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Vencer a crise A Europa, a Crise e a Política Orçamental: A resposta europeia à crise não substitui a necessidade de uma política nacional mais actuante e duradoura. (Pág. 2) OS NÚMEROS: Indicadores Estatísticos Nacionais: economia a recuperar a ritmo ainda muito lento. (Pág. 4 ) A Evolução das Contas Públicas: As contas públicas não são um problema no curto/medio prazo, mas o acumular de défices orçamentais e o aumento da dívida poderão fragilizar-nos no contexto de uma futura crise. (Pág. 6 ) A Evolução da Balança de Bens e Serviços: O afundamento dos serviços (com excepção das telecomunicações e informática) na base do saldo negativo do nosso comércio externo. (Pág. 9) AS POLÍTICAS : Ainda as Medidas de Apoio ao Emprego: a necessidade de reforçar os instrumentos de apoio. (Pág. 10) Regime excepcional de reorganização do Trabalho: Uma medida dispensável e de difícil aplicação prática. (Pág. 11) Inteligência Artificial – Um Novo Roteiro para a União Europeia: a Comissão Europeia e o desenvolvimento de uma IA regulada. (Pág. 12) OS DESAFIOS: A Digitalização e os Serviços de Saúde no Pós-COVID-19: como as novas tecnologias digitais são um relevante instrumento para melhorar os serviços de saúde. (Pág. 14) O Modelo de Economia Circular e o Sector do Comércio e Serviços: o comércio e os serviços, o seu contributo para a economia circular. (Pág. 16) Para ganhar a década Boletim Número 4 Outubro de 2020 Índice dos Textos

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Page 1: Vencer a crise · 4. De especial interesse, embora com uma elevada margem de incerteza, é a previsão feita pelo CFP para as contas públicas até 2024 e que reproduzimos no quadro

Vencer a crise

A Europa, a Crise e a Política Orçamental: A resposta europeia à crise nãosubstitui a necessidade de uma política nacional mais actuante e duradoura. (Pág. 2)

OS NÚMEROS:

• Indicadores Estatísticos Nacionais: economia a recuperar a ritmo ainda muitolento. (Pág. 4 )

• A Evolução das Contas Públicas: As contas públicas não são um problema nocurto/medio prazo, mas o acumular de défices orçamentais e o aumento da dívidapoderão fragilizar-nos no contexto de uma futura crise. (Pág. 6 )

• A Evolução da Balança de Bens e Serviços: O afundamento dos serviços (comexcepção das telecomunicações e informática) na base do saldo negativo do nossocomércio externo. (Pág. 9)

AS POLÍTICAS:

• Ainda as Medidas de Apoio ao Emprego: a necessidade de reforçar osinstrumentos de apoio. (Pág. 10)

• Regime excepcional de reorganização do Trabalho: Uma medida dispensável ede difícil aplicação prática. (Pág. 11)

• Inteligência Artificial – Um Novo Roteiro para a União Europeia: a ComissãoEuropeia e o desenvolvimento de uma IA regulada. (Pág. 12)

OS DESAFIOS:

• A Digitalização e os Serviços de Saúde no Pós-COVID-19: como as novastecnologias digitais são um relevante instrumento para melhorar os serviços desaúde. (Pág. 14)

• O Modelo de Economia Circular e o Sector do Comércio e Serviços: ocomércio e os serviços, o seu contributo para a economia circular. (Pág. 16)

Para ganhar a década

► Boletim Número 4► Outubro de 2020

Índice dos Textos

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1. O triunvirato feminino que hoje domina aspolíticas da Europa comunitária: Merkel – Lagarde– Vander Leyen, vem corporizando a face de umaEuropa que soube aprender com os erros dopassado (em que algumas delas foram parteactiva). A actuação do conjunto das instituições daU.E. na crise de 2008 e na subsequente crise dasdívidas soberanas foi, em quase tudo, desastrosa.Desde a incompreensível demora em descer astaxas de juro do BCE, adoptando este, durantemuito tempo, uma politica monetária restritiva, atéaos violentos pacotes de austeridade impostos aospaíses que, devido à desconfiança instalada nosmercados, ficaram impossibilitados de financiaremos seus défices e de suportarem os encargos comos juros da dívida.

Hoje, com as contas públicas a registaremnúmeros, em geral, bem mais gravosos e apesarda resistência de alguns países do norte daEuropa, que não desistem de proclamar que osdesequilíbrios financeiros dos países do sul daEuropa resultam, apenas e só, do laxismo e dodespesismo destes, não enfrentamos um cenárioprevisível, a curto e, mesmo a médio prazo, em quenão consigamos financeira os défices produzidospela crise do COVID19. Acima de tudo, aintervenção atempada e enérgica do BCEconseguiu o que antes parecera umaimpossibilidade: que os mercados não reagissemnegativamente aos aumentos dos défices e dasdívidas e que, mesmo países mais endividadoscomo o nosso, possam hoje pagar menos juros eendividar-se por um custo inferior ao do início dacrise.

2. Mas, nem tudo são boas noticias e seria umaprova de enorme insensatez qualquer sentimentode facilitismo ou que se interiorizasse a ideia deque o pior já passou. A incerteza e o risco estão,mais do que nunca, presentes, só que o actualepicentro da crise está agora na economia real que,tendo ficado semi-paralisada com a pandemia,enfrenta o futuro com uma grande parte do seutecido empresarial no limiar da sobrevivência.

Estas empresas não têm condições para, por simesmas, reequilibrar a sua actividade, comdívidas acumuladas, e problemas de tesourariacom os deferimentos nos pagamentos a apenaspermitirem adiar a resolução. Neste contexto, osnovos programas estruturantes da Europa,alicerçados nos grandes desígnios da inovaçãoda transição digital e da sustentabilidadeambiental, não são a resposta urgente e imediatade que essas empresas carecem eapresentam-se, mesmo, como uma miragempara muitas empresas.

Relembre-se que esta crise apanhou a nossotecido empresarial muito descapitalizado, ainda aprocurar sair da crise anterior e dos programasde austeridade aplicados e que os últimos 20anos foram marcados entre nós por uma fortequebra dos níveis de investimento público eprivado e por um conjunto de políticas erráticas eoscilantes sem soluções de médio e longo prazo.

Aqui chegados, se no início da crise muitosantecipavam que esta seria de curta duração,prevendo um rápido regresso à normalidade, euma recuperação acelerada (dizia-se que no 2ºsemestre deste ano) ou seja com a economia ater um percurso evolutivo na forma de um “V”;pouco depois, percebeu-se que a linha darecuperação não seria simétrica com a da quedada economia (alguns recuperaram o símbolo damarca “nike” para o ilustrar) e que a recuperaçãodemoraria 1 ou 2 anos a concretizar-se; e, hoje,muitos começam a perceber que a letra queporventura melhor representa a situação queenfrentamos é o “K”, em que os dois braços quesaem da linha vertical que assinala a queda daeconomia seguem trajectórias distintas.Ou seja, o cenário futuro, não apenas no curtoprazo mas, porventura, a vários anos dedistancia, aponta para uma economia a duasvelocidades: em que, um número, mais restrito,de sectores irão continuar a crescer a um bomritmo e a ganharem crescente peso económicoe nos quais a tendência é para um reforço

Para ganhar a décadaA EUROPA, A CRISE E A POLÍTICA ORÇAMENTALA resposta europeia à crise não substitui a necessidade de uma política nacional

mais actuante e duradoura.

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dos seus níveis de concentração aproveitando aindao mercado global para se reforçarem e, um número,mais alargado, de outros sectores, que foram os maiscastigados pela crise, a continuarem a enfrentarquebras de procura que se irão prolongar, e quecolocam, sobretudo, as empresas mais pequenas emsérias dificuldades de sobrevivência. O que continuaem causa é sermos capazes de nos integrarmos nascadeias globais de produção, e se nuns casos, aintegração vertical é geradora de ganhoscompetitivos, noutros o desafio passa por um reforçoda cooperação horizontal procurando ganhar massacrítica e capacidade negocial.

3. Neste contexto, as políticas públicas não podemlimitar-se a reposicionarem-se como se os problemasda década fossem apenas os que tínhamos antesdesta crise e que tudo se pode resolver comprogramas destinados a financiar investimentos deinovação e de dinamização da oferta (que era semdúvida o principal desafio com que estávamosconfrontados antes da crise). As políticas públicasconvencionais e, em especial, a política orçamental(e em concreto o O.E. para 2021) ganham por isso,uma importância reforçada enquanto instrumentoactivo de política económica e, no caso do O.E. estenão pode continuar a ser apenas um instrumento degestão financeira do Estado, orientada pelasnecessidades da despesa pública e pela obtenção decontrapartidas do lado da receita.

O O.E. 21 tem que corporizar uma política pró-cíclicade recuperação da economia, impulsionando umaretoma que será bem mais frágil e incerta do que seantecipava. Ele tem que ser um instrumentoimpulsionador do investimento público, mas tem,também, que adoptar um conjunto substancial demedidas (em especial a nível fiscal) que revigorem otecido empresarial e que, por acréscimo, fomentem oinvestimento das empresas.

A política orçamental tem que estar inserida numdesígnio que deve hoje comandar a actuação dospoderes públicos que é o de restabelecer a confiançaperdida: seja dos agentes económicos, seja dasfamílias.

A quebra do consumo que se regista no contexto dacrise (ver Caixa) não se deve apenas a uma reduçãodo rendimento disponível das famílias, mas estátambém associada a um aumento significativo dataxa de poupança destas e este comportamento que no contexto actual tem um efeito depressivo resulta da já referida incerteza quanto ao futuro. Porisso, destacamos 4 grandes linhas de força que

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devem nortear a preparação do O.E. para opróximo ano:

ꟷ A necessidade de evitar o colapso de muitasdas nossas empresas, reduzindo custos,prolongando medidas de emergência numcontexto de retoma anémica;

ꟷ A necessidade de termos mais e melhorinvestimento público e de criar condições paraaumentar o investimento privado (não bastampacotes financeiros);

ꟷ A necessidade de travar a perda do poder decompra das famílias, seja com medidas fiscais,seja seja com o desenvolvimento de políticasactivas de apoio ao emprego;

ꟷ A necessidade, por último, de reforçar algunsserviços públicos essenciais e, de um modogeral, melhorar a capacidade de resposta dasnossas Administrações Públicas.

Em suma, a ideia de que os milhões de Bruxelas,consubstanciados no actual Portugal 2020, nopróximo Plano de Recuperação e resiliência(PRR) que o Governo acaba de apresentar nassuas linhas gerais e no Acordo de Parceria para oPT2030, não diminuem a importância do O.E. noseu papel de travar o colapso de uma parte donosso tecido empresarial. A emergência destaintervenção não é, aliás, compatível, nem com ostempos, nem com os requisitos do mecanismo derecuperação e resiliência europeu.

Os seus papeis podem e devem complementar-se, mas estão longe de ser alternativos, comoaliás resulta claro da leitura do esboço de PRRapresentado pelo Governo (e sobre o qual a CCPproduziu já um breve comentário).

O risco de uma economia “dual”, é bem real e aconcretizar-se significaria um forte aumento dafalência de empresas, com consequênciassociais e económicas profundas.

Mas, refira-se que combater esta ameaça nãopassa por discursos anti-globalização ou dependor económico nacionalista. Implica sim,rejeitar uma visão segmentada das economias,em que existiriam sectores de primeira e desegunda e a retoma da velha ideia dos “clusters”como sendo o modelo ideal e universal dearrumação das empresas. A inovação e areconversão são projectos transversais a todo otecido produtivo e não têm actores privilegiados.

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Os dados de julho do comércio internacional de bensrevelam que as descidas em julho voltaram a sermenos acentuadas que nos meses anteriores, comuma quebra de -7,3% nas exportações (-9,8% emjunho e -38,7% em maio) e de -21,2% nasimportações de bens (-22,6% em junho e -39,7% emmaio).

Dos vários indicadores quantitativos disponíveis,salientam-se:

i) Na componente do consumo:

• a redução do montante global de operações narede multibanco (levantamentos, pagamentos deserviços e compras) em agosto voltou a sermenos acentuada, com um decréscimo homólogode -8,1% (-9,7% em julho e -14,4% em junho);

• a queda homóloga das vendas de gasolina (emton) em julho voltou a atenuar-se para -13,6%(-17,2% em junho e -29,7% em maio);

• a redução homóloga nas vendas de automóveisnovos ligeiros de passageiros, de -0,1% emagosto, foi menor que nos meses anteriores,sobretudo por comparar com um mês demenor desempenho no ano anterior (-56,2% emjunho e de -17,5% em julho);

• a descida homóloga no índice de volume denegócios (IVN) do comércio a retalho em agosto,de -4,5%, voltou a acentuar-se (-2,5% em julho ecom -5,5% em junho).

ii) Na componente do investimento:

• a venda de veículos comerciais ligeiros teve umdecréscimo homólogo de -40,5% em agosto(-36% em junho e -19,4% em julho);

• e nas vendas de veículos pesados registou-seuma descida homóloga em agosto de -7,2%(-67% e -67,3% em junho e julho, respetivamente);

• em agosto o aumento homólogo das vendas decimento acelerou para 12,9% (tinhamdesacelerado para 10,7% em julho);

• a importação de máquinas teve um decréscimohomólogo de -9% em julho (-30,5% e -4,8% emmaio e junho, respetivamente);

Depois de conhecida a magnitude da contraçãoeconómica avassaladora em Portugal no 2ºtrimestre do corrente ano (o PIB recuou 16,3% faceao 2º trimestre de 2019), os dados disponíveis atéao final de setembro, referentes aos primeiros trêsmeses de desconfinamento gradual das atividadesdos portugueses, refletem uma muito lentarecuperação económica em curso, ainda que comcontornos distintos nos diferentes setores daeconomia.

Assim, a variação homóloga do indicador deatividade económica do INE (que sintetizaindicadores quantitativos) tem vindo a sersucessivamente menos negativa entre maio e julho,mês em que desceu -3,1% (face a -4,3% em junhoe a -7,6% em maio). Com tendência semelhante, oindicador de clima económico (que sintetizaindicadores qualitativos, a partir dos inquéritos deconjuntura às empresas), diminuiu sucessivamentemenos entre maio e setembro, embora menos nomês de setembro, em que quase estagnou (-0,1%):por um lado, aumentaram os indicadores deconfiança da Construção e obras públicas e dosServiços, por outro reduziram-se os indicadores deconfiança da Indústria transformadora e, ainda quede forma mais ligeira, do Comércio.

O indicador de confiança dos consumidores temoscilado entre melhorias e retrocessos, tendo nomês de setembro recuado, com o contributonegativo das perspetivas futuras dos consumidoressituação económica do país e da situação financeirado agregado familiar. Só as expectativas relativas àrealização de compras relevantes, influírampositivamente no indicador de confiança dosconsumidores.

INDICADORES ESTATÍSTICOS NACIONAIS: ECONOMIA A RECUPERAR A RITMO AINDA MUITO LENTO

OS NÚMEROS

4► Fonte: INE, extraído do Destaque “Síntese Económica de Conjuntura – Agosto 2020” de 17/09/2020

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que em julho (-2,5%), ainda que com intensidadesdistintas consoante o ramo de comércio econforme o tipo de estabelecimentos.

Conforme vem sendo habitual ao longo da presentecrise pandémica, em agosto o IVN voltou a decrescerde forma mais acentuada no comércio não alimentar(variação homóloga de -6,3%), face ao alimentar (de-2,2%). De igual modo, manteve-se um decréscimobastante mais acentuado no IVN do retalho emestabelecimento especializados, face ao do retalhoem estabelecimentos não especializados. Essadiferença é muito expressiva no comércio alimentar,onde o IVN do retalho alimentar em estabelecimentosnão especializados quase estagnou em agosto(-0,4%), distanciando-se da quebra homóloga de-19,7% no IVN do retalho alimentar emestabelecimentos especializados. No retalho nãoalimentar em estabelecimentos não especializados oIVN já registou um crescimento homólogo de 7,2%,enquanto em alguns ramos do retalho não alimentarespecializado se registaram quebras homólogasainda muito significativas. É o caso do retalho dosTêxteis, vestuário, calçado e artigos de couro, comuma descida homóloga de -25,2% no IVN. Pelocontrário, no retalho de Bens para o lar e similares oIVN aumentou pelo terceiro mês consecutivo, comum crescimento homólogo de 5,7% em agosto.Finalmente é ainda de assinalar o aumento homólogode 11,8% registado em agosto no IVN do retalho porCorrespondência, internet e outros meios.

Sobre o mercado de trabalho, os resultadostrimestrais do inquérito ao emprego do INE revelaramuma quebra homóloga do emprego no 2º trimestre doano de -3,8%. As estimativas mensais do INEapontam para a manutenção das descidas doemprego em torno dos 3% tanto em julho como emagosto, e para um aumento homólogo no número dedesempregados de 20% em julho e de 25% emagosto, conduzindo a uma taxa de desemprego emtorno dos 8%. Por outro lado, o número dedesempregados registados no IEFP ascendeu emagosto a 409,3 mil desempregados (+34,5% que emagosto de 2019).

O encerramento inevitável de empresas e a atualsituação preocupante no mercado de trabalhoocorrem apesar de terem sido introduzidas emPortugal as medidas de emergência de apoio aoemprego assim que foi declarado o Estado deEmergência no país, com o eclodir da crisepandémica. Destaca-se em particular o lay-offsimplificado, medida à qual recorreram (até01/09/2020) 115,2 mil empresas.

a descida homóloga no índice de produçãoindustrial de bens de investimento, de -1,1% emjulho, foi bastante mais suave do que nos mesesanteriores (-16,4% e -14,3% em junho e julho,respetivamente).

O Turismo, face à diminuta ou quase ausenteprocura turística de não residentes, só regista algumarecuperação no segmento dos residentes, aindaque globalmente permaneça muito abaixo dodesempenho habitual. As estimativas do INE paraAgosto, perspetivam uma redução homóloga de -2,4% no total de dormidas de residentes e de -72%nas dormidas de não residentes. É ainda de assinalaras estimativas de crescimento nas dormidas deresidentes em algumas regiões: de +9% no Algarve,de +4% no Alentejo e de +1,1% na região Centro.

O Transporte Aéreo, a par do turismo,mantem-se muito afetado pela escassamobilidade de pessoas a que a pandemia temobrigado. Em junho, o número de aeronaves devoos comerciais que aterraram decresceu -86%, facea junho de 2019 (-38,6% em março, -94,3% em abrile -92,3% em maio); o movimento de passageiros nosaeroportos nacionais registou uma descida homólogade -94,6% (-53,5% em março,-99,4% em abril e 98,5% em maio); e o movimento decarga e correio (em toneladas) registou uma reduçãode -54,1% (-62,6% em abril e -55,5% em maio).

Em termos globais o desempenho das empresasportugueses mantem-se também muito aquém donível habitual, evidenciando na maioria dasatividades ainda decréscimos muito acentuados novolume de negócios.

Os índices de volume de negócios (IVN) do INEregistaram em julho decréscimos homólogos de-11,1% na indústria, de -2,5% no comércio aretalho e de -16,2% nos Serviços, com particulardestaque para a descida de -89,4% nas Agências deviagem, operadores turísticos e atividadesrelacionadas, de -78,9% no Transporte Aéreo, de -77,9% no Alojamento, de -57,3% nas Atividadescinematográficas, de vídeo e outras relacionadas, de-42,7% na Restauração e de -40,5% nas Outrasatividades de consultoria, científicas, técnicas esimilares.

A quebra homóloga do IVN do comércio por grossofoi de -6,9% e no comércio e manutenção automóvelfoi de -2,3%.

No comércio a retalho, já com dados de agosto, oIVN decresceu -4,5%, de forma mais acentuada

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A EVOLUÇÃO DAS CONTAS PÚBLICAS

1. No O.E. para 2020 aprovado no final do anotransacto a previsão do Governo apontava paraum novo excedente do saldo orçamental este anode 0,2% do PIB. O imprevisto surto epidémicoalterou por completo as contas orçamentais e, emMaio deste ano, o Governo, no O.E. suplementar,colocou a previsão do défice em -6,3% (-6,9% emcontabilidade pública que, referencia os saldos decaixa ou seja, os pagamentos e recebimentosefectuados, e que é aquele que a Direcção-Geraldo Orçamento (DGO) acompanha, divulgando arespectiva evolução mensal ao longo do ano).

O Governo evitou, ainda, antecipar até aomomento qualquer valor para 2021 e anosseguintes. Deve-se ao Conselho de FinançasPúblicas (CFP) a previsão disponível para ospróximos 5 anos, onde releva o facto de osnúmeros apontarem para défices orçamentais,pelo menos até 2024.

No contexto da actual crise e no confrontointernacional estas previsões não se afastam datendência geral e, ao contrário da anterior crise doinício da década passada, não são de preverdificuldades no financiamento do déficeorçamental.

A única luz “amarela” que se acende é a queresulta do aumento substancial da dívida pública eque, apesar de se prever que o serviço da dívidavenha a diminuir o seu peso em relação ao PIB,não deixa de nos colocar no grupo dos 3 paísesda zona euro com maior peso da dívida pública.

2. Olhando para os números da DGO referentes àexecução orçamental nos primeiros 7 mesesdeste ano eles registam um défice (emContabilidade Pública) de 8,3 mil milhões deeuros ou seja, um agravamento de 7,9 mil milhõesrelativamente ao período homólogo de 2019.

O maior contributo para o défice vem dadiminuição das receitas (menos 10,5%),reflectindo a redução da receita fiscal e dascontribuições para a segurança social e que,numa parte significativa, resultam de deferimentosno pagamento pelo que serão, em grande medida,recuperadas nos meses subsequentes.

Do lado da despesa, em que estãocontempladas as principais medidas activasdo governo de combate à pandemia e àcrise, o crescimento foi de apenas 5,3%, emque além das despesas na área da saúde sedestacam as despesas com pessoal e empagamentos da segurança social.

Segundo a DGO as medidas adoptadas nocombate ao COVID 19 conduziram a umaredução da receita de 672 milhões de euros ea um aumento da despesa de 1 644 milhões,sendo, assim, responsáveis por 2 316 milhõesde euros do défice apresentado, ou seja,apenas 28% deste lhe está associado ecorrespondendo a 1,8% da receita e a 3,0% dadespesa efectiva.

As medidas de combate à crise com maiorimpacto orçamental foram o lay-off, com umadespesa de 752 milhões de euros, seguidapela aquisição de equipamentos de saúde,com 252 milhões de gastos e pelo apoioextraordinário à redução da actividadeeconómica com apenas 137 milhões.Números que, no seu conjunto, estão bastanteaquém do inicialmente previsto (para o lay-offsimplificado a previsão era de cerca de 1 000milhões de euros mensais) e permitem que aexecução orçamental até Julho se possaconsiderar acomodável com os númerosestimados no O.E. suplementar para oconjunto deste ano, sendo que a nível dadespesa se situam mesmo uns pontos abaixo,com uma execução, nestes 7 meses deapenas 51,8% do valor anual.

É verdade que a Unidade Técnica de Apoio aoorçamento (UTAO) calcula um valorligeiramente superior para as “medidas COVID19” e, sobretudo, o CFP revê de forma maisexpressiva estes números, projectando para ofinal do ano um défice superior ao do governo,fixando-o nos 7,2% do PIB, e em quecontempla o elevado apoio financeiro dado àTAP. Nesta última abordagem a estimativa éde um impacto orçamental das medidas

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As contas públicas não são um problema no curto/médio prazo, mas o acumular de

défices orçamentais e o aumento da dívida poderão fragilizar-nos no contexto de uma

futura crise.

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COVID de 4,6 mil milhões de euros (-2,4% doPIB), sendo que mais de 2/3 deste valor advémde medidas do lado da despesa (com umacréscimo de 3,6 mil milhões de euros),conseguindo mesmo a receita registar umaumento em % do PIB (cai menos que o PIB emrazão das transferências dos fundos da U.E.).

O défice apresentado é resultado da evoluçãonegativa do saldo primário (que passa de umvalor positivo de 4,9 mil milhões de euros em2019, para um valor negativo de -3,5 milmilhões), dado que as despesas com juros atébaixaram 465 milhões de euros face a igualperíodo de 2019.

Mais uma vez, podendo antecipar um novodesvio entre o previsto e o executado, está oinvestimento público (FBCF) com um valor deexecução até Julho de 2 512 milhões de euros,longe da previsão do O.E. suplementar para2020 que é de 6 447 milhões, ou seja o nível deexecução é de apenas 39%, emborarepresentando um aumento de cerca de 10% emrelação a igual período de 2019.

3. Foram entretanto divulgados os númerosoficiais do INE para o 1º semestre do ano queregistam para as contas das AdministraçõesPúblicas em contabilidade nacional um saldonegativo de -5,2 milhões de euros, ou seja -5,4%do PIB (em igual período de 2019 o déficeestava em -1,2%).

Estes números, corrigem em 0,4 p.p. aestimativa apresentada algumas semanas atráspela UTAO que apontava para um défice de -5,8%, e estão bastante abaixo da previsão anualde -6,3% do PIB previsto no O.E. suplementar.

Com este saldo negativo as necessidades definanciamento das Administrações Públicasagravaram-se, passando de 0,1% no anoterminado no 1º trimestre de 2020 para 1,9% noano terminado em Junho.

Com uma margem de execução orçamentalrelativamente folgada os principais factores deincerteza prendem-se com a evolução daeconomia no último trimestre do ano,considerando ainda que uma previsível maiorqueda do PIB em 2020, relativamente ao valorde referência do Governo, implicará umagravamento do défice, embora esse efeitopossa vir a ser atenuado pela situação anómalade podermos registar uma variação do PIBnominal inferior à do PIB real, em razão da

possível variação negativa dos preços reflectidano deflator do PIB.

Mais expressiva é a diferença entre a previsãoda dívida pública do Governo para 2020, que éde 134.4% e a previsão do CFP que aponta paraum valor já próximo dos 140% do PIB (com137,6% e um aumento face a 2019 de 19,9%p.p.). Segundo este Conselho o forte aumento dadívida é resultado da «conjugação do rácio dadívida pré-existente com a contracção do PIB,reforçado pelo contributo desfavorável doajustamento défice-dívida, resultante de umamaior acumulação de depósitos».

4. De especial interesse, embora com umaelevada margem de incerteza, é a previsão feitapelo CFP para as contas públicas até 2024 eque reproduzimos no quadro do final deste texto.Os números assinalam que a reversão do saldonegativo do O.E. que se verificará em 2020 nãoocorrerá nos próximos 4 anos, sendo que aredução progressiva do défice ainda estará nos -2,7% em 2024. O saldo primário, que édeterminante para se conseguir um saldo globalmais próximo do equilíbrio, apenas poderá voltara registar um valor marginalmente positivo(0,1%) em 2023 o que não compensa aquilo queé a previsão de uma redução continuada dasdespesas com juros (a passar dos 3,0% esteano para 2,8% nos dois últimos anos daprevisão).

Por outro lado, a manutenção, no médio prazo,de saldos orçamentais negativos projecta até2024 uma dívida pública que, embora invertendoa tendência de subida, estará acima da do anoque antecedeu esta crise.

Com esta mudança de cenário para o médioprazo ficam afastadas, no que se refere àscontas públicas, todas as previsões e metasanteriores, mesmo considerando as diferentesabordagens do Governo, da UTAO e do CFP.Em comum todas projectam uma previsão deque não se espera a abertura de uma nova criseem razão do financiamento do défice ou dopagamento dos juros da dívida, com a política doBCE a ser garantia de juros baixos e permitindoà política orçamental ter margem suficiente parapoder ser um instrumento activo e com efeitoanti-cíclico na crise que vivemos, sendo notórioque Portugal, a nível da despesa públicarelacionada com o COVID 19, está bastanteabaixo dos valores médios das principaiseconomias da U.E..

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OUTROS NÚMEROS Estudo do INE revela que entre 1 de Março e 30 de Agosto deste ano, o número de mortes

foi superior em 5 882 em relação ao período homólogo de 2019. O número de mortesCOVID 19 foi de 1 819 o que corresponde a apenas 3% do total de 58 124 mortesregistadas nos 6 meses referidos. Retirando as mortes “COVID” fica ainda um adicional de4 063 óbitos, que poderão ter relação com a concentração dos cuidados de saúde napandemia.

De acordo com as Contas nacionais Trimestrais do INE, referentes ao 2º trimestre a quedado consumo privado não se deve apenas à redução do rendimento disponível das famílias,mas, também, a um aumento da poupança destas. Segundo este Instituto há pelo menos 21anos que as famílias portuguesas não poupavam tanto num trimestre e o principal efeito fez-se no consumo de bens duradouros. No período em referência a taxa de poupançaaumentou 12 p.p. face a igual período de 2019, atingindo 22.6% do rendimento disponívelbruto.

Apurados pelo Eurostat os números do 1º semestre deste ano, verifica-se que as maioreseconomias do Ocidente europeu caíram todas mais de 10% no que se refere ao PIB. Assim,por ordem decrescente: Espanha (-22.7%), Reino Unido (-22.1%), França(-18.9%), Itália (-17.1%) e Alemanha (-11.9%). Países que por mera coincidência, são osmaiores destinos das exportações portuguesas …

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Cenário orçamental do CFP ajustado de medidas temporárias e medidas não recorrentes (em % do PIB)

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De acordo com os números divulgados pelo Bancode Portugal, no 1º semestre de 2020 a balança debens e serviços registou um saldo negativo de 3 milmilhões de euros (três vezes mais do que igualperíodo de 2019). No conjunto do semestre, quer asexportações, quer as importações sofreram umadiminuição acentuada, sendo, no entanto, maisintensa a registada nas exportações com umaquebra de -23%.

Nos primeiros 6 meses do ano a balança de bens eserviços apenas foi positiva em Janeiro, tendoapresentado valores negativos nos restantes 5meses, com particular expressão no período demaior estagnação da actividade económica queocorreu em Abril e Maio. De realçar que esta quebraficou a dever-se por inteiro à evolução da balançade serviços, dado que a balança de bens atéregistou valores menos negativos no 2º trimestrecomparativamente com o primeiro (com algunssectores, como o da indústria farmacêutica e aindústria alimentar, a aumentarem mesmo asexportações).

A balança de serviços que, tradicionalmente,amortece ou compensa o saldo negativo da balançade bens, desacelerou significativamente nos mesesde Abril, Maio e Junho, com o valor das exportaçõesa caírem para menos de metade relativamente aotrimestre anterior. Como seria expectável o turismoe os transportes foram os principais responsáveispor esta evolução, caindo, em relação a igualperíodo de 2019, respectivamente 60% e 23%. Mas,também os chamados “outros serviços fornecidospor empresas” tiveram uma quebra assinalável de40% (acentuando, neste caso, a tendênciadesacelerativa que já vêm registando nos últimosanos). Em relação aos transportes a descida ficou,sobretudo, a dever-se ao transporte aéreo depassageiros, que viu no 2º trimestre o saldo darespectiva balança cair quase 80% em relação aigual período de 2019 (com a queda dasexportações, ou seja de serviços prestados porempresas nacionais, a ser superior à dasimportações, serviços prestados por empresasestrangeiras).

Em sentido inverso, destaque para os “serviços detelecomunicações, informática e de informação”que viram o seu saldo positivo aumentar 49% emrelação a 2019, embora com números cuja ordem de

grandeza nos permite compensar as duasgrandes reduções referidas atrás.

Como consequência deste agravamento abalança corrente e de capital regista, também,um défice de quase 2 mil milhões de euros(+20% em relação a igual período de 2019).

Para o conjunto do ano em curso o Conselho deFinanças Públicas antecipa uma redução daprocura externa dirigida a Portugal de 17.4%,inferior à quebra das exportações que prevêpossa ser de -22.5%, ou seja, haverá uma perdade quota de mercado pelo nosso país.

Os números referidos não são fáceis deacomodar com as previsões do Governoconstantes do O.E. suplementar para 2020 e queapontam para uma queda das exportações de-15%. Em relação à balança de serviços osnúmeros do 3º trimestre são tradicionalmente osmais expressivos, em grande parte pelo impactosazonal do turismo e dos transportes e o que seconhece deste período não aponta para umaaceleração suficientemente forte destes doissectores, dependentes do fluxo de turistas nãoresidentes (o abrandamento que, também, temlugar ao nível das importações não é suficientepara em termos de balança compensar aquelasperdas).

Assim sendo, consideramos que as previsões doGoverno para a evolução das nossas exportaçõespoderão revelar-se optimistas, influenciando, quera evolução do PIB, quer a evolução do saldo dabalança de bens e serviços em 2020. Emcontrapartida, os números do C.F.P. parecem-nosmais consentâneos com a realidade, permitindoainda antecipar que o saldo externo, medido pelacapacidade líquida de financiamento face aoexterior, venha a sofrer uma degradaçãoprogressiva, passando a valores negativos já em2020 (-1.3% do PIB na previsão deste Conselho).

Ainda segundo o C.F.P. os saldos negativos dabalança de bens e serviços (que vinhamdesacelerando, sendo apenas marginalmentepositivos em 2019) vêm para ficar, deteriorando-se até 2023, para depois estabilizarem em tornode um valor da ordem dos 2.9% do PIB no médioprazo.

A EVOLUÇÃO DA BALANÇA DE BENS E SERVIÇOS (1º Semestre 2020)

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O Afundamento dos serviços (com excepção das telecomunicações e informática) na base do saldo negativo do nosso comércio externo.

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O Governo apresentou finalmente alguns dados,sistematizados, sobre a abrangência das medidasde emergência na área do emprego e dos apoiosao desemprego, confirmando-se o impacto do lay-off (894 288 pessoas abrangidas) no conjunto dasmedidas vigentes até ao verão.Já quanto aos instrumentos pós-lay-off os dadosconhecidos se, por um lado, são reflexo dealguma retoma da actividade das empresas, poroutro também expressam a desadequação dosmesmos à realidade de muitas empresas.Até 30 de Setembro o Incentivo à Normalizaçãoda Actividade e o Apoio à Retoma totalizaram 41mil pedido (380 mil trabalhadores abrangidos),sendo a sua maioria respeitantes ao incentivo ànormalização na modalidade 2 SMN e apoio àretoma.

Os sectores do alojamento, restauração esimilares e o comércio por grosso e a retalho sãoos grandes beneficiários destes instrumentos,abrangendo, no conjunto e em ambas asmedidas, mais de 40% do apoio.

AS POLÍTICAS

AINDA AS MEDIDAS DE APOIO AO EMPREGO(A necessidade de reforçar os instrumentos de apoio)

O reconhecimento de que os apoios ao emprego,nesta fase, podem não ser suficientes para adesejável manutenção do emprego, levou oGoverno a anunciar um reforço do Apoio à Retoma,admitindo, nomeadamente, apoiar reduções doPeríodo Normal de Trabalho até 100% (suspensãodo Contrato de Trabalho), e também contenplandosituações de quebra de faturação inferiores,conforme quadro em baixo.

No que respeita às bolsas de formação os valoresduplicam para o empregador passando a 132 eurose o valor da bolsa para o trabalhador aumentasubstancialmente para 175 euros (era 66 euros).

As restantes regras do regime, aparentemente,mantêm-se, nomeadamente, a proibição dedespedimentos colectivos e a extinção de postos detrabalho.

Confirmando-se todas estas alterações, é caso paradizer que se gastou tempo e recursos, públicos eprivados, na construção de uma medida que àpartida já se sabia desajustada.

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Foi publicado o Decreto-lei n.º 79-A/2020, queestabelece um Regime excepcional e transitóriode reorganização do trabalho. Estende, emsíntese, às empresas do sector privado commais de 50 trabalhadores, a obrigação deimplementar o desfasamento dos horários deentrada e saída dos trabalhadores nos locais detrabalho, de modo a evitar ajuntamentos depessoas no decurso da realização do trabalhopresencial.

Dissemos, em parecer anterior, queconsiderávamos este diploma desnecessário,face ao que tem sido a prática generalizada dasempresas na implementação de medidasvisando a salvaguarda da saúde detrabalhadores e consumidores. Dissemos aindaque este diploma era susceptível de gerardificuldades no funcionamento de algumasempresas.

O diploma agora publicado não resolve aspotenciais dificuldades e cria mais um factor deincerteza. O novo regime é aplicável, apenas, às“empresas com locais de trabalho com 50 oumais trabalhadores situadas nas parcelas deterritório definidas pelo Governo, através deresolução do Conselho de Ministros, em funçãoda evolução da situação epidemiológica”. Ouseja, em qualquer momento, as empresaspodem ser confrontadas com a necessidade derever o seu modo de funcionamento.

Acresce que este regime perdurará, à partida,mais de 6 meses, já que vigorará até 31 deMarço de 2021.

A Organização desfasada de horários, implicaque o empregador deve organizar de formadesfasada as horas de entrada e saída doslocais de trabalho, garantindo intervalos mínimos

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de trinta minutos até ao limite de uma hora entregrupos de trabalhadores.

Implica que o empregador deve também adoptarmedidas técnicas e organizacionais quegarantam o distanciamento físico e a protecçãodos trabalhadores, nomeadamente: a) apromoção da constituição de equipas de trabalhoestáveis, de modo que o contacto entretrabalhadores aconteça apenas entretrabalhadores de uma mesma equipa oudepartamento; b) a alternância das pausas paradescanso, incluindo para refeições, entreequipas ou departamentos, de forma asalvaguardar o distanciamento social entretrabalhadores; c) a promoção do trabalho emregime de teletrabalho, sempre que a naturezada atividade o permita; d) a utilização deequipamento de proteção individual adequado,nas situações em que o distanciamento físicoseja manifestamente impraticável em razão danatureza da actividade.

O empregador pode alterar os horários detrabalho até ao limite máximo de uma hora, masantecipam-se um conjunto de dificuldades naaplicação desta prorrogativa, desde logo apossibilidade de invocação de prejuízo sério porum leque alargado de trabalhadores.

Finalmente, o desfasamento de horários ou ditode outra forma, os novos horários em resultadodesta obrigação, não se aplicam (!) atrabalhadora grávida, puérpera ou lactante, otrabalhador menor, trabalhador com capacidadede trabalho reduzida, com deficiência ou doençacrónica e aos trabalhadores com menores de 12anos a seu cargo, ou, independentemente daidade, com deficiência ou doença crónica, nostermos definidos no Código do Trabalho.

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REGIME EXCEPCIONAL DE REORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Uma medida dispensável e de difícil aplicação prática

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A Comissão Europeia lançou um roteiro sobreInteligência Artificial (IA), com enfoque nasquestões éticas e legais.

O objectivo deste roteiro é assegurar odesenvolvimento de uma IA, no mercado interno,que assente num ecossistema baseado emrequisitos legais e que consiga gerar confiançanos utilizadores.

No seu roteiro, a Comissão avança com váriasopções preliminares sobre como deverão serenfrentados os riscos relacionados com odesenvolvimento e a utilização de certasaplicações de IA, em concreto:

Opção 1: Uma abordagem assente eminstrumentos não legislativos (a chamada “softlaw”) que facilite e estimule uma intervençãobaseada na iniciativa empresarial (logo, semqualquer instrumento legislativo).

Um vasto número de princípios e de códigos deconduta sobre IA foram, já, desenvolvidos poractores do tecido empresarial e por outrasorganizações. O HLEG (High-Level Expert Groupon Artificial Intelligence) desenvolveu, na UE, umconjunto de orientações éticas para uma IA deconfiança, baseadas numa lista de avaliação,visando disponibilizar orientação prática sobrecomo implementar cada um dos requisitos-chavepara a IA.

A abordagem através de “soft law” poderiaassentar em iniciativas já existentes e consistir namonitorização e apresentação de relatórios sobreo cumprimento voluntário de tais orientações(auto-avaliação); no encorajamento da criação deum conjunto único de princípios de IA, através daactuação coordenada do mundo empresarial; nasensibilização dos criadores e utilizadores desistemas de IA para as iniciativas já existentes epara a sua utilidade; na monitorização eencorajamento de desenvolvimento de normas.

Opção 2: Um instrumento legislativo da UEque crie um esquema voluntário de rotulagem

Nesta abordagem, um instrumento legislativo daUE estabeleceria um esquema voluntário derotulagem que habilitasse os consumidores aidentificar aplicações de IA cumpridoras de certosrequisitos para uma IA de confiança.

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A participação neste esquema de rotulagemseria voluntária, mas os operadoreseconómicos que escolhessem participar teriamde cumprir com certos requisitos à escala daUE (para além da legislação existente), porforma a poderem aplicar um rótulo dequalidade da IA. O rótulo funcionaria comouma indicação, para o mercado, de que aaplicação de IA assim rotulada é de confiançae o esquema poderia seguir um modelosemelhante à lista de avaliação dasorientações éticas do HLEG (ou ser inspiradonele). Um rótulo poderia, também, ser usadopara questões que vão para além dos aspectosregulamentares e do respeito pelos direitosfundamentais.

Opção 3: Um instrumento legislativo da UE,estabelecendo requisitos obrigatórios paratodos ou para certos tipos de aplicações deIA

Nesta opção, o instrumento legislativo da UEestabeleceria certos requisitos obrigatóriossobre matérias como: dados sobre formação,manutenção de registos sobre conjuntos dedados e algoritmos, informação a ser prestada,robustez e precisão, e supervisão humana.

Esta opção engloba algumas sub-opções:

a)- como primeira sub-opção, o instrumentolegislativo da UE poderia ser limitado apenas auma categoria específica de aplicações de IA,nomeadamente sistemas de identificaçãobiométrica remota (por exemplo,reconhecimento facial). Sem prejuízo daaplicação da lei europeia de protecção dedados, estes requisitos poderiam sercombinados com provisões sobre ascircunstâncias específicas e as salvaguardascomuns em torno apenas da identificaçãobiométrica remota;

b)- como segunda sub-opção, o instrumentolegislativo poderia ser limitado a aplicações deIA de “alto risco”, que por sua vez poderiamser identificadas com base em dois critériosque já constam do Livro Branco sobre IA (autilização por sector e a utilização específica; oimpacto em direitos ou na segurança), oupoderiam ser definidos novos critérios.

Inteligência Artificial – Um Novo roteiro para a União Europeia

A Comissão Europeia e o desenvolvimento de uma IA regulada.

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c)- o acto legislativo da UE poderia cobrir todasas aplicações de IA.

Opção 4: combinação de qualquer das opçõesanteriores, tendo em conta os diferentes níveisde risco que podem ser gerados por umadeterminada aplicação de IA

O desenho de todas estas opções poderá vir aser ajustado e definido de forma mais concreta,em função dos resultados do processo deavaliação do seu impacto, podendo ainda vir aser consideradas opções adicionais oualternativas.

Tendo o processo de consulta da ComissãoEuropeia, sobre este roteiro, terminado nopassado dia 10 de Setembro, a Comissãoencontra-se neste momento a analisar ocontributo recebido de vários actores, o qualdeverá ser compilado num relatório conjunto.Este relatório indicará como os contributosrecolhidos serão tidos em conta e, se aplicável,porque algumas das sugestões não poderão sertidas em consideração.

Entre os contributos recebidos pela ComissãoEuropeia, deixamos aqui algumas questões queforam levantadas e que nos parecem relevantes:

- há uma grande magnitude e complexidade deassuntos étnicos que o desenvolvimento e autilização de soluções de IA levanta;

- como se conseguirá alcançar um consensosocial e um mandato por parte de um vastonúmero de sociedades, as quais têm diferentes (epotencialmente divergentes) experiências,percepções e valores étnicos, no sentido de seempregar a IA de uma forma ou de outra?;

- deverá o utilizador final de uma solução de IApoder ter alguma forma de controlo sobre asoperações da mesma, assumindo que o utilizador(um ser humano) poderá ter melhorconhecimento moral (ou, pelo menos, intuição)sobre o que é certo ou errado?;

- como deverá a responsabilidade ser distribuídaentre criadores, utilizadores individuais ecorporativos, e utilizadores finais, por falhasoperacionais ou algum mal causado pela IA?;

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- todas as questões que necessitam de receberorientação concreta e, possivelmente, resolução,deverão ser devidamente resolvidas antes de quea IA se torne um bem global, preferencialmentepor via de um debate público e institucionalalargado;

- parece óbvio que algumas das questõescolocadas pela IA terão de ser objecto deregulamentação obrigatória, como é o caso daprivacidade de dados, notícias falsas,cibersegurança, empresas tecnológicas (não sepoderá confiar que actuarão sempre de formajusta e equitativa, nomeadamente no que respeitaao cumprimento de normas voluntárias deprotecção do consumidor);

- os requisitos obrigatórios deveriam dar resposta,em primeiro lugar, às questões éticas e legais queestão na base das soluções de IA (por exemplo,normas de programação, abordagem às regras dedecisão, qualidade dos dados trabalhados, redesde segurança) e, numa segunda linha, assuntoslegais em torno da aplicação de soluções de IA(aplicação não discriminatória, evitar a intrusão naprivacidade/vida pessoal, realocação deresponsabilidades, etc);

- as ameaças à segurança da IA resultarão,provavelmente, de erros técnicos no desenho,desenvolvimento ou na aplicação da tecnologia(serão sempre possíveis de identificar), aocontrário do que possa nela ameaçar o serhumano (e que resultará das circunstâncias dasua aplicação e, especialmente, das intençõesdos seus utilizadores, podendo causar um grandemal);

- no final do dia, os utilizadores finais nãocomprarão soluções de IA se não estiveremabsolutamente convencidos dos seus princípios –incluindo com base em mecanismos regulatóriosque os garantam.

Evolução futura deste processo

Pela importância desta matéria, a Comissãoavançará com mais processos de consulta sobreIA, com vista à apresentação de uma propostalegislativa concreta em 2021.

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1. O covid 19, a saúde a digitalização daeconomia e da sociedade

O covid-19 e o modo como tem sido combatidovieram introduzir profundas mudanças – emboratemporárias ꟷ na organização do trabalho, nadivisão de tarefas entre o espaço residencial/familiare os espaços de trabalho e urbano. E essasmudanças aceleraram a difusão das tecnologiasdigitais – teletrabalho, tele escola, tele conferência,telemedicina, comércio eletrónico etc. Ou seja, umaquestão de saúde pública determinou umaaceleração da digitalização da economia e dasociedade.

Ora olhando para o futuro pode colocar-se a questãode saber até que ponto dinâmicas demográficas emcurso, mudanças de padrões de morbidade, forteprobabilidade de ocorrência de novos surtosepidémicos, podem vir a ser enfrentados comrecurso crescente a avanços paralelos que estão aocorrer nas tele comunicações (ex. 5G), noprocessamento maciço de dados, na possibilidade de– através de tecnologia analíticas – extrair dessamassa de dados padrões de comportamento, queapoiem a tomada de decisão, avanços na utilizaçãode sensores e na sua interligação através da Internetof Things (IoT) e da desenvolvimento da computaçãopróxima do local de recolha dos dados – edgecomputing , em vez da colocação maciça de dadosna cloud; avanços em machine learning e Inteligênciaartificial. E, em termos geoeconómicos, astransformações que o ciberespaço e a economia dasplataformas digitais globais introduz na prestaçãomais personalizada de serviços e no acesso aconteúdos .

2.Tendências nas áreas da demografia e da saúde

Nas economias desenvolvidas está-se a assistir aum fenómeno central na demografia que é oenvelhecimento da população traduzida em:

• Prolongamento do tempo de vida na populaçãocom 80 e mais anos, sujeita a doençasincapacitantes do foro neurológico - Parkinson,Alzheimer etc. sem que as estruturas familiares

estejam preparadas para acolher os pacientesEntrada na fase de maior consumo de medicamentospela geração dos baby boomers do pós 2ª guerra,que pode vir a ser obrigada a prolongar o seu tempode vida activa devido a insuficiente capacidadefinanceira dos sistemas de pensões.

• Maior impacto de doenças crónicas na populaçãoem idade ativa devido a doenças adquiridas emconsequência de estilos devida (ex obesidade) outambém a fatores ambientais (ex: alergias).

A diabetes e outras doenças associadas àobesidade, bem como doenças inflamatórias comoa artrite reumatoide, vão afirmar-se como principaisdoenças crónicas na população em idade ativa.

Com efeito, a alimentação, o sedentarismo, oconsumo de bebidas alcoólicas, o consumo detabaco ou de drogas tem um impacto cada vez maiornos padrões de morbidade, ao que se vêmacrescentar os impactos ambientais, traduzidos emalergias, doenças respiratórias etc.

É hoje frequente referir um conjunto de alteraçõesno padrão de morbidade expectável nas economiasmais desenvolvidas, de que podemos destacar comoexemplos :

• As doenças oncológicas vão afirmar-se comoprincipal causa de morte nos paísesdesenvolvidos;

• A ocorrência com frequência crescente de novasepidemias virais.

Estas dinâmicas actuando em conjunto vão tornarainda mais difícil o financiamento de sistemas desaúde - sejam financiados em parte por impostos ouem parte pelas contribuições de trabalhadores eempregadores. Isto coloca desafios aos sistemasnacionais de saúde hoje existentes , formatados emperíodos com outra demografia e com outros focosde doenças. Sistemas de saúde que permitiram – emconjunto com outras evoluções das sociedade ꟷreduzir drasticamente a mortalidade infantil, erradicardoenças infeciosas, combater causas de morte“transformando-as” em doenças crónicas, avançar

OS DESAFIOS

A Digitalização e os Serviços de Saúde no Pós Covid - 19 Como as novas tecnologias digitais são um relevante instrumento para melhorar os

serviços de saúde.

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em múltiplas frentes no combate às doençascardiovasculares, responder ao crescimento dedoenças do foro psiquiátrico, etc.

As evoluções referidas aconselham a que estesSistemas de Saúde evoluam no sentido dodiagnóstico mais precoce das doenças queacabámos de referir, de um claro reforço daprevenção da doença, de uma maiorpersonalização no tratamento e numa busca decuras e não apenas de transformação de causasde morte em doenças crónicas. Além, de exigiruma revisão do modo de responder a novaspandemias que não exijam uma paralisaçãoquase total das economias.

3. Como pode a digitalização das economia e dasociedade contribuir para a transformação dossistemas de saúde?

Podemos supor que durante próxima década hajatransformações resultantes do avançotecnológicos na digitalização, de que sãoexemplos:

A monitorização de parâmetros individuais de saúdevai poder ser realizada de forma permanente, emtempo real e conectada com prestadores de cuidadosde saúde. Os consumidores passarão a ter à suadisposição, e serão incentivados a utilizar, umconjunto de dispositivos portáteis de captaçãocontínua de dados clinicamente relevantes, desde osque respeitam a parâmetro clínicos, aos queinformam sobre o perfil de atividade do utente ou quesintetizem dados ambientais com relevância comofatores de risco de doença.

Para além deste dispositivos portáteis (os wearables)poderão estar disponíveis nas residênciasdispositivos fixos em que a determinadas horas dodia seja possível obter informação, por exemplo,sobre pressão arterial e temperatura, comparável deimediato com os dados biométricos históricos.

A disponibilidade destes dados personalizados eintegrados num perfil previamente formatadopermitiria a cada pessoa acompanhar de perto o seuestado de saúde, podendo partilhá-los no todo ou naparte, com as entidades prestadoras de cuidados desaúde – publicas, privadas ou de forma mista ꟷ aquem confie as funções de diagnóstico preditivo, deaconselhamento de saúde e de prescrição dostratamentos que venham a ser necessários. Adigitalização permite também a circulação deinformação de saúde relevante, respeitante a cadautente, entre diversos níveis dos serviços nacionais,dos cuidados primários de saúde ( centros desaúde, unidades de saúde familiar), passando pela

medicina de especialidade, cuidados hospitalaresetc., circulação que tem que respeitar regras deconfidencialidade.

A digitalização permite melhorar a relação entreutentes e prestadores de cuidados de saúde – porexemplo médicos ꟷ que pode passar a serrealizada também à distância ꟷ telemedicina ꟷ comacesso ao resultado digitalizado de meios dediagnóstico , além do acesso aos dados demonitorização permanente já referidos.

A maioria dos cuidados de saúde actualmenteprestados são considerados por vários peritoscomo sendo altamente algorítmicos e previsíveis. Oque torna possível que parte dos cuidados desaúde a fornecer de forma personalizada possa vira sê-lo apoiado num aconselhamento dosprestadores, por inteligência artificial . A propósitodestes exemplos é interessante referir oscontributos que as telecomunicações móveis de 5ªgeração (5G) podem dar a esta transformação doscuidados de saúde, devido às suas característicasde acesso em banda larga, velocidade decomunicação, reduzida latência, além da fácilarticulação com Internet of Things e comcomputação edge.

A tele medicina, por exemplo ,que requere umarede de comunicações que possa suportar vídeoem quase tempo real e com alta qualidade sem quetal exigência gere abrandamento na redebeneficiará com 5G. A monitorização a distânciade pacientes, utilizando dispositivos com IoT serátambém facilitada pela maior capacidade detransferência de dados, com a maior largura debanda da 5G e pela possibilidade de transferênciade mais volumosos blocos de dados. O 5G pode,ainda, facilitar a utilização de tecnologias analíticasdigitais, bem como de Inteligência artificial, narealização de diagnósticos ou na definição deplanos de tratamento de doentes, tarefas queexigem mais elevadas velocidades de transferênciade dados. E, quando a rede tiver níveis ultrareduzidos de latência, pode permitir computaçãoedge com multi acesso permitindo o processamentorápido de dados na periferia da rede. Adigitalização pode também fazer entrar no grupo deentidades agenciáveis pelos cidadãos paraaceder a cuidados de saúde um novo tipo deentidades ꟷ as plataformas digitais globais ꟷ quepodem passar a funcionar naturalmente de acordocom regras a definir pelas autoridades públicas,como inter conetadoras entre os consumidores e osseus dados, o aconselhamento por inteligênciaartificial e os diversos prestadores de cuidados desaúde. 15

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Nos anos 70 do século passado foi ultrapassado olimiar da capacidade de regeneração dosecossistemas naturais.

De acordo com a Comissão Europeia, “Entre 1970 e2017, a extração e o tratamento, a nível mundial, demateriais tais como a biomassa, os combustíveisfósseis, os metais e os minerais triplicaram e nãoparam de aumentar, provocando emissões de gasescom efeito de estufa, perda de biodiversidade epressão sobre os recursos hídricos”.

Por outro lado estima-se que em 2030 a populaçãomundial seja de (8,5 mil milhões de pessoas,passando a ser de 9,7 mil milhões em 2050).

De acordo com as estimativas da ComissãoEuropeia, em 2016 eram utilizados cerca de 8,1 milmilhões de toneladas de matérias primas por ano,sendo que apenas 5% do seu valor original foirecuperado através da sua reciclagem e darecuperação energética, perdendo-se 95% do valordas matérias primas e da energia.

O Modelo de Economia Circular e o Sector do Comércio e ServiçosO comércio e os serviços, o seu contributo para a economia circular

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contínua destruição dos ecossistemas para alémdo lumiar de regeneração, pelo que a continuidadedo actual modelo de produção linear e de consumonão é viável, sendo necessário recorrer a outrosmodelos que assegurem uma diminuição do ritmode destruição dos ecossistemas e de recursos.

Diferenças entre o modelo linear e o modelo circular

Fonte: PBL,2016

No relatório “Growth Within: A circular economyvision for a competitive Europe”, elaborado pelaFundação Ellen MacArthur SUN, McKinsey & Co.,de Junho de 2015, é referido que a UniãoEuropeia importa 6 vezes mais materiais erecursos naturais do que exporta, sendo que nasindústrias do aço, plástico e papel perdem-seentre 30% a 75% do valor dos materiais no 1.ºciclo produtivo. Há, no entanto, outros indicadoresque importa referir, como o facto de que umescritório é usado apenas 35% a 50% do tempo,mesmo durante o horário de trabalho, ao passoque do lado do consumo e estilo de vida, observa-se que31% dos alimentos são desperdiçados aolongo da cadeia de valor.

Actualmente assistimos a uma série defenómenos climáticos extremos, resultado da

Esquema do modelo de economia circular

Fonte: Apcer

O modelo de economia circular surgiu comoresposta ao problema da destruição dosecossistemas, tornando-se uma alternativa viávelpara diminuir o ritmo da sua destruição.

Este modelo tem como objectivo a partilha,reutilização, reparação e reciclagem de materiaise bens, para aumentar o seu ciclo de vida ediminuir ao mínimo o desperdício, reutilizando osmateriais e bens e eliminando a obsolescênciaprogramada dos equipamentos. Este modeloabrange o ciclo de vida completo de produtos,bens e serviços, desde a sua concepção efabrico, incluindo o seu consumo, reparação,reutilização e reciclagem, opondo-se ao modelode produção linear, que se baseia na produção,utilização e desperdício de materiais e de bens,recorrendo a materiais a preço reduzido e de fácilacesso, bem como enormes quantidades deenergia.

A adaptação do modelo actual de produção linearpara um modelo de economia circular nãoacarreta perdas de competitividade, podendo emalternativa criar melhorias na eficiência dautilização de recursos e na gestão de processos,aumentando a sua eficiência e valoracrescentado.

De acordo com o relatório “Liderar a Transição[Plano de Ação para a Economia Circular emPortugal: 2017-2020]”, “Melhorar a eficiência e aprodutividade no uso dos materiais em 30%até 2030 implicará poupanças anuais na ordem

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Vencer a crisePara ganhar a década

Em Portugal, o Plano de Acção para a EconomiaCircular (PAEC), aprovado pela Resolução doConselho de Ministros n.º 190-A/2019, de 23 denovembro de 2017, publicada no Diário da República,n.º 236, 1.ª série, de 11 de dezembro de 2017,estabeleceu a definição de agendas sectoriais paraacelerar a transição para a economia circular,propondo agendas específicas para cada sector deactividade. As acções a desenvolver no sector docomércio e serviços visam “apoiar a mudança nossetores da distribuição, do retalho e da restauração,bem como a sensibilização dos consumidores para asmelhores práticas e opções de compra e de utilizaçãode produtos, promovendo uma mudança decomportamentos para escolhas ambientalmenteconscientes de bens e serviços e promovendo padrõesde consumo cada vez mais sustentáveis e maisresponsáveis”.

No âmbito do PAEC, salientam-se as seguintesacções para os sectores do comércio e serviços:

Ação 1 — Desenhar, Reparar, Reutilizar: umaresponsabilidade alargada do produtor• Aumentar a reutilização de produtos, nomeadamente os

abrangidos pela responsabilidade alargada do produtor eoutros de consumo massificado (p. ex. manuaisescolares);

• Diminuir a produção de resíduos;

• Contribuir para uma conceção de produtos com múltiplasvidas úteis (menor obsolescência).

Ação 4 — Alimentar sem sobrar: produção sustentávelpara um consumo sustentável• Conhecer e monitorizar a realidade nacional em matéria

de desperdício alimentar na cadeia de valor;

• Diminuir a produção de resíduos orgânicos e aumentar aprodutividade da cadeia de valor; sobretudo dos setoresligados à indústria alimentar, contribuindo para aconservação dos recursos naturais;

• Contribuir para a educação do produtor/consumidor.

Ficha Técnica

Vencer a crise para ganhar a década

Textos produzidos com a colaboração de:

Ana Vieira

Helena Leal

Hugo Oliveira

Isabel Francisco

José António Cortez

José Manuel Félix Ribeiro A informação utilizada reporta a 31 de Setembro de 2020Comentários e sugestões para: [email protected]

dos €600 mil milhões na UE. Com efeitosmultiplicadores, este número pode passar a €1,8biliões/ano.

Os impactos da adopção deste modelo não secingem às melhorias na eficiência, produtividade eredução das emissões de CO2 (menos 2 a 4% dototal anual de emissões de GEE na UE segundo orelatório acima referido), havendo impactos tambémno emprego, através dos sectores do saneamento ereciclagem, e da adopção do ecodesign, concepção,reparação, remanufactura e a desassemblagemfina, e de redes de logística inversa. “Na UE, aadopção das propostas legislativas contidas nopacote de economia circular criaria mais de 170 000empregos directos até 2035. O aumento daprodutividade dos recursos em 30% pode conduzir àcriação entre 1 a 3 milhões de postos de trabalhoadicionais até 2030.

Impacto da Economia Circular no emprego (directo) e na economia de países da UE

Fontes: Fundação Ellen MacArthur, Clube de Roma, TNO, WRAP – em Jones, 2017

Apesar do maior impacto positivo do modelo deeconomia circular ser sobretudo nos sectores daindústria e agricultura, o sector do comércio e serviçostambém pode contribuir para a sua prossecução e paraa diminuição dos impactos do seu sector,nomeadamente nos sectores da distribuição, retalho,turismo, hotelaria, restauração, transportes e logística.