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  SERIEDADE NA PALAVRA CURSO BÁSICO DE TEOLOGIA MÓDULO I 1º SEMESTRE DE 2015 INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO  AS CARTAS PAULINAS PR. ROGÉRIO DE ANDRADE CHAGAS

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Cartas Pastorais

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  • SERIEDADE NA PALAVRA

    CURSO BSICO DE TEOLOGIA

    MDULO I

    1 SEMESTRE DE 2015

    INTRODUO AO NOVO TESTAMENTO

    AS CARTAS PAULINAS

    PR. ROGRIO DE ANDRADE CHAGAS

  • 2

    CARTAS PAULINAS

    N DIC E

    I O CONTEDO DO NOVO TESTAMENTO ...................................................................................... 3

    II AS CARTAS PAULINAS ........................................................................................................................ 4

    1 A CARTA AOS GLATAS .................................................................................................................... 4

    1.1 Consequncias Teolgicas da Carta aos Glatas e Tiago ............................................ 4

    2 AS CARTAS AOS TESSALONICENSES ........................................................................................... 5

    2.1 A Segunda Misso sia Menor .............................................................................................. 6

    2.2 - A Misso Macednia .............................................................................................................. 6

    2.3 A Primeira Carta aos Tessalonicenses .............................................................................. 7

    2.4 A Segunda Carta aos Tessalonicenses ............................................................................... 8

    3 AS CARTAS AOS CORNTIOS ............................................................................................................ 9

    3.1 Misso Acaia .............................................................................................................................. 9

    3.2 Misso sia ............................................................................................................................... 10

    3.3 A Primeira Carta aos Corntios ............................................................................................. 10

    3.4 A Segunda Carta aos Corntios ............................................................................................. 12

    4 A CARTA AOS ROMANOS .................................................................................................................. 13

    4.1 Fim da Misso de Paulo .............................................................................................................. 15

    5 AS CARTAS DA PRISO ...................................................................................................................... 15

    5.1 A Priso de Paulo ....................................................................................................................... 15

    5.2 Carta a Filemon .......................................................................................................................... 17

    5.3 A Carta aos Efsios .................................................................................................................... 17

    5.4 A Carta aos Colossenses .......................................................................................................... 18

    5.5 A Carta aos Filipenses .............................................................................................................. 18

    5.6 - Consequncias do Aprisionamento de Paulo .................................................................. 20

    6 AS CARTAS PASTORAIS ..................................................................................................................... 20

    6.1 A Igreja Institucional ................................................................................................................ 20

    6.2 A Primeira Carta a Timteo ................................................................................................... 21

    6.3 Biografia de Timteo................................................................................................................ 21

    6.3 A Carta a Tito ............................................................................................................................... 22

    6.4 A Segunda Carta a Timteo ................................................................................................... 22

    7 A AVALIAO DAS EPSTOLAS PASTORAIS .............................................................................. 23

    7.1 Concluso A Autoridade Bblica do Lder ..................................................................... 23

  • 3

    AS CARTAS PAULINAS

    I O CONTEDO DO NOVO TESTAMENTO

    O Novo Testamento composto por 27 livros, escritos por 9 autores. Caso Paulo seja considerado o autor de Hebreus, o nmero de autores cai para 8. Foi escrito em um perodo de aproximadamente 50 anos, entre 45 d.C. e 100 d.C.

    Os 27 livros do Novo Testamento esto divididos em quatro partes:

    Evangelhos

    Atos dos Apstolos

    Epstolas

    Apocalipse

    Nas origens da Igreja, a regra da f se encontrava no ensinamento oral dos Apstolos e primeiros evangelizadores. Passado o tempo, sentiu-se a urgncia de consignar por escrito os ensinamentos de Jesus e os traos ressaltantes da sua vida. Esta foi a origem dos Evangelhos.

    Por outro lado, os Apstolos alimentavam espiritualmente os seus fieis atravs de cartas, de acordo com os problemas que iam surgindo. Esta foi a origem das Epstolas.

    As Epstolas basicamente doutrinrias so: Romanos, I e II Corntios, Glatas, Efsios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, Hebreus, Tiago, I e II Pedro, I Joo e Judas.

    Todos os autores do Novo Testamento eram judeus, com exceo de Lucas. Trs deles eram apstolos (Mateus, Pedro e Joo). Marcos, Judas e Tiago foram ativos no comeo da igreja e tiveram contato com os apstolos antes da morte de Jesus. Lucas e Paulo, mesmo no tendo sido testemunhas oculares do Senhor, eram bem conhecidos daqueles que o foram. Do autor de Hebreus nada se sabe.

    A formao do cnon do Novo Testamento aconteceu em quatro estgios:

    1. Homens escolhidos por Deus escreveram, inspirados por Ele, a mensagem de salvao para o povo;

    2. Cristos fiis fizeram cpias dos escritos recebidos e trocavam-nos com outros cristos;

    3. Lderes eclesisticos espirituais citaram-nos nos seus escritos de instrues Igreja;

    4. O Conclio de Cartago (no IV sculo) ratificou oficialmente os livros que a nossa Bblia possui atualmente, por satisfazerem os testes cannicos.

    Durante a Reforma Protestante, Martinho Lutero demonstrou dvida quanto autoria e canonicidade de alguns livros do Novo Testamento: Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse. No entanto, ao traduzir o Novo Testamento para o alemo em 1522, Lutero traduziu tambm esses livros, perfazendo ao todo os 27 livros que temos hoje.

    Livros Reconhecidos desde Cedo:

    Os 4 evangelhos;

    Atos dos Apstolos;

    As 13 cartas de Paulo;

    I Pedro e I Joo.

    Livros Cujo Reconhecimento Foi Disputado:

    II Pedro Foi uma das cartas mais demoradas para ser reconhecida. A linguagem era diferente de I Pedro, gerando dvidas sobre sua autoria. Porm era conhecida e usada na igreja primitiva, logo, somente epstolas escritas por apstolos, ou seus discpulos prximos, eram aceitas nas liturgias dos primeiros sculos.

    II e III Joo Havia dvidas se foram escritas pelo Apstolo Joo ou por um presbtero de nome Joo.

    Hebreus - era muito conhecida e usada na igreja, mas seu reconhecimento no Cnon no foi muito fcil, principalmente devido incerteza quanto sua autoria.

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    Tiago Houve dificuldade para saber qual Tiago foi o autor. Foi severamente criticada por Lutero, pois esse no conseguia conciliar os ensinamentos de Paulo salvao pela graa; com os ensinos de Tiago a f sem obras morta. Lutero tambm discutiu a respeito de Hebreus, Judas e Apocalipse.

    Apocalipse Houve dificuldade em aceitar o apstolo Joo como autor novamente afirmavam que teria sido escrito por um presbtero. Mas a principal dificuldade foi sobre o tema nele tratado (escatologia). Lutero relegou-o a uma posio secundria e disse O meu esprito no se sente vontade com este livro. H uma nica e suficiente razo para t-lo em pouca estima que Cristo no ensinado nem reconhecido (Prefcio da Bblia de Lutero ano 1522).

    II AS CARTAS PAULINAS

    1 - A CARTA AOS GLATAS

    O segundo escrito que tambm se originou da controvrsia a respeito da obedincia Lei foi a Carta aos Glatas. Enquanto Tiago foi escrito para assegurar os padres ticos e morais, que poderiam vir a se perder na vida dos cristos, Glatas foi escrito para reforar a noo da liberdade crist. Precisamos alcanar o equilbrio entre gozar da liberdade crist sem darmos margem para nossa natureza pecar (Tudo me permitido, mas nem tudo convm. Tudo me permitido, mas eu no deixarei que nada me domine ICorntios 6.12).

    A palavra Galcia, na poca de Paulo, podia referir-se a duas regies: a parte central e setentrional da provncia da sia Menor, ou a regio meridional da mesma regio. A primeira regio foi evangelizada por Paulo nas suas segunda e terceira viagens missionrias. A segunda regio inclua cidades como Icnio, Derbe, Listra, e Antioquia da Psdia, evangelizadas por Paulo e Barnab na sua primeira viagem missionria. muito mais provvel que Paulo tenha escrito a epstola s igrejas do sul da Galcia, uma vez que as cidades mais ao norte da regio s foram visitadas por ele aps o Conclio de Jerusalm, e as questes suscitadas na Carta aos Glatas claramente faz referncia aos assuntos que seriam discutidos naquele conclio. A carta foi escrita, portanto, por volta do ano 49 d.C.

    A seguinte sequncia descreve os eventos mais relevantes associados escrita da carta:

    - Paulo e Barnab pregaram nas cidades do sul da Provncia da Galcia e, na volta, organizaram as novas congregaes (Atos 14.21-23). Sua misso terminou no ano de 48 d.C.

    - Aps Paulo e Barnab retornarem igreja de Antioquia, Pedro foi visit-los. L ele teve convvio abertamente com os gentios, at que alguns judeus de Jerusalm chegaram. A partir daquele momento, separou-se dos gentios, evitando comer com eles (Atos 15.1, Glatas 2.11-14).

    - Na poca desses acontecimentos em Antioquia, a mesma controvrsia ocorreu nas igrejas da Galcia. Por causa disso, Paulo escreveu a Carta aos Glatas antes do Conclio acontecer.

    Contedo

    A Carta aos Glatas um tratado do princpio espiritual que a salvao pela f e no pelas obras. A doutrina dos judaizantes, que dizia ser necessrio obedecer Lei para ser salvo, estava comeando a penetrar as igrejas da Galcia. O tom da carta feroz: Paulo estava indignado com a aceitao por parte dos glatas desse novo evangelho.

    1.1 - Consequncias Teolgicas da Carta aos Glatas e Tiago

    Os livros de Glatas e Tiago ilustram dois aspectos do Cristianismo que parecem contraditrios, mas na verdade so suplementares: a graa e a obedincia. Tiago insiste na tica de Cristo, na exigncia de que a f se mostre verdadeira por meio das obras. No entanto, o mesmo Tiago enfatiza a necessidade de transformao do indivduo por meio da graa de Deus, uma vez que ele disse por sua deciso ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos os primeiros frutos de tudo o que ele criou (Tiago 1.18).

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    Glatas enfatiza a dinmica do evangelho que produz a tica: Cristo nos redimiu da maldio da Lei quando se tornou maldio em nosso lugar, para que em Cristo Jesus a bno de Abrao

    chegasse tambm aos gentios, para que recebssemos a promessa do Esprito mediante a f (Glatas 3.13-14). Paulo, no entanto, tambm tinha preocupaes a respeito da vida tica dos cristos: Irmos, vocs foram chamados para a liberdade, mas no usem a liberdade para dar ocasio vontade da carne; ao contrrio, sirvam uns aos outros mediante o amor (Glatas 5.13).

    Os aspectos realados nessas duas epstolas so dois lados de uma mesma moeda. Pelo que somos salvos, ento? Pela f, nica e exclusivamente (Efsios 2:8-9). A obedincia no tem poder para nos salvar. Ento a obedincia desnecessria? Absolutamente! Sem obedincia, ningum ver o senhor (Mateus 7.21 leia tambm Romanos 6.1-4). Mas como, se somos salvos pela f? A obedincia consequncia da f (Romanos 1.5). A f verdadeira, aquela que tem poder para salvar, produz obedincia (Tiago 2.14-26).

    A maneira como sabemos se nossa f verdadeira se estamos obedecendo aos mandamentos de Deus. Pense na eletricidade, por exemplo. Ningum a v, no entanto podemos sentir os seus efeitos e falarmos a respeito da eletricidade baseados nos seus efeitos. Quando ligamos uma TV (que est funcionando corretamente) na tomada, esperamos que ela ligue, correto? Sabemos que a causa por trs da TV ter ligado a eletricidade, embora s possamos julgar se ela existe porque a TV ligou. Se a TV no ligar, temos a certeza de que no h eletricidade na tomada. Da mesma forma, se estamos obedecendo aos mandamentos (em verdade e em esprito Joo 4.23), sabemos que a causa por trs disso a nossa f. Da mesma maneira, se no estamos obedecendo, sabemos que no h f, e se no h f, no h salvao.

    E o amor? Glatas 5.6 diz que a f atua pelo amor, ou seja, ela expressa por meio das nossas aes amorosas. A Bblia traz inmeras passagens que deixam claro que o amor se manifesta por meio da obedincia aos mandamentos (Joo 14.15,21,23,24; 15.10, IJoo 5.3, IIJoo 1.6). A f, como vimos anteriormente, deve produzir obedincia aos mandamentos, para que seja genuna. No entanto, os dois maiores mandamentos envolvem o amor (Mateus 22.36-40). Consequentemente, a f deve produzir amor, que resume toda a lei de Cristo (Glatas 5.14). O amor o alvo das nossas vidas, enquanto a f o instrumento que produz o amor verdadeiro e nos capacita a amar. ICorntios 13.13 diz que os maiores dons espirituais que existem so a f, o amor e a esperana, e que o maior desses trs o amor.

    A f e a esperana deixaro de existir quando estivermos no cu, pois perdero a sua utilidade. A f definida, em Hebreus, como a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que no vemos (Hebreus 11.1). Quando estivermos no cu, veremos todas as coisas que Deus preparou para aqueles que o amam (I Corntios 2.9). Portanto, no teremos mais a necessidade da f, tampouco da esperana. O amor, contudo, nunca perece: mesmo no cu, seremos amados e amaremos uns aos outros perfeitamente (ICorntios 13.8).

    2 AS CARTAS AOS TESSALONICENSES

    Aps o Conclio de Jerusalm, Paulo e Barnab retornaram a Antioquia, onde ficaram algum tempo pregando e ensinando. Provavelmente a discusso sobre a necessidade da circunciso deve ter criado confuso na mente dos discpulos, e foi necessria uma instruo mais slida. Mas o incentivo missionrio no foi esquecido. Uma nova misso foi organizada, desta vez por sugesto de Paulo (Atos 15.36), diferentemente da primeira misso, que tinha sido sugesto da igreja de Antioquia como um todo (Atos 13.1-2). Isso mostra que a liderana de Paulo tinha se estabelecido.

    Um aspecto importante da misso est na sugesto de Paulo em Atos 15.36: Voltemos para visitar os irmos em todas as cidades onde pregamos a palavra do Senhor, para ver como esto indo. A Evangelizao deve ser seguida pela consolidao atravs da instruo e organizao dos convertidos.

    Houve uma divergncia entre Barnab e Paulo sobre levar ou no Joo Marcos (Atos 15.37-39), e eles acabaram se separando. Barnab levou Joo Marcos consigo para Chipre, enquanto Paulo escolheu Silas, que havia sido enviado pela igreja de Jerusalm a Antioquia, e partiram para o norte atravs da Sria e Cilcia, em direo s fronteiras da sia Menor. Neste ponto Barnab desaparece da narrativa de Atos, mas aparentemente Paulo manteve uma proximidade com ele, pois o cita em ICorntios 9.6.

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    2.1 - A Segunda Misso sia Menor

    A expedio iniciou sua jornada em 49 DC. Eles viajaram por terra pela Sria e pela Cilcia, fortalecendo as igrejas (15.41). Cada um dos dois grupos passou a revisitar as igrejas que haviam sido fundadas na primeira viagem. Paulo e Silas acabaram chegando a Derbe e a Listra, que tinham sido as ltimas cidades visitadas na primeira viagem, onde conheceram Timteo (16.1). Provavelmente a me de Timteo foi convertida na primeira visita de Paulo. Os irmos das duas cidades davam bom testemunho dele, e Paulo decidiu lev-lo, pois viu nele um lder em potencial e um assistente de valor. Porm, Timteo poderia ser um problema, pois no era circuncidado. Paulo resolveu circuncid-lo, o que pode parecer uma contradio, j que ele estava anunciando s igrejas as decises do Conclio de Jerusalm (16.4), e uma delas era a da no necessidade da circunciso. Mas a me de Timteo era judia, logo no pareceria ser algo que ofendesse os irmos gentios, pois ele era visto como um judeu, e, principalmente, ajudava no princpio de ser tudo para todos (ICorntios 9.22).

    No h muitos detalhes da visita de Paulo regio da Galcia, mas a carta enviada anteriormente por Paulo (Glatas) e a presena em pessoa trouxe fortalecimento e crescimento (16.5). Em seguida resolveram pregar na regio da sia e da Bitnia, mas foram impedidos pelo Esprito Santo. Acabaram partindo para a cidade de Trade, onde Paulo teve uma viso (16.9), chamando-os para a Macednia.

    2.2 - A Misso Macednia

    A maneira como foram impelidos a ir Macednia uma prova de como o avano da Igreja guiado pelo Esprito Santo (16:6-10). Eles planejavam ir mais para o oriente, mas esta mudana de direo marca o incio da evangelizao da Europa e o incio do efeito do evangelho na civilizao ocidental. Em Trade, onde Paulo teve a viso, Lucas se junta ao grupo, pois em Atos 16:8 ele diz: contornaram... e ...desceram... e em Atos 16.10: preparamo-nos imediatamente para partir para a Macednia.

    Filipos

    A primeira cidade da Macednia onde estiveram foi Filipos. Esta cidade fora fundada por Filipe, pai de Alexandre o Grande, que a fundou como um centro de minerao de ouro e prata que havia na regio.

    Filipos era a principal cidade da regio, era uma colnia romana, e seus habitantes eram cidados romanos. Tais cidades costumavam evitar qualquer ao que pudesse desagradar Roma, pois no queriam perder seus privilgios. Sabendo disso, Paulo escreveu-lhes mais tarde: A nossa cidadania, porm, est nos cus (Filipenses 3.20). No havia muitos judeus na cidade, por isso no havia uma sinagoga. Por isso eles foram para a beira de um rio, fora da cidade, num sbado, onde esperavam encontrar um lugar de orao (16.13).

    Encontraram um grupo de mulheres, e uma das que ouviu foi Ldia, que se converteu e os recebeu em casa. Durante seu ministrio em Filipos, Paulo expulsou o demnio de uma escrava que previa o futuro. Seus donos no gostaram de perder sua fonte de lucros e os acusaram de trazer prticas que eles, como romanos, no poderiam aceitar. Isso atiou a multido contra Paulo e Silas, que acabaram presos. importante lembrar que os cidados da cidade no gostariam que acontecesse algo que desagradasse Roma, e para eles os ensinamentos dos apstolos poderia faz-lo.

    Mais tarde Paulo usou a cidadania romana deles como defesa, o que amedrontou os magistrados, pois haviam batido e prendido cidados romanos sem julgamento. Isso uma amostra de como Paulo usava seus privilgios e vantagens seculares em favor do Reino de Deus. E como foi o Esprito Santo quem os guiou para a Macednia, foi o Esprito Santo quem agiu para tir-los da priso (16.25-26). Alm do mais, a situao como um todo (a priso e a libertao miraculosa) serviu para salvar o carcereiro e toda a sua famlia (16.27-34). Aps Filipos, Lucas deixa de usar a primeira pessoa. Em 16.16 ele diz: Certo dia, indo ns para o lugar de orao.... Mas na priso ele no usa a primeira pessoa, e aps a libertao ele diz: E ento partiram (16.40), o que indica que

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    Lucas no foi preso com Paulo e Silas, e no seguiu com eles para Tessalnica, ficando em Filipos e servindo como evangelista na regio da Macednia. Alm disso, Lucas volta a usar a primeira pessoa quando Paulo passa novamente pela Macednia (20.5), reforando a ideia que Lucas havia permanecido em Filipos.

    Tessalnica

    Tessalnica foi fundada em 315 AC por Cassander, que deu esse nome cidade em homenagem sua esposa, que era meio irm de Alexandre o Grande. Era uma cidade porturia, um centro comercial e era a capital da provncia. A colnia judia em Tessalnica possua uma sinagoga, onde Paulo pregou por trs semanas. Um relato breve, mas minucioso, dado sobre o tipo de pregao. Paulo diz que o Messias deveria morrer e ressuscitar (uma ideia nova para os judeus, que pensavam no Messias apenas como um rei) e tambm diz que Jesus de Nazar era o Messias. Alguns dos judeus e muitos gregos creram, e mais tarde, ao escrever a Carta aos Tessalonicenses, Paulo diz que eles aceitaram a mensagem no como palavra de homens, mas conforme ela verdadeiramente , palavra de Deus (ITessalonicenses 2.13) e que eles se voltaram para Deus, deixando os dolos, a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro (ITessalonicenses 1.9). Em vrios momentos, em suas duas cartas aos tessalonicenses, Paulo se refere tenso entre os convertidos e os judeus que no aceitaram a mensagem (ITesslonicenses 2.15-16). A oposio se tornou to intensa que os evangelistas no puderam permanecer na cidade. Paulo e Silas foram enviados noite para Bereia.

    Bereia

    A visita a Bereia foi mais pacfica do que a Tessalnica. A populao de l era menos religiosa, mas ouviram com mais ateno e estudavam as Escrituras todos os dias para confirmar o que Paulo dizia, e como consequncia muitos creram (17.11-12). O nmero de convertidos aumentava, at que os judeus de Tessalnica foram at l para atiar o povo contra Paulo. Este teve que fugir para o litoral, e em seguida foi para o sul, em direo a Atenas, deixando instrues para que Silas e Timteo se encontrassem com ele mais tarde.

    2.3 A 1 Carta aos Tessalonicenses

    Contedo

    As cartas aos tessalonicenses foram escritas por volta de 51 d.C., quando Paulo estava em Corinto, na regio da Acaia, com uma diferena de alguns meses entre as duas. A primeira carta foi escrita quando Timteo chegou a Corinto, vindo de Tessalnica, com notcias da igreja de l, e possui os nomes de Timteo e Silas na saudao. Nela Paulo sada os tessalonicenses por sua prontido ao trabalho, mesmo sob a presso dos judeus que eram contra. Paulo tambm procura corrigir alguns mal-entendidos e erros que cresceram entre eles. A doutrina principal da carta a volta de Cristo, um tpico que aparece pouco na carta anterior que Paulo tinha escrito aos glatas. Esta doutrina j havia aparecido na pregao dos apstolos (Atos 3.21) e de Paulo (Atos 17.31) e tambm na carta de Tiago (5.7-8), mas a primeira carta aos tessalonicenses foi a primeira discusso completa sobre esta verdade.

    Avaliao

    Os problemas desta carta so bem diferentes daqueles descritos na Carta aos Glatas. No geral eles refletem os problemas de gentis convertidos, no de judeus. Questes como fornicao e idolatria so menos provveis de aparecer em uma comunidade judia por causa da lei, que os disciplinava desde a infncia. Os gentios no tinham este fundo moral, e embora os moralistas pagos colocassem alguns limites, eles no tinham a autoridade de um assim disse o Senhor. A vida em famlia e em comunidade tambm era forte entre os judeus, por isso a igreja de Tessalnica no tinha problemas quanto a isso (4.9-10). O ensinamento sobre a vinda de Jesus no era inteiramente novo para Paulo, pois mais tarde ele diz ter falado sobre isso quando estava entre eles (IITessalonicenses 2.5). Ele j devia ter conhecido alguns dos ensinamentos de Jesus sobre isso,

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    pois ele diz: Dizemos a vocs, pela palavra do Senhor (4.15), e ele usou a figura do ladro que vem noite (5.4), a qual Jesus usou no mesmo ensinamento (Mateus 24.43, Lucas 12.39-40).

    A primeira parte da discusso a respeito do arrebatamento dos vivos e da ressurreio dos mortos (4.13-18) foi, evidentemente, tirada da preocupao dos tessalonicenses por aqueles que j tinham morrido. Eles acreditavam que o Senhor viria, mas o que aconteceria com aqueles que morreram antes de sua vinda?

    A segunda parte da discusso (5.1-11) foi evocada pelo desejo de saber quando Jesus retornaria. Paulo replicou dizendo que a resposta estava na conscincia espiritual, ao invs de clculos especulativos. Se eles estivessem alertas e ativos, esperando bravamente pela volta de Cristo, eles seriam preservados da ira de Deus e no precisariam ter medo.

    2.4 A 2 Carta aos Tessalonicenses

    Contedo

    A Segunda Carta aos Tessalonicenses foi escrita para remover a falsa impresso de que o dia do Senhor j tivesse chegado (2.2). Talvez a veemncia com que Paulo falou sobre o assunto na primeira carta, ou as aluses que ele usou, tenham levado a mal-entendidos. Pode ter sido que eles receberam ensinamentos de fontes esprias, pois ele escreve: no se deixem abalar nem alarmar facilmente, quer por profecias, quer por palavra, quer por carta supostamente vinda de ns (2.2), o que pode significar que ele estava repudiando algum ensinamento falsamente atribudo a ele por outros. De qualquer forma, ele quis prov-los com os critrios definitivos pelos quais eles poderiam reconhecer a aproximao do dia do Senhor.

    Infelizmente, os critrios que eram claros para Paulo e para os tessalonicenses, no so to facilmente compreendidos hoje. A referncia ao mistrio da iniquidade difcil de interpretar. Aparentemente trs eventos principais sero um pressgio da vinda do Senhor:

    1- Acelerao da apostasia 2.3;

    2- O afastamento daquele que detm a vinda da iniquidade 2.6-7;

    3- A vinda do perverso segundo a ao de Satans, o qual se ope e se exalta acima de Deus 2.4-9.

    Em nenhuma outra carta de Paulo este particular aspecto escatolgico aparece to abertamente. Contudo, era parte integrante da instruo corrente de Paulo, e ele o pregava nas igrejas. A passagem indica que a iniquidade e o mistrio de Cristo se desenvolvem simultaneamente no mundo, e que no fim haver inevitavelmente um choque, no qual Cristo deve vencer e vencer. O triunfo em si ser a volta de Cristo terra para destruir o anticristo e recompensar os seus santos. A exortao do terceiro captulo uma expanso da ordem dada na primeira carta: Esforcem-se para ter uma vida tranquila, cuidar de seus prprios negcios e trabalhar com as prprias mos (4.11). Alguns dos tessalonicenses se tornaram to enamorados da ideia de que a vinda do Senhor poderia libert-los das maldades e das tenses do mundo, que desistiram de trabalhar e estavam esperando a apario do Libertador. Eles no estavam em sincronia com o resto da igreja e eram dependentes de outros para sustent-los (3.6-11). Paulo os advertiu a conseguir o prprio sustento e cuidar dos prprios negcios.

    Avaliao

    Primeira e Segunda aos Tessalonicenses esto entre os primeiros escritos de Paulo. Elas testificam o fato de que a mensagem que ele pregava no era novidade, e sim j era um corpo estabelecido da f h algum tempo. A referncia de Paulo sua pregao entre eles (2.15), como sendo o mesmo que ele estava escrevendo em sua carta, mostra que ele tinha um sistema de crena bem definido, e seu uso da palavra tradio(2.15 e 3.6) ressalta esta impresso. Para Paulo, tradio no significava um rumor transmitido vagamente, de autenticidade duvidosa. Significava um conjunto de instrues que poderiam ser orais, mas era cuidadosamente preservado, e formulado com exatido. A tradio pode ter includo preceitos ticos, pois ele inferia que era uma regra de conduta que os irmos poderiam seguir (3.6).

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    E esta tradio no era apenas autntica, mas tinha autoridade, no de si mesmo, mas do Esprito Santo (2.13). Praticamente toda a doutrina principal no catlogo da f est representada nestas duas pequenas cartas. Embora no tenham sido escritas como tratados doutrinrios e nem para apresentar a viso teolgica geral do autor, elas contm um conjunto bem formado de ensinamento teolgico.

    Pontos teolgicos principais

    - Um s Deus vivente (ITs. 1.9);

    - O Pai (IITs. 1.2), que amou os homens e os escolheu para desfrutar da salvao (ITs. 1.4; IITs. 2.16);

    - Ele enviou libertao da ira por meio de Jesus, seu Filho (ITs. 1.10);

    - Mostrou a libertao por meio da mensagem do evangelho (ITs. 1.5, 2.9; IITs. 2.14);

    - Esta mensagem foi confirmada e feita real pelo poder do Esprito Santo (ITs. 1.5, 4.8);

    - O evangelho sobre o Senhor Jesus, que foi morto pelos judeus (ITs. 2.15);

    - Ele ressuscitou dos mortos (ITs. 1.10, 4.14, 5.10);

    - Ele est agora no cu (ITs. 1.10), mas voltar (IT. 2.19, 4.15, 5.23; IITs. 2.1);

    - A ele atribuda divindade, pois ele chamado Senhor (ITs. 1.6), Filho de Deus (ITs. 1.10) e o Senhor Jesus Cristo (ITs. 1.1,3; 5.28; IITs. 1.1);

    - Os que creem, recebendo a palavra de Deus (ITs. 1:6) se afastam dos dolos, servem a Deus e esperam pela volta do Cristo (ITs. 1.9-10);

    - O crescimento normal de quem cr em santidade (ITs. 4.3,7; IITs. 2.13);

    - Na vida pessoal eles devem ser puros (ITs. 4.4-6), trabalhadores (ITs. 4.11-12), constantes na orao (ITs. 5.17) e alegres (ITs. 5.16).

    Na teoria e na prtica, as cartas aos tessalonicenses possuem toda a essncia da verdade crist.

    3 AS CARTAS AOS CORNTIOS

    3.1 - Misso Acaia

    Atenas

    A cidade de Atenas era uma das maravilhas do mundo antigo. A sua aura era de intelectualismo e genialidade. Na poca de Paulo a sua importncia comercial j tinha diminudo bastante, mas a sua populao era bem ciente do seu passado glorioso, e nutria um grande orgulho disso. Enquanto Paulo esperava por Silas e Timteo, que estavam vindo da Macednia, comeou a pregar, como de costume (Atos 17.14-16).

    Paulo encontrou em Atenas um novo tipo de opositor: o pago instrudo e cnico, que queria ouvir a tudo, mas no estava pronto para acreditar em nada. O interesse dos atenienses foi tanto que levou Paulo a uma reunio do Arepago, o conselho que controlava vrios aspectos da vida da cidade. A pregao de Paulo (Atos 17.22-31) considerada clssica: ele discursa sobre o Deus do universo, criador de todas as coisas, e sobre o propsito do ser humano.

    O ministrio de Paulo em Atenas parece ter sido frustrante: o seu impacto na sinagoga parece ter sido mnimo e a populao pag considerou a sua pregao boba. O impacto desse tempo difcil em Atenas parece ter sido grande: Paulo escreve aos corntios, mais tarde, que foi com fraqueza, temor e muito tremor que estive com vocs (ICorntios 2.3). Corinto foi a cidade para onde Paulo foi logo aps sair de Atenas.

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    Corinto

    Corinto era uma cidade bem diferente de Atenas. Sua populao era cosmopolita e a cidade era um centro de comrcio, que atraa pessoas de diversos lugares do Mediterrneo. O crescimento rpido da cidade promovia uma sensao falsa de cultura: Corinto oferecia luxo, sensualidade, esportes e vitrines. Moralmente, a cidade era considerada inferior at pelos padres do paganismo. Viver como um corntio era uma expresso que significava ter um baixssimo padro moral. Paulo ficou um ano e meio nessa cidade (Atos 18.11). Quando chegou l, seus colegas ainda no haviam chegado da Macednia e seus fundos provavelmente estavam acabando. Paulo trabalhou como fabricante de tendas com Priscila e quila at que seus companheiros chegassem (18.3-5). O ministrio de Paulo parece ter sido difcil nessa cidade: ele abandonou a sinagoga e foi pregar aos gentios (18.6-7); foi julgado por um tribunal local (18.12-13); numa certa noite ele ouviu a voz do Senhor encorajando-o a perseverar (18.9-10).

    Saindo de Corinto, Paulo se dirigiu a feso, onde ficou pouco tempo (18.20), antes de se dirigir a Antioquia. Depois de ter passado um certo tempo em Antioquia, voltou a feso, conforme havia prometido (18.21).

    3.2 - Misso sia

    feso

    feso era a cidade mais importante da provncia da sia e era um ponto estratgico para a evangelizao de toda aquela regio, uma vez que tinha um porto e estradas que a ligavam a todas as outras cidades importantes da regio.

    Uma caracterstica importante da cidade era o Templo de rtemis, uma das sete maravilhas do mundo antigo. rtemis era uma deusa com muitos peitos e um bloco de pedras no lugar das pernas. O templo no era apenas um lugar de adorao da deusa rtemis, mas tambm uma fonte de lucro para os ourives locais. Os habitantes da cidade e, at certo ponto, de toda a regio da sia, nutriam uma adorao quase irracional deusa, ao contrrio dos demais povos do imprio romano, que eram bastante envolvidos na religio do imprio, cujos deuses eram personificados pelos imperadores. Paulo encontrou dois problemas principais em feso:

    - Pessoas que s conheciam o batismo de Joo Batista (Atos 18.24-25, 19.1-7);

    - A adorao ao oculto, representada pelos sete filhos de Ceva (Atos 19.13-16), e exemplificada pela queimao de livros de magia por grande parte da populao (Atos 19.18-19).

    O ministrio de Paulo foi particularmente efetivo em feso. Ele pregou com liberdade por mais de dois anos (Atos 19.8-10), primeiro na sinagoga e depois na escola de Tirano. Toda a provncia da sia ouviu a respeito de Jesus (Atos 19.10); Paulo realizou milagres extraordinrios (Atos 19.11); a Palavra do Senhor se difundiu e se fortaleceu (Atos 19.20); e o nmero dos que creram foi to grande que o comrcio da idolatria sofreu perdas econmicas (Atos 19.26-27).

    A Igreja de feso se tornou um centro missionrio e foi, por sculos, uma das fortalezas do Cristianismo na provncia da sia. Durante sua estadia em feso, Paulo manteve comunicao com as igrejas que havia fundado previamente na Acaia. Uma vez que a igreja de Corinto era composta, na sua maioria, por gentios, que no possuam o treinamento tico do Velho Testamento, os discpulos eram instveis e precisavam de muito ensinamento espiritual para alcanarem a maturidade (ICorntios 3.1-3). Apolo foi de grande ajuda aos corntios (Atos 18.27-28) e Paulo o recomendou a eles (ICorntios 16.12). possvel que Pedro tambm tenha passado algum tempo l, uma vez que Paulo o cita em ICorntios 1.12 e 9.5. Alm das duas cartas aos corntios inclusas no Cnon, h pelo menos uma terceira carta que Paulo escreveu a eles e que foi perdida. Paulo a menciona em ICorntios 5.9. Essa carta tratava da necessidade dos corntios se afastarem dos irmos que estavam cometendo imoralidade.

    3.3 A 1 Carta aos Corntios

    A Primeira Carta aos Corntios aparentemente no surtiu muito efeito. Depois de Apolo sair de l, a igreja, sem liderana, caiu em confuso. Rumores preocupantes chegaram ao ouvido de Paulo em feso, por meio de escravos cujos senhores estavam em feso. A carta foi escrita perto do

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    fim da estadia de Paulo em feso, pois ele j havia feito planos de sair da sia e fazer uma visita mais longa s igrejas da Macednia e Acaia (ICorntios 16.5-7). Provavelmente foi escrita no ano de 55 a.D.

    Contedo

    Primeira aos Corntios a carta de Paulo mais variada em contedo e estilo. Os assuntos abordados variam, desde divises at finanas, passando pela ressurreio e como se comportar na igreja. Paulo emprega quase todos os estilos de escrita: sarcasmo, lgica, poesia, narrativa, exposio, pedidos e repreenso. No entanto, o tema principal da carta pode ser resumido como a aplicao da cruz de Cristo na vida de um cristo e da igreja.

    A carta contm vrias passagens que so de difcil entendimento para o cristo moderno, embora, para os corntios, certamente foram coisas que faziam parte da sua vida:

    O que significa entregar um homem a Satans, no que diz respeito disciplina da igreja (5.5)?

    Note, primeiramente, que esse cristo estava praticando imoralidade continuamente, sem se arrepender. Essa passagem no se aplica a um discpulo que tenha pecado com imoralidade ou impureza, em um momento de fraqueza, e que esteja decidido a mudar de vida. Ela se aplica a algum que, dizendo-se discpulo, esteja praticando imoralidade e no queira se arrepender (ICorntios 5.11).

    Com relao expresso entreguem esse homem a Satans, a explicao mais razovel que, ao ser expulso do convvio da igreja, que o domnio espiritual de Deus, e ser lanado no mundo, que est sob a autoridade de Satans (Lucas 4.6), o cristo estaria sendo entregue a Satans.

    Batismo pelos mortos (15.29).

    Primeiramente note que essa passagem no significa que Paulo estava aprovando a prtica de se batizar por pessoas mortas. No h nenhuma outra passagem na Bblia que apoie essa doutrina. Pelo contrrio, as Escrituras so claras ao afirmar que o destino do homem est selado aps a sua morte (Hebreus 9.27, Lucas 16.19-31). Seja qual tenha sido o intuito de Paulo ao usar essas palavras, no foi o de ratificar essa prtica.

    Pelo contexto razovel supor que Paulo apenas usou o exemplo de pessoas que se batizavam pelos mortos (provavelmente no-cristos), como mais um argumento para provar que a ressurreio existe e essencial vida crist (ICorntios 15.19).

    Dons miraculosos (12-14).

    A questo que mais levanta polmicas nessa passagem a continuidade do dom de falar em lnguas e interpret-las. Independente da concluso a que se chegue, o ponto de Paulo nessas passagens era mostrar que no era aquele o dom que os corntios deveriam perseguir com mais desejo, e sim os dons que edificam as outras pessoas (ICorntios 14.1-17).

    O papel da mulher na igreja (11.2-16; 14.33-35).

    So duas as maiores polmicas levantadas por essas passagens: o que significa cobrir a cabea e a questo do silncio das mulheres nas reunies?

    Sobre a questo do silncio, sabemos que Paulo no quis dizer com isso a ausncia de palavras, pois em 11.5 Paulo est se referindo a mulheres que oram e profetizam em pblico. Ora, se a mulher pode orar ou profetizar em pblico, ela no pode ficar em silncio da maneira como entendemos a palavra silncio.

    A passagem de ITimteo 2.9-10 d luz ao nosso entendimento: mulher no permitido ensinar com autoridade onde existirem homens presentes, mas isso no quer dizer que elas no possam orar ou compartilhar mensagens nas reunies. Se Paulo tivesse querido dizer que as mulheres no podiam falar nada nas reunies, elas no poderiam nem cantar, o que apresenta vrios problemas com relao a outras Escrituras, como Colossenses 3.16.

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    A 1 Carta aos Corntios oferece perspectivas nicas sobre os problemas enfrentados por uma igreja iniciante. Ao enfrentar cada um dos problemas da igreja, Paulo oferece um princpio espiritual para lidar com o problema:

    - Para resolver as divises, a cruz de Cristo (captulos 1-3);

    - Para a imoralidade entre os irmos, a soluo a disciplina da igreja (5.1-5) at que o irmo se arrependa e seja restaurado;

    - Para brigas entre os irmos, necessrio o envolvimento de outros irmos (6.1-6);

    - No casamento entre um cristo e no-cristo, a preocupao deve ser a de salvar o cnjuge e no afast-lo (7.10-24);

    Embora sejam dados conselhos especficos para cada situao, h dois princpios bblicos que se destacam na carta: focar em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado, e no amor.

    O primeiro problema que Paulo enfrenta o da falta de unio. Os trs primeiros captulos da carta so dedicados a esse tema. Paulo apresenta Jesus Cristo, crucificado e ressurreto, como a soluo dos problemas dos corntios. Nos versculos 1.18-31, ele explica como o nosso foco deve estar nos caminhos e pensamentos de Deus, que so superiores (Isaas 55.8-11), e no nos nossos prprios caminhos e pensamentos.

    Uma das razes dos problemas dos corntios era que eles ainda no haviam se tornado maduros, ou seja, ainda no haviam submetido suas mentes a Jesus Cristo, para pensarem como ele em tantas questes da vida (I Corntios 3.1-4). Quando pensamos com a nossa natureza e no submetemos nossos pensamentos a Cristo (IICorntios 10.4-5), a consequncia inevitvel a desunio. Para cada problema que Paulo trataria no resto da carta, ele mostraria o caminho de Jesus.

    Mais tarde, quando Paulo est lidando com o problema dos diferentes dons na igreja, ele discursa sobre o outro princpio espiritual, o amor. No captulo 12, Paulo est dando direes sobre que tipos de dons os corntios deveriam buscar com mais intensidade.

    No captulo 13 ele fala sobre o mais excelente dos caminhos, o amor, e descreve as suas qualidades intrnsecas.

    - No versculo 1, ele ensina que mesmo que faamos acontecer muitas coisas e sejamos muito ativos na vida espiritual, se no tivermos amor, seremos como o som de um prato que retine, barulhento mas passageiro. No causaremos impacto na vida das pessoas.

    - No versculo 2, ele ensina que mesmo que tenhamos vasto conhecimento, e que nossa f seja grande, se no tivermos amor, nada seremos.

    - No versculo 3, ele ensina que mesmo que sacrifiquemos noss0as posses, nosso tempo, nossa energia, e at mesmo nossa vida, nada disso valer nada, se no tivermos amor.

    O tema do amor encontra-se em toda a carta aos corntios:

    Nos versculos 8.7-13, Paulo diz que o nosso conhecimento no nos deve levar a fazer coisas que levaro outros irmos, com menos conhecimento, a pecar.

    No captulo 9, Paulo d o exemplo da sua prpria vida, de como ele, sendo apstolo, tinha vrios direitos, mas, por amor, abdicou de vrios deles para no ser uma pedra de tropeo a ningum.

    Nos versculos 10.23-24, Paulo diz que temos liberdade, mas que devemos us-la de forma a edificar os outros irmos. Nos captulos 12 a 14, Paulo demonstra que os melhores dons so aqueles que buscam a edificao dos outros, e no a nossa prpria. No versculo 16.14, Paulo resume a essncia da sua carta: Faam tudo com amor.

    3.4 - A 2 Carta aos Corntios

    Contedo

    A Segunda Carta aos Corntios, presente no cnon bblico, difere bastante de ICorntios. Nela Paulo revela muito da sua vida pessoal e expe pouca doutrina bblica. a carta mais pessoal de Paulo, onde lemos a respeito de suas emoes, desejos, sentimentos, ambies, obrigaes e frustraes.

  • 13

    A carta pode ser considerada como uma defesa pessoal de Paulo. As acusaes contra ele advinham do grupo de judaizantes, que tendo surgido nas igrejas da Galcia, se espalharam e contaminaram muitos irmos nas provncias adjuntas.

    Paulo foi acusado de:

    - Agir de acordo com a carne, segundo padres humanos (10.2);

    - Ser corajoso nas suas cartas, mas um covarde em pessoa (10.10);

    - No levar a si mesmo a srio, por no ter sido sustentando pela igreja enquanto estava com eles (11.7);

    - No ser um dos apstolos originais, logo no ter autoridade para ensinar (11.5, 12.11-12);

    - No ter recomendaes do seu trabalho (3.1);

    - Ser orgulhoso (10.8,15);

    - Ser enganador e um peso (10.16-17);

    - Embolsar as ofertas dadas pelos irmos (8.20-23).

    H vrias passagens clssicas nessa carta. Os captulos 3 a 5 lidam com a glria da nova aliana: o tesouro incalculvel, de Deus habitando em seres humanos fracos, produz imensa glria a Deus. O captulo 5 traz a teologia por trs do sacerdcio que os cristos exercem (IPedro 2.9).

    Os captulos 8 e 9 revelam a graa da qual Deus permitiu que participssemos: as ofertas. A descrio do seu ministrio, nos captulos 10 a 12, nos faz refletir sobre o preo que Paulo pagou na sua vida pessoal para cumprir a misso da qual foi institudo.

    4 - A CARTA AOS ROMANOS

    Paulo tinha planos de voltar a Jerusalm com a oferta dedicada aos santos (20.3) somente por um breve perodo. Seu plano era passar por Roma em direo Espanha (Atos 19.21, Romanos 15.23).

    Em preparao para essa prxima viagem missionria, Paulo escreve a epstola aos romanos. Paulo tinha inmeros amigos em Roma. Ele tinha tentado visit-los em inmeras ocasies, mas tinha sido impedido em cada uma delas (1.13, 15.22).

    A igreja em Roma era composta, em sua maioria, por gentios, uma vez que Paulo, ao se dirigir a eles os chama de gentios (1.13) e tambm porque os judeus de Roma no conheciam o movimento, apenas haviam ouvido falar dele (Atos 28.21).

    A origem da igreja em Roma incerta. Havia judeus de Roma presentes em Jerusalm, durante a festa de Pentecostes, quando a igreja comeou (Atos 2.10), que podem ter se convertido e retornado com a mensagem de Cristo.

    quila e Priscila tinham vindo de Roma (Atos 18.2) e, de acordo com Romanos 16.3, haviam retornado para l. Paulo tinha vrias razes para ter um interesse especial por aquela igreja: seu desejo de conhecer a cidade imperial, a necessidade dos cristos de receberem instruo, seu desejo de impedir o avano de qualquer movimento judaizante que viesse a se formar l, e o seu desejo de receber suporte dos cristos de l no seu caminho para a Espanha.

    Paulo provavelmente tambm reconhecia o valor estratgico daquela igreja: como todas as estradas levavam a Roma (literalmente), o crescimento e a instruo daquela igreja poderia ser fundamental para a evangelizao de todo o imprio.

    A Carta aos Romanos foi escrita como um substituto ao contato pessoal, e como preparao para a futura visita de Paulo quela igreja. Dessa forma, a carta no dedicada a corrigir erros da igreja, mas sim a ensinar verdades espirituais.

    Data e Local

    A carta foi escrita em Corinto ou em Filipo, uma vez que Paulo diz que estava prestes a voltar a Jerusalm (Romanos 15.19, 25 e 26). Foi escrita por volta do ano 60 d.C.

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    Contedo

    O tema central da carta de Romanos o plano de salvao de Deus para o homem. Trata de questes centrais, uma vez que o homem no pode se aproximar de Deus a no ser que siga os mtodos estabelecidos por ele.

    A carta pode ser dividida, em termos amplos, da seguinte maneira:

    - Logo no primeiro captulo, o evangelho apresentado como a soluo para os problemas da humanidade, o instrumento que Deus escolheu para salvar o homem da situao cada na qual ele se encontra: no me envergonho do evangelho, porque o poder de Deus para a salvao de todo aquele que cr: primeiro do judeu, depois do grego (1.16). Logo aps, Paulo demonstra a situao do homem, para provar que ele precisa desse poder de Deus para salv-lo. Em particular, nos versculos 18 a 32, Paulo descreve a situao do homem que no busca a Deus;

    - No captulo 2, Paulo estende a lgica do seu pensamento ao homem judeu. Este, mesmo sendo o povo escolhido de Deus, tambm se afastou dele; no terceiro captulo, Paulo refora e sumariza a situao de todos os homens, independente de filiao religiosa, diante de Deus: todos pecaram e esto destitudos da glria de Deus (3.23). Uma vez que o homem no tem poder, por si prprio, para se salvar, essa ajuda precisa vir de fora. a justamente que entra o poder de Deus, por meio do evangelho, ao qual o homem tem acesso por meio da f (1.17);

    - Nos captulos 4 a 7, Paulo discursa a respeito da justia de Deus e da relao entre a lei e a graa. Ele demonstra que a justia vem por meio da f, e no por meio da lei (ou das boas coisas que fazemos). Em particular, no captulo 4, Paulo d o exemplo de Abrao, que foi o pai dos judeus, e que foi justificado por Deus por meio da sua f, e no por meio das suas obras. Interessantemente, Tiago, no captulo 2 da sua carta, tambm d o exemplo de Abrao, explicando como a sua f, que o salvou, agia por meio das suas obras, que simplesmente mostravam que a sua f era verdadeira (Tiago 2.20-24). No captulo 7, Paulo discursa a respeito de como tentar viver uma vida que agrada a Deus em mera obedincia Lei: No ntimo do meu ser tenho prazer na Lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me

    prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miservel homem que eu sou! Quem me

    libertar do corpo sujeito a esta morte? (7.22-24);

    - O captulo 8 uma resposta pergunta de Paulo no fim do captulo 8. O corao do evangelho exposto: Jesus, por meio da sua morte e ressurreio, pagou o preo que o homem nunca poderia ter pago por si prprio e o libertou definitivamente do pecado (8.1-4). Alm disso, liberou o poder de Deus, por meio do seu Esprito, para capacitar o homem a viver de uma maneira que o agrada (8.5-17). Paulo fala da glria que temos reservada nos cus e da impossibilidade de qualquer coisa nos afastar do amor de Deus (8.18-39).

    Ironicamente, a nica coisa que pode afastar um cristo de Deus o prprio cristo. Nenhum acontecimento ou circunstncia tem o poder, por si mesmo, de tirar o homem desse relacionamento. O problema no so as circunstncias, mas a maneira como reagimos a ela. Consequentemente, h sempre uma maneira espiritual de responder s diversas situaes que acontecem em nossa vida (Romanos 8.5-8, ICorntios 10.13);

    - Nos captulos 9 a 11, Paulo discursa a respeito da relao existente entre a justia de Deus e o seu povo escolhido, os judeus. Em particular, a seguinte pergunta respondida: Ser que Deus, ao estabelecer a salvao a todas as pessoas por meio da f, invalidou a escolha dos judeus, feita por meio da Lei? A resposta de Paulo um ressoante No! A salvao dos gentios fazia parte do plano de Deus desde o princpio. A recusa dos judeus em aceitar o plano eterno de Deus, que por meio da f, uma situao temporria, at que se cumpra o propsito de Deus de trazer seus escolhidos para a graa (11.25-32);

    - Nos captulos 12 a 14, Paulo fala a respeito do resultado de viver pelo Esprito, o tipo de vida que os cristos devem levar como resultado de to grande salvao. Somos chamados a nos sacrificarmos (12.1); no nos amoldarmos ao padro desse mundo (12.2); sermos humildes (12.3); exercermos os dons que recebemos de Deus (12.6-7); amarmos sinceramente (12.9); sermos zelosos (12.11) etc. Em suma, devemos viver nossas vidas para o Senhor: Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos

    ao Senhor (14.8);

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    - Nos captulos 15 e 16, Paulo conclui a carta com seus planos pessoais, seus pedidos de oraes e seus cumprimentos. Romanos um timo exemplo do poder que a convico de um homem possui. Paulo foi o apstolo que mais trabalhou no campo missionrio (ICorntios 15.10). Ele tinha convico de que o mundo estava perdido e que Deus havia providenciado uma soluo, o evangelho, para o problema da humanidade e que essa soluo era efetiva.

    Como andam as suas convices a respeito da perdio do mundo e da soluo que Deus providenciou para cada pessoa? Voc acredita que o evangelho efetivo para solucionar os problemas da humanidade?

    Avaliao

    Romanos considerada a carta mais teologicamente completa do Novo Testamento, onde a exposio da verdade crist feita de forma mais sistemtica. Enquanto as outras cartas lidam com problemas controversos nas igrejas, Romanos uma carta amplamente didtica. A maioria dos termos tcnicos do Cristianismo, como justificao, santificao, adoo e propiciao so provenientes de Romanos.

    4.1 - Fim da Misso de Paulo

    Antes de chegar a Jerusalm, Lucas descreve duas paradas de Paulo em Atos 20. A primeira delas foi na cidade de Trade, onde Paulo pregou at a meia noite, e a segunda em Mileto, onde Paulo se despediu dos presbteros da igreja de feso. O resto da viagem de Paulo prosseguiu sem maiores acontecimentos, exceto pelos contnuos avisos que Paulo recebeu para no ir a Jerusalm (21.4,10-11).

    Quando chegou em Jerusalm, Paulo foi preso e posteriormente levado a julgamento em Roma. Com a sua chegada em Jerusalm terminou a fase mais ativa da carreira de Paulo. Em pouco menos de uma dcada, Paulo havia conquistado a liberdade dos gentios do fardo do legalismo. Ele tinha construdo uma forte corrente de igrejas desde a Antioquia da Sria e Tarso da Cilcia, passando pela sia Menor, feso e Trade, at a Macednia, Acaia e Ilrico.

    Ele havia escolhido e treinado companheiros como Lucas, Timteo, Tito, Silas e Aristarco que, na sua presena ou ausncia, estavam qualificados para continuar o seu trabalho, na linha de IITimteo 2.2. Ele havia comeado uma literatura de cartas que j era considerada como um padro de f e de prtica crist. Mesmo enfrentando inimigos fortes e amargos por quase todos os lugares por onde passou, ele conseguiu estabelecer a igreja gentia em bases slidas e formulou a essncia da teologia crist medida que ela lhe foi revelada pelo Esprito Santo.

    5 AS CARTAS DA PRISO

    Cartas aos Efsios; Colossenses; Filemon e Filipenses

    5.1 - A Priso de Paulo

    Os ltimos captulos do livro de Atos (21 a 28) narram a priso de Paulo e sua defesa diante de algumas autoridades. Quando Paulo chegou a Jerusalm, logo entrou em conflito com os judeus, embora tivesse feito todo o esforo para no entrar em controvrsias. Judeus da sia se infiltraram no meio dos judeus locais e, causando um tumulto de grandes propores causaram a priso de Paulo pelas autoridades romanas.

    Na defesa que fez logo aps ser preso, os judeus no apresentaram objees quando Paulo mencionou a luz que o cegou (que, para o judeu, significaria a glria de Deus), nem a glorificao de Jesus, tampouco os conceitos de batismo e arrependimento. Foi somente quando Paulo mencionou que Deus o chamou para anunciar o evangelho aos gentios (Atos 22.21) que a multido entrou em alvoroo (22.22).

    Os captulos seguintes de Atos apresentam duas defesas de Paulo diante das autoridades. Ele ficou em custdia por quatro anos e, no final desse perodo, temendo que no seria libertado, apelou para Csar. Como ele era cidado romano, Festo viu-se obrigado a envi-lo a Roma, uma vez que apelar a Csar era um direito de todo cidado. A sua audincia diante de Csar demorou outros

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    dois anos (28.30). O veredicto do julgamento no informado, embora haja fortes evidncias de que ele tenha sido solto (IITimteo 4.16-18).

    O perodo em que Paulo esteve preso de maneira alguma foi infrutfero. Em Jerusalm, era-lhe permitido manter contato com o mundo de fora (Atos 23.16). Em Roma, ele morou por sua prpria conta e ensinava a respeito do Senhor Jesus Cristo, abertamente e sem impedimento algum (28.16-31).

    As epstolas que Paulo escreveu nesse perodo demonstram que o crescimento das igrejas no parou depois dele ter sido preso. Alm disso, o valor teolgico das cartas que ele escreveu na priso maior do que toda a sua correspondncia at aquele momento (com exceo de Romanos). As cartas escritas por ele na priso lidam com ensinamentos mais gerais e questes menos especficas. Tambm revelam uma igreja organizada, que estava amadurecendo rpido.

    Paulo escreveu quatro cartas enquanto estava preso: Filipenses, Colossenses, Efsios e Filemon. Todas foram escritas entre os anos de 57 e 61 d.C. Paulo se refere, nessas quatro cartas, ao fato de estar preso (Filipenses 1.12-13, Efsios 3.1, 4.1, 6.20, Colossenses 1.24, Filemon 1).

    5.2 Carta a Filemon

    Onsimo, um escravo de Filemon, que era um homem de negcios de Colosso, havia fugido para Roma com bens do seu senhor. L conheceu Paulo e foi convertido a Jesus (Filemon 10). Vendo a necessidade de corrigir o mal que Onsimo havia feito, Paulo o envia de volta a Filemon, pedindo que este receba o seu escravo e o perdoe. Nessa carta so encontrados todos os elementos do perdo: a ofensa (v. 11, 18), compaixo (v. 10), intercesso (18-19), substituio (18-19) e um novo status no relacionamento (v. 15-16).

    Cada aspecto do perdo divino duplicado no perdo que Paulo buscou para Onsimo. A carta pode ser considerada uma lio prtica da orao Perdoa as nossas dvidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.

    5.3 A Carta aos Efsios

    Tradicionalmente, considera-se Efsios como uma carta circular, escrita a vrias igrejas da provncia da sia, cuja cidade mais importante era feso. Isso explicaria a ausncia de cumprimentos pessoais de Paulo a uma igreja onde ele passou mais de trs anos. A Carta aos Efsios foi escrita e enviada simultaneamente com a carta a Filemon e a carta igreja de Colosso, cujo mensageiro foi Tquico (Efsios 6.21, Colossenses 4.7-9). Efsios foi escrita aps vrias igrejas terem sido fundadas, o que propiciou a Paulo um entendimento maior do organismo que havia nascido. a nica carta do Novo Testamento onde a palavra igreja significa o conjunto de todos os irmos do mundo e no uma congregao local.

    Contedo

    O tema igreja permeia toda a carta aos Efsios, que no foi escrita para cristos novos, mas para irmos com certa maturidade, que desejavam crescer em conhecimento e vida. Alguns temas reaparecem constantemente nessa epstola:

    - A soberania de Deus em estabelecer a igreja (1.4, 5, 9, 11, 13, 20; 2.4, 6, 10; 3.11) marca a primeira parte da carta (captulos 1 a 3). Nesse trecho explicado o plano divino de redeno do ser humano;

    - No segundo trecho da carta, captulos 4 a 6, a conduta do cristo enfatizada na expresso vivam (4.1, 17; 5.1, 8, 15), em contraste com a sua maneira antiga de viver (2.1);

    - A esfera da atividade do cristo so as regies celestiais (1.3, 10, 20; 2.6; 3.10; 6.12);

    - A dinmica da vida da igreja o Esprito Santo, que o selo da promessa (1.13), o meio de acesso a Deus (2.18), a fonte de revelao da verdade de Deus (3.5), a fonte de poder (3.16), a liga de unio (4.3-4) etc.

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    Avaliao

    Vamos percorrer a Carta aos Efsios e fazer observaes a respeito de alguns versculos:

    - 1.11 Deus soberano na sua vontade. Ele coordena todas as coisas, todas as variveis, todos os seres, todos os eventos, para que exatamente aquilo que de acordo com o propsito da sua vontade acontea.

    - 1.13-14 A vida de um cristo diferente de todos os outros. Podemos at encontrar pessoas com um carter moral mais elevado do que alguns irmos, no entanto no isso que determina a salvao das pessoas. O que determina se seremos salvos ou no a presena do Esprito Santo na vida de uma pessoa, que o depsito que Deus fez, garantindo a nossa redeno no julgamento, no nosso batismo.

    - 1.19-20 O poder que age em ns hoje o mesmo poder que ressuscitou Jesus.

    - 1.22-23 A igreja representa a plenitude de Jesus, 100% de Jesus na terra!

    - 2.12 Ns nos lembramos de como vivamos nossa vida antes de conhecermos a Cristo? Sem esperana e sem Deus! Esse entendimento essencial para que vivamos nossa vida com o poder do Esprito em nossas vidas, cheios de gratido. Lembre-se que aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama (Lucas 7.47).

    - 2.19-20 Paulo est enfatizando que pertencer a Deus implica, necessariamente, que pertencemos sua igreja, e que esta deve estar baseada nos fundamentos dos profetas (Velho Testamento) e dos apstolos (Novo Testamento).

    - 3.8 Paulo revela, mais uma vez, o segredo para termos vidas crists amplamente produtivas: precisamos estar cheios de gratido e apreciao pela nossa salvao. Deus quer que vivamos vidas produtivas (II Pedro 1.5-9) e que demos muitos frutos (Joo 15.8).

    - 3.10 A sabedoria de Cristo revelada hoje ao mundo por meio da igreja!

    - 3:16-17 A nossa orao deve ser para que Cristo nos encha de fora no ntimo, para que sejamos cheios do verdadeiro poder, que opera no nosso interior e produz frutos no exterior.

    - 3.19 Se o amor de Cristo excede todo conhecimento, como podemos conhec-lo? Vivenciando-o, experimentando-o. Ningum entender o amor de Cristo se busc-lo apenas intelectualmente.

    - 3.20 Deus faz mais do que pensamos ou pedimos. Esse um grande encorajamento para que peamos e sonhemos muito com a nossa vida e com a dos outros!

    - 4.11-13 Deus deu dons de liderana a alguns irmos com o propsito de preparar a sua igreja para o ministrio, ou seja, para as boas obras. Os lderes no so superiores ou inferiores a ningum, at porque h outros irmos com dons que os lderes no possuem. No entanto, so absolutamente necessrios e devem ter o apoio de todos para que possam fazer o seu trabalho (Hebreus 13.17). O alvo final ajudar cada irmo a alcanar maturidade na sua vida crist.

    - 4.14-16 Essa passagem mostra o resultado da submisso da igreja sua liderana: no seremos mais enganados por qualquer tipo de doutrina falsa e cresceremos em Cristo. Para isso, no entanto, cada um precisa fazer a sua parte (v.16). Uma ideia muito popular nos dias de hoje, porm nada espiritual, diz que os lderes da igreja precisam cuidar de todas as coisas na igreja. A Bblia, no entanto, ensina o contrrio. Cada um chamado a ser discpulo de Jesus e carregar a sua cruz, ou seja, cada um deve viver o seu prprio Cristianismo. O lder apenas direciona a igreja em uma dada direo e a equipa para que possa fazer boas obras (todos precisamos ser treinados para fazer o bem boas intenes no so o suficiente).

    - 4.17 Paulo insiste que no vivamos mais como gentios (como ramos antes).

    - 4.29 S devemos falar aquilo que edifica e no deixar que palavras torpes (obscenas, nojentas) saiam da nossa boca. Isso no significa que no possamos corrigir uns aos outros de maneira espiritual. Podemos e devemos, em conversas pessoais, ajudar uns aos outros (4.15).

    - 5:3 No deve haver, entre os discpulos, nem meno de imoralidade sexual ou de qualquer tipo de impureza, simplesmente porque essas coisas no so prprias para os santos.

    - 5.11 Esse versculo certamente no est dizendo que devemos expor as obras dos no-cristos; caso contrrio, perderamos todas as nossas amizades. No entanto, no devemos acobertar

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    pecados de irmos. Quando descobrimos pecados escondidos nas vidas uns dos outros, devemos, em amor, conversar com o irmo e, se necessrio, com outros irmos que possam intervir, seguindo o padro de Mateus 18.15-17.

    - 6.10-19 Ns vivemos em uma batalha espiritual, que no pertence a esse mundo. Portanto, as armas que temos disponveis tambm no so desse mundo, mas do mundo espiritual. So armas poderosas para derrubar fortalezas (II Corntios 10.5-6).

    5.4 A Carta aos Colossenses

    Colossenses e Efsios so cartas gmeas: foram escritas no mesmo perodo e se parecem muito uma com a outra, embora tenham propsitos diferentes. Colossenses, ao contrrio de Efsios, foi escrita diretamente para a igreja de Colossos para lidar com doutrinas falsas que estavam surgindo naquela igreja. Os irmos estavam sendo influenciados por ensinamentos msticos (adorao aos anjos, 2.18 etc.) e que privilegiavam o sofrimento corporal (abstinncia de certas comidas e bebidas, observncia de festas e dias cerimoniais 2.16-21 etc.).

    Judeus da provncia da sia provavelmente estavam envolvidos no ensinamento de tais doutrinas, uma vez que Paulo menciona cerimonialismos (2.11) e diz que tais coisas so a sombra de coisas que haveriam de vir (2.17). Ora, sabemos que a Lei e muitos dos exemplos do Velho Testamento so a sombra do que haveria de acontecer no Cristianismo (Hebreus 8.5, 10.1, ICorntios 10.1-6 etc.). Portanto, a descrio de Paulo desses ensinamentos falsos certamente bate com questes ligadas ao Judasmo.

    Paulo combate essas doutrinas falsas com uma apresentao extensa da pessoa de Cristo. Sua linha de argumento apontar que todas as filosofias, poderes espirituais, observncias religiosas e restries so secundrios preeminncia de Cristo. Cristo apresentado como o cabea da igreja, que comanda todo o corpo e a quem todo o corpo submisso.

    Contedo

    Excepcional na carta de Colossenses a passagem de 1.14 a 22, que descreve Cristo. Ela a continuao de uma orao que Paulo comeou no versculo 9. Nela Cristo descrito em termos que s poderiam ser aplicados ao prprio Deus, como resume o versculo 2:9: Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Na criao, na redeno, na igreja e na vida pessoal Cristo deve ser o mais importante.

    O tema da redeno recebe destaque nessa carta. Redeno o ato de redimir outra pessoa, ou seja, livr-la, resgat-la, libert-la:

    - Em Cristo temos o perdo dos pecados (1.14);

    - Pelo sangue da sua cruz somos reconciliados a Deus (1.20-22);

    - As dvidas que tnhamos foram canceladas (2.14).

    Para combater as doutrinas falsas que apelavam para o misticismo, Paulo revela que em Cristo esto escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (2.13). A busca pelo conhecimento desse mundo infrutfera: quando buscamos Cristo, a que obtemos o verdadeiro conhecimento, revelado por Deus.

    Paulo tambm chama os colossenses a se focalizarem nas coisas do alto, e no nas dessa terra: Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e no nas coisas terrenas (3.2). A seo prtica dessa carta, concentrada nos captulos 3 e 4, inicia com a conjuno assim, dando a entender que, quando obtemos um conhecimento correto da divindade de Cristo, produzimos todo tipo de boa obra em nossa vida. Para Paulo, um entendimento verdadeiro do evangelho produz frutos ticos e morais na vida de uma pessoa.

    5.5 A Carta aos Filipenses

    Dentre as cartas no escritas a indivduos, a carta aos Filipenses a mais pessoal. Paulo usa 100 vezes a primeira pessoa. Ele no estava se gabando, ou defendendo seu ministrio pessoal, como em II Corntios. A igreja de Filipos era leal a Paulo, e ele sentiu que podia falar livremente de

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    suas tribulaes e ambies espirituais. Havia passado praticamente uma dcada desde a primeira visita de Paulo, Silas e Lucas (Atos 16:12) a essa igreja.

    Nessa igreja havia muitas mulheres, possivelmente amigas de Ldia (Atos 16.14). Algumas delas, como Evdia e Sntique, nem sempre concordaram entre si (Filipenses 4.2). Durante seu ministrio na Macednia, a igreja de Filipos sustentou Paulo. Mas com sua ida para mais longe, eles no fizeram muito por ele. A igreja de Filipos volta a ajudar Paulo quando sabe que ele est preso em Roma (Filipenses 4.10-14). Foi Epafrodito quem levou para Paulo os presentes da igreja (2.25-27), e quem voltou para Filipos com a carta que Paulo escreveu (2.28-29).

    A data desta carta no certa, mas o mais provvel que tenha sido escrita no fim do perodo de quatro anos em que Paulo esteve preso em Roma. Foi necessrio algum tempo at que a notcia da priso de Paulo chegasse a Filipos, e a igreja pudesse enviar Epafrodito. A reputao de Paulo entre os guardas (1.13) e a penetrao do evangelho entre os membros do palcio de Csar (4.22) requereram algum tempo.

    O surgimento de dois grupos, um contra e outro a favor de Paulo (1.15-16), no acontece da noite para o dia. A carta no foi escrita com propsito de disciplinar, por haver erros graves ou heresias na igreja. A referncia aos judaizantes em 3.2 demonstra ser mais um perigo potencial do que real. Embora a linguagem de Paulo seja veemente, seu propsito maior no contestar os erros da igreja, e sim instigar os filipenses a viverem de maneira a valorizar a vida celestial (3.17-21).

    Contedo

    Dois tpicos predominam no texto de Filipenses. O primeiro o evangelho. Paulo fala dele nove vezes.

    Cooperao ao evangelho 1.5;

    Confirmao do evangelho 1.7;

    Progresso do evangelho 1.12;

    Defesa do evangelho 1.16;

    Maneira digna do evangelho 1.27;

    Lutando pela f no evangelho 1.27;

    Trabalho do evangelho 2.22;

    Causa do evangelho 4.3;

    Primeiros dias no evangelho 4.15.

    No dada em Filipenses uma definio do evangelho, mas o corao deste est contido em duas frases:

    ...obediente at a morte, e morte de cruz! 2.8

    ...tendo a justia que vem mediante a f em Cristo 3.9

    A primeira frase a boa notcia que Cristo morreu pelos homens. A segunda assegura que o homem pode ser justificado perante Deus. Estes so os dois aspectos do evangelho.

    O segundo ponto predominante na carta a alegria. A perspectiva de Paulo em Roma certamente no era prazerosa, pois seus inimigos procuravam minar seu trabalho e a execuo sumria seria uma pena possvel, dada pelo julgamento. Contudo, Filipenses pode ser tudo, menos pessimista.

    Paulo era grato por cada lembrana dos filipenses 1.3;

    Era alegre por Cristo estar sendo pregado, por motivos falsos ou verdadeiros 1.18;

    Alegrava-se com o crescimento em humildade dos discpulos;

    Era alegre por seu sacrifcio por Cristo 2.17;

    Era alegre pelo interesse demonstrado em ajud-lo 4.10.

    Por toda a carta a alegria radiante da f contrastada com o fundo sombrio de uma circunstncia difcil e de um desastre iminente.

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    Avaliao

    Filipenses uma nota de agradecimento pela ajuda recebida e uma expresso da vida crist pessoal de Paulo. H duas passagens excelentes no livro:

    2:5-11 expressa a suprema obedincia de Cristo vontade de Deus. Esta passagem foi escrita para ilustrar a humildade para a qual Paulo estava exortando os filipenses. Muito tem se discutido sobre o significado de esvaziou-se a si mesmo (2.7).

    - At que ponto Jesus abandonou as prerrogativas de divindade quando veio para o meio dos homens?

    - O Senhor Jesus se despiu voluntariamente da glria visvel para se vestir da humanidade e para se encontrar com a pena humana em terreno humano, mas ele no deixou de ser Deus.

    - Junto com Colossenses cap. 1, Hebreus cap. 1-2 e Joo cap. 1, esta passagem uma das passagens que falam da doutrina da encarnao.

    3.2-15 expressa a suprema paixo de Paulo por alcanar o alvo para o qual fora chamado por Cristo. Esta passagem uma pista da motivao que guiava a vida de Paulo. Sua devoo impressionante e seu zelo incansvel o coloca entre os grandes lderes da histria que devotaram suas vidas a uma causa na qual acreditavam firmemente. Para ele, contudo, a vida era apenas Cristo: ganh-lo, conhec-lo, ser encontrado nele, manter o alvo nele, ocupava toda a ateno de Paulo. Filipenses mostra uma vida total em Cristo.

    5.6 - Consequncias do Aprisionamento de Paulo

    Apesar de seu aprisionamento em Cesaria e em Roma, o ministrio de Paulo no terminou. Atravs de seus assistentes e amigos, que eram mencionados nas saudaes de suas cartas, ele manteve uma comunicao constante com as igrejas.

    O retiro forado forneceu-lhe mais tempo para orao e contemplao, das quais surgiu a revelao preciosa das cartas na priso. Seu apelo ao imperador trouxe a ateno do governo romano para o Cristianismo e impeliu as autoridades civis a fazer o julgamento sobre sua legalidade. Se o Cristianismo fosse considerado um culto permitido, a perseguio aos cristos seria ilegal, e sua segurana estaria garantida.

    Se fosse considerado um culto proibido, a perseguio que viria iria apenas fazer propaganda do Cristianismo e ofereceria uma oportunidade para demonstrar seu poder. Na dcada da misso aos gentios, de 46 a 56 DC, e nos quatro anos da priso de Paulo, a Igreja saiu da sombra do Judasmo e ganhou seu prprio lugar como um movimento independente. Estava pronta para avanos maiores na expanso missionria.

    6 AS CARTAS PASTORAIS

    E A AUTORIDADE BBLICA DO LDER - I E II TIMTEO E TITO

    6.1 - A Igreja Institucional

    O livro de Atos termina com a priso de Paulo em Roma. No h um relato histrico nico que narre os eventos da igreja do primeiro sculo aps esse perodo. As informaes de que dispomos encontram-se nos livros bblicos escritos aps essa poca e nos relatos dos pais da igreja primitiva.

    Os livros escritos nessa poca no podem ser datados com tanta preciso quanto os anteriormente. As cartas de 1 e 2 Timteo e Tito, chamadas cartas pastorais, porque lidam, em geral, com questes de pastoreio das igrejas que esses homens supervisionavam, foram escritas aps a priso de Paulo.

    A biografia presente nessas cartas nos leva a crer que Paulo foi liberto do seu primeiro aprisionamento e preso novamente, algum tempo depois. Alternativamente, ele pode ter sido liberto aps sua primeira audincia, por um tempo determinado, at a data de uma segunda audincia. Os lugares que Paulo menciona ter visitado, nesse nterim, no correspondem a nenhum trecho da narrativa de Atos, o que nos leva a supor, mais uma vez, que essas cartas foram escritas

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    aps sua priso. Paulo j era um homem mais velho (Filemon 9) e dependia cada vez mais da atuao dos homens que havia treinado durante a poca mais ativa do seu ministrio.

    Ele havia deixado Timteo em feso (ITimteo 1.3) e Tito em Creta (Tito 1.5) para continuarem o trabalho no ministrio. Lucas ainda estava com ele (IITimteo 4.11), Tquico tinha sido enviado a feso (4.12) e a presena de Marcos era desejada.

    Paulo, pessoalmente, havia estado em feso (ITimteo 1.3), Creta (Tito 1.5), Nicpolis (3.12), Corinto (IITimteo 4.20), Mileto (4.20) e Trade (4.13) e estava em Roma naquele momento (1.17). Ele estava certo de que o fim de sua vida estava prximo (4.6-7). H uma diferena entre as cartas pastorais, no entanto: ITimteo e Tito mostram Paulo ainda ativo, viajando entre as cidades e aconselhando os seus aprendizes em questes do ministrio. J IITimteo demonstra um tom de despedida (4.6-8).

    6.2 - A Primeira Carta a Timteo

    Paulo foi liberto no ano de 60 ou 61 d.C. e retornou s suas atividades de missionrio. Ao contrrio do que tinha imaginado inicialmente (Atos 20.38), Paulo retornou s igrejas da sia e constatou certo declnio entre elas, o que pode ser observado pelos seguintes trechos:

    Paulo queria que Timteo ficasse em feso para ordenar a certas pessoas que no mais ensinem doutrinas falsas e que deixem de dar ateno a mitos e genealogias interminveis (ITimteo 1.3-4);

    Havia pessoas sem entendimento querendo ser mestres (1.7);

    Havia alguns que haviam rejeitado a f e a boa conscincia, entre eles Himeneu e Alexandre (1.20).

    A organizao da igreja havia crescido em complexidade. As funes de liderana haviam se tornado fixas e havia pessoas que aspiravam a essas posies (3.1). Paulo lista as condies bsicas para que algum pudesse ocupar tais cargos (3.2-13). As vivas precisavam inscrever-se na lista de vivas da igreja para poder receber auxlio financeiro (5.9), o que j pressupe o carter de assistncia social da igreja.

    A teologia da igreja, medida que ela crescia, comeava a diluir-se cada vez mais, e Paulo alerta a Timteo sobre a importncia da s doutrina (1.10; 6.3).

    6.3 - Biografia de Timteo

    Timteo nasceu em Listra, filho de um pai grego e de uma me judia. Ele foi criado de acordo com os costumes judaicos e aprendeu as Escrituras desde criana. Paulo o chamou para ser seu aprendiz na sua segunda viagem missionria (Atos 16.1-3, IITimteo 3.15).

    Timteo permaneceu com Paulo desde aquele momento at o fim. Ele participou da evangelizao da Macednia e da Acaia e ajudou Paulo nos seus trs anos de pregao em feso. L se tornou familiarizado com a cidade e com as necessidades da igreja local. Ele foi um dos enviados a Jerusalm (Atos 20.4) e esteve com Paulo durante sua primeira priso (Colossenses 1.1, Filemon 1).

    Depois de Paulo ter sido solto, Timteo viajou com ele e foi deixado em feso para resolver os problemas de que ITimteo trata. Paulo, por sua vez, foi visitar as igrejas da Macednia (ITimteo 1.3). Timteo provavelmente se juntou a Paulo novamente no fim da sua vida e chegou a ser preso, mas foi liberto (Hebreus 13.23).

    Timteo tinha um carter confivel, mas no era vigoroso e forte. Ele dava a impresso de ser imaturo, embora certamente tivesse pelo menos 30 anos quando Paulo o deixou em feso (ITimteo 4.12).

    Ele era tmido (IITimteo 1.7 a palavra traduzida como covardia na verso NVI significa timidez, medo) e tinha dores de estmago frequentes (ITimteo 5.23). As epstolas que Paulo escreveu para ele tinham o propsito de encoraj-lo e fortalec-lo para a tarefa monumental para a qual Paulo o tinha designado.

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    Contedo

    A carta de ITimteo difcil de ser dividida em tpicos porque possui um tom profundamente pessoal, quase como se Paulo estivesse conversando com Timteo. O prembulo (1.3-17) declara o propsito pelo qual Timteo foi deixado em feso. Paulo lembra frequentemente a Timteo a responsabilidade do seu chamado (1.18; 4.6; 5.21; 6.11,20), como se estivesse tentando impedi-lo de desistir de enfrentar as dificuldades da sua misso.

    O trabalho de Timteo envolvia questes organizacionais e doutrinrias da igreja e exigia que Timteo enfrentasse as pessoas que estavam causando estrago na igreja. Na ltima seo (4.6-6.19), notadamente mais pessoal, Paulo descreve os diferentes grupos da igreja e como tratar cada um deles. O apelo final a Timteo clssico (6.11-12, 14): fuja, busque, combata, tome posse e guarde so mandamentos que mostravam a Timteo o segredo de ter uma vida ministerial vitoriosa.

    6.4 A Carta a Tito

    A carta a Tito foi escrita depois da primeira carta a Timteo. Paulo, aps sair de feso, foi para a Macednia e talvez tenha pegado um barco de l para a ilha de Creta, onde ficou por um tempo, deixando Tito para colocar em ordem o que ainda faltava, e corrigir os erros da igreja.

    A situao em Creta era crtica. A igreja estava desorganizada, os homens eram preguiosos (Tito 1.12) e as mulheres caluniadoras e desocupadas (2.3-5). A pregao da graa provavelmente deu a impresso aos cretenses de que as boas obras no eram necessrias vida crist. Paulo exorta os cretenses a se dedicarem a boas obras nada menos que seis vezes nessa curta carta (1.16; 2.7,14; 3.1,8,14).

    Embora Paulo tenha dito que a salvao no pode ser alcanada por meio das boas obras (Tito 3.5 a nica coisa que nos salva o sangue de Cristo Romanos 3.25, Hebreus 9.22), ele afirma com o mesmo vigor que cada discpulo precisa ser dedicado s boas obras (2.14). Os problemas em Creta tinham duas origens: a natureza preguiosa dos cretenses (1.12-13) e os judaizantes, com suas fbulas e mandamentos (1.10).

    Esses falsos mestres eram diferentes daqueles que causaram problemas na igreja da Galcia, j que o erro dos judaizantes de Creta era a perverso moral, enquanto que os da Galcia advocavam forte legalismo sobre o corpo.

    Tito tinha sido companheiro de Paulo por mais de 15 anos. Ele se tornou um discpulo no comeo da igreja de Antioquia e provavelmente viajou com Paulo durante sua terceira viagem missionria, uma vez que Paulo o enviou a Corinto para resolver os vrios problemas da igreja l (IICorntios 7.6-16). Tito parece ter tido um carter mais forte e vigoroso do que o de Timteo e parece ter conseguido lidar melhor com a oposio de pessoas.

    Contedo

    O contedo e as questes de que Paulo trata em Tito so similares s abordadas em ITimteo. Aqui, novamente, h uma nfase no conceito da s doutrina (1.9, 13; 2.1-2,8). A igreja estava na transio do pioneirismo para tempos onde j era reconhecido um padro de doutrina considerado saudvel.

    6.5 A Segunda Carta A Timteo

    II Timteo a ltima carta de Paulo de que se tem registro. a sua mensagem de adeus a Timteo. Paulo havia sido preso novamente, por razes que desconhecemos, e sabia que sua vida estava por acabar. Paulo havia sido o representante principal do evangelho aos gentios. Nas cartas pastorais, ele luta para dar as ltimas instrues a homens que ele mesmo havia treinado para continuar o seu trabalho. IITimteo contm suas ltimas palavras a um desses homens.

    Contedo

    Esta epstola contm uma mistura de sentimentos pessoais de Paulo e de ltimas instrues quanto organizao da igreja e vida pessoal de Timteo. Seu propsito principal era fortalecer Timteo para o trabalho rduo que Paulo estava prestes a abandonar.

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    Ele relatou o padro pastoral lembrando a Timteo da sua prpria experincia, e incluindo o jovem Timteo nela: que nos salvou e nos chamou com uma santa vocao (II Timteo 1.9). Com esse chamado em mente, ele chama Timteo a enfrentar seus problemas como um soldado na guerra (2.3), confiando no plano do seu general, e servindo de todo o corao em cada batalha.

    Na vida pessoal e na igreja ele deveria ser sempre o servo do Senhor, nunca entrando em argumentos tolos, mas sempre disposto a ajudar as pessoas a entender a verdade de Deus. A gravura que Paulo pinta dos ltimos dias (3.1-17), similar passagem de ITimteo 4-3, deveria preparar o corao de Timteo para alguns dos desafios que estariam por vir.

    O antdoto para enfrentar esse fluxo futuro de maldade na igreja era o conhecimento das Escrituras que so capazes de torn-lo sbio para salvao mediante a f em Cristo Jesus (3.15). Hoje estamos enfrentando o cumprimento das profecias de Paulo nessa carta. Devemos, portanto, nos perguntar se estamos usando o remdio que Paulo recomendou a Timteo: a Bblia. Como anda o seu conhecimento bblico? Voc rejeita as falsas doutrinas e ideias que andam no meio religioso por meio do seu conhecimento das Escrituras?

    7 A AVALIAO DAS EPSTOLAS PASTORAIS

    As epstolas pastorais so a fonte mais confivel para entendermos como andava a igreja no perodo de transio entre a igreja pioneira e a igreja institucionalizada a partir do segundo sculo depois de Cristo. Duas tendncias merecem destaque:

    O crescimento de heresias mais aparente. Toda carta de Paulo lida com certa oposio verdade e divergncia doutrinria. Glatas ataca o legalismo, I Corntios afirma que alguns no acreditavam na ressurreio do corpo, Colossenses lida com problemas filosficos, etc. No entanto, esses problemas eram espordicos e pontuais (com a possvel exceo do movimento judaizante). Nas cartas pastorais, todos esses erros voltam a aparecer, porm de maneira mais intensa e com um ar de ameaa futura.

    Por causa dessas ameaas, h um enfoque maior em se concentrar na doutrina sadia. A maneira como vrias afirmaes de Paulo so escritas em formas de credo (conjunto de princpios, normas, preceitos e crenas por que se pauta uma pessoa ou uma comunidade) apontam para a cristalizao da doutrina crist j antes do fim do primeiro sculo. Em outras palavras, j comeava a ser reconhecido, entre as igrejas, a doutrina correta e sadia pela qual cada discpulo e cada igreja deveria se portar.

    7.1 - Concluso: A Autoridade Bblica do Lder

    As cartas pastorais nos do uma perspectiva profunda sobre a autoridade bblica que foi concedida aos lderes das igrejas. Paulo, em ITimteo j dizia: Saiba como as pessoas devem comportar-se na casa de Deus, que a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade (ITimteo 3.15).

    Para que as pessoas soubessem como se comportar, era necessrio que algum as ensinasse e esperasse delas o tipo de comportamento adequado. Hoje esses ensinamentos se fazem ainda mais necessrios, porque samos de um passado onde tnhamos um excesso de autoridade para um presente onde h escassez dela.

    Quais princpios norteavam a autoridade que Paulo exerceu sobre Timteo e Tito e os ensinou a exercerem sobre os outros? Paulo sabia que a essncia da liderana era a servido (ITimteo 4.10-12; Tito 2.7-8). Ele deu o exemplo a Timteo e o chamou a imit-lo (IITimteo 3.10-11). Em muitas ocasies, ao invs de ordenar algo a Timteo ou a Tito, Paulo simplesmente pediu, recomendou, lembrou ou simplesmente os instruiu (ITimteo 1.3, 1.18; 2.1; 4.6-7,15; 5.1-2, 14, 21; 6.20; IITimteo 2.14, 2.25, 4.1, Tito 2.2-6, 9; 3.1).

    No entanto, Paulo tambm entendia o outro lado da autoridade que havia sido dada a ele, a Timteo, a Tito e a todos os que Deus levantou para liderar sua igreja. Um lder no pode apenas exortar, aconselhar ou lembrar: precisa ordenar, comandar, dirigir e repreender tambm, como mostram as passagens de ITimteo 1.3; 2.8-9, 12; 4.11; 5.7; 6.17-18; IITimteo 4.2; Tito 1.11-13; 2.15. Ao lder tambm cabe ordenar a igreja (Tito 1.5).

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    Pode haver pessoas que so contrrias estruturao do lder, mesmo que ele se paute por princpios bblicos. O que fazer? No estruturar a igreja? No. Enfrentar, com pacincia e amor, os que lhe so contrrios (II Timteo 2.24-26).

    Precisamos de preparo para estudar a Bblia com as pessoas, para aprender maneiras prticas de exercitarmos o amor cristo, para aconselhar uns aos outros, para lidar com pessoas no nosso trabalho e famlia, entre inmeras outras coisas. A no ser que deixemos os nossos lderes nos liderarem em certas direes na nossa vida, nosso crescimento estar comprometido.

    Qual o resultado de uma vida assim? Vivermos como crianas, levados de um lado para outro pelas ondas, jogados para c e para l por todo vento de doutrina e pela astcia e esperteza de

    homens que induzem ao erro (Efsios 4.14). Ns, seguidores: como podemos lidar com o medo que aparece quando pensamos em nos submeter aos nossos lderes? Ns, lderes: como podemos lidar com o medo que aparece quando pensamos em exercer nossa autoridade sobre a vida de outras pessoas? A chave a confiana em Deus.

    O dicionrio Houaiss define o termo confiana assim: crena de que algo no falhar, bem-feito ou forte o suficiente para cumprir sua funo; fora interior, segurana, firmeza. A confiana um termo parecido com a f. O lder precisa confiar que Deus o colocou na sua posio para ajudar os irmos e direcion-los. O seguidor precisa confiar que Deus colocou outros homens para nos ajudar porque, afinal, somos como ovelhas, e facilmente nos perdemos, se no tivermos um pastor.

    Por que podemos ter confiana? Porque Jesus foi tentado com as mesmas dificuldades com que somos tentados hoje (Hebreus 4.14-16). Em particular, Jesus foi tentando a ser inseguro na sua liderana, mas no o foi; Porque o sacrifcio de Jesus nos limpou para sempre dos nossos pecados (Hebreus 10.14, 19-22).

    No podemos ficar com medo de praticarmos princpios bblicos por causa de erros do passado. Precisamos acreditar que a graa de Deus nos perdoou e de que vai perdoar os nossos erros futuros tambm. Precisamos ter medo de sermos inertes, omissos (Tiago 4.16) ou rebeldes.

    Porque j vimos incrveis milagres na nossa vida por causa do poder de Deus que agiu em ns por meio da nossa confiana nos seus mandamentos e princpios (Hebreus 10.34-35);

    Porque Deus tem cuidado de ns (Hebreus 13.5-6).

    Alm disso, viver em medo ir contra os dois maiores mandamentos, o de amar a Deus e ao prximo. O amor afasta o medo (I Joo 4.17-18). Precisamos ter a mesma mente de Paulo, quando falou No que eu j tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeioado, mas prossigo para alcan-lo, pois para isso tambm fui alcanado por Cristo Jesus. Irmos, no penso que eu mesmo j o tenha

    alcanado, mas uma coisa fao: esquecendo-me das coisas que ficaram para trs e avanando para as

    que esto adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prmio do chamado celestial de Deus em

    Cristo Jesus (Filipenses 3.12-14).

    Bibliografia:

    - Apostila da Primeira Igreja Presbiteriana de Colatina Panorama do Novo Testamento

    - www.bibliaonline.com.br

    - www.iepaz.org.br