vestibular 1 - petróleo

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Vestibular1 – A melhor ajuda ao vestibulando na Internet Acesse Agora ! www.vestibular1.com.br Petróleo Outrora utilizado somente para fazer argamassa, para vedação ou por suas propriedades lubrificantes e medicinais, o petróleo não era um importante produto industrial até meados do século XIX, quando seu uso como combustível para iluminação justificou o investimento em pesquisa de novas jazidas. Ao longo do século XX, porém, a importância do produto cresceu tanto que sua participação no atendimento das necessidades mundiais de energia passou de 3,7% em 1900 para cerca de cinqüenta por cento no fim do século. Fonte de energia por excelência, mas também matéria-prima para o fabrico de plásticos, tintas, tecidos sintéticos e detergentes, por exemplo, o petróleo é hoje o mais importante produto de todo o comércio internacional. Petróleo é uma mistura complexa de hidrocarbonetos que, associada a pequenas quantidades de nitrogênio, enxofre e oxigênio, se encontra sob forma gasosa, líquida ou sólida, em poros e fraturas, em geral de rochas sedimentares. Nos depósitos encontram-se também água salgada e uma mistura de gases responsáveis pela pressão que provoca a ascensão do petróleo através de poços perfurados. O petróleo líquido é também chamado óleo cru para distingui-lo do óleo refinado, produto comercial mais importante. O gás de petróleo (gás natural) é uma mistura de hidrocarbonetos leves, enquanto as formas semi-sólidas são compostas de hidrocarbonetos pesados. Embora de pouca utilização em estado natural, o petróleo, quando refinado, fornece combustíveis, lubrificantes, solventes, material de pavimentação e muitos outros produtos. Os combustíveis derivados do petróleo respondem por mais da metade do suprimento total de energia do mundo. Tanto pela combustão direta quanto pela geração de eletricidade, o petróleo 1

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Boa-nova submarina

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Petrleo

Outrora utilizado somente para fazer argamassa, para vedao ou por suas propriedades lubrificantes e medicinais, o petrleo no era um importante produto industrial at meados do sculo XIX, quando seu uso como combustvel para iluminao justificou o investimento em pesquisa de novas jazidas. Ao longo do sculo XX, porm, a importncia do produto cresceu tanto que sua participao no atendimento das necessidades mundiais de energia passou de 3,7% em 1900 para cerca de cinqenta por cento no fim do sculo. Fonte de energia por excelncia, mas tambm matria-prima para o fabrico de plsticos, tintas, tecidos sintticos e detergentes, por exemplo, o petrleo hoje o mais importante produto de todo o comrcio internacional.

Petrleo uma mistura complexa de hidrocarbonetos que, associada a pequenas quantidades de nitrognio, enxofre e oxignio, se encontra sob forma gasosa, lquida ou slida, em poros e fraturas, em geral de rochas sedimentares. Nos depsitos encontram-se tambm gua salgada e uma mistura de gases responsveis pela presso que provoca a ascenso do petrleo atravs de poos perfurados. O petrleo lquido tambm chamado leo cru para distingui-lo do leo refinado, produto comercial mais importante. O gs de petrleo (gs natural) uma mistura de hidrocarbonetos leves, enquanto as formas semi-slidas so compostas de hidrocarbonetos pesados.

Embora de pouca utilizao em estado natural, o petrleo, quando refinado, fornece combustveis, lubrificantes, solventes, material de pavimentao e muitos outros produtos. Os combustveis derivados do petrleo respondem por mais da metade do suprimento total de energia do mundo. Tanto pela combusto direta quanto pela gerao de eletricidade, o petrleo fornece iluminao para muitos povos do mundo. Seus subprodutos so tambm utilizados para a fabricao de tecidos sintticos, borracha sinttica, sabes, detergentes, tintas, plsticos, medicamentos, inseticidas, fertilizantes etc. Por exigir vultosos investimentos iniciais e contnuos reinvestimentos, apenas companhias de grande porte asseguram o desenvolvimento da indstria petrolfera.

Origem e caractersticas

So controvertidas as teorias sobre a origem do petrleo. Entre as principais figuram a da origem estritamente inorgnica, defendida por Dmitri I. Mendeleiev, Marcellin Berthelot e Henri Moissan, e a teoria orgnica, que postula a participao animal e vegetal. De acordo com a primeira, o petrleo ter-se-ia formado a partir de carburetos (de alumnio, clcio e outros elementos) que, decompostos por ao da gua (hidrlise), deram origem a hidrocarbonetos como metanos, alcenos etc., os quais, sob presso, teriam sofrido polimerizao (unio de molculas idnticas para formar uma nova molcula mais pesada) e condensao a fim de dar origem ao petrleo.

Contra essa concepo, mais antiga, levanta-se a teoria orgnica, segundo a qual a presena no petrleo de compostos nitrogenados, clorofilados, de hormnios etc. pressupe a participao de matria orgnica de origem animal e vegetal. Em sua grande maioria, os pesquisadores modernos tendem a reconhecer como vlida apenas a teoria orgnica, na qual destacam o papel representado pelos microrganismos animais e vegetais que, sob a ao de bactrias, formariam uma pasta orgnica no fundo dos mares. Misturada argila e areia, essa pasta constituiria os sedimentos marinhos que, cobertos por novas e sucessivas camadas de lama e areia, se transformariam em rochas consolidadas, nas quais o gs e o petrleo seriam gerados e acumulados.

Aspectos geolgicos. Grande parte das ocorrncias de petrleo acham-se associadas a sedimentos marinhos. D-se o nome de rochas geradoras (ou matrizes) quelas onde o petrleo se originou -- em geral folhelhos escuros com alguns calcrios, siltitos e arenitos finos. As rochas geradoras tm geralmente dois a dez por cento de matria orgnica.

Ao longo do tempo geolgico, ocorrem diastrofismos (deformaes) na crosta terrestre que provocam dobras (anticlinais) e falhamentos das camadas sedimentares para onde migra e se acumula o leo gerado na rocha matriz. Essas deformaes das camadas sedimentares constituem as "armadilhas" (estruturas rochosas que aprisionam o leo e o gs). Rochas gneas no poderiam gerar petrleo por falta de matria orgnica. Da mesma forma, o leo e o gs no poderiam migrar ou se acumular nesse tipo de rocha, que se caracteriza pela baixa porosidade.

Aspectos qumicos. O leo cru formado basicamente de hidrocarbonetos -- compostos de carbono e hidrognio combinados em molculas de disposio e tamanho diversos. As molculas menores, com um a quatro tomos de carbono, formam os gases; molculas maiores (de quatro a cerca de dez tomos de carbono) constituem a gasolina; molculas ainda maiores, de at cinqenta tomos de carbono, so as dos combustveis leves e leos lubrificantes; e molculas gigantes, de at vrias centenas de tomos de carbono, compem combustveis pesados, ceras e asfaltos. Junto aos hidrocarbonetos gasosos h apreciveis quantidades (at 15%) de nitrognio, dixido de carbono e cido sulfdrico, alm de pequena poro de hlio e outros gases. Nos hidrocarbonetos lquidos em geral se encontram traos de oxignio, enxofre e nitrognio, na forma elementar ou combinados com as molculas de hidrocarbonetos.

Os tomos de carbono unem-se nas molculas de hidrocarbonetos de duas maneiras diferentes: para formar compostos em forma de anel (hidrocarboneto cclico) ou de cadeia (hidrocarboneto acclico ou aliftico). Alm disso, cada tomo de carbono pode ser completado de maneira total ou apenas parcial por tomos de hidrognio e assim formar, respectivamente, molculas saturadas ou no-saturadas. Os hidrocarbonetos saturados cclicos chamam-se naftenos, e os acclicos, parafinas; os no-saturados cclicos chamam-se aromticos, e os acclicos, olefinas ou alcenos.

Aspectos fsicos. O leo cru contm milhares de compostos qumicos, desde gases at materiais semi-slidos, como asfalto e parafina. Sob grande presso no interior da Terra, os gases esto dissolvidos nos componentes mais pesados, mas ao atingirem a superfcie podem vaporizar-se. Do mesmo modo, a parafina encontra-se dissolvida no petrleo cru, do qual pode separar-se na superfcie, ao resfriar.

Fisicamente, o petrleo uma mistura de compostos de diferentes pontos de ebulio. Esses componentes dividem-se em grupos, ou fraes, delimitados por seu ponto de ebulio. Os intervalos de temperatura e a composio de cada frao variam com o tipo de petrleo. As fraes cujo ponto de ebulio inferior a 200o C, entre eles a gasolina, costumam receber o nome genrico de benzinas. A partir do mais baixo ponto de ebulio, de 20o C, at o mais alto, de 400o C, tem-se, pela ordem: ter de petrleo, benzina, nafta ou ligrona, gasolina, querosene, gasleo (leo diesel), leos lubrificantes. Com os resduos da destilao produz-se asfalto, piche, coque, parafina e vaselina.

Histria

O petrleo era conhecido j na antiguidade, devido a exsudaes e afloramentos freqentes no Oriente Mdio. No Antigo Testamento, mencionado diversas vezes, e estudos arqueolgicos demonstram que foi utilizado h quase seis mil anos. No incio da era crist, os rabes davam ao petrleo fins blicos e de iluminao. O petrleo de Baku, no Azerbaijo, j era produzido em escala comercial, para os padres da poca, quando Marco Polo viajou pelo norte da Prsia, em 1271.

A moderna indstria petrolfera data de meados do sculo XIX. Em 1850, na Esccia, James Young descobriu que o petrleo podia ser extrado do carvo e do xisto betuminoso, e criou processos de refinao. Em agosto de 1859 o americano Edwin Laurentine Drake perfurou o primeiro poo para a procura do petrleo, na Pensilvnia. O poo revelou-se produtor e a data passou a ser considerada a do nascimento da moderna indstria petrolfera. A produo de leo cru nos Estados Unidos, de dois mil barris em 1859, aumentou para aproximadamente trs milhes em 1863, e para dez milhes de barris em 1874.

At o final do sculo XIX, os Estados Unidos dominaram praticamente sozinhos o comrcio mundial de petrleo, devido em grande parte atuao do empresrio John D. Rockefeller. A supremacia americana s era ameaada, nas ltimas dcadas do sculo XIX, pela produo de leo nas jazidas do Cucaso, exploradas pelo grupo Nobel, com capital russo e sueco. Em 1901 uma rea de poucos quilmetros quadrados na pennsula de Apsheron, junto ao mar Cspio, produziu 11,7 milhes de toneladas, no mesmo ano em que os Estados Unidos registravam uma produo de 9,5 milhes de toneladas. O resto do mundo produziu, ao todo, 1,7 milho de toneladas.

Outra empresa, a Royal Dutch-Shell Group, de capital anglo-holands e apoiada pelo governo britnico, expandiu-se rapidamente no incio do sculo XX, e passou a controlar a maior parte das reservas conhecidas do Oriente Mdio. Mais tarde, a empresa passou a investir na Califrnia e no Mxico, e entrou na Venezuela. Paralelamente, companhias europias realizaram intensas pesquisas em todo o Oriente Mdio, e a comprovao de que essa regio dispunha de cerca de setenta por cento das reservas mundiais provocou uma reviravolta em todos os planos de explorao.

A primeira guerra mundial ps em evidncia a importncia estratgica do petrleo. Pela primeira vez foi usado o submarino com motor diesel, e o avio surgiu como nova arma. A transformao do petrleo em material de guerra e o uso generalizado de seus derivados -- era a poca em que a indstria automobilstica comeava a ganhar corpo -- fizeram com que o controle do suprimento se tornasse questo de interesse nacional. O governo americano passou a incentivar empresas do pas a operarem no exterior.

Perodo entre guerras. O desmembramento do imprio otomano facilitou a penetrao de companhias europias na regio, especialmente nos territrios sob mandato e protetorado. No fim da dcada de 1920, a descoberta de um imenso campo petrolfero no Iraque transformou o pas no segundo produtor do Oriente Mdio. Em 1935, inaugurou-se o primeiro dos grandes oleodutos entre o Oriente Mdio e o Mediterrneo. A explorao daquelas reas ampliou-se com o aumento crescente do consumo mundial e a acirrada disputa entre as grandes empresas. Foram descobertas enormes jazidas em Bahrein, na Arbia Saudita e no Kuwait.

Em 1928, a Venezuela passou a ocupar o segundo lugar entre os produtores de petrleo. No Mxico a produo aumentou muito de 1919 a 1921, a ponto de atingir 25% do total mundial, mas depois caiu bruscamente. Em 1938, o governo mexicano expropriou as empresas estrangeiras de petrleo.

Depois de 1945. Durante a segunda guerra mundial, a demanda de petrleo atingiu propores gigantescas, e no ps-guerra a procura pelo produto intensificou-se ainda mais. O desenvolvimento mais notvel ocorreu no Oriente Mdio, mas tambm se alcanaram resultados importantes no norte da frica, no Canad e na Nigria. Aproximadamente a partir de 1950 manifestou-se na maioria dos pases produtores uma acentuada tendncia para a regulamentao rgida das concesses a empresas estrangeiras. No Ir foi desapropriada a Anglo-Iranian em 1951 e criada a National Iranian Oil Company, mas dois anos mais tarde se constituiu um consrcio de capitais anglo-franco-americanos.

Alguns pases, como o Canad e a Venezuela, adotaram o sistema de concesses de reas limitadas. Outros optaram por permitir a explorao indiscriminada em troca do pagamento de royalties, de montante varivel de uma rea para outra, s vezes somado a exigncias como construo de refinarias, utilizao de mo-de-obra nacional etc. A poltica de diviso dos lucros em partes iguais entre o governo e os concessionrios, aplicada na Venezuela a partir de 1943, logo foi adotada pela maioria dos pases em desenvolvimento. Na sia, tornaram-se produtores Indonsia, Bornu e Nova Guin. Na Amrica Latina, Brasil, Argentina, Colmbia, Peru e Bolvia comearam a extrair leo de suas jazidas.

Em setembro de 1960, por iniciativa dos grandes produtores do Oriente Mdio (Arbia Saudita, Ir, Iraque e Kuwait) e da Venezuela, foi fundada a Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo (OPEP). Em 1973, aps a quarta guerra entre rabes e israelenses, os pases exportadores de petrleo decidiram tomar algumas medidas -- como reduzir quotas de produo, embargar exportaes para os Estados Unidos e alguns pases da Europa, triplicar os preos do leo cru -- o que causou uma crise mundial e mostrou claramente o quanto o Ocidente dependia do petrleo dos pases rabes. Desde ento, os aumentos sucessivos de preos determinados pela OPEP levaram os pases importadores a uma reviso de sua poltica energtica, com controle rigoroso do consumo, utilizao de fontes de energia alternativa e, quando possvel, como no caso do Brasil, incremento da explorao de suas jazidas.

Em meados da dcada de 1990, a OPEP contava com 12 membros. Alm dos cinco fundadores, filiaram-se ao organismo Indonsia, Lbia, Qatar, Arglia, Abu Dhabi, Nigria, Equador e Gabo, os quais, juntos, controlavam dois teros das reservas mundiais. O comportamento dos preos do barril de petrleo voltou a dominar o cenrio internacional em 1990, principalmente em virtude da invaso do Kuwait pelo Iraque. A incerteza gerada pelo conflito provocou uma tendncia de alta do barril -- que alcanou quarenta dlares -- e uma conseqente elevao da produo mundial. Nos anos seguintes a OPEP lutou sem sucesso para manter o preo mnimo que fixara, de 21 dlares por barril, mas que baixou a at 15 dlares.

Tecnologia

As caractersticas fsicas e qumicas do leo cru, juntamente com a localizao e a extenso das jazidas, so os principais fatores na determinao de seu valor como matria-prima. O petrleo jaz oculto no fundo da terra, e nenhuma de suas propriedades fsicas ou qumicas permite detect-lo com certeza da superfcie. Tcnicas geolgicas, geofsicas e geoqumicas desenvolvidas para a explorao no fornecem prognsticos precisos sobre a existncia de petrleo em determinada rea e, quando muito, do uma indicao de boas possibilidades de encontr-lo.

At o incio do sculo XX, a explorao consistiu em detectar indcios de petrleo na superfcie terrestre. Perfuravam-se ento poos em locais de exsudaes e afloramentos, ou a sua volta. A prospeco cientfica desenvolveu-se no comeo do sculo XX, quando os gelogos comearam a mapear as caractersticas terrestres indicadoras de stios favorveis perfurao.

Particularmente reveladores eram os afloramentos que indicavam a existncia de rochas sedimentares porosas e impermeveis alternadas. A rocha porosa (arenitos, calcrios ou dolomitas) serve de reservatrio para o petrleo, que nela pode migrar, sob uma diferena de presso, atravs de interstcios e fendas, at o ponto de escapamento, ou seja, at o poo perfurado. As rochas impermeveis (argila, folhelho), impedem o leo de migrar do reservatrio. No incio da dcada de 1920, comeou a explorao de subsuperfcie, acompanhada da anlise de sondagem (amostras retiradas do poo perfurado por sondas).

Prospeco. A partir da dcada de 1950, a pesquisa do petrleo comeou a ser feita com tcnicas geofsicas -- gravimtricas, magnetomtricas e ssmicas -- que permitem mapear as estruturas de subsuperfcie. O gravmetro um instrumento sensvel que mede as variaes da fora de gravidade provocadas, entre outros fatores, pelas diferenas de densidade das rochas. Rochas densas, quando prximas da superfcie, aumentam a atrao da gravidade, o que no ocorre com as rochas sedimentares, que so porosas. A tcnica magnetomtrica utiliza as variaes do campo magntico da Terra, causadas pela existncia de corpos magnticos sob a superfcie. As rochas plutnicas, que em geral contm mais magnetita, aumentam as leituras do magnetmetro e, assim, pode-se verificar a profundidade das rochas.

Embora mais dispendiosos e complexos, os mtodos ssmicos so mais precisos. Baseiam-se no fato de que ondas de choque provocadas por fontes artificiais de energia, descrevendo uma trajetria descendente, so refletidas ou refratadas pelas superfcies de contato entre as camadas. Ao retornarem superfcie, as ondas de choque so registradas por geofones (sensveis aos rudos subterrneos), localizados em diferentes pontos das linhas que irradiam da fonte de energia. De acordo com o princpio de refrao, as ondas de choque que atingem a superfcie de contato ("horizonte") com pequeno grau de inclinao podem ser contidas e prosseguem ao longo da camada. Se a camada de rocha for particularmente densa, as ondas no sero completamente amortecidas e podero ser observadas a vrios quilmetros da fonte de energia.

A reflexo a tcnica preferida na explorao ssmica. Requer fontes de menor intensidade e menores distncias para a instalao de geofones, pois as ondas de choque que formam um grande ngulo de incidncia com a camada de rocha so refletidas para a superfcie mais prxima da fonte. Tanto os meios permeveis quanto os densos refletem as ondas de choque e fornecem, alm disso, informaes sobre os "horizontes" intermedirios.

Mtodos geoqumicos de superfcie so utilizados na tentativa de descobrir a presena de acumulaes de hidrocarbonetos em subsuperfcie. Nesses mtodos se usam anlises geoqumicas a fim de detectar a presena de anomalias de hidrocarbonetos gasosos no solo, na gua ou no ar. Tambm podem ser empregadas anlises do solo a fim de localizar concentraes de bactrias que se alimentam de hidrocarbonetos gasosos provenientes das jazidas da profundidade.

Apesar dessas modernas tcnicas de explorao, o nico meio de se ter certeza absoluta da existncia de petrleo ainda a perfurao. Por economia de tempo e de capital, costuma-se perfurar primeiro um poo para colher informaes. Anlises de fragmentos das rochas colhidas revelam caractersticas fsicas e qumicas e so examinados por paleontlogos, que estabelecem a correlao entre os horizontes geolgicos, mediante a anlise de microfsseis. As jazidas ocorrem de preferncia em reas de espessos depsitos sedimentares, predominantemente de origem marinha, que sofreram deformaes brandas. Nas reas pr-cambrianas, onde predominam rochas metamrficas e gneas, praticamente impossvel existir petrleo.

Tipos. O petrleo consiste basicamente em compostos de apenas dois elementos que, no entanto, formam grande variedade de complexas estruturas moleculares. Independentemente das variaes fsicas ou qumicas, quase todos os petrleos variam de 82 a 87% de carbono em peso e 12 a 15% de hidrognio. Os asfaltos mais viscosos geralmente variam de 80 a 85% de carbono e de 8 a 15% de hidrognio.

O leo cru pode ser agrupado em trs sries qumicas bsicas: parafnicas, naftnicas e aromticas. A maioria dos leos crus compe-se de misturas dessas trs sries em propores variveis, e amostras de petrleo retiradas de dois diferentes reservatrios no sero completamente idnticas.

As sries parafnicas de hidrocarbonetos, tambm chamadas de srie metano (CH4), compreendem os hidrocarbonetos mais comuns entre os leos crus. uma srie saturada de cadeia aberta com a frmula geral CnH2n+2, na qual C o carbono, H o hidrognio e n um nmero inteiro. As parafinas, lquidas a temperatura normal e que entram em ebulio entre 40o e 200o C, so os constituintes principais da gasolina. Os resduos obtidos pelo refino de parafinas de baixa densidade so ceras parafnicas plsticas e slidas.

A srie naftnica, que tem frmula geral CnH2n, uma srie cclica saturada. Constitui uma parte importante de todos os produtos lquidos de refinaria, mas forma tambm a maioria dos resduos complexos das faixas de pontos de ebulio mais elevados. Por essa razo, a srie geralmente de maior densidade. O resduo do processo de refino um asfalto, e os petrleos nos quais essa srie predomina so chamados leos de base asfltica.

A srie aromtica, de frmula geral CnH2n-6, uma srie cclica no-saturada. Seu membro mais comum, o benzeno (C6H6), est presente em todos os leos crus, mas como uma srie os aromticos geralmente constituem somente uma pequena porcentagem da maioria dos leos.

Alm desse nmero praticamente infinito de hidrocarbonetos que formam o leo cru, geralmente esto presentes enxofre, nitrognio e oxignio em quantidades pequenas mas muito importantes. Muitos elementos metlicos so encontrados no leo cru, inclusive a maioria daqueles encontrados na gua do mar, como vandio e nquel. O leo cru pode tambm conter pequenas quantidades de restos de material orgnico, como fragmentos de esqueletos silicosos, madeira, esporos, resina, carvo e vrios outros remanescentes de vida pretrita.

Perfurao. Associado ao gs e gua nos poros da rocha, em geral o petrleo acha-se submetido a grandes presses, de modo que a perfurao de um poo faz com que o leo e o gs sejam impulsionados atravs do poo pela energia natural do reservatrio. Como o gs natural que geralmente acompanha o leo est sob forte compresso, freqentemente fornece energia suficiente para mover o leo das camadas porosas at as paredes do poo e, por vezes, at a superfcie. Se as presses forem insuficientes, necessrio o bombeamento para a produo de leo.

As perfuraes mais modernas so feitas por sondas rotativas, com brocas de ao de alta dureza e de diferentes tipos e dimetros, dependentes do dimetro do poo e da natureza da rocha que devem penetrar. Nesse processo, tem grande importncia a injeo de um fluido especial, composto de argila montmorilontica e sulfato de brio. Injetada por bomba no interior da haste rotativa de perfurao, ao retornar superfcie ela vem misturada a detritos constitudos de fragmentos das rochas atravessadas pela broca e que permitem sua anlise. Alm disso, esse fluido serve para lubrificar e resfriar a broca, remover os detritos formados durante a perfurao e impedir o escapamento intempestivo de gases ou leo sob alta presso, que pode provocar incndios.

Transporte. Como a extrao do petrleo ocorre muitas vezes em reas distantes dos centros de consumo, seu transporte para refinarias e mercados exige sistemas complexos e especializados, como oleodutos, navios petroleiros, caminhes ou vages-tanques. Quando se trata de longas distncias, o meio mais barato o navio petroleiro, cujo agigantamento tem contribudo para a reduo dos custos de transporte. No transporte por terra de grandes quantidades de petrleo, os custos mais baixos se obtm pelo uso de oleodutos, tubulaes que, mediante bombeamento, levam o produto s refinarias.

Refinao. A funo das refinarias consiste em dividir o leo cru em fraes (grupos) delimitadas pelo ponto de ebulio de seus componentes, e em seguida reduzir essas fraes a seus diversos produtos. Quando possvel, os processos de refinao so adaptados demanda dos consumidores. Assim que no final do sculo XIX, quando o querosene de iluminao era muito utilizado, as refinarias dos Estados Unidos extraam do leo cru at setenta por cento de querosene. Depois, quando a gasolina passou a ser o subproduto mais procurado, comeou a ser retirada do leo cru nessa porcentagem. Mais tarde, o querosene voltou a encontrar larga aplicao como combustvel para avies a jato. As refinarias localizam-se muitas vezes junto s fontes produtoras, mas tambm podem situar-se em pontos de transbordo ou perto dos mercados de consumo, que oferecem a vantagem da reduo de custo, pois mais econmico transportar petrleo bruto por oleodutos do que, por outros meios, quantidades menores de seus derivados.

Na refinaria, o leo cru e os produtos semifinais e finais so continuamente aquecidos, resfriados, postos em contato com matrias no-orgnicas, vaporizados, condensados, agitados, destilados sob presso e submetidos polimerizao (unio de vrias molculas idnticas para formar uma nova molcula mais pesada) sem interveno humana. Os processos de refino podem ser divididos em trs classes: separao fsica, alterao qumica e purificao.

Separao fsica. A destilao, a extrao de solventes, a cristalizao por resfriamento, a filtrao e a absoro esto compreendidas nos processos de separao fsica. A destilao realizada em estruturas altas e cilndricas chamadas torres. Depois de bombeado para os tubos de um alambique, onde aquecido at vaporizar-se (exceto em sua poro mais pesada), o leo cru dispersado para uma coluna de destilao de um vaporizador localizado acima da base. Um gradiente trmico estabelecido atravs da torre, de tal modo que a temperatura mais alta na base e mais baixa no topo. Os vapores ascendentes condensam-se medida que sobem pela torre, e os lquidos condensados juntam-se a espaos predeterminados, de onde so recolhidos. Os componentes cujo ponto de ebulio semelhante ao da gasolina condensam-se quase no topo da torre; o querosene, logo abaixo; o leo diesel, no meio da coluna; o resduo, na base. Cada um desses fluxos passa ento a novo estgio de processamento. Por redestilao a vcuo, o resduo dividido em leos lubrificantes leves ou pesados e em combustvel residual ou material asfltico.

Alterao qumica. Os processos dessa classe de refino podem ter um dos seguintes objetivos: decompor, ou craquear (do ingls to crack, quebrar), grandes molculas de hidrocarbonetos em outras menores; polimerizar ou unir pequenas molculas de uma substncia para formar outras maiores; e reorganizar a estrutura molecular. O craqueamento do leo cru historicamente o mais importante. No sculo XIX era utilizado para duplicar a quantidade de querosene que se extraa do petrleo. Com o advento do automvel, aumentou a demanda da gasolina, e o craqueamento passou a ser usado como meio de elevar a produo desse combustvel. Pelo processo de Burton, aquece-se a matria-prima a cerca de 500o C sob presso e obtm-se gasolina. Descobriu-se depois que a gasolina assim obtida era de melhor qualidade. A seguir foi descoberto o craqueamento cataltico, pelo qual catalisadores como a alumina, a bentonita e a slica facilitam o rompimento das molculas.

A polimerizao o contrrio do craqueamento. Consiste na combinao de molculas menores em molculas de hidrocarbonetos mais pesados, visando sobretudo obteno de gasolina. O primeiro processo de polimerizao utilizava como matrias-primas hidrocarbonetos gasosos no-saturados, principalmente o propileno e o butileno. Outro processo de polimerizao, a alquilao, combina essas duas matrias-primas com o isobutano, hidrocarboneto gasoso saturado. A alquilao contribuiu grandemente para a produo de gasolina para aviao.

O terceiro tipo de processo qumico aquele que altera a estrutura das molculas de hidrocarbonetos, a fim de aumentar o poder de combusto do produto. Em meados do sculo XX, as pesquisas orientaram-se, principalmente nos Estados Unidos, para apurar a qualidade da gasolina, o que foi conseguido no s com o desenvolvimento de novos processos de refinao, mas tambm com a introduo de um aditivo, o chumbo tetraetila. Mais tarde, porm, os compostos de chumbo foram retirados da mistura em muitos pases por serem altamente poluentes.

Purificao. A terceira classe de processos de refinao compreende aqueles que purificam os produtos. H no leo cru muitos elementos no hidrocarbonados, principalmente enxofre, que lhe conferem propriedades indesejveis. Vrios processos foram criados para neutraliz-los ou remov-los. Por meio da hidrogenao -- processo desenvolvido por tcnicos alemes para a transformao do carvo em gasolina -- as fraes do petrleo so submetidas a altas presses de hidrognio e a temperaturas entre 26o e 538o C, em presena de catalisadores.

Distribuio. A maioria dos produtos derivados do petrleo constituda de lquidos, na maior parte das condies estveis, que podem ser acondicionados em tanques e bombeados de um lugar para outro. Os produtos que apresentam maiores dificuldades de manuseio so os que se encontram nas extremidades da escala de ponto de ebulio: gases, graxas, combustveis pesados, parafinas e asfaltos. O gs liquefeito de petrleo (GLP) tem de ser armazenado e transportado sob presso e normalmente distribudo ao consumidor em cilindros. Graxas e alguns leos lubrificantes so acondicionados em barris e latas. Combustveis pesados e asfaltos, que se solidificam temperatura ambiente, tm de ser armazenados e distribudos em recipientes aquecidos ou isolados.

Reservas mundiais. Embora os derivados do petrleo sejam consumidos no mundo inteiro, o leo cru s produzido comercialmente num nmero relativamente diminuto de lugares, e muitas vezes em reas de deserto, pntanos e plataformas submarinas. O volume total de petrleo ainda no descoberto em terra e na plataforma continental desconhecido, mas a indstria petrolfera desenvolveu o conceito de "reserva provada" para designar o volume de leo e gs que se sabe existir e cuja extrao compensadora, considerados os custos e os mtodos conhecidos. Conforme relatrio das Naes Unidas (Ocean Oil Weekly Report, de 7 de fevereiro de 1994), que toma como base a produo mdia de 1991, o estoque mundial de leo estaria esgotado em 75 anos. Das reservas atuais, 65% esto no Oriente Mdio. Segundo o relatrio, o volume de leo remanescente na Terra de 1,65 trilhes de barris, constitudos de 976,5 bilhes de barris de leo de reserva provada e de 674 bilhes de barris de leo. (O barril, medida habitual dos leos, contm 159 litros. A densidade do petrleo varivel, com valor mdio de 0,81, o que significa 129 quilos por barril. Um metro cbico contm 6,3 barris, e uma tonelada, 7,5 barris).

Presume-se que ainda existam por serem descobertos cerca de 800 a 900 bilhes de barris de petrleo no mundo. No Oriente Mdio, a maior parte do leo descoberto e por descobrir encontra-se sob a terra, mas no restante do mundo o leo potencial dever ser encontrado na plataforma continental. (A Petrobrs e a Shell so os lderes mundiais em explorao e produo em guas profundas.) Atividades de explorao e produo esto sendo desenvolvidas nas plataformas do Brasil, golfo do Mxico, Noruega, Reino Unido, Califrnia, Nigria e, em menor escala, China, Filipinas e ndia. So de especial interesse os mares semifechados marginais, como mar do Norte, golfo Prsico, mar da Irlanda, baa de Hudson, mar Negro, mar Cspio, mar Vermelho e mar Adritico, que apresentam cortes sedimentares adequados e lminas d'gua relativamente pequenas.

Petrleo no Brasil

A primeira referncia pesquisa do petrleo no Brasil remonta ao final do sculo XIX. Entre 1892 e 1896, Eugnio Ferreira de Camargo instalou por conta prpria, em Bofete SP, uma sonda junto ao afloramento de uma rocha betuminosa. O furo atingiu mais de 400m, mas o poo encontrou apenas gua sulfurosa. Foi somente em janeiro de 1939 que se revelou a existncia de petrleo no solo brasileiro, no poo de Lobato BA, perfurado pelo Departamento Nacional de Produo Mineral, rgo do governo federal. O poo de Lobato produziu 2.089 barris de leo em 1940.

Em outubro de 1953 instituiu-se o monoplio estatal da pesquisa, lavra, refinao, transporte e importao do leo no Brasil, pela Petrobrs (Petrleo Brasileiro S.A.), sob a orientao e a fiscalizao do Conselho Nacional de Petrleo (CNP). Na dcada de 1950 e comeo da de 1960 descobriram-se novos campos, especialmente no Recncavo Baiano e na bacia de Sergipe/Alagoas. Tambm se desenvolveram pesquisas nas bacias sedimentares do Amazonas e do Paran.

Em maro de 1955, foi encontrado petrleo em Nova Olinda, no mdio Amazonas. Em seguida, as atividades de perfurao estenderam-se at a bacia do Acre. Como as quantidades de petrleo obtidas no eram comerciais, aps seis anos a avaliao dos resultados aconselhou a reduo da explorao. Em 1967, as perfuraes na bacia amaznica foram suspensas. Com os avanos tecnolgicos, a Petrobrs procedeu os levantamentos geofsicos nas bacias do Paran e do Amazonas. Alcanaram-se bons resultados, em particular descobertas de gs natural na regio do rio Juru, no alto Amazonas, a partir de 1978.

Dez anos antes, a empresa iniciara a explorao de petrleo na plataforma continental, com a descoberta de leo no litoral de Sergipe (campo de Guaricema). Foi, porm, a crise do petrleo, iniciada em 1973, que viabilizou a prospeco em reas antes consideradas antieconmicas. Na dcada de 1970, intensificou-se a explorao de bacias submersas. A identificao de petrleo na bacia de Campos, litoral do Rio de Janeiro, duplicou as reservas brasileiras. Mais de vinte campos de pequeno e mdio portes foram encontrados mais tarde no litoral do Rio Grande do Norte, Cear, Bahia, Alagoas e Sergipe. Em 1981, pela primeira vez, a produo dos campos submarinos ultrapassou a dos campos em terra. No incio da dcada de 1980, o Brasil era, depois dos Estados Unidos, o pas que mais perfurava no mar, mas, no final do sculo, ainda precisava importar quase a metade do petrleo que consumia, apesar de suas reservas provadas de aproximadamente 3,8 bilhes de barris (0,2% das reservas internacionais).

O refino de petrleo no Brasil comeou em 1932, ao ser instalada a Destilaria Sul-Riograndense em Uruguaiana RS, com capacidade de 25m3. Em 1936 inauguraram-se duas outras refinarias: a de So Paulo, com capacidade de oitenta metros cbicos, e a de Rio Grande RS, capaz de produzir o dobro. Em 1959, o CNP instalou em Mataripe BA a Refinaria Nacional de Petrleo, mais tarde denominada Refinaria Landulfo Alves.

Na dcada de 1990 a Petrobrs contava com uma fbrica de asfalto, em Fortaleza CE, e dez refinarias: Refinaria de Manaus (Reman); de Paulnia (Repkan); Presidente Bernardes (RPBC); Henrique Lage (Revap); Presidente Getlio Vargas (Repar); Alberto Pasqualini (Refap); Duque de Caxias (Reduc); Gabriel Passos (Regap); Landulfo Alves (RLAM); e Capuava (Recap). Em meados da dcada de 1990, o Brasil produzia cerca de 750.000 barris de petrleo por dia, com a possibilidade de aumento gradativo desse nmero, com a explorao de campos gigantes da bacia de Campos.

Barsa.

Boa-nova submarina

Petrobrs localiza bacia no Esprito Santo enquanto os estrangeiros no vm

um clima misto de cautela e euforia na Petrobrs. Depois de uma dcada de pesquisas, a empresa descobriu a pista de um provvel depsito gigante de petrleo e gs na costa sul do Esprito Santo em profundidade superior a 1.500 metros. Resultados de testes ssmicos tridimensionais, apurados durante o ms de maio passado, indicaram ser alta a probabilidade de ocorrncia de uma rea petrolfera com capacidade produtiva acima de 600 bilhes de barris. Suas caractersticas geolgicas seriam similares s da Bacia de Campos, de onde sai 67% - 670 mil barris dirios - da produo nacional de petrleo. Com as ressalvas tcnicas habituais, a estatal j relatou ao Ministrio das Minas e Energia, Agncia Nacional de Petrleo e ao governo fluminense as perspectivas favorveis prospeco no trecho de 150 quilmetros do subsolo martimo, entre a fronteira dos estados do Rio de Janeiro e do Esprito Santo e a Ilha de Vitria. Aparentemente, trata-se de uma frao do conjunto de rochas armazenadoras de leo descoberto em meados dos anos 70 no litoral norte do Rio de Janeiro.

A Petrobrs decidiu iniciar perfuraes, o que no um acontecimento rotineiro devido aos custos elevados. Vai gastar cerca de US$ 5 milhes apenas na primeira etapa de sondagem, marcada para o ltimo trimestre. Ela tem uma histria de sucesso nesse tipo de operao, construda em duas dcadas de prospeces em Campos. Acertou quatro entre dez poos exploratrios que decidiu perfurar, de profundidades superiores a 1 quilmetro. Abriu 628 poos exploratrios e encontrou leo em 263 deles - nvel recorde de 42% em prospeco martima. Acertou, tambm, nove entre dez pontos da bacia que escolheu para explorar comercialmente. Hoje, extrai leo de 494 dos 537 poos que decidiu desenvolver no litoral de Campos e concentra ali seus recursos operacionais. Estacionou na regio trs dezenas de plataformas martimas, interligadas por uma teia de 1.300 quilmetros de dutos submersos, que complementada por mais 2.500 quilmetros de linhas de transporte de leo e gs.

Campos uma bacia de negcios estratgicos com reservas comprovadas acima de 10 bilhes de barris de leo, alm de 160 bilhes de metros cbicos de gs natural. Agora, ser partilhada entre a Petrobrs e alguns dos maiores conglomerados petrolferos do planeta, associados a capitais privados nacionais. E, por isso, tornou-se o centro de uma das maiores disputas empresariais j ocorridas no pas. O governo decidiu liberar a pesquisa e a explorao em Campos como forma de garantir investimentos superiores a US$ 10 bilhes na regio nos prximos cinco anos. A Agncia Nacional de Petrleo informa que daqui a trs semanas anunciar as condies de partilha das reas entre a estatal e os grupos privados. No pacote devem estar os trechos ao norte de Campos, que aparentam ser uma extenso da bacia e j foram confirmados como promissores prospeco e explorao. No esforo de garantir a dianteira na escolha das melhores reas, a Petrobrs programou uma gradual mobilizao de suas sondas de prospeco de Campos para Vitria, cerca de 200 quilmetros mar acima.

poca 15/06/98

As ilhas da discrdia

Dezesseis anos depois da guerra, Argentina e Reino Unido voltam a se estranhar por causa do petrleo encontrado no Atlntico Sul

A Plataforma Borgny Dolphin achou petrleo no fundo do Oceano Atlntico a cerca de 700 quilmetros da costa da Argentina. E o presidente argentino, Carlos Menem, no gostou. A descoberta, feita no dia 21 de maio, trouxe de volta cena a disputa entre Argentina e Reino Unido pelas ilhas que, para os argentinos, chamam-se Malvinas e so parte integrante do pas e, para os britnicos, chamam-se Falklands e so um de seus 13 territrios ultramarinos. Essa mesma disputa levou os dois pases guerra em 1982. Quase mil homens morreram. O chanceler argentino Guido Di Tella viu-se obrigado a fazer um protesto formal contra o governo britnico por causa do petrleo. O mal-estar azeda a visita de Menem a Londres no fim deste ano - a primeira de um presidente argentino desde a guerra -, planejada para ser a festa da coroao de sua poltica externa.

Os argentinos prometem cobrar 3% de imposto das empresas que explorarem petrleo nas Malvinas, se que h petrleo em quantidade economicamente significativa. E ameaam punir as empresas que no pagarem. "Fomos generosos", disse Di Tella a poca. "Quisemos permitir o desenvolvimento da ilha. O normal, nesses casos, deixar os bens econmicos sem uso at que o problema de fundo tenha soluo." O problema de fundo a soberania sobre as ilhas. A Argentina alega que o princpio da descolonizao, um dos pilares da ONU, obriga o governo britnico a ceder as ilhas, que ficam a apenas 346 quilmetros do ponto mais prximo do territrio argentino. A soluo ainda no existe e, na opinio dos habitantes das ilhas, nem precisa existir, j que, para eles, no h problema: o territrio pertence ao Reino Unido, que, invocando outro princpio da ONU, alega a autodeterminao dos habitantes do arquiplago para decidir quem manda neles. Mesmo que a escolha seja Londres, a 14 mil quilmetros de distncia, em outro continente, em outro hemisfrio.

A deciso mais ou menos previsvel. A maioria dos cerca de 2.500 habitantes descende dos ingleses que chegaram l em 1833. Nos anos 30 imigraram muitos escoceses. De tempos em tempos algum britnico se estabelece nas ilhas, em busca de sossego. Fora isso, h uns tantos chilenos, alguns imigrantes de Santa Helena, outra possesso britnica no Atlntico, e uns poucos indivduos de outras nacionalidades, inclusive duas brasileiras. Argentinos, desde a guerra, no h mais.

Mais de dois teros dos habitantes das ilhas vivem em Stanley, capital e nica cidade das Falklands. O resto vive na zona rural, chamada de camp, e no country, influncia dos sul-americanos que viviam l quando os ingleses chegaram. O camp guarda a maioria das marcas dessa influncia. H lugares com nomes como Laguna Verde e Cerritos. Os pastores usam cavalos para lidar com os rebanhos de carneiros, maneira dos guchos, dizem os habitantes, certos de que esto falando dos gachos. Currais de pedra, iguais aos da Patagnia, so comuns nas ilhas. Ao lado do ovo de pingim com manteiga e vinagre, a empanada tida como um dos pratos tpicos da culinria kelper.

Mas a vida est mudando nas Falklands e o lado sul-americano est ficando para trs, como o prprio termo kelper. esse o nome de quem nasceu nas ilhas, onde abundam as algas kelp. No mais de bom-tom us-lo desde que o Reino Unido comeou a prestar mais ateno s ilhas, depois da guerra. O termo acentua demais a particularidade dos kelper em relao aos expats, abreviatura de expatriados, que so os britnicos, principalmente os que vo trabalhar por tempo determinado. O prprio governador das Falklands, Richard Ralph, o maior dos expats, j que membro do corpo diplomtico britnico nomeado por Londres, rejeita a idia de uma identidade kelper essencialmente diferente da dos britnicos. "Somos todos da mesma famlia", diz. Talvez agora, depois da guerra. Antes de 1982 a parte kelper da famlia no tinha cidadania britnica e precisava de visto para ir para a Inglaterra.

Mas a maior ateno de Londres no a nica coisa que est mudando o modo de vida nas Falklands. H muito dinheiro l desde 1986, quando as ilhas decretaram uma faixa de 200 milhas de guas territoriais e comearam a vender licenas para pesca. Mais da metade da receita do governo vem da. So cerca de US$ 25 milhes por ano. a principal fonte de renda das Falklands. O resto vem dos cerca de mil turistas que visitam o arquiplago por ano, em mdia, e da mais tradicional das atividades das ilhas, a criao de carneiros, em declnio por causa do baixo preo da l no mercado mundial. O dinheiro est fazendo de Stanley uma sociedade de consumo. Ningum mais prepara o upland goose, um ganso selvagem muito comum nas ilhas, para a ceia de Natal. Agora s se usam os perus congelados trazidos da Inglaterra. O futebol, as corridas de cavalos e o golfe, que um esporte popular nas Falklands, disputam lugar com jet skis e jogos eletrnicos.

O petrleo pode garantir o futuro das ilhas. A pesca um recurso vulnervel e, embora as Falklands se orgulhem de ter um manejo sustentvel dos mais controlados do mundo, pesca-se cada vez menos nas guas das ilhas. O governo acusa outros pases pelo declnio. Eles controlariam menos a pesca das espcies migratrias. Mas mesmo a lula loligo, que vive s nas guas das Falklands cada vez menos abundante. Ela o principal alimento das aves marinhas da riqussima fauna local, que inclui cinco espcies de pingim, a maior atrao turstica das ilhas.

Se o dinheiro e a ameaa ao equilbrio ambiental da pesca preocupam, a perspectiva de petrleo em abundncia apavorante. Em Stanley h um sentimento dbio. O dinheiro poderia melhorar a vida, mas os habitantes das ilhas no querem perder sua tranqilidade. No querem novas cidades nem novos imigrantes. E no querem que vazamentos de petrleo devastem as ilhas e seus arredores. Tudo isso ser, provavelmente, inevitvel. At a geopoltica das ilhas ser afetada. Diplomatas ouvidos por poca em Buenos Aires trabalham com trs cenrios. Se no houver petrleo, o Reino Unido se desinteressar das ilhas. Nesse caso, a ttica de Di Tella de aproximao dos kelpers poder funcionar, e daqui a 50 ou 60 anos, quando as feridas da guerra cicatrizarem, as ilhas podero passar para a Argentina. Se houver s gs, o consumidor bvio ser a Argentina, o que precipitar a aproximao e, eventualmente, a transferncia. Se houver muito petrleo, a Argentina poder dar adeus s ilhas.

A posse das Malvinas parte do projeto nacional argentino. Nenhum partido, nenhuma corrente de opinio prev a possibilidade de desistir das ilhas. A oposio acusa Di Tella de ser muito brando na questo, mas ele confia em sua capacidade de seduo. Depois de resolver 23 das 24 pendncias territoriais com o Chile, de conseguir estatuto de parceiro dos Estados Unidos extra-Otan, todo o esforo da poltica externa do governo Menem est voltado para as Malvinas. De certa forma, tudo o que foi feito antes visava convencer o mundo de que a Argentina uma parceira confivel do Ocidente, com que se pode negociar civilizadamente. E o que h a negociar so as Malvinas.

Entrevista

Pela discrdia

Chanceler argentino quer comear a discutir

Guido Di Tella, Chanceler Argentino

poca: As Malvinas vo ser assunto abordado na visita de Menem a Londres?

Guido Di Tella: bvio. No podemos deixar de lado o que nos levou guerra. Queremos que os britnicos apliquem um princpio que criaram: "Let's agree to disagree" (concordemos em discordar).

poca: A relao direta com os ilhus progrediu desde a guerra?

Di Tella: Muito pouco, mas conseguimos mostrar que no somos ameaa.

poca: Os kelpers dizem que no retomam contatos enquanto a Argentina no retirar sua reivindicao.

Di Tella: Chegar soluo como condio para comear a discutir non sense. Eu me encontro com os kelpers todos os anos no comit de descolonizao da ONU. Eles no apertam a minha mo, no sei, parece que tm medo de se contaminar. ridculo.

poca: E a bandeira argentina que o presidente Menem prometeu hastear nas ilhas at o ano 2000?

Di Tella: Bem, faltam dois anos, no . Seria importante. preciso uma presena argentina pacfica, simptica. Um pouco da insegurana que os kelpers sentem com essas coisas vem de eles saberem que os britnicos, antes da guerra, estavam dispostos a entreg-los.

poca: Eles dizem que no se pode confiar 100% nos britnicos.

Di Tella: Est a um ponto em que concordamos.

Sem problema

Para o governador, no h o que negociar

Richard Ralph, governador das Ilhas Falklands

poca: Como as Falklands vem a viagem de Menem a Londres?

Richard Ralph: Sem problemas. Foi garantido pelo governo britnico que as ilhas no vo ser um dos assuntos.

poca: A Argentina fez um protesto formal contra o incio da prospeco de petrleo. A tenso est descendo?

Ralph: A Argentina est sendo coerente. Na medida em que no deixou de reclamar a soberania sobre as ilhas, no poderia deixar de fazer um protesto. Ns teramos feito a mesma coisa.

poca: A situao melhorou desde 1982?

Ralph: As relaes entre a Argentina e o Reino Unido melhoraram muitssimo. Mesmo a relao com as ilhas melhorou. Agora h uma guerra de palavras. Volta e meia algum na Argentina fala alguma coisa provocativa, como hastear uma bandeira nas Falklands, mas no uma discusso real sobre a soberania.

poca: A Argentina poderia vir a ser um parceiro importante das Falklands?

Ralph: Antes da Guerra, o nico vo para fora da ilha era para a Argentina. Os habitantes das Falklands no gostariam de voltar a essa situao.

poca: A ameaa militar acabou?

Ralph: Ah, sim. Bem, no diria que acabou totalmente. Temos a fora militar para dissuadir a Argentina, mas, se ela diz que no far nenhuma tentativa pela fora, eu acredito.

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