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Vínculos afetivos entre crianças e cuidadores em uma instituição de abrigamento Vínculos afetivos entre crianças e cuidadores em uma instituição de abrigamento* Ana Maria Costa de Oliveira Santos¹ - Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE - [email protected] Chistiane Romão Gonçalves² - Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE - cris_romã[email protected] Marilena Aparecida Sberge³ - Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE- [email protected] Anderson Chalhub- Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE- [email protected] RESUMO – Este trabalho teve como objetivo observar e refletir sobre os vínculos afetivos estabelecidos entre criança/criança e criança/cuidador em uma instituição de abrigamento. Participaram deste estudo crianças do sexo masculino em idades compreendidas entre 06 e 12 anos. Os dados foram coletados através de observações que foram registradas em diário de campo para posterior análise de conteúdo. Observou-se que as crianças demonstraram constantes pedidos e direcionamentos dea atenção e afeto para os pesquisadores. Outro ponto ressaltado nas observações foi a formação de vínculo significativo no que se refere à díade criança/criança, enquanto na criança/cuidador observou-se 1 / 22

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Vínculos afetivos entre crianças e cuidadores em uma instituição de abrigamento

Vínculos afetivos entre crianças e cuidadores em umainstituição de abrigamento*

Ana Maria Costa de Oliveira Santos¹ - Centro UniversitárioJorge Amado – UNIJORGE - [email protected] Romão Gonçalves² - Centro Universitário JorgeAmado – UNIJORGE - cris_romã[email protected] Aparecida Sberge³ - Centro Universitário JorgeAmado – UNIJORGE- [email protected] Chalhub- Centro Universitário Jorge Amado –[email protected]

RESUMO – Este trabalho teve como objetivo observar e refletirsobre os vínculos afetivos estabelecidos entre criança/criança ecriança/cuidador em uma instituição de abrigamento.Participaram deste estudo crianças do sexo masculino emidades compreendidas entre 06 e 12 anos. Os dados foramcoletados através de observações que foram registradas emdiário de campo para posterior análise de conteúdo.Observou-se que as crianças demonstraram constantespedidos e direcionamentos dea atenção e afeto para ospesquisadores. Outro ponto ressaltado nas observações foi aformação de vínculo significativo no que se refere à díadecriança/criança, enquanto na criança/cuidador observou-se

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vínculos empobrecidos, ora estabelecidos por meio de figurade autoridade, regras e disciplina de membros da instituição.

 

PALAVRAS-CHAVE – vínculo, crianças, cuidadores,instituição.

 

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho foi realizado em uma instituição de abrigamentode crianças do sexo masculino. Esta instituição abriga órfãoshá aproximadamente 200 anos, entretanto hoje ela funcionaem regime de semi-internato.

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O contato com esta instituição motivou a coleta de dadosrelativos a assuntos voltados ao universo emocional e afetivoda criança entre seis e 12 doze anos de idade, levando aconsiderar a criança como um ser, com determinaçõesbiológicas, e também como o um ser social, que nasce comcapacidades afetivas, cognitivas e que tem desejos. Um serque precisa interagir e aprender, desta forma o vínculo afetivopode ser uma porta aberta para o processo dedesenvolvimento significativo, tanto emocional como naaprendizagem. A observação relativa às atividadescaracterísticas de relação entre mãe ou cuidadores estimula odesenvolvimento integral de uma criança nessas faixas etárias.

O ser humano nasce com uma grande fragilidade evulnerabilidade e necessita do cuidado do outro para quepossa desenvolver de forma significativa suas habilidadessensoriais, físicas e cognitivas, iniciando pelo atendimento dassuas necessidades básicas.

Na teoria de Bowlby (1998 apud SIQUEIRA 2001, p.15):

Todo ser humano já nasce propenso a estabelecer vínculosafetivos. Essa capacidade, no entanto, pode ser diminuída

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devido a fatores externos que impedem o bebê desempenharesse potencial com as pessoas que o cerca. A capacidade éinata, mas precisa ser estimulada adequadamente para seconcretizar.

Segundo Bowlby (1990), abordando estudos sobre vínculoentre a criança e o seu cuidador, esse se dá por uma ligaçãocomposta por uma rede de comportamentos, que tem relaçãocom a proteção natural da espécie, por ser uma criança muitopequena e indefesa, sendo difícil sua sobrevivência sem aproteção de um cuidador.

Na explicação desses fatos, podem ser citadas algumascontribuições trazidas pela etologia, que, nos seus estudossobre o desenvolvimento humano, onde afirma que o sujeito émais vulnerável a sofrer influências, durante algumas fases doseu desenvolvimento, do que em outraso. Em paralelo, Lorenz(apud GANDRA 2000, pg.03) cita experiências realizadas “comos patos que, 15 horas após saírem do ovo tendem a seguirqualquer objeto que se mova”. Saindo do mundo animal ebuscando compreender a questão do vínculo nocomportamento, Bowlby (2004), que defende o apego comosendo este de importância vital para o desenvolvimentohumano, onde no qual o indivíduo já nasce com predisposiçãoa criar vínculo com outro indivíduo, e essa relação deve ser de

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troca.

O vínculo pode ser descrito como um comportamento degrande interação entre uma criança e seu cuidador. Esteprocesso se constitui no início da primeira infância tendoinfluência no desenvolvimento desta criança por toda a suavida. O ser humano na sua essência necessita de cuidados, ouseja, de amor materno que possa ser traduzido em forma deum sentimento de proteção e segurança, sendo a proteção e asegurança fatores importantes para que a criança possa ter umbom desenvolvimento, emocional e cognitivo.

Estudos realizados por John Bowlby e por René Spitz (apudBALLONE, 2004), defendem não só a formação do vínculo e asua importância entre a criança, mãe ou cuidador, comotambém a continuidade deste, na busca de uma trocasignificativa e eficaz desta relação. Segundo esses autores,quando surge a descontinuidade desta ligação, ou seja,quando a criança é abandonada em um orfanato ou creche,quebra-se esse processo afetivo e os resultados podem serdesastrosos, podendo gerar sérios problemas de ordem física epsicológica no desenvolvimento da criança.

Diante das leituras e pesquisas realizadas sobre o referido

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assunto, estudos demonstraram que, quando a criançafortalece a ligação de vínculo afetivo com o cuidador que comela interage, como troca de olhares, comunicação verbal,cuidados essenciais para sua sobrevivência, como alimentaçãoe higiene, em momentos importantes e decisivos no processode desenvolvimento emocional, constitui-se um fatorindispensável, para que a criança consolide a construção dassuas próprias emoções.

E na busca de fortalecer essa idéia citamos Bowlby (apudDALBEM 2005, pg05):.

A criança constrói um modelo representacional interno de simesmo, dependendo de como foi cuidada. Mais tarde em suavida, esse modelo internalizado permite a criança, quando osentimento é de segurança em relação aos cuidados, acreditarem si própria, torna-se independente e explora sua liberdade.

Durante a segunda Segunda gGuerra mMundial, muitascrianças perderam seus pais e, diante do caos da guerra,essas crianças acabaram amontoadas em creches e orfanatos,passando a serem cuidadas por enfermeiras, que eram

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responsáveis por um grupo de crianças. Dessa relaçãoobservou-se que essas crianças apresentaram-se ciumentas,não permitindo que o seu cuidador dispensasse atenção ecuidados a outra criança, e quando isso acontecia ou quando aenfermeira deixava o local, elas choravam, ficando deprimidase visivelmente perturbadas, apresentando um quadro deextrema possessividade. E e essas questões passaram a serinterrogadas e estudadas por pesquisadores a exemplo deJohn Bowlby (2004, p.04), que relatava que algumas criançasnessa situação:,

Não somente se tornavam intensamente possessivos eciumentos, com respeito àas suas “próprias” enfermeiras, comotendiam, ainda usualmente, a manifestação de hostilidadespara com elas ou, alternativamente, a recolher em um estadode desapego emocional.

O vínculo funciona como um mecanismo muito forte no serhumano e, principalmente, na infância, sinaliza a importância ea necessidade do outro para o seu desenvolvimento. Quandonessa relação há ruptura ou dificuldades de concretização, sãogerados gera  grandes conflitos, pois a partir da forma como foicuidada, a criança cria modelos internos de representação,envolvendo a sua auto-estima, sentimentos de segurança e,

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independência Ou seja, , sendo os primeiros cuidados dados auma criança são a base para toda a sua formação afetivaemocional futura. Bowlby (2004. p. 05) afirma:

A maioria das crianças que tiveram experiência dessegênero(...) recupera-se e desenvolve-se normalmente, ou pelomenos parece desenvolver-se(...) Em conseqüência não é raroduvidar-se da existência de uma possível relação mais íntimaentre processos psicológicos descritos e as perturbações depersonalidade que se apresentam em fases tardias da vida.

A ruptura da relação de vínculo, com privação do amormaterno, ou a descontinuidade na criação deste por um sócuidador, pode causar, na criança, dor, sofrimento e,depressão.,  aAlgumas ainda podem sofrer com oaparecimento de enfermidades físicas e mentais,conseqüências de ordem intelectual, emocional e social.

    Estudando as conseqüências de ruptura do vínculo, ou seja,pela separação da criança do seu cuidador, Bowlby (2004 p.12)cita:

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Comportamento hostil, embora não freqüente, tendeu a crescerdurante algumas semanas de observação. Manifestou-se naforma de morder outras crianças ou de maltratar o objeto deestimação trazido por elas, ou uma quebra de controle sobre oesfíncter.

Privar uma criança de relação segura de amor, carinho eestabilidade, não atendendo àas suas necessidades, é omesmo que colocar o seu desenvolvimento e seu futuro emrisco, tanto nos aspectos de desenvolvimento cognitivo, comono âmbito social e também na sua relação com a cultura e seusvalores tradicionais e históricos.

Considerando que a instituição ofereça o atendimento denecessidades básicas ao desenvolvimento das crianças, elatende a ter dificuldades em oferecer condições satisfatóriaspara um atendimento individualizado, estabelecendo laçosafetivos que podem ser alcançados mais facilmente numambiente familiar.

O que facilitaria a formação do vínculo entre as crianças e seuscuidadores seria o contato físico e afetivo existente entre elas.

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A rotina rígida dentro de uma instituição, a falta de vida emfamília, a não obtenção de atenção individual, a submissão àdisciplina, o convívio restrito às mesmas pessoas em todas asatividades diárias são aspectos que se opõem às diretrizesestabelecidas por Bowlby (1990) para que ocorra umdesenvolvimento sadio da criança.

Crianças abrigadas por longos períodos têm a auto-estima e oauto-conceito afetados, e geralmente têm uma visão negativade si mesmo, que, conforme Bronfenbrenner (1979/1996), podese tornar um prenúncio de fracasso na vida destas crianças,visto que se sentem abandonadas, não amadas e muitas sejulgam incapazes.

    O presente artigo tem como objetivo observar e caracterizaros vínculos afetivos estabelecidos entre crianças e cuidadoresem uma instituição de abrigamento.

    Este trabalho pode contribuir para futuros estudos queincluam também as famílias e outros contextos que a criançaparticipe, numa visão inclusiva, eclética e sistêmica.

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2. METODOLOGIA

O método utilizado foi a observação assistemática eparticipativa, num período de 20 horas. Foram observados 150alunos, sendo que 50 deles permanecem durante toda asemana na instituição, retornando para casa na sexta-feira àtarde. Os demais freqüuentam as aulas em horário integral,retornando para casa diariamente. Todas as crianças são dosexo masculino, visto que esta instituição abriga somentecrianças do sexo masculino, com idades compreendidas entreseis a doze anos, algumas abrigadas em consequência deabandono ou negligência parental.

O procedimento utilizado para a coleta de dados foi aobservação da rotina das crianças e suas relações com seuscuidadores em situações como as brincadeiras, hora daalimentação e horário das atividades complementares, comoaulas de música, artes, capoeira, informática e jogos na quadrade esportes.

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A observação foi focada em comportamentos como o contatofísico, o sorrir, o falar, o olhar e a aproximação decriança/criança e criança/cuidador.

As observações ocorreram em datas previamenteprogramadas, dependendo da disponibilidade da instituição.

Foi utilizado um diário de campo e, gravador para captar falas ecomentários, a fim de enriquecer a análise dos dados coletadosna observação.

Os dados foram coletados seguindo as etapas abaixo:

1.    Foram praticados procedimentos éticos onde através dosquais se manteve o sigilo em relação à observação,comentários e dados coletados em geral.

2.    Visita à instituição, com apresentação dos pesquisadores e

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contato com representantes que pudessemossam auxiliá-los napossível seleção dos participantes dna pesquisa.

3.    Observação das crianças abrigadas na instituição.

4.    Foi efetivada uma devolutiva à instituição em forma deuma conversa com a assistente social pontuando asobservações.

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Este trabalho foi efetuado durante oito visitas na instituiçãoescolhida, quando as crianças foram observadas dentro devárias atividades oferecidas pela casa.

    Durante este trabalho observou-se que as crianças destainstituição, objeto de nosso estudo, apresentaram umempobrecimento afetivo, sendo que a grande maioria sofreu ou

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ainda sofre rejeição por parte da família.

Estudos realizados por autores como Bowlby (2004) e Spitz(2000) , apontam a importância dos vínculos afetivos para odesenvolvimento saudável da infância, portanto, a família temum papel fundamental no crescimento da criança e doadolescente.

Segundo Bee (1996), o apego é uma variação do vínculoafetivo, onde no qual existe a necessidade da presença dooutro, uma sensação de segurança na presença deste. O outroé visto como uma base segura, a partir da qual o indivíduopode explorar o mundo e experimentar outras relações.

Crianças que permanecem na instituição durante toda asemana demonstraram maior irritabilidade, maior agressividadede umas com as outras, insatisfação e apatia, por ficarem maistempo na casa. Esses fatos observados condizem com osestudos realizados por John Bowlby e por René Spitz (apudBALLONE, 2004), que defendem não só a formação do vínculoe a sua importância entre a criança, mãe ou cuidador, comotambém a continuidade deste, na busca de uma trocasignificativa e eficaz desta relação. Segundo esses autores,quando surge a descontinuidade desta ligação, ou seja,

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quando a criança é abandonada em um orfanato ou creche,quebra-se esse processo afetivo e os resultados podem serdesastrosos, podendo gerar sérios problemas de ordem física epsicológica no desenvolvimento da criança.

Este estudo nos levou a constatar que as crianças nestainstituição tendem a formar vínculos afetivos umas com asoutras. A rotatividade de funcionários, voluntários e cuidadores,levam à insegurança e ao medo de novas perdas, por issodentro das instituições as crianças estabelecem vínculosafetivos com outras crianças, os mais velhos cuidam dos maisnovos, que de certa forma representam a figura materna, isto é,na falta do acolhimento do adulto, a criança busca vincular-se aoutra criança. (VIEIRA, 2004).

Foi observado um empobrecimento das relações emocionais eafetivas entre as crianças e as cuidadoras. A busca do contatodá-se pela figura de autoridade, e se mantém pela ordem edisciplina e não pelo afeto. Nesta instituição a criança éatendida num sistema de múltiplos cuidados dificultando apossibilidade de ter uma ligação única.

O desenvolvimento saudável das crianças depende do apegomaior ou menor que elas dedicam aos seus cuidadores. Na

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proporção que o afeto é maior, maior a chance de a criançatornar-se um adulto moral e socialmente independente. Casocontrário, a criança ficará exposta aos riscos provenientes dapouca vinculação e poderá desenvolver comportamentosanti-sociais quando adolescente e na fase adulta. (BOWLBY2004).

Crianças abrigadas por longos períodos têm a auto-estima e oauto-conceito afetados, geralmente têm uma visão negativa desi mesmo, que conforme Bronfenbrenner (1979/1996) pode setornar um prenúncio de fracasso na vida destas crianças, vistoque se sentem abandonadas, não amadas e muitas se julgamincapazes.

Desta forma pode-se dizer que a criança privada do afeto e docontato e sem suas necessidades emocionais atendidas colocaseu desenvolvimento em risco. Para a criança, a ausência deconfiança e apoio em um adulto cuidador é devastadora, vistoque é estreita a relação entre vínculo e desenvolvimentoemocional.

Seguindo essa idéia, podemos citar os estudos realizados pelapesquisadora Ainsworth 1978 (apud DALBEM, 2005) sobre aidentificação dos dois tipos de apegos: seguro e inseguro, ou

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seja, a relação de apego seguro leva a criança a umdesenvolvimento de segurança e confiança, com auto-estima eindependência nas suas relações, o apego inseguro gera nacriança baixa auto-estima, dependência e dificuldades deinteração social.

Diante dessas observações sugere-se aos cuidadores quetrabalham com crianças e que ficam temporariamente eminstituições que voltem a atenção principalmente aoscomportamentos destas crianças, visando assim melhorar ainteração social e afetiva, principalmente nos momentos delazer, quando onde pode ser observada maior relação afetivaentre elas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma das necessidades básicas mais importantes do serhumano é ao de pertencer, sentir-se parte integrante de umgrupo familiar e social. A família é o grupo primário ondenoqual se estabelecem vínculos afetivos seguros, duradouros epessoais. Nas instituições de abrigamento, mesmo contandocom uma boa estrutura, elas têm dificuldades em suprir a

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necessidade de afeição e afeto. As crianças que passamlongos períodos abrigadaos sofrem interferência na formaçãode sua identidade, sociabilidade e subjetividade.

Por meio deste trabalho, foi possível observar oempobrecimento do vínculo afetivo na díade criança/criança ecriança/cuidador, o que pode levar a sérios danos psicológicos.Esses danos podem ser causados principalmente por falta deestímulos e contatos emocionais afetivos, podendo seremestas as causas mais significativas para o atraso dodesenvolvimento. Isto pode ser relativizado pelo papel deoutras pessoas significativas no contexto em que a criançavive, como os avós e os tios.

A instituição pode atuar como uma rede, propiciando umaaproximação e um envolvimento com a família numa visãosistêmica destes contextos, ressaltando a importância dopsicólogo no aprimoramento da formação do vínculo afetivoentre criança/criança e criança/cuidador numa instituição deabrigamento.    

5. REFERÊNCIAS

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BOWLBY, J. Teoria do apego e perda, Ed. Martins Fontes SãoPaulo 2004.

BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimentohumano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre:Artes Médicas, 1996.

CARVALHO, A. M. Fatores contextuais na emergência do

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DALBEM. J. X. Débora Dalbosco Dell Agleo, Teoria do apego:bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos defuncionamento. Arquivo Brasileiro de psicologia. Vol 57. nº 12005http://seer.psicologia.ufrj.br/seer/lab19/ojs/viewarticcle.php?id=62layout=html acessado em 10/08/2007.

GANDRA. M. J. S. A importância do apego no processo dedesenvolvimento. Artigohttp://www.brazilpednews.org.br/dec2000/bnp26.htm. acessado

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MOURA, Maria Lucia Seidl de, Adriana F. Paes Ribas;Responsabilvidade materna e teoria do apego: uma discussãocrítica do papel de estudos transculturais,  2004www.scielo.br/pdf/prc/v17n3/a04v17n3.pdf - acesso em23/08/2007.

SOUZA, Juliana Alencar, A formação do vínculo afetivo, aquestão do apego, artigo revista técnica IPEP. São Paulo,Janeiro de 2005.

SPITZ, R.A. O Primeiro Ano de Vida, Ed. Martins Fontes SãoPaulo, 2000.

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