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VENCENDO DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA ATRAVÉS DA LITERATURA

Autora: Irene Trevisoli de Lima1

Orientadora: Fabiane Cristina Altino2

Resumo

Este artigo, vinculado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, tem por finalidade relatar a experiência de pesquisa e de intervenção em sala de aula, desenvolvida com uma turma de alunos do 6º ano do Ensino Fundamental. A produção didático-pedagógica teve como objetivo principal colaborar com o desenvolvimento da aprendizagem de alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental II, do Colégio Estadual Odete Borges Botelho, do município de Pitangueiras. Nesse contexto, as atividades desenvolvidas buscaram contribuir para a superação das dificuldades de aprendizagem relacionadas à leitura, escrita, interpretação e oralidade, bem como, possibilitar meios para auxiliar na formação de leitores e escritores autônomos. Para o desenvolvimento desse trabalho, as atividades foram organizadas em torno de contos de fada, em especial da obra “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, de Pedro Bandeira, por apresentar linguagem de fácil entendimento. Inicialmente fez-se a apresentação do trabalho aos alunos e, na sequência, foram aplicadas as atividades que envolveram reflexão, leitura, interpretação, comparação de diversas obras do mesmo gênero literário, produção e reconstrução de textos e comparação da obra literária com a produção cinematográfica. O trabalho buscou proporcionar reflexões, percepções, interação entre os alunos e, principalmente, a superação das dificuldades de aprendizagem.

Palavras-chave: literatura; leitura; aprendizagem.

Abstract: This article, linked to the Educational Development Program – EDP aims toreport the experience of research and intervention in the classroom, developed with a group of students in the 6th grade of elementary school. The didactic and pedagogicalproduction was aimed at supporting the development of learning of students in early grades of elementary schoolII, State College Odete Borges Botelho, the city of Pitangueiras. In this context, the activities sought to help overcome

1 Graduada em Letras Anglo-Portuguesas (1985); Especialista em Língua Portuguesa (1996) e em Gestão escolar, Qualidade Total , Orientação e Supervisão (2001).

2 Graduada em Letras Franco-Portuguesas e Literaturas (1997); Especialista em Língua Portuguesa (1998); Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (2000); Doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina (2007); Pós-doutorado na Universidade Paris 13 - França (2011).

learning difficultiesrelated to reading, writing, and oral interpretation, as well as possible means to assist in the training of readers and freelance writers. To develop this work, the activities wereorganized around fairy tales, especially of "The Amazing Mystery of Feiurinha" by PedroBandeira, to present easy to understand language. Initially made to present the work to students and, subsequently, have been applied to activities involving reflection, reading,interpretation, comparison of several works by the same literary genre, production and reconstruction of texts and comparison of the literary work with film production. This study aimed to provide thoughts, perceptions, interaction among students, and especially to overcome learning difficulties.

Keywords: literature; reading; learning.

1 Introdução

Este artigo é o resultado de estudos teórico-práticos realizados ao longo de

dois anos em que nos dedicamos ao Programa de Desenvolvimento Educacional –

PDE, em espaços como a Universidade Estadual de Londrina – PR, ambiente

MOODLE e o Colégio Estadual Odete Borges Botelho, de Pitangueiras.

A unidade didática elaborada foi desenvolvida com a intenção de fornecer

elementos que pudessem colaborar com o trabalho docente, principalmente dos

profissionais que atuam nos sextos anos do Ensino Fundamental, mostrando

atividades que auxiliem na superação de dificuldades em leitura, interpretação e

oralidade, bem como, possibilitem meios para a formação de leitores e escritores

autônomos.

As atividades foram desenvolvidas com uma do sexto ano do Ensino

Fundamental, onde se percebeu certo número de alunos com grandes dificuldades

de leitura e escrita além de aversão pela literatura. Sabe-se que

a leitura envolve processos mentais com operações necessárias para a compreensão da linguagem, isto é, a atribuição de sentidos a tudo o que a mente pode captar, compreender, apreender e interpretar na realidade dada por meio de uma leitura proficiente" (KLEIMAN, 1996, p. 126).

Assim sendo, apresentou-se um grande desafio: incentivar a leitura para que

fosse possível obter os resultados esperados. Buscou-se, então, utilizar estratégias

que possibilitassem o contato e a compreensão dos alunos aos diferentes gêneros

textuais, começando com a análise dos conhecimentos prévios, pois “é o

conhecimento que o leitor tem sobre o assunto, que lhe permite fazer as inferências

necessárias para relacionar diferentes partes do texto num todo coerente” (Kleiman,

2000). De acordo com a autora os conhecimentos necessários para a compreensão

de um texto são: conhecimento linguístico, que, segundo ela, “é o conhecimento

implícito, não verbalizado” (Kleiman, 1989, p.13-27), conhecimento textual e

conhecimento de mundo, que veio à tona conforme o texto foi fazendo sentido para

o aluno ao longo da leitura. Como afirma Cordeiro, (2001)

[...] a leitura não é um processo linear que se desenvolve palavra por palavra, mas sim um processo de interação entre leitor e texto. Leitura implica uma interação entre o conhecimento prévio do leitor e os dados fornecidos pelo texto. (CORDEIRO, 2001, p. 36)

Assim, a análise iniciou-se com a leitura, através dos diferentes gêneros

textuais, passando pela escrita, utilizando-se, para tanto, atividades de produção

textual em diferentes contextos e, só então, foi introduzido o estudo da gramática,

assim que se percebeu a superação das dificuldades de leitura e escrita. Os

Parâmetros Curriculares Nacionais afirmam que

Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e os outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos. (PCNs, 2000, p.56)

A partir desse entendimento, os alunos foram conduzidos a atividades

envolvendo uma obra específica - “O fantástico mistério de Feiurinha” de Pedro

Bandeira. A escolha dessa obra não se deu ao acaso. Pensou-se em algo que fosse,

ao mesmo tempo, atraente e de fácil entendimento para os alunos dessa faixa

etária, que ainda se interessavam por esse tipo de narrativa.

Partindo da leitura da obra, trabalhou-se com interpretação oral e escrita,

produções textuais, informações implícitas e explícitas, intertextualidade, através de

outras obras e, principalmente, com o conhecimento prévio dos alunos. De acordo

com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica

É tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. Se a escola desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem dos novos letramentos, não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade letrada. (DCEB – Língua Portuguesa, 2008, p. 48)

Assim, além da leitura, escrita e revisão de textos, as atividades

desenvolvidas buscaram proporcionar, como prática social diferenciada, a reescrita

do final de uma história conhecida, sob o ponto de vista do aluno, ou seja, o aluno

reescreveu a trama como se fizesse parte da mesma e, assim, contou seu final

como um personagem da própria trama. Esse exercício ajudou o aluno a se ver

como autor do texto e auxiliou na evolução de sua aprendizagem. Gouveia e

Orensztejn, 2000, afirmam que

Para formar usuário da língua, é preciso planejar situações didáticas em que a leitura e a escrita entrem pelos poros de cada aluno, façam parte de sua vida. É preciso que o aluno ocupe sistematicamente a posição de leitor e escritor para praticar, para construir o hábito, para se sentir embalado pelo prazer da autoria, para vivenciar as surpresas das metáforas poéticas, para se divertir com os ritmos das palavras, para se sentir redimido pela imaginação, para poder ser arrebatado pelo conhecimento. (GOUVEIA e ORENSZTEJN, 2000, P.35)

A comparação entre os contos de fada, lidos anteriormente, com a obra de

Pedro Bandeira também se mostrou uma atividade de grande valia. Ali os alunos

exercitaram a reflexão, a escrita e a oralidade, pois necessitaram relembrar as obras

lidas e discuti-las no grupo, além de exporem os pontos de vista entre os grupos.

Por fim, após assistirem ao filme baseado na obra, houve a possibilidade de

comparação entre a produção literária e a cinematográfica.

Foi importante que o aluno tivesse em mãos a obra literária para manuseá-la

de modo a aguçar seu interesse. Aos poucos ele foi percebendo a leitura não só

como obrigação, mas, também, por prazer, sentindo seu valor estético. Nesse

sentido, segundo Iser (1996), o texto literário só produz efeito quando é lido, e sua

relação dialética só acontece a partir de sua interação com o leitor.

Todas as atividades foram cuidadosamente pensadas e aplicadas,

buscando, em todas elas, reconstruir a prática educativa proposta em sala de aula.

2 Desenvolvimento

Iniciaram-se as atividades com a investigação do comportamento dos alunos

diante de alguns questionamentos sobre os contos de fada. Fez-se uma explanação

de que esse gênero literário geralmente envolve personagens como reis e rainhas,

príncipes e princesas, fadas, bruxas, dragões e outros personagens que fazem parte

do imaginário. Explicou-se, também, que seria desenvolvido um trabalho onde os

alunos realizariam atividades baseadas nessa literatura. Para todas as tarefas

apresentadas, e para as demais anotações que consideraria necessárias, foi

solicitado que o aluno utilizasse seu diário de bordo, um caderno pequeno que foi

entregue a cada um. Antes de começar o trabalho, conversou-se um pouco sobre o

assunto, utilizando-se das seguintes questões:

•Para você o que é um conto de fada?

•Quais contos de fada você conhece?

•Quem de vocês poderia narrar um conto de fada?

•Que tipo de emoção esses contos desperta em você?

•O conto que você mais gostou trouxe alguma mensagem em particular?

•Alguém sabe como surgiram os contos de fada?

A princípio os alunos se mostraram arredios em participar, mas, aos poucos,

foram se sentindo mais à vontade e começaram a falar e relacionar as obras que

haviam lido, ou ouvido alguém contar. Dois alunos narraram, cada um, um conto de

fada, ao mesmo tempo em que os demais iam interferindo ao longo das narrações,

dando as versões que conheciam. Aconteceram as mais diversas participações onde

a emoção mais lembrada foi alegria, pois eram histórias cheias de magia e tinham

sempre um final feliz. Percebeu-se que todos os contos citados trazem consigo

mensagens de valor, de ensinamento, ou seja, a moral de cada história. O conto

mais lembrado foi Chapeuzinho Vermelho, que, segundo os alunos, passa a

mensagem que não se deve desobedecer aos pais e, quando isso acontece,

consequências muito graves podem ocorrer.

Nenhum aluno soube afirmar a origem dos contos de fada, porém fizeram as

mais diversas suposições. Por fim, a atividade foi encerrada com anotações no

caderno diário de bordo onde os alunos descreveram a aula e suas impressões

sobre as atividades. Os cadernos foram recolhidos e seu conteúdo analisado.

Percebeu-se que um pequeno número de alunos apresentava excelente vocabulário

e certa facilidade em se comunicar através da escrita, porém a grande maioria

apresentava grande dificuldade na construção de frases bem como graves erros

ortográficos.

Na aula seguinte os alunos foram colocados em duplas e orientados a

trocarem o caderno com o colega. Os discentes foram, também, orientados a

fazerem leitura silenciosa das produções e, de posse do dicionário, fazer a lápis as

devidas correções.

Tal atividade causou, a princípio, certa confusão, pois alguns não

entenderam e outros se recusaram a desenvolver a atividade. Aos poucos, com

novas explicações, muita interferência e grande dose de paciência, os alunos foram

se envolvendo e fazendo com que a proposta de trabalho fosse cumprida. Ao final

percebeu-se em algumas duplas a interação entre eles, aonde cada um ia

mostrando ao colega os erros encontrados. Para concluir a atividade foi solicitado

aos alunos que, a partir das correções efetuadas, reescrevessem suas produções.

Na segunda atividade foi solicitado aos alunos que fizessem a leitura do

texto abaixo e, na sequência, respondessem aos questionamentos:

Antigamente, quando muitas pessoas não sabiam ler e viviam em

comunidades rurais muito distantes, os contos de fada eram contados

de forma oral. Com o surgimento das escolas e a mudança das

famílias para os grandes centros urbanos, o velho hábito de contar

histórias correu o risco de desaparecer. Foi então que os escritores

coletaram as histórias que eram contadas oralmente e registraram no

papel para que não se perdessem.

Com o tempo as histórias se modificaram, mas nunca deixaram de

distrair, encantar e até assustar as crianças do mundo inteiro. Hoje há

várias maneiras de se contar e ouvir contos de fadas... Seja lido pelos

pais, pelos professores, pelos avós... ou num filme que é visto nos

cinemas ou na televisão. Não importa. O fato é que todos se

emocionam quando ouvem um “era uma vez...”(AR Municipal de São Domingos do Prata – MG; disponível em

HTTP://racol.com.br/cidades/prata/tipo/prefeitura/sdprata/educacao.asp)

●Em sua opinião, por que o conto de fada começa com “era uma vez...”?

●Você ouviu de seus pais ou avós algum conto de fadas que, por sua vez, ouviram

quando crianças?

●Você conhece mais de uma versão de um mesmo conto de fadas?

A leitura, feita em voz alta, foi compartilhada por quase toda a turma, pois o

pequeno texto foi lido e relido por várias vezes para garantir que houvesse sua total

compreensão. A leitura em voz alta é uma atividade diariamente praticada em todas

as turmas do Colégio, por acreditar-se que “a leitura em voz alta confere à leitura

uma importância afetiva forte e indelével que contribui, em modo determinante, para

a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento do prazer de ler”

(MERLETTI, 1996, p.13), mas também para que se possa analisar a fluência de

leitura de cada um e observar se houve compreensão daquilo que foi lido. Segundo

Solé, este último objetivo

consiste em que alunos e alunas devam dar conta da sua compreensão, respondendo a perguntas sobre o texto ou recapitulando-o através de qualquer outra técnica. Uma visão ampla da leitura, e um objetivo geral que consista em formar bons leitores não só para o contexto escolar, mas para a vida, exige maior diversificação nos seus propósitos, nas atividades que a promovem e nos textos utilizados como meio para incentivá-la (SOLÉ, 1998, p.28).

Nessa faixa etária é comum os alunos gostarem de ler em voz alta, porém

não é unanimidade. Há certo número de alunos que não se sente a vontade para

essa prática. Nessa atividade não foi diferente, alguns não quiseram participar da

leitura compartilhada e essa decisão foi respeitada. Felizmente os questionamentos

contaram com a participação de um maior número de alunos. Muitos tinham ouvido

dos pais ou de outros parentes, além de contos de fada, histórias das mais variadas:

lendas, romances, folclóricas, terror e traquinagens de infância. Houve então

necessidade proporcionar espaço para que tivessem a oportunidade de narrar suas

histórias.

Essa experiência foi valiosa, pois possibilitou o exercício da oralidade e a

interação dos alunos que se mostraram bastante participativos.

Na atividade seguinte os alunos foram apresentados ao mundo da leitura.

Foi exposto a eles que a leitura é o encontro maravilhoso entre o leitor e a obra

literária, que permite aprender, sonhar, criar e transformar as histórias lidas, e seus

personagens, de diferentes formas e também que os leitores são participantes ativos

do que o texto literário proporciona.

Em seguida os alunos receberam diversas obras literárias, algumas delas

com mais de uma versão, que eles manusearam e leram em silêncio. Eram histórias

curtas, próprias para o tempo disponível em sala de aula. A proposta de leitura

silenciosa consistia em que o aluno estivesse atento a todos os detalhes do texto,

como a característica dos personagens, a forma de escrita e outras informações que

pudessem ser observadas. Segundo Bettelheim, os contos

favorecem o desenvolvimento de sua personalidade.Oferecem significados em tantos níveis diferentes e enriquecem a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão a vida da criança".(BETTELHEIM, pág. 20, 2005)

Assim que terminaram de fazer a leitura os alunos responderam, em seu

diário de bordo, os seguintes questionamentos:

A história que você leu é igual ou diferente da versão que já conhecia?

Os personagens dos contos de fada são diferentes de outras histórias infantis que

você já tenha lido?

Quais valores humanos você observou nos personagens da história?

Qual mensagem a história apresentou para você?

Você gostaria de relatar para seus colegas a história que acabou de ler?

Na aula seguinte as respostas foram compartilhadas e exaustivamente

discutidas. Para completar o trabalho e prosseguir no objetivo de superação das

dificuldades de escrita, repetiu-se a prática anterior, ou seja, os alunos foram

colocados em duplas e, após leitura silenciosa das produções do colega, de posse

do dicionário, fizeram a lápis as devidas correções. Após receberem seus cadernos

de volta, reescreveram as atividades. Houve grande participação da turma e

observou-se que o comprometimento com a tarefa foi maior e a quantidade de erros

menor que na atividade anterior.

Para complementar a atividade os alunos foram levados ao laboratório de

informática do Colégio onde fizeram uma pesquisa para ser apresentada

posteriormente. Este trabalho não constava do material didático, porém foi

idealizado ao longo das atividades quando se percebeu que seria interessante e

enriquecedor se os alunos tivessem conhecimento de, pelo menos, um pouco da

vida e da obra de escritores da literatura infantil. Para tanto, a turma foi orientada a

pesquisar nomes como os Irmãos Grimm, Charles Perrault, Gustave Doré, Esopo

entre outros. Terminada a pesquisa os alunos, organizados em grupos,

apresentaram o trabalho para a turma.

Foi uma experiência bastante enriquecedora, pois, além de acrescentar

conhecimento, proporcionou o exercício da oralidade.

Seguindo o planejamento foi colocado um desafio para a turma: ”Nessa

atividade vamos nos colocar no “lugar do outro.” Isso se chama empatia. É o mesmo

que imaginarmos o que a gente faria se fosse outra pessoa em determinada

situação. Pois bem, então escolha um dos personagens da história que você leu e

reescreva essa história como se você fosse esse personagem. Por exemplo, que

versão o Senhor Sapo daria ao enredo? Pegue seu diário de bordo, coloque sua

imaginação, e sua criatividade, para funcionar, e bom trabalho”. Desafio lançado

houve todo o tipo de reação. Alguns alunos começaram a trabalhar imediatamente,

outros solicitaram auxílio para fazer a atividade e ainda outros afirmaram não haver

gostado da proposta. Com bastante incentivo e utilizando alguns exemplos, as

produções foram feitas. Algumas com grande riqueza de detalhes, outras mais

curtas e outras ainda com muita necessidade de intervenção. Mas o mais importante

é que todos fizeram uso do dicionário e a maioria sentiu necessidade de fazer novas

leituras para auxiliar nas produções.

Dando sequência ao trabalho, foi feita uma pergunta à turma: Você conhece

o livro O fantástico mistério de feiurinha? Alguns responderam que sim, pois haviam

assistido ao filme protagonizado por Xuxa Meneguel. Então expôs-se aos alunos

que, na verdade, o filme foi baseado em um livro do escritor Pedro Bandeira (1998)

que, como ele mesmo comenta, “desde pequeno, os contos de fada sempre tiveram

enorme presença em seu imaginário...” (Bandeira, 1998). Assim a obra foi entregue

à turma e explicado que a mesma foi escrita em forma de peça teatral. O livro foi

levado para casa para que o aluno pudesse fazer uma leitura mais profunda e, se

possível, feita para os pais e irmãos, para que eles também tivessem a oportunidade

de conhecê-la.

Após a leitura do livro, os alunos formaram grupos com outros dois colegas

e preencheram um quadro onde deveriam fazer comparações entre as obras lidas

anteriormente com a obra de Pedro Bandeira e encontrar as semelhanças e

diferenças entre elas. Em seguida discutiram com os outros grupos os resultados

encontrados. Após a conclusão da atividade, o quadro foi colado no diário de bordo.

Para finalizar o trabalho a turma assistiu ao filme “O fantástico mistério de

Feiurinha”, baseado no livro que haviam acabado de ler. Ficaram atentos à história e

verificaram se o filme havia sido fiel à obra de Pedro Bandeira. Por fim relataram no

diário de bordo as impressões sobre o filme e discutiram com os colegas as

diferenças encontradas entre ambos.

3 Conclusão

A aversão pela literatura e as grandes dificuldades de leitura e escrita

observadas em alunos de uma turma de sexto ano do Ensino Fundamental

incentivaram o desenvolvimento deste trabalho.

Ao longo das atividades houve grande preocupação em fornecer elementos

que pudessem colaborar com na superação de dificuldades em leitura, interpretação

e oralidade, bem como, possibilitassem meios para a formação de leitores e

escritores autônomos.

Na implementação da proposta houve grande receptividade e bastante

envolvimento por parte dos alunos e de colegas professores. Percebeu-se que no

contexto escolar existem fatores que podem afetar a aprendizagem, como, por

exemplo, professores desatentos às reais necessidades dos alunos e métodos de

ensino ineficazes. Os professores devem estar atentos ao processo de

aprendizagem, buscando novas estratégias que levem o aluno à superação de

dificuldades, e foi isso o que ocorreu nesse trabalho.

Buscou-se trabalhar atividades diferenciadas que pudessem proporcionar o

alcance dos objetivos propostos. Apesar de haver grande envolvimento, sabe-se que

é necessário haver muita persistência por parte dos professores, pois a questão é

bastante complexa. Há, não só nas turmas de sexto ano, ainda grande aversão pela

literatura e grandes dificuldades de leitura e escrita. São necessários muitos e bons

projetos para superar essa realidade.

Assim, conclui-se que, apesar das dificuldades em se trabalhar a literatura

em sala de aula, através de algumas estratégias e bastante dedicação, é possível

conseguir resultados positivos.

REFERÊNCIAS

BANDEIRA, Pedro. O fantástico mistério de Feiurinha. São Paulo: FTD, 1998.

BETTELHEIM, B. Les contes de Perrault, Paris, Éditions Seghers, 1978.

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CORDEIRO, Isabel Cristina. Leitura crítica: uma proposta de trabalho para o ensino fundamental, dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Letras. Londrina: UEL, 2001.

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MEC/SEMTEC. Proposta de Diretrizes para a Formação inicial de Professores da Educação Básica, em Nível Superior. Brasília, 2000.

MERLETTI, R. Valentino, Leggere ad alta voce. Milano, Mondadori, 1996.

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SEED-PR. Seminário para professores de alfabetização e Língua Portuguesa do Estado do Paraná. Curitiba: CENPEC, 1997.

SOLÉ, Isabel. Para compreender... Antes da leitura. Capítulo V. IN: Estratégias de Leitura. Tradução Cláudia Schilling. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.