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Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 13, II Série, Março de 2011, 2.5 Euros EDIÇÃO DO CENTENÁRIO UNIVERSIDADE DO PORTO Porto, Carnaval Académico, [1882] - [1949] PT/CPF/APR1451, Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC

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13ª edição da revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto (U.Porto). ESPECIAL CENTENÁRIO

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Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 13, II Série, Março de 2011, 2.5 Euros

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O Centenário da U.Porto é uma efeméride de gran-de simbolismo e impacto na vida da instituição. E é-o sobretudo porque, ao longo de 100 anos, a nos-sa Universidade conheceu um percurso ascenden-te. Percurso esse que se traduziu num ensino de maior qualidade e mais diversificado, numa pro-dução científica crescente e internacionalmente competitiva, numa dinâmica cultural com relevân-cia pública e multifacetada, numa valorização do conhecimento promotora de crescimento socioe-conómico, numa cooperação internacional activa, profícua e prestigiante. Por tudo isto merecem ser celebrados os factos e acontecimentos, as ideias e realizações, as pessoas e meios, as vontades e decisões que contribuíram para que a U.Porto seja hoje a maior universidade portuguesa e se encontre entre as melhores uni-versidades da Europa. Esta edição especial da revista UPorto Alumni é inteiramente dedicada à história da nossa Uni-versidade, com o intuito de dar a conhecer a um universo amplo de leitores acontecimentos e per-sonalidades que influenciaram, decisivamente, o progresso da instituição. E se alguns dos factos e figuras históricos aqui abordados são familiares a muitos dos nossos leitores, bastantes outros há que escapam ao conhecimento geral. São peque-nas curiosidades, situações menos badaladas, per-sonalidades mais discretas, recordações difusas que, não obstante, ajudaram a construir um pa-trimónio memorialista importante para a afirma-ção exterior da Universidade e, sobretudo, para a consolidação do sentimento de pertença à nossa comunidade académica. Por outro lado, quisemos também olhar o horizon-te que temos pela frente, pois desejamos que as comemorações do Centenário sejam uma rampa capaz de catapultar a Universidade para um pata-mar superior de progresso. Para isso convidámos várias personalidades com ligações à U.Porto a se pronunciarem, nas páginas desta revista e no por-tal do Centenário, sobre os caminhos que a Univer-sidade deve trilhar no futuro, de forma a reforçar a sua posição no meio académico internacional e a consolidar-se enquanto alavanca de crescimento científico, cultural, social e económico.

Dito isto, importa enaltecer o contributo para o Centenário dos nossos antigos estudantes, a quem esta revista se dirige em primeira instância. Foi muito significativo o número de alumni que cor-respondeu ao apelo lançado e apoiou as comemo-rações do Centenário, também monetariamente, concorrendo assim para o engrandecimento da efeméride. Saudamos tão louvável gesto por aquilo que representa em termos de interesse, afectivida-de e orgulho pela Universidade. É reconfortante verificar que os nossos antigos estudantes man-têm laços fortes com a U.Porto, não lhe regateando apoio de forma espontânea ou quando a institui-ção o solicita, como foi o caso. Queremos agradecer igualmente às instituições pú-blicas e privadas, às empresas e aos cidadãos que, com esforço institucional ou pessoal, contribuíram ou vão ainda contribuir para as comemorações. Es-tes apoios externos devem naturalmente ser enal-tecidos, mas não apenas pela sua relevância mate-rial para a realização do programa do Centenário. Merece também ser sublinhado e elogiado o signi-ficado simbólico destes apoios, na medida em que consubstanciam um genuíno interesse pela nossa Universidade, um louvável apreço pela sua comuni-dade académica, uma real avaliação da importância do Centenário e um reconhecimento da crescente abertura à sociedade que a U.Porto tem vindo a assumir. Por outro lado, o apoio a instituições de grande relevância para a vida colectiva, como é ine-gavelmente o caso das universidades, constitui um acto de cidadania que nos apraz registar.Impõe-se também um veemente agradecimento a toda a comunidade académica da U.Porto, cujo envolvimento na organização do programa do Cen-tenário tem sido de enorme relevância e de quem esperamos uma ampla participação nos diferentes eventos das comemorações dos nossos 100 anos. Finalmente, queremos apresentar um agradeci-mento muito especial à Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário, que é superior-mente presidida pelo Prof. Luís Valente de Oliveira – um distinto antigo estudante da U.Porto que, no cumprimento da sua missão, tem revelado inegável competência, dedicação, empenho e entrega.Resta-nos agora desejar que as comemorações do Centenário sejam, como é nosso propósito, um mo-mento de festividade, convívio, reflexão e partilha de saber, onde todos participem imbuídos de um espírito de comunhão com os valores académicos.

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PERCURSOA brilhante carreira aca-démica de Francisco Go-mes Teixeira teve como ponto alto a nomeação para reitor da U.Porto, que acabava de ser criada, em 1911. Mas o célebre matemático teve uma vida transbordante de acontecimentos, desde o brilhantismo enquanto estudante aos cargos públicos que ocupou, passando natu-ralmente pela actividade de investigação que o in-seriu, à época, na comu-nidade matemática inter-nacional. Durante o seu Centenário, a U.Porto vai homenagear Gomes Teixeira e consagrá-lo Fi-gura Eminente de 2011.

INVESTIGARCriados em 1919, os institutos de Anatomia e de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina constituem o em-brião da investigação cientí-fi ca desenvolvida na U.Porto. Entre cadáveres preservados em formol e microscópios manuais, descobrem-se os mestres que, um século de-pois, continuam a ser referên-cias no presente e inspiração para o futuro.

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NO CAMPUSA U.Porto organiza, nos dias 24 e 25 de Março, no auditório da FEUP, a Conferência do Centená-rio – “Preparar o Futuro”. Este encontro de análise, refl exão e debate está estruturado em torno de quatro grandes tópicos: Saberes, Vida, Territórios e Universidade. Cada tópico será lançado por uma personalidade pro-eminente no respectivo domínio, seguindo-se as intervenções dos orado-res e um debate com a assistência. A sessão de abertura da conferência tem lugar às 09h15 do dia 24, cabendo ao reitor da U.Porto, Marques dos Santos, e ao investigador Alexandre Quintanilha presidirem à cerimónia.

VINTAGEA U.Porto foi a primeira universidade portuguesa a adquirir um computador. Em Dezembro de 1967, é entre-gue à FCUP um NCR Elliott 4100 de 16 KB. O mentor do projecto foi Rogério Nunes, que fi caria a liderar o LACA – unidade responsável pelo apoio técnico e administrati-vo aos utentes da máquina. Destinado sobretudo ao cál-culo científi co, o computador serviu toda a Universidade e manteve-se activo durante 15 anos. Teve o epíteto de “Her-mengarda”, devido ao seu comportamento inconstante. Mas foi um marco histórico no meio académico portu-guês, tendo possibilitado importantes avanços peda-gógicos e científi cos.

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VIDAS E VOLTASMuitos anos antes do Cortejo da Queima das Fitas, já os estudantes do Porto saíam às ruas da cidade para celebrar com a população. Sem carto-las e bengalas, era com fantasia, sátira e “namo-ricos de serpentina” que se fazia então o Carnaval dos Estudantes. Mas esta tradição festiva foi inter-rompida abruptamente, levando, na noite 29 de Abril de 1934, estudantes e populares à rua em sinal de luto. Numa Europa vergada pela II Guerra Mundial, deixara de haver espaço para “um dos mais alegres dias que o Porto alguma vez viveu”.

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FACE-A-FACEEm entrevista, o reitor da U.Porto explica os principais propósitos das comemorações do Cente-nário, salientando que se trata, não só de celebrar o passado, mas sobretudo de preparar o futuro da instituição. E um futuro auspicioso implica, diz, uma reorganização da Univer-sidade, tendo em vista a progressão para um pata-mar superior de qualidade. Ganhar escala, cooperar internamente, racionalizar recursos, aumentar o rigor e promover a interdiscipli-naridade são as palavras de ordem. De resto, Marques dos Santos preconiza a mesma receita para todo o ensino superior português, o qual, em sua opinião, tem instituições a mais.

OLHARESTrinta personalidades com ligações à U.Porto olham para o horizonte da insti-tuição e tentam perceber de que forma a Universi-dade pode projectar-se na comunidade académica internacional, bem como re-forçar o seu contributo para o crescimento científi co, cultural, social e económico do nosso país. As opiniões são díspares, mas existe a convicção geral de que o fu-turo da U.Porto é auspicioso e que os próximos 100 anos podem ser enfrentados com ambição.

CULTURAO Orfeão Universitário do Porto (OUP) foi criado em 6 de Março de 1912. A ideia partiu de um grupo de estu-dantes que sentia a neces-sidade de um complemento à acção formativa, natural a uma instituição de ensino. O tempo trouxe o carinho por uma certa transversali-dade e, nos anos 40, para além do coral universitário, o OUP conseguiu ir bem mais longe. Passa a integrar fados, tangos e até rábulas humorísticas. Além disso, pela primeira vez, as rapari-gas começam a usar o actual traje académico, que foi, posteriormente, adoptado noutras universidades.

EM FOCOA história da U.Porto é aqui revisitada, desde os seus antecedentes até à situação actual. Apesar de ofi cialmente criada em 1911, a Universidade tem raízes que remontam a 1762, data da criação da Aula de Náutica por D. José. Numa fase inicial, a U.Porto surge estruturada em duas faculdades: Ciências e Me-dicina. Mas, no decurso do século XX, verifi ca-se uma diversifi cação de saberes e a autonomização das esco-las. Hoje, a Universidade é constituída por 14 faculda-des, uma business school e 61 unidades de investiga-ção. É este lastro histórico que vai servir de base ao futuro da instituição.

DESPORTOEm plena II Guerra Mundial, os estudantes da U. Porto termi-nam a primeira participação nos Campeonatos Nacionais Univer-sitários (CNU’s) com os títulos de andebol e futebol. Foi o arranque de uma história desportiva que nasceu num ambiente politiza-do e que culmina, meio século depois, com o actual domínio pela U.Porto do desporto univer-sitário em Portugal. Pelo meio, várias peripécias marcaram uma actividade fundamental para o reforço do espírito académico e para a socialização dos estu-dantes.

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No âmbito das comemorações dos seus 100 anos, a U.Porto organiza, nos dias 24 e 25 de Março, no auditório da Faculdade de Engenharia (FEUP), a Conferência do Centenário – “Preparar o Futuro”. Este encontro de análise, reflexão e debate

está estruturado em torno de quatro grandes tópicos: Saberes, Vida, Territórios e Uni-versidade. Cada tópico será lançado por uma personalidade proeminente no respectivo domínio, seguindo-se as intervenções dos oradores e um debate com a assistência. No entender do presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Cen-tenário, Valente de Oliveira, a conferência “visa descortinar os principais desafios que o futuro nos põe e fazer assentar a acção multímoda da Universidade em bases que foram discutidas e criticadas, antes de serem adoptadas”. Isto significa que a discussão vai realizar-se em torno dos principais desígnios que a U.Porto adoptou para si, não es-quecendo os meios para os alcançar e os obstáculos que terá de enfrentar. A discussão será, contudo, enquadrada numa análise mais ampla do actual panorama do ensino superior no nosso país e no mundo, para a qual foram convidados ilustres especialistas nacionais e estrangeiros.

A sessão de abertura da conferência tem lugar às 09h15 do dia 24, cabendo ao reitor da U.Porto, Marques dos Santos, e ao investigador Alexandre Quintanilha presidirem à cerimónia. Logo a seguir realiza-se, durante toda a manhã (a partir das 09h30), a sessão Saberes, com moderação de Lúcia Almeida Matos (U.Porto) e os oradores Helga Nowo-tny (European Research Council), António Nóvoa (reitor da Universidade de Lisboa) e Maria Manuel Jorge (U.Porto). Nesta sessão vão ser abordadas “questões relativas aos processos sociais de geração, transmissão e apropriação dos saberes, nomeadamente as que se prendem com os bloqueamentos e desigualdades nas aprendizagens escolares, com o modo como se inserem, são valorizados e eventualmente regridem os conheci-mentos e títulos académicos no espaço concreto do trabalho e das organizações, com a incerta correspondência entre acesso à informação, reflexividade e participação cívica”.A partir das 14h30 tem início a sessão Territórios, que conta com os oradores Alain Bourdin (Université de Paris Est, Marne la Vallée), João Ferrão (Universidade de Lisboa), Álvaro Domingues (U.Porto) e Manuel Ferreira de Oliveira (Galp Energia). A moderação está a cargo de Filipe Duarte Santos (Universidade de Lisboa). Nesta sessão “partir-se-á da constatação de que os territórios e seus usos se tornaram numa das questões críticas da contemporaneidade”. Neste sentido, “só uma abordagem pluridisciplinar permitirá encontrar novos critérios e processos de projecto, regulação e gestão que articulem desígnios múltiplos e por vezes contraditórios”. No dia 25, a conferência arranca às 09h30 com a sessão Vida, na qual vão ser “aborda-das algumas das múltiplas perspectivas sob as quais pode ser vista: a das ciências da

No âmbito das comemorações dos seus 100 anos, a U.Porto organiza, nos dias 24

No âmbito das comemorações dos seus 100 anos, a U.Porto organiza, nos dias 24

Ne 25 de Março, no auditório da Faculdade de Engenharia (FEUP), a Conferência Ne 25 de Março, no auditório da Faculdade de Engenharia (FEUP), a Conferência Ndo Centenário – “Preparar o Futuro”. Este encontro de análise, reflexão e debate Ndo Centenário – “Preparar o Futuro”. Este encontro de análise, reflexão e debate Nestá estruturado em torno de quatro grandes tópicos: Saberes, Vida, Territórios e Uni-versidade. Cada tópico será lançado por uma personalidade proeminente no respectivo domínio, seguindo-se as intervenções dos oradores e um debate com a assistência. No entender do presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Cen-tenário, Valente de Oliveira, a conferência “visa descortinar os principais desafios que o futuro nos põe e fazer assentar a acção multímoda da Universidade em bases que foram discutidas e criticadas, antes de serem adoptadas”. Isto significa que a discussão vai realizar-se em torno dos principais desígnios que a U.Porto adoptou para si, não es-quecendo os meios para os alcançar e os obstáculos que terá de enfrentar. A discussão será, contudo, enquadrada numa análise mais ampla do actual panorama do ensino superior no nosso país e no mundo, para a qual foram convidados ilustres especialistas nacionais e estrangeiros.

A sessão de abertura da conferência tem lugar às 09h15 do dia 24, cabendo ao reitor da U.Porto, Marques dos Santos, e ao investigador Alexandre Quintanilha presidirem à cerimónia. Logo a seguir realiza-se, durante toda a manhã (a partir das 09h30), a sessão Saberes, com moderação de Lúcia Almeida Matos (U.Porto) e os oradores Helga Nowo-tny (European Research Council), António Nóvoa (reitor da Universidade de Lisboa) e Maria Manuel Jorge (U.Porto). Nesta sessão vão ser abordadas “questões relativas aos processos sociais de geração, transmissão e apropriação dos saberes, nomeadamente as que se prendem com os bloqueamentos e desigualdades nas aprendizagens escolares, com o modo como se inserem, são valorizados e eventualmente regridem os conheci-mentos e títulos académicos no espaço concreto do trabalho e das organizações, com a incerta correspondência entre acesso à informação, reflexividade e participação cívica”.A partir das 14h30 tem início a sessão Territórios, que conta com os oradores Alain Bourdin (Université de Paris Est, Marne la Vallée), João Ferrão (Universidade de Lisboa), Álvaro Domingues (U.Porto) e Manuel Ferreira de Oliveira (Galp Energia). A moderação está a cargo de Filipe Duarte Santos (Universidade de Lisboa). Nesta sessão “partir-se-á da constatação de que os territórios e seus usos se tornaram numa das questões críticas da contemporaneidade”. Neste sentido, “só uma abordagem pluridisciplinar permitirá encontrar novos critérios e processos de projecto, regulação e gestão que articulem desígnios múltiplos e por vezes contraditórios”. No dia 25, a conferência arranca às 09h30 com a sessão Vida, na qual vão ser “aborda-das algumas das múltiplas perspectivas sob as quais pode ser vista: a das ciências da

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5vida, procurando compreender os seus aspectos essenciais, a sua manutenção, a sua qualidade; as consequências sociais, políticas e económicas do seu prolongamento; a sua relação com o ambiente; a biodiversidade perante as suas ameaças; o ser humano como sujeito e agente; a sua inserção nos contextos naturais e nos ambientes constru-ídos; enfim, toda a complexidade que nenhuma perspectiva que evite a multiplicidade disciplinar permitirá abarcar”. Para tanto, a sessão conta com a moderação de Gui-lherme Oliveira (Universidade de Coimbra) e as intervenções de Lee Silver (Princeton Univesity), Manuel Sobrinho Simões (U.Porto) e Teresa Pizarro Beleza (Universidade de Lisboa). Da parte da tarde, a partir das 14h30, tem lugar a sessão Universidade, cujo moderador é António Rendas (Universidade Nova de Lisboa) e os oradores Roger Dillemans (KU Leuven), Timothy O’Shea (University of Edinburgh) e Seabra Santos (Universidade de Coimbra). Nesta sessão “procurar-se-á pensar a Universidade no confronto entre os valores em que se fundou e os desafios que hoje tem”. Segue-se a sessão de encerra-mento da conferência, que também será presidida por Marques dos Santos e Alexandre Quintanilha. Resta dizer que a Comissão Organizadora da Conferência do Centenário é formada por Alexandre Quintanilha, António Marques, Cândido Agra, Jorge Gonçalves, José Madu-reira Pinto, Nuno Portas e Pedro Guedes de Oliveira.

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vida, procurando compreender os seus aspectos essenciais, a sua manutenção, a sua qualidade; as consequências sociais, políticas e económicas do seu prolongamento; a sua relação com o ambiente; a biodiversidade perante as suas ameaças; o ser humano como sujeito e agente; a sua inserção nos contextos naturais e nos ambientes constru-ídos; enfim, toda a complexidade que nenhuma perspectiva que evite a multiplicidade disciplinar permitirá abarcar”. Para tanto, a sessão conta com a moderação de Gui-lherme Oliveira (Universidade de Coimbra) e as intervenções de Lee Silver (Princeton Univesity), Manuel Sobrinho Simões (U.Porto) e Teresa Pizarro Beleza (Universidade de Lisboa). Da parte da tarde, a partir das 14h30, tem lugar a sessão Universidade, cujo moderador é António Rendas (Universidade Nova de Lisboa) e os oradores Roger Dillemans (KU Leuven), Timothy O’Shea (University of Edinburgh) e Seabra Santos (Universidade de Coimbra). Nesta sessão “procurar-se-á pensar a Universidade no confronto entre os valores em que se fundou e os desafios que hoje tem”. Segue-se a sessão de encerra-mento da conferência, que também será presidida por Marques dos Santos e Alexandre Quintanilha. Resta dizer que a Comissão Organizadora da Conferência do Centenário é formada por Alexandre Quintanilha, António Marques, Cândido Agra, Jorge Gonçalves, José Madu-reira Pinto, Nuno Portas e Pedro Guedes de Oliveira.

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Parece paradoxal que um homem que consagrou a vida ao rigor da matemática tenha, no dealbar

da idade adulta, confi ado o seu destino aos caprichos da sorte. Mas foi exacta-mente isto que aconteceu a Francisco Gomes Teixeira, quando confrontado com a sempre angustiante escolha da área de estudo a seguir após o liceu. O pai apontava-lhe a Teologia ou o Direito como boas opções académicas, enquanto o primo médico, em casa de quem viveu

concluir Matemática e depois seguir En-genharia Militar. Contudo, acabou por optar em defi nitivo pela carreira de ma-temático por infl uência de um dos seus professores, Tôrres Coelho. E novamente a fortuna esteve do seu lado, pois logo no primeiro ano conquistou um prémio de mérito e, ao longo do curso, atingiria as mais altas classifi cações como estudante. Gomes Teixeira concluiria, em 1874, o curso com “Muito Bom por unanimida-de” (20 valores), classifi cação até aí iné-dita naquela faculdade. No ano seguinte apresentou a sua dissertação de licencia-tura e, 18 dias depois, defendeu o seu doutoramento, sendo de novo aprovado com a nota máxima. Com 24 anos, Go-mes Teixeira era já doutorado e, pouco depois, seria eleito sócio correspondente da Academia das Ciências.

durante os estudos liceais em Lamego, aconselhou-o a formar-se em Matemáti-ca, dadas as excepcionais aptidões que o jovem já então revelava para os números. A decisão foi tomada por moeda ao ar e o acaso encaminhou o primeiro reitor da U.Porto para uma brilhante carreira de matemático, pedagogo e académico.Tendo a sorte como conselheira, o jovem nascido em 1851, na aldeia de S. Cosma-do, no distrito de Viseu, matriculou-se na Faculdade de Matemática da Univer-sidade de Coimbra. Mas, com apenas 17 anos e oriundo de uma família hu-milde, Gomes Teixeira não tinha ainda resolvido plenamente os seus dilemas vocacionais nesse primeiro ano lectivo do curso (1869-1870). A sua ideia era

Inicia então a sua carreira de investiga-dor e docente na universidade coimbrã, tendo tomado posse como lente substi-tuto em Dezembro de 1874, por despa-cho do rei D. Luiz I. Depois de uma bre-ve passagem pelo Observatório Astronó-mico de Lisboa, em 1878, onde exerceu o cargo de terceiro astrónomo, Gomes Tei-xeira foi progredindo na carreira acadé-mica de forma meteórica. Tanto assim que, logo em 1880, é promovido a lente catedrático da Faculdade de Matemáti-ca. Durante este período desenvolveu uma intensa actividade de investigação

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(numa primeira fase dedicada à Análise e, mais tarde, à Geometria), passando a integrar a comunidade matemática internacional. Trocava correspondência com os mais prestigiados matemáticos do mundo e publicava artigos nas me-lhores revistas científi cas da época, ten-do ainda fundado, em 1877, o Jornal de Sciencias Matemáticas e Astronómicas, que foi publicado durante 28 anos. Paralelamente, Gomes Teixeira envol-veu-se na política. Em 1879, com apenas 28 anos, foi eleito deputado às Cortes pelo Partido Regenerador, liderado por Fontes Pereira de Melo. Representou esta força partidária, não apenas nesse ano, mas também em 1879, 1883 e 1884. Vinte e sete anos depois, em 1906, pou-co antes da implantação da República, aderiu ao Partido Regenerador Liberal,

1.º reitor da U.PortoInesperadamente, Gomes Teixeira inter-rompe, em 1883, a sua ligação à Univer-sidade de Coimbra e pede transferência para a Academia Politécnica do Porto, que havia sido criada em 1837. Esta mudança comportava evidentes riscos para a carreira do investigador, pois a escola que antecedeu a U.Porto estava vocacionada para o ensino técnico e, por conseguinte, não tinha nem a qualidade científi ca e pedagógica nem o prestígio académico da instituição coimbrã. Na decisão terá pesado a ligação de Gomes Teixeira ao Porto, onde conheceu a sua esposa, Ana Arminda Cardoso, natural da cidade. Mas, uma vez mais, Gomes Teixeira foi bem-aventurado na sua opção, dado que, logo em Dezembro de 1886, seria no-

mático assumiu funções de docência na Faculdade de Ciências, onde leccionou a cadeira de Cálculo Diferencial e Integral. Foi reitor durante sete anos (passou a reitor honorário em 1918) e só deixou a cátedra em 1929, depois de atingir o li-mite de idade para o exercício de cargos públicos. Faleceu poucos anos depois, em 1933, na cidade do Porto, tendo sido alvo de sentidas homenagens e inúme-ras notícias em Portugal e no mundo. Como homem profundamente religioso que era e também muito orgulhoso das suas origens, Gomes Teixeira desejou ser sepultado no seu local de baptismo: a igreja de S. Cosmado. Entre as obras mais importantes de Gomes Teixeira, destacam-se os dois volumes do “Curso de Análise Infi nitesi-mal, Cálculo Diferencial” (1889 e 1892), com os quais modernizou o ensino da matemática entre nós; a “História das Matemáticas em Portugal” (publicada

que João Franco fundara na sequência da sua ruptura com Hintze Ribeiro, en-tão líder do Partido Regenerador. Além de deputado, Gomes Teixeira desem-penhou importantes cargos públicos, como os de Vogal do Conselho Superior de Instrução Pública (1908), de reitor da U.Porto (1911) e de membro da Jun-ta Orientadora dos Estudos (1923). Para todos estes cargos foi nomeado por governos republicanos, apesar de ter representado nas cortes um partido mo-nárquico conservador. Parece, pois, que, não só Gomes Teixeira sobrepôs o servi-ço à causa pública aos seus ideais políti-cos, como o regime republicano não se escusou a recorrer ao prestígio académi-co e científi co do matemático português.

meado director e lente da 3.o cadeira da Academia Politécnica do Porto. Apesar da hercúlea tarefa que tinha pela frente, Gomes Teixeira logrou engrandecer a instituição portuense, designadamente com as reformas que promoveu na sua secção de Matemática. De tal forma que, quando a Academia Politécnica do Porto e a Escola Médico-Cirúrgica do Porto de-ram lugar à U.Porto, em 22 de Março de 1911, Gomes Teixeira foi eleito reitor da nova instituição. Concomitantemente ao cargo de reitor, que passou a exercer a partir de 17 de Julho de 1911, o mate-

Apesar da hercúlea tarefa que tinha pela frente, Gomes Teixeira logrou engrandecer a instituição portuense, designadamente com as reformas que promoveu na sua secção de Matemática.

postumamente, em 1934), que constitui uma referência para os estudiosos das ciências no nosso país; e o “Tratado de Curvas Especiais Notáveis, tanto Planas como Torsas”, com o qual conquistou, em 1897, um importante prémio da Academia Real de Ciências espanhola. No ano em que comemora o seu Cen-tenário, a U.Porto designou Francisco Gomes Teixeira como Figura Eminente da Universidade em 2011. Isto signifi ca que, ao longo do ano, vão ser organiza-das diversas iniciativas de evocação da vida e obra do primeiro reitor da U.Porto. Mas o próprio programa do Centenário já contempla, como é natural, acções de homenagem a Gomes Teixeira, desig-nadamente a publicação de dois livros sobre este matemático. Referimo-nos às obras “Francisco Gomes Teixeira. O ho-mem, o cientista, o pedagogo” e “Fran-cisco Gomes Teixeira. Curso de Analy-se Infi nitesimal – Calculo Differencial. Análise de alguns conteúdos”, ambas da autoria de Maria da Graça Ferreira Alves.

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Não há indícios de que Joaquim Pires de Lima, Hernâni Monteiro e Abel Salazar tenham estado juntos na noite de 3 de

Agosto de 1919. O primeiro, professor ordinário (actual catedrático) e regente da cadeira de Ana-tomia Comparada, estaria provavelmente absor-to na descrição de um cérebro dissecado, numa das mesas de mármore do Teatro Anatómico. Na porta ao lado, imagina-se o segundo, jovem regente de Anatomia Topográfica, a colocar as últimas “novidades” nos armários do Museu de Anatomia. Já os olhos do terceiro, professor ordi-nário de Histologia e Embriologia, aguardariam a decisão pregados a um microscópio dourado. Se, contudo, os três se tivessem encontrado no velho edifício da Faculdade de Medicina (no antigo lar-go da Escola Médica, ocupado hoje pelo ICBAS), poderiam assinalá-lo com um brinde. Algumas horas depois, ganhariam o direito a ser os prota-gonistas desta história.Parêntesis. A produção de conhecimento cientí-fico já acompanhava a missão da U.Porto desde a sua fundação – antecedendo-a até – quando, a 4 de Agosto de 1919, o Senado da Universidade, reunido em Assembleia Extraordinária, aprovou a criação do Instituto de Anatomia e do Instituto de Histologia e Embriologia da FMUP. Vivia-se então na ressaca do Estatuto Universitário de 6 de Julho de 1918, que se propunha “imprimir às Universi-dades um vigoroso impulso para que se tornem verdadeiros centros de investigação científica”. No mesmo sentido ia o decreto n.0 4652 que, a 12 de Julho desse ano, promulgava uma nova organi-zação do ensino médico, sustentada no incentivo à investigação e ao “ensino profissional”. Parale-lamente à revolução legislativa, uma outra estava em marcha. Ainda a fazer contas às baixas da I Guerra Mundial e a braços com batalhas diárias contra surtos mortíferos de pneumonia, febre ti-fóide ou tuberculose, o mundo despertava para a urgência de novas conquistas. Desse movimento resultariam algumas das mais importantes des-cobertas da História da Medicina: a insulina em 1920, a morfina em 1925, a penicilina em 1928... Eram por isso favoráveis os ventos que sopravam

CRIADOS EM 1919, OS INSTITU-

TOS DE ANATO-MIA E DE HISTO-

LOGIA E EMBRIO-LOGIA DA FA-

CULDADE DE ME-DICINA (FMUP)

CONSTITUEM O EMBRIÃO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA DE-

SENVOLVIDA NA U.PORTO. ENTRE

CADÁVERES PRESERVADOS

EM FORMOL E MICROSCÓ-

PIOS MANUAIS, DESCOBREM-SE

OS MESTRES QUE, UM SÉCULO

DEPOIS, CON-TINUAM A SER

REFERÊNCIAS NO PRESENTE E INS-

PIRAÇÃO PARA O FUTURO.

a 1 de Julho de 1919, dia em que Joaquim Pires de Lima e Abel Salazar solicitaram à Faculdade a criação e respectiva direcção de dois institutos de investigação científica. Com um percurso no qual se contavam alguns artigos publicados em revis-tas nacionais e estrangeiras, ambos viam naque-las estruturas uma oportunidade de dinamizarem a investigação produzida pela Faculdade em duas áreas de conhecimento “irmãs”: a Anatomia Ma-croscópica, designada apenas por Anatomia, e a Anatomia Microscópica, que constitui a histolo-gia. A outra inovação configura-se no modo de encarar o conhecimento científico, assente num modelo – inédito à época – em que o ensino e a investigação combinavam e interagiam numa mesma estrutura. Os argumentos rapidamente convenceram os meios de decisão. Cinco dias após o envio da pro-posta, esta é aprovada pelo Conselho Escolar da FMUP, presidido por Maximiano Lemos, e logo a seguir pelo Senado da U.Porto. Já a 8 Novem-bro, o Presidente da República, António José de Almeida, decreta a criação do Instituto de Investi-gações Anatómicas e do Instituto de Investigações Histológicas. Em poucos meses, os dois institutos estavam prontos a arrancar.

Que investigação se fazia há 90 anos atrás? Ao protagonismo das máquinas à escala nano e das linguagens digitais que comandam a ciência actual contrapunha-se, no raiar do século passa-do, o fascínio pelo corpo humano, “objecto” tão admirado quanto desconhecido. Era-o cada vez menos para Joaquim Pires de Lima e Hernâni Monteiro. “Os primeiros trabalhos do instituto privilegiavam a descrição anatómica do corpo humano. Muitas das variações de coisas básicas como as artérias, músculos e ossos são descritos com grande pormenor por esses professores e ainda hoje são referências no estudo da Anato-mia”, introduz Dulce Madeira, actual directora do Instituto de Anatomia.Encontramo-la numa visita ao Museu de Ana-tomia, instalado numa ala alheia à azáfama de corredores e escadas do Hospital de S. João, casa

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da FMUP desde 1959. Logo à entrada, recebe-nos o coração de J. Vicente de Carvalho (1792-1851), pioneiro dos estudos anatómicos no Porto. Mas é nas salas seguintes, entre esqueletos, cérebros abertos a régua e esquadro e corações preservados em formol, que o puzzle do corpo humano ga-nha forma. Cruzando o olhar com o resumo dos estudos publicados pelo Instituto até 1921, ali se encontram as mandíbulas caracterizadas por J.A. Pires de Lima nos estudos de Osteologia. Segue-se um encontro com o esterno-cleido-mastoideu e outros músculos descritos por Hernâni Montei-ro na área da Miologia. O coração contrai perante as artérias coronárias que inspiravam a Angiolo-gia. E logo descontrai para dar força à árvore de nervos pintados a corante que conduzem ao sis-tema nervoso central. Por esta altura fixamo-nos no “feto anencefaliano”, que repousa num frasco. “Sempre que se encontrava alguma variação do normal, essas peças vinham para cá e eram estu-dadas”, refere Dulce Madeira. Da ala das “Mons-truosidades” acenam o esqueleto de um gigante e uma fila de crânios com macrocefalias. Ao mesmo tempo que o corpo se desvendava a olho vivo nas mesas da Anatomia, outra história de sucesso era escrita nos microscópios do Insti-tuto de Histologia e Embriologia. Sucessor de Plá-cido Costa (1848-1916), Abel Salazar começou por se dedicar ao estudo da anatomia do cérebro. Mas cedo os micrótomos e almofarizes do instituto se voltaram para o conhecimento da estrutura e evo-lução do ovário. Foi nesse âmbito que Abel Salazar desenvolveu uma série de abordagens inovadoras de coloração microscópica. Dessa pesquisa resulta-ram várias técnicas histológicas – sintetizadas no Método Tano-férrico de Salazar – que acabariam por revolucionar a investigação celular.Na verdade, pouco tempo após a criação dos dois institutos, era já evidente o impacto de ambos na projecção da Universidade junto do meio científi-co. Apesar das dificuldades – em 1919, Joaquim Pires de Lima alertava para a situação “deplorá-vel” do material da faculdade e para a necessida-de de “ampliar o pessoal técnico” –, a produção científica multiplicava-se (às descobertas de Abel

01 Hernâni Monteiro no Laboratório de Anatomia

02 Estudantes da FMUP numa aula de Anatomia, com Hernâni Monteiro (Foto Museu de História da Medicina da FMUP)

03 Abel Salazar no Laboratório de Histologia (Foto CMAS)

04 Edifício da FMUP no início da década de 30

05 Sala provisória do Instituto de Histologia nos anos 30 (Foto CMAS)

06 Colecção de crânios do Museu da Anatomia (1932)

Prova microscópica de Abel salazar (Foto Casa-Museu Abel Salazar)

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Salazar respondiam as 2.700 peças catalogadas no Museu de Anatomia em 1921, o dobro das registadas em 1917). Paralelamente, os investiga-dores publicavam artigos nas principais revistas científicas e acumulavam participações em con-gressos por todo o mundo. Em 1928, Joaquim Pires de Lima remata a sentença nas páginas de O Comércio do Porto. “Já não é segredo para nin-guém que os trabalhos portuenses de Histologia e de Anatomia são correntemente citados em todos os meios cultos do estrangeiro”.

“Quem só sabe Medicina nem de Medicina sabe”... Lê-se numa das paredes do átrio do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Nesta má-xima, repetida há mais de 90 anos aos estudan-tes que se iniciavam no estudo da Histologia, projecta-se a outra faceta que, paralelamente à vocação científica, configura o carácter precursor dos primeiros institutos da U.Porto. “É aí que co-meça a ganhar força a ideia de que o ensino tem que estar ligado à investigação para ter qualidade e formar verdadeiras mentes científicas”, realça Deolinda Lima, actual directora do Instituto de Histologia. Em 1919, a mensagem encontrava eco nos estatutos do Instituto de Anatomia, que chamava a si “a dupla função de habilitação pro-fissional e investigação científica”.Dentro desta nova visão, os estudantes passam então a “contar” como parte activa no processo de investigação liderado pelos professores. “Abel Salazar entendia a actividade docente como uma investigação colectiva, privilegiando o confronto de ideias”, lê-se na biografia assinada pela Casa Museu Abel Salazar. “Hoje, estuda-se medicina em bonecos. Privilegia-se a técnica. Mas falta a humanidade”, contrapõe o médico Aureliano da Fonseca. Aos 96 anos, fala com o direito de quem foi estudante de Joaquim Pires de Lima, do qual fixou as palavras na primeira aula de Anatomia: “Aqui está um defunto sem história para por nós ser retalhado, possi bilitando-nos o conhecimento da maravilhosa estrutura do corpo humano. Tal dádiva devemos agradecer com respeito”. Resul-tado: “Ninguém entrava nas aulas de Anatomia sem fato e gravata”, mesmo quando a companhia convidava à quebra do protocolo. “Havia um ou outro colega que pegava no pénis de um cadáver e o metia no bolso das raparigas. Sempre desdra-matizava a situação…”.

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INVESTIGAR CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

O papel pioneiro que o Instituto de Anato-mia e o Instituto de Histologia e Embriolo-gia desempenharam na promoção da acti-vidade científica e do ensino da U.Porto ga-rantir-lhes-ia, por si só, um lugar na histó-ria. Contudo, nos saberes de várias gerações de homens e mulheres, ambos souberam potenciar a herança dos fundadores. Ao Ins-tituto de Anatomia é reconhecido um papel fundamental na raiz e no desenvolvimento do Hospital de S. João”. Já os laboratórios da Histologia mantiveram-se na vanguarda reivindicada por Abel Salazar, tendo acolhi-do, por exemplo, um dos primeiros micros-cópios electrónicos do país, nos anos 50.Chegados à actualidade, a História continua escrever-se, ainda que em tempos distintos. No caso da Anatomia, as palavras vão dar mais uma vez às salas do Museu, que recebem mais de mil visitantes por ano. “É possível aprender a Anato-mia quase toda aqui”, diz Dulce Madeira. Não é por acaso. “A Anatomia Macroscópica está des-vendada e isso deve-se também ao trabalho pio-neiro do Instituto”. Conhecido o corpo à flor da pele, é ao ensino pré-graduado e pós-graduado que destina grande parte do tempo. O “pouco que sobra” é dedicado à investigação na área das neu-rociências, “onde estamos há mais de 30 anos”, completa a docente.Já nos corredores do Instituto de Histologia e Embriologia, o corre-corre de batas brancas deixa antever o porquê de ali se gerar boa par-te da produção científica assinada pela FMUP. É assim desde que o instituto, a par do LBMC – Laboratório de Biologia Celular e Molecular (que derivou daquele no início do milénio), co-meçou a especializar-se na investigação em dor, pela qual é reconhecido a nível internacional. “Só nos últimos três anos, o índice de impacto dos nossos artigos evoluiu de 3 para 4,5, o que é excelente”, resume Deolinda Lima. Mas outros desafios se avizinham. Prestes a mudar-se para o novo edifício da Faculdade, o Instituto prepara a (re)fusão das suas actividades de ensino e in-vestigação com o LBMC, da qual resultará o De-partamento de Biologia Experimental. Em curso está ainda a criação do Centro Pluridisciplinar de Investigação em Dor (CPID-UP), estrutura “única no país” que, segundo Deolinda Lima, “vai congregar várias estruturas ligadas à inves-tigação e tratamento da dor”.

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TIA

GO

RE

IS01 Peça do Museu de

Anatomia da FMUP

02 Peças do Museu de Anatomia da FMUP

03 Instituto de Histologia e Embriologia do Prof. Abel Salazar

04 Teatro Anatómico do Instituto de Anatomia do Prof. J. A. Pires de Lima

01

03

04

02

A herança do passado continua viva nos corredores da FMUP

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Numa altura em que se vulgariza o uso de laptops, e-readers, tablets, smartphones, PDAs, netbooks, notebooks, leitores de mp3,

entre outros dispositivos electrónicos portáteis (ou gadgets como lhe chamam os afi cionados), é difícil conceber que, na década de 60, os compu-tadores eram umas máquinas gigantescas, vaga-rosas no processamento, limitadas na memória e complicadas de operar. Pois a U.Porto possuiu algumas dessas máquinas que hoje nos parecem da era dos Flintstones, mas que, naquele tempo, eram tecnologicamente sofi sticadas e permitiram à Universidade importantes avanços pedagógicos e científi cos. A epopeia da computação na U.Porto teve início no fi nal dos anos 60 e, em grande medida, foi impulsionada pelo entusiasmo, dinamismo e competência científi ca de Rogério Nunes, profes-sor catedrático da Faculdade de Ciências (FCUP) e investigador na área da Matemática Aplicada (entretanto falecido, em 2000). No ano lectivo de 1963/64, Rogério Nunes estagiou, como senior visitor, no Mathematical Laboratory da Univer-sidade de Cambridge, em Inglaterra. Era então 1.0 assistente da FCUP e tinha sido responsável pela instalação e exploração do Serviço da Hora do Observatório Astronómico (hoje Observató-rio Astronómico Prof. Manuel de Barros), o que implicou uma série de trabalhos de electrónica digital. A experiência em experimentação numé-rica e o contacto, em Cambridge, com modernos dispositivos de computação terão estado, pois, na base do empenho que Rogério Nunes colocou na aquisição de um computador para a FCUP.José Joaquim Pereira Osório, professor catedráti-

co da FCUP, trabalhou de perto com Rogério Nu-nes e confi rma esta ideia. Mas acrescenta ainda, como factor importante para a aquisição do com-putador, a grande amizade entre Rogério Nunes e Fernando Serrão, também professor da FCUP (Química) e à época secretário de Estado da Ju-ventude e Desportos. Segundo José Joaquim Pe-reira Osório, o governante convidou o seu antigo docente, Rogério Nunes, para uma deslocação a Inglaterra, em Setembro de 1966, a fi m de esco-lher o modelo de computador mais adequado à Universidade. Estavam assim abertas as portas, por via governamental, para a concretização da compra do primeiro computador de uma uni-versidade portuguesa. Em Dezembro de 1967, e após concurso público, seria entregue à FCUP um NCR Elliott 4100 de 16 KB (24 bits).Em 15 de Fevereiro de 1968, o computador – que implicou um investimento de 20 mil contos (100 mil euros) – foi apresentado publicamente numa cerimónia que contou com a presença do ministro da Educação, Inocêncio Galvão Telles. A ocasião serviu, igualmente, para inaugurar ofi -cialmente o LACA – Laboratório de Cálculo Au-tomático da FCUP, uma unidade com cerca de 15 colaboradores que dava apoio técnico e adminis-trativo aos utilizadores do computador.

O difícil feitio da “Hermengarda”Instalado no rés-do-chão da Biblioteca Geral, no actual edifício da Reitoria, o Elliott 4100 foi, como mais tarde escreveu Rogério Nunes, “adquirido, fundamentalmente, para fi ns de Cálculo Cien-tífi co. Dele podiam utilizar-se (e utilizaram-se, efectivamente) não só elementos da Faculdade

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VINTAGE CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

A U.Porto foi a primeira

universidade portuguesa a adquirir um

computador. Em Dezembro de

1967, é entregue à FCUP um NCR

Elliott 4100 de 16 KB. O mentor do projecto foi Rogério Nunes,

que ficaria a liderar o

LACA – unidade responsável pelo apoio técnico e administrativo

aos utentes da máquina.

Destinado sobretudo ao cálculo científico, o computador serviu toda a Universidade e manteve-se

activo durante 15 anos. Teve o epíteto de

“Hermengarda”, devido ao seu comportamento

inconstante. Mas foi um marco histórico no

meio académico português, tendo

possibilitado importantes

avanços pedagógicos e científicos.

RIC

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ES

Page 15: UPorto Alumni #13

[FCUP] como da própria Universidade do Porto e de outras universidades, bem como ainda en-tidades particulares”. E, de facto, o computador conheceu rapidamente a adesão da comunida-de académica da U.Porto, tanto assim que, em 1974, “para além de muitos outros utentes, mais de dois mil alunos utilizavam o computador du-rante, pelo menos, um semestre”, escreveu Ro-gério Nunes. De resto, logo após a inauguração, o LACA passou a funcionar com dois turnos de operação, das 8h00 às 20h00. O Elliott 4100 era, à época, muito evoluído tec-nologicamente, até porque Rogério Nunes teve a preocupação de protelar a compra do computa-dor precisamente para adquirir o último modelo do fabricante inglês, segundo nos contou José

Joaquim Pereira Osório. Ainda assim, à luz dos padrões actuais, a máquina caracterizava-se por um funcionamento complexo, pela lentidão no processamento de dados e pelas limitações da memória. Era pouco mais do que uma máquina de calcular, garante um dos utilizadores de então, Carlos Madureira. Este professor catedrático da Faculdade de Engenharia (FEUP) lembra, a pro-pósito, que o computador ganhou, entre os seus utilizadores, um epíteto feminino, “Hermengar-da”, devido ao seu comportamento temperamen-tal. Ou seja, a máquina por vezes empancava e os seus processos rudimentares, vagarosos e com-plicados punham os nervos em franja a muitos utilizadores. Imagine-se o que era perfurar programas numa fita de papel que se desenrolava de uma bobina, utilizando um teletipo. Tratava-se, de facto, de um processo moroso e com grandes riscos, uma vez que as fitas perfuradas são um suporte frágil e pouco manuseável. As operações de inserção e anulação de dados dependiam da habilidade do operador do teletipo, não sendo praticamente possível realizar operações de ordenação de regis-tos e de verificação de dados. Por outro lado, re-constituir uma fita rasgada por acidente era uma tarefa bastante árdua. “As meninas iam trocar os

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01 O computador NCR Elliott 4100 de 16 KB (24 bits)

02 Sala onde funcionava o LACA, no actual edifício da Reitoria

Prof. Rogério Nunes

02

01

Page 16: UPorto Alumni #13

bits um a um”, recorda um outro utilizador de outrora, Francisco Calheiros, professor associado da FEUP. “Dava trabalho, muito trabalho. O com-putador era uma amante tramada: ocupava muito tempo!”, acrescenta com ironia. Francisco Calheiros salienta ainda que, quando chegou, o computador “tinha zero de software. Era um monte de fios e de memórias de ferrite”. Foi necessário, por isso, um intenso trabalho de desenvolvimento de programas. Para este esforço contribuíram decisivamente as dezenas de cursos livres de programação que, no final dos anos 60, o LACA organizou para uma ampla audiência de estudantes. Esses cursos serviram ainda como meio de promoção do uso dos computadores na Universidade, designadamente para utilização corrente no cálculo científico.Mas a intervenção de Rogério Nunes não se que-dou aqui. Este docente e investigador logrou ain-da encontrar financiamento, dentro da FCUP, para custear um upgrade do Elliott 4100. A me-mória do computador passou, então, de 16 KB para 64 KB, graças a um investimento de 5 mil contos (25 mil euros). “A Faculdade, num gesto hoje inimaginável, se sacrificou, na quase totali-dade, a fim de que tal melhoria se levasse a cabo”, escreveu, a propósito, Rogério Nunes.

15 anos em funcionamento“Praticamente com a sua estrutura inicial”, como salienta José Joaquim Pereira Osório, o Elliott 4100 funcionou ininterruptamente durante 15 anos: de 1967 a 1982. O computador chegou, até,

a ser ameaçado pelo incêndio ocorrido na FCUP, actual edifício da Reitoria, em 19 de Abril de 1974, facto que terá acelerado a sua transferência para novas instalações da U.Porto na Rua das Taipas. “Foi uma sorte muito grande. Toda a parte norte do edifício foi destruída e o fogo parou ao che-gar à zona da Biblioteca”, lembra José Joaquim Pereira Osório. Mas, apesar das actualizações, a usura do tempo terá sido fatal ao Elliott 4100, na opinião de Carlos Madureira, que se recorda da máquina dar muitos problemas no final de vida e de terem sido comprados dois computadores semelhantes para retirar componentes. Carlos Madureira esteve directamente envolvido na substituição do Elliott 4100 por um Cyber 170-720, em 1982. Foi um dos promotores do CIUP – Centro de Informática da Universidade do Porto, estrutura que, por seu turno, absorveu o LACA – unidade que, em 1979, já havia perdido o seu fun-dador e presidente da Comissão Directiva, Rogério Nunes, que se demitira devido, como escreveu, a um “diferendo com o Conselho Directivo” da FCUP. Para Carlos Madureira, o Cyber represen-tou um salto qualitativo, uma vez que tinha 1 MG de memória central e 1 GB em disco para toda a Universidade, era multiutilizador (ou seja, podiam ser programadas várias tarefas em simultâneo, ca-bendo à máquina reparti-las no tempo) e utilizava linguagens mais evoluídas, como o Basic. Até à construção do edifício do CIUP, no Campo Alegre, o Cyber esteve instalado na Rua das Taipas, onde, num primeiro momento, atormentou a vizinhan-ça com o seu barulho ensurdecedor. Contudo, a desactivação do Elliott 4100 e a aqui-sição do Cyber 170-720 ainda hoje não são pa-cíficas. Rogério Nunes escreveu, em 2000, que o novo computador foi comprado “numa época em que o fabricante (C.D.C.) acaba de encerrar o fabrico da série 700 da década de 70 e lançava a série 800 da década de 80”. Ou seja, já estaria desactualizado. José Joaquim Pereira Osório tam-bém sublinha esse facto e considera mesmo que, “com o Cyber, começa a decadência”. Já Francisco Calheiros e Carlos Madureira, embora enalteçam veementemente o trabalho desenvolvido por Ro-gério Nunes, são da opinião de que o fundador do LACA estava demasiado afeiçoado ao Elliott 4100. Carlos Madureira admite, inclusive, que houve reacções negativas ao Cyber sobretudo en-tre os docentes e investigadores mais velhos, que, diz, não dominavam ainda as novas linguagens computacionais.

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VINTAGE CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

01 Zona do LACA reservada aos utentes do computador

02 Inauguração do LACA: J. P. Osório (à esq.),

Galvão Telles (ao centro) e Rogério Nunes (de costas)

01

02

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MONTRA CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

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PÁGINAS QUE FAZEM AHISTÓRIA DO CENTENÁRIO

PE

DR

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28 de Outubro de 1911. Presidido por Francisco Go-

mes Teixeira, o Senado reúne-se pela primeira vez

e elege a Junta Administrativa da Universidade do

Porto. Esta é a primeira acta de que há memória

na U.Porto e pode ser lida, na íntegra, no “1º Volu-

me das Actas do Senado”, um dos vários livros que

serão lançados em 2011 para assinalar os cem anos

da Universidade.

O “1º Volume das Actas do Senado” tem introdução

de Cândido dos Santos, cobre o período entre 1911

e 1929 e conta-nos a história dos primeiros cinco

reitores da U.Porto: de Francisco Gomes Teixei-

ra (1911-1917) a Alexandre Alberto de Sousa Pinto

(1929-1931). A instituição dava os primeiros passos

constituída apenas por duas faculdades (Ciências e

Medicina) e duas escolas (Engenharia e Farmácia).

As actas reflectem isso mesmo: os primeiros acon-

tecimentos, a criação, as origens, as lutas internas

mas também as lutas externas à U.Porto, como a

queda da 1.ª República, que alterou por completo

o panorama da educação em Portugal. Todos os

factos históricos e os marcos que assinalaram os

primeiros anos de vida da Universidade estão implí-

citos nas actas do Senado da U.Porto, centenas de

documentos históricos ao dispor do leitor.

“Francisco Gomes Teixeira. O homem, o cientista, o

pedagogo” é outro dos livros com que se assinala

os 100 anos da U.Porto. Trata-se de uma investiga-

ção de Maria da Graça Ferreira Alves sobre o pres-

tigiado cientista e primeiro reitor da Universidade.

Segundo esta obra, Gomes Teixeira foi uma “per-

sonalidade fascinante que marcou a sociedade da

época”. O livro evidencia o perfil de Gomes Teixeira

como cientista mas também como pessoa. Para

traçar um perfil rigoroso e abrangente, a autora

teve de enquadrar a figura “no ambiente familiar,

na vida académica, na comunidade científica, na

sociedade em geral, delineando linhas da sua per-

sonalidade, como cidadão, como cientista, como

mestre”.

Tanto esta obra como a intitulada “Francisco Gomes

Teixeira. Curso de Analyse Infinitesimal – Calculo Di-

fferencial. Análise de alguns conteúdos” resultaram

da tese de doutoramento sobre o primeiro reitor

da U.Porto da autoria de Maria da Graça Ferreira

Alves. Da tese resultou, então, um livro biográfico

e outro sobre os conteúdos matemáticos e os ra-

ciocínios de Francisco Gomes Teixeira. Este último

foi essencialmente elaborado para especialistas da

área matemática e é constituído por seis capítulos,

onde surgem várias análises das quatro edições do

curso dirigido por Gomes Teixeira: Analyse Infinite-

simal — Calculo Differencial.

Quase dezena e meia de obrasPor último, “Universidade do Porto: Raízes e Me-

mórias da Instituição”, da autoria de Cândido dos

Santos, um livro que atravessa todos os momentos

da U.Porto, desde as suas origens mais profundas

ao seu sustentado crescimento. Uma obra que só

poderia ser lançada em ano de Centenário. Descu-

bra neste livro o papel da Aula de Náutica (1762)

na criação da U.Porto, a ligação entre a cidade e

a instituição e os modelos que a Universidade tem

seguido na internacionalização e na procura de es-

tudantes estrangeiros.

As quatro obras referidas têm a chancela da

U.Porto editorial e integram a colecção de livros a

lançar ao longo de 2011, como forma de celebrar

o Centenário da Universidade. No campo edito-

rial, há ainda a destacar o lançamento das obras

“A República na Universidade. A Universidade na

República” (Jorge Fernandes Alves), “Percursos

da Internacionalização na Universidade do Porto –

Uma Panorâmica Centenária” (Pedro Teixeira), “A

Primeira Faculdade de Letras do Porto (1919-1931)”

(Pedro Baptista), a biografia de Ferreira da Silva

(Jorge Fernandes Alves), a edição ampliada por

Francisco Ribeiro da Silva da “História da Escola

Politécnica do Porto” (Artur de Magalhães Basto),

“Os Reitores da Universidade do Porto. Retratos

e Notas Biográficas (coordenação de Francisco

Ribeiro da Silva), “A Real Escola de Cirurgia e a

Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Um Contributo

para a História da Faculdade de Medicina da Uni-

versidade do Porto” (Amélia Ferraz), “O Instituto

de Ciências Biomédicas de Abel Salazar: Passado,

Presente e Futuro de uma Escola Paradigmática”

(Romero Bandeira), “A Universidade e a Cidade.

Imagens para o Futuro” (António Cardoso) e “O

Novo Modelo de Governação da U.Porto” (coorde-

nação de Cândido Agra).

As comemorações do Centenário são pretexto

para várias inicia-tivas editoriais. Está prevista a edição, em paper back, da obra

“Universidade do Porto: Raízes e Memórias da Instituição”, agora re-

vista e aumentada pelo seu autor, Cândido dos

Santos. Vai ser também publicado o primeiro livro das Actas do Se-nado da U.Porto, bem

como uma biografia do primeiro reitor, Gomes Teixeira, e uma análise

dos conteúdos científicos desenvolvidos pelo céle-bre matemático. Estas

duas obras são da auto-ria de Maria da Graça

Ferreira Alves.

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01 02

Resumir 100 anos de história numa barra cronológica como a que abaixo se apre-senta acarreta vários riscos. Desde logo,

o risco simbólico de se traduzir em caracteres e manchas de cor os feitos do Homem. Mas também o risco de colocar numa série limitada de pontos em plano de sucessão, o que o devir da História torna, por defeito, impossível. Um momento é, contudo, incontornável. 22 Março de 1911 é a data que os livros e arquivos de História assinalam como o primeiro dia da U.Porto: “No território da República, além da Universidade de Coimbra já existente, são criadas mais duas Universidades – uma com sede em Lisboa e outra no Porto” (excer-to do artigo 1.0 do Decreto de 22 de Março de 1911).Em poucas linhas e sem direito a discursos herói-

cos, assim se consumava o motivo que reúne, em 2011, toda a comunidade em torno das celebrações do Centenário. Talvez por isso, acresce a tentação de criar epítetos que enfatizem a efeméride. No caso da U.Porto, é comum apelidá-la de “fi lha” da República que, instaurada em Outubro de 1910, criou as condições para a descentralização do ensi-no superior, oferecendo ao Porto e a Lisboa o que até então estava solidifi cado em Coimbra. Muito antes, porém, a barra cronológica havia começado a contar.Encontrar as raízes da U.Porto exige recuar ao sé-culo XVIII e a uma combinação de experiências que viriam a projectar-se na futura Universidade. Neste contexto, a Aula de Náutica (1762) e a Aula de Debuxo e Desenho (1779) formam o embrião

16 de Julho de 1911Eleição do primeiro reitor, o matemático Francisco Gomes Teixeira.

28 de Outubro de 1911 1.ª sessão do Senado da Universidade.

22 de Março de 1911 Publicação do decreto que cria a U.Porto, através da fusão da Academia Politéc-nica com a escola anexa de Engenharia e a Escola Médico-Cirúrgica.

Maio de 1911 Criação da primeira Asso-ciação dos Estudantes do Porto, assinalando o arran-que do movimento associa-tivo dentro da Academia.

16 de Julho de 1911 Inauguração da U.Porto, sob a presidência do Mi-nistro do Interior, António José de Almeida, consi-derado o “fundador” da Universidade.

1911

1925Centenário da Real Escola de Cirurgia, antecessora da escola médico-cirúrgica do Porto. Foi no contexto das celebrações que se de-liberou a criação da actual Maternidade Júlio Dinis.

1935Afastamento compulsivo de Abel Salazar da U.Porto, por motivos políticos.

12 de Abril de 1937 Cerimónia de lançamento da primeira pedra do mo-numento de homenagem à memoria dos antigos estu-dantes da U.Porto mortos em combate, na I Guerra Mundial.

1937Centenário da Academia Politécnica do Porto, ante-cessora da FCUP e FEUP.

1937A Faculdade de Engenharia instala-se no edifício da Rua dos Bragas.

1922 Início da publicação de O Porto Académico, que marca o nascimento da imprensa académica na Universidade.

1930

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do ensino superior no Porto. Àquelas sucederia, em 1803, a Academia Real da Marinha e Comér-cio, em cuja diversidade de saberes – abarcando áreas como a Matemática, o Desenho e as Línguas – a U.Porto viria a inspirar-se um século depois. Faltava o ensino médico, iniciado em 1825 pela Régia Escola de Cirurgia. O relógio não pára até 1836, primeiro ano da era Passos Manuel. Sob a nova égide reformista, a Régia Escola de Cirurgia evolui para a Escola Médico Cirúrgica, passando esta a anexar uma Escola de Farmácia. No mesmo ano, abre portas a Academia Portuense de Belas Artes (Escola Portuense de Belas Artes, a partir de 1881). Já em 1837, a Academia Politécnica sucede à Academia Real da Marinha e Comércio com a fi nalidade de promover uma “alta formação in-

1 de Novembro de 1911 Sessão Inaugural da U.Porto.

6 de Dezembro de 1912 Criação do Orpheon Acadé-mico do Porto, génese do actual Orfeão Universitário do Porto.

27 de Novembro de 1915 Criação da Faculdade Técnica – Faculdade En-genharia (FEUP), desde 17 de Dezembro de 1926 –, a partir da autonomização da Escola de Engenharia da Faculdade de Ciências.

4 de Agosto de 1919O Senado da U.Porto aprova a criação dos institutos de investigação científica de Anatomia e Histologia na Faculdade de Medicina. No ano seguinte, a 24 de Maio, seria deliberada a fundação dos institutos de Zoologia, Botânica e Química.

9 de Setembro de  1919 Criação da 1.ª Faculdade de Letras, por iniciativa de Leonardo Coimbra. Seria extinta em 1928.

1920

3 de Janeiro de 1921Criação da Faculdade de Farmácia (FFUP), a partir da conversão da Escola Superior de Farmácia.

13 de Abril de 1921A U.Porto, através da Faculdade de Ciências, atribui pela primeira vez o grau de Doutor Honoris Causa.

1938Inauguração do edifício da Faculdade de Farmácia, na Rua Aníbal Cunha.

1942Criação do Centro Univer-sitário do Porto, génese dos actuais Serviços Sociais da U.Porto e do Centro Desportivo Univer-sitário do Porto (CDUP), criado em 1946.

1944 Leopoldina Paulo torna-se a primeira mulher doutora-da pela U.Porto (Faculdade de Ciências / Biologia).

1945A U.Porto participa na primeira edição dos Cam-peonatos Nacionais Uni-versitários (CNU’s).

1946Início da construção do Ob-servatório Astronómico do Monte da Virgem.

1947Afastamento compulsivo do professor Ruy Luís Gomes, por motivos políticos.

1947 Criação do Centro de Estudos Humanísticos (CEH), que anteciparia a reactivação, 14 anos depois, da Faculdade de Letras da U.Porto.

1948Inauguração da primeira residência universitária: Lar de S. João de Brito (Rua da Boa Hora).

1948Fundação do Teatro Uni-versitário do Porto (TUP).

1940

01 Domingos Alvão, Praça Gomes Teixeira, s/d, AFP000306 - CPF DGARQ

02 Duelo à pistola entre Alfredo de Magalhães e Lopes Martins, professores catedráticos da Faculdade de Medicina, a 24 de Maio de 1928

03 Grupo de estudantes fundadores do Jornal “Porto Académico” (1922)

04 Academia Politécnica (Desenho de Joaquim Cardoso Vilanova, 1833)

05 Grupo de professores assistentes da U.Porto em 1937

06 Visita de João Franco à Escola Médica em 1907

07 Estudantes finalistas da Faculdade de Medicina

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19 de Abril de 1974Incêndio no Edifício Histó-rico da Universidade (Pr. Gomes Teixeira), do qual resulta a destruição total da ala norte.

1950Criação da Escola Superior de Belas Artes do Porto (activa até 1992), ascen-dente directa das faculda-des de Arquitectura e de Belas Artes da U.Porto.

18 de Agosto de 1961 Criação da nova Faculdade de Letras (FLUP), que anexa o Centro de Estudos Humanísticos. Abre portas em 1962.

1967Instalação do 1.º compu-tador na U.Porto.

19701960

5 de Novembro de 1980 Criação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP), a par-tir da autonomização do Curso Superior de Psicolo-gia, criado em 1977.

1986Criação do Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial (INEGI).

1988 A lei n.º 108/88, de 24 de Setembro, devolveu de novo às universidades a autonomia científica, pe-dagógica, financeira e dis-ciplinar. Com base na nor-ma, a U.Porto elaborou os seus novos estatutos, que vieram a ser promulgados a 26 de Julho de 1989.

Março de 1977A Faculdade de Letras muda-se para o “Complexo Pedagógico” no parque da Casa Burmester, à Rua do Campo Alegre. O espaço foi entretanto ocupado pelas instalações da Facul-dade de Ciências.

8 de Novembro de 1988 Constituição formal do ISEE – Instituto Superior de Estudos Empresariais.

1988Lançamento da primeira pedra do novo edifício da FAUP, projectado por Siza Vieira. Ficaria pronto em 1992.

21 de Dezembro de 1979 Criação  da Faculdade de Arquitectura (FAUP), a par-tir da integração do curso de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP)

1953Inauguração do Estádio Universitário do Porto.

28 de Maio de 1953Fundação da Faculdade de Economia (FEP).

1954Inauguração do Jardim Botânico do Porto, na Casa Andresen.

1959Fundação do Hospital de S. João, no qual passa a funcionar a Faculdade de Medicina (FMUP).

1980

dustrial”. Separando aquilo que a Universidade haveria de unir, são estas três entidades que, até à primeira década do século XX, garantem uma oferta alargada de formação nas áreas ligadas às Ciências, Artes e Medicina. É assim sobre uma base sólida de quase 150 anos de experiência formativa que a U.Porto abre as portas em 1911. Desde esse ponto seminal, mui-tos momentos pontuaram a vida da instituição. Perante a incapacidade de os condensar, impera o critério da “primeira vez”. A começar pela ses-são que, a 16 de Julho de 1911, assinalou o ar-ranque das actividades da U.Porto. Nesse mesmo dia foi eleito o primeiro reitor, Francisco Gomes Teixeira, cuja visão – “os estabelecimentos de ensino quando são bons, atraem às cidades em que estão inseridos estudantes vindos de diver-sos pontos, que lhes dão vida e favorecem o seu comércio e a sua indústria” – haveria de apontar o futuro. E logo viria a primeira reunião do Sena-do, órgão fundamental na defi nição das linhas de orientação da Universidade ao longo de pratica-mente toda a sua existência.À “primeira vez” exige-se a continuidade que, na U.Porto, tem expressão máxima nas suas 14 faculdades. À cabeça, Ciências e Medicina, des-cendentes da Academia Politécnica e da Escola Médico-Cirúrgica. Na estrutura inicial da Uni-versidade participam ainda as Escolas Anexas de Farmácia e Engenharia, embrião das faculdades que nasceriam em 1915. Em 1919, é criada a pri-meira Faculdade de Letras, projecto cunhado por Leonardo Coimbra e que, extinto em 1928, re-

gressaria em 1961. Antes, em 1953, surge Econo-mia, um sonho sonhado desde 1911 e que pôs fi m a um hiato de mais de 30 anos sem que novos sa-beres se expandissem na U.Porto. Em 1975, Cori-no de Andrade, Ruy Luís Gomes e Nuno Grande “inventam” o ICBAS, ao mesmo tempo que se vence o combate pela Faculdade de Desporto. O seguinte seria pela Faculdade de Arquitectu-ra, incorporada em 1979, a partir do curso de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes. Na ESBAP está também a génese da Faculdade de Belas Artes, criada em 1992. Pelo meio, rima com inovação a criação das faculdades de Psicolo-gia e Ciências da Educação e de Medicina Dentá-ria. Já nos anos 90, é inaugurada a Faculdade de Direito, com quase 80 anos de atraso. E por fi m, em 1996, a Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação, “faculdade benjamim” mas

1950

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1974Eleição do primeiro reitor no pós-25 de Abril: Ruy Luís Gomes. Inicia-se um novo período na história da U.Porto, assinalado, em pri-meira instância, pelo afasta-mento de vários membros do pessoal docente e do corpo de funcionários.

Junho de 1974A Faculdade de Economia muda-se para o novo edifí-cio no Pólo II, na Asprela.

1975Criação da Casa-Museu Abel Salazar, em S. Mame-de de Infesta.

Maio de 1975Incêndio destrói a quase totalidade do edifício da Faculdade de Farmácia.

5 de Maio de 1975Criação do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Entra em funcionamento a partir de 1976/77, com as licenciatu-ras em Medicina e Ciências do Meio Aquático.

3 de Dezembro de 1975 Criação do Instituto Supe-rior de Educação Física, actual Faculdade de Des-porto (FADEUP).

Outubro de 1976A Reitoria transfere-se para o antigo edifício militar do Centro de Instrução e Condução Auto do Porto (CICAP), à Rua D. Manuel II.

6 de Janeiro de 1989 Criação da Faculdade de Medicina Dentária (FMDUP), a partir da inte-gração da Escola Superior de Medicina Dentária.

1989Inauguração do Círculo Uni-versitário do Porto.

1989Criação do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).

1990Estudantes da U.Porto parti-cipam pela primeira vez no programa Erasmus.

1991Criação do Instituto de Biologia e Medicina Celular (IBMC).

30 de Outubro de 1992 Criação da Faculdade de Belas Artes (FBAUP), a partir da integração dos grupos de pintura, escultu-ra e design da comunica-ção da ESBAP.

5 de Março de 1992Um incêndio destrói parte do edifício do ICBAS.

8 de Julho de 1994Criação da Faculdade de Direito (FDUP).

5 de Dezembro de 1995 Inauguração do novo edifício da Faculdade de Letras,  no Campo Alegre.

1990

alicerçada nos 20 anos de experiência do Curso Superior de Nutricionismo. Mas não se esgota nas faculdades o património da U.Porto. Num percurso pela Invicta, encon-tramo-lo com vigor no Edifício da Universidade (Pr. Gomes Teixeira), casa “histórica” da Facul-dade de Ciências (até 2006), casa da Reitoria, baú dos tesouros do Museu de História Natural e desde sempre o centro nevrálgico da instituição. Longe da pedra, olha-se para as estrelas a partir do Observatório Astronómico do Monte da Vir-gem, fundado em 1948. Ou do Jardim Botânico, aberto ao público em 1968. A estes juntam-se os espaços que marcam a passagem da U.Porto para a modernidade, como o que Siza Vieira pensou para a FAUP (1992). E os do futuro, como os que servirão, a partir de 2011, o ICBAS, a FFUP e a FMUP.

“Sem pessoas não se fazem cem anos”, alerta-se nas páginas desta revista. Afi nal, é nelas que re-side a história viva da U.Porto. A começar pelos 17 reitores que, em épocas e contextos próprios, lideraram a Universidade no caminho do pro-gresso. Para ele contribuem ainda gerações de investigadores e professores. Sábios que, como Augusto Nobre, Ferreira da Silva ou Gonçalo Sampaio, continuam a ser fontes de inspiração. As maiores fi guras escondem-se, porém, nas ge-rações de homens e mulheres que, ao longo de 100 anos, beberam dos saberes da Universidade. Em troca, retribuíram com o seu talento e capa-cidade de mobilização. Assim nasce a primeira Associação de Estudantes do Porto, logo em 1911. E como esquecer o Orfeão, o TUP ou a Queima das Fitas, festa que, há mais de 100 anos, celebra o “ser universitário” pelas ruas do Porto?

01 Estudantes do Curso de Ciências Biológicas da FCUP, no Jardim da Cordoaria (1944)

02 Estudantes da Faculdade de Medicina à saída de uma aula de Anatomia (anos 50)

03 Professores da Faculdade Técnica em 1915

04 [Edifício da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto], [19--] PT/CPF/ALV024651, Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC

05 Queima das Fitas (1967)

06 Edifício Histórico da Universidade (interior)

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EM FOCO CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

22 de Março de 1999O reitor institui o dia 22 de Março como o Dia da Uni-versidade, a comemorar anualmente no aniversário da criação da U.Porto.

Julho de 1996Criação do Instituto Superior de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (ISCNAUP), denominado, desde Julho de 1999, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP).

Novembro de 1998 Abertura ao público do Planetário do Porto, fun-dado pela U.Porto e pela CM Porto. A gestão cien-tífica do Planetário é feita pelo Centro de Astrofísica (CAUP).

18 de Dezembro de 1998Constituição do INESC Porto, a partir do pólo do INESC que já existia na cidade(INESC Norte), des-de Maio de 1985.

3 de Agosto de 2007A U.Porto surge pela pri-meira vez no lote das 500 melhores universidades do mundo, segundo o Aca-demic Ranking of World Universities.

28 Janeiro de 2008Criação formal do I3S, a partir da parceria entre o IPATIMUP, o IBMC e o INEB.

25 de Julho de 2008Lançamento da primeira  pedra do novo edifício do ICBAS e da FFUP, nas instalações anteriormente ocupadas pela Reitoria, na Rua D. Manuel II.

4 de Janeiro de 2008 Assinatura do acordo de fusão da EGP – Escola de Gestão do Porto e do ISFEP numa só escola de negócios da Universidade. A nova EGP-UPBS seria constituída em 5 de Junho.

22 de Dezembro de 2008Assembleia Estatutária da U.Porto aprova passagem a fundação pública de direito privado, no âmbito do RJIES.

22 de Março de 2006 Inauguração do novo edifício da FPCEUP, no Pólo da Asprela.

2008/2009Cursos da U.Porto ple-namente adaptados ao modelo de Bolonha.

21 de Julho de 2009 Criação da Fundação Mar-ques da Silva.

1 de Dezembro de 2006 Após a saída da Faculda-de de Ciências, o Edifício Histórico da Universidade passa a ser ocupado pelos serviços da Reitoria.

2007Primeira edição do IJUP – Encontro de Investigação Jovem da Universidade do Porto.

1996 Abertura ao público, no Edi-fício Histórico da Universi-dade, do Museu de História Natural da Faculdade de Ciências da U.Porto, actual Museu de História Natural da U.Porto.

15 de Julho de 1997 Inauguração do novo edifício da Faculdade de Medicina Dentária, no Pólo II, na Asprela.

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Como em qualquer epopeia digna de passar de ge-ração em geração, nem só de sorrisos se faz esta história. Nela também se chorou a extinção da primeira Faculdade de Letras; lamentou-se o afas-tamento de professores históricos – Abel Salazar e Ruy Luís Gomes, entre outros – que as “circuns-tâncias” roubaram à academia; assistiu-se, impo-tentes, aos incêndios na Faculdade de Ciências (1974), na Faculdade de Farmácia (1975) e no IC-BAS (1992). Mas também aí a Universidade soube erguer-se e unir-se para ultrapassar as tormentas.É por tudo isto uma Universidade orgulhosa da sua História a que hoje se celebra. Sendo a maior universidade de Portugal, com mais de 700 programas de formação frequentados por mais de 30 mil estudantes, a U.Porto lidera o en-sino e a investigação científi ca a nível nacional. É

também a mais internacional das universidades portuguesas, estabelecendo-se entre as 200 me-lhores universidades da Europa, segundo os mais cotados rankings, onde a U.Porto se habituou a estar a partir de 2007.

Como explicar este sucesso?A resposta terá que contemplar a vocação da U.Porto para oferecer um ensino abrangente e na vanguarda das práticas pedagógicas. Do passado acenam Rodrigo Sarmento de Beires (o primeiro doutor, em 1917) e Leopoldina Santos (a primei-ra doutorada, em 1945), exemplos da cultura de exigência e superação enraizada na U.Porto. Uma cultura que também é de adaptação às necessi-dades da comunidade. Foi nesse espírito que a Faculdade de Medicina se “uniu” ao Hospital de S.João, criando um novo paradigma de hospital universitário. Mais recentemente, encontramo-la no dinamismo da EGP-UPBS, ou na plena adap-tação dos cursos da Universidade às directrizes de Bolonha. À faceta pedagógica liga-se a de “universidade de investigação”, tal como a idealizaram Joaquim Pi-res de Lima e Abel Salazar quando, em 1919, cria-ram na Faculdade de Medicina os primeiros insti-tutos de investigação científi ca. De então para cá, a U.Porto soube potenciar esta herança afi rmando o estatuto de mais produtivo e prestigiado centro de investigação científi ca em Portugal. Foi nesse caminho que se geraram, no início da década de 90, o IPATIMUP, o INEB ou o IBMC. Desta com-

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1 de Março de 2000 Criação do Centro Inter-disciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR).

Novembro de 2000Constituição dos primeiros Laboratórios Associados na U.Porto: IBMC/INEB e IPATIMUP.

22 de Março de 2001 Inauguração do novo edifício da Faculdade de Engenharia, na Asprela.

2003Primeira edição da Mostra da Universidade do Porto, no Palácio de Cristal.

2003Primeira edição da Home-nagem às Figuras Eminen-tes da U.Porto.

2004Designação dos primeiros Professores Eméritos da Universidade do Porto.

2000

2005A Faculdade de Ciências começa a abandonar o Edifício Histórico da Uni-versidade, para se instalar no novo complexo no Pólo do Campo Alegre.

2005Criação do UPTEC (Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto).

2005Primeira edição da Univer-sidade Júnior.

Março de 2009Inauguração dos primeiros espaços do Pólo do Mar do UPTEC, instalado no antigo Edifício da Sanidade (junto à marina de recreio do Molhe Norte, em Leça da Palmeira).

27 de Abril de 2009Instituída pelo decreto-lei 96/2009 a fundação públida de direito privado denomina-da Universidade do Porto.

14 de Maio de 2009 Promulgados os novos estatutos da U.Porto como fundação.

2009/2010Arranque do P.INC – Pólo de Indústrias Criativas do UPTEC.

Maio de 2010U.Porto organiza Campeo-nato Mundial Universitário de Rugby Sevens.

Setembro de 2010A U.Porto foi a 85ª insti-tuição de ensino superior europeia com mais artigos científicos publicados em 2009.

Março de 2011Mais de 10% (3.250) dos estudantes e investigadores da U.Porto são estrangei-ros, com origem em 91 países.

Março de 2011A U.Porto surge em seis rankings internacionais entre as 100 melhores universidades europeias ou muito próximo das 100 melhores. No Times Higher Education - THE World Uni-versity, a U.Porto ocupa a 106ª posição.

Março de 2011Comemoração do Dia do Centenário, com a presença do Presidente da República.

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binação nasceriam os primeiros Laboratórios As-sociados sediados na U.Porto. E porque o conhe-cimento é uma oportunidade de negócio, também aí se têm marcado pontos por via do incentivo à inovação dentro e fora do campus, acção na qual se tem empenhado, desde 2006, o Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto (UPTEC).Às conquistas internas acrescem as desenhadas no panorama do ensino superior internacional, onde a U.Porto se afi rma como foco de atracção para milhares de estudantes e investigadores de todo o mundo. Iniciado nos fi nais dos anos 80, período em que a Universidade recebe e “expor-ta” os primeiros estudantes Erasmus, o trilho da internacionalização contempla hoje laços de coo-peração com centenas de instituições dos cinco continentes.

O caminho está longe de estar concluído. “Somos do tamanho dos nossos sonhos”, diz o poeta. Na U.Porto, a ambição passa pela afi rmação entre as 100 melhores universidades do mundo até 2020. Foi a pensar nisso que a Universidade abraçou, em 2009, a transformação em fundação pública de direito privado, lançando novas perspectivas a uma comunidade académica cada vez mais com-prometida com o futuro. Refl ectindo o “Olhar” de Daniel Serrão, “viver 100 anos é muito bom para uma pessoa. Para uma instituição, como a Universidade, é só um princípio”.

01 [Hospital de Santo António], [19--], PT/CPF/ALV006705, Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC

02 Cerimónia de Imposição de Insígnias na Queima das Fitas de 1966

03 Incêndio na Faculdade de Farmácia em 1975

04 Incêndio no Edifício Histórico da Universidade em 1974 (Átrio Principal)

05 Estudantes Erasmus da U.Porto no início da década de 90

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Apesar da presença das mulheres no ensino da U.Porto remontar à criação da Univer-sidade e até às suas antecessoras – Rita Morais Sarmento formou-se, em 1894, na Academia Politécnica –, a participação feminina só começou a ganhar dimensão a partir de finais da primeira metade do século XX. É preciso, por isso, avançar algumas décadas para localizar o primeiro doutoramento de uma mulher na U.Porto, no caso, Leopoldina Ferreira Paulo.Estávamos em Novembro de 1944 quando a primeira doutora da U.Porto apresentou as suas provas de doutoramento em Ciên-cias Biológicas, na Faculdade de Ciências. A tese versava “Alguns caracteres morfoló-gicos da mão nos portugueses”. Por ser o primeiro, o doutoramento de Leopoldina Ferreira Paulo teve grande pro-jecção na imprensa. Em 21 de Novembro de 1944, o “Jornal de Notícias” escreveu: “Na Universidade do Porto vai doutorar-se em Ciências uma senhora, facto inédito da vida académica da nossa terra”. Mais tarde, a 23, “O Comércio do Porto” também salienta o facto pelo seu ineditismo: “Pela primeira vez na história da Universidade do Porto uma senhora está a prestar provas de dou-toramento na Faculdade de Ciências”.Leopoldina Ferreira Paulo voltaria a ser notícia em Junho de 1945, por altura da im-posição das insígnias doutorais em sessão solene pública. Nesse momento, contou com a companhia de Judite dos Santos Pereira que, a 25 Janeiro desse mesmo ano, apresentou as provas de doutoramento em Geologia, também na Faculdade de Ciências. Se foi lento o acesso das mulheres ao ensi-no, também foi demorada a sua aceitação entre o corpo docente e não docente. No Porto, foi só depois da criação da Universi-dade que a primeira mulher, Leonor Amélia da Silva, ascendeu à docência, na categoria de 1.ª assistente da Faculdade de Medicina, em 1912. No caso do pessoal não docente, a primeira funcionária foi Laura Rosa de Castro, contratada pela Faculdade de Ciên-cias em 31 de Maio de 1919.

Quando a U.Porto foi criada, em Março de 1911, integrou no seu corpo docente vários professores doutorados pelas instituições que a antecederam e pela Universidade de Coimbra. Contudo, foi preciso esperar seis anos para que a U.Porto atribuísse, pela primeira vez, o grau de doutoramento. O distinguido foi Rodrigo Sarmento de Beires que, a 20 de Junho de 1917, apresentou provas de doutoramento em Ciências Mate-máticas pela Faculdade de Ciências.Natural de Lisboa, Rodrigo Sarmento de Beires (1895-1974) foi professor catedráti-co da Faculdade de Ciências. Com uma car-reira de docente sempre ligada à U.Porto, esteve ainda à frente do Centro de Estudos Matemáticos do Porto, tendo substituído Ruy Luís Gomes no cargo. Faleceu em Junho de 1974.Tido como o grau por excelência do per-curso académico, o doutoramento está ligado, por tradição, àqueles que anseiam prosseguir a carreira de docente. No caso da U.Porto, a primeira legislação relativa à obtenção do grau remonta ao decreto de 12 de Maio de 1911, que estabelece o plano geral de estudos da Faculdades de Ciências. Nele se determina que “os bacha-réis que pretenderem o grau de Doutor são obrigados, na secção de Ciências Matemá-ticas, à apresentação de uma tese original, impressa, sobre assunto da sua escolha”. Nas secções de Ciências Físico-Químicas e Histórico-Naturais exigia-se ainda “um ano de tirocínio prático, provado num labora-tório nacional ou estrangeiro”. Em ambos os casos, a tese era defendida e discutida perante um júri de três membros.Desde o doutoramento de Rodrigo Sar-mento de Beires, milhares de estudantes/professores obtiveram o grau pela maior universidade portuguesa. Na Faculdade de Medicina, os primeiros doutorados surgem logo em 1918. 

Ainda que a U.Porto já tivesse professores doutorados desde a sua criação, em 1911, e que outros académicos ali tivessem pres-tado provas de doutoramento desde então, foi preciso esperar mais de 18 anos para assistir à primeira cerimónia pública de imposição das insígnias doutorais a docen-tes da Universidade. Os distinguidos a 21 de Julho de 1929 foram Fernão Couceiro da Costa (Faculdade de Ciências/Matemática), Manuel Joaquim Ferreira (Faculdade de Me-dicina) e Armando de Vasconcelos Larose Rocha (Faculdade de Farmácia).Incorporando um costume até então restri-to à Universidade de Coimbra, esta sessão inédita “interessou, tanto os meios acadé-micos, como o público”, segundo relato de “O Comércio do Porto”. Foi, por isso, um Salão Nobre do Edifício Histórico da Uni-versidade “repleto de curiosos” aquele que deu as boas-vindas aos três doutorandos. A estes juntaram-se o então reitor da U.Porto, Alexandre Sousa Pinto, o reitor honorário, Gomes Teixeira, os professores Gonçalo Sampaio, Tomás Dias, Alberto de Aguiar e Aníbal Cunha (directores, respectivamente, das faculdades de Ciências, Engenharia, Medicina e Farmácia). Depois do elogio dos “padrinhos” dos doutorandos, seguiu-se o momento alto da cerimónia: a imposição das insígnias. Tal como em Coimbra, estas incluíam o capelo (chapéu), a borla (peque-na capa) e o anel. Ainda que a cerimónia pública de impo-sição das insígnias doutorais não tenha criado no Porto uma tradição idêntica à de Coimbra, outros professores da Universidade foram alvo desta distinção ao longo do tempo. Destes destaca-se o filósofo Agostinho da Silva, investido, em 31 de Julho de 1930, com o grau de Doutor em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras.  Quinze anos depois, a 16 de Junho de 1945, repetiu-se a cerimónia para sete novos doutores.

A PRIMEIRADOUTORADA

ATRIBUIÇÃO DO GRAUDE DOUTORAMENTO

IMPOSIÇÃO DASINSÍGNIAS DOUTORAIS

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A 13 de Abril de 1921, a U.Porto atribuiu pela primeira vez o título de Doutor Hono-ris Causa, a mais elevada homenagem pres-tada pela instituição. Os distinguidos pela Faculdade de Ciências foram o francês Jose-ph Joffre, o inglês Horace Smith-Dorrien e o italiano Armando Diaz, generais das tropas aliadas durante a I Guerra Mundial.Segundo “O Comércio do Porto”, “eram cerca de 6 horas e meia da tarde quando os generais chegaram à Universidade, recebi-dos no átrio pelo reitor Dr. Augusto Nobre e pelos professores de diversas faculdades, estudantes, e pessoas gradas, ao mesmo tempo que a banda da Guarda Republicana executava a ‘Portugueza’”. A cerimónia teve lugar no salão nobre do Edifício Histórico da Universidade, que “regorgitava (sic) de pessoas (…), vendo-se em logares especia-es revestidos das suas insignias universita-rias todos os directores e professores das faculdades de Sciencias, Technica, Medici-na, Lettras e Pharmacia”.Na presença de múltiplas personalidades da cidade e do país, a alocução/elogio a cada um dos homenageados coube a Francisco Gomes Teixeira, então reitor ho-norário da U.Porto. O histórico matemático lembrou que os doutoramentos Honoris Causa “são por natureza pela Universidade reservados para os homens distintos da Ciência”, mas “são também aplicáveis aos homens ilustres na arte de guerra, porque só pode ser bom chefe do exército quem possuir uma forte inteligência e uma exten-sa cultura científica”.Desde 1921, cerca de 80 personalidades nacionais e estrangeiras foram distinguidas pela Universidade com o doutoramento Honoris Causa, como reconhecimento pelos seus feitos.

O professor catedrático da FAUP Eduardo Souto Moura (na foto) foi o primeiro membro da comunidade académica da U.Porto a ser agraciado com o Prémio Pessoa – distinção atribuída, anualmente, à personalidade portuguesa que, durante esse período e na sequência de uma actividade anterior, “tiver sido protagonista de uma intervenção par-ticularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país”. Em 1988, o arquitecto somou assim à sua ex-tensa lista de galardões aquele que é, segu-ramente, um dos mais prestigiados prémios concedidos em Portugal. Nascido no Porto em Julho de 1952, Eduardo Souto Moura licenciou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1980. No ano seguinte inicia a actividade como profissional liberal, sendo também convidado para assistente do curso de Arqui-tectura, na FAUP. Entre 1988 e 1994 foi pro-fessor convidado em diversas universidades estrangeiras: Paris-Belleville (1988), Harvard e Dublin (1989), ETH de Zurique (1990-91) e Lausanne (1994). Dos seus inúmeros pro-jectos, destacam-se o Mercado Municipal de Braga, a Casa das Artes (Porto), a Pousada de Santa Maria do Bouro (Amares), a Biblioteca Infantil e Auditório para a Biblioteca Muni-cipal do Porto, a Casa no Bom Jesus (Braga) e a Casa das Histórias Paula Rego (Cascais). É um dos mais consagrados arquitectos mundiais, tendo conquistado igualmente o Prémio SECIL de Arquitectura, em 1992.O presidente do Instituto de Patologia e Imu-nologia Molecular da U.Porto (IPATIMUP), Manuel Sobrinho Simões, foi outro dos laureados com o Prémio Pessoa, em 2002. Nascido no Porto em Setembro de 1947, licenciou-se em Medicina na FMUP em 1971, com a classificação de 19 valores. Especia-lizou-se em Anatomia Patológica cinco anos depois, com a classificação de 20 valores. Doutorou-se em Patologia na FMUP em 1979. Fez o pós-doutoramento, em 1979/1980, no Instituto de Cancro da Noruega. É professor catedrático de Anatomia Patológica na FMUP e, desde 1990, professor adjunto de Patolo-gia e Biologia Celular do Jefferson Medical College da Universidade Thomas Jefferson de Filadélfia. Foi professor visitante ou cientista convidado em cerca de 30 universidades ou institutos de cancro da Europa, EUA, América Latina, Ásia e África. Trata-se de um dos grandes especialistas internacionais em oncologia.

A 22 de Março de 2004, a U.Porto conce-deu pela primeira vez o título de Professor Emérito, através do qual a Universidade manifesta um especial reconhecimento aos seus professores jubilados ou reformados pela contribuição extraordinário que deram e continuam a dar à instituição. Em sessão solene comemorativa do Dia da Universida-de foram, então, proclamados “Eméritos” os professores José Maria Moreira de Araújo (FCUP – Física e Astronomia), Maria Luiza Coelho Cortesão (FPCEUP, na foto), Mário Cerqueira Gomes (FMUP) e Vasco Sanches da Silva e Sá (FEUP).Estatuto de Professor Emérito da U.Porto consta da deliberação n.º 126/2004, apro-vada na reunião da Secção Permanente do Senado de 15 de Julho de 2003 e publicada no Diário da República de 4 de Fevereiro de 2004 (II Série). De referir, a propósito, que o título de Professor Emérito esta-belece-se com base num simples código deontológico e num conjunto adicional de direitos e deveres, acordados entre a U.Porto e o docente, mantendo-se assim entre estes uma colaboração regular. Cabe à Reitoria ou a uma das unidades orgânicas da Universidade propor a concessão do título de Professor Emérito, sendo este ou-torgado pelo reitor por um período de cinco anos renovável.Da lista de professores eméritos constam ainda os nomes de Jorge Ribeiro de Faria, Nuno Grande, Serafim Correia Pinto Gui-marães, Maria Cândida Pacheco, Joaquim Bairrão Ruivo, Carlos Maria da Silva Corrêa, João Maria Machado Cruz, José Novais Barbosa, Nuno Portas, Sérgio Leopoldo Fernandez Santos, Roberto Salema, Bártolo Paiva Campos, António da Silva Costa e Maria de Sousa.

PRIMEIROSHONORIS CAUSA

PRÉMIOSPESSOA

ATRIBUIÇÃO DO TÍTULODE “EMÉRITO”

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CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTOAGENDA

22 de Março de 2011 —Dia do Centenário

Serenata MonumentalPraça dos Leões0H01

Sessão Solene de Comemoração do CentenárioSalão Nobre da Reitoria16H00 ORADOR CONVIDADO: Eduardo Lourenço. “Portugal e os seus desafios”

Concerto de Música Sinfónica PortuguesaColiseu do Porto21H30Orquestra do NorteMAESTRO: Dr. José Ferreira Lobo

1.ª PARTEI — “Stacatto Brilhante”de Joly Braga SantosII — “Almourol”de Francisco LacerdaIII — “Suite Alentejana n.º 2”de Luís de Freitas Branco

2.ª PARTEIV — “Poema para violoncelo e orquestra”de Luís Costa. (1.ª audição)V — “No coração do Porto”de Fernando LapaVersos de Vasco Graça Moura (peça coral sinfónica encomendada expressa-mente para o Centenário).

Memória e Património

Cinco Séculos de Desenho na colecção da Faculda-de de Belas Artes da Universidade do Porto. Museu Faculdade Belas ArtesCento e vinte desenhos do acervo da Universidade onde avultam obras de artistas credenciados e se podem conhecer diferentes expressões estéticas.COMISSÁRIO: Francisco Laranjo — UNIVERSIDADE DO PORTO

As Preciosidades Bibliográficas da Universidade do PortoBiblioteca Almeida GarrettExposição de obras bibliográficas raras que integram o acervo da Universidade e são testemunhos da produção de conheci-mento da instituição ao longo dos seus 100 anos. COMISSÁRIO: José Adriano de Freitas Carvalho — UNIVERSIDA-DE DO PORTO

Colecção Egípcia da Universidade do PortoReitoria da Universidade do PortoColecção de cem peças oferecidas à Universidade no início do século XX e que, para além da sua raridade e valor, permitem conhecer melhor a história de tão importante civilização antiga.COMISSÁRIO: Luís Manuel de Araújo — UNIVERSIDADE DE LISBOA

Trinta Instrumentos para o Ensino das CiênciasMuseu Nacional de Soares dos ReisExposição de peças do acervo da Universidade através da qual se compreenderá melhor a história do ensino da ciência na instituição e a evolução que conheceram os respectivos instrumentos. COMISSÁRIO: Luís Miguel Bernardo — UNIVERSIDADE DO PORTO

Ensino do Desenho na Escola PolitécnicaGravuras, Estampas e Instrumentos Museu Nacional de Soares dos Reis

Exposição de peças do acervo da Universidade na qual se cons-tata a importância que a Escola Politécnica teve na formação de técnicos qualificados ao longo dos séculos XVIII e XIX.COMISSÁRIO: Luís Miguel Bernardo — UNIVERSIDADE DO PORTO

A Evolução de Darwin Museu Botânico — Casa AndresenExposição de peças dos acervos da Universidade, do Museu de História Natural de Nova Iorque e de outras instituições nacionais e internacionais. Ela é fundamental para conhecer a importância científica de Darwin e o seu contributo para a expansão do conhecimento.COMISSÁRIOS: Nuno Ferrand — UNIVERSIDADE DO PORTOJosé Feijó — UNIVERSIDADE DE LISBOA

Gravuras de BartolozziExposição de gravuras de Bartolozzi, que pertencem ao acervo da Universidade. Uma oportunidade para apreciar o trabalho do artista italiano (1727—1815), bem como um conjunto de óleos e desenhos de Vieira Portuense, alguns deles gravados por Bartolozzi.COMISSÁRIA: Lúcia Matos — UNIVERSIDADE DO PORTO

Publicações Científicas da Universidade do Porto1980—2011 Apresentação de capas ou primeiras páginas de artigos, teses ou livros de investigadores da Universidade em revistas ou outras publicações estrangeiras. Assim se dá a conhecer a dimensão da produção científica da instituição e a sua repercussão no mundo.

Encontro-Festa dos Antigos EstudantesEdifício da Reitoria e espaço envolvente.30 de Setembro de 2011 Iniciativa que visa reunir várias gerações de membros da comunidade académica, tendo em vista não apenas o convívio mas também, e sobretudo, o reforço do sentimento de pertença à Universidade.

Edições do Centenário — Série HistóriaA História da Universidade do PortoCândido dos Santos

Actas do Senado da Universidade do Porto (Outubro 1911—1931). Vol. IIntrodução: Cândido dos Santos

Memória Histórica da Academia Polythecnica do Porto Artur Magalhães de Basto Reedição e notas de Francisco Ribeiro da Silva

A Real Escola de Cirurgia e a Escola Médico-Cirúrgica do Porto Um contributo para a História da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Maria Amélia Ferraz

A Primeira Faculdade de Letras do Porto (1919—1931)Pedro Baptista

O Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar: passado, presente e futuro de uma escola paradigmática Romero Bandeira

Os Reitores da Universidade do Porto Retratos e notas biográficas Francisco Ribeiro da Silva — COORDENAÇÃO(PUBLICAÇÃO DA FUNDAÇÃO ENGENHEIRO ANTÓNIO DE ALMEIDA)

Identidade e Comunidade

XXXIV Congresso Mundial da Vinha e do VinhoCentro de Congressos e Exposições da Alfândega 20 a 27 de JunhoO tema do congresso é “A construção do Vinho – Uma Conspi-ração de Saber e de Arte”, cabendo a respectiva organização à associação UM PORTO PARA O MUNDO, que envolve a Universidade.COORDENAÇÃO: António Sarsfield Cabral

A Construção do Vinho Uma Conspiração de Arte e de SaberCentro de Congressos e Exposições da Alfândega 20 a 27 de JunhoExposição a decorrer em paralelo com a organização do XXXIV Congresso Mundial da Vinha e do Vinho. COORDENAÇÃO: Faculdade de Arquitectura da U.Porto

Regata dos barcos rabelos Rio DouroParticipação na regata de barcos rabelos de uma embarcação com vela e tripulação da Universidade. Mais uma forma de reforçar os laços da instituição com a cidade.COORDENAÇÃO: António Sarsfield Cabral

Mostra Etnográfica Palácio de Cristal25 de JunhoRecriação da Festa de S. João nos Jardins do Palácio de Cristal.COORDENAÇÃO: NEFUP e OUP

Mostra Coral da Universidade25 de Novembro de 2011 COORDENAÇÃO: AAOUP, NEFUP e OUP

Festival de Tunas da Universidade do PortoXXV FITU — Cidade do PortoColiseu do Porto13, 14 e 15 de Outubro de 2011

Mostra de Tunas U.PortoMarço de 2012

Apresentações de tunas nacionais e internacionais, exaltando o espírito académico associado a estes agrupamentos. COORDENAÇÃO: OUP e Comissão de Praxe para as Actividades Académicas

Tradições à LetraEspectáculo de músicas, cantares e danças tradicionais de Por-tugal, tendo por base textos de alguns dos mais distintos antigos estudantes da U.Porto (Júlio Diniz, Camilo Castelo Branco, Raul Brandão, Manuel Laranjeira, Adolfo Casais Monteiro, António Gedeão e Jorge de Sena).COORDENAÇÃO: NEFUP

A VarandaPeça de teatro a levar à cena pelo TUP sobre texto de JeanGenet. A Varanda mostra a feira de vaidades do mundo, contando a história de um bordel que não é senão uma metáfora do tecido social que nesta peça é, através do riso, alvo de uma acutilante crítica. Encenação de António Júlio.COORDENAÇÃO: TUP

Sarau Cultural do Orfeão Universitário do Porto9 de Março de 2012COORDENAÇÃO: OUP

LitografiaFrancisco Laranjo99 exemplares numerados e assinados pelo autor

CD — 24 Cadernos e Cantatas de NatalFernando Lopes GraçaCD com peças extraídas dos “24 Cadernos” e das “Cantatas de Natal”.Coral da Faculdade de Letras da Universidade do Porto dirigido pelo maestro Borges CoelhoCOORDENAÇÃO: Borges Coelho

Selo — “100 Anos das Instituições de Ensino” No âmbito desta colecção vai ser emitido um selo alusivo ao centenário da Universidade do Porto,

7.ª Universidade JúniorJunho, Julho e Setembro Programa de cursos de Verão desenvolvido, desde 2005, pela Universidade e que tem como objectivo despertar nos jovens (11 aos 17 anos) o interesse pelo conhecimento, ajudando-os, ao mesmo tempo, nas suas opções vocacionais. Integra um programa geral e escolas de introdução à investigação (Física, Matemática, Química Línguas, Humanidades e Ciências da Vida e da Saúde).

PROGRAMA DE COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO

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Exposições Armanda Passos (Retrospectiva e Obra Gráfica)Armanda Passos articula aspectos oníricos em matérias simbóli-cas da figuração do ser, numa exigência psicológica voltada para si. Mulheres como eixo, numa preocupação de referência sólida, organizam espaços bidimensionais e excluem a presença do tempo, adquirindo uma constante identificável.COMISSÁRIA: Fabíola Valença — UNIVERSIDADE DO PORTO

Dias Abertos Visitas às faculdades por alunos de escolas básicas e secundá-rias, entre outras iniciativas dirigidas à comunidade académica.

Gala do Desporto da U.PortoConsagração dos estudantes e funcionários que representaram a U.Porto em competições desportivas nacionais e internacionais. COORDENAÇÃO: GADUP

Jogos do CentenárioCompetição de diferentes modalidades disputada ao longo de 2011 por equipas das faculdades constituídas por estudantes, funcionários, investigadores e antigos estudantes.COORDENAÇÃO: GADUP e Associações de Estudantes

Olimpíadas do Centenário da U.PortoCompetição de diferentes modalidades concentrada em dois fins-de-semana (só para estudantes), com equipas das diferen-tes faculdades. COORDENAÇÃO: GADUP e Associações de Estudantes

Torneio de RugbyCompetição concentrada num fim-de-semana com equipas de rugby das universidades portuguesas. COORDENAÇÃO: GADUP

Torneio de GolfeAberto a toda a comunidade académica e a elementos em repre-sentação de entidades/ empresas com ligações à U.Porto.COORDENAÇÃO: GADUP

Torneio de TénisAberto a toda a comunidade académica e a elementos em repre-sentação de entidades/ empresas com ligações à U.Porto.COORDENAÇÃO: GADUP

Torneio de XadrezSimultânea de um mestre internacional com os melhores xadrezistas da U.PortoCOORDENAÇÃO: GADUP

Jogos sem Fronteiras/ Jogos TradicionaisAberto a toda a comunidade académica; a realizar de preferên-cia nos espaços da U.Porto e noutros espaços alternativos.COORDENAÇÃO: GADUP, AAEE’s, Comissão de Praxe para as Actividades Académicas e outras organizações de estudantes da U.Porto

Regatas no Douro Barcos Dragão Competição entre as seis universidades do Norte de Portugal e da Galiza.

Embarcações sem motorCompetição aberta a toda a comunidade académica.

COORDENAÇÃO: GADUP, Porto Lazer e Associações de Estudantes

Corrida UniversitáriaJunho de 2011 (durante as Festas da Cidade)Aberta a toda a comunidade académica e à cidade.COORDENAÇÃO: GADUP e Porto Lazer

Jogos Galaico-DuriensesCompetição desportiva entre as seis universidades do Norte de Portugal e da Galiza.COORDENAÇÃO: GADUP

Congresso da Tradição AcadémicaEncontro de diferentes academias do país. 2011/2012.COORDENAÇÃO: GADUP, AAEE’s, Comissão de Praxe para as Actividades Académicas e outras organizações de estudantes da U.Porto

Conhecimento e Horizontes

Conferência do CentenárioAuditório da Faculdade de Engenharia24 e 25 de MarçoSendo a maior universidade portuguesa, a U.Porto é também uma das instituições líderes do conhecimento no nosso país. Neste sentido, afigura-se pertinente reflectir sobre o que até agora foi atingido pela Universidade, quais os seus actuais desa-fios e quais os seus objectivos para as próximas décadas. Quatro tópicos – Saberes, Vida, Territórios e Universidade – foram seleccionados para discussão e debate públicos. Estes tópicos cobrem vastas áreas de interesse e são, em geral, entendidos como tendo um impacto muito significativo nas sociedades contemporâneas.

XXIX International Symposium of the InternationalSociety of Biomechanics in SportsFaculdade de Desporto da U.Porto27 de Junho a 1 de Julho O IS BS2011 é a mais importante reunião mundial de Biomecâ-nica no Desporto. Organizado pela Faculdade de Desporto da U.Porto e pela Faculdade de Motricidade Humana da Universi-dade Técnica de Lisboa, o IS BS2011 vai apresentar e discutir os mais recentes desenvolvimentos científicos mundiais na Biomecânica do Desporto, fomentar a investigação biomecânica em Portugal e promover internacionalmente a investigação, os centros de investigação e os laboratórios portugueses dedicados à Biomecânica e à Biomecânica do Desporto. Será na altura criado o LABIO MEP, um laboratório de biomecânica que reúne investigadores de cinco faculdades da U.Porto. COORDENAÇÃO: João Paulo Vilas-Boas — UNIVERSIDADE DO PORTO

Centro de Cultura FinanceiraMetodologias e instrumentos para uma literacia financeira.COORDENAÇÃO: João Loureiro — UNIVERSIDADE DO PORTO

Cem anos – Cem palavrasUm concurso literário de micro-contos de ficção, aberto a todos os membros da Universidade. Os melhores contos serão reunidos num volume a publicar posteriormente. COORDENAÇÃO: Francisco Ribeiro da Silva — UNIVERSIDADE DO PORTO

Universidade: instalações, acontecimentos, pessoas, ambiente, … Concurso fotográfico aberto a toda a comunidade universitária. As fotografias seleccionadas integrarão automaticamente o “banco de imagens”. O regulamento será publicado em breve. COORDENAÇÃO: Manuel Janeira — UNIVERSIDADE DO PORTO

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Faculdade de FarmáciaRua D. Manuel II

Faculdade de Medicina — Ciências BásicasPólo da Asprela

Inauguração destes novos edifícios do campus universitário, no âmbito do processo de expansão, ampliação, requalificação e modernização dos equipamentos educativos e científicos da U.Porto.COORDENAÇÃO: António Cardoso — UNIVERSIDADE DO PORTO

Edições do CentenárioSérie Presente e Futuro

A Universidade e a cidade. Imagens para o futuro António Cardoso — COORDENAÇÃO

O novo modelo de governação da U.PortoCândido Agra — COORDENAÇÃO

Percursos da Internacionalização na Universidade do Porto – uma panorâmica centenária Pedro Teixeira — COORDENAÇÃO

EncontrosSessão Solene de Comemoração do CentenárioConferência do CentenárioIJUP XXIX International Symposium of the InternationalSociety of Biomechanics in SportsXXXIV Congresso Mundial da Vinha e do VinhoCongresso da Tradição Académica9.ª Mostra U.Porto7.ª Universidade JúniorDias Abertos nas Faculdades

ExposiçõesCinco Séculos de Desenho Gravuras de BartolozziPreciosidades Bibliográficas Colecção EgípciaEnsino do Desenho na Escola PolitécnicaTrinta Instrumentos para o Ensino das CiênciasA Evolução de DarwinPublicações Científicas (1980—2011)A Construção do Vinho – Uma Conspiração de Arte e de SaberArmanda Passos

EspectáculosSerenata MonumentalConcerto de Música Sinfónica Portuguesa Mostra Coral da UniversidadeFestival de TunasTradições à LetraA VarandaSarau CulturalRegatas no DouroRegata dos barcos rabelosEncontro-FestaMostra Etnográfica

Outros eventosCD — 24 Cadernos e Cantatas de NatalSelo — “100 Anos das Instituições de Ensino” Litografia“O Académico”Título de Doutor Honoris CausaCentro de Cultura Financeira Cem anos – Cem palavras (CONCURSO)Universidade: instalações, acontecimentos, pessoas, ambiente, … (CONCURSO)Inauguração dos edifíciosInstituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar / Faculdade de FarmáciaFaculdade de Medicina — Ciências Básicas

DesportoGala do Desporto da U.PortoJogos do CentenárioOlimpíadas do Centenário da U.PortoTorneio de RugbyTorneio de GolfeTorneio de TénisTorneio de XadrezJogos sem Fronteiras/ Jogos TradicionaisJogos Galaico-DuriensesCorrida Universitária

Edições do CentenárioA História da Universidade do PortoActas do Senado da Universidade do Porto (Outubro 1911—1931). Vol. IMemória Histórica da Academia Polythecnica do Porto Artur Magalhães de Basto A Real Escola de Cirurgia e a Escola Médico-Cirúrgica do Porto Um contributo para a História da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto A Primeira Faculdade de Letras do Porto (1919—1931)O Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar: passado, presente e futuro de uma escola paradigmática Os Reitores da Universidade do Porto Retratos e notas biográficas A República na Universidade. A Universidade na RepúblicaFrancisco Gomes TeixeiraO homem, o cientista, o pedagogoFrancisco Gomes Teixeira. Curso de Analyse Infinitesimal – Calculo Differencial. Análise de alguns conteúdosFerreira da Silva. Biografia A Universidade e a cidade. Imagens para o futuro O novo modelo de governação da U.PortoPercursos da Internacionalização na Universidade do Porto – Uma panorâmica centenária

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OLHARES CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

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ANA LUÍSA AMARAL

“É preciso formar redes a partir dos saberes concentra-

dos nas Faculdades”

Escritora | Antiga estudante e profes-sora associada da FLUP

A U.Porto é formada por várias faculdades, que con-centram saberes de ordens diversas. É preciso aproveitá-las, formar redes. Seria excelente que os centros de investigação cruzassem áre-as diversas como a literatura e a física, a engenharia e as artes, por exemplo. Mas é preciso mais: entender, por exemplo, que a Filosofia ou a Literatura, e o seu estudo, não geram protótipos, não têm valências económicas imediatas, mas que ensinam e ajudam a pensar – assim criando cidadãos com verda-deiro espírito crítico, ou seja, seres humanos melhores. Não podemos perder de vista essa perspectiva, a do humano. Sob pena de nos perdermos a nós mesmos.

ANTÓNIO MOTA

“As parcerias universidade/empresa devem cada vez mais ser promovidas”

Presidente do Conselho de Adminis-tração da Mota-Engil SGPS | Antigo

estudante da FEUP

Das salas de aula à li-derança das principais

instituições da região e do país, vestindo a capa

e batina ou a bata branca dos mais conceituados

centros de investigação portugueses, o legado

da U.Porto repousa hoje nas mãos dos actuais

e antigos estudantes, docentes, investigadores

e outras figuras da Aca-demia e da região. São

pessoas que por mérito próprio simbolizam o

passado, o presente e o futuro da maior universi-

dade portuguesa. Neste espaço reúnem-se alguns

destes nomes*, em cuja primeira pessoa se projec-

ta a herança histórica da U.Porto, mas sobretudo

os caminhos, desejos e de-safios a abraçar pela Uni-

versidade neste século.

Hoje, as universidades não têm de ser só escolas de saber. Devem desenvol-ver a sua actividade num contexto mais alargado e contribuírem directamente para a criação de valor na economia do país. Para isso, as parcerias universidade/empresa devem cada vez mais ser promovidas, procu-rando inovar-se em soluções técnicas que permitam au-mentar a competitividade. Estou certo de que a U.Porto pode, deve e irá continuar a contribuir, não só para for-mar técnicos, mas também pessoas ambiciosas, capazes de ajudar este país a evoluir positivamente.

* (Ver testemunhos completosno site do Centenário:

http://centenario.up.pt/100olhares)

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CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

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7

ARMANDO TAVARES

“A U.Porto precisa de continuar a sua abertura ao

exterior”

Presidente da NANIUM | Antigo estu-dante da FEUP

BEATRIZ PACHECO PEREIRA

“A U.Porto deve ser um guia em todos os aspectos do

saber “

Fundadora e directora do Fantasporto | Antiga estudante da FLUP | Membro

do Conselho Geral da U.Porto

Novos tempos exigem mu-danças e uma universidade não é disso isenta. A U.Porto precisa de continuar a sua abertura ao exterior, adap-tando a sua oferta na edu-cação e as suas capacidades no desenvolvimento do co-nhecimento e de tecnologias às prioridades da região e do país, assim contribuindo para o seu desenvolvimento. Esta maior abertura pode também permitir-lhe anga-riar suporte financeiro para novos projectos, num apro-veitamento de sinergias que sem dúvida é benéfico para todos os envolvidos. Não po-dendo ficar de fora da onda de globalização, a U.Porto terá de continuar a abrir-se ao mundo, acolhendo mais estudantes, professores e investigadores estrangei-ros, promovendo um ainda maior intercâmbio interna-cional, fazendo jus à melhor tradição da cidade do Porto.

O papel da U.Porto daqui a 100 anos será, como hoje já é, o de consagrar o Porto como uma cidade de erudi-tos, criadores, cientistas e especialistas, como Oxford, por exemplo. Mas a sua modernidade tem de ser vi-sível e atractiva em todos os aspectos e para toda a gente. É importantíssimo dar a ideia de que saber é uma vantagem e que o esforço é sempre necessário para o sucesso Daí a sua ligação à sociedade ser absolutamente necessária. A U.Porto deve ser um farol do conhecimen-to, mas também um guia em todos os aspectos do saber. Eu sou idealista, como se pode ver.

BELMIRO DE AZEVEDO

“O futuro da U.Porto passa pela cultura da exigência,

da superação”

Empresário | Presidente do Conselho de Administração da Sonae | Antigo Estudante da FEUP | Doutor Honoris

Causa pela U.Porto

A U.Porto coloca a ambição num patamar que honra a sua história. Mas sabemos que os objectivos não se concretizarão sem afinar sinergias – as melhores uni-versidades são transversais, cruzam saberes e apostam na inovação. Assim sendo, o promissor futuro da “mi-nha universidade” passará pela cultura da exigência, do desafio permanente, da superação; pela criação de um ambiente de motivação, onde cada um possa desen-volver as suas mais-valias; por uma postura aberta ao mundo e às suas reais necessidades. Com alunos portugueses e não portu-gueses, professores que não desistem de aprender, parce-rias com os melhores entre os melhores e uma relação privilegiada com os sectores produtivos.

CLÁUDIO SUNKEL

“A U.Porto deve ser um local de constante

inquietação intelectual”

Investigador e director do IBMC | Professor catedrático do ICBAS

É preciso continuar a melho-rar a qualidade do ensino, a qualidade da investigação, assim como a qualidade dos serviços que a Univer-sidade presta através da sua enorme rede de Faculdades, Institutos, Unidades de Investigação e Laboratórios Associados. O trabalho que se desenvolve dentro da Uni-versidade tem de estar cada vez mais ligado ao tecido social que nos rodeia, in-cluindo todo os seus interve-nientes, desde as escolas até às empresas. A investigação tem de ser conhecida dentro e fora da Universidade, de forma que o conhecimento possa voltar a sociedade de uma forma ou de outra. É difícil visualizar o papel da Universidade daqui a 100 anos, mas penso que deve continuar a ser um local de constante inquietação inte-lectual e pensamento livre. De outra forma não poderá contribuir para o futuro.

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OLHARES CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

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D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA

“A U.Porto deve prosseguir como centro nevrálgico de

cidadania”

Bispo das Forças Armadas e de Segu-rança | Antigo estudante e professor

assistente da FLUP

A abertura às exigências científicas e sociais de ou-tros países e suas culturas, a sensibilidade à preparação cientifica e pedagógica de seus profissionais, ao serviço de um país progressivo (oxa-lá!), a presença de seus alu-nos e professores no âmbito de sectores de ensino e de responsabilidades várias do país, não permitirão que se perpetue a figura do “Clerc” e do intelectual conformista. (...) A U.Porto deve prosse-guir como centro nevrálgico da cidadania do país e da região Norte, tão augusta como olvidada. As múltiplas gerações voltarão a Atenas e a Roma, a rejubilar com a ágora da democracia, com o foro de todos os direitos. É num Estado de direito que uma Universidade está em seu lugar! A do Porto, por to-dos os motivos, será sempre gémea de uma cidade livre e invicta.

DANIEL BESSA

“Temos condições para competir numa ‘liga de

honra’ à escala mundial”

Economista | Director-geral da COTEC Portugal | Ex-director e professor da EGP - Escola de Gestão do Porto e

da EGP - UPBS | Antigo estudante e docente da FEP

Não haverá vitória, nem no contexto nacional, nem sequer no contexto regional e local, se a U.Porto não for capaz de se afirmar no contexto internacional. Partimos muito atrás para podermos afirmar-nos numa “primeira liga mundial”, mas temos todas as condi-ções para competir numa “liga de honra à escala mun-dial”. Trata-se de um longo caminho a percorrer para o que, a meu ver, dispomos da visão e da vontade, das com-petências e, não sei se com o mesmo grau de acutilância, da estratégia e sobretudo da organização. Não consigo antever a U.Porto daqui a cem anos, mas gostaria muito de a ver como a primeira universida-de portuguesa a ser capaz de seleccionar como reitor uma figura de primeira linha da academia mundial – dando um contributo decisivo para vencer o que são alguns dos nossos maiores males como povo: o medo, o proteccio-nismo e o corporativismo.

DANIEL SERRÃO

“A inovação deve ser o programa, por excelência,

da U.Porto”

Médico | Professor jubilado e antigo estudante da FMUP

Na linha da nova concepção da universidade como em-presa, o melhor caminho é o da eficiência na produção do que a universidade decida produzir, sejam técnicos sejam pessoas cultas. Hoje a questão do financiamento ocupa o primeiro lugar na cogitação dos responsáveis e o apelo aos gestores e às em-presas é constante. Tenho dúvidas sobre se o modelo empresarial é o melhor para fazer viver uma universidade como uma instituição cul-tural, criadora e difusora de saber, mas o tempo dirá se estou certo ou errado.A Universidade deve ainda estar na primeira linha de apoio ao país, em especial em período de dificuldades. Das crises sai-se com ino-vação. E a inovação deve ser o programa, por excelência, da U.Porto para os próximos 100 anos.

EDUARDO CARQUEJA

“Tem que ser o motor de inovação e empreendedoris-

mo da região”

Empresário | Fundador da NDrive | Antigo estudante e professor da FEP

A Universidade tem de ser cada vez mais o motor da inovação e empreendedoris-mo da região e se posicionar cada vez mais no contexto internacional. É o ambiente certo, tem as pessoas com os conhecimentos e atitude correctos, laboratórios que permitem experimentar novas ideias e tem alunos com energia para arriscar. O aluno que estuda e faz exames é um animal do passado. A sociedade moder-na exige um ser que pensa lateralmente nos problemas, arrisca com opiniões, toma a iniciativa e lidera o grupo em que se insere. A Univer-sidade tem de encubar este novo saber, fazê-lo com base numa experiência integral de ensino, proporcionando novas experiências aos seus alunos.

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FERNANDO TEIXEIRA DOS SANTOS

“Não haverá estratégia de desenvolvimento da cidade e

da região sem um forte envol-vimento da Universidade”

Economista | Ministro de Estado e das Finanças do XVIII Governo Constitu-cional e do XVII Governo Constitucio-nal (2005-2009) | Antigo estudante e

professor associado da FEP

A U.Porto deve prosseguir no caminho de exigência e qualidade que tem trilhado. Produzir e deter recursos humanos altamente qualifi-cados e inseridos nas redes nacionais e internacionais de pesquisa, de conhecimen-to e de inovação é decisivo para a sua vitalidade (...). Num Porto que, ao longo das últimas décadas, perdeu muito do que bom tinha, a U.Porto é um reduto de iniciativa, competência e capacidade científica, técnica e organizativa. Não haverá estratégia de desenvolvimen-to, de dinamização e revita-lização da cidade e da região sem um forte envolvimento da Universidade.O papel da Universidade daqui a 100 anos não será muito diferente do de hoje. Os tempos serão diferentes e a forma de cumprir esse papel também, mas a Uni-versidade terá que continuar a ser um “farol” que aponta o caminho do progresso, da inovação, da modernidade e da valorização humana.

HEITOR ALVELOS

“É preciso um investimento claro na investigação

aplicada”

Director do festival Future Places| Professor auxiliar e antigo estudante

da FBAUP

Destaco a necessidade de um investimento claro e inequívoco em projectos de investigação aplicada; um diagnóstico permanente de contextos exteriores passí-veis de beneficiarem de cola-boração com a Universidade; um reforço de visões de múltipla escala, articulando a perspectiva local com a perspectiva global de formas dinâmicas; um enfoque prioritário em parcerias com outras universidades da re-gião, traduzidas em projec-tos que investem nas mais-valias da produção industrial e cultural específicas da região; a potenciação de uma cultura bilingue (português/inglês), recusando o modelo polarizado, substituindo-o pela simultaneidade linguís-tica.

HÉLDER MAIATO

“É fundamental começar a ver a U.Porto na linha da

frente da investigação”

Investigador do IBMC | Professor auxiliar convidado da FMUP | Antigo

estudante do ICBAS e da FCUP

Focando-me na área da investigação, que é a que eu domino, o que eu gos-taria era que se começasse a falar menos em número de publicações científicas e cada vez mais na qualidade das publicações que saem da U.Porto. É fundamental começar ver a Universida-de na linha da frente da investigação em áreas em que claramente sejamos competitivos, em que pos-samos marcar a diferença. Não há dúvida de que esse é o caminho, mas terá que ser percorrido de forma séria e determinada. De resto, tem que se afirmar como uma universidade internacional, capaz de atrair estudantes de países cuja língua oficial não é o português. Sem isso, não vamos atrair pessoas de outras partes do mundo que, pela sua diversidade e rique-za de experiências, podem trazer novos contributos e uma nova forma de estar à U.Porto.

JOÃO PAULO VILAS-BOAS

“A U.Porto será uma universidade de inspiração

olímpica”

Professor catedrático da FADEUP | Antigo estudante do ISEF e da FPDEF

Não me restam dúvidas de que devemos continuar a tri-lhar os mais inovadores ca-minhos por que decidimos enveredar nos anos mais recentes (...), mas temos de ter consciência de que temos de o fazer melhor e mais depressa do que os nossos congéneres; e isso não é ta-refa fácil! Mas se o fizermos e o fizermos bem, menos como frete, mais como mis-são, mas sobretudo como paixão, então daqui a 100 anos a U.Porto terá cumpri-do os seus desígnios, será uma universidade de inves-tigação, uma universidade encastrada e indispensável à sociedade que serve, uma universidade prestigiada; seguramente não uma entre as 100 melhores da Europa, mas uma entre as 100 me-lhores do mundo. No fundo será uma universidade de inspiração olímpica.

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OLHARES CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

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JOÃO TEIXEIRA LOPES

Sociólogo | Ex-deputado da Assem-bleia da República pelo Bloco de Es-querda | Professor associado e antigo

estudante da FLUP

JORGE ARMINDO

Presidente da Amorim Turismo, SGSP, SA e suas associadas | Antigo

estudante e professor da FEP

JOSÉ PINTO DA COSTA

Médico | Professor jubilado do ICBAS | Ex-director do Instituto de Medicina

Legal do Porto | Antigo estudante da FMUP

MANUEL CARVALHO

Jornalista | Director adjunto do Jornal “Público” | Estudante da FLUP

A U.Porto é a maior oportu-nidade para a região Norte, enquanto centralidade de inovação, conhecimento e participação. Mas para que isso se concretize, tem de desenvolver o seu processo de afirmação pública e políti-ca, no sentido lato de toma-da de posições estratégicas para o futuro da região. Sem temer polémicas: criar a dis-sensão é muitas vezes o pon-to de partida das mudanças mais intensas. Nem sempre é fácil. A Universidade Por-tuguesa está infelizmente a tornar-se uma máquina cada vez mais burocratizada, sem que tal signifique necessaria-mente um acréscimo subs-tantivo de qualidade. Urge avaliar Bolonha. Estamos demasiado mergulhados nos “procedimentos”. Para os próximos 100 anos? Menos gestão, mais Universidade!

A U.Porto deverá continuar a trilhar o caminho a que nos habituou, procurando melhorar a integração dos seus membros no seio da co-munidade nacional e inter-nacional em prol da mobili-dade e troca de experiências entre os estudantes. Daqui a 100 anos, o papel da U.Porto será ainda mais importante do que foi até agora, pois o mundo será ainda mais exigente e competitivo, cons-tituindo a formação um dos seus principais elementos.

Contrariando um centralis-mo desenfreado, a U.Porto tem imposto a sua voz mediante a sua qualidade científica e pedagógica. Para reforçar esse papel, deve reforçar a abertura à socie-dade, melhorar a mobilidade de docentes e alunos, criar oportunidades para que to-dos os que querem aprender o possam fazer nesta insti-tuição, fomentar o espírito de competição interna e externa, reanimar os valores humanistas por vezes tão esquecidos, auscultando a comunidade em que está inserida e reforçando o seu impacto no mundo. Que, 100 anos depois destes pri-meiros cem, a Universidade esteja no lugar cimeiro que merece.

Apesar de todas as me-lhorias, acreditar que a academia portuense é um mundo perfeito é um erro e um mito. Muitas faculdades continuam fechadas sobre si próprias; muitos docen-tes continuam a execrar contactos com o exterior; a mediocridade ainda domina departamentos e faz com que os mais jovens sejam convidados ao conformis-mo ou à inércia. A maior parte dos males é, mais do que portuense, de natureza institucional. Ou nacional. Olhando ao que se passou numa década, é provável que na próxima tudo isto se di-lua e que o dinamismo que hoje se pressente em tantas áreas da U.Porto acabe por dar forma a uma nova cultu-ra. No espaço de uma década deram-se passos enormes, e nada nos deve levar a crer que o efeito de bola de neve se venha a perder nos próxi-mos anos.

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MANUEL OLIVEIRA MARQUES

“Impõe-se não restringir a sua atenção e acção

estratégicas ao que é mais visível ou gerador de maior

notoriedade”

Professor associado e antigo estu-dante da FEP | Ex-administrador e

presidente da Comissão Executiva da Sociedade Metro do Porto, SA | Mem-bro do Conselho Geral da EGP - UPBS

MANUEL SOBRINHO SIMÕES

“É fundamental acentuar a marca Universidade do

Porto”

Director e investigador do IPATIMUP | Professor catedrático e antigo estu-

dante da FMUP

MANUELA TAVARES DE SOUSA

“É importante que a U.Porto mantenha o

vínculo próximo com a comunidade”

CEO da Imperial | Antiga estudante da FEUP e da FFUP

MARIA DE SOUSA

“O caminho passa por sermos excelentes”

Investigadora e coordenadora de investigação do IBMC | Professora jubilada do ICBAS | Coordenadora

científica do programa GABBA | Pro-fessora Emérita da U.Porto

Com todo o respeito e apreço pela ambição de se projectar a Universidade a nível nacional e internacio-nal, que deve ser cumprida e a todos mobilizar, impõe-se não restringir a sua atenção e acção estratégicas ao que é mais visível ou gerador de maior notoriedade e influên-cia a curto prazo, e atender antes ao particular tecido económico e social do meio em que a Universidade se insere, abrindo-se mais e mais a esse meio e para ele encontrando as respostas e soluções exigidas em cada tempo concreto.Que a dimensão, a im-portância, a excelência e a ambição da U.Porto não a impeçam de afirmar-se, cada vez mais se possível, como um espaço de cultura, de criação de saber e de liber-dade. Assim, a Universidade há-de ser, certamente, mui-tas vezes centenária.

Um desejo para o futuro: que a U.Porto, isto é, as suas unidades e as suas gentes sejam cada vez mais exem-plares em termos de forma-ção, investigação científica, desenvolvimento tecnológico e interacção com as empre-sas e a sociedade em geral. Se conseguirmos isto, vamos também conseguir uma das melhores universidades da Europa e do mundo. É fundamental acentuar as marcas Porto e Universidade do Porto por mais que nos custe assistir, e custa-nos, ao desbotamento de marcas como Faculdade de Arqui-tectura, Faculdade de Me-dicina, ICBAS, IPATIMUP, IBMC, INEB,… O que se deseja a uma ins-tituição com 100 anos é que seja exemplar pelo trabalho, pela qualidade e pela (boa) governação.

A U.Porto tem vindo a criar condições para se poder afirmar como uma das mais prestigiadas universidades a nível internacional. Para que tal se concretize, é essencial que o conhecimento do meio científico seja posto ao serviço da inovação, através de uma cooperação activa e sistemática com as organi-zações, partilhando recursos e ampliando competências. É igualmente importante que a instituição mantenha o vínculo próximo que tem vindo a estabelecer com a comunidade, facilitando o acesso ao conhecimento, orientando de forma inova-dora a formação pedagógica e potenciando uma forma-ção mais completa e que fomente o empreendedoris-mo. Por fim, deve existir a vontade de reforçar a relação com a comunidade escolar internacional, contribuindo para o reconhecimento da instituição além-fronteiras.

O caminho passa por ser-mos excelentes. Tão excelen-tes que apareçam grandes filantropos que deixem nos seus testamentos milhões de euros à Universidade só por que cá se formaram e que-rem os seus nomes ligados a uma grande e unicamente excelente universidade. Mas em verdade não acredito que possamos vir a ser tão unicamente excelentes, pelo menos nos próximos anos. Que eu perceba nem sequer fizemos ou tivemos a preo-cupação de fazer essa análise em profundidade, mesmo nos mais recentes institutos de investigação. A preocu-pação que sinto no ar é que devemos criar aglomerados locais maiores que possam vir a assegurar emprego para mais pessoas, sem perceber bem que atingir alguma ex-celência pode levar séculos e exigir a renovação radical do tecido universitário. Na mi-nha condição de Emérita cá voltarei, velhinha, para ver, mas creio que a ver-se só se verá mesmo nos próximos cem anos.

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OLHARES CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

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MÁRIO BARBOSA

“O futuro da Universidade será onde chegarem a transversalidade, o

conhecimento integrativo, o hábito da exigência e da

responsabilidade”

Director e investigador do INEB | Pro-fessor catedrático e antigo estudante

da FEUP

NUNO BRANDÃO COSTA

“A Universidade tem que intervir de modo mais concreto na cidade”

Arquitecto | Professor assistente  e antigo estudante da FAUP | Prémio

SECIL Arquitectura 2008

NUNO CARDOSO SANTOS

“O grande objectivo terá de ser a afirmação

internacional”

Astrónomo | Investigador do CAUP | Professor afiliado da FCUP

RUI AMORIM DE SOUSA

“A aposta em projectos transversais será um factor crítico de sucesso para as

próximas décadas”

Administrador delegado do grupo Cerealis SGPS | Membro do Conselho Geral da EGP-UPBS | Antigo estudan-

te da FEP

A Universidade são muitos lugares. Muitas formas de agir. De interagir. E muitas formas de estar. O futuro da Universidade será onde che-garem a transversalidade, o conhecimento integrativo, o hábito da exigência e da responsabilidade. Será onde não existir mais espaço para pequenos túmulos habitados por sacerdotes que prospe-ram na complacência e na generosidade de fiéis públi-cos. Felizmente, só há um caminho para se estar vivo daqui a 100 anos: regenerar-se continuamente.

No caso da arquitectura, para além do reconhecimen-to do seu prestígio, penso que a sua influência na co-munidade deveria ser mais alargada e permanente. A influência da Universidade é, digamos, abstracta. A comunidade reconhece o seu valor, mas este não se concretiza para além das obras dos autores que saem da escola e vão, de modo fragmentado, construindo a cidade e a região – o que, diga-se de passagem, já é muito. Seria lógico se a esco-la fosse chamada a intervir de modo mais concreto nas questões da cidade... De resto, o caminho passa por manter a qualidade e a exigência. Valorizar o mérito e não se “academizar”. Valo-rizar a ligação e ter atenção permanente à sociedade e ao exterior. Se não se perder esse contágio entre a escola e a obra, o papel da U.Porto manter-se-á único.

O grande objectivo terá de ser a afirmação internacio-nal, mas tal implica uma afirmação nacional e regio-nal. Nesse aspecto, há algu-mas coisas que deveriam ser melhoradas. Nomeadamen-te, uma aposta na fixação dos recursos humanos (não “permanentes”) em áreas chave da investigação e uma melhoria na comunicação entre investigadores de dife-rentes departamentos/áreas/centros de investigação. A li-gação próxima entre a inves-tigação e a divulgação cientí-fica é também essencial para que a U.Porto possa conti-nuar (e mesmo melhorar) a sua capacidade de atracção dos melhores alunos. Se esse caminho for bem per-corrido, creio que dentro de 100 anos (certamente antes disso) será possível ter uma universidade capaz de atrair investigadores e estudantes de todo o mundo.

Os jovens do futuro nasce-rão globais. Estarão menos condicionados pelos factores de proximidade geográfica. A atracção e retenção desses jovens estudantes e profis-sionais será feita pela oferta de qualidade, diferenciada e reconhecida. A U.Porto, inserida numa comunidade de fortes valores e tradições, de gente de trabalho e em-preendedora, com práticas de qualidade comprovadas, tem todos os ingredientes para ver reforçado o seu reconhecimento nacional e internacional enquanto agente de formação. A apos-ta em projectos transversais às diversas áreas de conheci-mento, à semelhança do da EGP-UPBS, unindo esforços em favor do colectivo, será um factor crítico de sucesso para as próximas décadas.

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RUI MOREIRA

“A Universidade precisa de catalisar o apoio das empre-

sas nacionais”

Empresário | Presidente da Asso-ciação Comercial do Porto | Antigo

membro do Senado da U.Porto

TERESA LAGO

“A importância da U.Porto será aquela que a sua

ambição actual traçar”

Astrónoma | Professora catedrática e antiga estudante da FCUP | Fundado-

ra e primeira directora do CAUP

TIAGO OUTEIRO FLEMING

“O caminho deve passar pela modernização das ins-tituições, permitindo que se fixem pessoas de qualidade”

Director e investigador da Unidade de Neurociência Celular e Molecular no IMM (Faculdade de Medicina de Lisboa) | Antigo estudante do ICBAS

e da FCUP

VASCO TEIXEIRA

“O futuro reserva à Universidade um caminho

de continuidade”

Administrador e director editorial da Porto Editora | Antigo estudante

da FEUP

A U.Porto é hoje reconheci-da como a melhor [universi-dade] do país e pode ter um papel mais activo para des-bloquear factores que condi-cionam ainda a performance do nosso ensino superior, se for ela própria um mo-delo de “governância” com capacidade de antecipação estratégica.Por tudo isto, é essencial que a Universidade seja vista como um espaço de conheci-mento e diálogo crítico com a sociedade, para que todos os intervenientes do proces-so de formação assumam uma linguagem comum. Não tenho dúvidas de que a U.Porto tem neste momento capacidade para estar entre as melhores da Europa e mesmo do mundo. Mas, para isso, precisa de catalisar o apoio das empresas nacio-nais. Só assim poderá atrair mais talento internacional e posicionar, desse modo, a região e o país e o seu know-how nos mercados externos.

A Universidade deve ser motor da cidade, da região e do país. Pela sua própria na-tureza – lugar de criação, de discussão, de pensamento e de visão. Pela riqueza dos seus recursos humanos em termos de formação, de co-nhecimento, de diversidade e de vivência internacional. Mas isso obriga a que a Uni-versidade adopte uma atitu-de de ambição e de liderança temperada pela humildade e realismo, com elevados padrões de exigência em ter-mos da sua própria organi-zação, prática e objectivos.A importância do papel da U.Porto, daqui a 10 ou 100 anos, será aquela que a sua ambição actual traçar: uma universidade a celebrar os 200 anos, com mais ou menos pompa, ou uma universidade europeia reco-nhecida pela sua qualidade intrínseca e contribuição competitiva.

O caminho a traçar pela U.Porto é o caminho que to-das as universidades devem seguir. E esse caminho passa por premiar o mérito, pro-mover a excelência, procurar pessoas que se destaquem pela qualidade dos seus trabalhos e da sua docência. Para atrair os melhores es-tudantes (nomeadamente os estrangeiros), é preciso ter os melhores professores e isso tem que ser o objectivo primordial para qualquer universidade que quer ser competitiva a nível nacional e internacional. Isso não só fortalecerá a Universidade e as pessoas que estão associa-das a ela, como irá promover uma dinamização da cidade, da região, do país. De resto, o caminho deve passar pela modernização das institui-ções, permitindo que se fixem pessoas de qualidade e fornecendo-lhes condições para que possam desenvol-ver o seu trabalho.

O futuro reserva à Uni-versidade um caminho de continuidade, de perma-nente abertura à inovação, aprofundando o seu relacio-namento com a sociedade. É muito difícil prever como será o mundo daqui a 10 anos, muito mais daqui a 100, atendendo à crescente velocidade com que o conhe-cimento tem evoluído. Esse será, talvez, o maior desafio que se coloca à U.Porto: acompanhar e, ao mesmo tempo, contribuir para essa evolução, ajudando a cidade e a região do Porto a recupe-rar a importância que teve em tempos não muito lon-gínquos, e que o centralismo sem visão nacional lhe tem retirado.

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O REITOR DA U.PORTO EXPLICA OS PRINCIPAIS PROPÓSITOS DAS COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO, SALIENTANDO QUE SE TRATA, NÃO SÓ DE CELEBRAR O PASSADO, MAS SOBRETUDO DE PREPARAR O FUTURO DA INSTITUIÇÃO. E UM FUTURO AUSPI-CIOSO IMPLICA, DIZ, UMA REORGANIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE, TENDO EM VISTA A PROGRESSÃO PARA UM PATAMAR SUPERIOR DE QUALIDADE. GANHAR ESCALA, COOPERAR INTERNAMENTE, RACIONALIZAR RECURSOS, AUMENTAR O RIGOR E PROMOVER A INTERDISCIPLINARIDADE SÃO AS PALAVRAS DE ORDEM. DE RESTO, MARQUES DOS SANTOS PRECONIZA A MESMA RECEITA PARA TODO O ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊS, O QUAL, EM SUA OPINIÃO, TEM INSTITUIÇÕES A MAIS, UNIVERSIDADES QUE NÃO SE SABEM DIFERENCIAR E UM SISTEMA DE FINANCIAMENTO QUE NÃO PREMEIA O BOM DESEMPENHO ECONÓMICO.

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Page 37: UPorto Alumni #13

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CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTOFACE-A-FACE

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ESA U.Porto está a celebrar o seu Centenário. Quais são os

principais objectivos e linhas de acção das comemora-ções?

As comemorações do Centenário têm duas vertentes: por um lado, celebrarem o passado e, por outro, servirem de trampolim para o futuro. Eu defendo que o passado nos deve orgulhar e honrar, mas não pode deixar-nos sossegados. Não podemos vi-ver à sombra dos louros do passado. Devemos, sim, querer ser sempre melhores. E por isso preparámos estas comemorações olhando para o futuro.

Como é que vai ser concretizada essa intenção de preparar o futuro?Vamos realizar um encontro, a Conferência do Centenário, para o qual convidámos várias personalidades a pensarem o futuro da U.Porto e do ensino superior em geral. Mas o cente-nário também nos vai ajudar a preparar o futuro ao agregar a Universidade. Acho que esse é o grande desafio que a U.Porto deve colocar a si própria. Se quer ser melhor no futuro, tem de se agregar mais, tem de trabalhar mais em conjunto, tem de sa-ber retirar o melhor de cada um dos seus membros. Temos de perceber que se trabalharmos em conjunto, usando melhor os recursos, sendo mais multidisciplinares, promovendo a inter-disciplinaridade, criando massa crítica, vamos ser mais fortes. Uma universidade de vias paralelas não leva a lado nenhum...

As comemorações do Centenário vão, então, procurar envolver a comunidade académica da U.Porto, reforçando o sentimento de per-tença à instituição...Sim, queremos que seja um factor de agregação. Queremos que toda a gente esteja junta a comemorar o passado e assim, com essa coesão, com essa unidade, ajude a preparar o futuro. E o futuro passa, como estabelecemos no nosso Plano Estraté-gico, por nos situarmos entre as 100 melhores universidades do mundo em 2020. Sabemos que é muito ambicioso. Já esta-mos próximos das 100 melhores da Europa, mas agora o salto é muito maior. E só lá chegamos trabalhando em conjunto, sen-do exigentes e rigorosos no que fazemos e percebendo que só o muito bom ou excelente é que interessa à U.Porto.

Neste contexto, qual é o papel dos antigos estudantes nas comemo-rações?Os antigos estudantes são uma comunidade fundamental para o progresso da Universidade. Como nossos embaixadores, têm um papel decisivo na atracção de novos estudantes, na capta-ção de projectos de investigação em parceria com empresas, na projecção da imagem da U.Porto, na aquisição dos nossos serviços, no financiamento da Universidade... Alguns dos nos-sos antigos estudantes estão muito bem na sociedade e, quer as suas empresas, quer eles próprios, podem apoiar a U.Porto em projectos específicos, retribuindo à Universidade um pouco do que esta lhes deu. A este nível, a nossa experiência no Cen-tenário tem sido bastante positiva. Muitos antigos estudantes contribuíram ou vão ainda contribuir [financeiramente] para as comemorações, o que mostra que há aqui um campo a tra-balhar de forma mais profissional. Isto é, criando networking entre todas estas pessoas.

Já me falou dos objectivos das comemorações do Centenário ao nível interno. E para o exterior, quais são os propósitos da efeméride?A U.Porto tem como um dos seus pilares estratégicos uma crescente abertura ao exterior, o que pressupõe um trabalho conjunto da Universidade com as entidades que a rodeiam e a sociedade em geral. Este trabalho tem vindo a ser feito pro-gressivamente e esperamos reforçá-lo com o Centenário, apro-ximando-nos ainda mais de outros sectores dinâmicos da socie-dade. Um dos males deste país e uma das razões da crise em que estamos é, precisamente, termos indivíduos e instituições de primeira água mas que em conjunto falham.

Esta mobilização da comunidade em torno do Centenário está a ser alcançada?Sim. Tem havido muita receptividade por parte de instituições e empresas, nomeadamente no apoio económico às comemo-rações. Mas este relacionamento com a comunidade já vem de trás, através de projectos comuns de I&D, de inovação, de formação e de voluntariado. Esta simbiose tem vindo a cres-cer, mas ainda há muito caminho a percorrer. Por exemplo, o contributo da Universidade no desenvolvimento económico do país pode ainda ser maior.

JOSÉ CARLOS MARQUES DOS SANTOS Reitor da U.Porto

“UMA UNIVERSIDADEDE VIAS PARALELASNÃO LEVA ALADO NENHUM”

Page 38: UPorto Alumni #13

É UMA OBRI-GAÇÃO DA U.PORTO

TRANSFERIR PARA O TECI-DO EMPRESA-

RIAL O CONHE-CIMENTO E A TECNOLOGIA QUE PRODUZ

CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTOFACE-A-FACE

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Não teme que, no actual contexto de crise, a colaboração com as empresas possa estar comprometida?Penso que não. As empresas estão a dar um exemplo de resis-tência e de capacidade para evoluir, como se vê pelo aumento das exportações. Felizmente, a maioria delas está a perceber que é nos momentos de crise que se prepara o futuro. Não po-demos cruzar os braços. Pelo contrário, devemos mobilizar-nos para fazermos mais e melhor em conjunto. Em vez de andarem só a competir, as empresas devem passar também a cooperar. Há áreas, como a I&D, onde as empresas podem cooperar entre si e com as instituições do ensino superior.

Mas, ao prestar serviços à comunidade, a Universidade não está a concorrer directamente com as empresas?Não creio que a U.Porto preste serviços em concorrência com as empresas. A maioria das empresas não tem serviços de I&D e as que têm ganham, efectivamente, em recorrer à Universida-de para, em cooperação, desenvolverem produtos estratégicos. Os serviços de que falo são de grande valor acrescentado e não existem no mercado português. Por isso, é uma obrigação da U.Porto transferir para o tecido empresarial o conhecimento e a tecnologia que produz, seja através de formação, seja apoian-do o desenvolvimento de bens transaccionáveis.

Universidade de investigação

A U.Porto tem vindo a incentivar o empreendedorismo, designa-damente no UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Univer-sidade do Porto. Não teme que este esforço seja comprometido pela retracção económica? Uma empresa que se constitui hoje e só pensa no mercado na-cional é melhor, se calhar, nem arrancar. Deve pensar sempre no mercado global. E já temos várias empresas no UPTEC que se internacionalizaram. No mercado global, há muitas zonas que não estão em crise e onde existem, portanto, boas oportu-nidades de negócio. Se as empresas do UPTEC tiverem criati-vidade, produtos inovadores e forem capazes de fornecer com qualidade, com certeza que se vão impor. E são essas empresas que, na nossa óptica, vão ser futuros parceiros da Universidade em projectos de investigação. Nasceram num ambiente virado para a inovação e têm recursos humanos com competências para projectos de I&D. Mas não nos podemos esquecer de que as indústrias tradicionais, como os têxteis ou o calçado, têm vindo a evoluir de maneira bastante assinalável. E a Universi-dade tem participado nessa evolução, estando disponível para continuar a contribuir para que a transformação tecnológica crie produtos de muito maior valor acrescentado.

A U.Porto pretende tornar-se uma “universidade de investigação”. O que é que isto significa?Significa que a investigação é um pilar fundamental da activi-dade da Universidade e é também a fonte fundamental da sua formação. Isto é, a formação é também resultado do conheci-mento que é criado através da investigação.

Não implica, portanto, uma desvalorização da função tradicional das universidades, que é ensinar...De maneira nenhuma! Nós somos uma universidade, portan-to fazemos formação. Só que fazemos formação muito ligada à investigação. Ou seja, com os estudantes a participarem na investigação; com o trabalho dos docentes a ter uma compo-nente científica bastante forte; e com a percentagem de estu-dantes de pós-graduação [2.0 e 3.0 ciclos] a ser maior do que a dos de graduação [1.0 ciclo]. Por outro lado, estamos já a treinar os estudantes do 1.0 ciclo através do IJUP [Investigação Jovem da Universidade do Porto], envolvendo-os em projectos de in-vestigação e incentivando-os a produzirem artigos. Está a ser um sucesso muito grande: os estudantes ganham outra cultura científica, outra capacidade de pensar, outra autonomia de tra-balho, outra abertura para a interdisciplinaridade.

Tendo em conta o objectivo de se tornar uma “universidade de in-vestigação”, não considera existir uma fragmentação excessiva das unidades de I&D dentro da U.Porto e uma discrepância interna ao nível da qualidade das mesmas?Concordo que há dispersão. Temos 61 unidades de investigação avaliadas pela FCT e se calhar algumas são pequenas demais. Pequenas em termos de massa crítica necessária à produção de resultados de nível internacional: artigos, patentes, tecnolo-gias... Se queremos ser uma universidade de topo, temos de ser exigentes. Só podemos ter unidades de investigação [avaliadas] com “Muito Bom” e “Excelente”. O “Bom” já não é suficiente. Para isso, é necessário que as unidades de I&D se agreguem para ganhar dimensão e poderem participar em projectos in-ternacionais, para se associarem a centros de investigação de grande qualidade mundial, para se candidatarem a programas de financiamento à escala global... É este o caminho e entronca no que disse há pouco: coesão, multidisciplinaridade e inter-disciplinaridade. Há, aliás, um movimento de integração de alguns institutos de investigação em que a U.Porto participa, transformando-os em unidades orgânicas da Universidade.

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A U.Porto pretende atrair mais e melhores estudantes, docentes e investigadores, nomeadamente do exterior. Como espera aumentar a capacidade de atracção da Universidade?Com a qualidade do seu corpo docente, das suas instalações, dos seus laboratórios, da sua investigação... Temos, contudo, de melhorar a oferta de instalações de acolhimento, em particular residências para estudantes, docentes e respectivas famílias. E aí a cidade tem de dar um contributo. A Universidade não é uma entidade imobiliária. Era fundamental que o mercado de arrendamento evoluísse e que não houvesse tanta especu-lação imobiliária no centro da cidade. Para termos capacidade de atracção, também é fundamental a Universidade integrar as redes internacionais. Nós procuramos, cada vez mais, coope-rar com as melhores universidades do mundo, nomeadamente oferecendo cursos de multititulação.

Programa para a internacionalização

Isto entronca num outro conceito muito caro à U.Porto, a interna-cionalização. Exactamente. A internacionalização é, no fundo, ser capaz de atrair jovens estrangeiros, criar redes com instituições inter-nacionais, promover a mobilidade dos nossos estudantes e docentes... Tudo isto é importante para criar uma nova cultu-ra, estabelecerem-se contactos, desenvolverem-se programas conjuntos, etc. Neste sentido, a internacionalização é uma fer-ramenta fundamental para concretizar a nossa estratégia: ser uma universidade de investigação, ter uma formação reconhe-cida e contribuir para o desenvolvimento económico.

No Plano Estratégico é defendida “a criação de um programa na-cional para o financiamento da internacionalização das universi-dades portuguesas”. Em que moldes deve funcionar este programa? Seria importante que os governos apoiassem a internaciona-lização das universidades através de um programa específico. Haveria candidaturas a esse programa, onde as universidades explicariam as acções que gostariam de desenvolver e as res-pectivas necessidades de financiamento. As melhores candida-turas eram aprovadas e, assim, as universidades tinham um apoio suplementar para realizarem os seus projectos de inter-nacionalização. Em Espanha isso já existe.

Os empresários continuam a queixar-se de falta de quadros quali-ficados em algumas áreas do saber e de excesso noutras. Há a in-tenção de adequar a oferta formativa às necessidades do mercado?A Universidade não pode preparar os seus graduados para uma área específica que “está a dar”, mas que, porventura, daqui a uns anos já não dá. Tem de preparar pessoas que, ao longo da vida, vão ter muitas vezes de actualizar os seus conhecimentos e, se calhar, mudá-los completamente. Há aqui dois níveis a considerar: a formação de base, que tem de ser culturalmen-te alargada, cientificamente sólida e com skills de trabalho; e a formação contínua ao longo da vida, na qual as universidades e as empresas devem cooperar no sentido de definirem o conhe-

cimento necessário e disponibilizá-lo. As sociedades evoluídas procuram que 30 a 40% da população tenha formação supe-rior. É óbvio que, com um volume tão grande de graduados, nem todas as pessoas vão encontrar emprego na área em que se formaram. Mas hoje, em Portugal, quase que se recomenda que não se frequente o ensino superior. E isso é querer ani-quilar o futuro do país! Temos de dizer às pessoas que devem frequentar a universidade, serem mais empreendedoras e olha-rem para o mundo como um mercado global. Bolonha veio pro-mover a mobilidade. Uma pessoa que se formou em História pode fazer um 2.0 ciclo em Economia, por exemplo. Este cruza-mento de conhecimentos vai, na minha óptica, esbater a ideia de curso e emprego numa área específica.

O crescimento do número de graduados, no seguimento do contrato de confiança assinado entre as universidades e o Governo, não irá diminuir a qualidade do ensino e desvalorizar profissionalmente os diplomas? De modo nenhum. Mas aí há outro ponto que eu acho im-portante: o sistema de ensino superior português está sobre-dimensionado. Tem instituições a mais. Devia ter metade das que tem hoje. Toda a gente sabe isso, mas é difícil mudar.

Porquê? Falta de coragem política? Resistência das instituições à mudança? Cada concelho quer ter uma universidade ou politécnico. Ora isso não é possível! Mas há uma maneira de contornar a situ-ação: ter universidades com pólos em várias cidades. Agora, o que não se pode é repetir os mesmos cursos, que é o que acon-tece agora. E cursos com um número reduzido de estudantes, o que não é sustentável. Se três ou quatro instituições se junta-rem para ter um curso num determinado sítio, podem ter 80 ou 100 estudantes. E já é sustentável. Portanto, ganha-se em racionalidade, eficiência e qualidade, pois podem-se concentrar numa só instituição bons docentes e estudantes.

Para além de instituições a mais, parece não existir diferenciação entre elas... Todas querem ser universidades de investigação. Isto é uma loucura! Mas também não se pode decretar quais são as uni-versidades de investigação: é só para quem, no terreno, tiver “pedalada”. Por isso, estamos a trabalhar para ser uma univer-sidade de investigação. E já atingimos um patamar em que, mais um bocadinho, chegamos lá. Há outras que estão muito longe... E eu pergunto: valerá a pena? Não haverá interesse em existirem universidades sobretudo dedicadas aos primeiros ci-clos e sem uma tão grande preocupação com a investigação?

O SISTEMA DE ENSINO

SUPERIOR POR-TUGUÊS ESTÁ SOBREDIMEN-SIONADO. TEM INSTITUIÇÕES

A MAIS.

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CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTOFACE-A-FACE

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Reorganização interna

A diferenciação far-se-ia pelos ciclos de ensino e não por áreas de estudo, é isso?Sim, não tanto por áreas mas pelo tipo de formação. Há um conceito errado na sociedade portuguesa: a qualidade é asso-ciada a coisas muito complexas. Mas não é assim! A qualidade de uma instituição [do ensino superior] está em cumprir bem a sua missão. Todas podem ter qualidade naquilo que fazem, mesmo tendo missões diferentes. Isto é, uma universidade pode ter como missão sobretudo formar estudantes do 1.0 ciclo, sendo a investigação um complemento a essa actividade. E ou-tras que, pelo contrário, têm a investigação como base da sua formação, sobretudo do 2.0 e 3.0 ciclos.

Essa diferenciação deve partir das próprias instituições ou ser im-posta de cima? Terá de partir das próprias instituições... Mas podiam existir programas de incentivo para ver quem faz o quê e para ver quem tem, de facto, “pedalada”.

Prevê que haja fusões entre instituições, encerramento de cursos, criação de consórcios...?Consórcios, se calhar, com pólos em várias cidades. É inevitá-vel acabar com este exagero de instituições do ensino superior. Nós temos 30 universidades e politécnicos públicos, enquanto Espanha não chega a 50. Ora Espanha tem cinco vezes e meia a nossa população. Portanto, já se vê que há qualquer coisa que não está bem. Assim o dinheiro não chega.

Mas a necessidade de reorganização interna também não se coloca na U.Porto? Sim, e há essa intenção. É difícil ter centros de decisão com a qualidade que se pretende. Precisamos de rever a nossa orga-nização interna à luz da escola doutoral, do centro de recursos comuns, da integração como unidades orgânicas de grandes institutos de investigação e de uma maior efi cácia no uso dos recursos (não só económicos) pelas unidades de I&D. Durante este ano algo terá de acontecer neste domínio, para encontra-mos uma solução de facto mais capaz de promover a qualidade que nós queremos ter. Este modelo não ajuda a aproveitar o melhor que há entre nós, a criar a multidisciplinaridade que é necessária, a fazer a investigação interdisciplinar que dese-jamos... Portanto, se queremos evoluir para um patamar su-perior de qualidade, temos de nos transformar. Atingimos o limite no patamar em que estamos.

A nova organização interna passa pela criação de cinco grandes escolas, como foi falado?O número ainda não está defi nido... A organização tem de ser feita à luz dos estatutos. E eu acho que nos estatutos há ferra-mentas sufi cientes para criar uma nova solução. Que poderá ainda não ser a ideal, mas uma solução intermédia e com po-tencial para evoluir.

A ideia de criação de grandes escolas não foi, portanto, abandonada.Não, não foi abandonada. Podem ser grandes escolas ou gran-des unidades...

E a autonomia das unidades orgânicas não fi cará em causa?Trabalhar em conjunto não signifi ca perder autonomia. A au-tonomia é a capacidade de decidir como usar os recursos e con-tratar pessoas, mas às vezes é confundida com instrumentos de gestão que não têm nada a ver. No entanto, tem havido uma evolução no pensamento da Universidade. Internamente, as pessoas já perceberam que a marca U.Porto é mais importante, tem mais dimensão e goza de mais prestígio do que qualquer outra marca individual.

As universidades portuguesas vão sofrer um decréscimo nas trans-ferências do Estado. Como vai lidar a U.Porto com estas medidas de contenção?Nós levámos, há pouco tempo, um corte de 20% e soubemos re-sistir. De facto, a U.Porto – e isto é um mérito enorme de quem cá trabalha – conseguiu mobilizar-se para aumentar a oferta de cursos e de formação contínua, para valorizar o conhecimento da investigação, para desenvolver trabalhos remunerados para empresas, para angariar mais mecenato... Temos, contudo, de trabalhar mais no fundraising para atrair fi nanciamentos al-ternativos, sobretudo de antigos estudantes e de quem queira deixar um legado à Universidade. No Plano Estratégico defi ni-mos, para 2014, o objectivo de atingir 55% de receitas próprias e 45% do Orçamento do Estado, pelo menos. Acho que Estado, não só não pode eximir-se de apoiar [as instituições do ensino superior], como a percentagem de fi nanciamento público não deve ser menor para as universidades com maior capacidade de gerar receitas próprias. Pelo contrário: a percentagem deve até ser maior para quem gera mais receitas, premiando-se assim o desempenho das universidades. Dito isto, é importante que as verbas do Estado cresçam para que as universidades tenham mais ferramentas para actividades que sem esse apoio são im-possíveis de realizar, como o desenvolvimento de novas áreas de investigação.

Está satisfeito com o novo modelo de governação da U.Porto?Estou muito satisfeito. A colaboração do Conselho Geral e do Conselho de Curadores está a ser, para mim e para o resto da Universidade, extremamente gratifi cante. O apoio das perso-nalidades externas tem-nos ajudado a criar uma cultura de ri-gor. São pessoas que exigem rigor no modo como se faz, nos prazos, na prestação de contas... E estou convencido de que há ainda muito a retirar desta colaboração, porque estamos ape-nas numa fase de aprendizagem. Agora, o regime fundacional por si só não transforma a U.Porto numa universidade de alta qualidade. Mas é um instrumento que torna mais fácil, com menor desperdício de tempo e de recursos, atingirmos os nos-sos objectivos.

SE QUEREMOS EVOLUIR PARA UM PATAMAR SUPERIOR DE QUALIDADE,

TEMOS DE NOS TRANSFOR-

MAR.

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VIDAS E VOLTAS CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

TIA

GO

RE

IS

Viviam-se tempos conturbados em Por-tugal e no mundo quando, no raiar da tarde da última quinta-feira antes da

Páscoa de 1933, Aureliano da Fonseca, então es-tudante do Liceu Alexandre Herculano, vestiu a farda de Pierrô. Da vizinha Espanha chegavam os sussurros de uma Guerra Civil anunciada. Da Alemanha nazi, as primeiras ameaças de um novo conflito a larga escala. Internamente, o Es-tado Novo estabelecia as regras do regime que se prolongaria por mais de quatro décadas. Com ele agrava-se também o clima de repressão que resultou na proibição, em finais de 1932, do asso-ciativismo estudantil e no consequente espartilho ao movimento académico despontado entre ter-túlias de café, na segunda metade do século XIX. Na mente de Pierrô, porém, dominava a indeci-são entre uma carreira de marinheiro e a de mé-dico que abraçaria, um ano depois, na Faculdade de Medicina (FMUP). Também por isso, aquele Carnaval dos Estudantes, o primeiro do jovem Aureliano e o último que a cidade haveria de tes-temunhar, tinha um significado especial.Mas deixemos o jovem Pierrô nos seus pensa-mentos e partamos em busca das origens da festa que, nas primeiras décadas do século passado, fez do Porto a Nice portuguesa. Pelo menos as-sim projectava o Clube dos Fenianos quando, em 1904, decidiu transformar o Carnaval numa das grandes festas da cidade – conforme escreveu

Sandra Brito no artigo “O Carnaval e o Mundo Burguês” (Revista da Faculdade de Letras HIS-TÓRIA). Mobilizando grande parte da população, a Festa do Momo desde cedo passou a incluir o cortejo académico. De tal forma que por altura da fundação, em 1911, da primeira Associação de Es-tudantes do Porto, os estudantes dos vários esta-belecimentos de ensino da cidade (com a recém-criada Universidade à cabeça) passam a ter direito a corso próprio, na última quinta-feira antes do “domingo gordo”. Voilá. Assim nascia o Carnaval dos Estudantes.Encerrado o livro de história, a imaginação perde-se nas ruas em terra batida que sobrevivem em fotos moídas a preto e branco. A cada esquina, uma multidão aguarda os estudantes. “Aquilo era uma loucura. A cidade parava para nos ver”, confirma Aureliano da Fonseca, o orfeonista que deu música aos “Amores de Estudante” e, aos 96 anos, um dos mais antigos alumni vivos da U.Porto. Há 80 anos era então um Pierrô ansioso por desfilar perante as donzelas que lutavam por um lugar às janelas. Porque a expectativa era alta, o Carnaval era pre-parado com grande antecedência. Até 1932, a or-ganização cabia à Associação de Estudantes (As-sociação Académica a partir de 1924), responsá-vel pela escolha dos temas dos carros e dos disfar-ces. Em 1933, ano do Pierrô, o método era outro. “A seguir ao Natal, os estudantes das Faculdades

Muitos anos antes do Cortejo da Quei-ma das Fitas, já os estudantes do Porto saíam às ruas da cidade para celebrar com a população. Sem cartolas e benga-las, era com fantasia, sátira e “namori-cos de serpentina” que se fazia então o

Carnaval dos Estudantes.

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(Medicina, Engenharia, Ciências e Farmácia), da Escola de Belas Artes, dos Institutos e dos dois últimos anos dos Liceus (de Alexandre Herculano e de Rodrigues de Freitas) elegiam a Comissão do Cortejo. Depois, cada grupo elaborava um projec-to de carro e apresentava-o à comissão. “O pro-jecto tinha que ter o desenho da ornamentação, o qual não podia ter palavras de ofensa à moral e a quem fosse!”, alerta Aureliano da Fonseca. Azar. “Isso só despertava a vontade de camuflar o que queríamos dizer”. Definidos os carros a desfile, os estudantes inva-diam as ruas da cidade em busca de financiamen-to para dar corpo ao cortejo. “As Escolas não da-vam nada”, queixa-se Aureliano. Em alternativa, o mecenato chegava da carteira dos comerciantes, especialmente as lojas e os cafés mais frequen-tados do centro. “Para o comércio, o Carnaval era uma grande oportunidade de negócio. Além disso, os estudantes eram respeitados, sobretudo quando usavam capa e batina [então comum aos universitários e aos estudantes liceu]. Não é como agora!”, provoca o Pierrô. Foi assim que, em 1929, a colheita rendeu uns respeitáveis 2000 escudos, segundo artigo sobre o Carnaval dos Estudantes publicado no O Porto Académico. Outras vezes, a fraca recepção era compensada com actos de he-roísmo. “Na altura [1933], havia no Bonfim umas casas que vendiam madeira. Fomos lá e um se-nhor, depois de nos receber muito mal, deu-nos

01 Carnaval dos Estudantes de 1932 (revista “Contra os Canhões”, no Teatro S. João)

02 Porto, Carnaval Académico, [1882] - [1949]

PT/CPF/APR1431 Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC

03 Carro dos “Pierrôs e as Pegas” no Carnaval dos Estudantes de 1933

04 Carnaval dos Estudantes (s/d)

05 Carnaval dos Estudantes de 1928 (na fila de baixo, a Miss Portugal rodeada pelos generais Wu-Chi-Chi e Yang-Zé-Bana-Ná)

06 Notícia sobre o Carnaval dos Estudantes

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um tronco enorme, à espera que o deixássemos ficar lá. Pois bem, trouxemo-lo!”

E eis que chega o grande diaO rufar dos tambores ganha força à medida que a hora do cortejo se aproxima. Bandeiras e confetis voam pelos céus ao encontro de Aureliano da Fon-seca. “Era como o São João. As pessoas vinham em família e enchiam as ruas logo de manhã”. O caso não era para menos, não fosse o Carnaval dos Estudantes ocasião para “trazer” ao Porto as mais distintas figuras da época… e do faz-de-conta. À chamada – assinalada por norma com uma recep-ção na Estação de São Bento – não faltava desde logo a realeza. Foi o caso da comitiva do “Rei” D. Miguel que, meses depois da implantação da Re-pública, ressuscitou dos mortos para liderar o des-file de 1911. E quem diz realeza, diz rainhas da be-leza, como a Miss Portugal (disfarçada de Augusto Rocha, estudante de Belas Artes) que abrilhantou o Carnaval de 1928, sob o olhar guloso dos gene-rais Wu-Chi-Chi e Yang-Zé-Bana-na. Poucos carta-zes rivalizam, porém, com o de 1929, ano em que a cidade recebeu o “ditador Trotsky”, o “Imperial Faraó Tu-Tan-Kamon e respectivas odaliscas” e o “Dr. Voronoff”, cirurgião francês famoso à época por realizar transplantes de testículos de maca-cos em escrotos de homens. Tal como previsto, batiam as 13 horas do dia 4 de Fevereiro quando “tais veemências” desembarcaram na Rua de San-ta Catarina, “acompanhadas pela Feroz Guarda Vermelha e pela Orxestra Katastróphica e Mephis-tophélica de Desconcertos”. Dali seguiram para São Bento, ao encontro da Orxestra Pitagorica e da Tuna Académica de Coimbra que as esperavam a par da multidão. Reunida a comitiva, rumou-se ao Edifício da Universidade (Pr. Gomes Teixeira) para um “formidável choque de restolho musical inigualável”.De volta a 1933, procuramos o “Aureliano Pierrô” no corso que se apresta para arrancar do Palácio de Cristal. À cabeça, a Guarda Nacional Republi-cana em uniforme de gala e a cavalo. Logo atrás, estudantes marialvas vestidos a rigor, seguidos de “colegas em burricos, trajando à condição”. E, por fim, os mais de 30 carros alegóricos entre os quais facilmente se distinguem os “Pierrôs e as Pegas”. “Íamos cinco, todos iguais, e levávamos uma caso-ta com uma pega em cima. Ora, ‘pega’ era um ter-mo que se associava às raparigas ‘fáceis’. O que fa-zíamos era cantar umas quadras que tanto davam para pássaro como para prostituta”. Não consta

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VIDAS E VOLTAS CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

01 Cortejo da Queima das Fitas no início dos anos 80

02 Finalistas de Medicina no Cortejo da Queima das Fitas de 2010

03 Finalistas de Medicina na Festa da Pasta (1939)

04 Carro do 3º ano de Ciências Biológicas de 1967

05 Notícia sobre o Carnaval dos Estudantes

06 Programa do Carnaval dos Estudantes de 1929

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que alguém se tenha queixado no percurso que o carro fez até à Praça da Universidade – onde se instalava o palanque do reitor da U.Porto – e daí até à Praça da Liberdade. Muito menos na subida pelas ruas Sá da Bandeira, Formosa, Santa Cata-rina, onde se iniciava o percurso inverso. “Quem percebesse percebia, quem não percebesse não percebia…”.

Fantasia. Festa. Sátira. Amor Entre os estudantes universitários, os risos e os fatos burlescos disfarçavam outras armas de ar-remesso à consciência. Para além da sátira so-cial, circulavam mensagens de natureza política e “alfi netadas” ao mundo académico. Na memó-ria da cidade fi caram representações como a de 1911, ano em que, segundo a revista Ilustração Portuguesa, “os estudantes do norte festejaram o Carnaval com um cortejo allegorico a factos da es-cola”. Entre “carros originalmente adornados com desenhos e legendas espirituosas” e com “muito riso e muita verve endiabrada”, celebrava-se então o Enterro da Farpa, em memória do papel que, antes da República, era usado para pedir dispensa das aulas dos “cursos presos” (aulas obrigatórias em que o professor chamava à lição a matéria do dia anterior), de acordo com a obra “Universida-de do Porto, Raízes e Memória da Instituições”, de Cândido dos Santos. Já em 1929, chorava-se a

extinção, um ano antes, da primeira Faculdade de Letras, a bordo do carro “Ressuxerit”. Por sorte, a cura vinha logo atrás com os “Enfermeiros do Amor”. Ou, mais acima, das “janelas pejadas de meninas do Porto e das mais longínquas terras” nas quais se fi xava o alvo das “serpentinas” dos es-tudantes. “Se alguma fosse mais sedutora, lança-va-se-lhe a capa [guardada propositadamente para a ocasião] que depois se iria buscar, para melhor conhecimento”, graceja Aureliano da Fonseca. Misture-se tudo na ordem desejada e está pronta a receita que deliciava os portuenses por altura do Carnaval dos Estudantes. Só falta o digestivo. Ter-minado o corso, enquanto grande parte da multi-dão voltava a casa, os mais resistentes continua-vam a celebrar nas récitas, representações teatrais e concertos que os estudantes promoviam por toda a cidade. Em 1929, a poesia do Dr. Voronoff abriu um serão de “concertos dearmonicos e orri-plilantes” na sede da Associação dos Estudantes. De 1932, acenam as “bailarinas” que levaram a revista “Contra os Canhões” ao Teatro S. João. De 1933 não fi caram memórias. Afi nal, àquela hora já o fato do Pierrô jazia no armário de Aureliano da Fonseca, abafado ao piano por uns quantos “Amo-res de Estudante”. E dali não voltaria a sair.

O EnterroNão se conhecem ao certo as razões que levaram à morte súbita do Carnaval dos Estudantes. A(s) guerra(s) latente(s)? A ditadura? A mordaça ao associativismo? Talvez todas estas perguntas eco-assem pela cidade na noite 29 de Abril de 1934, quando estudantes e populares saíram à rua de luto. Restava uma última homenagem simbólica.Pierrô conta-nos como foi: “O Enterro consistiu num carro de bois a produzir forte chiadeira agu-da e monótona, transportando um caixão mortu-ário coberto com um pano preto; logo seguiam-se centenas de estudantes de capa e batina fechada, com tochas na mão e esboçando sons de lamentos profundos. Em passo lento e com a cabeça abaixa-da fez-se todo o percurso do Cortejo, espectáculo que impressionou os milhares de pessoas aperta-das ao longo dos passeios!”.Ainda nos anos 30, os estudantes do Porto esbo-çaram diversas tentativas de restabelecer a festa carnavalesca. Sem sucesso. Numa Europa vergada pela II Guerra Mundial, deixara de haver espaço para “um dos mais alegres dias que o Porto algu-ma vez viveu”.

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DO CARNAVAL PARA A QUEIMA DAS FITAS

Apesar de constituir um momento privilegiado de

contacto entre os estudantes e a população, o Carnaval dos Estudantes não era o único motivo pelo qual a cidade e a Academia se uniam para

celebrar, nas primeiras décadas do século XX. Na verdade,

estava-se ainda nos primeiros anos do século e já os estu-

dantes de Medicina saíam às ruas do Porto para comemo-rar a entrega das pastas (aos

quintanistas) e dos grelos (aos quartanistas). Vivia-se então a Festa/Entrega da Pasta, evento “pai” da Queima das Fitas e

que, nos anos 20, acabaria por “beber” parte do espírito car-navalesco. Assim foi em 1928, ano em que O Comércio do

Porto noticia a “recepção im-ponente, quase estupefaciente” que a população reservou ao

“cortejo nupcial” protagoniza-do por estudantes fantasiados entre a Estação de São Bento e o edifício da Faculdade. Menos

efusiva foi a “passeata” de 1939 – já após o Enterro do Carnaval – quando Aurelia-no da Fonseca e os restantes

fi nalistas da FMUP se “chape-laram” (o uso de um chapéu

virado ao contrário antecedeu a utilização da cartola) antes de se apresentaram à cidade em passeio “pacato e só com

alguns burricos”.O resto da história conta-se

rapidamente e desemboca nas mesmas ruas que hoje se pin-

tam com as cores da Academia portuense, no início do mês

de Maio. Ainda nos anos 30, a Festa da Pasta difundiu-se pelas várias faculdades da

U.Porto. Foi assim sem surpre-sa que, em 1946 (ano em que a festa assume defi nitivamente a designação de Queima das Fi-tas), as quatro faculdades pro-tagonizaram o primeiro corte-jo em conjunto, à semelhança do desfi le dos estudantes de

Coimbra. De chapéu ou carto-la, de bengala ou de “burrico”, o cortejo manteve-se até hoje – com interrupção entre 1971 e 1978 – como ponto alto das celebrações da Queima das Fi-tas do Porto, a segunda maior festa da cidade e a maior festa

académica do País.

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O HINO AO ESTUDANTE (VER PÁG. 45) FOI TOCADO PELO ORFEÃO UNIVERSITÁRIO DO PORTO, PELA PRIMEIRA VEZ, NO TEATRO CARLOS ALBERTO, EM JANEIRO DE

1938. FALA DA CONSERVAÇÃO DO EFÉMERO. AINDA SE CANTA HOJE? COMO É QUE SE MISTURA A MEMÓRIA COM O FERVILHAR DA VIDA? GUARDA-SE NA CAIXI-

NHA E ARRUMA-SE PARA O FUNDO DO SÓTÃO, OU DÁ-SE UM NOVO ARRANJO PARA VOLTAR A USAR? E SE

É DO BOCA-EM-BOCA QUE FALAMOS, OU DA DANÇA, COMO É QUE SE ALICERÇA O PATRIMÓNIO À MUDAN-

ÇA? E A RECICLAGEM DE GESTOS EM MOVIMENTO? ANDRÉ AFONSO RESPONDE A ISSO: COM PESSOAS.

André Afonso tem 21 anos e dirige uma instituição que vai fazer 100: o Orfeão Universitário do Porto. Com irreverên-

cia, e a sua fi el companheira: a juventude. “É esse o truque”. O olhar bem espevitado é de fé no que vai dizer a seguir: “Sem pessoas não dá para fazer 100 anos. As tradições têm de passar para os mais novos. Se eles não se interessarem, elas morrem.” Misturar o passado no presente. “E reinventar, um pouco”, acrescenta o André. E dá exemplos: “Na parte da etnografi a e do folclore”. Onde há,

reconhece, um combate a travar: “O combate ao estereótipo”. Qual? O estereotipo do rancho! “É rancho… já não quero ir! Não quero ir para o rancho”. É quando se diz: “Anda. Anda dançar uma vez... Depois fi cam. Principalmente os mais novos”. E também aqui se tenta dar uma nova roupagem. Há sempre como pegar no antigo, raspar o bolor e trazer para a luz do dia. “Somos divulgadores de cultura. E queremos que as pes-soas gostem e tragam os amigos, e os amigos dos amigos”. De tudo isto sabe muito bem Aureliano da Fonseca que, quando ainda era estudante, ro-deou-se de bons amigos. Este médico, agora com 96 anos, e sócio honorário da Associação de An-tigos Orfeonistas, foi estudante da Faculdade de Medicina (entrou em 1934), mas também, e por isso o fomos ouvir, foi um dos responsáveis pelo ressurgimento do Orfeão em 1937 (tinha sido de-sactivado em 1928), aquando das comemorações do Centenário da Fundação da Academia Politéc-nica e da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Foi um ano a fervilhar de espírito empreendedor (e

artístico), se pensarmos que também originou a Tuna Universitária, um Grupo Cénico e uma Or-questra de Tangos.Reencontramos o mesmo olhar. Como se fosse outra vez noite, no café Monumental (que existia na Avenida dos Aliados), e o Paulo Pombo esti-vesse sentado ali ao lado. E houvesse um ritmo para o universo das emoções. E uma nota de música certa para trazer ao peito, quando é de sedes do coração e de as saciar que se fala. De que falamos afi nal? De avidez. Do desejo de sa-ber. Do viço do espírito porque se é estudante. Como acrescenta Aureliano da Fonseca: “Seria estudante quem mantivesse o desejo de saber”. E esta ideia aproveitámos para tatuar na memó-ria: É o desejo de saber que garante ao espírito

juventude! “E ser jovem não seria ser idealista e acreditar em efémeras ilusões?! E nessas eféme-ras ilusões não estão os seus amores?! Assim sur-giram os ‘Amores de Estudante’”, o hino escrito por Paulo Pombo e musicado por Aureliano da Fonseca. Ao recolocar-se no tempo, este médico de 95 anos quer muito falar do “entusiasmo que a todos animava”. E ainda anima, até às águas mais subterrâneas do olhar. Mesmo quando pairavam sobre todos (ou será que também era por isto?) as “sombras da Guerra de Espanha e da Guerra Mundial”. Tratava-se, diz-nos, de “olhar o futuro com fé”. A alegria e a fé que queriam transmitir a quem os ouvisse. Este entusiasmo movimentou, na altura, e “em escassas duas semanas”, cerca de duas centenas de jovens estudantes. Eram prove-nientes das quatro faculdades que existiam (Me-dicina, Engenharia, Ciências e Farmácia). Mas é bom que se diga que este foi o espírito que fez nascer o Orfeão Universitário do Porto, a 6 de Março de 1912, cerca de um ano após a criação da U.Porto. Foi ideia de um grupo de estudantes que

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CULTURA CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

ORFEÃO UNIVERSITÁRIO DO PORTO

SEMPESSOAS

NÃO HAVIACEM ANOS

Page 47: UPorto Alumni #13

de um complemento à acção formativa, natural a uma instituição de ensino. O tempo trouxe o ca-rinho por uma certa transversalidade e, nos anos 40, para além do coral universitário, o Orfeão conseguiu ir bem mais longe. Passa a integrar fados, tangos e até rábulas humorísticas. Pela pri-meira vez, as raparigas que frequentam o Orfeão começam a usar o actual traje académico, que foi, posteriormente, adoptado noutras universidades. A vontade de fazer mais pela cultura que somos todos nós leva ao surgimento do Grupo de Bai-lados Regionais. Há uma paixão que já cresceu e que se assume: cuidar e divulgar o folclore na-cional. Para além dos grupos regionais, o Orfeão Universitário passa a integrar grupos de cantares populares, acumulando assim um valioso espó-lio em trajes regionais. Cresceu, e continua bem revigorado, este esforço em realizar e incentivar recolhas etnográfi cas junto das várias regiões do país, para desenvolver e melhorar o repertório de cada grupo.

Coral universitário femininoEm 1937, o Orfeão apresentava o primeiro coral universitário com mulheres no seu elenco. Em 2011, no cimo do primeiro andar do edifício onde se realizam os ensaios, numa porta ao fundo do corredor, lá está, o mesmo coral, outras vozes: “Três e quatro e… ‘Hallelujah and Ámen’…” Era o espiritual negro que o Coro Clássico estava a ensaiar aos comandos do maestro António Sérgio Ferreira, que também faz parte da direcção artís-tica do Orfeão. Isto no primeiro andar, porque, no rés-do-chão, o Grupo de Danças do Douro acertava o passo à dança. O ponteiro das horas ainda há-de esticar até à actuação do Grupo de Cantares das Maçadeiras, ao Grupo de Cantares Alentejanos e ao Grupo dos Pauliteiros de Mi-randa. E é assim, praticamente todas as noites, neste edifício que fi ca por trás da Faculdade de Direito (à Rua dos Bragas). Os grupos começam a chegar por volta das seis e meia da tarde e os ensaios prolongam-se até depois do ponteiro en-trar no dia seguinte. São 200 pessoas que orga-nizam, interpretam e representam 16 grupos. As actividades repartem-se por três áreas principais: a académica (tunas e fado académico), a parte co-ral (coro clássico e outros de canto alentejano, As Maçadeiras e a Brigada de Cantares e Pandeira-das) e a parte etnográfi ca que se reparte pelos di-ferentes tipos de danças: Douro e Minho, Açores e Madeira, dança dos pauliteiros e, formado em

2010, das pauliteiras. Uma vez por ano fazem um espectáculo (o Sarau Anual) com todos os grupos activos. É uma oferta à cidade do Porto. O Orfeão continua a fazer chegar estes fragmentos de cul-tura lusitana a vários países, dos quais citamos apenas alguns: EUA, Brasil, Venezuela, Angola, Moçambique, Cabo Verde, África do Sul, China, Hong-Kong, Índia, Macau, Malásia e Tailândia, entre outros. O presidente do Orfeão Universi-tário do Porto faz questão de sublinhar que, em qualquer deslocação, o traje académico é uma es-pécie de “imagem de marca”. “Somos estudantes desta Universidade e sentimos orgulho nisso! É o meu quarto ano de Orfeão e, à medida que vamos conhecendo a instituição, vamos ganhando mais gosto e orgulho em pertencer a ela”.

É aqui, no edifício da Rua dos Bragas, que An-dré Afonso passa grande parte das suas noi-tes. É estudante de Engenharia Metalúrgica de Materiais. Faz parte do Grupo de Danças do Douro e também toca percussão no Gru-po dos Pauliteiros. Acha que a formação deve ser o mais abrangente possível, “para que os estudantes se possam enriquecer como pes-soas. Adquirir conhecimentos mais transver-sais, importantes para a vida em sociedade”. Também acha importante que os estudantes possam trazer para o Orfeão “um pouco da cultura da sua terra” e que as recolhas etnográfi -cas continuem: só assim, o Orfeão Universitário do Porto continuará a ser “um organismo vivo”. O famoso etnomusicólogo Michel Giacometti, que percorreu o país a recolher músicas e cantares e deixou um registo inigualável da nossa tradição oral, iria gostar de ouvir André Afonso falar. E de ver este futuro engenheiro a dançar descalço e em mangas de camisa. Michel Giacometti iria gostar de conhecer o Orfeão Universitário do Porto.

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Quero, fi car sempre estudante,P’ra eternizarA ilu são de u m instante.E sendo assim,O meu sonho de AmorSerá sempre rezado,Baixinho dentro de mim.

01 Digressão do Orfeão Universitário a Viseu em 1945

02 Orfeão Universitário em 1953

03 Grupo Cénico do Orfeão Universitário (1937).

04 Orfeão Académico do Porto (1912/13).

Foto cedida pelo Orfeão

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A participação da U. Porto nas compe-tições nacionais universitárias tem origem na década de 40. No cerne do

processo esteve a Mocidade Portuguesa (MP), uma organização juvenil de carácter milicial que vigorou de 1936 a 1974, durante o Estado Novo, e cuja intervenção foi preponderante na dinami-zação do desporto das universidades. De acordo com o estudo “O Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP). 50 anos de desporto universi-tário (1949-1999)”, de João Carneiro e Manuel Couto, os Centros de Instrução da MP estavam encarregados de implementar uma política nacio-nal ao nível do desporto escolar. E, a 27 de Abril de 1939, dá-se a fundação do Centro Escolar n.0 5 da Ala do Porto da MP, que agrupou os filiados desta organização, entre eles estudantes da Uni-versidade. Segundo o mesmo estudo, a prática desportiva na academia portuguesa confinava-se, no final dos anos 30, a algumas provas interuniversitárias, re-alizadas pelos estudantes das faculdades e escolas superiores que, apesar da carência de instalações e do pouco apoio e organização, conseguiam, mes-mo assim, atingir objectivos de integração e confra-ternização. As provas eram, no entanto, disputa-das por estudantes sem qualquer preparação e com

horários incompatíveis para a prática desportiva. É neste panorama que a MP intervém. Com o objectivo de disciplinar e coordenar a prática des-portiva universitária, a MP realizou os seus Cam-peonatos Universitários, onde se disputaram as primeiras competições entre equipas represen-tantes das universidades. Estes campeonatos pautavam-se por dois princípios fundamentais: o amadorismo e a vontade de fomentar a prática desportiva entre os estudantes.Em Novembro de 1940, a MP criou os Centros Universitários. A sede do Centro Universitário do Porto (CUP) foi inaugurada em 30 de Janeiro de 1942 e representou o arranque de uma acção multifacetada deste organismo dentro da U.Porto. Nos vários campos de intervenção do CUP, o des-porto foi aquele que gozou de uma maior adesão no meio universitário portuense. A 18 de Feverei-ro de 1942, sob proposta do professor Jayme Rios de Souza, na qualidade de director-adjunto do CUP, surgiu a Secção de Educação Física e Des-portos. Já o Conselho Técnico Desportivo (CTD) era constituído pelo adjunto da secção e filiados das quatro faculdades (Ciências, Medicina, Enge-nharia e Farmácia).De acordo com o estudo de João Carneiro e Ma-nuel Couto, no ano lectivo de 1941-42, o CUP

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No final da II Guerra Mundial, os estu-

dantes da U. Porto terminam a primeira

participação nos Campeonatos Nacio-

nais Universitários (CNU’s) com os

títulos de andebol e futebol. Foi o

arranque de uma história desportiva

que nasceu num ambiente politizado e que culmina, meio

século depois, com o actual domínio pela

U.Porto do desporto universitário em

Portugal. Pelo meio, várias peripécias

marcaram uma acti-vidade fundamental

para o reforço do espírito académico

e para a socialização dos estudantes.

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CEM ANOS,CEM MEDALHAS!

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organizou os primeiros Campeonatos Regionais Universitários (CRU) no Porto. Coube-lhe tam-bém a organização dos segundos CNU’s, nos quais os estudantes da U.Porto marcaram presen-ça e que decorreram no Estádio do Lima entre 14 e 21 de Abril de 1945, sendo promovidos pela MP. A selecção da U.Porto terminou a participação com dois títulos (andebol e futebol). Inclusive, como refere Vasco Sá, antigo docente da Facul-dade de Engenharia (FEUP), “as quartas-feiras à tarde eram para o desporto universitário, uma medida levada a cabo por Jayme Rios de Souza, que não deixava que se marcassem aulas para essa altura”, o que denotava a emergente im-portância atribuída ao desporto. Aproveitando a onda de comemoração, o CUP, através de uma re-presentação do CTD, solicitou junto do Ministro da Educação Nacional, em 16 de Maio de 1945, a construção do Estádio Universitário do Porto. Entretanto, a 26 de Novembro de 1949, a direc-ção das actividades desportivas do CUP passou a ser da responsabilidade do Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP), criado por Jayme Rios de Souza, segundo Vasco Sá. Desta forma, iniciou-se um novo capítulo na história do des-porto universitário portuense.Em vésperas da criação do CDUP, as secções des-portivas que constituíam a Secção de Educação Física e Desportos eram várias. Não obstante, a experiência demonstrava que restringir a activi-dade desportiva unicamente ao meio universitá-rio era insuficiente para manter, de uma forma contínua, a prática desportiva dos universitários. Tal facto fez com que Jayme Rios de Souza con-siderasse a criação de um Clube Desportivo Uni-versitário que pudesse participar em competições de índole federada.Assim, resolvia-se a questão da impossibilidade de participação desportiva no CDUP para além dos dois anos após a conclusão do curso, o que

tornava inexequível a continuidade de um traba-lho de profundidade. Entendia-se “que devia ha-ver um clube, porque, existindo apenas cinco ou seis faculdades, havia muito pouca competição, o que depois levou o impulsionador a criar o des-porto federado”, diz-nos Vasco Sá que, por nome-ação de Jayme Rios de Souza, foi Chefe de Edu-cação Física e Desportos do CUP de 1953 a 1955.Desta proposta fundamentada nasce então o CDUP, o primeiro clube desportivo universitário em Portugal. “Este clube apareceu nos campeona-tos de voleibol e andebol e, portanto, abriu-se um bocadinho aos próprios alunos do liceu. Começá-mos a ter juniores e a ter uma actividade compe-titiva mais intensa, com colocação de professores de educação física”, salienta o antigo atleta e do-cente desta Universidade. Mais tarde, em 1952, surgia o Centro Desportivo Universitário de Lis-boa (CDUL).Voltando ao Estádio, este só se tornou operacional em 1951 e surgiu na sequência da cedência, por parte do Estado, da Quinta do Campo Alegre à Universidade, em 1950. No Porto surgiram, em 1952, alguns campos desportivos que, longe de satisfazerem as necessidades, ainda assim sim-plificaram consideravelmente os problemas das instalações.

DESPORTO CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTO

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01 Grupo de Futebol da Associação de Estudantes do Porto (anos 20)

02 Centro Universitário (1942)

03 Centro Universitário (1942)

04 Centro Universitário (1942)

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Page 50: UPorto Alumni #13

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Na falta de um espaço próprio para a prática des-portiva, recorria-se a instalações desportivas de outros clubes. De resto, um jogo que ficou inscri-to na história da U.Porto realizou-se no Estádio do Lima (época de 51/52), em que a Universidade ganhou à selecção de Lisboa. “Jogava por nós o Gomes da Costa, médico, que era o interior es-querdo do [FC] Porto. Foi ele que marcou o golo aos 16 minutos e depois, a partir daí, deu-lhe o “abafo”, e nós aguentámos o resto do tempo à defesa. Os de Lisboa ficaram chateados como o “diabo” e, pronto, nós ficámos todos satisfeitos”, lembra Vasco Sá. A 28 de Abril de 1953 inaugurava-se, então, o es-paço destinado à prática desportiva universitária. Destaque ainda para a construção, na década de 60, do Pavilhão Prof. Dr. Galvão Telles, um es-paço de referência para a prática desportiva dos estudantes da Academia durante décadas, actual-mente gerido pelo CDUP. Tendo representado a U.Porto nos CNU’s (fute-bol, andebol e voleibol), é com saudade que Vasco Sá lembra o desporto universitário como algo “ex-tremamente agradável, porque, no fundo, era um factor de reunião. Cimentámos ali conhecimen-tos e amizades interessantes. Depois era muito engraçado porque havia disputa no desporto, mas havia uma confraternização muito grande. Era uma fonte de aproximação dos desportistas da Universidade, uma fonte de convívio”. Saliente-se o facto de, entre 1960 e 1970, a U.Porto ter conquistado títulos (1.0 lugar) em nove das dez épocas. Curiosamente, a modalidade mais forte ao longo desta década foi o futebol, com o qual a Uni-versidade arrecadou o primeiro de um dos seus muitos títulos ao longo da sua história.

Desporto não escapa à ditaduraJosé Costa Lima, actual director da Faculdade de Farmácia (FFUP), foi a pessoa responsável pela organização dos primeiros Campeonatos Uni-versitários pós-25 de Abril, na altura como presi-dente do CDUP. Isto porque os CNU’s estiveram parados durante 5/6 anos, da mesma maneira que não houve Queima das Fitas. “Antes do 25 de Abril não era possível como estudante organi-zar o que quer que fosse que não fosse tutelado pelo regime ditatorial. E, portanto, eu diria que foi uma natural reacção dos estudantes à impos-sibilidade de organizar o que quer que fosse sem a tutela da ditadura. A Queima esteve, então, pa-

rada, tendo coincidido com a paragem dos cam-peonatos”, explica José Costa Lima.No Porto só havia uma associação de estudantes: a da FFUP que, “no meio das teias da ditadura, passou e foi aprovada como associação. As outras faculdades não tinham associações de estudantes reconhecidas formalmente. Eu lembro-me per-feitamente que, quando se organizava qualquer coisa, tinha que ser sempre sob a égide da Asso-ciação de Estudantes da Faculdade de Farmácia”, refere José Costa Lima. Embora obrigado a ultra-passar algumas barreiras, o desporto era, apesar de tudo, levado a cabo.

Tradição antifutebol do CDUPAs actividades desportivas mais fortes do CDUP nos finais da década de 70 e inícios da de 80 (pós ditadura) eram, segundo o respectivo presidente, o basquetebol e o râguebi. Isto usando como cri-tério de relevância o facto de estarem nas divisões mais altas do desporto federado do país. Também o pólo aquático, a canoagem e o ténis de mesa tinham protagonismo, sendo que a estas se jun-tavam o voleibol, o andebol, o xadrez, o judo, a ginástica e a natação, mas com níveis de partici-pação e qualidade inferiores. Estranhamente, não se vê aqui o futebol. Como nos contou José Costa lima, “o CDUP tra-dicionalmente não tinha equipa de futebol, mas todos os centros tinham acordado que levariam uma equipa e, na época de 77/78, nós não tínha-mos campeão regional universitário. E eu pedi ao professor [Olímpio] Bento que tratasse de arran-jar e treinar uma equipa de futebol. Não sei o que fez mas arranjou voluntários, treinou a equipa de futebol e fomos campeões nacionais!”.A responsabilidade pela actividade desportiva na U.Porto, tanto a nível competitivo como nos campos da formação e lazer esteve, durante mui-tos anos, nas mãos do CDUP. Actualmente, essa função cabe ao Gabinete de Apoio ao Desporto da U.Porto (GADUP), nascido em Setembro de 2004. Hoje, a U.Porto é a universidade que mais se destaca em termos desportivos. De um total de 491 medalhas atribuídas ao longo das diferen-tes fases dos CNU’s da época de 2009/2010, 102 (aproximadamente, 20,8%) foram para a U.Porto, entre dez instituições. O nível de conquistas tem vindo a aumentar, sendo que para esta quantida-de contribuem, maioritariamente, as medalhas de ouro (aproximadamente, 38%).

CENTENÁR IO DA UN IVERS IDADE DO PORTODESPORTO

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01 25º Aniversário do CDUP. Equipa dos “velhos” e “novos” (Março de 1970)

02 Torneio de Natal, Centro Universitário (1964)

03 Torneio de Natal, Centro Universitário (1964). Na foto José Luís Lima

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Campus universitáriosFaculdadesBusiness school

Docentes e Investigadores (1920,8 ETI) (76% doutorados)Não docentes (1648,1 ETI)

Estudantes Estudantes de 1º Ciclo e de Mestrado IntegradoEstudantes de 2º Ciclo / MestradoEstudantes de EspecializaçãoEstudantes de 3º Ciclo / Doutoramento

Estudantes e investigadores estrangeiros (10,37% do total)em programas de mobilidadeem programas de 1º Ciclo e Mestrado Integradoem cursos de Mestradoem cursos de Doutoramentoem cursos de EspecializaçãoInvestigadoresNacionalidades

Programas de Formação em 2009/10Cursos de 1º Ciclo / LicenciaturaCursos de Mestrado IntegradoCursos de 2º Ciclo / MestradoEspecializaçãoCursos de 3º Ciclo / DoutoramentoCursos de Formação Contínua

Vagas disponíveis em 2009/10 (15,2% das vagas nacionais)Vagas preenchidas na 1ª fase do concurso nacional 2009/10 (100% das vagas preenchidas)Mais alta classifi cação média do último colocado das universidades públicas

Unidades de investigaçãoUnidades avaliadas com “Excelente” e “Muito Bom”Unidades integradas em Laboratórios Associados ao EstadoArtigos científi cos indexados na ISI Web of Science em 2008Patentes portuguesas submetidas (até Dezembro de 2009)Spin-offs (empresas desenvolvidas na Universidade)

BibliotecasTítulos de Monografi asPublicações periódicas disponíveis on-lineDownloads de artigos científi cos

Residências UniversitáriasCamas (87% ocupação)Unidades de alimentação (cantinas, bares, etc)Lotação das cantinasRefeições servidas por dia

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Universidade do PortoA maior instituição de ensino e investigação científica de Portugal e uma das 100 melhores universidades da Europa.

[email protected]

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A Universidade do Porto agradece a todas as instituições e particulares que apoiam, declarada ou anonimamente, a realização das Comemorações do Centenário: