystematics and EvolutionMitteilungen Naturwissenschaflticher Vereins SteiermarkMitteilungen Schweizerischen Entomologischen GesellschaftMoanaMonografias Museo Argentino B.RivadaviMonografie Museo Regionale Scienze Naturali - Torino

  • 42 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 34 44, 2018.

    Monografie Natura BrescianaMonografies Museo Cincies NaturalsMonographs Western North American NaturalistMunibe. Antropologia-ArkeologiaMunibe.Ciencias NaturalesMunisMuseologia Scientifica MemorieNachriten Akademie der Wissenschaften in Gottingen Matematisch--PhyssikalischeNatura BrescianaNatura JutlandicaNatura. Rivista Scienze NaturalliNatural History Mueum Los Angeles CountyNatural History ResearhNaturalista Valtellinese (IL)Nature and CultureNavorsingeNmina del personal acadmic i anuari de la corporaciNoticirio mens. Museo Nacional de Historia Natural de ChileNotiziario Societ Lichenologica ItalianaNotulae NaturaeNova acta LeopoldinaNovonOccasional Papers Califrnia Academy SciencesOccasional Papers Museum Natural Science LousianaOccasional Papers Museum Texas Tech UniversityOccasional Papers Museum ZoologyOhio Journal of ScienceOpera LilloanaOsnabrucker Naturwissenschaftliche MitteilungenOsterreichische Akademie Wiss. Schr.Erdwissenschaftliche Kommis-sionenPacific SciencePakistan Journal of ZoologyPalaeodiversityPaleontologia AfricanaPapers New World Archaeological FoundationPapers PaleontologyPenn Ar BedPhysisPhytologia BalcanicaPittieriaPlant Ecology and EvolutionPlntulaPolish Botanical JournalPortugaliae Acta BiolgicaPortugaliae ZoolgicaPrace BotanicznePrhistoire ArigeoiseProceedings Academy of Natural Sciences of PhiladelphiaProceedings Califrnia Academy SciencesProceedings Entomological Society of ManitobaProceedings Hawaiian Entomological SocietyProceedings Lousiana Academy ScienceProceedings Royal Society of VictoriaProceedings San Diego Society of Natural HistoryProvancheriaPrzeglad ZoologicznyPublicacion Ocasional del Museo Nacional de Historia Natural ChilePublications Seto Marine Biological LaboratoryQuaderni Botanica Ambientale e ApplicataQuaderni Museo Civico di Storia Naturele di VeneziaQuaderni Museo Storia Naturale di Livorno

    Records Auckland Institute MuseumRecords Australian MuseumRecords Canterbury MuseumRecords Western Australian MuseumRevista Academia Colombiana Cie. Exactas Fsicas y NauralesRevista Biologia TropicalRevista Espanola HerpetologiaRevista Facultad de Ciencias AgrariasRevista Forestal VenezuelanaRevista Geologica de Amrica CentralRevista Investigacin Desarrolo PesqueroRevista Mexicana BiodiversidadeRevista del Museo Argentino de Ciencias NaturalesRevista Museo de La Plata: AntropologiaRevista Museo de La Plata: BotnicaRevista Museo de La Plata: ZoologiaRevista Sociedad Entomolgica ArgentinaRevue de PalobiologieRicerca ConservazioneRivista Italiana de OrnitologiaRocky Mountain GeologyROM. Contributions in scienceRuiziaSbornik Narodniho MuzeaSchriften Vereins Verbreitung Naturwissenschftlicer Kenntnise in WienScience Report of the Toyohashi Museum Natural HistoryScience Reports Institute Geoscience Univ. Tsukuba sect. B. GeolocicalScientific Publ. Freshw.Biol. Assoc.Scientific Report. International Pacifi Halibut CommissionScripta GeologiaScripta. Facultatis Scientiarum Naturalium Universitatis Masarykiane GeologySeismological SeriesSenckenbergiana Abhand. Gesell. fuer NaturforschubgSenckenberg Naturforschung MuseumSendtneraSenri Ethnological ReportsSenri Ethnological StudiesSerie Conservation NaturalezaSIDA. Contributions to BotanySitzungsberichte Osterreichischen... Abt 1 e 2 Biol.Wiss ErdSmithsonian Contributions to AnthropologySmithsonian Contributions to BotanySmithsonian Contributions to Earth SciencesSmithsonian Contributions to Marine SciencesSmithsonian Contributions to PaleobiologySmithsonian Contributions to ZoologySpecial Publications J.L.B. Smith Inst.Special Publications Museum Texas Tech UniversitySteenstrupiaStudi Ricerche sui Giacimenti Terziari di BolcaStudia BotnicaStudies Afrotropical ZoologyStuttgarter Beitrage Naturkunde. Ser. A - BiologieStuttgarter Beitrage Naturkunde. Ser. C - Allgemeinverstandliche AufstzeSuisan Daigaku Kenkyu hokokuSymbolae Botanicae UpsaliensesSystematics BiodiversitySystematics Geography of PlantsTechnical Report. Pacifi HalibutTiscia

  • 43Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 34 44, 2018.

    Tokyo Suissan Daigaku RonshuTransactions Connecticut Academy of Arts and SciencesTransactions Kansas Academy SciencesTransactions Nebraska Acad. ScienceTransactions Royal Society of Edinburgh: Earth sciencesTransactions Wisconsin Academy Sciences arts and LettersTribus Veroffentlichen Linden MuseumTropical LepidopteraTuhinga. Records Museum of New zealan TE Papa TongarewaUitgaven Natuurwet studiekring voor Suriname em de Nederlandse AntillenUniversity California Publications: EntomologyUniversity California Publications: GeologyUniversity California Publications: ZoologyUniversity Kansas Paleontol. Contributions MonographsUniversity Kansas Publications in AnthropologyUniversity Oregon Anthropological Papers

    Verhandlungen Naturwissenschaftlichen Vereins in HamburgVerhandlungen Zoololgische Bot.anischen Gesellschaft in OsterreichVertebrate ZoologyVie et Milieu. Life EnvironmentVolkerkundliche AbhandlungenYearbook Carnegie Institution of WashingtonWestern North American NaturalistWildlife Conservation Zitteliana. Reihe AZitteliana. Reihe BZoolgica PoloniaeZoological StudiesZoologiceskij ZurnalZoologische MedelingenZoologische VerhandlingenZoosystemaZurnal Obscej Biologii

    Apndice 2 Lista de permutas nacionaisActa AmaznicaActa Biolgica Leopoldinensia Acta Biolgica ParanaenseActa Scientiarum: AgronomyActa Scientiarum: Animal sciencesActa Scientiarum: Biological sciencesActa Scientiarum: Health sciencesActa Scientiarum: Human sciencesActa Scientiarum: Technology sciencesAgronmico. Boletim Inform. do Inst. AgronmicoAgrotrpicaAkrpolis. Revista Cincias Humanas Albertoa. Srie UrticineaeAlfa. Revista de LingusticaAnurio Instituto de GeocinciasArqueologia do Rio Grande do SulArquivos Cincias do MarArquivos ZoologiaAtlnticaBalduiniaBiocinciasBioikosBIOS. Caderno Dept. Cien. BiolgicasBiota Neotropica (virou eletronico em 2013)www.biotaneotropica.org.brBoletim Botnica da Universidade de So PauloBoletim Museu Integrado de RoraimaBoletim CEO. Centro de Estudos OrnitolgicosBoletim Cincias GeodsicasBoletim Indstria animalBoletim Instituo Adolfo LutzBoletim Instituto BotnicaBoletim Instituto GeolgicoBoletim Instituto Histrico Geogrfico do ParanBoletim Museu Biologia Mello LeitoBoletim Museu do ndioBoletim Museu Paraense Emilio Goeldi.Ser.Cie.NaturaisBoletim Paranaense GeocinciasBoletim Tcnico Centro de Pesquisa do CacauBradeaBragantiaBrazilian Journal of Oceanography Bromlia

    Caderno de Pesquisa. Srie BiologiaCampos. Revista de Antropologia SocialCerneCincia AmbienteCincia AgronmicaCincia AgrotecnologiaCincia e NaturaCincia RuralClio. ArqueologiaCrop Breeding and applied biotechnologyDivulgaes Museu Cincias Tec. PUCRGSDynamisEcossistemaEntomologia y VetoresEstudos BiologiaFacettaFlorestaGeocinciasGeologia USP. Ser. CientificaGeologia USP. Ser. DidticaGeologia USP. Ser. Publ. EspecialGeosulHistria, Cincias SadeHoehneaHsitria (So Paulo)IF. Srie RegistrosIheringia. BotnicaIheringia. ZoologiaInsulaKriterionLatin American Journal Aquatic MammlasMemrias Instituto ButantanMemrias Instituto Oswaldo CruzNapea : revista de BotnicaNaturaliaNeodiversityNeotropical Biology and ConservationOrquidrioPabstiaPapis Avulsos de ZoologiaPesquisa Agropecuria GachaPesquisas. AntropolgicasPesquisas. Botnica

  • 44 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 2, p. 34 44, 2018.

    Publicaes Avulsas do Instituto Pau BrasilPublicaes Avulsas FZBRelatrios Tcnicos do Instituto OceanogrficoRevista AnthropolgicasRevista BalduiniaRevista Biologia NeotropicalRevista Brasileira de BiocinciasRevista Brasileira de EntomologiaRevista Brasileira de GeografiaRevista Brasileira de OrnitologiaRevista Brasileira de PaleontologiaRevista Brasileira de ZoocinciasRevista Brasileira de ZootecniaRevista Brasileira Fisiologia VegetalRevista CeresRevista Cincias HumanasRevista Estudos AmbientaisRevista GeologiaRevista Histria Arte e Arqueologia

    Revista Iinformao LegislativaRevista Instituto Adolfo LutzRevista Instituto Estudos BrasileirosRevista Instituto FlorestalRevista Instituto GeolgicoRevista Letras (Curitiba)Revista Museu Arqueologia e EtnologiaRevista Nordestina de BiologiaRevista Universidade Rural: Srie da VidaRevista Universidade Rural:Srie Cin. Exatas Terra RodrigusiaScientia AgrcolaSellowiaSitientibus South American Journal of HerpetologyTransinformaoVaria HistriaZoologia: an international journal zoology (Curitiba)

  • 45Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 45 52, 2018.

    REPRESENTAES TRIDIMENSIONAIS COMO DOCUMENTOS DA MEMRIA

    Romulo Augusto Pinto GuinaUERJ Escola Superior de Desenho Industrial

    Programa de Ps-Graduao em Design - estudante de Doutorado

    Introduo

    A leitura histrico-crtica acurada de uma obra exige acesso a documentao que com-pem sua fortuna crtica, iconogrfica ou memria oral, permitindo em maior ou menor grau a pesquisa sobre o mesmo. Tradicionalmente temos alguns documentos textuais, imagticos e/ou audiovisuais como fontes mais comumente disponveis para serem acessados. H, contudo, ca-sos em que o objeto em si permite sua guarda, como uma obra de arte pictrica ou escultrica, permitindo a possibilidade de pesquisa e estudo plena pois o objeto em si est disponvel para tal. Quando a obra em questo um edifcio algumas especificidades se impem e dificultam o processo de registro. A Arquitetura tanto arte quanto tcnica, trata-se de uma espao cons-trudo, dinmico em uso e suscetvel a mudanas com o passar do tempo e das necessidades incluindo a possibilidade de ter mudado de uso, no ser mais acessvel, estar descaracterizado, ou mesmo que tenha sido demolido.

    Por estes e tantos outros motivos, a historiografia da arquitetura apresenta lacunas e pon-tos obscuros na documentao de muitos edifcios paradigmticos, as quais dificultam um tra-balho de anlise preciso sobre a obra. Este fato configura um problema que afeta pesquisadores, profissionais, professores e alunos de Arquitetura e Urbanismo que investigam as obras mestras da arquitetura para os mais diversos fins. Desenvolvido entre os anos de 2003 e 2010 a pesquisa Casas Brasileiras do Sculo XX Documentos da Memria atravs de Modelos Reduzidos de-senvolvida na FAU-UFRJ se dedicou a produo de modelos tridimensionais fsicos de obras referenciais da arquitetura moderna brasileira visando a reconstruo destes exemplares em es-cala reduzida de modo que permitisse uma aproximao e compreenso mais ampla destas obras tal e qual foram projetadas e habitadas, as quais hoje em sua maioria encontram-se des-caracterizadas parcialmente, totalmente ou mesmo foram demolidas. Este projeto de pesquisa se desdobrou em muitos outros frutos para alm de seus objetivos primeiros, sendo, porm, de extrema relevncia ressaltar a utilizao do modelos tridimensionais fsicos tanto como docu-mento em si, como ferramenta de investigao projetual.

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  • 46 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 45 52, 2018.

    Partindo deste preambulo, o objeto de estudo deste trabalho a utilizao dos mode-los tridimensionais fsicos como ferramenta de documentao histrica aplicada a Arquitetura e Urbanismo. Como objetivo geral pretende-se contribuir na discusso metodolgica de in-vestigao projetual em Arquitetura, Design e reas afins; e como objetivo especfico registrar a experincia obtida no desenvolvimento dos modelos das residncias Lota Macedo Soares, Antnio Ceppas e Czerna Cirell entre os anos de 2003 e 2009. Para tanto ser feita um anlise retrospectiva diacrnica do processo de pesquisa destes exemplares com o intuito de esclare-cer a metodologia adotada e suas transformaes, alm de descobertas histricas ao longo do processo que s foram possveis pela utilizao dos modelos como ferramenta de investigao.

    Por fim, espera-se que este trabalho configure um registro dos esforos e resultados ob-tidos pela salutar integrao entre os cursos de graduao e ps-graduao da UFRJ atravs da Iniciao Cientfica, Artstica e Cultural desenvolvida entre o corpo discente e docente da universidade.

    A proposta, os encontros e a construo de um mtodo

    O projeto Casas Brasileiras do Sculo XX Documentos da Memria atravs de Modelos Reduzidos surge pela iniciativa da Prof. Dra. Beatriz Santos de Oliveira em 2002 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro FAU-UFRJ com o intuito de estudar, cadastrar e reconstruir importantes residncias do movimento moderno brasileiro atravs da confeco de modelos reduzidos em escala. Para tal foi preciso estreitar a relao entre a graduao e a ps-graduao (mais especificamente o Programa de Ps-Graduao em Arquitetura PROARQ) para viabilizar institucionalmente o projeto como uma pesquisa apta a captar recursos via editais de fomento a pesquisa; e tambm para que este trabalho configu-rasse oportunidade de instrumentalizao dos discentes interessados em se iniciar na pesquisa e se aprofundar em tcnicas de representao tridimensional, sobretudo modelos fsicos. Como objetivo maior, era desejado que os resultados desta pesquisa configurassem a primeira leva de maquetes do futuro Museu de Arquitetura Comparada da FAU-UFRJ museu este que faz parte do projeto original concebido pelo arquiteto Jorge Machado Moreira, autor do projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, atual Prdio da Reitoria onde funciona o curso de Arquitetura e Urbanismo.

    No ano de 2003 o Departamento de Anlise e Representao da Forma volta a oferecer a disciplina eletiva de Maquete naquela ocasio ministrada pelo Prof. Robrio Catelani Carnei-ro. Em comum acordo e visando potencializar os resultados da, ento, nova disciplina, abre-se a oportunidade de que os alunos inscritos desenvolvam como produto final da disciplina a maquete de uma das casas selecionadas pela pesquisa, e que estes modelos fizessem parte do acervo do futuro Museu de Arquitetura Comparada da FAU-UFRJ. Entre o segundo semestre de 2003 e o primeiro semestre de 2004 este experimento feito em comum acordo entre pro-

  • 47Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 45 52, 2018.

    fessores e alunos da disciplina configurando a primeira experincia prtica de pesquisa sobre as edificaes e suas reconstrues em escala reduzida. Deste modo, a disciplina de Maquete ganha uma nova proposta:

    Dimenso didtica: tornar a maquete no s ocasio para o aprendizado de novas tcnicas de representao, mas tambm e, sobretudo, em um instrumento de anlise, de compreenso e de apreenso da obra arquitetnica.

    Dimenso institucional: levantamento e documentao da obra dos grandes mestres da ar-quitetura brasileira e produo de modelos das obras estudadas para a montagem do Museu de Arquitetura Comparada FAU-UFRJ. Produo de material de apoio para estratgias didti-cas no ensino e na aprendizagem do projeto.

    Trata-se de um perodo fundamental de compreenso e dimensionamento da complexi-dade do trabalho com o qual todos os envolvidos estavam se deparando. O primeiro momento do trabalho se configurou como a escolha das casas a serem estudadas, formao das equipes de trabalho, determinao da padronizao da escala dos modelos em funo de seu objetivo e nvel de detalhamento necessrio para tal, quais materiais seriam utilizados, e a busca da docu-mentao necessria (plantas baixas, cortes, fachadas, fotos e demais documentos iconogrficos que permitissem a compreenso plena de cada casa). O processo ocorreu como o esperado: busca na literatura e nos arquivos pelos documentos para que fosse possvel executar as ma-quetes, simultaneamente a uma instrumentalizao inicial dos alunos nas tcnicas de confeco e montagem das peas com os materiais escolhidos. Este processo comeou a se configurar como aprendizado em si e que pode ser dividido em duas etapas metodolgicas distintos, mas profundamente inter-relacionados:

    1.0 O da investigao das teorias da arquitetura, de materiais e tecnologia disponvel poca da construo do edifcio, associados ao estudo da obra do arquiteto, de maneira a poder deduzir com maior acerto os pontos desconhecidos do projeto;

    1.1 Busca de documentao em Arquivos pblicos e particulares;

    1.2 Entrevistas com pessoas ligadas direta ou indiretamente histria do edifcio;

    1.3 Levantamento e estudo da bibliografia disponvel sobre o tema;

    1.4 A investigao e descoberta de materiais e tcnicas para a construo da maquete.

    2.0 Anlise do material levantado e compreenso da lgica do projeto para o planejamen-to das etapas de confeco da maquete;

    2.2 Dissecao analtica do projeto de maneira a isolar as peas e definir os detalhes e tcnicas de sua produo e montagem;

  • 48 Anais do Seminrio UFRJ FAZ 100 ANOS: histria, desenvolvimento e democracia, Rio de Janeiro, Editora UFRJ, v. 3, p. 45 52, 2018.

    2.3 Pesquisa dos produtos do nosso cotidiano e dos disponveis no mercado para a representao das espessuras, formas e texturas;

    2.4 Pesquisa dos instrumentos e materiais prprios para a confeco de modelos redu-zidos.

    Ao longo do decorrer da confeco das maquetes de cada estudo de caso (no total a pesquisa trabalhou com quinze casas brasileiras, em sua maioria do movimento moderno) no-vas dvidas eram levantas acerca das residncias que efetivamente foram construdas, pontos obscuros foram investigados, solues arquitetnicas melhor compreendidas, cores e materiais compreendidos, a