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VÁRIOS CONTOS ÍNDICE DOS TRABALHOS 1 - UM LIVRO SOBRE O JULGAMENTO DE JESUS 2 - ABORTO - CRIME E CONSEQUÊNCIAS 3 - AÇÃO E REAÇÃO 4 - A CODIFICAÇÃO 5 - A EXISTÊNCIA DA MAGIA NEGRA 6 - A FÉ E A CREDULIDADE 7 - A FORÇA DO AMOR 8 - A GÊNESE 9 - ALIMENTAÇÃO DOS ESPÍRITOS 10 - A N J O S 11 - A PARÁBOLA DOS TALENTOS E A LEI DO PROGRESSO 12 - DA LEI DO PROGRESSO - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - Cap. VI – Allan Kardec 13 - APARIÇÕES NO MOMENTO DA MORTE 14 - A PORTA ESTREITA E A PORTA LARGA 15 - A PROCURA E O CONHECIMENTO 16 - A REENCARNAÇÃO 17 - O ARREPENDIMENTO 18 - AS CONTRADIÇÕES DE ORIGEM ESPÍRITA 19 - AS FAMÍLIAS ESPÍRITAS 20 - A SIGNIFICATIVA DIFERENÇA ENTRE CRER E TER FÉ 21 - A SOLIDARIEDADE ENTRE O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO 22 - AS PROVAS DA SOBREVIVÊNCIA DO ESPÍRITO 23 - A TORMENTOSA INCERTEZA DO MATERIALISMO E DA INCREDULIDADE 24 - A VISÃO ESPÍRITA DOS SONHOS 25 - BRASIL: O FUTURO SÓ A NÓS PERTENCE? 26 - CARIDADE E MÃOS VAZIAS 27 - A CASA DO PERDÃO 28 - O CENTRO ESPÍRITA TEM DONO? 29 - CHICO XAVIER PSICOGRAFOU LIVROS DE VERDADE? 30 - UM CONVITE INTERESSANTE 31 - CRENÇA OU CONHECIMENTO? 32 - CULTO DO EVANGELHO NO LAR 33 - DA LEI DE CONSERVAÇÃO 34 - DA LEI DO TRABALHO 35 - DESAFIO KARDEQUIANO 36 - DESENCARNAÇÃO: PROCESSO DE TRANSIÇÃO 37 - O SER HUMANO E O DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL E COLETIVO ATRAVÉS DOS TEMPOS 38 - DESTINO 39 - DEUS 40 - DEUS E REENCARNAÇÕES INICIAIS 41 - DEUS NÃO PERDOA 42 - DOGMATISMO E ESPIRITISMO 43 - DOS ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO 44 - DOS FILMES À REALIDADE 45 - DOS TRÊS REINOS 46 - EM FAVOR DA AMIZADE 47 - LER, ENTENDER E ATENDER 48 - É POSSÍVEL EVOLUÇÃO SEM EDUCAÇÃO? 49 - E QUANTO AO ESPÍRITO NÃO SABES DONDE VEM 50 - ESCLARECEDORES

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VÁRIOS CONTOS ÍNDICE DOS TRABALHOS

1 - UM LIVRO SOBRE O JULGAMENTO DE JESUS 2 - ABORTO - CRIME E CONSEQUÊNCIAS 3 - AÇÃO E REAÇÃO 4 - A CODIFICAÇÃO 5 - A EXISTÊNCIA DA MAGIA NEGRA 6 - A FÉ E A CREDULIDADE 7 - A FORÇA DO AMOR 8 - A GÊNESE 9 - ALIMENTAÇÃO DOS ESPÍRITOS 10 - A N J O S 11 - A PARÁBOLA DOS TALENTOS E A LEI DO PROGRESSO 12 - DA LEI DO PROGRESSO - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - Cap. VI – Allan Kardec 13 - APARIÇÕES NO MOMENTO DA MORTE 14 - A PORTA ESTREITA E A PORTA LARGA 15 - A PROCURA E O CONHECIMENTO 16 - A REENCARNAÇÃO 17 - O ARREPENDIMENTO 18 - AS CONTRADIÇÕES DE ORIGEM ESPÍRITA 19 - AS FAMÍLIAS ESPÍRITAS 20 - A SIGNIFICATIVA DIFERENÇA ENTRE CRER E TER FÉ 21 - A SOLIDARIEDADE ENTRE O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO 22 - AS PROVAS DA SOBREVIVÊNCIA DO ESPÍRITO 23 - A TORMENTOSA INCERTEZA DO MATERIALISMO E DA INCREDULIDADE 24 - A VISÃO ESPÍRITA DOS SONHOS 25 - BRASIL: O FUTURO SÓ A NÓS PERTENCE? 26 - CARIDADE E MÃOS VAZIAS 27 - A CASA DO PERDÃO 28 - O CENTRO ESPÍRITA TEM DONO? 29 - CHICO XAVIER PSICOGRAFOU LIVROS DE VERDADE? 30 - UM CONVITE INTERESSANTE 31 - CRENÇA OU CONHECIMENTO? 32 - CULTO DO EVANGELHO NO LAR 33 - DA LEI DE CONSERVAÇÃO 34 - DA LEI DO TRABALHO 35 - DESAFIO KARDEQUIANO 36 - DESENCARNAÇÃO: PROCESSO DE TRANSIÇÃO 37 - O SER HUMANO E O DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL E COLETIVO ATRAVÉS DOS TEMPOS 38 - DESTINO 39 - DEUS 40 - DEUS E REENCARNAÇÕES INICIAIS 41 - DEUS NÃO PERDOA 42 - DOGMATISMO E ESPIRITISMO 43 - DOS ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO 44 - DOS FILMES À REALIDADE 45 - DOS TRÊS REINOS 46 - EM FAVOR DA AMIZADE 47 - LER, ENTENDER E ATENDER 48 - É POSSÍVEL EVOLUÇÃO SEM EDUCAÇÃO? 49 - E QUANTO AO ESPÍRITO NÃO SABES DONDE VEM 50 - ESCLARECEDORES

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51 - ESCOLHA DAS PROVAS: É POSSÍVEL ESCOLHER FAZER O MAL? 52 - ETIMOLOGIA E SEMÂNTICA 53 - EVANGELIZEMOS NOSSAS CRIANÇAS 54 - EVOLUÇÃO E MUDANÇA 55 - FASCINAÇÃO - UMA ADVERTÊNCIA DE KARDEC 56 - FÉ 57 - FISIOLOGIA DA ALMA 58 - OS FLUIDOS 59 - HOMOSSEXUALISMO NA VISÃO ESPÍRITA 60 - A IDADE DO ESPÍRITO E SUA IMPORTÂNCIA NA VIDA SOCIAL 61 - LIGAÇÃO É DURANTE A CONCEPÇÃO 62 - MENTES SUPERDOTADAS 63 - A MORTE DO DEMÔNIO E A DESTRUIÇÃO DO INFERNO ETERNO 64 - NATURAL OU INTELECTUAL? 65 - A NECESSIDADE DA VIDA SOCIAL 66 - NINGUÉM MORRE ANTES DA HORA? 67 - O ABORTO É LEGÍTIMO? 68 - OBSESSÃO: A DUPLA FACE DE UM FLAGELO 69 - OBSESSÃO OU LIVRE ARBÍTRIO? 70 - O CASAMENTO RELIGIOSO E O ESPIRITISMO 71 - O CASO DE CELSO 72 - O CONFORTO QUE VEM DE DEUS 73 - O DEFICIENTE 74 - O ESPIRITISMO 75 - O QUE EFETIVAMENTE NOS SALVA? 76 - “OVOIDES” 77 - PAGAR O QUÊ? PARA QUEM? 78 - UM PAI DE FAMÍLIA 79 - PALESTRANTES E PALESTRAS 80 - PAPEL CARBONO 81 - PENA DE MORTE: DISSUASÓRIA OU NÃO? 82 - PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS 83 - PÓDIO DA VIDA 84 - A POSSESSÃO, SEGUNDO KARDEC 85 - PRESERVAÇÃO DO TRÍPLICE ASPECTO NAS EXPOSIÇÕES DOUTRINÁRIAS 86 - QUANDO A OPÇÃO POR SI MESMO NÃO É EGOÍSMO 87 - QUE É A VERDADE? 88 - RECEITA DE PAZ! 89 - A REENCARNAÇÃO DISSOLVERIA A FAMÍLIA? 90 - É A REENCARNAÇÃO UM ESTÍMULO À PREGUIÇA? 91 - REENCARNAÇÃO NA BÍBLIA? 92 - REIDENTIFICAÇÃO 93 - “MEU REINO NÃO É DESSE MUNDO”. QUE REINO? 94 - RELIGIÃO E ESPIRITISMO 95 - RENOVAÇÃO SOCIAL 96 - SALVAÇÃO ? NÃO, OBRIGADO! 97 - SOBREVIVÊNCIA DO ESPÍRITO 98 - A ÚLTIMA PERGUNTA 99 - VERTICALIZAR PARA ENXERGAR 100 - VIDA ESPÍRITA 101 - VIOLÊNCIA

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UM LIVRO SOBRE O JULGAMENTO DE JESUS Bismael B. Moraes “Nenhum julgamento serviu, como o de Jesus, para uma negação tão insistente, obstinada e aca-tada de que foi um erro judicial e deu margem a um crime jurídico”. (do Juiz Haim Cohn Her-mann, ex-Presidente da Suprema Corte de Justiça de Israel). SUMÁRIO: 1- Introdução. 2- Um Juiz em busca de respostas. 3. Confronto: Evangelhos x Fon-tes Jurídicas. 4- Datas dos Evangelhos e seus testemunhos. 5- Análise do Evangelho de Marcos. 6- Análise do Evangelho de Mateus. 7- Análise do Evangelho de Lucas. 8- Análise do Evangelho de João. 9- Jesus foi condenado por Tribunal Judeu? 10- Controvérsias Evangélicas e as Leis Romanas e Judias. 11- Mais coerente é o Evangelho de João. 12- Os relatos evangélicos e a rea-lidade histórica. 1. INTRODUÇÃO Tenha sido por arraigada sedimentação religiosa e dogmática, ou por interesse de análise acadê-mica da Teologia, ou por motivos políticos e ou filosóficos, a verdade é que as questões relacio-nadas à vida e à morte de Jesus, em regra, sempre foram objeto de discussão no mundo todo. (Houve até quem, de forma estapafúrdia, ousasse dizer que essa coisa de religião, no fundo, foi uma invenção do homem fraco e covarde, a fim de manietar e controlar os super-homens...). Mas, aqui e agora, não vem ao caso eventual questionamento entre religiosos e ateus, entre fiéis e cépticos. Entretanto, na busca do conhecimento, todo trabalho sério, especialmente o de pes-quisa, se faz merecedor de reflexão. E é isso o que se pretende: trazer, para reflexão, uma síntese sobre O JULGAMENTO DE JESUS, O NAZARENO. O tema decorre da leitura do livro de au-toria do magistrado Dr. Haim Cohn Hermann, nascido em 1911, ex-Presidente da Suprema Corte de Justiça de Israel, publicado em Inglês, em 1967, com o título “REFLECTIONS ON THE TRIAL AND DEATH OF JESUS”, e traduzido para o Português, por Maria de Lourdes Mene-zes, como “O JULGAMENTO DE JESUS, O NAZARENO”, já em 5.a edição, publicação da Imago Editora, Rio de Janeiro, 1990. 2. UM JUIZ EM BUSCA DE RESPOSTAS Trata-se de uma pesquisa científica do Juiz Haim Cohn, de forma criteriosa e sem pender para discussões doutrinário-religiosas, apenas com o intuito de levantar – como bem esclarece - a ver-dade da mácula que historicamente pesa sobre os judeus pela morte de Jesus, apontados, em re-gra, como responsáveis por aquele evento, tão somente com base em registros evangélicos. Essa empreitada é levada a efeito pelo magistrado Cohn, através da exegese do Direito da época em que Jesus viveu, na busca de respostas para questões como estas: - Que crime praticou Jesus? Quem foi o responsável por Sua prisão? Qual a Lei ou o Direito que Ele violou – da Judéia ou de Roma? Por quem foi Ele julgado e condenado? Quem ordenou a Sua crucificação? A quem im-putar a Sua morte – aos judeus ou aos romanos? Para essa obstinada pesquisa jurídica, sociológi-ca e de costumes, de quase vinte séculos passados, o Dr. Haim Cohn analisou e comparou e Ve-lho Testamento e o Novo Testamento da Bíblia, os antigos Talmudes Jerosolimitano e Babilôni-co, citando 92 obras de autores diversos, em latim, inglês e, principalmente, em alemão (talvez pela forte influência da Igreja sobre povo germânico), e mais 12 fontes hebraicas, 10 fontes judi-as, 6 fontes cristãs e 21 fontes romanas, todos da antiguidade, indo ainda à exegese da Mishná ou Michna (codificação da lei oral pós-bíblica realizada pelos sábios, após a queda do Estado judeu, para, a despeito da perda da independência política, preservar a estrutura nacional jurídica) e do Tora (lei mosaica em pergaminho). Dissecou, com apoio no material pesquisado e com base em deduções lógicas, as formas de julgamento do Sinédrio, Tribunal Judeu, com 71 membros, for-mado por sacerdotes, anciãos e escribas, (para julgar questões criminais e administrativas, bem como delitos de ordem política), ao qual Jesus foi submetido. 3. CONFRONTO: EVANGELHOS x FONTES JURÍDICAS O Juiz Cohn, depois de registrar que, somente neste Século XX, já foram escritos mais de 60.000 (sessenta mil) livros sobre Jesus, e, dentre eles, vários sobre o Seu julgamento, mostra que o tra-balho em tela tem por meta a tentativa de encontrar uma explicação convincente para os fatos e acontecimentos que foram descritas em fontes não jurídicas (os Evangelhos), indo buscar tal ex-plicação no acúmulo de conhecimentos que “possuímos sobre as instituições e os conceitos jurí-

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dicos que existiam naquela época e lugar”. E esclarece que, para o empreendimento, “e valor dessas fontes, seja como fontes sagradas (teológicas) ou factuais (históricas), está fora de discus-são”; não serão convertidos em fontes jurídicas. A ideia da pesquisa é confrontar os fatos (descri-tos nos Evangelhos e noutras fontes) à luz do Direito Romano e sua aplicação, bem como diante das leis judias em vigor por volta daquela época. Na introdução do seu livro, aquele magistrado faz uma advertência: “Não podemos afirmar que a nossa atitude seja compartilhada por todos os juristas que já se ocuparam desse tema até agora. Muito ao contrário: tenho diante de mim quatro livros, de juristas ingleses e norte-americanos – Lord Shaw, Taylor Innes, Powell e MacRuer, to-dos eles cristãos fervorosos... Eles consideram tudo que está escrito no Novo Testamento como material jurídico por excelência, uma espécie de testemunho válido sobre o que não pode haver dúvidas”. 4. DATAS DOS EVANGELHOS E SEU TESTEMUNHO Em sua pesquisa científica dentro do Direito, o Dr. Cohn mostra que nenhum dos quatro Evange-lhos (de Marcos, Lucas, Mateus e João) inclui depoimentos de testemunhas presenciais dos even-tos que descrevem. Com base no livro “Jesus and the Origins of Christianity”, de Goguel, está demonstrado que o Evangelho de Marcos foi escrito por volta do ano 70 da Era Cristã (do nas-cimento de Cristo); o Evangelho de Lucas data, aproximadamente, do ano 85; e o Evangelho de Mateus veio à luz, mais ou menos, no ano 90; e o Evangelho de João, por volta do ano 110. As-sim, tomando como fonte o pesquisador Winter, em seu livro “On the Trial of Jesus”, escreveu o Juiz Haim Cohn: “Logo, o Evangelho de Marcos foi escrito cerca de quarenta anos após a cruci-ficação de Jesus, e Lucas escreveu, mais de duas gerações depois desses acontecimentos. Disso se depreende que os depoimentos ali existentes não correspondem a testemunhas presenciais”. E acrescenta ser possível que os relatos dos Evangelhos “sejam uma tradição conservada pela con-gregação de crentes e transmitida de geração em geração. Mas, se serviam para saciar a curiosi-dade biográfica dos crentes sobre a morte de Jesus, não continham nenhum tipo de documenta-ção jurídica”. Os Evangelhos, assim, não foram escritos como bases históricas, mas como meio de difundir o cristianismo, aí recorrendo, por vontade do evangelista – como é o caso de João – a utilização livre de sua imaginação, “para acrescentar detalhes e melhorar a descrição, não acei-tando limitações antiquadas ao apresentar, não história mas teologia”. Consta da pesquisa de Dr. Haim Cohn o registro de um dos mais antigos escritores, que teria vivido entre o ano 55 e o ano 115, de nome Tacitus, o qual, em seu “Annales”, com tradução de Dvoretzky, em 1962, “relata de passagem, para explicar o significado do nome Cristão (de seita perseguida durante o reinado de Nero), que Cristo é o pai de todos os cristãos e que foi executado na época do Imperador Ti-bério pelo Governador Pôncio Pilatos”. Diz o magistrado Cohn: alguns pesquisadores sustentam que “de tudo que está escrito nos Evangelhos, só podemos aceitar que Jesus viveu e foi crucifi-cado, sendo o resto meros adornos para maior glória da fé”. E acrescenta que “a interpretação dos acontecimentos descritos nos Evangelhos é uma questão aberta, e todo aquele que os ler ou analisar poderá fazer a sua própria interpretação... No que diz respeito às causas do julgamento de Jesus e à sua condenação, como também às circunstâncias, ao fundamento e ao objeto do jul-gamento, não aceitaremos o que está escrito nos Evangelhos como testemunhos indubitáveis; nossa atitude para com eles será a de um juiz cuidadoso e neutro, com a liberdade absoluta de quem tem diante de si um livro aberto”. 5. ANÁLISE DO EVANGELHO DE MARCOS Na análise dos quatro Evangelhos, começa pelo Evangelho de Marcos, registrando, em síntese, o seguinte: a)- Judas, discípulo de Jesus, segundo a tradição, o entregou aos perseguidores, com um beijo, no momento em que o Nazareno repousava no Horto de Getsêmani; b)- os perseguidores – uma turba com espadas e porretes – vinham da parte (por ordem) dos principais sacerdotes, escribas e anciãos; c)- Jesus foi conduzido à casa do Sumo Sacerdote (Caifás, como registra Mateus), à noite, onde os principais sacerdotes, anciãos e escribas, em domicílio (reunidos), buscaram testemunhos con-tra o mesmo, para entregá-lo à morte, mas não o conseguiram; (era um interrogatório noturno); d)- no meio do concílio, o Sumo Sacerdote perguntou a Jesus: “Nada respondes ao que testemu-nham contra ti? És tu o Cristo, Filho de Deus?” E Jesus respondeu: “Eu sou”, momento em que o

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Sumo Sacerdote, rasgando sua veste (que era o costume, ao ouvirem o que entendiam por blas-fêmia), disse: “Que mais necessidade temos de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia?” E todos o declararam digno de morte e alguns cuspiram-lhe e deram-lhe murros e bofetadas; e)- de manhã, levaram Jesus, amarrado, a Pôncio Pilatos, Governador da Judéia, e este pergun-tou: “És tu o Rei dos Reis?”, tendo o Nazareno respondido: “Tu o dizes”. Como os principais sa-cerdotes O acusavam muito, Pilatos voltou a interrogar Jesus: “Nada respondes do que te acu-sam?”. E Jesus calou, admirando-se Pilatos; f)- e como era costume libertar um preso por ocasião de festividade (e era festa da Páscoa), Pila-tos perguntou ao povo (que tinha direito a tal pedido) se deveria perdoar a pena do homem a quem chamam Rei dos Judeus ou a de Barrabás (um homicida), a população, incitada pelos líde-res dos sacerdotes (que invejavam a fama de Jesus), pediu a libertação do homicida e a morte de Jesus: “Crucifica-o”; g)- e Pilatos, mesmo tendo dúvidas quanto ao crime de Jesus (-”que mal fez ele” – perguntou), atendeu a vontade do povo; h) – e os soldados romanos levaram Jesus ao pátio do tribunal (Sinédrio), convocando a compa-nhia (de soldados) para as zombarias e os maus tratos, conduzindo-o depois à crucificação, no lugar chamado Gólgota (“lugar da Caveira”); i)– os soldados obrigaram o transeunte Simão Cirineu (da cidade de Cirene) a acompanhá-los, carregando a cruz (muito pesada para Jesus), onde seria realizada a crucificação; j)- os soldados deram a Jesus vinho com mirra, que ele não bebeu, e, depois de crucificá-lo, re-partiram entre si Suas vestes, deixando-o entre dois ladrões, isso na terceira hora (cerca de 9 ho-ras da manhã), de forma zombeteira; l)- e, cerca de seis horas depois da crucificação, (com os passantes escarnecendo de Jesus: “Sal-va-te a ti mesmo e desce da cruz”), Ele clamou: “Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”. E, a seguir, expirou. 6. ANÁLISE DO EVANGELHO DE MATEUS O Evangelho de Mateus, nesse episódio, em linhas gerais, repete o que diz o Evangelho de Mar-cos, acrescentando, porém, o seguinte: a)- que duas testemunhas afirmaram, quando do interrogatório noturno na casa de Caifás (Sumo Sacerdote), terem ouvido Jesus dizer que podia “derrubar o templo de Deus e em três dias reedi-ficá-lo”; e que Jesus, ao ser instado por Caifás sobre isso, nada respondeu; b)- fala também do arrependimento de Judas, que devolveu as trinta moedas de prata aos princi-pais sacerdotes e anciãos, mas Jesus já estava diante do Governador Pilatos; c)- que a mulher de Pilatos pediu para que ele não se envolvesse “com o sangue desse justo”, porque em sonhos muito sofrera por causa dele; d)- e Pilatos, vendo que não conseguia demover a turba, uma vez que a multidão era insuflada pelos principais sacerdotes e anciãos, que queriam a morte de Jesus, tomou água e lavou as mãos diante do povo, dizendo: “Sou inocente do sangue deste justo”, e libertou Barrabás, açoitou Jesus e o entregou para ser crucificado. 7. ANÁLISE DO EVANGELHO DE LUCAS Já o Evangelho de Lucas traz algumas diferenças marcantes, tais como as seguintes: a)- Jesus estava com seus discípulos, no Monte das Oliveiras, quando Judas, com seu beijo, o en-tregou à turba composta pelos principais sacerdotes, os chefes da guarda e os anciãos; b)- na casa do Sumo Sacerdote, bateram em Jesus e dele zombaram, vendando-lhe os olhos e perguntando-lhe: “Profetiza: quem foi que te bateu?” c)- de manhã, reunidos os principais sacerdotes, os anciãos do povo e os escribas, Jesus foi trazi-do diante de concílio, quando então lhe perguntaram: “És tu o Cristo?” E Jesus respondeu: “Se vos disser, não acreditareis.... Mas, desde agora, o Filho do Homem se sentará à direita do Pode-roso Deus”. E todos disseram: Logo, tu és Filho de Deus”. E Jesus respondeu: “Vós dizeis que o sou”; d)- e toda a multidão levou Jesus a Pilatos, acusando-o assim: “Perverte a nação e proíbe de dar tributos a César, dizendo que ele mesmo é um rei”. E Pilatos o interrogou: “És tu o Rei dos Ju-deus?” E Jesus respondeu: “Tu o dizes”. E Pilatos disse a todos os presentes: “Nenhum delito acho neste homem”; depois, sabendo que Jesus era galileu e da jurisdição de Herodes, que reina-

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va na Galiléia e que, naquele dia, também se achava em Jerusalém, mandou que O levassem àquele rei; e)- Herodes alegrou-se ao ver Jesus, porque ouvira falar dele e queria vê-lo fazer milagres; po-rém, dirigindo algumas perguntas a Jesus e este se mantendo em silêncio, Herodes escarneceu dele e mandou-o de volta a Pilatos; e até por isso houve reconciliação entre Herodes e Pilatos, que eram inimigos; f- e Pilatos, convocando os principais sacerdotes, os anciãos e o povo, disse que, tendo interro-gado a Jesus e nele não achando crime algum, e também Herodes não O considerando culpado, iria soltá-lo, depois de tê-lo castigado; g)- mas Pilatos não pôs Jesus em liberdade, fazendo-o a Barrabás (preso por sedição e homicí-dio), atendendo ao clamor da multidão e dos principais sacerdotes; h)- e na hora Sexta (que é meio dia), houve treva sobre toda a Terra, e, na hora nona, Jesus cla-mou em voz alta: “Pai, em tuas mãos encomendo meu Espírito”, e expirou. 8. ANÁLISE DO EVANGELHO DE JOÃO No Evangelho de João, há outras diferenças, como podem ser observadas a seguir: a)- Jesus com seus discípulos em um horto, do outro lado do Cedron, sendo o lugar conhecido por Judas, que lá estivera com Ele e os demais seguidores; b)- Judas tomou uma companhia de soldados e guardas dos principais sacerdotes e dos fariseus, conduzindo-os ao lugar com lanternas, tochas e armas; c)- Jesus perguntou: “A quem buscais?”, e a resposta foi: “A Jesus, o Nazareno”. E ele disse: “Sou eu”. E a companhia de soldados, o tribuno e os guardas dos judeus o prenderam e amarra-ram; d)- foi levado primeiro à casa de Anás, sogro de Caifás (sumo sacerdote), tendo este último inter-rogado Jesus sobre seus discípulos e sua doutrina; e)- Jesus respondeu a Caifás: “Sempre ensinei nas sinagogas e no templo, e nada falei às ocultas. Por que perguntas a mim? Pergunta aos que escutaram, o que lhes falei eu”. E um guarda que ali estava deu uma bofetada em Jesus, dizendo: “Assim respondes ao sumo sacerdote? “E Jesus dis-se: “Se falei mal, testemunha em que está o mal; e se falei bem, por que me bates?”; f)- Anás enviou Jesus amarrado a Caifás, onde foi mantido até de manhã, sendo dali conduzido ao tribunal; mas os que conduziram (não se sabe quem foi) “não entraram no pretório para não se contaminarem e poderem comer na páscoa”; g)- Pilatos veio do Tribunal e perguntou aos condutores de Jesus a respeito de que o mesmo era acusado, ao que lhe responderam: “Se não fosse malfeitor, não o entregaríamos a ti”. E disse Pi-latos: “Tomai-o e julgai-o segundo a vossa lei”. Mas os “judeus” responderam: “A nós não nos é permitido matar ninguém”; h)- Pilatos voltou ao pretório (tribunal) e perguntou a Jesus: “És tu o Rei dos Judeus? Tua nação e os principais sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?” E Jesus respondeu: “Meu reino não é deste mundo”. Voltou Pilatos a perguntar: “Logo, tu és rei? “E disse Jesus: “Tu dizes que eu sou rei. Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo. Para dar testemunho da verdade”. i)- foi Pilatos outra vez “aos judeus”, dizendo que não havia achado nenhum delito em Jesus; po-rém, alegando que os judeus tinham o costume de libertar um preso na Páscoa, perguntou: “Que-reis, então, que vos liberte o rei dos judeus?” E todos gritaram: “não este, mas Barrabás”; e o evangelista explica que este era ladrão; j)- Pilatos voltou a sair do tribunal, dizendo ao povo não ter achado delito em Jesus, este trazen-do uma coroa de espinhos e um manto de púrpura, tendo assim acrescentado aos principais sa-cerdotes e aos guardas: “Eis o homem”. E todos gritaram: “Crucificai-o! Crucificai-o!” E Pilatos disse: “Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu não achei delito nele”; k)- os judeus responderam: “Nós temos uma lei, e segundo essa lei ele deve morrer, porque fez a si mesmo Filho de Deus”. E Pilatos teve medo destas palavras, retornando ao tribunal com Jesus, a quem perguntou: “De onde és?”, e não recebeu resposta; l)- e disse Pilatos: “Não sabes que tenho autoridade para crucificar-te e para salvar-te?” E res-pondeu Jesus: “Nenhuma autoridade terias contra mim, se ela não te fosse dada de cima”; m)- e quando Pilatos tentou pôr Jesus em liberdade, os judeus gritaram: “Se a estes soltas, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei se opõe a César”. E Pilatos levou Jesus para fora,

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sentou-se no Pavimento e disse: “Eis aqui o vosso rei”. E os judeus gritaram: “Fora, fora, crucifi-cai-o”. E perguntou Pilatos: “Ao vosso rei devo crucificar?” E os principais sacerdotes responde-ram: “Não temos outro rei senão César”; n)- e Jesus foi entregue nas mãos dos judeus para que fosse crucificado, e estes o levaram; Jesus carregava a cruz ao lugar chamado de Caveira (Gólgota, em hebreu), e ali o crucificaram, tendo sido Pilatos quem escreveu uma inscrição colocada sobre a cruz: “Jesus Nazareno, Rei dos Ju-deus”, em hebraico, grego e latim; o)- os principais sacerdotes judeus se dirigiram a Pilatos: “Não escreva Rei dos judeus, mas que ele (Jesus) disse: “Eu sou o rei dos judeus”, ao que Pilatos respondeu: “O que escrevi, escrevi”; p)- e, por fim, Jesus despediu-se de sua mãe e de seu discípulo, dizendo que tinha sede; então havia ali uma vasilha de vinagre, e, com uma esponja em sua boca, Jesus bebeu vinagre e disse: “Está consumado”; e, inclinando a cabeça, entregou seu Espírito. Com essas e outras observações, confrontando os quatro Evangelhos – de Marcos, Mateus, Lu-cas e João -, o juiz Haim Cohn procura mostrar as informações, em alguns casos, até contraditó-rias entre os evangelistas, cada um deles escrevendo sobre os mesmos fatos em épocas diferen-tes, para concluir que esses escritos não podem ter valor científico como história. 9. JESUS FOI CONDENADO POR TRIBUNAL JUDEU? Numa análise mais profunda do Direito antigo, para verificar se os judeus – embora tendo suas próprias normas, mas achando-se sob o domínio romano – tinham o poder de aplicar a pena de morte, o magistrado Cohn leva-nos a melhor refletir sobre a condenação e crucificação de Jesus. Mostra, por exemplo, os seguintes registros: a)- de um sumo sacerdote que solicitou autorização do governador romano para convencer o Sinédrio para tratar de um possível caso de pena de morte; b)- que em papiros egípcios encontra-se que governadores romanos no Egito costumavam utilizar os tribunais locais para efetuar investigações preliminares; c)- a tradição encontrada, tan-to no Talmude da Babilônia como no Talmude de Jerusalém, segundo a qual, quarenta anos antes da destruição do templo, foi retirada de Israel a autoridade para impor a pena de morte. (Obser-vação: a destruição do templo corresponde à perda de autonomia judia, ao desaparecimento da soberania política da Judéia). Assim, o autor Haim Cohn conclui: se, quarenta anos antes da des-truição do templo, já se havia tirado dos judeus o direito de julgar questões penais de vida ou morte, não poderia ter sido um tribunal judeu que condenou Jesus à pena capital. Foi, segundo o Dr. Cohn, de acordo com registros da tradição babilônica e jerololimitana, que “os cristãos co-meçaram a publicar e difundir textos de propaganda e apologia, na segunda metade do século II, para sublinhar e realçar as diferenças entre eles e os judeus, não apenas no que se refere à fé, como também à fidelidade política aos governantes romanos”. “Já haviam sido publicados os Evangelhos, nos quais a tendência a desprestigiar os judeus encontrou um fundamento de peso. Se o fundador da religião cristã e seu criador. (Jesus) era inocente aos olhos do governador ro-mano, que não encontrou mácula nele nem em sua religião, isso aparentemente comprovaria que a dita religião pode coexistir com a fidelidade ao Império”. (grifos nossos). E conclui o magis-trado Haim Cohn: “E se apesar de tudo Jesus foi crucificado como um criminoso, isso se deve apenas à maldade dos judeus e de seu Sinédrio, que sabiam muito bem como era grande para eles o perigo implícito na nova religião, que terminaria acabando com a religião dos judeus”. O livro mostra que não havia sido encontrada prova de que as autoridades romanas tivessem alguma vez concedido autoridade judicial ao Sinédrio de forma explícita, fosse genericamente para o direito penal ou fosse para certos delitos em casos particulares. “O Sinédrio nada mais era do que um tribunal local em sua terra ocupada, que atuava apenas sob a autoridade do governador (romano) e segundo a sua vontade”. “Em resumo”,- esclarece o autor-, “ o Sinédrio só estava autorizado a julgar delitos segundo a lei judia, assim como o governador romano só estava autorizado a julgar delitos segundo o Direito Romano”. Por exemplo, profanar o templo não representava delito, de acordo com o Direito Romano, mas o era segundo o Direito Judeu: nesse caso, o governador ro-mano poderia entregar o assunto para o Sinédrio. 10. CONTROVÉRSIAS EVANGÉLICAS E AS LEIS ROMANAS E JUDIAS No Evangelho de Lucas, quando a multidão (de judeus) levou Jesus a Pilatos, depois de o terem interrogado (os principais sacerdotes e anciãos), foi o Nazareno acusado: “Perverte a nação e proíbe de dar tributo a César, dizendo que ele mesmo é um rei”. Aí, pelo evangelista Marcos, Je-

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sus estaria sendo acusado pelos judeus como tendo infringido a lei romana, pois se colocava co-mo rei e desafiava o Imperador Romano. Já no Evangelho de João, quando Pilatos entrega Jesus aos judeus, dizendo: “Tomai-o e crucifica-o, porque eu não achei nenhum delito nele”, os judeus responderam: “Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, ele deve morrer, porque fez a si mes-mo Filho de Deus”. Aqui, evidentemente, por esse relato de João, Jesus teria infringido a lei ju-dia! Aliás, o registro do Evangelho de João vai mais longe: quando Pilatos tentou pôr Jesus em liberdade, os judeus gritaram (preferindo que Barrabás fosse solto): “Se este soltas” (referindo-se a Jesus), “não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei se opõe a César”. Assim, depois que João escreveu que, segundo a lei judia, Jesus deveria morrer, “porque fez a si mesmo Filho de Deus”, procura mostrar que os judeus, vendo a intenção de Pilatos em soltar Jesus, teriam como que colocado o governador contra a parede: “se soltas um homem (Jesus) que se faz rei e se opõe a César, então não és amigo de César!” Por outro lado, o Evangelho de Marcos registra que Jesus praticou blasfêmia diante do sumo sacerdote, quando este o interrogou; “És tu o Cristo Filho de Deus?”, e o Nazareno respondeu: “Eu sou”. E o sumo sacerdote, diante do concílio, interrogató-rio em sua casa, disse: “Ouvistes a blasfêmia?” (E colocar-se na posição de Filho de Deus, para a lei judia, era delito de blasfêmia, que podia levar à morte!) É claro que os interlocutores ou não entendiam ou não queriam entender o que Jesus dizia! Embora de relance, pelo Evangelho de Mateus, Jesus também teria praticado delito contra a lei judia, quando registra que duas testemu-nhas afirmaram que, no interrogatório noturno, na casa de Caifás, o Nazareno teria dito que po-dia “derrubar o templo de Deus e em três dias reedificá-lo”. 11. MAIS COERENTE É O EVANGELHO DE JOÃO O livro do Dr. Haim Cohn, para demonstrar uma espécie de tendência não discutida quanto à responsabilidade dos judeus pela morte de Jesus, cita inclusive a existência de dois outros perso-nagens com o nome JESUS: um teria sido bruxo e instigador (bruxaria e instigação tinham a pe-na de morte pela lei judia), sendo a sua morte por lapidação, às vésperas da páscoa (conforme re-gistro do Talmude Babilônico); chamava-se Ben Setda (“Ben”, no hebraico, é Filho; “Setda”, se-gundo os sábios amoraítas, é pseudônimo talmúdico de Maria, mãe de Jesus). É registro do sécu-lo III, d. C., refletindo uma tradição equivocada, pois tal personagem foi preso e morto na cidade de Lod; e outro, que existiu aproximadamente entre os anos 150 a 100 a.C. também instigou os judeus à idolatria e, por isso, foi condenado à morte por lapidação (apedrejamento) pelo tribunal, às vésperas da páscoa, sendo depois o seu corpo colgado (pendurado na madeira) e, no mesmo dia, enterrado. Esse segundo Jesus teria sido aluno de Joshua Ben Perahya. O autor registra, até, que o nome de Nazaré (de Jesus de Nazaré) teria nascido de um acréscimo, por desconhecimento de cronologia histórica, apenas porque no Talmude Babilônico há o relato de que Joshua Ben Pe-rahya “empurrou Jesus de Nazaré com ambas as mãos”. Teria vivido antes do Cristo. Não há fonte talmúdica que afirme o julgamento de Jesus de Nazaré. O magistrado Haim Cohn, depois de analisar tantos documentos e de confrontar as inúmeras versões sobre o julgamento de Jesus, pondo inclusive por terra a eventual conspiração de Judas, que teria ajudado, por moedas, na busca e prisão do Nazareno (porque Jesus era sumamente conhecido, e os seus percursos em Je-rusalém e nos arredores eram de conhecimento geral, não havendo objetivo real e justificativa plausível para a traição, nem razão histórica para isso), mostra-se propenso em aceitar que o rela-to do Evangelho de João é o mais coerente: segundo esse evangelista, Jesus foi preso por “um tribuno romano no comando de sua corte, toda ou parte dela, em presença da guarda do templo”. Entende que o relato merece fé, e já foi aceito pela maioria dos pesquisadores, “porque, de todos os evangelistas, é João o que mais exagera na defesa dos romanos e na crítica aos judeus”. Os li-vros de Marcos, Mateus e Lucas são chamados de Evangelhos sinópticos (porque permitem uma visão de conjunto de suas versões) pelo Dr. Haim Cohn, pois, dentre outros registros, falam que, no momento da prisão de Jesus, a multidão estava armada com espadas e garrotes ou porretes, enquanto João fala de velas, tochas e armas, não restando dúvidas de que as armas eram dos sol-dados romanos. 12. OS RELATOS EVANGÉLICOS E A REALIDADE HISTÓRICA Com base do Direito Judeu, o autor entende que nos registros dos Evangelhos há muita coisa ir-real e impossível, especialmente em relação ao Sinédrio: a) este não podia se reunir para casos de direito penal, na casa do sumo sacerdote, mas só no recinto oficial; b) não estava autorizado a se

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reunir à noite; c) casos possíveis de pena de morte não eram julgados em dias festivos, nem em vésperas de festa; d) nenhum acusado pode ser condenado à morte pela sua confissão; e) só se condena um homem em julgamento, se pelo menos duas testemunhas o tenham visto cometer o ato de que é acusado; f) só será condenado o homem, se duas testemunhas disserem que o preve-niram para não praticar o ato; g) o blasfemo não é considerado culpado desde que não pronuncie expressamente o nome de Deus, na presença de testemunhas”. Se o julgamento assim se deu, “foi ilegal desde o início até o fim”, e “Jesus foi vítima de um assassinato judicial”. Depois de provar que os relatos evangélicos não servem como relatos válidos para a história como ciência, o magistrado Haim Cohn explica que “as perseguições aos judeus, judiciais e extraconjugais, to-das elas se produzem no fundo da fonte consciente ou inconsciente, como castigo pela “culpa de-les” na crucificação de Jesus. Isso porque, o interesse dos Evangelhos era eminentemente religio-so e missionário, e sua tendência era apologética com respeito ao Império Romano. Essa descri-ção intencional e equivocada obteve difusão mundial, convertendo-se em dogma e conquistando a metade do orbe. Foi apagada e esquecida a verdadeira realidade histórica”. É um livro que exi-ge do leitor muita reflexão, sem preconceito. ---------------------------------------------------------------- 2 ------------------------------------------------ ABORTO - CRIME E CONSEQUÊNCIAS ”O maior destruidor da paz no Mundo hoje, é o aborto” “Ninguém tem o direito de tirar a vida; nem a mãe, nem o pai, nem a conferência, ou o Governo.” Madre Tereza de Calcutá (Mensagem à Conferência na ONU ). (1) Fernando A. Moreira O termo aborto que, cientificamente indica o produto do abortamento, foi popularmente usado como sinônimo deste, confundindo-se assim, a ação com o resultado dela, o ato de abortar com seu cadáver, o aborto. Apesar da ressalva, usaremos indistintamente neste trabalho, dado a con-sagração do termo, uma ou outra denominação com a mesma finalidade. Assim, aborto ou abor-tamento seria a expulsão do concepto, antes da sua viabilidade, esteja ele representado pelo ovo, pelo embrião ou pelo feto; a expulsão do feto viável, antes de alcançado o termo, denomina-se parto prematuro. É pois, a interrupção da gravidez antes da prematuridade o abortamento; duran-te o parto prematuro; completada o parto a termo; ultrapassada o parto serotino. (2) Pode ser o aborto, sob o ponto de vista médico, espontâneo ou provocado, e a diferença está na intenção, pois que este último é devido a interferência intencional da gestante, do médico ou de qualquer outra pessoa, visando o extermínio do concepto. Neste trabalho, por motivos óbvios, só nos refe-riremos ao aborto provocado. Incidência: Segundo dados da Organização Mundial de Saúde ( OMS ), feitos por estimativa e antes de serem publicados, já foram divulgados pela Rede Nacional Feminista de Saúde e Direi-tos Reprodutivos (“Dossiê Aborto Inseguro”), através do jornal “O Globo”, é na América do Sul onde ocorre o maior número de abortos clandestinos no mundo, vindo em segundo, a América Central e em terceiro, a África. O Brasil é o campeão mundial, pois aqui são consumados 1,4 mi-lhão de abortos clandestinos por ano, mais do que todos os outros países da América do Sul reu-nidos. Meninas e jovens de até 19 anos fazem 48 % das interrupções legais da gravidez, segundo a nossa rede pública. Dados do Fundo das Nações Unidas para a População (FUNUAP), mos-tram que em consequência de complicações deles, morrem por ano nos países da América Latina (inclusive no Brasil), seis mil mulheres, consistindo na terceira causa de morte materna, depois das hemorragias e da hipertensão. Relatório do Instituto Alan Gutmacher (Folha de S. Paulo: 14/03/99), mostra que a maior incidência por percentagem de abortos (36 %), acontece nos paí-ses desenvolvidos, graças a permissão da lei, sendo deles também a maior taxa de gravidez não planejada (49 %), mas englobam apenas 28 milhões de mulheres grávidas por ano. Os países subdesenvolvidos apresentam planejamento melhor (36 % dos nascimentos não são previstos) e menos abortos (20 %), entretanto representam 182 milhões de grávidas. No Brasil, segundo o mesmo instituto, a cada 1.000 adolescentes grávidas, 32 recorrem ao aborto. Somente a Repúbli-ca Dominicana (onde também é proibido) e EUA (onde é legalizado), têm taxas maiores: 36.

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Conclui ainda o relatório que, nos EUA, onde 23 de cada 100 mil mulheres já praticaram o abor-to, existe uma preocupação do Congresso, que prevê crescimento populacional negativo na pró-xima década, falta de mão de obra e colapso de sistema previdenciário em vinte anos. Outro da-do importante é que 63 % das mulheres norte-americanas chegam aos 18 anos já tendo praticado sexo. Só na Dinamarca (72 %) e na Islândia (71 %) o percentual é maior. O próprio instituto re-conhece que parte das mulheres só fazem sexo por saberem que não terão filhos (seja porque usam métodos contraceptivos, seja pela prática do aborto). Equivale dizer, que naqueles países onde o aborto foi legalizado, ganhando o nome, dado por eles, de “aborto seguro”, o número de abortamentos vem aumentando assustadoramente e não menos assustador foi a diminuição do número de gravidezes programadas, denotando ambos, o aumento da “irresponsabilidade segu-ra”. As Consequências: O aborto é um crime hediondo que produz uma série de consequências espi-rituais, perispirituais, físicas, psicológicas e legais: a) Consequências espirituais e perispirituais: estão relacionadas ao crime, com repercussões para o criminoso e a vítima. - Para o criminoso. Em trabalho publicado na Revista Internacional de Espiritismo (Mar. 2000), referimo-nos a pro-gramação genética reencarnatória, (3 a 9 e 18) já que “não existindo o acaso, tudo na reencarna-ção, acontece sob a égide de Deus, o Senhor da Vida. Sendo esta programada, os Espíritos Supe-riores atuariam como construtores ou geneticistas, no fluxo da vida, selecionando o óvulo e o es-permatozoide que originarão o ovo; sempre que possível participa nesta seleção genética o Espí-rito reencarnante, sendo o grau de comando dos Espíritos Superiores, inversamente proporcional ao estágio evolutivo do Espírito. Estabelecem-se, outrossim, fortíssimos compromissos, entre os pais e o Espírito reencarnante e vice-versa. Colaboram os Espíritos simpáticos e tentam interferir negativamente os Espíritos inimigos, de acordo com as possibilidades das sintonias.” O produto deste magnífico trabalho de corporificação da espiritualidade é o ovo, que originará os 70 tri-lhões de células do corpo físico, indo servir de roupagem ao Espírito reencarnante, como veículo possuidor de todas as dimensões necessárias e suficientes, colocadas a seu serviço para executar sua proposta reencarnatória e conduzi-lo à evolução espiritual. O aborto não é uma solução, é um adiamento doloroso, uma porta aberta de entrada no crime e no mal, e um rompimento de com-promissos estabelecidos pelo Espírito, ora delituoso, com Deus, com o reencarnante e em última análise consigo mesmo. Quem quer que venha a praticar ou colaborar com esse delito, predis-põe-se a alterações significativas do centro genésico, em seu perispírito, com consequências atu-ais e posteriores, na esfera patológica de seus órgãos sexuais e também, por vezes, dos centros de força coronário, cardíaco e esplênico com todas as repercussões pertinentes. Nos estamos prepa-rando hoje a reencarnação de amanhã; um aborto provocado agora se refletirá no centro de força genésico, e será mais além o aborto espontâneo, pois a paternidade e a maternidade não valoriza-das hoje, o serão com certeza amanhã, noutra encarnação, mas agora por um processo educativo, que passa pela dor e pelo sofrimento redentor. Em igual patamar, como consequência, estão a prenhez tubária, a placenta prévia, o descolamento prematuro de placenta, a esterilidade, a impo-tência, entre outras causas que atingem a esfera do aparelho reprodutor masculino e feminino. Para a vítima O único caso em que é aceito o aborto, pela Doutrina Espírita, é quando existe risco insuplantá-vel para a vida da mãe. (13). Em todos os demais casos considera-se ser este compromisso in-quebrantável, sob o ponto de vista moral e portanto consciencial espiritual, quer na prova doloro-sa do estupro, quer nos fetos acárdicos e anencéfalos, ou qualquer argumento, como o direito de escolha da mulher e sua plasticidade, falta de recursos financeiros, etc. A luta entre o “devo mas não posso e o posso mas não devo”, nada mais é do que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm” ( 1.a Epístola de Paulo Apóstolo aos Coríntios, cap. VI, verc. 12). A reação da vítima, o Espírito reencarnante, varia de acordo com seu grau evolutivo, da decepção, quando aproveita a reencarnação malograda para sua purificação, à obsessão, e dadas as circunstâncias, é mais provável que reajam da segunda forma, sintonizando-se às vezes com verdadeiras falanges de Espíritos obsessores: “(...) ódio aos que se recusaram em recebê-los no novo berço, e quando não lhes infernizam a existência terrena, em longos processos obsessivos, aguardam sequiosos de

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vingança, que façam o transpasse, para então tirarem a forra, castigando-os sem dó nem pieda-de.” (14) Consequências físicas Consequências físicas imediatas: consideraremos aqui as de ocorrência médica, que acontecem nessa encarnação. Estima-se que a morte da gestante ocorra em 20 % dos casos de abortamento provocado na clandestinidade e além disso descrevem-se; perfurações do útero com cureta, son-das, velas, etc.; anemia aguda, decorrente de hemorragias provocadas por estas últimas, por abor-tamento incompleto (restos ovulares) e demais traumatismos da vagina, do útero e das trompas; infecções inclusive tétano, abscessos, septicemias, gangrenas gasosas; esterilidade secundária; lesões intestinais; complicações hepáticas e renais pelo uso de substâncias tóxicas.(2) Assim, o aborto quando não determina a morte, pode imprimir marcas indeléveis no corpo físico e, como vimos, também no corpo perispiritual. Consequências psicológicas Não se pode fugir da nossa consciência, nem pretextar ignorância das Leis Morais pois elas estão aí impressas (9), e quando se pratica este tipo de crime, desperta-se o sentimento de culpa, o ar-rependimento e às vezes o remorso, a nos perseguir por toda vida física e extra-física. O arrepen-dimento é a antessala da reabilitação, e quando dinâmico, canalizado para ações construtivas, pode levar, via reforma íntima e trabalho regenerador, e não raro espelhado na adoção, a minimi-zação de nossas faltas. O remorso é a lamentação interior inoperante, completamente estático, que como um ácido corrói o recipiente onde é guardado, provocando a viciação mental, a mente em desarmonia, que é porta aberta aos processos obsessivos. ( 5) Consequências legais Não nos estenderemos sobre o tema, lembrando que “nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legalizado.” (16) O aborto é um crime, e se não é admissível que morram mulheres jovens, menos admissível ainda é que se assassinem covardemente os mais jovens ainda e mais indefesos, praticando-o. O assunto é tratado nos artigos 124 à 128 do Código Penal determinan-do penas que vão de 1 à 10 anos. Conclusão O primeiro dos direitos naturais do ser humano é o direito de viver. O primeiro dever é defender e proteger o seu primeiro direito: a vida. (17) O aborto é um crime nefando, porque praticado contra um inocente indefeso; o produto da concepção está vivo, e tem o direito DIVINO de con-tinuar vivendo e de nascer. Transgride-se assim o 5.o mandamento, “Não Matarás”. Errar é hu-mano; assumir o erro, é divino. O Espiritismo não aceita, nem pactua com a legalização do abor-to, porque legalizá-lo é legalizar o crime e a irresponsabilidade . O “aborto seguro” com que acenam, se dizendo defensores da vida da mulher, mesmo se verdadeira, não passa de uma pro-posta para o crime, em que saem em desvantagem as vítimas, os inocentes e indefesos conceptos e aparentemente premiada a irresponsabilidade, excetuando-se desta os casos de estupro, no qual também não justificamos o delito, pois mesmo aí existe um compromisso, da lei de causa e efei-to, a ser cumprido. “Lembrai-vos que a cada pai e a cada mãe, perguntará Deus: (15) - Que fizeste do filho confiado à vossa guarda?”. E quem praticou o aborto responderá: “- Eu matei meu próprio filho...” Quem assim dirá, embora reconhecendo a grave falta em que incorreu, não deve cultuar o remor-so ou consumir-se no sentimento corroente da culpa, que levariam a estagnação, mas dinamizar-se e orientar sua energia no trabalho regenerador, agora sim, na defesa da vida, praticando a cari-dade, dedicando-se ao próximo e servindo com amor, que alcançariam sua plenitude na dádiva espelhada da adoção, na certeza de que com esses procedimentos, encontrará a justiça indulgente e a misericórdia do Criador. “Não é na culpa corrosiva nem no remorso paralisante, mas sim no arrependimento dinâmico que nos remete à ação e ao amor, afastando-nos do vale da dor e do sofrimento, que encontraremos o caminho da libertação.” (7) (1) FURLAN, Laércio. Respeito ao embrião e ao feto - Diga não ao Aborto. “Mundo Espírita”. Jan. 98, pg. 2 (2) REZENDE, Jorge. Ed. Guanabara-Koogan, 1963, pg. 667.

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(3) XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito André Luiz. Missionários da Luz .FEB 28.a edi-ção; pg. 187 a 189 e 208. (4) KÜHL, Eurípides. Genética e Espiritismo, FEB 1.a edição, 1996; pg. 40. (5) MIRANDA, Hermínio P. Nossos filhos são Espíritos, Publ. Lachâtre, 1995. pg. 47. (6) SOARES, José Luis. Biologia. Ed. Scipione, 1997. Pg. 195. (7) GANDRES, Doris Madeira. Tesouro maior, Revista Internacional do Espiritismo, Jan. 1999, pg. 219. (8) DENIS, Léon, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Ed. FEB, 1936, 4.a ed., pg. 193. (9) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, ed. FEB, 1987: perg.199, 344 358 e 359. (10) ROCHA, Alberto de Souza. Além da matéria densa. Ed. Correio Fraterno, 1997, pg. 153. Reencarnação em foco. Casa Ed. “O Clarim”, 1991, pg.104. (11) LIMA, Inaldo Lacerda de. Reformador, jun. 1987, pg. 169. (12) SANTA MARIA, José Serpa. Palavras de viver. Reformador, Jun 1992, pg.168. (13) CALLIGARIS, Rodolfo. As Leis Morais . Ed. FEB, 1991, pg. 77. (14) MOTA JR., Eliseu Florentino. Aborto sob a luz do Espiritismo. Casa Ed. “O Clarim”, 1995, pg. 121. (15) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Ed. FEB, 1987, 6.a ed., pg. 240. (16) CARVALHO, Alamar Regis. O Aborto e suas consequências, SEDA-Salvador, Bahía: 31/07/99. (17) KARDEC Allan, Revista Espírita. Aborto; direito ou crime?. (18) MOREIRA, Fernando Augusto. Reencarnação e Genética, Revista Internacional de Espiri-tismo, março 2000, pg. 56 ------------------------------------------------------------- 3 --------------------------------------------------- AÇÃO E REAÇÃO Sérgio Biagi Gregório SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Aspectos Gerais. 4. Ação: 4.1. Princípio da Ação; 4.2. Os Meios e os Fins de uma Ação; 4.3. Autonomia de uma Ação. 5. Reação: 5.1. Reação não é só Sofrimento; 5.2. Lei de Deus; 5.3. A Inexorabilidade da Lei. 6. A Passagem do Tempo entre a Ação e a Reação: 6.1. Antecedentes e Consequentes; 6.2. O Tempo Modifica a Causa; 6.3. Perda do Dedo e não do Braço. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é mostrar que o acaso não existe e que um futuro promissor depende das boas ações praticadas no presente. 2. CONCEITO Ação – ato ou efeito de agir. Manifestação de uma força, de uma energia, de um agente. Em termos espirituais, A ação inteligente do ser humano é um contrapeso que Deus dispôs para estabelecer o equilíbrio entre as forças da Natureza e é ainda isso o que o distingue dos animais, porque ele obra com conhecimento de causa. Reação - Ato ou efeito de reagir. Resposta a uma ação qualquer. Comportamento de alguém em face de ameaça, agressão, provocação etc. Em termos espirituais, a reação é a consequência que a ação humana acarreta ao ser defrontada com a Lei Natural. 3. ASPECTOS GERAIS Deus, que é inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, estabeleceu leis, chamadas de naturais ou divinas. Elas englobam todas as ações do ser humano: para consigo mesmo, para com o próximo e para com o meio ambiente. Numa fase mais rudimentar, funciona o determi-nismo divino; com o desenvolvimento do ser, Deus faculta-lhe o livre-arbítrio, a fim de que sinta responsabilidade pelos atos praticados. Assim, o ser humano tem uma lei, uma diretriz, um mo-delo colocado por Deus na sua consciência, no sentido de nortear-lhe os seus atos. A reação nada mais é do que uma resposta da natureza às nossas ações. Reações estas baseadas na lei natural. O raciocínio poderia ser expresso assim: há uma ação que provoca uma reação; a ação da reação

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provoca uma nova reação; a ação da reação da reação provoca outra ação. A isso poderíamos de-nominar de cadeias de ação e reação. A Doutrina Espírita chama essa cadeia de Lei de Causa e Efeito, ou seja, o somatório do mérito e do demérito de todas as ações praticadas pelo indivíduo. A finalidade dessa cadeia de ação e reação é a perfeição do Espírito. 4. AÇÃO 4.1. PRINCÍPIO DA AÇÃO Os movimentos que executamos em nosso dia-a-dia caracterizam as nossas ações. Fazer ou dei-xar de fazer, escrever ou não escrever, obedecer ou mandar são atitudes corriqueiras em nossa ocupação diária. Ocupar-se provém de um preocupar-se. À preocupação com uma ação futura, denominamos princípio da ação. Um exemplo tornará claro esse pensamento. Barbear-se é uma ação que a maioria dos homens pratica. O barbear-se está ligado a um princípio que o indivíduo forjou para si, ou seja, ele tomou uma decisão de apresentar-se barbeado. Ele deseja estar barbe-ado e não barbudo, como também poderia escolher ficar com barba. Nesse caso, eliminaria a ação de barbear-se, mas deveria aparar as barbas uma vez por semana. Assistir a ou proferir uma palestra é uma ação. O princípio subjacente a este encontro está calcado tanto na conduta do ex-positor quanto na do ouvinte. O primeiro tem o dever de preparar o assunto; o segundo, o prepa-ro mental e espiritual para ouvir. 4.2. OS MEIOS E OS FINS DE UMA AÇÃO Estamos sempre confundindo os meios com os fins. Poder-se-ia perguntar: qual o fim de uma pa-lestra? Qual o fim de uma religião? Qual o fim de um sindicato? As respostas poderiam ser: o fim de uma palestra espírita é difundir a verdade; o fim da religião é salvar os seus adeptos; o fim de um sindicato é defender os interesses de seus associados. Pode-se, contudo, confundir os mei-os com os fins: o expositor pode querer fazer prosélitos à custa da verdade; o Pastor, o Padre ou o mesmo o Espírita embora clamem pela salvação do adepto, acabam proibindo a salvação do mesmo em outra Igreja que não seja a sua; O presidente do sindicato pode promover greves, não para defender os interesses dos seus associados, mas para a sua ascensão política. 4.3. AUTONOMIA DE UMA AÇÃO Temos, por várias razões, dificuldade de agir livremente. 1) A ignorância. Como escolher quan-do não se conhece? 2) Desenvolvimento determinístico imposta pelo princípio de causalidade. 3) Escassez de recursos naturais. São os terremotos, tempestades, acidentes etc. O que permanece livre dessas amarras constitui o livre-arbítrio. Há uma lenda japonesa que retrata a autonomia da ação; Kussunoki Massashige, famoso guerreiro do antigo Japão, celebérrimo pela sua inteligên-cia e pelos seus lances geniais de estratégia, vivia desde sua infância no meio dos guerreiros. Uma vez, no castelo de seu pai, observava os guerreiros que, reunidos ao redor de um enorme si-no, apostavam quem deles conseguiria pô-lo em movimento. Contudo, nenhum deles, mesmo o mais hercúleo conseguiu mover milímetro do sino. O menino assistia a tudo isso com muito inte-resse. De repente, apresenta-se para mover o sino, desde que tomasse o tempo necessário para tal mister. Ele cola o seu corpo ao sino e começa a fazer esforço para balançar o sino. Depois de vá-rias tentativas o sino começou a mover-se; primeiro lentamente; depois com mais força, forman-do uma simbiose entre o sino e o peso do garoto. Qual a lição moral deste conto? É que devemos nos amoldar à situação e não o contrário. Observe a chegada de novos companheiros a um Cen-tro Espírita: quantos, numa primeira reunião, não querem mudar tudo. Qual o resultado? Não conseguirão nada, porque não absorveram as atitudes e os comportamentos das pessoas envolvi-das com a situação. 5. REAÇÃO 5.1. REAÇÃO NÃO É SÓ SOFRIMENTO Geralmente, a palavra reação vem impregnada de dor e de sofrimento: é como o pecador ardendo no fogo do inferno. No meio espírita, toma-se como sinônimo de causa e efeito, que implica em sofrer e resgatar as dívidas do passado. A reação, por seu turno, nada mais é do que uma resposta – boa ou má –, em razão de nossas ações. A reação é simplesmente uma resposta, nada mais. Su-ponha que estejamos praticando boas ações. Por que aguardar o sofrimento? Não seria melhor confiar na Vontade de Deus, na execução de sua justiça, que nos quer trazer a felicidade? 5.2. LEI DE DEUS

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Qual o móvel que determina uma reação? É a Lei de Deus. Se a prática de uma ação não for con-cernente com a Lei de Deus, ou seja, se ela não expressar o bem ao próximo, ela não foi pratica-da em função da vontade de Deus. Qual será a reação com relação à Lei? Dor e sofrimento. Qual deve ser a nossa atitude para com a dor? Quem gosta de sofrer? Acontece que sem ela não con-seguiremos nos amoldar eficazmente à Lei de Deus. Se, por outro lado, interpretássemos a dor e o sofrimento como um ganho, um aprendizado das coisas úteis da vida, quem sabe não vivería-mos melhores. 5.3. A INEXORABILIDADE DA LEI A Lei de Deus é justa e sábia. É por isso que dizemos que o acaso não existe. Isso quer dizer que tudo o que se nos acontece deveria nos acontecer. Nesse sentido, Deus não perdoa e nem premia. Faz, simplesmente, cumprir a sua Lei. Como é que deveríamos agir com relação ao sofrimento? Verificar onde erramos. Caso tenhamos cometido algum crime, algum deslize, deveríamos nos arrepender. Basta apenas o arrependimento? Não. É preciso sofrer de forma educada. Ainda mais: temos que reparar o erro que fizemos. Deus se vale das pessoas, mas o nosso problema é com relação a radicalidade de sua Lei. E não adianta adiar porque, mais cedo ou mais tarde, a nossa consciência nos indicará o erro e teremos que refazê-lo. 6. A PASSAGEM DO TEMPO ENTRE A AÇÃO E A REAÇÃO 6.1. ANTECEDENTES E CONSEQUENTES A causa passada gera uma dor no presente; a causa presente provoca um sofrimento futuro. Um fato social é um evento quantitativo: aconteceu em tal dia, em tal local e em tal hora. A passa-gem do tempo transforma o fato quantitativo em fato qualitativo. Como se explica? Observe a água: ela é formada da junção de 2 elementos de hidrogênio com 1 de oxigênio. A água, embora contenha dois elementos de hidrogênio e um de oxigênio, é qualitativamente diferente do hidro-gênio e do oxigênio. 6.2. O TEMPO MODIFICA QUALITATIVAMENTE A CAUSA Transportemos o exemplo da água para o campo moral. Suponha que há 300 anos houve um as-sassinato entre duas pessoas que se odiavam. Como consequência, criou-se um processo obsessi-vo entre os dois. O fato real e quantitativo: um assassinato, que produziu um agravo à Lei de Deus e que deverá ser reparado. Os 300 anos transcorridos modificaram tanto aquele que come-teu o crime quanto aquele que o sofreu. E se a vítima já perdoou o seu assassino? E se o assassi-no vem, ao longo desse tempo, praticando atos caridosos? Será justo aplicar a lei do olho por olho e dente por dente? Aquele que matou deverá ser assassinado? O que acontece? Embora o assassino tenha que reparar o seu erro, pois ninguém fica imune diante da lei, a pena pode ser abrandada, em virtude de seus atos benevolentes. 6.3. PERDA DO DEDO E NÃO DO BRAÇO Esta história foi retratada pelo Espírito Hilário Silva, no capítulo 20 do livro A Vida Escreve, psicografada por F. C. Xavier e Waldo Vieira, no qual descreve o fato de Saturnino Pereira que, ao perder o dedo junto à máquina de que era condutor, se fizera centro das atenções: como Sa-turnino, sendo espírita e benévolo para com todas as pessoas, pode perder o dedo? Parecia um fa-to que ia de encontro com a justiça divina. Contudo, à noite, em reunião íntima no Centro Espíri-ta que frequentava, o orientador espiritual revelou-lhe que numa encarnação passada havia tritu-rado o braço do seu escravo num engenho rústico. O orientador espiritual assim lhe falou: “Por muito tempo, no Plano Espiritual, você andou perturbado, contemplando mentalmente o caldo de cana enrubescido pelo sangue da vítima, cujos gritos lhe ecoavam no coração. Por muito tempo, por muito tempo... E você implorou existência humilde em que viesse a perder no trabalho o bra-ço mais útil. Mas, você, Saturnino, desde a primeira mocidade, ao conhecer a Doutrina Espírita, tem os pés no caminho do bem aos outros. Você tem trabalhado, esmerando-se no dever... Rego-zije-se, meu amigo! Você está pagando, em amor, seu empenho à justiça...” 7. CONCLUSÃO A prática da caridade tem valor científico, ou seja, ajuda-nos a reparar os danos que causamos à Lei Divina. Assim, se soubermos viver sóbrios e sem muitos agravos à Lei, certamente faremos uma passagem tranquila ao outro plano de vida. 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BOULDING, K. E. Princípios de Política Econômica. São Paulo, Meste Jou, 1967.

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BUZI, ARCÂNGELO R. A Identidade Humana: Modos de Realização. Petrópolis, Rio de Janei-ro: Vozes, 2002. XAVIER, F. C. Ação e Reação, pelo Espírito André Luiz. 5.a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1976. XAVIER, F. C., VIEIRA, W. A Vida Escreve, pelo Espírito Hilário Silva. 3.a ed., Rio de Janei-ro, FEB, 1978. -------------------------------------------------------------- 4 -------------------------------------------------- A CODIFICAÇÃO Rogério Coelho “Se algum dia, eu disser algo diferente do que disse Jesus e Kardec, fique com Eles e abandone-me.” - Emmanuel. Lúcidas e coerentes, como sempre, estas palavras de Emmanuel foram dirigi-das ao médium Francisco C. Xavier, quando aquele pretendia utilizar-se dos recursos mediúnicos deste para o trabalho de divulgação da Doutrina dos Espíritos. O caminho seguido pelas infor-mações dos Espíritos passou primeiro por dois poderosos filtros chamados Jesus e Kardec, sendo enfeixados em síntese em “O Livro dos Espíritos” e ampliados depois nos livros: “A Gênese”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e “O Céu e o Inferno”, que cons-tituem o Pentateuco, indivisível bloco monolítico. Assim, todo livro subsidiário não poderá des-locar-se da órbita desses livros que são a base do Espiritismo. Destarte, quem deseja escrever ou falar sobre Espiritismo, tem necessariamente que se balizar pelos parâmetros básicos, sob pena de caracterizar conteúdos apócrifos pela não observância de tais critérios. Espíritas amai-vos; Espíritas instruí-vos; é a sempre oportuna conclamação do Espírito de Verdade. Instruamo-nos, portanto, principalmente nas fontes básicas, o que nos ensejará maiores condições de avaliar e separar o joio do trigo. No livro “A Gênese”, Capítulo I, item 52, Kardec faz notar que “em parte alguma, o ensino Espí-rita foi dado integralmente. Ele diz respeito a tão grande número de observações, a assuntos tão diferentes, exigindo conhecimentos e aptidões mediúnicas, que impossível era acharem-se reuni-das num mesmo ponto todas as condições necessárias. Tendo o ensino que ser coletivo e não in-dividual, os Espíritos dividiram o trabalho, disseminando os assuntos de estudo e observação como, em algumas fábricas, a confecção de cada parte de um mesmo objeto é repartida por di-versos operários. A revelação fez-se, assim, parcialmente em diversos lugares e por uma multi-dão de intermediários e é dessa maneira que prossegue ainda, pois nem tudo foi revelado. Cada centro encontra nos outros centros o complemento do que obtém, e foi o conjunto, a coordenação de todos os ensinos parciais que constituíram o Espiritismo. Era, pois, necessário grupar os fatos espalhados, para se lhes apreender a correlação, reunir os documentos diversos, as instruções da-das pelos Espíritos sobre todos os pontos e sobre todos os assuntos, para as comparar, analisar, estudar-lhes as analogias e as diferenças. Vindo as comunicações de Espíritos de todas as partes, de todas as ordens, mais ou menos esclarecidos, era preciso apreciar o grau de confiança que a razão permita conceder-lhes, distinguir as ideias sistemáticas individuais ou isoladas das que ti-nham a sanção do ensino geral dos Espíritos, as utopias das ideias práticas, afastar as que eram notoriamente desmentidas pelos dados da ciência positiva e da lógica, utilizar igualmente os er-ros, as informações fornecidas pelos Espíritos, mesmo os da mais baixa categoria, para conheci-mento de estado do mundo invisível e formar com isso um todo homogêneo. Era preciso, numa palavra, um centro de elaboração, independente de qualquer ideia preconcebida, de todo prejuízo de seita, resolvido a aceitar a verdade tornada evidente, embora contrária às opiniões pessoais. Este centro se formou por si mesmo, pela força das coisas e sem desígnio premeditado.” O Espiritismo estará preservado dos cismas? “Não, certamente,” - responde Kardec no livro “Obras Póstumas” no capítulo referente à constituição do Espiritismo - “porque terá, sobretudo no começo, de lutar contra as ideias pessoais, sempre absolutas, tenazes, refratárias a se amalga-marem com as ideias dos demais; e contra a ambição dos que, a despeito de tudo, se empenham por ligar seus nomes a uma inovação qualquer; - dos que criam novidades só para poderem dizer que não pensam e agem como os outros, pois lhes sofre o amor-próprio por ocuparem uma posi-ção secundária. Se, porém, o Espiritismo não puder escapar às fraquezas humanas com as quais

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se tem de contar sempre, pode, todavia, neutralizar-lhes as consequências e isso é essencial. Consequentemente, seitas poderão formar-se ao lado da Doutrina, seitas que não lhe adotem os princípios ou todos os princípios, porém, não dentro da Doutrina, por efeito da interpretação dos textos, como tantas se formaram sobre o sentido das próprias palavras do Evangelho. É esse um primeiro ponto de capital importância. O segundo ponto está em não se sair do âmbito das ideias práticas. Se é certo que a utopia da véspera se torna - muitas vezes - a verdade do dia seguinte, deixemos que o dia seguinte realize a utopia da véspera, porém, não atravanquemos a Doutrina de princípios que possam ser considerados quiméricos e fazer que a repilam os homens positivos. O terceiro ponto, enfim, é inerente ao caráter essencialmente progressivo da Doutrina. Pelo fato de ela não se embalar com sonhos irrealizáveis, não se segue que se imobilize no presente. Apoi-ada tão só nas Leis da Natureza, não pode variar mais do que estas leis; mas, se uma nova lei for descoberta, tem ela de se por de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar a porta a nenhum pro-gresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qual-quer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade. Acrescentamos que a tolerância, fruto da caridade, que constitui a base da Doutrina Espírita, lhe impõe como um dever respeitar todas as crenças. Querendo ser aceita livremente, por convicção e não por constrangimento, proclamando a liber-dade de consciência um direito natural imprescritível, diz: Se tenho razão, todos acabarão por pensar como eu; se estou em erro, acabarei por pensar como os outros. Em virtude destes princí-pios, não atirando pedras a ninguém, ela nenhum pretexto dará para represálias e deixará aos dis-sidentes toda a responsabilidade de suas palavras e seus atos.” É ainda Kardec, neste mesmo capítulo que nos alerta: “(...) Não faltarão intrigantes, pseudo-espíritas, que queiram elevar-se por orgulho, ambição ou cupidez; outros que estadeiem preten-sas revelações com o auxílio das quais procurem salientar-se e fascinar as imaginações por de-mais crédulas. É também de prever que, sob falsas aparências, indivíduos haja que tentem apode-rar-se do leme, com a ideia preconcebida de fazerem soçobrar o navio, desviando-o de sua rota. O navio não soçobrará, mas poderia sofrer prejuízos como atrasos que se devem evitar.” Acreditamos nada ter a acrescentar às palavras de Kardec, por demais claras e judiciosas. Por elas concluímos que verdadeiro Espírita será também aquele que guardar fidelidade à Codifica-ção Kardequiana. ------------------------------------------------------------ 5 ---------------------------------------------------- A EXISTÊNCIA DA MAGIA NEGRA José Queid Tufaile O assunto Magia Negra ainda não foi convenientemente estudado pelos praticantes do Espiritis-mo. Há espíritas que não acreditam na possibilidade da existência dos conjuros, ou trabalhos fei-tos, como é conhecida a Magia Negra. Mas, um estudo cuidadoso da teoria de O Livro dos Espí-ritos, e de algumas citações feitas por Allan Kardec na Revista Espírita, mostra que essas mano-bras mediúnicas, com a finalidade de prejudicar o próximo, são perfeitamente possíveis. A Ma-gia Negra, macumba ou conjuro, ainda é um tema que desperta curiosidade. Mas, será que a ma-cumba existe mesmo? Ou a crença na sua existência seria produto da ignorância ou superstição? Estas perguntas vêm sendo feitas com frequência por quem participa dos trabalhos práticos de Espiritismo, sem que se possa encontrar respostas convincentes. Há pessoas que simplesmente não acreditam. Outras, dizem que a prática do bem poderia livrar-lhes destes malefícios. Desta-camos a seguir, um trecho da pergunta 549 de O Livro dos Espíritos, para demonstrar que ali está a definição óbvia do que é a macumba. Acreditamos que essa questão, se examinada à luz da ra-zão e da experimentação, poderá ser resolvida de maneira lógica. O raciocínio e a experiência têm nos fornecido elementos seguros para afirmarmos que a Magia Negra é um tipo de obsessão grave e que merece a atenção de todo trabalhador espírita sincero. Questão 549 - Há alguma coisa de verdadeiro nos pactos com os maus Espíritos? Resposta - Não, não há pactos, mas uma natureza má simpatiza com Espíritos maus. Por exem-plo: queres atormentar o teu vizinho e não sabes como fazê-lo; chamas então os Espíritos inferio-

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res que, como tu, só querem o mal; e para te ajudar querem também que os sirva com seus maus desígnios. Mas disso não se segue que o teu vizinho não possa se livrar deles, por uma conjura-ção contrária ou pela sua própria vontade. Aquele que deseja cometer uma ação má, pelo simples fato de o querer chama em seu auxílio os maus Espíritos, ficando obrigado a servi-los como eles o auxiliam, pois eles também necessitam dele para o mal que desejam fazer. É somente nisso que constitui o pacto. No trecho citado, o Espírito de Verdade demonstra de maneira muito clara que é possível uma criatura evocar maus Espíritos para ajudá-la a causar mal a uma outra pessoa. A resposta esclare-ce ainda, que este ato pode ser realizado por uma sequencia de procedimentos conhecidos como conjuração(*). Vai mais longe dizendo que a pessoa atingida pelo malefício, poderá se livrar de-le, por uma vontade poderosa ou por uma conjuração contrária àquela que foi usada para fazê-lo. Um desconjuro, que nos terreiros de Umbanda se chama: desmanche. Na questão 551, pergunta-se ao Espírito de Verdade, se alguém poderia fazer mal ao seu próxi-mo, com auxílio de um Espírito mau que lhe fosse devotado. A resposta do Consolador é taxati-va: Não, Deus não o permitiria. Aparentemente parece encerrar a questão. Entretanto, continuan-do o estudo vemos que ainda temos muito a aprender. Recordando as bases nas quais se assen-tam os argumentos a favor da Doutrina, lembramos da conhecida citação de Moisés, em que ele proibia o contato com os mortos. Vozes sábias afirmaram que o legislador hebreu somente proi-biria algo que fosse possível acontecer; depondo assim a favor da comunicabilidade dos Espíri-tos. As palavras do Consolador em relação à possibilidade de alguém valer-se de um Espírito in-ferior para fazer mal ao seu próximo é uma situação semelhante. Deus só não permitiria, uma coisa que fosse possível acontecer, o que por si mesmo, testifica a possibilidade da ocorrência do fenômeno obsessivo. Continuemos: quando o Espírito de Verdade responde que Deus não o permitiria, parece se con-tradizer, pois há duas questões atrás, na 549, Ele disse que o conjuro é possível, e até demonstra como é que uma vítima pode se livrar dele. Aqui, na 551 diz que Deus não o permitiria. Ora; se Deus não o permitiria não haveria necessidade, nem razão, para Ele (O Espírito de Verdade), ex-plicar lá atrás, as formas de libertação do conjuro. Seria perda de tempo e o Espírito Consolador não veio a isso. Certamente tem alguma coisa a mais no ensinamento que passou despercebida. Procuremos! Examinando os textos das perguntas seguintes, vamos encontrar a resposta a nossas dúvidas. Na questão 557, a Verdade explica: “Deus não ouve uma maldição injusta”. Isso quer dizer que permite uma maldição justa, ou seja, quando o indivíduo de alguma forma, ou por alguma razão, mereça aquele mal. No final do mesmo texto o Espírito de Verdade deixa ainda mais claro: “A Providência e a justi-ça Divina não ferem alguém que foi amaldiçoado, se a pessoa não for má”. E elucida ainda: “... a proteção Divina, não cobre aqueles que não o mereçam”. Vejamos a questão 557 na íntegra: Pergunta: A bênção e a maldição podem atrair o bem e o mal para aqueles a quem são lançadas? Resposta - Deus não ouve uma maldição injusta, e aquele que a pronuncia é culpável aos seus olhos. Como temos as tendências opostas do bem e do mal, pode nestes casos haver uma in-fluência momentânea, mesmo sobre a matéria; mas essa influência nunca se verifica sem a per-missão de Deus, como acréscimo de provas para aquele que a sofre. De resto, mais frequente-mente se maldizem os maus e bendizem os bons. A bênção e a maldição não podem jamais des-viar a Providência da senda da justiça: esta não fere o amaldiçoado se ele não for mau, e sua pro-teção não cobre aquele que não a mereça. Entende-se, pois, que o Espírito de Verdade não entrou em contradição, como se poderia pensar a princípio. O Livro dos Espíritos é que precisa ser es-tudado com mais atenção. Não se pode entender uma questão analisando-a fora do contexto geral do qual faz parte. A macumba ou conjuração é possível sim. Deus, porém, não permite que este tipo de maldição caia sobre alguém que não a mereça. Eis a verdade! O que é a Magia? Nós espíritas sabemos que a magia, no sentido literal da palavra, não existe. Segundo Allan Kardec, todos os fenômenos espirituais têm uma explicação lógica. Mais uma vez, a Verdade nos traz luz na questão 552 de O Livro dos Espíritos. Faz compreendermos que: “...algumas pessoas têm um poder magnético muito grande, do qual podem fazer mau uso, se seu

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próprio Espírito for mau. Nestes casos, poderão ser secundadas por maus Espíritos”. Mostra ain-da, que não se trata de magia sobrenatural, mas de efeitos decorrentes das leis naturais, mal ob-servadas e compreendidas. Aliando o conteúdo desta questão àquela primeira, a 549, temos a fi-gura inegável do feitiço e do feiticeiro. Exercitemos a razão: o que é o mal? Sabemos que é uma fase transitória do bem! Existe o bem e o mal? Não, só existe o bem! Os Espíritos, quando em suas fases primárias da evolução, passam pelo caminho da ignorância, constituindo temporariamente o mal. É tudo uma questão de posici-onamento de ideias. Quando na ignorância, o Espírito obra o mal; quando no entendimento, o bem. As leis que regem as ações, tanto numa área como na outra, são as mesmas. Isto equivale dizer que, pelo menos teoricamente, tudo o que magneticamente se pode fazer no campo do bem, pode-se também fazer no campo do mal. Num processo inverso ao que utilizamos nos centros espíritas, pessoas de mentalidade doentia, cheias de maus pensamentos, dotadas de grande poder magnético, com más intenções, secunda-das por maus Espíritos, podem arremessar cargas fluídicas negativas sobre aqueles a quem que-rem prejudicar. A mediunidade é uma faculdade, um instrumento, que pode ser usado de forma certa ou errada, assim como tantos outros, onde as obras dependem do pensamento de quem as maneja. A natu-reza do mundo astral é una. Suas leis são únicas e servem tanto para reger a movimentação de fluidos e vibrações positivas como negativas. Entre os fluidos bons e maus, só existe uma dife-rença: a natureza das vibrações que o impregnam, alterando a disposição de suas moléculas pri-mitivas. Usando uma grosseira imagem: é como água limpa e água suja. Tudo o que se pode fa-zer com uma, pode-se fazer com a outra. Onde, pois, o impedimento? Não vemos nenhum; ou seja, quase nenhum! O único impedimento possível está nos aspectos morais que regem a vida, pois são eles que determinam a afinidade e o merecimento - citados anteriormente - que facilitarão ou dificultarão a recepção das vibrações e fluidos deletérios. É evidente que a ação da ignorância e a movimentação do mal é limitada e controlada pelo Bem, a única realidade. Mas, a ignorância encontra largo acesso em nós, por causa do atraso evolutivo em que ainda nos posicionamos, pelas próprias disposições de resgates, e pelo próprio compor-tamento atual em face do livre arbítrio. Podemos definir a macumba, como sendo uma forma de obsessão provocada. E, não se trata de uma obsessão muito simples, nem fácil de se tratar como comumente se pensa. Em alguns desses casos, podem estar envolvidos Espíritos habitantes do baixo mundo astral, espertos e maliciosos, com os quais é difícil se lidar. Pergunta-se: E nós, kardecistas, como é que ficamos?! Um Centro Espírita sério, digno do nome de Allan Kardec, pode identificar e tratar com precisão, os trabalhos inferiores. Em suas obras, deixou todos os caminhos para se compreender os fenômenos mediúnicos e os cuidados que de-vemos ter no trato com os Espíritos, inclusive os maus. Estudou com profundidade essas situa-ções. Temos portanto, apenas que dar a devida atenção a elas. (*)LE-553a) - Mas, não é exato que alguns Espíritos têm ditado, eles próprios, fórmulas cabalís-ticas? r. - Efetivamente, Espíritos há que indicam sinais, palavras estranhas, ou prescrevem a prá-tica de atos, por meio dos quais se fazem os chamados conjuros. “Mas, ficai certos de que são Espíritos que de vós outros escarnecem e zombam da vossa credulidade.” ------------------------------------------------------------- 6 --------------------------------------------------- A FÉ E A CREDULIDADE Margarete Acosta e Elio Mollo Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanida-de. ALLAN KARDEC. A Fé é uma das características do ser humano, encarnado ou não, assim como o amor e a esperança. Mas o que é fé? No dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, esse substantivo feminino quer dizer firmeza na execução de uma promessa ou de um compro-

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misso e crença ou confiança. Fé é muito mais que crença e com ela não se confunde. A esperan-ça, um elemento intrínseco da estrutura da vida, da dinâmica e do Espírito do ser humano está in-timamente ligada à fé. Até o presente a fé só foi compreendida no sentido religioso, porque o Cristo a revelou como poderosa alavanca, e porque nele só viram um chefe de religião. Mas há uma distinção entre religião e fé. Religião é uma organização, como rabinos ou padres, bispos e tradições. Ter fé não significa necessariamente reconhecer qualquer uma dessas organizações. Somos conectados diretamente a Deus sem precisar de rabinos ou padres. No seu aspecto religio-so, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões, e todas elas têm os seus artigos de fé. Nesse sentido a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega nada exa-mina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e a cada passo se choca com a evidência da razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. No ser humano, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em germe no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pe-la ação da sua vontade ativa. O magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres. Se todos os encarnados se achassem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem por a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. A fé sincera e verdadeira é sempre calma, faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão da coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado. Existe uma distinção importante entre fé racional e irracional. Enquanto a fé racional é o resulta-do da atividade interior da pessoa, em pensamento ou sentimento, a fé irracional é a submissão a determinada coisa que se aceita como verdadeira, independentemente de sê-lo ou não. O elemen-to essencial em toda a fé irracional é o caráter passivo, seja o seu objeto um ídolo, um líder, uma ideologia. Na esfera das relações humanas, ter fé em outra pessoa significa estar certo da sua essência, isto é, da confiança e imutabilidade das suas atitudes fundamentais. No mesmo sentido, podemos ter fé em nós mesmos, não na constância das nossas opiniões, mas na nossa orientação básica em re-lação à vida, na matriz da estrutura do nosso caráter. Essa fé é condicionada pela experiência do eu, pela nossa capacidade de dizer “eu” legitimamente, pelo sentido da nossa identidade. A certeza de alguma coisa, isto é, desta fé racional, somente é conseguida através de esforço, de estudo, ou seja, para se adquirir a verdadeira fé é indispensável o trabalho, o raciocínio, o estudo e o esforço, quando, então, se chega a uma conclusão segura. Embora haja certas semelhanças entre fé e credulidade, as diferenças são enormes e fundamen-tais. A credulidade é a aceitação fácil e ingênua de tudo. É acreditar em algo ou em alguém sem fundamentação. A fé é depositar confiança em algo ou alguém com a certeza de que essa confi-ança foi testada e fundamentada. Necessário guardar-se de confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se alia à humildade. Aquele que a possui deposita sua esperança em Deus, pois sabe que, simples instrumento da von-tade de Deus, nada pode sem Ele. A presunção é menos fé que orgulho, e o orgulho é sempre castigado cedo ou tarde, pela decepção e os malogros que lhes são infligidos. A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender. Não há dúvida de que a fé não pode ser prescrita, ou o que é ainda mais justo: não pode ser im-posta. Não, a fé não se prescreve, mas se adquire, e não há ninguém que esteja impedido de pos-suí-la, mesmo os mais refratários. -------------------------------------------------------------- 7 -------------------------------------------------- A FORÇA DO AMOR Amilcar Del Chiaro Filho

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Vida com qualidade é impossível sem amor. O amor é uma energia formidável que impulsiona as galáxias, que move os mundos, que dá brilho às estrelas, que suaviza a vida, que faz a mãe acalentar o filhinho nos braços, beijá-lo ternamente, e dizer, meu filho! minha vida! Mesmo que o filho seja deficiente mental, de olhar inexpressivo, e fisionomia torturada. É o amor que faz com que aquilo que pareça impossível, aconteça. Só amor pode dar forças ao ser humano para superar barreiras e vencer. Gandhi teve um profundo amor pela Índia, e no sacrifício por amor encontrou forças para libertá-la do jugo de outra nação mais poderosa. Madre Teresa de Calcutá, por força do seu amor aos miseráveis, encontrou coragem para esmolar por eles, e lhes dar algu-ma dignidade. Os caminhos do mundo foram pisados pelas patas dos elefantes de Aníbal, dos cavalos das legi-ões romanas, das hordas bárbaras, ( dizem que onde o cavalo de Átila pisava não nascia mais grama), e pelas botas militares de muitos guerreiros, mas, somente os pés descalços ou as sandá-lias simples dos missionários da paz, são capazes de deixar pelo caminho poeira de estrelas. Quantos avatares, verdadeiros missionários, cruzaram os caminhos do mundo impulsionando os seres humanos pela força do amor, para transformar a vida? Por isso, continuamos convidando-os a cerrarem fileiras conosco para batalharmos pela paz. É por isso, que neste início de um novo milênio precisamos acreditar em nossa capacidade, saber que podemos vencer, que podemos construir um novo destino, que podemos construir um mundo melhor, onde a paz, a harmonia, e a justiça social estejam presentes. ---------------------------------------------------------------- 8 ------------------------------------------------ A GÊNESE Renato Costa 1. Em que sentido se pode dizer que A Gênese difere das demais obras da Codificação? - Vejamos, inicialmente, o que diz Kardec na Introdução: “Sem embargo da parte que toca à ati-vidade humana na elaboração desta doutrina, a iniciativa da obra pertence aos Espíritos, porém não a constitui a opinião pessoal de nenhum deles. Ela é, e não pode deixar de ser, a resultante do ensino coletivo e concorde por eles dado. Somente sob tal condição se lhe pode chamar dou-trina dos Espíritos. Doutra forma, não seria mais do que a doutrina de um Espírito e apenas teria o valor de uma opinião pessoal. Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter essencial da doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade não pode ser considerado parte inte-grante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião isolada, da qual não pode o Espiritismo assumir a responsabilidade.” “Os mesmos escrúpulos havendo presidido à redação das nossas outras obras, pudemos, com to-da verdade, dizê-las: segundo o Espiritismo, porque estávamos certo da conformidade delas com o ensino geral dos Espíritos. O mesmo sucede com esta, que podemos, por motivos semelhantes, apresentar como complemento das que a precederam, com exceção, todavia, de algumas teorias ainda hipotéticas, que tivemos o cuidado de indicar como tais e que devem ser consideradas sim-ples opiniões pessoais, enquanto não forem confirmadas ou contraditadas, a fim de que não pese sobre a doutrina a responsabilidade delas. (1)” Ora, fica evidente, pelas palavras do Codificador, que a obra A Gênese é única no tocante a con-ter trechos que não foram obtidos pelo ensino geral dos Espíritos. Do mesmo modo, resta claro, a meu ver, que Kardec nos conclama a nos mantermos atualizados com os avanços das diversas ci-ências, na medida de nossas possibilidades, para que possamos discernir quais das teorias apre-sentadas eram hipotéticas quando apresentadas e detectar quais, dentre elas, já foram confirma-das ou rejeitadas. 2. Entendendo, assim, que Kardec nos conclama a estudar continuamente os avanços da ciência de modo a verificarmos a confirmação ou não das teorias apresentadas em A Gênese e, tendo em vista o grande avanço da Ciência ao longo do tempo que nos separa da época em que a obra foi concebida, devemos entender que existe a necessidade de uma profunda revisão?

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- Eu não diria revisão. Uma obra, qualquer que seja, tem uma época, um contexto que devem ser respeitados e entendidos. Além disso, uma obra só pode ser revista pelo próprio autor que a es-creveu, caso contrário, não será mais a mesma obra. Tampouco acho conveniente que se faça demasiadas anotações de rodapé, o que carrega muito as páginas e não assegura que o leitor faça a leitura das notas mais importantes. Entendo que A Gênese necessita de uma versão comentada, que seja atualizada periodicamente, sempre que a ciência traga novos elementos de entendimento para as teorias nela apresentadas. Sendo uma obra da Codificação, que precisa ser estudada por todos os espíritas, ela deve ser tornada disponível de tal forma que qualquer espírita, independen-temente de seu preparo ou formação, possa obter dela somente informações confiáveis e atuais, não só as que foram obtidas pelo ensino concordante dos Espíritos mas, também, as que ali fo-rem apresentadas como teorias cientificas. 3. É do seu entender que essa versão comentada de A Gênese deva ser editada com certa urgên-cia? - Entendo que sim, apesar de também entender que a mesma deva ser feita com muita seriedade e cuidado, com o apoio de uma equipe multidisciplinar e sob a coordenação, preferivelmente, da FEB. Tenho lido com uma frequência desagradavelmente alta, mensagens em listas espíritas ri-dicularizando o Espiritismo, usando como argumento teorias que Kardec claramente colocou como sujeitas a verificação, como a geração espontânea ou os anéis sólidos de Saturno. Esses de-tratores não espíritas que entram nas listas com o único objetivo de influenciar negativamente os iniciantes na Doutrina encontram campo fértil pois, infelizmente, a maioria dos irmãos que en-tram em defesa da Codificação não lembram do que Kardec falou na Introdução e acabam usan-do argumentos frágeis que não são suficientes para desfazer o mal que os detratores causam. Pa-ra que tal fragilidade desnecessária seja eliminada é necessário não só que seja editada uma ver-são comentada de A Gênese mas que a mesma seja disponibilizada em meio eletrônico, para download gratuito pela Internet. Desse modo, todos os sites que oferecem hoje a Codificação pa-ra download poderiam passar a oferecer A Gênese em versão comentada e não na versão sim-ples. 4. Visando atender àquilo que você chamou de recomendação implícita de Kardec, onde entende que devamos nós espíritas estudar os avanços da Ciência, somente em obras de autores espíritas ou em toda forma de mídia disponível? - Cada um deve fazê-lo de acordo com suas possibilidades. Se a pessoa é iniciante na Doutrina ou se, mesmo não o sendo, carece de preparo para o estudo autônomo, é recomendável que pro-cure atualizar-se frequentando palestras, estudos dirigidos ou lendo obras espíritas que versem sobre os temas. Em se tratando de estudioso bem preparado, por outro lado, entendo recomendá-vel que obtenha informação por todos os meios disponíveis. Seja lendo boas obras de divulgação científica, livros ou revistas, pesquisando na Internet, assistindo a canais ou programas que abor-dam temas científicos ou mesmo, por certo, lendo artigos espíritas. Quem tem bom entendimento da Doutrina sabe utilizá-la como filtro para examinar tudo o que estuda e interpretar cada novo conhecimento que adquire de modo com ela compatível. 5. Existe, a seu ver, alguma recomendação especial para o ensino de A Gênese no Centro Espíri-ta? - Entendo que sim. Tendo em vista o que foi dito, o responsável pelo estudo de A Gênese deve proceder a uma verificação previa de tudo o que será abordado a cada dia, de modo a discernir se necessita pesquisar as atualidades científicas ou se já tem conhecimento atualizado sobre as teo-rias que serão tratadas. Passar adiante em um estudo informações incompatíveis com o que a ci-ência apresenta nos dias de hoje é certamente algo que Kardec reprovaria. É verdade que enten-der o que a ciência tem hoje a dizer sobre algumas teorias apresentadas em A Gênese exige um preparo científico que nem todos os estudiosos espíritas possuem. Caso seja esse o caso do res-ponsável pelo estudo no Centro Espírita entendo que este deverá se ater a comentar aquilo que entende bem, não deixando, contudo, de apontar aos aprendizes o que é informação consolidada pelo ensino coletivo dos Espíritos e o que são teorias passíveis de comprovação. 6. Poderia citar algum tópico dentre os julgados carentes de verificação em A Gênese que dê en-sejo a alguma ponderação especial?

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- Sim. No Capítulo VI (Uranografia Geral), por exemplo, temos, nos itens 26 e 27, duas teorias que parecem ter sido rejeitadas pela ciência. Como veremos, uma o foi e a outra, não. Diz o item 26: “O número e o estado dos satélites de cada planeta têm variado de acordo com as condições especiais em que eles se formaram. Alguns não deram origem a nenhum astro secundário, como se verifica com Mercúrio, Vênus e Marte (2), ao passo que outros, como a Terra, Júpiter, Satur-no, etc., formaram um ou vários desses astros secundários.” Apesar da moderna astronomia, ali-ada às viagens espaciais, ter confirmado que Mercúrio e Vênus não possuem, realmente, satéli-tes, o mesmo não pode ser dito em relação a Marte que teve suas duas luas, Deimos e Phobos, descobertas em 12 de agosto de 1877 pelo astrônomo americano Asaph Hall. Deimos e Phobos são muito pequenos. Demos tem apenas 6 km de raio e Phobos, 11. Só para se ter uma ideia de como são pequenos os satélites de Marte, nossa Lua tem raio de 3.476km. Sua constituição, ta-manho e formato em muito se assemelha à de asteroides. O interessante é que, devido ao seu ta-manho e à sua constituição os astrônomos têm fortes suspeitas de que ambos se formaram em al-gum outro lugar e foram capturados posteriormente pela gravidade de Marte. Desse modo, a teo-ria apresentada em A Gênese, de que as condições de formação de Marte não teriam dado origem a nenhum satélite, está em sintonia com o atual conhecimento científico, apesar de, em um pri-meiro instante, parecer que não está. Vamos, agora ao Item 27. Vejamos o que ele diz: “Além de seus satélites ou luas, o planeta Saturno apresenta o fenômeno especial do anel que, visto de lon-ge, parece cercá-lo de uma como auréola branca. Esse anel é, com efeito, o resultado de uma se-paração que se operou no equador de Saturno, ainda nos tempos primitivos, do mesmo modo que uma zona equatorial se escapou da Terra para formar o seu satélite. A diferença consiste em que o anel de Saturno se formou, em todas as suas partes, de moléculas homogêneas, provavelmente já em certo estado de condensação, e pode, dessa maneira, continuar o seu movimento de rotação no mesmo sentido e em tempo quase igual ao do que anima o planeta. Se um dos pontos desse anel houvesse ficado mais denso do que outro, uma ou muitas aglomerações de substância se te-riam subitamente operado e Saturno contaria muitos satélites a mais. Desde a época da sua for-mação, esse anel se solidificou, do mesmo modo que os outros corpos planetários.” Ora, Saturno não é o único planeta a possuir anéis. Júpiter, Urano e Netuno também os possuem, tendo sido os mesmos, no entanto, descobertos apenas a partir de 1977. Além disso, não existe em Saturno um anel sólido mas sete anéis com órbita independente e que se compõem, cada um, de inúmeras pequenas partículas com tamanhos variando de um centímetro a vários metros. Há muito poucas partículas em cada anel. Se todas as partículas de todos os anéis fossem compactadas em um úni-co corpo, daria um satélite de menos que 100 km de diâmetro. Junto com os trinta satélites do planeta, os anéis de Saturno representam um complexo sistema em interação cujas características ainda são objeto de estudo pela ciência. A origem dos anéis ainda é uma questão em aberto para os cientistas. Alguns acreditam que eles teriam se formado pelo despedaçamento de um satélite ou asteroide pela gravidade de Saturno. Outros, que eles seriam compostos por fragmentos de um satélite que não conseguiu se constituir, ou seja, não se condensou. Como podemos ver, comparado os fatos que a ciência tem a nos mostrar com o que consta de A Gênese, vários pon-tos encontram-se em conflito. Nosso comentário com respeito a este Item, portanto, é de outra natureza. Como pode ser verificado na nota de rodapé da primeira página do Capítulo VI – Ura-nografia Geral, todo o capítulo é uma transcrição de uma série de comunicações ditadas à Socie-dade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título - Estudos Uranográficos e assinadas GALI-LEU, tendo sido o médium identificado pelas iniciais C. F. Consta, ainda, do rodapé uma Nota do Tradutor (Guillon Ribeiro) observando serem C.F. as iniciais do nome de Camile Flammari-on. Admitindo ter sido o médium Camile Flammarion, teríamos aí um sábio astrônomo psicogra-fando um sábio Espírito, que foi, ele mesmo, um dos pais da astronomia. Como, entretanto, todo o capítulo foi obra de um único Espírito, não foi satisfeita a condição de ensino coletivo e con-corde dos Espíritos, ficando, portanto, todo ele, no dizer da Kardec, na condição de uma “opinião pessoal”. Mesmo entendendo o Capítulo VI como uma teoria passível de verificação, no entanto, trata-se de uma teoria apresentada por um Espírito e, ainda mais, por um Espírito sábio e estudi-oso dos assuntos sobre os quais dissertou. É improvável, a meu ver, que o Espírito Galileu, livre das amarras da matéria, tivesse abandonado os estudos aos quais tinha dedicado sua existência entre nós. Alguém poderia, então, perguntar: - Como pode um Espírito adiantado e estudioso de

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astrologia ter ignorado realidades como a existência de anéis em outros planetas além de Saturno ou o fato de os ditos anéis não serem sólidos? A resposta a essa pergunta não me parece simples. Uma hipótese, a meu ver, é sugerida pela escolha do médium utilizado. Sendo o médium, Camile Flammarion, um astrônomo, ele saberia identificar quando alguma comunicação que recebesse estivesse em desacordo com o conhecimento astronômico de sua época. Seria proveitoso aos ob-jetivos da obra que ela apresentasse conhecimento científico ignorado pela ciência de então? Penso que não. A escolha de Flammarion teria sido, neste caso, uma garantia para que a comuni-cação não contivesse elementos desconhecidos que causassem estranheza ainda maior nos meios científicos de então. 7) Existe em A Gênese alguma linha de raciocínio que tenha sido deixada inconclusiva? - Ocorre-me uma, existente no Capítulo III - Inteligência e Instinto, e que vai da questão 12 à de número 17 (pg. 74 a 78). Nessa linha de raciocínio Kardec explora diversas hipóteses sobre a origem do instinto e da inteligência, encerrando, no item 17, com as seguintes palavras: “Todas essas maneiras de considerar o instinto são forçosamente hipotéticas e nenhuma apresenta caráter seguro de autenticidade, para ser tida como solução definitiva. A questão, sem dúvida, será re-solvida um dia, quando se houverem reunido os elementos de observação que ainda faltam. Até lá, temos que limitar-nos a submeter as diversas opiniões ao cadinho da razão e da lógica e espe-rar que a luz se faça. A solução que mais se aproxima da verdade será decerto a que melhor con-diga com os atributos de Deus, isto é, com a bondade suprema e a suprema justiça.” 8) Tendo em vista o que disse o Codificador no item 17, poderíamos dizer que já estão, nesta al-vorada do século 21, reunidos os elementos de observação que faltavam a Kardec quando escre-veu A Gênese? - É nosso parecer que sim. Em uma série de artigos que vêm sendo publicados pela Revista In-ternacional de Espiritismo tenho procurado explorar a questão. Alguns desses elementos são: o Modelo do Encéfalo Triúnico, proposto pelo neurologista americano Paul MacLean, a obra Evo-lução em Dois Mundos, de André Luiz, recebida pela abençoada mediunidade de Chico Xavier, os estudos de Jorge Andréa publicados em Impulsos Criativos da Evolução e o mundo de infor-mação disponível pela Internet sobre os estudos da Psicologia Associativa e da Etologia sobre o comportamento animal. 9) Teríamos hoje, então, condição de acrescentar, ao final do Item 17 uma conclusão para a men-cionada linha de raciocínio? - Acredito que sim. Não com base, naturalmente, em meu modesto estudo. Os artigos que venho escrevendo visam apenas levantar a questão para que outros também a pesquisem e escrevam sobre suas conclusões. Somente assim, quando e se conclusões forem consolidadas entre vários estudiosos, poderemos dizer que a linha de raciocínio poderá ser dada como concluída. Entendi-do, certamente, que estando nós no estágio evolutivo em que estamos, de modo algum tal con-clusão, se alcançada, poderá ser aceita como a palavra final. 10) Você teria algo mais a falar sobre as teorias passíveis de verificação existentes em A Gêne-se? - Sim. Kardec foi um sábio ímpar que dominava com maestria todo o saber de sua época, além de ser dotado de um profundo bom-senso, um raciocínio brilhante e uma intuição inspirada. No entanto, tudo aquilo que ele escreveu em A Gênese sem o amparo do ensino coletivo dos Espíri-tos, ele o fez com base nos conhecimentos de sua época. Desse modo, quando nós, espíritas, es-tudamos as conquistas da ciência para verificar as teorias passíveis de verificação, estamos fa-zendo o que Kardec faria se estivesse entre nós. Longe de desmerecer o seu inestimável trabalho, estaremos, em assim fazendo, seguindo o exemplo que ele nos legou. 11) No Capítulo XI de A Gênese, Kardec comenta sobre a hipótese de ser o corpo humano uma transformação do corpo do macaco. Com a evolução da ciência até os tempos atuais tal hipótese foi plenamente confirmada? - Sim. Vejamos, no entanto, o que diz A Gênese: Item 15. – “Da semelhança, que há, de formas exteriores entre o corpo do ser humano e o do macaco, concluíram alguns fisiologistas que o primeiro é apenas uma transformação do segundo. ...” Ao contrário do que ocorria ao tempo de Kardec, hoje não se trata mais de um “palpite”, dado com base em semelhanças externas. O exa-ustivo trabalho dos paleoantropólogos, comparando registros da evolução, conta com o apoio das

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mais modernas tecnologias de datação, análise química e genética. Desse modo, mais que uma hipótese, temos hoje uma teoria plenamente aceita pela comunidade científica. Pelas similarida-des genéticas, tanto nós, humanos, quanto os grandes macacos sem rabo (chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos) pertencemos à mesma superfamília dos Hominoide. Nossa família, a dos Hominídea, é um ramo do galho dos Hominoide, tendo dele derivado há cerca de 5 milhões de anos. Tendo todas as demais famílias de Hominoide sido, igualmente, ramos derivados do galho principal, o corpo humano evoluiu, não a partir do corpo de algum macaco (mesmo que grande e sem rabo) hoje existente. Não, tanto ele quanto o corpo de todos os grandes macacos sem rabo atuais, evoluíram a partir de um corpo Homioide ancestral que não mais existe. Na linha evoluti-va de nossa família Hominídea, houve, pelo menos, um gênero antes do Homo, o gênero ao qual pertencem os humanos atuais. Trata-se do Australopitecus, que surgiu na África há mais de 4 mi-lhões de anos, tendo os primeiros Homo sido identificados há pouco mais de 2 milhões de anos. Na linha evolutiva do gênero Homo, nossa espécie, Homo Sapiens, surgiu há cerca de 150.000 anos. Tudo indica, portanto, que houve várias migrações de Espíritos humanos para o nosso pla-neta nesse alvorecer da humanidade, sem falar das que ocorreram depois. Cada espécie que vem sendo descoberta pelos paleoantropólogos tem acrescentado mais uma peça a um quebra-cabeças de mil peças que parece ficar a cada dia mais complicado e que só será completado quando os esforçados cientistas se renderem à evidência espiritual. Nessa maravilhosa rede escolar que Deus espalhou pelo universo todo aluno que fracassa em um sistema de ensino é transferido para outro até que complete com sucesso o aprendizado nas matérias que o reprovaram. 12) Quais são as características que os cientistas usam para identificar a subfamília Hominídea dos demais Hominoide? - Evidências de bipedalismo. Acreditam os cientistas que o bipedalismo foi a característica que marcou a separação entre a nossa linhagem e as dos demais primatas, criando condições que iri-am levar, ao longo do tempo, a um considerável aumento da inteligência, à fabricação de ferra-mentas, à formação de cultura, etc.... 13) E quais as características que eles usam para identificar o gênero Homo do Australopitecus? - Maior caixa craniana, rosto menos projetado, dentição remodelada, braços mais curtos que as pernas e conformação dos ossos da bacia e das pernas permitindo o andar ereto e o parto de be-bês com crânios maiores. Sinais evidentes de que Espíritos mais adiantados estavam modelando tais corpos. Várias são as espécies já identificadas como pertencentes ao gênero Homo, todas elas, menos a nossa, o Homo Sapiens, já extintas. É importante observar que a extinção de uma espécie no plano físico não implica em migração de todos os Espíritos que reencarnavam nela para outro planeta. Não, conforme o estágio evolutivo de cada indivíduo, alguns podem ser con-duzidos a outros planetas para continuar seu aprendizado e outros podem passar a reencarnar em uma espécie sobrevivente no mesmo planeta. O que os cientistas já descobriram sobre a espécie que nos é mais próxima, a dos Neandertal, por exemplo, nos permite concluir que muitos Espíri-tos que reencarnavam nessa espécie podem ter passado a reencarnar na nossa, podendo encon-trar-se ainda hoje nela. 14) Como se processaram as ramificações e transições que fizeram surgir famílias, gêneros e es-pécies? - A ciência identifica a evolução como causada por vários fatores associados às características genéticas das espécies, fatores como mutações, recombinações e seleção natural. Sem, de modo algum, entrar em conflito com o que diz a ciência, A Gênese esclarece: 16. “- Admitida essa hi-pótese, pode dizer-se que, sob a influência e por efeito da atividade intelectual do seu novo habi-tante, o envoltório se modificou, embelezou-se nas particularidades, conservando a forma geral do conjunto (11). Melhorados, os corpos, pela procriação, se reproduziram nas mesmas condi-ções, como sucede com as árvores de enxerto. Deram origem a uma espécie nova, que pouco a pouco se afastou do tipo primitivo, à proporção que o Espírito progrediu. O Espírito macaco, que não foi aniquilado, continuou a procriar, para seu uso, corpos de macaco, do mesmo modo que o fruto da árvore silvestre reproduz árvores dessa espécie, e o Espírito humano procriou corpos humanos, variantes do primeiro molde em que ele se meteu. O tronco se bifurcou: produziu um ramo, que por sua vez se tornou tronco. Como na natureza não há transições bruscas, é provável que os primeiros humanos aparecidos na Terra pouco diferissem do macaco pela forma exterior e

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não muito também pela inteligência.” Imaginemos se pudesse ter sido de outro modo, o primeiro Espírito humano reencarnando muito diferente de seus pais e dos demais indivíduos da comuni-dade. Que chance teria tal criança de ser bem aceita e de conviver de forma harmônica com seus pais e vizinhos? Nenhuma. Como sempre, as palavras de Kardec são sábias. (“Como na natureza não há transições bruscas, é provável que os primeiros humanos aparecidos na Terra pouco dife-rissem do macaco pela forma exterior e não muito também pela inteligência.”) 15) As explicações dadas por Kardec nos Itens 15 e 16 continuam válidas? - Sim, desde que se saiba que não estamos mais tratando de uma hipótese, mas de uma teoria in-questionada no meio científico e que entendamos claramente de que tipo de “macacos” se está falando, conforme acabamos de comentar. 16) No seu entender é importante que os espíritas se mantenham atualizados sobre as descobertas da paleoantropologia, a ciência que estuda as origens do ser humano? - Por certo que sim. Não só sobre as descobertas da paleoantropologia, como da arqueologia, da história, da genética, da medicina e de todas as demais ciências que estudam nossa espécie. Esse conhecimento é importantíssimo para que nos tornemos humildes em relação à nossa evolução, agradecidos à infinita paciência divina para conosco e indulgentes e compreensivos em relação às demais espécies que nos fazem companhia no planeta nessa inevitável trilha rumo à angelitu-de. Como já disse, entretanto, se espera de cada um de acordo com seu preparo e sua capacidade. 17) Entre os itens 58 e 61 do Capítulo VI Galileu trata da Diversidade dos Mundos. De uma for-ma resumida, o que ele coloca é que não devemos entender a diversidade da vida na Terra como a única a existir nos demais planetas habitados. Antes, pelo contrário, devemos entender essa enorme diversidade como um claro sinal de que a natureza de cada mundo será de acordo com as diversas condições que lhes foram prescritas e com o papel que coube a cada um no cenário do mundo. Que contribuições têm dado a ciência à aceitação desse ensinamento de Galileu? - Não muitas, infelizmente. Uma das razões que tem limitado os cientistas na procura de vida em outros mundos é o simples fato que não existe sequer uma definição do que vida significa. “Afi-nal, o que é um ser vivo?”, se pergunta a Ciência. Algo que se move e tem sangue vermelho? Ba-ratas não têm sangue, como os demais insetos e alguns animais marinhos, que têm, como a la-gosta, sangue verde, devido à presença de cobre na sua constituição. Um sistema vivo deveria ser, pelo menos, capaz de se reproduzir e de consumir energia. No entanto, sem falar dos vírus, certas espécies de animais de razoável complexidade, como sapos e peixes que vivem nos deser-tos, são capazes de permanecer como mortos, sem qualquer troca com o meio ambiente, durante anos, até que chova no local. Dizer que uma propriedade exclusiva de um ser vivo é reproduzir-se, implicaria em aceitar que cristais são seres vivos. Se fosse escolhida a propriedade do meta-bolismo para identificar vida, o fogo seria um ser vivo. Se a escolha recaísse sobre o movimento, seria ainda pior, pois incluiríamos o ar e a água entre os seres vivos. Com base nessa limitação de entendimento, o que a ciência tem feito é procurar em outros planetas evidências de vida com base na chamada Teoria de Oparin sobre como a vida se formou em nosso planeta. 18) Qual é a Teoria de Oparin? - Trata-se de uma teoria proposta pelo cientista russo Aleksander I. Oparin em 1930. Diz a Teo-ria de Oparin que a Terra no passado foi muito diferente do que ela é hoje, sendo que sua consti-tuição básica há 3,5 bilhões de anos atrás eram três compostos, hidrogênio, amônia e metano, que, em conjunto, forneciam os elementos básicos necessários da Terra primitiva, nitrogênio, carbono e hidrogênio. Faltava apenas mais um ingrediente, o oxigênio, que, segundo Oparin, veio do vapor d’água liberado pelos incontáveis vulcões que havia no passado (10% dos gases liberados por vulcões é vapor d’água). Além da constituição da Terra primitiva ser diferente da atual, a Terra foi bem mais quente quando se formava do que é hoje. Por ainda não possuir a ca-mada de ozônio, ela esteve sujeita à ação de raios ultravioletas que, quando se misturavam com as descargas elétricas (raios), possibilitaram a ocorrência de reações químicas com os elementos básicos, surgindo assim os primeiros aminoácidos (constituintes primários das proteínas). A teo-ria de Oparin foi testada pelo cientista americano Stanley Miller em laboratório no ano de 1953. Ele colocou, dentro de um balão de vidro, metano, amônia, hidrogênio e vapor d’água, que fo-ram extensivamente aquecidos e sofreram a ação de centelhas elétricas. Tudo isto simulou as condições da Terra primitiva. Após alguns dias de espera ele viu aminoácidos se formarem, con-

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firmando a teoria de Oparin. Se a Teoria de Oparin não provou como a vida se formou na Terra, pelo menos, ofereceu uma hipótese válida – comprovada - de como ela pode ter surgido, dando à Ciência uma Teoria para prospectar a vida em outros planetas. E é isso que ela vem fazendo. 19) Que chances você acha que tem a ciência de encontrar formas de vida nos outros mundos com base na Teoria de Oparin? - Muito poucas, como podemos depreender tanto da comunicação de Galileu, em particular, quanto do conhecimento da Doutrina, de um modo geral. Procurando vida em outros mundos com base em evidências de haver neles os elementos que se supõe terem existido no passado da Terra, no máximo logrará à ciência encontrar formas de vida iguais ou muito semelhantes às que existem em nosso planeta. E as probabilidades de haver vida igual em planetas próximos não de-vem ser elevadas. 20) Esse tema nos remete ao que diz Maria João de Deus sobre a vida em outros planetas em Cartas de Uma Morta. Poderia comentar a respeito? - Certamente, pois sua lembrança vem muito a propósito. Em Cartas de Uma Morta, Chico Xavi-er psicografou várias mensagens de sua querida mãezinha, uma delas falando da vida em Saturno e, outra, da vida em Marte. Em ambas as descrições, Maria João informa serem os Espíritos ha-bitantes em tais planetas, seres de grande adiantamento, de forma estranha, que podem volitar. Fala de edificações graciosas, vegetação, oceanos menos densos que os da Terra, etc. Ora, quan-do a última sonda espacial visitou Marte e descreveu sua superfície, nada encontrou das constru-ções vistas por Maria João, da vegetação ou dos oceanos por ela descritos. Tampouco o conhe-cimento de que a superfície de Saturno é gasosa parece bater com a descrição recebida pelo Chi-co de sua querida mãe. O que há de errado, então? O que há de errado é que, como já dissemos, a Ciência somente procura vida como ela conhece e entende. Maria João, como Espírito desencar-nado, estava com seus sentidos muito mais aguçados que qualquer ser encarnado, mesmo com o auxílio dos mais sofisticados instrumentos. As edificações e oceanos que ela viu, portanto, de-vem existir, mas são de tal sutileza que os atuais instrumentos da ciência não logram perceber. Sabemos, do estudo da Doutrina, que, à medida que os Espíritos progridem, seus perispíritos e os corpos físicos que assumem quando encarnam vão se tornando mais e mais sutis, até que se des-pojem totalmente da matéria, quando finalmente é alcançada a perfeição. Desse modo, os Espíri-tos que Maria João viu, vivendo em total harmonia e dedicados somente às mais nobres virtudes, deviam certamente ser Espíritos muito adiantados, da terceira ou da segunda classe. Tais Espíri-tos devem ser tão sutis a ponto de serem confundidos pelos instrumentos humanos com radiações cósmicas ou eletromagnéticas, ao invés de serem reconhecidos como os seres vivos que são. ---------------------------------------------------------- 9 ----------------------------------------------------- ALIMENTAÇÃO DOS ESPÍRITOS Dr. Ricardo Di Bernardi Há um consenso nas informações dos amigos espirituais no que tange a este assunto. Embora a essência espiritual não tenha forma, pois é o princípio inteligente, os Espíritos de mediana evolu-ção ou seja aqueles relacionados ao nosso planeta, possuem um corpo espiritual anatomicamente definido e com fisiologia própria. Nos “planos” espirituais temos notícia por inúmeros médiuns confiáveis, como Chico Xavier, Divaldo Franco etc., da organização de comunidades sociais que os Espíritos constituem, às vezes assemelhadas às terrestres. Ainda nos atendo ao critério karde-cista de valorizarmos um conceito apenas quando houver multiplicidade de fontes sérias, confir-mando-o, nos referiremos ao corpo espiritual e sua alimentação. A energia cósmica que permeia o universo, (“fluido cósmico universal”) é a matéria prima que sob o comando mental dos Espíri-tos é utilizada para a constituição dos objetos por eles manuseados. Vide em “O livro dos mé-diuns” capítulo “do Laboratório do Mundo Invisível”. O corpo dos Espíritos, já mencionado até pelo apóstolo Paulo e conhecido nas diferentes religi-ões ou doutrinas, como perispírito, corpo astral, psicossoma e mais de 100 (cem) sinônimos, é constituído de um tipo de matéria derivada da energia cósmica universal (“fluido cósmico uni-versal”). O corpo espiritual apresenta-se moldável conforme as emanações mentais do Espírito.

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Cada Espírito apresenta seu perispírito ou corpo espiritual com aspecto correspondente a eleva-ção intelecto-moral. Seu estado psíquico vai determinar a subtilização do seu corpo. Conforme se tem notícia através de inúmeros autores espirituais, o corpo espiritual apresenta-se estruturado por aparelhos ou sistemas que se constituem de órgãos; estes órgãos são formados por tecidos que, por sua vez, são constituídos por células. Há inclusive patologias celulares tratadas em hos-pitais da espiritualidade. O chamado mundo espiritual é (no nosso nível) um mundo material de outra dimensão. As células do corpo espiritual, em nível mais detalhado, são formadas por molé-culas que se constituem de átomos. Os átomos do perispírito são formados por elementos quími-cos nossos conhecidos, além de outros desconhecidos do humano encarnado. Nas obras de Gus-tave Geley com de Jorge Andréa há referências mais específicas. Para não alongarmos estas con-siderações preliminares, diríamos que o corpo dos Espíritos é composto de unidades estruturais que apresentam vibração constante. Sabemos pelos mais elementares princípios da física, que to-do corpo em movimento (vibração) no universo gasta energia, logo precisa repô-la o que equiva-le a se alimentar. As leis da física não são leis humanas mas leis divinas (ou naturais) às quais es-tão sujeitos todos os elementos do cosmo. Há portanto um desgaste energético natural do corpo espiritual pelas suas atividades o que o leva a necessidade de ser alimentado por fontes de ener-gia. Dependendo do nível evolutivo do Espírito, e consequente densidade do perispírito, varia a qualidade do alimento ou energia que o mesmo necessita para manter suas atividades. Espíritos superiores simplesmente absorvem do cosmo os elementos energéticos (“fluídicos”) que necessi-tam. Ao se colocarem em oração (no sentido mais profundo), sintonizam com níveis energéticos ainda mais elevados (frequências mais altas) haurindo para si o influxo magnético revitalizador, alimentando suas “baterias” espirituais. Com relação aos Espíritos mais relacionados com a nos-sa realidade, ou seja que ainda apresentam dificuldades em superar as tendências egoísticas, por-tanto traduzindo na configuração de seu corpo espiritual uma maior densidade, as necessidades são proporcionalmente mais densas. Em colônias espirituais, os Espíritos precisam da ingestão de alimentos energeticamente mais densos, fazendo-o de forma muito semelhante a nós encarna-dos. Recomendamos a propósito o estudo mais detalhado da obra “Nosso Lar” de André Luiz, que foi precursora de dezenas de outras onde se faz referência a alimentação, até as mais recentes “Violetas na Janela” etc. As unidades energéticas do Espírito, ou núcleos em potenciação, com o passar do tempo vão tendo cada vez maior dificuldade de se recarregar quanto mais primitiva for a evolução da entidade espiritual, ocorre um desgaste progressivo destas unidades energéticas, que passam a vibrar mais lentamente. À medida que as vibrações se tornam mais lentas pelo des-gaste, e há dificuldade de reposição das energias, vai se processando uma neutralização energéti-ca com redução progressiva das atividades do Espírito. Quando este processo se instala vai de-terminar um torpor ou sonolência da entidade impelindo-a a reencarnação automática e compul-sória. --------------------------------------------------------------- 10 ------------------------------------------------ A N J O S Warwick Mota Os Anjos segundo a igreja Ao longo dos tempos o ser humano tem buscado sempre a figura de um protetor invisível que o socorre e o orienta em todas as situações, independente de credo todas as religiões têm tido anjos sob vários nomes, isto é, seres superiores à humanidade, intermediários entre Deus e os seres humanos. Negando toda a existência espiritual fora da vida orgânica, o materialismo natural-mente classificou os anjos entre ficções e alegorias. A crença nos anjos existe no seio mesmo do politeísmo e nas fábulas da mitologia, porque essa crença é tão universal e antiga quanto o mun-do. O culto que os pagãos prestavam aos bons e maus gênios não era mais que a falsa aplicação da verdade, um resto degenerado do primitivo dogma. As palavras do concílio de Latrão contêm fundamental distinção entre anjos e homens: — ensinam que os primeiros são puros Espíritos, enquanto que os segundos se compõem de um corpo e de uma alma, isto é, que a natureza angé-lica subsiste por si mesma não só sem mistura como dissociada da matéria, por mais vaporosa e

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sutil que suponha, ao passo que a nossa alma, igualmente espiritual associa-se ao corpo de modo a formar com ele uma só pessoa, sendo tal e essencialmente o seu destino. Seu ser e movimentos não são localizados nem circunscritos a limitado e fixo ponto do Espaço. Desligado integralmen-te do corpo, ocupam qualquer espaço no vácuo; mas assim como a nossa alma existe integral no corpo e cada uma de suas partes, assim também os anjos estão, e quase integralmente, em todos os pontos e partes do mundo. Mais rápidos que o pensamento podem agir em toda parte num da-do momento, operando por si mesmos sem outros obstáculos, senão da vontade do criador e os da liberdade humana. Enquanto somos condenados a ver lenta e limitadamente as coisas exter-nas; enquanto as verdades sobrenaturais se nos afiguram enigmas num espelho. Na frase de Pau-lo, eles, os anjos, veem sem esforço o que lhes importa saber, e estão sempre em relação imedia-ta com o objeto de seus pensamentos. Os padres da Igreja e os teólogos ensinam geralmente que os anjos se dividem em três grandes hierarquias ou principados, e cada hierarquia em três com-panhias ou coros. Os da primeira e mais alta hierarquia designam-se conformemente às funções que exercem no céu; os Serafins são assim designados por serem como que abrasados perante Deus pelos ardores da caridade; outros os Querubins, por isso refletem luminosidade divina sa-bedoria; e finalmente Tronos os que proclamam a grandeza do Criador, cujo brilho fazem res-plandecer. Os anjos de segunda hierarquia recebem nomes consentâneos com as operações que se lhes atribui no governo geral do universo, e são: as Dominações, que determinam aos anjos de classes inferiores suas missões e deveres; as virtudes, que promovem os prodígios reclamados pelos grandes interesses da Igreja e do gênero humano; e as Potências que protegem por sua for-ça e vigilância as leis que regem o mundo físico e moral. Os de terceira hierarquia têm por mis-são a direção das sociedades e das pessoas, e são: - os principados, encarregados de reinos, pro-víncias e dioceses; os Arcanjos que transmitem as mensagens de alta importância, e os Anjos de guarda, que acompanham as criaturas a fim de velarem por sua segurança e santificação. RE F U T A Ç Ã O O princípio geral resultante dessa doutrina é que os anjos são seres puramente espirituais, anteri-ores e superiores à humanidade, criaturas privilegiadas e votadas à felicidade suprema e eterna desde a sua formação, dotadas, por sua própria natureza de todas as virtudes e conhecimentos nada tendo feito, aliás, para adquiri-los. Estão por assim dizer no primeiro plano da Criação, con-trastando com o último onde a vida é puramente material; e, entre os dois, medianamente existe a Humanidade, isto é, as almas, seres inferiores aos anjos e ligados a corpos materiais. De tal sis-tema decorrem várias dificuldades capitais: em primeiro lugar, que vida é essa puramente mate-rial? Será a da matéria bruta? Mas a matéria bruta é inanimada e não tem vida por si mesma. Acaso referir-se-á aos animais e às plantas. Neste suposto seria uma quarta ordem na Criação, pois não se pode negar que no animal inteligente algo há mais que numa planta, e nesta, que nu-ma simples pedra. Quanto à alma humana, que estabelece a transição, essa fica diretamente unida a um corpo, matéria bruta, aliás porque sem alma o corpo tem tanta vida como qualquer bloco de terra. Sobre o sentido atribuído às expressões deuses e demônios. Toda a antiguidade admitiu a existência dos deuses, expressão por que se designavam os Espíritos puros e elevados, e dos se-mideuses ou heróis, como pelas palavras demônios ou gênios estendia aos Espíritos em geral. Os cristãos mesmos se serviam dessas designações. Diz Pedro (I Coríntios, VIII, v. 5, 6): “Porque, ainda que haja alguns que se chamem deuses, ou no céu, ou na Terra, não teremos senão um úni-co Deu, o Pai, de quem tiveram o ser todas as coisas.” Em seus comentários sobre João (liv. II n. 2), diz Orígenes: “ O Deus eterno tem direito a maiores homenagens; somente ele tem direito à verdadeira adoração e não os outros deuses que com ele vivem e são seus ministros e subordina-dos, sendo ele próprio seu Deus e seu criador.” Agostinho diz (De civitate Dei), I, VIII, cap. XXIV: “Os demônios (maus Espíritos) não podem ser amigos dos deuses cheios de bondade, a que nós chamamos santos anjos.” É no mesmo sentido que Justino, em seu Discurso aos gregos, n.o 5, assim se exprime: “Cultivando bem a fé, nós podemos “nos tornar deuses” e Irineu (Contra hocreses, I IV, cap. XXXVIII) diz: “Nós ainda não somos mais do que humanos, mas um dia se-remos deuses.” OS ANJOS SEGUNDO O ESPIRITISMO Na questão 128 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec indaga as entidades venerandas: - Os se-res a que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoria especial, de natureza dife-

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rente da dos outros Espíritos? - “Não; são os Espíritos puros: os que se acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.” A palavra anjo desperta geralmente a ideia de perfeição moral. Entretanto, ela se aplica muitas vezes à designação de todos os seres, bons e maus, que já estão fora da Humanidade. Dizes: o anjo bom e o anjo mau, o anjo de luz e o anjo das trevas. Neste caso o termo é sinônimo de Espí-rito ou de gênio. Tomamo-lo aqui na sua melhor acepção. Questão 129 de O Livro dos Espíritos: - “Os anjos hão percorrido todos os graus da escala?” - “Percorreram todos os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem murmurar suas missões chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar a perfeição.” “Que haja seres dotados de todos as qualidades atribuídas aos anjos, não restam dúvidas. A reve-lação espírita nesse ponto confirma a crença de todos os povos, fazendo-nos conhecer ao mesmo tempo a origem de tais seres.” Os Espíritos são criados simples e ignorantes, isto é, sem conhe-cimento nem consciência do bem e do mal, porém, aptos para adquirir o que lhes falta. O traba-lho é o meio de aquisição, e o fim - que é a perfeição - é para todos o meio, conseguem mais ou menos prontamente em virtude do livre-arbítrio e na razão direta de seus esforços, todos tem os mesmos degraus a franquear, e o mesmo trabalho a concluir. - bibliografia: O céu e inferno - cap. VIII, 1.a parte. - Allan Kardec - FEB O Livro dos Espíritos - 2.a parte, cap. 1 - Allan Kardec - FEB Cristianismo e Espiritismo - Leon Dennis. - FEB ------------------------------------------------------- 11 -------------------------------------------------------- A PARÁBOLA DOS TALENTOS E A LEI DO PROGRESSO Mateus, XXV, 14-30 e O LIVRO DOS ESPÍRITOS - cap. VI - Allan Kardec Pesquisa: E. Mollo 1 - A parábola dos “talentos” (Mateus, XXV, 14-30) Porque assim é como um homem que, ao ausentar-se para bem longe, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens. E deu a um cinco talentos, e a outro dois, e a outro deu um, a cada um segundo a sua capacidade, e partiu logo. O que recebera pois cinco talentos, foi-se, e entrou a negociar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma sorte também o que recebera dois ganhou outros dois. Mas o que havia recebido um, indo-se com ele, cavou na terra, e escondeu ali o dinheiro de seu senhor. E passando muito tempo, veio o senhor daqueles servos e chamou-os a contas. E chegando a ele o que havia recebido os cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco talentos dizendo: Senhor, tu me entregaste cinco talentos, eis aqui tens outros cinco mais que lucrei. Seu senhor lhe disse: Muito bem servo bom e fiel, já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo de teu senhor. Da mesma sorte apresentou-se também o que havia recebi-do dois talentos, e disse: Senhor, tu me entregaste dois talentos, eis aqui tens outros dois que ga-nhei com eles. Seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel, já que foste fiel nas coisas pe-quenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo de teu senhor. E chegando também o que havia recebido um talento, disse: Senhor, sei que és um homem de rija condição; segas onde não semeaste, e recolhes onde não espalhaste; e temendo me fui, e escondi o teu talento na terra; eis aqui tens o que é teu. E respondendo, seu senhor lhe disse: Servo mau e preguiçoso sabias que sego onde não semeei, e que recolho onde não tenho espalhado; devias logo dar o meu di-nheiro aos banqueiros, e, vindo eu, teria recebido certamente com juro o que era meu. Tirai-lhe, pois o talento, e dai-o ao que tem dez talentos; porque a todo o que já tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; e a ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem. E ao servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. 2 - O que é talento: - moeda antiga usada no tempo do Cristo na Grécia e em Roma; 3 - A essência da parábola dos talentos, isto é, os ensinamentos morais que ela encerra segundo Jesus:

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- os dois primeiros servos, que receberam cinco e dois talentos respectivamente, representam os seres humanos que sabem cumprir bem seus deveres na Terra, desenvolvendo os dons que a Mi-sericórdia do Pai lhes concedeu e, o servo que recebeu um talento e o enterrou deixando-o im-produtivo, representam os seres humanos que com medo de enfrentar todas as vicissitudes da vi-da, se escondem na ociosidade ou se deixam dominar por outras criaturas, perdendo a oportuni-dade de multiplicar seu único talento, que é o melhor momento que o Pai lhes concede a fim de desenvolverem suas potencialidades intelectuais e espirituais. 4 - Segundo a Doutrina dos Espíritos: - o homem que as distribui é Deus; - os servos são os Espíritos que encarnam na Terra; - ao encarnar-se, segundo o progresso que realizou, cada Espírito traz uma tarefa a cumprir em benefício de seus semelhantes; - a uns é concedida uma tarefa de repercussão ampla; - outros apenas no seio da família; - mas todos trazem uma tarefa a cumprir; - os humanos que cumprem bem suas tarefas na Terra são os que multiplicam os talentos e os que deixam de cumpri-la são os que enterram os talentos. 5 - Outros exemplos: - os 5 talentos: SAÚDE, RIQUEZA, HABILIDADE, DISCERNIMENTO E AUTORIDADE a) talento SAÚDE Respeitando a SAÚDE, adquiriremos o TEMPO b) talento RIQUEZA Espalhando a RIQUEZA, aliciaremos a GRATIDÃO c) talento HABILIDADE Usando a HABILIDADE, receberemos a ESTIMA d) talento DISCERNIMENTO Movimentando o DISCERNIMENTO, conquistaremos o EQUILÍBRIO e) talento AUTORIDADE Distribuindo a AUTORIDADE de maneira equilibrada, ganharemos a ORDEM - os dois talentos: INTELIGÊNCIA E PODER a) talento INTELIGÊNCIA Elevando a INTELIGÊNCIA, obteremos o TRABALHO b) talento PODER Submetendo o PODER a sábia vontade do Pai, atrairemos o PROGRESSO - o único talento: A DOR - são as dificuldades que se encontram pelos caminhos da vida e, que o desânimo ocasiona no vi-ajor desatento: a preguiça, o medo de trabalhar, de servir, de fazer amizades, de desapontar, etc. ocasionando a SUBSERVIÊNCIA, que também é um grande empecilho na multiplicação deste talento, e que é o motivo de desenvolvermos está exposição. 6 - o significado da palavra subserviência: - servilismo, bajulação, adesão, anuência, condescendência servil, submissão voluntária a alguém ou alguma coisa. 7- Motivos em que a subserviência impede a multiplicação do talento: - através da bajulação; por não ter coragem de mostrar os pontos de vistas e os conhecimentos próprios, por medo de ser criticado; - através da submissão voluntária, por não ter coragem de enfrentar (no bom sentido)(*) com sua maneira de pensar e agir: - o companheiro ou a companheira; - o pai ou a mãe; - o irmão ou a irmã; - seus superiores no seu local de trabalho; - a vida sozinho, etc. (*) Esse enfrentamento, não significa que devemos ofender alguém, e sim, de mostrar - através de diálogos ou exemplos - que esse alguém, com suas atitudes, está impedindo que outras criatu-

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ras desenvolvam seus talentos, mesmo tendo, às vezes, de sermos enérgicos, e essa energia não pode ser ofensiva, mas educativa. 8 - A subserviência impede: - a oportunidade de corrigir a diminuição humilhante do sexo feminino, típica das sociedades pa-triarcais; - o desenvolvimento de uma empresa, um estado, um país, etc., por não ter a devida coragem de impor uma ideia, uma atitude; - o desenvolvimento das potencialidades mentais; - o não cumprimento dos próprios desígnios do Pai. 9 - Algumas soluções: - o conceito igualitário absoluto é impossível no mundo, dada a heterogeneidade das tendências, sentimentos e posições evolutivas no círculo da individualidade. A FRATERNIDADE, PORÉM, É A LEI DA ASSISTÊNCIA MÚTUA E DA SOLIDARIEDADE COMUM, SEM A QUAL TODO PROGRESSO, NO PLANETA, SERIA PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL. A fraternida-de pode traduzir-se por cooperação sincera e legítima, em todos os trabalhos da vida, e em toda cooperação verdadeira, o personalismo não pode subsistir, salientando-se que quem coopera cede sempre alguma coisa de si mesmo, dando o testemunho de abnegação, sem a qual a fraternidade não se manifestaria no mundo, de modo algum. - Amar a nós mesmos não será a vulgarização de uma nova teoria de autoadoração. Para nós ou-tros, a egolatria já teve o seu fim, porque o nosso problema é de iluminação íntima, na marcha para Deus. Esse amor, portanto, deve traduzir-se em esforço próprio, em autoeducação, em ob-servação do dever, em obediência às leis de realização e de trabalho, em perseverança na fé, em desejo sincero de aprender com o único Mestre, que é Jesus. - Quem se ilumina, cumpre a missão da luz sobre a Terra. E a luz não necessita de outros proces-sos para revelar a verdade, senão o de irradiar espontaneamente o tesouro de si mesma. - O amor é a lei própria da vida e, sob o seu domínio sagrado, todas as criaturas e todas as coisas se reúnem ao Criador, dentro do plano grandioso da unidade universal. - No caminho dos seres humanos é ainda o amor que preside a todas as atividades da existência em família e em sociedade. -------------------------------------------------------- 12 ------------------------------------------------------- DA LEI DO PROGRESSO - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - CAPÍTULO VI – Allan Kardec Estado da natureza Não são coisas idênticas o estado de natureza e a lei natural, o estado de natureza é o estado pri-mitivo. A civilização é incompatível com o estado de natureza, ao passo que a lei natural contri-bui para o progresso da Humanidade. (776) O estado de natureza é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. Sendo perfectível e trazendo em si o gérmen do seu aperfeiçoamento, o ser humano não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza, como não o foi a viver eternamente na infância. Aquele estado é transitório para o ser humano, que dele sai por virtude do progresso e da civilização. A lei natural, ao contrário, rege a Humanidade inteira e o ser hu-mano se melhora à medida que melhor a compreende e pratica. O ser humano, no estado de natu-reza tem menos necessidades, se acha isento das tribulações que para si mesmo cria do que num estado de maior adiantamento. É a felicidade do bruto. É ser feliz à maneira dos animais. As cri-anças também são mais felizes do que os seres humanos feitos. (777) O ser humano não pode re-trogradar para o estado de natureza, o ser humano tem que progredir incessantemente e não pode volver ao estado de infância. Desde que progride, é porque Deus assim o quer. Pensar que possa retrogradar à sua primitiva condição fora negar a lei do progresso. (778) Marcha do progresso O ser humano se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem simultane-amente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contacto social. (779) O progresso moral decorre do progresso intelectual, mas nem

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sempre o segue imediatamente. O progresso intelectual pode engendrar o progresso moral fazen-do compreensíveis o certo e o errado. O ser humano, desde então, pode escolher. O desenvolvi-mento do livre-arbítrio acompanha o do conhecimento e aumenta a responsabilidade dos atos. Muitas vezes, sucede serem os povos mais instruídos os mais pervertidos. Contudo, o progresso completo constitui o objetivo. Os povos, porém, como os indivíduos, só passo a passo o atingem. Enquanto não se lhes haja desenvolvido o senso moral, pode mesmo acontecer que se sirvam da inteligência para a prática do erro. A moral e a inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a equilibrar-se. (192-365-751-780) O ser humano não tem o poder de paralisar a marcha do progresso, mas tem, às vezes, o de embaraçá-la. Os que tentam deter a marcha do progresso e fazer que a Humanidade retrograde são pobres seres, que a lei de Deus cobrará! Serão levados de roldão pela torrente que procuram deter. (781) Sendo o progresso uma condição da natureza humana, não está no poder do ser humano opor-se-lhe. É uma força viva, cuja ação pode ser retardada, porém não anulada, por leis humanas erra-das. Quando estas se tornam incompatíveis com ele, despedaça-as juntamente com os que se es-forcem por mantê-las. Assim será, até que o ser humano tenha posto suas leis em concordância com a justiça divina, que quer que todos participem do bem e não a vigência de leis feitas pelo forte em detrimento do fraco. Os seres humanos que de boa-fé obstam ao progresso, acreditando favorecê-lo, porque, do ponto de vista em que se colocam, o veem onde ele não existe, assemelham-se a pequeninas pedras que, colocadas debaixo da roda de uma grande viatura, não a impedem de avançar. (782) Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto deveria, a lei de Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma. (783) O ser humano não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a fi-nalidade que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força das coisas. As revoluções mo-rais, como as revoluções sociais, se infiltram nas ideias pouco a pouco; germinam durante sécu-los; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações. Nessas comoções, o ser humano quase nunca percebe senão a desordem e a confusão momentâ-neas que o ferem nos seus interesses materiais. Aquele, porém, que eleva o pensamento acima da sua própria personalidade, admira os desígnios da Providência, que do errado faz sair o certo. São a procela, a tempestade que saneiam a atmosfera, depois de a terem agitado violentamente. Se engana quem vê a perversidade do ser humano predominar neste mundo e diz que, pelo me-nos do ponto de vista moral, ele, em vez de avançar, caminha aos recuos, mas se observar bem o conjunto, verá que o ser humano se adianta, pois que melhor compreende o que é errado, e vai dia a dia reprimindo os abusos. Faz-se mister que o erro chegue ao excesso, para tornar compre-ensível a necessidade do certo e das reformas. (784) O maior obstáculo ao progresso é o orgulho e o egoísmo. Fazendo referência ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o ser humano a em-preender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio erro pode nascer o certo. Curta, porém, é a duração des-se estado de coisas, que mudará à proporção que o ser humano compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais du-radoura. (785) (Vide: Egoísmo, cap. XII.) Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio, mas que, no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civiliza-dos, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado. Ora, sendo assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de preferência, ao moral, do que com relação ao intelectual? Por que será impossível que entre o dezenove e o vigésimo quarto século haja, a esse respeito, tanta diferença quanta entre o décimo quarto século e o século dezenove? Duvidar fora pretender

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que a Humanidade está no apogeu da perfeição, o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a experiência desmente. ---------------------------------------------------------- 13 ----------------------------------------------------- APARIÇÕES NO MOMENTO DA MORTE José Lucas - Parte I Momentos antes de morrer, muitas pessoas alegam ver junto de si seres conhecidos, familiares e amigos, também já falecidos. Estes estudos têm tido o interesse de muitos pesquisadores. Ernesto Bozzano (1861-1943) foi um dos mais eruditos sábios dos últimos tempos. Foi um fa-moso escritor italiano, mundialmente conhecido pelas excelentes obras espíritas legadas ao mun-do, através de suas investigações. Uma de suas pesquisas denomina-se «Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte» e relata muitos casos confirmados e catalogados de pessoas que tiveram contacto visual com seres conhecidos, familiares, amigos, todos eles já falecidos e que viriam en-tão “buscá-los” para a sua nova vida. Fatos muito interessantes que acontecem amiúde, e que os mais desavisados facilmente consideram ser apenas uma alucinação visual, não dando a menor importância aos mesmos. Ensina-nos o Espiritismo (ver “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec) que as pessoas, quando o corpo físico se vai deteriorando ao ponto de não mais suportar a vida no planeta Terra, come-çam a desligar-se naturalmente, passo a passo, desse mesmo corpo. «... é possível aos falecidos (chamados de desencarnados, isto é, fora do corpo de carne) torna-rem-se visíveis perante nós encarnados, isto é, ainda no corpo de carne.» Sendo o ser humano um Espírito imortal, que tem temporariamente um corpo físico, esse ser vol-ta um dia para o mundo espiritual, continuando aí a viver em várias cidades e organizações exis-tentes nesse mesmo mundo espiritual, mas agora, vivendo com o corpo espiritual (denominado de perispírito), que é uma espécie de duplicação do corpo físico, só que em outro estado da maté-ria. Nesse sentido, e por um processo de “condensação” molecular desse mesmo corpo espiritual, é possível aos falecidos (chamados de desencarnados, isto é, fora do corpo de carne) tornarem-se visíveis perante nós encarnados, isto é, ainda no corpo de carne. É o que acontece amiúde com pessoas que se encontram em estado de doença prolongada, e que vão assim desligando-se paula-tinamente do corpo físico, estando por vezes, no momento da morte, mais “do lado de lá” do que “no lado de cá”, como é usual dizer-se. Essas pessoas, descrevem seres conhecidos, já falecidos, que estão ao seu lado, amistosamente, e relatam muitas vezes suas conversas com esses mesmo seres, podendo inclusive prever com alegria o momento da morte do corpo físico. Um caso pessoal Recordo-me de um caso curioso que aconteceu na minha família. A minha avó materna, excelen-te pessoa com quem tinha muita afinidade, já bastante idosa, entrou em estado de doença. Sendo diabética, poder-se-ia no entanto dizer que a sua doença seria aquilo a que comumente se designa de velhice. Acamada, e com os extremados zelos da minha mãe, diariamente inteirava-me do seu estado de saúde. Um dia, a minha mãe, muito preocupada, veio dizer-me que a minha avó come-çara a delirar, isto é, que ao acordar de manhã, falava como se estivesse em outra casa, dizendo que queria ir para a sua casa (onde se encontrava acamada), e relatando com extrema felicidade que seu marido bem como seus pais (já falecidos), estavam muito luminosos, felizes, e que esta-vam ali com ela. Depois, com o passar dos minutos lá se apercebia que estava em sua casa, real-mente. Neófito no Espiritismo, informei a minha genitora que era muito comum isso acontecer às pessoas que estão para desencarnar (falecer), e que se fosse preparando para o desenlace pois tudo indicaria que assim acontecesse. De fato, passado três semanas de consecutivos relatos diá-rios de visitas dos familiares já falecidos, minha avó acabou por desencarnar em muita paz e se-renidade. Parte II Vamos nos referir aos casos nos quais as aparições dos mortos são percebidas unicamente pelo moribundo e referem-se a pessoas cujo falecimento era por ele conhecido. As pessoas mais dis-traídas facilmente dirão que se tratam de alucinações as descrições que os moribundos muitas

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vezes fazem, de seres conhecidos, já falecidos, que eles dizem estarem ali no momento da morte. No entanto, a investigação e uma análise mais cuidada do assunto, por parte de investigadores conceituados, mostra-nos o contrário. Diz Ernesto Bozzano, investigador e escritor ilustre, italia-no, que «...se o pensamento, ardentemente voltado para as pessoas caras, fosse a causa determi-nante dos fenômenos, o moribundo, em lugar de experimentar exclusivamente formas alucinató-rias representando defuntos – por vezes, mesmo, defuntos esquecidos pelo doente – deveria ser sujeito, as mais das vezes, a formas alucinatórias representando pessoas vivas às quais fosse vi-vamente ligado – o que não se produz... São bem conhecidos casos de agonizantes que têm tido visões de fantasmas que se crê sejam de pessoas vivas; mas, nesses casos, verifica-se invaria-velmente, em seguida, que essas pessoas tinham morrido pouco antes, posto que nenhum dos as-sistentes nem o próprio doente o soubessem.»(1) Refere ainda Ernesto Bozzano: «... Já citei um fato (VIII caso), no qual o moribundo, percebendo aparições semelhantes, exclama: - Como! Mas são pessoas como nós! – Sobre o que o narrador observa: “Provavelmente ele sen-tia a imaginação cheia das imagens habituais dos anjos alados e das harpas angélicas; por conse-quência, nada mais provável que no último momento haja exprimido surpresa, vendo que os mortos que o vinham acolher tinham o aspecto de “pessoas como nós”. Contarei mais adiante (XXIV caso) um terceiro episódio concernente a uma menina de 10 anos, que, por seu turno, manifesta admiração vendo “anjos sem asas”. Ora, esses incidentes apresentam um valor proban-te real, pois que os fantasmas alucinatórios, como se sabe, tomam formas correspondentes às ideias que se têm figurado, anteriormente, na mentalidade do doente, e não podia ser de outra maneira. Resulta daí que, se a ideia dos anjos alados (de que temos ouvido falar por nossa mãe durante nossa infância e de que mais tarde lemos a descrição na Bíblia e vemos centenas de ve-zes representada nos quadros de assuntos religiosos), se tivesse gravado nas vias cerebrais do do-ente, este deveria supor estar vendo anjos com asas. Ora, como vimos nos casos narrados, os mo-ribundos, dominados por essa ideia preconcebida, perceberam fantasmas cuja aparência era con-trária á ideia em questão; devemos, pois, concluir que, nas circunstâncias descritas, se trata de aparições verídicas de fantasmas de defuntos e não de alucinações patológicas.» (1) Caso do moribundo que vê fantasmas de defuntos desconhecidos mas conhecidos da família Vamos ver um caso de um moribundo que vê fantasmas de defuntos que não conhece, se bem que fossem eles conhecidos dos de sua roda, o que elimina a hipótese da autossugestão. (extraído do “Journal of The American Society for Psychical Research, 1907, p-47) «...Fui encontrar uma senhora, cujo filho, uma criança de 9 anos, morrera há 15 dias. Tinha sido operado de apendicite, dois ou três anos antes e a operação provocara uma peritonite, de que se tinha, no entanto, cura-do. Mas ficou de novo doente e foi preciso transportá-lo ao hospital para nova operação. Quando acordou da anestesia, estava perfeitamente consciente, reconheceu os seus pais, o médico e a en-fermeira. Teve, no entanto, o pressentimento de morrer e pediu à sua mãe que lhe segurasse a mão até à hora de se ir embora... Olhando para o alto, disse: - Mãe, não vês lá em cima a minha irmãzinha? - Não, querido, onde a vês tu? - Aqui; ela olha para mim. Então a mãe para acalmá-lo, assegurou-lhe que a via também. Algum tempo depois, a criança sorriu de novo e disse: - Quem está agora é a Sra. C..., que também vem ver-me. (Era uma senhora de quem ele gostava muito e que tinha morrido dois anos antes). Ela sorri e chama-me... Chega também Roy. Eu vou com eles, mas não te queria abandonar, mãe, e tu virás em breve ter comigo, não é? Abre a porta e pede-lhes para entrar. Eles estão à espera do lado de fora. E assim dizendo, expirou. Ia esquecendo a mais importante visão: a da avó. Enquanto a mãe lhe segurava a mão, ele diz: - Mãe, tu tornas-te cada vez menor; estás sempre com a minha mão presa? A avó está aqui comi-go e é muito maior e mais forte que tu, não é?...» Neste caso foi confirmado que o pequeno de 9 anos, falecido, nunca tinha visto a avó, morta 4 anos antes do seu nascimento, e Roy era um seu amigo morto um ano antes. (1) “Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte”, Ernesto Bozzano, FEB, 3.a edição, 1982. Parte III

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Vamos abordar casos nos quais outras pessoas, coletivamente com o moribundo, vêm o mesmo fantasma do defunto. São comuns os casos em que moribundos relatam a presença de pessoas fa-lecidas junto ao seu leito e que essas presenças são também apercebidas por familiares e / ou acompanhantes desse mesmo moribundo, mesmo que em outra divisão da casa. Este grupo de casos, percepção coletiva do mesmo fantasma, tem um grande interesse, embora possamos igualmente no plano teórico encontrar outras hipóteses de explicação. «Com efeito, a coincidên-cia da aparição vista por terceiras pessoas, coletivamente com o moribundo, nos casos de visua-lidade simultânea, pode atribuir-se a ter este último servido de agente transmissor de uma forma alucinatória elaborada no seu cérebro. Se, ao contrário, o fantasma é percebido pelos assistentes e pelo moribundo, em momentos e em lugares diferentes, o caso, então, atinge grande significa-ção teórica no sentido da sua interpretação espírita». (1) As evidências das aparições de pessoas falecidas junto de moribundos, dizendo que os vêm buscar e auxiliar no momento do desenlace físico, são indicativos de que a vida continua para além da morte do corpo físico De realçar os casos em que as pessoas que assistem ao moribundo percebem a aparição no momento em que o doente se encontra em estado de coma, o qual exclui toda e qualquer elaboração do seu pensa-mento, bem como quando o moribundo é uma criança de tenra idade, circunstância que, na maior parte dos casos, exclui a possibilidade de elaboração mental do doente. Vejamos um caso bem interessante. Joy Suell, enfermeira diplomada, Inglaterra, depois de exer-cer a sua profissão durante vinte anos, escreveu um livro sobre Metapsíquica, “The Ministry of Angels”, em que conta as suas próprias experiências como sensitiva clarividente, à cabeceira de inumeráveis doentes a que assistira. O livro é interessante, atraente e instrutivo, e relata casos em que o moribundo percebe, ao lado do leito, personalidades de defuntos que reconhece, mas que são invisíveis para os outros. No seu caso, graças à mediunidade de vidência, ela podia confirmar a presenças de seres espirituais relatados pelo moribundo. Vejamos um caso: «A primeira vez que tive esta prova ocular foi com M.lle. L..., graciosa jovem de 17 anos, que era minha amiga e morria de tísica, sem sofrimentos; mas o extremo langor do corpo tornava-a moralmente fatigada e desejosa de repouso eterno. Chegada a hora suprema, percebi-lhe ao lado duas formas espiritu-ais, uma à direita, outra à esquerda do leito. Não me havia apercebido da sua entrada; quando se me tornaram visíveis, estavam já dispostas ao lado da moribunda; eu via-as, porém, tão distinta-mente como pessoas vivas. Designei essas radiosas entidades com o nome de anjos... Reconheci logo, nessas formas angélicas, duas meninas que tinham sido, quando vivas, as melhores amigas da doente, possuindo as três a mesma idade. Um instante antes dessa aparição, a agonizante dis-sera: - Fez-se, de repente, a obscuridade; não vejo mais nada. Apesar disso viu e reconheceu, logo de-pois, uma das suas amigas. Sorriso de suprema felicidade iluminou-lhe o rosto, e, estendendo os braços, perguntou ela, cheia de felicidade: - Vieram buscar-me? Sinto-me feliz com isso, porque estou fatigada. E enquanto a agonizante estendia as mãos aos anjos, estes faziam outro tanto, apertando-lhe um a mão direita e outro a esquerda. Seus rostos tinham um sorriso ainda mais do-ce do que aquele que brilhava no rosto da moribunda, alegre esta, por cedo encontrar o repouso que tanto almejava. Não falou mais, mas continuou, durante cerca de um minuto, com os braços levantados ao céu, e as mãos unidas às das suas defuntas amigas, não cessando de contemplá-las, com expressão de ventura infinita. Casos de aparições junto de moribundos em estado de coma ou em crianças de tenra idade, são indicativos da não interferência do psiquismo do doente nes-tes fenômenos. Em dado momento, as amigas abandonaram-lhe as mãos, que caíram pesadamen-te sobre o leito. A expirante emitiu um suspiro, como se se dispusesse tranquilamente a dormir, e, depois de alguns instantes, o seu Espírito deixava o corpo para sempre. Sobre o rosto, porém, ficou-lhe gravado o doce sorriso que o tinha iluminado, quando percebeu ao lado as duas amigas mortas. (1) Este e outros casos bem interessantes, bem como a análise dos mesmos, poderão ser encontrados no livro de Ernesto Bozzano, que recomendamos vivamente. (1) “Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte”, Ernesto Bozzano, FEB, 3.a edição, 1982. Parte IV Vamos abordar casos de aparições no leito da morte, coincidindo com prenúncios ou confirma-ções análogas, obtidas através da mediunidade.

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Vamos abordar mais um caso extraído do livro «Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte» , Editora FEB, 3.a ed., 1982, Brasil, caso este retirado por sua vez dos «Annali dello Spiritismo in Italia» de 1875, páginas 120 e 149: «O Dr. Vincent Gubernári, natural de Maremmes, na Tosca-na, instalou-se definitivamente em Arcétri, perto de Florença, e, se bem que não fosse médico oficial, exercia aí igualmente a sua profissão. Gubernári, favorecido dos bens da fortuna, esposa-ra Isabel Segardi. Também ela era rica e tinha trazido ao marido um grande dote. Os esposos combinaram fazer uma doação recíproca dos bens e a Sra. Gubernári fizera o seu testamento nes-se sentido e supusera que o marido tinha feito outro tanto em seu benefício. Posto que o Sr. Gu-bernári, materialista como era, zombasse do Espiritismo e dos Espíritos, não pôde deixar de im-pressionar-se, vendo muitos dos seus amigos, que ele sabia bem instruídos, isentos de preconcei-tos, e outrora mais antiespíritas que ele, tornarem-se repentinamente crentes com as manifesta-ções espíritas. ...E o Espírito de sua tia manifestou-se, predizendo a sua morte e incentivando-o a melhorar a sua vida moral... Um belo dia, pois, o doutor, ou porque se quisesse convencer pesso-almente, ou porque se quisesse divertir à custa dos amigos, manifestou-lhes o desejo de tentar uma experiência na própria casa e convidou-os a nela tomar parte. Logo que os experimentado-res formaram a cadeia em torno da mesa, um Espírito agitou-a com força surpreendente...e o doutor ficou extremamente admirado quando, perguntando-se o nome do Espírito presente, este lhe respondeu: - Tua tia Rosa. O doutor ficara órfão, com pouca idade, e fora educado com ternura por essa tia, que lhe tinha servido de mãe. Quando voltou a si da surpresa exclamou: - Pois bem, se és verdadeiramente minha tia Rosa, ajuda-me a ganhar muito dinheiro! - Estou aqui para bem outra coisa – respondeu o Espírito. - Aqui estou para aconselhar-te a mudar de vida e pensar na tua mulher. - Já pensei na minha mulher – respondeu, sem vergonha, o doutor – tanto que ambos fizemos os nossos testamentos, com benefícios recíprocos. - Mentira! – respondeu o Espírito, sacudindo fortemente a mesa, para demonstrar o seu descon-tentamento – Ela deixou-te tudo, sim, mas tu não lhe deixaste nada! A Sra. Gubernári tomou parte, então, no diálogo e querendo persuadir o Espírito de que o seu marido tinha feito testamento em seu favor, disse, corajosamente, que ele podia prová-lo, mos-trando o mesmo testamento aos amigos presentes. O doutor, em consequência dessa intervenção inesperada da sua mulher, viu-se comprometido e sem saber como sair do aperto. Sabia o que lhe dizia a consciência e era-lhe impossível mostrar os documentos, declarando que o Espírito não tinha dito a verdade. Muito perturbado com o incidente, declarou, então, que não faria ver a nin-guém o testamento. E o Espírito, agitando a mesa com força ainda maior, respondeu: - Tu és um impostor! Sim, eu repito-te: esqueceste a tua mulher, e no teu testamento só te lem-braste da tua criada, porque... Muda, sim, o teu modo de vida e o teu testamento, e apressa-te, porque não tens tempo a perder, dentro de alguns dias estarás conosco no mundo dos Espíritos. Essa revelação foi como que um raio sobre a cabeça do doutor. Ele ficou aterrado e, depois, com raiva, gritou: - Como? Tenho que morrer antes da minha mulher, eu que sou mais novo que ela? Não, isso não acontecerá nunca; quero viver ainda e viverei. Assim dizendo, levantou-se irritado tendo terminado a sessão. No dia seguinte, um amigo, o Coronel Maurício, para o acalmar, disse que fariam outra sessão na casa da Condessa Passeríni, como contraprova, mas sem a presença dele. Nessa reunião foi confirmada a veracidade da comunicação da tia Rosa, assegurando que o médico morreria antes do final do corrente ano. Os amigos disseram-lhe que “os Espíritos con-firmaram que tinha sido uma mistificação e que não acreditasse”, caso contrário ele ficaria per-turbadíssimo. O médico riu-se, feliz, e seguiu a sua vida normalmente. Na noite de 12 de Novembro o referido médico foi assaltado de febre muito forte, acompanhado de muitas dores, e como sofria horrivelmente, os amigos fizeram nova sessão na casa da Condes-sa. Aí, manifestou-se um Espírito, dizendo-se médico, informando ser o Dr. Panattôni, (parente do deputado do mesmo nome, tinha sido um bom médico e havia exercido a sua profissão em Florença) e que o doente faleceria em breve.

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Em 30 de Dezembro de 1874 falecia o Dr. Gubernári dizendo ver perto de si o Espírito do Dr. Panattôni, que não o abandonava um só momento, e à sua cabeceira os Espíritos de sua mãe e sua tia Rosa, que o consolavam com a sua presença, e o encorajavam a deixar a vida terrestre (o Dr. Gubernári, nada sabia da manifestação do Dr. Panattôni na sessão em casa da Condessa).» Parte V Vamos nos referir a um caso no qual as aparições de pessoas falecidas são percebidas unicamen-te pelos familiares do moribundo. Encontramos um caso bem interessante, no livro «Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte», de Ernesto Bozzano, editora FEB, 3.a ed., 1982, Brasil, caso este retirado do «Journal of the So-ciety for Psychical Research» (1908, pp. 308-311): «O Dr. Burges envia ao Dr. Hodgson o epi-sódio seguinte, que se passou em presença do Dr. Renz, especialista em moléstias nervosas. M. G., protagonista do episódio, escreve: “... Antes de descrever os acontecimentos e no interesse daqueles que lerem estas páginas, tenho a declarar que não faço uso de bebidas alcoólicas, nem de cocaína, nem de morfina; que sou e fui sempre moderado em tudo, que não possuo um tempe-ramento nervoso; que minha mentalidade nada tem de imaginativa e que sempre fui considerado como homem ponderado, calmo e resoluto. Acrescento que, não somente nunca acreditei no que se chama – Espiritismo – com os fenômenos relativos de materializações mediúnicas e do corpo astral visível, como fui sempre hostil a essas teorias. Um caso espantoso em que assistiu ao trabalho espiritual na morte da esposa A minha mulher morreu às 11h45, da noite de sexta-feira, 23 de Maio de 1902; e só às 4 horas da tarde desse mesmo dia foi que me persuadi que estava perdida toda a esperança. Reunidos em torno do leito, na expectativa da hora fatal, estávamos muitos amigos, o médico e duas enfermei-ras... Assim se passaram duas horas, sem que se observasse nenhuma alteração...às 6h45 (estou certo da hora porque havia um relógio colocado diante de mim, sobre um móvel) aconteceu-me voltar o olhar para a porta de entrada e percebi sobre o sólio, suspenso no ar, três pequenas nu-vens muito distintas, dispostas horizontalmente, parecendo cada uma do comprimento de cerca de 4 pés, com 6 a 8 polegadas de volume... O meu primeiro pensamento foi que os amigos (e pe-ço-lhes perdão por esse injustificado juízo) se tinham posto a fumar, além da porta, de maneira que o fumo dos seus charutos penetrasse no quarto. Levantei-me de um salto para ir reprová-los e notei que nas proximidades da porta, no corredor e no quarto, não havia ninguém. Espantado, voltei-me para olhar as nuvenzinhas que, lentamente, mas positivamente, se aproximavam da cama, até que a envolveram por completo. Olhando através dessa nebulosa, percebi que ao lado da moribunda se conservava uma figura de mulher, de mais de 3 pés de altura, transparente, mas ao mesmo tempo resplandecente de uma luz de reflexos dourados; o seu aspecto era tão glorioso, que não há palavras capazes de descrevê-lo. Ela vestia um costume grego de mangas grandes, largas, abertas; tinha uma coroa à cabeça. Essa forma mantinha-se imóvel como uma estátua no esplendor de sua beleza; estendia as mãos sobre a cabeça da minha mulher, na atitude de quem recebe um hóspede alegremente, mas com serenidade. Duas formas vestidas de branco, deti-nham-se de joelhos, ao lado da cama, velando ternamente a minha mulher, enquanto que outras formas, mais ou menos distintas, flutuavam em torno. Acima da minha mulher estava suspensa, em posição horizontal, uma forma branca e nua, ligada ao corpo da moribunda por um cordão que se lhe prendia acima do olho esquerdo, como se fosse o “corpo astral”. Em certos momentos, a forma suspensa ficava completamente imóvel; depois, contraía-se e diminuía até reduzir-se a proporções minúsculas, não superiores a 18 polegadas de comprimento, mas conservando sem-pre a sua forma exata de mulher; a cabeça era perfeita, perfeitos o corpo, os braços, as pernas. Quando o corpo astral se contraía e diminuía, entrava em luta violenta, com agitação e movimen-to dos membros, com o fim evidente de se desprender e libertar do corpo físico. E a luta persistia até que ele parecia cansar; sobrevinha, então, um período de calma; depois o corpo astral come-çava a aumentar, mas para diminuir de novo e recomeçar a luta. Durante as cinco últimas horas de vida da minha mulher, assisti, sem interrupção, a essa visão pasmosa... Não havia maneira de fazê-la apagar dos meus olhos; se me distraía conversando com os amigos, se fechava as pálpe-bras, se me achava de outro lado, quando voltava a olhar o leito mortuário, revia inteiramente a mesma visão. No correr das cinco horas experimentei estranha sensação de opressão na cabeça e nos membros; sentia as minhas pálpebras pesadas como quando se está tomado pelo sono, e as

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sensações experimentadas, unidas ao fato da persistência da visão, faziam-me temer pelo meu equilíbrio mental, e então dizia ao médico muitas vezes: - «Doutor, eu enlouqueço». Enfim, che-gou a hora fatal; depois de um último espasmo, a agonizante deixou de respirar e vi, ao mesmo tempo, a forma astral redobrar de esforços para libertar-se. Aparentemente, a minha mulher pa-recia morta, mas começava a respirar alguns minutos depois, e assim aconteceu por duas ou três vezes. Depois, tudo acabou. Com o último suspiro e o último espasmo, o cordão que a ligava ao corpo astral quebrou-se e eu vi esse corpo apagar-se. As outras formas espirituais, também, as-sim como a nebulosidade de que fora invadido o quarto, desapareceram subitamente; e, o que é estranho, a própria opressão que eu sentia sumiu-se como por encanto e permaneci de novo co-mo fui sempre, calmo, ponderado, resoluto; dessa forma fiquei em condições de distribuir ordens e dirigir os tristes preparativos exigidos pelas circunstâncias...” Afirma o Dr. Renz: “Desde que a doente se extinguiu, M. G., que durante cinco horas havia ficado à sua cabeceira, sem dali sair, levantou-se e deu ordens que as circunstâncias requeriam, com expressão tão calma, de homem de negócios, que os assistentes ficaram surpresos. Se ele tivesse sido submetido, durante cinco horas, a um acesso de alucinação, o Espírito não se lhe teria tornado claro e normal de um mo-mento para o outro. Dezessete dias já se passaram depois da visão e da morte da sua mulher; M. G. continua a mostrar-se perfeitamente são e normal de corpo e de Espírito. (Assinado: Dr. C. Renz)”.» Parte VI Terminamos aqui uma série de seis artigos sobre aparições no leito de morte, com exemplo de aparições de defunto produzidas pouco depois de um caso de morte, e percebidas na mesma casa em que jaze o cadáver. Embora estes fatos sejam dos mais raros, não podemos deixar de os refe-rir nesta série de artigos, casos estes retirados do livro «Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte» do famoso investigador italiano Ernesto Bozzano. O seguinte caso foi retirado do volume V, pag. 422, dos «Proceedings of the S.P.R.»: «Agosto, 1886. No sábado, 24 de Outubro de 1868, despedimo-nos dos nossos amigos (os marqueses de Lyns) - com os quais permanecêra-mos em Malvern Well -, para irmos a Cheltenham, residência de um cunhado do meu marido, Georges Copeland. Desde algum tempo, já este estava doente, em consequência de um ataque de paralisia, que o havia reduzido à imobilidade, ficando, no entanto, perfeitamente sãs as suas fa-culdades mentais. Esta última circunstância fazia que os seus amigos ficassem perto do doente, a fim de adoçar-lhe a desventura, tanto quanto possível. Aproveitando a pouca distância que nos separava, resolvemos, por nossa vez, fazer outro tanto. Fomos, porém, informados de que o do-ente já tinha outras pessoas em sua casa; decidimos, então, ir para Cheltenham, sem o prevenir, a fim de alugar um apartamento, antes que ele no-lo impedisse de fazer, por um convite. Tomamos vários quartos situados na vizinhança da habitação de Copeland. Feito isto, estávamos prontos para nos ausentar do hotel, quando muitos frascos de remédios, dispostos numa mesa, atraíram o nosso olhar. Perguntamos se havia doentes na casa e informaram-nos que certa senhora R...., hóspede no hotel com a sua filha, estava doente desde algum tempo; era coisa de pouca impor-tância e não havia perigo. Depois dessa ocasião não pensamos mais no assunto. Logo após fomos à casa de Copeland, e no correr da tarde, veio a pronunciar-se o nome dos nossos vizinhos de ho-tel. Copeland disse, então, que conhecia a Sra. R...; explicou que era viúva de um doutor, ex-clínico em Cheltenham, e que uma das suas filhas se casara com um professor de colégio, um certo Sr. V... Lembrei-me então de Ter conhecido a Sra. V... por ocasião de uma recepção em ca-sa do Dr. Barry e ter nela feito reparo por causa da sua grande beleza, enquanto ela conversava com a dona da casa. Era tudo o que eu sabia a respeito dessas senhoras. Na manhã de Domingo, à hora do almoço, observei que o meu marido parecia preocupado. Terminado que foi o repasto, perguntou-me ele: - Ouviste arrastar uma cadeira há pouco? A velha que mora em baixo morreu na própria cadeira, esta noite; arrastaram esse móvel, trouxeram-na para o quarto. Fiquei muito impressionada; era a primeira vez que me encontrava nas proximidades de um ca-dáver; desejei, pois, mudar sem demora, de apartamento. Muitos dos nossos amigos, sabendo do fato, tinham-nos gentilmente oferecido hospitalidade; mas o meu marido, opusera-se, lembrando que uma mudança é sempre um aborrecimento, que meus terrores eram tolos, que ele não achava nenhum prazer em deslocar-se num dia de Domingo, que não era generoso partir porque uma

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pessoa havia morrido e que, enfim, se assim procedessem para conosco, não nos deixaríamos de aborrecer. Em suma, tivemos de ficar. Passei o dia na companhia do cunhado e das sobrinhas e só voltamos ao hotel à hora de ir para a cama. Depois de haver adormecido, acordei de repente, como de hábito, alta noite, sem causa aparente e vi distintamente, ao pé da cama, um velho fidal-go, de rosto gordo, rosado e sorridente, com um chapéu na mão. Estava vestido com um casaco azul-celeste, de talhe antigo, guarnecido de botões de metal; tinha um colete claro e calças da mesma cor. Quanto mais o encarava, melhor lhe discernia os menores detalhes do rosto e das vestes. Não me senti muito impressionada; depois de algum tempo ensaiei fechar os olhos duran-te um ou dois minutos; quando os reabri, o velho fidalgo tinha desaparecido. Dormi algum tempo depois. Vindo a manhã, propus-me nada dizer a ninguém, do que me tinha acontecido, até que tivesse visto uma das minhas sobrinhas, à qual queria expor o fato, a fim de saber se, por acaso, não haveria nenhuma semelhança entre o Dr. R... e o fidalgo da minha visão. Apesar de me pare-cer absurda esta ideia, queria certificar-me. Encontrei minha sobrinha, Maria Copeland (hoje se-nhora Brandling), de volta da igreja, e logo lhe perguntei: - O Dr. R... não tinha o aspecto de velho fidalgo, de rosto cheio, rosado e sorridente, etc., etc.?... Ela estremeceu de espanto. - Quem to disse? - perguntou. - Nós dizíamos, de fato, que ele se assemelhava mais a um bom feitor de fazenda do que a um doutor. Como é estranho que um homem de aspecto tão vulgar ti-vesse por filha tão bela criatura! Tal é a narrativa rigorosamente exata do que me aconteceu. As minhas duas sobrinhas estão ain-da vivas e devem lembrar-se exatamente de tudo isso. Naturalmente, não estou em condições de explicar o fato. O corpo da velha senhora jazia no quarto que ficava imediatamente abaixo do nosso. O que me surpreende, sobretudo, é que eu tivesse ficado tão pouco impressionada e que pudesse dormir alguns instantes depois, sem incomodar ninguém. (Assinado: D. Bacchus).» O marido da Sra. Bacchus confirma o acontecimento: «Leamington, 27 de Setembro de 1886 - Li a narração da minha mulher a respeito do que suce-deu em Cheltenham, quando nós aí estivemos em 1868. Ela corresponde exatamente ao que a minha mulher contou de viva voz, na manhã que se seguiu ao fato, de que perfeitamente me re-cordo. Também me lembro que nessa manhã mesma, ela contou todos os detalhes do aconteci-mento à sua sobrinha. (Assinado: Henry Bacchus).» De realçar que a declaração da percipiente não ter nunca conhecido e não ter tido nunca a ideia do aspecto do defunto Dr. R..., admitindo-se assim a realidade objetiva da aparição, afastando a hipótese de um fenômeno de autossugestão alucinatória, provocado na Sra. Bacchus, pelo pen-samento desagradável de ter perto de si o cadáver da Senhora R... --------------------------------------------------------- 14 ------------------------------------------------------ A PORTA ESTREITA E A PORTA LARGA José Reis Chaves O Nazareno deixou-nos o grande ensinamento de que na Casa do Pai há várias moradas. E elas estão em qualquer parte do universo, portanto, a Terra é uma delas. E habitamos eternamente ne-las enquanto Espíritos que somos. Mas justamente porque somos imortais, nós já estamos na eternidade. Segundo alguns filósofos, entre eles Huberto Rohden, podemos dividir os indiví-duos, espiritualmente falando, em três categorias: profanos, virtuosos e iniciados. Profanos são aqueles desinteressados pelas coisas da área espiritual, embora não sejam necessariamente mate-rialistas propriamente ditos. Estão naquela fase de nem desejarem sequer, ainda, entrar pela chamada Porta Estreita, de que falam os Evangelhos. Todavia, vai chegar o dia em que eles vão despertar também para isso, mas por eles mesmos, como o personagem da Parábola do Filho Pródigo, pois Deus respeita o nosso livre-arbítrio que Ele próprio nos deu, deixando por conta nossa o quando, o onde e o como desse nosso despertar para as coisas do alto, do nosso Eu Inte-rior. A categoria dos virtuosos constitui-se dos espiritualistas que procuram por em prática os princípios do bem e da moral. Porém, praticam-nos com dificuldades, sacrificando a sua própria vontade. É a essa categoria que pertence a maioria de todos nós, que queremos passar pela Porta

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Estreita, mas só conseguimos, por enquanto, a passagem pela Porta Larga. Já a terceira categoria compõe-se de uns poucos indivíduos do tipo de Chico Xavier, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Luther King e Irmã Dulce da Bahia. Elas fazem o bem, prazerosamente, como quem está com fome e saboreia uma apetitosa comida. O Mestre disse que o seu jugo é suave. E essas pessoas sentem essa realidade, já vivenciando estes seus conselhos : “Se alguém lhe der um tapa no ros-to, apresente-lhe a outra face”. “Se alguém tomar-lhe a capa, dê-lhe também a túnica”. “Não re-sistais ao maligno”. Encontram-se elas já no estágio de inofendibilidade, isto é, neutralidade di-ante das ofensas que se lhes fazem. E, por isso, elas até nem têm nada que perdoar a ninguém, pois que ninguém consegue ofendê-las. E, obviamente, já têm passagem garantida pela Porta Es-treita, pois quase sempre elas estão voltadas para o mundo do seu Eu Interior, o mundo do Reino dos Céus, que lhes é bastante para a sua felicidade. Essas ideias de nossa evolução espiritual tra-zem subjacente em seu bojo a da reencarnação, ou seja, a de que, um dia, todos se salvarão, pen-samento este coincidente também com o da Igreja atual, de que a salvação é para todos, com o de parte do Islamismo (Sufismo e Bahaísmo) e, igualmente, com o das grandes religiões orientais, cujos adeptos representam cerca da metade da população da Terra. Com efeito, se isso não fosse também a Doutrina do Homem de Nazaré, Ele não se intitularia o Salvador do Mundo, mas, sim, só de meia dúzia de almas! E não poderia ser diferente, pois, se Deus quer que todos se salvem, o que poderia obstaculizar a sua vontade infinita? ---------------------------------------------------------- 15 ----------------------------------------------------- A PROCURA E O CONHECIMENTO O fato é apresentado pela grande Imprensa como novidade de ordem sociológica. Mas a verdade é que desde sempre o «homo sapiens» se preocupou em aprofundar as questões da sua origem, do seu papel no mundo. A sensibilidade mediúnica integra a natureza humana. Mas é inegável que uma boa integração no âmbito da cultura espírita lhe favorece muito os resultados. A ilação era originária do jornal francês «Le Monde». Reportava-se a um inquérito presente no decurso de um colóquio intitulado «O Pensamento Científico, os Cidadãos e as Paraciências». A partir de um grupo de 1500 pessoas, constituído por adultos. O questionário fora elaborado por Daniel Boy e Guy Michelat, sociólogos do Centro de Estudos sobre a Vida Política Francesa (CNRS). A sondagem destacava: 55% dos franceses creem na transmissão do pensamento (telepatia); 35% acreditam na possibilidade de prever pelos sonhos; 55% apontam as curas por imposição das mãos como sendo relativas aos passes magnéticos do curador; 46% vão pelos signos astrológi-cos. Os jovens rondam idades entre os 18 e os 35 anos. E os aficionados das «ciências margi-nais» situam-se, muitas vezes, na «geração ecológica». Inevitável salientar que 54% dos inquiri-dos se interessam pela ciência e declararam que, sem dúvida, no futuro dar-se-á a consagração das «ciências marginais», que trarão dados importantes. Na página referida ainda se colocavam questões destas: «Como conciliar dois sistemas de pensamento tão diversos? Estamos ou não en-tre dois mundos que se autoexcluem?». Curiosamente: A Inquisição, se bem que já moribunda, ainda se fazia sentir, no peso da sua tre-va, mais ou menos manifestada. Desde o século XIX que existiram movimentos de intelectuais, de cientistas que se confrontaram a epistemologia dominante. Entre eles, destaca-se Allan Kar-dec, o eminente pedagogo, homem profundamente atualizado e na vanguarda também dos co-nhecimentos científicos do seu tempo. Só assim se compreende a coerência do seu valoroso tra-balho de codificação do espiritismo, em meados do século passado, porque os Espíritos por si só não faziam tudo o que foi conseguido, essa doutrina que ainda hoje como seria de esperar se mantém adiante do momento evolutivo da Humanidade. E mesmo dos próprios espíritas, na opi-nião de respeitável autor: Herculano Pires. Verificando-se, com o espiritismo, a naturalidade dos fenômenos mediúnicos, passam a ser explicados à luz da razão e do bom senso. Mas isso era simples demais para um certo escol. E, no final desse mesmo século, um prêmio Nobel da fisio-logia, o francês Charles Richet, assessorado por outros cientistas, funda a metapsíquica. Aqui pouco mais se fez do que mudar a nomenclatura dos fenômenos medianímicos, constatá-los em experiências de controle científico rigoroso, sugerindo hipóteses explicativas que, na verdade,

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nada avançaram em relação às pesquisas espíritas. Mas houve uma nova e imensa onda de verifi-cação, de confirmação da existência do grande leque de fenômenos segredados, ocultados (e não ocultos), mas inquestionavelmente quotidianos. Por exemplo, de efeitos físicos (ectoplasmias, materializações parciais e totais, apport, poltergheist, etc.), de efeitos intelectuais (xenoglossia, transmissão do pensamento, premonições, etc.). Integrados nesta vaga, de memória ligeira lem-bramo-nos, esquecendo imensos, de alguns: na Inglaterra, Conan Doyle (o criador de Sherlock Holmes), William Crookes (eminente físico). Na Itália, por exemplo, César Lombroso, Gustav Geley, Ernesto Bozzano, Alexandre Aksakof, russo (na imagem). Na Alemanha, Friedrich Zol-ner. E o mais curioso é que quase todos se meteram a investigar os fenômenos mediúnicos no in-tuito de provar que eles eram uma fraude. Porém, ao reconhecerem-nos, tiveram a coragem de declarar publicamente a sua autenticidade. Homens de brilhante carreira na docência universitá-ria, e não só, perderam aparentemente (consideração acadêmica exceto a imensa que já tinham), a partir daí, graças às perseguições das forças dominantes. Mas revelaram-se gigantes, continu-ando a pesquisá-los até ao fim da sua existência terrena. Com o mesmo cuidado de rigor científi-co. Homens que estiveram muito à frente do seu tempo, e por isso foram postos à margem. A verdade é que, ainda hoje, vários dos seus livros continuam a ser editados em várias línguas, co-mo é o caso de Bozzano. Nos idos da década de 50, no nosso século, surge nos EUA Joseph Banks Rhine com a Parapsicologia. Aquilo a que Kardec chamara simplesmente transmissão do pensamento. Foi provada a sua existência, por novos métodos experimentais, como telepatia. E os fenômenos de dupla vista estudados pelo codificador do Espiritismo passaram a ser aceites como clarividência. Entretanto entrou num impasse. Cedeu lugar à psicobiofísica, à psicotrônica e a outras disciplinas. Repetir o que já foi feito, pela terceira vez, sem acrescentar novidade que se preze, dá cansaço. Ou não? Contradição aparente: Primeiro, há que falar com clareza. Os cientistas não são a ciência. Os primeiros são seres humanos, incluídos uns e outros enclausurados, num tempo histórico especí-fico. Os seres humanos, mesmo os mais cépticos, têm as suas crenças nos seus sistemas, uns nas suas verdades em progressão, outros nas suas verdadinhas. Eles passam, mas a ciência fica e evolui, numa busca incessante da verdade o mais depurada possível. O grande dilema surge quando os cientistas-seres humanos se julgam a própria ciência, e aí lançam sentenças, como sa-cerdotes alucinados em pleno gozo de uma pré-concepção superior da verdade - mesmo sem sa-berem do que estão a falar. Fazem-lhes perguntas e eles - não fica bem dizer que não sabem, se calhar - têm de responder, pensando que é isso o que o sistema lhes exige. É esta a política, com frequência, nos debates da televisão. Não se busca saber, aglomerar dados para investigar, busca-se ficar por cima, dar espetáculo. O comodismo do sistema onde dominam a hierarquia, julgando que isso durará sempre. E que o progresso lhes pedirá licença para prosseguir... O mito: O óbice manifesto surge quando os métodos científicos tradicionais caem num impasse perante tipologias fenomênicas que deveriam ser mais estudadas. Os fenômenos de ordem medi-única, falemos claramente, não acontecem sempre que se quer que eles ocorram. Já foi dito que são como um telefone que só toca de cá para lá. Não sucedem a esmo, pois carecem de condi-ções - como quaisquer outros -, por parte do médium e por parte do Espírito comunicante, há problemas de filtragem mediúnica também. Para os Espíritos desencarnados, os cientistas são apenas pessoas, limitadas como quaisquer outras, e têm mais que fazer do que perder tempo com quem porventura não demonstrar capacidades para realizar um bom trabalho de pesquisa. Contu-do, isso não obsta a que tenham tido paciência de Jó, dando provas da sua existência e interven-ção insuspeita em várias épocas da história da Humanidade. Desde a Antiguidade aos nossos di-as. Ignorância ou sobrenatural: Na óptica espírita, o sobrenatural não existe. Essa tem sido apenas uma palavra inventada por quem não consegue compreender a ocorrência racional de certos fe-nômenos e, por isso, apela - em pleno uso da sua imaginação - para algo onde pode meter tudo o que lhe convenha: o pobre do sobrenatural. Já no capítulo da Lógica, em filosofia, a minha pro-fessora ensinava indelevelmente, falando de Leibnitz e outros que tais, que, segundo o princípio da razão suficiente, todo o fenômeno com que deparemos é passível de ser explicado pela razão, possuindo um mecanismo seu produtor susceptível de ser percebido, após investigação. Outra coisa não fez e disse Allan Kardec, muito antes. Elaborou pesquisa, comparou, submeteu as co-

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municações mediúnicas ao controle universal das manifestações dos Espíritos, aplicou a razão e o bom senso. E aí está a codificação espírita, sólida, acessível para quem a quiser abordar. Um manancial de conhecimentos organizados, fruto de um trabalho metódico gigantesco, aí temos o espiritismo, essa doutrina que sem peias transpôs a mera constatação fenomênica, crescendo nos horizontes ético-filosóficos da Humanidade. In «Revista de Espiritismo» n.o 20 - 3.o trimestre 1993 ------------------------------------------------------------ 16 --------------------------------------------------- A REENCARNAÇÃO Mecanismo de justiça e evolução, a pluralidade das existências constitui uma das leis divinas. Indubitavelmente a reencarnação constitui-se em uma das crenças mais antigas da humanidade. Ponto comum a muitas religiões, a ideia da reencarnação é difundida sob as mais diversas for-mas. Reencarnar significa voltar à carne outra vez, nascer de novo; podemos conceituar então re-encarnação, como renascimento. Se fizermos uma análise desapaixonada do assunto, poderemos observar que a doutrina da reencarnação, é, entre todas as doutrinas filosóficas, aquela que me-lhor se pode aceitar nas bases de investigação de natureza científica. Já são muitos os cientistas que estudam a problemática reencarnacionista, dentre os quais podemos citar grandes pesquisa-dores como o Dr. Jan Stevenson da universidade de Virgínia, U.S.A.,o Dr. H. N. Banerjee, da Universidade da Índia, o Dr. Hernani Guimarães de Andrade, do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, de São Paulo e tantos outros não menos importantes, com boas obras publicadas, que destacam o caráter científico deste maravilhoso tema. Não podemos esquecer que dentro de uma análise religiosa, a reencarnação é a única doutrina que se mostra compatível com a Justiça de Deus. Diante da reencarnação caem por terra as arbitrariedades dogmáticas, as injustiças, os absurdos teológicos, os problemas psicológicos, as anomalias genéticas, as incongruências de na-tureza social; todas essas situações encontram uma resposta diretamente proporcional para com a dignidade humana, pois somente uma explicação plausível pode-se encontrar para tais situações: a reencarnação, que por dedução lógica é a resultante da lei de causa e efeito, ou seja, sabemos que o ser humano tem várias vidas e que cada vida é vivida como efeito das causas de outras vi-das; se assim não o fosse, a Justiça Divina seria completamente injusta. Dentro desse mesmo contexto religioso, vamos encontrar na Bíblia, no antigo testamento, indícios claros de que a re-encarnação já era conhecida também pelos israelitas, onde está escrito: “visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborreceram - Êxodo 20:5”. Po-demos entender, em outras palavras, que o sofrimento atual das pessoas é na maioria das vezes uma consequência direta dos erros cometidos no passado, que sensibilizaram as leis naturais; o resultado dessa sensibilização reflete-se diretamente no próprio infrator, que deverá em uma no-va existência adequar-se às mesmas leis que infringiu; para isso, volta várias vezes no mesmo círculo familiar. Sem fugir ainda deste contexto, vamos encontrar aqueles que combatem a reen-carnação, afirmando que esta não fazia parte dos ensinamentos do Cristo; esse posicionamento está equivocado, pois ao buscarmos no novo testamento, Mateus 11:14, vemos os discípulos per-guntarem ao Cristo: “esse é o Elias que há de vir? “ Ora! Elias tinha morrido há mais de quinhen-tos anos; essa pergunta seria uma insanidade se os discípulos não conhecessem a reencarnação. A crença na reencarnação era um conceito tão difundido no oriente próximo e médio que o povo a aceitava como algo perfeitamente normal; essa aceitação está tão explicita, que no caso do ho-mem cego de nascença, os discípulos chegam a ser contundentes. “Rabi, quem pecou, este ou os seus pais, para que nascesse cego? (João 9:1:12)”. O paralelo entre Elias e João o “Batista”, tão mal compreendido por irmãos de outras crenças, é muito rico em evidências reencarnacionistas; basta querer enxergar. Elias foi um homem de muita importância dentro do seu cenário histórico, visto que teve ele, uma grande ascendência na religião e na política de Israel, entre os anos de 874 a 853 a.C., período em que Achab governou Israel. O ponto alto dessa história começa com o Rei Achab, casando-se com Jezabel, filha do Rei Etibaal da Sidônia. Na Sidônia prestava-se culto ao deus Baal e Jezabel era uma adoradora desse deus; após seu casamento com Achab, ela entendeu que como rainha de Israel, poderia introduzir naquele país o culto ao deus Baal, o deus

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pagão de seu país de origem. Tal decisão atingiu em cheio as concepções religiosas dos israelitas e com isso Elias posicionou-se radicalmente contra essa inserção pagã, deflagrando uma guerri-lha pessoal contra Jezabel, que resultou em uma morte trágica da mesma, como está descrito em 2.o Reis 9:30/37: “Jeú, o general do Rei, a jogou de uma janela de uma torre do palácio e, ao cair seu corpo despedaçou-se, sendo devorado pelos cães; só lhe sobrando as palmas das mãos e a caveira.” Trezentos anos após a morte de Elias, o profeta Malaquias afirma em uma de suas pro-fecias que Elias iria voltar. “Eis que vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e ter-rível do Senhor.” Foram quase quinhentos anos para que essa profecia acontecesse, o que veio ocorrer ao tempo de Jesus; Elias reencarnou como João o “Batista”, comprovado pelo Cristo, em Mateus 11:14. Ao que tudo indica, a querela entre Elias e Jezabel não ficou lá muito bem resol-vida, pois, Elias, ao retornar como João o “Batista”, reencontra a inimiga do passado, Herodias. É impossível negar, as evidências são irrefutáveis entre os dois episódios, envolvendo Jezabel Herodias e Elias/João Batista. Vejamos: ambas casaram-se com Reis de Israel; Jezabel casou-se com Achab e Herodias com Herodes; as duas cometeram o mesmo “pecado”: ofenderam as leis religiosas de Israel, uma tentando introduzir culto ao deus Baal, a outra, cometendo o incesto, ao casar-se como cunhado. A primeira, foi perseguida por Elias e a segunda, por João Batista. Jeza-bel, que no primeiro episódio desencarnou de forma trágica, como Herodias, desta feita inverteu os papéis, induziu sua filha Salomé a convencer Herodes a ordenar a decapitação de João Batista, cuja cabeça foi entregue a Salomé em uma bandeja. Muita água rolou e, ao contrário do que mui-tos pensam, a crença na reencarnação foi aceita pela igreja cristã primitiva até o ano de 553 d.C, quando foi abolida pelo Quinto Conselho Ecumênico, reunido em Constantinopla, por três votos a dois. Posteriormente, o reverendo G. Nevin Drinkwater, um sacerdote católico liberal, esclare-ceu, que o Conselho jamais declarou que a reencarnação fosse herética; o fato é que, em um sí-nodo local, o Conselho condenou os ensinamentos que foram propostos por Orígenes, em suas obras De principiis e Confra Celsus; entretanto, o reverendo esclarece que a decisão do Concilio foi apenas local, não sendo assim compulsória, para toda a Igreja Universal1. Alguns estudiosos da Bíblia informam que após o Concílio, os textos do antigo e novo testamento, que referiam-se à reencarnação, foram considerados esotéricos, sendo decifráveis apenas pelos iniciados ou pelos que detinham o conhecimento para a interpretação das escrituras; dessa forma a reencarnação foi aos poucos caindo no esquecimento do povo e só nos séc. XII e XIII d.C, foi novamente difundi-da pelos cátaros (palavra de origem grega que significa “puro”), ou albigenses, devido à cidade de Albi. Além da crença na reencarnação, os cátaros não admitiam qualquer tipo de intermediá-rio entre o ser humano e Deus; essas crenças afrontavam diretamente os interesses da Igreja e do regime feudal; por isso passaram a ser perseguidos ferozmente pela Igreja Católica, que os con-siderava hereges. Apesar das tentativas das teologias tradicionais em abafar a crença na reencar-nação ao longo dos séculos, a Providência Divina não nos deixa órfãos de conhecimento e envia no tempo preciso, missionários como Allan Kardec, que vem revelar para a humanidade carente de conhecimentos coerentes, a doutrina da reencarnação, ensinada pelos Espíritos superiores, como um elemento pedagógico dentro do processo de evolução individual das criaturas. Quando, no desdobramento da questão 330 de “O Livro dos Espíritos”, o Codificador, evoluindo em seu raciocínio acerca da necessidade da reencarnação, pergunta aos Espíritos superiores: “a reencarnação é uma necessidade da vida espírita, como a morte é da vida corpórea?” Ao que os Espíritos lhes respondem sem rebuços: “Certamente, assim o é”. (1)- Revista Planeta “REENCARNAÇÃO” – 1.a edição Mar/85, extraído de Robertson, Church Histroy 1, pág. 157, e Hefele, History of the Councils of the Church IV, pág. 223. Bibliografia sugerida: 1- Hermínio C. Miranda — Os Cátaros e a Heresia Católica — Ed. La Châtre 2- A Bíblia de Jerusalém 3- Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - Ed. FEB 4- Revista Planeta “REENCARNAÇÃO” -Ed. Três — 1.a edição Mar/1985 ----------------------------------------------------------- 17 ---------------------------------------------------- O ARREPENDIMENTO

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Elio Mollo Na Moderna Enciclopédia Brasileira encontramos que: “o arrependimento é sentimento de pesar causado por violação de uma lei ou da conduta moral: resulta na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras violações. Essa é a definição da ética, e refere-se mais particular-mente à lei e à moral humanas. Segundo a religião (sobretudo segundo o Cristianismo) é o sen-timento de pesar que se apossa em virtude de falta cometida por atos, palavras ou pensamentos, os quais ela preferiria não ter praticado, dito ou concebido, e que a conduz ao propósito de mudar de atitude ou de comportamento e ao desejo de penitenciar-se. Na verdade, a simples disposição de evitar futuras violações, ou de penitenciar-se, cheio de unção e contrição, é de valor relativo. Válido sob todos os aspectos é o arrependimento que leva à reparação da falta cometida. Sentir-se pesaroso, bater o “mea culpa” e entregar-se a penitências pode ter, de fato tem um valor me-ramente subjetivo: ameniza a angústia do que errou. Mas o que realmente se espera é que este repare seu erro de modo objetivo: se por palavras ofendeu, busque o perdão do ofendido; se por atos causou dano ou destruiu, indenize o prejudicado, reconstrua o destruído; se por pensamentos desejou o mal ou prevaricou, conscientize-se disso fundamente, reeduque-se, conheça-se a si mesmo e moralmente se transforme para viver em paz com a própria consciência.” No Evangelho em Lucas 23:39-43, falando do “bom ladrão”, um dos malfeitores suspensos à cruz o insultava, dizendo: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Mas o outro, to-mando a palavra, o repreendia: “Nem sequer temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto a nós, é de justiça: estamos pagando por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em ver-dade, eu te digo, hoje estará comigo no Paraíso”. Não é útil “o somente arrepender-se” dos atos errados que fizemos até agora. É necessário refa-zer o caminho para acertar daqui para frente. Muitos de nós dizemos: eu errei, estou arrependido, muitas vezes até pedimos perdão, só que as coisas ficam por aí mesmo, não fazemos mais nada. Na Lei Universal de Deus, as coisas não podem ser dessa maneira, pois, como dizem os Espíritos superiores a Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos, q. 999”. “O arrependimento auxilia a me-lhora do Espírito, porém, o erro deve ser expiado”. Como podemos observar através da passagem do Evangelho de Lucas, a primeira impressão que temos é que Jesus ao dizer “eu te digo, hoje estará comigo no Paraíso” que o “bom ladrão” já es-taria livre de pagar o seu passado, porém, não é bem assim que se passa, pois como diz Emma-nuel no livro “Pão Nosso, com o tema no Paraíso”: “Naquela hora de sacrifício culminante, o “bom ladrão” rendeu-se incondicionalmente a Jesus-Cristo. O leitor do Evangelho não se infor-ma, com respeito aos porfiados trabalhos e às responsabilidades novas que lhe pesariam nos om-bros, de modo a cimentar a união com o Salvador, todavia, convence-se de que daquele momen-to em diante o ex-malfeitor penetrará o céu.” O “bom ladrão” entendeu as lições de Jesus, as res-ponsabilidades que lhe pesariam nos ombros, de modo que deveria refazer o caminho para ven-cer seus maus pendores, foi assim que ele compreendeu as palavras de Jesus, e com isso sentiu ânimo, confiança no futuro para mudar. Aquilo que poderia ser sofrimento para si, tornou-se es-perança, e Jesus compreendendo esse novo estado de ânimo nele, e vendo paz em sua alma, o le-vou a dizer, “hoje estarás comigo no Paraíso”. Daquela hora em diante, o “bom ladrão”, ao invés, de pensar em somente tirar as coisas dos seus semelhantes, iria agir diferente, numa maneira de refazer o seu passado delituoso, doando ao mundo os seus esforços de reconstrução. Com Pedro, também obtemos um bom ensinamento sobre o arrependimento, no anúncio da ne-gação e da conversão (Lucas 22:31-34): “Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos”. Disse ele: “Senhor, estou pronto a ir contigo à pri-são da morte”. Ele porém replicou: “Pedro, eu te digo: o galo não cantará hoje duas vezes sem que por três vezes tenhas negado conhecer-me”. E isso realmente acontece como podemos veri-ficar em Marcos, 14:66-72: Quando Pedro estava embaixo, no pátio, chegou uma das criaturas do sumo sacerdote. E, vendo a Pedro que se aquecia, fitou-o e disse: “Também tu estavas com Jesus Nazareno”. Ele, porém, negou, dizendo: “Não sei nem compreendo o que dizes”. E foi para fora, para o pátio anterior. E o galo cantou. E a criada, vendo-o, começou de novo a dizer aos

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presentes novamente: “Este é um deles!” Ele negou de novo! Pouco depois, os presentes nova-mente disseram a Pedro: “De fato, és um deles; pois és galileu”. Ele, porém, começou a maldizer e a jurar: “Não conheço esse homem de quem falais!” E, imediatamente, pela segunda vez, o ga-lo cantou. E Pedro se lembrou da palavra de Jesus que lhe havia dito: “Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes”. E começou a chorar. E Pedro arrependido chorou amarga-mente, porém, não desanimou, após a morte do Cristo, trabalhou arduamente para se modificar, trabalhou em prol de seus semelhantes, vivenciando as lições do Mestre e morrendo heroicamen-te por espalhar as Suas lições por onde andava. Como podemos verificar na q. 171 de “O Livro dos Espíritos”, os Espíritos superiores nos dizem que “o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento”. Assim, po-demos concluir que Deus também nos oferece todas as ferramentas necessárias para refazermos o caminho, e buscarmos a nossa felicidade. ----------------------------------------------------------- 18 ---------------------------------------------------- AS CONTRADIÇÕES DE ORIGEM ESPÍRITA Rogério Coelho ”Os Espíritos Superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo”. Allan Kardec (1) Com relação às contradições que às vezes podemos observar no ensino dos Espíritos aos seres humanos, cumpre dar atenção a algumas nuanças desse comércio, cada vez mais intenso entre os dois mundos: Carnal e Espiritual. Essas nuanças não foram negligenciadas pelo Codificador que inseriu em “O Livro dos Espíritos” e em “O Livro dos Médiuns”, algumas importantes observa-ções que passaremos a realçar. Ensina, então, o Mestre Lionês (2): ”Para se compreender a causa e o valor das contradições de origem espírita, é preciso estar-se identificado com a natureza do mundo Invisível e tê-lo estudado por todas as suas faces. À primeira vista, parecerá estranho que os Espíritos não pensem todos da mesma maneira, mas isso não pode surpreender a quem quer que se haja compenetrado de que infinitos são os graus que eles têm de percorrer antes de chegarem ao cimo da evolução. Supor-lhes igual apreciação das coisas fora imaginá-los todos do mesmo nível; pensar que todos devem ver com justeza, fora admitir que todos já chegaram à perfeição, o que não é exato e não o pode ser, desde que se con-sidere que eles não são mais do que a Humanidade despida do envoltório corporal. Podendo ma-nifestar-se Espíritos de todas as categorias, resulta que suas comunicações trazem o cunho da sua ignorância ou do saber que lhes seja peculiar no momento, o da inferioridade, ou da superiorida-de moral que alcançaram. A distinguir o verdadeiro do falso, o bom do mau, é aí que devem conduzir as instruções que temos dado. Cumpre não esqueçamos que, entre os Espíritos, há, co-mo entre os seres humanos, falsos sábios e semissábios, orgulhosos, presunçosos e sistemáticos. Como só aos Espíritos perfeitos é dado conhecerem tudo, para os outros há, do mesmo modo que para nós, mistérios que eles explicam à sua maneira, segundo suas ideias, e a cujo respeito po-dem formar opiniões mais ou menos exatas, que se empenham, levados pelo amor-próprio, por-que prevaleçam e que gostam de reproduzir em suas comunicações. O erro está em terem alguns de seus intérpretes esposado mui levianamente opiniões contrárias ao bom senso e se haverem feito editores responsáveis delas. Assim, as contradições não derivam de outra causa, senão da diversidade, quanto à inteligência, aos conhecimentos, ao juízo e à moralidade, de alguns Espíri-tos que ainda não estão aptos a tudo conhecerem e tudo compreenderem”. No mesmo livro e ca-pítulo, dois itens à frente (301), Allan Kardec alinha algumas indagações e obtém esclarecedoras respostas: 1.a - Comunicando-se em dois Centros diferentes, pode um Espírito dar-lhes, sobre o mesmo ponto, respostas contraditórias? Resposta: “Se nos dois Centros as opiniões e ideias diferirem, as respostas poderão chegar-lhes desfiguradas, por se acharem eles sob a influência de diferentes colunas de Espíritos. Então não é a resposta que é contraditória, mas a maneira por que é dada”.

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2.a - Concebe-se que uma resposta pode ser alterada; mas, quando as qualidades do médium ex-cluem toda ideia de má influência, como se explica que Espíritos Superiores usem de linguagens diferentes e contraditórias sobre o mesmo assunto, para com pessoas perfeitamente sérias? Resposta: “Os Espíritos realmente superiores jamais se contradizem e a linguagem de que usam é sempre a mesma, com as mesmas pessoas. Pode, entretanto, diferir, de acordo com as pessoas e os lugares. Cumpre, porém, se atenda que a contradição, às vezes, é apenas aparente; está mais nas palavras do que nas ideias; portanto, quem reflita verificará que a ideia fundamental é a mesma. Acresce que o mesmo Espírito pode responder diversamente sobre a mesma questão, se-gundo o grau de adiantamento dos que o evocam, pois nem sempre convém que todos recebam a mesma resposta, por não estarem todos igualmente adiantados. É exatamente como se uma cri-ança e um sábio te fizessem a mesma pergunta. De certo, responderíeis a uma e a outro de modo que te compreendessem e ficassem satisfeitos. As respostas, nesse caso, embora diferentes, seri-am fundamentalmente idênticas”. 3.a - Com que fim Espíritos sérios, junto de certas pessoas, parecem aceitar ideias e preconceitos que combatem junto de outras? Resposta: “Cumpre nos façamos compreensíveis. Se alguém tem uma convicção bem firmada sobre uma doutrina, ainda que falsa, necessário é que lhe tiremos essa convicção, mas pouco a pouco. Não é de bom alvitre atacar bruscamente os preceitos. Esse é o melhor meio de não ser ouvido. Os Espíritos apropriam sua linguagem às pessoas, como tu mesmo farás, se fores um orador mais ou menos hábil. 4.a - As contradições, mesmo aparentes, podem lançar dúvidas no Espírito de algumas pessoas. Que meio de verificação se pode ter, para conhecer a Verdade? Resposta: “Estudai, comparai, aprofundai... Incessantemente vos dizemos que o conhecimento da Verdade só a esse preço se obtém. A missão dos Espíritos é destruir o erro, mas isso não se pode efetuar senão gradativamente”. 5.a - De todas as contradições que se notam nas comunicações dos Espíritos, uma das mais fri-santes é a que diz respeito à reencarnação. Como se explica que nem todos os Espíritos a ensi-nem? Resposta: “Não sabeis que há Espíritos cujas ideias se acham limitadas ao presente, como se dá com muitos seres humanos na Terra? Julgam que a condição em que se encontram tem que durar sempre. Nada veem além do círculo das suas percepções e não se preocupam com o saberem donde vêm, nem para onde vão. Sabem que o Espírito progride, mas de que maneira? Têm isso como um problema. (...) Se dissidências capitais se levantam, quanto ao princípio mesmo da Doutrina, de uma regra certa dispondes para as apreciar: A melhor doutrina é a que satisfaz ao coração e à razão e a que mais elementos encerra para levar os seres humanos ao bem. Essa eu vo-lo afirmo, é a que preva-lecerá”. Continuando os esclarecimentos, pondera, ainda, o Mestre Lionês(3): “Das causas seguintes po-dem derivar-se as contradições que se notam nas comunicações espíritas: da ignorância de certos Espíritos; do embuste dos Espíritos inferiores que, por malícia ou maldade, dizem o contrário do que disse algures o Espírito cujo nome usurpam; da vontade do próprio Espírito, que fala segun-do os tempos, os lugares e as pessoas, e que pode julgar conveniente não dizer tudo a toda gente; da insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas do mundo incorpóreo; da insufici-ência dos meios de comunicação, que nem sempre permitem ao Espírito expressar todo o seu pensamento; enfim, de interpretação que cada um pode dar a uma palavra ou a uma explicação, segundo suas ideias, seus preconceitos, ou o ponto de vista donde consideram o assunto. Só o es-tudo, a observação, a experiência e a isenção de todo sentimento de amor-próprio podem ensinar a distinguir estes diversos matizes. A contradição, ademais, nem sempre é tão real quanto possa parecer. Pueril, portanto, seria apontá-la onde frequentemente só há diferença de palavras”. Fe-chando a questão das contradições, elucida o ínclito filho de Lyon (4); “(...) O argumento supre-mo deve ser a razão. A moderação garantirá a vitória da verdade contra as diatribes envenenadas pela inveja e o ciúme. Os bons Espíritos só pregam a união e o amor ao próximo, e jamais um pensamento malévolo ou contrário à caridade pode provir de fonte pura”.

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Atentemos para as seguintes palavras de Agostinho (4): “(...) Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram a partilha do mundo? Julgai-o pelas su-as obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio ou a violência; jamais estimularam os ódios de parti-dos, nem a sede de riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, hu-manitários e benevolentes para com todos, esses os seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que Este indicou para chegarem até Ele”. 1 - Kardec, A. in “O Livro dos Espíritos” - Introdução, § XIV 3 - Kardec, A. in “O Livro dos Médiuns” - Capítulo XXVII, item 302 4 - Kardec, A. in “O Livro dos Espíritos” - Conclusão, § IX ----------------------------------------------------------- 19 ---------------------------------------------------- AS FAMÍLIAS ESPÍRITAS José Lucas O dia decorria com naturalidade e normalidade, numa tarde soalheira de Verão, quando uma adolescente nos pergunta com a rapidez e frontalidade características da sua faixa etária: «As famílias espíritas são diferentes? Pensei que eram diferentes, que todos se dessem muito bem e que nunca tivessem problemas, afinal, são como as outras... no entanto a minha família está mui-to melhor desde que conheceu o espiritismo. É assim?» Depois da surpresa da pergunta, quando o pensamento estava bem longe, talvez nos motivos do Verão, como a praia ou outro assunto com ele relacionado, não pudemos deixar de verificar a pertinência de tão arguta observação por parte de uma adolescente. Aproveitando a oportunidade lá lhe explicamos que as famílias espíritas são pessoas que apenas adotaram o espiritismo (ou doutrina espírita) como filosofia de vida, mas que continuam a ser pessoas, com as suas virtudes e defeitos, com os seus problemas existenciais como toda a gente, bem como que em muitas famílias acontece inclusive que um dos cônjuges é espírita e o outro não, sem que isso signifique qualquer motivo de problema no lar. O espiritismo, ou doutrina espírita explica-nos que somos seres imortais que estamos temporari-amente num corpo carnal, objetivando o nosso crescimento pessoal nesta existência corpórea (reencarnação). Assim sendo, somos Espíritos que caminhamos de reencarnação em reencarna-ção buscando novas experiências, nova aprendizagem, objetivando um dia sermos Espíritos pu-ros. Os Espíritos agrupam-se em famílias espirituais, isto é, grupos de Espíritos mais ou menos numerosos que se encontram na mesma faixa evolutiva. São os chamados Espíritos simpáticos, ou Espíritos que simpatizam entre si, que sentem afinidade entre si, derivada da sintonia vibrató-ria em que se encontram, na mesma faixa evolutiva. Quando voltam à Terra, esses Espíritos per-tencentes a uma determinada família espiritual podem estar reencarnados em vários locais, cida-des, países. Podem por vezes encontrar alguns desses companheiros na sua própria família car-nal, outras vezes encontram-nos mais facilmente fora da mesma. A família carnal funciona como que um pequeno laboratório onde se transmutam os sentimentos, objetivando a paz interior, a tranquilidade íntima, onde podemos encontrar seres amigos ou inimigos provenientes do nosso passado. Nesse sentido, as famílias carnais são passageiras, mudam de acordo com a necessidade evolutiva de cada um, podendo numa próxima reencarnação voltarmos juntos de novo ou não. O verdadeiro laço familiar é pois o laço pelo Espírito, pelos sentimentos e não o laço do sangue. Nesse sentido a família afigura-se como abençoada escola onde se encontram amigos do passado para se apoiarem mutuamente e em conjunto aprenderem, e inimigos do passado para através dos laços de sangue aos poucos irem diluindo as clivagens que criaram em vidas anteriores. Assim surgem as simpatias naturais com este ou aquele familiar e as antipatias naturais com um ou ou-tro membro da família. Curiosamente a jovem amiga já nos tinha dado a resposta na sua oportuna intervenção, ao dizer que desde que conhecem o espiritismo, o ambiente familiar está muito melhor, os pais já nãos discutem tanto, notando-se uma franca melhoria no relacionamento interpessoal familiar. Esse é o objetivo da doutrina espírita, que não sendo mais uma religião nem mais uma seita, afigura-se

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como uma doutrina que fornece ao ser humano conceitos lógicos e pesquisáveis sobre a existên-cia humana neste planeta, fornecendo-lhe pistas fundamentadas sobre quem é, de onde vem e pa-ra onde vai no concerto da vida eterna, no universo. Nesse sentido a doutrina espírita leva o ser humano a interrogar-se, e a modificar-se interiormente no sentido de ter uma postura ética, favo-recendo assim a paz, o relacionamento saudável entre todos e a harmonia social. «O Livro dos Espíritos» de Allan Kardec --------------------------------------------------------- 20 ----------------------------------------------------- A SIGNIFICATIVA DIFERENÇA ENTRE CRER E TER FÉ Adolfo Guimarães “Se o Espírito humano não está sintonizado com o Espírito de Deus, ele não tem fé, embora tal-vez creia.” O notável professor, filósofo e humanista brasileiro, Huberto Rohden, em um de seus oportunos comentários inseridos no livro “A Mensagem Viva do Cristo”, obra que compreende a tradução feita por ele mesmo dos quatro evangelhos, diretamente do grego do primeiro século, convida-nos a refletir sobre a significativa distinção entre crer e ter fé. Para ele, a não compreensão dessa questão tem deturpado a teologia e trazido enorme prejuízo à mensagem do Cristo ao longo des-ses 2000 anos. Escreve ele: “Desde os primeiros séculos do Cristianismo, quando o texto grego do Evangelho foi traduzido para o latim, principiou a funesta identificação de crer com ter fé. A palavra grega para fé é pistis, cujo verbo é pisteuein . Infelizmente, o substantivo latino fides, o correspondente a pistis, não tem verbo e assim, os tradutores latinos se viram obrigados a recorrer a um verbo de outro radical para exprimir o grego pisteuein, ter fé. O verbo latino que substituiu o grego pis-teuein é credere, que em português deu crer . Nenhuma das cinco línguas neo latinas — portu-guês, espanhol, italiano, francês, rumeno — possui verbo derivado do substantivo fides; fé; todas essas línguas são obrigadas a recorrer a um verbo derivado de credere. Ora, a palavra pistis ou fides significa originariamente harmonia, sintonia, consonância. Ter fé é estabelecer ou ter sinto-nia, harmonia entre o Espírito humano e o Espírito divino.” Se o Espírito humano não está sintonizado com o Espírito de Deus, ele não tem fé, embora talvez creia. Para o ilustre filósofo aí está um dos maiores problemas que em muito vem prejudicando a teologia e, para explicar a diferença de significado entre uma coisa e outra, estabelece Rohden o seguinte paralelo ilustrativo: “Um receptor de rádio só recebe a onda eletrônica emitida pela es-tação emissora, quando o receptor está sintonizado ou afinado perfeitamente com a frequência da emissora. Se a emissora, por exemplo, emite uma onda de frequência 100, o meu receptor só re-age a essa onda e recebe-a quando está sintonizado com a frequência 100. Só neste caso, o meu receptor tem fé , fidelidade, harmonia; fideliza com a emissora”. Dentro desse contexto, “se o Espírito humano não está sintonizado com o Espírito de Deus, ele não tem fé, embora talvez creia. Esse ser humano pode, em teoria, aceitar que Deus existe e, ape-sar disso, não ter fé. Ter fé é estar em sintonia com Deus, tanto pela consciência como também pela vivência, ao passo que um ser humano sem sintonia com Deus pela consciência e pela vi-vência, pela mística e pela ética, pode crer vagamente em Deus. Crer é um ato de boa vontade; ter fé é uma atitude de consciência e de vivência”, argumenta o professor Rohden. Salvação não é outra coisa senão a harmonia da consciência e da vivência com Deus. Para ele, a conhecida frase “quem crer será salvo, quem não crer será condenado”, é absurda e blasfema no sentido em que ela é geralmente usada pelos teólogos. No entanto, “se lhe dermos o sentido ver-dadeiro “quem tiver fé será salvo” ela está certa, porque salvação não é outra coisa senão a har-monia da consciência e da vivência com Deus”. Em sua opinião de sincero buscador, erudito e filósofo espiritualista “a substituição de ter fé por crer há quase 2000 anos, está desgraçando a teologia, deturpando profundamente a mensagem do Cristo”. “A Mensagem Viva do Cristo”, Huberto Rohden, Alvorada, 4.a edição.

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---------------------------------------------------------- 21 ----------------------------------------------------- A SOLIDARIEDADE ENTRE O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO Rogério Coelho “(...) O Espiritismo põe em relevo a necessidade da melhoria individual, e por meio dele sabe o ser humano donde vem, por que está na Terra, para onde vai”. Allan Kardec. Aprendemos com o insigne Mestre Lionês que, Jesus, em quase todos os momentos de Sua Vida, passava, junto com as imorredouras lições, a noção da “Vida Futura”, realçando com muita cla-reza a solidariedade existente entre o passado, o presente e o futuro, chegando mesmo a declarar que “a cada um será dado de acordo com as suas obras”. (Mt., 16:27.) Portanto, a meta a que a Humanidade irá ter e pela qual deve se preocupar desde já, é a Vida Fu-tura. Aliás, cinco séculos antes do nascimento do Meigo Zagal Celeste, Sócrates, que – inspira-damente – recebia as transcendentes informações do Mais Alto, através de seu “daimon”, (leia-se guia espiritual), já nos alertava: “Desde que a alma é imortal, não será prudente viver visando a Eternidade?” A cogitação em torno da Vida Futura é de tão vital importância que Kardec praticamente abre “O Evangelho Segundo o Espiritismo” com essa proposição, vez que todo o segundo capítulo da re-ferida obra baseia-se nos tempos vindouros. Entre outras importantes informações ali insertas temos estas: “(...) Com o Espiritismo, a Vida Futura deixa de ser simples artigo de fé, mera hipó-tese; torna-se uma realidade material, que os fatos demonstram, porquanto são testemunhas ocu-lares os que a descrevem nas suas fases todas e em todas as suas peripécias, e de tal sorte que, além de impossibilitarem qualquer dúvida a esse propósito, facultam à mais vulgar inteligência a possibilidade de imaginá-la sob seu verdadeiro aspecto, como toda gente imagina um país cuja pormenorizada descrição leia. Ora, a descrição da Vida Futura é tão circunstanciadamente feita, são tão racionais as condições, ditosas ou infortunadas, da existência dos que lá se encontram, quais eles próprios pintam, que cada um, aqui, a seu mau grado, reconhece e declara a si mesmo que não pode ser de outra forma, porquanto, assim sendo, patente fica a verdadeira justiça de Deus”. Mais adiante lemos: “(...) O Espiritismo dilata o pensamento e rasga horizontes novos. Em vez dessa visão, acanhada e mesquinha, que o concentra na Vida atual, que faz do instante que vive-mos na Terra único e frágil eixo do porvir eterno, ele, o Espiritismo, mostra que esta Vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do Criador. Mostra a solidariedade que conjuga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os se-res de todos os mundos. Faculta assim uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, en-quanto a doutrina da criação da alma por ocasião do nascimento de cada corpo torna estranhos uns aos outros todos os seres. Essa solidariedade entre as partes de um mesmo todo explica o que inexplicável se apresenta, desde que se considere apenas um ponto. Esse conjunto, ao tempo do Cristo, os seres humanos não o teriam podido compreender, motivo por que ele reservou para ou-tros tempos o fazê-lo conhecido”. Em suas derradeiras anotações, hoje integradas ao extraordinário livro “Obras Póstumas”, Kar-dec consignou: “(...) Com a fé na Vida Futura, dilata-se o círculo das ideias da Humanidade; o porvir lhe pertence, o progresso pessoal tem um fim, uma utilidade real. Da continuidade das re-lações entre os seres humanos nasce a solidariedade; a fraternidade se funda numa lei da Nature-za e no interesse de todos. A crença na Vida Futura é, pois, elemento de progresso, porque esti-mula o Espírito; somente ela pode dar ao ser humano coragem nas suas provas, porque lhe forne-ce a razão de ser dessas provas, perseverança na luta contra o mal, porque lhe assina um objeti-vo. A formar essa crença no espírito das massas é, portanto, o em que devem aplicar-se os que a possuem. (...) Para que a doutrina da Vida Futura doravante dê os frutos que se devem esperar, é preciso, antes de tudo, que satisfaça completamente à razão; que corresponda à ideia que se faz da sabedoria, da justiça e da bondade de Deus; que não possa ser desmentida de modo algum pe-la Ciência. É preciso que a Vida Futura não deixe no Espírito nem dúvida, nem incerteza; que se-ja tão positiva quanto a Vida presente, que é a sua continuação, do mesmo modo que o amanhã é a continuação do dia anterior. É necessário seja vista, compreendida e, por assim dizer, tocada

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com o dedo. Faz-se mister, enfim, que seja evidente a solidariedade entre o passado, o presente e o futuro, através das diversas existências. Tal a ideia que da Vida Futura apresenta o Espiritismo. O que a essa ideia dá força é que ela absolutamente não é uma concepção humana com o mérito apenas de ser mais racional, sem contudo oferecer mais certeza do que as outras. É o resultado de estudos feitos sobre os testemunhos oferecidos por Espíritos de diferentes categorias, nas suas manifestações, que permitiram se explorasse a Vida extracorpórea em todas as suas fases, desde o extremo superior ao extremo inferior da escala dos seres. As peripécias da Vida Futura, por conseguinte, já não constituem uma simples teoria, ou uma hipótese mais ou menos provável: decorrem de observações. São os habitantes do mundo invisível que vêm, eles próprios, descre-ver os seus respectivos estados, e há situações que a mais fecunda imaginação não conceberia, se não fossem patenteadas aos olhos do observador. Ministrando a prova material da existência e da Imortalidade do Espírito, iniciando-nos em os mistérios do nascimento, da morte, da vida futura, da vida universal, tornando-nos palpáveis as inevitáveis consequências do bem(certo) e do mal(errado), a Doutrina Espírita, melhor do que qualquer outra, põe em relevo a necessidade da melhoria individual. Por meio dela, sabe o ser humano donde vem, para onde vai, por que está na Terra; o bem(certo) tem um objetivo, uma utilidade prática. Ela não se limita a preparar o ser humano para o futuro, forma-o também para o presente, para a sociedade. “Melhorando-se mo-ralmente, os seres humanos prepararão na Terra o reinado da paz e da fraternidade”. 1 - Kardec, A. “Obras Póstumas” – 2.a parte – “Credo Espírita” - FEB 2 - Kardec, A. “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Cap. II, item 2 - FEB 3 - Kardec, A. “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Cap. II, item 3 - FEB 4 - Kardec, A. “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Cap. II, item 7 - FEB --------------------------------------------------------- 22 ------------------------------------------------------ AS PROVAS DA SOBREVIVÊNCIA DO ESPÍRITO Paulo da Silva Neto Sobrinho Prefiro entrar na questão sem nenhuma noção preconcebida, quanto ao que pode ou que não po-de ser, mas com todos os meus sentidos alertados e prontos para transmitir informações racio-nais, acreditando que não temos, de modo algum, esgotado todo o conhecimento humano ou gal-gado todos os degraus do conhecimento humano e das forças físicas. (CROOKES) Introdução Temos ouvido a opinião desfavorável de algumas pessoas a respeito das provas científicas da so-brevivência do Espírito, que, seguramente, podemos afirmar que não têm a mínima ideia do que estão falando. Entre os quais encontramos determinados indivíduos que apesar de pousarem co-mo cientistas, verificamos que, na verdade, defendem interesses próprios, já que um cientista ho-nesto só fala do que viu. E temos, por nós, que o verdadeiro cientista também só afirma que algo não pode ocorrer quando teve o cuidado de pesquisar exaustivamente o assunto. Por outro lado, quando, em ocasiões oportunas, são chamados a dar um parecer sobre determinado tema, só fa-lam do que sabem e nunca tentam ridicularizar os que o pesquisaram. Mas infelizmente, não é o que vemos aí pelas telinhas da TV. O cientista William Crookes. É necessário primeiro dizer de quem se trata esse cidadão, já que poderá acontecer de alguém não saber quem ele é. “Considerado como um dos mais persistentes e corajosos pesquisadores dos fenômenos espíritas e o maior químico da Inglaterra, William Crookes nasceu em Londres, no dia 17 de junho de 1832 e desencarnou na mesma cidade, no dia 4 de abril de 1919”. “Estudou no ‘Colégio de Química’, onde foi aluno brilhante, alcançando o cargo de professor substituto no ‘Colégio Real’ e, posteriormente, foi inspetor da Seção de Me-teorologia do Observatório de Redcliffe. Aos 23 anos, no ano de 1855, assumiu a Cadeira de Química na Universidade de Chester. Após alguns anos, em 1861, ficou bastante conhecido quando descobriu os raios catódicos e isolou o Tálio, determinando suas propriedades físicas. Em 1872, após prolongados estudos do espectro solar, descobriu a aparente ação repulsiva dos raios luminosos, fato que o levou à construção do Radiômetro, em 1874. Em 1885 descobriu um novo tipo de processamento do ouro. A existência do quarto estado da matéria, a que denominou

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‘estando radiante’, foi por ele determinada no ano de 1879. Por essa última descoberta, foi am-plamente recompensado pela Academia de Ciências da França”. “Em virtude de seus feitos cien-tíficos, recebeu muitos prêmios como a Medalha de Ouro da Sociedade Real, em 1875; a Meda-lha Davy, em 1888 e a Medalha de ‘Sir’ J. Coprey, em 1904. Esse último galardão foi pelas suas relevantes contribuições no campo da Física e da Química”. “Foi nomeado ‘Cavalheiro’ pela Ra-inha Vitória, da Inglaterra, em 1897. A Condecoração da Ordem do Mérito foi-lhe outorgada em 1910. Fundou os periódicos ‘Chemical News’ e ‘Quarterly Journal of Science’. Foi presidente de diversas sociedades científicas, tais como a ‘Sociedade Real de Química’, ‘Instituto de Engenha-ria Elétrica’ e da ‘Sociedade de Investigações Psíquicas’”. “Não é difícil encontrar dados sobre a vida de William Crookes, as mais completas enciclopédias trazem sua biografia e, mais recente-mente, a T. Fisher Unwin LTD (Londres) lançou o livro de Fournier: ‘The Life of Sr William Crookes’. Como homem de ciência publicou várias obras: em 1870 saiu ‘Métodos Escolhidos de Análise Química’; em 1880, ‘Fabricação do Açúcar de Beterraba na Inglaterra’; em 1881, ‘Ma-nual de Tintura e Impressão nos Tecidos’; em 1883, ‘Manual de Tecnologia: Solução das Ques-tões dos Enxurros’; em 1885, ‘Maneira de Estabelecer um Sistema de Canalização Vantajosa’. Seguem alguns trabalhos interessantes publicados em diversos compêndios ingleses: 1- ‘Aplica-ção da Fotografia no Estudo de certos Fenômenos de Polarização’; 2 – ‘Sobre a Sensibilidade do Iodeto e Brometo de Prata à Luz Colorida’; 3 – ‘Pesquisas Fotográficas sobre o Espectro’; 4- ‘Sobre a Fotografia da Luz’; 5 – ‘Sobre a Opacidade da Chama Amarela do Sódio para os Raios desta cor’; 6 – ‘Sobre Novos Elementos Supostos da Família do Cálcio’; 7 – ‘Sobre um Novo Elemento Pertencente Provavelmente ao Grupo do Enxofre’; 8 – ‘Memórias e Notas sobre o Tá-lio’; 9 – ‘Notas sobre a Cristalização da Glicerina’; 10 – ‘Pesquisa Experimental sobre uma nova Força’; 11 – ‘Novas Experiências sobre a Força Psíquica’; 12 – ‘Notas sobre o Radiômetro’; 13 – ‘Foco de Calor Produzido pelos Choques Moleculares’; 14 – ‘Sobre a Constituição da Matéria e o Estado Ultra-Gasoso’; 15 – ‘Sobre a Matéria Radiante’; 16 – ‘ Dos Espectros Fosforescentes Descontínuos no Vácuo quase Perfeito’; 17 – ‘Estudos Espectroscópicos sobre a Matéria Radian-te’; 18 – ‘Os caracteres Espectroscópicos dos Corpos Simples”. “Essas citações apenas dão uma ideia da capacidade científica de Crookes, sua inteligência, sua dedicação, seus métodos e sua posição de alta respeitabilidade nas sociedades científicas de sua época, além da confiança do povo em suas afirmações após ter pesquisado um assunto, a ponto de afirmarem com grande res-peito que, se Crookes iria cuidar dos fatos espiritistas, logo ter-se-ia a verdade dos fatos”. (PA-LHANO, 1996). Essas informações são necessárias, pois, volta e meia, aparecem esses pseudocientistas que sem base científica alguma, procuram contradizer as experiências de Crookes. Como diz Kardec “O verdadeiro crítico deve provar não somente erudição, mas um saber profundo no que concerne ao objeto que trate, um julgamento sadio, e de uma imparcialidade a toda prova; de outro modo, qualquer rabequista poderia se arrogar o direito de julgar Rossini, e um aprendiz de pintura o de censurar Rafael”. Deixamos essas informações sobre Crookes para que o leitor possa compará-las com o currículo desses pseudocientistas. Trataremos neste estudo de suas experiências psí-quicas. Experiências com o médium Home: Em “Pesquisas Experimentais Sobre uma Nova Força”, Crookes expõe suas observações a respeito de suas pesquisas com o médium Daniel Dunglas Home. Transcreveremos alguns trechos que julgamos mais importantes para o presente estudo. São eles: “... Assim, uma vez que as condições convenientes se apresentaram, aproveitei-as com satisfação para aplicar a estes fenômenos a experiência científica cuidadosamente controlada, chegando as-sim, a resultados preciosos que acho dignos de publicação”. “De todas as pessoas dotadas do poder de desenvolver essa “força psíquica”, e que são chamados ‘médiuns’, o Sr. Daniel Dunglas Home é, sem dúvida, a mais extraordinária. E é principalmente devido às muitas ocasiões em que estive, para fazer pesquisas, em sua presença que tenho sido levado a poder afirmar de maneira tão veemente a existência dessa “força”. Muitas foram as ten-tativas que fiz; mas devido ao conhecimento imperfeito das condições que favorecem ou contra-riam as manifestações da “força”, da maneira caprichosa, aparentemente, como ela se manifesta, e pelo fato de que o Sr. Home está sujeito à inexplicáveis fluxos e refluxos dessa “força”, é que

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raramente os resultados obtidos puderam ser confirmados e controlados com aparelhos construí-dos para esse fim em especial”. “Entre os fenômenos que se produziram sob a influência do Sr. Home, os mais frequentes e, ao mesmo tempo, os que se prestavam melhor ao exame científico, foram: 1.o) a alteração de peso dos corpos; 2.o) a execução de melodia em instrumentos de música (geralmente com acordeão, por causa da facilidade de transporte) sem intervenção humana direta, e em condições que torna-ram impossível todo contato ou toda manipulação das chaves. Não é senão após ter sido frequen-temente testemunha destes fatos e de os haver escrutado com todo o rigor do qual eu sou capaz, que estou convencido de sua realidade concreta”. (PALHANO, 1996). Dentro daquilo que queremos apresentar, iremos, apenas mostrar como foram algumas dessas experiências que Crookes fez com o Sr. Home, notadamente a citada no segundo item: execução de instrumento musical. Vejamos o que nos relata Crookes, acerca dela. “Minhas experiências foram feitas em minha própria casa, à noite, num amplo espaço iluminado à luz de gás. Os aparelhos preparados com a finalidade de constatar os movimentos do acordeão consistiam em uma gaiola, formada por dois arcos de madeira, respectivamente de diâmetro de um pé e dez polegadas (55,86 cm) e de dois pés (60, 96 cm), reunidos por doze ripas estreitadas, cada uma de um pé e dez polegadas de comprimento, de modo a formar a estrutura de uma espé-cie de tambor aberto em cima e em baixo. Ao redor, 50 metros de fios de cobre, isolados, que fo-ram enrolados em 24 voltas; cada uma dessas voltas encontrando-se a menos de uma polegada de distância uma da outra”. “Esses fios de metal, horizontais, foram então solidamente reatados junto com cordas, de modo a formar malhas fechadas. A altura desta gaiola era tal que ela podia passar sob a mesa de minha sala de jantar, mas ela estava muito próxima, pela altura, para permitir a uma mão introduzir-se no seu interior ou a um pé passar por baixo. Em um quarto vizinho, eu havia colocado duas pi-lhas de Grove, de onde partiam filhos elétricos que conduziam à sala de jantar, para estabelecer a comunicação, se houvesse necessidade, com aqueles que estavam próximos da gaiola”. “O acordeão era novo, eu o havia comprado para essas experiências, em um bazar. O Sr. Home não havia visto ou tocado o instrumento antes do começo de nossos trabalhos...”. “... Depois de abrir, com minhas mãos, a chave da parte baixa do instrumento, retirou-se de sob a mesa, a gaiola, o quanto bastou para ser nela introduzida o acordeão com as chaves voltadas para baixo. A gaiola foi depois empurrada para debaixo da mesa, tanto quanto permitiu o braço do Sr. Home, mas sem lhe ocultar a mão aos que estavam perto dele. Os que estavam de cada lado vi-ram o acordeão balançando-se de maneira curiosa; depois desprenderam-se dele alguns sons, e, finalmente, muitas notas foram tocadas sucessivamente; meu ajudante agachou-se sob a mesa, disse-nos que o acordeão alongava-se e encolhia-se; ao mesmo tempo podia ser observado que a mão com a qual o Sr. Home segurava o acordeão estava completamente imóvel e que a outra re-pousava sobre a mesa. Depois, os que estavam dos dois lados do Sr. Home, viram o acordeão mover-se, oscilar, voltear em torno da gaiola e tocar ao mesmo tempo. Então, o Dr. William Huggins olhou para baixo da mesa e disse que a mão do Sr. Home parecia completamente imó-vel enquanto o acordeão movia-se, produzindo sons distintos”. “O Sr. Home manteve ainda o acordeão na gaiola pelo modo mais ordinário, isto é, com o lado das chaves voltado para baixo; os seus pés estavam seguros pelas pessoas sentadas ao lado dele, a outra mão repousava sobre a mesa e, ainda assim, ouvimos notas distintas e separadas, resso-ando sucessivamente, e depois uma ária simples foi tocada. Como tal resultado só podia ser pro-duzido pelas diferentes chaves do instrumento postas em ação de maneira harmoniosa, todos os presentes consideraram-no decisivo. Mas o que se seguiu foi ainda mais surpreendente; o Sr. Home afastou a mão do acordeão, retirou-a completamente da gaiola e segurou a mão da pessoa que estava perto dele. Então, o instrumento continuou a tocar, sem contato algum e sem mão al-guma perto dele”. “Eu quis depois experimentar que efeito produziríamos ao passar uma corrente elétrica em torno do fio isolado da gaiola. Para esse fim, meu ajudante estabeleceu a comunicação com fios que partiam das pilhas de Grove. De novo o Sr. Home segurou o instrumento dentro da gaiola, do mesmo modo como já foi descrito anteriormente, e imediatamente ele ressoou, agitando-se de

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um a outro lado com vigor. Mas não me julgo autorizado a dizer se a corrente elétrica, passando em torno da gaiola, veio em auxílio da força que se manifestava no interior”. “O acordeão ficou então sem nenhum contato visível com a mão do Sr. Home. Ele retirou-a completamente do instrumento e colocou-a sobre a mesa, onde foi segura pela mão da pessoa que se achava perto dele; todos os presentes viram bem que as suas mãos estavam ali. Dois dos assistentes e eu percebemos, distintamente, o acordeão flutuando no interior da gaiola, sem ne-nhum suporte visível. Após curto intervalo, esse fato repetiu-se uma segunda vez”. “Então, Home tornou a pôr a mão na gaiola e tomou de novo o acordeão que começou a tocar, a princípio acordes e arpejos e depois uma doce e melancólica melodia, muito conhecida, que foi executada de modo perfeito e belíssimo. Enquanto essa ária era tocada, peguei no braço do Sr. Home, acima do cotovelo e fiz correr levemente a minha mão, até que ela tocasse a parte superi-or do acordeão. Não se movia nenhum músculo. A outra mão do Sr. Home estava sobre a mesa, visível a todos os presentes, e seus pés conservavam-se sob os pés dos que estavam a seu lado”. Oportuno colocar o que Palhano diz: “Os Srs. W. Huggins e Sergente Cox, dois notáveis investi-gadores científicos da Inglaterra, que auxiliaram Crookes nesses experimentos, escreveram-lhe cartas na ocasião em que Crookes apresentou seu relatório à apreciação deles”. Essa experiência de Crookes, que acabamos de relatar, é irrefutável aos que conseguem ver a sua competência como cientista e sua perspicácia no trato com o fenômeno, buscando fugir da míni-ma possibilidade de ser iludido. Mas ainda assim, aparecerão os que nunca fizeram esse tipo de experimentação para contestar a pesquisa de Crookes, a eles a única coisa que poderemos dizer é que contestar só por contestar não tem nenhum valor científico, se querem que os outros deem crédito ao que falam, sigam os caminhos que Crookes seguiu e provem com o rigor científico onde está o erro desse sábio, já que quem pretende provar faz juiz da prova àquele a quem dirige o seu discurso. Experiências com a médium Florence Cook: Muitas vezes são os cientistas que correm atrás dos médiuns para fazer suas pesquisas, entretanto no caso de Florence Cook isso não se deu dessa forma. A própria médium é quem procurou Crookes, conforme ela mesma diz: “O Sr. Crooks fez um comentário que me atormentou e foi por isso que me decidi a ir procurá-lo. Ele recebeu-me e eu lhe disse: “Já que acreditais que sou uma impostora, se quiserdes virei submeter-me a experi-mentos em vossa própria residência. Vossa esposa poderá vestir-me como quiserdes e deixarei convosco o que tiver trazido. Podereis vigiar-me como vos aprouver; submeter-me-ei aos expe-rimentos que desejardes, de modo que vos contenteis em todos os sentidos. Só imponho uma condição: se verificardes que sou agente de uma mistificação, denunciai-me publicamente, mas, se vos certificardes de que os fenômenos são reais e de que eu mais não sou que um instrumento de forças invisíveis, isso direis ao público de modo que todo o mundo tome conhecimento da verdade’”. (PALHANO, 1996). Devemos observar que a médium Florence Cook “foi a primeira médium entre os ingleses a obter materializações ou corporificações integrais em plena luz”, se-gundo nos informa Palhano. Vejamos o relato de Crookes sobre algumas das aparições do Espírito Katie King: “A sessão foi realizada na casa do Sr. Luxmore, e o ‘gabinete’ era uma sala separada da outra, onde estavam os assistentes, dividida por uma cortina. Efetuada a inspeção da sala e feito o exame de fechaduras, a Srta. Cook entrou no gabinete”. Depois de algum tempo, a forma de Katie apareceu ao lado da cortina, mas depressa se retirou, dizendo que a sua médium não estava boa e não podia ser leva-da a um sono suficientemente profundo para que não houvesse perigo em afastar-se dela. Acha-va-me colocado a alguns pés da cortina, atrás da qual a Srta. Cook estava sentada, tocando-a quase, e eu podia ouvir-lhe frequentemente as queixas e soluços, como se ela estivesse sofrendo. Esta indisposição continuou, por intervalos, durante quase todo o tempo da sessão, e uma vez, enquanto a forma de Katie estava diante de mim, na sala, ouvi distintamente o som de um gemi-do, idêntico aos que a Srta. Cook tinha feito ouvir, por intervalos, em todo o tempo da sessão, gemido que vinha de trás da cortina onde ela estava sentada”. “Confesso que a figura era surpre-endente pela aparência de vida e realidade, e, tanto quanto eu podia vez à luz um pouco indecisa, suas feições assemelhavam-se às da Srta. Cook, entretanto, a prova positiva, dada por um dos meus sentidos, de que o suspiro vinha da Srta. Cook, no gabinete, ao passo que a figura estava do

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lado de fora, esta prova, digo, é muito forte para ser destruída por uma simples suposição do con-trário mesmo bem sustentada”. “No dia 12 de março (1874), durante uma sessão em minha casa, depois de ter andado pelo meio de nós e de ter-nos falado por algum tempo, Katie retirou-se para trás da cortina que separava o meu laboratório, (onde se achavam os assistentes) da minha biblioteca que, temporariamente, fa-zia o ofício de gabinete. Depois de um momento, ela voltou à cortina e chamou-me, dizendo: ‘Entrai no quarto e suspendei a cabeça da médium, que escorregou’. Katie estava diante de mim, vestida com sua roupa branca habitual e trazendo seu turbante. Imediatamente entrei na bibliote-ca para levantar a Srta. Cook, quando Katie deu alguns passos de lado para deixar-me passar. Com efeito, a Srta. Cook havia escorregado parcialmente do canapé, e sua cabeça pendia em si-tuação muito penosa. Tornei a pô-la sobre o canapé, e, fazendo isso, tive, apesar da obscuridade, a viva satisfação de verificar que a Srta. Cook não trajava o vestuário de Katie, mas trazia o cos-tumado vestido de veludo negro e achava-se em profunda letargia. Não se havia passado mais de três segundos entre o momento em que acomodei a Srta. Cook sobre o canapé (tirando-a da posi-ção em que se achava) e voltei ao meu ponto de observação, quando Katie apareceu-me de novo e disse que pensava poder mostrar-se-me conjuntamente com a sua médium. O gás foi abaixado, e ela me pediu a minha lâmpada de fósforo. Depois de manifestar-se à sua luz, durante segundos, ela restituiu-ma, dizendo: ‘Agora entrai e vinde ver minha médium’, segui Katie de perto na bi-blioteca e, ao clarão da lâmpada, vi a Srta. Cook repousada no sofá, exatamente como eu a deixa-ra. Olhei em redor de mim para ver Katie, porém ela desaparecera. Chamei-a e não obtive res-posta”. “Voltei ao meu lugar e Katie, reaparecendo logo, disse-me que estivera de pé junto da Srta Cook. Perguntei-lhe se, por si própria, ela não poderia tentar uma experiência; então, to-mando das minhas mãos a lâmpada de fósforo, ela passou para trás da cortina, recomendando-me que não olhasse por enquanto para o gabinete. Passados alguns minutos, restituiu-me a lâmpada, dizendo-me nada ter conseguido, pois havia esgotado todo o fluido da médium, mas que tentaria de novo, mais tarde. Meu filho mais velho, rapaz de quatorze anos, que estava sentado defronte de mim, em posição de poder ver atrás da cortina, disse-me que vira distintamente a lâmpada de fósforo parecendo flutuar no espaço por cima da Srta. Cook e iluminando-a, enquanto ela per-manecia estendida imóvel no sofá, mas que não vira ninguém segurando a lâmpada”. “Passo agora para a sessão de ontem à noite em Hackney. Jamais Katie me apareceu com tão grande perfeição; por espaço de duas horas, ela passeou pela sala, conversando familiarmente com todos os presentes. Muitas vezes tomou meu braço e a impressão produzida em meu espírito foi que a meu lado se achava uma mulher viva e não uma visitante de outro mundo, essa impres-são, afirmo, foi tão forte, que se me tomou irresistível a tentação de repetir uma recente e curiosa experiência”. “Pensando que, se não tinha perto de mim um Espírito, eu estava, pelo menos, jun-to de uma senhora, pedi-lhe permissão para tomá-la em meus braços, a fim de poder verificar as interessantes observações que um experimentador audaz tinha feito conhecer de maneira um tan-to prolixa. Essa permissão foi-me graciosamente concedida, e utilizei-me dela- convenientemen-te – como o teria feito em semelhante circunstância todo homem bem educado. O Sr. Volckman ficará encantado sabendo que posso corroborar a sua asseveração, afirmando que o ‘fantasma’ (o qual não empregou nenhuma resistência) era um ser tão material como a própria Srta. Cook. Mas a continuação mostrará como um experimentador procede mal, por mais cuidadosas que sejam as suas observações, se arriscasse a formular uma importante conclusão quando as provas não exis-tem em suficiente quantidade”. “Katie disse que desta vez ela se julgava capaz de mostrar-se si-multaneamente com a Srta. Cook. Abaixei o gás, e depois, com a lâmpada de fósforo, penetrei no quarto que servia de gabinete. Mas, antecipadamente, pedi a um de meus amigos, hábil estenó-grafo, que tomasse nota de todas as observações que ouvisse no gabinete, porque conheço a im-portância que merecem as primeiras impressões, e não queria confiar na minha memória mais do que convinha. Neste momento tenho estas novas sob os olhos”. “Entrei no quarto com precau-ções, estava escuro, e foi às apalpadelas que procurei a Srta. Cook. Encontrei-a agachada no soa-lho. Ajoelhando-me, deixei o ar penetrar na lâmpada e, à sua luz, vi essa moça vestida de veludo negro, como ela estava no começo da sessão, e conservando toda a aparência de completa insen-sibilidade. Ela não se moveu quando lhe peguei na mão, segurando a lâmpada bem perto do seu rosto, mas continuou a respirar calmamente. Elevando a lâmpada em torno de mim e vi Katie de

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pé, muito alva e flutuante, como já a tínhamos visto durante a sessão. Prendendo nas minhas uma das mãos da Srta. Cook, ajoelhando-se outra vez, ergui e abaixei a lâmpada, não só para iluminar a figura de Katie, como para plenamente convencer-me de que eu estava realmente vendo a ver-dadeira Katie que eu havia apertado em meus braços alguns minutos antes, e não o fantasma de cérebro enfermo. Ela não falou, mas moveu a cabeça em sinal de reconhecimento. Por três vezes diferentes, examinei cuidadosamente a Srta. Cook agachada diante de mim, para certificar-me que a mão que eu segurava era a de uma mulher viva, e, por três vezes diferentes, voltei a lâm-pada para Katie, a fim de examiná-la com firme atenção, até que não me restasse a mínima dúvi-da de que ela estava ali na minha frente”. “Antes de terminar este artigo, desejo fazer conhecer algumas das diferenças que existem entre a Srta. Cook e Katie. A estatura de Katie é variável; em minha casa eu a vi mais alta seis polegadas do que a Srta. Cook. Ontem à noite, com os pés nus e andando nas pontas dos pés tinha quatro polegadas e meia mais que Cook. Ontem à noite, Katie tinha o pescoço descoberto, a pele era perfeitamente doce (suave) ao tato e à vista, ao passo que Cook tem no pescoço uma cicatriz que, em semelhantes circunstâncias, se vê distintamente e é áspera ao tato. As orelhas de Katie são fu-radas, enquanto que a Srta.Cook usa sempre brincos. A cor de Katie é muito alva, ao passo que a de Cook é trigueira. Os dedos de Katie são muito mais compridos do que os de Cook e seu rosto também é maior. Nos modos de exprimir-se há também muitas diferenças notáveis”. (...) Vi tão bem Katie pela luz elétrica, que posso acrescentar alguns traços às diferenças que, em artigo pre-cedente, estabeleci entre ela e sua médium. Tenho a certeza mais absoluta de que a Srta. Cook e Katie são duas individualidades distintas ao menos no que diz respeito aos seus corpos. Pequenos sinais que se encontram no rosto da Srta Cook não existem no de Katie. Os cabelos de Cook são de castanho tão escuro que permanecem quase negros; um cacho dos de Katie, que tenho sob os olhos e que ela me permitiu cortá-los acompanhado com meus dedos até ao alto da cabeça e ter verificado que eles haviam nascido ali, é de um belo castanho dourado”.(...) “As sessões quase cotidianas com que ultimamente a Srta. Cook me favoreceu, prejudicaram su-as forças, e eu desejo manifestar publicamente os favores que devo pela boa vontade com que me auxiliou nas minhas experiências. Ela aceitou de boa mente submeter-se a todas as provas que lhe propus; sua palavra é franca e vai diretamente ao alvo, e jamais vi coisa alguma que traísse a mais leve aparência do desejo de enganar. Certamente, não creio que, se ela empregasse a fraude, tivesse sido bem sucedida; e se ela o tentasse, seria prontamente desmascarada, porque tal modo de proceder é inteiramente estranho à sua natureza. E quanto a imaginar que uma inocente cole-gial de quinze anos tenha sido capaz de conceber e realizar durante três anos, com todo êxito, uma impostura tão gigantesca como essa, e que, durante esse tempo, ela se tenha submetido a to-das as condições que exigimos dela; que haja suportado as investigações mais minuciosas; que tenha pedido para ser revistada a qualquer momento, quer antes, quer depois das sessões; que te-nha obtido ainda mais êxitos em minha própria casa do que na de seus pais, sabendo que aí veio expressamente para submeter-se a rigorosas provas científicas; quanto a imaginar, digo, que Ka-tie King dos três últimos anos é o resultado de uma impostura, isso faz mais violência à razão e ao bom senso do que acreditar que ela seja o que ela própria afirma”. (...) “Eu não disse que es-ses fatos eram possíveis, o que afirmei é que são verdadeiros”. Além disso, Crookes tirou várias fotografias de Katie King, quando das materializações. Quem irá se aventurar a provar que Wil-liam Crookes cometeu alguma falha em suas experiências? Conclusão: Infelizmente o grande público não sabe absolutamente nada sobre as inúmeras expe-riências científicas que provam a sobrevivência do Espírito, como essas que acabamos de narrar. Por isso fica fácil para alguns usar de certo prestígio, para pregar que tudo não passa de produto do inconsciente. Foi noticiado há tempos atrás uma manifestação espiritual acontecida dentro de uma igreja cató-lica. Determinado casal celebrando sua bodas de prata participa de uma missa, cujo acontecimen-to foi gravado em fita de videocassete. Certo tempo depois, familiares observando bem essa fita, perceberam, que bem ao fundo da igreja, dois jovens saindo do lado direito em direção ao lado oposto. Um deles foi identificado como sendo um neto do casal que já havia falecido, justamente o que se ajoelha ao chegar ao lado esquerdo. Sabemos ser possível uma pessoa impressionar uma chapa fotográfica com imagens que mentaliza, fato até comprovado cientificamente, mas até

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agora ninguém fez nenhuma experimentação idêntica com uma fita de vídeo. Pressupomos que para o caso de alguém conseguir fazê-lo, teria que mentalizar inúmeras imagens, num período curtíssimo, de tal forma que pudesse dar movimento a essa imagem. Nas fotos, por ser uma ima-gem parada, isso não deve ser muito difícil para quem possui esse “dom”. A concentração neces-sária para o fenômeno é conseguida, apesar de exigir determinado período de tempo para atingi-la, mas colocar em movimento, inclusive, em detalhes mínimos, já que o jovem identificado até mesmo consertou os óculos que estava usando (é no mundo espiritual existem coisas desse tipo), deverá requerer uma concentração muito mais aguçada e o tempo, com certeza, não seria sufici-ente para tantas imagens desses dois jovens de modo a acompanhar a gravação no exato momen-to do acontecimento. Deixemos o direito de resposta, não com argumentos, mas com prova in-contestável, para milhares de pessoas assistirem e assim podermos acabar de vez com a dúvida, pois daí “se tenho razão, os outros acabarão por pensar como eu, se estou errado, acabarei por pensar como os outros” (Kardec). Para finalizar, trazemos importante consideração de Crooks. Diz esse sábio: “... é dever do inves-tigador abster-se de todo o sistema de teorias, até que ele tenha reunido um número de fatos sufi-cientes para formar uma base sólida sobre a qual ele possa raciocinar... É preciso banir comple-tamente as ideias românticas e as supersticiosas; os passos do investigador devem ser guiados por uma razão tão fria e desapaixonada quanto os instrumentos dos quais ele se vale para o seu trabalho”. PALHANO Jr., L. Experimentações Mediúnicas, Rio de Janeiro: CELD, 1996. ------------------------------------------------------------- 23 -------------------------------------------------- A TORMENTOSA INCERTEZA DO MATERIALISMO E DA INCREDULIDADE Rogério Coelho ”Não podendo impedir que a Verdade se expanda, o incrédulo e o materialista serão arrastados pela torrente da renovação, bem como os seus interesses que julgavam salvaguardar”. - Allan Kardec Os Tomés da Vida continuam reencarnando, vez que pululam na Terra os materialistas e os in-crédulos... Dizem os Espíritos Amigos que a bem pouca coisa se reduziriam as nossas convic-ções se acreditássemos tão somente naquilo que podemos ver ou observar com o testemunho dos sentidos. E é justamente por conhecer a natureza humana que Jesus, após o luminoso amanhecer de lúculas alvinitentes, testemunhado pela ex-obsidiada de Magdala, exclamou com certa triste-za, ante um Tomé espantadiço: “Porque me viste, creste; bem-aventurados os que não viram e creram”. Registram as palavras das Escrituras (Lc., 4:14 a 31.), que Jesus foi expulso de Sua terra natal por causa da incredulidade de Seus conterrâneos. Em todas as épocas a incredulidade tem sido a fiel escudeira da Humanidade, cerceando-lhe os passos na senda evolutiva. Sensível à magnitude dos escolhos caudatários da incredulidade e do materialismo, o caroável Mestre Lionês aborda o tema à exaustão, onde entre outros judiciosos apontamentos, podemos destacar: “(...) É crença geral que, para convencer, basta apresentar os fatos. Esse, com efeito, parece o caminho mais lógico. Entretanto, mostra a experiência que nem sempre é o melhor, pois que a cada passo se encontram pessoas que os mais patentes fatos absolutamente não convence-ram. A que se deve atribuir isso? É o que vamos tentar demonstrar. No Espiritismo, a questão dos Espíritos é secundária e consecutiva; não constitui o ponto de par-tida. Este precisamente o erro em que caem muitos adeptos e que, amiúde, os leva a insucesso com certas pessoas. Não sendo os Espíritos senão as almas dos seres humanos, o verdadeiro pon-to de partida é a existência da Alma. Ora, como pode o materialista admitir que, fora do mundo material, vivam seres, estando crente de que, em si próprio, tudo é matéria? Como pode crer que, exteriormente à sua pessoa, há Espíritos, quando não acredita ter um dentro de si? Será inútil acumular-lhe diante dos olhos as provas mais palpáveis. Contestá-las-á todas, porque não admite o princípio. Todo ensino metódico tem que partir do conhecido para o desconhecido. Ora, para o materialista, o conhecido é a matéria: parti, pois, da matéria e tratai, antes de tudo, fazendo que

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ele a observe, de convencê-lo de que há nele alguma coisa que escapa às leis da matéria. Numa palavra, primeiro que o torneis ESPÍRITA, cuidai de torná-lo ESPIRITUALISTA. Falar-lhe, por-tanto, dos Espíritos, antes que esteja convencido de ter uma alma, é começar por onde se deve acabar, porquanto não lhe será possível aceitar a conclusão, sem que admita as premissas. Antes, pois, de tentarmos convencer um incrédulo, mesmo por meio dos fatos, cumpre nos certifique-mos de sua opinião relativamente à alma, isto é, cumpre verifiquemos se ele crê na existência da alma, na sua sobrevivência ao corpo, na sua individualidade após a morte. Se a resposta for nega-tiva, falar-lhe dos Espíritos seria perder tempo. Eis aí a regra. Não dizemos que não comporte exceções. Neste caso, porém, haverá provavelmente outra causa que o torna menos refratário... Entre os materialistas, importa distinguir duas classes: - Primeira classe: colocamos nesta os que o são por sistema. Nesses, não há a dúvida, há a negação absoluta, raciocinada a seu modo. O ser humano, para eles, é simples máquina, que funciona enquanto está montada, que se desarranja e de que, após a morte, só resta a carcaça. Felizmente, são em número restrito e não formam escola abertamente confessada. Não precisamos insistir nos deploráveis efeitos que para a ordem social resultariam da vulgarização de semelhante doutrina. Quando dissemos que a dúvida cessa nos incrédulos diante de uma explicação racional, excetuamos os materialistas extremados, os que negam a existência de qualquer força e de qualquer princípio inteligente fora da matéria. A maio-ria deles se obstina por orgulho na opinião que professa, entendendo que o amor-próprio lhes impõe persistir nela. E persistem, não obstante todas as provas em contrário, porque não querem ficar de baixo. Com tal gente, nada há que fazer; ninguém mesmo se deve deixar iludir pelo falso tom de sinceridade dos que dizem: fazei que eu veja, e acreditarei. Outros são mais francos e di-zem sem rebuço: ainda que eu visse, não acreditaria. - A segunda classe de materialistas, muito mais numerosa do que a primeira compreende os que o são por indiferença, por falta de coisa melhor, pode-se dizer. Não o são deliberadamente e o que mais desejam é crer, porquanto a in-certeza lhes é um tormento. Há neles uma vaga aspiração pelo futuro; mas esse futuro lhes foi apresentado com cores tais, que a razão deles se recusa a aceitá-lo. Daí a dúvida e, como conse-quência da dúvida, a incredulidade. Assim sendo, se lhes apresentardes alguma coisa racional, aceitam-na pressurosos. Esses, pois, nos podem compreender, visto estarem mais perto de nós do que, por certo, eles próprios o julgam. Aos primeiros não faleis de revelação, nem de anjos, nem do paraíso: não vos compreenderiam. Colocai-vos, porém, no terreno em que eles se encontram e provai-lhes primeiramente que as leis da Fisiologia são impotentes para tudo explicar; o resto virá depois. De outra maneira se passam as coisas, quando a incredulidade não é preconcebida, porque então a crença não é de todo nula; há um gérmen latente, abafado pelas ervas más, e que uma centelha pode reavivar. É o cego a quem se restitui a vista e que se alegra por tornar a ver a luz. Ao lado da tribo dos materialistas propriamente ditos, há uma terceira classe de incrédulos que, embora espiritualistas, pelo menos de nome, são tão refratários quanto aqueles. Referimo-nos aos incrédulos de má-vontade. A esses muito aborreceria o terem que crer, porque isso lhes perturba-ria a quietude nos gozos materiais. Temem deparar com a condenação de suas ambições, de seu egoísmo e das vaidades humanas com que se deliciam. Fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir... Apenas por não deixar de mencioná-la, falaremos de uma quarta categoria, a que chamaremos incrédulos por interesse ou de má-fé. Os que a compõem sabem muito bem o que devem pensar do Espiritismo, mas ostensivamente o condenam por motivos de interesse pessoal. Não há nada que se possa fazer por eles, vez que o puro materialista tem para o seu engano a escusa da boa fé e possível será desenganá-lo, provando-se-lhe o erro em que labora; mas no outro, há uma de-terminação assentada, contra a qual todos os argumentos irão se chocar em vão. O tempo se en-carregará de lhe abrir os olhos e de lhe mostrar, quiçá à custa própria, onde estavam seus verda-deiros interesses, porquanto, não podendo impedir que a Verdade se expanda, ele será arrastado pela torrente, bem como os interesses que julgava salvaguardar. Além dessas diversas categorias de opositores, muitos há de uma infinidade de matizes, entre os quais se podem incluir: os incrédulos por pusilanimidade, que terão coragem, quando virem que os outros não se queimam; os incrédulos por escrúpulos religiosos, aos quais um estudo esclare-cido ensinará que o Espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da religião e respeita todas

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as crenças; que um de seus efeitos é incutir sentimentos religiosos nos que os não possuem, for-talecê-los nos que os tenham vacilantes. Depois, vêm os incrédulos por orgulho, por espírito de contradição, por negligência, por leviandade, etc., etc. Não podemos omitir uma categoria a que chamaremos incrédulos por decepções. Abrange os que passaram de uma confiança exagerada à incredulidade, porque, sofreram desenganos. Então, de-sanimados, tudo abandonaram, tudo rejeitaram. Estão no caso de um que negasse a boa-fé, por haver sido ludibriado. Ainda aí o que há é o resultado de incompleto estudo do Espiritismo e de falta de experiência.” A incredulidade e o materialismo têm sido, portanto, em todas as épocas, os dois grandes esco-lhos da Humanidade. Dar-lhes combate é nossa missão, e o Espiritismo nos oferece todos os re-cursos para o êxito dessa nobre tarefa descortinadora dos imensuráveis e alcandorados horizontes espirituais, erradicando de vez esses grilhões que impedem a ascese espiritual das criaturas no rumo da destinação assinada para todos nós por Deus. --------------------------------------------------------- 24 ------------------------------------------------------ A VISÃO ESPÍRITA DOS SONHOS Luiz Carlos D. Formiga O Sonho é uma interrogação para muitas pessoas. No livro de Carlos Bernardo Loureiro - “A Vi-são Espírita do Sono e dos Sonhos”, Casa Editora O Clarim. Matão, SP. 144 páginas, vamos en-contrar muitas respostas. É possível determinar relações precisas entre essas percepções e os aspectos da realidade ordiná-ria? Como analisar esse psiquismo noturno? Erick Fromm afirma que “o inconsciente só o é em relação ao estado normal de atividade”, “são simplesmente estados mentais diversos, que se refe-rem às modalidades existenciais diferentes.” Assim, podemos admitir que a mente consciente constitui apenas parte do psiquismo total. Existe uma vida psíquica chamada de “inconsciência”. Esta atividade psíquica é o principal protagonista quando o sono retira a outra de cena. Na reali-dade o inconsciente acha-se representado naquela fração do sonho que se registra na memória consciente. O que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos? “Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de buena-dicha, pois fora absurdo crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São verdadeiros no sentido de que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém que, frequentemente, nenhuma relação guardam com o que se passa na vida corporal. São também um pressentimento do futuro, permitido por Deus, ou a visão do que no momento ocorre em outro lugar a que o Espírito se transporta. Não se contam por muitos os ca-sos de pessoas que em sonho aparecem a seus parentes e amigos, a fim de avisá-los do que a elas está acontecendo? Que são essas aparições senão os Espíritos de tais pessoas a se comunicarem com entes caros? Quando tendes certeza de que o que vistes realmente se deu, não fica provado que a imaginação nenhuma parte tomou na ocorrência, sobretudo se o que observastes não vos passava pela mente quando em vigília?” Livro dos Espíritos, questão 404. O Espírito é um ser pensante que permanece ativo durante o sono? Existem provas materiais da atividade do Espírito durante o sono? Durante o sono, o Espírito repousa como o corpo? “Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.” Livro dos Espíritos questão 401. A enciclopédica de Diderot (Denis, 1713-1784), no verbete “Sonambulismo”, relata a história de um jovem sacerdote que se levantava à noite, dirigia-se ao seu escritório e escrevia longos ser-mões e retornava ao leito. Existem relatos da resolução de problemas matemáticos que não eram resolvidos quando os indivíduos estavam acordados. Existe uma memória latente? Os sonhos trazem à tona lembranças julgadas esquecidas para sempre? Seis meses depois o indivíduo sonha com o local em que perdera o canivete. Ao despertar procura e acha o objeto (F.H. Myers, La Concience Subliminale, Annales Phychiques). Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono? “Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais facul-

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dades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adqui-re maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo, quer do outro...” Livro dos Espíritos, questão 402. Richet (Prêmio Nobel de Medicina) descreve a memória fotográfica de sonâmbulos. A eclosão desses registros mnemônicos subconscientes não deve ser confundida como a intervenção de se-res espirituais. Trata-se de fragmentos da vida que são exumados naturalmente ou por estímulos especiais, das profundezas do ser (Pierre Janet). Pode-se provocar sonhos por hipnose e induzir uma pessoa a sonhar com outra? Sim, responde o Dr. Sherenk-Notzing (Munique-Alemanha) após experiência hipnótica com a sensitiva (clarivi-dente) Lina. Seus resultados são muito importantes para a discussão do ser humano como um ser de natureza bio-psico-socio-espiritual. O pesquisador deu a sensitiva a ordem pós-hipnótica de sonhar, na noite seguinte, com uma determinada pessoa, não esquecer o sonho e contá-lo no dia imediato. Pela manhã, ao acordar, e em presença dos pesquisadores, contou o que aconteceu du-rante a noite. A hipótese de uma transmissão, através do pensamento de um dos pesquisadores auxiliares, era inviável por vários motivos, até porque uma visita casual de uma amiga do Sr. F.L., foi relatada pela clarividente e identificada, posteriormente, com base na descrição da sen-sitiva. Pode o ser humano, pela sua vontade, provocar as visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer, quando está para dormir: Quero esta noite encontrar-me em Espírito com Fulano, quero falar-lhe para dizer isto? “O que se dá é o seguinte: Adormecendo o corpo, seu Espírito desperta e, muitas vezes, nada disposto se mostra a fazer o que o ser humano resolvera, porque a vida deste pouco interessa ao Espírito, uma vez desprendido da matéria. Isto com relação a seres humanos já bas-tante elevados espiritualmente. Os outros passam de modo muito diverso a fase espiritual de sua existência terrena. Entregam-se às paixões que os escravizaram, ou se mantêm inativos. Pode, pois, suceder, tais sejam os motivos que a isso o induzem, que o Espírito vá visitar aqueles com quem deseja encontrar-se. Mas, não constitui razão, para que semelhante coisa se verifique, o simples fato de ele o querer quando desperto.” Livro dos Espíritos, questão 416. Podem duas pessoas que se conhecem visitar-se durante o sono? “Certo e muitos que julgam não se conhecerem costumam reunir-se e falar-se. Podes ter, sem que o suspeites, amigos em outro país. É tão habitual o fato de irdes encontrar-vos, durante o sono, com amigos e parentes, com os que conheceis e que vos podem ser úteis, que quase todas as noites fazeis essas visitas.” Livro dos Espíritos, questão 414. O hanseniano Jésus Gonçalves, descrente, era um materialista e dizia não acreditar em nada disso. É autor de “Falta”, onde diz assim: Onde andará um “não sei quê”, um Bem, em cuja busca sou judeu errante? Por onde eu passo, já passou também... E quando chego já partiu há instante... Não sei se está na vida, ou mais adiante, dentro da morte, nas man-sões do Além... Se está no amor... se está na fé, perante os dois altares que esta vida tem. Mas, se esta vida é um sonho, a morte o nada; o amor um pesadelo; a fé receio; por que manter-se em lu-ta desvairada? No entanto, eu sigo... acovardado, triste... a procurar em tudo em que não creio, a coisa que me falta e não existe! Sob o ponto de vista biomédico podemos perceber que uma pessoa está sonhando por estranhos movimentos oculares produzidos em certa etapa do sonho. O período REM (rapid eye move-ments) é “paradoxal” porque no ápice do relaxamento vamos encontrar uma atividade intensa de numerosas estruturas cerebrais, com variação da frequência das ondas cerebrais e traçado próxi-mo ao do estado de vigília. Há nessa fase anulação do olfato e paladar, mas as células nervosas enviam estímulos ao ouvido, aos olhos e ao sentido do equilíbrio. Quando acordadas neste perío-do as pessoas eram capazes de contar um sonho. Como interpretar o sonho que tivemos com um ente querido já desencarnado? A tarefa não é muito fácil porque estamos mergulhados numa matéria muito densa. No entanto, o Espírito An-dré Luiz (médico desencarnado) nos oferece um exemplo muito bom e que é encontrado no “Os Mensageiros” (FEB) capítulo 38, quando ela sonha com a avó desencarnada e faz a interpretação da mensagem recebida. Outro médico (psiquiatra ainda encarnado) mostra a importância dos sonhos para o diagnóstico da melancolia involutiva, destacando-a como uma síndrome com características próprias dentre

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as doenças conceituadas como depressão maior. Sua conclusão, nos Arquivos Brasileiros de Me-dicina, 71(3): 111-114, 1997, se baseia na análise de 118 casos. Uma pessoa que dorme pode ter consciência de que está sonhando? Sim, responde o psiquiatra holandês Dr.Frederick Willem van Eeden, que teve a confirmação feita pelo Dr Stephan Laber-ge, na Universidade de Stanford(EUA). A mesma resposta era dada por Agostinho e Tomás de Aquino (sonhos lúcidos). Podemos estender o conceito de sonho a todos os estados alterados de consciência dos quais o psiquismo profundo tende a subir em primeiro plano, até subjugar o EU da superfície? Podemos participar de mensagens oníricas diurnas? Podemos sonhar acordados? Esta dimensão diurna do sonho é um convite à pesquisa. O Dr. M. Kleitmam da Universidade de Chicago (“Sleep and Wakefulness”) demonstrou que, também de dia, a atenção consciente se afrouxa em períodos, de acordo com o ritmo que corresponde perfeitamente ao alternar noturno do sono profundo ao leve. O estado de plena “vigilância consciente” não dura mais do que um minuto ou dois por hora, o que é uma condição indispensável para uma certa eficiência criadora do intelecto, conforme F. Myers, P. Bunton e ainda John Pfeiffer (The Human Brain). Uma mu-lher, diante de uma mensagem onírica diurna, interrompe seus afazeres domésticos, chama um táxi e vai encontrar o filho caído quase morto ao lado da moto. “O paranormal é o normal que ainda não compreendemos! Podem os Espíritos comunicar-se, estando completamente despertos os corpos? “O Espírito não se acha encerrado no corpo como numa caixa; irradia por todos os lados. Segue-se que pode co-municar-se com outros Espíritos, mesmo em estado de vigília, se bem que mais dificilmente.” Livro dos Espíritos, questão 420. O fenômeno a que se dá a designação de dupla vista tem alguma relação com o sonho e o so-nambulismo? “Tudo isso é uma só coisa. O que se chama dupla vista é ainda resultado da liber-tação do Espírito, sem que o corpo seja adormecido. A dupla vista ou segunda vista é a vista do Espírito.” Livro dos Espíritos, questão 447. Qual a visão espírita desses fenômenos? Sonhos fisiológicos - por influência orgânica vive-se si-tuações alucinatórias. Sonhos pantomnésicos - recordações do passado. Sonhos premonitórios - apreensão do futuro, Sonhos espirituais - vivência no plano espiritual. Freud não poderia explicar o sonho profético como realização de um desejo recalcado no inconsciente. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono? “Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. (Livro dos Espíritos, questão 402). “A árvore trará no-vas sementes, das quais germinarão novas árvores. Todas estavam escondidas na primeira se-mente.” Discurso de Metafísica, Leibniz (1686). Lincoln viu, em sonho, cenas de seu próprio ve-lório, uma semana antes de ser assassinado, relatando-o ao amigo Ward Lamon, que escreveu o episódio em seu diário. É um monumental determinismo o conhecimento antecipado do futuro! É possível modificar o “determinismo”? Existem as coisas futuras ou elas se encontram no NADA, e ainda não exis-tem? O sonho profético é contrário ao livre arbítrio? É possível prever acontecimentos derivados do presente. No entanto, como prever os que não guardam nenhuma relação com esse estado pre-sente? Como explicar os que são atribuídos ao acaso? Nostradamus previu a decapitação do Du-que e deu o nome do carrasco, que foi escolhido “ao acaso”, na hora. Isto 66 anos após a morte do médico francês (1503-1566). O cálculo matemático da probabilidade desta predição estaria na proporção de um para cinco milhões contra o acaso. Estando desprendido da matéria e atuando como Espírito, sabe o Espírito encarnado qual será a época de sua morte? “Acontece pressenti-la. Também sucede ter plena consciência dessa época, o que dá lugar a que, em estado de vigília, tenha a intuição do fato. Por isso é que algumas pes-soas preveem com grande exatidão a data em que virão a morrer.” Livro dos Espíritos, questão 411. Mas, como entender este sonho que fala do futuro. Como explicá-lo? Allan Kardec, no Livro “A Gênese” discute o assunto na “Teoria da Presciência”. ------------------------------------------------------------ 25 ---------------------------------------------------

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BRASIL: O FUTURO SÓ A NÓS PERTENCE? Dr. Ricardo Di Bernardi Ao divisarmos, em horizonte próximo, o alvorecer do terceiro milênio temos consciência de que estamos nos despedindo da noite escura do religiosismo cego e dogmático. De fato, ansiamos por contemplar, sob a luz de um sol amoroso e racional, o céu azul do bom senso livre das obscuras nuvens do fanatismo. Enfim se avizinha o milênio no qual não mais erigiremos totens aos deuses ou Espíritos mas sentiremos o “Deus em Nós” como disse o grande mestre Jesus. A grande pro-cura da Verdade Externa deverá ser substituída pela percepção da Luz que pulsa no inconsciente puro de todos nós. A visão estreita do criacionismo cederá à compreensão do evolucionismo es-piritualista ou neoevolucionismo. O destino e a responsabilidade dos seres deixará de ser atribuí-da a Deus para ser assumida pelos próprios indivíduos. A concepção medieval do religiosismo institucionalizado, que grassa qual erva daninha nos canteiros da nossa morada planetária, cederá lugar a religiosidade sem cultos externos, mas expressa no amor universal. Na história do nosso planeta, muitos emissários do alto renasceram em períodos críticos, ou momentos especialmente favoráveis, com o fito de impulsionar a evolução do nosso orbe. Co-munidades inteiras também foram deslocadas para o nosso globo vindas de outro astros e até de outras constelações, procurando acelerar o processo evolutivo terráqueo. Vieram conviver co-nosco, contribuindo, para que pudéssemos galgar novos degraus na escada do progresso. Anjos espirituais, ou simplesmente amigos mais sábios e bondosos, tais como Emmanuel, assim se re-ferem a civilização egípcia primitiva e a judaica bem como aos arianos e hindus de épocas remo-tas. Os povos citados apesar de estarem aqui renascendo como degredados planetários, ou “ex-pulsos de um paraíso”, cumpriram em nosso meio aspecto missionário qual seja o de sacudir os terráqueos da sonolenta caminhada na estrada do progresso. Sob a orientação sábia e amorosa do Cristo, entidade responsável pelo nosso planeta, continuaram a aportar na Terra, periodicamente ao longo da história, grupos de Espíritos que se localizaram em determinadas regiões (ou países), formando bases sólidas em terrenos propícios para edificar a construção de sociedades mais jus-tas e sábias no contexto de nossa humanidade terrestre. O projeto “celestial” do crescimento rumo a sabedoria e a felicidade é amplo, visa atingir todas as criaturas. Não há “povo eleito” (ou nação privilegiada), todos que assim se consideraram ruí-ram fragorosa e vergonhosamente. O grande mestre, quando aqui esteve vestindo a roupa física do filho de José e Maria já nos dizia: “Nenhuma das ovelhas se perderá”. Cidades populosas do globo receberam, então, pelas vias da reencarnação, inúmeros seres huma-nos cultos e generosos. Filósofos, artistas e outros iluminados procuraram despertar a sensibili-dade humana em todos os recantos de nossa morada terrestre. Brilhantes mestres do cérebro e do coração criaram assim, diversas escolas na Grécia antiga assumindo o leme intelectual do barco terreno. A Verdade Universal, que não tem conotação religiosa sectária, foi pregada às multi-dões. A partir das terras helênicas foi novamente despertada a cultura, a democracia e os diversos valores da vida harmoniosa e fraterna foram cantados em prosa e verso. A Grécia antiga era, na época, a esperança de renovação da consciência planetária. Inúmeras verdades foram semeadas por Sócrates e outros plantadores do verbo divino do amor e da sabedoria. No entanto, faltaram braços para as colheita sucessivas e os frutos luminosos acabaram por se perder. Séculos mais tarde... A família romana ergue-se cheia de tradições belas, como o respeito a figu-ra da mulher e a compreensão dos deveres do homem. Aprimoram-se os vínculos familiares e os conceitos de virtude em relação a própria Grécia. Institui-se a liberdade religiosa sendo o Pan-teão o exemplo clássico da tolerância; no seu templo chegam a existir estátuas de trinta mil deu-ses diferentes. Patrícios e plebeus após agitadas desavenças conseguem equilibrar-se no respeito mútuo em leis que expressavam avanço na área dos direitos humanos. A Lei Canuléia passa a permitir casamentos entre patrícios e plebeus. A harmonia se desenvolve chegando até a Lei Ogúlnia que possibilitaria aos plebeus, também, exercerem funções sacerdotais. As falanges de luz, em todas as épocas da história, exerceram intenso trabalho junto a comunidades e povos vi-sando implantar, em inúmeros projetos, núcleos de paz, harmonia, justiça e sabedoria.

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Voltemos os olhos para o Egito atual. Há neste respeitável país muito pouco do brilho provenien-te da luz intelectual e moral do seu passado que assombrou a humanidade. A saudosa Grécia de Péricles, que teve em Sócrates seu expoente maior, hoje se nivela a inúme-ros países do nosso globo terrestre. Nossa querida Roma de tempos remotos, também, desviou-se do planejamento elevado que os Espíritos de luz lhe oportunizaram. Da administração enérgica, plena de sabedoria e justiça, a an-tiga água cristalina esvaiu-se na sede do poder e poluiu-se na corrupção mais vil. O Panteão de-mocrático cedeu lugar a Inquisição de triste memória. “Brasil, coração do mundo e pátria do evangelho”, mais uma das tentativas em se estabelecer um núcleo de fraternidade, tolerância, amor e sabedoria. Diz o adágio popular: “O destino só a Deus pertence”. Pobre ilusão! Se o destino só a Deus pertencesse, com certeza não haveria estupros, torturas, crimes hediondos ou suicídios. É preciso que acordemos do sono medieval no qual ain-da vemos Deus como um ser emocional passível de ser agradado ou desagradado por atos huma-nos. Deus é imutável! A Força Universal ou o Amor Onipresente não se entristece nem se alegra e não pune nem premia(no sentido humano). Seus atributos de onipresença e imutabilidade não interferem nos atos humanos. O destino só a nós pertence. Faremos do Brasil, aquilo que nosso livre arbítrio quiser. Já se faz hora de não transferirmos para Deus nem para os Espíritos o desti-no; nem do país nem de nós mesmos individualmente. Naturalmente, as emanações de luz sobre todos nós são contínuas. São inúmeros os mensageiros do amor e da sabedoria que renascem em nossas terras propagando a paz e estimulando o exercício saudável da razão. Tomemos cuidado para não infantilizarmos conceitos maiores nos acreditando melhores do que nossos vizinhos de fronteira ou de outros continentes. Qualquer olhadela mais lúcida e atenta aos jornais demonstra que por aqui não são raros desvios graves em todos os sentidos do bom senso e da ética univer-sal. Projetos são projetos não são ainda fatos. Abandonemos qualquer ideia que nos recorde, mesmo que de longe, a concepção absurda de povo eleito ou terra santa. Na matemática do destino é preciso somar trabalho e bom senso sem subtrair as percepções da realidade, evitando divisões desnecessárias para multiplicar os resultados na tabuada do amor. ------------------------------------------------------------ 26 --------------------------------------------------- CARIDADE E MÃOS VAZIAS Amilcar Del Chiaro Filho A conversa seguia animada naquela roda de amigos. Alguns comentavam as dificuldades da vi-da, a violência, a miséria, o egoísmo. O mais velho deles dizia: Existe uma doutrina que tem por lema – Fora da Caridade não há Salvação. Explica que a caridade não é apenas dar coisas mate-riais, mas, conviver, respeitar, aceitar o próximo como ele é, amar. A caridade não é dinheiro; é um ato de amor, é dar-se a si mesmo, o que sublima a personalidade e recompensa a renúncia com a alegria. Outro mais jovem, disse: – Eu tenho as mãos limpas, porque nunca fiz o mal com a intenção de fazê-lo. O primeiro amigo retrucou: – Limpas, mas vazias! Um outro amigo, ainda jovem, contudo muito sábio, completou: Viver em caridade, é aprender a viver para os outros, deixar de pensar apenas em nós, e perceber que em cada minuto da nossa vida, enquanto repousamos ou nos alimentamos, ou nada fazemos na ociosidade, ou então fazen-do coisas reprováveis, ruins, maldosas, há milhões de seres humanos, nossos irmãos que morrem de fome, de frio, castigados pelas secas ou pelas inundações e perdem o pouco que possuem. En-quanto gozamos na indiferença, milhões de crianças morrem, no mundo, de fome, de diarreia, de verminose, de desamor. Não poderíamos salvá-los todos, mas salvar muitos, como podemos sal-var os que estão vivos. E a violência, o tráfico de drogas que mata com armas sofisticadas? Indagou outro amigo. – Só podemos vencê-los com a paz, e não com o pulso armado, respondeu o mais velho. Abaixei a cabeça, ante a sabedoria dos amigos. Saí a passos lentos, meditando sobre tudo que ouvi.

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Vamos agir para o bem, porém com a paz no coração. --------------------------------------------------------- 27 ------------------------------------------------------ A CASA DO PERDÃO Fernando A. Moreira ”... mas, se não perdoardes aos seres humanos quando vos tenham ofendido, vosso Pai Celestial também não vos perdoará os erros.” (Mateus, cap. XVIII, vv. 15, 21 e 22.) Inúmeras vezes, Jesus nas suas parábolas fez referência ao perdão, para que ficasse bem nítida a sua importância no nosso relacionamento com o nosso próximo e pudéssemos dimensionar a bondade, a misericórdia e a justiça divina, que irão balizar o caminho de nossa evolução. “(...) – Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro: ‘Senhor, quantas vezes perdoarei a meu ir-mão, quando houver errado contra mim? Até sete vezes?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘Não vos digo que perdoareis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.” (Mateus, cap. XVIII, vv. 15, 21, 22.). Jesus deixa bem claro que não há limite para o perdão, que não pode ser contado, porque sendo ele o esquecimento do erro, como é apagado, nada sobra para se contar. Perdoar até seten-ta vezes sete vezes equivale a dizer que temos que perdoar sempre, sendo o perdão, pois, incon-dicional; é o perdão do coração. Mas, às vezes concedemos somente o perdão dos lábios, o falso perdão: “Eu o perdoo, mas não esquecerei jamais o que me fez.” Mais além afirmamos: “- En-trego à Deus e à sua justiça”, quando na realidade, estamos desejando a sua condenação; não te-mos nenhuma procuração divina para assim nos referirmos, mesmo porque, desde que Deus nos criou, já a Ele estamos entregues. Frequentemente também dizemos ou ouvimos dizer: “- Se ele vier se desculpar, eu o perdoo.” Esta é uma atitude orgulhosa, estática e condicional, se contrapondo aos ensinamentos de Jesus, que nos mostrou de quem deve ser a iniciativa e em que momento deve-se perdoar nestas três passagens evangélicas: “Se contra vos errou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta em particular, a sós com ele; se vos atender tereis ganho o vosso irmão.” (Mateus; XVIII, 15) ”Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. – Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não tiveres pago o último ceitil.” ( Mateus: V, 25 e 26). ”Se, portanto, quando depor vossa oferenda, vos lembrardes que o vosso irmão tem qualquer coisa contra vós, deixai a vossa dádiva junto do altar e ide, antes, reconciliar-vos com o vosso irmão; depois então voltai a oferecê-la.” (Mateus, cap. V, vv. 23, 24) Fica bastante evidente que a iniciativa da reconciliação deve ser nossa, quer sejamos os ofendi-dos ou os ofensores, isto é, sempre. Igualmente depreende-se que a atitude é extremamente di-nâmica, urgente; temos que ir de encontro ao nosso irmão e isto, não deve ser deixado para ama-nhã, para a outra reencarnação; é para hoje, enquanto ele está no nosso caminho. Quando nós não perdoamos, sintonizamos com o adversário. A ele, nos vinculamos agora pelo ressentimento, mágoa, raiva, ódio, despertando o desejo de vingança, para encontrá-lo mais além como obsessor, podendo, às vezes, chegar até ao grau de subjugação ou possessão. Nos estabele-cemos no círculo do endividamento, perante ao irmão errado e a nós mesmos e, em última análi-se, perante à lei divina. No entanto, ao termos misericórdia e agirmos com amor, nós perdoamos e nos libertamos para a nosso progresso espiritual, cumprimos a lei, estamos com ela, porque “ (...) quem assim procede, põe de seu lado o bom direito e Deus não consente que, aquele que perdoou, sofra qualquer vingança.” (1). “Perdoar os inimigos é pedir perdão para si próprio; per-doar os amigos é dar uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era.(...)” (1) Jesus assim se pronunciou a respeito dos nossos desafetos: ”Amai vossos irmãos errados, fazei bem aos que vos têm ódio e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos do vos-so Pai Celestial. (Mateus, 5: 43-47)

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Amar os irmãos errados é dar a outra face, isto é, ante à face do erro, mostrar a face do certo. “Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer dizendo: Nada tenho contra o meu pró-ximo.” (1). Quem assim procede, pode orar, falar com Deus: “Perdoai as nossas ofensas, assim como perdoamos aos que nos hão ofendido.” (Mateus, 6:9-13) Às vezes, o que nos leva a não administrarmos o perdão é o sentimento de que o outro é que está errado, porque os faróis dos outros automóveis sempre nos parecem mais ofuscantes do que os nossos; é o egoísmo e o orgulho que fazem o ser humano dissimular seus defeitos. Julgamos os outros com a nossa justiça falha e deformada, olvidando os ensinamentos evangélicos. “Não jul-gueis para não seres julgados; - porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os outros; empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para com os outros. (Ma-teus, cap. VII, vv. 1,2.) De igual teor é a “Parábola da mulher adúltera” ( João, cap. VIII, vv. 3 a 11). “Aquele dentre vos que estiver sem pecado, atire a primeira pedra.” Noutra ocasião, na “Parábola do credor incompassivo”, Jesus compara o Reino dos Céus a um rei, que resolveu ajustar contas com um servo que lhe devia dez mil talentos; como este não lhe pudesse pagar, ordenou que fossem vendidos, ele, sua mulher, seus filhos e seus bens. Após dramáticos apelos, o rei compadeceu-se dele e perdoou suas dívidas. Ele, porém, ao libertar-se, encontrou-se com um companheiro que lhe devia cem denários, quantia infinitamente inferior. Como também, este não teria como lhe pagar, fez-lhe idênticos e dramáticos apelos mas ele, ao contrário, não o atendeu, deixando-o preso. Ao saber disso, o rei se indignou, entregando seu de-vedor aos verdugos até que ele lhe pagasse tudo o que devia, indagando: - Tu não devias ter tido compaixão do teu companheiro como eu tive de ti? Completa então, Jesus: “Assim também meu Pai Celestial vos fará, se cada um de vos do íntimo do coração não perdoar a seu irmão.” (Mateus, XVIII 21- 35) Portanto, não perdoar as ofensas é uma das formas de ir contra a lei e assim fazer recair sobre si a justiça divina; é ingressar no terreno da ofensa à lei e “daí não sairá enquanto não tiver pago o último ceitil.” Só será possível retirar-se deste terreno, fazendo esse ressarcimento entrando-se na CASA DO PERDÃO, e escolhendo-se entre duas opções; primeira, o caminho do arrependimento, que é o prelúdio, a antessala do perdão. É o primeiro passo, mas não o único, porque a “graça”, com que acenam outras doutrinas em que basta arrepender-se para daí sair não faz parte da justiça divina que não anistia, mas anula, após a quitação da dívida. Essa anistia, essa “graça”, “de graça”, seria uma injustiça para o ofensor, uma desgraça, um perdão sem reforma, pois assim lhe roubaria a oportunidade de se educar e evoluir, e para o ofendido, que também não poderia se ressarcir das perdas sofridas. O segundo cômodo desta opção é a reforma íntima. “A persistência do indivíduo no descobrimento dos próprios defeitos ampliará consideravelmente o âmbito de possibilidade de êxito. Somente quem sabe os males que possui, pode curá-los.”(2). A reforma íntima “deixa de ser algo constrangedor ou como exigência de conquista do dia para a noite, para ser entendida como algo que conquistaremos gradativamente, através do esforço pessoal que a Doutrina vai aos poucos interiorizando nos corações.”(3). Admitindo seus erros e arrependendo-se, promo-vendo-se a conscientização do erro, a avaliação da dívida, impõe-se a passagem ao terceiro cô-modo, a reparação, que é um ato de amor, uma doação nesta encarnação ou uma prova noutra existência. “Quem perdoa (de coração), ama, e quem ama, não se endivida, não contrai débitos, prevenindo-se de períodos expiatórios (...). Harmoniza-se com as leis do Criador.” (4). “Quem não repara pelo amor”, permanecendo na inércia e no endurecimento, recai na segunda opção da CASA DO PERDÃO, “resgata pela dor, e resgates são expiações.” (4). Este cômodo é o mais sombrio e dorido da CASA DO PERDÃO, representando o caminho mais difícil para se deixá-la , mas por qualquer das duas opções alcançamos a saída da CASA DO PERDÃO, o perdão divino e a nossa evolução. A CASA DO PERDÃO é a construção do nosso Pai Eterno, bálsamo da sua justiça e que infinitamente sábio, bom e misericordioso, não iria exigir de nós que perdoássemos sempre, se Ele também assim não procedesse.(5). Portanto, como nos ensina a Doutrina Espírita, calcada no Evangelho de Jesus, nós nunca seremos deserdados, porque o Criador, nosso Pai amoroso, não nos condena à penas eternas, nos corrigindo sempre, como bom educador, nos re-

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mete a um novo ensino, dando-nos uma nova oportunidade, um novo renascimento na carne, pa-ra que alcancemos fatalmente nossa meta, a perfeição. Isto fica bem evidente na parábola do “Filho pródigo e do irmão egoísta”.(6). Um homem tinha dois filhos e o mais moço requisitou sua herança e atendido, partiu para um país longínquo, onde dissipou toda a fortuna, vivendo dissolutamente. Em consequência disso, tornou-se pobre, pas-sando fome e vivendo entre os porcos. Arrependido, resolve voltar a seu pai e lhe diz: - Pai, pe-quei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado seu filho. O pai, no entretanto, teve compaixão dele e correndo o abraçou e o beijou. Mandou que seus servos o vestissem com a melhor roupa, lhe colocassem sandálias nos pés e anel no dedo e matassem um novilho, promo-vendo uma festa com música e dança. O filho egoísta indignou-se com o tratamento dado a seu irmão, pela bondade e misericórdia do pai, mas este retrucou: - Filho, tu sempre estais comigo e tudo o que tenho é teu, entretanto cumpre regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu ir-mão, era morto e reviveu, estava perdido e se achou. (Lucas 15:11-32) Vamos, enquanto nos encontramos a caminho, amar ao próximo como a nós mesmos, perdoando nossos irmãos errados, nos perdoando e promovendo a nossa reforma íntima, único roteiro para conquistarmos, ressarcidos nossos débitos, o “céu” divino e alcançarmos a nossa evolução. Para isso peçamos a inspiração do nosso mestre amado, Jesus, que na cruz, na intercorrência de seus algozes, pediu ao Pai: “- Perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem.” 1. KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Ed. FEB,1995, pg. 171. 2. GLASER, Abel, pelo Espírito Cairbar Schutel - Fundamentos da Reforma Íntima, Casa Ed. O Clarim, 2000, pg. 23. 3. CARRARA, Peter Orson - “Mundo Espírita”, jun./2000, pg. 9. 4. EDITORIAL - O Perdão de Deus, “O Clarim”, jul./2000, pg. 2. 5. SCHUTEL, Cairbar - Parábolas e Ensinos de Jesus, Casa Ed. O Clarim, 1993, pg. 94. 6. VINICIUS - Na Seara do Mestre, Ed. FEB, 1985, pg. 40. ---------------------------------------------------- 28 ----------------------------------------------------------- O CENTRO ESPÍRITA TEM DONO? Warwick Mota “Dá conta de tua administração.”- Jesus. (Lucas, 16:2.) Procurando subsídios para uma palestra, folheava o livro Os Mensageiros(1), quando me detive de forma mais demorada no capitulo 34 intitulado “Oficina de Nosso Lar”. O que alguns anos atrás não me chamou a devida atenção ao ler o livro, desta feita me prendeu de forma especial, mais especificamente à frase em que Isidoro se dirige hospitaleiro a André Luiz: “Entrem! - A casa pertence a todos os cooperadores fieis do serviço cristão” Tal assertiva reportou-me imediatamente a um diálogo que tive com um confrade amigo meu, acerca da construção de um Centro Espírita, em que o mesmo fazia questão de afirmar a todo o momento; vou construir o meu próprio Centro. Pois não se encontrava muito à vontade na insti-tuição a que pertencia. Tais afirmações, levou-me fazer, uma análise do assunto. Alguns irmãos, ao se sentirem melindrados, por algum motivo, nas instituições a que pertencem, libertam sentimentos negativos, como o egoísmo e o personalismo e saem a falar em altos bra-dos: Vou fundar o meu próprio Centro! Não estou colocando em questão a iniciativa altruísta cristã de construir um Centro, mas sim a ênfase dada ao pronome possessivo MEU, que nos dá a clara ideia de posse. E estes irmãos, após terem construído os “seus Centros,” usam de forma mal disfarçada do termo MEU, para imporem regras e empecilhos aos que desejam integrar-se às ta-refas enobrecedoras da casa, colocando explicitamente o personalismo nas tarefas que foram dis-tribuídas anteriormente. Quando estes donos, presidentes e detentores também de outras tarefas e “cargos” da casa, são procurados por trabalhadores da instituição que discordam das suas linhas de pensamento, fazem prevalecer as suas condições de “donos de Centro” e suas opiniões se so-brepõe a tudo. Quem não estiver satisfeito que procure outra casa, aqui eu mando. Esquecem po-rém que um grupo espírita é um templo aberto à necessidade e à indagação de todas as criaturas, que não se resume, simplesmente, a simples propriedade particular, mas na sua profundidade

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maior, à condição de escola de amor cristão, de hospital, de oficina de trabalho e, especialmente, de nossos irmãos desencarnados, que trabalham para o Cristo. Tais lembranças reportam-me a ensinamentos de Emmanuel, no livro Fonte Viva, “Na essência, cada ser humano é servidor pelo trabalho que realiza na obra do Supremo Pai, e, simultaneamente, é administrador, porquanto ca-da criatura detém possibilidades enormes no plano em que moureja”. 1 - Os Mensageiros, livro da série André Luiz (FEB) ----------------------------------------------------------- 29 ---------------------------------------------------- CHICO XAVIER PSICOGRAFOU LIVROS DE VERDADE? A maior ignorância é a que não sabe e crê saber, pois dá origem a todos os erros que cometemos com nossa inteligência. (SÓCRATES). Tão surpreendente quanto a naturalidade das pessoas em emitirem juízo sobre algo que pouco sabem, é seu desinteresse em melhor informarem-se. (LOEFFLER). Basta um único corvo branco para provar que nem todos são negros. (LOEFL-LER). Paulo da Silva Neto Sobrinho Introdução Nessa era da informática em que atualmente vivemos, com os computadores se proliferando por todos os lados unindo as pessoas, trouxe, via de consequência, entre os internautas, inúmeros de-bates sob os mais variados assuntos. Assim, podemos constatar uma enorme quantidade de sites onde existem os Fóruns, local desses debates. Embora louvável a ideia, estranhamos ver que al-guns desses Fóruns estão na verdade servindo para que determinadas pessoas tenham a oportuni-dade de ficarem atirando pedra em telhado de vizinho. Muitos participantes estão mais preocu-pados em fazer os outros verem as coisas sob sua ótica que realmente fazer um debate sério, on-de deveria, primordialmente, prevalecer a cortesia e o respeito ao pensamento alheio. Têm apa-recido muitos donos da verdade, que querem que os outros pensem exatamente como eles, ficam até irritados quando não conseguem isso, descambam para as agressões, ocorrência comum aos que não possuem argumentos convincentes. É um paradoxo, não oferecem base lógica e racional em apoio a seu ponto de vista, mas mesmo assim acham que os outros devem aceitar. Por outro lado, nesses Fóruns, indivíduos têm se apresentado sem o mínimo conhecimento da-quilo que se propõem a debater, demonstrando categoricamente não terem as imprescindíveis condições para o debate, já que não conhecem o mínimo do assunto em foco. Estão eles, nos ca-sos de assuntos religiosos, se tornando porta aberta aos fanáticos, estes cegos que não suportam que as pessoas pensem diferente deles, daí ficam a vociferar contra a opção religiosa das outras pessoas, o que a nosso ver, é um desrespeito ao direito sagrado de cada indivíduo em seguir o que achar melhor para si. Direito esse tão importante que está consagrado na Constituição Brasi-leira. “Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” (Mt 7, 12) disse-nos Jesus, numa clara alusão a que o direito de cada um vai até onde começa o do outro. Vejamos, então, o que foi colocado num desses Fóruns, na Internet. A questão proposta. Postaram o seguinte: Autor: Thiago em 01/08/2003, 14:29:25 (e-mail não disponível) - Se os Espíritos de luz podem psicografar livros, como Allan Kardec psicografou um monte, pq os Espíritos de luz como a Virgem Maria, os Apóstolos, o próprio Jesus nunca psicografou um livro; por que? Onde está na Bíblia algo sobre livros psicografados? Primeiramente identificamos nessa fala que o autor realmente nada conhece de Espiritismo, pois se conhecesse saberia que Kardec não psicografou sequer um só livro. Os livros que publicou além de respostas dadas pelos Espíritos por meio de vários médiuns, provenientes de vários luga-res, contêm também sua opinião pessoal, fruto da observação e da experimentação. Kardec sem-pre separou o que provinha dele próprio daquilo que veio por via mediúnica através dos médiuns

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que utilizou para obter as respostas aos seus questionamentos. Como pedagogo, discípulo de Pes-talozzi, imprimiu nessa obra seu caráter de professor e homem de ciência que era. A pergunta “pq os Espíritos de luz como a Virgem Maria, os Apóstolos, o próprio Jesus nunca psicografou um livro; por que?”, devemos esclarecer, se entendemos bem o questionamento, que, em verdade, os Espíritos não psicografam, eles transmitem seu pensamento ao médium, esse sim é quem psicografa. Mas é bom que se diga, que a mediunidade não se restringe apenas ao fenômeno da psicografia, assim, podemos afirmar, com base na Bíblia, que os fenômenos medi-únicos estão lá para quem tiver olhos de ver. O que não acontece com os fanáticos, é claro. Se entre os que se encontram vivos existe a telepatia, por que não poderia haver entre os Espíri-tos e nós? Ou será que após a nossa morte deixamos de pensar? Mas não foi Jesus quem afirmou ser o Pai “Deus de vivos” (Mt 22,32). Se assim for, teremos que conservar a nossa individualida-de como ser pensante após passarmos para o outro lado. Aos estudiosos da Bíblia é fácil citar o episódio em que o rei Saul vai a Endor e pede a uma pito-nisa para evocar o Espírito Samuel, que aparece e lhe diz de sua eminente derrota frente aos filis-teus, inclusive que nessa batalha o rei e seus filhos pereceriam, o que de fato ocorreu (1 Sm 28). E aos que possam argumentar que foi o demônio que se manifestou, pedimos que nos provem is-so. Entretanto, na própria Bíblia encontramos a confirmação do fato, é só ler em Eclesiástico a afirmativa que Samuel mesmo depois de morto profetizou (46, 20), abstraindo-se de que na nar-rativa anterior isso já está confirmado. E talvez a passagem mais importante, normalmente nunca mencionada pelos fanáticos, é aquela sobre a transfiguração de Jesus no monte Tabor, onde na companhia de Pedro, Tiago e João, conversa com os Espíritos Moisés e Elias (Mt 17, 1-9). E como em certa oportunidade Jesus dis-se que poderíamos fazer o que ele fez e até mais, então de que lado reside a incoerência? Poderemos também, para confirmar a comunicação com os Espíritos, afirmar o fato que sempre alegam de que Deus proibiu a evocação dos mortos, daí podemos concluir que existe a possibili-dade, caso contrário, estaremos afirmando que Deus está proibindo algo que não pode acontecer, um absurdo não é mesmo? Agora se a Virgem Maria, os Apóstolos e Jesus não querem utilizar um médium para se comuni-carem conosco através da psicografia, com certeza devem ter lá os seus motivos. O primeiro de-les acreditamos seria que não lhes dariam créditos. Uns falariam que os mortos não se comuni-cam, outros que só pode ser obra de satanás, enfim, fora os Espíritas, quase ninguém mais acre-ditaria. Mas se não houvesse preconceito e nem fanatismo, os que têm olhos de ver veriam que isso já ocorreu, é só estudar os livros da codificação Espírita, que se encontrarão mensagens as-sinadas por algum deles. A pergunta seguinte: “Onde está na Bíblia algo sobre livros psicografados?” é típica de fanático religioso que pensa que o que não está na Bíblia não existe. Se seguirmos essa mesma linha de raciocínio, podemos dizer que a clonagem não existe, que uma sonda espacial não pousou em Marte, que a Internet é ilusão demoníaca, que só doido acredita que uma pessoa possa falar com outra a milhares de quilômetros de distância, etc. e muitos etc. mais. Apesar disso, podemos di-zer que existe sim. Na Bíblia podemos citar livro psicografado, entretanto só o perceberá quem tiver conhecimento suficiente dos fenômenos mediúnicos para poder identificá-lo. Como nem todos podem fazer isso, permitimo-nos apresentá-lo. Trata-se do livro Apocalipse, escrito por Jo-ão. Reportemos a LOEFFLER: “Basta um único corvo branco para provar que nem todos são negros”. Leiamos: “Eu, João, irmão e companheiro de vocês neste tempo de tribulação, na reale-za e na perseverança em Jesus, eu estava exilado na ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor, o Espírito tomou conta de mim. E atrás de mim ouvi uma voz forte como trombeta, que dizia: ‘Escreva num livro tudo o que você está ven-do. Depois mande para as sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e La-odicéia’” (Ap 1, 9-11). Mais à frente, vamos encontrar João afirmando: “Depois de escrever as cartas às igrejas, eu, João, tive uma visão. (...)” (Ap 4.1). Perguntamos como uma pessoa “sim-ples e sem instrução”, como está dito de João (At 4,13), pode escrever alguma coisa? Obra do Espírito Santo? Ótimo: incontestavelmente um fenômeno mediúnico, seja lá ele quem for. Mas a narrativa bíblica nos fala que foi o próprio Jesus, obviamente em Espírito, quem estava fazendo as revelações a João. “O Espírito tomou conta de mim”, em outras palavras o Espírito sintonizou

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ou, como se diz popularmente, incorporou em mim. “Escreva num livro”, quer dizer psicografa um livro. Entretanto, alguém poderá dizer: mas na minha Bíblia não está dessa maneira. É um fa-to. Só que achamos muito curioso que “a palavra” de Deus tenha versões diferentes, já que as Bíblias apresentam narrativas divergentes para o versículo 10. Jerônimo, o autor da Vulgata de-clarou: “A verdade não pode existir em coisas que divergem”, deixando-nos numa situação difí-cil para sabermos onde está de fato a narrativa verdadeira. Assim, é que poderemos encontrar “fui arrebatado em Espírito”, “fui arrebatado em êxtase”, “fui levado em Espírito” e “fui movido pelo Espírito”. Essa última levando ao leitor acreditar que talvez esse Espírito seja o Espírito Santo, em que acreditam. As outras narrativas diz-nos da realidade do afastamento do Espírito de João, com a consequente posse de seu corpo pelo Espírito revelador, Jesus. Daí ser fácil entender porque João mesmo sendo iletrado escreveu, já que essa ocorrência mediúnica se caracteriza como uma mediunidade mecânica, onde o Espírito do médium é afastado do corpo, para que o Espírito comunicante o utilize para dar a sua mensagem. Nesse tipo de mediunidade o médium produz até mesmo coisas além de seu conhecimento atual, entretanto não guarda lembrança dos fatos ocorridos nesse período, pois não ficam gravados em sua memória física. Chico Xavier psicografou? Aos que não sabem, o mineiro do século, Chico Xavier, cursou apenas até o antigo quarto ano primário, e numa análise do conteúdo do que produziu, por sua mediunidade, podemos encontrar conhecimento muito além de sua cultura escolar. Conseguiu, em sua primeira obra mediúnica, Parnaso do Além Túmulo, psicografar 256 poesias de 56 autores. Poesias essas perfeitamente identificáveis com o estilo que conhecemos dos poetas autores da mensagem. Talvez quem sabe um gênio conseguiria fazer isso, o que não era o caso de Chico. Um perito em grafoscopia, Car-los Augusto Perandréa, após analisar uma mensagem recebida em italiano, língua que Chico não conhecia, em comparação com escritos dessa pessoa quando viva, atesta: “A mensagem psico-grafada por Francisco Cândido Xavier, em 22 de julho de 1978, atribuída a Ilda Mascaro Saullo, contém, conforme demonstração fotográfica (figs. 13 a 18), em ‘numero’ e em ‘qualidade’, con-sideráveis e irrefutáveis características de gênese gráfica suficientes para a revelação e identifi-cação de Ilda Mascaro Saullo como autora da mensagem questionada” (pág. 56). É bom que se diga que após “700 laudos técnicos, sem uma única contestação em 25 anos de atuação, proporcionam ao professor Perandréa, conhecimento, capacidade e alta credibilidade para estudar imparcialmente e cientificamente a psicografia” (Appoloni, C. R). Um trecho interessante narrado no livro Nosso Amigo Chico Xavier: “O outro caso de xenoglos-sia ocorreu após visitar, em companhia do Dr. Rômulo Dantas, a fazenda de propriedade do Dr. Louis Ensch, engenheiro luxemburguês, fundador da Usina de Monlevade da Companhia Belgo-Mineira, em Monlevade (MG). Após o regresso, numa das suas preces, recebe uma mensagem em luxemburguês, endereçada ao engenheiro, que ao lê-la foi tomado de grande surpresa e admi-ração: estava escrita em sua língua nacional, com tamanha perfeição, que somente os intelectuais de sua pátria estariam aptos a compreendê-la.” “Se faz necessário notar que pouquíssimas pesso-as em nosso país falam o luxemburguês. Seria necessário catá-las a dedo, pois esta língua é fala-da em um país europeu que possui uma população total de 340.000 habitantes, o equivalente à de nossa cidade litorânea, Santos”. Nesse mesmo livro é citado um caso em que Chico psicografou em inglês ao inverso, fato pouco comum e inusitado para quem não fala esse idioma. São os fatos que apontam para a veracidade da psicografia de Chico Xavier, cuja obra perfazem para mais de 400 livros, inclusive alguns foram publicados em vários idiomas. Se não são obras dos Espíritos deveríamos então ter colocado o Chico para ocupar um lugar na Academia Brasi-leira de Letras. Conclusão O que percebemos claramente é que por detrás de tudo isso o que está se questionando realmente é a possibilidade da comunicação entre vivos e mortos. Conforme já o citamos “Deus é Deus dos vivos”, assim por que não poderia haver a comunicação entre os dois planos da vida? Só porque alguns teólogos acham que não? Mas e as pesquisas sobre o assunto não valem nada? Podería-mos citar as pesquisas de Sr. Willian Crookes e inúmeros outros sábios, entretanto poderão apre-sentar objeções relativamente à época de quando foram feitas e outras mais. Mas não iremos tão longe. Buscaremos, para acrescentar ao que já dissemos, o testemunho de um padre católico.

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Exatamente, por ser um padre é que sua opinião é importante, pois sabemos que embora possa não ser a posição oficial da Igreja Católica, quase todos os padres dizem que a comunicação com os “mortos” não é possível. O que achamos muito estranho, pois não conhecemos nenhum santo vivo, mas apesar disso os católicos ficam a evocá-los, pedindo-os para resolver seus problemas do dia-a-dia. Apelam aos santos para intercederem por eles junto a Deus, como nós muitas vezes buscamos a ajuda de uma pessoa para obter favor de uma outra mais influente. Diz-nos o Pe. François Brune, pesquisador católico da Transcomunicação Instrumental - comunicação com os Espíritos por meio eletrônico: “Interrogar sobre as origens, no pensamento ocidental, desta re-cente ideologia do nada, não é o meu propósito. O mais escandaloso é o silêncio, o desdém, até mesmo a censura exercida pela Ciência e pela Igreja, a respeito da descoberta inconteste mais extraordinária de nosso tempo: o após vida existe e nós podemos nos comunicar com aqueles que chamamos de mortos”. “Escrevi este livro para tentar derrubar esse espesso muro de silêncio, de incompreensão, de ostracismo, erigido pela maior parte dos meios intelectuais do ocidente. Para eles, dissertar sobre a eternidade é tolerável; dizer que se pode vivê-la torna-se mais discutível; afirmar que se pode entrar em comunicação com ela é considerado insuportável”. “O padre e teó-logo que sou quis, como se diz, certificar-se completamente da verdade. Por que todos esses tes-temunhos deveriam ser, a priori, considerados suspeitos? Quando o conteúdo das mensagens e das comunicações gravadas reúne, como eu demonstro, os maiores textos místicos de diversas tradições, existe nisso mais que uma simples coincidência. Eu acompanhei, pois, e estudei apai-xonadamente os resultados das pesquisas mais recentes nesse campo. As conclusões deste traba-lho ultrapassaram minhas previsões: não somente a credibilidade científica das experiências de comunicação com os mortos encontra-se confirmada e não pode mais ser posta em dúvida, mas a prodigiosa riqueza dessa literatura do além reanimou em mim o que séculos de intelectualismo teológico haviam extinguido”. “Vox ‘patris’ Vox Dei”. E ponto final. Referências bibliográficas: Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002. Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, São Paulo, Paulus, 1990. BRUNE, Pe. F. Os Mortos nos Falam, Sobradinho-DF, Edicel, 1991. CHAVES, J.R. A Face Oculta das Religiões, São Paulo, Martin Claret, 2001. COSTA E SILVA, L. Nosso Amigo Chico Xavier, São Paulo, Editora ALF, 1995. LOEFFLER, C. F. Fundamentação da Ciência Espírita, Niterói, Lachâtre, 2003. PERANDRÉA, C. A. A Psicografia à Luz da Grafoscopia, São Paulo, Editora Fé, 1991. ----------------------------------------------------------- 30 ---------------------------------------------------- UM CONVITE INTERESSANTE Warwick Mota Allan Kardec ao publicar a primeira edição de O Evangelho Segundo o Espiritismo em abril de 1864, legava para a humanidade a chama confortadora da lei evangélica interpretada à luz dos ensinos espíritas, então iniciados em 18 de abril de 1857 com a publicação de O Livros dos Espí-ritos, como também viabilizava sua relação interativa com os mais diversos problemas do ser humano. A publicação de O Evangelho, veio sem qualquer receio de afirmar, ampliar o toque de amor dado a obra de Kardec, compondo a trilogia, Evangelho, Mediunidade e Espiritismo. O conteúdo moral explícito em suas páginas propõe ao ser humano a necessidade imediata da re-forma íntima, através da assimilação pela exemplificação, dos ensinos propostos pelo Cristo. Apesar da grande dificuldade que temos em exteriorizar ensinamentos evangélicos por intermé-dio dos exemplos, dado à nossa pouca evolução, o Evangelho nos convida à mudança interior ba-lizada nas propostas do Mestre Jesus, que se resume no exercício diário de amor ao próximo. As proposições orientadoras contida nesta obra, não se prestam a uma simples leitura fortuita, mas a um envolvimento maior no sentido de estudo e absorção de suas máximas, nos levando a refle-xões, que só os ensinamentos de Jesus podem proporcionar. O Codificador percebendo a grande-

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za da obra e a sua importância para a humanidade, nos chama a atenção para os seguintes ensi-namentos, já na introdução, item primeiro, parágrafo último, dos objetivos da obra: “Esta obra é para uso de todo mundo; cada um nela pode achar os meios de conformar sua con-duta à moral do Cristo. Os espíritas nela encontrarão, por outro lado, as aplicações que lhes con-cernem mais especialmente. Graças às comunicações estabelecidas, de hoje em diante de um modo permanente com o mundo invisível, a lei evangélica, ensinada a todas as nações pelos pró-prios Espíritos, não será mais letra morta, porque cada um a compreenderá, e será incessante-mente solicitado em praticá-la pelos conselhos dos seus guias espirituais. As instruções dos Espí-ritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os seres humanos e convidá-los à prática do Evangelho”. Diante de tais palavras, a necessidade de reforma cala fundo em nossas consciências, propondo mudanças urgentes, principalmente em nós espíritas que a tanto propalamos, mas que, temos tris-temente dado maus exemplos, seja pelas dissensões que causamos no movimento espírita, pela adulteração dos postulados Kardequianos, pela comercialização indevida daquilo que não nos pertence, e por tantos outros fatores que não vale a pena citar. As palavras do Mestre lionês dispensam qualquer comentário, e suas afirmações são claras quando diz. “As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes de céu que vêm esclare-cer os seres humanos e convidá-los à prática do Evangelho”. ---------------------------------------------------------- 31 ----------------------------------------------------- CRENÇA OU CONHECIMENTO? Amilcar Del Chiaro Filho O Espiritismo não é uma questão de crença, mas de conhecimento, por isso, Allan Kardec afir-mou que: em matéria de Espiritismo, antes de crer, é preciso compreender. Portanto, o Espiritis-mo não é proselitista, no sentido de angariar adeptos a qualquer custo. O Espiritismo não pede para ninguém abandonar as suas crenças para segui-lo. As pessoas procuram o Espiritismo por diversas razões, contudo, a maioria o procura nas fases de dores físicas ou morais, quase sempre em busca de uma solução ou de uma cura. Destes, mui-tos alcançam o objetivo e se afastam, até que uma nova crise venha surpreendê-los. Outros con-tinuam frequentando o Centro para receber passes, sem se aprofundar, nem que seja por alguns centímetros, no cerne da Doutrina. Um menor número se aprofunda no estudo e no conhecimen-to, e alguns passam a ser trabalhadores espíritas. Não é fácil se tornar espírita convicto, especialmente depois de ter passados por igrejas e religi-ões, porque o sedimento dessas crenças é difícil de ser retirado, e o novo adepto começa a sentir falta dos seus dogmas, dos seus ritos litúrgicos, dos hinos, das estampas de seus santos e come-çam a questionar, e não raro, ter o seu modo particular de fazer espiritismo. Não estamos conde-nando esses procedimentos, pois conhecemos pessoas maravilhosas, honestas, dedicadas ao pró-ximo, médiuns sensíveis que em seus grupos espíritas adaptaram as velhas crenças às novas, fa-zendo uma amálgama filosófico-religiosa. As vezes essas coisas acontecem até mesmo nas ins-tâncias mais altas, porque ainda encontramos o culto de personagens, até com estampas de suas figuras, como do Dr. Bezerra de Meneses, Meimei, Maria, mãe de Jesus. Alguns Centros adota-ram hinários, outros, uniformes ou aventais. Há Também a criação de fraternidades com graus iniciáticos, o culto a um Jesus de olhar lânguido, com o coração fora do peito, ou as marcas dos cravos nas mãos e pés, tipicamente dos altares católicos. Reiteramos que o nosso intuito não é o de criticar, mas apenas mostrar como é difícil libertar-nos dos condicionamentos adquiridos em religiões que nos embalaram anteriormente. Aparentemen-te não há nenhum mal nessas misturas, entretanto ela nos afasta da libertação dos condiciona-mentos que estreitam a nossa visão doutrinária. ---------------------------------------------------------- 32 -----------------------------------------------------

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CULTO DO EVANGELHO NO LAR Warwick Mota “Onde que se encontrem duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, eu com elas estarei “ - Jesus (Mateus 18:20) Tornou-se notório nos araiás espíritas, que há duas formas de se conhecer a Doutrina: uma pelo amor, outra pela dor. Levando-se em consideração o atual estágio do Planeta, a dor ainda tem si-do a grande responsável pelo aporte de Espíritos aflitos às Casas Espíritas, que vêm em busca de respostas que mudem o norte de suas vidas. Estes irmãos, após os primeiros contatos, descobrem que a Doutrina Espírita não é em absoluto a chave mágica que promete girar as engrenagens de suas vidas, modificando-as num piscar de olhos, mas sim que esta promove a modificação interior, que é uma doutrina de amor e sobretudo de esclarecimento, que viabiliza a libertação de posturas equivocadas trazendo como consequen-te lógico a reforma íntima. É com a familiarização continua dos postulados espíritas, que estes irmãos vão descobrindo aos poucos a necessidade de harmonizarem-se, principalmente em família, pois esta é a mola propul-sora, o mecanismo renovador para o desenvolvimento de preceitos cristãos, é principalmente no lar que o ser humano tem a oportunidade maior de reencontro como os companheiros do passa-do, é no lar, no seio da família que deve desenvolver-se o mecanismo de reajustamento e amor ao próximo. Diante destes primeiros entendimentos, surgem então as primeiras indagações. Onde entra o Cul-to do Evangelho no Lar neste processo? Como devo fazê-lo? Toda a família pode participar? O estudo do Evangelho de Jesus realizado no ambiente doméstico, é valiosa ferramenta de aper-feiçoamento, foi sob o aconchego e a simplicidade da casa de Simão Pedro, através dos exem-plos do cotidiano que o Mestre Jesus exortou a importância dos valores familiares dando “à casa do ser humano a qualidade de legitima exportadora de caracteres da vida comum”(1). Nos diz Joanna de Angelis que, “quando a família ora, Jesus se demora em casa”(2). A prece no lar tem um papel fundamental na psicosfera do ambiente doméstico, é entre outras, a oportunida-de de agradecimento, a prece em família é poderoso influxo magnético que envolve o lar em eflúvios de luz. Como toda e qualquer tarefa espírita, o Culto do Evangelho no Lar requer disciplina e seriedade, vontade deliberada por si só não basta, é necessário entregar-se ao estudo e ao esclarecimento, a fim de que a reunião ocorra de forma natural, sem os mecanicismos e ritos oriundos de outras crenças. Não há necessidade de um manual que normatize esta reunião familiar, contudo, devem existir regras básicas que norteiem o processo, de modo que, este não se perca em procedimentos inú-teis. Um dia e horário fixo devem ser definidos para a realização do Culto, visto que contamos com o concurso dos bons Espíritos nesta tarefa enobrecedora e que estes não estão a nossa inteira disposição quando se trata da questão de indisciplina horária. Chegado então o dia da realização do Culto, desligue pelo menos uma hora antes, os aparelhos de televisão e som, ponha sobre a mesa uma jarra com água pura, faça uma leitura de uma men-sagem de caráter edificante para a preparação do ambiente, após a leitura faça a prece inicial e na sequencia, abra ao “acaso” uma página de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ou se preferir es-tude-o de forma sistematizada. O tempo de duração do Culto deve durar entre trinta e sessenta minutos no máximo, para que não se torne monótono ou desinteressante, se tiver crianças em idade de sentarem à mesa é de es-sencial relevância a participação destas, não se intimide se chegarem visitas inesperadas, expli-que o sentido da reunião e convide-as a participarem, se alguém da família se nega a participar, não desanime, se necessário for faça o estudo sozinho, o tempo é senhor da razão e a semente plantada com amor logo dará frutos pela força do exemplo. Cabe salientar que determinados procedimentos e práticas cabem apenas às Casas Espíritas e que o ambiente doméstico não é o lugar propício para irradiações ou fenômenos mais ostensivos, como a psicofonia por exemplo, o lar em nenhum momento deve ser confundido com Centro Es-pírita.

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Meditar nas palavras do Mestre Jesus pelo menos uma vez por semana junto àqueles que divi-dem conosco o ambiente familiar, fazer da nossa casa um santuário doméstico, onde possamos compartilhar do exame sempre novo dos problemas que inquietam os nossos entes queridos, é sem dúvida um exercício de sublimação dos valores que permeiam a mais importante célula da sociedade, que é a família. 1 - Jesus no Lar , Cap. 1 Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Neio Lúcio - FEB 2 - SOS Família pág. 59 Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Angelis ----------------------------------------------------------- 33 ---------------------------------------------------- DA LEI DE CONSERVAÇÃO Elio Mollo - Maria L. Palhas colaborou com o desenvolvimento ortográfico deste texto. Instinto de Conservação O instinto de conservação é Lei da Natureza. Todos os seres vivos o possuem, seja qual for o grau de sua inteligência. Em alguns, é puramente inconsciente, em outros é racional. Deus con-cedeu a todos os seres vivos o instinto de conservação, porque todos têm que concorrer para o cumprimento dos desígnios da Providência. Foi por isso que Deus lhes deu a necessidade de vi-ver. Acresça-se que a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Todos o sentimos instinti-vamente, sem disso nos apercebermos. Meios de conservação Tendo-nos dado a necessidade de viver, Deus nos facultou, em todos os tempos, os meios de o conseguir e, se não os encontramos, é porque ainda não os compreendemos. Não condiz com a lógica que Deus tivesse criado para nós a necessidade de viver, sem nos oferecer os meios de consegui-lo. Essa a razão por que faz Ele que a Terra produza de modo a proporcionar o necessá-rio aos que a habitam, visto que só o necessário é útil. O supérfluo nunca o é. Se nem sempre a Terra produz bastante para nos fornecer o necessário é que, por ingratidão, a desprezamos! No entanto, a Terra é excelente mãe. Muitas vezes, também, acusamos a Natureza do que é só resul-tado da nossa imperícia ou da nossa imprevidência. Se o essencial nos bastasse, o produto da Terra seria sempre mais do que suficiente. Se o que ela produz não basta a todas as nossas neces-sidades, é que empregamos no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. Hoje em dia na questão agrária: conforme somos informados pela mídia, o ser humano destrói, por mau acondicionamento e desinteresse no compartilhamento, perto de metade dos grãos que colhe; portanto, hoje já se colhe mais do que o necessário para saciar a fome do mundo - então não seria problema de carência, mas de má gestão, de egoísmo, de interesse pecuniário. Sempre encontra-remos do que viver, desde que não criemos para nós necessidades artificiais. Se desperdiçamos a metade dos produtos em satisfazer nossas fantasias, que motivos teremos para nos espantar de nada encontrarmos no dia seguinte? De nos queixarmos de estarmos desprovidos de tudo, quan-do chegarem os dias de penúria? Em verdade, imprevidente não é a Natureza, mas nós, que não sabemos regrar o nosso viver. O solo é a fonte primacial donde procedem todos os outros recursos, pois que, em definitivo, es-tes recursos são simples transformações dos produtos do solo. Por bens da Terra devemos, pois, entender tudo de que podemos desfrutar neste mundo. É frequente a certos indivíduos faltarem formas de subsistência, mesmo em meio à abastança. É pelo nosso egoísmo, que nem sempre fazemos o que nos cumpre. E no mais das vezes, devemo-lo a nós mesmos. “Buscai e achareis”; estas palavras não querem dizer que, para acharmos o que desejamos, basta uma atitude passiva, mas é preciso procurá-lo sempre com ardor e perseveran-ça, sem desanimar ante os obstáculos, que muito amiúde são simples meios de que se utiliza a Providência para nos experimentar a constância, a paciência e a firmeza. Algumas vezes, os obstáculos à realização dos nossos projetos são, com efeito, decorrentes da ação dos Espíritos; muito mais vezes, porém, nós é que andamos errados na elaboração e na exe-cução dos nossos projetos. Muito influem nesses casos a posição e o caráter do indivíduo. Se nos obstinamos em ir por um caminho que não devemos seguir, os Espíritos nenhuma culpa têm dos nossos insucessos. Nós mesmos nos constituímos em nossos maus gênios.

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Se é certo que a Civilização multiplica as necessidades, também o é que multiplica as fontes de trabalho e os meios de viver. Forçoso é, porém, convir que, a tal respeito, muito ainda nos resta fazer. Quando ela houver concluído a sua obra, ninguém deverá haver que possa queixar-se de lhe faltar o necessário, a não ser por própria culpa. A desgraça, para muitos, provém de envere-darmos por uma senda diversa da que a Natureza nos traçou. É então que nos falece a inteligên-cia para o bom êxito. Para todos há lugar ao Sol, mas com a condição de que cada um ocupe o seu e não o dos outros. A Natureza não pode ser responsável pelos defeitos da organização soci-al, nem pelas consequências da ambição e do excessivo amor-próprio. É preciso, entretanto, ser cego para ignorar o progresso que, por esse lado, têm feito os povos mais adiantados. Graças aos louváveis esforços que, juntas, a Filantropia e a Ciência não cessam de despender para melhorar a condição material dos seres humanos e, mau grado o crescimento incessante das populações, a insuficiência da produção se acha atenuada, pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos do presente não se podem de modo algum comparar aos de ou-trora. A higiene pública, elemento tão essencial da força e da saúde, que nossos antepassados não conheceram, é objeto de esclarecida solicitude. O infortúnio e o sofrimento encontram onde se refugiem. Por toda parte a Ciência contribui para acrescer o bem-estar. Poder-se-á dizer que já se haja chegado à perfeição? Não, certamente; mas, o que já se fez deixa prever o que, com perse-verança, se logrará conseguir, se nos mostrarmos bastante avisados para procurarmos a nossa fe-licidade nas coisas positivas e sérias, e não em utopias que nos levarão a recuar em vez de nos fazerem avançar. Há situações nas quais os meios de subsistência de maneira alguma dependem da nossa vontade. Assim sendo, a privação seria uma prova, muitas vezes cruel, que nos compete sofrer e que, em-bora esquecidos, sabíamos de antemão que viríamos a estar expostos. Nosso mérito então consis-te em submetermo-nos à vontade de Deus, desde que a nossa inteligência nenhum meio nos per-mita de sair da dificuldade. Se a morte vier a nos colher, cumpre-nos recebê-la sem murmurar, ponderando que a hora da verdadeira libertação soou; e que o desespero no derradeiro momento pode invalidar por completo o resultado. Muitas vezes nos perguntamos: Será crime, em certas situações críticas, por exemplo, vermo-nos na contingência de sacrificar nossos semelhantes para matar a fome e perpetrarmos o ato? Sendo crime, este ato não se terá revestido da intenção de atenuar a nossa necessidade de viver, resulta-do do instinto de conservação? Ora, há mais merecimento em sofrer todas as provações da vida com coragem e abnegação; pois, em tal caso, há homicídio e crime de lesa-natureza, falta que se-rá duplamente punida. Nos mundos mais evoluídos a organização é mais apurada, mas mesmo assim os seres vivos têm necessidade de alimentar-se; contudo os seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Tais alimentos não seriam bastante substanciosos para os nossos estômagos grosseiros; assim como os deles não poderiam digerir os nossos alimentos. Gozo dos bens terrenos O uso dos bens da Terra é um direito de todos nós, mas esse direito é consequente da necessida-de de viver. Deus não imporia um dever sem nos oferecer o meio de cumpri-lo. Deus fez os atra-tivos nos gozo dos bens materiais com o fim de nos estimular ao cumprimento da nossa missão e para experimentar-nos por meio da tentação. O objetivo dessa tentação é desenvolver em nós a razão, que deve preservar-nos dos excessos. Se só fossemos induzidos a usar dos bens terrenos pela utilidade que têm, nossa indiferença tal-vez houvesse comprometido a harmonia do Universo. Deus imprimiu a esse uso o atrativo do prazer, porque assim somos impelidos ao cumprimento dos desígnios providenciais. Mas, além disso, tendo dado Deus ao uso dos bens terrenos esse atrativo, quis Ele também experimentar-nos por meio da tentação, que poderá nos arrastar para o abuso, desde que não usemos a razão e o bom senso para nos defender. A Natureza traçou seus termos aos gozos para nos indicar o limi-te do necessário. Mas, pelos nossos excessos, ultrapassamos a saciedade e nos punimos a nós mesmos. Quando procuramos nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, colocamo-nos abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade. Abdicamos da razão que Deus nos deu por guia e, quanto maiores forem nossos excessos, tanto maior preponderância terá

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a natureza animal sobre a nossa natureza espiritual. As doenças são consequências à transgressão da Lei de Deus. Necessário e supérfluo O ser humano ponderado conhece o limite do necessário por intuição, mas muitos só chegam a conhecê-lo por experiência adquirida através de esforço próprio. A Natureza traçou o limite do necessário em nossa própria organização, mas geralmente somos insaciáveis, e por meio dos ví-cios alteramos nossa constituição criando necessidades que não são reais. Quando monopoliza-mos os bens da Terra para auferir o supérfluo com prejuízo daqueles a quem falta o necessário, olvidamos a Lei de Deus e teremos que responder pelas privações que houvermos causado aos outros. Nada tem de absoluto o limite entre o necessário e o supérfluo. A Civilização criou necessidades que o selvagem desconhece. O ser humano civilizado não deve viver como o selvagem. Tudo é relativo, cabendo à razão regrar as coisas. A Civilização desenvolve o senso moral e, ao mesmo tempo, o sentimento de caridade, que nos levam a prestar mútuo apoio. Quando vivemos à custa das privações dos outros, explorando em nosso proveito os benefícios da Civilização, significa que temos apenas o verniz, como muitos, que da religião só têm a máscara. Privações voluntárias. Mortificações A lei de conservação nos obriga a prover as necessidades do corpo, porque, sem força e saúde, impossível é o trabalho. É natural o desejo do bem-estar. Deus só proíbe o abuso por ser contrá-rio à conservação. Ele não condena a procura do bem-estar, desde que não seja conseguido à cus-ta de outrem e não venha a diminuir-nos nem as forças físicas, nem as forças morais. As privações dos prazeres inúteis nos desprendem da matéria e nos elevam espiritualmente. É meritório resistir à tentação que nos arrasta ao excesso de interesses; tirar de nós o que nos é bas-tante para dar aos que carecem do necessário também é meritório: todas ações que fizermos em prol de nossos semelhantes serão meritórias aos olhos de Deus. Mas a privação que não passar de aparência, será uma irrisão. Se a vida de mortificações ascéticas que existe desde a mais remota Antiguidade - e que teve praticantes no seio de diversos povos - serve somente para quem a pra-tica mas o impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o pretexto com que entendam colori-la. Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, eis a verdadeira mortificação, segundo a cari-dade cristã. É racional alimentarmo-nos de tudo o que não nos prejudique a saúde. Alguns legisladores de diversos povos, porém, com um fim útil, entenderam de interdizer o uso de certos alimentos e, para imprimirem maior autoridade às suas leis, apresentaram-nas como emanadas de Deus. Dada a nossa constituição física, a alimentação animal não é contrária à Lei da Natureza - ainda a car-ne alimenta a carne, do contrário perecemos. A lei de conservação nos prescreve, como um de-ver, que mantenhamos nossas forças e nossa saúde para bem cumprirmos a lei do trabalho. Te-mos, pois, que nos alimentarmos conforme o reclame a nossa organização. Será meritório nos abster da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação, se a prática dessa privação for em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, só há mortificação havendo privação séria e útil. Seremos hipócritas se apenas aparentemente, sem um propósito útil ou por pura vaidade, nos privarmos de alguma coisa. Será que são úteis as mutilações operadas no corpo do ser humano ou dos animais? Ora, a Deus não pode agradar o que seja inútil e o que for nocivo Lhe será sem-pre desagradável. Deus só é sensível aos sentimentos que elevam para Ele o Espírito. Obedecen-do-Lhe a lei é que poderemos forrar-nos ao jugo da matéria terrestre. Os sofrimentos naturais são os únicos que elevam, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. É ilusão pensar que se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas. Seremos muito mais úteis se preferirmos trabalhar pelo bem de nossos semelhantes - vestindo o indigente; consolando os que choram; trabalhando pelo que es-tão enfermos. Sofrer privações só se for para aliviar os infelizes - então nossas vidas serão úteis, agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; so-frer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo. Contra os perigos e os sofrimentos é que o instinto de conservação foi dado a todos os seres. Fus-tiguemos o Espírito e não o corpo, mortifiquemos o nosso orgulho, sufoquemos o nosso egoís-

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mo, que se assemelha a uma serpente a nos roer o coração, e faremos muito mais pelo nosso adi-antamento do que infligindo-nos rigores que não mais se coadunam com esta época em que es-tamos vivendo. “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, Livro terceiro, cap.V, qq. 702 à 727 ------------------------------------------------------------ 34 --------------------------------------------------- DA LEI DO TRABALHO Elio Mollo Do ponto de vista terreno, a máxima: Buscai e achareis é análoga a esta outra: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho e, por conseguinte, da lei do progresso, porquanto o progresso é filho do trabalho, visto que este põe em ação as forças da inteligência. Na infância da Humanidade, o ser humano só aplica a inteligência à cata do alimento, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos seus inimigos. Deus, porém, lhe deu, a mais do que outorgou ao animal, o desejo incessante do melhor, e é esse desejo que o impele à pesqui-sa dos meios de melhorar a sua posição, que o leva às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoa-mento da Ciência, porquanto é a Ciência que lhe proporciona o que lhe falta. Pelas suas pesqui-sas, a inteligência se lhe engrandece, o moral se lhe depura. As necessidades do corpo sucedem as do Espírito: depois do alimento material, precisa ele do alimento espiritual. É assim que o ser humano passa da selvageria à civilização. Mas, bem pouca coisa é, imperceptível mesmo, em grande número deles, o progresso que cada um realiza indivi-dualmente no curso da vida. Como poderia então progredir a Humanidade, sem a preexistência e a reexistência do Espírito? Se os Espíritos se fossem todos os dias, para não mais voltarem, a Humanidade se renovaria incessantemente com os elementos primitivos, tendo de fazer tudo, de aprender tudo. Não haveria, nesse caso, razão para que o ser humano se achasse hoje mais adian-tado do que nas primeiras idades do mundo, uma vez que a cada nascimento todo o trabalho inte-lectual teria de recomeçar. Ao contrário, voltando com o progresso que já realizou e adquirindo de cada vez alguma coisa a mais, o Espírito passa gradualmente da barbárie à civilização materi-al e desta à civilização moral. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXV, item 2, e cap. IV, n.o 17, Allan Kardec.) Necessidade do trabalho 1. O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o ser humano a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos. (LE 674) 2. Por trabalho não se deve entender simplesmente as ocupações materiais. Assim como o corpo, o Espírito, também trabalha. Toda ocupação útil é trabalho. (LE 675) 3. O trabalho se impõe ao ser humano por ser uma consequência da sua natureza corpórea. É ex-piação e, ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o trabalho, o ser humano permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade. Ao extremamente fraco de corpo outorgou Deus a inteligência, em compensação. Mas é sempre um trabalho. (LE 676) 4. A natureza provê, por si mesma, a todas as necessidades dos animais, porque, tudo na Nature-za trabalha. Assim, como nós, também eles trabalham, mas o trabalho deles, é de acordo com a inteligência de que dispõem, e se limitam a cuidarem da própria conservação. Porém, o trabalho do ser humano visa duplo fim: a conservação do corpo e o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva acima de si mesmo. Quando dizemos que o trabalho dos animais se cifra no cuidarem da própria conservação, referimo-nos ao objetivo com que trabalham. Entretanto, provendo às suas necessidades materiais, eles se constituem, incons-cientemente, executores dos desígnios do Criador e, assim, o trabalho que executam também concorre para a realização do objetivo final da Natureza, se bem quase nunca lhe descubrais o re-sultado imediato. (LE 677) 5. A natureza do trabalho está em relação com a natureza das necessidades. Quanto menos mate-riais forem os mundos, menos material é o trabalho. Mas, não devemos deduzir que mesmo nos

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mundos mais aperfeiçoados o ser humano se conserve inativo e inútil. A ociosidade seria um su-plício, em vez de ser um benefício. (LE 678) 6. O ser humano que possua bens suficientes, talvez possa-se achar isento do trabalho material para lhe assegurar a existência, porém, não está isento da obrigação de tornar-se útil, conforme aos meios de que disponha, nem de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que também é trabalho. Aquele a quem Deus facultou a posse de bens suficientes a lhe garantirem a existên-cia não está, é certo, constrangido a alimentar-se com o suor do seu rosto. A obrigação de ser útil aos seus semelhantes lhe é tanto maior, quanto maior for as ocasiões de praticar o bem o que lhe proporciona o adiantamento advindo da oportunidade de ter praticado todo o bem possível. (LE 679) 7. Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros seres humanos para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportu-nidade de praticá-lo. Porque, fazer o bem não consiste, para o ser humano, apenas em ser carido-so, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser neces-sário. A lei de Deus é justa e, pois, só condena aquele que voluntariamente tornou inútil a sua existência, porquanto esse vive a expensas do trabalho dos outros. Ela quer que cada um seja útil, de acordo com as suas faculdades. (LE 680 e 643) 8. A lei da Natureza impõe aos filhos a obrigação de trabalharem para seus pais, do mesmo modo que os pais têm que trabalhar para seus filhos. Foi por isso que Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural. Foi para que, por essa afeição recíproca, os membros de uma fa-mília se sentissem impelidos a ajudarem-se mutuamente, o que, aliás, com muita frequência se esquece na vossa sociedade atual. (LE 681e 205) Limite do trabalho. Repouso 9. Sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha, o repouso é também uma lei da Nature-za ele serve para a reparação das forças do corpo e também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, a fim de que se eleve acima da matéria. (LE 682) 10. O limite do trabalho é o das forças. Em suma, a esse respeito Deus deixa inteiramente livre o ser humano. (LE 683) 11. Abusar da autoridade que se possui para impor trabalho excessivo a seus inferiores, é uma das piores ações que alguém pode cometer. Todo aquele que tem o poder de mandar é responsá-vel pelo excesso de trabalho que imponha a seus inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei de Deus. (LE 684 e 273) 12. O ser humano tem o direito de repousar na velhice por que nada é obrigado, senão de acordo com as suas forças. O forte deve trabalhar para o fraco. Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta. É a lei de caridade. (LE 685 e 685.a.) NOTA DE ALLAN KARDEC: Não basta se diga ao ser humano que lhe corre o dever de traba-lhar. É preciso que aquele que tem de prover à sua existência por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assu-me as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Mas, esse equilíbrio, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adqui-ridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da po-pulação, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as con-sequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e prati-cada, o ser humano terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos.

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(O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Livro terceiro, cap. III, Allan Kardec) Além de auxiliar o tempo, na necessidade das horas a passar em regime de paz, o trabalho é o mais eficiente enxugador de lagrimas, conselheiro para a angústia e antídoto do mal. O trabalho ainda é o mais poderoso diluente para as mágoas, quando anestésico para a ingratidão. O traba-lho edificante promove o progresso do indivíduo e da sociedade, na qual se encontra; favorece a ordem e educa os hábitos. Sem ele, degeneram-se os ideais e a vida periclita. Todo ser humano que ascende no processo da evolução transforma as suas aspirações em traba-lho que o dignifica e promove. Lei da natureza, que propícia aos seres, a fim de se desenvolve-rem. O trabalho é dínamo gerador de vida. O ser humano atinge maioridade espiritual quando trabalha alegre e consciente, tornando as suas horas de repouso espaços geradores de forças no-vas para a ação. O trabalho é condição de responsabilidade para todo cidadão livre, que responde pela felicidade pessoal e do grupo social onde se movimenta. É verdade que escasseiam empre-gos, na atualidade, mas nunca falta trabalho para quem deseja progredir. “O Pai até hoje trabalha — asseverou Jesus — e eu também trabalho.” (Benção do trabalho - Momentos de Renovação (Joanna de Ângelis)) ------------------------------------------------------- 35 -------------------------------------------------------- DESAFIO KARDEQUIANO Amilcar Del Chiaro Filho Temos o hábito, de quando em quando, pegar em nossa estante algum livro que lemos há algum tempo e rever alguns tópicos que grifamos. Dia destes peguei A Gênese, e entre os inúmeros pa-rágrafos marcados, dei com este, no capítulo 1.o Caracteres da Revelação Espírita: “ Vós que combateis o Espiritismo, se desejais que o deixemos para seguir-vos, oferecei mais e melhor do que ele oferece. Curai mais eficazmente as feridas do Espírito. Oferecei mais consolo, mais ale-grias para o coração, esperanças mais legítimas, maior segurança. Apresentai um quadro mais racional do futuro, um quadro mais sedutor. Mas não penseis derrotá-lo com a perspectiva do nada ou com a alternativa do fogo do inferno ou com a beata e inútil contemplação perpétua”. Ao reler o texto fiquei mais uma vez admirado com a posição viril, corajosa de Allan Kardec, que, sem tergiversar, diz claramente: apresente algo melhor e desistiremos do espiritismo. O desafio Kardequiano ainda é válido. Até hoje, quase 150 anos depois, nenhuma doutrina, filo-sofia, religião ou crença, se apresentou para aposentar o Espiritismo. Não! não existe nenhuma que apresenta o mesmo quadro de racionalidade para solucionar os enigmas humanos. Não existe porque não estamos atrás de privilégios, de salvação mágica ou de posições fanáticas. O Espiri-tismo ensina ao ser humano que ele é o construtor do seu destino. Ao fazer a sua semeadura, obriga-se à colheita. Nada mais justo e mais belo. Quando nos conscientizamos dos erros e enga-nos cometidos, sabemos de antemão que não existe o “perdão”. O arrependimento é um primeiro passo, porém sabemos que ele não basta por si só, é preciso reparar o erro, e para isto a oportuni-dade será oferecida. O Espiritismo não é uma questão de crença, mas de racionalidade, pois determina que, antes de crer é preciso compreender. Mas muito, muito tempo se passará até que alguma doutrina tenha a coragem de aceitar o desafio Kardequiano. ---------------------------------------------------------- 36 ----------------------------------------------------- DESENCARNAÇÃO: PROCESSO DE TRANSIÇÃO Fernando A. Moreira Morte é a cessação da vida orgânica; desencarnação é a libertação do Espírito imortal, período de transição, na sua mudança de plano. “A morte é hereditária”(1) e quando o corpo morre, o Espí-rito está pronto para dele livrar-se, porque “não é a partida do Espírito que causa a morte do cor-po; esta é que determina a partida do Espírito;”(2) mas este, nem sempre está em condições de fazê-lo. Neste caso, a morte biológica acontece, mas, o Espírito não se desprende, não se liberta,

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fica preso ao corpo físico, isto é, continua encarnado, porque “nem todos os que morrem desen-carnam.”(3) “Disse-nos, certa vez, um suicida: ‘Não estou morto.’ E acrescentava: ‘No entanto sinto os vermes a me roerem.’ Ora indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. (...) Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade.”(4) A reencarnação não é um processo punitivo, mas educativo, pois aqui “é escola, é oficina, é hos-pital”; para atingir a perfeição, a felicidade e a plenitude, é necessário renovar-se na experiência da matéria densa.. Tendo escolhido o caminho do progresso, evoluído, e assim realizado a sua re-forma íntima, ou, ao contrário estagnado, com a ressalva que, por mínimo que seja, sempre se evolui alguma cousa, inexoravelmente sobrevém a morte, que é a fatalidade do corpo físico, as-sim como “a evolução é a fatalidade do Espírito”(5), um dos objetivos da reencarnação.(4); o ou-tro é “ trabalhar para o Universo, como o Universo trabalha para nós, tal é o segredo do desti-no”(6), “é por o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação (...) e concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.”(4); este último é atingido consciente ou inconscientemente pelo Espírito. A reestruturação ou não de seu perispírito, vai depender em ter atingido ambos os objetivos, com influências importantes no sequenciamento do processo desen-carnatório. Quanto mais depurado esteja mais fácil se torna o seu desligamento gradual, porque “os laços se desatam, não se quebram.” (4) Dois fatores são sequenciais à morte, ocorrendo paralelamente e vinculados às suas circunstân-cias e ao grau evolutivo do Espírito desencarnante: o desprendimento do corpo físico e a pertur-bação do Espírito. Léon Denis assinala que deveríamos chorar na hora da reencarnação, que é um momento de in-tenso sofrimento para o Espírito, e rirmos na hora da morte, quando o Espírito se liberta, já que encarnação é seu encarceramento fluídico e a desencarnação a sua libertação; isto, é importante frisar, se o Espírito cumpriu os objetivos da encarnação, porque se não o fez, serão dois choros, um ao encarnar e o outro ao desencarnar, tal a influência que esta sua conduta projetará na de-sencarnação. O desprendimento. Ao reencarnar o Espírito se liga ao corpo, através de seu perispírito, que a ele se une, molécula a molécula, átomo a átomo e ao desencarnar, inversamente se desprende, também, átomo a átomo, molécula a molécula. O princípio vital é “o interruptor da vida”,(7) enquanto que o fluido vital é a eletricidade que carrega nossas baterias, o fluido cósmico animalizado; ao ser desligado aquele, a vida se esvai, cessa e sobrevêm a morte (morte natural), que se dá por esgotamento do fluido vital ou embora com sua presença, por falência orgânica súbita (morte violenta), ficando ele im-potente para transmitir o movimento da vida.(8) Esta fuga energética do corpo físico e do peris-pírito, que se encontravam dela impregnados, desde o primeiro instante da concepção, realiza-se de forma suave ou abrupta, de acordo com a sua distribuição, que é peculiar a cada ser, a cada órgão, a cada célula; há nos centros vitais ou de força, maior atividade vital e pontos de ligação com maior densidade entre o Espírito-perispírito e o corpo físico; destes o que tem mais forte es-ta união com o Espírito, via perispírito, é o centro coronário ou regente que, pelo fato mesmo, é o último que se desliga, desfazendo-se as conexões Espírito-perispírito-glândula pineal, a “glându-la da vida espiritual”. O rompimento destes laços fluídico-magnéticos que compõe o cordão fluí-dico ou de prata, representa o selo da desencarnação, iniciando-se pelas extremidades e termi-nando, como dissemos, no cérebro. A natureza das demais ligações dos centros vitais, variam de acordo com cada ser, dependentes da evolução do Espírito, modulador e estruturador do perispírito e portanto de suas ligações com a matéria densa, através dos centros vitais controladores e seus órgãos súditos e que serviço pres-tou ao comandante de suas ações - o Espírito. Assim quem usou desregradamente o sexo, ou pra-ticou aborto, por exemplo, terá suas ligações com o centro vital genésico difíceis de serem desli-gadas; quem foi tabagista inveterado, igualmente terá fortes ligações fluídico-magnéticas com o centro cardíaco, a retardar o processo desencarnatório, e daí por diante. Assim o desprendimento acontece de forma lenta (envelhecimento natural, doenças crônicas, etc.) por esgotamento do fluido vital, ou de forma abrupta (morte violenta: acidentes, desastres,

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assassinatos, suicídios) por injúria grave, determinando a incapacidade funcional orgânica defini-tiva; nos primeiros, o desligamento já vinha se fazendo quando ocorreu a morte e nos últimos, a morte corresponde ao início do processo desencarnatório; equivale a dizer que o período morte-libertação, genericamente, é maior nestes. Com os Espíritos evoluídos ocorre que o momento da morte corresponde ao da libertação, mas, ao contrário, certos Espíritos que têm seu perispírito ainda muito densificado, ficam presos ainda ao corpo, após a morte. “O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acom-panham esta separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros.” (2) e até anos. A perturbação. A consciência é do Espírito e após a morte corporal, ele passa por um período variável de pertur-bação, de acordo com o seu estado moral, “fruto das suas construções mentais, emocionais e vo-litivas”(9) e o gênero ou circunstâncias da morte, para voltar a readquiri-la. O Espírito equilibrado se desvencilha dos tênues laços que o prendiam ao corpo físico, tomando então consciência de si mesmo, da sua volta ao mundo espiritual e da memória do passado, que é também do Espírito e aos poucos vai retornando do inconsciente, sediado no perispírito(8); este “livro misterioso, fechado a nossa vista, durante a vida terrena, abre-se no espaço. O Espírito adiantado percorre-lhe à vontade as páginas (...).”(6) Nestes casos a sensação é de alívio, como quem acordou de uma intervenção cirúrgica e obteve alta, curado; não é pois, nem penosa, nem duradoura; é um despertamento, pois a “vida na carne é o sono do Espírito; é o sonho triste ou alegre.”(6) Naqueles Espíritos que não aproveitaram o retorno à vida corporal, para sua evolução, estagna-dos na escala do progresso, o desencarne será um processo extremamente doloroso, “tétrico, aterrador, ansioso (...) qual horrendo pesadelo”(10), demorado e a perturbação espiritual que se seguirá, será muito intensa e prolongada; muitas vezes, mal se lembram até da última encarnação e muito menos das outras, em mais uma concessão da bondade e da misericórdia divina, mas um dia o farão, pois terão que “entrar no conhecimento do seu estado, antes de serem levadas para o meio cósmico adequado ao seu grau de luz e densidade.”(6) Na morte violenta, situação não esperada na maioria das vezes pelo Espírito, sua conscientização da morte e consequente passagem à vida espiritual é difícil e demorada, tanto mais prolongada quanto menor a evolução espiritual. Na Espiritualidade. A espiritualidade não está parada, nem contemplativa, ao contrário, trabalha incessantemente e “Espíritos evoluídos, com fortes vínculos com a caridade”,(11) se incumbem da tarefa da desen-carnação, ajudando nos desligamentos dos laços que unem o Espírito ao corpo físico, sob influxo do pensamento divino. Espíritos amigos e familiares, já desencarnados, colaboram nesta tarefa. Esta mesma atuação, pode ser prejudicada por Espíritos inimigos, obsessores até, que têm a fina-lidade de tornar o desligamento mais penoso, contribuindo também para maior perturbação do Espírito desencarnante, seu desafeto. Destino dos componentes do ser humano. Após a morte, o corpo físico desintegra-se, seguindo as leis físico-químicas, que também são di-vinas, nunca mais voltando a recompor-se, ou destinar-se à ressurreição, que seria desprovida de qualquer finalidade. O fluido vital volta ao seu lugar de origem - o fluido cósmico ou universal. O perispírito poderá apresentar modificações em relação à sua densidade; não se segmenta e não se sedimenta; se depura, tornando-se tanto mais sutil quanto maior for o progresso espiritual. O Espírito pode apresentar modificações em relação ao seu estado moral reencarnatório, porque o “Espírito evolui, tudo o mais se transforma”, por menor que seja esta mesma evolução, às vezes mínima, o que não pode nunca acontecer, é retrogradar. Conclusão Um dia, depois da morte corporal, nós teremos um decisivo encontro marcado com nós mesmos, nos recônditos da nossa consciência, apanágio do Espírito, onde foram impressas por Deus as suas leis morais(4); aí serão julgados por ela, todos os nossos atos da senda reencarnatória, no uso do nosso livre arbítrio e comparados com os nossos propósitos ao reencarnar, escolhidos ou

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impostos pela justiça divina, sempre de acordo com as aptidões de cada um; depende de nós, e só de nós, se este será o “dia mais feliz de nossa existência”, momento de puro êxtase ou, “ao con-trário, o pior deles”, o seu momento mais fatídico. “Cremos que a educação para o desencarne implica na educação para a vida”.(9), para que con-sigamos a morte de que nos fala Hernani Santanna:(12) “A morte (...) é a liberdade! É o voo augusto para a luz divina, sob as bênçãos da paz da eternidade! É bem começo de uma nova idade, antemanhã formosa e peregrina, da nossa vera e grã felicidade.” 1 - FORMIGA, Luiz Carlos D. “Dores, Valores, Tabus e Preconceitos”, CELD Ed., maio/96, pg.89-102. 2 - KARDEC, Allan. “A Gênese”. 22.a ed. Trad. Guillon Ribeiro. 1980, pg. 215. 3 - RIBEIRO, Gêmison. “Nem todos que morrem desencarnam.” Revista Internacional de Espiri-tismo, Dez/1999, pg. 504. 4 - KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 68.a ed.: FEB, 1987. perg. 132, 155, 257, 621. 5 - SANTOS, Edson Ribeiro dos. Comunicação pessoal. 6 - DENIS, Léon. “O Problema do Ser, do Destino e da Dor.” 4.a ed. 1936: FEB, pg. 167, 261, 323. 7 - MELO, Jacob. “O Passe”. 8.a ed.: FEB,1992, pg. 60. 8 - MOREIRA, Fernando Augusto. “Fisiologia da Alma”. Revista Internacional de Espiritismo, Out/2000, pg.399. 9 - GERIR, Roberto. “A Fisiologia do Desencarne” A Reencarnação. n.o 414, ano XIII, 1.o se-mestre, 1997, pg. 39 e 42. 10 - KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37.a ed. Trad. Manuel J. Quintão: FEB, 1991, pg. 169. 11 - CARNEIRO, Oscar F. “Reflexões”. Ozon Editor, 1960, pg. 15. 12 - SANTANNA, Hernani. “Canção do Alvorecer”. 2.a ed,: FEB, 1983, pg. 46. ----------------------------------------------------------- 37 ---------------------------------------------------- O SER HUMANO E O DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL E COLETIVO ATRAVÉS DOS TEMPOS Elio Mollo O ser humano vem, através dos tempos, procurando o seu desenvolvimento, porém, a maioria ainda caminha tão materializada que não consegue enxergar além da matéria conhecida. Ao lon-go dos tempos, grandes Espíritos reencarnaram na Terra para ampliar a visão humana, mas fo-ram poucos aqueles que compreenderam a maneira de enxergar melhor e poucos os que usaram essa visão para o bem da humanidade. Dentre esses grandes Espíritos, Moisés foi um que desenvolveu leis, através do auxílio divino, modificando costumes prejudiciais ao relacionamento do ser humano com Deus e do ser humano com seu semelhante. Sócrates, lendo a frase “conhece-te a ti mesmo”, no templo de Delfos, a compreendeu, a usou, a desenvolveu e a difundiu. Jesus, com sua brandura, ensinou o ser humano a amar a Deus e ao seu próximo como a si mes-mo, dizendo que estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas. Além disso, ensinou-nos a sermos perfeitos como o Pai Celestial, mostrando que, conhecendo a verdade, o ser huma-no se livra das amarras da ignorância deixando o caminho livre para a sua subida evolutiva. Mos-trou também, de forma taxativa, que isso é conseguido através do processo da reencarnação, di-zendo que é preciso nascer de novo, além de outros ensinos importantes que o ser humano pode utilizar para o seu crescimento espiritual. O tempo continuou e vieram outras criaturas mostrar que o ser humano não está só no Universo e é só acordar para ver. Porém, o ser humano, sonolento, orgulhoso e prepotente não quer abrir os olhos. Assim, tropeça, bate a cabeça e se machuca em qualquer obstáculo que se põe em seu ca-minho. Todavia, a Providência Divina insiste em acordá-lo e ampliar sua visão para que não se

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machuque mais. Foi para tanto que no século XIX, fenômenos espirituais surgem por toda parte de forma mais insistente: pancadas e ruídos nas paredes, mesas que giram e que se suspendem, que batem em letras para formar frases, etc. Denizard Hippolyte León Rivail – nome conforme certidão de nascimento – convidado a compa-recer em sessão onde mesas giravam e outros fenômenos ocorriam, vendo que não havia truques passou a observar e a estudar tais fenômenos, e não contente com isso concluiu que esses fenô-menos eram provocados nada mais nada menos por seres que viveram na Terra e que agora fazi-am parte do outro mundo, ou seja: tinham feito sua passagem pela Terra fisicamente e após a morte física passaram para o outro lado da vida – aquela que é espiritual e eterna – e começou a inquiri-los buscando aprofundar seus conhecimentos. Estudou os fenômenos seriamente, colheu provas e, através de respostas dadas às suas perguntas, foi organizando todo o material colhido e codificando os ensinos dados por esses seres. Assim, a 18 de abril de 1857, com o pseudônimo de Allan Kardec (nome sugerido por um Espírito que tinha sido seu amigo em uma encarnação pregressa, nas Gálias, como druida), faz o lançamento para iluminar e ampliar a visão de toda a humanidade de o “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”. Conforme o dizer de José Herculano Pires, “com o lançamento de o “O LIVRO DOS ESPÍRI-TOS” raiou para a humanidade a Era do Espírito. Almas divinas! entrai em corpos mortais; ide começar uma nova carreira. Eis aqui todos os des-tinos da vida. Escolhei livremente. Se for má, não acuseis por isso a Deus. Platão 428-347 a.C in República. ---------------------------------------------------------- 38 ----------------------------------------------------- DESTINO Dr. Ricardo Di Bernardi O destino se constrói a cada momento de nossa existência. Se é verdade que hoje navegamos pe-lo rio da vida com a canoa que construímos com os golpes do machado de nossos próprios atos, também é verdade que nos cabe remar no sentido que desejamos e sujeitando-nos a avançar lenta ou velozmente no rumo a ser alcançado. A cada instante reforçamos os mantimentos de nossa bagagem pelo apoio de corações amigos que promovem amparo fraternal. Nosso livre arbítrio nos permite, a todo o momento, jogar para fora do barco o lastro excessivo das pedras da culpa que imaturamente juntamos no decorrer de nossa jornada. O esforço próprio para vencer a cor-renteza das adversidades da existência, leva-nos a escolher os afluentes de águas menos caudalo-sas, embora de percurso mais longo, Sem as surpresas dos rochedos ocultos que desafiam nossa visão limitada. O equipamento de bordo é fruto das nossas possibilidades, entretanto, a direção do barco da vida depende de nós. Não há determinismo estático. A ideia de que o destino já está indelevelmente traçado existe nas estreitas mentes que se espremem no desfiladeiro limitado pelas muralhas pétreas da rigidez de percepção. O determinismo é dinâmico e sofre modificação a cada pensamento nosso. Quando pensamos, ocorre movimentação de energias, emissão de ondas e criação de situações atenuantes ou agravantes aos problemas. É verdade que somos peixes livres no aquário da vida. No entanto, estamos limitados as quatro paredes envidraçadas que correspondem aos pontos cardeais de nos-sa dimensão física; livres apenas no espaço dimensional que conhecemos, porém mergulhados em outros espaços que não percebemos. Na trajetória da vida, os atos construtivos e amorosos além de conquistar a simpatia e o amparo ao nosso redor, geram vórtices energéticos superiores em nossa estrutura espiritual. A presença destas energias sutis suavizam acentuadamente nossas desarmonias energéticas, bem como redu-zem nossas tendências a determinadas situações de desequilíbrio e sofrimento. No trânsito pelo campo da vida podemos, a cada momento, espargir as sementes do amor que ce-leremente desabrocham nas flores perfumadas do companheirismo, em criaturas que amadure-cem como frutos saborosos da solidariedade humana. O determinismo, ou o DESTINO, devem ser compreendidos sempre como uma tendência a de-terminadas situações decorrentes de nossa natureza psíquica, a qual foi elaborada nas múltiplas

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existências. Nada impede que lutemos contra elas, ao contrário, mentores espirituais nos ampa-ram constantemente infundindo força para vencermos, evitando, muitas vezes, sofrimentos des-necessários. ------------------------------------------------------------ 39 --------------------------------------------------- DEUS Sérgio Biagi Gregório SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. A Origem da Ideia de Deus; 2.2. Etimologia; 2.3. Significado de Deus. 3. Deus e a Divindade: Monoteísmo e Politeísmo. 4. A Revelação de Deus. 5. Provas da Existência de Deus. 6. Deus da Fé e Deus da Razão. 7. Atributos da Divindade. 8. Imagem de Deus. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é buscar uma compreensão mais abrangente da ideia de Deus. Embora seja difícil não só definir Deus como também provar a sua existência, temos condições de senti-Lo e de intuí-Lo em nossa mente e em nossos corações. É o que faremos neste ensaio sintético. 2. CONCEITO DE DEUS 2.1. A ORIGEM DA IDEIA DE DEUS A origem da ideia de Deus assim pode ser concebida: através da antiga doutrina cristã, que afir-ma que Deus se revelou aos antepassados do povo de Israel por meio das comunicações pessoais que lhes deram uma noção verdadeira, porém incompleta do Deus único, infinito e eterno; de-pois, no decurso de sua história, foi o povo alcançando gradualmente uma ideia mais adequada e estável acerca da natureza e dos atributos de Deus; como resultado de um desenvolvimento pu-ramente natural. Enquanto o ser humano se manteve no nível meramente animal não houve nele a ideia de Deus, se bem que existisse uma tendência para a religião. As suas necessidades e aspi-rações não encontravam satisfação no Mundo ambiente; conheceu as dificuldades e a dor. Em tais circunstâncias, surgiram no Espírito “por necessidade psicológica” a ideia de encontrar auxí-lio que de algures lhe viesse, bem como a de algum poder ou poderes capazes de lho ministrar. Uma vez introduzida a ideia de Deus, observa-se a tendência para a multiplicação dos deuses (e daí o politeísmo). Com o alargamento da família para a nação, a esfera de Deus também ia se ampliando, e as vitórias sobre outras nações, assim como um mais largo entendimento no que concerne ao Mundo, teriam produzido enfim a ideia de um Deus único além do qual todos os ou-tros deuses seriam somente pretensos deuses, sem existência real. (Grande Enciclopédia Portu-guesa e Brasileira) 2.2. ETIMOLOGIA Deus é um dos conceitos mais antigos e fecundos do patrimônio cultural da humanidade. Deriva do indo-europeu deiwos (resplandecente, luminoso), que designava originariamente os celestes (Sol, Lua, estrelas etc.) por oposição aos humanos, terrestre por natureza. Psicologicamente cor-responde ao objeto supremo da experiência religiosa, no qual se concentram todos os caracteres do numinoso ou sagrado. (Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado). 2.3. SIGNIFICADO DE DEUS Tomou esta palavra a significação de princípio de explicação de todas as coisas, da entidade su-perior, imanente ou transcendente ao mundo (cosmos), ou princípio ou fim, ou princípio e fim, ser simplicíssimo, potentíssimo, único ou não, pessoal ou impessoal, consciente ou inconsciente, fonte e origem de tudo, venerado, adorado, respeitado, amado nas religiões e nas diversas ciên-cias. Deste modo, em toda a parte onde está o ser humano, em seu pensamento e em suas especu-lações, a ideia de Deus aflora e exige explicações. É objeto de fé ou de razão, de temor ou de amor, mas para ele se dirigem as atenções humanas, não só para afirmar a sua existência, como para negá-la. (Santos, 1965) Para o Espiritismo, Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. 3. DEUS E A DIVINDADE: MONOTEÍSMO E POLITEÍSMO

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Os termos monoteísmo e politeísmo surgem no processo de identificação ou de distinção entre Deus e a divindade. No politeísmo há uma hierarquia de deuses, de modo que não há uma identidade entre Deus e Divindade. A não observância dessa distinção acaba por confundir muitas mentes. Platão, Aristó-teles e Bergson, por exemplo, são qualificados como monoteístas, quando na realidade não o são. No Timeu de Platão, o Demiurgo delega a outros deuses, criados por ele próprio, parte de suas funções criadoras; o Motor de Aristóteles, pressupõe a existência de outros motores menores. Em outros termos, a substância divina é participada por muitas divindades. Convém, assim, não con-fundir a unidade de Deus com um reconhecimento da unicidade de Deus. A unidade pressupõe a multiplicidade. Quer dizer, Deus sendo uno, ele pode multiplicar-se em vários deuses, formando uma hierarquia. Mas justamente por isso não é único: a unidade não elimina a multiplicidade, mas a recolhe em si mesma. Obviamente a multiplicidade de deuses em que se multiplica e se expande a divindade, não exclui a hierarquia e a função preeminente de um deles (o Demiurgo de Platão, o Primeiro Motor de Aristóteles, o Bem de Plotino); mas o reconhecimento de uma hi-erarquia e de um chefe da hierarquia não significa absolutamente a coincidência de Divindade e Deus e não é, portanto, monoteísmo. O monoteísmo é caracterizado não pela presença de uma hierarquia, mas pelo reconhecimento de que a divindade é possuída só por Deus e que Deus e divindade coincidem. Nas discussões Trini-tárias da Idade Patrística e da Escolástica, a identidade de Deus e da divindade foi o critério di-rimente para reconhecer e combater aquelas interpretações que se inclinavam para o Triteísmo. Certamente, a Trindade é apresentada constantemente como um mistério que a razão mal pode roçar. Mas o que importa relevar é que a unidade divina só é considerada abalada quando, com a distinção entre Deus e a divindade, se admite, implícita ou explicitamente, a participação da mesma divindade por dois ou mais seres individualmente distintos. (Abbagnano, 1970) Para o Espiritismo, Deus é o Criador do Universo. Portanto, admite a tese monoteísta. Contudo, os Espíritos por Ele criado, conforme o grau de evolução alcançado, podem ser classificados como Espíritos Cocriadores em plano maior e Espíritos Cocriadores em plano menor. De acordo com o Espírito André Luiz, em “Evolução em Dois Mundos”, os Espíritos Cocriadores em plano maior “tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expres-sões, radiantes e obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais mo-radias que perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado pode formar ou cocriar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eterni-dade”... “Em análogo alicerce, as Inteligências humanas que ombreiam conosco utilizam o mes-mo fluido cósmico, em permanente circulação no Universo, para a Cocriação em plano menor, assimilando os corpúsculos da matéria com a energia espiritual que lhes é própria, formando as-sim o veículo fisiopsicossomático em que se exprimem ou cunhando as civilizações que abran-gem no mundo a Humanidade Encarnada e a Humanidade Desencarnada”. (Xavier, 1977, p.20 a 23). 4. A REVELAÇÃO DE DEUS A revelação de Deus aos seres humanos pode ocorrer de três modos: 1.o) a que atribui à iniciativa do ser humano, e ao uso das capacidades naturais de que dispõe, o conhecimento que o ser humano tem de Deus; 2.o) a que atribui à iniciativa de Deus, e à sua revelação, o conhecimento que o ser humano tem de Deus; 3.o) a que atribui à mescla das duas anteriores: a revelação não faz senão por concluir e levar à plenitude o esforço natural do ser humano de conhecer a Deus. Desses três pontos de vista, o primeiro é o mais estritamente filosófico, os outros dois são pre-dominantemente religiosos. O segundo ponto de vista pode ser visto em Pascal, quando afirma que “É o coração que sente a Deus, não a razão”. O terceiro ponto de vista foi encarnado pela Pa-trística, que considerou a revelação cristã como complemento da filosofia grega. (Abbagnano, 1970) De acordo com o Espiritismo, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo sua elaboração fruto do trabalho do ser humano. E como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas,

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aplicando o método experimental: formula hipóteses, testa-as e tira conclusões. (Kardec, 1975, p. 19 e 20) 5. PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS A prova da existência pode ser encontrada no axioma que aplicamos à ciência: não há efeito sem causa. Se o efeito é inteligente, a causa também o é. Diante deste fato, surge a questão: sendo o ser humano finito, pode ele perscrutar o infinito? Tomas de Aquino dá-nos uma explicação, que é aceita com muita propriedade. A desproporcionalidade entre causa e efeito não tira o mérito da causa. Se só percebemos parte de uma causa, nem por isso ela deixa de ser verdadeira. Allan Kardec, nas perguntas 4 a 9 de O Livro dos Espíritos, diz-nos que para crer em Deus é suficiente lançar os olhos às obras da Criação. O Universo existe; ele tem, portanto, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo o efeito tem uma causa, e avançar que o nada pode fazer alguma coisa. A harmonia que regula as forças do Universo revela combinações e fins determi-nados, e por isso mesmo um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria uma falta de senso, porque o acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes. Um acaso inteli-gente já não seria acaso. 6. DEUS DA FÉ E DEUS DA RAZÃO Descartes, no âmago da sua lucubração racionalista, descobre Deus através da razão. Pascal, por outro lado, fala-nos que só podemos conhecer Deus através da Fé. A dicotomia entre fé e razão sempre existiu ao longo do processo histórico. Aceitar Deus pela razão é um atitude eminente-mente filosófica; enquanto aceitar Deus pela fé é uma atitude preponderantemente religiosa. De acordo com o Espiritismo, a fé é inata no ser humano, ou seja, ela é um sentimento natural, que precisa, contudo, ser raciocinado. Não adianta apenas crer; é preciso saber porque se crê. É nesse sentido que Allan Kardec elaborou a codificação. Observe que junto ao título de O Evan-gelho Segundo o Espiritismo, o Codificador colocou uma frase lapidar: “Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade”. Quer di-zer, nunca aceitar nada sem o crivo da razão. 7. ATRIBUTOS DA DIVINDADE Allan Kardec, nas perguntas 10 a 13 de O Livro dos Espíritos, explica-nos que se ainda não compreendemos a natureza íntima de Deus, é porque nos falta um sentido. Esclarece-nos, contu-do, que Deus deve ter todas as perfeições em grau supremo, pois se tivesse uma de menos, ou que não fosse de grau infinito, não seria superior a tudo, e por conseguinte não seria Deus. As-sim: DEUS É ETERNO. Se Ele tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então, teria sido cri-ado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infinito e à eternidade. É IMUTÁVEL. Se Ele estivesse sujeito a mudanças as leis que regem o Universo não teriam ne-nhuma estabilidade. É IMATERIAL. Quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, pois de outra forma Ele não seria imutável, estando sujeito às transformações da matéria. É ÚNICO. Se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de vistas nem de poder na organiza-ção da matéria. É TODO-PODEROSO. Porque é único. Se não tivesse o poder soberano, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele, que assim não teria feito todas as coisas. E aquelas que ele não tivesse feito seriam obra de um outro Deus. É SOBERANAMENTE JUSTO E BOM. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nos menores como nas maiores coisas, e esta sabedoria não nos permite duvidar da sua justiça nem da sua bondade. 8. IMAGEM DE DEUS Imaginar Deus como um velhinho de barbas brancas, sentado em um trono, é tomá-Lo como um Deus antropomórfico. Damos-Lhe a extensão de nossa visão. Quer dizer, quanto mais primitivos formos, mais associamo-Lo às coisas palpáveis, como trovão, tempestade, bosque etc. À medida que progredimos no campo da espiritualidade, Damos-Lhe a conotação de energia, de criação, de infinito, de coisa indefinível etc. O ser humano cria Deus à sua imagem e semelhança. Não se trata de criar Deus, mas sim uma imagem de Deus à nossa imagem e semelhança. Observe que a imagem oriental é uma imagem de aniquilação. No Espiritismo, devemos lembrar sempre que

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Deus não tem forma, pois difere de tudo o que é material. Devemos, sim, intuí-Lo, simplesmen-te, como a causa primária de todas as coisas. 9. CONCLUSÃO Lembremo-nos de que encontramos Deus em nossa experiência mais íntima. Quer sejamos cren-tes ou ateus - estamos sempre procurando transcender-nos rumo a metas cada vez mais novas e nunca completamente realizáveis. Nesse sentido, a experiência superficial é alienante. Somente num constante esforço de aprofundamento de tudo o que nos rodeia é que podemos alcançar a ri-queza da vida. Desse modo, convém sempre nos dirigirmos a Deus alicerçados na humildade e simplicidade de coração, com o bom ânimo de atender primeiramente à Sua vontade e não à nos-sa. 10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA · ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970. · Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p. · KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975. · KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995. · Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado. · SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3.a ed., São Paulo, Matese, 1965. · XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4.a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977. ------------------------------------------------------- 40 -------------------------------------------------------- DEUS E REENCARNAÇÕES INICIAIS Dr. Ricardo Di Bernardi Quando temas relevantes do ponto de vista filosófico são abordados, é comum ouvirmos dizer que assuntos de fé e lógica não se misturam. Outras vezes, ainda, surgem insinuações de que a religião ou a crença em Deus caracterizam pobreza intelectual , e que só o pensamento científico tem validade na época atual. Há um abismo que atualmente está separando a ciência da religião. Abismo construído nos séculos anteriores , quando o domínio das civilizações se fez pelo poder temporal aliado à religião institucionalizada. Já em meados do século , o sábio francês Hipolyte Léon Denizard Rivail enfatizava que a fé ver-dadeira só é aquela capaz de conviver com a razão e a inteligência em qualquer época da huma-nidade. Assertiva com a qual concordamos plenamente. Aspectos da cultura contemporânea apontam para a possibilidade de encararmos fé e razão como atributos compatíveis entre si. Vejamos o seguinte raciocínio: os conhecimentos atuais em astro-nomia parecem reforçar a tese do astrônomo J.H. Lambert, que já em 1761 aceitava a ideia de uma ordem cósmica no universo. Segundo a física, entropia seria o estado de desordem ou de-sorganização de um sistema. Assim, a entropia crescente levaria a desorganização crescente. Conforme nos diz o Segundo Princípio da Termodinâmica, em Física, a entropia do universo tende a crescer. Em termos práticos, tudo que se constrói tende a se destruir, a se desfazer. Ape-sar de ser uma lei física, pesquisas recentes no campo da Biologia apontam no sentido de uma ordem ORGANIZADORA DA VIDA, de uma força maior e desconhecida pela ciência. Contra-riando a tendência natural da entropia, que seria a da desordem ou desorganização natural e cres-cente dos sistemas, teríamos de considerar a força organizadora da ordem cósmica, como deter-minante na origem da vida. O surgimento da vida organizada no universo representou uma corrente oposta à entropia natural dos Sistemas. Se o universo tendeu a uma desorganização progressiva ou entropia crescente, o aparecimento da vida foi um processo oposto a entropia, criando a ordem. Foi um processo ne-guentrópico (que nega a entropia). Inferimos daí que uma lei maior atuou no processo. Uma Lei Central ou um princípio único.

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Reforçando a tese de uma interferência neguentrópica, citaríamos o Professor Ilya Prigogine, que considera duvidosa a compatibilidade da Biologia com os princípios da Termodinâmica. Outro especialista, o professor Ludwig Von Bertalauthy, não admite o surgimento da vida por uma evolução espontânea da natureza, ao considerar os conceitos da entropia. Diz: “A produção de condições locais só é fisicamente possível ao se entrarem em cena forças organizadoras de algu-ma espécie.” Em artigo publicado pelo Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis, o engenheiro Corinto Castanho, abordando a questão neguentrópica da origem da vida, fez analogia da impossibilidade de diversos materiais de construção misturarem-se ao acaso, resultando na construção de um prédio acabado e estético, sem a menor participação de engenheiros, mestre de obras e operários. Lembra o articulista que um ser vivo forma um sistema organizacional mais complexo que qual-quer prédio, para o bom senso não admitir a administração do acaso ao invés de uma força ou lei maior atuante. Se a fé cega não é mais deste século, o cientificismo dogmático também não o será no próximo século. Religiões que preconizam a fé cega, automaticamente se confessam impotentes para de-monstrar que estão com a razão. Movimentos científicos que não admitem examinar determina-das possibilidades, por puro preconceito, também cristalizam e se comportam como religiosos radicais. Numa primeira instância, todos os fenômenos da natureza podem ser explicados pelas leis naturais. As leis físicas, químicas e biológicas nos dão o mecanismo da vida, nos respondem sobre minúcias do microcosmo celular ou sobre a magnitude do macrocosmo. No entanto, estas mesmas leis, que são automáticas, deverão ser regidas por uma lei universal coordenadora e onipresente no macro e no microcosmo. Esta Lei onipresente, nós a chamamos de Deus. Sendo perfeita, há de ser imutável, pois só o imperfeito sofre mudanças visando o aprimoramento progressivo. Considerando a imutabilidade da Lei Universal, concebemos sua ação constante e uniforme. Inexistindo momentos diversos de outros como um gráfico irregular a assinalar uma emocionalidade antropomórfica. Pela regularidade e constância da Lei Universal, concluímos que não houve um momento da cri-ação. Trata-se de um processo eterno. Deus irradia constantemente e projetam-se de sua essência perfeita, centelhas divinas ou princípios espirituais, que provindo de um ser perfeito só poderão ter um destino: a evolução infinita rumo a perfeição. “Nenhuma das ovelhas se perderá, disse Je-sus.” Ainda dentro dos textos bíblicos encontramos a frase: “Deus fez o mundo em sete dias”. Sabe-mos que a riqueza da simbologia na Bíblia é de uma profundidade admirável e que necessita ser explorada cada vez mais sem preconceitos. O termo “dia” tem um significado de período, época e em certas circunstâncias significa ano. Com relação ao número “sete “ o mesmo está vinculado ao sentido de “todo, sempre, completo, perfeito, ou eterno”. “Perdoar setenta vezes sete”, traduz a mensagem do perdão pleno para sempre. “Só o cordeiro que tem sete olhos...” poderá ser en-tendido como só Jesus que tem a “eterna ou perfeita” visão da vida... Voltando ao nosso raciocí-nio inicial, quando se lê”, “Deus fez o mundo em sete dias” devemos extrair o espírito da letra para compreendermos a essência da mensagem, que nos transmite a ideia dos SETE DIAS como a eternidade na criação. Entendemos, portanto, que Deus cria sempre, não existindo momentos de inatividade. Realmente, um ser perfeito, onipresente e imutável, lei universal onisciente não tem um gráfico de criação ou um momento, mas uma ação criativa constante e eterna no univer-so. A encarnação primeira, portanto, foi para nós, hoje seres humanos, há incontáveis milhões de anos, quando as centelhas divinas mergulharam na dimensão física unindo-se às expressões mais simples da organização material. O Espírito “dormiu” nos átomos e passou o grande sono pelo reino mineral, sonhou nas organi-zações vegetais, agitou-se pelas espécies animais para despertar na espécie humana, rumo à consciência superior em seres futuros. Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, eminente pedagogo francês inquire os Espíritos na questão 540, a entidade espiritual, respondendo sobre a ação dos Espíritos desencarnados nos fe-nômenos da natureza, coloca a seguinte assertiva: “É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que começou por ser átomo”.

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Não existem portanto seres privilegiados, ou criados pela lei universal já superiores a outros. A distância entre minerais, vegetais e animais é simplesmente consequência do maior ou menor caminho percorrido na estrada evolutiva do ser. ----------------------------------------------------------- 41 ---------------------------------------------------- DEUS NÃO PERDOA José Reis Chaves A frase “Deus não perdoa” parece estranha, à primeira vista. Mas, como veremos, de fato Deus não perdoa, pois só perdoa quem é ofendido. E ninguém consegue ofender a Deus, pois Ele é um ser infinito, e que, por isso mesmo, jamais poderia ser atingido ou molestado por nós, seres fini-tos, limitados. Se pudéssemos ser capazes de prejudicarmos Deus, não seria Ele Deus. Com efeito, só um outro ser infinito - outro Deus - poderia ofender a Deus. E, ao admitirmos es-sa hipótese, estaríamos enveredando-nos pelo caminho do Politeísmo, ou seja, o da doutrina que aceita mais de um Deus. Destarte, podemos afirmar que o chamado pecado, de que falam as religiões, está para as Leis de Deus, assim como o crime está para as Leis dos Seres humanos. Note-se que nem Deus nem a autoridade civil sofrem, pois, quando cometemos um pecado, estamos praticando uma ação que infringe as Leis de Deus, do mesmo modo que infringimos as leis humanas, quando praticamos um crime. Entretanto, em ambos os casos - pecados e crimes - sempre quem sofre as consequên-cias deles, direta ou indiretamente, são as suas vítimas, que são, também, inclusive, os próprios autores desses atos, pois um infrator das Leis - quer sejam elas divinas ou humanas - está sujeito a problemas e a penas. Realmente, o responsável por um pecado ou crime sempre sofrerá, tam-bém, as consequências dos seus atos, podendo ser ele, inclusive, o único prejudicado diretamen-te, como no caso de suicídio ou tentativa de suicídio. E continuemos as nossas elucubrações sobre esta matéria: Deus não perdoa. Alguém poderia objetar dizendo que a Bíblia afirma o contrário disso. E é verdade. Porém, não podemos interpretar tudo que ela diz, literalmente. Paulo até nos advertiu dizendo que a letra ma-ta. E a Bíblia teria mesmo que falar que Deus perdoa, para que O tivéssemos como sendo o nos-so modelo de bondade e de amor, além do que as pessoas daqueles longínquos tempos somente poderiam entender esse tipo de linguagem. Na verdade, entretanto, Deus é inofendível. E o que tem esse estado de inofendibilidade, nada tem que perdoar, pois só perdoa quem é ofendido. E é para esse estado que estamos caminhando, à proporção que, espiritualmente, vamos evoluindo. No final da vida de Gandhi, esse grande Espírito de escol indiana, perguntaram-lhe se ele perdo-ou todos os seus inimigos. E ele respondeu que não perdoou ninguém, pois que ninguém o havia ofendido. E eis algumas das muitas máximas conhecidas do Homem de Nazaré, que nos deixam clara essa questão de quem já está na fase de inofendibilidade: “Se alguém tomar-lhe a capa, dê-lhe, tam-bém, a túnica.” “Se alguém lhe bater numa das faces, apresente-lhe a outra”. “Se alguém obrigá-lo a andar uma milha, ande duas”. E esta última: “Não resistais ao maligno”. Ora, se nós, com nossa perfeição relativa, podemos atingir esse estado de inofendíveis, e, conse-quentemente, de não termos que perdoar, com mais razão, com sua perfeição absoluta, Deus não perdoa! ----------------------------------------------------------- 42 ---------------------------------------------------- DOGMATISMO E ESPIRITISMO Sérgio Biagi Gregório SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Dogmas da Religião Católica. 4. Comportamento Dogmático. 5. Filosofia da Negação. 6. Dogmatismo e Espiritismo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO

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O dogmatismo está presente em muitos atos de nossa vida. Nosso propósito é refletir sobre o significado e a ocorrência do comportamento dogmático, a fim de nos afastarmos do erro, e con-duzirmos o nosso pensamento para uma atitude crítica da realidade em que estivermos inseridos. 2. CONCEITO Dogma – do grego dokein – significa opinião certa, decreto, axioma. Dogma (religião) – É ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa. No Cristianis-mo, chamam-se dogmas as verdades reveladas, propostas pela suprema autoridade da Igreja co-mo artigos de fé, que devem ser aceitos por todos os seus membros. (Santos, 1965) Dogma (pejorativamente) – Chamam-se dogmas todas e quaisquer afirmações que apenas ex-pressam opinião, sem os necessários fundamentos, mas que são proclamados como verdades in-discutíveis. (Santos, 1965) Dogmatismo – Atitude do Espírito que consiste em pensar e em se exprimir em função de dog-mas, ou seja, de verdades consideradas definitivas, e que não podem ser sujeitas a discussão. (Legrand, 1982). Entre os gregos era a posição filosófica que se opunha ao ceticismo (exame, dúvida). Dogmática – Parte da teologia que tem por objeto a exposição dos dogmas. 3. DOGMAS DA RELIGIÃO CATÓLICA O Concílio Ecumênico, Assembleia de Bispos e principais dignitários da Igreja, sob a presidên-cia papal, tem por objeto a formulação dos artigos de fé e moral (dogmas) com o caráter de infa-libilidade. O Dogma da Infalibilidade Papal, o Dogma da Imaculada Conceição, o Dogma das Penas Eternas, o Dogma do Pecado Original etc. são alguns desses dogmas. Dentre tais dogmas, o Dogma da Santíssima Trindade merece destaque especial. Segundo este dogma, há três pessoas em Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. São distintas, iguais, e por consequência coeternas, isto é, igualmente eternas e consubstanciadas numa só e indivisível natureza. Cada uma destas três pessoas é realmente Deus. O Pai não tem princípio; o Filho é originado pelo Pai desde toda a eternidade; procede assim dele por geração, ou, como se dizia outrora, por gênese; o Espírito Santo procede do Pai e do Filho como de um só princípio. Entre estas três pessoas existe ordem de origem, mas não há nem subordinação nem dependência, nem prioridade de tempo ou de ex-celência. A palavra Trindade não se encontra no Novo Testamento, nem nos escritos dos padres apostólicos. Contudo, segundo os teólogos, o mistério estava arraigado na primitiva comunidade cristã, “como o demonstra a fórmula do Batismo”. Mais tarde, para combater a doutrina de Ário, que impugnava a divindade de Cristo, a Igreja declarou a consubstancialidade do Pai e do Filho no Concílio de Nicéia (325) e a divindade do Espírito Santo no Concílio de Constantinopla (381). (EDIPE, 1987) (Observação: não importa se a razão não consegue entender já que é um princípio aceito pela fé – e seu fundamento é a revelação divina.) 4. COMPORTAMENTO DOGMÁTICO Bornheim, em Introdução ao Filosofar, estuda o comportamento dogmático. Quer saber como o ser humano passa de um estado pré-crítico para uma atitude crítica. O problema do autor consiste em analisar o que Husserl chama de “postura natural”, isto é, a concepção da realidade própria a este viver natural, metafisicamente ingênuo, desprovido de um sentido mais profundo de pro-blematização. Husserl chama esta compreensão implícita do mundo de Generalthesis, de “tese geral”. Dentro da postura dogmática esta “tese geral” nunca é posta em dúvida, e é exatamente por esta razão que pode ser denominada de dogmática. Nesse sentido, todas as atividades huma-nas, com exceção da filosófica, partem de uma tese geral, que deve ser aceita como premissa. Podemos por em dúvida alguns aspectos desta “tese geral”, mas não a tese em si. De acordo com Husserl, mesmo a atividade científica, seja da natureza ou do Espírito, se processa dentro do ho-rizonte fundamentalmente ingênuo e dogmático da tese geral. O cientista pode duvidar de um ou outro ponto de sua ciência, contudo nunca põe em dúvida a totalidade do real, razão pela qual nenhuma ciência pode, com os seus próprios meios, justificar-se como ciência, e no momento em que o fizer assume uma tarefa própria da filosofia. Esta tese geral gera segurança, porque não se lhe abre a perspectiva de problematizar. Por isso, a explosão da fé, em que basta apenas crer, sem saber muito porque se crê. É esta crença que torna o ser humano dogmático, esquecido de que te-rá de edificar a sua própria existência. Essa mesma crença gera também o preconceito e a falsa aparência da realidade. (1986, cap. III).

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5. FILOSOFIA DA NEGAÇÃO Como abandona o ser humano a postura dogmática para assumir a filosófica? Como passa de uma posição não crítica para uma atitude crítica? O Mito da Caverna de Platão auxilia a nossa explicação. Nesse mito, Platão coloca alguns seres humanos voltados para o fundo da caverna, de modo que só podem ver as suas próprias sombras. Eles estão como que acorrentados. Esse mundo das sombras seria o comportamento dogmático, ou seja, o mundo da aparente segurança, pois nada além daquilo pode vir a perturbar os pensa-mentos do ser humano. Acontece que por forças das circunstâncias, o ser humano é obrigado a buscar a luz (conhecimento). Mas buscar a luz não é tarefa fácil, pois terá de abandonar o mundo das sombras - que acarreta dor e risco: a dor por abandonar o bem preferido; o risco por se intro-duzir na incerteza. Essa nova postura é entendida como um comportamento não dogmático. Mas, o que caracteriza essa mudança? Podemos vê-la sob dois ângulos: 1.o) mudança espontânea, pelo fato das crenças tradicionais se chocarem com as antagônicas e o indivíduo ser obrigado a fazer nova escolha; 2.o) mudança provocada, pelo fato do indivíduo procurar conscientemente um novo paradigma para a realidade em que está inserido. (Borheim, 1986, cap. IV e V) 6. DOGMATISMO E ESPIRITISMO Nossa vivência, na maioria das vezes, é apoiada em crenças dogmáticas. Entrar no Espiritismo não significa dizer que nos despojamos de todos os nossos automatismos formados ao longo de inúmeras existências. Na veiculação da ideia espírita, observamos a transferência dessas ima-gens, dando-se a impressão de que o Espiritismo é dogmático. Lembremo-nos de que é um erro de nossa interpretação e não expressão verdadeira dos princípios codificados por Allan Kardec. Ilustremos esta temática com alguns exemplos: O médium não deve comer carne no dia do trabalho. Allan Kardec, na pergunta 723 de O Livro dos Espíritos – A alimentação animal, para o ser humano, é contrária à lei natural?, obteve dos Espíritos, a seguinte resposta: - “Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do con-trário o ser humano perece. A lei de conservação impõe ao ser humano o dever de conservar as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização”. A “proibição” da ingestão de carne no dia do trabalho não estaria ligada à reminiscência do pecado original? Ou seja, comendo carne iríamos conspurca-dos, manchados à sessão mediúnica. O mentor falou, acatemos. Em muitos Centros Espíritas, os dirigentes obedecem cegamente às diretrizes traçadas pelos seus mentores. Sem uma crítica serena, podem aceitar determinações in-congruentes com relação aos princípios codificados por Allan Kardec. Sigo a orientação de Kardec. Muitos espíritas, para defenderem os seus pontos de vistas, dizem: eu sigo a orientação de Kardec. Esquecem-se de que toda a palavra escrita deve ser processada, atualizada e melhorada pelas constantes avaliações de nosso espírito crítico. Leio somente romances espíritas. Alguns espíritas, que não estão dispostos a um aprofundamen-to da Doutrina, acabam ficando apenas com a visão dos romances. Esta visão parcial do fato es-pírita pode ocasionar raciocínio parciais e criar atitudes dogmáticas dentro do movimento espíri-ta. 7. CONCLUSÃO “O Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma”, diz J. Herculano Pires. Tenhamos cora-gem e despendamos esforços para penetrar no âmago de suas questões. Somente assim consegui-remos aprender os fundamentos da doutrina, evitar o preconceito e descobrir a verdade que nos liberta. 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BORNHEIM, G. A. Introdução ao Filosofar - O Pensamento em Bases Existenciais. 7.a ed., Rio de Janeiro, Globo, 1986. EDIPE - Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. 3.a ed., São Paulo, Ira-cema, 1987. KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. São Paulo, FEESP, 1972. LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. Lisboa, Edições 70, 1982.

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SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3.a ed., São Paulo, Matese, 1965. ----------------------------------------------------------- 43 ---------------------------------------------------- DOS ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO Enio Mollo Pesquisa (ensaio) feita no livro primeiro, capítulo II de O LIVRO DOS ESPÍRITOS Conhecimento do princípio das coisas. O ser humano não pode conhecer o princípio das coisas, Deus não permite que tudo seja revela-do ao ser humano neste mundo. O ser humano penetrará um dia no mistério das coisas que lhe estão ocultas. Isto acontecerá naturalmente, o véu se levantará a seus olhos, à medida que ele se depura; mas, para compreender certas coisas, são-lhe precisas faculdades que ainda não possui. O ser humano, poderá pelas investigações científicas, penetrar nos segredos da Natureza, pois a Ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todos os sentidos, mas ele, porém, não pode ul-trapassar os limites que Deus estabeleceu. Quanto mais consegue o ser humano penetrar nesses mistérios, tanto maior admiração lhe devem causar o poder e a sabedoria do Criador. Entretanto, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua pró-pria inteligência o faz joguete da ilusão. Ele amontoa sistemas sobre sistemas e cada dia que pas-sa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São ou-tras tantas decepções para o seu orgulho. O ser humano pode receber, sem ser por meio das in-vestigações da Ciência, comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao teste-munho dos sentidos, mas somente se Deus o julgar útil revelar aquilo que à ciência não é dado apreender. Inclusive através dessas comunicações, o ser humano só recebe este conhecimento dentro de certos limites, seja do seu passado ou do seu futuro. Espírito e matéria Dentro de seus parcos conhecimentos, o ser humano pode dizer, que só Deus sabe como foi o início da matéria desde toda a eternidade ou como ela foi criada por Ele em dado momento. Há entretanto, uma coisa, que a razão indica: é que Deus, modelo de amor e caridade nunca esteve inativo. Qualquer que seja a distância que se possa imaginar o início de Sua ação, jamais se pode concebê-Lo ocioso, um momento que seja. Geralmente define-se a matéria como sendo - o que tem extensão, o que é capaz de impressionar os sentidos, o que é impenetrável. Essa definição é exata do ponto de vista do ser humano, por-que só pode falar segundo aquilo que conhece. Mas a matéria existe em estados que ele ignora. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão cause aos seus sentidos. Contu-do, é sempre matéria, embora, não o seja para ele. A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação. Pode-se di-zer-se que a matéria é o agente, o intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual atua o Espí-rito. O Espírito é o princípio inteligente do Universo. (1) Não é fácil analisar a natureza íntima do Espírito com a linguagem do ser humano, pois para ele nada é, por não ser palpável, entretanto, para os Espíritos é alguma coisa. Mas uma coisa o ser humano deve ter em mente: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe. A inteligência é um atributo essencial do Espírito. Uma e outro, porém, se confundem num prin-cípio comum, de sorte que, para o ser humano, são a mesma coisa. O Espírito é distinto da matéria, mas, a união do Espírito e da matéria é necessária para intelec-tualizá-la. Para o ser humano essa união é necessária para a manifestação do Espírito, porque não tem orga-nização apta a perceber o Espírito sem a matéria; pois os seus sentidos não são apropriados para isto. Pode-se conceber o Espírito sem a matéria e a matéria sem o Espírito; pelo pensamento. Deus, Espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal. Deus é a inteligência suprema causa primária de todas as coisas. (3) O Espírito é o princípio inte-

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ligente. (4) Para que o Espírito possa exercer ação sobre a matéria tem que se juntar o fluido uni-versal, pois, é ele que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a matéria grosseira. É lícito até certo ponto, classificar o fluido universal com o elemento material, porém, ele se dis-tingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser considerado como sendo um ele-mento semimaterial, pois, está situado entre o Espírito e a matéria. Esse fluido universal, ou pri-mitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio sem o qual a ma-téria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. Esse fluido é suscetível de inúmeras combinações. Os denominados de fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente. Já que o Espírito é, em si, alguma coisa, poderia ser mais exato e menos sujeito a confusão dar aos dois elementos gerais as designações de - matéria inerte e matéria inteligente, contudo com-pete ao ser humano formular a sua linguagem de maneira a se fazer entender. As controvérsias provêm, quase sempre, acerca dos termos que emprega, e por ser incompleta a sua linguagem causa muitas confusões. Um fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria destituída de inteligência e vemos um princípio inteligente que independe da matéria. A origem e a conexão destas duas coisas são des-conhecidas. Se promanam ou não de uma só fonte; se há pontos de contacto entre ambas; se a in-teligência tem existência própria, ou se é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme à opinião de alguns, uma emanação da Divindade, ignoramos. Elas se mostram como sendo distin-tas; daí o fato de considerá-las formando os dois princípios constitutivos do Universo. Vê-se acima de tudo isso uma inteligência que domina todas as outras, que as governa, que se distingue delas por atributos essenciais. A essa inteligência suprema é que chamamos Deus. Propriedades da matéria A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria, como o ser humano a entende, mas, não, porém, da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que constitui esse fluido é imponderável. Nem por isso, entretanto, deixa de ser o princípio da matéria pesada. A gravidade é uma propriedade relativa. Fora das esferas de atração dos mundos, não há peso, do mesmo modo que não há alto nem baixo. A matéria é formada de um só elemento primitivo. Os corpos que são considerados simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva. As diversas propriedades da matéria são modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em cer-tas circunstâncias. Os sabores, os odores, as cores, o som, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos não passam de modificações de uma única substância primitiva e que só existem de-vido à disposição dos órgãos destinados a percebê-las. A demonstração deste princípio se encon-tra no fato de que nem todos percebemos as qualidades dos corpos do mesmo modo: enquanto que uma coisa agrada ao gosto de um, para o de outro é detestável; o que uns veem azul, outros veem vermelho; o que para uns é veneno, para outros é inofensivo ou salutar. A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir to-das as propriedades é isso o que se deve entender, quando se diz que tudo está em tudo. (5) O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos considerados simples são meras modificações de uma substância primitiva. Na impossibilidade em que ainda o ser humano se acha de remontar, a não ser pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para os Espíritos verdadeiros elementos e podem, sem maiores consequências, tê-los como tais, até nova ordem. A matéria tem duas propriedades essenciais: a força e o movimento, as demais propriedades não passam de efeitos secundários, que variam conforme à intensidade da força e à direção do mo-vimento, contudo deve-se acrescentar que também, conforme à disposição das moléculas, como o mostra, por exemplo, um corpo opaco, que pode tornar-se transparente e vice-versa. As moléculas têm forma determinada, porém, o ser humano ainda não é capaz de apreciá-la. Es-sa forma é constante para as moléculas elementares primitivas; variável para as moléculas se-cundárias, que mais não são do que aglomerações das primeiras, porque, a molécula está longe ainda da molécula elementar.

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Espaço universal O Espaço universal é Infinito. Supõe-se limitado o que haverá para lá de seus limites, e isto con-funde a razão, no entanto, a razão diz que não pode ser de outro modo. O mesmo se dá com o in-finito em todas as coisas. Não é na pequenina esfera em que o ser humano se acha o que deseja ele compreender. Supondo-se um limite ao Espaço, por mais distante que a imaginação o colo-que, a razão diz que além desse limite há alguma coisa mais e assim, gradativamente, até ao infi-nito, porquanto, embora essa alguma coisa fosse o vazio absoluto, ainda seria Espaço. O vácuo absoluto não existe em nenhuma parte do Espaço universal. O que parece vazio está ocupado por matéria que escapa aos sentidos do ser humano e aos seus instrumentos. NOTAS: (1) (Ver O QUE É O ESPIRITISMO, cap. II, itens de 9 à 14 e REVISTA ESPÍRITA, maio de 1864, págs. 138/139 - EDICEL., Allan Kardec) (2) Aqui devemos entender o princípio da inteligência fazendo abstração das individualidades designadas por esse nome. (3) Ver O LIVRO DOS ESPÍRITOS, questão 1, Allan Kardec) (4) (Ver O QUE É O ESPIRITISMO, cap. II, itens de 9 à 14 e REVISTA ESPÍRITA, maio de 1864, págs. 138/139 - EDICEL., Allan Kardec) (5) Este princípio explica o fenômeno conhecido de todos os magnetizadores e que consiste em dar-se, pela ação da vontade, a uma substância qualquer, à água, por exemplo, propriedades mui-to diversas: um gosto determinado e até as qualidades ativas de outras substâncias. Desde que não há mais de um elemento primitivo e que as propriedades dos diferentes corpos são apenas modificações desse elemento, o que se segue é que a mais inofensiva substância tem o mesmo princípio que a mais deletéria. Assim, a água, que se compõe de uma parte de oxigênio e de duas de hidrogênio, se torna corrosiva, duplicando-se a proporção do oxigênio. Transformação análo-ga, se pode produzir por meio de ação magnética dirigida pela vontade. ------------------------------------------------------------- 44 -------------------------------------------------- DOS FILMES À REALIDADE Jorge - 1992 - ADEP Ter-se-á difundido a crença na pluralidade dos mundos habitados através dos filmes que se mul-tiplicaram a retratá-la? Em caso afirmativo, poderão as temáticas mediúnicas reforçar a crença na continuidade da vida após a morte corporal? Tornou-se célebre a sugestão lançada por Orson Welles através de um programa de rádio, onde lançou a notícia de que os marcianos estavam a invadir a Terra. Houve quem se suicidasse, como se sabe, mediante a descrição, crédula e impensadamente. A maior parte dos ouvintes acolheu e difundiu o pânico. Na verdade, nada era realidade, por muito que parecesse. Este fato é inúmeras vezes utilizado pelos estudiosos da comunicação social, entre outras coisas, para salientar a força latente no envio de mensagens manipuladas. Efetivamente, se a rádio - eminentemente sonora, embora o som possa imediatamente produzir imagens de outra natureza - é capaz de tal efeito, melhor poderá este realizar-se através de um veículo como, por exemplo, a televisão. O nosso assunto, agora, é a temática mediúnica através do cinema e da TV. Há que ver, para en-tender. Mas não há que confundir: de fato pode um audiovisual destes espelhar a realidade mais ou menos fielmente. Porém, também pode ser uma simples aberração, sem qualquer fundamen-to... A aceitação dos extraterrestres Será curioso notar que, no espaço de poucos anos, no cinema e na televisão, insinuou-se, e aca-bou por se instalar, o tema dos “homenzinhos verdes”, ou de várias cores, oriundos de outros planetas. É possível reunir uma mão-cheia de evidências que façam pensar nas visitas, no passa-do e no presente da humanidade, de seres alienígenas. No fundo, provado ainda não está. Mas, por uma questão de bom-senso, o ser humano comum já compreendeu que seria muito difícil, dada a dimensão do cosmos, nós, neste pequenino grão de areia - a Terra -, sermos os únicos a

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possuir a chamada vida inteligente. O ser humano da rua habituou-se a pensar num assunto antes geralmente rejeitado. Para tal estado de coisas, entretanto, concordará o leitor que contribuíram fortemente as histórias da TV e do cinema. O inesquecível “ET”, “Encontros Imediatos do 3.o Grau”, “Alf - Uma Coisa do Outro Mundo”, 2001 - Odisseia no Espaço”, “O Caminho das Estre-las”, e tantos, tantos outros. Outros mundos, outras dimensões Enquanto os extraterrestres ou nos vinham procurar, mais ou menos às escondidas, ou então, de-vassando o cosmos, os terrestres com eles deparavam, com a temática mediúnica é um mundo espiritual, interpenetrado com o nosso espaço físico, gozando de invisibilidade significativa (ig-norantemente taxada de sobrenatural), bem próximo, que passa a ser o palco dos enredos mais ou menos bem conseguidos de muitas realizações cinematográficas e televisivas. Não pretendemos marginalizar o teatro, a poesia, o bailado e outras artes, pois sabe-se que elas também vêm refle-tindo tal dimensão; contudo, o fato é que, em termos de comunicação de massas, vem primeiro a TV e depois o cinema, quase sempre. Exemplos Com relativamente pouco que se lhes possa apontar, do ponto de vista espírita, já aqui referidas, destacam-se algumas obras mais fidedignas. À partida, o memorável filme do mestre Spielberg intitulado “Always” (Sempre). Quando do seu lançamento, este famoso gênio da sétima arte declarou à imprensa (passamos a citar o fim da pequena notícia publicada no “Jornal de Notícias” de 1989.11.09): “Gosto de pen-sar que, quando fazemos algo verdadeiramente bom, não estamos sós”, afirmou Spielberg acerca dos bons Espíritos, que podem ajudar os seres humanos. De igual nível podemos salientar o grande êxito de bilheteira, em vários países, que foi “Ghost - Espírito do Amor”, de Jerry Zucker. Depois, e também à disposição nos videoclubes, o “Viver de Novo”, de Branagh. Enquanto este último tem uma temática interessante do ponto de vista reen-carnacionista, os dois anteriores espalham o seu enredo pela intervenção dos Espíritos no mundo material (pessoas que morrem – desencarnam - e voltam com amor a acompanhar e intervir no meio a que afetivamente se encontravam ligados). De certeza que os argumentistas destas obras estavam bastante bem informados, no geral, sobre as pesquisas mediúnicas e paranormais, sérias, feitas na área. Outras obras, porém, já mostram com muitos buracos, ou seja, apesar de se reportarem também à intervenção dos Espíritos no plano físico, ou material, misturam muita - penosa, dir-se-ia - ima-ginação, tornando-se inconsistentes. Não será bem este o caso de “Pantanal” (a telenovela brasileira que chegou a ser citada nas Na-ções Unidas como um bom exemplo de sensibilização ecológica), particularmente no seu final, apesar de tudo imperfeito, altura em que o Velho do Rio (um Espírito) recebe o seu filho José Leôncio, recém-desencarnado, que o virá substituir na tarefa de zelar pela região; a sugestão do Velho de que a jovem Juma viria a receber sua mãe (desencarnada) como filha; as crianças que veem e conversam com o Espírito protetor; os conselhos e a sabedoria deste, a sua clarividência e as suas premonições. Isto, por volta de 1991. Ainda menos se poderá dizer de um filme passado na RTP 1 em 29 de Abril, de origem italiana (“1967”, de Alessandro Blasetti), onde, tendo em conta a data da sua produção, nem os efeitos especiais foram lá grande coisa. O mesmo se aplica a “Papai Fantasma” (Dad Ghost), de Sidney Poitier, notando-se que aquilo parece mais o resultado de um sonho meio confuso. “Uma Estrela Caída do Céu”, visto na RTP 1 em 92.02.26 (The Heavenly Kid, de Cary Medoway, datado de 1985), vai na mesma onda, mas nem tanto - o argumento foi transmutado, com melhor resultado, para uma série intitulada “Um Jovem Anjo”, que ocupou o pequeno ecrã durante muito tempo, em 1992, ao domingo de manhã, no tempo dos mais jovens. “Inimigos do Coração”, “Beija-me e Adeus”, na TV, “As 100 Vidas do Pirata Negro”, são mais alguns, entre tantos filmes que, se é um fato que têm alguma (muita) fantasia, dependendo dos casos e das sequências, põem quem os visiona, pequenos e graúdos, na disposição de pensar se, realmente, alguma coisa parecida com aquilo lhes poderá acontecer na vida, ou então a alguém que conheçam. Claro, para nós outros, que estudamos com continuidade o espiritismo e colaboramos nas tarefas mediúnicas, essas histórias, em parte, não são qualquer novidade, já que o testemunho invariável

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da surpresa de se continuar a viver, após o desligamento definitivo do corpo físico, é uma cons-tante do quotidiano. Entretanto, cogitemos no seguinte: que efeitos tais abordagens cinematográ-ficas poderão produzir na mentalidade do público? Provavelmente, uma muito maior predisposi-ção para o levantamento de muitos e muitos porquês relativamente à continuidade da vida, após aquela porta, naturalíssima, que iremos atravessar um dia, intransferivelmente. Uns melhores, outros piores, como aconteceu com os extraterrestres, a continuidade da vida está a tornar-se um hábito na sétima arte, até mesmo para quem não acredita “nessas coisas” (...ou acredita menos!). --------------------------------------------------------- 45 ------------------------------------------------------ DOS TRÊS REINOS In O LIVRO DOS ESPÍRITOS - Livro segundo, cap. XI - Allan Kardec Pesquisa feita por E. Mollo Ensinamento hinduísta, que remonta a milhares de anos, tem esta versão poética da evolução: A ALMA DORME NA PEDRA, SONHA NO VEGETAL, SE AGITA NO ANIMAL E DES-PERTA NO SER HUMANO. Dos Espíritos que exercem ação nos fenômenos da Natureza, alguns operam com conhecimento de causa, usando do livre-arbítrio, outros não. Podemos estabelecer uma comparação, conside-remos essas miríades de animais que, pouco a pouco, fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Há aí um fim providencial e que essa transformação da superfície do globo é necessária à har-monia geral. Entretanto, são animais de ínfima ordem que executam essas obras, provendo às su-as necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de Deus. Do mesmo modo, os Espíri-tos mais atrasados oferecem utilidade ao conjunto. Enquanto se ENSAIAM para a vida, antes que tenham PLENA consciência de seus atos e este-jam no GOZO pleno do livre-arbítrio, atuam em certos fenômenos, de que inconscientemente se constituem os agentes. Primeiramente, executam. Mais tarde, QUANDO suas inteligências já HOUVEREM ALCANÇADO UM CERTO DESENVOLVIMENTO, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material. Depois, poderão dirigir as do mundo moral. É ASSIM QUE TUDO SERVE, QUE TUDO SE ENCADEIA NA NATUREZA, DESDE O ÁTOMO PRIMITIVO ATÉ O ARCANJO, QUE TAMBÉM COMEÇOU POR SER ÁTOMO. ADMIRÁVEL LEI DE HARMONIA, que ainda o nosso acanhado Espírito não pode apreender em seu conjunto!(LE-540) Os minerais e as plantas A divisão da Natureza em três reinos, ou melhor, em duas classes: a dos seres orgânicos e a dos inorgânicos que segundo alguns, a espécie humana forma um quarto reino. Todas estas divisões são boas, conforme o ponto de vista. Do ponto de vista material, apenas há seres orgânicos e inorgânicos. Do ponto de vista moral, há evidentemente quatro graus. (LE-585) NOTA DE ALLAN KARDEC - Esses quatro graus apresentam, com efeito, caracteres determi-nados, muito embora pareçam confundir-se nos seus limites extremos. A matéria inerte, que constitui o reino mineral, só tem em si uma força mecânica. As plantas, ainda que compostas de matéria inerte, são dotadas de vitalidade. Os animais, também compostos de matéria inerte e igualmente dotados de vitalidade, possuem, além disso, uma espécie de inteligência instintiva, limitada, e a inconsciência de sua existência e de suas individualidades. O ser humano, tendo tu-do o que há nas plantas e nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência espe-cial, indefinida, que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas extramateriais e o conhecimento de Deus. As plantas não têm consciência de que existem, pois que não pensam; só têm vida orgânica. (LE-586) As plantas recebem impressões físicas que atuam sobre a matéria, mas não têm percepções. Conseguintemente, não têm a sensação da dor. (LE-587) Independe da vontade delas a força que as atrai umas para as outras, porquanto não pensam. É uma força mecânica da matéria, que atua sobre a matéria, sem que elas possam a isso opor-se. (LE-588) Algumas plantas, como a sensiti-va e a dionéia, por exemplo, executam movimentos que denotam grande sensibilidade e, em cer-tos casos, uma espécie de vontade, conforme se observa na segunda, cujos lóbulos apanham a

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mosca que sobre ela pousa para sugá-la, parecendo que urde uma armadilha com o fim de captu-rar e matar aquele inseto. Dai surgem perguntas como estas: São dotadas essas plantas da facul-dade de pensar? Têm vontade e formam uma classe intermediária entre a Natureza vegetal e Na-tureza animal? Constituem a transição de uma para outra? Responderemos que, na Natureza Tu-do é transição, por isso mesmo que uma coisa não se assemelha a outra e, no entanto, todas se prendem umas às outras. As plantas não pensam; por conseguinte carecem de vontade. Nem a ostra que se abre, nem os zoófitos pensam: têm apenas um instinto cego e natural. (LE-589) NOTA DE ALLAN KARDEC - O organismo humano nos proporciona exemplo de movimentos análogos, sem participação da vontade, nas funções digestivas e circulatórias. O piloro se contrai, ao contato de certos corpos, para lhes negar passagem. O mesmo provavelmente se dá na sensiti-va, cujos movimentos de nenhum modo implicam a necessidade de percepção e, ainda menos, da vontade. Nas plantas há uma espécie de instinto, dependendo isso da extensão que se dê ao significado desta palavra. É, porém, um instinto puramente mecânico. Quando, nas operações químicas, ob-servais que dois corpos se reúnem, é que um ao outro convém; quer dizer: é que há entre eles afinidade, e a isto não damos o nome de instinto. (LE-590) Nos mundos superiores tudo é mais perfeito. As plantas, porém, são sempre plantas, como os animais sempre animais e os seres humanos sempre seres humanos. (LE-591) Os animais e o ser humano Pelo que toca à inteligência, comparando o ser humano e os animais, parece difícil estabelecer-se uma linha de demarcação entre aquele e estes, porquanto alguns animais mostram, sob esse as-pecto, notória superioridade sobre certos seres humanos. A este respeito é completo o desacordo entre os nossos filósofos. Querem uns que o ser humano seja um animal e outros que o animal seja um ser humano. Estão todos em erro. O ser humano é um ser à parte, que desce muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto. Pelo físico, é como os animais e menos bem dotado do que muitos destes. A Natureza lhes deu tudo o que o ser humano é obrigado a in-ventar com a sua inteligência, para satisfação de suas necessidades e para sua conservação. Seu corpo se destrói, como o dos animais, é certo, mas ao Espírito está assinado um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre. Os seres humanos, não devem se re-baixar mais do que os brutos! Devem saber se distinguir deles. Reconhece-se o ser humano pela faculdade de pensar em Deus. (LE-592) Dizer que os animais só obram por instinto. Ainda aí há um sistema. É verdade que na maioria dos animais domina o instinto. Pode-se observar que MUITOS OBRAM DENOTANDO ACENTUADA VONTADE, é que têm inteligência, porém limitada. (LE-593) NOTA DE ALLAN KARDEC - Não se poderia negar que, além de possuírem o instinto, alguns animais praticam atos combinados, que denunciam vontade de operar em determinado sentido e de acordo com as circunstâncias. Há, pois, neles, uma espécie de inteligência, mas cujo exercício quase que se circunscreve à utilização dos meios de satisfazerem às suas necessidades físicas e de proverem à conservação própria. Nada, porém, criam, nem melhora alguma realizam. Qual-quer que seja a arte com que executem seus trabalhos, fazem hoje o que faziam outrora e o fa-zem, nem melhor, nem pior, segundo formas e proporções constantes e invariáveis. A cria, sepa-rada dos de sua espécie, não deixa por isso de construir o seu ninho de perfeita conformidade com os seus maiores, sem que tenha recebido nenhum ensino. O desenvolvimento intelectual de alguns, que se mostram suscetíveis de certa educação, desenvolvimento, aliás, que não pode ul-trapassar acanhados limites, é devido à ação do ser humano sobre uma natureza maleável, por-quanto não há aí progresso que lhe seja próprio. Mesmo o progresso que realizam pela ação do ser humano é efêmero e puramente individual, visto que, entregue a si mesmo, não tarda que o animal volte a encerrar-se nos limites que lhe traçou a Natureza. Os animais não possuem uma linguagem formada de sílabas e palavras. Porém, possuem um meio de se comunicarem entre si. Dizem uns aos outros muito mais coisas do que podemos ima-ginar, Mas, essa mesma linguagem de que dispõem é restrita às necessidades, como restritas também são as ideias que podem ter. Entretanto, há animais que carecem de voz. Esses parece que nenhuma linguagem usam, contudo compreendem-se por outros meios. Para se comunicar reciprocamente, com outros, o ser humano não dispõe só da palavra, mas também de outros mei-

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os, assim como os mudos. Facultada lhes sendo a vida de relação, os animais possuem meios de se prevenirem e de exprimirem as sensações que experimentam. Os peixes também se entendem entre si. O ser humano não goza do privilégio exclusivo da linguagem. Porém, a dos animais é instintiva e circunscrita pelas suas necessidades e ideias, ao passo que a do ser humano é perfec-tível e se presta a todas as concepções da sua inteligência. (LE-594) NOTA DE ALLAN KARDEC - Efetivamente, os peixes que, como as andorinhas, emigram em cardumes, obedientes ao guia que os conduz, devem ter meios de se advertirem, de se entende-rem e combinarem. É possível que disponham de uma vista mais penetrante e esta lhes permita perceber os sinais que mutuamente façam. Pode ser também que tenham na água um veículo próprio para a transmissão de certas vibrações. Como quer que seja, o que é incontestável é que lhes não falecem meios de se entenderem, do mesmo modo que a todos os animais carentes de voz e que, não obstante, trabalham em comum. Diante disso, que admiração pode causar que os Espíritos entre si se comuniquem sem o auxílio da palavra articulada? OS ANIMAIS NÃO SÃO SIMPLES MÁQUINA. Contudo, a liberdade de ação, de que desfru-tam, é limitada pelas suas necessidades e não se pode comparar à do ser humano. Sendo muitís-simo inferiores a este, não têm os mesmos deveres que ele. A liberdade que possuem é restrita aos atos da vida material. (LE-595) A aptidão que certos animais denotam para imitar a lingua-gem do ser humano, inclusive essa aptidão se revela mais nas aves do que no macaco, cuja con-formação apresenta mais analogia com a humana, origina-se de uma particular conformação dos órgãos vocais, reforçada pelo instinto de imitação. O macaco imita os gestos; algumas aves imi-tam a voz. (LE-596) Os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, pois HÁ NELES ALGUM PRINCÍPIO INDEPENDENTE DA MATÉRIA E QUE SOBREVIVE AO CORPO. Podemos dizer que é um Espírito, dependendo do sentido que se der a esta palavra. É, porém, in-ferior à do ser humano. Há entre o Espírito dos animais e a do ser humano distância equivalente à que medeia entre o Espírito do ser humano e Deus. (LE-597) Após a morte, O ESPÍRITO DOS ANIMAIS CONSERVA A SUA INDIVIDUALIDADE, mas quanto à CONSCIÊNCIA do seu EU, NÃO. A VIDA INTELIGENTE LHE PERMANECE EM ESTADO LATENTE. (LE-598) Ao Espírito dos animais não é dado escolher a espécie de animal em que encarne, pois que lhe falta livre-arbítrio. (LE-599) Sobrevivendo ao corpo em que habitou, o Espírito do animal fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unido ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediata-mente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas. (LE-600) OS ANIMAIS ESTÃO SUJEITOS, COMO O SER HUMANO, A UMA LEI PROGRESSIVA, e daí vem que nos mundos superiores, onde os seres humanos são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao ser humano e se lhe acham submetidos, tendo neles o ser humano servidores inteligentes. (LE-601) NOTA DE ALLAN KARDEC - Nada há nisso de extraordinário, tomemos os nossos mais inte-ligentes animais, o cão, o elefante, o cavalo, e imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada a trabalhos manuais. Que não fariam sob a direção do ser humano? Os animais pro-gridem pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação. (LE-602) Nos mundos superiores, os animais não conhecem a Deus. Para eles o ser humano é um deus, como outrora os Espíritos eram deuses para o ser humano. (LE-603) TUDO NA NATUREZA SE ENCADEIA POR ELOS QUE AINDA NÃO PODEMOS APRE-ENDER MUITO BEM. Assim, as coisas aparentemente mais díspares têm pontos de contacto que o ser humano, no seu estado atual, nunca chegará a compreender. Por um esforço da inteli-gência poderá entrevê-los; mas, somente quando essa inteligência estiver no máximo grau de de-senvolvimento e liberta dos preconceitos do orgulho e da ignorância, logrará ver claro na obra de Deus. Até lá, suas muito restritas ideias lhe fará observar as coisas por um mesquinho e acanha-do prisma. Não é possível que Deus se contradiga, pois NA NATUREZA, TUDO SE HARMO-

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NIZA MEDIANTE LEIS GERAIS, que por nenhum de seus pontos deixam de corresponder à sublime sabedoria do Criador. A inteligência é uma propriedade comum, um ponto de contacto entre o Espírito dos animais e o do ser humano, porém OS ANIMAIS SÓ POSSUEM A INTE-LIGÊNCIA DA VIDA MATERIAL. NO SER HUMANO, A INTELIGÊNCIA PROPORCIO-NA A VIDA MORAL. (LE-604) Considerando-se todos os pontos de contacto que existem entre o ser humano e os animais, não é lícito pensar que o ser humano possui dois Espíritos: o Espírito animal e o Espírito: Não, o ser humano não tem dois Espíritos. O corpo, porém, tem seus instintos, resultantes da sensação pe-culiar aos órgãos. Dupla, no ser humano, só é a Natureza. Há nele a natureza animal e a natureza espiritual. Participa, pelo seu corpo, da natureza dos animais e de seus instintos. Por seu Espírito, participa da dos Espíritos. Quanto mais inferior é o Espírito, tanto mais apertados são os laços que o ligam à matéria. Como já dissemos, o ser humano não tem dois Espíritos; o Espírito é sempre único em cada ser. São distintos um do outro o Espírito do animal e o do ser humano, a tal ponto que o de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas, conquanto não tenha Espírito animal, que, por suas paixões, o nivele aos animais, o ser humano tem o corpo que, às vezes, o rebaixa até ao nível deles, por isso que o corpo é um ser dotado de vitalidade e de instin-tos, porém ininteligentes estes e restritos ao cuidado que a sua conservação requer. (LE-605) NOTA DE ALLAN KARDEC - Encarnado no corpo do ser humano, o Espírito lhe traz o princí-pio intelectual e moral, que o torna superior aos animais. As duas naturezas nele existentes dão às suas paixões duas origens diferentes: umas provêm dos instintos da natureza animal, provindo as outras das impurezas do Espírito, de cuja encarnação é ele a imagem e que mais ou menos simpatiza com a grosseria dos apetites animais. Purificando-se, o Espírito se liberta pouco a pou-co da influência da matéria. Sob essa influência, aproxima-se do bruto. Isento dela, eleva-se à sua verdadeira destinação. Os animais tiram o princípio inteligente que constitui o Espírito de natureza especial de que são dotados do elemento inteligente universal. A inteligência do ser humano e a dos animais emanam de um único princípio, porém, no ser humano, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal. (LE-606) O estado do Espírito na sua primeira encarnação é o da infância na vida corporal. A inteligência apenas desabrocha: o Espírito se ensaia para a vida. O Espírito passa essa primeira fase do seu desenvolvimento numa série de existências que precedem o período a que chamamos Humani-dade. Na Natureza se encadeia e tende para a unidade. Nesses seres, cuja totalidade estamos lon-ge de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se en-saia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, ca-pacidade de distinguir o certo do errado e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da in-fância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o ser humano. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. A GRAN-DEZA DE DEUS se reconhece nessa ADMIRÁVEL HARMONIA, mediante a qual TUDO É SOLIDÁRIO NA NATUREZA (1). Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da Sua bondade, que se estende por sobre to-das as suas criaturas. A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O perío-do da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início humano, este-ja apto a viver na Terra. Não é frequente o caso; constitui antes uma exceção. (LE-190 e 607) (1) «NÃO ESQUEÇAIS NUNCA que o Espírito, «QUALQUER QUE SEJA O GRAU DE SEU ADIANTAMENTO», sua situação como encarnado, ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres.» VICENTE DE PAULO, in O LIVRO DOS ESPÍRITOS, q. 888a, Allan Kar-dec

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O Espírito do ser humano não tem, após a morte, consciência de suas existências anteriores ao período de humanidade, pois não é desse período que começa a sua vida de Espírito. Difícil é mesmo que se lembre de suas primeiras existências humanas, como difícil é que o ser humano se lembre dos primeiros tempos de sua infância e ainda menos do tempo que passou no seio mater-no. Essa a razão por que os Espíritos dizem que não sabem como começaram. (LE-608) Confor-me a distância que medeie entre os dois períodos e o progresso realizado. Durante algumas gera-ções, pode ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados do estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição. Há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos. Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvi-mento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque ainda não têm a secundá-los a vontade. Vão em progressão mais rápida, à medida que o Espírito adqui-re perfeita consciência de si mesmo. (LE-609) Os Espíritos que disseram constituir o ser humano um ser à parte na ordem da criação não se en-ganaram, mas a questão não fora desenvolvida. Demais, há coisas que só a seu tempo podem ser esclarecidas. O ser humano é, com efeito, um ser à parte, visto possuir faculdades que o distin-guem de todos os outros e ter outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a en-carnação do seres que podem conhecê-Lo. (LE-610) Metempsicose O terem os seres vivos uma origem comum no princípio inteligente não é a consagração da dou-trina da metempsicose. Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se asseme-lharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, do gérmen in-forme que se contém na semente donde ela surge? Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é o Espírito dos animais, como a árvore já não é a semente. De animal só há no ser humano o corpo e as paixões que nascem da influência do corpo e do instinto de conservação inerente à matéria. Não se pode, pois, dizer que tal ser humano é a encarnação do Espírito de tal animal. Conseguintemente, a metempsicose, como a entendem não é verdadeira. (LE-611) O Espírito que animou o corpo de um ser humano não poderia encarnar num animal, pois isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente. Os Espíritos não podem degenerar; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição. Con-cluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode perma-necer estacionário, mas não retrograda. (LE-612 e 118) Tanto na ideia ligada à metempsicose, como em muitas outras crenças, se depara esse sentimento intuitivo. O ser humano, porém, o desnaturou, como costuma fazer com a maioria de suas ideias intuitivas. (LE-613) NOTA DE ALLAN KARDEC - Seria verdadeira a metempsicose, se indicasse a progressão do Espírito, passando de um estado a outro superior, onde adquirisse desenvolvimentos que lhe transformassem a natureza. É, porém, falsa no sentido de transmigração direta do Espírito do animal para o ser humano e reciprocamente, o que implicaria a ideia de uma retrogradação, ou de fusão. Ora, o fato de não poder semelhante fusão operar-se, entre os seres corporais das duas es-pécies, mostra que estas são de graus inassimiláveis, devendo dar-se o mesmo com relação aos Espíritos que as animam. Se um mesmo Espírito as pudesse animar alternativamente, haveria, como consequência, uma identidade de natureza, traduzindo-se pela possibilidade da reprodução material. A reencarnação, como os Espíritos a ensinam, se funda, ao contrário, na marcha ascendente da Natureza e na progressão do ser humano, dentro da sua própria espécie, o que em nada lhe dimi-nui a dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que ele faz das faculdades que Deus lhe outorgou para que progrida. Seja como for, a ancianidade e a universalidade da doutrina da metempsicose e, bem assim, a circunstância de a terem professado seres humanos eminentes provam que o princípio da reencarnação se radica na própria Natureza. Antes, pois, constituem argumentos a seu favor, que contrários a esse princípio. O ponto inicial do Espírito é uma dessas questões que se prendem à origem das coisas e de que Deus guarda o segredo. Dado não é ao ser humano conhecê-las de modo absoluto, nada mais lhe sendo possível a tal respeito do que fazer suposições, criar sistemas mais ou menos prováveis. Os

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próprios Espíritos longe estão de tudo saberem e, acerca do que não sabem, também podem ter opiniões pessoais mais ou menos sensatas. É assim, por exemplo, que nem todos pensam da mesma forma quanto às relações existentes en-tre o ser humano e os animais. Segundo uns, o Espírito não chega ao período humano senão de-pois de se haver elaborado e individualizado nos diversos graus dos seres inferiores da Criação. Segundo outros, o Espírito do ser humano teria pertencido sempre à raça humana, sem passar pe-la fieira animal. O primeiro desses sistemas apresenta a vantagem de assinar um alvo ao futuro dos animais, que formariam então os primeiros elos da cadeia dos seres pensantes. O segundo é mais conforme à dignidade do ser humano e pode resumir-se da maneira seguinte: As diferentes espécies de animais não procedem intelectualmente umas das outras, mediante progressão. As-sim, o Espírito da ostra não se torna sucessivamente o do peixe, do pássaro, do quadrúpede e do quadrúmano. Cada espécie constitui, física e moralmente, um tipo absoluto, cada um de cujos indivíduos haure na fonte universal a quantidade do princípio inteligente que lhe seja necessário, de acordo com a perfeição de seus órgãos e com o trabalho que tenha de executar nos fenômenos da Natureza, quantidade que ele, por sua morte, restitui ao reservatório donde a tirou. Os dos mundos mais adiantados que o nosso (ver n.o 188) constituem igualmente raças distintas, apro-priadas às necessidades desses mundos e ao grau de adiantamento dos seres humanos, cujos au-xiliares eles são, mas de modo nenhum procedem das da Terra, espiritualmente falando. Outro tanto não se dá com o ser humano. Do ponto de vista físico, este forma evidentemente um elo da cadeia dos seres vivos: porém, do ponto de vista moral, há, entre o animal e o ser humano, solu-ção de continuidade. O ser humano possui, como propriedade sua, o Espírito, centelha divina que lhe confere o senso moral e um alcance intelectual de que carecem os animais e que é nele o ser principal, que preexiste e sobrevive ao corpo, conservando sua individualidade. Qual a origem do Espírito? Onde o seu ponto inicial? Forma-se do princípio inteligente individualizado? Tudo isso são mistérios que fora inútil querer devassar e sobre os quais, como dissemos, nada mais se pode fazer do que construir sistemas. O que é constante, o que ressalta do raciocínio e da experi-ência é a sobrevivência do Espírito, a conservação de sua individualidade após a morte, a pro-gressividade de suas faculdades, seu estado feliz ou desgraçado de acordo com o seu adianta-mento na senda do bem e todas as verdades morais decorrentes deste princípio. Quanto às relações misteriosas que existem entre o ser humano e os animais, isso, repetimos, es-tá nos segredos de Deus, como muitas outras coisas, cujo conhecimento atual nada importa ao nosso progresso e sobre as quais seria inútil determo-nos. Os Espíritos puros habitam mundos especiais, mas não lhes ficam presos, como os seres huma-nos à Terra; podem, melhor do que os outros, estar em toda parte. (LE-188) ------------------------------------------------------------ 46 --------------------------------------------------- EM FAVOR DA AMIZADE Orson Peter Carrara Nos comentários que faz às respostas dadas pelos Espíritos, nas questões 938 e 980 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec (o codificador do Espiritismo) comenta que a maior felicidade que o ser humano pode encontrar sobre a Terra é conviver com pessoas afins, pois esta felicidade ante-cipa a felicidade sentida pelos Espíritos que vivem em harmonia no plano espiritual. Ora, pessoas afins são pessoas que amam e são amadas, reciprocamente. Por isso, sentem prazer na convivência mútua e vontade de estarem sempre juntos. São amigos autênticos. Segundo a definição de dicionário, amigo é pessoa que quer bem a outra, defensor, protetor. Já a palavra amizade é definida como o sentimento de amigo, afeto que liga as pessoas, reciprocidade do afeto, benevolência, amor. Já se disse que quem tem um amigo, tem um tesouro. E pesquisas recentes indicam que ter ami-gos aumenta o tempo de vida e protege a saúde contra doenças, especialmente aquelas que afe-tam o coração. É que a convivência com amigos autênticos proporcionam o incomparável prazer de estar com pessoas com quem não precisamos nos preocupar em como vamos nos portar, o que vamos dizer... Estar com amigos livra-nos do ambiente constrangedor de muitas vezes “pisar em

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ovos”. Com eles, somos nós mesmos, naturalmente. Os amigos nos entendem, nos compreen-dem, nos aceitam como somos. E estes sentimentos são recíprocos. É aquela cumplicidade natu-ral da reciprocidade do afeto. Mesmo que tenhamos de chamar a atenção ou sermos advertidos, em virtude de qualquer equívoco, isto será feito com jeito, sabendo abordar o assunto, sem ma-goar, sem constranger. É que entre amigos há um ingrediente fundamental para a boa convivên-cia: o respeito mútuo. Basta pensar que as causas dos atritos, desentendimentos e intrigas estão nas tentativas de imposição das ideias ou no desrespeito à liberdade de cada um. A amizade leal é a mais formosa modalidade de amor fraterno, segundo Emmanuel. Por isso pensemos nos amigos! E reflitamos nos benefícios que este magno sentimento é capaz de espa-lhar onde se apresente. Antes, pois, de qualquer iniciativa, sejamos amigos uns dos outros, e sen-tiremos a vontade da convivência saudável de quem se quer bem... Não podemos, todavia, esquecer o Amigo Incondicional da Humanidade: Jesus! Sempre presente na vida humana, poderia ter enviado um representante para a Terra, a fim de apresentar o Evan-gelho. Mas fez questão de estar pessoalmente entre nós, pelo amor fraternal e autêntica amizade que dedica a seus irmão ainda em processo evolutivo, lento e difícil. Nem tampouco esquecer as figuras importantes dos anjos guardiães (veja questões 489 a 495 de O Livro dos Espíritos), tam-bém sempre presentes a nos auxiliar. --------------------------------------------------------------- 47 ------------------------------------------------ LER, ENTENDER E ATENDER Rogério Coelho “Quem lê, entenda.” (Mc., 13:14.) “Quem lê, atenda.” (Mc., 24:15.) Uma das características do método de ensino de Jesus é levar a criatura a profundas reflexões, ao autoconhecimento e, consequentemente, promover ela mesma o seu próprio esclarecimento. Não Lhe passava desapercebido o detalhe da baixa estatura intelectual de Seus interlocutores, e a resposta-ensino era dosado de acordo com a capacidade de percepção de quantos Lhe recebiam a luz. Estava o Mestre ciente de que a luz por demais intensa deslumbra e não clareia. Chegou mesmo a declarar que tinha muitas outras coisas para dizer mas que não podíamos ainda suportar, dei-xando para o futuro “Consolador” a revelação e lembrança dessas coisas... Em muitas ocasiões repetiu: “Ouça quem tem ouvidos de ouvir; veja quem tem olhos de ver” e equivocam-se os analistas perfunctórios se apenas veem nessas palavras meros pleonasmos. Je-sus apenas queria aguçar a atenção das criaturas para as nuanças mais delicadas do ensino. Certa feita, para O tentar, um doutor da lei perguntou: “Mestre, que preciso fazer para possuir a Vida Eterna?” (Lc., 1:25 a 37.) Jesus responde perguntando: “Que é o que está escrito na lei?” “Que é o que lês lá?” Observemos o duplo questionamento de Jesus sem dar ao menos tempo para a resposta entre um e outro. Todas as Suas atitudes refletiam um propósito... O único título que Ele admitiu receber foi o de Mestre. Assim, Suas palavras, repassadas de ter-nura e lucidez, embora muitas vezes graves, estavam sempre robustas de ensinamentos. Com duas perguntas rápidas e simultâneas, Ele levou o doutor da lei a fazer uma análise de sua própria capacidade de apreensão. Em seguida, deu-lhe uma lição sobre quem é o nosso próximo e acerca da superioridade moral de um simples samaritano sobre o levita e o sacerdote negligen-tes, orgulhosos e desalmados (que liam, mas não entendiam e muito menos atendiam.). Não basta, portanto, ler, é preciso entender e atender. Afirma Emmanuel: “Raríssimos são os leitores que buscam a realidade da Vida. O próprio Evangelho tem sido para os imprevidentes e levianos vasto campo de observações pouco dignas. Quantos olhos passam por ele, apressados e inquietos, anotando deficiências da letra ou catalogando possíveis equívo-cos, a fim de espalharem sensacionalismo e perturbação? Alinham, com avidez, as contradições aparentes e tocam a malbaratar, com enorme desprezo pelo trabalho alheio, as plantas tenras e

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dadivosas da fé renovadora. A recomendação de Jesus, no entanto, é infinitamente expressiva. É razoável que a leitura do ser humano ignorante e animalizado represente conjunto de ignominio-sas brincadeiras, mas o espírito de religiosidade precisa penetrar a leitura séria, com real atitude de elevação. O problema do discípulo do Evangelho não é o de ler para alcançar novidades emo-tivas ou conhecer a Escritura para transformá-la em arena de esgrima intelectual, mas o de ler pa-ra atender a Deus, cumprindo-Lhe a Divina Vontade.” ------------------------------------------------------------- 48 -------------------------------------------------- É POSSÍVEL EVOLUÇÃO SEM EDUCAÇÃO? Carlos Augusto Parchen Recentemente fizemos uma palestra sobre o tema “Evolução”, onde colocávamos uma série de condições e premissas necessárias a evolução. Em e-mail, um Irmão, a esse respeito, nos perguntou: “é possível evolução sem educação?”. Claro que a pergunta não se refere a educação no sentido de “ensino”, de educação escolar, mas sim no sentido de “educação para a vida”. Vamos clarear isso um pouco mais: educar-se pode ser traduzido como aquisição de conheci-mentos e sua transformação em habilidade, aptidões e atitudes. Colocamos “educar-se” e não “educar”, pois a educação é fundamentalmente um processo de aprendizagem e não de ensino. Modernamente, o papel de educador é o de facilitador do processo de aprendizagem, e não mais o do “professor que ensina”, mas isso é um outro assunto. Podemos dividir a educação em dois grandes campos: o de educação formal e o da autoeduca-ção. Na educação formal, o indivíduo adquire conhecimentos organizados nas diversas áreas do co-nhecimento humano. Na autoeducação, o indivíduo acha os conhecimentos necessários ao seu convívio com seu semelhante e com a natureza. Nos dois campos, a educação só ocorre quando “apreendemos” (com dois “es”) o conhecimento (intelectualização) e o transformamos em habilidade, aptidões e atitudes, que são obtidas através das vivências e experiências pessoais. Aliás, mais um parênteses: é necessário que os professores percebam que na escola, assim como na vida, os conhecimentos só são transformados em habilidade e aptidões se “processadas” atra-vés de experiências e vivências. Colocamos isso para destacar alguns aspectos importantes. Primeiro, se o indivíduo não conse-gue transformar determinado conhecimento, seja de que origem for, em habilidade, aptidões e atitudes para uso em sua vida e/ou em sua profissão, ele não apreendeu e em consequência, não “educou-se” naquela área específica. Em segundo, é necessário que o indivíduo realmente “pro-cesse” o conhecimento através da vivência e da experiência pessoal, ou seja, que internalize pela relação com a vivência e prática pessoal, pois em caso contrário não conseguirá “apreender” aquele conhecimento. Relacionemos agora com a “evolução”. Evoluir é crescer e mudar para um patamar superior de conhecimento e comportamento e melhorar em relação a um estágio anterior. Energeticamente, evoluir é passar a vibrar em patamar mais elevado e sutil que o anterior. Quando a pergunta foi feita, evoluir, evidentemente, foi colocado no sentido de evoluir “espiritu-almente”, ou se quiser “ética e moralmente”. Daí, voltemos a questão: evolução e educação têm relação direta? Afirmamos que sim, de uma forma clara. Para evoluir, mudar de patamar, elevar-se, o indivíduo necessita trilhar a vida em consonância com a Lei Natural. A Lei Natural é universal e perfeita e permeia todo o universo, regendo todo o seu funcionamento, nos aspectos físicos (matéria e energia) e espirituais (ética e moral). As Leis Morais fazem parte indissolúvel da Lei Natural.

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Para evoluir, o indivíduo necessita “respeitar” ou harmonizar-se com a Lei Natural. E isso só é possível se “educar-se” a esse respeito, ou seja, ter habilidade, aptidões, e atitudes que o façam transitar sem confronto com a Lei Natural. E isso tem que ocorrer no dia-a-dia do indivíduo, em toda a sua relação com o seu semelhante e com a natureza. Mesmo nas menores coisas, pois as Leis Naturais não diferenciam “coisas mais importantes” e “coisas menos importantes”. Mal comparado, com quem rouba 1.000 reais ou 100.000 reais, são atingidos igualmente pelo Código Penal. Por isso, se o indivíduo não educar-se para a vida, com habilidades, aptidões e atitudes corres-pondentes, não conseguirá evoluir, pois entra em confronto com a Lei Natural. Tomemos um exemplo bem material e corriqueiro: muitas pessoas levam seu cão para passear (e fazer outras coisas) na areia do mar. Muitas vezes fazem isso na calada da noite. Essas pessoas têm educação? Claro que não, pois as consequências disso serão terríveis para outras pessoas, em especial para as crianças (já vimos algumas com mais de 20% da área da pele de seu corpo com o “bicho geográfico”). As pessoas que fazem isso, estão evoluindo? É evidente que não, pois não desenvolveram habili-dade, aptidão e atitude coerente com a Lei Natural, ou seja, não souberam vivenciar e experien-ciar os conhecimentos necessários a se respeitar o semelhante, não educando-se para amar o pró-ximo. Podem até ter grande conhecimento intelectual, mas não estão “educadas”. Objetivamente, para evoluir é necessário ter educação, sem sombra de dúvida. Queríamos dizer mais: é impossível evolução sem educação. Talvez o grande problema para a humanidade / sociedade seja esse: como educar. Gastou-se muito tempo em tentar “ensinar”, mas com isso só se tem conseguido “intelectualização”, o que não é sinônimo de educação. Cada um pode fazer a sua parte, buscando e construindo a autoeducação. Primeiro, buscando o conhecimento; em segundo, aplicando esse conhecimento as vivências e experiências pessoais; em terceiro, transformando isso tudo em habilidade, aptidões e atitudes de relacionamento com os semelhantes e com a natureza. Assim evoluiremos e pelo exemplo, estaremos motivando outras pessoas a evoluírem. ------------------------------------------------------------ 49 --------------------------------------------------- E QUANTO AO ESPÍRITO NÃO SABES DONDE VEM Paulo da Silva Neto Sobrinho Na Revista Veja, edição 1767, de 04 de setembro de 2002, encontramos uma reportagem intitu-lada “Onde estão os bebês gênios – Filhos do banco de sêmen dos prêmios Nobel são jovens de inteligência normal”, relatando sobre o multimilionário americano Robert Graham que criou um banco de sêmen. Até aí tudo bem, pois nos dias de hoje isso é normal. Mas, o que difere esse dos outros é que ele deveria ser formado com esperma de “cientistas brilhantes, de preferência ga-nhadores de Prêmio Nobel”, na esperança de se formar uma legião de crianças superdotadas. O repórter Daniel Hessel Teich, relata que na semana passada foi identificada uma pessoa nasci-da cujo esperma utilizado foi o deste banco de sêmen. Mas, não deu o resultado esperado, ou se-ja, a pessoa não tem nenhuma genialidade. O jornalista americano David Plotz, diz a reportagem, já localizou quinze crianças, e segundo suas palavras: “Esses meninos e meninas não têm nada de bizarro ou qualquer traço que os trans-forme em supercrianças”. A opinião de Vera Fehér, supervisora do Banco de Sêmen do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, sobre a questão da transmissão da genialidade é: “As características físicas são, com cer-teza, herdadas pela criança. Quanto a particularidades como inteligência ou dotes artísticos, nin-guém sabe se são transmitidas ou não”. Poderemos responder a isso, de uma maneira bem simples: a própria história diz que não. Os pais dos grandes gênios, que surgiram até hoje na humanidade, foram todos eles grandes gênios? Por sua vez, todos os filhos dos gênios herdaram, essas características, de seus respectivos pais? Para ambas perguntas, a resposta é não. Assim, se levantássemos as características dos seres hu-

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manos de inteligência excepcional, e as tabulássemos, teríamos comprovado, por metodologia estatística, que não há transmissão de genialidade dos pais para os filhos como uma regra geral. Ao ler essa reportagem, lembramo-nos do colóquio de Jesus com um fariseu, chamado Nicode-mos, que ao ser indagado sobre o que era necessário fazer para conquistar o reino dos céus, diz ao seu interlocutor: “O que nasce da carne é carne; o que nasce do Espírito é Espírito”. Ora, é bem claro que o corpo físico procede do corpo, a hereditariedade prova isso de maneira incontes-tável, mas quanto ao Espírito não há nenhuma herança, pois os Espíritos procedem do Espírito, ou seja, têm como sua origem a Divindade, isso se bem entendemos as palavras de Jesus, quando afirma: “Deus é Espírito”. Ocorre-nos, agora, o seguinte. Se não herdamos de nossos pais a genialidade, como se explicaria a existência dos gênios? Sendo Deus justo, ou seja, o que dá a um dá a todos, só encontraremos a explicação para este fato na pré-existência do Espírito e na reencarnação. O repórter, ao concluir seu artigo, diz: “A ciência ainda não é capaz de garantir aos pais o nasci-mento de bebês mais inteligentes do que teriam naturalmente, mas estamos a um passo da clona-gem de seres humanos. E sabe-se lá de que outras novidades”. Nós afirmamos que nunca a ciên-cia conseguirá transmitir por meios hereditários a inteligência de uma pessoa à outra. A clona-gem, tão debatida nos dias atuais, não duplicará nada mais que corpos físicos, já que o Espírito não será clonado. Como temos tanta certeza? As próprias leis de Deus. Veja, que os gêmeos uni-vitelinos, diga-se de passagem, uma clonagem natural, embora fisicamente idênticos, possuem caráter, gosto, comportamento, inteligência totalmente diferentes. Se nessa clonagem natural, Deus, que tudo pode, não clonou também o Espírito, por que razão o ser humano conseguiria? Até quando iremos ignorar a realidade do Espírito? Se a ciência deixasse de ver no ser humano o corpo físico como o mais importante, encontraria a nossa realidade: de que somos um Espírito habitando temporariamente um corpo. ----------------------------------------------------------- 50 ---------------------------------------------------- ESCLARECEDORES Warwick Mota Questão de predominantes estudos e cuidadosa acuidade, a doutrinação ou esclarecimento, é sempre tema de discussão comentários ou críticas por parte de componentes de trabalhos mediú-nicos. A abordagem feita pelos doutrinadores ou esclarecedores, aos Espíritos, em reuniões me-diúnicas nem sempre é feita de maneira adequada, causando muitas vezes embaraços ou cons-trangimento aos Espíritos, que se manifestam nestas reuniões. Em minha modesta experiência em grupos mediúnicos, tive a oportunidade de conhecer muitos estudiosos, como também muitos outros pouco afetos ao estudo. Utilizando-me dessa experiên-cia e de diálogos mantidos com amigos e confrades, acerca do caráter das abordagens realizadas pelos esclarecedores, pude tirar uma série de conclusões que ao meu ver são de muita valia para o assunto em questão. Herminio C. Miranda em seu livro “Diálogo com as Sombras” edição da FEB, reforça com muita propriedade as considerações de Kardec em, “O Livro dos Médiuns” cap. XXV item 80, e faz valer o subtítulo de sua obra, Teoria e Prática da Doutrinação, obra essa que muitos esclarecedo-res tiveram pouca ou nenhuma preocupação de lê-la, sequer folheá-la. Nessa obra o autor fala, desde formação dos grupos até os trabalhos, propriamente ditos. Uma das figuras chaves para um bom desempenho de um grupo, é a do dirigente, pois cabe a ele a distribuição de tarefas, e o encaminhamento dos participantes ao estudo, se for o caso. Distri-buir tarefas dentro de um grupo mediúnico, implica no conhecimento do potencial de cada com-ponente, o que vai exigir destes, a preparação necessária ao tipo de trabalho que vão realizar. Grupos mediúnicos não são com certeza os locais mais adequados para acolher pessoas indolen-tes e despreocupadas com o estudo da Doutrina Espírita. É óbvio que não estou fazendo alusão a pessoas perfeitas, mas sim que reúnam condições mínimas de participação nesse tipo de ativida-de. “O Espiritismo será o que os seres humanos fizerem dele(1)”.

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O objetivo básico de um grupo mediúnico é prestar assistência aos desencarnados, que nada mais são do que Espíritos de seres humanos que viveram na Terra, com vícios, paixões, dores, afli-ções, perseguições, etc. Não seria necessário recordar que, os irmãos desencarnados e até encar-nados, são levados aos grupos, para que recebam: auxílio, esclarecimento e atendimento fraterno. Para isso é necessário requisitos básicos, dos quais podemos citar dois. Em primeiro lugar o médium psicofônico. Este é sem dúvida nenhuma o primeiro doutrinador, pois a manifestação se dá através dele, o controle é indispensável, e só é conseguido com muito estudo aliado a pratica. Em segundo lugar, o esclarecedor tem por obrigação estudar Doutrina Espírita, pois é de seus ar-gumentos adquiridos em obras idôneas, quanto da sua reforma moral, que depende o Espírito comunicante para se reabilitar. A falta de estudo, o despreparo aliado à falta de tato, a despreocupação com o trabalho a realizar, inibe a boa performance do esclarecedor, não permitindo que o grupo evolua em tarefas mais complicada por falta de preparo deste. Diante do quadro surgem nos grupos mediúnicos os mais diversos tipos de “doutrinadores”, como por exemplo: “O autoritário”, é aquele que procura se impor aos Espíritos pela altivez das palavras, e não pela moral dos atos ou do esclarecimento evangélico; adora dar ordens aos desencarnados como as do tipo: “eu te ordeno que saias em nome do Cristo” quando o Espírito demonstra alguma renitência no trato, alguns lembram muito os “exorcistas”, que tratam Espíritos desencarnados como “de-mônios”. “Os torturadores”, são aqueles que por total despreparo não se preocupam com a condição psico-lógica do atendido, iniciam o atendimento expondo a condição de desencarnado que se encontra o Espírito, e sem qualquer coerência de análise requisitam da espiritualidade quadros de vidas passadas, sem se preocupar que tais revelações podem colocar o desencarnado em desespero, proporcionando-lhes mais perturbações diante de revelações que não estava preparado para ter. Existe a figura do “apressadinho”, esse adora falar, mal a entidade se manifesta, já sai a doutri-nar, monopoliza a palavra não dando ao interlocutor a oportunidade de manifestar-se. Logo de chofre lhes expõem os motivos do sofrimento, a necessidade de perdoar, o valor do trabalho, re-citam textos meramente decorados do evangelho, ou de alguma obra Espírita. Esquecem que o esclarecimento é um diálogo e não um monólogo, chegam a ponto de doutrinar até o Mentor do grupo. Lhes falta ainda o desprendimento para servir e ajudar. Muito interessante também é “o curioso”, esse, adora fazer perguntas, a maioria de caráter bem pueril, como as do tipo: qual o seu sexo? de que você desencarnou? quem são seus parentes aqui na Terra? qual é sua idade? e tantas outras indagações que transformam o esclarecimento em um verdadeiro interrogatório. Interessante seria rever o cap. XXVI de O Livro dos Médiuns, Das Perguntas que se Podem Fazer aos Espíritos, itens 288, 289 e 290. O esclarecimento ou doutrinação, é nada mais do que um diálogo fraterno, em que os persona-gens expõem as suas ideias, e que obviamente cabe ao esclarecedor manter o nível desse diálogo, através da compreensão, do tato, da psicologia dos fatos, justamente por ter do outro lado, al-guém muitas vezes revoltado, que sabe de nossas fraquezas, tanto quanto nós. Ele nos vigia, ob-serva-nos, analisa-nos, estudando-nos, de uma posição vantajosa, na invisibilidade. Percebe com facilidade as nossas intenções, a intensidade e a sinceridade dos nossos sentimentos, é conhece-dor do nosso comportamento e tem objetivos definidos. Às vezes é um intelectual, com conhe-cimentos muito superiores aos nossos até mesmo de Doutrina Espírita, embora o “confronto” não seja de inteligência nem de cultura, necessário se faz que o postulante a doutrinador conheça os fundamentos básicos da Doutrina e, sobretudo que seja humilde. Logicamente, há outros tipos de esclarecedores que o leitor conhece até melhor do que eu, mas, por enquanto ficaremos por aqui. 1. No Invisível - Introdução - Léon Dennis - 15.a edição FEB ------------------------------------------------------------ 51 --------------------------------------------------- ESCOLHA DAS PROVAS: É POSSÍVEL ESCOLHER FAZER O MAL? Carlos Augusto Parchen

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Recebemos, recentemente, a seguinte pergunta: “pode um Espírito escolher, como prova para sua próxima encarnação, ser um criminoso ou praticar o mal?” Vamos abordar tal questão. Em O Livro dos Espíritos, Kardec faz uma abordagem geral da escolha das provas, sem no en-tanto explicitar todas as situações onde isso ocorre e onde isso não ocorre. A escolha das provas, de maneira livre e consciente pelos Espíritos desencarnados, só é possível quando o Espírito tem um certo grau de conhecimento, discernimento e qualidades morais para tal. Na verdade, do modo que os Espíritos respondem da questão 258 em diante, bem genericamente, pode-se interpretar, com uma leitura inicial e não aprofundada e complementada pelas outras obras, que todos os Espíritos escolhem livre e conscientemente suas provas na erraticidade. Mas não é isso que está dito, o que é confirmado pela Leitura de O Evangelho Segundo o Espiri-tismo e das outras obras básicas. O que se pretende dizer é que o Espírito, ao exercitar o livre ar-bítrio, quer como encarnado, quer como desencarnado, em suas atitudes e trânsito perante as Leis Divinas, estabelece automaticamente para si as suas provações e, portanto as “escolheu” livre-mente, por sua própria vontade. Na realidade, não haveria necessidade nenhuma de que os Espíritos pudessem, na erraticidade, “escolher” provas e expiações, pois a Lei de Causa e Efeito, a Lei de Ação e Reação, a Lei de Justiça já registraram no perispírito e na mente do Espírito as energias e tendências que o farão enfrentar as provas e expiações que necessite passar. Isso é automático e faz parte da justiça Di-vina e da Lei Natural. É por isso que só a Espíritos um pouco mais esclarecidos é dado a oportunidade de “escolher” suas provas e expiações, mas mesmo assim, é preciso lembrar que o livre arbítrio é inviolável, e que o Espírito não lembrará, depois de encarnado, que “escolheu” isto ou aquilo, e poderá tomar atitudes e decisões que levem ao caminho completamente oposto do “escolhido”. Isto é uma verdade peremptória, pois se assim não fosse, nós seríamos “robôs”, autômatos”, “marionetes”, ou seja, teríamos instalado o determinismo, que a Doutrina Espírita tão bem nos explica que não existe. Infelizmente, muitos espíritas “estudam” espiritismo apenas pela “metade”, não estudam o con-junto da obra de Kardec, e tomam romances como livros ou obras básicas, o que não é verdade. O livro “Nosso lar”, por exemplo é fantástico, que trouxe novos conhecimentos, mas é um ro-mance, descreve apenas uma situação, uma pequena parte da realidade, que não pode ser extra-polada para todo o plano espiritual. Muitos conhecimentos estão “romanceados”, e são, guarda-das as devidas proporções, como as parábolas do Mestre Jesus, onde se deve buscar o sentido oculto na alegoria (no “romanceado”). Respondendo objetivamente a pergunta, ninguém pode escolher como prova fazer o mal, pois a pessoa que quer, conscientemente, praticar o mal, tem o mal dentro de si, e enquanto estiver nes-te estado, não escolherá suas provas e expiações na erraticidade. Elas serão determinadas auto-maticamente pelo registro energético no perispírito e pelo registro moral na inteligência, ou seja, pela “lei de causa e efeito” daquele Espírito. Pelas consequências de sua(s) vida(s) passada(s), ou seja, por sua livre escolha e vontade, pois exerceu o livre arbítrio, o Espírito “determina” automaticamente em que condições sociais, eco-nômicas, culturais e com qual patrimônio genético vai reencarnar. Pode nascer num lugar onde exista o mal, e para progredir, terá que vencer as influências, as tendências, as deficiências físi-cas, etc. Tudo nos é permitido, pois temos livre arbítrio, mas isso não será determinado pelo Espírito na escolha de suas provas lá no plano espiritual, mas sim pelo seu comportamento perante o que vai enfrentar na reencarnação, o que é decorrente do registro das suas infrações ou acertos no trânsi-to da Lei Divina ou Natural, ou seja, pelas consequências de seus débitos ou créditos na cami-nhada evolutiva. Assim como Deus não pune ninguém, não aplica castigos(1), por ser absolutamente desnecessá-rio, pois cada um planta em si mesmo a consequência de seus atos, tendo por obrigação a colhei-ta de seus próprios frutos, a “escolha” de um “rol de provas e expiações” também seria comple-

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tamente desnecessário, até mesmo inútil, pois já estabelecemos em nossa caminhada como será pavimentado e aberto o próximo caminho. Mas continuaremos com o livre arbítrio de a cada dia traçar novos rumos, abrir trilhas, seguir desvios, sejam elas para crescimento ou para estagnação no erro e no mal. A Justiça Divina é perfeita, sua lógica irrefutável. Cabe a nós mudarmos paradigmas e abrirmos mentes e corações para analisar essa bela Doutrina que foi codificada por Kardec. Sem dogmas, sem fanatismo, com muito amor, seguindo a grande máxima: “Espíritas: Amai-vos e Instruí-vos”! (1) Ver «O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - CAPÍTULO XXVII - Pedi e obtereis - item 21; Comunicação de Paulo, Apóstolo dada na questão 1009 de «O LIVRO DOS ESPÍRI-TOS» e Prece Dominical - O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XXVIII. ------------------------------------------------------------ 52 --------------------------------------------------- ETIMOLOGIA E SEMÂNTICA Sérgio Biagi Gregório Etimologia - ciência que investiga as origens próximas e remotas das palavras e sua evolução histórica. Do grego étymon (étimo) vocábulo que é origem de outro. Semântica - estudo das mu-danças que no espaço e no tempo, experimenta a significação das palavras consideradas como sinais das ideias: semasiologia; sematologia; semiologia. Do grego sëma-tos “sinal, marca, signi-ficação”. As contradições nos debates são muitas vezes fruto das diferentes interpretações que a mesma palavra oferece. Nesse sentido, Sócrates, filósofo grego da Antiguidade, orientava-nos para bem definir o termo antes de começarmos a discutir. Adquirindo o hábito de enunciar a terminologia correta, pouparemos o tempo que o grupo gasta na compreensão do seu significado. A percepção do conceito pressupõe a superação do preconceito. Este caracteriza-se pela cristali-zação de certas ideias, sem fundamento racional e científico. Se permanecermos “fechados” no passado, perderemos as oportunidades de evolução que o curso da vida nos oferece. Assim, uma postura aberta ao novo cria em nós uma mentalidade livre do espírito de sistema. Etimologia e semântica vêm a calhar. Para bem exprimirmos o conteúdo do nosso pensamento, temos de consultar muitas obras literárias. Desta forma, a lembrança de que devemos ler com lá-pis, papel e dicionário à mão é muito oportuna. Isto porque, à medida que a dúvida surge, temos condições de dirimi-la e melhorar a compreensão daquilo que estivermos estudando. Aprender o “sinal” correto da ideia é uma obrigação, desde que queiramos bem expressar o nos-so pensamento. Contudo, não devemos nos fiar inteiramente neste objetivo, porque transmitimos muito mais pelo que somos do que pelo que dizemos. Reconheçamos que a linguagem do pen-samento é universal e veiculada através das ondas mentais. Voz, gestos e dicção auxiliam, mas a essência é a nossa conduta moral. Aliemos ao estudo, a meditação e a inspiração, a fim de melhor penetrar no âmago do conheci-mento superior. Fonte de Consulta MOISÉS, M. Dicionário de Termos Literários. 5.ed., São Paulo, Cultrix, 1979. BARBOSA, O. Como Adquirir um Poderoso Vocabulário em 30 Dias. Rio de Janeiro, Edições Ouro, 1979. ----------------------------------------------------------- 53 ---------------------------------------------------- EVANGELIZEMOS NOSSAS CRIANÇAS Warwick Mota “Deixai vir a mim os pequeninos não os impeçais pois deles é o reino dos céus”. - Jesus. (Ma-teus, 19:14.)

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Não induzo meu filho a seguir qualquer religião, quando ele crescer ele mesmo escolhe a doutri-na que quer seguir, dizia-me sempre, um determinado amigo. É prática comum em algumas famílias, inclusive espíritas, esperar que os filhos cresçam, para que definam por si próprios a religião que desejam seguir. Alegam estas, que não tem o direito de interferir na liberdade de escolha dos filhos, que religião é objeto de escolha pessoal e de gos-to diversificado, e que o indivíduo tem na idade adulta, maiores condições de definir o que me-lhor lhe apraz nesse aspecto. O resultado desse pensamento reflete-se na maioria das vezes, no dia-a-dia de nossa sociedade, onde uma boa parte dos jovens desligados de qualquer sentimento de religiosidade, tem a cabeça voltada apenas para o que eles chamam de “agitos”, onde a tônica é dada pelos tóxicos, álcool, sexo e violência como uma forma de autoafirmação e porque não dizer, de preenchimento do va-zio causado por essa falta de religiosidade; sem contar na contribuição funesta, que o jovem tem dado para o aumento das estatísticas de suicídios, onde atualmente ele lidera os índices. O desconhecimento de valores espirituais aliado a despreocupação dos pais com este fator con-tribuem de forma contundente para o agravamento deste quadro, resultando muitas vezes, em complicados processos obsessivos e até reencarnatórios, devido a falência das partes envolvidas no contexto. Buscar o conhecimento dos postulados espíritas, observando-se o aspecto família, implica em outras variáveis, que a priori, visa a conscientização dos pais sobre o grau da responsabilidade assumida perante os Espíritos superiores, com relação àquele Espírito que aceitaram como filho na presente encarnação. Vale ressaltar, que essa responsabilidade não se limita apenas à partici-pação no processo reencarnatório, que basicamente divide-se em duas etapas, que se dão a se-guir: Na parte primeira, dá-se uma sistemática de envolvimento, onde são observados entre outros, os seguintes aspectos: a ficha do reencarnante para que se estabeleça os mapas de resgates, o grau de simpatia ou animosidade com relação aos genitores, a composição de mapas genéticos, o de-senvolvimento de reuniões entre as partes no plano espiritual, enfim, todas as medidas que po-demos pensar e que não podemos, são tomadas pelos técnicos reencarnacionistas, para que se cumpra o proposto nas Leis Divinas. A parte segunda seria a condução desse Espírito, já encarnado, pelas mais diversas problemáticas da vida, seja no campo social, familiar, religioso, proporcionando-lhe meios para que desenvolva em si os aspectos, cognitivo, afetivo, intelectivo, moral, etc. É tábula rasa para nós espíritas que a primeira infância, que é o período compreendido entre zero aos sete anos, é sem dúvida nenhuma a época em que a criança está mais sensível às sugestões dos pais, é nessa fase que devem ser ministrados através de muito amor e carinho, os conceitos de valores morais e cristãos. Neste sentido, a evangelização espírita-infantil é de fundamental importância no processo de formação da criança, pois os vícios de personalidade se encontram adormecidos, constrangidos pelo envoltório infantil. O Espírito neste momento é comparado ao terreno fértil da parábola do semeador, as sementes que ali semearmos, germinarão fortes e viçosas, contribuindo de forma preponderante na formação moral do futuro adulto. Não podemos esquecer que a tarefa da semeadura começa cedo, aos quatro anos a criança já po-de ser encaminhada às aulas de evangelização, que parte da seguinte sequencia: inicia-se pelo maternal, dos quatro aos cinco anos, depois o jardim, dos seis aos sete anos, primeiro ao terceiro ciclo da infância que vai dos oito aos treze anos , pré juventude, primeiro e segundo ciclo da ju-ventude, dos catorze aos vinte um anos, e finalmente, depois de uma longa caminhada, por todos esses ciclos, o jovem está pronto para o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita. Ainda acerca da reencarnação, nos esclarece o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, no livro Temas da vida e da Morte, 1.a edição da FEB, página 19 que, “apesar da reencarnação se com-pletar aos sete anos ela ainda vai se fixando lentamente até o momento da transformação da glândula pineal, na sua condição de veladora do sexo”. A esse respeito, André Luiz, no livro Missionários da Luz, 22.a edição da FEB, cap. 2.o, nos dá a seguinte informação: “Enquanto no período de desenvolvimento infantil, fase de reajustamento desse centro importante do corpo pe-rispiritual preexistente, a epífise parece constituir freio às manifestações do sexo; entretanto, há

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que retificar observações. Aos catorze anos, aproximadamente, de posição estacionária, quanto às suas atribuições essenciais, recomeça a funcionar no ser humano reencarnado. O que represen-tava controle é fonte criadora e válvula de escapamento. A glândula pineal reajusta-se ao concer-to orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vivi-das noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos”. Diante desse quadro, podemos afirmar que, em qualquer família, a fase da puberdade é com cer-teza uma das mais difíceis para os pais. É nesse momento que o Espírito vai começando a reen-contrar a sua verdadeira personalidade, iniciando-se com o chamado conflito da adolescência, que pode ser atenuado ou mesmo evitado, com uma bem estruturada educação religiosa na infân-cia. Deixai vir a mim os pequeninos não os impeçais pois deles é o reino dos céus, disse o Cristo aos apóstolos, que tentavam barrar a passagem de crianças até Ele. O pedido de Jesus, reverbera em nossas consciências, e entendemos que o Mestre pede que não lhes cerceemos os ensinamentos, achando que não os são necessários ainda, que deixemos que eles conheçam o Cristo, logo na in-fância, que é fase mais pura, mais humilde, onde os corações espargem inocência, e estão mais abertos aos preceitos cristãos. Pensar na criança é pensar no adulto, portanto, é de vital importância que a Casa Espírita tenha essa preocupação com as crianças e com os jovens, no sentido de promover a evangelização des-tes, como propõe o Mestre Jesus. A FEB tem demonstrado essa preocupação, participando e promovendo cursos nessa área, é importantíssimo que as Federativas Estaduais também promo-vam e desenvolvam em suas regiões, programas e cursos nesse intento, não só como meio de su-prir a carência de evangelizadores que é muita, como também de conscientizar os dirigentes das Casas Espíritas da importância desse trabalho, e este com certeza não um desejo apenas nosso, mas principalmente do Cristo. ------------------------------------------------------------- 54 -------------------------------------------------- EVOLUÇÃO E MUDANÇA Carlos Augusto Parchen Allan Kardec, o magnífico Educador e Codificador da Doutrina Espírita, sob a égide de elevados amigos espirituais que lhe presidiram os trabalhos, nos alertava para alguns pontos fundamentais no desenvolvimento da Doutrina Espírita: - a evolução é o único determinismo do Universo, e ela (a evolução) ocorrerá mesmo a nossa re-velia, sem que nada possamos fazer. Tudo no Universo está sujeito a evolução, que gera aprendi-zado, o que por sua vez serve como alicerce para o processo evolutivo; - as revelações que os Espíritos nos trazem, são sempre compatíveis com a época em que ocor-rem, pois os Espíritos Elevados respeitam nossas limitações, atuam dentro de nosso nível de co-nhecimento e consciência e não violam jamais o nosso livre arbítrio, nem nosso livre aprendiza-do. Seus ensinos são sempre para consolidar um nível de conhecimento que já está permeando a humanidade, porém sem induzir rumos ou “pular etapas” de aprendizado e desenvolvimento; - as explicações dos Espíritos sobre muitos pontos da Doutrina, estão muitas vezes limitadas pela ainda parca evolução intelectual da humanidade, pela pobreza de nosso vocabulário e pela ine-xistência de referenciais que lhes permitam exemplificar corretamente o ensino; - assim como a Doutrina Espírita veio a seu tempo lançar luz e clarear muitos pontos obscuros do Evangelho, a evolução do conhecimento humano e das ciências possibilitará que vários pontos do Espiritismo sejam clareados, provados, discutidos e aprofundados; - a razão, a análise lógica, o raciocínio coerente e a comprovação científica, segundo Kardec, de-veriam ser suficientes para que a Doutrina viesse a agregar novos conhecimentos e alterar con-ceitos errôneos e incompletos de seu conhecimento e de seu ensino, devendo ser imediatamente incorporados a Filosofia, Ciência e Moral Espírita como parte de sua evolução; - as obras da Codificação Espírita constituem-se no alicerce, na fundação, na base do Espiritis-mo, base esta sobre a qual se erguerá o Edifício da Doutrina. Esse edifício está sendo construído

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a partir da evolução do conhecimento e da ciência, junto com os novos ensinos trazidos pelos Espíritos Elevados. A Codificação não é a obra acabada, mas sim seus alicerces. Trazemos estes pontos à reflexão, pois muitos Espíritas estão se esquecendo dessas colocações, e estão passando a considerar as Obras Básicas da Codificação como verdadeiros “Livros Sagra-dos”, que contém a “verdade” da Doutrina, sendo “intocáveis” e “inquestionáveis” sobre tudo o que se refere ao Espiritismo. Para essas pessoas, qualquer ponto que não possa ser rigorosamente “achado” nas Obras Básicas, é colocado sob suspeição e até sumariamente rejeitado, independente de toda a lógica, de toda a razão e de toda a comprovação científica que possa trazer embutido, atitude essa que contraria frontalmente o que Kardec colocava como normal e necessário para a própria sobrevivência da Doutrina. É evidente que a época em que as Obras da Codificação foram escritas, o nível de conhecimento e as limitações da linguagem, impediam o aprofundamento de muitos pontos cruciais da Doutri-na, e dificultam sobremaneira o entendimento da “verdade completa” sobre muitos tópicos e itens. Hoje, com novos conhecimentos científicos, culturais e uma linguagem mais avançada e flexível, certas explicações aparecem, lógicas, coerentes e até mesmo provadas, mas que são re-jeitadas por “... irem contra Kardec...”, por “... contrariarem Kardec...”. Mas o Codificador já previa isso. Não pretendia ele ser o “Dono da Verdade”. Nem ele, nem os Espíritos Superiores. Sabiam que a “verdade” é relativa, apenas representa o conhecimento cul-tural e científico daquele momento específico. Por exemplo, até poucos anos atrás, os estados da matéria eram três (sólido, líquido e gasoso). Quantos de nós sabem quais são os estados da maté-ria hoje? Já são aceitos pelo menos seis, e alguns estudos começam a provar a existência de ou-tros. Se admite hoje a possibilidade de 14 estados diferentes da matéria. Os cientistas da década passada estavam errados? Não, eles detinham apenas “parte da verdade”. E os de hoje apenas de-têm uma parte um pouco maior dessa “verdade”. Kardec era infalível? Essa pergunta dói. E como incomoda. Alguns Espíritas simplesmente se re-cusam a refletir sobre isso. Mas sabemos todos que a resposta é não. Kardec era falível, os mé-diuns que trabalharam com ele eram falíveis. Além disso, existia um conhecimento científico e cultural limitado na época. Os Espíritos Elevados estavam limitados em sua atuação e em seus ensinos por essa realidade. As obras básicas são infalíveis? Claro que não, pelo mesmos motivos expostos no parágrafo an-terior. Mas os Espíritos Superiores não revisaram todo o trabalho da Codificação? Não corrigi-ram todos os erros? Não completaram todas as lacunas? E a resposta é novamente não, pelo mo-tivo que o próprio Kardec nos colocava, orientado pelos Espíritos Superiores: “... o livre arbítrio é absolutamente inviolável...”. Não podemos tornar as obras da Codificação, nem mesmo o Livro dos Espíritos, nem o Evange-lho Segundo o Espiritismo, nem o Livro dos Médiuns, nenhum deles, na “Bíblia Sagrada” dos Espíritas. Kardec não queria isso e nos alertou sobre isso. Temos que nos lembrar que muitos dos conceitos mais modernos da Doutrina Espírita, já assimi-lados e incorporados pela prática espírita, em âmbito até mundial, nos foram trazidos pela me-diunidade de Francisco C. Xavier, psicografando André Luiz, cujos ensinos “revolucionaram” a Doutrina Espírita. No que se refere ao perispírito, ao passe, as energias e a muitos outros itens, grande parte do ensino de André Luiz não é encontrado nas Obras Básicas. Mas os conhecimen-tos e ensinos trazidos estão certos. E são aceitos pela maioria das Casas Espíritas, paradoxalmen-te, mesmo sem muita análise e reflexão. Hoje temos novos autores, Pesquisadores de Nível Universitário, Mestres , Doutores e Pós-Doutores, Filósofos, Médicos, Físicos, Cientistas enfim, que vêm trazendo novos e profundos conhecimentos para o Espiritismo. Simplesmente rejeitar esses novos conhecimentos científicos e culturais, sob a alegação de que “... não estão em Kardec...”, ou porque “... vai contra o que co-locou Kardec...” é no mínimo negar tudo o que disse e pensou o nosso Mestre Lionês. Temos ainda que nos lembrar que hoje, não existe quem possa fazer o trabalho que Kardec fazia, de compilar, analisar e sistematizar todo o conhecimento espírita do mundo. Não temos e não te-remos. As Federações não podem cumprir esse papel, pois não têm caráter normativo (e nem de-vem ter mesmo), estando sujeitas, como qualquer grupamento humano, a “correntes ideológicas”

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(inclusive não kardecistas) e as inefáveis paixões humanas, que as inviabilizam para tal papel. Cabe aos Espíritas abrirem mente e coração, inteligência e razão, análise e reflexão para o estudo de cada uma das novas obras, das novas proposições, dos novos paradigmas propostos, passan-do-as pelo “crivo” a que se referia Allan Kardec, analisando as provas, as evidências, a lógica e a razão e concluindo a respeito. O que não se pode é simplesmente “negar”, por não se achar que não está “de acordo” com as obras básicas. Não se pode tentar defender posições dogmáticas e excludentes, porque “... não está em Kardec...”. Fazer isso é tomar a mesma atitude que levou a estagnação e fracasso das Re-ligiões Tradicionais. Negar a evolução, negar o avanço, negar as mudanças, negar a agregação de novos conhecimen-tos é, por si só, ir contra o que nos trouxe e deixou Allan Kardec. Essa atitude é a que realmente não encontra amparo nas Obras Básicas. Para encerrar, fica aqui a recomendação para um estudo detalhado e minucioso da Introdução e dos Prolegômenos do Livro dos Espíritos, que infelizmente muitos “pulam” e se descuidam. Evolução e Mudança andam juntas. Graças a Deus na própria Doutrina Espírita. -------------------------------------------------------------- 55 ------------------------------------------------- FASCINAÇÃO - UMA ADVERTÊNCIA DE KARDEC Orson Peter Carrara Estágios da obsessão pedem cuidados No Discurso que proferiu, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, para o encerramento do ano social de 1858/1859, entre outras preciosas observações que merecem leitura e estudo inte-gral (1) de todos nós, os espíritas da atualidade, está uma rápida abordagem, feita por Kardec, sobre a influência dos Espíritos sobre a sociedade humana. O texto remete ao sempre atual assunto da Obsessão, tão bem desenvolvido em O Livro dos Mé-diuns (capítulo XXIII, itens 237 a 254), onde podemos estudar os estágios de obsessão simples, fascinação e subjugação. Em síntese, como coloca Kardec, a obsessão simples é a insistência de um Espírito no constran-gimento que tenta impor à sua vítima; a fascinação já é o mesmo quadro em estágio de fascina-ção para o médium que não se crê enganado; a subjugação, por sua vez, é a opressão que paralisa a vontade daquele que a sofre, e o faz agir a seu malgrado. Sugerimos aos leitores prévia consulta ao capítulo acima citado para ampliar o estudo da ques-tão, pois o objetivo da presente abordagem é trazer aos nossos leitores uma advertência do Codi-ficador no que se refere ao processo de fascinação. Como citamos, o texto está na fonte acima citada e eis o trecho que destacamos: “(...) O perigo está no império que os maus Espíritos exercem sobre as pessoas, o que não é ape-nas uma coisa funesta, do ponto de vista dos erros de princípios que aqueles podem propagar, como ainda do ponto de vista dos interesses da vida material. Ensina a experiência que não é im-punemente que nos abandonamos ao seu domínio. Porque suas intenções jamais podem ser boas. Uma de suas táticas para alcançar os seus fins é a desunião, pois sabem muito bem que podem facilmente dominar aquele que estiver sem apoio. Assim, o seu primeiro cuidado, quando que-rem apoderar-se de alguém, é sempre inspirar-lhe a desconfiança e o isolamento, a fim de que ninguém possa desmascará-lo, esclarecendo a vítima com seus conselhos salutares. Uma vez se-nhores do terreno, podem a vontade fascinar a pessoa com promessas sedutoras, subjugá-la por meio da lisonja às suas inclinações, para o que aproveitam os lados fracos que descobrem a fim de melhor fazê-la sentir, depois, a amargura das decepções, feri-la nas suas afeições, humilhá-la no seu orgulho, e, muitas vezes, não a elevar um instante senão para a precipitar de mais alto (...)”. Observemos com bastante atenção, objetivando estudar o tema, a questão das táticas, da desuni-ão, da tentativa de dominar, da inspiração da desconfiança e do isolamento, da lisonja às inclina-ções, do aproveitamento dos lados fracos e finalmente, do desejo de fazer com as vítimas sintam

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a amargura das decepções, o ferimento das afeições, da humilhação de seu orgulho e mesmo da precipitação em abismos de sofrimento, dor e dominação. Este curto e sugestivo texto deve acender em nós o desejo ardente da autoanálise sobre o próprio comportamento, ao mesmo tempo que surge como valioso documento para ser debatido e estu-dado nos grupos espíritas. Ocorre que estamos todos sujeitos a essa constante influência em nosso cotidiano, dentro ou fora do Centro Espírita, e a defesa contra este mal está mesmo, não há dúvida, na sintonia do compor-tamento com a proposta do Espiritismo, que por sua vez, está totalmente embasado no Evange-lho de Jesus. Razão maior, pois, para mais vigilância e trabalho no bem. (1) A íntegra encontra-se publicada na Revista Espírita, de julho de 1859, edição da Edicel, com tradução de Júlio Abreu Filho. ------------------------------------------------------------ 56 --------------------------------------------------- FÉ Elio Mollo Caminhai, crescei e tornai-vos um auxiliar, ao invés de permanecerdes sempre precisando de au-xílio. Krishnamurti O Universo necessita: - De pessoas que possuam discernimento; - Daqueles que são capazes de trabalhar com suas próprias mãos; - De colaboradores que são capazes de distinguir o que tem importância e o que não tem; - Da energia mental capaz de produzir eletricidade suficiente para movimentá-lo; - Daqueles que sabem decidir por si mesmo; - Daqueles que sabem o que devem fazer; - Daqueles que querem aprender e desenvolver os conhecimentos; - Daqueles que tem boa vontade; - Daqueles que possuem fé. É necessário possuir uma fé inabalável. Fé difere muito de obediência cega. Onde houver dúvida, existirá a vacilação, e onde houver vacilação existirá o sofrimento. Possuímos a intuição - dote Divino -, para nos guiar. Porém, possuímos a inteligência para de-senvolver qualidades. Fé é conhecimento - e devemos crescer em sabedoria e compreensão. Deus e todos os seus Emissários, estarão sempre conosco, se seguirmos as Leis Divinas. Deus estará conosco em todos os trabalhos altruísticos destinados a ajudar os nossos semelhantes. Quando O chamarmos, Ele virá, e derramará o Seu Amor e nos fortalecerá. E poderemos prosse-guir a nossa caminhada rumo a perfeição sem nos desencorajarmos. A fonte da força está em nossa fé, porque fé é força. Porém, para confiar em Deus, temos que confiar em nós mesmos. É necessário aprender a confi-ar em nós mesmos. Não podemos caminhar ao sabor das opiniões e pensamentos alheios eterna-mente. Temos que caminhar com as nossas próprias pernas. Confiando em Deus e em si próprio, o ser humano é mais alegre, possui mais ânimo, é mais positivo e transmite aos seus semelhantes segurança. É necessário conseguir desenvolver completamente a nossa independência de pensar e de agir, para que possamos com segurança discernir cuidadosamente, antes de falar, agir ou pensar. Quando procedemos com discernimento em todas as coisas, nunca haverá excessos, ao contrário, a nossa vida fluirá naturalmente. Meditemos sobre este assunto, pois Deus necessita de cada um de nós, mas é necessário que es-tejamos em condições. -------------------------------------------------------------- 57 ------------------------------------------------- FISIOLOGIA DA ALMA Fernando A. Moreira

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Fisiologia, é a parte da biologia que investiga as funções orgânicas e processos ou atividades vi-tais. (1) Etmologicamente, a palavra vem do grego, physiologia, “tratado da natureza das coisas segundo princípios físicos ou naturais. Ciência dos fenômenos da vida (Haller).” (2) Faremos referência em nosso trabalho à fisiologia como as ações do Espírito, na dimensão dada por Kardec, de Espírito encarnado, o que equivale a dizer que analisaremos com este os fenôme-nos da própria vida. Composição do ser humano. O ser humano é composto pelo Espírito encarnado com seu Perispírito que, ao encarnar necessita se relacionar ao Fluido Vital (onde reside o princípio vital) e ao Corpo Físico. Para que o Espíri-to reencarne, é necessário a presença destes elementos destacados e, é na interação deles, que es-tudaremos a Fisiologia do Espírito encarnado. “Há no ser humano três coisas; 1.o - o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo princípio vital; 2.o Espírito encarnado no corpo; 3.o o laço que une o Espírito ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.” (3) O ESPÍRITO Espírito é para nós “uma chama, um clarão ou uma centelha etérea”. São eles (os Espíritos) in-corpóreos e não imateriais; é a matéria quintessenciada(???!!!), porém sem analogia para vos ou-tros e tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos vossos sentidos”. (3) A exceção do Espírito, que tem sua origem no princípio inteligente e não pode atuar diretamente sobre a matéria, todos os demais procedem do Fluído Cósmico ou Universal. A inteligência, o pensamento, a vontade, a consciência (onde estão impressas as leis morais), os pendores, a memória, e a sensibilidade são atributos do Espírito que, ao encarnar, ao ingressar no seu “cárcere fluídico”, muda, temporariamente, algumas de suas ações, sua fisiologia, mas não sua essência, adquirindo umas e perdendo outras. Se de um lado, ao mergulhar na carne, a “cen-telha encarnada” encontra limitações, (4) ganha o Espírito o comando do corpo físico, com o ob-jetivo de servir ao seu processo evolutivo, do qual também é o diretor. “O Espírito quer, o peris-pírito transmite e o corpo executa”; (3) impõe assim o Espírito a sua vontade e a ele são dirigidas as sensações e percepções. Quem sente é o Espírito. A vontade do Espírito é diretamente proporcional ao seu grau de evolução e coroa sua ação no corpo físico “não sendo o perispírito mais do que um agente de transmissão”, pois que no Espíri-to é que está a consciência...” (grifos nossos) (3) Portanto, é o Espírito que comanda a evolução, refletindo no perispírito a sua nova imagem, “porque o Espírito evolui, tudo o mais se transforma” (5) e diríamos mais: tudo se transforma sob a égide do Espírito, porque o perispírito é moldado pelo Espírito e molda, mantendo a forma do corpo físico; o perispírito é o plastificante do corpo, mas é configurado, ele também, pelo Es-pírito. O PERISPÍRITO É o envoltório do Espírito, veículo de todas as suas manifestações, (6) retirado do fluido univer-sal de cada globo, tomando assim o seu “passaporte planetário” e a forma que lhe queira dar o Espírito, podendo também se tornar visível e tangível por “combinação de fluidos”.(7)Da vasta sinonímia dada ao perispírito, destacamos corpo bioenergético, corpo bioplasmático, corpo espi-ritual, corpo perispiritual e psicossoma. “O invólucro fluídico do ser depura-se, ilumina-se ou obscurece- se segundo a natureza elevada ou grosseira dos pensamentos em si refletidos. Qualquer ato e/ou qualquer pensamento repercu-tem-se e gravam-se no perispírito. Daí as consequências inevitáveis para a situação do próprio Espírito, embora este esteja sempre senhor de modificar o seu estado pela ação contínua que exerce sobre o seu invólucro.” (8) A constituição íntima do perispírito não é homogênea, variando em densidade do mais quinten-cenciado, próximo ao Espírito, ao mais denso, próximo ao corpo físico, estruturando-se assim, as várias camadas, zonas ou envoltórios, dando-lhe continuidade; além disso, ele varia de densida-de, de Espírito para Espírito, seja encarnado ou desencarnado, de acordo com seu grau evolutivo, e portanto, de seu padrão vibratório. Falta unicidade de conceitos, para o termo “duplo etérico”, sendo considerado como: uma “cópia etérica” da matéria, uma camada energética, o próprio perispírito ou uma extensão dele, uma de

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suas “capas”, mais próxima ao corpo físico, uma estrutura individualizada, ou ainda, uma ema-nação áurica. (4) (6) (9) (16) Nas Obras Básicas parece ter sido comentado uma única vez, sem muita relevância. (6) “O Perispírito preside(???!!!) às manifestações anímico-mediúnicas, desdobra-se durante o tran-se magnético, sonambúlico e mediúnico, quando então projeta-se na dimensão extra-física, visita colônias espirituais e torna-se, por vezes, visível em lugares distantes” (9) e também tangível. Como o Espírito está vinculado ao corpo físico, durante estas projeções mantêm-se a ele ligado por seu laço fluídico ao qual se dá o nome de cordão fluídico ou de prata. Este somente se rompe após a morte, quando se extingue a atividade vital e, por conseguinte, a vida. O perispírito pode irradiar para fora do corpo físico sob a forma de emanações fluídicas na área vizinha ao corpo, mas que ultrapassam os seus limites, “devendo haver energia do próprio fluido vital em expansão”, constituindo a nossa “fotosfera psíquica” (10), parecendo emergir do corpo físico na forma de campo ovoide ou aura, que “revela condições de saúde física, estado do Espí-rito, nível mental e caráter das pessoas...” (11) “Na realidade, a memória não é mais do que uma modalidade de consciência”(12), mas na litera-tura espírita encontramos grande controvérsia em relação a sua localização, quer no Espírito en-carnado, quer no desencarnado, situando-a ora no Espírito, ora no perispírito. Estivesse ela permanentemente no perispírito, o que não me parece lógico, ao evoluir o Espírito e mudar de orbe, a perderia totalmente, pois que ele a retira do fluido universal de cada globo des-cartando-se desse seu “passaporte planetário” e tomando outro, transformar-se-ia assim num Es-pírito novamente simples e ignorante, retrogradando. Isto não seria possível, pois contrairia a Lei do Progresso e o processo reencarnatório perderia todo o sentido, não passando de uma vivência nulificada. “Em consequência da diminuição de seu estado vibratório, o Espírito, cada vez que toma posse de um corpo novo, de um cérebro virgem de toda a imagem, acha-se na impossibilidade de im-primir as recordações acumuladas das suas vidas precedentes.” (12). “Permanecemos com Delanne quando nos diz que o inconsciente é um território comum do Espí-rito e do corpo, confirmando assim que o perispírito é sua sede. (grifo nosso) Kardec diz que: O Espírito tem no perispírito o seu almoxarifado, seu armazém de memórias e aquisições.”(10) Assim, a memória de vivências passadas, ocorridas quando do Espírito encarnado ou na erratici-dade está no Espírito, mas ao reencarnar, sitia-se no inconsciente e, portanto, no perispírito, lugar comum entre o Espírito e o corpo físico. Calcamos as palavras de Jorge Andréa quando diz que “não existe nada mais consciente do que o inconsciente”, assim, esta memória do inconsciente atual, de vivências passadas e da nossa mis-são, entendendo-se o termo como os propósitos estabelecidos na espiritualidade, embora estando no inconsciente, nos influenciam e nos fustigam, como aptidões, tendências, instintos e outras experienciações reencarnatórias, constituindo-se assim, nos embates com o consciente, o “VOCÊ DECIDE” do Espírito, no uso pleno do seu livre-arbítrio. “O Espírito é o dono da memória e a coloca à sua disposição onde lhe fica mais conveniente, funcional. Dela não se exonera porque ela esteja arrumada na estante de sua biblioteca. E que ele sendo dono é que a usa.” (10) Durante o sono parcialmente desprendido e gozando da liberdade do corpo físico, ele novamente se lembra, recobrando sua memória, e nós sonhamos, sendo “o sonho o que o Espírito viu duran-te o sono”, (3) e que nos chega, como premonições uns, e outros, na sua grande maioria, com distorções e metáforas. A aprendizagem não se perde e convenientemente filtrada continuará na consciência para o seu uso constante, sendo dela inalienável. Resgatando seus débitos, resolvendo suas pendências, educando-se e depurando-se assim o Espírito, não há mais necessidade da retenção desse lixo bi-ográfico, de vez que já dele se serviu, para a sua evolução, transformando-se agora no inútil ar-quivo de contas pagas, memória da qual ele se despoja, mas as aquisições daí advindas, perma-necem incorporadas ao Espírito, também definitivamente. “É nele (no perispírito) que se encontra temporariamente arquivada a memória extracerebral.” (9) (grifo nosso)

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Por vezes têm-se a sensação de ter estado num local antes visto (Déjà-vu) ou porque lá estivemos desdobrados e voltamos fisicamente, ou nos vem como um “escape”, porque ali vivemos numa existência anterior ou mesmo, numa terceira hipótese, previamente demos “uma espiada no futu-ro” e agora vivenciamos o “replay” do acontecimento previsto. Há várias expressões do déjà-vu como algo acontecido, entendido, sentido, ouvido, e vivido.” (4)(7)(15) FLUIDO VITAL “A força vital impregna, simultaneamente, a partir do primeiro instante da concepção, tanto a matéria como o perispírito. Assim é que este, deixando-se impregnar pelo fluido vital, nele se transfundindo, a ele se unindo intimamente, materializa-se bastante para tornar-se então o supor-te, o regulador, dessa própria energia.” (10) O Espírito é o dínamo, o perispírito é o motor e o fluido vital é a carga, a eletricidade animaliza-da de nossas baterias, responsável pela “manutenção e reparação da matéria viva” (13); cessada a carga, deixa de haver vida e obviamente sobrevém a morte, por esgotamento do fluido vital, mas também pode se dar, embora com sua presença, por falência orgânica súbita, “ficando ele impo-tente para transmitir o movimento da vida.” (9). A distribuição do fluido vital é variável de ser para ser, de célula para célula, de acordo com a herança repassada pela matriz perispirítica e vinculada a sua boa repartição, a saúde física e psí-quica, podendo também se transmitir de um para outro indivíduo. Corpo Físico D) CORPO FÍSICO - Centros Vitais. Nós, Espíritos encarnados ou desencarnados, vivemos mergulhados no Fluido Cósmico ou Uni-versal, energia que absorvemos pela alimentação, respiração e pelos centros vitais, que agem como acumuladores e distribuidores de energia, transitando por eles os fluidos energéticos, de um para os outros e assim transmitindo-se a todo o organismo. Do L. E. (3), podemos extrair; “A vista do Espírito (...) carece de foco próprio. Se reportam-se ao corpo, este foco lhes parecem estar nos centros onde maior é a atividade vital, principalmente no cérebro, na região do epigástrio ou no órgão que consideram o ponto de ligação mais forte, entre o Espírito e o corpo.” Neste resumo, quando Kardec se refere aos centros onde maior é a ativida-de vital e ao ponto de ligação mais forte, entre o Espírito e o corpo, estava falando, segundo po-demos deduzir, dos centros vitais ou de força. “Estes centros energéticos são acumuladores e distribuidores de energia, “estações de força” ele-tromagnética, que controlam a aparelhagem fisiológica e psicológica e as reações somáticas que lhes exteriorizam os efeitos de intercâmbio.” (14) Localizam-se essas centrais energéticas (centros de força, chackras, chacras, rodas energéticas, vórtices energéticos) no perispírito e vibram sintonizados uns com os outros e são tanto mais vi-brantes e brilhantes quanto mais evoluído é o Espírito, sendo responsáveis pela distribuição de energia vital no corpo físico. Para isso, possuindo fortes ligações específicas com todo sistema nervoso e, mais particularmente sobre o sistema nervoso central, glândulas e plexos. Estão em constante rotação, que é tanto maior quanto mais nobre é a sua função, portanto, os que se localizam na cabeça e que presidem a vida espiritual tem maior rotação do que os que dirigem a vida vegetativa, e que se situam nas partes inferiores do tronco. A “abertura dos centros de força” só pode ser feita pelo Espírito, por seu aperfeiçoamento moral, cujas leis estão impressas na sua consciência. (9) O Espírito desequilibrado corresponde a cen-tros vitais desequilibrados, influindo sobre o comando que exercem sobre os órgãos fundamen-tais da vida, sendo os mais importantes entre aqueles: Centro vital genésico. ( Hipogástrico). Localiza-se na região hipogástrica e, para nós, é estudado junto com o Básico, dada às semelhan-tes funções e relacionamentos. Controla a atividade sexual e a ativação dos demais centros vitais. “Dirige o santuário da reprodução e engendra recursos para o perfeito entrosamento dos seres na reconstrução dos ideais de engrandecimento e beleza em que se movimenta a Humanidade,”(14) “guiando a modelagem de novas formas entre os seres humanos ou estabelecimento de estímulos criadores, com vistas ao trabalho, à associação e à realização entre os Espíritos.” (15) Centro vital esplênico. (Mesentérico).

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Localiza-se na região esplênica, portanto, à esquerda do abdômen. É responsável pela regulação das reservas sanguíneas, a composição de seus elementos e ainda é vitalizador das defesas orgâ-nicas. Centro vital gástrico.(Umbilical ou Solar). Localiza-se no epigástrio e é responsável pela absorção de alimentos, seu metabolismo e a libe-ração de suas respectivas energias; influencia todos os órgãos abdominais, excetuando-se o baço. Centro vital cardíaco. Localizado na região precordial e é responsável pela atividade pulmonar, cardíaca e circulatória; regula as emoções e os sentimentos. Centro vital laríngeo. Localizado na garganta física e preside à fonação, a audição e a respiração e as glândulas tireoi-de, paratireoide e o timo. Centro vital frontal (cerebral). Situado no lobo frontal, governando a córtex cerebral e é responsável pelo controle da inteligên-cia, dos sentidos e das glândulas endócrinas via hipófise. Centro vital coronário. Situa-se na parte central do cérebro e é referido como “sede da mente”, “santuário da vida”, “centro vital regente”, denotando sua ascensão sobre os demais centros vitais, sua mais intensa relação com o Espírito, de onde recebe o comando, transferindo-o. “Responsável pelo processo da razão, da morfologia, do metabolismo geral, da estabilidade emocional e funcional do Espírito no caminho evolutivo.” (14) O centro coronário liga-se à Epífise ou glândula Pineal e tem nela seu substrato anátomo-fisiológico, cujo hormônio é a melatonina, cuja secreção aumenta no es-curo. É a “glândula da vida espiritual”. Está localizada na zona central do cérebro. Sob o ponto de vista médico seria uma glândula vestigial e responsável “pela regulação de crescimento, do desenvolvimento da altura e do peso, do aparelho sexual e do desenvolvimento piloso.” (16) Pouco se evoluiu no conhecimento de sua fisiologia, mas teria influência em toda a cadeia glan-dular via hipotálamo. (19) André Luiz lhe dá novas dimensões (17), quais sejam: 1) É a glândula da vida mental; acorda as forças criadoras e é o mais avançado laboratório de elementos psíquicos da criatura terrestre; 2) É igualmente responsável pela recapitulação da sexualidade da criatura, examinando o inven-tário de suas paixões vividas em outra época, que aparecem sobre fortes impulsões. 3) Preside os fenômenos nervosos da emotividade. 4) Segrega “unidades-força”, que vão atuar de maneira positiva nas energias geradoras. 5) Conserva ascendência sobre todo o sistema endócrino (“glândula mestra”). 6) Comanda as forças subconscientes sob a determinação direta da vontade. O organismo para o seu funcionamento, exige consumo de energia. Essa energia é obtida através de reações metabólicas, ocorridas sobre a matéria assimilada durante o processo de nutrição. As mitocôndrios são as centrais energéticas das células, “desenvolvendo importantes atividades nos processos metabólicos celulares, pois a elas cabe a função de reprocessar a energia contida nas moléculas dos compostos orgânicos obtidos pela alimentação, transferindo o acúmulo ener-gético à outras moléculas especializadas para armazenamento e liberação rápida de energia, re-presentados principalmente pelo ATP (trifosfato de adenosina). As mitocôndrios são produtoras de moléculas de ATP.” (20) “Através dos bióforos ou unidades de força psicossomática que atuam no citoplasma, o Espírito encarnado imprime suas características evolutivas a todas as células do corpo físico. Compete a Epífise executar essa tarefa de sintonia, projetando sobre as células e consequentemente sobre o corpo, os estados da mente, que estará enobrecendo ou agravando a própria situação de acordo com a escolha do bem ou do mal.” (15) (18) A ação do Espírito será exercida segundo a sequencia; ESPÍRITO-PERISPÍRITO-FLUIDO VI-TAL-CORPO FÍSICO (Epífise-Célula-Bióforo-Mitocôndrio) do que resultará acúmulo ou dis-persão de energia. Portanto todas as estruturas do corpo físico, representadas por sistemas, apare-lhos, órgãos e células, enfim todo o organismo tem sua representatividade no perispírito, modelo organizador biológico, sob a direção do Espírito que é o comandante de todas as suas ações.

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O corpo humano “é um universo em miniatura” (21) é uma máquina pensante, obra idealizada pelo nosso Criador, e cada vez que a ciência vai desvendando seus mistérios e estreitando seus laços com o microcosmos, assim também como com o macrocosmos, também vai descortinando a presença de Deus. Ele nos criou Espíritos simples, ignorantes e imortais, para que sejamos Espíritos perfeitos, por nossos próprios méritos. Para isso, com sua bondade, justiça e misericórdia, nosso Criador não nos pune, nos dando sempre oportunidades. Essa é, exatamente agora, uma nova oportunidade, que temos como Espíritos encarnados, para que com o tesouro de nossas aquisições e a propul-são dos nossos propósitos, possamos comandar, com a fisiologia do Espírito o nosso corpo físi-co, “empréstimo divino” e orientados pelo “mapa da regeneração”, nos direcionarmos para a per-feição, estabelecida como meta infinita, por esta Força Poderosa que a tudo determina, e dentro deste prisma seremos todos, não o que queremos, mas o que precisamos e teremos que ser. Nosso mestre Jesus nos trouxe essa diretriz, no seu Evangelho: - “SEDE PERFEITOS.” Façamos do nosso corpo, o veículo de nossa regeneração; a estrada é longa, não tardemos no caminho. “(...) Agora ser humano que sou, pelo foro Divino, vivo de corpo em corpo a forjar meu destino, que me leve a transpor o clarão das estrelas!...” (Chico Xavier; pelo Espírito Adelino Fontou-ra).(22) BIBLIOGRAFIA (1) FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda - Dicionário da Língua Portuguesa. 3.a ed.: Nova Fronteira, 1993, pg. 253. (2) NASCENTES, Antenor - Dicionário Etmológico da Língua Portuguesa. 1.a ed., 1955. pg. 217. (3) KARDEC, Allan. - O Livro dos Espíritos. 68.a ed. FEB, 1987, pg. 82, 83, 104, 167, 223, 241, 257. (4) SANTOS, Jorge Andréa dos - Enfoques Científicos da Doutrina Espírita. 2.a ed. Soc. Espírita F. V. Lorenz, 1991, pg. 38, 41, 159. (5) SCHUTEL, Caibar - Matéria, Fluido Vital e Espírito. Revista Internacional de Espiritismo, Nov. 1998, pg. 439. (6) KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns. 49.a ed., FEB, 1982, pg. 109, 159. (7) MIRANDA, Hermínio C. - Diversidade dos Carismas. 3.a ed. Publicações Lachâtre. Vol. I, 1995, pg. 242, 303. (8) DENIS, Léon - Depois da Morte. 18.a ed., FEB, 1994, pg. 208. (9) COSTA, Vitor Ronaldo - Mediunidade e Medicina. 1.a ed.,Casa Editora O Clarim,. 1996, pg.37, 40, 42. Abertura dos Chacras, Revista Internacional de Espiritismo, nov. 1999, pg.445. (10) ROCHA, Alberto de Souza - Além da Matéria Densa. 1.a ed. Editora Espírita Correio Fra-terno, 1997, pg. 40,41,42,106,214. (11) MIRANDA, Hermínio C. - Reencarnação e Imortalidade. 4.a ed., FEB, 1991, pg. 132. (12) DENIS, Léon - O Problema do Ser, do Destino e da Dor. 4.a ed. FEB, 1936, pg. 205. (13) CARVALHO, Helena M. C.C. - Perispírito e Princípio Vital. 2.a ed. Editora LAKE, 1994, pg.3. (14) DELLANE, Gabriel - A Evolução Anímica. 7.a ed., FEB, 1992, pg. 175, 192. (15) FRANCO, Divaldo, pelo Espírito Joana de Ângelis. - Estudos Espíritas. 6.a ed. FEB, 1995 , pg.42, 43: Dias Gloriosos. 2.a ed. Liv. Esp. Alvorada Editora, 2000, pg. 192. (16) XAVIER, Francisco C. e VIEIRA, Waldo, pelo Espírito André Luiz - Evolução em Dois Mundos. 14.a ed., FEB, 1995, pg.27, 59 e 63. (17) TESTUT, L. e LATARJET A. - Anatomia Humana, 1954, Salvat Editores S.A., vol. II, pg. 1077. (18) XAVIER, Francisco C., pelo Espírito André Luiz - Missionários da Luz. 28.a ed. FEB, 1997, pg. 18-24, 218. (19) NOBRE, Marlene Rossi S.N. - As Enfermidades e suas Relações com o Comportamento Moral. Associação Médico-Espírita de S. Paulo, jul. 1986, pg. 101-116. (20) SOARES, José Luís - Biologia. Ed. Scipione, 1997, pg. 52, 155.

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(21) ARMOND, Edgar - Passes e Radiações, Ed. Aliança, 1998, pg. 47. (22) FERREIRA, Umberto - Revista Espírita Allan Kardec, 1999, pg. 20. (23) MELO, Jacob - O Passe. 8.a ed. FEB, 1996. (24) CARVALHO, Helena M. C.C. - Perispírito e Princípio Vital. 2.a ed. Editora LAKE, 1994. (25) MEIRA, Rubens P. - O Perispírito. 1.a ed. Editora Brasbiblos.1986. (26) GURGEL, Luiz Carlos de M. - O Passe Espírita. 2.a ed. FEB, 1991. (27) JORGE, José - Antologia do Perispírito. 5.a ed. Ed. CELD,1997 ---------------------------------------------------------- 58 ----------------------------------------------------- OS FLUIDOS Orson Peter Carrara Leis que regem a vida espiritual podem fornecer explicações para fenômenos materiais onde o elemento espiritual tem participação. Iniciemos pela questão da pronúncia, onde há certa dificuldade. Alguns pronunciam com acentu-ação sobre a vogal u, fluido; outros com acentuação sobre o i, fluído; o correto, porém, é a pro-núncia como ditongo(1): fluido (com acentuação tônica sobre a letra u). O tema está sempre pre-sente nos estudos espíritas e mereceu capítulo especial de Allan Kardec: está no livro A Gênese (2), capítulo XIV, com o mesmo título desta matéria. É um capítulo longo, com 31 páginas e 49 itens, mas de farto material para estudo e pesquisa, que recomendamos aos leitores. Há destaques para alguns subtítulos como -Elementos fluídicos, Ação dos Espíritos sobre os fluidos, Criações fluídicas, Qualidades dos fluidos, entre outros importantes subtemas. Para entender e aprofundar o assunto, há que se partir da questão n.o 1, de O Livro dos Espíritos (3), cuja resposta indica Deus como a “(...) causa primária de todas as coisas”. A mesma obra, em seu capítulo II, nas questões 17 a 36, desdobra o título -Dos elementos gerais do Universo com os subtítulos -Conhecimento do princípio das coisas, Espírito e Matéria, Propriedades da Matéria e Espaço Universal, oferecendo vasta visão do empolgante tema sobre a origem e consti-tuição de tudo o que até presentemente conhecemos. Chamamos a atenção, porém, para as ques-tões 27, 32 e 33, das quais nos ocupamos para o presente assunto. Na questão 27, os Espíritos codificadores indicam que há no Universo dois elementos gerais: Espírito e matéria. E acima de tudo Deus, como criador de todas as coisas. Mas indicam que “(...) ao elemento material há que se juntar o fluido universal, que desempenha papel de intermediário entre o Espírito e a matéria... (...)”. Já na questão 32, indagados por Kardec, confirmam que os sabores, os odores, as cores, os sons, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos não passam de modificações de uma única substância primitiva. E na questão 33 também confirmam, na pergunta do Codificador, que a mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades, indicando que “(...) tudo está em tudo”. Não é difícil entender. Basta considerarmos que há uma matéria elementar primitiva, uma subs-tância original, que emana do Criador. Seria uma espécie de “hálito do Criador”, numa compara-ção vulgar. É o plasma divino, ou força nervosa do Criador, que assume dois estados (4): a) de eterização (natureza pura) = estado primitivo normal que propicia os fenômenos do mundo invi-sível; b) de materialização (natureza mais grosseira) = consequência do primeiro e propicia os fenômenos materiais. Essa matéria elementar, primitiva, conhecida como fluido cósmico univer-sal, é suscetível, com as inúmeras combinações com a matéria e sob ação do Espírito, de sofrer variações ao infinito e produzir toda a variedade de elementos ou coisas conhecidas ou desco-nhecidas ainda, ou fenômenos explicados ou ainda inexplicados. Interessante pensar que na rea-lidade, a solidificação da matéria não é mais do que um estado transitório do fluido universal. Mas aí surge outra questão. Estamos habituados no estudo do Espiritismo a encontrar as expres-sões Fluido magnético, Fluido elétrico, Fluido material, Fluido espiritual ou Fluido vital. Na ver-dade, todos são combinações ou transformações do mesmo fluido primitivo acima citado. O flui-do perispirítico, por exemplo, é o agente dos fenômenos espíritas que se produzem pela ação re-cíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito comunicante. Já o perispírito, ou corpo fluídico, por sua vez, que se forma com o fluido universal de cada globo (5), é também uma con-

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densação do fluido cósmico universal em torno do Espírito encarnado, pois os Espíritos são a in-dividualização do princípio inteligente. E mais, o próprio corpo carnal também tem origem no fluido cósmico – como matéria original –, e ambos (corpo e perispírito) são matéria, ainda que em estados diferentes e o perispírito seja semimaterial para os conceitos humanos. Porém, a na-tureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espí-rito. Em resumo, tudo o que existe é transformação dessa matéria elementar primitiva. “Há o Espírito, a matéria e este fluido cósmico universal, que conforme resposta à questão 27, de O Livro dos Espíritos (3), “(...) é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis com-binações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima (...)”. Voltemos, porém, aos diversos adjetivos colocados na palavra fluido, como indicado no segundo parágrafo anterior, e recorrendo agora à Revista Espírita. Observemos o pensamento do Codifi-cador, referindo-se aos fluidos espirituais: “(...) Quem quer que traga os pensamentos de ódio, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, animosidade, cupidez, falsidade, hipocrisia, murmuração, ma-levolência, numa palavra, pensamentos colhidos das más paixões, espalha em torno de si eflú-vios fluídicos que reagem sobre os que o cercam. Ao contrário, na mesma assembleia em cada um só trouxe sentimentos de bondade, caridade, humildade, devotamento desinteressado, bene-volência e amor ao próximo, o ar é impregnado de emanações salutares em meio às quais sente viver mais à vontade (...). Os fluidos espirituais representam um importante papel em todos os fenômenos espíritas, ou melhor, são o princípio mesmo desses fenômenos (...)” (6). Sobre fluido magnético, expõe Kardec (7) “(...) Sabe-se que o fluido magnético ordinário pode dar a certas substâncias propriedades particulares ativas. (...) não há, pois, nada de admirar que possa modificar o estado de certos órgãos; mas compreendam igualmente que sua ação, mais ou menos salutar, deve depender de sua qualidade; daí as expressões ‘bom ou mau fluido; fluido agradável ou penoso, (...)”. Sobre fluido magnético, sugerimos ainda a matéria Campo Magnéti-co (8). Outra expressão bastante usada é fluido vital. Voltemos ao Codificador: “(...) Desde que o fluido vital, emitido de alguma forma pelo Espírito, dá uma vida factícia e momentânea aos corpos inertes; desde que outra coisa não é o perispírito senão o próprio fluido vital, segue-se que, quando encarnado, é o Espírito que dá vida ao corpo, por meio de seu perispírito: fica-lhe unido enquanto a organização o permite; e, quando se retira, o corpo morre (...)” (9) E ainda: “(...) O fluido vital é indispensável à produção de todos os fenômenos medianímicos, é apanágio exclu-sivo do encarnado e, por conseguinte, o Espírito operador é obrigado a impregnar-se dele (...)”(10). O Espírito Luiz também explica o mesmo tema: “(...) Ele envolve os mundos: sem o princípio vital, nada viveria. Se uma pessoa subisse além do envoltório fluídico dos globos, pere-ceria, porque seu envoltório fluídico dele se retiraria, para juntar-se à massa. Esse fluido vos anima, é ele que respirais. (...)”(11). De qualquer ângulo que os analisemos, perceberemos que eles são o veículo, o transmissor do pensamento e adquirem as qualidades ou as características do pensamento ou das impressões que o conduz. Elemento neutro, sofre a ação da vontade. A verdade é que os Espíritos atuam sobre os fluidos, não manipulando-os como os seres huma-nos, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o ser humano. Neste processo, eles imprimem direção, aglomeram ou combi-nam, ou dispersam; organizam aparências, formas, coloração. Isto tudo pela intenção ou pensa-mento, de forma consciente ou inconsciente. Aí está a origem das regiões umbralinas ou trevo-sas, das colônias espirituais e a ação dos construtores celestes – na formação dos mundos ou na condução dos seres vivos –, das ocorrências de imagens plasmadas em reuniões mediúnicas para socorro de Espíritos em desequilíbrio; também da proteção fluídica superior ou de verdadeiros cercos fluídicos organizados por obsessores. Também está aí a atmosfera espiritual de encarna-dos, a ocorrência do processo obsessivo ou os benefícios da fluidoterapia, etc. Como também as sensações de paz, harmonia, entusiasmo ou desânimo, mal estar, causados por influências espiri-tuais. E até as modificações causadas no perispírito, como num espelho, das imagens criadas pela força do pensamento. Enquadram-se neles também as reflexões sobre vibrações à distância, cu-

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ras, manifestações de fenômenos físicos (movimento de objetos e outros), vestuário dos Espíritos e outros temas que se podem estudar inclusive no capítulo VIII de O Livro dos Médiuns: Labora-tório do Mundo Invisível. Vamos para exemplos simples do cotidiano: a) Pensemos na influência benéfica ou constrange-dora de um Espírito junto a um encarnado; b) Pensamos numa pessoa e o telefone toca: é a pró-pria pessoa em quem pensávamos. Ambos os casos revelam a transmissão de fluidos espirituais ... E, para concluir, deixemos a palavra ao Codificador Allan Kardec: “(...) A qualificação de flu-idos espirituais não é rigorosamente exata, uma vez que, em definitivo, é sempre da matéria mais ou menos quintessenciada. Não há de realmente espiritual senão o Espírito ou princípio inteli-gente. São assim designados por comparação, e em razão, sobretudo, de sua afinidade com os Espíritos. Pode-se dizer que são a matéria do mundo espiritual (12): é por isso que são chamados fluidos espirituais (...)”(13). Nota da redação: Sugerimos consultar também O Livro dos Médiuns, especialmente capítulos I, II, IV, V da Segunda parte – Das Manifestações Espíritas. Ditongo: grupo de vogais que se pronunciam numa só emissão de voz e compõem uma só sílaba, conforme Grande Dicionário da Língua Portuguesa – Edit. Novo Brasil Ltda –, 30.a edição, 1986, São Paulo-SP. Vide itens 2 e 3 do capítulo XIV de A Gênese, 1.a edição IDE – 1982 – Araras-SP. Questão 94 de O Livro dos Espíritos, 78.a edição FEB – 04/1997 – Rio de Janeiro-RJ. Revista Espírita, ano 1867, página 133, edição Edicel. Revista Espírita, ano 1864, página 8, edição Edicel. Revista Internacional de Espiritismo, de outubro de 2001, seção Recordando Allan Kardec. Revista Espírita, ano 1858, página 158, edição Edicel. Revista Espírita, ano 1861, agosto, edição Edicel. Revista Espírita, ano 1858, página 161, edição Edicel. Destaques do autor. Em A Gênese, cap. XIV – página 241 –, item 5 em transcrição parcial, 1.a edição IDE – 1982 – Araras –SP. E a definição da palavra? De acordo com L. Palhano Jr. (*), “1. é substância de fluência fácil, espontânea, como os líqui-dos e os gases, que, flácidos e frouxos, tomam a forma do recipiente em que estão colocados e podem escapar de modo volátil; 2. Em Espiritismo, fluido é a substância primária do Universo, designada fluido cósmico universal (...); 3. São designadas também por fluido todas as substân-cias sutis, invisíveis à visão comum e imponderáveis, que emanam dos corpos: no mineral, como é o caso do imã, o fluido magnético; no vegetal: o fitomagnetismo; no animal: o fluido magnéti-co animal; no Espírito: o fluido magnético espiritual (perispiritual). No mesmerismo (veja qua-dro nesta matéria), fluido é uma espécie de emanação magnética (energia) das pessoas que, por exercício, pode ser aumentada, como no caso dos magnetizadores. Em Espiritismo, essa força é conhecida como fluídica e emana das pessoas naturalmente, ou por força da vontade, como no caso dos hipnotizadores, magnetizadores e médiuns. (...)”. O Espírito André Luiz (**), pela psicografia de Chico Xavier, define-o “(...) como sendo um corpo cujas moléculas cedem invariavelmente à mínima pressão, movendo-se entre si, quando retidas por um agente ou contenção, ou separando-se, quando entregues a si mesmas (...)” (*) Livro Definições Espíritas, página 61, 1.a edição Publicações Lachâtre, Niterói-RJ, 1996. (**) Livro Evolução em Dois Mundos, página 95, capítulo XIII, 6.a edição FEB, 09/1981- Rio de Janeiro-RJ. Mesmerismo(*): Expressão atribuída ao magnetismo animal, estudado por Antoine Mesmer (1734 - 1815), que pode ser definido como a ação recíproca de dois seres vivos por intermédio de um agente especi-al chamado fluido magnético. Ciência conhecida em toda a antiguidade, sobretudo no Egito, on-de era prática nos mistérios, assim o provam os documentos autênticos. (*) Página 90 do livro Definições Espíritas, página 61, 1.a edição Publicações Lachâtre, Niterói-RJ, 1996. FLUIDOS:

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Fluido universal Fluido vital Princípio vital Elio Mollo Fontes principais: O Livro dos Espíritos - Allan Kardec A Gênese - Allan Kardec FLUIDO UNIVERSAL Questão 27 de «O LIVRO DOS ESPÍRITOS» Deus, Espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal. Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.(q. 1 – LE) O Espírito é o princípio inteligente. Para que o Espírito possa exercer ação sobre a matéria tem que se juntar o fluido universal, pois, é ele que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a matéria grosseira. É lícito até certo ponto, classificar o fluido universal com o elemento material, porém, ele se dis-tingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser considerado como sendo um ele-mento semimaterial, pois, está situado entre o Espírito e a matéria. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as quali-dades que a gravidade lhe dá. O fluido universal é semimaterial e é ele que faz a ligação entre o Espírito e a matéria. O fluido universal é o elemento do fluido elétrico, cujo efeito conhecemos. A substância etérea que existe entre os planetas e que os envolve é o fluido universal. Esse fluido possui o mesmo princípio em todos os planetas, é mais ou menos eterizado, confor-me a natureza dos mundos. (O nosso é um dos mais materializados) O fluido universal é a fonte da vida, porém, não é a fonte da inteligência, ele apenas anima a ma-téria. Luiz (Espírito) O fluido cósmico universal é, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transforma-ções constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. O perispírito é composto desse fluido. FLUIDO VITAL Allan Kardec na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita (O LIVRO DOS ESPÍRITOS) e em nota referindo-se as questões de 68 a 70 LE. O fluido vital é o mesmo que o fluido elétrico animalizado, designado, também, sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc. A quantidade de fluido vital não é fator absoluto para todos os seres orgânicos; varia segundo as espécies e, não é fator constante, seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espé-cie. Existem alguns que são, por assim dizer, saturados, enquanto outros dispõem apenas de uma quantidade suficiente; daí, para alguns, a vida é mais ativa, mais vibrante e, de certo modo supe-rabundante. A quantidade de fluido vital se esgota; pode a vir a ser insuficiente para manter a vida, se não re-novado pela absorção e a assimilação das substâncias que o contém. O fluido vital se transmite de um indivíduo para o outro. Aquele que tem o bastante, pode dá-lo aquele que tem pouco e, em certos casos restabelecer a vida prestes a se apagar. PRINCÍPIO VITAL O LIVRO DOS ESPÍRITOS – questões de 60 à 67 O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos, comum a todos os seres vivos, desde as plantas até os seres humanos. Esse princípio reside no fluído universal. Ele é um elemento distin-to e independente. É dele que o Espírito extrai o envoltório semimaterial que constitui o seu pe-rispírito e, é por meio desse fluido que atua sobre a matéria. Sua união com a matéria causa a animalização, ou seja, é o que dá vida a matéria e tem por fonte o fluido vital também chamado de fluido magnético ou fluido elétrico. O princípio vital é modificado segundo as espécies. É ele que dá movimento e atividade a matéria orgânica, distinguindo-a da matéria inerte, porquanto o movimento da matéria não é a vida. Esse movimento ela o recebe não o dá. Quando os seres or-

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gânicos morrem, sua matéria se decompõem indo formar outros organismos. O princípio vital re-torna a massa de onde saiu. Sem o princípio vital, nada viveria. Se uma pessoa subisse além do envoltório fluídico dos glo-bos, pereceria porque o seu envoltório fluídico dele se retiraria, para juntar-se a massa. Fenômenos de efeitos físicos (exemplo: mesas girantes) Dissemos que o princípio vital reside no fluido universal e que é dele que o Espírito extrai o en-voltório semimaterial que constitui o seu perispírito e é por meio desse fluido que atua sobre a matéria inerte, isto é, ele anima a matéria por uma espécie de vida factícia; a matéria se anima pela vida animal. A mesa que se move sob as nossas mãos vive e sofre como o animal; obedece por si mesma ao ser inteligente. Não é ele que a dirige, como o um ser humano com um fardo. Quando a mesa se ergue não é o Espírito que a levanta: é a mesa animada que obedece ao Espíri-to inteligente. Luiz (Espírito) q. 21(LE). A matéria existe em estados que ainda ignoramos. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão nos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para nós, porém, não o seria. q. 22(LE). A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação. Podemos dizer que a matéria é o agente, o intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual atua o Espírito. Nota de A. K. O Espírito e a Matéria são distintos um do outro; mas, a união do Espírito e da matéria é necessá-ria para intelectualizar a matéria. q. 25(LE). Essa união é igualmente necessária para a manifestação do Espírito, porque não temos organiza-ção apta a perceber o Espírito sem a matéria. A isto não são apropriados os nossos sentidos. (Entendemos aqui por Espírito o princípio da inteligência, abstração feita das individualidades que por esse nome se designam.) Pode-se conceber o Espírito sem a matéria e a matéria sem o Espírito, pelo pensamento. q. 26(LE). Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito e acima de tudo Deus, o cria-dor, o pai de todas as coisas. Deus, Espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que exis-te, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que de-sempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pe-las suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita varie-dade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria esta-ria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. q. 27(LE). Espírito - Fluido - Universal Matéria Esse fluido é suscetível de inúmeras combinações. O que chamamos de fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente. A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria como a entendemos; porém, da matéria considerada como fluido universal não. A matéria etérea e sutil que constitui esse fluido nos é imponderável. Nem por isso, entretanto, deixa de ser o princípio da nossa matéria pesada. q. 29 (LE). A matéria é formada de um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva.

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q. 30 (LE). Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de atividade íntima que lhes dá a vida. Nas-cem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem. São providos de órgãos especiais para a execução dos diferentes atos da vida, órgãos esses apropriados às necessidades que a conserva-ção própria lhes impõe. Nessa classe estão compreendidos: · os seres humanos, · os animais e · as plantas. Seres inorgânicos são todos os que carecem de vitalidade, de movimentos próprios e que se for-mam apenas pela agregação da matéria. Tais são: · os minerais, · a água, · ar, etc. A força que une os elementos da matéria é a mesma nos corpos orgânicos e nos inorgânicos, ou melhor, a lei de atração é a mesma para todos. q. 60 (LE). A matéria é sempre a mesma, porém nos corpos orgânicos está animalizada. q. 61 (LE). A causa da animalização da matéria é a sua união com o princípio vital. q. 62 (LE). A vida é um efeito devido à ação de um agente sobre a matéria. Esse agente, sem a matéria, não é vida, do mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente. Ele dá a vida a todos os seres que o absorvem e assimilam. q. 63 (LE). O Espírito e a matéria são dois elementos constitutivos do Universo. O princípio vital é um dos elementos necessários à constituição do Universo, mas que também tem sua origem na matéria universal modificada. É, para nós, um elemento, como o oxigênio e o hidrogênio, que, entretanto, não são elementos primitivos, pois que tudo isso deriva de um só princípio. q. 64 (LE). O princípio vital tem por fonte o fluido universal. É o que chamamos fluido magnético, ou fluido elétrico animalizado. É o intermediário, o elo existente entre o Espírito e a matéria. q. 65 (LE). O princípio vital é um só para todos os seres orgânicos, mas, modificado segundo as espécies. É ele que lhes dá movimento e atividade e os distingue da matéria inerte, porquanto o movimento da matéria não é a vida. Esse movimento ela o recebe, não o dá. q. 66 (LE). A vitalidade não se desenvolve senão com o corpo. Esse agente sem a matéria não é a vida. A união dos dois é necessária para produzir a vida. q. 66.a (LE) O conjunto dos órgãos constitui uma espécie de mecanismo que recebe impulsão da atividade ín-tima ou princípio vital que entre eles existe. Ao mesmo tempo em que o agente vital dá impulsão aos órgãos, a ação destes entretém e desenvolve a atividade daquele agente, quase como sucede com o atrito, que desenvolve o calor. q. 67 (LE). Pode se dizer que a vitalidade se acha em estado latente, quando o agente vital não está unido ao corpo. Nota de A. K. A causa da morte dos seres orgânicos é o esgotamento dos órgãos. q. 68 (LE). Podemos comparar a morte à cessação do movimento de uma máquina desorganizada, ou seja, se a máquina está mal montada, cessa o movimento; se o corpo está enfermo, a vida se extingue. q. 68.a (LE).

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Quando os seres orgânicos, morrem a matéria inerte se decompõe e vai formar novos organis-mos. O princípio vital volta à massa donde saiu. q. 70 (LE). Morto o ser orgânico, os elementos que o compõe sofrem novas combinações, de que resultam novos seres, os quais haurem na fonte universal o princípio da vida e da atividade, o absorvem e assimilam, para novamente restituírem a essa fonte, quando deixarem de existir. Os órgãos se impregnam, por assim dizer, desse fluido vital e esse fluido dá a todas as partes do organismo uma atividade que as põe em comunicação entre si, nos casos de certas lesões, e normaliza as funções momentaneamente perturbadas. Mas, quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente alterados, o fluido vital se torna impotente para lhes transmitir o movimento da vida, e o ser morre. Mais ou menos necessariamente, os ór-gãos reagem uns sobre os outros, resultando essa ação recíproca da harmonia do conjunto por eles formado. Destruída que seja, por uma causa qualquer, esta harmonia, o funcionamento deles cessa, como o movimento da máquina cujas peças principais se desarranjem. É o que se verifica, por exemplo, com um relógio gasto pelo uso, ou que sofreu um choque por acidente, no qual a força motriz fica impotente para pô-lo de novo a andar. Num aparelho elétrico temos imagem mais exata da vida e da morte. Esse aparelho, como todos os corpos da Natureza, contém eletri-cidade em estado latente. Os fenômenos elétricos, porém, não se produzem senão quando o flui-do é posto em atividade por uma causa especial. Poder-se-ia então dizer que o aparelho está vivo. Vindo a cessar a causa da atividade, cessa o fenômeno: o aparelho volta ao estado de inércia. Os corpos orgânicos são, assim, uma espécie de pilhas ou aparelhos elétricos, nos quais a atividade do fluido determina o fenômeno da vida. A cessação dessa atividade causa a morte. A quantidade de fluido vital não é absoluta em todos os seres orgânicos. Varia segundo as espécies e não é constante, quer em cada indivíduo, quer nos indivíduos de uma espécie. Alguns há, que se acham, por assim dizer saturados desse fluido, enquanto os outros o possuem em quantidade apenas suficiente. Daí, para alguns, vida mais ativa, mais tenaz e, de certo modo, superabundan-te. A quantidade de fluido vital se esgota. Pode tornar-se insuficiente para a conservação da vida, se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que o contêm. O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tiver em maior porção pode dá-lo a um que o tenha de menos e em certos casos prolongar a vida prestes a extinguir-se. Nota de A. K. -------------------------------------------------------------- 59 ------------------------------------------------- HOMOSSEXUALISMO NA VISÃO ESPÍRITA Paulo da Silva Neto Sobrinho “A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, de-finindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psico-lógicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação” (Xavier) Espírito Emmanuel (1) Introdução Tema que ainda gera muita polêmica em nosso meio, surgindo naturais divergências de opiniões quando esse assunto entra em pauta. Mas intransigência, intolerância e falta de compreensão é o que se vê na maioria das pessoas que não conseguem vislumbrar que existe o outro lado da moe-da. Falta a muitos a capacidade de ver nessas pessoas irmãos em doloroso estágio evolutivo. Não percebem que o sofrimento deles é tanto que, em alguns casos, tiram-lhes a vontade de vi-ver. Quantos já não abandonaram a vestimenta carnal, como fuga ao insuportável preconceito de que sofrem? Quantos não se isolam, entre quatro paredes, evitando o contato com a sociedade que lhes repelem como se estivesse diante de uma asquerosa doença contagiosa. Ouvimos de várias pessoas que Kardec não fala sobre esse assunto, o que nos incentivou a pes-quisá-lo em suas obras para ver qual é a realidade. Embora muitos, com certeza, não saibam que, mesmo sem falar especificamente sobre esse assunto, Kardec diz algo a esse respeito. Entretanto,

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como a maioria dos espíritas mal só lê o tal do “Pentateuco Kardequiano”, dificilmente irá en-contrar a opinião do codificador do Espiritismo, pois somente na Revista Espírita é que ele faz sua abordagem ao tema. Opinião de Kardec Em janeiro de 1866, na Revista Espírita, quando analisa o assunto “As mulheres têm um Espíri-to?”, ele diz o seguinte: (...) Os Espíritos não têm sexo. As afeições que as une nada têm de carnal, e, por isto mesmo, são mais duráveis, porque são fundadas sobre uma simpatia real, e não são subordinadas às vicissitu-des da matéria. (...) Os sexos não existem senão no organismo; são necessários à reprodução dos seres materiais; mas os Espíritos, sendo a criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, é por isto que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual. Os Espíritos progridem pelo trabalho que realizam e as provas que têm que suportar, como o operário em sua arte pelo trabalho que faz. Essas provas e esses trabalhos variam segundo a sua posição social. Os Espíritos devendo progredir em tudo e adquirir todos os conhecimentos, cada um é chamado a concorrer aos diversos trabalhos e a suportar os diferentes gêneros de provas; é por isto que renascem alternativamente como ricos ou pobres, senhores ou servidores operários do pensamento ou da matéria. Assim se encontra fundado, sobre as próprias leis da Natureza, o princípio da igualdade, uma vez que o grande da véspera pode ser o pequeno do dia de amanhã, e reciprocamente. Deste princípio decorre o da fraternidade, uma vez que, nas relações sociais, reencontramos antigos conhecimen-tos, e que no infeliz que nos estende a mão pode se encontrar um parente ou um amigo. É no mesmo objetivo que os Espíritos se encarnam nos diferentes sexos; tal que foi um homem poderá renascer mulher, e tal que foi mulher poderá renascer homem, a fim de cumprir os deve-res de cada uma dessas posições, e delas suportar as provas. A Natureza fez o sexo feminino mais frágil do que o outro, porque os deveres que lhe incumbem não exigem uma igual força muscular e seriam mesmo incompatíveis com a rudeza masculina. Nele a delicadeza das formas e a fineza das sensações são admiravelmente apropriadas aos cui-dados da maternidade. Aos homens e às mulheres são, pois, dados deveres especiais, igualmente importantes na ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro. O Espírito encarnado sofrendo a influência do organismo, seu caráter se modifica segundo as circunstâncias e se dobra às necessidades e aos cuidados que lhe impõem esse mesmo organis-mo. Essa influência não se apaga imediatamente depois da destruição do envoltório material, do mesmo modo que não se perdem instantaneamente os gostos e os hábitos terrestres; depois, pode ocorrer que o Espírito percorra uma série de existências num mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, ele possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher do qual a marca permaneceu nele. Não é senão o que ocorre a um certo grau de adiantamento e de desmaterialização que a influência da matéria se apaga completamente, e com ela o caráter dos sexos. Aqueles que se apresentam a nós como homens ou como mulheres, é para lembrar a exis-tência na qual nós os conhecemos. Agora vem o principal do texto, que fala exatamente do assunto que estamos tratando: Se essa influência repercute da vida corpórea à vida espiritual, ocorre o mesmo quando o Espíri-to passa da vida espiritual à vida corpórea. Numa nova encarnação, ele trará o caráter e as incli-nações que tinha como Espírito; se for avançado, fará um ser humano avançado; se for atrasado, fará um ser humano atrasado. Mudando de sexo, poderá, pois, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres. (RE 1866, pp. 3-4). Foi-nos necessário colocar o texto um pouco mais longo, pois, caso contrário, a ideia de Kardec poderia não ficar bem clara. O pensamento de Kardec não deixa nenhuma margem à dúvida: “as-sim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres”. Ora, se fala em “anomalias aparentes” é porque ele, Kardec, admite tais situações como dentro da normalidade, o que em outras palavras, poderíamos dizer como coisas comple-tamente naturais.

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Opinião de autores espíritas Dr. Hernani de Guimarães Andrade, foi, segundo cremos, quando encarnado entre nós, o maior pesquisador brasileiro sobre o assunto reencarnação. Podemos ver sua opinião, a respeito desse assunto, em seus livros Espírito, Perispírito e Alma e Você e a Reencarnação, nos quais dedica, em cada um, um capítulo ao tema. Vejamos o que coloca nesse último: Por que Reencarnação? Em outubro de 1969, tomamos contacto com o primeiro caso de reencarnação por nós investiga-dos, a pedido do Dr. Ian Stevenson. Daí em diante passamos a levantar e a investigar outros mais, por nossa própria iniciativa. Desse modo, em 1972, já nos encontrávamos familiarizados com essa área de pesquisa. A leitura de diversas obras versando sobre a reencarnação e suas pesquisas científicas consolidou ainda mais a nossa crença de que, talvez, a reencarnação fosse uma das causas do homossexua-lismo, se não a única. Entre os autores que consultáramos figuraram: Muller (1970), Banerjee (1964, 1965) e Stevenson (1966). Mas, naquela ocasião, não era só a explicação das causas do homossexualismo que visávamos descobrir. Na realidade, esperávamos obter também mais uma fonte de evidência de apoio à ideia da reencarnação. O plano inicial era, partindo da investigação por meio da regressão de memória, chegar à causa do comportamento homossexual do paciente. Seria uma explicação do homossexualismo e, ao mesmo tempo, uma evidência da reencarnação. Outro ponto importante era fornecido pela pesquisa direta de casos de reencarnação efetuados por nós, com evidências da possibilidade de troca de sexos, e sustentados em base de relatos de casos semelhantes de outros investigadores. Tudo apontava em direção à validade da nossa hipótese de trabalho. Em suma, a nossa suspeita de que a troca de sexo de uma encarnação para outra talvez fosse, em certas circunstâncias, a principal causa do homossexualismo, mas não a única, especialmente a do transexualismo pare-cia emergir cada vez mais clara. Existem três modalidades de homossexuais Para que o leitor ainda pouco familiarizado com a questão do homossexualismo, lembramos que, basicamente, distinguem-se três modalidades de homossexuais: 1 - O homossexual genérico, cuja característica fundamental é a atração sexual por pessoas do mesmo sexo. O homossexual possui o impulso erótico dirigido para indivíduos de seu próprio sexo. No heterossexual esse impulso parece não depender exclusivamente da carga hormônica no or-ganismo. O indivíduo castrado geralmente perde o apetite sexual, mas não muda a direção da atração pelo outro sexo. No homossexual, embora muitos deles possuam órgãos sexuais normais, bem como cargas hor-monais suficientes e com atividade sexual normal, verifica-se a impulsão erótica em direção aos indivíduos do mesmo sexo. Nestes casos, o homossexualismo pode ter-se desenvolvido em razão de outros fatores que não a troca de sexo proveniente da reencarnação. Tais fatores podem ser os familiares e educacionais. Há também os circunstanciais, resultantes de situações especiais co-mo, por exemplo, promiscuidade em cárceres, internatos, conventos, comunidades místico-religiosas, iniciações em seitas esdrúxulas, etc. etc. Os homossexuais podem formar pares (casais) em que um deles exerce o papel ativo nas relações sexuais. No caso do sexo masculino, esta diferenciação torna-se mais definida. 2 - O travesti é aquele indivíduo que procura assumir a aparência dos de sexo oposto. Nem todo travesti é sistematicamente homossexual, assim como nem todo homossexual é obrigatoriamente travesti. 3 – O transexual é a modalidade mais típica do homossexualismo. Neste caso, o indivíduo se sente uma pessoa de determinado sexo, ocupando um corpo físico do sexo oposto; uma mulher em um corpo masculino, ou um homem em um corpo feminino. O transexual sugere fortemente a intervenção da reencarnação em sua ocorrência. No transexual podem ocorrer alterações inatas fisiológicas e cromossômicas. Permitimo-nos dei-xar sem comentário esse aspecto, para não estender excessivamente o presente capítulo.

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“Sankhârâ” e homossexualismo Finalizando esse capítulo, pedimos licença para transcrever parte do Cap. X, do livro Espírito, Perispírito e Alma. “...A realidade do Sankhârâ”, revela-nos casos que sugerem reencarnação, favorece a hipótese de que pelo menos o transexualismo seja motivado por uma herança reencarnatória. Neste caso, se um indivíduo, que se reencarnou reiteradas vezes com um determinado sexo, vem a renascer com um sexo oposto, ele provavelmente sofrerá problemas do gênero transexualismo. Pelo me-nos há grande possibilidade de isto ocorrer. A troca de sexo de uma encarnação para outra pode não ser exclusivamente a causa do homosse-xualismo, pois vários fatores educacionais poderiam contribuir para despertar no indivíduo as tendências sepultadas nas profundezas do seu inconsciente espiritual. Deve ter-se em conta, tam-bém, outras variáveis que possam influir na equação que define o homossexualismo em função do “Sankhârâ”. Assim, por exemplo, apontamos duas imediatamente evidentes: 1) o tempo que o indivíduo passou desencarnado (intermissão); 2) o número de vezes que ele renasceu e viveu tendo um determinado sexo. A intermissão muito prolongada apaga muitos “Sankhârâs”, especi-almente aqueles que poderiam gerar as “birthmarks” resultantes de ferimentos, malformações, moléstias graves, etc. É possível que as fontes características sexuais se atenuem com uma de-morada intermissão. Por outro lado, a reiterada repetição de um mesmo tipo de sexo pode contri-buir para acentuar as tendências do indivíduo a determinado comportamento sexual. Se, em su-cessivos renascimentos, ele alternou os sexos, talvez seu comportamento sexual venha a depen-der sobretudo da educação recebida durante a infância e juventude. Isto porque ele é portador aproximadamente de igual carga de sexualidade masculina e feminina. Talvez seja este o motivo pelo qual o número de homossexuais parece aumentar à medida que o meio social se torna mais tolerante e menos repressivo. Os indivíduos com maior tendência em relação a um dado compor-tamento sexual e que poderiam proceder normalmente, serão estimulados pelas facilidades do meio social a mudar de atitude. Antigamente a educação muito rígida e repressiva contribuía pa-ra enquadrar o indivíduo ambisséxuo, em seu sexo natural. (Andrade, 1984, pp. 227-229)”. (An-drade, 2002, pp. 113-117) As colocações do Dr. Hernani além de coerentes são sensatas não fugindo ao que Kardec disse. Em nenhum de seus dois livros, ele cita a conclusão a que chegara o codificador do Espiritismo, fato esse que também percebemos em todos autores espíritas que trataram dessa matéria. Agora iremos ver a opinião de outro autor que fala sobre o assunto. Trata-se do Dr. Roberto Lú-cio Vieira de Souza, foi no triênio 2001/2003 o Vice-Presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil, atualmente (2004) exerce a função de Assessor de Pesquisas da AMEMG – Associa-ção Médico Espírita de Minas Gerais, num artigo intitulado A Visão Espírita da Homossexuali-dade, publicado na Revista Cristã de Espiritismo, faz interessantes colocações a respeito das cau-sas desse tipo de comportamento. Vejamos: (...) tentamos classificar, do ponto de vista doutrinário, as causas da homossexualidade em: mo-rais, educacionais, obsessivas e psiquiátricas. Causas morais No campo das causas morais, encontramos aquelas criaturas que abusaram das faculdades gené-sicas tanto da posição masculina como da feminina, arruinando a vida de outros indivíduos, des-truindo uniões e lares diversos. Elas são induzidas a procurarem uma nova posição ao reencarna-rem, em corpos físicos opostos às suas estruturas psicológicas, a fim de que possam aprender, em regime de prisão, a reajustarem seus próprios sentimentos. Encontramos também aqueles que persistem nessas práticas por uma busca hedonista, sem maior compromisso com a vida, que reencarnam assim na tentativa de retratarem suas posições em no-va chance de resgate. São Espíritos rebeldes, pertinazes em seus erros, que encontram na questão da inversão sexual uma oportunidade para o refazimento de suas vidas, na qual a lei divina lhes coloca diante de situações semelhantes ao passado de faltas, cobrando-lhes posturas mais éticas perante si e o outro. Causas educacionais As causas educacionais podem ser agrupadas em atávicas e atuais. A atávica é resultado de vi-vências repetitivas dos Espíritos em culturas e comunidades onde a prática homossexual seria

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aceita e até estimulada, como na Grécia antiga e em certas tribos indígenas, ou nas sociedades culturais e religiosas que segregavam ou segregam seus membros, facilitando esse comporta-mento nas criaturas. Assim, ao reencarnarem em um local onde o homossexualismo não fosse mais aceito como prática livre, esbarrariam em sua condição viciosa. Já dentro das atuais, temos aquelas causas advindas dos defeitos de educação nos lares, onde o comprometimento dos afetos já estaria presente anteriormente, em que as paixões deterioradas do passado tendem a levar pais e parentes ascendentes a estimularem posturas psicológicas e se-xuais inversas ao seu estado físico em seus descendentes, sem que necessariamente ocorressem comportamentos ostensivamente incestuosos. Encontramos também os casos de pais contraria-dos em seus desejos quanto ao sexo do rebento, levando-o a uma condição inversa do de seu se-xo físico ou aqueles dos quais a entidade reencarnante, ao perceber esse desejo inconsciente dos pais, busca se adaptar patologicamente a essa situação durante o processo de gestação. Outra causa está na presença de segmentos atuais da sociedade e da cultura estimulando esse tipo de conduta, quando uma linguagem mais política e sem qualquer comprometimento ético, atra-vés dos vários meios de comunicação de massa, estimula e condiciona as criaturas a acreditarem que essas vivências seriam uma postura natural, dependendo unicamente da escolha realizada pe-lo indivíduo. Esse posicionamento vai de encontro a uma visão social mais ampla, que continua atribuindo ao homossexualismo uma condição de marginalidade, mantendo um processo de se-gregação social e associando a ele outras posturas marginalizadas, como o abuso das drogas e a prostituição, agravando ainda mais a situação daqueles que optaram por esse caminho sexual. Causas obsessivas Entre esse tipo de causa, podemos citar os casos em que parceiros do passado delituoso, em pro-cessos homossexuais ou vivências heterossexuais pervertidas, reencontram-se em condição de ódio ou paixão doentia, estimulando uma postura homossexual no encarnado como objetivo de atender o desencarnado em seus anseios viciosos ou de levar sua vítima para uma situação cons-trangedora e de intenso sofrimento. Esses desencarnados poderiam estar em uma condição men-tal de homossexualidade ou não, induzindo o encarnado em um projeto de total desestruturação íntima e social. O processo obsessivo não precisa necessariamente ter sua origem em uma encar-nação anterior. Ocorre que, nos casos de uma obsessão atual, os parceiros da vivência patológica participam de opções de vida viciosas, onde geralmente o encarnado invigilante busca posições mentais sexualmente pervertidas ou locais nos quais esses comportamentos são socialmente acei-tos, condicionando-se a essas práticas. Uma outra situação possível, oriunda de um processo obsessivo, seria aquela na qual um Espírito obsediando um encarnado em posição sexual inversa à sua, enfermado por uma interação intensa e duradoura, passa a sentir prazer sexual semelhante à sua vítima, pervertendo-se nesse campo e se condicionando a uma vivência homossexual em uma próxima encarnação. Nesses casos, a si-tuação obsessiva teria existido em uma encarnação anterior e a homossexualidade seria a desdita daquele que teria sido o algoz naquela vivência. Seria o famoso caso em que “o tiro saiu pela cu-latra”. Causas psiquiátricas São causas que reúnem casos nos quais a criatura, presa a um processo de deficiência mental ou de desestruturação psicótica, vê-se com a crítica comprometida, permitindo-se condutas sexuais das mais diversas, sem necessariamente existir uma escolha do objeto de desejo ou compreensão da condição moral. São relações homossexuais sem necessariamente representarem opções de homossexualidade. Resultam de um passado delituoso em outras áreas que influenciam a criatura nos vários setores de sua vida. No campo da psicopatologia, encontramos ainda os transtornos psicopáticos, nos quais as criatu-ras se posicionam em uma condição de amoralidade e imoralidade, optando por uma vida de pra-zeres sem limites, não se constrangendo na busca do hedonismo por nenhum motivo, estimulan-do a homossexualidade em si e nas criaturas psiquicamente influenciáveis. De maneira especial, temos os processos gerados por vivências traumáticas na infância, quando a criança seduzida sexualmente por um de seus ascendentes familiares viu-se condicionada por ele a adotar um comportamento sexual invertido (como, por exemplo, um pai que utiliza sexualmen-te um filho) ou, então, quando o jogo de sedução e perversão realizado por parentes de sexos

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opostos provoca uma situação de ódio intenso, levando a criança ou o jovem a fazer uma opção pela homossexualidade como forma de rejeitar aquela vivência. (pp. 40-45) Essas causas identificadas pelo Dr. Roberto, nos dão uma dimensão totalmente diferente da sim-plicidade que muitos pensam ser a opção sexual de uma pessoa. Como vimos existem fatores que, fugindo totalmente ao controle do encarnado, poderão influir nessa questão, daí, segundo, pensamos a homossexualidade não poderá ser vista como coisa pervertida, cujos praticantes a fa-zem por lhes faltar o senso moral. Alguns autores espíritas não se alinham à ideia de que o homossexualismo possa ter como causa a mudança de sexo entre uma encarnação e outra. Fora as opiniões acima, ainda poderemos, para reforçar essa ideia, o que encontramos no livro Ação e Reação, André Luiz na psicografia de Chico Xavier. Leiamos: (...) Considerando-se que o sexo, na essência, é a soma das qualidades passivas ou positivas do campo mental do ser, é natural que o Espírito acentuadamente feminino se demore séculos e sé-culos nas linhas evolutivas da mulher, e que o Espírito marcadamente masculino se detenha por longo tempo nas experiências do homem. Contudo, em muitas ocasiões, quando o homem tirani-za a mulher, furtando-lhe os direitos e cometendo abusos, em nome de sua pretensa superiorida-de, desorganiza-se ele próprio a tal ponto que, inconsciente e desequilibrado, é conduzido pelos agentes da Lei Divina a renascimento doloroso, em corpo feminino, para que, no extremo des-conforto íntimo, aprenda a venerar na mulher sua irmã e companheira, filha e mãe, diante de Deus, ocorrendo idêntica situação à mulher criminosa que, depois de arrastar o homem à devas-sidão e à delinquência, cria para si mesma terrível alienação mental para além do sepulcro, requi-sitando, quase sempre, a internação em corpo masculino, a fim de que, nas teias do infortúnio de sua emotividade, saiba edificar no seu ser o respeito que deve ao homem, perante o Senhor. Nes-sa definição, porém, não incluímos os grandes corações e os belos caracteres que, em muitas cir-cunstâncias, reencarnam em corpos que lhes não correspondem aos mais recônditos sentimentos, posição solicitada por eles próprios, no intuito de operarem com mais segurança e valor, não só o acrisolamento moral de si mesmos, como também a execução de tarefas especializadas, através de estágios perigosos de solidão, em favor do campo social terrestre que se lhes vale da renúncia construtiva para acelerar o passo no entendimento da vida e no progresso espiritual. (Ação e Re-ação, p. 209). Opinião de quem viveu o problema Vamos transcrever do site Portal do Espírito um trecho de um artigo publicado na Revista de Es-piritismo, n.o 39, abr-mai-jun1998, do autor Luiz de Almeida. Leiamos: Para melhor entendermos o drama da homossexualidade, citamos depoimentos de dois Espíritos (2). Isso porque poderão contribuir para esclarecer certas partes desta tendência. CASO 1: Eu fui lésbica. Dentro do meu corpo de mulher, sentia-me um homem. Desde pequena, os meus pendores foram todos masculinos. Menina, e os meus companheiros de peraltagem eram os meninos, tanto que minha mãe repetia: Não sei a quem me saiu a Laurinha; é peralta como um menino, está sempre no meio deles; coisa feia. E assim era: em qualquer reunião raramente me encontrava entre minhas amiguinhas. Porém, nos grupos de rapazes, lá estava eu, não como mu-lher, mas como homem, que intimamente me parecia ser. Veio-me a menstruação; sofri horrores que se repetiam mês após mês. Completei 15 anos. Eu era bonita de rosto, conquanto desgraciosa de corpo. E os meus pais chamaram-me em particular: — De agora em diante, evita estar tanto entre os moços; tens coleguinhas... porquê isso? — Mas, mamãe, não gosto das conversas delas, de vestidos, de modas, de sapatos, de batons, de penteados, de namoradinhos. Eu, por mim, cortaria os meus cabelos como homem, e vestiria cal-ças. A minha resposta desgostou-os. Mudei: apaixonava-me facilmente por meninas e mulheres casa-das. Deliciava-me frequentar o vestiário de meu clube; contemplando aqueles corpos nus, lavan-do-se, esfregando-se, enxugando-se, muitas vezes, surpreendia-me exclamando: Ah, se eu fosse homem! Viciei uma prima; além do prazer que ela me proporcionava, dava-me a sensação de ser verdadeiramente um homem. Descobriram-me, e passei a ser vigiada. Evitam-me. O meu pai tra-tava-me com rispidez.

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Uma fria solidão envolvia-me. Mesmo assim, casei-me. Não lhes descreverei o horror do sofri-mento íntimo que senti na minha noite de núpcias; foi pasmoso. O meu esposo tinha-me nos bra-ços e acariciava um corpo de mulher, dentro do qual se escondia o Espírito de um homem. E du-rante as carícias, enlaçada pelo meu marido, que me abraçava e me beijava, quantas vezes tive ímpetos de repeli-lo e gritar: Eu também sou um homem! Jamais ele o percebeu; fui-lhe fiel até ao fim. A nossa união durou 15 anos; não tivemos filhos. O meu marido enviuvou, e contraiu segundas núpcias, desta vez com uma autêntica mulher, de corpo e alma. Desencarnado, compreendi o porquê dessa encarnação como mulher; porque eu, um Espírito masculino, fora embutido - sim, embutido é o termo certo -, num corpo feminino. Por quatro encarnações consecutivas, eu erigira o sexo como o supremo fim de um homem. A mulher para mim era um objeto, um mero instrumento de prazer, de gozo. Quando uma me saci-ava, atirava-a para um canto qualquer, e servia-me de outra. Jamais lhes respeitava a dignidade. Jamais as reconhecera como mães, esposas, irmãs. E nos intervalos de minhas encarnações, em vez de me corrigir, frequentando as escolas correcionais da Espiritualidade, para o que não me faltaram convites, associava-me a hordas maléficas, cujo escopo era implantar o domínio do se-xo. Até que, por ordem superior, encaminharam-me de forma compulsória aos engenheiros ma-ternais, que me agrilhoaram a um corpo feminino a fim de que eu aprendesse a valorizar a mu-lher. Felizmente tão dolorosa experiência valeu-me. Corrigi-me. Não só aprendi a valorizar a mulher como a divinizá-la no seu papel de mãe, de es-posa, de irmã. Voltei à minha forma masculina. Trabalho agora no sector de socorro aos náufra-gos do sexo. Quando soar a hora, tornarei à Terra no corpo de homem normal, e saberei respeitar a mulher no altar sagrado do casamento. Claro que o meu resgate não será tranquilo, e as vicissi-tudes que por certo virão, em que pese gerar aflições, serão lições valiosas. E ao depararem com homens e mulheres transviados do sexo, compaixão, muita compaixão para com eles. CASO 2: Eu fui uma prostituta em seis encarnações sucessivas. A primeira foi num navio pirata. Apanharam-me numa razia contra nossa cidadezinha na orla do Mediterrâneo; com o saque e ou-tros cativos, embarcaram-me numa caravela. Eu era jovem e bonita. Um dia, o comandante atraiu-me para o seu camarote. Percebi-lhe a intenção. Eu já tinha os meus planos, e antes que ele tomasse a iniciativa, adiantei-me: Saiba que sou uma virgem. Quanto dá por minha virginda-de? Dirigiu-se a uma das arcas ao pé do leito, abriu-a; estava cheia de joias preciosas, produto de pilhagens. Colocou um punhado delas sobre a mesinha à minha frente. É pouco, disse-lhe com firmeza. Mergulhou ambas as mãos na arca, e pô-las sobre as primeiras. É o bastante. Ainda por muitas vezes lhe arranquei peças de valor. Logo que o notei farto de mim, entreguei-me aos outros marujos, a troco de ouro, que todos possuíam. Desembarquei em porto europeu, rica, e dediquei-me ao meretrício de alto luxo. Vejo-me agora reencarnada na França, na época do 1.o Império. Sou dama da corte. E, para obter honrarias, joias, luxo, prostitui-me não abertamente, mas entregando-me aos cortesãos que ser-vissem aos meus intentos. A terceira reencarnação foi em Portugal. Casei-me com um caixeiro modesto em pequena cidade portuguesa. Abandonei-o e transferi-me para Lisboa, onde montei casa de tolerância, desgraçan-do mocinhas ingênuas, e desencaminhando pais de família. Na minha quarta reencarnação, ainda em Portugal, não me sujeitando a uma pobreza digna, tão logo me emancipei, comercializei o meu corpo. E, por isso, a minha mãe finou-se de desgosto. Como cobra venenosa, atraía a mocidade da nobreza, sugando-lhe impiedosamente os haveres e até a honra, em luxuoso prostíbulo no Rio de Janeiro, no tempo do império. Na minha quinta reencarnação, no início do século XX, ainda no Rio, aos 14 anos já me envolvia no meretrício. De nada me adiantavam os intervalos de minhas reencarnações. Não dava ouvidos a Espíritos benévolos que me queriam afastar dessa vida imunda. Endurecida no vício, filiava-me a grupos de obsessores sexuais, e praticava desatinos vampirescos com encarnados que aceita-vam minhas sugestões. Até que engenheiros maternais decidiram aplicar-me a corrigenda cabível. Estudaram minucio-samente o meu passado, submeteram-me a rigoroso exame psíquico, e concluíram que só havia um remédio para mim, posto que amargo: reencarnar em corpo masculino, tantas vezes quantas as necessárias. A petição seguiu para instância superior e foi aprovada.

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E eu, mulher, Espírito essencialmente feminino, reencarnei-me em corpo de homem, no Rio de Janeiro, como quarto e último filho de um casal da classe média, remediados. Hoje sei dos motivos que teve este casal para me receber como filho; porém, não vem ao caso mencioná-lo. Bem cedo começaram os meus martírios. Eu adorava brincar com meninas, evitava os meninos. Na escola ouvia os ditérios dos colegas; e ao ir ao quadro dar a lição, a classe ria-se ante o meu andar feminil. Durante o recreio, escondia-me. Com a idade, mais se acentuou minha inclinação feminina: parava diante das vitrinas de modas e das de joias, e extasiava-me a admirar os vestidos, os sapatos, as meias, os colares, os brincos, os braceletes, tudo, enfim que pertences-se à toalete da mulher. Por vezes, ansiava ir à cabeleireira maquiar-me, e a custo reprimia-me. O meu pai não me aceitava; os meus irmãos detestavam-me e repeliam-me; a minha mãe, pobrezi-nha, era o meu único refúgio. Consolava-me, acariciava-me, infundia-me ânimo, abraçava-me. A solidão embrulhou-me no seu pesado manto. Certa vez, atraído por um homem, fui com ele ao seu apartamento. O horror, o nojo que isto me causou vós não podeis imaginar. Quis tornar-me seu amante; tive dificuldades em livrar-me dele. Para vós terdes uma ideia do meu suplício de Espírito feminino num corpo masculino, faço uma comparação: havia outrora um instrumento de tortura, que consistia numa caixa de ferro, mais ou menos no formato de um ser humano, em cu-ja porta, do lado de dentro, se engastavam punhais. O condenado era encaixado nessa caixa, e nela ficava por dias e dias à espera que o carrasco recebesse ordem de fechar a porta, quando era trespassado pelas lâminas. Todavia, raramente o corpo do condenado se amoldava à caixa; e en-tão os verdugos o ajustavam à força naquele aparelho, no qual com corpo horrivelmente com-primido, aguardava o fechar da porta, cessando o seu tormento. O condenado à tortura da másca-ra era mais feliz do que eu: o sofrimento dele durava poucos dias; o meu durou 68 anos, que se arrastaram como uma eternidade. Jamais me passou pela cabeça a ideia do suicídio, ou de me prostituir, felizmente. Aguentei fir-me o rojão, como se diz popularmente. Uma tarde, de volta a casa, um grupinho de estudantes vadios pôs-se a chacotear-me. Para fugir deles, entrei na primeira porta que vi aberta; subi pequena escada, e achei-me num vasto salão; muitas pessoas lá estavam; sentei-me entre elas. Era a Federação Espírita Brasileira. Explicaram-me e entendi que o acaso não existe, e o fato de ali entrar é porque por certo encontraria lenitivo. Passei a frequentar aquela casa, onde conquistei muitos amigos e amigas. Os passes e a água flu-idificada fizeram-me muito bem, e assim a minha solidão foi suavizada. Eu não trabalhava; tive vários empregos, mas na ocasião, o meu problema não era tolerado como hoje em dia (embora seja uma tolerância falsa e aparente) sendo despedido de todos. Quem sem-pre me socorria e socorreu foi a minha mãe, fornecendo-me algum dinheiro. Os meus irmãos ca-saram-se; os meus pais desencarnaram. Envelheci. Vivi penosamente de minguado benefício que me tocou por herança. Fui morar num telheiro, mal transformado em quarto, no fundo do quintal da casa de um dos meus irmãos, com ordem expressa de não me mostrar a visitas fossem quem fossem. Proibiram-me de ter intimidades com os meus sobrinhos. Mais tarde, recolheram-me a um asilo, onde desencarnei. Acordei, não sei depois de quanto tempo, em um quarto hospitalar. Tão logo me mexi na cama acorreu uma enfermeira gentil que me disse: - Tudo bem, minha irmã, não se impressione! - Irmã?... murmurei arregalando os olhos. Ela não me respondeu, mas ajeitou-me a coberta, sor-rindo. Hoje estou plenamente integrada nos meus predicados femininos. Regenerei-me. Faço parte do Grupo de Socorros das Servas de Maria Madalena, que se dedica ao reerguimento das infelizes que resvalam pelo abismo escuro da prostituição. (2) - Extraído do Boletim Eletrônico n.o 258 de 1997 do GEAE (Grupo de Estudos Avançados de Espiritismo). Esses dois depoimentos molduram muito bem o drama íntimo de muitos que vivem a prática se-xual com parceiros do mesmo sexo que o seu. Deveremos refletir sobre esse assunto, e tentar en-tender que, em sua grande maioria, eles vivenciam insuperável conflito interno. Percebemos que, como já foi evidenciado anteriormente, alguns casos não há escolha deliberada, os indivíduos são levados a essa pratica por fatores que fogem completamente ao seu controle.

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Conclusão Tentamos fazer um levantamento sobre o assunto em pauta, procurando dar, a você leitor, ins-trumentos para uma possível reavaliação do que poderia estar pensando sobre isso. Considerando que os Espíritos não tem sexo podemos concluir que o impulso sexual reside no próprio Espírito, sendo o corpo físico apenas o veículo de sua instrumentalização. Assim, não se-ria absurdo dizermos que ao reencarnar o Espírito traz dentro de si as duas polaridades sexuais, daí ser necessário rever conceitos sobre o homossexualismo entre os seres humanos. Apesar de que para muitos isso não ser natural, advogamos ser, pela razão de que podemos en-contrar esse tipo de comportamento entre os animais, embora suas causas possam ser absoluta-mente diferentes das que poderíamos atribuir aos seres humanos. O que defendemos é que se há essa ocorrência entre os animais não vemos porque taxar como perversão todos os casos de ho-mossexualismo que acontecem entre nós, os humanos. E definindo o que é natural é tudo aquilo em que não há trabalho ou intervenção do ser humano. Além desse significado o Aurélio ainda nos indica: inato, ingênito, congênito. Se uma pessoa já trás de nascença alguma tendência para a prática homossexual, por que então crucificá-lo, já que a própria natureza ou pela lei de causa e efeito ou pela do progresso, é a origem do seu problema? Há quem diga, que não devemos nos comparar aos animais, entretanto, em algumas situações não há como fugir dessa comparação. Os animais, comem, dormem, fazem sexo, e inúmeras ou-tras coisas que nós os humanos também fazemos, é por isso, que enxergamos isso como coisa da natureza. O que não significa dizer que os que assim se comportam não devam se esforçar para mudar, apenas não vemos nenhuma situação para se ter qualquer tipo de preconceito a pessoas que assim agem. Ana Paula Corradini, numa reportagem na Revista dos Curiosos, intitulada Eu quero é sexo!, co-loca a certa altura: O prazer homossexual Outro comportamento registrado entre os bonobos é o das relações homossexuais: as fêmeas adultas enroscam pernas e braços ao redor uma das outras e esfregam suas genitais, emitindo ru-ídos de contentamento. Os machos penduram-se em galhos e friccionam os pênis eretos. O lesbi-anismo já foi constatado em onze espécies, mas o homossexualismo não é só notado em prima-tas. Ele existe entre golfinhos, zebras, gaivotas, pinguins, felinos e até baleias. Muitos estudiosos afirmavam que isso só poderia acontecer em uma situação de confinamento, como entre dois pinguins machos que, por ventura, fossem colocados a sós em uma jaula no zoológico. No entan-to, a conduta ocorre também na natureza, mesmo em bandos em que há machos para todas as fêmeas e vice-versa. Ainda não existe um consenso para explicar o porquê dessa opção. “Os animais não se tornam homossexuais por falta de parceiros, mas pela alternativa de se obter pra-zer”, afirma Eduardo Cunha Farias. (...) O homossexualismo no reino animal passou a ser discu-tido mais abertamente após o lançamento do livro Biological Exuberance – Animal Homosexua-lity and Natural Diversity (Exuberância Biológica – Homossexualidade Animal e Diversidade Natural), do biólogo norte-americano Bruce Begamihl, em 1999. O autor descreveu casos de homossexualismo entre 450 espécies, em sua maioria mamíferos e aves. (p. 50) Está aí a comprovação desse acontecimento na natureza, o que, para nós, justifica a mudança de atitude em relação aos homossexuais que existem no nosso meio. Por outro lado, também gostaríamos de saber dos que alimentam preconceitos contra os homos-sexuais se também o teriam pelos heterossexuais que, em atividades sexuais viciosas, fazem sexo até mesmo com animais, fato que todos sabemos que acontece, mas fingimos de peixe morto. Muitos advogam que na pratica sexual tradicional entre um homem e mulher há troca de energi-as, para fazer disso uma arma conta as relações sexuais homossexuais. Não duvidamos que numa relação sexual há troca de energias entre o homem e a mulher, mas perguntamos: isso ocorre em todas as situações? Mesmo que um dos dois a pratique por prostituição? Será que poderia haver troca de energias, quando o casal, saindo dessa prática sexual tradicional, pratica o sexo oral e anal? E aqui, por acreditar que aquilo que podemos encontrar na natureza é perfeitamente natu-ral, afirmamos então, que: a prática do sexo oral e anal, entre os casais, como não a encontramos na natureza, obviamente, para nós, não se trata de uma coisa natural. Embora, também não va-mos dizer que seja imoral. Por outro lado, não poderia um homem viciar sua mulher na prática

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sexual anal de tal forma que na encarnação seguinte ela, mesmo habitando um corpo físico mas-culino, mantenha seu impulso sexual canalizado para essa zona erógena, agindo assim como ho-mossexual? Para demonstrar que nem todos discriminam, e que, graças a Deus, muitos não admitem esse preconceito, apenas buscam respeitar a opção pessoal de cada um, o que não significa, necessari-amente, concordar com tais práticas, fecharemos nossa pesquisa com a opinião de alguns desses autores: José Herculano Pires: “os casos de homossexualismo adquirido, não congênito ou constitucional, de classificação psiquiátrica, decorrem de fatores educacionais mal dirigidos ou de influências diversas, posteriores ao nascimento, que dão motivo à sintonia do paciente com Espíritos obses-sores vampirescos. O problema sexual é extremamente melindroso, pois tanto o homem quanto a mulher dispõem de tendências de ambos os sexos, podendo cair aos desvios provocados por ex-citação de após nascimento” (Mediunidade, p. 141). Drauzio Varella: “... O espectro da sexualidade humana é amplo e de alta complexidade, no en-tanto, vai dos heterossexuais empedernidos aos que não têm o mínimo interesse pelo sexo opos-to. Entre os dois extremos, em gradações variadas entre a hetero e a homossexualidade, oscilam os menos ortodoxos”. “Como o presente não nos faz crer que essa ordem natural vá se modificar, por que é tão difícil aceitarmos a riqueza da biodiversidade sexual de nossa espécie? Por que insistimos no precon-ceito contra um fato biológico inerente à condição humana?”. “Em contraposição ao comportamento adotado em sociedade, a sexualidade humana não é ques-tão de opção individual, como muitos gostariam que fosse, ela simplesmente se impões a cada um de nós. Simplesmente é!”. (www.drauziovarella.com.br) Chico Xavier: em resposta às perguntas: como encara o espiritismo o problema da homossexua-lidade? Qual a melhor atitude da sociedade frente a essa ocorrência? - “Acreditamos que o tempo e a compreensão humana traçarão normas sociais susceptíveis de tranquilizar quantos se vinculam a semelhante segmento da comunidade, assegurando-se-lhes a benção do trabalho com o respeito devido a todos os filhos de Deus (...) Até que isso se concreti-ze, não vejo qualquer motivo para críticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com os nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas”. “Em minhas noções de dignidade do Espírito, não consigo entender por que razão esse ou aquele preconceito social impedirá certo número de pessoas de trabalhar e de serem úteis à vida comu-nitária, unicamente pelo fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológi-cas diferentes da maioria. (...) Nunca vi mães e pais, conscientes da elevada missão que a Divina Providência lhes delega, desprezarem um filho porque haja nascido cego ou mutilado. Seria hu-mana e justa a nossa conduta em padrões de menosprezo e desconsideração, perante os nossos irmãos que nascem com dificuldades psicológicas?”. (www.espirito.org.br, texto de Luiz Almei-da intitulado: Homossexualidade). Hernani Guimarães de Andrade: O homossexualismo não deve, pois, ser classificado como uma psicopatia ou como um comportamento merecedor de discriminação ou medidas repressivas. O homossexual, especialmente o “transexual”, merece toda a nossa compreensão e ajuda, para que ele possa vencer sua luta de adaptação ao novo sexo adquirido com o renascimento. Alguns ho-mossexuais poderão ser reorientados, de maneira a se comportarem normalmente dentro dos pa-drões impostos pelo meio social. Entretanto, igual reorientação é necessária aos que se dizem normais para que se compenetrem da necessidade de respeitar e aceitar fraternalmente os homos-sexuais. (Espírito, Perispírito e Alma, pp. 228-229). Richard Simonetti: ao responder à questão: Ele [o homossexual] pode ser acolhido como colabo-rador do Centro Espírita, trabalhar como médium, por exemplo?, diz: Condenável qualquer dis-criminação. Não há porque vedar-lhe essa possibilidade, a não ser que esteja envolvido em rela-cionamento promíscuos. Essa mesma restrição estende-se ao heterossexual. A promiscuidade, herança das tendências à poligamia que ainda caracterizam o ser humano, inspirando o compor-tamento irresponsável, é incompatível com as atividades espirituais. (Reencarnação - tudo o que você precisa saber, p. 124).

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Divaldo Pereira Franco, psicografando Joana de Angelis diz: Outro fator que merece análise é o da identidade sexual. Há jovens que logo definem e aceitam a sua natureza essencial, masculina ou feminina. Nessa oportunidade surgem os conflitos mais fortes do transexualismo e do homos-sexualismo, alguns deles como resultado de fatores genéticos, trabalhados pelo Espírito na cons-tituição do corpo através da reencarnação, que se utilizou do perispírito para a modelagem da forma orgânica, outros como efeito da conduta familiar ou social, e, outros mais, ainda, pela ne-cessidade de ser trabalhada a sexualidade como diretriz preponderante para a aquisição de recur-sos mais elevados e difíceis de conquistados. Quando essa identidade sexual é prematura, o adolescente sofre de um efeito apenas biológico, sem preparação psicológica para o comportamento algo estressante. Quando atrasada, reações igualmente psicológicas podem levar a uma hostilidade ao próprio corpo como ao dos outros. A identificação sexual do indivíduo equilibrado faz-se definir quando se harmonizam a expres-são biológica – anatômica – com a psicológica, expressando-se de forma natural e progressiva, sem os choques da incerteza ou da incapacidade comportamental diante da realidade do fenôme-no sexual. (Adolescência e Vida, Divaldo P. Franco, pp. 70-71). J. Raul Teixeira, psicografando Camilo: Provenientes dos recônditos do Espírito, onde se alocam reminiscências de desrespeito e de crimes hediondos, cometidos contra as leis morais que são presentes nas consciências humanas, ou, por outro lado, decorrentes de processos educacionais deletérios que se apoiaram em inclinações morais deficitárias, ainda não suficientemente amadu-recidas para a verdadeira liberdade, os dramas homossexuais têm lugar na intimidade das criatu-ras, largamente. Motivados, ainda, por terríveis programas obsessivos, que antigos inimigos desencarnados en-gendram por vingança ou, ainda, decorrentes de perturbações psiquiátricas não devidamente di-agnosticadas, explodem quadros homossexuais, aqui e acolá. A situação vem se tornando tão comum que, ao largo do tempo, vem sendo admitida como ter-ceiro sexo ou como opção normal daqueles que assim almejam viver. Desembocam no estuário dos conflitos da homossexualidade infindáveis gravames assinalados nos arquivos extra-cerebrais, provenientes de passadas reencarnações, quando o abuso do próprio corpo e dos corpos alheios, a agressão à própria constituição emocional e às constituições alheias determinaram os torturantes quadros de agora, na esfera da sexualidade. Ninguém suponha que tais conflitos não se estendam do mesmo modo, nas esferas heterossexu-ais, uma vez que os Espíritos que se movimentam sobre a Terra, com poucas exceções, carregam complexos problemas na área sexual, carecendo reestruturar-se, renovar-se, a fim de valorizar tão sublime fonte de estesias que a Divindade ensejou as Suas criaturas com o objetivo feliz, na cooperação junto à obra Universal. O fenômeno homossexualismo, em si mesmo, impõe aos que por ele estão assinalados, um regi-me de imperiosas disciplinas em sentido amplo, capazes de ensejar ao Espírito, se atendidas, bênção de venturas crescentes a projetarem luzes de paz, de harmonia para o amanhã. Quem disse que será crime ou pecado que um homem a outro homem ame? Onde a condenação para o amor e o afeto entre as mulheres? O amor, devidamente compreendido, é a energia que nos diviniza, é o traço que nos liga ao Cria-dor, impulsionando-nos a espalhar a Sua vontade pelo Universo. Não cogitamos aqui desse arremedo de amor com que o vulgo resolveu apelidar as práticas car-nais do sexo, mas cogitamos desse Amor que é o próprio Deus, que faz com que na sexualidade a criatura humana se torne cocriadora com o seu Criador, O drama que se instala nas vidas terrenas é que não estão aptos aos indivíduos a vivenciarem o Amor que sensibiliza o Espírito, que imprime sentimentos de renúncias felizes, que enleva, que renova, forjando saúde e plasmando vida plena. Amar jamais será desaconselhável seja entre quem for. Não obstante, o homossexual não neces-sitará mergulhar nos pântanos da pederastia, tampouco as homossexuais carecerão perder-se nos viscos do lesbianismo, nas voragens da relação carnal. Se um companheiro ou uma companheira percebe em si as inclinações homossexuais, que procu-re identificar nisso os gritos da expiação, induzindo à educação para que a vida seja vitoriosa.

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O amor, o entendimento, a prestação de serviços, a comunhão idealística, tudo isso contribuirá para a gradativa liberdade do ser. (Educação e Vivências, J. Raul Teixeira, pp. 73-75). (grifos do original). Chico Xavier, psicografando André Luiz: (...) Empenhou-se a repetir que na Crosta Planetária os temais sexuais são levados em conta, na base dos sinais físicos que diferenciam o homem da mu-lher e vice-versa; no entanto, ponderou que isso não define a realidade integral, porquanto, re-gendo esses marcos, permanece um Espírito imortal, com idade às vezes multimilenária, encer-rando consigo a soma de experiências complexas, o que obriga a própria Ciência terrena a pro-clamar, presentemente, que masculinidade e feminilidade totais são inexistentes na personalidade humana, do ponto de vista psicológico. homens e mulheres, em Espírito, apresentam certa per-centagem mais ou menos elevada de característicos viris ou feminis em cada indivíduo, o que não assegura possibilidade de comportamento íntimo normal para todos, segundo a conceituação de normalidade que a maioria dos seres humanos estabeleceu para o meio social. Tendo Neves formulado consulta sobre os homossexuais, Félix demonstrou que inúmeros Espíri-tos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, que exigem duras disciplinas por parte daqueles que as solicitam ou que as aceitam. Referiu ainda que homens e mulheres podem nascer homossexuais ou intersexos, como são suscetíveis de retomar o veículo físico na condição de mutilados ou inibidos em certos cam-pos de manifestação, aditando que o Espírito reencarna, nessa ou naquela circunstância, para me-lhorar e aperfeiçoar-se e nunca sob a destinação do mal, o que nos constrange a reconhecer que os delitos, sejam quais sejam, em quaisquer posições, correm por nossa conta. À vista disso, des-tacou que nos foros da Justiça Divina, em todos os distritos da Espiritualidade Superior, as per-sonalidades humanas tachadas por anormais são consideradas tão carentes de proteção quanto as outras que desfrutam a existência garantida pelas regalias da normalidade, segundo a opinião dos seres humanos, observando-se que as faltas cometidas pelas pessoas de psiquismo julgado anor-mal são examinadas no mesmo critério aplicado às culpas de pessoas tidas por normais, notando-se, ainda, que em muitos casos, os desatinos das pessoas supostas normais são consideravelmen-te agravados, por menos justificáveis perante acomodações e primazias que usufruem, no clima estável da maioria. E à ligeira pergunta que arrisquei sobre preceitos e preconceitos vigentes na Terra, no que tange ao assunto, Félix ponderou, respeitoso, que os seres humanos não podem efetivamente alterar, de chofre, as leis morais em que se regem, sob pena de precipitar a Humanidade na dissolução, en-tendendo-se que os Espíritos ainda ignorantes ou animalizados, por enquanto em maioria no seio de todas as nações terrestres, estão invariavelmente decididos a usurpar liberalidades prematuras para converter os valores sublimes do amor em criminalidade e devassidão. Acrescentou, no en-tanto, que no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignida-de humana, reparando-se as injustiças assacadas, há séculos, contra aqueles que renascem so-frendo particularidades anômalas, porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade humana lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à exis-tência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir incessan-temente para viver, sob o Sol que a Bondade Divina acendeu em benefício de todos. (Sexo e Destino, Chico Xavier, pp. 272-274) Poderemos ainda deixar para uma reflexão individual, a ser feita por cada um de nós, o seguinte: Suponhamos que vivêssemos num país onde, por determinação superior, tivéssemos que, por um longo tempo, abrigar em nossa casa uma pessoa, cuja escolha poderíamos fazer entre duas que nos seriam indicadas. Apresentam-nos, então, para essa escolha, um assassino psicopata e um homossexual. Perguntamos: qual dos dois você escolheria para viver sob seu teto durante o tem-po estabelecido? Suponhamos, também, que tivéssemos uma criança pequena que demonstrasse tendências ho-mossexuais, cuja causa poderia ser a viciação por outras pessoas mais velhas, como por exemplo, o uso indiscriminado de supositórios como medicamento para problemas de “ar preso”, que veio despertar nela o prazer na região anal, o quê faríamos diante dessa realidade?

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Suponhamos, ainda, que entre os nossos filhos atuais ou que viéssemos a ter no futuro, houvesse um deles, com a idade de 18 anos, que, por alguma razão que desconhecemos, resolve, durante a festa de seu aniversário, assumir publicamente diante de todos os convidados sua homossexuali-dade. Qual seria a nossa atitude diante deste bombástico fato? Iríamos tratar esse filho com o mesmo preconceito que temos para com os que não se ligam a nós pelos laços da consanguinida-de? Assunto abordado pelo Dr. Roberto Lúcio, com o qual plenamente concordamos, é que, em al-gumas situações, a causa da homossexualidade poderia ser por indução psíquica dos próprios pais, quando desejando ardentemente que o seu futuro rebento seja de um sexo diferente daquele que a vontade de Deus determinou, acabam implantando no psiquismo desse feto o desejo de seus pais. Após nascer poderá, consciente ou inconscientemente, agir para realizar tal desejo, passando a ser apenas na esfera psíquica a criança cujo sexo foi objeto do sonho dos pais. Somente quando nos colocamos na mesma situação do outro é que poderemos avaliar o que ele poderia estar passando, daí a razão de colocarmos essas situações para a nossa reflexão, esperan-do que cada um possa ter a capacidade de considerar tais hipóteses, na expectativa de, se for o caso, mudar seu pensamento diante da homossexualidade dos que jornadeiam conosco em busca da própria evolução moral e espiritual. Oportuno não esquecermos de que “... nenhuma coisa é de si mesmo imunda senão para aquele que a tem por imunda, para este é imunda”. (Rm 14,14). O texto já estava por nós encerrado, mas um amigo após analisá-lo pediu ao seu guia para opinar sobre esse assunto. Essa mensagem, novíssima, vem arrematar tudo o que já foi dito, quanto ao preconceito, que, com a permissão dele, estamos incluindo agora ao final. O nosso amigo advogado Raimundo de Moura Rego Filho, médium, espírita atuante na cidade do Rio de Janeiro, nos envia, por e-mail, o seguinte: Hermes, por sentir-te por perto penso que me poderias dar um esclarecimento sobre o tema que hora estudo e do qual, preciso dar uma opinião ao autor da matéria de estudo. Seria possível que me explicasses sobre as causas do homossexualismo? Estariam essas causas ligadas à reencarnação, com elemento fulcro, desse acometimento? Responde Hermes: Amado meu: Temas como este, tão discutidos e por vezes tão insistentemente associados somente aos nossos quereres ou visões mais íntimas, têm mais das vezes, afastado irmãos de ideal espírita não só da Casa Espírita, mas de todo o entendimento que, haurido da doutrina Espírita, poderia ajudar a que eles fossem mais bem compreendidos, e por isso mesmo, tratados com mais respeito, amor e tolerância. O mais importante em qualquer caso, querido, é o entendimento fraterno do problema, e a recon-dução do paciente adoecido, ao caminho do recomeço. Ora, o que se vê, é a tônica da intolerância, do desrespeito, e por vezes os ataques e achaques mal intencionados, oriundos das assertivas, sempre baseadas no desconhecimento doutrinário, ou re-forçadas pelo preconceito para com essas pessoas. São nossos irmãos em Cristo, são também eles, o nosso elemento de melhora e ascensão espiritual, ao sabermos com eles conversar, de modo doutrinário, correto e adeso às Leis do amor, da Caridade e do Progresso. Sem esses ele-mentos, não se reeduca, não se ensina, em suma não se faz Espiritismo. Quantos já não terão sentido o gosto do amargo fel do desprezo, o escárnio, as palavras duras com que muitos se manifestam e lhes dirigem? Quanta dor, sofrimento e humilhação, já não haverão de ter passado? Estes, também, são nossos irmãos, meu filho. Se voltarmos olhos ao episódio da “adúltera”, encontraremos não a condenação do Rabi, mas o julgamento sensato e amoroso que a indicou o caminho da regeneração. Tal é assim para com esse caso em específico. Remeter-se o ser humano de hoje, ainda cheio de preconceitos, (e isso dos dois lados), aqueles que querem descobrir tão somente as causas, sem atacar os irmãos em provação, e daqueles por quem chegam as palavras mais duras, mais distan-tes, tanto do conhecimento sobre o tema, quanto da formação doutrinária, descambando para os apupos e para os acicates, brandindo seus chicotes idiomáticos como se estivessem isentos de er-ros, a tema tão importante e tão controverso, seria pedir não a descoberta do remédio, mas que se

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estabelecesse a discórdia afastante, o cisma, a cizânia, todos os desvarios a que a pouca moral humana possa encaminhar alguns irmãos, por vezes em maior desalinho do que o próprio Ho-mossexual. Como se os Heteros formassem a nação dos eleitos, dos corretos e dos infalíveis, quanta empáfia, quanto desamor. Notas como o Evangelho, bem estudado e conhecido faz falta a essas pessoas? Por não terem alteados os patamares morais, a ponto de entenderem o Evangelho, não entendem as premissas da doutrina Espírita. Por não se reconfigurarem, persistindo também, nas próprias mazelas morais que já lhe são de conhecimento, tornam-se míopes aos ensinos que a própria doutrina oferece, e que lhes indicaria o caminho para a resposta que, ao que nos é permitido saber e dizer distaria, ainda para um pró-ximo período reencarnatório, este já sob outra vibração, mais sutil e elevada, remetendo os ideais do Amor Crístico e da Fraternidade, à maior celeridade no cumprimento da Lei do Progresso. Faze, então, teus amigos e tu mesmo, da experiência transitória nesta existência, caminho para um aprendizado mais amplo e dignificante ao Espírito, para que no porvir, possam todos ajudar, sob o olhar do Cristo, a todos os doentes, da alma e do Corpo. Até lá, amado meu, ora por eles, por estes nossos irmãos que tanto sofrem escondidamente, não os diminuam ou discriminem, esclareçam! Posto que já sofrem deveras, neste período de dor sob o qual passam suas existências, no hoje. Amor e Paz, Hermes. Rio, 14 de outubro de 2004. Paulo da Silva Neto Sobrinho Referências Bibliográficas: ANDREA, J. Forças Sexuais da Alma. Rio de Janeiro: FEB, 1991. ANDRADE, H.G., Espírito, Perispírito e Alma. São Paulo: Pensamento, 1984. _____________, Você e a Reencarnação. Bauru SP: CEAC, 2002. BERNARDI, R.G. Gestação sublime intercâmbio. Londrina PR: Universalista, 1993. CORRADINI, A.P., in Eu quero é sexo!, Revista dos Curiosos, nº 14. São Paulo: Europa, abril 2003. KARDEC, A., in As Mulheres têm uma Alma?, Revista Espírita 1866. Araras SP: IDE, 1993. MARTINS, C. Sexo, amor &Educação. Rio de Janeiro: EME, 1993. PINHEIRO, L. G. Temas Espíritas Empolgantes, Capivari SP: EME, 1997. PIRES, J.H. Mediunidade: vida e comunicação. São Paulo: Edicel, 1987. SIMONETTI, R. Reencarnação – tudo o que você precisa saber. Bauru SP: CEAC, 2001. SOUZA, R. L. V., in A Visão Espírita da Homossexualidade, Revista Cristã de Espiritismo n° 19. São Paulo: Escala, (2003?). ZIMMERMANN JR, F., in A homossexualidade e as nossas atitudes, Revista Universo Espírita, nº 2. São Paulo: Universo, abril 2003. XAVIER, C. Sexo e Destino. Rio de Janeiro: FEB, 1987. ________. Ação e Reação. Rio de Janeiro: FEB, 1987. ALMEIDA, L. Homossexualidade. www.espirito.org.br/portal/artigos/fep/homossexualidade.html, acesso em 05.10.2004. VARELLA, D., Homossexualidade. www.daruziovarella.com.br/artigos/homossexualidade.asp, acesso em 05.10.2004. --------------------------------------------------------------- 60 ------------------------------------------------ A IDADE DO ESPÍRITO E SUA IMPORTÂNCIA NA VIDA SOCIAL Raul Franzolin Neto O espiritismo como doutrina filosófica só tem sentido de existir para gerar grandes avanços na reforma íntima dos indivíduos e, consequentemente, na melhor convivência dos seres humanos em sociedade.

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O ser humano para viver melhor certamente deve buscar os conhecimentos necessários que en-volvem a vida como um todo. Para se jogar bem xadrez, por exemplo, devemos primeiramente conhecer as suas regras e em seguida aprender a jogar e com o exercício da prática ir melhorando a cada nova jogada. O estudo é essencial para traçar as estratégias imediatas, raciocinando a cada nova jogada. Grandes lances são feitos em uma jogada onde várias outras possibilidades futuras já foram planejadas. Um deslize com uma jogada precipitada e mal planejada, pode significar enorme esforço do jogador para corrigir o erro e colocar-se em vantagem novamente. Muitas ve-zes a partida pode ter sido definida numa jogada não raciocinada. Evidentemente um leigo que desejasse jogar com um profissional não teria a menor chance de vencê-lo. Mas se essa for a vontade dele, começará a seguir as etapas iniciais e passando a praticar com intensidade, após muito planejamento e raciocínio, ele mesmo poderá jogar de igual para igual com aquela mesma pessoa ou mesmo vencê-la. Tudo depende da dedicação e do esforço de cada um na arte de cum-prir uma tarefa. Conhecendo que a evolução espiritual é eterna e perfeita como todas as Leis Divinas, nada é im-possível. Não importa se uma determinada tarefa foge da nossa capacidade de solucioná-la no momento, pois poderemos fazê-la ainda melhor no futuro, mas outras estão disponíveis ao nosso alcance. Somente com o conhecimento das regras a que estamos sujeitos é possível desenvolver uma vida mais saudável e harmoniosa. Para isso é fundamental o desenvolvimento criterioso da razão, sem cautelas, preconceitos e fanatismo. O espiritismo é capaz de nos colocar no caminho do raciocínio constante, em cada passo que damos na vida, e aprender com os exemplos do dia a dia com base nos ensinamentos que adquirimos do plano espiritual. O fundamental de tudo é ter confiança no futuro de que a vida é eterna e continuamente fruto do trabalho constante através das reencarnações e aprimoramento espiritual. Uma das regras fundamentais da evolução espiritual que cada um deve ter consciência é o respei-to entre as pessoas, ou melhor, respeito ao Espírito. Quando falamos pessoas, imediatamente, distribuímos diferenças existentes entre elas, sejam pelas classes sociais, raciais, locais de resi-dências regionais, idades (crianças, jovens, adultos, velhos, etc.) e outras. Mas se falarmos em Espírito, não poderemos identificar essas diferenças observadas no momento, pois envolve várias reencarnações e outras formas de vida que ele pode ter passado. Hábitos de convivências em família, sociedades, países, etc. são difíceis de serem analisados, pois os Espíritos estão fortemente sujeitos às suas influências. Porém tudo isso também faz parte do estado natural das coisas. As evoluções dos Espíritos são independentes e sempre existirão Espíritos que não concordam com o tipo de vida que levam nas sociedades. Conflitos são obser-vados de todos os tipos e diferentes maneiras. A relação de respeito entre as pessoas promove marcas duradouras no Espírito. Uma das fases marcantes na vida do Espírito encarnado é a fase que chamamos de adaptação do Espírito reen-carnante no planeta, ou seja, a fase da infância. As crianças muitas vezes são tratadas com total desrespeito pelos jovens, adultos e velhos e negligenciadas como se fossem pessoas isentas de direitos morais na sociedade. É comum verificarmos o desprezo da sociedade como um todo pe-las crianças em qualquer atividade que ela possa desenvolver. Quando uma criança, por exem-plo, entra numa casa comercial para comprar uma mercadoria, embora esteja com pouca idade de vida e mesmo com o dinheiro suficiente fornecido pelos pais, via de regra, o atendente não lhe dá atenção e é comum vermos as outras pessoas passarem na sua frente no caso de uma fila. Muitos ainda dizem: “sai para lá garoto!”. Certamente se os pais virem a cena não irão gostar, pois aprendem a amar seus filhos e veem o grande potencial que existe dentro deles. Outro caso é o desprezo que ocorre com os velhos e muito embora muitas pessoas dizem respeitá-los, não é isso que muitas vezes ocorre. No fundo o adulto se julga o auge da evolução do Espírito. A inocência da criança e a falta de agilidade do velho são desconsideradas. Estamos falando em vida em sociedade e isso não ocorre com muitas pessoas, pois sabemos que isso depende do grau de evolução de cada um. Não podemos de maneira alguma conhecer a rea-lidade de cada Espírito encarnado, pois desconhecemos a suas várias reencarnações anteriores e o tempo vivido no próprio plano espiritual. Podemos sim perceber pelos indicativos de evolução espiritual o possível ponto evolutivo da criança. Dessa forma, a criança de agora poderá ser mui-to mais velha em idade real que um velho agora e ser muito mais evoluída. Isso é apenas uma

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questão da necessidade reencarnatória individual e, portanto, de quanto tempo e quando se vai reencarnar. A idade do indivíduo de hoje fica assim, completamente desnecessária e inútil em se tratando da importância para a vida real. Cada um deverá sentir o seu melhor desempenho com o avanço de sua idade terrena. Uns gostam e relembram com saudades o seu tempo bem vivido na infância, ou na adolescência, na fase adulta. Muita gente tem pavor do envelhecimento e tudo fa-zem para manter-se na idade que mais apreciam. Inegavelmente todas as fases são importantes para o Espírito encarnado e a cada uma delas as dificuldades devem ser superadas da melhor maneira possível. Na Terra é assim, em outros planetas as características da reencarnação podem ser completamente diferentes. Em cada fase de nossa vida marcamos os sentimentos positivos e negativos vividos. O desrespei-to é um dos sentimentos mais marcantes. Já mesmo encarnados é possível com pequeno esforço mental lembrar-se de fatos negativos marcantes em nossa infância e o causador do desrespeito está em nossa mente e é um problema evolutivo a ser solucionado. A vaidade está também ligada ao desrespeito e a todos os outros sentimentos negativos do ser humano. Às vezes uma professo-ra ou professor, por exemplo, não trabalha com os sentimentos nobres de amor, respeito, paciên-cia, etc. A criança passa por traumas e não se sente feliz, quando por ventura torna-se famosa, a professora diz com orgulho: “Eu fui sua professora, lembra-se?”. É preciso definitivamente compreender que cada ser tem suas características evolutivas marcan-tes que formam a sua personalidade ao longo do tempo. Não há explicação coerente e racional na formação de dois indivíduos nascidos e criados na mesma família, portanto, no mesmo ambiente, obtendo dos pais os mesmos tratamentos e amor, e serem completamente diferentes em persona-lidades. A assimilação pela criança dos conceitos oferecidos pelos pais ou por qualquer pessoa depende inexoravelmente do seu grau evolutivo. Afinidades, antipatias ou nenhum desses são importantes na aceitação ou na negação naturais das práticas do comportamento humano. Acei-tação ou negação naturais significam não aquelas em que são impostas pela força e desarmonia. Vamos burilando nosso Espírito, ou nossa personalidade, lentamente, dia após dia, encarnação após encarnação e devemos ter isso em mente para podermos compreender as relações humanas. Que maravilha é a felicidade de uma mãe ou pai ao ter uma grande afinidade com seu filho ou fi-lha! Há uma compaixão e compreensão mútua, crescimento, progresso e alegrias. Mas o grande desafio se faz em desenvolver uma vida produtiva em relações de antipatias ou baixas afinidades. Não estamos no momento discutindo sobre a melhor maneira de educar os filhos. Essa é uma área de grande interesse e deve ser estudada com muita dedicação e seriedade tendo em vista to-das as características envolvidas no processo da reencarnação e da evolução espiritual. Mas o respeito à vida individual de cada ser em todas as suas fases do desenvolvimento deve ser o nos-so objetivo primordial rumo a felicidade eterna. ----------------------------------------------------------- 61 ---------------------------------------------------- LIGAÇÃO É DURANTE A CONCEPÇÃO Orson Peter Carrara É um grande equívoco a decisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal conceder liminar para a realização de aborto em crianças anencéfalas (sem cérebro). Os argumentos apresentados, in-clusive pela mídia, alegam principalmente que aquela vida não tem qualquer perspectiva e que no máximo durará algumas horas ou poucos dias. E mesmo os médicos afirmam que não há ne-nhum precedente no histórico médico. Cem por cento dos casos levam à morte do recém-nascido. Tudo bem. Ninguém discorda da Medicina, como também não desrespeitamos a opinião de quem quer que seja. Ocorre, porém, que esquecem os defensores do aborto de fetos anencéfa-los, que há uma vida ali e não temos o direito de matar. Essa decisão não é de nossa alçada. A ligação do Espírito com o feto ocorre no momento da concepção, este o maior detalhe. E, por outro lado, é durante o período da gravidez que o fenômeno biológico da reprodução reequilibra Espíritos que muito se comprometeram e necessitam agora daquele período aparentemente inútil para repararem estragos ocasionados a si mesmos. Esses casos de anencefalia tem utilidade tanto

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para os pais como para os próprios protagonistas que ali estão, aguardando um nascimento que redundará em morte. O assunto é mais vasto do que parece e não pode ser tratado com indiferença por médicos, pais e mães ou pela mídia. Quando não conhecemos o assunto por completo; quando desconhecemos as causas que deter-minam ocorrências que nos desafiam, é melhor aprofundar a questão ou optar por respeito às leis da natureza, ao invés de simplesmente matar... Ainda que por força de lei. O mesmo raciocínio aplica-se à eutanásia. É outro equívoco. Não nos pertence o direito de tirar a vida. É óbvio que em muitos casos de opção médica entre sacrificar a mãe ou o feto, a decisão da Medicina deve ser respeitada. Mas conhecemos o limite da vida? Nossas leis são imperfeitas, mutáveis. Nossos conceitos também. A vida é patrimônio inviolável. A liberação do aborto por anencefalia é um retrocesso na legisla-ção brasileira, um equívoco de grandes proporções. Impossível ficar calado. ------------------------------------------------------------ 62 --------------------------------------------------- MENTES SUPERDOTADAS José Geraldo Carvalho Na grande e próspera Siracusa, antiga cidade grega na Sicília, o sábio Arquimedes cria bases de uma incrível revolução científica. Desenvolve a matemática e descobre como utilizar as leis da física em benefício da cidadania. Suas invenções de guerra protegem seu povo contra invasões das tropas inimigas. O francês Blaise Pascal, cientista, escritor e filósofo, surpreende os seres humanos de seu tempo ao construir a primeira calculadora mecânica e ao enxergar, no distante futuro, a revolução dos computadores. Albert Einstein, famoso físico e matemático alemão, criador da teoria da relatividade, revolucio-nou o conhecimento científico no início do século vinte e era portador de uma inteligência extra-ordinária. Seu cérebro, conservado, é até hoje estudado pelos maiores nomes na área neurológica de nosso tempo. O grande Mozart, aos dois anos de idade tocou violino, aos quatro escreveu sua primeira sonata e aos sete sua primeira ópera. Para não citar casos mais recentes, como o coreano Kim Ong Dyongh, que segundo, Paulo Dal-tro de Oliveira, autor do livro “A Luz Dissipa as Trevas”, em 1962, aos dois meses de idade co-meçou a falar, aos quatro meses andou, aos sete escrevia, aos nove publicou um livro de poemas, aos seis anos ingressou na Universidade de Seul e aos dez anos recebeu o título de doutor “Ho-noris causa” em química e hoje, é um notável matemático especializado em cálculo diferencial e espacial. Qual a causa de mentes tão privilegiadas, em detrimento de bilhões de outras que ante estes cé-rebros parecem pertencer a um mundo primitivo? Diriam uns que seriam o número de neurônios, mas a ciência nos mostra que temos todos cerca de 100 bilhões deles, inclusive os superdotados. A diferença de uma pessoa comum e outra superdotada, estaria não no número de neurônios, mas na capacidade e na complexidade das conexões cerebrais, chamadas “sinapses”. Sabemos que uma pessoa estimulada no desenvolvimento de sua inteligência, desde a infância apresenta melhores condições de raciocínio. O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IB-GE), estima que 1 % da população escolar (algo em torno de 380.000 crianças), seriam superdo-tadas. Em geral, apresentam dons específicos para matemática, música ou idiomas estrangeiros. A cri-ança aprende rápido a ler, chama a atenção pela capacidade de argumentação, pela memória ex-cepcional, pela atenção e pela curiosidade incomuns e raciocínio ágil, que são características marcantes destas mentes. Diríamos então que Deus em sua infinita justiça teria errado ao produzir estes seres tão capacita-dos, impedindo a maioria de seus filhos possuir mentes evoluídas levando-se em conta a condi-ção humana. Somente o Espiritismo poderia lançar luzes sobre esta questão.

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Kardec, no livro “A Gênese”, nos diz o seguinte sobre os seres humanos de gênio: “... Perten-cem, realmente, à Humanidade, uma vez que nascem, vivem e morrem como nós. Onde, pois, haurem esses conhecimentos que não puderam adquirir em sua vida? Dir-se-á, como os materia-listas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade, e de melhor quantidade?... A única solução racional desse problema está na preexistência do Espírito e na pluralidade das existências. O ser humano de gênio é um Espírito que viveu por mais tempo; que por consequên-cia, mais adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos avançados. Em se encarnan-do traz o que sabe, e, como sabe muito mais do que os outros sem ter necessidade de aprender, é o que se chama um ser humano de gênio. Mas o que sabe não deixa de ser fruto de um trabalho anterior, e não o resultado de um privilégio...”. Muitos poderão, a esta altura, estar perguntando-se sobre aquelas inteligências que acabam le-vando destruição e sofrimento à humanidade, e que nós conhecemos ao longo de nossa história. Gostaríamos de esclarecer que, pelo que entendemos, Kardec chama de “ser humano de gênio”, aquele que, quando encarnado, é provido de facilidades no raciocínio, ou seja, o organismo não oferece tanta resistência às aptidões anteriores e que se volta para a descoberta de algo que faça avançar a humanidade. Enfim, pelo que podemos deduzir, se somente no Brasil existem tantos Espíritos com caracterís-ticas de um superdotado, talvez um investimento maciço em educação, por parte de toda socie-dade constituída, proporcionaria, ainda nesta encarnação, divisarmos o limiar do mundo de rege-neração tão comentado por nós espíritas. Permitindo que mentes com experiências, se manifes-tem em nosso meio, estaríamos no mínimo mostrando a nós mesmos que estamos começando a descer do pedestal que montamos ao longo de nossa caminhada evolutiva, baseados sobre a areia do tempo. ------------------------------------------------------------ 63 --------------------------------------------------- A MORTE DO DEMÔNIO E A DESTRUIÇÃO DO INFERNO ETERNO Rogério Coelho “(...) Deus não criou seres tendo por destino permanecerem votados perpetuamente ao mal”. - Luís Segundo ensina Luís , não existem Espíritos que nunca se arrependem da prática do mal: Há os de arrependimento tardio. Portanto, pretender-se que nunca melhorarão fora negar a Lei do Progresso e dizer que a criança não pode tornar-se adulto. Deus criou os Espíritos simples e ignorantes, tendo todos, no entanto, que progredir em tempo mais ou menos longo, conforme decorrer da vontade de cada um no uso amplo, irrestrito e into-cável do próprio livre-arbítrio. INFERNO E PENAS ETERNAS NUNCA EXISTIRAM “Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, mo-tivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus?” - Agostinho Aprendemos com Agostinho: “(...) Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem-fim, sem esperan-ças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante ideia? Que os antigos te-nham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ig-norância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos seres humanos. Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a miseri-córdia, o esquecimento das ofensas. Poderia Ele carecer das qualidades, cuja posse prescreve, como um dever, às Suas criaturas? Não haverá contradição em se Lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis que, acima de tudo, Ele é justo e que o ser humano não Lhe compreende a justiça. Mas, a justiça não exclui a bondade e Ele não seria bom, se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das Suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para seus filhos, se lhes não desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a dura-ção das penas dependa dos esforços do culpado não está toda a sublimidade da Justiça unida à

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bondade? Aí é que se encontra a verdade desta sentença: “A cada um será dado segundo as suas obras”. (Mt., 16:27.) Aduz Lammenais: “(...) Aplicai-vos, por todos os meios ao vosso alcance, em combater, em aniquilar a ideia da eternidade das penas, ideia blasfematória da justiça e da bondade de Deus, gérmen fecundo da incredulidade, do materialismo e da indiferença que invadiram as massas humanas, desde que as inteligências começaram a desenvolver-se. O Espírito, prestes a esclarecer-se, ou mesmo apenas desbastado, logo lhe apreendeu a monstruosa injustiça. Sua razão a repele e, então, raro é que não englobe no mesmo repúdio a pena que o revolta e o Deus a quem a atribui. Daí os males sem conto que hão desabado sobre vós e aos quais vimos trazer remédio. Muito embora, segundo os Evangelistas e tomadas ao pé da letra as palavras emblemáticas do Cristo, Ele tenha ameaçado os culpados com um fogo que se não extingue, com um fogo eterno, absolutamente nada se encontra nas suas palavras capaz de provar que os haja condenado eter-namente”. Completa Platão: “(...) Eternidade dos castigos!... Ignorais então que o que hoje entendeis por “eternidade” não é o que os antigos entendiam e designavam por esse termo? Consulte o teólogo as fontes e lá desco-brirá, como todos vós, que o texto hebreu não atribuía esta significação ao vocábulo que os gre-gos, os latinos e os modernos traduziram por penas sem-fim, irremissíveis. Eternidade dos castigos corresponde à eternidade do mal. Sim, enquanto existir o mal entre os seres humanos, os castigos subsistirão. Importa que os textos sagrados se interpretem no sentido relativo. A eternidade das penas é, pois, relativa e não absoluta. Chegue o dia em que todos os seres humanos, pelo arrependimento, se revistam da túnica da inocência e desde esse dia deixará de haver gemidos e ranger de dentes. Humanidade! Humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo. -------------------------------------------------------------- 64 ------------------------------------------------- NATURAL OU INTELECTUAL? Orson Peter Carrara Tomás de Aquino (1225-1274), filósofo e teólogo italiano, é considerado a figura mais importan-te da filosofia escolástica e um dos teólogos mais notáveis do Catolicismo. Sua obra é um dos grandes momentos da história da filosofia; foi canonizado pelo Papa João XXII, em 1323. Poste-riormente, em 1567, o Papa Pio V proclamou-o Doutor da Igreja. Pois entre os pensamentos do grande Tomás de Aquino, figura a ideia que ele qualificou de Amor Natural e Amor Intelectual, para definir e estudar o Amor. Essa divisão em dois pontos, segundo o filósofo, surge no primeiro caso, do amor natural, da ca-pacidade inata de todo ser humano na busca do afeto, na tendência ou aptidão natural na conquis-ta do amor. Já no caso do amor intelectual, a questão se volta para a vontade de amar, para o que-rer ir em busca do amor. Notem a diferença: no primeiro caso, aptidão natural; no segundo, a ini-ciativa de ir em busca. A aptidão natural já está no ser. No desejo e vontade, que requer a iniciativa e esforço, a situação é outra. Ocorre que na aptidão natural pode haver acomodação, preguiça; no segundo caso, por-que intelectual, há movimentação de ideias e forças para alcance do objetivo. O amor, por sua vez, confundido em todas as épocas com visões distintas (a depender do estágio moral e intelectual em que se coloca a pessoa), transcende o aspecto sensual, físico, de aparência, de tempo, espaço ou lugar. Ele está muito acima das precárias e temporárias condições humanas, para situar-se realmente no amor em sua verdadeira natureza: o amor ao próximo. Sim, porque somente amando ao próximo alcançaremos o sentido autêntico da vida. O amor é confundido com paixão, que passa com o tempo, a idade ou outras condições. Se sofre abalos com os melindres, orgulho ferido, traições, já não é amor... Se chega a abater-se diante da

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ingratidão, do abandono, ainda não é amor. O amor verdadeiro aceita o outro como ele é, porque o compreende, o aceita, justamente porque se ama. Isto é o amor, que vai socorrer a necessidade do outro, que solidariza-se com a dificuldade alheia. Se é um sentimento que fica bem somente quando não nos contraria, já não é amor, mas egoísmo. Por isso, o amor transcende a relação homem-mulher, situando-se além desta condição, já que não distingue diferenças, simplesmente ama. E quem ama, compreende, perdoa, aceita. E muitos talvez perguntassem, como amar? Há uma receita, escrita com quatro “c”: compreende, coopera, cuida, compadece (que tem compaixão). Sim, COMPREENDE a dificuldade alheia; e porque compreende, COOPERA para minorá-la (com os esforços de sua própria iniciativa em favor da necessidade alheia); cooperando, CUIDA por manter o nível do amor no relacionamento. E, compreendendo, cooperando, cuidando, tem COMPAIXÃO, porque quando tudo se faz em favor de alguém e mesmo assim vem a ingratidão, a violência, quem se compadece entende que o outro não conseguiu entender, não conseguiu al-cançar, não foi capaz... E esta situação sugere compadecer-se através da compreensão, do cuida-do, da cooperação, num círculo que se renova. Ora, isto é amar! Por isso, o grande Aquino sugere o amor intelectual na conquista da virtude da caridade, expressa na receita com os quatro “c”. Madre Tereza de Calcutá, indagada sobre a vir-tude por excelência, afirmou tratar-se da compaixão, como a dizer que ela completa o amor. E, curiosamente, embora o amor transcenda a relação homem-mulher, também pode ser exerci-tado entre cônjuges, amigos, irmãos, em família, ou entre quaisquer seres humanos, já que todos nascemos com uma aptidão natural para amar, mas que o amor intelectual pode desenvolver. Estas considerações todas ouvimos de Sandra Borba no excelente seminário A lei de amor: por que o amor tudo supera?, durante a VI Conferência Estadual Espírita (evocando os 140 anos de O Evangelho Segundo o Espiritismo), realizada em Curitiba, em abril de 2004. Claro que o exce-lente trabalho de Sandra é muito mais abrangente que a simples abordagem do presente artigo, daí termos trazido tais questões aos nossos leitores. --------------------------------------------------------------- 65 ------------------------------------------------ A NECESSIDADE DA VIDA SOCIAL Elio Mollo “Porque nenhum de nós vive para si”. (Paulo aos Romanos,14:7) Na Natureza tudo se serve, tudo se encadeia, desde o ser mais simples até o mais evoluído. O sol atende ao seu sistema fornecendo luz e calor para promover uma reação que mantém os elemen-tos vitais em circulação, sustentando a vida em todos os planetas. Os planetas em suas órbitas, se posicionam de tal forma, que um mantém o equilíbrio do outro, além do seu próprio, obtendo uma harmonia em todo o sistema. Para que tenhamos a eletricidade necessitamos de um rio com volume de água suficiente para movimentar a usina geradora de energia elétrica. Para manter a água necessária precisa-se da chuva. Para que a eletricidade chegue ao seu destino são necessários fios condutores e assim por diante. Tudo isso funcionando em perfeita sintonia nos fornece a energia suficiente para man-termos nossos lares com iluminação e todos os aparelhos eletrodomésticos que nos servem em nosso dia a dia. Hoje, com a tal globalização, os países envolvidos necessitam manter suas economias atualiza-das e equilibradas, porque se algum deles provocar alguma anomalia, todos os outros sentirão o efeito negativo. Caso contrário, tudo estará bem e funcionará normalmente, com as populações desses países tendo empregos, alimentos e conforto. Pois é, assim temos exemplos de como cada um de nós deve agir para manter o nosso próprio equilíbrio e de todos aqueles que nos rodeiam e vivem em função de nós. Em O Livro dos Espíritos, os Espíritos, em resposta às questões 766, 767 e 768, afirmaram: “A vida social está na Natureza. Deus fez o ser humano para viver em sociedade. Deus não deu inu-tilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.” “O isolamento ab-soluto é contrário à Lei Natural, pois os seres humanos buscam a sociedade por instinto e devem

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todos concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente.” “O ser humano deve progredir, mas sozinho não o pode fazer porque não possui todas as faculdades: precisa do contato dos outros seres humanos. No isolamento, ele se embrutece e se debilita”. O Codificador em nota a essas respostas, acrescenta: “Nenhum ser humano dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados.” Podemos observar, assim, que a sociedade necessita de criaturas que cooperem umas com as ou-tras para que o progresso geral se estabeleça. Dizem os Espíritos em resposta à questão 785 de O Livro dos Espíritos, que os maiores obstáculos ao progresso são o egoísmo e o orgulho, referin-do-se dessa forma ao progresso moral, porquanto, o intelectual se efetua sempre. O egoísmo e o orgulho extremados quebram a harmonia entre os seres humanos, pois são eles que entravam o progresso moral, provocando as discórdias, as malevolências, os ciúmes, os so-frimentos atrozes etc., chegando a afastar o ser humano da vida social, levando-o à ruína. Para compreendermos o efeito negativo do egoísmo e do orgulho, buscamos o livro Fábulas e Lendas de Leonardo da Vinci, uma adaptação do conto “A árvore orgulhosa”. Diz ele: “No meio de um jardim, junto a muitas outras árvores, havia um lindo cedro. Crescia a cada ano que passava, e seus galhos eram muito mais altos do que os galhos das outras árvores. Tirem daí essa castanheira! - disse o cedro, inchado de orgulho ante a sua própria beleza. E a castanheira foi removida. Levem embora aquela figueira! - disse o cedro. - Ela me incomoda. E a figueira foi arrancada. Tirem as macieiras! - prosseguiu o cedro, erguendo alto a sua bela cabeça. E as macieiras se fo-ram. Assim, o cedro fez com que uma a uma todas as outras árvores fossem arrancadas, até ficar sozi-nho, dono do grande jardim. Um dia, porém, houve uma forte ventania. O lindo cedro lutou com todas as forças, agarrando-se à terra com suas longas raízes. Mas o vento, sem outras árvores pa-ra detê-lo, dobrou e feriu o cedro e, finalmente, com grande estrondo, derrubou-o ao chão.” O contrário de tudo isso são a caridade e a humildade. Esses são os elementos positivos do pro-gresso e que levam o ser humano à solidariedade. Todo ser humano que possui essas qualidades sabe amar, servir e se relacionar com os outros seres humanos, como Jesus ensinou; esse ser hu-mano sabe, ainda, sorrir para o seu semelhante e passa seus conhecimentos, sem constrangimen-to, a todos aqueles que dele necessitam. Sabe que é uma peça importante do grande mecanismo Universal e se coloca sempre à disposição sem se exaltar, procurando estar em contato perma-nente com as outras criaturas oferecendo de si e recebendo dos outros sem nenhum interesse que não o de servir. Ao contrário do cedro que caiu, por ser egoísta e orgulhoso e, consequentemente antissocial, o ser humano caridoso e humilde consegue o suporte do bem que distribui, por meio da solidariedade, sendo mais difícil a sua queda. Conta uma lenda de tradição judaica que: “Numa região longínqua, viviam alguns seres humanos que passavam muita fome porque tinham os cotovelos voltados para dentro e as mãos voltadas para fora. Portanto não podiam dobrar os braços em direção à boca porque não tinham flexão e assim não se alimentavam. Os pobres seres humanos estavam à míngua, desnutridos e fatalmente condenados a morrer de inanição. O mais idoso, cheio de sabedoria, passou a estudar um meio de solucionar o problema. Eis a solução: já que, tendo os cotovelos voltados para dentro e as mãos espalmadas para fora poderiam colocar o alimento na boca dos outros e assim não passariam mais fome. O regime de solidariedade resolveu a questão.” Assim, somos nós. Todos possuímos defeitos e qualidades, temos o caráter diferenciado um do outro, pois, como disse Kardec, ninguém dispõe de faculdades completas e é pela união social que vamos nos completando mutuamente, assegurando nosso próprio bem-estar e progredindo juntos, já que é complicado seguirmos sozinhos. Necessitamos ser solidários, para termos uma boa relação. Cooperemos, então, uns com os outros e sigamos com Jesus para a nossa evolução, pois, como disse o apóstolo Paulo, nenhum de nós vive para si. ------------------------------------------------------------- 66 --------------------------------------------------

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NINGUÉM MORRE ANTES DA HORA? Carlos Augusto Parchen Muitas vezes nos referimos a morte de uma pessoa como “tendo chegado a hora”, ou ainda “nin-guém morre antes da hora”. Daí a pergunta que muitos fazem: temos pré-determinada a hora de nossa morte? Ninguém mor-re antes da hora determinada? Dentro da visão espírita, temos que analisar dois aspectos importantes quando do nascimento (reencarnação) de um ser humano. O primeiro aspecto é o potencial genético do corpo formado, resultante da fusão de óvulo e es-permatozoide, que determinam a formação de um corpo com determinados potenciais e determi-nadas limitações. O segundo aspecto é o potencial energético do perispírito, pois este último promove a ligação do Espírito com o corpo físico, arrastando para esse corpo energias positivas e/ou negativas, de acordo com as suas características evolutivas específicas. Essas energias provocam alterações nos potenciais genéticos e de funcionamento do corpo físico. Da interação entre esses aspectos no complexo humano (corpo+perispírito+Espírito), temos, teo-ricamente, estabelecido um potencial de vitalidade ou de energia vital que, em tese, determina um potencial máximo de vida para aquele organismo, ou se quiser simplificar, um tempo máxi-mo de vida orgânica. Colocamos e destacamos “em tese”, pois o exercício do livre arbítrio leva ao perispírito possibi-lidades de alterar suas características energéticas, com energias positivas ou negativas, o que, por sua vez, altera o potencial de energia vital do complexo humano. Essa alteração pode melhorar ou piorar o potencial de energias vitais. Da mesma forma, o nosso livre arbítrio também nos leva a utilizar o nosso patrimônio físico, com maior ou menor cuidado com suas necessidades específicas, o que pode gerar um “gasto correto” (econômico) ou um “gasto excessivo” de nossa vitalidade orgânica ou energia vital. Para melhor explicar isso, vamos exemplificar com o tabagismo (vício de fumar). Estudos e pes-quisas internacionais, já muito conhecidas (e reconhecidas), provaram que o consumo de um único cigarro “custa” ao organismo físico o desgaste orgânico equivalente a cerca de 12 a 14 mi-nutos de vida. Isso significa que cada 5 cigarros fumados equivalem a “diminuição” de 1 (uma) hora de vida. O que falar então do uso de drogas (tóxicos) e do alcoolismo? Ou ainda da alimen-tação inadequada, excessiva? Quanto desgaste isso tudo gera ao potencial orgânico? Fica fácil de entender que a pessoa pode “danificar” seu corpo físico, encurtando seu tempo de vida orgânica em relação ao seu “potencial de vitalidade”. Só isso já poria por terra a teoria de que “ninguém morre antes da hora”. Quem não cuidar das suas energias no perispírito (o que está ligado ao equilíbrio espiritual) e do seu corpo físico, diminui seu tempo de vida orgânica, ou se-ja, “morre antes da hora”. Com isso, adquire débito energético, ou seja, necessidade de “resgate” desse “débito” em outra(s) encanação(ões). Analisando de um ângulo externo ao próprio complexo humano, temos que nos lembrar que to-dos estamos numa vida de relação, com outros indivíduos e com a natureza. E sofremos as con-sequências disso. Vamos exemplificar de forma bem direta: uma determinada pessoa resolve ir a uma festa, ingere muita bebida alcoólica, embriaga-se. De forma imprudente, vai voltar para casa dirigindo seu ve-ículo. Em excesso de velocidade, perde o controle do carro, atingindo um ponto de ônibus, onde atropela e mata 3 pessoas, sendo uma criança, um jovem e um adulto. Essas três pessoas atropeladas estavam na “sua hora de morrer”? Suas mortes estavam “progra-madas”? Estava escrito? Estava “previsto” na reencarnação de cada um? É evidente que não, pois em caso contrário não existiria o livre arbítrio, e tudo no mundo seria determinístico, nos tornando meros “robôs” na passagem terrena. Aquele motorista embriagado ceifou a vida de pessoas que tinham diferentes potenciais de vida, de alguns anos (o adulto) a várias décadas (criança e jovem), e que ainda poderiam viver muito com seu corpo orgânico. As três pessoas “morreram antes da hora”.

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Não existe uma “programação de morte”. Existe um potencial de vida, que pode mesmo ser “es-tendido” pelo equilíbrio espiritual e respeito e cuidado com o corpo físico, ou ainda, encurtado pelo próprio indivíduo ou por terceiros, que responderão por isso nesta e em outras vidas. Se as mortes estivessem programadas, cada movimento em todo o mundo estaria programado. Se uma pessoa morre atropelada numa rua, na hora do “pico” do movimento, em São Paulo, por exemplo, e isso estivesse “programado”, o atropelador já nasceria com essa “missão”, e para ajustar a sincronia entre atropelador e atropelado, todo o trânsito de São Paulo deveria estar “programado”, para que todos os envolvidos se encontrassem naquele exato instante. Cremos que com esses argumentos, evidencia-se que não existe “hora de morte programada”. O que os espíritas devem cuidar é para não se tornarem crentes do determinismo, acreditando numa “programação absoluta da reencarnação”, pois isso fere uma verdade basilar – a do livre arbítrio -, sob a qual reside grande parte da filosofia e doutrina espírita. É preciso estudar um pouco mais a Lei de Causa e Efeito, relacionando isso com o estudo do re-gistro energético do perispírito, de modo a entendermos o correto mecanismo do “resgate e expi-ação. ----------------------------------------------------------- 67 ---------------------------------------------------- O ABORTO É LEGÍTIMO? José Lucas Muito sucintamente, o aborto é a interrupção da gravidez, provocando a morte do feto. Desde sempre praticado, mais ou menos às escondidas, o aborto tem-se tornado quase como que uma banalidade na nossa sociedade. Há quem o repudie energicamente e quem o admita como sendo um processo perfeitamente banal, que se poderá enquadrar no âmbito da vida de uma mulher. Argumentos de um lado e de outro da barricada são enfileirados, numa luta que se pretende que saia do plano da consciência para se generalizar, quando tal não é possível, por mais que se quei-ra. O aborto poderá ser espontâneo ou provocado. O aborto espontâneo é aquele em que a mulher aborta sem querer, espontaneamente, num processo ao qual ela é alheia. O aborto provocado é, como a própria palavra indica, provocado exteriormente por alguém. Pode ser terapêutico, eugênico, ou simplesmente por opção conjuntural. O aborto terapêutico, é quando numa gravidez, o médico tem de optar por salvar a vida da mãe ou do filho, não havendo hipótese de se salvar ambas as vidas. Nesse caso opta-se por salvar a vida da mãe, abortando terapeuticamente o filho. O aborto eugênico é quando se faz o aborto de-vido a malformação do feto. O aborto meramente conjuntural é aquele que se faz por opção, sem ser eugênico ou terapêutico. A mãe decide abortar por várias razões, desde falta de condições econômicas, falta de apoio familiar, violação, opção de vida, entre outras razões que se poderão alegar. É pena que um tema tão importante como este sirva de meio de lutas políticas, de negócios de bastidores, como se a vida humana pudesse assim, ligeiramente ser decidida, de ânimo leve, ao sabor dos interesses mais imediatistas dos nossos governantes. No que concerne ao referendo sobre a despenalização da lei do aborto, que se for aprovada per-mitirá que se efetue abortos até às 10 semanas de gravidez, faz-nos parecer que toda esta polêmi-ca se baseia numa falsa questão, pois dever-se-ia perguntar em referendo se se concorda com a legalização do aborto ou não. Ora, este referendo apenas discute os prazos em que o aborto se pode realizar ou não. Curiosamente, a falta de informação é uma constante, e pergunte-se ao vulgo dos mortais, por esse Portugal fora e veremos as pessoas pensarem que ao votarem NÃO estarão a votar contra o aborto, quando na realidade estarão sim a votar contra o alargamento do prazo em que é permiti-do abortar. Num país que já aboliu (e bem) a pena de morte, é sintoma de grande hipocrisia e in-coerência moral, estarmos a referendar se devemos matar um ser indefeso com uma ou outra idade. O QUE PENSA O ESPIRITISMO

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O Espiritismo ensina-nos que o feto é um ser vivo, já que ali, no útero materno, encontra-se completo na sua estrutura básica, e ligado ao Espírito reencarnante desde o momento da concep-ção. Vamos encontrar em «O Livro dos Espíritos», de Allan Kardec, na questão n.o 880: «Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do ser humano?», a seguinte resposta: «É o de viver; e é por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do seu semelhante, nem de fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea.» Na questão n.o 358 ve-mos a seguinte questão: «O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concep-ção?», à qual os Espíritos dão a seguinte resposta: «Há sempre crime, no momento em que se transgride a lei de Deus. A mãe, ou qualquer outro, cometerá sempre crime, ao tirar a vida da criança antes do seu nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas provas de que o corpo devia ser o instrumento.» Mais à frente, vemos ainda na pergunta n.o 359: «No caso em que a vida da mãe estaria em perigo, pelo nascimento da criança, há crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?», a que se recebeu a seguinte resposta: «É preferível sacrificar o que não exis-te a sacrificar o que existe.» Pergunta-se ainda na questão n.o 372: «Qual é o objetivo da Provi-dência, ao criar seres desgraçados como os cretinos e os idiotas?», à qual se obteve a seguinte resposta: «São Espíritos em punição que vivem em corpos de idiotas. Esses Espíritos sofrem com o constrangimento a que estão sujeitos e pela impossibilidade de se manifestarem através de ór-gãos não desenvolvidos ou defeituosos.» Uma última questão, a pergunta n.o 373: «Qual o méri-to da existência para seres que, como os idiotas e os cretinos, não podendo fazer o bem nem o mal, não podem progredir?» Resposta - «É uma expiação, imposta ao abuso que tenham feito de certas faculdades; é um tempo de suspensão.» Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a Lei. Estudando o Espiritismo, verificamos que somos seres eternos, que já vivemos antes e que voltaremos a ter novos corpos de carne, não perdendo a nossa individualidade, o nosso psi-quismo, os nossos conhecimentos, aprendizagem, ao longo das reencarnações sucessivas. Aprendemos que somos seres altamente responsáveis pelas nossas atitudes, e que hoje somos mais ou menos felizes e equilibrados, de acordo com o equilíbrio ou falta dele que geramos em vidas passadas, objetivando esta reencarnação um esforço de aprendizagem moral e intelectual, bem como a reparação de erros passados, de molde a libertar a nossa consciência do complexo de culpa que geramos, quando nos apercebemos do quanto prejudicamos a, b ou c, nesta ou na-quela situação. Aprendemos assim, que não temos o direito de interromper a vinda (reencarna-ção) de um ser que necessita voltar para evoluir, não estando nas nossas mãos o poder de dar ou retirar a vida humana. Aprendemos assim, que com exceção do aborto terapêutico, todos os outros são de evitar, à luz do Espiritismo, sob pena da mãe contrair graves débitos na sua consciência, que lhe irão decerto gerar grandes fontes de sofrimento, que se poderão ainda repercutir em próximas existências. O Espiritismo ensina-se que nada acontece por acaso na vida, e que dentro da Lei de Causa e Efeito vemos que as nossas vidas sucessivas se encadeiam como elos de uma corrente, numa so-lução de continuidade que nos assombra pela lógica dos conceitos. O Espiritismo mostra-nos pois, quem somos, de onde vimos, para onde vamos, porque vivemos, porque sofremos, dando-nos uma visão global da existência humana, que nos ajuda a entender a vida sob um ponto de vista muito mais abrangente. Um assunto a ser muito bem estudado, cujos conceitos poderão ser melhor compreendidos atra-vés da leitura dos livros de Allan Kardec. --------------------------------------------------------------- 68 ------------------------------------------------ OBSESSÃO: A DUPLA FACE DE UM FLAGELO Vitor Ronaldo Costa A patologia espiritual induzida pelos seres desencarnados recebe, no Espiritismo, a denominação generalizada de obsessão. Allan Kardec, analisando-a na prática, identificou a verdadeira causa do mal e descreveu os me-canismos sutis da ação deletéria patrocinada pelo obsessor. Apesar da expressiva sintomatologia de alguns casos, para surpresa de muitos, a enfermidade não decorre da ação patogênica de ne-

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nhum vírus desconhecido, mas de um agente etiológico jamais imaginado pela Ciência, embora, largamente disseminado na crosta planetária, - o próprio ser humano -. Este agente é sem dúvida, um vetor de reconhecida virulência e de comportamento mutável, por ser dotado de inteligência, sentimento e vontade própria, o que lhe confere, em última análise, ampla possibilidade de ação para o bem e para o mal. Aproveitando-se do estado de invisibilidade, o Espírito desencarnado menos esclarecido, exerce a sua ação deletéria, manipulando energias fluídicas de teor densificado, extremamente prejudi-ciais àqueles a quem jurou vingança. A obsessão espiritual, quando visualizada pela ótica espírita, se constitui em um dos mais antigos flagelos da humanidade, prolongando-se pelos raios de ação. Investigando-se a causa do mal, chegou-se a uma interessante conclusão: o problema é de natureza moral e engloba, na maioria das vezes, a participação culposa de ambos os personagens enredados na inditosa trama. Vige no contexto doutrinário a seguinte postura filosófica: enquanto o ser humano alimentar sen-timentos de ambição, ódio e vingança, a obsessão espiritual existirá por muito tempo ainda. Os vínculos de sintonia entre a vítima e o agressor se estreitam, na proporção direta do envolvi-mento emocional entre as partes, já que as deficiências morais, quase sempre, estão presentes, bi-lateralmente, levando-se em conta que a vítima de hoje foi o algoz do pretérito. Por isso, a consi-deramos um flagelo de face dupla, identificado pela semelhança de malefícios. A dívida moral é considerada o mais importante fator predisponente da obsessão, por conta das brechas que se desenvolvem a partir da consciência culpada. Além do mais, o mal praticado con-tra o semelhante não só extingue junto com a dor da vítima; ele permanece vibrando em torno da psicosfera individual, constituindo-se uma espécie de morbo fluídico que, aos poucos, se enraíza na tela eletromagnética do perispírito, originando focos de baixa resistência espiritual, por onde os obsessores costumam injetar, com facilidade, os seus fluidos deletérios. Por isso, é uma ilusão pensar-se que o mal feito às escondidas, por não contar com testemunhas, nos isente dos proces-sos retificadores. O mecanismo psíquico, no seu complexo dinamismo, registra, na intimidade da tela consciencial, toda atitude contrária às Leis Morais da Vida, nos expondo às exigências do Princípio da Ação e Reação. O ato obsessivo é uma contingência decorrente da própria miséria humana, a qual pre-dispõe o infrator ao assédio espiritual dos inimigos e vítimas de outrora. Por isso, quando em reunião específica de desobsessão, escutamos esses pobres Espíritos, tão vingativos, clamarem por justiça, imaginamos o quanto de ódio lhes oblitera o raciocínio, a ponto de não se apercebe-rem tanto ou mais comprometidos que as suas pretensas vítimas. A obsessão é constrangimento fluídico a comprometer o patrimônio mento-afetivo ou orgânico da criatura enfraquecido em suas defesas espirituais e, por isso mesmo, tão necessitada quanto o próprio obsessor, da terapêutica do perdão, única alternativa de cura definitiva para ambos. ------------------------------------------------------------- 69 -------------------------------------------------- OBSESSÃO OU LIVRE ARBÍTRIO? Warwick Mota Tem se tornado prática entre nós espíritas, atribuirmos toda e qualquer ação de outrem, a Espíri-tos desencarnados, principalmente, as de caráter negativo que nos levam a emitir considerações ou mesmo à expressão direta de opinião acerca do assunto. Eu diria até, que estamos nos asseme-lhando em muito, a irmãos de outras crenças, que atribuem tudo que é negativo ao “demônio”. Talvez pelo fato de acharmos mais cômodo, buscar respostas fáceis ou delegar culpas que ao primeiro deslize do próximo, já estabelecemos um paradigma em relação ao comportamento alheio, estigmatizando qualquer comportamento diferente em comportamento obsessivo ou de-sequilibrado. Para tal nada melhor que o uso de frases tão bem conhecidas no vocabulário espírita, que incon-sequentemente popularizamos o uso, sem atentar para coerentes critérios de observação.

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“Fulano? Está obsidiado, você não percebeu o comportamento dele?” Ou então: “eu tenho tanta pena do nosso irmão, ele está totalmente desequilibrado”. E mais ainda: “beltrano precisa passar por um processo de desobsessão urgente! Isso é coisa de Espírito obsessor!” Todos nós sabemos, conhecemos, vivemos ou já vivenciamos, dramas obsessivos, seja com nós próprios, com parentes, amigos, vizinhos etc., sem contar que dispomos na literatura espírita, de vasto material a nos dar o suporte necessário para o estudo e a pesquisa séria, acerca da proble-mática obsessiva, orientando-nos quanto as suas minúcias, graus, processos e áreas visadas. A obsessão tem se constituído ao longo dos séculos como um dos maiores males que assola a humanidade, mas não é em função disso que devemos considerar qualquer ação praticada, como obsessão a rigor, se assim fosse, não haveria mérito para aqueles que conseguem realizar a re-forma íntima, bastaria o simples fato de afastar o obsessor, para que o individuo lograsse imedia-tamente a condição de ser humano novo, pois as imperfeições não seriam inerentes a ele, mas sim ao Espírito que o obsidiava. Se partirmos da premissa o fato de algumas pessoas, ao levantarem querelas, ou terem um com-portamento antiespírita dentro das instituições a que pertencem, ou mesmo no meio social em que convivem, ressaltando-se, que via de regra temos por hábito acusar principalmente os espíri-tas, quando esses fazem parte do contexto, rotulando-os é claro, de obsidiados ou desequilibra-dos. Obviamente estamos sendo parciais em nossa observação, ao atribuir toda culpa nesse pro-cesso aos Espíritos desencarnados, eximindo logicamente tais pessoas de quaisquer vícios ou de-feitos. Tal afirmativa não condiz com a verdade, portanto essa premissa é falsa. As imperfeições como já foi dito, são inerentes ao ser humano e que, os desencarnados fazem uso delas, amplifi-cando-as para seus fins. A alegação de que essas pessoas são conhecedoras do postulados de Kardec, é bastante inconsis-tente, só conhecer Kardec não é o suficiente, faz-se necessário entender Kardec. É em virtude da falta de entendimento que surge no movimento espírita pessoas descomprometidas com a Dou-trina, dando suas interpretações pessoais a esta. Certamente a consequência desse comportamen-to é a exteriorização de vícios como o personalismo, apego aos poderes temporais, presunção de conhecimentos profundos da Doutrina, o que nos leva a concluir que tais indivíduos estariam mais propensos à prática da filantropia do que à caridade propriamente dita. Quando nos referirmos à caridade, busquemos ampliar nosso entendimento em relação ao termo. Será que estamos sendo caridosos para como os desencarnados atribuindo-lhes todas as culpas? Ou será que estamos suprimindo, dos encarnados o poder de livre arbítrio que estes têm e que por estarem instalados na matéria as factíveis de erros? O Espírito é herdeiro de suas próprias conquistas e transferir todas nossas derrocadas a outros é fugir à responsabilidade do automelho-ramento. -------------------------------------------------------------- 70 ------------------------------------------------- O CASAMENTO RELIGIOSO E O ESPIRITISMO Carlos Augusto Parchen Vamos abordar aqui a questão do casamento, mais especificamente do casamento religioso. Para esta abordagem, devemos que nos lembrar que o Espiritismo Kardecista não tem nenhum ritual. Nenhum, absolutamente. Não só do casamento, mas nenhum outro. A prática religiosa Espírita é baseada exclusivamente no Amor a Deus e na Fé raciocinada. Para o Espírita Kardecista, ter religião significa “estar ligado a Deus’, pois a palavra “religião” signi-fica exatamente isso: ligar-se a Deus. Se analisarmos o Evangelho do Mestre Jesus, veremos que não está instituído, em nenhum mo-mento dele, o casamento como ato de ligação a Deus (ato religioso) ou de fé. Veremos que o Cristo fala, a respeito da união de Homem e Mulher “... não separe o Ser humano o que Deus uniu....”, que foi tomado como base teológica para o ritual (sacramento) do casamento e da indis-solubilidade eterna do casamento religioso. Em verdade, o que o Cristo pretendeu nos dizer, é que o amor verdadeiro entre Homem e Mu-lher, é consequência do Amor Divino que é, assim, verdadeiramente abençoado por Deus, e que

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o ser humano, não deve tentar separar as pessoas que se unem pelo amor verdadeiro, pois a es-ses, Deus (O AMOR) uniu. Na verdade, o casamento religioso foi, durante muitos séculos, a única forma de “legalizar”, de “oficializar” a ligação estável entre Homem e Mulher, de estabelecer regras de conduta e de res-ponsabilidade para o “casamento”, para a vida familiar. Devemos nos lembrar que a época, não havia registros, não havia cartórios, sistemas de documentações, certidões, leis, etc. Inicialmente, apenas o poder moral da Religião e o medo da “punição Divina” garantia os direi-tos e deveres no casamento. O Sacerdote ou o Pastor ou o Pajé ou o Curandeiro ou o Monge, exerciam o papel de “fiador” do compromisso, em nome da Divindade, do Ser Superior. Mais tarde, as Igrejas, as Ordens Religiosas, os Templos, quando já existia a escrita, mantida apenas em grupos herméticos e de iniciados, passaram também a proceder e manter o registro formal das uniões (casamento), ampliando a estabilidade das mesmas, pela possibilidade de en-contrar-se registro de quem era ou não casado. Em muitas culturas e religiões, antigamente e mesmo hoje em dia, o casamento não é um ritual religioso, mas sim uma cerimônia familiar, onde o compromisso de Homem e Mulher é assumi-do, pelos noivos, perante a comunidade, perante a família e perante o representante da Religião, sendo o casamento celebrado pelo Patriarca ou Matriarca da família, e não pelo Sacerdote ou re-presentante religioso. Mas também desse modo cumpre seu efeito de “fiador” e estabilizador da união. Também é importante lembrar uma realidade estatística: - todas as Religiões Judaico-Cristãs do mundo, somados todos os seus adeptos declarados, constituem cerca de 1/3 (33%) da população mundial. Portanto, cerca de 2/3 da população mundial não segue o Cristianismo, e têm outros conceitos a respeito do casamento e da forma de celebrá-lo. Com a evolução da sociedade, com a criação das Constituições dos países, das Leis, do avanço e aperfeiçoamento do registro público, o casamento civil passou a ser o controlador da estabilida-de, dos direitos e dos deveres do casamento, da proteção da mulher e dos filhos, da garantia de herança e sucessão. O casamento religioso ficou como o rito ou Sacramento específico das Religiões, especialmente as Judaico-Cristãs. Mais modernamente, veio se transformando muito mais numa ocasião social do que num ato de fé verdadeira, o que está sobejamente demonstrado pelo enorme número de separações que ocorre entre uniões com menos de 5 anos de duração, quase todos casados tam-bém em cerimônia religiosa. Quando o Espiritismo surgiu, o casamento civil já era uma realidade. Não havia mais necessida-de do casamento religioso como “regulador”. O Espiritismo, baseado na fé raciocinada, na fé verdadeira, na lógica e na razão, não trouxe para seu seio nenhum ritual. A sociedade já podia dispensá-los. A ligação com Deus (Religião) nunca precisou deles. O Evangelho do Cristo era para ser praticado no dia-a-dia, e não transformado em rituais. Não estamos aqui falando mal do casamento religioso. Muito pelo contrário. O extremo respeito que o Espiritismo tem pelas Religiões, já nos impediria disso. Cada um deve seguir o que precei-tua sua crença religiosa. Só estamos explicando porque o Espiritismo Kardecista não tem a ceri-mônia ou ritual de casamento, e porque os Espíritas formalizam sua união no civil, não necessi-tando do casamento religioso enquanto ritual, cerimônia ou preceito religioso. Para os espíritas, existe um guia seguro para os casais aprenderem a consolidar sua união no dia-a-dia. É a prática da própria Doutrina Espírita, em sua integralidade. E tudo pode ser resumido em três palavras: Amor, Tolerância e Perdão. E num exercício diário: o do aprendizado constan-te. Ao decidir pelo casamento, Homem e Mulher estão assumindo uma grande responsabilidade, um grande compromisso. Estão iniciando uma nova família. A família é, e sempre será, a grande es-cola de evolução, de aprendizado, de crescimento espiritual, se bem aproveitada. Cabe a cada ca-sal fazer com que sua família seja a melhor das escolas, a que ensina o caminho de apreender-se a felicidade. Para isso, devem ter em mente que sua nova família deve ensinar amor e caridade. Para ensinar, é necessário praticar. Praticar diariamente. Aprender com os erros. Aprender a não mais errar. Aprender a acertar cada dia mais. Aprender a ser feliz.

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Esse é o casamento verdadeiramente abençoado por Deus. E ele independe das religiões. ---------------------------------------------------------------- 71 ----------------------------------------------- O CASO DE CELSO ADEP Numa conferência proferida na cidade do Porto, no Núcleo Espírita Cristão, há alguns anos Di-valdo Franco prendeu a atenção de um vasto auditório, superlotado. Extraímos um pedacinho. «A pessoa necessita de alguém para a ouvir. Todos vivem os seus problemas e anseiam falar de-les, embora raramente encontrem quem os queira ouvir», afirma Divaldo Pereira Franco. Por há-bito, ouve as pessoas que quiserem conversar um pouco, ao terminar a conferência semanal no centro com que colabora, em Salvador da Baía. Não é o único a fazê-lo: há um grupo de compa-nheiros que também apoiam esse atendimento pessoal. «É tão curioso: as pessoas vêm pedir-me um conselho e falam, falam, falam. Eu deixo. Então no-to: a pessoa é que me está a aconselhar...», comenta, com humor. Divaldo Franco escuta umas 40 a 60 pessoas por noite, o que às vezes implica ficar ali até às 3 da manhã. Ainda por cima faz isso de pé, pois se Divaldo se senta os interlocutores demoram mais a dar a vez ao próximo. Brinca: «Se me sentar, a pessoa não sai nem na outra encarnação!». Tem experiência, faz isso já há cerca de 50 anos. «Numa dessas vezes, atendia uma senhora, e na fila ainda faltava falar com umas dez pessoas». Divaldo Franco palestra de pé durante uma hora e permanece de pé até que a última personagem da fila seja atendida. Estava ele a conversar com essa senhora quando, de repente, chegam quatro pessoas: um homem de 48 a 50 anos, moreno, agitado, uma moça manietada com uma camisa de força e dois encor-pados enfermeiros psiquiátricos. A rapariga ficou sentada e o cavalheiro dirigiu-se a Divaldo, nervoso. Olhou o relógio: 1.30 h. da madrugada. Diz esse senhor: - Sr. Divaldo, lamento muito, mas vou interrompê-lo. - Não vai, não. - Porque não?! - Porque eu não o vou atender. Eu vou terminar. «Nós temos que educar as pessoas», afirma. O visitante insiste: - Sr. Divaldo, o meu caso é urgente. Trago-lhe a minha filha. Olhe, note bem: o médico dela é um famoso psiquiatra, e ele disse-me para levá-la a um tal Divaldo Franco, que existe por aí, porque essa gente metida nessas coisas às vezes até consegue, por sugestão, libertar o doente. - Muito bem, mas vai esperar na mesma! - conclui Divaldo. E continuou a falar com a senhora: «Queria testá-lo», explica. - Mas, sr. Divaldo... - Esta senhora chegou de tarde, tirou uma ficha e o senhor quer passar-lhe à frente, chegando à 1.30 h. da manhã? Onde está a sua caridade para com ela, que é uma senhora de idade? Olhe, meu amigo, não há qualquer obrigação de o senhor ficar. Sai, e na passagem o senhor levanta o dinheiro. - Qual dinheiro? - O que o senhor pagou... - Não paguei nada! - Então não vejo porque é que está aborrecido. Eu só o atenderei na sua hora. Duas e quinze da manhã, ele estava sentado com a filha. Levantava-se, agitado. Ela grunhia, ata-da à camisa de força, movia-se com dificuldade, olhar esgazeado. Quando terminou o diálogo com a senhora, atendeu outras pessoas na fila, até que chegou a vez daquele homem. Divaldo perguntou: - Muito bem. Que se passa com a moça? - A minha filha sofre de esquizofrenia. - Há quanto tempo?

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- Há sete meses. - Então não é uma emergência: não é uma pessoa que está doente há sete meses que não pode es-perar meia hora. Está internada no sanatório? - Está. - Mas o sanatório é para isso: ela está agitada, toma um calmante... Trocaram mais algumas pa-lavras, até que o interlocutor assinala: - Olhe, sr. Divaldo, eu não acredito em Deus, não acredito em Espíritos e não acredito em si. «Vi logo que ele era muito mal-educado, mas sorri, ele estava doente», refere o conferencista. Continua: - Mas qual é o problema?! Não é importante o senhor acreditar em Deus, o importante é Deus acreditar em si. Porque a sua opinião, que valor tem ela? O conferencista fica ao lado da mesa, instala uma cadeira. Na hora própria, atende o homem pre-cipitado: - Faça o favor. - O senhor não pode vir aqui? - Não, não posso. «O povo adora superstição», por isso Divaldo usou o humor: - Olhe, os guias estão aqui. Eu posso ir aí, mas eles não vão... Resolveu logo o problema. Quando ele veio, perguntou-lhe: - Qual é o nome da menina? - Cibele. Ela ficara a uns 5 metros, agitada, frágil. «Senti uma ternura, uma onda de simpatia (poderia ser, quiçá, minha neta). Havia nela tanto sofrimento, e eu percebi que não era loucura. Eu pude ver ao seu lado um Espírito, um jovem perturbador. Ele olhava-me, tresloucado», relembra. - Ela está doente há sete meses? - Sim, subitamente enlouqueceu, depois de uma discussão que nós tivemos. Internei-a. O médico já lhe aplicou de tudo: eletrochoques, barbitúricos... - O importante agora é tirar a camisa de força à menina. - Divaldo! Isto é um Satanás. Se eu fizer isso, ela vai rebentar tudo. - Não se preocupe. Está tudo pago. Pode deixar quebrar... - Ah, eu não tenho coragem! Senhor Divaldo, o que eu quero saber é o seguinte: ela vai ficar boa? Eu já tenho até pensado no suicídio! - Daqui ninguém sai com desesperança. Faça o favor de ficar ali sentado. «Virei-me para os en-fermeiros e mandei tirar-lhe a camisa de força. Eles disseram que não tiravam, porque ela era vi-olenta, e que eram cinco para a vestir», recorda Divaldo Franco. Insiste: «Estamos a perder tem-po. Nesta casa ninguém fica amarrado. Se não lha tirarem, eu vou embora, porque ainda terei que viajar 30 km. O senhor não está a falar com um leviano.» Eles tiraram a camisa de força. «Cibele avançou, ergueu os braços para me golpear». Quando chegou perto, com calma Divaldo falou-lhe: - Meu irmão!... O pai, que estava sentado ali perto, gritou, decepcionado: - É uma moça!... - Ao senhor peço-lhe que não me ajude, por favor. - Meu irmão..., disse ao Espírito. Ela para. Divaldo olha para o Espírito e continua, com afeto: - És um covarde. Estás a utilizar a ignorância desta família para estender esta tragédia. Cibele, incorporada, rodou nos calcanhares e apontou o pai: - Culpa dele! O meu nome é Celso. Pergunte-lhe quem sou. - Não é preciso, eu acredito em ti. - Aquele ser humano é um miserável, explorou-me. A minha mãe morreu, deixou-me com ele, que era meu padrinho. Eu tinha 13 anos. Esse miserável fez-me trabalhar até à exaustão, e quan-do não pude mais pôs-me fora da firma, sem me conceder direitos, porque nunca me inscreveu na Segurança Social. E eu tive tanto ódio dele, tanto, que tive uma dor estranha no peito. Eu morri. Morri, mas não sabia o que acontecera. Fiquei numa espécie de névoa, de treva, de dor, e fiquei, desesperado, à espera, até que um dia, que não sei quando foi, senti-me na sala de jantar da casa dele. Ele discutia com a filha. Quando vi o bandido, fui tomado de horror. Acerquei-me

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da menina: eu não sabia que estava morto, e quando me acerquei dela ela tremeu. Eu então pro-feri uma blasfêmia, ela repetiu. Eu percebi que ela falava por mim. Então eu quis dar-lhe umas bordoadas. Avancei, ela avançou, dei-lhe uma bofetada, travamos uma luta e passei a dominá-la. Hoje eu sei que estou morto, eu sei que ela é um instrumento fácil e vou fazer com que ele se mate, para quando chegar aqui eu o apanhar e continuar a minha vingança. - Mas, Celso, não te parece que algo está errado!? Odeia-o? - Sim. - Queres vingar-te? - Sim!... - Então perdoa-lhe. - Nunca! - Celso, ele deve-te, e a justiça cobra... Não é necessário que te faças cobrador. - Mas ele matou-me! Divaldo lembrou-se que ele tinha perdido a mãe com 13 anos. Indaga: - Celso, há quanto tempo morreste? - Não sei. - Diz-me uma data qualquer. Ele falou-lhe de uma festividade natalícia, e Divaldo calculou que ele estaria morto há uns sete anos. - Já te encontraste com a tua mãe? - Não. - A tua mãe amava-te? - Ah, sim! - Ela morreu, Celso, há uns 20 anos. Estás no mundo espiritual há sete. Sabes por que razão é que ela ainda não veio ter contigo? Porque o ódio te coloca numa faixa baixa, a que os católicos e protestantes chamam Inferno. A consciência dela não consegue descer onde tu estás. É neces-sário que subas, que te libertes do ódio. Vamos orar? «Nesse momento, meus amigos, vi entrar uma senhora modesta, do povo. Ela chegou até mim e pediu: “Dê-me o meu filho outra vez”», evoca Divaldo Franco. - Celso, lembras-te que quando eras criança a tua mãe colocava-te no joelho (como era costume no Nordeste do Brasil), juntava as mãos e recitava o Pai Nosso? - Sim... - Vamos orar? Celso ora, com voz trêmula. Quando chega ao «perdoai as nossas dívidas», chora: «Eu não pos-so!» Deu um grito: «Mãe!...» «Eu vira-a - assinala Divaldo -. Ela retirou-o da jovem obsidiada, carregou-o e reapareceu a ex-pressão de Cibele na própria Cibele antes em transe. A menina ficou aturdida, a bambolear-se; eu segurei-a, sentei-a, encostei a cabeça no meu quadril; meio minuto depois ela abriu os olhos (o pai estava sentado ao lado); olhou-o: - Pai, eu estou com tanta fome. - Sr. Divaldo, ela já está boa? - Ainda não. Ganhamos a primeira batalha, mas ainda não acabou a guerra, porque o senhor deve a esse Espírito! - Ah... - Não se justifique, meu senhor. Tenha a nobreza de reconhecer que o senhor está errado. Pelo menos agora, em homenagem à sua filha. Justificar-se a mim é pura perda de tempo. Agora o importante é levá-la para casa. Ela está lúcida, mas ele vai voltar. O senhor vai ter que atender a vários compromissos, é inevitável. Ele terá necessidade de retornar, para o convívio. - Mas, sr. Divaldo... - O senhor faça o que quiser, mas se Cibele fosse minha filha levava-a para casa. Ele leva a me-nina, mas ainda insiste: - E agora?

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- O senhor telefone ao psiquiatra e diga que, por coincidência, ela ficou melhor. Telefone ao mé-dico de clínica geral, porque ela está muito debilitada, necessitará de uma terapia especializada. Ele saía, mas perguntou: - Sr. Divaldo, quanto lhe devo? - O senhor deve-me uma alta soma! - Mas quanto tenho que pagar-lhe? - Não sei se o senhor tem condições. O preço é elevado, é melhor que não o saiba. - Mas eu não gosto de ficar a dever favores. - Então leia «O Livro dos Espíritos». O meu preço é este livro. Não faça de conta: um dia vou perguntar-lhe, e se o senhor disser que o leu irei fazer-lhe perguntas. Está bem o preço? Esse li-vro é o mapa do tesouro, e o senhor vai ter que estudar muito para encontrar o tesouro. Os dois enfermeiros ainda se olhavam, um deles balançava a camisa de força: - E agora, o que é que nós fazemos?... - O que farão, não sei. O que sei é que me vou embora. Mas o senhor chega ao sanatório, entrega a camisa de força e conta o que se passou aqui. - Eu? Se conto, colocam-me a camisa de força a mim! - exclama o enfermeiro. «Era uma quinta-feira. Na terça-feira seguinte reapareceram. Assistiram à reunião, despediram-se. Voltaram. Relacionaram-se. Entretanto, a menina educou a mediunidade. «Ela namorou, o casal foi lá ao centro, conhecemo-los, casaram, tornaram-se colaboradores da instituição. Nalgumas reuniões mediúnicas, Celso manifestou-se várias vezes, quer por mim quer por ela. Tornou-se um amigo. «Estava, depois, numa reunião mediúnica posterior quando Celso me apareceu: “- Divaldo, eu vou reencarnar. - Aonde? - Aqui, em Salvador. - Mas por quem? - Por ela... - Ah! Quero ver esta reencarnação: o neto e o avô!” Sorriu, e Celso continuou: “- Vai ver, Divaldo. Eu vou cobrar do velho... - Cobre, meu filho!” «Ela voltou uns meses depois, e disse que estava grávida. “- Vai ser um menino!... - Mas, como sabe? Divaldo disfarça: - É um palpite.” Nasceu o menino. O avô, babado: «É a criança mais linda do mundo. Parece-se comigo! Divaldo, eu fiz uma cader-neta de poupança para o meu neto de 10 mil dólares. O que acha?» No primeiro aniversário, esse senhor repetiu a dose. Com o passar dos anos, o avô cada vez se encanta mais com o neto. Hoje, Celso reencarnado está com 12 anos de idade. Divaldo não contou ao avô quem era este neto. São as leis da vida. (Relato extraído de uma conferência de Divaldo Franco, proferida no Porto em Abril de 1996) ----------------------------------------------------------- 72 ---------------------------------------------------- O CONFORTO QUE VEM DE DEUS Elio Mollo No livro “O SERMÃO DA MONTANHA”, o escritor espiritualista Huberto Rohden diz o se-guinte; “Muitos sabem falar de Deus. Alguns até sabem falar com Deus. Mas quase ninguém sa-be calar perante Deus para que Deus possa lhe falar”. Para que possamos tratar desse assunto, primeiramente, temos que compreender como age nosso pensamento no universo em que vive-mos e de que forma ele se movimenta.

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Na questão 27 de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, obra codificada por Allan Kardec, lemos a se-guinte resposta dos Espíritos superiores: “Há dois elementos gerais do universo, a matéria e o Espírito, e acima de tudo Deus, o criador, o Pai de todas as coisas. Deus, Espírito e matéria cons-tituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material tem-se que juntar o fluido universal, que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a maté-ria”. É através do fluido universal que os Espíritos se comunicam entre si, ou com os encarnados e vi-ce-versa. Quando oramos, ou seja, quando estamos sintonizados com Deus, ocorre o mesmo, pois é através desse fluido que nos comunicamos com Ele. A distância que nossa prece alcançará através desse fluido dependerá da intensidade de nossa fé e da sinceridade. Assim, quanto mais intensas forem nossa fé e nossa sinceridade, mais perto de Deus nossa prece chegará. Diz Allan Kardec, no livro “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” (cap. XXVII, item 10): “O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pen-samento eleva-se a ele. Para se compreender o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar to-dos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que preenche o espa-ço, assim como na Terra estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se ampliam ao infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Es-píritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem, assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, e que as relações se estabelecem à distância entre os próprios encarnados”. Igualmente, através desse fluido, Deus nos conforta e nos dá energia para enfrentarmos bem as dores pelas quais passamos em nosso dia a dia. A grande maioria dessas dores são frutos de nos-sa imprevidência, são violações que cometemos contra as Leis Divinas sem nos darmos conta. Entretanto, quando transgredidas, essas leis reagem de maneira a nos chamar a atenção em forma de dor. Se não encontramos os motivos nesta vida é porque as infringimos numa outra, pois so-mos Espíritos que tivemos muitas encarnações no passado e a reparação dos erros cometidos em encarnações pretéritas é uma necessidade natural. Temos diversas espécies de dores: emocionais, sentimentais, dificuldades de relacionamento, perda de bens materiais, de emprego, de entes queridos e por aí a fora, porém, somente quando essas dores atingem um grau insuportável nossos pensamentos se voltam para Deus, na busca de conforto. Nessa hora, tentamos orar, procuramos uma religião, ou algum lugar que nos alivie a dor, que vem para nos despertar e dizer que devemos evoluir e meditar o que fazer para nos li-vrarmos dela e alcançarmos o crescimento espiritual. Se formos a um Centro Espírita, obteremos orientação, seremos encaminhados para uma assis-tência espiritual adequada e receberemos os fluídos necessários para o nosso restabelecimento. Em nota às questões n.os 68, 69 e 70 de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, Kardec diz: “Quando a quantidade de fluido vital se esgota, pode tornar-se insuficiente para a conservação da vida, se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que o contém”. É como se a bateria de um carro ficasse fraca e necessitasse ser recarregada. Como recarregar esse fluido em nossa organismo? Se a fraqueza não atingiu o corpo físico, podemos começar a recarregá-la através da prece dirigi-da a Deus, feita por nós mesmos ou por outras pessoas; de palavras de conforto dirigidas a nós; de palestras instrutivas (principalmente evangélicas); de passes e da modificação de pensamentos (exemplo: de pessimistas para otimistas). Isso tudo, porém, dependerá de como fazemos a prece, assimilamos as palavras que ouvimos e utilizamos os fluidos oferecidos a nós por intermédio do passe, ou seja, tudo dependerá de nós. Se o corpo físico já foi atingido, além dos cuidados da prece, das palavras amigas e do passe, de-veremos também receber os cuidados que a medicina nos oferece.

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Em nota à questão de n.o 70 de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, Kardec diz: “O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tem em maior quantidade, pode dá-lo ao que o tem pouco e, em certos casos, restabelecer a vida prestes a se apagar”. Podemos deduzir que, em havendo alguma anomalia em nosso organismo, poderemos receber assistência através da fluido-terapia, geralmente chamada passe. Assim, podemos ser assistidos nas doenças de ordem física, ou de ordem espiritual, mas a eficácia dessa assistência dependerá da vontade de quem a recebe. No salmo 46:10 encontramos a seguinte frase: “Aquieta-te, eu sou Deus”. Na maioria dos momentos de aflição, entretanto, fazemos muito barulho, com queixas, murmú-rios, revoltas, etc., quando deveríamos nos aquietar e ver o que Deus tem para nós. Nada aconte-ce por acaso. Tudo tem sua razão de ser. É hora de reflexão, então, aquietemo-nos, sintonizemo-nos com Deus e tenhamos a certeza que Ele nos enviará o conforto necessário. Ele é nosso Pai e nos quer bem. ------------------------------------------------------------- 73 -------------------------------------------------- O DEFICIENTE Doenças Congênitas, Monstros e Prodígios Adauto Reami Nenhum pai ou mãe deseja ou aceita com normalidade filhos com defeito congênito. Deve ser um dos momentos mais difíceis para o médico ou equipe hospitalar, quando precisa comunicar a família que o bebê não saiu de acordo com os projetos sonhados. Para tais situações se faz neces-sário adotar-se uma generosa postura de aceitação fundamentadas no amor que Jesus nos ensi-nou. Se a sociedade ainda alimenta preconceitos raciais de cor e contra a pobreza, podemos fazer ideia de como está marcada a história cultural das deficiências físicas que podem se manifestar até mesmo em alguém de nossa descendência. Obstinados pelo preconceito, essas pessoas são vistas como híbridos animais e até algumas décadas atrás eram exibidas como aberração da natu-reza em atração circense. Doença congênita é muito terrível sim, mas nada que impossibilite es-sas pessoas de viverem plena e produtivamente. São múltiplos e diferentes os casos da deficiên-cia congênita que temos conhecimento na história da humanidade. Poderíamos começar lem-brando a história do gigante caolho que Ulisses derrota na odisseia, poema épico de Homero, é uma deformação em que a criança nasce apenas com um olho, ciclopia; a Síndrome de Hurler, ou Gargulismo, deficiência genética no metabolismo de açucares que causa deformação facial, Gêmeos Siameses, (com duas cabeças no mesmo corpo), podemos incluir ainda a Síndrome de Down e os conhecidos casos de cérebro exposto, as más formações de mãos e pés, corpos huma-nos com cabeças de supostos animais etc. Devido à falta de explicação para a origem de tantos defeitos, a ciência acabou colaborando com o desenvolvimento de crenças e mitos dos mais variados. Mas graças aos avanços das pesquisas da genética molecular e o projeto Genoma Humano, muitos ou quase metade desses defeitos congênitos já tem explicação; e a outra parte seriam de causa desconhecida. Cuidados básicos que a gestante deve ter, tais como não fumar, não beber, alimentar-se bem, fa-zer os exames pré-natais, etc., contribuem para a prevenção e diminuição de riscos, embora mui-tos dos casos de doença genética sejam casuais, independendo de fatores de risco. Enquanto não possuímos os meios de diminuirmos esses casos, o que devemos fazer é levar a zero o preconcei-to com relação ao deficiente. A questão 335 do Livro dos Espíritos diz que além do gênero de vida que lhe deve servir de pro-va, o Espírito pode também escolher o corpo, porque as imperfeições deste corpo são para ele provas que ajudam o seu progresso, se vence os obstáculos que nele encontra. Mas a escolha não depende sempre dele. Quando o Espírito é atrasado ou não tem aptidão para fazer uma escolha com conhecimento de causa, Deus lhe impõe experiências como instrumento de expiação. Os Espíritos mais evoluídos fazem o próprio planejamento, conscientes de suas responsabilidades que lhe servirão de provação.

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----------------------------------------------------------------- 74 ---------------------------------------------- O ESPIRITISMO Carlos Antonio Fragoso Guimarães Etimologia. - A palavra Espiritismo - em inglês Spiritism; Spiritisme em francês - se origina do substantivo Espírito, que, por sua vez, advém do vocábulo latino Spiritus, cujo significado seria o de princípio vital, ou seja, sopro vital, essência anímica, Espírito. O termo espiritismo foi usado amplamente a partir do século passado para designar um corpo de doutrina (ou um conjunto de princípios teóricos de cunho lógico), baseado em observações empí-ricas, dados e conclusões que postulam a sobrevivência do Espírito humano à morte do corpo fí-sico, concepção esta, porém, já encontrada na filosofia grega, em especial em Pitágoras, Platão e Plotino, assim como no Cristianismo e no pensamento da Filosofia Oriental. Características.- Por seu postulado básico de que o ser humano é formado de algo mais que a mera matéria física, o Espiritismo é uma escola espiritualista. Mas enquanto existem várias esco-las espiritualistas - e nem todas acreditam na sobrevivência da individualidade após a morte, em-bora acreditem que o ser humano seja formado com algo mais que a mera matéria -, o espiritis-mo possui algumas características distintivas, entre elas, a da ideia da sobrevivência da individu-alidade humana, chamada Espírito, ao processo da morte biológica, mantendo suas faculdades psicológicas, intelectuais e morais. Esta doutrina foi elaborada - em suas linhas mais conhecidas - na Europa, particularmente na França, a partir de um conjunto de observações recolhidas por inúmeros pesquisadores independentes, sendo codificada (ou seja, tendo seus principais pontos característicos sido sistematizados a partir de material recolhido sobre os fenômenos espíritas) pelo educador francês Hippolite Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo de Allan Kardec. Por-tanto, em seu início, o espiritismo tinha um forte caráter empírico dedutivo, o que atraiu a aten-ção de vários cientistas famosos, como veremos mais adiante. Posteriormente, à medida que se difundia e se popularizava, esta doutrina passou a receber o im-pacto cultural e tradicional dos países em que adentrava, vindo a apresentar, além de suas carac-terística empíricas com desdobramentos filosóficos, igualmente, uma característica religiosa. Es-ta última acabaria por se destacar mais em vários países, principalmente no Brasil. Esta caracte-rística era, porém, estranha ao movimento em outras culturas, como a Inglaterra e a Alemanha, por exemplo. O próprio Allan Kardec enfatizou em seus escritos (O que é o Espiritismo, O Livro dos Espíritos e em alguns artigos da Revue Spirite) que o espiritismo - por se basear em observa-ções e deduções pela comparação do material de comunicações espíritas - era um doutrina cientí-fica e filosófica com consequências morais, devido ao alcance psicológico que possuía ao modi-ficar a visão de mundo das pessoas que o adotavam, mas reconhecia que poderia haver uma fase religiosa no movimento, que deveria ser, porém, passageira (Kardec, Revue Spirite, 1863, pp. 377-379). Talvez o problema do espiritismo enquanto religião seja causado pela confusão entre os concei-tos de religião e de religiosidade, uma, expressando um conjunto de regras e comportamentos es-tereotipados que se ligam às instituições religiosas hierarquizadas e tradicionais, e a outra, ex-pressando um sentimento individual que é independente de se estar ou não vinculado a um mo-vimento religioso. Como no espiritismo em sua essência não encontramos altares, sacerdotes, pastores ou rituais, não se pode designar o espiritismo como uma religião - pelo menos não no sentido convencional do termo -, a não ser em se admitindo um dos significados originais do termo religião, que seria o de religar o ser humano ao aspecto transcendente do universo, ou a Deus. Allan Kardec, baseado nas comunicações espirituais que recebia, chegou mesmo a colocar que o Cristianismo - que paira acima das Igrejas tradicionais, que são vertentes interpretativas da mensagem do Cristo, mas válidas todas, no sentido de estimular o ser humano à reflexão espiri-tual - já era, pela profundidade de sua mensagem, suficiente para apontar os caminhos morais da humanidade, sendo os espíritas, portanto, cristãos que deveriam possuir uma visão de mundo in-dependente do que foi implantado na mensagem de amor do Cristo pelos dogmas dos credos es-tabelecidos, cultivando uma visão humanista e espiritual que amadureceria e se desenvolveria sempre mais a partir da razão e da reflexão íntima de cada um.

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A doutrina espírita está baseada em alguns pontos ou princípios fundamentais, tais como: - Existência de uma Causa Primária ou Potência Primária, extremamente poderosa, origem e fundamento da existência de tudo o que há no universo, qualquer que seja o nome que Lhe seja dada; Inteligência Suprema que escapa a qualquer tentativa humana de definição precisa (qual-quer definição é apenas aproximada, projetiva e imperfeita, atendendo à necessidade de abstra-ção e busca de compreensão humanas); Deus, enfim (o Motor Imóvel de Aristóteles); - Existência de um Princípio inteligente, imaterial, dotado de personalidade, criado por Deus e cujas individualidades povoam o universo e que está sujeito às leis da evolução. De natureza es-piritual, está, contudo, intimamente ligado ao mundo material, mas é independente e sobreviven-te a este; é o Espírito propriamente dito; - Aperfeiçoamento progressivo e interrelacional dos Espíritos e, por conseguinte, das diversas espécies de seres da natureza, através de experiências sucessivas e, idealmente, progressivas em níveis de complexidade orgânico-intelectual crescente, de acordo com o grau de aperfeiçoamento atingido por cada Espírito, assumindo-se responsabilidades causais à medida que cresce seu grau de autoconsciência, e a responsabilidade de escolhas advinda do livre-arbítrio conquistado, e que se expressam nos eventos mais significativos de sua existência corpórea, tendências e gostos; - Pluralidade dos mundos habitados, ou de vários planos de existência, possibilitando o desen-volvimento integral das aptidões e capacidades do Espírito; - Possibilidade de comunicação entre os seres humanos “vivos” e os seres humanos “mortos”, através de uma aptidão mais ou menos específica, chamada de mediunidade. Este conjunto de princípios estabelece, por consequência lógica, uma filosofia de vida baseada numa visão de mundo que é bem característica dos que se professam espíritas, especialmente no que diz respeito à responsabilidade pessoal pelo próprio comportamento ético e intelectual. Esta filosofia acaba por delinear, na vivência prática, uma estrutura moral e uma ética coerente muito próxima da visão de mundo que a Ecologia Profunda de nossos dias vem construindo: a responsabilidade pessoal e coletiva para o aperfeiçoamento pessoal e do próximo; o reconheci-mento do próximo como seu semelhante e, portanto, de sua aceitação mesmo em suas diferenças; o reconhecimento da responsabilidade pelas próprias atitudes conscientes frente às pessoas e à natureza; a forte ligação afetiva, que se constrói pelos séculos, e que ligam pessoas e povos. To-dos estes princípio se encontram mais ou menos explicitados na filosofia e no Cristianismo. Existem, também, outros preceitos filosóficos mais amplos, com muito em comum com os das grandes tradições espirituais universais, como o Budismo, o Hinduísmo, Druidismo e o Taoísmo, por exemplo. Do mesmo modo, a visão filosófica da doutrina é concorde com as ideias de Platão, Plotino, Orígenes e muitos outros filósofos. Entre elas está o da existência de Espíritos mais aperfeiçoados, que são geralmente considerados bons Espíritos, e a existência de Espíritos ainda imperfeitos ou atrasados na escala evolutiva, apresentando, alguns, uma tendência à malícia e à maldade, e que, portanto, podem ser classificados relativamente como maus Espíritos (uma con-dição temporária), da mesma forma como existem Espíritos que atingiram níveis mais elevados no campo moral e intelectual, como nas sociedades humanas existem pessoa das mais variadas índoles e de diferentes qualidades e vícios. Sendo assim, por exemplo, o Cristo é considerado um Espírito de extraordinário desenvolvimento espiritual, ou um Espírito puro. Deste ponto de vista, entende-se a forte ênfase dada pelos espíritas à instrução e à prática da caridade e da tolerância às diferenças humanas, pois, cedo ou tarde, todos (não necessariamente os espíritas, em primeiro lugar, pois tudo depende unicamente do esforço pessoal em se melhorar) atingirão graus mais elevados de desenvolvimento intelectual e moral. Histórico -. O espiritismo, tal como se entende hoje em dia como moderno espiritismo, teve suas sementes germinadas a partir de alguns fenômenos inexplicados que começaram a pipocar na América e na Europa em fins da primeira metade do século XIX. Geralmente os fenômenos de tiptologia (pancadas sem uma causa visível definida) e efeitos físicos ocorridos na cidadezinha de Hydesville, E.U.A, em 1848, são apresentados como o marco histórico inicial do desenvolvi-mento espírita contemporâneo. Porém, várias outras localidades passaram a relatar estranhos fe-nômenos de pancadas misteriosas e movimento de objetos que passaram a chamar a atenção das pessoas. Concomitantemente, surgiram outras manifestações de efeitos físicos por todo o mundo,

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dentre elas o chamado fenômeno das mesas girantes, que passou a ser explorado até mesmo em salões da sociedade. O que de início foi encarado como leve diversão de salão, causado por forças físicas ainda inex-plicáveis, chamou a atenção de alguns pesquisadores pela surpreendente manifestações de res-postas “inteligentes” dadas pelas mesas às perguntas formuladas pelos participantes. Dentre estes pesquisadores, o professor francês Hippolite Léon Denizard Rivail (1804-1869) foi quem mais longe levou o estudo dos fenômenos, do que resultou a publicação de um livro de importância capital: O Livro dos Espíritos, que veio à luz em 1857, tendo o seu autor utilizado o pseudônimo de Allan Kardec. A partir daí, vários estudiosos e cientistas de renome se voltaram para o estudo do espiritismo, tendo, muitos, reconhecido publicamente a autenticidade e relevância dos fenô-menos espíritas. Dentre os mais famosos cientistas que estudaram o espiritismo, destacam-se, na Inglaterra, o bió-logo Alfred Russel Wallace (1823-1913), o físico William Crookes (1832-1919), o fundador da Society for Psychical Research, William Henry Myers (1843-1901) e o físico Oliver Lodge (1851-1940); na França, grandes filósofos como Léon Denis (1846-1927) e o grande astrônomo Camille Flammarion (1842-1925), entre inúmeros outros, defendiam corajosa e abertamente o espiritismo, e o fisiólogo Charles Richet (1850-1935) se debruçou a tal ponto sobre o estudo dos fenômenos espíritas que acabou por formar uma área de estudos chamada de Metapsíquica Hu-mana que, posteriormente, serviria de alicerce para o que hoje se chama de Parapsicologia. Na Itália, destacam-se os nomes do criminólogo Césare Lombroso (1836-1909), do astrônomo Gio-vanni Schiaparelli (1835-1910) e, principalmente, do incansável e profícuo pesquisador Ernesto Bozzano (1861-1943), autor de livros extraordinários sobre Metapsíquica e Parapsicologia; na Alemanha, destacam-se os nomes de Karl Friedrich Zöllner (1834-1882) e do médico Alfred von Schrenck-Notzing (1832-1903), junto com o russo Alexandre Nikolaievitch Aksakov (1832-1903). Na Suíça, os fenômenos atraíram a atenção do jovem estudante Carl Gustav Jung (1875-1969), que os utilizou em sua tese de doutoramento em medicina, e que manteve seu interesse sobre fenômenos psíquicos por toda a vida; e, na América, outro ilustre psicólogo, e filósofo, William James (1842-1910) escreveu e discutiu extensivamente sobre o tema. Em nosso século, particularmente na segunda metade, o espiritismo tem recebido, mesmo invo-luntariamente, profundas contribuições da ciência e de áreas sem vínculos com o espiritismo, como a Psicologia, especialmente a Psicologia Transpessoal, e de áreas de vanguarda como a Fí-sica Quântica, Neuropsiquiatria, e, na tecnologia, com as pesquisas em Psicotrônica e em Trans-comunicação Instrumental, que é a captação e o registro de imagens e sons de Espíritos - salien-tando-se que esta área está sendo desenvolvida por engenheiros eletrônicos, cientistas e técnicos sem nenhum ou com muito pouco contato com o espiritismo, tanto na Europa quanto nos Esta-dos Unidos. E, graças a Deus, ainda existem sacerdotes católicos - de reconhecimento internaci-onal, como o Pe. François Brune - que estudam os fenômenos de transcomunicação instrumental e têm um ótimo contato com os espíritas. De um modo geral, os fenômenos que comumente se caracterizam como espíritas - comunicação entre “vivos e mortos”; manifestações de poltergeists; curas perispirituais; lembrança de vidas passadas, etc. - são reconhecidamente encontrados em várias partes e culturas do globo (xama-nismo, estados alterados de consciência, etc.). Em nossa tradição judaico-cristã existem inúmeros exemplos, sendo o mais antigo, provavelmente, encontrado no Antigo Testamento, com o relato da visita de Saul à pitonisa (ou médium, como é encontrado em algumas versões da Bíblia) de En-Dor, que lhe possibilitou contatar com o Espírito do profeta Samuel (1 Sam 28,7-19). A his-tória dos grandes místicos e santos católicos também é repleta de “aparições” e “vozes” que se faziam ouvir a pessoas especialmente dotadas (Joana D’Arc., Hildegard von Bingen, etc.) Isso sem falarmos nas aparições póstumas de Cristo aos discípulos nos quarenta dias após a crucifica-ção, onde seu Espírito materializado aparecia e desaparecia de repente: “Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa...” (Marcos, 16,14); “E aconteceu que, quando estavam à mesa, ele tomou o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles”. (Lucas, 24, 31-32);

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“Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja convos-co!” (Lucas, 24, 36). “Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando trancada as portas da casa onde es-tavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: Paz seja convosco!” (João, 20, 19) A argumentação “teológica” de que não existe comunicação entre Espíritos e seres humanos, por esta ser proibida em Deuteronômio 18 indica mais um ponto em favor de sua veracidade. Da mesma forma como as leis mosaicas proibiam outras coisas - devido ao grau de conscientização moral da época -, a proibição do contanto com os Espíritos foi estabelecida exatamente por ser possível este contanto, o que traria muitos abusos. De qualquer forma, os Evangelhos narram o encontro de Cristo com dois mortos, Elias e o próprio Moisés, no episódio da Transfiguração - interpretado, pela igreja, como uma alegoria e não como um fato histórico em si. Atualmente, o espiritismo encontra-se espalhado por todo o mundo, embora tenha apresentado certo declínio na Europa depois das duas Grandes Guerras, tendo, recentemente, voltado a cres-cer. No Brasil, o movimento espírita apresenta expressivo número de participantes, sem contar os simpatizantes, e tem como orientadora a Federação Espírita Brasileira, e nomes de peso em suas fileiras, entre os quais o do grande médium, mundialmente reconhecido e respeitado, Fran-cisco Cândido Xavier; do Professor e fundador do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísi-cas, Dr. Hernani Guimarães Andrade, respeitadíssimo engenheiro e parapsicólogo, escritor e pesquisador internacionalmente citado, verdadeiramente reconhecido por ser detentor de inúme-ros prêmios na área da Psicobiofísica, inventor de aparelhos eletrônicos para a mediação de fe-nômenos psíquicos e autor e coautor de inúmeros artigos sobre parapsicologia e espiritismo pu-blicados em todo o mundo; do grande tribuno Divaldo Pereira Franco; do pesquisador e divulga-dor do Espiritismo Científico, Henrique Rodrigues - ganhador de prêmios em parapsicologia na Rússia e em outros países; do parapsicólogo e transcomunicador Clóvis Nunes, do saudoso co-municólogo Augusto César Vannuci, dentre inúmeros outros. Bibliografia Sugerida Enciclopédia Britannica-Mirador Verbete: Espiritismo,1991. Andrade, Hernani Guimarães. Morte, Renascimento, Evolução. Editora Cultrix/Pensamento, São Paulo, 1987. Andrade, Hernani Guimarães. Espírito, Perispírito e Alma. Editora Cultrix/Pensamento, São Pau-lo, 1988. Bozzano, Ernesto. Povos Primitivos e Manifestações Supranormais. Editora Fe, São Paulo, 1997. Doyle, Sir Arthur Conan. História do Espiritismo, Editora Pensamento, São Paulo, 1994. Kardec, Allan O que é o Espiritismo. FEB, São Paulo, 1986. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB, São Paulo, 1997. Nunes, Clóvis. Transcomunicação. Editora Edicel, Sobradinho, DF, 1998. Rodrigues, Henrique. A Ciência do Espírito. Editora O Clarim, Matão, 1992. Walsh, Roger & Vaughan, Sara (orgs.) Além do Ego: Dimensões Transpessoais em Psicologia. Editora Cultrix, São Paulo, 1992. -------------------------------------------------------------- 75 ------------------------------------------------- O QUE EFETIVAMENTE NOS SALVA? Paulo da Silva Neto Sobrinho Apreensivo, chega o fervoroso crente, junto ao seu líder religioso, e pergunta: Pastor, o que acontecerá agora com meu pai, que acaba de morrer: ele irá para o céu ou para o inferno? Você sabe, era um criminoso de mão cheia, tendo, em sua vida, cometido vários crimes. Gostaria de saber qual é o destino dele, pois, apesar de tudo o que fez, acreditava em Jesus, tinha uma fé ina-balável e nem mesmo o dízimo se omitiu de pagar. O Pastor pensou um pouco, procurando encontrar, em seus conhecimentos bíblicos, uma expli-cação plausível. Passados alguns minutos, respondeu: Meu caríssimo irmão, na Bíblia existe uma passagem que diz: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de

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Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie. (Ef 2, 8-9), portanto, pela palavra de Deus, ele irá para o céu, pois tinha fé e a fé é o que nos basta para sal-var-nos. Amém Pastor! Respondeu o consulente mais tranquilo e certo que seu pai estaria no céu. Lembramo-nos, imediatamente, do que disse o profeta Isaías: Quando vossos juízos se exercem sobre a Terra, os habitantes do mundo aprendem a justiça. Porém, se se perdoar o ímpio, ele não aprenderá a justiça, na Terra da retidão ele se entregará ao mal e não verá a majestade do Senhor. (Is 26, 9-10 – Bíblia Sagrada Ed. Ave Maria). O pensamento de que se deve repreender um cri-minoso, é tão claro que ficamos querendo saber porquê algumas pessoas não o entendem. Procuramos esta passagem em outra Bíblia, foi por aí que começamos a entender, o porquê das divergentes interpretações. Vejamo-la na versão da SBTB, cuja tradução é a normalmente adota-da pelas correntes protestantes: “Porque, havendo os teus juízos na Terra, os moradores do mun-do aprendem justiça. Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça; até na Terra da retidão ele pratica a iniquidade, e não atenta para a majestade do SENHOR”. Aqui ter o entendimento igual ao que encontramos na anterior é realmente mais difícil, pois o pensamento está subentendido. Mas, embora varie na forma, o pensamento no fundo é o mesmo. Se Deus deixasse de “castigar” um criminoso estaria pervertendo o juízo, isso não poderá acon-tecer: Porque, segundo a obra do ser humano, ele lhe paga; e faz a cada um segundo o seu cami-nho. Também, na verdade, Deus não procede impiamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juí-zo. (Jó 34, 11-12). Ainda não conseguimos entender porque as pessoas divergem tanto em relação à nossa salvação. Para uns basta ter fé, para outros é necessário praticar as boas obras, o que deixa muitas pessoas em dúvida, sem saber qual é mesmo a base da nossa salvação. Um dos autores bíblicos mais utilizado para sustentar a questão da fé, como maneira de se salvar, é Paulo. Sabemos que este apóstolo não foi discípulo de Jesus, inclusive, no início do cristianis-mo, perseguia os cristãos, até que um dia teve um encontro com o Espírito de Jesus na estrada de Damasco. A partir deste episódio, passa a se dedicar de corpo e alma à doutrina daquele que o questionara: Saulo, Saulo porque me persegues? (Atos 9, 4). Assume a missão de divulgar o Evangelho entre os pagãos, daí o chamarem de Apóstolo dos gentios. Faz diversas viagens para divulgar a Boa Nova. São dele as principais cartas contidas no Novo Testamento, nas quais iremos buscar o seu pensamento a respeito desse assunto. Depois iremos ver o que outras pessoas pensavam, principalmente Tiago, Pedro, João e, decisi-vamente, aquele a quem nenhum ensino poderá contradizer: JESUS. Pensamento de Paulo Devemos confessar que não é nada fácil entender Paulo, pois às vezes parece contraditório, já que em algumas oportunidades leva-nos a crer que a fé é que salva, ao passo que em outras dá-nos a ideia que são as obras, enfim, as coisas ficam realmente muito confusas. Até Pedro recla-mava isso de Paulo, veja: É o que, aliás, ele ensina em todas as suas cartas. Nelas existem passa-gens de difícil compreensão; e existem pessoas ignorantes e inconstantes que lhes deformam o sentido, como aliás o fazem com outras partes das Escrituras, para a sua própria ruína”. Pedro es-tá absolutamente correto em seu pensamento, inclusive, o poderemos aplicar tranquilamente aos dias de hoje, já que vemos pessoas “deformando o sentido das Escrituras. (2 Pedro 3, 26). De início é bom colocarmos, a seguinte explicação: “O próprio Paulo não conheceu pessoalmente Jesus. O que ele fez foi a experiência do Cristo ressuscitado. Portanto, ao anunciar o Evangelho aos pagãos, foi preciso adaptá-lo à mentalidade dos ouvintes, respondendo às preocupações que eles tinham, conservado o que era essencial e deixando de lado o que não era importante”.(1) Isso é importante ter em mente, já que o apóstolo dos gentios usava linguagem adequada aos ouvintes, o que, em algumas situações, leva à aparen-te contradição no que fala. Vejamos alguns trechos de Paulo, que colocaremos na ordem cronológica aceita pelos exegetas:

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1 - Tessalonicenses 1, 2-3: Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do trabalho do amor, e da pa-ciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai. Nesta primeira passagem que analisamos, observamos Paulo dar graças a Deus porque todos pra-ticavam “obra da fé”, “trabalho do amor”, já deixando-nos mais seguros quanto ao seu pensa-mento a respeito do que irá nos salvar. 1 - Coríntios 13, 1-13: Ainda que eu falasse as línguas dos seres humanos e dos anjos, e não ti-vesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de ma-neira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse to-da a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser quei-mado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser adulto, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a espe-rança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. Fica claro que Paulo prega o amor acima de tudo. Explicam: À diferença do amor passional e egoísta, a caridade (ágape) é um amor de dileção, que quer o bem do próximo (Bíblia de Jerusa-lém). Ainda encontramos: Amor. A palavra grega é ágape. Ágape é mais que afeição mútua; ex-pressa a valorização altruísta no objeto amado (Bíblia Anotada). Nessa passagem está óbvio que o amor (caridade) é maior que a fé, embora não quer dizer que não necessitamos da fé, pelo contrário é por termos fé que praticamos a caridade. 2 - Coríntios 5, 10: Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal. O Apóstolo Paulo volta a falar novamente sobre o “a cada um segundo suas obras”, reafirmando o seu pensamento. Gálatas - 2, 16: Sabendo que o ser humano não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. Vejamos o que Paulo diz a respeito de não ser justificado pelas obras. Afinal, de que obras ele fala? Trata-se das obras da Lei, ou seja, Lei de Moisés. Ela, depois do advento de Jesus, não po-derá servir como base de salvação para os que se dizem cristãos. Devemos, pelos nossos atos, ser justificados, ou seja, tornaremos justos, pela fé em Cristo. Mas voltamos a dizer, não fé estática, só pela fé operante. Também João percebeu isso: Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. (João 1, 17). Esta passagem merece ser completada pelo estudo que L. Palhano Jr faz em seu livro “Aos Gála-tas – A Carta da Redenção”. Diz Palhano: “Para compreendermos melhor o texto acima, é preciso meditar e entrar no verdadeiro significa-do das expressões: ‘justificado’, ‘obras da lei’, ‘fé’ e ‘carne’. É o que pretendemos fazer a seguir. O verbo empregado na epístola para justificado é dikaicó, característico de Paulo e tão emprega-do por ele, que é preciso entendê-lo de modo correto. Na margem da Revised Standard Version of Bible, o termo é traduzido como “tido por justo”, isto é, considerado justo ou aprovado aos olhos de Deus; e o ponto a ser decidido era a maneira pela qual o indivíduo alcançaria uma posi-ção aceitável diante de Deus (Guthrie, D. Gálatas, introdução e comentários, São Paulo, Vida Nova, 1984, p. 107)”. “Vamos agora à expressão ‘obras da lei’. Talvez devêssemos fazer aqui um parêntese para um estudo pormenorizado sobre essa expressão, mas não o faremos; acrescentá-lo-emos mais tarde ou em um apêndice. Por ora, vamos apenas destacar, sem mais delongas, o seu significado cor-

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reto. A expressão grega ex ergon nomou tem sido traduzida para o português como “pelas obras da lei”, contudo pela proposta de Tenney (Tenney, M. C. Galatian: the charter of christiam li-berty. Michigan, Eerdmans Publishing, 1950, p. 194), uma tradução mais exata seria “por obra legais”, isso porque a palavra ‘lei’ foi usada sem o artigo definido, principalmente em certas fra-ses escolhidas que transmitem significações especializadas. A ausência do artigo usualmente significa que a qualidade do conceito escolhido é salientado, em lugar da sua identidade, embora em Gálatas e em outras epístolas, Paulo se refira à “lei mosaica” como a principal concretização do conceito. Em Roberton (Robertons, A. T. A grammar of the greek new Testament in the light of historical research, 3.a edição. New York, George H. Doran Co. 1919, p. 796) podemos ler claramente que, “em geral, quando nomes é indefinido em Paulo, refere-se à lei mosaica”, por consequente, ‘lei’, nessas instâncias, é um termo que se refere ao sistema de pensamento ou ao código de ação envolvido, em lugar de qualquer documento particular. É evidente então que Pau-lo estava se referindo não a que o indivíduo ‘não seria justificado por suas obras, mas sim, não seria justificado pelas obras da legalidade religiosa’, isto é, pelo cumprimento das formalidades preconizadas por códigos religiosos como ‘rituais’, ‘festas’, ‘cerimoniais’, ‘dogmas’, ou quais-quer exigências tais como ‘dízimos’, guardar os ‘sábados’, coisas deste tipo, mas que seria justi-ficado ‘pela fé em Jesus Cristo’”. “Para um conceito mais científico de fé, podemos dizer que ela é a capacidade de sintonizar-se com Deus (Jesus Cristo, no caso, o representa) e, para isso, é preciso reconhecer a sua paternida-de divina, amando-o sobre todas as coisas (Mt 22, 37) e realizar a sua vontade, amando o próxi-mo como a si mesmo (Mt 22, 39). Como ensinou Jesus, aí estão toda a lei e os profetas. É óbvio que essa fé tem que vir acompanhada de obras que a testifiquem; ter fé só por ter de nada adian-ta. Dizer que crê em Cristo não salva ninguém, mesmo batendo no peito, porquanto”: “... a quem pensar que a fé por si só é suficiente, sou levado a dizer: Acreditais na existência de Deus? No inferno, os demônios também acreditam e, no entanto, estremecem. Porventura ainda não vê, ó ser humano sem percepção, que a fé sem obras é inútil e morta? (Tg 2, 19 e 20)”. “Quanto à expressão ‘carne’ (grego sarx), ela quer dizer “ninguém, nenhuma pessoa viva”, será justificado “pelas obras da lei”. Trata-se de uma sinédoque, uma figura de linguagem comum da vida diária, como ‘cérebros’ em lugar de eruditos, ‘cabeças’ em lugar de gado e ‘vapor’ em lugar de navio. Temos assim as chaves da interpretação do versículo 2, 16. Ele é muito importante para o entendimento da proposta de Paulo, não entendida ou distorcida pelos ditos ‘doutos das igre-jas’. Vamos concluir o estudo desse versículo, traduzindo-o para uma linguagem mais atual, que nos mostra como ele deve ser entendido”: “Sabemos que o ser humano não é considerado justo nem aprovado por Deus pelo seu desempe-nho nas formalidades prescritas na lei, mas pela fé operante em Jesus Cristo. Nós próprios somos reconhecidos justos pela nossa fé e não pela obediência ao estipulado como lei, por reconhecer-mos que ninguém pode salvar-se apenas por praticar liturgias (obras da lei)”. (grifos do original). Gálatas 5, 4-6: Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caí-do, Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça. Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor. A expressão “a fé que opera pelo amor”, dá-nos a verdadeira ideia de Paulo a respeito do amor. Conforme dissemos anteriormente, é o amor que faz a fé ser operante, não é, portanto, uma fé no sentido de somente se crer. Gálatas 5, 14: Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não foi isso exatamente que Jesus disse, acrescentado que toda a Lei e os profetas se achavam contidos nesse mandamento. Gálatas 6, 2: Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo. Levar a carga uns dos outros não é a ação na caridade por amor ao próximo? Não é assim, que conforme Paulo, es-taremos cumprindo a lei do Cristo? Não são, portanto, das obras que fala? Com isso, fica difícil querer argumentar que é a fé que salva, não é mesmo? Gálatas 6, 7-9: Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o ser humano seme-ar, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de fazer bem, por-que a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. É o que chamamos de Lei de Ação e

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Reação. Não há como se iludir, tudo o que fizermos voltará contra nós ou a nosso favor. Se se-mearmos ódio, colheremos exatamente o ódio, se ao contrário, plantarmos amor; ceifaremos amor. Por isso, Paulo adverte para não nos cansarmos de fazer o bem, pois na colheita é isso que iremos colher. Romanos 2, 5-8: Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; o qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obe-dientes à iniquidade; Nessa passagem não existe dúvida alguma no que diz Paulo sobre o juízo de Deus, que: “recompensará cada um segundo as suas obras”. Aqui não contradiz o que Jesus colocou, conforme iremos verificar posteriormente. Romanos 2, 9-11: Tribulação e angústia sobre toda a alma do ser humano que faz o mal; primei-ramente do judeu e também do grego; glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; porque, para com Deus, não há acepção de pessoas. A recompensa é tribulação e angústia para quem faz o mal; glória, honra e paz para quem pratica o bem. Ora, isso só pode ocorrer pela ação do ser humano, ou seja, por suas próprias obras, o que podemos confirmar pela passagem imediatamente anterior. E para os que dizem serem os únicos salvos, ou os que se julgam a “religião eleita”, podemos acrescentar: “Deus não faz acepção de pessoas”. Assim, perguntamos de onde tiraram essa ideia absurda de que Deus estabelece qual-quer tipo de privilégio? Romanos 2, 13: Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Novamente estamos diante de um pensamento que não deixa margem a qualquer tipo de dúvida. Os que praticam a lei é que hão de ser justificados, não os que somen-te a ouvem. A prática é mais importante que a fé. Como se pratica a lei? Fazendo o bem ao pró-ximo. Romanos 3, 21-28: Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Onde está lo-go a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé. Concluímos, pois, que o ser humano é justificado pela fé sem as obras da lei. Paulo combatia veementemente os ju-deus judaizantes, que queriam de qualquer forma fazer com que os novos convertidos ao Evan-gelho, que ele chama de fé em Jesus Cristo, praticassem as exigências da Lei, ou seja, obras da Lei. A circuncisão, por exemplo, foi motivo de grandes controvérsias no cristianismo primitivo. Alguns queriam que os neófitos fossem circuncidados, conforme determina a Lei de Moisés, en-tretanto, outros como Paulo, achavam que não havia a mínima necessidade, já que a “graça” de Deus por meio de Jesus era superior às leis mosaicas. Assim, ao dizer que o ser humano é justifi-cado pela fé sem as obras da lei, está querendo dizer que o ser humano se torna justo ao aderir ao Evangelho de Jesus, não sendo mais necessário cumprir as “obras da Lei”, ou seja, a legislação mosaica. Deixando bem claro, que não está pregando a fé inoperante como supõem alguns, mas a fé demonstrada pelas ações a favor do próximo. Visto dessa forma não contraria nada do que disse e que já analisamos em itens anteriores. Romanos 8, 28-30: E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Encontramos a seguinte explicação: “O projeto eterno de Deus é predestinar, chamar, tornar justo e glorificar a cada um e a todos os seres humanos, fazendo com que todos se tornem imagem do seu Filho e reúnam como a grande família de Deus. O projeto não exclui ninguém. Mas o ser humano é li-vre: pode aceitar ou recusar tal projeto, pode escolher a vida ou a morte, salvar-se ou condenar-

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se” (Bíblia Sagrada, Ed. Pastoral, em nota de rodapé). Veja bem, a questão da predestinação para sermos à imagem de Jesus. O que poderíamos dizer em outras palavras: Pela vontade de Deus todos nós estaremos um dia na mesma evolução que Jesus. Seremos justificados em Jesus, quan-do aplicarmos, no dia-a-dia, os seus ensinamentos sintetizados no amor incondicional. Romanos 10, 4- Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. Ora Moisés des-creve a justiça que é pela lei, dizendo: O ser humano que fizer estas coisas viverá por elas. Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cris-to.) Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a jus-tiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo. Se perdermos de vista o que Paulo disse anteriormente, poderemos con-cluir que agora ele prega a fé. Mas, ainda aqui, ele trata da questão de Deus não fazer acepção das pessoas, que todo aquele que invocar o nome de Jesus será salvo. Quem crê realmente em Je-sus deve praticar o que ele ensinou, caso contrário a crença é completamente inútil. Talvez pelo público alvo, Paulo não quis dizer mais a fim de completar o que realmente pensa. Para eles o fa-to extraordinário de Jesus ter ressuscitado dos mortos, era mais uma certeza que Deus não estava abandonando o seu povo. Jesus iria continuar orientando, como ainda faz, a todas as criaturas pa-ra que, na prática do Evangelho, todos possam se salvar. Iremos ver posteriormente a salvação segundo Jesus, para não termos mais dúvidas sobre o que nos salva. Romanos 13, 8-11: A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao pró-ximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor. E isto digo, conhecendo o tempo, que já é ho-ra de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. Veja que agora Paulo está completamente de acordo com os ensinamentos de Je-sus. E observe a afirmativa de que o cumprimento da lei é o amor. Amor a todos e de tal forma que não conseguiremos ficar inertes ao vermos um irmão necessitado, imediatamente entraremos em ação e o ajudaremos naquilo que precisa. E se Paulo pregasse que somente a fé é que salva, não teria dito: a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. Acei-tar a fé é pouco, necessário praticar, pois só assim demonstraremos que amamos o próximo como a nós mesmos. Efésios 1, 3-4: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com to-das as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor. Tornar santo e irrepreensível diante de Cristo em amor é, segundo a máxima que nos deixou, que deve-mos “amar ao próximo como a nós mesmos”. Ora, quem ama ao próximo lhe presta auxílio todas as vezes que for necessário. Esse ato de caridade é realizado porque se tem muito amor. Efésios 2, 8-9: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Chegamos na passagem citada no início, colocada em nossa história. É comum vermos essa citação somente até o versículo nove, sem que coloquem o complemento (v. 10) que é importante para o entendimento da passagem: Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé”, ou seja, o amor de Deus faz com que sejamos salvos. Na visão Espírita isso é mais claro, pois o amor de Deus nos arrasta a Ele, vamos assim dizer, de tal sorte que a nossa única escolha é se iremos devagar ou se iremos depressa. “Salvos por meio da fé”, é fazermos o que determina Jesus em seu Evangelho, princi-palmente o “amar ao próximo como a nós mesmos”. Isso é um dom de Deus, porque por sua ex-clusiva vontade Ele quer que sigamos os exemplos de Jesus, que nos enviou para servir de mode-lo e guia. Se somos criados em Jesus Cristo é porque é o desejo de Deus que andemos nas boas

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obras, já que nos predestinou exatamente para isso. Não foram as boas obras que praticou o tem-po todo que esteve aqui na Terra encarnado? Colossenses 3, 12-14: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos ou-tros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da per-feição. Paulo entendeu muito bem, o ensinamento de Jesus, deixando-o mais claro ainda, aquele em que diz: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”. (Mateus 5, 48). Amor operante. Nada de só crer e achar que com isso está tudo bem. Colossenses 3, 15-17: E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, do-mine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemen-te, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Co-locamos essa passagem para completar o pensamento de Paulo na anterior. A expressão “para a qual também fostes chamados em um corpo”, estaria implícita a preexistência do Espírito? Parti-cularmente pensamos que sim, pois se fomos chamados em um corpo é porque vivemos sem ele. Seria o mesmo que dizer que fomos chamados a viver num corpo. Deseja Paulo que a palavra de Cristo habite em nós abundantemente, em toda a sabedoria, ou seja, que possamos entender tudo o que ele nos ensinou mostrando isso na prática do dia-a-dia. A plenitude do amor em nós seria a completa aplicação dos ensinamentos de Jesus, seria então o “vínculo da perfeição”. 1 - Timóteo 2, 1-4: Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, inter-cessões, e ações de graças, por todos os seres humanos; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os seres hu-manos se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Paulo exorta a Timóteo a praticar boas obras a favor de todos: amor altruísta! Perguntamos: Se Deus quer que todos os seres humanos se salvem, quem poderá ser contra a vontade de Deus? Pensamento de Tiago (irmão do Senhor) Foi Tiago que dirigiu a Igreja de Jerusalém. Sua decisão prevaleceu na primeira divergência en-tre os cristãos, no chamado Concílio de Jerusalém, ano 49 d.C., sobre a questão da circuncisão. Exercia uma forte liderança, muito maior que a de Pedro tido como o primeiro Papa. As corren-tes religiosas se divergem quanto ao grau de parentesco de Tiago com Jesus. Os católicos colo-cam-no como primo, já que o termo irmão, segundo eles, servia para designar também primo. Os protestantes já o têm como meio irmão de Jesus. Entretanto ao usarem desse mesmo termo para designar alguns dos discípulos que eram irmãos, não dizem que eram primos. Mateus (13, 44-56), narra: Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto? Não temos dúvida que eram mesmo irmãos de Jesus, até mesmo porque a cultura da época exigia da mulher muitos filhos, caso contrário não era uma boa esposa. Se isso estiver correto, é mais uma forte razão, para vermos que o pensamento de Tiago condiz com o de Jesus. Tiago 1, 22-27: E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com fal-sos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao ser hu-mano que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã. A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo. Prá-tica das obras ou fé? Não deixa margem para alguma dúvida: “cumpridores da palavra”. Essa co-locação de Tiago é muito interessante: “A religião pura e imaculada para com Deus é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”, ou seja, prática do amor ao próximo pela realização dos atos de caridade.

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Tiago 2, 8: Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Este pensamento é igual ao de Paulo, e corresponde ao que Jesus ensi-nou. Onde está dito alguma coisa sobre fé? Tiago 2, 14-17: Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de manti-mento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Ao terminar dizendo que mostrarei a minha fé pelas minhas obras, Tiago traz o conceito que falamos anteriormente, quando falávamos do pensamento de Paulo de ser uma fé operante. Quem tem fé deve mostrá-la com as obras que realiza. Que adianta ter fé se o irmão ao seu lado passa fome? É o questiona-mento incontestável de Tiago para os que dizem que apenas a fé é que salva. Tiago 2, 21-23: Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Para provar que as obras é a base para a justificação, Tiago nos dá o exemplo de Abraão. Mostra que a fé é aperfeiçoada pelas obras. Tiago 2, 26: Porque, assim como o corpo sem o Espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. Não há o que contestar a clareza desse pensamento. É tão claro e objetivo, que não entendemos porque as pessoas ainda têm a coragem de dizer que é a fé que salva. Pensamento de Pedro Como discípulo de Jesus, inclusive, aceito por alguns como sendo o primeiro Papa, devia conhe-cer mais profundamente os ensinamentos do Mestre. 1 - Pedro 1, 17: E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação. Encontramos novamente a expressão que o julgamento será “segundo a obra de cada um”, reafirmando o pensamento de to-dos no cristianismo primitivo. Os seres humanos, infelizmente, deturparam os ensinamentos de Jesus, para sua própria perdição. Também confirma que Deus não faz acepção de pessoas, ou se-ja, não há privilégios junto a justiça divina. 1 - Pedro 3, 8-12: E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis. Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que por herança alcanceis a bênção. Porque quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua lín-gua do mal, e os seus lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; Busque a paz, e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, E os seus ouvidos atentos às suas ora-ções; Mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal. Recomendações que já ouvimos, só que com outras palavras, de Paulo e Tiago. Tudo isso também condiz com os ensinamentos de Jesus. 1 - Pedro 4, 7-11: Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, admi-nistre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém. Agora fica mais clara a questão do amor corresponder ao sentimento de caridade para com o próximo. Fechando: “A caridade cobre uma multidão de pecados”, é por isso que o lema do Espiritismo é: “Fora da caridade não há sal-vação”. 2 - Pedro 1, 2-10: Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor; visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza di-vina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo. E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à

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ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Acompanhando o raciocínio de Pedro veremos que ele coloca a caridade entre as coisas importantes que devemos acrescentar à nossa fé. Dizendo, ao final, que quem não possui essas coisas é cego, ou seja, não entendeu nada do ensinamento de Cristo, são, portanto: “ociosos e estéreis no conhecimento de Cristo”. Fechando magistralmente seu pensamento. Pensamento de João João o discípulo que Jesus mais amava, conhecia, portanto seus ensinamentos. 1 - João 3, 17-18: Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. Nem precisamos dizer mais nada, tão óbvio que fica a questão do amor expresso em obras. Pensamento de Jesus Devemos ter sempre em mente que o discípulo não pode ser superior ao mestre, conforme nos alerta Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. (João 13, 16). Mateus 7, 21-29: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao ser humano prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque es-tava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compa-rá-lo-ei ao ser humano insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e desceu a chuva, e corre-ram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda. E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas. Muitos religiosos ainda dizem que as pessoas estão salvas por pertencerem a determinada Igreja ou por ter fé, ou por crer em Jesus como salvador, etc., entretanto, parecem que fazem vistas grossas à essa passagem da Bíblia. Quem não praticar os ensinos de Jesus, não receberá recompensa alguma. Mateus 16, 27: Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras. Como já prevíamos anteriormente a salvação para Jesus está nas obras, já que cada um será julgado pelas suas obras. E ainda existem pessoas querendo contradizer Jesus, dizendo que é a fé que salva, embora muitos deles, na prática diária, fazem do dízimo o instrumento da salvação. Mateus 19, 16-23: E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso teste-munho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se que-res ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus. Nessa passagem fica nítida a questão da prática da caridade. O jovem rico tinha fé e cumpria todas as outras determinações religiosas, entretanto não se preocupava com os necessi-tados. Daí Jesus recomendar-lhe vender tudo e doar aos pobres para ter um tesouro no céu. Ape-gado demais aos bens terrenos o jovem foi-se embora triste.

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Mateus 25, 31-46: E quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direi-ta, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te ves-timos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes di-rá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fi-zestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na pri-são, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna. Essa passagem que simboliza o dia do juízo, dia que devemos pres-tar contas a Deus de tudo o que fizemos. Quem foi para a direita de Deus (bom lugar) foram os de fé ou os que fizeram obras? As obras exemplificadas são: dar de comer aos famintos, vestir os nus, dar água a quem tem sede, hospedar os viajantes, visitar os doentes e os prisioneiros, tudo isso são atos de amor ao próximo. No simbolismo, a separação dos bons dos maus é pela fé de cada um? Pela religião? Ou pelas obras praticadas a favor do próximo? Repetimos: “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO”. Lucas 10, 25-37: E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, responden-do ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Je-sus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém pa-ra Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, ven-do-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; e, partindo no ou-tro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira. Essa parábola do Bom Samaritano é por demais co-nhecida de todos. Somente por ela já poderíamos saber o que nos salva. O sacerdote representa todos os líderes religiosos preocupados consigo mesmo sem nenhum sentimento de amor ao pró-ximo. No levita poderemos identificar todas as pessoas ligadas a uma determinada religião, que apesar de possuírem alguém que os ensine o que fazer, não fazem absolutamente nada a favor do próximo. São ambos, sacerdote e levita, egoístas como muitos crentes nos dias de hoje. O sama-ritano era considerado herege, pelos religiosos que passaram a passos largos diante do ser huma-no caído à beira da estrada, entretanto é o exemplo dele que Jesus recomenda seguir. Foi justa-mente este bondoso samaritano que, com obras, provou que tinha mais fé que os outros dois. Ele deveria ser um ponto de referência para determinadas pessoas que vivem a criticar a crença dos outros. Fiquem certos, de uma vez por todas, que para Deus somente será justificado quem prati-car a lei de amor, lembre-se “A Deus ninguém engana”. Conclusão

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Muitas pessoas insistem em pegar frases soltas da Bíblia para tentarem justificar seus pensamen-tos. Ora, não há como afastar a frase do seu contexto imediato, e de todo o conjunto da Bíblia. Aos que querem isolar passagens, em Deuteronômio 28, 30, temos uma para exemplo: Desposar-te-ás com uma mulher, porém outro homem dormirá com ela; edificarás uma casa, po-rém não morarás nela; plantarás uma vinha, porém não aproveitarás o seu fruto. Veja que ela fo-ra do contexto é uma coisa absurda que Deus se propõe a fazer. Entretanto, dentro do contexto é apenas uma ameaça que Deus está fazendo, vejamos no versículo 15 o início da narrativa: Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR teu Deus, para não cuidares em cum-prir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão. O que vemos então? É pura e simplesmente “Deus” dizendo ao povo hebreu que se não guardas-se os seus mandamentos Ele iria aplicar várias maldições, entre elas a do versículo 30 que esco-lhemos para exemplo. Essa narrativa, diga-se de passagem, está confirmando que não existe inferno, pois se ele fosse real como querem alguns, “Deus” teria dito: “se não cumprirem meus mandamentos irão para o fogo do inferno”. Até mesmo porque: Assim, também, não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca. (Mateus 18, 14). Se é vontade de Deus que ninguém se perca, ninguém se perderá e pron-to. E, finalizando, colocaremos essa frase de Jesus: Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. (João 14, 10-12). Veja bem, as obras que Jesus faz não vem dele, mas do Pai, e ele afirma que podemos fazer essas mesmas obras e até maiores, nos dá a certeza que as obras que fazemos serão para cumprir a vontade de Deus. Mas quais são as obras de Jesus? No tempo que passou junto de nós, curou en-fermos, deu vista a cegos, curou paralíticos, libertou pessoas de Espíritos maus, enfim somente obras de amor, o amor operante de que já falamos por várias vezes. ------------------------------------------------------------- 76 -------------------------------------------------- “OVOIDES” ENTREVISTA com o Dr. Ricardo Di Bernardi 1 - Dr. Ricardo, existem os chamados “Espíritos ovoides”? R - Sim existem, dependendo do que vocês estão imaginando... 2 - São Espíritos que se apresentam ou são vistos de forma esférica ou aproximadamente elíptica de coloração plúmbea (cinza escuro). R. Sim, é verdade, eles são vistos por muitos médiuns e descritos por Espíritos protetores ou ori-entadores como André Luiz. Na realidade é o seu perispírito que se acha deformado assumindo esta morfologia. 3 - Como se tornam assim? R - Sabemos serem Espíritos humanos que, pela manutenção de uma ideia fixa e doentia (mo-noideísmo), acabam estabelecendo uma vibração de baixa frequência e comprimento de onda longo, que, com o passar dos anos, produz uma deformação progressiva no seu perispírito. 4 - Que tipo de ideia fixa doentia modifica o perispírito? R - Ódio e vingança principalmente. 5 - O ódio e a vingança deformam o perispírito... R - Trata-se de um monoideismo auto-hipnotizante. Ele vibra de forma contínua e constante, de maneira desequilibrada, gerando uma energia que gira sempre de maneira igual e repetida pelo mesmo pensamento desequilibrado. Ao vibrar repetidamente na mesma frequência e em desequi-líbrio com a Lei Cósmica Universal, gera este circuito arredondado que o vai deformando e tor-nando-o “ovoide”.

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6 - como se chama este processo? R - Ovoidização do perispírito. 7 - Afinal como se explica cientificamente que o perispírito sofra este processo? R - (...) o Perispírito é composto de moléculas, tal como o nosso corpo físico. Por analogia, ima-ginemos as moléculas do perispírito como as moléculas dos gases: elas são maleáveis e se modi-ficam ao sabor da pressão, da temperatura, e até do recipiente que contém o gás. As moléculas do perispírito, moldáveis pelo pensamento e pelo sentimento, tomam formas de acordo com a vi-bração do Espírito. Assim, se tornam brilhantes, opacas, densas ou “leves”. 8 - Quer dizer que os Espíritos adiantados tem o perispírito mais leve; e os mais atrasados são mais densos ? R - Exatamente! 9 - O aspecto desagradável que observamos no perispírito dos obsessores são reflexos dos seus pensamentos ? R - Exatamente! 10 - Daí podemos inferir que os ovoides só serão recuperados na forma humana normal quando mudarem sua vibração ou pensamento? R - Sim! mas muitos são tão persistentes no monoideísmo auto-hipnotizante que só recuperarão a forma humana reencarnando. 11 - Bem, sabemos que muitos não “desgrudam “ do obsidiado nem por nada... R - São encaminhados para reencarnação compulsória, na primeira oportunidade. --------------------------------------------------------------- 77 ------------------------------------------------ PAGAR O QUÊ? PARA QUEM? Orson Peter Carrara Somente o desconhecimento dos princípios espíritas pode gerar a ideia de que temos que pagar com sofrimentos, e para alguém, dívidas de existências passadas. Eis o equívoco. O que ocorre é que a existência do Espírito é única; as existências corpóreas é que são múltiplas, mas o ser integral é sempre o mesmo. As múltiplas existências corpóreas cumprem a finalidade de estágios de aprendizado, na verdade degraus de aperfeiçoamento. Como estamos todos em aprendizados, cometemos equívocos. Tais equívocos geram consequên-cias. Tais consequências podem redundar em prejuízos para nós mesmos ou para terceiros. E tais prejuízos devem ser reparados. Isto é das Leis Divinas. Tais reparações nós as devemos à nossa própria consciência, à vida. E, neste processo, podemos nos encontrar em situações aflitivas, de-correntes todas dos equívocos que nos envolvemos. Porém, tudo isso, não se refere a outro ser que viveu noutro tempo e que, aparentemente nenhum vínculo com ele mantemos. Não! Somos nós mesmos que agíamos nesta caminhada de aprendi-zados e que trazemos nas lembranças e registros, ainda que inconscientes, a necessidade dessas reparações que ora se apresentam na atualidade consciente que estamos vivendo. Assim funciona a Lei da Reencarnação. Os filhos de Deus estagiam em diversas existências cor-póreas (visando o próprio progresso, repetimos), habitando países e corpos diferentes, mas o Es-pírito é um só, razão pela qual carrega consigo seu patrimônio moral e intelectual, bem como as reparações devidas aos equívocos praticados com prejuízos para si mesmo ou para terceiros. Então, não se trata de uma questão de pagar, mas de conquistar a paz de consciência. Quando constatamos, antes da presente encarnação, que prejudicamos alguém ou a nós mesmos, solici-tamos que a próxima encarnação propicie os mecanismos de reparação. Esses mecanismos po-dem apresentar-se com a aparência de enfermidades, limitações físicas, dificuldades materiais, obsessões, entre outras. E a visão distorcida sobre os princípios espíritas gera a errônea ideia de que estamos no mundo para pagar... Renascemos simplesmente para dar continuidade ao processo evolutivo. Mas, como ontem (aqui significando existências corpóreas) nos alimentamos em excesso, hoje (atualidade que estamos vivendo na presente encarnação) poderemos estar enfrentando uma forte dor de estômago ou até uma incômoda diarreia, simplesmente como consequência imediata da gula. Agora peço ao leitor

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substituir o exagero da alimentação pelas diversas situações que podem ser imaginadas, em ou-tros exemplos. O exemplo da alimentação é apenas comparativo. Assim também nos prejuízos, de qualquer ordem, causados a terceiros. Criamos vínculos com eles e os trazemos em nós através de consequências que também podem ser apresentar com di-versas aparências. Isto é apenas a reação de uma ação. E o assunto ainda pode ser ampliado na visão dos aprendizes negligentes. Negligência no passa-do ou mesmo no presente. Tarefas adiadas, desprezadas, abandonadas... Tudo traz reflexos. Afi-nal colhemos hoje as ações de ontem e estamos continuamente semeando para o amanhã. Por outro lado, a título de ilustração do assunto, solicito ao leitor considerar também que nem to-do equívoco passado pode apresentar-se atualmente através de dificuldades. Muitas vezes, equí-vocos podem ser reparados através de trabalho e dedicação a causas e pessoas. Isto tudo porque, conforme já sabemos, “o amor cobre a multidão de pecados”. ------------------------------------------------------------- 78 -------------------------------------------------- UM PAI DE FAMÍLIA Orson Peter Carrara Nicolas Cage é o ator principal do filme Um pai de família, lançado em dezembro de 2000 nos principais cinemas do país. O filme mostra a experiência de um bem sucedido executivo de grande banco americano. Com todo o poder nas mãos, podendo adquirir tudo que desejasse e ao mesmo tempo contando com bom número de servidores e subordinados, controlava o grande banco com mãos de ferro. Conhecido pela grande inteligência e muita habilidade nas questões econômicas, dedicava sua vida em proporcionar lucros crescentes à empresa, que o valorizava com altos salários e invejadas mordomias. Na Noite de Natal, viu-se, entretanto, sozinho e talvez um tanto melancólico recordava-se da antiga namorada deixada há 13 anos, quando resolveu se-guir a bem sucedida carreira executiva. A sequência do filme deixa entender que o telefonema da ex-namorada, durante o dia no escritó-rio, fe-lo buscar recordações, embora tenha recusado atender o telefone. E nesse estado de espíri-to, dormiu. Dormiu e sonhou que acordava em outra vida, agora casado com aquela que fora sua namorada e pai de dois filhos. Assustado com a rotina de uma vida familiar, tentou voltar ao Banco onde não foi reconhecido. Desesperado, teve que se contentar com as dificuldades da vida conjugal, de pai de família... Embora mantendo a memória de ser o famoso executivo, não con-seguia retomar a própria realidade. O filme desenrola-se quase por inteiro no cotidiano de uma família de classe média, culminando com o despertar de nosso personagem em sua vida real de destacado diretor do famoso banco. O despertar, entretanto, provocou o cancelamento de inadiável reunião marcada para aquela manhã e a busca da antiga namorada, a quem relatou todo o sonho - inclusive citando nome e idade dos filhos, seus sonhos e detalhes da vida em comum. O The end deixa que o público tire suas pró-prias conclusões, sugerindo um reatar de namoro para transformar em realidade o sonho vivido com tanta intensidade. E há uma frase no filme que é a marca da fita cinematográfica ora comen-tada: Não importa nosso endereço, o importante é que estejamos juntos. A frase, muito além do aspecto romântico entre casais, indica a importância da família e da convivência entre seres afins, normalmente reunidos no contexto familiar visando o progresso, como bem definem as Leis Divinas. Fica a sugestão ao leitor para apreciação do bem elaborado trabalho. Podemos fazer um estudo dos três parágrafos acima à luz da Doutrina Espírita. Podemos assistir o filme e enxergá-lo sob a ótica espírita. Vários itens podem ser enquadrados. Para efeito didáti-co do artigo, podemos analisar a questão dos laços de família e da missão da paternidade (respec-tivamente questões 773 a 775 e 582 de O Livro dos Espíritos, que sugerimos para consulta do leitor). Sugerimos porque desejamos analisar o tema com mais abrangência sob outro aspecto: a dos sonhos. Embora se trate de um filme, com suas fantasias, podemos classificar o sonho de que forma? No mesmo O Livro dos Espíritos, as questões 400 a 421 tratam do assunto, de onde trazemos as informações seguintes dadas pelos Espíritos: O Espírito jamais fica inativo durante o sono do

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corpo; podemos avaliar a liberdade do Espírito durante o sono pelos sonhos; dispondo de mais faculdades que no estado de vigília, durante o sono - enquanto o corpo repousa - o Espírito tem a lembrança do passado e às vezes a previsão do futuro; o Espírito vê em sonho aquilo que deseja, porque vai procurá-lo; pessoas que se conhecem ou não podem visitar-se durante o sono do cor-po, se visitarem e conversarem. Já na Revista Espírita (julho de 1865 - vol. 7 - edição Edicel), com o título Teoria dos Sonhos, Allan Kardec desenvolve considerações importantes sobre a questão. Destaca uma classificação sobre os sonhos e apresenta o princípio básico dos sonhos. Usando palavras do próprio Codifica-dor, referindo-se ao Espiritismo: Demonstra que o sonho, o sonambulismo, o êxtase, a dupla vis-ta, o pressentimento, a intuição do futuro, a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo princípio: a emancipação do Espírito, mais ou menos desprendido da maté-ria. Esta incessante atividade do Espírito durante o sono do corpo indica que muitas providências, decisões de interesse do Espírito são tomadas durante o desprendimento pelo sono. Apenas o corpo dorme, pois na vigília ou durante o sono o comandante do corpo é o Espírito, senhor abso-luto de decisões que o livre arbítrio lhe confere. Decisões que vão interferir na felicidade ou infe-licidade, saúde ou enfermidade que o corpo vai experimentar, por constituir-se ele em instrumen-to dirigido pelo Espírito nele encarnado, como ensina a notável Doutrina Espírita. Na verdade, vivemos uma única realidade e quando na vigília estamos parcialmente bloqueados pelo corpo físico. Quando desprendidos pelo sono, desfrutamos da liberdade plena, cujas imagens e experi-ências o sonho registra, muitas vezes é de forma confusa pois o corpo não participou e o registro pelo cérebro carnal fica confuso. Entre os sonhos, e aqui usando palavras do Codificador ainda na Revista Espírita acima citada, uns há que tem um caráter de tal modo positivo que, racional-mente, não poderiam ser atribuídos a simples jogo de imaginação; tais são aqueles nos quais, ao despertar, adquire-se a prova da realidade do que se viu, e em que absolutamente não se pensava. Não se confunda aqui os sonhos provenientes de pesadelos por alimentação inadequada ou pro-vocados por imaginação excitada e até aqueles oriundos de exageradas preocupações materiais. Vamos enquadrar os casos de origem espiritual, de ativa participação do Espírito. No caso do filme citado, excluindo-se os exageros da imaginação e da fantasia, poderá notar o leitor que tiver oportunidade de assistir, que tudo foi um sonho, mas a decisão final coube ao personagem da trama vivida, para mudar ou transformar em realidade aquilo que verdadeiramen-te buscava. E abrimos horizontes para outra questão básica: o livre-arbítrio, que para não alongar o artigo deixo ao leitor pesquisar nas questões 843 a 850 de O Livro dos Espíritos. Porém, a mensagem do filme fica: não importa o endereço, importante é que estejamos sempre juntos. ------------------------------------------------------------- 79 -------------------------------------------------- PALESTRANTES E PALESTRAS Warwick Mota Sempre que se fala em reunião pública, pensamos logo em palestra, e por via de consequência imaginamos quem será o expositor e qual será o tema a ser apresentado no dia. É sempre motivo de expectativa, por parte do público assistente, o tema a ser abordado pelo palestrante. A palestra espírita constitui-se nos dias atuais um dos grandes mecanismos de divulgação da Doutrina, principalmente para as pessoas que estão chegando pela primeira vez à Casa. A men-sagem renovadora e esclarecedora que passa o expositor tem como objetivos principais, o des-pertar de consciências e a valorização de aspectos espirituais esquecidos que conduzem o ser humano a uma participação efetiva no processo evolutivo da humanidade. Como sabemos, muitas pessoas buscam a Doutrina Espírita na certeza de que vão encontrar res-postas concernentes para suas dúvidas e aflições, é aquela famosa frase, se não chegamos pelo amor, chegamos pela dor. Os conceitos impostos ao longo dos tempos pelas religiões ortodoxas trazem o questionamento pessoal de valores espirituais e levam pessoas a procurarem um argu-mento forte que satisfaça suas dúvidas.

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Há um dito popular que diz que a primeira impressão é a que fica, e no caso o papel do expositor é de extrema importância para a transmissão de conceitos renovadores, a exposição balizada no evangelho de Jesus, nas obras básicas de Kardec, ou em obras de alto cunho doutrinário, como as de: Léon Dennis, Gabriel Delanne, André Luiz, Emmanuel, etc., realçam o caráter da pureza doutrinária, dirimindo dúvidas, e por extensão, trazendo esperança e conforto a corações aflitos. Logicamente nós Espíritas sabemos que o papel das palestras não se resume simplesmente em esclarecer os encarnados, pois que há um envolvimento maior no contexto, e que essa dinâmica gira entre o plano físico e extrafísico; é aí que entram as nossas companhias espirituais. Cabe-se observar ainda, que quando nos acomodamos em um banco, de um salão de palestras, trazemos a nossa psicosfera pessoal alterada em função dos nossos problemas vividos ao longo do dia, e que as pessoas que nos cercam trazem problemas idênticos ou diferentes dos nossos, o que já envolve a psicosfera do ambiente. Nós carregamos conosco nossas companhias espirituais, que nos acompanham ao Centro e se acomodam junto a nós, nos bancos do salão tendo participação efetiva na psicosfera do local. À medida em que o expositor desenvolve o assunto, acontece a mudança espiritual no ambiente, pois se modifica o teor das vibrações, através da uniformização dos pensamentos. É justamente a figura do expositor que nos chama atenção. A falta de preparo e o pouco conhe-cimento da Doutrina podem trazer sérios problemas, a responsabilidade de quem assume a tribu-na espírita é muito grande, pois os comprometimentos são muitos. A abordagem de forma pesso-al, de assuntos que requerem conhecimento doutrinário, pode afastar para sempre aquele que chega pela primeira vez à Casa. A ambição de alguns em subir a tribuna é no mínimo preocupante, pois o objetivo no caso não é levar o Espiritismo ao público, mas sim buscar o status de orador espírita. Para isso usam dos mais variados artifícios; esquecem que devem ter estilo próprio, e se preocupam em imitar gran-des expositores, inclusive nos gestos, ou então, limitam-se em decorar longos trabalhos rechea-dos de um vocabulário altamente prolixo, que logicamente vai prender o público mais no signifi-cado das palavras, do que na mensagem cristã. A preparação do palestrante é de fundamental importância, a observação cuidadosa dos assuntos a serem abordados e o cuidado em citar Jesus e Kardec nas exposições, trazem com certeza a boa inspiração por parte da espiritualidade maior, e um melhor entrelaçamento com o público. --------------------------------------------------------------- 80 ------------------------------------------------ PAPEL CARBONO Rogério Coelho “(...) Eu vim para que tenham Vida, e a tenham com abundância”. - Jesus. (João, 10:10.) A Vida corporal, transitória, não passa de um “papel carbono” da Vida Espiritual, esta sim, a verdadeira Vida. Tal realidade é - insofismavelmente - demonstrada pelo testemunho dos pró-prios habitantes da Vida Maior, que, através dos canais mediúnicos tentam nos dar uma ideia dos cenários celestiais. Mas, para nós, encarnados, é muito difícil captar todas as nuanças e magnifi-cências do Mundo Espiritual, uma vez que não temos parâmetros ou referenciais que nos auxili-em nessa compreensão. Sem embargo, os Espíritos tentam contornar essas limitações e vêm nos oferecer uma pálida ideia do ambiente onde vivem e para onde um dia nos transferiremos. A segunda parte do livro básico do Espiritismo “O Céu e o Inferno”, contém um repositório farto desses testemunhos, como por exemplo, o do Espírito que se identifica por Sixdeniers: “Perma-neci muito tempo sem me reconhecer, mas com a graça de Deus e o auxílio dos que me cerca-vam, quando a luz se fez, inundou-me. Nada existe aqui de material; tudo fere os sentidos ocul-tos sem auxilio da vista ou do tato. Compreendeis? É uma admiração, porque não há palavras que a expliquem. Só o Espírito pode percebê-la. Bem feliz foi o meu despertar... Imaginai que estais encerrado em calabouço infecto onde o vosso corpo, corroído pelos vermes até à medula dos ossos, se suspende por sobre ardente fornalha; que a vossa ressequida boca não encontra sequer o ar para refrescá-la; que o vosso Espírito aterrorizado só vê ao seu redor mons-tros prestes a devorá-lo; figurai-vos enfim tudo quanto um sonho fantástico pode engendrar de

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hediondo, de mais terrível, e transportai-vos depois e repentinamente a delicioso Éden. Despertai cercado de todos os que amastes e chorastes; vede, rodeando-vos, semblantes adorados a sorri-rem de felicidade; respirai os mais suaves perfumes; desalterai a ressequida garganta na fonte de água viva; senti o corpo pairando no Espaço infinito que o suporta e balouça, qual a flor da fron-de se destaca aos impulsos da brisa; julgai-vos envolto no amor de Deus qual recém-nascidos no materno amor e tereis uma ideia, aliás apenas imperfeita, dessa transição. Procurei explicar-vos a felicidade da Vida que aguarda o ser humano depois da morte do corpo e não pude. Será possível explicar o infinito àquele que tem os olhos fechados à luz e que não pode sair do estreito círculo que o encerra?”. Eis, agora, o relato da senhora Foulon, dirigindo-se a Kardec: “(...) considero-me feliz agora; es-tes míseros olhos que se enfraqueceram a ponto de me não deixarem mais que a recordação de coloridos prismas da juventude, de esplendor cintilante; estes olhos, digo, abriram-se aqui para rever horizontes esplêndidos, idealizados em vagas reproduções por alguns dos vossos geniais artistas, mas cuja exuberância majestática, severa e conseguintemente grandiosa, tem o cunho da mais completa realidade. (...) Depois do último alento, encontrei-me como que em desmaio, sem consciência do meu esta-do, não pensando em coisa alguma, numa vaga sonolência que não era bem o sono do corpo nem o despertar do Espírito. Nesse estado fiquei longo tempo, e depois, como se saísse de prolongada síncope, lentamente despertei no meio de irmãos que não conhecia. Eles prodigalizavam-me cui-dados e carícias, ao mesmo tempo em que me mostravam no Espaço um ponto algo semelhante a uma estrela, dizendo: “É para ali que vais conosco, pois já não pertences mais à Terra.” Apoiada sobre eles, formando um grupo gracioso que se lança para as esferas desconhecidas, mas na cer-teza de aí achar a felicidade, subimos, subimos, à proporção que a estrela se engrandecia... Era um mundo feliz, um centro superior no qual a vossa amiga vai repousar. Quando digo repouso, quero referir-me às fadigas corporais que amarguei, às contingências da Vida terrestre, não à in-dolência do Espírito, pois que este tem na atividade uma fonte de gozos”. Uma condessa chamada Paula, conta: “(...) O que é a felicidade terrena comparada à que desfruto aqui? Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas a estas assembleias de Espíritos resplendentes de brilho que as vossas vistas não su-portariam, brilho que é o apanágio da sua pureza? Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris? Os vossos passeios, a contados passos nos parques, a que se reduzem, comparados aos percursos da imensidade, mais céleres que o raio? Horizontes nebulosos e limi-tados, que são, comparados ao espetáculo de mundos a moverem-se no Universo infinito ao in-fluxo do Altíssimo? E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras do Espírito! E como são tristes e insípidas as vossas maiores alegrias comparadas à sensação inefável de felicidade que nos satura todo o ser como um eflúvio benéfico, sem mescla de inquietação, de apreensão, de sofrimento?! Aqui, tudo ressumbra amor, confiança, sinceridade: por toda parte corações amantes, amigos por toda parte!”. A segunda parte do livro “O Céu e o Inferno”, merece, como, aliás, toda a Codificação, acurado estudo, a fim de que possamos nos instruir acerca da realidade que a nos aguarda... Ali, mais do que nunca vamos, enfim, compreender o que o singular Apóstolo Paulo quis dizer ao escrever aos coríntios, (15:55): “Onde está ó morte o teu aguilhão?”; vamos também entender em Espírito e verdade a consoladora promessa de Jesus ao proclamar: “Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte”. (João, 8:55). ---------------------------------------------------------------- 81 ----------------------------------------------- PENA DE MORTE: DISSUASORA OU NÃO? Luís de Almeida - ADEP Com a chegada do séc. XIX e o advento dos filósofos iluministas, o movimento contra a pena de morte conheceu um período de franco apogeu.

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Portugal foi o pioneiro na abolição dessa execrável instituição - em 1852 para os crimes políti-cos, e em 1867 para os crimes civis. Paulatinamente, muitos países seguiram a pegada dos portu-gueses, abraçando essa conquista dos direitos humanos sobre a barbárie, tornando-se abolicionis-tas. Com o surgimento das Grandes Guerras mundiais, holocaustos e revoluções, fundamenta-lismos e purgas, a tendência começa a inverter-se. A famosa lei de Talião está, por todo o lado, a recuperar o direito de cidadania. Atualmente, quase 100 países continuam a praticá-la, para ver-gonha de todos nós, como filhos da humanidade. É... dois mil anos passados após a mensagem consoladora e educativa do Rabi da Galileia, ele próprio vítima dessa nefasta instituição, continua-se assassinando alegremente, eventrando cor-dialmente, mutilando metodicamente, tudo em nome de uma hipocrisia democrática e religiosa, como se vivêssemos num mundo em que, após o falecimento de Jesus, tudo é permitido, como afirmou Dostoievsky - condenado também à pena capital. Enfim, a ignorância continua evadindo a humanidade. Contudo, por pouco tempo. Na era do Espírito, da informação e da conquista do espaço, a persistência neste arcaico expedi-ente, consistindo em dar aos Estados o direito de levar a termo a sua própria vindita, é, no míni-mo, degradante e ignorante, demonstrando a falta de ética e evolução desses povos; muito mais acentuado quando pretendem arvorar-se em arautos da democracia e do bem, sendo puros assas-sinos, “credenciados” pelo ser humano, em nome de Jesus; que virá redimir a humanidade do fu-turo. O fato é que nem esses autointitulados “paladinos da justiça” do nosso início de milênio, que fizeram profissão de fé em libertar a humanidade dos seus vícios ancestrais, e em civilizá-la de acordo com o seu modelo antitabagista e pró-“hambúrguer” e celofane, conseguem por ordem no quintal, e dar o exemplo. Adeptos do humanismo integral e da igualdade dos povos e das oportunidades, não os incomoda, minimamente, alinhar com todas as “ubulândias” deste mundo; lado a lado com tantos países para quem a noção de direitos humanos é um não lugar, passam a vida a criticar, permanecendo na linha da frente do pelotão dos que teimam em conservar essa vetusta e ignóbil instituição, a que damos, pomposamente, o nome de pena de morte. Allan Kardec, em «O Livro dos Espíritos», pergunta 760: - Desaparecerá, algum dia, da legisla-ção humana, a pena de morte? R - Incontestavelmente, desaparecerá, e a sua supressão assinalará um progresso da humanidade. Quando os seres humanos estiverem mais esclarecidos a pena de morte será completamente abo-lida da Terra. Não mais precisarão os seres humanos de ser julgados pelos seres humanos. Trata-se, afinal, do velho argumento bíblico do “olho por olho, dente por dente”, que Jesus tão bem soube tornar obsoleto. Pobres inquisidores-mor, os Inácios de Loyola ainda andam por aí. Vejamos estes paradoxos, oriundos de mentes doentias, ao ritmo do tribunal da Santa Inquisição: sendo o fundamento da pena de morte o arrependimento e a correção do indivíduo, como poderá corrigir-se, na escola terrestre, se ele é assassinado? Mais ainda: dentro desta visão hipócrita e cínica de que lhe valerá fazê-lo? Por essa ordem de ideias, a ameaça da pena de morte não funci-ona como um dissuasor, servindo apenas para tornar mais cínica a vítima. Os inquisidores hodi-ernos defendem que essa medida deverá funcionar um pouco como uma palmada no rabo pode servir para que a criança não volte a roubar um chocolate. Como expediente, contudo, além de exagerado (“é, afinal, a forma de nos assegurarmos de que a criança nunca mais tocará no choco-late”), é enganoso. Não entendemos como a “criança”, depois de assassinada, não voltará a rou-bar, na atual existência. De acordo com a maioria das estatísticas, a existência desse homicídio institucionalizado pelo Estado nunca serviu para baixar a criminalidade em país nenhum do mundo, bem pelo contrário. Allan Kardec, em «O Livro dos Espíritos», pergunta 761: - A lei de conservação dá ao ser humano o direito de preservar a sua vida. Não usará ele desse di-reito quando elimina da sociedade um membro perigoso? R - Há outros meios de ele se preservar do perigo, que não matando. Além do mais, é preciso abrir, e não fechar, ao criminoso a porta do arrependimento. Quando um país alinha com os países ditos “atrasados”, “desumanos” e “antidemocráticos”, de que se proclamam adversários irredutíveis, das duas uma: ou estão a demonstrar-nos que não possuem maturidade moral, cognitiva, política e institucional para serem os “polícias do mun-do”(e dos direitos humanos), que tanto ambicionam ser... ou então possuem-na em demasia, e

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procuram dar-nos uma maquiavélica lição de hipocrisia, contagiando muitos países e Espíritos valorosos com a sua terrível máquina publicitária. Afinal, torna-se difícil de compreender, ou talvez não, que o país que persegue o médico Kevorkian, defensor da eutanásia, o país que colo-ca bombas nas clínicas onde se pratica o aborto, o país que invade outros estados soberanos, em defesa do povo oprimido e chacinado (quando têm interesses econômicos e geopolíticos), tudo em nome do direito à vida, se mostre tão cheio de expediente e sanha vingadora quando se trata de mandar um ser humano para a cadeira elétrica ou para a injeção letal. Todos os métodos ser-vem, para o fim em vista. Torna-se difícil entender a postura desses países pseudopúdicos, em que nalguns deles mais de 80% da população acredita na reencarnação...! Na ONU, encontram-se representadas 185 nações. Dessas, 94 continuam a matar “legitimamen-te”, ou seja, mais de metade! A pena de morte dita “limpa”, herdeira da guilhotina da Revolução Francesa, faz parte do rol de costumes que, hoje, todos os verdadeiramente civilizados tendem a considerar bárbaros. Perguntamos: os autointitulados “polícias do mundo”(e dos direitos huma-nos) serão civilizados? Deverão ser um exemplo a seguir? Allan Kardec, em «O Livro dos Espíritos», pergunta 763: - Será um indício de progresso da ci-vilização a restrição dos casos em que se aplica a pena de morte? R - Podes duvidar disso? Não se revolta o teu Espírito quando lês a narrativa das carnificinas humanas que outrora se faziam em nome da justiça e, não raro, em honra da Divindade; das tor-turas que se infligiam ao condenado, e até ao simples acusado, para lhe arrancar, pela agudeza do sofrimento, a confissão de um crime que muitas vezes não cometera? Pois bem, se houvesses vi-vido nessas épocas terias achado tudo isso natural, e talvez mesmo, se fosses juiz, fizesses outro tanto. Assim é que o que pareceu justo numa época parece bárbaro em outra. Só as leis divinas são eternas; as humanas mudam com o progresso, e continuarão a mudar, até que tenham sido postas de acordo com aquelas. Tudo isto se deve a reminiscências do passado arcaico do ser humano, em que coabitam ainda em seu Espírito as penas brutais de antanho, como a lapidação, a crucificação, a fogueira, o en-terramento. Os inquisidores de outrora são os inquisidores de hoje, agora com outros métodos. O que está em discussão é a sua legitimidade, que já tinha sido posta em causa por Agostinho, que, no séc. IV, defendia que a vida é um bem tão grande que só Deus dela pode dispor. No que toca a “santos”, contudo, a pena de morte teve os seus adeptos. É o caso de Tomás de Aquino, que a achava legítima, como defesa do Estado ou da sociedade, inaugurando uma posição que é, afinal, a que a Igreja Católica continua a apadrinhar, como demonstra o texto do “Novo Catecis-mo” e as conclusões de João Paulo II na sua encíclica “Evangelium Vitae”: “A medida e a quali-dade da pena não deverão chegar à medida extrema, que é a supressão do réu, senão em casos de extrema necessidade, isto é, quando a defesa da sociedade não fosse possível de outra forma.” Allan Kardec, em «O Livro dos Espíritos», pergunta 765: - O que se deve pensar da pena de morte imposta em nome de Deus? R - É tomar o ser humano o lugar de Deus na distribuição da justiça. Os que assim procedem mostram quão longe estão de compreender Deus, e que muito ainda têm que expiar. A pena de morte é um crime, quando aplicada em nome de Deus, e os que a impõem sobrecarregam-se de outros tantos assassínios. O problema está na educação e evolução do Espírito humano, ainda muito incivilizado. Todos querem ser os representantes do tal Deus vingativo e cruel das religiões. Nenhuma das grandes religiões monoteístas explicou, de forma clara, metódica, racional e lógica, alicerçada nos ensi-namentos e exemplo do Divino Amigo, esses atentados à vida. Bem pelo contrário, sempre pac-tuaram com tais atos, atentatórios da dignidade humana, esquecendo-se (por conveniência) do grande mentor da humanidade, Jesus, que nos legou “Amai-vos uns aos outros”. Daí a sua pro-posta, na vinda do Consolador, para melhor esclarecimento da humanidade, codificado por Allan Kardec, de forma racional, metódica e lógica, o Espiritismo, que contagiará e catalisará toda a humanidade neste novo milênio. O verdadeiro manual do horror encontra-se, contudo, nos países islâmicos. Em muitos deles, as execuções continuam a ser públicas. Na Síria, o cadáver dos condenados políticos permanece, mesmo, exposto durante dias. No Iraque, as famílias dos condenados são obrigadas a pagar o custo da execução, tal como na China, onde a conta das balas é enviada para casa. Na Arábia

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Saudita, Qatar, Iémen e Emirados Árabes Unidos os condenados têm o irônico “privilégio” de serem decapitados com uma cimitarra... de prata! No Irão, esse processo indescritível que é a la-pidação continua a ser utilizado em adúlteras, prostitutas e homossexuais, permitindo que todos atirem a sua pedra, transformando em criminosa toda uma população, e, “ipso facto”, ilibando o Estado, naquele que é, afinal, o ingrediente base deste cozinhado: a impunidade dos estados. Mas afinal o que são os estados? Os “representantes” de uma população. E o que é uma população? Somos todos nós - a sociedade. Então, será lícito afirmar que nós, espíritas, muito temos que fazer, com o nosso exemplo e edu-cação, em vez de perdermos tempo com “palhaçadas”, contribuindo, desta forma, para uma nova postura dos estados, rumo a um estado fraternal - um estado do povo e para o povo. Allan Kardec, em “A Gênese, cap. XVIII, item 17, diz-nos: “A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente numa base ina-balável, e essa base é a fé, não a fé em tal ou tais dogmas particulares (que mudam com os tem-pos e os povos, e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo), mas a fé nos princípios fundamentais, que toda a gente pode aceitar, e aceitará: Deus, o Espírito, o futuro, o progresso individual indefinito, a perpetuidade das rela-ções entre os seres. Quando todos os seres humanos estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos seres humanos, vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai, e estenderão as mãos uns aos outros. Essa é a fé que o Espiritismo faculta, e que doravante será o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam os cultos e as crenças parti-culares.” ----------------------------------------------------------------- 82 ---------------------------------------------- PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS DA REENCARNAÇÃO Questões de n.os 197 à 221 de “O Livro dos Espíritos”, obra codificada por Allan Kardec REENCARNAÇÃO — Volta dos Espíritos à vida corporal. A reencarnação pode dar-se rapida-mente depois da morte, ou após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual o Espí-rito permanece errante. Pode dar-se nesta Terra ou em outras esferas, mas sempre em um corpo humano, e nunca no de um animal. A reencarnação é progressiva ou estacionária; nunca retro-grada. Em suas novas existências corporais o Espírito pode decair em posição social, mas não como Espírito, isto é, de senhor pode nascer servidor, de príncipe à artífice, de rico à miserável, mas progredindo sempre em ciência e moralidade. Deste modo o criminoso pode tornar-se ser humano de bem, mas o ser humano de bem não pode tornar-se criminoso. Os Espíritos imperfeitos, que estão ainda sob a influência da matéria, nem sempre tem sobre a reencarnação ideias perfeitas. A explicação que oferecem se ressente de sua ignorância e dos preconceitos terrestres, pouco mais ou menos como se daria relativamente a um camponês a quem se perguntasse se é a Terra ou o Sol que gira. Eles tem apenas uma lembrança confusa de suas existências anteriores e o futuro se lhes apresenta extremamente vago (Sabe-se que a lem-brança das existências passadas se elucida à medida em que o Espírito se purifica). Alguns falam ainda das esferas concêntricas que cercam a Terra e nas quais o Espírito, elevando-se gradativa-mente, chega ao sétimo céu, que é, para eles o apogeu da perfeição. Mas no meio da diversidade das expressões e da extravagância das figuras, uma observação atenta deixa reconhecer, facil-mente, um pensamento dominante, o das provas sucessivas que o Espírito deve sofrer, e dos di-versos graus que deve percorrer para chegar à perfeição e à suprema felicidade. Muitas vezes as coisas só nos parecem contraditórias porque não lhes sondamos o sentido íntimo. Allan Kardec no livro “Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas V - Sorte das Crianças Após a Morte 1 - Às vezes, o Espírito de uma criança morta em tenra idade, é bem mais adiantado do que o de um adulto, porque pode ter vivido muito mais e possuir maiores experiências, sobretudo se pro-grediu. (197)

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2 - É bastante frequente o Espírito de uma criança ser mais adiantado que o do seu pai ou mãe. (197.a) 3 - Não é pelo fato de uma criança ter morrido em tenra idade, e que não teve tempo de fazer ne-nhum mal na Terra, que agora pertence ao grau dos Espíritos Superiores, porque se não fez o mal, também não fez o bem, e a Lei de Deus não o afasta das provas que porventura terá que passar. Se é puro, não é pelo fato de ter sido criança, mas porque já se havia adiantado. (198) 4 — A vida se interrompe com frequência na infância porque a duração da vida da criança pode ser, para o seu Espírito, o complemento de uma vida interrompida antes do termo devido, e sua morte é frequentemente uma prova ou uma expiação para os pais. (199) 5 — O Espírito de uma criança morta em tenra idade, sucede o recomeço de uma nova existên-cia. (199.a) NOTA DE ALLAN KARDEC — Se o ser humano só tivesse uma existência e, se após essa, sua sorte fosse fixada para a eternidade, qual seria o merecimento da metade da espécie humana, que morre em tenra idade, para gozar sem esforço da felicidade eterna? E com que direito seria ela libertada das condições, quase sempre duras impostas à outra metade? Uma tal ordem de coisas não poderia estar de acordo com a justiça de Deus. Pela reencarnação faz-se a igualdade para to-dos: o futuro pertence a todos, sem exceção e sem favoritismo, e os que chegaram por último só poderão queixar-se de si mesmos. O ser humano deve ter o mérito das suas ações, como tem a sua responsabilidade. Não é, aliás, razoável, considerar-se a infância como um estado de inocência. Não se veem cri-anças dotadas dos piores instintos, numa idade em que a educação ainda não pode exercer a sua influência? Não se veem algumas que parecem trazer inatos a astúcia, a falsidade, a perfídia, o instinto mesmo do roubo e do assassínio, e isso não obstante os bons exemplos do meio? A lei civil absolve os seus erros, por considerar que elas agem mais instintivamente do que por delibe-rado propósito. Mas de onde podem provir esses instintos, tão diferentes entre as crianças da mesma idade, educadas nas mesmas condições e submetidas às mesmas influências? De onde vem essa perversidade precoce, a não ser da inferioridade do Espírito, pois que a educação nada tem com ela? Aqueles que são viciosos, e que progrediram menos e tem então de sofrer as con-sequências, não dos seus atos da infância, mas das suas existências anteriores. É assim que a lei se mostra a mesma para todos e a justiça de Deus a todos abrange. RESUMO Algumas vezes, o Espírito de uma criança que morre em tenra idade é mais adiantado que o de um adulto, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e adquirido maior soma de ex-periência, progredindo mais que o adulto. É por isso que muitas vezes o Espírito de uma criança é mais adiantado que o de seu pai. A curta duração da vida de uma criança pode representar, para o Espírito que animava, o complemento de uma existência precedentemente interrompida antes do momento em que deveria terminar, e sua morte também não raro constitui provação ou expia-ção para os pais. A criança que morre neste mundo recomeça outra existência. PESQUISA Se a existência atual fosse a única e só ela decidisse o futuro do Espírito na eternidade, qual seria a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Não havendo praticado nem o bem nem o mal, não merecem nem recompensas nem punições. Segundo as palavras do Cristo, sendo cada um recompensado conforme suas obras, não tem direito à felicidade perfeita dos anjos nem merecem ser afastadas dela. Basta dizer que poderão, em uma outra encarnação, realizar o que não pude-ram fazer na que foi abreviada, e já não haverá mais exceções. Pelo mesmo motivo, qual seria a sorte dos cretinos e idiotas? Não tendo consciência do bem nem do mal, eles não tem nenhuma responsabilidade pelos seus atos. Seria Deus justo e bom criando Espíritos estúpidos para votá-los a uma existência miserável e sem compensação? Admitindo-se, porém, que o Espírito do cretino e do idiota é um Espírito em punição num corpo sem capacida-de para transmitir-lhe o pensamento, no qual se encontra como um ser humano forte amarrado, não haverá mais nada que não esteja conforme a Justiça de Deus. O Espírito, em suas encarnações sucessivas, tendo-se despojado pouco a pouco de suas imperfei-ções e tendo-se aperfeiçoado através do trabalho, chega ao termo de suas existências corpóreas.

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Pertence então à ordem dos Espíritos puros ou anjos, e goza ao mesmo tempo da vida puramente espiritual e de uma felicidade sem mácula, por toda a eternidade. Allan Kardec no livro “O Espiritismo em sua mais Simples Expressão” VI - Sexo nos Espíritos 6 - Os Espíritos não possuem sexo da maneira como nós o entendemos, porque os sexos depen-dem da constituição orgânica. Há entre os Espíritos amor e simpatia, mas fundamentados na afi-nidade de sentimentos. (200) 7 — O Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, numa nova existência, e vice-versa, pois são os mesmos Espíritos que animam homens e mulheres. (201) 8 — O Espírito encarna num corpo de homem ou de mulher, obedecendo a necessidade das pro-vas que ele tiver de passar. (202) NOTA DE ALLAN KARDEC — Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não tem sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem homens. RESUMO Os Espíritos não tem sexo como nós o entendemos, pois que os sexos dependem da organização física. Entre os Espíritos há amor e simpatia, mas fundamentados na concordância dos sentimen-tos. Em nova existência, o Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, e vice-versa. Tudo depende das provas por que tenha de passar na nova existência. PESQUISA Diferença entre a Metempsicose e Pluralidade das Existências A metempsicose dos Antigos consistia na transmigração do Espírito do ser humano para os ani-mais, o que implicava uma degradação. De resto, essa doutrina não era o que se crê vulgarmente. A transmigração para os animais não era em absoluto considerada como uma condição inerente à natureza do Espírito humano, porém como um castigo temporário. Era assim que os Espíritos dos homicidas passavam aos corpos dos animais ferozes, para então receberem sua punição; os do depravados para os corpos dos porcos e dos javalis; os inconstantes e levianos para os pássa-ros; os dos preguiçosos e ignorantes para os animais aquáticos. Depois de alguns milhares de anos, mais ou menos segundo a sua culpabilidade, dessa espécie de prisão o Espírito voltava a humanidade. A encarnação animal não era, portanto, uma condição absoluta, e aliviava-se, como se vê, à reencarnação humana. E a prova disso é que a punição dos homens tímidos consistia em passarem para os corpos de mulheres expostas ao desprezo e às injurias. Era antes uma espécie de espantalho para os simples do que um artigo de fé para os filósofos. Do mesmo modo que di-zemos às crianças: “Se vocês forem maldosos, o lobo os comerá”, os antigos diziam aos crimino-sos: “Vocês se tornarão lobos”, Hoje, diz-se-lhes: “O diabo os pegará e os levará para o inferno”. A pluralidade das existências, segundo o Espiritismo, difere essencialmente da metempsicose pe-lo fato de não admitir a encarnação do Espírito nos animais, mesmo como punição. Os Espíritos ensinam que o Espírito não retrograda, porém que progride sem cessar. Suas diferentes existên-cias corporais cumprem-se na humanidade. Cada existência é para ele um passo à frente no ca-minho do progresso intelectual e moral, o que é bem diferente. Não podendo adquirir um desen-volvimento completo em uma só existência, frequentemente abreviada por causas acidentais, a Lei de Deus lhe permite continuar em uma nova existência a tarefa que não pode concluir, ou re-começar a que fez mal. A expiação, na vida corporal consiste nas tribulações que nela se supor-tam. Quanto à questão de saber se a pluralidade das existências é ou não contrária a certos dogmas da Igreja, limitar-me-ei a dizer que: De duas, uma: ou a reencarnação existe ou não existe. Se existe, é porque está nas leis da Natureza. Para provar que ela não existe seria preciso provar que é con-trária, não aos dogmas, mas a essas leis, e que poderia haver uma outra que explicasse mais clara e logicamente as questões que só ela pode resolver. De resto, é fácil demonstrar que certos dog-mas nela encontram uma sanção racional que os faz serem aceitos por aqueles que os reprovaram por não o compreenderem. Não se trata, portanto, de destruir, mas de interpretar; e é o que acon-tecerá no futuro pela força dos acontecimentos. Os que não quiserem aceitar, serão perfeitamente livres, como o são hoje, de crer que é o Sol que gira. A ideia da pluralidade das existências se

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vulgariza com espantosa rapidez, em razão de sua extrema lógica e de sua conformidade com a Justiça de Deus. Quando for reconhecida como verdade natural por todo o mundo, que fará a Igreja? Em resumo, a reencarnação não é, em absoluto um sistema imaginado para as necessidades de uma causa, nem uma opinião pessoal. É ou não é um fato? Se está demonstrado que certas coisas que existem são materialmente impossíveis sem a reencarnação, é necessário admitir que elas são produzidas pela reencarnação. Portanto, se ela é encontrada na Natureza, não poderá ser anu-lada por uma opinião contrária. Allan Kardec no livro “O que é o Espiritismo” VII - Parentesco, Filiação 9 — Os pais não transmitem aos filhos nenhuma porção de seu Espírito, transmitem somente a vida animal, porque o Espírito é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes, e vice-versa. (203) 10 — A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos laços que remontam às existências anteriores. Daí, muitas vezes, decorrem as causas da simpatia entre certos Espíritos que nos parecem estranhos. (204) 11 — A doutrina da reencarnação não destrói os laços de família, ao contrário, ela os estende. A parentela estando baseada sobre as afeições anteriores, os laços que unem os membros de uma família são menos precários. Ela aumenta os deveres da fraternidade, visto que, entre os vizinhos ou entre os servidores, pode se encontrar um Espírito que esteve ligado a vós pelos laços consan-guíneos. (205) 12 — A importância que alguns dão à sua genealogia, dizendo que a reencarnação a destrói, vis-to que, pode ter por pai um Espírito pertencente a outra raça e vindo de uma condição diferente, se baseia no orgulho. O que a maioria honra em seus ancestrais, são os títulos, posição e fortuna. Muitos de nós, sentiria vergonha de haver tido um avô sapateiro honesto, mas nos vangloriaría-mos de descender de um gentil-ser humano debochado. Mas digam ou façam o que quiserem, não impedirão que as coisas sejam como são, porque Deus não regulou as leis da Natureza pela nossa vaidade. (205.a) 13 — Desde que não há filiação entre os Espíritos dos descendentes de uma mesma família, o culto dos antepassados seguramente não seria uma coisa ridícula, porque devemos sentir-nos fe-lizes de pertencer a uma família na qual se encarnam Espíritos elevados. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, não tem menos afeição pelos que estão ligados a eles por laços de família, porque os Espíritos são frequentemente atraídos a esta ou aquela família por causa de simpatias ou ligações anteriores, Os Espíritos dos antepassados não se sentem absolutamente honrados com o culto oferecido por orgulho. O mérito não recai sobre ninguém senão na medida em que existir esforço por seguir os seus bons exemplos. Somente assim a lembrança lhes pode ser, não apenas agradável, mas até mesmo útil. (206) RESUMO Os pais transmitem aos filhos apenas a vida animal, pois que o Espírito é indivisível. Um pai es-túpido pode ter filhos inteligentes, e vice-versa. A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos ligações que remontam às nossas existências anteriores. Daí, muitas vezes, a simpatia que vem a existir entre nós e certos Espíritos que nos parecem estranhos. A doutrina da reencarnação não destrói os laços de família, mas os estende. Essa doutrina amplia os deveres de fraternidade, porquanto no nosso vizinho ou nosso empregado pode achar-se um Espírito ao qual tenhamos estado presos por laços de consanguinidade. Se bem que os Espíritos não procedam uns dos outros, nem por isso menos afeição consagram aos que lhes estão ligados pelos elos de família, dado que muitas vezes eles são atraídos para tal ou qual família pela simpatia ou pelos laços que anteriormente se estabeleceram. PESQUISA O esquecimento das existências precedentes é um benefício de Deus, que em sua bondade quis poupar ao ser humano lembranças que lhe são quase sempre penosas. Em cada nova existência o ser humano é o que ele próprio fez de si mesmo. É para ele um novo ponto de partida. Percebe seus defeitos atuais. Sabe que esses defeitos são resultantes do seu estado de atraso; daí conclui o mal que já cometeu, o que o ajuda a esforçar-se por corrigir-se. Se teve em outras épocas defeitos

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que já não possui, não tem mais que se preocupar com eles; tem ainda muitas imperfeições con-sigo. Se o Espírito já não tivesse vivido é que teria sido criado ao mesmo tempo que o corpo. Supon-do-se isto, não pode ele ter nenhuma relação com os Espíritos que o precederam. Pergunta-se como é que Deus, sendo soberanamente justo e bom, pode tê-lo feito responsável pelo pecado cometido pelo pai do gênero humano, incriminando-o do pecado original que ele não cometeu? Dizendo-se, ao contrário, que ele traz ao renascer o gérmen das imperfeições de suas existências anteriores, que ele sofre na existência atual as consequências de fatos passados, dá-se uma expli-cação lógica ao pecado original, explicação que qualquer um pode compreender e admitir, por-que o Espírito se torna responsável pelos seus próprios atos. Allan Kardec no livro “O Espiritismo em sua mais Simples Expressão” VIII - Semelhanças físicas e morais 14 — Frequentemente os pais transmitem aos filhos a semelhança física, mas não a conformida-de moral, pois, se trata de Espíritos diferentes. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças nada mais existe do que consanguinidade. (207) 15 — As semelhanças morais que existem às vezes entre os pais e os filhos, e que são Espíritos simpáticos, atraídos pela afinidade de suas inclinações. (207.a) 16 — Os Espíritos dos pais exercem muitas influências sobre o(s) filho(s), após o nascimento, pois, os Espíritos devem concorrer para o progresso recíproco. Pois bem: Os Espíritos dos Pais tem a missão de desenvolver o do(s) filho(s) pela educação: isso é para eles uma tarefa, se falha-rem, se sentirão culpados. (208) 17 — Não é raro que um mau Espírito peça lhe que lhe sejam dados bons pais, na esperança de que os seus conselhos o dirijam por um caminho melhor, e muitas vezes a Lei de Deus o atende. (209) 18 — Os pais não poderão, pelos pensamentos e as suas preces, atrair para o corpo do filho um bom Espírito, em lugar de um Espírito inferior. Mas podem melhorar o Espírito da criança a que deram nascimento e que lhes foi confiada. Esse é o seu dever; filhos maus são uma prova para os pais. (210) 19 — A semelhança de caráter que existe frequentemente entre irmãos, sobretudo os gêmeos, é que são Espíritos simpáticos, que se aproximam pela similitude de seus sentimentos e que se sen-tem felizes por estarem juntos. (211) 20 — Nas crianças cujos corpos nascem ligados, e que tem certos órgãos comuns, existem dois Espíritos, e sua semelhança faz que muitas vezes pareçam existir somente um. (212) 21 — Não é uma regra que os gêmeos tenham de ser Espíritos simpáticos, às vezes se notam aversões entre eles, pois, Espíritos maus podem quererem, ou serem obrigados a, lutar juntos no teatro da vida. (213) 22 — As histórias de crianças que lutam no ventre da mãe é pura imaginação, imagens poéticas, contos, que muitas vezes, foram usadas como exemplo, para figurar que o seu ódio era muito an-tigo, fazendo remontar à fase anterior ao nascimento. (214) 23 — O caráter distintivo que se observa em cada povo, é que os Espíritos também formam grandes famílias pelas semelhanças de suas tendências, de evolução diversa, segundo a sua ele-vação. Resumindo: um povo é uma grande família em que se reúnem Espíritos simpáticos. A tendência que tem os membros dessas famílias a se unirem é a origem da semelhança que existe no caráter distintivo de cada povo. Não devemos julgar que Espíritos bons e humanitários procu-rem um povo duro e grosseiro. Os Espíritos simpatizam com as coletividades como simpatizam com os indivíduos, isto é, cada um procura o ambiente que lhe é próprio. (215) 24 — Pode acontecer de o ser humano conservar, em suas novas existências, os traços do caráter moral de suas existências anteriores. Mas, em se melhorando, ele muda. Sua posição social pode, também, não ser a mesma; se de senhor passa a escravo, seus gostos serão diferentes e haverá di-ficuldade em reconhecê-lo. Sendo o mesmo Espírito nas diversas encarnações, suas manifesta-ções, podem ter, de uma para outra, certas semelhanças, modificadas, todavia, pelos costumes de sua nova posição, até que um aperfeiçoamento notável venha a mudar completamente o seu cará-

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ter. De orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e humano, desde que se tenha arrependido. (216) 25 — Sendo o Espírito sempre o mesmo, nas diversas encarnações, podem existir certas seme-lhanças entre as suas manifestações. O corpo é destruído e o novo corpo não tem nenhuma rela-ção com o antigo. Embora seja este apenas matéria, é modelado pelas qualidades do Espírito, que lhe imprimem um certo caráter, principalmente ao semblante, sendo pois, com razão que se apontam os olhos como o espelho do Espírito, o que quer dizer que o rosto, mais particularmen-te, reflete o Espírito. Porque há pessoas excessivamente feias, que no entanto, tem alguma coisa que agrada, quando encerram um Espírito bom, sensato, humano, enquanto há belos semblantes que nada despertam, ou até mesmo provocam repulsa. Poderíamos supor que só os corpos perfei-tos encarnam Espíritos mais perfeitos que eles, quando encontramos todos os dias, seres huma-nos de bem sob aparências disformes? Sem haver uma semelhança pronunciada, a similitude de gostos e de pendores pode, pois, dar o que se chama “um ar de familiar”. (217) NOTA DE ALLAN KARDEC — O corpo que reveste o Espírito numa nova encarnação, não tendo nenhuma relação necessária com a anterior, pois que pode provir de origem muito diversa, seria absurdo supor-se uma sucessão de existências ligadas por uma semelhança apenas eventual. Não obstante, as qualidades do Espírito modificam, quase sempre, os órgãos que servem para as suas manifestações, imprimindo no rosto, e mesmo no conjunto das maneiras um cunho incon-fundível. É assim que, sob o envoltório mais humilde, pode-se encontrar a expressão da grandeza e da dignidade, enquanto sob o hábito do grande senhor veem-se algumas vezes a da baixeza e da ignomínia. Certas pessoas, saídas da mais ínfima posição, adquirem sem esforços os hábitos e as maneiras da alta sociedade, parecendo que reencontram o seu elemento, enquanto outras, mal-grado seu nascimento e sua educação, estão ali sempre deslocadas. Como explicar esse fato de outra maneira, senão pelo reflexo daquilo que o Espírito foi? RESUMO Frequentemente os pais transmitem aos filhos a semelhança física, mas não transmitem a seme-lhança moral, porque os Espíritos são diferentes uns dos outros. O corpo deriva do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre descendentes das raças há apenas a consanguinidade. As parecenças morais que costumamos ver entre pais e filhos derivam de que uns e outros são Espí-ritos simpáticos que reciprocamente se atraíram pela similaridade das tendências. Os Espíritos dos pais, entretanto, exercem uma grande influência sobre o(s) filho(s), depois do nascimento. Por isso os Espíritos dos pais não devem se esquecer de que tem por missão desenvolver os seu(s) filho(s) pela educação. Tornar-se-ão culpados se vierem a falir no seu desempenho. Além disso, não é raro que um mau Espírito peça lhes seja dado bons pais, na esperança de que seus conselhos o encaminhem a conseguir melhores hábitos, e muitas vezes Deus lhe concede o que deseja. Os pais não podem atrair para o corpo em formação um bom Espírito ou um inferior, mas podem melhorar o Espírito do filho que lhes foi confiado. É esse o seu dever. Os maus filhos são uma provação para os pais. A semelhança de caráter que muitas vezes existe entre irmãos, mor-mente se forem gêmeos, é consequente de serem Espíritos simpáticos, que se aproximam por analogia de sentimentos e se sentem felizes por estarem juntos. Entretanto, não é regra, que se-jam simpáticos, os Espíritos dos gêmeos. Além disso, acontece, também, que Espíritos maus en-tendam de lutar juntos no palco da vida. Os Espíritos também se agrupam em famílias, formando-as pela analogia dos seus pendores mais ou menos puros, conforme a elevação que tenham alcançado. Um povo é uma grande família formada pela reunião de Espíritos simpáticos. Nas tendências que apresentam os membros dessas famílias, para se unirem, é que está a origem da semelhança que, existindo entre os indivíduos, constitui o caráter próprio de cada povo. Sendo o Espírito sempre o mesmo, nas diversas encarnações, podem existir certas analogias en-tre as suas manifestações, se bem que modificadas pelos hábitos da posição que ocupe, até que um aperfeiçoamento notável lhe haja mudado completamente o caráter, porquanto o orgulhoso e mau pode tornar-se humilde e bondoso, desde que se tenha arrependido. O novo corpo, entretan-to, que o Espírito toma, nenhuma relação tem com o que foi anteriormente destruído, se bem que o Espírito se reflita no corpo, que se modela pelas capacidades do Espírito, que lhe imprime cer-to cunho, sobretudo no rosto.

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PESQUISA Há mundos apropriados aos diferentes graus de adiantamento dos Espíritos, onde a existência corpórea tem condições muito diferentes. Quanto menos adiantado for o Espírito, mais pesados e grosseiros são os corpos que reveste. À medida que vai se purificando, passa para mundos supe-riores moral e fisicamente. A Terra não é nem o primeiro nem o último desses mundos, mas é dos mais atrasados. Allan Kardec no livro “O Espiritismo em sua mais Simples Expressão” IX - Ideias inatas 26 — Ao Espírito encarnado resta-lhe uma vaga lembrança, das percepções que teve e dos co-nhecimentos que adquiriu nas existências sucessivas, que lhe dá o que chamamos ideias inatas. (218) 27 — A teoria das ideias inatas não é quimérica, pois os conhecimentos adquiridos em cada exis-tência não se perdem; o Espírito, liberto da matéria, sempre se recorda. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que lhe fica ajuda o seu adianta-mento. Sem isso, ele sempre teria que recomeçar. A cada nova existência, o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se achava na precedente. (218.a) 28 — Nem sempre há uma grande conexão entre duas existências sucessivas, porque as posições são quase sempre muito diferentes, e no intervalo de ambas o Espírito pode progredir. (218.b) (ver também (216) 29 — A origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, como as línguas, o cálculo, etc. é a lembrança do passa-do; progresso anterior do Espírito, mas do qual ele mesma não tem consciência. Os corpos mu-dam, mas o Espírito não, embora troque a vestimenta. (219) 30 — Com a mudança dos corpos, podem perder-se certas faculdades intelectuais, deixando-se de ter, por exemplo, o gosto pelas artes, desde que se tenha desonrado essa faculdade, empregan-do-a mal. Uma faculdade pode, também, ficar adormecida durante uma existência, porque o Es-pírito queira exercer outra, que não se relacione com ela. Nesse caso, permanece em estado la-tente, para reaparecer mais tarde. (220) 31 — O ser humano conserva a lembrança daquilo que sabia como Espírito, mesmo no estado selvagem, do sentimento instintivo da lembrança de Deus e do pressentimento da vida futura; mas o orgulho frequentemente abafa esse sentimento. É a mesma lembrança que se devem a cer-tas crenças relativas à Doutrina Espírita encontradas em todos os povos. Essa doutrina é tão anti-ga quanto o mundo. É por isso que a encontramos por toda a parte, e é esta uma prova da sua ve-racidade. O Espírito encarnado, conservando a intuição do seu estado de Espírito, tem a consci-ência instintiva do mundo invisível. Mas quase sempre ela é falseada pelos preconceitos, e a ig-norância mistura a ela a superstição.(*) (221 e 221.a) (*)NOTA DE J. HERCULANO PIRES — Os Espíritos aludem à eternidade espiritual da doutri-na e sua permanente projeção na Terra. Mas devemos distinguir entre as suas manifestações fal-seadas, no passado, e a manifestação pura que se encontra neste livro. Os traços da doutrina espí-rita marcam o roteiro da evolução humana na Terra, mas só com este livro ela se apresentou de-finida e completa. Por isso, o Espiritismo é na Terra uma doutrina moderna, embora não seja “uma invenção moderna”, como acentua Kardec, mesmo porque ninguém a inventou. RESUMO O Espírito guarda uma vaga lembrança das existências anteriores, que lhe dá o que se chama ideias inatas. Os conhecimentos adquiridos em cada existência jamais se perdem. Liberto da ma-téria, o Espírito os tem presentes. Durante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamen-te, porém a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. A origem das faculdades extra-ordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimen-tos, de línguas, de cálculo, etc., está na lembrança do passado. O corpo muda; o Espírito, porém, não muda. Pode o Espírito, mudando de corpo, perder algumas faculdades intelectuais, como por exemplo o gosto das artes, desde que conspurcou a sua inteligência ou a utilizou mal. Além dis-so, uma faculdade qualquer pode ficar adormecida durante uma existência, por querer o Espírito exercitar outra que nenhuma relação tem com aquela. O sentimento instintivo que o ser humano possui da existência de Deus e o sentimento da vida futura são uma lembrança do que ela sabia

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como Espírito, antes de encarnar. O mesmo se dá com certas crenças relativas à doutrina espírita, em todos os povos, porquanto esta doutrina é tão antiga quanto o mundo. PESQUISA A diversidade das aptidões inatas, morais e intelectuais, é prova de que o Espírito já viveu outras vidas. Se ele tivesse sido criado ao mesmo tempo que seu corpo atual, isso não estaria de acordo com a bondade de Deus que teria feito uns mais adiantados que outros. Por que existem selva-gens e civilizados, bons e maus, tolos e inteligentes? Tudo se explica dizendo que uns viveram mais do que outros e fizeram mais aquisições. Allan Kardec no livro “O Espiritismo em sua mais Simples Expressão ------------------------------------------------------------------ 83 --------------------------------------------- PÓDIO DA VIDA Amilcar Del Chiaro Filho As atenções do mundo se voltam para Atenas onde já teve início os Jogos Olímpicos, e as dife-renças entre os países se acentuam. As nações ricas e poderosas competem com maior capacita-ção de vitórias. Entretanto, o que queremos dizer neste editorial é que a vida é como um gigan-tesco Jogos Olímpicos, e são poucos os que sobem ao pódio para receber o galardão da vitória. Ao contrário dos jogos esportivos o que vale para um bom desempenho não é o condicionamento físico, mas sim o valor moral, a coragem, o amor. A competição não é para a vitória, e sim para o trabalho de dar dignidade à própria vida e a de todas as pessoas. São heróis os que resgatam cri-anças da miséria e lhes dão dignidade. São heróis os que lutam pela justiça e por uma melhor dis-tribuição da renda. São heróis os que amparam os idosos, os que ensinam, os que curam com amor, os que vivem para servir e trabalham para melhorar o mundo. A maioria dos que fazem isto hoje são anônimos, e muitos serão reconhecidos pelas gerações fu-turas, como hoje reconhecemos o valor de Francisco de Assis, Teresa D’ávila, Vicente de Paula, Albert Schwartz, Gandhi, e os mais recentes como Raul Folerré, Luther King, Madre Teresa de Calcutá, Betinho, e os extraordinários Ivone do Amaral Pereira e Francisco Cândido Xavier. Os que estão na liça agora, geralmente não recebem aplausos. Não raro são criticados. Nós mes-mos estamos cometendo injustiças ao citar uma parcela mínima de grandes homens e mulheres que trabalharam nos alicerces da construção de um mundo melhor, mas queremos homenagear todos, mesmo os que não são cristãos, na figura do extraordinário Raboni – JESUS DE NAZA-RÉ. --------------------------------------------------------------- 84 ------------------------------------------------ A POSSESSÃO, SEGUNDO KARDEC Fernando A. Moreira “Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o ser humano precisa habi-tuar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado. (Allan Kardec) Há possessos? Existe a possibilidade de dois Espíritos coabitarem num mesmo corpo? O mergu-lho cronológico nas obras da Doutrina Espírita, nos leva ao seu berço, “O Livro dos Espíritos”: (1) Perg. 473 - Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo? r - O Espírito não entra em um corpo como entrais numa casa. Identifica-se com um Espírito en-carnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.

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Kardec, retira suas conclusões, prepara e formula a pergunta seguinte, e os Espíritos respondem: (1) Perg. 474 - Desde que não há possessão propriamente dita, isto é coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode o Espírito ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subju-gado ou obsidiado ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada? r - Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibais que essa denominação não se efetua nunca sem que aquele que sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos. Os Espíritos aí, fazem uma nítida distinção entre os verdadeiros e os falsos possessos. Os verda-deiros são os subjugados até ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada; os falsos são os que não correspondem aos casos de obsessão, necessitando tratamento médico. Comenta ainda Kardec, após a resposta dos Espíritos: O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se a Espíritos imperfeitos que a subjuguem. Se havia alguma dúvida sobre a opinião do Codificador até aquele momento, ele a desfaz no tex-to da Revista Espírita, por ele dirigida: (2) Antigamente dava-se o nome de possessão ao império exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades. Mas a ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como possessão, aquilo que não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão seria sinônimo de subjugação. Não adotamos esse termo (...) porque ele implica igualmente a ideia de tomada de posse do corpo pelo Espírito es-tranho, uma espécie de coabitação ao passo que existe apenas uma ligação. O vocábulo subjuga-ção dá uma ideia perfeita. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente obsedados, subjugados e fascinados. Fica bastante claro que, para ele, até aqui, não existia possessão. O texto acima é parecido com o exarado no “O Livro dos Médiuns” (3), com uma diferença sig-nificativa no parágrafo, qual seja, a troca da palavra “ligação”, por “constrangimento”. Momentaneamente, temos a impressão de que estariam respondidas, as indagações formuladas na inicial, mas, apesar dessas considerações, o termo possessão reaparece na Revista Espírita: (4) Ninguém ignora que quando o Cristo, nosso muito amado mestre, encarnou-se na Judéia, sob os traços do carpinteiro Jesus, aquela região havia sido invadida por legiões de maus Espíritos que, pela possessão, como hoje, se apoderavam das classes sociais mais ignorantes, dos Espíritos en-carnados mais fracos e menos adiantados (...) é preciso lembrar que os cientistas, os médicos do século de Augusto, trataram, conforme os processos hipocráticos, os infelizes possessos da Pa-lestina e que toda sua ciência esbarrou ante esse poder desconhecido. (Erasto) Na mesma revista e no mesmo ano, (5) Kardec, nos “Estudos sobre os Possessos de Morzine”, acrescenta a seguinte consideração: O paroxismo da subjugação é geralmente chamado de pos-sessão. A retomada do termo, tinha uma razão, e Kardec é bem incisivo na sua opinião na Revista Espí-rita, sobre os mesmos Possessos de Morzine, que certamente o impressionaram e influíram na mudança de sua conceituação sobre possessão, e valeram doze citações no índice remissivo da Revista Espírita ( 1862, 63, 64, 65 e 68), além de outros estudos, na mesma revista, como, por exemplo, quando analisa “Um Caso de Possessão”. (6) (7) Senão vejamos: Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção abso-luta, porque agora nos é demonstrado, que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.(...) Não vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis porque todos os obsedados, subjugados e possessos passam por loucos (...). Eis um primeiro fato, que o prova, e apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade.(...) (O Sr. Charles) Declarou que, querendo conversar com seu velho amigo, aproveitava o momento em que o Espírito da Sra. A..., a sonâmbula, estava afastado do corpo, para tomar-lhe o lugar. (....). Eis algumas de suas respostas. - Já que tomastes posse do corpo da Sra.A... poderíeis nele ficar? - Não; mas vontade não me falta. -Por que não podeis?

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-Porque seu Espírito está sempre ligado ao seu corpo. Ah! Se eu pudesse romper esse laço eu pregaria uma peça. - Que faz durante este tempo o Espírito da Sra. A... - Está aqui ao meu lado; olha-me e ri, vendo-me em suas vestes. O Sr. Charles(...) era pouco adiantado como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Apoderando-se do corpo da Sra. A... não tinha qualquer intenção má; assim aquela Sra. nada so-fria com a situação, a que se prestava de boa vontade. Aqui a possessão é evidente e ressalta ainda melhor dos detalhes, que seria longo enumerar. Mas é uma possessão inocente e sem inconvenientes. Na mesma página, no entanto, Kardec descreve um caso de possessão da Sra. Júlia, agora dirigi-da por um Espírito malévolo e mal intencionado. Há cerca de seis meses tornou-se presa de crises de um caráter estranho, que sempre corriam no estado sonambúlico, que, de certo modo, se tornara seu estado normal. Torcia-se, rolava pelo chão, como se se debatesse, em luta com alguém que a quisesse estrangular e, com efeito, apre-sentava todos os sintomas de estrangulamento. Acabava vencendo esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos, derrubava-o a sopapos, com injúrias e imprecações, apostrofando-o incessante-mente com o nome de Fredegunda, infame regente, rainha impudica, criatura vil e manchada por todos os crimes, etc. Pisoteava como se a calcasse aos pés com raiva, arrancando-lhe as vestes. Coisa bizarra, tomando-se ela própria por Fredegunda, dando em si própria redobrados golpes nos braços, no peito, no rosto, dizendo: “Toma! Toma! É bastante, infame Fredegunda? Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-se em minha caixa, mas eu te expulsarei.” Mi-nha caixa era o termo que se servia para designar o próprio corpo.(...) Um dia para livrar-se de sua adversária, tomou de uma faca e vibrou contra si mesma, mas foi socorrida a tempo de evi-tar-se um acidente. Vemos aí, a luta de dois Espíritos pelo mesmo corpo. Este Espírito, Fredegunda, foi posteriormente evocado em sessões mediúnicas e convertido ao bem. (8) Mas, voltando aos Possessos de Morzine, (9) diz Kardec referindo-se ao perispírito: Pela nature-za fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, ro-deia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza.(...) Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica (...) Estes últimos, sobretudo (os possessos do tempo de Cristo), apresentam notável analogia com os de Morzine. Na mesma revista e no mesmo ano, selecionamos e pinçamos, para dimensionarmos a extensão daquela possessão coletiva: (10) Os primeiros casos da epidemia de Morzine se declararam em março de 1857(...) e em 1861 atingiram o máximo de 120. (...) (...) o caráter dominante destes momentos terríveis é o ódio a Deus e a tudo quanto a ele se refe-re. Ainda sobre a possessão da Sra. Júlia(12), refere-se Kardec na Rev. Espírita, (11): No artigo an-terior (1863) descrevemos a triste situação dessa moça e as circunstâncias que provavam uma verdadeira possessão. O grau de intensidade das possessões e sua reatividade a tentativa de exorcização, vai bem des-crita na Revista Espírita: (12) “Desde que o bispo pisou em terras de Morzine”, diz uma teste-munha ocular, “sentindo que ele se aproximava, os possessos foram tomados de convulsões as mais violentas; e, (...) soltavam gritos e urros, que nada tinham de humano. (...) As possessas, cerca de setenta, com um único rapaz, juravam, rugiam, saltavam em todos os sentidos. (...) A úl-tima resistiu a todos os esforços; vencido de fadiga e de emoção, ele (o bispo) teve que renunciar a lhe impor as mãos; saiu da igreja trêmulo, desequilibrado, as pernas cheias de contusões rece-bidas das possessas, enquanto estas se agitavam sob suas benções.” (...) Encontramos no “Evangelho, Segundo o Espiritismo,(13) a seguinte referência sobre possessão e reforma íntima: (...) para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar o Espírito, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para se livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a ob-

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sessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre arbítrio. No mesmo livro, (14), há considerações sobre as causas da possessão: O Espírito mau, espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e assim, menos livre, para mais fa-cilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão. Ainda na Revista Espírita, (15) encontramos informações de como é esta perda do livre arbítrio e como impedi-la: Objetar-me-eis, talvez, que nos casos de obsessão, de possessão, o aniquilamen-to do livre arbítrio parece ser completo. Haveria muito a dizer sobre esta questão porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, co-mo foi possível constatar em muitas ocasiões.(...) Procedeis em relação aos Espíritos obsessores ou inferiores que desejais moralizar (...)algumas vezes conscientemente, quando estabeleceis, em torno deles uma toalha fluídica, que eles não podem penetrar sem vossa permissão, e agis sobre eles pela força moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessenciada. Na “A Gênese”, (16) Kardec disserta sobre domicílio Espiritual, típico caso de coabitação, ou como agora quer Hermínio Miranda, “condomínio espiritual, com síndico e convenção.” Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado, tomando-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandona-do por seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sem-pre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção. De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito serve-se dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra (...) Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarna-do, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria sua roupa a outro encarnado. Quando é mau o Espírito possessor, (...) ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, ar-rebata-o (...) Seguindo ainda, no mesmo livro: Parece que ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Ju-déia, os obsidiados e os possessos (...) Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões. (17) Com as curas, as libertações do possessos figu-ram entre os mais numerosos atos de Jesus.(...) “Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós.” (Mateus, cap. XII, 22 e 23) (18) Deduzimos com base no exposto que, para que exista possessão, é preciso que o Espírito obses-sor identifique-se com o Espírito encarnado; aquele, atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza; o aniquilamento do livre arbítrio, parece ser com-pleto, porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Es-pírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, pois o encarnado é que atua conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido e portanto aquela dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consin-ta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la; em vez de agir exteriormente ao Espírito encarnado, toma-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois is-so só se pode dar pela morte, por isso, a possessão é sempre momentânea, temporária e intermi-tente. Para se libertar da possessão, é preciso fortificar o Espírito, pelo que necessário se torna que o obsediado trabalhe para sua própria melhoria, estabelecendo em torno de si, uma toalha fluídica, que eles não possam penetrar sem sua permissão, agindo sobre eles pela força moral, por uma ação magnética quintessenciada. Na possessão isto só é possível, com a ajuda indispen-sável de terceiros.

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Portanto, respondendo às indagações iniciais deste trabalho, podemos dizer que Kardec, analisou todas as facetas e prismas da possessão e concluiu que; existe possessão e também coabitação. Uma obra, como a da Codificação Espírita, é indivisível e portanto deve ser analisada como um todo, jamais devendo ser fragmentada ou dividida, na análise de seu conteúdo; existem vários temas, nas obras básicas (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo O Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno) e na Revista Espírita, em que as verdades foram estu-dadas à luz dos conhecimentos adquiridos no dia a dia e suas opiniões, às vezes alteradas, sem que correspondessem a uma mudança de ideia, mas sim, a uma evolução de verdade em verdade, degrau a degrau na escada ascensional do conhecimento, como convém a um cientista sábio, as-tuto, inteligente, honesto e antes de tudo, humilde, coisa rara, aliás. A fé raciocinada sobre a égide desta humildade, aconselhada e praticada pelo mestre lionês, le-vou-o na busca incessante da verdade, que sempre caracterizou suas ações, a correta elucidação conceptual de possessão, incitando-nos também a libertarmo-nos de duas outras; a dos dogmas e a do fanatismo. Tenhamos igual têmpera e nos deixemos contaminar pela sua lição e pelo seu exemplo; a lição inclina, o exemplo arrasta. BIBLIOGRAFIA (1) KARDEC, Allan . O Livro dos Espíritos, ed. FEB, 1987, perg. 473, pg. 250. (2) Revista Espírita , 1858, pg. 278. (3) KARDEC, Allan . O Livro dos Médiuns, ed. FEB, 1982 , item 240, pg. 300. (4) Revista Espírita, 1862, pg. 109. (5) Idem , 1862, pg. 359. (6) Idem , 1863, pg. 373. (7) KARDEC, Allan . Obsessão, ed. “O Clarim”, 1993, pg. 225. (8) Idem , pg. 229. (9) Revista Espírita, 1863 pg. 01. (10) Idem, 1863, pg. 103. (11) Idem, 1864, pg. 11. (12) Idem, 1864, pg.225. (13) KARDEC, Allan . O Evangelho Segundo o Espiritismo, ed. FEB, 1995, pg. 432. (14) Idem, pg. 171. (15) Revista Espírita, 1867, pg. 192. (16) KARDEC, Allan . A Gênese, ed. FEB, 1980, pg. 306. (17) Idem, pg. 330. (18) Idem, pg. 329. ---------------------------------------------------------------- 85 ----------------------------------------------- PRESERVAÇÃO DO TRÍPLICE ASPECTO NAS EXPOSIÇÕES DOUTRINÁRIAS* Dr. Ricardo Di Bernardi Em função da necessidade de integrar os trabalhadores e estudiosos do Movimento Espírita no espírito federativo de unificação, sem o intuito de padronizar ou uniformizar palestras, pois a di-versidade é que enriquece e embeleza a roupagem que as veste, sugerimos determinadas posturas que, em se adequando às realidades locais, poderão servir de subsídios ao expositor da Doutrina Espírita. Inicialmente, urge que as exposições aliem, também, ao conteúdo de consolo, necessário aos que sofrem, o esclarecimento fraterno da dinâmica da vida e das leis do Universo. Além de ensejar-se a compreensão do sofrimento, demonstrar que um único destino é que aguarda todas as criaturas: a felicidade plena em função da evolução. São subsídios indispensáveis a qualquer palestra todos os princípios básicos da Doutrina. Não há como se expor, na abordagem espiritista, qualquer tema, sem ligá-lo à Reencarnação, à Lei de Causa e Efeito, à Sobrevivência do Espírito ou à sua evolução. Pretende-se, com este es-

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quema, propiciar ao ouvinte que entra pela primeira vez em uma Casa Espírita ter uma visão aproximada e lógica do contexto doutrinário. Torna-se importante, também, que os temas não sejam apresentados como de Caráter exclusiva-mente religioso, científico ou filosófico. Qualquer tema deve ser abordado e exposto sempre pe-los três ângulos, para se construir o triângulo perfeito da concepção espírita. Temas como a Caridade precisam ser entendidos filosófica e cientificamente, para se fortalecer a consequência moral (ética ) finalista. Podemos explicar um ato de amor, também, como movi-mentador de energias extrafísicas que sintonizam magneticamente com outras de mesma fre-quência vibratória. O sentido genuinamente espírita do tríplice aspecto da Doutrina não deve ser subtraído indevidamente, mas apresentado em sua plenitude sem perder a identidade doutrinária. Analogamente, temas como a origem da vida ou dos astros não poderão tornar-se simples aulas de Biologia ou Geografia. Indispensável unir o assunto à Onipresença divina, à existência dos fluidos e ao sentido mais amplo do amor divino. Assim por diante. É também ingenuidade pensar que o Espiritismo é apenas para os mais simples e humildes. Não são os sãos, mas os doentes que precisam de médico. A mensagem doutrinária deve ser sempre veiculada de maneira clara e acessível a todos; paralelamente, deve atender também aos anseios dos seres humanos cultos e inteligentes na elucidação da dinâmica da vida e dos proble-mas modernos. Viver Kardec não significa apenas estacionar nos graníticos alicerces da Doutrina, mas crescer embasado nos mesmos. Nada entristeceria mais nosso amado Codificador que programarmos ci-clo de palestras sobre o “duelo”, sob o pretexto de ser assunto de obra básica, ao invés de sobre “passes”, alegando que este assunto foi tangido rapidamente pelo mestre lionês. Viver Kardec é seguir sua mensagem progressista e não apequenar seu maravilhoso trabalho convertendo o Pentateuco kardequiano em uma bíblia dogmática. Nada mais antikardecista, que deter-se exclusivamente nos alicerces doutrinários. Não ousaríamos pedir tanta abertura como o Codificador, que chegou a dizer que, quando a Ciência demonstrar que o Espiritismo está errado em algum ponto, ele se modificará. Pelo menos somemos os conhecimentos hauridos pelas fa-culdades mediúnicas de Chico Xavier e Divaldo Franco às bases doutrinárias, ao proferirmos nossas palestras. A mensagem de carinho e consolo – considerada característica espírita – poderá até ser impres-cindível. No entanto, não podemos confundir isto com postura “religiosista” ao executarmos nossos pronunciamentos, assumindo, assim, características clericais que não se coadunam com a natureza de nossa Doutrina. Não podemos permitir que o Espiritismo seja confundido como sim-plesmente mais uma religião. Uma das heranças equivocadas do nosso passado judaico-cristão é a questão da culpa (desde o nascimento) e da punição. Cabe a nós demonstrar que, como disse Pedro, o Apóstolo, a caridade cobre uma multidão de “pecados”. As situações de resgates devem ser explicadas como passíveis de ser atenuadas e até eliminadas por atos de amor. Expiação, muitas vezes, por visão míope ou exposição doutrinária apressada, soa como castigo divino. Imprescindível demonstrar que as de-formidades físicas não estão punindo, mas, eliminando as deformidades perispirituais, drenando-as para o corpo físico, com vistas à harmonia energética do Espírito. Evitemos veicular mensagens passivas, tais como: sempre é necessário sofrer para evoluir. Preci-so é condicionarmos pelas palestras, tanto os encarnados como os desencarnados, que a opção da dor só se faz necessária quando não optamos pelo amor e pelo trabalho. Útil ao próximo não é necessariamente aquele que se resigna em reencarnar deficiente, mas aquele que procura adquirir as condições de reencarnar perfeito para auxiliar construtivamente os seus irmãos. Esperemos que as exposições doutrinárias possam ensinar transformando o Centro Espírita tam-bém em uma escola dos Espíritos. Há ouvintes que nada sabem sobre a vida após a morte, nada escutaram sobre reencarnação e até mesmo mediunidade, embora já tenham repetidas vezes assistido às mesmas palestras sobre de-terminados temas evangélicos. Deixemos muito claro que sempre poderão os temas evangélicos ser veiculados. Não há dúvida de que o Espiritismo tem, também , raízes cristãs. Chamamos, no entanto, a atenção para a falta de informação sobre a Doutrina Espírita, o que nos causa profunda preocupação.

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Permitam as luzes do Alto clarear as nossas limitações e nos intuir adequadamente para amarmos e instruirmo-nos suficientemente, a fim de que transmitamos a Doutrina Espírita com amor e sa-bedoria. --------------------------------------------------------------- 86 ------------------------------------------------ QUANDO A OPÇÃO POR SI MESMO NÃO É EGOÍSMO Rogério Coelho “Quem se considera livre para morrer, assume um compromisso com a liberdade de viver”. - Jo-anna de Ângelis Nos tempos atuais a criatura humana vive em constante turbulência emocional e, não raras vezes, busca alternativa para o alívio das tensões na infeliz viagem ao mundo da toxicomania e alcoo-lismo, suicidando-se psiquicamente, vez que por isso, deixa-se enredar nas tredas malhas da de-pressão, da paranoia, da psicose, da esquizofrenia, sem valor moral para enfrentar as naturais vi-cissitudes da Vida. Em formosa página mediúnica, vinda pela mediunidade de Divaldo Franco, Joanna de Ânge-lis(1) faz interessante abordagem do tema, traçando um perfil do “status-quo” vigente e mostran-do qual o tipo de opção feliz capaz de desembaraçar-nos das armadilhas psicológicas: “(...) É cômodo e trágico fugir psicologicamente da Vida, jamais o conseguindo realmente. O ser huma-no faz parte de um conjunto harmônico que constitui a Criação. A sua inarmonia dificulta a or-dem, o equilíbrio geral, que ele deve esforçar-se por não desorganizar. O egoísmo, filho da ima-turidade, torna-o exigente quão ingrato, levando-o à rebeldia quando contrariado nas suas pai-xões infantis, o que lhe propicia as distonias psicológicas e os primeiros pensamentos a respeito do suicídio. Por outro lado, aparecem os indivíduos que se aferram aos objetivos que se lhes re-presentam como Vida: amar apaixonadamente alguém, cuidar de outrem, dedicar-se a um labor, a uma tarefa artística ou não, a um ideal ou à abnegação, e que, concluída a motivação, negam-se a viver, matando-se emocionalmente e sucumbindo depois... Estas pessoas não optaram por si mesmas. Realizaram um mecanismo de transferência, sem que hajam experimentado a beleza da Vida e suas ulteriores finalidades. O indivíduo deve optar por si mesmo, como escreveu o filósofo e teólogo dinamarquês do século XIX Kierkegaard. Optar por si mesmo significa o resultado de uma análise cuidadosa da Vida e das suas finalida-des extraordinárias, representando um esforço para viver, para descobrir-se que existe, e nada, jamais, pode destruir a sua realidade. Descobrir-se como se é, e aceitar-se, constitui a opção por si mesmo, trabalhando-se para novos e futuros logros que levam ao cumprimento do seu destino de ser pensante, facultando o discer-nimento de realizar as suas aspirações fundamentais, essenciais... A opção por si mesmo oferece uma alta responsabilidade para com a Vida, um encanto novo para descobrir todas as belezas que estavam sombreadas pelo pessimismo, uma liberdade em alto grau de movimentação. O amor se lhe expressa mais pleno, porque, amando a si mesmo, irradia este sentimento em todas as dire-ções e preenche todos os vazios íntimos com alegria e realização, mediante a autodisciplina, que se lhe torna guia eficaz dos pensamentos e atos libertadores”. A vigilância e a oração recomendadas por Jesus, junto ao incessante trabalho no bem são os pro-gramas regenerativos e ao mesmo tempo vacinas eficazes contra o suicídio físico ou emocional. Neste caso, optar por si mesmo, longe de ser egoísmo, é preencher as condições do verdadeiro discípulo do Cristo que “ama a seu próximo como a si mesmo”. Este está livre e disponível para os desígnios de Deus, sejam eles quais forem reconhecendo que não são as criaturas e tampouco os fatores exteriores que fomentam a verdadeira paz e felicidade, vez que o Meigo Zagal Celeste já afirmou alto e bom som que o Reino dos Céus está dentro de nós. 1 - Joanna de Ângelis/Franco, D.P. “Momentos de Iluminação” – Capítulo 3 -------------------------------------------------------------- 87 -------------------------------------------------

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QUE É A VERDADE? Rogério Coelho “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” - Jesus.( Jo., 8:32.) Jesus permaneceu em silêncio quando Pilatos Lhe perguntou: (Jo., 18:38.) “Que é a verdade?” Confrontavam-se ali a verdade autêntica, transcendental, eterna e incorruptível que Jesus veio trazer e a falsidade, os ouropéis mesquinhos, transitórios, rasteiros, ligados ao chão da Terra, nos quais se comprazia Pilatos. Que poderia Jesus responder? Pilatos não O entenderia absolutamente!... Diz Agar: “A Ilusão do mundo e a renúncia incompleta não nos deixam descobrir as Verdades Divinas, enquanto permanecermos exclusivamente nos círculos acanhados. É preciso o concurso do tempo, a fim de alcançarmos o sabor positivo da iluminação espiritual.” Segundo o ínclito Mestre Lionês, “(...) nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade. Que ser humano se pode vangloriar de a possuir integral, quando o âmbito dos conhe-cimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as ideias? A verdade absoluta é patrimônio unicamente de Espíritos da categoria mais elevada e a Humanidade terrena não pode-ria pretender possuí-la, porque não lhe é dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verda-de relativa e proporcionada ao seu adiantamento. Se Deus houvera feito da posse da verdade ab-soluta condição expressa da felicidade futura, teria proferido uma sentença de proscrição geral, ao passo que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, podem todos praticá-la. O Espiri-tismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independente de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há sal-vação, pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos.” Diz Marcelo Ribeiro: “(...) Aqueles que possuímos uma mensagem de renovação e esperança pa-ra dar, devemos, melhor do que os outros, compreender que o nosso labor se baseia no perfeito equilíbrio em prol da divulgação lavrada na simpatia e na gentileza. Não nos propomos combater as demais pessoas, ou suas ideias, ou sua forma de ser. Antes nos candidatamos a expor os nos-sos temas, aqueles que nos felicitam, interessando aos que nos ouvem e veem a examinar as nos-sas informações, optando pelo que lhes pareça melhor. Pugnadores da verdade, sabemos que ela não se contém, total, no nosso enfoque de como considerar a Vida, reconhecendo que, talvez, a nossa, seja uma visão melhor e mais clara, de modo a resolver inúmeros problemas que aturdem a Humanidade. Exercitando-a, ampliamos a capacidade de entendê-la, facultando-lhe o crescimento em nós e crescendo com ela. Assim considerando, recordemos que numa discussão sempre se podem encontrar três coloca-ções da Verdade: 1 - a de um litigante, 2 - a do seu adversário e, 3 - aquela que paira acima dos indivíduos. Esta última colocação é a legítima e transcendental, que examina fatores ignorados, causas des-conhecidas motivadoras da ocorrência em pauta... É urgente que estejamos conscientes da obra a realizar primeiro em nós mesmos, como combate intransferível e imediato, a fim de irmos adiante. O próprio Jesus, que conhece a Verdade, jamais a impôs e nunca entrou em lutas verbalistas in-justificáveis, tampouco Se deteve a combater contra... O Seu, foi o combate a favor do bem, pelo bem de todos, com amor, sem despotismo, nem intolerância ou exigência, ensinando o amor e incondicionalmente amando com esperança no êxito final.” ------------------------------------------------------------- 88 -------------------------------------------------- RECEITA DE PAZ! Dr. Ricardo Di Bernardi

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Paz! Compreender o Conceito de Paz. - Estado de harmonia ou identificação com a Lei Cósmica Uni-versal. Perceber sua Obtenção. - Trata-se de uma consequência natural do nível evolutivo do ser huma-no. Entender as Dificuldades. - Ausência (ou precariedade ) de conhecimento da dinâmica da vida + ausência (ou precariedade) de sensibilidade em relação ao próximo. Receita. - Tomar uma dose diária de sabedoria + uma dose diária de sensibilidade. Precauções. - Presença comum de apresentações falsas de sabedoria e de sensibilidade nas far-mácias da vida. Contraindicações. - Sabedoria e Sensibilidade não podem ser ingeridos por aqueles que ainda não tem maturidade digestiva para estas substâncias. Efeitos colaterais. - A ingestão precoce de pérolas de sabedoria e sensibilidade, por organismos ainda não amadurecidos, levarão a exoneração diarreica e perda de tempo útil. Além disso as pé-rolas serão pisoteadas pelos pés (vide parábola dos porcos )dos organismos que as receberem. Preparação Pré-Medicamentosa Sugerida: - Preparar o solo do organismo através de longa utilização do arado da experiência. - Semear sementes de amor e do conhecimento das leis universais. - Regar com a água da paciência. - Adubar com a presença do apoio constante. - Efetuar a poda enérgica dos galhos-atitudes que se desenvolverem de forma desordenada. - Dialogar com o verbo misto de ternura e energia com a árvore ou organismo da vida que se de-senvolve. - Não esperar flores diferentes das espécies compatíveis com o ser individual ou coletivo. - Aceitar a existência do rigor do inverno, e do ciclo necessário das estações, para o desenvolvi-mento do organismo e da árvore da vida. - Compreender que os frutos só poderão surgir na estação adequada. Contribuição Paralela. - Recomendamos aos acompanhantes, não comprometidos no processo atual , uma postura de contribuição. Contribuição mental-energética ao Banco da Solidariedade. As contas estão abertas 24 horas por dia. A senha tem 3 letras P + A + Z. Poderão ser deposita-dos quaisquer valores energéticos no Banco da Solidariedade desde que precedidos da senha cor-reta. Lembramos que de contribuições modestas se construirão contas correntes energéticas ca-pazes de adquirir o medicamento para neutralizar o Vírus da Guerra. Tal qual a parábola da andorinha que tentava apagar o incêndio, resta-nos fazer nossa parte. Somemos paz. ---------------------------------------------------------------- 89 ----------------------------------------------- A REENCARNAÇÃO DISSOLVERIA A FAMÍLIA? Dr. Ricardo Di Bernardi Segundo aqueles que nos exercitam o raciocínio, e às vezes a paciência, questionando acerca da lógica da doutrina reencarnacionista, eis mais uma interrogação a que nos submetem com relati-va frequência: Se admitirmos a continuidade da vida além do mundo físico, fatalmente nos en-contraremos após a morte com nossos parentes. Considerando a pluralidade das existências, te-remos a esdrúxula situação de depararmos no mundo espiritual com a presença de dezenas de es-posas, mães, pais e centenas de filhos. Em última análise, perder-se-ia o sentido de família. Sosseguem os preocupados e não se entusiasmem os polígamos, tal fato não ocorre. Inicialmente, cumpre chamar a atenção para o fato das ligações de caráter reprodutivo serem adequadas ao nosso mundo físico onde a máxima “crescei e multiplicai-vos” depende fundamen-talmente da diferenciação de sexos e do intercâmbio sexual entre as criaturas encarnadas. A con-ceituação de família a nível espiritual é diferente, mesmo porque os Espíritos não baseiam suas afeições em moldes e necessidades idênticas às terrestres.

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O infundado temor de que a parentela aumente indefinidamente, em virtude dos renascimentos sucessivos, tem também um fundo egoístico inconsciente. Demonstra naquele que sente, insufi-ciência de amor amplo para conter um número elevado de pessoas. Quem tem oportunidade de educar muitos filhos, não os ama menos pelo fato de serem em maior número, ao contrário cada vez desenvolve mais o amor. No mundo espiritual temos notícia que a vivência acontece por similaridade de nível evolutivo. Não estaremos próximos daqueles que não sintonizarem com nossa faixa vibratória sejam paren-tes ou não. Se os diferentes gostos e preferências até aqui no planeta Terra afastam as criaturas, o mesmo ocorre no plano extrafísico, e com muito maior intensidade. O rótulo do parentesco nada significa quando não há semelhança energética. Há Espíritos que, embora tenham sido parentes na vida física, situam-se em planos muito diversos (portanto dis-tantes) de seus parentes, em função de sua natureza íntima lhes ser completamente distinta da pa-rentela física. Façamos uma comparação entre a tese reencarnacionista e a doutrina anti-reencarnacionista, no sentido da valorização da família. As ligações familiares não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como nossos inquisidores supõem. Ao contrário, observaremos, pelo raciocínio a seguir, que as mesmas se tornam mais autênticas e duradouras. No mundo extrafísico, os Espíritos constituem famílias interligadas pelo amor e pela simpatia. Felizes por se acharem juntos, eles se buscam uns aos outros. A encarnação apenas temporaria-mente os afasta do convívio de seus entes queridos, uma vez que ao retornarem à pátria espiritu-al, novamente se associam tal qual parentes que voltam de uma viagem. Frequentemente reen-carnam no mesmo seio familiar auxiliando-se mutuamente. Aqueles que permanecem no plano espiritual, continuam a manter sua união pelo vínculo do pensamento de amparo e afeição. Vida após vida, os laços afetivos ficam mais estreitos pois se reencontram ora no mundo físico ora no plano espiritual, burilando cada vez mais a qualidade do vínculo que os une. Parentes que, aqui na Terra realmente se estimam, atestam, inclusive, ligações pretéritas que os agruparam novamente na vida atual. Comum é escutar a referência popular sobre pessoas que “parecem não ser da família” tão expressiva a diversidade ética ou de caráter que demonstram com relações aos demais membros do mesmo núcleo familiar. Na realidade, muitos que convi-vem sob o mesmo teto o fazem para a superação de incompatibilidades sérias e necessitam per-dão mútuo. A presença de Espíritos antipáticos no núcleo familiar tem por objetivo o progresso de todos os envolvidos. Não eram parentes espiritualmente falando, mas poderão vir a ser ao de-senvolverem entre si laços de amor genuíno. Segundo os conceitos tradicionais da vida única, a sorte pós-túmulo dos membros da família, es-taria definitivamente selada com o desenlace físico. O sofrimento eterno ou as bem-aventuranças permaneceriam asseguradas em função das atitudes comportamentais durante a vida. Desta forma, a doutrina não reencarnacionista separa definitivamente pais e filhos, maridos e es-posas que permanecem “condenados” ou sem esperanças de se reverem. A ideia de uma vida só ou unicidade da existência levaria a destruição total dos laços de família. A filosofia reencarnacionista oferece uma visão menos sombria informando que todos os que se amam voltam a se reencontrar e sobretudo, conforme foi dito, “nenhuma das ovelhas se perderá”. Não há Espíritos condenados eternamente. As reencarnações nos ensejam a certeza não só do reencontro dos afetos, mas a segurança de que a felicidade futura será o destino de todas as criaturas. Há solidificação e a ampliação dos laços do amor. --------------------------------------------------------------- 90 ------------------------------------------------ É A REENCARNAÇÃO UM ESTÍMULO À PREGUIÇA? (Adiam-se os compromissos para próxima vida) Ricardo Di Bernardi Umas das objeções frequentemente apresentadas à tese reencarnacionista é a suposição de que as pessoas ao aceitarem a pluralidade das existências possam se tornar acomodadas com relação à

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sua transformação interior. O fato de admitirem novas oportunidades lhes inibiria o impulso ao progresso espiritual. A responsabilidade podendo ser adiada levaria os seres humanos, falhos por natureza, a transferirem para outras vidas os deveres que se apresentassem na romagem atual. Consideram, alguns críticos, que a existência de uma só vida, ou seja, a unicidade ao invés da pluralidade das existências, não permitiria este estímulo à preguiça espiritual. Dizem-nos que não há como postergar para amanhã o que se pode fazer hoje, apenas hoje. Esta objeção é co-mumente mencionada ao dialogarmos com adeptos de determinadas confissões religiosas. Raci-ocinemos comparativamente, colocando as duas teses opostas lado a lado. Pela crença na vida única, considerando a existência do Espírito e a sobrevivência do mesmo após a morte biológica, haveria duas hipóteses no que concerne à destinação das criaturas. Ou se-riam “salvas” ou estariam “condenadas” a uma punição eterna ou extremamente longa até ao chamado “ dia do juízo final ”. Para os religiosos que assim pensam, a salvação estaria disponí-vel até o último suspiro da existência terrena. Sempre haveria tampo do “pecador” se arrepender de seus atos e “aceitar” Jesus no último instante, passando a ser digno das recompensas futuras e eternas independentemente de erros anteriores. Pela ótica da tese reencarnacionista o que nesta vida estamos semeando, passaremos a colher no futuro, e não só nesta existência, como também, nas vidas posteriores. A responsabilidade pelos nossos atos torna-se muito maior, já que não há uma ideia salvacionista, porém uma concepção de evolução e colheita obrigatória. Não há, portanto, espaço para qualquer postura de acomoda-ção ou preguiça. Se nos propusermos realmente a examinar, de forma imparcial e desapaixonada ambas as hipóte-ses, parecer-nos-á bastante claro que a pluralidade das existências, ao contrário da concepção da vida única, exige muito amor e conscientização de nossas imperfeições a serem corrigidas. Ao invés de transferirmos a responsabilidade para outros que atuariam como representantes da di-vindade, ou esperarmos um perdão milagroso que apaga as nódoas da maldade mais encardidas e repugnantes, fruto de atos vis de nosso Espírito, há um estímulo constante para nos reformarmos intimamente rumo à sabedoria e ao amor universal. A concepção reencarnacionista ensina que não existe a “salvação” existe a evolução. Não há Es-píritos “condenados” mas transitoriamente enfermos. A mensagem cristã de “ nenhuma das ove-lhas se perderá”, ajusta-se plenamente na tese da pluralidade das existências dando oportunidade a que todos atinjam a felicidade. Permite atribuir facilmente a Deus a totalidade do amor e justi-ça. No entanto, apesar do destino último de todas as criaturas após inúmeras reencarnações ser um destino perfeito, estamos sujeitos a cada momento às dolorosas consequências de nossos desati-nos não existindo milagres salvacionistas que nos levem preguiçosamente a um paraíso, inde-pendentemente de uma vida pouco útil ou perniciosa ao próximo. ------------------------------------------------------------------ 91 --------------------------------------------- REENCARNAÇÃO NA BÍBLIA? José Henrique Baldin A reencarnação é uma Lei Natural criada por Deus, onde mostra a justiça e a bondade para com os seus filhos. Ela por ser uma Lei Natural sempre existiu por toda a eternidade. Sem ela, fica impossível de atribuir justiça e bondade à Deus, pois é impossível um Espírito chegar a perfeição moral e intelectual tendo somente uma só existência corpórea. Além do mais, somente a plurali-dade das existências pode explicar as desigualdades sociais, físicas e morais existentes na nossa sociedade. Por que uns nascem com tendência ao bem e outros ao mal? Por que uns nascem sãos e outros nascem doentes? Por que uns nascem em berço rico e outros na miséria? Por que uns nascem superdotados enquanto outros não? Por que uns morrem em tenra idade enquanto outros vivem quase 100 anos? Por que uns nascem no Brasil, onde não há guerras, enquanto outros nas-cem no Oriente Médio, alvo de constante guerras? Por que uns nascem em lares fartos de comi-da, enquanto outros nascem na África passando fome e inanição? Por que uns nascem numa boa família enquanto outros nascem numa mal família ou nem família tem? Enfim inumeráveis per-

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guntas que só a reencarnação, ou seja a pluralidade das existências pode responder a todas elas de forma lógica, racional e justa. Se teríamos uma única existência, Deus seria injusto criando Anjos que são seres perfeitos e nós ainda somos imperfeitos. Deus seria parcial e privilegiaria os Anjos, e só restaria perguntar à Deus, por que nos criou imperfeito. Ainda tem mais, Deus sendo infinita sabedoria, já saberia na criação quem poderia ser “salvo” ou não tendo uma só existência. E também poderíamos culpar Deus por termos nascidos pobres, doentes, deficientes físicos ou mentais, pois enquanto tantas outras pessoas vivem no luxo, na saúde, e têm uma vida tranquila, nós vivemos em constante tri-bulação e sofrimento, e não temos outra chance, pois temos somente uma vida. Alguns religiosos afirmam que na Bíblia está a prova que temos apenas uma existência, vejamos: “E, assim como aos seres humanos está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo,” (Hebreus, Cap. IX, 27). Esta frase está correta, mas não quer dizer que temos como Espí-rito apenas uma existência física, o que Paulo quis dizer é que, por exemplo, que meu Espírito tenho apenas uma existência física como José Henrique, que após o morte, meu Espírito retorna à pátria espiritual e depois de algum tempo vou reencarnar como ser humano, como mulher, aqui no Brasil ou em outro país, enfim com outra identidade física. Devo lembrar que todo o patrimônio moral e intelectual do Espírito adquirido em todas as suas existências corpóreas anteriores jamais se perdem, e que durante a encarnação o Espírito passa pelo esquecimento do passado, onde tem vagas lembranças de suas vidas passadas e de suas ha-bilidades. Esse esquecimento se restringe apenas ao estado de vigília, ou seja durante o descanso do corpo físico(sono), o Espírito recobre suas faculdades morais e intelectuais, assim como tam-bém acontece após a morte física. Há algumas pessoas que demonstram a existência desse patrimônio adquirido, ou seja, pessoas sem nunca terem estudado, conhecem determinado assunto. Algumas crianças tocam piano, pin-tam quadros, mostram habilidades em tenra idade. Mas em todas as crianças já podemos perce-ber suas tendências boas ou más, se por um acaso a criança mostrar ciúmes ou egoísmo por um objeto ou pessoa, já demonstra o defeito moral, e é de vital importância que os pais corrijam a criança nesta fase, onde o Espírito está mais apto a receber novos conceitos. Será que podemos encontrar a prova da reencarnação na Bíblia? Sem dúvida, mas devo explicar também que a palavra “ressurreição” não significa reencarnação, como pensam muitos espíritas. Eles atribuem ao fato de os religiosos antigos terem trocado o termo reencarnação por ressurrei-ção. Quando Jesus disse que ressuscitaria três dias após a sua morte, ele não queria dizer que re-encarnaria dentro de três dias. Isso se explica pelo seguinte: Jesus era Espírito puro e não preci-sava reencarnar novamente, a não ser em outra missão. Ele também não poderia reencarnar três dias depois, pois se ele precisava ficar mais tempo entre nós, não precisaria passar pela morte fí-sica. E o que ele queria dizer na verdade é que reapareceria(ressurgiria) três dias após a sua mor-te, fato esse confirmado pelas escrituras, onde ele apareceu primeiramente as mulheres e em se-guida aos apóstolos. Jó afirmou que veio nu e retornaria nu à pátria espiritual: “Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor.” (Jó, Cap. I, 20-21) “Tu nem as ouviste, nem as conheceste, nem tampouco há muito foi aberto o teu ouvido; porque eu sabia que procedeste muito perfidamente, e que eras chamado transgressor desde o ventre.” (Isaías, Cap. 48, 8) Ora, como pode um pessoa já ser transgressora, ou seja ter pecados antes do nascimento? Somente a reencarnação pode explicar este fato. Além disso Jesus disse claramente que para chegarmos ao Reino de Deus precisaríamos nascer de novo, e renascermos do Espírito, vejamos: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nico-demos: Como pode um ser humano nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre ma-terno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é

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todo o que é nascido do Espírito. Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus: Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto; contudo, não aceitais o nosso testemunho. Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?” (João, Cap. III, 3-12) Uma prova clara da reencarnação podemos encontrar entre as semelhanças de Elias e João Batis-ta. O próprio Jesus afirmou aos discípulos, que João Batista era o Elias. Vários fatores nos levam a crer nisso, temos então: 1) Tipo de roupa igual: João Batista: “Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. Porque este é o referido por intermédio do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Usava João vestes de pelos de camelo e um cinto de couro; a sua ali-mentação eram gafanhotos e mel silvestre.” (Mateus, Cap. III, 1-4) (Marcos, Cap. I, 2-6) Elias: “Ele lhes perguntou: Qual era a aparência do homem que vos veio ao encontro e vos falou tais palavras? Eles lhe responderam: Era homem vestido de pelos, com os lombos cingidos de um cinto de couro. Então, disse ele: É Elias, o tesbita.” (II Reis, Cap. I, 7-8) 2) Profecias no Velho Testamento afirmando da vinda de um profeta antes de Jesus: “Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos.” (Malaquias, Cap. III, 1) “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a Terra com maldição.” (Malaquias, Cap. IV, 5-6) Malaquias, afirmou claramente que Elias viria antes do “Dia do SENHOR”, ou seja de Jesus, e o que João Batista fez ao batizar as pessoas, era pregar o arrependimento. E com isso preparava o caminho para Jesus dar continuidade a esse trabalho. 3) Lei de causa e efeito: Elias, decepava as cabeças dos profetas de sua época à espada, conforme está nas escrituras: “Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito e como matara todos os profetas à espa-da.” (1 Reis, Cap. XIX, 1) Conhecemos a lei de causa e efeito, e que ninguém é imune à ela, João Batista que era a reencar-nação de Elias não poderia escapar desta lei, acabou morrendo decapitado, para que se cumprisse à Lei, vejamos: “Por aquele tempo, ouviu o tetrarca Herodes a fama de Jesus e disse aos que o serviam: Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos, e, por isso, nele operam forças miraculosas. Porque He-rodes, havendo prendido e atado a João, o metera no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão; pois João lhe dizia: Não te é lícito possuí-la. E, querendo matá-lo, temia o po-vo, porque o tinham como profeta. Ora, tendo chegado o dia natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante de todos e agradou a Herodes. Pelo que prometeu, com juramento, dar-lhe o que pedisse. Então, ela, instigada por sua mãe, disse: Dá-me, aqui, num prato, a cabeça de João Batista. Entristeceu-se o rei, mas, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, de-terminou que lha dessem; e deu ordens e decapitou a João no cárcere. Foi trazida a cabeça num prato e dada à jovem, que a levou a sua mãe.” (Mateus, Cap. XIV, 1-11) (Marcos, Cap. VI, 24-28) Note também a expressão: “Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos.” Aqui não quer dizer que ele reencarnou dos mortos e sim reapareceu(ressurgiu) dos mortos. Prova mais do que evi-dente que nós podemos ressurgir dos mortos. 4) Esquecimento do passado: Alguns religiosos usam o versículo abaixo para provar que João Batista não era Elias. Mas a Doutrina Espírita explica o porque da afirmação de João Batista, vejamos o texto: “Então, lhe perguntaram: Quem és, pois? És tu Elias? Ele disse: Não sou. És tu o profeta? Respondeu: Não. Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo? Então, ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” (João, Cap. I, 21-23)

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Ora, quando estamos reencarnados, não lembramos de nossas vidas passadas, se nos pergunta-rem se somos Maria ou João, com certeza diremos: “Não somos”. Pois Deus nos deu o esqueci-mento do passado para preservarmos do sofrimento das faltas passadas que cometemos e tam-bém para termos mérito nas boas obras futuras, que se soubéssemos o que precisaríamos fazer para progredir, faríamos por interesse pessoal e não por livre e espontânea vontade. Mas, apesar do esquecimento do passado, João Batista e também qualquer um de nós, pode ter vagas lem-branças de alguns fatos do passado e de nossas missões neste mundo. João afirmou que prepara-ria o caminho para o Messias e que pregava o arrependimento. 5) Afirmativa de João Batista dizendo ser o precursor de Jesus: Conforme está no item 2 deste estudo, onde Malaquias afirma que enviaria Elias antes do Cristo, o próprio João Batista se considerava precursor do Messias, vejamos: “E foram ter com João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro. Respondeu João: O ser humano não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada. Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor.” (João, Cap.,. III, 26-28) 6) Jesus afirma que João Batista era Elias: “Mas os discípulos o interrogaram: Por que dizem, pois, os escribas ser necessário que Elias ve-nha primeiro? Então, Jesus respondeu: De fato, Elias virá e restaurará todas as coisas. Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram; antes, fizeram com ele tudo quanto quise-ram. Assim também o Filho do Homem há de padecer nas mãos deles. Então, os discípulos en-tenderam que lhes falara a respeito de João Batista.” (Mateus, Cap. XVII, 10-13) “Então, em partindo eles, passou Jesus a dizer ao povo a respeito de João: Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Sim, que saístes a ver? Um ser humano vestido de rou-pas finas? Ora, os que vestem roupas finas assistem nos palácios reais. Mas para que saístes? Pa-ra ver um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta. Este é de quem está escrito: Eis aí eu envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti. Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele. Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele. Porque todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus Cap. XI, 7-15) (Marcos, Cap. IX, 11-13) Prova mais evidente que essas duas afirmações de Jesus é impossível. Jesus, sendo um Espírito puro poderia saber da existência anterior de João Batista e disse claramente que as pessoas fize-ram o que queriam com Elias mas que não o reconheceram, e também não poderiam pois Elias estava na forma do corpo de João Batista. Ao final deste estudo, não consigo ainda imaginar quem ainda não consegue compreender a rea-lidade da reencarnação, sejam pelos fatos lógicos que ela encerra, seja pelas próprias escrituras que a confirmam. Basta analisarmos racionalmente nossas tendências boas ou más para termos uma ideia de quem somos. Ainda podemos ver em que áreas temos facilidade de aprendizado, confirmando que já conhecíamos o assunto. E ainda hoje, somente não acreditarão aqueles que ainda se encontram em ignorância espiritual ou aqueles que não aceitam a tese da reencarnação por interesse pessoal ou religioso. Termino com as palavras de Jesus que soam alto aos nossos corações e que provam a existência da reen-carnação: “E, se o quereis reconhecer, ele(João Batista) mesmo é Elias, que estava para vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” -------------------------------------------------------------- 92 ------------------------------------------------- REIDENTIFICAÇÃO Rogério Coelho “A Religião Espírita é o código que permitirá a nossa reidentificação nos terminais do computa-dor divino.” - François C. Liran

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O sucateamento das religiões medievais com seus dogmas inverossímeis e ancilosados, o pro-gresso da Ciência, entronizando o positivismo e o materialismo, levaram a Humanidade a afas-tar-se de Deus. Faz-se mister uma urgente reidentificação dessa mesma Humanidade com os Mananciais de Ori-gem, isto é, voltar-se para o Pai Celestial. A Doutrina Espírita, em seu tríplice aspecto, possui todos os recursos necessários a essa reidenti-ficação. Sua FILOSOFIA, como poderes de sondar o incognoscível, bem como os dramas da evolução; sua CIÊNCIA, que esclarece as dúvidas facultando luzes inapagáveis em sua lógica contundente e irretorquível, a MORAL (ou RELIGIÃO) apoiada por essa Filosofia e Ciência su-blimes, ensejarão, em conjunto monolítico e inseparável, a ascensão do ser humano aos reman-sosos pastos espirituais, dos quais fora afastado pela obtusidade mental que acoroçoou até hoje suas crenças e cogitações puramente horizontais. São unânimes as vozes, tanto da Espiritualidade Superior e amiga quanto a de inúmeros estudio-sos encarnados com relação à importância do sentimento religioso que deve vigorar em nossas Vidas. A Religião que - etimologicamente - significa “Religar” (do latim religare) perdeu, pelo abuso e desvios que sofreu, o sentido específico de sua etimologia. Não obstante, o Espiritismo resgatou o seu valor e sentido, dando-lhe foros de cidadania celeste na Terra, propiciando ao ser humano reencontrar-se e localizar o caminho da elevação espiritual. Estudemos e entendamos a Doutrina Espírita, esta alforriadora de Espíritos, em seu tríplice as-pecto, Ciência, Filosofia e Moral (ou Religião), conscientes porém, de que - indubitavelmente - o que se alevanta em importância dentre eles é o aspecto moral (religioso), vez que a Ciência e a Filosofia são os segmentos horizontais que nos esclarecem sobre as coisas, saber e situações ter-renhas; a Moral (Religião), porém, é o segmento vertical que nos direciona para o Alto, descorti-nando-nos os painéis do Infinito, apontando a meta de nossa destinação superior: a perfeição, a autoiluminação. Somente assim, reidentificados com a nossa origem, acercados ao aconchego divino, lograremos alcandorar-nos aos cimos gloriosos de nossa destinação cósmica, atingindo, assim, a paz e a feli-cidade plenas, imarcescíveis, inalienáveis, tesouros divinos inacessíveis aos ladrões, traças e fer-rugem. -------------------------------------------------------------- 93 ------------------------------------------------- “MEU REINO NÃO É DESSE MUNDO”. QUE REINO? Dalmo Duque dos Santos - Em que sentido se devem entender as palavras do Cristo “Meu Reino não é desse mundo? - O Cristo respondeu em sentido figurado. Queria dizer que não reina senão sobre os corações puros e desinteressados. Ele está em todos os lugares em que domine o amor do bem, mas os se-res humanos ávidos das coisas deste mundo e ligados aos bens da Terra, não estão com ele. O Livro dos Espíritos - Questão 1018 A realidade espiritual é muito clara, mas para nós, os eternos insatisfeitos, sempre que esse as-sunto vem à tona surge a pergunta fatídica: afinal, o que é o Reino de Deus? - Na cultura judaica , no seu idioma e nos seus dialetos o “reino” está relacionado à palavra “Malkuth”, que significa literalmente “estado de coisas”. Mesmo assim, logo se vê que a expres-são é dúbia e a sua conceituação ou definição é filosófica e vai depender sempre do ponto de vis-ta de quem a coloca em condição reflexiva. Curioso é que esses pontos de vista, embora infini-tamente diversificados pela ótica humana se dividem em duas posições de observação das coisas: a visão interior e introspectiva, portanto espiritualista; e a visão exterior, retrospectiva, portanto materialista. Essa dicotomia só existe porque ainda não conseguimos chegar a um ponto de equi-líbrio entre aquilo que é interior ou exterior, espiritual ou material, em nossa experiência existen-cial. Ainda confundimos a Vida (que é única e eterna) com a existência (que são múltiplas e efêmeras), não entendemos plenamente o que seja a relatividade do tempo e tantas outras coisas que só aprendemos a teorizar, mas que ainda não faz parte da nossa experiência. Sabemos que esses obstáculos de compreensão são impostos pelas limitações dos nossos sentidos e da nosso

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atual conhecimento, ainda muito precário e restrito ao plano intelectual. Sabemos também que esses bloqueios serão gradualmente removidos com o despertar da mediunidade, que nada mais é do uma tecnologia, uma extensão ou exteriorização do Espírito através do cérebro físico. Essa tecnologia, talvez a mais antiga descoberta humana, vem se aperfeiçoando no desenrolar das nossas existências e, assim como a mecânica e a eletrônica, vem adquirindo configurações de acordo com o uso, a capacidade e a necessidade do seu portador. Diríamos que a mediunidade é o equipamento da descoberta do Reino de Deus - a Natureza em si e a nossa relação com ela, o nosso grau de consciência - que veio sendo sofisticado desde as mais rústicas aplicações da ma-gia primitiva até a mais sutis atividades do ambiente cibernético. Mas tal descoberta continua di-vidida entre a percepção exterior e interior. Para uns, ela é o fenômeno físico, palpável, lógico, objetivo; para outros, ela é metafísica, imponderável, psicológica e subjetiva. O papel das doutrinas espiritualistas nessa questão seria influir positivamente no amadurecimen-to do ser humano. A ideia da imortalidade como um fato científico já foi colocado de forma bri-lhante, solucionada do ponto de vista lógico, mas no aspecto interior e psicológico continua sen-do um enigma, um segredo que só vai ser equacionado quando “acordarmos” do sonho existen-cial para a Vida real. Não basta vermos e tocarmos Espíritos materializados se não tivermos a sensibilidade da leitura espiritual do fenômeno. Nesse aspecto os novos cientistas psíquicos fo-ram o triunfo de Tomé: substitui-se a curiosidade pela a dúvida e esta foi sendo superada pela fé tranquila, harmônica, equilibrada. É preciso saber diferenciar a realeza comum e transitória da realeza espiritual. Na primeira en-contramos o universo político de César, o domínio da matéria sobre o Espírito, cujos interesses materiais estão em primeiro lugar e tudo se volta para a solução de problemas dessa modalidade. Na segunda ela é apenas uma simbologia do poder do Espírito sobre a matéria. O extremo dessa consciência é a conversa de Jesus com Pilatos, no qual se mostra perfeitamente convicto do que está fazendo e ciente do que está acontecendo ao seu redor. Essa consciência atinge o ápice quando Jesus prefere a humilhação completa, inclusive da sua dignidade física, para exaltar o seu poder espiritual, isto é, mandar nos corações humanos; a coroa de espinhos, a tortura física e a pena de morte são detalhes que não o incomodam, senão fisicamente, pois são distorções da rea-lidade espiritual, reflexos do poder político efêmero, que certamente serão corrigidos pelas leis da reencarnação e de causa e efeito. Para nós essa é uma experiência ainda absurda, cujo sofri-mento físico do Mestre ofusca o sofrimento moral e nos dá uma falsa ideia de masoquismo, asce-tismo e anulação. Não entendemos que a salvação caminha por uma outra vertente. Tanto é de-formada essa visão que sentimos uma atração sádica pelas cenas da crucificação e chegamos a ponto de querermos reencenar repetitivamente essa tragédia, para atuarmos viciosamente como falsos personagens. Isso é a perversão da religiosidade pelos sentidos físicos, o fundo do poço da religião. Daí surgiram os dogmas, que são os narcóticos do Espírito, talvez o “ópio das massas” a que se referiu Karl Marx. É preciso também comparar a perspectiva materialista e a espiritualista. O Espiritualismo mo-derno rompe o absolutismo temporal da existência biológica e expõe a relatividade do tempo da vida espiritual. Essa dicotomia “mundo interior” e “mundo exterior”, na mente humana, depende da nossa rees-truturação mental e comportamental. O que vale é o conceito socrático do “conhece-te a ti mes-mo”, mas não no sentido de discurso intelectual, da sabedoria vazia dos sofistas. Trata-se de uma autopercepção trabalhosa, metódica, complexa quando racionalizada, porém simples quando aplicada na prática cotidiana. Como não temos a capacidade de nos percebermos senão por ima-gens falsas de nós mesmos (narcísicas), Jesus resolveu facilitar esse processo invocando a lei de sociedade e afinidade entre o seres. A percepção de si mesmo sempre começa pela percepção do outro. O Reino está em nós, mas só o enxergamos refletido no semelhante; só ele, como um es-pelho, tem a chave e esta só abre a fechadura que está no outro, e assim sucessivamente. É por isso que o outro conhece bem melhor do que nós os nossos defeitos e as nossas virtudes. É tam-bém por isso que o próximo, quase sempre, está bem distante, mesmo estando tão perto. Então, amar o próximo é mais conveniente do que se imagina... Quando tivermos a capacidade de amar de verdade, a obrigação e a conveniência serão transformadas no indescritível prazer da caridade.

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Para concluir esse estudo, lembramos que, historicamente, constata-se que a descoberta de si mesmo ou da consciência, como na existência humana, partiu do ponto de vista objetivo e exte-rior - da descoberta do próprio corpo (infância) - passou da mesma forma para os fenômenos da Natureza (adolescência) e vem voltando gradualmente para o universo subjetivo e interior (matu-ridade). Se fôssemos mensurar matematicamente essa trajetória poderíamos dizer que cada etapa da transformação pode ser comparada a um processo de verticalização da consciência, que su-pomos ser no Reino Hominal realizado em três etapas: do Primeiro ao Sexto Ser, de zero a no-venta e de noventa graus; e de noventa a cento e oitenta graus, até atingirmos, no Sétimo Ser, a plenitude de trezentos e sessenta graus, que é a Consciência Universal. --------------------------------------------------------------- 94 ------------------------------------------------ RELIGIÃO E ESPIRITISMO Francisco Curado Teixeira ETIMOLOGIA A etimologia da palavra Religião é discutível. A maior parte dos antigos (Lactancio, Agostinho, Servius) fazem derivar religio de religare e vem aí a ideia duma ligação: quer uma ligação de obrigação face a certas práticas, quer uma ligação de união entre os seres humanos, ou entre os seres humanos e os deuses. Por outro lado, Cícero faz derivar a palavra de relegere, no sentido de reler, rever com cuidado. Esta explicação é considerada artificial e forçada; crê-se contudo hoje, e duma maneira geral, que religio se liga a relegere, mas não no sentido que Cícero dava a esta palavra. Houve, sem dúvida, dois verbos desta forma: num ‘re’ tem um valor de repetição; relego significa então “ler de novo, ler varias vezes”, ou ainda “percorrer de novo” (um caminho, um pais). No outro, ‘re’ significa reunião, aproximação: relego, ou talvez religo, queria dizer então “recolher, reunir”. Este segundo relego opõe-se na forma a neglego ou negligo; as citações de al-guns autores parecem indicar que relego, que se opõe na sua forma a neglego ou negligo, poderá também opor-se-lhe pelo sentido, significando a mesma coisa que colere: “ter cuidado, ter defe-rência ou respeito por alguma coisa”. Religio parece ser duma maneira geral, em latim, o senti-mento constituído por medo e escrúpulo, por obrigação para com os Deuses. Atualmente a palavra religião exprime três ideias: 1. a duma afirmação ou dum conjunto de afirmações especulativas; 2. a de um conjunto de atos rituais; 3. duma relação direta e moral do Espírito humano com Deus, oscilando esta ultima ideia conforma a importância das outras duas, por vezes recalcada por elas até quase desaparecer, outras vezes, pelo contrário, libertando-se a ponto de se isolar quase completamente. DEFINIÇÕES Religião: A. Instituição social caracterizada pela existência duma comunidade de indivíduos uni-dos: 1. pelo cumprimento de certos ritos regulares e pela adoção de certas fórmulas; 2. pela cren-ça num valor absoluto, com o qual nada pode ser comparado, crença que esta comunidade tem por objeto manter; 3. pela relação do indivíduo com um poder espiritual superior ao ser humano, poder concebido quer como difuso, quer, finalmente, como único, Deus. B. Sistema individual de sentimentos, de crenças e de ações habituais tendo Deus como objeto. (...) C. Respeito escru-puloso duma regra, dum costume, dum sentimento. (...) Este sentido que é provavelmente o mais antigo, foi outrora muito mais usual do que hoje. (...) Conservou-se mais no advérbio religiosamente, muito empregue neste sentido, mesmo na lin-guagem familiar. Critica - Os sentidos A e B, acima distinguidos para comodidade de análise e mesmo o sentido C, estão quase sempre reunidos no uso atual da palavra Religião; existe apenas, consoante os ca-sos, predominância do primeiro ou do segundo. Podemos agrupar as diferentes concepções de religião em duas correntes fundamentais: uma cor-rente que opta por uma definição funcional da Religião e outra que opta por uma definição subs-tantiva. Na linha da primeira, temos a definição de religião, do ponto de vista sociológico, segundo DURKHEIM que pode ser resumida na seguinte fórmula: “Uma religião é um sistema solidário

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de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, quer dizer, separadas, interditas, crenças e práti-cas que unem numa mesma comunidade moral, chamada Igreja, todos os que a ela aderem”. “Na linha de uma definição substantiva, outros autores, sem ignorar a sua função social, insistem no caráter relacional da Religião com o absoluto. É o que acontece, designadamente, com R. Otto e Mircea Eliade. Otto identifica no sagrado o verdadeiro centro da experiência religiosa. O sagrado visto, antes de mais, como uma categoria de interpretação absolutamente sui generis, como dado originário e fundamental, irredutível a qualquer definição, completamente inacessível à compre-ensão conceptual e, como tal, inefável. Segundo Otto, é pelo sagrado que se explicam todas as religiões. BRUNETIERE dizia: “Não existe, em bom francês ... Religião sem sobrenatural. Não são apenas noções conexas, são expressões sinônimas. Pode tentar desligar a Religião do sobre-natural que a funda... mas então já não é Religião; é outra coisa, que é necessário, por conseguin-te, chamar com outro nome.” O que constitui de fato a essência da religião, é a distinção de duas maneiras de ser, de dois mundos radicalmente diferentes um do outro, mais exatamente é a crença numa ordem superior de coisas. Este parece ser também o parecer de R. EUCKEN, quando diz que o que é essencial e indispensável à religião sob todas as suas formas “é opor ao mundo que nos rodeia primeiro, uma outra espécie de existência, uma nova ordem de coisas superior, dividir a realidade total em dife-rentes reinos e diferentes mundos. Sem a fé em Deus, pode haver religião, como o mostra o bu-dismo antigo e autêntico: sem a dualidade dos mundos, sem perspectivas sobre uma nova espécie de ser, ela não é mais do que uma palavra vã.” DISCUSSÃO Do que atrás foi exposto parece concluir-se que Religião exprime a ideia de uma relação com o sobrenatural consubstanciada num conjunto de atos rituais, num sistema de sentimentos, crenças e ações habituais tendo, ou não, Deus como objeto. Se esta relação é de temor, como a etimolo-gia da palavra sugere, ou não, tal dependerá essencialmente da interpretação mais ou menos evo-luída que os crentes fazem da sua religião. Esta diferente gradação de sentimentos em relação ao sobrenatural pode ser hoje observada mesmo em religiões tradicionais como o catolicismo. O que a religião parece não dispensar é essa crença no sobrenatural, a divisão da realidade em rei-nos de natureza diferente, tal como o sugere EUCKEN. É sobretudo aqui que o Espiritismo tem que se dissociar do conceito de religião. Porque, para o Espiritismo, a distinção entre natural e sobrenatural não tem mais sentido. Mas não é só a noção de sobrenatural que nos impede de con-siderar o Espiritismo uma religião, é também a existência nas religiões, de um conjunto de ritu-ais, de práticas relativas a coisas sagradas, como expõe DURKHEIM. Na realidade, esta prática ritual, a deferência pelas coisas sagradas, não se desvaneceu nem mesmo nas alas mais progres-sistas das religiões modernas. Ora em Espiritismo o conceito de sagrado esvaziou-se do seu tra-dicional conteúdo (significando relativo ao culto religioso, consagrado, santo, santificado, ...). Penso que, independentemente das definições possíveis de religião que são sempre discutíveis, devemos sobretudo ter em conta aquilo que hoje se entende de maneira geral por religião, ou seja aquilo que o ser humano comum assume como sendo o significado do termo, porque este é que será, na realidade, o seu significado prático. É aqui que podemos dizer, adaptando a afirmação de BRUNETIERE, que não existe em bom português religião sem sobrenatural - não são apenas noções conexas, são expressões sinônimas. É esta noção que se deve ter em conta quando, nos nossos dias e na nossa realidade social, se coloca a hipótese de considerar que o Espiritismo é uma religião. Referências: 1. André Lalande. Vocabulário de Filosofia - Técnico e Crítico. Presses Universitaires de France. Edição em língua portuguesa: RES-Editora, Lda. 2. Logos - revista de Filosofia. Verbo Editora. 3. Enciclopédia Luso Brasileira. 4. Mircea Eliade. Tratado de História das Religiões. 1970. ------------------------------------------------------------------ 95 --------------------------------------------- RENOVAÇÃO SOCIAL Orson Peter Carrara

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Tivemos oportunidade de participar do III MEDNESP em São Paulo no último mês de junho, que reúne em congresso médicos e profissionais de saúde. O alto nível do evento, de excelente estrutura, com abordagens na área médico-científica-psicológica - e desta feita analisando a con-tribuição de André Luiz no estudo da Doutrina Espírita - deixa à vista a penetração do conheci-mento espírita nos meios acadêmicos. Sugerimos aos leitores consultarem reportagem específica publicada na Revista Internacional de Espiritismo, edição de julho de 2001. É notável o interesse de estudiosos de todas as áreas pelo conteúdo do Espiritismo, demonstran-do o progresso intelectual, o desenvolvimento da inteligência na análise dos temas humanos. Em artigo publicado na Revista Espírita com o título Os tempos são chegados(1), Allan Kardec faz profunda análise deste avanço intelectual do ser humano e da inevitável transformação do planeta para equiparação do progresso moral no mesmo nível do progresso material. Utilizando diversas instruções transmitidas pelos Espíritos, o Codificador organizou a ordem de ideias ex-pressas no referido artigo. Dentre as preocupações da atualidade está a questão da renovação social para melhoria moral das condições de vida. Destacando esse ponto pondera o Codificador em trecho parcial do citado ar-tigo: “(...) Não é o Espiritismo que cria a renovação social, é a maturidade da humanidade que faz desta renovação uma necessidade. Por seu poder moralizador, por suas tendências progressi-vas, pela amplidão de suas vistas, pela generalidade das questões que abarca, o Espiritismo é, mais que qualquer outra doutrina, apto a secundar o movimento regenerador; é por isto que é seu contemporâneo. Veio no momento em que podia ser útil, porque também para ele os tempos são chegados; mais cedo, teria encontrado obstáculos intransponíveis; inevitavelmente teria sucum-bido, porque os seres humanos, satisfeitos com o que tinham, ainda não experimentaram a neces-sidade do que ele traz. Hoje, nascido com o movimento das ideias que fermentam, encontra o ter-reno preparado para o receber. Cansados da dúvida e da incerteza, apavorados com o abismo que se abre à sua frente, os Espíritos o acolhem como uma tábua de salvação e uma suprema conso-lação.(...)”. Em outro trecho observa: “(...) Até hoje a humanidade realizou incontestáveis progressos; por sua inteligência, os seres humanos chegaram a resultados atingidos em relação às ciências, às ar-tes e ao bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: é fazer reinar entre si a caridade, a fraternidade e a solidariedade, para assegurar o seu bem-estar moral.(...)”. O ponto central, porém, localiza-se no fato de que o ser humano avança com grande velocidade nas conquistas intelectuais, mas deveremos todos buscar com o mesmo empenho as conquistas morais porque enquanto formos dominados pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizando a inteligên-cia em proveito das paixões e de interesses pessoais, estaremos marcando passo, apesar das enormes conquistas da inteligência - para tornar possível a sonhada renovação social. Felicitamos, todavia, o crescente uso da ciência nas pesquisas dos ensinamentos espíritas, pois que exatamente estas comprovam o que a Doutrina vem ensinando há mais de um século. Foi preciso passar o tempo para hoje enxergarmos pelos olhos da ciência os ensinos trazidos pelos Espíritos. (1) Revista Espírita, outubro de 1866, ano IX - vol. 10 -, edição da Edicel, tradução de Júlio Abreu Filho. ------------------------------------------------------------ 96 --------------------------------------------------- SALVAÇÃO ? NÃO, OBRIGADO! Ricardo Di Bernardi O ser humano primitivo, intimamente ligado à natureza que o rodeava, expressava de forma es-pontânea e verdadeira sua espiritualidade. Através de seu instinto sentia a existência do trans-cendental, sentimento esse que pulsava, de forma nítida, na essência energética daqueles seres simples e ignorantes, vazios de conhecimento, porém plenos de autenticidade. À medida que a civilização humana começou a galgar novos degraus da escala do progresso, deixando cada vez mais de ser instintiva, passou a reprimir para os porões do inconsciente as percepções inatas e

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verdadeiras. Deixando para trás a infância histórica, passou a humanidade a uma fase da contes-tação sistemática tal qual o adolescente que recusa “a priori” os conceitos estabelecidos. Na pro-cura de respostas para as inúmeras indagações que acometem a mente humana, passa a duvidar até mesmo de seus instintos. A crença no extrafísico, antes alicerçada na própria naturalidade dos sentimentos inatos, passa a ser substituída pela dúvida e, sobretudo, a exigir participação do raci-onal. Contudo, o ser humano moderno, esteja ele ligado à ciência ou à filosofia, procura cruzar a fron-teira do racional e integrar-se aos valores percebidos por seu próprio psiquismo, de forma subje-tiva. O paradigma mecanicista de Newton vem cedendo lugar à concepção de um universo ener-gético aberto a outras dimensões. Não mais a atitude infantil do ser humano primitivo que ape-nas, por via inconsciente, aceitava a existência espiritual, nem tampouco a postura adolescente da rejeição preconceituosa de qualquer referência à espiritualidade. Estamos no alvorecer não só de um novo século, mas de um novo milênio. As perspectivas futuras apontam para uma ciência e uma religião não mais estanques, dogmáticas, preconceituosas e onipotentes. O universo passa a ser observado e sentido, não mais como uma matéria tridimensional. A multidimencionalidade da matéria, já admitida pela física moderna, abre as portas para a percepção da existência do mundo espiritual. A humanidade já não se satisfaz com os preceitos rígidos das religiões dominantes. O ser huma-no é um ser que indaga e quer saber, afinal, quem é, de onde vem e para onde vai. A dissociação existente entre a ciência e religião, verdadeiro abismo criado pelos seres humanos, levou os indi-víduos a ter uma visão fragmentária da vida. Os conselhos religiosos, tão úteis em épocas remo-tas, hoje tornam-se defasados em relação à evolução contemporânea . As orientações dos minis-tros religiosos foram substituídas pelos médicos, psicólogos, pedagogos etc. O que frequente-mente observamos é a deficiência de respostas às ansiedades íntimas do indivíduo ou da própria sociedade. O que lhes falta? Por que profissionais extremamente capacitados, sérios e estudiosos se sentem limitados para compreender o sofrimento humano? Por que pessoas justas às vezes sofrem tanto, e concomitantemente, outras, egoístas, que se com-prazem no sofrimento do próximo, prosperam tanto? Há quem viva semanas, meses ou poucos anos, enquanto outros vivem quase um século! Por quê? Por que para uns a felicidade constante e para outros a miséria e o sofrimento inevitável? Por que alguns seriam premiados pelo acaso com as mais terríveis malformações congênitas? Por que certas tendências inatas são tão contras-tantes com o meio onde surgem? De onde vêm? Não há como responder a essas questões, conciliando a crença em uma Lei Universal justa e sá-bia, se considerarmos apenas uma vida para cada criatura. O ateísmo e o materialismo são con-sequências inevitáveis da rejeição às crenças tradicionais, surgindo, naturalmente, pela recusa in-teligente a uma fé cega em um Ser que preside os fatos da vida sem qualquer critério de sabedo-ria, e justiça. A cosmovisão espiritista, alicerçada no conhecimento das vidas sucessivas, onde residem as causas mais profundas de nossos problemas atuais, traz-nos respostas coerentes. O conceito de reencarnação propicia uma ampla lente através da qual poderemos enxergar a pro-blemática das vidas. As aparentes desigualdades, vivenciadas momentaneamente pelas criaturas, têm justificativa nos graus diferentes de evolução em que se encontram no momento. Além dis-so, sabe-se, pelas leis da reencarnação, que cabe a todas as criaturas um único destino: a felicida-de. A evolução inexorável é feita pelas experiências constantes e o aprendizado decorrente. Os atos da criatura ocasionam uma sequencia de causas e efeitos que determinam as necessidades da reencarnação, a si própria, em tal meio ou situação; nunca existe punição; existe, sim, conse-quência lógica. Há colheita obrigatória, decorrente da livre semeadura, e sempre novas oportuni-dades de semear. Cada ser leva para a vida espiritual a sementeira do passado, trazendo-a inconscientemente con-sigo ao renascer. Se uma existência não for suficiente para corrigir determinadas distorções, di-versas serão necessárias para resolver uma determinada tendência na longa caminhada da vida. Nossos atos do dia-a-dia por sua vez, são também novos elementos que se juntam a nosso patri-mônio energético, pois os arquivos que criamos são sempre no nível de campos de energia, in-fluenciando intensamente, atenuando ou agravando as desarmonias energéticas estabelecidas pe-las vivências anteriores.

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A teia de nosso destino, portanto, não é exclusivamente determinada por nosso passado. O livre-arbítrio que possuímos tece também os fios dessa teia a cada momento, num dinamismo sempre renovado. A diversidade infinita das aptidões, ao nível das faculdades e dos caracteres, tem fácil compreensão. Nem todos os Espíritos que reencarnam têm a mesma idade; milhares de anos ou séculos podem haver na diferença de idade entre dois seres humanos. Além disso, alguns galgam velozmente os degraus da escada do progresso, enquanto outros sobem lenta e preguiçosamente. A todos será dada a oportunidade do progresso pelos retornos sucessivos. Necessitamos passar pelas mais diversas experiências, aprendendo a obedecer para sabermos mandar; sentir as difi-culdades na pobreza para sabermos usar a riqueza. Repetir muitas vezes para absorver novos va-lores e conhecimentos. Desenvolver a paciência, a disciplina e o desapego aos valores materiais. São necessárias existências de estudo, de sacrifícios, para crescermos em ética e conhecimento. Voltamos ao mesmo meio, frequentemente ao mesmo núcleo familiar, para reparar nossos erros com o exercício do amor. Deus, portanto, não pune nem premia; é a própria lei da harmonia, -estabelecida por Deus-, que preside à ordem das coisas. Agirmos de acordo com a natureza, no sentido da harmonia, é prepararmos nossa elevação, nossa felicidade. Não usamos o termo “salvação”, pois historicamente está vinculado ao salvacionismo igrejista, uma solução que vem de fora. Na realidade aceitamos a evolução, a sabedoria e a felicidade para todas as criaturas. “Nenhuma das ovelhas se perderá”, disse Jesus. Fazendo-nos conhecer os efei-tos da lei da responsabilidade, demonstrando que nossos atos recaem sobre nós mesmos, estare-mos permitindo o desenvolvimento da ordem, da justiça e da solidariedade social tão almejada por todos. ------------------------------------------------------------- 97 -------------------------------------------------- SOBREVIVÊNCIA DO ESPÍRITO Paulo da Silva Neto Sobrinho No dia 06/03/03 a rede de televisão SBT apresentou no programa SBT Repórter, vários casos de EQM – Experiência de Quase Morte. Um deles, em particular, nos chamou a atenção, pois, se-gundo acreditamos, por ele estamos conseguindo mais uma prova da sobrevivência do Espírito. Prova tal, que poucos conseguirão contestar. O caso foi mais ou menos assim: Na União Soviética, um jovem de 19 anos, recém formado em medicina, começou a encontrar muita dificuldade para exercer sua profissão, devido à severa fiscalização imposta pelo governo do seu país, por causa disso, resolve mudar para Nova York. No dia em que deveria viajar para os E.U.A., sofreu um acidente automobilístico, quando espe-rava, na calçada, um táxi para conduzi-lo ao aeroporto, foi atingido por um carro desgovernado. Morte súbita foi a consequência, pelo menos foi o que pensaram ter acontecido. E agiram con-forme o recomendado para casos como esse, levando o corpo diretamente para o necrotério, onde deveria permanecer por três dias, prazo necessário para se fazer uma autópsia, segundo a legisla-ção local, nos casos de morte súbita. Permaneceu congelado, no necrotério, por todo esse período. Mesmo nessas condições percebeu que, num certo momento, estava em seu quarto, chegou a sentir o cheiro de sua casa e até a sua-vidade do lençol de sua cama ele constatou. Viu a sua mulher deitada no sofá, chorando inconso-lável, por não aceitar, de forma alguma as situação. Entretanto ele sentiu que o choro de sua mu-lher não foi pela sua perda, mas chorava inconformada por ter ficado viúva tão jovem. Não teve nenhuma noção do tempo que passou neste estado. Só sentiu-se mal quando os médicos foram lavar o seu corpo com água morna, afim de que descongelasse, para então iniciar o traba-lho de autópsia. Foi aí que sentiu uma força estranha puxando-o de volta ao seu corpo. Isso lhe causou um certo constrangimento, pois não tinha a mínima vontade de voltar para aquele corpo. Naquele estado, a única coisa que sentia era como se tivesse pulado numa piscina de água bem gelada. No exato momento que os médicos estavam prontos para realizar os procedimentos que o caso requeria, quando pegaram no bisturi para iniciar o corte em seu peito ele abriu os olhos, fato que,

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como era de se esperar, causou enorme espanto aos médicos à sua volta. Imediatamente o exa-minaram e constatou-se que suas pupilas estavam normais. Levaram-no às pressas para o interior do hospital afim de que pudesse receber os cuidados médicos necessários. Permaneceu em tra-tamento por alguns meses até que finalmente se recuperou completamente. Esse acontecimento o fez a ter a certeza absoluta que a morte não existe e isso foi fundamental para que mudasse completamente sua maneira de viver. A primeira coisa que fez foi largar a me-dicina, dedicando-se ao estudo de Teologia. Tornou-se religioso dedicado e, inclusive, passou a pregar em sua Igreja. Este fato é um dos muitos casos recentemente pesquisados sobre as experiências de pessoas que passaram por alguma situação em que tiveram uma paralisação completa dos órgãos vitais, fo-ram, portanto, declaradas clinicamente mortas pelos médicos que as examinaram. Muitas não percebem absolutamente nada no período em que se encontraram “desligadas”, mas outras conta-ram o que aconteceu com elas naquele momento. Supomos que os que passam por uma situação dessas ficam em coma, como então perceberam fatos acontecidos quando estavam completamente “apagadas”? E no caso que relatamos, do jo-vem que foi congelado, será que os neurônios desse jovem não se congelaram também? Então, como ocorreu o funcionamento do seu cérebro? Será que um cérebro congelado é capaz de fun-cionar? Nós podemos dizer que, na verdade, tudo isso não passa de percepção pelo próprio Espírito, que não necessita dos órgãos físicos para a perceber das coisas. Um fato muito comum que podemos citar é o de pessoas que perderam um dos membros do corpo, como por exemplo braços ou per-nas, e continuaram a sentir dor neste membro “fantasma”, se é que podemos assim dizer. Pesso-almente conhecemos uma pessoa que era vidente, mas que era fisicamente cego. Muitas das suas percepções foram confirmadas por outros videntes que enxergavam muito bem, pois não tinham nenhuma deficiência visual, atestando, dessa forma, a faculdade de vidente que possuía. É óbvio que alguém poderá querer dizer que tudo é produto do inconsciente. Se dermos a esse inconsciente o nome de Espírito, tudo bem. Se não, queremos ver quem vai nos trazer uma prova científica contrária ao que estamos afirmando. Quem se habilita a ser congelado por uns três dias para servir de cobaia para se fazer um teste? É a pergunta que fazemos primeiro aos materialis-tas, para depois a dirigirmos especialmente a alguns parapsicólogos que vivem se oferecendo pa-ra provar que o Espírito não pode perceber e nem realizar mais nada, já que não possui corpo. Embora o que agora vamos questionar não tem nada a ver com o assunto proposto no título desse nosso texto, mas como se diz popularmente, uma coisa leva a outra. Já que houve percepção du-rante o momento que a pessoa estava “na geladeira” e, se disso aceitarmos, que o Espírito sobre-viva à morte do corpo, como queremos concluir, por que não poderia se comunicar telepatica-mente com uma pessoa viva, uma vez que a linguagem dos Espíritos é a do pensamento? Por que também não poderia exercer uma influência em outro corpo, para, por exemplo, trazer sua men-sagem, tendo em vista que, quando vivo, era exatamente isso que fazia com o seu próprio corpo físico? Questões que levantamos, cujas respostas, para nós seriam completamente positivas, que explicariam a possibilidade da comunicação entre os dois planos de vida. ------------------------------------------------------------ 98 --------------------------------------------------- A ÚLTIMA PERGUNTA Orson Peter Carrara Os livros da Codificação Espírita constituem fonte permanente para estudos e reflexões. Sempre encontramos em suas páginas fecundas oportunidades de análise para qualquer tema do cotidiano da vida humana. Isto sem falar nas questões transcendentais… Assuntos admiráveis ou polêmicos encontram no pensamento do Codificador ou na revelação dos Espíritos, roteiros e argumentações, orientações e material para manter concentrado qualquer pesquisador que venha procurar na Doutrina Espírita respostas às suas indagações. Trata-se de vasto campo cultural alicerçado na mais alta moral que o planeta pode conhecer: a moral de Je-sus. Incrível como qualquer assunto possa ser analisado sob a ótica espírita.

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Trazemos essas considerações pensando em convidar o leitor a pensar conosco sobre a última questão de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, a de número 1.018. É que o tema dessa questão está di-retamente relacionada com uma preocupação coletiva. Vive-se no planeta um período de grandes dificuldades, agravadas por inúmeros problemas soci-ais, todos conhecidos graças ao poder da mídia. Problemas que têm gerado grandes aflições cole-tivas. Aí estão presentes no dia-a-dia do cidadão do planeta a violência, a miséria, o desemprego e pior, a indiferença, o desamor. Ao lado de um tanto de criaturas que lutam pelo bem, que se esforçam pelo aprimoramento indi-vidual e coletivo, boa parcela da população se perde ainda nos excessos, na incompreensão, na intolerância, fechando-se no egoísmo que tantos males tem gerado. E vem a última pergunta do livro referido: “1.018 - Jamais o reino do bem poderá ter lugar sobre a Terra ? - O bem reinará sobre a Terra quando, entre os Espíritos que vêm habitá-la, os bons vencerem sobre os maus. Então, farão nela reinar o amor e a justiça que são a fonte do bem e da felicidade. É pelo progresso moral e pela prática das leis de Deus que o ser humano atrairá sobre a Terra os bons Espíritos e dela afastará os maus. Mas os maus não a deixarão senão quando dela forem ba-nidos o orgulho e o egoísmo. A transformação da Humanidade foi predita e atingis esse momen-to, que apressam todos os seres humanos que ajudam o progresso. Ela se cumprirá pela encarna-ção de Espíritos melhores, que constituirão sobre a Terra uma nova geração (...)”. Notem os leitores que a transformação virá pela atração de Espíritos melhores, através da trans-formação moral dos próprios seres humanos e da prática das leis de Deus. O amadurecimento humano, pelo progresso inevitável, fará isso, cedo ou tarde. Porém, nada nos impede de antecipar o notável acontecimento, através de esforços individuais e coletivos que me-lhorem o padrão moral do planeta. Felizmente, há muita gente boa trabalhando para isso, em todo o mundo. Iniciativas brilhantes nas áreas de pesquisas científicas (para as conquistas tecnológicas que beneficiem o ser humano em todos os sentidos), ou esforços de solidariedade que despertem o coração humano para a im-portância da afabilidade, estão levando o ser humano para o caminho da tão sonhada paz e felici-dade. Vou citar um exemplo muito simples, pequenino mesmo, mas muito ilustrativo. Em nossa pe-quena cidade, há um cidadão espírita, atualmente cego, que solicita para seu funcionário escrever diariamente uma frase motivadora ou de teor cristão, em pequena lousa localizada em seu estabe-lecimento comercial. Trata-se um hábito muito antigo, já conhecido da cidade. Pois, com a práti-ca já transformada em hábito, hoje em dia é comum pessoas pararem para ler a frase e outras co-piarem a dita frase para reflexão posterior. Até uma professora solicita a uma de suas alunas pas-sar por lá diariamente para copiar a frase... O comerciante teve uma ideia simples, mas gerou simpatia e ajuda às criaturas que por ali pas-sam e já buscam até com certa ansiedade a frase do dia, inclusive para anotações. A iniciativa criou um clima melhor naquele ambiente, atraindo forças positivas e irradiando amor para mui-tos. O exemplo simples pode ser usado para dimensões mais abrangentes que gerem modificações positivas em ambientes perturbados ou perturbadores. Desejamos atingir o fato, destacando para o leitor, de que a implantação do reino do bem e por extensão natural da paz e da felicidade tão procurada, está principalmente nas iniciativas que te-nhamos para criar oportunidades do bem aparecer, fazendo-o presente em nossas vidas. Se a ação generalizar-se, em breve tempo, teremos o bem implantado sobre o planeta. E isto propicia-rá a encarnação de Espíritos melhores… ------------------------------------------------------------- 99 -------------------------------------------------- VERTICALIZAR PARA ENXERGAR Dalmo Duque dos Santos

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“Os fariseus e escribas tiraram a chave do conhecimento e a ocultaram. Nem eles entraram nem permitiram entrar os que querem entrar. Vós, porém, sede inteligentes como as serpentes e sim-ples como as pombas”. Tomé –39 O Evangelho até pode ser lido, mas não pode ser compreendido pelo critério lógico-racional. A lógica é uma conexão de sentidos exatos e invariáveis, que se aplica somente aos fenômenos ob-jetivos. Já a temática evangélica é essencialmente ilógica e poética, porque está estruturada numa conexão inversa, de sentidos inexatos, variáveis, de pessoa para pessoa, de ponto de vistas diver-sos, onde cada caso é um caso, de diferentes percepções. Quando aplicamos o modelo lógico-racional na leitura evangélica ela geralmente se torna rude, ridícula, vulgar e se afasta da essência espiritual que lhe caracteriza. O significado oculto, no sentido pedagógico, torna-se obscuro e permanece contraditório aos olhos comuns da inconsci-ência. Daí a reação irritante e a sensação de impotência racional que nos ocorre quando experi-mentamos esse choque entre o objetivo e o subjetivo. Tentamos respirar num ambiente onde as guelras do pensamento deveriam ser substituídas pelos pulmões do sentimento. Peixes fora d’água! É assim que nos comportamos quando intelectualizamos o Evangelho. Restringir o Evangelho dentro dos modelos filosóficos sistemáticos, sobretudo na lógica materialista aristoté-lica, é violentá-lo até mais completa asfixia moral. Essa é a causa principal da enorme diferença do Evangelho das demais obras de filosofia exis-tencial. Aos nossos olhos racionais ela destoa de forma gritante exatamente porque, nas outras, os problemas são medidos pela régua positiva, enquanto nas máximas do Cristo tal tipo de men-suração não funciona, porque é inadequada. É o que se pode chamar de conflito entre a leitura horizontal versus a leitura vertical. Na primeira, até vemos uma “lógica”, mas logo ocorre a in-compatibilidade de conceitos e impressões; na segunda, lendo “em pé” e não “de quatro”, conse-guimos sintonizar pela superconsciência a dimensão psicológica das coisas. Então, Jesus se nos apresenta como um holograma existencial, no qual temos que verticalizar o nosso olhar para en-xergar um pouco mais além dos limites da razão. Talvez tenha sido isso que ocorreu com o após-tolo Tomé nesta cena enigmática e impressionante, na qual compreendeu e ingressou definitiva-mente no verdadeiro sentido do “Reino de Deus”: “Disse Jesus aos discípulos: Comparai-me e dizei-me com que vos pareço eu. Respondeu Simão Pedro: Tu és semelhante a um anjo justo. Disse Mateus: Tu és semelhante a um ser humano sábio e compreensivo. Respondeu Tomé: Mestre, minha boca é incapaz de dizer a quem tu és semelhante. Replicou-lhe Jesus: Eu não sou teu Mestre, porque tu bebeste da Fonte borbulhante que te ofere-ci e nela te inebriaste. Então Jesus levou Tomé à parte e afastou-se com ele; e falou com ele três palavras. E quando Tomé voltou a ter com seus companheiros, estes lhe perguntaram: Que foi que Jesus te disse? Tomé lhes respondeu: Se eu vos dissesse uma só das palavras que ele me disse, vós havíeis de apedrejar-me – e das pedras romperia fogo para vos incendiar.” Mas a leitura vertical, além dos limites da razão, se não significa a estagnação intelectiva dos conceitos evangélicos, também nada tem a ver com a sua regressão aos graus de compreensão e expressão abaixo do nível de consciência racionalizada, quase sempre manifestada no imaginário místico exótico e confuso, exteriorizado nas práticas ritualísticas. Também existem níveis de compreensão e expressão místicas cujas curvas de sensibilidade se equilibram com a razão e as-sumem o sentido poético e filosófico diferenciados dessas manifestações populares e pitorescas do cristianismo romano e protestante. Os espiritualistas tradicionais, embora ainda ligados às su-as raízes religiosas mais remotas, cuja tônica principal é o medo e o sentimento de culpa, já pos-suem condições, senão espirituais, mas intelectuais de romper com esses conceitos ( na verdade preconceitos) ainda materializados das ideias cristãs. Não precisam mais dos sacramentos, mas também não precisam cair no ridículo de praticarem o culto à deusa Razão ou casarem-se numa Igreja Positivista. Deveríamos, pelo menos, nos dedicar ao exercício da reformulação íntima des-sas formulações dogmáticas da relação Ser humano-Deus para assumirmos uma religiosidade mais livre, um misticismo mais introspectivo e harmônico com o mundo exterior. Dissemos exercício de reformulação porque em termos de Evangelho não existe erro ou pessoas erradas; existem, sim, diferentes graus de compreensão e expressão, cujas estruturas são sempre dinâmi-

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cas e que mudam em sentido crescente, segundo as necessidades pessoais de cada ser. Talvez te-nha sido esse o motivo pelo qual esse texto apócrifo de Tomé, ou atribuído a ele, não tenha en-trado para o rol dos textos “sagrados”. Isto porque , em nenhum momento, encontramos nele mo-tivos e pretextos para o ritual exterior, para o misticismo tolo, para o abuso de poder, a hierarquia sacerdotal e muito menos para os privilégios institucionais que marcariam a fundação das cha-madas igrejas cristãs. -------------------------------------------------------------- 100 ----------------------------------------------- VIDA ESPÍRITA Temas principais: Lembrança da Existência Corpórea - Comemoração dos Mortos – Funerais Complementos: Perturbação Espírita - Igualdade perante o túmulo Elio Mollo LEMBRANÇA DA EXISTÊNCIA CORPORAL O Livro dos Espíritos - qq. 304 a 319 - obra codificada por Allan Kardec 1 - O Espírito tendo vivido muitas vezes como ser humano, normalmente recorda-se do que foi em sua existência corporal, por vezes se ri apiedado de si mesmo, da mesma forma que um ser humano que, atingindo a idade da razão, ri dos excessos de sua adolescência ou das puerilidades de sua infância. (LE 304) 2 - A lembrança do passado não se apresenta ao Espírito de uma maneira completa e inesperada depois da morte, ela vem aparecendo gradualmente, como se fosse alguma coisa surgindo de um nevoeiro, até que ele consegue fixar sua atenção. Poderia lembrar-se dos mais minuciosos inci-dentes e pormenores, ligados aos fatos e até aos pensamentos, porém, não o faz se não houver utilidade. (LE 305) 3 - O Espírito quando desencarnado vê e compreende muito melhor, do que quando encarnado, qual o objetivo da vida na Terra, e entende que em cada existência deixa algumas impurezas, sentindo a necessidade de corrigir-se para purificar-se. (LE 306.a .b.) 4 - A vida passada se retrata na memória do Espírito, ou por um esforço de sua imaginação ou como numa tela de cinema em que ele é o espectador. Todos os atos que são de seu interesse ele se lembra como se fossem atuais, os outros ficam mais ou menos vagos ou totalmente esqueci-dos. Quanto mais desmaterializado for o Espírito menor importância dará aos valores materi-ais.(LE 307) 5 - Todo o seu passado se desenrola diante dele, como se fossem as etapas do caminho em que um viajante tenha percorrido. Lembra-se dos mesmos na proporção da influência que tenha sobre o seu estado presente. Em razão das lembranças das primeiras existências, as que podemos con-siderar como se fossem a infância do Espírito, estas perdem-se no vazio e desaparecem na noite do esquecimento. (LE 308) 6 - O Espírito considera o corpo que acaba deixar como se fosse uma vestimenta e, da qual o mo-lestava, sentindo-se feliz por estar livre dele. Porém, reconhece a oportunidade que lhe deu para depurar-se e adiantar-se. (LE 309) 7 - O ser humano que foi feliz neste mundo, nunca lamenta-se de seus prazeres, quando deixa a Terra, somente os Espíritos inferiores podem reclamar de suas alegrias que se equivalem a sua imperfeição e que expiam pelos seus sofrimentos. Já para os Espíritos elevados, a felicidade eterna é mil vezes preferível aos prazeres efêmeros da Terra, seria como o ser humano adulto que despreza aquilo que fez as delicias de sua infância. (LE 313) 8 - O Espírito que de repente vê interrompidos pela morte os grandes trabalhos que começou, não lamenta, do outro lado, por tê-los deixados inacabados, pois, sabe que outros Espíritos en-carnados estão destinados a terminá-los. E agora procura influenciá-los na sua continuidade. Se seu objetivo sobre a Terra foi o bem da Humanidade; esse será também o seu objetivo no mundo dos Espíritos. (LE 314) 9 - Os trabalhos executados na Terra, como por exemplo de um artista ou de um literato, sempre interessam ao Espírito, mas o apego a eles dependerá do seu grau de elevação, pois ele no mundo

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dos Espíritos as poderá julgar sobre um outro ponto de vista, condenando-as se houver necessi-dade, mesmo que na Terra fossem as coisas que mais admirava. (LE 315) 10 - Para os Espíritos elevados, a pátria é o Universo, e, quando na Terra, a pátria para eles, está onde se ache o maior número das pessoas que lhes são simpáticas.(LE 317) Nota de Allan Kardec - A situação dos Espíritos e sua maneira de ver as coisas variam ao infinito em razão do grau do seu desenvolvimento moral e intelectual. Os Espíritos de uma ordem eleva-da não fazem sobre a Terra, geralmente, senão paradas de curta duração; tudo o que aí se faz é tão mesquinho em comparação com as grandezas do infinito, as coisas às quais os seres humanos ligam a maior importância são tão pueris aos seus olhos, que eles aí, encontram poucos atrativos, a menos que sejam chamados com o objetivo de concorrer para o progresso da Humanidade. Os Espíritos de uma ordem mediana aí estacionam mais frequentemente, se bem que considerem as coisas de um ponto de vista mais elevado do que quando em vida. Os Espíritos vulgares aí, são, de certo modo, sedentário e constituem a massa da população ambiente do mundo invisível; con-servam, com pouca diferença, as mesmas ideias, os mesmos gostos e as mesmas inclinações que tinham quando no corpo físico; intrometem-se nas nossas reuniões, nas nossas ocupações, nas nossas recreações, nas quais tomam parte mais ou menos ativa, conforme seus caracteres. Não podendo satisfazerem suas paixões, gozam com os que a elas se abandonam e os excitam. Entre eles existem alguns mais sérios que veem e observam para se instruírem e se aperfeiçoarem. 11 - Como efeito da perturbação que se segue ao despertar do Espírito, ele se surpreende e es-panta nos primeiros momentos de contato com a realidade espiritual; porém, pouco a pouco, vai tendo a noção da sua nova condição, à medida que lhe volta a lembrança do passado e se apaga a impressão da vida terrena. (LE 318) 12 - As ideias dos Espíritos no estado de desencarnado sofrem modificações muito grandes, à medida que o Espírito se desmaterializa. Ele pode algumas vezes, ficar muito tempo com as mesmas ideias, mas, aos poucos, à medida que a influência da matéria diminuir, as coisas se tor-narão mais claras; então procurará os meios para se melhorar. (LE 318) 13 – O espanto que afeta o Espírito ao reentrar no mundo dos Espíritos é um efeito do primeiro momento e que lhe causa uma certa perturbação. Mais tarde ele se reconhece perfeitamente, e na medida que vai se lembrando do seu passado vão também se apagando a impressão da vida ter-restre.(LE 319) PERTURBAÇÃO ESPÍRITA questões 163/4/5 de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” incluindo nota de A Kardec. O Espírito deixando o corpo, podemos dizer que não tem uma consciência imediata de seu esta-do atual. Mas que ele passa por algum tempo num estado de perturbação. Inclusive, os Espíritos não experimentam, no mesmo grau e durante o mesmo tempo, a perturbação que se segue à sepa-ração do Espírito do corpo físico.. Isso depende da elevação de cada um. Aquele que já está puri-ficado se reconhece quase imediatamente, visto que já se libertou da matéria durante a vida físi-ca, enquanto que o ser humano carnal, aquele cuja consciência não é pura, conserva por tempo mais longo a impressão dessa matéria. (LE 163 e 164) O conhecimento do Espiritismo exercerá influência muito grande sobre a duração da perturba-ção, uma vez que o Espírito compreenderá antecipadamente a sua situação. Contudo, a prática do bem e a pureza da consciência são os que exercerão maior influência benéfica no retorno ao mundo dos Espíritos. (LE 165) Nota de Allan Kardec - No momento da morte tudo, a princípio, é confuso. O Espírito necessita de algum tempo para se reconhecer. Ele se acha como aturdido e no estado de um ser humano que despertando de um sono profundo procura orientar-se sobre sua situação. A lucidez das idei-as e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria da qual se libertou, e se dissipe a espécie de neblina que obscurece seus pensamentos. A duração da perturbação, do Espírito, que se segue à morte do corpo físico varia muito; pode ser de algumas horas, de muitos meses e mesmo de muitos anos. É menos longa para aqueles que desde sua vida terrena se identificaram com o seu estado futuro, porque, então, compreendem imediatamente a sua posição. Essa perturbação apresenta circunstância particulares, segundo o caráter dos indivíduos e, sobre-tudo, de acordo com o gênero de morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplicio, apoplexia,

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ferimentos, etc., o Espírito é surpreendido, espanta-se, e, não acredita que morreu e sustenta essa ideia com obstinação. Entretanto, vê seu corpo, sabe que esse corpo é seu e não compreende por-que está separado dele; acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não compreende porque elas não o ouvem. Essa ilusão perdura até a inteira libertação do perispírito e, só então, o Espírito se reconhece e compreende que não pertence mais ao números dos vivos encarnados. Este fenô-meno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou. Para ele a morte é ainda sinônimo de destruição, ani-quilamento; ora, como ele pensa, vê e escuta, não se considera morto. Sua ilusão é aumentada pelo fato de se ver com um corpo de forma semelhante ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar; ele o crê sólido e compacto como o primeiro e, quando cha-mam sua atenção para esse ponto, admira-se de não poder apalpá-lo. Esse fenômeno é análogo aos dos sonâmbulos iniciantes que não acreditam dormir. Para eles o sono é sinônimo de suspen-são das faculdades; ora, como pensam e veem, julgam que não dormem. Certos Espíritos apre-sentam essa particularidade, embora a morte não lhes tenha chegado inesperadamente; todavia, é sempre mais generalizada naqueles que, apesar de doentes, não pensam em morrer. Vê-se, então, o singular espetáculo de um Espírito assistindo aos próprios funerais, como se fora um estranho e deles falando como de uma coisa que não lhe dissesse respeito, até o momento em que compre-ende a verdade. A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o ser humano de bem; é calma e em tudo semelhante à que acompanha um despertar tranquilo. Para os que não têm a consciência pu-ra, ela é cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à medida que ela se reconhece. Nos casos de morte coletiva, tem se observado que todos os que perecem ao mesmo tempo, nem sempre se reveem imediatamente. Na perturbação que se segue à morte, cada um vai para o seu lado ou se preocupa apenas com aqueles que lhe interessam. COMEMORAÇÃO DOS MORTOS - FUNERAIS O Livro dos Espíritos - qq. 320 a 329 - obra codificada por Allan Kardec 14 - Os Espíritos ficam sensibilizados quando os seres humanos se lembram deles; se são felizes, essa lembrança aumenta-lhes a felicidade; se são infelizes as lembranças são para eles um con-forto.(LE 320) 15 - No dia 2 de novembro, o chamado dia dos mortos, os Espíritos acodem aos chamados men-tais enviados da Terra, como o fazem, aliás, em qualquer dia. Só que nesse dia, os Espíritos se reúnem em maior quantidade, porque um maior número de pessoas os chamam pelo pensamento. Porém, cada Espírito vem somente pelos seus amigos e não pela multidão de indiferentes. A forma com que se apresentam será aquela que tinham em sua última encarnação.(LE 321 a. b.) 16 - Os Espíritos se prendem à Terra mais pelo coração e, assim quando esquecidos, isto é, quando ninguém visita seus túmulos, não sentem nenhum desejo de comparecer a esses lugares, pois possuem para si o Universo inteiro.(LE 322) 17 - Para o Espírito a visita ao túmulo é um modo de manifestar que se pensa no ausente: é a imagem. Mas somente a prece é o que santifica o ato de lembrar; pouco importando o lugar, pois ela é ditada pelo coração.(LE 323) 18 - Quando se erigem estátuas ou monumentos, em memória dos que partiram, muitas vezes o ato da inauguração conta com a presença dos homenageados, todavia, o que mais os sensibiliza é a lembrança que deles guardam os seres humanos do que propriamente a homenagem que lhes prestam.(LE 324) 19 - A reunião dos despojos mortais de todos os membros de uma família, conquanto destituída de importância para os Espíritos, representa um costume piedoso e uma prova de simpatia dado pelos que assim procedem aos que lhe foram entes queridos, permitindo ainda aos seres humanos uma concentração maior de suas recordações.(LE 325e 325a) 20 - Quando o Espírito alcançou um certo grau de perfeição, não possui mais as vaidades terre-nas, compreende a futilidade das honrarias humanas aos seus despojos mortais; todavia, há os que, nos primeiro instante após a sua morte material, ainda sentem enorme prazer com as honras que lhe tributam ou ficam aborrecidos com o pouco caso - dependendo da ocasião - que lhe fa-çam dos seus envoltórios corporais, porque ainda conservam alguns preconceitos terrenos.(LE 326)

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21 - Frequentemente, o Espírito assiste ao seu enterro, mas, algumas vezes, se ainda estiver per-turbado, não irá perceber o que se passa. O número de pessoas, um grande acompanhamento ao seu enterro, irá, mais ou menos deixá-lo feliz, dependerá de seu grau de elevação e do sentimento que anima os acompanhantes.(LE 327) 22 - Quase sempre o Espírito daquele que acaba de morrer assiste à reunião de seus herdeiros, pois isto é permitido para ensinamento. Nessa ocasião ele pode avaliar os protestos que lhe fazi-am. Todos os sentimentos lhe ficam patentes e a decepção que lhe causa muitas vezes as parti-lhas de bens por ele deixado o esclarece acerca daqueles sentimentos.(LE 328) 23 - O instintivo respeito que, em todos os tempos e entre todos os povos, o ser humano consa-grou e consagra aos mortos é a consequência natural da intuição que tem na vida futura.(LE 329) IGUALDADE PERANTE O TÚMULO questões 823 e 824 de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” incluindo nota de A Kardec. O desejo de perpetuar a própria memória nos monumentos fúnebres vem do derradeiro ato de or-gulho. A suntuosidade dos monumentos fúnebres determinada por parentes que desejam honrar a memória do falecido, e não por este, ainda faz parte do orgulho dos parentes, que querem honrar-se a si mesmos. Nem sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações, mas por amor-próprio, por consideração ao mundo e para exibição de riqueza. A lembrança de um ser querido não é menos durável no coração do pobre, porque ele só pode colocar uma flor sobre a sua tumba. O mármore não salva do esquecimento aquele que foi inútil na Terra. . (LE 823 e 823a.) Nunca devemos reprovar de maneira absoluta as pompas fúnebres, pois a homenagem a memória de um ser humano de bem, são justas e de bom exemplo. (LE 824.) Nota de Allan Kardec - A tumba é o lugar de encontro de todos os seres humanos e nela se fin-dam impiedosamente todas as distinções humanas. É em vão que o rico tenta perpetuar a sua memória por meio de faustosos monumentos. O tempo os destruirá, como aos seus próprios cor-pos. Assim o quer a Natureza. A lembrança das suas boas e más ações será menos perecível que o seu túmulo. A pompa dos funerais não o lavará de suas torpezas e não o fará subir sequer um degrau na hierarquia espiritual. (Ver item 320 e seguintes). ---------------------------------------------------------------- 101 --------------------------------------------- VIOLÊNCIA Warwick Mota Nos causa assombro e perplexidade ligarmos a TV e ou abrirmos um jornal e nos depararmos com cenas de extrema selvageria e barbárie. Fatos como linchamentos de delinquentes por parte da população a pretexto de “justiça com as próprias mãos”, crescem estatisticamente nas crôni-cas policiais, sem falar em tantos outros crimes hediondos que se tornaram matérias cativas dos veículos de comunicação existentes. Tal situação leva pessoas a indagarem, se a Terra estaria retrogradando moralmente, e se, valores como, o amor ao próximo, respeito à vida e a crença em Deus, já não fizessem mais parte do programa evolutivo da humanidade, outros chegam mesmo a afirmar: que estamos em pior situa-ção que no passado e que milênios de anos de cultura e civilização nada contribuíram em benefí-cio do ser humano. A escalada da violência na Terra assume proporções assustadoras, exigindo de pessoas sensatas e lúcidas, como também dos organismos governamentais, religiosos e sociais, uma acurada refle-xão sobre o assunto. O Espiritismo a seu turno, nos traz com muita propriedade, orientações preciosas, além de escla-recedoras informações acerca da problemática da violência, desvelando dúvidas e esmiuçando o comportamento agressivo do ser humano, seja este de caráter endógeno ou exógeno. Não tenhamos dúvidas, de que traumas psicológicos, recalques e frustrações provenientes do próprio Espírito, fazem eclodir sensações grosseiras e primitivas que emergem dos porões da in-consciência, em função da intoxicação dos miasmas e fluidos deletérios, cultivados por estas cri-aturas dadas ao comportamento perverso.

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Nos esclarece a espiritualidade superior que os mecanismos de reencarnação em massa, são de alta complexidade e que o ingresso no corpo físico por parte de Espíritos ainda neófitos na escala evolutiva, requer um acompanhamento cuidadoso, tanto por parte dos desencarnados quanto dos encarnados que estejam qualificados para o mister. A necessidade de melhora íntima e de ajuda, para que logrem progresso e evolução, é de vital importância para os Espíritos encarnados, não as encontrando, são conduzidos a assumirem um comportamento agressivo e violento em virtude das sensações primitivas e grosseiras que viven-ciam dentro de sua psicosfera pessoal. Combater os efeitos da violência sem as preocupações com as causas, é semear em terreno ácido, não existe condições de boa colheita, se não houver anteriormente a devida preparação do solo para o plantio, portanto, o efeito da repressão indiscriminada pode se tornar uma causa a mais para o aumento da violência. Nos diz Joanna de Angelis no cap. sétimo do livro “Após a Tempestade”: “a terapêutica para tão urgente questão há de ser preventiva, exigindo dos adultos que se repletem de amor nas inexau-ríveis nascentes da Doutrina de Jesus, a fim de que, moralizando-se, possam educar as gerações novas, propiciando-lhes clima salutar de sobrevivência psíquica e realização humana. A valorização da vida e o respeito pela vida conduzirão pais, mestres, educadores, religiosos e psicólogos a uma engrenagem de entendimento fraternal com objetivos harmônicos e metódicos - exemplos capazes de sensibilizar o Espírito infantil e conduzi-lo com segurança às metas feli-zes que devem perseguir. Os seres humanos são, pois o seus feitos. A sociedade são os seres humanos que a constituem. A vida Humana resulta dos Espíritos que a compõem”. fim