introdução as cartas paulinas

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Cartas Paulinas

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  • INTRODUO S CARTAS PAULINAS

    CONTEXTO HISTRICO

  • INTRODUONos escritos do NT encontramos vinte e uma Cartas. Treze delas so atribudas ao Apstolo Paulo (algumas tem sua autoria questionada, como veremos adiante), e outras so colocadas sob a autoridade de outras figuras significativas da Igreja primitiva: duas so de Pedro; trs de Joo; uma de Tiago e uma de Judas.

  • E temos a Carta aos Hebreus de um autor desconhecido e que erroneamente foi atribuda a Paulo. Para a f crist estes escritos tm uma grande importncia, seja porque so cannicos, seja porque deram origem sucessiva reflexo teolgica.

  • Lendo as Cartas percebe-se logo que os autores manifestam um vivo testemunho da vida das primeiras comunidades. Estas Cartas enriquecem muito o quadro que obtemos do livro dos Atos dos Apstolos, composto no final do I sculo.

  • As Cartas Paulinas so uma reflexo teolgica ou pastoral num segundo momento (com exceo da Carta aos Romanos).

    Antes disso, houve o trabalho missionrio de fundar e organizar as comunidades.

  • certo que o nmero de comunidades fundadas pelo Apstolo Paulo e seus companheiros foi muito maior daquelas que receberam alguma Carta.

    Outra constatao importante que no foi possvel conservar todos os escritos paulinos.

  • Algumas cartas se perderam e no esto no cnon bblico.

    Antes do estudo propriamente dito das Cartas Paulinas, vamos conhecer um pouco melhor a figura do seu autor.

  • Sem conhec-lo bem, tambm sempre mais difcil entender toda a riqueza da sua mensagem.

    O ambiente e o contexto dessas comunidades sero conhecidos atravs do estudo particular de cada Carta. De modo especial, a 1. Aos Tessalonicensses.

  • Paulo de Tarso

    O Apstolo Paulo nasceu entre os anos 5 e 10 d.C, na cidade de Tarso da Cilicia (At. 9,11; 21,39; 22,3). Era filho de judeus, da tribo de Benjamin e como era o costume foi circuncidado ao oitavo dia. So Jernimo informa que seus pais eram de Giscala, na Galilia.

  • Paulo cresceu seguindo a mais perfeita tradio judaica (Fl. 3,5). Tinha uma irm e um sobrinho que moravam em Jerusalm (At. 23,16). Sua profisso era arteso, fabricante de tendas (cf. At. 18,3). O seu estado civil tambm um tanto incerto, ainda que na maioria das vezes se afirme que era solteiro.

  • De fato, em (1Cor 7,8) ele escreve Aos solteiros e s vivas, digo que seria melhor que ficassem como eu.

    Mas em (1Cor 9,5) ele escreve No temos o direito de levar conosco nas viagens uma mulher crist, como fazem os outros Apstolos e os irmos do Senhor e Pedro?.

  • Ainda jovem foi para Jerusalm e, na escola de Gamaliel, se especializou no conhecimento da sua religio.

    Tornou-se fariseu, ou seja, especialista rigoroso e irrepreensvel no cumprimento de toda a Lei e seus pormenores (At. 22,3).

  • Cheio de zelo pela religio, comeou a perseguir os cristos (Fl. 3,6; At. 22,4s; 26,9-12; Gl. 1,13).

    Esteve presente no martrio de Estevo, cujos mantos foram depositados aos seus ps (At. 7,58).

  • Continuou perseguindo a Igreja (At. 8,1-4; 9,1-2) at que se encontrou com o Senhor na estrada de Damasco (At. 9,3-19). A experincia de Jesus mudou completamente a sua vida. De perseguidor passou a ser o anunciador at a sua morte, provavelmente em 68 d.C.

  • Na sua primeira misso apostlica, entre os anos 45 e 49, anunciando o Evangelho em Chipre, Panfilia, Pisidia e Lacania (At. 13-14), passou a usar o nome grego de Paulo, de preferncia,para Saulo, seu nome judaico (At. 13,9).

  • Suas caractersticas:bem preparado - alm de conhecer bem a sua religio (o que pode ser comprovado pelas muitas citaes ao AT), possua boa noo de filosofia como tambm das religies gregas do seu tempo.

  • conhecia bem o grego e o mtodo da retrica.

    Esforava-se para compreender o modo grego de viver.

    Alm disso era cidado romano (At. 16,37s; 22,25-28; 23,27).

  • Teve como professor Atenodoro, amigo do imperador Augusto. Paulo algumas vezes utiliza frases desse educador: Para toda criatura, a sua conscincia Deus (Cf. Rm 14,22a). Comporte-se com o prximo como se Deus visse voc, e fale com Deus como se os outros ouvissem voc (Cf. 1Ts 2,3-7).

  • Lendo as Cartas percebemos o carter do Apstolo: s vezes muito meigo e carinhoso; s vezes, severo. No abria mo das suas idias e ameaava com castigos. Escrevendo s comunidades comparava-se me que acaricia os filhinhos e era capaz de dar a vida por eles (1Ts 2,7-8).

  • Sentia pelos fiis as dores do parto (Gl. 4,19). Amava-os, e por isso se sacrificava ao mximo por eles (2Cor. 12,15). Mas era tambm pai que educava (1Ts 2,11), que gerava as pessoas, por meio do Evangelho, vida nova (1Cor. 4,15). Quando se fazia necessrio, exigia obedincia (1Cor 4,21).

  • PERSONALIDADE DE PAULODe personalidade forte, muitas vezes apresentado como algum distante do povo e das suas comunidades, incapaz de manifestar sentimentos, indiferente ao drama das pessoas, anti-feminista, moralista e assim por diante. Mas era capaz de amar todos os membros de todas as comunidades, sem distino.

  • A determinao e a f conduziram-no a perigosas viagens.Sofreu dura violncia, cadeias, sofrimentos, perigos e, tudo isso, por Jesus e pelo povo (2Cor 11,23b-27). Ao ler as suas Cartas percebemos com quanta freqncia ele usava expresses, tais como: tudo, todo, sempre, continuamente, sem cessar, etc.,

  • Encontrou dificuldade para ser aceito como Apstolo.

    As suspeitas vinham do fato de ser um perseguidor e, sobretudo, porque no foi escolhido pessoalmente por Jesus.

  • Quatorze anos aps a sua converso, subiu a Jerusalm, para o Conclio, onde defendeu a no circunciso para os pagos.

    Ele mesmo se defendeu das acusaes (Gl. 1,12, 2Cor 9,2-3; 12,1-4).

  • Para ele, anunciar o Evangelho era uma obrigao: Ai de mim se eu no anunciar o Evangelho! (cf. 1Cor 9,15-17).

    Teve que lutar contra os falsos missionrios (cf. 2Cor 10-12) que anunciavam um Evangelho fcil, que fugiam da humilhao e da tribulao.

  • Anunciavam um Jesus sem a cruz.

    Paulo anunciava o Jesus Crucificado, ainda que isso fosse escndalo (1Cor 1,23).

    Porm a cruz no era o fim.

  • O mesmo Jesus da cruz tambm o Ressuscitado (1Cor 15).

    importante notar que para os judeus algum que fosse condenado a morte, e suspenso numa rvore, era considerado um maldito de Deus (Cf. Dt 21,22-23).

  • Paulo e os Atos dos ApstolosPaulo tornou-se o smbolo de todos os Missionrios que souberam levar a Boa Nova de Jesus Cristo pelo mundo afora.

    Paulo sozinho no teria atingido seu xito, se no fosse a grande ajuda de tantas pessoas que com ele abraaram a f, que o acolhiam em suas casas (At 16,15.34; 18,3.7);).

  • ou que contriburam com alguma ajuda para as suas necessidades (Fl. 4,15-16; 2Cor 11,9);Lucas tentou resgatar a imagem e o trabalho evangelizador do Apstolo. Paulo , para Lucas, a figura ideal para representar o caminho do discpulo na histria. Um caminho feito de testemunhos em meio aos conflitos.

  • Mostra que o caminho do discpulo no diferente do caminho do Mestre (cf. o Evangelho de Lucas). Por isso, serve-se de alguns (no todos) os fatos marcantes da vida de Paulo, apresentando-os a seu modo e segundo sua viso. A estrutura dos Atos dos Apstolos muitas vezes coincide com a do Evangelho de Lucas.

  • Nem sempre os Atos e as Cartas coincidem nas informaes. E nesses casos, devemos dar mais crdito s Cartas. Dois exemplos comprovam isso. Comparando At. 17,17 e 18,5 com 1Ts 3,1a.6a.

  • Lucas afirma que Enquanto Paulo esperava em Atenas, ficou revoltado ao ver a cidade cheia de dolos... Quando Silas e Timteo chegaram da Macednia, Paulo se dedicou inteiramente Palavra, testemunhando diante dos judeus que Jesus era o Messias. (At. 17,17 e 18,5)

  • Paulo contudo, tem outra verso: Assim, no mais podendo agentar; resolvemos ficar sozinhos em Atenas, e enviamos a vocs Timteo... Agora, Timteo acaba de chegar da visita que fez a vocs, trazendo boas notcias sobre a f e o amor de vocs. (1Ts 3,1a.6a).

  • Outro exemplo vem de 2Cor 11,24-25, em que Paulo afirma: dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Fui flagelado trs vezes; uma vez fui apedrejado; trs vezes naufraguei; passei um dia e uma noite em alto-mar.

  • Olhando para o que Lucas diz de Paulo nos Atos, (At. 16,22-23)podemos perguntar: Onde esto as referncias s cinco vezes em que Paulo afirma ter sido punido com pauladas? Lucas ignora completamente as inmeras chicotadas que Paulo recebeu.

  • E onde os Atos falam de flagelaes? Lucas contenta-se em narrar uma (At. 16,22-23), omitindo as demais. Por qu? Certamente porque em seus planos bastava narrar uma flagelao. Nos Atos no se mencionam as trs flagelaes.

  • Paulo e JesusPaulo seguramente no viu o Jesus histrico e nem ouviu sua voz e suas palavras. Teve uma forte experincia do Cristo Ressuscitado (At. 9,3-9; 1Cor 15,8).Alguns no queriam reconhec-lo como Apstolo pelo fato de no ter sido um dos Doze Apstolos e de no ter sido escolhido por Jesus e de no ter vivido com Ele.

  • Alguns textos das Cartas do margem a interpretaes diferentes. Por exemplo, em (2Cor 5,16b) ele escreve: Mesmo que tenhamos conhecido Cristo segundo as aparncias, agora j no o conhecemos assim.

  • Outro texto como (2Cor 12,1-6) poderia induzir que Paulo estivesse em Jerusalm por ocasio da Paixo do Senhor. H outros que pensam que Paulo fazia parte do Sindrio e que tenha votado pela condenao de Jesus, a partir da expresso dei meu voto (cf. At. 26,10).

  • Paulo de fato no conheceu pessoalmente Jesus e no teve contato com ele. O Apstolo no tinha ainda em mos os evangelhos escritos. Ele os trazia impressos na sua carne, marcada por toda sorte de sofrimentos (1Cor. 11,21-29), a ponto de estar crucificado comCristo (Gl. 2,19);

  • trazendo em seu corpo as marcas da paixo de Jesus (2Cor 4,10; Gl. 6,17), e completando, no seu corpo, o que faltava das tribulaes de Cristo (Cl 1,24). Assim ele podia dizer que j no sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim (Gl. 2,20).Pelos escritos do Apstolo Paulo, ns verificamos tambm algumas diferenas entre o seu modo de anunciar e o modo como Jesus anuncia.

  • Jesus anunciou a sua mensagem praticamente aos judeus, da Galilia, Jesus s foi a Jerusalm para a Pscoa, quando foi crucificado e morto e depois ressuscitou.Paulo, por sua vez, percorreu o imprio romano e foi Roma (capital) como parte final da sua vida, onde sofreu a sua paixo.

  • Jesus falava em aramaico e anunciava o reino em parbolas, criadas a partir da observao atenta da vida simples do povo da roa e das aldeias. Paulo, ao contrrio, embora tambm soubesse falar o aramaico, anunciou e escreveu em grego, porque seus ouvintes eram judeus da dispora e pagos que falavam a lngua oficial da poca.

  • Paulo tambm era um bom observador da vida cotidiana, porm usava as imagens sobretudo da vida e da cultura urbana, das grandes cidades. Ele falava do atletismo, dos esportes, da construo civil, das paradas militares, das lutas nos estdios, da vida dos soldados...

  • A conversoOs Atos relatam trs vezes a converso de Paulo, e as verses nem sempre so iguais. Antes, os relatos se complementam e se justificam. A primeira vez (At 9,1-25) insere-se no contexto do martrio de Estvo e de outras converses. Encaixa-se entre a converso do eunuco etope (8,26- 40) e a de Cornlio (10,111,18).

  • A segunda vez o relato feito aos judeus (22,1-21). E a terceira vez (26,1-23) narrada diante das autoridades polticas (judeus e no-cristos). No plano de Lucas os trs relatos da converso de Paulo seriam uma espcie de proclamao universal: aos cristos, aos judeus e aos no-judeus.

  • Lucas pode querer mostrar o universalismo da mensagem de Paulo. O evento de Damasco, historicamente foi sempre conhecido como converso de So Paulo (temos inclusive a festa no dia 25 de janeiro). Porm, Paulo no utiliza nunca a palavra metania.

  • Tambm o que aconteceu com Paulo no segue o sentido que no AT os Profetas davam ao termo: voltar; retornar. Paulo no retornou ao farisasmo. Ao contrrio, ele abandona o rigor da Lei. Paulo havia se tornado um fariseu sem reprovao (Fl. 3,6b).

  • Era o mximo que um fariseu poderia alcanar, ser chamado de irrepreensvel, isto , que observasse toda a Lei, e cumprisse os 613 preceitos;Os fariseus ( = separados) de fato acreditavam que o Messias viria quando todo o povo cumprisse a Lei fielmente, por isso consideravam o povo da terra e da Galilia uns malditos porque no cumpriam a Lei (cf. Jo 7,49).

  • O que Paulo faz encontrar o verdadeiro caminho; encontrar-se com o Senhor. Alguns estudiosos entendem que este foi um longo processo at abraar de vez o seguimento de Jesus Cristo e tornar-se o grande evangelizador.

  • Um missionrio que escreve cartas s suas IgrejasO grande carisma de Paulo ser missionrio. Funda as florescentes comunidades crists no mundo helenstico; As acompanha com a sua guia pastoral: com uma preocupao quotidiana (2Cor 11,28). Torna-se escritor: as suas cartas nasceram da misso e em vista da misso.

  • As Cartas foram escritas em funo da situao concreta das comunidades. Ele acompanhava o crescimento das mesmas, com todos os seus problemas e dificuldades. Leva em conta a situao especfica da comunidade.

  • Trabalhava e ganhava o seu sustento com o prprio trabalho. Era um trabalho manual. Para as elites abastecidas de bens e culturalmente favorecidas, o nico trabalho que dignificava o ser humano era o trabalho intelectual.

  • Nas grandes cidades gregas at dois teros da populao era escrava; Paulo encontra seu lugar social entre os trabalhadores empobrecidos, ainda que pudesse fazer valer seus direitos de Apstolo e fundador de comunidades (1Cor 9,1-18; 2Cor 11,7-12).

  • O Epistolrio PaulinoO conjunto das Cartas Paulinas compreende um total de treze Cartas que reivindicam a paternidade do Apstolo Paulo. A ordem em que se encontram no cnon bblico no reflete a data em que foram escritas, mas foram organizadas segundo a sua extenso. Alguns procuram agrupar as Cartas do seguinte modo:

  • a) Cartas maiores: Romanos, 1-2 Corntios, Glatas e 1-2 Tessalonicenses.

    b) Cartas da priso: Efsios, Filipenses, Colossenses e Filemon.

    c) Cartas pastorais: 1-2 Timteo e Tito.

  • Outra classificao pode ser feita a partir da possvel autoria das mesmas:Proto-Paulinas: que seguramente so autnticas, isto , que so de autoria do Apstolo Paulo, e que so aceitas por todos os estudiosos: Romanos, 1-2 Corntios, Glatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemon.

  • Deutero-Paulinas: so aquelas cuja autenticidade no segura ou negada por um certo nmero de estudiosos: Efsios, Colossenses e 2 Tessalonicenses.Trito-Paulinas: 1-2 Timteo e Tito. Essas dificilmente seriam do Apstolo Paulo, pois usam uma linguagem diversa e tratam de problemas que existiam nas comunidades no final do I sculo.

  • Algumas Cartas de Paulo foram perdidas. Em 1Cor. 5,9 j se fala de uma Primeira Carta aos Corntios. Em Cl. 4,16, Paulo se refere a uma Carta escrita aos cristos de Laodicia;E temos ainda a famosa Cartas em lgrimas aos Corntios (2Cor 2,4).

  • Alguns estudiosos afirmam que a Carta aos Filipenses um conjunto de vrios bilhetes.E tambm que a 2Cor um ajuntamento de vrias cartas, enviadas em datas diferentes.As Cartas no foram escritas do prprio punho pelo Apstolo. Ele as ditava (cf. Rm. 16,22) e s vezes assinava (cf. Gl. 6,11). Talvez a carta a Filemon tenha sido o nico escrito com sua prpria mo.

  • O estilo e linguajar das Cartas PaulinasEm Tarso havia o comrcio de escravos, que Paulo deveria conhecer bem, pois usa essa imagem para falar da morte e ressurreio de Jesus (1Cor 6,20; 7,21-25). E vrias vezes ele usa a imagem da compra e resgate para ilustrar a ao de Jesus em favor dos cristos.

  • Tambm havia uma ambiente cultural muito grande: arte, arquitetura, esportes, etc., e que Paulo conhecia muito bem, basta ver como usa seus conceitos para elaborar suas metforas, como por exemplo a questo da parada militar.Em suas Cartas encontramos vrios hinos (1Cor 13; Fl. 2,5-11; etc.)