violência capitalista contra as massas...

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ASSAS EM DEFESA DA REVOLUÇÃO E DITADURA PROLETÁRIAS ÓRGÃO BISSEMANAL DO PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO MEMBRO DO COMITÊ DE ENLACE PELA RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL ANO 19 - Nº 350 - DE 22 DE JANEIRO A 5 DE FEVEREIRO DE 2007 - R$ 2,00 As massas não devem seguir seus opressores. Lutar com independência pelas reivindicações! Continua a crise do governo de coalizão de Lula. O PMDB vai abocanhando cada vez mais espaço. A crise internacional acirrarrá as disputas. Burocratismo e divisionismo no Congresso da CNTE Bolívia: esmagar a direita com a revolução social Israel mata palestinos como moscas e estrangula Gaza com bloqueio Violência capitalista contra as massas empobrecidas Greve dos advogados pode ser início de resistência do funcionalismo ao arrocho.

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ASSAS

EM DEFESA DA REVOLUÇÃO E DITADURA PROLETÁRIAS

ÓRGÃO BISSEMANAL DO PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIOMEMBRO DO COMITÊ DE ENLACE PELA RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL

ANO 19 - Nº 350 - DE 22 DE JANEIRO A 5 DE FEVEREIRO DE 2007 - R$ 2,00

As massas não devem seguir seus opressores.Lutar com independência pelas reivindicações!

Continua a crise do governo de coalizão de Lula.O PMDB vai abocanhando cada vez mais espaço.A crise internacional acirrarrá as disputas.

Burocratismo edivisionismo no

Congresso da CNTE

Bolívia: esmagar adireita com arevolução social

Israel mata palestinos como moscase estrangula Gaza com bloqueio

Violência capitalista contra as massas empobrecidas

Greve dos advogados pode ser início de

resistência do funcionalismo ao arrocho.

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2 – MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007

Novos passos da crise nos Estados UnidosO montante das perdas bancárias

com a bancarrota dos empréstimos desegunda linha (subprime) é de US$100bilhões. Mas tudo indica que o rombo in-tegral ainda está por ser revelado. A que-bradeira do setor imobiliário não chegouao fim. É o que avaliam analistas econô-micos da burguesia.

Dois dados da profundidade da crisefinanceira: 1. Citigroup teve baixa deUS$ 18,1 bilhões em ativos e prejuízo deUS$ 9,83 bilhões; 2. Merrill Lynch, US$11,5 bilhões e, US$ 8,6 bilhões. O sistemafinanceiro como um todo, controladopor um punhado de grandes corpora-ções, foi abalado, se não com altos preju-ízos, com redução drástica dos lucros.

O excesso de capital financeiro mun-dial permitiu socorros bilionários. Entra-ram em ação os “fundos soberanos” depaíses petrolíferos do Oriente Médio e depaíses da Ásia que detêm gigantescas re-servas cambiais. Merrill Lynch concedeuações preferenciais para corporações es-trangeiras como Korean Investment, Ku-wait Investment Authority e MizuhoCorporate. O mesmo ocorreu com Citi-group etc. Essa medida e a intervençãodo Banco Central norte-americano evita-ram desastre maior, que abalaria ampla-mente o sistema financeiro mundial.

Tudo indica agora que a crise se ma-nifestará de maneira contundente no co-mércio e na produção. Atordoados,analistas e porta-vozes governamentaisreferem-se a incertezas quanto à desace-leração ou recessão nos Estados Unidos.Sabe-se que as atividades de comércio eprodução serão afetados com a falênciado artificioso mecanismo de especula-ção, que resultou em jogo entre bancos efinanceiras e nos fartos empréstimos auma camada da população que não ti-nha como arcar com o endividamento.

Desde 2002, ano de recessão, o gover-no norte-americano passou a alimentar oendividamento da população por meiode baixas taxas de juros, os bancos abar-rotados de dólares se lançaram aos em-préstimos sem garantia de retorno(subprime) e os empresários da constru-ção civil se aventuraram nas construçõescontando também com subsídios fiscaisdo poder executivo.

Nos últimos anos, os Estados Unidospuderam sustentar um crescimento que,

juntamente com a China, Índia e Rússia,ativaram a economia mundial. Mas nãose desconhecia que o crescimento da eco-nomia norte-americana se devia ao endi-vidamento generalizado da população, àqueima total das parcas poupanças, à gi-gantesca importação gravemente despro-porcional à exportação e ao crescenteendividamento do tesouro nacional (défi-cit público). Esse quadro era apresentadocomo resultado de extraordinária “enge-nharia financeira” e de robustez dos fun-damentos econômicos. Obscureciam-se oparasitismo financeiro e o consumismoespeculativo.

O estouro se deu no bilionário negó-cio imobiliário, mas a enfermidade não secircunscreve a esse setor. Está por vir àtona o endividamento em outros ramosda produção e do comércio – a indústriaautomobilística é um deles. A abundân-cia de mercadorias de importação baratasdá lugar à elevação de preços. O mesmoacontece com matérias-primas como pe-tróleo, ferro, aço etc.

A inflação força passagem na econo-mia mundial e se manifesta nos EstadosUnidos. A recessão na maior economiado planeta já é tida como inevitável porinstituições como Goldman Sachs e Mer-rill Lynch. Baseiam-se na elevação dataxa de desemprego, a maior nos últimosdois anos, atingindo 5% e na retração dosnegócios, a começar pela construção civil.O alto consumo depende dos fartos cre-diários e de baixa taxa de desemprego. Oenorme endividamento da população, ainadimplência das hipotecas imobiliárias

que atingem grandes estados, a alta infla-cionária de produtos básicos, a contençãosalarial, a volta das demissões e as difi-culdades dos banqueiros regarem o con-sumo com rios de empréstimoscompõem uma situação de queda econô-mica e de seguida recessão.

Cresceram e crescem as pressões paraque George W. Bush vá mais além do so-corro concedido no auge da crise hipote-cária pelo Banco Central aos banqueiros.Em 18 de janeiro, Bush anunciou generi-camente um plano fiscal no valor de US$150 bilhões, equivalente a 1% do PIB, quedeverá ser aprovado pelo Congresso.Industriais teriam incentivos e a popula-ção receberia uma restituição de impostoentre US$ 800 a US$ 1.600. Prevê-se tam-bém a redução da taxa de juro básica.

Tratam-se de medidas semelhantesàs tomadas em seu primeiro mandato.Mas a situação hoje é distinta, devido acombinação de vários fatores recessivos,que poderão ser tão-somente ameniza-dos provisoriamente. Banqueiros e fra-ções da burguesia querem umaintervenção mais ampla e ousada doEstado. A timidez do pacote anunciadoindica limites da administração Bush.

Até aqui vemos que a possibilidadeda recessão ganhar corpo neste ano égrande. Essa previsão tem atormentadoa burguesia e os governos dos países de-nominados “emergentes”, entre eles oBrasil. São países semicoloniais que, noúltimo período, ganharam algum desta-que na economia mundial, particular-mente a China por seu crescimento

Crise: pânico nas Bolsas de Valores

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MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007 – 3

espetacular e por potenciar o mercado.A pergunta que se faz é se agüenta-

rão, sem grandes conseqüências paraseus crescimentos e fundamentos econô-micos, um período de recessão nos Esta-dos Unidos. Criou-se a expressão“países descolados”, para indicar que os“emergentes” não receberão impacto di-reto da quebra da subprime e de uma re-cessão conjuntural nos Estados Unidos.

O governo Lula tem sido pródigo emexplicar que o Brasil está em condições dereagir à crise, apoiando-se nas reservascambiais e no superávit primário. Não é aopinião do Banco Mundial e da Conferên-cia das Nações Unidas para o Comércio eo Desenvolvimento (Unctad), que consi-deram a possibilidade de uma retraçãomundial.

Não há “descolamento” algum e afortaleza econômica do Brasil é uma bra-vata. Multinacionais e capital financeirointernacional atuam como forças econô-micas decisivas sobre o país. O grau deendividamento – dívidas internas e ex-ternas – é altíssimo. Significativa parceladas riquezas produzidas é destinada aelas. A Bolsa de Valores (Bovespa) estána dependência da especulação externa.E o superávit comercial essencial para asreservas cambiais depende de vendascrescentes ao exterior e altos preços dasmercadorias de exportação.

Uma crise profunda nos Estados Unidosarrastará a economia mundial e países comoBrasil, China e Índia serão barcos no mar re-volto. É claro que depende do nível e abran-gência da recessão nos Estados Unidos. Aburguesia tem capitais para queimar, comojá está fazendo com a intervenção dos Ban-cos Centrais das potências? Tudo indica quesim. Mas não se sabe ainda o tamanho dorombo e como poderá se espalhar pelomundo. É provável que se queimem recur-sos e a crise avance assim mesmo.

As massas sempre arcam com as que-bras no capitalismo: desemprego, subem-prego, esmagamento salarial, alta docusto de vida e deterioração dos serviçospúblicos. A classe operária tem como rea-gir aos ataques que já ocorrem e os que vi-rão. Conta com o lugar que ocupa nasrelações de produção e capacidade coleti-va de enfrentar a burguesia. Atravessa,no entanto, uma crise de direção mundialdesde a destruição da III Internacional.

Na situação de crise ressalta a neces-sidade das massas encarnarem o progra-

ma de defesa da força de trabalho e dedestruição do capitalismo. Impõe-se atarefa de construir o Partido Mundial daRevolução Socialista, a IV Internacional.

Crise mundial das Bolsas

Já tínhamos escrito o texto acimaquando na segunda-feira (21/1) se noti-ciaram quedas nas Bolsas de Valores domundo todo. A corrida pela venda dasações indicou que a recessão nos EstadosUnidos está a caminho, que o pacote deBush não irá evitá-la e que a jogatina tri-lhonária nos pregões atingiu limites. Oque quer dizer que a bancarrota no setorimobiliário e indícios de que a economiados Estados Unidos sofre mudanças ne-gativas já atingem o conjunto capitalistae atingirão mais contundentemente ain-da no próximo período.

As esperanças depositadas na China,Índia, Brasil, Rússia se mostram frágeis epoderão logo se desvanecer caso os Esta-dos Unidos reduzam as importações ecaso a tendência de queda do preço dasmatérias primas e dos produtos agríco-las avance. Japão não tem como se dina-mizar, estima-se desempenho maismedíocre do que o de 2007. Europa en-frenta pressão inflacionária, o que difi-culta medidas de estimulo ao consumo.

A queda da Bolsa brasileira acompa-nhou a depreciação mundial atingindo6,60%. A fuga de capitais estrangeiros daBovespa em janeiro foi um aviso de queos especuladores não estão confiantes nacapacidade do Brasil garantir alta lucrati-vidade e evitar perdas. Ganharam muitocom a sobrevalorização das ações e comaltas taxas de juros, devem se resguardarcom a retirada, abrindo flancos para a cri-

se se manifestar em solo brasileiro.

Lamurio patético

Diante dos primeiros sintomas dacrise recessiva nos Estados Unidos e dainocultável revelação do quanto é ingê-nua a bravata de que o Brasil está prontopara enfrentar o vendaval, Lula resolveureclamar: “Os países da América Latinae da África passaram praticamente 30anos sem crescer e agora encontraram ocaminho. Não é possível que pessoasque não tenham casa nos Estados Uni-dos, não fizeram hipoteca, paguem pelacrise de irresponsabilidade de algunsque resolveram ganhar dinheiro fácilcomo se estivessem apostando num cas-sino”. ( OEstado )

Lamurio patético! O “alguns que re-solveram ganhar dinheiro fácil” são osmesmos banqueiros internacionais queentram e saem do Brasil, da América La-tina e da África como bem entendem. Otolo ar do presidente brasileiro de “estoutranqüilo” “com os dois olhos muitoabertos” reflete a subserviência da bur-guesia nacional ao imperialismo.

A ameaça do Presidente de que se forpreciso tomará medidas para defender oBrasil da crise não vale para nada. Seugoverno está atado ao grande capital daspotências e este imporá suas condições esacrifícios às massas.

Uma reversão econômica no Brasilgolpeará o governo aliancista e ampliaráa crise política que se arrasta desde o pri-meiro mandato de Lula.

Somente a classe operária com o pro-grama antiimperialista e anticapitalistapoderá enfrentar a decomposição do ca-pitalismo.

O atoleiro do Oriente Médio estrangula as margens de manobra do imperialismo

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4 – MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007

Balanço da situação econômica e políticaPercurso da crise política

Após um ano de governo, o quinto deseu mandato, Lula permanece em meio àcrise política desfechada pelos partidosda oposição burguesa, PSDB e DEM. Aderrota da votação da CPMF no Senadomostrou o quanto o governo depende daoposição e o quanto é servil à coalizão departidos que lhe garantem a governabili-dade. O PMDB, que possui a maior baseparlamentar, não foi capaz de assegurar acentralização de seus senadores para ga-rantir a vitória do governo.

O primeiro anúncio do governo foigarantir que o fim da CPMF não atingi-ria os interesses dos credores internos eexternos, permanecia inalterada a dire-triz de manutenção do superávit primá-rio. A perda de 40 bilhões de reais noorçamento do Estado obrigou Lula a di-tar um novo pacote de medidas para au-mentar a arrecadação e repor parte dodinheiro perdido.

A oposição aproveitou para retomaras críticas ao governo, para denunciá-lode não cumprimento da promessa deque não criaria mais impostos e para re-correr à inconstitucionalidade das medi-das junto ao Supremo Tribunal deJustiça. O PSDB e DEM haviam feito umacordo com Lula de que votariam favo-ravelmente a DRU, mas com o compro-misso de que o governo não aumentassea carga tributária. Reclamaram da trai-ção de Lula e voltaram às exigências decorte de gastos e de não aumento de im-postos.

A decisão de cortar emendas parla-mentares dentro do Orçamento provo-caram protestos principalmente departidos aliados. Advogados da Uniãoparalisaram contestando a quebra doacordo de reajuste salarial. Militares sesentiram atacados com o desejo do go-verno de suspender a promessa de rea-justes ao setor, o que levou o Ministro daDefesa Nelson Jobim a negociar junto aogoverno a manutenção da promessa.

Por outro lado, o PMDB exigiu oscargos negociados, entre eles o das Mi-nas e Energia, perdido com o afastamen-to de Silas Rondeau, acusado noprocesso de corrupção da construtoraGautama. A indicação do apadrinhadode José Sarney, Edison Lobão gerou no-

vos conflitos entre governo e oposicio-nistas. A nomeação do corrupto Lobão eas denúncias de falcatruas de seu filho,que assumiria a suplência no Senado,trouxe mais escândalos envolvendo ascorruptelas do PMDB do Maranhão e doDEM, partido da família Lobão. Lula,submisso ao oligarca Sarney, não pôdevoltar atrás, o que causou um certo des-conforto com a Ministra Dilma Rousseff,que tinha o controle do ministério e quecontava com o apoio do capital ligado aosetor energético. O PMDB queria o con-trole total desse ministério e, por isso,exigia a saída do PT do cargo de secretá-rio-executivo e das diretorias da Eletro-brás e da Eletrosul, também ocupadospor gente de confiança de Dilma. Aco-plado ao ministério, há o programa quedá dividendos eleitorais, que é o “Luzpara Todos”. Esse programa está sob ocomando do PT e pela burocracia cutis-ta, que relutam em deixá-lo para oPMDB. O PMDB acabou aceitando con-viver com os petistas e os afilhados deDilma. Mas as disputas interburguesasno seio do Estado tendem a aumentar.

As pressões da base aliada por cargose liberações de recursos, as ameaças denovo apagão de energia e as denúnciasdo pacote de impostos em substituiçãoda CPMF são usados pelos oposicionis-tas para desgastar o governo e inviabili-zá-lo em fazer o seu substituto.

Ganha o grande capital

A burguesia ganhou como nuncanesse ano de 2007. O crescimento do PIB,que chegou a 5,2%, mais do que o dobroda média do período 1992-2002 (2,4%),favoreceu os grandes capitalistas. Mes-mo assim, as taxas positivas de cresci-mento ficaram abaixo da Argentina(7,8%), Índia (9,%) e China (11%). Dadosindicam também que o Brasil ficou abai-xo da média dos países considerados“emergentes”.

A balança comercial favorável, sus-tentada pelas exportações de bens pri-mários, e a expansão ainda quemoderada do mercado interno, permitiuao Brasil acumular uma reserva de 167bilhões de dólares, aplicados em títulosdo Tesouro norte-americano.

O grande capital nacional e estrange-

iro aproveitou dessa situação para au-mentar a lucratividade. Asmultinacionais automobilísticas cresce-ram mais de 15%, beneficiadas pela polí-tica de créditos com prazos enormes depagamento e pelos subsídios concedidospelos governos. A expansão da produ-ção das montadoras impulsionou outrossetores a elas vinculados, como a de au-topeças, plásticos, pneus etc. Houve umavanço de empresas capitalistas sobre aagricultura, na compra de terras e nocontrole da produção. O que fez aumen-tar a concentração da propriedade daterra e o domínio do agronegócio nas ex-portações do setor. Multinacionais e in-vestidores estrangeiros passaram acomprar usinas e controlar a produçãode agrocombustíveis (etanol). Como é ocaso da Comanche, constituída de inves-tidores ingleses e americanos, que com-praram destilarias de álcool em SãoPaulo e planejam a construção de umaunidade de biodiesel no Maranhão. DaBrenco, que conta com o especulador in-diano Vinod Khosla, que está construin-do 5 agroindústrias no Mato Grosso eGoiás. Os grandes empresários impõema monocultura da cana e os rumos dasexportações agrícolas. O capital finance-iro, protegido pelas medidas governa-mentais, teve lucros exorbitantes. Adescoberta de um enorme campo de pe-tróleo (Tupi), que pode aumentar em até50% o total de reservas brasileiras, foiimportante para a Petrobrás e para o go-verno.

Os dados positivos da economia ser-viram para potenciar a classe capitalista,principalmente os investidores estran-geiros e as multinacionais. Portanto, ocrescimento econômico evidencia o ca-ráter entreguista (pró-imperialista) dogoverno Lula e sua submissão ao grandecapital nacional.

Alta taxa de desemprego

O governo se vangloria com a elevaçãodas taxas de emprego. A criação de 9 mi-lhões de empregos nesses cinco anos, emgeral de baixos salários e precárias condi-ções de trabalho (até 3 salários mínimos),depois de um longo período de destruiçãomaciça de postos de trabalho, vem sendocapitaneada pelo governo Lula. Entre os

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setores que mais geraram empregos em2007, o de serviços ficou em primeiro lu-gar, com 581 mil postos, depois, o comér-cio com 405 mil empregos e, em terceiro, aconstrução civil, com 76 mil postos. Aagropecuária criou apenas 21 mil e a in-dústria de calçados, 9 mil vagas. A regiãosudeste continuou sendo o carro-chefedos novos empregos.

A expansão dos grandes negócios,como vimos acima, não é sintoma demais empregos. Os setores do agronegó-cio e das multinacionais são os que têmalta tecnologia e menos necessitam demão-de-obra. O contrário ocorre com aspequenas e médias empresas que ao cres-cerem também possibilitam mais empre-go. Um exemplo: a cada R$ 1 milhãoaplicado para aumentar a produção maspequenas e médias empresas são criados22 empregos, enquanto que nas grandessomente 5 postos. A concorrência com osmanufaturados importados tem provo-cado o baixo desempenho das pequenas emédias empresas nacionais e, conseqüen-temente, menor empregabilidade.

O fundamental é que a taxa oficial dedesemprego continua alta (8,2%), a rotati-vidade é enorme, a superexploração dotrabalho aumentou e a precarização doscontratos se intensificou. Os 9 milhões deempregos criados não fizeram senão re-por parte da gigantesca destruição de pos-tos de trabalho nos governos anteriores.

Elevação do custo de vida

Apesar da inflação continuar em pa-tamares baixos, os preços dos alimentos,das tarifas de serviços, do transporte co-letivo e dos aluguéis estão nas alturas. Ovalor da cesta-básica consome boa partedos salários dos explorados. A inflaçãoanual medida pelo IPCA foi de 3,6% e ospreços dos alimentos subiram em média8,5%. Quanto mais baixo for o salário,maior é o peso dos alimentos para as fa-mílias pobres. O preço do feijão é assus-tador, teve alta de 203% no ano de 2007.O arroz, 13%; a carne bovina, 32%; fran-go 28% e o milho 79%. Os milhões detrabalhadores que vivem com um salá-rio mínimo não podem ter em sua mesao feijão e o arroz diariamente. O custo devida alto para a maioria explorada con-trasta com o crescimento dos lucros e dariqueza concentrado nas mãos de pou-cos. A política do agrocombustível, que

aumenta a monocultura da cana, dimi-nui o emprego no campo e reduz a pro-dução de alimentos, tende a elevar opreço da cesta-básica.

Vemos que o governo tem assegura-do os interesses da classe capitalista en-quanto as condições de existência dasmassas continuam precárias e tendem ase agravar.

Desbloquear o movimentooperário

A resistência dos trabalhadores à po-lítica governamental ficou quase querestrita ao funcionalismo e estudantes.As medidas de Lula, para recompor par-te da perda da CPMF, novamente atingi-rão os servidores por meio do arrochosalarial e da precarização das condiçõesde trabalho. A educação pública contarácom menos. Em nenhum momento, ogoverno petista aliviou a situação de pe-núria da saúde pública. Com o fim daCPMF, justifica menos recursos ainda.

O MST que realizou manifestações eocupações não conseguiu arrancar dogoverno mais assentamentos e melhorescondições de permanência no campo.Além de enfrentar a violência do latifun-diário, o movimento camponês se depa-ra com o crescimento dadesnacionalização da terra. A reformaagrária exigida pelo MST não avançou.Foi o ano em que o Incra menos desapro-priou fazendas improdutivas. Foram as-sentadas cerca de 30 mil famílias,contingente insignificante diante dosmilhares de sem-terra que estão à beiradas estradas. No ano passado, o que vi-mos foi o avanço da empresa capitalistaestrangeira na compra de terras, usinas,controlando sementes, adubos, água eprodução. Os assassinatos de sem-terrae a criminalização do movimento conti-nuaram. Os capitalistas do campo e osfazendeiros permaneceram impunes.Lula não alterou nenhuma legislaçãopara favorecer os camponeses oprimi-dos. Ao contrário, é um governo ajusta-do aos interesses dos grandesexportadores.

O problema está em que a direção doMST apóia Lula. As denúncias contra apolítica agrária de Lula não vêm no sen-tido de rompimento com o governo. Dizassim o coordenador nacional do MST,João Pedro Stédile, sobre Lula. “... o go-

verno Lula, mais do que no primeiromandato, se transformou em um gover-no ambivalente. Dentro dele há forçasdo capital que são a favor da monocultu-ra e das exportações, e tem um outro se-tor que é a favor do camponês e daagricultura familiar. A correlação de for-ças dentro do governo é favorável aoagronegócio, e essa relação desfavorávelsó vai ser rompida quando conseguir-mos aumentar nossas mobilizações nasociedade em geral”. Trata-se da velhacaracterização de um governo “em dis-puta” e não a de um governo servil àclasse capitalista que administra os ne-gócios do Estado.

A tarefa colocada é a de combatera política dessas direções, que travamo movimento e os submetem aos go-vernos.

A classe operária esteve sob o contro-le das burocracias das duas maiores cen-trais, CUT e Força Sindical. O avanço daestatização dos sindicatos e da CUT pormeio dessas direções constituiu e consti-tui um grande obstáculo para a classeoperária e os camponeses abreviaremsua experiência com o governo assisten-cialista de Lula e ganharem terreno naluta de classe.

Nova situação de crise

Apesar do salário miserável, do de-semprego, da fome e da miséria, o go-verno Lula continua arrastandomilhões de explorados. Alguns milha-res porque dependem do assistencialis-mo (bolsa-família), outros tantosporque são iludidos por suas direçõessindicais, camponesas e populares eatraídos pela farsa de ser um presidenteque veio da classe operária. Será pormeio da experiência direta que os opri-midos se separarão de suas direções tra-idoras e do governo Lula. A lutaconseqüente por suas reivindicações e aresistência do governo e dos capitalistasem não ceder constituirão o caminhodessa experiência.

O quadro econômico favorável à go-vernabilidade e à política de controledos explorados pela burocracia sindicalpoderá ser modificado com a crise mun-dial que se inicia com as quebras e reces-são nos Estados Unidos. Já não se temtanta confiança de que o Brasil está imu-ne ao que se passa na economia da maior

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6 – MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007

Decomposição do capitalismo: violência urbanaBaseado em dados do SUS, do Ministério

da Saúde, o economista Daniel Cerqueira, doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada(IPEA), concluiu que em 30 anos ocorreram 1milhão de homicídios no Brasil. Mais preci-samente: a pesquisa parte de 1979, portanto30 anos se completarão em fins de 2008. Nos29 anos passados, os homicídios estão próxi-mos de 1 milhão, o que indica que dentro demais um ano serão completados.

A média anual é de 33.330 mortos.Por dia, a média chega a 91 assassinatos.Considerando a década de 2000, “a taxade homicídios chegou a 28,5 por 100 milhabitantes, quando foram mortas 49,5mil pessoas”. (O Estado) Apesar da pes-quisa identificar uma queda desse nú-mero a partir de 2003, não significa umareversão nesse quadro dramático.

A divulgação desses números levou acomparações com países em situação deguerra: “Angola levou 27 anos para atin-gi-la, mas estava oficialmente em guerracivil”. Daniel Cerqueira explica assim -“Tem dois pontos que são combustíveisda hipercriminalidade: a desigualdadesocial e a falta de um sistema coercitivo.O que a gente tem no Brasil é um sistemade segurança pública falido”.

Resposta genérica quanto à desigual-dade social e falsa quanto ao sistema coer-citivo. A fonte da criminalidade está nasrelações de produção e distribuição de ri-

queza, assentadas na propriedade privadados meios de produção e na exploração damaioria. A alta concentração de riquezasde um lado e a miséria da maioria de outroengendram todo tipo de chaga social. A su-posição de reduzir as desigualdades sociaisfaz parte do ideário reformista, não aplicá-vel e já comprovadamente fracassado. Emrelação ao sistema coercitivo, não faltam te-ses de política de prevenção, polícia cientí-fica, educação humanizadora dos agentesrepressivos, integração das instituições po-liciais com as comunidades etc. Há muitoas condições econômicas e sociais do capi-talismo se encarregaram de demonstrarque se trata de mais uma demagogia refor-mista. Não há como reduzir drasticamentea miséria, tornar os ricos menos ricos, des-concentrar a propriedade, elevar a culturadas massas exploradas e, assim, ter umapolícia que prevenisse, evitasse homicídiose ela mesma matasse menos.

1 000 000 de assassinatos expressam abarbárie capitalista. Conjunturalmente,pode haver redução da mortandade, mas atendência geral é de aumento. A burguesiae suas instituições podem expor os núme-ros estarrecedores, porque são responsáve-is por eles e os controlam estatisticamente,mas não podem apresentar reais soluções.A crítica pequeno-burguesa de que é preci-so um sistema coercitivo mais eficaz nãofaz senão exigir mais violência policial.

Se o capitalismo apodrece e incentivacrescentemente a criminalidade, não lheresta outra saída para defender o bem estarda classe média rica e da classe burguesasenão agir como em guerra. A estatísticanão mostrou quantos jovens estão entre o 1milhão de mortos e quantos assassinatos sedevem à própria polícia e aos grupos de ex-termínio. Certamente, são muitos.

A luta contra essa mortandade dizrespeito à defesa da vida das massasoprimidas, que, além da miséria, pagamcom alta taxa de mortos por assassínio.A burguesia não pode solucionar a bar-bárie do seu sistema econômico, mas aclasse operária, juntamente com os cam-poneses pobres, pode. A dificuldadeestá na ausência do partido revolucioná-rio e na situação embrionária do POR.Tem a ver com o programa econômico,político, social e histórico.

O combate à barbárie parte das reivin-dicações elementares de salário mínimovital, escala móvel das horas de trabalho,escola e trabalho para todo jovem e chegaà luta pelo poder do Estado. As massasem luta por suas reivindicações se poten-cializarão para transformar a grande pro-priedade privada dos meios de produçãoem propriedade socialista. A construçãodo Partido Operário Revolucionário é es-sencial para sepultar o capitalismo e abarbárie social.

potência. Os artifícios que incentivam oconsumo – farto crediário e taxas de ju-ros menores – é bem possível que este-jam perto de se esgotarem. Ainda queessa possibilidade dependa em certa me-dida ao que acontecerá na economiamundial nos próximos meses, os fatoresnegativos se avolumam. A inflação pres-siona pela alta, o superávit da balançacomercial deu sinais de queda, as taxasde juros não podem ser rebaixadas, osespeculadores das Bolsa de Valores mos-tram receio em permanecer no país, osindícios de retração na taxa de empregoascendente e contenção de recursos pú-blicos devido a perda da CPMF, tudoisso aponta para mudança de curso daeconomia no próximo período. É claroque se trata de uma probabilidade, amais provável.

É preciso acompanhar os fatores dacrise mundial e nacional que tenham re-

percussão sobre a vida das massas.

Responder com a unidade dosexplorados

As reivindicações que levarão os tra-balhadores a se afastarem do governoLula serão extraídas das novas condi-ções econômicas e sociais.

As crises no seio do Estado têm se cir-cunscrito às disputas interburguesas. Oque ocorreu com a CPMF refletiu umamudança nos atritos da Oposição com ogoverno. No primeiro mandato de Lula,prevaleceram os embates em torno dacorrupção. No segundo mandato, esseembate permaneceu voltado ao PMDB,que sustenta a aliança governamental,mas com a CPMF se delineou o choqueem torno das diretrizes da política eco-nômica. As disputas interburguesas pelacondução da política econômica, tudo

indica, ganharão amplitude, principal-mente se se manifestar queda econômi-ca.

É fundamental travar a luta contra ainfluência dessas disputas sobre as mas-sas oprimidas. O Manifesto “Por umaReforma Tributária Justa”, assinado porlideranças sindicais, pela direção doMST (Stédile), por representantes doPSOL (Plínio de Arruda Sampaio), re-presentantes da Igreja e intelectuais,mostra como setores ditos de esquerdausam as disputas interburguesas paraarrastar os explorados por detrás delas eevitar que se lancem à luta por suas pró-prias reivindicações.

A tarefa colocada é a de unificar aclasse operária, camponesa e a classemédia urbana empobrecida contra oconjunto da política burguesa e a favorde um programa de defesa de vida damaioria e pelo fim do capitalismo.

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MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007 – 7

Medidas de Lula golpeiam mais ainda o funcionalismoA grande maioria dos servidores federais tem seus salários

arrochados, são superexplorados e sofrem a destruição de con-quistas nos Planos de Cargos. Uma camarilha de funcionáriosdesfruta os altos salários, as riquíssimas aposentadorias e as be-nesses dos cargos. Estão eles na cúpula do judiciário, da polícia,nos cargos executivos do governo e no Parlamento. Constitu-em uma máfia que manuseia os recursos do Estado e servemaos interesses da classe capitalista. Nada têm a ver com os tra-balhadores dos serviços públicos, mas são usados para repri-mir suas manifestações, punir com processos lideranças dofuncionalismo, legislar contra suas vidas, proteger o Estadoburguês e para desmoralizar a classe. Sobre esta casta da buro-cracia do Estado não pesam as medidas impostas por Lula.

Os funcionários públicos fizeram greves exigindo a reposi-ção de perdas salariais. No ano passado, os servidores do Iba-ma, Incra, previdência e de universidades e escolas técnicasrealizaram paralisaram o trabalho e alguns setores ficaram 4meses em greve. A campanha da burguesia por meio da im-prensa foi no sentido do governo cortar o ponto, descontar ossalários e aprovar uma legislação anti-greve. O Supremo Tribu-nal Federal decretou a regulamentação da lei que pune o funci-onalismo em greve.

Foram feitas algumas propostas de reajustes para pôr fim aomovimento. Para o Incra, de 12 a 13%; para os previdenciários, 24%a 40% e para a Funai, 12%. Mas não saiu do papel. A situação seagravou quando o governo foi derrotado na votação da prorroga-ção da CPMF. Lula aceitou o acordo da oposição burguesa de cortede gastos, que atinge os servidores federais. É bom lembrar que oprograma de desenvolvimento (PAC), apresentado no início deseu segundo mandato, já previa o arrocho salarial para esse setor. Ajustificativa de Lula de que sem a CPMF não é possível manter aspromessas de reajustes é uma inverdade. Os dados falam por si só:o período de vigência da CPMF, de 1997 a 2007, houve uma arreca-dação de 216 bilhões de Reais. O funcionalismo não viu a cor dessedinheiro. A saúde piorou, as verbas educacionais não saíram dos4% do PIB, a Previdência está sucateada e as condições de trabalhoe de existência dos servidores foram golpeadas.

Burocracias sindicais estão mendigando aogoverno

Dirigentes sindicais, sob a pressão das bases, correm atrásdo governo para conseguir algumas migalhas e evitar que hajamais um ano de greve do funcionalismo.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação(CNTE) aproveitou o seu congresso e reuniu a burocracia dossindicatos para pedir a Lula uma medida provisória que garan-ta a promessa do petista de instituir um piso salarial nacional.Abandonaram a campanha que faziam em torno do piso de R$1.050,00 e aceitaram R$ 950,00 por 40 horas semanais. Lula rea-firmou que a educação estava na lista de cortes de gastos e quealguns projetos do MEC já haviam sido cancelados. Mas diantedessas direções que apóiam seu governo, Lula disse que se em-penharia em fazer uma medida provisória em torno do piso.Concretamente, a burocracia saiu sem nada.

A Confederação Nacional dos Servidores Públicos Federais

(Condsef) correram atrás de Lula suplicando que repusesse a in-flação de 2008 e garantisse para 2009 e 2010. Um dos dirigentesdisse que estão dispostos a negociar e a greve “só acontece se ogoverno quiser”. O Ministro petista do Planejamento, PauloBernardo, enfatizou que não haverá negociação salarial enquan-to o governo não recuperar os bilhões que perdeu com a CPMF.

Como se vê, os burocratas fazem de tudo para evitar novasgreves do funcionalismo, que possam desgastar a governabili-dade de Lula, nesse ano de eleições municipais. Lula, por suavez, está submetido às pressões da oposição burguesa que exigecortes de despesas e está obrigado a manter o superávit primá-rio, exigência da diretriz do grande capital estrangeiro. Certa-mente, não terá como molhar a mãos da burocracia sindical.

Governadores e prefeitos seguirão as medidasde Lula

Os governos estaduais e municipais, mesmo os que são deoposição a Lula, imporão mais arrocho, destruição de direitos esucateamento de serviços públicos. Alguns estados tiveram au-mento de arrecadação de impostos, mas a política salarial para ofuncionalismo é a de não reposição de perdas. Um exemplo: OPSDB está no governo de São Paulo há mais de 12 anos e o funcio-nalismo vive condições de penúria. Serra e Kassab (PSDB/DEM)colocaram-se em favor das medidas de cortes de gastos, que certa-mente atingirão os minguados salários do funcionalismo.

No ano passado, o funcionalismo paulista realizou algumasmanifestações, particularmente a educação. Mas os governosnão cederam. Ao contrário, enrolaram as burocracias sindicaisem torno de um suposto estudo do “impacto do reajuste no or-çamento”. Aproveitaram o final do ano letivo para impor me-didas severas contra o funcionalismo, com o objetivo deinviabilizar o movimento grevista.

Em vários estados, houve greves e manifestações dos servi-dores públicos. Em Alagoas, Bahia, Ceará, Rio Grande do Nor-te entre outros, as greves foram longas mas sem conquistasmateriais para os trabalhadores.

Diante da manutenção da política de miséria imposta pelosgovernos, a tendência é aumentar os descontentamentos.

Preparar as condições para enfrentar os governos

Para o funcionalismo não há outra saída senão se colocar pelaluta. As burocracias sindicais, como vimos, tentarão evitar que osservidores ganhem as ruas e deflagrem greves por todos os lados.Esse é um obstáculo que o movimento terá de enfrentar.

O ponto de partida para a defesa do salário, das condiçõesde trabalho e das conquistas sociais está na organização e nadefesa da democracia sindical. Para isso, é fundamental a exi-gência de assembléias para que o funcionalismo aprove as rei-vindicações e o método para conquistá-las.

A força do movimento dependerá da unidade do funciona-lismo, seja ele, federal, estadual e municipal. A campanha difa-matória dos capitalistas, governos e da imprensa deverá serenfrentada também por meio da organização dos exploradosem comitês de luta nos bairros.

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8 – MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007

XXX Congresso da CNTE: avanço do burocratismoe do divisionismo

Entre os dias 17 a 20 de janeiro, realizou-se o XXX Congres-so da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação(CNTE), em Brasília, com cerca de 1890 delegados provenien-tes de 36 sindicatos de professores e funcionários de escolas pú-blicas de todo o país. Avanço do burocratismo da direção daConfederação e do divisionismo de boa parcela de seus oposi-tores foi a marca deste congresso.

BUROCRATISMO

No XXX Congresso, a diretoria majoritária da CNTE avan-çou em sua colaboração com o governo Lula. Aprovou o Planode Desenvolvimento da Educação, cujos pontos consideradosinsuficientes serão fruto de negociata com o Ministério da Edu-cação; reforçou seu apoio ao FUNDEB; aprovou a continuidadeda defesa do Piso Salarial Nacional Profissional, que possivel-mente ficará entre R$ 850,00 (proposta do governo) a R$ 950,00(proposta parlamentar); dentre outras migalhas e capitulações.Mais grave: convidou o Ministro da Educação, Fernando Had-dad, a participar do congresso e, diante da reação dos lutadoresque o expulsaram, no dia seguinte ao término do encontro, cor-reu entregar-lhe uma moção de repúdio apresentada e aprova-da fraudulentamente além de um pedido formal de desculpaspela “ato de violência de uma minoria”. Finalmente, esta buro-cracia deu um golpe na eleição para reeleger-se, valendo-se in-devidamente de votos de uma chapa adversária que nãoconseguiu o corte cutista de mínimo de 10%, para ficar com atotalidade dos cargos, eliminando a proporcionalidade.

DIVISIONISMO

No Congresso, a Conlutas e Intersindical atuaram conjunta-mente propondo a desfiliação da Confederação e dos sindica-tos por meio da realização de plebiscito. Os poucos sindicatosjá desfiliados da CUT ameaçam deixar a CNTE, se não ocorrer adesvinculação com a Central.

Se o ponto principal do congresso para os burocratas da di-reção era o apoio aos projetos e medidas de Lula, para os divisi-onistas era a cisão da CUT. Os delegados não aprovaram adesfiliação da CNTE e nem mesmo consulta via plebiscito.

A ruptura proposta pela Conlutas / Intersindical gerou a po-larização: defesa ou não da CUT, isto é, defesa ou não deste apa-relho, quando importava polarizar entre uma política classista euma política colaboracionista levada a cabo pela direção da Cen-tral. A preocupação aparelhista do PSTU / PSOL acirra a intole-rância da base despolitizada com aqueles que lutam contra oburocratismo: tudo o que se propõe é considerado como medidade enfraquecimento / desagregação da Central e da Confedera-ção e, portanto, de interesse dos trabalhadores da educação.

O divisionismo do PSTU / PSOL tem criado um obstáculo àconstrução de frentes revolucionárias no interior do movimen-to sindical, construída através de um programa unitário. Issoimpossibilitou uma chapa unificada com todas as correntesque se opõem à burocracia. Além disso, esses divisionistas se

uniram à burocracia petista e estalinista quando da apresenta-ção de um painel sindical: dividiram as intervenções que deve-riam ser do plenário entre suas correntes, deixando outrascorrentes sem possibilidade de se manifestarem.

O PC do B, que criou a Central dos Trabalhadores do Brasil(CTB), em dezembro, rompendo com a CUT, no Congresso, es-camoteou sua posição, fazendo frente com a Articulação Sindi-cal em diversos momentos e, inclusive, montando nova chapapara a eleição de diretoria. Fez demagogia de que atualmentenão é mais necessária unidade organizativa, só de ação.

O fundamental é que diante dos ataques promovidos pelosgovernos e da colaboração da burocracia da CNTE, mais doque nunca é necessária a unidade entre os opositores para var-rê-la da entidade e transformá-la em um campo de luta classis-ta. Entretanto, a política de correntes da oposição é a defortalecer a Conlutas e a Intersindical “como alternativa” àCentral Única dos Trabalhadores (CUT), à margem dos traba-lhadores. Esta política tem deixado a burocracia mais livre paraavançar no apoio à Lula.

BUROCRATISMO E DIVISONISMO NA ELEIÇÃOPARA A DIRETORIA

A falsa polarização entre defesa ou não da CUT tomou con-ta do processo eleitoral. De um lado, havia as chapas “cutistas”:Luta e Compromisso, capitaneada pelo PT e PCdoB e Em defesa da

CNTE e da CUT, proposta pela corrente O Trabalho. De outro,havia a chapa da Conlutas / Intersindical: Contra as reformas ne-

oliberais por uma CNTE democrática e de luta, com a participaçãodas correntes que seguem a política do PSTU.

Venceu a chapa do PT/PCdoB com 1476 votos, de um totalde 1890. A Conlutas / Intersindical ficaram com 348 votos e achapa de O Trabalho com 40 votos. Há denúncias de que houvefraude e a chapa da burocracia não obteve mais de 80% dos vo-tos como alega. A fraude serviu para impedir que os oposicio-nistas tivessem direito a compor a direção, segundo o critériode proporcionalidade proposto pela própria burocracia.

Nossa posição

A Corrente Proletária da Educação, órgão do Partido Operá-rio Revolucionário, atuou no Congresso da CNTE intervindo naquestão do divisionismo do movimento dos trabalhadores. Des-tacou que a CUT e a CNTE possuem direções burocráticas quetravam a luta dos trabalhadores, porém, o problema está nessasdireções e não nas entidades. Defendeu a fração revolucionáriapara varrer a burocracia e a real independência da CUT e daCNTE frente ao governo Lula e partidos burgueses. Diante daeleição para a direção da CNTE, o POR foi obrigado a se colocarpelo voto nulo para se contrapor ao burocratismo e ao divisio-nismo. Outros aspectos da intervenção do POR serão expostosno balanço completo que será publicado no próximo Massas.

Publicamos a seguir o Manifesto distribuído no Congresso

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MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007 – 9

Carta aos delegados ao Congresso da CNTE

Sobre a divisão e desfiliação da CNTE da CUTO ponto central do Congresso será a discussão sobre a desfilia-

ção ou não da CUT. No caderno de teses, há duas posições: a da ci-são da CUT e a contrária ao rompimento. A correntes que seposicionam pela cisão se apresentam com duas propostas: 1)desfi-liação imediata da CNTE da CUT; 2) plebiscito para a desfiliaçãodos sindicatos filiados à CNTE. Entre as que defendem a não divi-são estão: Articulação e seus aliados que sustentam a política daburocracia da CUT e a do POR que combate a direção burocrática,defende a unidade organizativa dos trabalhadores e propõe consti-tuir uma fração revolucionária no interior dos sindicatos e Central.

Na verdade, há duas políticas divisionistas: a do PSTU, quedirige a Conlutas, e a do PCdoB, que fundou a Central dos Tra-balhadores do Brasil (CTB). Os defensores da Intersindical es-tão com a Conlutas.

Diante dessa situação, é necessário responder às propostasque levam à cisão e apontar o caminho de combate à burocraciatraidora da CUT.

1. Divisionismo encabeçado pelo PSTUA tese da Conlutas propõe que o Congresso da CNTE apro-

ve: “Que os sindicatos afiliados realizem plebiscito em suas ba-ses pela desfiliação ou não dos mesmos da CUT”. Diz que épreciso “unificar os que defendem a independência e autono-mia dos sindicatos”. Em relação à CNTE, não propõe a desfilia-ção imediata da CUT, fala em “construir uma alternativa dedireção” e propõe alterações nos estatutos.

Em relação ao plebiscito para desfiliar os sindicatos, o PORconsidera um método estranho à democracia operária. É ummecanismo que apela para a decisão individual, reforça a dis-persão, o apoliticismo e o conservadorismo de parte dos traba-lhadores. O método da democracia operária é o da decisãocoletiva. Por isso, a decisão de permanência ou não na CUTdeve ser por meio de assembléias gerais ou congresso.

2. Divisão encabeçada pelo PCdoBA Corrente Sindical Classista, que saiu da CUT e formou a

Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), mascara seu divisi-onismo defendendo a “unidade de ação” das várias centrais,organizando-se uma Conferência Nacional da Classe Trabalha-dora (Conclat) para forjar uma luta comum.

Os estalinistas, que no passado eram contrários à filiação daCNTE à CUT e estavam unidos com os interventores sindicais daditadura militar, passou anos na direção da CUT e, agora, em fun-ção da legalização das Centrais pelo governo Lula, encabeçam ummovimento pela criação de outro aparato. Querem uma Centralsob seu controle, regada de dinheiro do imposto sindical, parapraticar sua política de colaboração de classe. O congresso deverechaçar o divisionismo e o burocratismo aparelhista do PCdoB.

Conseqüências do divisionismoA divisão da CUT só vem agravar a dispersão e enfraquecer

a luta pela unidade organizativa e política dos trabalhadores.Não é por acaso que já existe a divisão entre CUT, Força Sindi-cal e outras, que se contrapõe a uma única Central independen-te e constituída como estado-maior da luta da maioriaoprimida, sob a direção da classe operária. Novas divisões for-

talecem a atomização do proletariado. Refletem a disputa apa-relhista entre os que até pouco tempo estavam na direção daCUT e pouco fizeram contra a estatização da Central, levado acabo pela política do PT. Por parte do PCdoB, que apóia o go-verno Lula/PT, não há o que estranhar. Os estalinistas são bu-rocratas divisionistas. Os morenistas do PSTU tomaram adianteira da cisão e acabaram se colocando no mesmo campodos estalinistas, que é o da cisão da Central. Morenistas e estali-nistas agem por cima das necessidades dos trabalhadores, quepermanecem alheios às disputas interburocráticas.

O resultado da votação (desfiliação ou não) não solucionará oproblema da burocratização e da estatização dos sindicatos e cen-trais. Uma parte dos sindicatos, que eram filiados à CNTE, já estãodesfiliados da CUT. Portanto, vão a CNTE com o objetivo de nãoacatar a decisão de não desfiliação. O plebiscito proposto peloPSTU, caso seja aprovado, não será colocado em prática pelas dire-ções dos sindicatos vinculados à CUT. Por outro lado, a direção daCNTE, que é uma burocracia governista, continuará dirigindo ou-tras dezenas de sindicatos e impondo a política de fragmentaçãodas lutas e de defesa das reformas anti-trabalhadoras do governo.

Combater a burocracia da CNTEA CNTE não tem contribuído para a centralização da luta,

isto é, para a organização do movimento nacional dos profissi-onais da educação. Ao contrário, tem colaborado com a políticado governo Lula que destrói a escola pública, promovendo suamercantilização, e ataca os trabalhadores, piorando suas condi-ções de vida e trabalho e responsabilizando-os pelo fracasso daeducação. Isso ocorre, entretanto, por causa de sua direção.

Mas não podemos confundir a entidade com sua direção.Uma entidade é classista ou colaboracionista devido à políticade quem a dirige. A CNTE, CUT e a maioria dos sindicatos sãodirigidos pelo reformismo petista. São direções que trabalhampela estatização dos organismos dos trabalhadores. São contrá-rios aos métodos e ao programa da classe operária.

Cabe aos trabalhadores combater essa burocracia. E isso sedará por meio da luta no seio dos explorados e no interior dossindicatos, da Confederação e da Central, por mais fechados erepressivos que sejam.

Tese da Corrente Proletária propõe:O POR é contrário a cisão aparelhista que se trava no movimen-

to dos trabalhadores e estudantes. Por isso, não defende a desfilia-ção da CUT, mas sim a luta em seu interior, por meio das fraçõesrevolucionárias, para derrotar a burocracia. Para isso, propõe:

1.Rechaçar o divisionismo que campeia solto no movimen-to sindical;

2.Defender uma verdadeira Central única, classista e de lutade classes;

3.Derrotar a burocracia estatizante da CUT;4.Lutar pela independência e democracia sindicais;5.Rechaçar o reconhecimento estatizante das Centrais;6.Pôr fim ao confisco dos assalariados na forma do imposto

sindical e das taxas negociais;7.Que as Centrais e os sindicatos sobrevivam com as contri-

buições dos trabalhadores;8.Defender os métodos coletivos próprios da classe operária.

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10 – MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007

AS TÁTICAS DA FRENTE ÚNICA( León Trotsky)

I. CONSIDERAÇÕES GERAISSOBRE A FRENTE ÚNICA

1.A tarefa do Partido Comunista é dedirigir a revolução proletária. Com o ob-jetivo de orientar o proletariado para aconquista direta do poder, o Partido Co-munista deve basear-se na predominan-te maioria da classe trabalhadora.

Se o Partido não conta com essa mai-oria, deve lutar para alcançá-la.

O Partido só pode alcançar esse obje-tivo se for uma organização absoluta-mente independente, com um programaclaro e uma rigorosa disciplina interna.Eis por que o Partido teve de romper ide-ológica e organizativa-mente com osreformistas e centristasque não lutam pela re-volução proletária, quenão têm a capacidadenem o desejo de prepa-rar as massas para a re-volução e que, com suaconduta, barram essatarefa.

Aqueles membrosdo Partido Comunistaque se lamentam da ci-são com os centristas,em nome da “unidadede forças” ou da “unida-de de frente”, estão de-monstrando suaincompreensão do ABC do comunismo,e que estão nas filas do Partido Comu-nista só por acidente.

2.Depois de assegurar uma completaindependência e homogeneidade ideo-lógica de seus quadros, o Partido Comu-nista luta para influenciar a maioria daclasse operária. Esta luta pode assumirum caráter rápido ou lento, o que depen-de das condições objetivas e a eficácia datática seguida.

Mas é bem evidente que a vida declasse do proletariado não se detém nes-se período preparatório para a revolu-ção. Os choques com os industriais, coma burguesia, com o aparato do Estado, járespondem à iniciativa de um setor oude outro, seguem seu curso.

Nesses choques, que já envolvem, se-jam os interesses do conjunto do proleta-riado, ou de sua maioria, ou a este ououtro setor, as massas operárias sentema necessidade da unidade de ação: daunidade para resistir ao ataque do capi-talismo, ou de unidade para tomar aofensiva contra ele. Todo Partido que seoponha mecanicamente a essa necessi-dade do proletariado de unidade naação, será condenado infalivelmente pe-los operários.

Por outro lado, a questão da FrenteÚnica não é, nem na sua origem, nem nasua essência, uma questão de relaçõesmútuas entre a fração parlamentar co-munista e a socialista ou entre os Comi-

tês Centrais, de ambos Partidos, ou entre“L´Humanité” e “Le Populaire”. O pro-blema da Frente Única - apesar do fatode que é inevitável uma cisão nesta épo-ca entre as organizações políticas que sebaseiam no proletariado – surge da ur-gente necessidade de assegurar para aclasse operária a possibilidade de umaFrente Única na luta contra o capitalis-mo.

Para aqueles que não compreendemesta tarefa, o Partido somente é uma so-ciedade propagandística, e não uma or-ganização para a ação de massa.

3.Nos casos em que o Partido Comu-nista ainda permanece como uma orga-nização composta por uma minorianumericamente insignificante, a questãode sua conduta na frente de luta de mas-

sas não assume um significado político eorganizativo decisivo. Em tais condiçõesas ações de massa permanecem sob a di-reção das velhas organizações que conti-nuam jogando um papel decisivo emvirtude de sua tradição ainda poderosa.

Por outro lado, o problema da FrenteÚnica não surge nos países onde – Bul-gária por exemplo – o Partido Comunis-ta é o único dirigente das massasexploradas.

Porém onde quer que o Partido Co-munista constitua uma força política po-derosa e organizada, mas não com umagrandeza decisiva – ali onde o Partidoabarque organizativamente, digamosuma quarta parte, uma terceira e ainda

uma proporção maiorda vanguarda proletáriaorganizada – se encon-tra diante do problemada Frente Única em todasua agudeza.

Se o Partido contacom uma terceira parteou a metade da van-guarda proletária, logo orestante se encontraráorganizado pelos refor-mistas ou centristas. Ébem evidente que osoperários que aindaapóiem os reformistas ecentristas se interessemvivamente por manteros níveis de vida mais

elevados e a maior liberdade de ação queseja possível. Em conseqüência, deve-mos projetar nossa tática de evitar que oPartido Comunista, que no futuro próxi-mo abarcará os três terços do proletaria-do, se converta em um obstáculoorganizativo no caminho da luta prole-tária atual.

Ainda mais, o Partido deve assumir ainiciativa de assegurar a unidade na lutapresente. Somente assim o Partido seaproximará daqueles dois terços queainda não seguem sua direção, que ain-da não confiam nele porque não o com-preendem. Somente desta maneira oPartido pode ganhá-los.

Se o Partido Comunista não tivesserompido drasticamente e de forma irre-

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MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007 – 11

vogável com os Sociais Democratas nãose teria se convertido no Partido da Re-volução Proletária. Não teria podido daros primeiros passos sérios no caminhoda revolução. Teria permanecido comouma válvula parlamentar de segurançapara o Estado burguês. Quem não com-preende isso, não conhece a primeira le-tra do ABC do comunismo.

4.Se o Partido Comunista não procu-rasse construir um caminho organizati-vo, ao final do qual fossem possíveis emqualquer momento ações coordenadasconjuntas entre as massas comunistas eas não comunistas (incluindo as queapóiam a Social Democracia), mostrariaclaramente sua incapacidade para ga-nhar – sobre a base de ações de massas –a maioria do proletariado. Degenerariaem uma sociedade de propaganda co-munista, nunca se desenvolveria comoum partido que luta pela conquista dopoder.

Não é suficiente contar com uma es-pada, tem de estar afiada; não é suficien-te estar afiada: tem de saber usá-la.

Assim que separar os comunistas dosreformistas, não é suficiente fundir oscomunistas entre si por meio da discipli-na organizativa; é necessário que esta or-ganização aprenda a guiar todas asatividades coletivas do proletariado emtodas as esferas da luta de classe.

Esta é a segunda letra do ABC do co-munismo.DIRIGENTES REFORMISTAS NA

FRENTE ÚNICA

5.A Frente Única abrange somente asmassas trabalhadoras ou incluem tambémseus dirigentes oportunistas?

Só o fato de fazer esta pergunta de-monstra incompreensão do problema. Sepudéssemos simplesmente unir o proleta-riado em torno de nossa bandeira ou emtorno de nossas consignas práticas, e pas-sar por cima das organizações reformis-tas, sejam partidos ou sindicatos,logicamente, este seria o melhor do mun-do. Neste caso, o problema da Frente Úni-ca não existiria na sua forma atual.

A questão surge do fato de que algunssetores muito importantes do proletariadopertencem a organizações reformistas ouas apóiam. Sua experiência atual é dema-siada insuficiente para permitir-lhesabandoná-las e unir-se a nós. É precisa-mente, assim que intervir naquelas ativi-

dades de massas que estão na ordem dodia, que se produzirá uma grande viradana situação.

É isto que perseguimos. Porém, os fa-tos ainda não têm estas características:atualmente o setor organizado do proleta-riado está dividido em três agrupamentos.

Um deles, os comunistas, tem comoobjetivo a revolução social e precisamentepor isso apóia todo movimento dos explo-rados contra seus exploradores e contra oEstado burguês.

Outro grupo, dos reformistas, perse-gue a conciliação com a burguesia. Mas, afim de não perder sua influência sobre osoperários, é empurrado contra os própriosdesejos de seus dirigentes a apoiar os mo-vimentos parciais do proletariado contra aburguesia.

Finalmente, existe um terceiro agrupa-mento: os centristas, os que vacilam cons-tantemente entre os dois, e não têm umaatuação independente.

As circunstâncias, portanto, tornamcompletamente possíveis as ações conjun-tas a respeito de uma série de questões vi-tais entre os operários unidos em tornodessas três organizações respectivamente,e as massas organizadas que as apóiam.

Os Comunistas, como já temos dito,não devem se opor a tais ações senão que,pelo contrário, devem assumir a iniciativa,precisamente pela razão de quanto maissejam impulsionadas as massas para omovimento tanto maior será sua confian-ça em si mesmas, o movimento de massasterá mais confiança em si mesmo e serámais capaz de marchar resolutamente adi-ante, não importa quão modesta seja aconsigna inicial de luta. E isso significaque o crescimento do conteúdo de massasdo movimento o faz revolucionário e criacondições muito mais favoráveis para asconsignas, métodos de luta e, em geral,para o papel dirigente do Partido Comu-nista.

Os reformistas temem o potente espíri-to revolucionário das massas; sua arenamais apreciada é a tribuna parlamentar, osescritórios dos sindicatos, as Cortes de jus-tiça, as ante-salas dos ministérios.

Pelo contrário, o que nos interessa, aparte de toda outra consideração, é arran-car os reformistas de seu paraíso e colo-cá-los ao nosso lado diante das massas.Usando uma tática correta, só podemosganhar. O comunista que duvida ou temeisto parece aquele nadador que aprovou

as teses sobre o melhor modo de nadar,mas não quer arriscar-se a mergulhar.

6.A unidade da frente pressupõe as-sim mesmo, dentro de certos limites e emtorno a questões específicas, correlacionarna prática nossas ações com as das organi-zações reformistas, frente àquilo em queestas ainda hoje expressem a vontade deimportantes setores do proletariado com-bativo.

Mas, depois de tudo isso, não nos se-paramos ontem deles? Sim, porque nãoestávamos de acordo nas questões funda-mentais do movimento operário.

Apesar disso buscamos acordos comeles? Sim, em todos aqueles casos em queas massas que os seguem estão dispostas aligar-se numa luta conjunta com as massasque nos seguem, e quando os reformistasem maior ou menor grau são empurradosa transformar-se em um órgão dessa luta.

Mas, não dirão que depois de separar-mos deles ainda precisaremos deles? Sim,seus charlatães poderão dizer isso. Aqui elá alguns elementos de nosso Partido po-dem se assustar com isso. Mas no que dizrespeito ao conjunto das massas proletári-as - ainda aquelas que não nos seguem eainda não compreendem o objetivo queperseguimos, mas que vêem duas ou trêsorganizações operárias conduzindo umaexistência paralela, essas massas tirarão aseguinte conclusão de nossa conduta: queapesar da separação, estamos fazendotodo o possível para facilitar a unidade daação das massas.

7.A política tendente a assegurar aFrente Única, evidentemente, não incluigarantias de que a unidade de ação seráalcançada em todos os seus pontos. Pelocontrário, em muitos casos, e talvez namaioria deles, os acordos organizativosserão alcançados pela metade e não o se-rão no todo. Porém, é necessário que asmassas em luta tenham sempre a possibi-lidade de convencer-se de que a impossi-bilidade de alcançar a unidade de açãonão se deveu a nossa política irreconciliá-vel senão à falta de uma real vontade deluta por parte dos reformistas.

Ao entrar em acordo com outras orga-nizações, naturalmente assumimos umacerta disciplina na ação. Mas esta discipli-na não pode ser absoluta. No momentoem que os reformistas comecem a colocarum freio na luta, em detrimento do movi-mento e a atuar contra a situação e vonta-de das massas, nós, como organização

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12 – MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007

Londrina debate a Revolução RussaEstudantes de cursinhos populares, trabalhadores e univer-

sitários participaram no dia 8 de dezembro do debate organiza-do pela Corrente Proletária na Educação/POR sobre aRevolução Russa.

Foi feita uma apresentação inicial para localizar historica-mente o processo de amadurecimento das condições materiaise da disposição das massas russas que levaram à tomada do po-der do Estado. Destacou-se o papel da guerra imperialista(1914-1918) na desagregação do regime tzarista e elevação darevolta popular contra ele.

O outro aspecto abordado foi a importância decisiva doPartido no processo revolucionário, a intensa luta entre as di-

versas correntes e as circunstâncias que colocaram o PartidoBolchevique à frente da revolução.

No debate que se seguiu, foram aprofundadas estas idéias.Os participantes refletiram a atualidade dos problemas coloca-dos pela Revolução Russa, principalmente o da direção revolu-cionária, fazendo paralelos com situações revolucionárias emoutros países depois de Outubro de 1917.

Foi um debate politizado, que permitiu a reflexão dos jo-vens e trabalhadores sobre as lições da Revolução Russa para oproletariado do mundo inteiro, e que, ao contrário dos debatesacadêmicos, centrou-se no papel do partido revolucionário, naconquista do poder e construção do socialismo.

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independente, sempre nos reservaremos odireito de dirigir a luta até o fim, e isto semnossos semi-aliados temporários.

Isto pode dar lugar a uma nova agu-dização de luta entre nós e os reformis-tas. No entanto, esta já não implicaráuma simples repetição de um conjuntode idéias dentro de um círculo fechado,senão que significará - se nossa tática écorreta – a extensão de nossa influênciasobre setores novos e virgens do prole-tariado.

8.É possível ver em nossa tática uma re-conciliação com os reformistas somente doponto de vista do jornalista que pensa quese afasta do reformismo criticando-o ritual-mente, sem sequer abandonar seu escritó-

rio de redação, que teme se chocar com oreformismo diante das massas, e teme dara estas últimas a oportunidade para colocarcomunistas e reformistas num mesmo pla-no de luta de classes. Nesta aparência de te-mor revolucionário à “reconciliação”aceita-se em essência uma passividade po-lítica que busca perpetuar uma ordem decoisas em que os reformistas e os comunis-tas têm cada um suas esferas de influênciarigidamente demarcadas, seu próprio pú-blico nas manifestações, sua própria im-prensa e que tudo isso cria a ilusão de umaséria luta política.

9.Rompemos com os centristas e refor-mistas a fim de obter uma completa liber-dade de criticar a deslealdade, a traição, a

indecisão e o espírito passivo no movi-mento operário. Por essa razão, todo tipode acordo organizativo, que corte nossa li-berdade de crítica e de agitação, é comple-tamente inaceitável para nós.Participamos na Frente Única, porém emnenhum instante nos diluímos nela. Atua-mos na Frente Única como um grupo in-dependente. É precisamente no curso daluta que o conjunto das massas deveaprender pela experiência que nós luta-mos melhor que os demais, que enxerga-mos melhor, que somos mais audaciosos eresolutos. Desta forma, nos aproximamoscada vez mais da conquista da Frente Úni-ca revolucionária, sob a indiscutível dire-ção comunista.

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MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007 – 13

Nesta edição:• Conferência do POR/Bolívia• O M.A.S. pariu com forceps seu proje-

to de Constituição

• Esmagar a conspiração fascista coma revolução socialista! Governo Ope-rário e Camponês!

• Evo se arrasta diante dos governado-res buscando a reconciliação

• Genocídio sionista contra o povo pa-lestino

Comitê de Enlacepela Reconstruçãoda IV Internacional

Artigos do Cerqui

Conferência Extraordinária do P.O.ROutubro de 2007 - (Resumo)

O P.O.R. é o único que tem caracterizado o MAS e seu go-verno como burguês, quando o conjunto da esquerda reformis-ta se somou entusiasta ao trem oficialista com o argumento deque se inicia um “processo de mudanças profundas” no país.Nossa caracterização parte de uma análise estritamente mar-xista: os partidos, as tendências ideológicas etc., definem seuconteúdo de classe em função de sua posição frente à proprie-dade. No caso do MAS, expressa, através de sua ala indigenis-ta, a massa de camponess pequenos proprietários e, através daquadrilha de pequeno-burgueses “esquerdistas” reformistas-que são os que dirigem o MAS-, a defesa da ordem burguesa,ou seja, da grande propriedade privada.

No processo, antes das eleições, durante a campanha eleito-ral e depois, quando já se torna governo, o MAS confirma cate-goricamente nossa análise. Para atrair o voto da classedominante e a confiança do imperialismo, despeja uma campa-nha gigantesca mostrando-se como defensor da grande propri-edade privada dos meios de produção, promete aosinvestidores estrangeiros e nacionais segurança jurídica, jura sesubmeter ao ordenamento jurídico burguês e realizar as “gran-des transformações” no marco da democracia burguesa. Seuteórico mais importante coloca a tarefa de consolidar um capi-talismo andino – amazônico, a partir do potenciamento da pe-quena propriedade privada imperante no campo e nas cidades.

Na prática, em sua política hidrocarbonífera e mineira, suaaspiração máxima é converter o Estado boliviano en sócio dasgrandes transnacionais e, no problema da terra, modificar a leiINRA, assegurando a existência do grande latifúndio com aúnica condição de que cumpra um fim econômico social, alémde contemplar outras vantagens para os latifundiários como asterras de descanso, de projeção de crecimento etc.

Só o POR desenvolve a tese de que entre a “Meia Lua” e oMAS existe uma diferença de grau dentro da politicagem bur-guesa. A primeira representa a direita mais cavernária e primi-tiva e o MAS o reformismo burguês, que está condenado aacentuar seus traços reacionários na medida em que os explo-rados se emancipem de seu controle e se choquem com a políti-ca que desenvolve.

As fricções entre os dois extremos da política burguesa seatenuam na medida em que os explorados, usando a ação dire-ta, questionam o destino dos interesses materiais da classe do-

minante e do imperialismo.Por outro lado, se confirmou plenamente nossa posição

frente à Assembléia Constituinte. Temos assinalado que se tra-ta de um circo que está condenado a fracassar porque não sepode transformar estruturalmente este país ditando leis; que ogoverno do MAS, pela política que desenvolve, não pode iralém dos remendos à Constituição no marco burguês.

Os resultados são muito mais dramáticos, a falência daConstituinte mostra o total esgotamento político da classe do-minante.

O governo mostra sua verdadeira natureza burguesa namedida em que se vê obrigado a defender, cada vez de maneiramais franca, os interesses materiais da classe dominante, esgo-tando a desmedida demagogia com que debutou ao se instalarno Palácio Queimado.

Este processo de desmascaramento direitista do governo jánão tem retorno, está condenado a acentuar suas concessões aoimperialismo, aos empresários e à Meia Lua. O processo políti-co atual nos conduz mais cedo ou mais tarde a um inevitávelchoque entre o oficialismo e os explorados que, impulsionadospela miséria devida à alta permanente dos preços dos artigosde consumo, a falta de fontes de trabalho, a queda vertical nacapacidade de pagamento dos soldos e salários etc. e à incapa-cidade do governo para atender e resolver suas necessidadesmais elementares, se verão obrigados a sair às ruas e protagoni-zar grandes mobilizações. Neste processo, é imperioso que oPOR, direção revolucionária dos explorados do país, ajuste suaestrutura organizativa a fim de se colocar à altura da situaçãopolítica e do processo de diferenciação das masas frente aoMAS e se converter na direção fisica das massas oprimidas.

Devem-se estruturar células bolcheviques, de revolucioná-rios profissionais, teóricos, propagandistas, organizadores.Existe a necessidade de reconduzir a organização voltando-aao setor operário – proletário, assimilando criticamente a ricaexperiência passada e, consequentemente, superando as falhasque se cometeram.

Deve-se ampliar a difusão do jornal MASAS. Como medidaimediata, resolve-se que as células incrementem seus quadrosem pelo menos um número a mais por militante.

(extraído do jornal Masas boliviano, nº 2062, de 23/11/07)

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14 – MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007

O M.A.S. pariu com forceps seu projeto de ConstituiçãoA “nova Constituição” aprovada em Oruro pela maltrapilha

Assembléia Constituinte acabou sendo uma filha bastarda daburguesia. O pai (o burguês) se nega a reconhecê-sla simplemen-te porque a mãe (o M.A.S.) é de ocasião, uma garota complacentee loucamente apaixonada pelo modo de vida (a sociedade capi-talista) do pai, e que se entregou por completo a todos os capri-chos do mal-agradecido, que agora, por ser um miserável (nãoquer soltar nem um centavo do bolsa), a desconhece.

Tal como assinalamos, a criatura saiu igualzinha ao pai emtudo, respeita e garante a propriedade privada, especialmentea grande: a das transnacionais, a dos latifundiários, a dos em-presários privados, os banqueiros, enfim a de todos os explora-dores sanguessugas.

Mas o miserável insiste em que a menina não é sua e lhe atri-bui traços que não tem, por aí anda dizendo que é “socialista”,que o pai não é ele e sim Fidel ou Hugo Chávez, que quer dei-xá-lo sem nada e se apropiar de seus bens.

A conspiração direitista contra o governo do M.A.S. não pa-rará nem com a convocatória do governo para um referendo re-vogatório; os Prefeitos da chamada “Meia Lua” não só rechaçama Constituição aprovada pela Constituinte em Oruro, mas aber-tamente convocam a as forças armadas a se rebelarem contra oAlto Comando; Declaram-se em rebeldia e ameaçam pôr em vi-gência de fato (dizem eles de Direito) as autonomias departa-mentais a partir de 15 de dezembro. A Constituição aprovadapelo M.A.S. em Oruro mantém vigente o regime de exploraçãocapitalista, não modifica em nada a estrutura econômica do país,portanto não é possível que resolva nenhum dos problemas fun-damentais do país e das massas exploradas.

Já assinalamos que a estrutura econômica de um país não semuda simplesmente pela via da reforma constitucional. O Ca-pitalismo atrasado que caracteriza nosso país tem como princi-pal obstáculo para seu desenvolvimento a propriedadeprivada em suas três formas: grande, média e pequena. Umamudança estrutural na sua base econômica, supõe antes detudo uma mudança no regime de propriedade imperante, ouseja, que se liquida a propriedade privada dos meios de produ-

ção para substituí-la pela propriedade social. Isso supõe antesde tudo a realização da Revolução Social, a insurreição armada

de operários e camponeses para implantar a Ditadura do Pro-

letariado encarregada de cumprir as tarefas não realizadaspela burguesia, como o desenvolvimento do país, criar um po-deroso mercado interno, industrializar a agricultura, acabarcom a opressão das nacionalidades indígenas etc., com méto-dos socialistas, estatizando os principais meios de produção,planificando a economia e monopolizando o comércio exteriore se projetando no plano internacional para quebrar o imperia-lismo, instrumentos indispensáveis para tirar a Bolívia da mi-séria extrema, o desemprego e o atraso geral. Por isso, devemoscompreender que o regime de propriedade não é simplesmenteum tema a mais da Constituição, na realidade é o tema central,a coluna vertebral de qualquer Constituição, ao redor de comose refira a ele se construirão todos os demais temas.

A luta entre a direita cavernária e fascista e o governo refor-mista pró-burguês, pela aprovação ou não da “nova Constitui-ção” coloca uma falsa disjuntiva para os explorados. Aqui oconcreto é que a direita fascista, racista e perdidamente ven-de-a-pátria teremos de varrê-la nas ruas e pela força, não em refe-rendos que em definitivo não lhe fazem mal porque não põem emquestão a base econômica do poder burguês: a propriedade pri-

vada dos meios de produção, origem da opressão e exploraçãosobre as maiorias trabalhadoras, cuja miséria aumenta a cada dia.

Os explorados devemos conformar uma só frente para var-rer a conspiração direitista e, sobre seu cadáver, avançar deixan-do de lado as imposturas do reformismo masista, retomar apolítica revolucionária do proletariado, materializar a revoluçãosocial, expulsar do poder os exploradores destruindo o alicercedo regime de exploração capitalista: a grande propriedade pri-

vada burguesa dos meios de produção e estabelecer a proprie-dade social dos mesmos (socialismo). Só então seremos governo

e poderemos enfrentar a tarefa de tirar o país do atraso, atender

e resolver as necessidades do conjunto dos explorados.

(extraído do Masas boliviano nº2065, de 14/12/07)

Esmagar a conspiração fascista com a revoluçãosocialista! Governo Operário e Camponês!

O plano conspirativo da burguesia fascista e racista, queatua através dos Comitês Cívicos e dos Governadores da cha-mada “Meia Lua”, consiste em arrastar suas regiões, com o ar-gumento das autonomias departamentais, a se levantarem emrebelião contra o governo e derrubá-lo. Fizeram de tudo paraque da Constituinte não saísse nenhuma Constituição para as-sim levantar as bandeiras da implantação das autonomias emsuas regiões. A autonomia como instrumento que lhes permitaserem donos e senhores em seus feudos e embolsar os recursosfiscais (impostos).

O Projeto de Constituição masista aprovado pela Constitu-inte reunida em Oruro defende até o fim a propriedade privadados meios de produção - pedra fundamental sobre a que se as-senta o regime de opressão capitalista -, ou seja, a escravizaçãodas massas camponesas, do proletariado e dos setores popula-

res em general; reconhece autonomias departamentais com po-deres legislativos. O Ministro da Defesa, W. San Miguel,assinalou que o Departamento de Estado dos EUA deu seu avalà Constituição masista. Em que isso pese, a arremetida direitis-ta carregada de um ódio cego, racista e fascista, segue adiante.A convocatória do Presidente ao referendo revogatório de seumandato e dos Governadores, seu chamado ao diálogo, nãoserviram para aplacar a fúria da direita.

No fechamento desta edição, os cívicos e os Governadoresda “Meia Lua” anunciam a aprovação e aplicação de fato de seu“Estatuto Autonômico” neste 15 de dezembro, ao mesmo tem-po em que o governo anuncia mobilizações para o ato de entre-ga do novo texto Constitucional em La Paz. Grupos de choquefascistas em Santa Cruz jogam boatos nas ruas e chaman a po-pulação a se provisionar de alimentos e combustível, prevendo

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MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007 – 15

o que possa ocurrer; Organizam-se grupos de “crucenhos dis-postos a morrer e matar” pela autonomia e convocam os “mili-tares patriotas” a desobedecerem ao Alto Comando, aimprensa burguesa assinala que o caminho empreendido é ir-reversível.

Os explorados devemos, em uma só frente, sair diante da

conspiração fascista da burguesia racista e vende-a-pátria,

preparar-nos e armar-nos para esmagá-la nas ruas e, sobre seu

cadáver, instaurar nosso próprio governo: o governo operá-

rio-camponês, a ditadura do proletariado contra os explora-

dores, que acabará com a propriedade privada dos meios de

produção e instaurará a propriedade social para que os meios

de produção sejam de toda a sociedade e não de uns quantos

exploradores.

O reformismo burguês do MAS só nos leva à derrota, é

preciso pisar e passar por cima dele.

(extraído do Masas boliviano nº2065, de 14/12/07)

Evo se arrasta diante dos governadores buscando areconciliação

O diálogo entre governo e governadores pôs em evidênciaaté que ponto Evo e seu governo são uns miseráveis lacaios dosburgueses.

Evo se mostra desesperado em conseguir um acordo com osgovernadores, sobre a base do respeito à propriedade privada,à legalidade e à democracia burguesas. Está disposto a compa-tibilizar o Projeto de Constituição aprovado na Constituintecom os Estatutos Autonômicos redigidos pelas oligarquias re-gionais (demonstração palpável de que a tal Constituinte éuma farsa, no final a sorte do país será decidida fora dela pelospolitiqueiros de sempre), reconsiderar o financiamento doBono Dignidade com recursos do IDH, etc., etc.

A proposta do governo não desperta o menor entusiasmodos Governadores porque sabem que nada disso está em peri-go. Os Governadores da “Meia Lua” estão fazendo seu papel:tornando-se duros, pressionando para arrancar do governo aansiada autonomia no sentido que as burguesias regionais aconcebem: um instrumento que lhes permita ter o controle ab-soluto em suas regiões, dispor da maior quantidade de recur-sos públicos, especialmente o IDH, decidirem sobre a posse daterra e inclusive sobre a exploração dos recursos naturais.

O sonho de Evo é conquistar a confiança dos exploradores emarchar de braços dados com eles, disse isso quando o Presi-dente Lula do Brasil visitou a Bolívia, acompanhado de umadelegação de empresários brasileiros, sublinhando que inveja-va Lula porque ele tem o apoio dos empresários.

O diálogo pôs em evidência o que o P.O.R. tinha assinalado:o governo masista é burguês pela política que desenvolve, en-tre ele e a oposição de direita não existem discrepâncias de fun-do, são irmãos de sangue, defensores do sistema de exploraçãoe opressão capitalista. No famoso diálogo acaso são discutidosos problemas dos explorados: a falta de trabalho, os saláriosmiseráveis, a sede de terra do camponês, sua extrema miséria, ocontrole soberano sobre os recursos naturais, etc.? Não, toda adiscussão gira em torno de quem controla o poder político e osrecursos econômicos do Estado. O índio impostor e a oposiçãodireitista são, cada um a seu modo, expressões da decadenteclasse dominante nativa, incapaz de resolver os problemas na-cionais, e sempre servis ao imperialismo.

Pode ser que cheguem a um acordo ou que finalmente le-vem suas discrepâncias a um referendum revocatório, comoanunciaram para logo depois continuar enganando as massasexploradas com suas histórias democráticas burguesas ou quefinalmente sigam com suas bravatas e seus murros na mesa.Isso já não deve nos interessar.

O despertar das massas exploradas que velozmente vão as-similando que o M.A.S. é uma farsa, que é inimigo dos pobres,tem de se traduzir na luta independente dos explorados contraseus inimigos: o imperialismo, a burguesia e seus lacaios, pelarevolução social que destrua a base econômica da ordem bur-guesa: a propriedade privada dos meios de produção estabele-ça a propriedade social sobre os mesmos.

(extraído do Jornal Masas Boliviano nº 2067, de 18/01/2008)

Qualquer coisa que saia do Diálogo entre Evo e osgovernadores não resolverá a fome dos trabalhadores

Está aberta a possibilidade de um acordo entre os aparente-mente irreconciliáveis inimigos: o governo e a burguesia nativada região oriental da Bolívia.

Para o reformista Evo (pretenso representante dos povos in-dígenas secularmente oprimidos, caudilho desse amalgama de“esquerdistas” pequeno-burgueses oportunistas e indigenistasimpostores que constituem o M.A.S.) e os Governadores (re-presentantes da burguesia crioula ultra-direitista e vendida aosinteresses imperialistas), o que os une é a defesa da ordem capi-talista, da propriedade privada sobre os meios de produção.Essa prerrogativa está fora de discussão. A luta entre eles se re-duz à busca pelo controle do aparato e dos recursos do Estado.

Por isso, independentemente de que consigam fazer um

acordo que os fortaleçam como opressores dos explorados, ouque continuem em sua luta (definitivamente fictícia) pelo con-trole do poder, a fome do povo trabalhador (proletários, cam-poneses, artesãos, professores, desempregados, etc., etc.)continuará sem solução.

Em que beneficiará os explorados esta luta mesquinha ementirosa entre a burguesia e seu governo lacaio? Em nada! Éuna farsa que no final acaba distraindo a luta das maiorias opri-midas por pão, trabalho, educação, saúde, etc.

Nós explorados devemos acabar com todas as expressõespolíticas dos exploradores, esmagar a direita fascista, racistaencarnada nos Comitês Cívicos da “Meia Lua” e passar porcima dos lacaios reformistas do M.A.S. e seu governo para ma-

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16 – MASSAS – de 22 de dezembro a 5 de fevereiro de 2007

terializar a revolução social que acabe com o poder da burgue-sia e das multinacionais eliminando a propriedade privadasobre os meios de produção e instaurando a propriedade socialsobre os mesmos.

Para o governo impostor temos que intimar, ou resolva oproblema da fome do povo ao qual diz defender e representarou que vá para o inferno junto com seus irmãos de sangue: osburgueses.

Nossas reivindicações são:�Salário mínimo vital com escala móvel.�Trabalho permanente para todo desempregado.�Toda a terra aos camponeses.�Fazendas coletivas modernas e produtivas para tirarem o

camponês da miséria e do atraso superando a pequena proprie-dade improdutiva.

(extraído do Jornal Masas Boliviano nº 2067 de 18/01/2008)Setores radicalizados se rebelam contra Evo MoralesDepois do encontro com os governadores do país; Morales

adotou uma postura francamente conciliadora e chegou ao ex-tremo de conceber a necessidade de conciliar o projeto de cons-tituição aprovado com os Estatutos Autônomos da “Meia

Lua”. As reações dos setores radicalizados de ambas as frentesnão esperaram muito; de um lado diziam que a nova Constitui-ção é incompatível com os Estatutos Autonômicos; do outro ar-gumentam que não pode haver compatibilização entre umaConstituição ilegal e os Estatutos que são fruto da “vontade po-pular”. O dirigente indígena Román Loayza, em tom agressivo,diz que Evo Morales não tem competência para modificar umavírgula da nova Constituição.

De longe se percebe a confrontação cada vez mais belige-rante de tendências no interior do partido governante, ao pontode colocar em suspeita a palavra de um de seus caudilhos quegoza da maior autoridade política. Este fenômeno, uma vezmais, põe em evidência que o oficialismo é um saco de gatossem programa nem rumo. No seu seio coexistem tendênciasmais dispares que freqüentemente se chocam porque represen-tam interesses materiais distintos e até opostos.

A agudização da luta de classes esmagará a montanha ma-sista porque, inevitavelmente, as tendências mais radicais quese opõem aos oportunistas da classe média serão arrastadaspela política revolucionaria do proletariado.

(extraído do Jornal Masas Boliviano nº 2067, de 18/01/2008)

Genocídio sionista contra o povo palestinoNa segunda semana de janeiro, em visi-

ta ao Oriente Médio, Bush anunciava que épreciso a assinatura de um acordo de pazentre Israel e Autoridade Palestina (AP).Na segunda semana, o exército de Israelataca a Faixa de Gaza e mata 19 palestinos,entre militantes do Hamas e civis.

A mortandade ocorreu quatro diasdepois de encontros de Bush com o go-verno de sionista e o presidente da AP.

Mahmud Abbas aperta as mãos deEhud Olmert/Bush, põe Ahmed Koreipara negociar a “paz”com Tzipi Livni(chanceler israelense) e depois reclama:“Houve um massacre contra nosso povohoje e dizemos ao mundo que não perma-neceremos em silêncio contra tais crimes”.

Hipócrita traidor, é o que devempensar os palestinos que não se curva-ram ao imperialismo e ao sionismo.

Três dias depois, novo ataque, commais 7 mortos. Olmert promete respondercom mais bombardeiros aos foguetes doHamas, que de tão inócuos não mataramum judeu sequer. Mas os mísseis da forçaaérea, de alta tecnologia bélica, matam pa-lestinos como se fossem moscas.

O que diz o presidente da AP, Mah-mud Abbas, depois de 30 mortos emGaza? Que os ataques de Israel eram“um tapa na cara dos esforços de paz” deBush. Hipócrita vendido! Bush garante oEstado sionista e sua estratégia expansi-onista na Palestina.

Cumprindo sua promessa, Olmert de-cretou bloqueio de suprimento de combus-tível à Faixa de Gaza. Um blecaute atingiuatividades essenciais, hospitais, padariasetc. A população saiu às ruas contra a pre-potência fascista do governo judeu.

Gaza faz fronteira com Egito, mas nãoouviu o apelo do governo do Hamas paraque a abrisse. A feudal burguesia egípciae seu governo monárquico são arrastadospela coleira norte-americana, que paraisso lhes presta “ajuda” financeira.

Mas cresceram os protestos de massaem vários paises do Oriente Médio, entreeles o Egito. A ONU aconselhou Israel a terum gesto humanitário e abrir as fronteiras.A pequena entrada de alimentos, combus-tíveis e remédios concedida não tirará afaca do pescoço da população palestina.

Bush passou por alguns países da re-gião, fez discurso da paz americana, fezbons negócios de venda de armas no va-lor de US$ 20 bilhões (para a Arábia Sau-

dita, um sistema de bomba guiada),virou as costas e os sionistas fizeram afesta com seus bombardeios sobre Gaza.

Não há paz alguma. O imperialismo eseu braço armado sionista no Oriente Mé-dio não podem admitir a volta de 5 mi-lhões de palestinos refugiados, criação deum Estado palestino independente, entre-ga de toda área ocupada e fim da expan-são colonialista. Não há como conviverum Estado palestino com o Estado sionis-ta, imposto à força pelo imperialismo.

O Estado palestino negociado com aAP de Abbas é uma ficção. Trata-se deuma rendição ao domínio do EstadosUnidos/Israel. A tomada da Faixa deGaza, em junho de 2007, pelo Hamasconstituiu um golpe na estratégia nor-te-americana. Não há como progredir oacordo de capitulação da Cisjordânia soba AP com a Faixa de Gaza conflagrada.

Os ataques sionistas, o morticínio, aconstrução da muralha, o fechamento dafronteira, o blecaute e a imposição dafome em toda Gaza objetivam esmagar aresistência do Hamas e da população. Ostrabalhadores do mundo inteiro devemcombater o genocídio dos palestinos edefender a unidade das massas explora-das do Oriente Médio para derrotar omilitarismo sionista/imperialista, var-rer a feudal burguesia e seus governos eestabelecer as bases de transformaçõessocialistas.

Bombardeios incesantes de Israel sobre os

palestinos vão matando dezenas