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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo

Redação: José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Margarida Duarte,Rui Jorge Martins, Sónia Neves.

Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.

Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.:218855472; Fax: 218855473. [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial:Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08-11 - Nacional12-55 - Dossier: Tradições deSemana Santa e Páscoa emPortugal56-59 - Entrevista: Tríduo Pascal Cónego Luís Manuel Pereira60-63: Internacional64: Espaço Ecclesia66- Opinião D. José Cordeiro

68 - A semana de Lígia Silveira70 - Cinema72 - Multimedia74 - Vaticano II76 - Agenda78 - Liturgia80 - Programação Religiosa81 - Por estes dias82 - Fundação AIS84- Opinião João Meneses

Foto da capa: LFSFoto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

A Páscoa nasruas e nas igrejasde Portugal[ver+]

Tríduo PascalEntrevista ao cónego Luís ManuelPereira, pároco da Sé de Lisboa[ver+]

Papa Francisco[ver+]

D. José Cordeiro, João Meneses

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Boas notícias

Octávio CarmoAgência ECCLESIA

O mundo (ainda) segue com atenção as palavrase os gestos do Papa Francisco no início do seupontificado e essa atitude representa, para aIgreja Católica, uma boa notícia: enquanto otratamento mediático dos acontecimentos secentrar no que o sucessor de Bento XVI diz e faz,em vez de construções mais ou menosromanceadas sobre a realidade do Vaticano,será possível transmitir uma mensagem maisgenuína e próxima das pessoas.O cardeal que veio do fim do mundo e foi eleitocomo bispo de Roma quer uma Igreja atenta àsperiferias e tem insistido na ideia de «sair»: darotina, do cansaço da fé, das paredes queencurralam o dinamismo da mensagem católica,dos medos perante o mundo. O exemplo tempartido dele próprio, pronto para ser fiel ao queacredita e romper com os protocolos, dando otestemunho mais adequado num mundo em quea comunicação é cada vez mais feita de imageme de interação do que de palavras.A aproximação a quem sofre (e são cada vezmais), a quem se sente abandonado pelos“poderes” do mundo ou esquecido pelos outros éuma missão de sempre da Igreja Católica quequalquer Papa fará bem em recordar. O desafioque se coloca no atual pontificado é de tornarrelevante esta linha de orientação, traduzindo amensagem de fé em sinais visíveis, concretos,que deem

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sentido a um mundo que procurarumos e se sente ameaçado porcada vez mais perigos.Francisco assume, neste contexto,um papel de particular importância:tem de “construir” pontes, como opróprio assumiu, mas tambémderrubar muros, abrir caminhos,criar convergências com todos osque lutam pelos mesmos objetivossem perder a identidade. A missãoda Igreja, que vai muito para lá davida no Vaticano, é “sair”, como teminsistido o Papa, e percorrer oscaminhos contemporâneos daexistência humana, apresentandouma resposta aos anseios mais

profundos de cada pessoa. Numanota final, deixo um lamento relativoà incapacidade que algunsmanifestam em ver o mundo nassuas várias tonalidades,promovendo um discursopreto/branco: elogiar Francisco nãoé necessariamente criticar BentoXVI, não há um ‘Papa bom’ e um‘Papa mau’, há pessoas diferentesque coincidiram no mesmo momentohistórico deixando a sua marcaprópria, com um estilo pessoal.Porque, como dizia um colegajornalista, no final de tudo não serãoos sapatos do Papa a ficar naHistória.

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Pela primeira na história da Igreja, uma fotografia regista o encontro de dois «Pedros»

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«É impossível não ler a escolhado nome Francisco como aescolha de um programa, de umprojecto. É disso que estamos àespera.» (Padre TolentinoMendonça, in: Público, 24/03/13) «Na Igreja Católica, emborasabendo que uma andorinha nãofaz a Primavera, vive-se ummomento de esperança.» (FreiBento Domingues, in: Público,24/03/13)

«O Papa Francisco aparece-noscomo um cristão consciente dasua missão. Não se endeusou,nem deixa que o endeusem» (D.António Marcelino, in: Correio doVouga, 27/03/13) «O Papa Francisco vai continuara residir na Casa de Santa Marta,que acolheu os cardeaiseleitores durante o Conclave,sem se mudar para oapartamento no palácioapostólico do Vaticano» (PadreFederico Lombardi, In: RádioVaticano, 26/03/13)

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Um novo Papa, uma nova Igreja? O superior em Portugal dos Jesuítas, congregação

religiosa a que o novo Papa pertence, ficouimpressionado com a “reação grande, a quente, decristãos e não cristãos” perante a eleição deFrancisco. Num encontro organizado em Lisboa portrês jornalistas que acompanharam no Vaticano oConclave e os primeiros dias do pontificado, o padreAlberto Brito manifestou a certeza de que a adesão aoPapa é “sinal de que há uma sede maior do queparece”.O religioso sublinhou que na primeira saudaçãopública após a eleição, dirigida aos fiéis reunidos naPraça de São Pedro, no Vaticano, o Papa juntou aspalavras “bispo” e “povo” para salientar que ambosdevem convergir “para o bem da Igreja e do mundo”,num “diálogo que deve continuar”, mesmo que comalguma “tensão à mistura”.Frei Fernando Ventura, que comentou o Conclave eos primeiros dias do pontificado do Papa para umadas principais estações de televisão, manifestou a suapreocupação perante possíveis quebras de comunhãona Igreja Católica.“O risco é grande de podermos viver um cisma dentroda Igreja”, afirmou o sacerdote português. Noseguimento da declaração o biblista explicou que sesente “muito mais desconfortável a falar com algumasrealidades de reflexão teológica dentro da IgrejaCatólica do que com outras experiências religiosas”,como o Judaísmo e o Islão.O religioso franciscano capuchinho sublinhou que como Papa argentino o catolicismo passa “da lógica dopoder à lógica do serviço”: “Do ‘eu sei’ ao ‘nósprocuramos

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respostas’, do ‘eu mando’ ao ‘nóssomos circularidade de fraternidadeem ação”, regressando assim às“intuições” do Concílio Vaticano II(1962-1965).A teóloga Teresa Toldy destacou emFrancisco “o facto de se referirsempre a si próprio como bispo deRoma”, o que é “muito importanteem termos teológicos”.A “preocupação de construir pontescom membros de outras confissõescristãs e religiões, bem como nãocrentes”, e a constante “referênciaaos fracos” são também aspetospositivo

s apontados pela investigadora doCentro de Estudos Sociais daUniversidade de Coimbra.Isabel Galriça Neto, deputada doCDS-PP, também se centrou nasexpectativas de mudança nocatolicismo, tendo frisado que astransformações implicam igualmenteos fiéis. “Como há um conjunto decoisas que queremos que mudem, eporque o difícil é mudar, projetamosa necessidade de mudança noPapa”, dado que é “confortável”projetar as reformas noutra pessoa,assinalou a médica.

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D. Manuel Clemente e a novaevangelização

O bispo do Porto completou estedomingo seis anos na diocesenortenha, ocasião para olançamento do livro ‘O tempo pedeuma Nova Evangelização’, umacoletânea de textos e intervençõesdo prelado.Para D. Manuel Clemente, essanova evangelização deve serfundamentada num “novo ardor,novos métodos e novasexpressões”, como afirmava JoãoPaulo II (1920-2005). No entanto,realça o bispo do Porto, “o essencialé o ardor” porque “a evangelizaçãonasce de um convencimento, deuma convicção”.

A Igreja pode ter “uma parafernáliade meios tecnológicos”, mas “se ládentro não existir ardor” amensagem não passa. Quandoexiste ardor, este “encontra aexpressão”, prosseguiu D. ManuelClemente, em declarações àAgência ECCLESIA. O padre epoeta Tolentino Mendonça, um dosorganizadores da obra, explica queos textos do bispo do Porto são uma“radiografia por dentro” do tempoatual. O livro, lançado pela PaulinasEditora, é “uma resposta a umapergunta que está no ar” na vida daIgreja e da cultura: “O que vamosfazer com isto que somos?”.

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Primavera e PáscoaTodos os anos passamos por quatroestações, muito diferentes entre si,sendo a primavera a que maismaravilhas e beleza nosproporciona. Com exceção dosamantes dos desportos de invernoou os veraneantes das praias, paraa maioria das pessoas é a estaçãomais desejada. E não preciso deexplicar porquê.Para os judeus e os cristãos é noinício desta estação, por altura dalua cheia, que se celebra a festamais importante da sua fé, aPáscoa, que para uns faz memóriada libertação da escravidão no Egitoe para os segundos da paixão,morte e ressurreição de Jesus, quereconcilia a humanidade pecadoracom Deus, liberta da raiz daescravidão e dá a certeza dapossibilidade de uma novaprimavera da vida.Ao constatar tantos sinais de morte,de falta de esperança, de crise napolítica, nas finanças, na economia,na sociedade, nas empresas e nafamília, interrogo-me e grito: quemnos libertará desta escravidão?Levanto os olhos e contemplo umcorpo suspenso na cruz. Recordoas narrativas dos Evangelhos sobrea vida do crucificado. Viveu fazendo

o bem, falou com autoridade eanunciou um novo Reino,aproximou-se de quem estavadoente e curou, usou demisericórdia e não teve receio dechamar pecadores para seusdiscípulos, acusado e difamado nãoquis defender-se com os meioshumanos, proclamou o perdão e oamor aos inimigos e ao morrer pediuperdão para os algozes. Mataram-no, sendo inocente, mas o seu amorfoi mais forte que a morte, porqueDeus o ressuscitou, está vivo. Estaé a Páscoa dos cristãos, a aurorados novos tempos, a primavera deuma vida nova e de uma novacriação.

D. António Vitalino, bispo de Beja(Excerto da mensagem de Páscoa)

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PÁSCOA EM PORTUGAL

Manifestações religiosas revelam o lugar central de CristoCristo, como não poderia deixar deser, assume, na época Pascal, olugar central nas manifestaçõesreligiosas dos algarvios. A Suafigura, a Sua história entre oshomens e a Sua divindade marcameste tempo, trazendo claramente àmemória das gentes o significadomaior deste tempo: quem crê emJesus, crê na Ressureição e vive naesperança de a poder alcançar.Neste sentido, as procissõesganham particular enfase nastradições desta região.O Cristo homem, que sofre ecarrega a Cruz é lembrado, aindaantes do início da Semana Santa,nas procissões que honram oSenhor Jesus dos Passos. Emmuitas localidades, quer doBarlavento, quer do Sotavento, osfiéis revivem o Seu percurso até aoCalvário. Silves, Tavira, Monchique,Estoi, Olhão e muitas outraslocalidades trazem às ruas imagensmonumentais de Cristo, que dão aconhecer a arte, a antropologia e,naturalmente, o profundo sentirreligioso destas gentes, que viveestes dias em espírito de oração.Também o Cristo que se entrega

pelos pecados da Humanidade élembrado nas muitas procissões deSexta-feira Santa, conhecidas comoprocissões “do Enterro” ou “doSenhor Morto”. Entre as sombras eas luzes suaves das velas e dastochas, num profundo respeito equietude, uma imagem de Jesusacabado de descer da Cruz étransportada num pequenotombinho. A dor da perda, a culpapelo sofrimento e morte do Senhor,o arrependimento e a penitênciamarcam estas manifestações eimpressionam pela dignidademajestosa revelada pelo ambienteaustero e silencioso.Por fim, o Cristo vitorioso etriunfante, o Cristo que tudo vence –a dor, os pecados, a morte -, écelebrado nas procissões que têmlugar no Domingo de Páscoa e quetomam diversas designações:“Procissão das Tochas Floridas” (emS. Brás de Alportel), “ProcissãoReal” (Monchique eSilves);“Procissão das Flores”(Silves);“Procissão dasCampainhas” (S. Clemente,Loulé);“Procissão do Triunfo”;“Procissão da Ressurreição deCristo”, ou, ainda, “Procissão do

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DIOCESE DO ALGARVE

Santíssimo Sacramento” (Lagoa).Todas elas tornam bem clara avitória de Jesus sobre a morte e aSua realeza, trazendo às ruasalgarvias a alegria e a esperançados crentes no Seu Senhor, quevive e reina na Glória eterna,esperança essa simbolicamentepresente nas crianças, que nestedia são participantes privilegiados destes eventos e nasflores coloridas, que em tochas

carregadas por homens (S. Brás deAlportel) ou em ramos ingénuos nasmãos dos mais pequenos, trazem acor e a alegria de um tempo novo.Monumentalmente, em algumaslocalidades, ou de forma maissingela e discreta noutras, osalgarvios transformam a Páscoanuma verdadeira passagem, umtestemunho vivo de que acreditamna libertação personificada porCristo.

Padre Miguel Neto

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PÁSCOA EM PORTUGAL

Dos Açores para o mundo

Frei Francisco Sales, diretor daObra Católica Portuguesa dasMigrações (OCPM) nasceu naparóquia açoriana de Agualva, naIlha Terceira, onde aprendeu a vivero tempo da Semana Santa e daPáscoa com tradições que hoje sevão perdendo.Quando era criança, diz à AgênciaECCLESIA, o ponto alto era “a visitapascal” em que o sacerdote seguiade casa em casa e saudava asfamílias, deixando-lhes a paz deCristo Ressuscitado.Este era um momento de “grandeexpetativa” e “alegria”, salienta odiretor da OCPM, que se recorda deir com o seu pai e os seus irmãos,“mesmo os mais pequenos, buscarflores e outras verduras paraenfeitar a entrada da casa”.“Infelizmente foi algo que se perdeucompletamente nos Açores, hoje jánão se encontram resquícios disso”,lamenta frei Sales.Apesar de “muito marcada pelaespiritualidade da Semana Santa,das procissões de Passos epelapenitência,

porque foi evangelizadaessencialmente por franciscanos”, aexperiência pascal da comunidadecatólica açoriana inclui tambémtradições mais sociais e culturais,como “o jogo da bela” e a “dança daespada”.Segundo o sacerdote franciscano, ojogo começava “quase um mêsantes da Páscoa, às vezes atémais”, era jogado aos pares e “aprimeira pessoa que visse o outroem cada dia tinha que lhe dizerbela”.“Depois ia-se fazendo acontabilidade e aquele queperdesse tinha de pagar ao outrocom amêndoas”, explica o freiFrancisco Sales, confidenciandoque o jogo “era também muito usadoentre os namorados”.“Às vezes quando um rapaz gostavade uma rapariga e não namorava,tentavajogar à bela com ela e vice-versa”,recorda.Quanto à “dança da espada”, oresponsável católico aponta que elaresistiu no tempo como “uma forma

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DIOCESE DE ANGRA

antiga de catequização e transmissãode valores e costumes”, poispermite à população, através doteatro e do drama, refletir sobre“temas da história” e da IgrejaCatólica em particular.O diretor da OCPM sublinha aindaque, apesar de deslocados da suaterra e do seu ambiente natural, osemigrantes açorianos “levam”consigo

“as suas tradições” e exprimem asua espiritualidade com a mesmaintensidade de sempre.Ao mesmo tempo que mantiveram a“vivência” pascal caraterística doarquipélago, através das “romarias”ou do “lausperene” [tempo deoração e adoração eucarística],aquelas pessoas conseguiramestender a sua religiosidade a“outras comunidades” lusas.

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PÁSCOA EM PORTUGAL

“Até para os olhos, a procissão daRessurreição é muito bonita”

Na Diocese de Aveiro não abundamtradições pascais de relevo, talvezpor ser relativamente nova. Estáagora a comemorar 75 anos derestauração, depois de uma fugazexistência na transição do séc. XVIIIpara o séc. XIX. Há a visita pascalem todas as terras, já quase só porleigos, e numa ou noutra paróquiasai às ruas a procissão daRessurreição. A mais bela é a daVera Cruz, uma paróquia nosbairros mais antigos da cidade deAveiro, chamados “da Beiramar”.“Fiquei muito encantado quando a vipela primeira vez”, conta o P.eManuel Joaquim da Rocha, atualpároco da Vera Cruz. “As pessoascobrem as ruas de junco [plantaapanhada nas margens da Ria deAveiro] e erva-doce e lançampétalas das janelas, enquanto secanta «Aleluia resurrexit». Até paraos olhos, a procissão é muitobonita”, adianta. Muita gente de foraassiste à procissão, mas o pároconota que “as pessoas ainda vibrame não se trata de folclore”.

D. António Francisco, que vaipresidir à procissão no próximodomingo, às 10h, realça que se tratade uma “manifestação de fé muitocrente e verdadeira, fiel à culturalocal, com um cheiro a maresia dadopelas ruas atapetadas”. Só depoisda procissão eucarística é que temlugar a missa, na Igreja de NossaSenhora da Apresentação.Com certo impacto popular – emediático –, algumas terrasassistem por estes dias à “Queimado Judas”. Em Travassô, a tradiçãofaz-se sentir todas as noites daQuaresma, com a declamação deversos que imitam ladainhas e fazemcrítica social, e termina no Sábadode Aleluia, com a queima do bonecoJudas. P.e Júlio Grangeia, sacerdoteconhecido pelo uso das novastecnologias no seu trabalhopastoral, é o pároco de Travassô ereleva-se muito crítico para com“esta tradição que pode ter tidoorigens cristãs, mas é tudo menoscristã”. O sacerdote aponta como

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DIOCESE DE AVEIRO

falhas nestes rituais o uso delinguagem destravada, odesrespeito do silêncio [algumasdas representações populareschegaram a perturbar ascelebrações litúrgicas] e até osexcessos de bebida. No entanto, atradição está enraizada. Serápossível “recristianizá-la”? Osacerdote mostra-se cético, apósanos e anos de tentativas. Restaapenas evitar danos maiores.Por último, refira-se que a Páscoade 2013, na Diocese de Aveiro,acontece em plena Missão Jubilar,um conjunto de iniciativas pastorais,culturais e sociais que assinala os75 anos da restauração desta Igrejaparticular. No dia 6 de abril, naIgreja de Albergaria-a-Velha, às21h, há um concerto de Páscoa; no7, domingo de Pascoela, na Sé deAveiro, às 16h, serão ordenados

diáconos três jovens a caminho dopresbiterado; no dia 11 [há sempreuma iniciativa em cada dia 11, porquea diocese foi restaurada no dia 11 dedezembro de 1938], diversosvoluntários vão bater a todas asportas para recolher bens para osmais necessitados; no dia 26, emÁgueda, o ex-sindicalista ManuelCarvalho da Silva e o ex-ministroDaniel Bessa participam num debatesobre “economia e mundo operário”.

Jorge Pires Ferreira

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PÁSCOA EM PORTUGAL

A maior e mais antiga de Portugal

A Semana Santa de Braga afirma-secomo a mais antiga e maior dePortugal.De acordo com as referênciashistórias, as representaçõescomemorativas da Paixão e Mortede Jesus iniciaram na Terra Santa,no século IV, desde que, apósséculos de perseguição pelo poderromano, o imperador Constantino,com o Edito de Milão (313), deu apaz à Igreja. Estas recriaçõesrealizavam-se nos locais e horas emque tinham decorrido os respetivosacontecimentos.A peregrina Egéria (ou Etéria), que,nos finais daquele século, sedeslocou do noroeste da Ibéria(Galécia) à Palestina, no seu escrito“Peregrinatio ad Loca Sancta”(Peregrinação aos Lugares Santos),faz um relato daquelas celebrações.Foram, de facto, os peregrinos quederam a conhecer a Semana Santae estenderam ao mundo cristão ocostume de a celebrar. É provávelque em Braga e nas terras daPenínsula Ibérica isso aconteça jádesde finais do século IV, porinfluência da referida Etéria que eraprovavelmente uma mulher de

Braga, então capital da Galécia.De facto, é na cidade de Braga quese concentram as atenções naimponente programação da SemanaSanta, todavia esta semana é vividacom devoção e com programaçõesalargadas em alguns arciprestadoscomo são exemplo os casos deEsposende e Vila Nova deFamalicão.Ao longo da Quaresma, sãoinúmeras as procissões com osandores do Senhor dos Passos e daSenhora das Dores que se realizampor toda a Arquidiocese de Braga.Nelas, participam centenas defigurados que transformam taiscortejos religiosos em autênticascatequeses ao vivo que sãoapreciadas por milhares de cristãosmovidos por um misto de devoção ,tradição e turismo religioso.As conferências quaresmais, osconcertos e diversas exposiçõestemáticas pontuam a épocaquaresmal bracarense (a dimensãocultural é cada vez mais valorizadaem termos turísticos). Mas são asgrandes procissões que maisprendem as atenções de devotos eturistas.

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DIOCESE DE BRAGA

“Procissão da Burrinha” Na cidade de Braga, nos últimosanos, foi recuperada e antecipadapara a Quarta-feira da SemanaSanta uma procissão que serealizava na noite de Sábado Santo:a designada “Procissão daBurrinha”, assim chamada por nelase incorporar uma imagem daVirgem Maria, montada numjumento, numa alegoria da fuga daSagrada Família para o Egito.Organizada pela Paróquia e pelaJunta de Freguesia de S. Victor, aprocissão constitui um dos maisconseguidos momentos

catequéticos da Semana Santa,tendo sido retomada em 1998, apósum interregno de 25 anos. Quinta-feira Santa A Quinta-feira Santa conta com acelebração matinal da Missa Crismale a bênção dos óleos, umacerimónia que concentra aesmagadora maioria do clero daarquidiocese, que aí renova aspromessas da sua ordenação. Àtarde, celebra-se a Missa Vespertinada Ceia do Senhor, com otradicional “lava pés”, finda a qualos

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PÁSCOA EM PORTUGAL

altares são desnudados.Durante a tarde, grupos defarricocos (a figura maisemblemática da Semana Santa deBraga) percorrem o centro históricoda cidade fazendo ouvir as suasmatracas, lembrando que por alipassará a procissão à noite.É, então, na noite de Quinta-FeiraSanta que sai à rua a Procissão doSenhor “Ecce Homo” (Eis o homem),organizada pela Santa Casa daMisericórdia – que este ano de 2013comemora 500 anos –, costumaintegrar entre perto de duascentenas de anjinhos.Esta também é conhecida como a“Procissão dos fogaréus”, já queincorpora um grupo de mascaradosque transporta tigelas acesas (osfogaréus) e que outrora lançavaacusações e denúncias de pecadospúblicos e outros menos conhecidosde moradores da cidade. Em 1859,o Arcebispo D. José de Mouraproibiu tal costume. Hoje, osfogaréus permanecem silenciosos ea sua presença não é mais que umelemento turístico. Sexta-feira Santa A Sexta-Feira Santa é um diaespiritualmente denso em Braga. Acidade veste-se de luto e todos

sentem que há “algo de anormal” nocomum dos dias.É na Sé Primacial que se centram asatenções. Às 15h00 é guardado umminuto de silêncio pela morte deJesus, com o templo mergulhado emtrevas. Segue-se todo um ritualdedicado à Paixão, carregado dedrama que é adensado peloslúgubres cânticos que lamentam odesaparecimento do Mestre da terrados vivos. Esta celebração da tardeé uma espécie de drama em trêsatos: proclamação da Palavra deDeus, apresentação e adoração daCruz (rito do sec. XVII), e comunhão.Ainda no interior da vetusta Sé deBraga realiza-se a “ProcissãoTeofórica”, estabelecida em Portugalentre finais do sec. XV e princípio dosec. XVI, trazida de Jerusalém. Nelase transporta uma urna com hóstiasconsagradas que percorre asnaves da Sé enquanto que umgrupo de crianças entoa “Heu, heuDomine; heu Salvator Noster” (Ai, AiSenhor; ai Nosso Salvador).À noite, sai a Procissão do Enterro.Da responsabilidade do CabidoMetropolitano e Primacial de Bragaesta manifestação pública de fécontrasta com a da noite anterior:não há fogaréus acesos, osparticipantes vão de rosto coberto eos estandartes

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DIOCESE DE BRAGA das confrarias e irmandades nãovão desfraldados, mas caídos sobreos ombros de quem os transporta.O silêncio é quase total. Sábado Santo A Vigília Pascal – a mãe de todas ascelebrações católicas – tem sidovalorizada nos últimos anos e épresidida pelo Arcebispo Primaz. Domingo de Páscoa Em muitos locais da Arquidiocese deBraga continua-se a manter, talcomo em toda a região do Minho, atradição do Compasso Pascal. Nacidade de

Braga este costume também semantém e é na Rua da Cónegaquemaior tradição conserva.De assinalar a tradição revividatodos os anos, na segunda-feira dePáscoa na freguesia de Fiscal,concelho de Amares: a travessia dorio dos compassos feito em barcas.É num habitual cenário idílico – umavelha azenha abandonada com asua pena represa a travar acorrente, as barcaças engalanadascom flores e ambas as margenspejadas de pessoas de todas asidades – que esta tradição secumpre e que é apreciada e cadavez mais valorizada.

Texto: Álvaro MagalhãesFotos: Diário do Minho

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PÁSCOA EM PORTUGAL

Tradições de Páscoa em Trás-os-MontesTrás-os-Montes, um amplo territórioque na atualidade se distribui pelosdistritos de Vila Real e Bragança,mantém ainda - resultado de umlongo processo de isolamento e deum fraco índice de urbanização -,muitas das tradições que ao longoda sua história se foram cimentandoentre as comunidades rurais.A semana que antecede a Páscoa éum bom exemplo das tradiçõescristãs e pagãs que anualmente serepetem de uma forma cíclica nesteterritório. Os autos da paixão, aprocissão do Senhor dos Passos, asendoenças, as vias-sacras e asqueimas do Judas são alguns dosexemplos dessas ancestrais hábitosque sobreviveram até aos dias dehoje e que ano após ano serepetem em muitas das nossaslocalidades.Estas seculares tradiçõescumprem-se todas na semana quemedeia entre o “Domingo deRamos” e o “Sábado de Aleluia”, esão , na sua maioria, manifestaçõesfortemente marcadas por sentimentos religiosos, apesar deestar sempre presente um substrato

cultural que as relaciona de umaforma inequívoca com a vertentelúdica e pagã que aindapermanecem arreigadas no seio dacultura destas comunidades rurais.Os autos da paixão e as vias-sacrassão expressões coletivas de fé, deuma fé bem sentida, mas ondeainda moram fortes influências deuma encenação provinda do teatropopular, apesar do sentimentopredominante ser o luto e a dorpesarosa pela morte de JesusCristo; um luto e uma dor que seexprimem através de tonscarregados de roxo e de negro,cores essas que expõem tristeza, melancolia, reflexão, penitência etodo o sentimento de perda e desofrimento que antecipa o mistériopascal. Em todos os casos sãorecuperadas as catorze paragensque integram as estações da viasacra, e aldeias há que aindaconservam intactos os cruzeiros querepresentam cada uma dessasestações. É nos autos da paixãoque se encontra uma das maiselaboradas expressões do teatropopular. Com uma participaçãocoletiva e efetiva da comunidade,

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DIOCESE DE BRAGANÇA-MIRANDA estas representações integramvelhos e novos, homens e mulheres,e quase sempre atingem picos derealismo que alguns dosparticipantes até chegam a parecer figuras saídas do Novo Testamento.Por estes autos passam asnarrações dos últimos dias da vidade Jesus Cristo, e neles intervêmpersonagens como os discípulos,com Judas em primeiro plano,Herodes, Caifaz, Pilatos, Fariseu,Maria Madalena, soldados romanosou mesmo o Diabo, culminandotodas essas encenações nadeposição do filho de Deus na cruz.

Mas o sentimento de perda vivida,sentida e transmitida pela populaçãodurante a Semana Santa na regiãode Trás-os-Montes tem a sua maispeculiar e enigmática expressão noconcelho de Vinhais, uma daslocalidades da região onde aindaprevivem e se registam algunsvestígios das chamadasendoenças. Aqui existe um ritualonde se interpreta e encena aprocura e a busca de Nosso SenhorJesus Cristo, e todos os habitantesdas pequenas aldeias seperguntam, uns aos outros, e entrevizinhos e amigos, se “alguém

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PÁSCOA EM PORTUGAL

por aí o viu”.Já em Mogadouro, a tradiçãoancora numa essência históricamelhor definida no tempo. A “Procissão dos Passos” é uma dasmuitas manifestações pascais quedurante a época quaresmal serealizam na região do nordestetransmontano. O Senhor dosPassos de Mogadouro é umamanifestação religiosa comcontornos vincadamente históricosque se realiza de dois em dois anosnesta vila transmontana.Num campo mais lúdico há aregistar as “queimas de judas”,manifestações festivas e de algumexcesso que marcam o fim de umperíodo de restrições e penitênciaque foram impostas durante operíodo da quaresma.Em Constantim, no concelho de VilaReal, renasceu há alguns anospelas mãos dos habitantes dalocalidade este costume antigo queesteve muito tempo adormecido. AQueima de Judas, o traidor, érealizada na noite de sábado dealeluia, véspera do domingo dePáscoa, e reúne dezenas depessoas num cortejo constituído porvárias figuras que transportam

tochas acesas pelos arruamentosda aldeia, vindo depois toda arepresentação a culminar na praçaprincipal, num cenário dantesco,onde Judas é queimado entre gritose risos de escárnio, numarepresentação que dizem “teatralizara vingança do povo contra Judasque traiu Jesus”.O mesmo espirito tem a “Queima deJudas em Montalegre”, tambémrealizada no “Sábado de Aleluia”. Omunicípio constitui anualmente umconcurso com inscrições préviaspara incentivo geral da população ecom o intuito de manter viva atradição. Este ano o evento contacom a encenação da peça de teatropopular "Tá calado, ó Judas!". Nestes meios rurais mantém-seainda o hábito de ao meio dia dequinta-feira santa tocar o sino afinados, o que significa o anúnciosimbólico da morte de Cristo. A partirdesse momento todas as pessoasabandonam os seus afazeresagrícolas e regressam a casa paracumprir o “dia santo de guarda”,permanecendo sem trabalhar, emuitas delas em jejum, até ao meiodia de sexta-feira.

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DIOCESE DE BRAGANÇA-MIRANDA Em outras localidades só no“Sábado de Aleluia”, à meia-noite,se volta a tocar os sinos dasigrejas.Ele significa o fim da tristeza, dosilêncio, das restrições e do luto eanuncia um novo tempo de alegria,de vida, de ressurgimento, derenovação, de esperança, defelicidade e de uma outra vida quese espiritualiza e interioriza atravésdo exemplo da Ressurreição deJesus Cristo e da sua perpetuaçãoatravés da vida eterna.A meia-noite é portanto a horasimbólica que marca o arranque dasfestividades do dia de Páscoa.Gastronomicamente a Páscoa estámarcada por manjares como o folar,o

borrego ou o cabrito assado, e nodomínio religioso pela tradição doCompasso. Mas o dia de Páscoa, namaior parte das as aldeias, vilas ecidades da região fica sobretudomarcado pela alegria da visitapascal - o chamado Compasso. O Compasso nada mais é do queum grupo de paroquianos que levaà frente o padre numa visita a todasas casas onde é dada a beijar umacruz com Cristo crucificado. Nesteritual o pároco entra nas casas detodos os fiéis e benze-a com águabenta, enquanto é anunciada portodos a boa nova da Ressureiçãode Cristo: “Aleluia, aleluia, JesusCristo Ressuscitou!”.

A. Luis Pereira

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Passos Rumo à Páscoa A “Procissão do Senhor dosPassos” constitui um dos pontosaltos das atividades litúrgicas queculminam com a celebração daPáscoa. Trata-se de umamanifestação de fé e devoção, comséculos de existência, reunindocentenas de fiéis que vivemintensamente este ato religioso, emdiferentes comunidades cristãs daDiocese de Coimbra.Através dos séculos, na épocaquaresmal, os cristãos souberamtraduzir, por diferentes formas, osmistérios principais da nossa Fé naRessurreição do Senhor. AProcissão dos Passos é umamaneira visível e silenciosa deproclamar o Mistério da Paixão eMorte de Jesus Cristo. É, de certomodo, a transposição no tempo e noespaço a Via-sacra de Jerusalém do“Cordeiro de Deus”, imolado noCalvário, pela remissão de crentes enão crentes. Pelo Caminho dodoloroso peregrinar, apareceram osoratórios, com telas, ou azulejos,que as fraternidades franciscanasou a piedade de grupos de fiéiserguiam, muitas vezes nas fachadasou esquinas

das suas próprias casas, diante dosquais se contemplavam osPassos do Senhor e por vezesalgum pregador exortava àPenitência e Conversão.Algumas comunidades cristãs doBaixo Mondego (Carapinheira,Tentúgal e Montemor doArciprestado do Baixo Mondego;Pereira, Taveiro, Sebal e Condeixado Arciprestado de Coimbra Sul;Mira do Arciprestado deCantanhede; Miranda do Corvo doArciprestado do Alto Mondego ePedrógão Grande do Arciprestadode Chão de Couce, gozando afelicidade de acolher no seu seioalgumas das mais antigasmanifestações de religiosidadepopular, tem por tradição reconstituiros momentos mais marcantesalusivos à morte de Cristo, com arealização de soleníssimasprocissões do “Senhor dos Passos”.Estas manifestações de piedade ede reconciliação têm lugar,respetivamente, antes da SemanaSanta.Os pontos altos das celebrações dedomingo, residem

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DIOCESE DE COIMBRA essencialmente na Eucaristia eSermão do Pretório, constituindotambém momentos marcantes paraestas comunidades cristãs o Cantarda Verónica e o Sermão doEncontro, numa simbologia doencontro de Cristo com sua Mãe, acaminho do Calvário. A “Procissão dos Passos” constituiuma significativa manifestação de fée

devoção, que é visível durante oespiritual e silencioso cortejolitúrgico, apenas suspenso peloentoar da Verónica, em latim, “vedese há dor igual à minha”. No Sermãodo Encontro, é normal verem-sealgumas lágrimas a brotar e aresvalarem pelos rostos daspessoas mais sensíveis, exprimindoo mais exímio sentimento de dor, fée esperança.

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Via Sacra de Dornes Centenas de peregrinos de toda aregião de Ferreira do Zêzerecumpriram no passado domingo atradicional Via Sacra de Dornes, umpercurso de quatro quilómetros,fazendo desta única no país. Estacaminhada de fé em direção aoSantuário de Nossa Senhora doPranto de Dornes foi presidida porD. Virgílio Antunes, Bispo deCoimbra. Via Sacra profana Em passado recente, um cidadão dePaio Mendes, freguesia vizinha deDornes, de nome Durval RosárioMarcelino, mandou erigir entre PaioMendes e a igreja matriz de Dornes,numa distância de aproximadamente4 km e ao longo da estrada, os 14cruzeiros de granito em tamanhogrande, memorizando e honrandoas 14 estações da Paixão de JesusCristo.Entre o primeiro cruzeiro,correspondente à Agonia de Jesusno Monte das Oliveiras, e o 14.º,que relembra a colocação de Jesusno Sepulcro, revive-se a traição deJudas,

a condenação pelo Sinédrio, anegação de Pedro, o julgamento dePilatos, o flagelo e coroação deespinhos, a Cruz aos ombros, aajuda de Simão de Cirene, oencontro com as mulheres deJerusalém, a Crucificação, apromessa ao bom ladrão do Reino,Jesus na cruz, a Mãe e S. João e amorte.Dornes, não seguindo o rituallitúrgico, aproveitou a essência, anatureza e criou uma maneiradiferente de evocar a Paixão deCristo, numa tarde de verão, apósas festas de Nossa Senhora doPranto, a que denominou de viasacra profana ou mais simplesmentede Círius de Dornes. Conferências Quaresmais As Conferências Quaresmaislevadas a cabo pela paróquia de S.José, em Coimbra, e as JornadasQuaresmais realizadas pelaparóquia de Soure andaram, esteano, ao sabor do Ano da Fé.Enquanto que em Coimbra oobjetivo foi apresentar testemunhosde fé, vividos nas mais diversassituações sociais e em Soure

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DIOCESE DE COIMBRA

procurou-se mais refletir sobre odocumento Porta Fidei, documentopara o Ano da Fé do Papa EméritoBento XVI. Semana Santa na Catedral D. Virgílio Antunes presidiu, nopassado Domingo, à celebração doDomingo de Ramos, que marca oinício da Semana Santa, uma dasmais

importantes de todo o ano litúrgico. Quinta-feira de manhã, o Bispo deCoimbra preside à missa crismalcom todo o presbitério da suadiocese, e às 18 horas à Missa daCeia do Senhor.Sexta-feira, às 18 horas, preside àCelebração da Paixão. No Sábado,às 22 horas preside à Solene VigíliaPascal e no Domingo à Missa dePáscoa, às 11 horas.

Miguel Cotrim

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A Páscoa na Arquidiocese de Évora Na Arquidiocese de Évora asolenidade da Páscoa celebra-seessencialmente no Sagrado Tríduoda Paixão e Ressurreição doSenhor.A grande maioria das 158Paróquias, que constituem aArquidiocese, vivem intensamenteas principais celebrações desde aQuinta-feira Santa ao Domingo dePáscoa. Na Catedral de Évora,presididas pelo arcebispo de Évora,D. José Alves, e animadas pelo CoroStella Matutina, decorrerão asseguintes celebrações: na Quinta-feira Santa, pelas 10h, MissaCrismal, Renovação das PromessasSacerdotais e Bênção dos Santosóleos. Às 18h30, Eucaristiacomemorativa da Ceia do Senhor,com lava-pés. Segue a adoração doSantíssimo Sacramento comduração até às 23h. Na Sexta-feiraSanta, pelas 10h, celebração deLaudes e, às 15h, celebração daPaixão do Senhor, com Adoração daCruz e Comunhão, sendo o ofertóriopara os lugares Santos daPalestina. No Sábado Santo, pelas10h, celebração de Laudes e, às21h30, Solene Vigília Pascal.

À semelhança do que acontece nacidade de Évora, em algumasParóquias da Arquidiocese, na noitede sexta-feira santa, asMisericórdias locais organizam aProcissão do Enterro do Senhorque, normalmente, atraem grandenúmero de participantes.Contudo, no Alentejo, a tradiçãodesta época está muito ligada àSegunda-Feira de Páscoa, na qual,de uma maneira geral, osalentejanos vão para o campodesfrutar da beleza primaveril quenos inunda de cores e cheiros,abrindo o apetite para agastronomia tradicional daquele dia:o borrego e o folar. Na Arquidiocesede Évora, nalgumas localidades,essa tradição de ir para o campoganhou contornos de Romaria, comum programa organizado em que osagrado e o profano convivem,sendo momentos de devoçãoreligiosa e de saudável convívioentre familiares e amigos. Assim, napróxima Segunda-feira de Páscoavoltam a cumprir-se, entre outras: aRomaria de

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DIOCESE DE ÉVORA

Nossa Senhora da Enxara (CampoMaior); a Romaria de NossaSenhora do Carmo (Sousel);Romaria de S. Pedro dos Olivais(Mourão); Romaria de NossaSenhora da Piedade (Redondo);Romaria de Santa Margarida(Evoramonte).Este ano, pela primeira vez naArquidiocese de Évora, um grupo dejovens cristãos vai viver o TríduoPascal em comunidade rural. Ainiciativa chama-se “Páscoa dos 12”e é uma organização conjunta dosDepartamentos da Juventude

e das Vocações. Três dimensõesmarcam o período que os jovensvivem entre 27 e 31 de março:celebrativa, emcomunhão com a Igreja eborense;contemplativa, numa experiência demeditação e deserto; e caritativa, naaldeia de Monte do Trigo, noconcelho de Portel, onde estesjovens vão ficar instalados paravivenciar o período pascal não sócom os que sofrem, mas com toda acomunidade, que nem sempreconsegue ter o seu pároco a tempointeiro.

Pedro Miguel Conceição

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Ao ritmo da fé e da tradição

Nas 96 paróquias da Diocese doFunchal as cerimónias da SemanaSanta são participadas por umelevado número de pessoas.A bênção e procissão dos ramosassinalaram o Domingo de Ramos emuitas pessoas transportarampalmitos (folhas de palmeira quesão entrelaçadas em sucessivoscaracóis concêntricos, que se vãoarmando em pirâmide enfeitadascom lacinhos de seda de váriascores), elaborados por algunsparoquianos. Recentementealgumas instituições e paróquiastêm incentivado nos jovens ointeresse por este arte de modo arecuperar esta tradição.Nesse diana paróquia dos Canhas foiapresentado um Auto Bíblicoorganizado pela

comunidade paroquial com aparticipação de pessoas das maisdiversas idades.No final da missa vespertina da Ceiado Senhor, em Quinta-feira Santa, oSantíssimo Sacramento é colocadonum dos altares no denominado“Trono” ornamentado por muitasflores com predominância para asorquídeas, muito comuns naMadeira.A procissão do Enterro do Senhor,que se realiza nalgumas paróquiasmadeirenses marca a Sexta-feiraSanta, dia vivido com muita fé poreste povo.Nesse dia nalgumas comunidadesparoquiais efectuam-se vias-sacrasnas estradas. Na paróquia de SantaCecília é representada uma via-sacra ao vivo organizada pelosjovens, que

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DIOCESE DO FUNCHAL

reúne muito povo num evento que jáé cartaz.Na freguesia da Camacha na tardedesse dia decorrem os JogosTradicionais da Quaresma que têm por objectivo promover ointercâmbio intergeracional econtribuir para a preservação edivulgação destas actividades queintegram o lançamento do pião, jogodo burro, do batoque, daspedrinhas, da corda, andilhas, etc.As cerimónias litúrgicas do SábadoSanto incluem a participação de umgrupo de catecúmenos que vãoreceber os Sacramentos deIniciação Cristã o que ocorrerá navigília pascal presidida pelo Bispodo Funchal na Catedral.O Domingo de Páscoa na Madeira éum dia de festa para osmadeirenses, embora sem a

fulgor do tempo do Natal. Aprocissão da Ressurreição registasempre grande participação depessoas.Entre as tradições do Tempo Pascalna Madeira e Porto Santo realce-sea ementa do almoço de Sexta-feiraem que o inhame (uma planta dafamília das areáceas, originária dosudeste da Ásia) é acompanhadopelo bacalhau e as batatas. NoDomingo de Páscoa ainda semantém a tradição de se comercabrito recheado. Os tremoços, asamêndoas e os torrões de açúcarfazem as delícias dos mais novos enão só.A Semana Santa na Diocese doFunchal vai ser vivida com fémantendo as tradições e comesperança num futuro melhor.

Sílvio Mendes

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O Canto do Silêncio e outras vivências Quaresmais A Encomendação das Almas e oCanto dos Martírios são astradições da Quaresma que seencontram mais enraizadas e vivas,nas paróquias da Diocese daGuarda.As semanas da Quadragésimacontinuam a ser respeitadasreligiosamente apesar das geraçõesmais novas começarem a esquecercertos usos e costumes.Contam os mais antigos que, nestaaltura do ano não havia bailes nemse podia dançar. O jogo do cântaroocupava as tardes de domingo e, ànoite eram muitos os que sejuntavam para cantar os Martírios, aLadainha e a Encomendação dasAlmas.Os Martírios são cantados, commuito entusiasmo, por grupos dehomens de cabeça coberta. Com opassar do tempo, esta tradiçãoquase desapareceu e já são poucosos que ainda têm coragem para sairà rua lembrando o caminho deJesus até ao Calvário. Ao longo desessenta evocações, com outrastantas respostas, este cantocomeça e termina junto à Igreja.

A Encomendação das Almas é feitanos sítios mais altos das aldeias e ahoras tardias. O canto mete medopela suaprofundidade e sonância musical,convidando as pessoas à oração.Esta tradição tem vindo a ganharforça com a realização anual deEncontros de Encomendação dasAlmas em diversas zonas daDiocese, nomeadamente, Guarda(Aldeia do Bispo, Faia, Quinta deGonçalo Martins, Marmeleiro,Castanheira, Maçainhas e S.Miguel…), Seia e Sabugal(Badamalos, Bismula, Rapoula doCoa, Ruivós, Ruvina, Vale dasÉguas, Vilar Maior…). Nestaslocalidades, as autarquias têm vindoa apoiar os grupos que persistemem manter vivo este costume dereligiosidade popular.A Procissão dos Penitentes é outratradição quaresmal que acontece noPaul (Covilhã). Realiza-seanualmente, numa das sextas-feirasda Quaresma. O cortejo é compostopor homens envoltos em lençóisbrancos, com uma coroa de silvasentrelaçadas na cabeça edescalços. Cada homem leva um

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DIOCESE DA GUARDA

Em várias aldeias da Diocese daGuarda (Vila Cova à Coelheira –Seia) há um costume antigo de nãoir à horta no Domingo de Ramos.Este costume é justificado pelarazão de que o Senhor Jesus Cristose escondeu detrás dos arbustos,no Horto das Oliveiras. Nesse dia assopas são sem verduras e os outrospratos não são acompanhados desalada. Nesse dia também não seapanha erva para os animais.Em dia de Quarta-feira Santa ou de

Tréguas ainda há localidades emque as mulheres não se penteiam.Também há aldeias em que naQuinta-feira Santa e na Sexta-feiraSanta não se estende a roupabranca com receio que apareçamanchada de sangue.Outra tradição quaresmal aconteceem Sábado de Ramos, na povoaçãode Aldeia Nova, localidade anexa dafreguesia de Ramela, no concelhoda Guarda. Trata-se da romaria deNossa Senhora da Teixeira, que serealiza

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numa altura do ano em que não sãocelebradas festas.O Enterro do Senhor, a Procissãodos Passos e as Alvíssaras, sãooutras das tradições quaresmaisque ainda permanecem em toda aDiocese.Na noite de Sábado Santo, emmuitas povoações, cantam-se asAlvissaras e celebra-se a Senhorada Noite. De capela em capela e derua em rua, os grupos vão cantandoAleluia, anunciando a boa notícia daressurreição de Jesus.

Nos últimos anos surgiu na zona doFundão, por iniciativa da Câmaralocal, a “Quadragésima”. Trata-sede um festival, dedicado ao teatro, àmúsica e às tradições do sagradona Quaresma e na Semana Santa.Esta iniciativa reúne diversaslinguagens artísticas ao calendárioreligioso que celebra a paixão,morte e ressurreição de Cristo,promovendo a redescoberta dastradições religiosas do território(festas, procissões, representaçõessacras, dramas litúrgicos, sermões

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DIOCESE DA GUARDAmedievais e orações antigas) eprocura valorizar o patrimónioartístico local.Em Pinhel, o Grupo de Jovens daparóquia vai apresentar aencenação da morte do enterro deJesus. Mantendo uma tradição queconta já com vários anos, a CâmaraMunicipal e a paróquia de Pinhellevam para as ruas da cidade aPaixão e Morte de Jesus.Em Vilar Maior, no concelho doSabugal, mais de uma centena emeia de atores amadores vãorecriar os últimos dias da vida deJesus. Os intervenientes na “Paixãode Jesus segundo São Lucas”pertencem a

localidades dos concelhos doSabugal (Vilar Maior, Arrifana doCoa, Badamalos, Bismula, Ruivós,Ruvina, Vale das Éguas, Rapoula doCoa, Nave, Alfaiates, Baraçal,Sabugal, Aldeia de Santo António,Quarta-feira) e Almeida (Miuzela eMalhada Sorda).No dia Páscoa ainda há quemqueira ganhar o folar e mande rezarquem encontre a caminho da Missae da procissão da Ressureição. Oprimeiro a dizer “reza que já passoua Quaresma” tem direito ao folar.

Francisco Barbeira

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«Hão-de olhar para Aquele quetrespassaram.» (Jo 19, 37)Estas palavras que o S. João refereno Evangelho expressam bem astradições que, ao longo de muitosanos, foram nascendo à volta dacelebração da Paixão, Morte eRessurreição de Jesus.Para além das cerimóniaspropriamente litúrgicas, já por si,ricas de significado porqueexpressam, sacramentalmente, apresença de Jesus vivo na Igreja, astradições locais foram transpondoessa presença para lá das Igrejas epara lá dos lugares de culto. É oque acontece com as procissões eas romarias, que criam um ambientepropício a uma vivência maissentida e profunda destes dias daSemana Maior.Assim acontece, também, naDiocese de Lamego, onde uma ricatradição de tradições embeleza etorna mais presente a imensaPaixão de Jesus Cristo por cadapessoa.Na cidade de Lamego, na quintafeira da terceira semana do Tempoda Quaresma, duas bonitas egrandes imagens, uma do Senhordos Passos e outra de NossaSenhora das Dores,

são trazidas da Igreja de NossaSenhora da Graça para a IgrejaCatedral. No final desta procissão,no Adro da Igreja Catedral, édistribuído pão quente, numatradição que acaba por mostrar anecessidade de cada pessoa selembre daqueles que maisnecessitam.No Domingo seguinte, o quarto dotempo da Quaresma, realiza-se aprocissão do Senhor dos Passos,que, saindo da Igreja Catedral,percorrem as ruas da cidade deLamego devolvendo as belasimagens trazidas três dias antes àIgreja de Nossa Senhora dasGraças.Na Semana Santa, as cerimóniaslitúrgicas vão-se intercalando commomentos de devoção e piedadepopular. Assim, depois das váriasprocissões dos Ramos para cadaIgreja no Domingo com o qual seinicia a Semana Santa, na Quintafeira seguinte o Sr. D. AntónioCouto, Bispo da Diocese, reúne,para a celebração da Missa Crismal,o Presbitério lamecense. Já da parteda tarde, quer

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DIOCESE DE LAMEGO na Igreja Catedral com a presençado Bispo da Diocese, quer nasrestantes Igrejas da cidade e daDiocese celebra-se a Missa da Ceiado Senhor.A partir das 21h30, na cidade deLamego, dá-se início à Procissãodas Sete Bandeiras. Cada Bandeirarepresenta um dos momentos dojulgamento de Cristo e a procissão,saindo da Igreja das Chagas,percorre as várias Igrejas e Capelasonde é custodiado o SantíssimoCorpo de Jesus: Igreja de NossaSenhora da

Graça; Igreja de Santa Maria Maiorde Almacave; Igreja de S. Francisco;Capela do Espírito Santo; e IgrejaCatedral. A tradição levou aspessoas a chamarem a estaprocissão aquela que percorre osSantos Sepulcros, onde estádeposto o Corpo de Nosso Senhor.Na Sexta feira Santa, há algumasParóquias que, logo ao início damanhã, fazem a Via Sacra, porpercursos serranos, até algumaCapela onde se venere JesusCrucificado.

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Assim acontece na Paróquia dePendilhe, no Concelho de Vila Novade Paiva, cujo trajeto durante o qualse recita a Via Sacra tem cerca de 4quilómetros.Na parte da tarde de Sexta feira,ocupa lugar privilegiado aCelebração da Paixão, com aAdoração da Cruz que, na IgrejaCatedral será presidida pelo Bispoda Diocese.Neste mesmo dia, multiplicam-se asvárias procissões nascidas dapiedade popular. Na cidade deLamego, por exemplo, realiza-se aprocissão do Senhor Morto que,saindo da Igreja de Nossa Senhorada Graça, desce à Igreja Catedral.Aqui, os participantes sãoconvidados a ouvir um sermão que,este ano, será proferido pelo Sr. D.António Couto. Após este momentode pregação, a procissão recolhe àIgreja da Graça. Em algumasParóquias, sobretudo naquelas maispróximas do rio Douro, na noite deSexta feira Santa é tradição realizar-se a Procissão doEncontro, que evoca a quartaestação da Via Sacra, em que Jesusencontra sua Mãe, MariaSantíssima. É o caso

de Folgosa do Douro. Noutras,como na Paróquia de Longa, noconcelho de Tabuaço, as ruas sãoiluminadas por centenas de velasque servem de ambiente para arecitação da Via Sacra.A morte de Jesus suscita, nadevoção popular, profundasmanifestações de amor. Assim, naParóquia de Castro Daire, a seguir àcelebração da Paixão, faz-se umaprocissão até à Capela do Calvário,que, no cimo daquela Vila, é sinalvisível desse outro Calvário ondeCristo morreu.A noite de sábado para o Domingoda Ressurreição é vivida na alegriaque nasce da presença de Cristoque vive. Assim o demonstram asvárias vigílias pascais que, quer naIgreja Catedral, quer pelasParóquias anunciam Cristoressuscitado. O mesmo anúncio érepetido, casa a casa, ao longo doDomingo de Páscoa, com a visitapascal. Padre José Alfredo Patrício

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Liturgia e tradição

Ao ritmo da liturgia da Igrejauniversal e tal como, com certeza,em todas as outras dioceses doPaís, a celebração da Páscoa temespecial importância na maioria dascomunidades cristãs da diocese deLeiria-Fátima.Assim, centrando-nos nas festa daPáscoa, a Semana Santa tem umprograma intenso de celebraçõesem praticamente todas asparóquias, sobretudo, a Ceia doSenhor, na quinta-feira, acelebração da Paixão,na sexta-feira, e a soleníssimaVigília Pascal, no sábado.Embora não se trate de umprograma “oficial” de níveldiocesano, a verdade é que aliturgia na Sé tem uma especialpreponderância, dado ser presididapelo Bispo.Para além dos atos litúrgicos, há emvárias paróquias outras celebrações etradições próprias deste tempo,algumas bastante “mediáticas”, comoas representações da Via-Sacra “aovivo”.

Acontece, por exemplo, em NossaSenhora das Misericórdias (Ourém),em Fátima e na Maceira, neste últimocaso com o próprio pároco a assumiro papel de Jesus Cristo. Há tambémparóquias onde a celebração daPaixão do Senhor assume uma formarepresentada, que reúne multidõespelas ruas, integrando a procissão do“enterro”, como é o caso da Batalha edos Pousos.Uma tradição mais comum, emboracom formas diversas entre ascomunidades, é a visita pascal de casaem casa, com o anúncio de Cristoressuscitado e a bênção às famílias,havendo casos em que se deixamamêndoas e se recebe o folar para ofundo económico paroquial. Iniciadano Domingo de Páscoa, a visitaestende-se, por norma, pelosdias ou domingos seguintes. Namaioria dos casos, é ainda feita pelopároco, mas tem sido cada vez maisuma tradição assumida por equipasde leigos.

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DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA Este ano – Ano da Fé – algumasparóquias decidiram seguir aproposta do Bispo diocesano defazer uma celebração comunitáriada Profissão de Fé, tendo algumasescolhido como ocasião propícia aVigília Pascal. Na Boa Vista, porexemplo, será nessa noite aProfissão de Fé dos adolescentesda catequese, decorrendo ao longodesse sábado um encontroprolongado de preparação comeles.

Tal como referido, diversas outrasmanifestações de religiosidadepopular, associadas ou não àscelebrações litúrgicas da SemanaSanta, marcam presença de formamais ou menos intensa nestaquadra Pascal. Fator comum é umaconsciência que parece maisesclarecida sobre a importânciacentral da paixão, morte eressurreição de Cristo no contextoda fé e da vida celebrativa doscristãos.

Luís Miguel Ferraz

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Semana Maior A celebração da Semana Santa naDiocese de Lisboa encontra o seucentro na Sé Patriarcal, onde todosos anos o Cardeal-Patriarca presideaos diversos atos litúrgicos quemarcam o ritmo da denominadaSemana Maior do ano.Desde a celebração do Domingo deRamos na Paixão do Senhor,celebrada na Sé com a habitualprocissão dos ramos que percorre oespaço do deambulatório e dosclaustros daquele templo, até àspróprias celebrações do TríduoPascal, que culminam com acelebração da Ressurreição deJesus, no Domingo de Páscoa.No entanto, existem em algunslugares da diocese diversasmanifestações públicas de fé que,com maior ou menor tradição,assinalam este tempo forte do anolitúrgico. A Procissão dos Passos,que se realiza em diversasparóquias da diocese e até mesmona cidade de Lisboa, deverá ser amanifestação pública de fé queencontra mais réplicas durante otempo de Quaresma em toda adiocese. Na cidade de Lisboa foi,inclusive, retomado este ano o

percurso original da Procissão doSenhor dos Passos da Graça, queteve início em 1587, ligando a igrejade São Roque à Graça.Já em plena Semana Santa asmanifestações religiosas sucedem-se com maior ou menor visibilidademas expressando, sempre, avivência de uma fé que se tornapública, dirigindo de modo particularo olhar para a imagem de JesusCristo morto. Neste sentido, adesignada procissão do Enterro doSenhor, iluminada apenas porarchotes que ardem, é umamanifestação religiosa, que nãoestando prevista pelos livroslitúrgicos, estabeleceu-se emPortugal emmeados dos século XV e tem vindo aser recuperada em alguns lugaresda diocese de Lisboa. Este ano, oBairro Alto, em Lisboa, Alenquer,Óbidos, são algumas dasreferências a ter emconta, sendo Óbidos o lugar que,certamente, atrai maior número defiéis mas essencialmente turistasestrangeiros, pelo impacto culturaldo evento naquela vila do Oeste.

Nuno Rosário Fernandes

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DIOCESE DE LISBOA

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PÁSCOA EM PORTUGAL

Por terras arraianas

A Quaresma é o período do anolitúrgico de preparação dacomunidade dos fiéis cristãos para acelebração da festa pascal quecomemora a ressurreição de JesusCristo. Nesta preparação, emborasem o rigor de outros tempos emque apenas se cantavam cânticosreligiosos e havia renúncia aosdivertimentos, continua sendo, paraa maioria dos cristãos, tempo dejejum, da prática da caridade, deabstinência, de penitência, derecolhimento, de reflexão e deoração. A Quaresma é tempo devivências que nos evocam ossofrimentos da paixão e morte deJesus Cristo, com representaçõescénicas conforme relatos narradosnos Evangelhos e outras quechegaram até nós segundo atradição oral.Tal como na maioria das Dioceses,na de Portalegre e Castelo Brancoocorrem durante os quarenta diasda Quaresma celebrações que seiniciam, na Quarta-Feira de Cinzas,com a cerimónia da imposição dascinzas, sendo comuns, na maioriadas cidades, vilas e algumasaldeias, no quinto Domingo aProcissão dos

Passos e no sexto, denominadoDomingo de Ramos, a bênção dosRamos e procissão que comemora aentrada triunfal de Jesus Cristo emJerusalém. Neste sexto Domingo,inicia-se a Semana Santa,culminando com o Tríduo Pascalque ocorre na Quinta-feira Santacom a cerimónia do Lava-Pés,durante a Missa da Ceia do Senhor,na Sexta-feira Santa com a ViaSacra, cerimónia da Adoração daCruz, procissão do Enterro doSenhor que inclui o Sermão daSoledade e Sábado Santo a VigíliaPascal.Hoje, mesmo vivendo os riscos datotal desertificação e do completoenvelhecimento da população, aliáscomum a todo o interior de Portugal,parece-nos que nas terras arraianasdo Município de Idanha-a-Nova,pertencentes à Diocese dePortalegre e Castelo Branco,permanecem, como numa ilhaencantada, tradições religiosasquaresmais e pascais que foramcomuns no interior do País,arreigadas e firmadas desde cultospré-romanos até às vivências dareligiosidade e da piedade populardos nossos dias. Para amanutenção deste

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DIOCESE DE PORTALEGRE-CASTELO BRANCO

precioso património oral e imaterial,contribuiu o isolamento a que foravotado (em tempos não muitorecuados, com a mais elevada taxade analfabetismo do País), a açãoevangelizadora dos guerreirosmonges Templários onde no seuterritório deixaram marcas de oitocastelos medievais erguidos oureconstruídos, dos monges dosConventosFranciscanos de Nossa Senhora daConsolação, na aldeia deMonfortinho e do de Santo António,na Vila de

Idanha-a-Nova, as nove SantasCasas da Misericórdia, de ímparnúmero em todo o País, que são umdos garantes da preservaçãodessas sagradas e ancestraistradições. Também contribuírampara a salvaguarda das mesmas emcada uma das dezassete Paróquiasdo Concelho, o empenhamento e oesmero de uma mão cheia deguardiães desta herança tradicionalque a todo o custo procurammanter, expressa em manifestaçõesda religiosidade

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popular que ocorrem em lugares aoar livre, fora do espaço sagrado,bem como a benéfica ação dosPárocos do ontem e dos de hojeque tranquilamente as sabemvalorizar e sublimar, à luz doConcílio do Vaticano II.Merecem menção entre outrasmanifestações da piedade popular,o cântico ou canto daEncomendação das Almas em todasas dezassete Paróquias, o “ir verNosso Senhor” e o Santo Sepulcro,em Idanha-a-Nova, as Ladainhas,em Proença-a-Velha, o

Terço cantado pelos homens, em S.Miguel de Acha, as procissões“corridas” e dos Passos, emAlcafozes e a dos homens, noLadoeiro, a “Serração da Velha”, emIdanha-a-Velha, a representaçãocénica de Maria Madalena, nodecurso do Sermão, em Proença-a-Velha e Monsanto, os cânticos dosMartírios, da Senhora das Dores, doLouvád’ síssemo, da Verónica, dasTrês-Marias e o das Alvíssaras, emSábado de Aleluia, ao som domilenar adufe, bem

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DIOCESE DE PORTALEGRE-CASTELO BRANCO

como a Ceia dos Doze, os SantosPassos, as “cabeleiras”, em váriasParóquias, o Lava-Pés peloProvedor da Santa Casa daMisericórdia, em Alcafozes eSegura, o descravamento e odescimento de Cristo arvorado naCruz e a Sua colocação no esquife,em Monsanto, e a Aleluia comcortejo pelas ruas e com asamêndoas à rebatina, lançadas peloPároco, em Idanha-a-Nova.No Domingo de Páscoa é comum,nas diversas paróquias, haver aProcissão da Ressurreição, seguidada Eucaristia. E logo na segunda-feira, começam e prolongam-se,mormente até ao Pentecostes, asfestividades: os bodos, as romarias,as

celebrações à Mãe de Deus, nosinúmeros santuários campestres,dispersos pelo concelho.Aos naturais, mas ausentes, e aosleitores amantes dos bens naturaise culturais, com o legítimo desejo deretemperar as forças devido aofrenesim do dia a dia, convidamos avisitar o Município de Idanha-a-Nova, de indubitável vocaçãoturística, no decurso dasmanifestações quaresmais epascais, mormente na SemanaSanta, que as gentes das terrasarraianas das Idanhascarinhosamente mantêm comrespeito, seriedade, dedicação e fé.

António Silveira Catana

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Páscoa: anúncio, vivência e partilha

Falar da Páscoa na zona do Porto ede uma maneira geral no norte dePortugal, para além dascelebrações propriamente litúrgicas(a Ceia do Senhor, as celebraçõesda Paixão, as liturgias das horas) éfalar das manifestações da piedadepopular em torno da Paixão, e doDomingo de Páscoa.As celebrações da Paixão sãomuitas e múltiplas, muito marcadase marcantes em certas regiões: osautos populares da Paixão, queenglobam belos textos, poemas emelodias de criação popular (o quemostra como o povo sentia, vivia einterpretava a Paixão), e asprocissões que se diziam “deendoenças”, cujo nome guarda emsi o significado e a vivência da dor,associando à de Cristo a dor doshomens e mulheres saídas dosduros trabalhos: é bonito ver comoassim se associam as doreshumanas à dor de Cristo.Mas a mais popular celebração daPáscoa nesta zona nortenha é semdúvida o chamado “compasso”.Compasso evoca caminhada, evocaanúncio, evoca proclamação, evoca

festa e alegria espontânea enatural, que também se exprimia napartilha de iguarias e bebidas àvolta de uma mesa.É interessante como o “compasso”(cum-passu, caminhada a pé) traduzà sua maneira o percurso vital daspessoas: caminhando ao longo dosdias, vive-se a procura do encontro,os parentes que vêm de longe, lá dacidade. a presença das famíliasumas junto das outras, um sentidocomunitário que se perdeu nassociedades modernas.Com efeito, o compasso é umatradiçãoeminentemente rural. Perdeu muitoda sua identidade quando se tentoutransferir para os caixoteshabitacionais das cidades, nesseafã de subir e descer escadas deuns, enquanto outros agitamcampainhas do outro lado da rua,estrategicamente encostados aoscandeeiros. O calcorrear doscaminhos de terra ou saibro foisubstituído pela calçada portuguesaou pelo asfalto incaracterístico. Aocompasso das cidades falta sempreo cheiro às árvores floridas ou àsterras estrumadas.

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DIOCESE DO PORTO

Não quero com isto significar quedeixe de ter sentido a agorachamada “visita pascal”.Transformou-se também a presençado padre na de leigos generosos,mas que lhe faz perder um pouco dasua “sacralidade” advinda da batinae da estola.No entanto, esta memória doanúncio da ressurreição devetornar-se num anúncio novo: sentirque a Igreja se

desclericaliza, se democratiza, tornamais próxima a vivência e aconvivência de vizinhos que tantasvezes mal se conhecem.Viva pois, pela visita pascal, oanúncio da ressurreição e o anúncioda fraternidade humana nas cidadesdesumanizadas!

M. Correia Fernandes

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Tradição e testemunho

A Diocese de Setúbal, devido aoenorme aumento populacional dasúltimas décadas, acolhe hoje maisde 800 mil pessoas. Provindas devárias partes de Portugal e domundo, um bom número detradições aqui se juntou, fazendouma mistura original e alargada noque diz respeito também àscelebrações associadas à SemanaSanta, Tríduo Sacro e TempoPascal. Estas, juntas às jápraticadas pelas comunidades maisantigas, criam hoje um colorido que,embora ainda não totalmente«cristalizado» em termos de ritos,tem uma preocupação claramenteapostólica e de sinal público de Fé,mais do que apenas o cumprir deuma tradição anual.Assiste-se a um reavivar deexpressões religiosas e de piedadepopular, as quais, já bastantepurificadas, têm sido momentos devisibilidade, anúncio e encontro demuitos com a Igreja.Embora muita gente ainda «vá àterra» por esta quadra, é cada vez

em maior número os que ficam paraparticipar nestes momentos tãocentrais da vida dos cristãos.A maioria das paróquias faz questãode celebrar uma Via Sacra pública,e essa prática tem-se incrementadonos últimos anos de modoconsistente. Algumas comunidadesde mais antiga tradição mantêm asProcissões dos Passos e as doEnterro do Senhor, e outras aindauma Procissão Penitencial (como nacidade episcopal, por exemplo) quese centram no sacrifício redentor deJesus Cristo por toda a humanidade.No Domingo de Páscoa, e noDomingo seguinte, algumascomunidades realizam a Procissãoda Ressurreição e também a VisitaPascal, que foram recuperadas eimplementadas de novo em várioslocais, e que são muito bem aceitessobretudo naquelas localidades commaior implantação de pessoas doNorte e Centro de Portugal.As comunidades procuram ainda

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DIOCESE DE SETÚBAL

celebrar condignamente as festasdo Tríduo e da Páscoa, tendopaulatinamente introduzidoelementos de maior profundidadelitúrgica, como o canto de Ofício deLeituras e de Laudes na Sexta eSábado Santos, e que hoje sãoapanágio de boa parte dasparóquias.Também se tem valorizado muitomais a centralidade da VigíliaPascal, reservando para ela osbatismos de adultos e preparando-acom um cuidado cada vez maior, oque também decorre do maiordesvelo na

preparação dos candidatos aoBatismo (em número crescente) eno seu conveniente tempo decatecumenato.Neste ano, com a celebração do Anoda Fé, algumas comunidadesoptaram por fazer a Via Sacra ealgumas procissões com caráterinterparoquial, juntando duas oumais comunidades no mesmo gestode sair à rua para rezar com todos epor todos, num testemunho visível eclaro de unidade, para lá das tantasvezes quase intransponíveisbarreiras paroquiais.

Francisco Mendes

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A Páscoa na Diocese de Viseu

A festa da Páscoa é o momento altodo Ano Litúrgico, este ano assinala-se o Ano da Fé.A Diocese de Viseu assinala aPáscoa com a esperança de viverna alegria de Cristo Ressuscitado,assim 15 dias antes do Domingo dePáscoa é feita procissão do Senhordos Passos, em que na noite desábado o cortejo sai da Igreja deSão Miguel até Catedral da cidade.Na tarde de domingo o cortejo voltaá Igreja de São Miguel.O Domingo de Ramos também ébastante vivido na diocese, nasparóquias antes do início dacelebração é feita uma procissãopelas ruas das aldeias assinalandoa triunfal entrada de Cristo emJerusalém, depois aquando dachegada às igrejas os ramos deoliveira são abençoados pelospárocos locais.Na noite do Domingo de Ramos acidade de Viseu vive a Via Sacra,acto cénico que mostra a Paixão doSenhor, que sofreu na Cruz e queRessuscitou, esta actividade édinamizada pela paróquia do Campoatravés do grupo “Ondas doCampo”.

Dá-se inicio á semana Santa,semana em que Quinta, Sexta,Sábado e Domingo, são os grandesdias da Páscoa, assim, na Quinta-feira é celebrada a eucaristia dainstituição do sacerdócio, nacatedral de Viseu, os sacerdotes dadiocese participam na celebração,recordando a última ceia de Cristocom os Apóstolos. Nas paróquias écelebrada a eucaristia dosacerdócio, sendo que no final dacelebração da quinta-feira é retiradodo sacrário o SantíssimoSacramento que fica fora Deste atéao dia seguinte.Chegámos á Sexta-feira Santa, diaem que se celebra a Paixão deCristo, em algumas paróquias sãorealizadas Via Sacras, seguindo-seum ritual da leitura da Paixão doSenhor, nesse dia o luto e o silênciosão factores fundamentais. Nacidade de Viseu na noite de Sexta-feira Santa é feita a Procissão doenterro do Senhor, simbolizando aMorte de Jesus Cristo.O sábado é considerado nasaldeias, como sendo o Sábado de

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DIOCESE DE VISEU

Aleluia, em que tanto na catedral deViseu e nas paróquias é celebradaa Vigília Pascal, onde a Água e Luzsão elementos de vida nosurgimento da Páscoa, nessamesma noite proclama-se que CristoRessuscitou, lembrando também afuga do povo de Israel do Egipto.O Domingo de Páscoa é o Domingoque se proclama “CristoRessuscitou Aleluia, Aleluia”, nessedia, dá se inicio ao chamadocompasso Pascal, ou visita Pascal,antigamente em paróquias como Riode Loba, o padre que visitava ascasas dando a beijar a Cruz deCristo levava consigo mulheres ecrianças que cantavam alegrementea Ressurreição de Cristo, tradiçãoque se foi perdendo e hoje em diaas visitas pascais são feitas porgrupos de pessoas que sãoabençoadas pelo pároco pararealizar este trabalho. Noutras

paróquias a visita pascal ocorre nodomingo da Divina Misericórdia. Nasvisitas pascais as casas querecebem os visitadores têm paralhes oferecer produtos tradicionais,como as amêndoas ou os bolos folarou ainda os pães-de-ló, em algumascasas pode se encontrar astradicionais broas doce e os pãesde azeite.O tempo pascal vai continuando ena quinta feira de Ascensão a aldeiado Guardão, terra situada na Serrado Caramulo recebe a Festa dasCruzes, simbolizando o triunfo dobem. As Cruzes das aldeias daSerra do Caramulo vêm emprocissão até á igreja do Guardãocelebrar a Ascensão de Cristo.Vale a pena passar a Páscoa naDiocese de Viseu e conhecer astradições quer populares, querlitúrgicas.

Élio Oliveira - Jornal da Beira

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Tríduo Pascal, símbolos eespiritualidade

O padre Luis Manuel Pereira Silva,professor de liturgia na UniversidadeCatólica Portuguesa e pároco da Sé deLisboa,apresenta os momentos centrais do ciclode celebrações que leva os católicos daQuinta-feira Santa ao Domingo de Páscoa.

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Agência ECCLESIA (AE) – O quecelebra a Igreja nestes dias centraisdo seu calendário litúrgico?Luis Manuel Silva (LMS) – A Igrejacelebra, anualmente, de maneirasolene a Páscoa, a que chamamoso Tríduo Pascal (começa na Quinta-feira à tarde com a celebração daCeia do Senhor e termina noDomingo de Páscoa, com assegundas vésperas). Na Quinta-feira Santa, o olhar e toda a vida daIgreja se centra no cenáculo, ondeJesus instituiu a Eucaristia e ondenos deixou o mandamento novo doamor. Expresso, concretamente, nogesto que São João nos relata, nocapítulo 13 do seu evangelho, como lava-pés. AE – A espiritualidade da Quinta-feira Santa está centrada na Ceiado Senhor?LMS – Na instituição da Eucaristia,onde Jesus dá um sentido novo atodo aquele rito. Ele próprio o diz,quando pega no pão e no vinho,«tomai e comei, tomai e bebei, esteé o meu corpo, este é o meusangue». A Páscoa começa com aprópria celebração histórica, paraJesus, na última ceia,

como uma nuvem da paixão doSenhor. Jesus celebra a última ceia,já envolvido por todos osacontecimentos.Na última ceia, Jesus institui aEucaristia de maneira a que a Igreja– ao longo dos séculos – possasempre celebrar e renovar omemorial da Páscoa de Jesus,através de elementos que Elepróprio escolheu na última ceia.Elementos que ficassem comosinais, como presença, da sua vidae da sua obra redentora. AE – O pão, a água e o vinho…LMS – São elementos que Jesusescolheu na ceia hebraica. Noentanto, é bom recordar que a ceiahebraica tinha outros elementos,como o cordeiro pascal, as ervasamargas. Há aqui um mistério deuma vida dada e de uma vidarenovada que a Igreja pode, cadavez que celebra a Eucaristia, tornarpresente. Isto é o aspecto maisimpressionante, Jesus deixa-sepresente para que o cristão, obaptizado, vá peregrinando notempo, mas alimentando-se do pãoque é da eternidade.

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AE – A Cruz é o símbolo, emdestaque, na Sexta-feira Santa…LMS – Em Sexta-feira Santa, nohorizonte da Igreja, ergue-se a Cruzdo Senhor. A cruz como sinal da piordas mortes, da morte mais infame,mas que para nós, cristãos, é osinal da glória. Por exemplo, em SãoJoão, é importante este sentido daglória da cruz. Aliás, Jesus passa asua vida pública, em São João, adizer: “Ainda não chegou a minhahora”. Repete esta expressão váriasvezes, até que quando sobe aJerusalém, para celebrar a Páscoapela última vez na sua vida e fará asua própria Páscoa, Jesus diz,abertamente, que “chegou a hora”.Esta hora, é a hora da cruz, daglorificação que ao mesmo tempo éparadoxal. A crucificação era paraos malfeitores.

AE – A dramaticidade da Sexta-feiraSanta dá lugar ao silêncio nosábado santo que desemboca navigília pascal. Uma celebraçãocarregada de simbolismo?LMS – A vigília pascal é a grandenoite dos cristãos. É a santa noitedos cristãos. Aliás, na liturgia háuma valorização da noite. Nessanoite, a Igreja reunida aguarda,expectante, a Ressurreição doSenhor. Celebramos a vitória deCristo sobre o pecado e a morte. Avigília pascal é também uma vigíliacósmica onde os quatro elementosda natureza estão presentes: terra,ar, fogo e água. Estes elementosforam escolhidos por Ele para a vidasacramental da Igreja.Em todo o tempo pascal, o círioestará ao lado do ambão. É nessaluz de Cristo Ressuscitado que acomunidade cristã lê as escrituras etoda a história da salvação.

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AE – Na liturgia baptismal surge osímbolo da água.LMS – A bênção da água. Nessaágua serão baptizados oscatecúmenos e com essa água éaspergida toda a assembleia cristã.A assembleia renova, de maneirasolene, os votos do seu

baptismo. A água aparece comosímbolo da vida. O baptismo é esteviver para uma vida nova. Na águado baptismo morre o homem velho.

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Igreja atenta às periferias

O Papa Francisco concedeu hoje aprimeira audiência geral do seupontificado, perante dezenas demilhares de pessoas, pedindo que aSemana Santa seja umaoportunidade para a Igreja chegaràs “periferias” e “sair” de si. “Viver aSemana Santa seguindo Jesus, nãosó com a comoção do coração, querdizer aprender a sair de nósmesmos, para ir ao encontro dosoutros, para ir às periferias daexistência”, disse, no Vaticano,falando em italiano, a única línguaem que se pronunciou.O Papa argentino pediu umaatenção particular aos que estão“mais longe, aos que sãoesquecidos, os que têm maisnecessidade de compreensão, deconsolação, de ajuda”. Nestecontexto, evocou o exemplo deJesus que “falou a todos semdistinção, aos grandes e aoshumildes, ao jovem rico e à viúvapobre, aos poderosos e aos fracos”,levando-lhes a “presença de Deusque se interessa por cada homem ecada mulher”.

Segundo Francisco, a SemanaSanta que a Igreja Católica seencontra a celebrar desde domingoé “um tempo de graça” para asparóquias, movimentos eassociações católicas, chamadas a“sair” ao encontro dos outros paralevar “a luz e a alegria” da fé”.“Sair sempre, com o amor e aternura de Deus, no respeito e napaciência”, apelou. A mensagemseria retomada na conta do Papa narede social Twitter: "Permanecercom Jesus exige sair de si mesmo,de um modo cansado e rotineiro deviver a fé".Francisco, saudado várias vezespela multidão, voltou ao tema da“misericórdia”, que temacompanhado as suas primeirasreflexões. “Deus pensa sempre commisericórdia”, declarou, dando comoexemplo “o pai que espera oregresso do filho e vai ao seuencontro, vê-o quando ainda estálonge, sinal de que o esperavatodos os dias no terraço da suacasa”.

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Apelo

O Papa Francisco lançou hoje um apelo em favor da República CentroAfricana durante a primeira audiência pública do seu pontificado, noVaticano. “Sigo com atenção o que está a acontecer nesta hora naRepública Centro Africana e desejo assegurar a minha oração por todosaqueles que sofrem, em particular pelos familiares das vítimas, os feridose as pessoas que perderam a sua casa e que são obrigadas a fugir”,afirmou.

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Encontro de «irmãos»O primeiro encontro “face a face”entre o Papa Francisco e o seuantecessor, Bento XVI, decorreueste sábado em Castel Gandolfo,nos arredores de Roma, e começoucom um abraço. "Somos irmãos",disse o atual Papa ao seupredecessor, segundo o porta-vozdo Vaticano.O padre Federico Lombardi reveloualguns detalhes daquela que foi aprimeira audiência entre um Papaem exercício e um emérito, numencontro "totalmente privado ereservado". De acordo com o diretorda sala de imprensa da Santa Sé, “ohelicóptero que transportou o PapaFrancisco chegou ao PalácioApostólico às 12h15 (menos umahora em Lisboa) e o carro comBento XVI aproximou-se desde logodo local de aterragem”.“Quando chegaram ao pé um dooutro, o Papa emérito aproximou-sede Francisco e os dois deram umabraçocomovente”, revelou o porta-voz daSanta Sé.Depois do percurso de carro desdeo heliporto até ao Palácio, ambos“seguiram imediatamente para a

capela” do edifício “para ummomento de oração”. “Bento XVI ofereceu o lugar dehonra a Francisco mas este quisque eles ajoelhassem os dois nomesmo banco”, realçando a suacondição de “irmãos”.Francisco ofereceu a Bento XVI “umbonito ícone” dedicado a NossaSenhora da Humildade, um presenteque pretendeu invocar “a grandehumildade” do Papa emérito.Através das imagensdisponibilizadas pelo CentroTelevisivo do Vaticano foi possívelperceber a conversa mantida nessemomento, em que o Papa argentinoexplica a oferta e o seu antecessorse mostra comovido com o gesto.

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Papa vai lavar os pés a jovensdetidosO Papa Francisco vai lavar os pés a12 jovens de várias nacionalidadese religiões na celebração da tardede Quinta-feira Santa, marcada esteano para um centro de detençãopara menores, em Roma. O Serviçode Informação do Vaticano (VIS)revelou que a celebração será“muito simples” e tem um “caráteríntimo”, por vontade expressa doPapa argentino, sem transmissãotelevisiva em direto e presença dejornalistas limitada ao exterior doInstituto Penal para Menores (IPM)de Casal del Marmo, que Bento XVItambém visitou em 2007.Acelebração tem início marcado paraas 17h30 locais

(menos uma em Lisboa) erepresenta uma mudançarelativamente ao programa habitualda Semana Santa, dado que o Papapreside habitualmente a estacerimónia na Basílica de São Joãode Latrão.A ‘missa da Ceia do Senhor’ écaraterizada “pelo anúncio domandamento do amor e pelo gestodo lava-pés”. A celebração vaicontar com a participação de 50jovens, incluindo 11 raparigas, todosdo IPM, que irão proferir as leiturasda cerimónia.“O Papa vai lavar os pés a 12 deles,escolhidos entre váriasnacionalidades e confissõesreligiosas”, explica a nota do VISenviada à Agência ECCLESIA.

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Semana Santa: Oportunidadede atualização da fé

O frei Filipe Rodrigues, da Ordem dos Pregadores,convida os fiéis a fazerem da Semana Santa umaoportunidade de “atualização” da fé e de reflexãosobre aquilo que a Páscoa pode trazer de novo àvida de cada um.Em entrevista ao Programa ECCLESIA, na Antena 1,o religioso dominicano salienta que o “maisimportante” é que a vivência do Tríduo Pascal sejade facto “santa”, que as pessoas participem nascelebrações e procurem na Palavra de Deus “pistas”que permitam interpretar “a morte e ressurreição deCristo” à luz dos acontecimentos atuais.Mais do que recordar algo que “aconteceu há doismil anos atrás”, os católicos são chamados a vercomo é que “este ano”, nas “condições” em queestão, com tudo o que os envolve, conseguemacolher na sua “história” a “libertação” que Cristooferece.A partir das leituras que compõem a Semana Santa,o frei Filipe Rodrigues realça que “Jesus não vemcumprir com as aspirações das pessoas em relaçãoao Messias, vem cumprir a vontade de Deus”.“O poder de Jesus, e a Semana Santa vai dizer issoa cada dia, é na Cruz. Jesus reina na Cruz e a suacoroa é de espinhos”, aponta o religioso, que chamaa atenção para a simbologia contida na celebraçãodo Domingo de Ramos.

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Tal como Jesus foi acolhido em tomde festa e “alegria” em Jerusalém,apenas para ser depois rejeitado eentregue à morte, hoje também oscatólicos “muitas vezes aclamamJesus, como Deus e Senhor edepois o vão traindo, através deerros, pecados e omissões”,salienta o dominicano. No entanto,“em cada dia, ajudadas pelasleituras”, as pessoas têm aoportunidade de perceber que aatitude de Cristo é de “misericórdia”e não de repreensão, que as suas“últimas palavras são de perdão ereconciliação”.

Isto também deve ajudar as pessoasa encararem a Semana Santa comesperança e otimismo, “não comoum caminho de morte mas deressurreição”, reforça o frei FilipeRodrigues.A Semana Santa, ciclo litúrgico maisimportante do calendário católico,recorda os momentos queantecederam a prisão e execuçãode Jesus e culmina na Páscoa, naqual se celebra a ressurreição deCristo. Até sexta-feira, às 22h45, oPrograma ECCLESIA na Antena 1vai apresentar uma reflexão sobre osignificado destes dias.

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Valores para este tempo

D. José Cordeiro, bispode Bragança-Miranda

O novo Papa Francisco e a leitura do livro “Ilvescovo” do Cardeal Martini, outro Jesuíta e desaudosa memória inspiraram esta simplesreflexão acerca de quatro valores adaptados aeste tempo da net generation, que já supõem afé, esperança e caridade e ainda as virtudescardiais (justiça, prudência, temperança efortaleza) e são eles: 1) a integridade, 2) alealdade, 3) a paciência e 4) a misericórdia. 1) IntegridadeSer uma pessoa íntegra e honesta é ser umapessoa atual: «Não digas: “Porque foram os diasantigos melhores que os de agora”? Pois não é asabedoria que te inspira essa pergunta» (Ecl 7,10). O grande F. Pessoa, sabiamente escreveu:«Para ser grande, sê inteiro: nada teu exageraou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto ésno mínimo que fazes. Assim em cada lago a luatoda brilha, porque alta vive». 2) LealdadeDizer a verdade, significa não mentir e pornenhum motivo. Ser honesto é ser simples, istoé, ‘sem dobra ou vinco’ que não transpareça dasua vida alguma atitude de escondimento acercadas regras e das normas a observar.

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3) PaciênciaUm dia o Cardeal G. Siri aconselhouaos bispos cinco virtudes, ao que euacrescento mais duas: 1. Paciência;2. Paciência; 3. Paciência; 4.Paciência; 5. Paciência; 6.Paciência; 7. Martírio da paciência.Há que ter paciência também comaqueles que nos convidam a terpaciência. 4) MisericórdiaA Igreja tem de exercitar ainda maisa sua função de mãe amável eatenta no acompanhamento detodas as pessoas, para que sejacapaz de oferecer motivos deesperança a todos os que «jazemnas trevas e nas sombras da morte»(Lc 1, 79). O Beato D. Bartolomeu dosMártires, Arcebispo de Braga e aotempo também das terras do Sul daDiocese de Bragança-Mirandaescreveu no tão atual StimulusPastorum: «três coisas se requeremno prelado: 1ª – pureza de intenção,que consiste nisto: desejar maisservir que presidir; procurar em tudonão a honra, não a

própria comodidade, mas a puravontade de Deus e a salvação dasalmas; 2ª – conversão santa eirrepreensível, para que de nenhummodo se possa objetar-lhe: médico,cura-te a ti mesmo; 3ª – humildade interior e sincera, paraque não presuma interiormente ouse glorie da própria santidade, comousurpador e ladrão da glória que sóa Deus é devida, em quem deveconfiar e de quem deve depender».É um programa que abre à coragemda esperança, como refere SantoAgostinho: «não há nada tão difícil,nem tão penoso, nem tão perigosocomo o múnus episcopal».Todos estes valores referidos aobispo, servem também para todo ocristão, porque «quandoprofessamos um Cristo sem cruznão somos discípulos do Senhor,somos mundanos, somos bispos,padres, cardeais, Papas, mas nãodiscípulos do Senhor», comoobservou, em nobre simplicidade, oPapa Francisco. A cruz florida daPáscoa nos renove na fé daEsperança que irradia o amorluminoso e confiante.

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A nova estação

Lígia SilveiraAgência Ecclesia

- O pontificado de Karol Wojtyla iniciou-sepoucos dias antes de eu nascer. Durante muitotempo, num sentimento comum a tantos queacompanharam os 27 anos de João Paulo II,aquele foi o meu Papa. Na Jornada Mundial daJuventude, em 1997, onde o encontrei, não era oseu conservadorismo que me marcava mas anteso convite à participação numa Igreja jovem.Com Bento XVI fui percebendo que seria o Papada minha maturidade, onde os limites e asfronteiras da fé desapareciam para dialogar, emliberdade, em beleza, em promessa de umaIgreja de encontros que queria respeitar adiferença.Junto-me agora ao coro de vozes que se deixouemocionar quando viu uma figura de branco semornamentos aparecer na varanda da Basílica deSão Pedro e, dias mais tarde, nos falou de umaIgreja pobre e para os pobres. Simplicidade eprofundidade mostraram que palavras e gestosse unem para cuidar, verbo importante naAmérica Latina.A cruz de João Paulo II, as reflexões de Bento XVIou os gestos simples de Francisco convidam a irao essencial da fé e à mudança de estação emcada etapa da vida.

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- Num trajeto quotidiano passei porum local que povoou diariamente aminha infância. Anos 80 quando,ainda miúdos, todos os trocosserviam para gomas, pastilhas erebuçados. Os intervalos entre osTrabalhos Manuais e as Ciências daNatureza eram passados noquiosque a comprar guloseimas e adeixar os olhos brilhar perante tantacor e promessa de açúcar. Hápouco mais de 20 anos estaparagem obrigatória seria enorme emovimentada mas, há dias, ainda afuncionar e com a mesma senhora avender gomas, pastilhas erebuçados, este pequeno recantoera isso mesmo: um lugarconfortável mas redimensionado àmundividência que os anosadquiriram.Assim como quando entramos naantiga sala da escola primária, ondetudo era enorme e a carteira ocanto de conforto, hoje, esseespaço em que crescemos torna-seo lugar onde se recorda a promessado que seriamos. A mudança estános olhos e na vida.

- A Ecclesia mudou-se por estesdias para novas instalações dentroda Conferência EpiscopalPortuguesa (CEP), concretizando oprojeto de edição e realizaçãoconjunta de toda a informaçãoproduzida pela agência de notícias,programa de televisão e emissão derádio. A partilha de um espaçocomum abre uma nova etapa naforma de se ser jornalista nestacasa, da pertença e do projeto deinformação religiosa. - A redação da Ecclesia é um localprivilegiado para acompanhar asmudanças de estação. As muitasárvores que dão sombra e frescurano verão são as mesmas que nooutono, entre folhas cor-de-laranja ecastanhas, mostram o crepúsculodos dias mais pequenos. Os ramosdespidos que dançam à chuvabatida a vento e mostram a nudezdo inverno renovam-se com o tempoameno e colorido que a primaveraoferece. São sempre novas asestações que acompanhamos pelasjanelas da nossa redação.

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TERRA PROMETIDASteve Butler e Sue Thomason, doisexecutivos que trabalham para umacompanhia energética dos EstadosUnidos, têm por incumbênciaconvencer os proprietários agrícolasde Midwestern a vender os direitosde exploração das suas terras emfavor da extração de gás natural. Nopacote de contrapartidas eatrativos, conta-se a participaçãonos lucros da companhia e atransformação radical do estilo devida de uma população francamenteafetada pela recessão económica...Em plena campanha e apesar dosresultados positivos que umdiscurso bem afinado vaiencontrando, Steve Butler depara-se com a firme oposição de FrankYates, um cientista reformado, e deDustin Noble, ambientalista, ambosdecididos a demonstrar os efeitosnefastos de tal exploração para aqualidade da água e,consequentemente, para oequilíbrio natural de um soloinvulgarmente rico.Aos poucos, a convicção de Stevevai sendo abalada, obrigando-o aponderar não apenas sobre os

seus interesses pessoais eprofissionais, mas sobre a defesados seus valores... sobretudo dobem comum. Nesta ponderação nãoé indiferente a relação que estreitacom Alice, uma professora local...Trazendo a lume uma velha,pertinente e nada consensualquestão sobre a racionalidade douso dos recursos naturais, Gus VanSant propõe em ‘Terra Prometida’uma reflexão sobre os custos ebenefícios da exploração do gásnatural que, embora focalizadanuma região dos Estados Unidos,abrange uma discussão a nívelplanetário. A perspetiva económicae ambientalista assumem oprotagonismo da história, numarelação em que as respostas decurto prazo às necessidades de umapopulação, enquadradas numa maisvasta necessidade deautonomização económica dosEstados Unidos face a paísesprodutores de gás natural, não sãosuficientes para camuflar nem anecessidade de preservação dasaúde dos recursos naturais, amaior e mais garantida riqueza

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que uma população possui, nem adesproporção entre os ganhos dequem explora os recursos e dequem deles deve beneficiar pordireito.

Com uma realização escorreita e umnaipe de excelentes atores, osargumentos de Van Sant pendem deforma muito evidente para aperspetiva ambientalista, o queapesar da agilidade com que o seumais recente filme se desenvolve,não chegará para minimizar oalcance mundial da questão, nummundo, que apesar dasconvenções, acordos e regras quese vão estabelecendo entre países,continua a ser explorado de formabastante desigual...

Margarida Ataíde

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Semana Santa de Braga

www.semanasantabraga.comEm plena Semana Maior, achamospor bem trazer a este espaço oúnico sítio online inteiramentededicado a este grande momentode fé e esperança vivido por todosos cristãos. Da responsabilidade doCabido Metropolitano e PrimacialBracarense que, em conjunto commais um grupo de entidades(Irmandades, Câmara Municipal,região de turismo do norte e aassociação comercial de Braga),disponibilizam este espaço quepretende acima de tudo ser um localonde podemos consultar tudo aquiloque está relacionado com estaocasião única para a cidade dosarcebispos.Ao digitarmos o endereçowww.semanasantabraga.comencontramos um espaço muito bemconcebido, com uma imagemdiscreta

mas ao mesmo tempo solene eperfeitamente enquadrada com otempo litúrgico em que vivemos. Napágina inicial temos ao dispor umconjunto enorme de recursos, quetransformam esta área como o palcoque nos transporta para asdiferentes propostas. Assim,passamos a descrever os principaisitens.Na opção “lausperene quaresmal”,podemos consultar o calendário daexposição à adoração do SantíssimoSacramento nas diferentes igrejasda cidade. De seguida, temos ummapa interativo com todos ospercursos das diversas procissõesque percorrem as artérias deBracara Augusta. Mais abaixo, noitem “histórico”, para

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memória futura, podemos acederaos registos dos anos anterioresdesde 2007 até ao ano passado.Existe um conjunto de artigos quepodem ser adquiridos diretamentenesta plataforma, para isso, bastaclicar em “produtos oficiais”. Dentroainda desta temática comercial,pode consultar uma listagemcompleta com todos locais deacomodação em “alojamento”. Podetambém colaborar financeiramentecom a comissão que organiza estasemana, através de um

patrocínio ou donativo, podendoobter mais informações em“donativos”.Em “celebrações religiosas”,dispomos de uma explicaçãodetalhada de todasas celebrações e momentos solenesde âmbito religioso, desde a bênçãodos Ramos que inicia a SemanaSanta, passando pela “mãe detodas as celebrações” e terminandona visita Pascal.Paralelamente existe um vastoprograma cultural, com exposições econcertos, envolvendo assim todaesta semana, num extraordináriomomento de fé e vivência cristã,para quem se entrega à paixão,morte e Ressurreição de Cristo.

Fernando Cassola Marques

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II Concílio do Vaticano:O ênfase ao mistério pascal

Nos anos 60, viveu-se o enorme entusiasmo daaplicação da reforma da liturgia surgida pelo II Concíliodo Vaticano. Segundo o bispo de Bragança-Miranda,D. José Cordeiro, esta aplicação destacou-se naabertura da liturgia às línguas vernáculas e o papelrelevante atribuído às Conferências Episcopais; arestauração da concelebração e da comunhão sob asduas espécies; a simplificação do ofício divino; asperspectivas missionárias que as possíveisadaptações ofereceram; a preferência do termo unçãodos doentes ao antigo de extrema unção; o anúnciode que é possível reformar toda a liturgia; o ênfase aomistério pascal; a participação dos fiéis e adignificação do culto.Numa conferência proferida na Academia Internacionalda Cultura portuguesa, em Lisboa, e subordinada aotema «Do Movimento Litúrgico à Reforma Litúrgica emPortugal» o prelado de Trás-os-Montes sublinhouainda que nos anos 70 (Note-se, porém que, em 1974,iniciam-se em Portugal as semanas de Pastorallitúrgica, que congregam milhares de pessoas emFátima e muito têm contribuído para a formaçãolitúrgica das dioceses portuguesas), assistiu-se a um“desencanto na receção da reforma, devido a umarenovação não suficientemente preparada,permanecendo a reforma no exterior”.“Foram, no entanto, anos marcados pela: fixação dascelebrações e a publicação dos livros

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litúrgicos; o crescimento rápido dasecularização da sociedade; a crisedos sacerdotes. Nestes anos, ao verque a liturgia não resolvia todos osproblemas de fundo, a preocupaçãopastoral voltou-se para aevangelização”, disse.A recuperação operou-se nos anos80. Uma reorientação litúrgicafavoreceu a procura de um novoestilo de celebração. A relaçãocelebração-evangelização tornou-semais dinâmica e conciliatória.A pastoral litúrgica salientou-se nosanos 90. Existiu uma “plena sintoniacom os novos Ordines e umrenovado interesse pela Palavra deDeus” (Cf. SC 35.) Surgiram osnovos Leccionários com umdinamismo vital e sublinhou-se odomingo como a festa primordial.A nova evangelização tornou-seuma prioridade. O valor da Liturgiadas Horas foi considerado commaior destaque, bem como aexperiência do silêncio na oração.No limiar do terceiro milénio fez-seum apelo à espiritualidade litúrgica:participação mais ativa e

consciente dos fiéis na liturgia; oenriquecimento doutrinal ecatequético; o uso da línguavernácula; a abundância dasleituras bíblicas; o aumento dosentido comunitário da vida litúrgica;os esforços bem sucedidos paraeliminar o desacordo entre vida eculto, piedade litúrgica e piedadepessoal e liturgia e piedade popular.“Restam, contudo, grandestrabalhos a realizar”, salientou D.José Cordeiro e acrescentou: Oprosseguimento da sériainvestigação bíblica e teológicasobre os temas atinentes à liturgia(lex orandi) será, certamente, umapoio precioso para odesenvolvimento e a consolidaçãoda mesma sempre a renovar noespírito e na prática concreta.Todo o espaço da reforma litúrgicafoi sustentado pelo «Consilium adexsequendam Constituitionem deSacra Liturgia (25.01.1964 –09.05.1969), constituído para aaplicação da SacrosanctumConcilium.

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março/abril 2013

Dia 28* Vaticano - Basílica de São Pedro(08h30m de Lisboa) - Missacrismal presidida pelo PapaFrancisco. * Vaticano - O Papa Franciscocelebra a missa da tarde de Quinta-feira Santa numa prisão paramenores em Roma.* Braga - Sé - O arcebispo de Bragavai lavar os pés a 12 jovens deinstituições sociais. * Porto - Penafiel (Entre-os-Rios) -Procissão das endoenças.* Porto - Gaia (Sandim) - PáscoaJovem missionária promovida pelaFamília Missionária Verbum Dei e aRede Passo a Passo. (28 a 30)

* Setúbal - Palmela (Casa deOração Santa Rafaela Maria)-Páscoa 2013 «Aumenta a minha fé». (28 a 30)* Braga - Soutelo (Casa da Torre) - Páscoa em Soutelo «Pomo-nos acaminho?» promovida pelo CentroAcadémico de Braga (CAB). (28 a31) Dia 29* Vaticano - Coliseu (20h15m deLisboa) - Via Sacra de Sexta-feiraSanta presidida pelo PapaFrancisco. * Coleta em favor dos cristãos daTerra Santa. * Braga - Barcelos - Procissão dasendoenças presidida por D. ManuelLinda.* Vaticano - Lançamento do livro «OCéu e a Terra», publicadooriginalmente em 2010, naArgentina, pelo cardeal Jorge MariaBergoglio, atual Papa Francisco, e orabino Abraham Skorka. * Coimbra - Mosteiro de Santa Claraa Velha - Feira Solidária a favor daCáritas Diocesana de Coimbra. (29a 31)

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Dia 30* Vaticano - Basílica de São Pedro(19h30m) - Vigilia Pascal presididapelo Papa Francisco. Dia 31* Lisboa - Sintra - 6º CompassoPascal Motard. * Guimarães - Museu de AlbertoSampaio - Encerramento daexposição «Elegância, Moda e Fé.O Enxoval de Nossa Senhora daMadre de Deus» que integra aprogramação de Guimarães 2012Capital Europeia da Cultura. Dia 01* Braga - Montariol - Capítuloprovincial dos Franciscanos sobre«A caminho, rumo ao futuro». (01 a06) Dia 02* Braga - Museu Pio XII - Encerramento (início a 20 deMarço) da exposição de fotografiasobre a Semana Santa de Braga,resultante do concurso público em2012.* Itália - Roma - Ordenação de doisdiáconos da Companhia de Jesus(jesuítas): Frederico Cardoso deLemos e Gonçalo Machado.

Dia 03* Coimbra - Instituto UniversitárioJustiça e Paz - Iniciativa«Party_Ora» promovida peloServiço de Pastoral do EnsinoSuperior (SPES).* Lisboa - UCP (sala dasexposições) - Conferência sobre«Migrações contemporâneas emPortugal e na Polónia, construindo ofuturo... Não esquecendo opassado» promovida pela UCP epela Embaixada da República daPolónia em Lisboa.* Évora - Auditório da Universidadede Évora - Sessão de lançamentodo Dia Nacional de Prevenção eSegurança no Trabalho.* Lisboa - Instituto de CiênciasSociais - Sessão sobre «Da TeologiaPolítica para a teoria das RelaçõesInternacionais R. Niebuhr e ateologia do realismo político» porGuilherme Marques Pedro eintegrado no Seminário «RelaçõesIgreja-Estado». * Bragança - Macedo de Cavaleiros(Convento de Balsamão) -XVISemana de Espiritualidade sobre aMisericórdia de Deus com o tema«Fé e Misericórdia no Diário deSanta Faustina». (03 a 07)

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Ano C - Domingo da Páscoada Ressurreição do Senhor“Levaram o Senhor do sepulcro enão sabemos onde O puseram”. NoEvangelho deste domingo dePáscoa, Maria Madalenaexperimenta o vazio: não há nada,nem mesmo o cadáver do seuSenhor bem-amado. Ela não tinhanada a que se agarrar para fazer oluto. Sabemos bem como é maisdolorosa a morte de um entequerido quando o seu corpodesapareceu, quando não hátúmulo onde se possa ir emrecolhimento.A Igreja não cessa de repetir queJesus está vivo, vencedor da mortepara sempre. Todos os anos semultiplicam aleluias. Mas ressoa emnós a constatação dos discípulos deEmaús, ao dizerem aodesconhecido, que se lhes juntouno caminho, que não tinham visto oSenhor.Paulo grita: “Onde está, ó morte, atua vitória?” A nossa experiênciapoderá perguntar: “Ressurreição deCristo, onde está a tua vitória?”Apesar do

Ver e acreditarque Cristo está vivo primeiro anúncio “Jesus não estáaqui, ressuscitou!”, a mortecontinuou obstinadamente a suaação de trevas, com os seus fiéisacólitos: doenças,lágrimas, desesperos, violências,injustiças, atentados, guerras…Continuamos a entoar nas nossasigrejas: “Aleluia! É primavera! Cristoveio de novo!” Vemos a primavera,mas nem sempre vemos Jesus. Estáaqui a dificuldade e a pedra angularda nossa fé. Dificuldade, porque aRessurreição de Jesus não faz parteda ordem da demonstraçãocientífica. Ficamos encerrados noslimites do tempo, mas Jesus saiudesses limites, Ele está para alémdo nosso olhar visível.A Ressurreição é, ao mesmo tempo,a pedra angular da nossa fé porque,como o discípulo que Jesus amava,somos convidados a entrar notúmulo, a fazer primeiro aexperiência do

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vazio, para podermos ir mais longe,como o discípulo que viu eacreditou. Daí a importância dosábado santo, tempo de passagempara a vida nova no Ressuscitado.Podemos apoiar-nos e confiar notestemunho das mulheres e dosdiscípulos. Também eles tiveramque acreditar! A sua fé é essencialpara enraizarmos a nossa fé emCristo Ressuscitado.Como os discípulos, procuremos vere acreditar que Cristo está vivo, semcorrer atrás do maravilhoso quesempre nos escapa e dececiona.Durante o tempo pascal, a exemplode João, exercitemos o nosso olharpara descobrir o Ressuscitadoatravés dos sinais humildes da vidaquotidiana.Com os discípulos de Emaús,procuremos descobri-lo a caminharperto de nós na peregrinação davida e a abrir os nossos espíritos àcompreensão das Escrituras.Que a Páscoa seja a nossa alegria!Aleluia!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 - Transmissãoda Mensagem eBênção "Urbi et Orbi"do Papa Francisco 11h30 . Transmissãoda missa do Domingode Páscoa da Sé deLisboa

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h30Domingo, dia 31- Da morte àvida: a transformação queacontece nos Companheirosde Emaús. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 1 -Entrevista ao padre VitorMelícias, no primeiro dia docapítulo provincial dosfranciscanos.Terça-feira, dia 2 - Informaçãoe rubrica sobre o ConcílioVaticano II, com padre AntónioMartins;Quarta-feira, dia 3 - Informação e rubrica sobreDoutrina Social da Igreja, com Manuela Silva;Quinta-feira, dia 4 - História e religiosidade em tornoda igreja de Marvão e a rubrica "O Passado doPresente", com D. Manuel ClementeSexta-feira, dia 5 - Apresentação da liturgia dominicalpor D. António Couto Antena 1Domingo, dia 31, 06h00 - Domingo de Páscoa: APrimavera da Igreja com o início do pontificado doPapa Francisco Segunda a sexta-feira, dia 1 a 5 de abril, 22h45 -Memórias e vivências do tempo pascal em Bragança,Açores, São Tomé e Príncipe, na comunidadeecuménica Taizé e revitalização das tradições noscentros urbanos.

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♦ O tríduo que celebra a morte de Cristo chama-sePascal, implica a palavra ressurreição para que sejacompreendido e vivido. Os últimos 3 dias daQuaresma, quando se recordam e recriam os últimosmomentos da vida de Jesus adquirem assim um tommarcadamente festivo, porque de fermento de vida. ♦ Por estes dias terminam os 40 dias do Tempo daQuaresma e começam os 50 dias do Tempo Pascal.Dois tempos da liturgia católica que radicam no mesmoacontecimento: Jesus Cristo, a sua paixão, morte eressurreição. O primeiro, de preparação, é vividointensamente em muitas regiões de Portugal. Que oseja também o tempo do anúncio do ressuscitado. ♦ No Domingo de Páscoa o Papa Francisco dirige asua primeira mensagem pascal à cidade de Roma e aomundo. Os dias deste pontificado oferecem motivos desobra para criar expectativas quando ao que vai dizere sobretudo ao modo como se vai dirigir a todas aspessoas. É que os gestos que mais surpreendem noPapa Francisco são do quotidiano, surgeminesperadamente. E por isso são genuínos!

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A Carta Do Cardeal BergoglioAo Padre Werenfried Van Straaten

“Por favor, rezem também por mim”

É uma simples carta deagradecimento. Tem apenas quatroparágrafos e nota-se logo aausência de qualquer brasãocardinalício ou de qualquerelemento gráfico relevante. A cartado “Arzobispo de Buenos Aires”,Cardeal Jorge Mario Bergoglio, tema data de 27 de Fevereiro de 2001,

é dirigida ao Padre Werenfried edemonstra o afecto que o actualPapa já então nutria pela missão daFundação AIS.Hoje, esta carta ganha uminesperado valor. Não apenas pelaspalavras afectuosas que D. JorgeBergoglio escreveu ao fundador daAIS, agradecendo a presença dosrepresentantes da Fundação AIS noconsistório em que foi elevado àdignidade de cardeal, masespecialmente pela visão comum dotrabalho da Igreja para os dias dehoje. Fidelidade do EvangelhoHoje, quando o Papa Franciscoafirma querer “uma Igreja pobre”,seguindo o ideário de São Franciscode Assis, sabe bem do que fala. Nosbairros miseráveis dos subúrbios deBuenos Aires,

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onde a pobreza é extrema e contrastaviolentamente com o luxo excessivo etantas vezes quase ostensivo daszonas nobres da cidade, a Igreja équase sempre a única mão amiga, aúnica ajuda desinteressada, o únicoapoio de centenas e centenas depessoas. Por isso, D. Jorge Mario Bergoglioagradeceu ao Padre Werenfried omais importante de todo o apoio quea Fundação AIS possa oferecer àIgreja na Argentina: as orações.“Peço que orem por este trabalhomissionário”, escreveu o cardeal.“Prometo-lhe que rezo pelostrabalhadores e benfeitores da AIS.Também vou rezar por si, de quemguardo uma excelente memória”.

Igreja pobreEsta simples carta, arquivada aolado de centenas de outras quetiveram como destinatário o PadreWerenfried, ganha agora outra luz,desde que o seu autor foi eleitoPapa. Curiosamente, porém, dir-se-ia que nada mudou nestes dezanos. O trabalho missionário deque falava o Cardeal de BuenosAires é seguramente o mesmo deque fala hoje o Papa Franciscoquando diz que deseja “uma Igrejapobre”; quando explica que, “semJesus Cristo, podemos ser umaONG piedosa, mas não a Igreja”.Nos bairros pobres de BuenosAires, onde a Igreja sofre, oCardeal Borgoglio tomouconhecimento do trabalho e damissão concreta da Fundação AIS.Hoje, talvez mais do que nunca, aIgreja precisa de voltar aoessencial, a ser esperança para osque mais sofrem, a secar aslágrimas dos que choram, a serpobre com os pobres. Saiba mais em www.fundacao-ais.pt

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Pão e rosas

João WengoroviusMeneses

O problema do atual Governo é não ter sidocapaz de melhorar os níveis de bem-estarmaterial nem imaterial dos portugueses.Churchill, após a II Guerra Mundial, em virtude danecessária contenção orçamental, recusou comveemência a proposta de encerramento doMinistério da Cultura, alertando para o facto deque sem cultura deixaria de haver razão paratudo o resto (i.e. para a economia e para ossacrifícios). E poucas coisas terão unido tanto opovo americano no século XX como o desafio dopresidente J.F. Kennedy de conquista da lua – àépoca, algo aparentemente “inútil” (comparandocom outros investimentos públicos), porém,determinante como referencial simbólico emotivacional para uma nação a precisar de sesuperar a si própria. Já o atual Governoportuguês, na tentativa de melhorar a vidamaterial dos portugueses, nem sentidoconseguiu dar aos sacrifícios impostos, nem umavisão partilhada de futuro.O fascínio das sociedades (ocidentais) pelo bem-estar material generalizou-se após a RevoluçãoIndustrial, tendo-se instalado a ideia de que estetem uma relação umbilical com os níveis deconsumo e rendimento (e de que o progressoconsiste basicamente na sua expansãocontínua), inaugurando-se um períodoantropocêntrico, materialista, racionalista eutilitarista. Desde então, mede-se o bem-estaratravés do PIB, trabalho e

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produtividade são palavras deordem, e gestores e engenheirosos demiurgos da nova era –associando-se as funções sociaisprodutivas à ideia de utilidade e asnão produtivas (por ex., artistas efilósofos) à de (quase) inutilidade.Ao arrepio do fascínio atual pelomaterialmente útil, Goethe contavaque uma vez Napoleão eBethoveen se cruzaram numcarreiro estreito e que terá sido oprimeiro a dar passagem aosegundo – ou seja, a política (o“útil”) a dar passagem à cultura(i.e. ao “inútil”). Impressiona,também, no documentário “Man onWire” (2008), a determinação dePhilippe Petit – funambulistafrancês que, em 1974, atravessouas duas Torres Gémeas de NovaIorque sobre um fino cabo de aço,estendido 400 metros acima dochão sem rede nem cinto desegurança e totalmente incógnito –na defesa da importância dessegesto. Era ilegal, ilógico e inútil e,no entanto, acabou por serconsiderado por muitos aperformance artístico-desportiva doséculo XX, inspirando inúmeraspessoas a realizar pequenosgestos para os quais se julgavamsem coragem.

Paul Valéry escreveu que “duascoisas ameaçam o mundo: a ordem ea desordem”. Será sempre dadialética entre a ordem e adesordem, entre o útil e o inútil, entreo pão e as rosas que resultará umsentido coletivo. É importante quehaja engenheiros para aparafusar,mas também artistas paradesaparafusar. Ora, o atual Governofalhou em ambas as frentes – razãopela qual é tão inútil (resta-nosAntónio Costa…?).

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