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UTILIZAÇÃO DE TEORIAS DE BASE NAS TESES DOS PROGRAMAS DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE DA REGIÃO SUL DO BRASIL
Brenda de Borba Trajano
Mestranda em Controladoria e Contabilidade
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e-mail: [email protected]
Ismael Paulo Heissler
Mestrando em Controladoria e Contabilidade
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e-mail: [email protected]
Márcia Bianchi
Doutora em Economia do Desenvolvimento e Mestre em Ciências Contábeis
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e-mail: [email protected]
Romina Batista de Lucena de Souza
Doutora em Economia do Desenvolvimento e Mestre em Economia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e-mail: [email protected]
Área Temática: Ensino de Contabilidade.
RESUMO Teoria de base é a denominação utilizada para a teoria científica que serve de sustentação
teórica de uma pesquisa, meio pelo qual é feita a interpretação dos resultados obtidos. Nesse
sentido, o estudo tem como objetivo analisar a utilização de teorias de base em teses dos
programas de pós-graduação em Contabilidade das universidades localizadas na Região Sul
do país. A pesquisa é classificada como quali-quantitativa, descritiva e documental, realizada
por meio da análise de 25 teses em Contabilidade defendidas em universidades da Região Sul.
Os resultados dos estudos demonstram que, em sua maioria, as teses possuem como teoria de
base a Teoria da Agência, seguida da Teoria Contingencial. Outras teorias, apesar de não
serem utilizadas como base, foram citadas nas teses, como a Teoria dos Custos de Transação,
a Teoria das Organizações e a Teoria da Firma. Além disso, observou-se que a Teoria da
Agência está relacionada às teses voltadas para a área de Controladoria, e os principais
autores citados são Jensen e Meckling (1976), Ross (1973) e Eisenhardt (1989). Assim, é
possível inferir que para a formulação de uma tese, a utilização de uma teoria de base é
importante, e que envolve, em geral, a apresentação de outras teorias relacionadas à teoria
escolhida.
Palavras-chave: Teoria de Base. Teses. Pós-Graduação em Contabilidade.
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1 INTRODUÇÃO Desde seu início, cujas diretrizes foram estabelecidas inicialmente pela lei nº 4.024 de
1961 (BRASIL, 1961), os programas de pós-graduação são responsáveis pela formação e
qualificação de mestres e doutores, exercendo papel relevante no desenvolvimento da
pesquisa científica do país. Especificamente em Contabilidade, o primeiro programa de pós-
graduação stricto sensu foi instituído no Brasil pela Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e, na Região Sul, pela Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (PELEIAS et al., 2007).
Nos programas de pós-graduação stricto sensu, existem cursos de mestrado e
doutorado. O curso de doutorado, formação profunda e ampla direcionada à capacidade de
pesquisa, atribui o título de doutor ao indivíduo que elaborar e defender sua tese, que por sua
vez deve conter uma contribuição real para o conhecimento científico a cerca do tema
estudado (CURY, 2005). Para isso, é importante que a tese formulada possua seu
embasamento em uma determinada teoria. Esta teoria utilizada para subsidiar a pesquisa é
denominada teoria de base.
Uma teoria científica é originada pela determinação de um esquema sistemático que
unifique conteúdos distintos, consagrada por meio de provas da sua capacidade de cumprir as
funções que se propõe para, então, torna-se válida (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Assim,
a teoria de base pode ser entendida como a teoria científica utilizada para a sustentação
teórica da pesquisa, meio pelo qual deve ser feita a interpretação dos resultados obtidos.
Nesta temática, destacam-se os estudos de Hesford et al. (2007), no âmbito
internacional, com a análise de publicações sobre Contabilidade Gerencial. No âmbito
nacional, ressaltam-se os estudos de Beuren e Nascimento (2014) e Farias e Gasparetto
(2015), que incluem em suas análises de produções científicas uma breve descrição das
teorias de base utilizadas. Além disso, destacam-se, ainda, estudos posteriores como o de
Consenza et al. (2016) e de Oliveira et al. (2017).
Assim, a utilização de uma teoria que embase a tese formulada se torna parte relevante
na validação do estudo realizado para a obtenção do título de doutor em Contabilidade. A
partir do exposto e da lacuna de pesquisa existente, formula-se a seguinte questão problema:
Qual a utilização de teorias de base nas teses dos programas de pós-graduação em
Contabilidade das instituições de ensino superior da Região Sul do Brasil? Com isso, o
objetivo do estudo é analisar o uso de teorias de base em teses defendidas nos programas de
pós-graduação em Contabilidade da Região Sul do país, desde sua origem.
Diante disso, torna-se oportuna a realização desta pesquisa, uma vez que a utilização
de teorias de base está cada vez mais presente no meio acadêmico, não somente em teses de
doutorado, mas também nos demais trabalhos científicos, como dissertações, monografias e
artigos. Nesse sentido, o estudo espera contribuir para o constante desenvolvimento do
conhecimento científico e para o auxílio de estudantes e pesquisadores que buscam identificar
a teoria que servirá como base para as suas pesquisas em Contabilidade.
Além desta introdução, o artigo é composto pelo referencial teórico, seção dois, que
aborda as características das teses de cursos de doutorado em Contabilidade e os conceitos
pertinentes à teoria de base, bem como a exposição dos estudos relacionados. Em seguida, são
descritos os procedimentos metodológicos da pesquisa, na seção três. A análise dos dados
contendo os resultados do estudo está presente na seção quatro. E, por fim, são apresentadas
as considerações finais da pesquisa, na seção cinco.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO Para o embasamento do estudo, são abordados nesta seção os principais tópicos
relacionados aos programas de pós-graduação em Ciências Contábeis, com enfoque nas teses
de cursos de doutorado, e as definições sobre teoria de base de pesquisa científica.
2.1 TESES DE DOUTORADO EM CONTABILIDADE
Para que o indivíduo obtenha o grau de doutor, é necessário cursar o doutorado. O
doutorado, denominado internacionalmente pela sigla anglo-saxônica PhD (que significa
Philosophy Doctor, embora designe qualquer espécie de doutor), é procurado por quem busca
aperfeiçoamento e profunda especialização na profissão de pesquisador científico (ECO,
2016). A tese é estudo científico, desenvolvido no curso de doutorado, necessário para que o
pesquisador alcance de grau de doutor (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).
A tese de doutorado deve cumprir dois requisitos essenciais: a demonstração, pelo
pesquisador, de que o trabalho é capaz de progredir a matéria a qual se dedica; originalidade,
que requer conhecimento profundo do assunto, para identificar algo que ainda não foi dito
pelos demais pesquisadores da área, que demonstra o potencial da tese em surpreender,
apontar uma nova perspectiva ou um caminho diferente (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).
Segundo Demo (2000), as teses possuem o sentido lato e o estrito, que determinam os
objetivos de desenvolver a ciência e de obter a aprovação acadêmica. Nesse sentido, a tese
pode ser vista como um ritual de passagem, onde o pesquisador possui o acompanhamento da
figura do orientador e tem como desafio inicial elaborar o projeto de tese (DEMO, 2000).
Fazer uma tese significa aprender a ordenar ideias e dados; é uma experiência de trabalho
metódico na qual se constrói um conhecimento que também serve aos demais (ECO, 2016).
Em Contabilidade, as teses de doutoramento, defendidas em 1972, de Stephen Charles
Kanitz e Eliseu Martins significaram um marco inicial para as contribuições acadêmicas da
área (SCHMIDT, 2000). A tese de Kanitz “Contribuição à teoria do rateio e dos custos fixos”
e de Martins “Contribuição à evolução do ativo intangível” foram defendidas junto
Departamento de Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). (SCHMIDT, 2000).
A partir das primeiras pesquisas desenvolvidas no doutorado em Contabilidade, foram
elaboradas muitas outras, em temáticas como: reflexos das informações contábeis, função do
profissional de contabilidade, atribuições de controladoria e auditoria, mensuração e avaliação
de fenômenos contábeis, dispositivos legais e fiscais, inclusão de fenômenos sociais nas
demonstrações contábeis, desenvolvimento de diversos modelos em Contabilidade, entre
outras (MAGALHÃES, 2006).
2.2 TEORIA DE BASE
Segundo o Novo Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1986, p. 1664) teoria pode ser
definida como o “Conjunto de conhecimentos não ingênuos que apresentam graus diversos de
sistematização e credibilidade e que se propõem explicar, elucidar, interpretar ou unificar um
dado domínio de fenômenos ou de acontecimentos que se oferecem à atividade prática.”. Para
Sá (2010) teoria é o desenvolvimento intelectual que torna um conteúdo simples, subjetivo e
prático em um conhecimento objetivo, raciocinado, valorizado e sistematizado. Neste sentido,
teoria pode ser entendida como uma proposição sistematizada sobre determinados fatos ou
fenômenos, que para possuir rigor científico precisa ser devidamente testada e validada.
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A investigação científica objetiva, além da discrição dos fatos ou fenômenos
empíricos, desenvolver a interpretação destes dados (MARCONI; LAKATOS, 2007). Para
isso, Marconi e Lakatos (2007) afirmam que é fundamental efetuar a relação entre o estudo e
o universo teórico, e, assim sendo, selecionar uma teoria que embase a interpretação dada
pelo pesquisador aos dados coletados.
A abrangência do referencial teórico varia conforme a teoria utilizada para esclarecer
os fenômenos estudados na pesquisa. O pesquisador pode optar por uma teoria específica para
embasar seu estudo, mas isso não torna mais simples o desenvolvimento do referencial, uma
vez que, nesse caso, é preciso realizar a discussão mais profunda das ideias propostas pela
teoria em questão (BEUREN, 2014).
As teorias exercem uma função metodológica importante na pesquisa, sendo, portanto,
relevantes no processo de análise em estudos de ciências sociais (GIL, 2011). Dessa forma, é
designada teoria de base a teoria científica considerada pelo pesquisador para a sustentação
teórica de sua pesquisa, que embasa a interpretação e atribui o significado dos resultados
evidenciados em seu estudo.
Dentre as teorias existentes, a Teoria da Agência é de grande relevância nas áreas de
Finanças, Economia e Contabilidade. Jensen e Meckling (1976) descreveram a Teoria da
Agência com base nos conflitos de interesse originados da relação entre o principal
(proprietário do capital da empresa) e o agente (responsável pela gestão dos recursos da
empresa). Segundo os autores, a teoria pressupõe a existência de problemas de agência
oriundos de decisões tomadas pelos gestores da empresa que visam maximizar sua utilidade
pessoal ao invés da riqueza dos acionistas.
Segundo Jensen e Meckling (1976), a relação de agência ocorre por meio de um
contrato de trabalho no qual o principal (um ou mais acionistas) emprega um indivíduo
(agente) para serviços que envolvem poder de decisão na empresa. Ainda conforme os autores,
é necessário que o principal ofereça incentivos ao agente para diminuir as diferenças de
prioridade, e assim o agente busque maximizar o bem-estar do principal. Os custos de agência
provem de despesas com a supervisão do principal ao agente, de despesas de concessão de
garantias contratuais do agente e de gastos residuais (JENSEN; MECKLING, 1976).
Destaca-se, ainda, a revisão de Eisenhardt (1989) sobre a Teoria da Agência, que
afirma que os problemas de agência originam-se ou por objetivos conflitantes entre o
principal e o agente, ou por dificuldades operacionais e/ou financeiras do principal em
monitorar o agente. Segundo a autora, Teoria da Agência foi aplicada aos fenômenos em duas
principais vertentes, a positivista e a principal-agente. Outro ponto importante da teoria é o
compartilhamento de risco, onde o agente pode preferir tomar decisões diferentes das
escolhidas pelo principal por ter preferências diferentes de risco (EISENHARDT, 1989).
Outra teoria de destaque nas Ciências Econômicas e Contábeis é a Teoria
Contingencial. De acordo com Chiavenato (2003), a Teoria Contingencial determina que o
comportamento e a estrutura das organizações sofrem influência do ambiente, em um sistema
de constantes mudanças. O autor afirma ainda que, para a abordagem contingencial, a
tecnologia é a variável independente que condiciona 35 variáveis contingenciais dependentes,
relacionadas à estrutura e ao comportamento da empresa. Assim, a teoria possui o enfoque
nos problemas situacionais da empresa, assumindo que a organização é contingente, uma vez
que depende de situações e circunstâncias que variam com o passar do tempo
(CHIAVENATO, 2003).
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A estrutura organizacional de uma empresa é dividida em mecânica (com ambiente
estável, centralização de controle, especialização das tarefas, hierarquia verticalizada e
formalização de comunicação) e orgânica (com descentralização de controle e constantes
mudanças de tecnologia e de mercado) (BURNS; STALKER, 1961). Por conta da
complexidade, as organizações buscam o uso de novas tecnologias, no entanto, isso pode
gerar problemas de autoridade, e para evitar problemas dessa ordem, a estrutura e as ênfases
dos cargos devem estar limitadas ao tipo de tecnologia da organização. (THOMPSON;
BATES 1957).
2.3 ESTUDOS RELACIONADOS
Dentre os estudos anteriores realizados sobre esta temática, destaca-se a análise
documental de Beuren e Nascimento (2014), que analisou o perfil dos artigos de
Contabilidade Gerencial publicados na Accounting, Organizations and Society (AOS), no
período de 2005 a 2009. Além de analisar as características gerais, autoria, ranking dos
autores, disciplinas de base, temas de pesquisa, foram também analisadas as teorias de base
dos artigos e autores que as sustentam. Com relação a estas teorias, as autoras observaram que
a Teoria da Contingência foi a principal base teórica utilizada (19,44%) seguido pela Teoria
Actor-network e pela Teoria Institucional (ambas com 13,88%), e na terceira posição a Teoria
da Agência e a Teoria Neo-institucional (ambas com 8,33%).
A pesquisa de Beuren e Nascimento (2014) se afiliou metodologicamente no estudo de
Hesford et al. (2007), que analisou as publicações sobre Contabilidade Gerencial em 10
periódicos no período de 1981 a 2000. As análises foram realizadas distinguindo cada década
para observar tendências ao longo do período. Os autores analisaram os tópicos estudados, os
métodos de pesquisa e as disciplinas de base utilizadas. Apesar dos autores não segregarem as
análises por teoria de base utilizada, eles classificaram as disciplinas de base em: a) economia
(a exemplo da Teoria da Agência); b) psicologia; c) sociologia (a exemplo da Teoria da
Contingência e da Teoria Institucional); d) produção e gerenciamento organizacional; e e)
história. Os resultados encontrados mostram que economia (43%) é a disciplina de base
dominante, seguida pela sociologia (40%) e pela psicologia (15%).
De maneira similar, Shields (1997), analisou 152 artigos de pesquisas em
Contabilidade Gerencial publicados em seis grandes revistas no período de 1990 a 1997. As
disciplinas de base mais frequentes encontradas no estudo estão dispostas no Quadro 1.
Quadro 1 – Frequência das disciplinas de base no estudo de Shields (1997)
Frequência Disciplinas de base Descrição
49% Economia As teorias econômicas utilizadas são quase exclusivamente a economia de
custo principal e de custo de produção.
10% Comportamento
organizacional
A base de comportamento organizacional baseia-se em teorias
relacionadas à liderança, motivação, negociação, entre outros.
8% Psicologia As teorias psicológicas são de psicologia cognitiva, transcultural,
motivacional e social.
7% Gestão de produção
e operações
As teorias da Gestão de produção e operações lidam com tecnologia,
qualidade, e layout e agendamento do processo produtivo.
Fonte: adaptado de Shields (1997).
Nascimento, Junqueira e Martins (2010) também se utilizaram do estudo de Hesford et
al. (2007) como parâmetro para comparação com os resultados da sua pesquisa bibliométrica
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e documental. Os autores pesquisaram sobre as características epistemológicas da produção
acadêmica em contabilidade gerencial no Brasil, publicados nos principais eventos da área.
Apesar de também não evidenciaram as Teorias propriamente ditas, o estudo demonstra que
83% dos trabalhos trazem conceitos contábeis ou legislação como sustentação teórica para as
análises, enquanto apenas 17% se baseiam em teorias da economia, sociologia ou psicologia.
Farias e Gasparetto (2015) analisaram o conteúdo e epistemologia de artigos
publicados em periódicos acerca de Gestão de Custos Interorganizacionais, e constataram que
a maioria dos trabalhos não aborda uma teoria que explique a realidade, corroborando com os
achados de Nascimento, Junqueira e Martins (2010). Já Slewinski, Camacho e Sanches (2015),
em uma análise bibliométrica internacional sobre Relato Integrado no período de 2010 a 2014,
analisaram 22 artigos sobre o tema. Através da análise das perspectivas teóricas verificou-se
que aquelas pesquisas se utilizaram da Teoria do Stakeholders, Teoria Institucional e Teoria
da Legitimidade.
Consenza et al. (2016), ao investigar o direcionamento da pesquisa contábil nos
congressos da ANPCONT, no período de 2007 a 2014, verificou que estes congressos
possuem tradição de pesquisa baseada em características paradigmáticas eminentemente
voltadas para a abordagem positiva, com preponderância de métodos empíricos. Já Oliveira et
al. (2017) fez um levantamento das pesquisas surveys publicadas na área de Marketing, entre
os anos 2000 a 2010, nos principais periódicos de Administração do Brasil, assim como nos
anais dos mais importantes encontros de pós-graduação que possuem a divisão de Marketing.
Ao analisar a fundamentação conceitual, o autor avaliou o nível de aprofundamento das
teorias de base (Tabela 1).
Tabela 1 - Nível de aprofundamento das teorias de base
Teorias de Base 1990 2000
Nº % Nº %
Aprofundada 50 40,3% 424 61,3%
Ausente 10 8,1% 13 1,9%
Superficial 64 51,6% 255 36,8%
Fonte: adaptada de Oliveira et al. (2017).
Por meio da Tabela 1, pode-se observar o que Oliveira et al. (2017) observou a
respeito do nível de aprofundamento encontrado nos artigos. Destaca-se a evolução do
aprofundamento nas teorias de base na década de 2000.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa realizada é classificada como qualitativa e quantitativa quanto à
abordagem do problema. Uma pesquisa é considerada qualitativa quando utiliza o recurso de
quantificação na coleta e tratamento dos dados, e quantitativa quando não utiliza destes
recursos, efetuando uma análise em profundidade (RICHARDSON, 1999). Nesse sentido, o
estudo pode ser considerado misto, visto que se utiliza tanto de análise quantitativa (média,
frequência, etc.) quanto de abordagem qualitativa (mapeamento por área temática,
identificação de autores e obras, etc.) para apresentar os resultados evidenciados.
Neste estudo buscou-se descrever as teorias de base utilizada em teses de doutorado,
por conta disso, a pesquisa é classificada como descritiva quanto aos objetivos. Uma pesquisa
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descritiva que tem como objetivo central delinear as características de determinada
população/fenômeno, ou estabelecer relação entre variáveis (GIL, 2011).
Além disso, a pesquisa é classificada, também, quanto aos procedimentos. Nesse caso,
efetuou-se uma pesquisa documental, cujas fontes de dados foram as teses de doutorado em
contabilidade da Região Sul (GIL, 2011). Assim, coleta de dados foi efetuada por meio de
documentação indireta (MARCONI; LAKATOS, 1990). Após a coleta, os dados foram
avaliados por meio de análise documental, que utiliza como apoio o diagnóstico da pesquisa,
com as informações as coletadas nos materiais (COLAUTO; BEUREN, 2014).
Para a identificação dos programas de pós-graduação em Contabilidade, foram
selecionados os programas em funcionamento da Região Sul do país na área de avaliação
“Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo” na Plataforma
Sucupira1 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Dessa
forma, foram identificados 56 programas em funcionamento para a referida área de avaliação.
A partir disso, foram identificados 9 programas direcionados a Contabilidade, Controladoria e
Ciências Contábeis.
Dentre os 9 programas de pós-graduação em funcionamento na Região Sul, foram
identificados 4 com curso de doutorado em Contabilidade. As universidades e a quantidade de
teses defendidas nestas universidades são apresentadas na Tabela 2. Cabe ressaltar que a
quantidade de teses defendidas equivale à população do estudo, isto é, todas as teses
defendidas desde o início de cada programa.
Tabela 2 – População e amostra do estudo
Universidade Programa de Pós-Graduação Quantidade
de teses
Amostra
do estudo
Universidade Regional de Blumenau
(FURB) Ciências Contábeis (PPGCC) 32 21
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS) Ciências Contábeis (PPG CONTABEIS) 3 3
Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) Contabilidade (PPGC) 1 1
Universidade Federal do Paraná
(UFPR) Contabilidade (PPGCONT-UFPR) 0 0
Total 36 25
Fonte: elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).
O programa da FURB é composto pela área de Administração em conjunto à
Controladoria. Para este caso, foi contatado diretamente o programa de pós-graduação para a
identificação da área afim de cada tese, para que fossem desconsideradas àquelas de
Administração. Assim, a amostra do estudo ficou composta de 25 teses da área objeto desta
pesquisa. Os programas de pós-graduação, cujas teses compõem a amostra, possuem as linhas
de pesquisa apresentadas no Quadro 2.
Quadro 2 – Linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação
Universidade Programa de Linhas de Pesquisa
1 Disponível em: <https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/listaPrograma.jsf>.
Acesso em: 12 maio 2017.
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Pós-Graduação
Universidade Regional de
Blumenau (FURB)
Ciências Contábeis
(PPGCC)
a) Contabilidade Financeira; b) Contabilidade Gerencial;
e c) Estratégia e Competitividade.
Universidade do Vale do Rio
dos Sinos (UNISINOS)
Ciências Contábeis
(PPG CONTABEIS) a) Controle de Gestão; e b) Contabilidade e Finanças.
Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC)
Contabilidade
(PPGC)
a) Controle de Gestão e Avaliação de Desempenho; e b)
Contabilidade Financeira e Pesquisa em Contabilidade.
Universidade Federal do
Paraná (UFPR)
Contabilidade
(PPGCONT-UFPR)
a) Contabilidade Financeira e Finanças; e b)
Contabilidade e Controle Gerencial.
Fonte: elaborado a partir de dados da pesquisa (2017).
Pode-se observar que dentre as linhas de pesquisa se destacam temáticas relacionadas
à Contabilidade Financeira, Contabilidade Gerencial e Controle de Gestão. Os 4 programas de
pós-graduação apresentam, ao total, 9 linhas de pesquisa em Contabilidade.
4 ANÁLISE DOS DADOS
Nesta seção são apresentados inicialmente as características temáticas e classificações
das teorias de base encontradas nas teses. Em seguidas são demonstrados os autores e obras
mais referenciados; e as outras teorias relacionadas nas teses.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS TESES
O objetivo desta seção é realizar uma caracterização das teses analisadas. O primeiro
ponto analisado é a determinação dos trechos que foram considerados como texto explícito de
utilização de teoria de base, apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 – Trechos explícitos de utilização de teoria de base
Trechos explícitos Quantidade
de teses
Frequência
relativa
"à luz da teoria, formula-se a tese" 4 16,7%
"sob a ótica da teoria" 3 12,5%
"fundamentado na teoria, formula-se a tese" 2 8,3%
"a base teórica utilizada é a teoria" 1 4,2%
"a escolha da teoria para dar luz a discussão dos resultados" 1 4,2%
"a plataforma teórica utilizada é a teoria" 1 4,2%
"a teoria de base que permeou o estudo" 1 4,2%
"análise por meio da teoria" 1 4,2%
"apresenta a teoria e o posicionamento teórico para a tese" 1 4,2%
"com a teoria de base escolhida, que foi a teoria" 1 4,2%
"com o olhar da teoria" 1 4,2%
"evidenciação pelos pressupostos da teoria" 1 4,2%
"iniciando-se na teoria, por constituir a teoria de base do trabalho" 1 4,2%
"o estudo balizou-se na teoria" 1 4,2%
"se encontra apoiada na teoria" 1 4,2%
"sob o enfoque da teoria" 1 4,2%
"tendo como suporte a teoria, formula-se a tese" 1 4,2%
"utilizando-se como teoria de base a teoria" 1 4,2%
Total 24 100%
Fonte: elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).
Dentre as 25 teses analisadas, verificou-se que somente 1 delas, referente a Teoria de
Sticky Costs, não declarou de forma explícita a teoria de base utilizada, embora fique clara a
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utilização da referida teoria com a leitura da tese em questão. Esse fato justifica a
apresentação de 24 trechos explícitos.
O estudo de Beuren e Nascimento (2014) evidenciou um índice baixo de explicitação
da teoria de base utilizada (19,35%) em artigos publicados no periódico internacional
Accounting, Organizations and Society (AOS). Por outro lado, nesta pesquisa apenas 1 tese
não apresentou de maneira explícita sua teoria de base, representando 4% do total.
Outra caracterização realizada foi a identificação da teoria de base das teses, na qual
constatou-se que as teses utilizam apenas uma única teoria como base. Dessa forma, é
possível classificar as teorias de base conforme sua frequência como demonstra a Tabela 4.
Tabela 4 - Frequência de utilização das teorias
Teoria de base Quantidade de teses Frequência relativa
Teoria da Agência 12 48%
Teoria Contingencial 3 12%
Teoria Institucional 1 4%
Teoria de Finanças 1 4%
Teoria das Escolhas Públicas 1 4%
Teoria Social Cognitiva 1 4%
Resource-advantage Theory 1 4%
Teoria da Estruturação 1 4%
Teoria dos Sistemas Vivos 1 4%
Teoria Geral dos Sistemas 1 4%
Teoria da Legitimidade 1 4%
Teoria dos Sticky Costs; 1 4%
Total 25 100%
Fonte: Elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).
Verifica-se que 12 teses utilizaram como teoria de base, a Teoria da Agência e 3, a
Teoria Contingencial. Todas as demais teses utilizaram alguma teoria diferente, totalizando
12 diferentes teorias. Outro dado verificado foi de que 100% das teses analisadas mencionam
já na primeira seção (Introdução) a teoria utilizada como base.
Além disso, foi identificada uma padronização nas teses do programa da FURB, que
apresenta no Referencial Teórico entre uma e duas seções especificamente sobre a teoria de
base considerada para o estudo. Da mesma forma, observou-se uma similaridade na forma de
apresentação da teoria de base nas teses defendidas no programa da UNISINOS. Por haver
somente 1 tese do programa da UFSC, não pode-se inferir sobre seu padrão de apresentação
da teoria de base.
Analisaram-se, ainda, as 25 teses conforme a área temática, de acordo com as
categorias utilizadas pela Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Ciências
Contábeis (ANPCONT) no Congresso de 2017. A classificação passou por processo de
validação de dois professores doutores da área. Esta distribuição é apresentada na Tabela 5.
Tabela 5 - Frequência das áreas temáticas
Temática Quantidade de
teses
Frequência
relativa
10
Controladoria e Contabilidade Gerencial 12 48%
Contabilidade para Usuários Externos 7 28%
Mercados Financeiro, de Crédito e de Capitais 5 20%
Contabilidade Aplicada ao Setor Público e ao Terceiro Setor 1 4%
Educação e Pesquisa em Contabilidade 0 0%
Total 25 100%
Fonte: elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).
Como pode ser visto na Tabela 5, a área temática com maior número de teses é
Controladoria e Contabilidade Gerencial, representando quase metade do total de teses (48%),
seguida de Contabilidade para Usuários Externos com 28%. Não foi encontrada nenhuma tese
referente a Educação e Pesquisa em Contabilidade. Infere-se que esse resultado se deve ao
fato de nenhum programa possuir uma linha de pesquisa voltada para educação, e somente o
programa da UFSC estar direcionado para pesquisa em Contabilidade.
Por outro lado, grande parte das teses ser da temática de Controladoria e Contabilidade
Gerencial está relacionada ao fato de todos os programas possuírem uma linha de pesquisa
voltada para Controle de Gestão ou para Contabilidade Gerencial. Da mesma forma, a
representatividade das temáticas de Usuários Externos e Mercados Financeiro, de Crédito e de
Capitais está relacionada às linhas de pesquisa de Contabilidade Financeira.
4.2 TEORIAS DE BASE E TEMÁTICAS DE PESQUISA
Nesta seção são analisadas as relações entre as teorias de base utilizada para subsidiar
as teses e as respectivas áreas temáticas (Quadro 3).
Quadro 3 - Teorias de base x área temática
Teorias de base/Área
Temática
Controladoria e
Contabilidade
Gerencial
Contabilidade
para Usuários
Externos
Mercados
Financeiro, de
Crédito e de
Capitais
Contabilidade
Aplicada ao Setor
Público e ao
Terceiro Setor
Teoria da Agência 3 6 3 -
Teoria Contingencial 3 - - -
Teoria Institucional 1 - - -
Teoria de Finanças - - 1 -
Teoria das Escolhas Públicas - - - 1
Teoria Social Cognitiva 1 - - -
Resource-advantage Theory - - 1 -
Teoria da Estruturação 1 - - -
Teoria dos Sistemas Vivos 1 - - -
Teoria Geral dos Sistemas 1 - - -
Teoria da Legitimidade - 1 - -
Teoria dos Sticky Costs 1 - - -
Fonte: elaborado a partir de dados da pesquisa (2017).
A partir do Quadro 3, verifica-se que a Teoria da Agência, além de estar presente em
48% das teses analisadas, é a mais abrangente de todas, pois é a única a estar presente em
mais de uma área: a) Controladoria e Contabilidade Gerencial; b) Mercados Financeiro, de
Crédito e de Capitais; e c) Contabilidade para Usuários Externos. Em uma comparação com os resultados de Beuren e Nascimento (2014), que é o
estudo que mais se assemelha com este trabalho, pois evidencia as teorias de base utilizadas
em 36 artigos, de um universo total de 186 artigos da Accounting, Organizations and Society
11
(AOS), sobre contabilidade gerencial, percebe-se que há certo alinhamento entre as teorias.
Enquanto que na pesquisa dos autores a Teoria da Contingência foi a mais utilizada, nesta
pesquisa, as teorias de base mais utilizadas na temática Controladoria e Contabilidade
Gerencial, foram as Teorias da Contingência e da Agência, empatados com 3 teses cada.
A área temática que mais apresenta distintas teorias de base para subsidiar as teses é
Controladoria e Contabilidade Gerencial (responsável por 48% das áreas temáticas
pesquisadas), com 8 distintas teorias. Em seguida, está Mercados Financeiro, de Crédito e de
Capitais com 3 teorias.
4.3 OUTRAS TEORIAS REFERENCIADAS
Esta seção visa apresentar as outras fontes de informações teóricas utilizadas pelos
autores. Além das teorias de base utilizadas de maneira expressa para fundamentar as teses,
percebeu-se que os autores também se utilizam de algumas outras teorias para realizar
comparações, exemplificações, explicações e outras relações. Na 0 é possível observar estas
outras teorias referenciadas e no Quadro 6 pode-se observá-las em relação a teoria de base
declarada nas teses.
Figura 1 - Outras teorias referenciadas
Fonte: elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).
Quadro 4 - Outras teorias referenciadas por teoria de base
Teorias de base Teorias Relacionadas
Teoria da Agência
Teoria da Firma (10); Teoria dos Custos de Transação (9); Teoria dos Direitos de
Propriedade (4); Teoria das Organizações (2); Teoria do Ciclo de Vida do Produto
(2); Teoria dos Contratos (2); Teoria Econômica Clássica (2); Teoria Financeira
(2); Teoria da Contingência; Teoria da Legitimidade; Teoria da Política
Econômica; Teoria da Produção Internacional da Firma; Teoria da Sinalização;
Teoria da Vantagem Absoluta; Teoria da Vantagem Comparativa; Teoria do
12
Teorias de base Teorias Relacionadas
Comportamento Administrativo; Teoria do Crescimento da Firma; Teoria do Poder
de Mercado; Teoria do Stakeholder; Teoria Eclética; Teoria Institucional; Teoria
Neoclássica do Comércio; Teoria Positiva da Contabilidade.
Teoria Contingencial
Teoria Comportamental (2); Teoria da Agência (2); Teoria da Administração
Científica; Teoria da Administração Moderna; Teoria da Decisão; Teoria das
Organizações; Teoria Institucional.
Teoria Institucional Teoria da Agência; Teoria da Burocracia; Teoria da Contingência; Teoria da Firma;
Teoria dos Custos de Transação.
Teoria de Finanças Teoria Clássica; Teoria Econômica; Teoria Microeconômica.
Teoria das Escolhas
Públicas
Teoria da Escolha Social; Teoria da Organização; Teoria da Sociedade; Teoria dos
Jogos.
Teoria Social Cognitiva Teoria da Aprendizagem Social; Teoria da Psicologia Cognitiva; Teoria da
Psicologia Social; Teoria do Locus de Controle; Teoria do Reflexo Condicionado.
Resource-advantage
Theory
Teoria Baseada na Competência; Teoria da Economia Institucional; Teoria da
Organização Industrial; Teoria da Sociologia Econômica; Teoria da Tradição
Histórica; Teoria do Diferencial Competitivo; Teoria dos Custos de Transação.
Teoria da Estruturação Teoria Institucional
Teoria dos Sistemas Vivos Teoria Geral dos Sistemas
Teoria Geral dos Sistemas -
Teoria da Legitimidade Teoria da Agência; Teoria da Sinalização; Teoria dos Custos de Transação; Teoria
dos Custos do Proprietário; Teoria dos Custos Políticos.
Teoria dos Sticky Costs Teoria da Agência; Teoria Institucional; Teoria Tradicional sobre Comportamento
dos Custos.
Fonte: elaborado a partir de dados da pesquisa (2017).
No Quadro 4, observa-se que as teses que declararam a Teoria da Agência como teoria
de base, também citaram a Teoria da Firma, 10 vezes. Em seguida, apareceu a Teoria dos
Custos de Transação, com referências em 9 teses, e Teoria dos Direitos de Propriedade em 4
teses. A tese referente a Teoria Geral dos Sistemas, não referenciou nenhuma outra teoria.
As teorias mais referenciadas nas teses, sem ser utilizada pelo pesquisador como teoria
de base do trabalho, foram a Teoria dos Custos da Transação e Teoria da Firma, com
referências em, respectivamente, 12 e 11 teses. Pode-se observar, ainda, que em teses cuja
teoria de base explicitamente descrita foi a Teoria da Agência, houve uma quantidade maior,
no total, de outras teorias também referenciadas. Outro ponto de destaque é que a própria
Teoria da Agência é referenciada em 38% das teses que possuem outra teoria como base.
4.4 PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS SOBRE AS TEORIAS
O Quadro 5 apresenta os autores que sustentam as teorias de base dessas publicações,
ou seja, que foram citados para consubstanciar as teorias utilizadas nas 25 teses. Cabe
salientar que as teorias que somente apareceram uma única vez, estão com todos os principais
autores referenciados. Já aquelas teorias que apareceram em mais de uma tese (Teoria da
Agência e Teoria Contingencial), estão referenciados apenas aqueles autores que apareceram
de forma repetida.
Quadro 5 - Autores de destaque por teoria de base
Teorias de base Autores de destaque no referencial teórico das teses analisadas
Teoria da Agência Berle e Means (1932); Coase (1937); Alchian (1965); Alchian e Demsetz (1972);
Alchian e Demsetz (1973); Mitnick (1973); Ross (1973); Williamson (1973);
13
Teorias de base Autores de destaque no referencial teórico das teses analisadas
Williamson (1975); Jensen e Meckling (1976); Fama e Jensen (1983); Jensen (1983);
Eisenhardt (1985); Barney e Ouchi (1986); Williamson (1988); Eisenhardt (1989);
Jensen (1989); Barney e Hesterly (2004); Mitnick (2013).
Teoria Contingencial Thompson e Bates (1957); Burns e Stalker (1961); Tchompson (1967); Donaldson
(2001).
Teoria Institucional
Berger e Luckmann (1976); Perrow (1979); Dimaggio e Powell (1983); Scapens
(1994); Carruthers (1995); Scott (1995); Barley e Tolbert (1997); Carmona, Ezzamel e
Gutiérrez (1998); Burns e Scapens (2000); Burrel e Morgan (2003); Scapens (2006).
Teoria de Finanças Lerner (1943); Modigliani (1944); Modigliani e Zeman (1952); Shaw (1954); Arsdell
(1955); Dauten (1955); Weston (1955).
Teoria das Escolhas
Públicas
Mueller (1976); Mueller (1997); Mueller (2004); Rowley (1993); Rowley (2004);
Black (1948); Borda (1781); Buchanan e Tullock (1962); Buttler (2012); Condorecet
(1785); Frey (1984); Qu e Cheung (2013); Shughart e Razzolini (2001); Weck-
Hannemann (2001);
Teoria Social Cognitiva
Bandura, Ross e Ross (1961); Bandura e Walters (1963); Bandura (1965); Bandura
(1971); Bandura (1974); Bandura e Walters (1974); Bandura (1976); Bandura (1977);
Bandura (1978); Bandura (1982); Blumrerg e Pringle (1982); Bandura (1986); Bandura
(1988); Bandura (1989); Bandura (2001); Azzi e Polydoro (2006).
Resource-advantage
Theory
Chamberlin (1933); Coase (1937); Penrose (1959); Rumelt (1984); Wernerfelt (1984);
Barney (1986); Dierickx e Cool (1989); Barney (1991); Hunt e Morgan (1995); Rossi
(2008).
Teoria da Estruturação
Giddens (1984); Macintosh e Scapens (1990); Lawrenson (1991); Rosenbaum (1993);
Jones e Karsten (2008); Sauerbronn (2009); Englund, Gerdin e Burns (2011); Hossain
et al (2011).
Teoria dos Sistemas
Vivos
Miller (1978); Morgan (1996); Swanson (1999); Swanson e Miller (2011); Karim
(2013).
Teoria Geral dos
Sistemas
Boulding (1956); Churchman (1971); Hatfield e Hipel (2002); Martinelli (2006);
Kuhn, Bertalanffy (2012); Courtney e Morris (2015).
Teoria da Legitimidade Dowling e Pfeffer (1975); Lindblom (1994); Suchman (1995).
Teoria dos Sticky Costs
Anderson, Banker e Janakiraman (2003); Subramaniam e Weidenmier (2003);
Balakrishnan, Petersen e Soderstrom (2004); Medeiros, Costa e Silva (2005); Kim e
Prather-Kinsey (2010); Weiss (2010); Balakrishnan, Labro e Soderstrom (2011);
Porporato e Werbin (2012); Richartz (2013); Marques et al. (2014); Richartz e Borgert
(2014).
Fonte: elaborado a partir de dados da pesquisa (2017).
Foram observadas as principais obras relacionadas aos autores de destaque, de acordo
com a teoria de base utilizada nas teses analisadas. Teorias como a Contingencial, de Finanças,
dos Sistemas Vivos e da Legitimidade apresentaram poucas obras mais de uma vez, sendo
que esta última, referenciou somente 3 obras de forma repetida.
Além disso, observa-se nas teorias mais frequentes, Teoria da Agência e
Contingencial, destacam-se, principalmente, obras publicadas entre as décadas de 1950 e
1990. Por outro lado, para teorias como a Teoria Geral dos Sistemas e Teoria dos Sticky Costs,
as produções de destaque são, em sua maioria, mais recentes, publicadas a partir do ano 2000.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou examinar o uso de teorias de base em teses defendidas nos
programas de pós-graduação em Contabilidade da Região Sul do país. Para isso, foi realizado
uma pesquisa documental que contemplou 4 universidades/programas e totalizou 25 teses de
doutorado em Contabilidade.
14
Diante dos dados da pesquisa, sobre a caracterização das teses, constatou-se que a
temática Controladoria e Contabilidade Gerencial é a mais evidenciada, estando presente em
48% das teses. Já em relação as teorias de base, percebe-se uma utilização ampla e variada: 12
diferentes teorias, sendo a Teoria da Agência a base mais utilizada, presente em 12 teses. A
Teoria da Agência é, também, a única a estar presente em mais de uma área temática: a)
Controladoria e Contabilidade Gerencial, b) Mercado Financeiros, de Crédito e de Capitais; e
c) Contabilidade para Usuários Externos.
A Teoria Contingencial foi a segunda teoria mais percebida, presente em 12% das
teses, todas da área temática Controladoria e Contabilidade Gerencial, o que corrobora com os
achados de Beuren e Nascimento (2014). Porém este mesmo estudo demonstrou um índice
baixo de declaração explícita de teoria de base utilizada (19,35%), enquanto que nesta
pesquisa apenas 1 tese não apresentou de explicitamente sua teoria de base.
Sobre as referências utilizadas para as teorias de base, percebeu-se que nas teorias
mais frequentes, Teoria da Agência e Contingencial, destacam-se, principalmente, obras
clássicas publicadas entre as décadas de 1950 e 1990. Os principais autores citados com
relação à Teoria da Agência são Ross (1973), Jensen e Meckling (1976), Fama e Jensen
(1983) e Eisenhardt (1989). Já os autores mais referenciados para a Teoria da Contingência
são Thompson e Bates (1957), Burns e Stalker (1961), Thompson (1967) e Donaldson (2001).
No que se referem às demais teorias utilizadas pelos autores das teses, sem ser a de
base, destacam-se a Teoria dos Custos da Transação e a Teoria da Firma. Estas teorias são
utilizadas para subsidiar tese, embora não sejam as principais. Destaca-se, ainda, o grande
número de outras teorias utilizadas principalmente pelas teses cuja base é a Teoria da Agência.
Este estudo apresenta uma análise detalhada sobre as teorias utilizadas nas teses dos
programas de pós-graduação, diferente dos estudos anteriores que analisaram diversas
características de publicações e, neste contexto, mencionaram a teoria ou, de forma mais
abrangente, da disciplina de base. Os resultados desta pesquisa demonstram que a Teoria da
Agência é utilizada como base teórica para a grande maioria das teses de Contabilidade das
universidades da Região Sul, seguida da Teoria Contingencial. A utilização destas teorias está
intimamente relacionada às linhas de pesquisa existentes nos programas da região.
Assim, é possível inferir que os programas estão criando uma cultura de apresentar
em suas teses, de forma clara, explícita e patronizada, a teoria de base como suporte à
pesquisa, com o intuito de possuir respaldo teórico na análise dos dados e corroborar os
resultados evidenciados. Como sugestão a novos estudos, destacam-se duas principais lacunas
de pesquisa: a utilização de teorias de base nas teses em Contabilidade dos programas de todo
o país, e também, a utilização de teorias de base em dissertações de Contabilidade.
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