urgente pedido de liminar · extrajudicial, acidente de trabalho, fundaÇÕes, patrimÔnio...

1

4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITAITUBA/PA MEIO AMBIENTE, PATRIMONIO CULTURAL, HABITAÇÃO, URBANISMO, REGISTROS PÚBLICOS, CASAMENTO, RECUPERAÇÃO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL, ACIDENTE DE TRABALHO, FUNDAÇÕES, PATRIMÔNIO PÚBLICO, MORALIDADE ADMINISTRATIVA, SAÚDE, EDUCAÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR.

4ª Promotoria de Justiça de Itaituba/PA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 001304-922/2020

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___

VARA CÍVEL E EMPRESARIAL DA COMARCA DE ITAITUBA/PA.

URGENTE – PEDIDO DE LIMINAR

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, no uso de suas

atribuições legais e constitucionais, por meio por meio, da 4ª Promotoria de Justiça de

Itaituba, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com apoio no arts. 129,

Incisos II e III e 225, §3º, in fine, da Constituição Federal e de acordo com os preceitos em

geral da legislação civil e processual civil, especialmente das Leis n. 6.938/81 e 7.347/85,

propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER

Em face do MUNICÍPIO DE ITAITUBA, pessoa jurídica de direito

público interno, representada pela Procuradoria Geral do Município,

[email protected], situada na Av. Dr. Hugo de Mendonça, s/nº, Bairro Boa

Esperança – Itaituba – Pará;

1. DOS FATOS:

Instaurou-se no âmbito desta Promotoria de Justiça o Procedimento

Administrativo nº. 001304-922/2020 para fiscalizar as medidas de contenção e

prevenção em relação ao COVID-19 no município de Itaituba, motivo pelo qual este

Órgão Ministerial expediu diversas recomendações destinadas à Prefeitura Municipal,

no intuito de acompanhar as medidas adotadas.

Após as Recomendações Ministeriais, a Prefeitura Municipal editou o

Decreto Municipal n°. 036/2020/GAB/PMI, de 19 de março de 2020, que dispõe sobre

as medidas emergenciais de saúde pública decorrente da infecção humana pelo

covid-19 e dá outras providências.

Importantes avanços relacionados ao Decreto n°. 036/2020/GAB/PMI

mailto:[email protected]

2



devem ser mencionados, tais como:

[...] Art. 3º Como medida individual recomenda-se que pacientes com sintomas respiratórios fiquem restritos ao domicílio e que pessoas idosas e pacientes de doenças crônicas e respiratórias evitem sua circulação em ambientes com aglomeração de pessoas. Art. 4º Ficam suspensos os eventos governamentais, esportivos, de lazer, artísticos, culturais, acadêmicos, políticos, científicos, comerciais, religiosos e outros com concentração de pessoas, em locais abertos ou fechados, independente do número de participantes. Art. 5º Ficam suspensas as atividades esportivas, academias e escolinhas de treinamento públicas e privadas, academias ao ar livre, bem como atividades realizadas em associações e entidades privadas. Art. 6º Ficam suspensas ainda, no âmbito do Município, as atividades com grupos de idosos, clube de mães, atividades de oficinas de famílias, serviços de convivência e fortalecimento de vínculos. Parágrafo único. Instituições de longa permanência de idosos, devem restringir visitas externas, além de adotar protocolos de higiene dos profissionais e ambientes, bem como o isolamento dos sintomáticos respiratórios. Art. 7º Os serviços de alimentação, tais como restaurantes e lanchonete, deverão adotar as seguintes medidas de prevenção para conter a disseminação da COVID19: I – Disponibilizar álcool gel 70% na entrada do estabelecimento para uso dos clientes; II – Observar, na organização de suas mesas, a distância mínima de um metro e meio entre elas; III – Aumentar frequência de higienização de superfícies; IV – Manter ventilados ambientes de uso dos clientes. Art. 8º Ficam suspensas as aulas presenciais nos estabelecimentos de ensino da rede pública municipal e particular, a partir do dia 23 (vinte e três), segunda-feira. [...].

Na mesma esteira, editou-se o Decreto Municipal n°.

037/2020/GAB/PMI, de 21 de março de 2020, o qual regulamenta o estabelecimento

de novas medidas temporárias para enfrentamento da emergência de saúde pública

de importância internacional decorrente da covid-19 no município de Itaituba,

conforme previsto na Lei Federal n° 13.979/2020.

Importa mencionar que o Decreto nº. 037/2020/GAB/PMI estabeleceu,

em seu art.2º, as seguintes medidas:

Art. 2° Fica determinado que os estabelecimentos comerciais tenham o seguinte horário de funcionamento: I- De segunda a sábado das 08h00 às 16h00. § 1° Os estabelecimentos comerciais deverão organizar filas para atendimento, acesso ou pagamento, de forma que as pessoas fiquem a pelo menos 1,5m de distância umas das outras. § 2° Os estabelecimentos comerciais deverão orientar os colaboradores e clientes a adotarem medidas de segurança e higiene comum a todos, como uso de mascaras, álcool gel ou higienização periódica das mãos com água e sabão. § 3° Os horários de funcionamento para as padarias será de 06h30min às 10h30min e das 16h00 às 20h00, ficando suspenso o serviço de café da manhã e o atendimento nas mesas.

3



§ 4° O horário previsto neste artigo não se aplica aos supermercados, mercearias de bairro, mercados municipais, açougues, postos de combustíveis (exceto lojas de conveniências), farmácias, laboratórios, clínicas, hospitais e demais serviços privados de saúde, desde que adotadas as medidas estabelecidas pelas autoridades sanitárias de prevenção ao contágio e contenção da propagação de infecção viral relativa ao COVID-19. § 5° O horário de funcionamento estabelecido neste artigo, será pelo período de 23/03/2020 a 04/04/2020, podendo ser prorrogado. [...]

De lá para cá, embora os esforços dos governos estaduais e municipais

em todo o Brasil, pontos como o do alto poder de contágio da doença e da não

aderência total ao isolamento social fizeram com que os números progredissem e se

elevasse o alarme em relação ao COVID- 19, movendo governantes, em todas as

esferas, a enrijecerem seus decretos, com o fim de restringir o fluxo de pessoas e,

portanto, de formação de aglomerações.

Ocorre que, não foi esta a postura adotada pela Prefeitura de Itaituba,

uma vez que, por meio do Decreto nº. 056/2020/GAB/PMI, relaxou as medidas de

isolamento social no comércio de Itaituba, determinando o reestabelecimento do

horário normal do funcionamento dos estabelecimentos não essenciais, como se vê

no art.16:

Art. 16 Ficam reestabelecidos os horários do comércio local, salvo as restrições impostas pelo Decreto Estadual nº 609/2020.

Em que pese as medidas de higienização e demais medidas preventivas

de contágio previstas no Decreto nº. 056/2020, tal como a demarcação de 1,5 metros

para que se mantenha o distanciamento entre pessoas, disponibilização de álcool

70% e mascaras, o reestabelecimento do horário normal de funcionamento vai de

encontro as recomendações da Organização Mundial da Saúde relativas a não

aglomeração de pessoas e o isolamento social.

Estranha a essa medida que retoma o funcionamento normal do

comércio, foi posteriormente editado o Decreto nº. 059/2020/GAB/PMI, que instituiu o

“toque de recolher” em Itaituba:

Art. 2º Fica determinado toque de recolher pelo período de 08 a 13 e de 17 a 22 do mês abril, das 21:00 às 05:00 horas do dia seguinte, para confinamento domiciliar obrigatório em todo o território do município de Itaituba, ficando terminantemente proibida a circulação de pessoas, exceto a circulação quando necessária para acesso aos serviços essenciais e sua prestação, comprovando-se a necessidade ou urgência.

4



Ainda, editou-se o Decreto nº. 061/2020/GAB/PMI, que, em razão da

pandemia mundial de COVID-19, decretou no Município de Itaituba a situação de

calamidade pública.

Por conseguinte, na mesma toada das medidas restritivas, editou-se o

Decreto nº. 063/2020/GAB/PMI, o qual prorroga o período de suspensão das aulas da

rede pública de ensino e, ainda, estipula o uso obrigatório de máscaras pelos

munícipes de Itaituba.

Observa-se que os Decretos Municipais, em uma progressão, definiram

medidas mais restritivas de enfrentamento da pandemia, chegando a, inclusive,

restringir a liberdade de locomoção dos munícipes através da instituição do “toque de

recolher”.

Ainda, comprova-se tal informação com a edição do Decreto Municipal

nº. 066/2020/GAB/PMI, que dispõe sobre a aplicação de multas pecuniárias pelo

descumprimento das medidas emergenciais decorrentes da infecção humana pelo

COVID-19 no município de Itaituba e dá outras providências.

Entretanto, causa grande estranheza a esta Promotoria a edição de

medidas mais restritivas paralelamente a abertura e funcionamento normal do

comércio local, incluindo atividades essenciais e não essenciais.

O que se vê é que o comércio local continua a funcionar normalmente e

com um enorme fluxo de pessoas, o que, comprovadamente, propaga o vírus, haja

vista ser local que concentra grande aglomeração de populares.

E os reflexos dessa situação foram demonstrados no cenário atual de

propagação do COVID-19 em Itaituba, o qual deu grande salto na curva de

contaminação nas primeiras semanas de maio, contanto o Município, na data de

16/05/2020 com 110 (cento e dez) casos confirmados e 05 (cinco) óbitos em

decorrência do Coronavírus.

O número de casos confirmados se manteve em 11 (onze) de

01/05/2020 a 09/05/2020, porém, a partir da data de 11/05/2020 a quantidade de

infectados cresceu abruptamente, vejamos:

5



6



7



8



9



Esse crescimento desenfreado confirma que o Município de Itaituba

precisa de providências mais incisivas para conter o avanço do Coronavírus, uma

vez que, nesse passo, o sistema público de saúde entrará em colapso e não

conseguirá atender aos pacientes contaminados pelo COVID-19.

Quanto a este ponto, imperioso ressaltar que esta Promotoria vem

acompanhando de perto as ações que estão sendo tomadas pela Secretaria de

Saúde e pela Prefeitura de Itaituba. Tanto é que, na data de 11/05/2020 realizou-se

reunião com a Prefeitura, a Procuradoria Geral, a SEMSA, a Divisão de Vigilância

Sanitária e a Câmara dos Vereadores do Município para avaliar as ações e verificar

quais as próximas medidas a serem tomadas, conforme ata que segue anexa a esta

inicial.

Verificou-se na reunião mencionada que o Enfermeiro Adriano

Coutinho, Secretário Municipal de Saúde, estimou que cerca de 200 (duzentas)

pessoas já estivessem contaminadas pelo Coronavírus em Itaituba. Ressalta-

05

101520253035404550556065707580859095

100105110115120

21

/3

23

/3

25

/3

27

/3

29

/3

31

/3

2/4

4/4

6/4

8/4

10

/4

12

/4

14

/4

16

/4

18

/4

20

/4

22

/4

24

/4

26

/4

28

/4

30

/4

2/5

4/5

6/5

8/5

10

/5

12

/5

14

/5

16

/5

Qu

anti

dad

e d

e P

esso

as

Datas

Covid 19 em Itaituba/PA

CASOS CONFIRMADOS

10



se que a reunião foi realizada na data de 11/05/2020, dia em que a curva de

contaminação começou sua ascensão abruptamente, razão pela qual, atualmente,

essa estimativa é bem maior.

De outra forma, confirma-se que o sistema de saúde público já se

encontra a beira de um colapso, haja vista que, conforme informações colhidas em

reunião, apesar de Itaituba contar atualmente com 06 (seis) leitos de UTI no Hospital

Municipal, não consegue manter pacientes que agravam o estado de saúde e

precisam de atendimentos multidisciplinares, tais como hemodiálise, terapia

nutricional (enteral/parenteral), fonoaudiologia, fisioterapia, equipe de médicos

intensivistas, entre outras especialidades.

Segundo o plano de contingência, os casos que o Município não

consiga atender serão repassados para o Hospital Regional do Baixo Amazonas e o

Hospital de Campanha, todos localizados no Município de Santarém. Contudo,

conforme os dados divulgados pela Secretaria de Saúde do Município de Santarém,

a rede de atendimento aos municípios da região Baixo Amazonas e Tapajós já se

encontra superlotada e não suporta os pacientes oriundos dos 28 (vinte e oito)

municípios que referenciaram os nosocômios para os casos graves de COVID-19.

Apesar de tudo isso, segundo observado na reunião realizada, o

Governo Municipal não considera o fechamento temporário do comércio ou o

estabelecimento de horário reduzido como forma de aumentar os índices de

isolamento social e diminuir a propagação do COVID-19 em Itaituba.

O funcionamento sem restrições do comércio local vai de encontro ao

determinado pela Organização Mundial de Saúde, estimulando ainda que

indiretamente as pessoas saírem de suas casas e promovendo diversas interações

interpessoais, que, neste momento, ainda devem ser evitadas.

Esses dados são corroborados com os divulgados pela Secretaria de

Segurança Pública do Estado do Pará, nos quais Itaituba aparece com um índice de

isolamento social em cerca de 42,2% na data de 14/05/2020, muito abaixo do

alcançado pelo Estado que atinge cerca de 50%, bem como da taxa de 70%

recomendada pelo Ministério da Saúde. 1

1 http://segup.pa.gov.br/sites/default/files/levantamento_covid_-1505.pdf

http://segup.pa.gov.br/sites/default/files/levantamento_covid_-1505.pdf

11



Portanto, neste momento em que o Município se encontra com um

aumento desenfreado de contaminados pelo COVID-19, bem como com a postura

adotada pelo Governo em relação ao horário de funcionamento do comércio local,

não se vê outra alternativa se não a invocação do Poder Judiciário para a adoção de

medidas que visem resguardar a saúde dos munícipes de Itaituba.

Essa medida seria então a decretação do fechamento dos serviços

não essenciais, “lockdown” no Município, haja vista que, com a confirmação

de 110 (cento e dez) casos de COVID-19 em Itaituba, já se atingiria os requisitos

estabelecidos pelo Governo do Estado para o fechamento total, uma vez que a

“Cartilha Lockdown” divulgada pelo Governo do Estado estabelece que a

medida deve ser adotada em Municípios do Estado que possuem mais de 80

(oitenta) infectados para cada100mil/hab.

Considerando que a população de Itaituba é estimada em 101.247

(cento e um mil, duzentos e quarenta e sete) pessoas, conforme informações do

IBGE2, bem como a quantidade de infectados, a decretação de “lockdown” é

medida que já deveria ter sido considerada pela Administração Municipal, que,

todavia, insiste em manter o comércio local com as atividades a todo vapor.

Diante desse quadro e considerando a situação de calamidade pública

em que se vive, as medidas vindicada por meio da presente ação se mostram

inequivocamente legítimas, a fim de resguardar o direito a saúde descrito nos arts.

6º e 196 da Constituição Federal, que, por sua natureza, possui vínculo direto com o

princípio fundamental da vida e da dignidade da pessoa humana

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO:

O artigo 6º da Constituição de 1988 estabelece que a saúde é DIREITO

SOCIAL.

Ainda segundo a Constituição Federal, “A saúde é direito de todos e

dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à

redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário

às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (artigo 196).

2 https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/itaituba/panorama

https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/itaituba/panorama

12



Em igual sentido, a Lei Federal nº 8.080/90 reafirma que “a saúde é um

direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições

indispensáveis ao seu pleno exercício”.

Evidente, portanto, a obrigação estatal de garantir e resguardar o

direito fundamental à saúde. Além de promover a saúde, o Estado deve PROTEGER

a saúde de todos. A proteção à saúde está intimamente ligada à prevenção de

doenças, o que, no presente momento de pandemia do novo Coronavírus, impõe a

adoção de medidas urgentes e restritivas.

Mas não se trata de obrigação exclusiva do Estado. Com efeito, todos

devem contribuir para a garantia desse direito, inclusive as pessoas, a família e as

empresas. É o que dispõe o § 2º do artigo 4º da Lei nº8.080/90, in verbis:

“O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da

sociedade”.

Assim, as atividades privadas também devem zelar para o respeito ao

direito social e fundamental à saúde.

É certo que a ordem econômica está fundada na livre iniciativa (art.

170, CF). Entretanto, essa mesma ordem econômica tem por finalidade “assegurar

a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” (art. 170, caput, CF).

Dessa forma, a liberdade econômica somente se justifica se, antes,

observar que a dignidade da pessoa humana é fundamento da República Federativa

do Brasil (art. 1º, inc. III, CF) e que a prevalência dos direitos humanos é princípio

estampado na Carta de 1988 (art. 4º, inc. II, CF).

Portanto, as atividades da iniciativa privada também devem contribuir

efetivamente para o controle do COVID-19 e para a saúde de todos.

Consoante já afirmado, a Organização Mundial da Saúde – OMS

declarou o contágio do novo Coronavírus como pandemia. Igualmente, através da

Portaria nº 188, de 03.02.20, o Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde

Pública de Importância Nacional (ESPIN) em decorrência da infecção humana pelo

novo Coronavírus (2019-nCoV).

13



A Lei Federal nº 13.979, de 06.02.20, estabeleceu medidas para

enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional

decorrente do Coronavírus, inclusive com possibilidade de isolamento, quarentena

de pessoas, restrição excepcional e temporária de entrada e saída do País e

imposição de outros atos compulsórios.

A necessidade de se evitar a disseminação de doenças é tão grave

que o Código Penal possui tipo específico para punir aquele que infringir

determinação do poder público destinada a impedir a propagação de doença

contagiosa (“Infração de medida sanitária preventiva - Art. 268 - Infringir

determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de

doença contagiosa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa. Parágrafo único

- A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou

exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro”).

No Estado do Pará, o Decreto nº 609, de 16/03/20, determinou a

suspensão de diversas atividades com o fim de evitar a propagação do vírus,

inclusive com a determinação de fechamento de shopping centers, academias e

restaurantes.

A ausência de medidas preventivas por parte do Poder Público

Municipal, somado ao descumprimento das medidas já decretadas pelos particulares

(pessoas, família, empresas e sociedade) para prevenir a proliferação do novo

Coronavírus poderá causar sérias implicações à saúde pública, em decorrência do

alto potencial de contágio do vírus, constatado por cientistas e médicos

infectologistas.

É necessário reduzir imediatamente o contágio do SARS-Cov-2. Caso

contrário, o sistema público e a rede particular de saúde não terão estrutura

suficiente para atender ao número de infectados e nem mesmo aos casos mais

graves da COVID-19.

Assim, a conduta da parte requerida de permitir o funcionamento

normal de todo o comércio acarretará irremediavelmente a aglomeração de pessoas,

contraria a legislação vigente e a recomendação do Poder Público, expondo a risco

a vida, a saúde e a integridade física de inúmeras pessoas.

14



Serão afetados todos os cidadãos do município que irão trabalhar ou

forem ao comércio e, igualmente, todas as pessoas que com estes mantiverem

contato, contribuindo para a propagação do novo Coronavírus, para a disseminação

e também para eventuais óbitos.

O isolamento social, mediante fechamento de serviços não essenciais,

é medida que vem sendo determinada em todos os países que enfrentam a

pandemia. Foi estabelecida, inicialmente, na China, depois na Itália, na Inglaterra e

nos Estados Unidos, entre outros. Alguns países, por adotar a medida tardiamente,

pagaram altos custos, em recursos e vidas.

É sabido que o novo Coronavírus se transmite por meio de toque, de

aperto de mão (principal forma de contágio), de gotículas de saliva, de espirro, de

tosse, de contato com catarro e de objetos ou superfícies contaminadas, como

telefones celulares, mesas, maçanetas, brinquedos, teclados de computador,

assentos e superfícies de transporte público, instrumentos de trabalho e outros.

Seu período de incubação, ou seja, tempo que leva para os primeiros

sintomas aparecerem desde a infecção, pode ser de 2 a 14 dias.

O vírus possui grau de contágio entre 2 e 3, o que é considerado

moderado, mas, por ser doença de transmissão respiratória, dificulta medidas de

controle, principalmente se envolver contágio de pessoas assintomáticas.

Atualmente, não existe tratamento para a COVID-19. Os médicos

somente tratam os sintomas, para evitar agravamento da doença, reduzir

desconforto e evitar complicações que levem ao óbito.

A principal recomendação da Organização Mundial de Saúde para

conter o contágio é justamente o isolamento social, que, de acordo com

evidências científicas, é capaz de achatar a curva numérica de pessoas

infectadas, fazendo que haja um menor número de pessoas infectadas em

curto espaço de tempo.3

O isolamento social tanto é medida efetiva contra o contágio da COVID-

19 que o Estado do Pará, através do Decreto nº. 729 de 05 de maio de 2020,

3 https://www.dw.com/pt-br/por-que-isolar-grupos-contra-o-novo-coronav%C3%Adrus-n%C3%A3o-%C3%A9-vi%C3%A1vel-no-brasil/a-52933336,

https://www.dw.com/pt-br/por-que-isolar-grupos-contra-o-novo-coronav%C3%ADrus-n%C3%A3o-%C3%A9-vi%C3%A1vel-no-brasil/a-52933336



15



decretou o fechamento das atividades não essenciais, ou seja “lockdown”, nas

cidades de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Castanhal, Santa Isabel do

Pará, Santa Bárbara do Pará, Breves, Vigia, Santo Antônio do Tauá, Cametá, Canaã

dos Carajás, Parauapebas, Marabá, Santarém, Abaetetuba e Capanema, em razão

do avanço descontrolado da pandemia da COVID-19.

Interromper o movimento da população permite ganhar tempo e reduz

a pressão nos sistemas de saúde. A OMS recentemente reforçou que “a última

coisa que um país precisa é abrir escolas e empresas, e ser forçado a fechá-

las novamente por causa de um ressurgimento do surto”.4

Portanto a inadequada efetivação do isolamento contraria o que

afirmam especialistas e as medidas adotadas por praticamente todos os países e

coloca a população em grave risco, porquanto a consequência será maior número

de pessoas infectadas em curto espaço de tempo, sobrecarregando o sistema de

saúde e, lamentavelmente, aumentando o número de óbitos em decorrência do

COVID-19.

3. DO CABIMENTO DA LIMINAR DE TUTELA ANTECIPADA

3.1 – DO FUMUS BONI IURIS:

A presente cautelar esta alicerçada no direito a saúde pública, previsto

no artigo 196 e seguintes da Constituição Federal, o qual impõe ao Poder Público o

dever de agir para assegurar a todos o direito a saúde.

São de relevancia pública as açoes e serviços de saúde, cabendo ao

Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e

controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e,

também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

A Lei Organica da Saúde (Lei Federal no 8.080/1990) em seu artigo

2o, caput, e §§ 1o e 2o preve: “A saúde é um direito fundamental do ser humano,

devendo o Estado prover as condiçoes indispensáveis ao seu pleno exercício. O

dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas

economicas e sociais que visem a redução de riscos de doenças e outros agravos e

4 https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/03/25/oms-reitera-importancia-do-isolamento-para- combater-coronavirus.ghtml

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/03/25/oms-reitera-importancia-do-isolamento-para-combater-coronavirus.ghtml



16



no estabelecimento de condiçoes que assegurem o acesso universal e igualitário as

açoes e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. O dever do

Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade”.

Por seu turno, cabe ao Ministério Público a missão institucional de zelar

pelo efetivo respeito a Lei, aos Poderes Públicos e dos serviços de relevancia pública

aos direitos assegurados na Constituição Federal, promovendo medidas necessarias

a sua garantia, tal como se infere das disposiçoes de carater constitucional previstas

nos artigos 127 e 128, inciso II da Constituição Federal.

Por previsão constitucional e infraconstitucional, deve prevalecer a

medida sanitaria destinada a prevenção e combate da pandemia do COVID-19, daí,

a fumaça do bom direito para a manutenção do fechamento do comércio não

essencial como forma de evitar a propagação do vírus, sob pena de potencializar a

disseminação da doença com a possibilidade de provocar um número indefinido de

mortes, sobretudo em pessoas idosas e demais grupos de risco.

Não por outro motivo que foi promulgada a Lei nº. 13.979, de 6 de

fevereiro de 2020, que dispoe sobre as medidas para enfrentamento da emergencia

de saúde pública de importancia internacional decorrente do coronavírus

responsavel pelo surto de 2019, dentre as quais o isolamento social.

3.2 – DO PERICULUM IN MORA

Esta provado que a continuação indiscriminada do funcionamento do

comércio local podera trazer danos irreversíveis a saúde pública.

Como categoricamente noticiado pelas autoridades sanitarias, pela

Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde, uma das principais

medidas sanitarias que o mundo inteiro vem aplicando, quando certas regioes se

deparam com os picos do surto do coronavírus, é proibir a concentração de pessoas,

porque o contagio do vírus COVID-19 ocorre de duas formas basicas: de pessoa

para pessoa quando esta tosse, fala ou espirra em uma distancia muito pequena

(entre 1 a 2 metros) e, por meio de secreções que através da saliva, do suor

(segundo alguns), da tosse do espirro, dos gritos contaminam os ambientes como

cadeiras, maçanetas, portas, copos, mãos e etc. e entram em contato com as

mucosas de terceiros (o tão falado cumprimentar ou abrir uma maçaneta e levar a

17



mão ao rosto).

O periculum in mora reside no fato de que um número indeterminado e

massivo de pessoas se deslocarão aos trabalhos e as ruas, um ao lado da outro,

durante varias horas, e, por mais que se tome precauçoes, o risco de contaminação

é evidente, acarretando fundado e inquestionavel temor de que tenhamos

incalculaveis casos de contaminação pelo coronavírus, frustrando todas as medidas

sanitarias de prevenção e combate ao vírus COVID-19 adotadas até então, sendo

que, nada sera capaz de reverter o terrível agravamento do quadro sanitario

provocado por tão letal pandemia de gripe.

De outro lado, tratando-se da grave situação de emergência pública

vivida, necessária se faz a concessão liminar do pedido, INAUDITA ALTERA PARS,

pois, se não for concedido neste momento, seu provimento a final tornaria totalmente

ineficaz a medida.

Neste sentido, cito Nelson Nery Junior, CPC Comentado, 3ª edição,

página 547, “Quando a citação do réu puder tornar ineficaz a medida, ou, também,

quando a urgência indicar a necessidade de concessão imediata da tutela, o juiz

poderá fazê-lo inaudita altera pars, que não constitui ofensa, mas sim limitação

imanente do contraditório, que fica diferido para momento posterior ao

procedimento”.

Assim, como consta das leis e atos normativos respectivos a ordem é

o fechamento das atividades não essenciais “Lockdown” no Município, como forma

de evitar a concentração e aglomeração de pessoas, sendo medida preventiva por

excelencia do isolamento social, sob pena de acontecer indesejavel contaminação

em massa das pessoas, com tragico índice de mortes.

4. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, o MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO PARÁ,

através da 4ª Promotoria de Justiça de Itaituba, requer:

a) O deferimento da liminar, inaudita altera pars, nos

termos do art. 12 da Lei n° 7.347/85, para que seja

determinado o fechamento das atividades não essenciais

“lockdown” no Município de Itaituba, pelo prazo inicial de

18



10 (dez) dias, nos termos do Decreto nº. 729 de 05 de maio de

2020 do Governo do Estado do Pará, e, após esse período, que

o comércio prossiga com horário de funcionamento reduzido de

segunda à sábado, das 09:00 às 15:00, até que a Vigilância em

Saúde de Itaituba demonstre que a curva de contaminação no

Município diminuiu em termos consideráveis;

b) Subsidiariamente, caso não seja decretado o fechamento

das atividades não essenciais, que seja determinada a redução

do horário de funcionamento do comércio local de segunda à

sábado, das 09:00 às 15:00, até que a Vigilância em Saúde de

Itaituba demonstre que a curva de contaminação no Município

diminuiu em termos consideráveis;

c) Que seja o município de Município de Itaituba obrigado a

promover as medidas necessarias visando o não

funcionamento de referidos estabelecimentos, com a

identificação dos responsaveis e promovendo o seu imediato

fechamento, acionando os orgãos de segurança, se

necessário, comunicando os descumprimentos a este d. juízo

para adoção das medidas cabíveis;

d) Decorrido o prazo sem o cumprimento da decisão liminar

deferida, certifique-se o Oficial de Justiça, e seja fixada multa,

em desfavor do Município de Itaituba no percentual 20% (vinte

por cento) do valor da causa, nos exatos termos do disposto no

§1o do art. 77 do Código de Processo Civil, devendo tal

pagamento ser promovido no prazo de 05 (cinco) dias, sob

pena de inscrição na Dívida Ativa;

e) A citação do Município de Itaituba, através da

Procuradoria Geral, na forma do art. 242, §3o do Novo Código

de Processo Civil, para, querendo contestar o presente pedido,

no prazo da lei, sob pena de confissão e revelia, nos termos do

disposto no art. 344 do mesmo diploma legal, seguindo-se o

rito ordinário;

19



f) A procedência total do pedido inicial, nos termos do

disposto no artigos 3° e 11 da lei n° 7.347/85, para que seja

determinado o fechamento das atividades não essenciais

“lockdown” no Município de Itaituba, pelo prazo inicial de

10 (dez) dias, nos termos do Decreto nº. 729 de 05 de maio de

2020 do Governo do Estado do Pará, e após esse período que

o comércio prossiga com horário de funcionamento reduzido de

segunda à sábado, das 09:00 às 15:00, até que a Vigilância em

Saúde de Itaituba demonstre que a curva de contaminação no

Município diminuiu em termos consideráveis;

g) A condenação do Município de Itaituba ao pagamento

de custas e demais despesas processuais, que deverão ser

revertidas em favor de medidas a serem adotadas para o

combate de COVID-19 nesta municipalidade, assim como no

ônus de sucumbência;

h) A produção de todos os meios lícitos de prova que se

figurem necessários;

i) Seja determinada a ampla divulgação da decisão no sítio

da parte requerida na internet, em jornais e rádios da cidade,

tudo às custas da parte suplicada;

j) Sejam encaminhados ofícios à Polícia Militar, à Polícia

Civil, ao Conselho Municipal de Saúde e à Vigilância Sanitária

Municipal, para que fiscalizem o cumprimento da decisão

judicial, noticiando nos autos, mediante relatório, se o

provimento jurisdicional foi cumprido, observando, inclusive,

que seu descumprimento acarreta ao infrator a prática do crime

de desobediência;

Tendo em vista a impossibilidade de realização de audiências nesta

comarca, o Ministério Público não tem interesse na audiência de conciliação prevista

no art. 334 do Código de Processo Civil (art. 319, inciso VII, do mesmo Códex).

Requer-se a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, nos termos do artigo 18 da Lei nº. 7.347/5.

20



Dá-se a causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)

meramente para fins fiscais, considerando a incomensurabilidade do bem tutelado.

Aguarda deferimento.

Itaituba/PA, 18 de maio de 2020.

Mariana Sousa Cavaleiro de Macêdo Dantas

Promotora de Justiça Titular do 2º cargo criminal de Itaituba, respondendo pela 4ª Promotoria de Justiça.

urgente pedido de liminar · extrajudicial, acidente de trabalho, fundaÇÕes, patrimÔnio...

Documents