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UTILIZAÇÃO DA CADEIA DE AJUDA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS Ticiano Bitencourt Campos (UFSC) [email protected] Sergio Luiz Maganhoto (UFSC) [email protected] Anderson Ricardo Pacheco (UFSC) [email protected] Fernando Antonio Forcellini (UFSC) [email protected] Os conceitos Lean geralmente são associados aos processos de manufatura, onde a aplicação de ferramentas que estabilizam o processo produtivo e facilitam a identificação de desperdícios já tem sua eficácia comprovada. Entretanto, existe um forte movimento para a adaptação e utilização destas ferramentas e conceitos em diferentes áreas e setores das empresas. Por esta razão, o propósito deste artigo é apresentar os conceitos da Cadeia de Ajuda aplicada na manufatura através de revisão da literatura e com esta base propor um modelo da Cadeia de Ajuda no processo de desenvolvimento de produto Palavras-chaves: Cadeia de Ajuda, Manufatura Enxuta, PDP (Processo de Desenvolvimento de Produtos) XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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UTILIZAÇÃO DA CADEIA DE AJUDA

NO PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS

Ticiano Bitencourt Campos (UFSC)

[email protected]

Sergio Luiz Maganhoto (UFSC)

[email protected]

Anderson Ricardo Pacheco (UFSC)

[email protected]

Fernando Antonio Forcellini (UFSC)

[email protected]

Os conceitos Lean geralmente são associados aos processos de

manufatura, onde a aplicação de ferramentas que estabilizam o

processo produtivo e facilitam a identificação de desperdícios já tem

sua eficácia comprovada. Entretanto, existe um forte movimento para

a adaptação e utilização destas ferramentas e conceitos em diferentes

áreas e setores das empresas. Por esta razão, o propósito deste artigo

é apresentar os conceitos da Cadeia de Ajuda aplicada na manufatura

através de revisão da literatura e com esta base propor um modelo da

Cadeia de Ajuda no processo de desenvolvimento de produto

Palavras-chaves: Cadeia de Ajuda, Manufatura Enxuta, PDP

(Processo de Desenvolvimento de Produtos)

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. introdução

No cenário mundial atual as companhias têm buscado se adaptar, através de mudanças

organizacionais, agilidade, flexibilidade, novas tecnologias e foco no cliente, para enfrentar

dificuldades generalizadas que ajudem à sua sobrevivência, tornando-se sustentáveis, com

crescimento constante e com geração de valores aos acionistas, empregados e comunidade.

Muito tem sido feito na busca de melhores práticas para aumentar a produtividade e eficiência

em todos os postos das organizações. Novos desenhos de estruturas organizacionais,

investimentos em educação, treinamentos, adequação dos processos fabris, otimizações em

equipamentos, parcerias com fornecedores e principalmente a incorporação de ferramentas de

excelência operacional e de qualidade nas rotinas dos sistemas produtivos, das quais foram as

mais utilizadas.

Dentro deste contexto as organizações têm buscado promover a melhoria contínua adotando

ações estratégicas e técnicas nos processo técnicos e de manufatura. Inúmeras são as Técnicas

e ferramentas utilizadas e dentra as mais conhecidas e disseminadas está pensamento Lean,

que busca a eliminação de problemas e desperdícios no processo produtivo. Dentro do

conceito Lean uma das técnicas e alternativas de controle e eliminação de desperdícios está a

Cadeia de Ajuda. A Cadeia de Ajuda é uma rotina que tem como premissa restabelecer

rapidamente o fluxo produtivo com o envolvimento de vários níveis da organização. A

difusão dos conceitos Lean e suas filosofias correlatas têm sido aplicadas com maior

intensidade nas áreas de manufatura e movimentos menores são percebidos nas áreas técnicas

e administrativas também. Como já foi observado, as organizações procuram se estruturar de

uma maneira tal, que consigam dar vazão rápida para seus produtos e processos. Ganhos

competitivos e estratégicos têm aparecido nas organizações que adotam o processo de

desenvolvimento de produtos (PDP) como uma linha mestra de trabalho na engenharia. É

considerável a evolução das organizações que incorporam este modelo, principalmente porque

as atividades deixaram de ser trabalhadas isoladamente, para serem trabalhadas de uma forma

coletiva no sistema organizal. Na busca contínua de melhorias dos processos que intermediam

o trabalho, a incorporação do conceito de ajuda nos processos do PDP mostra um diferencial

importante na competitividade das organizações, principalmente no que se refere ao

cumprimento dos prazos pré estabelecidos no planejamento, maior grau de acertividade nas

atividades e robustez das soluções adotadas, além de contribuir significativamente para

minimização de desperdícios.

2. Aplicação do lean thinking

A aplicação deste conceito busca a eliminação de problemas no sistema produtivo

principalmente os considerados em grande escala, que prejudicam de uma forma ou de outra a

continuidade da produção, como foi pré-estabelecida. Os prejuízos vão desde atrasos na

entrega para o cliente, final ou intermediário, retrabalhos, aumento de custo, estoques

elevados e outros desperdícios. A metodologia Lean foca nas expectativas do cliente e criação

de valor, entregando o que o cliente deseja, no local que ele quer, com o fornecedor que ele

quer, no momento certo para ele, utilizando um mínimo de recursos, equipamentos,

tecnologia, pessoas, materiais, etc.. Como bem relata Lima e Zawslak (2003) o Lean Thinking

foi criado para expressar um sistema de produção caracterizado pela eliminação progressiva

do desperdício, pelo fluxo continuo com que os processos produtivos ocorrem, pela produção

segundo a demanda do cliente no tempo e na quantidade por este estabelecido e, por fim, pela

relação próxima e de parceria com os fornecedores.

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A necessidade cada vez mais das empresas serem competitivas, a eficiência e a flexibilidade

tornam-se fatores fundamentais para sua sobrevivência. Existem também outros fatores que

ajudam as organizações, como estratégias corretas, seus produtos, mercado de atuação, as

pessoas que compõe seu quadro de pessoal e tecnologia empregada, mas o pensamento Lean

não pode ficar de fora deste contexto. Muitas empresas têm sido reconhecidas pelo sucesso e

por trabalhar neste sistema, como a Toyota que desenvolve seus produtos e processos com

rapidez, qualidade assegurada e provavelmente com menor custo se comparado com

concorrentes, e eliminando desperdícios ou atividades que não agregam valor.

Nazareno e Junqueira (2004) comentam em seu artigo que sete tipos de desperdícios foram

identificados por Shingo (1996) para o sistema Toyota de Produção:

a) Superprodução: Produzir excessivamente ou cedo demais, resultando em um fluxo pobre

de peças e informações, ou excesso de inventário;

b) Espera: Longos períodos de ociosidade de pessoas, peças e informação, resultando em um

fluxo pobre, bem como o lead times longo;

c) Transporte excessivo: Movimento excessivo de pessoas, informação ou peças resultando

em dispêndio desnecessário de capital, tempo e energia;

d) Processos Inadequados: Utilização do jogo errado de ferramentas, sistemas ou

procedimentos, geralmente quando uma aproximação mais simples pode ser mais efetiva;

e) Inventário Desnecessário: Armazenamento excessivo e falta de informação ou produtos,

resultando em custos excessivos e baixa performance do serviço prestado ao cliente;

f) Movimentação Desnecessária: Desorganização do ambiente de trabalho, resultando baixa

performance dos aspectos ergonômicos e perda freqüente de itens;

g) Produtos Defeituosos: Problemas freqüentes nas cartas de processo, problemas de

qualidade do produto, ou baixa performance na entrega.

Diversas ferramentas são utilizadas na metodologia Lean com o objetivo de eliminar os

desperdícios citados acima. Para permitir a identificação dos desperdícios é importante que o

processo produtivo seja estável. Uma das ferramentas já conhecida e consolidada na

Manufatura para minimizar a instabilidade e manter o fluxo produtivo do processo é a Cadeia

de Ajuda.

3. Cadeia de ajuda na manufatura

A Cadeia de Ajuda pode ser considerada uma rotina de interação e envolvimento entre vários

níveis da organização que objetiva rapidamente resolver e conter um problema quando ele

surge objetivando restabelecer o fluxo produtivo. A Cadeia de Ajuda incorporada ao

gerenciamento da rotina, por intermédio do envolvimento desde o operador da produção, às

lideranças imediatas e os responsáveis de todas as áreas de apoio, auxilia na eliminação da

instabilidade do processo. A rotina estabelecida com o auxílio da Cadeia de Ajuda é um dos

responsáveis pela identificação das perdas, onde, segundo KAMADA (2008), o objetivo não é

esconder e sim haver uma sistemática de identificação e resolução, pois os problemas são

considerados oportunidades de ganhos.

Os objetivos da Cadeia de Ajuda são:

a) Manter/restabelecer o fluxo produtivo;

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b) Estruturar na rotina diária a identificação, registro e solução dos problemas do Plano de

Reação Rápida;

c) Tornar como pratica diária o senso de urgência e a disciplina.

Na Figura 1 podemos verificar o ciclo de desenvolvimento da Cadeia de Ajuda no processo

produtivo.

Fonte: Kamada (2008).

FIGURA 1 – Seqüência de acionamento da Cadeia de Ajuda.

O inicio da rotina da Cadeia de Ajuda se dá a partir da detecção de um problema, de

preferência na eminência de interromper o fluxo produtivo e normalmente esta atividade é

realizada pelo operador do equipamento. Basicamente o que se espera do operador é a

execução do padrão em duas situações classificadas como dentro e fora da normalidade.

Dentro da normalidade o operador deverá executar o Trabalho Padronizado, seguir

orientações do POP (Procedimento Operacional Padronizado), gestão visual (Procedimentos

de sinalização com ANDON), atividades de 5S (organização e padronização do ambiente de

trabalho), utilização dos Poka-Yokes, etc. Fora da normalidade o operador deve seguir as

orientações do Plano de Reação Rápida, ou seja, deve agir corretivamente e se não conseguir

resolver o problema deve acionar a Cadeia de Ajuda. Após a detecção do problema temos a

comunicação do mesmo por intermédio de um sistema de sinalização, conhecido como

ANDON, solicitando apoio para ajudar na solução ou contenção do problema. Conforme

Baudin (2007), o ANDON, instalados sobre o equipamento, serve para comunicar a situação

do mesmo para supervisores e profissionais de manutenção. Este equipamento de sinalização

funciona igualmente a um semáforo de trânsito. A luz verde do ANDON significa que o

equipamento esta operando corretamente, a luz amarela indica que o equipamento está ocioso

e a luz vermelha sinaliza que o mesmo não está em funcionamento. Após o acionamento do

ANDON o líder da área junto ao operador, conforme Figura 2, devem resolver o problema

utilizando ferramentas previamente definidas, através de Gráfico Espinha de peixe, por

exemplo. Devem estar bem definidas as responsabilidades de quem faz o que, para que não

aconteça à ruptura da “corrente” ou ocorram duplicidade de ações. Caso esta parte da corrente

não consiga resolver o problema num tempo pré determinado, o ANDON vermelho deve ser

acionado, indicando que a produção está parada. O apoio atua de maneira sistematizada de

acordo com ações preestabelecidas no Plano de Reação Rápida. Os problemas são registrados

para posterior análise com a priorização da ação de correção quando não são solucionados

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imediatamente, independentes se o fluxo produtivo parou ou não. Nesta fase temos o

“Terceiro nível da Cadeia de Ajuda”, onde com freqüência diária em uma reunião breve com

o seu Staff o Líder deve:

a) avaliar os desvios anotados no quadro de acompanhamento da produção;

b) direcionar ações que não foram resolvidas na rotina do dia-a-dia quando necessário;

c) registrar comentários e;

d) observar no fluxo produtivo os problemas e as melhorias realizadas.

Por fim existe a rotina de análise dos problemas ocorridos, acompanhamento das ações de

solução para os problemas priorizados e análise periódica do Plano de Reação Rápida. Nas

demais etapas o que se busca é a solução total dos problemas fazendo com que os problemas

priorizados anteriorment no Plano de Reação Rápida sejam solucionados e retirados da lista

para dar espaços a novos e mais recentes problemas do processo produtivo. O cuidado que se

deve ter na evolução do Plano de Reação Rápida é não dedicar em demasia ações para

simplesmente conter o problema. O foco sempre deve ser a busca pela solução do problema

atuando na causa raiz.

Fonte: Adaptada pelos autores

FIGURA 2 - Exemplo de Cadeia de Ajuda.

O último acontecimento que faz parte do “Terceiro nível da Cadeia de Ajuda” seria a

intervenção do time de apoio, o qual dará uma tratativa mais adequada com os métodos

científicos existentes. Esse grupo é formado conforme a necessidade e por pessoas das mais

variadas áreas de apoio, da Qualidade, Planejamento, Engenharia, Manutenção, Facilitadores,

Logística, Gestão de Pessoas e outros e seu objetivo é promover as melhorias que não foram

possíveis de serem resolvidas.

A estabilidade da manufatura, como comenta Kamada (2008) somente é alcançada através da

identificação e resolução dos problemas, com métodos e responsabilidades definidas, e a

Cadeia de Ajuda é fundamental como rotina (padrão) de trabalho das pessoas, atuando sempre

que surgem anormalidades.

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A aplicação do Lean e o Cadeia de Ajuda está diretamente ligada aos sistemas de manufatura

e os ganhos de curto e longo prazos são visíveis e palpáveis. Numa velocidade razoável já

podemos perceber que este sistema tem se propagado para outras áreas de apoio, como

pesquisa e desenvolvimento, por exemplo. Baines et al. (2006) afirmam que o sistema de

Desenvolvimento de Produto Toyota vêem sendo considerado a chave do sucesso e alegam

que o sistema Lean Manufacturing da Toyota é na verdade uma extensão da sua filosofia de

desenvolvimento de produtos e não ao contrário. A maioria das empresas Ocidentais de

manufatura foca suas iniciativas Lean nos processos de manufatura e poucas empresas tentam

adotar o Lean nas atividades relacionadas ao processo de desenvolvimento desenvolvimento.

Diante da possibilidade e da visão de eliminação de desperdícios é importante também

ressaltar que o Lean Thinking, com as devidas adaptações de metodologias e ferramentas,

pode também ser empregado no PDP (Processo de Desenvolvimento de Produtos).

4. Visão geral do processo de desenvolvimento de produto

O processo de desenvolvimento de produtos (PDP), na última década tem recebido especial

atenção por ser reconhecido como origem de ganhos competitivos e estratégicos. O

desenvolvimento de produtos é considerado um processo de negócio cada vez mais crítico

para a competitividade das empresas, principalmente com a globalização dos mercados,

aumento da diversidade e variedade de produtos e redução do ciclo de vida dos produtos no

mercado (ROZENFELD et al., 2006).

O desenvolvimento de um novo produto é uma tarefa complexa para os projetistas. Neste

momento, os engenheiros devem analisar vários pontos importantes, não apenas para o

produto, mas também para a manufatura, vendas, assistência técnica, qualidade, etc. Em

alguns casos os engenheiros de produto não possuem conhecimentos suficientes para resolver

problemas das outras áreas envolvidas sendo necessária a contribuição de diferentes pessoas

para alcançar a melhor solução. Através de um processo devidamente estruturado e

sistematizado de PDP as empresas podem reduzir significativamente custos, aumentarem a

qualidade de seus produtos e reduzirem de forma sensível o tempo de desenvolvimento dos

produtos. Rozenfeld et al. (2006) confirmam que para muitos tipos de produtos, durante as

fases de desenvolvimento, os custos incorridos (ou seja, aqueles que já aconteceram) são

relativamente baixos em relação ao custo final. Porém, por outro lado, essas fases são

bastantes críticas quanto ao comprometimento do custo final do produto. Nas fases de

produção, são poucas as possibilidades de redução desse custo, já que eles estão atrelados às

especificações técnicas já definidas conforme representado na Figura 3.

Fonte: Rozenfeld at al. (2006).

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FIGURA 3 - Curva de comprometimento do custo do produto.

Durante as fases de desenvolvimento as incertezas a respeito do produto, suas especificações

de processo de fabricação e mesmo sobre sua aceitação no mercado são de elevado grau. No

entanto, é justamente neste ambiente que a maior parte das decisões é tomada. A tomada de

decisões sobre o projeto envolvendo pessoas de diferentes visões do produto, ainda na fase de

desenvolvimento, pode antecipar soluções, além de reduzir o tempo de lançamento do

produto. A reversão de decisões inadequadas tomadas no início do desenvolvimento pode se

tornar difícil e cara nas fases em que o produto já se encontra em produção e uso no mercado.

Estima-se que o atraso na detecção e correção de problemas, à medida que o projeto avança

para a produção e para o consumo, representa um aumento do custo de alteração (resolução

dos problemas), que cresce em progressão geométrica de razão 10 a cada fase. Apenas a

conscientização dos impactos do desenvolvimento do produto no custo final, bem como os

elevados custos de alterações de fases avançadas do desenvolvimento, não são o suficiente

para garantir um produto de baixo custo com processo de fabricação otimizado.

Analisando os benefícios da Cadeia de Ajuda aplicada aos processos de manufatura, existe a

possibilidade de aplicação do mesmo, com devida adaptação, nas fases iniciais do PDP. Neste

contexto, é importante que as empresas adaptem e desenhem suas estruturas organizacionais

para que facilmente possam aplicar a Cadeia de Ajuda no PDP.

5. Estruturas Organizacionais e o PDP

Para que a Cadeia de Ajuda seja implantada no Processo de Desenvolvimento do Produto é

necessário antes avaliar de que forma os diferentes tipos de estruturas organizacionais são

empregados nas empresas e de que maneira e possível adaptá-las para obter à melhor

condição de rendimento e atingimento de suas metas. Conforme Neto e Filho (2000), buscar

a compreensão e o entendimento das mudanças nas organizações é extremamente instigante e

não é tarefa simples. Cada organização tem um dialeto próprio para a manifestação de como

as tarefas se realizam dentro do complexo de informações e relações que compõe a estrutura

organizacional. Existem algumas formações organizacionais que normalmente são adotadas

por empresas, principalmente de médio e grande porte, sendo que as clássicas podem ser

vistas na Figura 4. Rozenfeld at al.(2006), definem estas estruturas da seguinte forma: Na

estrutura funcional, a ligação entre os indivíduos acontece primeiro entre aqueles que realizam

as funções similares. Na estrutura por projetos, esta ligação acontece preferencialmente entre

aqueles que estão trabalhando em um mesmo projeto.

Fonte: Rozenfeld at al (2006)

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FIGURA 4. Estrutura Funcional e por Projetos.

Alguns tipos de estruturas não se adaptam às empresas, devido a determinadas características,

como ramo de negócio, tamanho e outros fatores. Então, as empresas adotam estruturas do

tipo matricial, como observa Rozenfeld at al.(2006).

Por causa do aumento da complexidade e dos desafios da integração de tecnologias, surgiu

um tipo híbrido de estrutura organizacional, que é conhecido por estrutura matricial (Figura

5). Nesta estrutura, os indivíduos estão ligados por meio de suas áreas funcionais e por meio

de um ou mais projetos.

Fonte: Rozenfeld at al (2006)

FIGURA 5. Estrutura Matricial.

A estrutura organizacional do tipo matricial ou híbrida, com algumas adaptações, pode

funcionar de maneira adequada para que a Cadeia de Ajuda possa ser aplicada no PDP. A

introdução nesta estrutura híbrida, de times chamados de Células de Competências, conforme

Figura 6, é providencial para que o sistema funcione corretamente.

Fonte: Massabni (2008)

FIGURA 6. Nova Estrutura Matricial.

As Células de Competência podem ser consideradas como “associações” internas de

profissionais, e através de seu líder e integrantes, tem como objetivo principal:

Líder Cel Comp. 1

Célula 1

Líder Cel Comp. 2

Célula 2

Líder Cel Comp. n

Célula n

Dir. Produtos e Processos

Ger. Portfolio Projetos

Líder Proj. A

Ger. Recursos

Projeto A

Líder Proj. B Projeto B

Líder Proj. C Projeto C

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a) Formar e atualizar a memória técnica de cada especialidade;

b) Facilitar a identificação de ¨skill’s;¨

c) Compartilhar as experiências técnicas aprendidas com os demais do grupo;

d) Garantir a manutenção e o desenvolvimento de cada tecnologia, buscando sempre estar

atento para novas tendências e novidades;

e) Desenvolver os integrantes, de maneira tal a capacitá-los para o conhecimento das várias

áreas dentro de sua especialidade.

6. Modelo de cadeia de ajuda adaptado para o PDP

Um dos diferenciais na aplicação da Cadeia de Ajuda no PDP está na liderança das Células de

Competência e na utilização de um sistema de gerenciamento que tenha como objetivo

executar uma maior quantidade de projetos no menor tempo possível baseando-se nos

conceitos do Corrente Crítica (Critical Chain) e Lean. O gerenciamento de projetos,

conhecido e abordado por Gupta (2005) como Project Flow, define que o tempo gasto na

execução das atividades pode ser classificado em três categorias:

a) Executando a atividade: Tempo realmente gasto na execução de atividades relacionadas ao

projeto;

b) Interrupções: Tempo gasto com interrupções, como engenheiros aguardando por conclusão

de atividades, tomadas de decisões, indefinição de prioridades, multi-tarefas, espera por

materiais ou ferramentas, etc.;

c) Lei de Parkinson: Aumento no tempo de execução de uma atividade devido ao

aprofundamento de detalhes desnecessários ou diminuição de ritmo de execução por esperar

atrasos futuros em atividades paralelas.

No gerenciamento de múltiplos projetos deve ser realizada a avaliação do portfólio e

conforme as restrições de recursos definir a capacidade do sistema para executar determinada

quantidade de projetos, conforme Figura 7.

Fonte: Gupta(2005)

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FIGURA 7. Execução de projetos baseada nas restrições de recursos.

Neste conceito, o planejamento das atividades do projeto deve considerar prazos de execução

otimistas e a inclusão de segurança apenas na Corrente Crítica, ou seja, o caminho mais longo

de atividades de acordo com a Figura 8.

O inicio dos projetos, e principalmente as atividades dos projetos, deve acontecer apenas no

tempo correto, suprimindo assim anseio de iniciar o mais breve possível. Desta forma é

evitada a criação de restrições de recursos desnecessários e confusões de prioridades. Os

recursos do projeto devem receber e atualizar diariamente uma lista de atividades com as

devidas prioridades conforme as definições do planejamento e da corrente crítica. Como regra

deve ser realizada a atividade de maior prioridade evitando múltiplas atividades, iniciar e

concluir uma atividade para somente após iniciar a próxima.

Fonte: Gupta (2005)

FIGURA 8. Definição e proteção da Corrente Crítica.

A atualização da situação das atividades é importante para evitar o consumo do prazo de

segurança definido no planejamento inicial. A Figura 9 ilustra a priorização das atividades e

controle da capacidade disponível de determinado recurso.

Fonte: Gupta (2005)

FIGURA 9. Gerenciamento de prazos com lista de prioridades.

Com o sistema de Células de competência, o líder passa estar mais próximo da rotina de

trabalho, sendo o principal responsável em indicar os recursos mais adequados (especialidade

e disponibilidade) para os projetos. Ou seja, o líder da célula define o recurso humano,

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monitora o andamento das atividades, porém a responsabilidade final pelas atividades (o

produto) continua ligada ao líder do projeto. Este Líder de Célula é formal e dedicado no

gerenciamento da sua célula de competência. Claro que o líder pode ser considerado como um

recurso ativo, para alguma atividade. Por sua vez, o recurso (executante), é o responsável

direto pela execução da atividade e pelo cumprimento da lista de prioridades definidas dos

diversos projetos.

Podemos desta forma, considerar que a primeira etapa de atuação da Cadeia de Ajuda no

PDP, ou seja, a identificação do problema deve ser realizada pelo executante da atividade. O

executante recebe a lista de atividades, com as respectivas prioridades e prazos de execução,

atualizando diariamente o status da atividade. Assim, no momento na qual é identificado a

possibilidade de atrasos ou alto grau de dificuldade na realização das atividades, o executante

deve acionar a Cadeia de Ajuda.

O acionamento da Cadeia de Ajuda é concretizado nas reuniões das células de competência

onde o líder da célula recebe informações dos executantes e principalmente no

acompanhamento do status das atividades em execução conforme o sugerido na Figura 9.

Comparando com a manufatura, o Project Flow forneceria as informações visuais necessárias

para indicar a necessidade de atuação da Cadeia de Ajuda. Inclusive a analogia com as cores

de um semáforo é utilizada na sinalização de status das atividades. Caso alguma atividade seja

considerada fora da normalidade, o líder de Célula possui autonomia para indicar o recurso

disponível na célula com capacidade de auxiliar na execução da mesma.

O apoio dos demais níveis da Cadeia de Ajuda deve acontecer conforme o desdobramento das

atividades. O executante em conjunto com a Célula de competência deve identificar a

necessidade de acionamento dos níveis seqüentes da Cadeia de Ajuda. Para o PDP os níveis

da Cadeia de Ajuda devem ser adaptados conforme as especialidades e competências da

empresa. A Figura 10 ilustra uma sugestão de níveis necessários na estrutura da Cadeia de

Ajuda no PDP. O mapeamento, envolvimento e formalização de grupos externos na Cadeia de

Ajuda, como fornecedores e universidades, promove a troca de conhecimento e experiências

com o objetivo de agilizar o processo de desenvolvimento.

Assim como na Manufatura os registros dos problemas é importante para acompanhamento e

histórico dos resultados. Esse registro e acompanhamento devem ser realizados nas reuniões

das Células de competência com no mínimo uma freqüência quinzenal. A maior diferença

entre as etapas da Cadeia de Ajuda na Manufatura e no PDP seria na aplicação de ferramentas

para a solução do problema raiz. Na Manufatura existe a possibilidade na aplicação de uma

solução temporária para um problema com o objetivo de estabelecer rapidamente o fluxo

produtivo. Já no PDP a solução definida pelos grupos de atuação da Cadeia de Ajuda deve ser

definitiva, evitando a necessidade de retrabalhos futuros no desenvolvimento do produto.

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Fonte: Adaptada pelos autores

FIGURA 10. Cadeia de Ajuda no PDP.

A solução temporária no PDP é aceitável no caso de aplicação de tecnologias em

desenvolvimento ou sem o nível de maturidade adequado para sua utilização. Assim em

paralelo, grupos normalmente de desenvolvimento tecnológico ou pesquisadores,

desenvolvem uma nova tecnologia, que pode ser ainda não dominada, para que num futuro

possa ser incorporada no projeto como solução definitiva. Na Tabela 1 são listados os

objetivos e etapas da Cadeia de Ajuda na Manufatura e no PDP.

Fonte: Adaptada pelos autores

TABELA 1. Comparativo da Cadeia de Ajuda Manufatura e PDP.

8. Considerações finais

A aplicação da Cadeia de Ajuda no PDP mostra que os conceitos, ferramentas e técnicas do

“Lean Thinking” podem ser aplicados em áreas diferentes da manufatura e por qualquer tipo

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de organização, principalmente as do ramo industrial. Nota-se que as organizações têm

rapidamente e constantemente incorporados estes conceitos, adaptando-os quando necessário,

de acordo com a sua realidade, tipo de negócio e produto, para suplantar as competições

devido a fortes concorrências, fatores políticos, sócios econômicos e outros. Com isso, o

objetivo deste artigo, foi apresentar um procedimento de como a Cadeia de Ajuda pode ser

aplicada no PDP, Processo de Desenvolvimento de Produtos, e mostrar os seus benefícios. É

importante que a organização tenha uma estrutura coerente e adaptada com sistemas de

monitoramento que permitam que as pessoas possam utilizar a Cadeia de Ajuda, de maneira

que não ajam desculpas para o não cumprimento das metas. Como em todo o lugar, a

disciplina das pessoas é um dos fatores fundamentais para o funcionamento correto da cadeia

de ajuda. A obediência aos cinco passos propostos restabelece o fluxo da atividade

respeitando assim o prazo planejado inicialmente, envolve mais pessoas da cadeia produtiva,

estimula o senso de propriedade geral (projeto da empresa e não de uma só pessoa), traz

soluções consistentes e robustas além de prospectar os projetos com menores reprocessos e

com maiores acertos as suas previsões de desenvolvimento.A expectativa é de que a cadeia de

ajuda inserida no PDP, embora ainda esteja em estágios de aplicações iniciais, permita a

redução no ciclo de desenvolvimento do produto.

7. Referências

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2008. Dissertação (MBA), UNICENP, 2008.

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