formação superior em jornalismo: uma exigência que

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    Formao Superiorem Jornalismo:

    uma exigncia queinteressa sociedade

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    Federao Nacional dos JornalistasOrganizao

    Ctedra FENAJ-UFSC de Jornalismo para a CidadaniaApoio

    Formao Superiorem Jornalismo:

    uma exigncia queinteressa sociedade

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    Universidade Federal de Santa CatarinaCampus Universitrio - Trindade - CEP 88040-900

    Florianpolis - Santa Catarina - BrasilTelefone: (048) 331-6610

    Endereo eletrnico: [email protected]

    Ficha Catalogrfica

    Catalogao na fonte pela:Biblioteca Universitria da Universidade Federal de Santa Catarina

    IlustraoEugnio Neves

    Superviso Editorial

    Francisco Jos Karam

    Projeto Grfico e CapaLuciany Alves Schlickmann

    Raquel Sabrina

    Editorao EletrnicaLuciany Alves Schlickmann

    Raquel Sabrina

    F723 Formao Superior em Jornalismo: uma exignciaque interessa sociedade / Federao Nacional

    dos Jornalistas, organizao - Florianpolis: [s.n.],2002 (Florianpolis: Imprensa da UFSC) 138 p.:il. - 2 edio.

    Apoio: Ctedra FENAJ-UFSC de Jornalismo paraa Cidadania

    1. Jornalismo - Formao. 2. Jornalismo como

    profisso. 3. Jornalismo - tica profissional.

    CDU: 07.01

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    :.Apresentao

    :.Prefcio 2 edio

    PARA ENTRAR NO PROBLEMA

    :. A deciso da juzaCarla Rister

    :. Por ora, no precisamos de diplomaMino Carta

    :. A questo no do diploma, mas do canudoAlberto Dines

    A FENAJ DEFENDE A FORMAO, O REGISTRO,A REGULAMENTAO E A PROFISSO

    :. Diploma em jornalismo:

    uma exigncia que interessa sociedadeBeth Costa

    :. Formao superior e qualidade de ensino:uma luta histrica por um jornalismo sempre melhor

    Valci Regina Mousquer Zuculoto

    :. Jogo dos sete erros: desmacarando algumas falciassobre a regulamentao profissional dos jornalistas

    Fred Ghedini

    :. Em defesa da profisso de jornalistamanifesto da Fenaj

    :. Manifesto em defesa do jornalismomanifesto da Fenaj

    :. Somos jornalistas e temos uma profissomanifesto da Fenaj

    ENSINO, QUALIDADE E PROFISSO

    :. frente, o passadoNilson Lage

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    :. O direito do cidado ao conhecimento pblicoElias Machado

    :. Para alm do diploma e do canudoJacques Mick

    :. A questo no o diploma, mas o ensinoRosa Nvea Pedroso

    :. Diploma e liberdade de expressoJosenildo Luiz Guerra

    :. Toda meritrocracia ser castigadaNathlia Kneipp Sena

    :. Responsabilidade social exige formao do jornalistaIluska Coutinho

    :. O jornalismo uma profisso, sim !Rogrio Christofoletti

    :. De novo a velha questo: o porqu do diplomaTattiana Teixeira

    :. A equivocada cruzada dos suseranos da imprensalvaro Larangeira

    :. Jornalismo e costruo social da realidadeAlfredo Vizeu

    :. De novo, o diplomaAgnaldo Charoy Dias

    :. Sem canudo e sem ticaAntnio de Oliveira

    :. O patronato e as novas coalizesCludia Rodrigues

    :. Patro, o maior interessadoClvis Augusto Melo 135

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    Apresentao

    Em outubro de 2001, a juza substituta da 16 Vara Cvel daJustia Federal de So Paulo, Carla Abrantkoski Rister, em processo deiniciativa do Ministrio Pblico Federal Procurador da Repblica Andr de Carvalho Ramos, concedeu liminar (tecnicamente tutelaantecipada ) extinguindo a obrigatoriedade da formao superior emJornalismo para o exerccio da profisso. A deciso, ainda em tramita-o e sem chegar instncia final, reacendeu o debate sobre a necessi-

    dade e a especificidade da formao e sobre as implicaes de ordemtica, tcnica, esttica e tecnolgica do parecer da juza, com suas con-seqncias para a profisso, para a categoria e para a sociedade.

    A Federao Nacional dos Jornalistas, apoiadora do curso su-perior especfico em Jornalismo, publica este livro reunindo alguns dosartigos mais consistentes e srios que circularam nos meses posteriores deciso, defendendo a formao e explicitando a especificidade pro-

    fissional e sua relao com a cidadania. Foi solicitada a autorizao parapublicao a quase todos os autores dos artigos. Os demais artigosforam autorizados pelo Observatrio da Imprensa, onde foram pu-blicados originalmente em www.observatoriodaimprensa.com.br.

    H textos oficiais da Fenaj, artigos e breves ensaios sobre aformao. Foram includos, tambm, trecho da deciso original dajuza e o artigo do jornalista Mino Carta - a favor da magistrada, jque foi citado diretamente algumas vezes. O presente livro, reunindoargumentos de instituies, jornalistas, professores universitrios e es-pecialistas, faz parte de um projeto maior, explicitado no Programa deQualidade de Ensino da Federao Nacional dos Jornalistas. E se inte-gra campanha de produo de textos, debates e materiais que ser- vem de referncia permanente para a discusso sobre o jornalismobrasileiro, sobre a formao superior na rea e sua relevncia social.

    Federao Nacional dos JornalistasAbril de 2002

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    Prefcio 2 edio

    Os dois mil exemplares da primeira edio, lanada no final demaio de 2002, esgotaram-se em dois meses. Houve lanamentos e deba-tes sobre o tema em diferentes estados brasileiros, contando, na maioriados casos, com a parceria entre sindicatos de jornalistas afiliados Fenaje cursos de jornalismo.

    Os objetivos, no primeiro momento, foram alcanados. Os de-

    bates sobre a formao superior especfica em Jornalismo continuam,como ocorre, por exemplo, com os currculos de cursos, com as tem-ticas ticas profissionais, com as refelxes sobre a natureza e a impor-tncia da atividade jornalstica. Houve sugestes de incluso de novosartigos, publicao de livro com artigos mais extensos e de fundo sobreo jornalismo, estudantes e escolas para ampliarem e implementarem, nomeio da categoria, do ambiente acadmico e da sociedade em geral, taisprojetos.

    Esta segunda edio, agora, com trs mil exemplares, contanovamente com o apoio e a colaborao do Observatrio da Imprensa,da Universidade Federal de Santa Catarina, e do Sindicato dos Jornalis-tas Profissionais de Santa Catarina. Houve algumas pequenas correesde texto e uma autoria da charge que ilustra a contracapa. Ela deEugnio Neves.

    Federao Nacional dos JornalistasSetembro de 2002

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    Para entrar no problema

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    A deciso da juza

    Carla Abrantkoski RisterJuza substituta da 16 Vara Cvel

    da Justia Federal de So Paulo

    Dentro do escopo conferido pela Constituio de 1988,consagrador das liberdades pblicas, donde se insere a liberdadede manifestao do pensamento, a liberdade de expressointelectual, artstica e cientfica, independentemente de censuraprvia, tenho que, em princpio, um diploma legal anterior Constituio, a par do fato de ter sido editado sob a forma de

    Decreto-Lei e no de lei em sentido formal, que impe anecessidade de formao superior para o exerccio da profissode jornalista, elaborado em poca eminentemente diversa, emtermos dos valores sociais vigentes, em que inexistia tal liberdadede expresso, inclusive nos meios de comunicao, pocafortemente controlados pela censura, no foi recepcionado pelaConstituio atual, em funo da colidncia com tais princpios

    nela consagrados.Tal se deve, ademais, propalada irrazoabilidade do

    requisito exigido para o exerccio da profisso, tendo em vistaque a profisso de jornalista no requer qualificaes profissionaisespecficas, indispensveis proteo da coletividade,diferentemente das profisses tcnicas (a de Engenharia, por

    exemplo), em que o profissional que no tenha cumprido osrequisitos do curso superior pode vir a colocar em risco a vidade pessoas, como tambm ocorre com os profissionais da reade sade (por exemplo, de Medicina ou de Farmcia).

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    O jornalista deve possuir formao cultural slida ediversificada, o que no se adquire apenas com a freqncia a

    uma faculdade (muito embora seja foroso reconhecer que aqueleque o faz poder vir a enriquecer tal formao cultural), mas simpelo hbito da leitura e pelo prprio exerccio da prticaprofissional.

    Ademais, a estipulao de tal requisito, de cunho elitista,considerada a realidade social do pas, vem a perpetrar ofensa

    aos princpios constitucionais mencionados, na medida em quese impede o acesso de profissionais talentosos profisso, masque, por um revs da vida, que todos ns bem conhecemos, nopde ter acesso a um curso de nvel superior, restringido-lhes aliberdade de manifestao do pensamento e da expressointelectual.

    E nem se levante a objeo, ademais, de que tal pessoapoderia enviar uma carta ao jornal, expressando-se livremente,pois certo que h enorme diferena em assinar uma matriacomo jornalista, expressando suas idias, e ter uma carta,sintetizada em duas linhas, publicada na seo de leitores, eisque a livre manifestao do pensamento importa em manifestar-se num veculo em que aquele que se expressa seja ouvido.

    Outra irrazoabilidade na exigncia do diploma ao jor-nalista consiste na decorrncia lgica que isso cria, levantadapor um dos pareceristas a que se refere o autor na inicial: casotal exigncia prevalecesse, o economista no poderia ser o res-ponsvel pelo editorial da rea econmica, o professor de portu-gus no poderia ser o revisor ortogrfico, o jurista no poderia

    ser o responsvel pela coluna jurdica e, assim, por diante, ge-rando distores em prejuzo do pblico, que tem o direito deser informado pelos melhores especialistas da matria em ques-to.

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    Para entrar no problema

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    Outrossim, verifica-se tambm o problema de locais deescassa populao, em que inexistem os profissionais com di-

    ploma, em que a atividade jornalstica restaria comprometida,em detrimento do pblico, que tem o direito informao (arti-go 5, inciso XIV, da C.F.).

    Sobre o tema da liberdade de imprensa, trago as opor-tunas palavras de Jean Rivero, trazidas em sua obra Les LibertsPubliques(Tome 2, PUF, 6 edio, 1997, pg. 233), cuja univer-

    salidade de suas premissas pode ser aplicada ao presente caso,em que pondera: necessrio sublinhar que a profisso de jor-nalista uma das raras profisses a cujo acesso no se exigediploma algum, nenhuma formao anterior, nenhuma qualifi-cao particular.

    H escolas de jornalismo, mas a passagem por uma de-

    las no requerida para se adentrar na profisso. Essa total li-berdade de recrutamento tem os seus aspectos positivos, sendoque o aprendizado pela prtica atende bem s peculiaridades daprofisso. A despeito disso, mesmo paradoxal que uma ativi-dade que confere um poder excepcional sobre o conjunto daopinio pblica seja subtrada da verificao de qualidade da-queles que a exercem.

    Nem seria necessrio aprofundamento em demasia daquesto, na atual fase processual, mas incumbe notar que adotoposicionamento favorvel ao carter vinculante da ConvenoAmericana de Direitos Humanos, em face da sua ratificao peloBrasil aos 25/9/1992, conforme, alis, j defendi na monogra-fia: A relao entre o ordenamento internacional e o ordena-

    mento interno em matria de direito humanos (in Boletim dosProcuradores da Repblica, Ano II, n 16, Agosto/99).

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    Assim verifico que o art. 13 da referida Conveno con-sagra a liberdade de expresso e a proibio de qualquer forma

    de obstculos ou meios indiretos ao direito de informao, comose verifica com a exigncia do diploma de nvel superior para oexerccio da profisso do jornalista.

    Concluo, assim, que no houve a recepo do art. 4,inciso V, do Decreto-Lei n 972/69, pela CF/88, no que tange exigncia do diploma de nvel superior para o exerccio da pro-

    fisso de jornalista. Porm, no acredito que a existncia do re-gistro junto ao Ministrio do Trabalho seja de todo desproposi-tada, desde que no se faa a exigncia do referido diploma,tendo em vista que, em todas as profisses, salutar que existauma entidade de controle e fiscalizao daquelas pessoas que asexercem de modo profissional.

    Nesse sentido, trago novamente as palavras de Jean Ri-vero, na obra citada, pg. 232: A qualidade de jornalista profis-sional supe duas condies de fundo: 1) a profisso deve serexercida a ttulo principal, de forma regular e remunerada, emuma publicao peridica, uma agncia de imprensa, ou em r-dio e televiso; 2) o interessado deve ter esta como a principalde suas fontes de renda (Cdigo do Trabalho, art. L. 761-2). A

    reunio dessas condies constatada pela Comisso da Cartei-ra de Identidade Profissional.

    A carteira permite ao titular prevalecer-se de medidastomadas pelas autoridades administrativas em favor dos repre-sentantes da imprensa. Assim, tenho que a idia subjacente aotrecho mencionado pode ser aproveitada no presente, ou seja, o

    registro em si mesmo no importa em qualquer cerceamento dedireitos, diferentemente do que ocorre com a exigncia do di-ploma de nvel superior.

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    Por ora, noprecisamos de diploma

    Jornalismo no cincia, na melhor das hipteses podeser arte. Depende do talento inato de quem o pratica, da qualidadedas suas leituras. O acima assinado gostaria de acrescentar: dasinceridade das suas crenas e da coerncia dos seuscompromissos. Mas h muitos profissionais de retumbantesucesso e salrios astronmicos que tambm se distinguem pelomau carter. Acreditam em coisa alguma, a no ser neles mesmos.

    Cultura adquirida em algum curso universitrio no fazmal a ningum, pelo contrrio, bem como a adquirida por contaprpria. Cludio Abramo, um dos melhores jornalistas brasileiros,se no o melhor, era autodidata em tudo e por tudo. Nem cursoprimrio tinha. Tudo o que sabia, e era bastante, aprenderasozinho.

    Jovens com talento para a escrita se tornam jornalistasnum piscar de olhos na labuta das redaes. Para eles, tempo defoca, como se diz na gria jornalstica, dura pouco. Um dos maisnotveis redatores-chefes doNew York Timesdizia aos seus focas:Redigir uma reportagem a coisa mais simples do mundo, pensemque esto escrevendo uma carta para a sua me, sua namorada,

    um amigo.

    A melhor escola o prprio jornal. Por isso, quando oregime militar que infelicitou o Pas por largos anos inventou as

    Mino CartaJornalista e editor da revista Carta Capital

    Copyright de Carta Capital, 05/11/01

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    faculdades de comunicao, velhos e honrados profissionaismenearam a cabea. Lamentavam a criao da ditadura e as razes

    que a precipitavam: a presena pelas caladas de milhares deexcedentes, reprovados nos vestibulares. Moos frustrados soltospor a representavam transparente perigo para os donos do poder.

    A exigncia do diploma para exercer a profisso foi odesfecho inescapvel da operao. Condenvel de sada pelosespritos democrticos por seu inegvel carter corporativista.

    O regime fardado se foi, a lei ficou e, a essa altura, compreensvel que os sindicatos dos jornalistas a defendam.Mesmo porque, em inmeros pontos do mapa nativo, o diplomase torna anteparo vontade dos coronis do pedao, que emlugar de diplomados prefeririam colocar apaniguados.

    E l vem a deciso da 16 Vara Cvel da Justia Federal

    em So Paulo, suspendendo a obrigatoriedade do diploma emtodo o Pas. A juza substituta Carla Abrantkoski Rister sustentaque o Decreto-Lei n 972/69 contraria a Constituio de 1988.A motivao da deciso liminar coincide em boa parte com aopinio dos profissionais que h mais de 30 anos meneavam acabea e com as linhas iniciais deste texto. E tem validadeimediata at apreciao posterior.

    Como se sabe, a Justia lenta e a sentena vagarosamenteacabar por alcanar o STF, a quem cabe a palavra final sobreassuntos constitucionais. At l, seria altamente recomendvelque a sociedade se preparasse para o debate conclusivo, mesmoporque, caso o Supremo confirme a deciso da juza paulista,deve orientar os legisladores na elaborao de uma emenda

    constitucional.De todo modo, o acima assinado insiste: jornalismo no

    cincia.

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    A questo no dodiploma, mas do canudo

    Quando um sistema comea a ruir, tudo tende a serquestionado. Por isso um sistema. Por isso, sistemas desabaminteiros. A crise que atinge a mdia brasileira no poderia ficarcircunscrita esfera empresarial e econmica, embora aconjuntura recessiva mundial a agrave drasticamente.Obviamente tende a estender-se em outras direes, inclusive institucional.

    No foi por casualidade que, de repente, o debate sobrea concentrao, sobre a descapitalizao e sobre a qualidade dainformao ganhou tamanha exposio pblica. Tambm no coincidncia o retorno da questo da obrigatoriedade do diplomapara o exerccio do jornalismo. A deciso da juza CarlaAbrantkoski Rister, da 16 Vara Cvel da Justia Federal em So

    Paulo, pode ter resultado de uma ao isolada mas no pode serrecortada do contexto sistmico.

    A medida foi tomada 32 anos depois de promulgado odecreto-lei que instituiu a obrigatoriedade e 13 anos depois depromulgada a Constituio onde a questo seria tratada masacabou ficando fora, justamente pela controvrsia que causou.

    E por que s agora? Porque o sistema vem sendo corrodo dealto a baixo; porque seus lapsos e falhas so cada vez maisgritantes; porque neste exato momento o conjunto est sendoenvolvido por uma crise econmica sem precedentes.

    Alberto DinesJornalista e editor do Observatrio da Imprensa

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    Para entrar no problema

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    Neste longo intervalo no ocorreu a nenhuma das partesa iniciativa de repar-lo num de seus aspectos mais relevantes: a

    formao profissional e, portanto, a qualidade do produtojornalstico e a confiabilidade da instituio. O que adiantalevantar agora a questo da liberdade de acesso ao jornalismo e,portanto, a prpria questo da liberdade de expresso se ojornalismo brasileiro ainda no conseguiu conquistar a confianada sociedade a que serve?

    Antes mesmo de examinar os meandros da questo dodiploma convm observar que a deciso da juza precria: foiconcedida em primeira instncia sem examinar seus mritos. Adeliberao levou em conta o decreto-lei 972/69 (que exige odiploma de um curso superior de jornalismo para a obteno doregistro profissional). A deciso argiu sua constitucionalidade,suspendeu-o; mas no tem efeito prtico.

    Ainda que temporria, no deve ser minimizada. umaviso. E uma advertncia em situao emergencial no pode serdescartada. improvvel que ocorra um confronto aberto entreos quatro jornales nacionais e o lobby do ensino superior privadoque tem nos cursos de jornalismo um de seus melhores negcios.

    Mas, por outro lado, no convm esquecer que adisposio corporativa das empresas de comunicao est hojereforada pela crise e, sobretudo, pelas disputas que lhes tiraramo carter monoltico. No impossvel que a questo do diplomavenha a servir de cimentador para a atual polarizao empresarialna rea da mdia. Para que o problema seja entendido em toda asua extenso e no fique sujeitado ao opinionismo simplista e

    inconseqente preciso, primeiro, remontar s suas origens.

    Quando o decreto-lei foi promulgado (1969) vivamossob o taco do AI-5. O patronato jornalstico perdera sua

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    autonomia e o governo militar estava empenhadssimo em seduziras bases profissionais e o meio estudantil para compensar o seu

    desgaste pblico. A grande imprensa engoliu-o quase muda. Nohouve reao ao decreto nem foram levantadas objees aocartorialismo autoritrio (expresso utilizada no editorial daFolha de S.Paulo, em 2/11/01)

    A remisso histrica que se segue tem a finalidade demostrar que o encarniamento do patronato contra a

    obrigatoriedade do diploma antigo [mais detalhes em O Papeldo Jornal Uma Releitura, Editora Summus, 5 edio em diante(1986), no apndice sobre a questo do diploma (pp.147-157)].

    O movimento contra o diploma iniciou-se depois, novcuo deixado pelo fim do regime militar, quando o patronatomiditico comeou a articular-se para transformar-se em poder

    efetivo. Convm notar que durante a ditadura a grande imprensa enquanto instituio foi um fiasco em matria de resistncia.Sua primeira ofensiva institucional no tocante ao jornalismomaterializou-se contra o rascunho de Constituio que estavacomeando a ser elaborado por um colgio de sbios (a ComissoProvisria de Estudos Constitucionais), presidido pelo eminenteAfonso Arinos de Mello Franco e convocado por Tancredo Neves

    logo depois de sua vitria no pleito indireto.O agente desta primeira ofensiva patronal foi o jornalista

    Mauro Santayana, na dupla condio de assessor do conclave dejuristas (seu secretrio-executivo) e antigo colaborador da Folha.Este jornal vinha questionando seriamente a legitimidade daComisso e o jornalista, para amenizar as crticas, levou ao jornal

    a informao de que entre as propostas positivas que estavamsendo consideradas para o futuro Congresso Constituinteconstava a extino da obrigatoriedade do diploma comorestritiva liberdade de expresso.

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    O ataque seguinte foi protagonizado pelo jornalista BorisCasoy (quando ainda era o diretor de redao da Folha) por meio

    de um artigo na ltima pgina de Veja vocalizando aargumentao libertria da Associao Nacional de Jornais (ANJ) fundada poucos anos antes e que, na ocasio, tambm abrigavaas revistas. preciso registrar tambm que a Folha foi decisivapara a criao da ANJ (em seguida infeliz greve dos jornalistasde So Paulo em 1979).

    O diploma obrigatrio foi defendido na ocasio por esteObservador porque representava a possibilidade de qualificar oexerccio do jornalismo depois de 17 anos de censura eautocensura enriquecendo-o com a dimenso crtica sem a qualreduz-se a um ofcio raso e inconseqente. Era tambm apossibilidade de barrar a invaso das redaes pela onda jovempromovida pelos empresrios e cujo objetivo final era tirar do

    batente e mandar para casa os profissionais mais experientes doperodo pr-64.

    Este mesmo patronato tambm um dos responsveispela ineficcia do ensino de jornalismo, sobretudo no setorprivado. A obrigatoriedade do diploma no funcionou em grandeparte porque a grande mdia fechou os olhos escandalosa

    situao do ensino de jornalismo no pas. E o fez por razesmercantis e mesquinhas, temerosa de perder os contratos depublicidade das universidades e faculdades privadas que preferemgastar em marketing do que em bons salrios para o corpodocente, instalaes e equipamentos.

    As empresas erraram quando esqueceram de estimular

    seus quadros mais experientes a passar pelo circuito acadmico,o que constituiria um enriquecimento para a prpria empresa.Em vez disso, optaram pelos cursinhos internos (para trainees),

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    de carter meramente promocional, mantendo intacto o statusquo na rede de ensino superior.

    Poderiam ter estimulado a criao de cursos de mestradoprofissionalizantes que atenderiam necessidade de trazer paraas redaes profissionais especializados e devidamente recicladospara o exerccio do jornalismo. Este sistema, vigente na maioriados pases desenvolvidos (sem a obrigatoriedade do diploma),se implantado nos anos 80 como proposto na obra citada teria

    resolvido o problema nos seus dois aspectos mais importantes:o da formao de quadros qualificados e do desenvolvimentode centros de excelncia em formao jornalstica. Exatamenteesta proposta norteou a criao do Labjor (Laboratrio deEstudos Avanados em jornalismo, na Unicamp, em abril de1994, e do qual surgiu este Observatrio). Nenhuma empresa demdia interessou-se em apoiar e desenvolver o projeto que, entre

    outros feitos, realizou um curso de extenso em JornalismoEsportivo (um semestre) e j est no segundo curso de ps-graduao lato sensude Jornalismo Cientfico, com durao detrs semestres.

    No rol dos culpados pelos lamentveis resultados obtidospela obrigatoriedade do diploma preciso colocar tambm as

    entidades corporativas e sindicais dos jornalistas encabeadaspela Fenaj , que recusaram participar da implantao do ExameNacional de Cursos, o Provo. Preferiram seguir a orientao daCUT, que no desejava reforar qualquer iniciativagovernamental. E como no apoiaram esse sistema de avaliao,evidentemente no estariam dispostas a forar o MEC a puniros cursos e faculdades deficientes. Mais grave foi a displicncia

    com que reagiram ao longo de tanto tempo arrogncia dasempresas jornalsticas, que consideravam sem efeito o decretoda obrigatoriedade e contratavam aberta e descaradamente

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    Para entrar no problema

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    profissionais sem o diploma de jornalismo. Ou contornaram odecreto terceirizando a compra de servios de pessoas jurdicas

    (o popular PJ).

    Este Observatrio denunciou esta prtica que infringe algofundamental nas relaes de trabalho na empresa jornalstica: anecessidade da vinculao contratual do jornalista da redao empresa, com direito ao salrio mensal e demais direitos laborais.A institucionalizao do frila fixo uma aberrao que remonta

    questo da obrigatoriedade do diploma de jornalista e omissodas entidades sindicais em fiscalizar sua observncia.

    Tambm as entidades estudantis (gerais ou especficas)e os prprios estudantes (individualmente) no esto isentos deculpa: aceitaram passivamente a empulhao que lhes eraoferecida como formao acadmica, deixaram-se seduzir pela

    teorizao que lhes foi oferecida como modernidadee, no caso doensino pago, sequer lembraram-se de exercer o direito deconsumidores, j que pagam por um servio e recebem outro,muito pior. Greve nas universidades pblicas em geral asmelhores , tudo bem. Protesto contra o ensino deficiente nasescolas privadas, nem pensar. O investimento que fazem paraobter o canudo da forma mais rpida e com o menor esforo.

    A questo no do diploma, mas do canudo. Este umproblema que no se resolve com liminares ou ondas de protesto.Nem pode ficar espremido entre a presso do patronato parabaixar os custos e a omisso dos que se aferram apenas aosinteresses gremiais e corporativos.

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    e a profisso

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    Diploma em jornalismo:

    uma exigncia queinteressa sociedade

    O principal argumento, entre os tantos que se podemlevantar para a exigncia do diploma de curso de graduao denvel superior para o exerccio profissional do jornalismo, o deque a sociedade tem direito informao de qualidade, tica,democrtica. Informao esta que depende, tambm, de umaprtica profissional igualmente qualificada e baseada em preceitosticos e democrticos. E uma das formas de se preparar, de se

    formar jornalistas capazes a desenvolver tal prtica atravs deum curso superior de graduao em jornalismo.

    Por isso, de todos os argumentos contrrios a estaexigncia, o que culpa a regulamentao profissional e o diplomaem jornalismo pela falta de liberdade de expresso na mdia talvezseja o mais ingnuo, o mais equivocado e, dependendo de quem

    o levante, talvez seja o mais distorcido, neste casopropositalmente.

    Qualquer pessoa que conhea a profisso sabe quequalquer cidado pode se expressar por qualquer mdia, a qualquermomento, desde que ouvido. Quem impede as fontes de semanifestar no nem a exigncia do diploma nem a

    regulamentao, porque da essncia do jornalismo ouvirinfinitos setores sociais, de qualquer campo de conhecimento,pensamento e ao, mediante critrios como relevncia social,

    Beth CostaPresidente da Federao Nacional dos Jornalistas

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    interesse pblico e outros. Os limites so impostos, na maiorparte das vezes, por quem restringe a expresso das fontes seja

    pelo volume de informaes disponvel, seja por horrio,tamanho, edio (afinal, no cabe tudo), ou por interessesideolgicos, mercadolgicos e similares. O problema est, nocaso, mais na prpria lgica temporal do jornalismo e nos projetospoltico-editoriais.

    Nunca demais repetir, tambm, que qualquer pessoa

    pode expor seu conhecimento sobre a rea em que especializada.Por isso, existem tantos artigos, na mdia, assinados por mdicos,advogados, engenheiros, socilogos, historiadores. E h tantodebate sobre os problemas de tais reas.

    Diante disso, de se perguntar como e por que confundiro cerceamento liberdade de expresso e a censura com o direito

    de os jornalistas terem uma regulamentao profissional que exijao mnimo de qualificao? Por que favorecer o poder desmedidodos proprietrios das empresas de comunicao, os maioresbeneficirios da no-exigncia do diploma, os quais, a partir dela,transformam-se em donos absolutos e algozes das conscinciasdos jornalistas e, por conseqncia, das conscincias de todosos cidados?

    A defesa da regulamentao profissional e do surgimentode escolas qualificadas remonta ao primeiro congresso dosjornalistas, em 1918, e teve trs marcos iniciais no sculo 20: aprimeira regulamentao, em 1938; a fundao da FaculdadeCsper Lbero, em 1947 (primeiro curso de jornalismo do Brasil);e o reconhecimento jurdico da necessidade de formao superior,

    em 1969, aperfeioado pela legislao de 79. Foi o sculo(especialmente na segunda metade) que tambm reconheceu nojornalismo seja no Brasil, nos Estados Unidos, em pases

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    europeus e muitos outros- um ethosprofissional. Ou seja, validousocialmente um modo de ser profissional, que tenta afastar a

    picaretagem e o amadorismo e vincular a atividade ao interessepblico e plural, fazendo do jornalista uma pessoa que dedicasua vida a tal tarefa e no como um bico.

    Com tal perspectiva, evoluram e se consolidaram prin-cpios tericos, tcnicos, ticos e estticos profissionais, disse-minados por diferentes suportes tecnolgicos, como televiso,

    rdio, jornal, revista, internet. E em diferenciadas funes, dopauteiro ao reprter, do editor ao planejador grfico, do assessorde imprensa ao fotojornalista. Para isso, exige-se profissionaismultimdia que se relacionem com outras reas e com a realidadea partir da especificidade profissional; que faam coberturas daCincia Economia, da Poltica aos Esportes, da Cultura Sade,da Educao s questes agrrias com qualificao tica e est-

    tica, incluindo concepo terica e instrumental tcnico a partirde sua rea. Tais tarefas incluem responsabilidade social, escolhasmorais profissionais e domnio da linguagem especializada, dasimples notcia grande reportagem.

    A informao jornalstica um elemento estratgico dassociedades contemporneas. Por isso que o Programa de

    Qualidade de Ensino da Federao Nacional dos Jornalistas -debatido, aperfeioado e apoiado pelas principais entidades darea acadmica (como Intercom Sociedade Brasileira deEstudos Interdisciplinares da Comunicao; Abecom -Associao Brasileira de Escolas de Comunicao; Enecos-Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicao; Comps- Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em

    Comunicao; e Frum de Professores de Jornalismo) defendea formao tanto terica e cultural quanto tcnica e tica. Talformao deve se expressar seja num programa de TV de grande

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    audincia ou numa TV comunitria, num jornal dirio de grandecirculao ou num pequeno de bairro, num site na Internet ou

    num programa de rdio, na imagem fotojornalstica ou noplanejamento grfico.

    por isso que, num Curso de Jornalismo, possvel tratarde aspectos essenciais s sociedades contemporneas e com acomplexidade tecnolgica que os envolve, incluindoprocedimentos ticos especficos adequados do mtodo lcito

    para obter informao manipulao da imagem fotogrfica, dosigilo da fonte ao conflito entre privacidade e interesse pblico,por exemplo. na escola que h laboratrios de telejornalismo,radiojornalismo, fotojornalismo, planejamento grfico, jornal,revista, webjornalismo e outros. A escola pode formarprofissionais para atuar em jornalismo - e no para uma ou outraempresa. Pode formar profissionais capazes de atuar em quaisquer

    instituies, setores ou funes. a formao que tambmpermite o debate e novas experincias.

    As escolas no so culpadas, certamente, pelo fato dealgumas empresas reduzirem a atividade profissional a aspectossimples ou simplrios.

    Por isso, mesmo onde a obrigatoriedade do diploma noexiste, como em pases europeus, cresce o nmero de escolas dejornalismo. por isso que o Conselho Europeu de Deontologia(dever-ser ) do Jornalismo, aprovado em 1993, estipulou, em seuartigo 31, que os jornalistas devem ter uma adequada formaoprofissional. E que surgem, a cada ano, em muitos pases,documentos reforando a necessidade de formao na rea.

    Alm de tudo, h uma discusso bastante reducionista,uma espcie de a favor ou contra. Ora, diploma uma palavra.

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    Trata-se, no entanto, de palavra que exprime outras duas:formaoprofissional, atestada por um documento que deve valer seu nome.

    H um lugar, chamado escola, que sistematiza conhecimentos eos vincula a outras reas a partir da sua. A regulamentao e aformao so o resultado disso, que se manifesta em exignciascomo a do registro prvio para o exerccio da profisso. Por isso,a regulamentao brasileira para o exerccio do jornalismo umavano, no um retrocesso.

    O pensar e o fazer jornalstico, resultados de um ethosprofissional essencial identidade de categoria e de profissoe socialmente relevante, no pode voltar atrs. A Fenaj defendea formao profissional em cursos de jornalismo de graduaocom quatro anos e, no mnimo, 2.700 horas-aula, como japontavam as diretrizes curriculares aprovadas aps inmerosdebates e congressos na rea. A formao em Jornalismo, que

    deve ser constante e aprimorada durante toda a vida, a baseinicial para o exerccio regulamentar da atividade. A tudo issochamamosprofisso Jornalismo. E no nos parece pouco.

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    Formao superiore qualidade de ensino:uma luta histrica por umjornalismo sempre melhor

    J so aproximadamente 80 anos de luta pelo diploma.Ou melhor, explicando exatamente o que significa, para nsjornalistas, falar em exigncia do diploma para o exerccioprofissional: so 80 anos de luta pela formao superior especfica

    em jornalismo. E no gastamos tantos e tantos anos lutando porisso apenas para ter um diploma, mas sim para garantirmos umaformao realmente de qualidade e tica, capaz de dotar oprofissional jornalista dos requisitos necessrios ao exerccio dasua funo social.

    Primeiro, foram anos e anos de luta para o

    estabelecimento da obrigatoriedade da formao superior nalegislao que regulamenta a profisso. E aps esta conquista dacategoria, at hoje continuamos batalhando pela qualificaosempre maior e melhor da nossa formao universitria.

    A Fenaj, por isso, vem repetindo que o principalargumento, entre os tantos que se pode levantar no apenas em

    defesa da exigncia do diploma como tambm da necessidadede lutar pela qualidade do ensino , o de que a sociedade precisa,tem direito informao de qualidade, tica, democrtica.Informao esta que depende, tambm, de uma prtica

    Valci Regina Mousquer Zuculoto

    Diretora de Educao da FENAJ, professora de jornalismo da UFSCe Diretora da FM Cultura de Porto Alegre

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    profissional igualmente qualificada e baseada em preceitos ticose democrticos. E uma das formas apenas uma, mas

    extremamente fundamental - de se preparar, de se formarjornalistas capazes a exercer tal prtica por meio de um cursosuperior de graduao especfica em jornalismo.

    Ns, jornalistas, atravs da Fenaj e dos nossos Sindicatos,historicamente temos destacado a qualidade da formaoprofissional como um dos principais eixos da nossa luta-maior: a

    luta pela democratizao da comunicao, que inclui umjornalismo de qualidade, tico, democrtico e realmentecumpridor de sua funo social

    dentro desta batalha-maior que a Fenaj, os Sindicatosde Jornalistas em todo o pas e a categoria organizada h muitovm lutando, debatendo e construindo o que chamamos de a

    sua identidade profissional. O diploma, ou melhor, a formaode nvel superior faz parte dessa identidade. A nossaregulamentao faz parte dessa identidade. No num sentidocorporativista, de reserva de mercado, mas tendo, como principalreferncia, exatamente o interesse pblico, a funo social queenvolve a nossa atuao como jornalistas.

    Nesta busca pela identidade numa profisso que est emconstante transformao ( sobretudo na atualidade, devido asprofundas modificaes tecnolgicas, sociais, econmicas eculturais que vivenciamos ) destacam-se, entre vrias outras , aslutas pela exigncia do diploma, pelos quatro anos do curso degraduao, pela regulamentao da profisso e pela qualidadeda formao, especialmente atravs do Programa Nacional de

    Estmulo Qualidade do Ensino em Jornalismo.

    Mais recentemente, nossas aes em defesa da formaode qualidade para os jornalistas tambm envolveram, por

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    exemplo, as iniciativas contra o provo, contra os cursosseqenciais e por diretrizes curriculares adequadas funo social

    do jornalismo e respeitadoras da especificidade da profisso.

    Para reforar a importncia que a categoria, atravs deFenaj e dos Sindicatos, confere formao, vale aqui citar pelomenos alguns trechos do Programa de Estmulo Qualidade doEnsino de Jornalismo.

    Por exemplo, defendendo, entre outras questes, aespecificidade da profisso, a necessidade de exigncia de diplomae de uma graduao de quatro anos, o Programa prope que sa formao atravs de um curso superior especfico especializado pode tornarconsistente a abordagem da multiplicidade dos aspectos filosficos, tericos,culturais e tcnicos envolvidos na formao dos jornalistas, bem comopropiciar que, atravs da reflexo acadmica e da prtica poltica e tcnica,

    sejam equacionadas as demandas da sociedade em relao atuao dosprofissionais jornalistas.

    Tambm sustenta que a formao do jornalista sejaconcebida a partir da percepo do seu papel singular de produtor deconhecimento e de cultura, atravs de uma atividade profissionalespecializada na formulao, seleo, estruturao e disponibilizao de

    informaes que so usadas pelos indivduos para perceberem e situarem-se diante da realidade.

    Nas suas premissas, ainda coloca que esta formao deveconsiderar o interesse pblico na gerao de conhecimento e a necessidadede pesquisa e experimentao de teorias e tcnicas relacionadas com aslinguagens e prticas aplicveis ao exerccio do jornalismo.

    E como decorrncia destas premissas, o Programa concluipela necessidade de que a formao seja terica, cultural e tcnica,possibilitando que, atravs desta, os jornalistas alcancem a

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    compreenso e a identificao dos fundamentos ticos prescritos paraa sua conduta profissional. Entendam e identifiquem a atitude de

    cidadania adequada ao exerccio da profisso, a partir do reconhecimentodas expectativas e necessidades da sociedade em relao ao seu papel social.E, por fim, tambm possam apreender e reconhecer o inter-relacionamento entre as funes profissionais dos jornalistas com as demaisfunes profissionais ou empresariais existentes na rea das comunicaes.

    Outro exemplo a recomendao, pelo Programa, de

    constituio de instncias e processos de gesto da qualidade doensino. Prope comisses de gesto da qualidade do ensinonacional, regionais e por escola. Estas comisses, integradas pelacategoria, atravs dos Sindicatos e Fenaj, pelos professores,universidades, estudantes e empresariado da comunicao, entreoutras atribuies, coordenariam iniciativas de avaliaosistemtica da qualidade do ensino em cada escola. Ou seja,

    podem se constituir e se legitimar como uma avaliao emsubstituio ao provo, esta sim, ento, construdahorizontalmente.

    Hoje, em vrios estados, j estamos no momento deexecuo de algumas importantes propostas lanadas peloPrograma: uma delas justamente a constituio destas

    comisses de qualidade de ensino, que esto se responsabilizandopela implantao de projetos pilotos de estgio acadmico epodero, na seqncia de seus debates e trabalhos, firmarem-secomo formas de gesto e avaliao de qualidade. Porque tambmentendemos que gesto e avaliao no podem ser momentos,mas sim processos.

    Enfim, estas so apenas algumas amostras de que a defesada exigncia do diploma no uma questo isolada e muitomenos exclusivamente corporativista. E por isso que a Fenaj,

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    os Sindicatos e a categoria vo continuar lutando pela exignciado diploma, pela regulamentao profissional, entendendo que

    so batalhas inseridas em lutas maiores, como a luta pelademocratizao da comunicao.

    A rpida histria da luta de 80 anos

    J no Primeiro Congresso Brasileiro dos Jornalistas, em1918, a categoria expressava claramente sua preocupao com

    uma formao de qualidade, manifestando a necessidade deensino superior para o jornalismo. Os primeiros cursos s foramimplantados na dcada de 40, mas apenas em 69, os jornalistasconseguiram a regulamentao da profisso, com a exigncia dediploma universitrio para o registro profissional.

    Mas isto no significou o fim da luta. Bem ao contrrio,

    tornou-se cada vez mais necessrio que a categoria participassedo debate e fosse parceira de todos os segmentos envolvidoscom a formao profissional, principalmente as universidades,estudantes e educadores e suas entidades representativas.

    Ao longo dos anos, foi-se construindo, ento, o acmuloque teve um dos seus pontos altos em 1997, com a promoo,

    pela Fenaj, de um Congresso Nacional dos Jornalistasextraordinrio, para tratar justamente da qualidade da formaoprofissional. O Congresso, realizado no Esprito Santo, em VilaVelha, lanou as bases de um Programa Nacional de Estmulo Qualidade da Formao Profissional.

    Na seqncia, Fenaj e Sindicatos passaram a divulgar e a

    aprimorar este Programa, sempre buscando reunir neste esforoa totalidade dos segmentos envolvidos no apenas com aformao em jornalismo, mas, sim, no campo da comunicao.Hoje, o Programa que a Fenaj e os Sindicatos esto buscando

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    implantar em todo o pas j est mais avanado e leva a assinaturade entidades como a Associao Brasileira de Escolas de

    Comunicao (ABECOM), Associao Nacional de Programasde Ps-Graduao em Comunicao (COMPS), ExecutivaNacional dos Estudantes de Comunicao (ENECOS),Federao Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e SociedadeBrasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao(INTERCOM).

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    Jogo dos sete erros:desmascarando algumas falciassobre a regulamentao

    profissional dos jornalistas

    1 A legislao que regulamenta a profisso ilegtima porque foi feita na poca do regime militar.

    verdade que a base da legislao que regulamenta aprofisso, o Decreto-Lei 972, de 17 de outubro de 1969, foi

    assinado pela justa militar que governava o pas na poca. Noentanto, esse Decreto e a legislao posterior que o modificou(Lei 6.612 de dezembro de 1978 e Decreto 83.284 de maro de1979) responderam a um anseio dos jornalistas que, desde 1918,reivindicavam a implantao do ensino de nvel superior para ojornalismo no pas. Por isso, o movimento sindical dos jornalistasno pas nunca teve dvidas sobre a legitimidade de tal legislao,

    a ponto de confirm-la integralmente, com algumas melhorias,no projeto de lei de criao dos Conselhos Federal e Regionaisde Jornalismo, que est para ser enviado ao Congresso Nacional.

    2 A exigncia do diploma de jornalismo para oexerccio da profisso se choca com a liberdade deexpresso.

    Esse tem sido o principal argumento dos proprietriosdos veculos de comunicao e de todos aquele que procuramderrubar nossa regulamentao. O argumento estapafrdio pois

    Fred Ghedini

    Presidente do Sindicato dos JornalistasProfissionais no Estado de So Paulo

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    4 Jornalismo uma questo de talento. At a dcada de 50, antes da existncia dos cursos de

    jornalismo, a profisso era vista como uma ocupao de bomios,poetas e escritores. Gente talentosa, ou nem tanto. As pessoasaprendiam muito no dia-a-dia da profisso, com os mais velhos.Mas, desde ento, tudo mudou: o ritmo do trabalho nas redaesintensificou-se absurdamente, exigindo dos jovens profissionaisque desempenhem seu trabalho sem titubear, desde os primeirosmomentos na profisso. Nessas condies, passar pelo curso

    especfico de jornalismo a condio mnima para quem pretendeser jornalista. lgico que essa formao deve sercomplementada, seja com o aprofundamento na formaohumanstica, seja com especializaes, o que obriga muitosjornalistas a fazerem mais de um curso superior, ou a freqentaremcursos de especializao em outras reas. Assim, nada impedeque pessoas talentosas faam o curso superior de jornalismo.

    5 A profisso de jornalista no requer qualificaesprofissionais especficas. Basta saber escrever. O resto seaprende em poucas semanas de prtica.

    Para ser jornalista, preciso bem mais do que talento notrato com as palavras. preciso ter um conhecimento amplosobre cultura e legislao; uma formao slida sobre os valoresticos que fundamentam a vida em sociedade e que consolidamas conquistas da civilizao; o conhecimento das regrasdeontolgicas da profisso, como por exemplo ouvir sempre asvrias partes interessadas em uma disputa; uma disciplina quaseque doentia para checar as informaes antes de divulg-las. Almdisso, preciso que o profissional adquira conhecimentostcnicos, necessrios para entrevistar, reportar, editar e pesquisaros assuntos mais variados. Mas, para ser um batalhador daverdade, preciso tudo isso e mais um pouco. O jornalista precisater condies de olhar criticamente os processos sociais, inclusive

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    os meios de comunicao de massa. Isso permite que oprofissional veja sempre de vrios ngulos as questes que esto

    sendo tratadas e no embarque, ingenuamente, na primeiraverso. O curso de jornalismo deve servir para cultivar essesvalores e essas prticas nos jovens que pretendem trabalhar naprofisso. Essas so as exigncias para a formao do jornalista,e so importantes para que a populao receba uma informaode qualidade.

    6 O Brasil o nico pas do mundo em que existea exigncia do diploma de jornalismo. Nos pasesdesenvolvidos, essa exigncia no existe.

    verdade que o Brasil um dos poucos pases do mundoem que a regulamentao da profisso baseada na exigncia dodiploma. Mas, o que se deve questionar se essa exigncia boaou ruim, uma vez que as sociedades no estruturam seus corpos

    legais e jurdicos simplesmente copiando o que h nos outrospases. O que sabemos que em todo o mundo tem aumentadode forma consistente e permanente o nmero de jornalistas quepassaram por uma formao em curso superior especfico. Poroutro lado, os donos dos veculos no Brasil formam um dos gruposmais poderosos, corporativos e privilegiados, com inmerasramificaes no parlamento e uma existncia incestuosa com opoder. Essa situao no se repete nos pases mais desenvolvidos,onde h legislaes rigorosas colocando limites aos poderes dosdonos dos meios de comunicao, particularmente dos meioseletrnicos. Tudo isso transforma a exigncia do diploma emjornalismo no Brasil na forma que temos hoje para garantir aliberdade de expresso para a populao, universalizando oacesso profisso e impedindo que esses proprietrios venhama ser, tambm, os donos das conscincias dos profissionais quetrabalham nas redaes dos jornais, TVs, rdio e portaisnoticiosos do pas.

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    7 Os cursos de jornalismo so de m qualidade.Portanto, exigir o diploma especfico criar uma reserva e

    um incentivo para um ensino ruim.Em primeiro lugar, no verdade que o ensino de

    jornalismo seja ruim. Existem escolas de todos os nveis dequalidade. Depois, o ensino, no Brasil, passa por maus momentos,em todas as reas, em todos os nveis. A poltica geral do MECprivilegia a quantidade em detrimento da qualidade, ao mesmotempo em que deteriora o ensino pblico, favorecendo o ensino

    pago. Em conseqncia dessa poltica, o nvel do ensino vemdecaindo ano a ano no pas, no s no ensino superior, mastambm no ensino fundamental e no ensino mdio. Partir dessaconstatao, para ficar nisso mesmo, no traz nenhumapossibilidade de melhora. Argumentar que os cursos so ruins eportanto no devem ser obrigatrios, aceitar sem reservas queas autoridades do pas no tenham nenhum responsabilidade no

    sentido de fiscalizar a qualidade do ensino, acreditando que asleis do mercado vo operar positivamente na direo da melhorado ensino.

    A se dar crdito para esse tipo de argumento, no deveriaser obrigatrio o diploma em nvel superior para nenhumaprofisso. Em contrapartida, seria uma atitude bem mais

    responsvel, socialmente falando, criticar a qualidade do ensinoe se envolver nas iniciativas necessrias para melhor-lo. No casodo jornalismo, essa obrigao dos estudantes e professores dejornalismo, mas tambm dos jornalistas profissionais, de seusSindicatos e da Federao Nacional dos Jornalistas, que tmpatrocinado nacionalmente o movimento pela qualidade doensino do jornalismo. Das empresas de comunicao, que lucram

    com o trabalho dos jornalistas. E de todos os cidados conscientesda importncia que tem a informao de qualidade para a prpriademocracia.

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    Em defesa daprofisso de jornalista

    Desde o I Congresso Brasileiro de Jornalistas, em 1918,no Rio de Janeiro, quando pela primeira vez reivindicaram oestabelecimento de um curso especfico de nvel superior para aprofisso, os jornalistas brasileiros vm lutando pelo direito auma regulamentao que garanta o mnimo de qualificaoprofissional queles que pretendam trabalhar como jornalistas.

    O resultado dessa luta, expresso no Decreto-Lei 972 de1969, e na legislao complementar a esse decreto, teve seusefeitos suspensos em todo o pas por deciso da juza CarlaRister, da 16a Vara Cvel da Justia Federal em So Paulo, emprocesso de iniciativa do Ministrio Pblico Federal Procuradorda Repblica Andr de Carvalho Ramos. A deciso da juzasuspende provisoriamente a obrigatoriedade da exigncia do

    diploma de jornalismo para a obteno do registro profissional. uma deciso provisria, mas que, enquanto estiver vigente,obriga o Ministrio do Trabalho a conceder registros de jornalistaa qualquer pessoa.

    um ataque sem precedentes, que procura aniquilarnossa regulamentao, com o argumento de que a profisso de

    jornalista no requer qualificaes profissionais especficas.Viso mesquinha de quem pretende atacar um direito garantidona Constituio Federal. Sem ouvir as partes, em matria detamanha relevncia pblica, a juza decide com base no Artigo

    m a n i f e s t oNota oficial da Federao Nacional dos Jornalistas e do

    Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de So Paulo

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    220 da Constituio Federal segundo o qual a manifestao dopensamento, a criao, a expresso e a informao, sob qualquer

    forma, processo ou veculo, no sofrero qualquer restrio (...).Mas, esquece o restante da frase: observado o disposto nestaConstituio. A Constituio estabelece, no Pargrafo 1 dessemesmo Artigo, que nenhuma lei conter dispositivo que possaconstituir embarao plena liberdade de informao jornalsticaem qualquer veculo de comunicao social, observado odisposto no artigo 5, incisos IV, V, X, XIII e XIV. No inciso

    XIII, est escrito que livre o exerccio de qualquer trabalho,ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais quea lei estabelecer, o que garante de forma inequvoca nossaregulamentao.

    Como confundir o cerceamento liberdade de expressoe a censura, com o direito de os jornalistas terem uma

    regulamentao profissional que exija o mnimo de qualificao? A regulamentao, em seu formato atual, fundamental paragarantir o direito informao qualificada, tica, democrtica ecidad para toda a populao. Por que favorecer o poderdesmedido dos donos das empresas de comunicao, os maioresbeneficirios de tal deciso, que, a partir dela, transformam-seem donos absolutos e algozes das conscincias dos jornalistas e,

    alm disso, das conscincias de todos os cidados? A sim, teremoso poder econmico como nico regulador, verdadeiro censor doque pode ou no ser difundido como jornalismo.

    A populao tem direito a uma informao de qualidade,baseada em princpios ticos. Os jornalistas tm direito suaregulamentao profissional. para defender esses direitos que

    a Federao Nacional dos Jornalistas e os Sindicatos dosJornalistas do pas convocam os jornalistas profissionais e todosos que acreditam na democracia a unirem suas foras nestemomento.

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    Manifesto emdefesa do Jornalismo

    A sociedade brasileira est ameaada de perder uma desuas mais expressivas conquistas: o direito informaoindependente e plural, condio indispensvel para a vida emuma democracia. A ameaa parte da mais nova ofensiva patronalpara desregulamentar a profisso de jornalista, atravs datentativa de impor o fim da obrigatoriedade do diploma de curso

    superior para o exerccio profissional. O que causa estranheza o fato desta antiga pretenso ter originado a ao movida peloMinistrio Pblico Federal, e que obteve liminar favorvel dajuza Carla Rister, da 16 Vara Cvel da Justia Federal em SoPaulo.

    Pior a constatao de que os argumentos utilizados

    contra a nossa regulamentao transitam entre a ingenuidade e adistoro deliberada. Afinal, como podemos aceitar que anecessidade do jornalista ser um profissional diplomado estejacerceando a plena liberdade de expresso na mdia e o direito dasociedade informao? Como considerar esse argumento,quando sabemos que a prpria lgica temporal dos meios decomunicao e os seus projetos poltico-editoriais que impem,

    cotidianamente, os verdadeiros limites expresso das fontes,em nome de interesses ideolgicos, mercadolgicos e similares?Tambm no podemos nos esquecer que qualquer pessoa podeexpor seu conhecimento sobre a rea em que especializada.

    Federao Nacional dos Jornalistas28 de Novembro de 2001

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    Prova disso so os artigos que esto na mdia assinados pormdicos, advogados, engenheiros, socilogos, historiadores.

    absurda a confuso que se quer fazer entre cerceamento liberdade de expresso com o direito dos jornalistas terem umaregulamentao profissional que exija o mnimo de qualificao. nosso dever lembrar que nas ltimas dcadas o jornalismo foireconhecido e se firmou como um modo de ser profissional um ethos profissional -, cuja atividade passou a ser fortemente

    vinculada ao interesse pblico, com crescente reflexo sobre atica e as habilidades prprias das funes exercidas nojornalismo, nos seus mais variados formatos. por isso queentendemos o carter indispensvel da formao profissional,base para o exerccio regular da nossa atividade.

    Defender o contrrio favorecer o poder desmedido dos

    proprietrios das empresas de comunicao, os maioresbeneficirios da no-exigncia do diploma, os quais, a partirdela, seriam transformados em donos absolutos e algozes dasconscincias dos jornalistas e, por conseqncia, das conscinciasde todos os cidados. O resultado previsvel desta medida seruma sociedade ainda mais distante das condies ideais de acesso informao de qualidade, tica e pluralista, imagem reforada

    de um pas condenado pelo monoplio dos meios decomunicao, cuja concentrao vedada pela ConstituioFederal, este sim, um princpio constantemente desrespeitado.Portanto, neste Dia Nacional de Luta em Defesa doJornalismo, queremos repudiar publicamente essa tentativaoportunista de desregulamentar a nossa profisso, para que, acimade tudo, seja preservado o verdadeiro princpio da liberdade de

    expresso e do acesso pblico informao livre, plural edemocrtica.

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    Somos jornalistas e

    temos uma profisso: emdefesa da sociedade brasileira

    As sociedades contemporneas, cada vez mais complexas,exigem o conhecimento de assuntos de interesse pblico quecirculam em todas as reas, da Medicina Antropologia, daEngenharia ao Direito, da Biotecnologia Histria. precisosaber, no calor da hora, de temas, fatos e verses que ocorremtanto em tais reas quanto nas ruas. Para isso, existe um

    profissional, envolvido diariamente com o seu fazer, que buscainformaes, as apura, faz entrevistas, contextualiza, registra eedita, para que mais gente, em todas as reas e em todos oscantos, possa tomar conhecimento e melhor se situar frente realidade. A este profissional se chama jornalista.

    Em escala pblica e dimenso planetria, em perodos

    extremamente curtos (dia, hora, minuto tal como o andardirio da humanidade), e em linguagem acessvel populao eno hermtica, h profissionais que se empenham para estareconstruo do mundo. A este profissional se chama jornalista.

    Sem este profissional, no h jornalismo. Para ainformao jornalstica preciso qualidade, so necessrios

    pressupostos ticos, conhecimentos tcnicos e tecnolgicos da tev ao rdio, da internet revista, do jornal ao planejamentogrfico. Em todas estas coberturas e atividades e para todos estessuportes tecnolgicos, preciso cuidado na apurao, rigor na

    m a n i f e s t oFederao Nacional dos Jornalistas

    Fevereiro de 2002

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    exatido, obedincia a preceitos ticos, qualidade na produoesttica, cuidado e preciso nas conseqncias da forma de

    divulgao.

    H um profissional que se preocupa com isso. A ele sechama jornalista. A informao com tais caractersticas,produzida por jornalistas, permite sociedade maior liberdade,alm de mais e melhor opo de escolha. Permite melhor escolhae deciso nos caminhos a seguir.

    Depois de 60 anos de regulamentao profissional e 80de luta pela formao superior em Jornalismo, h agora a claraameaa do fim de quaisquer exigncias para o exerccio daprofisso. O ataque contemporneo do neoliberalismo profissojornalstica mais um ataque s liberdades sociais e s profissesem particular. Com isso, amplia-se o campo das

    desregulamentaes em geral e aumentam as barreiras construo qualificada e lcida de um mundo mais democrtico, visvel e justo.

    O ataque ao jornalismo tambm um desrespeito sociedade, que diminui sua amplitude de escolha, diminui oespao de liberdade e de confronto de opinies. H claros

    prejuzos tica profissional e amplia-se o controle sobre quementra nas redaes do interesse particularizado expresso nacontratao de apadrinhados polticos e ideolgicos aoaviltamento profissional e salarial, por meio de contrato depessoas que nada tm a ver com a formao especfica na rea.

    Hoje, j existe liberdade garantida para quem quiser expor

    sua opinio, como entrevistado ou articulista de uma determinadarea. Com a desregulamentao, contudo, perde-se as razes da vinculao do jornalismo ao interesse pblico, razo de suaconsolidao como profisso nos ltimos 60 anos. Com isso, alm

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    A FENAJ defende a formao, o registro, a regulamentao e a profisso

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    da prpria categoria profissional ter reduo de empregos,desprestgio em seu reconhecimento pblico, a prpria sociedade,

    no conjunto, perde a referncia qualitativa dos acontecimentosdo dia-a-dia, essenciais para a liberdade de escolha do diaseguinte.

    O ataque regulamentao em Jornalismo atingeprofissionais e estudantes, desrespeita as identidades de cadarea e nisso desrespeita tambm as demais -, e fere frontalmente

    a sociedade em seu direito de ter informao apurada porprofissionais, com qualidade tcnica e tica, bases para a visibilidade pblica dos fatos, debates, verses e opiniescontemporneas. um ataque, portanto, ao prprio futuro dopas e da sociedade brasileira.

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    Ensino,

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    A formao superior

    em jornalismo

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    frente, o passado

    H certas lembranas que, embora no sendo ntimas,adoraramos guardar para ns mesmos. Exporamos ao mundosomente outras, promissoras ou engraadas, que alimentamesperana, alegria ou entusiasmo.

    Assim com o Dirio Carioca: o introdutor no Brasil dolead, da uniformidade grfica, de padres lingsticos decorrentesdo movimento de renovao literria da Semana de ArteModerna; a redao em que conviviam Pompeu de Souza, LusPaulistano, Carlos Castelo Branco, Jnio de Freitas, Nlson Viana,Evandro Carlos de Andrade, Jos Ramos Tinhoro, Lus Edgarde Andrade, Oscar Maurcio de Lima Azedo; o lugar em que,afastadas as mesas no final do expediente, comeo da madrugada,

    jogava-se futebol com bola de meia; o inventor da sigla JK e quepela primeira vez contou a histria do mineiro que comprou umbonde de um carioca vigarista; o veculo dos artigos polticos de J. E. de Macedo Soares e de Danton Jobim; meu primeiroemprego, em 1955, quando pretendia custear o estudo demedicina, e descobri o jornalismo.

    No entanto e me custa escrever os pargrafos que seseguem meu primeiro chefe, com quem trabalhei por algunsmeses, nos momentos agudos da crise econmica em que vivamos (o Dirio atrasava sistematicamente o pagamento, de

    Nilson LageJornalista, 47 anos de profisso, professor titular de redao

    jornalstica da UFSC e Doutor em Lingstica

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    dias, semanas ou meses), passava no Zico, o banqueiro de bichoque era dono de um bar na Praa Mau, e apanhava dinheiro;

    levei-o, uma vez, bbado, para a casa pobre de um conjuntoproletrio, onde vivia com mulher e filhos. O colunista da pginaera um ex-perito de criminalstica que tinha vrios jqueisnaDelegacia de Costumes. Jqueiseram policiais indicados parafunes rendosas junto a prostitutas e bicheiros; a indicaorepresentava participao do patrono do policial na caixinhaadministrada pela Chefatura de Polcia.

    A maior parte do tempo, eu ficava ao telefone falandocom setoristas de hospitais (que recebiam gratificao rateadaentre vrios jornais para coletar dados) ou pessoas, geralmentepoliciais, que trocavam o fornecimento eventual de informaespela meno de seus nomes nas matrias ou pela carteirinha dejornalista. Toda vez, tinha que formular as mesmas perguntas,

    porque os interlocutores, embora desempenhassem h anos opapel de informantes, no conseguiam estabelecer relaescausais, omitiam detalhes relevantes e avaliavam mal aimportncia do que acontecia. Comeavam invariavelmente pelosnomes dos personagens, seguidos de um cdigo tal como bbc45(brasileiro, branco, casado, de 45 anos), e a contavam o quehavia acontecido, numa linguagem que inclua o indigitado (o

    acusado), o indivduo Fulano (o bandido), tombou emdecbito dorsal (caiu de costas), sofreu uma contuso na regiooccipto-frontal (levou uma pancada na cabea) e por a emdiante; copiavam, em suma, boletins de ocorrncias e fichasmdicas, pouco se importando com o que significavam aspalavras.

    As razes do copy desk

    Quando, tempos depois, passei a trabalhar no copy desk,rapidamente descobri porque o jornal era quase todo reescrito:

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    muitos dos reprteres, alguns com longo tempo de profisso eexperincia na coleta de informaes, no apenas no

    dominavam a tcnica jornalstica que estava sendo introduzidacomo jamais a dominariam: simplesmente no sabiam escrever.Textos chegavam com erros de regncia, concordncia, ortografia,s vezes contraditrios ou ininteligveis. As salas de imprensa:em regra, atuavam impedindo o acesso de jornalistas noacreditados s fontes internas de servios pblicos e instituies.Tambm em regra, os acreditados complementavam o salrio

    miservel pago pelo jornal com empregos ou favores dasentidades que deviam cobrir; no mnimo, a corretagem deanncios. Era comum um sistema em que um acreditado,escolhido por rodzio ou terceirizado pelos demais, escrevia todasas matrias do dia e distribua em cpias de carbono, em papelfino, aos colegas; essas cpias ou chegavam diretamente aoseditores ou eram redatilografadas, com poucas ou nenhumas

    emendas, pelo acreditado que trabalhava (?) para o jornal. Da,a nica forma de no publicar matrias iguais s dos concorrentesera mudar o texto na redao. Raramente o setorista fazia umamatria exclusiva, e promovia, ento, bastante, o seu esforo.

    Do ponto de vista formal, havia uma multido dejornalistas, com carteiras funcionais de sindicatos (o verdadeiro

    e os fantasmas), de associaes existentes e inexistentes, de veculos reais ou fictcios, de cursos de jornalismo que selimitavam a breves ciclos de palestras de polticos e figures. Serou ter sido jornalista significava, para empresrios, acadmicose profissionais liberais, um ttulo acrescentado a seus currculos;para estelionatrios, bicheiros, proxenetas e marginais de todotipo, o direito, principalmente, priso especial (quem j viu um

    xadrez de delegacia brasileira sabe o quanto isso importante);para pequenos vigaristas e espertalhes, o poder de dar carteiradasem boates, bares, nos casos de interveno eventual do

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    policiamento ostensivo etc.

    Outros estmulos proliferao desses jornalistasdependiam de registro no Ministrio do Trabalho (aregulamentao profissional de 1938), mas os funcionrios nopodiam negar esse reconhecimento legal desde que o requerentetivesse trabalhado, ainda que por pouco tempo, em um veculo(dirio, semanrio, mensrio, anurio ou devezenquandrio ); quealguma empresa (para perto de uma dzia de jornais circulando,

    os registros de veculos no Rio de Janeiro estava na ordem decentenas) declarasse que ele trabalhou; ou, enfim, gozasse daproteo de um bom padrinho. As regalias (a exceo a prisoespecial, a que tm direito graduados em nvel superior) foramsuprimidas, medida que a profisso se moralizava: a isenodo imposto de renda, que na poca beneficiava executivos daindstria da informao e rarssimos profissionais (por exemplo,

    um David Nasser, cujas aventuras e negcios so relatados nolivro Cobras Criadas, de Lus Maklouf Carvalho); passagens areasnas poltronas no vendidas dos avies (tambm fora da realidadeda poca, a no ser para as prprias empresas, seus diretores emfrias e jornalistas a servio).

    Finalmente, um fator imaginrio funcionava e ainda

    funciona: acadmicos e profissionais liberais acreditam que, portrabalhar numa redao, qualquer um de ns comanda a opiniopblica; ser jornalista seria fator importante, portanto, para quemtem ambies polticas. Essa a viso publicstica do nosso ofcio,correspondente a uma realidade anterior revoluo industrialou a momentos histricos especficos, como a Revoluo Russaou a ascenso do nazismo na leniente Repblica de Weimar.

    A profisso tinha, assim, dois nveis: a dos jornalistas deverdade e a dos falsos jornalistas. E duas categorias ticas: osque viviam de salrios pagos pelos veculos ou trabalhavam

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    equipamentos, o que foi fcil de resolver, graas s linhas decrdito do governo; mas tambm e principalmente quanto a

    procedimentos que, direta ou indiretamente, envolviam aformao de pessoal.

    Pouca gente se lembra, mas a instituio daobrigatoriedade do curso superior era iminente desde o final dadcada de 50 e foi estipulada numa lei do incio dos anos 60. Foia expectativa da edio dessa lei que levou o sujeito que est

    escrevendo esse artigo, inimigo jurado da burocracia, a registrar-se na Delegacia Regional do Trabalho, em 1961. A aplicao daexigncia foi sendo protelada por dois motivos: primeiro, a pressodos donos de jornal, que resistiam ao inevitvel aumento dasfolhas de salrios e mudana dos mtodos empresariais (aredao padronizada dos textos noticiosos tornava ridculos oselogios das matrias pagas disfaradas, por exemplo); segundo, a

    interveno do governo norte-americano.

    Na sua anlise da Revoluo Cubana, os Estados Unidosconcluram que o papel dos jornalistas foi importante para FidelCastro e seus partidrios: teriam municiado os guerrilheiros cominformao e, de um modo ou de outro, ajudado a torn-lossimpticos e populares. Atribuam esse fato difuso das teses

    marxistas, na poca intensa na Amrica Latina; promoveram,ento, atravs do Ciespal, organismo sediado no Equador, aadoo de uma formao bsica que se fundava noestruturalismo, ento entendido como alternativa a Marx. Parteimportante do projeto era a diluio do contedo crtico inerenteao jornalismo em um curso de comunicao social que formariatambm publicitrios, pessoal de relaes publicas e cineastas.

    Na maioria dos pases latino-americanos foi feito assim.No Brasil, a essa altura um pas j industrializado, o parecer Celso

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    Kelly, que instituiu os cursos de comunicao, em 1968, previao curso polivalente, mas admitia a especializao por rea

    profissional; as escolas que optaram pela polivalncia (como ada Universidade Federal do Rio de Janeiro) tiveram seusformandos recusados pelo mercado e foram obrigados arematricul-los na habilitao pretendida.

    O decreto-lei de 1969, que instituiu, afinal, a formaode nvel superior, estava pronto h muito tempo e vinha sendo

    retido em funo dessas presses a que era sensvel o GeneralArtur da Costa e Silva. Mas sairia da gaveta mais cedo ou maistarde.

    Os idiotas da objetividade

    Na dcada de 60, os grandes jornais do Rio de Janeiro e

    So Paulo exceo doJornal do Brasil, que adotou, a partir dacontratao de redatores, as normas de tratamento do texto doDirio tinha horror aos redatores de copy desk. A razo que,em 1962, foram esses redatores que garantiram o xito da umagreve indita nas redaes cariocas. Os objetivos eram claros:tnhamos registrado em carteira um salrio pequeno o mnimoou pouco mais. A maior parte do que recebamos era por fora, o

    que significa no ter direito a frias, 13

    (que foi criado por essapoca) e aposentadoria ou verbas rescisrias correspondentesao ganho real. Precisvamos acabar com isso.

    Mas o que de fato incomodou que, depois de paralisaroJornal do Brasil, um piquete foi para a porta do Globo e, sentadona frente dos caminhes eu, Jos Ramos Tinhoro e mais

    alguns , impediu a distribuio dos pacotes j impressos. Outrasequipes paralisaram o Correio da Manh, o Dirio de Notciase osdemais jornais. Na linguagem apaixonada da poca, isso

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    trabalho. Culpam-se as escolas pelos defeitos que tm e pelosque no tm; exige-se do recm-formado um tipo de

    conhecimento que s experincia extensa pode garantir; alega-se que, se o jornalismo depende de talento, o curso universitrio intil. Mas isso passa com o tempo, at porque, mesmo se ojornalismo fosse atividade restrita a pessoas talentosas como,por exemplo, a composio de sinfonias ou a pintura de quadros, ainda assim o aprendizado seria til, como so teis os estudosde msica e de artes plsticas.

    O liberalismo sempre foi popular, marcadamente entreas elites intelectuais. Nos ltimos anos, ele tem sido apresentadocomo a face simptica da globalizao e valorizado porexpresses como abertura: quem a favor dofechamento? Ora, serliberal inclui o combate s regulamentaes em geral, deixandoa deciso ao mercado. A exigncia da formao superior vista

    como restrio antidemocrtica; caberia apenas em reas comoa medicina (em que pese a proliferao dos terapeutas ) e aengenharia, que envolvem responsabilidade pela vida humana.

    A elite incluindo a intelectualidade, principalmente narea de cincias humanas , realiza estranhas transferncias:culpa o empregado por decises do patro, o intermedirio pela

    mensagem, o veculo pelo conjunto de foras econmicas epolticas (poder concedente, financiadores, detentores detecnologia, anunciantes) que o sustentam. claro que, dessaperspectiva, a informao jornalstica absorve uma infinidadede culpas; por que, ento, no comear pelo jornalismo essaliquidao de direitos adquiridos, agora chamados de privilgios?Quem sabe se depois de atingir os jornalistas, conseguiro enfim

    abrir as corporaes de advogados, economistas, matemticos,administradores, agrnomos, veterinrios etc. nenhum delesresponsveis diretamente pela vida humana?

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    Para alguns jornalistas, em geral mais bem pagos, situadosmais prximos da direo de grandes empresas ou empregados

    em rgos pblicos, a formao universitria especfica tambmseria dispensvel. Essa opinio os aproxima da elite com queconvivem e a que, ideologicamente, pertencem; valoriza-osdiante dos acadmicos (comuniclogos, antroplogos,socilogos...);. tem a elegncia dos anarquistas de salo(lembram-me Andra Chenier, na pera de Umberto Giordano,cantando a revoluo francesa nos sales da corte), o charme

    dos democratas de fachada; parece altrusta, embora no seja afinal, quanto mais gente despreparada houver nas redaes, maisintensamente brilharo essas estrelas.

    Outro aspecto da questo o culto da excepcionalidade.Admitamos que alguns indivduos sejam capazes de formar umacultura autodidata e aprender as tcnicas jornalsticas primeira

    vista. Sabe-se de casos raros de meninos de 15 anos capazes detecer consideraes pertinentes sobre a Teoria dos Quanta,ostentar um belo currculo de produes artsticas ou comandarrevolues. Mas isso no significa que esses talentosdesapareceriam se estudassem mais, ou que seja possvel, emregra, nomear professores titulares, maestros de sinfnicas ougenerais de exrcito de 15 anos.

    A retrica contrria formao universitria dosjornalistas sustenta que, se a profisso aberta a todos nosEstados Unidos e na Europa, ento aqui tambm deve ser.

    Em primeiro lugar, esses pases tm uma tradio quevem do publicismo do sculo XVII, na Europa, e do tipo de

    colonizao que os governos ingleses e, depois, americanos,estimularam, instalando cidades em terras tomadas dos ndios:entre os servios disponveis nessas cidades inclua-se o bar, a

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    delegacia com seu xerife e o jornal.

    Em segundo lugar, a suposta abertura no existe em lugaralgum. Nos pases europeus, as regulamentaes variam, mas comum que os jornalistas sejam submetidos a provas de temposem tempos, ou a sistemas de seleo corporativos que lembramas guildas medievais. O nvel superior geralmente exigido ealguns pases preferem a ps-graduao equivalente aomestrado profissionalizante que se tenta agora introduzir no

    Brasil. Na Inglaterra, onde os tablides de escndalos constituemproblema srio, cogita-se h anos de tornar obrigatria a formaosuperior especfica. Os cursos de jornalismo de universidadesespanholas, principalmente a de Navarra, tm prestgiointernacional, mesmo no setor empresarial brasileiro.

    Nos EUA, o mercado altamente desenvolvido e a forte

    disputa pelos postos de trabalho alia-se tradio (foi l quesurgiram os cursos superiores de jornalismo no incio do sculoXX, por iniciativa de um famoso magnata da imprensa, Pulitzer)para tornar a exigncia at certo ponto dispensvel: os jornalistas,em imensa maioria, graduaram-se em universidades ou,raramente, se formados em outras reas, cursaram mestradoprofissionalizante em jornalismo oferecida, por exemplo, pela

    Universidade de Columbia. Por outro lado, a profisso vigiadapor poderosos grupos de presso de ideologia variada,predominando, claro, os conservadores; em vrios estados, asindicalizao praticamente compulsria. Leis regulam aatividade e algumas nos parecem exticas: aquela, por exemplo,que, em nome dos direitos humanos, veda a publicao denome ou imagem de vtimas antes da comunicao formal

    famlia. No caso da exploso das torres de Nova Iorque, quandono se dispunha de endereo e parentesco de doentes ou mortos,esse tipo de informao deixou de ser veiculado e, por isso,

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    parentes de milhares de pessoas desaparecidas tiveram que sairpela rua colando retratos nas paredes, percorrendo dezenas de

    necrotrios e hospitais.

    Em resumo, a exigncia da formao superior especfica uma posio vanguardista do Brasil, perfeitamente adaptada nossa realidade: um pas grande, de culturas variadas, commilhares de cidades onde o jornalismo com qualidade e ticaainda no chegou, e onde leis equivocadas como a que obriga

    as prefeituras a divulgar seus editais em jornal local estimulamo surgimento de veculos de tiragem insignificante, circulaotemporria, sem informao jornalstica que preste,comprometidos com o poder local. A interiorizao dos cursosde jornalismo um dos instrumentos para mudar esse estado decoisas e sero as cidades do interior as primeiras prejudicadaspelo retrocesso que significaria o fim da exigncia de formao

    especfica.

    Outro argumento comum que a qualidade dainformao melhoraria se os reprteres fossem especialistas notema sobre que escrevem. A falcia se torna evidente quando seconsidera a questo na prtica:

    (a) a fragmentao do conhecimento hoje de tal ordemque seria impossvel contemplar todas as reas de interesse, osmesmo as principais as redaes ocupariam estdios. Ser umengenheiro civil capaz de avaliar questes pertinentes engenharia de alimentos? Ter um economista de formaomonetarista ortodoxa condio de julgar com iseno os xitosde uma poltica keynesiana? A guerra um assunto de

    estrategistas, cientistas polticos, historiadores, gegrafos ouespecialistas na indstria de armamentos?

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    (b) os empecilhos de natureza tica seriam um obstculonos casos, por exemplo, de mdicos tratando de procedimentos

    de outros mdicos ou de advogados acompanhando processos.Cada profisso protege-se a seu jeito, seja impedindo amanifestao pblica da opinio antes da comunicao aosconselhos profissionais (o caso dos mdicos), seja criando rituaisexticos de referncia, tais como meritssimo (juiz), nobre(o colega),egrgio (o tribunal) e a coleo de frases feitas latinas, chamadosde brocardos, que se encontram sob a rubrica revisor em quase

    todas as edies brasileiras do Word, da Microsoft. Nada maissagrado, para um especialista, do que o jargo do ofcio; paraele, dependendo da rea, temos refrigeradores, no geladeiras;viaturas, no carros; ventre, no barriga; bovinos, sunos e caprinosno bois;porcose cabras;frascosou invlucros, nogarrafas. De fato,o indivduo teria de abandonar os comportamentos e at itensda linguagem exigidos em sua profisso originria para atuar como

    jornalista.

    (c) a dupla formao seria exceo, jamais de regra.Representaria, socialmente, uma perda de tempo (seis anos nafaculdade de medicina ou cinco na de direito, a residncia ouestgio, mais cerca de dois anos para dominar as tcnicasjornalsticas e conhecer o mnimo de tica profissional) menor

    para algumas formaes (em letras, por exemplo, a graduaodura quatro anos) e maior para outras (um bom fsico tericoestuda por at 25 anos). Para veculos ou assessorias, um customais elevado, j que trabalhariam com profissionais de preparaomais longa.

    (d) empresas grandes e prsperas (na realidade ou na

    imagem que projetam) alegam que seriam capazes de formar seusprprios profissionais. O argumento apoiado pela experinciaque tm em cursos de treinamento oferecidos a formandos de

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    Formao Superior em Jornalismo: uma exigncia que interessa sociedade

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    jornalismo, selecionados com rigor em extensas reas do pas.Mas a experincia seria outra caso o pblico se ampliasse:

    os cursos de jornalismo, se ministrados honestamente, so, aolado do Instituto Rio Branco, que forma diplomatas, os nicos apreparar o aluno para a utilizao desse instrumento que alngua nacional, em que se pretende produzir veculos decirculao abrangente. E, na melhor das hipteses, o profissionaladestrado exclusivamente por uma empresa ter seu mercadoreduzido: aprender, se aprender, a trabalhar em uma s mdia

    (jornal; revista; rdio; televiso; internet; assessoria a empresase instituies). A distino tcnica entre os sistemas de produodas mdias tende a aumentar na medida em que elas socrescentemente informatizadas e cada jornalista levado aassumir vrias funes (reprter; redator; editor de textos eimagens; diagramador; revisor; produtor de rdio outelejornalismo etc.). consensual que o grau de desenvolvimento

    do mercado brasileiro no permite esse nvel de especializaona graduao, mesmo nos maiores centros produtores do pas,So Paulo e Rio de Janeiro.

    A quem interessa?

    A argumentao jurdica utilizada por um promotor

    paulista para obter de uma juza substituta a liminar(tecnicamente, a tutela antecipada) que suspendeu a exignciade formao universitria (cham-la de diploma assumirressentimento comum em um pas de iletrados) absurda. Aregulamentao profissional muito clara quando estabelece asfunes privativas dos jornalistas profissionais (reprter, redator,editor...): como os leitores de jornal, ouvintes de rdio ou

    espectadores de televiso sabem, qualquer pessoa podemanifestar-se nesses veculos sobre temas de sua especialidade,como articulista ou comentarista. A categoria tambm no rejeita,

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    Ensino, Qualidade e Profisso

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    e at promove, o exerccio amador do jornalismo em bairroscarentes ou nas escolas de primeiro e segundo grau, como forma

    de estimular o aprendizado do idioma, o contato humano, aintegrao social e despertar a curiosidade de crianas eadolescentes em busca do conhecimento: nossa profisso apenascrescer com o ingresso nos cursos de jornalismo de pessoasmotivadas por essas iniciativas. A existncia da profisso nosignifica, portanto, nenhuma restrio liberdade de expresso o que, alis, explicitamente estipulado na Constituio.

    Ainda assim, a liminar foi mantida por um juiz nodesempenho excepcional da funo de desembargador. A partirdesse momento, inexistindo temporariamente (at o julgamentodo mrito), em todo o pas, qualquer limitao ao exerccio daprofisso de jornalista, sindicatos e delegacias regionais dotrabalho passaram a receber pedidos de registro de todo tipo de

    gente alfabetizados alguns, analfabetos outros, vaidosos alguns,marginais outros. Vale tudo.

    Um jornal paulista empenhado na campanha contra aformao universitria dos jornalistas por motivo pessoal de seudiretor regozijou-se. Parecia que estava vencendo uma batalhacontra o corporativismo dos jornalistas e a indstria do

    ensino. No entanto, nenhum jornalista competente est de fatoameaado pela proliferao de falsos jornalistas e nenhuma escolaque tenha um currculo decente perder alunos por isso: o cursode publicidade, onde no h limitao de formao especficaou superior (entre outras razes porque o responsvel pelainformao publicitria , em ltima anlise