validação fatorial da escala de resiliência

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  • 7/22/2019 Validao Fatorial da Escala de Resilincia

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    Uma publicao da Associao Brasileira de

    Psicologia Organizacional e do Trabalho

    Lopes & Marns.Escala de Resilincia de Connor-Davidson (Cd-Risc-10)

    Revista Psicologia: Organizaes e Trabalho, 11, 2, jul-dez 2011, 36-50

    hp://submission-pepsic.scielo.br/index.php/rpot/index

    ISSN 1984-6657

    Recebido em: 28.10.2010Aprovado em: 25.11.2011Publicado em: 30.12.2011

    Argo - Relato de Pesquisa Emprica

    Validao Fatorial da Escala de Resilincia deConnor-Davidson (Cd-Risc-10) para Brasileiros

    Vanessa Rodrigues Lopes*Maria do Carmo Fernandes Marns**

    *Universidade Federal de Uberlndia

    ** Universidade Metodista de So Paulo.

    Endereo para correspondncia: Rua Baro de Melgao, 369, apto 31, Real Parque, So Paulo, SP. CEP: 05684-030.

    Emails: [email protected]; [email protected]

    Resumo

    Resilincia denida como a habilidade de um indivduo para se recuperar das adversidades e se adaptar po -sivamente em situaes de tenso e estresse. Estudiosos das relaes entre indivduo, organizao e trabalhotm voltado a ateno para o fenmeno na tentava de elucidar seus antecedentes e consequentes no contextoorganizacional. Estudos sobre o assunto so incipientes e, dada a diversidade e os desacordos sobre o conceito,observa-se confuso e divergncias na forma de avali-lo. Assim, o objevo deste estudo foi avaliar as caracters-cas psicomtricas de uma verso brasileira da CD-RISC-10, medida bastante ulizada em estudos internacionais.

    Parciparam 463 pessoas com idade mdia de 28 anos (DP = 9,7) e, em sua maioria, com ensino mdio completo.A anlise fatorial exploratria conrmou estrutura unifatorial com os dez itens da escala e alfa de Cronbach de0,82. Isso indica que a CD-RISC-10 medida promissora para avaliar nveis de resilincia e ferramenta disponvelpara incrementar a invesgao desse fenmeno. Destaca-se, entretanto, a necessidade de outros estudos devalidade, dedignidade e normazao em amostras diversas.

    Palavras-chave: resilincia; validao; escalas de medida; CD-RISC-10.

    AbstractFactorial Validaon and Adaptaon of the Connor-Davidson Resilience

    Scale (Cd-Risc-10) for Brazilians

    Resilience is dened as an individuals ability to recover from adversies and to adapt posively in tense andstressful situaons. Researchers of the relaonship between individual, organizaon, and work have turned theiraenon to this phenomenon in order to aempt to clarify its antecedents and eects in the organizaonalcontext. Studies regarding this subject are beginning to appear, and, in view of the diversity and disagreementover the concept, there is confusion and divergence on the way to evaluate it. Thus, the purpose of this studywas to evaluate the psychometric characteriscs of a Brazilian version of the CD-RISC-10 - a widely used measurein internaonal studies. 463 people, on average 28 years of age (SD = 9,7) and mostly high school graduates,took part in this study. Exploratory factor analysis conrmed a one-factor structure with the ten scale items anda Cronbachs alpha of 0.82. This indicates that the CD-RISC-10 is a promising measure for evaluang levels ofresilience, and an available tool for improving the invesgaon of this phenomenon. However, it is importantto emphasize the need for further studies regarding validity, reliability, and standardizaon in diverse samples.

    Keywords:resilience; validaon; measurement scales; CD-RISC-10

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    Revista Psicologia: Organizaes e Trabalho, 11, 2, jul-dez 2011, 36-50

    Desde o nal da dcada de 1970, oconceito de resilincia comeou aser estudado com maior interesse

    pela psiquiatria e pela psicologia do desen-

    volvimento, que se interessavam pela com-preenso dos processos que permitem quedeterminadas pessoas passem por situaestotalmente adversas de vida e consigam su-per-las com relava competncia (Librio,Castro & Coelho, 2006).

    Infante (2005) apresentou um roteirodo desenvolvimento histrico do conceitode resilincia e idencou duas geraes depesquisadores. A primeira, nos anos de 1970,

    se preocupou em idencar os fatores de ris-co e de resilincia que exercem inuncia nodesenvolvimento de crianas que se adaptamposivamente, apesar de viverem em condi-es de adversidade. Essa gerao ulizou omodelo tridico de resilincia, que organizaos fatores resilientes e de risco em trs gru-pos: os atributos individuais, os aspectos dafamlia e as caracterscas dos ambientes so-ciais a que as pessoas pertencem.

    A segunda gerao de pesquisadores,

    que comeou a publicar nos anos de 1990,agrega o estudo da dinmica entre os fatores(individuais, familiares e sociais) que estona base da adaptao resiliente. Portanto, oconstruto resilincia passa a ser entendidoenquanto processo. De acordo com Infante(2005), autores como Ruer (1993) e Grot-berg (2005) so pioneiros na noo de dinmi-ca de resilincia, enquanto Luthar e Cushing(1999), Masten (2001) e Kaplan (1999) so

    considerados autores mais recentes dessasegunda gerao. Para essa gerao mais atu-al de estudiosos, resilincia da como umprocesso dinmico em que as inuncias doambiente e do indivduo interatuam em umarelao recproca e que, apesar da adversi-dade, permitem pessoa se adaptar (Luthar,Cicche & Becker, 2000). Assim, disnguem--se trs componentes essenciais que devemestar presentes no conceito de resilincia: a)

    a noo de diversidade, trauma, risco ou ame-aa ao desenvolvimento humano; b) a adap-

    tao posiva ou superao da adversidade;c) o processo que considera a dinmica entremecanismos emocionais, cognivos e socio-culturais que inuem no desenvolvimento

    humano (Infante, 2005).A resilincia um conceito muito usado

    para explicar diferenas nos efeitos que ummesmo nvel de estresse tem sobre diferentesindivduos (Grotberg, 2005; Ruer, 1993). frequentemente citada como um dos proces-sos que explicam a superao de crises e ad-versidades em indivduos, grupos e organiza-es1 (Campanella, 2006; Castleden, McKee,Murray & Leonardi, 2011). Ou ainda como a

    capacidade humana para enfrentar, vencer eser fortalecido ou transformado por experin-cias de adversidade (Grotberg, 2005; Melillo,2005; Ruer, 1993; Yunes, 2003).

    Ao abordar a questo do desenvolvi-mento da resilincia, Ruer (1985) iden-ca como fatores importantes as experinciasposivas que levam a senmentos de autoe-ccia, autonomia e autoesma, capacidadepara lidar com mudanas e adaptaes, e umrepertrio amplo de abordagens para a reso-

    luo de problemas. De acordo com Peres,Mercante e Nasello (2005), o aspecto crucialpara o desenvolvimento da resilincia resi-de nas crenas de autoeccia. Os autoresarmam a que a percepo de autoeccia,baseada no conhecimento da prpria capaci-dade de enfrentar e superar diculdades, re-presenta um preditor da resilincia. Bandura(2008) salientou que possvel promover aresilincia por meio da modicao de cren-

    as de autoeccia.Segundo Grotberg (2005), a resilincia

    tem sido reconhecida como aspecto impor-tante na promoo e manuteno da sademental, podendo reduzir a intensidade do es-tresse e diminuir sinais emocionais negavos,como ansiedade, depresso ou raiva. Portan-to, a resilincia efeva no apenas paraenfrentar adversidades, mas tambm para

    1 Resilincia organizacional a capacidade das

    organizaes resisrem e se recuperarem de situaesadversas (Castleden, McKee, Murray & Leonardi, 2011)

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    a promoo da sade mental e emocional(Grotberg, 2005, p. 19).

    No Brasil, os estudos sobre a resilinciaso recentes, uma vez que os primeiros estu-

    dos publicados nessa rea podem ser encon-trados somente a parr do nal da dcadade 1990, destacando-se os desenvolvidos porpesquisadores do sul do pas (Librio & cols.,2006). Um levantamento das publicaes so-bre o tema elaborado por Souza e Cerveny(2006) mostra que a temca mais focada napoca eram crianas expostas a situaes derisco, fatores de proteo e vulnerabilidadepsicossocial e perl do execuvo.

    Em suma, apesar da diversidade concei-tual que ainda encontrada nos estudos darea, adequado armar que resilincia serefere a um processo dinmico que tem comoresultado a adaptao posiva em contextosde grande adversidade (Luthar & cols., 2000).A capacidade de manter o bom funcionamen-to aps a exposio ao estresse no constuiuma exceo (Bonanno, 2004); ao contrriodo que se possa pensar, mais comum aspessoas se manterem saudveis depois de

    passarem por situaes diceis, do que sedesestruturarem. Considera-se que estudara resilincia importante para alcanar umacompreenso global das respostas humanasao estresse e s adversidades.

    Medidas de Resilincia: o que revelamestudos empricos

    De uma forma geral, os estudos em-pricos brasileiros sobre resilincia tm de-

    monstrado ligeira preferncia pelo mto-do qualitavo de invesgao. No entanto,conforme esclarecem Paludo e Koller (2006),os diversos mtodos que foram ulizadospara compreender a resilincia psicolgicase mostraram teis para compreender as es-truturas psicolgicas que esto conectadasaos seus resultados cognivos e siolgicos.Ressaltam que, apesar de estudos quanta-vos terem mostrado resultados importantes,

    no h consenso sobre a melhor maneira demensurar ou avaliar aspectos relacionados

    resilincia, uma vez que a rea ainda possuimuita confuso conceitual que se reete nasmedidas existentes.

    Por outro lado, para estudiosos como

    Pesce e cols., (2005), o aumento do interessepelo conceito de resilincia evidencia a ne-cessidade do desenvolvimento de medidasapropriadas desse construto. Nesse sendo,para que se estenda a amplitude dos estudossobre resilincia e se consolidem os achados

    sobre o tema, torna-se importante para aulizao de instrumentos de medida vli-dos e dedignos, de rpida aplicao e in-terpretao. No contexto das organizaes,

    esse problema ainda maior, uma vez quefoi localizado apenas um instrumento vali-dado no Brasil para uso com trabalhadores(Oliveira & Basta, 2008).

    A literatura revela a preocupao com aconstruo de medidas de boas propriedadespsicomtricas. Muoz (2007) realizou uma re-viso bibliogrca de estudos que relatavamconstruo e/ou validao de medidas de re-silincia. Encontrou 30 argos, categorizan-do-os em trs reas. A primeira rea englo-

    bava as provas projevas, que consisam emmostrar histrias excessivamente problem-cas a um grupo de adultos e pedir para quecompletassem o nal da histria. A segundarea se referia s provas psicomtricas, emsua maioria de autorrelato, respondidas emescalas do po Likert e submedas anli-se fatorial. Por m, a lma rea englobavaas avaliaes neurolgicas, que se basearamem medies de potenciais eletroencefalo-

    grcos, provas neuroendocrinolgicas, desistema imune e exames gencos, as quaisenfocavam seus estudos no temperamentodo indivduo resiliente.

    Ahern, Kiehl, Sole e Byers (2006) rea-lizaram extensa reviso de publicaes querelatavam construo e/ou validao de ins-trumentos para se mensurar resilincia, ten-do idencado os seguintes instrumentos:Baruth Protecve Factors Inventory BPFI

    (Baruth e Carroll, 2002), Brief-Resilient Co-ping Scale - BRCS (Sinclair e Wallston, 2004),

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    Revista Psicologia: Organizaes e Trabalho, 11, 2, jul-dez 2011, 36-50

    Adolescent Resilience Scale - ARS (Oshio, Ka-neko, Nagamine e Nakaya, 2003), ConnorDavidson Resilience Scale CD-RISC (Connore Davidson, 2003), Resilience Scale for Adults

    (Friborg, Hjemdal, Rosenvinge, e Marnus-sen, 2003) e Resilience Scale - RS (Wagnilde Young, 1993). As caracterscas desses ins-trumentos, bem como as da Resilience Fac-tors Scale FSR de Takviriyanun (2008), po-dem ser visualizadas na Tabela 1.

    Entre esses sete instrumentos iden-cados, somente a Resilience Scaledesenvolvi-da por Wagnild e Young (1993) foi adaptada evalidada para a populao brasileira por Pescee cols

    (2005), com uma amostra de adolescen-tes de 7 e 8 sries do ensino fundamentale de 1 e 2 sries do ensino mdio. A escalaoriginal um inventrio com 25 itens em esca-la Likert de sete pontos (variando entre discor-do totalmente e concordo totalmente), quemede os nveis de adaptao psicossocial po-siva em face de eventos de vida importantes.Nessa medida, a estrutura fatorial da resilin-cia composta por dois fatores: competnciae aceitao de si mesmo e da vida. O estudode Pesce e cols(2005) idencou trs fatorespouco diferenciados entre si, pois encontra-ram itens que pertenciam a mais de um fatore houve diculdade para discrimin-los se-mancamente, diferentemente da escala ori-ginal. Os trs fatores obdos no disnguiramnidamente competncia pessoal e aceitaode si e da vida, o que fez com que os autoresdecidissem por disngui-los segundo outrascategorias tericas. Assim, designaram os se-

    guintes fatores: resoluo de aes e valores;independncia e determinao; autoconan-a e capacidade de adaptao a situaes. Noentanto, esse procedimento de disno dosfatores, sustentado em outras categorias te-ricas, prejudicou a idencao da estruturafatorial do construto, pois incorporou fatoressemancamente pouco disntos.

    Mais recentemente, Oliveira e Basta(2008) se propuseram a validar essa mesma

    escala para ser ulizada no contexto organi-zacional. As autoras parram da verso da

    Escala de Resilincia previamente adaptadae validada para adolescentes brasileiros porPesce e cols., (2005). Os resultados da an-lise dos componentes principais e do scree

    plot indicaram a existncia de dois fatores,no mximo, em contraposio aos trs fato-res do estudo com adolescentes. Aps rota-o oblqua, somente um fator com 15 itensapresentou conabilidade sasfatria (alfa deCronbach= 0,90) e explicou 28% da varinciatotal do construto. Os itens dos fatores deno-minados independncia e determinao eautoconana e capacidade de adaptaoa situaes da escala adaptada por Pesce e

    cols., (2005) foram eliminados, com exceode dois itens do lmo fator citado.Os estudos sobre resilincia no contexto

    de trabalho so ainda mais recentes (Edward,2005; Harland, Harrison, Jones & Reiter-Pal-mon, 2005; Jackson, Firtko & Edenborough,2007; Judkins, Arris & Keener, 2005; Luthans,2002; Luthans & Youssef, 2007; Menezes deLucena, Fernndez, Hernndez, Ramos &Contador, 2006; Todd & Worell, 2000). Umabreve reviso dos estudos sobre resilincia e

    trabalho revela que o problema da medida um aspecto preocupante, conforme declaramHarland e cols., (2005), pois a medida nemsempre se relaciona com o conceito de resili-ncia. O estudo de Todd e Worell (2000) umexemplo de confuso conceitual e de medidaque permeia algumas publicaes, uma vezque os autores avaliam resilincia com a Es-cala de bem-estar psicolgico de Ry (1989).Outro exemplo que ilustra a confuso na es-

    colha de instrumento para avaliar resilincia o estudo de McCalister, Dolbier, Webster,Mallon e Steinhardt (2006), no qual resilin-cia avaliada com uma escala para aferir re-sistncia psicolgica (hardiness).

    Dessa forma, percebe-se a necessidadede se ampliar os estudos sobre resilincia, ede se disponibilizar medidas com boas carac-

    terscas psicomtricas, no s com popula-es de adolescentes, como comumente

    encontrado nos estudos brasileiros, mas tam-bm com populaes adultas e de trabalha-

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    Tabela 1. Caracterscas psicomtricas de alguns instrumentos de medida de resilincia

    Escala Autor(es) FatoresN deitens

    Alfa fator Alfa geral

    CD-RISC Connor e Davidson (2003)

    1-competncia pessoal

    25

    s/i

    0,89

    2-conana nos prpriosinsntos e tolerncia adversidade

    3-aceitao posiva demudanas

    4-controle

    5- espiritualidade

    RSAFriborg, Hjemdal,Rosenvinge, e Marnussen(2003)

    1-competncia pessoal

    37

    Entre0,67 e 0,90

    s/i

    2- competncia social

    3- coerncia familiar

    4- suporte social

    5-estrutura pessoal

    Inventrio de FatoresProtetores de Baruth

    Baruth e Carroll (2002)

    1- personalidade adaptava16

    0,760,83

    2- meio suporvo 0,98

    3- experinciascompensatrias

    0,83

    RS Wagnild e Young (1993)

    1- competncia

    25s/is/i

    0,912- aceitao de si mesmo eda vida

    BRCS Sinclair e Wallston (2004) unifatorial 4Variou em trs

    aplicaes:0,76, 0,69 e 0,71

    RSHarland, Harrison, Jones eReiter-Palmon (2005)

    unifatorial 4 0,85 0,85

    CD-RISC 10Campbell-Sills e Stein(2007)

    unifatorial 10 0,85 0,85

    EFRTakviriyanun (2008)

    1- determinao ehabilidade na soluo de

    problemas

    27

    s/i

    Autoresinformam ndices

    psicomtricosaceitveis

    2- suporte pessoal s/i

    3- outros suportes s/i

    4- pensamento posivo s/i

    5- asservidade s/i

    6- equilbrio do selfe

    habilidades sociais

    s/i

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    dores. Por isso, e considerando a instabilidadefatorial apresentada pela Escala de Resilinciade Wagnild e Young (1993), optou-se nesteestudo por avaliar outro instrumento com

    ampla ulizao em pesquisas internacionaise que apresentasse boas caracterscas psico-mtricas no estudo original. A parr desse cri-trio, o instrumento que se mostrou bastanteadequado foi a Connor-Davidson ResilienceScale (CD-RISC), desenvolvida por Connor eDavidson (2003), revalidada por anlise fato-rial conrmatria por Campbell-Sills e Stein(2007) que consolidaram uma verso abrevia-da (CD-RISC-10).

    A Connor-Davidson Resilience Scale(CD-RISC), originalmente, foi administrada aseis grupos populacionais disntos: popula-o geral americana, pacientes de cuidadosprimrios, pacientes psiquitricos ambulato-riais, sujeitos de um estudo de ansiedade ge-neralizada e duas amostras de transtorno deestresse ps-traumco (TEPT). A verso nalda escala, com 25 itens, reuniu cinco fatores(competncia pessoal, conana nos prpriosinsntos e tolerncia adversidade, aceitao

    posiva da mudana, controle e espiritualida-de) e apresentou provas de boa conabilida-de, tanto pelo alfa de Cronbach(0,89), comopelas anlises de teste-reteste (coeciente decorrelao = 0,87).

    Enquanto o instrumento original deConnor e Davidson (2003) possui 25 itens,reunidos nos cinco fatores citados acima,Campbell-Sills e Stein (2007) idencaramem anlise fatorial conrmatria uma es-

    trutura unifatorial, composta por 10 itens;a esse fator nico chamaram resilincia e aCD-RISC recebeu nova denominao CD--RISC-10 - para diferenci-la de sua forma de25 itens. No presente estudo, a adaptaoe validao para amostra brasileira foi fei-ta a parr da CD-RISC-10, pois se entendeuque essa forma mais condensada facilitariao preenchimento por parte dos indivduose reduziria o tempo demandado, proporcio-

    nando essencialmente, as mesmas informa-es que a escala completa. Campbell-Sills e

    Stein no informaram que a escala reduzidaapresentou uma correlao alta e signica-va com o instrumento original (r = 0,92). Aescala unidimensional e os autores veri-

    caram alta consistncia interna (alfa de Cron-bach= 0,85) e boa validade de construto, va-lidade convergente e discriminante.

    Observa-se o crescimento da litera-tura sobre o uso da CD-RISC, com o seu usoem diferentes pases, incluindo China (Yu &Zhang, 2007), frica do Sul (Jorgensen & Se-edat, 2008), Coreia (Baek & cols., 2010), Ir(Khoshouei, 2009). Uma ampla variedadede populaes tem sido estudada, incluindo

    amostras da populao geral, sobreviventesde traumas diversos, adolescentes, idosos,pacientes em tratamento para transtorno deestresse ps-traumco, membros de dife-rentes etnias e culturas (Campbell-Sills, Cohan& Stein, 2006; Gillespie, Chaboyer & Wallis,2007; Lamond &cols., 2009; Roy, Sarchiapone& Carli, 2007). As propriedades psicomtricasda CD-RISC foram plausveis em todos os estu-dos, mas a estrutura fatorial encontrada temsido variada.

    No foram localizados estudos quetenham testado a estrutura fatorial da CD--RISC em contexto de trabalho. No entanto,McCalister e cols., (2006) a ulizaram comomedida de resistncia psicolgica para testara capacidade prediva desse fenmeno so-bre o estresse e a sasfao no trabalho, oque conrma a confuso conceitual anterior-mente referida.

    Foi realizada uma reviso sobre o uso e/

    ou adaptao da escala nas bases de dadosMEDLINE e LILACS, nenhum trabalho foi en-contrado sobre a adaptao para o portugusda Connor-Davidson Resilience Scale (CD--RISC), tampouco foi observada sua ulizaoem estudos no Brasil.

    A parr dessa explanao terica e dadescrio dos estudos de construo de ins-trumentos designados para avaliar resilincia,constata-se a relevncia de traduzir e adaptar

    semancamente a CD-RISC-10 para amostrasbrasileiras; bem como de avaliar sua estrutura

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    fatorial, de modo a obter indcios de sua vali-dade e dedignidade. Para isso, foram empre-gados procedimentos metodolgicos, cos eestascos que sero apresentados a seguir.

    MTODO

    ParcipantesParciparam do estudo 463 pessoas

    oriundas de diferentes camadas da popula-o. A Tabela 2 sinteza os dados da amostra,demonstrando que a maioria dos parcipan-tes (66,1%) foi do sexo masculino. A idade dosrespondentes foi ampla, variando de 18 a 68

    anos, com mdia de 28 anos (DP= 9,7), sendoem sua maioria (56,8%) pessoas solteiras. Aescolaridade oscilou entre ensino fundamen-tal incompleto a ps-graduao completa,sendo a maior frequncia (55,5%) encontradaentre os que esto cursando ou completaramo ensino mdio. As prosses dos parcipan-tes foram as mais diversas, desde prossio-nais liberais a servios gerais, sendo que asmais encontradas foram: estudantes (15,8%),militares (7,8%) e professores (6%).

    InstrumentoO instrumento a ser validado para o

    Brasil neste estudo a Connor-Davidson Resi-lience Scale (CD-RISC), de Connor e Davidson

    (2003), na verso apresentada pelo estudoconrmatrio de Campbell-Sills e Stein (2007)com 10 itens (CD-RISC-10), que concentra ascaracterscas fundamentais da resilincia(Campbell-Sills & Stein, 2007, p.1027). Ositens que compem a CD-RISC-10 avaliam apercepo dos indivduos da sua capacidadede adaptao mudana, de superar obstcu-los, de se recuperarem aps doenas, lesesou outras diculdades, entre outros (Camp-

    bell-Sills & Stein, 2007). O instrumento au-toaplicvel e os parcipantes registram suasrespostas em uma escala de 0 (nunca verda-de) a 4 (sempre verdade). Os resultados soapurados somando-se a pontuao apontadapelos parcipantes em cada item e podem va-riar entre zero e quarenta pontos; pontuaeselevadas indicam alta resilincia.

    ProcedimentoInicialmente, realizou-se contato com

    os autores da CD-RISC, com vistas a obterpermisso para a adaptao da escala. Apsacordar com os termos de uso da escala e en-caminhar os devidos formulrios, a Connor--Davidson Resilience Scale foi disponibilizadapelos autores.

    Em relao adequao do tamanhoda amostra para a anlise fatorial, Pasquali(2006) recomenda, no mnimo, 100 sujeitosno total ou cinco sujeitos por item, e aponta

    que dez indivduos por item o ideal. Apseliminao dos quesonrios incompletos(31), permaneceram 432 respondentes, emuma relao de 43,2 sujeitos por item, por-tanto, atendendo o recomendado na literatu-ra especializada.

    Traduo do instrumento de medidaA escala foi traduzida para o portugus

    por trs peritas, alm das autoras. Duas pe-

    ritas eram psiclogas bilngues, sendo umadelas americana naturalizada brasileira. A ter-

    Tabela 2 . Dados demogrcos da amostra (N= 463)

    Varivel Categoria N %

    Idade

    at 19 anos

    20-29 anos

    45

    313

    9,8

    68

    30-39 anos 41 8,9

    40 ou mais 61 13,3

    mdia (DP) 28 (9,7)

    Sexomasculino 302 66,1

    feminino 155 33,5

    Estado Civil

    solteiro 260 56,8

    casado/unio estvel 174 38

    divorciado/vivo 24 5,3

    Escolaridade

    ensino fundamental 24 5,3

    ensino mdio 255 55,5

    ensino superior 162 35,3

    ps-graduao 18 3,9

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    Escala de Resilincia de Connor-Davidson (Cd-Risc-10) 43

    Revista Psicologia: Organizaes e Trabalho, 11, 2, jul-dez 2011, 36-50

    ceira perita possui graduao em Letras comespecializao na lngua inglesa. Para asse-gurar uma correta traduo da CD-RISC parao portugus, a melhor combinao entre as

    quatro formas foi selecionada.A parr desses resultados, os itens fo-

    ram retraduzidos para o ingls, de modo apermir a comparao entre a forma originalda escala e a resultante do trabalho de tradu-o. As duas formas foram ento comparadaspor dois especialistas na lngua inglesa, comvistas a assegurar a el correspondncia entreas formas. A etapa seguinte foi enviar o for-mulrio de retraduo para um dos autores

    da escala para vericar a concordncia com ositens originais, o que possibilitou a formata-o da primeira verso da escala.

    Anlise terica dos itensCom vistas a garanr que a seleo dos

    itens da escala abordasse no apenas ques-tes empricas, mas tambm recebesse con-sideraes prcas e tericas (Hair, Anderson,Tatham & Black, 2005), a primeira verso daescala foi apresentada a cinco juzes (docen-

    tes e alunos de ps-graduao em psicologia)que analisaram a estrutura das frases e asterminologias a serem ulizadas, atestando, luz da denio de resilincia, a adequaodos seus contedos ao conceito.

    Adaptao semncaA adaptao semnca, que tambm

    serviu como estudo piloto, contou com acolaborao de 11 voluntrios, os quais pre-

    encheram a escala na presena de uma dasautoras, individual e/ou colevamente. Fo-ram avaliados critrios como clareza da for-mulao das perguntas, diculdades encon-tradas em perguntas e respostas especcase o grau de compreenso das frases, entreoutros aspectos. As alteraes sugeridas fo-ram incorporadas. Todos os voluntrios erampessoas com caracterscas semelhantes populao de estudo. Feitas as devidas ade-

    quaes, procedeu-se a aplicao da versonal da escala.

    Aplicao da CD-RISC-10Os parcipantes foram abordados em

    diversas instuies de ensino, tais comoescolas de idiomas, informca, artes e de

    educao para adultos, cursos prossionali-zantes e em pontos estratgicos de uxo depedestres, de forma a se garanr a maiorvariabilidade da amostra. Portanto, a amos-tra foi voluntria, no havia restrio de g-nero, maiores de 18 anos, independente deraa ou credo religioso, de qualquer nvel deescolaridade, desde que fossem alfabeza-dos, considerando que deveriam respondera quesonrios escritos, pressupondo-se ca-

    pacidade de leitura e compreenso de frasese instrues simples. Os parcipantes lerampreviamente e assinaram um termo de con-senmento livre e esclarecido, onde foramoferecidas informaes, entre outros aspec-tos, sobre a natureza da pesquisa, sobre o si-gilo e condencialidade das respostas e sobreo carter voluntrio da parcipao, garan-ndo-se o cumprimento das normas vigentesem pesquisa envolvendo seres humanos (Re-soluo CNS - 196/96). A realizao do estudo

    foi previamente aprovada pelo Comit de -ca em Pesquisa da instuio qual pertenciauma das pesquisadoras.

    Procedimento de anliseAs respostas obdas foram inicialmen-

    te analisadas descrivamente. Posteriormen-te, a m de explorar a validade da escala, osdados foram submedos a anlises dos com-ponentes principais e fatorao dos eixos

    principais. Finalmente, correlaes interitense consistncia interna foram analisados.

    RESULTADOS

    Anlises descrivasMdia, desvio padro e valores mni-

    mos e mximos foram calculados para o to-tal da amostra. A distribuio de escores naCD-RISC-10 mostrada na Figura 1, indicando

    que a pontuao mdia foi 29,07 (DP = 5,47;intervalo = 10 - 40). Houve uma assimetria

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    negava, com mais indivduos pontuando noextremo superior da escala. Apesar desse pa-dro geral, assimetria (-0,67) e curtose (0,41),

    a distribuio pode ser considerada praca-mente normal, pois seus valores utuavamentre 1 (Bryman & Cramer, 2003).

    Vericao da fatorabilidade da matrizA m de vericar se as suposies para

    a realizao de anlise fatorial foram atendi-das (Hair & cols., 2005), vericou-se a matrizde correlaes, as medidas de adequao daamostra e a signicncia geral da matriz de

    correlaes. Inicialmente, realizou-se umaanlise fatorial exploratria pelo mtododos componentes principais (PC). Conformeapresentado na Tabela 3, as correlaes en-tre as variveis so altamente signicantes. Amedida de adequao da amostra vericadapelo teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) foi de0,89, considerado bastante sasfatrio (Hair& cols., 2005). O teste Bartle de esfericidadefoi signicavo (940,981; p

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    anlise visual do scree plot(ver Figura 2). Essefator reuniu os dez itens da escala e explicou38% da varincia total. Posteriormente, a con-

    abilidade da escala foi calculada pelo alfa deCronbach, revelando um ndice de 0,82.Na Tabela 4 so apresentadas as cargas

    fatoriais, as comunalidades, a varincia ex-plicada pelo fator encontrado e o coecientede conabilidade (alfa de Cronbach). Comose pode observar, os resultados conrmam amesma estrutura unifatorial apresentada noinstrumento original (CD-RISC-10) relatadano estudo conrmatrio de Campbell-Sills eStein (2007), reunindo os 10 itens no fator no-

    meado resilincia. O coeciente de precisoencontrado (0,82) sasfatrio, pois segundoHair e cols.,(2005) e Pasquali (2006), o limiteinferior geralmente aceito de 0,70.

    Anlises fatoriais conduzidas para am-bos os sexos separadamente revelaram estru-turas idncas. Anlise de varincia revelouno haver diferenas entre os gneros, [F (1,461) = 3,699; p >0,05]. Por outro lado, houvecorrelao posiva (Pearson), embora fraca,

    entre idade e resilincia (r=0,10; p

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    revelou um nico fator com cargas fatoriais

    variando de 0,53 a 0,72. O resultado conrmaempiricamente a escala unifatorial de resilin-cia proposta por Campbell-Sills e Stein (2007),fornecendo indcios de validade de construtoda escala. Esse fator revelou ndice de con-sistncia interna bastante sasfatrio (0,82).Ademais, a adaptao semnca tambm de-monstrou ser adequada, tendo sido julgada

    por cinco juzes independentes. Portanto, a

    CD-RISC-10 teve sua estrutura conrmada eapresenta boas caracterscas psicomtricas.

    A resilincia, avaliada com a CD-RISC-10,parece ter distribuio aproximadamentenormal na populao em geral, embora maisindivduos se avaliem como mais resilientesdo que menos resilientes. O escore mdiode 29,07 na CD-RISC-10 na amostra estudada

    Figura 2. Scree plot

    Tabela 4. Cargas fatoriais, comunalidades, porcentagem de varincia e alfa de Cronbach

    Itens Cargas fatoriais Comunalidades

    2. Lidar com qualquer situao 0,72 0,47

    5. Dar a volta por cima 0,67 0,37

    7. Concentrao e pensamento claro 0,65 0,35

    10. Lidar com senmentos desagradveis 0,64 0,34

    9. Ser pessoa forte 0,62 0,31

    1. Adaptar a mudanas 0,61 0,30

    4. Lidar com estresse 0,60 0,30

    8. No ser desencorajado pelo fracasso 0,56 0,25

    6. Angir objevos 0,54 0,22

    3. Ver o lado engraado dos problemas 0,53 0,22

    Alfa de Cronbach 0,82

    Varincia (%) 38,0

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    sugere que o indivduo mdio oriundo dessapopulao se percebe frequentemente comcaracterscas mais resilientes. Esses dadosso congruentes com a literatura e mostram

    que a resistncia ao estresse e a capacidadede lidar com adversidades a norma e noa exceo na populao em geral (Bonanno,2004; Campbell-Sills & cols., 2006). A mdiade resilincia aqui aferida (29,07, DP = 5,47)cou um pouco acima do estudo original quedescreve a construo da escala, no qual amdia obda foi 27,21, com desvio padrode 5,84. Por este se tratar do primeiro estudobrasileiro em que se ulizou a CD-RISC-10, se-

    ria precoce atribuir tal resultado a alguma ca-ractersca da amostra ou do prprio instru-mento, pois a rea carece de outros estudosque autorizem concluses mais substanciaisnesse sendo. Um dos aspectos a ser inves-gado em estudos futuros, alm das caracte-rscas demogrcas, refere-se ao impacto dediferenas tnico-culturais sobre os escoresde resilincia.

    Neste estudo, estruturas fatoriais idn-cas foram encontradas para ambos os g-

    neros e nenhuma diferena nos nveis deresilincia foi detectada entre eles, o queconrma resultados de outros estudos (Con-nor & Davidson, 2003; Campbell-Sills & Stein,2007; Lundman, Strandberg, Eisemann, Gus-tafson & Brulin, 2007) e diferem dos resulta-dos de Bonanno, Galea, Bucciarelli e Vlahov(2007), onde as mulheres apresentaram es-cores inferiores. Portanto, os resultados ain-da so inconclusivos, necessitando de maio-

    res invesgaes.Os resultados tambm revelaram que

    a resilincia aumenta com a idade, emboraa correlao encontrada seja de baixa mag-nitude. Esse resultado pode ser decorrenteda composio predominantemente jovemda amostra estudada, pois 77,8% dos parci-pantes tm menos de 30 anos. Ainda assim,os achados corroboram os de outros estudoscomo o de Bonanno e cols., (2007) e Lundman

    e cols., (2007), os quais apontam que indivdu-os mais maduros lidam melhor com situaes

    de estresse e adversidades. Masten (2001)argumentou que a resilincia seria uma aqui-sio normava decorrente das demandasde adaptao inerentes ao desenvolvimen-

    to humano. Portanto, o avano da idade e aconsequente exposio a eventos adversos ea aprendizagem de estratgias de enfrenta-mento favoreceriam o desenvolvimento daresilincia.

    O conjunto dos parcipantes era bastan-te heterogneo em termos de escolaridade eprosso, mas no contemplou amostras cl-nicas ou de indivduos com alta exposio aotrauma. Assim, no possvel concluir sobre

    as propriedades psicomtricas da CD-RISC-10para essas populaes, sugerindo que estu-dos futuros possam avaliar as propriedadesda escala em amostras selecionadas com basena exposio ao trauma e, ainda, ampliar suaaplicao em doentes em cuidados primrios,pacientes psiquitricos ambulatoriais, pacien-tes com TEPT e com outros transtornos psi-quitricos.

    Outra limitao se refere validadeconvergente e discriminante, que apesar de

    ter sido avaliada nos dois estudos que deramorigem escala (Campbell-Sills & Stein, 2007;Connor & Davidson, 2003), no foi avaliadaneste estudo. Desse modo, sugere-se que ou-tros estudos sejam realizados, especialmentepor j se ter outro instrumento validado para oBrasil (Escala de Resilincia, Wagnild & Young,1993, adaptada por Pesce e cols., 2005), pos-sibilitando importantes contribuies para osestudos sobre resilincia. Alm dessas suges-

    tes, prope-se que estudos futuros se de-diquem tambm a validar a CD-RISC-10 pormeio de anlise fatorial conrmatria e tes-tem sua estrutura fatorial em contexto de tra-balho. Em suma, considerando os resultadosobdos, conclui-se que a verso brasileira daCD-RISC-10 possui uma adequada correspon-dncia com a escala original e caracterscaspsicomtricas que autorizam seu uso comouma ferramenta convel e com indcios de

    validade para avaliar a resilincia em pesqui-sas brasileiras.

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