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Acórdão-4ªC RO 0002876-70.2010.5.12.0016 UNICIDADE CONTRATUAL. INOCORRÊNCIA. Inocorre unicidade contratual quando a ruptura do pacto anterior se revela um ato jurídico perfeito e acabado com a percepção de todas as verbas rescisórias pertinentes. Com o retorno do obreiro à empresa, novo liame obrigacional se forma sem nenhuma vinculação com o pacto anterior avençado. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da 2ª Vara do Trabalho de Joinville, SC, sendo recorrente CATIA SALESARIO DA SILVA VORONIAK e recorrido 1. PROVAR NEGÓCIOS DE VAREJO LTDA, 2. ITAÚ UNIBANCO S.A. Irresignada com a decisão de primeiro grau, proferida pelo Exma. Juíza Tatiana Sampaio Russi, que acolheu em parte as postulações exordiais, a reclamante recorre a esta Corte. Pugna pela revisão da sentença quanto aos pedidos de unicidade contratual e do enquadramento como financiária. Contrarrazões são oferecidas pela reclamada. O Ministério Público do Trabalho não se manifesta nos autos, em conformidade com o art. 20 da 17965/2011

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Acórdão-4ªC RO 0002876-70.2010.5.12.0016 UNICIDADE CONTRATUAL.

INOCORRÊNCIA. Inocorre unicidade contratual quando a ruptura do pacto anterior se revela um ato jurídico perfeito e acabado com a percepção de todas as verbas rescisórias pertinentes. Com o retorno do obreiro à empresa, novo liame obrigacional se forma sem nenhuma vinculação com o pacto anterior avençado.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da 2ª Vara do Trabalho de Joinville, SC, sendo recorrente CATIA SALESARIO DA SILVA VORONIAK e recorrido 1. PROVAR NEGÓCIOS DE VAREJO LTDA, 2. ITAÚ UNIBANCO S.A.

Irresignada com a decisão de primeiro grau, proferida pelo Exma. Juíza Tatiana Sampaio Russi, que acolheu em parte as postulações exordiais, a reclamante recorre a esta Corte.

Pugna pela revisão da sentença quanto aos pedidos de unicidade contratual e do enquadramento como financiária.

Contrarrazões são oferecidas pela reclamada.

O Ministério Público do Trabalho não se manifesta nos autos, em conformidade com o art. 20 da

17965/2011

RO 0002876-70.2010.5.12.0016 -2

Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho.

É o relatório.

VOTO

ADMISSIBILIDADE

Conheço do recurso e das contrarrazões, porque satisfeitos os pressupostos legais de admissibilidade.

MÉRITO

1. Nulidade do contrato temporário e unicidade contratual

Insurge-se, a reclamante, contra o indeferimento do pedido de nulidade do contrato de trabalho temporário e da consequente declaração de unicidade contratual com o período de vínculo com prazo indeterminado.

Segundo noticia o acervo documental constante dos autos, a recorrente prestou serviços para a primeira ré (Prover Negócios de Varejo Ltda.), temporariamente (04/06/2007 a 01/09/2001), por força de contrato de prestação de serviços que esta firmou com a empresa Velox Recursos Humanos Ltda. Em 03/09/2007, dois dias após a rescisão contratual entre a prestadora de serviços (fl. 35) e a autora, esta foi contratada diretamente pela primeira ré (fl. 42).

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Ao decidir, a magistrada sentenciante motivou o indeferimento do desiderato obreiro nos seguintes termos:

Tendo em vista que a autora não apontou a existência de qualquer vício capaz de invalidar o contrato de trabalho temporário firmado com empresa que sequer integra o polo passivo, impossível é admitir a nulidade do contrato mantido no período de 04/06/07 a 01/09/07.

Contrapõe-se, a recorrente, à motivação do pronunciamento a quo, arrazoando que as reclamadas não comprovaram a necessidade da mão de obra temporária, conforme determina o art. 2º da Lei nº 6.019/74.

Sem razão.

Conforme exsurge do documento juntado à fl. 25 dos autos, a primeira ré firmou contrato de fornecimento de mão de obra temporária com a empresa Velox Recursos Humanos Ltda, o qual foi determinado pelas necessidades transitórias ou extraordinárias da contratante, conforme disposição da cláusula 2ª do contrato de prestação de serviços.

A mencionada empresa fornecedora de mão de obra firmou, por sua vez, contrato de trabalho na CTPS da autora (fl. 22).

Não há qualquer elemento nos autos que infirme a prova documental produzida pelas demandadas ou

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que conduza à ilação de que a contratação da empresa de trabalho temporário pela primeira ré tenha visado fraudar os direitos trabalhistas da autora, ônus que lhe competia.

Resta claro, pois, que o autor laborou em dois contratos estanques e incomunicáveis, o que não justifica o reconhecimento da unicidade contratual.

O termo rescisório da fl. 35, sem prova rebatedora, por revelar-se um ato jurídico perfeito e acabado, marca o fim do liame obrigacional do período nele consignado.

Mantenho, portanto, o julgado de primeiro grau por seus próprios e jurídicos fundamentos, acrescidos das presentes razões de decidir.

2. Enquadramento como financiário

Busca, o recorrente, seu enquadramento como financiário e, como consequência, os efeitos do art. 224 da CLT, nos termos da Súmula 55 do TST.

O pedido foi julgado improcedente na decisão de primeiro grau, in verbis:

O contrato social da primeira ré indica que seu objeto social é atuar e desempenhar as funções de correspondente bancária e promotora de vendas; prestar serviços de crediário, recebimento e recuperação de títulos e afins; realizar pagamentos e receber importâncias, como mandatária, por conta e ordem de seus

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clientes; prestar serviços de assessoria técnica a empresas vendedoras de bens e/ou serviços na montagem de sistemas de vendas a crédito; prestar serviços técnicos de informática; prestar serviços de assessoria técnica na promoção de vendas de empresas comerciais em geral; analisar crédito e cadastro com vistas a pedidos de financiamento; e agenciar, corretar ou intermediar bens móveis (fl. 207).

Cotejando as atividades discriminadas no contato social e o preceituado pelo art. 17, caput, da Lei nº 4.595/64, considero que a primeira demandada não se constitui em instituição financeira, porque não tem como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, ou a custódia de valor de propriedade de terceiros, mas, apenas, a prestação de serviços de suporte a atividades de financiamento ou vendas a crédito.

[...]

Considero lícita, assim, a prestação de serviços da primeira reclamada em favor do segundo reclamado.

Considero, também, que a primeira demandada não é financeira, mas simples empresa de assessoramento.

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Diante de tais premissas, não reconheço desenvolvesse a reclamante atividades típicas dos bancários e, por consequência, não lhe asseguro os direitos inerentes a tal categoria.

Não reconheço, sequer, fosse a autora integrante da categoria dos financiários, motivo pelo qual não aplico a Súmula nº 55 do TST.

Indefiro, destarte, todos os pedidos formulados.

A Lei nº 4.595/64, em seu artigo 17, dispõe que “Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros”.

Conforme muito bem sublinhado na sentença, o objeto social da primeira reclamada (contrato social, fls. 192-193) é a prestação de serviços às instituições financeiras, tal como promoção de vendas, processamento de dados, análise de crédito, corretagem, entre outros.

Resta cristalino, pois, que a iniciativa econômica da primeira reclamada é própria dos correspondentes bancários. As instituições financeiras são, portanto, apenas suas clientes.

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Não reconhecida a atividade de financiária da recorrente, resta prejudicado o pedido de aplicação da Súmula 55 do TST.

Nego provimento.

Pelo que,

ACORDAM os membros da 4ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, por unanimidade, CONHECER DO RECURSO. No mérito, sem divergência, NEGAR-LHE PROVIMENTO. Custas pela autora, dispensadas, em face dos benefícios da justiça gratuita concedidos em primeiro grau.

Intimem-se.

Participaram do julgamento realizado na sessão do dia 14 de março de 2012, sob a Presidência do Desembargador Marcos Vinicio Zanchetta, os Desembargadores Gilmar Cavalieri e Maria Aparecida Caitano. Presente o Procurador do Trabalho Alexandre Medeiros da Fontoura Freitas.

MARIA APARECIDA CAITANO

Relatora

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