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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Diversidade ecológica e composição de borboletas frugívoras na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil. Vandir Villar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Diversidade ecológica e composição de borboletas frugívoras na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil.

Vandir Villar

Natal/RN2015

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Vandir Villar

Diversidade ecológica e composição de borboletas frugívoras na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil.

Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado como exigência para obtenção do título de Bacharel em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Orientador: Márcio Zikán CardosoCo-orientador: Jorge Luís do NascimentoAluno: Vandir Villar

Natal/RN2015

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Título: “Diversidade ecológica e composição de borboletas frugívoras na Reserva Biológica Guaribas, Mamanguape, Paraíba, Brasil”.

Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado como exigência para obtenção do título de Bacharel em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Orientador: Márcio Zikán CardosoCo-orientador: Jorge Luís do Nascimento

Banca examinadora:

______________________________________________1º Examinador – ISABELA FREITAS OLIVEIRA

______________________________________________2º Examinador – LARISSA NASCIMENTO DOS SANTOS

______________________________________________Orientador - MÁRCIO ZIKÁN CARDOSO

Aprovado em __/__/____.

Natal/RN2015

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Agradecimentos

Neste espaço, gostaria de deixar um breve agradecimento às pessoas

que de alguma maneira colaboraram para a realização deste trabalho e que de

alguma forma também participaram e fizeram diferença em minha vida durante

os anos residentes em Natal/RN. Minha família a qual durante todo tempo

apoiou minhas decisões pessoais e proveram o suporte necessário para que

pudesse me graduar na Universidade, aos colegas de laboratório Ananda, Léo,

Kionara, Giesta Krishna, Larissa, Victor, Elieudo que me acompanhou em

campo e me ensinou a identificar os táxons coletados, aos colegas da Reserva

Biológica Guaribas com quem tive contato mais próximo: Julião, muito grato

pelas longas e boas conversas e às oportunidades que me deu acesso!!

Getúlio, Heloísa Alencar (valeu pelos mapas!!), Marina Klüppel, aos guardas da

segurança, mateiros, ao grupo de brigadistas de combate a incêndios, equipe

da cozinha e demais funcionários que por lá também trabalham. A todo pessoal

do curso de Ecologia na UFRN, Anne Carvalho, Angélica Albano, Fernandoido,

Adler, Felipe Texano, Alessandra Riberoua, Guedão, ao capirotesco do Anízio,

Natália Roos, Vanessa Rodrigues, ao professor e orientador Márcio Zikán, aos

vários parceiros de casa Gustavo Brant, Nico, Gabriel, Márcio Rato e Júnia,

Giovani, Zeca, dog surf pela companhia, lombras e amor incondicional =), às

colegas de laboratório e banca avaliadora Larissa Nascimento e Isabela

Oliveira, CNPq, Onildo, Odara Raquel pela parceria, torcida, companheirismo e

cumplicidade e à família Kunkler pelos trancos e barrancos, paciência e boas

referências, Dona Lourdes pelas boas charlas, e histórias engraçadas, à finada

gatinha Ramona e finalizando, um agradecimento genérico a todas as pessoas

da Ecologia que não foram referenciadas aqui (são muitas) mas que também

me acompanharam e apoiaram minha peleja acadêmica. Observe! Se seu

nome não está aqui, por favor, não se desespere!! Não é porque não foi

lembrado! É porque escrevi aos 48min. do segundo tempo! Amo você também!!

:D

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SUMÁRIO

Capa .................................................................................................................. 1

Folha de aprovação ........................................................................................... 3

Agradecimentos ................................................................................................. 4

Resumo .............................................................................................................. 6

Abstract .............................................................................................................. 6

Introdução .......................................................................................................... 7

Objetivo ............................................................................................................. 9

Materiais e métodos ......................................................................................... 9

Área de estudo ...................................................................................... 9

Coleta de dados .................................................................................... 11

Análise de dados ................................................................................... 17

Resultados ....................................................................................................... 17

Discussão ........................................................................................................ 24

Conclusão ........................................................................................................ 28

Referências ...................................................................................................... 29

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Diversidade ecológica e amostragem preparatória para o biomonitoramento de borboletas frugívoras na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil.

Discente: Vandir VillarOrientador: Márcio Zikán Cardoso Coorientador: Jorge Luiz do Nascimento

Resumo

A Mata Atlântica Nordestina é uma das sub-regiões da Mata Atlântica localizada na porção ao norte do rio São Francisco e inclui toda a área de floresta costeira entre os estados de Alagoas e Rio Grande do Norte (Santos et al., 2007). Na maior parte de sua área original, a vegetação nativa remanescente ocorre em pequenos fragmentos isolados entre si. Suas áreas de proteção são pequenas, biologicamente isoladas, mal protegidas e administradas (Silva e Tabarelli, 2000, 2001). Diante desse fato, torna-se estrategicamente importante a implementação de estudos para o inventário e monitoramento das populações biológicas ocorrentes em Unidades de Conservação. Isto possibilita uma avaliação geral de seu estado de conservação. O objetivo deste trabalho foi inventariar as espécies de borboletas frugívoras ocorrentes na Reserva Biológica Guaribas e analisar índices ecológicos como riqueza, abundância, diversidade ecológica e composição dessas populações. No total foram registrados 884 indivíduos de 25 espécies, representados por 4 subfamílias da família Nymphalidae: Satyrinae (9), Biblidinae (8), Charaxinae (5) e Nymphalinae (3). Conforme esperado, os dados gerados pela matriz testada corroboraram uma das hipóteses iniciais agrupando os dados entre tabuleiro e floresta, porém, contrariaram outra premissa de análises do trabalho, onde os graus de similaridade entre as áreas de tabuleiro foram menores do que as similaridades encontradas para as áreas de floresta.

Palavras-chave: Mata-Atlântica, Lepidoptera, Nympalidae, diversidade ecológica, monitoramento biológico, borboletas frugívoras.

Abstract

The Northeastern Atlantic Forest is a subregion of Atlantic Forest localized at the north side of São Francisco river, including the entire region of coast Forest between Alagoas and Rio Grande do Norte states (Santos et al., 2007). In most part of its original area, the remaining native vegetation occurs in small isolated fragments to each other. Its protected areas are small, biologically isolated , poorly protected and managed (Silva e Tabarelli, 2000, 2001). In fact, it is strategically important to implement studies for inventory and monitoring of biological populations occurring in protected areas. This allows an overall assessment of their conservation status . The objective of this study was to inventory the species of fruit-feeding butterflies occurring in the Biological Reserve Guaribas and analyze ecological indexes as richness, abundance, biological diversity and composition of these populations. In total 884 specimens were recorded from 25 species , represented by 4 subfamilies of Nymphalidae family: Satyrinae (9), Biblidinae (8), Charaxinae (5) and Nymphalinae (3). As expected, the data generated by the matrix tested corroborated of the initial hypothesis clustering data between the non-forest and forest areas, however, contradicted another premise of the work analysis, where the degree of similarity between the open areas were lower than the similarity found to forest areas.

Word-keys: Atlantic Forest, Lepidoptera, Nympalidae, ecological indexes, biological monitoring, fruit-feeding butterflies.

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Introdução

A Mata Atlântica Nordestina é uma das sub-regiões da Mata Atlântica

localizada na porção ao norte do rio São Francisco, também conhecida como

Centro de Endemismo de Pernambuco e inclui toda a área de floresta costeira

entre os estados de Alagoas e Rio Grande do Norte (Santos et al., 2007). Na

maior parte de sua área original, a vegetação nativa remanescente ocorre em

pequenos fragmentos isolados entre si, predominando atualmente as matrizes

de agricultura ou sistemas não florestais (Kronka et al., 1993). Dentre os

fragmentos remanescentes e oficialmente preservados, suas áreas de proteção

são geralmente pequenas, biológica e ecologicamente isoladas, mal protegidas

e administradas, sofrendo com a alta pressão da caça e corte de madeira (Silva

e Tabarelli, 2000, 2001) entre outras pressões para diferentes usos da terra.

Dentre os diferentes tipos de Unidades de Conservação (UC), a Reserva

Biológica (ReBio) é uma categoria de Unidade de Conservação de uso indireto,

sendo a mais restritiva no Sistema Nacional de Unidades de Conservação

(SNUC) (Brasil, 2000), onde são permitidas apenas a proteção, pesquisa

científica e educação ambiental. Neste sentido, esse tipo de UC permite a

menor alteração possível sendo muito interessante para estudos que visam

elucidar padrões de distribuição e abundância naturais de populações de

espécies nativas e exóticas. Diante dessa realidade, torna-se estrategicamente

importante a implementação de estudos para o inventário e monitoramento das

populações de lepidópteros ocorrentes em Unidades de Conservação. Isto

possibilita uma avaliação geral do estado de conservação dessas Unidades,

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trazendo questões prioritárias para execução de políticas públicas, ações de

manejo e a elaboração de novos projetos para a manutenção da

biodiversidade.

A ordem Lepidoptera, representada por borboletas e mariposas

constituem uma ordem de insetos muito diversificada e ecologicamente bem

sucedida, sendo bem adaptada para viver em ambientes diversos (Heppner,

1991; Brown & Freitas, 2000). Esta compõe a segunda maior ordem entre as

maiores da classe Insecta, agregando cerca de 160.000 espécies descritas

(Kristensen et al. 2007). Sua área de ocorrência abrange todos os continentes,

exceto os polares (Heppner, 1991; Brown & Freitas, 2000).

Baseado nos hábitos alimentares das espécies quando em fase adulta,

as borboletas neotropicais podem ser divididas basicamente em duas guildas

principais: 1) Guilda das nectarívoras, composta pelas famílias Papilionidae,

Pieridae, Lycaenidae, Hesperiidae, Riodinidae e algumas subfamíliasde

Nymphalidae (que inclui algumas espécies de Ithomiinae, Cyrestini, Apaturinae

e Limenitidinae que são eventualmente capturadas com iscas fermentadas) e

2) guilda das frugívoras, representada principalmente por espécies da família

Nymphalidae, subfamílias: Satyrinae, Charaxinae, Biblidinae e Nymphalinae

(DeVries et al., 1997; Gomes-Filho, 2003; Uehara-Prado, 2003; Uehara-Prado

et al., 2004).

Em virtude da acentuada dependência de plantas hospedeiras durante a

fase larval, a conhecida sensibilidade de resposta aos distúrbios ambientais,

possuírem alta diversidade ecológica, fácil metodologia de coletas e fidelidade

de micro-habitat, (Uehara-Prado et al., 2009), as borboletas da Família

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Nymphalidae têm se tornado cada vez mais, um grupo focal para estudos de

avaliação de qualidade ambiental e para a caracterização de áreas de

interesse ecológico, onde o biomonitoramento do grupo pode indicar não só o

estado de conservação das populações focais, mas também o estado de

conservação de uma área protegida (Freitas & Marini-Filho, 2011), conferindo

ao grupo, o caráter funcional de bom e rápido indicador de parâmetros

ambientais e de continuidade de ecossistemas e paisagens (Brown & Freitas,

2000), sendo portanto, uma importante ferramenta em biologia da conservação

(BROWN, 1991).

Objetivos

O presente trabalho teve como objetivo realizar um inventário das

borboletas componentes da guilda das frugívoras ocorrentes em dois

fragmentos da Reserva Biológica Guaribas-PB (SEMA I e SEMA II), assim

como analisar os índices de diversidade ecológica, as estimativas de riqueza,

abundância e a composição de espécies entre os ambientes de campos

abertos e interiores de mata de duas glebas da Reserva Biológica Guaribas.

Acompanhando a heterogeneidade ambiental entre as áreas de coleta, a

hipótese inicial é que haja menor similaridade e maior diversidade e

abundância de borboletas frugívoras dentro das áreas de floresta com relação

às áreas de tabuleiro.

Materiais e métodos

Área de estudo

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A Reserva Biológica Guaribas localiza-se na porção nordeste do estado

da Paraíba, na região geoadministrativa do Litoral Norte paraibano e está

inserida em uma matriz de paisagem muito alterada e aparentemente não

favorável para a biodiversidade. As principais atividades humanas no entorno

da Reserva são o cultivo sucroalcooleiro em larga escala, a presença de

estradas de grande, médio e pequeno porte, tais como a BR-101 e a PB-071,

comunidades rurais e pequenos agro-cultivos como mamão, côco, abacaxi,

entre outros.

A Reserva Biológica Guaribas possui 4.052 ha, distribuídos em 3 sub-

áreas, SEMA1 (660 ha), SEMA2 (3.054 ha), e SEMA3 (338 ha), sendo

geograficamente localizadas nos municípios de Mamanguape (6°44’02” S,

35°10’32” W) (SEMAS 1 e 2) e de Rio Tinto (6°40’53” S, 35°09’59” W) (SEMA

3) (Figura 1).

Segundo a classificação de Köppen, a região da Reserva Biológica está

inserida no tipo climático As’, caracterizado por ser quente e úmido, de estação

seca no verão e chuvosa no inverno. Esse tipo climático possui temperaturas

superiores a 18º C no mês menos quente. As temperaturas médias anuais

variam entre 24ºC e 26ºC com médias mensais entre 28ºC e 30ºC durante os

meses mais quentes, alcançando a máxima absoluta de 36ºC. A forte

evaporação, dentre outros fatores climáticos, resulta em uma maior Umidade

Relativa que ocorre principalmente no inverno, quando os índices se elevam

entre 85% a 90%. A média anual de precipitação está entre 1.750mm e

2.000mm anuais, com as chuvas iniciando em fevereiro, atingindo níveis

máximos em abril, maio e junho e se prolongando até o mês de julho. Os

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períodos de estiagem entre outubro, novembro (o mês mais seco) e dezembro.

(IBAMA, 2003)

A composição fitofisionômica dos fragmentos é caracterizada

principalmente por remanescentes de diversos tipos vegetacionais ocorrentes

na Mata Atlântica, incluindo floresta estacional semidecidual e de tabuleiro. A

composição florística é conservativa dentro de cada fitofisionomia (MMA, 2003)

Coleta de dados

A escolha das áreas para a implementação das armadilhas foi

intencionalmente de ambientes distintos abrangendo diferentes tipos de

habitats (áreas abertas e fechadas, bordas e interiores de mata), possibilitando

uma coleta mais heterogênea, melhorando também os aspectos quali-

quantitativos do inventário. Por questões logísticas, as áreas de coleta se

restringiram apenas às SEMAs I e II (Mamanguape-PB), não contemplando a

SEMA III (Rio Tinto-PB) devido à maior distância em relação às duas primeiras

glebas da Reserva Biológica Guaribas.

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Figura 1 – Destaque das áreas de entorno da Reserva Biológica Guaribas em Mamanguape-PB (SEMAs I e II) e SEMA III no município de Rio Tinto-PB.

A cobertura de área dos dois ambientes selecionados abrangeram

aproximadamente 33% de ambientes abertos, correspondentes às áreas de

tabuleiro e 66% de cobertura para as áreas de floresta. Respeitando tal

proporção, o total de 12 pontos de amostragem foram definidos previamente de

forma aleatória e distribuídos para ambos ambientes fitofisionômicos das

SEMAs I e II da Reserva Biológica Guaribas, resultando em 4 Unidades

Amostrais (33%) para as coletas em áreas de tabuleiro e outras 8 UAs (66%)

dispostas para as coletas em áreas de mata fechada (Figura 2). A distribuição

das Unidades Amostrais divididas por gleba, contemplou 2 UAs na SEMA I

(ambas para tabuleiro) e outras 10 UAs na SEMA II (duas para área de

tabuleiro e 8 para área de floresta).

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A distribuição das armadilhas de coleta foi feita conforme sugerido por

protocolo ainda não publicado para coletas de borboletas frugívoras. Para

auxílio de campo e orientação com relação às Unidades Amostrais, as

coordenadas geográficas aleatorizadas dentro de cada área foram

devidamente mapeadas em GPS.

Figura 2 – Disposição das 12 Unidades Amostrais para áreas de tabuleiro (verde) e áreas de floresta (rosa) nas SEMAs I e II da Reserva Biológica Guaribas.

As amostragens dos indivíduos foram realizadas mediante coleta com

armadilhas atrativas padronizadas do tipo Van Someren-Rydon (VSR) (Figura

3). Esse tipo de armadilha permite que a guilda das borboletas frugívoras seja

simultaneamente amostrada em diferentes locais com o mesmo esforço

amostral (Ribeiro, 2006).

As armadilhas foram montadas previamente em laboratório e

basicamente consistiam em duas tábuas quadradas de madeira onde, através

de cordões fixava-se a tela vazada por todo seu perímetro (com exceção

apenas de sua base, por onde entravam as borboletas) formando um tipo de

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gaiola entomológica. Dentro da base de cada gaiola, foi colado um prato

descartável para acomodar as iscas de atração.

O esforço amostral totalizou 6 meses de coletas, as quais ocorreram

entre os meses de janeiro a abril e de agosto a setembro de 2014. A disposição

das armadilhas dentro de cada Unidade Amostral, consistiu no total de 4

armadilhas dispostas em quadrados de 50 metros equidistantes cada vértice,

somando-se o total de 48 armadilhas. A fim de evitar pseudo-réplicas, cada

Unidade Amostral foi alocada a uma distância mínima de 1km de sua vizinha

mais próxima para cada fitofisionomia estudada (Uehara, et al., manuscrito em

preparação).

A isca de atração utilizada foi composta por pedaços de banana

fermentados em caldo de cana por 48 horas antecedentes à ida a campo

(Pedrotti et al., 2011) e repostas diariamente durante os períodos de coleta. Os

horários de exposição das iscas contemplaram todo o período amostral e

somaram 3.456 horas de exposição. As armadilhas eram iscadas a partir das

6:00h do primeiro dia de campo e repostas diariamente conforme as revisões

diárias até às 17:30h.

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Figura 3 – Armadilha padronizada tipo Van Someren-Rydon (VSR)

Por questões de disponibilidade de dias, os esforços de campo

totalizaram 4 dias para cada período amostral, diferentemente do protocolo, o

qual sugere esforço amostral de 6 dias sendo o primeiro dia para iscar todas as

armadilhas e os dias seguintes para coleta de dados e reposição das iscas. Ao

fim, o esforço amostral somou 24 dias de campo durante os seis meses de

coletas, sendo 4 dias por mês.

Apesar da grande variação entre as distâncias das Unidades Amostrais

para os dois ambientes e as duas SEMAs, a distância média entre as UAs

mais próximas foi da ordem de 2,24km, agregando as Unidades Amostrais de

ambos os ambientes. Entre os maiores e menores valores aferidos para as

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distâncias mínimas entre UAs, os valores extremos foram 4,56km e 1,1km

respectivamente.

(a) (b)

(c)

Figura 4 – Ilustrações de borboletas coletadas com marcação: Hamadryas feronia(a), Archaeoprepona demophon(b) e Zaretis isidora(c).

Cada espécime coletado foi identificado com um número consecutivo

sequencial e posteriormente liberado de volta ao ambiente (Figura 4) com

exceção de indivíduos de espécies não identificadas ou de exemplares

aparentemente aptos para compor o material de testemunha. Estes indivíduos

foram coletados, guardados em envelopes entomológicos e congelados até a

montagem da caixa entomológica a ser incorporada à coleção de Lepidoptera

da UFRN.

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Análise de dados

A partir dos dados coletados, foram feitas análises descritivas mensais e

totais para as abundâncias de cada espécie, divididos por subfamílias (Tabela

1) e, a fim de permitir uma melhor apresentação e comparação dos dados de

ocorrências para as diferentes áreas de estudo foi criado um histograma

(Figura 5), possibilitando observar estes dados com maior clareza. Um

rankeamento para as 5 espécies mais abundantes por ambiente e uma tabela

contendo as abundâncias para cada ambiente fitofisionômico (Tabela 2)

compõem as análises descritivas.

Os índices de Shannon e Simpson também foram gerados, a fim de

conhecer e comparar a diversidade ecológica mensal entre as áreas de estudo

e também para a totalidade das Unidades Amostrais (Tabelas 4, 5, e 6) e

(Figuras 6 e 7). Por fim, uma análise de agrupamento cluster foi gerada para

inferir a dados sobre a composição das populações de borboletas frugívoras

entre as diferentes áreas e entre todas as Unidades Amostrais, possibilitando

comparar a similaridade de composição para todas elas.

Resultados

Foram registrados 884 indivíduos de 25 espécies, representados por 4

subfamílias da família Nymphalidae: Charaxinae, Biblidinae, Nymphalinae e

Satyrinae. A subfamília mais abundante foi Satyrinae com 9 espécies

coletadas, seguida de Biblidinae (8), Charaxinae (5) e Nymphalinae (3). A

Tabela 1 apresenta a planilha das abundâncias totais de espécies coletadas e

suas abundâncias para cada mês amostrado:

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Tabela 1 – Abundâncias específicas mensais e totais divididas por subfamílias

Subfamília Espécie Jan Fev Mar Abr Ago Set TOTALSatyrinae Caligo illioneus 2 0 0 0 2 0 4

Caligo teucer 12 8 6 5 21 17 69Morpho helenor 21 6 2 9 7 18 63Opsiphanes invirae 0 2 0 0 0 0 2Pharneuptychia sp. 0 1 0 0 0 0 1Taygetis kerea 2 1 0 0 0 0 3Taygetis laches 50 5 0 8 23 56 142Taygetis virgilia 2 2 0 0 31 6 40Yphthimoides renata 4 2 2 0 5 21 34

Biblidinae Callicore sp. 4 1 3 2 0 0 10Eunica tatila 0 2 0 0 0 0 2Hamadryas amphinome 12 4 6 1 0 0 23Hamadryas arinome 1 3 5 0 2 3 14Hamadryas chloe 33 24 27 28 23 8 143Hamadryas epinome 0 0 0 3 2 0 5Hamadryas februa 7 2 18 13 9 10 59Hamadryas feronia 9 3 2 0 0 1 15

Charaxinae Archaeoprepona demophon 10 19 0 1 0 0 30Fountainea ryphea 7 1 0 1 3 1 13Prepona laertes 21 1 33 29 4 7 95Siderone galanthis 4 0 0 0 0 0 4Zaretis isidora 0 0 1 3 0 1 5

Nymphalinae

Coea acheronta 1 1 0 0 0 0 2

Colobura dirce 7 5 10 18 13 35 88Historis odius 5 0 1 3 4 4 17

Total 214 93 116 124 149 188 884

Entre todos os espécimes coletados, não houve nenhuma ocorrência de

recaptura entre Unidades Amostrais diferentes, apenas dentro das mesmas

Unidades em dias subsequentes. Esses dados de recaptura foram

contabilizados em planilha de campo, porém, para as tabelas aqui

apresentadas estão registradas apenas a primeira ocorrência de cada

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espécime. A fim de exibir e elucidar as abundâncias específicas totais para as

áreas de tabuleiro e floresta, os dados de ocorrências estão representados em

forma de histograma na Figura 5:

A Figura 5 apresenta o histograma dos dados de abundância específica total, divididos para as áreas de tabuleiro e floresta.

O ranking das 5 espécies mais abundantes para todas as Unidades

Amostrais foi: Hamadryas chloe (143), Taygetis laches (142), Prepona laertes

(95), Colobura dirce (88) e Caligo teucer (69) dentre as 25 espécies coletadas

no total. Para as abundâncias específicas por unidades de área, as

abundâncias para tabuleiro e floresta ficaram rankeadas da seguinte forma:

Para as 147 ocorrências distribuídas entre 21 espécies coletadas em áreas de

tabuleiro, as espécies mais abundantes foram: Hamadryas februa e Hamadryas

chloe (22), Historis odius e Yphthimoides renata (16) cada espécie, e Caligo

teucer (14). Para as áreas de floresta, foram obtidas 737 ocorrências de

indivíduos, distribuídas na riqueza de 24 espécies, onde o rankeamento

específico foi: Taygetis laches (130), Hamadryas chloe (121), Prepona laertes

(89), Colobura dirce (85) e Morpho helenor (63). É importante notar que entre

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as 21 espécies coletadas nas áreas de tabuleiro, 14 delas obtiveram no total

até 3 ocorrências para todos os meses de coleta (Tabela 2), sendo considerada

uma abundância muito baixa. No entanto, para as áreas de floresta, 9 espécies

ocorreram até 3 vezes.

Tabela 2 – Abundância de espécies das Unidades Amostrais para áreas de tabuleiro e interiores de mata:

Espécie Tabuleiro Floresta Archaeoprepona demophon 1 29Caligo illioneus 1 3Caligo teucer 14 55Callicore sp. 0 10Coea acheronta 2 0Colobura dirce 3 85Eunica tatila 1 1Fountainea ryphea 8 5Hamadryas amphinome 2 21Hamadryas arinome 2 12Hamadryas chloe 15 96Hamadryas epinome 9 50Hamadryas februa 22 37Hamadryas feronia 7 8Historis odius 16 1Morpho helenor 0 63Opsiphanes invirae 0 2Pharneuptychia sp. 0 1Prepona laertes 6 89Siderone galanthis 1 3Taygetis kerea 2 1Taygetis laches 12 130Taygetis virgilia 5 36Yphthimoides renata 16 18Zaretis isidora 3 2

Total 147 737

Para estimar as diversidades ecológicas entre as áreas de estudo e para

a totalidade das Unidades Amostrais, a Tabela 4 segue apresentando os

índices de diversidade ecológica de Shannon e Simpson para cada mês de

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coleta e para ambas as áreas. Posteriormente, cada índice segue dividido

mensalmente para cada tipo vegetacional, conforme apresentados nas tabelas

5 e 6, respectivamente:

Tabela 4 – Índices de diversidade ecológica de Shannon e Simpson.

Jan Fev Mar Abr Ago SetÍndice de Shannon 2,516 2,224 1,994 1,372 1,129 1,376Índice de Simpson 0,112 0,133 0,175 0,151 0,128 0,163

Tabela 5 – Índices de diversidade ecológica de Shannon para ambas as áreas de coleta.

Shannon Jan Fev Mar Abr Ago SetAberta 2,314 1,795 1,359 1,461 2,246 1,527

Fechada 2,404 0,748 1,961 1,959 1,845 1,948.

Tabela 6 – Índices de diversidade ecológica de Simpson para ambas as áreas de coleta.

Simpson Jan Fev Mar Abr Ago SetAberta 0,111 0,244 0,319 0,219 0,122 0,221

Fechada 0,124 0,055 0,184 0,182 0,175 0,191

O índice de diversidade ecológica de Shannon por atribuir igual peso

para todas as espécies amostradas, acaba por expressar maior uniformidade

dentro do universo amostral. O gráfico comparativo das diversidades para as

áreas de tabuleiro e floresta (Figura 6) trazem também a curva de diversidade

total para o índice, onde/, claramente pode-se perceber o padrão de declínio ao

longo do ano. Já o índice de Simpson, traz a característica de atribuir maior

peso às espécies mais dominantes, de forma a expressar um índice de

diversidade mais fiel de acordo com as possíveis variações na abundância

entre as espécies. O gráfico dos índices de Simpson (Figura 7), permite notar

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um rápido aumento do índice para ambas as áreas de coletas em virtude do

surgimento de espécies dominantes entre os meses de fevereiro e março e

novamente entre os meses de agosto e setembro.

Jan Fev Mar Abr Ago Set0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

TabuleiroFlorestaTOTAL

Shan

non

Inde

x

Figura 6 – Gráfico com os índices de diversidade ecológica de Shannon para as áreas de tabuleiro e floresta e para a totalidade das UAs.

Jan Fev Mar Abr Ago Set0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

TabuleiroFlorestaTOTAL

Sim

pson

Inde

x

Figura 7 - Gráfico com os índices de diversidade ecológica de Simpson para as áreas de tabuleiro e floresta e para a totalidade das UAs.

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Para analisar os graus de similaridade de ocorrências de espécies entre

todas as Unidades Amostrais, uma análise de cluster foi rodada a partir do

software estatístico PAST, utilizando como parâmetros o algoritmo de grupos

pareados e as medidas de similaridade de Bray-Curtis. Como esperado os

dados gerados pela matriz testada corroboraram uma das hipóteses iniciais

agrupando os dados entre tabuleiro e floresta, porém, contrariaram uma outra

premissa de análises do trabalho, onde os graus de similaridade entre as áreas

de tabuleiro foram menores do que as similaridades encontradas para as áreas

de floresta (Figura 8).

Figura 8 – Análise multivariada de similaridade entre Unidades Amostrais pelo método de Cluster através do software estatístico PAST.

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Por outro lado, a análise do índice de cluster corroborou a expectativa de

que dentro das áreas florestais, as Unidades Amostrais mais próximas

possuíam composições mais similares em relação às Unidades mais distantes

e/ou ainda Unidades Amostrais mais distantes poderiam ter maior grau de

similaridade caso as composições florestais também fossem parecidas. Esse é

o caso do branch 5, 7 e 11 do dendograma de cluster. As Unidades Amostrais

5 e 11 se posicionavam dentro da floresta, porém distavam-se cerca de 100m

das estradas que cortam a Reserva Biológica Guaribas e a Unidade 7 se

situava há uma distância maior das estradas, porém em uma área onde há

bastante clareiras e trilhas frequentadas por pesquisadores.

Discussão

De acordo com os resultados obtidos e conforme o esperado, foram

registradas ocorrências de borboletas frugívoras das 4 subfamílias

componentes do grupo Nymphalidae, ainda que com abundâncias muito

variáveis entre elas. No geral, em termos de riqueza total, 25 espécies foram

encontradas para toda a Reserva Biológica Guaribas demonstrando

equivalência a outros trabalhos similares em fragmentos inseridos no Centro de

Endemismo de Pernambuco como na Mata do Jiqui (Barbosa 2009) e na Mata

da Pipa (França 2006) com riqueza total de 26 espécies cada um.

As diferenças das abundâncias comparadas a outros trabalhos foram

bem acentuadas com relação a algumas espécies. A Opsiphanes invire na

Reserva biológica Guaribas foi considerada uma espécie bastante rara,

totalizando apenas 2 ocorrências, enquanto foi amostrada 325 vezes com o

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mesmo esforço amostral (Amaral 2012) somente na área de mata da Estação

Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte

(EMPARN), localizada na cidade de Parnamirim-RN. Na Reserva Biológica

Guaribas, a espécie Hamadryas chloe foi a segunda mais comum, com total de

142 ocorrências e rankeada apenas abaixo de Taygetis laches com 143.

Confrontando os dados de ocorrência de outros trabalhos em regiões próximas

com distâncias até 100km, as ocorrências de Hamadryas chloe foram bem

menores para outras áreas, sendo da ordem de 17 ocorrências em Parnamirim-

RN (Amaral 2012). Com esforços amostrais ainda maiores, foram registradas

55 ocorrências na Mata do Jiqui em Natal-RN (Barbosa 2009) e apenas 9 em

Tibau do Sul-RN (França 2006). Com relação à espécie Taygetis laches, as

ocorrências obtidas para essas áreas foram semelhantes apenas em relação à

liderança no rankeamento de abundâncias, porém, com grande variação em

relação ao número de ocorrências, atingindo até 4.670 indivíduos na Mata do

Jiqui.

Para a alta variação das abundâncias específicas, entre outros fatores

pode-se atribuir ao fato de que durante os meses de coleta, não

exclusivamente, foram encontradas armadilhas completamente rasgadas por

provavelmente algum animal. A baixa abundância para as Unidades Amostrais

de tabuleiro, também pode estar relacionada à forma de distribuição das UAs

em 4x8, mesmo que a distribuição proporcional às áreas de cobertura acabe

resultando em 1 Unidade Amostral por unidade de área. Com o intuito de obter

dados equiparados com 8 Unidades Amostrais por área, utilizando o método de

extrapolação de dados duplicando as abundâncias obtidas para as áreas de

tabuleiro, ainda assim, as áreas de florestas foram mais abundantes,

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conferindo uma abundância 2,5x maior do que as áreas de tabuleiro. Houveram

também outros eventos que colaboraram para a menor diversidade desta área

como as condições de vento e sol excessivos, as quais as armadilhas estavam

expostas. Esses fatores colaboravam para a rápida desidratação das iscas de

atração e direcionavam seu aroma em uma única direção, considerando ainda

a dificuldade para algumas espécies de voar contra o vento.

Durante as coletas, muitas dessas armadilhas foram penduradas nos

galhos de algumas árvores que eventualmente eram encontradas para essas

áreas e geralmente, já próximas de alguma borda de floresta. Mesmo que

amarradas em galhos e com suas bases atadas a grandes pedras, a incidência

de fortes ventos para as áreas abertas era constante, fazendo com que as

armadilhas balançassem muito em determinados momentos, facilitando a fuga

de alguns espécimes. Há ainda a suspeita de que algumas das espécies

encontradas em pequenas abundâncias na área de tabuleiro, podem ter

eventualmente saído dessas bordas de florestas, restando conhecer se isso

seria um comportamento habitual ou ao acaso. Esse pode ser o caso da

Prepona laertes, onde predominantemente foi registrada nas áreas de florestas

(N=89), porém também foi registrada em menor proporção nas áreas de

tabuleiro (N=6). Segundo Amaral (2012), a paisagem parece ser virtualmente

indistinta para esta espécie, a qual se mostrou generalista em questão à

movimentação entre habitats, sugerindo que a paisagem arbórea exerce pouco

efeito sobre ela, a qual pode ainda ser percebida como um continuum de

recursos sendo parte de seus habitats funcionais (Dennis et al. 2006).

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Outra questão notável que pode ter influenciado as abundâncias para as

áreas de floresta é a maior aptidão que algumas espécies têm para

empreender fuga das armadilhas. Esse foi um comportamento muito variável,

onde algumas delas como as Archaeoprepona demophon e Prepona laertes

notoriamente possuem maior propensão à fugas, assim como as Historis odius

para as áreas de tabuleiro.

Com relação aos graus de similaridade, os dados obtidos através da

análise de agrupamento para cada Unidade Amostral corroboraram com outros

trabalhos semelhantes no que tange a composição de borboletas frugívoras

com relação às estruturas de habitat. As análises deste trabalho agregaram as

composições mais similares basicamente em 3 grupos: (1) tabuleiro e floresta,

(2) interiores de floresta e (3) UAs próximas à borda de floresta. Armstrong

(2010), ao realizar um estudo de composição de borboletas frugívoras em

Bornéo, encontrou através das análises de cluster uma forte similaridade para

as populações de interiores de floresta enquanto que a similaridade para as

áreas de borda foram menores. Assim como para Nogueira (2012), os índices

de similaridade de Bray-Curtis apontaram que de forma geral existe maior

similaridade entre os pontos mais próximos. Para este trabalho, o agrupamento

com o segundo maior índice de similaridade (S=0,7) foi também o que possuiu

as Unidades Amostrais com menor distância entre elas. Contudo, o

agrupamento mais semelhante (S=0,76) possuíam distâncias maiores entre si,

porém compartilhavam características estruturais com relação à proximidade

de áreas impactadas por recortes de estradas e pela presença de clareiras na

mata. Para Melo (2014), a distância entre as unidades amostrais também

explicou uma parcela da similaridade na composição de espécies,

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evidenciando que a composição de borboletas frugívoras pode ser mais

influenciada pela perda e fragmentação de habitats que a riqueza de espécies.

Conclusão

De acordo com os dados obtidos com as coletas e os resultados

das análises deste trabalho, pode-se concluir que as áreas de tabuleiro e

floresta da Reserva Biológica Guaribas realmente se diferem entre si com

relação às abundâncias específicas e à composição das espécies que habitam

tais áreas. As análises de cluster corroboraram as premissas de que as áreas

de estudos possuem diferentes composições entre si e também apontou a

similaridade entre áreas mais próximas ou ainda mais distantes e

aparentemente parecidas, como foram os casos das Unidades Amostrais mais

próximas das bordas da ReBio. Este gradiente de composição evidencia a

pressão ecológica sofrida pelo grupo de borboletas frugívoras com relação às

transformações sofridas por ambientes naturais quando submetidos a

atividades antrópicas e/ou recortes na paisagem, resultando na perda de

qualidade ambiental, de habitat e no declínio populacional de espécies nativas.

Em virtude da grande abundância encontrada para os gêneros Morpho,

Caligo e Hamadryas, e neste último, especificamente Hamadryas chloe, pode-

se concluir que as áreas de floresta nativa da Reserva biológica Guaribas

encontram-se em boa qualidade ambiental. Esta afirmação é possível, pois

Hamadryas chloe é uma espécie conhecidamente sutil às variações ambientais

de cunho degradatório.

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Com relação à conectividade biológica para as populações de borboletas

frugívoras presentes na Unidade, considerando 2,24km das distâncias médias

entre Unidades Amostrais mais próximas, nenhuma ocorrência de percolação

foi registrada durante todo o período de coleta. Ainda que ausentes os registros

de percolação, esse fato ainda não nos permite reconhecer que para os

lepidópteros da família Nymphalidae, os pontos amostrados dentro da Reserva

encontrem-se biologicamente isolados. O fato é que o esforço amostral para

inferir dados sobre percolação biológica de lepidópteros deve ser superior a 4

dias amostrais. Talvez com o mesmo delineamento amostral, porém com uma

frequência maior de dias de coleta, seja possível registrar ocorrências sobre a

movimentação das borboletas do grupo das ninfalídeas. Dessa forma, seria

possível gerar dados que sirvam de base para reforçar ainda mais uma

proposta de criação de corredores ecológicos visando melhorar a conectividade

ecológica entre os ambientes das duas glebas.

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