apostila de policiamento comunitário - cfp 2014

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1 ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR MANUAL DE POLICIAMENTO COMUNITÁRIO Goiânia-GO 2014

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    ACADEMIA DE POLCIA MILITAR

    MANUAL DE POLICIAMENTO COMUNITRIO

    Goinia-GO 2014

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    NDICE

    1 INTRODUO ................................................................................................ 3

    2 ELEMENTOS DA DEFINIO DE POLICIAMENTO COMUNITRIO .......... 3

    3 FINALIDADE DO POLICIAMENTO COMUNITRIO ..................................... 4

    4 AS RAZES HISTRICAS DO POLICIAMENTO COMUNITRIO ................. 5

    5 POLCIA COMUNITRIA E SOCIEDADE ...................................................... 8

    6. TEORIA DE POLCIA COMUNITRIA...........................................................26 7 CONSELHOS COMUNITRIOS DE SEGURANA........................................43 8 PARBOLAS O VESTIDO AZUL...................................................................47 9 OBJETIVOS................................................................................................................49

    10 CONCEITOS UTILIZADOS NO POLICIAMENTO COMUNITRIO............50

    11 VISITA COMUNITRIA........................................................................................50

    12 VISITA SOLIDRIA...............................................................................................53

    13 MONITORAMENTO..............................................................................................56

    14 MENSURAO.......................................................................................................57

    15 REUNIO MENSAL...............................................................................................58

    16 ROTINA DOS POLICIAIS MILITARES DO QUADRANTE...........................60

    17 PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRO COMUNITRIO-POPCom..60

    BIBLIOGRAFIA.................................................................................................68

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    1 INTRODUO Definir policiamento comunitrio em rpidas palavras um desafio. Explicar

    como o fenmeno vem sendo experimentado por vrios pases, principalmente a partir de quando surgiu a Administrao Gerencial, enquanto as prticas tradicionais so seculares.

    Implantar as mudanas requeridas pelo policiamento comunitrio exige uma ruptura com o paradigma existente e a reformulao de conceitos que nem sempre foram plenamente aceitos pelos policiais militares, vez que tiveram sua formao profissional voltada aos mtodos repressivos e distanciada do cidado.

    A definio de policiamento comunitrio, embora no sendo uma tarefa fcil, teve uma aceitao ampla e a convergncia ao conceito apresentado por Trojanowicz e Bocqueroux (1994, p. 6):

    O policiamento comunitrio uma filosofia de policiamento personalizado de servio

    completo, onde o mesmo policial patrulha e trabalha na mesma rea numa base permanente, a partir de um local descentralizado, trabalhando numa parceria preventiva com o cidado para identificar e resolver os problemas.

    O conceito de policiamento comunitrio apresentado acima possui uma

    aceitao universal e consagra as expectativas brasileiras na determinao das diversas experincias o que exime de qualquer desprezo.

    2 ELEMENTOS DA DEFINIO DE POLICIAMENTO COMUNITRIO

    Apesar da dificuldade em definir policiamento comunitrio em poucas palavras, a definio anterior revela alguns elementos que a melhor lhe explicita. Esses elementos so tratados por Trojanowicz e Bocqueroux (1994, p. 6 a 9) como os nove Ps do Policiamento Comunitrio:

    Filosofia. A filosofia do policiamento comunitrio baseia-se na crena de que os desafios contemporneos requerem que a polcia fornea um servio de policiamento completo, preventivo e repressivo, envolvendo diretamente a comunidade como parceira no processo de identificao, prioridade e resoluo de problemas, incluindo crime, medo do crime, drogas ilcitas, desordens fsicas e sociais e decadncia do bairro. Um amplo engajamento do departamento implica em mudanas tanto nas polticas quanto nos procedimentos.

    Personalizao. Com o fornecimento comunidade do seu prprio policial comunitrio, o policiamento comunitrio quebra o anonimato de ambos os lados os policiais do policiamento comunitrio e os residentes da rea se conhecem a ponto de se tratarem pelo nome.

    Policiamento. Os policiais comunitrios patrulham as suas comunidades, mas o objetivo libert-los do isolamento da rdio-patrulha, fazendo com que frequentemente faam a patrulha a p ou lancem mo de outros meios de transporte, tais como bicicletas, cavalos, motocicletas etc.

    Permanncia. O policiamento comunitrio requer que os policiais sejam alocados permanentes a certa ronda, a fim de que possam ter o tempo, a oportunidade e a continuidade para desenvolverem esta nova parceria com a comunidade. A permanncia significa que os policiais comunitrios no devem ser trocados constantemente de ronda e que no devem ser usados como substitutos dos policiais que esto de frias ou que faltarem ao servio.

    Posto. Todas as jurisdies, por maiores que sejam, podem ser subdivididas em bairros ou vizinhanas. O policiamento comunitrio

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    descentraliza os policiais, fazendo com que eles possam ser donos das rondas da sua vizinhana, atuando como se fossem mini-chefes de polcia, adequando a resposta s necessidades especficas da rea que esto patrulhando. Alm disso, o policiamento comunitrio descentraliza o processo de deciso, no apenas proporcionando ao policial comunitrio a autonomia de agir, mas tambm concedendo poder a todos os policiais para agirem na resoluo de problemas com base no policiamento comunitrio.

    Preveno. No intuito de proporcionar um servio completo de polcia comunidade, o policiamento comunitrio equilibra as respostas aos incidentes criminais e s emergncias, com uma ateno especial na preveno dos problemas antes que estes ocorram ou se agravem.

    Parceria. O policiamento comunitrio encoraja uma nova parceria entre as pessoas e a sua polcia, apoiada no respeito mtuo, no civismo e no apoio.

    Resoluo de Problemas. O policiamento comunitrio redefine a misso da polcia em relao resoluo de problemas, de modo que o sucesso ou o fracasso dependam da qualidade do resultado (problemas resolvidos) mais do que simplesmente dos resultados quantitativos (nmeros de detenes feitas, multas emitidas, etc., conhecidos como policiamento de nmeros). Tanto as medidas quantitativas como as qualitativas so necessrias.

    Alguns desses elementos de definio sero melhor tratados quando forem estudados os fundamentos e objetivos do policiamento comunitrio

    3 FINALIDADE DO POLICIAMENTO COMUNITRIO

    O policiamento comunitrio no pretende mudar a funo da Polcia, principalmente da polcia de preservao da ordem pblica. Na verdade, desde o momento em que a polcia acompanhou a transformao do Estado Totalitrio para liberal, ela redefiniu sua funo como protetora do cidado.

    Os direitos do homem, como cidado, estariam basicamente assegurados como Direitos Humanos de primeira gerao, incluindo liberdade, vida, prosperidade e segurana.

    Desde daquela revoluo, a polcia voltou-se ao homem e no ao Estado. A governabilidade deixa de ser finalidade da polcia para assegurar a cidadania.

    O policiamento comunitrio o cumprimento do fim estatal estabelecido pela Declarao dos Direitos do Homem, em 1789, porm utilizando o modelo gerencial para administrar a funo de polcia.

    No modelo gerencial as organizaes policiais devem assegurar um melhor equilbrio entre as prticas policiais e a presena visvel e asseguradora dos policiais. Para melhorar a qualidade de vida dos cidados, ou seja, reduzir a sensao de insegurana, reduzir a criminalidade e as desordens e melhorar a relao da polcia com a comunidade, os policiais devem manter contato direto, ligaes estreitas com os cidados.

    Hoje, o Estado, como prestador de servio, se preocupa com a melhoria da qualidade de vida dos cidados e para melhor atend-los, precisa satisfazer seus anseios. A satisfao completa dos anseios do cidado no se resume segurana intrnseca, apenas com a diminuio da violncia e criminalidade, que poder no ser sentida se no melhorar a sensao de segurana e a relao entre a polcia e o cidado.

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    4 AS RAZES HISTRICAS DO POLICIAMENTO COMUNITRIO

    A dcada de setenta foi marcante para o surgimento do policiamento comunitrio ou para a transformao da polcia em diversos pases, graas incorporao da idia de qualidades dos servios pblicos na definio do Estado.

    Nos Estados Unidos da Amrica uma experincia merece uma ateno especial, pois sugere uma polcia que alcana sua finalidade.

    Os relatos expostos por Trojanowicz e Bucqueroux (2003, p.23 e 24) remontam as experincias de patrulhamento p que iniciaram nas cidades de Flint e Newark, respectivamente, nos Estados de Michigam e New Jersey-EUA.

    Em ambas as cidades, as experincias exploraram o policiamento p. Enquanto em Newark utilizou a patrulha p no direcionada, Flint buscou ultrapassar os limites da polcia tradicional dos incidentes criminais, ou seja, das ocorrncias de delitos to somente. Em Flint a polcia recebeu treinamento sobre como engajar a comunidade na resoluo criativa de problemas, e tinha sido dada uma extraordinria liberdade aos policiais para explorar novas maneiras de atacar uma srie de assuntos [...] (Trojanowicz & Bucque Roux, 2003, p. 24)

    Quando analisaram os resultados, os pesquisadores concluram que as metodologias aplicadas pelos policiais contriburam para a ambigidade dos resultados. Em Flint, que adotou o policiamento p direcionado e engajamento da comunidade houve uma reduo significativa em determinados crimes (TROJANOWICZ & BUCQUEROUX, 2003, p. 24).

    Apesar de que em Newark no houvesse uma reduo na violncia, em ambas as cidades a pesquisa demonstrou que, em decorrncia do policiamento p, as pessoas apresentaram melhoria na relao com a polcia, bem como se sentiam mais seguras. Por fim, concluram os pesquisadores:

    Houve naqueles anos, vrias tentativas de repetir as experincias de Flint e Newark. Enquanto os resultados iniciais quanto reduo do crime foram ambguos, pesquisas peridicas realizadas antes e depois da implantao mostraram uma reduo no medo do crime, reduo da desordem, aumento da sensao de segurana pessoal e melhoria do relacionamento entre a polcia e a comunidade em particular nas vizinhanas onde residiam minorias. Houve tambm, em relao aos policiais, um aumento na sensao de segurana pessoal e da satisfao em relao ao trabalho. (TROJANOWICZ & BUCQUEROUX, 2003, p. 24 e 25).

    O estudo serviu para discutir a importncia do policiamento p e distingui-

    lo do policiamento comunitrio, mas, sobretudo para reverenciar o policiamento p como um valioso instrumento para o policiamento comunitrio e para criar o desafio de extrair dele o diferencial e aplicar ao policiamento por radio patrulha.

    Os ltimos anos tm indicado uma profunda desigualdade na distribuio de

    riquezas, que se agravam com advento das tecnologias avanadas, marginalizando as economias emergentes. O fraco desempenho econmico dos pases em desenvolvimento pode ser atribudo, em parte, ao rpido crescimento da populao, no acompanhado de um adequado crescimento da renda. A sociedade, na atualidade, extremamente organizada e competitiva, e funciona como determinante de comportamentos, impossibilitando o indivduo social de alterar, sozinho, processos j existentes, o que gera tenses emocionais e conflitos. Isto tem resultado na fragmentao de idias e conceitos no mundo atual. O ressurgimento de dios ideolgicos, segregao de migrantes e imigrantes, a separao fsica e

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    poltica de uma mesma sociedade, o isolamento desses mesmos indivduos nas megalpoles, somam-se impossibilidade do cidado em atender as suas necessidades bsicas, em virtude da complexidade social.

    Esta situao de desequilbrio acentua a crise das relaes interpessoais e faz explodir, de todas as formas, o individualismo desesperado que, em suma, contribui para o aumento da violncia. Por outro lado, as elites polticas, que deveriam ser o segmento responsvel do encaminhamento das solues dos problemas sociais, alienam-se cada vez mais das relaes humanas de modernidade e princpios democrticos, e tendem a transformar, como um jogo virtual, as necessidades sociais em interesses nacionais, provocando o cansao democrtico, que leva desesperana, ao desencanto e descrena no poder pblico como um todo.

    Assim, a impermeabilidade do Estado atual no oferece condies de se antepor aos interesses individuais de alguns privilegiados. A ditadura do poder econmico e a ausncia de decises concretas e visveis transformam o cotidiano em algo sombrio e inseguro, totalmente propenso a aes violentas de indivduos ou grupos sociais que desejam romper os valores estabelecidos por uma sociedade formalmente estabelecida para crescer e desenvolver. Estes problemas provocam conflitos, tenses, disputas e desvios sociais que acarretam desnveis considerveis nas diversas camadas sociais (pobreza, m distribuio da renda, desestruturao familiar, etc.). Fatores que desagregam pessoas; aumentam distncias; destroem a sociedade.

    O nvel de desigualdade social enorme. Segundo pesquisas da Universidade de So Paulo (USP), para cada cinco cidados paulistanos existe um favelado. Alguns pases que possuem estatsticas sobre homicdios, indicam que quanto maior a desigualdade social, maior a violncia. Isto resulta na fragmentao de costumes e valores; ressurgimento de dios ideolgicos; segregao fsica e moral de migrantes ou pessoas pobres, causando o isolamento desses mesmos indivduos nos centros urbanos, somados impossibilidade do cidado atender as suas necessidades bsicas, em virtude da complexidade da cidade grande. A pobreza por si s no gera violncia; mas a desigualdade social, associada aos valores apresentados e injustia social, sim. Onde h riqueza e opulncia convivendo com a misria, aumenta o sentimento de privao do indivduo, levando-o a violncia.

    Dessa forma, acentuam-se as diferenas sociais e familiares, prejudicando todas as estruturas sociais que contribuem para o estabelecimento da sociedade como um todo, dando a sensao que o caos est muito prximo. Da surge o fenmeno da anomia social, no contexto brasileiro, que pode ser entendido no apenas como a ausncia de processos normativos, mas tambm na descrena daquilo que regulamenta a vida em comum dos seres sociais. Com isso, torna-se claro ao indivduo que o que certo passa a ser questionado ou duvidoso; e o que era incorreto, pode ser considerado vantajoso e seguro. ADORNO (1998, p.14) considera que: anomia uma condio social em que as normas reguladoras do comportamento das pessoas perdem a validade. Onde prevalece a impunidade, a eficcia das normas est em perigo. As normas parecem no mais existir ou, quando invocadas, resultam sem efeito. Tal processo aponta no sentido da transformao da autoridade legtima (o Estado) em poder arbitrrio e cruel.

    Para DAHRENDORF apud ADORNO2 (1998):

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    Nas sociedades contemporneas assiste-se ao declnio das sanes. A impunidade torna-se cotidiana. Esse processo particularmente visvel em algumas reas da existncia social. Trata-se de reas onde mais provvel ocorrer a iseno de penalidade por crimes cometidos. So chamados de reas de excluso, a saber:

    a) nas mais diferentes sociedades, uma enorme quantidade de furtos no sequer registrada. Quando registrada, baixa a probabilidade de que o caso venha a ser investigado. O mesmo vlido para os casos de evaso fiscal, crime que parece ter institudo uma verdadeira economia paralela e para o qual h sinais indicativos de desistncia sistemtica de punio. A consequncia desse processo que as pessoas acabam tomando as leis em suas prprias mos; b) uma segunda rea afeta a juventude. Constata-se que em todas as cidades modernas os jovens so responsveis pela grande maioria dos crimes, inclusive os crimes mais violentos. No entanto, o que se observa a tendncia geral para o enfraquecimento, reduo ou iseno de sanes aplicveis aos jovens. Suspeita-se que essa tendncia seja em grande parte responsvel pela delinquncia juvenil; c) uma terceira o reconhecimento, por parte do cidado comum, de espaos na cidade que devem ser deliberadamente evitados, isto , o reconhecimento de reas que se tornaram isentas do processo normal de manuteno da lei e da ordem. A contrapartida desse fato tem resultado no rpido desenvolvimento de sistemas privados de segurana, o que se traduz na quebra do monoplio da violncia em mos dos rgos e indivduos autorizados. Se levado ao extremo esse processo conduz necessariamente anomia parcial; d) uma Quarta rea de excluso diz respeito prpria falta de direo ou orientao das sanes. Para o socilogo alemo, quando a extenso das violaes s normas se tornarem bastante vastas, sua consequente aplicao se torna difcil, por vezes impossvel. Motins de ruas, tumultos, rebelies, revoltas, insurreies, demonstraes violentas, invases de edifcios, piquetes agressivos de greve e outras formas de distrbios civis desafiam o processo de imposio de sanes. No h como distinguir atos individuais de processo macio de autnticas revolues, manifestaes coletivas de uma exigncia de mudana.

    Nesse aspecto, devido incompetncia (ou ausncia) das instituies pblicas em no saber agir, ou em agir tardiamente, ocorrem duas consequncias imediatas em relao ao indivduo: - Perda da noo de tempo - ou seja, vive-se s o presente e no se projeta para o futuro; - Desconfiana generalizada - no acredita nas instituies, procurando defender-se com os recursos que possui ou que adquire de qualquer maneira, a qualquer preo. Alguns estudos valiosos da violncia urbana, no Brasil e em outros pases, demonstram que h uma dimenso histrica. O que parece estar faltando para aqueles que analisam a violncia de forma sensacionalista, situ-la numa perspectiva global, examin-la ao longo dos tempos, fazendo-se comparaes do cotidiano com os primrdios das civilizaes. MCNEIL3 (1994, p.01) escreveu que a violncia sempre foi uma parte importante da vida humana. Ele estabelece a idia de que a violncia tem uma histria, tanto quanto tem uma geografia e uma sociologia, que assume formas diferentes em perodos diferentes, peculiar a uma poca ou a um determinado povo. Nesse aspecto, devido incompetncia (ou ausncia) das instituies pblicas em no saber agir, ou em agir tardiamente, ocorrem duas conseqn- cias imediatas em relao ao indivduo: a) Perda da noo de tempo - ou seja, vive-se s o presente e no se projeta para o futuro; b) Desconfiana generalizada - no acredita nas instituies, procurando defender-se com os recursos que possui ou que adquire de qualquer maneira, a qualquer preo. Alguns estudos valiosos da violncia urbana, no Brasil e em outros pases, demonstram que h uma dimenso histrica. O que parece estar faltando para aqueles que analisam a violncia de forma sensacionalista, situ-la numa perspectiva global, examin-la ao longo dos tempos, fazendo-se comparaes do cotidiano com os primrdios das civilizaes. MCNEIL3 escreveu que a violncia sempre foi uma parte importante da vida humana. Ele estabelece a idia de que a violncia tem uma histria, tanto quanto tem uma geografia e uma sociologia, que assume formas diferentes em perodos diferentes, peculiar a uma poca ou a um determinado povo. A violncia social no novidade, nem mesmo nas grandes cidades. Pode-se entender que os fatores que geram a violncia social esto diretamente relacionados ao ambiente cotidiano e surgem

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    sempre, em maior ou menor grau, quando as diferenas sociais se acentuam ou amenizam. Somente o Estado perfeitamente constitudo e organizado, poder fazer frente aos aspectos que so os causadores da violncia e, assim, agir preventivamente, e no aps os fatos consumados, ou seja, nas consequncias. As crescentes crises sociais urbanas e rurais demonstram em que patamar as coisas se encontram; tenta-se responsabilizar as instituies que tm por obrigao a manuteno da ordem pblica e no aquelas que tm por dever de ofcio agir na soluo dos problemas estruturais do pas.

    5. POLCIA COMUNITRIA E SOCIEDADE

    5.1 Os Problemas Sociais da Violncia na Sociedade Moderna

    A VIOLNCIA, COMO J EXPOSTO, PODE SER MANIFESTADA DE DIVERSAS FORMAS. SEGUNDO SANVITO4: A FORMA MAIS HEDIONDA DE VIOLNCIA CONTRA A VIDA. TUDO COMEA PELO NCLEO FAMILIAR, QUE QUANDO BEM CONSTITUDO, FUNDAMENTAL PARA FORMAR CIDADOS NTEGROS E RESPONSVEIS. QUANDO DESESTRUTURADOS, DESFEITOS, CONSTRUDOS ATRAVS DE PATERNIDADE IRRESPONSVEL, CONSTITUEM-SE EM UM CALDO DE CULTURA PARALELA QUE FORJAM POTENCIAIS DELINQENTES E CRIMINO-SOS; VERDADEIRAS PESSOAS EXCLUDAS, QUE NO CONSEGUEM IDENTIFICAR NA SOCIEDADE ONDE VIVEM VALORES MORAIS E SOCIAIS PERTINENTES A SUA REALIDADE.

    inquestionvel que a excluso social contribua para o aumento da violncia urbana. Entretanto, afirma SANVITO que os polticos, de forma em geral, acusam o desemprego como a causa principal da violncia. Com certeza, um dos fatores, mas no o principal. SANVITO argumenta que a violncia nos bolses de pobreza depende da falta de escola, reas de lazer, de moradia e infraestrutura de rgos pblicos, que, quando no atuam, propiciam o trfico de drogas, o alcoolismo, desemprego e a desesperana. Assim afirma: a sociedade prepara o crime, o criminoso o consuma. CAMARGO5 afirma: Mais do que regime de governo, a democracia o equilbrio conquistado pela prpria sociedade, harmonizando interesses contraditrios. A discusso democrtica sobre temas de interesse social indispensvel para esse equilbrio, promovendo necessria sinergia, na qual at as opinies contrrias se somem na busca do bem comum (...). dessa forma que devemos discutir a questo da violncia urbana, fugindo de posturas maniquestas, preconceituosas e perigosas ao interesse social (...). Alm da ausncia de polticas pblicas capazes de promover a recuperao dos locais deteriorados das cidades, v-se tambm o crescimento urbano desordenado. Enormes contingentes de migrantes aglomeram-se nas periferias das metrpoles, sem emprego ou subempregados, desprovidos de educao, habitao, sade, higiene bsica, transportes eficientes, etc. Tal situao em si, j traz um contedo de degradao gerador de violncia. 5.2 As Cidades como Centros Convergentes da Vida Comunitria

    O homem um animal poltico. A cidade o lugar de sua histria. ARISTTELES

    As cidades, com certeza, so os centros de convergncias de todos os anseios e desejos sociais de uma sociedade estruturada. L, todas as pessoas se dirigem para viver, conviver, sobreviver.

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    Na antiguidade foram os centros de convergncias das cincias, artes e cultura das sociedades cosmopolitas que ento se formavam (privilgio at ento das elites dominantes). Com o decorrer dos tempos, cidades foram ligadas a outras cidades, atravs de estradas bem-estruturadas (uma das boas heranas deixadas por gregos e romanos) e eram utilizadas habitualmente para atividades militares e comerciais.

    As cidades antigas, que antecederam a polis e as cidades-estados, eram pequenas e mantinham tradies do homem do campo. Com o surgimento das grandes civilizaes, foram surgindo s cidades com caractersticas cosmopolitas, ou seja, aquelas que se constituam nos grandes centros polticos e comerciais, que exigiam condies mnimas de infraestrutura e desenvolvimento urbano. Os exemplos mais clssicos so os de Roma e Atenas, que possuam rede de esgotos, sistema virio, escolas pblicas e at policiamento ostensivo na rea urbana.

    A partir do sculo XIX GIDDENS6 dirigiu seu estudo para concluir que: a populao mundial aumentou maciamente (e continua aumentando), surgindo as grandes cidades devidas at o desenvolvimento industrial e cultural da sociedade mundial que passa a ser cosmopolita na essncia, escolhendo as cidades como os centros do planeta. Como afirma em seus estudos, existem atualmente no mundo 1.700 cidades com mais de 100 mil habitantes, 250 cidades com mais de 500 mil habitantes e quase duas dezenas de cidades com mais de10 milhes de habitantes.

    PARK apud GIDDENS7, descreveu que a cidade uma grande mquina de filtragem e discriminao que, sob formas ainda no inteiramente compreendidas, infalivelmente seleciona da populao, como um todo, os indivduos mais bem preparados para viverem em determinada regio e em determinado meio.

    A cidade assim organizada em reas naturais, mediante processos de competio, invaso e sucesso, comparvel ao que ocorre na ecologia biolgica (como a vida das abelhas). Tais processos regem a distribuio por zonas de caractersticas diferentes das reas vizinhas. A rea central das cidades costuma apresentar uma forte concentrao de negcios, estabelecimentos comerciais e diverso. Espalhados em torno do centro da cidade existem, provavelmente por decadncia, reas que apresentam grande nmero de apartamentos ou casas de cmodos a preos reduzidos.

    Mais distante, devero existir reas determinadas para a classe operria, com a classe mdia ocupando subrbios em pontos marginais mais afastados. WIRTH apud GIDDENS8, faz a discusso a respeito do urbanismo como meio de vida, que pretende identificar trs caractersticas universais da vida nas cidades: tamanho, densidade e heterogeneidade da populao. Nas cidades, so muitas as pessoas que vivem muito prximas entre si mas, na maioria das vezes, no se conhecem pessoalmente. Nas cidades, muitos contatos so transitrios e fragmentrios e so considerados pelas pessoas envolvidas como instrumental, como um meio para se alcanar determinado fim, e no como relaes que valham por si mesmas. O indivduo despojado de sua capacidade de expresso expontnea, da disposio espiritual e do sentido de participao originrios da vida em uma sociedade integrada. Geram-se a os conflitos e a competitividade extrema como resultados dessas discrepncias, ora por necessidade de se integrar sociedade, ora por estar excludo dela por diversos fatores.

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    GULLO, ao analisar GIDDENS, aborda o urbanismo das cidades como modo de vida, considerando os seguintes aspectos: a) a filtragem e discriminao que seleciona da populao os indivduos mais preparados gera expectativas e revoltas; b) a proximidade sem relacionamento e conhecimento, devido ao tamanho, heterogeneidade e densidade da populao afasta as pessoas, mesmo aquelas vizinhas de parede; c) cria um estilo de vida peculiar e particular dos moradores da cidade caracterizado por contatos fragmentrios e transitrios, no criando laos perenes como em comunidades menores; d) cria relaes frgeis, despojadas do sentido de participao, de expresso espontnea e de disposio espiritual; e) populaes grandes e densas geram diversificao e especializao de rea, e; f) diferenciao de funes causadas pela dissoluo de uma sociedade integrada cria rotinas ordenadas, controladas por regras de comportamentos impessoais e definidos claramente.

    Estes aspectos comprovam que as grandes cidades geram anonimato e falta de identificao com os fatores sociais to comuns na vida em sociedade. A perda desta identidade social extremamente perniciosa e causa prejuzos sociais diversos.

    Segundo PERLMAN10: as grandes cidades na modernidade desempenham um papel fundamental no avano da civilizao porque renem as pessoas mais criativas e brilhantes de todos os setores, transformando as metrpoles em ambientes fascinantes. As metrpoles dos pases em desenvolvimento so responsveis pela gerao de 85% de toda a riqueza nacional. Como centros de riqueza, tambm so centros de cultura e artes (indispensveis ao avano da civilizao). No ano de 1800, s 3% da populao mundial vivia em reas urbanas. No ano 2000, sero em torno de 50%. Nos pases em desenvolvimento a mudana mais rpida: h meio sculo 70% da populao brasileira vivia na rea rural; hoje ao contrrio.

    Se por um lado PERLMAN aponta aspectos positivos quanto s metrpoles no que tange sociabilizao e ao desenvolvimento com base na cultura e nas artes, os negativos so relacionados alta criminalidade, violncia e pobreza da populao de periferia, dentro de outros fatores urbanistas (a polarizao entre ricos e pobres radical). Afirma: toda cidade rica tem uma pobre em seu interior. A exploso de cortios e favelas duas vezes mais que o crescimento planejado de bairros organizados.

    Corroborando com estas reflexes, JACOBS considera: as razes e motivaes para viver nas grandes cidades ao final do sculo so econmicas. As pessoas vo morar nas cidades porque acreditam que nelas tero uma vida melhor. Para os pobres, um centro urbano representa uma oferta melhor que o campo, devido a sua ampla oportunidade. Um ponto abordado a aproximao urbana e o relacionamento comunitrio interpessoal empobrecido, embora as pessoas estejam prximas uma das outras. Explicam-se a as iniciativas de algumas comunidades criarem centros comunitrios de convivncia, tendo por objetivo maior interesses comuns em uma determinada rea.

    Outro fator tambm considervel, citado por JACOBS, a violncia urbana que est relacionada aos valores econmicos, ou seja, a distribuio de renda.

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    Nas afirmaes de PERLMAN e JACOBS, fica claro o seguinte:

    a) as causas dos fatores que provocam a pobreza, a criminalidade e o baixo desenvolvimento social nas grandes cidades, principalmente nos pases em desenvolvimento, esto relacionadas falta de planejamento urbano, distribuio de renda e a carncia de investimentos econmicos em polticas pblicas, visando melhoria da qualidade de vida; b) inegvel a importncia econmica, social e cultural das grandes cidades. Assim, os administradores pblicos devem ter esta viso para que haja um desenvolvimento social possvel e adequado realidade nacional, mas de forma equilibrada.

    Como ficou claro, a cidade opo preferencial da humanidade, como afirma ELUF12: Em pases desenvolvidos, existe um planejamento de melhoramento contnuo das cidades. Diferentemente do Brasil, que tem mentalidade predatria e desordenada, causando prejuzos incalculveis nas grandes cidades, sejam de ordem econmica, social ou fsica, alm de causar prejuzos individuais s pessoas. Mesmo circundados por milhes de habitantes possvel ter uma vida decente nas cidades brasileiras. Basta evoluir da conscincia individual para a conscincia cosmopolita, grupal, universal e entender que a cidade inteira nossa casa e com mesmo zelo deve ser cuidada. Isso vale para governantes e para a populao em geral.

    Neste ponto, o respeito e o interesse individual e coletivo para o bem estar, tranquilidade pblica, segurana pblica e salubridade pblica (contedos da ordem pblica) devem ser mtuos. 5.3 O Bairro, Unidade Urbana

    Como principal ncleo urbano, o bairro talvez seja o grande centro de confluncia dos interesses comuns da comunidade, em uma cidade. Segundo WILHEIM, o bairro constitui hoje a unidade urbana mais legtima da espacialidade de sua populao (...). Corresponde dimenso de territrio ideal para a reivindicao coletiva. Em territrio maior, na regio administrativa, surgem conflitos de prioridade entre um bairro e outro; em escala menor, na rua domiciliar, as reivindicaes esgotam-se rapidamente (...). na escala do bairro que se luta por obras civis, por segurana, por escolas e centros de sade, transporte e mais lazer. Esta especificidade do bairro torna-o um unidade politicamente importante (...).Do ponto de vista fsico, os cenrios dos bairros variam: os mais antigos possuem estruturas de pequenas cidades, com suas ruas levando naturalmente a um plo centralizador, catalisando as atividades comerciais e atraindo os pontos de embarque; frequentemente a igreja do bairro e sua praa constituem pontos de encontro preservados com o passar do tempo. Da a importncia em se entender que o bairro o local fsico onde o cidado mora e se identifica com sua coletividade seja ela de negcios, social, etc., ou seja, no bairro que o indivduo adquire identidade de valores coletivos e de cidadania.

    Segundo WILHEIM, O indivduo sente-se seguro na medida em que lhe seja reconhecido seu papel na sociedade e possa contar com o reconhecimento do grupo em que vive, estuda e trabalha; (...) na medida em que seja objeto de afeto, tenha autoestima e que possa auto sustentar-se em nvel superior mera subsistncia orgnica; (...) que tenha clareza sobre os valores morais que lhe possibilitem distinguir o bem do mal; (...). Percebe-se quo difcil sentir-se seguro hoje em So

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    Paulo, pois vivemos um perodo histrico caracterizado pela transio de valores, numa cidade de grande mobilidade fsica, em poca de escassez de empregos, sendo que o ritmo da urbanizao acarretada pela migrao determinou uma concorrncia mais aguerrida e implacvel. Em lugar do aumento de esperana, defrontamo-nos, por um lado, com o ceticismo intelectual e, por outro lado, com uma desalentadora ausncia de esprito pblico; e em lugar de solidariedade deparamo-nos com a violncia e o aumento da criminalidade. 5.4 O Relacionamento Social Durante a Atividade do Policiamento

    A doena que mais incomoda a sociedade nos dias de hoje chama-se criminalidade e quando o assunto Segurana Pblica, todos os olhares se voltam para as polcias como se elas fossem as nicas culpadas pela insegurana que aflora pelo pas.

    preciso saber que quando as polcias, o Ministrio Pblico, o Judicirio e o sistema carcerrio precisam agir, porque os mecanismos informais de controle da sociedade falharam. bem verdade que no existe sociedade sem crime, mas preciso control-lo em patamares aceitveis de convivncia. Verificamos que aquela que mais visvel no sistema da Segurana Pblica, acaba sendo a mais atacada, mesmo com seus componentes sendo as maiores vtimas no combate criminalidade. Antes a populao no conhecia e a nica acusada como culpada pela insegurana era a polcia. Pessoas importantes e at muitos representantes de outros rgos corresponsveis ficavam no anonimato, apontando as acusaes para as polcias.

    Com a participao da comunidade e do envolvimento de todos os seguimentos, as polcias deixaram de ser acusadas e sim respeitadas e apoiadas, sendo os problemas resolvidos ou encaminhados pelos verdadeiros responsveis, pois quando a comunidade conhece, ela confia respeita e auxilia a corrigir as falhas. H quase 30 anos CATHALA afirmava: a polcia era frequentemente objeto de crticas demolidoras, de apreciaes muitas vezes injustas colocando, no raro, toda a instituio sob suspeita mais ou menos velada, por amplos setores da opinio pblica, principalmente nos dias de hoje onde a mdia tem presena garantida na discusso dos problemas sociais e, de forma imponderada, utiliza o sensacionalismo como tempero dessas relaes.

    Em pesquisa realizada em 199316, a respeito do grau de conhecimento da populao em relao s suas polcias, se concluiu que o cidado no consegue distinguir tecnicamente quem quem e quem faz o que. A pesquisa apresentou as seguintes concluses: a) medo e a insegurana dominam a vida das pessoas. Projetos pessoais so abandonados e modificados por esse fator. O cidado sente que sua liberdade est cerceada pelo medo, e se revolta contra as instituies que, em sua opinio, esto sendo incapazes de garantir a sua integridade, fsica, emocional e do seu patrimnio econmico; b) as diferentes corporaes so pouco diferenciadas pelas pessoas, sendo que os entrevistados mais pobres reconhecem a PM; c) com dificuldade de diferenciar, a tendncia, generalizar a PM. E, quando se fala ou se pensa na Polcia em geral, a associao mais imediata a violncia; d) com rarssimas excees, os episdios em que a presena da polcia necessria tm sempre relao com violncia. E, mesmo que a presena da polcia

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    tenha por objetivo conter/evitar violncia, a associao inevitvel, sentimentos desagradveis em relao polcia, sentimentos agravados pela exposio na mdia e pelas experincias negativas vivenciadas; f) as aes sociais da polcia so muito pouco divulgadas, e esto muito pouco presentes na memria das pessoas; g) a comunidade e a populao vm perdendo a confiana na polcia, e no colabora com essa instituio, entretanto sente uma imensa necessidade de proteo; h) a populao mostra um grande anseio por aes da polcia que sinalizem movimentos em direo competncia e moralidade; i) as pessoas desejam e esperam que a polcia conquiste ou reconquiste a sua capacidade de desempenhar com competncia o seu papel primordial que a proteo do cidado. E, esperam perceber algum esforo de resgate da moralidade, para que se restabelea a confiana; j), no entanto, o quadro que se apresenta bastante desanimador e favorece muito mais o ceticismo do que a esperana no resgate da confiana na polcia; k) apesar disto, carente de segurana, a populao ainda se mostra receptiva e expressa o desejo de acreditar na polcia; l) motivados pela necessidade de confiar naquela instituio que tem por funo proteg-los, tentam ainda resgatar e preservar a imagem da polcia, o que se percebe atravs das seguintes atitudes:

    procuram justificativas para as falhas da polcia (m remunerao, falta de equipamentos, etc.);

    mantm, junto aos filhos, a figura do policial-heri, o que extremamente importante porque se refere ao futuro;

    acreditam no restabelecimento do vnculo de confiana e na colaborao comunidade-polcia atravs da convivncia dos postos policiais. Para isso apontam caminhos para recuperar a eficincia e resgatar a imagem. Nesta anlise conjuntural, afirma ADORNO: efeitos desse processo

    observam nas imagens e representaes que cidados comuns revelam sobre as foras policiais, indicativos de graus de confiana, de expectativas e de mitos. O que os estudos vm apontando com certa insistncia o declnio consenso no apoio popular s operaes policiais. Os policiais so percebidos como pessoas que aplicam a lei, de modo pouco satisfatrio. A organizao policial tornou-se algo complexo, afastado das comunidades locais, constrangida a recorrer prioritariamente fora mais do que ao consenso na conteno da ordem pblica.

    SCHIMIDT DE OLIVEIRA relaciona a segurana pblica s concepes

    equivocadas apontadas: A criminalidade uma doena, um cncer, que deve ser extirpado do corpo social e polcia incumbe tarefa de acabar com a criminalidade e restabelecer a paz. No h sociedade sem crime, portanto, acab-lo , pois, meta inatingvel. O que possvel mant-la em nveis aceitveis, que sero coerentes com a realidade social. E essa tarefa no s da polcia. preciso resgatar a viso do todo. A polcia o smbolo mais visvel do sistema oficial de controle social. A expectativa da comunidade e dos prprios policiais de que a polcia vena a criminalidade; afastem os criminosos do nosso convvio e voltemos a ter paz. Errado! O crime um problema de todas as instncias formais e informais, e no s da polcia. Uma sociedade que no se interessa pelas razes do problema do crime e

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    da violncia, que pensa que sua segurana ser maior na medida em que for maior o nmero de criminosos atrs das grades; que no consegue desenvolver sentimentos de solidariedade; que permanece indiferente cruel, insensvel e merece a taxa de criminalidade que tem. Sem um dilogo, entre diversas instncias, formais e informais, sem crtica e autocrtica constantes, sem reconhecer cada uma delas, suas limitaes, sem buscar enxergar o todo, o nosso sistema repressivo vai continuar combatendo a criminalidade que ele prprio reproduz, reproduzindo a criminalidade que pretende combater. 5.5 Diretrizes para A Integrao com a Comunidade 5.5.1 Parceria com a comunidade

    o reconhecimento do potencial que a comunidade pode oferecer s organizaes responsveis pela segurana pblica na resoluo de problemas que afetam diretamente a vida de ambos: comunidade e polcia. A contribuio pode variar desde a identificao de problemas at o planejamento de uma ao para combater e solucionar os problemas de segurana pblica, em seu sentido mais amplo. Deve-se incentivar a participao do dilogo com a comunidade, envolvendo policiais em eventos cvicos, culturais e de negcios, trabalhando juntamente com agncias sociais e tomando parte de atividades educacionais e recreativas com crianas em escolas. O objetivo inserir a polcia como parte integrante da comunidade. Assim como a igreja e a associao de bairro, a polcia ser vista como mais um integrante desta comunidade, permitindo que esta interfira na definio de prioridades e alocao de recursos.

    Deve-se, para incentivar esta parceria, fortalecer dois grupos essencialmente: a) o grupo externo, a comunidade; b) os policiais de ponta de linha.

    Eles so a quem se dirige o servio pblico, e os policiais de ponta de linha so o contato imediato entre polcia e comunidade. Deve-se ter sempre em mente que a ao de um policial pode comprometer o trabalho de todos, e no limite, de toda a instituio.

    O policial, inserido na comunidade deve ser um catalisador e um facilitador das mudanas e do desenvolvimento da comunidade. Nessa atividade em conjunta, no se deve ter as tradicionais dualidade: profissional X paisano; antigo X moderno; autoridade X subordinado. Toda forma de subestimar o potencial alheio deve ser fortemente reprimido, j que policiamento comunitrio a tentativa de juntar todas as foras vivas, de dentro da instituio e de fora, da comunidade. Todos tm um potencial de cooperao que deve ser incentivado e ampliado.

    Por fim, toda a instituio policial deve estar ao lado da comunidade quando essa dela precisar.

    5.5.2 Mudana Gerencial. O voltar-se para a comunidade implica em:

    ter clareza do tipo de mudanas necessrias visando a polcia comunitria, reatualizando antigas estruturas administrativas para uma nova mentalidade.

    deve-se reconhecer a necessidade de mudanas, Isto implica em:

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    iniciativas, decises rpidas e responsabilidade descendente. A responsabilidade por uma rea deve ser do capito, do sargento, do soldado. As decises devem ser de baixo para cima, e no de cima para baixo.

    ova polcia.

    Portanto como um todo, deve a polcia incentivar a comunidade em si

    mesma e o patrulheiro. Que tipo de metas a serem buscadas: a) reduo da criminalidade; b) envolvimento com a comunidade; c) respeito aos direitos constitucionais e dignidade humana; d) conservao do material permanente; e) menor nmero de policiais e civis mortos (ou feridos, fsica ou psiquicamente).

    Sob a polcia comunitria, a superviso serve como guia e catalisador de foras necessrias para dar suporte ao patrulheiro. Toda organizao deve apoiar, guiar e encorajar a soluo dos problemas locais. 5.5.3 Resoluo de Problemas

    Se a polcia reconhece que sua atividade est em ajudar a comunidade a resolver seus problemas, haver por parte das pessoas um constante crescimento de confiana na polcia e este crculo essencial para o sucesso DA POLCIA COMUNITRIA. Este processo requer uma conscincia muito grande por parte dos policiais em relao s preocupaes da comunidade.

    Os problemas mais importantes para a populao podem no ser os mais importantes para a polcia. Caso no seja um problema especfico da polcia, esta deve agir em conjunto com outras agncias pblicas.

    5.5.4 Problemas para comunidade:

    5.5.5 Como solucionar:

    especializadas;

    dios que possibilitem conduta criminosa;

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    folhetos educativos.

    O fim ltimo da instituio promover segurana populao atravs do

    policiamento ostensivo. Logo, ela tem de ser medida pela sua capacidade de realizao de seu principal servio: segurana. Vale lembrar para finalizar: a melhor soluo aquela que satisfaz a comunidade, melhora a segurana, diminui a ansiedade, aumenta a ordem, fortalece os laos entre polcia e comunidade e minimiza aes coercitivas. 5.5.6 A Integrao com Entidades Representativas da Comunidade O sucesso da Polcia Comunitria, na viso de TROJANOWICZ, e indicado por diversos pesquisadores, depende de segmentos representativos da comunidade que iro participar diretamente da melhoria da atividade policial naquela localidade. 5.5.7 Estes rgos so identificados em seis grandes grupos: a) organizao policial; b) a comunidade; c) autoridades constitudas e organismos governamentais; d) a comunidade de negcios; e) as instituies comunitrias; e f) os veculos de comunicao. 5.5.8 Organizao Policial

    A organizao policial exerce papel fundamental no sistema de Polcia Comunitria, pois ela tem que assimilar e se querer se comprometer com o novo sistema, criando um consenso que envolva do mais importante comandante at o soldado que est na linha de frente. A organizao tem que construir laos de confiana com a comunidade, fortalecendo os cidados em geral no processo de parceria, e o lugar onde vai se aperfeioar essas habilidades dentro da Polcia Comunitria. Deve ser analisado o sistema existente de recompensas e criar um novo, para reforar os conceitos de Polcia Comunitria.

    As pessoas costumam reclamar que difcil implantar a Polcia Comunitria em razo das dificuldades de meios e de pessoal existentes. Entretanto, se for realizada uma anlise detalhada, ser verificado que, mesmo fora dos horrios de maior incidncia de ocorrncias, existem intervalos entre os atendimentos que permitem a prtica DA POLCIA COMUNIT- RIA. essa a sada, pois os moradores de So Paulo acreditam no restabelecimento do vnculo de confiana e colaborao, pois apontam caminhos para recuperar a eficincia e resgatar a imagem.

    Segundo PEDROSO FILHO19, o policial compromissado com a comunidade da rea vai ter na segurana um papel semelhante ao do pronto socorro no setor da sade. As pessoas querem ser atendidas, entretanto, poucos so os casos que demandam um encaminhamento ao hospital. No policiamento, a maioria dos casos devem ser resolvidos na base, no exigindo encaminhamento aos Distritos Policiais e Justia. Muitos casos so resolvidos com simples orientao. Esse contexto faz aumentar a credibilidade na organizao, aliviando a sobrecarga de custos desnecessrios com os deslocamentos de veculos policiais. O morador tem a certeza de encontrar um policial amigo, conhecido e confivel no Posto. O ser humano no confia totalmente em quem no conhece e a quem no capaz de

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    revelar um segredo familiar e outros problemas. normal que a populao tome parte pelo todo, ou seja, a partir do mau policial, poucos na viso dos entrevistados - infere que toda a so vistos como excees. A PM precisar se estruturar e aprender a conviver e trabalhar com civis.

    5.5.9 A Comunidade

    A comunidade a grande beneficiada no processo ao receber um Policial Comunitrio, e os grandes perdedores so os marginais. H necessidade de educar e preparar a comunidade para ajudar os policiais e esclarec-la para entender o sistema e o estabelecimento de prioridades, para, de um lado, no efetuar crticas destrutivas, e, de outro, auxiliar na melhoria a qualidade do servio.

    Nos locais onde existem lideranas civis (Lions, Rotary, Maonaria, etc.), estes devem esclarecer como o funcionamento da polcia, como so priorizados os atendimentos e orientaes preventivas de segurana e motivao para participar da sua autoproteo. 5.5.10 Autoridades Constitudas e Organismos Governamentais

    A Polcia Comunitria deve envolver de todas as autoridades constitudas (deputados, prefeitos, vereadores etc.), inclusive aquelas que, por suas aes no dia-a-dia, se posicionam como opositoras, convidando-as, por intermdio dos lderes comunitrios a participar das reunies.

    A ao da polcia deve ser apoltica, no interessando partido ou ideologia. Os membros da comunidade e os Policiais Comunitrios devem conviver bem com os polticos locais, mostrando a importncia social da polcia comunitria. Afinal, Polcia e Poltica tm a mesma origem, mas no devem se misturar. A viso Governamental, a respeito da Polcia, ainda vinculada a um organismo repressor e refratrio s mudanas. preciso estabelecer um contato com as diversas esferas de Governo (Federal, Estadual e municipal), mostrando resultados das atividades relacionadas ao Programa. Estas atividades devem ser enviadas e apresentadas como forma de romper possveis mal entendidos quanto atuao policial.

    Quanto aos Governos Municipais o relacionamento imprescindvel. No que tange aos pequenos e mdios municpios isto j ocorre. O problema parece residir nas grandes cidades e na metrpole (So Paulo), onde a ao passa pelo entendimento poltico de que segurana apenas problema do Estado. Tal afirmao no se trata da municipalizao da Polcia, mas da integrao de poderes, visto que os problemas de ordem local passam pelas duas esferas de Governo, e dependendo das circunstncias, um ou outro poder fica impossibilitado de agir. O prefeito deve conhecer o seu Chefe de Polcia, aquele que desenvolve e planeja segurana em sua cidade. Afinal como diz a mxima do ex-governador Andr Franco Montoro: Ningum mora na Unio, ningum mora no Estado, todos moramos no municpio.

    Quando isso no ocorre, o poder pblico local utiliza subterfgios para a criao de estruturas municipais de polcia que s confundem a populao e provocam desvios de finalidade do poder pblico, Como afirma PEDROSO FILHO: Nos ltimos anos, est havendo uma corrida crescente dos poderes pblicos municipais, muitas vezes pressionados pela populao que desconhece as leis, para a criao de guardas municipais, como se fossem a soluo para os problemas da criminalidade. Na verdade, depois de instaladas as guardas, alguns municpios acabam verificando que no foram resolvidos os seus problemas de segurana. O municpio tem a responsabilidade maior de cuidar das misses no campo da sade,

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    saneamento e assistncia social, principalmente na rea da criana e do adolescente, buscando atividades para que no venham a delinqir. Sem dvida, o crescimento das guardas municipais, mostra o grau de insegurana psicolgica que est vivendo o povo do Estado de So Paulo e tambm de outras regies mais urbanizadas do pas.

    Outros rgos tm incentivado a sua criao e emprego no campo da Segurana Pblica, sob a falsa bandeira de autonomia dos municpios e com a aprovao da comunidade que, teoricamente, recebe o beneficio, sem perceber a alta conta da fatura que vai pagar. Hoje, h guardas municipais em mais de 25% dos municpios paulistas.

    O assunto legalmente no deixa dvida, na verdade as polticas pblicas municipais seriam melhor empregadas se, em vez de criarem um corpo permanente de vigilncia, investissem em convnios de apoio ao sistema estadual, suprindo as necessidades materiais existentes, possibilitando Polcia maior eficcia por um custo menor (.). 5.5.11 Comunidade de Negcios

    O envolvimento da comunidade de negcios pode fazer a diferena entre a aceitao e a resistncia. Quando os homens de negcios so orientados sobre o programa, geralmente orientam seus funcionrios a participarem e s vezes, at os cedem para apoio em algumas atividades. Eles podem se tornar uma boa parte de apoio material para a base de segurana comunitria. O processo de planejamento que ignorar as preocupaes e contribuies da comunidade de negcios poder enfrentar vrios problemas no futuro.

    A discusso do assunto com esse grupo, esclarecendo a necessidade das medidas adotadas, elimina ou ameniza as resistncias que normalmente ocorrem quando so tomadas unilateralmente. Porm na relao com a comunidade de negcios, preciso deixar claro e transparente o interesse social da atividade de policiamento, no privilegiando interesses comerciais ou particulares, que podem provocar descrdito e desconfiana.

    O importante agir com a viso econmica do delito, ou seja, o criminoso procura agir em locais onde haja um centro comercial e financeiro bastante desenvolvido e procurado. A polcia comunitria nestas reas ter por objetivo maior diminuir a incidncia de crimes. Diminuindo esta incidncia, a comunidade de negcios passar a acreditar no policiamento, iniciando a parceria. Exemplos como o Centro Vivo e a Ao Local, da Capital Paulista, demonstram bem como resultados preventivos favorecem e aproximam a ao da polcia. 5.5.12 Instituies Comunitrias

    As participaes das instituies comunitrias so de fundamental importncia para a educao da populao e tambm para a adequao dos servios de outros rgos, visando melhor servir comunidade. So inquestionveis as possibilidades das instituies comunitrias, pois j vivem para servir, e geralmente seu aspecto voluntrio altamente produtivo no sentido de buscar solues para os problemas locais.

    As atividades de polcia comunitria neste aspecto no devem ter resistncias em receber ajuda ou opinies destas entidades, pois, diferente da comunidade de negcios, as contribuies sero de carter humilde pelas prprias

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    caractersticas locais. O preconceito religioso e racial no pode fazer parte em nenhum momento deste processo. 5.5.13 O Relacionamento com Entidades e Lideranas locais

    A filosofia bsica de entidades locais est calcada na crena de que quando as pessoas passam a se relacionar com outros cidados, seus problemas comuns tendem a ser equacionados e compreendidos de modo mais racional. O Conselho, Comits ou Associaes so grupos de pessoas do mesmo bairro ou do mesmo municpio que se renem para discutir e analisar seus problemas de Segurana, propor solues, acompanhar sua aplicao, desenvolver campanhas educativas e estreitar laos de entendimento e cooperao entre as vrias lideranas locais.

    Podem participar das entidades representativas as pessoas indicadas pelas Entidades Comunitrias e Instituies de Servio de bairro. O nmero de membros pode variar conforme o tamanho do Distrito ou Municpio, do nmero de Entidades que existem e das pessoas que se interessam em participar. Os representantes dos rgos de segurana pblica so membros indispensveis nestas entidades, sendo obrigatrias suas participaes. Estas entidades se constituem num legtimo instrumento para reverter s distores institucionais por parte da Polcia. Como afirma Paulo Srgio Pinheiro, Coordenador do Ncleo de Estudos da Violncia da USP, necessrio aumentar o relacionamento entre a Polcia e a Sociedade. O sucesso do trabalho policial depende da credibilidade e da boa imagem que a instituio tem em relao populao.

    Importante instrumento de avaliao para o administrador policial, favorecendo a definio de prioridades para a atuao da Polcia, estas entidades tm contribudo para corrigir, por meio de medidas criativas, fatores de insegurana sem onerar o poder pblico. Alm disso, podem realizar, com sucesso, campanhas de informao e educao s comunidades em que atuam, alcanando, com isso, resultados concretos na preveno de infraes e acidentes evitveis, a partir da conduta do prprio cidado, que deixa assim de passar condio de vtima.

    Outros temas, alm dos assuntos eminentes policiais, tm sido objeto de deliberao e atuao, na busca de outras solues como deficincia de iluminao pblica e pavimentao, modificaes na arquitetura viria e sinalizao de trnsito, limpeza e muramento de terrenos baldios, silncio urbano, alteraes no itinerrio de transportes urbanos, preveno e tratamento de dependentes de lcool e drogas, assistncia a segmentos mais fragilizados da comunidade como indigentes, crianas e migrantes entre outros.

    Por ter sua fora no seu carter suprapartidrio, estando estruturadas e organizadas, organizaes sociais so um poderoso instrumento para reverter a violncia, verdadeira peste social que se espalha pelas ruas e atinge nveis insustentveis. Para tanto necessrio aprimorar o seu funcionamento, corrigindo as falhas que tm sido detectadas ao longo do tempo e, por outro lado, disseminando as experincias de sucesso.

    5.5.14 As falhas mais comuns, a comprometer a eficincia ideal de entidades sociais so, numa primeira anlise:

    burocracia nas instituies pblicas, ocasionando demora nas respostas s necessidades da Comunidade;

    falta de envolvimento da Comunidade, com as questes comunitrias; policiais em funes diretivas na entidade;

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    uso de instalaes policiais para sediar reunies dessas entidades, ao invs de ambientes neutros;

    falta de clareza na deteco de problemas de segurana, suas causas reais e solues adequadas;

    comunidade que apenas reage aos problemas, sem oferecer alternativas de planejamento para solucionar as questes elencadas;

    excessiva movimentao de autoridades policiais da rea, frustrando sua integrao com a comunidade;

    uso indevido para fins polticos; falta de divulgao, quanto ao local, data e horrio das reunies, bem como

    suas finalidades e forma de participao;

    5.5.15 Veculos de Comunicao Na natural disputa entre os veculos de comunicao, o enfoque proativo de

    Polcia Comunitria pode criar na organizao policial a oportunidade de contar com o apoio da imprensa para educar o pblico. preciso aproveitar melhor os espaos disponveis na pequena e mdia imprensa, jornais de bairro e rdios locais, pois estes podem auxiliar, sobremaneira, o trabalho de Polcia Comunitria.

    O grande desafio quebrar os paradigmas da mdia em relao polcia. Os rgos de imprensa, via de regra, procuram destacar os escndalos, e isto cria na mente dos policiais a idia de que a imprensa inimiga da polcia, sem entender que ela vive dos espaos que ocupa na audincia. Na natural disputa entre os veculos de comunicao, o enfoque pr-ativo de Polcia Comunitria pode criar na organizao policial a oportunidade de contar com o apoio da imprensa para educar o pblico.

    preciso aproveitar melhor os espaos disponveis na pequena e mdia imprensa, jornais de bairro e rdios locais, pois estes podem auxiliar, sobremaneira, o trabalho de Polcia Comunitria. 5.5.16 Como medidas para aproximar e melhorar o relacionamento como os representantes da mdia, sugerimos o seguinte: a) Criar um programa permanente de comunicao social, objetivando estabelecer formas de divulgao das atividades da Polcia, com participao de tcnicos especializados (relaes pblicas, jornalistas, marketeiros); b) Priorizar o contato com a mdia regional e local como a grande mdia oferece resistncias o importante seria o contato com jornais de bairros, rdios locais e at mesmo emissoras de televiso regional; c) Desenvolver campanhas educativas de preveno contra violncia, utilizando sempre a mesma marca Polcia e no o Batalho X ou Y ou Distrito Z ou W; d) Elaborar propagandas de utilidade pblica de forma permanente objetivando orientar as comunidades; e) Elaborar um planejamento de marketing, de forma a propiciar a participao da Polcia em eventos diversos (televiso, jornal, etc.); f) Na imprensa regional e local, elaborar artigos que orientem e divulguem as aes locais da Polcia; g) Promover reunies locais com a comunidade e a imprensa local divulgando e informando as atividades de segurana pblica;

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    h) Quanto televiso, promover um planejamento repudiando os programas que fazem apologia a violncia, criando programas que mostrem assuntos positivos e educativos da ao da polcia; i) Promover a criao de um programa na rede educativa direcionado aos jovens e crianas, objetivando mudar a imagem de represso da polcia, criando at um personagem (ex: Guarda Belo). 5.5.17 A Identificao dos Problemas Sociais Locais At hoje nenhuma iniciativa isolada conseguiu provar absoluta eficcia na preveno do crime, o que se pretende envolver todos os segmentos e atravs das discusses, haverem convergncias em razo de padres bsicos da sociedade. Antes de atuarmos diretamente com a comunidade, devemos conhecer a comunidade adotando as seguintes providncias: 5.5.18 Coleta de Informaes Devero ser verificados os problemas da rea por onde vamos passar a operar com a polcia comunitria. Quais so os problemas que realmente afligem aquela rea, caractersticas fsicas e peculiares que no devem ser os pratica, se os jovens tm ou no tempo ocioso, empregos, etc. Os obstculos fsicos naturais, ndice de ocorrncias, populao existente, efetivo, viaturas; especialidades possveis de vinculao quela rea especfica, tais como: ronda escolar, projeto vida e outros. Tipos de apoio para a rea como um todo nos Postos 24 horas, Foras Tticas, para misses especiais na rea como grandes jogos, desapropriaes, invases de terras e etc., verificando ainda os policiais militares que esto integrados na comunidade de escolas, associaes, clubes, etc. 5.5.19 Anlise da Comunidade Orientao dos policiais e da comunidade para atribuies de poderes a ambos levando em conta a base econmica, aspectos culturais, organizaes sociais, organizaes que reagem contra, projetos e programas sociais j existentes e potencial para criao de outros. 5.5.20 Identificao dos Grupos Relevantes Levar em considerao que o sucesso da Polcia Comunitria depende do apoio de seis grandes grupos, a saber:

    Organizao Policial; Comunidade; Autoridades Constitudas; Comunidade de Negcios; Organismos Comunitrios; e Imprensa.

    Reunio geral envolvendo os seis grupos para lanamento da Polcia

    Comunitria, depois reunies especficas nas reas das futuras Bases, nos bairros. Instruir o pblico sobre o histrico da Polcia Comunitria e a maneira como melhor poderia atender s necessidades da comunidade. Fornecer aos cidados, as informaes que foram coletadas. Obter informaes sobre opinies dos problemas existentes. Critrios que devero ser utilizados durante a seleo das rondas.

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    Cronograma experimental para deslocar o esforo da Polcia Comunitria da fase de planejamento para a implantao. bom o futuro Comandante de Base j levar uma minuta de proposta experimental para discusso inicial.

    Procura de um local para reunio, atentando para os detalhes que podem resultar no sucesso ou fracasso da reunio, observando:

    Nmero de participantes; Acomodaes; Estacionamento com Segurana; Acessvel a todos; Transporte fcil; Conforto; Acstica; Iluminao e outros.

    Para definio da data da reunio, deve ser analisada a facilidade para o

    comparecimento, sendo evitados dias de grandes eventos na cidade, decises esportivas, etc. A data e o horrio da reunio podero variar de acordo com as caractersticas locais. A reunio no deve afetar o horrio das refeies ou de descanso. Utilizar todos os meios possveis para sensibilizar as pessoas a participarem da reunio, acionando o jornal do bairro ou at panfletos em contas mensais. 5.5.21 A Identificao da Liderana

    Alguns cidados tero comparecido a muitas reunies de bairro, mas no necessariamente so lderes comunitrios potenciais. preciso identificar as pessoas que esto dispostas a iniciar o processo. A maioria das pessoas que se envolvem ativamente na iniciativa DA POLCIA COMUNITRIA esto motivadas, no tanto por sua prpria vitimizao ou medo do crime, mas por um interesse geral do bairro e da comunidade. Procure as pessoas que reflitam as atitudes, os valores, as normas e as metas do bairro, porque elas sabero melhor como estimular e perpetuar o apoio dos cidados. Independentemente do mtodo de seleo, os lderes devem exibir muitas das seguintes caractersticas:

    Uma capacidade de participar pessoalmente da iniciativa, sendo de preferncia um morador da comunidade.

    Uma inclinao para a ao de resoluo de problemas, ao invs da retrica. Uma habilidade de identificao com as pessoas envolvidas e, idealmente,

    ser reconhecido pelo grupo como o seu porta-voz. A capacidade de inovar, inspirar ao e estimular a participao continuada e

    geral dos cidados. A capacidade de encorajar respostas de todos os segmentos da comunidade.

    5.5.22 Reunio dos Lderes dos Grupos Relevantes

    Aps terem sido identificados os lderes dos grupos relevantes, o prximo passo congreg-los. Dever ser-lhes dito que foram identificados pelos seus colegas dos grupos como lderes influentes interessados na polcia comunitria. As reunies iniciais (em geral dirigidas por alguma pessoa da comunidade) podero ser um tanto desestruturadas. Os principais objetivos dessas reunies sero:

    Facilitar a expresso de sentimentos quanto aos problemas aparentes.

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    Encorajar grupos relevantes a trocar pontos de vista sobre cada um deles. (Muitas instituies tm receios em relao a outras instituies, e os cidados podero tambm ter desconfiana quanto s instituies).

    Criar um clima favorvel ao dilogo, a fim de que os mal-entendidos ou as falsas opinies possam ser identificadas e possam ser discutidos quaisquer fatores causadores do problema.

    Identificar os grupos de auto interesse, e mostrar de que maneira cada um dos grupos se beneficiar do processo cooperativo de resoluo de problemas para prevenir o crime e a desordem.

    As primeiras reunies em geral tm as seguintes caractersticas:

    Expresso desestruturada de sentimentos e percepes. Aceitao dos fatos reais. Discusso dos fatores que contribuem para os mal-entendidos. Facilitao do entendimento. Aumento do nmero de percepes positivas entre os grupos.

    Aps um certo tempo, as reunies comeam a ter um enfoque mais real e menos emotivo. Se as reunies iniciais atingiram os seus objetivos, tudo est pronto para o prximo passo do processo. 5.5.23 Identificao das reas de aceitao comum e das reas de Discordncia

    Uma vez identificados os pontos de vista dos diversos grupos, as informaes podem ser apresentadas, em geral em um quadro tipo flip chart, e logo em seguida, essas informaes podem ser discutidas. As percepes dos diversos grupos podem ser comparadas e as reas de aceitao comum e as de discordncia podem ser identificadas. Por exemplo, a percepo que a polcia tem em relao ao seu papel pode ser comparada com a percepo que a comunidade tem do papel da polcia e vice-versa. Esta comparao pode ser feita com os demais grupos relevantes - a polcia com os assistentes sociais, os assistentes sociais com a comunidade, e assim por diante.

    As percepes dos papis dos grupos tambm podem ser comparadas com os comportamentos reais dos grupos, podendo ser feita uma avaliao se um determinado grupo age como deveria agir ou de acordo com a percepo que dele se tem. Como resultado da comparao das percepes com o comportamento, ficar evidenciado se os grupos agem como deveriam ou se eles no esto cumprindo com os seus papis. H em geral um maior consenso do que seria esperado, em relao ao papel que cada grupo deveria desempenhar. O problema consiste em geral, nas prprias limitaes e restries que cada grupo possui por causa da sua histria passada e/ou problemas financeiros.

    5.5.24 Implantao

    Aps a identificao das reas de aceitao comum e de discordncia, possvel fazer um esforo para incorporar as reas de concordncia no intuito de que os pontos importantes da iniciativa DA POLCIA COMUNITRIA sejam aceitveis para todos os grupos. Os grupos no iro necessariamente concordar em todas as reas, mas haver em geral, suficientes reas comuns para possibilitar a cooperao.

    Muitos grupos ficaro inspirados e esclarecidos para aprender quantas reas existem de concordncia, que primeira vista, podem no ter estado aparentes. Em

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    geral, haver concordncia nas metas principais, tais como a necessidade de controle do crime e da desordem, bem como de uma comunicao mais positiva e eficiente, e de cooperao entre os grupos. As reas de consenso podem diminuir medida que comeam a ser identificadas as tcnicas especficas de resoluo de problemas e passam a ser sugeridas por cada grupo alternativas para a implantao. (Isto no ser um problema grave, porque se tiverem sido seguidos os princpios da teoria do patrocnio normativo outras para a construo de um consenso) e da teoria social crtica (procura responder porque as pessoas se juntam para corrigir e superar os obstculos).

    Fundamenta-se em trs ideias centrais:

    Esclarecimento: sobre circunstncias para pleitear mudanas; Poder: agir para melhorar as suas condies; e Emancipao: Podem atingir a liberao atravs da reflexo e da ao social.

    Prevalecer uma atmosfera de cooperao e ficar facilitado o compromisso. Todos os grupos sentiro que tm uma participao de consenso no processo de resoluo de problemas. 5.5.25 Controle de Qualidade, Desenvolvimento Contnuo e Atualizao

    Como ocorre com qualquer iniciativa, existe uma constante necessidade de controle de qualidade, desenvolvimento contnuo e atualizao. O processo exige que os grupos relevantes proporcionem uma significativa retroalimentao, e que novas ideias sejam testadas, demandando ainda avaliao e reflexo, individual e em grupo. Existe tambm uma necessidade de pesquisa cientfica, no apenas sobre as causas bsicas do crime e da desordem, mas tambm sobre a eficcia das abordagens empregadas.

    Uma preveno eficiente do crime e da desordem e um esforo de controle s podem resultar de uma experincia direta de cooperao por parte de todos os grupos relevantes no processo de resoluo de problemas seja atravs do envolvimento ativo ou da mera verbalizao. Isto facilitar a cooperao e o entendimento mtuo entre os grupos em questo.

    A maneira mais eficiente de motivar as pessoas transmitir-lhes que suas opinies sero valorizadas, que eles tero uma voz nas tomadas de deciso, e que sero engajados no processo de resoluo de problemas. Se esses critrios forem obedecidos, as iniciativas sero apoiadas e perpetuadas, porque as partes que constituem os grupos relevantes possuem um investimento pessoal no processo. A atuao dos grupos relevantes trar benefcios mtuos e aumentar o entendimento e a cooperao entre eles. 5.5.26 Proao, Preveno E Represso

    Polcia proativa visa erradicar as causas da violncia, atuando de forma planejada nas mais diversas reas, contornando problemas scio-econmiatua nos antecedentes da violncia, e no apenas reage uma vez praticado o ato delituoso. Em termos financeiros, muito mais lgico no permitir que o fato ocorra, j que de outra forma, toda uma srie de atores eventualmente tero de participar: uma equipe de policiais civis, um promotor, um juiz, uma vaga no sistema penitencirio, uma vaga num hospital pblico etc. Portanto, atuar nas causas que propiciem que a violncia surja tem se mostrado mais eficiente que atuar nas consequncias. Atuar na consequncia torna-se um nus para a prpria Polcia, para o Estado como um todo e para toda a sociedade, por conseguinte. Por fim, a eliminao de fatores de

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    potencial crimingeno melhora a prpria qualidade de vida da comunidade, sendo um fator retroalimentador da confiana da populao em relao polcia. No Brasil, precisa-se de um nvel mais bsico de policiamento proativo, que a anlise tcnica da criminalidade. Este tipo de anlise permite uma otimizao dos recursos humanos e materiais na conteno da criminalidade. 5.5.27 Anlise do antes e depois da Polcia Comunitria

    A polcia comunitria no apenas um meio de melhorar a imagem da polcia, ainda que ele o faa. Ele deve ser visto como uma tcnica de policiamento, que deve trazer melhores resultados que o policiamento tradicional. Nesse sentido, deve-se ter em mente a quantificao dessa melhora:

    problemas levantados. Para concluir. Os pr-requisitos para estes seis elementos so: a) comunicao (interna e externa) b) cooperao e colaborao (interna e externa) c) coordenao d) mudanas 5.5.28 Condies para a continuidade da Polcia Comunitria

    Estabelecido o conceito de polcia comunitria, faz necessrio abordar o que mantm e sustenta este tipo de policiamento: a) desenvolvimento da confiana entre o policial e a comunidade a que serve.

    -remoo do policial

    . b) atuao constante da polcia e da sociedade na remoo de elementos ou condies que possibilitem ou mesmo encorajem a ao criminal. c) resultados claros e inequvocos da atuao policial; d) prticas administrativas modernas e geis; e) mudana estrutural das condies de violncia na cidade como um todo. 6. TEORIA DE POLCIA COMUNITRIA 6.1 A Emergncia de Novos Modelos Theodomiro Dias Neto Do Livro Policiamento Comunitrio e o Controle Sobre a Polcia

    As atuais reformas na rea policial esto fundadas na premissa de que a eficcia de uma poltica de preveno do crime e produo de segurana est relacionada existncia de uma relao slida e positiva entre a polcia e a sociedade. Frmulas tradicionais como sofisticao tecnolgica, agressividade nas ruas e rapidez no atendimento de chamadas do 190 se revelam limitadas na inibio do crime, quando no contriburam para acirrar os nveis de tenso e descrena

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    entre policiais e cidados. Mais alm, a enorme desproporo entre os recursos humanos e materiais disponveis e o volume de problemas, forou a polcia a buscar frmulas alternativas capazes de maximizar o seu potencial de interveno. Isto significa o reconhecimento de que a gesto da segurana no responsabilidade exclusiva da polcia, mas da sociedade como um todo.

    Os debates recentes envolvendo novos modelos policiais referem-se exatamente s formas de viabilizao desta parceria de trabalho. Experimentos frustrados demonstraram a insuficincia de iniciativas cosmticas de relaes pblicas ou de reformas na estrutura administrativa policial. Constata-se a necessidade de uma compreenso mais abrangente e realista da funo da polcia, atravs do reconhecimento da discricionariedade e das dimenses no-criminais do trabalho policial. Trabalha-se hoje no sentido de se identificar natureza dessas tarefas e de se realizar as mudanas operacionais e organizacionais para que a polcia as desempenhe de maneira eficaz.

    Essas ideias se inserem nos conceitos de policiamento comunitrio e policiamento orientado ao problema. O policiamento comunitrio (principal abordagem neste documento) expressa uma filosofia operacional orientada diviso de responsabilidades entre a polcia e cidados no planejamento e na implementao das polticas pblicas de segurana. O conceito revela a conscincia de que a construo de uma relao slida e construtiva com a sociedade pressupe um empenho da polcia em adequar as suas estratgias e prioridades s expectativas e necessidades locais.

    Se no houver uma disposio da polcia de pelo menos tolerar a influncia do pblico sobre suas operaes, o policiamento comunitrio ser percebido como relaes pblicas e a distncia entre a polcia e o pblico ser cada vez maior. 6.2 A Importncia da Polcia

    A importncia da polcia pode ser resumida na clebre afirmativa de HONOR DE BALZAC: os governos passam, as sociedades morrem, a polcia eterna. Na verdade, no h sociedade nem Estado dissociados de polcia, pois, pelas suas prprias origens, ela emana da organizao social, sendo essencial sua manuteno.

    Desde que o homem concebeu a idia de Governo, ou de um poder que suplantasse a dos indivduos, para promover o bem-estar e a segurana dos grupos sociais, a atividade de polcia surgiu como decorrncia natural. A prtica policial to velha como a prtica da justia; pois, polcia , em essncia e por extenso, justia. LEAL (1995, p.8)26, ao analisar o gnese do poder e do dever de polcia, afirma que a necessidade de regular a coexistncia dos homens na sociedade deu origem ao poder de polcia.

    O professor MACAREL apud MORAES (1992, p. 24) 27 define polcia como a prtica de todos os meios de ordem de segurana e de tranquilidade pblica. A polcia um meio de conservao para a sociedade.

    O Desembargador ANTONIO DE PAULA apud MORAES (1992, p25)28 entende que a Polcia pode ser definida como a organizao destinada a prevenir e reprimir delitos, garantindo assim a ordem pblica, a liberdade e a segurana individual.

    Afirma ser a Polcia a manifestao mais perfeita do poder pblico inerente ao Estado, cujo fim assegurar a prpria estabilidade e proteger a ordem social.

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    Com propriedade, o Desembargador do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, Lioy apud GALLI (1991, p.?)29, descreve: A polcia no deve velar seno pelo progresso da sociedade e dos bons costumes, pelo bem-estar do povo e pela tranquilidade geral. Ela foi, com a Justia, instituda para assegurar a execuo das leis, e no para as infringir, para garantir a liberdade dos cidados e no para cerce-la, para salvaguardar a segurana dos homens de bem, e no para envenenar a fonte do bem-estar social. No deve ela transpor os limites da exigncia da segurana pblica ou particular, nem sacrificar o livre exerccio das faculdades do homem e dos direitos civis, por um violento sistema de precauo. 6.2 O Ideal da Instituio Policial

    A Polcia, em seu ideal de bem servir, deve ser tranquila na sua atuao, comedida nas suas aes, presente em todo lugar e sempre protetora, velando pelo progresso da sociedade, dos bons costumes, do bem-estar do povo e pela tranquilidade geral.

    Ela foi instituda para assegurar a execuo das leis e das normas de conduta social, no as infringindo, e assim objetivando garantir a liberdade dos cidados (no os cerceando), salvaguardando a segurana dos homens de bem. A Polcia no deve transpor os limites das convenes sociais, sacrificando o livre exerccio dos direitos civis, atravs de um violento sistema de represso ou arbitrariedade (diferente de discricionariedade), embora a situao social aparente exigir tal providncia.

    Espera-se um grau de profissionalismo do policial acima da mdia dos demais funcionrios do Estado, j que possui conhecimentos, aptides e senso de equilbrio necessrios e indispensveis para o seu campo de atuao, bastante amplo e prximo, diuturnamente, da populao. Assim, o servio policial se constitui em uma profisso em que os deveres so maiores do que as regalias. Mesmo nas horas de folga, quando em quase todas as profisses cessa-se a obrigatoriedade da funo, no existe esse interregno para o servio policial. As suas funes so de carter permanente e obrigatrio. Isso implica o dever de ao, sempre que necessrio. Dallari (1996)30 argumenta em virtude dos problemas sociais, a Polcia ganhou uma relevncia muito especial. A sua responsabilidade grande. Ela acionada para resolver tudo.

    Espera-se, portanto, uma Polcia eficiente. Essa eficincia decorre exatamente do grau de preparo do profissional. Para atuar corretamente, diante do que a sociedade espera, o policial deve ser e estar preparado. Deve conhecer bem o seu mister, porque no uma atividade emprica ou amadora, como alguns podem pensar, mas extremamente tcnica e cientfica, em qualquer de seus ramos de atividade. O ato policial deve ser nobre, elevado, moral e revestido de indiscutvel contedo tico e moral, com o objetivo de sempre buscar o bem social. O policial o espelho da sociedade onde convive e trabalha. Para isso, deve estar acima dos demais servidores pblicos, de forma que, trabalhando mais, erre menos. Deve ser sbrio e compreensivo para os humildes e necessitados; forte e inflexvel frente aos arrogantes e perversos para, de algum modo, em razo das necessidades e choques sociais, ter que assumir a posio de mdico, algoz, confessor e amigo quando necessrio. 6.3 Segurana como necessidade bsica

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    Na condio de necessidade bsica, a impulso interna na pessoa para a conquista e manuteno da segurana torna-se muito forte, individualmente ou coletivamente, levando o homem e a civilizao a caminhar na esteira da autodefesa. A autodefesa do indivduo tem como consequncia a preservao da vida e da espcie. J vimos pocas em que a autodefesa individual dependia do fsico do homem na luta contra seus inimigos naturais. A defesa coletiva, alm do fsico dependia tambm de barreiras naturais ou artificiais como as montanhas, as guas, as muralhas da china ou os Castelos Medievais. Na preocupao com a defesa inventou-se as armas que so instrumentos agressivos de auto segurana. A ansiedade pela segurana poder conduzir a destruio da humanidade, na medida em que os pases mais ricos concentram grandes recursos na elevao do seu potencial defensivo. obvio que a defesa nesta situao, conota a anulao, reduo ou eliminao do outro, s que na era nuclear, o outro somos todos ns.

    A valorizao e o aperfeioamento da defesa, nos dias atuais, tem como efeito perverso, colocar em risco todas as espcies fazendo com que o impulso pela auto segurana seja to forte que est levando todos os homens, a viverem prximos a um precipcio atmico, o que nos d saudade das muralhas, ou nos motiva a encontrar frmulas de viver em paz. 6.4 A Polcia na satisfao das necessidades de Segurana

    A segurana uma necessidade fundamental do homem. to fundamental que quando no satisfeita eleva a tenso individual e coletiva, causando no raro, a ruptura do equilbrio do organismo ou da estabilidade social. Consciente dessa exigncia biopsicossocial de garantir segurana, o Estado criou organismos e mecanismos destinados a inibir as pulhes agressivas do homem a limites tolerveis, com base na lei e na justia.

    Nas lies do Dr. Jos Antonio de Paulo Santos Neto, Juiz de direito do Estado de So Paulo, encontramos os seguintes ensinamentos: a. O titular do Poder de Polcia o Estado; b. Consiste, em princpio na faculdade que tem o Estado de impedir ou restringir atividades que ameacem o interesse da COMUNIDADE. c. a Polcia de Segurana tem suas atividades voltadas mais diretamente ao combate da criminalidade; d. Polcia de Segurana cabe a adoo de medidas preventivas (ostensiva) visando impedir a prtica de delitos e a garantir a no alterao da ordem Jurdica; e. as funes de Polcia de Segurana so em regra, exercidas pela Polcia Militar. A ela cabe a preservao da Ordem Pblica. f. a Polcia Judiciria (aes de justia e investigao) cabe a apurao dos fatos delituosos e anti-sociais e so em regras exercidas pela Polcia Civil. Apesar dos diferentes posicionamentos prticos e tericos, acreditamos que em nosso pas, estamos muito mais prximo da POLCIA faz tudo, fato comprovado pelo emprego da quilometragem rodada pelas viaturas da POLCIA. Assim, as Viaturas da POLCIA, tem rodado anualmente o equivalente a 50 viagens de ida e volta lua, sendo 90% em assistncia populao e 10% no atendimento de ocorrncia criminal. A presente situao bem como outros fatores ligados ao problema, indicam o caminho que muitos chamam de Assistncia Policial, como caracterstica do trabalho da Polcia.

    Assistncia Policial, relacionamos no s as atividades inerentes segurana, mas tambm a integrao na comunidade prestando toda colaborao e

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    auxlio possvel, num sentido de forte solidariedade. Observamos ento que a POLCIA deve ser percebida pela populao como: a. uma Instituio que est a seu lado preservando sua segurana; e b. uma organizao presente na vida da comunidade, em funo dos valores, positivos pelos quais ela existe, trabalhando com elevado esprito pblico e cultuando solidariedade em lugar da violncia. 6.5 Polcia Comunitria: Conceitos e Interpretaes Bsicas

    A primeira ideia que se tem a respeito do tema Polcia Comunitria que ela, por si s, particularizada, pertinente a uma ou outra organizao policial que a adota, dentro de critrios peculiares de mera aproximao com a sociedade sem, contudo, obedecer critrios tcnicos e cientficos que objetivem a melhoria da qualidade de vida da populao.

    Qualidade de vida da populao em um pas de complexas carncias e um tema bastante difcil de ser abordado, mas possvel de ser discutido quando a polcia busca assumir o papel de interlocutor dos anseios sociais. preciso deixar claro que Polcia Comunitria no tem o sentido de ASSISTNCIA POLICIAL, mas sim o de PARTICIPAO SOCIAL. Nessa condio entendemos, que todas as foras vivas da comunidade devem assumir um papel relevante na sua prpria segurana e nos servios ligados ao bem comum. Acreditamos ser necessria esta ressalva, para evitar a interpretao de que estejamos pretendendo criar uma nova polcia ou de que pretendamos credenciar pessoas extras aos quadros da polcia como policiais comunitrios.

    A Constituio Federal no seu Art. 144, define as 5 (cinco) Polcias que tem existncia legal, no deixando qualquer dvida a respeito. O mesmo Art. 144, diz que a segurana pblica direito e responsabilidade de todos, o que nos leva a inferir que alm dos policiais, cabe a qualquer cidado uma parcela de responsabilidade pela segurana. O cidado na medida de sua capacidade, competncia, e da natureza de seu trabalho, bem como, em funo das solicitaes da prpria comunidade, deve colaborar, no que puder, na segurana e no bem estar coletivo.

    A nossa pretenso procurar congregar todos os cidados da comunidade atravs do trabalho da Polcia, no esforo da segurana. O policial ento, uma referncia muito cedo internalizada entre os componentes da personalidade. A noo de medo da polcia, erroneamente transmitida na educao e s vezes na mdia, ser revertida desde que, o policial se faa perceber por sua ao protetora e amiga.

    O esprito de Polcia Comunitria que apregoamos se expressa de acordo com as seguintes ideias: a. a primeira imagem da POLCIA formada na famlia; b. a POLCIA protetora e amiga transmitir na famlia, imagem favorvel que ser transferida s crianas desenvolvendo-se um trao na cultura da comunidade que aproximar as pessoas da organizao policial; c. o POLICIAL, junto comunidade, alm de garantir segurana, dever exercer funo didtico-pedaggica, visando a orientar na educao e no sentido da solidariedade social; d. a orientao educacional do policial dever objetivar o respeito Ordem Jurdica e aos direitos fundamentais estabelecidos na Constituio Federal; e. a expectativa da comunidade de ter no policial o cidado ntegro, homem interessado na preservao do ambiente, no socorro em calamidades pblicas, nas

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    aes de defesa civil, na proteo e orientao do trnsito, no transporte de feridos em acidentes ou vtimas de delitos, nos salvamentos e combates a incndios; f. a participao do cidado se d de forma permanente, constante e motivadora, buscando melhorar a qualidade de vida. 6.6 Comunidade

    Para no correr o risco de definies ou conceitos unilaterais, preferimos apresentar alguns traos que caracterizam uma comunidade:

    forte solidariedade social; aproximao dos homens e mulheres em freqentes relacionamentos

    interpessoais; a discusso e solues de problemas comuns; e, o sentido de organizao possibilitando uma vida social durvel.

    Durkheim observa que a solidariedade forte aproxima os homens. 6.7 Segurana

    Jorge Wilheim, diz que a segurana do indivduo envolve: o reconhecimento do seu papel na sociedade; a autoestima e a auto sustentao; clareza dos valores morais que lhe permitam distingir o bem do mal; o sentimento de que no ser perseguido por preconceito racial, religioso ou

    de outra natureza; a expectativa de que no ser vtima de agresso fsica, moral ou de seu

    patrimnio; a possibilidade de viver num clima de solidariedade e de esperana.

    Trojanowicz (1994)31 faz uma definio clara do que Polcia Comunitria: uma filosofia e estratgia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a populao e a polcia. Baseia-se na premissa de que tanto a resolver problemas contemporneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens fsicas e morais, e em geral a decadncia do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na rea.

    Na prtica Polcia Comunitria (como filosofia de trabalho) difere do policiamento comunitrio (ao de policiar junto a comunidade). Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os rgos de Policia, esta pertinente s aes efetivas com a comunidade.

    A ideia central da Polcia Comunitria reside na possibilidade de propiciar uma aproximao dos profissionais de segurana junto comunidade onde atua, como um mdico, um advogado local; ou um comerciante da esquina; enfim, dar caracterstica humana ao profissional de polcia, e no apenas um nmero de telefone ou uma instalao fsica referencial. Para isto realiza um amplo trabalho sistemtico, planejado e detalhado. Segundo Wadman(1994)32 o policiamento comunitrio uma maneira inovadora e mais poderosa de concentrar as energias e os talentos do departamento policial na direo das condies que frequentemente do origem ao crime e a repetidas chamadas por auxlio local.

    Como afirma Fernandes (1994)33 um servio policial que se aproxime das pessoas, com nome e cara bem definidos, com um comportamento regulado pela frequncia pblica cotidiana, submetido, portanto, s regras de convivncia cidad, pode parecer um ovo de Colombo (algo difcil, mas no ). A proposta de Polcia Comunitria oferece uma resposta to simples que parece irreal: personalize a

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    polcia, faa dela uma presena tambm comum. Ferreira (1995)34 apresenta outras definies bastante esclarecedoras que corroboram com TROJANOWICZ: para o Chief Inspector MATHEW BOGGOT, da Metropolitan London Police Department: Polcia Comunitria uma atitude, na qual o policial, como cidado, aparece a servio da comunidade e no como uma fora. um servio pblico, antes de ser uma fora pblica. O Chief BEHAN (apud Ferreira . 1995, p.56)35, do Baltimore County Police Department assevera: Polcia Comunitria uma filosofia organizacional assentada na ideia de uma Polcia prestadora de servios, agindo para o bem comum para, junto da comunidade, criarem uma sociedade pacfica e ordeira.

    No um programa e muito menos Relaes Pblicas. O Chief KERR (apud Ferreira . 1995, p.57)36, da Toronto Metropolitan Police diz que: Polcia Comunitria o policiamento mais sensvel aos problemas de sua rea, identificando todos os problemas da comunidade, que no precisam ser s os da criminalidade. Tudo o que se possa afetar as pessoas passa pelo exame da Polcia. uma grande parceria entre a Polcia e a Comunidade. Segundo Ferreira (1995)37 a Polcia Comunitria resgata a essncia da arte de polcia, pois apia e apoiada por toda a comunida