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1 UTILIZAÇÃO DE TEORIAS DE BASE NAS TESES DOS PROGRAMAS DE PÓS- GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE DA REGIÃO SUL DO BRASIL Brenda de Borba Trajano Mestranda em Controladoria e Contabilidade Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: [email protected] Ismael Paulo Heissler Mestrando em Controladoria e Contabilidade Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: [email protected] Márcia Bianchi Doutora em Economia do Desenvolvimento e Mestre em Ciências Contábeis Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: [email protected] Romina Batista de Lucena de Souza Doutora em Economia do Desenvolvimento e Mestre em Economia Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: [email protected] Área Temática: Ensino de Contabilidade. RESUMO Teoria de base é a denominação utilizada para a teoria científica que serve de sustentação teórica de uma pesquisa, meio pelo qual é feita a interpretação dos resultados obtidos. Nesse sentido, o estudo tem como objetivo analisar a utilização de teorias de base em teses dos programas de pós-graduação em Contabilidade das universidades localizadas na Região Sul do país. A pesquisa é classificada como quali-quantitativa, descritiva e documental, realizada por meio da análise de 25 teses em Contabilidade defendidas em universidades da Região Sul. Os resultados dos estudos demonstram que, em sua maioria, as teses possuem como teoria de base a Teoria da Agência, seguida da Teoria Contingencial. Outras teorias, apesar de não serem utilizadas como base, foram citadas nas teses, como a Teoria dos Custos de Transação, a Teoria das Organizações e a Teoria da Firma. Além disso, observou-se que a Teoria da Agência está relacionada às teses voltadas para a área de Controladoria, e os principais autores citados são Jensen e Meckling (1976), Ross (1973) e Eisenhardt (1989). Assim, é possível inferir que para a formulação de uma tese, a utilização de uma teoria de base é importante, e que envolve, em geral, a apresentação de outras teorias relacionadas à teoria escolhida. Palavras-chave: Teoria de Base. Teses. Pós-Graduação em Contabilidade.

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UTILIZAÇÃO DE TEORIAS DE BASE NAS TESES DOS PROGRAMAS DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE DA REGIÃO SUL DO BRASIL

Brenda de Borba Trajano

Mestranda em Controladoria e Contabilidade

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

e-mail: [email protected]

Ismael Paulo Heissler

Mestrando em Controladoria e Contabilidade

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

e-mail: [email protected]

Márcia Bianchi

Doutora em Economia do Desenvolvimento e Mestre em Ciências Contábeis

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

e-mail: [email protected]

Romina Batista de Lucena de Souza

Doutora em Economia do Desenvolvimento e Mestre em Economia

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

e-mail: [email protected]

Área Temática: Ensino de Contabilidade.

RESUMO Teoria de base é a denominação utilizada para a teoria científica que serve de sustentação

teórica de uma pesquisa, meio pelo qual é feita a interpretação dos resultados obtidos. Nesse

sentido, o estudo tem como objetivo analisar a utilização de teorias de base em teses dos

programas de pós-graduação em Contabilidade das universidades localizadas na Região Sul

do país. A pesquisa é classificada como quali-quantitativa, descritiva e documental, realizada

por meio da análise de 25 teses em Contabilidade defendidas em universidades da Região Sul.

Os resultados dos estudos demonstram que, em sua maioria, as teses possuem como teoria de

base a Teoria da Agência, seguida da Teoria Contingencial. Outras teorias, apesar de não

serem utilizadas como base, foram citadas nas teses, como a Teoria dos Custos de Transação,

a Teoria das Organizações e a Teoria da Firma. Além disso, observou-se que a Teoria da

Agência está relacionada às teses voltadas para a área de Controladoria, e os principais

autores citados são Jensen e Meckling (1976), Ross (1973) e Eisenhardt (1989). Assim, é

possível inferir que para a formulação de uma tese, a utilização de uma teoria de base é

importante, e que envolve, em geral, a apresentação de outras teorias relacionadas à teoria

escolhida.

Palavras-chave: Teoria de Base. Teses. Pós-Graduação em Contabilidade.

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1 INTRODUÇÃO Desde seu início, cujas diretrizes foram estabelecidas inicialmente pela lei nº 4.024 de

1961 (BRASIL, 1961), os programas de pós-graduação são responsáveis pela formação e

qualificação de mestres e doutores, exercendo papel relevante no desenvolvimento da

pesquisa científica do país. Especificamente em Contabilidade, o primeiro programa de pós-

graduação stricto sensu foi instituído no Brasil pela Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e, na Região Sul, pela Universidade

do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (PELEIAS et al., 2007).

Nos programas de pós-graduação stricto sensu, existem cursos de mestrado e

doutorado. O curso de doutorado, formação profunda e ampla direcionada à capacidade de

pesquisa, atribui o título de doutor ao indivíduo que elaborar e defender sua tese, que por sua

vez deve conter uma contribuição real para o conhecimento científico a cerca do tema

estudado (CURY, 2005). Para isso, é importante que a tese formulada possua seu

embasamento em uma determinada teoria. Esta teoria utilizada para subsidiar a pesquisa é

denominada teoria de base.

Uma teoria científica é originada pela determinação de um esquema sistemático que

unifique conteúdos distintos, consagrada por meio de provas da sua capacidade de cumprir as

funções que se propõe para, então, torna-se válida (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Assim,

a teoria de base pode ser entendida como a teoria científica utilizada para a sustentação

teórica da pesquisa, meio pelo qual deve ser feita a interpretação dos resultados obtidos.

Nesta temática, destacam-se os estudos de Hesford et al. (2007), no âmbito

internacional, com a análise de publicações sobre Contabilidade Gerencial. No âmbito

nacional, ressaltam-se os estudos de Beuren e Nascimento (2014) e Farias e Gasparetto

(2015), que incluem em suas análises de produções científicas uma breve descrição das

teorias de base utilizadas. Além disso, destacam-se, ainda, estudos posteriores como o de

Consenza et al. (2016) e de Oliveira et al. (2017).

Assim, a utilização de uma teoria que embase a tese formulada se torna parte relevante

na validação do estudo realizado para a obtenção do título de doutor em Contabilidade. A

partir do exposto e da lacuna de pesquisa existente, formula-se a seguinte questão problema:

Qual a utilização de teorias de base nas teses dos programas de pós-graduação em

Contabilidade das instituições de ensino superior da Região Sul do Brasil? Com isso, o

objetivo do estudo é analisar o uso de teorias de base em teses defendidas nos programas de

pós-graduação em Contabilidade da Região Sul do país, desde sua origem.

Diante disso, torna-se oportuna a realização desta pesquisa, uma vez que a utilização

de teorias de base está cada vez mais presente no meio acadêmico, não somente em teses de

doutorado, mas também nos demais trabalhos científicos, como dissertações, monografias e

artigos. Nesse sentido, o estudo espera contribuir para o constante desenvolvimento do

conhecimento científico e para o auxílio de estudantes e pesquisadores que buscam identificar

a teoria que servirá como base para as suas pesquisas em Contabilidade.

Além desta introdução, o artigo é composto pelo referencial teórico, seção dois, que

aborda as características das teses de cursos de doutorado em Contabilidade e os conceitos

pertinentes à teoria de base, bem como a exposição dos estudos relacionados. Em seguida, são

descritos os procedimentos metodológicos da pesquisa, na seção três. A análise dos dados

contendo os resultados do estudo está presente na seção quatro. E, por fim, são apresentadas

as considerações finais da pesquisa, na seção cinco.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO Para o embasamento do estudo, são abordados nesta seção os principais tópicos

relacionados aos programas de pós-graduação em Ciências Contábeis, com enfoque nas teses

de cursos de doutorado, e as definições sobre teoria de base de pesquisa científica.

2.1 TESES DE DOUTORADO EM CONTABILIDADE

Para que o indivíduo obtenha o grau de doutor, é necessário cursar o doutorado. O

doutorado, denominado internacionalmente pela sigla anglo-saxônica PhD (que significa

Philosophy Doctor, embora designe qualquer espécie de doutor), é procurado por quem busca

aperfeiçoamento e profunda especialização na profissão de pesquisador científico (ECO,

2016). A tese é estudo científico, desenvolvido no curso de doutorado, necessário para que o

pesquisador alcance de grau de doutor (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).

A tese de doutorado deve cumprir dois requisitos essenciais: a demonstração, pelo

pesquisador, de que o trabalho é capaz de progredir a matéria a qual se dedica; originalidade,

que requer conhecimento profundo do assunto, para identificar algo que ainda não foi dito

pelos demais pesquisadores da área, que demonstra o potencial da tese em surpreender,

apontar uma nova perspectiva ou um caminho diferente (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).

Segundo Demo (2000), as teses possuem o sentido lato e o estrito, que determinam os

objetivos de desenvolver a ciência e de obter a aprovação acadêmica. Nesse sentido, a tese

pode ser vista como um ritual de passagem, onde o pesquisador possui o acompanhamento da

figura do orientador e tem como desafio inicial elaborar o projeto de tese (DEMO, 2000).

Fazer uma tese significa aprender a ordenar ideias e dados; é uma experiência de trabalho

metódico na qual se constrói um conhecimento que também serve aos demais (ECO, 2016).

Em Contabilidade, as teses de doutoramento, defendidas em 1972, de Stephen Charles

Kanitz e Eliseu Martins significaram um marco inicial para as contribuições acadêmicas da

área (SCHMIDT, 2000). A tese de Kanitz “Contribuição à teoria do rateio e dos custos fixos”

e de Martins “Contribuição à evolução do ativo intangível” foram defendidas junto

Departamento de Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). (SCHMIDT, 2000).

A partir das primeiras pesquisas desenvolvidas no doutorado em Contabilidade, foram

elaboradas muitas outras, em temáticas como: reflexos das informações contábeis, função do

profissional de contabilidade, atribuições de controladoria e auditoria, mensuração e avaliação

de fenômenos contábeis, dispositivos legais e fiscais, inclusão de fenômenos sociais nas

demonstrações contábeis, desenvolvimento de diversos modelos em Contabilidade, entre

outras (MAGALHÃES, 2006).

2.2 TEORIA DE BASE

Segundo o Novo Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1986, p. 1664) teoria pode ser

definida como o “Conjunto de conhecimentos não ingênuos que apresentam graus diversos de

sistematização e credibilidade e que se propõem explicar, elucidar, interpretar ou unificar um

dado domínio de fenômenos ou de acontecimentos que se oferecem à atividade prática.”. Para

Sá (2010) teoria é o desenvolvimento intelectual que torna um conteúdo simples, subjetivo e

prático em um conhecimento objetivo, raciocinado, valorizado e sistematizado. Neste sentido,

teoria pode ser entendida como uma proposição sistematizada sobre determinados fatos ou

fenômenos, que para possuir rigor científico precisa ser devidamente testada e validada.

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A investigação científica objetiva, além da discrição dos fatos ou fenômenos

empíricos, desenvolver a interpretação destes dados (MARCONI; LAKATOS, 2007). Para

isso, Marconi e Lakatos (2007) afirmam que é fundamental efetuar a relação entre o estudo e

o universo teórico, e, assim sendo, selecionar uma teoria que embase a interpretação dada

pelo pesquisador aos dados coletados.

A abrangência do referencial teórico varia conforme a teoria utilizada para esclarecer

os fenômenos estudados na pesquisa. O pesquisador pode optar por uma teoria específica para

embasar seu estudo, mas isso não torna mais simples o desenvolvimento do referencial, uma

vez que, nesse caso, é preciso realizar a discussão mais profunda das ideias propostas pela

teoria em questão (BEUREN, 2014).

As teorias exercem uma função metodológica importante na pesquisa, sendo, portanto,

relevantes no processo de análise em estudos de ciências sociais (GIL, 2011). Dessa forma, é

designada teoria de base a teoria científica considerada pelo pesquisador para a sustentação

teórica de sua pesquisa, que embasa a interpretação e atribui o significado dos resultados

evidenciados em seu estudo.

Dentre as teorias existentes, a Teoria da Agência é de grande relevância nas áreas de

Finanças, Economia e Contabilidade. Jensen e Meckling (1976) descreveram a Teoria da

Agência com base nos conflitos de interesse originados da relação entre o principal

(proprietário do capital da empresa) e o agente (responsável pela gestão dos recursos da

empresa). Segundo os autores, a teoria pressupõe a existência de problemas de agência

oriundos de decisões tomadas pelos gestores da empresa que visam maximizar sua utilidade

pessoal ao invés da riqueza dos acionistas.

Segundo Jensen e Meckling (1976), a relação de agência ocorre por meio de um

contrato de trabalho no qual o principal (um ou mais acionistas) emprega um indivíduo

(agente) para serviços que envolvem poder de decisão na empresa. Ainda conforme os autores,

é necessário que o principal ofereça incentivos ao agente para diminuir as diferenças de

prioridade, e assim o agente busque maximizar o bem-estar do principal. Os custos de agência

provem de despesas com a supervisão do principal ao agente, de despesas de concessão de

garantias contratuais do agente e de gastos residuais (JENSEN; MECKLING, 1976).

Destaca-se, ainda, a revisão de Eisenhardt (1989) sobre a Teoria da Agência, que

afirma que os problemas de agência originam-se ou por objetivos conflitantes entre o

principal e o agente, ou por dificuldades operacionais e/ou financeiras do principal em

monitorar o agente. Segundo a autora, Teoria da Agência foi aplicada aos fenômenos em duas

principais vertentes, a positivista e a principal-agente. Outro ponto importante da teoria é o

compartilhamento de risco, onde o agente pode preferir tomar decisões diferentes das

escolhidas pelo principal por ter preferências diferentes de risco (EISENHARDT, 1989).

Outra teoria de destaque nas Ciências Econômicas e Contábeis é a Teoria

Contingencial. De acordo com Chiavenato (2003), a Teoria Contingencial determina que o

comportamento e a estrutura das organizações sofrem influência do ambiente, em um sistema

de constantes mudanças. O autor afirma ainda que, para a abordagem contingencial, a

tecnologia é a variável independente que condiciona 35 variáveis contingenciais dependentes,

relacionadas à estrutura e ao comportamento da empresa. Assim, a teoria possui o enfoque

nos problemas situacionais da empresa, assumindo que a organização é contingente, uma vez

que depende de situações e circunstâncias que variam com o passar do tempo

(CHIAVENATO, 2003).

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A estrutura organizacional de uma empresa é dividida em mecânica (com ambiente

estável, centralização de controle, especialização das tarefas, hierarquia verticalizada e

formalização de comunicação) e orgânica (com descentralização de controle e constantes

mudanças de tecnologia e de mercado) (BURNS; STALKER, 1961). Por conta da

complexidade, as organizações buscam o uso de novas tecnologias, no entanto, isso pode

gerar problemas de autoridade, e para evitar problemas dessa ordem, a estrutura e as ênfases

dos cargos devem estar limitadas ao tipo de tecnologia da organização. (THOMPSON;

BATES 1957).

2.3 ESTUDOS RELACIONADOS

Dentre os estudos anteriores realizados sobre esta temática, destaca-se a análise

documental de Beuren e Nascimento (2014), que analisou o perfil dos artigos de

Contabilidade Gerencial publicados na Accounting, Organizations and Society (AOS), no

período de 2005 a 2009. Além de analisar as características gerais, autoria, ranking dos

autores, disciplinas de base, temas de pesquisa, foram também analisadas as teorias de base

dos artigos e autores que as sustentam. Com relação a estas teorias, as autoras observaram que

a Teoria da Contingência foi a principal base teórica utilizada (19,44%) seguido pela Teoria

Actor-network e pela Teoria Institucional (ambas com 13,88%), e na terceira posição a Teoria

da Agência e a Teoria Neo-institucional (ambas com 8,33%).

A pesquisa de Beuren e Nascimento (2014) se afiliou metodologicamente no estudo de

Hesford et al. (2007), que analisou as publicações sobre Contabilidade Gerencial em 10

periódicos no período de 1981 a 2000. As análises foram realizadas distinguindo cada década

para observar tendências ao longo do período. Os autores analisaram os tópicos estudados, os

métodos de pesquisa e as disciplinas de base utilizadas. Apesar dos autores não segregarem as

análises por teoria de base utilizada, eles classificaram as disciplinas de base em: a) economia

(a exemplo da Teoria da Agência); b) psicologia; c) sociologia (a exemplo da Teoria da

Contingência e da Teoria Institucional); d) produção e gerenciamento organizacional; e e)

história. Os resultados encontrados mostram que economia (43%) é a disciplina de base

dominante, seguida pela sociologia (40%) e pela psicologia (15%).

De maneira similar, Shields (1997), analisou 152 artigos de pesquisas em

Contabilidade Gerencial publicados em seis grandes revistas no período de 1990 a 1997. As

disciplinas de base mais frequentes encontradas no estudo estão dispostas no Quadro 1.

Quadro 1 – Frequência das disciplinas de base no estudo de Shields (1997)

Frequência Disciplinas de base Descrição

49% Economia As teorias econômicas utilizadas são quase exclusivamente a economia de

custo principal e de custo de produção.

10% Comportamento

organizacional

A base de comportamento organizacional baseia-se em teorias

relacionadas à liderança, motivação, negociação, entre outros.

8% Psicologia As teorias psicológicas são de psicologia cognitiva, transcultural,

motivacional e social.

7% Gestão de produção

e operações

As teorias da Gestão de produção e operações lidam com tecnologia,

qualidade, e layout e agendamento do processo produtivo.

Fonte: adaptado de Shields (1997).

Nascimento, Junqueira e Martins (2010) também se utilizaram do estudo de Hesford et

al. (2007) como parâmetro para comparação com os resultados da sua pesquisa bibliométrica

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e documental. Os autores pesquisaram sobre as características epistemológicas da produção

acadêmica em contabilidade gerencial no Brasil, publicados nos principais eventos da área.

Apesar de também não evidenciaram as Teorias propriamente ditas, o estudo demonstra que

83% dos trabalhos trazem conceitos contábeis ou legislação como sustentação teórica para as

análises, enquanto apenas 17% se baseiam em teorias da economia, sociologia ou psicologia.

Farias e Gasparetto (2015) analisaram o conteúdo e epistemologia de artigos

publicados em periódicos acerca de Gestão de Custos Interorganizacionais, e constataram que

a maioria dos trabalhos não aborda uma teoria que explique a realidade, corroborando com os

achados de Nascimento, Junqueira e Martins (2010). Já Slewinski, Camacho e Sanches (2015),

em uma análise bibliométrica internacional sobre Relato Integrado no período de 2010 a 2014,

analisaram 22 artigos sobre o tema. Através da análise das perspectivas teóricas verificou-se

que aquelas pesquisas se utilizaram da Teoria do Stakeholders, Teoria Institucional e Teoria

da Legitimidade.

Consenza et al. (2016), ao investigar o direcionamento da pesquisa contábil nos

congressos da ANPCONT, no período de 2007 a 2014, verificou que estes congressos

possuem tradição de pesquisa baseada em características paradigmáticas eminentemente

voltadas para a abordagem positiva, com preponderância de métodos empíricos. Já Oliveira et

al. (2017) fez um levantamento das pesquisas surveys publicadas na área de Marketing, entre

os anos 2000 a 2010, nos principais periódicos de Administração do Brasil, assim como nos

anais dos mais importantes encontros de pós-graduação que possuem a divisão de Marketing.

Ao analisar a fundamentação conceitual, o autor avaliou o nível de aprofundamento das

teorias de base (Tabela 1).

Tabela 1 - Nível de aprofundamento das teorias de base

Teorias de Base 1990 2000

Nº % Nº %

Aprofundada 50 40,3% 424 61,3%

Ausente 10 8,1% 13 1,9%

Superficial 64 51,6% 255 36,8%

Fonte: adaptada de Oliveira et al. (2017).

Por meio da Tabela 1, pode-se observar o que Oliveira et al. (2017) observou a

respeito do nível de aprofundamento encontrado nos artigos. Destaca-se a evolução do

aprofundamento nas teorias de base na década de 2000.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa realizada é classificada como qualitativa e quantitativa quanto à

abordagem do problema. Uma pesquisa é considerada qualitativa quando utiliza o recurso de

quantificação na coleta e tratamento dos dados, e quantitativa quando não utiliza destes

recursos, efetuando uma análise em profundidade (RICHARDSON, 1999). Nesse sentido, o

estudo pode ser considerado misto, visto que se utiliza tanto de análise quantitativa (média,

frequência, etc.) quanto de abordagem qualitativa (mapeamento por área temática,

identificação de autores e obras, etc.) para apresentar os resultados evidenciados.

Neste estudo buscou-se descrever as teorias de base utilizada em teses de doutorado,

por conta disso, a pesquisa é classificada como descritiva quanto aos objetivos. Uma pesquisa

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descritiva que tem como objetivo central delinear as características de determinada

população/fenômeno, ou estabelecer relação entre variáveis (GIL, 2011).

Além disso, a pesquisa é classificada, também, quanto aos procedimentos. Nesse caso,

efetuou-se uma pesquisa documental, cujas fontes de dados foram as teses de doutorado em

contabilidade da Região Sul (GIL, 2011). Assim, coleta de dados foi efetuada por meio de

documentação indireta (MARCONI; LAKATOS, 1990). Após a coleta, os dados foram

avaliados por meio de análise documental, que utiliza como apoio o diagnóstico da pesquisa,

com as informações as coletadas nos materiais (COLAUTO; BEUREN, 2014).

Para a identificação dos programas de pós-graduação em Contabilidade, foram

selecionados os programas em funcionamento da Região Sul do país na área de avaliação

“Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo” na Plataforma

Sucupira1 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Dessa

forma, foram identificados 56 programas em funcionamento para a referida área de avaliação.

A partir disso, foram identificados 9 programas direcionados a Contabilidade, Controladoria e

Ciências Contábeis.

Dentre os 9 programas de pós-graduação em funcionamento na Região Sul, foram

identificados 4 com curso de doutorado em Contabilidade. As universidades e a quantidade de

teses defendidas nestas universidades são apresentadas na Tabela 2. Cabe ressaltar que a

quantidade de teses defendidas equivale à população do estudo, isto é, todas as teses

defendidas desde o início de cada programa.

Tabela 2 – População e amostra do estudo

Universidade Programa de Pós-Graduação Quantidade

de teses

Amostra

do estudo

Universidade Regional de Blumenau

(FURB) Ciências Contábeis (PPGCC) 32 21

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

(UNISINOS) Ciências Contábeis (PPG CONTABEIS) 3 3

Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC) Contabilidade (PPGC) 1 1

Universidade Federal do Paraná

(UFPR) Contabilidade (PPGCONT-UFPR) 0 0

Total 36 25

Fonte: elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).

O programa da FURB é composto pela área de Administração em conjunto à

Controladoria. Para este caso, foi contatado diretamente o programa de pós-graduação para a

identificação da área afim de cada tese, para que fossem desconsideradas àquelas de

Administração. Assim, a amostra do estudo ficou composta de 25 teses da área objeto desta

pesquisa. Os programas de pós-graduação, cujas teses compõem a amostra, possuem as linhas

de pesquisa apresentadas no Quadro 2.

Quadro 2 – Linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação

Universidade Programa de Linhas de Pesquisa

1 Disponível em: <https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/listaPrograma.jsf>.

Acesso em: 12 maio 2017.

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Pós-Graduação

Universidade Regional de

Blumenau (FURB)

Ciências Contábeis

(PPGCC)

a) Contabilidade Financeira; b) Contabilidade Gerencial;

e c) Estratégia e Competitividade.

Universidade do Vale do Rio

dos Sinos (UNISINOS)

Ciências Contábeis

(PPG CONTABEIS) a) Controle de Gestão; e b) Contabilidade e Finanças.

Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC)

Contabilidade

(PPGC)

a) Controle de Gestão e Avaliação de Desempenho; e b)

Contabilidade Financeira e Pesquisa em Contabilidade.

Universidade Federal do

Paraná (UFPR)

Contabilidade

(PPGCONT-UFPR)

a) Contabilidade Financeira e Finanças; e b)

Contabilidade e Controle Gerencial.

Fonte: elaborado a partir de dados da pesquisa (2017).

Pode-se observar que dentre as linhas de pesquisa se destacam temáticas relacionadas

à Contabilidade Financeira, Contabilidade Gerencial e Controle de Gestão. Os 4 programas de

pós-graduação apresentam, ao total, 9 linhas de pesquisa em Contabilidade.

4 ANÁLISE DOS DADOS

Nesta seção são apresentados inicialmente as características temáticas e classificações

das teorias de base encontradas nas teses. Em seguidas são demonstrados os autores e obras

mais referenciados; e as outras teorias relacionadas nas teses.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS TESES

O objetivo desta seção é realizar uma caracterização das teses analisadas. O primeiro

ponto analisado é a determinação dos trechos que foram considerados como texto explícito de

utilização de teoria de base, apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Trechos explícitos de utilização de teoria de base

Trechos explícitos Quantidade

de teses

Frequência

relativa

"à luz da teoria, formula-se a tese" 4 16,7%

"sob a ótica da teoria" 3 12,5%

"fundamentado na teoria, formula-se a tese" 2 8,3%

"a base teórica utilizada é a teoria" 1 4,2%

"a escolha da teoria para dar luz a discussão dos resultados" 1 4,2%

"a plataforma teórica utilizada é a teoria" 1 4,2%

"a teoria de base que permeou o estudo" 1 4,2%

"análise por meio da teoria" 1 4,2%

"apresenta a teoria e o posicionamento teórico para a tese" 1 4,2%

"com a teoria de base escolhida, que foi a teoria" 1 4,2%

"com o olhar da teoria" 1 4,2%

"evidenciação pelos pressupostos da teoria" 1 4,2%

"iniciando-se na teoria, por constituir a teoria de base do trabalho" 1 4,2%

"o estudo balizou-se na teoria" 1 4,2%

"se encontra apoiada na teoria" 1 4,2%

"sob o enfoque da teoria" 1 4,2%

"tendo como suporte a teoria, formula-se a tese" 1 4,2%

"utilizando-se como teoria de base a teoria" 1 4,2%

Total 24 100%

Fonte: elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).

Dentre as 25 teses analisadas, verificou-se que somente 1 delas, referente a Teoria de

Sticky Costs, não declarou de forma explícita a teoria de base utilizada, embora fique clara a

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utilização da referida teoria com a leitura da tese em questão. Esse fato justifica a

apresentação de 24 trechos explícitos.

O estudo de Beuren e Nascimento (2014) evidenciou um índice baixo de explicitação

da teoria de base utilizada (19,35%) em artigos publicados no periódico internacional

Accounting, Organizations and Society (AOS). Por outro lado, nesta pesquisa apenas 1 tese

não apresentou de maneira explícita sua teoria de base, representando 4% do total.

Outra caracterização realizada foi a identificação da teoria de base das teses, na qual

constatou-se que as teses utilizam apenas uma única teoria como base. Dessa forma, é

possível classificar as teorias de base conforme sua frequência como demonstra a Tabela 4.

Tabela 4 - Frequência de utilização das teorias

Teoria de base Quantidade de teses Frequência relativa

Teoria da Agência 12 48%

Teoria Contingencial 3 12%

Teoria Institucional 1 4%

Teoria de Finanças 1 4%

Teoria das Escolhas Públicas 1 4%

Teoria Social Cognitiva 1 4%

Resource-advantage Theory 1 4%

Teoria da Estruturação 1 4%

Teoria dos Sistemas Vivos 1 4%

Teoria Geral dos Sistemas 1 4%

Teoria da Legitimidade 1 4%

Teoria dos Sticky Costs; 1 4%

Total 25 100%

Fonte: Elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).

Verifica-se que 12 teses utilizaram como teoria de base, a Teoria da Agência e 3, a

Teoria Contingencial. Todas as demais teses utilizaram alguma teoria diferente, totalizando

12 diferentes teorias. Outro dado verificado foi de que 100% das teses analisadas mencionam

já na primeira seção (Introdução) a teoria utilizada como base.

Além disso, foi identificada uma padronização nas teses do programa da FURB, que

apresenta no Referencial Teórico entre uma e duas seções especificamente sobre a teoria de

base considerada para o estudo. Da mesma forma, observou-se uma similaridade na forma de

apresentação da teoria de base nas teses defendidas no programa da UNISINOS. Por haver

somente 1 tese do programa da UFSC, não pode-se inferir sobre seu padrão de apresentação

da teoria de base.

Analisaram-se, ainda, as 25 teses conforme a área temática, de acordo com as

categorias utilizadas pela Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Ciências

Contábeis (ANPCONT) no Congresso de 2017. A classificação passou por processo de

validação de dois professores doutores da área. Esta distribuição é apresentada na Tabela 5.

Tabela 5 - Frequência das áreas temáticas

Temática Quantidade de

teses

Frequência

relativa

Page 10: UTILIZAÇÃO DE TEORIAS DE BASE NAS TESES DOS PROGRAMAS DE …

10

Controladoria e Contabilidade Gerencial 12 48%

Contabilidade para Usuários Externos 7 28%

Mercados Financeiro, de Crédito e de Capitais 5 20%

Contabilidade Aplicada ao Setor Público e ao Terceiro Setor 1 4%

Educação e Pesquisa em Contabilidade 0 0%

Total 25 100%

Fonte: elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).

Como pode ser visto na Tabela 5, a área temática com maior número de teses é

Controladoria e Contabilidade Gerencial, representando quase metade do total de teses (48%),

seguida de Contabilidade para Usuários Externos com 28%. Não foi encontrada nenhuma tese

referente a Educação e Pesquisa em Contabilidade. Infere-se que esse resultado se deve ao

fato de nenhum programa possuir uma linha de pesquisa voltada para educação, e somente o

programa da UFSC estar direcionado para pesquisa em Contabilidade.

Por outro lado, grande parte das teses ser da temática de Controladoria e Contabilidade

Gerencial está relacionada ao fato de todos os programas possuírem uma linha de pesquisa

voltada para Controle de Gestão ou para Contabilidade Gerencial. Da mesma forma, a

representatividade das temáticas de Usuários Externos e Mercados Financeiro, de Crédito e de

Capitais está relacionada às linhas de pesquisa de Contabilidade Financeira.

4.2 TEORIAS DE BASE E TEMÁTICAS DE PESQUISA

Nesta seção são analisadas as relações entre as teorias de base utilizada para subsidiar

as teses e as respectivas áreas temáticas (Quadro 3).

Quadro 3 - Teorias de base x área temática

Teorias de base/Área

Temática

Controladoria e

Contabilidade

Gerencial

Contabilidade

para Usuários

Externos

Mercados

Financeiro, de

Crédito e de

Capitais

Contabilidade

Aplicada ao Setor

Público e ao

Terceiro Setor

Teoria da Agência 3 6 3 -

Teoria Contingencial 3 - - -

Teoria Institucional 1 - - -

Teoria de Finanças - - 1 -

Teoria das Escolhas Públicas - - - 1

Teoria Social Cognitiva 1 - - -

Resource-advantage Theory - - 1 -

Teoria da Estruturação 1 - - -

Teoria dos Sistemas Vivos 1 - - -

Teoria Geral dos Sistemas 1 - - -

Teoria da Legitimidade - 1 - -

Teoria dos Sticky Costs 1 - - -

Fonte: elaborado a partir de dados da pesquisa (2017).

A partir do Quadro 3, verifica-se que a Teoria da Agência, além de estar presente em

48% das teses analisadas, é a mais abrangente de todas, pois é a única a estar presente em

mais de uma área: a) Controladoria e Contabilidade Gerencial; b) Mercados Financeiro, de

Crédito e de Capitais; e c) Contabilidade para Usuários Externos. Em uma comparação com os resultados de Beuren e Nascimento (2014), que é o

estudo que mais se assemelha com este trabalho, pois evidencia as teorias de base utilizadas

em 36 artigos, de um universo total de 186 artigos da Accounting, Organizations and Society

Page 11: UTILIZAÇÃO DE TEORIAS DE BASE NAS TESES DOS PROGRAMAS DE …

11

(AOS), sobre contabilidade gerencial, percebe-se que há certo alinhamento entre as teorias.

Enquanto que na pesquisa dos autores a Teoria da Contingência foi a mais utilizada, nesta

pesquisa, as teorias de base mais utilizadas na temática Controladoria e Contabilidade

Gerencial, foram as Teorias da Contingência e da Agência, empatados com 3 teses cada.

A área temática que mais apresenta distintas teorias de base para subsidiar as teses é

Controladoria e Contabilidade Gerencial (responsável por 48% das áreas temáticas

pesquisadas), com 8 distintas teorias. Em seguida, está Mercados Financeiro, de Crédito e de

Capitais com 3 teorias.

4.3 OUTRAS TEORIAS REFERENCIADAS

Esta seção visa apresentar as outras fontes de informações teóricas utilizadas pelos

autores. Além das teorias de base utilizadas de maneira expressa para fundamentar as teses,

percebeu-se que os autores também se utilizam de algumas outras teorias para realizar

comparações, exemplificações, explicações e outras relações. Na 0 é possível observar estas

outras teorias referenciadas e no Quadro 6 pode-se observá-las em relação a teoria de base

declarada nas teses.

Figura 1 - Outras teorias referenciadas

Fonte: elaborada a partir de dados da pesquisa (2017).

Quadro 4 - Outras teorias referenciadas por teoria de base

Teorias de base Teorias Relacionadas

Teoria da Agência

Teoria da Firma (10); Teoria dos Custos de Transação (9); Teoria dos Direitos de

Propriedade (4); Teoria das Organizações (2); Teoria do Ciclo de Vida do Produto

(2); Teoria dos Contratos (2); Teoria Econômica Clássica (2); Teoria Financeira

(2); Teoria da Contingência; Teoria da Legitimidade; Teoria da Política

Econômica; Teoria da Produção Internacional da Firma; Teoria da Sinalização;

Teoria da Vantagem Absoluta; Teoria da Vantagem Comparativa; Teoria do

Page 12: UTILIZAÇÃO DE TEORIAS DE BASE NAS TESES DOS PROGRAMAS DE …

12

Teorias de base Teorias Relacionadas

Comportamento Administrativo; Teoria do Crescimento da Firma; Teoria do Poder

de Mercado; Teoria do Stakeholder; Teoria Eclética; Teoria Institucional; Teoria

Neoclássica do Comércio; Teoria Positiva da Contabilidade.

Teoria Contingencial

Teoria Comportamental (2); Teoria da Agência (2); Teoria da Administração

Científica; Teoria da Administração Moderna; Teoria da Decisão; Teoria das

Organizações; Teoria Institucional.

Teoria Institucional Teoria da Agência; Teoria da Burocracia; Teoria da Contingência; Teoria da Firma;

Teoria dos Custos de Transação.

Teoria de Finanças Teoria Clássica; Teoria Econômica; Teoria Microeconômica.

Teoria das Escolhas

Públicas

Teoria da Escolha Social; Teoria da Organização; Teoria da Sociedade; Teoria dos

Jogos.

Teoria Social Cognitiva Teoria da Aprendizagem Social; Teoria da Psicologia Cognitiva; Teoria da

Psicologia Social; Teoria do Locus de Controle; Teoria do Reflexo Condicionado.

Resource-advantage

Theory

Teoria Baseada na Competência; Teoria da Economia Institucional; Teoria da

Organização Industrial; Teoria da Sociologia Econômica; Teoria da Tradição

Histórica; Teoria do Diferencial Competitivo; Teoria dos Custos de Transação.

Teoria da Estruturação Teoria Institucional

Teoria dos Sistemas Vivos Teoria Geral dos Sistemas

Teoria Geral dos Sistemas -

Teoria da Legitimidade Teoria da Agência; Teoria da Sinalização; Teoria dos Custos de Transação; Teoria

dos Custos do Proprietário; Teoria dos Custos Políticos.

Teoria dos Sticky Costs Teoria da Agência; Teoria Institucional; Teoria Tradicional sobre Comportamento

dos Custos.

Fonte: elaborado a partir de dados da pesquisa (2017).

No Quadro 4, observa-se que as teses que declararam a Teoria da Agência como teoria

de base, também citaram a Teoria da Firma, 10 vezes. Em seguida, apareceu a Teoria dos

Custos de Transação, com referências em 9 teses, e Teoria dos Direitos de Propriedade em 4

teses. A tese referente a Teoria Geral dos Sistemas, não referenciou nenhuma outra teoria.

As teorias mais referenciadas nas teses, sem ser utilizada pelo pesquisador como teoria

de base do trabalho, foram a Teoria dos Custos da Transação e Teoria da Firma, com

referências em, respectivamente, 12 e 11 teses. Pode-se observar, ainda, que em teses cuja

teoria de base explicitamente descrita foi a Teoria da Agência, houve uma quantidade maior,

no total, de outras teorias também referenciadas. Outro ponto de destaque é que a própria

Teoria da Agência é referenciada em 38% das teses que possuem outra teoria como base.

4.4 PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS SOBRE AS TEORIAS

O Quadro 5 apresenta os autores que sustentam as teorias de base dessas publicações,

ou seja, que foram citados para consubstanciar as teorias utilizadas nas 25 teses. Cabe

salientar que as teorias que somente apareceram uma única vez, estão com todos os principais

autores referenciados. Já aquelas teorias que apareceram em mais de uma tese (Teoria da

Agência e Teoria Contingencial), estão referenciados apenas aqueles autores que apareceram

de forma repetida.

Quadro 5 - Autores de destaque por teoria de base

Teorias de base Autores de destaque no referencial teórico das teses analisadas

Teoria da Agência Berle e Means (1932); Coase (1937); Alchian (1965); Alchian e Demsetz (1972);

Alchian e Demsetz (1973); Mitnick (1973); Ross (1973); Williamson (1973);

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13

Teorias de base Autores de destaque no referencial teórico das teses analisadas

Williamson (1975); Jensen e Meckling (1976); Fama e Jensen (1983); Jensen (1983);

Eisenhardt (1985); Barney e Ouchi (1986); Williamson (1988); Eisenhardt (1989);

Jensen (1989); Barney e Hesterly (2004); Mitnick (2013).

Teoria Contingencial Thompson e Bates (1957); Burns e Stalker (1961); Tchompson (1967); Donaldson

(2001).

Teoria Institucional

Berger e Luckmann (1976); Perrow (1979); Dimaggio e Powell (1983); Scapens

(1994); Carruthers (1995); Scott (1995); Barley e Tolbert (1997); Carmona, Ezzamel e

Gutiérrez (1998); Burns e Scapens (2000); Burrel e Morgan (2003); Scapens (2006).

Teoria de Finanças Lerner (1943); Modigliani (1944); Modigliani e Zeman (1952); Shaw (1954); Arsdell

(1955); Dauten (1955); Weston (1955).

Teoria das Escolhas

Públicas

Mueller (1976); Mueller (1997); Mueller (2004); Rowley (1993); Rowley (2004);

Black (1948); Borda (1781); Buchanan e Tullock (1962); Buttler (2012); Condorecet

(1785); Frey (1984); Qu e Cheung (2013); Shughart e Razzolini (2001); Weck-

Hannemann (2001);

Teoria Social Cognitiva

Bandura, Ross e Ross (1961); Bandura e Walters (1963); Bandura (1965); Bandura

(1971); Bandura (1974); Bandura e Walters (1974); Bandura (1976); Bandura (1977);

Bandura (1978); Bandura (1982); Blumrerg e Pringle (1982); Bandura (1986); Bandura

(1988); Bandura (1989); Bandura (2001); Azzi e Polydoro (2006).

Resource-advantage

Theory

Chamberlin (1933); Coase (1937); Penrose (1959); Rumelt (1984); Wernerfelt (1984);

Barney (1986); Dierickx e Cool (1989); Barney (1991); Hunt e Morgan (1995); Rossi

(2008).

Teoria da Estruturação

Giddens (1984); Macintosh e Scapens (1990); Lawrenson (1991); Rosenbaum (1993);

Jones e Karsten (2008); Sauerbronn (2009); Englund, Gerdin e Burns (2011); Hossain

et al (2011).

Teoria dos Sistemas

Vivos

Miller (1978); Morgan (1996); Swanson (1999); Swanson e Miller (2011); Karim

(2013).

Teoria Geral dos

Sistemas

Boulding (1956); Churchman (1971); Hatfield e Hipel (2002); Martinelli (2006);

Kuhn, Bertalanffy (2012); Courtney e Morris (2015).

Teoria da Legitimidade Dowling e Pfeffer (1975); Lindblom (1994); Suchman (1995).

Teoria dos Sticky Costs

Anderson, Banker e Janakiraman (2003); Subramaniam e Weidenmier (2003);

Balakrishnan, Petersen e Soderstrom (2004); Medeiros, Costa e Silva (2005); Kim e

Prather-Kinsey (2010); Weiss (2010); Balakrishnan, Labro e Soderstrom (2011);

Porporato e Werbin (2012); Richartz (2013); Marques et al. (2014); Richartz e Borgert

(2014).

Fonte: elaborado a partir de dados da pesquisa (2017).

Foram observadas as principais obras relacionadas aos autores de destaque, de acordo

com a teoria de base utilizada nas teses analisadas. Teorias como a Contingencial, de Finanças,

dos Sistemas Vivos e da Legitimidade apresentaram poucas obras mais de uma vez, sendo

que esta última, referenciou somente 3 obras de forma repetida.

Além disso, observa-se nas teorias mais frequentes, Teoria da Agência e

Contingencial, destacam-se, principalmente, obras publicadas entre as décadas de 1950 e

1990. Por outro lado, para teorias como a Teoria Geral dos Sistemas e Teoria dos Sticky Costs,

as produções de destaque são, em sua maioria, mais recentes, publicadas a partir do ano 2000.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou examinar o uso de teorias de base em teses defendidas nos

programas de pós-graduação em Contabilidade da Região Sul do país. Para isso, foi realizado

uma pesquisa documental que contemplou 4 universidades/programas e totalizou 25 teses de

doutorado em Contabilidade.

Page 14: UTILIZAÇÃO DE TEORIAS DE BASE NAS TESES DOS PROGRAMAS DE …

14

Diante dos dados da pesquisa, sobre a caracterização das teses, constatou-se que a

temática Controladoria e Contabilidade Gerencial é a mais evidenciada, estando presente em

48% das teses. Já em relação as teorias de base, percebe-se uma utilização ampla e variada: 12

diferentes teorias, sendo a Teoria da Agência a base mais utilizada, presente em 12 teses. A

Teoria da Agência é, também, a única a estar presente em mais de uma área temática: a)

Controladoria e Contabilidade Gerencial, b) Mercado Financeiros, de Crédito e de Capitais; e

c) Contabilidade para Usuários Externos.

A Teoria Contingencial foi a segunda teoria mais percebida, presente em 12% das

teses, todas da área temática Controladoria e Contabilidade Gerencial, o que corrobora com os

achados de Beuren e Nascimento (2014). Porém este mesmo estudo demonstrou um índice

baixo de declaração explícita de teoria de base utilizada (19,35%), enquanto que nesta

pesquisa apenas 1 tese não apresentou de explicitamente sua teoria de base.

Sobre as referências utilizadas para as teorias de base, percebeu-se que nas teorias

mais frequentes, Teoria da Agência e Contingencial, destacam-se, principalmente, obras

clássicas publicadas entre as décadas de 1950 e 1990. Os principais autores citados com

relação à Teoria da Agência são Ross (1973), Jensen e Meckling (1976), Fama e Jensen

(1983) e Eisenhardt (1989). Já os autores mais referenciados para a Teoria da Contingência

são Thompson e Bates (1957), Burns e Stalker (1961), Thompson (1967) e Donaldson (2001).

No que se referem às demais teorias utilizadas pelos autores das teses, sem ser a de

base, destacam-se a Teoria dos Custos da Transação e a Teoria da Firma. Estas teorias são

utilizadas para subsidiar tese, embora não sejam as principais. Destaca-se, ainda, o grande

número de outras teorias utilizadas principalmente pelas teses cuja base é a Teoria da Agência.

Este estudo apresenta uma análise detalhada sobre as teorias utilizadas nas teses dos

programas de pós-graduação, diferente dos estudos anteriores que analisaram diversas

características de publicações e, neste contexto, mencionaram a teoria ou, de forma mais

abrangente, da disciplina de base. Os resultados desta pesquisa demonstram que a Teoria da

Agência é utilizada como base teórica para a grande maioria das teses de Contabilidade das

universidades da Região Sul, seguida da Teoria Contingencial. A utilização destas teorias está

intimamente relacionada às linhas de pesquisa existentes nos programas da região.

Assim, é possível inferir que os programas estão criando uma cultura de apresentar

em suas teses, de forma clara, explícita e patronizada, a teoria de base como suporte à

pesquisa, com o intuito de possuir respaldo teórico na análise dos dados e corroborar os

resultados evidenciados. Como sugestão a novos estudos, destacam-se duas principais lacunas

de pesquisa: a utilização de teorias de base nas teses em Contabilidade dos programas de todo

o país, e também, a utilização de teorias de base em dissertações de Contabilidade.

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