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Vasectomia pelo SUS na década de 2000: crescimento no Brasil, concentração em São Paulo e fluxos por regionais de saúde do estado
RESUMO
OBJETIVOS: Analisar a evolução da prática de vasectomia hospitalar e ambulatorial pelo SUS, bem como sua distribuição regional, no Brasil e em São Paulo entre 2000 e 2009 e os fluxos de procedimentos hospitalares por Departamento Regional de Saúde (DRS) de São Paulo em 2009. MÉTODOS: Estudo baseado nos registros de Autorização de Internação Hospitalar (AIH), do Sistema de Informação Hospitalar, e de procedimentos ambulatoriais, do Sistema de Informação Ambulatorial, e análise espacial de origem-destino por município de processamento da AIH e residência do paciente segundo os DRS. RESULTADOS: Identificou-se aumento substancial de vasectomias pelo SUS no período analisado, com concentração no estado de São Paulo e predomínio da Região Metropolitana de São Paulo. Os fluxos de procedimentos hospitalares não foram determinantes do padrão de concentração intraestadual. CONCLUSÕES: A prática de vasectomia pelo SUS no período 2000-2009 foi definida por São Paulo e, em menor escala, pela região Sul. Apesar de os fluxos de procedimentos não determinarem o padrão de concentração intraestadual, a análise espacial permitiu identificar especificidades municipais importantes.
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INTRODUÇÃO
De acordo com a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) 1996, 2,6%
das mulheres brasileiras de 15 a 49 anos unidas tinham cônjuges vasectomizados. Em
2006 este percentual era 5,1%, representando um crescimento de 94%.3 Tanto em
1996 quanto em 2006, a vasectomia era o quarto método mais utilizado, depois da
laqueadura tubária, pílula e preservativo masculino. Dentre as mulheres de 15 a 49
anos unidas em 1996 que reportaram vasectomia como método contraceptivo utilizado,
51% residiam no estado de São Paulo (SP). A PNDS 2006 não permite a mesma
desagregação regional da PNDS 1996, mas 68,5% das mulheres unidas em idade
reprodutiva que reportaram a vasectomia residiam na região Sudeste. Dado o peso da
população paulista na amostra, é factível supor que a maior parte dessas mulheres
residia no estado de SP.
Além de o número de observações das PNDS ser pequeno, não permitindo a
expansão com precisão, não é possível quantificar o número de vasectomizados por
meio dessas pesquisas porque se referem a mulheres unidas entre 15 e 49 anos de
idade que reportaram o uso do método e não ao número de homens que realizaram o
procedimento. Este trabalho analisa os registros de procedimentos hospitalares e
ambulatoriais do SUS entre 2000 e 2009 a partir da hipótese de que o aumento de
vasectomias e a concentração desses procedimentos em SP observada indiretamente
nas PNDS 1996 e 2006 se aplicam às vasectomias realizadas no SUS. Pressupõe-se,
em segundo lugar, que, em SP, o fluxo intermunicipal de pacientes podem determinar a
concentração de vasectomias nos municípios mais populosos e com rede de atenção à
saúde de maior complexidade. Utiliza-se investigar esta hipótese são utilizadas as AIH
do estado referentes a 2009.
A análise limita-se ao período 2000-2009 dado que em 2009 o Ministério da
Saúde, além de aumentar, igualou os valores de vasectomia ambulatorial e hospitalar.
Neste sentido, a regulamentação da vasectomia, tratada na primeira parte da seção
seguinte, é importante para se compreender os incentivos e limitações à realização do
procedimento no SUS.
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VASECTOMIAS HOSPITALARES E AMBULATORIAIS – BRASIL
Métodos
Em 1996 o Congresso Nacional aprovou a Lei 9.263 que legislou o planejamento
familiar no âmbito do sistema público de saúde. A Portaria 144, do Ministério da Saúde,
de novembro de 1997, regulamentou a Lei 9.263.a Têm direito de requerer a
esterilização cirúrgica os indivíduos com capacidade civil plena e maiores de 25 anos
de idade ou com pelo menos dois filhos, observando-se um mínimo de sessenta dias
para aconselhamento até a realização do procedimento. Entretanto, a vasectomia já era
realizada como procedimento hospitalar no SUS antes da regulamentação da Lei 9.263,
com a denominação ‘Vasectomia Parcial ou Completa’. Em 1995 foram registrados 299
AIH de vasectomia no país. Em 1996 e 1997 foram, respectivamente, 380 e 516
procedimentos. Após a regulamentação o número de vasectomias hospitalares pelo
SUS passa a crescer. Em 2000 foram registrados 1.673 procedimentos; em 2009,
26.592. Ademais, a partir de outubro 1999 a vasectomia foi incluída no âmbito
ambulatorial, com a denominação ‘Vasectomia/Vasotomia Parcial ou Completa’.b
Para ampliar o acesso à vasectomia, em 2007 o Ministério da Saúde aumentou o
valor do procedimento hospitalar de R$28,42 para R$103,18, alterou sua denominação
para ‘Vasectomia’ e o incluiu no rol de Procedimentos Cirúrgicos Eletivos de Média
Complexidade.c Esta inclusão significou o fim do limite mensal de vasectomias nos
estados. Também em 2007 os códigos, denominações e especificações dos
procedimentos ambulatoriais e hospitalares foram unificados.d Em agosto de 2009 o
Ministério da Saúde igualou os valores ambulatorial e hospitalar do procedimento,
elevando-os para R$306,47.e
Os dados de procedimentos hospitalares de vasectomia utilizados originam-se
dos arquivos reduzidos de AIH do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). A
AIH é o registro básico do SIH que, habilita a internação do paciente e gera os valores
para pagamento. As informações de internação hospitalar são obtidas nos Formulários
de Autorização de Internação Hospitalar preenchidos pelos estabelecimentos
hospitalares credenciados e encaminhados mensalmente ao gestor municipal ou
estadual para consolidação em nível nacional pelo Departamento de Informática do
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SUS.f Os dados dos procedimentos ambulatoriais foram obtidos na página de
Informações de Saúde (TABNET) do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS).
Os dados foram analisados por meio de tabulações e gráficos.
Resultados
A Figura 1 apresenta o número anual de procedimentos hospitalares e
ambulatoriais de vasectomia pelo SUS no período 2000-2009 no Brasil. Observa-se que
a quantidade de vasectomias hospitalares cresce no período enquanto o número de
vasectomias ambulatoriais estabiliza-se de 2004 até 2007 e decresce substancialmente
em 2008 e 2009. No total, foram realizados 6.217 vasectomias em 2000. O máximo,
37.869 procedimentos, ocorreu em 2007. Houve declínio nos dois anos seguintes –
35.015 e 34.288 cirurgias, respectivamente – devido à diminuição de vasectomias
ambulatoriais.
Figura 1: Número de procedimentos hospitalares e ambulatoriais de vasectomia pelo SUS - Brasil, 2000-2009 Fonte dos dados: SIH/SUS e SIA/SUS.
A variação percentual anual do número de vasectomias ambulatoriais indica que
houve aumentos significativos entre 2001 e 2002 (58%) e entre 2003 e 2004 (42,5%).
Entre 2004 e 2005 ocorreu decréscimo de 9%, mas a maior queda deu-se entre 2007 e
2008 (–38%). Desagregando-se esta queda por região verifica-se que 40% dela deveu-
se à diminuição de procedimentos na região Sudeste. A participação de SP foi de 73%.
Ressalta-se que a partir de 2010, provavelmente em consequência da equalização do
valor dos procedimentos ambulatorial e hospitalar, as vasectomias ambulatoriais
voltaram a subir, atingindo em 2013 o mesmo nível de 2007.
A variação percentual anual do número de vasectomias hospitalares foi positiva
até 2005, mas em ritmo decrescente. Em 2006 ocorre aumento substancial (53%) em
relação a 2005. Em 2007 e 2008 a variação relativa foi de 9% e 10%, respectivamente,
e em 2009 o aumento foi marginal. Desagregando-se o aumento entre 2005 e 2006 por
região observa-se que a região Sudeste foi responsável por 48% da variação nacional.
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Como no caso das vasectomias ambulatoriais, SP foi o principal responsável pelo
aumento de 83% da variação regional. Isoladamente, SP respondeu por 40% do
aumento de vasectomias hospitalares no país entre 2005 e 2006.
Dado que SP definiu a tendência nacional, é necessário examinar a distribuição
proporcional de vasectomias pelo SUS por região desagregando-se a região Sudeste
em SP e, conjuntamente, MG, ES e RJ. Observa-se na Figura 2 que SP deteve mais de
40% das vasectomias em todos os anos da série. Em 2009, a participação do estado no
total do país foi de 44,8%, apenas 2,7 pontos percentuais a menos que a sua
participação média no período.
Figura 2: Distribuição percentual dos procedimentos hospitalares e ambulatoriais de vasectomia pelo SUS por região - Brasil, 2000-2009 Fonte dos dados: SIH/SUS e SIA/SUS.
Dados os critérios de alocação de recursos do SUS entre estados e municípios,2
a maior prevalência de vasectomias em SP se deve ao peso de sua população no total
país e ao maior grau de complexidade de seu sistema de saúde em comparação aos
demais estados.5 De fato, SP deteve, no período 2000-2009, cerca de 20% do total
nacional de AIH.
É necessário verificar, portanto, se houve aumento real na utilização de recursos
do SUS para vasectomia. Para isto, proporcionalizamos as AIH de vasectomia em
relação ao total de AIH do aparelho geniturinário masculino por região. Os dados
ambulatoriais não permitem desagregar os procedimentos por especialidade.
A Figura 3 apresenta o percentual anual de AIH de vasectomia em relação ao
total de AIH do aparelho geniturinário masculino por região. Em SP ocorreu aumento
desse percentual entre 2000 e 2004 e entre 2005 e 2006. Nos anos seguintes esta
relação permaneceu estável. Note-se que a região Sul apresentou crescimento desta
participação similar ao de SP. Também na região Sul a vasectomia representou, em
2009, 26% das AIH do aparelho geniturinário masculino. Em conjunto, as vasectomias
hospitalares realizadas em SP e na região Sul em 2009 constituíram 71,5% do total do
país.
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Figura 3: Percentual de vasectomias em relação ao total de AIH do aparelho geniturinário masculino por região - Brasil, 2000-2009 Fonte dos dados: SIH/SUS.
Em síntese, o número de vasectomias realizadas pelo SUS no país cresceu
substancialmente entre 2000 e 2009. Esse crescimento foi devido principalmente ao
aumento dos procedimentos hospitalares. SP concentrou a maior parte das
vasectomias pelo SUS no período, tendo havido crescimento real no número e
proporção de vasectomias até 2007, com estabilização em 2008 e 2009. A região Sul e,
em menor escala, a região Centro-Oeste, experimentaram tendência similar.
No estado de SP 60% das vasectomias no período 2000-2009 foram realizadas
na Região Metropolitana de SP (RMSP), 31% na capital e 29% no restante da RMSP.
(Tabela 1). Na capital, a distribuição ambulatorial-hospitalar das vasectomias dos
procedimentos foi meio a meio, ao passo que no restante da RMSP as vasectomias
hospitalares representaram 56,7% e no restante do estado, três quartos do total.
Ocorreu, portanto, concentração na RMSP no período, com participação similar da
capital e do restante da RMSP. A diferença entre a RMSP e o restante do estado deve-
se ao peso dos procedimentos hospitalares. Se na RMSP houve 1,1 vasectomias
hospitalares para cada procedimento ambulatorial, no restante do estado esta razão foi
de 3.
Tabela 1: Distribuição percentual das vasectomias hospitalares e ambulatoriais pelo SUS por área segundo o tipo – SP, 2000-2009 e 2009
Área 2000-2009 2009
Amb. Hosp. Total Amb. Hosp. Total
Capital 40,7 24,9 30,9 23,1 19,4 21,8
Restante da RMSP 33,1 26,6 29,1 31,7 38,0 35,1
Restante do estado 26,2 48,5 40,0 45,2 42,6 43,1
Total 100 100 100 100 100 100
n 44.002 71.837 115.839 2.973 12.383 15.356
Fonte dos dados: SIH/SUS e SIA/SUS.
O quadro em 2009, comparado ao período como um todo, também foi de
concentração na RMSP, porém, com menor participação da capital e dos
procedimentos ambulatoriais (Tabela 1). De fato, do total dos procedimentos realizados
em 2009, 80,6% foram hospitalares e a razão entre esses e os ambulatoriais foi de 4,4
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na RMSP e 3,9 no restante do estado. As vasectomias hospitalares de 2009 são objeto
da análise de fluxos, a seguir.
ANÁLISE DE FLUXOS – SP, 2009
Métodos
As diretrizes para a regionalização da atenção à saúde foram introduzidas pelas
Normas Operacionais de Assistência a Saúde de 2001, que propôs a criação de regiões
e macrorregiões estaduais. As macrorregiões agregam regiões de saúde e têm o
objetivo de “organizar, entre si, ações e serviços de média e alta complexidade [...]”.g
Para tanto, cada macrorregião deve possuir um município polo.1 Para analisar
espacialmente o fluxo de pacientes, definido como o número de residentes em
município distinto do município de processamento da AIH, considerou-se o território de
abrangência das macrorregiões de saúde e os respectivos municípios polos.
Em 2006 a Secretaria de Saúde de SP apresentou o Plano Diretor de
Regionalização. Foram criadas 64 Regionais de Saúde agregadas em dezessete
Departamentos Regionais de Saúde (DRS).4 Considerando os DRS, o fluxo é definido
como intra-DRS se o município de registro da AIH é distinto do município de residência
do paciente e o par de municípios pertence ao mesmo DRS. Se o municípios em
questão pertencerem a DRS distintas o fluxo é inter-DRS.
O mapeamento foi realizado a partir do número de AIH de vasectomia, pois os
dados ambulatoriais são agregados por município, não permitindo identificar
informações por procedimento. Os círculos representam as vasectomias de pacientes
com mesmo município de internação e residência e seu diâmetro é proporcional ao
número de procedimentos registrados. As setas possuem largura proporcional à
quantidade de deslocamentos. Este tipo de representação de fluxo é gerado a partir de
tabelas de origem e destino. Para o mapeamento foi utilizado o software ArcView.
Resultados
Com relação às 12.383 AIH de vasectomia processadas em SP em 2009, o fluxo
inter-DRS foi de 1,6%, ou seja, negligenciável, com exceção da relação entre o DRS
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Franca e o DRS Ribeirão Preto, como se verificará à frente. O fluxo intra-DRS, por sua
vez, englobou 15,2% das vasectomias hospitalares.
O padrão no DRS Grande SP (I) é de difícil visualização, pois neste
departamento foram processadas 57,4% das AIH de vasectomia do estado em 2009.
Dessas, 64,6% foram na capital (Figura 4). De fato, SP é o único município com círculo
de diâmetro de primeira ordem no estado. Das 4.704 AIH de vasectomia registradas no
município de SP, somente 2,3% referem-se a fluxo. Além disso, circunda SP a maior
parte dos municípios paulistas com círculos de segunda ordem. Destacam-se
Guarulhos, Santo André, Osasco e Diadema. No conjunto, esses quatro municípios
registraram 9,6% dos procedimentos.
Ferraz de Vasconcelos, também no DRS Grande SP, foi o segundo município
em número de procedimentos (6% do total estadual) em 2009. Ao contrário do
município de SP, em Ferraz de Vasconcelos 73,3% das 739 AIH foram de fluxo, com as
principais origens em Suzano (21%), Mogi das Cruzes (20%) e São Paulo (13%). Esses
fluxos, representados por setas de terceira ordem, podem ser observados a leste do
município de SP. Assim, o que se observa no DRS Grande SP, é, por um lado, a
concentração na capital e nos maiores municípios da RMSP, com baixos fluxos e, por
outro, um município de alta atração, Ferraz de Vasconcelos, com importantes fluxos de
curta distância.
Figura 4: Distribuição dos procedimentos de vasectomias hospitalares pelo SUS, segundo município de residência e de internação – SP, 2009
O DRS Campinas (VII) foi o segundo em número de AIH de vasectomia em
2009, com 14%. Desse total, 25% ocorreram no município de Campinas e 12% em
Indaiatuba, sem geração de fluxo. Se o município polo teve 433 procedimentos, em
Cosmópolis, a noroeste de Campinas, realizaram-se 434 (Figura 4). Das AIH
registradas em Cosmópolis 90,1% foram de fluxo intra-DRS oriundos majoritariamente
de Hortolândia, Americana e Sumaré. Como no caso do DRS Grande SP, no DRS
Campinas a maior parte das vasectomias foi registrada no município polo, sem fluxo.
De forma similar, identifica-se um município “satélite” de atração, com fluxos de curta
distância.
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No DRS Ribeirão Preto (XIII) foram realizadas 340 vasectomias hospitalares pelo
SUS em 2009, ou, 2,7% do total do estado. Dessas, 90% ocorreram no município polo.
O que diferencia este município é o fato de que 71,6% (219/306) das AIH foram de fluxo
e 73,1% (160/219) desse fluxo originou-se no município de Franca, no DRS Franca
(VIII), denotado pela seta de terceira ordem entre os dois municípios (Figura 4). Na
verdade, 55,8% dos procedimentos registrados em Ribeirão Preto originaram-se em
municípios do DRS Franca. Logo, como Ferraz de Vasconcelos e Cosmópolis, Ribeirão
Preto também se configurou como um município de atração. O que imprime caráter
distinto a este município é que a maior parte das vasectomias lá realizadas referem-se
a residentes do DRS Franca, fazendo deste o único caso relevante de fluxo inter-DRS.
Apesar de o DRS São João da Boa Vista (XIV) figurar em oitavo lugar no número
de vasectomias pelo SUS no estado em 2009, não foi realizado nenhum procedimento
no município polo (Figura 4). Todas as vasectomias deste departamento, 256, se deram
nos municípios de Itapira e Divinolândia. Ademais, dos 154 procedimentos registrados
em Divinolândia (1,2% do total do estado) nenhum foi de residente no município,
fazendo deste, na prática, o verdadeiro município polo do DRS no que concerne a
vasectomia.
O DRS São José do Rio Preto (XV), sexto do estado em número de
procedimentos (2,9%), interessa pelo papel do município polo. Todos os 362
procedimentos deste departamento ocorreram em São José do Rio Preto, sendo 118
deles de fluxo. Apesar de minoria, os procedimentos de fluxo originaram-se em 36 dos
101 municípios do DRS (Figura 4). Em comparação com os demais DRS, São José do
Rio Preto foi o município polo que mais atendeu os municípios do DRS, implicando em
fluxos de longa distância.
Por fim, mencionam-se os casos do DRS Taubaté (XVII) e Piracicaba (X) por
ocuparem, respectivamente, o terceiro e o quinto lugar no número de AIH de
vasectomia sem nenhum registro nos seus municípios polos. Dos 609 procedimentos
do DRS Taubaté, 59,4% ocorreram em Pindamonhangaba. No DRS Piracicaba, 42,7%
das 484 cirurgias foram realizadas em Limeira.
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CONCLUSÃO
Verificou-se neste trabalho que o número de vasectomias realizadas pelo SUS
no país durante o período 2000-2009 aumentou substancialmente, a despeito do
declínio de procedimentos ambulatoriais em 2008 e 2009. O estado de SP concentrou a
maior parte das vasectomias pelo SUS durante todo o período. Somente a região Sul
apresentou tendência similar.
Verificou-se também que o predomínio de SP em relação ao restante do país
não foi consequência exclusiva do tamanho de sua população e do grau de
complexidade de sua rede de atenção à saúde. Em SP, e também na região Sul, a
alocação de AIH para vasectomia não só foi proporcionalmente mais alta, comparada
às demais regiões, como também cresceu até 2005, estabilizando-se de 2006 em
diante. A partir de 2004, e com peso considerável, em 2008 e 2009, predominaram os
procedimentos hospitalares. Esses resultados mostram que, no período analisado, a
prática de vasectomia no sistema público de saúde foi específica por região, isto é,
paulista e, em menor medida, sulista.
Na análise do estado de SP no ano de 2009 verificou-se concentração no DRS
Grande SP. A forte concentração espacial pode ser justificada, dentre outros fatores,
pelo tamanho da população e pela existência de infraestrutura, profissionais e centros
de saúde especializados na capital e nos grandes municípios da RMSP. Isto também se
aplica a outros grandes municípios do estado como Campinas e São José dos Campos.
Portanto, além da prática de vasectomia ter sido predominante paulista, ela foi
dominada pelos municípios de maior população e com serviços de saúde mais
desenvolvidos e maior grau de complexidade. Ressalta-se que a concentração
observada não foi influenciada por fluxos intermunicipais.
Ainda que os fluxos intermunicipais não alterem o quadro de concentração no
estado, foram identificados municípios de atração com fluxos de curta distância,
especificamente Ferraz de Vasconcelos, no DRS Grande SP, Cosmópolis, no DRS
Campinas, e Divinolândia, no DRS São João da Boa Vista. Ribeirão Preto e São José
do Rio Preto, municípios polo de seus respectivos departamentos, também se
constituíram como municípios de atração. O município de Ribeirão Preto foi o único
gerador de fluxo inter-DRS relevante. Ressalte-se ainda a distinção entre o município
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polo do DRS São José do Rio Preto e o município polo do DRS São João da Boa Vista,
o primeiro polarizando a totalidade das vasectomias realizadas naquele departamento e
o segundo não registrando nenhum procedimento em 2009.
Em relação a SP, ressalta-se a possibilidade de análises intra-DRS mais
detalhadas para se examinar especificidades demográficas, sociais e da organização
dos serviços de planejamento familiar nesses municípios. De forma geral, este trabalho
é indicativo do potencial do uso dos registros hospitalares e ambulatoriais do SUS para
estabelecer um quadro longitudinal fidedigno da distribuição espacial de procedimentos.
REFERÊNCIAS
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