vida apÓs a morte dentro do conceito bÍblico...
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Universidade Federal da Paraba
Departamento de Cincia das Religies
Programa de Ps-Graduao em Cincia das Religies
VIDA APS A MORTE DENTRO DO CONCEITO BBLICO
Reencarnao e Ressurreio
Joo Pessoa - Paraba
2010
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Waldemar Esmeraldino de Arruda Filho
VIDA APS A MORTE DENTRO DO CONCEITO BBLICO
Reencarnao e ressurreio
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincia das Religies da Universidade Federal da Paraba, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Cincia das Religies, na linha de pesquisa Religio, Cultura e Produes Simblicas.
ORIENTADOR: Professor Severino Celestino da Silva
Joo Pessoa Paraba
2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA CENTRO DE EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DAS RELIGIES
Vida aps a morte dentro do conceito Bblico Reencarnao e Ressurreio,
semelhanas e diferenas.
Waldemar Esmeraldino de Arruda Filho
Dissertao apresentada banca examinadora constituda pelos seguintes professores.
Professor Dr. Severino Celestino da Silva
Orientador
Prof.Dr. Manuel Matusalm Sousa
Membro
Professora Dr Maria Otlia Telles Storni
Membro
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A779v Arruda Filho, Waldemar Esmeraldino de.
Vida aps a Morte dentro do Conceito Bblico Reencarnao e Ressurreio/ Waldemar Esmeraldino de Arruda Filho. - - Joo Pessoa: [s.n], 2010.
128f. Orientador: Severino Celestino da Silva. Dissertao (Mestrado) UFPB /CCHLA.
1.Vida aps a Morte (Religio). 2. Reencarnao. 3.Ressurreio. 4.Religio
Crist. CDU:2-187.55(043)
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AGRADECIMENTOS
A minha esposa que me incentivou a continuar os estudos do terceiro grau e ps-graduao,
quando o cansao chegava ela sempre tinha uma injeo de nimo para mim. Respeitou os
momentos de crise e sobe agir nos momentos de indeciso.
A meu cunhado Nilson Lacerda que esteve comigo na especializao e sempre me incentivou
a fazer o mestrado, principalmente nas horas mais difceis. A minha amiga Marileuza que me
ajudou durante todo o decorrer do curso.
A meu orientador Professor Dr. Severino Celestino da Silva por sua dedicao e incentivo.
Ao corpo de docente do Programa de Ps-graduao em cincia das Religies, em especial,
aos professores Fabrcio Poseibon, Carlos Andr, Severino Celestino, Maria Otlia, Glria
Escario.
A todos que contriburam de forma direta e indireta para esta conquista.
Obrigado
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DEDICATRIA
A Deus, que sempre me ama, e me deu sabedoria para desenvolver esse trabalho e tantos outros que surgem em minhas mos como desafio. A minha amada igreja Congregacional em Funcionrios IV, a qual nos momentos em que precisei me ausentar respeitou as minhas necessidades. A minha amada esposa Maria de Ftima Oliveira de Arruda, a meus filhos Waldemar Fbio, Wilkinson Fabiano, a minhas noras. Flores e Leomara. A meus amados netos. Julia Sofia, Gabriel Victor, Mateus Filipe e Joo Lucas. A meus pais. Waldedemar Esmeraldino e Ana Rodrigues (em memria) e a minha tia Josefa Cavalcante(em memria), que sempre me apoiaram e me motivaram para mais um passo rumo ao conhecimento.
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discutir a questo das semelhanas e diferenas existentes entre reencarnao e ressurreio no contexto bblico, envolvendo as religies crists. Para alcanarmos o nosso objetivo, elaboramos um trabalho de pesquisa bibliogrfica envolvendo as literaturas existentes nas trs religies que se confessam crists, a saber: Religies evanglicas de doutrina reformada, Catlica apostlica romana e Espiritismo Kadercista. Dentro dessa anlise bibliogrfica as nossas investigaes sobre o objeto reencarnao ter como base as doutrinas de Alan Kardec e livros escritos por diversos autores e telogos nesta rea. O que logicamente nos impede de adentrarmos no processo reencarnacionista decrescente onde o esprito depois de desencarnado de um corpo humano pode entrar em um corpo animal ou vegetal; crena bsica para algumas religies no oriente. Quanto ao catolicismo, a sua crena de vida aps a morte definida para o clero, mas para os adeptos, a crena se torna conflitante, pois dentre os catlicos existe tambm a crena na reencarnao. Ainda no catolicismo firmamos o concerto de no adentrarmos na questo do purgatrio por se tratar de uma doutrina exclusiva da igreja catlica. Em relao aos evanglicos, todos acreditam na vida aps a morte pelo processo de ressurreio. Devido grande variedade de telogos protestantes, decidimos trabalhar com os que fazem partes das doutrinas reformadas, originadas dentro do movimento denominado de reforma protestante, iniciada por John Wilyffe e que tomou grande vulto com o surgimento de Lutero e Calvino. Para estudarmos a ressurreio buscamos o que h de mais abrangente em livros de telogos europeus, norte americanos e brasileiros, tais como: Louis Bercoff, Millard Erickson. Leonardo Boff, Renold Blank, e Severino Celestino. Apresentaremos argumentos e comentrios extrados das diversas verses da Bblia em portugus e recorremos para termos melhor exatido no que propomos, aos idiomas que originaram a Bblia. Conclumos o nosso trabalho ressaltando que h semelhanas na Bblia entre os assuntos em questo, e que essas semelhanas no podem ser descartadas. O processo de vida aps a morte, reencarnao e ressurreio podem estar muito mais prximo do que imaginamos, e que um pode ser o complemento do outro. No pretendemos em hiptese alguma concluir o nosso trabalho de pesquisa nesta dissertao, o trabalho em si apresenta a nossa opinio, baseada em nossas pesquisas bibliogrfica. Reencarnao e ressurreio um trabalho de pesquisa de grande valor que nos permitir adentrarmos num campo to pouco explorado e que se apresenta como um desafio por possuir um alto grau de importncia para a cincia e a sociedade. A relevncia do assunto demonstrada atravs do fato de que em todas as religies existentes no mundo, em todas as sociedades por mais remota que sejam ou por mais modernas que queiram parecer h uma forte crena na vida aps a morte. Essa questo incomoda e, por isso, precisa de explicaes, de pesquisas, e ns nos propomos a dar mais alguns passos ao lado daqueles que buscam repostas sobre a questo da vida aps a morte, reencarnao ou ressurreio. Palavras chave. Reencarnao, Ressurreio, vida aps a morte, Novo Testamento, Velho Testamento.
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RSUM
Cetravailtiennecommeobjectifmettreemquestionlesresseemblablesetdiffrencesquilyaentrerincarnationetrssurrectiondans lecontextedeLaBiblequienglobe lesreligionsCrtiens.Pourobtenirnotreobjectif,ona faisaitun travailde recherchebibliografiquequienglobe les littratures quil y a dans le trois religions qui se disaient crtiens, savoir,religionsevangeliquesdedoctrinereforme,catholiqueapostoliqueromaine,spiritismedeAllanKardec.Audedansdecetteanalisebibliografique, lesnotres investigationsur lesujetricarnationauracommebaselesdoctrinesdeAllanKardecetlivrescritspardiversauteursdans ce domaine. a on a empche de entrer dans le proccessus rincarnationdcroissante;lacroyancebasepourquelquesreligionsdansloccident.Quantcatholicisme,sa croyancede vie aprs lamorteestbiendfinitpour le clero,maispour les adeptes lacroyancesedevienneemconflit.Avecrlationsglisesenangeliques,toutescroirentdanslvien aprs lamorte par le processus de rssurrection confiante, car um bon numro decatholiquescroiredansrincarnation.Cependantonafaisaitlalliancedeneentrerpasdanslaquestiondepurgatoire,carilsagitdeunedoctrineexclusivedecetterecherche.causedegrandevarietdelglises,docrinesetintrpretations,onachoisilesglisesdedoctrinereforme,queprendcommebasedansenseignementsdeLuteroetCalvino.Onaexposelesdeuxvisionsclairementetneutralit.Epourtudierlarssurrection,onacherchelequelqueplusattire lattentiondans les livresdethologieeuropans,norteamricainsetbrziliens.On a prsente les arguments et commentaires pris des divers versions de la bible enportugaispouravoirmeilleurcertitudedanslequelqueonaproposeslanguesqueadonnoriginebible.Onaconclunotre travailen ressortissantque ilya ressembleblesdans labibleentrelessujetsenquestions,etcettesressemblablesnepeuventpastrejetablesemfaveurdemacroyanceoudesacroyance.Mavritetasveritpeuventntrepasvraimentvrit.Leprocessusdevieaprs lamorte,rincarnationetrssurrectionpeuventtretropplusprocheduquelon imagine,etqueunpeuventtre lecomplmentdautre.Alors,onalaisse lesdiffrencesdedoctrineshumainesetonarechercheaprofondirchaque jourdanscettevritcientifique.Onneprtendpasenhypothseaucuneconcluirenotre travailderecherchedanscettedissertation,Ilresteouvertpoursepossibleonamarcheplusquelquepasdansdoutorat.Rincarnationet rssurrectionestum travaildegrandvaleurquenousferontentrerdansumchampsipeuexploretseprsentecommeundfiparporsuivreumhautdegrde l importancepournotre vieoupournotremorteet cette importanceestclaire dans toutes religions qui existent dans lemonde, en toutes societs primitives etmodernes. Ce pour a que on va continuer notre tude das ce sujet si fascinant afin deessayerdiminuercemurdeseparatismeencherchedunevrit.
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ABREVIATURAS USADAS Gn. = Livro de Gnesis
x. = Livro xodo
Nm = Livro de Nmeros
Dt. = Livro de Deuteronmio
1 Sm = 1 Livro de Samuel
2 Sm = 2 livro de Samuel
J. = Livro de J
Sl. = Livro dos Salmos
Ed = Livro de Esdras
Ne = Livro de Neemias
Is. = Livro escrito pelo profeta Isaas
Ez. Livro escrito pelo profeta Ezequiel
Jn. = Livro do profeta Jonas
Ml. = Livro do profeta Malaquias
Mt. = Evangelho do Senhor Jesus, escrito pelo apstolo Mateus
Mc. = Evangelho do Senhor Jesus, escrito pelo discpulo Marcos
Lc. = Evangelho do Senhor Jesus, escrito pelo discpulo Lucas
Jo. = Evangelho do Senhor Jesus, escrito pelo apstolo Joo
At. = Livro dos Atos dos Apstolos
Rm. = Carta escrita pelo apstolo Paulo aos Crentes em Roma
1 Co. = Carta escrita pelo apstolo Paulo aos crentes da cidade de Corntios
2 Co. = Carta escrita pelo apstolo Paulo aos crentes da cidade de Corntios
Ef. = Carta escrita pelo apstolo Paulo aos crentes da cidade de feso
Cl. = Carta escrita pelo apstolo Paulo aos crentes em Colossos
1 Ts. = Primeira carta escrita pelo apstolo Paulo aos Tessalonicenses
2 Ts. = Primeira carta escrita pelo apstolo Paulo aos Tessalonicenses
Hb. = Carta escrita aos crentes Hebreus
1 Pe. = Segunda carta escrita pelo apstolo Pedro
2 Pe. = Segunda carta escrita pelo apstolo Pedro
1 Jo. = Carta escrita pelo apstolo Joo
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SUMRIO
RESUMO
RSUM INTRODUO
1 . REFERENCIAL TERICO METODOLGICO 14
1.1 Metodologia 15
1.2 Diferenas e semelhanas 18
1.3 Hermenutica e Exegese 18 2. A BBLIA: CARACTERSTICAS BSICAS 20 2.1 Sua origem 21 2.2 As tradues mais significativas da Bblia 23 2.3 Tradues judaicas 27 2.4 Tradues em lngua portuguesa 27 2.5 O cnon do Antigo Testamento 29 2.6 O cnon do Novo Testamento 31 2.7 A verso catlica para o Antigo Testamento 33 2.8 A verso evanglica para o Antigo Testamento 33 2.9 A verso judaica para o Antigo Testamento 34 3. AS RELIGIES CRISTS 36 3.1 Os espritas cristos 37 3.2 Religio catlica apostlica romana 37 3.3 Religio Evanglica reformada 38 4. VIDA APS A MORTE NO CONTEXTO DAS RELIGIES CRISTS 39 4.1 Reencarnao 40 4.2 A reencarnao no Novo Testamento 68
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4.3 A ressurreio numa perspectiva Bblica 78 5. ARGUMENTAO E COMENTRIO 118 5.1 Argumentao e Comentrio 119 5.2 Evolucionismo 119 5.3 Criacionismo 119 5.4 Jesus Deus, Jesus Homem, Jesus Esprito Santo 120 5.5 Estado intermedirio 122 CONSIDERAES FINAIS 128 REFERENCIAIS 130
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INTRODUO
Quando nos dispomos a realizar essa pesquisa sobre vida aps a morte dentro do
conceito cristo, constatamos que no estvamos caminhando solitariamente. No ano de 2006,
quando cursvamos o curso de especializao em Cincias das Religies, descobrimos a
importncia e o interesse que esse assunto despertava nos demais companheiros. Alm do
interesse, observamos a falta de trabalhos de pesquisas que fugissem da rotina religiosa e
analisassem o assunto de maneira cientfica. Deste momento em diante, passamos a estudar o
assunto de maneira cientfica e superficialmente demos os primeiros passos na monografia
apresentada na Universidade Federal da Paraba. Agora, no mestrado desta mesma entidade
educacional, procuramos nos aprofundar no assunto, indo um pouco mais alm, at onde a
pesquisa nos permitiu.
Vida aps a morte uma crena de f existente em todas as religies e sociedades
do mundo. Desde a mais remota histria da civilizao at os nossos dias, o homem vive e
morre na esperana de aps o tmulo viver uma nova vida, seja ela fsica ou espiritual. A
prpria Bblia, considerada o livro sagrado dos cristos, apresenta inmeras passagens que se
referem a uma espcie de vida alm tmulo, a qual interpretada pelos catlicos e
evanglicos como sendo uma vida gerada por Deus aps a morte fsica, chamada de
ressurreio. Os espritas possuem tambm em sua f a crena de que o homem passa por
vrios processos de vida at atingir a sua purificao, dando a esse processo o nome de
reencarnao. A questo saber qual desses estados de vida aps morte, dentro de uma anlise
Bblica, realmente alcanaremos em nossa nova vida. Esse conceito de nova vida foi
assimilado pelas religies e ento passou a ser uma espcie de dogma geral. Todos acreditam
numa vida alm morte, em que cada um segue o seu caminho de f. Reencarnao, no
conceito cristo kardecista, o processo pelo qual o esprito desencarna do corpo fsico e, em
algum momento no futuro, reencarna em outro corpo humano, fato este que ocorre quantas
vezes se forem necessrias at que o seu esprito se torne puro. S ento o processo de
reencarnao cessa e o esprito retorna a Deus. Ressurreio conceituada pelos catlicos e
evanglicos como sendo algo que acontece uma s vez. Os cristos que abraam essa doutrina
tm como dogma de f a seguinte definio: o corpo do homem ao morrer (morte fsica)
retorna ao p e seu esprito retorna a Deus. Este esprito tem dois destinos antes de retornar ao
criador. O primeiro destino para aqueles que morrerem obedecendo os ensinamentos de
Cristo, os quais ressuscitaro primeiro e sero levados ao paraso onde aguardaro o juzo
final, no qual participaro como espectadores e no como rus.
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O segundo destino est reservado para os que morrerem sem f em Cristo. O seu
corpo retorna ao p e seu esprito ser levado para o Hades. Estes no ressuscitaro com a
segunda volta de Cristo, mas sim na ltima e definitiva, para o julgamento de condenao.
Quem cr nele no condenado; mas quem no cr j est condenado, porquanto no cr no nome do unignito Filho de Deus. E a condenao esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram ms. (Jo 3.18-19)
Os estudos teolgicos que fizeram parte desse trabalho so de telogos catlicos,
protestantes e medinicos. Quanto aos catlicos mencionados, so os que acreditam nas
doutrinas defendidas pelo papado ou vaticano e que, alm da Bblia, adotam os ensinamentos
do papa por meio de suas encclicas, como a doutrina sagrada, e aceitam o papa como
representante exclusivo de Deus. Quanto aos evanglicos, adotaremos aqueles que seguem o
movimento da Reforma Protestante, entendendo por Reforma Protestante o movimento de
mudana religiosa que teve origem dentro do Clero catlico, tomando grande repercusso e se
tornando um movimento religioso mundial. Esse movimento teve incio com John Wicliffe e
John Russ, no entanto, solidificou-se com o surgimento de dois expoentes protestantes, Martin
Lutero e Joo Calvino.
Pretendemos ao terminar esse trabalho deixar um legado de dados para os que
pretendam continuar realizando pesquisas sobre esse assunto. Nosso objetivo geral
demonstrar, por meio de anlises Bblicas, as semelhanas e diferenas dos dogmas de
reencarnao e ressurreio defendidos pelas correntes teolgicas citadas em estudo.
Como objetivos especficos, verificaremos os textos na linguagem original
utilizado na escritura sagrada para possibilitar as possveis tendncias a uma ou a outra
corrente teolgica.
Diante das afirmaes protestantes, catlicas e espritas apresentaremos uma
anlise interpretativa sobre cada argumento surgido por intermdio de textos Bblicos.
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Realmente, a doutrina da vida
aps a morte pode nos dar uma luz sobre essas indagaes, resta-nos saber o que realmente
ocorre. Ressurreio ou reencarnao, como passaremos da morte para vida?
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CAPTULO 1
________________________________________________________________ REFERENCIAL TERICO METODOLOGIA
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1.1 Metodologia
Esta pesquisa tem como proposta avaliar os conceitos de reencarnao e
ressurreio dentro do universo das religies crists, tendo como base os textos Bblicos.
Segundo Durkheim (2001, p.11), Em todo trabalho de pesquisa, seja ela de campo ou
bibliogrfico como o nosso trabalho o pesquisador est submetido a novas descobertas, as
quais podem chocar a expectativa de opinies preconcebidas, inclusive a do prprio
pesquisador. Despojando-se de preconceitos e do tendencionismo, o pesquisador deve assumir
a vestidura de um cientista. E nesta vestidura cabe abertura a todas as opinies e anlises de
todos os pontos de vistas relativos ao assunto pesquisado, mesmo as quais considere
antagnicas.
Essa pesquisa se justifica pelo imenso interesse de pessoas, entre as quais o
mestrando, de entender o fenmeno vida aps a morte. A despeito do que acreditamos, ou do
que a maioria acredita, buscaremos solues para responder e preencher as lacunas existentes
dentro do questionamento sobre reencarnao e ressurreio numa viso cientfica.
Todas as pessoas vinculadas a esta questo, sejam catlicas, evanglicas ou
espritas, acreditam num estado de vida aps a morte e questionam sobre como a reencarnao
ou a ressurreio podem influenciar nesse estado ps-morte. Tal fato nos aguou a curiosidade
j na especializao e questionvamos como pessoas que confessam a mesma religio podem
crer em conceitos to diferentes? Essa foi a primeira inquietao que despertou o nosso
interesse para pesquisarmos esses assuntos.
A metodologia utilizada para esse trabalho ser a pesquisa bibliogrfica
exploratria. Usaremos livros de autores das trs correntes doutrinrias que so: catlicas,
evanglicos e espritas. Como base principal para anlise comparativa das citaes dos
autores, usaremos a Bblia nas tradues de Joo Ferreira de Almeida, Padre Antnio de
Figueiredo e Nova traduo de Jerusalm, nas seguintes verses: Bblia Hbil, Jerusalm,
Pentecostal, Genebra e a Nova Verso Internacional. Tambm utilizaremos alguns textos em
hebraico e grego, retirados de comentrios teolgicos; Tor e Bblias em hebraico (Antigo
testamento); Bblia em grego (Novo testamento); lnguas as quais, junto com o aramaico,
deram origem aos documentos mais antigos das escrituras crist e judaica. Alguns telogos
como Louis Berkoff e Erikson Millard apontam o livro de Daniel, o livro dos salmos e alguns
textos do Novo testamento como escritos em aramaico, mas devido impossibilidade de
encontrar escrituras nesse idioma, deixaremos de cit-lo no corpo da dissertao.
A busca por uma resposta a semelhana ou semelhanas existentes entre vida aps
a morte nos leva penetrar por um caminho at pouco tempo ignorado por muitos. No
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entendimento popular religioso, reencarnao um caminho e ressurreio, outro. Nosso
objeto de pesquisa mostrar os dois caminhos como se os creem nas religies crists. Ainda
nesse trabalho, acrescentaremos nas pesquisas uma nova maneira de encarar essas duas
situaes: a continuidade, ou seja, que a reencarnao precede a ressurreio. Esse terceiro
caminho se baseia na afirmao de que tanto reencarnao como ressurreio fazem parte do
mesmo universo e ambas se complementam, conforme afirma o professor Severino Celestino.
O apstolo Paulo falava vrias vezes de um corpo espiritual, impondervel incorruptvel, (1 Co 15.44) e Orgenes, discpulo de So Clemente de Alexandria, em seus comentrios sobre o Novo Testamento, afirma que esse corpo, dotado de uma virtude plstica, acompanha a alma em todas as suas existncias e em todas as suas peregrinaes, para penetrar e enformar os corpos mais ou menos grosseiros e materiais que ela reveste e que so necessrios no exerccio de suas diversas vidas. Orgenes e os pais alexandrinos, que sustentavam uns, a certeza, outros, a possibilidade de novas provas aps a aprovao terrena, propunham a si mesmo a questo de saber qual o corpo que ressuscitaria no juzo final. Resolveram-na, atribuindo a ressurreio apenas ao corpo espiritual, como o fizeram Paulo e, mais tarde o prprio Sto. Agostinho, figurando como incorruptvel finos, tnues e soberanamente geis os corpos dos eleitos (Santo Agostinho Manual cap. XXVI). (CELESTINO, 2006, p. 159).
Dentro dos objetivos levantados para o desenvolvimento do nosso trabalho de
pesquisa bibliogrfica destacamos:
1.2 Diferenas e Semelhanas.
Quais as diferenas e semelhanas que existem nesses dois dogmas to
importantes para as religies? Ou ser que ambos se completam? So perguntas como essas
que nos despertam o interesse de ir mais profundo a fim de as responder ou no mnimo
entend-las. A filosofia questiona: quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Diante
do exposto, cremos piamente que este trabalho ser de grande importncia para a Academia,
por isso, escolhermos e perseguirmos esse objetivo.
1.3 Hermenutica (do grego hermeneutike) e Exegese
Para o processo de anlise, utilizaremos duas ferramentas de grande importncia
para a nossa pesquisa bibliogrfica, a hermenutica e a exegese. Segundo Virkler,
Hermenutica a cincia e arte da interpretao Bblica. Hermenutica geral o estudo das regras que regem a interpretao do texto Bblico inteiro. Hermenutica especial o estudo das normas que regulam a interpretao de formas literrias especficas, como parbola, tipos e profecias. Exegese uma aplicao dos princpios da hermenutica compreenso do significado que o autor pretendia dar (VIRKLER, 1998, p. 188).
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O estudo de qualquer assunto compe-se de quatro fases de desenvolvimento,
diferentes entre si, mas que se completam e compem a hermenutica. Segundo Virkler,
A primeira envolve o reconhecimento de uma rea de existncia, importante e pertinente, mas inexplorada. A explorao inicial consiste em dar nome ao que ai est. Na segunda fase as tentativas visam a articular certos princpios amplos que caracterizam o campo de investigao. Oferece-se um conjunto de categorias conceituais, depois outras, medida que os investigadores tentam desenvolver sistemas conceptuais que organizem ou expliquem os dados de modo convincente e coerente. Por exemplo, sobremaneira vlido considerar as escrituras de uma perspectiva ortodoxa, neo-ortodoxa, ou liberal? Na terceira fase o foco desloca-se da elucidao dos princpios amplos para a investigao de princpios mais especficos. Os investigadores que laboram nos vrios campos tericos perseguem o estudo de princpios especficos, a despeito de poderem partir de diferentes pressuposies e discordarem quanto a qual conjunto de princpios amplos resulta no mais exato sistema conceptual. Na quarta, os princpios descobertos na segunda e na terceira fases so traduzidos para tcnicas especficas que sejam facilmente ensinadas e aplicadas ao campo que est sendo objeto de estudo. A maioria dos textos de hermenutica de que hoje dispomos parece ter como alvo primrio a elucidao de princpios prprios de interpretao bblica (terceira fase). na quarta fase a traduo da teoria hermenutica para medidas prticas necessrias interpretao de uma passagem bblica que espero entrar com a minha contribuio (VIRKLER, 1998, p. 07).
1.3.1 A Exegese
A exegese por sua vez surge no contexto histrico de diversas maneiras e em
pocas diferentes, tentando com essas mudanas uma melhor maneira de entender o que cada
passagem escrita significava para o autor na poca quando ele escreveu o texto.
a) Interpretao Judaica Antiga
Conforme cita Virkler (1998), um estudo da histria da interpretao Bblica comea,
em geral, com a obra de Esdras.
Ao voltar do exlio na Babilnia, o povo de Israel solicitou a Esdras que lhe lesse o Pentateuco. Neemias 8.8 lembra: leram (Esdras e os levitas) no livro da lei de Deus, claramente, dando explicaes, de maneira que entendessem o que se lia. Visto que, durante o perodo do exlio, os israelitas provavelmente tenham perdido sua compreenso do hebraico, a maioria dos eruditos bblicos supe que Esdras e seus ajudantes traduziam o texto hebraico e o liam em voz alta em aramaico, acrescentando explicaes para esclarecer o significado. Assim pois, comeou a cincia e arte de interpretao bblica (VIRKLER, 1998, p. 36).
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b) Exegese Patrstica (100-600 d. C)
A despeito da prtica dos apstolos, uma escola de interpretao alegrica dominou a igreja nos sculos que se sucederam. Esta alegoria derivou-se de um propsito digno o desejo de entender o Antigo Testamento como documento cristo. Contudo o mtodo alegrico segundo praticado pelos pais da igreja muitas vezes negligenciou por completo o entendimento de um texto e desenvolveu especulaes que o prprio autor nunca teria reconhecido. Uma vez abandonado o sentido que o autor tinha em mente, conforme expresso por suas prprias palavras e sintaxe, no permaneceu nenhum princpio regulador que governasse a exegese (VIRKLER, 1998, p. 43).
c) Exegese Medieval (600-1500) d. C.
Pouca erudio teve origem na Idade Mdia; a maior parte dos estudantes da bblia devotava-se a estudar e compilar as obras dos pais primitivos. A interpretao foi amarrada pela tradio, e o que se destacava era o mtodo alegrico. O sentido qudruplo da escritura engendrado por Agostinho era a norma para a interpretao bblica. Esses quatro nveis de significao, expressos na seguinte quadra que circulou durante este perodo, eram tidos como existentes em toda passagem bblica. 1 A letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram; 2 A alegoria mostra-nos onde est oculta a nossa f. 3 O significado moral d-nos as regras da vida diria. 4 A analogia mostra-nos onde terminamos nossa luta. (VIRKLER, 1998, p. 46)
d) Exegese da Reforma (Sculo XVI)
No sculo XV e XVI predominava profunda ignorncia concernente ao contedo da Escritura: alguns doutores de teologia nunca havia lido a bblia toda. A Renascena chamou a ateno para a necessidade de conhecer as lnguas originais a fim de entender-se a bblia. Erasmo facilitou esse estudo ao publicar a primeira edio de critica ao Novo Testamento grego, e Reuchlin com sua traduo de uma gramtica e lxico hebraicos. O sentido qudruplo da Escritura foi, aos poucos, deixado de lado e substitudo pelo princpio de que a Escritura tem apenas um nico sentido (VIRKLER, 1998, p. 48).
e) Exegese de Ps-reforma (1550-1800)
O conclio de Trento reuniu-se em vrias ocasies de 1545 a 1563 e elaborou uma lista de decretos expondo os dogmas da igreja catlica romana e criticando o protestantismo. Os protestantes reagiram com o desenvolvimento de credos que definam sua posio. A certa altura, quase todas as cidades importantes tinham seu credo predileto, com a predominncia de amargas controvrsias teolgicas. Os mtodos hermenuticos durante este perodo amide eram deficientes porque a exegese se tornou uma criada da dogmtica, e muitas vezes degenerou-se em mera escolha de texto para comprovao. Ao descrever os telogos daquela poca. Ferrar diz que eles liam a bblia luz do fulgor antinatural do dio teolgico (VIRKLER, 1998, p. 49-50 ).
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f) Exegese moderna (1800 at ao Presente)
O racionalismo filosfico lanou a base do liberalismo teolgico. Ao passo que nos sculos anteriores a revelao havia determinado o que a razo devia pensar, no final do sculo XIX a razo determinava que partes da revelao (se houver alguma) deviam ser aceitas como verdadeiras. Onde nos sculos anteriores a autoria divina da Escritura fora acentuada, agora o foco era sua autoria humana. Schleirmacher, fora alm, negando totalmente o carter sobrenatural da inspirao. Tambm aplicou-se a bblia um naturalismo consumado. Os racionalistas alegavam que tudo o que no estivesse conforme mentalidade instruda devia ser rejeitada. Isso inclua doutrinas como a depravao humana, o inferno,o nascimento virginal,e, com frequncia, at a expiao vicria de Cristo (VIRKLER, 1998, p. 51- 52).
Devido a todas estes princpios interpretativos que atravessaram sculos, vemos que
atravs da histria, destacou-se um segundo conjunto de pressupostos e mtodos que uniram
em si mesmos vrias formas. A parte principal dessa nova metodologia era que o significado
de um texto se descobre, no pelos mtodos geralmente empregados para entender-se a
comunicao entre pessoas, mas pelo uso de alguma chave interpretativa especial. O resultado
colhido com o uso dessa nova metodologia interpretativa tem sido dar o significado do leitor
ao texto (eisegese), em vez de simplesmente extrair do texto o significado dado pelo seu autor
(exegese) (HENRY, 1998, p. 59).
Os exemplos dessas chaves interpretativas incluram: alegorismo judaico cristo, a
exegese medieval qudrupla, o letrismo e a numerologia dos cabalistas. Segundo o professor
Severino Celestino,
Para os rabinos, anlise oriental, existem quatro categorias bsicas de interpretao da bblia. Eles utilizam a palavra Pards que de origem persa, e usada na literatura hebraica para significar jardim ou pomar e posteriormente paraso. As quatro consoantes desta palavra (p-r-d-s) so usadas como mnemnica das quatro categorias de interpretao Bblica, como segue abaixo. 1 Peshat o significado simples e muitas vezes literal, correspondente realidade histrica, ao significado objeto, bvio e comum. 2 Remez o significado alegrico, oculto nas entrelinhas do texto, examinado no seu sentido mais profundo, como se fosse composto de smbolos alusivos a novos significados. Esses dois caminhos de entendimento (Peshat e Remez) cuidam do interior da Tor, j que ocultam mais do que revelam. 3 Derush o significado moral, midrxico ou homiltico, que analisa o texto, interpretando-o com intuito pedaggico e tico de ensinamento, para aplic-los s circunstncias. Derush provem do verbo hebraico exigir (lidrosh), encerra uma busca, pela qual o homem exige um significado mais profundo do texto do que nas perspectivas anteriores. 4 Sod o significado esotrico, que interpreta o texto no seu sentido pretensamente oculto, secreto ou mstico e cabalstico. Sod significa segredo (CELESTINO. 2006, p. 61-62).
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CAPTULO 2
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A BBLIA: CARACTERSTICAS BSICAS
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2.1 Sua origem
A origem da Bblia de uma maneira geral atribuda aos manuscritos judaicos que
foram espalhados por todas as regies do Oriente. So unnimes, as opinies dos telogos e
historiadores de que a Bblia foi originalmente escrita em trs idiomas, a saber: hebraico,
aramaico e o grego. O hebraico e o aramaico esto presentes no Antigo Testamento, em que o
hebraico participa em maior quantidade de livros. O grego, hebraico e o aramaico esto
presentes nos livros do Novo Testamento, nesse caso, o grego predomina, ficando algumas
suposies para o hebraico, possivelmente no evangelho escrito por Mateus, e o aramaico,
provavelmente como fragmentos de alguns livros.
2.1.1 As Lnguas que formaram a Bblia
a) Hebraico
Segundo CELESTINO (2006, p. 39), O hebraico uma lngua semtica, que
pertence a uma grande famlia de lnguas, todas aparentadas umas as outras e todas formando
a maioria de suas palavras, a partir de um radical (xrexe) constitudo de trs consoantes. O
hebraico foi a lngua utilizada para a escrita do Antigo Testamento, ressalvando o caso dos
livros de Daniel e Esdras que foram escritos em aramaico. A Bblia foi escrita em um hebraico
conhecido como hebraico consonantal, s com consoantes, ou seja, sem sinais de
vocalizao. Os sinais de vocalizao que substituem as vogais so conhecidas como
massorretas.
O hebraico na sua origem um dialeto cananeu. No se sabe ao certo quando essa
lngua realmente comeou a ser praticada, o que temos de concreto, segundo os historiadores
e os telogos, o fato de que at 1974 os mais antigos testemunhos para esse idioma
encontravam-se nos registros de Ugarite e Amarna, datados dos sculos XVI e XV a.C.
Porm, a grande descoberta sobre a origem do hebraico foi realizada entre 1975 e 1976.
Foram encontrados aproximadamente 17 mil tabuinhas de argila em Tell Mardik (antiga
Ebla), ao norte da Sria. Esses achados remontam poca de 2400 a.C. Segundo os
pesquisadores e os eruditos, esse achado a chave para a origem do hebraico. Tratam-se de
escritos em antigo idioma cananeu, muito semelhante ao hebraico utilizado pelos judeus.
(CONFORT, 2003, p. 246).
Hoje sabemos que o hebraico uma lngua do grupo semtico que era praticada no
mar mediterrneo, s montanhas do leste do vale do rio Eufrates e da Armnia (Turquia), ao
norte, extremidade sul da pennsula arbica. As lnguas semticas so classificadas em
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meridional, oriental e setentrional, sendo esta ltima a que deu origem as lnguas bblicas,
aramaico e hebraico.
b) Aramaico Arameu - Aram
uma lngua dos arameus, povo que habitava a antiga Sria (Aram). Trata-se de
uma lngua Semtica norte-ocidental estreitamente relacionada com o hebraico. Em
semelhana, o aramaico est para o hebraico assim como o espanhol est para o portugus.
Podemos considerar este idioma como sendo uma lngua secundria no Antigo Testamento. O
encontramos nos livros: Daniel 2.4 7.28; Esdras 4.8 6.18, 7.12-26; Gnesis 31.47;
Jeremias 10.11. A passagem do livro da Gnesis relata um dilogo entre Jac e Labo, ambos
fizeram referncia ao mesmo memorial, s que em seus idiomas, aramaico e hebreu.
Linguisticamente esses dois idiomas so muito parecidos na estrutura. Na Bblia a
semelhana se torna maior, pois o aramaico escrito com os mesmos caracteres usados no
hebraico. O aramaico se trata de um idioma com a vida mais longa existente. Era usado no
perodo conhecido como patriarcal na Bblia.
No tempo em que Jesus aqui esteve, o idioma comercial era o aramaico e at os
nossos dias esse idioma bastante falado por alguns povos. A origem do aramaico
desconhecida. No se sabe na histria da humanidade de um reino que o tenha adotado como
idioma oficial. Como testemunho Bblico da sua utilizao por outros povos, temos a
passagem de 2 Reis 18.26. O aramaico se tornou, ainda, a lngua comercial no perodo Persa
e bem provvel que os judeus do cativeiro babilnico tenham adotado esse idioma como
lngua popular. O que justifica, no livro de Neemias (13.24), a preocupao com o desuso da
lngua hebraica pelos judeus. No obstante, notrio que os judeus praticavam essa lngua
nos tempos de Jesus e dos apstolos.
Segundo Confort (2003, p. 257), As escrituras hebraicas foram traduzidas em
parfrases aramaicas, chamadas targuns, alguns dos quais foram descobertos entre os Rolos
do Mar Morto.
c) Grego
A lngua grega considerada uma das mais belas e harmoniosas, possuindo
caractersticas prprias que a tornam muito importante. Ela transmitia, em si, uma cultura
especial atravs dos seus filsofos, poetas e grandes oradores. No perodo de dominao dos
gregos, por intermdio de Alexandre, o Grande, o idioma grego se tornou universal e a cultura
helnica se espalhou por todas as regies conhecidas. Esta lngua a dominante nos originais
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do Novo Testamento.
No podemos traar uma linha firme e legvel sobre a origem desse idioma. O que
podemos dizer que h indcios histricos a afirmar que embora os antecedentes da lngua
grega sejam desconhecidos, os primeiros traos que poderia ser chamado de antecedentes do
grego antigo aparecem em documentos micnicos e minoanos. Esta lngua originria
apresenta-se em uma escrita silbica encontrada em tabuinhas de argila descobertas na ilha
de Creta e no Continente grego (1440-1200 a. C)(Confort, 2003, p. 259).
A civilizao micnica desapareceu rapidamente junto com a sua escrita aps
sofrer um grande golpe com a invaso dos drios (1200 a.C.). S no sculo VIII a. C.
surgiram novas descobertas sobre o idioma grego, agora enriquecido com misturas de outros
idiomas principalmente o dos fencios. O idioma grego, a princpio, era escrito da esquerda
para direita e da direita para a esquerda na linha seguinte, como as lnguas semticas orientais,
depois mudou para a forma hoje utilizada, da esquerda para a direita. Com a expanso da
cultura e do idioma grego, surgiram as adaptaes regionais para esse idioma e surgiu o grego
koin. A nova lngua mais simples e popular tornou-se com facilidade uma lngua de aceitao
geral no comrcio e na diplomacia.
2.2 As Tradues Mais Significativas da Bblia
Podemos definir tradues como sendo o processo que permite a uma pessoa
retirar algo escrito ou verbalizado numa lngua desconhecida que se daria o nome de lngua
original e torn-lo entendvel em outra que seria denominada de lngua receptora. Esse
processo passa obrigatoriamente por quatro mdulos de estudo que so: exatido, quando o
modo de traduzir permite ao receptor receber a mesma mensagem que o autor primitivo
escreveu; adaptao, maneira pela qual buscamos a interpretao que reflita a inteno e
atitude do autor primitivo; naturalidade, que significa traduzir um texto de maneira que o
autor sinta o reflexo na sua lngua de maneira exata, como ele prprio usaria, de maneira que
se possa ler pelo seu significado; a forma, passa ao receptor o modo pelo qual o original foi
escrito e retratado, de modo que no seja distorcido, devendo traduzir o texto com exatido,
no que for possvel.
2.2.1 A Septuaginta
Com o domnio do idioma grego imposto ao mundo pelo grande conquistador
Alexandre da Macednia, e que, na poca de Cristo, ainda era quase que universal, sentiu-se a
necessidade de uma nova traduo dos escritos sagrados do judasmo para esse idioma
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dominante. Surgiu a verso dos setenta, que pode ser chamada de verso dos 72 escribas
tradutores que utilizando os originais hebraicos escreveram o Antigo Testamento em grego.
Esse fato ocorreu entre 285 e 150 a. C., em Alexandria, no Egito. Esta nova roupagem foi de
grande importncia para os que viveram no perodo pr-messinico como para os cristos
gregos e judeus da poca de Jesus. O dialeto grego-judaico do Antigo Testamento , por
vezes, conhecido em passagens que encontramos nos escritos do Novo Testamento. bem
provvel que Jesus ao citar as passagens do Antigo Testamento as citava da verso hebraica,
que era a lngua considerada divina pelos judeus tradicionais. Paulo e os demais cristos da
disperso utilizavam a verso da Septuaginta, que era bastante conhecida na poca de Cristo.
Os livros e cartas dos apstolos e discpulos tambm foram escritos no idioma grego, com
exceo do evangelho escrito por Mateus, escrito em hebraico, por ser intencionalmente
dirigido aos judeus, pois tinha como objetivo demonstrar que as antigas profecias messinicas
foram cumpridas em Jesus, o Cristo. J no evangelho de Joo, a utilizao do grego notria
e demonstra que esse apstolo possua um grande conhecimento desse idioma.
Para os judeus tradicionais, versionar a Escritura Sagrada da lngua santa hebraico
para outra lngua qualquer, nesse caso o grego era uma afronta muito grande ao prprio Deus.
Segundo Celestino (2006, p.45 - 46), o Talmude comenta que:
O dia da traduo foi to doloroso quanto o dia em que o bezerro de ouro foi construdo, pois a Tor no poderia ser acuradamente traduzida. Alguns rabinos disseram que as trevas cobriram a terra por trs dias quando a LXX (Setenta ou Septuaginta) foi escrita.
Para os judeus que viviam em Alexandria, a viso era outra, eles tinham a
necessidade de ter as escrituras em suas mos num idioma que eles dominassem totalmente,
isso somado a necessidade de ter na famosa biblioteca de Alexandria um exemplar desse
precioso livro.
2.2.2 A vulgata
A vulgata a verso da Bblia traduzida diretamente do grego para o latim. Esta
verso foi realizada por So Jernimo a pedido do papa Damaso I, entre 382 e 404 d.C. H
vrias tentativas de definir a palavra vulgata, uns dizem que se trata de uma verso
vulgarizada, outros dizem que a palavra quer dizer: divulgada, espalhada. A verso
realizada por Jernimo s recebeu esse nome no sculo XIII:
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A septuaginta s contm os livros da primeira aliana (Antigo Testamento). O Novo Testamento em grego no acoplado septuaginta, s existindo em separado. Assim, quem quiser possuir a Bblia completa, em grego, tem que possuir a Septuaginta e o Novo Testamento em grego. So Jernimo fez exatamente isto, traduziu e uniu o Antigo ao Novo Testamento numa s obra, do grego para o latim. (CELESTINO, 2006, p. 54)
2.2.3 Tradues para a lngua inglesa
O evangelho dos apstolos e discpulos de Cristo, por muito tempo, ficaram
reduzidos ao oriente e a Roma. Com as grandes investidas catlicas, a Bblia ganhou espao
tambm na Europa. No sculo VI, a Bblia, na traduo conhecida como vulgata latina,
chegou s mos dos monges, que liam o contedo na lngua original e traduziam para os
ouvintes sem quaisquer questionamentos. Devido ao crescimento do nmero de mosteiros, os
monges passaram a ter dificuldades para atender a tanto questionamento, da surgiu
necessidade de uma traduo na lngua local.
A primeira traduo na lngua inglesa que temos notcia foi a produzida pelo
monge Cedon, que analisou parte do Antigo e do Novo Testamento. Mais tarde, surge o
monge Bede, que traduziu os evangelhos. J a terceira traduo no vem de um monge, mas
de um cristo muito interessado em conhecer as sagradas escrituras crists. Foi o rei Alfredo,
o Grande (871-899), que traduziu os salmos e parte do xodo, onde se encontram os dez
mandamentos. O rei Alfredo incluiu em sua lei parte dos dez mandamentos.
Outras tradues se seguiram, mas todas originadas da vulgata latina. Vale
destacar as tradues do Abade lfrico (955-1020), de Eynsham, Inglaterra, que traduziu
vrios textos da Bblia, dois destes ainda existentes em nosso tempo. Aproximadamente no
XIV, surgem as verses de William de Shoreham e Richard Rolle, que traduziram os salmos,
sendo que Richard fez a traduo acrescida de comentrios versculo por versculo. Essas
verses j eram bastante divulgadas quando surgiu na histria o primeiro tradutor completo da
Bblia, o eminente telogo chamado de John Wycliffe.
2.2.4 A Bblia John Wycliffe (1329 1384)
John Wycliffe traduziu a Bblia totalmente do latim para o ingls. Wycliffe
acreditava que para deter os abusos da igreja catlica o melhor meio era fazer a Bblia ser
acessvel a todo cidado, para que o conhecimento estivesse ao alcance de todos. Era
conhecido como Estrela da manh da Reforma. Este eminente padre e telogo possua uma
associao que junto com ele elaboraram um trabalho minucioso para traduzir toda a Bblia.
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Em 1380, conclura toda a traduo do Novo Testamento, e em 1382, o Antigo Testamento.
Podemos atribuir a este homem a grandiosa e pioneira tarefa de pregar o evangelho a toda
Inglaterra no seu prprio idioma. Para esse feito, Wycliffe doutrinou um grupo de
paroquianos pobres conhecidos como Lolardos.
2.2.5 A Bblia de William Tyndale
William Tyndale nasceu na poca da renascena, graduou-se em 1515, pela
Universidade de Oxford, onde adquiriu conhecimento do grego e do hebraico. Teve de fugir
da Inglaterra devido aos trabalhos de traduo que realizava. Na Alemanha, conseguiu um
local de paz para dar continuidade aos seus trabalhos. Em 1525, concluiu a sua traduo do
Novo Testamento. Seus escritos foram contrabandeados para a Inglaterra, ao essa que lhe
custou vida. Em 1535, Tyndale foi detido e levado para um castelo em Bruxelas, onde viveu
por mais um ano. Foi sentenciado a morte em 6 de outubro de 1536, sendo estrangulado e
queimado na fogueira. Tyndale antes de morrer conclura uma boa parte da traduo do
Antigo Testamento, o Pentateuco, Jonas e alguns livros histricos. Um dos seus associados,
Miles Coverdales, deu continuidade a seus trabalhos.
2.2.6 A traduo de Miles Couverdales
Companheiro de Tyndale, Miles Couverdales foi graduado em Cambridge, tal qual
o seu mestre. Terminou sua traduo no ano de 1537, ano do rompimento do rei Henrique
VIII com a igreja catlica. Esse fato favoreceu a Coverdales, que teve a sua traduo para o
ingls oficializada pelo referido rei, o qual mandara execuo seu mestre, Tyndale.
2.2.7 A traduo de Genebra
No reinado de Maria I da Inglaterra (1553 - 1558), muitos eruditos ingleses
fugiram para Genebra na Sua, onde Joo Calvino e Theodore Beza exerciam uma grande
liderana espiritual e tambm secular. Dentre os eruditos, destacamos William Whittingham
que liderou uma grande equipe para traduzir fielmente o livro Santo para a lngua inglesa, a
qual foi batizada como Bblia de Genebra. Os seus maiores colaboradores foram Miles
Coverdale, Christopher Goodman, Gilby Anthony, Thomas Sampson e Willian Cole. Coube a
Whittingham, contudo, a responsabilidade direta da traduo do Novo Testamento, que foi
concludo e publicado em 1557. Goodman Gilby trabalhou incessantemente na traduo do
Antigo Testamento. O trabalho foi longo e cauteloso, s em 1579 se imprimiu na Esccia o
que chamamos hoje de Bblia de Genebra.
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A transcrio para o ingls foi substancialmente baseada nas tradues feitas por
William Tyndale e Miles Coverdale (80-90% dos textos do Novo Testamento da Bblia de
Genebra so de Tyndale). No entanto, a Bblia de Genebra foi a primeira verso ingls em que
todo o Antigo Testamento foi traduzido diretamente do hebraico (cf. COVERDALE, Bblia de
Mateus). O prefcio dessa edio era baseado nos ensinamentos de Joo Calvino, o mais
eminente telogo reformador da poca.
2.2.8 A King James Version
O rei da Esccia, Tiago VI, tornou-se rei da Inglaterra e seu nome passou a ser
James I. No satisfeito com os conflitos existentes entre os que usavam a verso de Genebra e
a verso do Bispo, convocou vrios clrigos puritanos e luteranos para realizar uma nova
verso que agradasse a todos. Essa nova verso foi encabeada pelo puritano John Reynolds,
reitor da universidade de Corpus Cristi na Inglaterra. Em 1607, mais de cinquenta ilustrados
em hebraico e grego deram incio ao novo trabalho. Alm dos textos originais consultaram
tambm as verses de Wycliffe, Tyndale, Rogers, Coverdales, a Bblia Grande e a Bblia de
Genebra. Essa nova verso o que h de mais completo na obra inglesa com referncia a
Bblia, ela reuniu o melhor que existia na poca em um s trabalho.
2.3 Tradues Judaicas
Devido ao zelo existente pelos eruditos judaicos e a no aceitao do Novo
Testamento como literatura inspirada por Deus, as verses desses religiosos para o portugus
s surgiram no sculo XX. A sociedade para publicaes judaica deu o primeiro passo quando
produziu a verso chamada The Holy Scriptures According the Masoretic Text (1917). A
traduo conhecida como New Jewish Version foi publicada em 1962 e sofreu a sua primeira
reviso em 1973. Essa traduo traz em si uma linguagem voltada para o ingls moderno. O
interesse dos tradutores era construir uma nova verso que transmitisse a mesma mensagem
ao homem de hoje como o original transmitia ao homem dos tempos de publicao desses
originais (KUBO e SPECHT, So Many Versions, p.108).
2.4 Tradues em Lngua Portuguesa
H indcios de vrios fragmentos escritos na lngua portuguesa. Coube a D. Diniz,
rei de Portugal (1279-1325), o ttulo de primeiro tradutor da Bblia para o idioma de Portugal.
Ele utilizou a vulgata para este fim, porm s conseguiu traduzir os vinte primeiros captulos
de Gnesis. D. Joo I (1385-1433), sucessor de D. Diniz, deixou-nos o livro de Atos dos
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Apstolos e as epstolas de Paulo em portugus (Crnica de D. Joo I, 2 Parte). Tambm
tivemos tradues feitas por. D. Joo I que traduziu o livro dos salmos. A infanta D. Filipa,
neta do rei D. Joo I e filha do infante D. Pedro, traduziu do francs (para o portugus) os
quatro evangelhos. O primeiro trabalho harmonioso realizado na lngua portuguesa tem como
autor o cronista Valentin Fernandes que teve seu trabalho custeado pela rainha D. Leonora,
esposa de D. Joo II.
2.4.1 A traduo de Joo Ferreira de Almeida
Nascido em 1628, em Torre de Tavares, nas vizinhanas de Lisboa. Conhecedor do
hebraico e do grego bizantinos, Joo Ferreira de Almeida, em 1676, concluiu a traduo do
Novo Testamento. Devido a problemas de reviso, o seu trabalho s foi publicado em 1681,
na Holanda. Aps a publicao do Novo Testamento, Almeida deu incio traduo do Antigo
Testamento, sem conclu-la. Sua traduo alcanou at o livro de Ezequiel, captulo 41, verso
21. Almeida faleceu em 6 de agosto de 1691. O seu trabalho foi concludo pelo pastor
Jacobuso op den Akker, da Batvia, no ano de 1753. A Bblia de Almeida foi publicada
inteiramente em 1819, sob os auspcios da Sociedade Bblica Britnica e Estrangeira.
2.4.2 A Traduo do padre Antnio Pereira de Figueiredo
Antnio Pereira de Figueiredo nasceu em Tomar, nas proximidades de Lisboa, no
dia 14 de fevereiro de 1725. Seu trabalho foi diretamente extrado da vulgata, no qual passou
18 anos de sua vida para realizar essa tarefa. A primeira edio do Novo Testamento, em seis
volumes, foi publicada em 1778. O Antigo Testamento foi publicado entre 1783 e 1790, em
17 volumes. O reconhecimento veio em 1821, quando sua obra foi totalmente concluda e
publicada, com o apoio da igreja catlica romana e pela rainha D. Maria II. Figueiredo, como
bom catlico, incluiu no seu Antigo Testamento os livros apcrifos aprovados no conclio de
Trento, em 8 de abril de 1546.
2.4.3 A traduo de Matos Soares
Na verso de Matos Soares, publicada em 1930, usou-se os originais da vulgata.
Ele recebeu total apoio do Vaticano ao documento publicado em 1932. Era uma Bblia que
continha notas explicativas que defendiam os dogmas catlicos.
2.4.4 Reviso da Traduo de Almeida
Em 1948 foi criada a Sociedade Bblica do Brasil, cujo objetivo era divulgar a
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palavra santa por todo o pas no nosso idioma. Utilizando manuscritos gregos com melhor
qualidade, realizaram duas revises nos escritos de Almeida e publicaram duas novas
atualizaes. A primeira foi denominada de Edio Revista e Atualizada (que contm maior
profundidade de pesquisa), e a corrigida. Em 1967, a Imprensa Bblica Brasileira publicou a
verso Revisada utilizando os melhores textos gregos e hebraicos. Essa nova verso apresenta
uma forma de estilo agradvel ao leitor e um profundo conhecimento do idioma grego
utilizado no Novo Testamento.
2.4.5 Nova Verso Internacional
Eruditos em grego, hebraico, aramaico e portugus trabalharam em uma nova
traduo para a lngua portuguesa, sob a orientao e patrocnio da Sociedade Bblica
Internacional. A sua verso para o Novo Testamento foi publicado em 1993, sob o ttulo de
Nova Verso Internacional (N.V. I). Os crticos modernos a consideram a mais fiel das verses
em portugus hoje em circulao.
2.4.6 Bblia de Jerusalm
Esta verso tem origem numa edio francesa Bible de Jrusalem que foi
traduzida dos originais gregos e hebraicos. A reviso francesa, de 1998, acabou gerando a
nova edio, desta feita, na lngua portuguesa que ficou conhecida como Nova Bblia de
Jerusalm, revista e atualizada, pela mesma Paulus Editora, em 2002. Nesta traduo dos
originais para a lngua portuguesa, tambm colaboraram exegetas catlicos e protestantes. O
nome Bblia de Jerusalm tem origem no trabalho realizado na Escola Bblica de Jerusalm1
(cole Biblique de Jerusalm). A traduo segue rigorosamente os originais, com a vantagem
das introdues e notas cientficas.
2.5 O Cnon do Antigo Testamento
A palavra cnon tem origem no idioma grego (kanon), que significa regra, lista ou
um padro de medida. Com relao Bblia, diz respeito aos livros que para os religiosos da
poca atendiam aos padres institudos pelos judeus e, no caso do Novo Testamento, pela
igreja primitiva. Desde os primrdios da religio judaica, sempre existiu a questo dos livros
apcrifos. Esses livros para os judeus ortodoxos da poca no pertenciam inspirao divina
1 A Escola Bblica de Jerusalm o mais antigo centro de pesquisa bblica e arqueolgica da Terra Santa. Foi fundada em 1890 pelo Padre Marie-Joseph Lagrange (1855-1938)
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e sim a uma histria cultural de um povo. Mas, vale salientar que os livros hoje considerados
sagrados tambm j tiveram seus dias de apcrifos. Os samaritanos rejeitavam todos os livros
do Antigo Testamento, com exceo do Pentateuco. No segundo sculo antes de Cristo,
surgiram, no contexto literrio do judasmo, vrios livros de literatura apocalptica, os quais
foram aceitos em algumas culturas como livros inspirados por Deus em outras no. A
literatura rabnica relata que os livros Ezequiel, Provrbios, Cantares, Eclesiastes e Ester,
tambm foram rejeitados por alguns eruditos neste mesmo sculo (CONFORT, 2006, p. 69).
A questo dos apcrifos no era de grande importncia at que surgiram, no
contexto religioso cristo, os reformadores. Estes foram os primeiros a negar a inspirao
divina de alguns livros. O Antigo testamento fora adotado segundo os parmetros judaicos, s
que arrumados de forma diferente. Os judeus possuem 22 ou 24 livros por causa de algumas
unificaes como Jeremias e Lamentaes que no original compe um livro na verso catlica
e evanglica so separados em dois livros. Ressaltamos que os livros considerados apcrifos
no foram banidos da leitura dos evanglicos, apenas so considerados por esses como livros
edificantes, mas no inspirados.
A origem dos livros apcrifos deve-se aos judeus de Alexandria. Estes
acrescentaram em sua verso alguns livros que em outras verses no existiam. Esse fato
explica a questo dos apcrifos na Bblia da verso catlica j que a traduo para o latim
ocorrida no II sculo d.C, por Jernimo, conhecida como vulgata do seu Antigo Testamento,
foi extrado diretamente dessa verso grega. A vulgata latina foi utilizada durante vrios
sculos na Europa ocidental, at o perodo conhecido como Reforma Protestante. A igreja
Catlica Romana acatou a incluso dos apcrifos no Conclio de Trento, em 1546 d.C. Os 14
livros constam na verso de Matos Soares da Bblia Catlica romana. So eles: 1 e 2 Esdras,
Tobias, Judite, O resto de Ester, A sabedoria de Salomo, Eclesistico, Baruque, O Cntico
dos trs moos, A histria de Susana, Bel e o drago, A orao de Manasss, 1 e 2
Macabeus. Porm as verses atuais utilizadas pela igreja catlica romana obedecem ao
mesmo critrio adotado pelo padre Figueiredo que colocou em sua verso apenas sete destes
livros (HALLEY, 1993, p. 358-359).
No perodo patrstico, havia muita dvida entre os cristos se realmente os livros
apcrifos das Bblias gregas e latinas deveriam ser considerados inspirados. O impasse teve
fim com a Reforma Protestante. A Reforma reconheceu a importncia desses livros, mas no
os classificou como livros inspirados por Deus. Deste momento em diante, a circulao da
Bblia tomou um novo rumo. Passamos a ter: a Bblia catlica e a Bblia evanglica. A
igreja Ortodoxa Oriental, que por um tempo esteve dividida entre os dois argumentos,
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ultimamente tem um crescente apoio verso protestante. Beckwith (2003, p. 70), analisando
a histria do Antigo Testamento, no encontra uma disputa acirrada sobre o que e o que no
inspirado. Os judeus aceitavam e julgavam a veracidade exposta pelos profetas, rejeitando-
as ou acatando-as. Podemos verificar tal manifestao na prpria Bblia. E tomou o livro do
concerto, e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: tudo o que o Senhor tem falado
faremos e obedeceremos Bblia Pentecostal (1995, p.155).
2.5.1 As fases do cnon.
O primeiro livro a ser aceito como inspirado por Deus, muito antes de Cristo, foi o
Pentateuco, tanto pelos judeus como pelos samaritanos. Podemos distinguir alguns motivos
para to grande aceitao. a) - A antiguidade do livro. b) - A divulgao verbal e escrita em
vrias regies e com pouqussima variao. c) - A atribuio da autoria do livro a uma s
pessoa pelo menos em 99% do livro. d) Foi traduzido para o grego no III sculo a.C., sendo a
primeira poro da Septuaginta. e) - Desde os meados do II sculo, este livro totalmente
considerado inspirado e aceito como tal por todas as comunidades. Acredita-se que o cnon do
antigo testamento j estava bastante definido aps o cativeiro da Babilnia. Os primitivos pais
da igreja crist utilizavam em grande escala a traduo da Septuaginta e as antigas tradues
em latim, verses essas de fora da Palestina e da Sria. Podemos ento distinguir dois cnons
existentes na poca: um extenso e um reduzido. O mais extenso contm em si os livros
existentes antes de Jesus, inclusive os apcrifos. O reduzido se restringe aos livros existentes
acolhidos pelos judeus, que para eles so os nicos inspirados por Deus. Assim os
consideravam, escritores como: Melito, Orgenes, Epifnio e Jernimo. O prprio Jesus
aprova o cnon judaico quando os cita no Novo Testamento. O que aconteceu no incio do
cristianismo notrio: Jesus passou para seus apstolos e discpulos como escritura sagrada o
que realmente era aceito pelo cnon judaico, ou seja, o Antigo Testamento que existe nos
nossos tempos, sem o acrscimo dos apcrifos.
2.6 O Cnon do Novo Testamento
Comparando o tempo de concluso do Antigo Testamento com o Novo, vemos
uma disparidade muito grande. Para se ter uma definio dos livros do Antigo Testamento,
decorreram-se aproximadamente 1000 anos, formando a coleo que hoje conhecemos como
livros sagrados do judasmo e o Antigo Testamento da Bblia crist, encerrando o cnon
judaico.
O Novo testamento, porm, levou aproximadamente 50 anos para ser concludo. A
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polmica existente quanto questo de livros apcrifos, no afetou profundamente o cnon do
Novo Testamento. Isso no significa que no haviam surgido alguns livros de origem
duvidosa. Pelo contrrio, vrios foram sugeridos para fazerem parte desse cnon, mas ficaram
de fora. Tambm podemos ressaltar a igualdade de livros e de contedos existentes nos livros
do Novo Testamento publicados pela Igreja Catlica e pela Igreja Evanglica. No existe
discordncia nesse assunto entre as duas ramificaes crists, que h muito tempo vem se
digladiando com relao aos apcrifos do Antigo Testamento.
Tertuliano, um grande escritor que viveu no sculo III d.C., foi o primeiro a titular
os escritos dos apstolos como um Novo Testamento. Do ponto de vista histrico, o
procedimento para a canonicidade dos livros do Novo Testamento era simplesmente a
aprovao dos apstolos ou dos discpulos mais prximos destes, ou, em terceiro caso, a
aprovao da igreja primitiva (primeiro sculo).
2.6.1 O Novo Testamento como a Palavra de Deus.
Para assegurar a veracidade do Novo Testamento como Livro inspirado por Deus,
tal qual se acredita ser o Antigo Testamento, e convencer que eles devem fazer parte do
mesmo cnon sagrado, os cristos apresentam alguns argumentos. Muitos afirmam que o
apstolo Pedro estava colocando os escritos de Paulo na mesma categorial espiritual dos livros
do Antigo Testamento.
Tenho em mente que a pacincia do nosso Senhor significa salvao, como tambm o nosso amado irmo Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contm algumas coisas difceis de entender, as quais os ignorantes e instveis torcem, como tambm o fazem com as demais escrituras, para a prpria destruio deles. (2 Pe 3.15- 16).
O apstolo Paulo em sua carta ao seu filho na f, Timteo, faz uma afirmao que
une a frase do Antigo e do Novo Testamento, colocando ambas num s patamar espiritual,
como se uma fosse complemento da outra. Porque diz a escritura: No atars a boca ao boi
quando debulha. E digno o obreiro do seu salrio (1 Tm 5.18). A primeira parte da citao,
Paulo a colheu do Velho Testamento: No atars a boca ao boi quando debulha (Dt 25.4).
Mas a segunda parte do verso encontrada no Novo Testamento, em que a citao feita por
Jesus. Ficai na mesma casa comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno o obreiro
do seu salrio (Lc 10. 7). Podemos concluir, por meio das passagens apresentadas, que
tambm o Novo Testamento aparece como sendo inspirado por Deus. Da unio do Antigo
Testamento com o Novo Testamento forma-se o cnon sagrado. Baseado nestes versculos, os
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cristos seguem a mesma concluso do apstolo Paulo: Toda escritura inspirada por Deus.
2.6.2 Mudanas Importantes
A Bblia, como conhecemos nos nossos dias, apresenta vrias mudanas em
relao aos manuscritos mais antigos. Essa diferena no se trata de contedo, mas de
organizao. A Bblia catlica tem uma forma organizacional que difere da Bblia utilizada
pelos evanglicos. Os catlicos conservam os livros apcrifos desde a vulgata e devido a isso
o seu Antigo Testamento possui 46 livros. Enquanto os evanglicos acompanham o raciocnio
dos reformadores e excluem do seu livro sagrado os sete apcrifos existentes na verso
romana. Os judeus possuem os mesmos livros existentes no Antigo Testamento cristo
adotado pelos reformadores, porm em quantidade diferente, pois alguns livros so
apresentados como complemento de outros.
2.7 A Verso catlica para o Antigo Testamento
a) Pentateuco Gnesis, xodo, Levtico, Nmeros e Deuteronmio.
b) Livros Histricos Josu, Juzes, Rute, Samuel livros I e II, Reis livros I e II,
Crnicas livros I e II, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester e Macabeus livros I e II.
c) Livros sapienciais J, Salmos, Provrbios, Eclesiastes, Cantares, Sabedoria,
e Eclesistico.
d) Livros profticos Isaas, Jeremias, Lamentao de Jeremias, Baruque,
Ezequiel, Daniel, Osias, Joel, Ams, Obadias, Jonas, Miquias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Os livros apcrifos so: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesistico, Baruque, 1
Macabeu, e 2 Macabeu.
2.8 A Verso Evanglica Reformada Para O Antigo Testamento
a) Pentateuco Gneses, xodo, Levtico, Nmeros e Deuteronmio.
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b) Os livros Histricos Josu, Juzes, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1
Crnicas, 2 Crnicas, Esdras, Neemias e Ester.
c) Livros poticos J, Salmos, Provrbios, Eclesiastes e Cantares.
d) Os livros profticos Profetas Maiores - Isaas, Jeremias, Lamentaes,
Ezequiel e Daniel.
e) Profetas Menores Osias, Joel, Ams, Obadias, Jonas, Miquias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
2.9 Verso judaica para o Antigo Testamento
provvel que a organizao do Antigo Testamento tenha sido concluda nos anos
165 a.C., por Judas Macabeu, que reuniu rolos que foram espalhados por medida de segurana
por todos os territrios prximos a Jerusalm. Com relao a este livro, o nmero tradicional
de livros cannicos de 24: os cinco livros da lei (Pentateuco), oito livros dos Profetas e os
onze livros Hagigrafos (escritos sagrados).
a) Pentateuco (05 livros da Lei) Gneses, xodo, Levtico, Nmeros e
Deuteronmio
b) Os Profetas (04 primeiros) Josu, Juzes, Samuel, Reis
c) Os Posteriores (4 posteriores) Isaas, Jeremias, Ezequiel, Doze Profetas
d) Os escritos (03 poticos) Salmos, Provrbios e J.
e) Cinco rolos Cntico, Rute, Lamentaes, Eclesiastes, Ester
f) Trs livros Daniel, Esdras-Neemias, Crnicas
O livro judaico contm exatamente os mesmos livros existentes no Antigo
Testamento da Bblia crist evanglica. A diferena est na ordem, pois os tradutores da
Septuaginta organizaram os livros por assunto e no da mesma maneira que os judeus os
classificavam. Mais tarde, a verso para o portugus conservou essa tradio. A classificao
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originalmente judaica era composta de 24 livros, sendo que Samuel, Reis e Crnicas foram
reduzidos a um s livro; Esdras e Neemias a um; os doze profetas menores a um. Flvio
Josefo reduziu-os posteriormente a 22 livros para corresponder em nmero s letras do
alfabeto hebraico. Ele combinou o livro de Rute com o livro de Juzes, e o de Jeremias com
Lamentaes.
g) Os cinco rolos individuais. Eram lidos em ocasio de festas.
Cnticos. Era lido na pscoa como referncia alegrica ao xodo.
Rute. No pentecostes como celebrao da colheita.
Ester. No purim, comemorando a libertao do povo de Israel das mos de Ham.
Eclesiastes. Na festa do tabernculo.
Lamentao. No dia nove do ms de Ab, como lembrana da destruio de
Jerusalm.
As grandes mudanas que merecem atenes especiais e que facilitou em muito a
divulgao e compreenso da palavra de Deus para os cristos no mundo foram: a) - A diviso
que deu origem aos captulos realizada pelo Cardeal Caro no ano de 1236 d.C. b) - A diviso
realizada em 1551 d.C, por Robert Stephens, que dividiu os captulos em pequenas partes
denominadas de versculos. c) - A inveno da imprensa de tipos mveis, por Joo Gutenberg,
1454 d.C.
O captulo que se encerra, nesta pgina, nos d uma ideia desse livro que o mais
pesquisado do mundo. Esta obra que ao mesmo tempo pode ser classificada como cientfica,
histrica, cultural e religiosa.
O nosso objeto de trabalho no estudar a Bblia em si, mas a reencarnao e a
ressurreio no conceito Bblico. O que fizemos neste captulo foi um pequeno estudo para
criar um captulo introdutrio, j que o nosso objeto de pesquisa est inserido na Bblia. No
podemos de maneira nenhuma definir em um simples espao de algumas pginas o que a
Bblia para a humanidade.
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CAPTULO 3
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AS RELIGIES CRISTS
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3.1 Os Espritas Cristos
Dentre as religies consideradas crists, s o espiritismo apresenta uma doutrina
clara sobre a questo da vida aps a morte. Esse processo, segundo eles, d-se por
reencarnao evolutiva, em que o esprito existente no ser humano s voltar a encarnar em
outro corpo humano, nunca em corpo de animal ou vegetal. No havendo, portanto, a
reencarnao regressiva.
Mas o que vem a ser o Cristianismo Esprita? Para essa pergunta existem vrias
respostas. Levaremos em conta as que mais se adequarem ao nosso trabalho. O Espiritismo
Kardecista o conjunto de princpios e leis, revelados pelos espritos superiores, contidos nas
obras de Allan Kardec, que constituem a codificao esprita. Esta codificao composta dos
seguintes escritos: O livro dos espritos, O livro dos mdiuns, O evangelho segundo o
espiritismo, O cu e o inferno e a Gneses.
Segundo os kardecistas, o espiritismo uma cincia que trata da natureza, da
origem e do destino final do esprito. Em seus estudos, tambm encontramos pesquisas sobre
comportamento do esprito na matria. Com essas afirmaes, o espiritismo tenta responder as
questes: de onde o homem veio, para onde vai e porque est aqui neste planeta?
Podemos dizer ainda que o espiritismo seja um conjunto de doutrinas
espiritualistas que consideram o homem um esprito imortal que alterna experincias nos
mundos material e espiritual, de acordo com a doutrina da reencarnao, com o objetivo de
evoluir, tanto moral quanto intelectualmente, rumo a Deus. Considera tambm a
comunicabilidade entre o mundo material e o espiritual, geralmente por meio de um mdium,
ou seja, de um mediador. A expresso tambm designa a doutrina e as prticas das pessoas
que partilham dessa crena.
3.2 A Religio Catlica Apostlica Romana (grego = ),
Essa palavra tem dois significados, geral e universal, sendo o segundo significado
o mais usado pelos tradutores. Neste caso poderamos assim definir a religio catlica:
Religio Universal Apostlica Romana. Para a religio catlica, todas as suas doutrinas de
f foram a ela reveladas sucessiva e gradualmente por Deus, atravs dos sculos. Toda a
plenitude da revelao foi completada com a vinda de Cristo, que o Filho de Deus, o
Messias. Esta Revelao imutvel e definitiva transmitida pela Igreja sob a forma de
Tradio. A doutrina catlica est expressa e resumida no Credo dos Apstolos, no Credo
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Niceno-Constantinopolitano e tambm em variadssimos documentos da Igreja, como por
exemplo, no Catecismo da Igreja Catlica (CIC) e no seu Compndio (CCIC).
uma religio de governo episcopal, onde seus adeptos seguem os ensinamentos
do papa, dando-lhes o mesmo nvel de importncia que a escritura sagrada possui. Dentre as
suas crenas, temos: a vida aps a morte, a salvao universal e o purgatrio. Purgatrio um
lugar intermedirio entre o cu e o inferno, onde a alma dos pecadores purga seus pecados,
por meio das rezas e missas realizadas pelos vivos, alm do princpio de acender velas para
iluminar o caminho daquele que est em trevas.
3.3. Religies Evanglicas Reformadas
Recebeu esse nome porque adotaram para si as doutrinas defendidas pelos
reformadores do sculo XVI. Os fiis da doutrina reformada tm em alta considerao as
contribuies especficas, como as de Martinho Lutero, John Knox e, particularmente, de Joo
Calvino. Tambm adotam doutrinas Bblicas defendidas por Anselmo e Agostinho.
Os evanglicos reformados sustentam as doutrinas caractersticas de todos os
cristos, incluindo a trindade; a verdadeira divindade e humanidade de Jesus, o Cristo; a
necessidade do sacrifcio de Jesus pelos pecados; a igreja como instituio divinamente
estabelecida; a inspirao da Bblia; a exigncia para que os cristos tenham uma vida reta e a
ressurreio do corpo. Eles sustentam outras doutrinas em comum com outros cristos
evanglicos, tais como a justificao somente pela f, a necessidade de um novo nascimento,
o retorno pessoal e visvel de Jesus, o Cristo, e a grande comisso.
As religies evanglicas reformadas acreditam na inspirao, autoridade e
suficincia da Bblia. Assim, acreditam que a Bblia a palavra de Deus e, portanto, tem
autoridade do prprio Deus. Os reformadores afirmam que essa autoridade superior a de
todos os governantes e de todas as hierarquias da igreja. A suficincia das escrituras significa
que ela no necessita ser suplementada por uma revelao nova ou especial.
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CAPTULO 4
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VIDA APS A MORTE NO CONTEXTO DAS RELIGIES CRISTS
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4.1 Reencarnao
A crena na reencarnao no uma novidade no mundo. H muito que os
egpcios, hindustas e budistas acreditam nessa forma de purificao para alcanar a vida
eterna aps a morte. Podemos tambm acrescentar que era comum encontrar tal doutrina entre
os filsofos gregos, que a chamavam de metempsicose, que significava literalmente mudana
de alma. Alguns telogos, judaicos, muulmanos e cristos tambm concordam com esse
modo de purificao. Mesmo diante de tais afirmaes, precisamos deixar bem claro que o
argumento da reencarnao est dividido em duas formas doutrinrias. H os que acreditam
na reencarnao progressiva e os que acreditam na reencarnao regressiva.
4.1.1. Reencarnao Regressiva
O esprito que no passado ocupava uma forma humana, dependendo do seu estado
espiritual no ato da morte fsica, pode reencarnar em animal, vegetal, mineral ou novamente
em um ser humano. Para os seus defensores, toda vida essencialmente uma vida. H vida em
forma humana, vegetal, animal e mineral, e esto to ligadas entre si, que so capazes de
migrar de um ser para outro.
4.1.2 Reencarnao Progressiva
A crena na reencarnao progressiva defendida por algumas ramificaes do
budismo, principalmente a tibetana. Mas, em sua maioria, os reencarnacionistas progressivos
esto representados pelos princpios da doutrina esprita. Segundo tal doutrina, o esprito do
ser humano no reencarna em animais ou vegetais, ele reencarna em outro ser humano, pois a
tendncia do esprito evoluir at que se torne totalmente puro ou iluminado, quando no
precisar mais passar por novos processos de reencarnao.
Eis o que tem sido, por muito tempo, um dos pontos polmicos da religio crist
nos dias hodiernos. A doutrina esprita e uma pequena percentagem de catlicos no
praticantes acreditam nessa crena de purificao para alcanar a vida eterna, portanto essa
maneira de crer na vida aps a morte est muito mais em evidncia do que pensam alguns
religiosos. Notadamente quando verificamos que a grande maioria dos praticantes do
catolicismo no o so na sua efetiva maneira de crer, mas so o que podemos chamar de
catlicos histricos, ou por tradio familiar, sem ao menos ter conhecimento dos princpios
bsicos da f doutrinria que dizem professar.
Diante de to grande dilema, precisamos entender o que reencarnao, saber sua
origem e porque ela deve ser a resposta para esse grande questionamento sobre o nosso futuro
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alm tmulo. Ser que ela era uma doutrina de f praticada pelos judeus, antes de Cristo, e
pelos cristos, antes da igreja tornar-se estatal por meio de Constantino?
A argumentao dos reencarnacionistas que ela sempre existiu no meio
judaico/cristo e que s foi considerada uma mentira devido os erros de transliterao e
tradues feitas para os povos ocidentais. Segundo professor Severino Celestino:
Semelhantemente, a Bblia possua uma s lngua, que era completa e tinha seu conjunto de regras e terminologia prprias para o seu entendimento. No entanto, vieram os gregos e mudaram a essncia e significados dessa lngua, espalhando-a por todo o mundo. Produziram, assim, uma nova Torre de Babel com sua traduo (CELESTINO, 2006, p. 46).
Alguns argumentam que o fato, a priori, pode ter sido provocado por
desconhecimento do vernculo hebreu. Mas, para outros, precipuamente os telogos espritas,
as alteraes foram propositais, a fim de atribuir respaldo a conceitos preestabelecidos, os
quais argumentavam que s a ressurreio a maneira pela qual o homem conduzido a
Deus, e que, se Jesus morreu para nos salvar, essa salvao perderia o sentido diante da
doutrina da reencarnao e ele no teria ressuscitado verdadeiramente.
4.1.3 Mas o que a reencarnao?
Existem vrias tentativas para definir o que reencarnao. Citaremos algumas
que, no momento, atende aos objetivos deste trabalho, no significando que as outras no
tenham sua importncia.
a) A palavra reencarnao foi gradualmente aceita para transmitir a ideia da
possibilidade de um esprito humano, ou alma, passar por diversas vidas sobre a terra, sendo
usada pela primeira vez em 1.858, sendo definida como ato de encarnar novamente. O esprito
separa-se do corpo fsico depois da morte e, aps um breve espao de tempo, retorna a um
novo corpo.
b) Segundo o site do centro esprita caminho da luz2, a reencarnao uma
doutrina baseada na pluralidade das existncias, que ensina sobre o retorno do esprito vida
corprea aqui na Terra ou em mundos semelhantes, ou seja, onde a alma nasce novamente em
um corpo carnal, por isso o termo "reencarnao". Em mundos distantes do nosso, onde os
seres assumem um outro tipo de corpo ou matria, esse termo no seria correto, pois o esprito
no estaria ali se reencarnando, isto , assumindo um corpo de matria orgnica, mas um
corpo compatvel com a estrutura do planeta. 2 Centro Espiritual Caminho de Luz www.cecl.com.br
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c) Segundo o Rabino Berg (1998, p. 17-18), a palavra hebraica para reencarnao
Guilgul Neshamot, que literalmente quer dizer roda das almas. para esta vasta roda
metafsica, com sua coroa constelada de almas, como estrelas nas bordas de uma galxia, que
devemos dirigir os nossos olhares, se desejarmos ver alm da aparncia, da inocncia punida e
da maldade recompensada. Guilgul Neshamot uma roda em constante movimento e, ao
girar, as almas vm e vo por diversas vezes, num ciclo de nascimento, evoluo, morte e um
novo nascimento. A mesma evoluo ocorre com o corpo no decorrer de uma nica vida.
Ocorre o nascimento, o crescimento das clulas, a paternidade e a morte novos corpos
produzidos pelos antigos , dando assim continuidade forma fsica. sempre um pai que
concede sua semente para que haja continuidade, num processo sem fim.
4.1.4 Reencarnao
A doutrina esprita da reencarnao argumentada e defendida por seus
praticantes como sendo de extrema importncia para o futuro da humanidade. Embora
existam argumentos de que a doutrina da reencarnao ainda no pode ser provada
cientificamente, por se tratar de uma questo espiritual, de uma questo de f, j despontam
na cincia fatos e pesquisas que provam a sua existncia3. Aqui, pesquisaremos a
reencarnao como princpio existente ou no na Bblia. Se ambas as correntes se consideram
crists, nada mais justo do que analisarmos os argumentos reencarnacionistas dentro do
universo da chamada sagrada escritura, a Bblia.
4.1.5 A Reencarnao no Antigo Testamento
Conforme Celestino, a doutrina da reencarnao a nica lei divina que pode
explicar o futuro e alimentar esperanas, pois atravs dela que so facultados os meios do
homem resgatar seus erros na pauta de novas provaes. Segundo a doutrina esprita, o Antigo
Testamento apresenta inmeras passagens que nos mostram claramente o princpio da
reencarnao, pelos profetas, sacerdotes e demais eruditos que fizeram parte deste contexto
histrico. Abordaremos nesse captulo as passagens nas quais os espritas defendem existir
evidncias da reencarnao e iniciaremos pelos captulos e versculos do livro de Gnesis.
3 Dr. Brian Weiss, M.D., psiquiatra e neurologista norte-americano, formado pela Columbia University,
professor catedrtico de um dos mais conceituados hospitais universitrios americanos, como o Mount Sinai Medical Center, autor dos livros: Muitas Vidas, Muitos Mestres, S o Amor Real, A Cura atravs da Terapia de Vidas Passadas e A Divina Sabedoria dos Mestres. Dr. Patric Druot, fsico francs, doutorado pela Universidade Columbia de Nova York, autor dos livros Reencarnao e Imortalidade e Ns somos todos imortais.
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a) Gnesis (Bereshit = hebraico. Em Arch = Grego).
O primeiro livro do Pentateuco conhecido na lngua portuguesa com o nome de
Gnesis, que significa origem. No hebraico, como vimos, conhecido como Bereshit, que
significa no princpio. No idioma grego, conhecido como Em Arch. Tais ttulos so bem
apropriados, por realmente nomearem uma obra que se refere ao incio de tudo, o que vemos e
o que no vemos. E, ainda, que tudo foi criado por um ser denominado de Deus, Elohim. Esse
livro trata especificamente da criao do universo, do mundo espiritual, do homem e da
criao de um povo escolhido por Deus para uma determinada obra.
Nosso objetivo neste captulo trazer tona alguns versculos citados pelos
reencarnacionistas como provas consideradas irrefutveis dessa doutrina. Devido s
dificuldades que encontramos na pouca literatura existente, usaremos com grande frequncia
o livro Analisando as Tradues Bblicas do professor Severino Celestino da Universidade
Federal da Paraba, considerado por muitos como uma das maiores autoridades neste assunto,
alm de ser um profundo conhecedor da lngua hebraica.
Nossas citaes tero incio no livro de Gnesis. Citaremos sempre que possvel
trs verses para melhor entendimento do leitor. So elas: a verso do Professor Severino
Celestino, a Verso evanglica de Joo Ferreira de Almeida e a verso catlica do padre
Antnio Pereira de Figueiredo e, sempre que possvel, citaremos o texto em hebraico, na
forma transliterada.
Texto traduzido por Almeida
Tambm disse Deus (Elohim): Faamos o homem nossa imagem, conforme a nossa semelhana; ... (Gn 1.26a)
Texto traduzido por Figueiredo
Tambm disse Deus: Faamos o homem nossa imagem. Conforme a nossa semelhana; ... (Gn 1.26a)
O texto acima visto como uma clara prova da reencarnao, todos os demais
textos da criao eram escritos no singular. No princpio criou Deus os cus e a terra. Criou
Deus os seres viventes etc. Porm, o texto em questo citado no plural: Faamos, o que
d a entender que Deus no estava s, algum estava com ele no momento da criao humana.
Conforme Severino Celestino:
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Entendemos, aqui, Elohim como anjos de Deus enviados para criar o homem. Como sabemos, os anjos so espritos que atingiram a plenitude do desenvolvimento atravs de suas diversas reencarnaes, por isso que afirmaram: Faamos o homem nossa imagem e semelhana espiritual. Ningum jamais viu a Deus (Jo 1.18). Como poderia o homem ser a imagem e semelhana daquilo que nunca fora visto? No entanto, podemos ser a imagem e semelhana do que foram os anjos que nos criaram (CELESTINO. 2006, p. 170).
Uma outra citao de Celestino (2006, p. 171) em relao rejeio de Caim,
aparentemente sem motivo.
Passado o tempo, Caim apresentou produtos do solo em oferenda a Yahvh; Abel por sua vez, tambm ofereceu as primcias e a gordura do seu rebanho. Ora Yahvh agradou-se de Abel e de sua oferenda. Mas no se agradou de Caim e de sua oferta, e Caim ficou muito irritado e com o rosto abatido. Por que estais irado? E por que est abatido o teu semblante? Se praticares o bem, sem dvida alguma, poders reabilitar-te. Mas se procederes mal, o pecado est a tua porta, espreitando-te; mas tu devers domin-lo (Gn 4.3-7).
Texto traduzido por Almeida
E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel tambm trouxe dos primognitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta no atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o SENHOR disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, no certo que sers aceito? E se no fizeres bem, o pecado jaz porta, e sobre ti ser o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. (Gn 4. 3-7)
Texto traduzido por Figueiredo
Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim dos frutos da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primcias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta. Ento lhe disse o Senhor: por que andas irado? E por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, no certo que sers aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz porta; o seu desejo ser contra ti, mas a ti cumpre domin-lo (Gn 4. 3-7).
A passagem bblica citada acima foi traduzida e exposta em duas verses
diferentes como vimos e no h diferenas que meream comentrios, o que precisamos
entender, na viso esprita, que o texto interpretado como uma prova da reencarnao.
O texto em si apresenta um Caim com problemas diante de Deus, os quais na
Bblia no so narrados, mas apresentados. Da a afirmao reencarnacionista de que Caim foi
rejeitado por Deus devido a sua herana m de outra ou outras reencarnaes.
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Por que Deus se agradou da oferta de Abel e no da oferta de Caim? lgico que Deus conhecia o esprito de Caim e de Abel e tambm sabia que havia uma diferena de evoluo espiritual entre eles. Sabia Deus que Caim tinha dbito do passado e que estes dbitos eram fortes. Por isso ele previne Caim com a seguinte observao: Gn 4.6 Por que estais irado? E por que est abatido o teu semblante? Se praticares o bem, sem dvida alguma, poders reabilitar-te. Reabilitar-se de qu? Pois, segundo o texto, at aquele momento Caim no praticara mal algum. Claro que se refere Deus s dividas do passado que Caim possua. (Celestino, 2003. p. 171)
Celestino cita que o Rabino Rashi, ao analisar exegeticamente o texto que se
encontra no captulo 4, versculo 15 do livro de Gnesis, que diz: Portanto, quem matar Caim
sete vezes ser vingado mais uma prova da reencarnao no Antigo Testamento. Vejamos o
comentrio do Rabino: Quando Deus estava dizendo Eu no quero me vingar de Caim agora,
mas ao fim de sete geraes eu me vingarei dele; porque Lmech se levantar, dentre os seus
descendentes, e o matar. Neste caso, Deus aguardou todas as reencarnaes de Caim at
chegar stima gerao para mat-lo.
A questo da primogenitura, to valorizada pelos judeus, segundo os espritas
mais uma prova de que o que vivemos hoje fruto do que plantamos em vidas passadas.
Vejamos o que diz o texto sagrado sobre essa condio benfica para quem for o primognito.
Quando um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem despreza, e a amada e a desprezada lhe derem filhos, e o filho primognito for da desprezada, Ser que, no dia em que fizer herdar a seus filhos o que tiver, no poder dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da desprezada, que o primognito. Mas ao filho da desprezada reconhecer por primognito, dando-lhe dobrada poro de tudo quanto tiver; porquanto aquele o princpio da sua fora, o direito da primogenitura dele. (Dt 21. 15-17)
O relato sagrado nos diz que o ttulo de primognito intransfervel, isto visa a
coibir o comportamento humano de preferir um sujeito a em detrimento a um sujeito b. O
questioname