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Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. Tempo de Escombros [1946-1980]. [A construção dos Santuários Nacionais marianos no Brasil e nos Estados Unidos, no pós II Guerra Mundial, como estratégia das hierarquias de poder, para se impor, doutrinariamente, às massas, num período de reconstruções físicas e de valores morais e éticos: os planos arquitetônico e estético, a razão técnica operasse a construção da eternidade: fixidez e estabilidade; perenidade e austeridade, hauridos dos valores cristãos. Assim, consubstanciando-se em semióforos e lugares de memórias]. Pesquisador: Professor Doutor Marcelo Pedro de Arruda, PhD em História Social pela FFLCH-USP. São Paulo, junho de 2008. Este paper é constitutivo do Projeto de Pós-Doutorado Tempo de Escombros [1946- 1980].

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Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

Tempo de Escombros [1946-1980].

[A construção dos Santuários Nacionais marianos no Brasil e nos Estados Unidos, no

pós II Guerra Mundial, como estratégia das hierarquias de poder, para se impor,

doutrinariamente, às massas, num período de reconstruções físicas e de valores morais e

éticos: os planos arquitetônico e estético, a razão técnica operasse a construção da

eternidade: fixidez e estabilidade; perenidade e austeridade, hauridos dos valores

cristãos. Assim, consubstanciando-se em semióforos e lugares de memórias].

Pesquisador: Professor Doutor Marcelo Pedro de Arruda,

PhD em História Social pela FFLCH-USP.

São Paulo, junho de 2008.

Este paper é constitutivo do Projeto de Pós-Doutorado Tempo de Escombros [1946-

1980].

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 2

a] NOTA:

A imagem acima, que abre o presente paper, é a capa do Almanaque do Biotônico

Fontoura, 1964, na qual se divulgava o Santuário Nacional de Aparecida, então em

construção; ela, Padroeira de um país de regime político e ordenamento jurídico liberal,

de sistema econômico capitalista de mercado e produtor de mercadorias. Aparecida faz

propaganda de um fortificante e estimulante de apetite voltado principalmente às

crianças. Em 2001 a ANVISA proibiu o remédio popular por alta “concentração” de

álcool em sua composição. Mas, em 1964, a hierarquia católica permitiu que a sua

autoridade maior em termos devocionais divulgasse produto que viciava, cujo maior

consumidor era a infância. Neste plano analítico, ainda é possível separar a esfera

religiosa de interesses políticos, econômicos e mercantis?

b] Apresentação do paper:

O pós Segunda Guerra Mundial é apreendido na presente pesquisa como Tempo de

Escombros [1946-1980] e, simultaneamente, de reconstruções tanto físicas quanto

espirituais, e, também, oportunidade para se impor, doutrinariamente, a partir dos

valores cristãos. O alvo do trabalho é o erigir Templos marianos nacionais: no Brasil, o

de N. S. Aparecida, e nos Estados Unidos, o da Imaculada Conceição, ambos são

constitutivos do conjunto de semióforos das duas Nações, Brasil e Estados Unidos. O

trabalho de Pesquisa em tela tem por fito compreender, num plano geral, como ocorreu

tanto a elevação de devoções populares à Maria, que foram lançadas à condição de

Padroeiras da maioria dos países das Américas, como nos casos da Argentina, Brasil,

Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Peru, Paraguai, México, Uruguai, Venezuela, etc., além

das Nações caribenhas1 e, principalmente, quanto à ereção de Santuários2 nacionais

marianos.

1 Cf. REIMOND, Jeanne. [Textes Reunis et Présentés, par]. Figures de Marie. In: Sociocriticism. Centre d’Etudes et Recherches Sociologiques. Montpellier, Éditions du CERS, vols. XIX-XX, 2004-2005, 335p. Este número do periódico apresenta uma série de trabalhos de historiadores, sociólogos, antropólogos e outros cientistas sociais de países latino-americanos e europeus que apontam à transitividade icônica de Maria em várias culturas e diversas experiências históricas. 2 A pesquisa objetiva avançar na abordagem dos centros devocionais, ao engendrar, como elemento explicativo, a questão política, que foi olvidada numa importante coletânea que contou com a participação de historiadores, antropólogos e outros cientistas sociais. Cf. ÁLVARES SANTALÓ, C. JESÚS BUXÓ, M. y RODRIGUES BECERRA, S. [Coords]. La Religiosidad Popular. Hermandades, Romerías y Santuarios. Barcelona, Editorial Antropos, Tomo III, 1989, 669p. Não obstante, há neste conjunto de ensaios contribuições importantes em termos metodológicos e aportes teóricos.

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A elevação referida significou, sempre, uma escolha política da hierarquia

religiosa, que contou com o apoio efetivo do poder político secular. O historiador

Evaldo Cabral de Mello apontou sobre o papel desempenhado pela devoção mariana de

N. S. dos Prazeres,3 na Guerra dos Guararapes contra os holandeses, no século XVII em

Pernambuco. Mas, o poder hierocrático escolheu, deste 1904, para ser Padroeira do país

a devoção mariana de N. S. Aparecida, cujo Santuário se localiza num espaço

geográfico de intersecção no Vale do Paraíba: fronteira de São Paulo, Rio de Janeiro e

Minas Gerais, os três Estados hegemônicos da República Velha.

Com isso quero apontar o compartilhamento nos projetos de poder entre as

esferas religiosa e secular, implicando no controle de elementos simbólicos da

Nação pelo Centro-Sul do país, e com evidentes desdobramentos no plano político

prático dos entes federados.

Os usos políticos nos processos de canonização foram abordados por Pierre

Delooz.4 A conceituação deste autor pode ser aplicada à questão da elevação da[o]s

Padroeira[o]s

Pois, mesmo a protestante5 América do Norte tem a Imaculada Conceição como

Padroeira, cujo Santuário nacional foi construído no pós-Segunda Guerra Mundial, na

Era da Guerra Fria,6 em Washington, DC., no mesmo período em que se erigiu o

Santuário nacional de N. S. Aparecida no Brasil.

A política de elevação de devoções marianas como Padroeira e os seus respectivos

Santuários nacionais, em número expressivo de países das Américas, funcionou como

um dos mais eficazes elementos no combate ao comunismo.

Segundo o cientista social Coner Cruise O’Brien, especialista em nacionalismo e

religião, a eleição em 1960 de John F. Kennedy, o primeiro e único presidente católico

dos EUA, só foi possível graças aos “... milhões de americanos” que mesmo não

3 Cf. MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro Veio. O imaginário da restauração pernambucana. Rio de Janeiro, 2ª ed., TopBooks, 1997, 473p; especialmente pp. 33-4, 42-3 ss. 4 Cf. DELOOZ, Pierre. “A canonização dos Santos e o seu uso social”. In: Revista Concilium. Dossiê: Santidade [Santidade: Privilégio das Elites ou Patrimônio de Todos?]. Petrópolis, Vozes, 1979/9, 116p; pp. 24-34. 5 Cf. HUNTINGTON, Samuel P. “O desafio hispânico”. In: Revista Política Externa. São Paulo, vol. 13, nº 1, 2004, pp. 39-48; à p. 40 o autor aponta a respeito dos católicos hispânicos que estariam ameaçando a identidade WASP - Branca, Anglo-Saxônica e Protestante - dos norte-americanos. 6 Cf. HAYNES, John Earl. Red Scare or Red Menace? American Communism in the Cold War Era. Chicago, Ivan R. Dee, 1995. Cf. também: RICHET, Isabelle. “Vade Retro Satana! Les églises et la chasse aux sorcières. In : ROUGÉ, Jean-Robert. [Org]. L’Anticommunism aux États-Unis de 1946 à 1954. Paris, Press de l’Université de Paris-Sorbonne, 1995, pp. 151-173.

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católicos assumiram a mensagem anticomunista dos católicos,7 que foi eleito, o

comunismo, pela Cúria Romana como o “mal absoluto”8 do século XX.

Neste sentido, emergiu, dessa realidade histórica, o discurso-pânico originado no

campo religioso católico que foi adotado pela política secular nas denominadas

democracias Ocidentais. Discurso que foi amplamente adotado nos dois países

examinados. Discurso esse que afirmava a respeito da erosão moral e ética originada em

outra identidade que não fosse cristã, ou mais precisamente católica, para a maioria das

Nações do Continente americano.

Todavia, nuclearmente, as Basílicas nacionais, segundo a tese adotada na

pesquisa, prestaram-se para que, nos planos arquitetônico e estético, a razão técnica

operasse a construção da eternidade: fixidez e estabilidade; perenidade e austeridade,

hauridos dos valores cristãos. Deste modo, a Santa Sé estabelecia uma política das

Padroeiras nas Américas, cuja ereção dos Santuários nacionais desempenhou papel

decisivo, pois eles se engendraram como elementos constitutivos das pertenças,

identidades e dos imaginários sociais das Nações envolvidas.

Assim, tornando-se artefato arquitetônico e estético do conjunto de semióforos

destes países.

Nesta ordem de coisas, as devoções religiosas marianas foram apropriadas pela

hierarquia eclesiástica, elevadas à condição de Padroeiras e produziram-se edifícios em

escala e dimensões monumentais para os seus cultos.

7 Cf. O’BRIEN, Coner Cruise. GodLand: Reflections on Religion and Nationalism. Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1988, cit. p. 36. Apud: GELLNER, Ernest. Encounters with Nationalism. [Trad. portuguesa. Lisboa, Teorema, 1998, 242p. 8 PIO XI [Papa]. Carta Encíclica Divini Redemptoris. [19 de mar. de 1937. Sobre o Comunismo Ateu]. São Paulo, Paulinas, 2ª ed., 2001, 68p.

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As Padroeiras9 foram adotadas pelo poder secular instituído, pois as datas das suas

festas foram incorporadas em diversos calendários de Repúblicas na Americana Latina,

tornando-se feriados10 nacionais, celebradas coletivamente, acarretando na instituição de

lugares de memórias.11

Assim, gerando a produção de identidade, pertença e coesão dos imaginários

sociais, constitutivos do conjunto de semióforos dessas Nações.

As suas Basílicas ou Santuários nacionais além de lugares de memórias tornaram-

se semióforos: estes são objetos, artefatos ou obras culturais: elemento “... visível

investido de significado”.

Argumentou o autor do fragmento acima, que “o substrato da história é, [...],

identificado com a vida de que os indivíduos e as coletividades empíricas representam

as manifestações visíveis, e a própria história é a obra de tendência, inerente à vida, para

9 De acordo com Hegel a base do Estado é a religião, que se estrutura, no Ocidente, na família cristã, cujos desdobramentos são que os elementos de pertença, identidade e imaginário sociais que são matriciados no sagrado. Cf. HEGEL, G. W. F. El Concepto de Religion. [Estudio introductorio y traducción: Arsênio GINZO]. México, Fondo de Cultura Económica, 1981, 355p. No seu estudo clássico Benedict ANDERSON afirma que o nacionalismo funcionou como uma espécie de sucessor, no plano cultural, da universalidade presente na religião. ________. Imagined communities. [1ª ed. 1983]. Londres, Verso, 1994. [Trad. brasileira]. Nação e Consciência nacional. São Paulo, Ática, 1989. O professor de Antropologia e História da Universidade de Chicago, Claudio LOMNITZ produziu ensaio sobre o livro de B. Anderson no tocante a operacionalidade do conceito de “comunidade imaginada”, aplicado às realidades Latino Americanas, e, em especial, as de herança hispânica. _______. “O Nacionalismo como um sistema prático. A Teoria de Benedict Anderson da perspectiva da América Hispânica”. [Trad.]. In: Revista Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, nº 59, mar. de 2001, pp. 37-61. O próprio ANDERSON avança em pontos importantes da sua conceituação em “Introduction” da importante coletânea de ensaios organizada por Gopal BALAKRISHNAM. [Org]. Mapping the Nation. Londres, Verso, 1996. [Trad. brasileira. Rio de Janeiro, Contraponto, 2000], pp. 7-22. O historiador Perry ANDERSON, in: O Fim da História. De Hegel a Fukuyama. [Trad]. Rio de Janeiro, J. Zahar Ed., 1992, especialmente pp. 16-27 ss., lembra que para Hegel havia duas entradas na abordagem do Espírito Absoluto: a religião e a filosofia; sendo a história apenas um galho da Árvore do conhecimento. O filósofo alemão nas suas Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte [Conferências sobre a filosofia da história] lembrava que o evento político central do século XVIII, a Revolução Francesa, só fora possível por ter sido numa Nação, ou Estado nacional, onde a Reforma não havia ocorrido. De fato, a questão da Reforma Protestante é ponto central na abordagem de Reinhart KOSELLECK, ao firmar que ela inaugurou a modernidade política no século XVI com o “Tratado de Paz de Münster e Osnabrück” [o evento instaurou a solução da política secular para as questões religiosas], cujo desfecho é o processo político francês no século XVIII. Cf: ________. Futuro Passado. [...]. [Trad]. Rio de Janeiro, Contraponto, Ed. PUC-Rio, 2006, cit. 26 ss. 10 Para essa questão, remeto o leitor ao capítulo “Calendário” da minha pesquisa de doutorado. Cf. ARRUDA, Marcelo Pedro de. Triunfo Católico no Calendário Republicano: N. S. Aparecida no Calendário Secular, [1930-1980]. São Paulo, Depto. de História, Programa de Pós Graduação em História Social, FFLCH-USP, [Tese de doutorado], 2 vols., 2005, 910p; especialmente, pp. 723-814, onde abordo a questão sob primos, matizes e viés tais como: as Abordagens histórica e antropológica do calendário; Calendário e Ethos etc. etc. 11 Cf. NORA, Pierre. “Entre Memória e História: a Problemática dos Lugares”. [Trad]. In: Revista Projeto História. São Paulo, PUC-SP, nº 10, dez.-1993.

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fazer triunfar os indivíduos ou os grupos melhor adaptados às exigências desta, capazes

de ganhar a luta pelos bens que permitem a sobrevivência e dominar os outros”.12

Na mesma linha de argumentos, escreveu Marilena Chauí:

“Um semióforo é, [...], ou uma instituição retirados do circuito do uso ou sem utilidade direta e imediata na vida cotidiana porque são coisas providas de significado ou de valor simbólico, capazes de relacionar o visível e o invisível, seja no espaço, seja no tempo, pois o invisível pode ser o sagrado [um espaço além de todo espaço] ou o passado ou o futuro distantes [um tempo sem tempo ou eternidade], e expostos à visibilidade, pois é nessa exposição que realizam sua significação e sua existência. É um objeto de celebração por meio de cultos religiosos, peregrinações a lugares santos, representações teatrais de feitos heróicos, comícios e passeatas em datas públicas festivas, monumentos; e seu lugar deve ser público: lugares santos [montanhas, rios, lagos, cidades], templos, [...], enfim, locais onde toda a sociedade possa comunicar-se celebrando algo comum a todos e que assegura o sentimentos de comunhão e de unidade”.13

c] Problemática e Objetivos: Imbricamento da esfera teológico e do campo da

política secular:

Claude Lefort, num ensaio fundamental que trata da questão teológico-político14 nos

alerta, a partir da abordagem originada na pesquisa de Ernst H. Kantarowicz,15

avançando na abordagem deste autor, ao afirmar sobre a contaminação ou dos

“quiasmas” entre as esferas religiosa e secular que, para o pensador francês, trata-se do

imbricamento desses campos e traduz-se na “sacralização da política”.

12 Cf. POMIAN, Krzysztof. “História cultural, história dos semióforos”. In: RIOUX, Jean-Pierre. et SIRINELLI, Jean-François. [Dirs]. Pour une Histoire Culturelle. Paris, Seuil, 1997. [Trad. portuguesa. Lisboa, Editorial Estampa, 1999], 432p; pp. 71-95; cit. p. 77 e pp. 90-1, respectivamente, itálicos meus. 13 Cf. CHAUÍ, Marilena. Brasil. Mito fundador e Sociedade autoritária. São Paulo, Ed. P. Abramo, 2ª ed., 2001, 103p; cit. p. 12, negritos meus. 14 Cf. LEFORT, Claude. “Permanência do Teológico-Político?”. In: _________. Pensando o Político. São Paulo, Paz e Terra, 1991, pp. 249-296. Esse texto do pensador francês ecoou na produção local que abordou o problema. O ensaio do filósofo foi amplamente utilizado no ensaio de Fernando Cesar T. FRANÇA intitulado “Retorno ao poder teológico-Político?”. In: NOVAES, Adauto. [Org]. A Crise do Estado-Nação. Rio de Janeiro, Ed. Civ. Brasileira, 2003, 544p; pp. 167-206, especialmente, pp. 171 ss. Apesar de não citar diretamente o texto em tela de Lefort, Cf: CHAUÍ, Marilena. “Fundamentalismo religioso: a questão do poder Teológico-Político”. In: NOVAES, Adauto. [Org]. Civilização e Barbárie. São Paulo, Cia. das Letras, 2004, 343p; pp. 149-169. O Professor Lefort retoma pontos importantes da sua abordagem do teológico-político articulado à questão da Nação, Cf: LEFORT, Claude. “Nação e Soberania”. In: NOVAES, Adauto. [Org]. A Crise do Estado-Nação. Rio de Janeiro, Civ. Brasileira, 2003, 544p; pp, 55-78. 15 Cf. KANTAROWICZ, E. H. Os dois Corpos do rei. Um estudo sobre teologia política medieval. [A 1ª ed. em inglês é da década de 1950]. São Paulo, Cia. das Letras, 1998, 547p.

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Tal sacralidade16 do campo político tem sido profusamente experienciada pelas

massas como apontou Elias Canetti.17

Neste sentido, iremos examinar as ações tanto da hierarquia religiosa quanto à da

política secular no concernente a identidade cristã, e em particular católica para os dois

casos examinados, tomando por base os esforços de religiosos e leigos para viabilizar a

construção dos Santuários nacionais marianos no imediato pós-II Guerra Mundial, cujo

contexto foi, simultaneamente, tempo de escombros, de reconstruções tanto física

quanto espiritual, e oportunidade de impor-se doutrinariamente.

As Basílicas nacionais tornaram-se edifícios em dimensão, escala e volume que

revelavam a intenção dos seus promotores no sentido da ereção dum Monumentum.18

A monumentalidade do Templo brasileiro foi apontada pelo Cardeal de Nova

Iorque, o norte-americano Francis J. Spellman em correspondência remetida ao Cardeal

Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, Arcebispo Metropolitano de São Paulo,

idealizador e mentor, no pós-Segunda Guerra Mundial, do edifício mariano brasileiro

que deveria tornar-se ímpar, urbi et orbis, entre a cristandade.

Nesse documento o Cardeal Spellman se diz impactado com o volume e a escala

do projeto do edifício mariano brasileiro, fala que a construção do Santuário norte-

americano estava sendo custeada pelos “Bispos Americanos”, logo revelando que os

valores carreados à obra se originavam no rico laicado19 católico dos Estados Unidos.

O historiador britânico John Cornwell, professor em Cambridge, afirma que a

Associação de leigos norte-americanos Cavaleiros de Colombo, liderados pelo Cardeal

Francis Joseph Spellman, carreou expressivo montante em dinheiro para o Vaticano:

“durante a década de 1950, uma média de 12,4 milhões de dólares por ano foi levantado

nos Estados Unidos para a Santa Sé”; esses valores foram invertidos no combate ao

comunismo na Europa.

16 O historiador Alcir LENHARO na década de 1980 realizou abordagem pioneira da sacralização da política no período do 1º Governo Vargas, cuja matriz e ancoragem é cristã, em especial católica para o Brasil. Cf: _______. Sacralização da Política. [Corpo e Alma: mutações sombrias do poder no Brasil dos anos 30 e 40]. Campinas, Eds. Unicamp e Papirus, 2ª ed., 1986, 218p. A abordagem de Lenharo é tributária da de Roberto Romano da SILVA. Cf. _____. Igreja Contra Estado. São Paulo Kairós, 1979, que é a versão de uma tese orientada por Claude Lefort na École... em Paris na década de 1970. 17 Cf. CANETTI, Elias. Massa e Poder. São Paulo, Brasília; Ed. Melhoramentos, Ed. UnB, 1983, 531p. 18 Cf. ARRUDA, Marcelo Pedro de. Triunfo Católico no Calendário Republicano: N. S. Aparecida no Calendário Secular, [1930-1980]. São Paulo, Depto. de História, Programa de Pós Graduação em História Social, FFLCH-USP, [Tese de doutorado], 2 vol., 2005, 910p; Veja-se o capítulo “Monumento”, onde, a partir de uma documentação inédita, tratei da construção da Nova Basílica nacional de Aparecida desde 1946. Especialmente pp. 590-722. 19 Cf. CORNWELL, John. Hitler’s Pope - The Secret History of Pius XII. London, Penguin Books, 1999. [Trad. Brasileira. Rio de Janeiro, Imago, 2ª ed., 2000, 471p; cit. entre aspas p. 370].

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Assim, se posicionou o Cardeal Francis Spellman sobre o Templo mariano

brasileiro: “o projeto é, indubitavelmente, um grande empreendimento [...]. Verifiquei ser ele muito maior do que o Santuário Nacional da Imaculada Conceição, que os Bispos Americanos estão construindo em Washington e cujo custo é de 15.000.000 de dólares, soma que não será suficiente para terminar o interior do tempo [...]. Isto é o que me dá uma idéia da coragem do Arcebispo de São Paulo, em iniciar tal projeto em louvor à N. S. Aparecida”.20

Essa correspondência, cujo portador havia sido o jurista César José Augusto

Salgado, Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, que visitara o Cardeal de

Nova York em viagem aos EUA, e na ocasião da estadia de César Salgado nos Estados

Unidos, o jornal New York Times deu ampla cobertura ao empreendimento dos católicos

norte-americanos e chegou a publicar reportagem divulgando o projeto mariano

brasileiro.

Anteriormente, os religiosos estiveram juntos no Brasil. Os Cardeais Mota e

Spellman se encontraram no Rio de Janeiro em 1955, no 36º Congresso Eucarístico

Internacional, e provavelmente discutiram a respeito dos Templos marianos dos seus

países que estavam em processo de construção.

O Arquiteto Benedito Calixto Neto, responsável pelo projeto de Aparecida esteve

nos EUA visitando a construção da Basílica norte-americana. Segundo algumas fontes,

o Santuário brasileiro foi “decalcado” do Templo católico da América do Norte. Iremos

perscrutar a veracidade dessa informação.

Para a questão do custeio do Templo brasileiro, além dos óbolos dos fiéis

depositados nos cofres da antiga Basílica, houve expressiva transferência de verbas

públicas para a Basílica mariana de N. S. Aparecida, tanto em espécie quanto em

insumos e matérias-primas, como as cento e sessenta toneladas [160.000 kg] de aço, da

Cia. Siderúrgica Nacional de Volta Redonda, doados no Governo Juscelino

Kubitschek.21 O aço foi utilizado para construir a Torre monumental contígua ao

Santuário nacional.

20 Cf. Carta em inglês datada de “Nova Iorque, 18 de nov. de 1957” do Cardeal Francis Spellman encontra-se depositada nos Documentos Avulsos do Cardeal Mota. In: ACMSP. 21 Além das 160 toneladas de ferro da CSN, o Executivo Federal mandou mensagem ao Congresso Nacional na qual abria créditos no montante de “... 20 milhões” para serem liberados em duas parcelas de 10 milhões cada, nos Orçamentos dos anos de 1958 e 1959. O deputado Ulysses Guimarães foi o intermediário da liderança religiosa e dos leigos católicos junto ao Executivo Federal. Cf. Livro I [1956-1960] da União dos Amigos da Padroeira. Cit. f. 10. Fonte manuscrita não catalogada depositada no ACMSP. O brasilianista norte-americano Kenneth P. SERBIN fez pesquisa da transferência de verbas públicas para a Igreja católica. Ele não cita os montantes acima. Cf. _______. “Igreja, Estado e a Ajuda Financeira Pública no Brasil, 1930-1964: Estudo de três casos chaves”. In: Texto CPDoc. Rio de Janeiro, 1991, 58p.

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Iremos investigar se houve, no caso do Templo norte-americano, a transferência

de verbas públicas como no do Brasil, para assim operarmos a inteligibilidades dos dois

processos e as suas respectivas especificidades nos planos políticos, sociais e históricos.

Uma questão se coloca de imediato em relação aos dois casos que serão

examinados no concernente à relação de membros da hierarquia católica com quadros

do poder secular instituído.

No referente ao Brasil, o Cardeal Mota teve atuação de proa por todo o período do

Governo JK, e manteve relações das melhores com o presidente João Goulart. Quando

D. Mota foi transferido da Arquidiocese da capital paulista para a de Aparecida em

1964, já no papado de monsenhor Montini, foi efusivamente elogiado pelo Papa Paulo

VI no concernente aos seus esforços na ereção do Santuário de Aparecida.22

No caso do Cardeal Spellman, segundo o historiador John Cooney,23 o religioso

norte-americano teve a sua ação política e autoridade eclipsadas depois da eleição do

presidente John F. Kennedy em 1960.

De acordo com Cooney que, sem matizar a informação, aponta que Spellman

deixou de ser a personalidade e a autoridade religiosa católica mais importante dos

Estados Unidos a partir do evento da eleição presidencial do católico J. Kennedy, penso

que, entre outros elementos, deva-se levar em conta na análise do problema a questão da

mudança pela qual passou a Cúria romana, com o papado de João XXIII, pois Spellman

estivera profundamente ligado ao Governo de Pio XII.24

Assim, um dos escopos da pesquisa será perscrutar como se deram as respectivas

especificidades das relações entre poderes religiosos e seculares e a ação da Santa Sé

nos casos investigados.

Para que o leitor tenha uma medida da ação dos católicos na Pós-Segunda

Guerra Mundial, veja-se a imagem abaixo.

O Cardeal Francis Spellman é a quarta pessoa no fundo da imagem à frente.

Reputo esta fotografia importante.

22 Assentou-se no 1º Livro da Arquidiocese de Aparecida [1º L.A.Ap] três documentos da Cúria romana que registram a transferência do Cardeal Mota para Aparecida. Um desses documentos é assinado pelo papa Paulo VI, no qual ele toca na questão da ação do religioso brasileiro para construir o Templo mariano de Aparecida. 23 Cf. COONEY, J. The American Pope: The Life and the Times of Francis Cardinal Spellman. New York, Time Books, 1984. 24 Cf. DUFFY, Eamon. Saints and Sinners. A History of the Popes. Yale University Press, 1997, especialmente pp. 262-268. Cf. também: Hitler’s Pope - The Secret History of Pius XII. Londres, Penguin Books, 1999. [Trad. Brasileira. Rio de Janeiro, Imago, 2ª ed., 2000, 471p], sobre esse ponto, veja-se pp. 194-197 e 369 e ss.

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 10

Ela registrou católicos norte-americanos em volta do Cardeal Spellman em 1952,

quando participaram XXXV CEI em Barcelona, na Espanha franquista.

A Comitiva de católicos norte-americanos que viria ao Brasil e que deveria

participar do 36º CEI no Rio de Janeiro em 1955 que “under personal spiritual

direction of His Eminence Francis Cardinal Spellman, Archbishop of New York”,25

era nos mesmos moldes da que esteve em Barcelona em 1952.

O grupo foi composto, além do referido Cardeal, de outro religioso, mais duas figuras

masculinas e oito [8!] mulheres. De acordo com a legenda da foto: “Cardinal Spellman

dining aboard ship with a group of Pilgrims during the 1952 International Eucharistic

Congress Pilgrimage to Barcelona, Spain”. Eles encontram-se à mesa, estão vestidos

com apurado gosto e esboçam sorrisos ou riem largamente.

O grupo de senhoras e senhores maduros, qualquer um deles passaria por mães,

avós ou avôs, financiou o anticomunismo do senador Joe McCarthy.

Os católicos da foto gargalhavam e estavam em vias de se refestelarem à mesa,

num banquete.

Para tanto, criaram um ambiente social asfixiante, no qual perseguiam e

denunciavam, num cenário de terror político.

25 Folder: “Pilgrimage to the 36th International Eucharistic Congress at Rio de Janeiro, Brazil July 19-24, 1955”. Segundo o noticiado no Boletim Informativo. Rio Janeiro, nº 6; “o vapor Brasil, da Moore-MacCormack, foi fretado pela “Catholic Travel League”, de N. York, e deverá trazer a peregrinação chefiada por S. Ema. Cardeal Spellman e organizado pelo Sr. Roy McCarthy, Presidente da Liga”; cit. p. 5. In: ACMRJ. Cf. também a análise já empreendida por mim. Cf. ARRUDA, Marcelo Pedro de. Triunfo Católico no Calendário Republicano: N. S. Aparecida no Calendário Secular, [1930-1980]. São Paulo, Depto. de História, Programa de Pós Graduação em História Social, FFLCH-USP, [Tese de doutorado], 2 vols., 2005, 910p; especialmente p. 534 ss.

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Neste particular, como veremos à frente, não eram necessárias provas e elementos

formais, bastava uma informação anônima, um boato, um sussurro, que vidas e

reputações fossem lançadas em teias de dúvidas, desconfianças, eram potenciais

traidores: o imaginário social cristão faz operações intertextuais quando se remete à

questão traição, pois o fundador da sua religião pereceu após ter sido delatado,

especialmente os que não comungassem os valores cristãos e católicos em particular.

d] Hipótese de Trabalho:

Com base nas fontes já compulsadas - [principalmente para o caso brasileiro] - e na

bibliografia já estudada, adotamos como ponto de partida que a construção dos Templos

nacionais marianos significou um importante meio de atualização do processo de

romanização ou ultramontano26 sobre as devoções populares.

O processo ultramontano enfeixava, segundo a definição de Roger Bastide: a] a

autoridade episcopal – a instituição eclesiástica hierarquicamente estruturada agindo e

controlando o vasto campo de devoções do catolicismo populares; b] a reforma do

corpo episcopal, o controle doutrinário e da fé, das instituições de ensino e educação

dos membros do clero e do laicato, a partir de meados do século XIX; c] para a

experiência especifica da realidade brasileira, o ultramontanismo incorporou um grande

número de padres estrangeiros, na sua grande maioria de origem européia, e de ordens

e congregações missionárias [entre estas destaca-se os Redentoristas que chegaram ao

Brasil em 1984 para administrar o Santuário de Aparecida], tendo como tarefa básica:

normatizar segundo as ordenações ultramontanas as práticas devocionais do catolicismo

popular estruturado, e aplicar um catolicismo de caráter universalista, matriciada

numa doutrina rígida e moral absoluta; d] a dimensão política da aplicação do

ultramontanismo dependia dos objetivos e interesses políticos locais].27

E também funcionou como mecanismo de combate às visões de mundo contrárias

às da Igreja católica [Brasil] e a da doutrina cristã reformada [Estados Unidos].

26 Cf. WERNET, Augustin. “O Auge da Romanização: O Concílio Plenário da América Latina”. In: Anais da X Reunião da SBPH. Curitiba, 1991. 27 Cf. BASTIDE, Roger. “Religion and the Church in Brazil”. In: SMITH, T. Lynn e MARCHANT, A. [Orgs]. Brazil, Portrait of Half a Continent. New York, 1951, pp. 334-355. Ralph Della Cava apresentou um consistente sumário do conceito de ultramontanismo a partir dos aportes de Roger Bastide. Cf. DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joaseiro. [Trad. da professora Maria Yeda Linhares]. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976, 279p; veja-se, especialmente, pp. 31-34, e a nota 33 às pp. 43-44.

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A doutrina alçada à condição não de antagônica à cristão-católica, mas inimiga

desta, foi a comunista e materialista, que era interpretada como ameaça [Scare28 ou

Pânico] à identidade destes países, que se traduziria pela erosão moral e o definhamento

físico das Nações.

Nesta ordem de coisas, os Templos marianos eram difundidos tanto pela

hierarquia quanto pelos membros da elite do laicado, como locus do afeto/amor [Maria

é a Mãe simbólica dessas Nações], da ordem, da obediência e da disciplina; ao contrário

de valores originados na doutrina atéia e materialista comunista que era, segundo a

Igreja católica, a efetivação do ódio, da destruição [física e espiritual dos povos: a

erosão do ethos cristã], de infiltração, de rancores, de insultos, de perseguições e de

traição.

Neste particular, no período da Guerra Fria, não eram necessários provas e

elementos formais para alguém suspeito de traição. Bastava uma informação anônima,

um boato, um sussurro, para que vidas e reputações fossem lançadas em teias de

dúvidas e desconfianças. As pessoas denunciadas e/ou delatadas tornavam-se

potenciais traidores dos seus países [cuja matriz social se assentava no ethos cristão].

Criando-se, assim, um ambiente social e político asfixiante no qual se perseguia e se

denunciava, num cenário de terror político.29

[O ambiente social e o cenário político claustrofóbico do período

McCarthysta nos Estados Unidos, nos anos 1950, foram apanhados de modo

exemplar pela teatróloga Lilian Hellman, na sua célebre peça cujo título é The little fox.

Na obra a autora nos dá o timbre do que estamos querendo apontar].

O Brasil viveu igual cenário político e ambiente social, talvez mais forte, pois no

pós-1964, o Golpe Militar auto-intitulado de revolução “redentora” [não podemos

deixar de evocar a imagem estabelecida pela tradição católica: o fundador do

cristianismo veio ao mundo para remir a humanidade], a partir da ação dos militares

“linha dura” que acusavam os seus opositores políticos de inimigos e subversivos, e

aceitavam a delação “... sem que houvesse a preocupação de investigar a fidelidade e a

28 Cf. HAYNES, John Earl. Red Scare or Red Menace? American Communism in the Cold War Era. Chicago, Ivan R. Dee, 1995. E também: HEALE, M. J. McCarthys’s Americans: Red Scare Politics in State and Nation - 1935-1965. Athens, The University of Georgia Press, 1998. 29 Cf. FARIELLO, Griffrin. “Principal Federal Heresy Tribunals and Laws”. In: Red Scare: Memories of the American Inquisition: on Oral History. New York/London, W. W. Norton & Co., 1995.

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confiabilidade das informações e dos fatos narrados”, gerando um “... clima de terror e

de insegurança no país”.30

A questão da traição foi central para galvanizar corações e mentes, e na

mobilização das multidões: “o imaginário social cristão faz operações intertextuais

quando se remete à questão da traição, pois o fundador da sua religião pereceu após ter

sido traído [...]”.31

Nesta ordem de coisas, conjugam-se traição e lamentação.

Ora, se a ordem humana apreende o seu lugar no mundo a partir do simbólico, que

é “a capacidade para relacionar-se com o ausente”, traição e lamentação, efetivamente,

tornaram-se uma potência mobilizadora do humano, e apontava outro núcleo: imbricava-

se com o sacrifício.32

Como indicou Guy Stroumsa, o sacrifício é o núcleo dos cultos religiosos desde a

Antigüidade greco-romana, pois o sacrifício físico era o ato ritualizado da vida religiosa:

a partir dele se estabelecia o laço comunitário, do ponto de vista étnico, civil ou

camponês. O cristianismo nasceu negando esses atos do sacrifício físico, transferindo-os

aos planos individual e simbólico, o que gerava nos homens o sentimento do terrífico, da

angústia, da depressão.

Guy Stroumsa numa abordagem de cunho político do sacrifício, aponta sobre o

cristianismo vencedor que, ao proibir os sacrifícios físicos pagãos, que eram,

simultaneamente, a marca visível do poder estatal nas diversas partes do Império

romano – principalmente nas Províncias –, assim, operou-se “a dissolução das

comunidades cívicas”, pois as identidades culturais eram medidas pelo crivo religioso,

ou seja: passaram a ser matriciadas pelo ethos cristão.

Neste sentido, gerando nova sensibilidade com desdobramento no campo

estético.33 Assim, instituindo nova identidade para o corpo social.

Nesta ordem de coisas, como lembrou uma pensadora política liberal sobre um dos

pais da Igreja: “Ele [Santo Agostinho] sabe que a Igreja só pode fundar a sua universalidade sobre a universalidade do império romano no seu declínio, e concede-lhe o direito para tal. Não se pode

30 Cf. MORAES, Dislane Zerbinatti. “Riso solto em tempos difíceis”. In: Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, ano 1, nº 10, mai./jun./jul. de 2006, pp. 34-39; cit. p. 36. 31 Cf. ARRUDA, Marcelo Pedro de. Triunfo Católico no Calendário Republicano: N. S. Aparecida no Calendário Secular, [1930-1980]. São Paulo, Depto. de História, Programa de Pós Graduação em História Social, FFLCH-USP, [Tese de doutorado], 2 vols., 2005, 910p; cit. p. 535. 32 Cf. STROUMSA, Guy. Le Fin du Sacrifice. Paris, O. Jacob, 2005, 224p. 33 Cf. BROWN, Peter. The Rise of Western Christendom. Oxford, Basil Blackwell, 1996. Especialmente pp. 251-269. Cf. também: JAEGAR, Werner. Early Christianity and Greek Paidéia. Harvard, Harvard University Press, 2002.

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compreender o alcance e a riqueza do Santo Agostinho cristão sem se ter em conta o duplo significado da sua existência como romano e como cristão [...]”.34

Neste viés analítico, poder político imperial e espraiamento religioso cristão se

articularam: sem aquele este não existiria, e vice-e-versa.

Um engastava-se no outro, imbricando-se as esferas sagrada e secular.

Nestes termos, há no cristianismo, no catolicismo em particular, a latente pretensão

imperial: a tudo e todos absorver. Cujo corolário é a metanóia [a conversão absoluta].

Logo, ação teológico-político da parte do agente religioso. Sobre essa questão,

tomando a obra de Espinosa por base, afirmou uma comentarista: “a teologia nada tem a ver com o conhecimento e o saber e sim com a política; é a forma privilegiada de suscitar o desejo de obediência, graças ao medo e à ignorância da massa e ao aparato do mistério e grandeza com que cerca o poder”.35

Mormente em contextos de crises, em situações limiares, em períodos de transição

ou “de fronteiras” duma realidade em “queda” e nos albores de outras ainda não

inteiramente configuradas.

Numa palavra: em situação histórica em vias de mutação,36 pois como já

apontamos anteriormente, no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial, tratava-se de

“tempo de escombros, de reconstruções tanto física quanto espiritual, e oportunidade de

impor-se doutrinariamente”.

Elias Canetti também se referiu à lamentação no registro do sagrado, fruído pelas

massas nos seguintes termos: no cristianismo a lamentação adquiriu “validade

universal”.

A esta constatação Canetti se interroga: “o que foi que deu consistência às formas

de fé que derivam da lamentação?”. Respondendo a questão, ele recolheu da tradição a

explicação que a sustenta e valida: “[...] a lenda em torno da qual elas se formam é de

um homem ou de um deus que pereceu injustamente. Sempre é a história de uma

perseguição [...]”. Após sumariar e agenciar uma série de lendas que dão sustentação à

sua argumentação, Canetti afirma: “[...] sempre corre sangue, mesmo na mais humana de todas as paixões; nem mesmo na de Cristo abre-se mão do sangue e das chagas. Cada uma das ações que formam a paixão é tida como injusta;

34 Cf. ARENDT, Hannah. Der Liebesbegriff Bei Augustin. [1ª ed., 1929]. [O Conceito de Amor em Santo Agostinho]. Lisboa, Inst. Piaget, 1997, 189p; cit. p. 174. 35 Cf. CHAUÍ, Marilena. Política em Espinosa. São Paulo, Cia. das Letras, 2003, 338p; cit. p. 74. A nossa compreensão da questão do teológico-político aceita essas diretrizes apontadas por Marilena Chauí. 36 Cf. ANSART, Pierre. La Gestion Des Passions Politiques. Lausanne, Éditions L’Age d’Homme, 1983, 152p. Este autor trata de modo exemplar da questão da “coesão dos grupos”, p. 25 ss, a partir do dado religioso. [Agradeço e indicação deste livro à professora Maria Helena Rolim Capelato].

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quanto mais se afasta dos tempos místicos, tanto mais existe a tendência em prolongar e em equipar a paixão com inúmeras características humanas. A caça ou perseguição sempre é percebida do ponto de vista da vítima. Em torno do seu fim forma-se uma malta de lamentação, mas o seu lamento tem uma nota especial: um homem que morreu por amor dos homens que chorou. Ele era o salvador deles, talvez por ser um grande caçador, talvez por ter outros méritos maiores. Seu valor é destacado de todas as maneiras possíveis; ele é justamente aquele que não deveria estar morto. Sua morte não é aceita pelos que a lamentam”.37

Anteriormente apontamos a respeito das imagens [amor x ódio; ordem x

destruição] originadas nos discursos que objetivam o convencimento das massas: tais

discursos operavam pelo mecanismo dos contrastes binários, das oposições homólogas

de fácil assimilação pelas multidões de devotos e crentes desses países.

Para essa questão das oposições homólogas [a partir das formulações e indicações

teóricas de Pierre Bourdieu] como mecanismo dos discursos e dos argumentos pânicos

originados no sagrado e na devoção mariana que foram utilizados para combater,

principalmente, o comunismo, remeto o leitor à minha pesquisa38 que tomou por fontes,

textos e imagens de periódicos católicos e da imprensa leiga.

Neste sentido, as Basílicas nacionais e as doutrinas cristãs, articularam-se no

engendramento de elementos constitutivos das pertenças, identidades, nos imaginários

sociais, e, nuclearmente, no ethos desses países. Nesta ordem de coisas, gerando práticas

sociais com efetivo desdobramento no plano político.

Assim, configurando-se ethos compartilhado entre doutrina cristão-católica e

prática política na sociedade liberal de massas: aqui, na nossa hipótese, o que conta são

as demandas do devoto [católico] ou do fiel [evangélico, originado nas práticas

protestante].

A noção de ethos adotada na investigação se ancora nas indicações de Jean Poirier

no “Prefácio geral da obra” e “O tempo, o espaço e os ritmos” em obra sob sua

coordenação.

Este autor afirma que no ethos estão contidas “as regulações sociais”, nele “a ‘lei’

moral, ideal herdado do grupo, internalizado, mas também reinterpretado pelo

indivíduo, e as normas formuladas pela religião”.39

A importância do ethos foi vivamente vincada por Max Weber na sua obra

clássica Wirtschaft und Gesellschaft [Economia e Sociedade], nas partes 7 e 10 do 37 Cf. CANETTI, Elias. Massa e Poder. São Paulo/Melhoramentos; Brasília/Ed. UnB, 1983, 532p; cits., entre aspas, pp. 157-158, respectivamente, itálicos meus. 38 Cf. ARRUDA, Marcelo Pedro de. Triunfo Católico no Calendário Republicano: N. S. Aparecida no Calendário Secular, [1930-1980]. São Paulo, Depto. de História, Programa de Pós Graduação em História Social, FFLCH-USP, [Tese de doutorado], 2 vols., 2005, 910p; especialmente pp. 299-352. 39 POIRIER, Jean. [Dir]. Histoire des Moeurs. Paris, Gallimard, tomos: I, II, e III, 1990. [Trad. Portuguesa]. História dos Costumes. Lisboa, Editorial Estampa, 1998, vols. de 1 a 10]; cit. p. 12.

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capítulo V, apontando a abrangência do ethos: para ele a religião é produtora de ethos,

constrói sistemas de dispositivos: estes contendo ordem, prescrição, regra, preceito etc.

Não menos importante na abordagem adotada na investigação no concernente ao

ethos são fragmentos do celebérrimo parágrafo do 18 Brumário no qual Marx afirma

que “os homens fazem a sua própria história, mas não fazem arbitrariamente, nas condições escolhidas por eles, mas nas condições dadas diretamente e herdadas do passado. A tradição de todas as gerações sobrecarrega o cérebro dos vivos. E mesmo quando eles parecem ocupados em se transformar a si próprios e às coisas, em criar algo completamente novo, é precisamente nessa época de crises revolucionárias que eles evocam receosamente os espíritos do passado, dos quais eles tomam seus nomes, suas palavras de ordem, seus costumes, para aparecer na nova cena da história sob esse disfarce respeitável e com essa linguagem emprestada”.40

Segundo Gopal Balakrishnan,41 Marx, tal como Hegel já o fizera, tinha pouco ou

nenhum apreço por expressões do romantismo como autenticidade, língua ou costumes.

Todavia, como explicar sentenças como “a tradição de todas gerações sobrecarrega o

cérebro dos vivos” presente no 18 Brumário?

Avalio que só seja possível compreendê-la a partir de uma abordagem sobre o

ethos. Não para aferir-lhe qualquer positividade em termos políticos, mas apreendê-lo,

para assim ter instrumentos para enfrentá-lo, “invertendo” a sua realidade, que subtrai e

eclipsa a cidadania secular e republicana. Acarretando deslegitimidade dos direitos e

das reivindicações, como por exemplo, os de gênero: a determinação ou não de as

mulheres em conceber [Maria, em termos simbólicos cristão, é o paradigma da

maternidade, nutrição e obediência - ao mando masculino, pois anuiu ao Deus único

desde a cena da Anunciação do Anjo - a ser respeitado e internalizado pelas mulheres];

do acesso feminino ao aborto assistido; o direito às diferenças e as opções sexuais

plurais etc.

Mas, nuclearmente, trabalho com a hipótese que, ao erigir esses Templos ou

Santuários ou Basílicas nacionais, principalmente em termos brasileiros, reforçaram a

prática antidemocrática neste país, pois a sua construção foi uma determinação pelo alto

[a partir da ação conjugada das três hierarquias do poder: a religiosa, a política e a

econômica], e, por conta da sua condição de Templo nacional - que contou com

expressiva inversão de recursos públicos na sua construção -, ali se celebra uma única

40 Cf. K. MARX. Op. cit. In: FERNANDES, Florestan. [Org]. K. Marx, F. Engels. História. [Trad: Florestan Fernandes]. São Paulo, Ática, [Col. Grandes Cientistas Sociais], 1983, p. 48, negritos meus. 41 Cf. BALAKRISHNAN, Gopal. “A imaginação nacional”. In: _______. [Org]. Mapping the Nation. Londres, Verso, 1996. [Trad. brasileira. Rio de Janeiro, Contraponto, 2000], 335p; pp. 209-225; cit. p. 212.

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devoção religiosa, assim olvidando-se as demais religiões e expressões atinentes ao

sagrado presente nas práticas culturais da Nação.

A adoção de uma única Basílica nacional deve ser interpretada como uma opção

política; cujo fito é o combate às doutrinas contrárias à cristã reformada e a católica,

apostólica e romana.

Pois, como escreveu um membro da intelligentsia pós-moderna, que se declara

católico, fazendo coro à hierarquia religiosa curial romana, ao lamentar profundamente

que a Constituição da União Européia, no seu preâmbulo, não tenha adotado referência

a Deus nem ao cristianismo mesmo depois de “... uma vez extinta a ameaça comunista

[expressão do “totalitarismo ateu”, segundo o mesmo autor]”.42

Nestes excertos do filósofo Gianni Vattimo, o argumento pânico e a ameaça de

outra doutrina que não a cristã permanece nos albores do século XXI, deste modo

revelando toda a sua potência no encolhimento da esfera pública e como obstáculo à

aquisição de uma cidadania plena: republicana e secular.

e] Justificativa:

Não há, na bibliografia compulsada, pesquisa no campo da história que trate da

importante questão da ereção de Templos nacionais no período da Guerra Fria como

mecanismo de combate às doutrinas que não fossem matriciadas no cristianismo. E que

se prestou para enfrentar o comunismo.43

Na minha pesquisa sobre a Padroeira, trabalhei com suportes nos quais a

mensagem anticomunista44 da Igreja instrumentalizou a devoção à Mãe simbólica da

Nação.

42 Cf. VATTIMO, Gianni. Dopo la Cristianità. Roma, Bari; Gius, Laterza & Figli, 2002. Essas posições do filósofo podem ser aferidas noutro texto de sua autoria sobre o sagrado. Cf. VATTIMO, G. “O rasto do rasto”. In: DERRIDA, Jacques. et VATTIMO, Gianni. [Orgs]. La Religion. Paris, Bari; Éditions du Seuil, Laterza, 1996, 250p; pp. 95-113. [Trad. portuguesa]. Lisboa, Relógio d’Água, 199]. 43 Cf. CAMARGO, Cândido Procópio F. de. et alii. “Igreja Católica: 1945-1970”. In: FAUSTO, Boris. [Dir]. História Geral da Civilização Brasileira. III: O Brasil Republicano. 4: Economia e Cultura [1930-1964]. São Paulo, 1984, 666p; pp. 343-380; especialmente, para questão do anticomunismo, pp. 372 ss, a partir da mobilização de grandes contingentes de católicos nas “Marchas pela Família...”, nas “Cruzadas do Rosário...”, etc. que contou com apoio de religiosos com os Cardeais D. Mota de São Paulo, de D. Câmara do Rio de Janeiro e de D. Resende, Arcebispo de Belo Horizonte entre outros. O pe. José Oscar BEOZZO, no ensaio “A Igreja entre a Revolução de 1930, o Estado Novo e a Redemocratização”, aponta sobre o processo que instrumentalizou a devoção à Aparecida como mecanismo anticomunista. Cf. ______. Op. cit. In: FAUSTO, Boris. [Dir]. História Geral da Civilização Brasileira. III: O Brasil Republicano. 4: Economia e Cultura [1930-1964]. São Paulo, 1984, 666p; pp. 269-341. 44 Cf. ARRUDA, Marcelo Pedro de. Triunfo Católico no Calendário Republicano: N. S. Aparecida no Calendário Secular, [1930-1980]. São Paulo, Depto. de História, Programa de Pós Graduação em História Social, FFLCH-USP, [Tese de doutorado], 2 vols., 2005, 910p; especialmente, pp. 299-352.

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A imagem acima já havia sido publicada em 1932 no Almanaque de N. S.

Aparecida, esta reprodução é da republicação da mesma em 1938. Trata-se do quadro o

“Dragão de três cabeças” do pintor acadêmico austríaco Horsnstein como alegoria e instrumento

de luta: “SÃO MIGUEL ARCANJO, EM NOME DE DEUS E DA IGREJA, COMBATE AS

POTÊNCIAS E O DRAGÃO DO BOLCHEVISMO”. 45 Junto à imagem havia um texto que

forma um conjunto de informações. Na imagem temos parte do Globo terrestre coberto pela

figura de um Dragão de três cabeças. Tratava-se de uma pintura executada pelo pintor

acadêmico vienense Horsnstein. Para o pintor o comunismo era expresso no bolchevismo; o

Dragão-Bolchevismo era representado como um monstro de três crânios com três chifres.

Assim, após conquistar a Rússia, agora, naqueles anos desde 1936 agia sobre a Espanha, o

Dragão-Bolchevismo-Comunismo se lançava sobre outros espaços do planeta. O monstro

apocalíptico lançava sobre a China as suas garras – patas e unhas. Sobre o longínquo Japão, o

monstro tentacular enrolava a sua cauda peçonhenta. Em outros países asiáticos, na América e

na Europa, a fera monstruosa lançava as temíveis, ameaçadoras e destruidoras chamas de fogo.

O corpo do monstro46 sibilino assentava-se de modo pesado na Rússia. A sua posição e o seu

gesto são de bote armado e do fogo inflamador. Para a hierarquia, se incendiário, era

revolucionário; sendo fogo, indicava a sua cor vermelha; em sendo dessa cor, indicava tratar-se

do comunismo. Na tradição cristã o vermelho é a cor pela qual se representam Satanás e o

inferno. Segundo o autor do quadro, os representantes de Cristo, convocados “por Pio XI”, 45 ANSAp. Aparecida, 1938, p. 145. O mesmo desenho já tinha sido publicado na edição do ANSAp de 1932, p. 166. 46 Cf. LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa, Editorial Estampa, 1979, pp. 221-261. O historiador, no ensaio “cultura eclesiástica e cultura folclórica46 na Idade Média: S. Marcelo de Paris e o Dragão” esclarece pontos importantes sobre a representação desse ente mítico, o “monstro – serpente-dragão”, como semeador do “terror entre as populações [...]”. Simon SCHAMA ao tratar desta questão afirma “que melhor morada para um dragão que o lago da montanha em cujas profundidades Pilatos jazia, emergindo só na Sexta-Feira Santa envolto no manto Vermelho-sangue de seu julgamento”. O autor lembra que quando um santo coloca o “pé sobre o corpo de um dragão é o símbolo de um exorcismo bem-sucedido”. Cf. _______. Paisagem e Memória. [Trad]. São Paulo, Cia. das Letras, 1996, 645p; cit. p. 414 ss.

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emergem de dentro de uma nuvem: São Miguel e o seu corpo de centuriões se lançavam no

combate e na luta contra a fera monstruosa. À esquerda e na parte inferior da imagem, vê-se São

Miguel portando em sua mão direita a sua arma principal: a Cruz. É em relação à Cruz de Cristo

que uma das cabeças – a central – o Dragão do comunismo expele e jorra as chamas da

discórdia. Na mão esquerda do Anjo em combate, em posição de luta, ele porta uma espada

flamejante. Ela aponta em direção à fera bolchevique: ele combate com o “fogo divino o fogo

satânico” do comunismo. Na base da imagem, à esquerda, dois querubins em luta para destruir

as armas do comunismo: a foice e o martelo.

Os mesmos anjos demandam no aniquilamento dos símbolos do comunismo russo:

encimando a foice e o martelo, uma estrela de seis pontas com seis cantos, ambos colocados

sobre uma esfera que remete à figura do globo terrestre, envolto por uma braçada de trigo

cingida por uma fita. Sob a imagem lemos o seguinte título em letras grandes: “SÃO MIGUEL

ARCANJO, EM NOME DE DEUS E DA IGREJA, COMBATE AS POTÊNCIAS E O

DRAGÃO DO BOLCHEVISMO”.

Há trabalhos parciais que investigaram a questão do anticomunismo dos católicos

nos Estados Unidos e no Brasil, mas no registro do discurso dos agentes leigos e dos

religiosos, e, principalmente, comentário da questão na bibliografia já estruturada pelos

autores norte-americanos sobre o seu país como é o caso da pesquisa da historiadora

Carla S. Rodeghere.47

Assim, a abordagem por mim adotada, na perscrutação das relações Igreja-Estado,

elegendo por escopo analítico a ereção de Basílicas nacionais, objetiva compreender, no

registro histórico, os meios, mecanismos, estratégias e ações para a sua consecução;

tais táticas serão apreendidas como discursos teológico-políticos, apresentados pela

hierarquia à cena pública dos países. Assim, eles visavam a instituir, na nossa

interpretação, no plano da finitude humana, a perenidade do sagrado. No concernente

aos planos estético e político, como apontou Giulio Carlo Argan48 na sua análise de um

Templo romano destinado às massas devotas já no século XVII.

47 Cf. RODEGHERE, Carla S. “Religião e patriotismo: o anticomunismo católico nos Estados Unidos e no Brasil nos anos da Guerra Fria”. In: Revista Brasileira de História. Dossiê: Viagens e Viajantes. São Paulo, Anpuh, Ed. Humanitas, vol. 22, nº 44, 2002, 563p; pp. 463-488. Na bibliografia arrolada pela autora há uma defasagem na especificidade que o problema exige, pois a questão do anticomunismo encontra-se dispersa em abordagens que elegeram outros atores importantes, nas quais os católicos são mais um, como na pesquisa de MOTTA, Rodrigo P. Sá. Em Guarda contra o “perigo vermelho”: o anticomunismo no Brasil [1917-1964]. São Paulo, Depto. de História, FFLCH-USP, [Tese de doutorado], 2000. Não obstante haver a presença dos católicos neste trabalho, o grande ator são os militares, como noutras referências cits. por Rodeghere à p. 486. 48 Cf. ARGAN, Giulio C. Immagine e persuasione - Saggi sul barocco. Milão, G. Feltrinelli Editore, 1986. [Trad. brasileira. São Paulo, Cia. das Letras, 2004]; cit. pp. 91-2 da ed. brasileira.

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Deste modo, esse tipo de arquitetura “... encerrava uma “intensa emoção”,

operando a “ilusão não apenas visual, mas psicológica” e que tem por escopo “tornar

verossímil o fenômeno portentoso”49 ou monumental. Nesta ordem de coisas, os

artefatos arquitetônicos analisados na pesquisa operam, em tese, no registro apontado

por Argan no sentido de que eles objetivavam “... induzir no fiel o estado de ânimo e a

atitude modesta e humilde que ele deve assumir ao dirigir-se a Deus”.50

Esse estado de coisas, na nossa interpretação, não se restringia aos elementos

atinentes ao sagrado, mas se espraiava ao plano político e no cotidiano dos devotos e

fiéis das Nações alvo da presente análise.

f] Metodologia e Aportes Teóricos:

Segundo a historiografia estruturada que trata das relações Igreja-Estado, a Instituição

Católica, Apostólica e Romana, desde o século XIX, focou toda a sua ação [quer social,

quer política], a partir da Cúria Romana lotada na Santa Sé, objetivando “servir”51 ao

Estado. Tal servir, nos procedimentos teóricos e metodológicos adotadas na presente

pesquisa, foi operacionalizado e efetivou-se. Mas, não significou a absorção absoluta

das duas identidades, nem a canibalização de um campo [teocrático] pelo outro [laico],

mas a autonomia das esferas religiosa e secular, conforme as indicações de Pierre

Bourdieu.52 Trata-se, o nosso problema, da análise de duas realidades históricas, a

brasileira e a norte-americana, logo o método comparativo se faz necessário, a partir dos

aportes teóricos e metodológicos indicados no texto clássico de Marc Bloch de 1928.53

49 Cf. ARRUDA, Marcelo Pedro de. Triunfo Católico no Calendário Republicano: N. S. Aparecida no Calendário Secular, [1930-1980]. São Paulo, Depto. de História, Programa de Pós Graduação em História Social, FFLCH-USP, [Tese de doutorado], 2 vols., 2005, 910p., a partir das colocações de Argan; cit. entre aspas, p. 596. 50 Cf. ARGAN, Giulio. Op. cit., 1986. [Trad. brasileira]. São Paulo, Cia. das Letras, 2004]; cit. p. 103 da ed. brasileira 51 A afirmação é do historiador Giacomo MARTINA, num livro fundamental das relações Igreja-Estado ainda inédito no Brasil: La Chiesa nell’età del l’assolutismo, del liberalismo, del totalitarismo. Brescia, 1970. O autor sumariou pontos importantes do livro em tela, no artigo “A Influência do Liberalismo e do Socialismo para uma Melhor Autocompreensão da Igreja”. Cf. _______. In: Revista Concilium. Petrópolis, Vozes, vol. 67, nº 7, 1971, pp. 883-889. 52 Cf. BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo, Ed. Perspectiva, 3ª ed., 1992, 361p; especialmente pp. 70, 72 ss. 53 Cf. BLOCH, Marc. “Pour une histoire compare des sociétés européennes”. [1ª ed. 1928]. In: _____. Histoire & Historiens. Paris, A. Colin Éditeur, 1995. [Trad. portuguesa. Lisboa, Teorema, 1998, 318p; pp. 119-150. Veja-se a nota de rodapé nº 39, à frente, onde apresento indicação bibliográfica a partir de M. Bloch.

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Pesquisadores brasileiros, como no trabalho de Maria Helena Rolim Capelato,54 já

exercitaram esse método, a partir da abordagem do historiador francês. Também o

historiador José Luís Beired55 trabalhou com história comparada, mas adotando o

conceito de campo originado na abordagem do sociólogo Pierre Bourdieu. O historiador

analisa os intelectuais católicos brasileiros e argentinos. Acima vimos que o ambiente e

a atmosfera de terror e perseguições políticas promovidas pelos católicos nos Estados

Unidos deram-se na década de 1950.

Deste modo, antecedendo a eleição presidencial do católico John F. Kennedy na

década de 1960. Situação igual ocorreu no Brasil depois de 1964, ou mais precisamente

entre 1966-1974.56 Assim, o lapso temporal para a questão do argumento-pânico

anticomunista mobilizador das massas devotas, nas duas experiências históricas, não é

coincidente, como na abordagem da pesquisa da historiadora Capelato, pois nos casos

examinados: Argentina [1946-1955] e Brasil [1937-1945] é possível operar a

inteligibilidade compreensiva dos problemas investigados no campo da história,

elegendo um corpus de questões “... a partir de dados preliminares”:57 principalmente as

atinentes às práticas culturais e políticas. Além do texto referido de Bloch utilizaremos o

importante ensaio “O Lento Surgimento de uma História Comparada” de autoria de

Heinz-Gerbard Haupt,58 que apontou a fortuna crítica do historiador francês, e,

simultaneamente realizou um balanço59 historiográfico da questão. Há, em termos

teóricos, a démanche da abordagem comparativa dos conceitos.60

54 Cf. CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena. Propaganda Política no Varguismo e no Peronismo. São Paulo, Campinas; Fapesp, Papirus, 1998, 311p. 55 Cf. BEIRED, José L. B. Sob o Signo da Nova Ordem. Intelectuais Autoritários no Brasil e na Argentina. [1914-1945]. São Paulo, Ed. Loyola, 1999, 295p. 56 Cf. GORENDER, Jacob. “Prefácio”. In: FICO, Carlos. Como Eles Agiam. Os subterrâneos da Ditadura Militar: espionagem e policia política. Rio de Janeiro, Record, 2001, 269p; pp. 9-14. 57 Cf. CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena. Propaganda Política no Varguismo e no Peronismo. Campinas, São Paulo, Papirus; PAPESP, 1998, 311p; cit. p. 43. 58 Cf. HAUPT, Heinz-Gerbard. Op. Cit. [Trad]. In: BOUTIER, Jean. et JULIA, Dominique [Orgs]. Passados Recompostos. Campos e Canteiros da História. Rio de Janeiro, Eds. UFRJ e FGV, 1998, pp. 205-216. 59 Para um balanço parcial da questão, identifiquei a seguinte produção, Cf: ATSMA, H. et BURGUIÈRE, A. [Eds]. Marc Bloch aujourd’hui. Histoire comparée et sciences. Paris, 1990. SEWELL JR., W. H. “Marc Bloch and the logic of comparative history”. In: History and Theory, nº 6, 1967, pp. 208-218. HILL, A. O. et HILL JR., B. H. [Eds]. “Forum Marc Bloch and comparative history”. American Historical Review, 1980, pp. 828-853. ROMAGNOLI, D. “La comparazione nell’opera di Marc Bloch: pratica e teoria”. In: ROSSI, Paolo. [Ed]. La storia comparata. Approcci e prospettive. Milão, 1990, pp. 110-128. O historiador Serge GRUZINSKI no texto “O historiador, o macaco e a centaura: a “história Cultural” no Novo Milênio”, aponta elementos para a prática de uma história comparativa no plano cultural. Cf. _________. Op. cit. [Trad]. In: Revista Estudos Avançados. São Paulo, IEA-USP, nº 49, 2003, pp. 321-342, especialmente pp. 322-323 ss. 60 Cf. FARES JR., João. et JASMIN, Marcelo. [Orgs]. História dos Conceitos. [...]. Rio de Janeiro, São Paulo, Eds. Loyola, PUC-Rio, 2007, especialmente, pp. 11-18 ss.

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