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Preparação e Avaliação das Demarcações Físicas nas Terras Indígenas Kaxinawá da Praia do Carapanã, Kampa do Igarapé Primavera, Kaxinawá do Baixo Rio Jordão, Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu e Kulina do Igarapé do Pau (Vale do Juruá, Estado do Acre) Dezembro 2000

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  • Programa Piloto para a Proteo das Florestas Tropicais do Brasil

    Projeto Integrado de Proteo s Populaes e Terras Indgenas da Amaznia Legal

    PPTAL PNUD BRA/96/018

    Preparao e Avaliao das Demarcaes Fsicas nas Terras Indgenas

    Kaxinaw da Praia do Carapan, Kampa do Igarap Primavera, Kaxinaw do Baixo

    Rio Jordo, Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu e Kulina do Igarap do Pau,

    Vale do Juru, Estado do Acre

    Contrato PNUD 2000/000282

    Quinto Produto

    Volume I - Relatrio Final

    Marcelo Piedrafita Iglesias Consultor Ad-Hoc do PPTAL

    Rio de Janeiro

    Dezembro de 2000

  • 2

    ndice

    Apresentao

    O PPTAL e o acompanhamento indgena: experimentao de um novo modelo

    A primeira etapa da consultoria

    Recuperando consideraes iniciais

    A segunda etapa de campo

    Reunies nas aldeias

    As empresas

    Propostas tcnico financeiras: edital e fundamentos tcnicos Os servios e propostas de execuo Dirios de obra

    Caindo em campo

    Asserplan Mobilizao, primeiras reunies e demarcaes Servios de rastreio Apoio fiscalizao tcnica da Funai Monumentao: "segunda etapa" das demarcaes

    Prtico

    A situao de demarcao: obra de engenharia e acompanhamento indgena

    Os topgrafos e suas equipes

    A Prtico e a TI Kulina do Igarap do Pau Equipe e cronograma da demarcao Primeira reunio e preparao do acompanhamento Reunio de avaliao com os Madij Observaes e comentrios

    A Asserplan e as terras indgenas do Bloco I TI Kaxinaw da Praia do Carapan

    Satisfao com a demarcao, preocupao com a indenizao TI Kampa do Igarap Primavera

    "A Funai demarcou nossa terra: e agora como que vai ficar?" TI Kaxinaw do Baixo Rio Jordo

    Demarcao em aberto Reunio Kaxinaw no Jordo Retomando o rumo da picada

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    O acompanhamento indgena nas demarcaes Os recursos: liberao e orientaes sobre aplicao e prestao de contas Preparao junto AER-RBR e aos PINs Tarauac e Cruzeiro do Sul Discusses de preparao e estratgias: as lideranas e o acompanhamento

    TI Kaxinaw da Praia do Carapan TI Kampa do Igarap Primavera TI Kaxinaw do Baixo Rio Jordo

    Os recursos do acompanhamento A fragilidade da articulao da AER A "luta" das lideranas para acessar aos recursos

    TI Kaxinaw da Praia do Carapan TI Kampa do Igarap Primavera TI Kaxinaw do Baixo Rio Jordo TI Kulina do Igarap do Pau

    Consideraes

    Fiscalizao: viagens de campo e relatrios

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    As indenizaes Voltando histria O DEF: levantamento fundirio e procedimentos necessrios s indenizaes Novidades nos procedimentos de indenizao? A indenizao nas TIs Kaxinaw do Baixo Rio Jordo e Kampa do Igarap Primavera Reassentamento dos ocupantes no ndios: Funai e Incra

    Brevssima concluso

    151 153 155 164 168 172

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    Volume II - ndice dos Anexos

    Cronogramas de viagem e resumo de atividades - primeira e segunda etapas de campo

    Texto "Demarcao de seis terras indgenas no Vale do Juru acreano: o PPTAL e o acompanhamento indgena". Rio de Janeiro, mimeo, 27 de junho de 2000, 8 pg.

    Transcrio dos Dirios de Obra Asserplan Prtico

    Carta enviada ao Diretor da DAF, Paulo Roberto Soares, em 25 de agosto de 2000 Ata da reunio entre as comunidades Kaxinaw das Terras Indgenas Kaxinaw do Baixo Rio Jordo e Kaxinaw do Seringal Independncia para avaliao dos resultados da demarcao fsica dessa primeira terra.

    Carta enviada servidora Vnia Simone Albano de Lucena, da AER-RBR (Assunto: Informa localizao atual das famlias de ocupantes no-ndios da Terra Indgena Kaxinaw da Praia do Carapan para subsidiar plano da viagem de pagamento das indenizaes das benfeitorias de boa-f). Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2000 "Relao dos atuais locais de moradia dos ocupantes no-ndios da Terra Indgena Kaxinaw da Praia do Carapan".

    Primeiro esboo do documento "Localizao atual dos ocupantes a serem indenizados nos Municpios de Tarauac e Jordo", entregue ao Chefe do PIN Tarauac, Adauto Peres. Tarauac, 20 de julho de 2000, 2 pg.

    Ofcio N 02/2000, de 7 de abril de 2000. (Encaminha ao Dr. Roque de Barros Laraia, Diretor da DAF, abaixo-assinados das comunidades Kaxinaw e Ashaninka das TIs Kaxinaw da Praia do Carapan, Kampa do Igarap Primavera e Kaxinaw do Baixo Rio Jordo). Braslia, 7 de abril.

    "Carta encaminhada CTPPTAL com informaes sobre Kaxinaw do Seringal Curralinho - Municpio de Feij - Estado do Acre". Rio de Janeiro, 19 de outubro de 2000, 1 pg. e anexos

    "Notcias de duas breves visitas e conversas com as famlias Kaxinaw da Aldeia So Luiz na rea reivindicada para a criao da TI Kaxinaw do Seringal Curralinho" Depoimento de Francisco Edson Pereira Marroque (Txu), 13 de julho de 2000, Aldeia So Luiz - rea reivindicada para a criao da TI Kaxinaw do Seringal Curralinho, Rio Envira - Municpio de Feij - Estado do Acre Parecer n 009/DEID/DAF, elaborado pelo antroplogo Terri Valle de Aquino. (Ref: Identificao da Terra Indgena (TI) Kaxinaw do Seringal Curralinho). Braslia, 19 de janeiro de 2000.

    Conversa com Turiano Luiz Kampa, liderana Ashaninka do Primavera, e sua esposa, Neca (Aldeia Recanto - TI Kampa do Igarap Primavera - 9 de maro de 2000). Rio de Janeiro, mimeo.

    "Conversa de Avaliao com Joel Ferreira Lima, Presidente da AAPBI". (Entrevista gravada a 5 de julho de 2000 na Aldeia Ipiranga, TI Poyanawa).

    "Diretrizes para elaborao de um Projeto de Vigilncia para a TI Poyanawa (Conversas com a diretoria da Associao Agro-Extrativista Poyanawa do Baro e Ipiranga- julho de 2000)". Rio de Janeiro, novembro.

    Texto "Os ndios e as eleies municipais no Acre" (Marcelo Piedrafita Iglesias). Rio de Janeiro, mimeo, 30 de outubro, 16 pg.

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    Texto "Tempo da poltica no Municpio de Jordo". (Marcelo Piedrafita Iglesias). Rio de Janeiro, mimeo, 9 de novembro. (Publicado no Jornal Pgina 20, 14 de novembro, Especial, pg. 10-11)

    Documentos relativos criao da Reserva Extrativista do Alto Tarauac 1) Ofcio N 274/GB, de 23 de agosto de 2000 (Assunto: Manifesta o total apoio da Secretaria de Estado de Cincia, Tecnologia e Meio Ambiente do Acre criao da Reserva Extrativista do Alto Tarauac). 2) Carta encaminhada a Dra. Mary Helena Allegretti, Secretaria de Coordenao da Amaznia e ao Sr. Rafael Pinzn Rueda, Chefe do Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populaes Tradicionais. (Assunto: Criao da Reserva Extrativista do Alto Tarauac- Estado do Acre). Rio de Janeiro, 1 de setembro de 2000, 3 pg. 3) Parecer Tcnico SCA/135/2000, de 13 de setembro de 2000. (Projeto: Alterao nos limites da Resex Alto Tarauac. Interessado: Marcelo Piedrafita Iglesias)

    4) Mapa da Reserva Extrativista do Alto Tarauac 5) Decreto de 8 de novembro, assinado pelo Presidente da Repblica

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    Apresentao O presente relatrio constitui o quinto e ltimo produto de consultoria externa ao PPTAL,

    regida pelo Contrato PNUD 2000/000282, que teve por objetivo a "preparao e avaliao das demarcaes fsicas das Terras Indgenas Kaxinaw da Praia do Carapan, Kampa do Igarap Primavera, Kaxinaw do Baixo Rio Jordo, Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu e Kulina do Igarap do Pau, no Vale do Juru, Estado do Acre", com nfase na instrumentalizao das comunidades indgenas Kaxinaw, Ashaninka (Kampa) e Madij (Kulina) para o acompanhamento dos processos demarcatrios de suas terras, feitos atravs de empresas de topografia contratadas pela Funai atravs do Edital de Tomada de Preos FUNAI/CEL/N 01/99.

    O Contrato 000282 foi assinado a 18 de janeiro pelo Representante Residente do PNUD, Walter Franco, em resposta a solicitao do PPTAL. Uma semana depois, assinei-o, durante viagem Braslia para acertos finais na consultoria junto Coordenao Tcnica do PPTAL (CTPPTAL). Esto anexados ao Contrato o Termo de Referncia n 40955 e as ltimas verses do cronograma de atividades e da memria de clculo.

    Ao longo do Contrato, foram j entregues cinco produtos desta consultoria: o primeiro, em incio de fevereiro, com o detalhamento do plano de trabalho de campo e oramento da viagem, e o segundo, em meados de abril, um resumo das atividades de campo e a prestao de contas dos recursos recebidos atravs do Termo de Compromisso n 001/2000. A 4 de maio foi remetido o terceiro produto da assessoria AAPBI e CTPPTAL na implementao do projeto de acompanhamento da demarcao da TI Poyanawa, parte ainda do Contrato PNUD 1999/001078, que passou a integrar o terceiro produto do novo Contrato. Em 23 de maio, entreguei, a outra parte do terceiro produto, com os resultados dos trabalhos realizados na primeira etapa de campo, entre fevereiro e abril, quando da preparao das demarcaes fsicas nas TIs Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu, Kaxinaw da Praia do Carapan, Kampa do Igarap Primavera e Kaxinaw do Baixo Rio Jordo. O quarto produto foi entregue em 1 de setembro: um resumo das atividades da segunda etapa de campo e a prestao de contas dos recursos repassados atravs do Termo de Compromisso n 011/2000.

    O planejamento para a segunda etapa de campo da consultoria foi enviado CTPPTAL em 16 de junho. Os recursos necessrios ao pagamento das despesas com deslocamentos, aquisio de material de consumo e servios de terceiros durante a viagem foram repassados atravs do Termo de Compromisso N 011/2000, que assinei em Braslia no final do ms. Recebi estes recursos em mos na agncia do Banco do Brasil na sede da UAP/ABC.

    Esta viagem aconteceu sob a Ordem de Servio N 031/GAB, assinada a 20 de junho pela Chefe de Gabinete da Presidncia da Funai, Sheila Maria Soares Fernandes, autorizando meu

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    deslocamento, como consultor externo do PPTAL, s TIs Poyanawa, Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu, Kaxinaw da Praia do Carapan, Kampa do Igarap Primavera, Kaxinaw do Baixo Rio Jordo e Kulina do Igarap do Pau, por um perodo de dois meses, entre 25 de junho e 24 de agosto, com "o objetivo de proceder o acompanhamento final e a avaliao das demarcaes fsicas" dessas terras.

    As informaes que constam neste quinto produto resultam de visitas realizadas s TIs Poyanawa, Kulina do Igarap do Pau, Kaxinaw do Seringal Curralinho, Kaxinaw da Praia do Carapan, Kampa do Igarap Primavera, Kaxinaw do Baixo Rio Jordo e Kaxinaw do Seringal Independncia, nos Municpios de Mncio Lima, Feij, Tarauac e Jordo, no Vale do Juru, Estado do Acre, entre os dias 28 de junho e 26 de agosto. So resultado, ainda, da leitura de documentos produzidos pela Diretoria de Assuntos Fundirios da Funai, o PPTAL, a GTZ e as empresas Asserplan - Engenharia e Consultoria Ltda. e Prtico Engenharia Ltda., coletados nas passagens por Braslia no incio e no fim da viagem, e da consulta a ampla documentao acumulada em sete anos de monitoramento dos processos de regularizao administrativa de quatro destas terras na burocracia do Estado brasileiro. So fruto, por fim, de conversas realizadas junto a representantes da Funai, CTPPTAL, GTZ e das empresas Asserplan e Prtico, bem como a lideranas e chefes de famlia Kaxinaw, Ashaninka e Madij nas reunies promovidas nas aldeias das sete terras indgenas visitadas nesta segunda etapa de campo.

    O PPTAL e o acompanhamento indgena: experimentao de um novo modelo preocupao expressa das aes do PPTAL viabilizar processos sociais e parcerias

    institucionais que contribuam para uma maior participao indgena nas demarcaes. Esta preocupao teve origem, por um lado, na anlise dos resultados de iniciativas j

    estabelecidas pela Funai, junto a organizaes indgenas, ongs e a cooperao internacional na demarcao das terras indgenas Waipi, do Rio Negro e do sul do Amazonas. De outro lado, era ponto passivo que as demarcaes feitas via licitao, conforme os procedimentos usuais da Funai, continuavam reproduzindo antigos vcios nas relaes das empresas com os ndios e fortes obstculos a um maior participao indgena nas demarcaes.

    Nos ltimos anos, aconteceram alguns avanos nos processos demarcatrios usualmente tocados pela Funai, a partir da introduo nos editais de licitao da clusula obrigando as empresas contratadas a realizar duas "assemblias" com a comunidade, uma no incio e outra no fim da demarcao, ocasies vistas como indispensveis para garantir a participao indgena. O edital tambm prev, durante a primeira assemblia, a indicao pela comunidade de seus representantes oficiais, para acompanharem os trabalhos demarcatrios e fazerem a interlocuo junto empresa.

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    estipulado, para tal, a nomeao de um ndio representante por equipe da empresa. Os custos destes representantes durante a demarcao devem correr por conta da empresa, no caracterizando, todavia, remunerao por esta atividade. Por sua vez, a empresa pode propor nessa assemblia a contratao de mo de obra indgena para servios braais e os valores da remunerao.

    Novas modalidades de demarcao comearam a ser gradualmente testadas pelo PPTAL a partir de 1999, com objetivo de apoiar formas mais ativas de participao indgena, conciliando-as com o atendimento das exigncias tcnicas e legais inerentes obra de engenharia envolvida na demarcao fsica. Exemplos destas esto nas parcerias assinadas pelo Projeto junto a organizaes indgenas para viabilizar processos participativos de acompanhamento nas demarcaes das TIs Poyanawa, Vale do Javari, Munduruku e Coat Laranjal.

    Na demarcao de cinco terras indgenas no Vale do Juru acreano, em 2000, o PPTAL procurou experimentar um outro modelo para tentar garantir uma maior participao indgena: a instrumentalizao das comunidades Kaxinaw, Ashaninka (Kampa) e Madij (Kulina), atravs de informaes e recursos financeiros, para que acompanhassem e fiscalizassem os trabalhos das empresas, de forma a assegurar a correta materializao e sinalizao dos limites das terras indgenas e possibilitar processos de discusso que pudessem desembocar na gestao e implementao de aes futuras de vigilncia e proteo destes territrios.

    A "preparao das demarcaes", vista como passo fundamental para potencializar essa maior e mais eficaz participao indgena nas demarcaes, foi viabilizada neste novo modelo atravs da assessoria de antroplogo, contratado como consultor externo do PPTAL, atravs de contrato PNUD, e o acompanhamento motivado em reunies e apoiado com o repasse de recursos dos doadores, atravs do Projeto e repassados AER e aos PINs aos qual as terras esto jurisdicionadas. O pr-requisito para a contratao do antroplogo que ele tenha conhecimento prvio das terras em demarcao e relaes historicamente constitudas junto s populaes que nelas habitam.

    Tive o privilgio de dar forma inicial a este modelo e test-lo pela primeira vez. Este modelo voltou a ser atualizado e repensado no mbito do PPTAL, atravs da consultoria que o antroplogo Edmundo Piggeon, est a fazer na preparao do acompanhamento indgena nas demarcaes das TIs Tenharim do Igarap Preto, Sepoti e Tor, no Estado do Amazonas.

    A primeira etapa da consultoria Entre fevereiro e maro, na primeira etapa de campo da consultoria, viajei por cinco das

    seis terras indgenas em demarcao do Vale do Juru. Nesta primeira etapa, no visitei apenas a TI Kulina do Igarap do Pau, cuja demarcao comeou com quase quatro meses de atraso, por conta

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    de alteraes tcnicas que tiveram de ser feitos na proposta apresentada pela Prtico, mesmo aps ter sido declarada vencedora do Edital para o Bloco VI, e a morosidade da empresa em sua mobilizao inicial.

    No termo de referncia da presente consultoria, consta como objetivo principal a instrumentalizao, atravs de processos informativos, das comunidades indgenas para o acompanhamento da demarcao fsica de suas terras, a ser feita por empresas de topografia contratadas pela Funai via licitao pblica. Como atividades especficas constam, ainda, promover reunies para informar sobre as demarcaes, de maneira a contextualizar os arranjos institucionais que vieram a possibilit-las atravs do PPTAL; discutir documentos relativos aos processos de regularizao administrativa de cada terra; explicar os procedimentos de licitao das demarcaes; realizar discusses sobre direitos e obrigaes de ndios e da empresa para preparar pontos da pauta para as primeiras reunies; planejar a implementao do acompanhamento indgena na demarcao; e atualizar dados sobre conflitos, envolvendo famlias indgenas e de ocupantes no-ndios, invases e a explorao predatria e ilegal de recursos naturais.

    Sa de Braslia em incio de fevereiro, logo aps a assinatura dos contratos entre Funai e Asserplan e a expedio de duas ordens de servio. Para essa etapa de preparao, foi acordada junto coordenao do PPTAL minha participao nas primeiras "assemblias" que a empresa faria nas terras indgenas antes do incio das demarcaes. Contatos foram feitos junto sede da Asserplan em Rio Branco e cronograma comum foi acertado, bem como sugeridas as aldeias para a realizao dessas reunies.

    Esta estratgia colocou novos condicionantes aos processos de instrumentalizao das comunidades e s estratgias por estas pensadas para o acompanhamento das demarcaes. No ocorrera por parte da AER-RBR ou dos Chefes de Posto, conforme previsto, trabalho prvio de divulgao junto s lideranas da existncia sobre a existncia de recursos do PPTAL para o acompanhamento, bem como o delineamento de estratgia para que as lideranas os acessem a tempo de us-los ainda durante as demarcaes. Por isso, as lideranas e chefes de famlias ficaram sabendo do incio das demarcaes e dos recursos do PPTAL somente quando da minha chegada nas aldeias, junto com o representante da empresa, poucos dias antes da chegada das equipes de medio e materializao.

    Atualizando o capital de relaes sociais acumulado ao longo de dez anos de trabalho junto a esses grupos Kaxinaw, Ashaninka e Poyanawa, logrei mobilizar lideranas e chefes de famlias de todas as aldeias, garantindo ampla participao nas reunies realizadas nas cinco terras. Evitou-se que unicamente a empresa ditasse os ritmos da chegada, da mobilizao e da reunio, assim como os assuntos e os contedos ali tratados. Foram viabilizadas oportunidades para conversar com

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    as lideranas antes e depois das reunies, para historiar a chegada deste sonhado momento do "tempo dos direitos", contextualizar os arranjos institucionais que estavam a possibilitar as demarcaes, elencar as exigncias tcnicas inerentes abertura das picadas e sinalizao, bem como conceituar o acompanhamento indgena e vislumbrar estratgias prprias para p-lo em prtica na demarcao.

    Primeiras reunies - Terras Indgenas Bloco I

    Terra Indgena

    Aldeia Dia Representantes da Empresa

    Comunidade indgena Adultos Origem (aldeias)

    Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu

    Nova Vida 24/2 Responsvel Tcnico Topgrafo

    75 Morada Nova, Nova Vida, Buriti, Cruzeirinho, Japiim e Jacobina

    Kaxinaw da Praia do Carapan

    Praia do Carapan

    6/3 Responsvel Tcnico 87 Morada Nova, gua Viva, Goinia, Praia do Carapan e Mucuripe

    Kampa do Igarap Primavera

    Recanto 10/3 Responsvel Tcnico 08 Recanto e Torre da Lua

    Kaxinaw do Baixo Rio Jordo

    Nova Empresa

    13/3

    Responsvel Tcnico

    32 Nova Empresa, Cachoeira, Bambu, So Joaquim, Torre da Lua, Morada Nova

    Com as lideranas, foram discutidas formas possveis de participao para alm da mera indicao dos interlocutores ou da constituio de equipes para acompanhar os trabalhos da empresa. Pensou-se na escolha de locais estratgicos para a colocao de certas placas indicativas, bem como na identificao dos nomes dos igaraps para subsidiar a confeco do mapa definitivo da terra. Sugeriu-se que professores e outras pessoas alfabetizadas gerassem memrias da demarcao, na forma de textos, depoimentos, mapas e desenhos, para serem usadas como materiais pedaggicos nas escolas, bem como registros da participao indgena e do conhecimento adquirido sobre o territrio.

    Discutiu-se com as lideranas e outros chefes de famlia o fluxo institucional de repasse dos recursos pelo PPTAL, a participao da AER-RBR e dos Chefes de Posto neste processo, os elementos de despesa para sua aplicao e a necessidade de cada comunidade decidir sobre as compra do material de consumo e seu uso. Diferentes formas de acompanhamento e de acesso aos recursos foram problematizadas, levando-se em conta que o PPTAL fizera o repasse AER em incio de fevereiro, mas a notcia s chegara s comunidades pouco antes da chegada das equipes da empresa e do incio das demarcaes.

    O conhecimento prvio dos campos de relaes polticas nos quais estas populaes Kaxinaw e Ashaninka esto inseridas no dia a dia de seus municpios, permitiram-me desenvolver outro eixo importante da primeira etapa de campo da consultoria: um extenso trabalho de divulgao das seis demarcaes junto a organizaes indgenas e de seringueiros e a outros atores e instituies do Vale do Juru, bem como junto aos "ocupantes no-ndios" que vivem nas terras a serem demarcadas.

  • 11

    O incio das demarcaes foi noticiado em mensagem na Rdio Verdes Florestas, ouvida pela populao urbana e da floresta do Alto Juru. Em Cruzeiro do Sul, as demarcaes foram divulgadas junto Organizao dos Povos Indgenas do Rio Juru (OPIRJ), Associao Agro-Extrativista Poyanawa do Baro e Ipiranga (AAPBI), Associao Ashaninka do Rio Amnia (APIWTXA), Associao dos Seringueiros e Agricultores da Terra Indgena Arara (ASATIA) e Associao dos Seringueiros e Agricultores da Reserva Extrativista do Alto Juru (ASAREAJ).

    Nos Municpios de Tarauac e Jordo, a divulgao contemplou a Organizao dos Povos Indgenas de Tarauac e Jordo (OPITARJ), Organizao dos Povos Indgenas de Tarauac (OPITAR), Associao dos Seringueiros Kaxinaw do Rio Jordo (ASKARJ), Organizao de Agricultores Extrativistas Yawanaw do Rio Gregrio (OAEYRG), Associao dos Povos Indgenas Kaxinaw do Rio Humait (ASPIH) e Associao das Produtoras de Artesanato das Mulheres Indgenas Kaxinaw de Tarauac e Jordo (APAMINKTAJ). Foi divulgada tambm junto a membros dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais de Tarauac e de Jordo, bem como da Associao dos Seringueiros e Agricultores da Reserva Extrativista do Alto Tarauac (ASAREAT), cuja reserva limita com duas das terras em demarcao: Kampa do Igarap Primavera e Kaxinaw do Baixo Rio Jordo.

    Criteriosa divulgao do incio das demarcaes das TIs Kampa do Igarap Primavera e Kaxinaw do Baixo Rio Jordo foi feita junto aos chefes das famlias de ocupantes brancos que ali continuam morando, espera que a Funai indenize suas benfeitorias. Aps a apresentao do "Plano de Indenizao e Remoo de No ndios em Terras Indgenas-PPTAL", elaborado pelo Departamento de Estudos Fundirios, da Diretoria de Assuntos Fundirios da Funai em final de 1999, foram discutidos junto a estes chefes de famlia cenrios que em breve ganhariam contorno com a concluso das demarcaes, o pagamento das indenizaes, o prazo para a retirada dos ocupantes e o usufruto exclusivo pelos ndios dos recursos naturais existentes nas terras demarcadas.

    Nas reunies na Praia do Carapan, Igarap Primavera e Baixo Rio Jordo, lideranas e chefes de famlia elaboraram abaixo-assinados informando Diretoria de Assuntos Fundirios que haviam tomado conhecimento do Plano de Indenizao e Remoo, relatando problemas enfrentados nos ltimos anos devido presena dos ocupantes e cobrando o cumprimento dos prazos estabelecidos pela Funai para a indenizao e a retirada dos ocupantes. De passagem por Braslia, em incio de abril, entreguei esses documentos DAF, ao DEF, CTPPTAL e GTZ, e reforcei a necessidade da indenizao como medida indispensvel para garantir a legitimao local das demarcaes e a melhoria de vida dos ndios e dos prprios ocupantes, que viviam numa situao de insustentvel limbo social.

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    Alm da preparao do acompanhamento indgena e da divulgao das demarcaes, desempenhei um conjunto diversificado de atividades de interlocuo junto a vrias instncias da Funai (CTPPTAL, DED/ DAF, DEF/DAF, AER-RBR, PINs Tarauac e Cruzeiro do Sul) e das empresas de topografia contratadas, procurando monitorar suas aes e contribuir para agilizar o cumprimento de suas vrias atribuies ao longo dos processos de demarcao.

    Esta interlocuo foi importante para subsidiar as discusses havidas aps a deciso dos Poyanawa de paralisarem a demarcao de sua terra, quando constataram que a realidade local no coincidia com a base cartogrfica do Radam, que havia erros no mapa e no memorial descritivo da Funai e que a realizao da demarcao conforme licitada implicaria na reduo de substancial parcela dos fundos de seu territrio. As negociaes que envolveram a Funai, PPTAL, GTZ, Asserplan e AAPBI resultaram em novos acordos para uma nova demarcao da terra, conforme a histrica e justa reivindicao dos Poyanawa.

    A interlocuo foi importante, por outro lado, quando, aps estudar a licitao e a proposta tcnica da Asserplan, detectei graves problemas na licitao da demarcao das TIs Kaxinaw/ Ashaninka do Rio Breu e Kaxinaw do Baixo Rio Jordo. Alertei DAF e a empresa sobre os erros e defendi a reformulao do contrato e das atividades ali previstas de forma a viabilizar a correta demarcao dessas duas terras. Por outro lado, comuniquei esses erros s lideranas dos rios Jordo e Breu por ocasio das primeiras reunies, quando foram discutidos junto ao responsvel tcnico da empresa. Nesses debates, ficou claro para as lideranas e demais chefes familiares a importncia do acompanhamento dos trabalhos a serem feitos pela Asserplan, para evitar equvocos nas demarcaes e prejuzos permanentes integridade de seus territrios.

    Recuperando consideraes iniciais

    No terceiro produto desta consultoria, teci algumas consideraes iniciais, com base no observado durante as atividades da primeira etapa de campo, focando a mobilizao inicial da Asserplan para proceder com a demarcao das terras indgenas dos Blocos I e III. Neste novo contexto, vale a pena recuperar algumas delas, ainda que de forma sumria, para que sirvam como pontos de partida para as anlises que sero feitas a seguir, partindo da avaliao realizada na segunda etapa de campo.

    Apesar da louvvel tentativa do PPTAL de possibilitar um carter mais participativo s demarcaes, atravs de parcerias institucionais com organizaes indgenas e/ou da instrumentalizao das populaes locais, continuou havendo sistemtico descumprimento de normas tcnicas e obrigaes que as empresas prometeram respeitar em suas propostas tcnico-financeiras, formuladas com base no Edital de Tomada de Preos n 01/CEL/FUNAI/99 e seus

  • 13

    anexos, dentre eles, o "Manual de Normas Tcnicas para Demarcao de Terras Indgenas", que serviram para fundamentar os contratos assinados junto Presidncia da Funai.

    As primeiras reunies com as comunidades e os trabalhos de demarcao foram iniciados pela empresa nas terras indgenas aps o prazo de dez dias estabelecido nos contratos (clusula stima, VII.1.1). Apesar de poder alegar que j estavam em mobilizao quando realizaram as primeiras reunies, estas duas atividades, primeiro a reunio, esto previstas na proposta da contratada para a primeira semana aps a assinatura do contrato. A ordem de servio, por sua vez, estabelece prazo de dez dias para este incio das demarcaes.

    Estas assemblias continuaram vistas pelas empresas como atos meramente formais, pr-requisitos para a primeira parcela do pagamento, e no como momentos ritualizados de repasse e debate de dados cruciais ao planejamento da mobilizao e da participao das comunidades. Ao contrrio, a participao indgena vista pela empresa ainda em moldes coloniais: o repasse pelos ndios de conhecimentos necessrios execuo dos trabalhos e a contratao de mo de obra braal (carregadores, caadores e teradeiros).

    Ainda sobre as primeiras assemblias, foi apontada a fragilidade das atas que usualmente resultam das reunies entre as empresas e as comunidades. Vista como momento formal do processo de demarcao e mero pr-requisito para o recebimento dos recursos da "mobilizao", a reunio, e a ata como seu reflexo, deixa de trazer esclarecimentos mais precisos, por exemplo, o nmero de equipes da empresa, nome das pessoas que vem para trabalhar, roteiro e cronograma dos trabalhos, formas de contratao e remunerao de mo de obra indgena. Isto aconteceu inicialmente na TI Poyanawa, pela inexperincia, das lideranas e minha sobre este procedimento, e tornou a se repetir na primeira reunio realizada pela Prtico na TI Kulina do Igarap do Pau, que contou com a participao de um Tcnico em Indigenismo da AER-RBR, Geraldo Carlos Alberto, do Chefe Substituto do Posto Indgena Feij, Jos Augusto Brando, e do Vice Coordenador da OPIRE, Francisco de Assis Brando.

    A fragilidade das atas das primeiras reunies tem sido uma recorrente fonte de reclamaes por parte do PPTAL. importante, para evitar a repetio dessa prtica das empresas, que no prprio edital de tomada de preos sejam feitas especificaes quanto s informaes que devem ser repassadas durante a reunio e registradas em ata. Neste mesmo sentido, importante formalizar como parte das exigncias a apresentao de cpias dos atestados de vacina e sade dos trabalhadores da empresa, obrigao que consta no edital e nos contratos. A recusa de atas que no se adeqem a estas normas pode vir a ter um efeito pedaggico importante na implementao de futuras demarcaes no mbito do PPTAL. As lideranas, associaes indgenas, suas organizaes de apoio e consultores devem, como componente da instrumentalizao necessria (sobre)

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    vivncia destas ocasies, ter acesso a cpias de atas de reunies realizadas anteriormente em outras terras indgenas, algumas bem feitas, outras no, para que as estudem e tomem como referncias para no repetir erros j recorrentes.

    As empresas contratadas desconheciam o componente do acompanhamento nas demarcaes, apesar de previsto no edital de tomada de preos que "alm do acompanhamento indgena, os trabalhos de demarcao podero a qualquer momento ser acompanhados e vistoriados por equipes indgenas, que atuaro em convnio com o Projeto Integrado de Proteo s Populaes e Terras Indgenas da Amaznia Legal (PPTAL) e contaro com recursos prprios para este fim. A empresa dever garantir o livre acesso e a livre circulao destas equipes indgenas nos locais onde sero realizados os servios objeto da licitao" (14.5.1).

    Esta divulgao anterior junto s empresas contratadas tarefa que cabe CTPPTAL e DAF. A parte referente ao Bloco III do Edital e os primeiros entendimentos com a Asserplan aps sua contratao deveriam ter includo a apresentao das linhas gerais do projeto de acompanhamento Poyanawa, as atividades j realizadas e as previstas em campo e um acordo sobre procedimentos especficos a serem adotados para garantir o respeito a esta iniciativa dos ndios. O edital faz meno clara, apesar de genrica, sobre a possibilidade do acompanhamento, mas o edital no especifica se um projeto tocada por alguma associao indgena ou outra iniciativa est acontecendo em uma determinada terra a ser demarcada. Este, a meu ver, ensinamento para as prximas demarcaes, Vale do Javari, Munduruku e Coat Laranjal, onde associaes e organizaes indgenas, junto com as comunidades locais, iniciaram parcerias semelhantes com o PPTAL, bem como nos casos em que o acompanhamento resultado desejado de assessoria antropolgica voltada instrumentalizao. O mesmo procedimento, todavia, deveria ser adotado nos casos onde v ocorrer qualquer outro modelo de acompanhamento indgena.

    Na primeira tentativa de demarcao da TI Poyanawa, a Asserplan no respeitou a seqncia de etapas previstas para o trabalho demarcatrio (Manual, 01; contrato, clusula segunda, II.1). O no rastreio do ponto 7, antes da abertura da picada a partir do ponto 6, causou todos os problemas posteriores, apesar dos vrios alertas das lideranas e da AAPBI. As clareiras e a picada foram abertas sem a colocao de qualquer marco de fibra de vidro. Alm de ter ido de encontro das normas do manual e das obrigaes do contrato, foi desrespeitado o plano de trabalho e o cronograma apresentados pela empresa em sua proposta financeira, onde estavam previstos os servios de rastreio antes de dar incio materializao.

    Esta prtica foi repetida nas demarcaes que a Asserplan fez nas quatro terras indgenas do Bloco I. Nestas demarcaes, os quatro topgrafos da empresa iniciaram os trabalhos abrindo clareiras e picadas, confiando nos memoriais descritivos fornecidos pela Funai, para depois contar

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    com o servio do nico rastreador designado pela empresa para as cinco demarcaes. O mesmo procedimento foi utilizado pela Prtico na demarcao da TI Kulina do Igarap do Pau.

    Ao trmino da primeira etapa das quatro demarcaes do Bloco I, as equipes da Asserplan no haviam assentado qualquer marco de fibra de vidro (geodsicos, topogrficos e de azimute). A empresa alegou que a nica empresa que confecciona esses marcos em fibra de vidro, em Braslia, atrasara na entrega.

    Na verdade, a resistncia da empresa aos uso dos marcos de fibra, uma novidade em termos das exigncias tcnicas nas demarcaes, aps quase dois anos de discusses entre a CTPPTAL e o GTZ, virara uma questo de fundo. Na primeira reunio com os Poyanawa, os representantes da empresa afirmaram que a Funai impusera o uso destes marcos, soluo que a Asserplan e outras empresas de topografia achavam pouco adequada s realidades das demarcaes na Amaznia. Disseram que a Asserplan ainda no trabalhara com esses marcos, mas que podia antever dificuldades para transport-los e assent-los no terreno. Informaram que a empresa tinha enviado ofcios ao DED questionando esta obrigao, sondando sobre a real necessidade de cumpri-la e propondo que os mesmos fossem fabricados no local com cimento. Apontei no terceiro produto no acreditar que as primeiras reunies com as comunidades sejam os locais mais adequados para as empresas exporem suas divergncias em relao a especificaes tcnicas constantes do edital, do manual de normas tcnicas e do contrato assinado para a execuo dos servios, muito menos de repassar informaes que contribuam para semear dvidas entre as lideranas e os chefes de famlia.

    As empresas afrontaram outra srie de obrigaes que consta da clusula Quarta (Das Obrigaes da Contratada) dos contratos assinados junto Presidncia da Funai. Como de praxe em todas as demarcaes de terras indgenas no Brasil, as empresas no contaram com qualquer "assessoramento" de antroplogo com experincia em questes indgenas (IV.1.9). A assessoria do antroplogo contratado pela empresa durante a demarcao tem sido obrigao totalmente pr-forma nos editais e nos contratos, ao ponto dela ter sido retirada no novo edital elaborado pela Funai, em setembro de 2000, para a demarcao de mais quatorze terras indgenas no mbito do PPTAL.

    Houve uma outra quebra das obrigaes das contratadas. A Asserplan e a Prtico no cientificaram, por escrito, ao DED ou fiscalizao tcnica da Funai, em 24 horas, "qualquer ocorrncia anormal ou incidentes que se verificarem no local dos servios, independentemente da comunicao verbal, que deve ser imediata" (IV.1.14). Quando imprevistos ocorreram, as empresas tardaram em fazer os primeiros contatos formais com a Funai. No caso da Asserplan, na demarcao da TI Poyanawa, isto se deu aps vrios contatos telefnicos. Quando o fizeram, ambas

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    empresas recorreram ao artifcio de emitir ofcios datados de um dia, mas enviados dias depois, quando as conseqncias tinham se agravado no mbito local. A DAF e o PPTAL, por sua vez, precisavam destes comunicados formais para fazerem qualquer tipo de avaliao e tomarem as devidas providncias.

    Deve ocorrer por parte do DED e da DAF, portanto, mais rigor na cobrana do registro escrito dos contatos, negociaes e propostas de ambas as partes, bem como intensificada a articulao com o PPTAL e a GTZ para uma mais clere tomada de decises sobre procedimentos necessrios, dentre os quais, eventuais sanes e punies, conforme discriminadas no corpo do contrato.

    Outra obrigao quebrada pelas empresas, como tambm de praxe em todas as demarcaes, esteve relacionada com a exigncia de que "todos os empregados e/ou prepostos seus [da empresa], para terem acesso Terra Indgena, sejam portadores de Atestados de Sade e de Vacinao ...." (IV.1.15, e no edital, 14.6). As empresas adotam como prtica, pr-forma, durante as primeiras reunies, dizer que isto acontecer e que os atestados sero devidamente apresentados s lideranas. Isto, contudo, nunca ocorre depois. Na TI Poyanawa, o prprio topgrafo da empresa, antes de entrar para a mata, passou quatro dias nas aldeia Ipiranga fazendo tratamento contra malria, que contrara em um servio anterior. Caso seja o desejo de que esta clusula venha a ser cumprida em demarcaes futuras, importante que a empresa apresente cpias destes atestados ao DED/DAF junto com a ata da primeira reunio realizada na aldeia.

    Outra srie de questes surge no plano das relaes estabelecidas pela empresa com os ndios durante as demarcaes. Acontecem em muitos casos desrespeitos dos tcnicos da empresa e de seus prepostos locais em relao ao conhecimento indgena sobre sua terra, s reivindicaes dos representantes legitimados pela comunidades, s decises tomadas pelas lideranas e s mobilizaes locais das equipes indgenas. Assim foi na primeira tentativa de demarcao da terra Poyanawa, quando a empresa tentou deslegitimar o saber nativo, "falseou informaes" e pressionou as lideranas e a diretoria da associao para "acabar o servio na marra", sem demonstrar qualquer compromisso com a integridade do territrio e o futuro do povo que ali mora. Assim tambm aconteceu, na primeira etapa da demarcao da TI Kaxinaw do Baixo Rio Jordo, como poder ser visto adiante.

    A segunda etapa de campo

    A segunda etapa de campo da consultoria, realizada entre 28 de junho e 26 de agosto, incluiu duas visitas sede da Funai em Braslia e uma AER-RBR, uma conversa com representantes da Asserplan na sede da empresa em Rio Branco, breves passagens pelas cidades de

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    Feij, Tarauac e Jordo, onde aconteceu a divulgao das demarcaes junto a lideranas e organizaes indgenas locais e contatos com os Chefes de Postos Indgenas, bem como reunies com as lideranas e chefes de famlia nas TIs Poyanawa, Kulina do Igarap do Pau, Kaxinaw do Seringal Curralinho, Kaxinaw da Praia do Carapan, Kampa do Igarap Primavera, Kaxinaw do Baixo Rio Jordo, Kaxinaw do Seringal Independncia e Kaxinaw do Rio Jordo. Das atividades originalmente previstas nesta etapa da consultoria, no foi realizada apenas a visita TI Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu, no Municpio de Marechal Taumaturgo. A avaliao dos resultados das demarcaes, a includos os trabalhos de engenharia feitos pela Asserplan e Prtico, o acompanhamento implementado pelas comunidades, as relaes travadas entre ndios e representantes das empresas nas situaes de demarcao, o gerenciamento pela AER-RBR e os Postos Indgenas dos recursos repassados pelo PPTAL e sua utilizao pelas lideranas e chefes de famlia, foi o principal objetivo da segunda etapa de campo da consultoria.

    Nesta viagem, tornei a desenvolver as principais atividades realizadas na primeira etapa de campo. Um exemplo disto foi um novo trabalho de ampla divulgao das demarcaes e das aes do PPTAL junto a organizaes e lideranas indgenas nos municpios de Tarauac, Jordo, Feij e Cruzeiro do Sul. Dentre as organizaes com cujos representantes conversei devem ser citadas: Organizao dos Povos Indgenas de Tarauac e Jordo (OPITARJ), Organizao dos Povos Indgenas de Tarauac (OPITAR), Organizao dos Povos Indgenas do Rio Envira (OPIRE), Associao Comunitria Shanenawa de Morada Nova, Associao Agro-Extrativista Poyanawa Baro e Ipiranga (AAPBI), Associao Ashaninka do Rio Amnia (APIWTXA), Associao dos Seringueiros Kaxinaw do Rio Jordo (ASKARJ), Associao dos Povos Indgenas Kaxinaw do Rio Humait (ASPIH), Associao dos Produtores e Criadores Kaxinaw da Praia do Carapan (ASPCKPC), Associao de Agricultores Katukina de Sete Estrelas, Rio Gregrio (AKSERG), Organizao de Agricultores e Extrativistas Yawanaw do Rio Gregrio (OAEYRG) e Associao das Produtoras de Artesanato das Mulheres Indgenas Kaxinaw de Tarauac e Jordo (APAMINKTAJ). Em Tarauac e Feij, conversei, ainda, com os coordenadores das Casas de Apoio Sade do ndio, implantadas neste ano atravs do convnio UNI, Fundao Nacional de Sade e Ministrio da Sade.

    No Municpio de Jordo, comuniquei do andamento das demarcaes a representantes da Associao dos Seringueiros e Agricultores da Reserva Extrativista do Alto Tarauac (ASAREAT) e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Outro importante momento de divulgao ocorreu no dia 9 de agosto, durante o Frum "Oramento Participativo-Jordo. Resultados 2000 e Propostas para 2001", organizado pela Secretaria de Planejamento e Instituto do Meio Ambiente, do governo estadual, e o Sebrae, no qual participei a convite da ASKARJ. O frum reuniu autoridades, polticos

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    e moradores dos seringais do municpio, alm de lideranas, professores, agentes de sade, agentes agroflorestais, artess, aposentados e chefes de famlia de trs terras Kaxinaw (Rio Jordo, Baixo Rio Jordo e Seringal Independncia).

    Assim como j fizera na primeira etapa da consultoria, procurei fazer interlocuo junto a diferentes instncias e atores que participavam do processo das demarcaes, procurando monitorar suas aes e contribuir para agilizar o cumprimento de suas vrias atribuies e responsabilidades.

    Ao longo da viagem, realizei vrios contatos com o Chefe do DED, Francisco Colombo, buscando notcias sobre algumas das aes previstas, de parte da Funai e das empresas, nas demarcaes. De Feij, liguei para saber da data prevista para a chegada do engenheiro agrimensor que faria a fiscalizao tcnica da TI Kulina do Igarap do Pau. De Tarauac, procurei informaes sobre datas provveis para a colocao dos marcos e a realizao das segundas reunies pela Asserplan. Colombo conversara com os responsveis da empresa, que tinham ficado de mandar as equipes a campo para colocar os marcos assim que Funai liberasse os recursos do pagamento de trs parcelas previstas no contrato. Todavia, no recebera ainda a programao desta etapa, conforme j prometido em diversas ocasies. A falta desta programao impedia agendar com preciso a ltima etapa de fiscalizao tcnica e a realizao das ltimas reunies com as comunidades. A Asserplan assumira o compromisso de mobilizar duas equipes para atuar nas quatro terras, o que acabou no acontecendo: apenas uma foi mobilizada. No telefone, tornei a discutir com Francisco Colombo incongruncias, que eu detectara em Braslia analisando documentos da Asserplan e do fiscal da Funai, sobre o resultado da demarcao da TI Kaxinaw do Baixo Rio Jordo. O fiscal no estivera pessoalmente nesta terra, onde seu servio se resumiu a um sobrevo. Nestes documentos, a empresa colocara que do Ponto P-6, situado na cabeceira do igarap Serrado, a picada fora levada at a cabeceira do igarap Batista. O mapa montado a partir dos dados trazidos pelo fiscal, todavia, indicava que esta picada fora do P-6 cabeceira do igarap Joo Ferro. Por contas destas divergncias, a prpria empresa solicitara uma reunio entre as comunidades das TIs Kaxinaw do Baixo Rio Jordo e Kaxinaw do Seringal Independncia para que a demarcao fosse discutida e o aceito do trabalho fosse lavrado em ata.

    Nesta etapa, as conversas e negociaes com a Asserplan estiveram focadas, portanto, na busca de alternativas para a concluso da demarcao da TI Kaxinaw do Baixo Rio Jordo conforme as reivindicaes expressas pelas lideranas durante a demarcao. Em atendimento solicitao da empresa, parti de Braslia incumbido pela DED e a CTPPTAL de realizar uma reunio entre as comunidades Kaxinaw do Baixo Rio Jordo e do Seringal Independncia. Antes de subir o rio Tarauac, por telefone, deixei avisado na sede da Asserplan a estimativa de quando

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    realizaria esta reunio com as comunidades, para permitir, caso desejado, que algum da empresa se fizesse presente.

    No retorno a Tarauac, aps conversar com o Chefe do DED, telefonei para a sede da Asserplan. Adiantei ao responsvel presente o teor do documento que resultara da reunio com os Kaxinaw, colocando que, para atender as reivindicaes de suas lideranas, seria necessrio programar a realizao da medio e demarcao do trecho entre as cabeceiras dos igaraps Joo Ferro e Batista, no efetuada na primeira etapa da demarcao, apesar dos pedidos do cacique Getlio, que pessoalmente comandava o acompanhamento. Sugeri a Colombo que se comunicasse com a Asserplan e firmasse a obrigao da empresa de concluir a medio e a demarcao desse trecho de picada. Colombo me imbuiu de fazer o primeiro contato com a empresa na minha passagem por Rio Branco. Caso seus representantes colocassem dificuldades, deveria notific-lo para que entrasse na negociao para assegurar o atendimento da reivindicao dos Kaxinaw. Informou, ainda, que, na semana seguinte, o fiscal da Funai iniciaria os trabalhos nas quatro demarcadas pela Asserplan no Vale do Juru, avaliando a etapa, naquele momento j em curso, de colocao dos marcos de fibra de vidro e o encerramento das atividades de campo da Asserplan.

    No dia 23 de agosto, na sede da Asserplan, conversei com o responsvel de campo durante as demarcaes, Luiz Takao Arashiro. Falei da conversa com Francisco Colombo, lemos junto a ata da reunio entre as comunidades Kaxinaw e, na frente do mapa, discutimos as alternativas para o prosseguimento dos trabalhos na TI Kaxinaw do Baixo Rio Jordo. Arashiro mostrou-se surpreso com a demanda dos Kaxinaw, mas garantiu que a empresa a atenderia durante a colocao dos marcos nessa terra indgena, que ainda no fora iniciada pela nica equipe de campo. Outra importante articulao nesta etapa da consultoria esteve direcionada para a agilizao dos trmites burocrticos, internos Funai, necessrios indenizao dos ocupantes no-ndios das TIs Kaxinaw da Praia do Carapan, Kampa do Igarap Primavera e Kaxinaw do Baixo Rio Jordo, as trs includas na programao do "Plano de Indenizao e Remoo de No ndios em Terras Indgenas - PPTAL" para o ano 2000, atividade que contava com recursos financeiros j disponveis para sua execuo. Em incio de abril, entregara a Jos Aparecido Donizete Briner, Chefe do Departamento de Estudos Fundirios cpias de trs abaixo-assinados dessas comunidades Kaxinaw e Ashaninka, nos quais lideranas e chefes de famlia exigiam que a Funai cumprisse os prazos estabelecidos no Plano para as indenizaes. Soubera, ento, que o DEF no enviara qualquer parecer para anlise e julgamento da boa f das benfeitorias para a Comisso de Sindicncia, portanto, ainda no deslanchara a primeira fase das dez necessrias ao deslancho dos processos de indenizao e remoo dos ocupantes dessas trs terras.

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    Na nova visita ao DEF, em final de junho, Briner informou-me que os pareceres das TIs Kaxinaw do Baixo Rio Jordo e Kampa do Igarap Primavera estavam prestes a serem enviados para julgamento pela Comisso, e, quando isto acontecesse, as aes seriam levadas a cabo logo a seguir por uma comisso pagadora formada por funcionrios da AER-RBR, atravs da descentralizao de recursos j disponveis.

    O parecer da TI Kaxinaw da Praia do Carapan, por sua vez, estava parado fazia algumas semanas. Sua elaborao estava sob responsabilidade do Chefe Substituto do Departamento de Patrimnio Indgena e Meio Ambiente, de Rogrio Eustquio Oliveira. A pedido do prprio Briner, fui conversar com Rogrio. Coloquei-o a par de recentes mobilizaes de polticos de Tarauac para tumultuar o processo de indenizao, iniciativas estas que tinham logrado envolver a Procuradoria da Repblica no Acre, a Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente e Populaes Indgenas, do Ministrio Pblico Estadual, a Promotoria de Justia no Municpio de Tarauac e o prprio governo estadual. Rogrio disse que recebera da AER-RBR cpias dos documentos das audincias pblicas j promovidas pela Promotoria. Reconheceu que ainda no iniciara a redao do parecer, pois estava muito atarefado, mas prometeu sua entrega Comisso at o final da semana seguinte. Visto que estaria em viagem, e no poderia ajud-lo neste trabalho, telefonei para a AER-RBR e coloquei-o em contato com o Administrador, Antnio Pereira Neto, que se prontificou a colaborar com dados que estivessem a seu alcance. Em contatos com a CTPPTAL durante a passagem pelas cidades de Tarauac e Feij, conversei com o Gerente de Atividades do Projeto, Lus Nogueira, procura de novidades sobre a aprovao dos pareceres pela Comisso de Sindicncia e a descentralizao dos recursos para as indenizaes nas terras indgenas do Baixo Jordo e Primavera. Luiz disse que os pareceres j tinham sido submetidos e aprovados, os recursos estavam disponveis e seu repasse dependia apenas de entendimentos finais entre o DEF e a AER-RBR, visto que esta ltima solicitara uma complementao nos recursos previstos no Plano para custear dirias e despesas de locomoo da comisso pagadora. Coloquei Francisco Edinaldo, da AER, a par destas conversas, solicitando que a repassasse Vnia Albano Lucena, coordenadora nomeada da comisso pagadora. Esta informao, soube depois, contribuiu, para a agilizao dos procedimentos da AER, apesar do incio da viagem para a indenizao ter acontecido somente em final de agosto, j aps o meu retorno da viagem de campo.

    Na cidade de Tarauac, junto com o cacique da TI Kaxinaw da Praia do Carapan, Jorge Lemes Ferreira, agendei, no dia 21 de julho, encontro com o Promotor Pblico local, Dr. Jos Ruy da Silveira Lino Filho. Mapiei ser ele irmo de Regina Lino, Superintendente do Incra no Acre

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    poca em que a AER-RBR encaminhara ofcio ao rgo pedindo providncias para o reassentamento dos ocupantes no ndios da TI Kaxinaw da Praia do Carapan.

    Na audincia com o Promotor, me apresentei como consultor externo do PPTAL e disse que gostaria de informaes a respeito das iniciativas tomadas pela Promotoria para discutir a situao e a indenizao dos ocupantes no ndios da TI Kaxinaw da Praia do Carapan. Percebi que o nobre Magistrado desconhecia o rito administrativo de regularizao de terras indgenas, assim como a histria das lutas das comunidades Kaxinaw e Ashaninka dos Municpios de Tarauac e Jordo, o reconhecimento local destas terras pela Funai e da tramitao que ocorrera at a demarcao. No tinha qualquer noo tampouco que estavam em curso tambm as demarcaes nas terras do Baixo Jordo e Primavera, e que os processos de indenizao dos ocupantes no ndios que ali moram estava previsto para o ms de agosto. Ficou surpreso ao saber que havia s 13 famlias de ocupantes nessas duas terras, situao bastante diferente da TI Kaxinaw da Praia do Carapan, onde 42 famlias seriam indenizadas.

    O promotor reconheceu as motivaes polticas que davam sentido s mobilizaes dos principais responsveis pela recente movimentao dos ocupantes da TI Kaxinaw da Praia do Carapan: o policial militar Cabo Orlando, o ex-Chefe da Unidade Fundiria Tarauac/Incra, Carlos de Alencar Filho (Carlo) e o vereador do PCdoB, Francisco das Chagas Batista, todos candidatos a vereador nas eleies municipais que aconteceriam em dois meses. Durante a conversa, sugeriu que as indenizaes terra fossem feitas somente aps as eleies. Apesar de reconhecer que a Funai e o servio pblico em geral nada tm a ver com a poltica partidria, afirmou que esta medida era de crucial importncia para evitar graves conflitos que poderiam surgir caso ambas questes continuassem misturadas na campanha poltica no Municpio de Tarauac.

    Informou que o objetivo das audincias pblicas e reunies que a Promotoria realizara em final de maio, comeo de junho, foi que os brancos tivessem possibilidades de negociar, colocar suas reivindicaes e envolver rgos competentes para encontrar alternativas para sua situao. Mobilizada por Chagas Batista, vereador do PCdoB, a primeira iniciativa fora da Procuradoria da Repblica e da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente e Populaes Indgenas (CDMAPI), do Ministrio Pblico Estadual, que haviam solicitado a participao da Promotoria local. Seu propsito foi, ento, o de evitar que de uma hora para outra a "Justia Federal" enviasse "ao de despejo", sem que tivesse sido devidamente discutida a delicada situao das 42 famlias de seringueiros e agricultores que ocupavam a terra indgena Kaxinaw.

    A respeito da "comisso de campo", que, sob orientao da Promotoria, realizara levantamentos das benfeitorias das famlias que hoje vivem na TI Kaxinaw da Praia do Carapan, estivessem elas relacionadas, ou no, nos levantamentos feitos pelo grupo tcnico Funai-Incra em

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    1994, disse que suas atividades estiveram focadas principalmente na identificao dos seringais para os quais os ocupantes gostariam de se mudar aps receberem suas indenizaes. Os levantamentos feitos por essa comisso, uma vez sistematizados, estariam sendo encaminhados ao governo estadual, Incra, Funai, CDMAPI e Procuradoria da Repblica. As cpias desses levantamentos, informou, j estavam sendo providenciadas pelo presidente da Cmara dos Vereadores de Tarauac.

    O Promotor disse que tivera acesso ao primeiro volume do relatrio de identificao da TI Kaxinaw da Praia do Carapan. A seu pedido, o Chefe de Posto Substituto do PIN Tarauac, Francisco das Chagas da Silva Botosa, o deixara na Promotoria para anlise. O documento foi tambm encaminhado para ser copiado, mas sumiu e ningum sabia, ou queria dizer, onde ele estava, mesmo quando o Promotor foi questionado pelo Chefe de Posto titular, que j retornara de frias.

    Quando mostrei-lhe o Plano de Indenizao e Remoo elaborado pelo DEF, o Promotor ficou positivamente surpreso ao saber que as indenizaes dos ocupantes da TI Kaxinaw da Praia do Carapan alcanariam um montante de cerca de R$ 133 mil, bastante diferente dos R$ 41 mil que seriam pagos caso os valores das indenizaes, previstos no levantamento fundirio de 1994, no tivessem tido sido atualizados em maio de 1998.

    Comentei sobre a jurisprudncia j aberta no Judicirio de Tarauac quando o Procurador da Repblica Luiz Francisco Fernandes de Souza, por ocasio do interdito proibitrio ajuizado em 1994 pelos proprietrios do seringal Santa Luzia, parte da terra indgena da Praia do Carapan, deliberara que questes relativas aos ndios no eram da alada da justia municipal e recomendara que o processo fosse aforado para a Justia Federal. Ao encerrar a conversa, deixei com o Promotor cpias do Decreto 1.775/96 e da Portaria 14/96, um folheto do PPTAL e os mapas e memoriais descritivos das trs terras indgenas em demarcao. Recomendei, ainda, leitura mais atenta de ambos volumes do Relatrio de Identificao e Delimitao da TI Kaxinaw da Praia do Carapan, que eu redigira e entregara Funai em junho de 1995. No PIN Tarauac, procurei me informar com o Chefe de Posto, Adauto Peres, e com seu Substituto, Botosa, sobre a participao da Funai local ao longo deste imbroglio, nas audincias pblicas e na comisso de campo. Soube, ento, que as audincias tinham acontecido durante as frias de Adauto, que reconheceu o despreparo de Botosa, apesar das orientaes repassadas pelo Administrador Antnio Pereira Neto.

    Botosa informou que participara da comisso de campo, que estivera composta por Joo do Ubirat (Secretaria de Produo/Instituto de Meio Ambiente do Acre), Walderi (tcnico do Incra de Cruzeiro do Sul), de Brito (Prefeitura Municipal), Sidenir (Presidente do STR Tarauac e candidato

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    a vereador pelo PCdoB), um barqueiro e uma cozinheira. Afirmou que a formao da comisso fora iniciativa da Promotoria, atribuindo-a ao "tempo da poltica" e s orquestraes coordenadas por Chagas Batista, Carlo e Cabo Orlando, candidatos interessados no potencial eleitoral dos posseiros.

    Segundo Botosa, a equipe fez o levantamento das benfeitorias da maioria dos moradores brancos da terras indgena, em especial, as pastagens, fruteiras, criaes domsticas e construes. No novo levantamento foi constatado que, das 42 famlias cadastradas nos "Laudos de Vistoria e Avaliao de Benfeitorias" do levantamento feito pela Funai-Incra em 1994, apenas 27 ainda se encontravam na terra indgena. Foram levantadas benfeitorias de outras 17 que para ali haviam se mudado aps a identificao. Dessas 44 famlias, apenas onze declararam no saber para onde iriam aps a indenizao. A maioria gostaria de ir para os seringais Amrica, Olinda e Santa Luzia. Boa parte disse que cogitava ir para a cidade de Tarauac.

    De acordo com Botosa, a comisso de campo no encostou na casa de nenhuma liderana Kaxinaw para dar qualquer explicao sobre os trabalhos em curso. Nas conversas com os brancos, no fora criada qualquer expectativa que os novos valores seriam os pagos, de que seriam indenizadas as benfeitorias feitas aps 1994 ou que aquelas famlias que no foram cadastradas no primeiro levantamento tambm receberiam. Foi dito aos posseiros que os resultados deste levantamento seriam sistematizados e enviados ao Governador, ao Promotor e a Funai, que ficaram de ajudar para encontrar solues para equacionar o problema e permitir que se mudassem para os seringais reivindicados. Depois de sua chegada em Tarauac, aps suas frias, o Chefe de Posto Adauto foi convocado a participar de mais uma reunio promovida pela Promotoria. Ali, afirmou que todos os procedimentos que estavam sendo adotados pela Funai estavam estritamente de acordo com a legislao pertinente, que cabia ao Incra encontrar meios e locais para o reassentamento dos ocupantes e que Funai no poderia negociar em cima de propostas levantadas de forma casustica e sem amparo legal, como as da anulao da demarcao e da realizao de um novo levantamento fundirio.

    Durante minha viagem pelos rios Tarauac e Jordo, conversei com cerca de vinte chefes de famlias a serem indenizadas nas trs terras indgenas, colocando-os a par da etapa que ainda faltava para a concluso das demarcaes e dos trmites burocrticos em curso para a indenizao e comunicando, ainda, as datas at ento previstas para a chegada da equipe da Funai que faria este pagamento.

    No retorno a Tarauac, em 21 de agosto, soube do PPTAL que os recursos adicionais solicitados pela AER j haviam sido providenciados, e que a comisso pagadora procedia com os

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    preparativos finais viajar a Tarauac e iniciar a indenizao dos ocupantes das TIs Kaxinaw do Baixo Rio Jordo e Kampa do Igarap Primavera. Soube ainda que o parecer da TI Kaxinaw da Praia do Carapan ainda no fora elaborado e que os recursos para a indenizao nesta terra j estavam disposio do Projeto para serem descentralizados aps seu julgamento pela Comisso de Sindicncia.

    Encontrei o Chefe de Posto Adauto no Banco do Brasil, tentando abrir uma conta especfica para receber o suprimento de fundos, neste caso, para este primeiro trabalhos de indenizao Vinha tentando fazer esta operao desde a semana anterior, mas encontrara um srie de dificuldades. Colocara a gerncia do banco para conversar com a AER, o que tampouco resolvera. Parecia-lhe que finalmente tudo ficara encaminhado e a conta seria aberta. A equipe, que ele comporia com dois junto funcionrios da AER e dois agentes da Polcia Federal, tinha chegada prevista para dia 20, o que acabou no ocorrendo. Fora alterada a programao inicial, de ir primeiro Primavera e depois Baixo Rio Jordo. A ordem fora alterada, em funo da urgncia de uma diligncia que seria feita na sede do Municpio de Jordo, para onde a equipe seguiria primeiro, de avio, para apurar a denncia da morte e castrao de um ndio isolado na TI Alto Tarauac. De tarde, fui ao Posto. Dei recomendaes a Adauto para o pagamento das indenizaes, de forma que esta etapa do processo contribusse para legitimar as lideranas e as famlias Kaxinaw e Ashaninka. Falei da importncia do acompanhamento das lideranas nas negociaes e na costura dos acordos, algo que o Administrador Pereira Neto j colocara como pr-requisito para este trabalho. Em cima da lista dos nomes e das colocaes dos ocupantes que constava nos levantamentos fundirios de 1994, detalhei, por escrito, a atual localizao de cada famlia de ocupantes e enumerei temas e conflitos que deveriam ser levantados em cada local (caadas, tiradas das criaes, no mais plantar roados novos nas terras indgenas) e os moradores das vizinhanas das terras que deveriam ser notificados sobre invases e proibies no uso de recursos naturais nas terras indgenas. Informei, ainda, com base no que escutara na sede do Municpio de Jordo, os nomes dos principais suspeitos de terem matado o ndio isolado e de testemunhas a serem ouvidas durante a diligncia. Em fins de junho, no conseguira parar em Rio Branco para conversar com o Administrador e outros funcionrios da AER, pois seguira direto para a TI Poyanawa, onde estava marcada a festa de comemorao do encerramento da segunda tentativa, desta vez bem sucedida, da demarcao. No retorno, a 23 de agosto, fui sede da AER, onde fiz demorada reunio com Antnio Pereira Neto e Vnia Albano Lucena, nomeada coordenadora da comisso pagadora. Fui acompanhado de Si Kaxinaw, presidente da ASKARJ e candidato a prefeito no Municpio de Jordo. Conversamos mais demoradamente sobre o suposto assassinato do ndio isolado e a diligncia que a Funai e a PF

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    estavam prestes a realizar. Falei das denncias, tornei a relacionar os nomes dos suspeitos e das testemunhas chaves. Si aproveitou para alertar sobre as conseqncias, positivas e negativas, que a diligncia poderia trazer na campanha e na eleio no municpio.

    Junto com Vnia, repeti o trabalho que fizera com Adauto antes e depois da minha viagem pelo rio Tarauac. Recebi documentos relativos indenizao nestas duas terras: o novo modelo do recibo de quitao e a lista atualizada dos valores a serem pagos a cada famlia de ocupantes. Depois, em 27 de setembro, conversei por telefone com Vnia sobre a diligncia no Jordo e TI Alto Tarauac, bem como o pagamento das indenizaes nas terras Kaxinaw e Ashaninka. E enviei lista semelhante feita para as outras duas terras, agora para a TI Kaxinaw da Praia do Carapan. (Ver anexos).

    No meu retorno por Braslia, em 25 de agosto, na sede da Funai, tornei ao DEPIMA para conversar com Rogrio Eustquio Oliveira sobre a situao que constatara durante minha viagem em Tarauac e na TI Kaxinaw da Praia do Carapan e me informar se j redigira e encaminhara o parecer Comisso de Sindicncia. Por incrvel que no possa parecer, aps cinco meses, o parecer ainda no fora elaborado. Ouvi a mesma justificativa da sobrecarga de trabalho e de que o parecer estaria pronto no final daquela semana, para ser apreciado na prxima reunio marcada da Comisso.

    Apesar da total decepo com a postura deste funcionrio, que evidenciou seu total descompromisso com a situao dos Kaxinaw e dos ocupantes no ndios, coloquei-me disposio para ajud-lo no que fosse possvel. Aps vrios contatos telefnicos, repletos de cobranas da minha parte, e o envio de trechos do relatrio de identificao que falavam sobre a histria da ocupao da regio e a situao dos ocupantes no ndios em 1994, recebi, atravs do correio eletrnico, em 1 de setembro, verso preliminar do parecer. Fiz vrios comentrios a esta verso, onde apontei e questionei brechas que poderiam resultar em reveses no andamento desejado do processo. Conversei tambm por telefone com o Chefe do DED, Briner, sugerindo o acompanhamento na concluso do relatrio, devido a seu teor dbio, e seu pronto envio para anlise pela Comisso.

    Reunies nas aldeias

    Nesta segunda etapa da consultoria, as visitas s trs terras indgenas do Vale do Tarauac tiveram carter distinto das realizadas na primeira viagem de campo. Ao invs de promover reunies nicas, juntando as lideranas e chefes de famlia de todas as aldeias, preferi promover reunies localizadas nas diferentes aldeias da terra indgena, de maneira a conversar com as lideranas e chefes de famlia em seus locais de moradia. Diferentemente, na TI Kulina do Igarap

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    do Pau foi realizada uma reunio geral com as famlias de todas as aldeias, precedida por convites e conversas de mobilizao.

    Nas trs terras indgenas do Bloco I, realizei visitas e reunies por separado nas principais aldeias, juntado as famlias que moram ali e nas redondezas mais imediatas. Avaliei esta estratgia como sendo a mais adequada, ao invs de promover apenas uma grande reunio juntando a maior quantidade possvel de lideranas e chefes de famlia em uma nica aldeia central.

    Durante minha passagem, em final de julho e agosto, todas as famlias estavam intensamente dedicadas s atividades agrcolas. Em 2000, o vero custou muito a chegar, e s vezes ainda teimava em chover. Este percalo climtico causou grandes atrasos no incio das atividades de broca e derrubada para o plantio dos novos roados de terra firme. A maior parte das famlias corria para sanar este atraso, derrubando o mais breve possvel para dispor de tempo suficiente para queimar e encoivarar seus roados antes das primeiras chuvas do novo inverno. Adjuntos estavam sendo organizados quase que diariamente, mobilizando famlias e vizinhos das diferentes casas de cada aldeia. Neste contexto, a realizao de reunies grandes e nicas, que pressupe uma mobilizao que leva em mdia trs a quatro dias, poderia causar novos atrasos em trabalhos de crucial importncia para as estratgicas econmicas e sociais das famlias ao longo de todo o ano vindouro.

    Terra Indgena Dia Local Pessoas *

    24/7 Aldeia Morada Nova 13

    25/7 Aldeia Morada Nova 15

    25/7 Aldeia gua Viva 14 Kaxinaw da 26/7 Aldeia gua Viva 9

    Praia do Carapan 27/7 Aldeia Goinia 18

    28/7 Aldeia Goinia 8

    29/7 Aldeia Praia do Carapan 22

    29/7 Aldeia Mucuripe 3

    30/7 Aldeia Mucuripe 10

    1/8 Aldeia Recanto 4 Kampa do 2/8 Aldeia Diviso 2

    Igarap Primavera 2/8 Aldeia Torre da Lua 2

    4/8 Aldeia Recanto 8 Sede do Municpio de Jordo 10/8 Kupixwa Kaxinaw 60**

    11/8 Aldeia Nova Empresa 5 Kaxinaw do 12/8 Aldeia Cachoeira 4

    Baixo Rio Jordo 12/8 Aldeia Nova Extrema 5

    13/8 Aldeia So Joaquim 6 Kaxinaw do 15/8 Aldeia Independncia 12

    Seringal Independncia 16/6 Aldeia Altamira 15 * Chefes de famlia, em alguns casos, o homem e a mulher, cabeas de uma mesma famlia

    ** Lideranas, professores bilnges, agentes de sade, agentes agroflorestais e chefes de famlia das TIs Kaxinaw do Baixo Rio Jordo, Kaxinaw do Seringal Independncia e Kaxinaw do Rio Jordo.

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    De acordo com os cronogramas inicialmente estipulados nos contratos assinados entre a Asserplan e a Presidncia da Funai, as demarcaes das trs terras indgenas do Vale do Tarauac j deveriam ter sido concludas. A avaliao destas demarcaes e do acompanhamento indgena deveriam ter sido o foco das minhas atividades nas aldeias neste segunda viagem. Contudo, visto que a Asserplan no assentara qualquer marco de fibra de vidro e as reunies finais com as comunidades ainda no tinham acontecido, as visitas nas trs terras indgenas estiveram tambm direcionadas para uma nova etapa de preparao das comunidades. Ao invs de proceder apenas com a avaliao das diferentes modalidades de acompanhamento implementadas pelas comunidades na "primeira etapa" das demarcaes, aproveitei as reunies e discusses para incentivar o acompanhamento da "segunda etapa", quando estaria ocorrendo a colocao dos marcos de fibra de vidro, a fiscalizao tcnica da Funai e a ltima reunio entre cada comunidade, a empresa e a Funai.

    Nesta direo, comentei com as lideranas que o edital contemplava a presena dos representantes indgenas para tirarem fotos e assinarem a documentao durante os atos de cravao de marcos. Com base na informao que recebera do DED, comuniquei que esta prxima etapa esta inicialmente prevista para o final do ms de agosto. Discutimos como poderia acontecer este novo acompanhamento, num momento em que as comunidades estavam todas dedicadas ao plantio de roados, diferente do que acontecera na "primeira etapa" das demarcaes, que coincidira com o intervalo nos trabalhos agrcolas. Falei s lideranas que, diferente de situaes havidas na primeira etapa das demarcaes, quando certos servios braais realizados por chefes de famlia Kaxinaw ficaram sem remunerao pela empresa, nesta nova etapa, qualquer servio, de carregar carga e marcos, deveria ser bem combinado e pago pela empresa, pois esta j deveria ter cumprido essas atividades como parte de suas obrigaes contratuais.

    Para orientar minhas conversas, elaborei uma pauta comum a todas as reunies nas vrias aldeias, com os seguintes itens: 1) demarcao j feita pela empresa; 2) acompanhamento indgena; 3) relao empresa-comunidade (servios dos ndios contratados, pagamentos, respeito a acordos firmados nas primeiras reunies); 4) acesso e aplicao dos recursos repassados pelo PPTAL; 4) primeira fiscalizao tcnica da Funai (como aconteceu e participao dos ndios); 5) preparao do acompanhamento na segunda etapa da demarcao: colocao de marcos, fiscalizao tcnica da Funai e reunio final com a empresa; 6) idias preliminares que poderiam fundamentar futuros planos de vigilncia nas terras demarcadas; 7) as reaes dos ocupantes no-ndios demarcao, problemas e conflitos ainda pendentes; 8) trmites burocrticos em curso para a indenizao.

    As reflexes que apresentarei a seguir sobre estes processos so frutos de conversas mantidas com as lideranas e chefes de famlia Kaxinaw, Ashaninka e Madij durante a visita a

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    quatro terras indgenas, funcionrios da Funai em Rio Branco e Braslia, tcnicos da CTPPTAL e GTZ e representantes da Asserplan e Prtico, da consulta a documentos gerados pelos ndios, a Funai e as empresas, bem como da anlise de parte da prestao de contas apresentada pela AER-RBR ao PPTAL da aplicao dos recursos repassados para apoiar o acompanhamento indgena nas demarcaes. Para nortear a apresentao destes pontos, pretendo ilustrar cada etapa do processo demarcatrio e das vrias etapas previstas para o prosseguimento do processo administrativo de regularizao destas terras indgenas, de maneira a tentar ajudar a monitoria do PPTAL a vislumbrar pontos focais que devem ser acompanhados e aprimorados em novos processo de demarcao no mbito do Projeto.

    As empresas

    Propostas tcnico financeiras: edital e fundamentos tcnicos

    A ttulo de introduo, nunca demais relembrar que o DED/DAF cometeu erros graves quando da licitao de duas das seis terras a serem demarcadas no Estado do Acre, a saber: Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu e Kaxinaw do Baixo Rio Jordo. Estes erros, e as providncias que tomei para tentar encaminhar sua resoluo, foram esmiuados no terceiro produto da consultoria, na seo "Erros nos servios licitados", s pginas 17-27, e no cabe, aqui, retom-los em sua totalidade. Voltarei a alguns destes pontos, todavia, para contextualizar as iniciativas que, junto com as lideranas, tomei nesta etapa, principalmente em relao TI Kaxinaw do Baixo Rio Jordo. Apesar de declaradas vencedoras, aprovadas pelo critrio do menor preo global, as propostas apresentadas pela Asserplan e a Prtico no mbito do Edital de Tomada de Preos FUNAI/CEL/N01/99 mereceram reparos tcnicos em parecer elaborado pela assessora da GTZ, Dra. Carola Kasburg, com data de 6 de dezembro de 1999, em resposta a despacho da CTPPTAL que solicitava seu encaminhamento para a obteno do no object pelos doadores.

    Parece legtimo afirmar que no constituem qualquer tipo de exceo os recentes casos das propostas da Asserplan e da Prtico, que no atendiam exigncias tcnicas bsicas explicitadas no "Manual de Normas Tcnicas para Demarcao de Terras Indgenas", anexo ao edital aberto para a contratao dos servios topogrficos e ao contrato assinado junto Presidncia da Funai. S para ficar no caso do Edital de Tomada de Preos N 01, o parecer elaborado pela Dra. Carola Kasburg aponta deficincias nas propostas de todas as quatro empresas contratadas, abrangendo seis dos sete blocos licitados e 13 das 14 terras indgenas a serem demarcadas.

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    Em relao Asserplan, o parecer constata que a proposta da empresa para a demarcao das quatro terras do Bloco I no discriminara, no Anexo 9 de sua proposta financeira, pr-projeto para a medio (poligonao) dos limites em linha seca, aqueles que seguiriam os divisores naturais de guas, no qual estariam pr-definidos vrtices poligonais que estabelecem esses divisores nas terras. O parecer considera este pr-projeto imprescindvel para a execuo das demarcaes nos prazos previstos e da fiscalizao tcnica da Funai. Estes condicionamentos foram reforados a 9 de dezembro em memorando encaminhado DAF pela CTPPTAL. A 20 de dezembro, a Asserplan, atravs do Ofcio N 119-AS/99, encaminhou ao DED croqui para a medio (poligonao) dos limites em linhas secas que seguem divisores naturais de gua nestas quatro terras. Este procedimento foi considerado suficiente para a assinatura do contrato, apesar de ainda conter erros grosseiros no que dizia respeito s TIs Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu e Kaxinaw do Baixo Rio Jordo. A proposta da Prtico de 14 de outubro de 1999, data prevista para a abertura das propostas do edital. O parecer da GTZ relaciona, neste caso, a necessidade da empresa apresentar as seguintes informaes complementares para adequar a proposta s exigncias requeridas no Anexo 9: "Melhor base cartogrfica (existe base na escala 1:100.000)", "Pontos de base do SGB existentes na regio"; "Pontos de base do SGB a serem utilizados"; e "Mtodo utilizado para transporte de coordenadas, incluindo plano de trabalho detalhado e croqui demonstrativo". Mesmo a olhos leigos, parecem dados essenciais a qualquer proposta de demarcao e consecuo dos trabalhos tcnicos necessrios em campo e em gabinete. As deficincias na proposta da Prtico tiveram desdobramentos administrativos mais demorados, que marcaram todo o incio da demarcao da TI Kulina do Igarap do Pau. Quatro meses e meio foram gastos desde o primeiro contato da DAF com a Prtico at o envio da documentao pela empresa solicitando o pagamento da primeira parcela dos recursos do contrato. Este perodo compreende, portanto, a tambm demorada etapa de "mobilizao da empresa" para a primeira reunio com a comunidade e o efetivo incio da demarcao. Vale a pena recordar que a Ordem de Servio N 012 de 17 de maro, e foi emitida j cinco seis meses aps a abertura das propostas do edital. Esta ordem, por sua vez, estabelecera prazo de 80 dias para a concluso do processo demarcatrio nesta terra indgena, incluindo a etapa da entrega das peas tcnicas DAF.

    A compreenso deste episdio, atravs do mapeamento e da leitura da correspondncia trocada entre a DAF e a Prtico, til para ilustrar como vi nesta consultoria o desenrolar de certos contatos institucionais entre o DED, a DAF e ambas as empresas, num ponto focal do fluxo de dados e documentos, que merece ser aprimorado para garantir mais objetividade e agilidade na

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    tomada de decises em futuros processos de demarcao no mbito do PPTAL, e fora dele, em demarcaes a serem realizadas em outras regies do pas.

    Documento Data De Para Assunto e observaes Fax 021 8/12/99 Chefe do DED Diretor da

    Prtico Encaminha parecer da GTZ. Chefe do DED d OK! do recebimento pela Prtico em 15/12

    23/12/99 Prtico Chefe da DED Encaminha informaes solicitadas Of. 033/DAF 11/01/00 Diretor da

    DAF Diretor da Prtico

    Anlise leva DAF a concluir que metodologia para rastreamento de satlites ainda no atende Anexo 2 do Edital ("Manual de Normas Tcnicas")

    Fax 001/2000 17/11/00 Diretor da Prtico

    Diretor da DAF Resposta ao Ofcio 033, com novas informaes, e comentrio que a demarcao ser feita de acordo com o Manual

    Fax 21/01/00 Diretor da DAF

    Diretor da Prtico

    Verifica que no foram atendidas exigncias do Ofcio n 033. Solicita, no prazo de 5 dias, envio de cpia das cartas com localizao dos marcos do SGB a serem usados na demarcao.

    Fax 002/2000 22/01/00 Diretor da Prtico

    Diretor da DAF Informa nmero das cartas e que originais seguem via sedex.

    Fax 31/01/00 Chefe do DED Diretor da Prtico

    Solicita correo na identificao do SAT no seringal Canad e complementao no mapa, com croqui detalhado das triangulaes a serem executadas

    Fax 03/2000 08/02/00 Diretor da Prtico

    DAF Errata: Localizao do SAT no Seringal Canad

    Fax 09/02/00 Diretor da Prtico

    DAF Informa que segue sedex com cartas para Projeto do Caminhamento da Determinao de Pontos Geodsicos (enviado de Fortaleza, no Cear)

    Ofcio 221/DAF 16/02/00 Diretor da DAF

    Diretor da Prtico

    Em decorrncia do fim do processo licitatrio para demarcao, encaminha 3 vias do Contrato N 12/ 2000

    Memo 041/DED 29/2/00 Chefe do DED Coordenadoria Financeira

    Encaminha Seguro Garantia prestado pela Prtico. Leitura atrs do documento, permite ver tramitao na Coordenadoria at 28/3, Quando retorna ao DED, com informao de que o CGC da empresa no Seguro Garantia difere daquele na Licitao. Devolvido empresa em 14/3. Em 28/3, DED informa recebimento Coordenadoria Financeira e pede prosseguimento.

    Memo 044/DED 02/03/00 Chefe do DED Chefe de Coordenadoria de Contabilidade

    Encaminha 3 vias do contrato, assinado com data de 1 de maro, numerao e publicao do extrato no DOU. (Publicao no DOU em 15 de maro)

    Ordem de Servio 012/ DAF/2000

    17/03/00 Diretor da DAF

    Autoriza incio da demarcao, que comear at o 10 dia aps a assinatura da Ordem e concluda em 80 dias corridos.

    Of. 320/DAF/ 2000

    s/d Diretor da DAF

    Diretor da Prtico

    Encaminha Contrato N 12/2000 e Ordem de Servio n 12/DAF/2000

    Fax 17/3/ 00 Chefe do DED Diretor da Prtico

    Encaminha cpia da Ordem de Servio e comunica que original e cpia do contrato Segue por correio.

    Of. 509/DAF/ 2000

    09/05/00 Diretor da DAF

    Diretor da Prtico

    Comunica a aplicao, a partir de cinco dias, da primeira penalidade prevista no Contrato, visto que DAF no recebera qualquer informao sobre a mobilizao e incio da demarcao, que deveria Ter acontecido at 28 de fevereiro

    Fax 09/05/00 Administrador AER/MAO

    Diretor da DAF Devolve Ofcio n 509/DAF, com assinatura de recebimento pelo Diretor da Prtico

    Of. 545/DAF/ 2000

    16/05/00 Diretor da DAF

    Diretor da Prtico

    Dado nenhuma resposta ao Of. 509, informa que Prtico est sob "Advertncia". Aps cinco dias teis da data de recebimento deste, ser aplicada a Segunda penalidade prevista no Contrato.

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    Documento Data De Para Assunto e observaes Fax 020/2000 11/05/00 Diretor da

    Prtico Diretor da DAF Recebido pela DED em 17/05. Informa sobre atraso

    na mobilizao, pela impossibilidade de acesso, tendo em vista o tamanho dos marcos de fibra e a difcil confeco, no sendo possvel faz-los no local da obra (15 dias para a confeco dos marcos e aprovao pela DAF. Deslocamento fluvial: Manaus-Eirunep-10 dias, Eirunep-Envira-5 dias, Envira-Feij-5 dias, Tempo de espera nas cidades-10 dias, chegada em Feij com equipe e marcos, aguardo de fiscal de Rio Branco-5 dias, Deslocamento para a TI em 11/5, com previso de 4 dias de viagem). As estradas do Acre no do acesso nesta poca.

    Fax 021/2000 18/05/00 Diretor da Prtico

    Diretor da DAF Informa sada da equipe da empresa para a TI a 11 de maio. Dia 2, tinham recebido comunicado da CTPPTAL para que informasse AER-RBR quando isto aconteceria. Atrs do documento, em comentrio trocado entre Chefe do DED e Diretor da DAF, l-se: "Aps anlise da argumentao apresentada pela empresa Prtico, informamos que este Departamento consideras sem fundamentos os motivos alegados para o atraso no incio da demarcao. Diante, disto, estamos encaminhando uma minuta abrindo prazo para defesa da empresa, com vistas a um posterior julgamento da necessidade ou no de aplicarmos penalidades referida empresa".

    Of. 572/DAF/ 2000

    22/05/00 Diretor da DAF

    Diretor da Prtico

    Reportando-se a Ofcios anteriores, comunica que argumentao no foi aceita pela Funai, haja visto que no Contrato, foi declarado que a empresa "tomou conhecimento da natureza e condies da regio". Abre prazo de 5 dias desde recebimento do ofcio para apresentao de defesa escrita que justifique atraso no incio da obra. No acolhida pela Funai dos termos apresentados na defesa ensejar a aplicao de penalidades de "Advertncia" e Multa, conforme explicitadas no Contrato.

    Memo 069 DFU/AER/ MAO

    22/05/00 Chefe DFU/ AER/MAO

    Diretor da DAF Encaminha Of. 509/DAF/2000, de 9 de maio, e Ofcio 545/DAF, de 16 de maio, com assinatura de recebimento do Diretor da Prtico, em 18/5.

    Fax 022/2000 24/05/00 Diretor da Prtico

    Diretor da DAF Alega que demora no incio da obra se deve a condies climticas diferentes na tomada de preos e na execuo do servio, fazendo referncia ao contrato: "Supervenincia de fato excepcional ou imprevisvel, estranho vontade das partes". poca da referida licitao seria a apropriada para a demarcao. Marcos de fibra seriam fabricados em Rio Branco e levados pela estrada a Feij. Supervenincia configurada pela falta de acesso rodovirio at a cidade de Feij, o que seria normal poca da licitao. Solicita reviso das decises contidas nos Ofcios da DAF, acatando as justificativas da empresa. Solicita, ainda, prorrogao dos prazos de incio e concluso do Contrato.

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    Documento Data De Para Assunto e observaes Of. 030/2000 29/05/00 Diretor da

    Prtico Diretor da DAF Solicita autorizao para efetuar o pagamento da

    primeira parcela referente a mobilizao, da demarcao da rea Indgena Kulina do Igarap do Pau. (Em anexo: Fatura/recibo, Nota fiscal de n 00356, Ata da abertura dos trabalhos ou Ata da Reunio Inicial, de 16 de maio, e Cpia da abertura do Dirio de Obra).

    Fax 023/2000 05/06/00 Diretor da Prtico

    Diretor da DAF Encaminha a Ata de Abertura e o Termo de Abertura do incio dos trabalhos da TI Kulina.

    possvel afirmar que, aps a declarao de sua proposta fsico-financeira como vencedora, abre-se amplo campo de negociaes entre a empresa e a DAF. No julgamento da proposta, o critrio do menor preo global aparenta ser o nico pr-requisito a ser pesado no julgamento da Comisso Especial de Licitao, tendo preponderncia sobre os aspectos tcnicos da proposta. O atendimento das exigncias tcnicas contidas no edital e seus anexos, outra obrigao que deveria ser cumprida para a proposta ser declarada vencedora, s vai ser adequadamente julgado e efetivamente logrado mediante seguidas negociaes posteriores com a empresa. Depois da proposta ser declarada vencedora, parece, algumas das exigncias contidas nos anexos do edital, e depois acordadas em contrato, passam a ser relativizadas e flexibilizadas pelas empresas, nas negociaes e nas atividades em campo, sem comunicao prvia Funai, que tem de "correr atrs", e at ameaar as empresas com punies, para v-las cumpridas.

    Em certos momentos, d a impresso da atualizao pela DAF de elementos subjetivos ao julgar, desde o incio, a disposio da empresa de atender s exigncias tcnicas da proposta a ser implementada em campo, bem como ao decidir que tipo de aes e penalidades deve tomar durante o processo para garantir seu cumprimento. Cito um exemplo para ilustrar esta afirmao: em fins de janeiro, dois meses e meio aps a abertura do edital, portanto, a DAF ainda mantinha entendimentos com a Prtico, pouco definidos quanto aos resultados. poca, a demora na apresentao dos esclarecimentos inicialmente solicitados pela GTZ a 6 de dezembro era interpretada pela chefia do DED como possvel indcio de que a empresa no estaria disposta a executar a demarcao. Este acontecimento, segundo Francisco Colombo, tornava incerta a assinatura do contrato com a Prtico, a emisso da ordem de servio e o incio imediato da demarcao, e colocava como alternativa a realizao da obra pela empresa que entregara a proposta com segundo menor preo global. O ritmo extremamente lento da comunicao digno de nota, na maior parte das vezes por parte da empresa, mas tambm por parte da DAF. Em vrios momentos da negociao com a Prtico, por outro lado, a comunicao da DAF com a empresa se consubstancia de forma triangular, com a intermediao da AER de Manaus, dado que os prazos para a apresentao de respostas, e eventuais punies, passam a contar a partir do momento em que a empresa assina

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    dando cincia da comunicao. Esta dinmica acaba por tornar lentas certas decises necessrias. No sei at que ponto esta triangulao indispensvel, principalmente quando o fax instrumento legtimo no intercmbio de informaes, conforme pode ser visto ao longo das negociaes. No episdio com a Prtico, fica a dvida se a DAF realmente dispe de qualquer instrumento de punio da empresa antes da assinatura do contrato, ou se o tem e no quer us-lo, mesmo quando a demora resulta em atrasos no incio e na concluso da demarcao, bem como em prejuzos nas metas estabelecidas no Plano Operativo Anual do PPTAL e nos compromissos estabelecidos junto aos ndios e os doadores. Apesar de ter aventado a possibilidade de punir a Prtico, no tenho elementos para afirmar se a DAF acabou, ou no, agindo desta forma, apesar das fragilidades dos argumentos apresentados pela empresa para justificar o atraso na mobilizao, na realizao da primeira reunio e no incio dos trabalhos topogrficos em campo. No h justificativa, contudo, quanto falta de comunicao para explicar este fato com antecedncia. O contrato estipula que qualquer inconveniente deva ser comunicado a Funai, por escrito, no prazo de 24 horas. Assim como a Asserplan, a Prtico atrasou a mobilizao, no cumpriu os prazos do incio do trabalho e no comunicou as "ocorrncias anormais" a tempo, mas foi extremamente gil no envio DAF dos documentos necessrios cobrana da primeira parcela de seu pagamento, exatamente aquela relativa mobilizao. Tanto a Asserplan como a Prtico cometeram a mesma irregularidade ao extrapolar, em muito, o prazo de dez dias estipulado, em seus respectivos contratos (clusula stima, VII.1.1) e ordens de servios, para dar incio mobilizao e aos trabalhos. Apesar das empresas, via de regra, argumentarem em sua defesa de que j estavam em processo de mobilizao logo aps a expedio da ordem de servio, a concretizao da etapa de demarcao s pode ser efetivamente comprovada pela Funai e pelos ndios aps a realizao da primeira reunio na aldeia e o incio dos trabalhos em campo.

    A Asserplan feriu os prazos nos dois blocos de servios que realizou no Acre. Na demarcao da TI Poyanawa (Bloco III), a primeira reunio com a comunidade teve lugar trs dias aps o vencimento do prazo de dez dias estabelecido na ordem de servio. Isto tornou a acontecer nas primeiras reunies nas quatro terras indgenas do Bloco I, agora com atrasos substancialmente maiores: 23 dias no Rio Breu, 33 dias na Praia do Carapan, 36 no Igarap Primavera e 38 no Baixo Rio Jordo. Mesmo assim, no houve qualquer justificativa formal da empresa. Mas, o pedido de liberao da primeira parcela dos recursos, referente "mobilizao", foi gil aps a ltima primeira reunio, assim como seu pagamento pela DAF.

    No caso da Prtico, a Ordem de Servio foi emitida a 17 de maro, cinco meses aps a abertura do edital. A primeira reunio na aldeia Califrnia, TI Kulina do Igarap do Pau, contudo,

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    foi realizada somente no dia 16 de maio, portanto, dois meses depois, apesar da respectiva ordem de servio ter estabelecido prazo de 80 dias para a concluso de todo o processo demarcatrio.

    Todas as justificativas da Prtico para a delonga em sua mobilizao so frgeis. A primeira surgiu como resultado de ofcio da DAF em que foi comunicado que a empresa estava sob "Advertncia", devido total falta de respostas aos documentos anteriormente enviados, e que a segunda penalidade prevista no contrato, uma multa, seria aplicada se nenhuma resposta fosse dada. A resposta da Prtico veio com data anterior do ofcio da DAF, apesar de ter chegado na sede da Funai um dia depois, informando que o atraso na mobilizao era fruto da impossibilidade de acesso, tendo em vista o tamanho dos marcos de fibra e a difcil confeco, no sendo possvel faz-los no local da obra desde Rio Branco, pela Br-364, conforme previra anteriormente.

    Pouco menos de dois meses aps a emisso da ordem de servio, portanto, que a empresa detalha, pela primeira vez, o itinerrio de sua mobilizao para chegar terra indgena: quinze dias para a confeco dos marcos e aprovao pela DAF, um deslocamento fluvial de dez dias entre Manaus e Eirunep, cinco dias entre Eirunep e Envira, e mais cinco dias entre Envira e Feij, com tempo de espera de dez dias nestas cidades para fazer as conexes. Aps chegar em Feij com equipe e marcos, o representante da empresa ficou aguardando mais cinco dias o representante da AER-RBR, que confunde com um fiscal. Esta nova demora permitira a sada da equipe apenas em 11 de maio para realizar a primeira reunio com a comunidade Madij e dar incio demarcao.

    No dia 22 de maio, a DAF comunicou empresa que, aps anlise da argumentao apresentada pela empresa, considerou sem fundamentos o motivo do atraso no incio da dem