vol. 13 - direito do consumidor

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■ A EDITORA MÉTODO se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (impressão eapresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). Os vícios relacionados à atualização daobra, aos conceitos doutrinários, às concepções ideológicas e referências indevidas são de responsabilidade do autore/ou atualizador.Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que resguarda os direitos autorais, é proibida a reprodução total ouparcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos,fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor.Impresso no Brasil – Printed in Brazil

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■ Capa: Danilo Oliveira■ Produção Digital: Geethik

■ CIP – Brasil. Catalogação-na-fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Gonçalves, Renato Afonso

Como se preparar para o Exame de Ordem, 1.ª fase : direito do consumidor / Renato Afonso Gonçalves. 5. ed.- Rio de Janeiro : Forense ; São Paulo : MÉTODO, 2014.(Resumos ; v. 13)

Contém exercícios

Inclui bibliografiaISBN 978-85-309-5188-7

1. Ordem dos Advogados do Brasil - Exames - Guias de estudo. 2. Defesa do consumidor I. Título. II. Título:Direito do consumidor. III. Série.

10-1760

CDU: 34:366(81)

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Para Andrea Luiza e João Pedro.Meus alicerces. Luzes do meu caminho

que me dão o doce gosto de viver.

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E

AGRADECIMENTOS

stas singelas linhas sintetizam os meus quinze anos de magistério. Por isso agradeço aos meusqueridos alunos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da Universidade Paulista, da

Faculdade de Direito Jaú, dos cursos preparatórios para concursos e dos cursos de pós-graduação,pelas inúmeras contribuições dadas ao longo desses anos, sobretudo para a elaboração desta obradidática.

Não poderia deixar de agradecer do fundo de minha alma aos meus queridos, inesquecíveis einsuperáveis professores Celso Antonio Bandeira de Mello, José Geraldo Brito Filomeno, NelsonNery Junior e Maria Helena Diniz. Em seus ensinamentos procuro me esmerar, tendo a certeza deque a cada lição tomada visualizo o infinito do conhecimento que habita cada um de meus mestres.

Agradeço também ao Dr. Thiago Bortotto de Oliveira , amigo e Advogado, que com extremadedicação contribuiu na análise da jurisprudência e dos testes para a presente edição.

Por fim, agradeço à Editora Método pela importante missão que me confiou.

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Maria, MariaMãe do silêncio

Mãe da humanidadeEm Teu seio o meu senhor se gerou

E Tu o contemplasteCheia de amor e ternura

Teu filho desejadoe por ti muito amado

Minha Senhora e minha MãeEnsina-me a amar

E arriscarA saber ser maior

(Mafalda Arnauth)

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É

NOTA À SÉRIE

com enorme satisfação que apresentamos aos candidatos ao Exame da OAB a Série Resumo:como se preparar para o Exame de Ordem – 1.ª fase , composta por quinze volumes, a saber:

Constitucional, Comercial, Administrativo, Tributário, Penal, Processo Penal, Civil, Processo Civil,Trabalho, Ética Profissional, Ambiental, Internacional, Consumidor, Leis Penais Especiais e DireitosHumanos.

Esta série é mais um grande passo na conquista de nosso sonho de oferecer aos candidatos aoExame de Ordem um material sério para uma preparação completa e segura.

Sonho esse que teve início com a primeira edição de Como se preparar para o Exame de Ordem– 1.ª e 2.ª fases, prontamente acolhido pelo público, hoje com mais de 100.000 exemplares vendidos,trabalho que se firmou como o guia completo de como se preparar para as provas. Mais adiante,lançamos a série Como se preparar para a 2.ª fase do Exame de Ordem , composta, atualmente, porseis livros – opção PENAL, CIVIL, TRABALHO, TRIBUTÁRIO, CONSTITUCIONAL e TÉCNICASDE REDAÇÃO APLICADAS À PEÇA PROFISSIONAL –, obras que também foram muito bemrecebidas por aqueles que se preparam para a prova prática nas respectivas áreas.

A série tem como objetivo apresentar ao candidato o conteúdo exigível, estritamente necessário,para aprovação na 1.ª fase do Exame de Ordem, numa linguagem clara e objetiva.

Para tanto, foi elaborada por professores especialmente selecionados para este mister, eestudiosos do tema Exame de Ordem, que acompanham constantemente as tendências e aspeculiaridades dessa prova.

Os livros trazem, ao final de cada capítulo, questões pertinentes ao tema exposto, selecionadas deexames oficiais, para que o candidato possa avaliar o grau de compreensão e o estágio de suapreparação.

Vauledir Ribeiro Santos([email protected])

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Nota da Editora: o Acordo Ortográfico foi aplicado integralmente nesta obra.

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SUMÁRIO

1. PANORAMA DA MATÉRIA

1.1 Breve abordagem à defesa do consumidor1.2 Aspectos constitucionais1.3 Natureza jurídica do Código de Defesa do Consumidor1.4 Questão

2. A RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

2.1 Identificação dos sujeitos e do objeto das relações jurídicas de consumo2.2 O consumidor

2.2.1 Consumidor: coletividade de consumidores2.2.2 Consumidor: vítimas de acidente de consumo2.2.3 Consumidor: pessoas expostas às práticas comerciais

2.3 O fornecedor, o produto e o serviço2.4 Questões

3. DOS DIREITOS DOS CONSUMIDORES

3.1 A política nacional das relações de consumo3.2 Dos direitos básicos dos consumidores3.3 Código de Defesa do Consumidor e integração3.4 Alguns aspectos importantes sobre a defesa do consumidor em juízo

3.4.1 O consumidor possui foro privilegiado3.4.2 O polo passivo das referidas ações. Regra geral de solidariedade e a regra geral de

responsabilidade civil3.5 Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos3.6 Questões

4. DA RESPONSABILIDADE DOS FORNECEDORES POR SEUS PRODUTOS ESERVIÇOS

4.1 Introdução4.2 Da responsabilidade dos fornecedores pelo fato de produtos e serviços4.3 Da responsabilidade dos fornecedores pelo vício de produtos e serviços4.4 Dos prazos de garantia pelos vícios de produtos e serviços e do prazo de reclamação por

danos decorrentes de acidentes de consumo4.5 Do estado fornecedor4.6 Disposições gerais aplicáveis à responsabilização dos fornecedores

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4.7 Desconsideração da personalidade jurídica4.8 Questões

5. DAS PRÁTICAS COMERCIAIS

5.1 Introdução5.2 Consumidor exposto às práticas comerciais (art. 29)5.3 Da oferta5.4 Da publicidade5.5 Das práticas abusivas5.6 Da cobrança de dívidas5.7 Dos bancos de dados e cadastros de consumidores

5.7.1 Os bancos de dados no Brasil e o Código de Defesa do Consumidor5.7.2 Bancos de dados de crédito e relações de consumo5.7.3 Os bancos de dados nas relações de consumo5.7.4 Bancos de dados e cadastros de consumidores: espécies do gênero arquivos de consumo5.7.5 O caráter público dos bancos de dados e cadastros de consumidores5.7.6 O art. 43 do Código de Defesa do Consumidor

5.7.6.1 Os direitos de comunicação, acesso e retificação5.7.6.2 Pressupostos de legitimidade dos arquivos de consumo

5.7.7 Os cadastros de órgãos públicos5.7.8 O posicionamento mais recente do STJ

5.8 Questões

6. DA PROTEÇÃO CONTRATUAL

6.1 Introdução6.2 Das cláusulas abusivas6.3 Dos contratos sucessivos e cláusulas penais6.4 Dos contratos de compra e venda e consórcios6.5 Dos contratos de adesão6.6 Dos contratos eletrônicos6.7 Questões

7. DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

7.1 Introdução7.2 Questão

8. A DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

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8.1 Introdução8.2 A jurisdição civil coletiva8.3 Dos direitos coletivos lato sensu8.4 Aspectos da defesa do consumidor em juízo8.5 Das ações coletivas para a defesa de interesses individuais homogêneos8.6 Das ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços8.7 Da coisa julgada8.8 Da convenção coletiva de consumo8.9 Questões

BIBLIOGRAFIA

GABARITOS

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PANORAMA DA MATÉRIA

1.1 BREVE ABORDAGEM À DEFESA DO CONSUMIDOR

Até 1990, o adquirente de produtos e serviços no mercado de consumo brasileiro contava,fundamentalmente, para a defesa de seus direitos, com a Lei 3.071, de 1.º de janeiro de 1916 – oantigo Código Civil –, e com a Lei 1.521, de 26 de dezembro de 1951 – Crimes contra a economiapopular. De outro lado, o próprio mercado brasileiro assistia às inovações introduzidas nas décadasanteriores com a industrialização do país, o avanço nas novas formas de comunicação e o grandedesenvolvimento científico e tecnológico, que possibilitaram o acesso a uma infinidade de novosbens e serviços prestados por fornecedores cada vez mais bem dotados de estrutura técnica eeconômica com práticas comerciais em todo território nacional a atingir milhares de brasileiros.

Nesse cenário surgia uma grande contradição: como as novas relações do mercado de massasbrasileiro poderiam ser reguladas pelo Código Civil de 1916 de Clóvis Beviláqua, já que se tratavade um diploma inspirado no liberalismo econômico do século XIX, voltado para relaçõesindividualizadas marcadas pelo equilíbrio entre os sujeitos contratantes que em tese exerciam aplenitude da vontade?

Esse quadro exigiu também uma profunda transformação do sistema jurídico brasileiro e daciência jurídica que tradicionalmente esteve dividida entre o direito público e o direito privado. Osnovos tempos trouxeram a necessidade de revisão desse modelo com a instituição de legislaçõescada vez mais específicas. No Brasil, esse processo foi desencadeado com o advento daConstituição Federal de 1988, que originou o surgimento de importantes diplomas normativos comoo Estatuto da Cidade, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso e a Lei 8.078, de11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Assim, nasce o novel direito do consumidor, como disciplina transversal1 entre o direito públicoe o direito privado. Nele, a doutrina brasileira enxerga a expressão de um novo direito privadosolidário. Nesse sentido, Claudia Lima Marques ensina que “certos estão aqueles que consideram aConstituição Federal de 1988 como o centro irradiador e o marco de reconstrução de um direitoprivado brasileiro mais social e preocupado com os vulneráveis de nossa sociedade, um direitoprivado solidário. A Constituição seria a garantia e o limite de um direito privado construído sob seusistema de valores e incluindo a defesa do consumidor”2.

Nessa esteira, é certo é que o CDC provocou importantes transformações no sistema brasileiro,já que expressa um microssistema moderno, adequado às demandas de nosso tempo, mormente pelos

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instrumentos da jurisdição coletiva, entendendo o consumidor como parte de uma coletividade depessoas, a categoria de consumidores3.

Este novo microssistema das relações de consumo, de caráter tutelar, veio equilibrar os pratos dabalança, tomar partido na questão defendendo a parte mais frágil na relação consumidor efornecedor. Não visa simplesmente regular as relações de consumo, mas proteger o consumidor. OCDC veio, diante das relações nas quais o campo de autonomia da vontade deixou de existir,controlar os chamados contratos de adesão; reprimir os contratos com cláusulas de exclusão daresponsabilidade contratual que dão prevalência do fornecedor sobre o consumidor; reprimir apropaganda enganosa e abusiva; controlar os bancos de dados e impor os cadastros de órgãospúblicos; positivar os direitos de informação, saúde, segurança dos consumidores; implementar amoderna jurisdição coletiva, dentre outras inúmeras inovações, como a inversão do ônus da prova.

Produto da incansável luta do movimento consumerista brasileiro4 e da habilidade da comissãode juristas que o elaboraram (dentre eles os ilustres professores Nelson Nery Junior, Ada PellegriniGrinover, Antônio Herman Benjamin, José Geraldo Brito Filomeno e Kazuo Watanabe), o Código fezcom que o Brasil seguisse a mesma esteira que os países de capitalismo avançado como a Alemanha,França, Japão, EUA e Itália.

O CDC toma partido na questão enfatizando a defesa do consumidor para o equilíbrio nomercado, em perfeita consonância com a Constituição Federal de 1988, seja como direito individuale coletivo (art. 5.º, XXXII), seja como princípio da atividade econômica (art. 170, V).

Não obstante os inúmeros abusos que ainda são cometidos nas relações de consumo, muita coisamudou. O fornecedor está socialmente mais responsável; respeita mais seu consumidor,compreendendo que sem esse respeito não existe livre iniciativa, não existe atividade lucrativa,sendo, ainda, um diferencial no mercado.

O CDC é exemplo de lei que pegou, que, com o esforço dos consumidores, de órgãos como oProcon-SP, de entidades como o IDEC e de operadores do direito atentos ao seu tempo, comoinúmeros advogados, promotores e juízes espalhados pelo Brasil, é prova de que o direito pode ser ejá é instrumento de transformação social.

1.2 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS

O texto da Carta de 1988 faz várias referências à figura do consumidor. Inicialmente, o incisoXXXII do art. 5.º prescreve que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”.Adiante, o inciso V do art. 170 introduz como princípio da ordem econômica a defesa doconsumidor, e o art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias prescrevia que “oCongresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará códigode defesa do consumidor”. Saliente-se, ainda, que outros dois dispositivos constitucionais tambémfazem menção à figura do consumidor. Trata-se do § 5.º do art. 150 que, ao tratar das limitações dopoder de tributar, preconiza que a “lei determinará medidas para que os consumidores sejamesclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”, e do inciso II doparágrafo único do art. 175 que, ao tratar dos serviços públicos prestados diretamente ou sob oregime de concessão ou permissão, determina que a lei competente deverá dispor sobre os direitosdos usuários.

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Atente-se também que os incisos V e VIII do art. 24 da Constituição Federal dispõem,respectivamente, que compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentementesobre consumo e sobre responsabilidade por dano ao consumidor. Isto não exclui a possibilidade deo município legislar sobre a matéria, já que, nos termos dos incisos I e II do art. 30 da ConstituiçãoFederal, compete aos municípios legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar, no quecouber, a legislação federal e estadual5.

Destacados os dispositivos constitucionais atinentes à matéria, faz-se mister conjugá-los à luz dealguns princípios constitucionais que são de peculiar importância para a defesa do consumidor e queencontram correspondente normativo no próprio CDC.

Como ensina Carmem Lúcia Antunes Rocha, “no princípio repousa a essência de uma ordem,seus parâmetros fundamentais e direcionadores do sistema normado”6.

Nessa esteira, lembramos que “pode-se concluir que a ideia de princípio ou sua conceituação,seja lá qual for o campo do saber que se tenha em mente, designa a estruturação de um sistema deideias, pensamentos ou normas por uma ideia mestra, por um pensamento-chave, por uma balizanormativa, donde as demais ideias, pensamentos ou normas derivam, se reconduzem e/ou sesubordinam”7.

Desta feita, nos princípios temos o caminho seguro para a correta intelecção das normas jurídicase a consequente subsunção aos fatos concretos, já que, como destaca Celso Antônio Bandeira deMello, princípio vem a ser o “mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindode critério para sua exata compreensão e inteligência”8.

Aliás, a defesa do consumidor enquanto princípio constitucional da ordem econômica não éincompatível com a base da livre iniciativa9. No entanto, como ensina Nelson Nery Junior10, porestarmos diante de princípios constitucionais, é preciso haver harmonização, pois conflitos podemsurgir. Atente-se ainda que em relação aos demais princípios da ordem econômica, como a livreconcorrência, a soberania nacional e a propriedade privada, não há hierarquia, pois não poderáhaver preterição entre eles11.

Passemos, então, à análise:Dignidade da Pessoa Humana. Inscrito no inciso III do art. 1.º da Constituição Federal, é

fundamento de todo sistema jurídico. Não se trata da dignidade enquanto valor individual que seaproxima da honra subjetiva, mas sim da dignidade enquanto pressuposto da vida humana, ou seja,vida digna que se concretiza com a realização dos mandamentos do art. 6.º e caput do art. 225 daConstituição Federal. A dignidade da pessoa humana não é mero instrumento de retórica, mas sim odireito de toda pessoa de viver num meio ambiente ecologicamente equilibrado, tendo garantido odireito à educação pública e de qualidade, à saúde, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, àprevidência social, à proteção à maternidade e à infância e à assistência social. No CDC esteprincípio evidencia-se no caput de seu art. 4.º, já que a Política Nacional das Relações de Consumotem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos e a melhoria da sua qualidade de vida.Aliás, o próprio caput do art. 170 da Constituição Federal estabelece que a ordem econômica tempor fim assegurar a todos a existência digna.

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Igualdade. Indaga-se se a Lei 8.078/1990 é inconstitucional por estabelecer a defesa de um dosentes das relações de consumo ferindo, por conseguinte, o princípio constitucional da isonomia. Aresposta é negativa. Pelo contrário, o CDC cumpre fielmente o mandamento da isonomia. O que sebusca é a igualdade real e não a formal. O CDC nada mais faz do que cumprir as determinações doart. 5.º, XXXII (“O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”), do art. 170, V, daConstituição Federal, e do art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. O Códigotrata os desiguais (consumidor e fornecedor) de forma desigual (protegendo o consumidor), na exatamedida de suas desigualdades. Ao proteger e instituir instrumentos de defesa do consumidor, o CDCestá reequilibrando os pratos da balança, e estabelecendo a igualdade real12.

Note-se que o texto constitucional utiliza a expressão Defesa do Consumidor. Trata-se, assim, decomando que o texto Maior destina ao Estado na matéria, qual seja, o de proteger a parte mais frágilda relação jurídica (favor debilis). Assim, em matéria de consumo a Constituição Federal adotou odirigismo econômico, ou seja, a intervenção estatal para o estabelecimento da igualdade real. Destafeita, a vulnerabilidade do consumidor estatuída como princípio da Política Nacional das Relaçõesde Consumo, inscrita no inciso I do art. 4.º do CDC, encontra fundamento constitucional e guardarelação com o princípio constitucional da igualdade.

Liberdade (arts. 1.º, IV; 3.º, I; 5.º, IV, VI, IX, LIV, LXVIII; e 170 da Constituição Federal). Oprincípio constitucional da liberdade é aplicável sob diversos aspectos nas relações de consumo.Aos fornecedores é dada a liberdade para empreender atividade por vezes lucrativa (livreiniciativa), mas tendo como um de seus limites a defesa do consumidor (art. 170, V, da CF),consubstanciada principalmente no dever de garantir preço/qualidade/segurança. Por isso, dizemosque o Estado nas relações de consumo optou pelo dirigismo econômico, intervindo nas relações deconsumo para proteger o consumidor. Com isso o CDC indiretamente coíbe a concorrência desleal,servindo de instrumento protetor da livre concorrência. Nesse sentido é a prescrição do inciso VI doart. 4.º do CDC, que coíbe todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive aconcorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomescomerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores. Ao consumidor édada a liberdade de contratar produtos e serviços, embora essa liberdade seja restrita. Por isso, oCDC prescreve a proteção contratual do consumidor em seus arts. 51 a 54.

Informação. Assim como a liberdade, o princípio da informação tem ampla aplicação nasrelações de consumo. Os fornecedores têm o direito de informar, divulgar seus produtos e serviços(art. 5.º, IX, e 220 da CF). Ao consumidor é dado o direito de se informar (art. 5.º, XIV, da CF) e deser informado, direito fundamental para municiar a manifestação de sua vontade na aquisição deprodutos e serviços. Como decorrência deste princípio, que, como veremos, está presente emdiversos dispositivos do CDC, temos o princípio do Controle da Publicidade.

Controle da Publicidade. Como veremos, a publicidade é forma sofisticada de oferta, principalinstrumento dos fornecedores para apresentarem ao mercado a sua produção. No mercado de massasglobal, no qual está inserida a sociedade brasileira, a publicidade é ferramenta obrigatória. Portrabalhar com sofisticadas técnicas de imagem e som, com alta tecnologia, a publicidade possui altopoder persuasivo atingindo e orientando a vontade dos consumidores. Por essa razão, a ConstituiçãoFederal preceitua que compete à lei federal estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e àfamília a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que

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veiculem propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meioambiente. Consigne-se que, pelo texto constitucional, a propaganda comercial de tabaco, bebidasalcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, e conterá, sempreque necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso – art. 220, §§ 3.º, I e II, e 4.º,da Constituição Federal. A referida restrição legal é feita pela Lei 9.294, de 15 de julho de 1996,regulamentada pelo Decreto 2.018, de 1.º de outubro de 1996, e pelos arts. 36 a 38 do CDC.

Princípio da Eficiência. Como veremos, o Estado é um dos principais fornecedores no mercadode consumo. Este princípio presente inicialmente no CDC foi introduzido em nossa Carta Maior pelaEmenda Constitucional 19, de 4 de junho de 1998, e encontra-se positivado em seu art. 37. No CDCele se encontra no inciso VII de seu art. 4.º, prevendo como princípio geral da política nacional dasrelações de consumo a racionalização e melhoria dos serviços públicos.

Como visto, no texto constitucional a defesa do consumidor é direito fundamental (art. 5.º,XXXII) e, portanto, cláusula pétrea (art. 60, § 4.º, IV), sendo, ainda, princípio da ordem econômica(art. 170, V). Assim, como nos ensina Claudia Lima Marques, “é a chamada ‘força normativa’ daConstituição (expressão de Konrad Hesse), que vincula o Estado e os intérpretes da lei em geral (...)que devem aplicar este novo direito privado de proteção dos consumidores”13.

O CDC cumpre sua missão advinda da Constituição Federal consistente na defesa do consumidor,instituindo um microssistema que constitui um piso vital mínimo de proteção. Qualquer outra normajurídica ou interpretação que represente a diminuição do espectro de proteção introduzido pelo CDCdeve ser afastada em respeito aos mandamentos constitucionais da matéria. Nesse sentido, RizzattoNunes leciona que “o caráter principiológico específico do CDC é apenas e tão somente um momentode concretização dos princípios e garantias constitucionais vigentes (...). Como lei principiológicaentende-se aquela que ingressa no sistema jurídico, fazendo um corte horizontal, indo, no caso doCDC, atingir toda e qualquer relação jurídica que possa ser caracterizada como de consumo e queesteja também regrada por outra norma jurídica infraconstitucional. Assim, por exemplo, um contratode seguro de automóvel continua regulado pelo Código Civil e pelas demais normas editadas pelosórgãos governamentais que regulamentem o setor (Susep, Instituto de Resseguros etc.), porém estãotangenciados por todos os princípios e regras da Lei 8.078/90, de tal modo que, naquilo que com elescolidirem, perdem eficácia por tornarem-se nulos de pleno direito”14.

Por derradeiro, por sua origem constitucional e ampla incidência no sistema brasileiro, aaplicação do CDC pode ensejar a ocorrência de conflitos com outras leis. Nesse sentido, a aplicaçãoda Teoria do Diálogo das Fontes, criada por Erik Jayme e introduzida no Brasil por Claudia LimaMarques, mostra-se adequada às soluções dessas colisões ante a modernidade introduzida pelo novosistema constitucional brasileiro. Assim, Claudia Lima Marques nos ensina que se trata de umconceito de aplicação simultânea e coerente de muitas leis ou fontes de direito privado sob a luz daConstituição de 1988. Leciona a Mestre gaúcha que a expressão “diálogo” é utilizada “porque háinfluências recíprocas, ‘diálogo’ porque há aplicação conjunta das duas normas ao mesmo tempo eao mesmo caso, seja complementarmente, seja subsidiariamente, seja permitindo a opção pela fonteprevalente ou mesmo permitindo uma opção por uma das leis em conflito abstrato – uma soluçãoflexível e aberta, de interpenetração, ou mesmo a solução mais favorável ao mais fraco da relação(tratamento diferente dos diferentes)”15. Assim, entre o CDC (lei específica para os desiguais) e oCódigo Civil (lei geral para os iguais) há três formas de diálogo: diálogo sistemático de coerência,

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no qual a lei geral serve de base conceitual para a lei específica; diálogo sistemático decomplementaridade e subsidiariedade, quando houver a necessidade de aplicação complementar denormas, respeitados os princípios inerentes à matéria central em análise; e diálogo de coordenação eadaptação sistemática, no qual há influência do sistema especial no geral e do geral no especial,respeitados também os princípios inerentes à matéria central em análise16-17. O mesmo ocorre nodiálogo entre o CDC e demais leis específicas18.

Recordemo-nos, tomando as lições de José Geraldo Brito Filomeno, que antes de 1990 havia“um verdadeiro cipoal de normas esparsas, e sem qualquer sistematização”19. Com o surgimento doCDC também muito se falou sobre as alterações que a lei consumerista teria causado no direito civil.A verdade é que com o passar do tempo, a doutrina e jurisprudência firmaram entendimento de que oCódigo Civil e o CDC devem conviver harmonicamente, na medida em que este é lei especial(microssistema), regulando as relações entre consumidores e fornecedores vinculados por umproduto ou serviço, e aquele é lei geral (sistema).

Observa-se curiosamente que o CDC, no que pese ser lei especial, provocou gradativamente umatransformação no mundo negocial e impulsionou um novo olhar sobre o direito civil (ainda sob aégide do Código de 1916, inspirado no Códe Napoleon de 1803). Assim, verificamos que o CDC,embora “inserido num microssistema, terminou atuando, decisivamente, para influir sobre o própriosistema”20. Na verdade, esse fenômeno ocorreu pelo fato de que vários instrumentos já consagradosno CDC, em especial os da proteção contratual, foram inspirados em parte no avanço do direito civileuropeu do século XX, sobretudo do direito civil alemão e francês. Como nos ensina Antunes Varela,“o tema das cláusulas contratuais gerais é produto duma iniciativa geral de raiz europeia,historicamente nascida do apelo que o Conselho das Comunidades lançou em 14 de abril de 1976 aosmembros da União Europeia, no sentido da criação de um regime tão uniforme quanto possível decombate às cláusulas abusivas dos contratos, cada vez mais frequentes nos países comunitários”21-22.

Essa alteração substancial do direito privado, de certa forma adotada pelo direito doconsumidor, como observa Joaquim de Sousa Ribeiro, deve-se ao fato de que, perante os “dadosreais de disparidade de natureza e de poder dos sujeitos operantes no mercado – que o processo deconcentração empresarial não fez mais do que acentuar – a faculdade de autorregulação dosinteresses próprios, reconhecida a todos por igual, traduz-se, como a prática demonstrou, numprivilégio de alguns, dotando-os de um instrumento eficaz de prossecução unilateral de benefícios eganhos, nas relações sociais de cooperação e de troca. Deixada à sua lógica própria, sem controlonem limites internos, a autonomia privada conduz, em certas áreas, a desequilíbrios notórios deordenação, não como resultado ocasional e isolado de um acto abusivo, mas à escala colectiva, comoefeito programado da actividade conformadora dos sujeitos em posição de superioridade”23. Daí anecessidade da ordem pública de proteção propugnada pela doutrina francesa24, ou de uma ordempública contratual suscitada por Antonio Pinto Monteiro, e “destinada a preservar princípiosbásicos de justiça contratual, postos em causa sobretudo quando se negocia através de contratos deadesão”25.

Assim, com a edição do novo Código Civil, cujo projeto remonta aos idos de 1975, houve umaaproximação principiológica entre o direito do consumidor e o direito civil, sobretudo quanto aospilares da eticidade, operacionalidade e sociabilidade, sempre lembrados por Miguel Reale. Aboa-fé objetiva, a vedação ao abuso do direito e às cláusulas abusivas, a função social e revisão dos

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contratos e a objetivação da responsabilidade civil são aspectos que reforçam essa aproximação, nãoobstante o direito do consumidor resguardar princípios particulares como o da vulnerabilidade,defesa do hipossuficiente, igualdade real e controle da publicidade.

Por isso, faz-se necessário enfatizar novamente que no limiar do século XXI é imprescindível oestabelecimento de uma relação de subsidiariedade e complementaridade entre os diplomas emquestão, para a consolidação do já citado diálogo das fontes propugnado por Erik Jayme edesenvolvido magistralmente por Claudia Lima Marques.

1.3 NATUREZA JURÍDICA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Como visto, o CDC instituiu um microssistema próprio de intervenção no mercado de consumo,cujas regras, nos termos de seu art. 1.º, são de ordem pública e interesse social , visando à proteçãoe defesa do consumidor, já que, “nesse campo, notório é o desequilíbrio existente – e percebidomesmo em épocas primitivas – em razão da força de que dispõem as empresas, que usam seu poderioeconômico no mundo negocial, gerando preocupações à luz da preservação dos interesses dosconsumidores, ou seja, dos destinatários finais de seus produtos (como adquirentes ou usuários debens ou de serviços)”26.

Assim, o CDC é de natureza jurídica cogente, ou seja, de aplicação independentemente davontade de seus destinatários27. Tais normas de natureza cogente, que Maria Helena Diniz denomina“normas de imperatividade absoluta ou impositivas, são as que determinam, em certas circunstâncias,a ação, a abstenção ou o estado das pessoas, sem admitir qualquer alternativa, vinculando odestinatário a um único esquema de conduta”28. São também denominadas de ordem pública portutelarem interesses fundamentais ligados ao bem comum29.

Assim, dizemos que o CDC é “motivado pela convicção de que determinadas relações – no casoas de consumo – ou estados da vida social não podem ser deixados ao arbítrio individual, o queacarretaria graves prejuízos para a sociedade”30. O CDC é imperativo na defesa do consumidor paraestabelecer o equilíbrio nas relações de consumo. Essa missão constitucional não poderia serdesempenhada sem a sua natureza cogente que lhe permite atingir as relações contratuais eextracontratuais. Assim, o CDC tem prevalência sobre os contratos e as declarações unilaterais devontade e deve ser aplicado de ofício pelo juiz independentemente de requerimento do consumidor.

1.4 QUESTÃO

1. (OAB-MT – Exame 02/2005) O CDC é um conjunto de normas:(a) De ordem pública e interesse social e, portanto, de natureza relativa.(b) De ordem pública e interesse social e, portanto, de natureza cogente.(c) Cuja aplicação pode ser excluída por cláusula contratual.(d) Cuja aplicação pode ser excluída por vontade do consumidor.

GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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__________1 Expressão cunhada por Claudia Lima Marques, Manual de direito do consumidor, p. 23.2 Manual de direito do consumidor, p. 27.3 Embora alguns doutrinadores, como Guido Alpa, entendam a impossibilidade dos consumidores serem integrantes de

uma classe homogênea, pela heterogeneidade das classes sociais. Tutela del consumatore e controlli sull’impresa,Societá Editrice il Mulino, Bolonha, 1977.

4 José Geraldo Brito Filomeno retrata com primor a grande caminhada do movimento consumerista brasileiro até aedição do CDC. Manual de direitos do consumidor, p. 22-29.

5 “Distrito Federal: competência legislativa para fixação de tempo razoável de espera dos usuários dos serviços decartórios. 1. A imposição legal de um limite ao tempo de espera em fila dos usuários dos serviços prestados peloscartórios não constitui matéria relativa à disciplina dos registros públicos, mas assunto de interesse local, cujacompetência legislativa a Constituição atribui aos Municípios, nos termos do seu art. 30, I. 2. A LD 2.529/2000, com aredação da LD 2.547/2000, não está em confronto com a Lei Federal 8.935/1990 – que disciplina as atividades dosnotários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, nos termos do art. 236, § 1.º, da Constituição – por tratarem detemas totalmente diversos. 3. RE conhecido e desprovido” (Recurso Extraordinário 397.094/DF, Rel. Min. SepúlvedaPertence, j. 29.08.2006). Ver também: “Recurso Extraordinário. Constitucional. Consumidor. Instituição bancária.Atendimento ao público. Fila. Tempo de espera. Lei municipal. Norma de interesse local. Legitimidade. Lei Municipal n.4.188/2001. Banco. Atendimento ao público e tempo máximo de espera na fila. Matéria que não se confunde com aatinente às atividades-fim das instituições bancárias. Matéria de interesse local e de proteção ao consumidor.Competência legislativa do Município. Recurso extraordinário conhecido e provido” (Recurso Extraordinário 432.789/SC,Rel. Min. Eros Grau, j. 14.05.2005).

6 Princípios constitucionais dos servidores públicos, p. 21.7 ESPÍNDOLA, Rui Samuel. Conceito de princípios constitucionais, p. 47.8 Curso de direito administrativo, p. 450.9 “[...] 1. A intervenção do Estado na ordem econômica, fundada na livre iniciativa, deve observar os princípios do direito

do consumidor, objeto de tutela constitucional fundamental especial (CF, arts. 170 e 5.º, XXXII)” (STJ, REsp 744.602/RJ,Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 1.º.03.2007, DJ 15.03.2007 p. 264).

10 Os princípios gerais do código de defesa do consumidor, p. 52.11 Essa é a lição de COMPARATO, Fábio Konder. A proteção do consumidor na constituição brasileira de 1988.12 “[...] 4. O ponto de partida do CDC é a afirmação do Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor, mecanismo que visa a

garantir igualdade formal-material aos sujeitos da relação jurídica de consumo, o que não quer dizer compactuar comexageros que, sem utilidade real, obstem o progresso tecnológico, a circulação dos bens de consumo e a próprialucratividade dos negócios. [...]” (STJ, REsp 586.316/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, 2.ª Turma, j. 17.04.2007, DJe19.03.2009).

13 Manual de direito do consumidor, p. 27.14 Curso de direito do consumidor, p. 66.15 Manual de direito do consumidor, p. 87-88.16 Manual de direito do consumidor, p. 91.17 Ver também artigo de nossa autoria no qual traçamos o panorama dos contratos de adesão nas relações privadas e a

experiência consumerista, publicado na obra coletiva Código Civil: análise doutrinária e jurisprudencial, pela EditoraMétodo.

18 “Direito do Consumidor. Lei n. 8.078/1990 e Lei n. 7.565/1986. Relação de consumo. Incidência da primeira. Serviço deentrega rápida. Entrega não efetuada no prazo contratado. Dano material. Indenização não tarifada. I – Não prevalecemas disposições do Código Brasileiro de Aeronáutica que conflitem com o Código de Defesa do Consumidor. II – Asdisposições do CDC incidem sobre a generalidade das relações de consumo, inclusive as integradas por empresasaéreas. III – Quando o fornecedor faz constar de oferta ou mensagem publicitária a notável pontualidade e eficiência deseus serviços de entrega, assume os eventuais riscos de sua atividade, inclusive o chamado risco aéreo, com cujaconsequência não deve arcar o consumidor. IV – Recurso especial não conhecido” (REsp 196.031/MG, Min. Antônio dePádua Ribeiro, j. 24.04.2001).

19 Manual de direitos do consumidor, p. 70.20 AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. O novo código civil e o código de defesa do consumidor – pontos de convergência.

Revista de Direito do Consumidor, RT, n. 48, p. 56.21 Discurso proferido no encerramento do 1.º curso de pós-graduação em direito do consumo da Faculdade de Direito de

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Coimbra, publicado na Revista de Estudos de Direito do Consumidor do Centro de Direitos do Consumo da Faculdadede Direito de Coimbra, n. 1, p. 397-398.

22 Nessa mesma publicação Antunes Varela lembra a importância do relatório elaborado por Guestin e I. Marchessauxdenominado “L’applicazione in Francia della Direttiva rivolta ad elimare le clausole abusive” constante de coletânea deestudos organizados por Bianca e Guido Alpa na Itália intitulado “La clausole abusive nei contratti stipulati con iconsumatori” – Cedam. O Professor Catedrático da Universidade de Coimbra relembra ainda as importantes reflexõesde Karl Larenz sobre as cláusulas gerais dos contratos tratadas no diploma alemão AGB de 9 de Dezembro de 1976 –Allgemeiner Teil des deutschen Burgerlichen Rechts, Munchen, 1980.

23 O problema do contrato – as cláusulas contratuais gerais e o princípio da liberdade contratual. Coleção Teses. Ed.Almedina, p. 103.

24 SAVATIER, René. La théorie des obligations – Paris 1974, e CARBONNIER, Jean. Droit civil – 4, Paris 1979.25 Cláusulas limitativas e de exclusão de responsabilidade civil, p. 50-51.26 BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos do consumidor, p. 2.27 Embora o art. 107 do CDC permita a convenção coletiva relativa a interesses de ordem patrimonial.28 Compêndio de introdução à ciência do direito, p. 376.29 “[...] As normas de proteção e defesa do consumidor têm índole de ‘ordem pública e interesse social’. São, portanto,

indisponíveis e inafastáveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica do Estado Social, daí aimpossibilidade de o consumidor delas abrir mão ex ante e no atacado. [...]” (STJ, REsp 586.316/MG, Rel. Min. HermanBenjamin, 2.ª Turma, j. 17.04.2007, DJe 19.03.2009). “Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento dalivre iniciativa e do princípio da livre concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das desigualdadessociais, em conformidade com os ditames da justiça social, pode o Estado, por via legislativa, regular a política depreços de bens e de serviços, abusivo que é o poder econômico que visa ao aumento arbitrário dos lucros” (STF, ADI319-QO, Rel. Min. Moreira Alves, j. 03.03.1993, Plenário, DJ 30.04.1993).

30 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios gerais do código de defesa do consumidor, p. 376.

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A RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

2.1 IDENTIFICAÇÃO DOS SUJEITOS E DO OBJETO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS DE CONSUMO

Superada a análise dos princípios constitucionais, faz-se imprescindível a identificação dospolos de interesse (consumidor/fornecedor) e do objeto das prestações (produto ou prestação deserviço) inerentes às relações de consumo. Para tanto, é preciso delimitar o conceito de consumidor,fornecedor, produto e serviço. Com isso, identificaremos as relações submetidas ao CDC,resolvendo de forma segura a sempre cogitada questão do campo de aplicação da Lei 8.078/19901.Vejamos.

2.2 O CONSUMIDOR

Nosso primeiro objetivo é estabelecer o conceito de consumidor. Como veremos, não se trata defácil tarefa, uma vez que o CDC determinou uma estrutura ampla de aplicação da noção.

Pretende o Código abranger não somente as relações contratuais, mas também o espectroextracontratual. Por isso, definiu dois campos, quais sejam, o do consumidor individualmenteconsiderado, consumidor stricto sensu ou standard, e o dos consumidores equiparados.2

Nesse sentido “andou bem, pois o nosso Código, que afastou, desde logo, a possibilidade deabarcar, num conceito único, a figura daquele que buscava proteger”3.

Iniciemos nosso estudo pelo campo do consumidor individualmente considerado. Prescreve ocaput do art. 2.º do CDC, in verbis: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ouutiliza produto ou serviço como destinatário final”.

Três são os elementos constantes da redação supracitada. O primeiro deles é o subjetivo (pessoafísica ou jurídica), o segundo é o objetivo (aquisição de produtos ou serviços), e o terceiro é oteleológico (a finalidade pretendida com a aquisição de produtos ou serviços) caracterizado pelaexpressão destinatário final4. Com essa redação, o código fez cessar qualquer discussão acerca dapossibilidade de a pessoa jurídica ser consumidora. Assim, o texto normativo aponta serconsumidora toda pessoa (física ou jurídica) destinatária final, de produtos ou serviços. Pois bem,destinatário final passa a ser um dos critérios para a identificação do sujeito consumidor. Noentanto, como esse critério não está objetivado no CDC, a doutrina vem trabalhando para estabelecerseu sentido e alcance. Tal esforço é traduzido pelo duelo existente entre as correntes finalista emaximalista5.

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Pela primeira vertente, também chamada de teoria subjetiva6, que recebe as influências dadoutrina belga e francesa, em decorrência dos princípios dos arts. 4.º e 6.º, especialmente davulnerabilidade do consumidor na relação de consumo, e para garantir especial proteção aos queefetivamente necessitam da tutela do CDC, a noção de consumidor deve ser interpretada de formarestritiva, no sentido de que destinatários finais são aqueles que adquirem o bem ou serviço para usopróprio ou de sua família, excluindo-o da cadeia produtiva. A aquisição é feita para uso nãoprofissional e, portanto, sem a obtenção de lucro. Nesse sentido, só poderiam ser consumidoras aspessoas físicas não profissionais e as pessoas jurídicas cuja atividade não possua fins lucrativos7.

Para a segunda vertente, a partir de uma interpretação extensiva, o CDC caracteriza-se por sernorma reguladora das relações de consumo em geral, nas quais os sujeitos poderão alternadamentefigurar como consumidor ou fornecedor, em que o consumidor é o destinatário fático do produto ouserviço, não importando se sua utilização é ou não profissional.

Diante das demandas impostas pela sociedade, parece-nos correto o entendimento que se alinhamais à corrente finalista, que pretende garantir maior potencialidade de aplicação do código, porémflexibilizando-se o espectro do consumidor stricto sensu8. O multifacetário mercado do século XXIpressupõe a atuação de um amplo leque de profissionais liberais, bem como a constituição do setorde pequenas e médias empresas e fornecedores. Destaque-se que com o advento do Código Civil de2002 a concepção finalista foi reforçada, na medida em que os fornecedores passaram a não precisarmais reivindicar a aplicação do CDC para a tutela de seus interesses com outros fornecedores,sobretudo pela presença, no âmbito da legislação civil, das figuras da boa-fé objetiva, coibição aoabuso do direito, função social do contrato e responsabilidade objetiva para os empresários quanto àcirculação de seus produtos – “Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, osempresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causadospelos produtos postos em circulação”.

Nesse diapasão, além do critério destinatário final, isto é, aquele que adquire produto ou serviçosem a intenção de obter lucro por meio da sua reposição no mercado, devemos, conforme o sistemado CDC, analisar em cada caso concreto a relação de equilíbrio entre as partes, independentementede serem profissionais ou não, pois o critério destinatário final não é o único para caracterizar oconsumidor como sujeito na relação jurídica.

De sorte, o profissional pode se encontrar na condição de consumidor, ou seja, na condição deadquirente que “sem possuir qualquer poder de barganha sobre seu ‘fornecedor’, estando a aceitar ascláusulas contratuais impostas sem que lhe fosse conferida a possibilidade de discutir seu conteúdo;enfim, encontrar-se-ia revestido com a mesma vulnerabilidade que qualquer pessoa comumencontraria ao realizar aquele mesmo contrato, apresentando-se, nessa relação de consumo, o mesmodesequilíbrio que se apresentaria se fosse realizado por qualquer outro consumidor vulnerável”9.

Assim, para definir se o sujeito de determinada relação jurídica é ou não consumidor, faz-seimprescindível a verificação de sua posição na relação, ou seja, se há de fato um desequilíbriorelacional a tornar esse sujeito vulnerável. Aliás, esse é o mandamento do art. 4.º, I, do CDC, quereconhece a vulnerabilidade do consumidor como princípio das relações de consumo. Se hávulnerabilidade e a aquisição do serviço ou produto se dá sem o objetivo de lucro, sem o objetivo dereintegrá-lo no mercado, então o sujeito é consumidor10. Em outras palavras, o CDC não veio pararevogar o Código Comercial ou o Código Civil no que diz respeito a relações jurídicas entre partes

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iguais, do ponto de vista econômico. “Uma grande empresa oligopolista não pode valer-se do CDCda mesma forma que um microempresário. Este critério, cuja explicitação na lei é insuficiente, é, noentanto, o único que dá sentido a todo o texto. Sem ele, teríamos um sem sentido jurídico”11.

A vulnerabilidade do consumidor na relação com seu fornecedor, estatuída pela tutela especialdo CDC, se dá sob três aspectos, quais sejam, o técnico, o jurídico e o fático12.

O consumidor é tecnicamente vulnerável perante seu fornecedor quando ignora as informaçõestécnicas (domínio), ou seja, conhecimentos particulares, não estando em condições de entender ograu de perfeição dos produtos e serviços que está adquirindo.

Estará juridicamente vulnerável13 quando carente das informações e conhecimentos não só legais,mas também econômicos. Saliente-se que nesse caso a presunção é dirigida para os sujeitos nãoprofissionais e para as pessoas físicas. “Quanto aos profissionais e pessoas jurídicas vale apresunção em contrário, isto é, que devem possuir conhecimentos jurídicos mínimos e sobre aeconomia para poderem exercer a profissão, ou devem poder consultar advogados e profissionaisespecializados antes de obrigar-se”14.

O consumidor ainda poderá ser vulnerável na relação do ponto de vista fático, o que implicadiretamente a condição de seu fornecedor quanto ao aspecto econômico ou essencial do serviçoprestado ou do produto. Trata-se da situação de superioridade do fornecedor.

A proteção estabelecida pelo CDC à parte vulnerável na relação de consumo vem esculpidacomo concretização do princípio da igualdade. Essa a lição de Nelson Nery Junior: “(...) devem osconsumidores ser tratados de forma desigual pela lei, a fim de que se atinja, efetivamente, aigualdade real, em obediência ao dogma constitucional da isonomia (art. 5.º, caput, CF), pois devemos desiguais ser tratados desigualmente na exata medida de suas desigualdades (isonomia real,substancial e não meramente formal)”15.

Destarte, pelo exposto, entendemos que para a caracterização do sujeito consumidor seránecessária a verificação da função da aquisição do serviço ou produto, ou seja, se ela ocorreu parasatisfazer uma necessidade, ou se o serviço ou produto adquirido integrará sua cadeia produtiva,independentemente de o sujeito ser profissional ou não. Como exemplo, citamos a empresa queadquire celulose para a produção de artefatos de papel. O produto adquirido integrará diretamente oprocesso produtivo da empresa, para sua atividade-fim. Não há a sua caracterização comodestinatária final. Tal relação será regulada pelo direito empresarial ou pelo direito civil, conformeo aspecto abordado. Em outra relação, essa mesma empresa produtora de artefatos de papel contrataoutra empresa para o fornecimento de refeições diárias aos seus funcionários. Neste caso, estápresente a vulnerabilidade (técnica – pois a área de alimentos não é sua atividade-fim), bem como aacepção de destinação final do produto e serviço, já que não integra a cadeia produtiva de artefatosde papel. Esta última relação, como de consumo, deverá ser regulada pelo Código de Defesa doConsumidor. O raciocínio se coaduna com o ensinamento de Fábio Konder Comparato, ao afirmarque “Consumidor é de modo geral aquele que se submete ao poder de controle dos titulares de bensde produção, isto é, os empresários. É claro que todo produtor, em maior ou menor medida, dependepor sua vez de outros empresários, como fornecedores de insumos ou financiadores, por exemplo,para exercer sua atividade produtiva; e, nesse sentido, é também consumidor. Quando se fala, noentanto, em proteção do consumidor quer-se referir ao indivíduo ou grupo de indivíduos, os quais,ainda que empresários, se apresentem no mercado como simples adquirentes ou usuários de serviço,

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sem ligação com a sua atividade empresarial própria”16.Por fim, por essa vertente pode-se concluir que nem toda pessoa natural figura como

consumidora. É o que ressalta Luiz Antonio Rizzatto Nunes ao apontar que “em contrapartida, mesmoa pessoa natural pode não ser considerada consumidora se estiver, por exemplo, adquirindo produtosnão com o título de consumi-los, mas com a intenção de revendê-los. O importante para o Código éque o adquirente do produto ou serviço faça a aquisição com o fim de consumo próprio. Ointermediário, portanto, não é considerado consumidor e não tem a proteção do código. Já umagrande empresa que compra um caminhão para uso próprio através de um consórcio ou diretamentena concessionária é considerada consumidora e tem sua relação negocial protegida”17.

Vejamos algumas decisões do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:“Agricultor Pessoa Física. (...) I – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos

firmados entre instituições financeiras e agricultor, pessoa física, ainda que para viabilizar o seutrabalho como produtor rural (...)” (AgRg nos EDcl no REsp 866.389/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti,3.ª Turma, j. 19.06.2008, DJe 1.º.07.2008).

“Produtor Agrícola. (...) 1. A expressão “destinatário final”, constante da parte final do art. 2.ºdo Código de Defesa do Consumidor, alcança o produtor agrícola que compra adubo para o preparodo plantio, à medida que o bem adquirido foi utilizado pelo profissional, encerrando-se a cadeiaprodutiva respectiva, não sendo objeto de transformação ou beneficiamento. 2. Estando o contratosubmetido ao Código de Defesa do Consumidor a prescrição é de cinco anos. (...)” (REsp208.793/MT, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3.ª Turma, j. 18.11.1999, DJ 1.º.08.2000, p.264).

“Produtor Agrícola. (...) I – O agricultor que adquire bem móvel com a finalidade de utilizá-loem sua atividade produtiva, deve ser considerado destinatário final, para os fins do artigo 2.º doCódigo de Defesa do Consumidor. II – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às relaçõesjurídicas originadas dos pactos firmados entre os agentes econômicos, as instituições financeiras e osusuários de seus produtos e serviços. (...)” (REsp 445.854/MS, Rel. Min. Castro Filho, 3.ª Turma, j.02.12.2003, DJ 19.12.2003, p. 453).

“Pessoa jurídica. (...) Insere-se no conceito de ‘destinatário final’ a empresa que se utiliza dosserviços prestados por outra, na hipótese em que se utilizou de tais serviços em benefício próprio,não os transformando para prosseguir na sua cadeia produtiva. Estando a relação jurídica sujeita aoCDC, deve ser afastada a cláusula que prevê o foro de eleição diverso do domicílio do consumidor.Recurso especial conhecido e provido” (REsp 488.274/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j.22.05.2003, DJ 23.06.2003, p. 367).

“Empresa de pescados. (...) 1. Há relação de consumo no fornecimento de água por entidadeconcessionária desse serviço público a empresa que comercializa com pescados. 2. A empresautiliza o produto como consumidora final. 3. Conceituação de relação de consumo assentada pelo art.2.º, do Código de Defesa do Consumidor. 4. Tarifas cobradas a mais. Devolução em dobro.Aplicação do art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor. 5. Recurso provido”(REsp 263.229/SP, Rel. Min. José Delgado, 1.ª Turma, j. 14.11.2000, DJ 09.04.2001, p. 332).

“Produtor Agrícola. Código de Defesa do Consumidor. Incidência. Responsabilidade dofornecedor. É de consumo a relação entre o vendedor de máquina agrícola e a compradora que a

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destina a sua atividade no campo. Pelo vício de qualidade do produto respondem solidariamente ofabricante e o revendedor (art. 18 do CDC)” (REsp 142.042/RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar,4.ª Turma, j. 11.11.1997, DJ 19.12.1997, p. 67.510).

“Aquisição de Equipamentos Hospitalares. Processual Civil. Competência. Foro de eleição.Contrato para aquisição de modernos equipamentos médico-hospitalares. Hipossuficiência nãoconfigurada. Precedente da 2.ª Seção. Decisão agravada confirmada. Agravo regimental desprovido”(AgRg nos EDcl no REsp 561.853/MG, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, 3.ª Turma, j.27.04.2004, DJ 24.05.2004, p. 270).

“Atividade Notarial. Processual. Administrativo. Constitucional. Responsabilidade civil.Tabelionato de Notas. Foro competente. Serviços Notariais. A atividade notarial não é regida peloCDC (Vencidos a Ministra Nancy Andrighi e o Ministro Castro Filho). O foro competente a seraplicado em ação de reparação de danos, em que figure no polo passivo da demanda pessoa jurídicaque presta serviço notarial é o do domicílio do autor. Tal conclusão é possível seja pelo art. 101, I,do CDC, ou pelo art. 100, parágrafo único, do CPC, bem como segundo a regra geral de competênciaprevista no CPC. Recurso especial conhecido e provido” (REsp 625.144/SP, Rel. Min. NancyAndrighi, 3.ª Turma, j. 14.03.2006, DJ 29.05.2006, p. 232).

“Arrendamento Mercantil. Contrato de arrendamento mercantil. Aplicação do Código deDefesa do Consumidor. Competência de vara especializada do consumidor. Precedentes da Corte. 1.A jurisprudência da Corte assentou que o Código de Defesa do Consumidor aplica-se aos contratosde arrendamento mercantil. 2. A distribuição da competência prevista nas leis de organizaçãojudiciária em virtude da matéria deve ser imperativamente observada, devendo, no caso, o feito serprocessado e julgado em vara especializada do consumidor. 3. Recurso especial conhecido eprovido” (REsp 664.351/BA, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3.ª Turma, j. 07.05.2007,DJ 29.06.2007, p. 579).

“Previdência Privada. Agravo regimental. Entidade de Previdência Privada. Código de Defesado Consumidor. Incidência. Restituição da integralidade das contribuições pessoais pagas.Necessidade. Negativa de seguimento a recurso especial em confronto com súmula ou jurisprudênciadominante desta corte. Julgamento monocrático. Possibilidade. Agravo improvido. 1. As entidadesde previdência privada estão sujeitas às normas de proteção do consumidor. 2. Em homenagem àvedação do enriquecimento ilícito, a restituição das contribuições pessoais pagas à entidade deprevidência privada deve ser feita de forma integral em favor do ex-associado. 3. Consoante o art.557 do CPC, é permitido o julgamento monocrático de recurso especial quando este veicular matériaa respeito da qual a jurisprudência desta Corte já se pacificou. 4. Agravo regimental improvido”(AgRg no REsp 938.535/RN, Rel. Min. Massami Uyeda, 3.ª Turma, j. 10.06.2008, DJe 20.06.2008).

“Escritório de Advocacia. Processo Civil. Ação de conhecimento proposta por detentor de títuloexecutivo. Admissibilidade. Prestação de serviços advocatícios. Inaplicabilidade do Código deDefesa do Consumidor. O detentor de título executivo extrajudicial tem interesse para cobrá-lo pelavia ordinária, o que enseja até situação menos gravosa para o devedor, pois dispensada a penhora,além de sua defesa poder ser exercida com maior amplitude. Não há relação de consumo nosserviços prestados por advogados, seja por incidência de norma específica, no caso a Lei n.8.906/1994, seja por não ser atividade fornecida no mercado de consumo. As prerrogativas eobrigações impostas aos advogados – como, v. g., a necessidade de manter sua independência em

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qualquer circunstância e a vedação à captação de causas ou à utilização de agenciador (arts. 31/§ 1.°e 34/III e IV, da Lei n. 8.906/1994) – evidenciam natureza incompatível com a atividade de consumo.Recurso não conhecido” (REsp 532.377/RJ, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 4.ª Turma, j. 21.08.2003,DJ 13.10.2003, p. 373).

Superada a análise do campo consumidor stricto sensu, passemos para a abordagem do campo“consumidor equiparado”. Assim, “o consumidor pode ser pessoa física ou jurídica. O Códigocontém quatro conceitos de consumidor: a) o conceito padrão ou standard (art. 2.º, caput), segundo oqual consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto ou utiliza serviço comodestinatário final; b) a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nasrelações de consumo (art. 2.º, parágrafo único), a fim de possibilitar a propositura da class actionprevista no art. 81, parágrafo único, III; c) as vítimas do acidente de consumo (art. 17), a fim de quepossa valer-se dos mecanismos e instrumentos do CDC na defesa de seus direitos; d) aquele queestiver exposto às práticas comerciais (publicidade, oferta, cláusulas gerais dos contratos, práticascomerciais abusivas etc.) (art. 29)”18 (grifos nossos).

Como vimos, apesar do próprio CDC apontar o conceito de consumidor, ele não se esgota no art.2.º, abrangendo sua aplicação para aquelas pessoas que, mesmo sem serem destinatárias finais deprodutos ou serviços, preenchem as qualidades objetivas e subjetivas do consumidor stricto sensu.

Assim, o CDC ampliou seu espectro para as seguintes situações:

2.2.1 Consumidor: coletividade de consumidores

Prescrito no parágrafo único do art. 2.º do CDC, esse conceito aponta para a proteção dosinteresses difusos e coletivos dos consumidores, equiparando-os ao consumidor individualmenteconsiderado no caput do mesmo dispositivo. Assim, a coletividade de pessoas, determinadas ouindeterminadas, receberá a tutela especial: “(...) o que se pretende é conferir à universalidade ougrupo de consumidores os devidos instrumentos jurídicos-processuais para que possam obter a justae mais completa possível reparação dos responsáveis”19.

2.2.2 Consumidor: vítimas de acidente de consumo

Pelo caput do art. 17, todas as pessoas, independentemente de figurarem na relação de consumo,que vierem a sofrer lesão decorrente de vícios na prestação de serviços ou na qualidade de produtos(responsabilidade pelo fato do produto e do serviço – arts. 12 a 16), são equiparadas ao consumidorindividualmente considerado. É o chamado bystander, apontado por Arruda Alvim Netto, aoressaltar que o art. 17 pretende “preencher, completar o espectro de abrangência do conceito deconsumidor, estendendo a proteção deste Código a uma gama maior de situações onde possa ocorrerdano, visando desta forma, precipuamente, a proteção ao denominado bystander, ou seja, aquelaspessoas (físicas ou jurídicas, já que a lei não restringe) que mesmo sem serem partícipes da relaçãode consumo foram atingidas em sua saúde ou segurança em virtude do defeito do produto”20.

2.2.3 Consumidor: pessoas expostas às práticas comerciais

Com esse dispositivo ampliou-se ainda mais o rol de pessoas protegidas pelo sistema do Código

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de Defesa do Consumidor, ou seja, aquelas determináveis ou não, que estejam expostas às práticascomerciais. A disposição do art. 29 do CDC é aplicável, portanto, às seções de oferta, publicidade,práticas abusivas, cobrança de dívidas, bancos de dados e cadastros de consumidores, e à matéria daproteção contratual. Deve ser interpretada em consonância com o inc. IV do art. 6.º, ou seja, sob aótica de que é princípio básico do direito do consumidor a coibição e repressão eficientes de todosos abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevidade inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possamcausar prejuízo aos consumidores.

Trata-se de um dos mais importantes dispositivos do código, pois expressa uma linha política elegislativa que inspirou o diploma em tela.

Com essa regra o CDC tem em vista que, “para harmonizar os interesses presentes no mercado deconsumo, para reprimir eficazmente os abusos do poder econômico, para proteger os interesseseconômicos dos consumidores finais, o legislador concedeu um poderoso instrumento nas mãosdaquelas pessoas (mesmo agentes econômicos) expostas às práticas abusivas. Estas, mesmo nãosendo ‘consumidores stricto sensu’, poderão utilizar das normas especiais do Código de Defesa doConsumidor, de seus princípios, de sua ética de responsabilidade social no mercado, de sua novaordem pública, para combater as práticas comerciais abusivas”21.

Basta a simples exposição à prática comercial, “mesmo que não se consiga apontar,concretamente, um consumidor que esteja em vias de adquirir ou utilizar o produto ou serviço”22,para que o CDC entre em ação.

Por fim, ressaltamos: “A visão do Estado, como mediador dos interesses envolvidos, vaideterminar a relevância jurídica ou não destes atos, a incluir ou excluir determinado grupo deindivíduos do âmbito das novas leis tutelares dos consumidores. De certa forma, o legislador doCDC previa a passividade do consumidor stricto sensu, a prevalência do fornecedor monopolista e apossibilidade de que talvez o consumidor equiparado viesse a instigar resposta do sistema, ocombate efetivo das práticas abusivas, com diretos e indiretos reflexos positivos para o consumidor,forçando a instituição de um mercado mais harmônico e menos abusivo. De certa forma, o art. 29agora valorizado renova o sistema, legitimando a atuação de novos agentes econômicos em virtudedo dado comum de vulnerabilidade, verdadeiro status análogo ao de consumidor, renova,principalmente, ao instituir instrumentos mais ágeis e sanções mais rígidas do que as conhecidas nodireito da concorrência, de parcos efeitos no Brasil”23.

2.3 O FORNECEDOR, O PRODUTO E O SERVIÇO

Cumpre-nos, nesse momento, abordar o outro polo da relação de consumo, qual seja, orepresentado pelo fornecedor. De qualquer forma, como veremos, o fornecedor é toda pessoa cujaatividade esteja relacionada a produtos ou serviços que serão objeto da relação jurídica a serfirmada com o consumidor.

O CDC caracterizou o fornecedor como uma pessoa profissional cuja atividade é geradora delucro, “ainda que de forma irregular, como ocorre, por exemplo, com os vendedores ambulantes quepraticam, em sua maioria, atividade ilegal, mas sujeita às normas de consumo”24.

Destarte, a remuneração é elemento indispensável à caracterização do fornecedor, pois indica o

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caráter profissional da atividade. “Isto serve para isolar o conceito de relação de consumo. Docontrário, toda operação praticada por um fornecedor se confundiria, desaparecendo a especialidadeda tutela”25. No entanto, destaque-se que o fornecedor que oferece produtos e serviços gratuitamentenão está isento das regras do CDC. A gratuidade é apenas um instrumento para seduzir o consumidor.É assim no caso das amostras grátis e serviços gratuitos como os de estacionamentos de bancos,lojas, restaurantes e shoppings centers. Incide o CDC nessas relações mesmo que o serviço sejaterceirizado e mesmo que o fornecedor se isente de qualquer responsabilidade, já que, como visto, oCDC é um conjunto de normas de ordem pública e aplicação obrigatória. Nas hipótesesexemplificadas o fornecedor responderá objetivamente por qualquer dano sofrido pelosconsumidores, como por exemplo, o furto de objetos pessoais deixados no interior de seus veículos.

Note-se também que o Código não fez qualquer exceção às pessoas que podem ser fornecedoras.Referiu-se, independentemente da nacionalidade, a toda pessoa física, e a toda pessoa jurídica, sejaqual for a sua natureza.

Portanto, podem ser fornecedores todas as pessoas jurídicas de direito privado e todas aspessoas jurídicas de direito público. Inovou também ao elencar os entes despersonalizados, ou seja,o grupo organizado que não possui as condições formais para a caracterização da pessoa jurídica.Tais condições são determinadas pela affectio societatis, ou intenção expressa de manter vínculoassociativo. “Encontram-se entre estes a família, a massa falida, as heranças jacente e vacante, oespólio e o condomínio”26.

Vejamos como a lei trata essa relação no caso de produtos e serviços.Prescreve o caput do art. 3.º do Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 3.º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ouestrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição oucomercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1.º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.§ 2.º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,

financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

Como se nota, o texto em apreço estabeleceu um amplo leque de situações (produção, montagem,criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição e comercialização) paraaquelas pessoas cuja atividade está relacionada com produtos.

Como frisado, a atividade deve ser relacionada com produtos, ou seja, bens móveis ou imóveis,materiais ou imateriais. Nessa linha, os produtos, como bens que são, caracterizam-se por serem “ocomplexo de relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis economicamente”27.

Consigne-se a distinção existente entre os bens ora enfocados e os denominados bens jurídicos.Estes estão a referir-se aos de natureza patrimonial e não patrimonial, ou seja, “os elementos moraisd a personalidade, inapreciáveis economicamente, como a vida, a honra, o nome, a liberdade, adefesa etc.”28.

Assim, temos que “todo bem econômico é jurídico, mas a recíproca não é verdadeira, pois nemtodo bem jurídico é econômico”29.

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Deve ainda o produto ter idoneidade para satisfazer um interesse econômico, ter gestãoeconômica autônoma, ou seja, permitir uma utilização e um valor econômico, e ser subordinadojuridicamente ao seu titular, ou seja, que possa ser suscetível de apropriação pelo homem.30

No entanto, a lei relacionou os produtos aos bens imóveis, isto é, “aqueles que não se podemtransportar, sem destruição, de um lugar para o outro”31 ou que assim sejam definidos pela normajurídica, e aos bens móveis, “os que, sem deterioração na substância ou na forma, podem sertransportados de um lugar para outro, por força própria ou estranha”32, ou que assim sejam definidospela norma jurídica.

Saliente-se que os produtos também poderão ser os bens materiais, de existência física/material,ou imateriais, que não possuem existência física, mas sim jurídica, como, por exemplo, os direitosreais, obrigacionais ou autorais. Tal relação (móveis e imóveis, materiais e imateriais) objetivouatingir o maior leque de bens possível, de forma que a tradicional divisão do direito civil, aliásextensa, não traz utilidade para a aplicação da lei do consumidor.

Em relação aos serviços, o texto foi menos minucioso e incluiu no rol dos fornecedores todos osprestadores de serviços, ou seja, todas as pessoas que fornecem atividade no mercado, incluindotaxativamente a hipótese daquelas de natureza bancária e financeira, já prevendo a tentativa dessasentidades de serem excluídas da aplicação do Código33.

Sobre os serviços, aponta Maria Antonieta Z. Donato que, “vale dizer, o objeto da relaçãojurídica não está restrito apenas às coisas, mas abrange ainda as atividades ou ações humanas, desdeque alguém deva fazer ou não fazer ou obrigue-se a dar alguma coisa. A essa atividade – física ouintelectual – praticada pelo homem (através de seu trabalho), possuidora de conteúdo econômico,denomina-se prestação”34.

E continua a professora trazendo à baila a lição de Jean Calais-Auloy, lembrando que “a noçãode serviço é mais vaga (...), designa toda prestação que pode ser fornecida a título oneroso, nãosendo, todavia, um bem corpóreo. Um serviço pode ser material (reparação, hotelaria, transporte,etc.), financeiro (seguro, crédito, etc.), ou intelectual (médico, assessoria jurídica, etc.)”35.

Por fim, não há dúvida quanto à aplicação do CDC aos serviços bancários36. Toda vez quepresentes os requisitos já apontados para a caracterização do sujeito consumidor, a instituiçãobancária será responsabilizada objetivamente pelos vícios e defeitos de seus produtos e serviços, eos contratos bancários serão regulados segundo os preceitos consumeristas.

2.4 QUESTÕES

1. (OAB-SP – Exame 110) De acordo com o CDC (Lei nº 8.078/90), “consumidor” é toda a pessoa física:(a) Que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final e “fornecedor” é toda a pessoa jurídica privada,

nacional, que desenvolve atividades de produção e fornecimento de bens em sentido amplo e de prestação deserviços.

(b) Brasileira que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final e “fornecedor” é toda a pessoa física oujurídica privada, nacional, que desenvolve atividades de produção e fornecimento de bens em sentido amplo e deprestação de serviços.

(c) Ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final e “fornecedor” é toda a pessoa física oujurídica, nacional ou estrangeira, de direito público ou privado, que desenvolve atividades de produção efornecimento de bens em sentido amplo e de prestação de serviços.

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(d) Brasileira ou naturalizada, ou jurídica nacional, de direito privado, com seus atos constitutivos devidamenteregistrados e “fornecedor” é toda a pessoa jurídica, nacional ou estrangeira, de direito privado, que desenvolveatividades de produção e fornecimento de bens em sentido amplo e de prestação de serviços.

2. (OAB-MG – Exame de Dezembro/2007) Considerando o que determina o Código Civil sobre a boa-fé objetiva,é incorreto afirmar:(a) Implica a observância de deveres anexos ao contrato, tais como informação e segurança.(b) Significa a ignorância de vício que macula o negócio jurídico.(c) Aplica-se aos contratos do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor.(d) Implica o dever de conduta probo e íntegro entre as partes contratantes.

3. (OAB-MG – Exame de Abril/09) Em qual das alternativas abaixo não há relação de consumo:(a) Paciente e dentista em tratamento dentário.(b) Mecânico e loja de peças em compra e venda de peças automotivas para os carros em conserto na oficina.(c) Correntista e instituição financeira na relação de guarda e depósito de dinheiro em conta-corrente.(d) Cliente e restaurante na compra e venda de marmitas para o almoço de uma família.

4. (OAB – Exame unificado 2007.3) No que se refere ao campo de aplicação do Código de Defesa do Consumidor(CDC), assinale a opção correta.(a) O conceito de consumidor restringe-se às pessoas físicas que adquirem produtos como destinatárias finais da

comercialização de bens no mercado de consumo.(b) O conceito de fornecedor envolve o fabricante, o construtor, o produtor, o importador e o comerciante, os quais

responderão solidariamente sempre que ocorrer dano indenizável ao consumidor.(c) O conceito de produto é definido como o conjunto de bens corpóreos, móveis ou imóveis, que sejam oferecidos

pelos fornecedores para consumo pelos adquirentes.(d) O conceito de serviço engloba qualquer atividade oferecida no mercado de consumo, mediante remuneração,

salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

5. (OAB – Exame unificado 2008.3) No tocante às relações de consumo, é correto afirmar que(a) A pessoa jurídica não sofre dano moral indenizável.(b) É isento de responsabilidade o fornecedor que não tenha conhecimento dos vícios de qualidade por inadequação

de produtos e serviços de consumo.(c) A reparação do dano moral coletivo está prevista no Código de Defesa do Consumidor.(d) A interpretação das cláusulas contratuais deve ocorrer de forma a não favorecer nem prejudicar o consumidor.

6. (OAB 2011.1 – FGV) No âmbito do Código de Defesa do Consumidor, em relação ao princípio da boa-féobjetiva, é correto afirmar que(a) importa em reconhecimento de um direito a cumprir em favor do titular passivo da obrigação.(b) não se aplica à fase pré-contratual.(c) para a caracterização de sua violação imprescindível se faz a análise do caráter volitivo das partes.(d) sua aplicação se restringe aos contratos de consumo.

7. (X Exame de Ordem Unificado – FGV) Elisabeth e Marcos, desejando passar a lua de mel em Paris, adquiriramjunto à Operadora de Viagens e Turismo “X” um pacote de viagem, composto de passagens aéreas de ida evolta, hospedagem por sete noites, e seguro saúde e acidentes pessoais, este último prestado pelaseguradora “Y”. Após chegar à cidade, Elisabeth sofreu os efeitos de uma gastrite severa e Marcos entrou emcontato com a operadora de viagens a fim de que o seguro fosse acionado, sendo informado que não haviamédico credenciado naquela localidade. O casal procurou um hospital, que manteve Elisabeth internada por24 horas, e retornou ao Brasil no terceiro dia de estadia em Paris, tudo às suas expensas. Partindo dahipótese apresentada, assinale a afirmativa correta.(a) O casal poderá acionar judicialmente a operadora de turismo, mesmo que a falha do serviço tenha sido da

seguradora, em razão da responsabilidade solidária aplicável ao caso.(b) O casal somente poderá acionar judicialmente a seguradora Y, já que a operadora de turismo responderia por

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falhas na organização da viagem, e não pelo seguro, porque esse foi realizado por outra empresa.(c) O casal terá que acionar judicialmente a operadora de turismo e a seguradora simultaneamente por se tratar da

hipótese de litisconsórcio necessário e unitário, sob pena de insurgir em carência da ação.(d) O casal não poderá acionar judicialmente a operadora de turismo já que havia liberdade de contratar o seguro-

saúde viagem com outra seguradora e, portanto, não se tratando de venda casada, não há responsabilidadesolidária na hipótese.

GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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__________1 Ver a obra de LIMA, Rogério Medeiros Garcia de. Aplicação do código de defesa do consumidor, São Paulo: RT, 2003.2 Em outros países, como os EUA, não há um conceito único para consumidor, variando de acordo com as

especificidades das normas reguladoras. Sobre a matéria, ver BENJAMIN, Antônio Herman V. O conceito jurídico deconsumidor, passim.

3 LUCCA, Newton de. Direito do consumidor, p. 38.4 NERY JÚNIOR, Nelson. CDC comentado..., p. 430.5 Sobre o assunto, ver MARQUES, Claudia Lima. Contratos..., p. 140-163.6 Nesse sentido: STJ, Conflito de Competência 92.519/SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 2.ª Seção, j. 16.02.2009, DJe

04.03.2009.7 Claudia Lima Marques relata o embate existente entre belgas e franceses. A jurisprudência francesa, a partir de 1987,

alargou o espectro da Lei 78-23, de 10.01.1978, destinada aos contratos firmados entre os profissionais e nãoprofissionais, para que a proteção contra cláusulas abusivas fosse também estendida aos contratos estabelecidospelos profissionais liberais e pequenas e médias empresas, por compreender a vulnerabilidade técnica existente, já quenessas relações essas pessoas encontram-se fora da sua área de comércio. A posição da jurisprudência francesa foiduramente criticada pela doutrina belga, que mantém a tendência de uma definição restrita.

8 É pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de adotar a referida teoria para a conceituação deconsumidor. A respeito, decidiu recentemente aquela Egrégia Corte: “[...] 1 – A jurisprudência desta Corte sedimenta-seno sentido da adoção da teoria finalista ou subjetiva para fins de caracterização da pessoa jurídica como consumidoraem eventual relação de consumo, devendo, portanto, ser destinatária final econômica do bem ou serviço adquirido(REsp 541.867/BA). 2 – Para que o consumidor seja considerado destinatário econômico final, o produto ou serviçoadquirido ou utilizado não pode guardar qualquer conexão, direta ou indireta, com a atividade econômica por eledesenvolvida; o produto ou serviço deve ser utilizado para o atendimento de uma necessidade própria, pessoal doconsumidor. 3 – No caso em tela, não se verifica tal circunstância, porquanto o serviço de crédito tomado pela pessoajurídica junto à instituição financeira de certo foi utilizado para o fomento da atividade empresarial, no desenvolvimentoda atividade lucrativa, de forma que a sua circulação econômica não se encerra nas mãos da pessoa jurídica,sociedade empresária, motivo pelo qual não resta caracterizada, in casu, relação de consumo entre as partes. [...]”(Conflito de Competência 92.519/SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 2.ª Seção, j. 16.02.2009, DJe 04.03.2009).

9 DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao consumidor..., p. 104.10 A respeito, o STJ já proferiu decisão exteriorizando um entendimento um pouco diverso. Para aquela Corte Superior, a

vulnerabilidade se afigura, na verdade, como uma mitigação da regra da destinação final. Reconhece, pois, aimportância da vulnerabilidade para a caracterização da figura do consumidor, mas de maneira a ampliar o campo deincidência do conceito trazido pelo art. 2.º, caput, do CDC. Aqui, aproxima-se da corrente maximalista, sem, contudo,adotá-la. Confira-se: “[...] – A jurisprudência consolidada pela 2.ª Seção deste STJ entende que, a rigor, a efetivaincidência do CDC a uma relação de consumo está pautada na existência de destinação final fática e econômica doproduto ou serviço, isto é, exige-se total desvinculação entre o destino do produto ou serviço consumido e qualqueratividade produtiva desempenhada pelo utente ou adquirente. Entretanto, o próprio STJ tem admitido o temperamentodesta regra, com fulcro no art. 4.º, I, do CDC, fazendo a lei consumerista incidir sobre situações em que, apesar doproduto ou serviço ser adquirido no curso do desenvolvimento de uma atividade empresarial, haja vulnerabilidade deuma parte frente à outra. – Uma interpretação sistemática e teleológica do CDC aponta para a existência de umavulnerabilidade presumida do consumidor, inclusive pessoas jurídicas, visto que a imposição de limites à presunção devulnerabilidade implicaria restrição excessiva, incompatível com o próprio espírito de facilitação da defesa doconsumidor e do reconhecimento de sua hipossuficiência, circunstância que não se coaduna com o princípioconstitucional de defesa do consumidor, previsto nos arts. 5.º, XXXII, e 170, V, da CF. Em suma, prevalece a regra geralde que a caracterização da condição de consumidor exige destinação final fática e econômica do bem ou serviço, masa presunção de vulnerabilidade do consumidor dá margem à incidência excepcional do CDC às atividadesempresariais, que só serão privadas da proteção da lei consumerista quando comprovada, pelo fornecedor, a nãovulnerabilidade do consumidor pessoa jurídica. – Ao encampar a pessoa jurídica no conceito de consumidor, a intençãodo legislador foi conferir proteção à empresa nas hipóteses em que, participando de uma relação jurídica na qualidadede consumidora, sua condição ordinária de fornecedora não lhe proporcione uma posição de igualdade frente à partecontrária. Em outras palavras, a pessoa jurídica deve contar com o mesmo grau de vulnerabilidade que qualquerpessoa comum se encontraria ao celebrar aquele negócio, de sorte a manter o desequilíbrio da relação de consumo. A‘paridade de armas’ entre a empresa-fornecedora e a empresa-consumidora afasta a presunção de fragilidade desta.Tal consideração se mostra de extrema relevância, pois uma mesma pessoa jurídica, enquanto consumidora, pode semostrar vulnerável em determinadas relações de consumo e em outras não. Recurso provido” (STJ, Recurso Ordinário

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em Mandado de Segurança 27.512/BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 20.08.2009, DJe 23.09.2009).11 LOPES, José Reinaldo de Lima. Responsabilidade civil do fabricante e a defesa do consumidor, p. 79.12 “Processo civil e Consumidor. Rescisão contratual cumulada com indenização. Fabricante. Adquirente. Freteiro.

Hipossuficiência. Relação de consumo. Vulnerabilidade. Inversão do ônus probatório. – Consumidor é a pessoa física oujurídica que adquire produto como destinatário final econômico, usufruindo do produto ou do serviço em beneficiopróprio. – Excepcionalmente, o profissional freteiro, adquirente de caminhão zero quilômetro, que assevera conterdefeito, também poderá ser considerado consumidor, quando a vulnerabilidade estiver caracterizada por algumahipossuficiência quer fática, técnica ou econômica. – Nesta hipótese está justificada a aplicação das regras deproteção ao consumidor, notadamente a concessão do benefício processual da inversão do ônus da prova. Recursoespecial provido” (STJ, REsp 1.080.719/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 10.02.2009, DJe 17.08.2009 – grifonosso). No mesmo sentido, reconhecendo os aspectos técnico, jurídico e econômico da vulnerabilidade: STJ, REsp661.145/ES, Rel. Min. Jorge Scartezzini, 4.ª Turma, j. 22.02.2005, DJ 28.03.2005, p. 286.

13 A noção de vulnerabilidade jurídica foi estabelecida pela corte suprema alemã nos casos de contratos de empréstimobancário e financiamento, conforme lembra Claudia Lima Marques, Contratos..., p. 148, nota 26.

14 Ibidem, p. 148.15 Nelson Nery Junior, Os princípios gerais do código de defesa do consumidor, p. 53.16 A proteção do consumidor, p. 435.17 Curso prático de direito do consumidor, p. 19.18 NERY JÚNIOR, Nelson. Os princípios gerais do código de defesa do consumidor, p. 53.19 GRINOVER, Ada Pellegrini. CDC comentado..., p. 28.20 Código do consumidor comentado, p. 140.21 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código..., p. 157.22 GRINOVER, Ada Pellegrini, op. cit., p. 30.23 MARQUES, Claudia Lima. Contratos..., p. 159.24 MARINS, James. Responsabilidade..., p. 108.25 PASQUALOTTO, Adalberto. Os serviços públicos no código de defesa do consumidor, p. 22.26 MARINS, James. Código..., p. 18.27 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 188.28 Ibidem, mesma página.29 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil, p. 200.30 DINIZ, Maria Helena. Curso..., p. 189.31 BEVILÁQUA, Clóvis. Comentários ao código civil, p. 267.32 Ibidem, mesma página.33 Ver comentários ao dispositivo em tela feitos por FILOMENO, José Geraldo Brito. Código..., p. 39-51.34 Proteção..., p. 133.35 Apud Proteção..., p. 133.36 Nesse sentido, STF, ADI 2.591, Rel. Min. Carlos Velloso, Rel. p/ Acórdão Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, j. 07.06.2006,

DJ 29.09.2006, p. 31; e Súmula 297 do STJ, com o seguinte teor: “O CDC é aplicável às instituições financeiras”. Aindasobre o tema, convém analisar o verbete sumular 321, também do STJ: “O CDC é aplicável à relação jurídica entre aentidade de previdência privada e seus participantes”.

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DOS DIREITOS DOS CONSUMIDORES

3.1 A POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

A Política Nacional de Relações de Consumo introduzida pelo art. 4.º da Lei 8.078/1990 visa oatendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, aproteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como atransferência e harmonia das relações de consumo. Para a consumação dessa política, o CDC elencoualguns princípios fundamentais. São eles (art. 4.º):

a) Princípio da vulnerabilidade. O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor nomercado de consumo (inciso I);

b) Princípio da defesa do consumidor pelo Estado. A imperatividade da ação governamentalno sentido de proteger efetivamente o consumidor por iniciativa direta, por incentivos àcriação e desenvolvimento de associações representativas, pela presença do Estado nomercado de consumo, e pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados dequalidade, segurança, durabilidade e desempenho (inciso II);

c) Princípio da boa-fé objetiva e do equilíbrio nas relações. A “harmonização dos interessesdos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidorcom a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar osprincípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), semprecom base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores” (inciso III).As relações jurídicas firmadas entre consumidores e fornecedores devem observar oprincípio do inc. III, do art. 4.º e inc. IV do art. 51, do CDC. Assim, o princípio da “boa-fé,equidade e equilíbrio” deve ser sempre observado, visando à harmonização dos interessesinerentes às relações de consumo. A “boa-fé” de que trata o CDC é denominada “boa-féobjetiva”, ou seja, conduta obrigatória a ser observada pelas pessoas que pretendemestabelecer relação de consumo1. Luiz Antonio Rizzatto Nunes denomina de “comportamentofiel, leal, na atuação de cada uma das partes contratantes a fim de garantir respeito à outra”2.Desta feita, não se trata da tradicional “boa-fé subjetiva” no sentido de desconhecimento defato que venha violar, modificar ou estabelecer impedimento a direito. De outro lado, estedispositivo determina a observância dos fundamentos da ordem econômica e dentre eles o dadefesa do meio ambiente. Trata-se, assim, do chamado Consumo Sustentável3 estabelecidopela Resolução 53/1995 da ONU, que dispõe sobre a necessidade de se difundir o consumo

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responsável, sobretudo pela esgotabilidade dos recursos naturais. Vale dizer que se de umlado o mercado de consumo é fundamental para o desenvolvimento econômico, na geração deempregos, recolhimento de tributos e até de divisas para o país, por outro lado essa atividadedeve se dar com a responsabilidade da defesa e prevenção do meio ambiente, para garantir atodos, inclusive para as futuras gerações, a sadia qualidade de vida;

d) Princípio da informação e educação. A necessidade de incentivo à educação e informaçãode fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoriado mercado de consumo (inciso IV);

e) Princípio da confiança. O incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes decontrole de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismosalternativos de solução de conflitos de consumo (inciso V);

f) Princípio do combate ao abuso. A coibição e repressão eficientes de todos os abusospraticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida deinventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, quepossam causar prejuízos aos consumidores (inciso VI);

g) Princípio da eficiência dos serviços públicos. A racionalização e melhoria dos serviçospúblicos (inciso VII);

h) e o Princípio do estudo constante das modificações do mercado de consumo (inciso VIII).

Os princípios elencados no art. 4.º do CDC encontram correspondência em diversos outrosdispositivos do código, como no capítulo dos direitos básicos do consumidor e das práticascomerciais. Claudia Lima Marques lembra que este dispositivo legal é uma norma narrativa de umalei de função social que é o CDC, estabelecendo princípios que devem ser obedecidos no mercadode consumo4.

No sentido de estabelecer instrumentos eficazes para a concretização da Política Nacional dasRelações de Consumo (art. 5.º), o Código determina que o Poder Público mantenha assistênciajurídica integral e gratuita para o consumidor carente, medida raramente encontrada nos Estadosbrasileiros. Determina ainda a instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, noâmbito do Ministério Público, o que de fato viu-se implantado em quase todo o país e que se reveloufundamental para o desenvolvimento e consolidação dos direitos do consumidor. Por fim, o PoderPúblico deve empreender esforços para criar delegacias de polícia especializadas no atendimento deconsumidores vítimas de infrações penais de consumo, Juizados Especiais de Pequenas Causas eVaras Especializadas para a solução de litígios de consumo. Deve ainda o Poder Público concederincentivos para o surgimento e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.

3.2 DOS DIREITOS BÁSICOS DOS CONSUMIDORES

Assim como a Política Nacional das Relações de Consumo, os direitos dos consumidoresinscritos no art. 6.º do CDC se manifestam também em outros dispositivos do código para tratamentomais específico.

Destarte, analisaremos cada uma das hipóteses de direitos básicos do consumidor, positivadas noart. 6.º e cujo rol é meramente exemplificativo.

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a) O direito à proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticasno fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos (inciso I). Talprevisão coaduna-se com os princípios gerais da Política Nacional das Relações deConsumo e com o princípio constitucional da dignidade humana.

b) O direito à educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços,asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações (inciso II). Tal direitoreforça a missão do CDC de estabelecer o equilíbrio nas relações de consumo para aconcretização do princípio constitucional da igualdade. Por este dispositivo, não poderáhaver discriminação para com os consumidores.

c) O direito à informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, comespecificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributosincidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem (inciso III). Trata-se do deverque os fornecedores têm de informar, reforçando a transparência como princípio das relaçõesde consumo. Sem a correta informação e transparência, o consumidor não pode exercer aliberdade de contratar. A Lei 12.741, de 8 de dezembro de 2012, que passou a vigorar 6meses após a sua publicação, dispõe sobre as medidas de esclarecimento ao consumidorprevistas no § 5º do art. 150 da Constituição Federal. Assim, nos documentos fiscais ouequivalentes emitidos ao consumidor, deverão constar as informações do valor aproximadocorrespondente à totalidade dos tributos federais, estaduais e municipais, cuja incidênciainflui na formação dos respectivos preços de venda. Importante lembrar que a aplicação desanções administrativas pelo descumprimento da lei em apreço, só ocorrerá após otranscurso do prazo de 12 meses depois do início de sua vigência.

d) O direito à proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciaiscoercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas nofornecimento de produtos e serviços (inciso IV). Este direito impõe aos fornecedores odever de garantir qualidade, adequação e segurança de seus produtos e serviços. Asinformações sobre estes aspectos não podem ser incorretas ou abusivas. Decorre doprincípio constitucional da Publicidade já analisado e que será objeto de nossas reflexões notópico sobre a publicidade e o abuso de direito.

e) A modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ousua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas(inciso V). Desta regra decorrem os direitos de modificação e revisão das cláusulascontratuais. Não se trata da teoria da imprevisão adotada pelo Código Civil. É direitoautônomo que permite a intervenção judicial para modificação das cláusulas contratuaisquando houver prestações desproporcionais que configurem ofensa ao princípio da isonomiaou a revisão de cláusulas contratuais que se tornem excessivamente onerosas por fatossupervenientes nos contratos de trato sucessivo. Percebe-se que a norma não se refere a fatosimprevisíveis e sim simplesmente supervenientes ao momento da celebração do contrato5.Como nos ensina Vidal Serrano Nunes Junior e Yolanda Alves Pinto Serrano, “não se aplicaa chamada teoria da imprevisão, pois a interpretação literal dos dispositivos não permitedúvidas, indicando somente dois requisitos necessários: 1) a onerosidade excessiva; 2) quetenha fundamento em fato superveniente. (...) Mais uma vez, o CDC está a apontar o desejo de

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equilíbrio nas relações de consumo, rendendo a oportunidade à intervenção judicial para adefinição de conteúdo de uma cláusula contratual”6.

Este direito positiva o princípio da “Conservação do Contrato”. Por esse princípio, é garantidaao consumidor a revisão de cláusula pactuada com a manutenção do liame contratual. Havendo oestabelecimento de prestações desproporcionais ou a ocorrência de fatos supervenientesocasionando excessiva onerosidade ao consumidor, é garantida a revisão contratual para orestabelecimento do equilíbrio contratual7, pois “(...) esse princípio modifica o dogma da‘intangibilidade do conteúdo do contrato’, consubstanciado no antigo brocardo pacta suntservanda”8.

Por outro lado, note-se que o art. 47 do CDC prevê a necessidade de interpretação dos contratosde consumo da forma mais favorável ao consumidor. Assim, “como decorrência da adoção, peloCódigo de Defesa do Consumidor, do princípio da interpretação contratual mais favorável aoconsumidor, podemos extrair vários subprincípios: a) a interpretação é sempre mais favorável aoconsumidor; b) deve-se atender mais à intenção das partes do que à literalidade da manifestação devontade (art. 85, CC); c) a cláusula geral de boa-fé reputa-se ínsita em toda relação jurídica deconsumo, ainda que não conste expressamente do instrumento do contrato (arts. 4.º, caput, e III, e 51,IV, CDC); d) havendo cláusula negociada individualmente, prevalecerá sobre as cláusulasestipuladas unilateralmente pelo fornecedor; e) nos contratos de adesão as cláusulas ambíguas oucontraditórias se faz ‘contra stipulatorem’, em favor do aderente (consumidor); f) sempre quepossível se interpreta o contrato de consumo de modo a fazer com que as cláusulas tenham aplicação,extraindo delas máxima utilidade (princípio da conservação)”9.

f) A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos edifusos (inciso VI). Com este dispositivo o CDC adotou o princípio do restitutio inintegrum, não admitindo indenizações tarifadas ou pré-limitadas, como o ocorrido com oCódigo Brasileiro de Aeronáutica. A Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, editou aResolução 37, de 7 de agosto de 2008, que atualiza os limites de indenização fixados noCódigo Brasileiro de Aeronáutica – CBAer. Assim, os valores referidos na aludidaresolução devem ser tidos como mínimo de indenização, de forma que o consumidor no casoconcreto pode recorrer ao Judiciário para a complementação do que entender devido, a fimde ultimar sua efetiva reparação10.

g) O acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação dedanos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteçãoJurídica, administrativa e técnica aos necessitados (inciso VII). Tal direito estárelacionado com o mandamento do artigo 5.º, I, que imputa ao Poder Público o dever demanter assistência jurídica integral e gratuita para o consumidor carente.

h) A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seufavor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quandofor ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência (inciso VIII). Trata-seda tão falada inversão do ônus da prova.

A proteção do consumidor está contextualizada no sistema político-constitucional brasileiro (art.

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5.º, XXXII e LIV, da CF). Desse sistema decorre o princípio do due process of law – devidoprocesso legal –, a fim de resguardar os bens jurídicos do trinômio vida, liberdade e propriedade.

Acompanhando a evolução social e a complexidade das demandas dela decorrentes, o direitoprocessual amplia seu objetivo de acesso à justiça para a busca da efetividade. Transmuta a tutela daesfera meramente individual, advinda da concepção burguesa dos séculos XVIII e XIX, para a esferada tutela de interesses indivisíveis e indeterminados, advinda da concepção moderna.

Assim, ao tratarmos de ônus da prova, estamos nos referindo à facilitação da defesa doconsumidor em juízo, ou, como no texto constitucional, à defesa do consumidor, bem como aointeresse em oferecer prova. Trata-se daquela conduta da pessoa em juízo consistente em agir dedeterminado modo para a satisfação de interesse próprio, a fim de evitar uma situação dedesvantagem11, um encargo que recai sobre quem sente as consequências pela falta da prova.

Dessa forma, ao magistrado que presta jurisdição em contenda de consumo caberá a análiseprobatória e caso persista dúvida deverá avaliar a existência de pelo menos um dos dois requisitosexigidos para a inversão do ônus, quais sejam:

O subjetivo, consistente na verossimilhança das alegações do consumidor segundo as regras deexperiência; ou

O objetivo, consistente na verificação da hipossuficiência do consumidor, em sentido muito maisamplo do que aquele conferido pela Lei 1.060/1950. Note-se que hipossuficiência e vulnerabilidadesão noções distintas, apesar de caminharem juntas12. Vulnerabilidade é utilizada quando estamos atratar de direito material, e a hipossuficiência no transcorrer do processo judicial. Por isso, revela-seque todo consumidor é vulnerável, mas nem todo consumidor é hipossuficiente.

Assim, a inversão do ônus da prova é benefício a ser concedido pelo julgador ao consumidor nomomento da prolação da sentença, afinal estamos a tratar de regra de julgamento13. Não há que sefalar em lesão ao contraditório e ampla defesa do fornecedor, pois este de antemão deveria conhecereste direito básico do consumidor.

i) A adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral (inciso X). Comodecorrência do inciso VII do art. 4.º do CDC, que positivou a imperatividade daracionalização e melhoria dos serviços públicos, este direito traduz no âmbito do CDC oestatuído na Emenda Constitucional 19, de 4 de junho de 1998, e que se encontra positivadono art. 37 da Carta Magna.

3.3 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E INTEGRAÇÃO

Por fim, no que tange aos direitos dos consumidores é preciso consignar que eles não se esgotamnaqueles estabelecidos no CDC. Não estão excluídos outros decorrentes de tratados ou convençõesinternacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentosexpedidos pelas autoridades administrativas competentes (como as Portarias da Secretaria de DireitoEconômico do Ministério da Justiça), bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito,analogia, costumes e equidade. É o próprio CDC, no caput de seu art. 7.º, que não permite que aproteção do consumidor se encerre no âmbito da lei consumerista. Tal dispositivo foi inspirado noque prescreve o § 2.º do art. 5.º da Constituição Federal, que trata dos direitos e garantias

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fundamentais, já que a defesa dos consumidores constitui cláusula pétrea. Destaque-se no âmbito dasnormas internacionais a Resolução das Nações Unidas 39/248, de 10.04.1985, sobre a Proteção doConsumidor, que também foi inspiradora do CDC14. Outro dispositivo que inspirou o art. 7.º do CDCfoi o art. 4.º do Decreto-Lei 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução ao Código Civil –LICC) que se encontra em pleno vigor e é aplicável às relações de consumo, já que a LICC é denatureza lex legum (Lei das Leis), de aplicação geral.

3.4 ALGUNS ASPECTOS IMPORTANTES SOBRE A DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

Fixadas as relações jurídicas de consumo, faz-se necessária a abordagem de alguns pontosdecorrentes do tema que requerem a aplicação dos princípios fundamentais do CDC, insculpidos emseus arts. 1.º ao 7.º, e que constituem a base, o fundamento de intelecção do microssistema brasileirode regulação das relações de consumo, cuja inobservância “consiste em mal mais grave do que atransgressão da norma15, afinal a violação de um princípio fundamental representa insurgência contratodo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouçológico e corrosão de sua estrutura mestra”16.

Como visto, o Código intervém nas relações de mercado objetivando o equilíbrio entreconsumidor e fornecedor, concretizando, no inc. I de seu art. 4.º (reconhecimento da vulnerabilidadedo consumidor no mercado de consumo)17, o princípio constitucional da isonomia (caput do art. 5.ºda CF).

Essa é a lógica, a busca da igualdade real entre consumidor e fornecedor, que deve nortear todosos desdobramentos das relações de consumo.

Vejamos.

3.4.1 O consumidor possui foro privilegiado

Esse é o mandamento do art. 101 do CDC:

“Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, semprejuízo do disposto nos capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:

I – a ação pode ser proposta no domicílio do autor” (...).

Com esse preceito, o CDC estabeleceu mais uma exceção ao art. 94 do CPC, que fixa como regrageral de competência o foro do domicílio do réu.

A exceção em tela visa à facilitação da defesa do consumidor em juízo, à facilitação de seuacesso aos órgãos judiciários, que seria limitado se o foro fosse o do domicílio do fornecedor, réuna ação, em razão do dispêndio de recursos para a manutenção do processo.

Concretizam-se aqui os princípios dos incisos VII e VIII do art. 6.º do CDC:

“Art. 6.º. São direitos básicos do consumidor:(...)VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação

de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção

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jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;VIII – a facilitação da defesa de seus direitos (...)”.

3.4.2 O polo passivo das referidas ações. Regra geral de solidariedade e a regra geral de responsabilidade civil

Novamente agiu com perspicácia o legislador ao determinar no parágrafo único do art. 7.º que,“tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danosprevistos nas normas de consumo”.

Como é cediço, a solidariedade visa ao tratamento da pluralidade pela unicidade. É a qualidadeda relação obrigacional18 com multiplicidade de sujeitos (credores ou devedores), que obriga cadaum dos devedores pela dívida toda como se fosse o único devedor, e que permite a cada um doscredores exigir o crédito integral como se fosse o único credor.

Constitui-se como postulado nessa matéria a não presunção da solidariedade, por força do art.265 do CC. Tal atributo das relações obrigacionais deve necessariamente decorrer da vontade daspartes ou da lei.

O legislador, ao confeccionar o CDC, ciente da limitação imposta pelo mercado à esfera daautonomia da vontade do consumidor, consignou como princípio fundamental das relações deconsumo a solidariedade dos causadores de dano aos consumidores.

Destarte, como ressalta José Geraldo Brito Filomeno, “ao consumidor é conferido o direito deintentar as medidas contra todos os que estiverem na cadeia de responsabilidade que propiciou acolocação do mesmo produto no mercado ou então a prestação do serviço”19.

O princípio da solidariedade de todos os causadores do dano ao consumidor decorre também dasistemática adotada pelo Código na apuração da responsabilidade civil.

Diferentemente da determinação do art. 186 do Código Civil (Responsabilidade Aquiliana), oCDC adotou a teoria do risco integral, por meio da qual a apuração da responsabilidade civil dedano ao consumidor será dada objetivamente, ou seja, sem a necessidade de se percorrer a “viacrúcis” da verificação da culpa do agente (imprudência, negligência e imperícia).

Antes, o consumidor deveria formular prova do dano, do nexo de causalidade entre a ação ouomissão do agente e o dano, e da culpa (imprudência, negligência e imperícia). Agora, em nome doprincípio da equidade constitucional e da vulnerabilidade do consumidor, o CDC adotou a teoria dorisco integral da atividade, pela qual o fornecedor de produto ou serviço, ao inserir-se no mercadopara transacionar com os consumidores, assume integralmente o risco pelos danos causadosdecorrentes de sua atividade. É a chamada responsabilidade objetiva (arts. 12 a 18)20, por meio daqual caberá ao consumidor, até para facilitar sua defesa, apenas a prova do dano e do nexo decausalidade com o agente21.

3.5 DA QUALIDADE DE PRODUTOS E SERVIÇOS, DA PREVENÇÃO E DA REPARAÇÃO DOS DANOS

Como decorrência da Política Nacional das Relações de Consumo e dos Direitos doConsumidor, o CDC prevê em seus arts. 8.º, 9.º e 10 o regramento a ser observado por todos osfornecedores, inclusive pelo Estado, para a concretização e respeito aos direitos dos consumidores.Assim, os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não poderão acarretar riscos à

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saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrênciade sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informaçõesnecessárias e adequadas a seu respeito, e, no caso de produtos industriais, por meio de impressosapropriados que devam acompanhar o produto.

Para aqueles produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança, ainformação deverá ser ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade (art.9.º). Exemplos desses produtos de perigo previsível são o álcool doméstico, medicamentos,inseticidas e produtos de limpeza. Novamente o CDC estabelece a informação adequada, verídica eclara como elemento fundamental e inerente à atividade dos fornecedores.

A falta da observância deste mandamento, ou seja, omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre anocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes oupublicidade, sujeita o infrator à pena de detenção, de seis meses a dois anos e multa. Incorre nasmesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre apericulosidade do serviço a ser prestado. Neste caso, admite-se a modalidade culposa com a pena dedetenção de um a seis meses ou multa (art. 63 do CDC).

Nessa esteira, o CDC determina que o “fornecedor não poderá colocar no mercado de consumoproduto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade àsaúde ou segurança” (art. 10). Com esta regra procurou-se abarcar duas hipóteses, quais sejam,aquela em que o fornecedor, mesmo ciente da nocividade ou periculosidade, faz circular o produtoou o serviço e, portanto, age com intencionalidade, e aquela em que deveria saber por força de suaatividade e responsabilidade.

Pode ocorrer a hipótese na qual o fornecedor toma conhecimento da periculosidade e nocividadedos produtos e serviços após a sua introdução no mercado de consumo. Neste caso, o fornecedordeverá informar a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios sobre as providênciascabíveis às autoridades competentes. Deverá, de outra parte, informar os consumidores medianteanúncios publicitários veiculados na imprensa, rádio e televisão, às suas expensas (§§ 1.º a 3.º doart. 10). Trata-se da figura do recall (chamar de volta), medida de caráter preventivo. Atente-se quea realização do recall não exclui a responsabilidade civil do fornecedor. Assim, se o consumidornão comparece perante montadora de veículos no prazo determinado em anúncio publicitário parareparar o cinto de segurança de seu veículo, e após a fluência desse prazo vem a sofrer dano pelodefeito no cinto de segurança, não está excluída a responsabilidade civil da montadora fornecedora,pela singela razão da supremacia do interesse do consumidor, na medida em que não há comogarantir que o consumidor lesado foi atingido pelo recall.

Atente-se que deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade oupericulosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado sujeita oinfrator à pena de detenção, de seis meses a dois anos e multa. Incorrerá nas mesmas penas quemdeixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela autoridade competente, osprodutos nocivos ou perigosos (art. 64 do CDC).

Por fim, o art. 65 do CDC confere pena de detenção, de seis meses a dois anos e multa, a quemexecutar serviço de alto grau de periculosidade contrariando determinação de autoridade competente.Essas penas são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à lesão corporal e à morte.

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3.6 QUESTÕES

1. (IX Exame de Ordem Unificado – FGV) A sociedade empresária XYZ Ltda. oferta e celebra, com váriosestudantes universitários, contratos individuais de fornecimento de material didático, nos quais garante aentrega, com 25% de desconto sobre o valor indicado pela editora, dos livros didáticos escolhidos peloscontratantes (de lista de editoras de antemão definidas). Os contratos têm duração de 24 meses, e cadaestudante compromete-se a pagar valor mensal, que fica como crédito, a ser abatido do valor dos livrosescolhidos. Posteriormente, a capacidade de entrega da sociedade diminuiu, devido a dívidas e problemasjudiciais. Em razão disso, ela pretende rever judicialmente os contratos, para obter aumento do valor mensal,ou então liberar-se do vínculo. Acerca dessa situação, assinale a afirmativa correta.(a) A empresa não pode se valer do Código de Defesa do Consumidor e não há base, à luz do indicado, para rever os

contratos.(b) Aplica-se o CDC, já que os estudantes são destinatários finais do serviço, mas o aumento só será concedido se

provada a dificuldade financeira e que, ademais, ainda assim o contrato seja proveitoso para os compradores.(c) Aplica-se o CDC, mas a pretendida revisão da cláusula contratual só poderá ser efetuada se provado que os

problemas citados têm natureza imprevisível, característica indispensável, no sistema do consumidor, paraautorizar a revisão.

(d) A revisão é cabível, assentada na teoria da imprevisão, pois existe o contrato de execução diferida, asuperveniência de onerosidade excessiva da prestação, a extrema vantagem para a outra parte, e a ocorrência deacontecimento extraordinário e imprevisível.

2. (OAB-SP – Exame 128) Sobre a boa-fé objetiva, é INCORRETO afirmar:(a) Implica o dever de conduta probo e íntegro entre as partes contratantes.(b) Significa a ignorância de vício que macula o negócio jurídico.(c) Implica a observância de deveres anexos ao contrato, tais como informação e segurança.(d) Aplica-se aos contratos do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor.

3. (OAB-RJ – 30.º Exame) Quanto à inversão do ônus da prova no âmbito do CDC (Lei 8.078/90), assinale aalternativa correta:(a) O CDC prevê apenas a inversão ope legis.(b) O CDC prevê apenas a inversão ope judice.(c) O CDC não prevê a inversão do ônus da prova.(d) O CDC prevê a inversão ope legis e a inversão ope judice.

Nota do autor: a inversão ope legis é aquela que decorre diretamente da lei, independentemente da vontade dojulgador. É a hipótese prevista no art. 38 do CDC, no tocante à veracidade e correção da informação ou comunicaçãopublicitária. Já a inversão ope judice, vale dizer, aquela que depende de prévia decisão fundamentada da autoridadejudiciária, foi prevista pelo legislador consumerista no art. 6.º, VIII, do CDC.

4. (OAB-PR – Exame 02/2007) Sobre a inversão do ônus da prova, assinale a alternativa INCORRETA:(a) Cabe quando o consumidor é hipossuficiente.(b) Cabe quando, a critério do juiz da causa, a alegação do consumidor for verossímil.(c) Não pode ser aplicada quando o prestador de serviço é o Poder Público.(d) Visa à facilitação da defesa dos direitos do consumidor.

5. (OAB – Exame Unificado 2009.1) Assinale a opção que não está de acordo com o Código de Defesa doConsumidor.(a) É direito do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, incluindo-se a inversão do ônus da prova, a seu

favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando ele for hipossuficiente.(b) O consumidor tem direito à modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais,

mas não à revisão delas em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.(c) É direito do consumidor a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, o que inclui a

especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço e a explicitação dos riscos

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relacionados a produtos e serviços.(d) O consumidor tem direito à efetiva reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.

6. (OAB-RS – Exame. 02/2007) Em relação à tutela do consumidor, assinale a assertiva correta.(a) A responsabilidade dos profissionais liberais é objetiva.(b) Os contratos de crédito não são amparados no âmbito do Código de Defesa do Consumidor.(c) As multas de mora não podem ser superiores a 2% do valor da prestação.(d) O consumidor não tem o direito de arrepender-se das compras feitas em seu domicílio.

7. (OAB 2011.1 – FGV) Analisando o artigo 6.º, V, do Código de Defesa do Consumidor, que prescreve: “Sãodireitos básicos do consumidor: V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestaçõesdesproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamenteonerosas”, assinale a alternativa correta.(a) Exige a imprevisibilidade do fato superveniente.(b) Não traduz a relativização do princípio contratual da autonomia da vontade das partes.(c) Almeja, em análise sistemática, precipuamente, a resolução do contrato firmado entre consumidor e fornecedor.(d) Admite a incidência da cláusula rebus sic stantibus.

GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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__________1 Para uma leitura aprofundada sobre o tema ver Da boa fé no direito civil, de António Manuel da Rocha e Menezes

Cordeiro, Coimbra: Almedina, 2001.2 Comentários ao código..., p. 108.3 Ver comentários do Prof. Filomeno, Manual de direitos..., p. 71.4 Manual de direito do consumidor, p. 54.5 “[...] O preceito insculpido no inciso V do artigo 6.º do CDC dispensa a prova do caráter imprevisível do fato

superveniente, bastando a demonstração objetiva da excessiva onerosidade advinda para o consumidor. [...]” (STJ,REsp 417.927/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 21.05.2002, DJ 1.º.07.2002 p. 339).

6 CDC interpretado, São Paulo: Saraiva, p. 38.7 O CDC instituiu sistemática distinta da adotada no direito privado, que aplica a cláusula rebus sic stantibus visando à

resolução do contrato.8 NERY JÚNIOR, Nelson. CDC comentado pelos autores do anteprojeto, p. 466. O STJ vem sistematicamente aplicando

o referido dispositivo legal nos contratos de leasing com cláusula de correção atrelada à variação do dólar americano,revisando-os de modo a distribuir o ônus da valorização cambial (desvalorização da moeda nacional frente à moedaestrangeira) entre consumidor e fornecedor. Nesse sentido: REsp 437.660/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira,4.ª Turma, j. 08.04.2003, DJ 05.05.2003, p. 306; REsp 473.140/SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Rel. p/Acórdão Min. Aldir Passarinho Junior, 2.ª Seção, j. 12.02.2003, DJ 04.08.2003, p. 217; AgRg no Ag 456.863/RS, Rel. Min.Antônio de Pádua Ribeiro, 3.ª Turma, j. 17.10.2002, DJ 18.11.2002 p. 215; dentre outros julgados.

9 Idem, Os princípios gerais..., p. 63.10 “Civil e Processual. Acórdão Estadual. Nulidade não configurada. Ação de indenização. Extravio temporário da

bagagem. CDC. Incidência. Tarifação prevista na Convenção de Varsóvia afastada. Danos materiais e morais.Configuração. Reexame de provas e fatos. Valor. Excesso. Redução em sede especial. I. Inexiste nulidade no acórdãoque enfrenta, suficiente e fundamentadamente, a controvérsia, apenas com conclusão adversa à parte ré. II. Após oadvento do Código de Defesa do Consumidor, a tarifação por extravio de bagagem prevista na Convenção de Varsóvianão prevalece, podendo a indenização ser estabelecida em valor maior ou menor, consoante a apreciação do Judiciárioem relação aos fatos acontecidos, inclusive anteriores à vigência dos Decretos n. 2.860 e 2.861, de 07.12.1998. III.Caso em que a autora pleiteia danos materiais e morais, consubstanciados estes, essencialmente, pelo extraviotemporário da bagagem, que lhe foi entregue no destino entre dois e seis dias após sua chegada. Reconhecimento daocorrência da lesão diante dos fundamentos fáticos e probatórios dos autos, de reversão impossível na instânciaespecial (Súmula n. 7-STJ). IV. Redução do valor a patamar condizente, em homenagem ao princípio da razoabilidade eante o largo tempo decorrido entre o evento danoso e o ajuizamento da ação, em que se presume mitigada a lesãomoral (quase cinco anos). V. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido” (REsp 786.609/DF, Rel.Min. Aldir Passarinho Junior, 4.ª Turma, j. 18.09.2008, DJe 28.10.2008).

11 Sobre o assunto ver CARNELUTTI, Francesco. Sistema de diritto processuale civile. Padova: Cedam, 1936; eLIEBMAN, Enrico Tullio. Manual de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 1985.

12 MATOS, Cecília. O ônus da prova no código de defesa do consumidor, p. 161.13 Embora esse seja o posicionamento dominante, no âmbito do STJ, a matéria ainda se mostra um tanto polêmica,

conforme é possível se depreender dos seguintes julgados: “[...] Mesmo que controverso o tema, dúvida não há quantoao cabimento da inversão do ônus da prova ainda na fase instrutória – momento, aliás, logicamente mais adequado doque na sentença, na medida em que não impõe qualquer surpresa às partes litigantes –, posicionamento que vemsendo adotado por este Superior Tribunal, conforme precedentes. 4. Recurso especial parcialmente conhecido e, noponto, provido” (REsp 662.608/SP, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, 4.ª Turma, j. 12.12.2006, DJ 05.02.2007, p. 242);“[...] Conforme posicionamento dominante da doutrina e da jurisprudência, a inversão do ônus da prova, prevista no inc.VIII, do art. 6.º do CDC é regra de julgamento. Vencidos os Ministros Castro Filho e Humberto Gomes de Barros, queentenderam que a inversão do ônus da prova deve ocorrer no momento da dilação probatória. Recurso especial nãoconhecido” (REsp 422.778/SP, Rel. Min. Castro Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 19.06.2007, DJ27.08.2007, p. 220); “Recurso Especial. Consumidor. Inversão do ônus da prova. Art. 6.º, VIII, do CDC. Regra dejulgamento. A inversão do ônus da prova, prevista no art. 6.º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, é regra dejulgamento. Ressalva do entendimento do Relator, no sentido de que tal solução não se compatibiliza com o devidoprocesso legal” (STJ, REsp 949.000/ES, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, 3.ª Turma, j. 27.03.2008, DJe23.06.2008).

14 Sobre este assunto é indispensável a consulta a FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. 7.ed. São Paulo: Atlas, p. 535, que, além de importantes comentários, contém o texto integral da referida resolução.

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15 NERY JÚNIOR, Nelson. Os princípios gerais..., p. 51.16 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 300.17 O art. 1.º da Resolução de 09.04.1985 da ONU sobre os direitos do consumidor reconhece o consumidor como a parte

mais fraca na relação de consumo.18 Clóvis Beviláqua define a relação obrigacional como “(...) a relação transitória de direito, que nos constrange a dar,

fazer ou não fazer alguma coisa economicamente apreciável, em proveito de alguém, que, por ato nosso, ou de alguémconosco juridicamente relacionado, ou em virtude de lei, adquiriu o direito de exigir de nós essa ação ou omissão”.Theoria geral do direito civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1946, p. 125.

19 Manual de direitos do consumidor, p. 98.20 Destaque-se que essa sistemática de apuração da responsabilidade já existia com a Lei 6.938/1981.21 Exceção estabelecida é aquela dos profissionais liberais, cuja obrigação é de meio e não de resultado, como

advogados e médicos, consoante o § 4.º do art. 14.

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DA RESPONSABILIDADE DOS FORNECEDORES POR SEUS PRODUTOS ESERVIÇOS

4.1 INTRODUÇÃO1

O CDC estabeleceu um sistema próprio para a responsabilização dos fornecedores por seusprodutos e serviços. Trata da responsabilidade pelo fato e pelo vício de produtos e serviços. Todavez que o consumidor sofrer dano físico ou moral em razão do consumo de produto ou serviço,aplicam-se as regras da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço. A responsabilidadepelo fato é decorrência de um acidente de consumo gerado por um defeito no produto ou serviço. Já ovício não gera o acidente, e, estando ligado à quantidade ou qualidade, torna o produto ou o serviçoimpróprios ou inadequados ao consumo a que se destina ou lhe diminui o valor. Exemplo clássico éaquele em que determinado consumidor acaba de adquirir um veículo novo. Numa primeira situação,ao se aproximar de semáforo vermelho, aciona os freios que não funcionam, acabando por abalroaroutro veículo. Numa segunda situação, ao se aproximar de semáforo vermelho, aciona os freios quenão funcionam, mas consegue reduzir as marchas e parar o veículo sem qualquer colisão. Naprimeira situação houve um acidente de consumo e serão aplicadas as regras da responsabilidadepelo fato do produto e do serviço. Na segunda situação, verificou-se apenas um vício que torna oproduto impróprio ao fim a que se destina e lhe diminui o valor.

4.2 DA RESPONSABILIDADE DOS FORNECEDORES PELO FATO DE PRODUTOS E SERVIÇOS2

Iniciemos abordando a Responsabilidade pelo Fato de Produtos. Por esta sistemática, “ofabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores pordefeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ouinadequadas sobre sua utilização e riscos” (caput do art. 12). Percebe-se que o CDC não se refereaos fornecedores em geral, mas sim ao fabricante, ao produtor, ao construtor, nacional ouestrangeiro, e ao importador, excluindo da lista de fornecedores o comerciante, que tem tratamentopróprio no art. 13. Esses fornecedores responderão, na ocorrência de defeitos independentemente daexistência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores. Vale dizer, portanto, queneste caso o CDC adotou a regra da responsabilidade objetiva (necessidade da prova do dano e donexo de causalidade, excluída a culpa lato sensu, nas modalidades imperícia, imprudência e

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negligência), pois não respondem mediante culpa. Nos §§ 1.º e 2.º desse dispositivo, o código tratoude definir que ocorre defeito em produtos quando não oferecem a segurança que deleslegitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais,a sua apresentação, o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam, e a época em que foicolocado em circulação. Ressalva a lei que o produto não é considerado defeituoso pelo fato deoutro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

Ao adotar a responsabilidade objetiva como regra, o próprio CDC elencou as excludentes dessaresponsabilidade. São elas: a prova de que o fabricante, o construtor, o produtor ou importador nãocolocou o produto no mercado ; ou que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeitoinexiste; ou que a culpa é exclusiva do consumidor ou de terceiro . Positivadas essas hipóteses, nãohá que se falar no caso fortuito e força maior como excludentes dessa responsabilidade, emboraexistam posições doutrinárias divergentes.

Quanto ao comerciante, temos que este é igualmente responsável, nos termos já tratados, quandoo fabricante, construtor, produtor ou importador não puderem ser identificados; ou quando o produtofor fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; ou aindaquando não conservar adequadamente os produtos perecíveis (art. 13). Assim, fora dessas hipóteseso comerciante não responde pelos danos causados aos consumidores, por serem eles de exclusivaresponsabilidade dos fabricantes, dos construtores, dos produtores ou dos importadores, não seaplicando a regra geral de solidariedade. Estaríamos aqui diante de responsabilidade subsidiária docomerciante.

Por fim, incidindo a regra geral de solidariedade, temos que aquele que efetivar o pagamento aoprejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo suaparticipação na causação do evento danoso (parágrafo único do art. 13). Atente-se que, por força doart. 88 do CDC, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada apossibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide3.

Quanto à Responsabilidade pelo Fato dos Serviços, o CDC aplicou a regra geral desolidariedade para todos os fornecedores, não excluindo o comerciante. Assim, “o fornecedor deserviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causadosaos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informaçõesinsuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos” (caput do art. 14). O CDC define comoserviço defeituoso aquele que não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais, o modo de seu fornecimento, oresultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam, e a época em que foi fornecido, não sendoconsiderado defeituoso pela adoção de novas técnicas (§§ 1.º, incisos I, II e III, e 2.º do art. 14).

O CDC também adotou para esta modalidade a responsabilidade objetiva que será excluídaquando o fornecedor provar que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste, ou que se trata de culpaexclusiva do consumidor ou de terceiro. Frise-se, pelas razões já apontadas, que aqui também nãoaplica a força maior e o caso fortuito como excludentes da responsabilização civil (§ 3.º do art. 14)4.

Por fim, o CDC prescreve que a responsabilidade pessoal dos profissionais5 liberais seráapurada mediante a verificação de culpa (§ 4.º do art. 14). Pelas características inerentes aosprofissionais liberais (médicos, advogados, dentistas, publicitários etc.), o CDC resolveuexcepcionar a regra da responsabilidade objetiva imputando-lhes a responsabilidade subjetiva

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(necessidade de prova do dano, do nexo de causalidade e da culpa lato sensu. Atente-se que sãomantidas nesses casos as regras de inversão do ônus da prova.

No entanto, faz-se importante consignar que a jurisprudência e doutrina vêm considerandodeterminadas práticas de profissionais liberais como obrigações de resultado, aplicando-lhes aresponsabilidade objetiva. Diríamos que é a exceção da exceção. Cirurgias plásticas meramenteembelezadoras6 e implantes dentários7 são exemplos de casos em que se aplica a responsabilidadeobjetiva8.

Por fim, relembremos que na responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, ou seja, nosacidentes de consumo, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento, modalidade deconsumidor equiparado já abordado (art. 17).

4.3 DA RESPONSABILIDADE DOS FORNECEDORES PELO VÍCIO DE PRODUTOS E SERVIÇOS9

O CDC, no caput de seu art. 18, define como vícios de produtos aqueles ligados a qualidade equantidade, que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhesdiminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantesdo recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variaçõesdecorrentes de sua natureza. Impróprios ou inadequados ao uso e consumo são aqueles produtoscujos prazos de validade estejam vencidos, ou os deteriorados, alterados, adulterados, avariados,falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles emdesacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação. São tambémimpróprios ou inadequados os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim aque se destinam. Com esta última definição (inciso III do § 6.º do art. 18) quer o CDC abranger daforma mais genérica possível as hipóteses de vício.

Como ensinam Vidal Serrano Nunes Júnior e Yolanda Alves Pinto Serrano, o CDC classifica osvícios como sendo de qualidade, quantidade, aparentes e ocultos, e de informação. Asseveram osprofessores:

“O vício de qualidade ocorre quando há alteração na substância do produto, de forma a tornarpossível a verificação de impropriedade que lhe retira atributos inerentes à sua espécie.

Já o de quantidade não empresta ao produto característica alguma. O produto com vício dequantidade preserva seus caracteres originais, residindo o problema na discrepância entre o previstona embalagem, mensagem publicitária etc. e aquele que veio a ser usufruído pelo consumidor.

Os vícios aparentes são aqueles que dispensam verificações ciosas para sua constatação oualgum espaço de tempo para o surgimento. São aqueles que revestem o produto desde sua aquisiçãosendo dispensável o questionamento quanto ao conhecimento do consumidor acerca de suaexistência; diferindo, neste ponto, substancialmente dos vícios redibitórios do Direito Civil, que são,em sua conceituação essencial, ocultos.

Há, de outra parte, os denominados ocultos, que são aqueles que não podem ser captados pêlossentidos humanos no momento da aquisição, vindo a manifestar-se apenas depois de decorridodeterminado período. Importante fixar, contudo, que, não obstante encontrar-se recôndito, esta

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espécie de vício — para ser assim considerada para efeito de aplicação das regras tecidas peloCódigo de Defesa Consumidor — deve já existir quando da celebração da avença.

Por derradeiro, encontra-se no elenco do art. 18 o denominado de informação. Esta espécie devício fulmina a clareza no que tange ao conhecimento do consumidor quanto aos caracteres doproduto, culminando no prejuízo do adquirente do produto em razão da ausência de relação deveracidade — qualitativa ou quantitativamente — que deve existir entre as assertivas constantes derecipiente, embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária e o conteúdo do bem”10.

Na ocorrência desses vícios, consignando que os vícios de quantidade possuem regramentopróprio no art. 19, o CDC confere ao fornecedor o direito de tentar saná-los no prazo de 30 dias, seoutro não estiver convencionado no contrato (mínimo de sete e máximo de 180 dias, sendo que, noscontratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio demanifestação expressa do consumidor – § 2.º do art. 18), contados do momento em que o consumidorcomparecer junto ao fornecedor para reclamá-los.

Não sendo o vício sanado, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha, (i) asubstituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso, e não sendopossível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelodiversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, ou (ii) arestituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas edanos, ou ainda pelo abatimento proporcional do preço no caso de se interessar pelo produto noestado em que se encontra. Atente-se que o CDC dá ao consumidor o poder de escolha dentre asalternativas previstas nos incisos I, II e III do § 1.º do art. 18.

Como já consignado, o fornecedor tem o direito de tentar sanar o vício11. No entanto, não lhe seráfacultado esse direito se, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas pudercomprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produtoessencial. Destarte, nessas hipóteses o consumidor pode valer-se diretamente de uma das alternativasdos incisos do § 1.º do art. 18.

Por fim, consigne-se que, no caso de fornecimento de produtos in natura, será responsávelperante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

Para os vícios de quantidade resolveu o CDC dar tratamento próprio em seu art. 19. Estabelece alei que os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempreque, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior àsindicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária.

Ocorrendo o vício de quantidade, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha, oabatimento proporcional do preço; a complementação do peso ou medida; a substituição do produtopor outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios, e em não sendo possível asubstituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos,mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço; ou ainda a restituiçãoimediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.Responsabilizado será o fornecedor imediato quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumentoutilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

Quanto aos vícios de serviço (art. 20), será o fornecedor responsabilizado por aqueles de

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qualidade que os tornem impróprios ao consumo, assim entendidos os que se mostrem inadequadospara os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normasregulamentares de prestabilidade. Serão também vícios de serviço aqueles que lhe diminuam o valor,e aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagempublicitária. Nestes casos o consumidor poderá exigir, alternativamente e à sua escolha, areexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; a restituição imediata da quantiapaga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; ou ainda o abatimentoproporcional do preço. Note-se que, por se tratar de serviço, o Código autoriza que o fornecedorconfie a terceiro a reexecução do serviço por sua conta e risco.

Por fim, o CDC obriga que, no fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação dequalquer produto, considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes dereposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante,salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor. Trata-se de regra que visagarantir padrão de qualidade aos serviços prestados no mercado de consumo. Ressalte-se que deixarde empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem autorizaçãodo consumidor, sujeita o infrator à pena de detenção de três meses a um ano e multa, nos termos doart. 70 do CDC.

4.4 DOS PRAZOS DE GARANTIA PELOS VÍCIOS DE PRODUTOS E SERVIÇOS E DO PRAZO DE RECLAMAÇÃO PORDANOS DECORRENTES DE ACIDENTES DE CONSUMO12

Em seu art. 26, o CDC instituiu prazos que garantem aos consumidores o direito de reclamar osvícios existentes em produtos e serviços. São os prazos de garantia legal, do produto ou serviço queindependem de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor (art. 24). Conferiu aosreferidos prazos o caráter decadencial, com o objetivo de não eternizar as relações jurídicas, emboratenha previsto a possibilidade de serem obstados pela reclamação comprovadamente formulada peloconsumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, quedeve ser transmitida de forma inequívoca, ou pela instauração de inquérito civil, até seuencerramento.

Para os produtos e serviços não duráveis, ou seja, aqueles que perecem mediante sua utilização,como os alimentos, o prazo é de 30 dias. Para os produtos e serviços duráveis, ou seja, aqueles quepodem ser reutilizados, como os eletrodomésticos, o prazo é de 90 dias.

Se o vício é aparente, o prazo deve ser contado a partir da entrega efetiva do produto ou dotérmino da execução dos serviços, e se for oculto, a partir do momento em que for evidenciado13.

Para os casos de defeitos de produtos ou serviços, que gerem acidentes de consumo, o prazo parareclamá-los é de cinco anos contados a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Note-se queesse prazo é prescricional e o início de sua contagem pressupõe o conhecimento do dano e de suaautoria que pode se dar posteriormente à ocorrência do dano.

4.5 DO ESTADO FORNECEDOR14

O Estado se encarta na definição de fornecedor do caput do art. 3.º do CDC. Aliás, o Estadocaracteriza-se por ser um dos principais fornecedores no mercado de consumo. Assim, os órgãos

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públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma deempreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aosessenciais, contínuos15. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, dessas obrigações, aspessoas jurídicas serão compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados. Aqui deve serobservado o § 6.º do art. 37 da Constituição Federal. O Estado fornecedor responderá objetivamentepelos danos causados aos consumidores.

Atente-se que o CDC refere-se à continuidade dos serviços públicos essenciais. A Lei 7.783, de28 de Junho de 1989 – Lei de Greve, em seu art. 10, acaba por definir os serviços de caráteressencial, quais sejam: o tratamento e abastecimento de água; a produção e distribuição de energiaelétrica, gás e combustíveis; a assistência médica e hospitalar; a distribuição e comercialização demedicamentos e alimentos; os serviços funerários; o transporte coletivo; a captação e tratamento deesgoto e lixo; o serviço de telecomunicações; a guarda, uso e controle de substâncias radioativas,equipamentos e materiais nucleares; o processamento de dados ligados a serviços essenciais; ocontrole de tráfego aéreo; e a compensação bancária. Destarte, nenhum desses serviços pode serinterrompido.

Atente-se para o que dispõe a Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que disciplina o regime deconcessão e permissão de serviços públicos. Prescreve a referida Lei em seu art. 6.º:

“Art. 6.º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao plenoatendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e norespectivo contrato.

§ 1.º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade dastarifas.

§ 2.º A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalaçõese a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.

§ 3.º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação deemergência ou após prévio aviso, quando:

I – motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,II – por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade”.

Desta forma, pela supra citada lei não configuraria descontinuidade do serviço público, e nãoofenderia o art. 22 do CDC a interrupção de serviços nos casos de emergência ou após prévio aviso,desde que “motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; ou porinadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade”. Há corrente doutrinária ejurisprudencial que corrobora a tese de interrupção de serviço essencial por inadimplemento dousuário, prática muito comum nos serviços de água, telefonia e eletricidade16.

No entanto, não é esse o nosso entendimento, pois a interrupção não pode ocorrer por atounilateral do fornecedor. Deve haver antes a consideração do interesse da coletividade, que deve sersopesado pela autoridade judicial. Não pode o direito de crédito do fornecedor se sobrepor ao dadignidade do consumidor, já que estamos lidando com serviços essenciais e fundamentais para adigna sobrevivência humana. Como pensar que alguém pode viver sem água ou eletricidade. Esse é o

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sentido do CDC, que deve prevalecer. A possibilidade de corte deve ser analisada pelo juiz no casoconcreto, aferindo a conduta do consumidor que se de boa-fé não deve sofrer interrupção nosserviços essenciais que recebe, mesmo estando inadimplente. Ao fornecedor, nesses casos, estão àdisposição os mecanismos de cobrança e execução de créditos. A interrupção deve ser medida a seradotada contra o consumidor de má-fé que procura injustificadamente escusar-se do cumprimento desua prestação obrigacional, inclusive em sede de antecipação de tutela na demanda proposta pelofornecedor a fim de obter a satisfação de seu crédito. Por fim, a descontinuidade do serviço públicocomo instrumento de cobrança expõe o consumidor ao ridículo, e o submete a constrangimento,ferindo o art. 42 do CDC, e constituindo crime nos termos do art. 71 do CDC.

4.6 DISPOSIÇÕES GERAIS APLICÁVEIS À RESPONSABILIZAÇÃO DOS FORNECEDORES

Não podemos nos olvidar em lembrar que a ignorância do fornecedor sobre os vícios dequalidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade, sendo vedadaa estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizarprevista no CDC (art. 25). Qualquer cláusula que desrespeite esse mandamento será consideradaabusiva e, portanto, nula de pleno direito.

Por derradeiro, temos que, havendo mais de um responsável pela causação do dano, todosresponderão solidariamente pela reparação dos danos. Se o dano ocorreu por componente ou peçaincorporada ao produto ou serviço, são também responsáveis solidários seu fabricante, construtor ouimportador e o que realizou a incorporação. Trata-se de mais duas normas que reforçam a já tratadaregra geral de solidariedade.

4.7 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA17

Inspirado na experiência do direito comercial – disregard doctrine –, o CDC positivou em seuart. 28 os requisitos que permitem ao magistrado desconsiderar a personalidade jurídica dasociedade para atingir o patrimônio de seus sócios. Não se trata de dissolução da personalidadejurídica, mas de mera desconsideração para responsabilizar seus sócios que podem esconder-se portrás dela a fim de causar prejuízos aos consumidores e ao mercado de consumo.

Desta feita, toda vez que em detrimento do consumidor verificar-se abuso de direito, excesso depoder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, adesconsideração será efetivada. Será também decretada quando houver falência, estado deinsolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração, ouquando a personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aosconsumidores.

Atente-se que as sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas sãosubsidiariamente responsáveis pelas obrigações assumidas pelos fornecedores perante osconsumidores. Já a responsabilidade das sociedades consorciadas é solidária, e as sociedadescoligadas só responderão por culpa.

4.8 QUESTÕES

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1. (OAB-SP – Exame n. 109) Determinado produto não durável apresenta vício de qualidade que o tornainadequado para o consumo. O vício não foi sanado pelo fornecedor no prazo de 30 dias. Ao consumidor,nesse caso, caberá:(a) Somente o abatimento proporcional do preço, mediante acordo ou execução específica.(b) Alternativamente, a seu critério, o abatimento proporcional do preço ou a substituição do produto por outro, da

mesma espécie, em perfeitas condições, ou ainda a restituição da quantia paga.(c) Como primeira alternativa, a substituição da mercadoria; caso o fornecedor não queira substituí-la, a devolução da

quantia paga; caso o fornecedor se negue a devolvê-la, o abatimento proporcional do preço; e caso o fornecedorse negue a abater o preço, ação de perdas e danos comprovadamente sofridos.

(d) Iniciar o procedimento junto aos órgãos de defesa e proteção do consumidor, para que estes obtenham junto aoPoder Judiciário as penalidades cíveis e criminais visando à devolução integral da quantia paga, monetariamentecorrigida e acrescida de juros legais.

2. (OAB-SP – Exame n. 111) O consumidor tem o direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácilconstatação:(a) Em cinco dias, no caso de produtos não duráveis, e em trinta dias, no caso de produtos duráveis.(b) Em trinta dias, no caso de produtos não duráveis, e em noventa dias, em caso de produtos duráveis.(c) Em dez dias, no caso de produtos não duráveis, e no prazo fixado no termo de garantia, no caso de produtos

duráveis.(d) Não há prazo fixado no Código de Defesa do Consumidor, no caso de produtos não duráveis, e um ano, ou o

prazo fixado no termo de garantia – o que for mais benéfico para o consumidor – no caso de produtos duráveis.

3. (OAB-SP – Exame n. 114) “A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículoocorridos em seu estacionamento”. Essa afirmação:(a) É correta, pois o estacionamento é um atrativo para o cliente da empresa e o valor do seu uso considera-se

embutido no preço da mercadoria ou do serviço vendido pela empresa.(b) É correta, mas apenas se a empresa deixar de avisar aos clientes, por meio de placa legível, colocada na entrada

do estacionamento, que não se responsabiliza pelos bens deixados sob sua guarda.(c) É incorreta, uma vez que só tem aplicação quando o estacionamento é administrado por empresa do ramo e a

guarda do veículo é cobrada do cliente.(d) É incorreta, uma vez que se trata de responsabilidade por ato ou fato de terceiro e, portanto, objetiva.

4. (OAB-SP – Exame n. 117) Lucas, cirurgião e locatário por uma semana de centro cirúrgico em hospital derenome, submete seu paciente a cirurgia. Apesar de ministrar todos os recursos médicos na intervençãocirúrgica, o paciente veio a sucumbir. Assinale a resposta correta, indicando a quem cabe a responsabilidadepelo evento.(a) Ao médico, se provada sua culpa no evento.(b) Cumulativa, ao médico e ao hospital, pelo vínculo decorrente da locação celebrada.(c) Ao médico, pela teoria da responsabilidade objetiva.(d) Ao médico, pela teoria do risco profissional.

5. (OAB-SP – Exame n. 117) O prazo para o consumidor reclamar de vícios redibitórios, que comprometem aqualidade de produto durável, é de:(a) 90 dias, contados da data da entrega do bem.(b) 90 dias, contados do momento em que ficar evidenciado o defeito.(c) 30 dias, contados da data da entrega do bem.(d) 30 dias, contados do momento em que ficar evidenciado o defeito.

6. (OAB-SP – Exame n. 118) De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, o profissional liberal respondepelos danos causados em razão da prestação de serviços(a) Independentemente de culpa.(b) Se os defeitos se deverem a culpa exclusiva de terceiro.

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(c) Se o serviço, ainda que não defeituoso, pudesse ser melhor realizado em razão da superveniência de novatécnica.

(d) Se o consumidor não foi suficientemente informado a respeito dos riscos do serviço.

7. (OAB-SP – Exame n. 118) Um jovem contraiu o vício de fumar e passou a usar fumo inglês em seu cachimbo e,influenciado pelos “comerciais” de televisão, também fumava cigarros, exclusivamente da marca nacional“Santa Cruz S.A.”. Com o tempo, veio a contrair câncer de pulmão, em razão de tabagismo diagnosticado pormédicos. A doença reduziu a sua capacidade para o trabalho e o discriminou no meio social razão por quepretende responsabilizar, civilmente, a fabricante de cigarros, por danos materiais e dano moral. A açãoindenizatória é(a) Cabível, pelo nexo causal entre a doença e o tabagismo.(b) Incabível, pela advertência da nocividade impressa nos maços de cigarro (“Fumar dá Câncer”).(c) Cabível em parte, porque agem, com culpa concorrente, tanto o fumante, por adesão espontânea ao vício (culpa

consciente), como a fabricante, por não respeitar as advertências do Ministério da Saúde divulgadas pela televisão.(d) Incabível, porque a fabricação e venda de cigarros constituem exercício regular de comércio.

Nota do autor: A questão trata de matéria polêmica na doutrina e na jurisprudência. Consigne-se a nossa discordânciacom a resposta constante no gabarito da OAB-SP, porquanto seja claro o nexo causal entre o câncer de pulmão e otabagismo. Em nossa opinião correta seria a alternativa “a”.

8. (X Exame de Ordem Unificado – FGV) Aurora contratou com determinada empresa de telefonia fixa um pacotede serviços de valor preestabelecido que incluía ligações locais de até 100 minutos e isenção total dosvalores pelo período de três meses, exceto os minutos que ultrapassassem os contratados, ligaçõesinterurbanas e para telefone móvel. Para sua surpresa, logo no primeiro mês recebeu cobrança pelo pacotede serviços no importe três vezes superior ao contratado, mesmo que tivesse utilizado apenas 32 minutos emligações locais. A consumidora fez diversos contatos com a fornecedora do serviço para reclamar o ocorrido,mas não obteve solução. De posse dos números dos protocolos de reclamações, ingressou com medidajudicial, obtendo liminar favorável para abstenção de cobrança e de negativação do nome. Considerando ocaso acima descrito, assinale a afirmativa correta.(a) A conversão da obrigação em perdas e danos faz-se independentemente de eventual aplicação de multa.(b) A multa diária ao réu pode ser fixada na sentença, mas desde que o autor tenha requerido expressamente.(c) A conversão da obrigação em perdas e danos independe de pedido do autor, em qualquer hipótese.(d) A tutela liminar será concedida, desde que não implique ordem de busca e apreensão, que requer medida cautelar

própria e justificação prévia.

9. (XI Exame de Ordem Unificado – FGV) O Mercado A comercializa o produto desinfetante W, fabricado por“W.Industrial”. O proprietário do Mercado B, que adquiriu tal produto para uso na higienização das partescomuns das suas instalações, verifica que o volume contido no frasco está em desacordo com as informaçõesdo rótulo do produto. Em razão disso, o Mercado B propõe ação judicial em face do Mercado A, invocando aLei 8.078/1990 (CDC), arguindo vícios decorrentes de tal disparidade. O Mercado A, em defesa, apontou quese tratava de responsabilidade do fabricante e requereu a extinção do processo. A respeito do caso sugerido,assinale a alternativa correta.(a) O processo merece ser extinto por ilegitimidade passiva.(b) O caso versa sobre fato do produto, logo a responsabilidade do réu é subsidiária.(c) O processo deve ser extinto, pois o autor não se enquadra na condição de consumidor.(d) Trata-se de vício do produto, logo o réu e o fabricante são solidariamente responsáveis.

10. (XI Exame de Ordem Unificado – FGV) Carla ajuizou ação de indenização por danos materiais, morais eestéticos em face do dentista Pedro, lastreada em prova pericial que constatou falha, durante um tratamentode canal, na prestação do serviço odontológico. O referido laudo comprovou a inadequação da terapiadentária adotada, o que resultou na necessidade de extração de três dentes da paciente, sendo que naexecução da extração ocorreu fratura da mandíbula de Carla, o que gerou redução óssea e sequelaspermanentes, que incluíram assimetria facial. Com base no caso concreto, à luz do Código de Defesa doConsumidor, assinale a afirmativa correta.(a) O dentista Pedro responderá objetivamente pelos danos causados à paciente Carla, em razão do comprovado

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fato do serviço, no prazo prescricional de cinco anos.(b) Haverá responsabilidade de Pedro, independentemente de dolo ou culpa, diante da constatação do vício do

serviço, no prazo decadencial de 90 dias.(c) A obrigação de indenizar por parte de Pedro é subjetiva e fica condicionada à comprovação de dolo ou culpa.(d) Inexiste relação de consumo no caso em questão, pois é uma relação privada, que encerra obrigação de meio

pelo profissional liberal, aplicando-se o Código Civil.

11. (OAB-MT – Exame n. 03/2003) Assinale a alternativa FALSA:(a) O CDC regulou as relações de consumo para proteger o consumidor, tratando das relações contratuais e

extracontratuais com a criação dos consumidores equiparados.(b) O fornecedor de serviços sempre terá o direito de sanar o vício do produto no prazo legal de 30 dias, salvo se o

contrato dispuser prazo entre 7 e 180 dias para tal.(c) O fornecedor de serviços poderá, diante de um vício, confiar a terceiros e reexecução dos serviços desde que por

sua conta e riscos.(d) O fabricante, o construtor, o incorporador e o importador de peça ou componente incorporado a produto ou

serviço é solidariamente responsável com o fornecedor desse produto ou serviço.

12. (OAB-MT – Exame n. 02/2004) Se uma pessoa adquire um carro usado em uma concessionária de veículos eele se encontra com problemas de suspensão:(a) Ela não pode se valer do Código do Consumidor porque o bem era usado e não se enquadra, assim, na definição

de produto.(b) Ela poderá requerer a troca da peça defeituosa, tendo a concessionária o prazo máximo de 30 dias para atendê-

la, desde que outro não tenha sido expressamente ajustado pelas partes, mediante cláusula em separado.(c) Ela poderá diretamente pleitear a redibição judicial do veículo, obtendo do proprietário anterior a restituição das

importâncias pagas.(d) Ela poderá diretamente pleitear a redibição judicial do veículo, obtendo da concessionária a restituição das

importâncias pagas.

13. (OAB-MT – Exame n. 03/2004) Sobre o recall podemos afirmar:(a) É dever imposto pela lei ao fornecedor que, conhecendo a periculosidade do produto após a sua introdução no

mercado, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, medianteanúncios publicitários.

(b) É liberalidade do fornecedor que, conhecendo a periculosidade do produto após a sua introdução no mercado,comunica o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúnciospublicitários.

(c) É liberalidade do fornecedor que, conhecendo a periculosidade do produto após a sua introdução no mercado,comunica o fato imediatamente aos consumidores, mediante anúncios publicitários.

(d) É dever imposto pela lei ao fornecedor que, conhecendo a periculosidade do produto após a sua introdução nomercado, deverá comunicar o fato imediatamente apenas às autoridades competentes.

14. (OAB-MT – Exame n. 03/2004) O direito do consumidor consistente em reclamar pelos vícios aparentes ou defácil constatação caduca em:(a) Trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis, e noventa dias tratando-se de

fornecimento de serviço e de produtos duráveis.(b) Trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis, e seis meses tratando-se de

fornecimento de serviço e de produtos duráveis.(c) Sete dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis, e seis meses tratando-se de

fornecimento de serviço e de produtos duráveis.(d) Sete dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis, e trinta dias tratando-se de

fornecimento de serviço e de produtos duráveis.

15. (OAB-MT – Exame n. 01/2005) Cidadão cuiabano sofre grave lesão comprometedora da vida ao servir-se deônibus municipal, em razão da negligência do motorista. Nesse caso, a responsabilidade em questão édenominada:

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(a) Pelo vício do serviço.(b) Pelo fato do produto.(c) Pelo vício do produto.(d) Pelo fato do serviço.

16. (OAB-MT – Exame n. 01/2005) No caso da questão anterior, o prazo para o cidadão reclamar seus danos é de:(a) 90 (noventa) dias.(b) 10 (dez) anos.(c) 05 (cinco) anos.(d) 07 (sete) dias.

17. (OAB-MT – Exame n. 02/2005) Sob o prisma da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), assinale aalternativa ERRADA:(a) Só é permitida a colocação de produtos e serviços no mercado de consumo se estes não acarretarem qualquer

risco à saúde ou segurança dos consumidores.(b) No caso de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações necessárias ao consumidor através de

impressos apropriados que devem acompanhar o produto.(c) O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber

apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança dos consumidores.(d) O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver

conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridadescompetentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.

18. (VIII Exame de Ordem Unificado – FGV) Determinado consumidor, ao mastigar uma fatia de pão com geleia,encontrou um elemento rígido, o que lhe causou intenso desconforto e a quebra parcial de um dos dentes.Em razão do fato, ingressou com medida judicial em face do mercado que vendeu a geleia, a fim de serreparado. No curso do processo, a perícia constatou que o elemento encontrado era uma pequena porção deaçúcar cristalizado, não oferecendo risco à saúde do autor. Diante desta narrativa, assinale a afirmativacorreta.(a) O fabricante e o fornecedor do serviço devem ser excluídos de responsabilidade, visto que o material não

ofereceu qualquer risco à integridade física do consumidor, não merecendo reparação.(b) O elemento rígido não característico do produto, ainda que não o tornasse impróprio para o consumo, violou

padrões de segurança, já que houve dano comprovado pelo consumidor.(c) A responsabilidade do fornecedor depende de apuração de culpa e, portanto, não tendo o comerciante agido de

modo a causar voluntariamente o evento, não deve responder pelo resultado.(d) O comerciante não deve ser condenado e sequer caberia qualquer medida contra o fabricante, posto que não há

fato ou vício do produto, motivo pelo qual não deve ser responsabilizado pelo alegado defeito.

19. (OAB – Exame unificado n. 2007.2) Acerca da responsabilidade civil, assinale a opção correta.(a) Tratando-se de vício exclusivamente de quantidade, ressalvadas as normas aplicáveis às relações de consumo,

os empresários individuais e as empresas respondem objetivamente por danos causados pelos produtos postosem circulação.

(b) A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito depende da comprovação de culpa, pois se fundamenta nocritério subjetivo-finalístico.

(c) São requisitos essenciais da responsabilidade subjetiva: a prática do ato, o nexo de causalidade, o dano e o doloou a culpa do agente causador do dano.

(d) No caso de estado de necessidade decorrente de situação de perigo causada por terceiro, por se tratar de atolícito, a pessoa lesada ou o dono da coisa danificada não pode reclamar indenização do prejuízo que sofreu.

20. (OAB – Exame Unificado n. 2008.3) Ao consumidor adquirente de produto de consumo durável ou não durávelque apresente vício de qualidade ou quantidade que o torne impróprio ou inadequado ao consumo a que sedestina, não sendo o vício sanado no prazo de 30 dias, assegura-se(a) A substituição imediata do produto por outro de qualquer espécie, em perfeitas condições de uso.(b) A imediata restituição do valor pago, atualizado monetariamente, não cabendo indenização.

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(c) O abatimento de até 50% do valor pago, em razão do vício apresentado e do inconveniente causado pelaaquisição de produto defeituoso.

(d) Convencionar com o fornecedor um prazo maior que 30 dias para que o vício seja sanado.

21. (OAB – Exame Unificado n. 2009.1) Acerca da responsabilidade no Código de Defesa do Consumidor, assinalea opção correta.(a) No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato,

mesmo se identificado claramente o produtor.(b) A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços o exime de

responsabilidade.(c) É permitida a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar.(d) Caso o vício do produto ou do serviço não seja sanado no prazo legal, pode o consumidor exigir o abatimento

proporcional do preço.

22. (OAB – Exame Unificado n. 2009.2) Joana adquiriu um aparelho de telefone em loja de eletrodomésticos e,juntamente com o manual de instruções, foi-lhe entregue o termo de garantia do produto, que assegurava aoconsumidor um ano de garantia, a contar da efetiva entrega do produto. Cerca de um ano e um mês após adata da compra, o aparelho de telefone apresentou comprovadamente um defeito de fabricação.

Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correta acerca dos direitos do consumidor.(a) O prazo para Joana reclamar dos vícios do produto é de apenas noventa dias, a partir da entrega efetiva do

produto, independentemente de prazo de garantia.(b) A lei garante a Joana a possibilidade de reclamar de eventuais defeitos de fabricação a qualquer tempo, desde que

devidamente comprovados.(c) Após o prazo de um ano de garantia conferida pelo fornecedor, Joana não poderá alegar a existência de qualquer

defeito de fabricação.(d) Joana poderá reclamar eventuais defeitos de fabricação até o prazo de noventa dias após o final da garantia

contratual conferida pelo fornecedor.

23. (OAB – Exame Unificado n. 2009.2) Com base no Código de Defesa do Consumidor, assinale a opção corretaacerca da responsabilidade na prestação de serviços.(a) O serviço é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.(b) O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar culpa exclusiva do consumidor ou de

terceiro, ou quando provar que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste.(c) O fornecedor de serviço responderá pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos

à prestação dos serviços ou decorrentes de informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscossomente se comprovada a sua culpa.

(d) A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais deve ser apurada independentemente da verificação deculpa.

24. (OAB-RS – Exame 01/2006) Em nosso ordenamento jurídico, quanto às pessoas jurídicas, assinale a assertivacorreta.(a) O Ministério Público é parte ilegítima para requerer a desconsideração da personalidade jurídica em caso de

desvio de finalidade.(b) Não se aplica às pessoas jurídicas o regime dos direitos da personalidade previsto no Código Civil.(c) As pessoas jurídicas não podem pleitear dano moral.(d) Quando se tratar de tutela do consumidor, a desconsideração da personalidade jurídica poderá ocorrer mesmo

que não se configure o abuso de direito.

25. (OAB-RS – Exame 01/2007) Sobre defesa do consumidor, considere as assertivas abaixo.I – O comerciante somente é responsável por danos ao consumidor decorrentes de fabricação quando o produto não

contiver a identificação clara do seu fabricante.II – As cláusulas abusivas em contratos de consumo são anuláveis.III – O consumidor pode invocar a desconsideração da personalidade jurídica do fornecedor nos termos da Lei de

Defesa do Consumidor.

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Quais são corretas?(a) Apenas I.(b) Apenas III.(c) Apenas II e III.(d) I, II e III.

26. (OAB-RS – Exame 03/2007) Quanto aos direitos do consumidor, assinale a assertiva correta de acordo com aLei de Defesa do Consumidor.(a) Ocorrendo a nulidade de uma cláusula abusiva, em princípio, será nulo todo o contrato.(b) O consumidor pode alegar o direito de arrependimento, no prazo de 7 dias, em qualquer espécie de compra de

produto ou serviço.(c) A falência é uma das hipóteses que poderá levar à desconsideração da personalidade jurídica do fornecedor de

produto ou serviço.(d) O fornecedor de produto ou serviço só é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos quando estes

agirem com dolo ou culpa grave.

27. (OAB 2011.2 – FGV) Ao instalar um novo aparelho de televisão no quarto de seu filho, o consumidor verificaque a tecla de volume do controle remoto não está funcionando bem. Em contato com a loja onde adquiriu oproduto, é encaminhado à autorizada. O que esse consumidor pode exigir com base na lei, nesse momento,do comerciante?(a) A imediata substituição do produto por outro novo.(b) O dinheiro de volta.(c) O conserto do produto no prazo máximo de 30 dias.(d) Um produto idêntico emprestado enquanto durar o conserto.

28. (OAB 2011.3 – FGV) Franco adquiriu um veículo zero quilômetro em novembro de 2010. Ao sair com oautomóvel da concessionária, percebeu um ruído todas as vezes em que acionava a embreagem para a trocade marcha. Retornou à loja, e os funcionários disseram que tal barulho era natural ao veículo, cujo motor eranovo. Oito meses depois, ao retornar para fazer a revisão de dez mil quilômetros, o consumidor se queixouque o ruído persistia, mas foi novamente informado de que se tratava de característica do modelo. Cerca deuma semana depois, o veículo parou de funcionar e foi rebocado até a concessionária, lá permanecendo pormais de sessenta dias. Franco acionou o Poder Judiciário alegando vício oculto e pleiteando ressarcimentopelos danos materiais e indenização por danos morais. Considerando o que dispõe o Código de Proteção eDefesa do Consumidor, a respeito do narrado acima, é correto afirmar que, por se tratar de vício oculto,(a) o prazo decadencial para reclamar se iniciou com a retirada do veículo da concessionária, devendo o processo

ser extinto.(b) o direito de reclamar judicialmente se iniciou no momento em que ficou evidenciado o defeito, e o prazo

decadencial é de noventa dias.(c) o prazo decadencial é de trinta dias contados do momento em que o veículo parou de funcionar, tornando-se

imprestável para o uso.(d) o consumidor Franco tinha o prazo de sete dias para desistir do contrato e, tendo deixado de exercê-lo, operou-se

a decadência.

GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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__________1 Ver a obra de LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de consumo. São Paulo: RT, 2001.2 Sobre o assunto é obrigatória a leitura da obra de ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Responsabilidade civil do fornecedor

pelo fato do produto no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo: RT, 2000.3 Observe-se, no entanto, que a restrição à denunciação da lide, segundo precedentes do STJ, aplica-se tão somente às

hipóteses de responsabilidade pelo fato do produto. Com relação à responsabilidade pelo fato do serviço, a referidamodalidade de intervenção de terceiros mostra-se possível, desde que caracterizada, por óbvio, a hipótese prevista noart. 70, III, do Código de Processo Civil. Confiram-se: “Processo civil. Denunciação da lide. Ação em que se discutedefeito na prestação de serviços a consumidor. Possibilidade de litisdenunciação. A restrição à denunciação da lideimposta pelo art. 88 do CDC, refere-se apenas às hipóteses de defeitos em produtos comercializados comconsumidores, de que trata o art. 13 do CDC. Na hipótese de defeito na prestação de serviços (art. 14 do CDC), talrestrição não se aplica. Precedente. Recurso especial a que se dá provimento” (STJ, REsp 741.898/RS, Rel. Min.Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 15.12.2005, DJ 20.11.2006, p. 305); “[...] I. A vedação à denunciação à lide disposta no art.88 da Lei n. 8.078/1990 restringe-se à responsabilidade do comerciante por fato do produto (art. 13), não alcançando odefeito na prestação de serviços (art. 14). [...]” (STJ, REsp 1.024.791/SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, 4.ª Turma, j.05.02.2009, DJe 09.03.2009).

4 O STJ, nesse sentido, já proferiu decisões afastando, na relação de consumo, o que chamou de caso fortuito internocomo causa excludente de responsabilidade, haja vista o risco esperado e assumido pelo fornecedor no exercício desuas atividades. Confiram-se: “[...] 3. Na relação de consumo, existindo caso fortuito interno, ocorrido no momento darealização do serviço, como na hipótese em apreço, permanece a responsabilidade do fornecedor, pois, tendo o fatorelação com os próprios riscos da atividade, não ocorre o rompimento do nexo causal. [...]” (STJ, REsp 762.075/DF,Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4.ª Turma, j. 16.06.2009, DJe 29.06.2009); “[...] I – Na esteira do entendimento mantidopor esta Corte, a responsabilidade civil do shopping center no caso de danos causados à integridade física dosconsumidores ou aos seus bens não pode ser afastada sob a alegação de caso fortuito ou força maior, pois aprestação de segurança devida por este tipo de estabelecimento é inerente à atividade comercial exercida por ele. [...]”(STJ, AgRg no Ag 1113293/MG, Rel. Min. Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), 3.ª Turma, j.03.09.2009, DJe 28.09.2009); “[...] 1. A instituição bancária responde objetivamente pelos furtos, roubos e latrocíniosocorridos nas dependências de estacionamento que oferecera aos veículos de seus clientes. 2. Não há falar em casofortuito nessas hipóteses como excludente da responsabilidade civil, porquanto o proveito financeiro indireto obtido pelainstituição atrai-lhe o ônus de proteger o consumidor de eventuais furtos, roubos ou latrocínios. [...]” (STJ, REsp1045775/ES, Rel. Min. Massami Uyeda, 3.ª Turma, j. 23.04.2009, DJe 04.08.2009). Em sentido contrário, todavia,também já decidiu o STJ que “[...] nas relações de consumo, a ocorrência de força maior ou de caso fortuito exclui aresponsabilidade do fornecedor de serviços. [...]” (REsp 996.833/SP, Rel. Min. Ari Pargendler, 3.ª Turma, j. 04.12.2007,DJ 1.º.02.2008, p. 1); “Ação de indenização. Estacionamento. Chuva de granizo. Vagas cobertas e descobertas. Art.1.277 do Código Civil. Código de Defesa do Consumidor. Precedente da Corte. 1. Como assentado em precedente daCorte, o ‘fato de o artigo 14, § 3.°, do CDC não se referir ao caso fortuito e à força maior, ao arrolar as causas deisenção de responsabilidade do fornecedor de serviços, não significa que, no sistema por ele instituído, não possam serinvocadas. Aplicação do artigo 1.058 do Código Civil’ (REsp n. 120.647-SP, Relator o Senhor Ministro Eduardo Ribeiro,DJ de 15/05/00). 2. Havendo vagas cobertas e descobertas é incabível a presunção de que o estacionamento seria feitoem vaga coberta, ausente qualquer prova sobre o assunto. 3. Recurso especial conhecido e provido” (REsp330.523/SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3.ª Turma, j. 11.12.2001, DJ 25.03.2002, p. 278).

5 Ver sobre o assunto a obra de PRUX, Oscar Ivan. Responsabilidade civil do profissional liberal no código de defesa doconsumidor. São Paulo: Del Rey, 1998.

6 STJ, AgRg no Ag 1132743/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3.ª Turma, j. 16.06.2009, DJe 25.06.2009; REsp 236.708/MG,Rel. Min. Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1.ª Região), 4.ª Turma, j. 10.02.2009, DJe18.05.2009. Importante registrar, a respeito, que a responsabilidade dos hospitais é sempre objetiva, ficando adstrita, noentanto, aos serviços que a ele compete, como internações, administração de medicamentos ou garantia de reduçãode risco de infecções hospitalares. A respeito, o STJ já decidiu que “[...] 1. A doutrina tem afirmado que aresponsabilidade médica empresarial, no caso de hospitais, é objetiva, indicando o parágrafo primeiro do artigo 14 doCDC como a norma sustentadora de tal entendimento. Contudo, a responsabilidade do hospital somente tem espaçoquando o dano decorrer de falha de serviços cuja atribuição é afeta única e exclusivamente ao hospital. Nas hipótesesde dano decorrente de falha técnica restrita ao profissional médico, mormente quando este não tem nenhum vínculocom o hospital – seja de emprego ou de mera preposição –, não cabe atribuir ao nosocômio a obrigação de indenizar. 2.Na hipótese de prestação de serviços médicos, o ajuste contratual – vínculo estabelecido entre médico e paciente –refere-se ao emprego da melhor técnica e diligência entre as possibilidades de que dispõe o profissional, no seu meiode atuação, para auxiliar o paciente. Portanto, não pode o médico assumir compromisso com um resultado específico,

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fato que leva ao entendimento de que, se ocorrer dano ao paciente, deve-se averiguar se houve culpa do profissional –teoria da responsabilidade subjetiva. No entanto, se, na ocorrência de dano impõe-se ao hospital que respondaobjetivamente pelos erros cometidos pelo médico, estar-se-á aceitando que o contrato firmado seja de resultado, poisse o médico não garante o resultado, o hospital garantirá. Isso leva ao seguinte absurdo: na hipótese de intervençãocirúrgica, ou o paciente sai curado ou será indenizado – daí um contrato de resultado firmado às avessas da legislação.[...]” (STJ, REsp 908.359/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Min. João Otávio de Noronha, 2.ª Seção, j.27.08.2008, DJe 17.12.2008).

7 TJSP, Apelação com Revisão 2158774900, Rel. Des. Salles Rossi, 8.ª Câmara de Direito Privado, j. 18.03.2009.8 Sobre o assunto ver VIEIRA, Luzia Chaves. Responsabilidade civil médica e seguro. Belo Horizonte: Del Rey;

TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (Coord.). Direito e medicina. Belo Horizonte: Del Rey; e GIOSTRI, Hildegard Taggesell.Erro médico à luz da jurisprudência comentada. Curitiba: Juruá.

9 Sobre o assunto ver a obra de QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Da responsabilidade por vício do produto e doserviço. São Paulo: RT, 1998.

10 CDC interpretado, p. 74-75.11 “Vício. Qualidade. Automóvel. Exegese. Art. 18, § 1.º, I, CDC. Constatado o vício do produto, concede-se ao fornecedor

a oportunidade de saná-lo no prazo máximo de trinta dias. Não sendo reparado o vício, o consumidor poderá exigir, àsua escolha, as três alternativas constantes dos incisos do § 1.º do art. 18 do CDC. No caso, inexiste ofensa aomencionado dispositivo, pois, imediatamente após a reclamação, o fornecedor prontificou-se a reparar o produto – umveículo automotor. Não aceita a oferta pelo consumidor, propôs a substituição do bem por outro da mesma espécie eem perfeitas condições de uso ou a compra pelo preço de mercado e, ainda assim, o consumidor manteve-se renitente.“A primeira solução que o código apresenta ao consumidor é a substituição das partes viciadas do produto. Não se estádiante de uma opção propriamente dita, uma vez que, como regra, o consumidor não tem outra alternativa a não seraceitar tal substituição” (BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos. In: OLIVEIRA, Juarez de (Coord.). Comentáriosao código de proteção do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1991). Não sanado o vício de qualidade, cabe ao consumidora escolha de uma das alternativas previstas no art. 18, § 1.º, do CDC. O dispositivo em comento não confere aoconsumidor o direito à troca do bem por outro novo, determina apenas que, “não sendo o vício sanado no prazo máximode trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I – a substituição do produto por outro damesma espécie, em perfeitas condições de uso (...). Precedentes citados: REsp 185.836-SP, DJ 22/3/1999, e REsp109.294-RS, DJ 12/5/1997” (STJ, REsp 991.985-PR, Rel. Min. Castro Meira, 2.ª Turma, j. 18.12.2007, Informativo 343).

12 Ver a importante obra de SANTANA, Héctor Valverde. Prescrição e decadência nas relações de consumo. São Paulo:RT, 2003.

13 A respeito, o STJ vem entendendo que a garantia contratual eventualmente ofertada pelo fornecedor é complementarao prazo de garantia legal, sendo que este tem início após o prazo da primeira. Confira-se: “Consumidor. Rescisão decontrato de compra e venda. Vícios aparentes. Termo a quo do prazo decadencial. – Trata-se, na hipótese, da fixaçãodo termo inicial para a contagem do prazo decadencial de garantia, determinado no CDC, quando, durante o período degarantia ofertado pela concessionária, veículo novo que apresenta defeito é encaminhado, recorrentemente, à redeautorizada, voltando sempre com o mesmo defeito. – Se ao término do prazo de garantia contratado, o veículo seachava retido pela oficina mecânica para conserto, impõe-se reconhecer o comprovado período que o automóvelpassou nas dependências da oficina mecânica autorizada, sem solução para o defeito, como de suspensão do cursodo prazo de garantia. – Prorroga-se, nessa circunstância, o prazo de garantia inicialmente ofertado, até a efetivadevolução do veículo ao consumidor, sendo este momento fixado como dies a quo do prazo decadencial para sereclamar vícios aparentes em produtos duráveis. Recurso não conhecido” (STJ, REsp 579.941/RJ, Rel. Min. CarlosAlberto Menezes Direito, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 28.06.2007, DJe 10.12.2008); “Indenização.CDC. Garantia Contratual. O recorrente adquiriu um automóvel utilitário (zero quilômetro), mas, quando da retirada, logonotou pontos de corrosão na carroceria. Reclamou 11 meses depois; contudo, apesar da realização de vários reparospela concessionária, a corrosão alastrou-se por grande parte do veículo, o que levou ao ajuizamento da ação deindenização por danos morais e materiais em desfavor da concessionária e da montadora. No caso, está-se diante devício de inadequação (art. 12 do CDC), pois as imperfeições apresentadas no produto impediram que o recorrente outilizasse da forma esperada, porém sem colocar em risco sua segurança ou a de terceiros, daí que, tratando-se debem durável e de vício de fácil percepção, impõe aplicar-se o prazo decadencial de 90 dias para deduzir a reclamação,contados, em regra, da entrega efetiva do bem (art. 26, § 1.º, do mesmo código). Sucede que existe a peculiaridade deque a montadora concedera ao veículo a garantia (contratual) de um ano, que é complementar à legal (art. 50 da citadalegislação). Diferentemente da garantia legal, a lei não fixou prazo de reclamação para a garantia contratual, todavia ainterpretação teleológica e sistemática do CDC permite estender à garantia contratual os mesmos prazos dereclamação referentes à garantia legal, a impor que, no caso, após o término da garantia contratual, o consumidor tinha90 dias (bem durável) para reclamar do vício de inadequação, o que não foi extrapolado. Dessarte, a Turma, ao renovar

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o julgamento, aderiu, por maioria, a esse entendimento. O voto vencido não conhecia do especial por falta deprequestionamento. Precedentes citados: REsp 442.368-MT, DJ 14/2/2005; REsp 575.469-RJ, DJ 6/12/2004, e REsp114.473-RJ, DJ 5/5/1997” (STJ, REsp 967.623-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 16.04.2009, Informativo 390).

14 Sobre o assunto ver coletânea de artigos publicada pelo IDEC, A proteção do consumidor de serviços públicos, SãoPaulo: Max Limonad, 2002, e DERANI, Cristiane. Privatização e serviços públicos, São Paulo: Max Limonad, 2002.

15 Ressalte-se os dispositivos da Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que disciplina o regime de concessão e depermissão dos serviços públicos.

16 Esta, aliás, é a posição do STJ, que exige, contudo, para que haja legítima interrupção do serviço essencial, a prévianotificação do inadimplente. Confira-se: “[...] 4. A jurisprudência deste Tribunal é no sentido de que é lícito àconcessionária interromper o fornecimento de energia elétrica se, após aviso prévio, o consumidor de energia elétricapermanecer inadimplente no pagamento da respectiva conta (Lei n.º 8.987/1995, art. 6.º, § 3.º, II). 5. No particular, adecisão do Tribunal de origem não destoa do entendimento desta Corte, pois a recorrente não logrou demonstrar arealização da necessária notificação prévia quanto à possibilidade de corte no fornecimento de energia elétrica darecorrida em caso de permanecer inadimplente, ou seja, não foi atendido requisito essencial para a validação dainterrupção do serviço. 6. Recurso especial conhecido em parte e não provido” (REsp 962.366/RS, Rel. Min. CastroMeira, 2.ª Turma, j. 27.10.2009, DJe 09.11.2009). A respeito, ainda, vale a pena conferir a seguinte decisão daquelemesmo tribunal: “Processual Civil. Administrativo. Embargos de Divergência em Recurso Especial. Energia elétrica.Unidades Públicas Essenciais, como soem ser hospitais; pronto-socorros; escolas; creches; fontes de abastecimentod’água e iluminação pública; e serviços de segurança pública. Inadimplência. Suspensão do fornecimento. ServiçoPúblico Essencial. 1. A suspensão do serviço de energia elétrica, por empresa concessionária, em razão deinadimplemento de unidades públicas essenciais – hospitais; pronto-socorros; escolas; creches; fontes deabastecimento d’água e iluminação pública; e serviços de segurança pública –, como forma de compelir o usuário aopagamento de tarifa ou multa, despreza o interesse da coletividade. 2. É que resta assente nesta Corte que: ‘O princípioda continuidade do serviço público assegurado pelo art. 22 do CDC deve ser obtemperado, ante a exegese do art. 6.º, §3.º, II da Lei n. 8.987/95 que prevê a possibilidade de interrupção do fornecimento de energia elétrica quando, após aviso,permanecer inadimplente o usuário, considerado o interesse da coletividade. Precedentes de ambas as Turmas deDireito Público (...)’ REsp 845.982/RJ. 3. Deveras, não se concebe a aplicação da legislação infraconstitucional, in casu,art. 6.º, § 3.º, II, da Lei 8.987/95, sem o crivo dos princípios constitucionais, dentre os quais sobressai o da dignidade dapessoa humana, que é um dos fundamentos da República como previsto na Constituição Federal. 4. In casu, o acórdãorecorrido (REsp 845.982/RJ), de relatoria do Ministro Castro Meira, Segunda Turma, decidiu pela impossibilidade deinterrupção no fornecimento de energia elétrica das unidades de ensino do Colégio Pedro II, autarquia federal que prestaserviço educacional, situado na Cidade do Rio de Janeiro, consoante se infere do voto-condutor: ‘(...) Entretanto, incasu, a concessionária pretende interromper o fornecimento de energia elétrica das unidades de ensino do ColégioPedro II, autarquia federal que presta serviço educacional a ‘aproximadamente quinze mil alunos’. Ainda que a falta depagamento pelos entes públicos deva ser repudiada, neste caso, a Corte regional que, ao tempo em que proibiu o corteda energia, também determinou que a verba seja afetada para o pagamento do valor devido, se for o caso, pelarequisição de complementação orçamentária. Nas hipóteses em que o consumidor seja pessoa jurídica de direitopúblico, prevalece nesta Turma a tese de que o corte de energia é possível, desde que não aconteça de formaindiscriminada, preservando-se as unidades públicas essenciais (...) Ressalto que a interrupção de fornecimento deenergia elétrica de ente público somente é considerada ilegítima quando atinge necessidades inadiáveis da comunidade,entendidas essas – por analogia à Lei de Greve – como ‘aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente asobrevivência, a saúde ou a segurança da população’ (art. 11, parágrafo único, da Lei n. 7.783/89), aí incluídos,hospitais, prontos-socorros, centros de saúde, escolas e creches (...)’. O acórdão paradigma (REsp 619.610/RS), derelatoria do Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, examinando hipótese análoga, decidiu pela possibilidade decorte no fornecimento de energia elétrica, em razão de inadimplência, em se tratando de Estado-consumidor, mesmono caso de prestação de serviços públicos essenciais, como a educação, verbis: ‘(...) Com efeito, ainda que se trate oconsumidor de ente público, é cabível realizar-se o corte no fornecimento de energia elétrica, mesmo no caso deprestação de serviços públicos essenciais, como a educação, desde que antecedido de comunicação prévia por parteda empresa concessionária, a teor do art. 17 da Lei n. 9.427/96. Tal entendimento se justifica em atendimento aosinteresses da coletividade, na medida em que outros usuários sofrerão os efeitos da inadimplência do Poder Público,podendo gerar uma mora continuada, assim como um mau funcionamento do sistema de fornecimento de energia (...)’.5. Embargos de Divergência rejeitados” (EREsp 845.982/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Seção, j. 24.06.2009, DJe03.08.2009).

17 Ver a obra de GUIMARÃES, Flávia Lefèvre. Desconsideração da personalidade jurídica no código de defesa doconsumidor: aspectos processuais. São Paulo: Max Limonad, 1998. Ver também obra de COELHO, Fabio Ulhôa.Desconsideração da personalidade jurídica. São Paulo: RT, 1989.

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DAS PRÁTICAS COMERCIAIS

5.1 INTRODUÇÃO1

Como já estudado, o CDC cuidou de positivar regras de produção que visam garantir no mercadode consumo a circulação de produtos e serviços com padrões de segurança que garantam a saúde dosconsumidores. Ao regular as práticas comerciais o diploma consumerista, pretende regular a fasepós-produção, que implica na prática de atos pelos fornecedores que visam a retirada do produto desua linha de produção até as mãos dos consumidores. Este capítulo teve a inspiração do Projet deCode de la Consommation: méthodes commerciales, do Professor Jean Calais-Auloy, do Fair DebtCollection Practices e do Fair Credit Reporting Act americanos.

Assim, Prática Comercial é qualquer ato pós-produção, que vise o escoamento de produtos. Paratanto, ante o mercado de massas caracterizado pelo anonimato dos agentes e pela informática, autilização do marketing como ferramenta de trabalho passa a ser essencial para os fornecedores.

Temos então que o marketing é espécie do gênero práticas comerciais, constituindo todas asmedidas que se destinam a promover a comercialização de produtos e serviços. Assim, constituematividades de marketing a publicidade, os selos, as ofertas, concursos, descontos, promoções viatelefone etc., ou seja, quaisquer mecanismos de incentivo à venda.

A regulação do marketing pode se dar diretamente por meio das específicas regras de marcas epatentes, direitos autorais, concorrência desleal e concentração de poder econômico no mercado.Pode também se dar indiretamente mediante preceitos estabelecidos no CDC.

Partindo do pressuposto de que, para a existência do consumidor e do regramento que o tutela, énecessário o mercado de massas com concorrência entre fornecedores, é preciso tratar deste tematendo como parâmetro os princípios constitucionais já estudados da Informação, da Livre-Iniciativa eda Defesa do Consumidor.

5.2 CONSUMIDOR EXPOSTO ÀS PRÁTICAS COMERCIAIS (ART. 29)

Trata-se de modalidade de consumidor equiparado, já tratada anteriormente, aplicável aosinstitutos da Publicidade, Práticas Abusivas, Cobrança de Dívidas e Bancos de Dados e Cadastrosde Consumidores.

5.3 DA OFERTA

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A oferta nas relações de consumo é informação pré-contratual, manifestação unilateral devontade por meio da qual o fornecedor faz conhecer a intenção de contratar e as condições docontrato consubstanciadas em regra na venda ou locação de produtos e serviços, ou seja, nada mais édo que a proposta ou oblação do direito civil.

A teoria clássica sobre o tema trata a questão como mero “dolus bonus” inerente aos vendedoresem geral. Parte de uma concepção arraigada ao direito civil, que não dá à proposta o efeitoabsolutamente vinculante. O Código Civil de 2002 trata da questão em seus arts. 427 e 428,introduzindo a regra de que a proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultardos termos dela. Embora o Código Civil não exija forma para a proposta, a doutrina entende que eladeva ser precisa, firme (inequívoca) e dirigida ao seu destinatário. Como já dito, a doutrina ejurisprudência tratavam da oferta como “mero convite a contratar”, podendo ser revogada até aaceitação, a exemplo do que prescrevem os ordenamentos dos EUA, Inglaterra, Itália e França.

Porém, o CDC introduziu uma noção moderna sobre a oferta, partindo do pressuposto de queestá, nas relações de consumo, intimamente ligada ao marketing.

Assim, nas relações de consumo a Oferta, Policitação ou Proposta tem valor contratual. Aexemplo do sistema alemão e português, no Brasil o fornecedor está vinculado à sua oferta. Trata-sedo Princípio da Vinculação à Oferta. Havendo veiculação da oferta com conteúdo suficientementepreciso, haverá vinculação. Atente-se que a prática do puffing, em regra, não vincula o fornecedor,como nos casos em que se veicula: “a melhor pizza do bairro” ou “o melhor sabão em pó domercado”. Todavia, se do anúncio constar: “a pizza mais barata do bairro”, e a afirmação não forverídica, o fornecedor incidirá em enganosidade, sujeita às penalidades penais, administrativas ecivis. Se houver o aceite do consumidor, incorporada ao contrato estará a oferta.

As informações constantes das ofertas devem ser corretas, precisas, ostensivas e claras, sempretendo como parâmetro o consumidor médio.

Caso o fornecedor se recusar à oferta, ao consumidor imputa-se a faculdade de exigir ocumprimento forçado da obrigação, aceitar outro produto ou prestação equivalente, ou ainda requerera rescisão contratual com restituição de quantias pagas monetariamente atualizadas e perdas e danos.

Assim, “toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer formaou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga ofornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado” (art.30 – Princípio da Vinculação e Integração ao Contrato).

A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras,precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade,composição, preço2, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre osriscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores3. Atente-se que a Lei 11.989, de 27 dejulho de 2009, introduziu o parágrafo único ao art. 31 do CDC para determinar que no caso dosprodutos refrigerados oferecidos ao consumidor, referidas informações serão gravadas de formaindelével.

A Lei 10.962, de 11 de outubro de 2004, regulamentada pelo Decreto 5.903, de 29 de junho de2006, trata da oferta e formas de afixação de preços de produtos e serviços ao consumidor. A novalegislação admite novas formas de afixação de preços em vendas a varejo para o consumidor. Assim,

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no comércio em geral, a afixação pode se dar por meio de etiquetas ou similares afixadosdiretamente nos bens expostos à venda, e em vitrines, mediante divulgação do preço à vista emcaracteres legíveis. Em autosserviços, supermercados, hipermercados, mercearias ouestabelecimentos comerciais onde o consumidor tenha acesso direto ao produto, sem intervenção docomerciante, pode se dar mediante a impressão ou afixação do preço do produto na embalagem, ou aafixação de código referencial, ou, ainda, com a afixação de código de barras. Nos casos deutilização de código referencial ou de barras, o comerciante deverá expor, de forma clara e legível,junto aos itens expostos, informação relativa ao preço à vista do produto, suas características ecódigo. Caso haja a impossibilidade de afixação de preços, é permitido o uso de relações de preçosdos produtos expostos, bem como dos serviços oferecidos, de forma escrita, clara e acessível aoconsumidor.

Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposiçãoenquanto não cessar a fabricação ou importação do produto. Cessadas a produção ou a importação, aoferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei.

Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, devem constar o nome dofabricante e o endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na transaçãocomercial. Ressalte-se que a Lei 11.800, de 29 de outubro de 2008, acrescentou o parágrafo único aoart. 33 do CDC, para determinar que “é proibida a publicidade de bens e serviços por telefone,quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina”.

Por fim, o CDC positivou regra já existente no Código Civil que preceitua que “o fornecedor doproduto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantesautônomos” (art. 34).

5.4 DA PUBLICIDADE

A publicidade nada mais é do que uma espécie de marketing e a forma mais sofisticada de oferta.Criada com instrumentos tecnológicos modernos, a publicidade é altamente lúdica e persuasiva. Aotrabalhar com os sentidos humanos, busca o convencimento do consumidor para criar demanda eaumentar a produção e, consequentemente, as vendas. É instrumento poderoso que cria expectativaslegítimas que devem ser protegidas.

Como modalidade de oferta, a publicidade tem valor contratual. A sua má utilização sujeitafornecedores e publicitários à responsabilidade civil, penal e administrativa.

Devem ser sempre observadas a boa-fé e a transparência, pois, ao receber a publicidade, oconsumidor está em estado de vulnerabilidade máxima, uma vez que recebe a mensagemunilateralmente, sem qualquer interlocução com o fornecedor. O consumidor é sempre meroexpectador passivo do anúncio. A publicidade determina o comportamento contratual do consumidorsujeitando-o ao fornecedor.

Por essas razões o CDC criou um regramento rígido, inspirado na experiência acumulada com oCódigo Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, editado pelo CONAR – Conselho Nacionalde Autorregulamentação Publicitária, em 1980, e que, embora não seja lei, é aplicável às pessoasenvolvidas na atividade publicitária.

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Desta feita, o CDC regulou a questão vedando a publicidade clandestina, enganosa e abusiva. Senão se enquadrar em uma dessas definições, a publicidade será perfeitamente regular.

Assim, a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, aidentifique como tal. O princípio da Proibição de Clandestinidade surge para coibir principalmente omerchandising e a propaganda subliminar que atua no subconsciente das pessoas.

O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, parainformação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação àmensagem. Trata-se do Princípio da Transparência da Fundamentação. Com os referidos dados épossível a verificação da enganosidade. Caso o fornecedor deixe de organizar os dados fáticos,técnicos e científicos que dão base à publicidade, estará sujeito à pena de detenção de um a seismeses ou multa, nos termos do art. 69 do CDC.

Assim, é enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário,inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir emerro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades,origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. Note-se que o CDC trata tambémda enganosidade por omissão, se faltar ao anúncio publicitário informação essencial do produto e doserviço que não induziria o consumidor a erro, como o preço real e a taxa de juros. O erro para acaracterização da enganosidade é fundamental. O consumidor não firmaria o negócio jurídico se nãohouvesse a veiculação da falsa informação, ou a omissão.

“É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite àviolência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiênciada criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportarde forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança” (art. 37, § 2.º, do CDC). Nestamodalidade procura-se coibir a publicidade que viole os valores éticos e morais, de caráter social ecultural. A mensagem pode até ser verdadeira, mas se for abusiva, não poderá ser veiculada.

Por fim, por ser matéria tão importante, o CDC criou tipos penais aplicáveis à espécie. Assim,nos termos do art. 66 do CDC, fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevantesobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preçoou garantia de produtos ou serviços, sujeita o infrator à pena de detenção de três meses a um ano emulta. Incorre nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. Aqui, admite-se a modalidade culposa,com a pena de detenção de um a seis meses ou multa. Nessa esteira, o art. 67 do CDC prescreve quefazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva, sujeita o infratorà pena de detenção de três meses a um ano e multa. Observe-se, ainda, que o art. 68 do CDC criououtro tipo com pena mais severa, voltado para certas modalidades de publicidade abusiva. Assim,nos termos do referido dispositivo legal, fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saberser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ousegurança, sujeita o infrator à detenção de seis meses a dois anos e multa.

Ocorrendo publicidade enganosa ou abusiva, é de se aplicar também sanção administrativadenominada contrapropaganda, para que o fornecedor repare a enganosidade ou a abusividade quecometera e com a mesma intensidade. Assim, prescreve o art. 60 do CDC que a imposição decontrapropaganda será cominada quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosaou abusiva, nos termos do art. 36 e seus parágrafos, sempre às expensas do infrator, e deverá ser

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divulgada pelo responsável da mesma forma, frequência e dimensão e, preferencialmente, no mesmoveículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade enganosa ouabusiva.

Referido dispositivo concretiza o mandamento do inciso XII do art. 56 do CDC.No âmbito civil aplica-se a regra de solidariedade – parágrafo único do art. 7.º do CDC. Assim,

a agência de publicidade produtora do anúncio responde solidariamente com seu cliente fornecedorde produtos e serviços. No entanto, como bem assevera Rizzato Nunes, “há exceções que geram adesresponsabilização da agência. São as dos casos em que a enganosidade: a) não está objetivamentecolocada no anúncio em si; b) depende da ação real, concreta e posterior do fornecedor anunciante,de maneira que a agência tenha participado como mera produtora de uma informação encomendada”4.É o caso do fornecedor que anuncia durante a semana que no domingo um determinado produto estará20% mais barato. Veiculado o anúncio, no domingo o preço do produto não sofre alteração. Nessecaso, a agência não é responsável pela enganosidade, pois ela se dá por ação real, concreta eposterior do fornecedor anunciante.

Por fim, em matéria publicitária o ônus da prova da veracidade e correção da informação oucomunicação publicitária cabe a quem as patrocina. Portanto, esta regra foge ao mandamento geral doinciso VIII do art. 6.º do CDC, e é de aplicação obrigatória independente da verificação de ser oconsumidor hipossuficiente ou de verossimilhança das alegações do consumidor.

5.5 DAS PRÁTICAS ABUSIVAS

O CDC, em seu art. 39, colacionou uma série de práticas consideradas abusivas5. Inicialmente, épreciso verificar que o referido rol é meramente exemplificativo sendo numerus apertus, nãoexaustivo. Buscou abarcar o maior número de situações possíveis, de práticas exercidas no mercadode consumo. É evidente que a lei não pode tudo prever, principalmente num mercado que está emconstante mutação. Assim, é preciso estabelecer alguns critérios que façam uma prática comercialtornar-se um ato de abuso do direito, prejudicando não só consumidores, mas também osfornecedores concorrentes. Aqui, mais uma vez, o CDC, ao regular as relações de consumo, vaiindiretamente coibir a concorrência desleal, pois quem exerce prática abusiva desrespeita osfundamentos da ordem econômica inscritos na Carta Magna.

Será abusiva a prática comercial se ferir os princípios estatuídos pelo microssistema dasrelações de consumo, mormente aqueles inscritos nos arts. 1.º a 7.º. É o que se depreende do incisoXV do art. 51 do CDC. Será também abusiva a prática comercial que configurar o Abuso do Direito,que finalmente encontra-se positivado no art. 187 do Código Civil. Assim, também comete ato ilícitoo titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fimeconômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

A Teoria do Abuso do Direito 6 surgiu no século XIX como consequência da humanização esocialização do pensamento jurídico, sobretudo no direito civil. Parte de um pressuposto que é abusca da igualdade real e não formal. Assim, uma prática abusiva pode estar respaldada em cláusulacontratual e nem por isso será lícita. Por esse motivo, o CDC também elencou um rol de cláusulasabusivas em seu art. 51, que será adiante abordado.

Faz-se mister resgatar a lição de Heloísa Carpena ao afirmar que: “No exercício dos direitos, as

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fronteiras entre o jurídico e o antijurídico são determinadas não apenas pelas concretas proibiçõesda lei, mas também pela incidência dos princípios. Ao transpor tais limites, seja por violação doscomandos da lei, seja por desatender o conteúdo valorativo do direito exercitado, o titular estáingressando no plano da antijuridicidade e sujeitando-se a sanções”7.

No campo das relações de consumo, o fornecedor que abusa do direito está sujeito às sançõespenais, administrativas e civis.

Vejamos então o rol estatuído pelo art. 39 do CDC. São práticas abusivas:

I – condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produtoou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos. Trata-se da “venda casada”,prática vedada por limitar diretamente a liberdade e a vontade do consumidor. Tal conduta, alémde abusiva, configura crime por força do art. 36, § 3.º, XVIII, da Lei 12.529/2011. De outrolado, há a proibição da venda de produtos e serviços condicionados a limites quantitativos, oque só é permitido se houver justa causa, como, por exemplo, por força de política nacional decontenção de consumo de combustíveis realizada diante da falta de petróleo no mercado.

II – recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suasdisponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes. Busca essaregra garantir a isonomia entre consumidores havendo a disponibilidade de estoque pelofornecedor. Trata-se também de regra que busca exigir o exercício da boa-fé nas relações deconsumo. Tal constitui crime por força do inciso VI do art. 7.º da Lei 8.137/1990 e é infração àordem econômica por força do inciso XI do § 3.º do art. 36 da Lei 12.529/2011.

III – enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, oufornecer qualquer serviço. Prática bastante comum, é abusiva por limitar a vontade e aliberdade do consumidor. Muito corriqueiro é o envio de cartões de crédito sem que tenha sidopromovida a competente solicitação. Mesmo que o fornecedor informe ser possível o seucancelamento, configurada está a abusividade por imputar um ônus ao consumidor. Atente-se queos serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, sem préviasolicitação, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento (art. 39,parágrafo único, do CDC).

IV – prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade,saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços. Trata-se de regra que reforça o mandamento da vulnerabilidade do consumidor no mercado deconsumo, e reconhece a maior fragilidade de determinados segmentos, tendo em vista saúde,idade e condição social. Visa proteger o livre consentimento dos consumidores no mercado deconsumo.

V – exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva. Tal prática exacerba odesequilíbrio já inerente entre fornecedores e consumidores, gerando desproporcionalidade.Exemplo típico dessa prática está na exigência que as instituições bancárias fazem para que oconsumidor correntista assine nota promissória em branco nos contratos de abertura de crédito econta-corrente. Por outro lado, o próprio CDC fixa os parâmetros da vantagem excessiva no §1.º do art. 51, considerando, entre outros casos, a vantagem que ofende os princípiosfundamentais do sistema jurídico a que pertence; que restringe direitos ou obrigações

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fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbriocontratual; que se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a naturezae o conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. A 3.ªTurma do STJ, ao analisar sob a modalidade de Repetitivo o Recurso Especial 1.061.530/RS,que tem por objeto créditos ao consumidor e serviços bancários, consolidou o entendimento deque é “admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais, desdeque caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor emdesvantagem exagerada – art. 51, § 1.º, do CDC) fique cabalmente demonstrada, ante àspeculiaridades do julgamento em concreto”8.

VI – executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa doconsumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes . Tal regra exigea realização de orçamento prévio, uma vez que este formaliza a oferta, vincula o fornecedor eintegra o futuro contrato. Atente-se que pelo art. 40 “o fornecedor de serviço será obrigado aentregar ao consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão de obra, dos materiais eequipamentos a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início etérmino dos serviços”. Tal orçamento terá validade pelo prazo de dez dias, contado de seurecebimento pelo consumidor, salvo estipulação expressa em contrário. Uma vez aprovado peloconsumidor, o orçamento obriga os contraentes e somente pode ser alterado mediante livrenegociação das partes, não respondendo o consumidor por quaisquer ônus ou acréscimosdecorrentes da contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio. Por fim,a exigência de orçamento pode ser dispensada pelas práticas constantes exercidas entreconsumidor e fornecedor. É o caso das pessoas jurídicas que constantemente utilizamdeterminados serviços, como o de manutenção em computação.

VII – repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor noexercício de seus direitos . Tal regra visa garantir a boa utilização dos bancos de dados ecadastros de consumidores que serão analisados adiante. Também visa garantir a liberdade doconsumidor para exercer seus direitos, como, por exemplo, a realização de pesquisacomparativa de preços.

VIII – colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com asnormas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem,pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo ConselhoNacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro) . Visa o presentedispositivo garantir padrões mínimos de segurança e de qualidade para os serviços e produtosfornecidos no mercado. A adequação às referidas normas não isenta o fornecedor dasresponsabilidades perante o consumidor, principalmente no que concerne à garantia legal deadequação.

IX – recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha aadquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados emleis especiais. Introduzido pela Lei 8.884/1994, relaciona-se com o inciso II já abordado. Estaregra é mais abrangente abarcando outros sujeitos não consumidores, como comerciantes,atacadistas, fabricantes e distribuidores.

X – elevar sem justa causa o preço de produtos e serviços . Consoante o § 4.º do art. 173 daCarta Magna e os princípios da Lei Antitruste, este dispositivo pretende garantir regularidade de

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preços no mercado onde não há tabelamento. Relaciona-se com o inciso X do art. 51 do CDC,que considera nula cláusula contratual que permita ao fornecedor, direta ou indiretamente,variação do preço de maneira unilateral. Também encartar-se-ia aqui a conduta recentementeobservada de manutenção de preços com a diminuição na quantidade de produtos, como ocorreucom biscoitos, papel higiênico, produtos de limpeza etc., sem que houvesse alteração dosrespectivos rótulos, passando desapercebido aos olhos dos consumidores.

XII – deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixaçãode seu termo inicial a seu exclusivo critério. Esta prática muito comum nas incorporaçõesimobiliárias gera profunda desproporcionalidade. Equivale a fixação unilateral do termo daprestação obrigacional pelo fornecedor. Ao consumidor caberá exigir o cumprimento daobrigação ou a rescisão contratual.

XIII – aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido . Visa o dispositivo em telagarantir a estabilidade das relações e dos negócios jurídicos, vedando a modificação unilateral. Caso o fornecedor proceda dessaforma, ao consumidor assiste o direito de cobrar-lhe em dobro o indevido, por determinação do art. 42 do CDC.

Por fim, atente-se que, “no caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos ao regimede controle ou de tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar os limites oficiais sobpena de não o fazendo, responderem pela restituição da quantia recebida em excesso, monetariamenteatualizada, podendo o consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento do negócio, sem prejuízo deoutras sanções cabíveis” (art. 41).

5.6 DA COBRANÇA DE DÍVIDAS

Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto ao ridículo, nem serásubmetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Tal prática configura crime no termos doart. 71. Assim, utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral,afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha oconsumidor, injustificadamente, ao ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer, sujeita oinfrator à detenção de três meses a um ano e multa.

De outra parte, o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito,por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais,salvo hipótese de engano justificável.

A Lei 12.039, de 1.º de outubro de 2009, introduziu o art. 42-A ao CDC, com a prescrição de que“em todos os documentos de cobrança de débitos apresentados ao consumidor, deverão constar onome, o endereço e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF ou no CadastroNacional de Pessoa Jurídica – CNPJ do fornecedor do produto ou serviço correspondente”.

5.7 DOS BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES9

Dispõem os arts. 43 e 44 do CDC:

“Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informaçõesexistentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele,bem como sobre as suas respectivas fontes.

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§ 1.° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e emlinguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a períodosuperior a cinco anos.

§ 2.° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá sercomunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.

§ 3.° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderáexigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar aalteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.

§ 4.° Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção aocrédito e congêneres são considerados entidades de caráter público.

§ 5.° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serãofornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações quepossam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores.

Art. 44. Os órgãos públicos de defesa do consumidor manterão cadastros atualizados dereclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, devendo divulgá-lopública e anualmente. A divulgação indicará se a reclamação foi atendida ou não pelofornecedor.

§ 1.° É facultado o acesso às informações lá constantes para orientação e consulta porqualquer interessado.

§ 2.° Aplicam-se a este artigo, no que couber, as mesmas regras enunciadas no artigo anteriore as do parágrafo único do art. 22 deste código”.

5.7.1 Os bancos de dados no Brasil e o Código de Defesa do Consumidor

O tema relativo aos bancos de dados assume um importante papel, seja pelo fato de se tratar dematéria referente ao Direito do Consumidor, seja pelo fato de ser questão inerente à individualidade,honra e privacidade do cidadão.

Nosso propósito, nesse momento, é estabelecer um contato da matéria com o ordenamentojurídico brasileiro, delimitando os aspectos que em nosso entendimento são mais importantes epertinentes com o desenvolvimento do presente trabalho.

Conforme já pontuado, a disciplina das relações jurídicas inerentes aos bancos de dados emnosso país ainda está por ser construída, muito embora a Constituição Federal tenha estabelecidoampla proteção à esfera de intimidade do cidadão, inclusive com a garantia constitucional do habeasdata, o que, por si só, seria suficiente.

Porém, na prática, a tradição brasileira exige o surgimento de diploma que reguleespecificamente, como ocorrido em outros países, a manipulação dos dados de caráter pessoal emtodos os seus aspectos. O autoritarismo vigente em nosso país durante anos a fio, ao lado do podereconômico e tecnológico daqueles que controlam os bancos de dados, aponta para essa necessidade.

No entanto, a situação brasileira não é tão sombria quanto possa parecer, seja pelo avanço denossa Carta Magna, seja, como veremos, pelo advento do CDC, que regulou a matéria nas relaçõesde consumo.

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5.7.2 Bancos de dados de crédito e relações de consumo

Os bancos de dados que atuam na área de crédito têm por finalidade a coleta de informações queindiquem a condição econômica, financeira, bancária e até judicial das pessoas. A função destesórgãos é orientar no mercado aqueles que oferecem crédito. É de se consignar que esses bancos dedados também atuam no mercado de consumo, orientando fornecedores de produtos e serviços sobreo comportamento dos consumidores. Por intermédio dos dados prestados pelo banco de dados, ousuário poderá concluir se as pessoas com as quais está negociando são ou não “boas pagadoras”, oumelhor, “bons consumidores”.

Nesse caso específico, estão em jogo também os interesses daqueles que estão no mercado e queprocurarão obter pela informática mais uma ferramenta que lhes garanta segurança na atividadenegocial.

No entanto, consigne-se que esses interesses não podem se sobrepor aos direitos tratadosanteriormente, que visam proteger a esfera íntima de cada cidadão, sendo certa a necessidade dabusca do equilíbrio entre as vontades que no fundo perseguem o mesmo resultado, ou seja, oestabelecimento de negócios no mercado.

Assim, tanto aquele que empresta dinheiro como aquele que o receberá têm o mesmo interesse emque o negócio se realize. Da mesma forma presume-se na relação fornecedor-consumidor.

5.7.3 Os bancos de dados nas relações de consumo

Com a evolução do processo produtivo e a constituição da chamada “sociedade de massas”, asrelações de consumo passam a se dar de forma complexa, com duas características básicas, quaissejam, a imprevisibilidade e a alta velocidade, com a presença de terceiros nas relações fornecedor-consumidor, isto é, os fornecedores de créditos e de informações e os publicitários.

Ao contrário do início do século, quando o mercado constituía-se de pequenos centros nos quaisas pessoas se conheciam, ou onde era mais fácil conhecer a situação econômica e financeira daspessoas; quando os negócios, em pequena escala, se davam em ritmo lento, a sociedade que ingressano novo milênio é marcada por um mercado globalizado, em que, por um lado, fornecedores realizam“incontáveis” negócios diários com centenas, e até milhares de consumidores, e, por outro,consumidores adquirem produtos e serviços por vezes sem conhecer ao certo seus fornecedores.

Fornecedor e consumidor não podem mais antever o estabelecimento de um negócio jurídico,pela alta velocidade das transações: “O que anteriormente devia ser intuído pelo empresário, paramelhor conhecer a clientela por ele atendida, pode hoje ser objetivamente pesquisado, ordenado earmazenado. A informação sobre o consumidor efetivo ou potencial é instrumento imprescindívelpara as decisões do empresário”10.

É pertinente a indagação acerca do que caracterizaria o mercado de consumo, uma vez que osbancos de dados e cadastro de consumidores constituem-se como decorrência direta desse mercado.

Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin faz essa caracterização mediante quatro elementosbásicos, quais sejam: “(...) a) o ‘anonimato’ de seus atores; b) a complexidade e variabilidade deseus bens; c) o papel essencial do marketing e do crédito; e, d) a velocidade de suas transações”11.

Assim, os chamados arquivos de consumo, gênero do qual são espécies os bancos de dados e os

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cadastros de consumidores, conseguem superar o anonimato do consumidor, pois prestaminformações sobre sua vida ao fornecedor; auxiliam na utilização do crédito e na velocidade dastransações, possibilitando as realizações de outras relações de consumo, como as de bens, serviçosetc.

Por esses arquivos os fornecedores verificam a veracidade das informações prestadas peloconsumidor e adquirem outras adicionais, que possibilitam uma breve análise crítica sobre os riscosdo negócio efetuado.

Percebe-se, desde logo, que os arquivos de consumo invadem a esfera de privacidade doconsumidor, por mais simples que sejam as informações prestadas, pois ele, que muitas vezes ignorao seu armazenamento, pode não querer vê-las difundidas.

De outra maneira, eventuais inexatidões podem levar o fornecedor a não efetivar negócio com oconsumidor que teria todas as condições de realizá-lo. Se o consumidor ignora a negativa donegócio, ele não poderá reparar a inexatidão, que por sua vez pode induzir outros fornecedores anegá-lo, formando, então, uma reação em cadeia ferindo a esfera de privacidade e a honra docidadão.

Nessa esteira, o empresário se arma para, na relação individual, conhecer melhor o consumidor,e na sua estratégia de inserção no mercado, a partir do estabelecimento do perfil de seusconsumidores, municiar o marketing que irá orientar sua ação para atingir as massas. Nessa novarealidade, a principal arma empresarial é o banco de dados.

É certo que algumas empresas poderão possuir seu próprio banco de dados, ou, como prefere oCDC, seu cadastro de consumidores, sem excluir o acesso a outros bancos de dados, como a redebancária e notarial, o distribuidor judicial etc.

No entanto, é comum que existam empresas especializadas em prestar serviços na área deinformações. São bancos de dados autônomos prestadores de serviços. O maior banco de dadosbrasileiro dessa natureza é o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), vinculado à ConfederaçãoNacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), que também atua na área de consumo orientando aconcessão de crédito, seguido da Serasa (Centralização de Serviços dos Bancos S/A), vinculada àFebraban (Federação Brasileira de Bancos)12.

Tais bancos de dados não constituem propriamente um novo fenômeno em nosso país. O primeirodeles surgiu na década de 1950, em Porto Alegre, por intermédio da Associação Comercial local,objetivando a orientação de lojistas no estabelecimento de crediários. Em São Paulo, o órgão surgiuem 1955, e em 1962 já estava organizado nacionalmente13.

O controle que esses arquivos de consumo exercem sobre os dados pessoais dos consumidores égrande, seja pela própria estrutura interna de cada um deles, seja pela interconexão existente entre osbancos de dados privados e os da Administração Pública em suas diferentes esferas de poder.

Nota-se, de um lado, o poder econômico e persuasivo que os bancos de dados exercem nomercado, e, de outro, vislumbra-se também a necessidade de sua existência, imposta pela demandano mercado de consumo, para ampliar a circulação de produtos e serviços e diminuir os riscos docrédito, agilizando a sua concessão.

No entanto, essa atividade não pode ser exercida sem limites, em nome de uma supostaconcretização do direito à informação dos fornecedores de serviços e bens. Justamente pela enorme

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proporção que tomaram, é que a regulação da atividade dos bancos de dados de consumo deve serrígida, como forma de garantir a defesa da intimidade do consumidor e a incolumidade moral docidadão. Tal postura não se dá pela ótica meramente individualista, e sim por toda a coletividade deconsumidores, que estão “à mercê” dos bancos de dados. Assim, “é a danosidade difusa e nãoindividual que, em última análise, está em jogo. A operação dos bancos de dados, se não exercidadentro de certos limites, se transforma em dano social”14.

Foi essa, como veremos adiante, a postura adotada pelo CDC, que “atento à verdadeiraavalanche de abusos cometidos nessa área – que iam da utilização irregular de informações paraforçar o pagamento de débito até a inabilitação creditícia do interessado na via extraoficial, procurouinibir tais condutas abusivas”15.

Assim, o CDC visa à defesa da intimidade do consumidor, impondo maior clareza na coleta,armazenamento e gerenciamento dos dados obtidos, fixando limite temporal para a mantença dasinformações, estabelecendo responsabilização e reparação de danos causados.

5.7.4 Bancos de dados e cadastros de consumidores: espécies do gênero arquivos de consumo

Antes de ingressarmos propriamente na análise do texto normativo adotado pelo CDC, em seu art.43, faz-se necessária a diferenciação de duas expressões por ele utilizadas, quais sejam, bancos dedados e cadastros de consumidores.

Enquanto os bancos de dados caracterizam-se pela “ideia de informações organizadas,arquivadas de maneira permanente em estabelecimento outro que não o do fornecedor quediretamente lida com o consumidor; ali ficam, de modo latente, à espera de utilização”16, oscadastros de consumidores, via de regra, são feitos pelo próprio consumidor junto ao seu fornecedoratual ou futuro, sendo que a organização e a permanência não são suas características básicas enecessárias.

O cadastro de consumidores, embora podendo ser transmitido para terceiros, geralmente éconsultado apenas pelo fornecedor, para o estabelecimento de uma relação mais próxima com o seuconsumidor. Tais cadastros são equiparados aos bancos de dados por poderem conter tambéminformações inexatas ou falsas.

Destarte, para efeitos de aplicação da legislação pertinente à matéria não se deve fazer distinçãoentre bancos de dados e cadastro de consumidores, pois são espécies do gênero arquivos deconsumo.

Por fim, atente-se que o diploma consumerista não diferencia aqueles bancos de dados e oscadastros de consumidores de caráter público daqueles de caráter privado. Assim, pouco importa seo arquivo de consumo se reveste do manto de uma pessoa jurídica de direito público ou privado. Nasduas hipóteses aplica-se o CDC. “A ratio do codificador, por conseguinte, foi abarcar com as duasdenominações todas as modalidades de armazenamento de informações sobre consumidores, sejamelas privadas ou públicas, de uso pessoal do fornecedor ou aberta a terceiros, informatizadas oumanuais, setoriais ou abrangentes”17.

Temos então que os arquivos de consumo constituem-se em toda forma de armazenamento deinformações pessoais e de consumo referentes aos consumidores. Tal armazenamento, usando ostermos da lei, que pretende ser o mais genérico possível, pode ser feito por intermédio de bancos de

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dados, cadastros, fichas ou registros.Nesse sentido, o fornecedor de produtos ou serviços poderá constituir seu próprio banco de

dados, cujo aparelhamento é marcado pela complexidade de seu funcionamento, o que não é muitocomum, ou optar por uma estrutura mais simples, por meio da constituição de seu próprio cadastro deconsumidores, ou ainda apenas fichas ou registros e apontamentos sobre seus consumidores. Desorte, poderá ainda o fornecedor disponibilizar, ou não, tais informações para outros fornecedores ouinteressados.

Ressalte-se novamente que, para efeito de aplicação do CDC, pouco importa se as informaçõessão disponibilizadas ou visam apenas ao uso privativo do fornecedor.

O CDC regulamenta a atividade referente aos bancos de dados e cadastro de consumidores emseus arts. 43, 44, 72 e 73, sendo que no seu anteprojeto ainda figuravam os arts. 45 e 86, vetados pelaPresidência da República.

5.7.5 O caráter público dos bancos de dados e cadastros de consumidores

A correta intelecção do tema exige o estabelecimento da natureza jurídica dos arquivos deconsumo.

Assim, prescreve o § 4.º do art. 43 do CDC que os bancos de dados e cadastros relativos aconsumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades decaráter público.

Ora, com tal redação não quer o CDC conferir a esses órgãos a personalidade de pessoasjurídicas de direito público, enquanto “entidades que exercem interesse imediato da coletividade, e,incorporadas ao organismo estatal, regem-se por princípios de direito público”18. A personalidadejurídica dessas entidades continua sendo determinada no momento de sua criação, ou seja, quandonão estatais, serão consideradas pessoas jurídicas de direito privado. Ocorre que, pela natureza daatividade desenvolvida, ou seja, manipulação de informações no mercado de consumo expondoconstantemente à lesão a intimidade dos consumidores, conferiu-lhes o CDC caráter público, o quesignifica dizer que esses órgãos, quando não estatais, são pessoas jurídicas de direito privado, ouseja, “entidades que se originam do poder criador da vontade individual, em conformidade com odireito positivo, e se propõem a realizar objetivos de natureza particular, para benefício dospróprios instituidores, ou projetadas no interesse de uma parcela determinada ou indeterminada dacoletividade”19, só que com caráter público.

Ora, se caráter público não significa conferir natureza de direito público, o que vem a ser essaexpressão?

A questão pretendeu ser resolvida pela Lei 9.507, de 12.11.1997, que regula o direito de acessoa informações e disciplina o rito processual do habeas data, ao estabelecer o conceito de registro oubancos de dados de caráter público. No entanto, a tentativa restou infrutífera, como veremos.

Prescreve o referido diploma, in verbis: “Art. 1.º (Vetado) Parágrafo único. Considera-se decaráter público todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam sertransmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora oudepositária das informações”.

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Inicialmente, atente-se que a lei, assim como a Carta Magna e o CDC, utiliza a expressãoregistros ou banco de dados , e, a nosso ver, para exemplificar, referindo-se a toda forma dearmazenamento de informações, e por conseguinte, também aos arquivos de consumo.

Ademais, em relação ao caráter público dos registros ou banco de dados a lei foi desastrosa,restringindo o seu significado ao consignar que esse caráter só será conferido aos bancos de dadosou registros que possuam pelo menos uma das duas características seguintes:

1. Aqueles que possibilitem a publicidade de suas informações, ou seja, que elas possam serpotencialmente transmitidas para terceiros; ou

2. Registro ou banco de dados contendo informações que não sejam de uso privativo do órgão ouentidade produtora ou depositária das informações.

Embora as duas possibilidades venham convergir para um campo comum (afinal, quem não usa ainformação privativamente, a leva ao conhecimento de outras pessoas, e, portanto, do público), elasnão se coadunam com o caráter público da letra a, inc. LXXII, do art. 5.º, da Constituição Federal.

A lei do habeas data equivocou-se, e mediante precária técnica legislativa restringiu o sentido ealcance da expressão nas duas formas acima enumeradas. Conferiu ao caráter público o sentido demera publicidade, em contraposição ao uso privativo da informação, sendo incompatível com o textoconstitucional. Vejamos.

O caráter público constitucional, cujo sentido acompanhou o CDC (art. 43, § 4.º), advém dagênese dos órgãos que manipulam informações, de sua própria essência. Ora, a garantiaconstitucional do habeas data, como veremos em capítulo próprio, em perfeita consonância com osarts. 1.º, II e III, e 5.º, X, da Constituição Federal, tem o condão de salvaguardar para o cidadão suasinformações pessoais, ou melhor, as informações relativas à sua pessoa (impetrante), como asdemais garantias constitucionais, visa proteger o cidadão contra o Estado atuando na esfera dasliberdades públicas. Ocorre que o habeas data é o único remédio a ser utilizado também contraparticulares, pelo fato de estar a serviço da defesa do direito personalíssimo à intimidade. Se oremédio foi estendido também em face dos particulares, isso se deu por alguma razão, ou seja, anatureza da atividade por eles desenvolvida.

Assim, o “caráter público” exsurge para todo arquivo (registro ou banco de dados) que manipuleinformações de caráter pessoal, independentemente de publicidade.

Pelo simples fato de manejarem informações de caráter pessoal, recai sobre esses órgãos ointeresse público de controle de atividade, para a proteção da privacidade cidadã. Enfim, é dadanosidade potencial que deriva o caráter público, e não da mera publicidade.

Se não fosse assim, haveria conflito entre o parágrafo único do art. 1.º da Lei 9.507/1997 e o §4.º do art. 43 do CDC, pois o habeas data não poderia ser impetrado contra os cadastros deconsumidores. Porém ele inexiste, seja pelo fato de a lei do habeas data ter restringido o que nãopoderia restringir, seja pelo fato de estarmos diante de um sistema revolucionário, no caso o CDC,pautado na ótica dos interesses difusos. “Ser de ‘caráter público’ significa, pois, que aos arquivos deconsumo, afastando-se do regime jurídico válido para a maioria das empresas, são impostasobrigações e limitações adicionais, desenhado que foi um aparato legislativo próprio para sua

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disciplina. Tanto assim que o legislador resolveu confiná-los à geografia das liberdades públicas,válidas normalmente contra o Estado e seus apêndices, com isso assegurando-se de que, em termosde transparência, due process, rigor formal e conteúdo, os arquivos de consumo recebem similartratamento”20.

Por fim, temos que a terminologia caráter público empregada pelo CDC objetivou, por um lado,apontar o interesse público e até difuso de que a atividade dos arquivos de consumo seja dada nosestritos parâmetros do ordenamento jurídico, e, por outro, visou abrir ao cidadão consumidor asportas das ações constitucionais do mandado de segurança e habeas data em face de todos osarquivos de consumo que contenham informações pessoais ou de consumo dos consumidores.

5.7.6 O art. 43 do Código de Defesa do Consumidor

O art. 43 do CDC teve como fonte inspiradora o direito norte-americano e as propostaslegislativas do National Consumer Law Center21.

O mandamento central de seu caput determina que o consumidor terá acesso às informaçõesexistentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bemcomo sobre suas respectivas fontes.

Note-se, o aspecto privilegiado é o do acesso às informações existentes nos arquivosindependentemente de estarem armazenadas sob a forma de cadastros, fichas ou registros, e defazerem referência a dados pessoais ou de consumo. As hipóteses não são taxativas e simexemplificativas, com o intuito de abranger todos os arquivos de consumo, sejam eles complexos einformatizados ou não.

Logo de partida o CDC tutelou o acesso do consumidor a tais órgãos.Outro aspecto referido no caput é o da fonte de informações. Quis o CDC garantir também ao

consumidor o acesso às fontes das informações armazenadas nos arquivos de consumo.É cediço que tais arquivos, fazendo-se valer da evolução tecnológica, utilizam todos os recursos

informáticos que possibilitem a prestação de informações sobre um maior número de pessoas em ummenor espaço de tempo. Para isso, estabelecem interconexões com os mais variados arquivosprivados e públicos, que podem servir de fonte das informações referentes aos consumidores.

Tal garantia não teve como escopo a preocupação com a origem da informação, poucoimportando se ela é proveniente de um órgão público ou privado, afinal os órgãos públicos tambémsão falíveis. O que importa é se a informação resulta de uma prática lícita ou ilícita, e se elaefetivamente corresponde à verdade dos fatos. Se resultante de uma prática ilícita, o ordenamentoestá de prontidão para reprimi-la, não só com os dispositivos do CDC, mas também com osinstrumentos constitucionais e penais disponíveis. Se ela não corresponde à verdade, pode oconsumidor, diante de uma informação falsa, obscura ou inexata, retificá-la, ou até mesmo excluí-la,não só do arquivo de consumo, mas também de sua fonte geradora.

Conhecer a fonte significa saber se a informação, mesmo correta e verdadeira, é, por exemplo,definitiva. É o que acontece nos casos de negativação de crédito pela existência de protestos, apesarde terem sido sustados, ou execuções judiciais em aberto, sem sentença judicial transitada emjulgado.

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Constitui ilícito o armazenamento de informações referentes a características pessoais,familiares, quanto ao modo de vida, convicção política e religiosa etc., até porque constituem oespectro de intimidade absoluta do cidadão.

As informações constantes de arquivos de consumo têm vida útil de cinco anos. Este é o tempomáximo que a lei entende ser necessário para que o mercado esqueça a conduta irregular doconsumidor, se antes não prescreveu o prazo para a ação cambiária.

No § 1.º do art. 43, quis o CDC consignar que só as informações relativas ao mercado deconsumo é que podem figurar nos arquivos. Dessa forma, outras informações estão vedadas, por issoa necessidade de que as informações sejam objetivas, claras e verdadeiras.

As informações dos arquivos só podem ser prestadas uma vez preenchidas duas condições, quaissejam:

a) solicitação individual;b) que tal solicitação seja decorrente de uma necessidade de consumo.

Qualquer utilização que não obedeça a essas duas condições implicará mau uso, sujeitando osinfratores às sanções contra a invasão da privacidade e dano à honra, ficando obrigados a prestarindenização ao consumidor na forma do art. 6.º, VII e VIII, do CDC.

É de se salientar que além da reparação de danos ao consumidor, sanções de natureza civil e denatureza penal, os arquivos de consumo estarão sujeitos às sanções administrativas previstas no art.56 do CDC e no Decreto 2.181/199722.

Também como consequência do mau uso dos bancos de dados temos a previsão de aplicação dassanções penais nos arts. 72 e 73 do CDC, reprimindo o impedimento do acesso à informação porparte do consumidor, o mero embaraço e a negativa da correção de informação inexata.

Finalmente, importante noticiar a criação, em nosso país, do cadastro positivo nos sistemas deproteção ao crédito, por meio da Lei 12.414/2011. Defendida por setores importantes da economiabrasileira, a medida promete baratear o crédito ao consumidor. Conforme o seu art. 1.º, a “Leidisciplina a formação e consulta a bancos de dados com informações de adimplemento, de pessoasnaturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico de crédito, sem prejuízo do disposto naLei 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Proteção e Defesa do Consumidor”. O seuparágrafo único ressalva que “os bancos de dados instituídos ou mantidos por pessoas jurídicas dedireito público interno serão regidos por legislação específica”. Considerando que o texto da lei emnada altera as disposições do CDC, se aplicam aos cadastros positivos todos os preceitos da matériaaqui estudados.

5.7.6.1 Os direitos de comunicação, acesso e retificação

A abertura de registro em bancos de dados pode se dar de três formas:

1) por solicitação do próprio consumidor, como por exemplo mediante o preenchimento defichas em bancos, planos de saúde, cartões de crédito e agências de viagens;

2) por determinação da empresa interessada na realização do negócio de consumo;3) por decisão espontânea de um banco de dados.

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O direito de que o consumidor seja informado acerca de informação sobre ele constante embancos de dados está esculpido no § 2.º do art. 43 do CDC, constituindo-se em verdadeiro dever doórgão de armazenamento de informações23. Da mesma forma, o direito de acesso aos bancos dedados está inserido no caput do art. 43, referindo-se aos cadastros, fichas e registros. Já o direito deretificação, e por conseguinte o dever por parte do arquivo de consumo, vem prescrito no § 3.º doart. 43.

Destarte, temos que, como consequência do dever de comunicação, surge o direito de acesso doconsumidor às informações arquivadas em quaisquer bancos de dados ou cadastros deconsumidores.

Como decorrência do direito de acesso surge o direito de retificação das informaçõesincorretas. Assim, “O direito de acesso não diz respeito apenas aos dados arquivados, estende-seigualmente às suas fontes. Cria-se, por essa via, um dever para o banco de dados de sempre anotar aorigem da informação que arquiva. Por duas razões: primeiro, para se precaver, pois a qualquermomento tal elemento pode ser contestado, fazendo-se necessária uma nova investigação; segundo,como forma de permitir ao consumidor postular perdas e danos contra quem deu origem à informaçãodesconforme. (...) Não se exige que o consumidor faça prova negativa da veracidade oudesconformidade dos fatos corrigidos. Já que se trata de material recolhido à sua revelia, compete aoarquivista, a quem os dados aproveitam diretamente, produzir prova positiva de sua veracidade eatualidade. Uma vez que, após a reinvestigação, a informação seja confirmada, deixa de existir aobrigação de retificação e o dever de comunicação a terceiros”24.

O art. 45 foi vetado pela Presidência da República e, a nosso ver, de modo extremamenteequivocado. O fundamento do referido veto reside no fato de que “o art. 12 e outras normas jádispõem de modo cabal sobre a reparação do dano sofrido pelo consumidor. Os dispositivos oravetados criavam a figura de ‘multa civil’, sempre de valor expressivo, sem que sejam definidas a suadestinação e finalidade”.

Ora, quis o legislador apontar a importância da matéria ora examinada, fixando multa civil eincidência de juros. Quis estabelecer dessa forma, e justamente por meio da imposição de valoresexpressivos a fim de que a honra e a privacidade do consumidor, ao serem ultrajadas, pudessem serreparadas compativelmente.

Ora, evidente que nessas relações existem duas partes com características diferenciadas, quaissejam, de um lado o consumidor, que muitas vezes, pelas próprias condições econômicas edesigualdade social por que passa o país, vê-se em situação irregular no mercado de consumo, e deoutro os bancos de dados e cadastros de consumidores, equipados com os mais modernos sistemasde informações, munidos de grande poderio econômico, e que por muitas vezes, aproveitando-sedesse desequilíbrio, incorrem em irregularidades.

É cediço que o CDC nasceu para equilibrar as relações de consumo, e é por isso que se chamaCódigo de Defesa. Quis o legislador com o art. 45 dar destaque à atividade de arquivos de consumo.Porém, pela própria sistemática estabelecida no CDC, tal veto não prejudicou o estabelecimento doequilíbrio na relação Consumidor × Banco de Dados, pois, além da reparação civil, existem assanções penais e administrativas.

Note-se que as pessoas fornecedoras de crédito figuram na posição de consumidoras de

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informação, enquanto a empresa detentora do banco de dados na posição de fornecedora de serviços.Ressalte-se que o fornecedor, neste caso, perante o direito brasileiro, responde objetivamente pelaexatidão, completude e atualização da informação. Qualquer lesão que o consumidor de informaçõesvier a sofrer em razão da inexatidão, incompletude ou desatualização da informação será reparadaobjetivamente. Porém, atente-se que se nada de errado houver com a informação prestada, e ofornecedor de crédito (consumidor de informação) vier a sofrer lesão em decorrência do negócioestabelecido no mercado, o fornecedor de informações (banco de dados) não terá responsabilidadealguma, pois responde pela informação e não pelo sucesso do negócio estabelecido por seuconsumidor. Com a informação prestada o fornecedor de crédito assume sozinho o risco do negócioefetuado.

5.7.6.2 Pressupostos de legitimidade dos arquivos de consumo

Os arquivos, a partir da interpretação dos dispositivos do CDC, para exercerem regularmentesuas atividades, devem preencher quatro pressupostos básicos25. São eles:

a) Teleológicos ou finalísticosO diploma consumerista visa, além da defesa, também à prevenção do consumidor. Por isso, todo

arquivo de consumo deve indicar qual a finalidade da informação coletada, a qual objetivo ela sepresta, afinal, nenhum arquivo de consumo pode se transformar em curador de dívidas não pagas;não é coletor de dívidas26.

O rigor legal com esses órgãos deve-se à unilateralidade de sua atividade, pois vive à procurade novas informações sem o conhecimento da pessoa referida; à invasividade na privacidade alheia;à parcialidade com que transmite a informação sem atentar para o devido processo legal,principalmente quando faz da negativação do consumidor um instrumento de cobrança, desviando seuobjetivo maior, que é a proteção da universalidade do crédito. Ao desviar seus objetivos, osarquivos de consumo ferem de uma só vez quatro cânones constitucionais, quais sejam, o direito aocrédito, a garantia do acesso à justiça, a proteção do consumidor e a proibição de penas infamantes.

Por fim, como salienta Carlos Adroaldo Ramos Covizzi em importante obra sobre as práticasabusivas da Serasa e do SPC, “desafortunadamente, a experiência de anos de atuação dessesserviços, nos tem mostrado que, eles, como prestadores de informações, finalisticamente, valemmuito mais como agentes opressores e inibidores das liberdades individuais, do que auxiliares dacadeia produtiva, visto que as informações negativas que fornecem tendem a se propagar e encontraracolhida efetiva nos mais diversos segmentos sociais, para, generalizadamente, fixar conceitospessoais e impossibilitar o livre exercício das atividades econômicas”27.

b) SubstantivosO arquivo deverá observar a natureza da informação manejada, o seu tipo e conteúdo, pois, como

vimos, nem toda informação pode ser circulada, como as referentes à esfera de intimidade sensível.Ademais, é necessário que o débito seja inquestionável, com a certeza e convicção da

informação, sem os quais ela não pode ser circulada. Atente-se que qualquer débito discutido emjuízo deixa de ter essas características, o que nos leva a concluir que o consumidor nessa condiçãonão pode ser negativado. Desta feita, “não se pode esquecer que a negativação, como já se viu, gera

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efeitos concretos na sociedade contra a dignidade e a imagem do consumidor, e que nenhuma lesãoou ameaça está excluída da apreciação do Poder Judiciário (CF, art. 5.º, XXXV). Dondeforçosamente se conclui que pode o consumidor questionar a abusividade da cobrança e da dívidacom todas as demais ações mais eficazes no que diz respeito ao constrangimento; sendo assim, apossibilidade de violação à dignidade e imagem do consumidor é, sem sombra de dúvida, anegativação nos serviços de proteção ao crédito. Por certo, deverá o magistrado, avaliando no casoconcreto a verossimilhança das alegações do consumidor, decidir pelo impedimento da negativaçãoou seu cancelamento. Por isso, diga-se desde já, com todas as letras: se o consumidor questionar adívida em juízo, não se pode mantê-lo ‘negativado’ (como se diz) nos serviços de proteção aocrédito”28.

Nesse sentido já se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça, por intermédio do ministro RuiRosado Aguiar: “(...) conhecidos os efeitos negativos do registro em banco de dados de devedores;daí porque inadequada a utilização desse expediente enquanto pende ação consignatória, declaratóriaou revisional, uma vez que, não obstante a incerteza sobre a obrigação, já estariam sendo obtidosefeitos decorrentes da mora. Isso caracteriza um meio de desencorajar a parte a discutir em juízoeventual abuso contratual”29 (STJ, 4.ª Turma, RE 172854-SC, j. 04.08.1998, v.u., DJU 08.09.1998).

A importância da questão é traduzida por Benjamin, ao asseverar que sem “garantias mínimas desegurança e validade do débito, todo sistema resvala para a constituição de tribunais privados deexceção, pois o credor, por desvio de função do instrumento, afasta o que sobra deconstitucionalidade a tal prática, baseada na presunção de que o que se protege é o crédito, vistogenericamente. Não sendo assim, terminamos com um mecanismo ilícito de cobrança, embasado nouso de coação social, constrangimento público, estigmação e execração do ‘homo economicus’”30.

Nos tempos modernos o crédito é instantâneo e mecanizado, em contraposição ao crédito isoladoe circunstancial da era pré-informática.

A atividade dos arquivos de consumo sem a observação desse pressuposto configura práticaabusiva, nos termos do art. 39, VII, do CDC.

Atente-se que o débito renegociado não pode ter o condão de manter registro em banco de dados.O extinto Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo já se pronunciou nesse sentido (5.ªCâmara, Ap. Civ. 750151, Rel. Cunha Garcia, 21.10.1998).

Entendemos que cabe ao banco de dados a obrigação de buscar também essa informação, sobpena de responder pelas lesões causadas aos consumidores, pois a finalidade desses arquivos deconsumo é garantir o mercado, o crédito em geral, e não o credor original.

Por fim, ressalte-se que as informações protegidas pelo manto constitucional da privacidade eque não digam respeito às relações de consumo não podem figurar nos arquivos de consumo.

c) Procedimentais ou formaisEstes aspectos limitam a atividade dos bancos de dados de consumo quanto à forma de atuação.

Assim, não é qualquer pessoa que pode acessar um arquivo de consumo, já que para tanto énecessária a solicitação individual decorrente da atividade de consumo, como visto na análise do art.43. Com isso, verifica-se que a informação só pode ser prestada mediante consulta.

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d) TemporalPor fim, resta o pressuposto da limitação temporal da informação, também já estudada,

estabelecida nos §§ 1.º e 5.º do art. 43, ou seja, de cinco anos para as informações em geral,contados do momento do fato que deu origem ao dado e não de seu lançamento no arquivo, e o prazoprescricional para a ação de cobrança. Assim, se a prescrição para a ação de cobrança ocorre antesde cinco anos, a informação não pode ser consignada no arquivo.

Decorrido o limite temporal consignado nos dispositivos em comento, todos os dados, inclusiveos documentais, devem ser apagados do arquivo.

5.7.7 Os cadastros de órgãos públicos

A diferenciação existente entre os cadastros de órgãos públicos, regulados pelo art. 44 do CDC,e os que foram até agora abordados consiste no conteúdo das informações arquivadas.

Assim, enquanto os arquivos referidos no art. 44 são exclusivamente do Estado, os outros têmnatureza privada. Estes armazenam informações relativas aos consumidores, enquanto os arquivosdos órgãos públicos armazenam informações relativas aos fornecedores e seu comportamento nomercado, com o propósito de justamente orientar os consumidores. Exemplos: Decon, Procon,Departamento Nacional de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça e Vigilância Sanitária doMinistério da Saúde. Esses órgãos constituem-se, como diz Luiz Antonio Rizzatto Nunes31, no“troco” do CDC aos serviços de proteção ao crédito.

Tais informações precisam, necessariamente, ser divulgadas, para fazer cumprir o objetivoprecípuo dos cadastros, que é o de auxiliar o consumidor.

A divulgação deve ocorrer pelo menos uma vez por ano, e de forma pública, com o fim deatingir os consumidores que se encontram de forma difusa no mercado de consumo. A lei possibilitao acesso à pessoa interessada, entendendo-se que todo consumidor é interessado.

Em relação ao fornecedor o mesmo não ocorre, pois este deve demonstrar o interesse legítimo dasua consulta, para que as informações não sejam utilizadas com o condão de concorrência desleal.

Compartilhamos do entendimento de Herman Benjamin no tocante à indenização por parte doórgão público ao fornecedor. Aplicamos tal entendimento analogicamente aos bancos de dados ecadastros de consumidores, ou seja, à medida que os arquivos de consumo se limitam a prestarinformações objetivas, claras e precisas, dentro dos padrões estabelecidos no CDC – Comunicação,Acesso e Retificação de informações relativas ao mercado de consumo. Se por um lado os cadastrosde órgãos públicos estão simplesmente cumprindo um dever que lhe[s] é imposto por força de lei,os bancos de dados e cadastros de consumidores estão simplesmente exercendo uma atividade que éprevista e autorizada por lei. Nessa esteira, “a extraordinária rapidez com que os bancos de dadospodem elaborar perfis de informação do indivíduo (no assim dito ‘tempo zero’), a possibilidade dedesvio de finalidades na utilização dos próprios dados informativos e a falibilidade dos processosinformáticos constituem potencial ameaça aos direitos da personalidade, na medida em que produzem(ou podem produzir) situações constrangedoras, das quais a pessoa só se pode liberar mediantemeios modernos de tutela (entre os quais os agora previstos), dado que as soluções tradicionais semostram ineficazes para garantir a sua segurança e tutelar adequadamente seus interesses”32.

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Incidem subsidiariamente as regras dos arquivos de consumo privado aos cadastros de órgãospúblicos, aplicando-se também o habeas data para os fornecedores, afinal essa ação constitucionaltambém pode ser utilizada por pessoa jurídica.

Desta forma, o habeas data constitui-se em garantia fundamental, pois é um remédio processualque visa garantir a existência e o respeito de direitos fundamentais, exatamente como nos ensina omestre J. J. Gomes Canotilho, ao apontar que: “Rigorosamente as clássicas garantias são tambémdireitos, embora nelas se saliente o caráter instrumental de sua proteção”33.

Como o habeas data não comporta pedido indenizatório e nem proporciona a discussão acercada validade ou não do débito, outra alternativa ao consumidor é a proposição da ação deconhecimento com o pedido de antecipação da tutela para o levantamento da negativação, nos termosdos arts. 84 do CDC e 273 do CPC, inclusive com a cominação de astreintes para o caso de nãocumprimento da ordem judicial.

5.7.8 O posicionamento mais recente do STJ

O Egrégio Superior Tribunal de Justiça, a nosso ver, vem retrocedendo em sua posição sobre amatéria. Em julgado da lavra do Ministro César Asfor Rocha, o STJ tem adotado um posicionamentomais rígido para o levantamento da negativação que subsiste com o ajuizamento de ação judicial quequestiona o débito. Vejamos:

“Civil. Serviços de proteção ao crédito. Registro no rol de devedores. Hipóteses de impedimento. A recente orientação daSegunda Seção desta Corte acerca dos juros remuneratórios e da comissão de permanência (REsp’s ns. 271.214-RS, 407.097-RS,420.111-RS), e a relativa frequência com que devedores de quantias elevadas buscam, abusivamente, impedir o registro de seusnomes nos cadastros restritivos de crédito só e só por terem ajuizado ação revisional de seus débitos, sem nada pagar ou depositar,recomendam que esse impedimento deva ser aplicado com cautela, segundo o prudente exame do juiz, atendendo-se àspeculiaridades de cada caso. Para tanto, deve-se ter, necessária e concomitantemente, a presença desses três elementos: a)que haja ação proposta pelo devedor contestando a existência integral ou parcial do débito; b) que haja efetivademonstração de que a contestação da cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudênciaconsolidada do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; c) que, sendo a contestação apenas departe do débito, deposite o valor referente à parte tida por incontroversa, ou preste caução idônea, ao prudente arbítriodo magistrado. O Código de Defesa do Consumidor veio amparar o hipossuficiente, em defesa dos seus direitos, não servindo,contudo, de escudo para a perpetuação de dívidas. Recurso conhecido pelo dissídio, mas improvido” (REsp 527.618/RS, Rel. Min.Cesar Asfor Rocha, 2.ª Seção, j. 22.10.2003, DJ 24.11.2003, p. 214, grifos nossos).

Nesse mesmo sentido temos:

“Civil. Agravo regimental em recurso especial. Ação revisional. Inscrição nos órgãos de proteção ao crédito. Possibilidade. 1. Asimples discussão judicial da dívida não é suficiente para obstar a negativação do nome do devedor nos cadastros de inadimplentes.2. Agravo regimental a que se nega provimento” (STJ, AgRg no REsp 1002178/SP, Rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro[Desembargador convocado do TJ/AP], 4.ª Turma, j. 27.10.2009, DJe 09.11.2009).

A mesma postura, a nosso ver mais conservadora, é adotada em relação à prévia comunicação aoconsumidor sobre o lançamento de dados que ultimam a negativação:

“(...) A ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu nome emcadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, § 2.º, do CDC, enseja o direito àcompensação por danos morais, salvo quando preexista inscrição desabonadora regularmenterealizada. Precedente. Recurso especial provido para condenar a recorrida a pagar à recorrente

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compensação por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)” (STJ, REsp 901.584/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 17.09.2009, DJe 02.10.2009).

“Direito processual civil e bancário. Recurso especial. Inscrição em cadastro de proteção aocrédito. Prévia notificação. Desnecessidade de postagem da correspondência ao consumidorcom aviso de recebimento. Suficiência da comprovação do envio ao endereço fornecido pelocredor. I – Julgamento com efeitos do art. 543-C, § 7.º, do CPC. Para adimplemento, peloscadastros de inadimplência, da obrigação consubstanciada no art. 43, § 2.º, do CDC, basta quecomprovem a postagem, ao consumidor, de correspondência notificando-o quanto à inscrição deseu nome no respectivo cadastro, sendo desnecessário aviso de recebimento. A postagem deveráser dirigida ao endereço fornecido pelo credor. II – Julgamento do recurso representativo. AJurisprudência do STJ já se pacificou no sentido de não exigir que a prévia comunicação a quese refere o art. 43, § 2.º, do CDC, seja promovida mediante carta com aviso de recebimento.Não se conhece do recurso especial na hipótese em que o Tribunal não aprecia o fundamentoatacado pelo recorrente, não obstante a oposição de embargos declaratórios, e este não veiculasua irresignação com fundamento na violação do art. 535 do CPC. Súmula 211/STJ. O STJ jáconsolidou sua jurisprudência no sentido de que ‘a ausência de prévia comunicação aoconsumidor da inscrição do seu nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, §2.º do CDC, enseja o direito à compensação por danos morais, salvo quando preexista inscriçãodesabonadora regularmente realizada’ (Recurso Especiais em Processos Repetitivos n.s1.061.134/RS e 1.062.336/RS). Não se conhece do recurso especial quando o entendimentofirmado no acórdão recorrido se ajusta ao posicionamento do STJ quanto ao tema. Súmula n.83/STJ. Recurso especial improvido” (STJ, REsp 1083291/ RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, 2.ªSeção, j. 09.09.2009, DJe 20.10.2009).

“Agravo regimental. Código de defesa do consumidor. Registro em cadastro de proteção ao crédito. Ausência de comunicaçãoprévia. Dano moral caracterizado. 1. O registro do devedor em cadastro de proteção ao crédito, sem que haja prévia comunicaçãopor escrito, resulta em abalo moral a ser indenizado pela instituição responsável pela manutenção do cadastro. Precedentes. 2.Agravo regimental improvido (STJ, AgRg no Ag 832.123/SP, Rel. Min. Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), 3.ªTurma, j. 26.05.2009, DJe 04.06.2009).

Por fim, atente-se que sobre a matéria o STJ editou as seguintes súmulas:

• Súmula 404, de 24.11.2009. É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta decomunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados ecadastros.

• Súmula 385, de 08.06.2009. Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, nãocabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direitoao cancelamento.

• Súmula 359, de 08.09.2008. Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito anotificação do devedor antes de proceder à inscrição.

• Súmula 323, de 05.12.2005. A inscrição de inadimplente pode ser mantida nos serviços deproteção ao crédito por, no máximo, cinco anos, independentemente da prescrição daexecução.

• Súmula 2, de 18.05.1990. Não cabe o habeas data (CF, art. 5.º, LXXII, letra “a”) se nãohouve recusa de informações por parte da autoridade administrativa.

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5.8 QUESTÕES

1. (OAB-MT – Exame 01/2005) Consumidor cobrado indevidamente tem direito:(a) Ao ressarcimento da quantia paga mais perdas e danos.(b) À repetição do indébito, pelo valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e

juros legais.(c) À repetição do indébito, pelo valor igual ao que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais.(d) À Repetição do indébito por valor igual ao triplo ao que pagou em excesso.

2. (IX Exame de Ordem Unificado – FGV) Academia de ginástica veicula anúncio assinalando que os seus alunos,quando viajam ao exterior, podem se utilizar de rede mundial credenciada, presente em 60 países e 230cidades, sem custo adicional. Um ano após continuamente fazer tal divulgação, vários alunos reclamam que,em quase todos os países, é exigida tarifa de uso da unidade conveniada. A academia responde que areferência ao "sem custo adicional" refere-se à inexistência de acréscimo cobrado por ela, e não de eventualcobrança, no exterior, de terceiro. Acerca dessa situação, assinale a afirmativa correta.(a) A loja veicula publicidade enganosa, que se caracteriza como a que induz o consumidor a se comportar de forma

prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança.(b) A loja promove publicidade abusiva, pois anuncia informação parcialmente falsa, a respeito do preço e qualidade

do serviço.(c) Não há irregularidade, e as informações complementares podem ser facilmente buscadas na recepção ou com as

atendentes, sendo inviável que o ordenamento exija que detalhes sejam prestados, todos, no anúncio.(d) A loja faz publicidade enganosa, que se configura, basicamente, pela falsidade, total ou parcial, da informação

veiculada.

3. (OAB-SP – Exame 130) O titular de um direito que o exerce de modo abusivo, excedendo os limites da boa-féou de seu fim social, pratica ato(a) Ilícito e que pode ensejar reparação civil.(b) Lícito, mas que pode ensejar reparação civil.(c) Lícito, apesar do seu abuso.(d) Ilícito, mas sem possibilidade de reparação civil.

4. (OAB – Exame unificado 2007.1) Assinale a opção correta acerca do direito penal.(a) Constitui, em tese, delito contra as relações de consumo colocar no mercado refrigerantes em condições

impróprias para consumo.(b) O ordenamento jurídico permite a concessão de indulto aos condenados por homicídio qualificado.(c) O benefício da comutação de pena é ato privativo e discricionário dos congressistas, a quem compete estabelecer

os requisitos a serem preenchidos pelos sentenciados.(d) A circunstância de estar a arma municiada ou não é relevante para a configuração do delito de porte ilegal de arma

de fogo.

5. (OAB – Exame unificado 2007.1) O agente que mantém, no exterior, depósitos não declarados à repartiçãofederal competente pratica crime contra(a) As relações de consumo.(b) O sistema financeiro.(c) A ordem econômica.(d) A ordem tributária.

6. (OAB – Exame unificado 2007.1) Acerca do direito penal, assinale a opção correta.(a) Constitui crime contra as relações de consumo vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo,

especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda àrespectiva classificação oficial.

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(b) O crime de quadrilha ou bando possui natureza de delito instantâneo, mas de efeitos permanentes.(c) A pesca proibida pelo local ou época da atividade, ou pelo uso de petrechos proibidos, é crime material.(d) A ocultação, em proveito próprio, de coisa que se sabe ser produto de crime configura o delito de

condescendência criminosa.

7. (OAB 2010.2 – FVG) Sobre o tratamento da publicidade no Código de Defesa do Consumidor, é correto afirmarque:(a) a publicidade somente vincula o fornecedor se contiver informações falsas.(b) a publicidade que não informa sobre a origem do produto é considerada enganosa, mesmo quando não essencial

para o produto.(c) o ônus da prova da veracidade da mensagem publicitária cabe ao veículo de comunicação.(d) é abusiva a publicidade que desrespeita valores ambientais.

8. (OAB 2011.2 – FGV) Ao instalar um novo aparelho de televisão no quarto de seu filho, o consumidor verificaque a tecla de volume do controle remoto não está funcionando bem. Em contato com a loja onde adquiriu oproduto, é encaminhado à autorizada. O que esse consumidor pode exigir com base na lei, nesse momento,do comerciante?(a) A imediata substituição do produto por outro novo.(b) O dinheiro de volta.(c) O conserto do produto no prazo máximo de 30 dias.(d) Um produto idêntico emprestado enquanto durar o conserto.

GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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__________1 Sobre o assunto ver a obra de SANTOS, Fernando Gherardini. Direito do marketing. São Paulo: RT, 2000.2 “Procon – Infração ao art. 31 da Lei 8.078/1990 caracterizada – CDC – Vitrine externa com exposição de produtos sem

a respectiva indicação de preço – Irrelevante a existência de outras modalidades de verificação dos preços no interior daloja, pois o CDC e legislação pertinente exigem que as informações sobre os produtos expostos à venda, no caso navitrine externa da loja, sejam claras e os preços dos produtos estejam etiquetados diretamente no produto ou próximo aeles – Recurso improvido” (TJSP, Apelação Cível 9104985000, Rel. Pires de Araújo, 11.ª Câmara de Direito Público, j.10.08.2009).

3 A respeito, inicialmente o STJ entendeu que “os donos de supermercados devem fornecer ao consumidor, além docódigo de barras e do preço nas prateleiras, a afixação do preço em cada produto” (MS 5.986-DF, Rel. Min. GarciaVieira, 1.ª Seção, j. 13.10.1999, Informativo 36). Mais recentemente, no entanto, decidiu que “com a entrada em vigor daLei n. 10.962/2004, admitem-se várias maneiras de divulgar o preço e demais informações sobre os produtos postos àvenda. Essa lei, apesar de superveniente, tem influência no julgamento da causa e deve ser considerada, mesmo deofício, pelo STJ. Dessa forma, no caso, o supermercado recorrente não é mais obrigado a colocar etiquetas individuaisinformativas do preço em todos os produtos que vende, visto que adota o sistema de código de barras (art. 2.º, II,parágrafo único, da referida lei). Precedentes citados: REsp 663.969-RJ, DJ 2/6/2006; REsp 614.771-DF, DJ1.º.02.2006, e REsp 688.151-MG, DJ 8/8/2005” (REsp 813.626-MG, Rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª Turma, j. 1.º.10.2009,Informativo 409).

4 Comentários ao Código..., p. 455.5 Ver a Portaria 7, de 3 de setembro de 2003, da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça que

complementa o rol de práticas abusivas do artigo 39.6 Para uma leitura mais aprofundada sobre o tema, ver SÁ, Fernando Augusto Cunha de. Abuso do direito. Coimbra:

Almedina, 1997.7 Abuso do direito nos contratos de consumo. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 70.8 REsp 1.061.530/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, 2.ª Seção, j. 22.10.2008, DJe 10.03.2009.9 Ver sobre o assunto: obra de nossa autoria, Bancos de dados nas relações de consumo – A manipulação de dados

pessoais, os órgãos de restrição ao crédito e o habeas data. São Paulo: Max Limonad, 2002. COVIZZI, Carlos AdroaldoRamos. Práticas abusivas da Serasa e do SPC. São Paulo: Edipro, 2000; BESSA, Leonardo Roscoe. O consumidor eos limites dos bancos de dados de proteção ao crédito. São Paulo: RT, 2003; EFING, Antônio Carlos. Bancos de dadose cadastros de consumidores. São Paulo: RT, 2002.

10 COELHO, Fábio Ulhôa. Comentários ao código de proteção do consumidor, p. 175.11 CDC comentado pelos autores do anteprojeto, p. 349.12 Nos EUA os três principais bancos de dados de consumo são o TRW Information Services, o Equifax Credit

Information Services e o Trans-Union Information Company, com atuação em todo o território norte-americano. VideBENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos et al, op. cit., p. 340.

13 STURNER, Bertram Antônio. Bancos de dados e “habeas-data” no código do consumidor, p. 10-11.14 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos et al, op. cit., p. 345.15 ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor, p. 96.16 BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcellos e, op. cit., p. 256.17 Ibidem, p. 360.18 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, v. 1, p. 199.19 Ibidem, p. 200.20 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e, op. cit., p. 354.21 É o que informa o autor de sua redação, Herman de Vasconcellos e Benjamin: “Primeiro, foi útil a estrutura do National

Consumer Act, na sua primeira versão final (First Final Draft), um anteprojeto de lei-modelo preparado pelo NationalConsumer Law Center. Segundo, levei em conta o Fair Credit Reporting Act (FCRA), aprovado pelo Congressoamericano em 1970 e ainda em vigor, incorporado ao Consumer Credit Protection Act, como seu título VI”. Op. cit., p.340.

22 Aplicam-se aos bancos de dados os incisos X a XV do art. 13 do Decreto 2.181/1997, que implantou a organização eregulamentou o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor.

23 Em São Paulo foi editada a Lei Estadual 10.337, de 30 de junho de 1999, que dispõe sobre as obrigações dos bancosde dados e cadastros relativos a consumidores e dos serviços de proteção ao crédito e congêneres, em comunicar,

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imediatamente e por escrito, ao consumidor, quando da abertura de qualquer cadastro, ficha ou registro de dadospessoais e de consumo que envolvam seu nome ou número de inscrição no CPF/MF. Prevê ainda a obrigação dosbancos de dados em expurgar de seus sistemas as informações das pessoas que tenham quitado seus débitos, ouque, por decisão judicial, tiveram julgadas como extintas eventuais demandas causadoras de restrições creditórias. Emnossa opinião, como veremos adiante, não poderá o banco de dados consignar informação que é objeto de controvérsiajudicial, razão pela qual entendemos ser inconstitucional o parágrafo único do art. 1.º da lei em exame, que permite, acontrario sensu, o lançamento de informações que estejam sob análise judicial e que ainda não foram objeto desentença.

24 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e, op. cit., p. 260-262.25 Essa é a orientação de Benjamin, Código..., p. 364.26 Ibidem, p. 366.27 Práticas abusivas da Serasa e do SPC – doutrina, legislação e jurisprudência, p. 18.28 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao código de defesa do consumidor: direito material, p. 54.29 Nesse sentido TJSP, Ap. 254.356-2/0, 14.ª Câm. Civ., Rel. Ruiter Oliva; TJSP, Ap. 257.849-2, 15.ª Câm. Civ., Rel. Rui

Camilo, v.u.; 1.º TACiv-SP, Ap. 405.511-6, 3.ª Câm., Rel. Antonio de Pádua Ferraz Nogueira; e também STJ, REsp180.843-RS, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito; STJ, REsp 161.151-SC, rel. Min. Waldemar Zveiter; STJ, REsp180.665-PE, rel. Min. Silvio de Figueiredo Teixeira; STJ, REsp 170.281-SC, rel. Min. Barros Monteiro: “Constituiconstrangimento e ameaça vedados pela Lei n. 8.078/90, o registro de nome de consumidor em cadastro de proteçãoao crédito, quando o montante da dívida é ainda objeto de discussão em juízo”.

30 Op. cit., p. 370.31 Comentários ao código..., p. 526.32 GUERREIRO, José Alexandre Tavares. Comentários ao código do consumidor, p. 143.33 Direito constitucional, p. 437.

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DA PROTEÇÃO CONTRATUAL

6.1 INTRODUÇÃO1

No campo dos contratos o CDC foi bastante inovador. Instituiu o princípio da função social doscontratos, da boa-fé objetiva, do dever de cooperação entre as partes, da proibição das cláusulasabusivas, da conservação dos contratos e o direito de revisão, todos já abordados. Tal avanço sedeve ao fato de que nas relações de consumo há a presença em grande escala dos contratos deadesão, cujas cláusulas são previamente fixadas pelos fornecedores. Não há total liberdade para oconsumidor contratar com quem quiser, quando quiser e como quiser. O pacta sunt servanda dasrelações privadas pressupõe o equilíbrio inexistente nas relações de consumo. Alguns dessesprincípios já estão positivados no Código Civil de 2002, o que representa grande avanço para odireito brasileiro.

Por isso, os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, senão lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se osrespectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido ealcance. Trata-se do princípio da informação e da transparência.

Por haver flagrante desequilíbrio nos contratos de consumo é que as cláusulas contratuais serãointerpretadas de maneira mais favorável ao consumidor2, e as declarações de vontade constantes deescritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam ofornecedor, ensejando inclusive execução específica.

Como no mercado são utilizadas diversas técnicas e veículos para levar produtos e serviços aosconsumidores, como telefone, internet e vendas a domicílio, ao consumidor é dado o direito dedesistir do contrato, no prazo de sete dias, a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento doproduto ou serviço, por ser a contratação de fornecimento de produtos e serviços firmada fora doestabelecimento comercial. Exercido esse direito de reflexão, os valores eventualmente pagos, aqualquer título, serão devolvidos de imediato e monetariamente atualizados.

Como já abordado, o CDC instituiu sistemática de garantia legal de adequação dos produtos eserviços com prazos específicos. Nesse sentido, permite a lei que o fornecedor estipule em contratoprazos de garantia superiores aos fixados pela lei. Assim, determina o CDC que a garantia contratualé complementar à legal e será conferida mediante termo escrito, devendo ser padronizado eesclarecer, de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e olugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue,

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devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual deinstrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com ilustrações. Note-se que agarantia contratual é complementar à legal, ou seja, ao prazo estabelecido na lei (90 dias para bensduráveis e 30 dias para bens não duráveis – art. 26 do CDC) soma-se o fixado no contrato. Porexemplo, se o fornecedor oferta garantia contratual de um ano para determinado produto durável, istosignifica que ao consumidor é dada a garantia de um ano e noventa dias contados da efetiva entregado produto. Atente-se, ainda, que, nos termos do art. 74 do CDC, deixar de entregar ao consumidor otermo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo, sujeita oinfrator à pena de detenção de um a seis meses ou multa.

6.2 DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS

Assim como no art. 39, o CDC, em seu art. 51, elencou um rol exemplificativo de cláusulasabusivas que se completam por outras assim consideradas no caso concreto pelo juiz de direito, oupela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, que a partir de estudos e da análisedas reclamações dos consumidores junto aos órgãos administrativos de defesa do consumidor e dajurisprudência brasileira, edita portarias que complementam referidas cláusulas3.

Antes de abordá-las, note-se que referidas cláusulas são nulas de pleno direito e, porconseguinte, referida nulidade absoluta é imprescritível. Nesse sentido, a nulidade de uma cláusulacontratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços deintegração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes. Ao consumidor ou associações deconsumidores é facultado requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para serdeclarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto no CDC ou que de qualquerforma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.

Assim, conforme o art. 51 do CDC, são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulascontratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios dequalquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos.Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenizaçãopoderá ser limitada, em situações justificáveis. Por serem normas de ordem pública, é defesoàs partes excluírem a sua aplicação pela via contratual. Tal procedimento só é possível à pessoajurídica na qualidade de consumidora, uma vez que há o pressuposto de encontrar-se em menorgrau de vulnerabilidade.

I I – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casosprevistos neste código. Trata das hipóteses já trabalhadas dos artigos 20 e 49.

III – transfiram responsabilidades a terceiros.IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor

em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.V – Vetado.VI – estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor. Reforça a regra do

inciso VIII do art. 6.º do CDC.

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VII – determinem a utilização compulsória de arbitragem. Trata da aplicação às relações deconsumo da Lei 9.307/1996, que é perfeitamente possível desde que seja fruto do consenso daspartes e não de prévia e compulsória determinação.

VIII – imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico peloconsumidor. Proíbe as cláusulas-mandato por suprirem a vontade do consumidor.

IX – deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando oconsumidor. Trata-se de cláusula relacionada com o inciso XII do art. 39.

X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneiraunilateral. Trata-se de cláusula relacionada com os incisos X e XIII do art. 39.

XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direitoseja conferido ao consumidor.

XII – obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem queigual direito lhe seja conferido contra o fornecedor.

XIII – autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade docontrato, após sua celebração.

XIV – infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais.XV – estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor.XVI – possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

6.3 DOS CONTRATOS SUCESSIVOS E CLÁUSULAS PENAIS

O mercado de consumo é caracterizado pela presença marcante de um elemento fundamental, ocrédito. Por essa razão, grande parte dos contratos de consumo é de trato sucessivo ou diferido. Aprestação do consumidor (que em regra consubstancia-se no pagamento de produtos e serviços) deveser executada por meio de diversos atos sucessivos. Por isso, estabelece o CDC que no fornecimentode produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento aoconsumidor, o fornecedor deverá informá-lo prévia e adequadamente sobre o preço do produto ouserviço em moeda corrente nacional, o montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros,os acréscimos legalmente previstos, o número e periodicidade das prestações, e a soma total a pagar,com e sem financiamento. Trata-se de informações essenciais para que o consumidor possalivremente formar sua convicção em contratar.

Nesse compasso fixa o limite máximo de 2% do valor do contrato para a fixação das cláusulaspenais moratórias.

Assegura ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, antes do termoda obrigação, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

6.4 DOS CONTRATOS DE COMPRA E VENDA E CONSÓRCIOS

Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis, que devem ser sempre expressos emmoeda nacional, mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias emgarantia, considera o CDC que as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas embenefício do credor que, em razão do inadimplemento do consumidor, pleitear a resolução do

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contrato e a retomada do produto alienado, são nulas de pleno direito e, portanto, abusivas.Já para os contratos firmados no sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a

restituição das parcelas quitadas terá descontados, além da vantagem econômica auferida com afruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo. Atente-se que a Lei 11.795,de 8 de outubro de 2008, regula o sistema de consórcio e possibilita a aplicação da sistemáticatambém aos serviços, já que nos termos de seu art. 2.º: “consórcio é a reunião de pessoas naturais ejurídicas em grupo, com prazo de duração e número de cotas previamente determinados, promovidapor administradora de consórcio, com a finalidade de propiciar a seus integrantes, de formaisonômica, a aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento”.

6.5 DOS CONTRATOS DE ADESÃO

Define a lei que o Contrato de Adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pelaautoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços,sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo (art. 54, caput, doCDC). Nesse sentido, a prática muito comum de inserção de cláusula no formulário não desfigura asua natureza de adesão.

Exige o CDC que esses contratos sejam redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos elegíveis, sendo que as cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão serredigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. Coíbe-se, assim, a práticamuito comum de confecção de contratos com letras praticamente ilegíveis, o que comprometedemasiadamente a pouca liberdade do consumidor em contratar e a sua livre manifestação devontade4.

Nesta modalidade contratual é lícita a cláusula resolutória desde que a alternativa caiba aoconsumidor, ressalvadas as disposições atinentes aos contratos de consórcio.

Atente-se que a Lei 11.785, de 22 de setembro de 2008, introduziu o § 3.º ao art. 54 do CDC,para determinar que “os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e comcaracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo afacilitar sua compreensão pelo consumidor”.

Essa forma contratual também é adotada nas relações privadas5. Em importante trabalho sobre otema, Eliseu Jusefovicz aponta que o capitalismo moderno trouxe novos ares e a necessidade deagilização das transações sem perda do controle pela empresa. “Foi necessário deixar de lado ocontrato paritário com cláusulas discutidas e, por razões ligadas às necessidades da economia –questões de racionalidade econômica e redução de custos –, assim como decorrentes damassificação, iniciou-se, então, a contratação padronizada e de adesão. Assim, por um lado, osurgimento da padronização na contratação se deve ao intuito dos predisponentes de aumentar amargem de segurança contra os riscos, diminuir a carga de detalhamento na elaboração de grandenúmero de contratos e aumentar a eficiência produtiva no relacionamento com a grande massa declientes. Nesse diapasão, acentua que atualmente, o impulso mais forte do desenvolvimento dapadronização dos contratos está ligado à criação de mecanismos para aumentar a rentabilidade e aeficiência empresariais na fase superior do capitalismo, na qual a concentração empresarial e acompetitividade são características. Por isso, essa prática começou com os trabalhadores e

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consumidores, porém, paulatinamente, a massificação dos contratos alastrou-se para todos osâmbitos da contratação, inclusive entre empresas, com a adoção da prefixação unilateral e uniformede cláusulas contratuais, muitas vezes com a utilização de ‘cláusulas contratuais gerais’estabelecidas para a generalidade dos seus clientes e fornecedores”6.

Assim, a economia brasileira superoligopolizada7 exigiu a reformulação da legislação antitruste,com a edição da Lei 8.884/1994 e, em 2011, da Lei 12.529, mas, por outro lado, fez surgir acrescente adoção dos contratos de adesão nas relações empresariais, ante a massificação dasrelações jurídicas e a necessidade de se conhecer antecipadamente as condições de aquisição debens e serviços.

Esse cenário impulsionou o Código Civil de 2002 a disciplinar esse modelo de contrato em doisdispositivos:

“Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultanteda natureza do negócio” (Grifamos).

Note-se que referido regramento está esculpido nas disposições gerais dos Contratos em Geral.Por isso, atente-se que o Código Civil de 2002 não dá aos contratos de adesão a condição decontrato em espécie, mas sim de modelo contratual a ser adotado pelos entes privados em virtudedas características da relação jurídica concreta.

Como asseveram Paulo Restiffe Neto e Paulo Sérgio Restiffe, o “equilíbrio dos interessescontrapostos, considerado essencial nos negócios jurídicos contratuais, não existe nas relaçõesdecorrentes de contrato de adesão; mas nem por isso seriam ilegítimos, até porque incide um sistemacompensatório de defesa ou proteção do aderente. Em outras palavras, o aspecto paritário (grès àgrès – acordo de vontades) dos contratos cede espaço à necessária adesão”8.

Assim, ante o fenômeno do mercado de massas, o Estado também deve intervir nas relações denatureza privada. Essa intervenção é concretizada com as balizas da boa-fé objetiva e da funçãosocial dos contratos, para estabelecer o equilíbrio natural existente nas relações entre particulares,resguardando a equivalência das prestações.

Nessa perspectiva, o Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal fez publicarentendimento de que a função social do contrato, prevista no art. 421 do Código Civil de 2002,constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteise justas9. Ao juiz, nos termos da cláusula geral do art. 422 do Código Civil, impõe-se a interpretaçãodo contrato e, quando necessário, a supressão e correção do contrato segundo a boa-fé objetiva,entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes10.

Essa é a gênese de se considerar eivada de nulidade absoluta a cláusula contratual que imponhaao aderente a renúncia ou disposição antecipada de direitos resultantes da natureza do negócio (art.424 do CC), lembrando que, consoante o art. 114 do CC, toda renúncia deve ser interpretadaestritamente.

Seguindo a esteira de que todo negócio jurídico deve ser interpretado conforme a boa-fé –eticidade (art. 113 do CC), inclusive aqueles decorrentes dos contratos de adesão, a exemplo do art.

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47 do CDC, deve-se sempre adotar a interpretação mais favorável ao aderente – art. 423 do CC.Essas também são as razões que nos levam a concluir que a cláusula compromissória compulsória aoaderente em contrato de adesão é nula, já que nesses moldes implica na renúncia antecipada à tutelajurisdicional, a exemplo do que ocorre com referidas cláusulas nos contratos de consumo.

6.6 DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS

Em 15 de março de 2013, foi editado o Decreto nº 7.962, de 15 de março de 2013, queregulamenta o CDC, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico.

Esse regulamento visa garantir informações claras a respeito do produto, do serviço e dofornecedor, o atendimento facilitado ao consumidor e o respeito ao direito de arrependimento nessascontratações.

Estabelece que os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados para oferta ouconclusão de contrato de consumo devem disponibilizar, em local de destaque e de fácilvisualização, o nome empresarial e número de inscrição do fornecedor, quando houver, no CadastroNacional de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério daFazenda; o endereço físico e eletrônico, e demais informações necessárias para sua localização econtato; as características essenciais do produto ou do serviço, incluídos os riscos à saúde e àsegurança dos consumidores; a discriminação, no preço, de quaisquer despesas adicionais ouacessórias, tais como as de entrega ou seguros; as condições integrais da oferta, incluídasmodalidades de pagamento, disponibilidade, forma e prazo da execução do serviço ou da entrega oudisponibilização do produto; e informações claras e ostensivas a respeito de quaisquer restrições àfruição da oferta.

Essas informações também são exigidas no caso de compras coletivas, hipótese em que devemser também disponibilizadas informações referentes à quantidade mínima de consumidores para aefetivação do contrato; o prazo para utilização da oferta pelo consumidor; e a identificação dofornecedor responsável pelo sítio eletrônico e do fornecedor do produto ou serviço ofertado.

Em relação ao atendimento facilitado ao consumidor no comércio eletrônico, o fornecedordeverá apresentar sumário do contrato antes da contratação, com as informações necessárias aopleno exercício do direito de escolha do consumidor, enfatizadas as cláusulas que limitem direitos.Deverá disponibilizar ferramentas eficazes ao consumidor para identificação e correção imediata deerros ocorridos nas etapas anteriores à finalização da contratação, confirmando imediatamente orecebimento da aceitação da oferta, com mecanismos de segurança eficazes para pagamento e paratratamento de dados do consumidor. Feito isso, o fornecedor deverá garantir ao consumidor ocontrato em meio que permita sua conservação e reprodução. Após a contratação, deve ser mantidoserviço adequado e eficaz de atendimento em meio eletrônico, que possibilite ao consumidor aresolução de demandas referentes a informação, dúvida, reclamação, suspensão ou cancelamento docontrato, com a confirmação imediata de seu recebimento. A manifestação do fornecedor em relaçãoa essas demandas deve ser encaminhada ao consumidor em até cinco dias.

Nos termos do art. 49 do CDC, o Decreto 7.962/2013 trata do direito de arrependimento nocomércio eletrônico. Para tanto, prescreve que o consumidor poderá exercer esse direito pela mesmaferramenta utilizada para a contratação, sem prejuízo de outros meios disponibilizados, com a

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garantia do recebimento da confirmação imediata pelo fornecedor. Saliente-se que o exercício dessedireito implica a rescisão contratual, inclusive de eventuais contratos acessórios, sem qualquer ônusao consumidor. Importante obrigação imposta ao fornecedor é a de informar, imediatamente ainstituição financeira ou administradora do cartão de crédito ou similar, sobre a rescisão contratual,para que a transação não seja lançada na fatura do consumidor, ou seja efetivado o estorno do valor,caso o lançamento já tenha sido realizado.

Por fim, lembremos que às contratações eletrônicas devem ser aplicadas todas as disposiçõesprevistas no CDC, sobretudo acerca da oferta, proteção contratual e sanções administrativas.

6.7 QUESTÕES

1. (VIII Exame de Ordem Unificado – FGV) João celebrou contrato de seguro de vida e invalidez, aderindo aplano oferecido por conhecida rede particular. O contrato de adesão, válido por cinco anos, prevê apossibilidade de cancelamento, em favor da seguradora, antes de ocorrer o sinistro, por alegação dedesequilíbrio econômico-financeiro. A esse respeito, assinale a afirmativa correta.(a) Os contratos de seguro ofertados no mercado de consumo, apesar de serem de adesão, são regidos pelo Código

Civil, e a eles se aplica o Código de Defesa do Consumidor apenas subsidiariamente e em casos estritos.(b) A cláusula prevista, que estipula a possibilidade de cancelamento unilateral do contrato em caso de desequilíbrio

econômico, seria viável desde que exercida na primeira metade do contrato.(c) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar demanda contra a seguradora, buscando ser declarada a

nulidade da cláusula contratual celebrada com os consumidores, e que seja proibido à seguradora continuar aofertá-la no mercado de consumo.

(d) A cláusula prevista no contrato celebrado por João não é abusiva, pois o seguro deve atentar para a equaçãofinanceira atuarial, necessária ao equilíbrio econômico da avença e à própria higidez e continuidade do contrato.

2. (OAB-SP – Exame 121) No fornecimento de produtos ou serviços que envolvam outorga de crédito ouconcessão de financiamento ao consumidor,(a) É assegurada ao consumidor apenas a liquidação total do débito, sem redução dos juros.(b) Não é assegurada ao consumidor a liquidação antecipada do débito total.(c) Não é assegurada ao consumidor a redução proporcional dos juros e demais encargos.(d) É assegurada ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução

proporcional dos juros e demais acréscimos.

3. (OAB-MG – Exame de abril/2008) O Juiz deverá, sempre que possível e requerido por uma das partes, darpreferência à revisão do que à extinção do contrato. Isso com base no princípio:(a) Da função social dos contratos.(b) Pacta sunt servanda.(c) Da boa-fé objetiva.(d) Da boa-fé subjetiva.

4. (OAB-RS – Exame 03/2006) Em se tratando de tutela do consumidor, é correto afirmar que(a) São passíveis de anulabilidade as cláusulas consideradas abusivas.(b) A invalidade de uma cláusula abusiva, em princípio, não invalida todo o contrato.(c) É de 10% o valor da multa moratória.(d) Os contratos de adesão podem conter cláusula que inverta o ônus de prova em prejuízo do consumidor.

5. (OAB-RS – Exame 02/2006) Em se tratando de tutela do consumidor, assinale a assertiva correta.(a) Apenas as pessoas físicas são consideradas, pela lei, consumidores.

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(b) As relações trabalhistas podem ser também reguladas pela Lei de Defesa do Consumidor.(c) O comerciante é sempre solidário com o fabricante frente ao consumidor nos casos de responsabilidade

decorrente do produto.(d) A desistência do contrato pelo consumidor somente é cabível para as contratações ocorridas fora do

estabelecimento comercial, se exercida no prazo de 7 dias.

6. (OAB-PR – Exame 01.2007) Sobre os direitos do consumidor, assinale a alternativa INCORRETA:(a) O contrato de adesão é um tipo cuja cláusula tenha sido aprovada pela autoridade competente ou estabeleça

unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificarsubstancialmente seu conteúdo.

(b) O dever de informar é relevante, pois os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão osconsumidores se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se osrespectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

(c) Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nasalienações fiduciárias em garantia, consideram-se anuláveis as cláusulas que estabeleçam a perda total dasprestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e aretomada do produto alienado.

(d) Por incrível que pareça, é infração penal deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores anocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado.

7. (OAB – Exame unificado 2007.2) Em um contrato de consumo, não é considerada abusiva a cláusula que(a) Estabelece a inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor.(b) Determina a utilização compulsória de arbitragem.(c) Estabelece a remessa do nome do consumidor inadimplente para bancos de dados ou cadastros de

consumidores.(d) Transfere responsabilidades a terceiros.

8. (OAB – Exame unificado n. 2007.3) Considerando-se a relação jurídica em face da proteção contratualordenada pelo CDC, é correto afirmar que um consumidor que tenha comprado produto mediante pagamentoem 10 prestações(a) Dispõe de até 7 dias para desistir da compra realizada, desde que ela tenha sido efetuada no estabelecimento

comercial do fornecedor.(b) Pode escolher, no ato da compra, se a garantia do fornecedor contra defeitos aparentes ou ocultos que ocorram

no produto adquirido será ou legal ou contratual.(c) Pode liquidar antecipadamente o débito em questão, total ou parcialmente, exigindo redução proporcional dos juros

cobrados.(d) Deve ser imediatamente indenizado caso o produto apresente problemas, preferencialmente mediante abatimento

do valor da indenização nas prestações vincendas.

9. (OAB 2011.2 – FGV) Quando a contratação ocorre por site da internet, o consumidor pode desistir da compra?(a) Sim. Quando a compra é feita pela internet, o consumidor pode desistir da compra em até 30 dias depois que

recebe o produto.(b) Não. Quando a compra é feita pela internet, o consumidor é obrigado a ficar com o produto, a menos que ele

apresente vício. Só nessa hipótese o consumidor pode desistir.(c) Não. O direito de arrependimento só existe para as compras feitas na própria loja, e não pela internet.(d) Sim. Quando a compra é feita fora do estabelecimento comercial, o consumidor pode desistir do contrato no prazo

de sete dias, mesmo sem apresentar seus motivos para a desistência.

GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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__________1 Sobre o assunto ver a obra de CASADO, Márcio Mello. Proteção do consumidor de crédito bancário e financeiro. São

Paulo: RT, 2000; a obra de NOVAIS, Alinne Arquette Leite. A teoria contratual e o código de defesa do consumidor. SãoPaulo: RT, 2001; MACEDO JR., Ronaldo Porto. Contratos relacionais e defesa do consumidor. São Paulo: MaxLimonad, 1998; MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. São Paulo: RT, 2002;GALDINO, Valéria Silva. Cláusulas abusivas. São Paulo: Saraiva, 2001; e a obra de DONNINI, Rogério José Ferraz. Arevisão dos contratos no código civil e no código de defesa do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2001.

2 “[...] Contratos de seguro médico, porque de adesão, devem ser interpretados em favor do consumidor. [...]” (STJ –AgRg no Ag n. 311.830/SP, Rel. Ministro Castro Filho, Terceira Turma, j. 26.02.2002, DJ de 1.º.04.2002, p. 182).

3 Ver Portarias SDE 4, de 13.09.1998; 3, de 10.03.1999; 3, de 15.03.2001; 5, de 27.08.2002; e 7, de 03.09.2003.4 “Código de Defesa do Consumidor. Plano de saúde. Limitação de direitos. Admissibilidade. Os contratos de adesão são

permitidos em lei. O CDC impõe, tão somente, que ‘as cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidordeverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão’. Destarte, ainda que se deva, emprincípio, dar interpretação favorável ao adquirente de plano de saúde, não há como impor-se responsabilidade porcobertura que, por cláusula expressa e de fácil verificação, tenha sido excluída do contrato. Recurso não conhecido,com ressalvas quanto à terminologia” (STJ, REsp 319.707/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Min. CastroFilho, 3.ª Turma, j. 07.11.2002, DJ 28.04.2003 p. 198); “[...] Acolhida a premissa de que a cláusula excludente seriadúbia e de duvidosa clareza, sua interpretação deve favorecer o segurado, nos termos do art. 54, § 4.º do Código deDefesa do Consumidor. Com efeito, nos contratos de adesão, as cláusulas limitativas ao direito do consumidorcontratante deverão ser redigidas com clareza e destaque, para que não fujam de sua percepção leiga” (STJ, REsp311.509/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª Turma, j. 03.05.2001, DJ 25.06.2001, p. 196).

5 Ver artigo de nossa autoria sobre o Panorama dos contratos de adesão nas relações privadas e a experiênciaconsumerista.

6 Padronização e cláusulas abusivas, p. 156-158.7 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor, p. 69.8 Contratos de adesão no novo código civil, p. 59.9 Enunciado 22.10 Enunciado 26.

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DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

7.1 INTRODUÇÃO1

A fixação das Sanções Administrativas nada mais é do que regular o Poder de Polícia daAdministração Pública na fiscalização do cumprimento das regras inerentes à defesa do consumidor.Visam preservar a vida, a saúde, a segurança, a informação (interesse econômico) e o bem-estar doconsumidor. São aplicadas independentemente das sanções de natureza penal e civil. Trata-se datríplice sanção nas relações de consumo. Decorre do poder de polícia da administração pública nadefesa do consumidor, previsto no art. 78 da Lei 5.172/1966 – Código Tributário Nacional. Assim,“considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinandodireito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interessepúblico concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e domercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do PoderPúblico, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais oucoletivos”. Nessa esteira, considera-se regular o exercício do poder de polícia quandodesempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processolegal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.

Assim, compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal, em caráter concorrente e nas suasrespectivas áreas de atuação administrativa (art. 24 da CF), editar as normas relativas à produção,industrialização, distribuição e consumo de produtos e serviços. Deverão também fiscalizar econtrolar a produção, a industrialização, a distribuição, a publicidade de produtos e serviços e omercado de consumo, no interesse da preservação da vida, da saúde, da segurança, da informação edo bem-estar do consumidor, editando as normas que se fizerem necessárias. Poderão também osórgãos oficiais expedir notificações aos fornecedores para que, sob pena de desobediência, presteminformações sobre questões de interesse do consumidor, resguardado o segredo industrial.

As sanções administrativas são aplicadas independentemente das sanções de natureza penal ecivil, pois são cumuláveis. Desta feita, são sanções administrativas previstas no art. 56 do CDC:

I – multa;II – apreensão do produto;III – inutilização do produto;IV – cassação do registro do produto junto ao órgão competente;

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V – proibição de fabricação do produto;VI – suspensão de fornecimento de produtos ou serviço;VII – suspensão temporária de atividade;VIII – revogação de concessão ou permissão de uso;IX – cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;X – interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade;XI – intervenção administrativa;

XII – imposição de contrapropaganda.

Atente-se para o prescrito no Decreto 2.181, de 20 de março de 1997, que ao regulamentar oCDC complementou o rol de práticas infrativas e regrou as competências do Sistema Nacional deDefesa do Consumidor.

As penas de multa, graduadas de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida e acondição econômica do fornecedor, serão aplicadas mediante procedimento administrativo nostermos da lei, revertendo para o fundo de que trata a Lei 7.347, de 24 de julho de 1985 – Ação CivilPública, sendo a infração ou dano de âmbito nacional, ou para os fundos estaduais de proteção aoconsumidor nos demais casos. Tais multas não devem, nunca, ser em montante inferior a trezentas ousuperior a três milhões de vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN), ou índiceequivalente que venha substituí-lo.

Quando forem constatados vícios de quantidade ou de qualidade por inadequação ou insegurançado produto ou serviço, serão aplicadas as penas de apreensão, de inutilização de produtos, deproibição de fabricação de produtos, de suspensão do fornecimento de produto ou serviço, decassação do registro do produto e revogação da concessão ou permissão de uso, medianteprocedimento administrativo, assegurada ampla defesa (art. 58 do CDC).

Quando o fornecedor reincidir na prática das infrações de maior gravidade previstas nalegislação de consumo, as penas de cassação de alvará de licença, de interdição e de suspensãotemporária da atividade, bem como a de intervenção administrativa, serão aplicadas medianteprocedimento administrativo, assegurada a ampla defesa (art. 59 do CDC).

Por fim, a pena de cassação da concessão será aplicada à concessionária de serviço público,quando violar obrigação legal ou contratual. A pena de intervenção administrativa será aplicadasempre que as circunstâncias de fato desaconselharem a cassação de licença, a interdição ou asuspensão da atividade.

Pendendo ação judicial na qual se discuta a imposição de penalidade administrativa, não haveráreincidência até o trânsito em julgado da sentença.

7.2 QUESTÃO

1. (OAB-PR – Exame 02/2007) Sobre o direito das relações de consumo, analise as afirmativas abaixo e assinale aalternativa CORRETA:I – As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, a sanções administrativas,

sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas como a multa, apreensão doproduto, inutilização do produto, cassação do registro do produto junto ao órgão competente, dentre outras.

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II – As penas de apreensão, de inutilização de produtos, de proibição de fabricação de produtos, de suspensão dofornecimento de produto ou serviço, serão aplicadas pela administração, mediante procedimento administrativo,assegurada ampla defesa, quando forem constatados vícios de quantidade ou de qualidade por inadequação ouinsegurança do produto ou serviço.

III – Incorre em infração penal aquele que omite dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade deprodutos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade, com pena de detenção de seis meses adois anos.

IV – Incorre em infração penal aquele que utiliza, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físicoou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha oconsumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer, cuja pena é dedetenção de três meses a um ano e multa.

(a) Todas as afirmativas estão corretas.(b) Apenas as afirmativas II e IV estão corretas.(c) As afirmativas I e IV estão incorretas.(d) Apenas as afirmativas III e IV estão incorretas.

GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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__________1 Sobre o assunto é de leitura obrigatória o Manual de direitos do consumidor, de José Geraldo Brito Filomeno.

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A DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

8.1 INTRODUÇÃO

Até a edição do CDC, as demandas de consumo eram solucionadas por meio da legislaçãoexistente à época, ou seja, a Lei 4.717/1965 – Ação Popular, a Lei 7.347/1985 – Ação Civil Públicae o Código de Processo Civil, no campo das normas adjetivas, e o Código Civil e Comercial, nocampo das normas substantivas. No entanto, esses regramentos se revelaram insuficientes para asolução dos conflitos de consumo. Era preciso avançar mais. Por essa razão, o CDC possui normasde natureza material (analisadas até agora) e normas de natureza processual que cuidam da defesa doconsumidor em juízo. Ao lado da Lei 4.717/1965 – Ação Popular e da Lei 7.347/1985 – Ação CivilPública, constituem a chama jurisdição civil coletiva, que será adiante abordada.

8.2 A JURISDIÇÃO CIVIL COLETIVA

É de se ressaltar que a jurisdição civil coletiva não é um fenômeno propriamente novo, que teriasurgido com o advento da Constituição Federal de 1988. Antes de adentrarmos propriamente najurisdição coletiva, resgataremos um pouco de seu aspecto histórico. Não obstante a própria açãopopular, embora em outros moldes, ter origem no Direito Romano1, é no século XVIII que o direitoprocessual, sob influência das ideias da Revolução Francesa, firmou-se, caracterizado pela tutelaindividual. Desta forma, o ordenamento brasileiro também ficou marcado pela esfera individualista,visto que seguia os modelos importados da Europa.

Celso A. P. Fiorillo, Marcelo A. Rodrigues e Rosa Maria A. Nery resgatam com propriedadeeste processo:

“Os ideais da Revolução Francesa foram içados à categoria de objetivos a serem alcançados,mas num sentido que bem traduz a filosofia dessa época, que era a do laissez-faire, laissez-passer,ou seja, a igualdade, a fraternidade e a liberdade deveriam ser alavancadas para a formação de umEstado Liberal que não condenasse o lucro, e cujas regras da economia deveriam ser ditadas por elamesma. Consagrou-se o predomínio do individualismo liberal, numa sociedade que deveriaprivilegiar a exigência de uma rápida circulação de riqueza e garantir, ao nascente sistema damoderna empresa, um coeficiente relevante de acumulação de capital.

(...) E foi neste espírito que os primeiros códigos, matrizes das demais legislações subsequentes,foram formados. Sempre, pois, revelando o caráter individualista em todos os setores, seja no

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econômico, político ou judicial. No Brasil não foi diferente, posto que, apesar de ser codificadomuito depois, foi influenciado diretamente pelos códigos calcados nestes ideais”2.

Ocorre que com a Revolução Industrial, e suas importantes modificações nos meios de produçãoe na relação capital-trabalho, inicia-se o processo de mercado e sociedade de massas.

Com a implementação das novas técnicas de produção, a humanidade passa a viver uma nova era,que evidentemente passa a exigir uma transformação do mundo jurídico, uma vez que o indivíduoreflete em sua ação o modo de produção em que está inserido.

No começo deste século a Europa vivia momentos de turbulência ocorrida pelo fenômeno daascensão das massas. Aponta o autor: “Aquelas ascenderam da marginalização social,principalmente por causa da Revolução Industrial, com o que, deixando de integrar o rol dos que seencontravam na periferia das sociedades e respectivas civilizações, não alcançadas de fato peloaparelho do Estado, iniciaram um processo para forçar a entrada nos quadros melhores dascivilizações, com o que se colocou de um lado a insuficiência do aparato estatal e bem assim osistema tradicional”3.

Assim, a jurisdição coletiva surge como verdadeiro instrumental visando dar possibilidades desolução para os conflitos do mundo moderno de uma sociedade de massas. Surge como decorrênciados princípios constitucionais da indeclinabilidade da jurisdição e do devido processo legal. Trata-se da conjugação entre o CDC e a lei da ação civil pública com a aplicação subsidiária do Códigode Processo Civil. É informada pelos princípios do amplo acesso à justiça, igualdade e efetividadedo processo.

“Não obstante as vantagens trazidas pelas ações coletivas, no sentido de se buscar isonomia,efetividade, adequação, acesso à justiça, entre outras garantias, tais ações vieram, principalmente,resguardar direitos e bens jurídicos que, em virtude da dimensão de seus titulares e justa tutelajurisdicional, pelo simples fato de que o aparato processual disponível para tutelar tais bens semostrava incapacitado para protegê-los, posto que de cunho individual e liberal.

É com esse fim que as ações coletivas surgem no País; sua origem tem sede nas exigênciasconsequenciais das mutações sofridas pela sociedade com a rebelião das massas. Urge comoremédio eficaz e adequado para a proteção de interesses e direitos que antes eram tuteladosesparsamente e sob uma visão individualista”4.

Assim, em conformidade com o princípio constitucional do devido processo legal e comodecorrência do processo histórico da sociedade de massas, surgem os direitos difusos e coletivos.

Tais direitos “(...) escapam de qualquer definição do ortodoxo sistema público em contraste como privado, posto que situado num abismo entre estes, não há mais que se falar sequer napossibilidade de se usar o ortodoxo sistema liberal tradicional individualista do Código de ProcessoCivil e normas afins, para dirimir os conflitos de massa... falar em devido processo legal em sede dedireitos coletivos lato sensu, é, inexoravelmente, fazer menção ao sistema integrado de tutelaprocessual trazido pelo CDC e LACP (Lei n. 7.347/85). Assim, hoje, em sede de jurisdição civil, háa existência de dois sistemas de tutela processual: um destinado às lides individuais, cujoinstrumento adequado e idôneo é o Código de Processo Civil, e um outro, destinado à tutela coletiva,na exata acepção trazida pelo art. 81, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor”5.

Passaremos então para a abordagem dos direitos coletivos “lato sensu”.

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8.3 DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU

Os direitos do consumidor se encontram inseridos na seara dos direitos coletivos lato sensu, queé gênero do qual são espécies os direitos difusos e os coletivos stricto sensu. No que pesem osdireitos individuais homogêneos não terem natureza coletivista, pois são individuais puros, sãotratados no bojo dos direitos coletivos lato sensu por receberem da lei um tratamento processualcoletivizado em razão de serem originados de um fato comum. Por isso, faz-se necessário oestabelecimento do que vêm a ser esses direitos que dão ensejo à chamada jurisdição coletiva.

Os interesses difusos são “(...) interesses metaindividuais que, não tendo atingido o grau deagregação e organização necessário à sua afetação institucional junto a certas entidades ou órgãosrepresentativos dos interesses já socialmente definidos, restam em estado fluido, dispersos pelasociedade civil como um todo (v.g., o interesse à pureza do ar atmosférico), podendo, por vezes,concernir a certas coletividades de conteúdo numérico indefinido (v.g., os consumidores).Caracterizam-se: pela indeterminação dos sujeitos, pela indivisibilidade do objeto, por sua intensalitigiosidade interna e por sua tendência à transição ou mutação no tempo e no espaço”6.

As expressões “direito” e “interesse” são tratadas pela doutrina como expressões semelhantes àmedida que a pessoa titular de um interesse difuso possui um interesse que é erigido à condição dedireito reconhecido pela Constituição Federal. Daí a utilização das duas expressões. “Os termosinteresses e direitos foram utilizados como sinônimos; certo é que, a partir do momento em quepassam a ser amparados pelo direito, os ‘interesses’ assumem o mesmo status de ‘diretos’,desaparecendo qualquer razão prática, e mesmo teórica, para a busca de uma diferenciaçãoontológica entre eles”7.

Assim, com a mudança na forma de se entender as duas expressões (interesses e direitos),transforma-se também o modo de se interpretar os dispositivos constitucionais, e é este modo deinterpretar que a jurisdição coletiva demanda.

“Hoje, com a concepção mais larga do direito subjetivo, abrangente também do que outrora setinha como mero ‘interesse’ na ótica individualista então predominante, ampliou-se o espectro detutela jurídica e jurisdicional. Agora, é a própria Constituição Federal que, seguindo a evolução dadoutrina e da jurisprudência, usa dos termos ‘interesse’ (art. 5.º, LXX, ‘b’), ‘direitos e interessescoletivos’, (art. 129, n. III), como categorias amparadas pelo direito. Essa evolução é reforçada, noplano doutrinário, pela tendência hoje bastante acentuada de se interpretarem as disposiçõesconstitucionais, na medida do possível, como atributivas de direitos, e não como meras metasprogramáticas ou enunciações de princípios. E no plano legislativo, com a edição de leis ordináriasque procuram amparar tanto ‘interesses’ como ‘direitos’, como a que disciplina a ação civil pública(Lei n. 7.347/85), está definitivamente consolidada a evolução”8.

Retomando especificamente a questão dos direitos coletivos lato sensu, temos que, com oadvento do CDC, se estabeleceu o conceito definitivo de direitos difusos, coletivos stricto sensu eindividuais homogêneos, muito embora a Lei de Ação Civil Pública já tenha tratado da matéria.

Estabelece o art. 81 do CDC, in verbis:

“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá serexercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

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Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os

transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadaspor circunstâncias de fato;

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeito deste Código, ostransindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoasligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum”.

Assim, temos que “na verdade o que determina a classificação de um direito como difuso,coletivo, individual puro ou individual homogêneo é o tipo de tutela jurisdicional que se pretendequando se propõe a competente ação judicial. Ou seja, o tipo de pretensão que se deduz em juízo”9.O autor mostra que de um determinado acontecimento podemos deduzir pretensões de direitosdifusos, coletivos ou individuais homogêneos e, aliás, no tocante a estes últimos, aponta-se para ofato de que “(...) pelos arts. 81, parágrafo único, III, e 91 e ss., o CDC instituiu no sistema processualbrasileiro a class action, a exemplo da ação de classe da regra 23 das Federal Rules of CivilProcedure do direito norte-americano, vale dizer, o CDC criou mais esta modalidade de açãocoletiva, ao lado daquela outra já existente no sistema da LACP, destinada à tutela jurisdicional dosdireitos difusos e coletivos”10.

Assim, tomemos um fato exemplificativo como hipótese, qual seja, a veiculação de umapublicidade enganosa e abusiva em todo o território nacional, cujo conteúdo consiste em afirmar quedeterminada faculdade de direito concorrente não forma profissionais preparados para o mercado detrabalho. Desse fato pode decorrer a tutela de direitos difusos, se a pretensão deduzida em juízo for ade proibir a sua veiculação já que um número indeterminado e indeterminável de pessoas foiatingido. Pode também decorrer a tutela de direitos coletivos stricto sensu se a pretensão deduzidaem juízo for a de preservar a imagem dos alunos que estudam ou que estudaram nessa faculdade.Atente-se que neste caso os alunos possuem a mesma relação jurídica base com a faculdade, econstituem uma coletividade de pessoas indeterminadas, mas determináveis, já que podem serindividualizadas. Por derradeiro, desse mesmo fato também pode decorrer a tutela de interessesindividuais homogêneos, se a pretensão deduzida em juízo for a de promover a reparação de danosde um conjunto de trinta ex-alunos que foram prejudicados, em razão da publicidade veiculada, emprocesso de admissão para uma determinada empresa. Neste caso há dano de origem comum.

8.4 ASPECTOS DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

Para a defesa dos direitos e interesses difusos, ou coletivos lato sensu, e neles se incluem osdireitos dos consumidores, são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar suaadequada e efetiva tutela. Abriu-se, assim, um amplo leque para a tutela do consumidor.

No entanto, para a defesa coletiva desses direitos, a ser efetivada por meio da Ação CivilPública, são legitimados, de forma concorrente, o Ministério Público, a Defensoria Pública, a União,os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; as entidades e órgãos da Administração Pública,direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dosinteresses e direitos difusos; e as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que

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incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos difusos, dispensada aautorização das respectivas assembleias dirigentes. Não se trata de legitimidade extraordinária ou desubstituição processual, mas sim de legitimação autônoma para a condução do processo conferidapor lei11.

Atente-se que, havendo manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característicado dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido, o magistrado, por critério dediscricionariedade, poderá, no caso concreto, dispensar a pré-constituição de um ano para asassociações civis.

Nessas ações coletivas não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais equaisquer outras despesas. Também não haverá condenação da associação autora em honorários deadvogados, custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé. Ocorrendo a litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamentecondenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidadepor perdas e danos.

No campo das obrigações de fazer o CDC também inovou, antes mesmo das reformaspromovidas no Código de Processo Civil (art. 461).

Desta feita, na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, ojuiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem oresultado prático equivalente ao do adimplemento, por meio de medidas como a busca e apreensão,remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além derequisição de força policial.

Note-se que ao juiz é lícito conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, desde queseja relevante o fundamento da demanda e haja justificado receio de ineficácia do provimento final.Trata-se da possibilidade de antecipação da tutela. Não atendida a tutela liminar pelo fornecedor, omagistrado poderá, a qualquer momento, ou na sentença, impor multa diária ao réu/fornecedor,também denominada de astreintes, independentemente do pedido do autor/consumidor, se forsuficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Ao consumidor é sempre facultada a conversão da obrigação em perdas e danos, mas tambémocorrerá se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.Referida indenização será fixada sem prejuízo das astreintes, conforme dispõe o art. 287 do CPC.

8.5 DAS AÇÕES COLETIVAS PARA A DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Além dos aspectos gerais já mencionados, as ações coletivas para a defesa dos interessesindividuais homogêneos possuem regramento específico. Assim, os legitimados para a Ação CivilPública poderão propor, em nome próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civilcoletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos. Ao Ministério Público éimputado o dever de sempre participar dessas ações, seja como autor, seja como fiscal da lei.

Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local do forodo lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local; e do foro da Capital doEstado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as

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regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam

intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios decomunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.

Caso seja procedente a ação, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réupelos danos causados. Superada a fase de conhecimento, a liquidação e a execução da sentençapodem ser promovidas pela vítima e seus sucessores, assim como pelos legitimados para a AçãoCivil Pública. Por outro lado, a execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimadospara a Ação Civil Pública, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiverem sido fixadas emsentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. Neste caso, a execuçãocoletiva é feita com base em certidão da sentença de liquidação, da qual deverá constar a ocorrênciaou não do trânsito em julgado.

Para as execuções é competente o juízo da liquidação da sentença ou da ação condenatória nocaso de execução individual; e da ação condenatória, quando coletiva a execução.

Por fim, decorrido um ano sem habilitação dos interessados em número compatível com agravidade do dano, poderão os legitimados para a Ação Civil Pública promover a liquidação eexecução da indenização devida. Nesse caso, o produto da indenização devida reverterá para oFundo de Defesa dos Direitos Difusos, criado pela Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, eregulamentado pelo Decreto 1.306/1994.

8.6 DAS AÇÕES DE RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS

Nas ações de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, a ação pode serproposta no domicílio do autor/consumidor, se outro não for mais facilitador da defesa de seusdireitos.

O réu fornecedor que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processoo segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nestahipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do Códigode Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar aexistência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de açãode indenização diretamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide ao Instituto deResseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório.

Aos legitimados para a Ação Civil Pública é facultada a proposição de ação que vise compelir oPoder Público competente a proibir, em todo o território nacional, a produção, divulgação,distribuição ou venda, ou a determinar a alteração na composição, estrutura, fórmula ouacondicionamento de produto cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou perigoso à saúdepública e à incolumidade pessoal.

8.7 DA COISA JULGADA

Nas ações coletivas a coisa julgada será:

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a) erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamentovalendo-se de nova prova, na hipótese de defesa dos interesses e direitos difusos. Assim, oefeito erga omnes é aquele que atinge a universalidade das pessoas, o que é coerente com atutela dos interesses difusos;

b) ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência porinsuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese de defesados direitos e interesses coletivos. Refere-se ao efeito ultra partes, pois a decisão não atingea universalidade das pessoas, restringindo-se às pessoas do grupo, classe ou categoria;

c) erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas eseus sucessores, na hipótese de defesa dos direitos individuais homogêneos. Neste caso aspessoas atingidas pela decisão serão apenas as vítimas e seus sucessores.

Note-se que os efeitos da coisa julgada previstos para a tutela dos direitos difusos e para osdireitos coletivos stricto sensu não prejudicarão os interesses e direitos individuais dos integrantesda coletividade, do grupo, categoria ou classe. Já na hipótese de tutela de direitos individuaishomogêneos, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo noprocesso como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

Os efeitos da coisa julgada nas ações civis públicas não prejudicarão as ações de indenizaçãopor danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista no CDC, mas, seprocedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação eà execução, nos termos dos arts. 96 a 99 do CDC.

Devemos lembrar que as ações coletivas para a defesa dos direitos difusos e os direitoscoletivos stricto sensu não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisajulgada erga omnes ou ultra partes não beneficiarão os autores das ações individuais, se não forrequerida sua suspensão no prazo de 30 dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da açãocoletiva.

Por derradeiro, indaga-se se o art. 16 da Lei 7.347/1985 – Ação Civil Pública, cuja redação foidada pela Lei 9.494/1997, tem aplicabilidade às relações de consumo. É que o referido texto legalprescreve que “A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorialdo órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipóteseem que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de novaprova”. A nosso ver esse dispositivo não se aplica às relações de consumo, pois a Lei da Ação CivilPública é aplicada apenas no que não contrariar o CDC, e por isso a regra do art. 103 do CDCpermanece intacta. Esse é também o posicionamento do STJ12 que já decidiu que o procedimentoregulado pela ação civil pública “pode ser utilizado para defesa dos direitos do consumidor emjuízo, porém somente no que não contrariar as regras do CDC, que contém, em seu art. 103, umadisciplina exaustiva para regular a produção de efeitos pela sentença que decide uma relação deconsumo. Assim, não é possível a aplicação do art. 16 da LAP para essas hipóteses”.

8.8 DA CONVENÇÃO COLETIVA DE CONSUMO

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As entidades civis de consumidores e as associações de fornecedores ou sindicatos de categoriaeconômica podem regular, por convenção escrita, relações de consumo que tenham por objetoestabelecer condições relativas ao preço, à qualidade, à quantidade, à garantia e características deprodutos e serviços, bem como à reclamação e composição do conflito de consumo. Referidaconvenção tornar-se-á obrigatória a partir do registro do instrumento no cartório de títulos edocumentos, e somente obriga os filiados às entidades signatárias. A convenção também vincula osfornecedores, mesmo se desligarem da entidade em data posterior ao registro do instrumento.

Trata-se de importante medida que não tem o caráter de afastar a aplicação do CDC, e que aindanão foi prestigiada pelos consumidores e fornecedores brasileiros. É simplesmente um verdadeirocontrato coletivo de consumo muito utilizado nos países de capitalismo avançado como os EstadosUnidos da América e países europeus.

8.9 QUESTÕES

1. (OAB-MT – Exame 02/2005) Assinale a alternativa correta:(a) A defesa coletiva do consumidor será exercida quando se tratar de interesses ou direitos coletivos, interesses ou

direitos difusos e interesses ou direitos individuais homogêneos.(b) As associações legalmente constituídas há pelo menos dois anos e que incluam entre seus fins institucionais a

defesa dos interesses e direitos protegidos pelo CDC estão legitimadas para a defesa do consumidor em Juízo.(c) Nas ações coletivas disciplinadas pelo CDC haverá adiantamento de custas judiciais, mas não haverá

condenação da associação autora em honorários advocatícios, salvo comprovada má-fé.(d) As ações coletivas não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga

omnes não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua extinção no prazo de dez dias.

2. (OAB 2010.2 – FVG) Nas ações coletivas, o efeito da coisa julgada material será:(a) Tratando-se de direitos individuais homogêneos, efeito erga omnes, se procedente, mas só aproveita aquele que

se habilitou até o trânsito em julgado.(b) Tratando-se de direitos individuais homogêneos, julgados improcedentes, o consumidor, que não tiver

conhecimento da ação, não poderá intentar ação individual.(c) Tratando-se de direitos difusos, no caso de improcedência por insuficiência de provas, não faz coisa julgada

material, podendo, qualquer prejudicado, intentar nova ação com os mesmo fundamentos, valendo-se de novasprovas.

(d) Tratando-se de direitos coletivos, no caso de improcedência do pedido de nulidade de cláusula contratual, o efeitoé ultra partes e impede a propositura de ação individual.

GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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__________1 V. NERY JR., Nelson; MILARÉ, Édis; FERRAZ, Antônio Augusto Mello de Camargo. A ação civil pública e a tutela

jurisdicional dos interesses difusos, p. 48 e ss. V. também artigo de FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Direitoambiental – a ação popular e a defesa do meio ambiente, p. 159.

2 Direito processual ambiental brasileiro. Ação civil pública. Mandado de Segurança. Ação popular – Mandado deinjunção, p. 87, nota 7.

3 ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda. Anotações sobre as perplexidades e os caminhos do processo civilcontemporâneo. Sua evolução ao lado do direito material. Revista de Direito do Consumidor, p. 78.

4 FIORILLO, Celso A. P.; RODRIGUES, Marcelo A.; NERY, Rosa A., op. cit., p. 90.5 Ibidem, p. 100.6 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos – Conceito e legitimação para agir, p. 109.7 WATANABE, Kazuo. CDC comentado..., p. 507.8 Ibidem, p. 507 e 508.9 Nelson Nery Junior, op. cit., p. 173.10 FIORILLO, Celso A. P.; RODRIGUES, Marcelo A.; NERY, Rosa M. A., op. cit., p. 120.11 Essa é a correta lição de Nelson Nery Junior e Rosa Nery em seu Código de Processo Civil Comentado, p. 1.866.12 REsp. 411.529, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª T, DJ 05.08.2008.

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Page 115: Vol. 13 - Direito Do Consumidor

GABARITOS

1. PANORAMA DA MATÉRIA

1 – B

2. A RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

1 – C 2 – B 3 – B

4 – D 5 – C 6 – A

7 – A

3. DOS DIREITOS DOS CONSUMIDORES

1 – A 2 – B 3 – D 4 – C

5 – B 6 – C 7 – D

4. DA RESPONSABILIDADE DOS FORNECEDORES POR SEUS PRODUTOS E SERVIÇOS

1 – B 2 – B 3 – A

4 – A 5 – B 6 – D

7 – D 8 – A 9 – D

10 – C 11 – B 12 – B

13 – A 14 – A 15 – D

16 – C 17 – A 18 – B

19 – C 20 – D 21 – D

22 – D 23 – B 24 – D

25 – B 26 – C 27 – C

28 – B

5. DAS PRÁTICAS COMERCIAIS

Page 116: Vol. 13 - Direito Do Consumidor

1 – B 2 – D 3 – A 4 – A

5 – B 6 – A 7 – D 8 – C

6. DA PROTEÇÃO CONTRATUAL

1 – C 2 – D 3 – A

4 – B 5 – D 6 – C

7 – C 8 – C 9 – D

7. DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

1 – A

8. A DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO

1 – A 2 – C