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Entrevista de Valentim Loureiro ao jornal VivacidadeTRANSCRIPT
Entrevista: Valentim Loureiro
Se perguntar quem é “o Major” em qualquer lado, dirão que sou eu, quando há umas centenas demajores no paísValentim Loureiro vai deixar o executivo da Câma-ra de Gondomar já em setembro. Sem papas na lín-
27VIVACIDADE JULHO 2013
É conhecido como Major Va-
lentim Loureiro. O cargo militar
diz muito sobre a sua pessoa ou
a robustez da pro�ssão nada tem
a ver consigo atualmente?
Eu fui educado numa escola
militar [Academia Militar] - de-
pois de ter passado pela Escola
Comercial e Industrial de Viseu e
pelo Instituto Comercial no Porto
- e tirei o curso superior de Ad-
ministração Militar. Portanto tem
tudo a ver com isso. Continuo a
ser militar, mas estou reformado
e agora não recebo qualquer pen-
são. Depois derivei para a área
empresarial e o futebol tornou-
-me público, no Boavista. O Ma-
jor Valentim Loureiro é conhe-
cido por isso. É evidente que se
perguntar quem é “o Major” em
qualquer lado, dirão que sou eu,
quando há umas centenas de ma-
jores no país. Estou muito identi-
�cado com o termo “major”. Aqui
há tempos, ouvi umas críticas de
que para liderar Gondomar era
preciso uma pessoa da terra. De
facto eu não era da terra mas fui
muito requisitado para vir para
cá. E a verdade é que, tendo vindo
para aqui, acabei por dar nome e
expressão a Gondomar.
Vai ter pena de deixar de ser o
presidente da Câmara?
Vou. Sabe que são 20 anos. É
uma vida. Trabalhei muito para
Gondomar e para os gondoma-
renses e recebi de Gondomar e dos
gondomarenses carinho, amizade,
apoio e estou ligado aos gondo-
marenses e tenho a certeza de que
eles, na sua maioria, também estão
ligados a mim.
20 anos passaram depressa
ou devagar?
Correram ao ritmo normal.
Cinco eleições, cinco vitórias.
Umas mais expressivas, outras
menos.
O ditado “quem corre por
gosto não cansa” aplica-se bem
ao seu percurso diário casa-tra-
balho ou chegou a uma fase em
que já está cansado?
Aplica. É evidente que já vou
tendo uma idadezinha, alguns
problemas de saúde. Tive tubercu-
lose aos 20 anos, uma doençazinha
ou outra, mas não sou uma pessoa
doente. Ainda há três anos correu
o boato de que tinha morrido mas
estou aqui que nem um pêro.
Estamos a entrevistá-lo numa
quinta-feira. Mas nos seus dis-
cursos a�rma muitas vezes que,
no plano pessoal, as sextas-feiras
são muito importantes para si.
Porquê?
Sexta-feira é um dia como os
outros mas, do ponto de vista fa-
miliar, é o dia em que os meus �-
lhos e os meus netos vão jantar a
minha casa. Também numa sexta-
-feira treze, há 20 e tal anos, saiu-
-me o primeiro prémio na lotaria
de Santo António, 130 mil contos.
Gosto das sextas-feiras como gos-
to dos sábados ou dos domingos
mas, de facto, a ida dos meus �lhos
e dos meus netos a minha casa -
em que temos oportunidade de
conversar e limar algumas arestas
– é um dia especial para mim. Eu
sou um homem de família. Tenho
seis �lhos e onze netos.
A partir de setembro vai de-
dicar mais algum tempo à sua
família?
Seguramente, a partir de 29 de
setembro, vou ter mais tempo por-
que deixo a função executiva.
As críticas ao facto de a sua
�lha ser vereadora na Câmara
incomodam-no?
A minha �lha foi vereadora
por um acaso. Porque nas eleições
de há oito anos – em que elegi oito
membros – ela ia em nono lugar.
Portanto não era para entrar, era
para preencher. Por acaso, o candi-
dato a vereador que foi em quarto
ou quinto desistiu mal nós fomos
eleitos. E, portanto ela subiu por
causa disso. E ela como estava na
lista �caria mal não aceitar. Mas
nunca previ que fosse entrar. Mas
apesar de ser minha �lha é verea-
dora, faz o papel dela. Na Câmara
não há familiaridades, ela cumpre
o dever dela, eu cumpro o meu.
gua, falou sobre os mais variados assuntos que marcaram o seu mandato e a sua pessoa. À conversa com o Vivacidade, o major deixa o cheiro a despedida e faz uma retrospetiva dos seus 20 anos à frente da autarquia.
Entrevista: Ricardo Vieira Caldas Joana Isabel Nunes Pedro Santos Ferreira Fotos: Joana Isabel Nunes
28 VIVACIDADE JULHO 2013
Entrevista: Valentim Loureiro
É uma grande dívida que eu tenho com os gondomarenses: a maneira como eles, !"#$%& !&'( #&#&)(!&%*$(&+*&,#-(+$,*./#&%#,$*01&%!-"2!&'$3!2*-&,#+4*+.*&!-&-$-
A sua pessoa é muitas vezes
relacionada com os eletrodomés-
ticos...
Quando me candidatei a Gon-
domar, �z uma campanha inicial
de apresentação às pessoas e �z
uma visita às escolas primárias.
E, numa escola, conversei com a
professora e ela disse que os polí-
ticos eram todos iguais e mais não
sei quê. Perguntei-lhe porquê. Ela
disse-me “ainda agora mandaram-
-me para aqui umas cassetes com
aulas de ginástica e como é que eu
dou as aulas? Não temos televi-
sor, vídeo...” Eu virei-me para ela
e perguntei-lhe se o problema do
vídeo é que a impedia de dar as au-
las bem. E ela perguntou “porquê?
Oferece-me um?”. Desa�ou-me e
na minha maneira rápida de res-
ponder – e não medindo bem as
consequências – disse que ela iria
ter o televisor e o vídeo e mandei
entregar lá na escola. Ela não sabia
que eu era um homem de palavra.
Dois dias depois, a continuar a
visitar as escolas, abordaram-me:
“então nós não temos direito?”.
Não havia escola onde eu chegas-
se que não me falassem no vídeo e
no televisor. Liguei ao meu sócio
[da empresa de eletrodomésticos]
e mandei vir 80 vídeos e 80 televi-
sores e dei-os às escolas. Não foi a
nenhum particular, como mentem
muitas vezes.
Ajudou a implementar o PSD
no norte de Portugal e em 2005 o
PDS, na pessoa de Marques Men-
des, recusou apoiá-lo. Foi uma fa-
cada nas costas?
Não. Eu tive uma pequena dis-
cussão com esse senhor em 2004,
num jogo do Europeu no Estádio
da Luz. Sabia que ele tinha dito
que, pelo facto de eu ser arguido
num processo não deveria ser pre-
sidente, e enfrentei-o. Na altura ele
nem era presidente do partido, não
era nada. Discutimos o assunto e
eu mandei-o a uma certa parte.
Pronto, talvez não o devesse ter
feito. A verdade é que a partir daí,
quando ele chegou a presidente do
partido, quis ajustar contas e como
tinha um processo de futebol com
o Gondomar, achou que não po-
dia ser candidato. Mas não foi uma
decisão do coletivo da comissão
política. Foi uma decisão dele. Cla-
ro que, na altura, nessa comissão
política estava o Passos Coelho e
em tempos já lhe disse “então você
também foi daqueles que me ini-
biu de continuar?” e ele disse que
não. Portanto foi esse “gigante” que
não me deixou candidatar. E foi
por isso que lancei uma candida-
tura independente. Candidatei-me
e ganhamos e, de vez em quando,
brinco com isso para “agigantar” o
homem.
O apoio a Mário Soares em
1986 e 1991 contribuiu para que
o PSD lhe "zesse isso?
Isso tem tudo a ver com uma
maneira de ser e com seriedade.
O Dr. Mário Soares era Primeiro-
-Ministro e os presidentes dos
clubes [da Liga] conseguiram, na
altura, resolver com o governo uma
série de problemas que tinha a ver
com a �scalidade. Um dia há um
jantar em casa do João Rocha [an-
tigo presidente do Sporting] e ele
convida o Dr. Mário Soares. Esta-
vam lá os presidentes dos clubes e
nesse jantar o Dr. Mário Soares fez
uma intervenção e o João Rocha
respondeu. João Rocha disse que o
Dr. Mário Soares estava destinado
a “mais altas funções” e todos ali à
volta disseram que se ele avançasse
estariam ao seu lado. E eu – que ti-
nha admiração, e tenho, e respeito
por ele – também alinhei. Como
sou um homem de palavra, quan-
do ele avançou com a candidatura,
também lhe disse que o apoiava.
Eu era do PSD e o partido fez-me
um processo em que me aplicaram
dois anos de suspensão. A verdade
é que eu apoiei Mário Soares, o que
demonstra que, de facto, sou inde-
pendente.
No caso de Fernando Paulo
não vencer estas eleições, o proje-
to do Movimento Independente
terá continuidade?
A essa pergunta não respon-
do nos termos em que a põe.
O Dr. Fernando Paulo vai ser o
próximo presidente da Câmara.
Dos candidatos já conhecidos é
o mais competente, o mais co-
nhecedor, aquele que tem mais
experiência à frente de uma Câ-
mara. Isto sem desprimor para
os outros mas quem é que tem
a experiência do Dr. Fernando
Paulo numa Câmara? E a postura
que ele tem como pessoa? Não é
possível apontar-lhe um defeito,
na minha maneira de ver. E pelo
contrário, tem virtudes. Não só
ele como toda a equipa que es-
colheu. É uma equipa que, uma
vez eleita, vai continuar o traba-
lho que aqui desenvolvemos. Das
candidaturas que aí estão, uma
não tem experiência autárquica,
outra não tem postura e Gondo-
mar tem que ter um presidente
que seja uma personalidade, não
pode ter um “Zé dos anzóis”.
Está a falar de quem?
Estou a falar na generalida-
de, depois veja a quem é que me
estou a referir. Agora, se no Mo-
vimento indicamos o nome de
Fernando Paulo para nos liderar é
porque temos a certeza de que ele
não nos vai deixar �car mal. Para
presidente da Câmara não sou eu
o candidato. Para presidente da
Câmara. Mas o Movimento tem
o meu nome e têm que votar em
Valentim Loureiro outra vez.
Tendo em conta que sempre
que sai de um executivo passa
para uma assembleia, o Movi-
mento pode contar consigo este
ano?
Isso passou-se na distrital do
PSD, na Liga, na Metro do Porto
[que atualmente preside a mesa da
Assembleia Geral]. Tenho que ser
perfeitamente claro. Tenho tido
muitas pressões nesse sentido
[para ser candidato à Assembleia
Municipal]. Todos os que estão
Gondomar tem que ter um presidente que seja uma personalidade, não pode ter um “Zé dos anzóis”“
ASSEMBLEIA MUNICIPAL
O candidato Fernando Paulo está a contar consigo?
Ele é dos que mais me pressiona.
Vai deixá-lo !car mal?
Eu nunca deixo !car mal os amigos.
“
É uma grande dívida que eu tenho com os gondomarenses: a maneira como eles, !"#$%& !&'( #&#&)(!&%*$(&+*&,#-(+$,*./#&%#,$*01&%!-"2!&'$3!2*-&,#+4*+.*&!-&-$-
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na lista do Dr. Fernando Paulo – e
ele próprio – pressionam-me. Já
�z uma leitura de tudo isso e vou
pensar. Não decidi. Mas tenho
que decidir já para o �m do mês
de julho.
Neste momento, é mais um
“sim” ou um “não”?
É evidente que a equipa que
Fernando Paulo vai liderar é da
minha extrema con�ança. Por-
tanto, todos eles me estão a pres-
sionar. E dizem que se o Movi-
mento continua e eu sou o líder,
devo integrá-lo e eu não estou
completamente fora mas preciso
de mais uns dias para tomar uma
decisão.
O candidato Fernando Paulo
está a contar consigo?
Ele é dos que mais me pres-
siona.
Vai deixá-lo "car mal?
Eu nunca deixo �car mal os
amigos.
Relativamente a outros as-
suntos... Os casos da Quinta do
Ambrósio e do “Apito Dourado”
"zeram-no perder alguma força
política?
Nenhuma, absolutamente ne-
nhuma. Esses casos servem para
mostrar que uma pessoa - sendo
investigada em tudo que é sítio,
com gravações e com escutas -
tem que ter uma vida muito limpa
para chegar ao �m. Na questão da
Quinta do Ambrósio foi tudo ao
ar e na questão do Apito Dourado
�cou reduzido a uma multa.
Os processos nos tribunais
interferiram nas relações pes-
soais e pro"ssionais com o pes-
soal da Câmara e do executivo?
Nada, nada, nada. Esses pro-
blemas foram públicos e conheci-
dos. Havia dias em que o Valen-
tim passava na televisão 50 vezes
com a Judiciária a conduzi-lo e
tal, mas não obstante isso tudo,
nunca houve um gondomarense
que se dirigisse a mim em termos
menos agradáveis. Pelo contrário!
As pessoas falavam comigo e ani-
mavam-me. Ficaram mais ligadas
a mim, e essa é uma grande dívi-
da que eu tenho com os gondo-
marenses. A maneira como eles,
depois de tudo o que saiu na co-
municação social, sempre tiveram
con�ança em mim. Quem é que
se aproveitou disso? O PS. Porque
na altura tinha uns vereadores que
nem queriam deixar tomar posse
o Castro Neves e apresentaram
queixas no Ministério Público e
na Judiciária. As situações denun-
ciadas por eles foram mais de 50
ou 60. O que é que eles pensaram
na altura? Como não conseguimos
ganhar as eleições pelo voto, que-
remos ver se o derrubamos pela
justiça.
Da parte do executivo, o facto
de o vice-presidente ter regressa-
do ao PSD magoou-o de alguma
forma?
Não, de forma nenhuma. O
meu vice-presidente é um “PPD”
assanhado. Vive muito o partido e
pensou e decidiu que devia voltar
ao partido e não continuar a inte-
grar o Movimento. É uma decisão
dele da que eu lamento.
Decidiu sem o consultar?
Não me consultou. Eu só soube
passado bastante tempo de se ter
reinscrito.
E isso não o chateou?
Não, nada! São maneiras de ser
e de estar. Eu não era avô dele. Ins-
creveu-se no partido, está lá, lide-
ra. Tem uma comissão política de
“paus mandados”. Agora, é eviden-
te que não é ele que se candidata.
Se fosse ele a candidatar-se natural-
mente as coisas para o Dr. Fernan-
do Paulo seriam menos fáceis.
Uma coligação com o PSD te-
ria sido o mais natural para estas
eleições?
Vamos lá ver, neste mandato
nós já estivemos coligados na Câ-
mara. Dois elementos do PSD –
Leonel Viana e Rui Quelhas – estão
na Câmara e normalmente estão
sintonizados nas votações. E eu
mesmo dei um pelouro ao Leonel
Viana.
Então porque é que não houve
coligação para as Autárquicas de
2013?
Eu não tinha que tomar essa
iniciativa. Estava com o Movimen-
to e uma vez que fui escorraçado da
maneira que fui eu não mais penso
em PSD, mas admito perfeitamente
que outros tenham outra maneira
de pensar e que quisessem voltar.
Não tenho nenhuma aversão a nin-
guém do PSD nem do PS, sou In-
dependente. Não tenho azedume a
ninguém, dou-me bem com toda a
gente. A minha origem partidária é
o PPD e dei três vitórias ao PSD de
Gondomar. Nós não fomos expul-
sos do partido, não segundo os es-
ASSEMBLEIA MUNICIPAL
O candidato Fernando Paulo está a contar consigo?
Ele é dos que mais me pressiona.
Vai deixá-lo !car mal?
Eu nunca deixo "car mal os amigos.
tatutos. Agora, estava lá um “gigan-
te” que quis a�rmar-se e achou – o
“escadote” - que a melhor forma era
comigo. Alguém alguma vez teria
falado tanto desse “gigante” se não
fosse tomando as medidas que to-
mou em relação a mim? Ao meter-
-se comigo passou a ser conhecido
com esse gesto.
Nestas duas décadas, qual é o
projeto não concretizado que lhe
deixou mais pena de não ter sido
conseguido?
Quando se fala em projetos,
normalmente fala-se de obras,
mas eu falo essencialmente de
pessoas. O que sempre me preo-
cupou na gestão da Câmara foram
as pessoas. A minha obra está nas
pessoas. Claro que para resolver
os seus problemas são necessárias
obras. Mas a obra que não realizei
é toda aquela que tem a ver com
os problemas das pessoas, proble-
mas de transportes, por exemplo.
A questão do metro. 31 de junho
de 2003, o Dr. Durão Barroso no
Conselho de Ministros que hou-
ve no Freixo comprometeu-se a
�nanciar a construção da linha
do metro, e estava o projeto todo
até Gondomar - S. Cosme. Mas
depois meteram-se aí uns “agu-
lheiros” a dizer que o melhor não
seria vir até Gondomar mas sim
Campanha-Valbom-Gondomar e
que depois se faria a ligação para
a Venda Nova, e eu fui na con-
versa. Não deveria ter ido. A Ana
Paula Vitorino [então secretária
de Estado] enganou-me. Acabou
a linha por �car até Fânzeres e
isso é um desgosto e uma espinha
que tenho atravessada na gargan-
ta.
Então, na sua opinião, essa
é uma prioridade para Gondo-
mar?
É! Mas também tenho que ser
sincero. Hoje não vejo com facili-
dade a concretização desses mais
de 50 milhões de euros de obra. A
situação do país não permite fazer
essa obra.
Vai deixar as contas da Câma-
ra Municipal de Gondomar equi-
libradas?
Equilibradíssimas. Em Gon-
domar temos dívidas [112 milhões
de euros, aproximadamente] mas
perfeitamente controladas, uma
situação �nanceira perfeitamente
saudável. A dívida de que é? É de
eletricidade. Quem me antecedeu
na Câmara, os executivos do PS,
�caram a dever à EDP. Quando
chegamos à Câmara, com juros, a
dívida estava nos 200 milhões de
euros. Fizemos um acordo com a
EDP, eles perdoaram juros e acei-
taram que pagássemos a dívida em
40 anos. Portanto, 17 já estão de-
corridos e, neste momento, o que
vai �car para quem me suceder, é
pagar cerca de 140 mil euros por
mês. A outra parte da dívida tem
a ver com a construção de habi-
tações. Nós construímos cerca de
2500 habitações. Como é que eram
construídas? À base de um decreto
de lei que permitia que as Câma-
ras adquirissem ou construíssem
habitação social e em que a Câma-
ra tinha que pagar 20%, o Estado
dava 40% e autorizava as Câmaras
a irem à banca pedir mais 40% - a
pagar em 25 anos com juro boni-
�cado. As primeiras casas que fo-
ram construídas com base nessa
legislação foram em Gondomar.
Mas aqui na Câmara só manda-
mos fazer ou compramos aquilo
para que temos dinheiro garanti-
do. Essa foi sempre a nossa polí-
tica.
O Pavilhão Multiusos foi a
sua obra de eleição?
Nós precisávamos de ter em
Gondomar um pavilhão a sério e
pensamos em construir algo que
digni�casse Gondomar. Para isso,
pensei no Professor Siza Vieira.
Foi lançado um concurso e o Pavi-
lhão está lá e é uma obra realmente
emblemática. Mas não é um “ele-
fante branco”, está permanente-
mente ocupado. Até porque tem
um conselho de administração
que separa a gestão do Multiusos
da gestão da Câmara e é a única
empresa municipal que temos. Eu
sou o presidente e o Dr. Fernando
Paulo e a Dra. Lucinda Soares [di-
retora do Departamento Financei-
ro da Câmara] são administrado-
res. Gerimos aquilo sem receber
um tostão.
E um hotel? Faz falta a Gon-
domar?
Já aprovei uns quatro ou cin-
co projetos. E às vezes as coisas
não são bem entendidas. Não sou
eu que tenho de fazer um hotel,
nem qualquer presidente de Câ-
mara. Em Gondomar há um azar
dos diabos, aprovei vários hotéis e
depois as obras não arrancavam.
Finalmente, está aí um que está a
arrancar. Vamos ter cá um hotel,
perto do Multiusos e também uma
média superfície.
Outra das obras mais recen-
tes é o Hospital-Escola da Uni-
versidade Fernando Pessoa. Está
satisfeito com a forma como o
HE se está a implementar no
concelho?
O Hospital Escola é um “ver ao
longe sem óculos”. Quando che-
guei a Gondomar compramos o
terreno da Interforma, ao I.P.E., e
quando apareceu a oportunidade
de ter um Hospital em Gondo-
mar foi-nos posta a condição de
nós termos que arranjar o terreno.
Portanto, tínhamos esse terreno e
não foi difícil dar o direito de su-
perfície de grande parte daquela
área, por 50 anos, à Fundação Fer-
nando Pessoa. E o Hospital está
feito e é uma obra que tive prome-
tida por um Secretário de Estado
[Manuel Pizarro] várias vezes, e
nunca avançou.
Acha que poderia haver uma
maior adesão dos gondomaren-
ses ao Hospital?
Já está muita gente a ir lá mas
também disse ao Ministro da
Saúde [Paulo Macedo], aquando
da inauguração, que aqui não há
manifestações hostis ao Governo,
mas se porventura não permitis-
sem que os gondomarenses lá fos-
sem atendidos, eles mesmos não
iam deixar de se manifestar.
Então a manifestação está
marcada?
Não! Eles estão a resolver. Há
negociações entre o Governo e a
Fernando Pessoa. Penso que as coi-
sas estão a andar bem, não tão bem
como se calhar o Professor Salvato
Trigo [reitor] quer. Porque esta coi-
sa de termos um Hospital aqui e de
se levarem os doentes para o Santo
António não tem pés nem cabeça.
Este ano voltou a implemen-
tar o programa “Gondomar Sabe
Voar”. Porquê em ano de eleições?
Não é bem assim, como diz
na pergunta... O programa “Gon-
domar Sabe Voar” foi lançado por
mim e desa�ado por umas crian-
ças que vieram visitar a Câmara
e tinham o desejo de ir de avião
a Lisboa. Lancei o programa e ele
nunca mais parou. Ainda custa al-
gum dinheiro mas está dentro do
nosso orçamento. Levar os alunos
do quarto ano [que têm aprovei-
tamento] a Lisboa de avião é uma
marca de Gondomar também. O
programa mantém-se, não é por
ser um ano de eleições porque nós
nunca parámos.
Mas houve uma interrupção,
correto?
Nós nunca parámos. O que
houve foi di�culdades no ano pas-
sado, por parte da TAP [em cum-
prir, em termos de preço, com as
determinações da Lei do Orçamen-
to de Estado] e nós não pudemos
levá-los de avião mas levámos de
camioneta.
Recuando para o início do seu
percurso em Gondomar, Nuno
Delerue e Luís Filipe Menezes
convenceram-no a vir para este
concelho. Alguma vez se arrepen-
deu de ter seguido esse conselho?
Não, não foi uma decisão difí-
cil. Encontramo-nos por acaso em
Lisboa e fomos tomar uma bebida
e eles falaram-me nisso. Depois
vim para cima e nessa noite vim
dar uma volta por Gondomar por-
que não conhecia bem o concelho.
Depois tivemos mais duas ou três
conversas e entretanto a concelhia
falou comigo e eu aceitei.
Acha que a lei de limitação de
mandatos para o seu caso e, por
exemplo, o de Luís Filipe Menezes
é justa?
Não há dúvida nenhuma de
que deve haver uma renovação.
Mas também não há dúvida ne-
nhuma de que as pessoas são livres
de decidir. E se, por exemplo, os
gondomarenses depois de cinco
mandatos que eu �z, quisessem que
eu �zesse mais um ou dois, isso de-
veria ser permitido. Mas também
não vejo mal que se limite. Agora,
não posso estar aqui em Gondo-
mar mas posso estar no Porto ou
em Vila Franca de Xira...
Concorda com a candidatura
de Luís Filipe Menezes à Câmara
do Porto?
30 VIVACIDADE JULHO 2013
Entrevista: Valentim Loureiro
“
31VIVACIDADE JULHO 2013
Concordo, nem me meto nisso!
E acho que por aquilo que tem vin-
do nos jornais, o Tribunal Consti-
tucional quando tiver que decidir,
possivelmente vai autorizar. Mas
são situações embrulhadas. Porque
é que um presidente de Câmara
não pode ser candidato outra vez
e o deputado pode ser? A lei não é
igual para todos.
Para ter um “Porto forte” disse
a um jornal, no ano passado, que
não se importava de “ceder uma
parte de Rio Tinto”. É a freguesia
de que menos gosta no concelho?
Não, Gondomar é um todo ho-
mogéneo. Agora, se me disserem
que vamos fazer um grande Porto,
onde estivéssemos todos de acor-
do e depois de muita discussão, é
evidente que Rio Tinto é a nossa
freguesia que está mais ligada ao
Porto. Está ligada aos dragões. Os
riotintenses são quase todos portis-
tas. Já Melres, ou isto ou aquilo, não
tinham hipótese nenhuma. Um
grande Porto teria que ser Gaia,
Porto, Matosinhos, uma parte da
Maia e uma parte de Gondomar.
Desaprova a ideia da criação
de um concelho de Rio Tinto?
Acho que aqueles que anda-
ram a pensar nisso levaram agora
a resposta, porque a!nal, em vez
de se desagregarem os concelhos
estão é a agregar-se as próprias
freguesias.
E concorda com a agregação
das freguesias em Gondomar?
Não há nada a fazer! Isto é uma
questão de cultura. Se tudo fosse
feito a régua e esquadro, com muita
racionalidade, o país teria que ser
esquartejado de outra maneira.
O que pensa das candidaturas
à presidência da Câmara nas pró-
ximas eleições?
Acho que quem tem mais expe-
riência e está melhor preparado é
o Dr. Fernando Paulo. Infelizmen-
te hoje os partidos são muito mal
vistos. Os partidos durante muito
tempo cultivaram uma maneira de
ser e de estar na política que vem
dos “jotinhas” e por aí a cima e
nunca têm responsabilidades a sé-
rio. Uma candidata que vai pelo PS
e que eu respeito é a Dra. Carlota
que está na Câmara como vereado-
ra. Se amanhã aparecesse à frente
da Assembleia eu não tinha nada
a opor. É simpática. Mas há certos
lugares em que é preciso alguma
capacidade de liderança porque
nós para nos fazermos respeitar até
pelos nossos !lhos temos de nos
impor em muitas situações. E nem
toda a gente tem essa característica
de comando.
Para o Partido Socialista ha-
veria, na sua opinião, uma melhor
opção para a Câmara?
Conheço a Isabel Santos, que
foi candidata nas últimas eleições
e que nos deu muito trabalho por-
que é, de facto, uma militante do PS
com qualidades. E é minha convic-
ção de que se ela tivesse repetido
a candidatura criaria mais proble-
mas a Fernando Paulo, mais do que
Marco Martins.
E em relação à coligação do
PSD/CDS?
No PSD também concluíram
que não tinham nenhuma !gu-
ra disponível para ser candidata à
Câmara porque foram buscar uma
senhora que é independente, não é
militante do PSD. Por isso, se foram
é porque acharam que não viam
ninguém com as qualidades e ca-
pacidade su!ciente de vencer o Dr.
Fernando Paulo.
Nem o vice-presidente?
Se o vice-presidente tivesse con-
tinuado no Movimento era ele que
estava na linha de sucessão. Isto não
é uma monarquia mas, num caso
destes, era. Ele afastou-se porque
ele é muito PPD. Eu também sou
social-democrata mas não me dei-
xo apaixonar tanto por “partidari-
tes”. Evidentemente que ele [José
Luís Oliveira] ao ir para lá, acho que
!cou como coordenador. A comis-
são política que ele lá pôs nomeou-
-o para coordenador. Eu nunca vi a
comissão política do PSD. Sei que
há lá um rapaz que empreguei uma
vez na liga que já esteve comigo e
que é o presidente mas ainda não o
vi em lado nenhum.
Como gostaria de ser recorda-
do no futuro?
Como alguém que se preocu-
pou em trabalhar para ajudar os
gondomarenses a resolver os seus
problemas e como alguém que os
resolveu a muita gente. Tenho a
minha própria maneira de ser. Sou
muito agarrado às coisas simples
e às pessoas com mais carências.
Convivo com tanta ou mais faci-
lidade com um pobre do que com
um rico e sou um defensor dos
humildes. Dá-me prazer aprovar
um grande projeto para Gondomar
mas dá-me igual satisfação – se não
mais - resolver um problema a uma
pequena família que está em di!-
culdades terríveis.
A partir de29 de setembrovou ter mais tempo“