uso documento falso

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO Registro: 2012.0000307658 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0001888- 20.2006.8.26.0543, da Comarca de Santa Isabel, em que é apelante ROBSON NUNES DE MOARES, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial provimento ao recurso, apenas para substituir a pena de prestação pecuniária por dez dias-multa, no valor unitário mínimo, mantido o mais. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANGÉLICA DE ALMEIDA (Presidente) e BRENO GUIMARÃES. São Paulo, 13 de junho de 2012. João Morenghi RELATOR Assinatura Eletrônica

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Registro: 2012.0000307658

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0001888-20.2006.8.26.0543, da Comarca de Santa Isabel, em que é apelante ROBSON NUNESDE MOARES, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de SãoPaulo, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial provimento ao recurso, apenas parasubstituir a pena de prestação pecuniária por dez dias-multa, no valor unitário mínimo,

mantido o mais. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra esteacórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANGÉLICADE ALMEIDA (Presidente) e BRENO GUIMARÃES.

São Paulo, 13 de junho de 2012.

João MorenghiRELATOR 

Assinatura Eletrônica

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Apelação Criminal nº 0001888-20.2006.8.26.0543

Comarca de Santa Isabel

Apelante: Robson Nunes de Moraes

Apelado: Ministério Público

Voto nº 19.731

USO DE DOCUMENTO FALSO. Materialidade e autoriacomprovadas pela prova oral e pericial. Prova. Suficiência.Absolvição. Impossibilidade.- A constatação, pela prova pericial, da falsidade de certificadode registro e licenciamento de veículo, referente a veículo queo agente possuía há quase um ano, aliada à prova oral nosentido de que o agente apresentou o documento falso,constituem prova suficiente para a condenação pelo crime deuso de documento falso.

USO DE DOCUMENTO FALSO. Apresentação de certificadode registro e licenciamento de veículo falso. Documento deveículo possuído pelo agente há quase um ano. Prova do dolo.

Suficiência. Absolvição. Impossibilidade.- O fato de o agente ter apresentado à autoridade certificado deregistro e licenciamento de veículo falso, referente a veículoque possuía há quase um ano, denota o seu conhecimentoacerca da irregularidade do documento, comprovando, assim, odolo exigido pelo tipo de uso de documento falso.

Pena. Substituição. Pena privativa de liberdade superior a umano. Ausência de circunstâncias desfavoráveis. Substituição por uma pena restritiva de direitos e multa. Necessidade.Inteligência do art. 44, § 2º, do CP.- Presentes os requisitos legais e ausentes circunstâncias

 justificadoras de maior reprovação, a pena privativa deliberdade superior a um ano deve ser substituída por uma penarestritiva de direitos e multa, nos termos do art. 44, § 2º do CP.

Vistos.

1. Ao relatório da r. sentença, que se adota, acrescenta-se que, na 2ª Vara

Criminal da Comarca de Santa Isabel, Robson Nunes de Moraes foi condenado a dois

anos de reclusão e dez dias-multa, no valor unitário mínimo, substituída a pena privativa

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de liberdade por prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária de um

salário mínimo a entidade pública ou privada, com destinação social, por infração ao art.

304 do CP, sendo, ainda, absolvido da imputação de infração ao art. 297 do mesmo

diploma legal, com fundamento no art. 386, V, do CPP (fls. 184/192).

Inconformado, recorreu o acusado em busca da absolvição, sustentando,

em suma, fragilidade de provas (fls. 210/217).

Processado e contrariado o recurso, o parecer da d. Procuradoria Geral de

Justiça é pelo seu improvimento (fls. 238/241).

É o relatório.

2. Consta da denúncia que, em 14.11.2005, por volta das 00h30m, na

Rodovia D. Pedro I, altura do Km 19, Igaratá, Robson Nunes de Moraes fez uso de

documento público falso.

Segundo narra a exordial, Robson trafegava pela mencionada rodovia na

condução do veículo VW/Gol, placa LBL 2472 do Rio de Janeiro, quando foi abordado

 por policiais rodoviários que lhe solicitaram seus documentos pessoais, assim como os

do veículo. Em consulta ao COPON, constataram que o último licenciamento do veículo

datava de 1997 e o certificado de registro de licenciamento datava de janeiro de 2005.

Em razão disso, procedeu-se a apreensão para averiguação. Apurou-se,

ainda, que o referido documento estava adulterado por meio de rasura com a inserção de

dados falsos.

Apesar dos argumentos aduzidos pela defesa, entende-se que a

condenação deve ser mantida.

O laudo pericial de fls. 15/18 atestou a autenticidade do “espelho” (papel

suporte) do Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo, o qual, entretanto, foi

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submetido a processo de adulteração, comprovando, assim, a falsidade do documento.

O soldado da polícia rodoviária Carlos Alberto Xavier, em juízo,

confirmou as declarações ofertadas perante a autoridade policial. Confirmou que estava

fiscalizando veículos na rodovia citada e abordou o veículo tratado nestes autos, sendo

certo que, ao pesquisar as placas do automóvel, constatou os dados em nome de Renato

Conceição de Assis, com último licenciamento no ano de 1997. A consulta revelou-se

divergente dos dados constantes no documento do veículo apresentado Paulo Cesar 

Lourenço, com último licenciamento em 2005 (fls. 05 e 127/129).

Interrogado em juízo, o acusado narrou que desconhecia a falsidade do

documento. Asseverou que possuía o veículo a menos de um ano, porém ainda não

havia providenciado seu licenciamento. Adquiriu o automóvel de um vizinho de seu

irmão, o qual não figurava como proprietário do veículo, pagou R$ 10.000,00 (dez mil

reais) pelo bem, mas não recebeu o documento para transferência. Na fase inquisitiva

disse que não possuía recibo de compra e venda do veículo (fls. 06 e 88/92).

A prova dos autos é unívoca no sentido de que o acusado realmente fez

uso de documento falso.

Ao contrário do que alegou o réu, é evidente que ele sabia da falsidade

do documento. Adquiriu o automóvel com a documentação em nome de pessoa

diferente da pessoa do alienante. Não bastasse isso, não providenciou a regularização de

tal documentação no prazo previsto.

Ainda em oposição ao alegado pela defesa, o próprio sentenciado

afirmou, em juízo, que adquiriu o veículo a pouco menos de um ano. Assim, além de

despido de qualquer apoio nos autos, não é crível o argumento de que estava acobertado

 pelo prazo de trinta dias para a regularização, como possibilita o Código Nacional de

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Trânsito. Ademais, é de interesse do próprio adquirente do veículo, ora apelante, a

transferência da propriedade no prazo estipulado pela Lei.

O fato do agente público não ter constatado a falsidade do documento de

imediato, não implica dizer que ele também foi ludibriado, como pretende fazer crer a

defesa. Ao contrário, a não constatação imediata evidencia que a falsificação não era

grosseira e só não foi exitosa por conta da desconfiança que levou à pesquisa do

documento.

Ademais, o uso de documento falso é crime formal, consumando-se no

exato momento em que o agente faz uso do falacioso documento, independentemente da

obtenção da efetiva vantagem visada.

Importa salientar que é ínsita à praxe policial certa suspeita quanto à

idoneidade de documentos, que é constatada somente através da verificação do registro

e do exame pericial.

Ficou, assim, devidamente comprovado em juízo que o documento falso

foi apresentado pelo acusado que sabia de sua falsidade no momento de sua

abordagem pelo soldado da polícia rodoviária.

 Não há que se falar em absolvição, pois para a configuração do tipo basta

o dolo, consistente na vontade livre e consciente de usar documento sabendo de sua

falsidade.

Acertada, portanto, a condenação pelo uso de documento público falso,

que ficará mantida nesta instância.

 Na dosimetria, verifica-se que as penas-base já foram fixadas no piso

legal de dois anos de reclusão e dez dias-multa, sem qualquer acréscimo nas fases

seguintes, ante a ausência de circunstâncias modificadoras.

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Portanto, nenhuma redução a ser realizada.

Quanto à substituição da pena privativa de liberdade, ausente justificativa

 para a fixação de duas restritivas de direitos, afasta-se uma delas, a de prestação

 pecuniária, fixando-se, em seu lugar, a pena de dez dias-multa, no valor unitário

mínimo, pois esta é a solução mais favorável prevista no art. 44, § 2º, do CP, inexistindo

sequer fundamentação na r. sentença para maior rigor.

Em caso de conversão da restritiva, o regime inicial aberto fica mantido,

 pois já é o mais favorável.

3. Ante o exposto, dá-se parcial provimento ao recurso, apenas para

substituir a pena de prestação pecuniária por dez dias-multa, no valor unitário mínimo,

mantido o mais.

João MorenghiRelator

crgs/mm