versiani - industrialização e economia de exportação

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Industrialização e economia de exportação: a experiência brasileira antes de 1914* Flávio Rabelo Versiani** Sustenta o autor que a produção têxtil algodoeira, principal atividade industrial do Brasil antes de 1914, desenvolveu-se basicamente graças a estímulos provenientes de duas fontes: a) a instabilidade da taxa de câmbio, que incentivou comerciantes de tecidos a passar para o setor de produção têxtil, fato que pode ier interpretado como uma diversificação de investimentos, com o fito de minimizar riscos; b) um sistema tarifário crescente protecionista, que permitiu a sobrevivência e o cresci- mento dos empreendimentos industriais, mesmo em períodos adversos quanto à taxa de câmbio. Essas conclusões contrariam a noção de que a industrialização brasileira, em sua fase inicial, não foi objeto de políticas governamentais delibera- das, e põem em destaque a possível relevância da análise da política cambial para a compreensão do processo de industrialização em economias de exportação. Os dados analisados no artigo levam a crer que o capital para a nova atividade proveio principalmente do comércio de importação e do reinvestimento de lucros. Ao contrário do que comumente se acredita, o setor cafeeiro não parece ter consti- tuído importante fonte de recursos diretos para a indústria, no período em questão. 1. Introdução; 2. Panorama do desenvolvimento inicial da indústria algodoeira; 3. O papel dos comerciantes como capitalistas industriais; 4. Instabilidade cambial e investimento na indús· tria; 5. Os quatro surtos de investimento; 6. Fontes de financiamento; 7. O efeito protecio- nista das tarifas; 8. Conclusão. • Este artigo baseia-se em parte em idéias expostas, ·sob forma menos desenvolvida, em Versiani & Vezsiani (1975). E evidente a minha dívida para com Maria Teresa R. O. Versiani, co-autora, comigo - entre outros empreendimentos - daquele trabalho. Agradeço a David E. Goodman e José Roberto Mendonça de Barros, e aos participantes de um seminário do Institute of Latin American Studies da Universidade de Londres, por seus úteis comentários e sugestões. As opiniões emitidas são, é cwo, da exclusiva responsabilidade do autor. O trabalho circulou inicialmente como texto de discussão do lLAS, e está sendo publicado simultanea- mente no Jou17llJ1 of Development Economics. •• Professor da Universidade de Brasília. Rev. bras. Econ., Rio de Janeiro, 34 (1): 3-40, jan./mar. 1980

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Versiani - Industrialização e Economia de Exportação

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  • Industrializao e economia de exportao: a experincia brasileira antes de 1914*

    Flvio Rabelo Versiani**

    Sustenta o autor que a produo txtil algodoeira, principal atividade industrial do Brasil antes de 1914, desenvolveu-se basicamente graas a estmulos provenientes de duas fontes: a) a instabilidade da taxa de cmbio, que incentivou comerciantes de tecidos a passar para o setor de produo txtil, fato que pode ier interpretado como uma diversificao de investimentos, com o fito de minimizar riscos; b) um sistema tarifrio crescente protecionista, que permitiu a sobrevivncia e o cresci-mento dos empreendimentos industriais, mesmo em perodos adversos quanto taxa de cmbio. Essas concluses contrariam a noo de que a industrializao brasileira, em sua fase inicial, no foi objeto de polticas governamentais delibera-das, e pem em destaque a possvel relevncia da anlise da poltica cambial para a compreenso do processo de industrializao em economias de exportao.

    Os dados analisados no artigo levam a crer que o capital para a nova atividade proveio principalmente do comrcio de importao e do reinvestimento de lucros. Ao contrrio do que comumente se acredita, o setor cafeeiro no parece ter consti-tudo importante fonte de recursos diretos para a indstria, no perodo em questo.

    1. Introduo; 2. Panorama do desenvolvimento inicial da indstria algodoeira; 3. O papel dos comerciantes como capitalistas industriais; 4. Instabilidade cambial e investimento na inds tria; 5. Os quatro surtos de investimento; 6. Fontes de financiamento; 7. O efeito protecio-nista das tarifas; 8. Concluso.

    Este artigo baseia-se em parte em idias expostas, sob forma menos desenvolvida, em Versiani & Vezsiani (1975). E evidente a minha dvida para com Maria Teresa R. O. Versiani, co-autora, comigo - entre outros empreendimentos - daquele trabalho. Agradeo a David E. Goodman e Jos Roberto Mendona de Barros, e aos participantes de um seminrio do Institute of Latin American Studies da Universidade de Londres, por seus teis comentrios e sugestes. As opinies emitidas so, cwo, da exclusiva responsabilidade do autor. O trabalho circulou inicialmente como texto de discusso do lLAS, e est sendo publicado simultanea-mente no Jou17llJ1 of Development Economics . Professor da Universidade de Braslia.

    Rev. bras. Econ., Rio de Janeiro, 34 (1): 3-40, jan./mar. 1980

  • ,. Introduol

    o que leva uma economia especializada na exportao de produtos primrios industrializao? Sob que condies haver aplicao de capital em atividades voltadas para o mercado interno, ao invs do setor exportador tradicional, e de onde provm esse capital? A experincia brasileira a partir do fmal do sculo XIX tem grande relevncia para o estudo de tais questes: trata-se de um processo que, embora envolvendo distores e desigualdades; transformou uma tpica "econo-mia de exportao" numa estrutura produtiva altamente diversificada. Neste ar-tigo se apresentam novos dados sobre as primeiras etapas de tal processo, no perodo anterior I Guerra Mundial. Essa evidncia, argumenta-se, pe em xeque algumas noes consagradas quanto s primeiras fases da industrializao brasilei-ra, em particular no que diz respeito ao papel da proteo tarifria e s relaes entre a indstria emergente e o setor exportador.

    Duas posies opostas podem ser identificadas, grosso modo, na literatura, quanto s relaes entre exportao e investimento industrial no Brasil. 2 Nas primeiras anlises da industrializao brasileira, deu-se grande nfase ao estmulo representado pelo aumento da procura de bens produzidos no pas, em pocas de crise no comrcio exterior, como fator fundamental do crescimento da indstria, em especial no conhecido livro de Celso Furtado. 3 A industrializao era, por-tanto, associada a circunstncias desfavorveis no setor ex terno (o chamado argu-mento dos "choques adversos").

    Embora as condies que influram sobre a deciso de investir no tenham sido muito exploradas nesse contexto, a opinio generalizada era a de que o desenvolvimento da capacidade interna de produo fora suscitado basicamente pelos prprios "choques" do comrcio exterior. Ou seja, o aumento de preo dos bens importveis produzidos internamente, provocado pela expanso da procura (como ocorreu durante a Depresso na dcada de 1930, ou na I Guerra Mundial), somado aos lucros mais altos dos produtores desses bens, teria sido o principal fator a incentivar o investimento no setor industrial. Na medida em que as ativida-des de exportao se tornaram relativamente menos lucrativas devido quelas crises (como, por certo, ocorreu na dcada de 1930), tambm se poderia presumir

  • o mesmo mecanismo, portanto, poderia igualmente ajudar a explicar o fmancia-mento do investimento industrial. 4

    Essa idia de vnculo entre aumentos de procura induzidos por choques exter-nos e a ocorrncia de investimento industrial ficou abalada, no entanto, por dados mais recentes sobre a real evoluo desse investimento. 5 De modo especial, eviden-ciou-se marcada falta de correspondncia entre perodos de crescimento na capaci-dade interna de produo e perodos de rpido crescimento da produo indus-trial. primeira vista, trata-se de ponto difcil de conciliar com o argumento dos choques adversos. hso aparece ilustrado na tabela 1, onde se v que as importa-es de equipamento para a indstria, antes de 1945, concentraram-se em meados da dcada de 1920 e nos anos anteriores I Guerra Mundial, perodos de cresci-mento relativamente lento da produo industrial.

    Tabela 1 Crescimento da indstria e importaes de equipamento

    industrial no Brasil, 1900-45

    Taxa anual de crescimento (ndice de importao Perodo da produo industrial de equipamento

    (%) (1939 = 100)*

    1900-09 5,6 61 1909-14 3,0 147 1914-23 9,0 64 1923-32 1,0 134 1932-39 10,0 95 1939-45 5,7 109

    Fontes: Sries de produo industrial de Haddad (1977, p. 147-8); ndice de importao de equipamento industrial de Villela & Suzigan (1973, p. 437). * Mdia dos perodos, com excluso do ltimo ano.

    Transferncias diretas de capital da agricultura para a indstria, ao menos na dcada de 1930, tambm se mostraram de difcil comprovao. 6 Em seqncia a esses achados, alguns autores passaram a defender a idia de que os primeiros investimentos industriais deveriam ser vinculados, no a crises no comrcio exte-rior, mas, ao contrrio, a perodos de surto nas exportaes. 7

    Furtado (1959, capo 22); Baer (1965, capo 2). 5 Villela & Suzigan (1973, capo 4-6). Silber (1977). 7 Villela& Suzigan (1973); Baer & Villela (1973);'Leff (1969) e Melo (1975).

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 5

  • Quanto industrializao anterior I Guerra Mundial, dois perodos so geralmente enfatizados (coincidindo ambos com surtos de exportao): a dcada de 1890 e o lapso de seis a oito anos que precedeu a guerra. Muitos sustentam que um processo significativo de industrializao teria comeado apenas na ltima dcada do sculo XIX, com ajuda da expanso de crdito desse perodo. Afirma-se que polticas governamentais no desempenharam papel direto no processo; o efeito protecionista das tarifas, em particular, teria sido irrelevante. 8

    Os dados que examinaremos a seguir apontam, ao contrrio, para as seguintes concluses, no que se refere ao perodo anterior a 1914:

    a) n'o se pode estabelecer nenhuma relao simples entre exportaes e investi-mento industrial. O comportamento do setor exportador no foi "favorvel" nem "desfavorvel" industrializao; foi ambas as coisas - em perodos diferentes e em sentidos diferentes; b) o desenvolvimento da produo industrial interna dependeu fundamental-mente da proteo alfandegria. Tudo indica que no se pode explicar adequada-mente o aparecimento da indstria no Brasil neste perodo, sem um estudo das condies que propiciaram a instituio de uma severa barreira alfandegria s importaes industriais; c) embor.a se observasse na dcada de 1890 um rpido crescimento da produo industrial, os dados sobre a importncia de empreendimentos anteriores a 1890 (e sobre o papel do reinvestimento de lucros como fonte de fmanciamento desses empreendimentos) mostram que essa dcada no deve ser considerada a etapa inicial para o estudo da acumulao de capital na indstria.

    O artigo trata da evoluo do investimento na indstria de tecidos de algodo antes de 1914. Essa era, no perodo, a forma preponderante de atividade manufa-tureira no Pas. Outra vantagem de focalizar a indstria algodoeira decorre do fato de que o Brasil tinha certo peso como importador de artigos de algodo no mercado mundial: o desenvolvimento da produo nacional era, portanto, acom-panhado com grande interesse por alguns observadores estrangeiros, entre os quais os representantes diplomticos britnicos, de maneira que informaes dessas fontes compensam parcialmente a escassez de dados estatsticos para o perodo.

    No item. seguinte, damos um quadro geral da evoluo da indstria algodoeira no Brasil antes da I Guerra Mundial. Segue-se um exame do papel dos comercian-tes no desenvolvimento da indstria, no item 3, e da possvel importncia da instabilidade da taxa de cmbio como incentivo ao investimento industrial (item 4); esses pontos so ilustrados, em seguida, por uma anlise dos traos principais dos quatro surtos de investimento anteriores a 1914 (item 5). A questo da origem do capital industrial , ento, analisada sucintamente (item 6), seguindo-se o exame do efeito protecionista do sistema tarifrio (item 7). Para fmalizar, apresen-tam-se as concluses principais.

    8 Fishlow (1972);Villela & Suzigan (1973).

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  • 2. Panorama do desenvolvimento inicial da indstria algodoeira

    A primeira viso geral do setor manufatureiro do Brasil foi dada pelo registro industrial feito pelo Centro Industrial do Brasil, em 1907. Naquele levantamento, comprovou-se que o capital aplicado nos cotonifcios equivalia a 35% do capital total das atividades industriais; o setor tambm utilizava 30% da fora de trabalho industrial. Esses dados, porm, subestimam a importncia relativa da indstria algodoeira no perodo considerado, na medida em que uma grande proporo do que se defmia como "indstria", no levantamento, consistia de estabelecimentos de pequena escala, com nvel muito limitado de mecanizao, ou de oficinas artesanais. Isso se evidencia pelo fato de que, enquanto nos cotonifcios o nmero mdio de trabalhadores por fbrica era de 285, em todos os outros setores a mdia era de apenas 34; quanto ao montante de capital por estbelecimento, a mdia referente aos cotonifcios era mais de 10 vezes superior do restante das ativida des. Na cidade do Rio de Janeiro (Distrito Federal), onde havia a maior concen trao de estabelecimentos industriais - cerca de 1/5 do total -, correspondiam aos cotonifcios 52% da fora de trabalho das empresas manufatureiras com 200 ou mais operrios.9 Sem dvida, o que se afirmar a respeito da indstria txtil algodoeira naquele perodo poder aplicar-se de modo geral indstria como um todo.

    Em 1907, a produo interna de txteis de algodo ultrapassou 300 milhes de metros, e seu valor era o dobro do total das importaes dentro da mesma rubrica. Duas dcadas antes, em 1885, a produo fora avaliada em, no mximo, 38 milhes de metros, numa poca em que somente as importaes da Inglaterra representavam cerca de cinco vezes esse volume. 10 e, evidente que no perodo de 1885-1907 deu-se um crescimento muito rpido da produo, paralelamente ao acentuado decrscimo na participao relativa de bens importados no consumo interno; trata-se de exemplo tpico de crescimento por substituio de importa-es, como observou Fishlow (1972). Em 1907 a indstria continuou a crescer, embora em ritmo mais lento, enquanto o nvel de importaes no se alterou substancialmente; em 1912, o melhor ano de antes da guerra, a produo atingiu 400 milhes de metros. 1I

    O rpido crescimento ocorrido entre 1885 e 1907 parece especialmente not-vel; os dados referidos implicam uma taxa anual mdia de crescimento prxima a 10%. Em geral se considera que a rpida desvalorizao do mil-ris na dcada de 1890 foi importante fator desse surto, deslocando a procura interna no sentido de bens de fabricao nacional (voltaremos a este ponto mais adiante). Por outro lado, aventou-se que a expanso prvia da capacidade interna de produo, que permitira aos produtores nacionais atender ao aumento da procura, talvez tivesse

    , CIB (1909, Mappas, p. 16-37,150). lO CIB (1909, Mapps p. 261; p. 144); RCB (1886, p. 188); AST. 11 Stein(1957,p' 193);FIBGE(l939/40,p.1329).

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 7

  • sido provocada pela intensa expanso monetria que se seguiu s reformas banc-rias introduzidas em 1888-89. Tanto os deslocamentos da oferta como os da procura, dessa maneira, poderiam ser atribudos mesma causa: o crdito fcil teria proporcionado recursos e estmulo para o investimento, e a conseqente desvalorizao cambial teria protegido a indstria nascente da concorrncia ex-terna. 12 Essa interpretao um dos pontos de apoio da posio defendida em vrios trabalhos recentes de que o primeiro fluxo importante de capital para a indstria ocorreu no comeo da dcada de 1890.13

    No entanto, o exame mais detido dos dados disponveis mostra que as iniciati-vas industriais anteriores a 1890 foram muito mais importantes do que as interpre-taes acima sugerem. Verifica-se, por exemplo, que fIrmas criadas at 1889 deti-nham, em 1920, nada menos de 47% do valor total das mquinas e equipamentos da indstria txtil algodoeira. 14 Um quadro mais preciso pode ser obtido a partir das datas de fundao das fbricas mais antigas: os dados constantes da tabela 2 mostram que a metade do estoque dos teares existentes no Pas em 1905 pertencia a fbricas instaladas antes de 1889, sendo que uma proporo substancial cabia a empresas criadas na dcada de 1870, ou antes. Esses fatos no apenas deixam fora de dvida que j havia incentivo para investir na indstria, antes da dcada de 1890, mas, tambm, que a expanso dessas primeiras fIrmas constituiu fator essen-cial do crescimento do setor. Este ltimo ponto ser explorado mais adiante.

    Sabemos que em fms da dcada de 1880 alguns setores do mercado interno, antes supridos por importaes, j tinham sido conquistados pelos produtores nacionais. Em relat6rios sucessivos, o cnsul britnico no Rio referia-se dimi-nuio das importaes brasileiras de domestics - tipo de tecido grosseiro que era anteriormente a principal importao txtil brasileira - devido concorrncia da produo local. 1 5 Os dados da tabela 3 sugerem um avano signifIcativo da substi-tuio de importaes no perodo, para essa classe de mercadorias; em sete anos, a importao de domestics caiu em mais de 40%, enquanto as importaes totais de txteis de ~godo aumentavam em 22%. Em 1888, outro relatrio diplomtico observava que "o comrcio (de importao) de pano cru foi liquidado pelas fbri-cas locais".16 Compare-se esta afIrmativa com a crena de que a substituio de importaes surgiu no Brasil "na dcada de 1890, como uma conseqncia direta das fmanas inflacionrias", segundo Fishlow (1972).

    Os dados constantes da tabela 2 levam a crer na existncia de trs per(odos de investimento concentrado, antes de 1905: 1870-75, 1880-84 e 1889-95. Poder-se-ia acrescentar um quarto perodo, referente aos anos anteriores I Guerra

    12 Fishlow (1972). 13 Tavares (1974); Mello (1975); Cano (1975); Silva (1976). 14 DGE (1927, p. 22-3). Das 10 maiores fbricas, em 1919, cinco tinham sido instaladas antes de 1888. Veja Pearse (1923). 15 RCB (1886); RCB (1887a); RCB (1888). 16 RCB (1889, p. 20).

    8 R.B.E. 1/80

  • Tabela 2 Brasil: cotonifcios existentes em 1905, por data de fundao

    Data de fundao Nmero de fbricas Percentagem de teares em 1905

    Antes de 1888 50 50,7

    Antes de 1870 10 4.7 1870-75 14 16.3 1876-79 2 5.1 1880-84 11 15,2

    1885-88 9 7,8 Data desconhecida 4 1,5

    Depois de 1888 26 32,~ 1889-95 22 30,2 1896-1905 4 2,3

    Data desconhecida 35 16,8

    Total 111 100,0*

    Fonte: Dados sobre as fbricas de 1905 em Cunha Vasco (1905). Quanto s datas de funda-o, veja o anexo 1 . * As percentagens no somam 100 devido ao arredondamento.

    Tabela 3 Importao de txteis de algodo no Rio de Janeiro, 1878-86*

    (l.OOOkg, mdias anuais)

    Perodo Domestics

    1878/79 a 1880/81 3.314 1881/82 a 1883/84 2.744 1884/85 a 1885/86 2.247 1886/87 1.966

    Fonte: RCB (1886, p. 187); RCB (1887a, p. 2); RCB (1888, p. 2).

    Total

    7.594 7.769 7.610 9.264

    * Dados gerais sobre o comrcio exterior do Brasil no eram colhidos antes de 1900. As importaes do Rio de Janeiro correspondiam aproximadamente metade do total.

    INDUSTRIALlZAOE EXPORTAO 9

  • Mundial (1907-13), quando se sabe que numerosos cotonifcios foram fundados, especialmente no estado de S'o Paulo. I 7 Os dados sobre importao de maquina-ria do Reino Unido, apresentados na tabela 4, tambm apontam para a mesma direo: os valores das importaes aumentam acentuadamente nesses quatro pe-rodos. Antes de tentar determinar as caractersticas diferenciais de tais perodos, vejamos o que se pode dizer a respeito dos agentes desses empreendimentos indus-triais.

    Tabela 4 Importaes brasileiras de maquinaria do Reino Unido, 1860-1913

    (18961906 = 100; mdias do perodo)

    Perodo

    1860-1870 1870-1875 1876-1879 1880-1884 1885-1888 1889-1895 1896-1906 1907-1913

    Maquinaria *

    17 46 34 75 75

    148 100

    Maquinaria txtil**

    100 307

    Fonte: Dados sobre exportaes britnicas (em libras) em AST (vrios nmeros). * "Maquinaria e equipamento industrial, e sobressalentes, com excluso de mquinas a vapor, agrcolas e de costura." Mquinas para a indstria txtil representavam 56% dessa rubrica em 1893-98. ** Dados separados para maquinaria para indstria txtil apareceram pela primeira vez em 1893.

    3. O papel dos comerciantes como capitalistas industriais

    Quem esteve frente das primeiras iniciativas de fabricar tecidos para o consumo interno? Um conhecimento adequado das origens do capital e do empresariado industrial no ser possvel enquanto no se dispuser de maiores informaes ao nvel da histria das fumas pioneiras. Os dados existentes, no entanto, indicam que os comerciantes de tecidos desempenharam papel destacado no processo.

    No caso do estado da Barua, por exemplo, onde havia a maior concentrao de fbricas em 1875,18 a fundao da maioria dos primeiros cotonifcios foi inicia-

    17 Entre 1905 e 1915, o nmero de fbricas mais do que dobrou (111 para 240), assim como o estoque de fusos e teares (Garry, 1920). 18 Stein (1975, p. 21).

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  • tiva de comerciantes. 19 Tambm na regio do Rio de Janeiro, que sucedeu Bahia como principal centro de produo, comerciantes 'de tecidos aparecem como fun-dadores, grandes acionistas e diretores de algumas das maiores fbricas. Depois de 1880, em especial, vrios importadores portugueses de tecidos no Rio decidiram investir na produo de txteis, dado que "muitos empresrios tinham-se mos-trado mais abundantes em idias do que em capital".2o Nas dcadas seguintes, a indstria algodoeira do Rio seguiu o mesmo padro de desenvolvimento: "a pro-priedade dos cotonifcios permaneceu nas mos de poucas famlias; atacadistas portugueses de tecidos continuaram a desempenhar papel proeminente na proprie-dade e administrao das fbricas e na distribuio do produto".21 Em Minas Gerais, comprova-se a-preponderncia do capital come.rcial na fundao do impor-tante grupo de fbricas da famlia Mascarenhas. 2 2

    Uma exceo foi o estabelecimento da fbrica de tecidos por cotonicultores paulistas, na dcada de 1870, quando a queda dos preos internacionais do al-godo fez daquela cultura um mau negcio.2 3 A grande maioria dessas fbricas, todavia, passou mais tarde para as mos de comerciantes e importadores de teci-dos: "Dos 13 cotonifcios construdos antes da passagem do sculo em So Paulo, 11, em 1917, eram controlados por finnas importadoras ou por empresrios que tinham comeado como importadores. No mesmo perodo, 21 outras fbricas foram construdas, das quais 16 eram controladas por importadores."24

    A tomada de controle de fbricas por comerciantes de tecidos, quando seus fundadores se viam em dificuldades fmanceiras, tambm registrada nos estados do Nordeste, e parece ter sido comum no perodo.2s

    Os comerciantes-empresrios eram, em muitos casos, varejistas ou atacadistas de tecidos com interesse em negcios de importao. A importao de txteis, que inicialmente fora dominada por negociantes britnicos sediados no Brasil, evoluiu para uma situa'o em que os comerciantes locais mantinham relaes diretas com fabricantes ou fumas comerciais europias, especialmente depois do estabeleci-mento de comunicaes telegrficas entre a Europa e o Brasil.26 Os negociantes de tecidos do Rio eram em geral portugueses; por outro lado a importncia dos imigrantes italianos no comrcio de importao, especialmente em So Paulo,

    '9 Sampaio (1975,p.52,58). 20 Stein (1957, p. 31-3,71,230-1). 21 Id. ibid. p. 100. 22 Mascarenhas (1972, p. 35,118). 23 Canabrava (1959, capo 9). 24 Dean (1969, p. 26-8). 25 Stein (1957, p. 230). 26 RCB (1884); RCB (1899d); Stein (1957, p. 71).

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 11

  • aumentou consideravelmente nas trs dcadas anteriores a 1914. A posio rela-tiva dos imigrantes no comrcio de tecidos explica, portanto, em larga medida, sua destacada participao nos primeiros empreendimentos industriais. 2 7

    Pode-se presumir que os comerciantes de tecidos tivessem, j de in[cio, gran-des vantagens como industriais em potencial. Seu conhecimento do ramo os punha em posio privilegiada para avaliar a lucratividade do novo empreendimento; a familiaridade com os canais de comercializao e o acesso a fontes de fmancia-mento (como os bancos estrangeiros) eram tambm trunfos evidentes. Essas vanta-gens, como sugeriu Aubrey (I955), explicariam tambm a predominncia de inte-resses comerciais nas fases iniciais da industrializao em vrios outros pa[ses de industrializao recente.

    4. Instabilidade cambial e investimento na indstria

    Aceita a hip6tese de que os comerciantes teriam vantagens comparativas como industriais, restaria analisar as condies que efetivamente os levaram a investir no setor manufatureiro. Como se ver a seguir, tal deciso parece ter sido influenciada basicamente por dois fatores: a instabilidade da taxa de cmbio e o efeito prote-cionista das tarifas. Antes, porm, preciso examinar as condies da oferta de mo-de-obra e da procura interna, no perodo.

    4.1 Procura interna e disponibilidade de mo-de-obra

    Embora no se disponha de dados sobre o consumo interno de tecidos de algodo no Brasil, no sculo XIX, claro que as dimenses do mercado no seriam um obstculo ao desenvolvimento da produo nacional, em especial numa indstria onde as economias de escala tm relativamente pouca importncia. Isso pode ser deduzido do volume das importaes brasileiras do Reino Unido, nossa principal fonte de suprimento. Na dcada de 1850, por exemplo, as exportaes de artigos de algod"o do Reino Unido para o Brasil foram em mdia de 128 milhes de jardas por ano, volume equivalente produo total de cerca de 30 fbricas inglesas mdias da poca. Nos trs decnios seguintes, esse comrcio cresceu conti-rruamente, ainda que em ritmo moderado"': l!ma taxa mdia de cerca de 19% por dcada -, declinando a seguir; na dcada de 1880, o Brasil absorveu cerca de 5%

    27 Em 1888, dos 125 atacadistas de tecidos registrados na lista dos contribuintes do imposto de indstria e profisses, 112 eram illglllntes, 60 dos quais portugueses (RMF, 1888, p. 58). Sobre a importncia dos imigrantes italianos no comrcio de So Paulo, veja Dean (1969, cap.4).

    12 R.B.E.1/80

  • do valor total das exportaes da indstria algodoeira britnica, ocupando o quarto lugar entre os maiores importadores nessa rubrica. 28

    Quanto mo-de-obra, os cotonifcios da poca valeram-se de trs fontes principais de oferta.2 9 Gerentes de produo, contramestres e alguns operrios qualificados em geral eram trazidos da Inglaterra, comumente sob contrato a prazo fixo. Os contingentes mais pobres da populao livre forneciam aprendizes e trabalhadores no-qualificados; como comum na indstria txtil, havia entre esses larga proporo de mulheres e crianas. A partir do final do sculo passado, o crescente fluxo de imigrantes veio trazer uma terceira e importante fonte de possveis trabalhadores para a indstria. Em So Paulo, por exemplo, onde se concentrou a corrente imigratria, a mo-de-obra imigrante predominava ampla-mente nas fbricas de tecidos, ao redor da passagem do sculo. 30 O impacto da imigrao fez-se sentir no apenas na expanso da oferta de mo-de-obra como na elevao do nvel mdio de habilitao da fora de trabalho. Em frns da dcada de 1890, por exemplo, observou-se que a disponibilidade de trabalhadores imigrantes possibilitara a instalao de uma estamparia de tecidos em So Paulo, linha de produo que dificilmente poderia ter sido equipada apenas com mo-de-obra nacional, naquela poca. 31

    No entanto, ainda que a participao dos trabalhadores imigrantes tenha vindo a ser t[o importante, no h razo para se supor, que a escassez de mo-de-obra tivesse sido um obstculo insupervel para o desenvolvimento industrial nos anos anteriores ao incio da imigrao em larga escala (isto , antes de meados da dcada de 1880). ~ opinio geral que os operrios nacionais adaptavam-se facil-mente atividade industrial; alm disso, sabido que as tarefas prprias manufa-tura txtil so fceis de aprender, especialmente quando se trata dos tipos mais grosseiros de tecido, seguindo-se da que o nvel de habilitao, ainda que afete a produtividade, no constitui fator limitativo produo.32 Dada a possibilidade de empregar mulheres e crianas, os industriais podiam recrutar para a fora de trabalho contingentes que anteriormente tinham sido subutilizados; era o caso, por exemplo, de crianas e adolescentes provenientes de orfanatos e asilos de menores abandonados, fontes de mo-de-obra barata amplamente utilizadas na poca. 33 Esses trabalhadores eram freqentemente alojados em casas ou dormit-

    18 Dados sobre as exportaes britnicas em AST (vrios nmeros). A produo mdia de um cotonifcio britnico na dcada de 1850 pode ser estimada em torno de 4,4 milhes de jardas anuais, a partir dos dados sobre a produo por tear (em 1859-61) e o nmero mdio de teares em fbricas integradas (em 1850), apresentados por Ellison (1886, p. 69-72). A converso de libra-massa em jardas foi feita razo de 7,5j/lb, conform Fishlow (1972, tab. 1). ,. Veja Stein (1957, capo 7); Clark (1910). 30 Silva (1976, p. 98). 31 RCB (1899b, p. 24).' 31 Stein (1959, p. 60 e seg.); Robson (1957, p. 321). u Stein (1957, p. 47 e seg.).

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 13

  • rios prximos s fbricas, e submetidos a regras severas de disciplina e conduta, no s durante as horas de trabalho mas tambm fora delas. 34 J: significativo o fato de que em 1891 se tenha considerado necessrio restringir legalmente o emprego de crianas em fbricas, estabelecendo-se a idade mnima de 12 anos para tanto; uma exceo foi explicitamente aberta, contudo, para as fbricas de teci-dos, onde se permitiam aprendizes de apenas oito anos de idade (Decreto n.o 1.313, de 17.1.1891). Tambm j se observou que a decadncia das antigas lavou-ras cafeeiras, como ocorreu no Rio de Janeiro no terceiro quartel do sculo passado, liberou m'o-de-obra, especialmente feminina, para outras atividades. 3 5 Mesmo em reas rurais de Minas, onde havia numerosas pequenas fbricas txteis j no comeo da dcada de 1880 (RCB, 1887b), a questo da disponibilidade de trabalhadores no parecia preocupar os empresrios industriais. 36

    4.2 Flutuaes

  • costumeira da concesso de crditos a longo prazo (at um ano) no comrcio de importao. 39 Esse comrcio era em boa parte frnanciado por grandes frrmas exportadoras europias, mas o risco cambial aparentemente cabia ao importador local; em tempos de bruscas desvalorizaes cambiais, no eram poucas as faln-cias de firmas importadoras. De qualquer maneira, a margem necessria para cobrir a possibilidade de variaes cambiais constitua em si mesma uma barreira p.r;ote-cionista para o produtor local.40

    A taxa cambial seguiu tambm uma trajetria aproximadamente cclica na-quela poca, com uma drstica desvalorizao na dcada de 1890 (figura 1). Tudo indica que dois fatores foram principalmente responsveis por tais movimentos. Nas dcadas de 1860 e 1890, o rpido aumento dos meios de pagamento no poderia deixar de se refletir no mercado cambial.41 Em segundo lugar, uma cor-respondncia entre as alteraes da taxa cambial e do preo do caf evidente na figura 1, e tem tido sua importncia ressaltada por vrios autores, em particular Furtado (1959, capo 28). Obviamente, a relao causal vinculando oscilaes do preo do caf e da taxa cambial poderia dar-se num ou noutro sentido; existem indicaes, todavia, de que o preo do caf, especialmente no perodo de 1860-90, era a causa determinante. 42 Segundo Delftm Netto (1973), os movimentos ccli-cos dos preos do caf naquele perodo podem ser basicamente atribudos a caractersticas fsicas da oferta do produto, tais como a reao retardada da quan-tidade produzida a elevaes do preo (devido ao fato de que um cafeeiro leva de quatro a cinco anos para atingir produo plena), e a ocorrncia peri6dica de quedas bruscas nas safras, por motivos climticos. Dessa maneira, os aumentos de preo ocorridos no comeo das dcadas de 1860 e 1870 e no frnal da dcada de 1880 estavam associados a quebras de safra, enquanto os movimentos em sentido oposto, nos perodos intermedirios, parecem ter sido influenciados pelo efeito retardado daqueles aumentos sobre a expanso da oferta 43 Variaes nos meios

    39 RCB (1878, p. 1426-7); RCB (1883, p. 1154). 40 RCB (1899, p. 17); RCB (1873, p. 42); Hutchinson (1910, p. 34-5). 4' O aumento na dcada de 1860 vinculou-se s emisses monetrias feitas para ajudar a financiar a Guerra do Paraguai; o meio circulante (M,) mais do que dobrou entre 1864 e 1870. Em 1890-91, em seguida a uma reforma bancria liberal, o meio circulante triplicou. No perodo intermedirio, seguiu-se uma poltica monetria muito restritiva: em termos per capita, a oferta de moeda na verd!de diminuiu de 20% entre 1869 e 1889. Veja dados em Pelez & Suzigan (1976, tab. A-3); FIBGE (1939/40, p. 1293). 42 Na medida em que as alteraes nos preos do caf se fizessem acompanhar de variaes na receita de exportao no mesmo sentido, uma diminuio no preo estaria associada a uma menor oferta de divisas e uma presso em favor da desvalorizao; em contrapartida, uma desvalorizao provocada, por exemplo, pelo aumento da procura interna de produtos impor-tados provavelmente faria baixar o preo internacional do caf, tendo em vista a parcela predominante do Brasil na oferta total. 43 Delfim Netto (1973, p. 48 e seg.).

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 15

  • 16

    Figura 1 Taxa de cmbio (mil-ris/ i) e preo de exportao do

    caf brasileiro (i/saca), 1860-1913 (Mdias mveis trienais)

    Indice (1870 = 100)---------------------

    400

    300

    Taxa de cmbio

    200

    1oo~---,~--~~~~~----~~--~~----------~---90

    80

    70

    60

    50

    40

    1860

    Preo do caf

    1870 1880 1890

    Fonte dos dados brutos: FIBGE (1939/40, p. 1358, 1377-8).

    1900 1910

    R.B.E. 1/80

  • de pagamento e nos preos do caf explicam estatisticamente a maior parte das oscilaes na taxa de cmbio, desde 1860 at os primeiros anos do sculo XX. 44

    Aparentemente, portanto, era o mercado do caf que em geral impunha seus movimentos cclicos ao mercado cambial.4s provvel, alm disso, que os fluxos de capital estrangeiro reforassem aquela tendncia. Os preos do caf eram geral-mente vistos como um ndice do estado e das perspectivas da economia, de modo que um aumento nos preos funcionava como esHmulo ao investimento externo .

    . Segundo Wileman (1896, p. 68), os maiores influxos de capital para o setor pri-vado ocorriam nos perodos de maior valor externo do mil-ris, "ao contrrio do que normalmente se esperaria". Os investidores estrangeiros seriam mais atrados pelas expectativas favorveis do que desestimulados pelo valor mais baixo de suas moedas em relao ao mil-ris, naqueles perodos.

    Seja como for, evidente que os ciclos da taxa de cmbio contribuam para a instabilidade do comrcio de importao. A incerteza quanto s condies e pers-pectivas dos seus negcios seria em si mesma um incentivo para que os comercian-tes diversificassem seus investimentos de capital. Alm do mais, as variaes peri-dicas da taxa de cmbio favoreciam a substituio de importaes, mediante seus efeitos sobre os preos relativos dos produtos importados. Podem ser ressaltados trs pontos:46

    a) em perodos de desvalorizao cambial, o aumento nos preos de importao exerceria efeito protecionsta sobre a produo interna de bens importveis; b) dado que a desvalorizao se fizesse acompanhar por uma baixa nas im-portaes e na receita dos impostos de importao, o campo estaria preparado para um aumento no percentual de tais impostos, que eram a principal fonte de renda do governo_ Isso traria proteo adicional ao produto brasileiro; c) o aumento subseqente do valor externo do mil-ris poderia, por outro lado, criar condies favorveis para a efetivao de investimentos na indstria,

    44 Uma regresso ligando a taxa de cmbio anual mdia, E, ao preo de exportao do caf em libras esterlinas, C, e oferta monetria (papel-moeda em poder do pblico mais depsitos vista) per capita, M, para o perodo de maiores oscilaes da taxa de cmbio (1860-1906), fornece um coeficiente de determinao R' = 0,86. A equao (com os erros-padro entre parnteses) a seguinte:

    E = 7,13 - 1,77 C + 0,44M (1,6) (0,46) (0,03)

    o coeficiente de Durbin-Watson (0,64), como era de esperar, indica sries de observaes acima e abaixo das estimativas. Dados extrados da FIBGE (1939/40); PeJez & Suzigan (1976). 45 Essa relao era aceita como natural, pelos contemporneos, ~omo se verifica pela seguinte citao retirada do Board of Trade !ouma/: "Se a nova safra [de caf) ... que florescer aproximadamente em fins de outubro, quando poder ser estimada, revelar-se boa, como provvel, uma significativa baixa nos preos parece inevitvel, fato esse que, naturalmente. provocar u,!,a baixa no cmbio". BT! (1902, p. 560-1). (Grifo adicionado.) Veja Versiani & Versiani (1975).

    INDUSTRIALIZA O E EXPORTAO 17

  • medida que o equipamento importado se tornava mais barato. Isso seria especial-mente verdadeiro se os aumentos de tarifas adotados na fase anterior de desvalori-zao no tivessem sido revogados.

    Veremos que as caractersticas dos quatro perodos de maior investimento industrial do apoio a essa argumentao.

    5. Os quatro surtos de investimento

    5.1 Per(odo 1870-75

    Em fms da dcada de 1860 foram adotadas vrias mudanas no sistema tarifrio, como parte do esforo do Governo em aumentar sua receita, tendo em vista o nus fmanceiro representado pela Guerra do Paraguai (1864-70). Em 1867, deter-minou-se que 15% dos direitos alfandegrios fossem pagos em ouro; em 1869, uma nova tabela de tarifas trouxe mais aumentos; no mesmo ano, instituiu-se uma 9:>bretaxa geral de 40% sobre as tarifas, em substituio cota em ourO.47 No caso dos txteis, constituiu protecionismo adicional a adoo, na reforma tarifria de 1869, do peso, ao invs de medidas lineares, como base da taxao. Intencio-nalmente ou no, tipos mais grosseiros de pano, amplamente utilizados no ves-turio dos escravos, por exemplo, foram pesadamente gravados.48 O aumento das tarifas e a desvalorizao do mil-ris, somados ao efeito incentivador dos grandes dficits oramentrios no perodo, produziram um deslocamento na procura, que muito favoreceu os poucos produtores nacionais de artigos industrializados j ento existentes. 49

    No comeo da dcada de 1870, embora a guerra tivesse acabado, o Governo fia0 cedeu s presses no sentido da diminuio das taxas alfandegrias, pretex-tando que o pagamento das dvidas de guerra ainda onerava pesadamente o ora-mento. 50 Apesar de alguns cortes na sobretaxa, a incidncia mdia, em verdade, !Dfreu acentuado aumento no perodo,51 o que tendia a neutralizar o efeito do

    .7 Decretos n.os 1.507 (26.9.1867), 4.343 (22.3.1869), e 1.750 (20.10.1869). A fim de pagar a cota de ouro dos impostos, os importadores tinham de comprar moedas de ouro ou certificados de ouro no mercado, que. eram recebidos pela Alfndega ao valor par oficial (8,889 mil-ris a libra esterlina). Se o preo da libra estivesse 1/3 acima da paridade (como no final da dcada de 1860), uma cota de 15% em ouro representaria um aumento de 5% nas tarifas pagas . 8 RCB (1872, p. 278-81). '9 Veja Luz (1961, p. 34-5). 50 RCB (1872, p. 276-7). SI A taxa tarifria mdia (rendas alfandegrias dividida, pelo valor total das importaes) aumentou de 28%, em 1866-67 -1869-70, para 35s: em 1870-71-1875-76. RMF (vrias nmeros); FIBGE (1939/40, p. 1358).

    loS R.B.E. 1/80

  • alunento do valor externo do mil-ris. Por outro lado, as importaes de maquina-ria (que no eram tributadas) podiam benficiar-se plenamente. do aumento da taxa de cmbio.

    5.2 Per(odc J 880-84

    A segunda metade da dcada de 1870 trouxera alguns contratempos para as inds-trias recm-instaladas. A tendncia descendente dos preos ex ternos de tecidos no foi neutralizada pelos movimentos da taxa de cmbio, o que fez cair o preo interno dos algodes importados (veja o item seguinte). Algumas fbricas registra-ram prejuzos no perodo; premido por dvidas, o maior cotonifcio do Rio pediu ajuda ao Governo (que se negou a prest-la).5 2 Ao mesmo tempo, as neces-sidades financeiras do Governo, agravadas pela calamitosa seca de 1877-79, no apenas tornaram impraticvel a eliminao da sobretaxa alfandegria "temporria" herdada do perodo da guerra, mas, ao contrrio, foraram sucessivos aumentos no geU nvel, que atingiu 607c em 1882. Seguindo a mesma tendncia, foi feita uma nova reforma tarifria em 1879, com feio abertamente protecionista.53

    Nos comeos da dcada de 1880, o aumento no preo das divisas e o efeito da alta das tarifas trouxeram outra vez prosperidade indstria. 54 Por outro lado, provvel que, apesar da posio adversa da taxa de cmbio, os preos internos do equipamento importado no subissem em relao dcada anterior, devido queda do nvel de preos nos pases industrializados.5 5 Nesse sentido, o investi-mento no foi prejudicado pelo preo relativamente alto da libra esterlina no perodo.

    53 Perz'odo 1889-95

    Nesse perodo verificou-se uma drstica expanso nos meios de pagamento, acom-panhada por um atlmento igualmente drstico no preo das divisas (flglira 1). Ademais, os direitos alfandegrios tinham dado um salto para cima no fmal da

    52 Luz (1961, p. 38-9); Mascarenhas (1972, p. 253). " Luz(1961,~ 49). 54 A queda nas importaes de domestics constitui prova indireta desse fato; veja texto. Dados sobre os lucros das fbricas Mascarenhas, em Minas Gerais, revelam uma reviravolta brusca em 1879, depois de um perodo de maus resultados. Mascarenhas (1972, p. 254). ss Embora no haja documentao direta sobre os preos do equipamento importado, significativo que o ndice de preos de produtos industriais da Inglaterra, multiplicado pelq ndice do preo da libra esterlina em mil-ris, tenha cado de 116, em 1870-74, para 104, em 1880-84, e 91, em 1885-89 (1875-79 = 100). Dados de base extrados de Mitchell (1962, p. 472) e FlBGE (1939(40, p. 1353-4). Os equipamentos txteis eram importados principal-mente da Inglaterra.

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 19

  • dcada de 1880.56 Para os produtores nacionais, essa foi uma poca de prosperi-dade sem precedentes. Uma maneira de acompanhar o desempenho da indstria nesse perodo, conforme observou Clark (1910), examinar os dividendos distri-budos pelas fbricas menores, pois as maiores em geral eram mais moderadas em suas polticas de distribuio de dividendos. A julgar por essa medida, no se pode duvidar da situao privilegiada do setor, especialmente em 1892-94. O recorde de liberalidade num nico ano parece ter pertencido a uma fbrica em Caxias, Ma-ranho, que pagou 76% de dividendos em 1892; mas talvez mais felizes tenham ficado os acionistas de uma fbrica de Alagoas, que receberam 49% em 1892,50% em 1893 e 47% em 1894. Outros exemplos de dividendos excepcionalmente altos nesses anos tambm se registraram em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. 5 7

    A rpida desvalorizao do mil-ris foi, naturalmente, em grande parte uma conseqncia da expanso monetria. O pleno impacto desta ltima no mercado cambial, todavia, parece ter-se feito sentir somente depois de certo lapso de tempo, segundo observou Fishlow (1972), o que se aplica de modo especial a 1890: enquanto dobrava a oferta de moeda, o preo da libra esterlina aumentou de apenas 17% em relao ao ano anterior. 58 Em decorrncia, as condies foram particularmente favorveis para o investimento, no comeo da dcada de 1890: a procura expandia-se, o crdito era fcil e as importaes de maquinaria ainda eram relativamente baratas. 59

    5.4 Perlada 1907-13

    Esse perodo tambm foi precedido de anos de bons resultados para as fbricas, que se seguiu a uma crise geral em fms da dcada de 1890.60 A desvalorizao cambial no foi, dessa vez, importante como mecanismo protecionista: os anos prsperos da indstria, depois de 1900, coincidiram, na verdade, com uma eleva-o do valor externo do mil-ris. Contudo, como veremos no prximo item, esse fato foi em grande parte neutralizado pelo aumento das tarifas depois da virada do

    ~culo. Como as importaes de txteis de algodo no Brasil no variaram de maneira significativa de 1900 a 1913, o aumento da produo interna durante esse perodo no foi tanto um processo de substituio de importaes como de "pre-

    56 Parcialmente, em decorrncia da preocupao acerca da maior concorrncia que a inds tria nacional tinha de enfrentar, devido valorizao do mil-ris; veja texto a seguir. 57 Clark (1910, p. 44-5); RCB (1895b, p. 9); Wileman (1896, p. 218); Mascarenhas (1972, p. 254). 58 Veja PeIez & Suzigan (1976, tabela A-3, dados sobre M,); FlBGE (1939/40, p. 1358). 59 O aumento no fluxo de imigrantes, especialmente depois da abolio da escravatura em 1888, constituiu sem dvida outro fator favorvel, em particular graas a seu efeito sobre a disponibilidade de mo-de-obra qualificada. 60 Veja Clark (1910, p. 45); RCB (1897a); RCB (1897b); RCB (1899d).

    20 R.B.E. 1/80

  • veno de importaes". O crescimento subjacente da procura interna relaciona-va-se, certamente, com o aumento da receita de exportao do caf ocorrido na poca, como indicou Fishlow (1972).

    Por outro lado, as importa~es de maquinaria certamente foram beneficiadas pela tendncia decrescente do preo das divisas (figura 1).

    Tudo indica, ento, que os quatro surtos de investimento vincularam-se a aumentos na proteo ao produto nacional e a condies favorveis para a impor-tao de maquinaria resultantes tanto de movimentos da taxa de cmbio como da poltica tarifria governamental. Conforme se indicou anteriormente, o incio da dcada de 1890 destacou-se por ser um perodo em que a conjuno desses ele-mentos foi particularmente propcia, criando condies para a rpida expanso da produ'o.

    6. Fontes de financiamento

    Como foi mencionado, os dados disponveis indicam que o capital acumulado no comrcio importador txtil constituiu uma fonte considervel de recursos para a instala'o das primeiras fbricas. tambm sabido que alguns bancos tomaram parte ativa, em vrios casos, no financiamento dessas fbricas, especialmente bancos estrangeiros com atua'o no comrcio exterior brasileiro. 61

    Afora o episdio da dcada de 1870, quando uma queda repentina nos preos do algod'o exportado impeliu alguns cotonicultores produo de tecidos, no h provas de que o setor agroexportador tenha sido diretamente uma fonte impor-tante de capital para a nova atividade (muito embora haja ainda muito o que pesquisar, nessa rea especfica). O estudo de Warren Dean sobre a industrializao de So Paulo mostrou que, embora muitos cafeicultores tenham aplicado capitais fora de seu setor, no perodo de que nos ocupamos (em parte devido s quedas bruscas do preo do produto, desencorajando reinvestimentos), eles em geral se restringiam a atividades mais diretamente ligadas ao caf, como a construo de ferrovias at as novas regies de cultivo.62 A indstria de bens de consumo prova-velmente pareceria um risco muito grande aos cafeicultores, em compa(ao com outras possveis reas de investimento.

    Seria possvel, naturalmente, que o setor exportador financiasse a indstria indiretamente, com a mediao do sistema bancrio ou do incipiente mercado de aes. Sabe-se, por exemplo, que uma grande fbrica paulista era de propriedade de um banco fundado por cafeicultores;63 e provvel que, durante a febre especuladora do Encilhamento, certo volume de pequenas poupanas flusse para

    61 Stein (1957, capo 3,6); Dean (1969, capo 4). 62 Dean (1969, capo 3, 4). 63 Cano (1975, p. 185, 188).

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 21

  • fIrmas que ento se formavam, ou que aumentavam seu capital. 64 Mas o receio de perda de controle das fIrmas, por parte de seus fundadores, representaria um obstculo a qualquer partilha signifIcativa da propriedade; dado que a empresa txtil tpica fosse controlada basicamente por interesses comerciais, pouco pro-vvel que houvesse participao pondervel de capitais de outras fontes, a no ser talvez para crditos a curto prazo.

    O reinvestimento de lucros, por outro lado, parece ter desempenhado um papel de enorme relevo na expanso da indstria. Na dcada de 1890, por exemplo, o rpido aumento ocorrido na capacidade produtiva deveu-se em grande parte ao crescimento das empresas preexistentes. Na regio do Rio (onde a inds-tria se concentrava de modo especial, na poca), pode-se calcular que a ampliao de fbricas fundadas antes de 1889 foi responsvel por metade do aumento total da capacidade, entre 1885 e 1899. 65 Dados sobre a evoluo do capital social das principais fbricas do Rio mostram que essa expanso foi fmanciada preponderan-temente pelo reinvestimento de lucros. 66

    Uma associao entre o tamanho das fumas txteis e sua propenso ao rein-vestimento foi observada por Clark (1910); seus dados sobre as maiores fbricas do Rio mostram que perto de 6Wc de seu capital social em 1910 correspondianl a aumentos de capital feitos em 1891-95, fmanciados principalmente pelo reinvesti-mento de lucros. Outro indio que aponta para a mesma direo surge da compa-rao do quociente das reservas sobre o capital, entre as fbricas cujas aes eram negociadas na bolsa de valores do Rio: nas sete fbricas maiores, as reservas repre-sentavam em mdia 62% do capital em meados de 1905 (ou seja, depois de um perodo de bons resultados), o que mostra uma tendncia para reaplicar os lucros em vez de distribU-los; nas outras 14 companhias o quociente era de apenas 10%.67 O quadro que tais dados sugerem o de uma indstria que crescia pnn-cipalmente pela expanso de firmas antigas, fmanciada pela reinverso dos lucros.

    Pode-se apenas especular a respeito das caractersticas das firmas que reinves-tiam seUS lucros (e cresciam), em contraste com as demais, que por no reinves-tirem condenavam-se estagnao. Mas podemos apreciar alguma coisa do "con-flito faustiano entre a paixo de acumular e o desejo de usufruir", de que nos diz Marx, observando a evoluo da poltica de dividendos da Cedro e Cachoeira, uma empresa de propriedade familiar, de Minas Gerais. De 1887 a 1894, essa firma

    ... O caso da maior fbrica fundada 110 comeo da dcada de 1890. um dos raro, cOlOntfClO' cuja evoluo foi estudada, constitui um bom exemplo. Instalada em 1891, na Bahia. a fbrica Emprio tinha cerca de 30% de seu capital nas mos dos fundadores, trs comerCIantes de tecidos, e de um banco; cada um dos outros 146 acionistas possua menos de 2\~ da, ac,. Sampaio (1972, capo 2). 6. Do aumento total no nmero de teares no estado e na cidade do Rio de Janeiro, entre 1885 e 1899, 49,5% correspondiam a ampliaes de fbricas fundadas antes de 1888. con-forme dados em Branner (1885); RCB (1886); RCB (l895a); RCB 0899c). 66 Versiani & Versiani (1975). 6' Computado a partir de dados em Cunha V~sco ( 1910).

    22 R.B.E. 1/80

  • obteve bons lucros (uma mdia de 25% por ano sobre o capital), e pagou dividen-dos mdios de no menos que 22% anuais. Na crise do final da dcada de 1890, a firma enfrentou srios problemas de fluxo de caixa, mas esse fato no foi julgado suficiente para uma mudana na poltica de distribuio dos resultados: os acionis-tas continuaram recebendo seus altos dividendos. No entanto, devido ao estado das finanas da empresa, tais dividendos tinham que ser recolhidos pelos acionistas em espcie ~em peas de tecido), ou ento sob a forma de vales - sobre os quais a empresa se obrigava a pagar juros anuais de 5%. Obviamente, os donos da empresa, uma famlia de prsperos comerciantes e fazendeiros, a viam menos como capita-listas que como rentistas: era como se a fmna, uma vez fundada e tendo adquirido personalidade distinta da de seus proprietrios, passasse a ter obrigaes contra-tuais para com eles. Aps muita discusso na diretoria da fmna, onde uma minoria propunha o estabelecimento de um teto para os dividendos e maiores reservas para renovao do equipamento, fmalmente foi aprovado um dividendo mximo de 12%, em 1900. A essa altura, no entanto, a fmna j deixara passar a grande oportunidade de se expandir ou modernizar-se com recursos prprios: a taxa mdia de lucro, at 1913, foi de apenas 9%.68 Este exemplo tambm ilustra bem a importncia que teve para a indstria o surto do incio da dcada de 1890: foi uma poca de altos lucros e um sinal de oportunidades de expanso. Firmas como a Fiao e Tecidos de Pernambuco, aproveitaram a deixa: fixando-se num divi-dendo de somente 1O'7c ao ano, ela conseguiu quase quadruplicar sua capacidade de produo, em 1890-94, apenas com recursos do reinvestimento de lucros. 69

    7. O efeito protecionista das tarifas

    A idia de que a barreira tarifria tenha proporcionado incentivo para o investi-mento industrial poderia levantar certas dvidas. O sistema tarifrio, na poca, destinava-se basicamente a proporcionar receita, mais do que proteo; na ver-dade, seria de esperar que prevalecessem polticas de livre-comrcio numa socieda-de em que os interesses da elite de proprietrios rurais exportadores eram clara-mente preponderantes. As sucessivas reformas tarifrias adotadas at 1900 mostram que taxas altas sobre a importao eram consideradas em geral como um mal necessrio: aumentos de tarifas, institudos em regra sob a presso de crises fmanceiras, eram sempre seguidos de uma reao no sentido da liberalizao. 7 o Esses fatos levaram noo amplamente aceita, de que o efeito protecionista das tarifas no foi importante no perodo. 71

    68 Mascarenhas (19721. 69 RCB (1895bl. 70 Luz (1961). 71 Veja, por exemplo. Fishlow (19721.

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTA.40 23

  • Na verdade, no se sabe muita coisa quanto margem de aumento nos preos dos produtos importados provocada pelas tarifas: no fcil saber qual era o nvel das taxas tarifrias, num dado ano. Os impostos de importao eram cobrados com base em percentagens aplicadas a uma lista oficial de preos de bens import-veis (que s podia ser alterada por voto do Parlamento). Ainda que se admita que essas listas refletissem corretamente os preos de mercado ao serem preparadas (hiptese duvidosa, pois s vezes se organizava uma nova lista simplesmente au-mentando todos os preos da lista anterior numa mesma proporo), claro que as variaes de preos de mercado ocorridas no perodo entre as mudanas nos preos oficiais podiam alterar significativamente o nus relativo das tarifas. Ora, difcil acompanhar a prpria evoluo dos preos de mercado das importaes, no perodo, pois as estatsticas sobre o comrcio brasileiro para os anos anteriores a 1901 apenas indicam o valor "oficial" das importaes (isto , o valor computado com uso dos preos da lista oficial).

    O ndice de taxas alfandegrias implcitas para tecidos de algodo, apresen-tado na tabela 5, uma tentativa de esclarecimento da questo. O ndice baseia-se em tarifas lanadas sobre tipos de tecido de algodo que podem ser considerados representativos da produo nacional na poca. A ttulo de indicador dos preos de importao, utiliza-se o ndice de preos das exportaes de txteis de algodo do Reino Unido. O mtodo de construo e as fontes de dados so apresentados no anexo 2.

    Tabela 5 Brasil: efeitos das tarifas sobre os preos de importao

    de txteis de algodo. 1870-1913 (1870 = 100, mdias do perodo)

    Preos de Taxas Preos internos perodo importao alfandegrias estimados

    (A) (B) (C) = (A) X (B)

    1870-1875 86 103 89 1876-1879 77 110 84 1880-1884 78 113 88 1885-1888 69 124 85 1889-1895 100 132 130 1896-1900 163 126 204 1901-1906 115 162 186 1907-1913 113 168 189

    Fontes e mtodos: (A) Preo mdio de peas de algodo exportados do Reino Unido. de Mitchell & Jones (1971. p. 195). convertido em mil-ris s taxas de cmbio dadas em FIBGE (1939/40. p. 1353). (B) Veja anexo 2.

    24 R.B.E.l/80

  • A tabela 5 mostra que o ndice resultante (coluna B) nos oferece algumas surpresas, tendo em vista a opinio mais corrente a esse respeito. Em primeiro lugar, um movimento persistente de alta se verifica (com exceo do fmal da dcada de 1890): apesar das freqentes mudanas nas tarifas, clara a tendncia para uma barreira protecionista sempre em crescimento. significativo observar que, no ano-base de 1870, as taxas nominais, que nesse caso provavelmente esta-vam prximas das taxas reais, j alcanavam quase 50% (anexo 2). Em segundo lugar, evidente que as tarifas eram importante fator da tendncia ascendente dos preos em mil-ris das importaes de tecidos. Isso se evidencia pela comparao dos ndices da coluna A (preos das exportaes britnicas de algodo, em mil-ris), e da coluna C; os primeiros podem ser tomados como ndices dos preos internos dos txteis importados, excluso feita das tarifas, enquanto os ltimos apontam para a evoluo dos preos pagos pelos importadores, inclusive os impos-tos alfandegrios. Tanto na dcada de 1880 como no incio do sculo, a queda nos preos de importao (coluna A) foi em larga medida compensada pelo aumento nas taxas alfandegrias. O que ocorreu no segundo desses perodos particular-mente notvel, quando se considera a queda repentina nos preos de importao antes das tarifas, de 1896-1900 a 1901-1906 (causada pela valorizao do mil-ris no perodo). Na ausncia do efeito compensatrio das tarifas, os produtores nacio-nais teriam certamente enfrentado grave crise diante da concorrncia de produtos importados mais baratos.

    Esses resultados levam a crer que a combinao de aumentos tarifrios e desvalorizaes cambiais forneceu um ntido e continuado sistema de proteo s fbricas nacionais, a partir de 1870. Os aumentos do preo das divisas na dcada de 1890, no comeo da dcada de 1880 e no fmal da dcada de 1860 foram seguidos de nveis mais altos de proteo alfandegria, o que defendeu os produto-res nacionais do efeito de subseqentes valorizaes do mil-ris. Assim, embora as desvalorizaes cambiais tivessem importantes efeitos protecionistas a curto prazo, uma proteo duradoura foi assegurada principalmente pelo sistema tarifrio.

    7.1 O lado polftico da questo tarzfria

    Se os argumentos expostos so corretos, por que ento as peridicas reformas liberalizantes no conseguiram impedir a tendncia para um protecionismo cres-cente? Uma das razes, sem dvida, foi a prpria queda nos preos dos txteis importados nas dcadas de 1870 e 1880 (em decorrncia da baixa dos preos britnicos na depresso daquele perodo), e novamente na primeira dcada do sculo atual (em seguida valorizao do mil-ris). Pode-se presumir que a re~lStncia contra a imposio de tarifas se relacionaria principalmente com seu efeito sobre o preo final das importaes; o nvel implcito de proteo no seria uma questa-o de preocupao geral. Numa situao de baixa dos preos externos, seria comparativamente fcil, em termos polticos, manter certo nvel absoluto de im-

    INDUSTRIALlZAAOE EXPORTAO 25

  • postos de importao, e at mesmo elev-lo. Naturalmente, a simples manuteno das mesmas tarifas quando os preos dos produtos importados estivessem baixando significaria um aumento no nvel relativo de proteo.

    Em segundo lugar, seria de esperar que as autoridades fmanceiras, premidas por um dficit oramentrio crnico, vissem com grande agrado qualquer oportu-nidade de aumentar as receitas do governo. 72 Nesse ponto, todavia, os limites de ao definidos pela viabilidade poltica eram bastante restritos. O recurso a algu-mas das fontes de renda mais bvias era eficazmente obstrudo pela influncia dos grandes proprietrios de terras sobre as decises governamentais: um modesto imposto territorial, por exemplo, muitas vezes discutido e proposto, nunca chegou a ser institudo, sob a alegao de que seria muito difcil de aplicar e arrecadar. 73 Os impostos de exportao eram baixos e deixaram de proporcionar rendas para o governo central quando, aps a Constituio republicna de 1891, o direito de tributar exportaes foi reservado aos estados. Em conseqncia, as tarifas sobre importaes continuaram a ser, de longe, a principal fonte de receita governa-mental at a I Guerra Mundial; a participao da arrecadao alfandegria na receita total flutuou ao redor de 6W~ entre 1860 e 1914. 74

    As tarifas sobre tecidos de algodo constituam importante proporo das rendas alfandegrias: perto de 30%, em 1878-82.75 Pode-se sustentar que as ca-ractersticas da procura de algodes importados faziam com que esses artigos se prestassem de modo especial a propiciar aumentos de receita, a curto prazo (ou, pelo menos, pode-se dizer que as autoridades fmanceiras tinham razes fortes para acreditar que assim fosse). Uma investigao oficial sobre os efeitos da tarifa de 1844 comprovara, por exemplo, que a duplicao das taxas sobre artigos de al-godo fora seguida de uma diminuio de 10% nas importaes, ao mesmo tempo em que a receita alfandegria nessa rubrica aumentara um tero.76 Uma reao tambm positiva da receita referente aos txteis de algodo seguiu-se ao aumento das taxas da reforma tarifria de 1879, geralmente considerada de efeito protecio-nista. 77 A noo de que, no que se refere a tarifas, "os interesses fiscais e indus-triais estavam em harmonia" ,78 embora um tanto simplista como generalizao, era provavelmente verdadeira no caso dos tecidos.

    Se a adoo de tarifas protecionistas foi facilitada pela queda dos preos de

    72 Entre 1860 e 1913, os gastos governamentais excederam em mdia as receitas anuais em 23%. FIBGE (1939/40, p. 1410). 73 RCB (1885. p. 399-400); Normano (1935, capo 5). 74 Quanto aos dados sobre a composio das rendas governamentais, veja RMF (vrios nmeros). A importncia relativa das rendas alfandegrias tendeu a diminuir at 1890, mas aumentou novamente no governo republicano, atingindo o mximo de 75% da receita total, em 1892-97. 75 RCB (1885). 76 Comis,o Encarregada da Reviso ... (\ 85 3a). 77 Conforme RCB (1885. p. 365-6). 78 Normano (1935, p. 141).

    16 R.B.E.l/80

  • importao e pelas necessidades de renda por parte do Governo, ela foi tambm ativamente pleiteada pelos prprios industriais. A presso de suas reivindicaes, com o apoio de correntes nacionalistas do Parlamento e da imprensa, fez-se sentir com fora crescente nas ltimas dcadas do sculo XIX. 79 Diversos dispositivos legislativos de feio nitidamente protecionista foram aprovados na dcada de 1880. Na Lei Oramentria de 1888, por exemplo, o Governo ficava autorizado a aplicar uma sobretaxa alfandegria, com o propsito de compensar os industriais nacionais pela valorizao do mil-ris e, especificamente, a aumentar os direitos sobre artigos de algodo e juta, "para o fim de no sofrerem com a concorrncia iguais produtos de fbricas nacionais".80 Em 1887, a inexistncia de similar pro-duzido no Pas passou a ser condio para iseno tarifria, uma verso inicial da Lei dos Similares, que desempenharia papel to importante em fases posteriores do processo de industrializao.81 Tambm constitui indicao do peso dos inte-resses da indstria o fato de que as fbricas de algodo, as fundies e os estalei-ros, sem outra justificativa aparente seno o protecionismo, foram isentos do novo imposto sobre indstrias e profisses, logo aps sua aprovao, em 1869.82

    interessante que, mesmo no mbito das provncias, onde a influncia dos interesses agrcolas deveria ser relativamente maior, manifestava-se freqente-mente uma aliana entre as necessidades fiscais da administrao local e o em-penho dos industriais a favor de uma poltica protecionista. Isso se observou, por exemplo, no ca:;o do imposto adicional sobre exportao de bens embarcados na Bahia em sacos que no fossem produzidos naquela provncia, instituo j em 1849. O imposto aparentemente era importante elemento protecionista para a incipiente indstria txtil da Bahia; quando ele foi abolido, mais tarde, os donos das fbricas reivindicaram com sucesso seu restabelecimento.83 As tarifas provin-ciais de importao (as quais, apesar de repetidanlente declaradas inconstitucionais pelo governo imperial, geralmente reapareciam sob diferentes disfarces) foram tambm usadas como instrumento de proteo s manufaturas locais.84

    O poder de barganha dos industriais parece ter aumentado depois de 1889, sob o novo regime republicano. Nos primeiros anos, pelo menos, o Governo real-mente considerava o fortalecimento do setor industrial uma garantia da nova ordem: "o desenvolvimento da indstria no .somente para a Nao uma questo econmica; , mais do que tudo, uma questo poltica", escreveu o ministro da

    79 Luz (1961. capo 3,4). 80 Lei n.o 3.396, de 14.11.1888. Um dispo,itivo protcL'iolli\la allclo!!o jc OIl\t.i\a ,Li LL'I Oramentria de 1886. 81 Lei n.o 3.348, de 10.10.1887. A clusula ,obre ",imilare'" 1'01 pO'iL'riOrlllL'lltc ''pliutad.1 pelos Decretos 11. 947 -A, de 4.11.1890. e 8.591. de 8.3.1911. Sobre CI imporlClllICI d.1 LL'I do\ Similares, veja Bacr (1965). 82 Veja a Lei Oramentria de 1870 (Lei 11. 1.836, de 27.9.1870). A 1 \L' 11 ,'cio 1'01 l11ai\ lar,k incorporada ao decreto que regulamelltava impo,to (Decreto n 5.690, ,k 15.7.1 H 741. 83 Stein (1957, p. 21); Sampaio (1975, p. 55 e seg.). 84 Sampaio 0975, p. 55-6); RCB (1884, p. 1603).

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 27

  • Fazenda, Rui Barbosa, na introduo do decreto que estabelecia uma nova tarifa em 1890 (Decreto n.o 836, de 10.11.90). Sem dvida, aumentou a influncia da indstria sobre a determinao da poltica tarifria na Repblica, segundo Luz (1961). significativo, por exemplo, que aumentos nas cotas em ouro, principal instrumento da elevao das tarifas depois de 1900, eram comumente precedidos de intensas campanhas a seu favor, por parte dos industriais algodoeiros, ainda de acordo com Luz (1961).

    7.2 O m'vel interno de preos e a tendncia supervalorizao do mil-ris

    Uma lacuna da anlise acima que no se levou em conta o comportamento de outros preos que no os dos txteis importados; a capacidade competitiva da produo interna tambm poderia, contudo, ser afetada por alteraes no nvel interno de preos. Sucede, no entanto, que dados diretos sobre o comportamento dos preos no Brasil no sculo XIX so muito escassos. Um dos poucos ndices disponveis para um perodo prolongado o compilado por Lobo e outros (l971), referente ao preo de alguns alimentos de primeira necessidade na cidade do Rio de Janeiro. Embora sua cobertura seja muito reduzida, o ndice pode ser til na ilustrao de tendncias de longo prazo.

    O ndice de Lobo mostra uma tendncia ascendente nos preos de alimentos na segunda metade do sculo XIX (tabela 6, coluna A). Pode-se presumir que isso

    ~ refletiria num aumento dos custos de mo-de-obra para os donos das fbricas; Stein (1957, capo 7), de fato, menciona alguns dados nesse sentido. Assim, embora o incipiente setor manufatureiro contasse com uma oferta de m'o-de-obra que era, dentro de certos limites, provavelmente elstica, como indicamos acima, ele se defrontou com um custo crescente de reproduo dessa fora de trabalho, naquele perodo.

    As colunas B e C da tabela 6 mostram os resultados da deflao das sries de preos em mil-ris dos tecidos de algodo importados, da tabela 5, mediante o ndice de Lobo. Tendo em vista que os salrios eram o principal custo diferencial de produo das fbricas nacionais em relao aos produtores do exterior, os algarismos dessas colunas podem ser considerados um indicador rudimentar dos preos dos txteis importados expressos em termos dos custos locais de pro-duo. 85 Nessa suposio, a tendncia revelada na coluna B implica uma baixa

    85 Matria-prima e mo-d~bra respondiam por 70 a 80% dos custos totais. O algodo, sendo uma cultura de exportao no Brasil, tinha seu preo determinado pelo mercado mundial; as fbricas nacionais no podiam contar com qualquer vantagem significativa quanto aos custos, por essa parte, tanto mais que as mesmas taxas de exportao eram aplicadas pelos estados produtores de algodo, do Nordeste, mercadoria vendida para o exterior como quela despachada para os estados do Sul. Quando o valor externo do mil-ris baixava, por exemplo, as fbricas nacionais tinham de enfrentar com um aumento dos preos do algodo brasileiro no equivalente ao valor em mil-ris das cotaes da bolsa de Liverpool. Cunha Vasco (1910); Sampaio (1972); RCB (1899b); RCB (1900).

    28 R.B.E. 1/80

  • contnua e muito acentuada na capacidade competitiva da produo local, relati-vamen te s importaes, em todo o perodo de 1860-1913, se no se consideram as tarifas. Por outro lado, o ndice da coluna C, que toma em considerao o efeito das tarifas, indica uma reverso dessa tendncia a partir de 188594, tornando-se as importaes mais caras em termos dos custos internos. Esses resultados confir-mam mais uma vez o papel crucial desempenhado pela proteo tarifria, e suge-rem tambm uma explicao adicional para a rpida expanso da indstria, depois de meados da dcada de 1880.

    Tabela 6 Estimativas dos preos reais das importaes brasileiras de

    txteis de algodo, 1850-1913

    Perodo

    18501859 18601869 1870-1874 1875-1884 1885-1894 1895-1904 1905-1913

    (1870 74 = 100, mdias do perodo)

    Preos dos "Preos reais alimentos de importao"

    no Rio sem tarifas (A) (B)

    49 169 72 177

    100 100 114 77 137 71 244 67 222 56

    "Preos reais de importao"

    com tarifas (C)

    100 83 89 90 92

    Fontes e mtodo: (A) Preos dos alimentos no Rio, de Lobo (1971, tabela 1, sries com pesos de 1919); (B) ndice de preos de importao da tabela 5, coluna A, deflacionados pelo ndice de preos dos alimentos no Rio em (A); (C) ndice de preos de importao da tabela 5, coluna C, deflacionados da mesma maneira.

    A persistente tendncia ao decrscimo verificada no ndice da coluna B (ta-bela 6) , em si mesma, um fenmeno extremamente interessante, na medida em que possa ser conflITTlada com dados de base mais ampla. H, de fato, indicaes de que tal tendncia descendente persistiria, mesmo se fossem usados indicadores mais gerais dos nveis de preos internos e externos. 86 Em outras palavras, teria havido uma tendncia a longo prazo no sentido da supervalorizao do mil-ris, no

    56 A tendncia rnantm-se, por exemplo, se um ndice geral de preos para a Inglaterra (veja Mitchell, 1962, p. 471-2) torna o lugar dos preos de exportao do algodo. Por outro lado, alguns outros dados disponveis sobre preos brasileiros no perodo, com os quais nody (1960, P. 25) construiu um ndice rudimentar para alguns anos isolados, mostram urna tendncia a longo prazo similar ao ndice de Lobo.

    INDUSTRlALIZAOE EXPORTAO 29

  • sculo XIX, em termos do padro da paridade do poder aquisitivo. No podemos alongar-nos aqui sobre esse ponto; mas ele pode abrir novas possibilidades na interpretao de alguns aspectos do desenvolvimento da economia brasileira, no perodo considerado.8 7

    8. Concluso

    Dois tipos principais de indagao se apresentam, no que toca industrializao de economias perifricas de exportao: as que se relacionam com os impulsos do processo, e as que dizem respeito s origens do capital e do trabalho para o novo setor.

    De acordo com Hirschman (1968), o impulso para a industrializao substitu-tiva de importaes geralmente se explica em termos de uma das trs foras causais seguintes: guerras e dificuldades do balano de pagamentos, crescimento gradual da renda por meio da expanso das exportaes, ou polticas desenvolvi-mentistas deliberadas. A evoluo da indstria algodoeira do Brasil antes de 1914, que analisamos aqui, mostra que embora o crescimento da renda suscitado pelas exportaes proporcionasse um mercado em expanso para a nova atividade, especialmente depois do comeo do sculo XX, o estmulo para o desenvolvi-mento da produo nacional deveu-se a dois fatores:

    a) o efeito protecionista do sistema tarifrio. Os dados que examinamos indicam que, na ausncia da barreira tarifria gradualmente levantada na segunda metade do sculo passado, o investimento industrial dificilmente teria resultado lucrativo, no perodo em quest'o; b) desequilbrios no setor externo, sob a forma de freqentes e por vezes drsti-cas oscilaes na taxa de cmbio. Esses desequilbrios, conforme vimos, vincula-ram-se em larga medida ao comportamento dos preos do caf e a variaes na oferta de moeda.

    O protecionismo tarifrio no decorreu, na poca, de uma "poltica desenvol-vimentista deliberada", mas basicamente das prticas de conduo das fmanas pblicas que ent"o prevaleciam; fator importante dessas prticas, sem dvida, foi a resistncia da elite agroexportadora a outras formas mais diretas de tributao. Seria, porm, um erro considerar o protecionismo um mero subproduto de um sistema tarifrio de orientao fiscal: o prprio fato de que o efeito protecionista das tarifas tenha crescido continuadamente, pelo menos a partir de 1870, nos leva

    ., Poder, por exemplo, ajudar a explicar o incio relativamente tardio de um processo de diversificao da estrutura produtiva no sculo XIX; veja Leff (1972). Uma explicao da te'ndncia alta dos preos internos subirem no perodo considerado talvez seja o decrscimo nas culturas de produtos alimentcios, conseqente rpida expanso das lavouras de caf, na segunda metade do sculo. Veja Martins (1973, p. 65-114).

    30 R.B.E. 1/80

  • a crer que esse tenha sido tambm um objetivo intencional da polftica de tarifas. O surgimento de um ncleo industrial traria por si mesmo cena novas foras sociais e novos interesses adquiridos, que trabalhariam pela preservao e expanso da nova atividade. A poltica tarifria no poderia deixar de ser influenciada por tais mudanas.

    Quanto oferta de mo-de-obra, tudo indica que existia uma ampla reserva de trabalho no-qualificado, barato, a ser mobilizada pelas fbricas de tecidos, tanto nas reas urbanas quanto rurais, constituda de mulheres e menores de idade. No que diz respeito s fontes de capital e de iniciativa empresarial, os dados disponveis apontam finnemente para a preponderncia do papel desempenhado pelos comerciantes de tecidos. O reinvestimento de lucros foi tambm outra fonte muito importante de recursos. A idia de que o setor cafeeiro possa ter sido um grande fornecedor direto de capital para a indstria no encontra apoio nos dados analisados neste trabalho.

    O que tais dados sugerem que as relaes entre o setor de exportao agrcola e as novas atividades industriais seguiram um padro muito mais complexo do que algumas interpretaes correntes poderiam levar a crer. A emer-gncia da manufatura txtil como um campo para investimento dificilmente pode ser vinculada de um modo mecnico a crises na estrutura tradicional de expor-tao e importao, como pretendem algumas verses extremadas do argumento dos "choques adversos"; veja Frank (1969, capo 3). De fato, como se indicou anteriormente, o investimento na produo nacional tendeu a coincidir com pero-dos de bom desempenho da exportao (e valor externo relativamente alto do mil-ris).

    Por outro lado, uma relao direta entre os surtos de exportao (como os ocorridos na dcada de 1890) e o crescimento do capital industrial tambm no parece convincente ou justificada. Vimos que a expanso da capacidade produtiva industrial foi um processo mais gradual do que comumente se tem per.cebido: a oferta interna pde atender, como o fez, ao acrscimo da procura verificado na dcada de 1890, em grande parte devido ao desenvolvimento prvio da indstria. possvel afirmar, sem dvida, que o comportamento dos preos do caf favore-ceu indiretamente aquele desenvolvimento (confonne vimos); mas isso se deu apenas porque o sistema tarifrio protegia efetivamente os produtores locais das piores conseqncias das peridicas valorizaes do mil-ris. Nesse sentido, a in-dustrializao no perodo considerado no foi um processo "espontneo"; seria obviamente incorreto interpret-la segundo os modelos correntes de comrcio e desenvolvimento baseados num "produto bsico" (staple growth models).88

    As constataes acima indicam certas semelhanas entre o perodo estudado e o processo de industrializao posterior a 1914. Fases peridicas de aumento de produo, por exemplo, ocorreram em ambos os perodos; veja tabela 1; a

    88 A descrio analtica clssica de um processo de crescimento baseado num "produto bsico" a de Caves (1965).

    lNDUSTRlALlZAO~ EXPORTAO 31

  • importncia dos lucros gerados por essas expanses da procura no fmanciamento de subseqentes aumentos da capacidade de produo, antes de 1914, lembra argumentos semelhantes em relao aos surtos de produo durante a I Guerra M~ndial, 89 e na dcada de 1930.90 O papel do protecionismo tarifrio antes de 1914 tambm susci ta uma analogia com eventos posteriores; comparar Bergsman (1971). Surtos na procura interna e polticas governamentais favorveis (embora nem sempre intencionais) parecem ter sido fatores bsicos nas etapas iniciais do crescimento do capital industrial no Brasil.

    8' Fishlow (1972). 90 Furtado (1959, capo 32).

    32 RB.E. 1/80

  • Anexo 1

    Datas de fundao dos cotonifcios existentes em 1905

    a) fundados antes de 1870 - Santo Antnio do Queimado (BA): 1934; Concei-o (BA): 1835; So Pedro de Alcntara (RJ): 1840-50; Todos os Santos (BA): 1845; Santo Aleixo (RJ): 1849; So Carlos de Paraguau (BA): 1857; Unio Mercantil (AL): 1857; Modelo (BA): 1858; Nossa Senhora do Amparo (BA): 1862; So Lus de Itu (SP): 1869; b) fundados entre 1870 e 1875 - Cedro (MG): 1870; So Salvador (BA): 1870; Brasil Industrial (RJ): 1871; Bonfim (BA): 1872; Brumado, Pitangui (MG): 1872; Cachoeira (MG): 1873; Nossa Senhora da Penha (BA): 1873; Petropolitana (RJ): 1873; Magdalena (PE): 1874; Major Barros (SP): 1874; Unio Itabirana (MG): 1875; So Brs (BA): 1875; Carioba (SP): 1875; Beribri (MG): 1875; c) fundados entre 1876 e 1879 - Pau Grande (RJ): 1878; So Roque (SP): 1879; d) fundados entre 1880 e 1884 - Aliana (RJ): 1880; Sabarense (MG): 1880; Nossa Senhora da Ponte, Sorocaba (SP): 1881; Cau, Uberaba (MG): 1882; So Sebastio, Curvelo (MG): 1882; Mineira (MG): 1883; Confiana (RJ): 1884; Anhaia (SP): 1884;Fabril (RS): 1884; Aracaju (SE): 1884; Industrial Caxiense (MA): 1884; e) fundados antes de 1884 (data desconhecida): Montes Claros (MG); Bom Jar-dim, Araua (MG); Tatu (SP); Machado (MG). f) fundados entre '1885 e 1888 - So Silvestre, Viosa (MG): 1885; Carioca (RJ): 1886; Cachoeira dos Macacos (MG): 1886; Bernardo Mascarenhas (MG): 1887; Fiao e Tecelagem Maranhense (MA): 1887; Cachoeira (AL): 1888; Pe-dreira, Itabira (MG): 1888; Mascarenhas, Alvinpolis (MG): 1888; So Roberto, Gouveia (MG): 1888; g) Fundados entre 1889 e 1895 - Corcovado (RJ): 1889; Progresso Industrial (RJ): 1889; Andorinhas (RJ): 1890; Camaragibe (PE): 1890-94; Paulista (PE): 1890-94; Industrial Goiana (PE): 1890-94; Sanhar (MA): 1890-94; Cod (MA): 1890-94; Unio Caxiense (MA): 1890-94; Rio Anil (MA): 1890-95; Industrial Maranhense (MA): 1890-95; Emprio Industrial (BA): 1891; S

  • Anexo 2

    Construo de um ndice de razes tarifrias implcitas para txteis de algod

    o objetivo obter um ndice do acrscimo sobre os preos de importao devido aplicao de tarifas, ou seja, uma srie de valores (1 + dt ) / (1 + do)' em que d seja o aumento proporcional no preo devido a tarifas, t o ano de referncia e o o ano-base.

    Podemos escrever:

    [ do + ;: 1-1-~_o d"""O"o- (1) e

    Dt dt Do do Pt

    (2)

    Po

    onde D o valor absoluto da tarifa e P o preo dos bens importados (em mil-ris).

    De (1) e (2), obtemos:

    Dt 1 + dt

    + Do do

    1 + do do P t 1 +do (3)

    Po

    o ndice foi construdo base da equao (3). (Dt/Do) um ndice das tarifas que incidem nos tipos mais comuns de tecidos

    produzidos no Brasil no perodo considerado; o ndice foi obtido pela mdia dos ndices das tarifas para o tipo mais inferior de pano cru (peso 2), pano alvejado (peso 1) e pano tinto (peso 1). O perodo coberto 1870-1913, tendo 1870 como ano-base; antes de 1869 as t;Jrifas baseavam-se em diferentes sistemas de medio, tomando impossvel a comparao. Levaram-se em considerao as seguin tes sobretaxas vigentes nesse perodo:

    a) sobretaxa de 5% sobre os valores oficiais das importaes, em 1870-74 e primeiro semestre de 1875;

    34 R.BE.1I80

  • b) sobretaxas impostas ao prprio montante das tarifas: 40% (1870, segundo semestre de 1874, e 1875); 34% (1871); 28% (1872-73, e primeiro semestre de 1874); 45% (1876-77); 50% (1878-82); 60% (1883-86, primeiro semestre de 1887, e em 1892-95); e uma sobretaxa mvel de at 20%, de acordo com a taxa de cmbio (1889-90); c) sobretaxa adicional de 5% sobre a tarifa bsica (Fundo para a Emancipao dos Escravos), de meados de 1887 at 1890; d) cota em ouro: at 20% em 1890; 100% de 15.11.1890 ao final de 1891; 10% em 1899; 15% em 1900; 25% em 1901-05 e 50% em 1906-13.

    (Pt/Po) o ndice de preos de peas de algodo exportados do Reino Unido, convertidos em mil-ris. :

    Deu-se a do o valor de 0,47, a taxa tarifria nominal sobre os mencionados tipos de pano no ano-base (1870). Como a tabela tarifria de 1869 baseou-se numa lista de preos oficiais cuidadosamente revisada (TRF, 1869), provvel que a majorao real do preo causada pela tarifa se aproximasse daquela frao em 1870. ~ompare-se tambm RCB (1874, p. 41).

    Fontes: Tarifas em TRF (vrios nmeros). A respeito das sobretaxas, veja alm das leis oramentrias do perodo em questo, e do decreto que instituiu cada tarifa, os seguintes decretos: 1.750, de 20.10.1869; 4.601, de 24.9.1870; 2.035, de 23.9.1871; 5.580, de 31.3.1874; 6.053, de 13.12.1875; 6.829, de 26.1.1879; 9.593, de 7.5.1886; 10.170, de 26.1.1889; 391-C, de 10.5.1890; 804, de 4.10.1890.

    Para (Pr/P o), veja tabela 5. A tabela A-I deste anexo apresenta os ndice Dr/Do, PtlPo e (1 + d t ) / (1 + do) para 1870-1913.

    INDUSTRIALIZAO E EXPORTAO 35

  • Tabela A-I Brasil: ndices do valor absoluto das tarifas, preos de importao e

    taxas tarifrias implcitas, para txteis de algodo, 1870-1913 (1870 = 100)

    Valor absoluto Preos de Taxas tarifrias Anos das tarifas importao implcitas

    {Dr/Do l (PriPo) (1 + d t ) . (1 + do)

    1870 100 100 100 1871 96 88 103 1872 92 90 101 1873 92 84 103 1874 93 80 105 1875 93 75 108 1876 97 73 111 1877 97 76 109 1878 100 78 109 1879 100 79 109 1880 107 79 III 1881 107 77 113 1882 107 81 110 1883 114 77 115 1884 114 77 115 1885 114 81 113 1886 114 76 116 1887 120 64 128 1888 126 56 140 1889 143 53 154 1890 137 64 137 1891 187 98 129 1892 222 114 130 1893 222 120 127 1894 222 127 124 1895 222 127 124 1896 275 156 124 1897 275 169 120 1898 259 172 116 1899 327 169 130 1900 331 149 139 1901 348 126 156 1902 341 118 160 1903 340 121 158 1904 338 129 152 1905 304 97 168 1906 346 101 178 1907 360 115 168 1908 361 114 169 1909 361 107 176 1910 345 110 168 1911 347 115 165 1912 347 112 167 1913 347 117 163

    36 R.B.E.l/80

  • Abstract

    Cotton textile production, the main manufacturing activity in pre-1914 Brazil, is shown to have developed largely in response to stimuli arising from two sources: a) exchange rate instability, which impelled cloth merchants to the production side of the business: this can be seen as a risk averting diversification of invest-ment; b) an increasingly protective tariff system, which enabled the manufac-turing undertakings to survive and grow even under adverse exchange rate condi-tions. These fmdings challenge the view that early Brazilian industrialization was not the object of deliberate govemment policies, and suggest that the analysis of exchange rate policies may be relevant to the understanding of the industrializa-tion process in export economies.

    The evidence examined in the article suggests that capital for the new activity came mostly from the import trade, and from profit reinvestment; contrary to a widely held view, the coffee sector does not seem tO'have been an important direct source of funds to industry, in that period.

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